PORTUGUÊS
CONTEMPORÂNEO
DIÁLOGO, REFLEXÃO E USO
PORTUGUÊS
CONTEMPORÂNEO
DIÁLOGO, REFLEXÃO E USO
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MANUAL DO PROFESSOR
COMPONENTE
CURRICULAR
LÍNGUA
PORTUGUESA
3
o
ANO
ENSINO MƒDIO
William CEREJA
Carolina DIAS VIANNA
Christiane DAMIEN
PORTUGUES_professor.indd 1 18/05/16 09:20
William CEREJA
Professor graduado em Português e Linguística e licenciado em Português
pela Universidade de São Paulo
Mestre em Teoria Literária pela Universidade de São Paulo
Doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem na PUC-SP
Professor da rede particular de ensino em São Paulo, capital
Carolina DIAS VIANNA
Professora graduada e licenciada em Português pela Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp).
Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Doutoranda em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Professora das redes pública e particular de ensino nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Membro das bancas de correção da Redação do Enem e do vestibular da Unicamp.
Christiane DAMIEN
Professora graduada e licenciada em Português e Francês pela Universidade
Estadual Paulista (Unesp).
Mestre em Letras pelo Programa de Língua, Literatura e Cultura Árabe da
Universidade de São Paulo (USP).
Doutoranda em Estudos Árabes pela Universidade de São Paulo (USP).
Professora das redes pública e particular de ensino na cidade de São Paulo.
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COMPONENTE
CURRICULAR
LÍNGUA
PORTUGUESA
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o
ANO
ENSINO MƒDIO
1
a
edição – 2016
São Paulo
MANUAL DO PROFESSOR
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Diretora editorial Lidiane Vivaldini Olo
Gerente editorial Luiz Tonolli
Editor responsável Noé G. Ribeiro
Editores Fernanda Carvalho, Mônica Rodrigues de Lima, Paula Junqueira
Preparação de texto Célia Tavares
Gerente de produção editorial Ricardo de Gan Braga
Gerente de revisão Hélia de Jesus Gonsaga
Coordenador de revisão Camila Christi Gazzani
Revisores Carlos Eduardo Sigrist, Larissa Vazquez, Lilian Miyoko Kumai
Produtor Editorial Roseli Said
Supervisor de iconografia Sílvio Kligin
Coordenador de iconografia Cristina Akisino
Pesquisa Iconográfica Camila Losimfeldt, Rodrigo S. Souza
Licenciamento de textos Erica Brambila
Coordenador de artes Aderson Oliveira
Design e Capa Sergio Cândido com ilustrações de Nelson Provazi
Edição de arte Josiane Batista
Diagramação Benedito Reis, Josiane Batista
Assistente Jacqueline Ortolan
Ilustrações Andressa Honório, Nelson Provazi, Rico, Sonia Vaz
Tratamento de imagens Emerson de Lima
Protótipos Magali Prado
077623.001.001 Impressão e acabamento
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo utilizado apenas para fins didáticos,
não representando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
Português contemporâneo: diálogo, reflexão e uso, volume 3
© William Roberto Cereja / Carolina Assis Dias Vianna / Christiane Damien Codenhoto, 2016
Direitos desta edição: Saraiva Educação Ltda., São Paulo, 2016
Todos os direitos reservados
Avenida das Nações Unidas, 7221 – 1º andar – Setor C – Pinheiros – CEP 05425-902
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Cereja, William Roberto
Português contemporâneo : diálogo, reflexão e
uso, vol. 3 / William Roberto Cereja, Carolina
Assis Dias Vianna, Christiane Damien Codenhoto. --
1. ed. -- São Paulo : Saraiva, 2016.
Obra em 3 v.
Suplementado pelo manual do professor.
Bibliografia.
ISBN 978-85-472-0525-6 (aluno)
ISBN 978-85-472-0528-7 (professor)
1. Português (Ensino médio) I. Vianna, Carolina
Assis Dias. II. Codenhoto, Christiane Damien.
III. Título.
16-03539 CDD-469.07
Índices para catálogo sistemático:
1. Português : Ensino médio 469.07
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Caro estudante
Como muitos jovens que cursam atualmente o ensino médio, você
participa de práticas diversas de leitura e escrita nos mais variados
contextos: na escola, em casa ou em outros ambientes que frequenta; por
meio do celular, do tablet ou do computador; por meio do velho e bom papel
em seus mais diferentes tipos e formatos. Da mesma maneira, você interage
oralmente em situações variadas, produzindo falas ora mais curtas, ora mais
longas, em situações descontraídas ou formais.
Lidamos com linguagens o tempo todo: para opinar, para pedir, para
ceder, para brincar, para brigar, para julgar, e assim vamos construindo
nossas identidades e sendo construídos pela realidade que nos cerca, pelos
outros sujeitos com quem interagimos, pelos textos que lemos, ouvimos e
produzimos. Neste livro, tomamos como base essa relação que você já tem
com a linguagem para apresentar e discutir diferentes questões sobre a
nossa língua, sobre nossas produções literárias e culturais e sobre os textos
que produzimos em nossa vida.
Ao adentrar o estudo da literatura, você lerá textos de diversos momentos
da história da humanidade e perceberá que os textos literários e as artes
em geral (entre elas a pintura, a escultura, a música, o cinema) estão
intimamente conectados à realidade social de cada época, surgindo como
uma espécie de resposta artística ao seu contexto de produção: refl etem,
assim, muito da visão política, social e artística do momento em que estão
sendo produzidos. Você verá também que mesmo textos escritos muitos
séculos atrás guardam relações próximas com obras atuais, confi rmando a
ideia de que a literatura e seus temas não se encerram em um determinado
período, mas transformam-se ao longo do tempo, em um fl uxo contínuo, à
medida que a sociedade e os sujeitos igualmente se modifi cam.
Nesse percurso, você conhecerá também nuances da língua na leitura
e na produção textual, ao analisar e elaborar textos escritos e orais que
circulam em situações de comunicação variadas: relatórios, currículos,
poemas, crônicas, reportagens, cartazes, anúncios, seminários, debates,
entre muitos outros. Pretendemos, com isso, que você desenvolva ainda mais
a sua capacidade de ler e produzir textos de modo efi ciente, compreendendo
criticamente os sentidos construídos por diferentes escolhas e contextos de
circulação e se fazendo entender por meio de um uso refl exivo da língua,
que lhe permita trabalhar sobre as diversas formas de produção de sentidos
quando é você o autor do texto.
Entendemos ainda que, para além das práticas cotidianas de uso da
leitura e da escrita, também faz parte das práticas do estudante do ensino
médio a participação em situações bem específi cas de linguagem, vividas
por quem se prepara para a entrada na universidade e no mercado de
trabalho. Por isso, você terá contato com textos específi cos dessas esferas,
a fi m de que esteja bem-preparado para esse novo momento da sua vida.
Os conceitos e conteúdos aqui trabalhados têm, portanto, o objetivo
principal de munir você para fazer um uso cada vez mais consciente e
refl exivo das estruturas e possibilidades da língua, quaisquer que sejam as
situações de comunicação nas quais você venha a se engajar, como leitor ou
como produtor de textos. Esperamos que esse caminho seja tão interessante
e motivador para você quanto foi, para nós, a elaboração deste livro.
Um abraço,
Os Autores.
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es da língua na leitura
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a esse novo momento da sua vida.
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da língua, quaisquer que sejam as
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a nós, a elaboração deste livro.
Os Autores.
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99
CIDADANIA EM DEBATE
Participe, com os colegas da
classe, da produção de uma feira
de cidadania, na qual serão promovidos debates deliberativos e
realizadas oficinas de produção
de currículos e de cartas de solicitação e/ou reclamação.
Como decorrência do movimento revolucionário e das suas causas,
mas também do que acontecia mais ou menos no mesmo sentido na Europa e nos Estados Unidos, houve nos anos 30 uma espécie de convívio
íntimo entre a literatura e as ideologias políticas religiosas. Isto, que antes
era excepcional no Brasil, se generalizou naquela altura, a ponto de haver
polarização dos intelectuais nos casos mais definidos e explícitos, a saber,
os que optavam pelo comunismo ou o facismo. Mesmo quando não ocorria esta definição extrema, e mesmo quando os intelectuais não tinham
consciência clara dos matizes ideológicos, houve penetração difusa das
preocupações sociais e religiosas nos textos, como viria a ocorrer de novo
nos nossos dias em termos diversos e maior intensidade.
(Antonio Candido. Educação pela noite e outros ensaios. 2. ed. São Paulo: Ática, 1989. p. 188.)
A crase não foi feita para humilhar ninguém.
(Ferreira Gullar)
Detalhe de uma pintura
de Norman Rockwell
em que é destacado
o papel persuasivo da
palavra.
Norman Rockwell. Travelling Companions. Post Cover, March 6, 1948.
98UNIDADE 2 Palavra e persuasão
Coleção particular
O ovo da ema, de Carybé (1911-1997), pintor argentino que, na década de 1950, passou a viver em Salvador, onde, junto com Jorge Amado
e o fotógrafo francês Pierre Verger, desenvolveu intensa atividade artístico-cultural. Essa tela é a expressão de uma das principais
propostas da segunda geração modernista: o retrato da realidade brasileira e das pessoas comuns.
ABERTURA DE UNIDADE
O nome da unidade procura contemplar o sentido geral dos conteúdos trabalhados em literatura,
gramática e produção de texto.
Na página par da abertura da unidade, sempre há uma imagem relacionada com o período que vai ser
estudado na literatura. A imagem é acompanhada de uma legenda ampliada, que comenta a obra.
Na página ímpar, ainda há textos e imagens relacionados aos conteúdos de gramática e de literatura a
serem trabalhados na unidade.
ANÚNCIO DO
PROJETO
No alto da página
ímpar, é anunciado o
projeto de produção
textual que será
desenvolvido pelos
alunos durante a
unidade.
CONHEÇA SEU LIVRO
ENTRE SABERES
Nesta seção, o aluno lê um conjunto de
textos interdisciplinares que situam a
estética literária do ponto de vista histórico,
filosófico, econômico, político e de outras
manifestações artísticas do período.
ENTRE
SABERES
FILOSOFIA • ARTE •
LITERATURA
Você vai ler e comparar, a seguir, dois te
poeta que pertenceu ao Romantismo, no
de Andrade.
exto 1
ENTRE TEXTOS
ENTRE TEXTOS
Esta seção promove um estudo
comparado entre textos
de períodos diferentes que
apresentam um mesmo tema ou
uma relação intertextual.
Em 1917, a pintora brasileira Anita Malf
arte, que, diferentemente da anterior,
marco inicial da arte moderna no Brasil e o est
O escritor Monteiro Lobato, que
sitou a exposição e publicou o text
epublicado com o título “Paranoia
ald de Andrade e Menotti
CONEXÕES
Estabelece relações entre as concepções
estético-literárias do período estudado
com um texto de outra linguagem,
como a canção, o quadrinho, o cartum, a
pintura e a escultura.
CIDADANIA EM DEBATE
Participe, com os colegas da
classe, da produção de uma feira
de cidadania, na qual serão promovidos debates deliberativos e
realizadas oficinas de produção
de currículos e de cartas de solicitação e/ou reclamação.
Como decorrência do movimento revolucionário e das suas causas,
mas também do que acontecia mais ou menos no mesmo sentido na Europa e nos Estados Unidos, houve nos anos 30 uma espécie de convívio
íntimo entre a literatura e as ideologias políticas religiosas.Isto,que antes
era excepcional no Brasil, se generalizou naquela altura, a ponto de haver
polarização dos intelectuais nos casos mais definidos e explícitos, a saber,
os que optavam pelo comunismo ou o facismo. Mesmo quando não ocorria esta definição extrema, e mesmo quando os intelectuais não tinham
consciência clara dos matizes ideológicos, houve penetração difusa das
preocupações sociais e religiosas nos textos, como viria a ocorrer de novo
nos nossos dias em termos diversos e maior intensidade.
(Antonio Candido. Educação pela noite e outros ensaios
A crase não foi feita para humilhar ninguém.
(Ferreira Gullar)
Norman Rockwell. Travelling Companions. Post Cover, March 6, 1948.
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UNIDADE 2 Palavra e persuasão
Coleção particular
O ovo da ema, de Carybé (1911-1997), pintor argentino que, na década de 1950, passou a viver em Salvador, onde, junto com Jorge Amado
e o fotógrafo francês Pierre Verger, desenvolveu intensa atividade artístico-cultural. Essa tela é a expressão de uma das principais
propostas da segunda geração modernista: o retrato da realidade brasileira e das pessoas comuns.
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os que optavam pelo comunismo ou o facismo. Mesmo quando não ocorria esta definição extrema, e mesmo quando os intelectuais não tinham
consciência clara dos matizes ideológicos, houve penetração difusa das
preocupações sociais e religiosas nos textos, como viria a ocorrer de novo
nos nossos dias em termos diversos e maior intensidade.
Educação pela noite e outros ensaios. 2. ed. São Paulo: Ática, 1989. p. 188.)
A crase não foi feita para humilhar ninguém.
(Ferreira Gullar)
Detalhe de uma pintura
de Norman Rockwell
em que é destacado
o papel persuasivo da
palavra.
CIDADANIA EM DEBATE
Participe, com os colegas da
classe, da produção de uma feira
de cidadania, na qual serão promovidos debates deliberativos e
realizadas oficinas de produção
de currículos e de cartas de solicitação e/ou reclamação.
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5
LITERATURA
Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos (1884-1914) nasceu no Engenho Pau d'Arco, no município de Sapé, Paraíba. Formou-se em
Direito, mas, em vez de atuar como
advogado, foi professor e deu aulas de
literatura em diferentes instituições de
ensino no Rio de Janeiro.
Morreu de tuberculose, aos 30 anos,
deixando uma única obra, Eu, que ainda
hoje impacta e seduz leitores das novas
gerações.
já se notavam mudanças − como um reflorescimento do nacionalismo e
a busca de uma língua brasileira, mais próxima do povo − que apontavam para uma renovação estética.
À produção situada entre ç900 e ç922, ano em que ocorreu a Semana de
Arte Moderna, considerada o marco inicial do Modernismo brasileiro, costuma-se chamar Pré-Modernismo. Essa produção não chegou a constituir
um movimento literário, mas criou condições para a grande ruptura que se
daria logo depois.
O Pré-Modernismo contou com uma rica produção em verso e em prosa. Na poesia, destaca-se o poeta Augusto dos Anjos. Na prosa, Euclides da
Cunha, Monteiro Lobato e Lima Barreto.
Neste capítulo, você vai conhecer a poesia de Augusto dos Anjos e a prosa de Lima Barreto.
Euclides da Cunha e Os sertões
Euclides da Cunha (1866-1900) foi militar, engenheiro, jornalista e escritor. Quando eclodiu a Guerra
de Canudos, em 1896, no interior da Bahia, foi correspondente de guerra do jornal O Estado de S.
Paulo. Terminada a guerra, escreveu, com base nas observações que fez in loco, sua principal obra:
Os sertões (1901).
A obra é organizada em três partes: “A terra”, “O homem” e “A luta”. Adepto das ideias deterministas e naturalistas, Euclides da Cunha teve a intenção de provar, com a obra, que o homem é fruto
do meio e a guerra é consequência da interação do homem com o meio social e cultural.
Segundo a versão oficial dada pelo Exército na época, a guerra ocorreu por necessidade de combater um foco monarquista, que se opunha à recente República. Do ponto de vista do autor de Os
sertões, porém, o conflito que vitimou 15 mil pessoas foi fruto da miséria, do isolamento político, da
ignorância e do fanatismo religioso.
Augusto dos Anjos
Em ç9ç2, ocorreu a primeira publicação de Eu, de Augusto dos Anjos, que
já teve mais de cem edições e é, provavelmente, a obra de poesia mais lida
em nosso país.
Tal sucesso tem várias explicações, entre elas a originalidade chocante da poesia do autor, que trilhou um caminho único em nossa literatura,
fundindo elementos simbolistas a elementos materialistas e científicos.
Por um lado, o poeta herdou do Simbolismo uma visão cósmica e uma
angústia moral, além de ter adotado, por influência do filósofo Schopenhauer, um pessimismo exacerbado. Por outro, incorporou uma visão
materialista e científica da vida e do mundo, com claras influências do
biólogo naturalista Ernst Haeckel (ç834-ç9ç9) e do filósofo Herbert Spencer (ç788-ç86ê). Paradoxalmente, o eu lírico de seus poemas busca o infinito na matéria, com a perspectiva pessimista de que tudo caminha
para a morte, para o mal e para o nada. Não há nessa poesia lugar para
a esperança, uma vez que tudo é matéria, e a matéria caminha para a
podridão absoluta.
A linguagem empregada pelo autor também é surpreendente, considerando-se a linguagem elevada que até então era utilizada na poesia. Termos
científicos se misturam a um vocabulário rebuscado, dando origem a uma
linguagem eloquente, expressiva e muitas vezes chocante. As formas poéticas, entretanto, ainda são as convencionais empregadas no Simbolismo,
como o soneto e o verso decassílabo ou o alexandrino.
Morena Filmes, Filme de Sergio Rezende/João Raposo/Editoras Caras S.A/Acervo Iconographia
Cena do filme Guerra de
Canudos, de Sérgio Rezende.
15 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
O Pré-Modernismo
LITERATURA
O Pré-Modernismo
Concordância verbal
O conto
CAPÍTULO 1
A literatura brasileira vivia nas duas primeiras décadas do século XX em um momento de transição. Por um lado, perdurava a influência das correntes estéticas do século XIX, como o Realismo, o Naturalismo, o Parnasianismo e o Simbolismo; por outro,
Recanto do morro de
Santo Antônio (1920),
de Eliseu Visconti,
obra ainda marcada
por influências do
Impressionismo,
corrente artística do
final do século XIX. Projeto Eliseu Visconti/Coleção particular
14 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
PÁGINA DE ABERTURA DE CAPÍTULO
Apresenta uma imagem e um texto relacionado com o conteúdo de literatura.
FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, dois textos que integr
Texto 1
O deus verme
Fator univ
FOCO NA IMAGEM
Cada período da literatura
é iniciado por Foco na
imagem, seção em que o
aluno toma contato com
aquela estética literária
por meio da leitura e
interpretação de uma obra
de arte, ampliando sua
capacidade de leitura de
texto não verbal.
NOME DO CAPÍTULO
Inicia-se sempre pela
literatura, seguida
de gramática e
produção de textos.
FIQUE CONECTADO
Esta seção reúne sugestões
de outros objetos culturais
relacionados com o período em
estudo: filmes, livros, músicas,
sites, museus, igrejas, etc.
Amplie seus conhecimentos sobre o Pré-Modernismo e o Modernismo, pesquisando em:
LIVROS
• Leia as principais obras da primeira fase do
Pré-Modernismo e do Modernismo brasileiro
e também: A semana de Arte Moderna, de
Neide Rezende (Ática); 22 por 22, de Maria
Eugênia Boaventura (Edusp); 1922, a semana
que não terminou, de Marcos Augusto
Gonçalves (Companhia das Letras); Tarsila
por Tarsila, de Tarsila do Amaral (Celebris);
Artes plásticas na Semana de 22, de Aracy
Amaral (Editora 34).
FILMES
• Policarpo Quaresma, herói do Brasil, de
Paulo Thiago; Guerra de Canudos, de Sérgio
Rezende; Meia-noite em Paris, de Woody
Allen; Os amores de Picasso, de James
Ivory; Coco Chanel & Igor Stravinsky, de
Jan Kounen; Macunaíma, de Joaquim Pedro
de Andrade; Pagu, de Norma Bengell; Os
amores de Picasso, de James Ivory; Tempos
modernos, de Charles Chaplin; O discreto
charme da burguesia, de Luis Buñuel.
MÚSICAS
• Ouça a música dos compositores modernos
Claude Debussy e Villa-Lobos. A canção
“Clair de Lune”, de Debussy, foi tema de
novela e de vários filmes. Ouça também a
canção “Escapulário”, de Caetano Veloso,
cuja letra é um poema de Oswald de
Andrade. Ouça ainda “Viola quebrada”,
única canção composta por Mário de
Andrade, disponível na Internet.
SITES
• Baixe as obras dos pré-modernistas Euclides
da Cunha e Lima Barreto e do modernista
português Fernando Pessoa, que pertencem
a domínio público, acessando: http://www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa/Pesquisa
ObraForm.do?select_action=&co_autor=45
Acesse também:
http://www.euclidesdacunha.org.br/
http://tarsiladoamaral.com.br/
PINTURAS
• Conheça a obra dos pintores modernistas
brasileiros, como Anita Malfatti, Tarsila
do Amaral, Di Cavalcanti e Portinari, e
europeus, como Picasso, Salvador Dalí, Max
Ernst, De Chirico, Léger, Miró e Magritte.
FIQUE CONECTADO!
O contexto de produção
e recepção do Modernismo
As obras que você viu na seção Foco na imagem, embora sejam
fruto de diferentes tendências artísticas do início do século XX, são
todas representativas da arte moderna.
O Modernismo surgiu no início do século XX, com manifestações artísticas que ocorreram antes, durante e depois da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), e se estendeu por várias décadas do
século XX. Quem produzia literatura e arte modernista no Brasil
nesse período? Quem era o público consumidor?
Meios de circulação
O Modernismo brasileiro teve início em São Paulo, importante centro industrial e cultural no início do século XX. Nas duas
primeiras décadas desse século, a cidade foi marcada por um
expressivo desenvolvimento econômico, em virtude da riqueza
proveniente da cultura do café. O período foi marcado por muitas
mudanças, como a criação de indústrias, a imigração de trabalhadores europeus, o surgimento de movimentos e bairros operários,
a construção do Teatro Municipal e a formação de uma elite culNa seção Conexões, na página 48, você vai
encontrar um roteiro de leitura de duas pinturas de Anita Malfatti e o texto "Paranoia
ou mistificação", de Monteiro Lobato.
Emiliano Di Cavalcanti. Capa do catálogo da exposição da Semana de Arte
Moderna de 1922/Instituto de Estudos Brasileiros, USP
Companhia das Letras
Mediapro/Versátil Cinema/Gravier
Productions/Pontchartrain Productions
Tarsila do Amaral. A Gare, 1925/Col.
Rubens Taufic Schahin, São Paulo, SP
40 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
Amplie seus conhecimentos sobre o Pré-Modernismo e o Modernismo, pesqui
LIVROS
• Leia as principais obras da primeira fase do
Pré-Modernismo e do Modernismo brasileiro
e também: A semana de Arte Moderna
Neide Rezende (Ática); 22 por 22
Eugênia Boaventura (Edusp);
FIQUE CONECTADO!
Amplie seus conhecimentos sobre o Pré-Modernismo e o Modernismo, pesquisando em:
Leia as principais obras da primeira fase do
Pré-Modernismo e do Modernismo brasileiro
Policarpo Quaresma, herói do Brasil, de
Guerra de Canudos, de Sérgio
Rezende; Meia-noite em Paris, de Woody
Allen; Os amores de Picasso, de James
Ivory; Coco Chanel & Igor Stravinsky, de
Jan Kounen; Macunaíma, de Joaquim Pedro
SITES
• Baixe as obras dos pré-modernistas Euclides
da Cunha e Lima Barreto e do modernista
O contexto de produção
e recepção do Modernismo
As obras que você viu na seção Foco na imagem, embor
fruto de diferentes tendências artísticas do início do século
todas representativas da arte moderna.
O Modernismo surgiu no início do século XX, com
ões artísticas que ocorreram antes, durante e depois
Guerra Mundial (1914-1918), e se estendeu por várias
XX. Quem produzia literatura e arte modern
nesse período? Quem era o público consumidor?
O CONTEXTO DE PRODUÇÃO E
RECEPÇÃO
Nesta seção, examina-se o fenômeno
literário do ponto de vista da situação
de produção, ou seja, quem eram os
agentes culturais na época e quem
era o público leitor da literatura
produzida nesse período.
FOCO NO TEXTO
Leitura e análise de textos
representativos do assunto
a ser trabalhado, com a
finalidade de examinar os
temas, os procedimentos
formais e as características
de cada período literário,
tópico gramatical ou
gênero, tendo em vista a
frente trabalhada.
Leia, a seguir, dois textos que integram a obra
O deus verme
O Modernismo
ATURA
FOCO NA IMAGEM
Observe as imagens que seguem
A fonte (1917), de
arcel Duchamp.
LITERATURA
Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos (1884-1914) nasceu no Engenho Pau d'Arco, no município de Sapé, Paraíba. Formou-se em
Direito, mas, em vez de atuar como
advogado, foi professor e deu aulas de
literatura em diferentes instituições de
ensino no Rio de Janeiro.
Morreu de tuberculose, aos 30 anos,
deixando uma única obra, Eu, que ainda
hoje impacta e seduz leitores das novas
gerações.
já se notavam mudanças − como um reflorescimento do nacionalismo e
a busca de uma língua brasileira, mais próxima do povo − que apontavam para uma renovação estética.
À produção situada entre ç9êê e ç922, ano em que ocorreu a Semana de
Arte Moderna, considerada o marco inicial do Modernismo brasileiro, costuma-se chamar Pré-Modernismo. Essa produção não chegou a constituir
um movimento literário, mas criou condições para a grande ruptura que se
daria logo depois.
O Pré-Modernismo contou com uma rica produção em verso e em prosa. Na poesia, destaca-se o poeta Augusto dos Anjos. Na prosa, Euclides da
Cunha, Monteiro Lobato e Lima Barreto.
Neste capítulo, você vai conhecer a poesia de Augusto dos Anjos e a prosa de Lima Barreto.
Euclides da Cunha e Os sertões
Euclides da Cunha (1866-1900) foi militar, engenheiro, jornalista e escritor. Quando eclodiu a Guerra
de Canudos, em 1896, no interior da Bahia, foi correspondente de guerra do jornal O Estado de S.
Paulo. Terminada a guerra, escreveu, com base nas observações que fez in loco, sua principal obra:
Os sertões (1901).
A obra é organizada em três partes: “A terra”, “O homem” e “A luta”. Adepto das ideias deterministas e naturalistas, Euclides da Cunha teve a intenção de provar, com a obra, que o homem é fruto
do meio e a guerra é consequência da interação do homem com o meio social e cultural.
Segundo a versão oficial dada pelo Exército na época, a guerra ocorreu por necessidade de combater um foco monarquista, que se opunha à recente República. Do ponto de vista do autor de Os
sertões, porém, o conflito que vitimou 15 mil pessoas foi fruto da miséria, do isolamento político, da
ignorância e do fanatismo religioso.
Augusto dos Anjos
Em ç9ç2, ocorreu a primeira publicação de Eu, de Augusto dos Anjos, que
já teve mais de cem edições e é, provavelmente, a obra de poesia mais lida
em nosso país.
Tal sucesso tem várias explicações, entre elas a originalidade chocante da poesia do autor, que trilhou um caminho único em nossa literatura,
fundindo elementos simbolistas a elementos materialistas e científicos.
Por um lado, o poeta herdou do Simbolismo uma visão cósmica e uma
angústia moral, além de ter adotado, por influência do filósofo Schopenhauer, um pessimismo exacerbado. Por outro, incorporou uma visão
materialista e científica da vida e do mundo, com claras influências do
biólogo naturalista Ernst Haeckel (ç834-ç9ç9) e do filósofo Herbert Spencer (ç788-ç86ê). Paradoxalmente, o eu lírico de seus poemas busca o infinito na matéria, com a perspectiva pessimista de que tudo caminha
para a morte, para o mal e para o nada. Não há nessa poesia lugar para
a esperança, uma vez que tudo é matéria, e a matéria caminha para a
podridão absoluta.
A linguagem empregada pelo autor também é surpreendente, considerando-se a linguagem elevada que até então era utilizada na poesia. Termos
científicos se misturam a um vocabulário rebuscado, dando origem a uma
linguagem eloquente, expressiva e muitas vezes chocante. As formas poéticas, entretanto, ainda são as convencionais empregadas no Simbolismo,
como o soneto e o verso decassílabo ou o alexandrino.
Morena Filmes, Filme de Sergio Rezende/João Raposo/Editoras Caras S.A/
Acervo Iconographia
Cena do filme Guerra de
Canudos, de Sérgio Rezende.
15 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
LITERATURA
O Pré-Modernismo
LITERATURA
O Pré-Modernismo
Concordância verbal
O conto CAPÍTULO 1
A literatura brasileira vivia nas duas primeiras décadas do século XX em um momento de transição. Por um lado, perdurava a influência das correntes estéticas do séRecanto do morro de
Santo Antônio (1920),
de Eliseu Visconti,
obra ainda marcada
por influências do
Impressionismo,
corrente artística do
final do século XIX. Projeto Eliseu Visconti/Coleção particular
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mento de transição. Por um lado, perdurava a influência das correntes estéticas do século XIX, como o Realismo, o Naturalismo, o Parnasianismo e o Simbolismo; por outro,
14 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
mento de transição. Por um lado, perdurava a influência das correntes estéticas do século XIX, como o Realismo, o Naturalismo, o Parnasianismo e o Simbolismo; por outro,
LITERATURA
Amplie seus conhecimentos sobre o Pré-Modernismo e o Modernismo, pesquisando em:
LIVROS
•Leia as principais obras da primeira fase do
Pré-Modernismo e do Modernismo brasileiro
e também: A semana de Arte Moderna, de
Neide Rezende (Ática); 22 por 22, de Maria
Eugênia Boaventura (Edusp); 1922, a semana
que não terminou, de Marcos Augusto
Gonçalves (Companhia das Letras); Tarsila
por Tarsila, de Tarsila do Amaral (Celebris);
Artes plásticas na Semana de 22, de Aracy
Amaral (Editora 34).
FILMES
• Policarpo Quaresma, herói do Brasil, de
Paulo Thiago; Guerra de Canudos, de Sérgio
Rezende; Meia-noite em Paris, de Woody
Allen; Os amores de Picasso, de James
Ivory; Coco Chanel & Igor Stravinsky, de
Jan Kounen; Macunaíma, de Joaquim Pedro
de Andrade; Pagu, de Norma Bengell; Os
amores de Picasso, de James Ivory; Tempos
modernos, de Charles Chaplin; O discreto
charme da burguesia, de Luis Buñuel.
MÚSICAS
• Ouça a música dos compositores modernos
Claude Debussy e Villa-Lobos. A canção
“Clair de Lune”, de Debussy, foi tema de
novela e de vários filmes. Ouça também a
canção “Escapulário”, de Caetano Veloso,
cuja letra é um poema de Oswald de
Andrade. Ouça ainda “Viola quebrada”,
única canção composta por Mário de
Andrade, disponível na Internet.
SITES
• Baixe as obras dos pré-modernistas Euclides
da Cunha e Lima Barreto e do modernista
português Fernando Pessoa, que pertencem
a domínio público, acessando: http://www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa/Pesquisa
ObraForm.do?select_action=&co_autor=45
Acesse também:
http://www.euclidesdacunha.org.br/
http://tarsiladoamaral.com.br/
PINTURAS
• Conheça a obra dos pintores modernistas
brasileiros, como Anita Malfatti, Tarsila
do Amaral, Di Cavalcanti e Portinari, e
europeus, como Picasso, Salvador Dalí, Max
Ernst, De Chirico, Léger, Miró e Magritte.
FIQUE CONECTADO!
O contexto de produção
e recepção do Modernismo
As obras que você viu na seção Foco na imagem, embora sejam
fruto de diferentes tendências artísticas do início do século XX, são
todas representativas da arte moderna.
O Modernismo surgiu no início do século XX, com manifestações artísticas que ocorreram antes, durante e depois da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), e se estendeu por várias décadas do
século XX. Quem produzia literatura e arte modernista no Brasil
nesse período? Quem era o público consumidor?
Meios de circulação
O Modernismo brasileiro teve início em São Paulo, importante centro industrial e cultural no início do século XX. Nas duas
primeiras décadas desse século, a cidade foi marcada por um
expressivo desenvolvimento econômico, em virtude da riqueza
proveniente da cultura do café. O período foi marcado por muitas
mudanças, como a criação de indústrias, a imigração de trabalhadores europeus, o surgimento de movimentos e bairros operários,
a construção do Teatro Municipal e a formação de uma elite culNa seção Conexões, na página 48, você vai
encontrar um roteiro de leitura de duas pinturas de Anita Malfatti e o texto "Paranoia
ou mistificação", de Monteiro Lobato.
Emiliano Di Cavalcanti. Capa do catálogo da exposição da Semana de Arte
Moderna de 1922/Instituto de Estudos Brasileiros, USP
Companhia das Letras
Mediapro/Versátil Cinema/Gravier
Productions/Pontchartrain Productions
Tarsila do Amaral. A Gare, 1925/Col.
Rubens Taufic Schahin, São Paulo, SP
40 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
PortuguesContemporaneo3_INICIAIS_001a011.indd 5 5/12/16 5:58 PM
6
PRODUÇÃO DE TEXTO
O conto
O CONTEXTO DE PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DOS TEXTOS
Quais textos você produzirá nesta unidade? Com que finalidade? Quem vai
ler seus textos?
Nesta unidade, nosso projeto é a organização, pela classe, de uma antologia
de contos, minicontos e contos fantásticos multimodais, com textos, imagens e
músicas.
Com vistas à produção da antologia, estudaremos no decorrer dos capítulos
diferentes tipos de contos.
FOCO NO TEXTO
Leia o conto que segue, do escritor angolano Ondjaki.
Nós chorámos pelo Cão Tinhoso
Para Isaura. Para Luís B. Hondwana
Foi no tempo da oitava classe, na aula de português.
Eu já tinha lido esse texto dois anos antes mas daquela vez a estória me parecia
mais bem contada com detalhes que atrapalhavam uma pessoa só de ler ainda em
leitura silenciosa – como a camarada professora de português tinha mandado. Era um
texto muito conhecido em Luanda: “Nós matámos o Cão Tinhoso”.
Eu lembrava-me de tudo: do Ginho, da pressão de ar, da Isaura e das feridas penduradas do Cão Tinhoso. Nunca me esqueci disso: um cão com feridas penduradas.
Os olhos do cão. Os olhos da Isaura. E agora de repente me aparecia tudo ali de novo.
Fiquei atrapalhado.
A camarada professora selecionou uns tantos para a leitura integral do texto. Assim
queria dizer que íamos ler o texto todo de rajada. Para não demorar muito, ela escolheu
os que liam melhor. Nós, os da minha turma da oitava, éramos cinquenta e dois. Eu era
o número cinquenta e um. Embora noutras turmas
tentassem arranjar alcunhas para os colegas, aquela era a minha primeira turma
onde ninguém tinha escapado de ser
alcunhado. E alguns eram nomes de
estiga violenta.
Muitos eram nomes de animais: havia o Serpente, o Cabrito, o Pacaça, a Barata da Sibéria,
a Joana Voa-Voa, a Gazela, e o
Jacó, que era eu. Deve ser porque eu mesmo falava muito
nessa altura. Havia o É-tê, o
Agostinho-Neto, a Scubidu e
alcunha: apelido.
bué: muito.
bondar: matar.
cacimbo: umidade;
inverno.
camarada: colega,
companheiro de armas;
forma de tratamento usada
pelos membros do Partido
Comunista.
calhar: acontecer, ocorrer
por acaso.
cueca: calcinha.
estiga: frase espirituosa
com a qual se debocha de
alguém.
maka: discussão, debate,
briga, confusão.
miúdo: criança.
porreira: bonita,
excelente, prestativa.
slow: dança de ritmo
lento na qual o casal fica
aconchegado.
tinhoso: nojento,
repugnante.
Nelson Provazi
30 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
MUNDO PLURAL
Seção que pode surgir em qualquer uma das frentes da disciplina – literatura, gramática ou produção de textos
– e que relaciona os conteúdos trabalhados no capítulo com as questões cotidianas do mundo contemporâneo,
como ética, consumo, meio ambiente, etc.
A coordenadora da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, Adriana Beringuy, explica que a desocupação cresceu entre todas as faixas etárias, mas o ritmo
está mais intenso entre os jovens de 18 a 24 anos. "O crescimento se deve tanto pelos
que perderam o emprego, quanto por aqueles jovens que antes não estavam nem
trabalhando, nem procurando, mas agora saem da inatividade e pressionam a taxa
de desemprego", explica.
No quarto período do curso de psicologia, Gabriela Magalhães Silva, 21, está procurando emprego há quatro meses e teme ter que trancar o curso. "Eu sou bolsista,
mas tenho muitos outros gastos, como passagens e lanche. Eu nunca tinha ficado tanto
tempo sem emprego. Agora, já fiz várias entrevistas e não fui chamada. O problema é
que tem muita gente procurando ao mesmo tempo", diz Gabriela.
Segundo a coordenadora do departamento de carreiras do Ibmec, Fernanda Schroder,
é exatamente isso que está acontecendo. "O número de pessoas procurando recolocação
aumentou muito. E, por outro lado, vemos que a oferta das vagas está menor do que a
procura, o que faz o desemprego ficar ainda maior. Nesse cenário, as empresas têm que
cortar custos e ficam mais seletivas. Portanto, preferem empregar uma pessoa que já tem
experiência do que dar uma oportunidade de primeiro emprego ao jovem", avalia.
"Como tem muita gente procurando, as empresas acabam oferecendo salários menores. Sem falar na inflação, que já faz a renda familiar cair. Então, os jovens estão buscando emprego para contribuir em casa", analisa Fernanda.
A poucos meses de completar 16 anos, Karolaine Anastácia fez questão de fazer sua
carteira de trabalho. Acompanhada pela mãe, Iracema Maria Rosa, 42, ela conta que
quer encontrar um emprego para ter condições de pagar cursos de qualificação. "Minha
mãe já paga inglês, porém quero fazer informática também", destaca. "Mas está difícil."
O especialista em inteligência de negócios do site Vagas.com, Rafael Urbano, afirma
que a conjuntura econômica obrigou o jovem a mudar de comportamento. "Se antes ele
dedicava mais tempo aos estudos, agora precisa complementar a renda da família." [...]
Idosos também estão em busca de oportunidades de trabalho
A procura de emprego também cresceu entre os idosos. No primeiro semestre deste
ano, o volume de pessoas com mais de 65 anos que enviaram currículos ao cadastro do
site Vagas.com aumentou 25% em relação ao mesmo período do ano passado. "Sabemos que a procura por trabalho é um movimento global, mas me chamou atenção a
quantidade de pessoas mais velhas buscando uma oportunidade ou um segundo emprego, para aumentar a renda", afirma especialista em recrutamento Rafael Urbano.
Apesar do aumento da busca de vagas pelos mais velhos, o desemprego da população
com 50 anos ou mais (2,6%) é quase quatro vezes menor do que entre os jovens. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desocupação atinge 11,9% de
quem tem entre 18 e 24 anos.
(Disponível em: http://www.otempo.com.br/capa/economia/
mercado-%C3%A9-cruel-com-o-jovem-1.1082291. Acesso em: 9/4/2016.)
1. Você trabalha ou já trabalhou? Você julga importante um jovem trabalhar antes de
completar o ensino médio?
2. Você já passou por algum processo de seleção para conseguir uma vaga de emprego?
Em caso afirmativo, conte brevemente como foi esse processo.
3. Você vivenciou ou conhece alguém que tenha vivenciado dificuldades específicas na
busca por um trabalho, seja pela idade, seja pela falta ou pelo excesso de experiência?
4. Quais são seus planos para o próximo ano, após concluir o ensino médio?
321PRODUÇÃO DE TEXTO
Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
MUNDO JUVENTUDE E TRABALHO
Você viu, nesta unidade, dois gêneros diretamente relacionados à esfera do trabalho:
a carta de apresentação e a entrevista de emprego. Leia o texto a seguir e, depois, discuta
com os colegas e o professor as questões propostas, justificando seus pontos de vista.
Mercado é cruel com o jovem
Quem antes só estudava agora procura emprego para ajudar a complementar a renda da família
QUEILA ARIADNE
Não está fácil para ninguém. Mas, para os jovens, arrumar um emprego está ainda
mais difícil. [...]
Elisa Rodrigues/Futura Press
320 UNIDADE 4 CAMINHOS
ANTES DE ESCREVER/ ANTES
DE PASSAR A LIMPO
Orientações para escrever e
revisar o texto.
HORA DE ESCREVER
Apresentação das
propostas de produção
para o estudante escrever.
PRODUÇÃO DE TEXTO
Inicia-se pelo estudo do gênero textual, a fim de que o
estudante conheça seus elementos constitutivos essenciais.
LÍNGUA e
LINGUAGEM
143 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
FOCO NO TEXTO
Leia o texto a seguir.
Crase
LÍNGUA E LINGUAGEM
1. Observe a parte não verbal do cartaz.
a. Em que suporte está escrito o texto central?
b. Que elementos estão em volta desse objeto?
c. Desses elementos, qual foge ao universo escolar?
2. O texto foi produzido para divulgar uma campanha do Conselho Federal de Psicologia. Levante hipóteses:
(Disponível em: https://dapsiuff.files.wordpress.com/2012/07/
nao-a-medicalizacao.png. Acesso em: 7/3/2016.)
REGISTRE
NO CADERNO
Conselho Federal de Psicologia
LÍNGUA E LINGUAGEM
É a parte de gramática do capítulo. Geralmente, inicia-se com o
estudo de um texto (seção Foco no texto), por meio do qual se
explora o conceito de forma contextualizada.
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Nesta seção, o aluno analisa textos, do
ponto de vista discursivo, nos quais o
conceito gramatical estudado foi utilizado.
REFLEXÕES SOBRE A LÍNGUA
Apresentação da parte
teórica e conceitual do
assunto em estudo.
LÍNGUA e
LINGUAGEM
FOCO NO TEXTO
Leia o texto a seguir.
Crase
LÍNGUA E LINGUAGEM
Conselho Federal de Psicologia
PRODUÇÃO DE TEXTO
O conto
O CONTEXTO DE PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DOS TEXTOS
Quais textos você produzirá nesta unidade? Com que finalidade? Quem vai
ler seus textos?
Nesta unidade, nosso projeto é a organização, pela classe, de uma antologia
de contos, minicontos e contos fantásticos multimodais, com textos, imagens e
músicas.
Com vistas à produção da antologia, estudaremos no decorrer dos capítulos
diferentes tipos de contos.
FOCO NO TEXTO
Leia o conto que segue, do escritor angolano Ondjaki.
Nós chorámos pelo Cão Tinhoso
Para Isaura. Para Luís B. Hondwana
Foi no tempo da oitava classe, na aula de português.
Eu já tinha lido esse texto dois anos antes mas daquela vez a estória me parecia
mais bem contada com detalhes que atrapalhavam uma pessoa só de ler ainda em
leitura silenciosa – como a camarada professora de português tinha mandado. Era um
texto muito conhecido em Luanda:“Nós matámos o Cão Tinhoso”.
Eu lembrava-me de tudo: do Ginho, da pressão de ar, da Isaura e das feridas pen- alcunha: apelido.
duradas do Cão Tinhoso. Nunca me esqueci disso: um cão com feridas penduradas.
Os olhos do cão. Os olhos da Isaura. E agora de repente me aparecia tudo ali de novo.
A camarada professora selecionou uns tantos para a leitura integral do texto.Assim
queria dizer que íamos ler o texto todo de rajada. Para não demorar muito, ela escolheu
alcunha: apelido.
bué: muito.
bondar: matar.
Crie você também um ou mais minic
ANTES DE ESCREVER
Planeje seu conto, seguindo estas orientaç
• Tenha em vista o público para o qual vai escr
por literatura em geral ou por literatura contempor
• Leia ou releia o boxe “A estrutura ou a falta de
esboce o enredo, decidindo se e como vai romper
defina as personagens, o tempo e o espaço das aç
• Caso não se trate de miniconto, procure dar dimensão
explorar a dimensão social das personagens.
• Utilize uma linguagem de acordo com a norma-padr
ANTES DE PASSAR A LIMPO
Antes de dar seu texto por terminado
ele corresponde ao seu objetiv
tinado a um público formado por jo
Eu lembrava-me de tudo: do Ginho, da pressão de ar, da Isaura e das feridas penduradas do Cão Tinhoso. Nunca me esqueci disso: um cão com feridas penduradas.
Os olhos do cão. Os olhos da Isaura. E agora de repente me aparecia tudo ali de novo.
Fiquei atrapalhado.
A camarada professora selecionou uns tantos para a leitura integral do texto.Assim
queria dizer que íamos ler o texto todo de rajada. Para não demorar muito, ela escolheu
os que liam melhor. Nós, os da minha turma da oitava, éramos cinquenta e dois. Eu era
o número cinquenta e um. Embora noutras turmas
tentassem arranjar alcunhas para os colegas, aquela era a minha primeira turma
onde ninguém tinha escapado de ser
alcunhado. E alguns eram nomes de
estiga violenta.
Muitos eram nomes de animais: havia o Serpente, o Cabrito, o Pacaça, a Barata da Sibéria,
a Joana Voa-Voa, a Gazela, e o
Jacó, que era eu. Deve ser porque eu mesmo falava muito
nessa altura. Havia o É-tê, o
Agostinho-Neto, a Scubidu e
Nelson Provazi
30 UNIDADE 1
Nelson Provazi
UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
Eu lembrava-me de tudo: do Ginho, da pressão de ar, da Isaura e das feridas penduradas do Cão Tinhoso. Nunca me esqueci disso: um cão com feridas penduradas.
Os olhos do cão. Os olhos da Isaura. E agora de repente me aparecia tudo ali de novo.
A camarada professora selecionou uns tantos para a leitura integral do texto.Assim
queria dizer que íamos ler o texto todo de rajada. Para não demorar muito, ela escolheu
os que liam melhor. Nós, os da minha turma da oitava, éramos cinquenta e dois. Eu era
o número cinquenta e um. Embora noutras turmas
tentassem arranjar alcunhas para os colegas, aquela era a minha primeira turma
onde ninguém tinha escapado de ser
alcunhado. E alguns eram nomes de
estiga violenta.
Muitos eram nomes de animais: havia o Serpente, o Cabrito, o Pacaça, a Barata da Sibéria,
a Joana Voa-Voa, a Gazela, e o
Jacó, que era eu. Deve ser porque eu mesmo falava muito
nessa altura. Havia o É-tê, o
Agostinho-Neto, a Scubidu e
empo e o espaço no
duzidos? Justifique sua resp
b. Há aprofundamento psicológic
HORA DE ESCREVER
Como você sabe, no final da unidade ser
contos e contos fantásticos multimodais
Seguem duas propostas de produção
orientação do professor. O(s) conto(s)
tegrar a antologia.
tando Reconte
A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo
o 6¼ quadrinhos rev
novo sentido a tudo que veio an
a. O que esse quadrinho sugere so
b. O que esse quadrinho sugere sobr
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia o texto a seguir e responda às quest
Desde que nascemos já estamos
papéis a serem cumpridos. Menin
ao ponto de uma empresa
infância,
1. Observe a parte não verbal do cartaz.
a. Em que suporte está escrito o texto central?
b. Que elementos estão em volta desse objeto?
c. Desses elementos, qual foge ao universo escolar?
2. O texto foi produzido para divulgar uma campanha do Conselho Federal de Psicologia. Levante hipóteses:
(Disponível em: https://dapsiuff.files.wordpress.com/2012/07/
nao-a-medicalizacao.png. Acesso em: 7/3/2016.)
A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo
O texto foi produzido para divulgar uma campanha do Conselho Federal de Psicolo-
(Disponível em: https://dapsiuff.files.wordpress.com/2012/07/
nao-a-medicalizacao.png. Acesso em: 7/3/2016.)
A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo
ma verbal implícita
ge?
Um dos complementos que esse verb
tém uma preposição. Qual é essa preposiç
c. Levante hipóteses: Por que antes da palavr
da a forma à e antes da palavra uso foi utiliza
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
No estudo do cartaz, você viu que, quando um complemen
ciado pela preposição a seguida de um substantivo f
antecedido pelo artigo a, há a ocorrência da crase,
ogal se fundem. Ocorrerá crase, portanto, quando
eposição a e o termo regido admite o artigo f
Crase é a fusão de duas
junção da eposição
A coordenadora da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, Adriana Beringuy, explica que a desocupação cresceu entre todas as faixas etárias, mas o ritmo
está mais intenso entre os jovens de 18 a 24 anos. "O crescimento se deve tanto pelos
que perderam o emprego, quanto por aqueles jovens que antes não estavam nem
trabalhando, nem procurando, mas agora saem da inatividade e pressionam a taxa
de desemprego", explica.
No quarto período do curso de psicologia, Gabriela Magalhães Silva, 21, está procurando emprego há quatro meses e teme ter que trancar o curso. "Eu sou bolsista,
mas tenho muitos outros gastos, como passagens e lanche. Eu nunca tinha ficado tanto
tempo sem emprego. Agora, já fiz várias entrevistas e não fui chamada. O problema é
que tem muita gente procurando ao mesmo tempo", diz Gabriela.
Segundo a coordenadora do departamento de carreiras do Ibmec, Fernanda Schroder,
é exatamente isso que está acontecendo. "O número de pessoas procurando recolocação
aumentou muito. E, por outro lado, vemos que a oferta das vagas está menor do que a
procura, o que faz o desemprego ficar ainda maior. Nesse cenário, as empresas têm que
cortar custos e ficam mais seletivas.Portanto,preferem empregar uma pessoa que já tem
experiência do que dar uma oportunidade de primeiro emprego ao jovem", avalia.
"Como tem muita gente procurando, as empresas acabam oferecendo salários menores. Sem falar na inflação, que já faz a renda familiar cair. Então, os jovens estão buscando emprego para contribuir em casa", analisa Fernanda.
A poucos meses de completar 16 anos, Karolaine Anastácia fez questão de fazer sua
carteira de trabalho. Acompanhada pela mãe, Iracema Maria Rosa, 42, ela conta que
quer encontrar um emprego para ter condições de pagar cursos de qualificação."Minha
mãe já paga inglês, porém quero fazer informática também", destaca."Mas está difícil."
O especialista em inteligência de negócios do site Vagas.com, Rafael Urbano, afirma
que a conjuntura econômica obrigou o jovem a mudar de comportamento."Se antes ele
dedicava mais tempo aos estudos, agora precisa complementar a renda da família." [...]
Idosos também estão em busca de oportunidades de trabalho
A procura de emprego também cresceu entre os idosos. No primeiro semestre deste
ano, o volume de pessoas com mais de 65 anos que enviaram currículos ao cadastro do
site Vagas.com aumentou 25% em relação ao mesmo período do ano passado. "Sabemos que a procura por trabalho é um movimento global, mas me chamou atenção a
quantidade de pessoas mais velhas buscando uma oportunidade ou um segundo emprego, para aumentar a renda", afirma especialista em recrutamento Rafael Urbano.
Apesar do aumento da busca de vagas pelos mais velhos, o desemprego da população
com 50 anos ou mais (2,6%) é quase quatro vezes menor do que entre os jovens. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desocupação atinge 11,9% de
quem tem entre 18 e 24 anos.
(Disponível em: http://www.otempo.com.br/capa/economia/
mercado-%C3%A9-cruel-com-o-jovem-1.1082291. Acesso em: 9/4/2016.)
1. Você trabalha ou já trabalhou? Você julga importante um jovem trabalhar antes de
completar o ensino médio?
2. Você já passou por algum processo de seleção para conseguir uma vaga de emprego?
Em caso afirmativo, conte brevemente como foi esse processo.
3. Você vivenciou ou conhece alguém que tenha vivenciado dificuldades específicas na
busca por um trabalho, seja pela idade, seja pela falta ou pelo excesso de experiência?
4. Quais são seus planos para o próximo ano, após concluir o ensino médio?
321
PRODUÇÃO
DE TEXTO
Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
MUNDO JUVENTUDE E TRABALHO
Você viu, nesta unidade, dois gêneros diretamente relacionados à esfera do trabalho:
a carta de apresentação e a entrevista de emprego. Leia o texto a seguir e, depois, discuta
com os colegas e o professor as questões propostas, justificando seus pontos de vista.
Mercado é cruel com o jovem
Quem antes só estudava agora procura emprego para ajudar a complementar a renda da família
QUEILA ARIADNE
Não está fácil para ninguém.Mas,para os jovens, arrumar um emprego está ainda
mais difícil. [...]
Elisa Rodrigues/Futura Press
320 UNIDADE 4 CAMINHOS
PortuguesContemporaneo3_INICIAIS_001a011.indd 6 5/12/16 5:58 PM
7
PROJETO
Encerramento do projeto de produção textual anunciado na abertura
da unidade e desenvolvido ao longo dos capítulos. São saraus, feiras
culturais, debates, produção de livros e revistas, etc.
POR DENTRO DO ENEM E DO VESTIBULAR
Organizada em duas subseções, apresenta a resolução de uma questão
do Enem (Enem em contexto) e reúne questões das provas do Enem e
dos principais vestibulares (Questões do Enem e do vestibular).
175
apresenta uma afirmação falsa, pois a “apresentação objetiva de dados e fatos históricos” não é
um traço característico do gênero lírico, como também não é um elemento central do poema em
questão. Nas alternativas d e e, as referências às “influências românticas” e à “inutilidade do poeta”
não podem ser verificadas em “Confidência do itabirano”. Nesse poema, o eu lírico apresenta uma
visão crítica em relação à sua cidade natal e evidencia, por meio de imagens, a influência que Itabira
exerce sobre ele; portanto, a alternativa correta é a c.
QUESTÕES DO ENEM E DO VESTIBULAR
1. (ENEM)
Texto I
Logo depois transferiram para o trapiche o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraram então para
o trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles
meninos, moleques de todas as cores e de idades as
mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos, que
à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da
ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas
vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que
vinham das embarcações...
AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008 (fragmento).
Texto II
À margem esquerda do rio Belém, nos fundos do
mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro – ali os
bêbados são felizes. Curitiba os considera animais sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e pirão.
No trivial contentavam-se com as sobras do mercado.
TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos.
Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 (fragmento).
Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são
exemplos de uma abordagem literária recorrente na literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos,
a. a linguagem afetiva aproxima os narradores dos
personagens marginalizados.
b. a ironia marca o distanciamento dos narradores em
relação aos personagens.
c. o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem social.
d. o espaço onde vivem os personagens é uma das
marcas de sua exclusão.
e. a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta.
2. (UEL-PR) Sobre o romance Fogo morto, de José Lins do
Rego, é correto afirmar:
a. Caracteriza-se como uma obra memorialista, pois
a personagem central, mestre José Amaro, narra a
sua história pessoal, enfatizando os problemas que
o mundo capitalista traz para o homem.
b. Embora tenha sido escrito na década de 193ó, quando o movimento modernista já havia operado uma
revolução na literatura, o romance é bastante convencional, sobretudo na caracterização da paisagem
e do homem nordestino, aproximando-se da visão
de mundo romântica.
c. Apresenta uma visão saudosa da realidade política,
econômica e social do Nordeste da primeira metade
do século XX, bem como uma visão pitoresca do espaço enfocado.
d. O uso do discurso indireto livre é um dos procedimentos de construção narrativa mais significativos do romance, na medida em que permite a
diversidade de olhares sobre uma dada realidade
e, ao mesmo tempo, auxilia no processo de aprofundamento do drama psicológico vivenciado pelas personagens.
e. Faz um retrato fotográfico da realidade nordestina,
afastando-se do ficcional, uma vez que parte de fatos que realmente existiram e que podem ser comprovados, como a decadência dos engenhos de açúcar e a Guerra de Canudos.
3. (FUVEST-SP)
O Brasil já está à beira do abismo. Mas ainda vai
ser preciso um grande esforço de todo mundo pra colocarmos ele novamente lá em cima.
Millôr Fernandes.
a. Em seu sentido usual, a expressão destacada significa “às vésperas de uma catástrofe”. Tal significado
se confirma no texto? Justifique sua resposta.
b. Sem alterar o seu sentido, reescreva o texto em um
único período, iniciando com “Embora o Brasil (...)” e
substituindo a forma pra por para que. Faça as demais transformações que são necessárias para adequar o texto à norma escrita padrão.
REGISTRE
NO CADERNO
Por dentro do Enem e do vestibular 174 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
(ENEM)
Confidência do itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.
Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita
de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema “Confidência do itabirano”. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas
modernistas, conclui-se que o poema acima
a. representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.
b. apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos.
c. evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a
forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo.
d. critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as
prendas resgatadas de Itabira.
e. apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela
terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
POR DENTRO DO ENEM E DO VESTIBULAR
ENEM EM CONTEXTO
As questões do Enem exigem algumas habilidades de leitura, como o reconhecimento das concepções estéticas e dos procedimentos de construção do texto literário, tal como ocorre nesta questão:
Diferentemente do que afirma a alternativa a, Carlos Drummond de Andrade pertence à geração de 3é, fase que se afasta do tom contestatório da geração de 22 (ou fase heroica), voltandose para questões sociais, filosóficas, existenciais, espirituais e amorosas. A alternativa b também
• Providenciem cópias das provas selecionadas e coloquem na primeira página de cada uma
o número de inscrição de cada participante, garantindo que cada pessoa inscrita terá a
sua prova.
• Elaborem uma lista de presença (que pode ser por ordem alfabética, por ordem de inscrição,
ou, ainda, por sala), na qual devem constar o nome do participante e o número de inscrição de
cada um e deixem-na com a pessoa que cuidará da parte administrativa.
Organização das salas
• Solicitem à direção da escola o número de salas
necessário para acomodar todos os inscritos.
• Providenciem adesivos com os números de
inscrição e, no dia anterior à realização do simulado,
colem esses números nas carteiras, em ordem, para
que cada participante tenha o seu lugar definido.
• Afixem na porta de cada sala uma folha
com a sequência dos números de inscrição
correspondentes aos participantes que farão
a prova ali, para que possam se localizar mais
facilmente.
• Orientem as pessoas responsáveis pelas salas para
que, após distribuir as provas, passem de carteira
em carteira solicitando aos participantes que
assinem a lista de presença e conferindo o número
de inscrição e a identidade de cada um.
Correção dos textos do simulado
• Reúnam os envelopes com as redações, recolhendoos com a pessoa que ficou responsável pela
aplicação da prova que cada grupo propôs.
• Organizem-se em grupos de três alunos para a
avaliação das redações. Cada trio deve avaliar
no mínimo três redações, de modo que cada um
atribua nota a pelo menos uma redação. Vocês
podem, nesse grupo de três, discutir alguma dúvida
que tenham em relação aos critérios de avaliação
estudados.
• Combinem com o professor uma maneira pela
qual ele coordene os trios no trabalho de correção
das redações. Ele poderá, por exemplo, fazer um
“treinamento” dos trios, tomando por base o critério
das competências do Enem, estudado por vocês
no capítulo 3 desta unidade. Ele poderá, também,
dar apoio aos grupos durante a correção, tirando
dúvidas pontuais sobre alguns textos.
• Depois de corrigidos os textos, publiquem as notas em um mural da escola, divulgando-as por
número de inscrição, sem revelar a identidade dos participantes.
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Fernando Favoretto / Criar Imagem
249
Simulado Enem −
A redação em exame
Como encerramento da unidade, você e seus colegas organizarão um simulado da prova
de redação do Enem, que consistirá na aplicação de provas anteriores do exame, em determinado dia e horário.
Preparação e divulgação do simulado
• Organizem-se em dois grupos, cada um dos quais ficará responsável por selecionar uma prova
de redação do Enem de anos anteriores.
• Convidem professores e funcionários da escola, ou mesmo pais de alunos, para, no dia do
simulado, auxiliarem na parte administrativa: organizar e fazer a distribuição das provas,
controlar o tempo de aplicação, recolher os textos, lacrar os envelopes e encaminhá-los aos
grupos organizadores.
• Façam uma divulgação antecipada do simulado para a comunidade da escola e convidem
outros interessados para participar.
• Elaborem uma ficha de inscrição, simplificada, a ser disponibilizada em certo(s) local(is) por um
período estipulado, para que vocês saibam antecipadamente quantas pessoas participarão do
simulado.
• Com a lista dos inscritos em mãos, dividam o número de pessoas, igualmente, entre os dois
grupos.
Organização da prova
• Cada grupo deverá selecionar uma prova do Enem de anos anteriores, sem permitir que o
outro grupo tome conhecimento de qual foi a prova escolhida.
• Organizem os participantes pela sequência dos números de inscrição, que devem constar
nas provas em vez dos nomes, a fim de que a identidade dos autores das redações não seja
conhecida no momento da correção. Rico
248 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
175
apresenta uma afirmação falsa, pois a “apresentação objetiva de dados e fatos históricos” não é
um traço característico do gênero lírico, como também não é um elemento central do poema em
questão. Nas alternativas d e e, as referências às “influências românticas” e à “inutilidade do poeta”
não podem ser verificadas em “Confidência do itabirano”. Nesse poema, o eu lírico apresenta uma
visão crítica em relação à sua cidade natal e evidencia, por meio de imagens, a influência que Itabira
exerce sobre ele; portanto, a alternativa correta é a c.
QUESTÕES DO ENEM E DO VESTIBULAR
1. (ENEM)
Texto I
Logo depois transferiram para o trapiche o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraram então para
o trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles
meninos, moleques de todas as cores e de idades as
mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos, que
à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da
ponte e dormiam,indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas
vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que
vinham das embarcações...
AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008 (fragmento).
Texto II
À margem esquerda do rio Belém, nos fundos do
mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro – ali os
bêbados são felizes. Curitiba os considera animais sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e pirão.
No trivial contentavam-se com as sobras do mercado.
TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos.
Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 (fragmento).
Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são
exemplos de uma abordagem literária recorrente na literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos,
a. a linguagem afetiva aproxima os narradores dos
personagens marginalizados.
b. a ironia marca o distanciamento dos narradores em
relação aos personagens.
c. o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem social.
d. o espaço onde vivem os personagens é uma das
marcas de sua exclusão.
e. a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta.
2. (UEL-PR) Sobre o romance Fogo morto, de José Lins do
Rego, é correto afirmar:
a. Caracteriza-se como uma obra memorialista, pois
a personagem central, mestre José Amaro, narra a
sua história pessoal, enfatizando os problemas que
o mundo capitalista traz para o homem.
b. Embora tenha sido escrito na década de 193ó, quando o movimento modernista já havia operado uma
revolução na literatura, o romance é bastante convencional, sobretudo na caracterização da paisagem
e do homem nordestino, aproximando-se da visão
de mundo romântica.
c. Apresenta uma visão saudosa da realidade política,
econômica e social do Nordeste da primeira metade
do século XX, bem como uma visão pitoresca do espaço enfocado.
d. O uso do discurso indireto livre é um dos procedimentos de construção narrativa mais significativos do romance, na medida em que permite a
diversidade de olhares sobre uma dada realidade
e, ao mesmo tempo, auxilia no processo de aprofundamento do drama psicológico vivenciado pelas personagens.
e. Faz um retrato fotográfico da realidade nordestina,
afastando-se do ficcional, uma vez que parte de fatos que realmente existiram e que podem ser comprovados, como a decadência dos engenhos de açúcar e a Guerra de Canudos.
3. (FUVEST-SP)
O Brasil já está à beira do abismo. Mas ainda vai
ser preciso um grande esforço de todo mundo pra colocarmos ele novamente lá em cima.
Millôr Fernandes.
a. Em seu sentido usual, a expressão destacada significa “às vésperas de uma catástrofe”. Tal significado
se confirma no texto? Justifique sua resposta.
b. Sem alterar o seu sentido, reescreva o texto em um
único período, iniciando com “Embora o Brasil (...)” e
substituindo a forma pra por para que. Faça as demais transformações que são necessárias para adequar o texto à norma escrita padrão.
REGISTRE
NO CADERNO
Por dentro do Enem e do vestibular 174 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
(ENEM)
Confidência do itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro,futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro,tive gado,tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.
Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita
de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema “Confidência do itabirano”. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas
modernistas, conclui-se que o poema acima
a. representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.
b. apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos.
c. evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a
forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo.
d. critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as
prendas resgatadas de Itabira.
e. apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela
terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
POR DENTRO DO ENEM E DO VESTIBULAR
ENEM EM CONTEXTO
As questões do Enemexigemalgumas habilidades de leitura, como o reconhecimento das concepções estéticas e dos procedimentos de construção do texto literário, tal como ocorre nesta questão:
Diferentemente do que afirma a alternativa a, Carlos Drummond de Andrade pertence à geração de 3é, fase que se afasta do tom contestatório da geração de 22 (ou fase heroica), voltandose para questões sociais, filosóficas, existenciais, espirituais e amorosas. A alternativa b também
• Providenciem cópias das provas selecionadas e coloquem na primeira página de cada uma
o número de inscrição de cada participante, garantindo que cada pessoa inscrita terá a
sua prova.
• Elaborem uma lista de presença (que pode ser por ordem alfabética, por ordem de inscrição,
ou, ainda, por sala), na qual devem constar o nome do participante e o número de inscrição de
cada um e deixem-na com a pessoa que cuidará da parte administrativa.
Organização das salas
• Solicitem à direção da escola o número de salas
necessário para acomodar todos os inscritos.
• Providenciem adesivos com os números de
inscrição e, no dia anterior à realização do simulado,
colem esses números nas carteiras, em ordem, para
que cada participante tenha o seu lugar definido.
• Afixem na porta de cada sala uma folha
com a sequência dos números de inscrição
correspondentes aos participantes que farão
a prova ali, para que possam se localizar mais
facilmente.
• Orientem as pessoas responsáveis pelas salas para
que, após distribuir as provas, passem de carteira
em carteira solicitando aos participantes que
assinem a lista de presença e conferindo o número
de inscrição e a identidade de cada um.
Correção dos textos do simulado
• Reúnam os envelopes com as redações, recolhendoos com a pessoa que ficou responsável pela
aplicação da prova que cada grupo propôs.
• Organizem-se em grupos de três alunos para a
avaliação das redações. Cada trio deve avaliar
no mínimo três redações, de modo que cada um
atribua nota a pelo menos uma redação. Vocês
podem, nesse grupo de três, discutir alguma dúvida
que tenham em relação aos critérios de avaliação
estudados.
• Combinem com o professor uma maneira pela
qual ele coordene os trios no trabalho de correção
das redações. Ele poderá, por exemplo, fazer um
“treinamento” dos trios, tomando por base o critério
das competências do Enem, estudado por vocês
no capítulo 3 desta unidade. Ele poderá, também,
dar apoio aos grupos durante a correção, tirando
dúvidas pontuais sobre alguns textos.
• Depois de corrigidos os textos, publiquem as notas em um mural da escola, divulgando-as por
número de inscrição, sem revelar a identidade dos participantes.
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249
Simulado Enem −
A redação em exame
Como encerramento da unidade, você e seus colegas organizarão um simulado da prova
de redação do Enem, que consistirá na aplicação de provas anteriores do exame, em determinado dia e horário.
Preparação e divulgação do simulado
• Organizem-se em dois grupos, cada um dos quais ficará responsável por selecionar uma prova
de redação do Enem de anos anteriores.
• Convidem professores e funcionários da escola, ou mesmo pais de alunos, para, no dia do
simulado, auxiliarem na parte administrativa: organizar e fazer a distribuição das provas,
controlar o tempo de aplicação, recolher os textos, lacrar os envelopes e encaminhá-los aos
grupos organizadores.
• Façam uma divulgação antecipada do simulado para a comunidade da escola e convidem
outros interessados para participar.
• Elaborem uma ficha de inscrição, simplificada, a ser disponibilizada em certo(s) local(is) por um
período estipulado, para que vocês saibam antecipadamente quantas pessoas participarão do
simulado.
• Com a lista dos inscritos em mãos, dividam o número de pessoas, igualmente, entre os dois
grupos.
Organização da prova
• Cada grupo deverá selecionar uma prova do Enem de anos anteriores, sem permitir que o
outro grupo tome conhecimento de qual foi a prova escolhida.
• Organizem os participantes pela sequência dos números de inscrição, que devem constar
nas provas em vez dos nomes, a fim de que a identidade dos autores das redações não seja
conhecida no momento da correção.
Rico
248 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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8
SUMÁRIO
■ CAPÍTULO 1 – O PRÉ-MODERNISMO –
CONCORDÂNCIA VERBAL – O CONTO
LITERATURA: O PRÉ-MODERNISMO .......................................14
Augusto dos Anjos ....................................................................................15
Foco no texto: “O deus verme” e “Idealismo” ...............................16
Lima Barreto ................................................................................................17
Triste fim de Policarpo Quaresma ........................................................18
Foco no texto: trecho de Triste fim de
Policarpo Quaresma ..................................................................................18
LÍNGUA E LINGUAGEM:
CONCORDÂNCIA VERBAL ............................................................... 23
Foco no texto: “Dois e dois: quatro”,
de Ferreira Gullar ...................................................................................... 23
Reflexões sobre a língua ....................................................................... 25
A concordância ideológica ou silepse ..............................................26
As concordâncias dos verbos
impessoais e do verbo ser ..................................................................... 27
Texto e enunciação ..................................................................................28
PRODUÇÃO DE TEXTO: O CONTO ............................................30
Foco no texto: “Nós choramos pelo
Cão Tinhoso”, de Ondjaki .......................................................................30
Hora de escrever ....................................................................................... 35
■ CAPÍTULO 2 – O MODERNISMO –
CONCORDÂNCIA NOMINAL –
O CONTO MODERNO E CONTEMPORÂNEO
LITERATURA: O MODERNISMO ..................................................38
Foco na imagem: A fonte, de Marcel Duchamp;
O grito, de Edvard Munch; Corrente de
cachorro em movimento, de Giacomo Balla;
As senhoritas de Avignon, de Pablo Picasso;
Persistência da memória, de Salvador Dalí .....................................38
O contexto de produção e recepção do Modernismo ...............40
Meios de circulação .................................................................................40
O Modernismo em contexto ................................................................41
Movimentos e manifestos ....................................................................41
Foco no texto: fragmento do “Prefácio
interessantíssimo”, de Mário de Andrade;
poemas de Oswald de Andrade .........................................................42
Entre saberes .............................................................................................. 45
Conexões: O japonês e A mulher de cabelos verdes,
de Anita Malfatti; “Paranoia ou mistificação?”,
de Monteiro Lobato .................................................................................48
LÍNGUA E LINGUAGEM:
CONCORDÂNCIA NOMINAL ............................................................ 51
Foco no texto: anúncio ........................................................................... 51
Reflexões sobre a língua ....................................................................... 52
Texto e enunciação ..................................................................................57
PRODUÇÃO DE TEXTO:
O CONTO MODERNO E CONTEMPORÂNEO .........................59
Foco no texto: “Uma vela para Dario”,
de Dalton Trevisan ...................................................................................59
Hora de escrever .......................................................................................62
■ CAPÍTULO 3 – A GERAÇÃO DE 22 –
REGÊNCIA VERBAL – O CONTO FANTÁSTICO
LITERATURA: A GERAÇÃO DE 22 ..............................................64
Oswald de Andrade .................................................................................65
Mário de Andrade ....................................................................................65
Macunaíma: o herói sem nenhum caráter .................................... 66
Foco no texto: trecho de Macunaíma ............................................. 66
Manuel Bandeira ...................................................................................... 70
Foco no texto: “Andorinha”, “Momento
num café” e “Nova poética” ................................................................. 70
Entre textos: “O laço de fita”, de Castro Alves;
“Amor”, de Oswald de Andrade ........................................................... 73
LÍNGUA E LINGUAGEM:
REGÊNCIA VERBAL ..............................................................................75
Foco no texto: cartaz de campanha de
doação de sangue ....................................................................................75
Reflexões sobre a língua ....................................................................... 76
Texto e enunciação ..................................................................................80
PRODUÇÃO DE TEXTO: O CONTO FANTÁSTICO ...............82
Foco no texto: “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe ..................82
Hora de escrever ....................................................................................... 87
POR DENTRO DO ENEM E DO VESTIBULAR .......................91
PROJETO: ANTOLOGIA DE CONTOS,
MINICONTOS E CONTOS
FANTÁSTICOS MULTIMODAIS .................................................................96
UNIDADE
1
RUPTURA E CONSTRUÇÃO
FANTÁSTICOS MULTIMODAIS .................................................................96
Nelson Provazi
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9
■ CAPÍTULO 1 – A GERAÇÃO DE 30:
GRACILIANO RAMOS – REGÊNCIA NOMINAL –
O DEBATE DELIBERATIVO
LITERATURA: A GERAÇÃO DE 30:
GRACILIANO RAMOS ......................................................................100
O contexto de produção e recepção da
produção literária da geração de 30 ...............................................101
Meios de circulação ................................................................................101
O Modernismo em contexto .............................................................102
O romance de 30 .....................................................................................102
Rachel de Queiroz ...................................................................................102
Graciliano Ramos ...................................................................................103
Foco no texto: trecho de Vidas secas,
de Graciliano Ramos .............................................................................103
Entre textos: fragmento do poema
“O retrato do sertão”, de Patativa do Assaré,
e canção “Segue o seco”, de Carlinhos Brown ............................ 107
Entre saberes .............................................................................................110
Mundo plural ...........................................................................................113
LÍNGUA E LINGUAGEM:
REGÊNCIA NOMINAL ........................................................................ 115
Foco no texto: fôlder da Delegacia da Mulher ........................... 115
Reflexões sobre a língua .......................................................................117
Texto e enunciação ...............................................................................120
PRODUÇÃO DE TEXTO:
O DEBATE DELIBERATIVO .............................................................122
Foco no texto: transcrição de trecho de uma reunião
deliberativa na Câmara dos Deputados ........................................122
Hora de escrever .....................................................................................126
■ CAPÍTULO 2 – A GERAÇÃO DE 30: JOSÉ LINS DO REGO,
JORGE AMADO E ÉRICO VERÍSSIMO – CRASE –
RELATÓRIO E CURRÍCULO
LITERATURA: JOSÉ LINS DO REGO,
JORGE AMADO E ÉRICO VERÍSSIMO .....................................130
José Lins do Rego ....................................................................................131
Fogo morto .................................................................................................131
Foco no texto: fragmento de Fogo morto .....................................131
Jorge Amado ............................................................................................134
Capitães da Areia ....................................................................................134
Foco no texto: trecho de Capitães da Areia .................................134
Érico Veríssimo ........................................................................................138
O tempo e o vento ...................................................................................139
Foco no texto: trecho de “Um certo
capitão Rodrigo”......................................................................................139
LÍNGUA E LINGUAGEM: CRASE .................................................143
Foco no texto: cartaz do Conselho Federal
de Psicologia .............................................................................................143
Reflexões sobre a língua .....................................................................144
Texto e enunciação ................................................................................147
PRODUÇÃO DE TEXTO:
RELATÓRIO E CURRÍCULO ...........................................................149
O relatório .................................................................................................149
Foco no texto: “Relatório do 4¼ Encontro
da Comunidade de Desenvolvimento” .........................................149
Hora de escrever ......................................................................................152
O currículo ..................................................................................................153
Hora de escrever ......................................................................................153
■ CAPÍTULO 3 – A GERAÇÃO DE 30 – COLOCAÇÃO
PRONOMINAL – CARTAS ARGUMENTATIVAS
LITERATURA: A GERAÇÃO DE 30:
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE ......................................155
A poesia de 30..........................................................................................156
Carlos Drummond de Andrade ........................................................156
Foco no texto: “Coração numeroso” e
“A noite dissolve os homens” .............................................................157
LÍNGUA E LINGUAGEM:
COLOCAÇÃO PRONOMINAL ..........................................................161
Foco no texto: “Abraçando árvore”,
de Antonio Prata ......................................................................................161
Reflexões sobre a língua .....................................................................163
Texto e enunciação ................................................................................167
PRODUÇÃO DE TEXTO: AS CARTAS
ARGUMENTATIVAS DE SOLICITAÇÃO
E DE RECLAMAÇÃO ...........................................................................168
A carta de solicitação ...........................................................................168
Foco no texto: carta de solicitação .................................................168
A carta de reclamação ..........................................................................169
Foco no texto: carta de reclamação ...............................................169
Hora de escrever ...................................................................................... 171
POR DENTRO DO ENEM E DO VESTIBULAR .....................174
PROJETO: CIDADANIA EM DEBATE .....................................................178
UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
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HORA E VEZ DA LINGUAGEM
■ CAPÍTULO 1 – A POESIA DE 30: CECÍLIA MEIRELES
E VINÍCIUS DE MORAIS – ANÁLISE LINGUÍSTICA:
PROGRESSÃO REFERENCIAL E OPERADORES
ARGUMENTATIVOS – A DISSERTAÇÃO (I)
LITERATURA: CECÍLIA MEIRELES
E VINÍCIUS DE MORAIS ................................................................ 182
Cecília Meireles ....................................................................................... 182
Foco no texto: “Motivo” e “Canção” ............................................... 183
Vinícius de Morais ..................................................................................184
Foco no texto: “Pátria minha” e
“Soneto de separação” ..........................................................................185
Conexões: “Soneto de fidelidade”, de Vinícius
de Morais; “Eu sei que vou te amar”, música de
Tom Jobim e letra de Vinícius de Morais .....................................189
LÍNGUA E LINGUAGEM: ANÁLISE LINGUÍSTICA:
PROGRESSÃO REFERENCIAL E OPERADORES
ARGUMENTATIVOS ............................................................................191
Foco no texto: redação do Enem ......................................................191
Reflexões sobre a língua .....................................................................192
Texto e enunciação ...............................................................................195
PRODUÇÃO DE TEXTO: A DISSERTAÇÃO ...........................196
Foco no texto: dissertação do Enem de 2012..............................196
Hora de escrever .....................................................................................198
■ CAPÍTULO 2 – A GERAÇÃO DE 45:
JOÃO CABRAL DE MELO NETO – ANÁLISE
LINGUÍSTICA: INFORMATIVIDADE E
SENSO COMUM – A DISSERTAÇÃO (II)
LITERATURA: A GERAÇÃO DE 45:
JOÃO CABRAL DE MELO NETO ................................................... 201
João Cabral de Melo Neto...................................................................202
Foco no texto: fragmentos de Educação
pela pedra e Morte e vida severina .................................................. 203
LÍNGUA E LINGUAGEM: ANÁLISE LINGUÍSTICA:
INFORMATIVIDADE E SENSO COMUM .................................207
Foco no texto: anúncio ........................................................................207
Reflexões sobre a língua ....................................................................209
Texto e enunciação ................................................................................213
PRODUÇÃO DE TEXTO: A DISSERTAÇÃO:
CONSTRUÇÃO DE ARGUMENTOS ............................................ 214
Foco no texto: dissertação do Enem ............................................. 214
Hora de escrever ..................................................................................... 218
■ CAPÍTULO 3 – A GERAÇÃO DE 45:
CLARICE LISPECTOR E GUIMARÃES ROSA –
ANÁLISE LINGUÍSTICA: IMPLÍCITOS E
INTERTEXTUALIDADE - A DISSERTAÇÃO (III)
LITERATURA: CLARICE LISPECTOR
E GUIMARÃES ROSA .........................................................................221
Clarice Lispector .......................................................................................221
Foco no texto: conto “Amor”, da obra
Laços de família .......................................................................................222
Guimarães Rosa ......................................................................................227
Sagarana ....................................................................................................228
Foco no texto: trecho do conto “A hora
e a vez de Augusto Matraga”.............................................................228
LÍNGUA E LINGUAGEM: ANÁLISE LINGUÍSTICA:
IMPLÍCITOS E INTERTEXTUALIDADE ....................................234
Foco no texto: cartum de Rog Bollen .............................................234
Reflexões sobre a língua .....................................................................235
Texto e enunciação ............................................................................... 237
PRODUÇÃO DE TEXTO: A DISSERTAÇÃO:
O CONTEXTO DE AVALIAÇÃO .................................................... 239
Foco no texto: trecho do Guia do participante –
A redação no Enem................................................................................ 239
Hora de escrever .....................................................................................242
POR DENTRO DO ENEM E DO VESTIBULAR ....................243
PROJETO: SIMULADO ENEM – A REDAÇÃO EM EXAME .............. 248
UNIDADE 3
10
PROJETO: SIMULADO ENEM – A REDAÇÃO EM EXAME .............. 248
Nelson Provazi
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CAMINHOS
Apêndice
UNIDADE 4
■ CAPÍTULO 1 – A LITERATURA BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA – ANÁLISE LINGUÍSTICA:
AS DIFERENTES FORMAS DE DIZER –
VERBETE E PROJETO DE PESQUISA
LITERATURA: A LITERATURA BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA ............................................................................252
O Concretismo .........................................................................................253
A literatura de resistência e a poesia marginal .........................253
Ferreira Gullar ..........................................................................................254
Foco no texto: “Não há vagas” e “Não coisa” .............................254
A literatura brasileira do final do século XX
aos nossos dias ........................................................................................ 257
Milton Hatoum ....................................................................................... 257
Foco no texto: fragmentos de
Relato de um certo Oriente..................................................................258
LÍNGUA E LINGUAGEM: ANÁLISE LINGUÍSTICA:
AS DIFERENTES FORMAS DE DIZER .....................................263
Foco no texto: notas de jornal ..........................................................263
Reflexões sobre a língua .....................................................................265
Texto e enunciação .............................................................................. 268
PRODUÇÃO DE TEXTO:
VERBETE E PROJETO DE PESQUISA .................................... 269
Verbete ...................................................................................................... 269
Foco no texto: verbete de enciclopédia ....................................... 269
Hora de escrever ......................................................................................271
Projeto de pesquisa ...............................................................................274
Hora de escrever ..................................................................................... 275
■ CAPÍTULO 2 – PANORAMA DA LITERATURA PORTUGUESA
NO SÉCULO XX – ANÁLISE LINGUÍSTICA: GERÚNDIOS E
GERUNDISMO – CARTA DE APRESENTAÇÃO
LITERATURA: PANORAMA DA LITERATURA
PORTUGUESA NO SÉCULO XX:
FERNANDO PESSOA E JOSÉ SARAMAGO .......................... 277
Fernando Pessoa .....................................................................................278
Foco no texto: “Autopsicografia” e
“O mistério das cousas, onde está ele?” .......................................279
José Saramago .........................................................................................283
Todos os nomes ........................................................................................283
Foco no texto: fragmento de Todos os nomes ........................... 284
LÍNGUA E LINGUAGEM: ANÁLISE LINGUÍSTICA:
GERÚNDIOS E GERUNDISMO.................................................... 288
Foco no texto: tira de Adão Iturrusgarai ..................................... 288
Reflexões sobre a língua ....................................................................290
Texto e enunciação ...............................................................................292
PRODUÇÃO DE TEXTO: CARTA
DE APRESENTAÇÃO ......................................................................... 294
Foco no texto: carta de apresentação .......................................... 294
Hora de escrever .....................................................................................297
■ CAPÍTULO 3 – LITERATURAS AFRICANAS DE
LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA NEGROBRASILEIRA – ANÁLISE LINGUÍSTICA: POLISSEMIA
E AMBIGUIDADE – ENTREVISTA DE EMPREGO
LITERATURA: LITERATURAS AFRICANAS
DE LÍNGUA PORTUGUESA E
LITERATURA NEGRO-BRASILEIRA ........................................299
Literaturas africanas de língua portuguesa...............................299
Foco no texto: “Namoro”, de Viriato da Cruz, e
“Quero ser tambor”, de Craveirinha ................................................ 301
A literatura negro-brasileira ............................................................. 304
Foco no texto: “Para um negro”, de Adão Ventura, e
“Nossa gente”, de Márcio Barbosa ..................................................305
Entre textos: “Velho negro”, de Agostinho Neto, e
“Sou negro”, de Cuti ...............................................................................307
LÍNGUA E LINGUAGEM: ANÁLISE LINGUÍSTICA:
POLISSEMIA E AMBIGUIDADE ................................................. 310
Foco no texto: anúncio do Dia Mundial da
Propaganda ............................................................................................... 310
Reflexões sobre a língua ...................................................................... 311
Texto e enunciação ................................................................................313
PRODUÇÃO DE TEXTO:
ENTREVISTA DE EMPREGO ..........................................................315
Foco no texto: entrevista de emprego ...........................................315
Hora de produzir ..................................................................................... 318
Mundo plural .......................................................................................... 320
POR DENTRO DO ENEM E DO VESTIBULAR ....................322
PROJETO: FEIRA DE PROFISSÕES –
VOCÊ NO MERCADO DE TRABALHO ...................................................328
Análise sintática do período composto ..................................................................................................................................................................................330
Orações coordenadas .....................................................................................................................................................................................................................330
Orações subordinadas .....................................................................................................................................................................................................................331
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................................................................................................................336
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS ....................................................................................................................................................................................................337
11
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UNIDADE
1
Ruptura e construção
The Bridgeman Art Library / Keystone Brasil/Galleria Nazionale d'Arte Moderna, Roma, It‡lia
Dinamismo das
formas: luz no
espaço (1912), de
Gino Severini,
expressão do
Futurismo italiano.
Com influências
das técnicas
cubistas de Picasso,
aproximando
ângulos e planos
circulares, a tela
explora o movimento
da luz, dando ideia
de dinamismo, de
velocidade.
12
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aNtoloGia de CoNtoS,
MiNiCoNtoS e CoNtoS
FaNtÁStiCoS MultiModaiS
Participe com toda a classe da organização de uma antologia de contos, minicontos
e contos fantásticos multimodais (com imagens, música, voz, vídeos e movimento), que
serão produzidos no decorrer da unidade.
Instituto de Estudos Brasileiros da USP, São Paulo
Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo
O modernismo, no Brasil, foi uma ruptura,
foi um abandono de princípios e de técnicas consequentes, foi uma revolta contra o
que era a Inteligência nacional.
(Mário de Andrade. Apud João Luiz Lafetá. Aspectos da literatura
brasileira. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1974. p. 235.)
pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
(Oswald de Andrade. Poesias reunidas. 5. ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 125.)
Em verdade, será sempre conto aquilo que
seu autor batizou com o nome de conto.
(Mário de Andrade)
O homem amarelo (1916), de Anita Malfatti. A obra, de
inspiração expressionista, integrou uma exposição de
pinturas da autora às quais o escritor e crítico de arte
Monteiro Lobato fez uma crítica veemente. A polêmica
que se iniciou com essa crítica uniu artistas, difundiu
novas ideias e dinamizou o processo de implantação da
arte moderna no Brasil.
A negra (1923), de Tarsila do Amaral. Estudando Cubismo com o
renomado pintor Fernand Léger, em Paris, Tarsila se voltou para
temas nacionais, como o negro brasileiro.
13
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O Pré-Modernismo
LITERATURA
o Pré-Modernismo
Concordância verbal
o conto
CAPÍTULO 1
A literatura brasileira vivia nas duas primeiras décadas do século XX em um momento de transição. Por um lado, perdurava a influência das correntes estéticas do século XIX, como o Realismo, o Naturalismo, o Parnasianismo e o Simbolismo; por outro,
Recanto do morro de
Santo Antônio (1920),
de Eliseu Visconti,
obra ainda marcada
por influências do
Impressionismo,
corrente artística do
final do século XIX. Projeto Eliseu Visconti/Coleção particular
14 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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literatura
Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos (1884-1914) nasceu no Engenho Pau d'Arco, no município de Sapé, Paraíba. Formou-se em
Direito, mas, em vez de atuar como
advogado, foi professor e deu aulas de
literatura em diferentes instituições de
ensino no Rio de Janeiro.
Morreu de tuberculose, aos 30 anos,
deixando uma única obra, Eu, que ainda
hoje impacta e seduz leitores das novas
gerações.
já se notavam mudanças − como um reflorescimento do nacionalismo e
a busca de uma língua brasileira, mais próxima do povo − que apontavam para uma renovação estética.
À produção situada entre 1900 e 1922, ano em que ocorreu a Semana de
Arte Moderna, considerada o marco inicial do Modernismo brasileiro, costuma-se chamar PrŽ-Modernismo. Essa produção não chegou a constituir
um movimento literário, mas criou condições para a grande ruptura que se
daria logo depois.
O Pré-Modernismo contou com uma rica produção em verso e em prosa. Na poesia, destaca-se o poeta Augusto dos Anjos. Na prosa, Euclides da
Cunha, Monteiro Lobato e Lima Barreto.
Neste capítulo, você vai conhecer a poesia de Augusto dos Anjos e a prosa de Lima Barreto.
Euclides da Cunha e Os sert›es
Euclides da Cunha (1866-1900) foi militar, engenheiro, jornalista e escritor. Quando eclodiu a Guerra
de Canudos, em 1896, no interior da Bahia, foi correspondente de guerra do jornal O Estado de S.
Paulo. Terminada a guerra, escreveu, com base nas observações que fez in loco, sua principal obra:
Os sertões (1901).
A obra é organizada em três partes: “A terra”, “O homem” e “A luta”. Adepto das ideias deterministas e naturalistas, Euclides da Cunha teve a intenção de provar, com a obra, que o homem é fruto
do meio e a guerra é consequência da interação do homem com o meio social e cultural.
Segundo a versão oficial dada pelo Exército na época, a guerra ocorreu por necessidade de combater um foco monarquista, que se opunha à recente República. Do ponto de vista do autor de Os
sertões, porém, o conflito que vitimou 15 mil pessoas foi fruto da miséria, do isolamento político, da
ignorância e do fanatismo religioso.
Augusto dos Anjos
Em 1912, ocorreu a primeira publicação de Eu, de Augusto dos Anjos, que
já teve mais de cem edições e é, provavelmente, a obra de poesia mais lida
em nosso país.
Tal sucesso tem várias explicações, entre elas a originalidade chocante da poesia do autor, que trilhou um caminho único em nossa literatura,
fundindo elementos simbolistas a elementos materialistas e científicos.
Por um lado, o poeta herdou do Simbolismo uma visão cósmica e uma
angústia moral, além de ter adotado, por influência do filósofo Schopenhauer, um pessimismo exacerbado. Por outro, incorporou uma visão
materialista e científica da vida e do mundo, com claras influências do
biólogo naturalista Ernst Haeckel (1834-1919) e do filósofo Herbert Spencer (1788-1860). Paradoxalmente, o eu lírico de seus poemas busca o infinito na matéria, com a perspectiva pessimista de que tudo caminha
para a morte, para o mal e para o nada. Não há nessa poesia lugar para
a esperança, uma vez que tudo é matéria, e a matéria caminha para a
podridão absoluta.
A linguagem empregada pelo autor também é surpreendente, considerando-se a linguagem elevada que até então era utilizada na poesia. Termos
científicos se misturam a um vocabulário rebuscado, dando origem a uma
linguagem eloquente, expressiva e muitas vezes chocante. As formas poéticas, entretanto, ainda são as convencionais empregadas no Simbolismo,
como o soneto e o verso decassílabo ou o alexandrino.
Morena Filmes, Filme de Sergio Rezende/João Raposo/Editoras Caras S.A/Acervo Iconographia
Cena do filme Guerra de
Canudos, de Sérgio Rezende.
15 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, dois textos que integram a obra Eu.
Texto 1
O deus verme
Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme − é o seu nome obscuro de batismo.
Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.
Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...
Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!
(Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1772. Acesso em: 3/1/2016.)
Texto 2
Idealismo
Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isso que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaira,
De Messalina e de Sardanapalo?!
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
− Alavanca desviada do seu futuro −
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
(Idem.)
acérrimo: superlativo de acre, ou seja, muito
azedo.
agro: o que tem sabor ácido, azedo.
antropomorfismo: atribuição de características
humanas a algo que não é humano, como por
exemplo, o clima.
contubérnio: familiaridade, intimidade.
drupa: fruta carnosa com semente em forma de
caroço, como a azeitona e a manga.
hetaira: na Grécia antiga, uma prostituta de luxo.
hidrópico: relativo à hidropisia, ou seja,
derramamento de líquido seroso em tecidos ou em
cavidade do corpo.
idealismo: concepção de que a realidade consiste
essencialmente de algo não material; o oposto de
materialismo.
mister: necessário.
Messalina: imperatriz romana, terceira esposa
do imperador Cláudio, conhecida como insaciável
sexualmente; mulher de má reputação.
teleológico: relativo à teleologia, isto é, doutrina
que explica algo com base em sua finalidade.
Sardanapalo: segundo a lenda, o último rei da
Assíria, tido como devasso, efeminado e glutão.
sibarita: aquele que aprecia os prazeres físicos e a
preguiça, como os habitantes de Síbaris, cidade da
Grécia antiga.
Nelson Provazi
16 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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LITERATURA
1. A respeito do texto 1, responda:
a. Qual é o tema central do poema?
b. Explique o título do poema, levando em conta o papel do verme no
universo.
2. Indiretamente, o texto 1 faz referência à morte de seres humanos e de
outros seres.
a. Que verso do poema demonstra o desprezo do eu lírico pelas crenças
humanas?
b. Há, no texto, alguma referência a espiritualidade, sentimentos, sonhos?
c. Conclua: Que visão o eu lírico tem da vida e do mundo?
3. Em relação ao texto 2, responda:
a. Qual é o tema central do poema?
b. Qual é o pensamento do eu lírico sobre esse tema? Justifique sua resposta com um verso do poema.
c. Na visão do eu lírico, o que seria necessário para que esse sentimento,
em sua forma mais sublime, viesse a existir? Justifique sua resposta
com um verso do poema.
d. Leia, no glossário, o significado da palavra idealismo e responda: Que
relação há entre o título e as ideias presentes no poema?
4. Compare os dois poemas quanto à linguagem, à forma e ao conteúdo.
a. Tendo em vista que, no passado, a poesia privilegiava um vocabulário
elevado, considerado de bom gosto, responda: Que palavras ou expressões desses textos fogem a essa tradição? De que esfera do conhecimento são essas palavras?
b. O que aproxima os dois poemas quanto à forma?
c. Que efeito resulta da mistura da forma clássica com temas e termos
pouco convencionais?
É a decomposição da matéria,
resultante da ação dos vermes.
O verme é visto como um deus porque sobrevive a todos os seres e os devora quando
morrem, transformando-os em um novo tipo de matéria. Além disso, está em todo
lugar e não faz distinção entre seres ricos e pobres, humanos e não humanos.
“Livre das roupas do antropomorfismo” ou ainda
“Jamais emprega o acérrimo exorcismo”.
Não.
2. c) Ele tem a visão de que tudo na vida e no mundo
se resume à matéria, que é perecível e caminha para
a destruição, para o nada, numa atitude pessimista.
3. b) Ele não acredita no amor e o considera uma ilusão, uma mentira, conforme
revela o verso “O amor da Humanidade é
uma mentira”.
Seria necessário que a matéria deixasse de existir, conforme revelam o verso “O mundo fique imaterializado” e os dois últimos.
O título sugere que o amor é uma invenção do idealismo. Com base em um ponto
de vista oposto, isto é, materialista, o eu lírico nega tudo o que não seja material.
Palavras como teleológica, bactéria, antropomorfismo, hidrópicos, vísceras,
que pertencem à esfera filosófica e científica (biologia, microbiologia).
4. b) Os dois poemas são sonetos e os versos
são decassílabos.
Professor: Comente com os alunos que a abordagem e a linguagem adotadas pelo autor são
uma importante inovação na tradição do soneto em língua portuguesa.
Dessa mistura resulta um estranhamento, já que não é comum o soneto abordar
temas como esses, e utilizar um vocabulário considerado não poético.
Drummond lê
Augusto dos Anjos
Li o “Eu” na adolescência e foi como
se levasse um soco na cara. Jamais eu
vira antes, engastadas em decassílabos, palavras estranhas como simbiose,
mônada, metafisicismo, fenomênica,
quimiotaxia. Zooplasma, intracefálica...
E elas funcionavam bem nos versos! Ao
espanto sucedeu intensa curiosidade.
Quis ler mais esse poeta diferente dos
clássicos, dos românticos, dos parnasianos, dos simbolistas, de todos os
poetas que eu conhecia. A leitura do
“Eu” foi para mim uma aventura milionária. Enriqueceu minha noção de
poesia. Vi como se pode fazer lirismo
com dramaticidade permanente, que
se grava para sempre na memória do
leitor. Augusto dos Anjos continua
sendo o grande caso singular da poesia brasileira.
(Comentário de Drummond
sobre Augusto dos Anjos,
publicado na Revista da Biblioteca
Nacional, ano 3, n¼ 32,
maio de 2008. p. 89.)
Monteiro Lobato
Considerado um dos principais escritores pré-modernistas, Monteiro Lobato (1882-1948) nasceu em Taubaté, São Paulo. Estudou Direito e atuou como advogado, mas foi como editor e
escritor que alcançou projeção nacional.
Foi fundador da Editora Nacional e escreveu contos, romances e ensaios. Em sua produção
se destaca a obra de contos Urupês, na qual retrata o impacto social provocado pelo declínio da
cultura do café na região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo.
Foi também um dos iniciadores da literatura infantil no Brasil e na América Latina. É autor de
Reinações de Narizinho, Caçadas de Pedrinho e O sítio do Picapau Amarelo, entre outras obras
para o público infantil.
É o amor.
Lima Barreto
Ao lado de Aluísio Azevedo, Lima Barreto foi um dos primeiros escritores
a retratar as camadas mais humildes da população. Em seus romances, predominam tipos que, na época, eram comuns nos subúrbios, como funcionários públicos, tenentes, pequenos comerciantes, músicos, etc.
Contrapondo-se aos modelos convencionais de escrita e linguagem, que
tomavam os discursos de Rui Barbosa como modelo, a obra do escritor não foi
Arquivo/CB/D.A Press
17 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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bem recebida pela crítica da época em razão de sua linguagem, considerada
displicente, e da visão ácida a respeito do Rio de Janeiro e das elites no poder.
O reconhecimento da qualidade do escritor só ocorreu há algumas décadas.
Ao lado de Cruz e Sousa, Lima Barreto também se destaca por ter sido
um dos primeiros escritores brasileiros negros a abordar em suas obras o
preconceito racial.
Triste fim de Policarpo Quaresma
Considerada a obra mais importante de Lima Barreto, Triste fim... narra
a história de Policarpo Quaresma, um funcionário público de classe média
baixa do Rio de Janeiro, no final do século XIX, logo após a proclamação da
República.
A obra é dividida em três partes. A primeira parte retrata a vida cotidiana
de Quaresma, que, nacionalista, ufanista e solteiro, vive com a irmã dona Adelaide e gasta todo o seu tempo livre estudando as riquezas naturais e culturais
do país. Propõe à Assembleia Legislativa a adoção do tupi como língua oficial
e, por isso, passa a ser considerado louco e é internado em um manicômio.
Na segunda parte, por sugestão da afilhada Olga, Quaresma resolve investir nas riquezas naturais do país e cultivar a terra. Compra, então, um sítio e
passa a viver ali com a irmã, dona Adelaide, e dois empregados. Aos poucos, a
personagem se frustra com os resultados do trabalho com a lavoura.
Na terceira parte, ao saber que eclodiu a Revolta da Armada (1893), no
Rio de Janeiro, dirige-se à capital para apoiar as forças federais e lutar contra os revoltosos. Por fazer críticas à maneira como o governo lidava com
os revoltosos feitos prisioneiros, acaba também sendo preso e fuzilado, por
ordem do presidente Floriano Peixoto.
FOCO NO TEXTO
O trecho que você vai ler a seguir pertence ao capítulo II da segunda
parte de Triste fim de Policarpo Quaresma, intitulado “Golias”. No trecho,
Quaresma recebe a visita de Olga, sua afilhada, do marido dela e de Ricardo Coração dos Outros, um violonista com quem Quaresma tinha tomado
aulas de violão, instrumento que considerava tipicamente brasileiro. Olga
voltava de um passeio ao Carico, onde havia uma cachoeira, a duas léguas
do sítio do padrinho.
[...]
O que mais a impressionou no passeio foi a miséria geral, a falta de cultivo, a pobreza das casas, o ar triste, abatido da gente pobre. Educada na cidade, ela tinha dos roceiros
ideia de que eram felizes, saudáveis e alegres. Havendo tanto barro, tanta água, por que as casas não eram de tijolos e
não tinham telhas? Era sempre aquele sapê sinistro e aquele
“sopapo” que deixava ver a trama de varas, como o esqueleto de um doente. Por que, ao redor dessas casas, não havia
culturas, uma horta, um pomar? Não seria tão fácil, trabalho
de horas? E não havia gado, nem grande nem pequeno. Era
raro uma cabra, um carneiro. Por quê? Mesmo nas fazendas,
Lima Barreto
Lima Barreto (1881-1922) nasceu no
Rio de Janeiro. Neto de negros escravos e de portugueses e proveniente de
uma família de classe média suburbana,
sofreu duramente o preconceito racial
em toda a sua vida. Por influência do
Visconde de Ouro Preto, seu padrinho,
iniciou o curso de engenharia na Escola
Politécnica do Rio de Janeiro, mas teve
de abandoná-lo para poder sustentar a
família, uma vez que o pai enlouquecera
e fora internado.
Para sobreviver, trabalhou como escriturário no Ministério da Guerra e
escreveu para diversos jornais.
A publicação do seu romance Recordações do escrivão Isaías Caminha se deu
em 1909, e a de sua principal obra, Triste
fim de Policarpo Quaresma, em 1911.
Alcoólatra e deprimido, Lima Barreto
morreu aos 41 anos internado em um
hospício, como o pai.
Acervo Iconographia
18 UNIDADE 1 RuptuRa e constRução
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literatura
o espetáculo não era mais animador.
Todas soturnas, baixas, quase sem o
pomar olente e a horta suculenta. A
não ser o café e um milharal, aqui e
ali, ela não pôde ver outra lavoura,
outra indústria agrícola. Não podia
ser preguiça só ou indolência. Para o
seu gasto, para uso próprio, o homem
tem sempre energia para trabalhar
relativamente. Na África, na Índia,
na Cochinchina, em toda a parte, os
casais, as famílias, as tribos, plantam
um pouco algumas cousas para eles.
Seria a terra? Que seria? E todas essas
questões desafiavam a sua curiosidade, o seu desejo de saber, e também a
sua piedade e simpatia por aqueles
párias, maltrapilhos, mal alojados,
talvez com fome, sorumbáticos!...
Pensou em ser homem. Se o fosse
passaria ali e em outras localidades
meses e anos, indagaria, observaria
e com certeza havia de encontrar o
motivo e o remédio. [...]
Como no dia seguinte fosse passear ao roçado do padrinho, aproveitou
a ocasião para interrogar a respeito o tagarela Felizardo. [...]
[...]
— Bons-dias, “sá dona”.
— Então trabalha-se muito, Felizardo?
— O que se pode.
— Estive ontem no Carico, bonito lugar... Onde é que você mora, Felizardo?
— É doutra banda, na estrada da vila.
— É grande o sítio de você?
— Tem alguma terra, sim, senhora, “sá dona”.
— Você por que não planta para você?
— “Quá sá dona!” O que é que a gente come?
— O que plantar ou aquilo que a plantação der em dinheiro.
— “Sá dona tá” pensando uma cousa e a cousa é outra. Enquanto planta cresce, e então? “Quá, sá dona”, não é assim.
Deu uma machadada; o tronco escapou; colocou-o melhor no picador
e, antes de desferir o machado, ainda disse:
— Terra não é nossa... E “frumiga”?... Nós não “tem” ferramenta... isso é
bom para italiano ou “alemão”, que o governo dá tudo... Governo não gosta
de nós...
Desferiu o machado, firme, seguro; e o rugoso tronco se abriu em duas
partes, quase iguais, de um claro amarelado, onde o cerne escuro começava a aparecer.
Ela voltou querendo afastar do espírito aquele desacordo que o camarada indicara, mas não pôde. Era certo. Pela primeira vez notava que
o self-help do Governo era só para os nacionais; para os outros todos os
auxílios e facilidades, não contando com a sua anterior educação e apoio
dos patrícios.
O subúrbio carioca retratado em obras de Lima Barreto.
Augusto Malta/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles
19 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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E a terra não era dele? Mas de quem era, então,
tanta terra abandonada que se encontrava por aí? Ela
vira até fazendas fechadas, com as casas em ruínas...
Por que esse acaparamento, esses latifúndios inúteis
e improdutivos?
A fraqueza de atenção não lhe permitiu pensar
mais no problema. Foi vindo para casa, tanto mais que
era hora de jantar e a fome lhe chegava.
Encontrou o marido e o padrinho a conversar.
Aquele perdera um pouco da sua morgue; havia mesmo ocasião em que era até natural. Quando ela chegou,
o padrinho exclamava:
— Adubos! É lá possível que um brasileiro tenha tal
ideia! Pois se temos as terras mais férteis do mundo!
— Mas se esgotam, major, observou o doutor.
Dona Adelaide, calada, seguia com atenção o crochet que estava fazendo;
Ricardo ouvia, com os olhos arregalados; e Olga intrometeu-se na conversa:
— Que zanga é essa, padrinho?
— É teu marido que quer convencer-me que as nossas terras precisam
de adubos... Isto é até uma injúria!
— Pois fique certo, major, se eu fosse o senhor, aduziu o doutor, ensaiava uns fosfatos...
— Decerto, major, obtemperou Ricardo. Eu, quando comecei a tocar violão, não queria aprender música... Qual música! Qual nada! A inspiração
basta!... Hoje vejo que é preciso... É assim, resumia ele.
Todos se entreolharam, exceto Quaresma, que logo disse com toda a
força d’alma:
— Senhor doutor, o Brasil é o país mais fértil do mundo, é o mais bemdotado e as suas terras não precisam “empréstimos” para dar sustento ao
homem. Fique certo!
— Há mais férteis, major, avançou o doutor.
— Onde?
— Na Europa.
— Na Europa!
— Sim, na Europa. As terras negras da Rússia, por exemplo.
O major considerou o rapaz durante algum tempo e exclamou triunfante:
— O senhor não é patriota! Esses moços...
O jantar correu mais calmo. Ricardo fez ainda algumas considerações
sobre o violão. À noite, o menestrel cantou a sua última produção: “Os Lábios da Carola.” [...] Olga tocou no velho piano de Dona Adelaide; e, antes
das onze horas, estavam todos recolhidos.
Quaresma chegou a seu quarto, despiu-se, enfiou a camisa de dormir
e, deitado, pôs-se a ler um velho elogio das riquezas e opulências do Brasil.
A casa estava em silêncio; do lado de fora, não havia a mínima bulha.
Os sapos tinham suspendido um instante a sua orquestra noturna. Quaresma lia; e lembrava-se que Darwin escutava com prazer esse concerto
dos charcos. Tudo na nossa terra é extraordinário! pensou. Da despensa,
que ficava junto a seu aposento, vinha um ruído estranho. Apurou o ouvido e prestou atenção. Os sapos recomeçaram o seu hino. Havia vozes baixas, outras mais altas e estridentes; uma se seguia à outra, num dado instante todas se juntaram num unisono sustentado [...] Quaresma pode ler
umas cinco páginas. Os batráquios pararam; a bulha continuava. O major
Cena da peça
Policarpo Quaresma,
adapção para o teatro
da obra homônima de
Lima Barreto, dirigida
por Antunes Filho em
2010.
Capa do DVD do filme
Policarpo Quaresma, herói
do Brasil, dirigido por Paulo
Thiago, adaptação para o
cinema da obra homônima de
Lima Barreto.
Policarpo Quaresma, Herói do Brasil. Direção: Paulo Thiago. [S.I.]:
Vitória Produções Cinematográficas, 1998.
Filipe Redondo/Folhapress
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LITERATURA
levantou-se, agarrou o castiçal e foi à dependência da casa donde partia o
ruído, assim mesmo como estava, em camisa de dormir.
Abriu a porta; nada viu. Ia procurar nos cantos, quando sentiu uma ferroada no peito do pé. Quase gritou. Abaixou a vela para ver melhor e deu
com uma enorme saúva agarrada com toda a fúria à sua pele magra. Descobriu a origem da bulha. Eram formigas que, por um buraco no assoalho,
lhe tinham invadido a despensa e carregavam as suas reservas de milho e
feijão, cujos recipientes tinham sido deixados abertos por inadvertência.
O chão estava negro, e carregadas com os grãos, elas, em pelotões cerrados,
mergulhavam no solo em busca da sua cidade subterrânea.
Quis afugentá-las. Matou uma, duas, dez, vinte, cem; mas eram milhares e cada vez mais o exército aumentava. Veio uma, mordeu-o, depois outra, e o foram mordendo pelas pernas, pelos pés, subindo pelo seu corpo.
Não pode aguentar, gritou, sapateou e deixou a vela cair.
Estava no escuro. Debatia-se para encontrar a porta; achou e correu daquele ínfimo inimigo que, talvez, nem mesmo à luz radiante do sol, o visse
distintamente...
(8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1970. p. 119-12.)
1. Ao voltar do passeio, Olga se impressiona com o tipo de vida que os roceiros da região
levavam.
a. Como Olga imaginava que eles vivessem?
b. O que pôde constatar pessoalmente?
c. De acordo com o texto, apenas os pequenos agricultores demonstravam falta de
iniciativa para trabalhar a terra e melhorar o nível de vida? Justifique.
2. Na obra, Olga representa a nova mulher que começa a despontar na passagem do
século XIX para o século XX. Que trecho do texto comprova a inquietação dela em
relação ao antigo papel social da mulher?
3. No dia seguinte, Olga conversa com Felizardo, empregado do sítio de seu tio, a respeito do que tinha visto na região. Que razões Felizardo alega para não se interessar pelo
cultivo das terras onde vive?
acaparamento:
monopólio.
bulha: tumulto, confusão
sonora, movimentação
intensa.
menestrel: músico,
trovador.
morgue: necrotério, ar
fúnebre.
olente: cheiroso.
sorumbático: triste,
sombrio.
Imaginava que tivessem uma vida feliz e que fossem saudáveis e alegres.
Pôde constatar a miséria da região, casas de sapê,
ausência de horta e pomar, pessoas sorumbáticas.
Não, nas fazendas a vida era mais ou menos
a mesma, com a diferença de que havia a cultura do milho e do café, apenas.
Pensou em ser homem. Se o fosse passaria ali e em outras localidades meses e anos,
indagaria, observaria e com certeza havia de encontrar o motivo e o remédio.
Alega que a terra não era dos trabalhadores, havia muita formiga e o governo não dava
nenhum tipo de apoio ao trabalhador do campo.
A República Velha e as oligarquias rurais
Com a Proclamação da República, em 1889, teve início na vida política brasileira o período conhecido como República Velha (1889-1930). Depois dos anos iniciais, em que os militares estiveram no poder, começou em 1894 uma
fase na qual o país passou a ser governado por presidentes civis, representantes das oligarquias do Sul e do Sudeste.
Nesse período, presidentes vindos de Minas Gerais e de São Paulo se revezavam, o que deu origem à chamada
“política do café com leite”.
Apesar de o Brasil ter entrado no século XX como uma jovem república, as estruturas sociais, econômicas e políticas do país ainda eram basicamente as mesmas da época da monarquia. Os escravos, por exemplo, não foram absorvidos pelo mercado de trabalho e, nos centros urbanos, a mão de obra era proveniente das imigrações europeias.
Somente com a Revolução de 1930 foi que ocorreram mudanças profundas na estrutura social, econômica
e política do país.
4. Considere este pensamento de Olga:
“E a terra não era dele? Mas de quem era, então, tanta terra abandonada que
se encontrava por aí? [...] Por que esse acaparamento, esses latifúndios inúteis e
improdutivos?”
REGISTRE
NO CADERNO
21 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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Sabendo que a obra Triste fim de Policarpo Quaresma foi escrita durante
a República Velha (1889-1930), em que predominavam os interesses da
oligarquia rural, responda:
a. Que relação há entre esse trecho e o contexto sociopolítico da época?
b. Para que tipo de mudança social e econômica apontam as reflexões
de Olga (e do próprio Lima Barreto) sobre o assunto?
5. Policarpo Quaresma é associado frequentemente a Dom Quixote, personagem idealista e sonhadora de Miguel de Cervantes.
a. Por que, na conversa de Quaresma e o marido de Olga, mais uma vez
se comprova o caráter quixotesco do protagonista?
b. Nessa noite, que fato se contrapõe, ironicamente, à ingenuidade de
Quaresma, comprovando algumas das afirmações de Felizardo?
6. O nome do capítulo é “Golias”. Leia o boxe “Golias” e, depois, estabelecendo um paralelo entre a história do gigante e o episódio das formigas,
responda:
a. Que personagem de Triste fim... equivale a Golias? Por quê?
b. Qual personagem corresponde a Davi? Por quê?
c. Pode-se afirmar que esse episódio revela uma visão irônica e crítica
do próprio Lima Barreto? Justifique sua resposta.
7. O Pré-Modernismo é um momento de transição de nossa literatura, que
mantém alguns traços das correntes artísticas do século XIX e, ao mesmo tempo, apresenta elementos novos, como o interesse por temas nacionais e a busca de uma língua mais coloquial e brasileira.
a. Com quais das estéticas literárias do século XIX a obra Triste fim de
Policarpo Quaresma está mais alinhada? Por quê?
b. As novidades introduzidas pelo Pré-Modernismo podem ser identificadas no texto lido? Justifique sua resposta.
O pensamento de Olga aponta para uma perspectiva de reforma agrária.
Professor: O estudioso Alfredo Bosi reconhece na ideologia de Lima Barreto traços de um “socialismo maximalista”.
5. a) Porque ele idealiza o Brasil como o melhor país do mundo e se nega a admitir a possibilidade de as terras brasileiras não serem
férteis e necessitarem de adubos.
Professor: Comente com os alunos que os
resultados da plantação com que Quaresma
se ocupa depois tornam-se um fracasso e se
mostram economicamente inviáveis.
A invasão da casa pelas formigas; o episódio comprova a afirmação de Felizardo,
de que as formigas acabam com a plantação.
Policarpo Quaresma, que é bem maior do que as formigas, equivale a
Golias, pois, mesmo sendo maior e mais forte, leva a pior.
As formigas, que, mesmo sendo menores, têm uma força coletiva suficiente para vencer Quaresma.
6. c) Sim; Lima Barreto critica e ironiza o nacionalismo ufanista e ingênuo do protagonista.
Professor: Comente com os alunos que o
nacionalismo ufanista era uma das linhas de
pensamento no Brasil das primeiras décadas
do século XX, como fica claro alguns anos depois com o aparecimento de correntes artísticas como os movimentos Verde-Amarelismo e
Anta, na década de 1920.
7. a) Está mais alinhada com o Realismo, em virtude do retrato sociopolítico que faz do Brasil do final do
século XIX, além do tratamento irônico e crítico que dá ao tema.
Sim; a obra se volta para o retrato da realidade brasileira, de seus contrastes sociais, de sua gente simples,
etc. Além disso, a linguagem é despojada e se empenha em retratar as variedades linguísticas nacionais,
como a fala caipira de Felizardo.
4. a) O trecho mostra que, apesar de ter havido
a proclamação da República, a vida no campo
continuava a mesma: as terras continuavam
nas mãos da oligarquia rural, que era dona
de grandes propriedades no campo, e os trabalhadores (brancos e negros recentemente
alforriados) eram miseráveis.
Golias
Segundo relatos bíblicos, Golias era
um soldado filisteu de 2,90 m. Em uma
guerra contra os judeus, Golias desafiou o exército inimigo, propondo que
escolhessem um único soldado para
lutar contra ele. Se o soldado vencesse,
Golias e o exército filisteu se renderiam.
Um jovem judeu, chamado Davi,
se dispôs a lutar. Foi até o rio, pegou
cinco pedras e colocou-as em um pequeno saco.
Com uma funda, um tipo de atiradeira, nas mãos, acertou uma das pedras
na cabeça de Golias e matou-o. Depois,
cortou a cabeça do soldado filisteu,
usando a espada do próprio gigante.
Davi com a cabeça de Golias
(1609-10), de Caravaggio.
Por meio da leitura de textos de autores pré-modernistas feita neste capítulo, você viu que:
• o Pré-Modernismo não é propriamente um movimento literário; é um
período de transição, que reúne obras com traços remanescentes do
Simbolismo, do Realismo e do Naturalismo;
• as obras pré-modernistas apresentam como novidade o interesse por
temas da realidade nacional, como a vida da classe média suburbana
do Rio de Janeiro e a busca de linguagem mais brasileira, próxima da
língua falada pelo povo;
• a poesia de Augusto dos Anjos é um caso singular em nossa literatura, pois reúne elementos aparentemente excludentes, como traços do
Simbolismo e do Naturalismo e formas poéticas da tradição clássica.
Galleria Borghese, Roma, Itália
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lÍNGua e
liNGuaGeM
Concordância verbal
FOCO NO TEXTO
Leia o poema a seguir, de Ferreira Gullar, escrito durante o período do regime militar
no Brasil:
Dois e dois: quatro
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
LÍNGUA E LINGUAGEM
SHNA/Shutterstock
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
− sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
(Toda poesia. 18. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2009. p. 171.)
1. Leia a seguir um depoimento de Ferreira Gullar, dado na Bienal do Rio de Janeiro, em
2009, no qual ele comenta sobre a situação em que esse poema foi escrito:
Muitos amigos estavam presos, muita gente sumiu, então havia um grande desapontamento em todos nós, que tínhamos lutado pela reforma agrária, pela mudança
das condições do país [...] Então esse poema foi escrito um pouco pensando nas pessoas
que estavam presas e em tudo, em todos nós que estávamos perdendo o ânimo [...].
(Transcrito do vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=T2iTZJAOz6c. Acesso em: 18/1/2016.)
a. A 1ª estrofe apresenta uma síntese das ideias principais do poema. Considerando
o contexto social e político em que o poema foi produzido, explique o sentido dos
versos “embora o pão seja caro / e a liberdade pequena”.
b. Tendo em vista o momento caracterizado por Gullar, conclua: O que expressam os
dois primeiros versos dessa estrofe?
c. Segundo o depoimento de Gullar, a quem ele se dirigia com seu poema?
2. Embora em seu depoimento Gullar tenha explicitado a quem se dirigia com seu texto, no poema o eu lírico se dirige especificamente a um “tu”, que aparece em meio a
uma comparação.
a. Levante hipóteses: Quem é o tu a que o eu lírico se dirige?
b. Com o que o eu lírico compara os elementos trazidos na 2ª, na 3ª e na 4ª estrofes?
Esses versos remetem à situação desfavorável vivida à época, na qual o custo
de vida era alto e as pessoas não tinham liberdade de expressão nem liberdade
política.
O desejo do eu lírico de levar ânimo às pessoas à sua volta, afirmando sua previsão positiva para o
futuro como uma certeza e garantindo que ela é tão certa quanto um cálculo matemático.
À sociedade em geral, às pessoas que se viam sem esperanças na vida e no futuro.
Possibilidades variadas de resposta: A uma pessoa querida que
se encontrava distante ou que estava muito desanimada com a
situação e a quem ele gostaria de encorajar.
Com a sua certeza de que a vida vale a pena.
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3. No poema em estudo, o eu lírico faz uma queixa em relação à situação vivida naquele
momento.
a. Por essa queixa, é possível considerar que a postura do eu lírico é pessimista?
b. Para o eu lírico, ainda há esperança de melhoria da situação? Justifique sua resposta com um verso do poema.
4. Releia a primeira e a penúltima estrofes.
a. A quem se refere a forma verbal sei?
b. Reescreva esse verso, explicitando o sujeito.
c. Se o eu lírico escrevesse em nome de um coletivo, incluindo-se nessa ideia de coletividade, identifique, entre as construções a seguir, a mais adequada, de acordo
com a norma-padrão. Justifique sua escolha.
I. Nós sabe que a vida vale a pena.
II. Eles sabe que a vida vale a pena.
III. Nós sabemos que a vida vale a pena.
IV. Eles sabem que a vida vale a pena.
5. No 2º verso da 2ª e da 3ª estrofes, há uma elipse do verbo, isto é, ele foi omitido.
a. Reescreva-o, explicitando o verbo em sua forma de acordo com a norma-padrão.
b. Identifique, em cada um desses versos, qual é o sujeito e em que pessoa e número
estão as formas verbais.
6. Releia os seguintes trechos:
I. “Dois e dois são quatro”
II. “Teus olhos são claros”
III. “É azul o oceano”
IV. “A noite carrega o dia”
a. Qual é o único trecho que não segue a ordem padrão do português escrito (sujeito
+ verbo + complemento)?
b. Coloque-o na ordem padrão.
c. Quais formas verbais estão no singular e quais estão no plural? Justifique esse emprego.
d. Reescreva-os segundo a norma-padrão, substituindo:
• Dois e dois por Essa soma
• Teus olhos por Teu olhar
• O oceano por os mares
• A noite por Os luares
e. Compare os versos originais aos versos escritos por você no item anterior e conclua: O que aconteceu com as formas verbais?
7. Releia a 4ª estrofe.
a. Coloque-a na ordem padrão do português escrito e levante hipóteses: Por que o
poeta não escreveu o verso nessa ordem?
b. A que ou a quem se refere a forma verbal acena?
c. Explique por que a ideia dessa estrofe confirma o que foi dito na 1ª estrofe.
8. Compare a 1ª estrofe às duas últimas. Discuta com os colegas e o professor e conclua:
a. Qual efeito de sentido é criado pela repetição da forma verbal sei na penúltima
estrofe?
Sim, o que pode ser comprovado com o verso “Sei que a vida vale a pena”.
Ao eu lírico, à voz do poema.
Eu sei que a vida vale a pena.
A construção III, pois o verbo concorda em nome e número com o pronome “nós”.
e a tua pele é morena; e a
lagoa é serena
Sujeitos: a tua pele e a lagoa; verbos na 3ª pessoa do singular.
O III.
O oceano é azul.
I e II estão no plural e III e IV, no singular, concordando
com seus respectivos sujeitos.
Essa soma é quatro.
Teu olhar é claro.
Os mares são azuis.
Os luares carregam o dia.
Elas mudaram para o plural ou para o singular,
acompanhando o número do sujeito.
como um tempo de alegria me acena por trás do terror / Ela foi escrita em ordem diferente para manter a rima e a métrica do poema.
Ao sujeito simples “um tempo de alegria”.
Porque reforça a ideia de que a vida vale a pena, embora o presente não seja tão favorável, uma vez que um tempo de alegria vai chegar.
A repetição da forma verbal enfatiza que o eu lírico de fato acredita
no que diz, reforçando sua aparente certeza.
Não.
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língua e
linguagem
b. Nesses versos, foram empregadas as conjunções concessivas embora e mesmo que.
Uma concessão é considerada uma atitude aparentemente contrária ao previsto
ou esperado. Qual é a atitude esperada de uma pessoa que vive no contexto sóciohistórico do poema?
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
No estudo do poema de Ferreira Gullar, você viu que as formas verbais se alteram em
conformidade com os sujeitos a que se referem, concordando com eles em número e pessoa. É o que acontece, por exemplo, com o verbo ser, que se apresenta na forma singular é
para concordar com o sujeito o oceano, e se apresenta na forma plural são para concordar
com o sujeito teus olhos. Ou, ainda, a forma sei, que concorda com o pronome eu e a forma
sabemos, que concorda com o pronome nós. De fato, para sentenças formadas por sujeito
simples + verbo + complemento(s), ainda que em ordem variável, a gramática normativa
recomenda a concordância do verbo com o sujeito.
Assim:
Concordância verbal é a conformidade do verbo
com seu sujeito em número e pessoa.
Há, entretanto, diversos casos que fogem a esse princípio geral. Como falante nativo
da língua portuguesa, você certamente sabe concordar, na maioria dos enunciados que
constrói, os verbos com os seus sujeitos, mas é importante saber que essas regras diferem
de uma variedade linguística para outra. Portanto, elencamos a seguir algumas das principais orientações para fazer a concordância segundo a norma-padrão. Não há necessidade
de memorizar essas regras; é, porém, interessante conhecê-las, para fins de consulta e em
caráter de informação complementar.
É esperado que uma pessoa que viva em um contexto no qual a liberdade
é pequena e o pão é caro não acredite que a vida valha a pena.
1. Sujeito composto formado por elementos claramente distintos
• O verbo vai para o plural:
Crise econômica e crise política assolam diversos países atualmente.
2. Sujeito composto cujos elementos se ligam pela conjunção ou
• O verbo fica no singular se essa conjunção indica exclusão:
O filho ou o marido a acompanhará, pois só é permitido levar um convidado.
• O verbo vai para o plural se essa conjunção indica adição:
Meu filho ou meu marido podem vir me buscar.
3. Sujeito composto finalizado por tudo, nada, nenhum, ninguém, cada qual, cada um
• O verbo fica no singular:
Tios, tias, irmãos, cada um se organizou para comparecer à festa.
Os cadernos, os lápis, os estojos coloridos, tudo lembrava os tempos de escola.
4. Sujeito composto posposto ao verbo
• O verbo pode ir para o plural ou concordar com o elemento mais próximo:
Viajaram o pai e os filhos. / Viajou o pai e os filhos.
5. Sujeito formado por nomes que só têm forma plural
• O verbo concorda com o artigo que acompanha o nome ou fica no singular se o nome dispensa a presença de
artigo:
Os Estados Unidos ficaram em 2¼ lugar no quadro de medalhas.
O Amazonas é um rio muito extenso.
Vassouras se localiza a pouco mais de 100 km do Rio de Janeiro.
25 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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A concordância
ideológica ou silepse
Leia o texto:
Os jornalistas somos sempre ávidos pela caça às bruxas.
Onde existe um pouco de fumaça nós projetamos fogo e vamos buscar fatos que possam proporcionar boas manchetes
de primeira página.
(Disponível em: http://www.bang.com.br/mostra_noticia.php?id=68. Acesso em: 28/2/2016.)
Em casos como esse, a concordância da forma verbal somos com o sujeito os jornalistas não se dá pela forma da pessoa verbal, mas sim pelo sentido. Ao utilizar essa estratégia, o enunciador se inclui como parte do grupo
de jornalistas a que se refere, sem necessariamente utilizar a forma pronominal nós. Essa construção caracteriza silepse de pessoa. Também é possível
fazer a concordância pela silepse de gênero (como em “Vossa alteza parece
cansado”) ou de número (como em “A família se arrumou rápido e logo estavam prontos para sair”).
6. Sujeito formado pelo pronome que
• O verbo concorda em pessoa e número com o antecedente:
Fui eu que paguei. / Foram eles que pagaram. / Fomos nós que pagamos.
7. Sujeito formado pelo pronome quem
• O verbo preferencialmente fica na 3ª pessoa do singular, embora seja possível concordá-lo em
pessoa e número com o antecedente:
Quem participa da criação, produz, fotografa e filma a atriz são seus próprios funcionários.
Somos nós quem fica aqui esperando. / Somos nós quem ficamos aqui esperando.
8. Expressões cerca de, perto de, mais de, menos de
• O verbo concorda com o numeral que segue a expressão:
Mais de uma pessoa chegou mais cedo.
Menos de dez pessoas chegaram mais cedo.
9. Expressões alguns, quantos, quais de nós, quais de vós
• O verbo preferencialmente concorda com o pronome pessoal (nós/vós), embora seja possível
concordá-lo com o pronome indefinido (3ª pessoa do plural):
Quantos de nós ficaremos aqui esperando? / Quantos de nós ficarão aqui esperando?
10. Expressões um dos que, uma das que
• O verbo pode ficar no singular ou pode ir para o plural, dependendo da ênfase que se quer
dar à referência do verbo (se a todos ou se a um que se destaque):
O filme brasileiro foi um dos que ganharam o prêmio.
O filme brasileiro foi um dos que chamou a minha atenção.
11. Expressões um e outro, nem um nem outro
• O verbo pode ficar no singular ou pode ir para o plural, indiferentemente:
Um e outro foi embora. / Um e outro foram embora.
Nem um nem outro entendeu direito. / Nem um nem outro entenderam direito.
12. Expressões parte de, a maioria de, metade de, grande parte de
• Se seguidas por uma palavra no singular, o verbo fica no singular; se seguidas por uma
palavra no plural, o verbo pode ficar no singular ou pode ir para o plural:
A maioria da classe preferiu sair mais cedo.
A maioria dos alunos preferiu sair mais cedo. / A maioria dos alunos preferiram
sair mais cedo.
Vende-se ou vendem-se
apartamentos?
Há atualmente uma discussão, que
envolve tanto gramáticos quanto linguistas, sobre a concordância dos
verbos nas orações em voz passiva
sintética. Alguns linguistas consideram que nesses casos o sujeito é indeterminado e o verbo deveria ficar na
3ª pessoa do singular, como acontece
com os verbos intransitivos (a voz passiva é admitida com verbos transitivos,
diretos ou indiretos).
A gramática normativa, no entanto,
determina que, nessas frases, o sujeito
vem posposto à forma verbal, devendo,
portanto, o verbo concordar com ele.
Assim, temos:
Vendem-se apartamentos neste condomínio.
Vende-se um apartamento na
praia.
Karina Castro/Estadão Conteúdo
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
As concordâncias dos
verbos impessoais e do verbo ser
Os verbos impessoais são empregados apenas na 3» pessoa do singular, independentemente do enunciado em que se inserem. São verbos impessoais:
• os que indicam fenômenos da natureza: Choveu todos os dias desse feriado.
• haver com sentido de existir, acontecer: Há três casas nessa rua. / Houve quatro sessões da peça no fim de semana.
• haver, fazer, estar, ir indicando tempo: Visitei esta cidade há três anos. / Faz três anos que
visitei esta cidade. / Está quente aqui. / Já vai para três anos que estive nesta cidade.
No caso do verbo ser, este pode concordar com o sujeito ou com o predicativo do sujeito nas frases em que aparece. Entre os fatores que determinam a concordância, estão os
casos em que o sujeito ou o predicativo são:
• nome de pessoa ou pronome pessoal − o verbo concorda com a pessoa gramatical:
Marcos foi as piadas da família.
• nome de coisa − o verbo concorda preferencialmente com o que estiver no plural:
Os programas de TV são a minha perdição.
APLIQUE O QUE APRENDEU
Leia a história em quadrinhos a seguir.
(Disponível em: http://www.gurianciao.com.br/
website/index.php?option=com_content&view=
article&id=460:como-foi-inventada-a-mae&catid=
14:tiras&Itemid=171. Acesso em: 2/3/2016.)
1. Nos quatro primeiros quadrinhos, é contada uma história pela voz de um narrador.
a. Qual expressão é utilizada para marcar o tempo em que se passa essa história?
b. Qual expressão temporal é utilizada para marcar uma mudança no cenário inicial
da história?
Há milhares e milhares de anos
Um dia
Laerte
27 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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2. Releia o trecho a seguir.
“Só existia pai, e a filharada comia apenas macarrão e ovo frito.”
Reescreva-o, fazendo as devidas alterações e substituindo:
a. o verbo existir pelo verbo haver
b. a palavra pai por pai e avô
c. o verbo existir pelo verbo haver e a palavra pai por pai e avô
d. a filharada por os filhos
3. Observe a frase “E sempre perdia a perua!”, do 2º quadrinho.
a. A quem se refere a forma verbal perdia? Justifique sua resposta.
b. Sem mudar o contexto da história, reescreva a frase alterando o sujeito do verbo
perder e fazendo as devidas alterações em sua concordância.
4. Justifique o emprego do verbo haver no singular na frase “havia outros milhares de
anos”, no 3º quadrinho.
5. O 5º quadrinho revela o contexto em que a história inicial estava sendo contada. Qual
é esse contexto?
6. Reescreva a frase “Foi assim que surgiu a mãe!”, fazendo as devidas alterações e substituindo a mãe por:
a. as mães;
b. a maioria dos homens;
c. nós, seres humanos.
7. O 5º e o 6º quadrinhos revelam uma reviravolta em toda a história, acrescentando um
novo sentido a tudo que veio antes.
a. O que esse quadrinho sugere sobre a história contada nos quatro primeiros?
b. O que esse quadrinho sugere sobre a Internet, em geral?
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia o texto a seguir e responda às questões de 1 a 3.
Desde que nascemos já estamos seguindo os passos escolhidos para nós. Há
papéis a serem cumpridos. Meninas vestidas de rosa, meninos de azul. Chegamos ao ponto de uma empresa fabricar perucas para bebês. Para meninas, claro.
Durante a infância, os brinquedos seguem o mesmo padrão de cores, e começamos a ver a divisão sexual do trabalho. Enquanto garotas brincam de lavar louça,
eles estão construindo coisas e sendo super-heróis.
Estes papéis de gênero são opressores para todos nós, mas as mulheres somos
levadas a acreditar que não podemos desejar nada além daquilo. Forma-se, então,
uma angústia dentro de nós, como se houvesse algo de errado, mas não conseguimos
identificar o que é. Muitas de nós, que nos identificamos mais com as “brincadeiras
de menino”, passamos a nos considerar menos mulheres. Menos. Incompletas.
(Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/blogs/feminismo-pra-que/
feminismo-e-uma-construcao-274.html. Acesso em: 18/3/2016.)
Só havia pai...
Só existiam pai e avô...
Só havia pai e avô...
... e os filhos comiam apenas macarrão e ovo frito.
Ao pai, pois a forma verbal está no singular.
Entre outras possibilidades: e as crianças sempre perdiam a perua; a filharada sempre perdia a perua.
Nesse contexto, o verbo haver é impessoal; por isso, é sempre empregado na 3ª pessoa do singular.
A história era contada por um site da Internet, numa busca feita por duas crianças.
Foi assim que surgiram as mães.
Foi assim que surgiu/surgiram a maioria dos homens.
Foi assim que surgimos nós, seres humanos.
Que se trata de uma história falsa, inventada.
Que na Internet há muitas histórias falsas, nas quais não se pode confiar.
28 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
1. Ao longo de todo o 1º parágrafo são utilizados verbos conjugados na 1ª pessoa do plural. Nesse contexto, a quem se referem essas formas verbais? Justifique sua resposta
com base no texto.
2. No 2º parágrafo, permanece o uso das formas na 1ª pessoa do plural, mas há uma
mudança no referente.
a. Qual trecho explicita essa mudança?
b. Como se explica gramaticalmente a concordância feita nesse 2º parágrafo?
c. Quem passa, portanto, a ser o referente?
3. Reescreva as frases a seguir, extraídas do texto, fazendo as substituições solicitadas e
as alterações necessárias.
a. “Há papéis a serem cumpridos” − substituindo o verbo haver pelo verbo existir
b. “os brinquedos seguem o mesmo padrão de cores” − substituindo “os brinquedos”
por “a brincadeira”
c. “os brinquedos seguem o mesmo padrão de cores” − substituindo os brinquedos
por a maior parte dos brinquedos
d. “Enquanto garotas brincam de lavar louça, eles estão construindo coisas e sendo
super-heróis” − substituindo garotas por menina e eles, por menino.
e. “nós, que nos identificamos mais com as ‘brincadeiras de menino’, passamos a nos
considerar menos mulheres”, substituindo nós por eu.
Leia a seguir algumas expressões populares e responda às questões de 4 a 6.
I. É nóis.
II. Tá ligado?
III. Tamo junto.
IV. Tô de boa.
4. Três dessas expressões contêm formas que se originam de um mesmo verbo.
a. Quais são elas e qual é esse verbo?
b. Qual é o verbo utilizado na outra expressão?
5. É comum gírias e expressões populares subverterem as regras impostas pela norma-padrão. Apesar de todas elas serem construídas com regras diferentes das regras da norma-padrão, apenas em uma delas essa diferença é pautada na concordância verbal.
a. Qual é essa forma?
b. Justifique essa afirmação.
c. Como ficaria essa expressão segundo as regras de concordância da norma-padrão?
Ela teria o mesmo efeito? Justifique sua resposta.
6. A diferença entre as demais formas e a norma-padrão não se dá pela concordância.
a. Justifique essa afirmação com base nas terminações das formas verbais.
b. Levante hipóteses: Qual o motivo pelo qual essas formas não correspondem às formas da norma-padrão?
c. Como ficariam essas expressões segundo a norma-padrão? Elas teriam o mesmo
efeito? Justifique sua resposta.
Trata-se de um “nós” que pode ser considerado universal, um “nós, sociedade”, “nós, seres humanos, no geral”, pois contrapõe genericamente os comportamentos de meninos e meninas.
As mulheres somos levadas
Trata-se de uma silepse de gênero ou uma concordância ideológica.
Um “nós” que inclui o enunciador e as mulheres, deixando o restante das pessoas de fora.
Existem papéis a serem cumpridos.
A brincadeira segue o mesmo padrão de cores...
A maior parte dos brinquedos segue/seguem...
Enquanto menina brinca de lavar a louça, menino está construindo coisas e sendo super-herói.
eu, que me identifico mais com as “brincadeiras de menino”, passo a me considerar menos mulher.
II, III e IV; o verbo estar.
O verbo ser.
É nóis
Só nessa forma há discordância entre a pessoa do pronome e a pessoa da forma verbal.
“Somos nós”. Não teria o mesmo efeito, pois se trata de uma forma que exprime uma identidade de grupo e que se descaracteriza ao ser alterada.
As formas verbais das expressões contêm as terminações equivalentes às conjugações tradicionais e concordam com seus sujeitos, tal como previsto pela
gramática.
Porque se aproximam de uma variedade oral, próxima da fala.
“está ligado?”; “estamos juntos”, “estou de boa”. Não, pois as modificações feitas levam a
mudanças de sentido que deixam de lado o efeito de identidade de grupo que deu origem a
essas expressões, descaracterizando-as.
29 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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PRODUÇÃO DE TEXTO
O conto
o CoNtexto de Produção e reCePção doS textoS
Quais textos você produzirá nesta unidade? Com que finalidade? Quem vai
ler seus textos?
Nesta unidade, nosso projeto é a organização, pela classe, de uma antologia
de contos, minicontos e contos fantásticos multimodais, com textos, imagens e
músicas.
Com vistas à produção da antologia, estudaremos no decorrer dos capítulos
diferentes tipos de contos.
FOCO NO TEXTO
Leia o conto que segue, do escritor angolano Ondjaki.
Nós chorámos pelo Cão Tinhoso
Para Isaura. Para Luís B. Hondwana
Foi no tempo da oitava classe, na aula de português.
Eu já tinha lido esse texto dois anos antes mas daquela vez a estória me parecia
mais bem contada com detalhes que atrapalhavam uma pessoa só de ler ainda em
leitura silenciosa – como a camarada professora de português tinha mandado. Era um
texto muito conhecido em Luanda: “Nós matámos o Cão Tinhoso”.
Eu lembrava-me de tudo: do Ginho, da pressão de ar, da Isaura e das feridas penduradas do Cão Tinhoso. Nunca me esqueci disso: um cão com feridas penduradas.
Os olhos do cão. Os olhos da Isaura. E agora de repente me aparecia tudo ali de novo.
Fiquei atrapalhado.
A camarada professora selecionou uns tantos para a leitura integral do texto. Assim
queria dizer que íamos ler o texto todo de rajada. Para não demorar muito, ela escolheu
os que liam melhor. Nós, os da minha turma da oitava, éramos cinquenta e dois. Eu era
o número cinquenta e um. Embora noutras turmas
tentassem arranjar alcunhas para os colegas, aquela era a minha primeira turma
onde ninguém tinha escapado de ser
alcunhado. E alguns eram nomes de
estiga violenta.
Muitos eram nomes de animais: havia o Serpente, o Cabrito, o Pacaça, a Barata da Sibéria,
a Joana Voa-Voa, a Gazela, e o
Jacó, que era eu. Deve ser porque eu mesmo falava muito
nessa altura. Havia o É-tê, o
Agostinho-Neto, a Scubidu e
alcunha: apelido.
bué: muito.
bondar: matar.
cacimbo: umidade;
inverno.
camarada: colega,
companheiro de armas;
forma de tratamento usada
pelos membros do Partido
Comunista.
calhar: acontecer, ocorrer
por acaso.
cueca: calcinha.
estiga: frase espirituosa
com a qual se debocha de
alguém.
maka: discussão, debate,
briga, confusão.
miúdo: criança.
porreira: bonita,
excelente, prestativa.
slow: dança de ritmo
lento na qual o casal fica
aconchegado.
tinhoso: nojento,
repugnante.
o número cinquenta e um. Embora noutras turmas
tentassem arranjar alcunhas para os colegas, aquela era a minha primeira turma
onde ninguém tinha escapado de ser
alcunhado. E alguns eram nomes de
estiga violenta.
mais: havia o Serpente, o Cabrito, o Pacaça, a Barata da Sibéria,
Agostinho-Neto, a Scubidu e
Nelson Provazi
30 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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mesmo alguns professores também não escapavam da nossa lista. Por acaso a camarada professora de português era bem porreira e nunca chegámos a lhe alcunhar.
Os outros começaram a ler a parte deles. No início, o texto ainda está naquela parte
que na prova perguntam qual é e uma pessoa diz que é só introdução. Os nomes dos
personagens, a situação assim no geral, e a maka do cão. Mas depois o texto ficava duro:
tinham dado ordem num grupo de miúdos para bondar o Cão Tinhoso. Os miúdos tinham ficado contentes com essa ordem assim muito adulta, só uma menina chamada
Isaura afinal queria dar proteção ao cão. O cão se chamava Cão Tinhoso e tinha feridas
penduradas, eu sei que já falei isto, mas eu gosto muito do Cão Tinhoso.
Na sexta classe eu também tinha gostado bué dele e eu sabia que aquele texto era duro
de ler. Mas nunca pensei que umas lágrimas pudessem ficar tão pesadas dentro duma pessoa. Se calhar é porque uma pessoa na oitava classe já cresceu um bocadinho mais, a voz já
está mais grossa, já ficamos toda hora a olhar as cuecas das meninas “entaladas na gaveta”,
queremos beijos na boca mais demorados e na dança de slow ficámos todos agarrados até
os pais e os primos das moças virem perguntar se estamos com frio mesmo assim em
Luanda a fazer tanto calor. Se calhar é isso, eu estava mais crescido na maneira de ler o
texto, porque comecei a pensar que aquele grupo que lhes mandaram matar o Cão Tinhoso
com tiros de pressão de ar, era como o grupo que tinha sido escolhido para ler o texto.
Não quero dar essa responsabilidade na camarada professora de português, mas foi
isso que eu pensei na minha cabeça cheia de pensamentos tristes: se essa professora
nos manda ler este texto outra vez, a Isaura vai chorar bué, o Cão Tinhoso vai sofrer
mais outra vez e vão rebolar no chão a rir do Ginho que tem medo de disparar por causa
dos olhos do Cão Tinhoso.
O meu pensamento afinal não estava muito longe do que foi acontecendo na minha sala de aulas, no tempo da oitava classe, turma dois, na escola Mutu Ya Kevela, no
ano de mil novecentos e noventa: quando a Scubidu leu a segunda parte do texto, os
que tinham começado a rir só para estigar os outros, começaram a sentir o peso do texto. As palavras já não eram lidas com rapidez de dizer quem era o mais rápido da turma
a despachar um parágrafo. Não. Uma pessoa afinal e de repente tinha medo do próximo parágrafo, escolhia bem a voz de falar a voz dos personagens, olhava para a porta da
sala como se alguém fosse disparar uma pressão de ar a qualquer momento. Era assim
na oitava classe: ninguém lia o texto do Cão Tinhoso sem ter medo de chegar ao fim.
Ninguém admitia isso, eu sei, ninguém nunca disse, mas bastava estar atento à voz
de quem lia e aos olhos de quem escutava.
O céu ficou carregado de nuvens escurecidas. Olhei lá para fora à espera de
uma trovoada que trouxesse uma chuva de meia-hora. Mas nada.
Na terceira parte até a camarada professora começou a engolir cuspe
seco na garganta bonita que ela tinha, os rapazes mexeram os pés com
nervoso miudinho, algumas meninas começaram a ficar de olhos molhados. O Olavo avisou: “quem chorar é maricas então!” e os rapazes
na oitava classe: ninguém lia o texto do Cão Tinhoso sem ter medo de chegar ao fim.
Ninguém admitia isso, eu sei,ninguém nunca disse,mas bastava estar atento à voz
de quem lia e aos olhos de quem escutava.
O céu ficou carregado de nuvens escurecidas. Olhei lá para fora à espera de
uma trovoada que trouxesse uma chuva de meia-hora. Mas nada.
Na terceira parte até a camarada professora começou a engolir cuspe
seco na garganta bonita que ela tinha, os rapazes mexeram os pés com
nervoso miudinho, algumas meninas começaram a ficar de olhos molhados. O Olavo avisou:“quem chorar é maricas então!” e os rapazes
Nelson Provazi
31Produção
de texto
O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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todos ficaram com essa responsabilidade de fazer uma cara como se nada
daquilo estivesse a ser lido.
Um silêncio muito estranho invadiu a sala quando o Cabrito se sentou. A
camarada professora não disse nada. Ficou a olhar para mim. Respirei fundo.
Levantei-me e toda a turma estava também com os olhos pendurados em
mim. Uns tinham-se virado para trás para ver bem a minha cara, outros fungavam do nariz tipo constipação de cacimbo. A Aina e a Rafaela que eram
muito branquinhas estavam com as bochechas todas vermelhas e os olhos
também, o Olavo ameaçou-me devagar com o dedo dele a apontar para mim.
Engoli também um cuspe seco porque eu já tinha aprendido há muito tempo
a ler um parágrafo depressa antes de o ler em voz alta: era aquela parte do
texto em que os miúdos já não têm pena do Cão Tinhoso e querem lhe matar
a qualquer momento. Mas o Ginho não queria. A Isaura não queria.
A camarada professora levantou-se, veio devagar para perto de mim,
ficou quietinha. Como se quisesse me dizer alguma coisa com o corpo dela
ali tão perto. Aliás, ela já tinha dito, ao me escolher para ser o último a fechar o texto, e eu estava vaidoso dessa escolha, o último normalmente era
o que lia já mesmo bem. Mas naquele dia, com aquele texto, ela não sabia
que em vez de me estar a premiar, estava a me castigar nessa responsabilidade de falar do Cão Tinhoso sem chorar.
— Camarada professora — interrompi numa dificuldade de falar. —
Não tocou para a saída?
Ela mandou-me continuar. Voltei ao texto. Um peso me atrapalhava a
voz e eu nem podia só fazer uma pausa de olhar as nuvens porque tinha
que estar atento ao texto e às lágrimas. Só depois o sino tocou.
Os olhos do Ginho. Os olhos da Isaura. A mira da pressão de ar nos olhos
do Cão Tinhoso com as feridas dele penduradas. Os olhos do Olavo. Os
olhos da camarada professora nos meus olhos. Os meus olhos nos olhos
da Isaura nos olhos do Cão Tinhoso.
Houve um silêncio como se tivessem disparado bué de tiros dentro da
sala de aulas. Fechei o livro.
Olhei as nuvens.
Na oitava classe, era proibido chorar à frente dos outros rapazes.
(In: Rita Chaves, org. Contos africanos de língua portuguesa.
São Paulo: Ática, 2009. p. 98-103.)
1. Logo no início, o texto faz referência a outro conto, “Nós matamos o Cão
Tinhoso”, do escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana.
a. Quem é o narrador na história de Ondjaki?
b. Há quanto tempo ele já tinha lido o texto de Honwana?
c. Levante hipóteses: Por que, na primeira vez, a história lhe parecera
“mais bem contada”?
2. A professora de português propôs a leitura integral do conto a alguns
estudantes da classe, de modo que cada um lesse uma parte do texto
em voz alta.
a. Por que essa tarefa era muito difícil para eles?
b. Jacó, ao ser escolhido para ler a parte final do texto, sentiu-se premiado e punido ao mesmo tempo. Explique por quê.
Professor: Comente com os alunos que, no organograma educativo de Moçambique,
implantado no país em 2004, a 8ª classe equivale ao 9º ano, no Brasil.
Um menino da 8ª classe, apelidado Jacó.
Ele tinha lido o conto no 6º ano; logo, fazia dois anos.
Provavelmente por ser o primeiro contato com o texto e também por ainda ser criança e ter
se impressionado muito com o sofrimento do animal e com a angústia de Ginho, o narrador.
Porque a história era muito emocionante e eles sentiam
vontade de chorar, mas não queriam chorar em público.
Premiado porque geralmente quem lia a parte mais importante era o aluno que sabia ler melhor; punido porque teria de
ler a parte mais triste da história − a da morte do cão − sem chorar.
Ondjaki
Ondjaki nasceu em Luanda,
Angola, em 1977. Interessa-se
pela interpretação teatral e
pela pintura (duas exposições
individuais, em Angola e no
Brasil). Participou em antologias internacionais. Escreve
para cinema e correalizou um
documentário sobre a cidade
de Luanda (Oxalá cresçam Pitangas, 2006). É membro da
União dos Escritores Angolanos. É licenciado em Sociologia. Recebeu no ano 2000 uma
menção honrosa no prêmio
António Jacinto (Angola) pelo
livro de poesia Actu Sanguíneu. Em 2005 o seu livro de
contos E se amanhã o medo
obteve os prêmios Sagrada
Esperança (Angola) e António
Paulouro (Portugal).
(Disponível em: http://www.nova
cultura.de/0708literatrip.php. Acesso
em: 24/12/2015.)
Oswaldo Reis/Esp. CB/D.A. Press
32 UNIDADE 1 RuptuRa e constRução
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3. Para situar as emoções que a leitura do texto de Honwana provocava nos alunos
durante a aula, Jacó menciona algumas partes do conto e, assim, de certa forma
também se torna narrador de outra história. Desse modo, em vários momentos as
duas narrativas se cruzam, criando um paralelo entre os fatos ocorridos no conto de
Honwana e os fatos ocorridos no conto de Ondjaki.
a. Destaque um trecho do conto em que o narrador Jacó explicita esse paralelo entre
as duas histórias.
b. Considerando o paralelo, indique, em seu caderno, a possível relação entre as seguintes personagens do conto de Honwana e personagens do conto de Ondjaki.
• administrador e veterinário
• o cão
• Ginho
• Isaura
• as crianças
4. A seguir, leia um trecho do conto de Honwana, releia um trecho do conto de Ondjaki
− ambos da parte final de cada história − e compare-os.
“O Cão Tinhoso olhava-me com força. Os seus olhos azuis não tinham brilho
nenhum, mas eram enormes e estavam cheios de lágrimas que lhe escorriam pelo
focinho. Metiam medo aqueles olhos, assim tão grandes, a olhar como
uma pessoa a pedir qualquer coisa sem querer dizer. Quando eu olhava agora para dentro deles, sentia um peso muito maior do que quando tinha a corda a tremer de tão esticada, com os ossos a querer fugir
da minha mão e com os latidos que saíam a chiar, afogados na boca
fechada.”
(Disponível em: http://www.prof2000.pt/users/
leiria/cao_tinhoso.htm. Acesso em: 20/1/2016.)
“Os olhos do Ginho. Os olhos de Isaura. A mira da pressão de ar nos
olhos do Cão Tinhoso com as feridas dele penduradas. Os olhos do Olavo. Os olhos da camarada professora nos meus olhos. Os meus olhos
nos olhos da Isaura nos olhos do Cão Tinhoso”.
a. Explique de que modo as duas narrativas se cruzam nesses trechos.
b. Na frase “Os meus olhos nos olhos da Isaura nos olhos do Cão Tinhoso”, além do
cruzamento semântico, há também um cruzamento sintático. Identifique-o e explique como ele ocorre.
3. a) Entre outras possibilidades: “Não quero dar essa responsabilidade na camarada professora de português, mas foi isso que eu pensei na minha cabeça cheia
de pensamentos tristes”, ou seja, comparando a situação dos alunos na sala com a situação vivida pelas personagens no conto de Honwana.
Adm. e veterinário: Seria a professora, que dá a ordem de leitura aos meninos; contudo, o próprio narrador rejeita essa hipótese, por gostar dela.
O cão: Os estudantes da sala de Jacó, que sofrem tentando segurar o choro
e querendo parar a leitura, sem poder fazer isso. Pode ser também o próprio
conto, considerando-se que ele emociona os estudantes, assim como a morte do cão emocionou os meninos. Corresponde a Jacó, pois ambos são narradores das histórias que contam.
Isaura: Não há correspondência direta entre ela e alguma personagem do conto de Ondjaki. O próprio Jacó é
o que se aproxima mais de Isaura, dada sua sensibilidade com relação à história do cão.
As crianças: De certa forma, são os estudantes da sala de Jacó; isso,
porém, em um patamar de consciência mais elevado (como será visto
na questão 5).
4. a) O conto de Ondjaki cita tanto personagens da história contada por
Jacó quanto personagens da história contada por Ginho. Assim, realidade
e ficção se misturam com o objetivo de mostrar que as personagens do
conto de Ondjaki reviviam as emoções vividas pelas personagens do
conto de Honwana.
Ele ocorre na última frase, na qual um termo, com a função de sujeito, foi suprimido. Se esse termo fosse explicitado,
a frase ficaria mais ou menos assim: Os meus olhos nos olhos da Isaura e [os olhos dela] nos olhos do Cão Tinhoso.
Cão Tinhoso: metáfora de uma nação
“Nós matamos o Cão Tinhoso” é o nome de um conto do escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana. O conto
foi publicado no livro de mesmo nome, na época em que Moçambique era colônia portuguesa, durante a ditadura
de Salazar, em Portugal.
Quando Honwana escreveu a obra, a única que publicou, encontrava-se na prisão, por causa de seus textos de
contestação ao regime e da participação na Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). Depois que Moçambique alcançou a independência, Honwana ocupou o cargo de ministro da Cultura do país.
O conto “Nós matamos o Cão Tinhoso” conta a história de um cão já bastante idoso e debilitado que é morto a
tiros de espingarda de pressão por um grupo de crianças, a mando do administrador e do veterinário do povoado.
A única criança que gostava do cão e lhe dava comida e carinho era a menina Isaura. O narrador da história, Ginho,
também gostava do animal, mas, pressionado pelos amigos, também decide matar o cão, porém na última hora se
arrepende, sem conseguir alterar a situação.
Segundo alguns críticos, a história do cão tinhoso é uma metáfora do povo moçambicano antes da revolução, ou seja, o cão representa a condição
do homem moçambicano sem consciência política, impotente, inferiorizado e subserviente.
Andressa Honório
aemo.mmo.co.mz
33Produção de texto
O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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5. No início do conto, há a seguinte dedicatória: “Para a Isaura. Para o Luís B. Honwana”.
Como você sabe, Isaura é personagem do conto “Nós matamos o Cão Tinhoso” e Luís
B. Honwana é o autor do conto. Levante hipóteses: Por que uma personagem de ficção e um escritor real são homenageados na dedicatória?
Sugestão de resposta: Isaura, por ser a única personagem mais humanizada e solidária da história, traços que provavelmente Ondjaki aprecia; e
Honwana por ser o criador do texto a partir do qual o de Ondjaki foi criado, como numa espécie de agradecimento e reconhecimento.
A origem do conto
O conto é um gênero que nasceu de tradição oral e há milênios faz parte da cultura de povos
de todo o mundo. Contado nas noites de luar ou em volta das fogueiras, o conto primitivamente
tratava de histórias de bichos ou de antigos mitos.
Os primeiros contos de que se tem registro são os de As mil e uma noites, obra que data do
início do século IX. Neles, o rei Xariar, desiludido com as mulheres em razão de ter sido traído por
sua esposa, decide desposar a cada noite uma virgem e matá-la na manhã seguinte para, assim,
não ser traído novamente. Xerazade, quando escolhida, evita a morte contando ao rei narrativas
fascinantes, cada uma das quais dando em outra. Com isso, o rei, querendo conhecer o fim da
história, sempre espera mais uma noite antes de mandar matá-la. Depois de mil e uma noites,
apaixonado por Sherazade, ele finalmente desiste de seu propósito.
Com o passar dos séculos, o conto foi se afastando da tradição oral e se tornou um gênero
literário requintado, cultivado por grandes escritores no mundo inteiro.
6. Angola e Moçambique são duas ex-colônias portuguesas que se libertaram de Portugal em 1975. Os dois países têm, portanto, muitos pontos em comum quanto à história, à cultura e à língua, que afloram no trabalho intertextual de Ondjaki. Alguns
críticos consideram que o conto “Nós matamos o Cão Tinhoso” é metáfora de um
povo humilhado pelo colonialismo, pelas perseguições políticas, pela censura e pelas
prisões, enquanto a crueldade dos meninos representaria a falta de consciência política do povo.
a. Tomando essas informações como referência, interprete: O que representa, no texto de Ondjaki, a leitura do conto em voz alta feita pelos adolescentes?
b. O que o choro dos adolescentes, que toma conta da classe de Jacó, representa?
7. O texto foi escrito em português angolano. Nele, é possível encontrar palavras que
são usadas exclusivamente em Angola ou em Angola e Portugal. Identifique algumas
dessas palavras, que ilustram a variedade moçambicana ou lusitana de nossa língua.
8. O texto lido é um conto, gênero que pertence à esfera literária. Leia o boxe “O conto e
sua estrutura tradicional” e, depois, responda:
a. Que parágrafos do conto correspondem à introdução?
b. Qual é o conflito do conto?
c. O que ocorre no desenvolvimento da ação?
d. Qual é o clímax da narrativa?
e. Que parágrafos correspondem ao desfecho?
6. a) Considerando que
o texto de Honwana foi
escrito na prisão, durante
a ditadura salazarista, e
que ele reflete o clima de
censura e o sentimento de
opressão vividos na época, a leitura em voz alta
desse texto, anos depois,
em outro país africano,
representa a libertação
dos povos moçambicano e
africano. A leitura em voz
alta significa a liberdade
de poder falar alto, sem
medo da censura ou da
repressão alcançada por
grande parte dos povos
africanos.
b) Professor: Sugerimos
abrir a discussão com a
classe, pois pode haver
mais de uma interpretação.
Sugestão: Os adolescentes do conto de Ondjaki
não são mais as crianças
ingênuas e maldosas do
conto de Honwana. É
como se, depois da revolução, tivesse havido um
crescimento não só físico
das crianças, agora adolescentes, mas também
um crescimento emocional
e intelectual quanto à sensibilidade, à solidariedade
e à consciência política.
bué, bondar, estiga, miúdo, porreira, slow, cacimbo
A parte composta pelo 1º, 2º e 3º parágrafos, que corresponde ao trecho
anterior ao que a professora solicita a
leitura do conto em voz alta.
O desafio de ler o conto em voz alta sem chorar.
A narração e a descrição de como transcorre a
leitura do conto de Honwana e a mistura entre
elementos dos dois contos. Com isso, vai sendo
criada uma tensão dramática, similar à do conto
que os alunos estão lendo.
8. d) O momento em que Jacó, o narrador, fica responsável por ler o trecho em que há o clímax do outro conto, ou seja, a parte em que as crianças matam o cão. Ele se situa no trecho
que vai do parágrafo iniciado por “Ela mandou-me continuar” até a frase “Fechei o livro”.
Os dois últimos parágrafos.
Andressa Honório
The Bridgeman Art Library / Keystone Brasil/
Museu de Arte Thomas Henry, Cherbourg, França
34 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
PortuguesContemporaneo3_UN1_CAP1_012a037.indd 34 5/12/16 6:05 PM
9. Nos contos, a narração pode ser feita em 1ª pessoa ou em 3ª pessoa, como nos demais
gêneros narrativos ficcionais.
a. Qual é o ponto de vista narrativo adotado no conto “Nós choramos pelo Cão Tinhoso”?
b. O narrador, no momento em que narra, é adolescente ou adulto? Justifique com
elementos do texto.
c. O olhar ou a perspectiva do narrador é de um adolescente ou de um adulto? Justifique sua resposta.
10. No conto, o tempo e o espaço podem ser mais amplos do que na crônica (em que geralmente os fatos ocorrem durante alguns minutos e em espaço restrito). Além disso,
normalmente as personagens do conto costumam ter mais profundidade psicológica
do que na crônica.
a. O tempo e o espaço no conto “Nós choramos pelo Cão Tinhoso” são amplos ou reduzidos? Justifique sua resposta com elementos do texto.
b. Há aprofundamento psicológico das personagens? Se sim, justifique sua resposta.
HORA DE ESCREVER
Como você sabe, no final da unidade será organizada uma antologia de contos, minicontos e contos fantásticos multimodais.
Seguem duas propostas de produção de contos, a serem desenvolvidas conforme a
orientação do professor. O(s) conto(s) que você criará poderá(ão) ser escolhido(s) para integrar a antologia.
1. Recontando. Reconte o conto “Nós matamos o Cão Tinhoso”, de Luís B. Honwana, a
partir de uma destas sugestões:
• Utilizando as informações sobre o conto apresentadas neste capítulo, acrescente
outras personagens e outros fatos aos da história.
• Leia o conto integral, disponível na Internet, e, depois, conte a história. Não copie
partes do texto e conte a história toda, mas de forma resumida, em um texto que
tenha de 30 a 40 linhas.
O ponto de vista adotado é o de 1ª pessoa.
Não há elementos que possam comprovar seguramente, mas provavelmente é adulto, especialmente
por causa da expressão “Foi no tempo”, que remete a um passado distante.
9. c) A perspectiva é de um
adolescente, Jacó. Isso
porque o narrador procura se situar no momento
em que ocorreu o evento
e retratar o modo como
ele e os colegas se sentiram então, anos atrás. Por
exemplo, quando se refere
ao “nervoso miudinho dos
rapazes, os “olhos molhados” das meninas ou o trecho “ninguém lia o texto do
Cão Tinhoso sem ter medo
de chegar ao fim. Ninguém
admitia isso, eu sei, ninguém nunca disse, mas
bastava estar atento à voz
de quem lia e aos olhos de
quem escutava”.
10. a) O tempo e o espaço são reduzidos, pois a ação ocorre no
espaço de uma sala de aula e no tempo de uma aula.
Professor: Reforce que tempo e espaço muito reduzidos não são
a regra.
10. b) Sim; as ações ocorrem mais no plano interior
das personagens do que
no espaço externo. O narrador é a personagem com
maior profundidade psicológica no conto, já que ele
vivia o desafio de ter de
fazer a melhor leitura, ler a
parte mais importante do
texto e, ao mesmo tempo,
se esforçar para não chorar. Comprovam esse fato
suas repetidas tentativas
de fuga do texto, olhando
as nuvens, e a pergunta
que dirige à professora,
sugerindo interrupção da
leitura, ao perguntar se já
não era hora da saída.
Professor: Os alunos poderão desenvolver uma ou duas das propostas ou até as três, dependendo do número de aulas previstas em seu planejamento para o estudo do gênero.
O conto e sua
estrutura tradicional
A estrutura narrativa tradicional do
conto, ainda hoje muito usada, compõe-se das seguintes partes: introdução ou apresentação, em que são
situadas as personagens, no tempo
e no espaço, em uma condição de
equilíbrio inicial; complicação ou desenvolvimento, em que é exposto e
desenvolvido o conflito (o problema
ou o motivo das ações); clímax, o
momento em que o conflito é resolvido ou não; desfecho ou conclusão,
em que é mostrado o que aconteceu
depois do conflito e se volta à situação de equilíbrio inicial.
Editora Callis
Editora Pocket Ouro
Companhia das Letrinhas
35 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1 Produção de texto
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2. Explorando pontos de vista. Dependendo da ótica pela qual uma
história é contada, ela pode passar a ser outra. Escolha uma destas
sugestões:
• Conte o conto “Nós matamos o Cão Tinhoso” pela perspectiva do cão.
• Conte o conto “Nós choramos pelo Cão Tinhoso” pela perspectiva da
professora.
3. Passando a bola. O texto a seguir é a introdução de um conto do escritor
moçambicano Mia Couto. Leia-o e dê continuidade à narrativa, apresentando um conflito, desenvolvendo-o, levando as ações ao clímax e criando um desfecho. Crie fatos e personagens.
O dia em que explodiu
Mabata-bata
De repente, o boi explodiu. Rebentou sem um múúú.
No capim em volta choveram pedaços e fatias, grãos e
folhas de boi. A carne eram já borboletas vermelhas. Os
ossos eram moedas espalhadas. Os chifres ficaram num
qualquer ramo, balouçando a imitar a vida, no invisível
do vento.
O espanto não cabia em Azarias, o pequeno pastor. Ainda há um instante ele admirava o grande boi malhado, chamado de Mabata-bata. O bicho pastava mais vagaroso que a
preguiça. Era o maior da manada, régulo da chifraria, e estava
destinado como prenda de lobolo do tio Raul, dono da criação. Azarias trabalhava para ele desde que ficara órfão. Despegava antes da luz para que os bois comessem o cacimbo
das primeiras horas.
Olhou a desgraça: o boi poeirado, eco de silêncio, sombra
de nada.
“Deve ser foi um relâmpago”, pensou.
Mas relâmpago não podia. O céu estava liso, azul sem
mancha. De onde saíra o raio? Ou foi a terra que relampejou?
[...]
— Não apareças sem um boi, Azarias. Só digo: é melhor
nem apareceres.
A ameaça do tio soprava-lhe os ouvidos. Aquela angústia
comia-lhe o ar todo. Que podia fazer? Os pensamentos corriam-lhe como sombra mas não encontravam saída. Havia
uma só solução: era fugir, tentar os caminhos onde não sabia
mais nada.
[...]
(In: Rita Chave, org. Contos africanos dos
países de língua portuguesa, cit., p. 14-5.)
Mia Couto
Mia Couto é um dos mais importantes escritores africanos da atualidade. É
autor de mais de trinta obras, em que se
incluem romances, contos e poesia. Ganhou em 2013 o Prêmio Camões, o mais
importante entre os prêmios literários
conferidos em nossa língua. Seu romance Terra son‰mbula é considerado
um dos dez melhores livros de literatura
africana do século XX.
ULF ANDERSEN/Aurimages/AFP
36 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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ANTES DE ESCREVER
Planeje seu conto, seguindo estas orientações:
• Tenha em vista o público para o qual vai escrever: jovens e adultos que se interessam
por literatura, por literatura africana e por contos.
• Dependendo da proposta escolhida, faça a narração em 1ª ou em 3ª pessoa.
• Esboce o enredo e defina as personagens, o tempo e o espaço das ações.
• Procure empregar a estrutura convencional do conto, constituída por apresentação, complicação (em que é apresentado o conflito), clímax e desfecho. No caso
da proposta 3, seu texto deve começar pela complicação.
• Procure dar dimensão psicológica às personagens.
• Utilize uma linguagem de acordo com a norma-padrão, porém com flexibilidade. Se
quiser, empregue termos africanos compatíveis com o perfil das personagens.
ANTES DE PASSAR A LIMPO Thinkstock/Getty Images
Antes de dar seu conto por finalizado, observe:
• se ele corresponde à proposta escolhida e se o ponto de vista adotado está de acordo
com ela;
• se as personagens, as ações, o tempo e o espaço estão bem desenvolvidos e se conseguiu dar às personagens uma dimensão psicológica;
• se há as partes convencionais do gênero conto e se elas desenvolvem a história de forma instigante, prendendo a atenção dos leitores;
• se a linguagem está em uma variedade linguística e com um grau de formalidade ou
informalidade adequados ao perfil das personagens e à ambientação da história.
37Produção de texto
O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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O Modernismo
LITERATURA
O Modernismo
Concordância nominal
O conto moderno e contemporâneo
CAPÍTULO 2
FOCO NA IMAGEM
Observe as imagens que seguem.
O grito (1893), de Edvard Munch.
A fonte (1917), de
Marcel Duchamp.
Corrente de cachorro em
movimento (1912), de
Giacomo Balla.
Nasjonalgalleriet, Oslo, Noruega
© Artists Rights Society (ARS), New York / ADAGP, Paris / Estate of Marcel Duchamp/
Museu de Israel, Jerusalém, Israel
Albright-Knox Art Gallery, Buffalo, Nova Iorque, EUA
38 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
PortuguesContemporaneo3_UN1_CAP2_038a063.indd 38 5/12/16 6:06 PM
literatura
As senhoritas de Avignon
(1907), de Pablo Picasso.
Persistência da memória
(1931), de Salvador Dalí.
As correntes de vanguarda
europeias
Entre as correntes de vanguarda europeias do início do século XX se destacam:
• Futurismo – Movimento que nasceu
na Itália a partir da publicação do
Manifesto Futurista, de Filippo
Tommasio Marinetti, em 1909.
Louvava a civilização moderna,
as máquinas, o automóvel, a
velocidade, a guerra, o militarismo e
o patriotismo. Defendia o verso livre e
as palavras soltas, em liberdade.
• Cubismo – Nasceu na pintura, com
Picasso, que introduziu a técnica da
fragmentação e da geometrização das
formas, em uma tentativa de captar
uma multiplicidade de perspectivas de
um objeto. Na literatura, propunha o
humor, a simultaneidade, os flashes
cinematográficos, a linguagem nominal
e a exploração visual e gráfica das
palavras.
• Expressionismo – Surgiu na
Alemanha e na França, na pintura, e se
estendeu para a literatura e o cinema.
Defendia a arte como uma expressão
subjetiva dos sentimentos e do mundo
interior do artista. Desvinculando-se
do conceito de belo, na arte, buscava o
sentido trágico da existência, expresso
com frequência em formas e cores
deformadas.
• Dadaísmo – Surgiu em Zurique,
na Suíça, durante a Primeira Guerra
Mundial, período em que o país
recebeu artistas e intelectuais de
vários lugares da Europa pelo fato
de ter ficado neutro no conflito.
Defendia a antiarte, caracterizandose pelo deboche, pelo ilogismo e
pela agressividade. Entre as técnicas
demolidoras que propunha, se incluía
o ready-made, que consiste em extrair
um objeto de seu uso cotidiano e,
com poucas alterações, atribuir-lhe
um valor estético.
• Surrealismo – Teve início, na França,
na literatura, com a publicação do
Manifesto Surrealista, de André Breton,
em 1924, e estendeu-se depois para
as artes e o cinema. Seus adeptos
valorizavam o mundo dos sonhos e
do inconsciente, por entender que aí
reside a verdadeira arte, livre da razão
e da censura. Na literatura, defendiam
a escrita automática, técnica que,
segundo eles, possibilita exprimir
diretamente o inconsciente, sem que os
impulsos criadores passem pela razão.
1. No início do século XX, começaram a surgir na Europa, simultaneamente, várias tendências artísticas conhecidas como “correntes de vanguarda”. Com nomes e propostas diferentes, todas elas contribuíram para
dar origem ao que hoje chamamos de arte moderna ou Modernismo.
Leia o boxe ao lado e depois responda, justificando: Qual das obras mostradas nas imagens traduz os princípios:
a. do Futurismo?
b. do Cubismo?
c. do Expressionismo?
d. do Dadaísmo?
e. do Surrealismo?
2. De modo geral, como essas obras lidam com os princípios clássicos da
verossimilhança e da beleza, ou seja, a capacidade de retratar a realidade com perfeição e, com isso, alcançar o belo na arte? Justifique sua
resposta, considerando os traços mais marcantes de cada obra.
a) A tela Corrente de cachorro em movimento; ela tenta captar o movimento
das personagens, em uma exaltação à velocidade.
A tela As senhoritas de Avignon; ela explora a técnica da geometrização das
personagens, possibilitando enxergar as mulheres por diferentes ângulos.
A tela O grito, de Munch; ela é uma expressão da subjetividade do
artista, que procura captar uma imagem da dor humana.
O ready-made A fonte, de Duchamp; ele eleva um urinol à situação de obra de arte.
A tela A persistência da memória, de Salvador Dalí; ela explora um
ambiente onírico, com referências ao sono, ao tempo e à memória.
2. De modo geral, nenhuma das correntes artísticas a que as obras se filiam tinham interesse em representar objetos de forma verossímil. A tela de Munch deforma o objeto, nas formas e
nas cores; a de Balla, revela empenho em captar o movimento, desprezando outros aspectos da verossimilhança; a de Picasso, pela geometrização, dificulta a visualização do objeto; a de Dalí
explora elementos simbólicos, oníricos, deixando o observador confuso em relação ao objeto retratado; o ready-made de Duchamp põe em xeque o conceito de belo na arte ao apresentar um
urinol, tradicionalmente desvinculado do campo das representações artísticas.
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, EUA
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, EUA
39 O Modernismo. Concordância nominal. O conto moderno e contemporâneo CAPÍTULO 2
PortuguesContemporaneo3_UN1_CAP2_038a063.indd 39 5/12/16 6:06 PM
Amplie seus conhecimentos sobre o Pré-Modernismo e o Modernismo, pesquisando em:
LIVROS
• Leia as principais obras da primeira fase do
Pré-Modernismo e do Modernismo brasileiro
e também: A semana de Arte Moderna, de
Neide Rezende (Ática); 22 por 22, de Maria
Eugênia Boaventura (Edusp); 1922, a semana
que não terminou, de Marcos Augusto
Gonçalves (Companhia das Letras); Tarsila
por Tarsila, de Tarsila do Amaral (Celebris);
Artes plásticas na Semana de 22, de Aracy
Amaral (Editora 34).
FILMES
• Policarpo Quaresma, herói do Brasil, de
Paulo Thiago; Guerra de Canudos, de Sérgio
Rezende; Meia-noite em Paris, de Woody
Allen; Os amores de Picasso, de James
Ivory; Coco Chanel & Igor Stravinsky, de
Jan Kounen; Macunaíma, de Joaquim Pedro
de Andrade; Pagu, de Norma Bengell; Os
amores de Picasso, de James Ivory; Tempos
modernos, de Charles Chaplin; O discreto
charme da burguesia, de Luis Buñuel.
MÚSICAS
• Ouça a música dos compositores modernos
Claude Debussy e Villa-Lobos. A canção
“Clair de Lune”, de Debussy, foi tema de
novela e de vários filmes. Ouça também a
canção “Escapulário”, de Caetano Veloso,
cuja letra é um poema de Oswald de
Andrade. Ouça ainda “Viola quebrada”,
única canção composta por Mário de
Andrade, disponível na Internet.
SITES
• Baixe as obras dos pré-modernistas Euclides
da Cunha e Lima Barreto e do modernista
português Fernando Pessoa, que pertencem
a domínio público, acessando: http://www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa/Pesquisa
ObraForm.do?select_action=&co_autor=45
Acesse também:
http://www.euclidesdacunha.org.br/
http://tarsiladoamaral.com.br/
PINTURAS
• Conheça a obra dos pintores modernistas
brasileiros, como Anita Malfatti, Tarsila
do Amaral, Di Cavalcanti e Portinari, e
europeus, como Picasso, Salvador Dalí, Max
Ernst, De Chirico, Léger, Miró e Magritte.
FIQUE CONECTADO!
O contexto de produção
e recepção do Modernismo
As obras que você viu na seção Foco na imagem, embora sejam
fruto de diferentes tendências artísticas do início do século XX, são
todas representativas da arte moderna.
O Modernismo surgiu no início do século XX, com manifestações artísticas que ocorreram antes, durante e depois da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), e se estendeu por várias décadas do
século XX. Quem produzia literatura e arte modernista no Brasil
nesse período? Quem era o público consumidor?
Meios de circulação
O Modernismo brasileiro teve início em São Paulo, importante centro industrial e cultural no início do século XX. Nas duas
primeiras décadas desse século, a cidade foi marcada por um
expressivo desenvolvimento econômico, em virtude da riqueza
proveniente da cultura do café. O período foi marcado por muitas
mudanças, como a criação de indústrias, a imigração de trabalhadores europeus, o surgimento de movimentos e bairros operários,
a construção do Teatro Municipal e a formação de uma elite culNa seção Conexões, na página 48, você vai
encontrar um roteiro de leitura de duas pinturas de Anita Malfatti e o texto "Paranoia
ou mistificação", de Monteiro Lobato.
Emiliano Di Cavalcanti. Capa do catálogo da exposição da Semana de Arte
Moderna de 1922/Instituto de Estudos Brasileiros, USP
Companhia das Letras
Mediapro/Versátil Cinema/Gravier
Productions/Pontchartrain Productions
Tarsila do Amaral. A Gare, 1925/Col.
Rubens Taufic Schahin, São Paulo, SP
40 UNIDADE 1 RuptuRa e constRução
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LITERATURA
tural que ia frequentemente à Europa e de lá trazia novidades artísticas relacionadas
com as correntes de vanguarda.
A pintora Anita Malfatti, por exemplo, estudou pintura nos Estados Unidos. Tarsila do
Amaral e Di Cavalcanti fizeram estudos em Paris. O escritor Oswald de Andrade passava
longas temporadas em Paris, onde conheceu de perto a efervescência cultural das correntes de vanguarda e teve como amigos artistas importantes do movimento cubista.
O escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret, depois de ter estudado no Liceu de Artes e
Ofícios de São Paulo, estudou na Europa de 1910 a 1920.
Embora a capital do Brasil fosse nesse momento o Rio de Janeiro – onde tinha vivido a
maior parte dos escritores de prestígio da época anterior, como Machado de Assis e Olavo
Bilac −, o movimento modernista nasceu em São Paulo em decorrência do espírito de modernidade em que a cidade vivia e da formação de um público consumidor de literatura e
arte que ansiava por mudanças.
O Modernismo em contexto
Tradicionalmente, a Semana de Arte Moderna ocorrida em 1922 no Teatro Municipal
de São Paulo é considerada o marco introdutório do movimento modernista no Brasil.
Apesar disso, anos antes já havia manifestações de arte modernista em São Paulo, como
uma exposição de obras da pintora Anita Malfatti, em 1917, criticada de maneira contundente por Monteiro Lobato.
A realização da Semana de Arte Moderna se deu por iniciativa de um grupo de artistas
paulistas, que a idealizaram com o fim de comemorar o centenário da Independência do
Brasil. O evento teve a participação de artistas de diferentes artes, entre eles os escritores
Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho e o
pré-modernista Graça Aranha e os pintores Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Di
Cavalcanti, Zina Aita e Ferrignac. Brecheret apresentou alguns trabalhos em escultura e
Villa-Lobos e Ernâni Braga executaram músicas.
A Semana contou com conferências, declamações, concerto musical e espetáculos de
dança, ocorridos entre vaias, apupos e aplausos. As obras de arte ficaram expostas no
saguão do Teatro Municipal. A imprensa noticiou o fato, mas o principal saldo positivo
do evento foi a aproximação dos artistas e a troca de ideias e técnicas entre os diferentes
tipos de arte.
Movimentos e manifestos
Após a Semana de Arte Moderna, teve início a primeira fase do Modernismo
brasileiro, conhecida como “geração de 22” ou “fase heroica”, pelo fato de ter constituído um período de reconstrução da cultura brasileira, com base em uma revisão
crítica do passado histórico e das tradições culturais e linguísticas do país.
A discussão em torno do “nacional”, entretanto, foi marcada por muita divergência
ideológica entre os escritores, o que deu origem à publicação de vários manifestos e ao
surgimento de dois grupos antagônicos de escritores.
Por um lado, Oswald de Andrade publicou dois manifestos, um em 1924 e outro em
1928, a partir dos quais criou, respectivamente, o movimento Pau-Brasil e o movimento
de Antropofagia.
O movimento Pau-Brasil defendia a criação de uma poesia nacional de exportação,
primitivista, irônica e irreverente, baseada na revisão crítica de nosso passado histórico
e na valorização tanto das tradições da cultura brasileira como da modernidade. “Tudo
digerido”, conforme dizia Oswald no Manifesto da Poesia Pau-Brasil.
Em 1928, influenciado por ideias marxistas e freudianas, Oswald radicalizou as ideias
básicas do Pau-Brasil, dando início ao movimento de Antropofagia. Tomando como reReprodu•‹o
41 O Modernismo. Concordância nominal. O conto moderno e contemporâneo CAPÍTULO 2
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ferência os rituais de antropofagia dos índios brasileiros e retomando ou atualizando a
ideia da “digestão cultural”, ele e os adeptos do novo movimento propunham a deglutição
ou adevoração simbólica da cultura estrangeira, extraindo dela contribuições, mas sem
que, com isso, se perdesse a identidade cultural brasileira.
Os antropófagos fundaram a Revista de Antropofagia, da qual participaram, além
dos escritores Oswald de Andrade, Raul Bopp e Alcântara Machado e da pintora Tarsila do Amaral – então casada com Oswald −, Antônio Alcântara Machado, Geraldo
Costa e outros.
Em oposição ao movimento Pau-Brasil, nasceu o movimento Verde-Amarelismo
e, em oposição à Antropofagia, o movimento da Anta, ambos liderados por Plínio
Salgado e identificados com um nacionalismo ufanista e xenófobo, apoiado em
ideias fascistas.
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, um painel de textos modernistas. O texto 1 é um fragmento do
“Prefácio interessantíssimo”, que Mário de Andrade escreveu para sua obra Pauliceia desvairada e que serviu como referência teórica aos modernistas de 1922. Os textos 2, 3 e 4
são poemas de Oswald de Andrade.
Texto 1
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem
pensar tudo o que meu inconsciente me grita.
Penso depois: não só para corrigir, como para
justificar o que escrevi. Daí a razão deste
Prefácio Interessantíssimo.
[...]
Um pouco de teoria?
Acredito que o lirismo, nascido no
subconsciente, acrisolado num pensamento claro
ou confuso, cria frases que são versos inteiros,
sem prejuízo de medir tantas sílabas, com
acentuação determinada.
[...]
Pronomes? Escrevo brasileiro. Si uso ortografia
portuguesa é porque, não alterando o resultado,
dá-me uma ortografia.
Escrever arte moderna não significa jamais
para mim representar a vida atual no que tem
de exterior: automóveis, cinema, asfalto. Si
estas palavras frequentam-me o livro não é porque pense com
elas escrever moderno, mas
porque sendo meu livro moderno, elas têm nele
sua razão de ser.
(Mário de Andrade. Poesias completas. São Paulo: Círculo do Livro, s. d. p. 19-35.)
42 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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LITERATURA
Texto 2
erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
(Oswald de Andrade. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. p. 177.)
Paisagem com touro (1925), de Tarsila do Amaral. A pintura revela o
interesse dos modernistas em valorizar a paisagem nacional.
Texto 3
O capoeira
— Qué apanhá sordado?
— O quê?
— Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada
(Idem, p. 94.)
Texto 4
são josé del rei
Bananeiras
O Sol
O cansaço da ilusão
Igrejas
O ouro na serra de pedra
A decadência
(Idem, p. 134.)
1. A respeito do “Prefácio interessantíssimo”, de Mário de Andrade, responda:
a. Como nasce ou deve nascer a poesia, segundo o autor? Em que essa concepção
poé tica difere da dos parnasianos?
b. Qual é a posição do poeta a respeito da língua a ser usada em poesia? Em que essa
posição difere da tradição literária?
c. Ao citar “automóveis, cinema, asfalto”, o poeta indiretamente rejeita o rótulo de
“futurista”, frequentemente atribuído, na época, a todos os que eram modernistas.
Segundo ele, de que deve tratar a arte moderna?
2. Os modernistas da primeira geração tiveram uma posição iconoclasta, de destruição
da cultura do passado, e apresentaram propostas para a implantação da arte moderna no Brasil. Veja algumas das propostas literárias dessa geração:
A poesia deve nascer diretamente do inconsciente, num impulso criativo, sem censura. Os parnasianos, ao contrário, acreditavam que a poesia era fruto do trabalho racional, artesanal.
1. b) O poeta defende o uso de uma língua mais brasileira e coloquial, enquanto a tradição literária sempre procurou usar uma língua “elevada”, diferente
da de uso comum.
Professor: Chame a atenção dos alunos para o fato de Mário de Andrade empregar em seus textos a palavra si, forma abrasileirada da conjunção se.
c) A arte moderna deve tratar da vida atual. Os automóveis e outros elementos da modernidade podem fazer parte da arte moderna porque integram a
vida moderna.
Professor: Comente com os alunos que, em outro trecho do prefácio, Mário
de Andrade afirma: “Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho
pontos de contato com o futurismo”. O escritor não se identificava com a
ideologia futurista, que tinha traços fascistas.
Coleção Roberto Marinho, Rio de Janeiro, RJ
43 O Modernismo. Concordância nominal. O conto moderno e contemporâneo CAPÍTULO 2
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• busca da síntese
• verso livre
• fragmentação
• valorização de temas brasileiros e de
elementos da paisagem nacional
• revisão crítica do passado histórico
brasileiro
• nacionalismo (crítico ou ufanista)
• valorização da língua brasileira
• flashes cinematográficos
• humor e ironia
• poesia nominal (feita principalmente
com substantivos)
Quais dessas propostas você reconhece:
a. no texto 2?
b. no texto 3?
c. no texto 4?
3. Compare o poema “O capoeira”, de
Oswald de Andrade, ao “Prefácio
interessantíssimo”, de Mário de Andrade. Em que os dois textos se assemelham?
4. O Manifesto surrealista, de autoria
do escritor francês André Breton,
foi publicado em 1924. Apesar disso, Mário de Andrade, no “Prefácio
interessantíssimo”, de 1922, já fazia
menção a alguns dos princípios surrealistas, entre eles o da “escrita automática”. Explique por quê.
2. a) Revisão crítica do
passado histórico brasileiro, ironia e humor, nacionalismo (crítico), verso
livre, busca de síntese,
valorização de elementos
da paisagem nacional.
b) Valorização de elementos da paisagem nacional,
valorização da língua brasileira, verso livre, busca
de síntese, fragmentação.
c) Valorização de elementos da paisagem nacional,
poesia nominal, verso livre, busca de síntese.
3. O poema “O capoeira”,
ao fazer uso de uma língua oral e popular, identifica-se com a proposta
apresentada no trecho do
prefácio em que Mário de
Andrade defende o uso
de uma língua brasileira
na poesia (“Escrevo brasileiro”).
Ambos defendiam a proposta de fazer uma poesia vinda
diretamente do inconsciente, sem o crivo da razão.
Igreja de Santo Antônio,
em Tiradentes, uma
manifestação do Barroco
mineiro.
Por meio da leitura dos textos de Mário de Andrade e Oswald de Andrade feita neste capítulo, você viu que, no
Modernismo, diversos procedimentos se contrapõem aos valores estéticos do passado, principalmente parnasianos, entre eles:
• a “escrita automática”, ou a poesia vinda diretamente
do inconsciente, sem o crivo da razão;
• o uso do verso livre;
• a valorização da linguagem nominal; o fim da discursividade lógica e a fragmentação ou o uso de flashes
cinematográficos;
• o emprego de uma língua brasileira, próxima da oralidade e das variedades linguísticas populares;
• o humor e a ironia;
• nacionalismo (crítico ou ufanista) e valorização de
elementos da paisagem nacional;
• revisão crítica do passado brasileiro.
5. São José del Rei é um dos nomes
que, no passado, teve a atual cidade
de Tiradentes, em Minas Gerais.
Observe a sequência dos versos do
poema “são josé del rei”.
a. Qual é o tema do poema?
b. Há conectores que ligam os versos? Se não, como é feita a conexão entre eles?
c. Que palavra é uma espécie de síntese de todo o poema? Que relação essa palavra
tem com os ciclos da economia brasileira?
5. a) É a descrição da cidade, com elementos típicos da paisagem nacional, e sua decadência.
Professor: Comente com os alunos que um grupo de modernistas, liderado por Oswald de Andrade, interessado em
“redescobrir o Brasil”, fez uma viagem às cidades históricas mineiras.
b) Não; a conexão é feita pela justaposição de palavras (principalmente substantivos) e
de versos descritivos, que vão se somando e formando uma imagem da cidade.
A palavra decadência. Essa palavra sugere a decadência de cidades mineiras depois que terminou o ciclo de ouro. Marcos Amend/Pulsar Imagens
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literatura
O Modernismo representou
uma ruptura com valores artísticos do passado. Que relação há
entre o Modernismo e os fatos
históricos e sociais que ocorriam dentro e fora do Brasil? O
que a Semana de Arte Moderna
representou para as artes em
geral, além da literatura?
Para refletir sobre essas
questões, leia o painel de textos ao lado.
ENTRE
SABERES
FILOSOFIA • ARTE •
LITERATURA
Principais fatos históricos do contexto
modernista
• 1914-1918 – Primeira Guerra Mundial
• 1917 – Revolução Russa
• 1922 – Revolta do Forte de Copacabana
(movimento tenentista)
• 1922 – Fundação do Partido Comunista Brasileiro
• 1924 – Revolta paulista
• 1925 – Criação da Coluna Prestes
• 1930 – Revolução de 1930
Texto 1
A Semana de Arte Moderna de fevereiro de 1922 realizada
em São Paulo representa um marco na arte contemporânea do
Brasil, comparável, por sua repercussão, à chegada da Missão
Francesa ao Rio de Janeiro no século passado ou, no século XVIII,
à obra do Aleijadinho. Essa manifestação tem importância dilatada por ser consequência direta do nacionalismo emergente
da Primeira Guerra Mundial e da subsequente e gradativa industrialização do país e de São Paulo em particular. Ao mesmo
tempo em que começavam a se assinalar as potencialidades
do país, uma euforia invadia os jovens intelectuais brasileiros,
contagiados de entusiasmo com as festas do Centenário da Independência em preparo pelo governo Epitácio Pessoa. Diante das comemorações do passado, um grupo inquieto, movido
pela exaltação do Brasil diante do futuro, começa a se formar
depois da exposição de Anita Malfatti em 1917-18, eclodindo em
manifestação em 1922. Seu objetivo: a derrubada de todos os
cânones que até então legitimavam entre nós a criação artística. Esse objetivo destrutivo, claramente enunciado, traria, como
mais tarde Mário de Andrade diria, o direito permanente à pesquisa estética, a atualização da inteligência artística brasileira
e a estabilização de uma consciência criadora nacional.
Assistimos, além dessa derrubada, à atualização da linguagem brasileira com a do mundo contemporâneo, ou seja,
universalismo de expressão. Como consequência imediata
daquele nacionalismo, emerge a consciência criadora nacional: voltar-se para si mesmo e perceber a expressão do povo e
da terra sobre a qual ele se estabeleceu.
A exposição e os três festivais da Semana assumem, de certa forma, o cunho de manifesto. Muito embora seus participantes rejeitem a denominação de futuristas, erroneamente
atribuída, mas que permaneceu, fora dos meios intelectuais
e artísticos, como adjetivação de tudo aquilo que parecesse
uma reação contra as formas tradicionais de arte, o desencadear do movimento modernista tem pontos de contato com o
movimento marinettiano. A importância da Semana cresce à
medida que essa rejeição ao passado não deixa de estar profundamente relacionada com os movimentos político-sociais
que abalariam o país a partir de 1922, contra o paternalismo
da Primeira República, um dos resquícios do Império, seja
nesse mesmo ano com a sublevação do Forte de Copacabana em julho e, dois anos depois, com a revolução de 192 em
São Paulo. As agitações dessa década, nas quais, salvo raras
exceções, todos os modernistas se viram envolvidos, iriam
desembocar, poucos anos depois, na revolução de 30, iniciando-se uma nova era para o país. Assim, no contexto das alterações a ocorrer, a manifestação cultural da Semana constitui
um registro sintomático da pulsação do organismo nacional,
antecipando, por meio do pensamento, a insatisfação que tomaria forma política contra o tradicionalismo-aristocracismo
poucos anos depois.
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PortuguesContemporaneo3_UN1_CAP2_038a063.indd 45 5/12/16 6:06 PM
[...] até 1917 a pesquisa inexistia nas artes brasileiras – e a partir dessa data, até fins
de 30, uma inquietação fecunda alimentou positivamente a expressão plástica em nosso país. A sequência só adviria, longos anos depois, com a fundação dos museus em São
Paulo e no Rio de Janeiro e com a incostitucionalização do estímulo.
(Aracy Amaral. Artes plásticas na Semana de 22. São Paulo: Editora 34, 1998. p. 13-5 e 240.)
Texto 2
A gripe espanhola
Em 1928, já no final da Primeira Guerra Mundial, uma catástrofe espalhou-se por
vários países: a gripe espanhola, doença que recebeu esse nome por ter sido divulgada
ao se manifestar na Espanha.
A doença se disseminou rapidamente. No Brasil, em poucas semanas morreram milhares de pessoas. Segundo algumas estimativas, a gripe espanhola causou aproximadamente 20 milhões de mortes no mundo.
(Miguel Castro et alii. Enciclopédia do estudante – História do Brasil –
Das origens ao século XXI. São Paulo: Moderna, 2008. p. 147.)
Texto 3
1922 foi mais que uma simples data, porquanto denota que a situação revolucionária chegara ao auge do amadurecimento, e não foi por certo casual a coincidência
das revoluções estética e política, iniciada também com o levante dos 18 do Forte de
Copacabana, no mesmo ano, o que mostra que a consciência do país antingira um estado agudo de revolta contra a velha ordem, em seus diversos setores. Não se trata de
procurar precendência de um fator sobre os outros, o intelectual e artístico, o político,
o econômico. Mas de reconhecer que era a estrutura da civilização brasileira, era o todo
do organismo nacional, que mobilizava as forças para quebrar as amarras de sujeição
ao colonialismo mental, político e econômico, entrando firme na era da maturidade e
posse de si mesmo.
(Afrânio Coutinho. Introdução à literatura no Brasil. 10. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. p. 265-6.)
Acervo Iconographia
Paramount
São Paulo na década de 1920.
46 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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literatura
Texto 4
As polêmicas políticas
A vitória dos bolchevistas na Revolução Russa de 1917 teve repercussões no Brasil.
As ideias comunistas ganharam espaço, e alguns líderes, antes anarquistas, começaram a organizar centros de discussão influenciados pelo marxismo. Em março de 1922
foi fundado o Partido Comunista, que se considerava mais avançado politicamente do
que as outras organizações operárias existentes no Brasil. Os comunistas criticavam os
anarquistas porque estes se limitavam ao uso da greve, sem procurar conquistar espaços das disputas eleitorais.
A década de 1920 foi marcada por polêmicas entre comunistas e anarquistas. Os
anarquistas eram, por princípio, contra a organização dos operários em partidos. Consideravam as eleições uma farsa, um jogo sujo da burguesia para se manter no poder.
Defendiam uma revolução que acabasse com a hierarquia social e desse fim ao Estado,
tornando todos os homens efetivamente livres. Os comunistas, por seu turno, viam no
partido a vanguarda da ação política. Lutavam pelo fim da desigualdade social, mas
admitiam que a revolução proletária não traria de imediato o fim do Estado. Seria necessário um período de transição para se chegar à sociedade sem classes, em que todos
seriam realmente livres e iguais.
(Antonio P. Rezende e Maria T. Didier. Rumos da História. São Paulo: Atual, 2001. p. 501.)
1. Segundo Aracy Amaral e Afrânio Coutinho, a Semana de Arte Moderna não foi uma
revolta cultural isolada. Explique essa afirmação, situando-a no contexto político da
época.
2. Aracy Amaral atribui o surgimento do nacionalismo no Brasil, na década de 1920, a
duas causas principais. Quais são elas?
3. Tendo em vista que, nos anos 1920, alguns escritores modernistas foram influenciados pelo socialismo e pelo fascismo, que relação há entre o contexto histórico e essas
influências em nossa literatura, ou seja, entre as polêmicas políticas que ocorriam no
contexto europeu e as ideias artísticas em nosso país?
4. Aracy Amaral cita um discurso que Mário de Andrade fez em 1942, por ocasião da
comemoração dos vinte anos da Semana de Arte Moderna. Nesse discurso, intitulado
“O movimento modernista”, Mário afirmava:
“[...] Mas esta destruição não apenas continha todos os germes da atualidade,
como era uma convulsão profundíssima da realidade brasileira. O que caracteriza
esta realidade que o movimento modernista impôs, é, a meu ver, a fusão de três
princípios fundamentais: o direito à pesquisa estética; a atualização da inteligência
artística brasileira; e a estabilização de uma consciência criadora nacional”.
(Aspectos da literatura brasileira. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1974. p. 242.)
Levando em conta o texto de Aracy Amaral, responda:
a. De acordo com o último parágrafo do texto, que fato, ocorrido em 1917, já era demonstração do desejo dos artistas brasileiros de terem “direito à pesquisa estética”
e à “atualização da inteligência artística brasileira”?
b. De acordo com o segundo parágrafo do texto de Aracy Amaral, de que modo os
artistas modernistas conseguiram “estabilizar uma consciência criadora nacional”?
Justifique sua resposta com um trecho do texto.
1. Segundo esses estudiosos, a Semana de Arte
Moderna foi a primeira
manifestação, no âmbito
da cultura, de uma insatisfação dos brasileiros em
geral em relação ao “tradicionalismo aristocrático”.
Os fatos políticos que
ocorreram no mesmo ano
da Semana ou um pouco
depois dela (movimento
tenentista, fundação do
Partido Comunista, revolta
paulista, Coluna Prestes)
demonstram que havia um
processo de contestação e
mudanças, que culminou
na Revolução de 1930.
3. Oswald de Andrade foi
influenciado pelo marxismo e o grupo de Plínio
Salgado, por ideias fascistas (que ganhariam maior
expressão na década de
1930). O texto “As polêmicas políticas” comenta
as polêmicas entre comunistas e anarquistas, mas
não cita o fascismo, que
também teve grande expressão nos anos 1920.
A exposição de Anita Malfatti e a polêmica gerada pela
crítica de Monteiro Lobato à pintura da artista.
Produzindo uma arte voltada para a paisagem e os temas nacionais, conforme o trecho “voltar-se para si mesmo e
perceber a expressão do povo e da terra sobre a qual ele se estabeleceu”.
A Primeira Guerra Mundial e a industrialização do país, especialmente de São Paulo.
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Em 1917, a pintora brasileira Anita Malfatti realizou em São Paulo uma exposição de
arte, que, diferentemente da anterior, de 1914, teve grande repercussão e é considerada o
marco inicial da arte moderna no Brasil e o estopim da Semana de Arte Moderna.
O escritor Monteiro Lobato, que era também crítico no jornal O Estado de S. Paulo, visitou a exposição e publicou o texto “A propósito da exposição de Anita Malfatti” (depois
republicado com o título “Paranoia ou mistificação”). Imediatamente, Mário de Andrade,
Oswald de Andrade e Menotti del Picchia publicaram artigos em defesa de Anita, gerando
uma polêmica que acabou por unir os escritores e artistas modernistas. Cinco anos depois, esse grupo realizou a Semana de Arte Moderna.
A seguir, observe duas pinturas de Anita Malfatti (veja também, na página 13, a
tela O homem amarelo) que fizeram parte da exposição e leia parte da crítica de Monteiro Lobato.
Anita Malfatti
Anita Malfatti (1889-1964) nasceu em São Paulo. Aprendeu a pintar com a
mãe, que, depois da morte do marido, passou a dar aulas de pintura e línguas.
Com a ajuda de um tio e do padrinho, estudou na Europa. Em 1914, voltou ao
Brasil e realizou uma exposição, que não teve grande destaque. Em 1915, foi
para os EUA, onde teve aulas com o expressionista Homer Boss e pintou seus
melhores quadros. Retornou ao Brasil em 1917, pouco antes da exposição que
realizou nesse ano. Depois da crítica de Lobato, a pintora ficou um ano sem
pintar. Participou da Semana de Arte Moderna e alguns anos depois passou a
fazer uma pintura mais tradicional. Alguns especialistas consideram que Anita
nunca superou as críticas de Lobato.
O japonês (1915-6). A mulher de cabelos verdes (1915).
Instituto de Estudos Brasileiros, USP, SP
Coleção Ernesto Wolf, São Paulo, SP
Arquivo/Agência O Globo
Anita Malfatti,
em seu ateliê,
em 1963.
48 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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Paranoia ou mistificação?
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardando os
eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta
senda, se tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Rafael na Itália, é Rembrandt
na Holanda [...]. A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão
estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura
excessiva. São produtos de cansaço e do sadismo de todos os períodos de
decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas
cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz de escândalo,
e somem-se logo nas trevas do esquecimento.
Embora eles se deem como novos precursores duma arte a ir, nada é mais
velho de que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranoia e com a
mistificação. De há muito já que a estudam os psiquiatras em seus tratados,
documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas
dos manicômios. A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é
sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas, zabumbadas pela imprensa e absorvidas por americanos malucos, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma
lógica, sendo mistificação pura. Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude. As
medidas de proporção e equilíbrio, na forma ou na cor, decorrem do que chamamos sentir. Quando as sensações do mundo externo transformam-se em
impressões cerebrais, nós “sentimos”; para que sintamos de maneira diversa,
cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa
alteração, ou que o nosso cérebro esteja em “pane” por virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer normalmente no homem,
através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não
poderá “sentir” senão um gato, e é falsa a “interpretação” que do bichano fizer
um “totó”, um escaravelho, um amontoado de cubos transparentes.
Estas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti,
onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética
forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia. Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. [...] Entretanto, seduzida
pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios dum
impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma
nova espécie de caricatura.
Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti
não passam de outros tantos ramos da arte caricatural. É a extensão da
caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor,
caricatura da forma − caricatura que não visa, como a primitiva, ressaltar
uma ideia cômica, mas sim desnortear, aparvalhar o espectador. [...]
[...]
(Disponível em: http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/
educativo/paranoia.html. Acesso em: 5/1/2016.)
aparvalhar: desnortear;
tornar pouco inteligente.
apologista: o que faz
apologia, isto é, uma
defesa apaixonada de algo
ou alguém.
teratológico: monstruoso,
deformado.
zabumbado: aclamado ao
som da zabumba.
literatura
Baptistão
49 O Modernismo. Concordância nominal. O conto moderno e contemporâneo CAPÍTULO 2
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1. A crítica de Lobato teve grande repercussão no meio artístico e cultural da época.
Qual é a opinião do escritor a respeito das obras de Anita Malfatti?
2. Para fundamentar seu ponto de vista, Lobato desenvolve um texto argumentativo
bem-estruturado. No 1º parágrafo, opõe duas espécies de artistas.
a. Quais são elas?
b. Qual espécie de artistas ele prefere? Que exemplos ele cita para identificar essa
espécie de artistas?
c. Que argumentos ele apresenta, no 2º parágrafo, para fundamentar sua preferência?
3. No 2º parágrafo, o autor afirma:
“Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não
dependem do tempo nem da latitude. As medidas de proporção e equilíbrio, na forma ou na cor, decorrem do que chamamos sentir. Quando as sensações do mundo
externo transformam-se em impressões cerebrais, nós ‘sentimos’; para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em ‘pane’ por virtude
de alguma grave lesão.”
a. Observe as pinturas A mulher de cabelos verdes e O japonês. Do seu ponto de vista,
elas aparentam ter “proporção e equilíbrio, na forma ou na cor”?
b. Na sua opinião, o que provavelmente chocou mais Monteiro Lobato?
4. Alguns dos procedimentos mais comuns na arte expressionista são:
• criação sem obstáculos convencionais
• sugestões de luz desvinculadas da tradicional relação claro/escuro
• relação dinâmica entre figura e fundo
• pincelada livre, que valoriza o detalhe da superfície
• tons fortes, não convencionais
• a arte não como imitação, mas como criação subjetiva, livre
a. Quais desses procedimentos podem ser observados nas telas O japonês e A mulher
de cabelos verdes, de Anita Malfatti?
b. Pelas citações das correntes de vanguarda que Lobato fez na crítica, é possível inferir que ele tivesse domínio do assunto?
Ele critica negativamente a exposição, considerando
as pinturas feitas pela artista como expressões de
deformidades.
A dos artistas que veem normalmente as coisas, e a dos artistas que as veem anormalmente, à luz de teorias efêmeras.
Ele prefere a dos que veem normalmente as coisas. Cita como exemplos pintores
da tradição clássica: Praxíteles, Rafael e Rembrandt.
Ele afirma que “todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude”. Logo,
ele considera que os critérios do que seja uma obra de arte são imutáveis, são os mesmos de séculos atrás.
3. a) Quanto às formas, há proporção e equilíbrio só até certo ponto, uma vez que o ombro do japonês é caído, o braço é todo torto,
a cabeça é pequena em relação ao pescoço,
que é mais grosso; o tronco da mulher é mais
robusto que o esperado, proporcionalmente à
cabeça, e há traços no rosto dela muito pontudos. Quanto às cores, observa-se uma aplicação totalmente diferente do que até então
se considerava equilíbrio.
Provavelmente as cores, pois as da pele e do cabelo das personagens diferem muito das cores reais;
além disso, também os traços grosseiros na definição das formas dos rostos e dos corpos.
Todos.
4. b) Não; pelo contrário, ele demonstra ter um conhecimento superficial do assunto, a ponto de não perceber que a arte de Anita Malfatti era expressionista;
para ele, “Picasso e companhia”, “futurismo, cubismo,
impressionismo” e outras tendências novas eram todas arte caricatural.
50 UNIDADE 1 RuptuRa e constRução
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lÍNGua e
liNGuaGeM
FOCO NO TEXTO
Leia o anúncio a seguir.
Concordância nominal
LÍNGUA E LINGUAGEM
(Disponível em: http://www.eugeniomohallem.com.br/#526/united-2a. Acesso em: 2/3/2016.)
1. Relacione a frase “We are united”, da parte inferior do anúncio, ao texto principal.
a. Qual é a empresa anunciante? Qual é o país de origem dessa empresa? Justifique
sua resposta com base em elementos verbais e não verbais do texto.
b. Qual o setor de atuação da empresa anunciante? Indique o trecho do anúncio pelo
qual é possível inferir tal informação.
2. É possível considerar que no terceiro conjunto pergunta/resposta há uma quebra no
paralelismo semântico do anúncio, isto é, um novo sentido é explorado em comparação com os anteriores.
a. Qual é a palavra do anúncio que sofre essa mudança de sentido?
b. Qual é a diferença quanto à forma entre as duas primeiras ocorrências dessa palavra e a terceira?
c. Qual é a diferença de sentido entre as duas primeiras ocorrências dessa palavra e a
terceira?
Releia as três frases abaixo e responda às questões 3 e 4.
Temos ótimos voos.
Temos ótimas conexões.
Temos ótimas poltronas.
1. a) United. Uma empresa norte-americana, visto
que o slogan está escrito
em inglês e tem um desenho azul e vermelho, cores da bandeira dos EUA.
Também é possível deduzir
pela referência a Costa
Oeste e Costa Leste, divisão geográfica comum nos
Estados Unidos.
Uma empresa de linhas aéreas, o que se pode inferir pela associação de sentidos dos termos voos, conexões e poltronas.
Costa(s).
Nas duas primeiras ocorrências, está no singular; na terceira, no plural.
Nas duas primeiras ocorrências se refere à região geográfica do país; na terceira, à região dorsal do corpo do leitor. Fallon PMA
51 O Modernismo. Concordância nominal. O conto moderno e contemporâneo CAPÍTULO 2
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3. Levante hipóteses:
a. Por que a forma verbal tem a mesma conjugação em todas elas?
b. Por que o verbo e o adjetivo aparecem repetidos nas três frases?
c. Como ficariam essas três frases transformadas em uma única, eliminando-se a repetição do verbo e do adjetivo?
4. Com base em suas respostas às questões anteriores:
a. Conclua: Por que há variação entre as formas ótimos e ótimas?
b. Reescreva as três frases, fazendo as alterações que julgar necessárias, substituindo
o núcleo dos objetos diretos − voos, conexões, poltronas − por:
• atendimento;
• equipe;
• pilotos e comissárias de bordo.
5. O texto a seguir situa-se na parte inferior do anúncio. No entanto, os especificadores
(artigos e adjetivos) foram extraídos e substituídos pelas opções entre parênteses.
Voos para (o/os/a/as) EUA (no/nos/na/nas) (novíssimo/novíssimos/novíssima/
novíssimas) Boeings 777. Conexões para a maioria (do/dos/da/das) cidades (americano/americanos/americana/americanas). Mais espaço para (o/os/a/as) pernas
na Economy Plus. Poltronas que se transformam tanto em cama como em escritório na Primeira Classe. Voos para mais de 700 destinos em 120 países, através de
(nosso/nossos/nossa/nossas) parceiros da Star Aliance. Faça (um/uns/uma/umas)
escala no site www.united.com.br, ligue 0800160223 ou consulte (seu/seus/sua/
suas) agente de viagens.
a. Encontre o termo a que cada um desses especificadores se refere e escreva em seu
caderno as formas do texto original do anúncio.
b. Nas respostas ao item a, há um único caso que admite mais de uma opção. Qual é
ele? Justifique essa afirmação com base no gênero do referente e proponha uma
redação em que haja uma única possibilidade.
c. Discuta com os colegas e o professores: Qual princípio vocês utilizaram para deduzir as formas do texto original?
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
No estudo do anúncio da seção anterior, você viu que a alteração do gênero do substantivo núcleo de uma oração implica alteração no gênero das palavras referentes a ele, o
que justifica a variação nas formas do masculino e feminino em casos como ótimos voos
e ótimas conexões. Isso ocorre porque na norma-padrão as palavras determinantes (entre
elas, artigos, numerais, adjetivos e pronomes) concordam em gênero e número com o
nome que acompanham.
Concordância nominal é a conformidade das palavras adjetivas
em gênero e número com o núcleo nominal a que se referem.
Há, entretanto, alguns casos que fogem a esse princípio geral. Como falante nativo
da língua portuguesa, você certamente sabe concordar, na maioria dos enunciados que
constrói, as palavras adjetivas com seus referentes, mas é importante saber que essas
Porque todas têm como sujeito desinencial o pronome nós, em
referência ao próprio anunciante, isto é, a companhia aérea.
Para ressaltar que a companhia tem diversos aspectos positivos.
“Temos ótimos voos, conexões e poltronas” ou “Temos ótimas conexões, voos e poltronas”.
Professor: Não é preciso falar sobre regras de concordância neste item; o importante é que os
alunos levantem hipóteses tendo em vista seus conhecimentos de falantes nativos.
Para que o adjetivo concorde com o seu referente.
Temos (um) ótimo atendimento.
Temos (uma) ótima equipe.
Temos ótimos pilotos e comissárias de bordo.
5. b) O último, que admite as formas sua ou seu.
Isso acontece porque o
substantivo agente tem
a mesma forma no feminino e no masculino. Há
possibilidades variadas de
redação alternativa, desde
que o substantivo escolhido tenha duas formas
para masculino e feminino, como: “Consulte sua
agência de viagens” ou
“Consulte seu corretor de
viagens”.
Foi preciso encontrar o referente de cada um desses termos para, então,
concordá-los em gênero e número.
os, nos, novíssimos, das, americanas, as, nossos, uma, seu/sua
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língua e
linguagem
regras podem mudar de uma variedade linguística para outra. Por essa razão, elencamos
a seguir algumas das principais orientações para fazer a concordância segundo a normapadrão. Não há necessidade de memorizar essas regras; é, porém, interessante conhecêlas, para fins de consulta e em caráter de informação complementar.
• 1. Uma palavra adjetiva que se refere a substantivos antepostos de gêneros diversos
Assume a forma plural ou pode concordar com o elemento mais próximo. Veja estas possibilidades:
Considerava o neto e a neta maravilhosos.
Considerava a filha e a neta maravilhosas.
Poderia perder o apartamento e a casa herdados.
Poderia perder a fazenda e a casa herdadas.
Poderia perder o apartamento e a casa herdada.
• 2. Uma palavra adjetiva que se refere a substantivos pospostos de gêneros diversos
Concorda com o elemento mais próximo ou pode assumir a forma plural. Veja estas possibilidades:
Soube que possuía próspera empresa e negócios.
Considerava maravilhosos o neto e a neta.
Considerava maravilhoso o neto e a neta.
Considerava maravilhosa(s) a filha e a neta.
• 3. Duas ou mais palavras adjetivas que se referem a um único substantivo
O substantivo fica no singular e usa-se artigo antes de cada termo adjetivo ou o substantivo vai para o plural e
não se usa artigo:
A voz grave e a aguda se complementam no coro.
As vozes grave e aguda se complementam no coro.
• 4. É proibido / É necessário / É bom / É claro
Se o sujeito vem precedido de artigo ou outro
determinante, concorda com ele; se o sujeito tem
sentido genérico, mantém-se o masculino singular:
É proibido entrada de visitantes.
É proibida a entrada de visitantes.
• 5. Anexo / obrigado / próprio / mesmo / quite
Concordam com os nomes a que se referem:
As fotos seguem anexas.
O próprio dono garantiu que eram verdadeiros.
Ela mesma garantiu que viria.
Estamos quites com o fornecedor.
Obs.: A expressão em anexo é sempre invariável:
As fotos seguem em anexo.
• 6. Bastante / pouco / muito / barato / caro / meio
Para definir a concordância desses termos, é preciso primeiramente identificar se eles têm valor adverbial (se eles
se referem a verbos ou adjetivos) ou adjetivo (se eles se referem a substantivos) no contexto analisado:
Os dois atletas têm características bastante/muito semelhantes.
Bastantes/muitos atletas compareceram ao evento.
• 7. Só / a sós
A expressão a sós é sempre invariável. Só é invariável se equivale a somente e variável se equivale a sozinho,
concordando, nesse último caso, com seu referente.
Só os mais jovens saíram mais cedo. (somente)
O jovem saiu só. (sozinho)
Os dois jovens saíram sós. (sozinhos)
advérbios adjetivo
advérbios substantivo
Rony Costa/Finephoto
Rony Costa/Finephoto
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APLIQUE O QUE APRENDEU
Leia a tirinha a seguir e responda às questões de 1 a 3.
1. Qual o sentido usual da expressão entrar na Internet, utilizada no 1º quadrinho?
Acessar a rede, conectar-se a ela.
(André Dahmer. Malvados. Folha online, 6/2/2016.)
A concordância nominal e as variedades linguísticas
Como já visto, a gramática normativa indica que todos os determinantes devem concordar em gênero e
número com seu referente. Há, no entanto, gramáticas que descrevem diferentes variedades linguísticas
e mostram que, em algumas delas, especialmente nas mais populares, a concordância pode ser diferente.
Observe o quadro a seguir.
PORTUGUÊS BRASILEIRO POPULAR PORTUGUÊS BRASILEIRO CULTO
Simplificação da concordância nominal:
(i) expressa pelo determinante: as pessoa.
(ii) simplificação acentuada quando o substantivo
e o adjetivo vêm no diminutivo (aqueles cabelinho
branquim).
Manutenção da concordância nominal com a
redundância de marcas: as pessoas, aqueles
cabelinhos branquinhos. Em algumas regiões do
país a simplificação alcançou também os
diminutivos.
Manutenção da concordância apenas quando há
saliência fônica entre a forma do singular e a
forma do plural:
(i) Concordância nominal: a colher/as colheres.
(ii) Concordância verbal: as pessoa saíru, elas são bão.
Manutenção da morfologia do substantivo e do
verbo no plural: as colheres, as pessoas saíram. Em
Minas Gerais a redução morfológica se mostra
também na fala culta: cantáru, bebêru, fizéru,
saíru.
Perda progressiva do -s para marcar o plural, que
passa a ser expresso pelo artigo: os homi, as
pessoa.
Manutenção das regras redundantes da marcação
do plural, salvo na fala rápida: os homens, as
pessoas.
Ataliba T. de Castilho. Gramática do português brasileiro, cit., p. 207-208.
Marcar o plural em todos os elementos pode ser considerado redundante e desnecessário, tal como julgam algumas
variedades populares que optam por marcar o plural apenas no primeiro elemento.
Reger-se por um princípio diferente das regras da gramática normativa não torna essas variedades desorganizadas
ou menos complexas. O que ocorre, na verdade, é que elas têm pouco prestígio social, daí serem em geral tratadas de
forma preconceituosa. A concordância, aliás, é um dos assuntos que mais suscitam preconceito linguístico.
É importante saber que não há variedades linguisticamente melhores ou piores do que outras; há regras diferentes para atender a necessidades de determinados grupos de falantes e situações de comunicação específicas.
Em situações sociais mais formais e em exames e avaliações oficiais, deve-se considerar a regra da gramática
normativa, assim como, em cada contexto específico, deve-se procurar avaliar qual será a melhor forma para
adequar a linguagem.
André Dahmer/Folhapress
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
2. Sobre a fala do 2º quadrinho:
a. Quem é o sujeito da forma verbal ficam, tendo em vista toda a tira?
b. Reescreva a frase com o sujeito indivíduos, fazendo as devidas alterações.
c. Reescreva a frase com o sujeito o internauta, fazendo as devidas alterações.
d. Reescreva a frase com o sujeito homens e mulheres, fazendo as devidas alterações.
3. A fala do 3º quadrinho expõe um novo sentido de uma palavra utilizada anteriormente na tira.
a. A qual objeto a Internet é comparada?
b. Qual é a palavra que ganha novo sentido e qual é o novo sentido nesse quadrinho?
c. Explique por que esse novo sentido contribui para a criação do efeito de humor da tira.
Leia o anúncio a seguir e responda às questões de 4 a 6.
As pessoas.
Os indivíduos ficam raivosos e violentos.
O internauta fica raivoso e violento.
Homens e mulheres ficam raivosos e violentos.
A um carro.
Entrar, com o sentido de mover-se para dentro.
Porque ratifica a comparação entre a Internet e o carro, uma vez
que o verbo entrar é também utilizado na frase “entrar no carro”.
4. Relacione o enunciado principal à parte não verbal do anúncio.
a. A quem é atribuída cada uma das duas frases reproduzidas?
b. Observe a parte não verbal do anúncio e deduza: O que é DHL? Justifique sua resposta com base nas imagens.
c. Reescreva o enunciado central, substituindo o termo Terra por planeta e fazendo
as alterações necessárias. Qual (Quais) outro(s) termo(s) foi (foram) modificado(s)?
Justifique sua resposta com base em argumentos morfológicos.
A Gagarin e DHL.
4. b) Provavelmente, uma
transportadora, porque o
texto verbal diz que a DHL
acha a Terra pequena, e
as imagens dos aviões, da
van, do helicóptero e do
mapa permitem deduzir
que, com esses meios de
transporte, ela leva produtos por todo o globo.
“O planeta é azul. E pequeno”. O termo pequeno foi o único alterado, mudado para o masculino singular, para concordar com
planeta. O termo azul é único para os dois gêneros, por isso não sofre alteração.
DHL/DM9
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O Modernismo. Concordância nominal. O conto moderno e contemporâneo CAPÍTULO 2
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5. Leia a seguir os dois primeiros parágrafos do texto verbal do anúncio.
“Em 1961, o soviético Iuri Gagarin inaugurou a profissão de astronauta com um voo em órbita da Terra.
A DHL não chegou tão alto, mas se você somar as distâncias que
ela já percorreu levando encomendas urgentes a todas as partes do
mundo, é bem provável que tenha ido mais longe.”
a. Quem disse que “A Terra é azul” e em qual situação?
b. Qual relação é estabelecida entre a viagem de Gagarin e as da DHL?
c. Reescreva o 2¼ parágrafo, substituindo distâncias por a quilometragem, encomendas por cada produto, partes por cantos e fazendo as
alterações necessárias.
6. Leia o trecho a seguir, também extraído do anúncio.
“Antes que você fique ansioso, nosso funcionário já apareceu e pegou a encomenda.
Antes que você fique preocupado, a encomenda já chegou.
E, acima de tudo, chegou como saiu: inteira. A DHL não carimba ‘frágil’ em pacotes.
Trata todos como se fossem.”
a. Quem é o “você” a quem o anúncio se dirige?
b. Em qual gênero e número o anúncio trata seu interlocutor? Justifique
sua resposta com elementos do texto e levante hipóteses: Por que foi
feita essa opção?
c. A qual termo anterior do texto o adjetivo inteira se refere? E o pronome todos? Justifique sua resposta com base em argumentos morfológicos.
d. Na frase “Trata todos como se fossem”, além do sujeito DHL, há outros dois termos subentendidos. Quais são eles? Reescreva a frase, explicitando esses termos e fazendo a concordância adequada.
Iuri Gagarin, astronauta soviético, ao voar na órbita da Terra. b) A de que, embora não voe alto pelo espaço,
a DHL, ao transportar encomendas, viaja distâncias ainda mais longas que o astronauta.
A DHL não chegou tão alto, mas, se você somar a quilometragem que ela já percorreu levando cada
produto urgente a todos os cantos do mundo, é bem provável que tenha ido mais longe.
O público leitor do meio de comunicação em que o anúncio foi veiculado.
No masculino singular, como se pode ver pelo uso dos termos ansioso
e preocupado. Esse uso é padrão quando se faz referência a um interlocutor geral, e não a uma pessoa especificamente.
Respectivamente, encomenda e pacotes. É possível retomar o
referente com base no gênero e no número dos especificadores.
Os termos pacotes e frágil. Trata todos os pacotes como se fossem frágeis.
Car@s alunXs e amigues?
Você já deve ter visto, na mídia e nas redes sociais, uma discussão por vezes acalorada em torno
do gênero das palavras que se referem a uma pessoa ou a um grupo de indivíduos. Trata-se de um
debate que extrapola as regras gramaticais e atinge um patamar social e cultural.
Com o intuito de não discriminar sujeitos que não se definem especificamente como homens ou
como mulheres, surgem alternativas de grafia que mantêm indeterminado o sexo das pessoas a
quem se referem, como ocorre com as palavras no título deste boxe.
Nesses casos, vale discutir: Quais as relações e os limites entre o gênero gramatical e os sexos
masculino e feminino?
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56 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Para responder às questões de 1 a 5, leia a seguir o trecho final do “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”, de Oswald Andrade, publicado no jornal Correio
da Manhã, em 1924, texto que representou um marco do movimento modernista brasileiro, estudado por você neste capítulo.
[...]
O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.
Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e
puro em sua época.
O estado de inocência substituindo o estado de graça que
pode ser uma atitude do espírito.
O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a
adesão acadêmica.
A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.
Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido.
Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem
reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem
pesquisa etimológica. Sem ontologia.
Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A
cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil.
(Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1924. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/cdrom/oandrade/oandrade.pdf. Acesso em: 12/1/2016.)
1. Discuta com os colegas e o professor e levante hipóteses:
a. Qual é o objetivo de um manifesto, em geral?
b. Qual é o objetivo do “Manifesto Pau-Brasil”, especificamente?
2. Em seu texto, Oswald de Andrade opõe dois tipos de literatura, uma tradicional e uma nova, proposta por ele e seus contemporâneos.
a. Identifique no texto termos e expressões que o poeta utiliza para
descrever a literatura tradicional.
b. Identifique no texto termos e expressões que o poeta utiliza para
descrever a nova literatura proposta pelos modernistas.
c. Com base em suas respostas aos itens anteriores, deduza: Qual era,
em resumo, a proposta do manifesto para os rumos da poesia modernista brasileira? Justifique sua resposta com elementos do texto.
d. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Qual a importância
da presença de tantos termos descritivos e adjetivos especificamente
nesse texto?
ciclópico: de enormes dimensões; colossal,
gigantesco.
etimológico: que se refere ao estudo da
origem e da evolução das palavras.
livresca: que provém unicamente dos livros e
não da experiência.
meeting: encontro.
ontologia: parte da filosofia que tem por
objeto o estudo das propriedades mais gerais
do ser, apartada das determinações que os
qualificam particularmente e ocultam sua
natureza plena e integral.
reminiscência: imagem lembrada do
passado; o que se conserva na memória; sinal
ou fragmento que resta de algo extinto.
Levar a público um ponto de vista, manifestar uma opinião e, em alguns casos,
persuadir e convocar os leitores a aderir a uma ideia.
Levar a público a ideia de que era preciso mudar a forma de fazer literatura no Brasil.
“adesão acadêmica”, “indigestões de sabedoria”, “tradição lírica”, “reminiscências livrescas”,
“meeting cultural”, “comparações de apoio”, “pesquisa etimológica”, “ontologia”, etc.
2. b) “trabalho ciclópico”, “regional e puro”,
“estado de inocência”, “originalidade nativa”,
“demonstração moderna”, “Tudo digerido”,
“práticos”, “experimentais”, etc.
2. c) Incorporar à literatura traços regionais, nativos do Brasil, sem no entanto
deixar completamente de lado o conhecimento oficial, do qual se pode aproveitar,
tal como dito no texto, “O necessário de química, de mecânica, de economia e de
balística. Tudo digerido”.
O uso de tais termos contribui para compor uma descrição mais apurada de
como era a literatura antes e de como deve ser a literatura modernista.
Oswald de Andrade/Ilustração de Tarsila do Amaral
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O Modernismo. Concordância nominal. O conto moderno e contemporâneo CAPÍTULO 2
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3. Releia o trecho: “O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração
moderna”:
a. Quais elementos são colocados em paralelo nesse trecho?
b. Entre os dois tipos de literatura expostos na questão anterior, a qual esse trecho se
refere e o que ele propõe que seja feito?
c. Reescreva-o, começando cada uma das frases pelo pronome nossa e transformando o termo melhor em determinante dos substantivos tradição e demonstração.
d. Reescreva o trecho do texto e sua resposta do item c, passando os substantivos
tradição e demonstração para o plural e fazendo as alterações necessárias.
e. Discuta com os colegas e o professor: Qual é a diferença entre a função do termo
melhor no trecho do texto e na construção feita por você no item c?
4. Releia os dois últimos parágrafos do texto, discuta com os colegas e o professor e, com
base no restante do texto, conclua:
a. A qual termo citado anteriormente no texto se referem os adjetivos “Práticos. Experimentais. Poetas” e “bárbaros crédulos, pitorescos e meigos”? Justifique sua resposta com argumentos morfológicos, que levem em conta a flexão de gênero e
número das palavras.
b. Levante hipóteses: Por que foi feita essa flexão e não outra?
5. Releia o trecho final:
“Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a
dança. A vegetação. Pau-Brasil.”
a. O que representam essas imagens em relação à proposta do manifesto para a literatura da época?
b. Qual efeito de sentido a repetição do termo Pau-Brasil constrói no texto?
6. Leia as frases a seguir:
I. Vimos os prédios e as casas enfeitadas para o carnaval.
II. As camisas verde e vermelha estão sujas.
III. É livre, voluntária e gratuita a participação e o comparecimento.
As três frases seguem as regras de concordância da gramática normativa. É possível,
entretanto, perceber ruídos ou ambiguidades que podem causar problemas de leitura em todas elas.
a. Identifique quais possíveis problemas de leitura pode haver em cada uma.
b. Sugira novas redações, que eliminem os problemas apontados no item a.
c. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Memorizar regras de concordância
é suficiente para produzir bons textos?
A “tradição lírica” e a “demonstração moderna”.
Ao novo modelo, propondo que ele reúna o melhor da tradição e da modernidade.
“Nossa melhor tradição lírica. Nossa melhor demonstração moderna.”
3. d) “O melhor de nossas tradições líricas. O melhor de nossas demonstrações modernas.”
“Nossas melhores tradições líricas. Nossas melhores demonstrações modernas. ”
3. e) No trecho extraído do
texto, melhor está substantivado, antecedido pelo
artigo o, e significa “aquilo
que é superior”, no singular. Na construção do item
c, melhor é adjetivo que
qualifica os substantivos
tradição e demonstração,
atribuindo a eles um grau
máximo de superioridade
e devendo concordar com
eles em gênero e número.
A “brasileiros de nossa época”, termo que, assim como
os adjetivos apontados, está no masculino plural.
Porque o masculino plural é uma forma considerada padrão quando se quer fazer
referência a um conjunto grande de pessoas, que abarque homens e mulheres.
Representam diferentes aspectos da cultura e da identidade nacional que,
segundo o texto, deveriam ser incorporados à literatura.
A repetição reforça o novo sentido que se quer dar ao termo, o de que a literatura original brasileira seria
composta por essa mistura entre o saber nativo, genuíno, e o conhecimento oficial, construído.
6. a) Em I, pode-se entender que foram vistos
prédios quaisquer e que
apenas as casas estavam
enfeitadas; em II, as camisas podem ter duas cores
ou podem ser cada uma de
uma cor e, em III, pode parecer que falta o restante
da frase, em que se falaria
algo sobre o comparecimento.
6. b) Entre outras possibilidades: “Vimos os prédios
e as casas enfeitados para
o carnaval”; “A camisa
verde e a vermelha estão
sujas” e “A participação
e o comparecimento são
livres, voluntários e gratuitos”.
Espera-se que os alunos percebam que não, uma vez que, como visto nos exemplos, há casos que,
mesmo admitidos pelas regras da gramática normativa, podem levar a ruídos na leitura.
58 UNIDADE 1 RuptuRa e constRução
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Leia este conto, de Dalton Trevisan:
Uma vela para Dario
Dario vem apressado, guarda-chuva no braço esquerdo. Assim que dobra a
esquina, diminui o passo até parar, encosta-se a uma parede. Por ela escorrega,
senta-se na calçada, ainda úmida de chuva. Descansa na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes à sua volta indagam se não está bem. Dario
abre a boca, move os lábios, não se ouve resposta. O senhor gordo, de
branco, diz que deve sofrer de ataque.
Ele reclina-se mais um pouco, estendido na calçada, e o cachimbo
apagou. O rapaz de bigode pede aos outros se afastem e o deixem respirar. Abre-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe tiram os
sapatos, Dario rouqueja feio, bolhas de espuma surgiram no canto da boca.
Cada pessoa que chega ergue-se na ponta dos pés, não o pode ver. Os
moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças de pijama acodem à janela. O senhor gordo repete que Dario sentou-se na calçada,
soprando a fumaça do cachimbo, encostava o guarda-chuva na parede. Mas
não se vê guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. Um grupo o arrasta
para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protesta o motorista: quem
pagará a corrida? Concordam chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e
recostado à parede – não tem os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
Alguém informa da farmácia na outra rua. Não carregam Dario além da
esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito peso. É largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobrem o rosto, sem
que faça um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o incidente e, agora,
comendo e bebendo, gozam as delícias da noite. Dario em sossego e torto no
degrau da peixaria. Enxame de moscas lhe cobrem o rosto, sem que faça um
gesto para espantá-las.
Um terceiro sugere lhe examinem os papéis, retirados – com vários objetos
– de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficam sabendo do nome,
idade, sinal de nascença. O endereço na carteira é de outra cidade.
Registra-se correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam
toda a rua e as calçadas: é a polícia. O carro negro investe a multidão. Várias
pessoas tropeçam no corpo de Dario, pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproxima-se do cadáver, não pode identificá-lo – os bolsos vazios.
Resta na mão esquerda a aliança de ouro, que ele próprio – quando vivo – só
destacava molhando o sabonete. A polícia decide chamar o rabecão.
A última boca repete – Ele morreu, ele morreu. E a gente começa a
se dispersar. Dario levou duas horas para morrer, ninguém acreditava estivesse no fim. Agora, aos que alcançam vê-lo, todo o ar
de um defunto.
O conto moderno e
contemporâneo
FOCO NO TEXTO
PRODUÇÃO DE TEXTO
Nelson Provazi
59 O Modernismo. Concordância nominal. O conto moderno e contemporâneo CAPÍTULO 2 PrODuÇÃO De teXtO
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Dalton Trevisan
Dalton Trevisan nasceu em Curitiba,
em 1925. Chamado de “Vampiro de
Curitiba”, o escritor vive recluso, adverso a entrevistas.
Sua primeira publicação foi o livro
de contos Novelas nada exemplares
(1959), com o qual ganhou o Prêmio
Jabuti. Depois, entre outras obras, publicou Cemitério de elefantes, Guerra
conjugal, O vampiro de Curitiba, Pico
na veia, todas de contos. Seu único
romance é A polaquinha.
Ganhador de vários prêmios, é considerado o mestre do conto brasileiro
contemporâneo.
Um senhor piedoso dobra o paletó de Dario para lhe apoiar a cabeça. Cruza as
mãos no peito. Não consegue fechar olho nem boca, onde a espuma sumiu. Apenas
um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias. Na janela
alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço vem com uma vela, que acende ao lado do cadáver.
Parece morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó. E o dedo sem a aliança. O toco de vela apagase às primeiras gotas da chuva, que volta a cair.
(In:Ítalo Moriconi, org. Os cem melhores contos brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2001. p. 279-80.)
1. Na cena inicial do conto, Dario está caminhando apressado na calçada
de uma rua, mas algo acontece. Observe os três parágrafos iniciais.
a. O que acontece com Dario?
b. Como as pessoas inicialmente reagem diante do ocorrido?
c. A atitude dessas pessoas é esperada na situação?
2. Em torno de Dario, forma-se uma multidão. Uma “velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo”. São tomadas duas iniciativas para ajudar Dario: levá-lo até um táxi e, depois, levá-lo a uma farmácia próxima.
a. Por que essas iniciativas não dão certo?
b. A solidariedade que se verifica nas primeiras cenas se mantém, momentos depois? Justifique sua resposta.
3. Observe que, ao longo do conto, poucas informações são dadas sobre
Dario: sabemos apenas qual é o seu nome e quais roupas e objetos ele
usa. No quarto parágrafo do texto, desaparecem dois pertences de Dario: o guarda-chuva e o cachimbo.
a. O que a falta de maiores informações sobre o protagonista pode representar?
b. Faça um levantamento: Que outros pertences de Dario desaparecem ao
longo do conto? Depois, conclua: Que sentido esses desaparecimentos
acrescentam à narrativa, considerando-se a situação de Dario na calçada?
4. Observe a construção sintática destes trechos do texto:
• “Quando lhe tiram os sapatos”
• “Concordam chamar a ambulância.”
• “Alguém informa da farmácia”
• “Não carregam Dario além da esquina”
• “É largado na porta de uma peixaria.”
• “Ficam sabendo do nome, idade, sinal de nascença.”
Ele passa mal e tem uma espécie de ataque, provavelmente um ataque cardíaco.
As pessoas mostram-se solidárias e tentam ajudá-lo, perguntando-lhe se está bem, pedindo que os outros se afastem, abrindo-lhe
o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta e tirando-lhe os sapatos.
Sim, é uma atitude solidária, esperada em situações desse tipo.
2. a) A opção pelo táxi não dá certo porque ninguém queria pagar a corrida, nem o motorista se prontificou a levá-lo gratuitamente. Não o levam à farmácia pelo fato
de Dario ser pesado e a farmácia ficar relativamente distante. b) Não; aos poucos as ações solidárias vão escasseando e as pessoas deixam de ajudar Dario, seja
porque se sentem impossibilitadas, seja por desinteresse, seja porque a gravidade da situação exige um envolvimento mais profundo.
Pode representar o anonimato, isto é, Dario é uma pessoa qualquer,
sobre a qual pouco se sabe, como é comum nas grandes cidades.
3. b) Desaparecem também os sapatos, o alfinete de pérola na gravata, o relógio de pulso,
a aliança, o paletó e alguns objetos do bolso.
Os desaparecimentos dos objetos sugerem
que Dario está sendo aos poucos roubado pelos curiosos, o que acentua o caráter trágico e
desumano da cena.
Nelson Provazi
Arquivo/Estadão Conteúdo
60 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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A estrutura ou a falta de
estrutura do conto moderno e
contemporâneo
O conto moderno ou contemporâneo
não segue um modelo estrutural. Há
escritores que começam a narrativa,
por exemplo, pelo desfecho da história, ou pelo clímax, e depois fazem uma
retrospectiva até chegar à situação inicial. Outros preferem não chegar ao clímax, e, nesse caso, a narrativa termina
com o protagonista em plena busca
por uma solução para o seu problema.
Outros, ainda, concluem a narrativa em
pleno clímax, deixando a história em
aberto e delegando ao leitor o papel de
imaginar um final.
a. Quem é o sujeito ou o agente da ação nesses enunciados?
b. Que sentido esse dado atribui ao texto, considerando-se a relação entre Dario e as pessoas que o cercam?
5. Observe estes trechos do conto:
• “Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozam as delícias da noite.”
• “Várias pessoas tropeçam no corpo de Dario, pisoteado dezessete
vezes.”
• “Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os
cotovelos.”
a. No segundo trecho, em que se transformou o corpo de Dario?
b. Em que se transformou a morte de Dario para os presentes? Que expressões desses trechos comprovam sua resposta?
c. Há, nesses trechos, ironia por parte do narrador? Por quê?
6. É difícil precisar o momento em que ocorre a morte de Dario. Identifique,
no texto, a palavra que, do ponto de vista do narrador, expressa a morte
de Dario. Depois, veja em que momento da história ela é empregada.
7. Os serviços públicos são sutilmente retratados no texto.
a. Como a polícia é vista pela população? Justifique sua resposta.
b. Como é o serviço funerário da prefeitura? Justifique sua resposta.
8. No final do conto, há duas personagens cujas ações são diferentes das
dos demais.
a. Quais são essas personagens? O que suas ações expressam?
b. O que essas personagens e suas ações podem representar, no contexto de uma cidade grande e impessoal?
9. Pode-se dizer que o conto faz uma denúncia e uma crítica aos comportamentos humanos e às relações sociais? Por quê?
10. Interprete o título “Uma vela para Dario”, explicitando a relação dele
com o conto.
11. No conto moderno ou contemporâneo, a estrutura convencional desse
gênero literário costuma ser intencionalmente rompida. Leia o boxe “A
estrutura ou a falta de estrutura do conto moderno”. Depois, examine o
conto de Dalton Trevisan, tentando identificar a estrutura tradicional do
gênero: introdução, complicação ou desenvolvimento (com a apresentação do conflito), clímax e desfecho ou conclusão.
a. Essas partes são claramente delimitadas no texto? Tente identificá-las,
se possível.
b. Como o conto de Trevisan lida com características do conto tradicional, como tamanho curto, espaço e tempo reduzidos, profundidade
psicológica de personagens?
O sujeito é indeterminado ou indefinido (“alguém”). Em “É largado
na porta...”, a oração está na voz passiva, e o agente da ação verbal não é identificado.
O uso reiterado de construções em que o sujeito não é determinado acentua a impessoalidade e a
desumanização da cena. Não há pessoas específicas que estejam praticando ações em relação a
Dario. Os gestos são coletivos, indefinidos, sem origem certa, e o próprio Dario, apesar de ter um
nome, vai perdendo sua identidade ao longo do texto para tornar-se coisa.
O corpo de Dario se transformou em objeto, coisa. Não é mais o corpo de uma pessoa moribunda.
A morte de Dario se transformou em um espetáculo, conforme revela
o emprego de “apreciam” e “almofadas para descansar os cotovelos”.
Sim; os trechos revelam ironia, pois há uma inversão de significados. A morte deixa de ser uma situação de pesar, de
lamento, e se transforma em situação de espetáculo, de entretenimento, de prazer para a plateia.
A palavra é cadáver; ela é empregada logo depois de Dario ser pisoteado.
7. a) A polícia é vista como violenta, conforme
a imagem de agressividade observada na frase “Um carro negro investe a multidão”. Além
disso, é também ineficiente, pois deixa o corpo de Dario no mesmo lugar.
É, como a polícia, ineficiente, pois não remove o corpo de Dario, mesmo três horas depois de ele estar morto.
As personagens são “um senhor piedoso” e “um menino de cor e descalço”, cujas ações
expressam piedade ou compaixão pelo morto, o que não se viu entre os demais presentes.
Elas representam o sentimento de humanidade perdido, a esperança de que nem todos
tenham sido tomados pela indiferença e pelo individualismo.
Sim, porque, ao apresentar a solidariedade do início como formal e artificial, mostra a indiferença crescente do conjunto das
pessoas, denuncia a falsidade e a impessoalidade que prevalece nas relações humanas nos grandes centros urbanos.
Professor: Sugerimos abrir a discussão com a classe, pois pode haver mais de uma possibilidade de resposta.
Sugestão: Na história, as pessoas apenas roubam as coisas de Dario (sapatos, paletó, gravata, etc.). A única coisa
que Dario recebe é uma vela acesa, trazida pelo “menino de cor e descalço”. A vela pode representar uma luz na
escuridão humana, uma esperança em meio ao individualismo e à indiferença. Mesmo assim, a chuva volta a cair
e, ironicamente, apaga a vela.
As partes convencionais do conto não são claramente delimitadas. Por exemplo, não fica claro qual é o
conflito. Seria o ataque sofrido por Dario? O clímax seria o pisoteamento ou a morte de Dario? Ou a vela
trazida pelo menino? Do nosso ponto de vista, esse conto tem outra lógica interna e outra estrutura.
Trata-se de um conto curto, o espaço é reduzido (uma calçada em uma via pública) e o tempo é relativamente
curto (mais ou menos 5 horas). Não há exploração psicológica das personagens, pois o conto focaliza as ações
externas das personagens. Objetiva Atelie
61Produção
de texto
O Modernismo. Concordância nominal. O conto moderno e contemporâneo CAPÍTULO 2
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HORA DE ESCREVER
Seguem quatro propostas de produção de contos e minicontos. Desenvolva ao menos duas delas, conforme a orientação do professor.
1. Recontando a partir de outro ponto de vista. O ponto de vista do narrador é fundamental para que tenhamos determinada percepção dos
fatos de uma história. A alteração do ponto de vista pode gerar uma
história nova e completamente diferente da original.
No conto “Uma vela para Dario”, o narrador, em 3ª pessoa, se apresenta
com alguém que conta o que vê, o que observa, sem participar dos fatos.
Reconte o conto de Dalton Trevisan do ponto de vista de Dario, narrando
os fatos em 1ª pessoa. Faça as adaptações que forem necessárias e, se
quiser, acrescente à história outros fatos e personagens.
2. Dando continuidade a um conto. O texto a seguir é a introdução do conto “Um discurso sobre o método”, de Sérgio Sant’Anna. Leia-o e dê continuidade à narrativa, desenvolvendo as demais partes do conto.
Ele se encontrava sobre a estreita marquise do 18º andar. Tinha
pulado ali a fim de limpar pelo lado externo as vidraças das salas vazias do conjunto 1801/5, a serem ocupadas em breve por uma firma de
engenheira. Ele era um empregado recém-contratado da Panamericana – Serviços Gerais. O fato de haver se sentado à beira da marquise,
com as pernas balançando no espaço, se devera simplesmente a uma
pausa para fumar a metade de cigarro que trouxera no bolso. Ele não
queria dispersar este prazer misturando-o com o trabalho.
Quando viu o ajuntamento de pessoas lá embaixo, apontando
mais ou menos em sua direção, não lhe passou pela cabeça que
pudesse ser ele o centro das atenções. Não estava habituado a ser
esse centro e olhou para baixo e para cima e até para trás, a janela
às suas costas. Talvez pudesse haver um princípio de incêndio ou
algum andaime em perigo ou alguém prestes a pular.
Não havia nada identificável à vista e ele, através de operações bastante lógicas, chegou à conclusão de que o único suicida em potencial
era ele próprio. Não que já houvesse se cristalizado em sua mente, algum dia, tal desejo, embora como todo mundo, de vez em quando... E
digamos que a pouca importância que dava a si próprio não permitia
que aflorasse seriamente em seu campo de decisões a possibilidade de
um gesto tão grandiloquente. E que o instinto cego de sobrevivência
levava uma vantagem de uns quarenta por cento sobre o seu instinto de morte, tanto é
que ele viera levando a vida até aquele preciso momento sob as mais adversas condições.
[...]
(In: Ítalo Moriconi, org. Os cem melhores contos brasileiros do sŽculo. São Paulo: Objetiva, 2001. p. 402.)
3. Inventando um conto contemporâneo. Crie um conto inteiramente original, a partir
de um tema de seu interesse. Invente enredo, personagens, ações, tempo e espaço.
4. Experimentando criar minicontos. O conto contemporâneo não tem uma estrutura
formal rígida. Atualmente, muitas experiências têm sido feitas com o gênero, entre
Professor: Os alunos poderão desenvolver duas das propostas ou até as
quatro, dependendo do número de aulas em seu planejamento previstas
para o estudo do gênero.
Como você sabe, no
final da unidade será
organizada, pela classe,
uma antologia de contos, minicontos e contos fantásticos multimodais. Neste capítulo,
você vai produzir contos
que poderão fazer parte
da antologia.
Andressa Honório
62 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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elas a da síntese máxima. Leia os minicontos que seguem e observe a importância do
título na construção e na compreensão da história.
Crie você também um ou mais minicontos.
ANTES DE ESCREVER
Planeje seu conto, seguindo estas orientações:
• Tenha em vista o público para o qual vai escrever: jovens e adultos que se interessam
por literatura em geral ou por literatura contemporânea.
• Leia ou releia o boxe “A estrutura ou a falta de estrutura do conto moderno” e, depois,
esboce o enredo, decidindo se e como vai romper a estrutura tradicional do gênero;
defina as personagens, o tempo e o espaço das ações.
• Caso não se trate de miniconto, procure dar dimensão psicológica às personagens ou
explorar a dimensão social das personagens.
• Utilize uma linguagem de acordo com a norma-padrão, porém com flexibilidade.
ANTES DE PASSAR A LIMPO
Antes de dar seu texto por terminado, verifique:
• se ele corresponde ao seu objetivo de criar um conto moderno ou contemporâneo destinado a um público formado por jovens e adultos interessados em literatura atual;
• se, mesmo que a estrutura tradicional do conto não tenha sido seguida, é possível depreender a sequência das ações e o encadeamento lógico dos fatos;
• se personagens, ações, tempo e espaço estão suficientemente desenvolvidos e se as
personagens têm uma dimensão psicológica;
• se a linguagem está em uma variedade linguística e com um grau de formalidade ou
informalidade adequados ao perfil das personagens e à ambientação da história.
No embalo da rede
Vou,
mas levo as crianças.
(Carlos Herculano Lopes. In: Marcelino Freire, org. Os cem menores
contos brasileiros do século. São Paulo: Ateliê, 2004. p. 41.)
Só
Se eu soubesse o que procuro
Com esse controle remoto...
(Fernando Bonassi. In: Marcelino Freire, org. Os cem menores contos
brasileiros do século. São Paulo: Ateliê, 2004. p. 73.)
No velório
O morto ficou em segundo plano.
Todo o mundo só pensou no próprio enterro.
(Noé Ribeiro. Cedido pelo autor.)
Andressa Honório
63PRODUÇÃO DE TEXTO
O Modernismo. Concordância nominal. O conto moderno e contemporâneo CAPÍTULO 2
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A geração de 22
LITERATURA
A geração de 22
Regência verbal
O conto fantástico
CAPÍTULO 3
A primeira geração da literatura modernista, também conhecida como “fase heroica”
ou geração de 22, dá continuidade às ideias difundidas pela Semana de Arte Moderna e
se estende até 1930, quando a literatura passa a tomar outra direção.
O período foi marcado pela publicação de várias revistas, manifestos e obras literárias.
Entre as revistas, destacam-se Klaxon (1922), Estética (1924), A Revista (1925) e Revista de
Antropofagia (1928).
Rompendo com o academicismo que marcou a produção literária do passado, essa
geração tinha o compromisso de construir uma nova literatura, comprometida com duas
Antropofagia (1929), de Tarsila do Amaral, pintora que participou ativamente da primeira geração modernista e,
juntamente com Oswald de Andrade, atuou no movimento de Antropofagia.
Coleção particular
64 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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LITERATURA
Oswald de Andrade
Poeta, romancista e dramaturgo,
Oswald de Andrade (1890-1954) foi
um dos líderes da Semana de Arte Moderna, da geração de 22 e um de seus
principais mentores.
Originário de família rica, fez várias
viagens à Europa, onde teve contato
com os principais artistas de vanguarda.
Criador dos movimentos Pau-Brasil
e Antropofagia, Oswald casou-se com
Tarsila do Amaral em 1926 e, em 1930,
com Patrícia Galvão, a Pagu, militante
comunista. Ambos pertenceram ao
Partido Comunista e militaram nos
meios operários.
direções: por um lado, atualizar-se em relação às propostas trazidas pelas
correntes de vanguarda; por outro, mesclar essas novidades com uma pesquisa em torno da nacionalidade, que envolvia questões como passado histórico, língua, folclore, culinária, religião, etc.
Os principais escritores dessa geração foram Mário de Andrade, Oswald
de Andrade, Manuel Bandeira, Alcântara Machado, Raul Bopp, Guilherme de
Almeida, Menotti del Picchia e Plínio Salgado.
Oswald de Andrade
O escritor teve uma participação decisiva na implantação do Modernismo no Brasil. É o autor do Manifesto da Poesia Pau-Brasil e Manifesto Antropófago, cujas ideias introduziram um novo tipo de nacionalismo em nossa
literatura, mais crítico e menos xenófobo.
Em 1924, publicou o romance Memórias sentimentais de João Miramar,
que representa uma inovação profunda no gênero, com estrutura fragmentária, paródias, pastiches (imitações intencionais), etc. Em 1925, publicou o livro de poemas Pau-Brasil, resultado das ideias do Manifesto da
Poesia Pau-Brasil.
Do período em que esteve casado com Patrícia Galvão, a Pagu, quando
juntos militaram no Partido Comunista, nasceu o romance Serafim Ponte
Grande e a peça teatral O rei da vela.
Suas ideias de antropofagia cultural tiveram desdobramentos décadas
depois. Nos anos 1960, por exemplo, o Tropicalismo, movimento liderado por
Caetano Veloso e Gilberto Gil, retomou o conceito de “deglutição cultural”,
aproximando o rock e as guitarras elétricas de ritmos tradicionais da música
brasileira. Na mesma década, sua peça teatral O rei da vela foi encenada sob
a direção de José Celso Martinez Corrêa, atualizando-se no contexto da censura e do regime militar. As ideias da Antropofagia ainda podem ser notadas
hoje na obra de vários artistas brasileiros.
Os poemas que você leu no capítulo anterior, na página 43, pertencem a
Oswald de Andrade. Ao final deste capítulo, na seção Entre textos, você vai
fazer a leitura de mais um texto do escritor.
Mário de Andrade
Mário de Andrade, além de poeta, contista, romancista, crítico literário
e teórico da literatura, foi também um estudioso, tendo se destacado como
músico, musicólogo, folclorista e etnógrafo.
Dedicou toda a sua vida aos estudos da cultura brasileira. Viajou a
diferentes regiões do país colhendo informações e registros de canções
e modinhas populares, documentando ritmos musicais, danças e festas
religiosas.
Nos anos 1920, exerceu um papel de liderança entre os escritores do Modernismo, mas preferiu não fazer parte de grupos e de movimentos lançados nessa época.
Ao analisar o conjunto de sua obra, em prosa e verso, nota-se que ela parte de uma postura iconoclasta e irreverente nos anos iniciais e, com o passar
dos anos, ganha profundidade social e psicológica. É o caso, por exemplo, do
romance Amar, verbo intransitivo, que aborda o tema da sexualidade adolescente, e dos contos “1¼ de Maio” e “Peru de Natal”, do livro Contos novos, que
enfocam questões políticas e psicológicas, respectivamente.
Oswald de Andrade (1922), em retrato
pintado por Tarsila do Amaral.
M‡rio de Andrade
Mário de Andrade (1893-1945), que
no início da carreira publicava com o
pseudônimo de Mário Sobral, nasceu e
viveu em São Paulo.
Foi um dos líderes da vanguarda modernista, durante e depois da Semana
de Arte Moderna, e um dos principais
teóricos da literatura moderna.
Entre suas obras mais importantes
estão Pauliceia desvairada (1922),
Amar, verbo intransitivo (1927), Macunaíma (1928) e Contos novos (1947).Coleção particular The Bridgeman Art Library/Keystone Brasil
65 A geração de 22. Regência verbal. O conto fantástico CAPÍTULO 3
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Macunaíma: o herói sem nenhum caráter
Macunaíma é a obra mais conhecida de Mário de Andrade. Para escrevê-la, o autor se baseou na obra etnográfica Vom Roraima zum Orinoco, do pesquisador alemão Koch-Grünberg, que, no período de 1911 a
1913, havia recolhido a lenda de Macunaíma entre os índios taulipangues
e arecunás da Amazônia brasileira e venezuelana.
O que chamou a atenção de Mário de Andrade foi o fato de o herói
lendário não ser propriamente um herói no sentido tradicional, mas um
anti-herói, já que Macunaíma, de acordo com a lenda, era preguiçoso,
mentiroso, covarde, manhoso e sensual. Para Mário, Macunaíma podia
ser visto como o próprio retrato do brasileiro ou dos povos americanos
em geral, que, segundo ele, eram povos “sem nenhum caráter”.
À lenda de Macunaíma original, Mário de Andrade acrescentou várias
lendas brasileiras, “causos”, anedotas, provérbios e aspectos contrastantes
da realidade brasileira, como a floresta e a cidade. Por causa da diversidade
de histórias que a obra reúne, o autor preferiu chamá-la de rapsódia, já que
o termo pode significar tanto uma “epopeia” quanto, por analogia com a
música, uma composição formada por várias melodias populares.
Do ponto de vista linguístico, a obra reúne uma profusão de variedades linguísticas, com a presença de regionalismos, de gíria e da linguagem
acadêmica, tratada de modo paródico e irônico.
O enredo
Macunaíma é o filho mais novo de uma família tapanhuma (a mãe e mais
dois irmãos), que vivia na Amazônia. Com a morte da mãe, os filhos resolvem
sair da tribo e se aventurar pelo mundo. Macunaíma encontra Ci, rainha das
índias amazonas, e casa-se com ela, tornando-se o imperador da mata virgem.
Eles têm um filho, que vem a morrer. Ci adoece e, antes de morrer, dá a Macunaína a muiraquitã, pedra verde que lhe serve de amuleto. Numa luta com o
monstro Boiuna Capei, o herói perde o amuleto, que vai parar nas mãos do vilão
da história, Venceslau Pietro Pietra, industrial de São Paulo e comedor de gente.
Macunaíma e seus irmãos partem então em direção à capital paulista,
onde mora o gigante. Depois de muitas aventuras, peripécias e fatos mágicos, o herói recupera a pedra e regressa com os irmãos à floresta amazônica.
Na mata, seus irmãos são devorados pela “sombra leprosa” (entidade mítica), e Macunaíma fica triste e só. Recebe, então, de Vei, a deusa-sol, a proposta de casar-se com uma de suas filhas. Ele aceita, mas acaba se envolvendo
com uma portuguesa, quebrando a promessa feita. Tempos depois, volta a
ter contato com Vei, que tenta se vingar do herói, conforme o episódio que
você vai ler a seguir. Depois desse confronto, Macunaíma, desiludido com a
vida na Terra, transforma-se na constelação da Ursa Maior.
FOCO NO TEXTO
No episódio que você vai ler a seguir, Vei, a Sol, tenta se vingar de Macunaíma, atraindo-o a uma lagoa, onde uma surpresa o aguarda.
Uma feita janeiro chegado Macunaíma acordou tarde
com o pio agourento do tincuã. No entanto era dia feito e a
Cartaz do filme Macunaíma (1969),
de Joaquim Pedro de Andrade, uma
versão cinematográfica tropicalista da
obra de Mário de Andrade.
Bretz Filmes
66 UNIDADE 1 RuptuRa e constRução
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literatura
cerração já entrara pro buraco... O herói tremeu e apalpou o feitiço que
trazia no pescoço, um ossinho de piá morto pagão. Procurou o aruaí, desaparecera. Só o galo com a galinha brigando por causa duma aranha derradeira. Fazia um calorão parado tão imenso que se escutava o sininho
de vidro dos gafanhotos. Vei, a Sol, escorregava pelo corpo de Macunaíma,
fazendo cosquinhas, virada em mão de moça. Era malvadeza da vingarenta só por causa do herói não ter se amulherado com uma das filhas de luz.
A mão de moça vinha e escorregava tão de manso no corpo... Que vontade
nos músculos pela primeira vez espetados depois de tanto tempo! Macunaíma se lembrou que fazia muito não brincava. Água fria diz que é bom
pra espantar as vontades... O herói escorregou da rede, tirou a penugem
de teia vestindo todo o corpo dele e descendo até o vale de Lágrimas foi
tomar banho num sacado perto que os repiquetes do tempo-das-águas
tinham virado num lagoão.
Macunaíma depôs com delicadeza os legornes na praia e se chegou pra
água. A lagoa estava toda coberta de ouro e prata e descobriu o rosto deixando ver o que tinha no fundo. E Macunaíma enxergou lá no fundo uma
cunhã lindíssima, alvinha e padeceu de mais vontade. E a cunhã lindíssima era a Uiara.
Vinha chegando assim como quem não quer, com muitas danças, piscava pro herói, parecia que dizia — “Cai fora, seu nhonhô moço!” e fastava
com muitas danças assim como quem não quer. Deu uma vontade no herói tão imensa que alargou o corpo dele e a boca umideceu:
— Mani!...
Macunaíma queria a dona. Botava o dedão n’água e num átimo a lagoa
tornava a cobrir o rosto com as teias de ouro e prata. Macunaíma sentia o
frio da água, retirava o dedão.
Foi assim muitas vezes. Se aproximava o pino do dia e Vei estava
zangadíssima. Torcia pra Macunaíma cair nos braços traiçoeiros da
moça do lagoão e o herói tinha medo do frio. Vei sabia que a moça não
era moça não, era a Uiara. E a Uiara vinha chegando outra vez com muitas danças. Que boniteza que ela era!... Mo rena e coradinha que-nem a
cara do dia e feito o dia que vive cercado de noite, ela enrolava a cara
nos ca belos curtos negros como as asas da graúna. Tinha no perfil duro
um narizinho tão mimoso que nem servia pra respirar. Porém como
ela só se mostrava de frente e festava sem virar Macunaíma não via o
Batizado de
Macunaíma (1956),
de Tarsila do Amaral.
Coleção particular
67 A geração de 22. Regência verbal. O conto fantástico CAPÍTULO 3
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buraco no cangote por onde a pérfida respirava.. E o herói inde ciso, vainão-vai. Sol teve raiva. Pegou num rabo-de-tatu de calorão e guascou o
lombo do herói. A dona ali, diz-que abrindo os braços mostrando a graça fe chando os olhos molenga. Macunaíma sentiu fogo no espinhaço,
estremeceu, fez pontaria, se jogou feito em cima dela, juque! Vei chorou de vitória. As lágrimas caíram na lagoa num chuveiro de ouro e de
ouro. Era o pino do dia.
Quando Macunaíma voltou na praia se percebia que brigara muito
lá no fundo. Ficou de bruços um tem pão com a vida dependurada nos
respiros fatigados. Es tava sangrando com mordidas pelo corpo todo, sem
per na direita, sem os dedões sem os côcos-da-Bahia sem orelhas sem
nariz sem nenhum dos seus tesouros. Afinal pôde se erguer. Quando deu
tento das perdas teve ódio de Vei. A galinha cacarejava deixando um ovo
na praia. Macunaíma pegou nele e chimpou-o no carão feliz da Sol. O ovo
esborrachou bem nas bochechas dela que sujou-se de amarelo pra todo
o sempre. Entardecia.
Macunaíma sentou numa lapa que já fora jaboti nos tempos de dantes
e andou contando os tesouros per didos em baixo d’água. E eram muitos,
era uma perna os dedões, eram os côcos-da-Bahia eram as orelhas os dois
brincos feitos com a máquina pathek e a máquina smith-wesson, o nariz
todos esses tesouros... O herói pulou dando um grito que encurtou o tamanho do dia. As piranhas tinham comido também o beiço dele e a muiraquitã! Ficou feito louco.
Arrancou uma montanha de timbó de assacú de tingui de canambí, todas essas plantas e envenenou pra sempre o lagoão. Todos os peixes morreram e ficaram boiando com a barriga pra cima, barrigas azuis barrigas
amarelas barrigas rosadas, todas as barrigas sarapintando a face da lagoa.
Era de-tardinha.
Então Macunaíma destripou todos esses peixes, todas as piranhas e todos os botos, caqueando a muiraquitã nas barrigas. Foi uma sangueira mãe
escorrendo sobre a terra e tudo ficou tinto de sangue. Era boca-da-noite.
Macunaíma campeava campeava. Achou os dois brincos achou os dedões achou as orelhas os nuquiiris o nariz, todos esses tesouros e prendeu
todos nos lugares deles com sapé e cola de peixe. Porém a perna e a muiraquitã não achou não. Tinham sido engolidos pelo monstro Ururau que
não morre com timbó nem pau. O sangue coalhara negro cobrindo a praia
e o lagoão. Era de-noite.
Macunaíma campeava campeava. Soltava grite de lamentação encurtando com a bulha o tamanho da bicharada. Nada. O herói varava o campo, saltando na perna só. Gritava:
— Lembrança! Lembrança da minha marvada não vejo nem ela nem
você nem nada!
E pulava mais. As lágrimas pingavam dos olhinhos azuis dele sobre as
florzinhas brancas do campo. As florzinhas tingiram de azul e foram os
miosótis. O herói não podia mais, parou. Cruzou os braços num desespero
tão heroico que tudo se alargou no espaço pra conter o silêncio daquele
penar. Só um mosquitinho raquitiquinho infernizava inda mais a disgra
do herói, zumbindo fininho: “Vim di Minas... vim di Minas...”
[...]
(Macunaíma – O herói sem nenhum caráter. Edição crítica de Telê Porto Ancona Lopez. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos. São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978. p. 142-4.)
aruaí: filhote de periquito.
bulha: ruído, gritaria.
caquear: tatear, procurar.
chimpar: assentar com
energia.
cunhã: moça, mulher.
disgra: penúria,
quebradeira, miséria.
fastar: o mesmo que
afastar.
guascar: o mesmo que
guasquear; bater, golpear.
lapa: grande pedra ou laje.
miosótis: planta comum
em regiões temperadas e
tropicais montanhosas, de
pequenas flores vistosas,
que mudam de róseas para
azuis.
legorne: raça de galinha
poedeira.
piá: menino indígena.
repiquete: água que
desce das cabeceiras dos
rios.
tincuã: ave encontrada
nas matas do Brasil, da
Argentina e do México.
Ururau: personagem de
lenda brasileira que toma
a forma de um jacaré de
papo amarelo gigante.
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LITERATURA
A lenda de Uiara
Uiara, Iara, Ipupiara ou Mãe d´água
referem-se à mesma entidade. Os cronistas dos séculos XVI e XVII faziam
referência à lenda de Ipupiara, um homem-peixe que atraía os pescadores e
os levava para o fundo do rio. Depois
disso, a entidade se transformou numa
sereia e passou a ser chamada de Iara
ou Uiara, que por vezes adquire uma
forma humana para atrair pescadores
dos rios ou do mar.
Por que Òher—i sem nenhum car‡terÓ?
O próprio Mário de Andrade, em prefácio que escreveu à obra, explicou:
O que me interessou por Macunaíma foi incontestavelmente a preocupação em que vivo
de trabalhar e descobrir o mais que possa a entidade nacional dos brasileiros. Ora, depois
de pelejar muito verifiquei uma coisa me parece que certa: o brasileiro não tem caráter... E
com a palavra caráter não determino apenas uma realidade moral, não. Em vez entendo a
entidade psíquica permanente, se manifestando por tudo, nos costumes, na ação exterior,
no sentimento, na língua, na História, na andadura, tanto no bem como no mal.
(Macunaíma – O herói sem nenhum caráter, cit., p. 334.)
1. A primeira fase da literatura modernista caracterizou-se pelo primitivismo, isto é, pela busca de elementos que caracterizam o Brasil primitivo,
pouco conhecido, advindo tanto da floresta quanto de seu passado histórico. Esse primitivismo se manifesta em Macunaíma como resultado
de uma profunda pesquisa do autor sobre a fauna, a flora, o folclore, as
lendas e os mitos da cultura brasileira.
a. Que elementos da fauna e da flora podem ser observados no texto?
Justifique sua resposta com exemplos.
b. Como se manifestam os elementos míticos, sobrenaturais e mágicos
no texto? Justifique sua resposta com exemplos.
2. A pesquisa de Mário de Andrade também se voltou para a busca de uma
língua nacional. Veja este comentário crítico de Haroldo de Campos:
Uma das riquezas de Macuna’ma é justamente essa “fala nova”
(“impura” segundo os padrões castiços de Portugal), feita de um amálgama de todos os regionalismos, mescla dos modos de dizer dos mais
diferentes rincões do país, com incrustações de indigenismos e africanismos, atravessada por ritmos repetitivos de poesia popular [...]
(Macunaíma – O herói sem nenhum caráter, cit., p. 372.)
Identifique exemplos de:
a. palavras indígenas, ao longo do texto;
b. palavras e expressões da língua popular brasileira, ao longo do texto;
c. ritmos e rimas que lembram a poesia popular, nos dois últimos parágrafos do texto.
3. Em um episódio de Macunaíma anterior ao lido, Macunaíma não cumpriu
a promessa feita a Vei, a Sol, de casar-se com uma de suas filhas, preferindo
se envolver sexualmente com uma portuguesa que conhecera na praia.
a. Que característica de Macunaíma se nota nesse episódio e que volta
a acontecer no texto lido?
b. A traição de Macunaíma confirma o subtítulo da obra, “o herói sem
nenhum caráter”? Por quê?
4. No episódio lido, Vei tenta se vingar do herói.
a. De que estratégias ela se vale para alcançar seu objetivo?
b. Por que Macunaíma hesita em entrar na água? Essa postura é compatível com a figura tradicional do herói?
1. a) Da fauna, o texto cita aves brasileiras, como a tincuã e a aruaí, as piranhas, os botos e o mosquitinho de Minas; da flora, cita
plantas típicas da paisagem nacional, como a miosótis e ervas como “timbó de assacu de tingui de cunambi”.
1. b) No texto, os elementos míticos se manifestam por meio de Uiara, do Monstro Ururau e da própria Vei, a Sol, que, na mitologia
indígena, é um ser feminino. Os elementos
mágicos se manifestam em situações como
Macunaíma jogar um ovo nas bochechas da
Sol (daí o sol ser amarelo); e também no fato
de Macunaíma sair mutilado da lagoa, conseguir sobreviver e ainda matar todos os peixes
que ali viviam.
Tincuã, auaí, cunha, Uiara, etc.
b) “que-nem”; “O herói indeciso, vai-não-vai”; “Pegou num rabode-tatu de calorão”; “Era de-tardinha”, “marvada”, “fastar” em
vez de “afastar”; os aumentativos (“lagoão”, “dedão”), etc.
2. c) Professor: Faça a escansão desse trecho
e mostre aos alunos que cada frase poderia
ser um verso, pois apresenta oito sílabas poéticas, com ritmo determinado pelas sílabas
acentuadas na 2ª, na 5ª, e na 8ª sílabas.
Entre outras possibilidades, principalmente o trecho “Lembrança da minha
marvada! Não vejo nem ela nem nada!”.
A sensualidade de Macunaíma, que é incontrolável.
Sim, pois mostra uma fraqueza de caráter da personagem, que
deixa de lado suas promessas para ter um prazer imediato.
Primeiramente, ela fazia cosquinhas no corpo de Macunaíma, enchendo-o de calor e despertando sua sensualidade. Depois, manda
um calorão nas costas do herói, estimulando-o a entrar na água,
onde está Uiara.
Porque a água está fria e ele tem medo de água fria. A postura de Macunaíma é
muito diferente da dos heróis tradicionais, que não têm medo de nada.
Alamy/Fotoarena
Acervo Iconographia
69 A geração de 22. Regência verbal. O conto fantástico CAPÍTULO 3
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5. O sol e a luz normalmente são associados ao mundo tropical e ao próprio Brasil. Caso Macunaíma se casasse com a filha de Vei, a Sol, ele se
tornaria imortal e criaria com ela uma civilização tropical, filha da luz.
a. Que significado tem a preferência de Macunaíma por uma estrangeira (portuguesa, que representa o colonizador)? Essa preferência da
personagem ainda se verifica no comportamento do brasileiro contemporâneo?
b. Sabendo-se que, na floresta amazônica, as águas são quentes, que relação pode haver entre as águas frias da lagoa e a traição de Macunaíma?
c. O que representa a devoração de Macunaíma por Uiara?
Manuel Bandeira
Manuel Bandeira é considerado um dos principais poetas da literatura
brasileira e um dos melhores em nossa língua.
Sua primeira publicação, Cinza das horas (1917), ainda trazia influências
do Parnasianismo e do Simbolismo, mas, aos poucos, o poeta foi aderindo
às propostas modernistas, incorporando-as com plena maturidade em Libertinagem (1930). Não chegou a participar diretamente da Semana de Arte
Moderna, mas enviou ao evento o poema “Os sapos”, que foi lido por Ronald
de Carvalho, provocando apupos da plateia.
Foi mestre do verso livre e de temas prosaicos, extraídos do cotidiano.
Marcado pela tuberculose, sua poesia apresenta reflexões sobre a vida e a
morte, sobre a solidão e a condição humana. A infância e a saudade também fazem parte de seus temas preferidos.
Como poucos, explorou formas, ritmos e sonoridades na poesia, demonstrando ter pleno domínio das técnicas poéticas e um vasto conhecimento da
poesia universal.
FOCO NO TEXTO
Leia os poemas de Manuel Bandeira a seguir.
Texto 1
Andorinha
Andorinha lá fora está dizendo:
—“Passei o dia à toa, à toa!”
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa...
(Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 2. ed.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1970. p. 121.)
Macunaíma trai o Brasil e a nossa cultura, dando preferência ao que vem de fora. Essa atitude
ainda é muito comum entre os brasileiros, que costumam supervalorizar o que é importado.
5. b) As “águas frias” remetem a um clima diferente
do da Amazônia, isto é, remetem ao clima europeu ou
português. Logo, na lagoa há tanto a referência ao
mundo europeu (as águas frias) quanto a referência
ao mundo primitivo (Uiara).
Se Uiara é um elemento mítico da cultura brasileira, logo, Macunaíma é devorado
ou destruído pelo próprio Brasil, pelo lado primitivo de nosso país.
Manuel Bandeira
Manuel Bandeira (1886-1968) nasceu em Recife (PE). Foi poeta, professor
de literatura, crítico literário e tradutor.
Em 1904, mudou-se para São Paulo
para fazer o curso de arquitetura na
Escola Politécnica, mas foi acometido pela tuberculose, doença grave na
época. Tratou-se em diferentes lugares
do Brasil e acabou indo para a Suíça,
onde havia um dos melhores centros
de tratamento do mundo. Ali, conheceu
e teve como amigo Paul Éluard, poeta
que anos depois viria a se destacar no
Surrealismo francês.
Bandeira viveu boa parte de sua vida
no Rio Janeiro, onde frequentou as rodas
boêmias da Lapa carioca e teve contato
com escritores e intelectuais importantes, como Vinícius de Morais, Carlos
Drummond de Andrade, Rubem Braga,
Sérgio Buarque de Holanda, entre outros.
Escreveu várias obras, em prosa e
verso. A obra Estrela da vida inteira
(José Olympio) é uma reunião de todos
os seus livros de poesia.
Arquivo/Agência O Globo
Andressa Honório
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LITERATURA
Texto 2
Momento num café
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes da vida.
Um no entanto se descobriu num
[gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação
[feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
(Idem, p. 141.)
Texto 3
Nova poética
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito
[bem engomada, e na primeira esquina
[passa um caminhão, salpica-lhe o paletó
[ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as vir-
[gens cem por cento e as amadas que
[envelheceram sem maldade.
(Idem, p. 201.)
1. Na primeira estrofe do texto 1, o verso “Passei o dia à toa, à toa!” faz uso de um recurso
sonoro especial. Qual é esse recurso? Que relação ele tem com o conteúdo do poema?
2. A segunda estrofe do poema “Andorinha” está em oposição à primeira.
a. Que palavras ou expressões do poema constituem uma antítese?
b. Que sentido tem a expressão à toa para a andorinha? E para o eu lírico?
c. Que sentido produzem as reticências no último verso?
d. Se considerarmos a hipótese de que esse poema pode expressar sentimentos e vivências
não apenas do eu lírico, mas também do próprio poeta (leia o boxe “Manuel Bandeira” na
página anterior), como se poderia explicar o verso “Passei a vida à toa, à toa...”?
3. “Momento num café” retrata uma cena comum do cotidiano: a passagem de um enterro. Como se portam os fregueses do café quando passa o enterro? O que justifica
esse comportamento?
esquife: féretro,
caixão de defunto.
café: bar.
nódoa: mancha.
sórdido: sujo.
É a onomatopeia. A sonoridade produzida pela repetição da expressão à toa sugere o próprio canto da andorinha.
O dia e a vida.
b) A andorinha está simplesmente cantando, vivendo a vida dela; é o eu lírico quem associa seu
canto à ideia de passar o dia à toa. Para ele, passar a vida à toa tem um significado mais triste,
pois equivale a não ter aproveitado a vida inteira.
As reticências dão a ideia de que viver a vida sem uma finalidade é algo que vem se repetindo indefinidamente na vida do eu lírico.
Seria possível associar a ideia de uma “vida perdida” à doença do poeta, que o impediu
durante longo tempo de viver a vida plenamente.
Os clientes se portam de modo indiferente, pois estão confiantes
em sua própria vida; a morte, para eles, é algo distante.
Andressa Honório
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito
[passa um caminhão, salpica-lhe o paletó
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virAndressa Honório
71 A geração de 22. Regência verbal. O conto fantástico CAPÍTULO 3
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4. A segunda estrofe do texto 2, porém, destaca uma atitude diferente de
um dos clientes do café, estabelecendo uma oposição em relação à primeira estrofe.
a. Que palavra ou expressão dessa estrofe introduz a ideia de oposição?
b. Que palavra da segunda estrofe está em oposição à palavra maquinalmente, da primeira estrofe?
c. Por que esse cliente tem uma postura diferente?
d. Que visão ele tem da vida?
e. Que visão ele tem da morte?
5. O poema “Nova poética” lança a “teoria do poeta sórdido”. Para explicar
essa teoria, o eu lírico faz uma comparação.
a. Considerando a relação entre a poesia e os leitores, a que ele compara
o poema e sua função?
b. Explique o verso “O poema deve ser como a nódoa no brim”.
6. Na última estrofe do texto 3, o eu lírico afirma que “a poesia é orvalho”.
a. Interprete essa metáfora.
b. Os poemas “Andorinha” e “Momento num café” estão mais para a
“nódoa no brim” ou para o “orvalho”? Por quê?
7. Manuel Bandeira é considerado um mestre do verso livre, tipo de verso
sem uma métrica predeterminada introduzido pelos modernistas. Observe o 5º e o 10º versos. O que justifica, no contexto, o emprego de versos tão longos?
8. Manuel Bandeira é um poeta especial em nossa literatura, pois consegue extrair reflexões profundas sobre a existência humana a partir de
situações banais do cotidiano. Embora muitas vezes pareça falar de si
mesmo, sua poesia geralmente alcança universalidade. Esse traço de sua
poesia se verifica nos poemas lidos? Justifique sua resposta.
no entanto
longamente
Ele tem uma postura reflexiva sobre a morte.
d) Uma visão pessimista: de que a vida transcorre sem
uma finalidade clara e de que ela às vezes nos trai, isto é,
ela nos prega surpresas, frustrando nossos sonhos.
Ele tem uma visão materialista da morte; para ele, com a morte, a alma se extingue ao se libertar da matéria.
Ele compara a uma roupa de linho branco engomada que, repentinamente, é suja por barro salpicado por um caminhão.
5. b) O poema às vezes cumpre uma função que nem sempre é a mais agradável,
ou seja, ele atinge a consciência do leitor,
mostrando-lhe “a marca suja da vida” e fazendo-o “dar o desespero”. Assim, provoca-lhe um choque que pode lhe trazer um
sentido diferente para a vida.
A poesia também pode ser leve e delicada e tratar apenas de assuntos agradáveis.
Estão mais para a nódoa, pois tratam da vida e de seu sentido, da tristeza e da morte.
No 5º verso, ele descreve de uma vez toda a cena da pessoa que tem a roupa de linho branca salpicada
pelo barro; no 10º verso, ele concentra num único verso os destinatários de uma poesia-orvalho.
Sim, pois os textos 1 e 2 propiciam uma reflexão sobre vida e morte e sobre o significado de ambas para o ser humano. O texto 3 propicia uma reflexão sobre a arte e seu papel na vida humana.
Baptist‹o
Com a leitura dos textos neste capítulo, você viu que:
• a geração de 22 consolidou o compromisso de construir uma nova literatura, atualizada em relação às inovações
trazidas pelas correntes de vanguarda e, ao mesmo tempo, fincada nas raízes da cultura brasileira;
• os autores dessa geração voltaram-se para a pesquisa da nacionalidade, tentando captar nas obras aspectos
da paisagem, do homem e da cultura em seus diversos aspectos como língua, folclore, religião, dança, música,
crendices, etc;
• tanto na obra de Oswald de Andrade quanto na de Mário de Andrade há uma tentativa de fundir aspectos primitivos de nossa cultura a aspectos da modernidade;
• em Macunaíma, de Mário de Andrade, busca-se traçar um perfil do que seja a etnia, a cultura e a língua nacionais,
marcadas pela heterogeneidade.
72 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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Você vai ler e comparar, a seguir, dois textos: o primeiro é um poema de Castro Alves,
poeta que pertenceu ao Romantismo, no século XIX; o segundo é um poema de Oswald
de Andrade.
Texto 1
O laço de fita
Não sabes, criança? ’Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu’enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.
Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.
E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh’alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!
Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
Um laço de fita.
Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
Teu laço de fita.
Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N’alcova onde a vela ciosa... crepita,
alcova: pequeno quarto onde está o leito.
cativo: escravo, prisioneiro.
cioso: zeloso.
debalde: em vão, inutilmente.
enleado: enredado, entrelaçado.
estuar: agitar-se em ondas.
falena: borboleta noturna.
librar: equilibrar-se, basear-se.
madeixa: mecha, feixe de cabelos.
opala: pedra preciosa.
plaga: região.
t•nue: fino, delicado.
ENTRE TEXTOs
Nelson Provazi
73 A geração de 22. Regência verbal. O conto fantástico CAPÍTULO 3
PortuguesContemporaneo3_UN1_CAP3_064a097.indd 73 5/12/16 6:12 PM
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso
No laço de fita.
Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c’roa...
Teu laço de fita.
(Castro Alves. In: Célia A. N. Passoni (org.).
Melhores poesias. São Paulo: Núcleo, 1996. p. 30-1.)
Texto 2
Amor
Humor
(Oswald de Andrade. Poesias reunidas.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. p. 160.)
1. No poema “Laço de fita”, o eu lírico expressa suas emoções.
a. Como ele se sente?
b. O que representa o laço de fita, que recebe destaque no poema?
2. O poema “Laço de fita” apresenta um conjunto de imagens formadas por palavras
como prendi, enroscava-se, prisioneiro, cadeias de ferro, elos, entre outras.
a. Como o eu lírico se sente em relação à pessoa amada?
b. Ele deseja essa condição ou quer se livrar dela? Justifique sua resposta.
3. O texto 1 apresenta forte musicalidade.
a. Que recursos são utilizados para criar esse efeito?
b. Que relação pode haver entre a musicalidade do texto e a manifestação dos sentimentos do eu lírico?
4. “Amor”, de Oswald de Andrade, é provavelmente o menor poema da língua portuguesa. Que visão o eu lírico tem do amor?
5. Produzidos em contextos históricos e culturais diferentes, os textos apresentam diferentes modos de expressar o sentimento amoroso.
Associe, em seu caderno, os traços a seguir a cada um dos textos.
• ironia
• idealização amorosa
• contenção emocional
• síntese
• explosão dos sentimentos
• abundância de imagens
• musicalidade envolvente
• dessacralização amorosa
Ele se sente completamente apaixonado por Pepita, moça bonita que vira na festa.
O laço de fita representa a própria mulher por quem o eu lírico se apaixonara. Trata-se de uma metonímia (a parte pelo todo). Explorando a figura do
laço de fita, o poema se enriquece com as sugestões imagéticas de sedução (serpente) e de aprisionamento (elo, cadeias de ferro).
Ele se sente aprisionado, escravo do amor que sente por ela.
Ele parece desejar essa condição, pois se coloca como “submisso” diante desse sentimento e, mesmo
quando morto, ainda deseja ter o laço de fita como coroa.
Os recursos responsáveis pela musicalidade são a métrica, o ritmo, as rimas e as aliterações. Professor: Sugerimos ler mais uma vez enfaticamente o poema, a fim de
que os alunos percebam a musicalidade do texto.
O eu lírico se mostra completamente apaixonado, quase sem controle, e a musicalidade embriagante do
poema acentua a atmosfera sentimental e grandiloquente do texto.
4. Professor: Sugerimos
abrir a discussão com a
classe, pois há mais de
uma possibilidade de leitura do poema. O importante
é que o aluno perceba que
o eu lírico do texto 2 tem
uma visão irônica e crítica
do amor. É como se, depois
de viver essa experiência
muitas vezes e ter colhido
maus resultados, o eu lírico pensasse que o amor
não pode ser levado totalmente a sério, caso contrário o sofrimento amoroso seria insuportável. O
poema também pode ser
lido como uma ruptura com
a visão romântica de amor.
Texto 1: idealização amorosa, explosão dos sentimentos, abundância de
imagens, musicalidade envolvente; texto 2: ironia, contenção emocional,
síntese, dessacralização amorosa.
74
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
FOCO NO TEXTO
Leia o cartaz a seguir, que divulga uma campanha de doação de sangue:
Regência verbal
LÍNGUA E LINGUAGEM
1. Relacione o enunciado à imagem e aos logotipos da parte inferior do cartaz.
a. Qual técnica artística foi utilizada na produção da imagem?
b. Sabendo que JBC é uma editora, levante hipóteses: A que se refere a expressão
#manganaveia? Por que ela foi escrita com o símbolo #, sem acentuação e sem espaçamento entre as palavras?
c. Deduza: Qual tipo de publicação editada pela Editora JBC ganha destaque no cartaz?
2. Observe as cores empregadas no cartaz e levante hipóteses:
a. Qual sentido ganha a cor vermelha das letras do enunciado principal no contexto?
b. Por que o desenho foi feito em preto e branco?
3. Tendo em vista a situação de produção do cartaz em estudo, responda:
a. A qual público especificamente ele se dirige?
b. Quem são os “heróis” dos leitores a que ele faz referência?
c. Qual estratégia o cartaz utiliza para persuadir seu leitor a doar sangue?
Releia as frases do cartaz e responda às questões 4 e 5.
I. “Seus heróis dão o sangue para salvar a humanidade.”
II. “Chegou a hora de se unir a eles.”
III. “Doe sangue.”
IV. “Mangá na veia.”
Desenho em preto e branco.
Refere-se ao mangá, nome dado aos quadrinhos típicos japoneses ou por eles influenciados. Foi
escrita dessa forma em referência ao uso corrente na Internet de expressões com hashtag (nome dado
ao símbolo #).
Gibis, ou revistas em quadrinhos.
A cor vermelha representa o sangue a ser doado.
Para dar mais destaque ao vermelho, que representa o sangue,
chamando atenção para o objetivo do cartaz.
Aos leitores de gibis.
Os super-heróis personagens dos quadrinhos.
Ele aproxima os leitores dos super-heróis, sugerindo que, ao doar sangue, eles também se tornam heróis, assim como seus ídolos.
(Disponível em: http://www.animefanzines.
com/2015/02/editora-jbc-lanca-campanhamanganaveia.html. Acesso em: 9/6/2017.)
Editora JBC/ Fundação Pró Sangue
75 A geração de 22. Regência verbal. O conto fantástico CAPÍTULO 3
PortuguesContemporaneo3_UN1_CAP3_064a097.indd 75 7/6/17 08:32
4. É possível considerar que três dessas frases exploram sentidos metafóricos e uma é mais objetiva e direta.
a. Quais expressões são exploradas metaforicamente?
b. Qual é o sentido dessas expressões nas frases?
5. Observe as formas verbais em destaque.
a. Qual é o sujeito de cada uma delas?
b. Qual é o complemento de cada uma delas?
c. Reproduza em seu caderno o quadro a seguir e complete-o com os
verbos em destaque, de acordo com o tipo de complemento de cada
um nas frases do cartaz.
Verbo sem
complemento
Verbo ligado
diretamente ao
complemento, sem
preposição
Verbo ligado ao
complemento com
preposição
6. Compare as frases:
“Seus heróis dão o sangue para salvar a humanidade.”
“Os heróis dão esperança para seus fãs.”
“Os heróis dão o sangue por seus fãs.”
a. Há uma diferença no valor semântico das expressões em destaque
entre a primeira frase e as duas últimas. Qual é essa diferença?
b. Tendo em vista sua resposta ao item a, discuta com os colegas e o professor: Quais os complementos diretamente ligados à forma verbal dão
em cada uma das frases?
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
No estudo do cartaz, você viu que alguns verbos estabelecem ligação direta com seus complementos e que outros necessitam de uma preposição
para esse fim. É o caso, respectivamente, das ocorrências “doe Ø sangue” e
“se unir a eles”. Há ainda situações em que um mesmo verbo pode se comportar de formas variadas dependendo da frase em que ocorre, como em
“Os heróis dão o sangue para salvar a humanidade” ou “Os heróis dão esperança para seus fãs”. A ligação entre os verbos e seus complementos é
chamada de regência verbal.
Regência verbal é o princípio pelo qual os verbos se
ligam a seus complementos.
Há verbos que não precisam de nenhum complemento; já os verbos
que precisam de complemento podem se ligar a eles diretamente ou por
meio de preposições como a, de, em, com, entre outras. Há verbos que admitem mais de uma regência e permanecem com o mesmo sentido; há
outros que têm seu sentido modificado quando alterada a preposição que
o complementa.
dão o sangue, se unir a eles e mangá na veia
Respectivamente, o de que eles se dedicam com afinco, o de que é preciso se
associar aos heróis e o de que o mangá é vital para seus fãs, tanto quanto o próprio
sangue que corre em suas veias.
Respectivamente, seus heróis, a hora, você (desinencial) e você (desinencial).
Respectivamente, o sangue para salvar a humanidade, sem complemento, a eles, sangue.
Chegar
Dar, doe Unir-se
Na primeira ocorrência, a expressão se refere à finalidade da doação de sangue, tendo valor adverbial. Nas demais, tem valor de objeto indireto do verbo,
pois complementam diretamente seu sentido.
Na 1ª, o sangue; na 2ª, esperança para seus fãs; na 3ª, o sangue por seus fãs.
Segundo as regras da gramática normativa, o verbo chegar, assim como todos os verbos que indicam movimento
(como ir e vir), rege a preposição a, isto
é, seu complemento deve se iniciar por
essa preposição, gerando construções
como “Chegamos ao shopping”. Entretanto, na fala corrente do brasileiro, o
complemento desse verbo é, em geral,
iniciado pela preposição em, o que dá
origem a construções como “Chegamos no shopping”.
Reprodução
76 UNIDADE 1 RuptuRa e constRução
PortuguesContemporaneo3_UN1_CAP3_064a097.indd 76 5/12/16 6:12 PM
língua e
linguagem
Como falante nativo da língua portuguesa, você certamente conhece as preposições
que complementam determinados verbos e quais são seus respectivos sentidos. É importante saber, entretanto, que na norma-padrão existem regras que diferem do uso corrente. Por essa razão, elencamos a seguir os principais verbos cuja regência apresenta
diferenças em relação à adotada por algumas variedades linguísticas.
Não há necessidade de memorizar essas regências; é, porém, interessante conhecê-las,
para fins de consulta e em caráter de informação complementar. Caso você pretenda produzir um texto escrito em situações muito formais ou em exames e avaliações, a indicação é que você dê preferência a essas formas.
Aconselhar Ø (dar conselho) – É experiente o bastante
para aconselhar os amigos.
Aconselhar-se com (pedir conselho) – Aconselho-me com
meus amigos sempre que possível.
Antipatizar com – As funcionárias antigas antipatizaram
com a novata.
Aspirar a (desejar) – Aspiramos a uma vida mais calma.
Aspirar Ø (inspirar) – Aspiramos um ar mais puro no interior.
Assistir a (ver, presenciar) – As testemunhas assistiram ao
acidente de muito perto.
Assistir Ø (ajudar) – O médico assistiu as vítimas minutos
após o acidente.
Chegar a – Chegamos a nossa casa muito tarde.
Concordar com – Concordo com você em todos os sentidos.
Consistir em – Os alimentos consistem em uma importante
fonte de nutrientes.
Comparar a/com – Compara o trabalho a/com um
passatempo.
Desculpar de algo (conceder perdão) – Desculpou as
amigas do ocorrido.
Desculpar Ø – Desculpo todos que implicaram comigo. /
Desculpe a pressa.
Desculpar-se com – Desculpou-se com todos os seus
amigos.
Desculpar-se por (pedir perdão) – Desculpou-se pelo que fez.
Discordar de – Discordo de você em todos os sentidos.
Esquecer Ø – Esqueci o guarda-chuva.
Esquecer-se de – Esqueci-me da sua encomenda.
Implicar com (perturbar, antipatizar com) – As funcionárias
antigas implicaram com a novata.
Implicar Ø (resultar) – Sua participação implicará mudança
no horário do encontro.
Lembrar Ø – Lembrei o endereço.
Lembrar-se de – Lembrei-me de você ontem.
Namorar Ø/com – Marcos namora (com) Adriana.
Pagar a alguém – Paguei a meus pais.
Pagar Ø – Paguei o boleto.
Pagar por (padecer) – Ele vai pagar pelo mal que fez.
Preferir a – Prefiro a sobremesa ao prato principal.
Querer Ø (desejar) – A menina queria uma bola.
Querer a (estimar, ter afeto) – O menino queria muito à mãe.
Simpatizar com – As funcionárias antigas simpatizaram
com a novata.
Unir a (misturar) – Uniu a manteiga à farinha.
Unir Ø (tornar próximo) – A festa uniu os colegas.
Unir-se a (tornar-se próximo) – O diretor uniu-se aos alunos.
Visar Ø (dar visto, mirar) – O professor visou a folha. / O
atirador visou o alvo.
Visar Ø/a (pretender, ter por objetivo) – Visamos o/ao
crescimento da empresa.
APLIQUE O QUE APRENDEU
Leia o anúncio a seguir e responda às questões 1 e 2.
(Disponível em: https://www.
behance.net/gallery/4287209/
Hopi-Hari. Acesso em:
20/2/2016)
Reprodução
77 A geração de 22. Regência verbal. O conto fantástico CAPÍTULO 3
PortuguesContemporaneo3_UN1_CAP3_064a097.indd 77 5/12/16 6:12 PM
1. Observe o texto central do anúncio, a imagem de fundo e o logotipo na parte inferior,
à direita do anúncio. Sabendo que o anunciante é o Hopi-Hari, um grande parque de
diversões ao ar livre localizado no interior do Estado de São Paulo, levante hipóteses:
a. A quem se dirige a pergunta feita?
b. O que há abaixo da pergunta? Qual o significado dessa representação no contexto
do anúncio?
c. O que as pessoas que aparecem na imagem de fundo estão fazendo?
d. Há, na pergunta, uma expressão utilizada propositalmente com o sentido ambíguo. Qual é essa expressão e quais são os dois sentidos possíveis?
2. O verbo utilizado na pergunta do anúncio tem uma regência única admitida pela
gramática normativa, mas é muito utilizado com uma variação na fala corrente dos
brasileiros.
a. Qual é esse verbo?
b. Qual resposta o anunciante espera que seu interlocutor dê à pergunta feita por
ele?
c. Reproduza uma possível resposta à pergunta do anúncio segundo a regência admitida pela gramática normativa.
d. Reproduza uma possível resposta à pergunta do anúncio segundo a regência mais
usual na fala corrente brasileira.
e. Discuta com os colegas e o professor: Qual dessas formas vocês mais utilizam em
seu dia a dia? Há diferença no uso dessas duas formas entre a fala e a escrita? Quais
efeitos pode gerar a escolha por uma ou outra forma?
Leia a tira a seguir para responder às questões de 3 a 5.
Aos pais de crianças e adolescentes que entrarão em férias.
Um calendário do mês de férias, que mostra serem muitos os dias em que os filhos ficarão sem aulas, daí ser conveniente
para os pais encontrar atividades para eles fazerem, como ir ao parque, por exemplo.
Saltando em um dos brinquedos do parque, semelhante a um bungee-jump.
A expressão de cabeça para baixo, que, em referência ao filho, significa literalmente virado de ponta-cabeça, nos
brinquedos do parque, ou, em referência à casa, significa revirada, muito bagunçada.
preferir
Que ele prefere ver o filho de cabeça para baixo.
Prefiro ver meu filho de cabeça para baixo a ver minha casa de cabeça para baixo.
Prefiro ver meu filho de cabeça para baixo do que
ver minha casa de cabeça para baixo.
Professor: Abra a discussão com os alunos. Certamente a fala mais corrente é a apresentada no item d. É possível discutir o que os alunos acham da possibilidade indicada pela gramática, se acreditam que pode haver preconceito em determinadas situações pelo uso da forma corrente na fala, etc. Ressalte que,
na escrita formal, a opção deve ser pela norma-padrão.
3. No 1º quadrinho, um dos interlocutores expõe um dado e, no 2º, imediatamente tem
uma resposta.
a. Qual sentimento sugere a primeira parte da resposta dada no 2º quadrinho?
b. Qual sentimento sugere a segunda parte da resposta dada no 2º quadrinho?
4. No 3º quadrinho, a personagem avalia a resposta de seu interlocutor.
a. Considerando a primeira palavra dita, espera-se que ela vá concordar com o que
seu interlocutor disse? Justifique sua resposta.
b. Pelo restante da fala, é possível considerar que ela concorda com seu interlocutor?
Qual novo sentido ganha a primeira palavra dita nesse contexto?
De surpresa pelo alto montante.
De esperança, ou mesmo ingenuidade, por acreditar que, com um gasto tão alto, o problema estaria resolvido.
Sim, pois utiliza uma palavra afirmativa: Sim.
Ela não concorda, dando ao sim um valor irônico.
(André Dahmer. Malvados. Folha online, 28/1/16.)
André Dahmer/Folhapress
78 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
5. O humor da tira é construído com base na alteração da regência de um dos verbos
utilizados na tira.
a. Qual é esse verbo?
b. Qual a variação na regência e qual mudança ela acarreta no sentido do verbo?
c. Explique como essa alteração constrói o efeito de humor do texto.
Leia cada dupla de textos a seguir e responda às questões de 6 a 8.
nadar
b) No primeiro caso, não pede nenhum complemento (é intransitivo) e significa
“mover-se na água”; no segundo, pede um complemento ligado a ele por meio
de preposição (transitivo indireto) e significa “ter em abundância”.
No 2o
quadrinho, a fala da personagem faz referência ao suposto fato de o rio ter ficado limpo depois do investimento e próprio para banho; no 3o
quadrinho,
a ironia da personagem, somada à mudança de sentido do verbo, sugere que a verba foi desviada; portanto, o rio continua sujo e as pessoas envolvidas no
desvio da verba estariam muito ricas.
I
Me namora
[...]
Me namora
Pois quando eu saio sei que você chora
E fica em casa só contando as horas
Reclama só do tempo que demora
Abre os braços vem e me namora
Eu quero dar vazão ao sentimento
Mostrar que é lindo o que eu sinto por dentro
Beleza essa que eu te canto agora
Abre os braços, vem e me namora
(Edu Ribeiro. © Coisa & Tal Music e Prod. de Eventos Ltda. EPP, 2015.)
Namora comigo
[...]
Fica comigo
Namora comigo
Casa comigo
Viva comigo até o fim
Eu sou seu abrigo
Não tem mais perigo
Fica comigo
Namora comigo até o fim
(Paulinho Moska. © Casulo Promoções Artísticas Ltda, 2015.)
II
O eu aspira ao prazer e quer evitar o desprazer.
Uma intensificação esperada, prevista, do desprazer
é respondida com o sinal de medo; o motivo dessa
intensificação, quer ele ameace de fora ou de dentro,
chama-se perigo.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/livrariada
folha/2014/04/1438542-leia-trecho-de-compendioda-psicanalise-de-freud.shtml. Acesso em: 29/6/2017.)
Ela cruzou o salão como um relâmpago até a
base da escada, e saltitou pelos degraus como uma
corça. Desapareceu antes que eu pudesse aspirar o
ar profundamente e soltá-lo.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2015/06/
1646589-o-sono-eterno-de-raymond-chandler-marca-estreiado-detetive-philip-marlowe.shtml. Acesso em: 29/6/2017.)
III
O fotógrafo Edson Lopes Jr. viajou a trabalho para
João Pessoa, capital da Paraíba, mas ficou curioso
para assistir ao pôr do sol na praia do Jacaré ao som
de ‘Bolero’, de Ravel.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/turismo/
2016/02/1740410-fotografo-clica-por-do-sol-ao-somde-bolero-em-joao-pessoa.shtml. Acesso em: 29/6/2017.)
Ele se encantou com Star Wars desde que seu pai
o levou para assistir o primeiro filme em 1977. Marc
tinha quatro anos na época. “Sempre me interessei
por cavaleiros medievais”, ele diz. “Vi os sabres de luz
na tela e fiquei hipnotizado.”
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/vice/2015/07/
1656570-a-forca-esta-com-a-comunidade-de-cosplaydos-cavaleiros-jedi.shtml. Acesso em: 29/6/2017.)
6. Identifique, em cada dupla de excertos, um verbo cuja regência varia entre os dois
excertos. Em I, namorar; em II, aspirar; em III, assistir.
Professor: Consideramos que, no contexto da 1ª canção, o pronome átono me tem a função de objeto direto.
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A geração de 22. Regência verbal. O conto fantástico CAPÍTULO 3
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7. Observe o sentido dos verbos apontados por você na questão anterior em cada trecho.
a. Em qual dupla de trechos a alteração na regência implica também uma mudança
de sentido no verbo?
b. Atualmente, a possibilidade de variação na regência das outras duas formas verbais
é considerada por alguns dicionários e gramáticas renomados, embora outros ainda admitam como correta apenas a forma mais tradicional. Identifique, nos dois
casos, qual é a forma padrão tradicional e qual é a forma incorporada à língua posteriormente, pelo uso corrente.
c. Releia os trechos em que a regência varia e o sentido permanece o mesmo, discuta
com os colegas e o professor e conclua: Entre as duas formas, qual é a mais utilizada por vocês?
8. A dupla I é composta pelo refrão de duas canções. Levante hipóteses: Por que cada
compositor optou por utilizar tal regência em sua canção? Justifique sua resposta
com base na estrutura dos textos.
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia o cartão-postal a seguir, enviado em 1924 pela pintora Tarsila do Amaral a seu
amigo pessoal Mário de Andrade, um dos principais nomes do Modernismo brasileiro,
que você estudou na seção Literatura deste capítulo.
Na dupla II, aspirar.
As formas tradicionais são namorar sem preposição e assistir a, com preposição. As formas de uso
corrente são namorar com, com preposição, e assistir, sem preposição.
Professor: Abra a discussão com os alunos. O mais provável é que eles utilizem a forma de uso corrente. Discuta as diferenças
entre fala, escrita informal, escrita formal, ressaltando que, em situações, principalmente, de escrita, mas também de fala mais
formal, a norma-padrão é desejável.
Pela estrutura dos versos, é possível perceber que a opção pelas
regências se deu a fim de compor as rimas e a métrica das canções.
(Correspondência Mário de Andrade & Tarsila do Amaral. Organização, introdução
e notas Aracy Amaral. São Paulo: Edusp, 2001, p. 83.)
1. No texto manuscrito de Tarsila, lê-se:
“Mario, Não se esqueça de mandar-me notícias suas e das brigas literárias d’ahi.
Assim que chegar tratarei do quadro e procurarei a gravura de Segonzac. Tarsila.”
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
Tendo em vista a situação de comunicação em que o cartão-postal circulou, levante hipóteses:
a. Trata-se de uma linguagem formal ou informal para a época? Justifique
sua resposta.
b. E para os dias de hoje? Justifique sua resposta com base em elementos do texto.
2. Releia este trecho:
“Não se esqueça de mandar-me notícias suas e das brigas
literárias d’ahi.”
a. Considerando a regência da forma verbal se esqueça, é possível considerar a existência de uma ambiguidade na estrutura do trecho. Qual é
essa ambiguidade?
b. Sabendo que Tarsila, ao se corresponder com Mário, estava fora do
Brasil, conclua: A ambiguidade na estrutura permanece ao se considerar o texto como um todo? Justifique sua resposta.
3. Observe a grafia da palavra ahi.
a. Qual é a grafia atual oficial para essa palavra?
b. Levante hipóteses: Por que ela foi grafada dessa forma no cartão?
c. Discuta com os colegas e o professor: Considerando o contexto tecnológico que vivemos, com qual outra grafia atual ela se parece?
4. Reescreva o primeiro período da mensagem de Tarsila com o mesmo
conteúdo, sem acrescentar informações, apenas adequando sua linguagem e ortografia aos dias atuais, nos seguintes contextos:
a. cartão-postal enviado para um amigo.
b. legenda de uma foto enviada a um amigo pelo celular.
c. Discuta com os colegas e o professor: Quais alterações foram feitas
por você na regência dos verbos na mensagem original em cada um
dos itens anteriores?
5. Releia os seguintes trechos da mensagem de Tarsila:
“Tratarei do quadro”
“Procurarei a gravura”
As duas formas verbais em destaque admitem outras regências.
a. Reescreva-as, alterando a regência de cada uma delas.
b. Discuta com os colegas e o professor: A mudança na regência altera o
sentido desses verbos?
c. Com que sentido e regência você usaria esses verbos no seu dia a dia?
Informal, uma vez que é um cartão-postal trocado entre amigos.
Nos dias de hoje, soa como formal, principalmente pela regência escolhida para os primeiros verbos — “não se esqueça de mandar-me notícias” —, que são utilizadas hoje, em geral, em situações mais formais.
a) O complemento das brigas literárias d’ahi
pode tanto se referir ao verbo esquecer-se
(“Não se esqueça das brigas...”), quanto se
referir a notícias (“notícias das brigas...”).
Não, pois pelo contexto entende-se claramente que ela pede que ele não se esqueça de mandar notícias
sobre as brigas literárias ocorridas depois da Semana de Arte Moderna.
aí
b) Para não utilizar o acento, mas marcar o
hiato, a tonicidade do i.
Professor: Comente com os alunos que esse
era um uso habitual à época.
Com aih, utilizado hoje em dia em mensagens de celular e de Internet.
Possibilidades variadas de resposta, entre elas: “Não esquece
de mandar notícias de você e das brigas literárias daí”.
Possibilidades variadas de resposta, entre elas: “N esquece d mandar noticias de vc e das brigas literarias daih”.
c) Mesmo com possibilidades de variação,
espera-se que tenha havido alteração nas
regências dos verbos esquecer e mandar. No
primeiro caso, o uso corrente informal atual
mantém a preposição de e elimina o se. No
segundo, elimina o complemento indireto me
(“mandar para mim”), mantendo apenas o direto (“mandar notícias”).
Professor: Reforce que, apesar do uso corrente dessas regências, em situações formais de
comunicação, deve-se levar em conta a norma-padrão.
Tratarei o quadro. / Procurarei pela gravura.
b) No primeiro caso, pode ou não haver mudança de sentido: tratar do quadro e tratar o
quadro podem equivaler a “resolver a questão
sobre o quadro”, “consertar, aprimorar o quadro”, “fazer negócio com o quadro”, etc. No
segundo caso, não há mudança no sentido,
pois equivale a “executar ações necessárias
para encontrar”.
Resposta pessoal, mas é esperado que os alunos discutam quais são os usos mais correntes em sua região, se há ainda outras
possibilidades de regência fora da norma-padrão, se elas despertam preconceito, etc.
Acervo Iconographia
Tarsila do Amaral ao lado de
seu quadro Morro da favela,
em foto de 1925.
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FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, um conto fantástico de Edgar Allan Poe, escritor norte-americano
que viveu no século XIX e é considerado um dos criadores desse gênero.
O retrato oval
O castelo que meu criado resolvera arrombar a fim de evitar que eu, gravemente
ferido como estava, passasse a noite ao relento, era uma dessas construções portentosas, a um só tempo lúgubre e grandiosa, que há séculos assombram a paisagem dos
Apeninos e também povoam a imaginação da senhora Radcliffe. Ao que tudo indicava,
o edifício fora abandonado há pouco e de modo temporário. Acomodamo-nos num dos
aposentos menores, mobiliado com menos suntuosidade que os demais e localizado
num torreão afastado do castelo. A decoração era rica, embora desgastada e antiga. As
paredes, cobertas por tapeçarias, também eram adornadas não só por inúmeros troféus
de armas dos mais variados formatos, bem como por uma quantidade excessiva de pinturas modernas muito vivazes, emolduradas por ricos arabescos dourados. Talvez o delírio que me acometera tivesse sido a verdadeira causa de meu profundo interesse por
essas pinturas, por esses quadros que pendiam não apenas diretamente da superfície
das paredes, como também se revelavam nos incontáveis nichos ali presentes, criados
conforme o estranho estilo arquitetônico do castelo. Assim sendo, como já anoitecera,
ordenei que Pedro fechasse as pesadas venezianas do quarto, acendesse as velas do
grande candelabro junto à cabeceira de minha cama e abrisse completamente o cortinado de veludo negro arrematado por franjas, que circundava todo o leito. Desejei que
tudo isso fosse executado o mais brevemente possível para que, se acaso não conseguisse me entregar ao sono, ao menos pudesse me dedicar à contemplação das pinturas, acompanhando-a da leitura de um pequeno livro, encontrado ao acaso em cima de
meu travesseiro, que continha descrições e apreciação crítica das obras.
Passei um longo espaço de tempo lendo, relendo e contemplando as obras com
muita admiração. No decorrer desses momentos gloriosos as horas se passaram num
instante até soarem as badaladas profundas da meia-noite. Como o candelabro não
estivesse mais numa posição que me favorecesse a leitura e, por não querer perturbar
o descanso de meu criado já adormecido, preferi eu mesmo, embora com alguma dificuldade, estender o braço e ajeitar a luz de modo a iluminar melhor as páginas do livro.
O conto fantástico
PRODUÇÃO DE TEXTO
Nelson Provazi
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Porém, esse simples gesto meu produziu um resultado totalmente inesperado.
Vindos das inúmeras velas (havia muitas no candelabro), os raios de luz foram bater justamente num dos nichos do quarto que até o momento estivera completamente envolto na sombra projetada por uma das colunas de minha cama. Só assim pude ver à plena luz um quadro que me passara despercebido até então. Era
o retrato de uma moça na flor da juventude, prestes a entrar na plenitude de sua
feminilidade. Olhei o quadro num relance, fechando os olhos logo em seguida. De
imediato, nem eu mesmo pude perceber por que motivo agira assim. Entretanto,
ainda com as pálpebras cerradas, pus-me a pensar sobre a causa desse meu ato. Na
verdade, fora apenas um movimento impulsivo que me permitira ganhar tempo
para refletir − para me certificar de que meus olhos afinal não me haviam enganado −, para me recobrar e dominar a fantasia a fim de poder então lançar-lhe novo
olhar, com mais calma e segurança. Pouco depois fixei outra vez o olhar na pintura,
demoradamente.
Dessa vez não havia a menor dúvida de que não estivesse enxergando direito, pois
aquele primeiro momento em que a luz das velas incidira sobre a tela servira para dissipar uma vez o vago estupor que começara a entorpecer-me os sentidos, despertandome completamente para a realidade a meu redor.
Como já disse, tratava-se do retrato de uma jovem. Utilizando a técnica a que se
costuma denominar vignette, o quadro reproduzia-lhe apenas a cabeça e os ombros e assemelhava-se muito ao estilo das melhores cabeças pintadas por Sully.
Os braços, o colo e até mesmo as pontas dos cabelos esplêndidos misturavam-se
imperceptivelmente à sombra indeterminada e profunda que formava o plano de
fundo. A moldura era oval e dourada, enfeitada por ricas filigranas à moda mourisca. Como obra de arte nada poderia se igualar à pintura em si. Contudo, a emoção tão avassaladora e repentina que se apoderara de mim não poderia ter sido
ocasionada pela maestria do pintor ou pela imortal beleza daquela fisionomia. E
tampouco poderia ter sido fruto da minha imaginação abalada que, desperta de
sua semissonolência, tivesse-me feito confundir a imagem ali representada com
a cabeça de uma mulher de carne e osso. Logo constatei que as peculiaridades do
desenho, a técnica do vinhetista e da moldura deviam ter bastado para eliminar
tal ideia imediatamente, impedindo que eu a tivesse nutrido ainda que por um
breve momento.
Passei talvez uma hora inteira a refletir sobre essas questões, meio debruçado para a frente, com os olhos cravados no retrato. Por fim, satisfeito com o verdadeiro segredo do seu efeito, recostei-me à
cama outra vez. Descobri que a mágica da pintura residia
na absoluta verossimilhança daquela expressão que inicialmente me sobressaltara, para enfim me confundir,
dominar e aterrorizar.
Foi com profundo temor e reverência que recoloquei o candelabro na posição anterior. Uma vez que o
motivo da minha profunda inquietação estava assim
fora do meu campo visual, passei a examinar avidamente o livro que tratava dessas pinturas e de seu histórico. Depois de folheá-lo rapidamente até encontrar
o número referente ao retrato oval, procedi à leitura
do texto curioso e fantástico que transcrevo a seguir:
“Era uma jovem de rara beleza, cheia de encantos e alegria. Infeliz a hora em que encontrou
o pintor, apaixonou-se e com ele se casou. Ele, um
homem passional, estudioso e austero, já tendo a
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Arte por sua amada. Ela, uma jovem de rara beleza, cheia de encantos e
alegria, plena de luz e sorrisos, travessa como uma gazela nova, afetuosa
e cheia de amor à vida; odiando somente a paleta, os pincéis e demais
instrumentos aborrecidos que a privavam da companhia do amado. Foi,
portanto, com profundo pesar que essa jovem ouviu o pintor expressar o desejo de retratá-la a ela, sua bela esposa. Porém, por ser dócil e
meiga, posou para ele por várias semanas, imóvel em meio à penumbra daquele aposento do alto da torre, iluminado apenas por um único
foco de claridade que descia do teto e incidia diretamente sobre a tela,
deixando o resto na escuridão. Já o pintor rejubilava-se com o trabalho,
prosseguindo hora após hora, por dias a fio. Era um homem obcecado,
irreverente e temperamental, sempre a perder-se em desvaneios; tanto
assim que se recusava a perceber que a luz nefasta daquela torre deserta
consumia a saúde e o ânimo de sua esposa a qual definhava aos olhos
de todos, exceto aos seus. E no entanto ela sempre sorria e continuava
a sorrir sem se queixar porque notava que o pintor (artista de grande
renome) desfrutava um prazer ardente e avassalador ao executar a obra
sem jamais esmorecer, trabalhando dia e noite para retratar aquela que
tanto o amava, mas que se tornava cada vez mais fraca e melancólica. Na
verdade, aqueles que puderam ver o retrato comentaram em voz baixa a
total fidelidade entre modelo e obra, atribuindo-a a um prodígio excepcional, prova cabal não só da perícia do pintor como do amor profundo
que dedicava àquela a quem retratava com tanta perfeição. Porém, com
o tempo, à medida que se aproximava a conclusão do trabalho, ninguém
mais obteve permissão para entrar na torre, pois o pintor entregara-se à
loucura de sua obra e raramente desviava os olhos da tela, nem mesmo
para olhar o rosto de sua mulher. E recusava-se a perceber que as cores
que ia espalhando por sobre a tela eram arrancadas das faces daquela
que posava a seu lado. Passados alguns meses, quando quase mais nada
restava a ser feito a não ser uma pincelada sobre a boca e um retoque de
cor sobre os olhos, o espírito da jovem reacendeu-se ainda uma vez, tal
qual chama de uma vela a crepitar por um instante. E então executouse o retoque necessário e deu-se a pincelada final e, por um momento o
pintor caiu em transe, extasiado com a obra que criara. Porém, no momento seguinte, ainda a contemplar o retrato, estremeceu, ficou lívido e,
tomado de espanto, exclamou com um grito: ‘Mas isto é a própria Vida!’
E quando afinal virou-se para olhar a própria amada... estava morta!”
Tradução de Márcia Pedreira
(Vários autores. Histórias fantásticas. São Paulo: Ática, 1996. p. 11-6.)
Apeninos: cordilheira que se estende por
1000 km ao longo da Itália central e costa
leste.
arabesco: ornamento de origem árabe que
se caracteriza pelo entrecruzamento de linhas,
ramagens, flores, etc.
austero: sóbrio, pouco vivaz.
estupor: grande surpresa, espanto,
imobilidade súbita.
filigrana: trabalho de ourivesaria geralmente
com ouro ou prata.
gazela: pequeno antílope africano ou asiático.
incidir: refletir-se, cair, bater.
lúgubre: fúnebre, sinistro, medonho.
maestria: perícia, conhecimento profundo.
nefasto: prejudicial, nocivo, fúnebre.
nicho: reentrância ou vão em parede onde se
colocam estátuas ou imagens.
passional: relativo a paixão.
Radcliffe: referência à romancista inglesa
Anne Ward Radcliffe (1764-1823), autora de
romances góticos.
Sully: referência ao pintor norte-americano
Thomas Sully (1783-1872), autor de retratos
famosos.
suntuosidade: luxo, riqueza, ostentação.
torreão: torre larga.
verossimilhança: qualidade do que é
semelhante à realidade.
vignette: (do francês) vinheta, isto é, pequeno
desenho ornamental que fica no final de
páginas de alguns livros.
Edgar Allan Poe
Edgar Allan Poe (1809-1849) nasceu em Boston, nos Estados Unidos. Fez
parte do Romantismo norte-americano e é apontado como um dos criadores do conto, do conto gótico, do conto policial e da ficção científica.
Influenciou inúmeras gerações de escritores em todo o mundo e é considerado um dos grandes nomes da literatura universal.
Cultivou a poesia e a prosa, e, entre seus trabalhos mais conhecidos,
estão o poema “O corvo” e os contos “O gato preto”, “O assassinato da rua
Morgue”, “O retrato oval” e “O escaravelho de ouro”.
É conhecido no meio acadêmico das Letras também por seu ensaio teórico “Filosofia da composição”.
Album /akg-images/Latinstock
84 UNIDADE 1 RuptuRa e constRução
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1. Desde o primeiro parágrafo, a narração visa criar uma atmosfera de mistério. Com
base nesse parágrafo, responda:
a. Em que momento do dia se passam as ações?
b. Em que lugar as ações ocorrem? Como é esse lugar?
c. Como é o quarto em que o narrador se instalou?
2. A narração é feita em 1ª pessoa, por um narrador-personagem.
a. Pelas pistas textuais, infira: Que posição social e que tipo de conhecimento especial
ele tem?
b. Em que situação ele estava no momento em que se abriga no castelo?
c. Para ele, qual podia ser a possível causa do súbito interesse pelas pinturas do
castelo?
3. No quarto em que o narrador se instala, há sobre o travesseiro um livro com a descrição e a apreciação crítica das pinturas que há ali. O narrador começa a ler o livro e, à
meia-noite, ao reposicionar o candelabro, subitamente avista uma tela que estava na
sombra: o retrato oval de uma jovem.
a. Que reação o narrador tem ao pôr os olhos sobre o quadro pela primeira vez? Como
ele se sente nesse momento?
b. Depois de alguns momentos, o narrador volta a olhar fixamente o quadro. A primeira impressão que ele teve do quadro se mantém?
c. O que intriga o narrador naquele quadro, desde o início? Justifique sua resposta
com elementos do texto.
4. Releia este trecho:
“Descobri que a mágica da pintura residia na absoluta verossimilhança daquela
expressão que inicialmente me sobressaltara, para enfim me confundir, dominar e
aterrorizar.”
a. A seleção vocabular feita pelo narrador auxilia na criação da atmosfera fantástica e
misteriosa da narrativa. Que palavras desse fragmento confirmam essa afirmação?
b. Certos verbos empregados nesse trecho constituem uma figura de linguagem que
traduz o estado emocional do narrador. Identifique essa figura e explique a correspondência entre ela e o processo emocional vivido pelo narrador.
5. Depois de examinar longamente os detalhes do retrato oval, o narrador começa a ler
no livro que estava no quarto “um texto curioso e fantástico” que contava a história
do pintor, do quadro e da mulher que fora o modelo. Assim, no interior da narrativa
tem início outra narrativa, em um claro exercício de metalinguagem.
a. De que ponto de vista a outra história é narrada: em 1ª pessoa ou em 3ª pessoa?
b. Quem poderia ter escrito esse relato?
c. O narrador dessa outra história conta os fatos de modo impessoal ou de modo pessoal? Justifique sua resposta com marcas textuais.
Elas se passam à noite.
Ocorre em um castelo misterioso, lúgubre, de estilo estranho, que parecia abandonado havia pouco tempo.
Um quarto decorado com muitos quadros; em torno da cama, havia um cortinado de veludo negro.
Parece ser um homem de posição social alta, pois tem um criado que
o acompanha, e revela ter conhecimento de literatura e de pintura.
Ele estava “gravemente ferido”. Não há outras informações sobre a causa do ferimento nem sobre a parte do corpo ferida.
O delírio que o acometera, de onde se infere que provavelmente estava
com febre quando chegou ao castelo.
O narrador impulsivamente fecha os olhos. Ele sente um grande assombro,
que lhe entorpece os sentidos.
Sim.
A semelhança entre a cabeça da mulher da pintura e a cabeça “de uma mulher de carne e osso”.
As palavras mágica, confundir e aterrorizar, principalmente.
A figura de linguagem é a gradação. Ela corresponde ao processo emocional vivido pelo protagonista, que,
gradativamente, se sobressalta, se confunde e fica aterrorizado.
É narrada em 3ª pessoa.
Alguém que conhecia profundamente a vida dos donos do castelo.
Conta os fatos de modo pessoal e subjetivo, pois contrapõe a mulher e o
marido e se posiciona a favor da mulher, conforme indicam os trechos “Infeliz a hora em que encontrou o pintor” e “Era um homem obcecado [...]
sempre a perder-se em devaneios”, entre outros.
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6. Observe estes trechos do último parágrafo do conto:
• “o pintor [...] desfrutava de um prazer ardente e avassalador”
• “o pintor entregara-se à loucura de sua obra e raramente desviava os
olhos da tela”
• “E recusava-se a perceber que as cores que ia espalhando por sobre a
tela eram arrancadas das faces daquela que posava a seu lado”
• “o pintor caiu em transe, extasiado com a obra que criara”
Do ponto de vista do narrador da história contada nesse parágrafo,
como foi, para o pintor, o processo de criação da tela? Que palavras dos
trechos acima justificam sua resposta?
7. No final da história contada no último parágrafo, lemos:
“Porém, no momento seguinte, ainda a contemplar o retrato, estremeceu, ficou lívido e, tomado de espanto, exclamou um grito: ‘Mas
isto é a própria Vida!’. E quando afinal virou-se para olhar a própria
amada... estava morta!”
a. Levante hipóteses: Por que o pintor estremece, empalidece e se espanta?
b. Qual é o fato insólito e inquietante revelado nesse trecho?
c. Note que, nesse parágrafo, as palavras recusava e Vida estão destacadas, com o uso de itálico. Interprete esse destaque dado pelo próprio
escritor, tendo em vista os estranhos fatos que ocorrem no conto.
8. Veja como o teórico Tzvetan Todorov define o fantástico na literatura:
Somos assim transportados ao âmago do fantástico. Num mundo que é exatamente o nosso, aquele que conhecemos, sem diabos,
sílfides nem vampiros, produz-se um acontecimento que não pode
ser explicado pelas leis deste mundo familiar. Aquele que o percebe
deve optar por uma das duas soluções possíveis; ou se trata de uma
ilusão dos sentidos, de um produto da imaginação e nesse caso as
leis do mundo continuam a ser o que são; ou então o acontecimenFoi um processo intenso, irracional, imerso em
loucura, conforme indica o emprego das expressões prazer ardente e avassalador, loucura, eram
arrancadas, em transe, extasiado.
Porque percebe que a figura que retratara transformara-se na própria mulher viva, tal a sua perfeição.
A mulher passa a estar viva na tela e, como pessoa, morre.
7. c) A palavra recusava pode ser uma pista
da consciência do artista em relação ao que
fazia, ou seja, embora imerso na loucura causada pela obstinação de alcançar a perfeição,
ele pode ter tido a consciência de que algo
misterioso estava ocorrendo – a vida da jovem estava se transferindo para a tela –, mas
se negava a admitir isso, pois queria concluir
a obra a qualquer custo.
O conto maravilhoso e o
conto fant‡stico
Segundo o teórico russo Tzvetan
Todorov, o maravilhoso se distingue
do fantástico na medida em que pressupõe a aceitação do inverossímil e
do inexplicável. É o que ocorre, por
exemplo, nos contos maravilhosos dos
irmãos Grimm e das Mil e uma noites,
em que fatos sobrenaturais ocorrem e
são aceitos naturalmente pelo leitor.
Já nos contos fantásticos, o plano de
realidade e o plano de fantasia coexistem de forma inconciliável.
Nelson Provazi
The Bridgeman Art Library/Keystone Brasil
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to realmente aconteceu, é parte integrante da realidade, mas nesse
caso esta realidade é regida por leis desconhecidas para nós. Ou o
diabo é uma ilusão, um ser imaginário; ou então existe realmente,
exatamente como os outros seres vivos: com a ressalva de que raramente o encontramos.
O fantástico ocorre nesta incerteza;
[...]
(Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 1975. p. 30-1.)
Segundo o teórico, o fantástico reside na incerteza de uma personagem
quanto à natureza de acontecimentos inesperados, que a deixam em
dúvida se teriam ou não acontecido de fato.
a. Que elementos do conto “O retrato oval” sustentam a hipótese de
que tudo não tinha passado de imaginação do protagonista?
b. Que elementos do texto – fatos, tempo, espaço, ambientação – sustentam a hipótese de que realmente fatos sobrenaturais aconteceram no castelo?
c. O protagonista do conto vive a situação de hesitação a que Todorov
se refere? Justifique sua resposta.
d. Além do aspecto misterioso e sobrenatural, há no conto uma reflexão
de natureza filosófica a respeito do poder ou da capacidade da própria arte. Qual é essa reflexão?
HORA DE EsCREvER
Seguem três propostas de produção de contos fantásticos multimodais.
Escolha uma delas e desenvolva-a conforme a orientação do professor.
Na criação do conto, considere que, além das palavras, serão utilizados
outros recursos, como voz, música, imagem e movimento.
a) O narrador-protagonista estava ferido e menciona um delírio. Além disso, o ambiente era relativamente escuro, iluminado apenas por um candelabro, e a atmosfera do ambiente era misteriosa. Tudo
isso pode ter levado a personagem a ter uma alucinação.
b) O castelo era uma das construções que
“assombravam a paisagem dos Apeninos”;
era meia-noite quando o protagonista viu o
quadro; ele fica “aterrorizado” com a imagem
da mulher; a narração lida no livro confirma a
relação do quadro com algo sobrenatural – o
que ocorrera durante a criação da tela.
c) Sim; um exemplo de hesitação é o momento em que o protagonista vê o quadro pela primeira vez, fecha os olhos e
torna a abri-los, para se certificar de que
o que via era real. Além dessa situação,
ele tem consciência de que não estava
bem de saúde, de que estava delirando,
etc. e, assim, tem dúvida de sua percepção dos fatos.
Trata-se de uma reflexão sobre os limites da representação artística, ou seja, sobre até que ponto o
artista consegue retratar o objeto com perfeição.
Professor: Lembre aos alunos que Egar Allan Poe morreu em 1849, portanto antes do início do Realismo na Europa.
Professor: Os alunos poderão desenvolver mais de uma proposta; porém, sugerimos que apenas uma delas
seja trabalhada em linguagem multimodal.
Capa de uma importante antologia
de publicações do gênero fantástico,
organizada por Italo Calvino.
Como você já sabe, no final da unidade será organizada, pela classe, uma antologia de contos, minicontos e contos fantásticos multimodais.
Neste capítulo, você vai produzir um conto fantástico multimodal,
que deverá ser incluído na antologia.
1. Recontando a partir de outro ponto de vista. O ponto de vista do narrador é fundamental para que tenhamos certa percepção dos fatos de
uma história. A alteração do ponto de vista pode gerar uma história
nova e completamente diferente da original.
O conto “O retrato oval” é narrado em 1ª pessoa pelo protagonista. Reconte-o, substituindo o narrador-protagonista por outro tipo de narrador. Esse narrador pode ser o criado que acompanha o protagonista na
história original, a jovem mulher do pintor ou, ainda, um narrador em
3ª pessoa.
Companhia das Letras
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Se quiser, invente outros fatos ou modifique, de acordo com o novo ponto de vista, os
fatos da história original.
2. Dando continuidade a um conto. O texto a seguir é a introdução do conto “Os buracos
da máscara”, de Jean Lorrain, escritor francês do final do século XIX. Leia-o e dê continuidade à narrativa. Imagine como será o baile de carnaval, aonde as personagens
irão vestidas com fantasias e máscaras. Lembre-se de incluir na história um momento
de hesitação ou de incerteza do protagonista em relação aos fatos, de modo que esse
momento seja a base do fantástico no conto.
“Você quer ver”, meu amigo De Jakels me dissera, “está bem,
arranje uma fantasia de dominó e uma máscara, um dominó
bem elegante de cetim preto, calce uns escarpins e, desta vez,
meias de seda preta, e espere-me em casa na terça-feira. Irei pegá-lo por volta das dez e meia.”
Na terça-feira seguinte, envolto nas pregas farfalhantes de uma
longa camalha, com a máscara de veludo e barba de cetim presa
atrás das orelhas, esperei meu amigo De Jakels na minha garçonnière da rua Taitbout, enquanto esquentava nas brasas da lareira
meus pés arrepiados pelo contato irritante da seda; lá de fora,
chegavam-me do bulevar, confusamente, o som das cornetas e
os gritos desesperados de uma noite de Carnaval.
Pensando bem, era um tanto estranha e até inquietante, a
longo prazo, aquela festa solitária de um homem mascarado
afundado numa poltrona, no claro-escuro de um térreo atulhado de bibelôs, ensurdecido por tapeçarias, e com espelhos pendurados nas paredes, refletindo a chama alta de uma lamparina de querosene e o bruxulear de duas velas compridas muito
brancas, esbeltas, como que funerárias; e De Jakels não chegava.
Os gritos dos mascarados espocando ao longe agravavam mais
ainda a hostilidade do silêncio, as duas velas queimavam tão retas que acabei tomado por um nervosismo e, de súbito apavorado com aquelas três luzes, levantei-me para ir soprar uma delas.
Nesse momento um dos cortinados da porta se abriu e De
Jakels entrou.
De Jakels? Eu não tinha ouvido tocar a campainha nem alguém
abrir. Como ele se introduzira no meu apartamento? Desde então
pensei muito nisso; mas finalmente De Jakels ali estava, na minha
frente. De Jakels? Bem, uma longa fantasia de dominó, uma grande
forma escura, velada e mascarada como eu:
“Está pronto?”, interrogou sua voz, que não reconheci. “Meu
carro está aí, vamos embora.”
Eu não tinha ouvido seu carro chegando nem parando defronte
das minhas janelas.
Em que pesadelo, em que sombra e em que mistério eu começara a descer?
“É o capuz que está tapando os seus ouvidos, você não está
acostumado com a máscara”, pensava em voz alta De Jakels, que
havia penetrado no meu silêncio: ou seja, naquela noite ele tinha
o dom da adivinhação. E, levantando meu dominó, verificava a delicadeza de minhas meias de seda e de meus finos sapatos.
Andressa Hon—rio
88 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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Esse gesto me serenou, era mesmo De Jakels e não outra pessoa que, de
dentro daquele dominó, falava comigo; um outro não estaria sabendo da
recomendação que De Jakels me fizera uma semana antes.
(In: Contos fantásticos do século XIX escolhidos por Italo Calvino.
São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 397-8.)
3. Inventando um conto fantástico. Crie um conto fantástico inteiramente original,
a partir de um tema de seu interesse. Invente enredo, personagens, ações, tempo
e espaço.
ANTEs DE EsCREvER
Planeje seu conto fantástico, seguindo estas orientações:
• Tenha em vista o público para o qual vai escrever: jovens e adultos que se interessam
por literatura fantástica.
• Esboce o enredo e defina as personagens, o tempo e o espaço das ações.
• Ao descrever as personagens e os ambientes, considere que essa descrição deve contribuir para a criação de uma atmosfera fantástica.
• Pense no elemento inquietante ou fantasmagórico que utilizará para gerar uma situação
de hesitação entre o plano de realidade e o plano de fantasia, imaginação ou horror.
• Decida quem vai narrar a história: se um narrador-personagem ou um narradorobser vador.
• Se quiser, empregue a estrutura convencional do conto, constituída por apresentação,
complicação (em que é apresentado o conflito), clímax e desfecho.
• Utilize uma linguagem de acordo com a norma-padrão, porém com flexibilidade, a fim
de adequá-la às situações e ao perfil das personagens.
• Pense nos recursos multimodais que poderá utilizar e nas situações da história em que
eles poderão ser empregados. Sugerimos que o conto seja relativamente curto, a fim de
facilitar o trabalho de edição. Imagine as imagens, os vídeos, as músicas e as narrações
em voz que pretende utilizar. A parte verbal do conto deve ser criada em sintonia com
esses recursos.
ANTEs DE PAssAR A LImPO
Antes de dar seu conto por finalizado, verifique:
• se ele corresponde ao seu objetivo de criar um conto fantástico destinado a um público
constituído por jovens e adultos interessados em literatura atual;
• se o enredo, as personagens, as ações, o tempo e o espaço estão desenvolvidos de forma coerente;
• se há no texto uma atmosfera misteriosa ou sobrenatural e se o protagonista vive uma
situação de hesitação ou incerteza diante de fatos misteriosos ou sobrenaturais, que
podem ter acontecido ou sido apenas fruto da sua imaginação;
• se o texto consegue criar um efeito surpreendente, capaz de despertar a curiosidade do
leitor para que ele acompanhe a história até o final;
• se a linguagem empregada está em uma variedade linguística e com um grau de formalidade ou de informalidade adequados ao perfil das personagens e à ambientação da história;
• se os recursos multimodais que você planejou utilizar são satisfatórios ou se convém
incluir outros ou eliminar algum deles.
dominó: traje
carnavalesco que consiste
em túnica longa com
mangas e capuz.
89PRODUÇÃO DE TEXTO
A geração de 22. Regência verbal. O conto fantástico CAPÍTULO 3
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PREPARANDO A vERsÃO DIGITAL
Concluída a parte verbal do conto multimodal, é hora de inserir os recursos que você
planejou utilizar. Se possível, peça apoio ao professor ou funcionário responsável pelo
setor de informática na escola.
Para realizar a edição desses recursos, sugerimos utilizar o programa Moovie Maker,
da Microsoft, ou outro programa de edição de filmes, imagens e textos. Com o Moovie
Maker, você poderá montar slides ou vídeos multimodais. No YouTube, há diversos vídeos
tutoriais que explicam como manusear o programa.
Primeiramente, pesquise ou produza todo o material de que vai necessitar: fundos
coloridos, imagens, músicas, vídeos, voz, animação, links da Internet e textos verbais. Dê
preferência a imagens e músicas compatíveis com a atmosfera enigmática e surpreendente dos contos fantásticos.
Com o programa de edição é possível inserir textos verbais, mas você poderá também
trabalhar o texto como imagem, se preferir, bastando para isso dividi-lo em partes e fotografar cada uma delas, como se fossem imagens. Depois, na hora da edição, você deverá
dispor as partes do texto na sequência.
Se quiser, poderá fazer uma narração oral do conto, ou intercalar partes com voz e
partes escritas. Os diálogos das personagens também poderão ser reproduzidos com diferentes vozes.
Cuidado para não exagerar nos recursos. Eles devem ser usados em número reduzido
e na medida em que possam contribuir para ampliar os limites da palavra impressa.
Ao concluir a edição do trabalho, guardem o material para publicar na antologia de
contos da classe que será produzida no final da unidade.
Professor: É importante incentivar os alunos a realizar também esta etapa do trabalho. Os recursos tecnológicos necessários
são relativamente simples. Contudo, se a escola e os alunos estiverem impossibilitados de levar adiante esta proposta por falta
de recursos, proponha que criem o conto fantástico de forma convencional, em papel. Se preferir, poderá propor a formação de
pequenos grupos, de 2 ou 3 alunos, de modo que eles se ajudem na montagem do arquivo digital.
Cultura RF/DUEL/Diomedia
90 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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ENEm Em CONTEXTO
As questões do Enem não exigem um conhecimento amplo das obras literárias, isto é, de detalhes do enredo, das personagens, etc., mas exigem que o estudante seja um bom leitor, capaz de ler
e comparar textos de diferentes épocas e relacioná-los com seu contexto de produção. Veja como
isso acontece nestas questões do Enem e tente resolvê-las:
Textos para as questões 1 e 2:
POR DENTRO DO ENEm E DO vEsTIBULAR
O CANTO DO GUERREIRO
Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.
Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?
Gonçalves Dias.
MACUNAêMA
(Epílogo)
Acabou-se a história e morreu a vitória.
Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de
um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros
meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira
do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão
pançudos. Quem podia saber do Herói?
Mário de Andrade.
1. A leitura comparativa dos dois textos indica que
a. ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica, como símbolo
máximo do nacionalismo romântico.
b. a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil.
c. as perguntas “— Quem há, como eu sou?” (1º texto) e “Quem podia saber do Herói?” (2º texto) expressam
diferentes visões da realidade indígena brasileira.
d. o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do
processo de colonização no Brasil.
e. os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo texto.
X
91 Por dentro do Enem e do vestibular
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Os dois textos apresentados pela questão são indianistas e manifestam diferentes visões acerca do índio. O texto de Gonçalves Dias, produzido dentro de uma perspectiva romântica, apresenta
uma visão idealizada e heroica do índio, tentando transformá-lo em herói nacional. Com a pergunta
“ —Quem há, como eu sou?”, o índio expressa sua altivez e seu orgulho, como o único ser da floresta
que está acima de todas as forças.
Já o texto de Mário de Andrade, produzido dentro de uma perspectiva modernista, retrata a
decadência de Macunaíma e sua família. O trecho pertence ao final da obra Macunaíma, depois que
os irmãos tinham morrido e o protagonista tinha virado a Ursa Maior. Assim, a conclusão da obra,
com a ausência do herói e o fim de sua família, remete ao problema vivido pelos índios brasileiros
tanto no século XX quanto hoje: o desaparecimento de tribos indígenas da Amazônia. Logo, a alternativa c da questão 1 é a mais adequada.
Na questão 2, os itens que envolvem as funções da linguagem são falsos. Já a alternativa c é
verdadeira, já que as palavras tacape, Uraricoera, Tapanhumas e Macunaíma são indígenas.
QUEsTõEs DO ENEm E DO vEsTIBULAR
2. Considerando-se a linguagem desses dois textos, verifica-se que
a. a função da linguagem centrada no receptor está ausente tanto no primeiro quanto no segundo texto.
b. a linguagem utilizada no primeiro texto é coloquial, enquanto, no segundo, predomina a linguagem formal.
c. há, em cada um dos textos, a utilização de pelo menos uma palavra de origem indígena.
d. a função da linguagem, no primeiro texto, centra-se na forma de organização da linguagem e, no segundo,
no relato de informações reais.
e. a função da linguagem centrada na primeira pessoa, predominante no segundo texto, está ausente no primeiro.
X
1. (ENEM)
Namorados
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
— Antônia, ainda não me acostumei com o seu
corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
— Você não sabe quando a gente é criança e de
repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
— A gente fica olhando…
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
— Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
— Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.
No poema de Bandeira, importante representante da
poesia modernista, destaca-se como característica da
escola literária dessa época
a. a reiteração de palavras como recurso de construção
de rimas ricas.
b. a utilização expressiva da linguagem falada em
situa ções do cotidiano.
c. a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo
do tema abordado.
d. a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época.
e. o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do Realismo.
2. (ENEM)
O trovador
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras...
As primaveras do sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal...
Intermitentemente...
Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som redondo...
Cantabona! Cantabona!
Dlorom...
Sou um tupi tangendo um alaúde!
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de
Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.
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REGISTRE
NO CADERNO
92 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional
é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade.
Em O trovador, esse aspecto é
a. abordado subliminarmente, por meio de expressões
como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval,
remete à brasilidade.
b. verificado já no título, que remete aos repentistas
nordestinos, estudados por Mário de Andrade em
suas viagens e pesquisas folclóricas.
c. lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões
como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1),
“frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).
d. problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald
de Andrade.
e. exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos
dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas.
3. (ENEM)
Antonio Rocco. Os emigrantes, 1918.
Um dia, os imigrantes aglomerados na amurada
da proa chegavam à fedentina quente de um porto,
num silêncio de mato e de febre amarela. Santos. — É
aqui! Buenos Aires é aqui! — Tinham trocado o rótulo das bagagens, desciam em fila. Faziam suas necessidades nos trens dos animais onde iam. Jogavamnos num pavilhão comum em São Paulo. — Buenos
Aires é aqui! — Amontoados com trouxas, sanfonas
e baús, num carro de bois, que pretos guiavam através do mato por estradas esburacadas, chegavam
X
uma tarde nas senzalas donde acabava de sair o braço escravo. Formavam militarmente nas madrugadas do terreiro homens e mulheres, ante feitores de
espingarda ao ombro.
Oswald de Andrade. Marco Zero II –
Chão. Rio de Janeiro: Globo, 1991.
Levando-se em consideração o texto de Oswald de Andrade e a pintura de Antonio Rocco reproduzida ao lado,
relativos à imigração europeia para o Brasil, é correto
afirmar que
a. a visão da imigração presente na pintura é trágica e,
no texto, otimista.
b. a pintura confirma a visão do texto quanto à imigração de argentinos para o Brasil.
c. os dois autores retratam dificuldades dos imigrantes na chegada ao Brasil.
d. Antonio Rocco retrata de forma otimista a imigração, destacando o pioneirismo do imigrante.
e. Oswald de Andrade mostra que a condição de vida
do imigrante era melhor que a dos ex-escravos.
4. (ENEM)
Cabeludinho
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me
apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como quem dissesse no Carnaval:
aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha
avó entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque aquela preposição
deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas
palavras é uma solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada
um menino gritou: Disilimina esse, Cabeludinho.
Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo
novo trouxe um perfume de poesia à nossa quadra.
Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais
do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de
palavra engavetada. Aquela que não pode mudar
de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo
que elas entoam do que pelo que elas informam.
Por depois ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve / que eu não sei a
ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir,
ampliava a solidão do vaqueiro.
BARROS, M. Memórias inventadas:
a infância. São Paulo: Planeta, 2003.
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REGISTRE
NO CADERNO
Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP
93 Por dentro do Enem e do vestibular
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No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo das
expressões “voltou de ateu”, “disilimina esse” e “eu não
sei a ler”. Com essa reflexão, o autor destaca
a. os desvios linguísticos cometidos pelos personagens
do texto.
b. a importância de certos fenômenos gramaticais
para o conhecimento da língua portuguesa.
c. a distinção clara entre a norma culta e as outras variedades linguísticas.
d. o relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho
durante as suas férias.
e. a valorização da dimensão lúdica e poética presente
nos usos coloquiais da linguagem.
5. (ENEM)
Há certos usos consagrados na fala, e até mesmo na escrita, que, a depender do estrato social e
do nível de escolaridade do falante, são, sem dúvida, previsíveis. Ocorrem até mesmo em falantes
que dominam a variedade padrão, pois, na verdade,
revelam tendências existentes na língua em seu
processo de mudança que não podem ser bloqueadas em nome de um “ideal linguístico” que estaria
representado pelas regras da gramática normativa.
Usos como ter por haver em construções existentes
(tem muitos livros na estante), o do pronome objeto
na posição de sujeito (para mim fazer o trabalho),
a não concordância das passivas com se (aluga-se
casas) são indícios da existência, não de uma norma
única, mas de uma pluralidade de normas, entendida, mais uma vez, norma como conjunto de hábitos
linguísticos, sem implicar juízo de valor.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In VIEIRA, S. R.;
BRANDÃO, S. (orgs). Ensino de gramática: descrição e uso.
São Paulo: Contexto, 2007 (fragmento).
Considerando a reflexão trazida no texto a respeito da
multiplicidade do discurso, verifica-se que:
a. estudantes que não conhecem as diferenças entre
língua escrita e língua falada empregam, indistintamente, usos aceitos na conversa com amigos quando vão elaborar um texto escrito.
b. falantes que dominam a variedade padrão do português do Brasil demonstram usos que confirmam a
diferença entre a norma idealizada e a efetivamente
praticada, mesmo por falantes mais escolarizados.
X
X
c. moradores de diversas regiões do país enfrentam
dificuldades ao se expressar na escrita revelam a
constante modificação das regras de empregos de
pronomes e os casos especiais de concordância.
d. pessoas que se julgam no direito de contrariar a gramática ensinada na escola gostam de apresentar
usos não aceitos socialmente para esconderem seu
desconhecimento da norma padrão.
e. usuários que desvendam os mistérios e sutilezas da
língua portuguesa empregam forma do verbo ter
quando, na verdade, deveriam usar formas do verbo
haver, contrariando as regras gramaticais.
6. (FUVEST-SP) Considerando que “silepse é a concordância que se faz não com com a forma gramatical das palavras, mas com seu sentido, com a ideia que elas representam”, indique o fragmento em que essa figura de
linguagem se manifesta.
a. “olha o mormaço”.
b. “pois devia contar uns trinta anos”.
c. “fomos alojados os do meu grupo”.
d. “com os demais jornalistas do Brasil”.
e. “pala pendente e chapéu descido sobre os olhos”.
7. (FUVEST-SP) Observe este anúncio.
Fonte: Folha de S. Paulo, 26/9/2008. Adaptado.
X
7. a) A imagem de um rosto que se forma a partir das linhas de uma impressão digital faz referência à busca por identificar um sujeito com um perfil
específico, no caso, o morador de São Paulo, sugerindo que saber “quem é e
o que pensa” envolve conhecer a identidade, bem como as impressões dessa
pessoa, como se houvesse minimamente uma unidade de pensamento entre
os moradores de São Paulo.
Folhapress
94 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
PortuguesContemporaneo3_UN1_CAP3_064a097.indd 94 5/12/16 6:12 PM
a. Na composição do anúncio, qual é a relação de sentido existente entre a imagem e o trecho “quem é e
o que pensa”, que faz parte da mensagem verbal?
b. Se os sujeitos dos verbos descubra e pensa estivessem no plural, como deveria ser redigida a frase utilizada no anúncio?
8. (FUVEST-SP) Leia a seguinte mensagem publicitária, referente a carros, e responda ao que se pede:
POTÊNCIA, ROBUSTEZ E TRAÇÃO 4WD. PORQUE TEM LUGARES QUE SÓ COM ESPÍRITO DE
AVENTURA VOCÊ NÃO CHEGA.
a. A mensagem está redigida de acordo com a normapadrão da língua escrita? Se você julga que sim, justifique; se acha que não, reescreva o texto, adaptando-o à referida norma.
b. Se a palavra “só” fosse escluída do texto, o sentido
seria alterado? Justifique sua resposta.
Produção de texto
9. (UFPR-RS)
A raposa e as uvas
Certa raposa esfaimada encontrou uma parreira
carregadinha de lindos cachos maduros, coisa de fazer
vir água à boca. Mas tão altos que nem pulando. O matreiro bicho torceu o focinho. – Estão verdes – murmurou. – Uvas verdes, só para cachorro. E foi-se. Nisto deu
o vento e uma folha caiu. A raposa ouvindo o barulhinho voltou depressa e pôs-se a farejar... Moral: Quem
desdenha quer comprar.
(Monteiro Lobato)
O texto acima é uma fábula – uma narrativa de fundo
didático, em que os animais simbolizam um aspecto ou
qualidade do ser humano. Narre uma história da vida
moderna que seja a transposição da fábula acima. O
seu texto deve ter personagens humanos, e a narração
Descubram quem são e o que pensam
os moradores de São Paulo.
Não. “Potência, robustez e tração 4WD. Porque há lugares aos quais/a
que só com espírito de aventura você não chega.”
8. b) Sim, pois no contexto do anúncio a palavra só indica que é preciso ter o
espírito de aventura associado a algo mais – no caso, o carro anunciado – para
chegar a determinados lugares. Sem a palavra só, em contrapartida, o enunciado teria o sentido de que ter espírito de aventura seria um impedimento
para se chegar a tais lugares, independentemente de se ter ou não o carro
anunciado.
poderá ser em primeira ou terceira pessoa (você escolhe). Não ultrapasse o limite de 10 linhas.
10. (UEM-PR) Escreva um texto narrativo ou um texto dissertativo a respeito do seguinte tema:
QUANDO SE JUSTIFICA MENTIR?
Para o texto narrativo, atente para as seguintes instruções: redija a narrativa em 1ª ou 3ª pessoa, de forma que
o conflito seja desencadeado por uma mentira; além do
conflito, o texto deverá ter personagens e desfecho adequados ao tema.
Para o texto dissertativo, você poderá se basear nos excertos a seguir, sem, contudo, poder copiar informações
deles. Eleja uma tese e defenda-a com argumentos convincentes.
Excerto I
[...] Os pais ensinam os filhos desde cedo que
mentir é muito feio. Que gente mentirosa é mal vista pela sociedade. Mas vamos falar a verdade. O que
mais existe no mundo é mentira [...] Mentir é considerado o quinto pecado capital, mas quem já não teve de
lançar mão desse recurso para se sair de uma situação complicada? Muita gente acredita que, se for uma
mentirinha inofensiva que não prejudique ninguém,
não faz mal. Mesmo que isso funcione algumas vezes,
mais vale uma verdade dolorida do que uma mentira
mal contada. [...]
O Diário do Norte do Paraná, 1/4/2005.
Excerto II
[...] A interpretação da mentira depende, portanto, do “código de ética” seguido pelo mentiroso.
Para o utilitarista, por exemplo, a mentira se justifica quando, através dela, se produz maior felicidade.
Esse é o caso do comentário que se faz ao moribundo (“como você está bem ...”) ou do consolo do dentista (“não vai doer nada ...”) ou da formalidade dos
adversários quando se encontram em público (“que
prazer em vê-lo ...”) ou mesmo do final da carta desaforada (“com a minha alta estima e elevada consideração ...”). [...]
José Pastore. Folha de S. Paulo, 20/05/1987. Disponível em
http://www.josepastore.com.br/artigos/cotidiano/057.htm
95 Por dentro do Enem e do vestibular
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Antologia de contos,
minicontos e contos
fantásticos multimodais
Antologia de contos,
minicontos e contos
fantásticos multimodais
Produzindo a antologia
Participe, com toda a classe, da produção
de uma antologia com os contos que você
produziu nesta unidade.
Seleção de textos
Discutam com o professor os critérios para a escolha dos textos que farão parte da antologia. Vocês poderão, por exemplo, optar por incluir no livro apenas o conto fantástico multimodal de cada estudante; ou o conto fantástico e um conto (tradicional ou contemporâneo)
de cada um; ou um número maior de contos.
Equipe técnica e edição digital
Shutterstock
Thinkstock/Getty Images
RICO/Arquivo da editora
96 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO
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Selecionados os textos, elejam alguns colegas para compor uma equipe técnica responsável pela montagem do livro digital. Essa equipe deve receber os arquivos de todos, revisados
e ilustrados, se for o caso. Os arquivos do conto multimodal devem ser entregues finalizados,
com todos os recursos em funcionamento.
A equipe técnica deve dar aos textos a mesma formatação, adotando critérios como tamanho das letras e tipo de fonte, fundo em cor, número de colunas, etc., à exceção dos contos
fantásticos multimodais, nos quais as particularidades visuais que cada aluno decidiu utilizar
devem ser respeitadas.
Pensem em um título para a antologia e elejam um colega para criar a capa. Indiquem outros colegas para compor e escrever a apresentação do livro, explicando como a obra nasceu,
qual é a finalidade dela, que tipo de contos ela apresenta, etc.
Criem um sumário, indicando o título de cada conto, o nome de seu autor e a página em
que cada um começa. Como se trata de uma obra digital, é interessante vocês fazerem links
que direcionem o leitor para o texto selecionado.
Decidam com a equipe técnica onde o livro será hospedado: se em um site, em um blog
da classe ou, simplesmente, em um arquivo digital. Lembrem-se de que, no ambiente da Web,
um número maior de pessoas pode ter acesso ao livro e de que, se foram utilizados links da
Internet para acessar o conto multimodal, o leitor vai precisar estar conectado.
Lançamento da antologia
• Combinem com a equipe técnica e com o professor uma data para o lançamento da antologia.
• Deem um título convidativo ao evento.
• Pensem no público que querem atingir e como farão para convidá-lo: por meio de cartazes,
jornal da escola, avisos nas salas de aula, redes sociais. Podem ser convidados estudantes de
outros anos, professores e funcionários e também amigos e familiares.
• Preparem um ambiente (uma sala de aula ou outro espaço) para a visitação dos convidados.
Disponham algumas mesas com computadores nesse ambiente, todos com o arquivo final do livro,
de modo que o público possa navegar livremente pelos contos e interagir com eles à vontade.
• Se quiserem, preparem junto com a equipe técnica um vídeo que mostre partes do livro digital,
dando destaque para os contos multimodais e seus recursos. No dia do lançamento, projetem
esse vídeo em um telão, de modo que, a certa distância, todas as pessoas presentes do
evento possam ver e compreender o conteúdo do livro digital.
RICO/Arquivo da editora
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98UNIDADE 2 Palavra e persuasão
Coleção particular
O ovo da ema, de Carybé (1911-1997), pintor argentino que, na década de 1950, passou a viver em Salvador, onde, junto com Jorge Amado
e o fotógrafo francês Pierre Verger, desenvolveu intensa atividade artístico-cultural. Essa tela é a expressão de uma das principais
propostas da segunda geração modernista: o retrato da realidade brasileira e das pessoas comuns.
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99
CIDADANIA EM DEBATE
Participe, com os colegas da
classe, da produção de uma feira
de cidadania, na qual serão promovidos debates deliberativos e
realizadas oficinas de produção
de currículos e de cartas de solicitação e/ou reclamação.
Como decorrência do movimento revolucionário e das suas causas,
mas também do que acontecia mais ou menos no mesmo sentido na Europa e nos Estados Unidos, houve nos anos 30 uma espécie de convívio
íntimo entre a literatura e as ideologias políticas religiosas. Isto, que antes
era excepcional no Brasil, se generalizou naquela altura, a ponto de haver
polarização dos intelectuais nos casos mais definidos e explícitos, a saber,
os que optavam pelo comunismo ou o facismo. Mesmo quando não ocorria esta definição extrema, e mesmo quando os intelectuais não tinham
consciência clara dos matizes ideológicos, houve penetração difusa das
preocupações sociais e religiosas nos textos, como viria a ocorrer de novo
nos nossos dias em termos diversos e maior intensidade.
(Antonio Candido. Educação pela noite e outros ensaios. 2. ed. São Paulo: Ática, 1989. p. 188.)
A crase não foi feita para humilhar ninguém.
(Ferreira Gullar. In: Ferreira Gullar. São Paulo: Global, 2005.
Coleção Melhores Crônicas.)
Detalhe de uma pintura
de Norman Rockwell
em que é destacado
o papel persuasivo da
palavra.
Norman Rockwell. Travelling Companions. Post Cover, March 6, 1948.
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100 UNIDADE 2 PalavRa e PeRsuasão
A geração de 30: Graciliano ramos
regência nominal
o debate deliberativo
A geração de 30: Graciliano Ramos
CAPÍTULO 1
LITERATURA
Mestiço (1934), de
Cândido Portinari.
Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP
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literatura
101 A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
O contexto de produção e
recepção da produção literária
da geração de 30
A segunda geração de escritores e artistas modernistas brasileiros é tradicionalmente situada entre 1930 e 1945. Nesse período de consolidação do
Modernismo no Brasil, quem produzia literatura modernista no país? Quem
era o público consumidor?
Meios de circulação
Na década de 1930, o crescimento da industrialização e da urbanização,
bem como o fortalecimento das camadas médias da sociedade, contribuiu
para o dinamismo da vida cultural no Brasil. Nesse contexto de desenvolvimento socioeconômico, a instrução pública tornou-se obrigatória nos anos
iniciais da escolaridade e a difusão da cultura artística e intelectual, além de
se dar por meio de livros, revistas e jornais, passou a ser veiculada também
pelo rádio, que teve uma grande expansão na época.
Com as reformas educacionais, textos de autores modernistas, como
Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Jorge de Lima, passaram a integrar
as antologias escolares e, assim, começaram a ter ampla circulação entre os
alunos do ensino secundário.
A segunda geração modernista, formada por romancistas, como Graciliano Ramos e José Lins do Rego, e por poetas, como Carlos Drummond de
Andrade, Cecília Meireles e Murilo Mendes, correspondeu a uma fase de maturidade da literatura brasileira, sendo, desde os anos 1930, uma referência
para o crescente público leitor brasileiro.
Ensino público
A Constituição de 1934, promulgada
no governo de Getúlio Vargas, estabeleceu o ensino primário gratuito e obrigatório. No período do governo Vargas,
foi estimulado também o desenvolvimento do ensino secundário, do ensino
técnico e do ensino superior, com a criação de novas escolas e universidades.
Esse estímulo ao ensino tinha como
objetivo preparar as gerações futuras
para assumir os postos de trabalho que
seriam gerados com os pretendidos
avanços econômicos e criar uma elite
intelectualizada que pudesse governar
o país no futuro.
Ilustração de J. Carlos (1884-1950)
feita para a revista Fon-Fon!.
Amplie seus conhecimentos sobre o Modernismo da geração de 1930, pesquisando em:
LIVROS
• Leia algumas das principais obras do
Modernismo de 30, como Vidas secas e São
Bernardo, de Graciliano Ramos; Fogo morto,
de José Lins do Rego; Capitães da Areia,
de Jorge Amado; Um certo capitão Rodrigo,
de Érico Veríssimo; Os ratos, de Dionélio
Machado; Reunião, de Carlos Drummond
de Andrade; Vinicius de Moraes – Todas as
letras (Companhia das Letras); Romanceiro
da Inconfidência, de Cecília Meireles.
FILMES
• O tempo e o vento, de Jayme Monjardim;
São Bernardo, de Leon Hirszman; Vidas
secas, de Nelson Pereira dos Santos;
Capitães da Areia, de Walter Lima Júnior;
Tieta do agreste, de Cacá Diegues; Vinicius
de Moraes, de Miguel Faria Jr.; Orfeu, de
Cacá Diegues.
MÚSICAS
• Ouça músicas relacionadas com o tema
do sertão e da seca, pesquisando na obra
de Elomar, Luís Gonzaga, Dominguinhos e
Luiz Vieira. Ouça também o disco Carlos
Drummond de Andrade – Antologia poética
(Philips, 1979), no qual o próprio poeta
declama seus poemas, ou acesse essas
declamações pela Internet.
SITES
A vida e as obras dos principais escritores do
Modernismo de 30 podem ser conhecidas em:
• www.graciliano.com.br
• www.fundacaojorgeamado.com.br
• www.jorgeamado.com.br
• www.carlosdrummond.com.br
• http://viniciusdemoraes.com.br
PINTURAS
• Conheça a obra do principal pintor brasileiro
que surgiu nos anos 1930: Cândido Portinari.
Veja também a evolução que teve a obra
de pintores como Tarsila do Amaral, Anita
Malfatti, Di Cavalcanti e Lasar Segall.
FIQUE CONECTADO!
Revista Fon-Fon!
José Olympio Editora
1001 Filmes/ Globo Filmes/
Paramount Home Entertainment
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102 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão
Rachel de Queiroz
Descendente de José de Alencar pelo
lado materno, Rachel de Queiroz (1910-
2003) nasceu em Fortaleza, Ceará. Em
decorrência da seca que se abateu
sobre esse Estado em 1915, mudou-se
com a família para o Rio de Janeiro em
1917 e, pouco tempo depois, foi para
Belém, onde morou durante dois anos
antes de retornar a Fortaleza.
Rachel de Queiroz tornou-se uma
escritora reconhecida no meio literário
com apenas 20 anos, quando publicou
O quinze (1930). Além de romancista,
dedicou-se ao teatro e, especialmente,
à crônica jornalística.
Em 1931, mudou-se para o Rio de
Janeiro, mas se manteve ligada à sua
fazenda, “Não me deixes”, em Quixadá,
no agreste do sertão cearense. Admiradora das ideias de Trotsky, foi presa em
1937, acusada de ser comunista.
Recebeu vários prêmios literários
e foi a primeira mulher a ingressar na
Academia Brasileira de Letras, em 1977.
O Modernismo em contexto
No âmbito nacional e internacional, o período de 1930 a 1945 foi marcado
por tensões políticas e econômicas, tais como a crise cafeeira, acentuada
pela quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929; a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à presidência do Brasil e encerrou a chamada República
Velha; a Intentona Comunista (1935); o Estado Novo (1937-1945); o fortalecimento do nazifascismo na Europa; o combate ao socialismo; a eclosão da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Como decorrência desse contexto, artistas e intelectuais foram influenciados por ideias comunistas e fascistas, além das religiosas, que fervilhavam na época, e produziram obras voltadas para o âmbito social e para a
crítica política ou marcadas por inquietações existenciais e religiosas.
O romance de 30
Na década de 1930, ocorreu no Brasil a consolidação do Modernismo. A
ideologia e os princípios estéticos modernistas propostos na fase anterior não
encontraram mais resistência e se tornaram presentes nas mais diversas artes. Na literatura, os romancistas da segunda geração modernista aderiram a
certos aspectos cultivados pelo Modernismo, como os temas nacionais e do
cotidiano e o cultivo de uma linguagem brasileira, mais popular e coloquial.
O regionalismo, em especial o nordestino, foi destaque no romance da
década de 1930. O romance regionalista se distinguiu pela consciência social, ao abordar criticamente a miséria e a exploração do trabalhador rural,
as agruras da seca e o abuso dos poderosos. Em razão do estilo ficcional
marcado pela rudeza, pela captação direta dos fatos e pela exploração das
relações entre o homem e o meio natural e social, o romance dessa década
foi chamado de neorrealista e de neonaturalista pelos críticos literários.
A obra A bagaceira (1928), de José Américo de Almeida (1887-1980), é considerada o marco inicial da literatura regionalista do Modernismo, cultivada
também por Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano
Ramos e, no Sul, por Érico Veríssimo.
Além da ficção regionalista, houve a produção de romances de sondagem psicológica, nos quais se destacam Lúcio Cardoso (1912-1968), Cornélio
Pena (1896-1958) e Otávio de Faria (1908-1980), e de romances psicológicos
permeados por traços religiosos e surrealistas, nos quais se inclui a ficção de
Jorge de Lima (1893-1953).
Rachel de Queiroz
Em O quinze (1930), romance de estreia de Rachel de Queiroz, já se verificam os traços marcantes da obra literária da escritora: prosa enxuta, visão crítica das relações sociais e análise psicológica das personagens. Nessa
obra, que tem como tema central a seca que castigou o Nordeste em 1915,
a autora, além de retratar sem sentimentalismos as mazelas da estiagem,
aborda também o coronelismo e a religiosidade do sertanejo.
Em João Miguel (1932), romance que, como O quinze, é ambientado no Ceará,
destaca-se a análise psicológica da personagem João Miguel, um sertanejo que,
depois de uma bebedeira, mata um homem, em um ato impensado, e é preso.
O Nordeste também é cenário dos romances Caminho de pedras (1937) e
As três Marias (1939). Produzido em um momento de ampla circulação das
Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press
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LITERATURA
103 A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
correntes ideológicas comunistas e integralistas (de inspiração fascista) no
Brasil, Caminho de pedras é um romance político que concilia uma história
amorosa e a defesa dos ideais socialistas. Em As três Marias, há uma aprofundamento da análise psicológica, que já tendia a ocupar o primeiro plano
da narrativa em Caminho de pedras.
Depois de Dora, Doralina (1975) e O galo de ouro (1985), Rachel de Queiroz
publicou, em 1992, seu último romance, Memorial de Maria Moura. A obra
fez um grande sucesso e rendeu à escritora o prêmio Jabuti de 1993, além de
ter sido adaptada para um seriado de TV em 1994.
Graciliano Ramos
Graciliano Ramos é o expoente da geração de 1930. O traço marcante de
sua prosa é a linguagem enxuta, baseada em frases curtas e no emprego
moderado de adjetivos. A linguagem do escritor se caracteriza também pela
utilização da sintaxe clássica, em oposição a construções mais próximas da
oralidade, amplamente exploradas pelos modernistas da década de 1920 e
por outros autores da geração de 1930.
Ao retratar em sua obra o universo do sertanejo nordestino, Graciliano
Ramos extrapolou o regional, o local, para atingir o universal, na medida em
que analisa a condição humana em meio à exploração social e ao meio natural hostil.
Em Caetés (1933), a primeira obra publicada pelo escritor, notam-se as
características naturalistas de sua prosa, enquanto nos romances seguintes, São Bernardo (1934) e Angústia (1936), destaca-se o aprofundamento
psicológico.
Em Vidas secas (1938), único romance do autor escrito em 3a
pessoa, um
narrador dá ao leitor acesso ao universo mental pobre e fragmentado de
cinco personagens: Fabiano, sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino
mais novo e a cachorra Baleia. Na obra, que você vai conhecer a seguir, o
enredo é construído em torno da vida dessa família de retirantes, que, em
pleno agreste, vive os sofrimentos provocados pela estiagem e a opressão
causada pelos poderosos.
FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, um trecho do primeiro capítulo de Vidas secas.
Mudan•a
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado
bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia
horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu
longe, através dos galhos pelados da catinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, sinha Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio,
o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia
iam atrás.
Graciliano Ramos
Filho de um casal de sertanejos de
classe média, Graciliano Ramos (1892-
1953) nasceu em Quebrângulo, Alagoas.
Fez os estudos secundários em Maceió,
mas não cursou nenhuma faculdade.
Além de se dedicar à literatura, o escritor exerceu atividades ligadas ao jornalismo e à política. Em 1936, foi preso,
acusado de subversão. Essa experiência
de prisão foi registrada em Memórias do
cárcere (1953), obra em que denuncia o
autoritarismo do governo de Vargas. Em
1945, ingressou no Partido Comunista
e, após a viagem que fez à Rússia e a
outros países socialistas na década de
1950, escreveu Viagem (1954), obra em
que relata essa nova experiência.
Na época em que publicou Viagem,
Graciliano Ramos já era reconhecido
como o maior romancista brasileiro
depois de Machado de Assis. Além de
romances, escreveu também contos e
crônicas. Suas obras tiveram reconhecimento internacional e foram traduzidas
para muitas línguas, como o inglês, o
alemão, o italiano, o espanhol, o francês, o russo e o polonês.
Arquivo/Estadão Conteúdo
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104 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se
a chorar, sentou-se no chão.
— Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.
Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno
esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu
algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou
os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.
A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que
eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
— Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria
responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário — e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era
culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a
margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.
Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a ideia de abandonar o filho naquele
descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto,
examinou os arredores. Sinha Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na
bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados no estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu
e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a
espingarda a sinha Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos
que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinha Vitória aprovou esse
arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.
E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silencio grande.
Ausente do companheiro, a cachorra Baleia tomou a frente do grupo. Arqueada, as
costelas à mostra, corria ofegando, a língua fora da boca. E de quando em quando se
detinha, esperando as pessoas, que se retardavam.
aboiar: cantar o aboio,
canto usado por vaqueiros
para guiar o gado.
aió: bolsa de caça.
cambaio: indivíduo que
tem as pernas fracas e
mostra dificuldade para
andar.
cólera: ira, raiva intensa.
escanchado: sentado
sobre algo à maneira de
quem monta.
irresoluto: indeciso,
titubeante.
quarto: quadris.
légua: medida de
distância que corresponde
aproximadamente a 6 600
metros.
moribundo: que está
morrendo, agonizando.
Cena do filme Vidas
secas (1963), dirigido
por Nelson Pereira dos
Santos.
Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na
areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça: a fome apertara demais os
retirantes e por ali não existia sinal de comida. Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos
do amigo, e não guardava lembrança disto. Agora, enquanto parava, dirigia as pupilas
brilhantes aos objetos familiares, estranhava não ver sobre o baú de folha a gaiola pequena onde a ave se equilibrava mal. Fabiano também às vezes sentia falta dela, mas
logo a recordação chegava. Tinha andado a procurar raízes, à toa: o resto da farinha
Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press
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LITERATURA
105 A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
acabara, não se ouvia um berro de rês perdida na catinga. Sinha Vitória, queimando o
assento no chão, as mãos cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas,
tudo numa confusão. Despertara-a um grito áspero, vira de perto a realidade e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula. Resolvera de
supetão aproveitá-lo como alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era
mudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a família falava pouco.
E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas. O louro aboiava, tangendo um gado inexistente, e latia arremedando a cachorra.
(Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 9-12.)
1. No primeiro capítulo de Vidas secas, é narrado o deslocamento da família de Fabiano
pelas terras do sertão nordestino.
a. Como é caracterizada a paisagem pela qual a família caminha?
b. Nessa obra, Graciliano Ramos denuncia a situação miserável dos retirantes. Que
fato narrado no texto evidencia essa situação de absoluta miséria?
c. O romance de 30 é também chamado de neorrealista e de neonaturalista pela crítica literária. Considerando o primeiro parágrafo do texto, responda: O narrador de
Vidas secas mantém a imparcialidade típica da prosa realista e naturalista? Justifique sua resposta com elementos desse parágrafo.
2. Os diálogos são raros no romance.
a. No momento em que o menino mais velho começa a chorar e se senta no chão,
exausto, quais são as primeiras reações e qual é o desejo de Fabiano diante daquela
situação? O que essas reações revelam a respeito dessa personagem?
b. E sinhá Vitória, como reage nessa circunstância? Como se comunica com Fabiano?
c. O que os sons emitidos pelo papagaio revelam sobre a comunicação na família?
d. Levante hipóteses: Que efeito de sentido essa escassez de diálogos constrói na narrativa?
3. Ao contrário dos diálogos, a interioridade das personagens é
amplamente explorada ao longo do romance.
a. No texto em estudo, Fabiano e sinhá Vitória revelam ter
consciência crítica a respeito da situação de desterro e de
miséria em que estavam? Justifique sua resposta com elementos do texto.
b. Releia este trecho:
“Baleia [...] enquanto parava, dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares, estranhava não ver sobre
o baú de folha a gaiola pequena onde a ave se equilibrava mal. Fabiano também às vezes sentia falta dela, mas
logo a recordação chegava.”
Em determinadas circunstâncias, a cachorra Baleia é humanizada, e os retirantes,
ao contrário, são animalizados. Identifique esse traço da obra no trecho acima.
c. Nesse contexto, que sentido a palavra chegava em "a recordação chegava", adquire?
Como uma paisagem ensolarada, muito seca e quase sem
vida, formada pela caatinga, por uma planície de terra vermelha com ossadas pelo chão e por animais moribundos
rodeados por voos de urubus.
O fato de a família comer o próprio bicho de estimação, o papagaio, por não ter mais nada com o que se alimentar.
Não; o narrador não mantém a imparcialidade diante do sofrimento das personagens, conforme atesta a presença do termo infelizes, indicativo de apreciação, no trecho “Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro”.
2. a) Fabiano insulta o menino (“condenado do diabo”), bate nele, pragueja, tem o desejo de matá-lo e, depois, pensa em abandoná-lo
naquele descampado. Tais reações revelam a rudeza e a brutalidade da personagem (“Tinha o coração grosso”).
Ela estira o beiço indicando uma direção e, com sons guturais, afirma que estavam perto do lugar onde pretendiam chegar.
2. c) Revelam que a família
falava pouco, pois o papagaio, em vez de imitar a
fala humana, imitava os latidos da cadela Baleia e o
aboio do vaqueiro Fabiano.
O silêncio das personagens reforça o caráter rude delas e amplia a
sensação de aridez e de hostilidade do ambiente.
3. a) Não. Para Fabiano, a seca e as mazelas dela decorrentes pareciam algo inerente à sua vida (“A seca aparecia-lhe como um fato necessário”), e sinhá Vitória,
naquela circunstância extrema, não consegue articular logicamente os pensamentos (“pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de
casamento, vaquejadas”).
O fato de Baleia estranhar a ausência da ave eleva a cachorra ao nível humano,
ao passo que a insensibilidade de Fabiano o faz descer à condição de animal.
O sentido de “passava“, “ia embora".
Os retirantes (1944), de
Cândido Portinari.
REGISTRE
NO CADERNO
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, SP
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106 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
4. Releia este trecho:
“Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho
aos bichos do mato. Entregou a espingarda a sinha Vitória, pôs o filho no cangote,
levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como
cambitos.”
a. Os diminutivos são raros em Vidas secas. No contexto da narrativa, que efeito o uso
dos diminutivos, no trecho, produz?
b. O narrador onisciente é aquele que, além de se apresentar em 3» pessoa, conhece
tudo sobre o que é narrado, inclusive o mundo interior das personagens. Com
base no trecho e no restante do texto lido, responda: Com que finalidade Graciliano Ramos adotou a perspectiva do narrador onisciente em Vidas secas?
c. O discurso indireto livre foi amplamente utilizado em Vidas secas. Essa técnica
narrativa consiste na fusão da fala do narrador à fala ou ao pensamento de
uma personagem. Identifique no trecho a frase em que há a presença do discurso indireto livre e levante hipóteses: Que efeito o emprego dessa técnica
produz na narrativa?
5. Além do discurso indireto livre, o romance utiliza outros recursos formais.
a. Um desses recursos é a não linearidade, ou seja, os fatos narrados não seguem
uma ordem cronológica. Que episódio narrado no texto em estudo exemplifica
esse traço formal da obra?
b. Os filhos de Fabiano e de sinhá Vitória não têm nomes. Levante hipóteses: Que
efeito de sentido esse recurso constrói no texto?
6. O romance de 30 retomou a concepção determinista presente na prosa naturalista,
explorando a relação entre o homem e o meio natural. No texto em estudo, como se
dá essa relação? Nesse contexto, que sentido o título da obra adquire?
Os diminutivos quebram a atmosfera pesada da cena, pois expressam o afeto de Fabiano pelo filho;
no caso de bracinhos, além de expressar afeto, há o reforço da ideia de magreza da criança.
4. b) Com a finalidade de
expressar os sentimentos
e os conflitos mais íntimos
das personagens (“Fabiano teve pena”).
“Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato.” Essa técnica relativiza a presença do narrador e dá ao
leitor a impressão de estar em contato com o mundo interior da personagem Fabiano.
O momento de descanso sobre a areia do rio seco, onde a família se alimenta do papagaio de estimação.
Esse episódio ocorre em um tempo anterior ao tempo em que as personagens se encontram.
5. b) Professor: Sugerimos abrir a discussão com a classe, pois há mais de uma possibilidade de resposta.
Sugestão: O nome próprio é uma maneira de conferir identidade e singularidade a algo ou alguém; portanto, a ausência dele ressalta, criticamente, a ideia de
existência insignificante e miserável do retirante, entregue a uma situação de descaso e de abandono.
Fabiano e sua família são vítimas do meio natural inóspito, hostil; por isso, como
um produto do meio, são
brutalizados, animalizados.
O título da obra traduz a vida
miserável dos retirantes,
que, expostos à seca, são
desprovidos dos meios de
sobrevivência física e privados da própria condição de
seres humanos.
Por meio da leitura do texto de Graciliano Ramos feita neste capítulo, você viu que:
• o romance de 30 é marcado pela rudeza, pela captação direta dos fatos e pela exploração das relações entre o homem e o meio natural e social; por isso, é chamado de neorrealista e de neonaturalista;
• Vidas secas faz uma denúncia da vida miserável do nordestino pobre, exposto às agruras da seca, da migração, da ignorância, da opressão dos poderosos;
• em Vidas secas, a narrativa não é linear, os diálogos são raros e há exploração da interioridade das personagens, feita principalmente pelo uso do discurso indireto livre.
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107 A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
Você vai ler, a seguir, dois textos. O primeiro é um fragmento do poema “O retrato
do sertão” (1978), de Patativa do Assaré, e o segundo é a letra da canção “Segue o seco”
(1994), de Carlinhos Brown.
Patativa do Assaré
Antônio Gonçalves da Silva (1909-2002) nasceu em Serra de Santana,
região próxima da cidade de Assaré, no Ceará.
Ainda criança começou a trabalhar na roça para ajudar no sustento da
família e, logo que iniciou seus estudos, aos 12 anos, passou a escrever
poesia. Um pouco depois, iniciou-se na arte do repente e, devido à beleza
do seu canto poético, foi chamado de Patativa, nome de uma ave de canto
singular.
Foi poeta popular, compositor e cantor, e sua produção poética é amplamente reconhecida.
agoureiro: que prenuncia
acontecimentos ou notícias
sinistras, trágicas.
cachimbeira: parteira.
estio: verão.
mãe-de-lua: um tipo de
ave.
sariema (ou seriema):
ave que vive em campos e
cerrados.
ENTRE TEXTOS
Texto 1
O retrato do sert‹o
Se o poeta marinheiro
Canta as belezas do mar,
Como poeta roceiro
Quero o meu sertão cantar
Com respeito e com carinho.
Meu abrigo, meu cantinho,
Onde viveram meus pais.
O mais puro amor dedico
Ao meu sertão caro e rico
De belezas naturais.
[...]
É diferente da praça
A vida no meu sertão;
Tem graça, tem muita graça
Uma noite de São João.
No clarão de uma fogueira,
Tudo dança a noite inteira
No mais alegre pagode,
E um caboclo bronzeado
Num tamborete sentado
Tocando no pé de bode.
[...]
Aqui, do mundo afastado,
Acostumei-me a viver,
Já nasci predestinado,
Sabendo amar e sofrer.
Neste meu sertão bravio,
Nas belas tardes de estio,
Da chapada ao tabuleiro,
Eu louvo, adoro e bendigo
O ladrar do cão amigo
E o aboiar do vaqueiro.
Se a clara noite aparece,
Temos a mesma beleza.
Tudo é riso, paz e prece,
E a festa da natureza
Seu compasso continua.
A noturna mãe-de-lua
Solta o seu canto agoureiro,
Sua funérea risada,
Vendo a filha imaculada
Brilhando o sertão inteiro.
[...]
Jarbas Oliveira/Estadão Conteúdo
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108 UNIDADE 2 PalavRa e PeRsuasão
Porém, se ele é um portento
De riso, graça e primor,
Tem também seu sofrimento,
Sua mágoa e sua dor.
Esta gleba hospitaleira,
Onde a fada feiticeira
Depositou seu condão,
É também um grande abismo
Do triste analfabetismo,
Por falta de proteção.
[...]
Eu não ignoro nada
Deste sertão sofredor
Que puxa o cabo da enxada
Sem arado e sem trator.
Pobre sertão esquecido
Que já está desiludido
E não acredita mais
Nas promessas e nos tratos
E juras de candidatos
Nas festas eleitorais.
Meu sertão da sariema,
Sertão queimado do sol,
que não conhece cinema,
Teatro, nem futebol,
Sertão de doença e fome
Onde o pobre assina o nome
Com uma pena na mão,
Para, enganado e inocente
Dar um voto inconsciente
Quando é tempo de eleição.
Este sertão que persiste
Soltando os mesmos gemidos
É qual purgatório triste
Das almas dos desvalidos.
Ele não tem providência
De remédio ou de assistência
Pra sua gente roceira,
Dentro do mais pobre quarto
A mulher morre de parto
Nos braços da cachimbeira.
(Patativa do Assaré. Disponível em: http://opovonalutafazhistoria.blogspot.com.br/2011/06/
o-retrato-do-sertao-patativa-do-assare.html?m=1. Acesso em: 12/2/2016.)
Texto 2
Segue o seco
A boiada seca
Na enxurrada seca
A trovoada seca
Na enxada seca
Ivan Cruz/FuturaPress
Segue o seco sem sacar que o caminho é seco
Sem sacar que o espinho é seco
Sem sacar que seco é o Ser Sol
Sem sacar que algum espinho seco secará
E a água que sacar será um tiro seco
E secará o seu destino seca
Ô chuva, vem me dizer
Se posso ir lá em cima prá derramar você
Ô chuva, preste atenção
Se o povo lá de cima vive na solidão
UNIDADE 2 PalavRa e PeRsuasão 108
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109 A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
Carlinhos Brown
Antônio Carlos Santos de Freitas nasceu em Salvador, Bahia, em 1963.
Cantor, compositor, percussionista e
artista plástico, Carlinhos Brown é líder
da banda Timbalada e tem trabalhos
produzidos em parceria com Arnaldo
Antunes e Marisa Monte, cantora que
gravou a música “Segue o seco” (no álbum Verde, anil, amarelo, cor-de-rosa e
carv‹o, de 1994).
Se acabar não acostumando
Se acabar parado calado
Se acabar baixinho chorando
Se acabar meio abandonado
Pode ser lágrimas de São Pedro
Ou talvez um grande amor chorando
Pode ser o desabotoado céu
Pode ser coco derramando
(Carlinhos Brown. Disponível em: http://www.letras.com.br/
#!marisa-monte/segue-o-seco. Acesso em: 12/2/2016.)
Jack Vartoogian/Getty Images
1. Em “O retrato do sertão”, Patativa do Assaré mostra duas faces antagônicas do sertão.
a. Explique quais são essas faces, utilizando trechos do texto para
comprovar sua resposta.
b. Quais são as críticas que o autor faz ao retratar o sertão? A quem ele
dirige essas críticas? Justifique sua resposta com elementos do texto.
2. Em relação ao texto 2, responda:
a. Na primeira estrofe, o eu lírico cria imagens plásticas a partir da repetição da palavra seca. Considerando o contexto, levante hipóteses:
Quais são essas imagens? Justifique sua resposta com expressões do
texto.
b. Na segunda estrofe, o eu lírico explora determinados sentidos do verbo sacar. Identifique esses sentidos.
3. A propósito da sonoridade de “Segue o seco”, observa-se que o texto tem
um ritmo bem-marcado, principalmente, na primeira estrofe.
a. Tendo em vista o título “Segue o seco”, que ideia esse ritmo sugere?
b. Além do ritmo, a aliteração é bastante explorada no texto. Identifique os fonemas que se repetem e explique o efeito resultante dessa
repetição.
4. No texto “Segue o seco”, há uma crítica semelhante à que é feita no texto “O retrato do sertão”. Qual é essa crítica? Justifique sua resposta com
um trecho do texto.
5. O poema “O retrato do sertão”, a letra da canção “Segue o seco” e o
romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, foram produzidos em diferentes momentos do século XX, mas fazem referência aos mesmos problemas, presentes na vida do sertanejo nordestino por várias gerações.
Que papel social esses textos cumprem nas diferentes esferas em que
circulam?
1. b) O autor critica a situação de abandono (“sertão esquecido”) em que o sertanejo vive e a situação de ignorância, que leva a um “voto inconsciente”. Suas críticas são dirigidas aos políticos que, quando candidatos,
fazem promessas de mudança, enganando o povo inocente.
1. a) As faces do sertão são “amar e sofrer”,
pois ali há belezas naturais (“belas tardes de
estio”), cultura popular e alegria (“Uma noite
de São João”, “Tudo dança a noite inteira”),
mas há também miséria (“Sem arado e sem
trator”, “doença e fome”, “analfabetismo”) e
ausência de bens culturais (Não conhece cinema / Teatro, nem futebol”).
Boi magro na terra seca (“A boiada seca / Na enxurrada seca”), a enxada que bate na
terra seca, provocando um forte som seco (“A trovoada seca / Na enxada seca)”.
Os sentidos são “perceber”, nos quatro primeiros versos, e
“tirar para fora bruscamente”, no quinto verso.
Sugere a marcha, a caminhada dos retirantes.
Os fonemas /s/ e /k/. A repetição desses fonemas contribui para a construção sonora e rítmica do texto, ressaltando a ideia de marcha.
A crítica à situação de abandono em que vivem os nordestinos que moram na região agreste, conforme
indica o trecho “o povo lá de cima vive na solidão”.
O papel de sensibilizar os leitores/ouvintes para os problemas dos nordestinos pobres,
que vivem em situação de miséria e de abandono social constante.
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110 UNIDADE 2 PalavRa e PeRsuasão
ENTRE
SABERES
110 UNIDADE 2 PalavRa e PeRsuasão
A obra de Villa-Lobos na
perspectiva de Murilo Mendes
[...]
Confesso que sinto mais o Brasil nas serestas, nos choros,
nas cirandas, nos hinos cívicos de Villa do que nos poemas de
Gonçalves Dias ou Castro Alves, nos romances de José de Alencar e Machado de Assis, nos quadros e painéis de Portinari. É,
sem dúvida, uma opinião pessoal: mas sei de muita gente boa
que pensa assim também. Villa poderá ser desagradável, áspero, barroco, tudo o que quiserem; não só poderão dizer que
não é grande músico. Se disserem isso, sai barulho. Quem não
compreendeu Villa-Lobos não compreendeu esta mistura de
tendências e atitudes, esta vasta ópera desordenada que é o
Brasil — o Brasil que escapa a qualquer classificação acadêmica, que faz o desespero dos sociólogos e dos observadores
munidos de fichas e preconceitos. O Brasil da selva amazônica,
do sertão carioca, do carnaval carioca que morreu, mas cuja
tradição persiste apesar de tudo, o Brasil da política informe,
do candomblé baiano, do bumour mineiro, dos impulsos pernambucanos, dos cantos dos pretos de exílio, o Brasil cético e
supersticioso, desconfiado das soluções convencionais, o Brasil
do ao Deus dará, da sensualidade mole, do lirismo nostálgico,
da ternura, da camaradagem, do coração aberto a todos os povos; este Brasil afro-europeu que querem copacabanizar, standardizar, planificar, cretinizar, mas que resiste... e resiste, antes
de tudo, pela música de Villa-Lobos, este grande herói do Brasil
humano e universal.
Não posso disfarçar o prazer com que escrevo sobre Villa-Lobos. Ninguém poderá esperar de mim artigo técnico, que escapa
à competência desta seção e à minha própria competência: tratase de um simples desabafo de poeta diante do homem a quem
devemos, além de admiração pela sua espantosa, comovida gratidão. Porque, sem sombra de patriotismo, digo que Villa-Lobos
reconstituiu-nos a imagem de um Brasil que, com o surto dos
novos costumes, de americanização, do rádio, etc., talvez se perdesse para sempre, se a sua intuição de artista não no-lo tivesse
gravado, e de maneira genial.
[...]
(Murilo Mendes. Formação de discoteca e outros artigos sobre música.
São Paulo: Edusp, 1993. p. 116-8. Texto publicado originalmente no suplemento
“Letras e Artes”, do jornal carioca A manhã, em 21/9/1947.)
Mundo novo
e velha civiliza•‹o
A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso
território, dotado de condições naturais, se não adversas, largaEntre 1930 e 1945, as concepções estéticas e ideológicas do Modernismo se consolidaram no espaço cultural
brasileiro. Para saber mais sobre os acontecimentos políticos e as produções artísticas e
intelectuais dessa época, leia
os textos a seguir.
O Modernismo e o Estado Novo
Alguns modernistas tiveram seu trabalho financiado pelo Estado Novo. O afresco acima, produzido
por encomenda do governo Vargas, integra a série
“Ciclos econômicos”, de Portinari. A obra tinha em
vista enaltecer os trabalhos que contribuíram para
a construção da civilização brasileira.
Carnaúba (1944), afresco de Cândido Portinari
pintado no Palácio Gustavo Capanema, antiga
sede do Ministério da Educação e Cultura no Rio
de Janeiro.
Coleção particular
ARTE • HISTÓRIA •
LITERATURA
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111 a geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. o debate deliberativo CAPÍTULO 1
A perseguição
antissemita no Estado Novo
Apesar de não ser antissemita,
Getúlio Vargas perseguiu judeus
de origem alemã, a fim de agradar ao governo nazista. Uma de
suas vítimas foi Olga Benário
Prestes, esposa do líder comunista Luís Carlos Prestes, deportada
para a Europa e encaminhada
a um campo de concentração.
Olga foi assassinada em uma câmara de gás em 1942.
(Miguel Castro Grego
et al. Op. cit., p. 172.)
mente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade
brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de
países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas
ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes
desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra.
Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de
aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização
que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de
nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de
outro clima e de outra paisagem.
Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a
tentativa, caberia averiguar até onde temos podido representar aquelas
formas de convívio, instituições e ideias de que somos herdeiros.
[...]
(Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995. p. 31.)
O Brasil e a Segunda
Guerra Mundial
Em agosto 1942, pressionado por manifestações populares que defendiam a democracia no país, o governo do Estado Novo abandonou a neutralidade e declarou querra ao Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão.
A atuação militar brasileira, porém, só se efetivou em 1944, quando os pracinhas — soldados brasileiros que integravam a FEB, força militar criada
em 1943 para participar da guerra — desembarcaram na Itália, liderados
pelo general Mascarenhas de Morais.
A preparação militar da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi feita
pelos norte-americanos no Kansas, centro-oeste dos Estados Unidos, entre
1943 e 1944. A demora dessa preparação e a desconfiança quanto à capacidade militar dos soldados brasileiros levaram o povo a criticar a FEB e a
participação do Brasil na guerra.
Entre 1944 e 1945, o país enviou a combate cerca de 25 mil soldados. Na
opinião de alguns, seu papel no conflito foi estratégico, mesmo com a Itália tendo sido vencida e os exércitos alemães tendo mantido sua posição
no território italiano.
[...]
Com o fim da guerra, em agosto de 1945, os soldados brasileiros voltaram a sua pátria e comemoraram a vitória. Para Vargas, isso teve um
sabor amargo: os próprios soldados passaram a questionar a incoerência
da luta contra a ditadura nazista em nome da democracia num momento em que, dentro do próprio Brasil, as liberdades civis eram limitadas
por um regime ditatorial.
Em seu retorno, os pracinhas foram recebidos como heróis em várias
manifestações populares realizadas em todo o país.
(Miguel Castro Cerezo et al. Enciclopédia do estudante − História do Brasil −
das origens ao século XXI. São Paulo: Moderna, 2008. v. 16, p. 174-5.)
Cartaz do filme brasileiro que conta a
vida de Olga Benário, lançado em 2004.
Olga: Muitas paixões numa só vida. Direção: Jayme Monjardim. [S.I.]: Globo Filmes, 2004
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UNIDADE 2 PalavRa e PeRsuasão 112
Agora, discuta com os colegas:
1. Na década de 1930, muitos intelectuais faziam uma análise crítica da realidade brasileira com base em seus aspectos sociológico, antropológico e político-econômico.
Um dos importantes pensadores desse período foi o historiador Sérgio Buarque de
Holanda (1902-1982), que, na obra Raízes do Brasil (1936), refletiu sobre o processo de
formação da sociedade brasileira. De acordo com o texto “Mundo novo e velha civilização”, de sua autoria, por que o brasileiro é um desterrado em sua própria terra?
2. O maestro e compositor Heitor Villa-Lobos é considerado o expoente da música modernista no Brasil e um dos principais nomes da música clássica do país. Qual era a
importância da música desse compositor, na opinião de Murilo Mendes, e por que ele
considerava a música de Villa-Lobos o retrato do Brasil?
Porque nossas ideias, nossas formas de convívio e nossas instituições não
são propriamente brasileiras, pois seguem modelos culturais europeus que
foram aqui implantados.
A importância da música de Villa-Lobos é ser uma mistura de tendências e tradições, como o Brasil, e, em meio aos novos costumes da época, tais como o rádio e a americanização, permanecer como um retrato cultural legitimamente brasileiro.
3. Na Segunda Guerra Mundial, o Brasil se posicionou ao lado dos Aliados (grupo de
países formado pelo Reino Unido, pela França, pela Polônia e pelos Estados Unidos),
lutando contra os países do Eixo. Essa participação na guerra evidenciou uma contradição do governo de Vargas que contribuiu para o fim do Estado Novo. Em que
consiste tal contradição?
A contradição de combater na guerra o que se praticava internamente, ou seja, o Brasil lutou contra a ditadura nazista, embora
o próprio governo de Vargas fosse um regime ditatorial que cerceava as liberdades civis, além de perseguir judeus alemães.
Bachiana n¼ 2: ÒO trenzinho do caipiraÓ
As Bachianas brasileiras, uma série de nove composições escritas por Heitor
Villa-Lobos (1887-1959) entre 1930 e 1945, estão entre as mais populares do
músico. Nessa obra, o compositor se inspirou na música barroca de Johan Sebastian Bach e na música folclórica brasileira, da qual fez uso de instrumentos
como o chocalho, o reco-reco, o ganzá e o pandeiro, entre outros. “O trenzinho
do caipira”, da Bachiana no
2, é uma peça bastante conhecida e se caracteriza
por imitar o som que uma locomotiva faz assim que começa a funcionar.
Anos depois da composição de “O trenzinho caipira”, o poeta Ferreira Gullar
escreveu uma letra para acompanhar sua melodia: “Lá vai o trem com o menino
/ La vai a vida a rodar / La vai ciranda e destino / Pro dia novo encontrar [...]”.
Ouça na Internet essa composição de Heitor Villa-Lobos e a versão com a
letra de Ferreira Gullar.
Estrada 47
O filme brasileiro Estrada 47, baseado em fatos reais, narra o drama vivido por um grupo de soldados da FEB
durante a Segunda Guerra, depois de
sofrer um ataque de pânico coletivo nas
imediações do Monte Castelo, na Itália.
Cena do filme
Estrada 47, de 2015.
Primo Filmes
AFP
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113 a geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. o debate deliberativo CAPÍTULO 1
MUNDO DIVERSIDADE CULTURAL
Você viu nesta unidade que o Brasil, embora tenha lutado contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial, viveu no próprio território, na mesma época, uma ditadura que
cerceava direitos civis e perseguia judeus alemães.
O texto a seguir comenta a atual situação de busca de refúgio no Brasil por migrantes
de origem não europeia. Leia-o e, depois, discuta com os colegas e o professor as questões
propostas.
Por que integrar Ž preciso?
O desastre em Mariana (MG) foi um triste exemplo do que é perder parte da vida
abruptamente. Pessoas que fogem de seus países por medo da destruição causada por
conflitos ou catástrofes naturais vivenciam traumas. Os mais de 20 milhões de refugiados ao redor do mundo carregam histórias que não cabem em suas bagagens. GarantirRodrigo Gazzanel/FuturaPress
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114 UNIDADE 2 PalavRa e PeRsuasão
lhes dignidade e condições para exercer o direito à vida e seu desenvolvimento deve ser
a premissa que orienta políticas de acolhimento e integração.
Embora mais de 5 mil solicitações de refúgio já tenham sido indeferidas pelo Conare, o Brasil tem mantido uma postura de acolhimento a refugiados – hoje mais de
mil no país. Facilitar o acolhimento é importante porque uma via legal e segura para
acessar o país é uma das formas de combate à exploração no transporte e contrabando
de pessoas.
Com uma população de mais de 200 milhões, dos quase 1 milhão de estrangeiros
residentes no Brasil a maioria tem origem europeia, segundo dados da Polícia Federal
até outubro de 2015. Enquanto estrangeiros seriam quase 0,5% da população residente
no país, aqueles com status de refúgio somam quase 0,004% – cifra bastante modesta
para justificar afirmações sobre o risco que trazem ao mercado de trabalho.
Enquanto a xenofobia pouco atinge aqueles de origem europeia, casos de crimes
de ódio contra congoleses, haitianos e migrantes de países em desenvolvimento foram
reportados pela mídia em 2015. A infeliz e precipitada associação entre o Islamismo e o
terrorismo é também frequente. O Congresso tem reconhecido o problema e convocado audiências sobre o assunto. O Ministério da Justiça empregou esforços em campanha contra a xenofobia, frustrados após um deslize.
[...]
Promover a integração é também uma oportunidade para promover um desenvolvimento saudável da sociedade civil e da democracia e manter o patrimônio que é a
diversidade brasileira. Para refugiados congoleses atendidos pelo Adus: “O Brasil é um
país solidário, eu senti o amor do povo brasileiro. Aqui pode ter crime e violação, mas
também tem amor. Politicamente sou refugiado, mas culturalmente não. Meus ancestrais africanos também estão aqui, meus irmãos e família, então eu tenho que ter direitos como as pessoas que estão aqui. O Brasil tem uma capacidade grande, tem mais
pra ajudar.”
Marcelo Haydu é diretor do Adus | Instituto para Reintegração de Refugiados, instituição que desde atende refugiados, solicitantes de refúgio e pessoas em situação análoga ao refúgio nos programas de reintegração,
orientação de trajeto e advocacy.
(Disponível em: http://www.adus.org.br/2016/01/por-que-integrar-e-preciso/#sthash.yZrfvdvE.dpuf. Acesso em: 12/2/2016.)
1. A perseguição a estrangeiros pode ser considerada atualmente uma prática superada?
2. Você conhece ou convive com algum imigrante? Como é a situação de vida dele no país?
3. Você conhece alguém que saiu do Brasil para viver em outro país? Como é a situação
de vida dessa pessoa em terras estrangeiras?
4. Você considera que tem motivos para sair do Brasil e viver em outro país? Em quais
países viveria? Por quê?
5. Qual é a sua opinião sobre o Brasil receber imigrantes?
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
115 A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
LÍNGUA E LINGUAGEM
Regência nominal
FOCO NO TEXTO
Leia o fôlder a seguir.
(Disponível em: http://www.mppe.mp.br/mppe/cidadao/campanhas/ultimas-noticias-campanhas/
188-acao-bem-me-quer-combate-a-violencia-contra-a-mulher. Acesso em: 10/3/2016.)
1. Observe os créditos na parte central do fôlder e relacione-os ao texto à direita.
a. Qual é a instituição que o produziu?
b. A quem ele se dirige?
c. Qual é a campanha por ele divulgada?
O Ministério Público de Pernambuco.
À sociedade em geral, mas especialmente a pessoas que
conhecem mulheres que sofrem violência doméstica.
Campanha de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher.
REGISTRE
NO CADERNO
Ação Bem-me-quer - combate à violência contra a mulher
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116 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão
2. Releia o enunciado principal:
“Alguém que você quer bem sofre com a violência doméstica?”
Relacione-o às imagens do fôlder:
a. Compare as imagens da flor à direita e ao centro: Qual é a diferença entre elas?
b. Há uma expressão desse enunciado que remete a uma brincadeira relacionada a
flores. Qual é essa expressão e qual é a brincadeira?
c. Levante hipóteses: O que representam as imagens de cada uma das duas flores e
qual é a relação entre elas e o assunto abordado no fôlder?
3. No capítulo anterior, você estudou regência verbal. No enunciado principal do fôlder,
a regência do verbo querer não está de acordo com a norma-padrão.
a. Identifique qual é esse desacordo.
b. Como ficaria a construção na norma-padrão?
c. Com base em sua resposta ao item b, discuta com os colegas e o professor e levante hipóteses: Por que se optou, no fôlder, por utilizar a forma não convencional da
regência?
4. Releia o texto verbal à esquerda do fôlder.
a. Segundo ele, além das campanhas, quais são as outras ações realizadas pela
instituição?
b. Sem voltar ao fôlder, escreva em seu caderno as expressões a seguir, relacionando
as duas colunas de acordo com o sentido geral do texto.
unido dos direitos
combate contra a mulher
violência à violência
redução de estudos
apoio a você
elaboração da violência
implementação à mulher
c. Discuta com os colegas e o professor: Além do sentido do texto, qual outra estratégia você utilizou para conseguir relacionar as colunas no item b?
5. Releia a primeira coluna do item b da questão 4 e levante hipóteses:
a. Quais desses nomes derivam de verbos? Identifique-os, bem como aos verbos dos
quais derivam.
b. As preposições regidas pelos nomes são as mesmas regidas por seus respectivos
verbos? Justifique sua resposta com exemplos.
6. Seguindo o mesmo princípio da questão 5:
a. Indique quais nomes derivam dos seguintes verbos: chegar, disputar, perder, cortar,
embarcar.
b. Discuta com os colegas e o professor e encontre outras duplas de verbo e nome
correspondente.
Uma imagem é maior e está se despetalando; a outra é menor e está inteira.
A expressão quer bem remete à brincadeira bem-mequer, na qual se vão tirando as pétalas das margaridas.
A flor despetalada representa a mulher que sofre violência e a
flor inteira representa a mulher que tem seus direitos respeitados, com apoio do Ministério Público.
Segundo a norma-padrão, querer com sentido de “ter afeto por”
rege a preposição a (é transitivo indireto).
Alguém a quem você quer bem sofre com a violência doméstica?
Professor: Abra a discussão com a classe: para se aproximar mais da população, com uma linguagem mais
próxima da fala, porque na forma com a regência padrão haveria uma repetição excessiva do som “em”, etc.
Elaboração de estudos, pesquisas e projetos e implementação dos direitos da mulher.
unido a você, combate à violência, violência contra
a mulher, apoio à mulher, elaboração de estudos,
redução da violência, implementação dos direitos
As preposições que cada uma dessas palavras exige ou aceita como complemento.
Unido (unir), combate (combater), redução (reduzir), apoio (apoiar),
elaboração (elaborar), implementação (implementar).
Em alguns casos, sim, como unido a você e ele se uniu a você.
Em outros, não, como em combate à violência e ele combateu
a violência, ou implementação de projetos e o órgão implementa projetos.
Chegada, disputa, perda, corte, embarque.
Possibilidades variadas de respostas, entre elas: estudar – estudo, perdoar – perdão, palpitar –
palpite, divulgar – divulgação, acertar – acerto.
REGISTRE
NO CADERNO
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língua e
linguagem
117 A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
No estudo do fôlder, você viu que alguns nomes se ligam a seus complementos por
preposições. É o caso de expressões como combate à violência, apoio à mulher, elaboração
de estudos. Há nomes que admitem preposições variadas dependendo do contexto em
que ocorrem, podendo ou não mudar seu sentido. A ligação entre os nomes e seus complementos é chamada de regência nominal. Assim:
Reg•ncia nominal é o princípio pelo qual os nomes se
ligam a seus complementos.
Como falante nativo da língua portuguesa, você certamente conhece as preposições que complementam nomes e quais são seus respectivos sentidos. É importante saber, entretanto, que as regras podem variar, seja entre uma variedade linguística e outra, seja de acordo com a formalidade da situação. Portanto, elencamos a
seguir os principais nomes e as preposições regidas por cada um deles segundo a
norma-padrão.
Não há necessidade de memorizar essas regências; é, porém, interessante conhecê-las, para fins de consulta e em caráter de informação complementar. Caso você
pretenda produzir um texto escrito em situações formais ou em exames e avaliações,
a indicação é que você dê preferência a essas formas, sempre atento(a) às diferenças
de sentido.
acessível a disposto a oposto a
adequado a dúvida em, sobre orgulhoso com, para, para com, de
admiração a, por erudito em paciência com
agradável a, escasso de paralelo a
alheio a, de fácil de perito em
análogo a fiel a perto de
ansioso de, para, por grato a, por piedade de
apto a, para hábil em possível de
atentado a, contra horror a posterior a
atento a, em impaciência com preferível a
aversão a, por inábil para prejudicial a
avesso a incompatível com pronto para, em
ávido de, por livre de propenso a, para
capacidade de, para longe de querido de, por
capaz de, para maior de, entre sedento de, por
caro a mau com, para, para com sensível a
cego a medo de temeroso de
comum a, de menor de último em, de, a
contemporâneo a, de natural de útil a, para
contrário a, de necessário a visível a
curioso de, para nocivo a vizinho a, de
desatento a obediência a
digno de obrigação de
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118 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
APLIQUE O QUE APRENDEU
Leia o cartum abaixo, de Angeli, e responda às questões de 1 a 3.
A nominaliza•‹o
A nominalização é uma estratégia argumentativa que auxilia na construção
de sentidos. Optar pela utilização de
formas nominais produz alguns efeitos
no texto. Entre eles:
• toma-se como pressuposto que
o fato ao qual se faz referência é
verdadeiro. Por exemplo, quando
se diz a concentração de renda
e a discriminação social, esses
fatos são tratados como verdades
comprovadas, ou seja, a renda se
concentra e a sociedade discrimina;
• o enunciador transforma a ação
nominalizada em um objeto visto
pela perspectiva dele, com o objetivo
de engajar o leitor no seu ponto de
vista a respeito de uma verdade já
conhecida e admitida também por
seus interlocutores.
(Disponível em: http://profirmeza.blogspot.com.
br/2010/04/cartum-exemplos_28.html. Acesso
em: 10/3/2016.)
1. Observe a parte não verbal do cartum e levante hipóteses:
a. Que relação há entre as mulheres que descem a escada e a mulher
que está no centro do cartum? Justifique sua resposta com base no
desenho.
b. A qual tipo de situação social são adequadas as vestimentas do homem e da mulher ao centro do cartum?
c. Essas vestimentas condizem com o evento ao qual eles vão?
d. O comportamento do homem e da mulher condiz com o propósito
desse evento? Justifique sua resposta.
2. Releia o seguinte trecho da fala da mulher:
“uma passeata contra a concentração de renda e a discriminação social”
a. A quais verbos correspondem os nomes passeata e concentração?
b. Quais termos são regidos pelos nomes passeata e concentração?
c. De qual verbo deriva o nome discriminação? Substitua o termo que
acompanha o nome discriminação na fala da mulher por outro equivalente, utilizando uma preposição.
d. Reescreva a fala da mulher, fazendo as alterações necessárias para
tornar a fala coerente com o comportamento dela.
1. a) Elas são empregadas, pessoas que estão
a serviço da mulher ao centro, pois cuidam da
cauda de seu vestido e carregam seus pertences. Além disso, estão todas com o mesmo
uniforme, típico de domésticas.
A um evento supostamente
formal e elegante.
c) Não, pois uma passeata é um evento que
ocorre nas ruas, no qual as pessoas andam
longas distâncias e em geral se vestem informalmente, com jeans ou moletom, tênis,
sapatilhas, sandálias baixas, camisetas.
d) Não, pois a vida abastada deles reproduz
exatamente os problemas contra os quais eles
vão protestar, uma vez que eles provavelmente concentram uma grande renda e discriminam socialmente seus próprios funcionários.
Passear e concentrar.
Respectivamente, contra a concentração de renda e a discriminação social e de renda.
Deriva de discriminar. / discriminação dos pobres
“Participar de uma passeata a favor da concentração de renda e da discriminação social” ou “Participar de uma passeata contra a distribuição de renda e a igualdade social”. Angeli
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
119
A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
Repúblika
3. É possível considerar que o cartum ironiza o comportamento de um segmento social
específico.
a. Qual é esse segmento?
b. Explique como se constrói essa ironia com base nos textos verbal e não verbal do
cartum.
Leia o cartaz a seguir e responda às questões 4 e 5.
Os ricos.
A ironia se constrói com base no fato de que o comportamento da mulher, retratado
pelo texto não verbal, mostra o contrário do que está na sua fala.
REGISTRE
NO CADERNO
4. Complete a frase a seguir, trocando a locução verbal está aumentando por um nome
e utilizando a preposição adequada para conectá-la ao termo desperdício.
desperdício é preocupante.
5. Releia o texto inferior do cartaz e relacione-o à imagem central.
a. Quais termos complementam o nome desperdício?
b. Qual é a relação entre a imagem central e esses termos?
c. Para evitar a repetição e ganhar síntese – o que é desejável na linguagem publicitária –, o anunciante preferiu deixar a preposição de subentendida. Reescreva o trecho, repetindo a preposição, e discuta com os colegas e o professor: Há diferenças
de sentido entre as duas construções? Qual forma vocês preferem? Por quê?
O aumento do
de água e energia
A imagem central traz um único desenho formado por uma lâmpada e uma gota de água, que remete aos dois complementos.
Evite o desperdício de água e de energia.
5. c) Professor: Abra a discussão: as duas formas são possíveis, a primeira é mais econômica, direta, pode servir melhor a um texto publicitário, ao passo que a
segunda enfatiza cada um dos complementos, evitando qualquer possível problema de leitura.
(Disponível em: blogfurb.
blogspot.com.br/2013/06/
campanha-contra-desperdiciona-furb.html. Acesso em:
29/6/2017.)
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120 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia a letra da música a seguir e responda às questões de 1 a 5.
O Rio Severino
Um tísico à míngua espera a tarde inteira
Pela assistência que não vem
Mas vem de tudo n’água suja, escura e espessa deste
Rio Severino, Morte e Vida vêm
Mas quem não tem ABC não pode entender HIV
Nem cobrir, evitar e ferver
O rio é um rosário cujas contas são cidades
À espera de Deus que dê
Quem possa lhes dizer
Me diz o que é que você tem
O que é que eu posso te dizer?
Me diz o que é que você tem
É muita gente ingrata reclamando de barriga d'água cheia
São maus cidadãos
É essa gente analfabeta interessada em denegrir
A boa imagem da nossa nação
És tu Brasil, ó pátria amada, idolatrada
Por quem tem acesso fácil a todos os teus bens
Enquanto o resto se agarra no rosário, e sofre e reza
À espera de um Deus que não vem
(Herbert Vianna. © Edições Musicais Tapajós.)
1. Os nove primeiros versos da canção expõem uma situação social.
a. Qual é a situação descrita?
b. Tendo em vista que essa canção foi escrita há mais de vinte anos, discuta com os colegas e o professor: Ainda é possível considerar atual o
problema exposto?
2. Releia os seguintes versos:
“Mas quem não tem ABC não pode entender HIV
Nem cobrir, evitar e ferver
O rio é um rosário cujas contas são cidades”
Levante hipóteses:
a. No contexto da canção, qual é o sentido geral das siglas ABC e HIV?
b. A que princípios se referem as ações de “cobrir, evitar e ferver”, citadas na canção?
c. Explique a imagem criada pela metáfora “o rio é um rosário cujas contas
são cidades”?
à míngua: em um estado de extrema pobreza.
rosário: fileira de pequenas contas dispostas
de maneira sucessiva, representando cada
uma delas uma oração.
tísico: indivíduo tuberculoso ou, no sentido
figurado, muito magro.
Uma situação de pobreza, caracterizada pela falta
de assistência, saneamento básico e educação.
Sim, ainda há regiões extremamente pobres que sofrem com os problemas elencados.
Educação e doenças.
Aos princípios de cuidado com a saúde e prevenção de doenças.
A de que o rio é como uma fileira contínua com
inúmeras cidades em sequência na sua margem.
Vida severina
Você estudou na seção Literatura,
na obra Vidas secas, de Graciliano Ramos, o tema da seca no Brasil.
Outros autores também exploraram
assuntos relacionados ao sertão brasileiro, como Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto.
Este último é autor da obra Morte e vida
severina, que você vai estudar na próxima unidade, com a qual a canção “O Rio
Severino” trava um diálogo direto.
O texto é um auto de Natal pernambucano e conta a história de Severino,
um retirante nordestino que viaja, seguindo o curso do rio Capibaribe, de sua
terra natal até a cidade de Recife.
Cena do filme Morte e vida
severina (1977).
Juscelino Souza/Agência A Tarde/FuturaPress
Zelito Viana
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
121 A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
REGISTRE
NO CADERNO
3. Nos oito últimos versos são sobrepostas duas vozes distintas, que podem ser identificadas no contexto da canção.
a. Identifique de quem são essas duas vozes.
b. Essas vozes confrontam dois grupos de indivíduos. Quais são eles?
c. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Qual efeito de sentido a contraposição dessas vozes produz na canção?
4. Compare os versos:
“Um tísico à míngua espera a tarde inteira / Pela assistência que não vem”
“À espera de um Deus que não vem”
a. Quais são os complementos do termo em destaque nas duas ocorrências?
b. Levante hipóteses: Tendo em vista o contexto exposto na canção, quais poderiam
ser os possíveis termos regidos pelo nome assistência, com e sem preposição?
c. Levante hipóteses e discuta com os colegas e o professor: Por que a palavra espera
rege preposições diferentes nas duas ocorrências? Justifique sua resposta.
5. Releia estes fragmentos:
“gente analfabeta interessada em denegrir”
“pátria amada, idolatrada por quem tem acesso fácil a todos os teus bens”
“À espera de um Deus”
a. Identifique quais complementos se ligam aos nomes em destaque por meio de
preposições.
b. Releia o boxe “A nominalização”, na página 118, e discuta com os colegas e o professor: Qual sentido a utilização de formas nominais ajuda a construir na segunda
parte da canção?
6. A nominalização é um recurso muito comumente utilizado em textos jornalísticos.
Leia as manchetes a seguir, adaptadas de manchetes reais.
I. Prefeitura pretende criar instituições especializadas em crimes contra o patrimônio público
II. Políticos investigados por entidade de desvio de recursos públicos devem permanecer suspensos
III. Manifestantes sem-teto entram em confronto com policiais em protesto contra
o governo
IV. Homem é condenado por matar filho em crise de depressão
a. Identifique os complementos dos nomes em destaque.
b. Quando utilizada em excesso, a estratégia da nominalização pode dar origem a
textos imprecisos ou ambíguos. Encontre a ambiguidade existente em cada uma
das manchetes lidas.
c. Reescreva-as, escolhendo um sentido e eliminando o problema de ambiguidade.
Professor: Se possível, ouça a canção com os alunos. Nesses últimos versos, há
inclusive uma mudança na melodia e na cadência da música.
A voz do eu lírico da canção e a voz de uma parcela rica da população.
Pessoas analfabetas e pobres, que reclamam de seus problemas, e pessoas que têm acesso a muitas vantagens.
Mostra que as classes mais abastadas veem os mais pobres como uma “gente ingrata reclamando de barriga d’água cheia”, como “maus cidadãos”. Ao confrontar essa outra voz a tudo o
que diz na canção, o eu lírico sugere que essa é uma visão parcial e distorcida da realidade, pois
vem de um grupo de pessoas “que tem acesso fácil” aos bens e, portanto, não teria condições
de julgar os demais.
pela assistência e de um Deus.
Possibilidades variadas, entre elas:
de saúde e do governo.
Na primeira ocorrência, espera é uma forma verbal que rege a preposição por, enquanto, na segunda, é um substantivo, que
rege a preposição de. Como visto, verbos e seus nomes derivados nem sempre regem as mesmas preposições, daí a diferença.
“em denegrir”, “por quem tem acesso fácil a todos os seus bens”, “a todos os seus bens”, “de um Deus”.
5. b) O sentido de descrição de uma realidade
dada, inquestionável. É
como se os grupos de
pessoas descritos tivessem historicamente
essas características e
essa realidade persistisse por muito tempo.
I. “em crimes”, “contra o patrimônio público”; II.
“por entidade”, “de recursos públicos”; III. “com
policiais”, “contra o governo”; IV. “por matar filho”,
“de depressão”.
6. b) Em I, as instituições
podem ser especializadas
em cometer ou em solucionar os crimes; em II, a entidade pode ser a responsável pela investigação ou
pode ter sido organizada
pelos políticos investigados para desviar recursos;
em III, os sem-teto ou os
policiais poderiam estar
fazendo o protesto contra
o governo; em IV, o homem
ou o filho poderia estar em
crise de depressão.
c) Entre outras possibilidades: I. “Prefeitura pretende criar instituições especializadas em solucionar
crimes contra o patrimônio
público”; II. “Políticos investigados por organizar
uma entidade de desvio de
recursos públicos devem
permanecer suspensos”;
III. “Manifestantes semteto que protestavam contra o governo entram em
confronto com policiais”;
IV. “Homem é condenado
por matar filho que passava por uma crise de depressão.”
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122 UNIDADE 2 PalavRa e PeRsuasão
O que Ž o Estatuto da Fam’lia?
O Estatuto da Família é um projeto de
lei em análise na Câmara dos Deputados cujo objetivo é definir o que pode
ser considerado juridicamente uma família no Brasil. A Constituição de 1988
define que família é o resultado da
união entre um homem e uma mulher ou
um dos pais e seus filhos. Em 2011, porém, o Supremo Tribunal Federal (STF)
decidiu que pessoas do mesmo sexo podem se unir juridicamente, constituindo
família, e, assim, ter os mesmos direitos
que os casais heterossexuais. O projeto
de lei do Estatuto da Família é uma tentativa de reagir à decisão do STF. Os que
o defendem querem reafirmar o conceito de família da Constituição de 1988 e
negar às outras configurações afetivas
o acesso a direitos como pensão, INSS
e licença-maternidade.
PRODUÇÃO DE TEXTO
O debate deliberativo
o CoNtexto de Produção e reCePção doS textoS
Quais textos você produzirá nesta unidade? Com que finalidade? Quem vai ler
seus textos?
Nesta unidade, nosso projeto é a organização, pela classe, de uma feira de cidadania, aberta a toda a comunidade escolar e do bairro. Nela, serão realizadas oficinas
relacionadas a profissões e mercado de trabalho, participação cidadã e deliberações
comunitárias, direitos do consumidor, etc.
Com vistas à realização da feira, estudaremos no decorrer dos capítulos os seguintes gêneros: o debate deliberativo, o relatório, o currículo e as cartas argumentativas de solicitação e de reclamação.
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, a transcrição de um trecho de uma reunião deliberativa realizada
na Câmara dos Deputados na qual foi votado o projeto de lei do Estatuto da Família. Na
reunião, participantes contrários à aprovação do projeto fizeram requerimentos, isto é,
petições por escrito em que manifestavam seu posicionamento, enquanto os participantes favoráveis apresentaram seus argumentos.
Presidente: Senhoras e senhores deputados, senhoras e senhores presentes, [...] declaro aberta a 12» reunião da comissão especial destinada
a proferir parecer ao projeto de lei número .53 de 2013, Estatuto da
Família [...]. Informo que a lista de inscrição para discussão da matéria
estará aberta na nossa assessoria, os senhores e senhoras deputadas
que desejarem se inscrever queiram fazê-lo até o início da discussão,
quando serão encerradas definitivamente as inscrições. [...]
Participante 1: Senhor presidente, para discutir...
Presidente: Sim, nobre deputada Érika Kokay [Participante 1]. Com vossa excelência a palavra, três minutos, ok? Por favor.
Participante 1: Senhor presidente, eu penso que essa sessão de hoje
tem um caráter histórico. Ela tem um caráter histórico para saber
se nós vamos caminhar para as trevas, ou se nós vamos caminhar
para uma sociedade que tenha a clareza solar de assegurar o direito
de todas e todos [...]. Nós estamos aqui discutindo se vamos rasgar a
constituição, que assegura que todas e todos têm direito à família, ou
se nós vamos dizer que apenas alguns seres humanos têm direito à
família. Se nós vamos negar a família enquanto instrumento fundamental para a construção da nossa própria concepção de vida, ou para nossa
própria humanidade. Alguém aqui acredita que a família é algo que não tem
importância? Porque quando se restringe o direito à família a apenas parte da
população brasileira nós estamos dizendo de forma muito nítida e clara que
a família não é importante para o ser humano, que a família não é importante para a sociedade, porque se a família tem a importância que eu acho que
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123Produção de texto
A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
ela tem, a família é fundamental para a construção do ser humano [...], nós
temos que assegurar o direito à família para todas e todos. [...] Em programa
televisivo, o relator chegou a dizer que já se identificaram mais 100, 195 arranjos familiares, ele desconsidera 193, ele desconsidera a maioria desses arranjos
familiares, porque ele diz que família não precisa ter afeto, que família não
precisa ser um universo de felicidade [...] Famílias, ora, famílias, elas mudam,
de acordo com as relações econômicas, sociais e culturais, a família de hoje não
é a mesma família de 30, 40 anos atrás...
Presidente: Para encerrar.
Participante 1: e eu não posso, para encerrar, senhor presidente, reduzir e engessar a concepção de família e, fundamentalmente, eu não posso esterilizar a
família das relações de afeto e de amor. [...]
Participante 2: Presidente, eu gostaria de contraditar.
Presidente: Obrigado, nobre deputada. Eu vou
conceder a palavra, para contraditar, ao deputado
Carimbão [Participante 2] que, impossibilitado inclusive de saúde, teve todo esforço e o empenho
para estar aqui hoje, mesmo não sendo membro
dessa comissão, vossa excelência engrandece essa
comissão, passo a palavra para vossa excelência
para contraditar. Três minutos, por favor.
Participante 2: Muito obrigado, deputado. Estou
com dois dias de licença [...], mas fiz questão de vir
aqui registrar minha posição. [...] Temos uma relação respeitosa com os companheiros e com a companheira Érika Kokay, mas tem que entender que isso é um
parlamento, 513 deputados foram eleitos [...] para representar a população brasileira. Existem maiorias, existem minorias, todos devem ser respeitados, mas
também devem ser respeitadas as decisões do coletivo. Aqui tem capitalista, socialista, liberal, neoliberal, que defendem família como conceito com homem e
mulher, pessoas que defendem como duas mulheres e dois homens [...]. Porém
aqui [...] a comissão foi assim que decidiu [...] aqui os senhores deputados decidiram que a família é homem e mulher [...]. Eu estou aqui em nome de uma parcela
da sociedade. [...] É hipocrisia dizer “eu estou aqui em nome do povo brasileiro”.
Não. [...] Nós representamos parcelas da sociedade. E a maior parcela da sociedade que mandou para o Congresso Nacional diz que o Estatuto da Família deve
ser homem e mulher, ou seja, nós temos legitimidade em nome da sociedade
brasileira. Respeitando, não é confronto, não é questão de querer humilhar, não.
É uma questão obviamente de convicções, de consciência e de compromisso com
as bases. Eu estou aqui em nome disso [...]. Eu estou aqui para dizer abertamente.
Eu fui candidato, registrei, “eu sou a favor da família homem e mulher”, eu não
tenho o direito de fazer isso? E o povo me elegeu deputado por oito mandatos
que eu tenho. [...] Era só isso, senhor presidente.
Presidente: Muito obrigado, nobre deputado. Nós ouvimos um a favor, contrário.
[...] Nós temos requerimento sobre a mesa, assina o deputado Bacelar [Participante 3], a quem eu passo a palavra para defender seu requerimento.
Participante 3: [...] Quem foi que deu ao Estado o poder de decidir o que
é um casamento? Esse não é um poder, esse conceito não é um poder do
Estado. [...] Na sociedade nós temos inúmeras, inúmeros arranjos de união
que são o conceito de família, que levam ao conceito de família. A família,
O Estatuto da
Família provocou
na sociedade uma
enorme discussão
sobre quais grupos
de pessoas podem
ser considerados uma
família.
Rony Costa/Finephoto
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124 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão
mesmo que majoritária, ela não é a família nuclear tradicional. O que será
de milhares e milhares de crianças brasileiras, de adolescentes brasileiros
que não terão seus direitos assegurados? Eu fico a me perguntar que defesa
é essa do fortalecimento da família, que princípio cristão é esse que preside essas iniciativas que são iniciativas altamente discriminatórias, que
são iniciativas altamente violentas, o senhor, o senhor relator diz no seu
relatório que o afeto, o afeto não pode ser considerado como elemento construtivo de uma relação que possa ser considerada como casamento, como
constituição de família. O afeto está na base da felicidade humana, senhor
relator, o afeto é elemento fundamental na construção de uma sociedade e
há jurisprudência considerando o afeto como elemento constitutivo da família, na própria decisão do STF [Supremo Tribunal Federal], há sim, senhor
presidente, há sim, decisões que mostram a importância de considerar as
uniões afetivas. Como então considerar só um tipo de família? Por que cabe
ao Estado dizer que tal relação afetiva deve ser considerada e que outra
relação afetiva não deve ser considerada? [...] O relatório é uma violência
contra a dignidade humana, é uma violência contra os direitos humanos, é
altamente inconstitucional, porque discrimina, porque não promove a dignidade humana e a igualdade entre as pessoas.
[...]
Presidente: Muito obrigado, deputado. [...] Os
deputados que são a favor do requerimento
permaneçam como estão, os que são contrários, por favor, se manifestem. [...] Em votação, o projeto [...]. Para falar a favor, o deputado Evandro Gussi [Participante 4].
Participante 4: Senhor presidente, como já
disse em outras oportunidades, aqueles que
participaram efetivamente dessa comissão
puderam comprovar no seu dia a dia [...] o
grande trabalho dessa comissão [...] Ao lado
disso, senhor presidente, há uma confusão
aqui, uma confusão filosófica, entre afeto e
amor. Esses são temas da filosofia. Eu citaria uma existencialista do século XX,
não estou voltando à Idade Média. Hanna Arendt tem uma obra sobre o amor,
é a sua tese de doutorado, na Alemanha, diga-se de passagem. E deixa ali muito
clara a distinção entre o afeto e o amor. Afeto, como o próprio nome diz, vem
de afetação, ou seja, como os meios externos, eles nos atingem. Amor, por outro
lado, é decisão deliberativa de vontade iluminada pela razão. E que pode inclusive sujeitar, sujeitar, a nossa sensibilidade os nossos sentidos. Por isso, a família
é constituída no amor, a família não é constituída no afeto que, de certa maneira inadvertida, foram comparados aqui nessa comissão, mas que são de fato
incomparáveis. Portanto, senhor presidente, para concluir, nós temos aqui um
dado natural que é a família, que é base da sociedade e que precisa, e que precisa
ser garantida. Nós queremos que todas as pessoas que sejam homossexuais tenham os seus direitos garantidos, e contem comigo aqueles que tiverem direitos
usurpados. Mas a constituição diz que a família merece uma especial proteção,
merece especial proteção porque é base da sociedade, é base da sociedade porque é condição sine qua non para a criação e formação dos membros da sociedade, ou seja, das pessoas humanas. Isso está amplamente consolidado no relatório
[...] Meus parabéns! Sim à família, amanhã, hoje e sempre.
Gilmar Felix / Câmara dos Deputados
sine qua non:
indispens‡vel, essencial.
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125PRODUÇÃO DE TEXTO
A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
Presidente: Obrigado, deputado Gussi, vossa excelência também enaltece
muito essa comissão com sua participação constante aqui conosco. [...] Aqueles que concordam com o parecer do relatório permaneçam como estão, os
contrários, por favor, se manifestem. [...]. Proclamo o resultado, o relatório é
aprovado [...].
(Reunião deliberativa ordinária do Estatuto da Família de 24/9/2015.
Disponível em: www.youtube.com.br. Acesso em: 4/1/2016.)
1. Chama-se debate a uma discussão em torno da qual os participantes argumentam
a favor de seus pontos de vista, a fim de convencer seus interlocutores. Identifique
elementos que comprovam que na reunião transcrita houve um debate.
2. Em um debate, chama-se moderador a quem coordena as inscrições de cada participante, controla o tempo e determina a vez de falar de cada um. No debate transcrito,
quem fazia o papel de moderador? Justifique sua resposta com trechos do texto.
3. Chama-se delibera•‹o à decisão tomada com base em reflexão e discussão do problema a ser resolvido. Identifique elementos que comprovam que na reunião transcrita
houve uma deliberação.
4. Os participantes do debate transcrito manifestaram diferentes pontos de vista em
suas falas.
a. Quais participantes concordavam entre si?
b. Cite alguns dos argumentos utilizados pelos participantes contrários ao Estatuto.
c. Cite alguns dos argumentos utilizados pelos participantes favoráveis ao Estatuto.
d. Pelo resultado final da votação, qual ponto de vista prevaleceu?
e. Levante hipóteses: O que determina a vitória em um debate deliberativo? Basta ter
argumentos bem-fundamentados? Justifique sua resposta.
5. Releia a fala do participante 2. Embora peça a palavra para discordar da colega, ele
demonstra claramente tomar cuidado para não parecer agressivo na maneira de se
expressar.
a. Identifique, na fala, elementos que comprovam esse cuidado.
b. Levante hipóteses: Qual é a importância de assumir essa postura em um debate?
6. Alguns participantes mencionam em suas falas vozes de autoridade.
a. Quais são essas vozes e em quais falas elas aparecem?
b. Qual é a importância dessa estratégia no debate?
7. Observe os pronomes de tratamento utilizados ao longo do debate.
a. Quais são eles?
b. Justifique o uso de tais pronomes nesse contexto.
Os participantes 1, 2, 3 e 4 defendem pontos de vista diferentes e tentam convencer os
interlocutores de que a visão que apresentam é a mais sensata.
O chamado presidente, que era quem presidia a comissão que estava votando o projeto de lei. Era ele quem
coordenava os turnos dos participantes, marcava o tempo e determinava quando cada um devia falar.
Nas duas últimas falas do presidente, ele fez duas votações, pedindo aos presentes que se manifestassem contrária ou
favoravelmente ao tópico discutido anteriormente. O resultado dessas votações daria origem às deliberações.
O participante 1 concordava com o participante 3, e o participante 2, com o participante 4.
4. b) A família é fundamental para qualquer ser humano e constituir família é
um direito já estabelecido
pela Constituição; já se
identificaram mais 100,
195 arranjos familiares
e não se poderia ignorar
isso; as famílias mudam
de acordo com as relações
econômicas, sociais e culturais; o Estado não tem
o poder de decidir o que é
um casamento e o projeto
contraria decisões do Supremo Tribunal Federal.
4. c) Os favoráveis ao Estatuto representam uma parcela majoritária da população brasileira e, portanto,
têm maioria de voto; afeto
e amor são sentimentos
diferentes; a família deve
ter uma proteção especial.
O dos participantes favoráveis ao Estatuto.
Não necessariamente; há também interesses políticos e pessoais envolvidos, o que pode ser comprovado com o argumento de
que os representantes da maioria vencem e que isso deve ser aceito pelos demais, independentemente de sua posição.
“Temos uma relação respeitosa com os companheiros e com a companheira”; “Existem maiorias, existem minorias,
todos devem ser respeitados”; “Respeitando, não é confronto, não é questão de querer humilhar, não”.
Ao se empenhar em não ser agressivo, o debatedor se mostra aparentemente flexível e tolerante e, por isso, tem
o direito de exigir a mesma flexibilidade e tolerância de seus pares.
A Constituição (participante 1), o Supremo Tribunal Federal (participante 2), a acadêmica e intelectual Hanna Arendt (participante 4).
Fazer menção a vozes de autoridade confere maior credibilidade à fala, fundamenta melhor os argumentos, mostra que o debatedor está preparado para a
discussão e conhece o assunto sobre o qual fala, bem como o que especialistas pensam sobre ele.
Vossa Excelência, senhor(a)
Vossa Excelência é o tratamento típico utilizado quando alguém se dirige
a políticos; senhor/senhora é um tratamento respeitoso utilizado em situações formais.
REGISTRE
NO CADERNO
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126 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
8. Para se desenvolver bem, um debate precisa ter regras preestabelecidas, a serem seguidas por todos os participantes. Com base na transcrição lida, deduza algumas das
regras do debate em estudo.
HORA DE ESCREVER
Como você sabe, a classe realizará uma feira de cidadania no final da unidade. Seguem
duas propostas de produção de debates deliberativos relacionados à realização da feira.
1. Com os colegas da classe, definam por meio de um debate deliberativo quais ações
serão necessárias para efetivar a realização da feira e como será a distribuição de tarefas entre os grupos. Na pauta da discussão, incluam:
• local de realização da feira
• data e horário de realização da feira
• tarefa pela qual cada grupo ficará responsável
• público-alvo
• título da feira
• divulgação e convites
• atividades a serem realizadas na feira
• organização do espaço
• controle de entrada dos visitantes
• outros pontos que vocês julgarem importantes, tendo em vista o perfil da feira
Combinem com o professor a melhor forma de
organizar o debate. É importante que vocês argumentem a favor de seus pontos de vista, justificando e fundamentando suas perspectivas com fatos
e argumentos. No debate, discutam, entre outros
pontos: Qual nome dar à feira? É melhor realizar o evento em um fim de semana ou em
um dia de semana? Ao longo de um dia ou em um período específico do dia? Por que
você quer ficar responsável por certa atividade, e não por outra? Qual público convidar?
Após cada aluno inscrito fazer a sua ponderação, deverá ser realizada uma votação a
fim de deliberar sobre a decisão coletiva.
2. Uma campanha da Fundação SOS Mata Atlântica utilizou textos provocativos, assinados por uma entidade fictícia chamada ONG Que se Dane, da qual fariam
parte todas as pessoas indiferentes à causa ambiental. Leia o texto a seguir, que
circulou em um cartaz divulgado no contexto dessa campanha, e observe a ironia
subjacente a ele.
Os participantes deviam fazer suas inscrições ainda no início da reunião; um assessor recebia as inscrições; cada participante tinha um tempo de três minutos para falar, controlado pelo presidente; o
presidente distribuía os turnos no transcorrer da reunião e colocava em votação cada tópico da pauta.
Rob Lewine/Getty Images
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127PRODUÇÃO DE TEXTO
A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1
Estatuto Fundamental da Q.S.D.
Brasileiros e brasileiras,
orgulhem-se.
Juntos, fazemos parte da maior
Organização Não Governamental do
mundo. Somos mais de 250 milhões
de membros efetivos.
Nossa sigla é nosso lema:
Que Se Dane.
Todo cidadão brasileiro é,
automaticamente, filiado à Q.S.D.
é um direito nato e inalienável.
A água do planeta vai acabar?
Que se dane.
O Novo Código vai exterminar
as florestas? Que se dane.
A poluição e os agrotóxicos
aniquilarão a humanidade?
Que se dane.
Nossa causa é a não causa.
Jogar lixo na rua, lavar calçada
com água corrente, andar de carro
sozinho, derrubar árvore que
chateia, fazer barulho acima
do limite. Não há limites.
Faça o que bem entender.
Seus direitos são todos.
E seus deveres, nenhum.
Aos politicamente corretos, aos
ecologistas de plantão, à
sustentabilidade, à cidadania. A
tudo que se coloca à frente do
liberalismo incondicional,
dedicamos o nosso mais alto
repúdio.
E o resto que se dane.
(Disponível em: http://robsonanjos.blogspot.com.br/2013/06/ong-qsdquesedane.html#.VtMQAvkrLIU. Acesso em: 5/1/2016.)
Com base no tema do texto do cartaz, promovam na feira de cidadania a realização de um debate deliberativo com a participação da comunidade. Deliberem nesse
evento: Que medidas cada integrante da comunidade escolar pode tomar a fim de
contribuir com a melhoria do meio ambiente? O que cada um e a escola podem fazer
para minimizar os prejuízos ambientais? A fim de pôr em prática uma vivência mais
cidadã e voltada à preservação do meio ambiente, com que ações os participantes do
debate podem se comprometer? Organizem-se, façam pesquisas, divulguem o debate
e convidem a comunidade para participar.
ANTES DE DEbATER
• Definam quem vai exercer o papel de moderador. Depois, escolham alguém para assessorar o moderador. Essa pessoa deverá anotar o nome de quem quer falar e informar ao
moderador o momento de passar a palavra a outra pessoa.
• Definam as regras do debate: Qual será o tempo total dele? Quanto tempo cada participante terá para falar? Haverá direito de réplica e direito de tréplica?
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128 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
• Preparem uma pauta com os tópicos que necessitam de deliberação e que serão discutidos no debate.
• Em grupo, escolham um ponto de vista e preparem uma argumentação para defendê-lo.
• Decidam como os participantes ficarão dispostos no local do debate: em círculo, em
uma sala de aula ou em cadeiras de um auditório?
• Anotem as falas e as discussões do debate, mencionando os principais argumentos
relativos a cada uma das posições e as decisões tomadas. No capítulo seguinte, essas
anotações serão utilizadas na produção de um relatório sobre o debate.
• Organizem-se para filmar o debate. Vejam quantas câmeras vocês têm disponíveis, se
elas ficarão imóveis ou se uma pessoa ficará responsável pela filmagem.
Konstantinos Kokkinis/Shutterstock
AO DEbATER
• Os debatedores devem ser claros e objetivos e evitar apresentar ideias repetidas; para
isso, fiquem atentos ao que já foi dito e, se for o caso, anotem o que pretendem dizer.
• Estejam atentos ao tempo de fala estipulado, a fim de conseguir concluir o raciocínio.
• Para serem convincentes, apresentem argumentos, isto é, dados, exemplos, comparações, citação da fala de alguém de destaque na sociedade, menção a causas e consequências, etc.
• Ao se reportarem à fala de outro debatedor, empregem expressões como Conforme
disse fulano, Discordo do que disse fulano quanto ao seguinte aspecto, Concordo parcialmente com o que disse fulano, e assim por diante.
• Após a votação de cada tópico, aceitem a decisão da maioria.
• Usem uma linguagem de acordo com a norma-padrão, adequando o grau de formalidade ou informalidade ao perfil dos debatedores. Evitem gírias e expressões de apoio
como né, tipo, tá ligado? e outras.
• Ao filmar, focalizem bem a pessoa que está falando. Se dispuserem de mais de uma câmera, façam tomadas de planos gerais, que mostrem todos os participantes, incluindo
o moderador e os assessores.
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129 A geração de 30: Graciliano Ramos. Regência nominal. O debate deliberativo CAPÍTULO 1 Produção de texto
Getty Images
DEPOIS DO DEbATE
Concluído o debate, avaliem-no, observando:
• se os tópicos incluídos na pauta foram todos discutidos e se as resoluções necessárias
foram tomadas;
• se o moderador coordenou adequadamente a discussão, quanto ao tempo e aos turnos, ou seja, à troca das falas;
• se o resultado das votações se deu em decorrência de apresentação, pelos debatedores,
de argumentos fortes e convincentes ou por outras razões;
• se a discussão transcorreu em um clima de respeito entre os participantes, sem agressões pessoais;
• se o uso da linguagem foi adequado, sem palavrões, sem gírias e com argumentação clara.
Depois da avaliação acima, assistam à filmagem do debate, observando especialmente a postura dos participantes, a linguagem e a construção de argumentos com vistas ao
aprimoramento do desempenho de todos em futuros debates.
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130 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
a geração de 30: José lins do rego,
Jorge amado e Érico Veríssimo
Crase
relatório e currículo
José Lins do Rego, Jorge Amado
e Érico Veríssimo
CAPÍTULO 2
LITERATURA
Cinco moças de
Guaratinguetá (1930), de
Di Cavalcanti (1897-1976).
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, SP
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literatura
131 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
JosŽ Lins do Rego
Descendente de senhores de engenho, José Lins do Rego (1901-1957) nasceu
no município de Pilar, na Paraíba.
Cursou Direito no Recife, onde se aproximou de intelectuais modernistas, como
Gilberto Freyre e José Américo de Almeida; poucos anos depois, em Maceió, conviveu com Graciliano Ramos, Jorge de Lima e Rachel de Queiroz.
Em 1935, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde participou ativamente da vida
literária. Além de romances, o autor também produziu crônicas, ensaios e literatura infantil.
Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1955, dois anos antes de
morrer.
José Lins do Rego
Criado no engenho de seu avô materno, José Lins do Rego testemunhou em sua infância
e adolescência os últimos lampejos de uma tradição fundamentada no sistema latifundiário patriarcal e escravocrata. Essa experiência marcou sua obra literária, que, conciliando
ficção e memória, retratou o homem e a paisagem da zona açucareira do Nordeste no momento de decadência do engenho, logo substituído pelo sistema industrial das usinas.
Em uma linguagem fluida e popular, o autor representa a vida nos bangues, nos engenhos e nas usinas em seus diversos aspectos, envolvendo a abordagem psicológica, social,
política, econômica e místico-religiosa. De acordo com o próprio autor, sua obra de ficção
se agrupa em: ciclo da cana-de-açúcar, com Menino de engenho (1932), Doidinho (1933),
Bangue (1934), Usina (1936) e Fogo Morto (1943); ciclo do cangaço, misticismo e seca, com
Pedra bonita (1938) e Cangaceiros (1953); e obras independentes vinculadas aos dois ciclos,
com O moleque Ricardo (1934), Pureza (1937) e Riacho doce (1939), e desvinculadas desses
ciclos, com Água mãe (1941) e Eurídice (1947).
Fogo morto
Romance-síntese da ficção de José Lins do Rego, Fogo morto articula-se em torno do
tema central de suas obras: a decadência dos engenhos nordestinos e suas implicações
sociais. Esse romance, que você vai conhecer neste capítulo, é divido em três partes. A
primeira, “O mestre José Amaro”, centra-se no drama desse homem, que se orgulha de
sua profissão de seleiro e sofre com a loucura da filha e com a luta contra o coronel Lula,
que queria tirá-lo da fazenda. A segunda, “O engenho de seu Lula”, narra a história da
ascensão do engenho Santa Fé, construído pelo capitão Tomás Cabral de Melo, próximo
à cidade de Pilar, na Paraíba, e da decadência desse engenho nas mãos de seu genro Luís
César de Holanda Chacon, o coronel Lula. Na terceira parte, “O capitão Vitorino”, é dado
destaque a essa personagem, um tipo quixotesco que, em suas andanças de engenho em
engenho, defende incansavelmente os injustiçados, sejam eles poderosos ou desvalidos.
A inter-relação entre as personagens confere unidade à obra, que apresenta uma visão
sintética da paisagem e da realidade humana e social da zona açucareira do Nordeste.
FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, um fragmento da segunda parte de Fogo morto.
O engenho de seu Lula
Chegou a abolição e os negros do Santa Fé se foram para os outros engenhos. Ficara somente com seu Lula o boleeiro Macário, que tinha paiArquivo/Estadão Conteúdo
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132 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão
xão pelo ofício. Até as negras da cozinha ganharam o mundo. E o Santa
Fé ficou com os partidos no mato, com o negro Deodato sem gosto para o
eito, para a moagem que se aproximava. Só a muito custo apareceram trabalhadores para os serviços do campo. Onde encontrar mestre de açúcar,
caldeireiros, purgador? O Santa Rosa acudiu o Santa Fé nas dificuldades, e
seu Lula pôde tirar a sua safra pequena. O povo cercava os negros libertos
para ouvir histórias de torturas.
Fazia-se romance com os sofrimentos das vítimas de Deodato. Quando
o carro do capitão Lula de Holanda passava, corria gente para ver o monstro, todo bem-vestido, com a família cheia de luxo, que ia para a missa.
Um jornal da Paraíba falara em crimes da escravidão e nomeava o Santa
Fé, o Itapuá, como de senhores algozes. D. Amélia leu o artigo e chorou
com as palavras impiedosas. Não era assim. Tudo aquilo perturbava a vida
do Santa Fé. Ela bem que sentia que o marido vinha mudando de humores. Rara vezes era aquele Lula de outrora, de olhar cismarento, o homem
de tanta ternura para com sua mulher. Agora não parecia que a quisesse
como antigamente. Via-o no pegadio com a filha que voltara do colégio
de Recife, uma moça feita. Neném era a cara do pai. Dela não tinha coisa nenhuma. Achava linda a sua filha. Tinha aqueles cabelos louros, e os
olhos azuis, a pele macia, branca como alfenim. E era uma menina doce,
tão sem gênio que encantava a todo mundo. Viera do primeiro ano do colégio das freiras, cheia de devoção, com modos de moça. O pai cercava-a
de cuidados, de um zelo que ela, como mãe, achava até exagerado. Seria a
sua filha a moça mais bem-educada da várzea. Iam ao Pilar de carruagem,
e reparava como o marido olhava embevecido para a menina, no banco
da frente, vestida como gente grande. Sabia que o povo falava mal de seu
marido. Via os olhares que sacudiam em cima de todos quando entravam
na igreja. No tempo de seu pai tudo era bem diferente. Viam-se cercados
dos conhecidos do Pilar, das filhas do juiz, das irmãs do padre, dos amigos
do capitão Tomás. Agora era sair do carro e entrar na igreja, voltar da igreja para o carro. O que haveria contra Lula para aquela hostilidade? Seria
que fosse inveja? Lula era homem de sua casa, de certo trato, de orgulho
que ela não apoiava. Era o orgulho do marido. Havia nele uma maneira de
sentir as coisas que talvez desgostasse a gente do Pilar. Lula falava de sua
família de Pernambuco com soberba. Não procurava discussão com o marido por motivos assim, sem importância. Deixava que ele ficasse com seu
orgulho de raça. Para que brigar? Família era para Lula coisa sagrada. Fora
infeliz com o pai, sofrera o diabo com
a mãe viúva, perseguida pela política.
Lula tinha razão de falar do seu povo
com aquela arrogância toda. Em casa
ele só via a filha. Dizia sempre que Neném era a cara da sua mãe. Nunca vira
semelhança igual. Tinha tudo da família de Recife, dos velhos Chacon, gente
que sabia entrar e sair, gente de trato,
sem aquela bruteza dos engenhos.
D. Amélia não contrariava o marido
mas sentia-se com aquele falar de desprezo com os seus. Por que Lula falava
assim contra o povo dos engenhos?
Cena do filme
Fogo morto (1976),
baseado no romance
homônimo de José
Lins do Rego.
alfenim: massa muito
branca de açúcar.
boleeiro: cocheiro.
cismarento: pensativo,
meditativo.
Deodato: feitor do
engenho Santa Fé.
eito: plantação.
partido: terreno de grande
extensão com plantação de
cana-de-açúcar.
pegadio: grande afeição,
amizade estreira.
purgador: aquele que
depura o açúcar nos
engenhos.
Marcos Farias / Eglê Malheiros
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LITERATURA
133 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
Não era ele parente do povo de seu pai? Até aquele dia não tivera a
menor rusga com o seu marido. O que ele queria que fizesse, fazia sem
protesto. [...]
[...]
[...] Por mais que temesse não se meteria a contrariar o marido. Lembrava-se da fúria que se apoderara dele quando o procurou para condenar
as ações de Deodato. Sabia que os negros estavam apanhando sem necessidade e procurara Lula para lhe falar daquela miséria. Nunca vira uma
pessoa exasperar-se tanto. Era como se ela tivesse se revoltado. Vira o que
sua mãe sofrera com a malquerença de Lula. Pobre de sua mãe que se dera
como uma escrava aos seus deveres. Fora ingrata com ela. Uma das coisas
que mais lhe doíam era pensar na morte dela, depois daquela noite da discussão com Lula. Tudo por causa de Neném. Aquele amor de seu marido,
aquele cuidado pela filha, não podia ser boa coisa para a criação da moça.
E era todo o pensamento de d. Amélia. Os negros do engenho se foram, até
as negras de sua mãe não quiseram ficar na cozinha. Os do Santa Rosa haviam ficado na senzala. Eram amigos do senhor de engenho. Se o seu pai
estivesse vivo, tudo seria como no Santa Rosa. Via-se d. Amélia cercada de
pensamentos que não desejava que fossem seus. [...]
(José Lins do Rego. Fogo morto. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013. p. 232-5.)
1. O discurso indireto livre é um dos recursos utilizados na narrativa de Fogo morto. Releia os dois primeiros parágrafos do texto e identifique um trecho que exemplifique o
emprego desse recurso na narrativa. Que efeito o emprego desse recurso constrói no
texto em estudo?
2. Fogo morto é uma expressão que se refere a algo que se extinguiu. Na obra de José
Lins do Rego, tal expressão está ligada ao processo de decadência e extinção dos engenhos, uma vez que, durante a produção de açúcar, a fumaça não parava de sair das
chaminés.
a. De acordo com o texto, o que causou a ruína definitiva do sistema produtivo do
engenho Santa Fé?
b. Nessa circunstância de decadência, como o coronel Lula e sua família se apresentavam diante da sociedade? Justifique sua resposta com elementos do texto.
3. No texto em estudo, as reflexões de D. Amélia revelam determinados traços de caráter do coronel Lula de Holanda.
a. Como o coronel Lula reagia quando era contrariado? O que essa
reação revela a respeito do caráter dessa personagem?
b. Segundo D. Amélia, havia uma hostilidade recíproca entre o coronel Lula e o povo da região dos engenhos. Por quê? Justifique
sua resposta com elementos do texto.
4. As reflexões de D. Amélia também revelam traços de caráter dessa
personagem.
a. Por que D. Amélia sofria com a lembrança de sua mãe?
b. A relação de D. Amélia com o marido, no que diz respeito à família e à fazenda, revela qual traço de caráter dessa personagem?
Justifique sua resposta com elementos do texto.
Entre outras possibilidades: “Não era assim. Tudo aquilo perturbava a vida do Santa Fé”. Com esse recurso,
cria-se a impressão de se estar em contato direto com as reflexões de D. Amélia.
A abolição dos escravos e os maus-tratos que o coronel Lula praticava contra os negros, fazendo com que, após a
extinção da escravatura, eles abandonassem o engenho, deixando-o sem mão de obra suficiente para dar continuidade
ao sistema produtivo.
Ostentavam riqueza, procurando manter seu status: quando iam à igreja, com sua carruagem, o coronel Lula
se mostrava “todo bem-vestido, com a família cheia de luxo”.
Ele reagia com fúria, o que revela o caráter autoritário da personagem.
3. b) O coronel Lula era de
uma cidade grande (Recife) e vinha de uma família
que tinha certo refinamento (“gente de trato”). Por
isso, ele desprezava toda
a gente dos engenhos, inclusive a própria família de
Amélia, considerando que
eram todos grosseiros, e
o povo da região, por sua
vez, o hostilizava pelo seu
orgulho, pela sua soberba.
D. Amélia achava que tinha sido ingrata com sua mãe, por não defendê-la
dos ataques hostis que seu marido lhe dirigia.
Revela que é uma mulher submissa, incapaz de contestar o marido em relação às decisões da
administração da fazenda, à educação da filha e ao tratamento que dava à sua mãe.
Cana (1938), de
Cândido Portinari.
REGISTRE
NO CADERNO
Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, RJ
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134 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
5. Com base nas reflexões realizadas ao longo do estudo, conclua: Por que,
no contexto da narrativa, o coronel Lula é uma figura representativa da
decadência dos engenhos e de sua tradição patriarcal e escravocrata?
Jorge Amado
Os primeiros livros de Jorge Amado se destacaram pela linguagem simples e direta, permeada por um tom poético. Também sobressai seu caráter
político-social, marcado pela denúncia da miséria e da opressão das classes
populares.
Os romances das décadas de 1930 e 1940, tais como Jubiabá (1935), Mar
morto (1936), Capitães da Areia (1937) e Terras do sem fim (1942), além de
apresentarem a preocupação social típica do romance de 30, também manifestaram as tendências políticas do autor, que, nesse período, era filiado
ao Partido Comunista. Com a publicação de obras como Gabriela, cravo e
canela (1958), Dona Flor e seus dois maridos (1967) e Tieta do agreste (1976),
verifica-se uma nova fase de sua produção literária, voltada não mais para
denúncia social, mas, sim, para as crônicas de costumes de ambientação
regional, nas quais afloram o pitoresco e a sensualidade.
Parte da crítica literária questiona o valor da obra de Jorge Amado, seja
pelo caráter militante de determinados romances, seja pela espontaneidade
de sua linguagem, seja pelo tom pitoresco e erótico de suas narrativas mais
populares. Independentemente das críticas, sua obra é amplamente conhecida no Brasil e no exterior, tendo sido traduzida para mais de quarenta línguas e adaptada para novelas, peças teatrais e filmes nacionais.
Capitães da Areia
O romance narra episódios da vida de dezenas de menores entre 8 e 16
anos que, abandonados e marginalizados, cometem delitos para sobreviver.
Em razão de ocupar um trapiche – um velho armazém diante do qual se estendia o areal do cais de Salvador –, são chamados “Capitães da Areia”. Entre
os protagonistas estão o jovem Pedro Bala, o líder do grupo, e João José, o
Professor, único entre eles que sabe ler. Unidos por códigos de lealdade e
fidelidade, contam somente com a ajuda de um padre e uma mãe de santo.
FOCO NO TEXTO
Leia a seguir um trecho de Capitães da Areia.
Manh‹ como um quadro
Pedro Bala, enquanto sobe a ladeira da montanha, vai pensando que não
existe nada melhor no mundo que andar assim, ao azar, nas ruas da Bahia. [...]
[...]
[...] O Professor vai com ele. Sua figura magra se atira para a frente como
se lhe fosse difícil vencer a ladeira. Mas sorri da festa do dia. Pedro Bala vira-se para ele e surpreende seu sorriso. A cidade está alegre, cheia de sol.
“Os dias da Bahia parecem dias de festa”, pensa Pedro Bala, que se sente
invadido também pela alegria. Assovia com força, bate risonhamente no
Jorge Amado
Filho de um proprietário de terras da
região cacaueira, Jorge Amado de Faria
(1912-2001) nasceu em Itabuna, no sul
do Estado da Bahia. Fez seus estudos
secundários em Salvador e, em 1930,
mudou-se para o Rio de Janeiro para
cursar Direito. No ano seguinte, publicou seu primeiro romance, No país do
carnaval, e com Cacau (1933) e Suor
(1934) alcançou a notoriedade.
Militante de esquerda, participou da
Aliança Nacional Libertadora, foi preso
por sua atividade política e, em 1946,
foi eleito deputado pelo Partido Comunista Brasileiro.
Entre 1948 e 1952, viveu exilado na
França e em Praga. Quando retornou ao
Brasil, era mundialmente conhecido. Em
1959, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.
Luiz Prado/Estadão Conteœdo
O coronel Lula representa uma tradição fundamentada na autoridade e no prestígio do patriarca, algo que
não mais se sustenta diante das mudanças sociais: com a Abolição, ele perde a mão de obra e, assim, perde a
autoridade e a produção açucareira vai à ruína, restando-lhe apenas
o status de senhor de engenho.
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LITERATURA
135 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
ombro do Professor. E os dois riem, e logo a risada se transforma em gargalhada. No
entanto, não têm mais que uns poucos níqueis no bolso, vão vestidos de farrapos, não
sabem o que comerão. Mas estão cheios da beleza do dia e da liberdade de andar pelas
ruas da cidade. E vão rindo sem ter do quê, Pedro Bala com o braço passado no ombro
de Professor. De onde estão podem ver o Mercado e o cais dos saveiros e mesmo o velho
trapiche onde dormem. Pedro Bala se recosta no muro da ladeira e diz a Professor:
– Tu devia fazer uma pintura disso... É porreta.
A fisionomia do Professor se fecha:
– Eu sei quem nunca há de ser...
– Quê?
– Tem vez que me topo pensando... – E Professor mira o cais lá embaixo, os saveiros
parecendo brinquedos, os homens miúdos carregando sacos nas costas.
Continua com a voz áspera como se alguém o tivesse batido:
– Eu penso fazer um dia um bocado de pintura daqui...
– Tu tem jeito. Se tu tivesse andado pela escola...
– ...mas nunca pode ser um troço alegre, não... (Professor parece não ter ouvido a
interrupção de Pedro Bala. Agora está com os olhos longe e parece ainda mais fraco.)
– Por quê? – Pedro Bala está espantado.
– Por isso João de Adão já fez um bocado de greve nas docas.
– Tu não vê que tudo é mesmo uma beleza? Tudo alegre...
Pedro Bala apontou os telhados da Cidade Baixa:
– Tem mais cores que o arco-íris...
– É mesmo... Mas tu espia os homem, tá tudo triste. Não tou falando dos ricos. Tu
sabe. Falo dos outros, dos das docas, do mercado. Tu sabe... Tudo com cara de fome, eu
nem sei dizer. É um troço que sinto...
Pedro Bala não estava mais espantado:
– Por isso João de Adão já fez um bocado de greve nas docas.
Ele diz que um dia as coisas vira, tudo vai ser vice-versa...
– Também já li um livro... Um livro de João de Adão. Se eu tivesse tado numa escola
como tu diz, tinha sido bom. Eu um dia ia fazer muito quadro bonito. Um dia bonito,
gente alegre andando, rindo, namorando assim como aquela gente de Nazaré, sabe?
Mas cadê escola? Eu quero fazer um desenho alegre, sai o dia bonito, tudo bonito, mas
os homens sai triste, não sei não... Eu queria fazer uma coisa alegre.
– Quem sabe se não é melhor mesmo fazer uma coisa como tu faz? Pode até dá mais
bonito, mais vistoso.
– Que é que tu sabe? Que é que eu sei? A gente nunca andou em escola... Eu tenho
vontade de fazer a cara dos homens, a figura das ruas, mas nunca tive na escola, tem
um bocado de coisa que eu não sei...
Fez uma pausa, olhou Pedro Bala que o escutava, continuou:
– Tu já deu uma espiada na Escola de Belas-Artes? É um
belezame, rapaz. Um dia andei de penetra, me meti numa
sala. Tava tudo vestido de camisão, nem me viram. E tavam
pintando uma mulher nua... Se um dia eu pudesse...
Pedro Bala ficou pensativo. Olhava Professor como que
pensando. Logo falou com um ar muito sério:
– Tu sabe o preço?
– Que preço?
– De pagar na escola? O professor?
– Que história é essa?
– A gente se reunia, pagava pra tu...
Professor riu:
– Tu nem sabe... Tem tanta complicação... Não pode não,
deixa de tolice.
Cena do filme
Capitães da Areia
(2011), baseado no
romance de Jorge
Amado.
Marcelo Reis/SambaPhoto
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136 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
– João de Adão disse que um dia a gente pode ter escola...
Saíram andando. Professor parecia ter perdido a alegria do dia. Como que ela se
afastara para longe dele. Então Pedro Bala deu-lhe um soco de leve:
– Um dia tu ainda bota um bocado de pintura numa sala da rua Chile, mano. Sem escola sem nada. Nenhum destes bananas da escola faz uma cara como tu... Tu tem é jeito...
[...]
Quase junto do palácio do governo pararam novamente. Professor ficou de giz na
mão esperando que saísse do ponto de bonde um “pato”. Pedro Bala assoviava ao seu
lado. Breve teriam o dinheiro para um bom almoço e ainda para levar um presente para
Clara, a amante do Querido de Deus, que fazia anos naquele dia.
[...]
Professor começou a desenhar a figura magra do homem. A piteira longa, os cabelos
encaracolados que apareciam sob o chapéu. O homem trazia também um livro na mão
e Professor teve um desejo irresistível de fazer o desenho do homem lendo o livro. O
homem ia passando, Pedro Bala chamou sua atenção:
– Olhe seu retrato, senhor.
O homem tirou a longa piteira da boca, perguntou a Bala:
– O quê, meu filho?
Pedro Bala apontou o desenho em que o Professor trabalhava. O homem aparecia
sentado (se bem não houvesse cadeira nem nada, estava sentado no ar), fumando sua
piteira e lendo seu livro. O cabelo encaracolado voava sob o chapéu. O homem examinou o desenho atentamente, foi espiá-lo em diversos ângulos, nada dizia. Quando o
Professor deu o trabalho por concluído, ele perguntou:
– Onde você aprendeu desenho, meu caro?
– Em lugar nenhum...
– Em lugar nenhum? Como?
– É, sim senhor...
– E como desenha?
– Me dá vontade, pego, desenho.
O homem estava um pouco incrédulo, mas sem dúvida recordou outros exemplos
no fundo da sua memória:
– Quer dizer que você nunca estudou desenho?
– Nunca, não senhor.
– Posso garantir – falou Pedro Bala. – Nós mora junto, eu sei.
– Então é uma verdadeira vocação... – murmurou o homem.
Voltou a examinar o desenho. Tirou uma longa fumaçada da sua piteira. Os dois
meninos olhavam para a piteira encantados. O homem perguntou ao Professor:
– Por que você me retratou sentado e lendo o livro?
Professor coçou a cabeça como se fosse uma coisa difícil de responder. Pedro Bala
quis falar, mas nada disse, estava atarantado. Por fim, Professor explicou:
– Pensei que sentava melhor pro senhor... – Coçou de novo a cabeça. – Não sei mesmo...
– É uma verdadeira vocação... – murmurou o homem em voz mais baixa, assim com
o jeito de quem havia feito uma descoberta.
Pedro Bala esperava o níquel, mesmo porque o guarda já os olhava desconfiado da
esquina. Professor espiava a piteira do homem, longa, desenhada a fogo, uma maravilha. Mas o homem continuou:
– Onde você mora?
Pedro Bala não deu tempo a que Professor respondesse. Foi ele quem falou:
– A gente mora na Cidade de Palha...
O homem meteu a mão no bolso e tirou um cartão:
– Você sabe ler?
– A gente sabe, sim senhor – respondeu Professor.
Cidade Baixa: área
litorânea de Salvador,
núcleo das atividades
portuárias e comerciais da
cidade.
Cidade de Palha:
originalmente, era um local
com vários casebres de
palha feitos para abrigar
leprosos; na década de
1930, o bairro recebeu o
nome de Cidade Nova.
doca: construção
portuária destinada
ao armazenamento
de mercadorias
desembarcadas e a
embarcar.
NazarŽ: bairro de classe
média situado próximo ao
centro antigo de Salvador.
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137 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2 literatura
– Aí está meu endereço. Eu quero que você me procure. Talvez possa fazer alguma coisa por você.
Professor tomou o cartão. O guarda se encaminhava para eles. Pedro Bala se despediu:
– Até logo, doutor.
O homem ia puxando a carteira de níqueis, mas
viu o olhar do Professor na sua piteira. Jogou o cigarro
fora, entregou a piteira ao menino.
– Isso é pelo meu retrato. Vá a minha casa...
Mas os dois desabaram pela rua Chile, porque
o guarda já estava quase junto a eles. O homem
olhava meio sem compreender quando ouviu a voz
do guarda:
– Lhe roubaram alguma coisa, senhor?
– Não. Por quê?
– Porque como aqueles malandrins estavam aqui junto ao senhor...
– Eram duas crianças... Por sinal que uma com maravilhosa inclinação para a pintura.
– São ladrões – retrucou o guarda. – São dos Capitães da Areia.
– Capitães da Areia? – fez o homem se recordando. – Já li algo... Não são crianças
abandonadas?
– Ladronas, isso são... Tenha cuidado, senhor, quando eles se aproximarem do senhor. Veja se não lhe falta nada...
O homem fez que não com a cabeça e olhou a rua. Mas não havia nem rastro dos
dois meninos. O homem agradeceu ao guarda, afirmando mais uma vez que não tinha
sido furtado, e desceu a rua, murmurando:
– Assim que se perdem os grandes artistas. Que pintor não seria! O guarda o espiava. Depois comentou para os botões de farda:
– Bem dizem que estes poetas são doidos...
[...]
(Jorge Amado. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 135-42.)
1. No início do texto, há um contraste entre o estado de espírito das personagens Pedro
Bala e Professor e sua condição de vida na cidade.
a. Em que consiste esse contraste?
b. O que, inicialmente, tal situação sugere a respeito do caráter dessas personagens?
2. Ao observar a Cidade Baixa, Pedro Bala sugere que Professor faça uma pintura dessa
paisagem.
a. As personagens têm diferentes perspectivas a respeito do que seria o retrato de tal
paisagem. Explique essa diferença.
b. O que tais perspectivas revelam sobre as duas personagens?
3. Em sua primeira fase, Jorge Amado produziu obras de conteúdo social e manifestou sua ideologia socialista.
a. No texto, quem a personagem João de Adão representa
socialmente? Justifique sua resposta com elementos do
texto.
b. Em Capitães da Areia, o autor denuncia o abandono de
crianças e adolescentes pelo aparato político-institucional. Como isso se apresenta no texto em estudo?
As personagens estão alegres, encantadas com a beleza do dia e contentes com sua
liberdade de andar pela cidade, embora só tenham alguns níqueis no bolso, estejam
vestidos com farrapos e não saibam o que conseguirão para comer.
Sugere que os meninos têm certa pureza e inocência, pois se deixam arrebatar pela beleza do dia, apesar de sua situação miserável.
Para Pedro Bala, o retrato seria alegre, pois o lugar era muito bonito, colorido, ao passo que, para Professor,
ainda que a paisagem saísse bonita e alegre, as figuras humanas seriam tristes, pois os homens que trabalhavam no local eram muito pobres.
Revelam que Professor, ao contrário de Pedro Bala, tem sensibilidade de um artista para captar o contraste entre a beleza da paisagem e o
sofrimento dos homens pobres que por ali viviam e trabalhavam.
3. a) O trabalhador engajado nas lutas sociais (“João de Adão disse que um dia a gente
pode ter escola...”) e trabalhistas, pois “já fez um bocado de greve nas docas”.
Pedro Bala e Professor não têm família nem escola que os amparem. O desenvolvimento da vocação artística se restringe àqueles que podem pagar por ela
(Escola de Belas-Artes), perpetuando sua situação de exclusão social.
Capa do DVD do filme
Capitães da Areia.
REGISTRE
NO CADERNO
Imagem Filmes
Carybé. Festa de Yemanjá no bairro do Rio Vermelho
- Dois de fevereiro, s/ data./Coleção particular
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138 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
4. Os Capitães da Areia são unidos pela lealdade e pela solidariedade. Que situações do
texto exemplificam tais princípios?
5. Para conseguir algum dinheiro, Professor faz retratos de pessoas que circulam pelas ruas.
a. O que o homem de piteira percebe de especial no desenho de Professor?
b. Por que Pedro Bala não fala a esse homem que eles moram no trapiche?
6. O guarda e o homem que compra o retrato de Professor representam duas figuras
sociais distintas.
a. Tendo em vista as características desse homem, levante hipóteses: Que figura social ele representa?
b. Que discurso cada um deles defende? Justifique sua resposta com elementos do
texto.
7. Observe os trechos em destaque, extraídos do texto:
• “Sua figura magra se atira para a frente como se lhe fosse difícil vencer a ladeira. “
• “A piteira longa, os cabelos encaracolados que apareciam sob o chapéu.”
• “Mas tu espia os homem, tá tudo triste.”
• “... mas nunca pode ser um troço alegre, não...”
• “Um dia tu ainda bota um bocado de pintura numa sala da rua Chile.”
a. De quem é a voz em cada um dos trechos?
b. Quais são as principais características da linguagem em cada uma dessas vozes?
Justifique sua resposta com elementos dos trechos.
c. A linguagem empregada no texto está de acordo com as concepções modernistas
da geração de 22? Por quê?
Pedro Bala propõe a Professor que todos os meninos do grupo se reúnam para lhe pagar a Escola de Belas-Artes e, também, essas personagens
planejam conseguir dinheiro para comprar o presente de aniversário da amante de Querido de Deus.
O retrato de Professor não apresentava somente um bom traçado, ele também
expressava sensibilidade, captando a essência do retratado.
Provavelmente pensava que, ao dizer onde realmente moravam, o homem saberia que eram os Capitães da Areia e, assim,
poderia chamar o guarda ou se recusar a lhes dar algum dinheiro ou qualquer outro tipo de ajuda.
Ele representa os artistas, os poetas, pessoas ligadas ao conhecimento,
pois carrega um livro, entende de arte.
O guarda defende o discurso de que os meninos de rua são malandros, ladrões (“Ladronas, isso são”), ao
passo que o homem defende que são apenas “crianças abandonadas”, sem oportunidade de desenvolver
seus potenciais (“Assim que se perdem os grandes artistas. Que pintor não seria!”).
Nos dois primeiros trechos, a voz é do narrador, nos demais, são as vozes de Pedro Bala e Professor.
b) A voz do narrador utiliza uma linguagem dentro
das regras da norma-padrão escrita (colocação
pronominal em “como
se lhe fosse difícil” ou a
concordância em “os cabelos encaracolados que
apareciam”). As vozes
das personagens, por sua
vez, têm características de
uma oralidade informal e
popular (concordância em
“tu espia os homem”, redução de está por tá, uso
de gírias como troço).
Sim, pois busca representar os modos de falar dos brasileiros.
Érico Veríssimo
Érico Veríssimo (1905-1975) nasceu em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Vindo de uma família rica e tradicional que perdeu o poderio econômico, trabalhou no comércio quando jovem e, ao se mudar para Porto
Alegre, em 1930, passou a se dedicar ao jornalismo, mesmo sem cursar faculdade.
Publicou o livro de contos Fantoches em 1932 e, no ano seguinte, Clarissa, romance de estreia que marcou
o início de sua popularidade. Desde então, passou a se dedicar intensamente à atividade literária. Foi diversas vezes aos Estados Unidos, onde lecionou literatura brasileira e dirigiu um dos departamentos culturais da
Organização dos Estados Americanos.
Entre 1948 e 1960, dedicou-se à elaboração de O tempo e o vento. Além de produzir ficção, o autor também
registrou suas memórias em Solo de clarineta (1973).
Érico Veríssimo
A obra do autor pode ser dividida em três fases. A primeira se caracteriza pelo registro
da vida cotidiana na cidade e pela abordagem de crises morais e espirituais do homem na
contemporaneidade. Alguns romances representativos desse período são Clarissa (1933),
Caminhos cruzados (1935), Um lugar ao sol (1936), Olhai os lírios do campo (1938) e O resto
é silêncio (1943).
A segunda fase corresponde à investigação das origens e da formação social, política
e econômica do Rio Grande do Sul; a partir desse trabalho, o autor produziu sua obra-prima, O tempo e o vento (1949-1961), uma trilogia de envergadura épica.
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Foto do Acervo UH/Folhapress
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LITERATURA
139 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
A última fase se caracteriza por um afastamento da temática sulina, voltando-se para
aspectos políticos internacionais, como é o caso de O prisioneiro (1967) e O senhor embaixador (1965).
Assim como Jorge Amado, Érico Veríssimo conquistou um grande sucesso junto ao
público. Entretanto, parte da crítica considera sua obra superficial, tanto no trabalho com
a linguagem como na análise psicológica das personagens.
O tempo e o vento
As três partes que compõem O tempo e o vento são “O continente”, “O retrato” e
“O arquipélago”. A saga da formação socioeconômica e política do Rio Grande do Sul
se inicia no final do século XVIII e se estende até o ano de 1946. O desenrolar dos fatos
ocorre em torno da região de Santa Fé, onde duas famílias – Amaral e Terra Cambará
– disputam o poder político. O ponto de partida do desenvolvimento dessa disputa é
a luta histórica de 1893 entre os federalistas, representados pela família Amaral, e os
republicanos, representados pela família Terra Cambará.
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, um trecho do episódio “Um certo capitão Rodrigo”, de “O continente”. Nessa parte da obra, é narrada a morte do Capitão Rodrigo Cambará, guerreiro e
andarilho que se fixou em Santa Fé por amor a Bibiana Terra, dando origem à família Terra
Cambará. A luta do Capitão Rodrigo contra a família Amaral marca o início da oposição à
autoridade dessa família, que, até então, era absoluta em Santa Fé.
Antes de começar o ataque ao casarão, Rodrigo foi à casa do vigário.
– Padre! – gritou, sem apear. Esperou um instante. Depois: – Padre!
A porta da meia-água abriu-se e o vigário apareceu.
– Capitão! – exclamou ele, aproximando-se do amigo e erguendo a mão, que Rodrigo apertou com força.
– Foi só pra saber se vosmecê estava aqui ou lá dentro do casarão. Eu não queria
lastimar o amigo...
– Muito obrigado, Rodrigo, muito obrigado. – O Pe. Lara sacudiu a cabeça, desalentado. – Vosmecê vai perder muita gente, capitão. Os Amarais são cabeçudos e têm muita
munição.
– Eu também sou cabeçudo e tenho muita munição.
– Por que não espera o amanhecer?
Rodrigo deu de ombros.
– Pra não deixar a coisa esfriar.
– Olhe aqui. Vou lhe dar uma ideia. Antes de começar o assalto, porque vosmecê
não me deixa ir ao casarão ver se o Cel. Amaral consente em se render pra evitar uma
carnificina?
– Não, padre. “Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti.” Não
é assim que diz nas Escrituras? Se alguém me convidasse pra eu me render eu ficava
ofendido. Um homem não se entrega.
– Mas não há nenhum desdouro. Isto é uma guerra entre irmãos.
– São as mais brabas, padre, são as mais brabas.
De cima do cavalo Rodrigo ouvia a respiração chiante e irregular do sacerdote. Lembrou-se das muitas conversas que tiveram noutros tempos.
– Vosmecê é um homem impossível... – disse o padre, desolado.
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140 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
– Acho que esta noite vou dormir na cama do velho Ricardo. – Sorriu. – Mas
sem a mulher dele, naturalmente... E amanhã de manhã quero mandar um próprio levar ao Chefe a notícia de que Santa Fé é nossa. A Província toda está nas
nossas mãos. Desta vez os legalistas se borraram! Até logo, padre.
Apertaram-se as mãos.
– Tome cuidado, capitão. Vosmecê se arrisca demais.
– Ainda não fabricaram a bala que há de me matar! – gritou Rodrigo, dando
de rédea.
– A gente nunca sabe – retrucou o padre.
– E é melhor que não saiba, não é?
– Deus guie vosmecê!
– Amém! – replicou Rodrigo, por puro hábito, pois aprendera a responder
assim desde menino.
O padre viu o capitão dirigir-se para o ponto onde um grupo de seus soldados o esperava. A noite estava calma. Galos de quando em quando cantavam nos terreiros. Os galos não sabem de nada – refletiu o padre. Sempre achara triste e agourento
o canto dos galos. Era qualquer coisa que o lembrava da morte. Voltou para casa, fechou
a porta, deitou-se na cama com o breviário na mão, mas não pôde orar. Ficou de ouvido
atento, tomado duma curiosa espécie de medo. Não era medo de ser atingido por uma
bala perdida. Não era medo de morrer. Não era nem medo de sofrer na carne algum
ferimento. Era medo do que estava para vir, medo de ver os outros sofrerem. No fim de
contas – se esmiuçasse bem – o que ele tinha mesmo era medo de viver, não de morrer.
O tiroteio começou. A princípio ralo, depois mais cerrado. O padre olhava para seu
velho relógio: uma da madrugada. Apagou a vela e ficou escutando. Havia momentos
de trégua, depois de novo recomeçavam os tiros. E assim o combate continuou madrugada a dentro. Finalmente se fez um longo silêncio. As pálpebras do padre caíram
e ele ficou num estado de madorna, que foi mais uma escura agonia do que repouso e
esquecimento.
O dia raiava quando lhe vieram bater à porta. Foi abrir. Era um oficial dos Farrapos
cuja barba negra contrastava com a palidez esverdinhada do rosto. Tinha os olhos no
fundo e foi com a voz cansada que ele disse:
– Padre, tomamos o casarão. Mas mataram o Cap. Rodrigo – acrescentou, chorando
como uma criança.
– Mataram? O vigário sentiu como que um soco em pleno peito e uma súbita vertigem. Ficou olhando para aquele homem que nunca vira e que agora ali estava, à luz
da madrugada, a fitá-lo como se esperasse dele, sacerdote, um milagre que fizesse ressuscitar Rodrigo.
– Tomamos o casarão de assalto. O capitão foi dos primeiros a pular a janela. – Calou-se, como se lhe faltasse fôlego. – Uma bala no peito...
O padre mirava-o, estupidificado, pensando em Bibiana.
– E os Amarais?
– O Cel. Ricardo morreu peleando. O filho fugiu.
O padre sacudia devagarinho a cabeçorra, como que recusando aceitar aquela desgraça.
– Eu queria que vosmecê fosse dar a notícia à mulher do capitão – pediu o oficial.
O vigário saiu de casa e começou a andar na direção da praça quase sem saber o que
fazia. O homem caminhava a seu lado e houve um momento em que murmurou:
– Meu nome é Quirino. Quirino dos Reis. Conheci o capitão no Rio Pardo. Brigamos
juntos nas forças de Antônio Vicente da Fontoura...
A praça na luz lívida. A figueira, como uma pessoa, grande, triste e escura. Lá do outro lado, o casarão...
– Perderam muita gente? – perguntou o padre com voz tão fraca que o outro não o
ouviu e ele teve de repetir a pergunta.
breviário: livro de leituras
e orações prescritas pela
Igreja.
caramuru: epíteto
que os farrapos davam
aos membros do
partido conservador
(legalistas, defensores da
centralização do poder).
desdouro: desonra.
meia-água: moradia cujo
telhado tem um só plano.
madorna: sono curto e
leve; cochilo.
pelear: lutar, pelejar
(Santa Catarina e Rio
Grande do Sul).
próprio: mensageiro.
Pôster do filme O
tempo e o vento (2013),
baseado na obra de
Érico Veríssimo.
O Tempo e o Vento. Direção: Jayme Monjardim. [S.I.]: Globo Filmes, 2013
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LITERATURA
141 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
– Perdemos seis homens e temos uns quinze feridos. Dos caramurus... nem contei. Mas fizemos uns trinta prisioneiros desde o primeiro combate até a tomada do casarão...
O Pe. Lara caminhava na direção da casa de Bibiana. Como havia de
lhe transmitir a notícia? Dizer tudo de chôfre? Ou primeiro mentir que
o capitão estava ferido... gravemente, e depois, aos poucos, preparar-lhe o
espírito para o pior? Talvez ela lesse no rosto dele o que havia acontecido.
Talvez já tivesse adivinhado tudo. Essas mulheres às vezes têm uma intuição dos diabos...
[...]
Quando o dia de Finados chegou, Bibiana foi pela manhã ao cemitério com os dois filhos. Estava toda de preto e agora, passado o desespero
dos primeiros tempos, sentia uma grande tranquilidade. Ficou por muito
tempo sentada junto da sepultura do marido, enquanto Bolívar e Leonor
brincavam correndo por entre as cruzes ou então se acocoravam e se punham a esmagar formigas com as pontas dos dedos. Mentalmente Bibiana conversava com Rodrigo, dizia-lhe coisas. Seus olhos estavam secos. Às
vezes parecia que ela toda estava seca por dentro, incapaz de qualquer
sentimento. No entanto a vida continuava, e a guerra também. A Câmara
Municipal de Santa Fé tinha aderido à Revolução. O velho Ricardo Amaral
estava morto. Bento havia emigrado para o Paraguai com a mulher e o
filho. Diziam que os imperiais tinham de novo tomado Porto Alegre. Bibiana não sabia nem queria saber se aquilo era verdade ou não. Não entendia bem aquela guerra. Uns diziam que os farrapos queriam separar a
Província do resto do Brasil. Outros afirmavam que eles estavam brigando
porque amavam a liberdade e porque tinham sido espezinhados pela Corte. Só duma coisa ela tinha certeza: Rodrigo estava morto e rei nenhum,
santo nenhum, deus nenhum podia fazê-lo ressuscitar. Outra verdade poderosa era a de que ela tinha dois filhos e havia de criá-los direito, nem que
tivesse de suar sangue e comer sopa de pedra. O pai convidava-a a voltar
para a casa. Mas ela queria ficar onde estava. Era o seu lar, o lugar onde
tinha sido feliz com o marido.
Bibiana olhou para a sepultura de Ana Terra e achou estranho que Rodrigo estivesse agora “morando” tão pertinho de velha. E não deixava de
ser ainda mais estranho estarem os dois à sombra do jazigo perpétuo da
família Amaral, onde se achavam o restos mortais do Cel. Ricardo. Agora
estavam todos em paz.
Bibiana levantou-se. Era hora de voltar para casa, pois em breve o
cemitério estaria cheio de visitantes, e ela detestava que lhe viessem
falar em Rodrigo com ar fúnebre. Não queria que ninguém a encontrasse ali. Em breve tiraria o luto do corpo: vestira-se de preto porque
era um costume antigo e porque ela não queria dar motivo para falatório. Mas no fundo achava que luto era uma bobagem. Afinal de contas
para ela o marido estava e estaria sempre vivo. Homens como ele não
morriam nunca.
Ergueu Leonor nos braços, segurou a mão de Bolívar, lançou um último
olhar para a sepultura de Rodrigo e achou que afinal de contas tudo estava
bem.
Podiam dizer o que quisessem, mas a verdade era que o Cap. Cambará
tinha voltado para casa.
[...]
(Érico Veríssimo. O Continente. O tempo e o vento. Rio de Janeiro:
Porto Alegre; São Paulo: Globo, 1962. Tomo I, p. 305-9.)
Guerra dos Farrapos
A revolta ocorreu primeiramente no
Rio Grande do Sul e, a seguir, estendeuse até Santa Catarina, no período entre
1835 e 1845. Seus líderes Giuseppe e
Anita Garibaldi, Bento Gonçalves e Bento Manuel ganharam notoriedade no
Brasil e em outros países. Os farrapos,
tal como eram chamados os rebeldes,
eram liberais e reivindicavam maior
autonomia política e econômica para o
Sul. O caráter separatista do movimento
tem sido objeto de controvérsias entre
os estudiosos. A tendência majoritária
dos rebelados era se posicionar a favor
de um governo federativo (sistema que
permite a autonomia dos Estados) e republicano.
O filme Anita e Garibaldi (2013) narra
o encontro do casal e sua atuação na
Farroupilha.
Anita e Garibaldi - antes de heróis. Direção: Alberto Rondalli. [S.I.]: LAZ Filmes, 2013
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142 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
1. Ao narrar o processo de formação do Rio Grande do Sul, o autor abordou
aspectos culturais, linguísticos, geográficos e históricos do Rio Grande
do Sul. Quais desses aspectos se apresentam no texto em estudo? Justifique sua resposta com exemplos do texto.
2. Em “Um certo capitão Rodrigo”, os espaços exercem um papel significativo na narrativa, representando a condição social de seus ocupantes.
a. No contexto da narrativa, o que representa o casarão?
b. Com a Guerra dos Farrapos, que mudança se dá em torno do casarão?
3. A personagem Rodrigo Cambará encarna o código de honra gaúcho; por
isso, com o tempo, tornou-se uma figura representativa do homem dessa região. De acordo com o texto em estudo, como se caracteriza essa
personagem? Justifique sua resposta com elementos do texto.
4. Bibiana Terra Cambará é uma das protagonistas de O tempo e o vento.
a. Qual é a visão que essa personagem tem da guerra?
b. Como Bibiana lida com a morte de Rodrigo Cambará?
c. Com base no texto e em suas respostas anteriores, conclua: Quais
são os traços psicológicos dessa personagem? Justifique sua resposta
com elementos do texto.
5. O tema e a linguagem empregada no texto estão de acordo com as concepções modernistas da geração de 22? Por quê? Justifique sua resposta
com elementos do texto.
O aspecto histórico, com a referência à Guerra da Farroupilha, e o linguístico, com o emprego de palavras de
uso regional, tais como pelear e caramuru, no sentido de “legalista”.
O casarão representa o centro de poder de Santa Fé.
Com a guerra, os farrapos tomam o casarão dos Amarais (conservadores, partidários do Império), o que,
nesse momento, representa a perda do poder local por tal família.
Homem corajoso, valente e impetuoso: para ele, o convite à rendição era uma ofensa (“Um homem não se entrega”),
e, na luta contra a família Amaral, foi um dos primeiros a invadir o casarão, morrendo como um herói.
Ela não entendia o porquê da guerra e não tinha nenhum interesse em compreendê-la.
Para ela, seu marido estaria sempre vivo; por isso, considerava que tudo estava bem.
Mulher forte e determinada que não se deixava abater pelas adversidades (“tinha dois filhos e havia de criá-los direito, nem que tivesse que suar sangue [...]”)
e que, além disso, não era apegada a lamentações nem a convenções sociais (“no fundo achava que o luto era uma bobagem”).
Sim, pois a linguagem é simples, direta e apresenta traços de oralidade (brabas, intuição dos diachos, os legalistas se borraram) e regionalismos,
registrando o modo de falar brasileiro; em relação ao tema, se ocupa do registro da realidade nacional, tal como propôs a geração de 22.
Por meio do estudo dos textos neste capítulo, você viu que:
• os romances regionalistas se caracterizam pelo retrato dos aspectos culturais, linguísticos, geográficos e históricos de cada região;
• os romances de José Lins do Rego têm como tema central a decadência dos engenhos
nordestinos e suas implicações sociais; a interioridade das personagens é explorada,
principalmente, por meio da onisciência do narrador e do discurso indireto livre.
• em Capitães da Areia, Jorge Amado denuncia o abandono de crianças e adolescentes
pelas famílias e pelo aparato político-institucional, manifestando claramente sua ideologia socialista;
• em O tempo e o vento, Érico Veríssimo narra a saga da formação socioeconômica e
política do Rio Grande do Sul no período entre o final do século XVIII e o ano de 1946;
• nos romances de Jorge Amado, José Lins do Rego e Érico Veríssimo, a linguagem é simples, direta e contém traços da oralidade, apresentando uma concepção de língua literária compatível com as ideias defendidas pelos modernistas de 22.
• o romance regionalista dá continuidade à proposta de 22 de pesquisar a realidade nacional, porém agora de uma forma crítica.
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lÍNGua e
liNGuaGeM
143 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
FOCO NO TEXTO
Leia o texto a seguir.
Crase
LÍNGUA E LINGUAGEM
1. Observe a parte não verbal do cartaz.
a. Em que suporte está escrito o texto central?
b. Que elementos estão em volta desse objeto?
c. Desses elementos, qual foge ao universo escolar?
2. O texto foi produzido para divulgar uma campanha do Conselho Federal de Psicologia. Levante hipóteses:
Em uma lousa.
Lápis coloridos, giz de cera, tintas, pincéis, comprimidos.
Os comprimidos.
(Disponível em: https://dapsiuff.files.wordpress.com/2012/07/
nao-a-medicalizacao.png. Acesso em: 7/3/2016.)
REGISTRE
NO CADERNO
Conselho Federal de Psicologia
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144 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão
a. A quem se dirige o cartaz?
b. A qual situação social ele faz referência?
c. Qual é a relação do Conselho Federal de Psicologia com essa situação?
d. Qual é a proposta da campanha?
3. Levante hipóteses: Por que o termo arteiro está entre aspas? Justifique
sua resposta com base no texto do cartaz.
4. Com base em suas respostas às questões anteriores, conclua: Qual é o
sentido do termo medicalização? Seu uso se restringe ao contexto infantil? Justifique sua resposta com base no texto do cartaz.
5. Releia as seguintes frases:
“Não à medicalização da vida.”
“Não ao uso indiscriminado de remédios nas escolas.”
a. Tendo em vista o contexto do cartaz, é possível considerar que há
uma forma verbal implícita antes do não. Qual é ela e a quem ela se
dirige?
b. Um dos complementos que esse verbo exige nessa ocorrência contém uma preposição. Qual é essa preposição?
c. Levante hipóteses: Por que antes da palavra medicalização foi utilizada a forma à e antes da palavra uso foi utilizada a forma ao?
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
No estudo do cartaz, você viu que, quando um complemento verbal é iniciado pela preposição a seguida de um substantivo feminino que admite ser
antecedido pelo artigo a, há a ocorrência da crase, uma vez que preposição e
vogal se fundem. Ocorrerá crase, portanto, quando o termo regente exige a
preposição a e o termo regido admite o artigo feminino a(s). Assim:
Crase é a fusão de duas vogais idênticas, que ocorre na junção da preposição a com o artigo a ou com o
pronome demonstrativo a.
O sinal indicador de crase, salvo alguns poucos casos especiais, só pode ser
usado antes de palavras femininas, pois só elas podem ser precedidas do artigo a.
Para certificar-se da necessidade do uso da crase, uma estratégia é usar
a regra da substituição:
• Quando o a puder ser substituído por ao, trata-se certamente de um caso
de crase:
Comparecemos à reunião. – Comparecemos ao encontro.
Obras à frente – Obras ao lado
Forno a lenha – Forno a gás (e não ao gás)
A pais que têm filhos crianças.
A situações em que crianças são medicadas por serem muito agitadas.
2. c) Os psicólogos, como profissionais da saúde, também têm responsabilidade sobre a saúde da população e parecem discordar de alguns médicos sobre como lidar com o comportamento infantil.
Não utilizar remédios indiscriminadamente para tratar crianças só porque elas são consideradas “arteiras”.
Porque o Conselho Federal de Psicologia, que promoveu essa campanha, quer demonstrar que não concorda com essa classificação, uma vez que afirma ser esse
comportamento típico da infância pelos dizeres: “Ele está apenas sendo criança!".
O hábito de consumir remédios qualquer que seja o problema. Não se restringe ao
contexto infantil, pois na parte superior do cartaz lê-se “Não à medicalização da vida”.
A forma diga, dirigida aos leitores do cartaz.
A preposição a.
5. c) Porque a primeira é feminina, pedindo o artigo feminino a junto à preposição, e a
segunda, masculina, pedindo o artigo masculino o junto à preposição.
Professor: Chame a atenção dos alunos para o fato de que a junção da preposição a com
o artigo a compõe a crase.
Casos especiais
• O acento indicador de crase é
usado na contração da preposição
a e os pronomes demonstrativos a,
aquele, aquela e aquilo, após verbos
que exijam a preposição a em seu
complemento:
Não me refiro a essa moça,
mas à (a + a pronome, com
sentido de aquela) que saiu.
• Pode haver acento indicador de crase
a fim de se eliminar uma possível
ambiguidade em expressões que têm
o sentido das locuções com a, por
meio da, ao lado da: escrever à/a
máquina ou bordar à/a mão.
• Há acento indicador de crase em
expressões nas quais se subentende
a locução à moda de: poemas à
Camões, cabelo à Pica-Pau, drible à
Neymar.
• Há acento indicador de crase antes
da palavra Terra quando esta se
refere ao planeta; não há crase
quando terra se opõe a bordo.
• Há acento indicador de crase
nas expressões à medida que, à
proporção que, à beira de, à toa.
• Há acento indicador de crase em
construções paralelas que começam
com artigo feminino e subentendem
palavras femininas:
Andei de porta em porta, da
sala 1 à [sala] 35 (ou das salas 1
a 35, sem crase).
A secretaria fica aberta das 14 h
às 16 h [horas] (ou de 14 h a 16 h,
sem crase).
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língua e
linguagem
145 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
• Quando o a puder ser substituído por para a (no caso de verbos de movimento, pode-se
também fazer a substituição com a forma verbal voltar: voltei de, sem crase; voltei da,
com crase):
Dei o pacote a/à Maria. – Dei o pacote para (a) Maria.
Vou à Bahia. – Vou para a Bahia. / Voltei da Bahia.
Vou a São Paulo. – Vou para São Paulo. / Voltei de São Paulo.
APLIQUE O QUE APRENDEU
1. Leia a seguir um texto sobre o músico Benjamin Clementine, publicado na revista
Serafina, do jornal Folha de S. Paulo.
Ex-morador de rua e músico de metrô,
Clementine conquista ♦ Inglaterra
Subúrbio de Londres. Em uma velha igreja vazia há um piano aberto no centro do
altar. O menino negro atravessa com pés descalços o corredor frio e senta-se ♦ frente
do instrumento. Sem hesitar, pressiona ♦ primeiras teclas e da sua boca irrompe um
som profundíssimo. Não demora e uma multidão emocionada vai enchendo os antigos
bancos de madeira.
♦ cena nunca aconteceu, mas não é difícil imaginá-la ao ouvir pela
primeira vez “At Least For Now”, álbum de estreia do inglês Benjamin Clementine, cantor e compositor de 27 anos que, depois de morar na rua em
Paris, arrebatou ♦ Inglaterra em 2015. No final do ano passado, ele venceu
o Mercury Prize, o mais respeitado prêmio de música britânico.
Como o garoto na igreja, Benjamin senta-se ♦ piano sempre descalço
e canta poesias guardadas lá no fundo. “É como toco em casa de manhã”,
diz. [...]
Criado pelos pais ganeses em Edmonton, uma das áreas mais violentas
de Londres, Benjamin contou ♦ Serafina que só se sentiu verdadeiramente
amado e aceito quando saiu de casa. Com problemas com ♦ família religiosa, para a qual deixar o cabelo crescer é uma afronta ♦ cristianismo, e sofrendo bullying
na escola por ser “feminino”, mudou-se em 2010 para Paris.
Sozinho, sem dinheiro, com apenas 19 anos e uma mala cheia de pacotes de macarrão, passou seis meses dormindo nas ruas, morou em albergues espalhados pela cidade
e namorou Daniela, uma estudante franco-brasileira. Por dois anos, impressionou com
suas músicas os passageiros da linha 2 do metrô, até ser abordado por dois produtores.
Do dia para a noite passou ♦ lotar apresentações França afora.
Com dois EPs gravados, Benjamin continuava inseguro sobre sua carreira artística.
Ainda desconhecido do público inglês, foi convidado ♦ participar de um programa televisivo da BBC na mesma noite em que se apresentaria sir Paul McCartney. O ex-Beatle
não apenas elogiou o estreante como o fez prometer que continuaria fazendo música.
Insegurança, aliás, é o tema de “Condolence”, uma das mais emblemáticas canções
de “At Least for Now”, lançado em março de 2015. Nela, Benjamin afirma que já teríamos
ouvido sua voz antes, ironizando ♦ surdez do mundo em relação ♦ quem historicamente clama por atenção desde sempre. “Eu mentiria se dissesse que sei como meus
ancestrais afetam ♦ minha forma de fazer ♦ coisas, mas sei que eles estão em mim”,
O músico Benjamin
Clementine.
Bertrand Guay/AFP
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146
UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
conta. Na melhor parte da música, ele deliberadamente manda suas condolências ♦
insegurança e ♦ medo. É de arrepiar.
[...]
Ainda neste semestre, Benjamin Clementine, enigmático como sua música, pretende publicar um dicionário escrito por ele dando significados pessoais ♦ cerca de mil palavras. A julgar pelas letras de “At Least For Now”, sua maneira de ser pessoal (“diferente
de Adele”, ele brinca) diz muito sobre cada um de nós. E emociona.
(Danilo Rezende. Revista Serafina, 28/2/16. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2016/03/
1743743-ex-morador-de-rua-e-musico-de-metro-clementine-conquista-a-inglaterra.shtml. Acesso em: 7/3/2016.)
a. Substitua o símbolo ♦ pela forma adequada entre as possibilidades − à(s), a(s) e ao
− e indique cada uma delas em seu caderno.
b. Reproduza em seu caderno uma tabela como a seguinte e complete-a com as expressões, como no exemplo.
preposição a + artigo
a + nome feminino
preposição a + artigo
o + nome masculino preposição a artigo a(s)
à frente ao piano a lotar a Inglaterra
Leia a tira a seguir e responda às questões 2 e 3.
a / à / as / A / ao / a / à ou a / a / ao / a / a / a / a / a / as / à / ao / a
à Serafina, à insegurança ao piano, ao cristianismo, ao medo a participar, a quem, a cerca as primeiras, a cena, a Inglaterra, a Serafina,
a família, a surdez, a minha, as coisas
2. A tira constrói seu humor com base principalmente no comportamento do homem
de terno.
a. Qual parece ser a intenção dessa personagem nos dois primeiros quadrinhos ao se interessar pela proposta do homem de casaco amarelo?
b. Por que é possível considerar que os dois últimos quadrinhos satirizam o comportamento inicial do homem de terno?
3. Discuta com os colegas e o professor se o uso do acento indicador da
crase no 1º quadrinho é ou não adequado e por quê.
4. Complete, em seu caderno, as placas a seguir com a ou à, tendo em
vista as regras de uso do acento
indicador da crase estudadas.
A intenção de tirar vantagem de uma informação aparentemente sigilosa.
2. b) Porque os dois querem ser espertos e tirar vantagem da situação, mas o homem de
amarelo conseguiu ser ainda mais esperto que o de terno.
3. Não é adequado,
pois nesse caso deve
haver apenas a preposição, visto que a
palavra subsequente
é uma forma verbal
no infinitivo e não um
substantivo feminino;
logo, não há o artigo a.
A propósito, a seguir, a 2 km
Salvo raríssimas exceções (veja o
boxe “Casos especiais”), a crase só
pode ocorrer diante de nomes femininos. Portanto, nenhuma das expressões
do título (ou similares) recebe o acento
grave indicador da crase.
(Disponível em: http://amigosdemaua.net/
fatores/placas_seobres_mar2012.htm.
Acesso em: 7/3/2016.)
à, a
REGISTRE
NO CADERNO
Angeli/Acervo do cartunista
Reprodução/DER/Seobras-RJ
(Folha de S.Paulo. 17/12/2003.)
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lÍNGua e
liNGuaGeM
147 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia a placa a seguir.
(Disponível em: https://twitter.com/medodeportugues/
status/601790617757327360. Acesso em: 7/3/2016.)
(Disponível em: http://amigosdemaua.net/textos/
sobre%20faixas.htm. Acesso em: 7/3/2016.) à
(Disponível em: http://revistadonna.clicrbs.com.
br/coluna/claudia-tajes-lingua-desrespeitada/.
Acesso em: 7/3/2016.) a
(Disponível em: http://www.
naotemcrase.com/2014/10/
contruir-as-margens-de.html.
Acesso em: 8/3/2016.)
a, a
Reprodução Reprodução/Rony Costa/Finephoto
Reprodução/DNIT
Reprodução/DER/Seobras-RJ
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148 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
1. Levante hipóteses: A quem a placa se dirige?
2. A expressão as margens, sem acento, tal como foi escrita na placa:
a. tem qual função nessa frase?
b. tem qual sentido?
3. Suponha que houvesse acento na expressão às margens.
a. Nesse caso, qual seria o sentido dessa expressão e sua função nessa frase?
b. Tendo em vista a situação de comunicação analisada, deduza: Qual das duas formas é mais adequada a esse contexto e por quê?
4. Leia os cartazes a seguir.
Às pessoas que vivem na região da rodovia.
Completar o verbo construir (objeto direto).
O de que aqueles que desejem construir margens para a rodovia devem antes contactar o DNIT.
a) Seria uma locução indicativa de lugar (adjunto adverbial),
com o sentido de que aqueles que desejem construir casas, prédios, etc. nas laterais da rodovia devem antes contactar o DNIT.
b) A forma às margens, porque em geral quem constrói margens para uma rodovia são empresas contratadas, e não qualquer pessoa da comunidade.
Em contrapartida, qualquer pessoa da região que tenha acesso a um terreno ao redor da rodovia pode desejar construir em seu espaço.
(Disponível em: http://placasridiculas.blogspot.com.
br/2014/07/a-tolice.html. Acesso em: 9/3/2016.)
(Disponível em: http://revistadonna.clicrbs.com.br/coluna/claudiatajes-lingua-desrespeitada/. Acesso em: 9/3/2016.)
a. Levante hipóteses: Em que tipo de estabelecimento eles provavelmente foram afixados?
b. A que se referem as expressões vaca à tolada e fígado à cebolado?
c. Essas expressões foram grafadas de forma não convencional nos cartazes. Quais
são as formas convencionais?
d. Tendo em vista as regras de uso do acento indicador da crase estudadas, levante
hipóteses: Qual regra levou os autores dos cartazes a utilizar essa forma na escrita?
5. Leia a seguir um guia que traduz símbolos de etiqueta de roupas.
Em bares ou restaurantes.
A pratos servidos nesses locais.
Vaca atolada e fígado acebolado.
A regra de que expressões que subentendem a forma à moda de recebem acento indicador de crase. Assim, essa escrita se deu
por analogia a formas como bife/filé à parmegiana/à milanesa.
(Disponível em: http://www.derepentetamy.com/
category/dicas-2/cuidados-com-roupas-e-acesso
rios/page/2/. Acesso em: 9/3/2016.)
REGISTRE
NO CADERNO
Rony Costa/Finephoto (adaptado)
Reprodução/Rony Costa/Finephoto
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lÍNGua e
liNGuaGeM
149 A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
Observe as expressões:
• lavar à mão • lavar à máquina • lavados a seco
a. Nas duas primeiras ocorrências, o uso do acento indicador da crase é facultativo.
Seguindo a regra da substituição pelo masculino, haveria esse acento? Justifique
sua resposta pela regra.
b. Reescreva as duas primeiras ocorrências da questão anterior sem o acento indicador da crase, relacione-as aos dois primeiros desenhos do texto e deduza: Por que
se optou, no guia, por utilizar a forma com acento?
c. Levando o contexto de circulação em consideração, conclua: A ausência de acento
indicador da crase poderia acarretar um problema de leitura?
Não, pois na forma masculina lavar a seco permanece apenas o a da preposição, sem o artigo o. Segundo a
regra, haveria crase se a forma masculina fosse composta por ao, lavar ao seco, o que não ocorre.
b) Lavar a mão e Lavar a máquina. Provavelmente porque escritas assim, fora
de contexto, pode parecer que a mão e a máquina são objetos do verbo lavar,
dando a entender que a mão e a máquina é que serão lavadas.
Não, pois nessa situação é possível compreender que se trata de lavar a roupa usando a mão ou a máquina, uma vez que a leitura desse
tipo de etiqueta e a busca pelo significado do desenho em geral se dá justamente pelo interesse em lavar a roupa.
Relatório e currículo
O relatório
FOCO NO TEXTO
Leia o texto a seguir.
Relatório do º Encontro da
Comunidade de Desenvolvimento
Tema: Programa de Construção Sustentável da CBIC Belo Horizonte
Introdu•‹o
No dia 10 de outubro de 2012 foi realizado o 4º encontro da Comunidade de Desenvolvimento do CDSC, com o tema “Programa de Construção Sustentável da CBIC
(PCS)” . Esse relatório tem como objetivo sumarizar o que foi apresentado e discutido
no evento, que contou com 24 participantes, representando empresas associadas ao
CDSC, entidades convidadas e integrantes do Núcleo Petrobras de Sustentabilidade e
o Núcleo Bradesco de Inovação, ambos da FDC.
O CDSC visa a construção de indicadores, ferramentas e abordagens que auxiliam
as organizações a entenderem e aplicarem os pressupostos da sustentabilidade. A esse
respeito, o principal objetivo do encontro foi, com base no PCS, dar início à construção
da agenda mineira de sustentabilidade na construção. Para isso, os participantes foram
convidados a debater as questões prioritárias para diferentes segmentos da cadeia produtiva da construção em Minas Gerais, utilizando também como base pesquisas realizadas pelo CDSC e os resultados dos outros encontros. A seguir, os principais pontos
discutidos serão apresentados.
PRODUÇÃO DE TEXTO
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150 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
Temas centrais para a sustentabilidade no setor da
construção: oportunidades e ameaça
No início da sessão foi feita uma apresentação do
programa de Construção Sustentável da CBIC (PCS).
Em seguida foi iniciado um debate com os participantes do evento com relação aos temas apontados
no PCS. Para ampliar o escopo do debate, o CDSC apresentou também aos participantes os temas relevantes obtidos em pesquisas e encontros com empresas.
[...]
Por onde começar?
Um dos participantes apontou que tudo deveria
começar com a conscientização, e uma opção colocada foi que a própria FDC poderia oferecer capacitação
para maior domínio por parte dos gestores sobre os
temas relacionados à sustentabilidade na construção. A justificativa para começar pela
conscientização é que o indivíduo consciente sobre a sustentabilidade faz ações relacionadas surgirem. Outra participante ponderou que a sustentabilidade só é realmente levada
adiante em organizações com um interesse institucional no tema. Havendo esse interesse,
é preciso compreender como as diferentes áreas da empresa se relacionam com os aspectos
de sustentabilidade. Para a ampliação da visão de cada área o primeiro passo é a conscientização. Foram ainda apontadas outras formas de se iniciar o diálogo e a implementação
da sustentabilidade nos diferentes segmentos: iniciativas efetivas dos sindicatos, órgãos
públicos e das empresas particulares em dar realmente destino correto aos resíduos.
Outros pontos que deveriam ser trabalhados são listados abaixo:
• Inter-relação entre Estado; órgãos reguladores e cadeia produtiva antes de tomada de decisões por meio de reuniões com facilitadores autênticos e atuantes na
área de sustentabilidade.
• Divulgação de profissionais e empresas que atuam com sustentabilidade para
toda a cadeia produtiva da construção.
• Trabalho na gestão da responsabilidade compartilhada com o apoio político.
• Facilitação do financiamento às empresas que estão trabalhando com os tratamentos dos resíduos.
• Envolver os laboratórios das faculdades no desenvolvimento de destinações produtivas para resíduos e de novos produtos.
• Qualificação de projetistas para que atribuam conceitos de sustentabilidade aos
projetos.
• Promoção de maior comunicação entre empresas (construtoras, transportadoras
e receptoras e recicladoras de resíduos).
Por fim, outra maneira de se trabalhar a sustentabilidade nos segmentos do setor é
a partir dos temas levantados. Os temas prioritários – Energia e Educação para a Sustentabilidade – apontados pelos participantes podem servir de ponto de partida.
Próximos passos
Com os resultados obtidos no encontro é possível perceber a necessidade de se analisar, estudar e propor alternativas diferenciadas para os diversos segmentos do setor
da construção, que apontam temas, barreiras e inciativas específicas. O próximo passo
é utilizar o material obtido no encontro como insumo para pesquisas futuras, levando
em consideração as especificidades dos segmentos do setor da construção.
(Disponível em: http://www.fdc.org.br/professoresepesquisa/nucleos/
Documents/relatorio_4_encontro.pdf. Acesso em: 14/1/2016.)
Monty Rakusen/Getty Images
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151Produção de texto
A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
1. O texto lido descreve um evento específico.
a. Qual é esse evento?
b. Quem participou do evento?
c. O que foi discutido no evento?
2. Levante hipóteses: Com qual finalidade o texto em estudo foi escrito? Em qual situação de comunicação ele circula?
3. Observe as siglas contidas no texto: CDSC, CBIC, PCS, FDC.
a. Apenas uma entre elas tem seu significado explicitado no texto. Qual é ela? O que
ela significa?
b. Entre as opções de significado oferecidas a seguir para cada sigla, deduza qual é o
correto, tendo em vista o conteúdo do relatório.
• CDSC: Comissão para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
• CDSC: Centro de Desenvolvimento da Sustentabilidade na Construção
• CBIC: Câmara Brasileira da Indústria da Construção
• CBIC: Centro Baiano de Incentivo à Cultura
• FDC: Fundação dos Direitos da Criança
• FDC: Fundação Dom Cabral
c. Tendo em vista a situação de comunicação em que um relatório circula, levante hipóteses: Por que, no texto em estudo, o significado dessas siglas não foi especificado?
4. Um relatório pode ser composto por partes diversas, mas há alguns itens que devem
estar presentes em todo relatório: objetivo (seja do relatório, seja do evento ou da
atividade relatada); ações realizadas; resultados obtidos; possíveis ações futuras. Segundo o relatório em estudo:
a. Qual é o objetivo do relatório?
b. Quais eram os objetivos do evento relatado?
c. Quais foram as ações realizadas?
d. Quais foram os resultados obtidos? E a possível ação futura?
5. Releia o item “Por onde começar?”.
a. Qual função esse item desempenha no relatório?
b. Discuta com os colegas e o professor e levante hipóteses: Esse item constitui uma
parte obrigatória em um relatório?
c. Essa estrutura se assemelha à estrutura de qual outro gênero, tendo em vista o
detalhamento da descrição apresentada? Justifique sua resposta.
6. Discuta com os colegas e o professor e, depois, anote em seu caderno os itens, entre
os seguintes, que podem constar em um relatório.
• saudações aos leitores
• justificativa
• solicitação de patrocínio
• impactos causados nos sujeitos envolvidos
• prestação financeira de contas
• fotos
• complicação seguida de clímax
• considerações finais
• despedida
Um encontro de um grupo de discussão sobre desenvolvimento sustentável.
24 pessoas, representando empresas e entidades ligadas a núcleos de discussão do tema.
Temas centrais para a sustentabilidade no setor da construção: oportunidades e ameaça; temas relevantes obtidos
em pesquisas e encontros com empresas; importância da conscientização e da capacitação, bem como de iniciativas
efetivas dos sindicatos, órgãos públicos e das empresas particulares em dar realmente destino correto aos resíduos.
Foi escrito com a finalidade de divulgar a um público mais amplo, e não apenas aos que estavam presentes, o que foi
discutido no encontro. Pode ser distribuído a pessoas específicas, pode ser disponibilizado em um ambiente on-line ou
circular por e-mail ou pelo correios.
É PCS, que significa Programa de Construção Sustentável.
X
X
X
Porque, em geral, um relatório é um documento que circula em
um grupo; portanto, certamente se supõe que as pessoas a
quem esse relatório se destina conhecem tais siglas.
Sumarizar o que foi apresentado e discutido no evento.
Construção de indicadores, ferramentas e abordagens que auxiliam as organizações
a entender e aplicar os pressupostos da sustentabilidade; dar início à construção da
agenda mineira de sustentabilidade na construção.
4. c) Os participantes foram convidados a debater
as questões prioritárias
e tomaram conhecimento
de pesquisas e resultados
dos outros encontros; foi
feita uma apresentação
do programa; foi iniciado
um debate com os participantes; foram apresentados aos participantes os
temas relevantes obtidos
em pesquisas e encontros
com empresas.
A percepção da necessidade de analisar, estudar e propor alternativas diferenciadas para os diversos segmentos do setor
da construção. / A utilização do material obtido no encontro como insumo para pesquisas.
A de detalhar os tópicos do debate feito no dia do encontro.
Não, pois é um detalhamento bem específico e facultativo, dependendo dos objetivos e da função do relatório.
À estrutura de uma ata, pois detalha a fala de alguns participantes e elenca pontos discutidos e mencionados na discussão.
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REGISTRE
NO CADERNO
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152 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
HORA DE ESCREVER
Seguem duas propostas de elaboração de produção de relatórios.
1. No capítulo 1, houve a realização de um debate no qual foram
deliberadas ações para a organização da feira de cidadania a ser
realizada no final da unidade. A fim de registrar as decisões tomadas, faça, individualmente, um relatório sobre os pontos discutidos no debate. Para isso, utilize as anotações que você fez
durante a discussão.
2. Prepare-se para produzir um relatório de prestação de contas da
feira. Guarde a documentação que utilizou com vistas à organização dos trabalhos e faça anotações que possam auxiliar na elaboração futura do relatório. Quem ficou responsável por qual tarefa?
Quais atividades foram realizadas? Quantas pessoas participaram?
Como foi a receptividade dos visitantes à feira? Qual oficina foi a
mais concorrida?
ANTES DE ESCREVER
Planeje seu relatório, seguindo estas orientações:
• Reúna todo o material com as informações relativas ao planejamento e/ou à organização da feira de cidadania: documentos, anotações, fotografias, etc.
• Certifique-se de que tem à mão informações para contemplar os itens mínimos de um
relatório: objetivo, tópicos discutidos, principais resultados.
• Defina quais serão as partes do relatório, tendo em vista a principal função dele: é
importante mencionar a razão do evento? É interessante anexar algum documento ou
imagem? É relevante comentar os impactos do evento na comunidade?
• Defina se há necessidade de detalhar as discussões realizadas no evento.
• Aponte os resultados do evento.
• Caso o evento relatado tenha dado origem a decisões relativas a ações futuras, registre-as.
ANTES DE PASSAR A LImPO
Antes de dar seu relatório por finalizado, observe:
• se o material de consulta que você selecionou foi aproveitado ao máximo;
• se os itens mínimos de um relatório foram contemplados;
• se as partes que compõem seu texto apresentam informações relevantes, considerando-se a finalidade que ele tem em vista;
• se o detalhamento das informações está equilibrado, ou seja, não é exagerado nem
insuficiente;
• se os resultados ou os planos relativos a ações futuras foram mencionados.
Dê continuidade à organização da feira de cidadania que a classe realizará
no final da unidade, registrando em um relatório
as decisões acordadas no
debate deliberativo e preparando a produção de um
relatório após a feira, a fim
de prestar contas, à escola
e à comunidade, dos resultados do trabalho realizado
por vocês.
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153PRODUÇÃO DE TEXTO
A geração de 30: José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Crase. Relatório e currículo CAPÍTULO 2
O currículo
Você, que está no 3¼ ano do ensino médio, em breve poderá precisar de um currículo, caso decida ingressar no mercado de trabalho. Trata-se de um documento no
qual são relacionadas as principais atividades que uma pessoa já realizou no âmbito
escolar e/ou profissional. Veja, a seguir, as principais informações que devem constar
em um currículo breve.
Nome completo
Data de nascimento, estado civil
Endereço com CEP
Telefones (residencial e celular)
Área de interesse (opcional, caso haja alguma específica)
Formação escolar/acadêmica
Nome da escola/universidade
Curso (ensino médio regular ou técnico)
Início e término previsto
Formação complementar
Cursos de informática, cursos extras cujo conteúdo possa ser relevante para o cargo pretendido (música, esporte, teatro, etc.)
Idiomas
Nome do idioma, nível de conhecimento, nome da escola, período cursado
Experiência profissional
Empregos e estágios anteriores, sempre começando pelo mais recente
Nome da empresa e período de duração
Cargo ocupado e principais atividades realizadas
Atividades complementares
Atividades realizadas extraoficialmente: cargos ocupados na escola (membro do grêmio, representante de classe, etc.), organizações de eventos culturais, atividades voluntárias socialmente relevantes, vivência no exterior, participação em grupos comunitários, de estudo, de pesquisa, etc.
HORA DE ESCREVER
Seguem duas propostas de elaboração de currículos.
1. Seguindo o modelo acima, elabore um currículo com o resumo das principais atividades que você já realizou. Tenha-o à mão, caso haja alguma oportunidade do
seu interesse.
2. Planeje, com os colegas da classe, uma oficina de elaboração de currículos. Durante a
feira de cidadania, vocês poderão elaborar currículos para os visitantes ou dar dicas e
orientações sobre como deve ser um bom currículo.
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154 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão
ANTES DE ESCREVER
Planeje a elaboração do seu currículo, seguindo estas orientações:
• Apresente seus dados pessoais de forma completa (números de documentos pessoais são desnecessários).
• Só coloque foto (em formato 3 x 4, com roupa sóbria e
fisionomia que demonstre seriedade) se houver essa solicitação.
• Registre todos os cursos que fez e as atividades profissionais que realizou (de preferência aquelas que você tem
como comprovar) e jamais cite cursos que não frequentou.
• Seja sincero e objetivo ao mencionar o domínio de algum
conhecimento ou a participação em trabalhos ou cursos.
• Não faça autoavaliações elogiosas.
• Utilize uma linguagem em acordo com a norma-padrão.
• Escreva entre uma e duas páginas. Caso você já tenha experiência profissional em que
se incluem numerosas atividades, mencione apenas as que forem mais relevantes com
vistas ao cargo ao qual está se candidatando.
• A não ser que o currículo seja direcionado a uma área artística, prefira um formato
clássico.
ANTES DE PASSAR A LImPO
Antes de dar seu currículo por finalizado, observe:
• se seus dados pessoais estão completos e atualizados, sem excesso de informação;
• caso haja foto, se ela é adequada;
• se todas as atividades relevantes que você já realizou estão mencionadas;
• se as descrições de experiências e atividades foram feitas de forma direta e objetiva,
sem autoelogios;
• se não há desvios em relação à ortografia e à norma-padrão;
• se a versão final tem, no máximo, duas páginas;
• se o documento está em um formato clássico.
Shutterstock
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155 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3
A geração de 30
Colocação pronominal
Cartas argumentativas
A geração de 30:
Carlos Drummond de Andrade
CAPÍTULO 3
LITERATURA
Coleção Gilberto Chateubriand MAM, Rio de Janeiro, RJ
Porto (1935), de Antônio Gomide, pintor modernista que, na década de 1930, passou a pintar temas nacionais,
em especial figuras humanas de nossa paisagem.
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156 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão
Carlos Drummond de Andrade
O poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu em Itabira, Minas Gerais. Estudou Farmácia em Ouro
Preto, mas não exerceu a profissão. Foi
um dos fundadores de A revista (1925),
publicação mineira que tinha o propósito de difundir o Modernismo no Estado.
Em 1934, o poeta mudou-se para o
Rio de Janeiro, onde teve contato com
os escritores da geração de 1930 que
viviam na então capital do país.
Foi funcionário público e, como cronista, escreveu para jornais mineiros
e cariocas. Produziu poesia, crônicas,
contos e literatura infantil e é considerado por alguns críticos como o maior
poeta brasileiro de todos os tempos.
Arquivo/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
A poesia de 30
Os poetas da geração de 1930, assim como os romancistas, viveram o período de tensão dos anos 1930-40, marcados por fatos como a Revolução de
1930, o início do Estado Novo (1937-45), a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o acirramento ideológico, entre outros. Apesar disso, a poesia buscou
caminhos próprios, diferenciando-se da prosa, que explorou fortemente o
veio regionalista.
O traço preponderante da poesia dessa geração é a reflexão sobre o “estar no mundo”, voltada muitas vezes para questões sociais, mas também
para questões filosóficas, existenciais, espirituais e amorosas.
Do ponto de vista formal, os poetas da geração de 1930 mantiveram as
conquistas da geração de 22 − como o verso livre, as palavras em liberdade,
a busca de uma linguagem brasileira, mais próxima do oral e do coloquial,
etc. −, mas retomaram alguns dos procedimentos formais antes combatidos pelos modernistas, como o verso regular, o soneto e outras formas tradicionais da poesia. Aliás, alguns escritores dessa geração, como Vinícius
de Morais, destacaram-se como grandes sonetistas.
Os principais poetas dessa geração foram Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinícius de Morais, Jorge de Lima, Murilo Mendes e Mário Quintana. A poesia de Drummond será estudada neste capítulo; a de
Cecília Meireles e Vinícius de Morais, no capítulo 1 da unidade seguinte.
Carlos Drummond de Andrade
A primeira obra de poesia de Carlos Drummond de Andrade, Alguma poesia, foi publicada em 1930. Ao longo dos mais de cinquenta anos de produção literária do poeta, sua a obra foi se modificando, refletindo os fatos
histórico-sociais, porém nunca deixou de apresentar certos traços que lhe
foram essenciais, como a reflexão existencial e a ironia.
Da vasta produção em prosa e verso do autor, daremos destaque à poesia, que contou com várias fases. Os poemas das duas primeiras obras, Alguma poesia e Brejo das almas (1934), foram criados sob a influência dos
modernistas de 22 e, por isso, ainda são marcados pelo experimentalismo
estético, pelo poema-piada, pela síntese, pela ironia e pelo humor. Apesar
disso, apresentam uma profunda reflexão sobre o “estar no mundo”, em
uma perspectiva mais individualista e pessimista, revelando um claro sentimento de mal-estar, desagregação e inadequação.
A partir de 1940, entretanto, com a publicação de Sentimento do mundo,
nota-se uma clara mudança de perspectiva do poeta. Seus poemas se direcionam, então, para temas sociais e universais, como a guerra, e passam a
expressar um sentimento de esperança e de união entre os homens. Essa
fase se estende nos livros subsequentes, José (1942) e Rosa do povo (1945). A
publicação deste último livro coincide com o fim da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo, no Brasil.
Nas obras posteriores, o poeta retoma a postura reflexiva e filosófica das
obras iniciais, marcada por acentuados traços de desilusão e pessimismo
em relação à humanidade. São dessa fase as obras Claro enigma (1951), Fazendeiro do ar (1954) e A vida passada a limpo (1959).
Na fase final de sua produção, em obras como Boitempo (1968), Corpo
(1982), Amar se aprende amando (1984), entre outras, Drummond se volta
para temas universais como a memória, o tempo, o amor e o erotismo.
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LITERATURA
157 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3
LITERATURA
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, dois poemas de Carlos Drummond de Andrade. O primeiro pertence à obra Alguma poesia, e o segundo, à obra Sentimento do mundo.
Texto 1
Coração numeroso
Foi no Rio.
Eu passeava na Avenida quase meia-noite.
Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.
Havia a promessa do mar
e bondes tilintavam,
abafando o calor
que soprava no vento
e o vento vinha de Minas.
Meus paralíticos sonhos desgosto de viver
(a vida para mim é vontade de morrer)
faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente
na Galeria Cruzeiro quente quente
e como não conhecia ninguém a não ser o doce vento mineiro,
nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com isso.
Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas
autos abertos correndo caminho do mar
voluptuosidade errante do calor
mil presentes da vida aos homens indiferentes,
que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram
O mar batia em meu peito, já não batia no cais.
A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu
a cidade sou eu
sou eu a cidade
meu amor.
(Reuni‹o. 10. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. p. 15-6.)
Texto 2
A noite dissolve os homens
A Portinari
A noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tampouco os rumores
que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas,
nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos,
a noite espalhou o medo
e a total incompreensão.
realejo: instrumento
musical que se toca por
meio de uma manivela.
Nelson Provazi
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158 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
A noite caiu. Tremenda,
sem esperança... os suspiros
acusam a presença negra
que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho
na noite. A noite é mortal,
completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens,
diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias,
apagou os almirantes
cintilantes! nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo...
O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.
Aurora,
entretanto eu te diviso, ainda tímida,
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram
mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio...
Havemos de amanhecer. O mundo
se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.
(Idem, p. 57-8.)
1. O poema “Coração numeroso” é organizado em duas partes e mostra impressões
do eu lírico na cidade do Rio de Janeiro. Considerando essa estrutura do poema e as
ideias que ele apresenta, responda:
a. Que versos compõem a primeira e a segunda partes? Justifique sua resposta.
b. Que palavra introduz a segunda parte?
c. Logo, entre as duas partes, que tipo de relação há: de causa e consequência, de
oposição ou de condição?
2. A respeito da relação do eu lírico com a cidade do Rio de Janeiro, responda, justificando com elementos do texto:
a. O eu lírico é dessa cidade? Releia os dois versos da primeira estrofe e infira: Qual é a
origem dele?
b. Como o eu lírico se sente no Rio de Janeiro?
c. O modo como o eu lírico se sente resulta apenas de ele estar na cidade do Rio de
Janeiro ou ele já se sentia assim antes?
Professor: Peça aos alunos que numerem os versos do poema, para facilitar a realização da atividade.
A primeira parte é constituída pelos versos de 1 a 14; a segunda, do verso 15 até o último.
A primeira parte termina em “Acabemos com isso”, que dá a entender que algo de diferente
mas ocorrerá a partir dali.
De oposição.
Não, pois ele não conhecia ninguém ali; provavelmente sua origem é Minas, pois se refere ao “doce vento mineiro”,
como se o vento o remetesse ao passado e a um espaço familiar, de conforto.
Ele se sente deslocado, desgostoso e infeliz, conforme indicam os trechos “desgosto de viver” e “Acabemos com isso”.
Provavelmente já se sentia assim antes, pois afirma “a vida para
mim é vontade de morrer”.
A parte “Guerra” do
painel Guerra e paz
(1956), de Portinari,
hoje na sede da ONU,
em Nova Iorque.
hirto: duro, imóvel.
peremptório: definitivo,
decisivo.
REGISTRE
NO CADERNO
Sede da ONU, Nova Iorque, EUA
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literatura
159 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3
3. Na segunda parte do poema, algo de novo começa a acontecer,
dando início a uma gradação de emoções e sentimentos.
a. Como o eu lírico começa a ver e sentir a cidade? Justifique sua resposta com palavras ou expressões do texto.
b. Que versos dessa parte exprimem a mudança de sentimentos
do eu lírico em relação à cidade? Justifique sua resposta.
c. Considerando a gradação, levante hipóteses e responda: A que
ou a quem se refere a expressão meu amor, que finaliza o poema? O que essa expressão representa nas transformações que
o eu lírico estava vivendo?
4. O poema “Coração numeroso” se inclui na primeira fase da poesia de Drummond, marcada pelo gauchismo (da palavra francesa
gauche, “lado esquerdo”, ou seja, a sensação de ser estranho, diferente, inadequado), pelo ceticismo, pela ironia e por alguns traços
da geração de 22.
a. Há traços de gauchismo no poema? Se sim, em qual parte dele?
Justifique sua resposta com elementos do texto.
b. Que traços da geração modernista de 22 se observam no poema?
5. O poema “A noite dissolve os homens” também é, como “Coração numeroso”, organizado em duas partes.
a. Identifique essas duas partes.
b. Que palavras do poema constituem uma antítese entre as partes?
6. Observe estes versos do poema:
• “acusam a presença negra”
• “A noite anoiteceu tudo...”
• “inexperiente das luzes que vai acender”
• “adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.”
• “se tinge com as tintas da antemanhã”
• “e o sangue que escorre é doce, de tão necessário / para colorir tuas pálidas faces,
aurora.”
a. Que alterações cromáticas, observadas na sequência dos versos acima, ocorrem ao
longo do poema?
b. Que figura de linguagem se verifica nas transformação das cores?
7. O poema se inicia com o verso “A noite desceu. Que noite!”.
a. Que tipo de efeito a noite tem sobre os homens? Que sentimentos desperta nas
pessoas? Justifique sua resposta com trechos do poema.
b. A ação da noite se restringe a alguns homens ou tem um alcance geral? Justifique
sua resposta com elementos do poema.
c. O poema foi publicado em 1940. Que elementos do contexto são mencionados nele?
d. Levando em conta sua resposta no item anterior, interprete: O que representa a
metáfora a noite?
3. a) Ele começa a ver a cidade de outra maneira e a senti-la de forma vibrante, sedutora e sensual, conforme indica o emprego
de expressões como fascinação, mil presentes, voluptuosidade.
3. b) Toda a última estrofe,
especialmente os versos “O
mar batia em meu peito, já
não batia no cais”, “a cidade
sou eu “ e “eu sou a cidade”,
que revelam uma completa
identificação do eu lírico
com a cidade.
3. c) Professor: Sugerimos
abrir a discussão com a classe, pois pode haver mais de
uma possibilidade de resposta. Do nosso ponto de vista,
a leitura mais provável é a de
que a expressão meu amor
se refira à própria cidade.
Tal sentimento é o auge da
gradação, explicitando a descoberta do amor pela cidade
experimentada pelo eu lírico.
4. a) Sim, o gauchismo está presente nas duas partes. Na primeira, em razão
da fala de identificação do eu lírico com o que vê e sente na cidade: agitação, movimento, barulho, calor; na segunda, em razão da diferença entre ele
e os “homens indiferentes”, que não sentem pela cidade o mesmo que ele.
Verso livre, fragmentação e uso de flashes cinematográficos, reforçados pela falta
de pontuação, como ocorre na segunda estrofe do poema.
Cada parte corresponde a uma estrofe do poema.
As palavras noite e aurora.
A partir da negritude total da noite (“a presença negra”, “a noite anoiteceu tudo”) aos poucos ocorre o clareamento, associado à manhã, primeiro em tons róseos (“vapor róseo”), e depois em vermelho-sangue, trazido pela aurora.
A gradação.
7. a) A noite traz a incompreensão entre os homens, paralisa-os e provoca-lhes o medo, conforme
indicam os versos “a noite
espalhou o medo / e a total
incompreensão”.
7. b) Ela tem um alcance
geral, conforme indicam os
versos “onde se combate”,
“a noite dissolve os homens” e “a noite dissolve
as pátrias”.
7. c) São mencionados elementos relacionados ao contexto da Segunda Guerra Mundial, que ocorria então, referidos nas palavras e expressões “campos desfalecidos”, “guerreiros”, “almirantes cintiliantes! nas suas fardas”,
“fascista”.
Representa o momento sombrio que a humanidade viveu durante a Segunda Guerra Mundial.
A Galeria Cruzeiro funcionava no
térreo do Hotel Avenida, na antiga
avenida Central, hoje avenida Rio
Branco, no Rio de Janeiro. A galeria
tinha bares e restaurantes e uma
estação de bondes. O hotel foi
demolido em 1957.
Arquivo/Estadão Conteúdo
The Bridgeman Art Library/Keystone Brasil
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160 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
8. Na segunda estrofe, o eu lírico avista o nascimento da aurora.
a. No confronto com a noite, como a aurora se mostra inicialmente?
b. O que a aurora traz para os seres humanos? Justifique sua resposta com elementos
do texto.
c. Considerando o contexto, interprete: O que representa a metáfora aurora?
9. Em “Havemos de amanhecer”, a forma verbal havemos é auxiliar de amanhecer.
a. Em que pessoa está essa forma verbal? O eu lírico se inclui entre os que vão amanhecer?
b. A postura do eu lírico no poema “A noite dissolve os homens” representa uma
ruptura ou uma continuidade em relação à fase gauche da poesia de Carlos Drummond de Andrade? Por quê?
Ela se mostra tímida,
inexperiente e fria.
O fim do cansaço (“Minha fadiga encontrará em ti o seu termo”), solidariedade (“as mãos dos sobreviventes
se entrelaçam”), sentimentos humanos (“um perdão simples e macio”).
A aurora representa a esperança de um novo tempo, depois de terminada a guerra:
um tempo de esperança, amor, solidariedade e comunhão entre os homens.
A forma verbal havemos está na 1» pessoa do plural, cujo sujeito desinencial é nós.
O eu lírico se inclui entre os que vão amanhecer.
9. b) Representa uma
ruptura com o gauchismo
da fase inicial da poesia
drummondiana. Nela havia
uma visão mais individualista e pessimista do mundo, enquanto nessa nova
fase o eu lírico se mostra
mais aberto ao mundo
exterior, mais solidário e
mais afável em relação
aos seres humanos.
Professor: Comente com
os alunos que Sentimento
do mundo (1940), obra da
qual o poema faz parte, é o
início de uma nova fase na
obra do poeta (que inclui
as obras José e Rosa do
povo), mais social e comprometida com as questões sociais e políticas do
tempo em que ele viveu.
Um esc‰ndalo no meio do caminho
Um dos mais conhecidos poemas de Drummond é este:
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(Reunião. 10. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.)
Veja o que o autor comentou a respeito do poema:
O meu poema “No meio do caminho”, composto de dez versos, repete de propósito sete vezes as palavras “tinha” e “pedra”, e seis vezes as palavras “meio” e “caminho”. Isso foi julgado escandaloso; hoje
o poema está traduzido em 17 línguas, e me diverti publicando um livro de 194 páginas contendo as
descomposturas mais indignadas contra ele, e também os elogios mais entusiásticos. Achavam-me
idiota ou palhaço; suportei os ataques porque ao mesmo tempo recebia o estímulo de meus companheiros de geração e de pessoas mais velhas, nas quais depositava confiança pela capacidade intelectual e pela honestidade de julgamento que a distinguiam.
(Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2000. Prefácio.)
• A poesia da geração de 1930 caracteriza-se, predominantemente, pela reflexão em
torno de questões sociais, filosóficas, existenciais, espirituais e amorosas. Do ponto de
vista formal, as conquistas de 22 foram mantidas, mas os poetas voltaram a explorar
versos e formas convencionais, como o decassílabo e o soneto.
• Carlos Drummond de Andrade é o principal poeta da geração de 1930, e sua obra
apresenta várias fases.
• A primeira fase da poesia de Drummond é marcada por certos procedimentos formais
da geração de 22, como o verso livre, a síntese e a ironia, mas também pelo gauchismo,
isto é, por uma perspectiva individualista e pessimista em relação ao mundo.
• A segunda fase da poesia de Drummond se situa no contexto do Estado Novo e
da Segunda Guerra Mundial e se volta para questões sociais em uma perspectiva
de crítica à realidade e, ao mesmo tempo, de solidariedade e esperança em um
mundo melhor.
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161 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3
Colocação pronominal
FOCO NO TEXTO
Leia o texto a seguir, de Antonio Prata.
Abra•ando ‡rvore
Não era uma felicidade eufórica, dessas de gritar “Urru!”, estava mais pra uma brisa de contentamento, como se eu bebesse vinho branco à beira-mar ou lesse Rubem Braga na varanda
de um sítio.
Eu tinha acordado cedo naquela sexta ‒ e acordar cedo
sempre me predispõe à felicidade. O trabalho havia rendido bem e, antes do fim da manhã, já tinha acabado de
escrever tudo o que me propusera para o dia. À uma, fui
almoçar com o meu editor. Ele estava com alguns capítulos do meu livro novo desde dezembro e eu temia que não
tivesse gostado. Gostou. Fez alguns reparos com que concordei. Comemos um peixe na brasa ‒ peixe e brasa também costumam me predispor à felicidade – e como era sexta-feira, e como
somos amigos, e como comemorávamos essa pequena alegria que
é um trabalho andar bem, uma parceria funcionar, brindamos com
vinho branco ‒ não à beira-mar, mas à beira do Cemitério da Consolação, que pode não ter a grandeza de um Atlântico, mas também tem lá os seus
pacíficos encantos.
Saí andando meio emocionado, meio sem rumo pela tarde ensolarada e quando vi
estava em frente à paineira da Biblioteca Mario de Andrade. É uma árvore gigante, que
provavelmente já estava ali antes do Mario de Andrade nascer, continuou ali depois
de ele morrer e continuará ali depois que todos os 18 milhões de habitantes que hoje
perambulam pela cidade de São Paulo estiverem abaixo de suas raízes. Talvez tenha
sido o assombro com essa longevidade, talvez acordar cedo, talvez os elogios ao livro e
o vinho certamente colaborou: fato é que senti uma súbita vontade de abraçar aquela
árvore.
Acho importante deixar claro, inclemente leitor, que não sou do tipo que abraça
árvore. Na verdade, sou do tipo que faz piada com quem abraça árvore. Se me contassem, até a última sexta, que algum amigo meu foi visto abraçando uma paineira
na rua da Consolação eu diria, sem pestanejar: enlouqueceu. Mas...
Não haveria nada de místico no abraço. Eu não achava que a paineira iria me
emprestar qualquer “energia”, nem que ela sugaria de minh’alma possíveis toxinas metafísicas. Era algo simbólico como atirar uma rosa ao mar dia 31 de dezembro, uma mínima inflexão na correria: aí está você, imóvel e longeva, aqui estou
eu, ágil e breve, duas soluções do acaso para a soma de elementos da tabela periódica ‒ e ela seguiria ali, com sua fotossíntese, eu seguiria adiante, com minhas
caraminholas.
Olhei prum lado. Olhei pro outro. Tomei coragem e foi só sentir o rosto tocar
o tronco para ouvir: “Antonio?!”. Era meu editor. Foram dois segundos de desesLÍNGUA E LINGUAGEM
LÍNGUA e
LINGUAGEM
Nelson Provazi
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162 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão
pero durante os quais contemplei o distrato do livro, a infâmia pública, o
alcoolismo e a mendicância, mas só dois segundos, pois meu inconsciente,
consciente do perigo, me lançou a ideia salvadora. “Uma braçada”, disse eu,
girando pra esquerda e envolvendo a árvore novamente, “duas braçadas
e... Três”. Então encarei, seguro, meu possível verdugo: “Três braçadas dá
o que? Uns cinco metros de perímetro? Tava medindo pra descrever, no
livro. Tem uma parte mais no fim em que essa paineira é importante.”
Colou. Nos despedimos. Ele foi embora prum lado, a minha felicidade
pro outro e agora estou aqui, já noite alta desta sexta-feira, tentando enfiar a todo custo um tronco de quase dois metros de diâmetro num livro
em que, até então, não havia nem uma samambaia.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2016/
01/1730364-abracando-arvore.shtml. Acesso em: 5/3/2016.)
1. O autor conta, em seu texto, sobre um dia específico de sua vida.
a. Qual era o estado de espírito do autor naquele dia?
b. A que acontecimentos ele atribui tal estado de espírito?
c. Qual atitude inusitada ele tomou levado por esse estado de espírito?
2. Ao decidir realizar um ato julgado por ele mesmo como inusitado, o autor foi surpreendido por seu editor.
a. Qual foi a reação do autor nesse momento e o que ele fez para sair da
situação embaraçosa?
b. Qual problema essa atitude trouxe para ele?
3. Esse texto foi publicado em um jornal de grande circulação. Tendo em
vista a história contada, responda:
a. Qual nova função pode assumir esse texto, além de entreter os leitores?
b. Levante hipóteses: O problema mencionado pelo autor no último parágrafo permanecerá após a circulação desse texto?
4. Observe as seguintes construções empregadas no texto:
“sempre me predispõe”
“tudo o que me propusera”
“costumam me predispor”
“Se me contassem”
“iria me emprestar”
“me lançou a ideia”
“Nos despedimos.”
a. O que há de comum entre todas elas no que diz respeito à posição do
pronome oblíquo?
b. Discuta com os colegas e o professor: Em alguma dessas ocorrências,
ao produzir o mesmo enunciado, você colocaria o pronome em lugar
diferente?
5. Embora no português falado atualmente no Brasil (e escrito em situações informais) os pronomes sejam majoritariamente colocados na posição em que estão no texto lido, há outras maneiras de explorar essa
distrato: anulação, rescisão.
inflexão: mudança de rumo, desvio.
verdugo: carrasco, algoz.
Ele estava feliz, animado.
b) Ter acordado cedo, ter terminado suas tarefas mais cedo, ter tido êxito em um
trabalho e um almoço agradável com seu editor, parceiro profissional e amigo.
Decidiu abraçar uma árvore.
Ele se desesperou e inventou uma história
para justificar sua atitude.
A necessidade de fazer uma alteração não planejada no livro que estava escrevendo.
A de justificar a atitude do autor para seu editor, o que ele
não teve coragem de fazer no momento do ocorrido.
Provavelmente não, pois seu editor conhecerá o verdadeiro motivo da atitude e
ele não precisará mais alterar a história original de seu livro.
Ele sempre aparece antes do verbo que acompanha.
Há mais de uma possibilidade de resposta. Provavelmente, os alunos usariam as mesmas construções.
Professor: Proponha a discussão à classe, sugerindo que pensem em outras possibilidades de colocação dos pronomes.
Antonio Prata
Antonio Prata é escritor e roteirista.
Filho dos também escritores Mário Prata e Marta Góes, nasceu em São Paulo
em 1977 e atualmente escreve para o
jornal Folha de S. Paulo, além de ter
alguns livros publicados, entre eles Nu,
de botas (Cia. das Letras) e Meio intelectual, meio de esquerda (Ed. 34).
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língua e
linguagem
163 A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3
colocação. Discuta com os colegas e o professor e levante hipóteses:
Quais das opções a seguir são consideradas adequadas à norma-padrão
segundo a gramática normativa?
sempre predispõe-me
tudo o que propuse-me-ra
tudo o que propusera-me
costumam predispor-me
ir-me-ia emprestar
iria emprestar-me
lançou-me a ideia
Despedimo-nos
6. Encontre no texto outros trechos que comprovem a opção do autor de
empregar uma linguagem bastante informal, próxima da fala.
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
Como você viu no estudo do texto de Antonio Prata, é possível empregar
os pronomes oblíquos átonos em relação aos verbos que acompanham de
forma variada. Assim:
Colocação pronominal é a posição do pronome oblíquo
átono em relação ao verbo que ele acompanha.
Atualmente, a colocação pronominal no português brasileiro é majoritariamente feita por meio da próclise, isto é, da colocação antes do verbo. É
possível, entretanto, em determinadas construções, em geral mais formais,
encontrar outras formas de colocação pronominal.
A gramática normativa classifica a colocação pronominal em três tipos:
• próclise: pronome colocado antes da forma verbal. Ex.: “sempre me predispõe”.
• ênclise: pronome colocado depois da forma verbal. Ex.: “lançou-me a ideia”.
• mesóclise: pronome colocado no meio da forma verbal. Ex.: “ir-me-ia emprestar”.
Apresentamos a seguir as regras específicas para o uso da ênclise e da
mesóclise, colocações pouco utilizadas no português do Brasil. Nos demais
casos, continua-se utilizando a próclise, a forma mais comum em nosso
país. Não há necessidade de adotar essas regras em sua fala cotidiana; porém, é interessante conhecê-las e utilizá-las em situações de escrita formal
e de avaliações e exames escritos.
Deve-se dar preferência à ênclise:
• para se iniciar frase, ou se há vírgula antes do verbo: “Sentei-me na primeira fileira”, “Se chegar cedo, sento-me na primeira fileira”;
• em frases imperativas afirmativas: “Amanhã sentem-se todos na primeira fileira”;
• em casos de gerúndio ou infinitivo pessoal: “Chegou sentando-se na primeira fileira”, “Era meu intuito ajudá-lo.”.
Deve-se dar preferência à mesóclise:
• com formas verbais no futuro do presente ou no futuro do pretérito: “Dirse-á que somos loucos.”, “Sentar-se-ia na primeira fileira se tivesse chegado cedo.”.
X
X
X
X
“dessas de gritar “Urru”; “estava mais pra uma brisa”; “também tem lá os seus pacíficos encantos”; “com minhas caraminholas”; “Olhei prum lado. Olhei pro outro”;
“tentando enfiar a todo custo”.
As palavras atrativas
Alguns termos são chamados de palavras atrativas, pois atraem o pronome
para antes do verbo e geram próclise,
mesmo em contextos nos quais se teria
ênclise ou mesóclise. São elas:
• advérbios: “Não se queixe”, “Antes
me encontrei com ela”;
• pronomes relativos e indefinidos:
“tudo o que me propus a fazer...”,
“Ninguém me avisou...”;
• conjunções subordinativas: “Disse
que me deixariam ficar”, “Se me
contassem...”;
• gerúndio e infinitivo pessoal
precedidos de preposição: “Em se
tratando de...”, “Para se sentarem”.
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164 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
APLIQUE O QUE APRENDEU
1. Você vai ler a seguir um trecho de um texto jurídico, escrito no século
XXI, e outro, das memórias do Visconde de Taunay, escrito no final do
século XIX.
A citação inicial far-se-á por mandado, expedindo-se edital
de citação somente quando esgotados todos os meios possíveis para efetivação do chamamento pessoal. [...]
Não há que se falar em nulidade do feito, desde que a tentativa de citação do réu tenha sido implementada de forma
regular e pessoalmente no endereço fornecido durante o inquérito [...]. Alega a defesa que houve afronta à regra do art.
186 do CPP (na verdade, estaria a defesa a se referir ao art. 185
do CPP), pois o interrogatório judicial [...] teria sido realizado
sem a presença do seu defensor então constituído. No entanto, vale ressaltar que tal regra somente se tornou obrigatória
quando do advento da lei 10.792, de 1º de dezembro de 2003. [...]
(Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/busca?q=INTELIG%C3%
8ANCIA+DO+ARTIGO+351+%2C+DO+CPP. Acesso em: 5/3/2016.)
Poderia eu ir contando, com todas as minúcias, o seguimento dessa Campanha da Cordilheira, os episódios da guerra que terminou com a morte do tirano Lopez, no Aquidabanigui, em Cerro Corá. Mas ir-me-ia alongando demasiado a
encher volumes e volumes destas Memórias, quando tanto
ainda tenho que relatar! Falta-me tempo, disposição de corpo
e de espírito, a lutar com bem penosas nevralgias de fundo
diabético. [...]
(O Visconde de Taunay e os fios da mem—ria. São Paulo: Editora Unesp, 2006. p. 159.
Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=AcClYQiKSKUC&pg=PA305&dq
=visconde+de+taunay&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiIyMvs_67LAhUCDJAKHSy
QC0QQ6AEIJjAA#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 5/3/2016.)
a. Observe a forma como é feita a colocação pronominal dos termos em
destaque nos textos, agrupe-os segundo usos similares e justifique
cada uma das ocorrências com base nas regras estudadas.
b. Embora tenham sido escritos com mais de um século de diferença
entre si, os dois textos fazem usos semelhantes da colocação pronominal. Discuta com os colegas e o professor: Quais desses usos são
comuns no dia a dia do brasileiro atualmente? Nos casos em que a
colocação pronominal do texto não é utilizada no dia a dia, indique
formas alternativas.
c. Levante hipóteses: Quais motivos fazem com que cada um desses
textos apresente os pronomes dessa forma?
Você vai ler a seguir um conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade, autor estudado na seção Literatura deste capítulo.
a) far-se-á e ir-me-ia: mesóclise com futuro
do presente e futuro do pretérito, respectivamente. Expedindo-se e Falta-me: ênclise após
vírgula e em início de frase, respectivamente.
se falar e se tornou: próclise pelas palavras
atrativas que (conjunção subordinativa) e
somente (advérbio); se referir: próclise com
infinitivo pessoal antecedido de preposição.
b) Se falar, se tornou e se referir ainda são
comuns. Em situações formais de fala ou de
escrita, também se encontram expedindo-se
e falta-me, que, em situações informais, seriam substituídas por se expedindo e me falta.
Já far-se-á e ir-me-ia, provavelmente seriam
substituídas por se fará e iria me (alongando)
ou, ainda, por construções alternativas, como
será feita ou iria alongar minha fala/meu texto.
c) No primeiro caso, por se tratar de um texto
extremamente formal da esfera jurídica, na
qual é comum seguir as regras da norma-padrão formal e, no segundo, por se tratar de um
texto antigo, época em que algumas pessoas
ainda utilizavam essas construções.
A colocação pronominal no
português brasileiro
A colocação brasileira dos pronomes
oblíquos átonos é bem característica,
sendo inclusive muito mencionada
como uma das principais diferenças entre a variedade brasileira e as variedades africanas e europeia do português.
Em matéria da Revista Língua (edição
67), Luiz Costa Pereira Junior analisa
essa forma típica dos pronomes nas
construções brasileiras. Segundo Pereira Junior, Gilberto Freyre observa que
no Brasil colonial construções como
faça-me e dê-me eram usadas pelos senhores de escravos com frieza e secura,
em ordens firmes e implacáveis. Assim,
“O modo português adquiriu na boca
dos senhores certo ranço de ênfase hoje
antipático: faça-me isso; dê-me aquilo”,
cita Gilberto Freyre, na obra Casa-grande e senzala.
Pereira Junior conclui, com base nas
ideias de Freyre, que o brasileiro, nesse
contexto, teria optado “por um ’modo
mais doce’ de pedir: me dê no lugar de
dê-me; me faça, mais brando que façame, doce aversão ao ’imperativo antipático’ prescrito pela gramática tradicional lusa”, com a ênclise e a mesóclise.
O autor destaca ainda que esse fenômeno é denominado “próclise absoluta”
por Rodolfo Ilari e Renato Basso, no livro
O português da gente. “Absoluta” porque esse tipo de colocação pronominal
predomina na variedade brasileira, que
antecipa o pronome átono para o início
da sentença, dando um caráter de súplica a uma fala que poderia soar como
cerimoniosa ou mesmo autoritária.
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
165
A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3
A flor e a náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas,
alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas,
consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
2. Publicado na obra A rosa do povo (1945) e escrito em um momento histórico conturbado – ditadura Vargas no Brasil e Segunda Guerra Mundial –, o poema “A flor e a
náusea” deixa transparecer o sentimento do eu lírico em relação a esse contexto. Com
base nas três primeiras estrofes, responda:
a. Como se caracteriza o ambiente e o tempo em que vive o eu lírico? Justifique sua
resposta com palavras, expressões e versos do texto.
b. Quais são os desejos do eu lírico nesse contexto? Justifique sua resposta com versos do texto.
a) Triste, escuro, tenebroso,
pessimista. “rua cinzenta”,
“melancolias”, “O tempo é
ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.”,
“O tempo pobre”, “os muros
são surdos”, “Que tristes são
as coisas, consideradas sem
ênfase.”.
Instituir alguma mudança, falar com as pessoas, mudar o rumo do que vê. “Devo seguir até o
enjoo?”, “Posso, sem armas, revoltar-me?”, “Em vão me tento explicar, os muros são surdos.”
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em
pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
(Reunião. 10. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1980. p. 78-9.)
Thinkstock/Getty Images
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166 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
3. Nas estrofes de 4 a 7, o eu lírico fala sobre si mesmo.
a. O que se sabe do eu lírico por meio desses versos?
b. Levante hipóteses: Essas características permitem associar o eu lírico a quem?
4. As três últimas estrofes falam sobre o nascimento de uma flor.
a. Levante hipóteses: Por que esse acontecimento é tratado como fora do comum no
contexto do poema?
b. Como o eu lírico descreve a flor que nasceu? O que há de inesperado nessa descrição?
c. Quais sentimentos essa flor desperta no eu lírico? Justifique sua resposta com versos do poema.
d. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Qual sentido maior se pode atribuir
ao nascimento dessa flor, levando em consideração todo o contexto de produção
do poema? Indique o verso que resume essa ideia.
5. Há no poema diversos pronomes oblíquos átonos que acompanham verbos.
a. Reproduza a tabela a seguir em seu caderno, identifique essas ocorrências no poema e complete a tabela como no exemplo, de acordo com cada tipo de ocorrência.
Ênclise em início de frase ou depois de uma
pausa
revoltar-me
Próclise motivada por palavra atrativa
Casos que não se encaixam nas regras
b. Entre os casos que não se encaixam nas regras apontados por você no item anterior, sobressai a próclise ou a ênclise? Levante hipóteses: Por que isso ocorre?
c. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Com base nas características da
poesia modernista e especialmente da poesia de Drummond, o que justifica a forma como o poeta utiliza próclises e ênclises no poema em estudo?
6. Releia este verso:
“Em vão me tento explicar, os muros são surdos.”
a. Levante hipóteses: Quem são os muros surdos?
b. Levante hipóteses: Por que foi utilizada essa colocação pronominal?
c. Como você falaria essa frase? Justifique sua resposta.
Que tem em torno de 40 anos de idade, que reflete sobre os
crimes que vê, que passa por um momento de perturbação, que
em 1918 era um menino considerado anarquista, que se salva e
dá esperança às pessoas com seu próprio ódio.
Ao próprio poeta Carlos Drummond de Andrade.
Professor: Retome o boxe da biografia de Drummond com os alunos para estabelecer as relações.
Porque o momento e a atmosfera descritos no poema não são favoráveis
ao nascimento de uma flor, especialmente no meio do asfalto.
b) Desbotada, sem cor,
com pétalas fechadas, de
nome desconhecido, feia.
Em geral, especialmente
na poesia, a flor é associada ao colorido, à beleza.
Surpresa, empatia, solidariedade. “Uma flor nasceu na rua!”, “garanto que uma flor nasceu.”, “Sento-me
no chão da capital do país às cinco horas da tarde”, “e lentamente passo a mão nessa forma insegura.”
d) A flor pode ser associada
à esperança em um futuro
melhor, que renasce aos poucos, ainda tímido, em meio às
condições adversas vividas
naquele momento histórico.
Essa ideia é sintetizada no
último verso: “É feia. Mas é
uma flor. Furou o asfalto, o
tédio, o nojo e o ódio.”.
Sento-me
que o perdem, que se percebe, não se abrem
espreitam-me, fundem-se, me tento explicar, perdoá-los,
me salvo, avolumam-se, movem-se b) A ênclise. Há possibilidades diversas de hipóteses: porque essa construção era mais comum
na época do que é hoje
em dia, porque fica mais
sonoro, porque essa era a
preferência do poeta, etc.
Conforme estudado, os poetas da geração de 30 buscam uma linguagem mais próxima da fala, sem preocupação com métrica ou rimas. No entanto, mesmo
não se sentindo presos às regras da norma-padrão, também não se colocam de forma radical em relação a uma necessidade de falar brasileiro, pois se consideram livres para escrever como preferirem.
As pessoas, a sociedade, o governo.
A presença da locução adverbial em vão pode ter
influenciado a opção por deslocar o pronome, funcionando como um elemento atrativo.
Resposta pessoal. Em geral, atualmente no Brasil as pessoas falam tento me explicar,
pois o pronome entre as duas formas verbais é a construção mais comum.
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
167
A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia o anúncio a seguir e responda às questões.
(Disponível em: www.putasacada.
com.br/parque-d-pedro-shoppingfull-jazz. Acesso em: 30/6/2017.)
1. Relacione as partes verbal e não verbal do anúncio, produzido por um shopping center.
O que retratam as imagens da esquerda e da direita? Qual é a relação dessas imagens
com o anúncio?
2. Releia o enunciado principal à esquerda. Nele, o anúncio faz uso de um trocadilho
com uma expressão de uso corrente no mundo da moda.
a. Qual é o trocadilho e qual é o sentido da expressão?
b. Levante hipóteses: O que é um “preço que está na moda”?
3. Há dois termos desse enunciado que são contrapostos para criar um efeito de humor.
a. Identifique-os e explique qual é a diferença de sentido entre eles no contexto do
anúncio.
b. Explique por que a contraposição desses termos é confirmada pela informação trazida no enunciado.
c. Relacione um desses termos ao enunciado da direita do anúncio. Qual novo sentido
ele ganha nesse contexto?
d. Identifique o caso de colocação de pronome oblíquo átono nesse trecho.
4. A colocação pronominal tal como aparece no anúncio não é a indicada pelas regras da
gramática normativa.
a. Justifique essa afirmação.
b. Reescreva o enunciado, colocando o pronome segundo as regras da gramática normativa.
c. Compare a versão escrita por você no item anterior e a versão do anúncio. Discuta
com os colegas e o professor e conclua: O sentido construído pelas duas expressões
é o mesmo? Justifique sua resposta.
d. Conclua: No anúncio em estudo, a opção pela forma não padrão se deu por desconhecimento das regras? Justifique sua resposta com base na finalidade do anúncio.
Uma simulação de uma etiqueta de loja e uma sacola cheia, que fazem referência a objetos novos, com etiqueta, que
ainda estão nas lojas e podem encher a sacola do visitante que aproveitar a promoção anunciada.
O trecho “preço que está na moda não cai” faz um trocadilho com a expressão cair de moda, que significa “desatualizar-se”.
Um preço à altura dos produtos do shopping, que estaria sempre na moda; um preço que agrada aos consumidores porque é baixo.
Cai e se joga. O primeiro remete à expressão cair o preço, que quer dizer que o preço diminuiu e, o
segundo, à expressão se joga, uma gíria que significa “se esbaldar, aproveitar muito”.
Porque ele diz que os preços estão até 70% mais baixos, o que significa
uma redução considerável, de mais da metade.
O termo se joga associado ao enunciado “Eu quero tudo” sugere que não apenas os preços, mas também o consumidor vai “se jogar” na promoção, isto é, vai aproveitar para comprar muito.
se joga
A gramática normativa indica que, após vírgula, deve-se usar ênclise, e não próclise.
Até 70% off. Porque preço que está na moda não cai, joga-se.
Não, pois seguindo a regra a frase perde esse sentido, uma vez que a expressão “se joga” é
uma gíria, utilizada em contextos informais e cristalizada com essa colocação pronominal.
Não, pois a intenção foi utilizar propositalmente a forma não padrão para fazer referência à gíria
e criar o efeito de humor no anúncio.
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168 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
As cartas argumentativas de
solicitação e de reclamação
A carta de solicitação
FOCO NO TEXTO
Leia a carta a seguir.
PRODUÇÃO DE TEXTO
1. Essa carta faz uma solicitação.
a. A quem a solicitação é dirigida e por quem ela é feita?
b. O texto da carta deixa claro o assunto sobre o qual é feita a solicitação. Identifique
o trecho que confirma essa afirmação.
c. Qual é a solicitação feita?
2. A situação de comunicação em que a carta em estudo circulou fica subentendida no
texto. Deduza: Qual fato motivou a escrita da carta?
3. Releia o trecho:
“vosso edital, tão importante para a classe das artes cênicas”
A solicitação é dirigida aos Correios; é feita
pela Cooperativa Brasileira de Circo.
Trata-se do trecho “Referente ao Edital de Seleção de Patrocínios de projetos culturais”, situado antes do vocativo.
A de que, nos editais seguintes, o circo seja incluído entre as opções de projetos culturais.
O fato de os Correios terem lançado um edital de fomento a projetos culturais que não incluía atividades ligadas ao circo.
São Paulo, 18 de julho de 2013.
À Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – Correios
Referente ao Edital de Seleção de Patrocínios e projetos culturais.
Prezados Senhores,
A Cooperativa Brasileira de Circo e as demais entidades que compõem a Aliança Pró Circo vêm através desta solicitar que V. Sa. nas próximas
edições de vosso edital, tão importante para a classe das artes cênicas, incluam
o circo como opção.
Atravessamos um momento profícuo, com imensa atividade e inúmeros espetáculos sendo criados para apresentação em espaços públicos e teatrais.
Fazemos parte da programação habitual do SESC, SESI, Caixa Cultural, Circuito Cultural Paulista, Circuito das Artes, além de inúmeros festivais pelo Brasil
que existem ou estão sendo criados para atender a essa produção – Festival Brasileiro de Circo, Festival Mundial de Circo, Ri Catarina, Palhaçaria, entre outros.
Acreditamos que não tem sentido estarmos alijados do processo no momento em que nossa linguagem está fortalecida e reconhecida internacionalmente.
No aguardo de que a inclusão se faça o mais rapidamente possível e à inteira
disposição para informações,
(Disponível em: https://circoop.files.wordpress.com/2013/09/
carta-correios.jpg. Acesso em: 15/1/2016.)
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Reprodução
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169Produção de texto
A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3
a. Justifique o uso da forma pronominal vosso no contexto da carta.
b. Levante hipóteses: Por que o autor da carta optou por utilizar essa forma de tratamento?
c. Explique por que esse trecho, associado à escolha do pronome de tratamento, pode
também ser considerado estratégia de argumentação no contexto da carta.
4. Para fundamentar a solicitação que faz, o remetente lança mão de argumentos. Quais
são esses argumentos?
5. Leia algumas das definições apresentadas no Dicionário Houaiss para o termo patrocínio:
custeio total ou parcial de um espetáculo artístico ou desportivo, de programa
de rádio ou televisão etc. com objetivos publicitários; chancela; apoio, ger. financeiro, concedido, como estratégia de marketing, por uma organização a determinada
atividade artística, cultural, científica, comunitária, educacional, esportiva ou promocional
a. Com base nesses sentidos do termo patrocínio e na situação de comunicação em que
a carta circulou, levante hipóteses: Qual é a intenção dos Correios com o edital?
b. Ao fazer uma solicitação, é importante levar em conta não apenas os interesses
do remetente, mas também interesses dos interlocutores. Explique de que maneira o autor da carta em estudo considera em seus argumentos os interesses do
destinatário.
6. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Os argumentos utilizados na carta em
estudo são relevantes e bem-construídos? Justifique sua resposta.
7. Uma carta de solicitação pode conter uma reclamação implícita e subentendida ou
explícita. Levante hipóteses: Qual reclamação pode ser considerada plausível para a
carta em estudo?
A carta de reclamação
FOCO NO TEXTO
O texto a seguir é uma carta de reclamação publicada em um portal da Internet especializado em automóveis.
São Bernardo do Campo, 9 de junho de 2010.
Pergunto para a empresa F do Brasil, por intermédio deste conceituado portal,
já que não obtive resposta aceitável por meio do único canal de comunicação com a
fábrica, o telefone 0800.
Comprei um veículo FF, em leilão, com 10 mil quilômetros rodados, proveniente
da frota utilizada em Camaçari pela empresa F. Por se tratar de carros utilizados por funcionários de alto escalão da empresa, fui informado de que o carro estaria sem garantia.
Mesmo assim comprei, confiando na qualidade dos produtos da Marca F, pois já adquiri
diversos veículos, e meus familiares, ao longo de 20 anos, têm sido também clientes desTrata-se de um pronome utilizado em situações formais, como demonstração
de respeito e/ou subordinação ao interlocutor.
Para se mostrar respeitoso e valorizar o destinatário.
Porque, além de tratar o destinatário de forma respeitosa, demonstra considerar que o edital promovido
pelo interlocutor é de grande importância, valorizando, assim, as iniciativas dele.
Os de que o circo passa por “um momento profícuo”, desenvolve muitas e diversificadas atividades por todo o país e tem reconhecimento internacional.
a) Associar sua imagem a projetos culturais, a fim de ter sua marca divulgada
positivamente em meios variados, como uma empresa que se preocupa com a
cultura brasileira.
Ao mencionar a importância atual do circo em todo o país e até mesmo internacionalmente, o autor mostra indiretamente
ao destinatário que apoiar essa área lhe proporcionará uma grande projeção.
Sim, pois valorizam o interlocutor e mostram que ele também tem a ganhar, caso atenda à solicitação.
A reclamação de que o edital excluiu o circo das atividades artísticas elencadas na sua regulamentação.
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170 UNIDADE 2 Palavra e Persuasão
sa montadora. Exemplos: FX Super Série, FSuper, FC (4 ao longo dos anos), FY Sedan, FY
Hatch (anos 2007 e 2009), FK 2009, FF 2008 e um FW 2010, que ainda não chegou, todos
sempre comprados em concessionárias F (principalmente a FS, com a Sra. T.).
Por minha conta, mandei o veículo comprado no leilão para a revisão dos 10 mil
e 15 mil km (antecipadamente, para evitar problemas), pagando normalmente por tais
revisões. Porém, na última revisão surgiu um defeito que, segundo a concessionária
FS e a própria empresa F, localizava-se no diferencial do carro, que afeta a tração 4wd,
fazendo com que o veículo trave as rodas traseiras em funcionamento (nunca tinha
ouvido nem lido nada a respeito disso). Após a constatação do defeito, a concessionária entrou em contato com o fabricante, a fábrica autorizou a troca da peça e ainda
me ofereceu garantia estendida, comunicando a mim e também à concessionária a
troca sem custo algum (mesmo não estando em garantia, por se tratar de um defeito
de fabricação e não de mau uso). Após cerca de 3 semanas da autorização do conserto,
a própria F me ligou (consultor R. de O., do 0800 da fábrica), alegando que não fariam
mais o conserto, por se tratar de um carro comprado em leilão. Fiquei muito surpreso,
pois, quando ligaram autorizando, estavam cientes de que era um carro de leilão.
Passados mais de 30 dias, o meu carro está no elevador da concessionária, desmontado, sem solução, pois, na minha opinião, a fábrica não sabe o defeito do carro! Diferencial com problemas! Como? Nunca vi isso, e para que leiloar um carro com problema
no diferencial? Como vou consertar? Se nem a fábrica tem essa peça, ou seja, isso não se
quebra!!! (O atendente do 0800 me disse que a peça teria de vir do México e achava que
iria demorar cerca de 30 dias.) Péssimo isso, a empresa F está no país há várias décadas,
não é uma marca recente como outras que também sofrem por falta de peças.
Assumi a responsabilidade de comprar um carro em leilão ciente de que não
possui garantia. Mas um defeito no diferencial, isso não aceito. Se após 6 meses de eu
ter comprado um carro em leilão, ele rachar no meio, o fabricante não se responsabiliza
por nada? Isso é bem estranho. E me pergunto: como se quebra um diferencial de um
carro com 14 mil km e automático?
Fico no aguardo por alguma ajuda no caso.
(Disponível em: http://carroseacessorios.com.br/noticias-detalhes.php?id=4926. Acesso em: 13/1/2016. Texto adaptado.)
1. Qual é o motivo da reclamação feita na carta em estudo?
2. Para fazer sua reclamação, o autor lançou mão de determinadas estratégias. Identifique, na carta em estudo, trechos em que ele:
a. se coloca como cliente antigo e fiel à empresa contatada;
b. usa nomes e dados para confirmar a veracidade das informações que expõe na carta;
c. tece elogios à empresa contatada;
d. assume parte da responsabilidade pelo ocorrido;
e. se mostra uma pessoa flexível, disposta a contribuir para a solução do problema.
3. A propósio das estratégias utilizadas na carta, conclua: Elas contribuem para que seu
autor atinja o objetivo? Por quê?
4. Embora a carta tenha um tom predominantemente moderado e objetivo, há um momento específico no qual o autor se manifesta de forma mais emocional.
a. Qual é esse trecho?
b. Indique as marcas formais que permitem inferir essa mudança no tom da carta.
c. Levante hipóteses: Esse tom também pode ser considerado uma estratégia argumentativa em uma carta de reclamação? Justifique sua resposta.
diferencial: conjunto
de engrenagens que, em
um automóvel, transmite
às rodas o movimento do
motor de maneira que, nas
curvas, elas se movam com
velocidades diferentes.
Um problema apresentado por um carro comprado em leilão.
No segundo parágrafo, de “já adquiri diversos veículos e meus familiares ao longo de
20 anos têm sido também clientes dessa montadora”, até “com a Sra. T.)”.
Todos os nomes mencionados no 2¼ parágrafo, o nome da concessionária e do consultor do 0800.
“confiando na qualidade dos produtos da Marca F”; “a empresa F está no país há várias
décadas, não é uma marca recente como outras que também sofrem por falta de peças.”
“fui informado de que o carro estaria sem garantia. Mesmo assim comprei”;
“Assumi a responsabilidade de comprar um carro em leilão ciente de que não
possui garantia.”
“Por minha conta, mandei o veículo comprado no leilão para a revisão dos 10 mil e 15 mil km (antecipadamente para evitar problemas), pagando normalmente por tais revisões.”;
Sim, pois ao utilizar tais estratégias o reclamante ganha credibilidade, pois mostra que é uma
pessoa razoável, reconhece o valor do interlocutor e se mostra disposto a resolver o problema da
melhor forma possível para ambas as partes.
O trecho constituído pelos dois últimos parágrafos.
b) Uso excessivo de pontos de exclamação, perguntas em tom de indignação e
inconformidade (“Como?”, “Como vou resolver isso?”).
c) Talvez o autor da carta tenha imaginado que sim; mas, geralmente, ocorre o
contrário, pois demonstra descontrole emocional e subjetividade, o que leva o
texto a perder objetividade e, consequentemente, credibilidade.
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171PRODUÇÃO DE TEXTO
A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3
00.
5. Uma carta de reclamação pode conter uma solicitação, implícita e subentendida, ou
explícita. Levante hipóteses: Qual solicitação pode ser considerada à carta em estudo?
HORA DE EsCREvER
Seguem três propostas de produção de cartas argumentativas e de
solicitação e reclamação. Combine com o professor como realizá-las.
1. Escreva, individualmente, uma carta de solicitação à direção da escola para a realização da feira de cidadania. A fim de construir uma
boa argumentação e convencer seus interlocutores da importância da feira para a escola e a comunidade, utilize as anotações do
debate sobre a organização do evento, bem como as informações
do relatório escrito a partir dele. Lembre-se de apresentar todos os
dados do evento (data, horário, público-alvo, objetivos, expectativas, etc.) e mencionar tudo o que a escola deverá fornecer, além
do espaço, para que a feira possa ser realizada (funcionários, pátio,
número de salas, etc.). Após todos escreverem suas cartas, selecionem a que julgarem mais completa e bem-escrita para representar a classe.
2. Leia, a seguir, uma notícia sobre uma carta que faz uma reclamação pouco comum.
A australiana Jade Ruthven respondeu publicando
ainda mais imagens da filha, Addison, de meses
Quem é pai ou mãe, especialmente os de primeira viagem, sabe que é quase
impossível resistir ao impulso de clicar seu bebê o tempo todo e compartilhar as
imagens com os amigos pela internet. Cada passo, cada sorriso, cada nova conquista – mesmo aquelas que parecem mínimas para o mundo – ganham uma importância magnífica aos olhos dos progenitores.
A timeline de redes sociais, como Facebook e Instagram, vira mesmo um álbum
infinito e constantemente atualizado dos filhos. Com a australiana Jade Ruthven,
de 33 anos, não foi diferente. Acontece que supostas amigas não se contentaram
em ocultar as atualizações ou desfazer a amizade com a moça, diante do incômodo
que sentiram com a enxurrada de imagens que invadiram seus feeds.
Eles enviaram uma carta de reclamação anônima à proprietária da conta. Elas
escreveram o seguinte:
“Jade,
Me reuni com algumas das garotas e estamos tão CANSADAS de seus comentários recorrentes sobre a sua vida e cada pequena coisinha que Addy faz. Olha, nós
todas temos filhos pelos quais somos loucas – adivinhe – todo pai acha que seu
filho é o melhor do mundo. Mas não fazemos todo mundo engolir isso!!! Ela veste
uma roupa nova – bem, tire uma foto e mande PRIVADAMENTE para a pessoa que
deu a roupa para ela – não para todos!!! Ela engatinha para fora do tapete – nós
NÃO ligamos!!! Ela tem 6 meses – GRANDE COISA!!! Pare e pense – se todas as
mães postassem todas as bobagens sobre seus filhos – tenho certeza de que você se
cansaria muito rápido. Mal podemos esperar para você voltar ao trabalho – talvez
você não tenha tanto tempo para passar no Facebook. Addy é linda e nós todas a
amamos, mas nossas crianças são demais também. Acho que você está irritando
muita gente com seus “Addy isso e Addy aquilo” – achamos que isso diminuiria
depois do primeiro mês, mas isso não aconteceu. Nem todo mundo está tão interesEntre elas: que a concessionária resolva o problema do carro, dê outro carro ao reclamante,
devolva o dinheiro, pague uma indenização, etc.
Dê continuidade à organização da feira de cidadania
que a classe realizará no final
da unidade, escrevendo uma
carta de solicitação para o
uso do espaço da escola no
evento, a ser encaminhada à
direção, e também modelos
de cartas de reclamação e/ou
solicitação a serem oferecidos aos visitantes da feira.
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172
UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
sado quanto você sobre o que Addy faz, então dê um tempo. Estamos fazendo isso
para que você saiba o que realmente as pessoas pensam.”
Ao ler a carta que foi deixada sem assinatura na caixa de correspondência em
frente à sua casa, Jade ficou chocada e a enviou para a comediante australiana Em
Rusciano, que postou a foto em sua página no Facebook e escreveu uma coluna
sobre o assunto para o site www.news.com.au.
Em entrevista ao jornal Daily Mail da Austrália, a mãe disse que não respondeu. Junto com alguns de seus amigos – desta vez, de verdade – ela criou a hashtag #Addyspam e passou um longo período postando diversas imagens da filha.
(Revista Crescer, 22/4/2015. Disponível em: https://focusfoto.com.br/mae-recebe-carta-mal-educadade-amigos-que-se-cansaram-das-fotos-de-seu-bebe-nas-redes-sociais/. Acesso em: 11/2/2016.)
A carta de reclamação reproduzida na notícia acabou despertando na destinatária um
comportamento oposto ao que seus autores pretendiam. Discuta com os colegas e o professor a fim de identificar na carta possíveis razões de seu efeito ter sido o oposto do esperado. Depois, reescreva o texto, procurando torná-lo mais eficiente, considerando a finalidade em vista. Na feira, exponham as duas versões, chamando a atenção dos visitantes
para estratégias capazes de tornar uma carta de reclamação eficiente, ou seja, capazes de
levar à solução do problema que constitui o motivo da reclamação feita por seus autores.
Consumidor digital
Há atualmente diversas páginas virtuais que disponibilizam espaço para consumidores fazerem reclamações relativas a
problemas referentes à compra de produtos variados. Esses espaços se tornaram meios eficientes de comunicação direta
entre consumidores e empresas fornecedoras. Muitas vezes, certos problemas são resolvidos apenas por meio desse recurso.
Alguns dos principais sites voltados a reclamações de consumidores são estes:
3. Organize, com os colegas da classe, um serviço de escrita de cartas de reclamação
e/ou solicitação a ser oferecido aos visitantes da feira de cidadania. Em grupo,
escrevam cartas de solicitação e/ou reclamação diversas, para utilizar como modelos no dia da feira. Assim, escrevam:
• carta de reclamação e solicitação de troca de um produto que foi comprado com
defeito;
• carta de reclamação, dirigida ao condomínio, sobre um morador que para o carro
fora de sua vaga, atrapalhando a circulação na garagem, e com a solicitação para
que sejam tomadas medidas cabíveis;
• carta de reclamação referente a veículos que param em fila dupla na porta da escola em horários de entrada e saída;
• carta de reclamação, destinada à direção da escola, sobre um ou mais problemas relacionados ao prédio (escada perigosa, falta de acessibilidade, banheiros inadequados,
etc.) e com a solicitação de que o(s) problema(s) apontado(s) seja(m) solucionado(s);
• carta de reclamação e/ou solicitação relativa a uma situação específica da realidade
vivida por vocês na escola ou na comunidade e considerada relevante pela classe.
http://www.reclameaqui.com.br/
http://www.denuncio.com.br/
http://www.reclamao.com.br/
Fotografias: Reprodução
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173PRODUÇÃO DE TEXTO
A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3
ANTEs DE EsCREvER
Planeje sua carta de reclamação e/ou solicitação, seguindo estas orientações:
• Escolha o alvo da reclamação e/ou solicitação.
• Ao definir o destinatário, considere qual é a pessoa ou instituição que tem, de fato,
poder para solucionar o problema ou autorizar o atendimento à solicitação.
• Defina qual é o objetivo central de sua carta, ou seja, fazer uma reclamação, uma solicitação, ou ambas.
• Se a carta for de reclamação, anote o(s) problema(s) e defina a melhor forma de abordá-lo(s), expondo-o(s) abertamente, mas de forma polida;
• Se a carta envolver uma solicitação, seja objetivo(a) e direto(a) no pedido, porém lembrando-se de valorizar o interlocutor e apontar possíveis vantagens que ele pode vir a
ter caso atenda à solicitação.
• Procure fazer ressalvas, ou seja, mesmo que seu texto tenha como foco uma reclamação, tente encontrar na situação pontos positivos que possam ser ressaltados.
• Evite se colocar excessivamente na situação de vítima, assuma a parte de responsabilidade que lhe cabe.
• Lembre-se de indicar a data e o local de onde escreve, bem como de assinar a carta. Se
julgar relevante, considerando o assunto da carta, mencione também algum(ns) de
seus dados pessoais (idade, ocupação profissional, bairro onde mora, etc.) ou experiências anteriores que possam ajudar na construção da argumentação.
• Fundamente seu ponto de vista com argumentos objetivos e concretos, mencionando
fatos, autoridades, situações do cotidiano que ilustrem e esclareçam seus argumentos.
• Procure esclarecer o destinatário de que seu objetivo não é unicamente reclamar ou
solicitar algo por interesse pessoal, mas também evitar que o problema ocorra com
outras pessoas no futuro.
• Procure adequar o grau de formalidade da linguagem ao assunto da reclamação e/ou
solicitação e ao destinatário da carta.
ANTEs DE PAssAR A LImPO
Antes de dar por finalizada sua carta de solicitação e/ou reclamação, observe:
• se o alvo da sua reclamação e/ou solicitação está claro;
• se o destinatário é, efetivamente, a pessoa ou instituição responsável por solucionar o
problema ou por autorizar o atendimento à solicitação;
• se a solicitação foi feita com objetividade e se houve menção a pontos positivos relacionados à situação, além dos pontos negativos;
• se seu ponto de vista está bem-fundamentado, isto é, apoiado em fatos, argumentos,
exemplos e relatos que convençam o destinatário de que sua reclamação é legítima
e/ou sua solicitação merece ser atendida;
• se você indicou data, local, seu nome completo e os outros dados que julgue relevantes
no contexto da carta;
• se você deixou claro que o alvo da reclamação e/ou solicitação diz respeito não só a
um interesse individual, mas também à preocupação de evitar a ocorrência da mesma
situação com outras pessoas no futuro;
• se a linguagem está adequada ao destinatário.
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174 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
(ENEM)
Confidência do itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.
Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita
de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema “Confidência do itabirano”. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas
modernistas, conclui-se que o poema acima
a. representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.
b. apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos.
c. evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a
forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo.
d. critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as
prendas resgatadas de Itabira.
e. apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela
terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
X
POR DENTRO DO ENEm E DO vEsTIBULAR
ENEm Em CONTEXTO
As questões do Enem exigem algumas habilidades de leitura, como o reconhecimento das concepções estéticas e dos procedimentos de construção do texto literário, tal como ocorre nesta questão:
Diferentemente do que afirma a alternativa a, Carlos Drummond de Andrade pertence à geração de 30, fase que se afasta do tom contestatório da geração de 22 (ou fase heroica), voltandose para questões sociais, filosóficas, existenciais, espirituais e amorosas. A alternativa b também
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175
apresenta uma afirmação falsa, pois a “apresentação objetiva de dados e fatos históricos” não é
um traço característico do gênero lírico, como também não é um elemento central do poema em
questão. Nas alternativas d e e, as referências às “influências românticas” e à “inutilidade do poeta”
não podem ser verificadas em “Confidência do itabirano”. Nesse poema, o eu lírico apresenta uma
visão crítica em relação à sua cidade natal e evidencia, por meio de imagens, a influência que Itabira
exerce sobre ele; portanto, a alternativa correta é a c.
QUEsTÕEs DO ENEm E DO vEsTIBULAR
1. (ENEM)
Texto I
Logo depois transferiram para o trapiche o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraram então para
o trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles
meninos, moleques de todas as cores e de idades as
mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos, que
à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da
ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas
vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que
vinham das embarcações...
AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008 (fragmento).
Texto II
À margem esquerda do rio Belém, nos fundos do
mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro – ali os
bêbados são felizes. Curitiba os considera animais sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e pirão.
No trivial contentavam-se com as sobras do mercado.
TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos.
Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 (fragmento).
Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são
exemplos de uma abordagem literária recorrente na literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos,
a. a linguagem afetiva aproxima os narradores dos
personagens marginalizados.
b. a ironia marca o distanciamento dos narradores em
relação aos personagens.
c. o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem social.
d. o espaço onde vivem os personagens é uma das
marcas de sua exclusão.
e. a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta.
2. (UEL-PR) Sobre o romance Fogo morto, de José Lins do
Rego, é correto afirmar:
X
a. Caracteriza-se como uma obra memorialista, pois
a personagem central, mestre José Amaro, narra a
sua história pessoal, enfatizando os problemas que
o mundo capitalista traz para o homem.
b. Embora tenha sido escrito na década de 1930, quando o movimento modernista já havia operado uma
revolução na literatura, o romance é bastante convencional, sobretudo na caracterização da paisagem
e do homem nordestino, aproximando-se da visão
de mundo romântica.
c. Apresenta uma visão saudosa da realidade política,
econômica e social do Nordeste da primeira metade
do século XX, bem como uma visão pitoresca do espaço enfocado.
d. O uso do discurso indireto livre é um dos procedimentos de construção narrativa mais significativos do romance, na medida em que permite a
diversidade de olhares sobre uma dada realidade
e, ao mesmo tempo, auxilia no processo de aprofundamento do drama psicológico vivenciado pelas personagens.
e. Faz um retrato fotográfico da realidade nordestina,
afastando-se do ficcional, uma vez que parte de fatos que realmente existiram e que podem ser comprovados, como a decadência dos engenhos de açúcar e a Guerra de Canudos.
3. (FUVEST-SP)
O Brasil já está ˆ beira do abismo. Mas ainda vai
ser preciso um grande esforço de todo mundo pra colocarmos ele novamente lá em cima.
Millôr Fernandes.
a. Em seu sentido usual, a expressão destacada significa “às vésperas de uma catástrofe”. Tal significado
se confirma no texto? Justifique sua resposta.
b. Sem alterar o seu sentido, reescreva o texto em um
único período, iniciando com “Embora o Brasil (...)” e
substituindo a forma pra por para que. Faça as demais transformações que são necessárias para adequar o texto à norma escrita padrão.
X
3. a) Não, pois pela continuação do texto – especialmente pelo trecho “colocarmos ele novamente lá em cima” – é possível inferir que o significado,
nesse caso, é o de que ele está à beira não para cair, mas sim pronto para
escalar, subir o abismo e chegar ao topo.
Embora o Brasil ainda precise de um grande esforço de todo mundo
para ser colocado em cima do abismo, já está à beira dele.
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NO CADERNO
Por dentro do Enem e do vestibular
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176 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
4. (ITA-SP) Os romances de Machado de Assis e os de Graciliano Ramos são exemplos bem acabados da forte presença do realismo na Literatura Brasileira. Entretanto,
há diferenças bem marcantes entre a ficção realista do
século XIX e a ficção de cunho realista da geração de 30.
Algumas delas são:
I. As obras realistas do século XIX (em particular os
romances de Machado de Assis) retratam a burguesia rica, enquanto os romances de Graciliano Ramos
retratam apenas os retirantes vítimas da seca.
II. No século XIX, o realismo tem preferência pela temática do adultério feminino e do triângulo amoroso, tema este que não é central nas obras da geração de 30, que se preocupam mais com a desigualdade social.
III. Os romances machadianos são urbanos; as obras
de Graciliano Ramos retratam, em geral, os ambientes rurais do Nordeste.
IV. No realismo do século XIX, as personagens, em geral, são mesquinhas, vis e medíocres. Já na ficção realista dos anos 30, as personagens são, sobretudo,
produtos de um meio social adverso e injusto.
Está(ão) correta(s)
a. apenas I, II E III.
b. apenas I, II e IV.
c. apenas II, III e IV.
d. apenas III e IV.
e. todas.
5. (FUVEST-SP) Leia o trecho a seguir:
O pequeno sentou-se, acomodou nas pernas a
cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma
história. Tinha um vocabulário quase tão minguado
como o do papagaio que morrera no tempo da seca.
Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos
fáceis de entender.
(Graciliano Ramos, Vidas secas.)
Considere as seguintes afirmações sobre este trecho de
Vidas secas, entendido no contexto da obra, e responda
ao que se pede.
a. No trecho, torna-se claro que a escassez vocabular
do menino contribui de modo decisivo para ampliar
as diferenças que distinguem homens de animais.
Você concorda com essa afirmação? Justifique, com
base no trecho, sua resposta.
b. Nesse trecho, como em outros do mesmo livro, é por
exprimir suas emoções e sentimentos pessoais a
respeito da pobreza sertaneja que o narrador obtém
X
5. a) Não, ao contrário. O vocabulário
restrito do menino mostra a falta de
comunicação oral entre os membros
da família, o que acaba por animalizálas, já que o nível de linguagem deles é
semelhante ao do papagaio.
b) Não, ao contrário. A obra é narrada num estilo direto e seco, sem emoções por parte do
narrador. O retrato cru da realidade é que pode vir, por si só, a emocionar o leitor.
o efeito de contagiar o leitor, fazendo com que ele
também se emocione. Você concorda com a afirmação? Justifique sua resposta.
6. (UNICAMP-SP)
Matte a vontade. Matte Leão.
Este enunciado faz parte de uma propaganda afixada
em lugares nos quais se vende o chá Matte Leão. Observe as construções abaixo, feitas a partir do enunciado
em questão:
Matte à vontade.
Mate a vontade.
Mate à vontade.
a. Complete cada uma das construções acima com palavras ou expressões que explicitem as leituras possíveis relacionadas à propaganda.
b. Retome a propaganda e explique o seu funcionamento, explicitando as relações morfológicas, sintáticas e semânticas envolvidas.
7. (ENEM)
6. a) Possibilidades variadas de resposta, desde que
enquadradas no contexto
da propaganda: (Beba) (chá)
Matte (Leão) à vontade. /
Mate a vontade (de beber
Matte Leão). / (Beba chá)
mate (Leão) à vontade.
Resposta na página seguinte.
VERÍSSIMO, L. F. As cobras em: Se Deus existe que eu seja atingido
por um raio. Porto Alegre: L&PM, 1997. (Foto: Reprodução/Enem)
O humor da tira decorre da reação de uma das cobras
com relação ao uso de pronome pessoal reto, em vez de
pronome oblíquo. De acordo com a norma-padrão da
língua, esse uso é inadequado, pois
a. contraria o uso previsto para o registro oral da língua.
b. contraria a marcação das funções sintáticas de sujeito e objeto.
c. gera inadequação na concordância com o verbo.
d. gera ambiguidade na leitura do texto.
e. apresenta dupla marcação de sujeito.
8. (FUVEST-SP) No trecho “mas minha mãe botou ele por
promessa”, o pronome pessoal foi empregado em registro coloquial. É o que também se verifica em:
a. “‒ E se me desculpe, senhorita, posso convidar a passear?”
b. “‒ E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?”
X
REGISTRE
NO CADERNO
Luis Fernando Veríssimo
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177
c. “‒ Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?”
d. “‒ Me desculpe mas até parece doença, doença de
pele.”
e. “‒ (...) pois como senhor vê eu vinguei... pois é...”
Produção de texto
9. (UNICAMP-SP) Você e um grupo de colegas ganharam
um concurso que vai financiar a realização de uma oficina cultural na sua escola.
Após o desenvolvimento do projeto, você, como
membro do grupo, ficou responsável por escrever
um relatório sobre as atividades realizadas na oficina, informando o que foi feito. O relatório será avaliado por uma comissão composta por professores da
escola. A aprovação do relatório permitirá que você
e seu grupo voltem a concorrer ao prêmio no ano
seguinte.
O relatório deverá contemplar a apresentação do projeto (público-alvo, objetivos e justificativa), o relato das
atividades desenvolvidas e comentário(s) sobre os impactos das atividades na comunidade.
Na abertura do concurso, os grupos concorrentes receberam o seguinte texto de orientação geral:
As Oficinas Culturais são espaços que procuram
oferecer aos interessados atividades gratuitas, especialmente as de caráter prático, com o objetivo de
proporcionar oportunidades de aquisição de novos
conhecimentos e novas vivências, de experimentação
e de contato com os mais diversos tipos de linguagens,
técnicas e ideias. As Oficinas Culturais atuam nas áreas de artes plásticas, cinema, circo, cultura geral, dança, design, folclore, fotografia, história em quadrinhos,
literatura, meio ambiente, multimídia, música, ópera,
rádio, teatro e vídeo.
O público a ser atingido depende do objetivo de
cada atividade, podendo variar do iniciante ao profissional. As Oficinas Culturais visam à formação
cultural e não à educação formal do cidadão. Pretendem mostrar caminhos, sugerir ideias, ampliar
o campo de visão.
(Adaptado de Oficina Cultural Regional. Sérgio Buarque de Holanda.
Disponível em http://www.guiasaocarlos.com.br/oficina_cultural/
conceito.asp. Acessado em 07/10/2013.)
X
6. b) No 1º enunciado, o verbo (beber, tomar) está implícito, bem como parte do nome do produto (Leão). A grafia do termo Matte impede que se confunda com o
verbo matar e o sinal de crase indica que a expressão à vontade deve ser lida como uma locução adverbial, assim como no 3º, no qual o termo mate, pela grafia,
indica não o nome próprio da bebida como no 1º, mas o nome comum, com a referência a qualquer mate. Já no 2º, a ausência de sinal de crase indica a presença
apenas do substantivo, uma vez que o verbo matar não rege preposição. Assim, a propaganda trabalha com o jogo de sentidos entre palavras e expressões
homônimas, mas com significados e classificações distintos: Matte (nome próprio), mate (verbo) e mate (nome comum) e à vontade (locução adverbial) e a vontade
(objeto direto.)
10. (UFPR-PR) Em 3 de setembro de 2010, a revista ISTOÉ
publicou uma síntese, assinada por Paulo Lima, do livro
ainda inédito Fé em Deus e pé na tábua – Como e por
que você enlouquece dirigindo no Brasil, do antropólogo
Roberto DaMatta:
Nosso comportamento terrível no trânsito é resultado da nossa incapacidade de sermos uma sociedade
igualitária; de instituirmos a igualdade como um guia
para a nossa conduta. Nosso trânsito reproduz valores
de uma sociedade que se quer republicana e moderna,
mas ainda está atrelada a um passado aristocrático, no
qual alguns podiam mais do que muitos, como ocorre
até hoje. Em casa, nós somos ensinados que somos únicos, especiais. Aprendemos que nossas vontades sempre podem ser atendidas. É o espaço do acolhimento,
do tudo é possível por meio da mamãe. Daí a pessoa
chega na rua e não consegue entender aquele espaço onde todos são juridicamente iguais. Ir para a rua,
no Brasil, ainda é um ato dramático, porque significa
abandonar a teia de laços sociais onde todos se conhecem e ir para um espaço onde ninguém é de ninguém.
E o trânsito é o lado mais negativo desse mundo da rua.
É doentio, desumano e vergonhoso notar que 40 mil
pessoas morrem por ano no trânsito de um país que se
acredita cordial, hospitaleiro e carnavalesco. No Brasil,
você se sente superior ao pedestre porque tem um carro. Ou superior a outro motorista porque tem um carro
mais moderno ou mais caro. O motorista não consegue
entender que ele não é diferente de outro motorista, do
pedestre, do motorista de ônibus. Que ele não tem um
salvo-conduto para transgredir as leis. No Brasil, obedecer à lei é uma babaquice, um sintoma de inferioridade.
Quem obedece é subordinado porque a hierarquia que
permeia nossas relações sociais jamais foi politizada.
Isso é herança de uma sociedade aristocrática e patrimonialista, em que não houve investimento sério no
transporte coletivo e onde ainda impera o “Você sabe
com quem está falando?”
(LIMA, Paulo. “Como estou dirigindo?”, ISTOÉ, ed. 2130.)
Tomando como ponto de partida as opiniões de
DaMatta, escreva uma carta dirigida ao Secretário de
Educação do Estado do Paraná, solicitando a inclusão,
no currículo do Ensino Médio, de conteúdos voltados à
educação para o trânsito. Use as afirmações de DaMatta
como argumentos para fundamentar sua solicitação.
O texto deve ter de 10 a 12 linhas.
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178 UNIDADE 2 PALAVRA E PERSUASÃO
Cidadania em debate
Como encerramento da unidade, realize com os colegas da classe uma feira de cidadania,
na qual serão promovidos debates deliberativos com a comunidade escolar e do bairro e serão
montadas oficinas de produção de currículo e de cartas argumentativas de solicitação e/ou
reclamação.
1. Organizando, preparando e divulgando o evento
Vocês já definiram, no debate deliberativo realizado no capítulo 1, o perfil do evento que
realizarão: data, horário, estrutura, título, público-alvo, divulgação. Providenciem, agora, os
meios necessários para que as deliberações do debate sejam colocadas em prática:
• Organizem-se em grupos, de acordo com os interesses de cada aluno, e definam qual grupo
ficará responsável por qual atividade da feira.
• Em todos os murais produzidos, confiram se o tamanho das letras está adequado, para que os
convidados os leiam de pé, ao visitar o local.
• Divulguem o evento para a comunidade, com certa antecedência, especificando as atividades
que serão realizadas, a fim de que as pessoas interessadas possam se preparar para participar
delas de modo mais ativo, seja buscando informações sobre o debate, seja providenciando os
documentos que precisarão consultar, caso desejem aproveitar o momento para elaborar um
currículo ou uma carta de reclamação e/ou solicitação.
2. Realizando a feira
O(s) debate(s) deliberativo(s)
• Preparem o espaço para a realização do debate deliberativo sobre possíveis ações de
preservação do meio ambiente planejado por vocês no capítulo 1 da unidade.
• Definam quem serão os moderadores, os assessores e os participantes e como os
participantes e os espectadores ficarão dispostos no local.
• Se julgarem conveniente, organizem mais um debate, em horário diferente, sobre algum tema
relevante para a escola ou para a comunidade.
• Divulguem com antecedência o(s) tema(s) do(s) debate(s), a fim de que as pessoas possam
manifestar seu interesse e vocês consigam se planejar para recebê-las.
• Façam a programação do(s) horário(s) do(s) debate(s) e divulguem-na para todo o público da feira.
RICO/Arquivo da editora
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A geração de 30. Colocação pronominal. Cartas argumentativas CAPÍTULO 3 179
Oficina de currículos: o cidadão que busca inserção no mercado de trabalho
• Organizem um espaço com computadores para receber as pessoas que vocês auxiliarão na
elaboração de currículos.
• Montem no lugar da realização da oficina um mural com modelos de currículos e dicas para a
elaboração de currículos atraentes e eficientes.
Oficina de cartas: cidadão que solicita e reclama seus direitos
• Reúnam em um mural, para servirem de modelo, as cartas
de solicitação e/ou reclamação produzidas por vocês no
capítulo 3.
• Se quiserem, criem um mural com orientações sobre o que
não se deve fazer nessas cartas. Pesquisem exemplos
de cartas que, por algum motivo, não foram eficientes e
apontem estratégias que seriam as mais adequadas em
cada contexto.
• Preparem um espaço no qual vocês possam prestar uma
consultoria para os visitantes que queiram tirar dúvidas
ou escrever cartas de solicitação e/ou reclamação. Para
dar dicas, sugestões e orientações sobre como produzi-las
de forma eficiente, atendendo ao fim para o qual foram
escritas, tomem por base o estudo realizado no capítulo 3.
• Organizem um espaço com computadores conectados
à Internet para apresentar aos visitantes sites de
reclamação a que os consumidores podem recorrer. Vocês
podem oferecer ajuda àqueles que quiserem deixar sua
reclamação registrada ali mesmo.
3. Registrando o evento
• Durante a feira, façam registros, em fotos, vídeos e anotações, de momentos importantes,
como um agradecimento de alguém, uma história contada por um convidado, um depoimento
interessante. Depois, utilizem esse material, junto com o já reunido anteriormente, na escrita
do relatório sobre a realização do evento.
• Encaminhem o relatório à comunidade, à direção da escola e ao professor que orientou a
realização do evento, a fim de que, no futuro, outros grupos possam consultá-lo ao organizar a
produção de eventos semelhantes.
Jaume Gual/AGE Fotostock/AGB Photo Library David Buffington/Getty Images
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Nonononononon
UNIDADE 3
Hora e vez
da linguagem
Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que
criar sobre a vida. E sem mentir. Criar sim, mentir não. Criar não é imaginação, é correr o
grande risco de se ter a realidade. Entender é uma criação, meu único modo.
(Clarice Lispector. A paix‹o segundo G. H. Edição crítica organizada por Benedito Nunes. Madri: Allca XX; São Paulo: Scipione, 1997. p. XXVII.)
Fruteira (1998), de Aldemir Martins, artista cearense que começou a expor na década de 1940. Coleção particular
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Nonono nonon
SiMulaDO eNeM – a
reDaÇÃO eM eXaMe
Participe de um simulado da
prova de redação do Enem, organizado por você e seus colegas;
depois, participe de uma banca de
correção para avaliar a produção
da classe.
Casas (1953), de
Alfredo Volpi.
A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos
vazias. Mas – volto com o indizível. O
indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem.
Só quando falha a construção, é que
obtenho o que ela não conseguiu.
(Idem. p. XXVII.)
Mire veja... o mais importante e
bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda
não foram terminadas – mas que
elas vão sempre mudando.
(Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 15.)
uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.
(João Cabral de Melo Neto.
“A mulher e a casa”. In: Obra completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 241-2.)
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil
181
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Cecília Meireles e Vinícius de Morais
LITERATURA
a poesia de 30: Cecília Meireles
e Vinícius de Morais
análise linguística: progressão referencial e
operadores argumentativos
a dissertação (i)
CAPÍTULO 1
Cec’lia Meireles
Cecília Meireles (1901-1964) nasceu
no Rio de Janeiro. Perdeu os pais muito cedo e foi criada pela avó, que lhe
proporcionou os primeiros contatos com
a literatura. Formada em Magistério,
dedicou-se com grande empenho à carreira de professora.
Publicou seu primeiro livro de poesia,
Espectros, aos 19 anos. Durante muito
tempo, publicou em jornais crônicas e
também artigos relacionados à educação. Em 1934, fundou a primeira biblioteca infantil do país.
A poetisa obteve grande prestígio
em Portugal e é considerada uma das
principais vozes da literatura em língua
portuguesa.
Cecília Meireles
Mais conhecida como poetisa, Cecília Meireles também foi cronista e
contista e deixou uma grande contribuição na área da educação, da literaEternidade (1931), tela de Ismael Nery, pintor que foi líder espiritual e exerceu forte influência
no grupo de poetas católicos do Rio de Janeiro nos anos 1930, particularmente sobre Jorge de
Lima e Murilo Mendes.
Col. Chaim José e Regina Hamer, SP
Foto do Acervo UH/Folhapress
182 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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literatura
tura infantil e do folclore. Como intelectual e educadora, defendeu o ensino laico e se
empenhou no combate ao autoritarismo do Estado Novo.
Suas primeiras publicações, como Espectros (1919), Nunca mais... e poema dos poemas (1923) e Baladas para el rei (1925), apresentam certos traços neossimbolistas, como
a musicalidade, a espiritualidade, a melancolia, o sonho e o uso de símbolos, além de
referências recorrentes ao mar, à tristeza e à efemeridade do tempo. A obra da autora,
entretanto, mesmo nas produções posteriores, nunca se enquadrou perfeitamente em
nenhum movimento literário. Cecília é essencialmente uma poetisa moderna, mas vinculada fortemente à tradição ibérica da poesia. Cultivou o verso livre, mas tinha amplo
domínio das formas poéticas convencionais, como a canção, o epigrama, o noturno, o
verso redondilho, ritmos bem-marcados, etc.
Entre os vários livros que publicou, estão também Viagem (1939), Vaga música (1942) e
Romanceiro da Inconfidência (1953). No âmbito da literatura infantil, é autora da conhecida obra Ou isto ou aquilo (1964).
FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, dois poemas de Cecília Meireles, ambos da obra Viagem.
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
(Obra poŽtica. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987. p. 81.)
Can•‹o
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
— depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
(Idem, p. 88.)
Andressa Honório
183 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1
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1. O poema “Motivo” se inicia com o verso “Eu canto porque o instante existe”.
a. Qual é o canto a que se refere o poema?
b. Para o eu lírico, o que motiva o seu canto?
2. O poema “Motivo” é constituído, em grande parte, de antíteses.
a. Identifique as antíteses do poema.
b. A quem elas se referem?
c. Como o eu lírico vê a si mesmo em sua experiência de poeta?
d. Qual é a importância dessas antíteses no processo de criação poética?
3. Há, no poema “Motivo”, referência à efemeridade do tempo, tema frequente na poesia de tradição clássica.
a. Identifique uma referência a esse tema.
b. Para o eu lírico, se a matéria é efêmera, então o que é eterno? Justifique sua resposta com um verso do poema.
4. No poema “Canção”, o eu lírico faz referência ao seu sonho e, por meio
de um conjunto de imagens, revela o destino que deu a eles.
a. A que meio ou ambiente estão relacionadas as imagens do poema?
Justifique com alguns elementos do texto.
b. Com que objetivo o eu lírico põe seu sonho em um navio? O que representa o naufrágio do navio?
c. Dê uma interpretação à imagem final do poema: “e as minhas duas
mãos quebradas”.
d. Que sentimentos o eu lírico revela ter em relação ao sonho e à vida?
5. Cecília Meireles é considerada uma poetisa de grande habilidade formal. Compare os dois poemas e responda:
a. Que semelhança eles apresentam, do ponto de vista formal, ou seja,
quanto a estrofação, métrica, ritmo e rimas?
b. Entre as figuras de linguagem sonoras, qual delas se verifica nos versos “O vento
vem vindo de longe” e “a noite se curva de frio”, do poema “Canção”? Que efeito de
sentido ela resulta da presença dessa figura?
c. Cecília Meireles é associada frequentemente ao Simbolismo ou ao Neossimbolismo. Que traços desses poemas têm afinidade com a estética simbolista? Justifique
sua resposta com elementos dos textos.
Vinícius de Morais
As primeiras obras de Vinícius de Morais, como O caminho para a distância (1933) e
Forma e exegese (1935), foram marcadas pela preocupação espiritual e pela busca do “sublime” por meio da transcendência mística. Nessa fase, Vinícius fazia parte de um grupo
de escritores e católicos do Rio de Janeiro, e nos poemas desse período são comuns as
antíteses matéria/espírito ou humano/divino e versos longos, quase versos-parágrafos,
além de uma linguagem elevada, com influência clássica.
Aos poucos, porém, sua poesia se transforma e começa a se voltar para temas do cotidiano. Em Ariana, a mulher (1936), por exemplo, a figura feminina ganha espaço, porém
ainda é tratada de forma platônica, idealizada e inacessível, como na tradição clássica ou
na poesia romântica.
É o canto poético, ou seja, a própria poesia.
É o instante que existe, ou seja, é o presente, é a própria vida.
alegre/triste, gozo/tormento, noites/dias, desmorono/edifico, permaneço/desfaço, fico/passo
Todas se referem ao próprio eu lírico.
Ele se vê como um ser imprevisível, indefinível, contraditório, que não se enquadra em nenhum conceito ou pré-conceito.
A contradição ou imprevisibilidade do eu lírico é a base para a criação literária, ou seja,
a poesia precisa de total liberdade para poder nascer.
O verso “E um dia sei que estarei mudo”.
O que é eterno é a poesia, conforme é sugerido no verso
“Tem sangue eterno a asa ritmada”.
4. a) Estão relacionadas ao ambiente marítimo, como comprovam as palavras e expressões navio, mar, naufragar, molhadas, azul das ondas, areias desertas, água, praia lisa.
4. b) Ele põe seu sonho em um navio com
o objetivo de afundá-lo para que, assim,
ele desapareça. O naufrágio representa a
superação dos sonhos frustrados.
4. c) Professor: Sugerimos abrir a
discussão com a classe, pois pode
haver mais de uma interpretação.
Sugestão: O eu lírico pôs o navio no
mar com as mãos. Ao afundá-lo e
destruir seu sonho, é como se tivesse cortado parte de si mesmo.
Sentimentos como pessimismo, desesperança, descrença.
5. a) Os dois poemas
apresentam estrofes de
quatro versos, sendo que,
em “Canção”, todos os
versos são octossílabos
e, em “Motivo”, os três
primeiros são octossílabos
e o último de cada estrofe
é dissílabo. As sílabas tônicas dos versos dos dois
poemas recaem na 4ª e
na 8ª sílabas (nos dissílabos, caem na segunda).
Em “Motivo”, as rimas são
alternadas (ABAB); em
“Canção”, rimam apenas
o 2º e o 4º versos de cada
estrofe.
A figura de linguagem é a aliteração, que
sugere o som do próprio vento.
A musicalidade, as imagens sugestivas e vagas (“Tem sangue eterno a asa ritmada”, “irmão das coisas fugidias”), a
reflexão existencial, a atmosfera onírica.
“Motivo” em canção
O poema “Motivo”, de Cecília Meireles, foi musicado pelo compositor Fagner, assim como um trecho do poema
“Marcha”, da autora, que faz parte da
letra da canção “Canteiros”. A canção
“Motivo” foi incluída no álbum Eu canto, que foi lançado por Fagner em 1978
e fez grande sucesso.
As canções “Motivo” e “Canteiros”
podem ser ouvidas na Internet.
REGISTRE
NO CADERNOCBS
184 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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literatura
A partir das obras Cinco elegias e Poemas, sonetos e baladas, ambas de
1943, o poeta passou a extrair poesia de temas banais do cotidiano (o mar,
a praia, a pátria, os trabalhadores, os pescadores, etc.) e a fazer uso de uma
linguagem mais simples, coloquial e enxuta. Nos poemas dessas obras, a
mulher começou a ser tematizada de forma concreta e sensual.
A simplicidade dos temas e o coloquialismo da linguagem contribuíram
para a vinculação do poeta à música popular. Em decorrência dessa nova atividade artística, muitos de seus poemas, entre eles “Soneto de fidelidade”
e “Soneto de separação” − provavelmente os dois poemas que os brasileiros
mais sabem de cor − foram musicados e cantados.
A parceria com grandes compositores da música popular brasileira,
como Tom Jobim, Toquinho e Chico Buarque, consagrou definitivamente o
poeta-compositor. A canção “Garota de Ipanema”, por exemplo, de autoria
de Vinícius e Tom Jobim, é conhecida internacionalmente.
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, dois poemas de Vinícius de Morais: “Pátria minha”
e “Soneto de separação”. O primeiro foi incluído na Antologia poética publicada em 1954, e o segundo, na obra Poemas, sonetos e baladas, publicada
em 1946.
Texto 1
Pátria minha
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
[...]
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Vin’cius de Morais
Vinícius de Morais (1913-1980) nasceu no Rio de Janeiro e foi poeta, cronista, dramaturgo e compositor.
Estudou Direito, Ciências Jurídicas
e Sociais e ingressou em 1946 na carreira diplomática, na qual permaneceu
até 1969, quando foi exonerado do Ministério das Relações Exteriores pelo
governo militar. Nos anos que viveu no
exterior, foi diplomata nos Estados Unidos, na França e no Uruguai.
Publicou sua primeira obra, o livro de
poemas O caminho para a distância,
em 1933, mas só começou a se tornar
famoso em 1956, com a encenação da
peça Orfeu da Conceição.
Na década de 1950, o poeta começou
a se envolver com a carreira musical,
que lhe conferiu grande popularidade.
Teve como parceiros musicais figuras
importantes da MPB, como Tom Jobim,
Baden Powell, Chico Buarque e Toquinho, entre outros.
Folhapress/Folhapress
185 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1
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Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
“Liberta que serás também”
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes.”
(Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1974. p. 267-9.)
Texto 2
Soneto de separa•‹o
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
(In: Nova antologia poética de Vinicius de Moraes, seleção e organização de Antonio Cícero e
Eucanaã Ferraz. São Paulo: Cia. das Letras, Editora Schwarcz Ltda., 2008. p. 100 © VM.)
Libertas quae sera tamen: expressão,
em latim, de autoria do poeta Virgílio, que
significa “liberdade, ainda que tardia”;
foi utilizada como lema do movimento da
Inconfidência Mineira e hoje aparece na
bandeira de Minas Gerais.
presto: ligeiro, rápido.
Andressa Honório
186 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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LITERATURA
1. Na primeira estrofe de “Pátria minha”, o eu lírico compara a pátria a uma
criança dormindo. O que há em comum entre os elementos dessa comparação?
2. O eu lírico do texto 1 se refere à pátria por meio de um conjunto de metáforas, como “fonte de mel”, “bicho triste”, “desolação de caminhos”, “terra sedenta”, “grande rio secular”, “ilha de ternura”. Que visão ele revela
ter sobre a pátria, por meio dessas metáforas?
3. Em alguns trechos, o poema “Pátria minha” estabelece uma relação intertextual com o Hino Nacional.
a. Identifique esses trechos.
b. A apropriação do discurso oficial sobre a pátria, nesse caso, confirma-o
ou nega-o? Justifique sua resposta.
4. Releia a última estrofe do poema “Pátria minha”.
a. Explique a formação e o sentido do neologismo avigrama.
b. Por que o eu lírico chama a cotovia e o rouxinol, se é o sabiá que vai
levar o avigrama?
c. Com que outro poema de exílio “Pátria minha” estabelece uma relação intertextual? Que palavra dessa estrofe explicita essa relação?
d. Geralmente, a voz que fala nos poemas é a do eu lírico, que nem sempre corresponde à voz do próprio poeta. Essa simulação poética também se verifica no poema “Pátria minha”? Justifique com elementos
dessa estrofe.
5. Como o nome sugere, o “Soneto de separação” tem como tema a separação. De que tipo de separação trata o poema?
6. As figuras de linguagem cumprem um importante papel na construção
do poema.
a. Identifique a figura de linguagem que se verifica nestes pares de palavras:
• riso/pranto
• bocas unidas/espuma
• mãos espalmadas/espanto
• calma/vento
b. Como essa figura de linguagem expressa o drama que o eu lírico vive
com a separação?
c. A repetição constante da expressão de repente constitui uma anáfora.
Que efeito de sentido é criado por essa anáfora, considerando-se o
sentido global do texto?
A “íntima doçura”, isto é, o eu lírico tem com a pátria uma intimidade
semelhante à que tem com o próprio filho.
Tem uma visão subjetiva, emocional, carinhosa da pátria. Ao mesmo tempo, ele a vê como um conjunto de contradições,
com maravilhas (“fonte de mel, “ilha de ternura”) e problemas (“desolação de caminhos”).
“Amada, idolatrada, salve, salve!”, “não é florão, nem ostenta /
Lábaro não”, “mais garrida”, “mãe gentil”
O poema nega o discurso oficial. O discurso poético é lírico e emotivo e se refere à pátria de
maneira carinhosa, pessoal e íntima (“patriazinha”); não tem a finalidade de idealizá-la nem de
tratá-la do ponto de vista militar (“ostenta lábaro”). A pátria é filha, é “ilha de ternura”.
Por analogia a telegrama, o neologismo avigrama (ave + -grama)
sugere que a mensagem será enviada por uma ave.
4. b) Porque o sabiá é uma ave brasileira. A cotovia
e o rouxinol, que são típicas do continente europeu,
pegarão a carta e a entregarão ao sabiá, para que
ele a leve à pátria.
c) Com “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, cujos
versos iniciais são “Minha terra tem palmeiras /
Onde canta o sabiá”. Logo, além do tema do exílio,
é a palavra sabiá que estabelece uma relação intertextual com o poema de Gonçalves Dias.
Não; em “Pátria minha” o poeta assume a voz do eu lírico ao assinar
o poema como “Vinicius de Moraes”.
De uma separação amorosa, conforme indica o verso “E das bocas unidas fez-se a espuma”.
Antítese.
Opondo dois momentos: o antes e o depois da separação.
A repetição constante da expressão de repente revela a surpresa do eu lírico com a rapidez
que envolveu a separação e, ao mesmo tempo, com a fragilidade das relações amorosas.
“Pátria minha” e o exílio
Quando escreveu “Pátria minha”, Vinícius de Morais vivia em Los Angeles,
nos Estados Unidos, onde, como diplomata, era vice-cônsul. Por estar fora do
país, ele se sentia como se estivesse
em exílio.
Em 1949, o poeta enviou uma cópia
do poema ”Pátria minha” ao amigo e
também poeta e funcionário do Itamaraty, João Cabral de Melo Neto, que
vivia em Barcelona, na Espanha. Querendo fazer uma surpresa a Vinícius,
Cabral imprimiu em sua prensa pessoal
cinquenta exemplares do poema e os
entregou ao amigo. O poema “Pátria minha” foi publicado em livro cinco anos
depois, em 1954.
REGISTRE
NO CADERNO
VM Cultural
Vinícius de Morais e João Cabral
de Melo Neto.
187 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1
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7. O hipérbato ou inversão é outra figura de linguagem que ocorre com
frequência no poema.
a. Coloque na ordem direta os seguintes versos do poema, desfazendo
os hipérbatos.
• “De repente do riso fez-se o pranto”
• “De repente da calma fez-se o vento”
• “Que dos olhos desfez a última chama”
b. Levante hipóteses: Que relação há entre as inversões sintáticas nos
versos e o conteúdo do poema?
8. Por meio de imagens, o eu lírico consegue transmitir os sentimentos
decorrentes da separação, ao mesmo tempo que faz uma espécie de balanço da vida. Responda, justificando suas respostas com palavras ou
expressões do texto:
a. Que sentimentos ele revela ter nesse momento?
b. Que perspectiva o eu lírico tem para sua vida?
9. Observe e compare, do ponto de vista formal, os dois poemas de Vinícius
de Morais.
a. Qual deles adota uma forma convencional, com versos regulares?
Qual adota uma forma livre, com versos livres?
b. Qual dos dois poemas tem uma linguagem mais elevada? Em qual deles a linguagem é mais simples e coloquial?
c. O que as respostas dos itens anteriores permitem concluir sobre a
poe sia de Vinícius de Morais, do ponto de vista formal?
De repente o pranto fez-se do riso
De repente o vento fez-se da calma
Que (o qual) desfez a última chama dos olhos
As inversões sintáticas reforçam as oposições que se dão no nível do conteúdo, ou seja, o eu
lírico também está vivendo uma vida “invertida”, ou seja, que é o contrário do que vivera antes.
Sentimentos como surpresa (“espanto”), sofrimento (“pranto”, “drama”),
tristeza (“triste”), solidão (“sozinho”).
O eu lírico não tem perspectiva definida, sua vida é uma “aventura errante”, sem rumo.
O “Soneto de separação” adota uma forma convencional, o soneto, com versos
decassílabos. O poema “Pátria minha” adota forma e versos livres.
9. b) O soneto tem uma linguagem mais elevada, com o emprego de termos como bruma
e aventura errante, enquanto o poema “Pátria
minha” tem uma linguagem mais simples e
coloquial, conforme demonstra o emprego de
termos como bicho triste, patriazinha.
Permitem concluir que o poeta cultivou tanto forma e versos livres, de acordo com as propostas da geração de 22,
quanto forma e versos regulares, de tradição clássica.
• Cecília Meireles e Vinícius de Morais integraram o grupo de poetas católicos do Rio de Janeiro que se destacaram nos anos 1930-40. Além do verso
livre, ambos cultivaram também formas clássicas da poesia.
• A poesia de Cecília Meireles apresenta certos traços associados ao Simbolismo, como a musicalidade, a espiritualidade, a melancolia e o uso de uma
linguagem mais sugestiva do que descritiva.
• A poesia de Vinícius de Morais teve inicialmente inspiração religiosa
e era escrita em uma linguagem elevada, com influência da tradição
clássica. Aos poucos, porém, o poeta se voltou para temas do cotidiano,
como a mulher, o amor, a pátria, o mar, os filhos, fazendo uso de formas
poéticas mais simples e de linguagem mais acessível e coloquial. Da
fase final de sua poesia, nasceram as canções que popularizam definitivamente o poeta-compositor.
REGISTRE
NO CADERNO
188 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP1_180a200.indd 188 5/12/16 6:24 PM
Você vai ler, a seguir, um soneto de Vinícius de Morais e a letra de uma canção, com música de Tom Jobim e letra de Vinícius de Morais. Na Internet, é possível assistir a parte de um
show na qual os dois juntos apresentam a canção e Vinícius declama o poema. Procure ver.
Soneto de fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(In: Nova antologia poética de Vinicius de Moraes. São Paulo:
Cia. das Letras, Editora Schwarcz Ltda., 2008. p. 39. © VM.)
Eu sei que vou te amar
Eu sei que vou te amar
Por toda minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Pra te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda minha vida
(Vinícius de Morais e Tom Jobim. Disponível em: http://www.jobim.org/jobim/
handle/2010/11054. Acesso em: 23/3/2016.)
atento: cuidadoso, respeitoso.
LITERATURA
Osterreichische Galerie Belvedere, Viena, Áustria
O beijo (1908), de Gustav Klimt.
189
A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1
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1. O poema de Vinícius de Morais apresenta recursos formais – como inversões e outras
figuras de linguagem – que o associam à tradição da poesia clássica.
a. Qual é o tipo de composição utilizado?
b. A fim de constatar o uso de inversões no poema, ponha os versos da 1ª estrofe na
ordem direta.
c. Qual é o efeito de sentido decorrente do emprego do polissíndeto em “Antes, e com
tal zelo, e sempre, e tanto”?
d. Identifique no poema exemplos de antítese, pleonasmo e metáfora.
2. O poema tem como título “Soneto de fidelidade”. De acordo com o ponto de vista do
eu lírico:
a. A fidelidade exige renúncia? Justifique sua resposta com elementos do texto.
b. De acordo com a 2ª estrofe, de que outra forma se mostra a fidelidade?
3. O eu lírico imagina a possibilidade de futuramente ocorrerem duas situações adversas: a morte e a solidão.
a. Para ele, o que é a morte?
b. E a solidão?
4. Depois de passar por essas experiências, o eu lírico poderia, então, chegar a uma conclusão a respeito do amor, resumida nos dois últimos versos do poema:
“Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure”.
a. Que figura de linguagem se verifica na expressão infinito enquanto dure? Justifique
sua resposta.
b. Interprete esses versos e explique que conceito de amor tem o eu lírico, levando em
conta o sentido dessa figura de linguagem reconhecida no item a.
5. O soneto e a letra da canção são de Vinícius de Morais. Compare os dois textos.
a. Que semelhanças e diferenças eles apresentam quanto à percepção do eu lírico sobre o amor?
b. Que diferenças eles apresentam em relação à forma e à linguagem?
c. Essas diferenças são compatíveis com o gênero e com o propósito comunicativo de
cada texto? Justifique sua resposta.
O soneto.
Antes de tudo, serei atento ao meu amor, e com tal zelo, e sempre, e tanto, que meu
pensamento se encante dele, mesmo em face do maior encanto.
A repetição da conjunção reitera e destaca a ênfase dada pelo eu lírico à devoção com
que vai cuidar de seu amor pela pessoa amada.
Antítese: riso/pranto, pesar/contentamento; pleonasmo: rir meu riso; metáfora: chama.
Sim, conforme os versos “Que mesmo em face do maior encanto / Dele se encante mais meu pensamento”.
Mostra-se fidelidade também vivendo o amor nas mais variadas situações, nos momentos banais da vida, na tristeza e na alegria.
A morte (a sua própria ou da pessoa amada) é a maior preocupação de quem ama.
É o fim da pessoa que ama, pois a pessoa amada já partiu.
Um paradoxo, pois, se é infinito, supostamente não teria fim, não acabaria nunca.
Seu conceito de amor é de que, enquanto durar, o amor deve ser pleno e total, uma espécie de entrega incondicional. Ou seja,
ele deve ser infinito do ponto de vista da intensidade, e não da durabilidade.
Nos dois textos, o amor deve ser constante e uma espécie de entrega. No poema, entretanto, é prevista a possibilidade de o amor ter um fim (motivado pela morte ou não); já na canção, o amor deve durar toda a vida.
5. b) Enquanto o soneto
apresenta uma linguagem
e uma forma poética clássica (emprego do soneto,
versos decassílabos, vocabulário selecionado,
figuras de linguagem,
etc.), a canção apresenta
uma letra simples, direta
e fluente, com versos livres, vocabulário comum
e versos inteiramente repetidos.
Inteiramente compatíveis. O poema supõe um leitor de poesia, isto
é, um leitor acostumado com a linguagem poética e seus recursos
formais. Já a canção é feita para ser cantada e ouvida; logo, é natural que apresente repetições e uma simplicidade formal maior,
pois disso depende a memorização da letra.
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190 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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lÍNGua e
liNGuaGeM
FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, uma redação que teve nota máxima no exame do Enem.
A imigração no Brasil
Durante, principalmente, a década de 1980, o Brasil mostrou-se um país de emigração. ■, inúmeros brasileiros deixaram ■ em busca de melhores condições de vida. No
século XXI, um fenômeno inverso é evidente: a chegada ao Brasil de grandes contingentes imigratórios, com indivíduos de países subdesenvolvidos latino-americanos. No
entanto, as condições precárias de vida ■ são desafios ■ para a plena adaptação de
todos os cidadãos ■.
A ascensão do Brasil ao posto de uma das dez maiores economias do mundo é um
importante fator atrativo ■. ■ o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nacional,
segundo previsões, seja menor em 2012 em relação a anos anteriores, o país mostra
um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo
aumento do poder de consumo da classe C.
■ contribui para a construção de uma imagem positiva e promissora do Brasil no
exterior, o que favorece a imigração. A vida dos imigrantes no país, ■, exibe uma diferente e crítica faceta: a exploração da mão de obra e a miséria.
■, para impedir a continuidade ■, é imprescindível a intervenção governamental,
por meio da fiscalização de empresas que apresentem imigrantes como funcionários,
bem como a realização de denúncias de exploração por brasileiros ou por imigrantes. ■,
é necessário fomentar o respeito e a assistência a eles, ideais que devem ser divulgados
por campanhas e por propagandas do governo ou de ONG’s, além de garantir seu acesso à saúde e à educação, por meio de políticas públicas específicas ■.
(Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2013/
guia_de_redacao_enem_2013.pdf. Acesso em: 20/2/2016.)
1. Em sua primeira leitura, você certamente percebeu que faltam alguns termos fundamentais para a compreensão do texto.
a. Entre as expressões do quadro a seguir, identifique os que completam adequadamente
o texto e escreva-os em seu caderno, na ordem em que devem ser empregadas.
a esse grupo Embora entretanto Na chamada década perdida
dessas pessoas Portanto aos estrangeiros Ademais Esse aspecto
dessa situação ao governo e à sociedade brasileira à nova realidade o país
b. Reveja no texto os seguintes trechos e expressões e indique qual(is) expressão(ões)
do quadro do item anterior retoma(m) cada um deles.
Na chamada década perdida / o país / dessas pessoas / ao governo e à sociedade brasileira / à nova realidade
/ aos estrangeiros / Embora / Esse aspecto / entretanto / Portanto / dessa situação / Ademais / a esse grupo
Análise linguística: progressão
referencial e operadores
argumentativos
LÍNGUA E LINGUAGEM
191 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1
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• “a década de 1980”
• “o Brasil”
• “indivíduos de países subdesenvolvidos latino-americanos”
• “a chegada ao Brasil de grandes contingentes imigratórios”
• “o país mostra um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo aumento do poder de consumo da classe C”
• “A vida dos imigrantes no país [...] exibe uma diferente e crítica faceta: a exploração da mão de obra e a miséria”
c. Volte novamente ao texto e, com base nas relações estabelecidas entre as ideias,
associe os conectivos que constam no quadro do item a aos seguintes valores semânticos.
• adição
• adversidade
• concessão
• conclusão
d. Identifique no texto outro conectivo com o mesmo valor semântico de entretanto.
2. O texto lido, conforme aponta o título, discorre sobre a questão da imigração no Brasil.
a. Levante hipóteses: Quais são os possíveis meios de circulação de textos como esse?
Qual é a sua principal função?
b. Sabendo que o texto lido é uma redação do Enem, discuta com os colegas e o professor: Qual é, de fato, a função de textos como esse?
3. Discuta com os colegas e o professor e responda:
a. Qual é a tese defendida por esse texto?
b. Quais argumentos e fatos ele utiliza para fundamentar o ponto de vista adaptado?
c. Qual é a conclusão do texto?
4. Releia estes trechos do texto:
• “Durante, principalmente, a década de 1980, o Brasil mostrou-se um país de emigração”
• “o país mostra um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo aumento do poder de consumo da classe C”
a. Há, nos trechos, termos que podem ser eliminados sem prejuízo para a estrutura e
o sentido global deles. Identifique-os.
b. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Qual é a função desses termos nos
trechos? Justifique sua resposta.
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
Na seção anterior, você viu que em um texto há palavras que se referem a elementos
externos a ele e palavras que se referem a outras palavras do texto. O processo que estabelece essas referências é denominado referenciação.
Você viu também que há palavras que estabelecem relações entre partes do texto, indicando o caminho escolhido pelo autor dentro da perspectiva adotada. Essas palavras são
chamadas de operadores argumentativos.
Referenciação é o processo pelo qual se introduzem referentes
no texto. A retomada desses elementos ao longo do texto é denominada progressão referencial.
Na chamada década perdida
o país; ao governo e à sociedade brasileira
dessas pessoas; aos estrangeiros; a esse grupo
à nova realidade
Esse aspecto
dessa situação
ademais
entretanto
embora
portanto
no entanto
Entre eles: jornal, revista, blog. Defender o ponto de vista do autor sobre o assunto e
expor propostas de minimização do problema levantado.
Cumprir as exigências da prova para obter um resultado satisfatório.
A de que o crescimento econômico do Brasil tem atraído um grande número
de imigrantes, que enfrentam no país uma situação precária.
3. b) Referência a datas e
locais específicos (década
de 1980, século XXI, 2012;
países latino-americanos),
referência a fatos, como
“A ascensão do Brasil
ao posto de uma das dez
maiores economias do
mundo”, “a redução do PIB
em 2012” e a realidade de
exploração e miséria enfrentada pelos imigrantes.
c) A de que a intervenção
governamental é necessária, seja para fiscalizar a
exploração ilegal da mão
de obra dos imigrantes,
seja para legalizar a situação dessas pessoas, seja
para, por meio de campanhas e propagandas,
fomentar o respeito e a
assistência a elas.
principalmente, no primeiro; verdadeiro e por exemplo, no segundo
Apontar e reforçar o ponto de vista do autor do texto, uma vez que tais termos relacionam a outros contextos as orações em que
aparecem. Assim, principalmente indica que houve emigração em outros momentos, mas que na década de 1980 foi maior; verdadeiro enfatiza o aquecimento na economia; por exemplo indica que há ainda outros fatos que poderiam ser citados.
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192 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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língua e
linguagem
Operadores argumentativos são termos utilizados para correlacionar partes de um texto, a fim de permitir que a direção argumentativa que se pretende tomar fique subentendida.
A progressão referencial pode se realizar por estratégias variadas, entre elas o uso de:
• formas com valor pronominal, tais como ele, ela, esse, essa, etc.;
• advérbios e expressões adverbiais locativas, tais como aqui, ali, lá;
• sinônimos do termo retomado;
• termos genéricos que abrangem em algum sentido o termo retomado;
• elipses, isto é, omissões do termo retomado.
Os operadores argumentativos têm sentidos variados, relacionados à finalidade com
que são utilizados, como:
• assinalar um argumento mais forte: até, até mesmo, mesmo, inclusive.
• unir argumentos convergentes: e, também, ainda, nem, não só... mas também, tanto...
como, além de, além disso;
• introduzir uma conclusão relacionada ao que foi expresso anteriormente: portanto,
logo, por conseguinte, em decorrência;
• estabelecer uma comparação: mais... (de) que, menos... (do) que, tão... quanto;
• introduzir uma justificativa ou explicação relacionada ao que foi expresso anteriormente: já que, pois, uma vez que;
• contrapor argumentos que apontam para conclusões opostas: mas, porém, contudo,
todavia, no entanto, embora, ainda que, apesar de.
APLIQUE O QUE APRENDEU
1. Os parágrafos a seguir são partes de um texto. Leia-os com atenção e, com base
na progressão referencial e nos operadores argumentativos utilizados, indique
em seu caderno a ordem em que eles estão dispostos no texto original. Justifique
sua escolha.
I. O feminismo também atua nos comportamentos e nos estereótipos, que
tanto geram comentários nocivos. Não é razoável haver estranhamento,
por exemplo, a um grupo de mulheres confraternizando num bar, sem nenhum homem na mesa; ao modo de se vestir — e ao tamanho de saias,
shorts, vestidos ou bermudões; ao jeito de cortar os cabelos; à opção de
maquiar-se ou tatuar-se; e sobretudo às decisões de cada cidadã de tocar a
vida como bem entender, fora dos padrões da “mulher perfeita”, querendo
ter filhos ou não, casar ou não.
II. A rigor, a existência do 8 de março e todo o discurso que se reaviva a cada data
evidenciam o ranço machista da sociedade. Houvesse plena igualdade de gênero, o Dia Internacional da Mulher seria lembrado mais pelo martírio das operárias subjugadas do que pela luta de direitos. Mas é necessário brigar para eliminar as diferenças, e isso se conquista com diálogo. Muito se avançou nas últimas
décadas. É importante seguir em frente cada vez mais.
193 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1
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III. Ainda é forte a associação da defesa dos direitos das mulheres a situações anacrônicas como a queima de sutiãs em praça pública ou a depreciação generalizada dos homens. O feminismo, tal como muitos movimentos sociais, evoluiu e
hoje carrega várias bandeiras: ter direito a uma vida sem violência, poder decidir sobre a própria sexualidade e não escondê-la, ter voz para denunciar o machismo, a desigualdade de gênero e a discriminação racial.
IV. Na semana do Dia Internacional da Mulher, muito se fala em valorização do
trabalho, em equiparação de salário e em maior participação nas diferentes esferas de poder, tanto na gestão pública quanto nos meios privados, no Brasil e no
mundo. Essas demandas precisam de ação permanente, visto que a sociedade
ainda apresenta incompreensíveis discrepâncias. Mas é interessante, na efeméride que se comemora hoje, propor olhar para outro tema bastante sensível à
causa: o preconceito contra o feminismo.
(Jornal O Dia, Rio de Janeiro, 8/3/2014. Disponível em: http://odia.ig.com.br/noticia/
opiniao/2014-03-08/editorial-feminismo-e-um-direito-humano.html. Acesso em: 20/2/2016.)
Leia a tira a seguir e responda às questões de 2 a 5.
IV (localiza o texto no tempo,
introduz o assunto que será
tratado, apresenta uma tese
e indica uma proposta de
encaminhamento da discussão); I (começa retomando o
termo feminismo do parágrafo IV, que aparece no trecho
“o feminismo também atua”);
III (o termo direitos das mulheres retoma todas as ações
listadas no final do parágrafo I); II (retoma a referência
temporal e a afirmação sobre
machismo e feminismo feitas
no começo do texto, reforça
o ponto de vista defendido
no desenvolvimento e finaliza resumindo suas ideias nos
dois últimos períodos).
2. No 1º quadrinho, Mafalda e Felipe conversam sobre um assunto específico. Qual é
esse assunto?
3. O 1º quadrinho termina com uma pergunta, o que leva o leitor a estabelecer uma
relação entre esse quadrinho e o 2º.
a. O que o pai de Mafalda faz no 2º quadrinho?
b. Com base nas expressões das crianças no 2º e no 3º quadrinhos, conclua: O que elas
pensaram que o pai de Mafalda estava indo fazer?
4. O 4º quadrinho quebra a expectativa das crianças e provoca um comentário de Felipe.
a. Com base na conversa inicial de Mafalda e Felipe, reescreva o comentário do garoto, substituindo assim pela ideia que esse termo retoma.
b. Nesse contexto, qual é o valor semântico do termo tão?
5. Observe a expressão do pai de Mafalda no último quadrinho.
a. Considerando-se que ele não ouviu a conversa inicial das crianças, o que a reação
dele denota?
b. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Com que sentido o pai de Mafalda
entendeu o termo tão, utilizado por Felipe? Justifique sua resposta.
A decisão tomada pelo pai da garota de exterminar as formigas das plantas.
Leva consigo um martelo.
Exterminar as formigas com o martelo.
Entre outras possibilidades: “Logo vi que seu pai não
podia ser tão bobo como alguém que vai tentar matar
formigas com um martelo”.
Valor comparativo.
Desapontamento, decepção.
Ele entendeu o termo com o sentido de ênfase; assim, é como se Felipe tivesse
dito que o pai da amiga é “um pouco bobo”, mas não tanto.
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Joaquín Salvador Lavado (QUINO)
(Quino. Mafalda no jardim de infância. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 26.)
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UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia o anúncio a seguir.
1. Para produzir determinado sentido, o anúncio faz uso de recursos semânticos e sintáticos, isto é, explora tanto o sentido das palavras quanto a estrutura das orações.
a. A repetição da mesma estrutura, ou seja, o paralelismo entre as frases do texto,
pode ser considerada uma estratégia de progressão textual. Identifique qual é a
estrutura do paralelismo observado no anúncio.
b. Releia a sequência de frases do anúncio e conclua: Qual é a quebra de expectativa,
no plano semântico, que ocorre na sequência de frases?
2. Reescreva o enunciado central do anúncio, eliminando as repetições e utilizando operadores argumentativos que auxiliem a organização de ideias.
3. Compare o enunciado do anúncio e a redação que você deu a ele na questão anterior.
a. Discuta com os colegas e o professor: Em geral, a repetição é recomendada ou condenada nos manuais de redação de texto?
b. Levante hipóteses: Por que o anúncio optou pela repetição?
c. Conclua: É possível determinar quando a repetição é um bom recurso e quando
deve ser evitada?
Leia a tira a seguir e responda às questões 4 e 5.
O termo você seguido de uma forma verbal no pretérito perfeito.
O fato de a ação de acordar ocorrer depois das ações expressas pelos
verbos das três primeiras frases. Ou seja, o esperado é que acordar
tivesse sido a primeira ação, e não a última.
Entre outras possibilidades: “Você levantou e sentou para tomar o café da manhã. Em seguida, pegou a Gazeta Mercantil e só então acordou”.
Em geral, a repetição é considerada um problema, ou seja,
um procedimento condenado.
Porque a repetição, no contexto, tem um efeito impactante, chamando a atenção para a sequência dos fatos e para a quebra da expectativa.
Em textos cuja estrutura é mais livre, como um anúncio ou um poema, por exemplo, a repetição pode ser
um bom recurso para a construção de sentidos, enquanto em textos de estrutura mais rígida, como uma
dissertação ou um artigo científico, por exemplo, é melhor que ela seja evitada.
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© 2016 King Features Syndicate/Ipress
JWT
(Dik Browne. O melhor de Hagar, o horrível. Porto Alegre: L&PM, 2007.)
(Gazeta Mercantil, 19/12/2005.)
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A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1
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4. Nessa tira, a expressão responsável por uma retomada aparece antes do termo referido. Esse procedimento de referenciação é chamado de catafórico.
a. Qual é o referente, na fala da personagem da tira?
b. Qual é a expressão que retoma esse referente?
5. Levando em conta a construção do humor na tira, responda:
a. Qual é a expectativa criada com a fala da personagem no 1º quadrinho?
b. Por que a explicitação do referente no 2º quadrinho tem efeito humorístico?
“contar pra minha esposa que eu não vou estar em casa
para comemorar nosso aniversário de casamento”
A expressão “essa missão muito perigosa”.
A de que Hagar dará a seus comandados uma missão especial, com risco de morte e enfrentamento de inimigos perigosos.
A “missão muito perigosa” a que Hagar se refere é dar à esposa um recado que irá desagradá-la. Assim, ele compara a fúria da
esposa aos grandes perigos enfrentados pelos guerreiros vikings.
A dissertação
PRODUÇÃO DE TEXTO
FOCO NO TEXTO
A dissertação é um texto que circula na esfera escolar e tem por objetivo avaliar a capacidade de produção de textos dos estudantes. Leia a dissertação a seguir, que recebeu
nota máxima no Enem de 2012.
Olhares que buscam o Brasil
Ao despontar como potência econômica do século XXI, o Brasil tem cada vez mais
atraído os olhares do mundo, chamando a atenção da mídia, de grandes empresas e de
outros países. Contudo, é outro olhar não menos importante que deveria começar a nos
sensibilizar mais: o olhar marginalizado e cheio de esperança daqueles que não têm
dinheiro, dos famintos e desempregados ao redor do globo. São pessoas com esse perfil
que majoritariamente contribuem para o crescente volume de imigrantes no país, e o
que se vê é uma ausência de políticas públicas eficientes para receber e integrar essas
pessoas à sociedade.
Não parece que a solução seja simplesmente deixar que imigrantes pouco qualificados continuem entrando no país de forma irregular e esperar que eles, sozinhos, encontrem um ofício para se sustentar. O governo ainda não percebeu que a regularização
desses imigrantes e a inserção dos mesmos no mercado de trabalho formal poderiam
servir como oportunidades para o país arrecadar mais impostos e possíveis futuros cidadãos, ou seja, novos contribuintes para a deficitária Previdência Social.
Professor: Neste livro, trataremos a dissertação como um gênero da esfera escolar. De acordo com
esse enfoque, ela corresponde à redação escolar típica, produzida para fins de avaliação, em exames,
em vestibulares e em concursos em geral.
O CONteXtO De PrODuÇÃO e reCePÇÃO DOS teXtOS
Quais textos você produzirá nesta unidade? Com que finalidade? Quem vai ler
os seus textos?
Nesta unidade, nosso projeto é a realização de um simulado da prova de redação do Enem. Com vistas a realizá-lo, trataremos no decorrer dos capítulos da
estrutura do texto dissertativo-argumentativo e iremos propor a produção de dissertações, como treinamento para o simulado.
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Visando aproveitar tais benefícios, o governo poderia começar a implantar, nas regiões por onde chegam os imigrantes, mais órgãos e agências que oferecessem serviços
de regularização do visto e da carteira de trabalho, posto que ainda há muita deficiência de controle nesse setor. Além disso, nos destinos finais desses imigrantes poderiam
ser oferecidos cursos de português e cursos qualificantes voltados para os mesmos. Isso
facilitaria muito a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho formal e poderia
inclusive suprir a alta demanda por mão de obra em setores como o da construção civil,
por exemplo.
Nesse sentido, é preciso que atitudes mais energéticas sejam tomadas a fim de que
o país não deixe escapar essa oportunidade: a de transformar o problema da imigração
crescente em uma solução para outros. A questão merece mais atenção do governo,
portanto, pois não deve ser a toa que o Brasil, além de ser conhecido pela hospitalidade,
também o é pelo modo criativo de resolver problemas. Prestemos mais atenção aos
olhares que nos cercam; deles podem vir novas oportunidades.
(Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2013/
guia_de_redacao_enem_2013.pdf. Acesso em: 12/2/2016.)
1. O texto lido segue a estrutura das dissertações. Identifique, justificando, os parágrafos que correspondem:
a. à introdução;
b. ao desenvolvimento;
c. à conclusão.
2. Seguindo a orientação dada na proposta da prova do Enem, o texto adota um ponto
de vista. Qual é a tese quanto ao problema da imigração no Brasil defendida no texto?
3. Para fundamentar a tese que defende, o autor organiza seus argumentos em dois parágrafos e, conforme solicitado pela prova do Enem, apresenta uma proposta de intervenção.
a. Identifique os argumentos utilizados em cada parágrafo.
b. Qual(is) é(são) a(s) proposta(s) de intervenção sugerida(s)?
4. Na conclusão, o autor, para finalizar o texto, faz uma retomada tanto de
seus argumentos como de uma imagem que apresentou no início.
a. Quais argumentos são retomados?
b. Identifique a imagem apresentada no início do texto e retomada na
conclusão.
c. Explique como essas retomadas contribuem para a estrutura da dissertação.
5. Em exames como o do Enem, há valorização do uso da norma-padrão, mas alguns
poucos desvios são permitidos, desde que não prejudiquem a unidade do texto. Há
no texto em estudo certas inadequações à norma-padrão formal.
a. Identifique as inadequações presentes em cada um destes trechos:
• “poderiam ser oferecidos cursos de português e cursos qualificantes voltados
para os mesmos”
• “é preciso que atitudes mais energéticas sejam tomadas”
• “não deve ser a toa que o Brasil”
b. Reescreva os trechos, fazendo as devidas adequações à norma-padrão.
1º parágrafo; nele o autor introduz a discussão e apresenta seu ponto de vista.
2º e 3º parágrafos; neles o autor desenvolve argumentos para justificar seu ponto de vista.
4º parágrafo; nele o autor retoma a argumentação e finaliza o texto.
A de que o Brasil tem atraído muitos imigrantes, mas não tem políticas públicas para recebê-los.
3. a) Os argumentos do autor giram em torno da ideia
de que auxiliar os imigrantes traria vantagens para
o próprio país: no 2º parágrafo, menciona o recolhimento maior de impostos,
o que, segundo ele, melhoraria a situação da previdência; no 3º, menciona a
regularização dos vistos e
o oferecimento de cursos
para integrar as pessoas à
sociedade, o que minimizaria o problema da falta de
mão de obra.
Regularizar a situação dos imigrantes e qualificar sua mão de obra, a fim de que eles possam se inserir
no mercado de trabalho e contribuir para o crescimento do país.
4. a) O de que o problema da imigração pode ser revertido em benefícios
para o país e o de que a questão merece mais atenção do governo.
A de que todo o mundo está olhando para o Brasil.
As retomadas ajudam a criar uma unidade no texto, pois dão ideia de que os argumentos convergem para um único fim. Essa
estratégia, por reforçar tópicos já conhecidos do leitor, contribui para a fluidez da leitura.
1º trecho: cursos qualificantes voltados para os mesmos; 2º trecho:
atitudes energéticas; 3º trecho: a toa.
5. b) Entre outras possibilidades: “poderiam ser
oferecidos cursos de português e cursos de qualificação a essas pessoas/
eles”; “é preciso que atitudes mais enérgicas sejam
tomadas”; “não deve ser à
toa que o Brasil”.
Professor: Comente com
os alunos o uso do pronome mesmo para retomar
referentes no texto. Tratase de um uso que, apesar
de amplamente difundido,
é contestado por gramáticos mais tradicionais.
A proposta de intervenção
do Enem
De modo geral, a dissertação escolar
não exige que seja apresentada proposta de intervenção. Esse é um critério
específico da prova do Enem, que exige
tanto a apresentação de uma tese como
de uma proposta de intervenção na vida
social, relativamente ao assunto em
discussão.
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197Produção de texto
A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1
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6. Com base no estudo sobre progressão referencial e operadores argumentativos realizado na seção Língua e linguagem deste capítulo, identifique no primeiro parágrafo do texto:
a. os termos que retomam, respectivamente, os referentes Brasil (1ª linha) e mundo
(2ª linha);
b. um exemplo de progressão referencial catafórica;
c. um exemplo de operador argumentativo de contraposição
d. um exemplo de operador argumentativo de adição
7. Em geral, as dissertações escolares são construídas em um tom impessoal. No
texto em estudo, entretanto, ocorre a presença da 1ª pessoa, observada no uso do
pronome n—s.
a. Levante hipóteses: Por que o tom impessoal é o mais utilizado nos textos dissertativos?
b. A quem se refere a 1ª pessoa no texto em estudo?
c. Explique por que, nesse contexto, o uso da 1ª pessoa não descaracteriza a impessoalidade da linguagem.
HORA DE ESCREVER
Como você sabe, no final da unidade será realizado um simulado com provas de redação propostas pelo Exame Nacional do Ensino Médio. Como treinamento para a realização do simulado, produza uma dissertação de acordo com a proposta do Enem 2014. Na
produção desse texto, lembre-se de ficar atento especialmente à progressão referencial e
ao uso de operadores argumentativos.
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos
construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em
norma-padrão da língua portuguesa sobre o tema Publicidade infantil em questão
no Brasil, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos.
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a
defesa de seu ponto de vista.
Texto 1
A aprovação, em abril de 2014, de uma resolução que considera abusiva a publicidade infantil,
emitida pelo Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), deu início
a um verdadeiro cabo de guerra envolvendo ONGs de defesa dos direitos das crianças e setores
interessados na continuidade das propagandas dirigidas a esse público.
Elogiada por pais, ativistas e entidades, a resolução estabelece como abusiva toda propaganda dirigida à criança que tem “a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço e que utilize aspectos como desenhos animados, bonecos, linguagem infantil,
trilhas sonoras com temas infantis, oferta de prêmios, brindes ou artigos colecionáveis que
tenham apelo às crianças”.
Ainda há dúvidas, porém, sobre como será a aplicação prática da resolução. E associações
de anunciantes, emissoras, revistas e de empresas de licenciamento e fabricantes de produtos
infantis criticam a medida e dizem não reconhecer a legitimidade constitucional do Conanda
Brasil: nos; no país; à sociedade; mundo: da mídia, de grandes empresas e de outros países; ao redor do globo
o olhar marginalizado e cheio de esperança daqueles que não
têm dinheiro, dos famintos e desempregados ao redor do globo.
contudo
e
Como recurso de persuasão do leitor, pois cria um efeito de objetividade ao veicular argumentos que, por serem
baseados em dados e informações, dão a impressão de estarem isentos da subjetividade do autor.
Aos brasileiros e ao Brasil como um todo.
Porque se trata de um nós genérico, que representa uma coletividade e não um grupo pequeno de
pessoas, cujos interesses supostamente seriam muito específicos.
Professor: Volte à dissertação estudada na seção Língua e linguagem e
reforce com os alunos a estrutura e as características recorrentes do gênero, algumas das quais podem variar: tese, argumentos, conclusão, tom
impessoal, etc.
REGISTRE
NO CADERNO
198 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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para legislar sobre publicidade e para impor a resolução tanto às famílias quanto ao mercado
publicitário. Além disso, defendem que a autorregulamentação pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) já seria uma forma de controlar e evitar abusos.
IDOETA, P. A.; BARBA, M. D. A publicidade infantil deve ser proibida?
Disponível em: www.bbc.co.uk. Acesso em: 23 maio 2014 (adaptado).
Texto 2
Texto 3
Precisamos preparar a criança, desde pequena, para receber as informações do mundo exterior, para compreender o que está por trás da divulgação de produtos. Só assim ela se tornará o
consumidor do futuro, aquele capaz de saber o que, como e por que comprar, ciente de suas reais
necessidades e consciente de suas responsabilidades consigo mesma e com o mundo.
SILVA, A. M. D.; VASCONCELOS, L. R. A criança e o marketing: informações essenciais para proteger as
crianças dos apelos do marketing infantil. São Paulo: Summus, 2012 (adaptado).
INSTRUÇÕES:
• O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
• O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas.
• A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de
Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para efeito de correção.
Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:
• tiver até 7 (sete) linhas escritas, sendo considerada “insuficiente”.
• fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo.
• apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos.
• apresentar parte do texto deliberadamente desconectada com o tema proposto.
Editoria de Arte/Folhapress
199PRODUÇÃO DE TEXTO
A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1
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ANTES DE ESCREVER
Planeje sua dissertação, seguindo estas orientações:
• Leia com atenção os textos motivadores e as instruções que constam na proposta.
• Releia o enunciado em que é proposto o tema e defina um ponto de vista sobre o assunto para adotar em seu texto.
• Definido o ponto de vista, identifique nos textos motivadores fatos e dados que possam ajudar na construção de argumentos.
• Faça uma proposta de intervenção objetiva e direta, específica para o tema (evite propostas extremamente genéricas, que podem ser aplicadas a problemas variados) e que
respeite os direitos humanos.
• Fique atento(a) à progressão referencial (retome as estratégias apresentadas na seção
Língua e linguagem deste capítulo).
• Empregue operadores argumentativos que contribuem para uma leitura fluente do
texto, evidenciando a orientação argumentativa adotada.
ANTES DE PASSAR A LIMPO
Antes de dar sua dissertação por finalizada, observe:
• se o ponto de vista que você adotou está claro e bem fundamentado;
• se os fatos e dados dos textos motivadores apresentados ajudam na construção dos
argumentos;
• se a proposta de intervenção respeita os direitos humanos, está clara, é apresentada de
maneira objetiva e tem relação específica com a situação abordada no texto;
• se a progressão referencial está desenvolvida de forma adequada no texto;
• se os operadores argumentativos utilizados são adequados, orientando a leitura para a
argumentação adotada.
200 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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A geração de 45: João Cabral
de Melo Neto
LITERATURA
A geração de 45: João Cabral de Melo Neto
Análise linguística: informatividade e
senso comum
A dissertação (II)
CAPÍTULO 2
A partir de 1945, a literatura brasileira tomou novos rumos e se voltou essencialmente
para pesquisas estéticas relacionadas com a linguagem e com o processo de criação literária, distanciandose dos temas abordados pela geração de 1930, que recaíam sobre os
problemas sociais e políticos do país.
O interesse da geração de 1945 por questões formais levou alguns críticos a associála
ao Parnasianismo, como se ela representasse um reflorescimento dessa corrente. Outros
críticos, entretanto, entendem que, considerandose os principais autores desse período,
Personagens na noite
(1950), de Joan Miró.
Coleção particular
201 A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
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não há ruptura entre essa geração e o Modernismo de 22, uma vez que os primeiros modernistas também se envolveram com a pesquisa estética. Além disso, algumas experiências da geração de 1930, como o regionalismo e a introspecção psicológica no romance,
tiveram continuidade, embora com matizes diferentes.
Entre os principais poetas dessa geração, destacamse Péricles Eugênio da Silva Ramos, José Paulo Paes, Alphonsus de Guimaraens Filho, Geir Campos, Paulo Bonfim e João
Cabal de Melo Neto, que você vai estudar neste capítulo. Na prosa, destacamse Clarice
Lispector e Guimarães Rosa, que você vai estudar no capítulo seguinte, e Lygia Fagundes
Telles, Carlos Heitor Cony, Rubem Braga e Dalton Trevisan, entre outros.
A geração de 1945 em contexto
Com o fim da Segunda Guerra, em 1945, e a vitória das forças democráticas, o governo ditatorial de Getúlio Vargas se
enfraqueceu e, nesse mesmo ano, foi deposto.
Enquanto o mundo ocidental mergulhou na situação da Guerra Fria, resultante de disputas entre os países capitalistas
e os países do bloco socialista, o Brasil passou a viver um período democrático e desenvolvimentista, cujo auge foi o
governo de Juscelino Kubitschek e a construção de Brasília. Esse processo se estendeu até o golpe de 1964, quando os
militares tomaram o poder.
Nesse contexto democrático brasileiro, a literatura da geração de 1945 deixou de se ocupar com questões predominantemente políticas e sociais e começou a se interessar por experiências estéticas.
Amplie seus conhecimentos sobre o Modernismo da geração de 1930, pesquisando em:
LIVROS
• Leia algumas das
principais obras de
autores da geração de
1945, como Campo geral
e Sagarana, de Guimarães
Rosa; Laços de família
e A hora da estrela,
de Clarice Lispector;
Melhores poemas de João Cabral de Melo
Neto (Global).
FILMES
• Morte e vida severina, de Walter Avancini;
A terceira margem do rio, de Nelson Pereira
dos Santos; Mutum, de Sandra Kogut;
Outras estórias, de Pedro Bial; Noites do
sertão, de Carlos Alberto Prates Correia; As
meninas, de Emiliano Ribeiro; Morte e vida
severina, animação do cartunista Miguel
Falcão, disponível na Internet.
DECLAMAÇÕES
• Ouça o disco João Cabral de Melo Neto,
no qual o próprio poeta declama seus
poemas, com fundo musical de Egberto
Gismonti (algumas faixas estão disponíveis
na Internet). Ouça também o disco Clarice
Lispector – Contos, no qual a atriz Aracy
Balabanian declama alguns textos de
Clarice Lispector (algumas das faixas
estão disponíveis na Internet). Ouça, ainda,
Lirinha, vocalista da banda Cordel do Fogo
Encantado, declamando parte de “Os três
mal-amados”, de João Cabral (disponível
na Internet).
PINTURAS
• Conheça a obra dos pintores Volpi e
Aldemir Martins, que começaram a expor
na década de 1940. A obra de Volpi, a
partir da década de 1950, começou a se
destacar pelo abstracionismo geométrico.
FIQUE CONECTADO!
João Cabral de Melo Neto
João Cabral foi o mais importante poeta da geração de 1945. Sua poesia mostra uma
marca pessoal inconfundível e representa um corte em relação a antigas concepções sobre a criação poética.
Na visão dele, a poesia não é fruto de inspiração, nem do sentimento do poeta ou da
beleza dos temas que aborda, mas de um cuidadoso trabalho de organização textual. Assim, contrariamente à tradição romântica, centrada na subjetividade, a poesia de Cabral se
descola da figura do poeta ou do eu lírico e prima pela objetividade, pela razão, pela simetria
e pela relação intrínseca entre conteúdo e forma. Quando seu poema fala de facas ou de
pedras, por exemplo, as palavras são duras e cortantes como se o próprio poema fosse feito
dos objetos de que trata. São exemplos dessa orientação os livros – Pedra do sono, O engenheiro (1945), Psicologia da composição, com a fábula de Anfion e Antiode (1947).
Rocco Digital
Ipê Artes Filmes/Emiliano Ribeiro
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literatura
A partir de Cão sem plumas (1950), entretanto, a poesia de Cabral começou a se voltar mais para a realidade, em especial a de seu Estado natal. Dessa experiência, surgiram várias obras importantes relacionadas com a seca,
com o rio Capibaribe, com a miséria nordestina e com a migração. São dessa
fase as obras O rio ou relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente
à cidade do Recife (1954) e, principalmente, Morte e vida severina (1965), a
obra mais conhecida do autor, adaptada para o cinema e a televisão.
Morte e vida severina é um auto de Natal, ou seja, um gênero literário
pertencente à esfera teatral, como os autos de Gil Vicente produzidos na
Idade Média. O texto narra a trajetória de Severino, retirante que sai do sertão pernambucano, castigado pela seca, à procura de trabalho e de um lugar
melhor para viver. Seguindo o curso do rio Capibaribe, o protagonista vê um
terrível quadro de miséria, fome, doenças e morte. Quando chega a Recife,
nota que os retirantes do sertão se transformaram em operários e que continuam vivendo na miséria, porém agora em favelas. Como é um “auto de
Natal” (relacionado ao nascimento de Jesus), no final da obra ocorre o nascimento de uma criança, que representa a esperança.
Entre outras obras, o autor escreveu também A educação pela pedra
(1966), Museu de tudo (1975) e A escola das facas (1980).
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, dois textos de João Cabral: o primeiro pertence à
obra Educação pela pedra; o segundo é o início de Morte e vida severina.
Texto 1
Catar feij‹o
A Alexandre O’Neill
1.
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
2.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
(Poesias completas. 3 ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1979. p. 21.-2.)
açular: incitar, intensificar.
alguidar: vasilha que tem o diâmetro da boca maior do
que o do fundo, usada em serviços domésticos.
fluviante: neologismo, criado pelo autor, com sentido
relacionado a fluvial (que diz respeito a rio).
João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto (1920-1999)
nasceu em Recife, Pernambuco, onde fez
seus primeiros estudos. Era primo de
Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, com
quem teve grande convivência. Em 1942,
mudou-se para o Rio de Janeiro e, nesse
mesmo ano, publicou Pedra do sono, sua
primeira obra poética.
Em 1945, foi aprovado em concurso
para o Itamaraty e, desde então, passou
a viver no exterior. Morou em cidades
como Barcelona, Londres, Sevilha, Marselha, Genebra e Dacar. Foi embaixador
e teve contato com vários artistas no
exterior, entre eles o pintor Joan Miró,
de quem foi amigo pessoal.
Homero Sérgio/Folhapress Sofia Colombini/Fabio Colombini
203 A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
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Texto 2
o retirante explica ao
leitor quem é e a que vai
— O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.
(Idem, p. 203-4.)
o retirante aproxima-se de
um dos cais do Capibaribe
— Nunca esperei muita coisa,
é preciso que eu repita.
Sabia que no rosário
de cidade e de vilas,
e mesmo aqui no Recife
ao acabar minha descida,
não seria diferente
a vida de cada dia:
que sempre pás e enxadas
foices de corte e capina,
Ilustração de Carybé para a obra Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto.
(Ilustração de Carybé. In: João Cabral de Melo Neto. Morte e vida severina. 30. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991. Capa.)
204
UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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LITERATURA
ferros de cova, estrovengas
o meu braço esperariam.
Mas que se este não mudasse
seu uso de toda vida,
esperei, devo dizer,
que ao menos aumentaria
na quartinha, a água pouca,
dentro da cuia, a farinha,
o algodãozinho da camisa,
ou meu aluguel com a vida.
E chegando, aprendo que,
nessa viagem que eu fazia,
sem saber desde o Sertão,
meu próprio enterro eu seguia.
Só que devo ter chegado
adiantado de uns dias;
o enterro espera na porta:
o morto ainda está com vida.
(Idem, p. 203-4 e p. 229.)
1. O poema “Catar feijão” apresenta duas partes, cada uma constituída por uma estrofe.
Na primeira parte, é feita uma comparação entre o ato de escrever e o de catar feijão.
a. Em que as duas situações se assemelham?
b. Ao se jogarem os grãos de feijão na água do alguidar, o que costuma afundar? O
que deve ser jogado fora?
c. Ao se jogarem as palavras na água da folha de papel, o que costuma flutuar e deve
ser jogado fora? O que deve ficar?
2. Na segunda parte do poema, a comparação entre os dois procedimentos apresenta
uma diferença.
a. Qual é o risco que pode haver no procedimento de catar feijão? O que isso pode
provocar?
b. No poema, há também o risco de ficar uma “palavrapedra”? Ela, nesse caso, seria
tão prejudicial como no feijão? Justifique sua resposta, dando uma explicação à expressão “leitura fluviante, flutual”.
c. Podese afirmar que no poema “Catar feijão” existem palavraspedra? Justifique
sua resposta com elementos do texto.
3. Para alguns especialistas, a poesia de João Cabral é uma poesiaobjeto, que representa o fim do eu lírico.
a. Em que pessoa estão os verbos e os pronomes do poema “Catar feijão”?
b. Nesse poema, aparece a voz do eu lírico? São revelados seus sentimentos?
4. Observe o texto 2. Assim como os autos medievais, Morte e vida severina é construída
em versos.
a. Que medida têm os versos?
b. Que relação essa medida tem com a tradição da poesia em língua portuguesa?
de pia: da pia batismal, de
batismo.
estrovenga: foice de dois
gumes.
quartinha: pequena vasilha
de barro, bojuda e de gargalho
estreito, usada para manter a
água fresca; moringa.
Nas duas situações, é preciso escolher: no caso da escrita, escolher palavras, ficando com
algumas e eliminando outras; no caso do feijão, separar do feijão aquilo que boia na água.
O que afunda é o feijão em bom estado; o que boia na água é
palha e grão oco, que devem ser descartados.
Na água da folha de papel (no poema), flutua o “leve e o oco, palha eco”, isto é, as palavras que
não têm peso, que não são essenciais ou que criam sonoridades indesejáveis e, por isso, devem ser
eliminadas. Devem ficar as palavras essenciais, indispensáveis.
O risco de ficar entre os grãos de feijão uma pedra ou algo indigesto.
No caso de ficar uma pedra, ela pode quebrar o dente.
Há o risco, mas no poema a palavra-pedra é desejável, pois dá à frase um sentido mais vivo, evitando que o leitor faça uma leitura “fluviante, flutual”, ou seja, fluida, desatenta, despreocupada.
Sim, pois o poema apresenta elementos que chamam a atenção do leitor, como,
por exemplo, a oposição entre “Certo” e “Certo não” e a presença de construções
que desafiam a compreensão, como nos dos últimos versos da primeira estrofe.
Em 3» pessoa.
Não, o eu lírico não aparece; no lugar dele, há uma voz que fala do fazer poético de modo objetivo, sem se colocar pessoalmente.
Todos têm 7 sílabas poéticas e, assim, são redondilhas maiores.
A redondilha tem origem nas cantigas medievais portuguesas, foi utilizada nos autos
medievais e é a medida preferida nas cantigas populares no Brasil.
Professor: Comente com os alunos que a
redondilha também vem sendo largamente
utilizada hoje pelos rappers.
Cena de Morte e vida severina,
representada pela primeira vez no
palco do Tuca, em São Paulo, em
1965. Com músicas de Chico Buarque,
a peça é, ainda hoje, uma das mais
encenadas no país.
REGISTRE
NO CADERNO
Acervo Iconographia
205 A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
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5. Severino, o protagonista em Morte e vida severina, diz:
• “Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida”
• “morremos de morte igual,
mesma morte severina”
De acordo com o poema:
a. Quem são os Severinos a que o poema faz referência? Em que se assemelham?
b. O que significa uma “vida severina”?
c. O que significa uma “morte severina”?
6. Euclides da Cunha, em Os sertões, escreve: “O sertanejo é antes de tudo
um forte”. Essa afirmação se aplica ao protagonista de Morte e vida severina, considerandose a relação dele com a terra? Por quê?
7. A última estrofe do trecho de Morte e vida severina lido se situa na parte
final do auto, o momento em que Severino chega a Recife.
a. Diante do que encontra, como Severino se sente?
b. Que perspectiva Severino enxerga para a sua vida?
c. Explique a comparação da viagem de Severino com um enterro.
São todas as pessoas vitimadas pela seca e pela miséria no sertão nordestino.
Assemelham-se no porte físico, no tipo de vida que levam e no fim que têm.
Uma vida de pobreza, de fome, de anemia.
Uma morte prematura (“antes dos trinta”),
motivada pela violência ou pela fome.
Sim, pois, apesar de o solo ser seco e cheio de pedras, os sertanejos nordestinos, representados pelo
protagonista Severino, não desistem e tentam cultivar algum roçado, quase sempre sem sucesso.
Sente-se desolado, sem esperança, pois percebe que nem mesmo uma
vida pobre, mas digna, ele será capaz de ter na capital.
Apenas a perspectiva da morte.
Severino vê a viagem que fez pelo sertão como a caminhada de um enterro, porém dele próprio, uma vez que, na perspectiva que passa a ter, ele conclui que chegou a uma situação que resultará na sua morte precoce e iminente.
Por meio da leitura de textos feita neste capítulo, você viu que:
• com as mudanças políticas que ocorreram em 1945, em especial o fim da
Segunda Guerra Mundial e o fim do Estado Novo no Brasil, a literatura
brasileira buscou novos rumos e novas experiências, direcionadas
principalmente para experiências estéticas;
• entre a geração de 45 e os modernistas, não há propriamente uma
ruptura, pois a pesquisa estética já era uma proposta da geração de
1922;
• a poesia de João Cabral de Melo Neto, o principal poeta da geração de
1945, representa uma ruptura com a tradição lírica da poesia, centrada
geralmente nos sentimentos do eu lírico; sua linguagem é racional,
objetiva e enxuta; é uma linguagem-objeto, que tenta sugerir, pela
forma, o objeto de que trata.
REGISTRE
NO CADERNO
206 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
FOCO NO TEXTO
Leia as manchetes do texto a seguir.
Análise linguística:
informatividade e senso comum
LÍNGUA E LINGUAGEM Salles Chemistri
(O Estado de S. Paulo, 23/5/2009.)
207 A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
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1. Sobre as manchetes lidas, responda:
a. O que há em comum quanto ao conteúdo de todas elas?
b. Levante hipóteses: Qual é o grau de informatividade, isto é, de novidade das informações, das manchetes veiculadas nessa página?
c. Explique por que se pode considerar que elas causam estranhamento, tendo em
vista a função principal das manchetes de jornal.
2. Leia as duas notícias a seguir.
Sol não deve aparecer e capital
terá mais um dia frio e nublado
Em plena primavera, a capital paulista terá mais um dia de muito frio e tempo fechado nesta quinta-feira, 9. A chance de o sol aparecer na cidade é muito pequena e podem ocorrer chuviscos durante a manhã, mas o céu fica nublado à tarde
e à noite a temperatura não deve passar dos 17 °C, segundo previsão do Centro de
Gerenciamento de Emergências (CGE). [...]
(Disponível em: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,sol-nao-deve-aparecer-e-capitaltera-mais-um-dia-frio-e-nublado,256693. Acesso em: 15/3/2016.)
Sol não deve aparecer
nesta noite
A previsão para a noite de sábado e madrugada de domingo é de escuridão. Segundo
meteorologistas, o Sol deverá se esconder atrás
da linha do horizonte, tornando-se invisível a
olho nu. Este é um fenômeno raro que ocorre
apenas uma vez a cada 24 horas.
A noite deverá ser iluminada por luzes artificiais e a escuridão promete durar pelo menos até
as 6 horas da manhã de domingo. Para moradores
de outras partes do mundo, no entanto, o Sol estará visível nesse mesmo período.
(O Estado de S. Paulo, 23/5/2009.)
Ambas as notícias abordam o não aparecimento do sol em situações específicas.
a. Para dar credibilidade a seu conteúdo, as duas fazem menção a vozes de autoridade. Identifique os trechos nos quais essas vozes aparecem em cada um dos textos.
b. Há, na primeira notícia, um dado que permite considerar o não aparecimento do
sol um fato inesperado. Qual é ele?
c. Na segunda notícia, há algum dado que permite considerar o não aparecimento do
sol um fato inesperado? Justifique sua resposta com base no conteúdo do texto.
Todas aparentemente fazem referência a fatos óbvios.
Muito baixo ou nenhum.
Porque, em geral, as manchetes dos jornais buscam chamar a atenção de
seus leitores justamente por divulgarem novidades e informações relevantes,
ainda não conhecidas do grande público.
“segundo previsão do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE)” e “Segundo meteorologistas”.
O fato de a estação ser a primavera, cuja característica típica são dias ensolarados.
Não, uma vez que todos os fatos mencionados são óbvios, conhecidos por todos.
REGISTRE
NO CADERNO
Salles Chemistri
208 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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língua e
linguagem
3. Agora, leia a notícia a seguir.
Sol brilha à meia-noite e dia nunca
termina no verão da Lapônia
É difícil esquecer o brilho do sol à meia-noite. É tão bonito, tão diferente, tão
grandioso, que o Globo Repórter saiu em busca do melhor lugar para assistir ao espetáculo. A equipe de reportagem foi em direção à região mais ao norte da Suécia,
a Lapônia, um patrimônio da humanidade porque suas montanhas e florestas são
totalmente preservadas e por ser ocupada pelo povo “sami” desde a pré-história. [...]
Na Lapônia, o sol se mostra o tempo todo, durante o dia e à noite. [...]
(Disponível em: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2014/10/sol-brilha-meianoite-e-dia-nunca-termina-no-verao-da-laponia.html. Acesso em: 15/3/2016.)
Imagine que a segunda manchete da questão anterior tenha sido publicada em um
jornal da Lapônia, no verão.
a. Nesse caso, haveria algum dado que permitiria considerar o não aparecimento do
sol um fato inesperado? Justifique sua resposta.
b. Discuta com os colegas e o professor e levante hipóteses: De quais fatores depende
a relevância das informações de um texto?
4. Volte ao texto em estudo, leia a parte inferior dele, em fundo amarelo, e responda:
a. Ela faz referência às “notícias aí de cima”. Discuta com os colegas e o professor:
Nesse contexto, tratase realmente de notícias?
b. Considerando a página como um todo, qual é, de fato, o gênero desse texto? E qual
é a finalidade dele?
c. Explique a estratégia utilizada pelo autor do texto para chamar a atenção de seus
leitores.
d. Tendo em vista suas respostas às questões anteriores, conclua: Qual é a verdadeira
relevância informativa das manchetes no texto em estudo?
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
No estudo da seção anterior, você viu que um texto pode apresentar fatos e ideias
novas ou pode expor apenas obviedades. A essa novidade, apresentada ou não pelos textos, chamamos relevância informativa, ou informatividade. A informatividade está diretamente relacionada ao conhecimento dos interlocutores sobre o assunto tratado no texto
e está também intimamente ligada ao contexto no qual o texto circula.
Caso os interlocutores tenham grande conhecimento e domínio sobre o conteúdo veiculado pelo texto, mesmo que haja muitas informações específicas, a informatividade será baixa.
Caso eles não tenham domínio sobre o assunto desenvolvido, a informatividade poderá ser
considerada grande, ainda que o texto não esgote a discussão em torno daquele tema.
Em geral, textos que apresentam pouca informatividade são assim considerados ou
por apresentarem declarações óbvias, como as apresentadas no anúncio estudado, ou por
apresentarem informações consideradas de senso comum.
O senso comum, por sua vez, é compreendido como uma afirmação ou conclusão
a que se chega sem necessariamente se ter refletido sobre o assunto apresentado. São
Sim, pois como no verão da Lapônia o sol fica aparente mesmo no
período noturno, o fato de ele não se mostrar à noite é curioso.
Do contexto no qual o texto circula, das informações que os interlocutores têm sobre o assunto, do conteúdo veiculado pelo texto.
Não.
Um anúncio cuja função é divulgar o desempenho bem-sucedido
em vendas de um modelo de carro específico.
Simular uma página de jornal que divulga apenas fatos óbvios em estrutura
de manchetes e notícias para chamar a atenção dos leitores desse jornal.
Enfatizar que o sucesso do carro é tão evidente e esperado quanto as informações óbvias veiculadas no restante da página.
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209 A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
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ideias generalizantes, compartilhadas e disseminadas pelas pessoas comuns em situações cotidianas, reproduzidas em massa sem uma reflexão crítica prévia. As afirmações
de senso comum são tidas como dadas e, por isso, são proferidas sem uma fundamentação anterior. Declarações como “os jovens são o futuro da nação”, “os pais sempre querem
o bem dos filhos”, “é importante que as autoridades se mobilizem”, “o problema não será
resolvido enquanto a população não se conscientizar”, entre muitas outras, são exemplos
de ideias de senso comum. Em textos argumentativos, elas em geral enfraquecem a argumentação, pois podem ser inseridas em discussões variadas, qualquer que seja o assunto,
uma vez que são extremamente genéricas.
APLIQUE O QUE APRENDEU
1. Leia o parágrafo a seguir, escrito por um aluno do ensino médio a partir de uma proposta de redação cujo tema central era violência.
A violência no Brasil está cada vez maior, não existe mais respeito entre as pessoas deste país.
Existem milhares de pessoas que acham que é com a violência que se consegue
as coisas e não é por esse lado; porque devemos refletir muito antes de tomar qualquer decisão precipitada, pois ela pode ser fatal.
As pessoas acham que a violência só pode ser combatida por outra violência e
ainda chegam a pensar que têm a razão de fazer isso, mas na verdade elas estão
enganadas; é por agirem dessa forma que perdem toda a razão que elas pensam
ter, porque fazendo isso elas acabam cometendo o mesmo erro de quem começou
a violência e isso sem perceber.
Ela tem que ser contida, mas não a combatendo com violência, e sim usando de
outros meios para obter sucesso.
a. Identifique no texto cinco afirmações que tomam por base o senso comum.
b. Discuta com os colegas e o professor: Esse texto tem um alto ou um baixo grau de
informatividade? Justifique sua resposta.
A informatividade de um texto não necessariamente está relacionada a sua qualidade. As placas e avisos de trânsito, por exemplo, não apresentam novidades, uma vez
que fazem parte de um código que precisa ser lido e compreendido da mesma forma por
motoristas e pedestres. Já em outros contextos, placas e avisos podem trazer informações
novas, dando orientações supostamente desconhecidas por seus interlocutores. Leia as
placas e os avisos a seguir e responda às questões de 2 a 4.
“A violência [...] está cada vez maior”, “não existe mais respeito entre as pessoas”, “Existem [...] pessoas que acham que é com violência que se consegue as
coisas”, “devemos refletir muito antes de tomar qualquer decisão precipitada”,
“uma decisão precipitada [...] pode ser fatal”, “As pessoas acham que a violência
só pode ser combatida por outra violência”.
Um baixo grau de informatividade, pois é construído com base em ideias de senso comum. Além disso, faz afirmações genéricas ao utilizar termos e expressões imprecisos,
tais como “coisas”, “não é por esse lado”, “isso”, “outros meios”.
I. II.
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
2. Os textos lidos podem ser divididos em dois grupos, descritos a seguir. Leia o boxe “A redundância” e identifique a qual grupo cada um
deles pertence, justificando suas escolhas.
a. Textos nos quais há informações redundantes.
b. Textos em que há uma inadequação entre conteúdo e função social
do gênero.
3. Apesar de veicularem alguma informação, os textos lidos apresentam
um ponto inusitado em comum quanto a seu grau de informatividade.
a. Explique essa afirmação, com base em sua resposta à questão 2.
b. Levante hipóteses: Qual é a função de cada um desses textos?
c. Imagine um contexto de circulação para cada um desses textos e proponha redações alternativas e modificações, a fim de aperfeiçoar sua
informatividade.
4. Os avisos e placas em estudo foram extraídos de postagens de blogs que
se intitulavam “placas engraçadas”. Explique a relação entre o grau de
informatividade desses textos, sua função social e o suposto humor que
eles constroem.
I e IV, pois gelado é uma característica intrínseca a todo
gelo e um corte de cabelo só pode ser feito ao vivo.
II e III, pois o aviso e a placa falam sobre eles mesmos, não
cumprindo a função principal comum a esses gêneros.
Todos eles apresentam baixo nível de informatividade,
tendo em vista a função social de placas e avisos.
3. b) I. Indicar um ponto de venda de gelo. II. Fazer referência a outro
aviso ou a um quadro de avisos colocado próximo a ele. III. Impedir a
circulação de pedestres ou carros na área. IV. Divulgar a barbearia.
3. c) Entre outras possibilidades: I. Gelo de
água potável / gelo em cubos / gelo em barra
/ gelo triturado / gelo seco. II. A placa poderia
ter menos destaque e uma seta apontando
para o aviso a que se refere. III. Poderia ser
dado maior destaque aos sinais de proibição
e a referência à própria placa, deixada em
segundo plano. IV. Corta-se cabelo masculino
com máquina / a preço baixo.
Como se espera que placas e avisos veiculem informações novas ou úteis a quem circula nas áreas em que eles estão, o fato de a
informatividade dessas placas ser baixa gera uma quebra de expectativa nos leitores, o que provoca o efeito de humor.
III.
IV.
A redundância
A redundância consiste na repetição de uma ideia (ou estrutura) em
uma mesma frase.
Em geral, as gramáticas tradicionais tratam a redundância de ideias
como um uso problemático e vicioso
da linguagem, mas há casos em que
ela é perfeitamente aceitável, ou
mesmo desejável, como quando se
quer dar ênfase a uma ideia ou quando é utilizada como recurso estilístico. É preciso, portanto, analisar cada
texto para definir se a redundância
pode ser mantida ou deve ser eliminada. Veja, a seguir, alguns exemplos
de redundância estilística, isto é, utilizada proposital e adequadamente:
“Esses direitos são inerentes a
toda e qualquer pessoa humana”
“Diferentes recursos foram interpostos por ambas as partes”
“Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder”
(Chico Buarque)
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211 A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
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Leia o texto a seguir, de Millôr Fernandes, e responda às questões de 5 a 7.
A vaguidão específica
“As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica.” Richard Gehman
— Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
— Junto com as outras?
— Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer
fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
— Sim senhora. Olha, o homem está aí.
— Aquele de quando choveu?
— Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
— Que é que você disse a ele?
— Eu disse pra ele continuar.
— Ele já começou?
— Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
— É bom?
— Mais ou menos. O outro parece mais capaz.
— Você trouxe tudo pra cima?
— Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera.
— Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor,
senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
— Está bem, vou ver como.
(O Pif-Paf. O Cruzeiro, 1956. Disponível em: http://www2.uol.com.br/
millor/aberto/textos/005/011.htm. Acesso em: 17/3/2016.)
5. O título do texto de Millôr, em uma primeira leitura, pode soar incoerente.
a. Explique essa incoerência com base no significado das palavras do título.
b. Sugira termos que, em princípio, caracterizariam melhor a palavra vaguidão.
c. Sugira termos que, em princípio, combinam melhor com a caracterização específica.
6. As palavras do título se relacionam diretamente ao conceito de informatividade. Levante hipóteses, justificando sua escolha:
a. Em tese, qual delas poderia se referir a um texto com baixa informatividade?
b. E qual delas poderia se referir a um texto com alto grau de informatividade?
7. Ao ler o texto, é possível compreender o jogo de palavras do título.
a. O que há de vaguidão na fala das personagens? Identifique no texto termos que
constroem essa ideia de vaguidade.
b. Explique por que, nesse caso, o uso dessas palavras não prejudica o entendimento
entre essas personagens.
c. Imagine situações em que o uso excessivo de termos como esses pode ser prejudicial para o entendimento entre os interlocutores.
Vaguidão remete à ideia de “imprecisão,
incerteza”, e específica remete à ideia de
“precisa, exata”. São palavras que têm
sentidos contrários e, colocadas juntas,
parecem produzir uma ideia incoerente.
Entre outras possibilidades: imprecisão, obscuridade, inconsistência.
Entre outras possibilidades: afirmação, verdade, certeza, ideia.
Vaguidão, pois a ideia de imprecisão remete a um contexto
no qual não há informações relevantes.
Específica, pois a ideia de especificidade remete a um contexto de aprofundamento, no qual há muitas informações relevantes.
7. a) Não é possível, para
o leitor, entender a quais
fatos, pessoas e objetos
elas se referem ao longo
do texto, dada a utilização de termos genéricos
e indefinidos, como: isso,
qualquer, outras, outro, alguém, coisa, aquele, ele,
ela, tudo.
b) Como elas estão conversando, ao vivo, fazem
gestos, apontam, mostram
e conhecem o contexto,
esses elementos completam os sentidos que não
podem ser captados por
quem não estava presente
na conversa.
Professor: Comente com
os alunos que esse tipo de
conversa é muito comum
em nosso dia a dia, ainda
que não nos demos conta
disso.
7. c) Professor: Comente com os alunos que, por esse motivo, é extremamente importante evitar o uso de termos vagos e genéricos no texto dissertativo-argumentativo.
Em conversas nas quais os interlocutores não viveram juntos as situações a que fazem referência ou, principalmente, em textos
escritos, nos quais autor e leitor estão distantes e não têm contato para construir os sentidos simultaneamente à produção.
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia esta história em quadrinhos.
1. Observe o título da história e levante hipóteses:
a. Por que ele está escrito entre aspas?
b. A qual das duas personagens essa mesma frase poderia ser atribuída, caso fosse
uma fala no contexto da história?
c. Por que essa frase está no título, e não no balão da fala da personagem?
d. Qual relação pode ser estabelecida entre essa frase e o senso comum? Justifique
sua resposta.
2. Ainda a respeito do título:
a. Reescreva-o em seu caderno, substituindo as reticências por uma oração que traduza o sentido geral da tira.
b. Discuta com os colegas e o professor: Qual a função do operador argumentativo
mas nesse contexto?
3. Observe o 1º quadrinho.
a. Qual é a relação entre a fala da personagem e o senso comum?
b. Que sentimentos manifestam as expressões faciais das personagens?
4. Observe o 2º e o 3º quadrinhos.
a. Qual é a relação entre as falas da personagem de vestido rosa e o senso comum?
b. Embora faça apenas perguntas, é possível considerar que as falas da personagem
de vestido rosa têm um alto grau de informatividade. Justifique essa afirmação.
c. Que sentimentos manifestam as expressões faciais da personagem de casaco azul?
5. Observe o último quadrinho.
a. Qual é a postura da personagem de casaco azul diante da conclusão da personagem de vestido rosa?
b. Justifique essa postura com base no modo como o senso comum é construído na
sociedade.
Porque faz referência a uma fala de alguém, um discurso
de outra pessoa que não o cartunista.
Ao homem de casaco azul.
Essa frase cria uma expectativa de que se seguirá uma ideia de senso comum, porque se espera na sequência um dizer
preconceituoso, e os pensamentos preconceituosos em geral provêm do senso comum, desprovidos de reflexão.
Porque pode ser utilizada em diversas
situações, não apenas na retratada por
essa história.
Entre outras possibilidades: “Longe de mim ter preconceito, mas não tenho sensibilidade para compreender as
diferenças entre as dificuldades enfrentadas pelos homossexuais e pelos heterossexuais na sociedade atual.”.
O operador argumentativo mas dá maior ênfase ao que é dito depois dele; assim, o conteúdo da primeira
oração, no qual se diz não ter preconceito, é enfraquecido, e a ressalva prevalece, dando a entender que
quem fala é, sim, preconceituoso.
A fala reproduz uma ideia do senso comum.
Indignação, inconformidade.
Sua fala busca contestar o senso comum, apresentando fatos concretos
que levam a repensar as ideias preestabelecidas.
4. b) São perguntas que colocam em pauta novos tópicos, a fim de rebater o senso
comum e, por trazer esses
novos tópicos, é possível
considerar que têm relevância informativa.
Estranhamento e reflexão.
Ele a contesta de forma exaltada.
Tendo em vista que o senso comum é um ponto de vista em geral assumido sem uma fundamentação, suas ideias
permanecem sendo reproduzidas, independentemente das reflexões despertadas anteriormente.
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Laerte/Acervo do cartunista
(Laerte. Acervo do cartunista.)
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A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
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Nas provas do Enem e de alguns vestibulares, é comum ser solicitado ao estudante
que produza um texto dissertativoargumentativo a partir de um painel de textos motivadores. Esse painel, se bem utilizado, pode ajudar bastante na elaboração do texto.
FOCO NO TEXTO
Leia a dissertação a seguir, que obteve nota máxima em uma prova de redação do
Enem.
O fluxo imigratório para o Brasil vem se acentuando desde a década de
noventa, devido a melhorias nos campos sociais e econômicos, os quais
eram os principais fatores de emigração, ou seja, de saída do país. Apesar
de estimular o respeito à diversidade cultural, além de outros benefícios,
a imigração exige atenção, pois caso negligenciada, poderá ocasionar problemas sociais.
A principal causa para tal movimento é o progresso econômico do Brasil, confirmado pela liderança do bloco financeiro sulamericano, o Mercosul. Além disso, como consequência do crescimento econômico, as condições sociais melhoraram, como a expectativa de vida, as quais também
são resultado das políticas assistenciais do governo, como o bolsa-família.
Com isso, grande parte da população que emigrava, em busca de melhores condições de vida, permanece no país. Paralelamente, as dificuldades
econômico-sociais de outros países, como o Haiti, abalado pelo terremoto
ocorrido em 2010, estimulam a entrada de estrangeiros no Brasil.
Além disso, a globalização, fenômeno de interdependência entre as
nações, facilita a imigração. Como nenhuma produz todos os bens e alimentos dos quais necessita, os fluxos comerciais e de trabalho aumentam.
Um exemplo é a migração de cientistas e engenheiros estrangeiros para
os polos tecnológicos paulistas. Além disso, a globalização também se caracteriza pelos progressos nas telecomunicações e nos transportes, mais
rápidos e acessíveis, facilitando os deslocamentos. Nesse sentido, o Brasil
é favorecido, com a entrada de mais indivíduos na população economicamente ativa, e com a interação de sua sociedade com novas culturas,
respeitando as diferenças.
Contudo, apesar de tais benefícios, o fluxo imigratório pode ser prejudicial.
Um exemplo, verificado principalmente na fronteira com a Bolívia, é o tráfico
de drogas, o qual é facilitado. Além disso, doenças podem ser trazidas, vitimando brasileiros. Outra questão problemática é a adaptação à língua portuguesa, o que pode dificultar a garantia de trabalhos dignos. Com isso, pode
aumentar a informalidade, bem como a criminalidade. Tal situação se agrava
quando a imigração é ilegal, pois dificulta a atuação do Estado brasileiro.
Desse modo, percebe-se que boa parte de tais problemas pode ser solucionada a partir da integração do migrante à sociedade, de forma plena.
A dissertação: construção
de argumentos
PRODUÇÃO DE TEXTO
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No caso da sociedade civil, faz-se importante recepcionar bem os estrangeiros, o que pode ser conseguido com festas ou encontros públicos, que
facilitam a interação e o aprendizado da língua portuguesa. Quanto ao
Estado, é importante garantir a dignidade dos empregos, aplicando as dirigências da Consolidação das leis do trabalho (CLT), além de fiscalizar regiões de fronteiras, combatendo o tráfico de drogas.
(Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/
guia_participante/2013/guia_de_redacao_enem_2013.pdf. Acesso em: 12/3/2016.)
1. No primeiro parágrafo da dissertação, o autor expõe uma situação e constrói uma
tese em torno dela. Identifique qual é a situação exposta e qual é a tese elaborada.
2. Há diferentes maneiras de elaborar uma introdução em textos dissertativos. Em seu
caderno, relacione as colunas a seguir, considerando o recurso predominante utilizado em cada exemplo.
Respectivamente, a situação do aumento do fluxo migratório para o Brasil e a tese de que a imigração,
se não for objeto de atenção, pode resultar em problemas sociais para o País.
Tipo de inTrodução exemplo
I. Citação de voz de
autoridade
A. “As vantagens do mundo virtual em meio a uma sociedade tão dinâmica são
incontestáveis. A internet representa o acesso quase imediato a obras de arte,
textos e músicas das mais diversas épocas e origens. Em um clique, ouvese a
ópera de Mozart e, no outro, lêse a mais nova crítica de Arnaldo Jabor à crise
financeira mundial. É o universo do conhecimento rápido, prático, objetivo: o
universo da cultura ‘fastfood’.”
(Texto de aluno do ensino médio.)
II. Exposição inicial
sobre o assunto e
apresentação da
tese
B. “Jacinto é fruto da bela e desenvolvida Paris do século XIX. Membro da elite
parisiense, a personagem central do romance de Eça de Queirós A cidade e as
serras vivia cercada de invenções tecnológicas, sem as quais acreditava ser
impossível a felicidade. Todavia, seu modo de viver começou a angustiálo e, por
força das circunstâncias, viaja a Tormes, em meio às serras portuguesas, local
desprovido de qualquer conforto tecnológico. Para sua surpresa, a pacata vida do
interior se revelou agradabilíssima e acarretou momentos de reflexão e felicidade.
Mais de um século se passou desde a publicação do escritor português, o mundo
se transformou, a ciência progrediu, porém, a relação entre o homem e seus
inventos ainda é motivo para indagações principalmente no que se refere aos
benefícios gerados por eles.”
(Idem.)
III. Sequência de perguntas
relacionadas ao tema
C. “‘Ficar plugado a uma tomada pode ser prático, mas não é criador’, disse Carlos
Heitor Cony em artigo publicado na Folha de S. Paulo.”
(Idem.)
IV. Trecho narrativo que
ilustra o tema
D. “Por que a atual crise econômica é tão intensa e demorada? Por que, à medida
que o tempo passa, ela parece se aprofundar, sem que surja de fato alguma luz
no fim do túnel? São perguntas que, a esta altura, podem parecer banais, mas
que, na verdade, não foram até agora satisfatoriamente respondidas. No início
deste ano, ninguém previa que chegaríamos perto do seu fim na situação em que
o País se encontra.”
(Disponível em: http://economia.estadao.com.br/blogs/fernando-dantas/
por-que-os-politicos-nao-reagem-a-crise/. Acesso em: 20/2/2016.)
II. Exposição inicial sobre o assunto e apresentação da tese
IV. Trecho narrativo que ilustra o tema
I. Citação de voz de autoridade
III. Sequência de perguntas relacionadas ao tema
215Produção de texto
A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
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3. Nos parágrafos de 2 a 4 da dissertação, o autor desenvolve sua tese e a justifica com
argumentos.
a. Cite um argumento utilizado em cada parágrafo.
b. Leia o boxe “Os argumentos para os avaliadores do Enem”. A seguir,
identifique as estratégias utilizadas para fundamentar os argumentos citados por você no item anterior.
4. Leia com atenção a proposta de redação do Enem a partir da qual foi
produzida a dissertação em estudo:
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com
base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão da língua portuguesa sobre o tema O movimento imigratório para o
Brasil no século XXI, apresentando proposta de intervenção, que
respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de
forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.
Ao desembarcar no Brasil, os imigrantes trouxeram muito mais do que
o anseio de refazer suas vidas trabalhando nas lavouras de café e no início
da indústria paulista. Nos séculos XIX e XX, os representantes de mais de 70
nacionalidades e etnias chegaram com o sonho de “fazer a América” e acabaram
por contribuir expressivamente para a história do país e para a cultura brasileira.
Deles, o Brasil herdou sobrenomes, sotaques, costumes, comidas e vestimentas.
A história da migração humana não deve ser encarada como uma questão relacionada exclusivamente ao passado; há a necessidade de tratar sobre deslocamentos mais recentes.
Disponível em: http://www.museudaimigracao.org.br.
Acesso em: 19 jul. 2012 (adaptado).
Acre sofre com invasão
de imigrantes do Haiti
Nos últimos três dias de 2011, uma leva de 500 haitianos
entrou ilegalmente no Brasil pelo Acre, elevando para 1 400 a
quantidade de imigrantes daquele país no município de Brasileia (AC). Segundo o secretário-adjunto de Justiça e Direitos Humanos do Acre, José Henrique Corinto, os haitianos ocuparam a
praça da cidade. A Defesa Civil do estado enviou galões de água
potável e alimentos, mas ainda não providenciou abrigo.
A imigração ocorre porque o Haiti ainda não se recuperou dos
estragos causados pelo terremoto de janeiro de 2010. O primeiro
grande grupo de haitianos chegou a Brasileia no dia 14 de janeiro de
2011. Desde então, a entrada ilegal continua, mas eles não são expulsos: obtêm visto humanitário e conseguem tirar carteira de trabalho
e CPF para morar e trabalhar no Brasil.
Segundo Corinto, ao contrário do que se imagina, não são haitianos miseráveis que buscam o Brasil para viver, mas pessoas da
classe média do Haiti e profissionais qualificados, como engenheiros, professores, advogados, pedreiros, mestres de obras e carpinteiros. Porém, a maioria chega sem dinheiro.
2º parágrafo: o progresso econômico e as condições sociais do Brasil incentivam a imigração;
3º parágrafo: globalização facilita a imigração; 4º parágrafo: o fluxo imigratório pode ser prejudicial.
3. b) Como estratégias, são utilizados exemplos e fatos comprováveis:
a liderança do bloco financeiro sulamericano, o Mercosul e as políticas assistenciais do governo, como
o bolsa-família; nenhum país produz
todos os bens e alimentos dos quais
necessita, os fluxos comerciais e de
trabalho aumentam; o tráfico de drogas é facilitado e doenças podem ser
trazidas.
Os argumentos para os
avaliadores do Enem
Segundo o Guia do participante, preparado pelo Inep (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas) e direcionado aos
estudantes, argumentos são justificativas “para convencer o leitor a concordar
com a tese defendida”. Além disso, afirma o guia: “Cada argumento deve responder à pergunta ‘Por quê?’ em relação
à tese defendida”.
Para desenvolver os argumentos que
utiliza, o autor de um texto pode, conforme o guia, lançar mão de estratégias
argumentativas como as seguintes:
exemplos; dados estatísticos; pesquisas; fatos comprováveis; citações ou
depoimentos de pessoas especializadas
no assunto; alusões históricas; comparações entre fatos, situações, épocas ou
lugares distintos.
Disponível em: http://mg1.com.br. Acesso em: 19 jul. 2012.
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Ministério da Justiça
216 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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Os brasileiros sempre criticaram a forma como os países europeus tratavam os
imigrantes. Agora, chegou a nossa vez — afirma Corinto.
Disponível em: http://www.dpf.gov.br. Acesso em: 19 jul. 2012 (adaptado).
Trilha da Costura
Os imigrantes bolivianos, pelo último censo, são mais de 3 milhões, com população de aproximadamente 9,119 milhões de pessoas. A Bolívia, em termos de IDH,
ocupa a posição de 114º de acordo com os parâmetros estabelecidos pela ONU. O
país está no centro da América do Sul e é o mais pobre, sendo 70% da população
considerada miserável. Os principais países para onde os bolivianos imigrantes
dirigem-se são: Argentina, Brasil, Espanha e Estados Unidos.
Assim sendo, este é o quadro social em que se encontra a maioria da população da Bolívia, estes dados já demonstram que as motivações do fluxo de imigração não são políticas, mas econômicas. Como a maioria da população tem baixa
qualificação, os trabalhos artesanais, culturais, de campo e de costura são os de
mais fácil acesso.
OLIVEIRA, R.T. Disponível em: http://www.ipea.gov.br. Acesso em: 19 jul. 2012 (adaptado).
a. Releia a dissertação, na página 214, e identifique os dados que foram retirados dos
textos motivadores apresentados na proposta.
b. Identifique na dissertação dois fatos do repertório do autor, isto é, que não estão
nos textos motivadores, utilizados para fundamentar a argumentação.
c. Discuta com os colegas e o professor: Além de auxiliar na construção da argumentação, quais outras funções os textos motivadores podem ter?
5. Utilizando informações apresentadas nos textos motivadores da prova, elabore ao
menos um argumento baseado em:
a. fatos e dados reais, contemporâneos ou históricos;
b. previsão de contraargumentação e de refutação antecipada;
c. vozes de autoridade.
6. A conclusão da dissertação em estudo é feita no último parágrafo.
a. Entre os recursos de construção de conclusão listados a seguir, identifique os dois
que foram utilizados pelo autor. Justifique sua resposta com trechos do texto.
• Retomada e fechamento
• Proposta de intervenção
• Pergunta que aponta para uma continuidade da discussão
b. Sem alterar a proposta de intervenção, proponha uma nova introdução para o parágrafo final da dissertação, utilizando o recurso de construção que o autor não
utilizou na conclusão.
7. Na dissertação em estudo, um mesmo operador argumentativo é repetido cinco vezes.
a. Identifique esse operador.
b. Sugira operadores argumentativos alternativos a ele, isto é, que tenham sentido
equivalente e que poderiam substituílo.
a) “as dificuldades econômico-sociais de outros países, como o Haiti, abalado
pelo terremoto ocorrido em
2010, estimulam a entrada
de estrangeiros no Brasil”;
“Um exemplo é a migração
de cientistas e engenheiros
estrangeiros para os polos
tecnológicos paulistas”; a
menção à “fronteira com
a Bolívia”
b) “a globalização também
se caracteriza pelos progressos nas telecomunicações e nos transportes,
mais rápidos e acessíveis,
facilitando os deslocamentos”; “Outra questão problemática é a adaptação à
língua portuguesa, o que
pode dificultar a garantia de
trabalhos dignos”
Situar o estudante no contexto relacionado ao tema e contribuir para a elaboração da introdução e/ou da conclusão.
Entre outras possibilidades, algo como: “Os mais de mil haitianos que imigraram para o Brasil em 2011 comprovam que o movimento imigratório para
o país vem aumentando nos últimos anos”.
Entre outras possibilidades, algo como: “Pode-se
pensar que se trata de uma oportunidade para o
país, mas quando essas pessoas têm baixa qualificação, como é o caso dos milhares de bolivianos
que imigram para o Brasil, é grande a probabilidade de que haja uma exploração ilegal e excessiva
dessa mão de obra”.
Entre outras possibilidades, algo como: “O secretário-adjunto de Justiça e Direitos Humanos do
Acre confirmou que os haitianos que chegam ao Brasil são profissionais qualificados”.
X
“boa parte de tais problemas pode ser solucionada a partir da integração do migrante à sociedade”
“faz-se importante recepcionar bem os estrangeiros, o que pode ser conseguido com festas ou encontros públicos, que
facilitam a interação e o aprendizado da língua portuguesa. Quanto ao Estado, é importante garantir a dignidade dos
empregos, aplicando as dirigências da Consolidação das leis do trabalho (CLT), além de fiscalizar regiões de fronteiras,
combatendo o tráfico de drogas.”
X
Entre outras possibilidades: “Como seria possível, então, conciliar a imigração e o
desenvolvimento do país, transformando em solução o que poderia se tornar um problema?”.
além disso / além de
ademais, ainda, também, outrossim, da mesma forma
REGISTRE
NO CADERNO
217PRODUÇÃO DE TEXTO
A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
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HORA DE ESCREVER
Produza uma dissertação de acordo com a proposta do Enem 2013,
reproduzida a seguir. Ao escrever sua dissertação, lembre-se de ficar
atento especialmente ao aproveitamento dos textos motivadores para
construir seus argumentos, bem como às diferentes possibilidades de
elaboração de introdução e conclusão.
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base
nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija
texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal
da língua portuguesa sobre o tema “Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil”,
apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione,
organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de
seu ponto de vista.
Qual o objetivo da “Lei Seca ao volante”?
De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), a
utilização de bebidas alcoólicas é responsável por 30% dos acidentes de trânsito. E metade das mortes, segundo o Ministério da Saúde, está relacionada ao uso
do álcool por motoristas. Diante deste cenário preocupante, a Lei 11.705/2008
surgiu com uma enorme missão: alertar a sociedade para os perigos do álcool
associado à direção.
Para estancar a tendência de crescimento de mortes no trânsito, era necessária
uma ação enérgica. E coube ao Governo Federal o primeiro passo, desde a proposta
da nova legislação à aquisição de milhares de etilômetros. Mas para que todos ganhem, é indispensável a participação de estados, municípios e sociedade em geral.
Porque para atingir o bem comum, o desafio deve ser de todos.
Disponível em: www.dprf.gov.br. Acesso em: 20 jun. 2013.
Como você sabe, no
final da unidade será realizado um simulado da prova
de redação do Enem.
Neste capítulo, como
treinamento para a realização do simulado, você vai
produzir uma dissertação.
Disponível em: www.brasil.gov.br. Acesso em: 20 jun. 2013.
Polícia Rodoviária Federal/Ministério da Justiça/Governo Federal
218 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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Repulsão magnética
a beber e dirigir
A lei da física que comprova que dois polos opostos se atraem em um campo magnético é um dos conceitos mais populares desse ramo do conhecimento. Tulipas de chope e bolachas de papelão não servem, em condições normais,
como objetos de experimento para confirmar essa proposta. A ideia de uma
agência de comunicação em Belo Horizonte foi bem simples. Ímãs foram inseridos em bolachas utilizadas para descansar os copos, de forma imperceptível para o consumidor. Em cada lado, há uma opção para o cliente: dirigir ou
chamar um táxi depois de beber. Ao mesmo tempo, tulipas de chope também
receberam pequenos pedaços de metal mascarados com uma pequena rodela
de papel na base do copo. Durante um fim de semana, todas as bebidas servidas passaram a pregar uma peça no cliente. Ao tentar descansar seu copo com
a opção dirigir virada para cima, os ímãs apresentavam a mesma polaridade e,
portanto, causando repulsão, fazendo com que o descanso fugisse do copo; se
estivesse virada mostrando o lado com o desenho de um táxi, ela rapidamente
grudava na base do copo. A ideia surgiu da necessidade de passar a mensagem
de uma forma leve e no exato momento do consumo.
Disponível em: www.operacaoleisecarj.rj.gov.br.
Acesso em: 20 jun. 2013 (adaptado).
Disponível em: www.operacaoleisecarj.rj.gov.br. Acesso em: 20 jun. 2013 (adaptado).
Operação Lei Seca/Governo do Estado do Rio de Janeiro
219PRODUÇÃO DE TEXTO
A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
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INSTRUÇÕES:
• O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
• O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas.
• A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de
Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para efeito de correção.
Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:
• tiver até 7 (sete) linhas escritas, sendo considerada “insuficiente”.
• fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo.
• apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos.
• apresentar parte do texto deliberadamente desconectada com o tema proposto.
ANTEs DE EsCREvER
Ao planejar sua dissertação, reveja as orientações dadas na página 200 e siga também estas:
• Leia com atenção a proposta e os textos motivadores.
• Defina a tese, os argumentos e o tipo de conclusão que pretende desenvolver.
• Selecione nos textos motivadores fatos e dados que possam fundamentar sua argumentação.
• Selecione nos textos motivadores fatos e dados que possam auxiliar na elaboração da
introdução e/ou da conclusão.
• Reúna fatos e dados de seu próprio repertório que possam ser associados às informações dos textos motivadores, com o fim de constituir argumentos consistentes.
ANTEs DE PAssAR A LIMPO
Antes de dar sua dissertação por finalizada, observe se seu texto atende aos itens
apresentados na página 200 e também:
• se as informações dos textos motivadores que foram selecionadas estão devidamente
contextualizadas, possibilitando ao leitor compreendêlas sem precisar ter acesso aos
textos originais;
• se os dados selecionados dos textos motivadores e os dados do seu repertório
pessoal contribuem, de fato, para a fundamentação dos argumentos e para que a
introdução e/ou conclusão de seu texto sejam objetivas e consistentes;
• se as partes essenciais da dissertação estão bem desenvolvidas e articuladas.
220 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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Clarice Lispector e Guimarães Rosa
LITERATURA
A geração de 45: Clarice Lispector
e Guimarães Rosa
Análise linguística: implícitos e intertextualidade
CAPÍTULO 3 A dissertação (III)
Clarice Lispector
A autora é considerada um dos destaques da geração de 45 e um dos principais nomes
da ficção brasileira. Em seus romances, contos e crônicas, a ação é um aspecto secundário,
prevalecendo as impressões e o fluxo de emoções das personagens. Suas narrativas partem, geralmente, de situações corriqueiras, para, a seguir, voltaremse para a interioridade das personagens, geralmente femininas, promovendo reflexões acerca da existência,
das relações entre o eu e o outro, das relações familiares e, mesmo, do processo de elaboração do texto literário.
Em sua obra, intimista e psicológica, verificase a presença de determinados recursos,
como o tempo não linear e o monólogo interior (técnica narrativa que explora a mente das personagens, exprimindo o fluxo ininterrupto de seus pensamentos, lembranças,
ideias, intuições, etc.), e o trabalho minucioso com a linguagem, criando sonoridades e
imagens construídas por meio de metáforas, personificações, antíteses, paradoxos e elementos simbólicos. Além desses recursos, a obra de Clarice Lispector também apresenta
Metaesquema
(1950), de Hélio
Oiticica.
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
221 A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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momentos de epifania, termo originalmente religioso que tem o sentido de “revelação”.
Durante o momento de epifania, as personagens apreendem o significado de uma situação, um objeto ou uma ação do mundo exterior, ou seja, é um momento de revelação
interior, de tomada de consciência, que pode ser irrompido a partir de um fato corriqueiro,
simples e inesperado, como um banho de mar, um esbarrão em alguém, etc.
Embora a obra de Clarice Lispector revele um interesse especial pelo mundo feminino,
predominando uma série de protagonistas mulheres, os temas de seus contos, crônicas
e romances são universais, pois estão intimamente ligados à condição humana, como a
solidão, o esvaziamento das relações familiares, o amor, a angústia e a velhice. O caráter
introspectivo, filosófico, existencial e social de sua narrativa, associado ao trabalho acurado com a linguagem, promoveu uma renovação na ficção brasileira e, por isso, sua obra é
uma referência permanente para leitores, em geral, e estudiosos de literatura.
Clarice Lispector
De origem judaica, Clarice Lispector (1926-1977) nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, e ainda bebê veio com os
pais para o Brasil. Passou sua infância no Recife e, aos 15 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro.
Formou-se em Direito, mas nunca advogou; começou a colaborar em jornais quando ainda estava na faculdade e
exerceu o jornalismo até o fim de sua vida.
Com apenas 17 anos, publicou seu primeiro livro, Perto do coração selvagem (1943), romance que foi saudado
pela crítica. A autora também produziu contos e crônicas, reunidos em obras como Laços de família (1960), A legião
estrangeira (1964) e Felicidade clandestina (1971), e literatura infantil, como A mulher que matou os peixes (1969) e
A vida íntima de Laura (1974). Outros romances de Clarice Lispector são A paixão segundo G.H. (1964) e A hora da
estrela, publicado em 1977, ano da morte da escritora.
FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, o conto “Amor”, da obra Laços de família, de Clarice Lispector.
Amor
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana
subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos.
A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte
no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar
a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes
que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua
rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais
e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a
tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que
plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se [...]
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E
isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença
Ivan Cabral
222 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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literatura
de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis,
que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. [...]
Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se
apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as
lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar
objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranquila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos
calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se
voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das
raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava
bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.
[...]
O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.
A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé,
suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.
O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranquila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.
Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar
— o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente,
como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento,
com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado,
Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu
no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do
que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados.
Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida.
Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas
e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a mastigação
e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O
embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o
sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida.
Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito.
A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A
rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer
com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor.
O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava,
Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento
estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. [...]
[...]
223 A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse.
Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as
roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite – tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E
um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a
Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.
Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava, tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas
débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não
conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite.
Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de
medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que
descobrira continuava a pulsar e um vento mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando
um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico.
Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia
ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de
um atalho e ali ficou muito tempo.
[...]
As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando
Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à
garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra.
Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo
faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores
espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e
escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas,
ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais
fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia
o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.
Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e
ela sentia nojo.
Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho
obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com
sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto.
Enquanto não chegou à porta do edifício, parecia à beira de um desastre. Correu
com a rede até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? [...] O menino
que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que
coma rede atéoelevador,sua almabatia-lhenopeito—oque sucedia? [...]Omenino
que se aproximoucorrendo eraumser de pernas compridas e rosto igual ao seu,que
Nelson Provazi
224 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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LITERATURA
à revelia: sem
conhecimento da parte
interessada.
emergir: vir à tona.
lide: trabalho pesado,
labuta.
periclitante: perigoso.
sebe: cerca de plantas.
sumarento: substancial,
fundamental, primordial.
corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se trêmula. Porque
a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado — amava com
nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago
sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a. Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal — o cego ou
o belo Jardim Botânico? — agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. [...]
Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha
vergonha?
Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta
e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que
tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração
se enchera com a pior vontade de viver.
[...]
Depois o marido veio, vieram os irmãos e suas mulheres, vieram os filhos
dos irmãos.
Jantaram com as janelas todas abertas, no nono andar. Um avião estremecia,
ameaçando no calor do céu. Apesar de ter usado poucos ovos, o jantar estava
bom. Também suas crianças ficaram acordadas, brincando no tapete com as outras. Era verão, seria inútil obrigá-las a dormir. Ana estava um pouco pálida e ria
suavemente com os outros.
[...]
Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era
uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até
envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas
com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que
as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do
Jardim Botânico.
Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado.
— O que foi?! gritou vibrando toda.
Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:
— Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras.
Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois
atraiu-a a si, em rápido afago.
— Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.
— Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele
sorrindo.
Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranquila se rebentara, e na casa toda havia um
tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde.
Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para
trás, afastando-a do perigo de viver.
Acabara-se a vertigem de bondade.
E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se
agora diante do espelho, por um instante sem nenhum
mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.
(Clarice Lispector. Laços de família. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977. p. 17-30.)
Nelson Provazi
225 A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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A pop art
Como consequência da Segunda
Guerra Mundial, o centro de gravidade
artística em meados do século XX se
deslocou da Europa para os Estados
Unidos. A pop art, arte popular que
extraía signos e símbolos da cultura de
massa e da vida cotidiana, por exemplo,
encontrou nos EUA sua genuína expressão. O artista Andy Warhol é um dos
principais nomes da pop art.
1. Um dos recursos narrativos utilizados no conto em estudo é o flashback,
suspensão do momento presente da ação para apresentar cenas ou situações anteriores ao que está sendo narrado.
a. Identifique no início do texto uma situação típica do flashback.
b. Durante o flashback, há um uso reiterado dos verbos no pretérito imperfeito do indicativo. Que sentidos esse recurso constrói no texto?
Justifique sua resposta com elementos do texto.
2. No flashback, o narrador apresenta uma síntese da vida de Ana.
a. De acordo com as descrições do narrador, a que classe social a protagonista pertence? Justifique sua resposta com elementos do texto.
b. Ana é uma personagem que “viera a cair num destino de mulher”. De
acordo com o texto, em que consiste esse destino?
c. Releia este trecho:
“O homem com que casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior
parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos
poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se
vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha – com persistência, continuidade, alegria.”
O trecho sugere que Ana, depois de casada, teve uma mudança em
sua perspectiva de vida. Qual seria essa mudança? Por que, para
Ana, sua juventude anterior parecia estranha “como uma doença
de vida”? Justifique sua resposta com trechos do fragmento em
destaque.
d. Conclua: Ana era feliz? Justifique sua resposta com elementos do texto.
3. Para Ana, em determinada hora do dia, “as árvores
que plantara riam dela”.
a. Explique essa imagem de acordo com o contexto
em que está inserida.
b. Qual é a reação de Ana nessa hora do dia? Por
que ela reage dessa maneira? Justifique sua resposta com trechos do texto.
4. Nos contos de Clarice Lispector, a epifania – momento de revelação, de tomada de consciência –
pode ser irrompida a partir de um fato corriqueiro.
a. No conto em estudo, que fato desencadeia o momento de epifania por que passa a protagonista?
“Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas.”
1. b) O emprego do pretérito imperfeito indica
não somente a duração contínua das ações
(“Cresciam, tomavam banho [...]”), mas também a dimensão habitual e repetitiva das atividades de Ana em suas tarefas domésticas
(“Saía então para fazer compras”; “Encontrava os móveis de novo empoeirados”).
2. a) Pertence provavelmente à classe média,
pois é uma mulher que não precisa trabalhar
fora de casa, anda de bonde e mora em um
apartamento financiado (“que estavam aos
poucos pagando”) cuja cozinha é “espaçosa”.
Uma vida de dona de casa dedicada exclusivamente às tarefas do lar (limpar a casa, cozinhar, lavar roupas, fazer compras, etc.) e aos
cuidados com o marido e os filhos.
Provavelmente, em sua juventude, Ana vivia feliz, algo que, depois de casada, foi dissipado, vivendo apenas numa rotina monótona; por isso,
sua juventude lhe parecia estranha, “como uma
doença de vida”.
Não, pois, para ela, “também sem a felicidade se vivia”.
3. a) As árvores correspondem a tudo o que
Ana cultivou em sua vida (marido, filhos,
casa); no final da tarde, com a ausência da
família e a casa limpa, ela não se sentia mais
necessária e sua vida parecia vazia, de modo
que tudo ao seu redor (“as árvores”) parecia
desprezá-la (“riam dela”).
b) Ela saía para fazer compras ou levar objetos
para consertar, porque, assim, continuava a
dar sentido à sua vida, cuidando do lar e da
família, e “abafava” sentimentos ou pensamentos perturbadores (“na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu
espanto”).
A visão de um cego, parado no ponto, mascando chiclete.
Marilyn Monroe (1967), por
Andy Warhol (1928-1987).
Para Ana, em determinada hora do dia, “as árvores
Explique essa imagem de acordo com o contexto
Qual é a reação de Ana nessa hora do dia? Por
que ela reage dessa maneira? Justifique sua resNos contos de Clarice Lispector, a epifania – momento de revelação, de tomada de consciência –
pode ser irrompida a partir de um fato corriqueiro.
No conto em estudo, que fato desencadeia o moREGISTRE
NO CADERNO
Nelson Provazi
Coleção Thomas Ammann, Zurique, Suíça
226 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
PortuguesContemporaneo3_UN3_CAP3_221a249.indd 226 5/12/16 6:16 PM
LITERATURA
b. Nesse momento de epifania, o que representa a imagem dos ovos quebrados e da
rede? Justifique sua resposta com trechos do texto.
c. No conto, o cego pode ser visto como uma figura paradoxal. Por quê?
5. Sob o efeito da visão do cego, Ana entra no Jardim Botânico, que, simbolicamente, remete ao jardim do Éden, ou seja, ao paraíso onde Adão e Eva viveram, de acordo com a B’blia.
a. Nesse local, ela tem diferentes experiências sensoriais. Dos cinco sentidos humanos, qual ou quais a protagonista experimenta diante desse cenário natural? Que
sentimentos tais experiências despertam na protagonista? Justifique sua resposta
com elementos do texto.
b. O que interrompe a fruição do jardim?
6. O momento de epifania se estende até o momento em que Ana chega a sua casa.
a. O que a vivência desse momento revela à protagonista? Justifique sua resposta
com elementos do texto.
b. Esse processo epifânico modifica sua vida? Justifique sua resposta com elementos
do texto.
c. Na sua opinião, Ana será a mesma depois dessa experiência?
7. Qual é a relação que se pode estabelecer entre o título do conto, “Amor”, e o momento
de epifania vivenciado pela personagem?
8. Em suas narrativas, Clarice Lispector explora de modo recorrente imagens, metáforas,
antíteses e paradoxos surpreendentes. Releia este trecho:
“Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os
frutos do Jardim Botânico.”
a. Nesse trecho, que imagem paradoxal é criada?
b. Discuta com os colegas: Que sentido há na imagem do cego entre os frutos do
jardim?
9. Nesse conto, que se centra no universo psicológico e na consciência individual da personagem, há também uma dimensão social? Por quê?
Guimarães Rosa
Considerado um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, Guimarães Rosa
não somente renovou a tradição regionalista como também a própria prosa brasileira.
Diferentemente dos românticos, dos realistas e dos modernistas da geração de 30, o
autor realizou novas experiências estéticas na ficção regionalista, sobretudo em relação à
linguagem. Em suas narrativas, o falar sertanejo misturase a arcaísmos, a neologismos
criados com a fusão de diferentes línguas e à exploração sonora, sintática e semântica
do português. O emprego do ritmo, da rima e de aliterações, bem como a utilização de
metáforas, comparações, metonímias, entre outros recursos, confere um traço poético à
sua narrativa, promovendo uma aproximação entre prosa e poesia.
4. b) A desagregação da
interioridade da personagem, como se tudo o que
construíra em sua vida se
despedaçasse e perdesse
o sentido (“Vários anos
ruíam, as gemas amarelas
escorriam”, “O mal estava
feito”). A rede pode ser interpretada como uma prisão que, no conto, corresponde à sua vida de dona
de casa presa à execução
dos papéis impostos pelo
casamento.
Porque é o cego que faz Ana enxergar com profundidade a situação de sua vida.
Visão (“vitórias-régias boiavam monstruosas”); olfato (“decomposição era [...] perfumada”); tato (“brisa se
insinuava entre as flores”). Ela fica fascinada, sente-se atraída pela beleza do local, mas também sente nojo e,
por achá-lo tão belo, chega a ter medo do Inferno.
A lembrança de seus filhos, o que a faz se sentir culpada.
Revela que Ana vivia uma vida insossa, presa ao seu “destino de mulher”, e que, interiormente, tinha uma grande
“vontade de viver”, de experimentar e vivenciar a intensidade da vida fora de sua rotina controlada e monótona.
Provavelmente não. No fim da noite, Ana aparece novamente presa à segurança do lar: ela se entrega à proteção do marido, que segura sua mão,
“afastando-a do perigo de viver”, e, a seguir, penteia os cabelos “sem nenhum mundo no coração” e sopra a “flama do dia” ao se deitar, dando a
entender que o acontecido seria apagado, esquecido, e tudo voltaria a ser como antes.
Resposta pessoal. Sugestão: Não, pois, uma vez que tomara consciência da insatisfação
de sua vida, por mais que Ana tente abafá-la, ela permanecerá gravada dentro de si. 7. Professor: Abrir a discussão com a classe, pois
há a possibilidade de mais
de uma resposta.
Sugestão: Durante o momento de epifania, Ana
sente piedade pelo cego e
amor pelo mundo (“amava
o mundo, amava o que fora
criado”), revelando, num
deslocamento do eu (do
amor próprio e familiar)
para o outro, uma preocupação com o que está fora
de seu universo particular.
O belo e o feio (ou o estranho), o bem e o mal se misturam, paradoxalmente,
pois da beleza da flor sai o mosquito, assim como as belas vitórias-régias
boiam em um lago escuro, soturno.
Professor: Abra discussão com a classe, pois pode haver mais de uma resposta. Sugestão: A imagem do cego
se mistura à visão da paisagem, evocando, de modo insólito, sua perturbação interior.
Sim, pois apresenta uma reflexão a respeito da identidade feminina
e da posição da mulher de classe média por volta da década de 1960.
REGISTRE
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227 A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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As diversas personagens que povoam suas narrativas – crianças, fazendeiros, vaqueiros, jagunços, loucos, cantadores – experimentam conflitos e
anseios inerentes à condição humana, como o medo, o amor, o desejo de
vingança, o ódio, o orgulho, a morte, etc. E, sem ignorar a complexidade do
homem e do mundo que o cerca, a obra de Guimarães Rosa apresenta uma
visão global da existência, fundindo, em uma única realidade, a natureza,
o divino e o demoníaco, o bem e o mal, o uno e o múltiplo. Sua obra é, portanto, considerada universal, pois ultrapassa os limites da particularidade
da paisagem sertaneja, bem como da cultura, das crenças e dos valores do
homem do sertão mineiro, para exprimir com sutileza os diversos matizes
das inquietações humanas, que independem do tempo e do espaço.
Sagarana
A obra de estreia de Guimarães Rosa tem como título um neologismo:
saga, radical germânico que remete à narrativa, à lenda ou à epopeia, e rana,
sufixo tupi que significa “à maneira de”. Entre os nove contos que compõem
Sagarana, “A hora e vez de Augusto Matraga”, que você vai conhecer neste
capítulo, é considerado por muitos críticos como o mais importante, sobretudo pelo tratamento que o autor dá à luta entre o bem e o mal e às angústias que tal luta provoca em cada ser humano ao longo de sua existência.
O conto narra a história de Augusto Esteves, que aparece também com
os nomes de Nhô Augusto e de Augusto Matraga. No início, o protagonista,
filho do Coronel Afonsão Esteves, das Pindaíbas e do SacodaEmbira, aparece como um fazendeiro violento e valentão que, voltado para o mal, se
envolve em brigas e vinganças, tira as mulheres dos outros e não se importa
com a esposa Dionóra e a filha Mimita.
Essa fase de sua vida se finda quando ele perde suas terras, a mulher
o abandona para viver com outro e alguns de seus capangas, a mando de
Major Consilva, seu maior inimigo, surramno violentamente e o marcam
com ferro em brasa, como se faz a um boi, deixandoo praticamente morto.
Com a ajuda de um casal de negros, a mãe Quitéria e o pai Serapião, o
protagonista recupera sua saúde; e, para não correr o risco de ser morto
pelos seus inimigos, foge com esse casal para a única propriedade que lhe
restara, o Tombador. Nesse lugar pobre, ele inicia uma nova fase, voltada
para o bom comportamento e para a penitência, trabalhando duramente
todos os dias, sempre rezando, pois havia tomado a decisão: “Eu vou pr’a o
céu, eu vou mesmo, por bem ou por mal!... E a minha vez há de chegar... P’ra
o céu eu vou, nem que seja a porrete!...”.
Certo dia, chega a sua região o bando do temido jagunço Joãozinho BemBem, que é imediatamente recebido por Nhô Augusto com todas as honras
da hospitalidade sertaneja. O chefe dos jagunços reconhece a face valente do
protagonista e o convida para participar do bando, mas ele recusa. Em busca
de sua “hora e vez”, ele parte com um jumento pelas estradas e, sem destino
certo, deixase conduzir pelo animal, até que reencontra Joãozinho BemBem
e seus jagunços no centro do arraial do RalaCoco, onde estavam instalados.
FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, o episódio final do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, momento em que o protagonista é recebido pelo jagunço Joãozinho
BemBem e seu bando no arraial do RalaCoco.
Guimar‹es Rosa
João Guimarães Rosa (1908-1967)
nasceu em Cordisburgo (MG). Desde
cedo revelou interesse pela natureza
e pelo estudo de línguas, tornando-se
fluente em francês, alemão, italiano,
espanhol e inglês, e conhecedor da
gramática do húngaro, do árabe, do
hebraico, do sânscrito e do tupi. Depois
de cursar Medicina, clinicou em cidades
do interior de Minas, onde teve contato
com a fauna e a flora do sertão e a cultura do sertanejo, que lhe serviram de
inspiração para sua produção literária.
Depois de ingressar na carreira diplomática, em 1934, viveu em alguns
países da Europa e da América Latina.
Sua primeira produção literária foi
Magma, livro que venceu, em 1936,
o concurso de poesia da Academia
Brasileira de Letras, mas que o autor,
durante sua vida, não quis publicá-lo.
Iniciou propriamente sua vida literária
com o livro de contos Sagarana (1946),
mas foi a partir da publicação de duas
obras-primas, Grande sertão: veredas
e Corpo de baile, em 1956, que se tornou um escritor amplamente reconhecido e aclamado pela crítica. Publicou
também Primeiras estórias (1962) e
Tutameia – Terceiras estórias (1967).
Em 1967, três dias após ser eleito para
a Academia de Letras, faleceu aos
59 anos, no Rio de Janeiro.
Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press
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LITERATURA
[...]
Fitava Nhô Augusto com olhos alegres, e tinha no rosto um ar paternal. Mas,
na testa, havia o resto de uma ruga.
— Está vendo, mano velho? Quem é que não se encontra, neste mundo?...
Fico prazido, por lhe ver. E agora o senhor é quem está em minha casa... Vai se
arranchar comigo. Se abanque, mano velho, se abanque! ... Arranja um café aqui
p’ra o parente, Flosino!
[...]
Nhô Augusto mordia o pão de broa, e espiava, inocente, para ver se já vinha o café.
— Tem chá de congonha, requentado, mano velho...
— Aceito também, amigo. Estou com fome de tropeiro... Mas, qu’é de o Juruminho?
— Ah, o senhor guardou o nome, e, a pois, gostou dele, do menino... Pois foi
logo com o pobre do Juruminho, que era um dos mais melhores que eu tinha...
— Não diga...
O rosto de seu Joãozinho Bem-Bem foi ficando sombrio.
— O matador — foi à traição, — caiu no mundo, campou no pé... Mas a família
vai pagar tudo, direito!
Seu Joãozinho Bem-Bem, sentado em cima da beirada da mesa, brincava com
os três bentinhos do pescoço, e batia, muito ligeiro, os calcanhares, um no outro.
Nhô Augusto, parando de limpar os dentes com o dedo, lastimou:
— Coitado do Juruminho, tão destorcido e de tão bom parecer... Deixa eu rezar
por alma dele...
Seu Joãozinho Bem-Bem desceu da mesa e caminhou pela sala, calado. Nhô
Augusto, cabeça baixa, sempre sentado num selim velho, dava o ar de quem estivesse com a mente muito longe.
— Escuta, mano velho...
Seu Joãozinho Bem-Bem parou em frente de Nhô Augusto, e continuou:
—... eu gostei da sua pessoa, em-desde a primeira hora, quando o senhor caminhou para mim, na rua daquele lugarejo... Já lhe disse, da outra vez, na sua
casa: o senhor não me contou coisa nenhuma de sua vida, mas eu sei que já deve
ter sido brigador de ofício. Olha: eu, até de longe, com os olhos fechados, o senhor
não me engana: juro como não há outro homem p’ra ser mais sem medo e disposto para tudo. É só o senhor mesmo querer...
— Sou um pobre pecador, seu Joãozinho Bem-Bem...
— Que-o-quê! Essa mania de rezar é que está lhe perdendo ... O senhor não é padre nem frade, p’ra isso; é algum? ... Cantoria de igreja,
dando em cabeça fraca, desgoverna qualquer valente... Bobajada! ...
— Bate na boca, seu Joãozinho Bem-Bem meu amigo, que Deus
pode castigar!
— Não se ofenda, mano velho, deixe eu dizer: eu havia de gostar, se
o senhor quisesse vir comigo, para o norte... Já lhe falei e torno a falar: é
convite como nunca fiz a outro, e o senhor não vai se arrepender! Olha:
as armas do Juruminho estão aí, querendo dono novo ...
— Deixa eu ver ...
Nhô Augusto bateu a mão na winchester, do jeito com que um gato
poria a pata num passarinho. Alisou coronha e cano. E os seus dedos
tremiam, porque essa estava sendo a maior das suas tentações.
Fazer parte do bando de seu Joãozinho Bem-Bem! Mas os lábios
se moviam — talvez ele estivesse proferindo entre dentes o creio em
deus padre — e, por fim, negou com a cabeça, muitas vezes:
Cartaz de A hora
e a vez de Augusto
Matraga (2011),
filme de Vinícius
Coimbra baseado no
conto homônimo de
Guimarães Rosa.
A hora e a vez de Augusto Matraga. Direção: Vinícius Coimbra. [S.I.]: Nossa Distribuidora, 2015.
229 A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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— Não posso, meu amigo seu Joãozinho Bem-Bem!... Depois de tantos anos...
Fico muito agradecido, mas não posso, não me fale nisso mais ...
E ria para o chefe dos guerreiros, e também por dentro se ria, e era o riso do
capiau ao passar a perna em alguém, no fazer qualquer negócio.
— Está direito, lhe obrigar não posso... Mas, pena é.. .
Nisso, fizeram um estardalhaço, à entrada.
— Quem é?
— É o tal velho caduco, chefe.
— Deixa ele entrar. Vem cá, velho.
O velhote chorava e tremia, e se desacertou, frente às pessoas. Afinal, conseguiu ajoelhar-se aos pés de seu Joãozinho Bem-Bem.
— Ai, meu senhor que manda em todos... Ai, seu Joãozinho Bem-Bem, tem
pena! ... Tem pena do meu povinho miúdo... Não corta o coração de um pobre pai...
— Levanta, velho...
— O senhor é poderoso, é dono do choro dos outros... Mas a Virgem Santíssima lhe dará o pago por não pisar em formiguinha do chão... Tem piedade de nós
todos, seu Joãozinho Bem-Bem! ...
— Levanta, velho! Quem é que teve piedade do Juruminho, baleado por detrás?
— Ai, seu Joãozinho Bem-Bem, então lhe peço, pelo amor da senhora sua mãe,
que o teve e lhe deu de mamar, eu lhe peço que dê ordem de matarem só este
velho, que não presta para mais nada... Mas que não mande judiar com os pobrezinhos dos meus filhos e minhas filhas, que estão lá em casa sofrendo, adoecendo de medo, e que não têm culpa nenhuma do que fez o irmão... Pelo sangue de
Jesus Cristo e pelas lágrimas da Virgem Maria! ...
E o velho tapou a cara com as mãos, sempre ajoelhado, curvado, soluçando e
arquejando.
Seu Joãozinho Bem-Bem pigarreou, e falou:
— Lhe atender não posso, e com o senhor não quero nada, velho. É a regra... Senão, até quem é mais que havia de querer obedecer a um homem que não vinga
gente sua, morta de traição? ... É a regra. Posso até livrar de sebaça, às vezes, mas
não posso perdoar isto não... Um dos dois rapazinhos seus filhos tem de morrer,
de tiro ou à faca, e o senhor pode é escolher qual deles é que deve de pagar pelo
crime do irmão. E as moças ... Para mim não quero nenhuma, que mulher não me
enfraquece: as mocinhas são para os meus homens ...
— Perdão, para nós todos, seu Joãozinho Bem-Bem...
Pelo corpo de Cristo na Sexta-Feira da Paixão!
— Cala a boca, velho. Vamos logo cumprir a nossa obrigação...
Mas, aí, o velho, sem se levantar, inteiriçou-se, distendeu o busto para cima,
como uma caninana enfuriada, e pareceu que ia chegar com a cara até em frente
à de seu Joãozinho Bem-Bem. Hirto, cordoveias retesas, mastigando os dentes e
cuspindo baba, urrou:
— Pois então, satanás, eu chamo a força de Deus p’ra ajudar a minha fraqueza
no ferro da tua força maldita!...
Houve um silêncio. E, aí:
— Não faz isso, meu amigo seu Joãozinho Bem-Bem, que o desgraçado do
velho está pedindo em nome de Nosso Senhor e da Virgem Maria! E o que vocês
estão querendo fazer em casa dele é coisa que nem Deus não manda e nem o
diabo não faz!
Nhô Augusto tinha falado; e a sua mão esquerda acariciava a lâmina da lapiana, enquanto a direita pousava, despreocupada, no pescoço da carabina. Dera
tom calmo às palavras, mas puxava forte respiração soprosa, que quase o levantava do selim e o punha no assento outra vez. Os olhos cresciam, todo ele crescia,
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LITERATURA
como um touro que acha os vaqueiros excessivamente abundantes e cisma de
ficar sozinho no meio do curral.
— Você está caçoando com a gente, mano velho?
— Estou não. Estou pedindo como amigo, mas a conversa é no sério, meu amigo, meu parente, seu Joãozinho Bem-Bem.
— Pois pedido nenhum desse atrevimento eu até hoje nunca que ouvi nem
atendi! ...
O velho engatinhou, ligeiro, para se encostar na parede.
No calor da sala, uma mosca esvoaçou.
— Pois então. .. — e Nhô Augusto riu, como quem vai contar uma grande anedota — ... Pois então, meu amigo seu Joãozinho Bem-Bem, é fácil... Mas tem que
passar primeiro por riba de eu defunto ...
Joãozinho Bem-Bem se sentia preso a Nhô Augusto por
uma simpatia poderosa, e ele nesse ponto era bem-assistido,
sabendo prever a viragem dos climas e conhecendo por instinto as grandes coisas. Mas Teófilo Sussuarana era bronco
excessivamente bronco, e caminhou para cima de Nhô Augusto. Na sua voz:
— Epa! Nomopadrofilhospritossantaméin! Avança, cambada de filhos da mãe, que chegou minha vez!...
E a casa matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um demônio
preso e pulando como dez demônios soltos.
— Ô gostosura de fim de mundo! ...
E garrou a gritar as palavras feias todas e os nomes imorais que aprendera em sua farta existência, e que havia muitos anos não proferia. E atroava, também, a voz de seu Joãozinho Bem-Bem:
— Sai, Cangussu! Foge, daí, Epifânio! Deixa nós dois brigar
sozinhos!
[...]
— Se entregue, mano velho, que eu não quero lhe matar...
— Joga a faca fora, dá viva a Deus, e corre, seu Joãozinho Bem-Bem...
— Mano velho! Agora é que tu vai dizer: quantos palmos é que tem, do calcanhar ao cotovelo! ...
— Se arrepende dos pecados, que senão vai sem contrição, e vai direitinho
p’ra o inferno, meu parente seu Joãozinho Bem-Bem! ...
— Ui, estou morto ...
A lâmina de Nhô Augusto talhara de baixo para cima, do púbis à boca do estômago, e um mundo de cobras sangrentas saltou para o ar livre, enquanto seu
Joãozinho Bem-Bem caía ajoelhado, recolhendo os seus recheios nas mãos.
Aí, o povo quis amparar Nhô Augusto, que punha sangue por todas as partes, até do nariz e da boca, e quê devia de estar pesando demais, de tanto chumbo e bala. Mas tinha fogo nos olhos de gato-do-mato, e o busto, especado, não
vergava para o chão.
— Espera aí, minha gente, ajudem o meu parente ali, que vai morrer mais
primeiro. .. Depois, então, eu posso me deitar.
— Estou no quase, mano velho... Morro, mas morro na faca do homem mais
maneiro de junta e de mais coragem que eu já conheci! ... Eu sempre lhe disse
que era bom mesmo, mano velho ... É só assim que gente como eu tem licença de
morrer... Quero acabar sendo amigos...
Aldemir Martins. Cangaceiro, s/ data/Coleção particular
231 A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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— Feito, meu parente, seu Joãozinho Bem-Bem. Mas, agora, se arrepende
dos pecados, e morre logo como um cristão, que é para a gente poder ir juntos...
[...]
Alguém gritou: — “Eh, seu Joãozinho Bem-Bem já bateu com o rabo na cerca!
Não tem mais!”... — E então Nhô Augusto se bambeou nas pernas, e deixou que
o carregassem.
[...]
E o povo, enquanto isso, dizia: — “Foi Deus quem mandou esse homem no
jumento, por mór de salvar as famílias da gente! ... "E a turba começou a querer
desfeitear o cadáver de seu Joãozinho Bem-Bem [...]
[...]
Nhô Augusto falou, enérgico:
— Para com essa matinada, cambada de gente herege! ... E depois enterrem
bem direitinho o corpo, com muito respeito e em chão sagrado, que esse aí é o
meu parente seu Joãozinho Bem-Bem!
E o velho choroso exclamava:
— Traz meus filhos, para agradecerem a ele, para beijarem os pés dele! ... Não deixem
este santo morrer assim... P’ra que foi que foram inventar arma de fogo, meu Deus?! ...
Mas Nhô Augusto tinha o rosto radiante, e falou:
— Perguntem quem é aí que algum dia já ouviu falar no nome de Nhô Augusto Esteves, das Pindaíbas!
— Virgem Santa! Eu logo vi que só podia ser você, meu primo Nhô Augusto...
Era o João Lomba, conhecido velho e meio parente. Nhô Augusto riu:
— E hein, hein João? !
— P’ra ver...
Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos
lábios lambuzados de sangue, e de seu rosto subia um sagaz contentamento.
Dai, mais, olhou, procurando João Lomba, e disse, agora sussurrado, sumido:
— Põe a benção na minha filha... seja lá onde for que ela esteja... E, Dionóra...
Fala com a Dionóra que está tudo em ordem!
Depois, morreu.
(João Guimarães Rosa. Sagarana. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1984. p.379- 386.)
1. Ao reencontrar Nhô Augusto, o jagunço Joãozinho BemBem o convida, pela segunda
vez, para integrar o bando e lhe oferece as armas do finado Juruminho.
a. Nesse contexto, que conflito o protagonista vivencia? Justifique sua resposta com
trechos do texto.
b. Tendo em vista as fases de vida de Nhô Augusto, levante hipóteses: Por que ele recusa o convite de Joãozinho BemBem?
2. No universo sertanejo do conto em estudo, não há lugar para as leis e a justiça formais; nesse espaço, os jagunços são regidos por uma moral e por determinados códigos de conduta próprios.
a. Na morte de Juruminho, que código de conduta foi desobedecido pelo homem que
o assassinou? Diante de tal desobediência, qual é a “regra” a ser cumprida?
b. De acordo com Joãozinho BemBem, qual é a importância de se cumprir essa regra?
c. Tendo em vista esse contexto moral e as atitudes de Joãozinho BemBem, responda: Como se caracteriza essa personagem? Justifique sua resposta com elementos
do texto.
abancar-se: sentar-se.
arranchar-se: hospedarse, reunir-se.
atroar: fazer grande
estrondo.
caninana: serpente não
venenosa.
congonha: folhas
geralmente utilizadas em
substituição às do mate.
contrição: prece em que o
cristão pede perdão pelos
pecados.
cordoveias: expressão
popular que significa veias
e tendões do pescoço
quando salientes.
empalhar: expressão
popular que significa
atrapalhar.
hirto: em posição reta,
empertigado.
lapiana: faca de ponta
(regionalismo).
maracajá: jaguatirica
(regionalismo).
sebaça: roubo
(regionalismo).
selim: sela para montar.
winchester: carabina
americana de repetição.
Ele sente “a maior das tentações”, pois fica dividido entre sua índole violenta (“[...] bateu a mão na winchester, do jeito que
um gato poria a pata num passarinho”) e seu lado penitente (“proferindo entre dentes o creio em deus padre”).
Ele recusa o convite para não comprometer seu
plano de salvação de sua alma.
2. a) O código de não atraiçoar o inimigo pelas costas. Como revide, diante
do sumiço do assassino, a
“regra” é se vingar na família, tirando a vida de um
dos irmãos e violentando
as irmãs.
Professor: Comente com
os alunos que, nesse contexto, a morte se paga
com a morte, numa clara
referência à antiga Lei de
Talião (olho por olho, dente
por dente).
O cumprimento da regra de vingança garante a obediência ao chefe do bando.
É um jagunço poderoso (“dono do choro dos outros”) que segue a moral
e o código de conduta dos jagunços, o que o caracteriza como um líder
respeitado por todos, inclusive por Augusto Matraga, mas, também, como
um homem opressor e temido onde quer que passe.
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LITERATURA
Com o estudo dos textos neste capítulo, você viu que:
• Clarice Lispector e Guimarães Rosa, devido ao trabalho inovador com a linguagem, promoveram uma renovação na prosa ficcional brasileira;
• a obra de Clarice Lispector se caracteriza por ser intimista e psicológica; há um predomínio de protagonistas mulheres, porém a autora extrapola o universo feminino, abordando temas essencialmente universais,
como a solidão, o esvaziamento das relações familiares, o amor, a angústia e a velhice;
• a obra de Guimarães Rosa, além de transpor os limites
do regional e, assim, alcançar uma dimensão universal, também apresenta uma visão global da existência,
fundindo, em uma única realidade, a natureza, o divino
e o demoníaco, o bem e o mal, o uno e o múltiplo.
3. No conto, Nhô Augusto tem admiração e respeito por Joãozinho BemBem.
a. Por que, no conto, o protagonista se volta contra esse chefe dos jagunços?
b. Nhô Augusto tinha sido um homem violento que, depois, se tornou penitente.
Como essas duas faces antagônicas e conflitantes da personagem se manifestam
no texto em estudo?
c. Na luta contra os jagunços, Nhô Augusto exclama: “Ô gostosura de fim de mundo!...”. Com base na trajetória de vida dessa personagem, explique o sentido dessa
afirmação no contexto em que ela está inserida.
4. Em suas obras, Guimarães Rosa insere determinados elementos simbólicos que remetem à mística e à religiosidade. Como esse traço de sua obra se apresenta no texto
em estudo? Justifique sua resposta com elementos do texto.
5. A obra de Guimarães Rosa apresenta uma visão global da existência, fundindo, em uma
única realidade, elementos como o divino e o demoníaco, o bem e o mal. Conclua: Que
elemento presente no texto em estudo evidencia esse traço da obra roseana?
6. Um dos traços inovadores da prosa de Guimarães Rosa foi o tratamento dado à linguagem. Identifique no texto em estudo:
a. traços de oralidade na fala do narrador e das personagens;
b. com que finalidade é feita a junção de várias palavras na expressão “Nomopadrofilhospritossantamêin”;
c. exemplos de estruturação sintática típica da fala do homem sertanejo.
3. a) Porque Joãozinho Bem-Bem fere os princípios de
Nhô Augusto, que, voltado para a religiosidade e para
o bem, não aceita a falta de clemência do chefe dos
jagunços para com a família inocente do velho, que
clamava por piedade “em nome de Nosso Senhor e da
Virgem Maria”.
Nhô Augusto explode em violência contra os jagunços para defender a família inocente do
assassino, unindo, portanto, suas duas faces para fazer o bem.
Nhô Augusto sente muita satisfação ao dar vazão à sua violência – que até então vinha
reprimindo – para defender inocentes e, ao mesmo tempo, salvar sua própria alma.
4. Nhô Augusto chega
de jumento ao arraial do
Rala-Coco e sacrifica sua
vida para salvar pessoas
inocentes; tais elementos
remetem, simbolicamente,
à figura religiosa de Jesus
Cristo (“Foi Deus quem
mandou esse homem no
jumento, por mór de salvar
as famílias da gente [...]”).
5. A violência que, no texto, é um instrumento de
redenção do protagonista.
Professor: Comente com
os alunos que tal fato confirma o lema do protagonista: “P’rá o céu eu vou,
nem que seja a porrete!”.
6. a) Entre várias possibilidades: Na fala do narrador: “E garrou a gritar
as palavras feias todas”,
“mas puxava forte respiração soprosa”; na fala
das personagens: “Estou
no quase, mano velho...
Morro, mas morro na faca
do homem mais maneiro
de junta [...]”, “por mór de
salvar as famílias da gente”, “Mas tem que passar
primeiro por riba de eu defunto...”; “Posso até livrar
de sebaça”.
Para expressar a rapidez com que essa expressão foi falada pelo protagonista,
instantes antes de iniciar o duelo com os jagunços.
“Estou não”; “Lhe atender não posso”; “eu até hoje nunca que ouvi”.
Cangaceiro Ponto Fino
(1973), de Aldemir Martins.
REGISTRE
NO CADERNO
Coleção particular
233 A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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FOCO NO TEXTO
Leia o cartum a seguir.
Análise linguística: implícitos e
intertextualidade
LÍNGUA E LINGUAGEM
1. Observe a parte não verbal do cartum.
a. O que cada um dos três pássaros está fazendo?
b. O que o olhar do crocodilo expressa?
2. Agora leia a fala do pássaro e levante hipóteses:
a. O começo de sua fala é uma resposta dada a qual fala anterior, implícita no contexto do cartum? De quem foi essa fala?
b. O receio desse pássaro é de que aconteça o quê?
c. O olhar do crocodilo é consequência de qual ação anterior que ele praticou?
3. Leia o boxe “O crocodilo e o pássaropalito” e responda:
a. Qual é o “livro sobre os animais” a que o terceiro pássaro faz referência?
b. Por que ele julga importante que o crocodilo tenha lido esse livro?
O 1º está ciscando no dente do crocodilo e o 2º
está virado para o 3º, que olha para cima com
uma expressão preocupada e fala alguma coisa.
Tédio, cansaço, preguiça.
Entre outras possibilidades, algo como: “Pode vir comer com a gente,
não tem nenhum perigo”, dita por um dos outros passarinhos.
De que o crocodilo os devore.
Provavelmente ele tem esse olhar porque acabou de se alimentar, está com o estômago cheio e prestes a dormir.
Um livro de biologia ou
uma enciclopédia.
Para saber que a relação entre eles é cooperativa, isto é, se o crocodilo não comer o pássaro, nenhum sai prejudicado e ambos se beneficiam.
(Disponível em: http://www.graphiqbrasil.com/tirasclassicas/animalcrackers.html. Acesso em: 18/3/2016.)
O crocodilo e o pássaro-palito
No estudo dos tipos de relações dos seres, a biologia chama a
atenção para a protocooperação existente entre algumas espécies,
na qual há benefícios para todos os seres envolvidos, embora eles não
dependam um do outro para sobreviver. É esse o caso do crocodilo e
do pássaro-palito: o pássaro se alimenta de parasitas e restos de comida que estão na boca do crocodilo e, como consequência, contribui
para a higiene bucal de seu companheiro.
4. O humor do cartum é construído com base em uma quebra de expectativa trazida
pela fala do pássaro.
a. Qual expectativa é quebrada?
b. Uma pessoa que não conhece a relação ecológica existente entre crocodilos e pássaros é capaz de compreender o cartum em sua totalidade? Justifique sua resposta.
A de que as relações entre animais irracionais são predeterminadas, não
envolvendo negociação ou raciocínio científico que dê base a elas.
Não, pois não compreenderá a qual “livro” o pássaro faz referência, nem entenderá o
que os pássaros fazem na boca do crocodilo sem que ele os devore.
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234 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
REFLEXÕES SOBRE A lÍNGUA
Você viu, no estudo anterior, que um texto pode estabelecer uma relação
direta com outro texto para construir seu sentido. A essa relação dáse o
nome de intertextualidade.
Intertextualidade são as relações, menos ou mais
explícitas, entre um texto e outros textos produzidos
anteriormente a ele.
Em princípio, a intertextualidade é uma característica de todos os textos,
uma vez que qualquer atividade de linguagem tem como base textos com
os quais seus produtores tiveram contato. Segundo esse ponto de vista, nós
só conseguimos compreender efetivamente um texto em suas diversas nuances se conhecemos e levamos em conta os códigos, as leis e as convenções
do gênero ao qual ele pertence e da situação de comunicação em que ele
circula. E, para tanto, precisaremos levar em conta outros textos já lidos e
produzidos, isto é, a intertextualidade, que pode variar desde uma referência explícita, como ocorre em citações, remissões, paráfrases ou paródias,
ou pode estar implícita, como visto no cartum estudado na seção anterior.
Os implícitos, por sua vez, são ideias que não estão declaradas nos textos, mas que são passíveis de serem apreendidas pelos interlocutores que
conhecem os códigos, as leis e as convenções do gênero ao qual pertence o
texto e da situação de comunicação em que ele circula.
APlIQUE O QUE APrENdEU
1. Leia as piadas a seguir.
I.
A funcionária do banco, irada, diz para o gerente:
– Eu estou me demitindo! O senhor não confia em mim!
O gerente, espantado, diz:
– Mas o que é isso? A senhora trabalha aqui há vinte anos, eu até deixo
as chaves do cofre em cima da minha mesa!
– Eu sei! – diz a funcionária, chorando. – Mas nenhuma delas funciona!
II.
Um homem com ar de intelectual entra em uma biblioteca e se dirige
à atendente.
Cheio de si, pergunta:
– Desculpe-me! Poderia me dizer onde se encontra o livro Homem, o ser
mais perfeito da Terra?
A atendente olha para o visitante e responde com firmeza:
– Sinto muito, senhor, mas aqui não temos livros de ficção científica!
III.
O funcionário fala sério para seu chefe:
– Seguinte, patrão, me dá um aumento, pois tem três empresas correndo atrás de mim!
– É mesmo? Quais?
– A de água, a de luz e a do telefone.
(Piadas adaptadas do site http://www.piadas.com.br/. Acesso em: 20/3/2016.)
A paródia
A paródia é um modo particular de se
estabelecer uma relação intertextual, uma
vez que paródias se apropriam das ideias
do texto original, em geral para subvertê-lo ou mesmo satirizá-lo. Esse recurso
pode ser utilizado por meio da exploração
do estilo, da estrutura ou do tema do texto
no qual a paródia se baseia.
A literatura está repleta de exemplos
de paródias. Um dos contos da obra Sagarana, de Guimarães Rosa, autor estudado por você na seção Literatura deste capítulo, é considerado por alguns
estudiosos uma paródia. Trata-se do
conto “O marido pródigo”, que, desde
seu título, passando pelo nome da personagem Lalino Salãthiel, entre outras
semelhanças, estabelece relação intertextual com a parábola bíblica “O filho
pródigo”, tomando-a como referência
para subvertê-la com a construção de
novos sentidos.
Editora José Olympio
Andressa Honório
235 A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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Para construir humor, as três piadas lidas exploram informações não explicitadas, quebrando as expectativas dos leitores. Identifique o trecho de cada piada
no qual há um implícito e explique qual é a informação implícita que precisa necessariamente ser preenchida pelos interlocutores para que o efeito de humor
se construa.
Leia os anúncios a seguir e responda às questões de 2 a 5.
Em I, o trecho “Mas nenhuma delas funciona!” permite pressupor que a funcionária já tentou abrir o cofre; em II, o trecho “livros de ficção científica”, pois sugere que a ideia de o homem
ser o mais perfeito da Terra está fora da realidade; em III, o trecho “correndo atrás de mim”, que inicialmente precisa ser compreendido como empresas interessadas em contratá-lo.
2. Relacione o texto central dos anúncios a seu logotipo.
a. Quem é o anunciante? Qual é a sua área de atuação?
b. Qual é o slogan da campanha, presente nas três peças?
3. Para construir seu sentido com certo humor, os anúncios exploram relações intertextuais, especialmente entre os seus produtos e as relações sociais e familiares.
a. Quem os legumes e as frutas representam em cada uma das peças? Justifique sua
resposta com base nas imagens.
b. Como estão as expressões faciais de cada uma das seis personagens dos anúncios?
c. Identifique, nas três falas, os termos que criam o efeito de humor e justifique sua
resposta apontando qual estratégia é utilizada em cada peça.
4. O anúncio também explora implícitos sobre as relações familiares. Identifique quais
implícitos sobre as relações familiares permeiam as três peças em estudo.
5. Com base em suas respostas às questões anteriores, conclua:
a. Qual é especificamente o público-alvo do anúncio?
b. Qual imagem do anunciante o slogan, os desenhos e as falas constroem, tendo em
vista os implícitos e as relações intertextuais exploradas?
6. Você viu no capítulo anterior que, para produzir uma boa redação em situações de
avaliação, como é o caso do Enem, é interessante se apropriar de informações dos
textos motivadores e explorá-las em seu próprio texto. Temos, nesse caso, um claro
exemplo de intertextualidade. Leia os trechos a seguir, adaptados de redações reais,
considerando que são introduções de textos dissertativo-argumentativos feitos com
base na proposta de redação do Enem de 2012, também lida por você no capítulo anterior. Se julgar importante, volte à página 216 e releia a proposta.
A rede de supermercados Hortifruti, especializada na
comercialização de frutas, legumes e verduras.
“É de família”.
Pais e filhos. Os primeiros, pelo bigode e os rolinhos no cabelo, que remetem a pessoas
mais velhas, e os filhos, pela mochila nas costas (2º e 3º quadrinhos).
Na primeira, respectivamente: zangado e envergonhado; na segunda, preocupada e aborrecido; na terceira, aflita e solidário.
3. c) Na 1ª e na 3ª, as expressões os dentes e tô frita
são ambíguas. A primeira se
refere tanto ao dente de alho
quanto ao suposto dente do
filho, e a segunda, tanto a
uma maneira de se preparar
a batata na cozinha quanto à
situação de estar em apuros.
Na segunda, o humor é construído pela oposição entre as
palavras casaco e casca.
O de que os pais têm uma função de regular o comportamento dos filhos,
cobrando deles as ações que julgam serem as mais adequadas.
Pais e mães preocupados com a boa
alimentação da família.
A imagem de que a rede de supermercados anunciante sabe bem o que é a família e como são as
relações familiares, passando a ideia de que ela faz parte do dia a dia das famílias.
Fotografias: MP Publicidade/www.mppublicidade.com.br
REGISTRE
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(Disponível em: www.hortifruti.com.br/comunicacao/campanhas/e-de-familia/. Acesso em: 29/6/2017.)
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UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
I. “O fluxo mundial de pessoas sempre foi considerado importante para se entender a dinâmica econômica e social do globo. As últimas mudanças na economia e o novo espaço que o Brasil tem conquistado no cenário internacional vêm
atraindo trabalhadores e turistas, além de gerarem movimentos migratórios
cada vez mais intensos para o País. Tal situação mostra que chegou a vez de os
brasileiros, que sempre criticaram o tratamento dado pela Europa aos imigrantes, lidarem com a mesma questão.”
II. “O Brasil, no século XXI, tem tido certo destaque no cenário mundial por se mostrar uma nova área de atração populacional. O interesse global pela residência
no país é resultado de conquistas nacionais benéficas para os habitantes que
aqui vivem. Tal como diz o texto motivador da prova ‘Trilha da costura’, já são
mais de 3 milhões só de imigrantes bolivianos no Brasil.”
III. “A imigração vem ocorrendo de forma acentuada no Brasil desde a década de
noventa, devido a melhorias nas áreas sociais e econômicas do País. É fato que
a imigração estimula o respeito à diversidade cultural, mas ela também exige
atenção, pois, se for negligenciada, poderá gerar situações problemáticas. Os 500
haitianos são um claro exemplo desses problemas.”
(Disponível em: http://ensinomediodigital.fgv.br/resources/pdf/guia_participante_redacao_enem_2013.pdf. Acesso: 29/6/2017.)
Os três trechos lidos utilizam informações dos textos motivadores de diferentes formas. Indique, justificando suas escolhas:
a. Qual é o trecho que deixa implícitas informações importantes, tornando-se problemático para quem não conhece o texto motivador ao qual ele faz referência.
b. Qual é o trecho que faz uma referência explícita a um dos textos motivadores da
prova, tornando-se problemático por explicitar na redação a situação de produção
do exame.
c. Qual é o trecho que utiliza de forma adequada um dos textos motivadores, apropriando-se das informações e parafraseando o trecho que lhe interessa.
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia o anúncio a seguir.
a) O trecho III, que faz referência aos “500 haitianos” sem contextualizar a informação,
deixando perdido o leitor que não conhece o texto motivador.
O trecho II, que menciona o título do texto e diz que ele faz parte “da prova”,
explicitando uma informação prejudicial à dissertação.
O trecho I, que utiliza as informações do texto motivador ao qual faz referência
com naturalidade, no desenvolvimento de sua tese.
AlmapBBDO
REGISTRE
NO CADERNO
(Disponível em: http://flaviogomes.
grandepremio.uol.com.br/2013/01/anothercomment-42. Acesso em: 30/6/2017.)
237
A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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1. O anúncio é construído com base em um implícito que precisa ser compreendido por
seus interlocutores para que ele faça sentido. Observe a parte não verbal do texto e
levante hipóteses:
a. Onde o carro está?
b. Por que a imagem ao fundo está embaçada?
2. Releia o enunciado central.
a. Levante hipóteses: Por que “agora” o fusca anda na faixa da esquerda? Onde ele
andava anteriormente e por quê?
b. Qual informação está implícita nesse trecho?
c. Relacione o enunciado central com a orientação que está na parte inferior do anúncio, à esquerda.
3. Releia o enunciado da parte inferior, à direita, e identifique o efeito de sentido que é
produzido pelo anúncio ao se referir ao fusca como “o carro”.
Leia os cartazes a seguir, que circularam pela Internet e fazem parte de uma campanha da Controladoria Geral da União (CGU).
Em uma rodovia.
Porque ele está andando em alta velocidade.
Porque ele está com um motor melhor, mais potente, o que permite atingir velocidades maiores. Antes
ele andava na faixa da direita, pois seu motor era antigo e todos os outros carros o ultrapassavam.
A de que, nas rodovias, os carros com velocidade mais baixa devem andar na
faixa da direita, a fim de deixar os carros com velocidades mais altas passarem.
Por sugerir no enunciado principal que o fusca permite ao seu dono correr mais nas estradas, o anúncio chama a atenção
para a importância de respeitar os limites de velocidade, para não incentivar em seus leitores a prática de uma direção
irresponsável e perigosa.
Ao utilizar o artigo definido o, o anúncio chama a atenção para o fusca, como se ele fosse o melhor ou o único carro “genuíno” do mercado.
4. Levante hipóteses:
a. Por que o enunciado central dos cartazes está entre aspas?
b. De qual discurso, comum na sociedade, esses enunciados fazem parte?
c. Qual é a função dessas frases no interior desse discurso?
5. Identifique as palavras ou as expressões que retomam essas frases:
a. no enunciado em letras brancas e maiúsculas do cartaz;
b. no enunciado em letras brancas na parte de baixo do cartaz;
c. no logotipo da campanha.
Porque sugere a reprodução de uma fala de alguém.
4. b) Fazem parte do discurso do “jeitinho” brasileiro, de pessoas que sempre querem obter vantagens em situações diversas da vida social.
Elas são utilizadas como argumentos para justificar uma atitude ilícita.
desculpa
justificativas
pequenas corrupções
(Disponíveis em: http://www.semprefamilia.com.br/cgu-faz-campanha-contra-corrupcao-em-atitudes-cotidianas. Acesso em: 22/3/2016.)
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Fotografias: Controladoria Geral da União
Controladoria Geral da União
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6. Leia as frases a seguir e, seguindo a mesma ideia analisada na questão anterior, identifique, no seu caderno, duas frases que também fizeram parte dessa campanha.
I. “Não deseje ao próximo o que não
quer para você”
II. “Tem coisa muito pior”
III. “Somos todos seres humanos”
IV. “Ninguém está vendo”
V. “As aparências enganam”
7. Com base em suas respostas às questões anteriores, conclua: Qual é a ideia que costuma permear as ações de alguns cidadãos e que também está implícita na campanha em estudo?
X
X
A ideia de que sempre haverá uma desculpa que pode ser usada quando se tem intenção de tomar
uma atitude ilegal, embora isso não justifique de fato o erro cometido por quem infringe a lei.
A dissertação: o contexto de avaliação
PRODUÇÃO DE TEXTO
Em capítulos anteriores, você viu e analisou redações que receberam nota máxima
no Enem de 2012, além de estratégias e tópicos importantes do estudo da língua a serem
considerados na elaboração de textos dissertativoargumentativos.
Neste capítulo, vamos examinar trechos do Guia do participante, publicado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), a fim de que você conheça os critérios adotados pelos
corretores que lerão o seu texto da prova do Enem. Muitos desses critérios são universais na
correção de textos dissertativos, isto é, são utilizados pela maioria das instituições que, em
processos seletivos, avaliam candidatos por meio de um texto dissertativoargumentativo.
FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, um trecho do Guia do participante – A redação no Enem.
A prova de redação exigirá de você a produção de um texto em prosa,
do tipo dissertativo-argumentativo, sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política. Os aspectos a serem avaliados relacionam-se às
“competências” que devem ter sido desenvolvidas durante os anos de escolaridade. Nessa redação, você deverá defender uma tese, uma opinião a
respeito do tema proposto, apoiada em argumentos consistentes estruturados de forma coerente e coesa, de modo a formar uma unidade textual.
Seu texto deverá ser redigido de acordo com a modalidade escrita formal
da Língua Portuguesa. Por fim, você deverá elaborar uma proposta de intervenção social para o problema apresentado no desenvolvimento do
texto que respeite os direitos humanos.
TEMA
TESE
ARGUMENTOS
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Segundo o guia, o desempenho do estudante é avaliado de acordo com os critérios
apresentados no quadro a seguir.
239PRODUÇÃO DE TEXTO
A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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Competências avaliadas na redação do Enem
Competência 1: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua
Portuguesa.
Competência 2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias
áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.
Competência 3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos,
opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Competência 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
Competência 5: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
O guia esclarece também algumas das dúvidas mais comuns entre os participantes. Veja:
➣ Quais as razões para se atribuir nota 0 (zero) a uma redação? A redação
receberá nota 0 (zero) se apresentar uma das características a seguir:
• fuga total ao tema;
• não obediência à estrutura dissertativo-argumentativa;
• texto com até 7 (sete) linhas;
• impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação ou parte do
texto deliberadamente desconectada do tema proposto;
• desrespeito aos direitos humanos; e
• folha de redação em branco, mesmo que haja texto escrito na folha de rascunho.
IMPORTANTE! Para efeito de avaliação e de contagem do mínimo de linhas, a cópia parcial dos textos motivadores ou de questões objetivas do caderno de prova
acarretará a desconsideração do número de linhas copiadas, valendo somente as
que foram produzidas pelo autor do texto.
IMPORTANTE! Procure escrever sua redação com letra legível, para evitar dúvidas
no momento da avaliação. Redação com letra ilegível não poderá ser avaliada.
IMPORTANTE! O título é um elemento opcional na produção da sua redação e
será considerado como linha escrita.
1. No contexto da redação dissertativoargumentativa, tese é uma afirmação sobre determinado tema defendida por meio de argumentos.
a. Entre os trechos de redações reais apresentados a seguir, aponte em seu caderno o
que não constitui uma tese.
I. “o Brasil enfrenta um grande desafio social e econômico ao receber tantos imigrantes na atualidade, e o governo deve interferir para integrar esses novos
cidadãos assegurando emprego, qualificação e cursos de Língua Portuguesa,
bem como garantindo direitos trabalhistas e habitação”
II. “o Brasil vive um excelente momento econômico e o fluxo imigratório decorrente desse fato tende a ser benéfico economicamente, desde que o país saiba
aproveitar a qualificação dos imigrantes em seu mercado de trabalho, transformando o que poderia ser problema em uma solução para outras questões”
240 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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III. “o Brasil precisa elaborar uma política de recepção desses imigrantes com regularização, integração ao mercado de trabalho, implantação de órgãos de recepção, oferecimento de cursos de Língua Portuguesa e de qualificação profissional. Essa recepção aos imigrantes proporcionaria maior arrecadação de impostos e poderia suprir áreas em que há falta de mão de obra”
IV. “o Brasil vive um excelente momento econômico, destacando-se no panorama
sul-americano, e essa estabilidade econômica atrai muitos imigrantes em busca de melhores condições de vida”
b. O trecho que não constitui tese corresponde a um tema, a um argumento ou a
uma proposta de intervenção?
2. Uma boa maneira de começar a produzir uma redação em contextos de avaliação é
esquematizar as ideias que serão desenvolvidas no texto. Releia a proposta de redação do Enem 2012, na página 216, e, considerando que você vai produzir o texto solicitado, faça um esquema para a sua redação:
a. Identifique o tema da proposta.
b. Elabore uma tese relativa ao tema.
c. Estabeleça argumentos que possam ser utilizados para defender a tese que você elaborou, bem como dados e fatos que possam servir de base para esses argumentos.
d. Elabore uma proposta de intervenção diretamente relacionada à tese e aos argumentos definidos por você.
e. Defina elementos e estratégias que você utilizará na conclusão do seu texto.
3. A fim de compreender bem o que é avaliado pelos corretores do Enem, relacione as
colunas a seguir, em seu caderno. Para isso, releia o quadro de competências do Guia
do participante e leia o detalhamento (à direita) de cada competência.
Competência O que é avaliado
• Competência 1
A. Uso de estratégias como comparação, causaconsequência, exemplificação, detalhamento, voz
de autoridade, citação, entre outras, para a construção dos parágrafos; construção de parágrafos
que tenham mais de um período, relacionados entre si; utilização de pronomes, elipses,
sinônimos, etc, para fazer referência a termos já apresentados e que serão retomados ao longo
do texto; uso adequado de operadores argumentativos.
• Competência 2
B. Elaboração de uma proposta de intervenção na vida social que seja objetiva, exequível e pensada
especificamente para a discussão desenvolvida no texto, com os meios para a sua realização
devidamente descritos, respeitando os direitos humanos. Uma estratégia é procurar responder
às seguintes perguntas: O que se pode apresentar como proposta de intervenção na vida social?
Como viabilizar essa proposta?
• Competência 3
C. Leitura atenta da proposta, especialmente da proposição, que em geral vem em destaque;
utilização de informações dos textos motivadores, mas sem cópia e extrapolando as ideias
trazidas por eles com informações do próprio repertório; construção de uma tese que esteja
diretamente relacionada ao tema, dentro da abordagem proposta na prova, sem perda do foco.
• Competência 4
D. Certificação de que as informações selecionadas de fato fundamentam o ponto de vista
defendido no texto; estabelecimento de relações entre as partes do texto, por meio de retomada
e/ou desenvolvimento, em um parágrafo, de uma ideia iniciada no anterior, sem, no entanto,
repetila, acrescentando informações novas; preocupação em selecionar ideias e construir
argumentos que tomam por base a realidade abordada, considerando todos os fatores
relacionados ao tema.
• Competência 5
E. Ausência de marcas de oralidade; utilização de registro formal; respeito às regras vigentes na
norma padrão em relação a: concordâncias e regências nominal e verbal, pontuação, colocação
dos pronomes, ortografia.
X
A uma proposta de intervenção.
Professor: As respostas dos itens dessa questão serão retomadas na seção Hora de escrever e deverão servir de base para uma das propostas de produção de texto do capítulo.
Portanto, excluí da a identificação do tema, as outras respostas são individuais e comporO movimento imigratório para o Brasil no século XXI. tam inúmeras variações.
Resposta individual.
Resposta individual.
Resposta individual.
Resposta individual.
Professor: A proposta de intervenção não precisa constar necessariamente na conclusão. Os alunos podem optar por desenvolvê-la, por exemplo, ao
longo do texto e, no final, fazer um fechamento da discussão por meio de um resumo do que foi discutido.
Competência 4
Competência 5
Competência 3
Competência 2
Competência 1
241Produção de texto
A geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Análise linguística: implícitos e intertextualidade. A dissertação (III) CAPÍTULO 3
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4. O Guia do participante esclarece também os motivos para a atribuição de nota zero a
uma redação. Considere as seguintes situações hipotéticas:
I. Texto inteiramente construído por meio de cópia de trechos de textos motivadores e de trechos das questões da prova
II. Texto com letra difícil de ler
III. Texto narrativo
IV. Texto sem título
V. Texto com paráfrases de trechos dos textos motivadores
VI. Texto com tema diferente do proposto na prova
VII. Texto sem proposta de intervenção
Com base nas razões apontadas no guia para a atribuição de nota zero e nos critérios
gerais de correção da prova:
a. identifique quais dos textos considerados nas situaçõs hipotéticas teriam nota zero;
b. levante hipóteses: Os demais textos seriam prejudicados na avaliação? Justifique
sua resposta.
HORA DE EsCrEVEr
Seguem duas propostas de produção de texto.
1. Produza uma dissertação de acordo com a proposta do Enem 2012,
reproduzida na página 216. Ao escrever, utilize o esquema que você
elaborou na questão 2 da seção Foco no texto.
2. Retome as redações que você produziu nos capítulos 1 e 2 desta
unidade e reescrevaas, procurando tornálas mais adequadas aos
critérios de avaliação do Enem, especialmente às competências estudadas neste capítulo.
ANTEs dE EsCrEVEr
Planeje sua dissertação, seguindo estas orientações:
• Retome as orientações dadas nas páginas 200 e 220;
• Procure empregar adequadamente os tópicos de análise linguística e produção de
texto estudados nos capítulos desta unidade, em especial: progressão referencial; estrutura do texto dissertativoargumentativo; relevância informativa e senso comum;
aproveitamento dos textos motivadores na construção de argumentos; estratégias de
fundamentação dos argumentos; recursos de elaboração de introdução e conclusão;
implícitos e intertextualidade.
• Faça um planejamento de seu texto, estabelecendo o tema, a tese, os argumentos, as
estratégias argumentativas que pretende utilizar e a proposta de intervenção.
• Procure atender, na construção do texto, aos critérios de avaliação do Enem, entre eles
o das competências.
ANTEs dE PAssAr A lImPO
Antes de dar sua dissertação por finalizada, observe se seu texto atende aos itens
elencados nas páginas 200 e 220 e também:
• se segue as diretrizes definidas no planejamento;
• se está de acordo com as competências consideradas nos critérios de avaliação do Enem.
I, III, VI.
II: a dificuldade na leitura em razão da letra poderia gerar dúvidas ou interpretação equivocada por parte do
avaliador; IV e V: não haveria nenhum prejuízo; VII: o candidato teria nota zero em relação à competência 5 e
as demais seriam consideradas normalmente.
Como você já sabe, no
final da unidade será realizado um simulado com provas de redação do Exame
Nacional do Ensino Médio.
Neste capítulo, como
treinamento para o simulado, você produzirá um
texto dissertativo-argumentativo e reescreverá
redações que produziu anteriormente.
242 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
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VEsTIbUlAr Em CONTEXTO
Ao longo desta unidade, você estudou e produziu dissertações relacionadas ao Enem. Conheça,
agora, uma proposta comentada da Fuvest (SP).
POR DENTRO DO ENEm E DO VEsTIbUlAr
REDAÇÃO
Na verdade, durante a maior parte do século XX, os estádios eram lugares onde os executivos empresariais
sentavam-se lado a lado com os operários, todo mundo entrava nas mesmas filas para comprar sanduíches e
cerveja, e ricos e pobres igualmente se molhavam se chovesse. Nas últimas décadas, contudo, isso está mudando.
O advento de camarotes especiais, em geral, acima do campo, separam os abastados e privilegiados das pessoas
comuns nas arquibancadas mais embaixo. (…) O desaparecimento do convívio entre classes sociais diferentes, outrora vivenciado nos estádios, representa uma perda não só para os que olham de baixo para cima, mas também
para os que olham de cima para baixo.
Os estádios são um caso exemplar, mas não único. Algo semelhante vem acontecendo na sociedade americana como
um todo, assim como em outros países. Numa época de crescente desigualdade, a “camarotização” de tudo significa que
as pessoas abastadas e as de poucos recursos levam vidas cada vez mais separadas. Vivemos, trabalhamos, compramos e
nos distraímos em lugares diferentes. Nossos filhos vão a escolas diferentes. Estamos falando de uma espécie de “camarotização” da vida social. Não é bom para a democracia nem sequer é uma maneira satisfatória de levar a vida.
Democracia não quer dizer igualdade perfeita, mas de fato exige que os cidadãos compartilhem uma vida comum. O importante é que pessoas de contextos e posições sociais diferentes encontrem-se e convivam na vida
cotidiana, pois é assim que aprendemos a negociar e a respeitar as diferenças ao cuidar do bem comum.
Michael J. Sandel. Professor da Universidade Harvard. O que o dinheiro não compra. Adaptado.
Comentário do Prof. Michael J. Sandel referente à afirmação de que, no Brasil, se teria produzido uma sociedade
ainda mais segregada do que a norte-americana.
O maior erro é pensar que serviços públicos são apenas para quem não pode pagar por coisa melhor. Esse é o
início da destruição da ideia do bem comum. Parques, praças e transporte público precisam ser tão bons a ponto
de que todos queiram usá-los, até os mais ricos. Se a escola pública é boa, quem pode pagar uma particular vai
preferir que seu filho fique na pública, e assim teremos uma base política para defender a qualidade da escola
pública. Seria uma tragédia se nossos espaços públicos fossem shopping centers, algo que acontece em vários
países, não só no Brasil. Nossa identidade ali é de consumidor, não de cidadão.
Entrevista. Folha de S. Paulo, 28/04/2014. Adaptado.
[No Brasil, com o aumento da presença de classes populares em centros de compras, aeroportos, lugares turísticos etc., é crescente a tendência dos mais ricos a segregar-se em espaços exclusivos, que marquem sua distinção
e superioridade.] (…) Pode ser que o fenômeno “camarotização”, isto é, a separação física entre classes sociais, prospere para muitos outros setores. De repente, os supermercados poderão ter ala VIP, com entrada independente,
cuja acessibilidade, tacitamente, seja decidida pelo limite do cartão de crédito.
Renato de P. Pereira. www.gazetadigital.com.br, 06/05/2014. [Resumido] e adaptado.
Até os anos de 1960, a escola pública que eu conheci, embora existisse em menor número, tinha boa qualidade
e era um espaço animado de convívio de classes sociais diferentes. Aprendíamos muito, uns com os outros, sobre
nossas diferentes experiências de vida, mas, em geral, nos sentíamos pertencentes a uma só sociedade, a um mesmo país e a uma mesma cultura, que era de todos. Por isso, acreditávamos que teríamos, também, um futuro em
comum. Vejo com tristeza que hoje se estabeleceu o contrário: as escolas passaram a segregar os diferentes estratos
sociais. Acho que a perda cultural foi imensa e as consequências, para a vida social, desastrosas.
Trecho do testemunho de um professor universitário sobre a Escola Fundamental e Média em que estudou.
Os três primeiros textos aqui reproduzidos referem-se à “camarotização” da sociedade – nome dado à tendência a manter segregados os diferentes estratos sociais. Em contraponto, encontra-se também reproduzido um
testemunho, no qual se recupera a experiência de um período em que, no Brasil, a tendência era outra.
243 Por dentro do Enem e do vestibular
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Tal como explicitado na proposta, a Fuvest solicita a elaboração de um texto dissertativo, uma
estrutura semelhante à do texto do Enem, estudada ao longo desta unidade. A prova também segue um modelo parecido, com textos motivadores que abordam o tema geral e uma proposição
mais específica, que deve guiar o desenvolvimento das redações.
Nessa proposta, a Fuvest traz a proposição “Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia, além de quatro textos motivadores, com informações que os
participantes podem utilizar para elaborar sua tese e desenvolver seus argumentos.
Os dois primeiros textos fazem uma crítica à denominada “camarotização” das sociedades, incluindo a brasileira, uma vez que esse fenômeno contribuiria para que as distâncias entre as classes de uma
sociedade sejam cada vez mais ampliadas, colocando em risco a ideia de democracia. Os dois textos
mencionam exemplos de espaços públicos, nos quais tempos atrás coexistiam e confraternizavam indivíduos de origens e classes variadas. Além disso, segundo eles, hoje em dia alguns lugares passam pelo
processo de “camarotização”, ao criar espaços diferenciados para membros de classes abastadas, que
podem pagar mais caro para ter acesso a áreas privilegiadas. Nesse sentido, o último texto, que traz o
depoimento de um professor, é um claro exemplo de quem viveu essa mudança da sociedade e não a vê
com bons olhos, dadas as perdas nas áreas cultural e social citadas por ele. O terceiro texto, por sua vez,
em outro sentido, menciona a ascensão das classes populares brasileiras a determinados espaços aos
quais antes não tinham acesso, o que teria contribuído para o surgimento das áreas VIPs.
Levando em conta tais relações entre os textos, o participante poderia utilizálos para elaborar sua
tese acerca do assunto, assumindo um posicionamento claro em relação ao fenômeno descrito. Vale
lembrar que assumir um posicionamento não necessariamente implica dizer se é “certo” ou “errado”,
“bom” ou “ruim”, mas sim estabelecer um ponto de vista, uma opinião sobre o assunto, que deve ser
sempre relativizada e contraposta a ideias diferentes, a fim de se refutarem, de antemão, possíveis
contraargumentações às afirmações presentes no texto. Para tanto, poderia ser conveniente utilizar
alguns dos exemplos dos textos motivadores citados, associados a informações, dados e fatos já conhecidos do participante e que também se mostrassem relevantes para a discussão.
QUEsTõEs dO ENEm E dO VEsTIbUlAr REGISTRE
NO CADERNO
1. (ENEM)
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas
antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não
sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se
as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da
pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos?
Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é
um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que
escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas
que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio
venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da
iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde sabeTendo em conta as sugestões desses textos, além de outras informações que julgue relevantes, redija uma
dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema “Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia.
Instruções:
• A redação deve ser uma dissertação, escrita de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
• Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível. Não ultrapasse o espaço de 30 linhas da folha
de redação.
• Dê um título a sua redação.
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rei. Como que estou escrevendo na hora mesma em
que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o
começo – como a morte parece dizer sobre a vida –
porque preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada
com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da
escritora. Nesse fragmento, notase essa peculiaridade
porque o narrador
a. observa os acontecimentos que narra sob uma ótica
distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.
b. relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a
compõem.
c. revelase um sujeito que reflete sobre questões
existenciais e sobre a construção do discurso.
d. admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.
e. propõese a discutir questões de natureza filosófica
e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.
2. (ENEM)
Texto I
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 (fragmento).
Texto II
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio,
transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o
Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A
autoapresentação do personagem, na fala inicial do
X
texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se
define, menos se individualiza, pois seus traços biográficos são sempre partilhados por outros homens.
SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos.
Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento).
Com base no trecho de Morte e vida severina (Texto I)
e na análise crítica (Texto II), observase que a relação
entre o texto poético e o contexto social a que ele faz
referência aponta para um problema social expresso
literariamente pela pergunta “Como então dizer quem
fala / ora a Vossas Senhorias?“. A resposta à pergunta
expressa no poema é dada por meio da
a. descrição minuciosa dos traços biográficos do personagemnarrador.
b. construção da figura do retirante nordestino como
um homem resignado com a sua situação.
c. representação, na figura do personagemnarrador,
de outros Severinos que compartilham sua condição.
d. apresentação do personagemnarrador como uma
projeção do próprio poeta, em sua crise existencial.
e. descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulhase de ser descendente do coronel Zacarias.
3. (ENEM)
Ai, palavras, ai, palavras
que estranha potência a vossa!
Todo o sentido da vida
principia a vossa porta:
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas,
ai! Com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento).
O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro
da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no
episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no
entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem:
a. A força e a resistência humanas superam os danos
provocados pelo poder corrosivo das palavras.
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NO CADERNO
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b. As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm
seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras.
c. O significado dos nomes não expressa de forma justa
e completa a grandeza da luta do homem pela vida.
d. Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas crenças.
e. Como produto da criatividade humana, a linguagem
tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos.
4. (ENEM)
Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e
lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu
aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por
que é que você não cria galinhas-d'angola, como todo
o mundo faz? — Quero criar nada não... — me deu resposta: — Eu gosto muito de mudar... [...] Belo um dia,
ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo.
Eu dou proteção. [...] Essa não faltou também à minha
mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha
terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos
trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo
em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde
o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.
ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro:
José Olympio (fragmento).
Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas
rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras
e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destacase essa relação porque o personagemnarrador
a. relata a seu interlocutor a história de ZéZim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus
agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.
b. descreve o processo de transformação de um meeiro
— espécie de agregado — em proprietário de terra.
c. denuncia a falta de compromisso e a desocupação
dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho
da terra.
d. mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.
e. mantém o distanciamento narrativo condizente
com sua posição social, de proprietário de terras.
5. (ENEM)
Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente importante para diminuir o risco de infarto,
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mas também de problemas como morte súbita e derrame. Significa que manter uma alimentação saudável e praticar atividade física regularmente já reduz,
por si só, as chances de desenvolver vários problemas.
Além disso, é importante para o controle da pressão
arterial, dos níveis de colesterol e de glicose no sangue. Também ajuda a diminuir o estresse e a aumentar a capacidade física, fatores que, somados, reduzem
as chances de infarto. Exercitar-se, nesses casos, com
acompanhamento médico e moderação, é altamente
recomendável.
ATALIA, M. Nossa vida. Época. 23 mar. 2009.
As ideias veiculadas no texto se organizam estabelecendo relações que atuam na construção do sentido. A
esse respeito, identificase, no fragmento, que
a. a expressão “Além disso” marca uma sequenciação
de ideias.
b. o conectivo “mas também” inicia oração que exprime ideia de contraste.
c. o termo “como”, em “como morte súbita e derrame”,
introduz uma generalização.
d. o termo “Também” exprime uma justificativa.
e. o termo “fatores” retoma coesivamente “níveis de
colesterol e de glicose no sangue”.
6. (ENEM)
O Flamengo começou a partida no ataque, enquanto o Botafogo procurava fazer uma forte marcação no meio campo e tentar lançamentos para Victor Simões, isolado entre os zagueiros rubro-negros.
Mesmo com mais posse de bola, o time dirigido por
Cuca tinha grande dificuldade de chegar à área alvinegra por causa do bloqueio montado pelo Botafogo
na frente da sua área.
No entanto, na primeira chance rubro-negra,
saiu o gol. Ap—s cruzamento da direita de Ibson, a
zaga alvinegra rebateu a bola de cabeça para o meio
da área. Kléberson apareceu na jogada e cabeceou por
cima do goleiro Renan. Ronaldo Angelim apareceu
nas costas da defesa e empurrou para o fundo da rede
quase que em cima da linha: Flamengo 1 a 0.
Disponível em: http://momentodofutebol.blogspot.com (adaptado).
O texto, que narra uma parte do jogo final do Campeonato Carioca de futebol, realizado em 2009, contém
vários conectivos, sendo que
a. após é conectivo de causa, já que apresenta o motivo de a zaga alvinegra ter rebatido a bola de cabeça.
b. enquanto conecta duas opções possíveis para serem aplicadas no jogo.
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c. no entanto tem significado de tempo, porque ordena os fatos observados no jogo em ordem cronológica de ocorrência.
d. mesmo traz ideia de concessão, já que “com mais
posse de bola”, ter dificuldade não é algo naturalmente esperado.
e. por causa do indica consequência, porque as tentativas de ataque do Flamengo motivaram o Botafogo
a fazer um bloqueio.
7. (ENEM)
Disponível em: www.ccsp.com.br. Acesso em: 26 jul. 2010 (adaptado).
O anúncio publicitário está intimamente ligado ao
ideário de consumo quando sua função é vender um
produto. No texto apresentado, utilizamse elementos
linguísticos e extralinguísticos para divulgar a atração
“Noites do Terror”, de um parque de diversões. O entendimento da propaganda requer do leitor
a. identificação com o públicoalvo a que se destina o
anúncio.
b. a avaliação da imagem como uma sátira às atrações
de terror.
c. a atenção para a imagem da parte do corpo humano
selecionada aleatoriamente.
d. o reconhecimento do intertexto entre a publicidade
e um dito popular.
e. a percepção do sentido literal da expressão “noites do terror”, equivalente à expressão “noites de
terror”.
8. (ENEM)
Diferente do que o senso comum acredita, as lagartas de borboletas não possuem voracidade generalizada. Um estudo mostrou que as borboletas de
asas transparentes da família Ithomiinae, comuns
na Floresta Amazônica e na Mata Atlântica, consomem, sobretudo, plantas da família Solanaceae,
a mesma do tomate. Contudo, os ancestrais dessas
borboletas consumiam espécies vegetais da família Apocinaceae, mas a quantidade dessas plantas
parece não ter sido suficiente para garanir o suprimento alimentar dessas borboletas. Dessa forma,
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as solanáceas tornaram-se uma opção de alimento,
pois são abundantes na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica.
Cores ao vento. Genes e fósseis revelam origem e
diversidade de borboletas sul-americanas.
Revista Pesquisa FAPESP. Nº 170, 2010 (adaptado).
Nesse texto, a ideia do senso comum é confrontada
com os conhecimentos científicos, ao se entender que
as larvas das borboletas Ithomiinae encontradas atualmente na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica apresentam
a. facilidade em digerir todas as plantas desses locais.
b. interação com as plantas hospedeiras da família
Apocinaceae.
c. adaptação para se alimentar de todas as plantas
desses locais
d. voracidade indiscriminada por todas as plantas existentes nesses locais.
e. especificidade pelas plantas da família Solanaceae
existentes nesses locais.
9. (FUVEST – SP)
Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós,
mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter.
Depende do momento da vida em que o lemos, do
grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe,
um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não
passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo
autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com
outro, independente da valia de ambos.
Antonio Candido, “Dez livros para entender o Brasil”.
Teoria e debate. Ed. 45, 01/07/2000.
Constitui recurso estilístico do texto
I. a combinação da variedade culta da língua escrita,
que nele é predominante, com expressões mais comuns na língua oral;
II. a repetição de estruturas sintáticas, associada ao emprego de vocabulário corrente, com feição didática;
III. o emprego dominante do jargão científico, associado à exploração intensiva da intertextualidade.
Está correto apenas o que se indica em
a. I.
b. II.
c. I e II.
d. III.
e. I e III.
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NO CADERNO
Thinkstock/Getty Images/Rony Costa/Finephoto (adaptado)
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Simulado Enem −
A redação em exame
Como encerramento da unidade, você e seus colegas organizarão um simulado da prova
de redação do Enem, que consistirá na aplicação de provas anteriores do exame, em determinado dia e horário.
Preparação e divulgação do simulado
• Organizem-se em dois grupos, cada um dos quais ficará responsável por selecionar uma prova
de redação do Enem de anos anteriores.
• Convidem professores e funcionários da escola, ou mesmo pais de alunos, para, no dia do
simulado, auxiliarem na parte administrativa: organizar e fazer a distribuição das provas,
controlar o tempo de aplicação, recolher os textos, lacrar os envelopes e encaminhá-los aos
grupos organizadores.
• Façam uma divulgação antecipada do simulado para a comunidade da escola e convidem
outros interessados para participar.
• Elaborem uma ficha de inscrição, simplificada, a ser disponibilizada em certo(s) local(is) por um
período estipulado, para que vocês saibam antecipadamente quantas pessoas participarão do
simulado.
• Com a lista dos inscritos em mãos, dividam o número de pessoas, igualmente, entre os dois
grupos.
Organização da prova
• Cada grupo deverá selecionar uma prova do Enem de anos anteriores, sem permitir que o
outro grupo tome conhecimento de qual foi a prova escolhida.
• Organizem os participantes pela sequência dos números de inscrição, que devem constar
nas provas em vez dos nomes, a fim de que a identidade dos autores das redações não seja
conhecida no momento da correção. Rico/Arquivo da editora
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• Providenciem cópias das provas selecionadas e coloquem na primeira página de cada uma
o número de inscrição de cada participante, garantindo que cada pessoa inscrita terá a
sua prova.
• Elaborem uma lista de presença (que pode ser por ordem alfabética, por ordem de inscrição,
ou, ainda, por sala), na qual devem constar o nome do participante e o número de inscrição de
cada um e deixem-na com a pessoa que cuidará da parte administrativa.
Organização das salas
• Solicitem à direção da escola o número de salas
necessário para acomodar todos os inscritos.
• Providenciem adesivos com os números de
inscrição e, no dia anterior à realização do simulado,
colem esses números nas carteiras, em ordem, para
que cada participante tenha o seu lugar definido.
• Afixem na porta de cada sala uma folha
com a sequência dos números de inscrição
correspondentes aos participantes que farão
a prova ali, para que possam se localizar mais
facilmente.
• Orientem as pessoas responsáveis pelas salas para
que, após distribuir as provas, passem de carteira
em carteira solicitando aos participantes que
assinem a lista de presença e conferindo o número
de inscrição e a identidade de cada um.
Correção dos textos do simulado
• Reúnam os envelopes com as redações, recolhendoos com a pessoa que ficou responsável pela
aplicação da prova que cada grupo propôs.
• Organizem-se em grupos de três alunos para a
avaliação das redações. Cada trio deve avaliar
no mínimo três redações, de modo que cada um
atribua nota a pelo menos uma redação. Vocês
podem, nesse grupo de três, discutir alguma dúvida
que tenham em relação aos critérios de avaliação
estudados.
• Combinem com o professor uma maneira pela
qual ele coordene os trios no trabalho de correção
das redações. Ele poderá, por exemplo, fazer um
“treinamento” dos trios, tomando por base o critério
das competências do Enem, estudado por vocês
no capítulo 3 desta unidade. Ele poderá, também,
dar apoio aos grupos durante a correção, tirando
dúvidas pontuais sobre alguns textos.
• Depois de corrigidos os textos, publiquem as notas em um mural da escola, divulgando-as por
número de inscrição, sem revelar a identidade dos participantes.
Professor: O objetivo deste projeto é levar os alunos a realizar um exercício de leitura crítica e de análise dos textos produzidos em sala, a fim de que ampliem
seus referenciais acerca do tema e do gênero. Para realizar o treinamento da correção com os alunos, consulte o Guia do participante, relativo à redação no
Enem, elaborado pelo Inep e disponível no site do instituto. Além das orientações vistas nesta unidade, constam na publicação do Inep as faixas de nota e
a descrição do que se espera em cada uma delas.
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Fernando Favoretto / Criar Imagem
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UNIDADE 4 Caminhos
Diálogo (1965), de José Roberto Aguilar, pintor, escultor, performer e artista multimídia brasileiro, considerado o pioneiro na utilização do
vídeo como línguagem artística no Brasil.
Só há um caminho para tornar-se efetivamente competente no que se refere aos diversos aspectos envolvidos no domínio da linguagem: trabalhar diariamente. O segredo é ler e escrever todos os dias, além de
organizar-se de forma a eliminar, ou controlar ao máximo, determinadas características de nossa linguagem,
pessoal ou de grupo, que são consideradas pela escola e pela sociedade como problemas a corrigir.
(Sírio Possenti. Quest›es de linguagem Ð Passeio gramatical dirigido. São Paulo: Parábola, 2011. p. 106.)
Coleção do artista, São Paulo, Brasil
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FEIRA DE PROFISSÕES
Participe, com os colegas, da realização de uma
feira de profissões. Nela, vocês apresentarão os
textos produzidos na unidade − verbetes, projetos
de pesquisa, cartas de apresentação e entrevistas
de emprego −, ouvirão palestras de profissionais
de diferentes áreas a respeito do trabalho que
exercem e poderão se informar sobre as novas
carreiras do atual mercado de trabalho.
Augusto de Campos
A moral da história é que não existem
propriamente textos errados e textos corretos (pelo menos, nem sempre), mas, fundamentalmente, textos mais ou menos
adequados, ou mesmo inadequados a determinadas situações.
(Sírio Possenti. Por que (não) ensinar gramática.
Campinas, SP: Mercado de Letras, Associação
de Leitura do Brasil, 1996. p. 94.)
Uma das peças da série Bichos
(1960-4), de Lygia Clark, uma das
principais representantes da arte
contemporânea brasileira.
(Augusto de Campos. Despoesia.
São Paulo: Perspectiva, 1994. p. 85.)
Coleção Nemirovsky, São Paulo, SP
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A literatura brasileira contemporânea
Análise linguística: as diferentes
formas de dizer
Verbete e projeto de pesquisa
A literatura brasileira
contemporânea
1
LITERATURA
CAPÍTULO
Definir quando começa a literatura brasileira contemporânea, ou seja, a literatura do nosso tempo, não é tarefa fácil. Evidentemente, nela não se incluem apenas autores vivos, mas
também autores cujas obras ainda são muito lidas e têm grande relação com o nosso tempo.
Segundo alguns especialistas, o início da literatura contemporânea se situa nas
décadas de 1950 e 1960, pois nesse momento ocorreram manifestações artísticas que
produziram desdobramentos importantes na cultura e na literatura nas décadas subsequentes.
Composição (1999), de Luiz Sacilotto, um
dos idealizadores da pintura concreta em
São Paulo, na década de 1950.
Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP
252 UNIDADE 4 CAMINHOS
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literatura
Os anos 1950-1960 em contexto
Os anos 1950 caracterizam-se por terem sido um período democrático e desenvolvimentista, cujo
auge ocorreu no governo de Juscelino Kubitschek e com a construção de Brasília.
Em 1964, um golpe militar tirou do poder o presidente João Goulart e deu início a uma ditadura
que se estendeu até 1985.
No início do regime militar, o país ainda teve uma intensa vida cultural, com o surgimento da
Bossa Nova, o Cinema Novo, o Teatro de Arena e as vanguardas concretas.
O decreto do AI-5, em 1968, entretanto, deu início a um período de perseguições políticas,
prisões, torturas, censura e exílio de políticos, intelectuais e artistas.
O Concretismo
O primeiro movimento importante do período contemporâneo da nossa literatura é
o Concretismo, que surgiu em São Paulo, com o lançamento da revista Noigandres (1952-
62), publicada pelos irmãos Augusto e Haroldo de Campos e por Décio Pignatari. O grupo
tinha como proposta uma poesia concreta, isto é, uma poesia-objeto, sem a presença do
eu lírico, que falasse por si só, radicalizando as experiências com a linguagem-objeto, feitas por João Cabral de Melo Neto. Influenciada pelo Futurismo e pelo Cubismo, a poesia
concreta rompia com o verso linear e explorava recursos tipográficos, como tipos e tamanhos de letras, cores, texturas, sugerindo movimento e convidando o leitor para ler o texto de variadas formas. Também participaram desse grupo os poetas José Lino Grünewald,
Ronaldo Azeredo, Wladimir Dias Pinto, Mário Chamie e José Paulo Paes, entre outros.
O movimento concretista se estendeu até o final da década de 1960 e exerceu forte
influência nas artes, inclusive sobre o Tropicalismo (1967-8), movimento musical formado
por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Rogério Duprat e a banda Os Mutantes, entre
outros artistas ou grupos. Ainda hoje, vários artistas, como o poeta e compositor Arnaldo
Antunes, mantêm laços com as propostas concretistas.
Cena da peça Roda
viva, de Chico Buarque,
encenada em 1968 com
direção de José Celso
Martinez Correa. A
peça virou símbolo da
resistência à ditadura
depois que um grupo de
mais de cem integrantes
do Comando de Caça aos
Comunistas (CCC) invadiu
o teatro Galpão, em São
Paulo, espancou artistas e
depredou o cenário.
A literatura de resistência
e a poesia marginal
Como reação à situação política vivida pelo país desde o golpe militar de 1964, artistas da música, do teatro e da literatura passaram a fazer uma arte de resistência. Entre
outros, foi o caso do escritor e compositor Chico Buarque de Holanda, do diretor teatral
José Celso Martinez Correa, do ator e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri e dos escritores Thiago de Melo e Ferreira Gullar. Todos eles tiveram problemas com a censura, alguns
chegaram a ser presos e todos viveram no exílio por alguns anos.
Nas décadas de 1970-1980, como
meio de driblar a censura e as poucas
opções editorais, surgiu um grupo
de poetas que resolveu produzir de
forma independente suas publicações, na forma de revistas, jornais,
folhetos mimeografados e pôsteres,
e vendê-las diretamente ao público
em portas de cinemas e teatros e em
happenings e shows musicais. Essa
literatura foi chamada de poesia marginal e contou com escritores como
Waly Salomão, Ulisses Tavares, Cláudio Willer, Roberto Piva, Cacaso, Chacal e Hilda Hilst, entre outros.
Acervo UH/Folhapress Acervo Iconographia
253 A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
PortuguesContemporaneo3_UN4_CAP1_250a276.indd 253 5/12/16 6:26 PM
Ferreira Gullar
Depois da morte de Drummond, em 1987, Ferreira Gullar passou a ser
considerado pela crítica como o mais importante poeta brasileiro vivo. Sua
primeira obra, Um pouco acima do chão, data de 1949.
A atuação de Gullar, entretanto, não se limita à poesia. É também um
importante crítico de arte e de literatura e um intelectual atuante.
Em 1956, juntamente com Lygia Clark e Hélio Oiticica, participou da
1» Exposição de Arte Concreta, que reuniu artistas concretistas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Alguns anos depois, afastou-se do movimento concreto e passou a fazer uma poesia social.
Gullar tem uma vasta produção literária e cultural. Entre seus livros de
poesia mais importantes, destacam-se Dentro da noite veloz (1975), Poema
sujo (1976), Muitas vozes (1999) e Em parte alguma (2010); no teatro, em parceria com Oduvaldo Vianna Filho, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come
(1966); na literatura infantil, Um gato chamado gatinho (2005).
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, dois poemas de Ferreira Gullar. O primeiro foi produzido em 1963 e integra a obra Dentro da noite veloz; o segundo faz parte da
obra Muitas vozes, publicada em 1999.
Amplie seus conhecimentos sobre as literaturas de língua portuguesa contemporâneas, pesquisando em:
LIVROS
• Leia algumas das principais obras da
literatura contemporânea, como A grande
arte, de Rubem Fonseca; O vampiro de
Curitiba, de Dalton Trevisan; O filho eterno,
de Cristovão Tezza; Dois irmãos, de Milton
Hatoum; Reprodução, de Bernardo Carvalho;
Cidade de Deus, de Paulo Lins; Quarenta
dias, de Maria Valeria Rezende; O menino
que vendia palavras, de Ignácio de Loyola
Brandão; Um rio chamado tempo, uma
casa chamada terra, de Mia Couto; As
intermitências da morte, de José Saramago.
FILMES
• Órfãos do Eldorado, de Guilherme Coelho,
baseado na obra homônima de Milton
Hatoum; Lavoura arcaica, de Luiz Fernando
Carvalho, adaptação do romance homônimo
de Raduan Nassar; Filme do desassossego,
de João Botelho, adaptação de Livro do
desassossego, de Fernando Pessoa;
O vento lá fora, de Marcio Debellian, com
declamações de poemas de Fernando
Pessoa por Maria Bethânia e Cleonice
Berardinelli; Ensaio sobre a cegueira,
de Fernando Meireles, baseado na obra
homônima de José Saramago; Terra
sonâmbula, de Teresa Prata; Um rio, de
João Carlos Oliveira; e O último voo do
flamingo, de José Ribeiro, os três últimos
baseados em obras de Mia Couto.
DECLAMAÇÕES
• Ouça o CD que acompanha a obra
Dois ou mais corpos no mesmo espaço
(Perspectiva), de Arnaldo Antunes, no qual o
autor declama seus próprios poemas.
SITES
• Conheça os sites de Augusto de Campos
(http://www2.uol.com.br/augustodecampos/
poemas.htm) e de Arnaldo Antunes (http://
www.arnaldoantunes.com.br/jae/index.html),
nos quais vai poder navegar e conhecer a
poesia em língua multimídia, e também
o site de poesia concreta http://www.
poesiaconcreta.com.br/poetas.php?poeta=dp.
PINTURAS
• Conheça a obra de pintores e artistas plásticos
que despontaram na década de 1960, como
Lygia Clark, Hélio Oiticica, Adriana Varejão,
Tunga e Vik Muniz, entre outros.
MUSEUS
• Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), o
maior museu de arte contemporânea do Brasil
e o maior museu a céu aberto do mundo.
• Museu de Arte Contemporânea de São
Paulo, Museu de Arte Contemporânea de
Niterói e Museu de Arte Contemporânea do
Paraná, em Curitiba.
FIQUE CONECTADO!
Ferreira Gullar
Ferreira Gullar é o pseudônimo de José
Ribamar Ferreira. Nasceu em São Luís, no
Maranhão, em 1930. É poeta, contista,
dramaturgo, crítico de arte, ensaísta, tradutor, autor de literatura infantil e trabalhou em vários jornais e revistas.
Foi militante no Partido Comunista e,
durante o regime militar, foi exilado e
viveu no Chile, na Argentina e na União
Soviética.
Em 2010, recebeu o Prêmio Camões
e, em 2011, o Jabuti. É membro da Academia Brasileira de Letras e escreve
crônicas no jornal Folha de S. Paulo.
Companhia das Letras
Biscoito Fino
Reprodução/Cortesia Projeto Hélio
Oiticica/Coleção Adolpho Leirmer/
São Paulo, SP
Arquivo/ON/D.A Press
Vermelho cortando o branco (1958),
de Hélio Oiticica.
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Texto 1
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
(Dentro da noite veloz e Poema sujo. São Paulo: Círculo do Livro, 1963.)
Texto 2
Não coisa
O que o poeta quer dizer
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.
Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,
seu clarão seu perfume?
Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?
A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes
só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa
de saliva e papilas
invadindo-te inteiro
tal dum mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,
um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgasmos
No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:
subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa
sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa é fechada
à humana consciência.
O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.
Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,
a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.
(Muitas vozes. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999. p. 53-4.)
LITERATURA
Andressa Honório Andressa Honório
255 A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
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1. O poema “Não há vagas” é organizado em duas partes.
a. Identifique os versos que pertencem a cada uma das partes.
b. De que trata cada uma dessas partes?
2. Compare algumas das coisas que cabem e que não cabem no poema, de acordo com
o poema “Não há vagas”:
CabeM NÃo CabeM
arroz homem sem estômago
feijão mulher de nuvens
luz fruta sem preço
telefone
operário
a. De que tipo são as coisas que não cabem no poema?
b. De que tipo são as coisas que cabem no poema?
c. A oposição entre o que cabe e o que não cabe no poema revela duas concepções
diferentes sobre o fazer poético. Quais são elas?
d. O eu lírico se mostra favorável a uma delas? Se sim, qual? Justifique sua resposta.
3. O poema “Não coisa” também aborda o tema do fazer poético. Releia estes versos:
A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes
a. Como o eu lírico vê a relação entre linguagem e objeto? Explique, utilizando elementos do poema.
b. Justifique o título do poema.
c. Diante do desafio, o poeta desiste? Justifique sua resposta com elementos do poema.
d. O que o poeta consegue fazer em relação ao objeto? Explique em que consiste sua ação.
4. Releia os últimos versos do poema “Não objeto”:
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,
a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.
a. O que há no poema?
b. Interprete o último verso do poema: “— essa voz somos nós”.
5. O poema “Não coisa” foi escrito quase 40 anos depois do poema “Não há vagas”, e
ambos abordam o tema da criação poética.
a. Que diferença há na abordagem dos dois textos em relação a esse tema?
b. Que ideia sobre a criação poética está presente nos dois poemas?
A primeira parte vai do primeiro verso até o verso
“não há vagas”; a segunda parte vai de “Só cabe
no poema” até o fim.
A primeira parte trata do que “não cabe no poema”; a segunda parte, do que “cabe”.
São as coisas simples e concretas da realidade:
as necessidades humanas, os trabalhadores.
São as coisas que não existem na vida real ou
são distantes da realidade concreta.
A concepção que parte do princípio de que a poesia deve retratar a realidade
como ela é e a concepção que procura excluir do poema a realidade concreta,
ou o lado feio da realidade.
Sim, ele se mostra favorável à poesia que retrata a realidade concreta, pois o poema faz uma espécie de denúncia dessa poesia alienada,
distante da realidade, que “não fede nem cheira”.
Ele considera que a linguagem é incapaz de possibilitar uma percepção do objeto tal qual a que temos quando nos relacionamos diretamente com ele. Por
exemplo, comer uma fruta é uma experiência que a linguagem não consegue expressar com a mesma completude.
O poema tem esse título porque ele é justamente o “não objeto”;
é um dizer sobre o objeto, mas nunca o objeto.
Não; ele “tenta no poema / dizer o indizível”, subvertendo a linguagem, buscando novas formas de se expressar.
d) O poeta consegue torná-lo “aparência pura” e
iluminá-lo, isto é, por meio
do poema faz com que o
leitor veja ou apreenda o
objeto de forma especial,
com outro olhar, com uma
percepção diferente.
Uma voz imprecisa, que ressoa.
4. b) Professor: Abra a discussão com a classe, pois há mais de uma
possibilidade de resposta.
Sugestão: A voz do poema representa toda a humanidade; ela espelha
todas as reflexões e dúvidas do ser humano em relação ao mundo,
e não apenas as do eu lírico ou do poeta e, por isso, tem um caráter
coletivo, universal.
5. a) Em “Não há vagas”, há destaque para a função social e política da poesia como meio de denúncia e conscientização; em “Não objeto”, essa função não é
tão destacada nem explicitada e, além disso, de acordo com a concepção expressa nesse poema, a linguagem comum não é capaz de substituir a experiência
direta com as coisas.
5. b) Em ambos os textos há a ideia de que a
poesia pode transformar a visão do ser humano
a respeito do mundo: no texto 1, por meio da
denúncia e da crítica da realidade; no texto 2,
por meio de uma certa “desautomatização” do
olhar, possibilitada por um trabalho cuidadoso
e particular com a linguagem.
REGISTRE
NO CADERNO
Andressa Hon—rio
256 UNIDADE 4 CAMINHOS
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LITERATURA
Milton Hatoum
Milton Hatoum é escritor, tradutor
e professor. Descendente de libaneses, nasceu em 1952, em Manaus, no
Amazonas, onde passou a infância e
parte da juventude. Fez Arquitetura na
Universidade de São Paulo e trabalhou
como jornalista cultural e professor de
história da arquitetura.
Estudou em Barcelona, em Madri e
em Paris, como bolsista, e se especializou em estudos literários. Foi professor
de literatura francesa na Universidade
Federal do Amazonas e vive atualmente
em São Paulo. É colunista do jornal O
Estado de S. Paulo.
Suas obras já foram traduzidas para
dez línguas e publicadas em catorze
países.
A literatura brasileira do final do
século XX aos nossos dias
Com o fim do regime militar e da censura em nosso país, em 1985, os
escritores brasileiros começaram a buscar caminhos diversificados, tanto na
poesia quanto na prosa.
Na poesia do final do século XX até os dias atuais, ainda é visível a influência
da literatura marginal, observada na incorporação de um lirismo mais espontâneo, mas também se notam temas e procedimentos poéticos que remontam à
tradição anterior, de Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.
Os temas dessa produção são variados e vão da vida nos centros urbanos
até a criação literária. Muitos poetas desse período passaram a se interessar
também por outras artes e linguagens, como a música, a fotografia e o vídeo. Esse é o caso, por exemplo, de Paulo Leminsky e Arnaldo Antunes.
O número de poetas contemporâneos é muito amplo, mas vale ressaltar
alguns deles, como Antônio Risério, Fabrício Carpinejar, Carlito Azevedo, Tarso de Melo, Paulo Henriques Brito, Donizete Galvão e Antônio Cícero.
A prosa do final do século XX, em especial no conto e no romance, mantém as inovações da geração de 1945 – que rompeu com a narrativa linear e
realista, explorando a narração desordenada, o fluxo de consciência, o foco
narrativo às vezes indefinido – e se volta basicamente para as questões que
envolvem o homem urbano, como a violência e o desemprego, nos diferentes
espaços das grandes cidades, como a periferia, a favela, o centro financeiro.
O romance se diversifica em diferentes direções, indo da literatura fantástica de A hora dos ruminantes, de José J. Veiga, até o retrato das condições
de vida nas favelas, como o que faz, por exemplo, Paulo Lins, no romance
Cidade de Deus, adaptado para o cinema. O veio regionalista, que focaliza o homem em diferentes regiões do país, se mantém, como nos romances O coronel e o lobisomem, de José Cândido de Carvalho, Os desvalidos, de
Francisco Dantas, e nos romances manauenses de Milton Hatoum, como
Relato de um certo Oriente, que você vai estudar neste capítulo. Há ainda a
ficção intimista de Lygia Fagundes Telles, Fernando Sabino, Aníbal Machado,
Raduan Nassar, Chico Buarque de Holanda, Cristovão Tezza e Bernardo de
Carvalho, entre outros. No romance policial, destaca-se principalmente Rubem Fonseca, autor de A grande arte, e, no romance histórico e biográfico,
Fernando Morais, com Olga, e José Roberto Torero, com O chalaça.
O conto segue os rumos do romance e conta com grandes autores, como
Lygia Fagundes Telles, Dalton Trevisan, Osman Lins, Murilo Rubião, Moacyr
Scliar, Rubem Fonseca, João Antônio, Ignácio de Loyola Brandão, Marina Colasanti e Marcelino Freire, entre outros.
Veiculada diariamente nos jornais e nas revistas semanais, a crônica é
o gênero em prosa com maior popularidade nesse período. Destacam-se
como cronistas importantes escritores, como Luis Fernando Verissimo, Mário Prata, Antonio Prata, Moacyr Scliar, Carlos Heitor Cony, Affonso Romano
de Sant´Anna e Walcyr Carrasco.
Milton Hatoum
Milton Hatoum é considerado pelo crítico Manuel da Costa Pinto como o
mais importante romancista da literatura brasileira atual. É autor também
de contos, crônicas e artigos sobre literatura.
Cartaz do filme Lavoura arcaica, de
Luiz Fernando Carvalho, adaptação
para o cinema do romance de Raduan
Nassar.
LFH Produções/VideoFilmes Henrique Manreza/Folhapress
257 A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
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Os três primeiros romances do escritor, Relato de um certo Oriente (1989), Dois irmãos
(2000) e Cinzas do Norte (2005), ganharam o Prêmio Jabuti na categoria de melhor romance. Depois, foram publicados o romance Órfãos do Eldorado (2008) e o livro de contos
A cidade ilhada (2009).
Nas obras de Hatoum se misturam com frequência lembranças de experiências pessoais, vividas pelo escritor na Amazônia, no contexto de uma família líbano-brasileira, e
aspectos sócio-históricos de nossa realidade.
O autor tem uma prosa lapidada, com pleno domínio das técnicas narrativas: lida com
diferentes planos narrativos, com tempos da memória e o tempo presente, com introspecção psicológica e fluxo de consciência.
Manaus, o espaço físico retratado em suas obras, é mostrada como uma cidade meio
esquecida, à beira da floresta, misto de porto de passagem e local de cruzamento de etnias e culturas.
Relato de um certo Oriente
Uma espécie de “viagem de memória”, Relato de um certo Oriente faz uma reconstituição da vida de uma família de imigrantes libaneses que se instalara em
Manaus.
No primeiro capítulo, a narradora (de nome não identificado) chega de São Paulo, onde ficara internada em uma clínica psiquiátrica durante muitos anos, e se
dirige à casa onde vivera em Manaus com seus pais adotivos – Emilie e o marido
(de nome não identificado), imigrantes libaneses, com os quatro filhos legítimos do
casal e com seu irmão biológico, também adotado.
Naquele espaço onde vivera tantos anos, começa a reconstruir o passado e a
relatar suas memórias em uma carta, a qual pretende enviar a seu irmão biológico,
que mora então em Barcelona. Tudo no ambiente – móveis, objetos e decoração –
tem relação com a cultura árabe-libanesa e constitui o que é para a narradora “um
certo Oriente”, ou seja, o seu Oriente particular, misto de elementos da infância e
de elementos orientais e amazônicos.
Nos capítulos seguintes, entretanto, a voz da narradora dá lugar a outros narradores.
Trata-se de vozes de outras personagens que povoaram aquela casa ou se relacionaram
com a família: o filho mais velho do casal, o fotógrafo Dorner, o marido de Emilie e Hindié
(amiga de Emilie). Só mais tarde a primeira narradora retoma o fio narrativo.
Nessa espécie de coro em que se ressaltam tantas vozes e tantos pontos de vista, os
fatos vão sendo reconstituídos nos desvãos da memória, em meio a culpas, lutos, sombras, lacunas e esquecimento. Essa tarefa quase impossível de reconstrução do passado
tem, para a narradora principal, um significado particular: a possibilidade de reencontrar
a si mesma, ou reencontrar a própria identidade.
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, uma parte do capítulo 4 e outra do capítulo 5 da obra. Nelas, é o
fotógrafo alemão Dorner, amigo da família, quem conta à narradora principal o que ouvira do pai dela a respeito de como chegara ao Brasil.
4
“A viagem terminou num lugar que seria exagero chamar de cidade.
Por convenção ou comodidade, seus habitantes teimavam em situá-lo no
Brasil; ali, nos confins da Amazônia, três ou quatro países ainda insistem
em nomear fronteira um horizonte infinito de árvores; naquele lugar neCompanhia das Letras
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LITERATURA
buloso e desconhecido para quase todos os brasileiros, um tio meu, Hanna,
combateu pelo Brasão da República Brasileira; alcançou a patente de coronel das Forças Armadas, embora no Monte Líbano se dedicasse à criação
de carneiros e ao comércio de frutas nas cidades litorâneas do sul; nunca
soubemos o porquê de sua vinda ao Brasil, mas quando líamos suas cartas, que demoravam meses para chegar às nossas mãos, ficávamos estarrecidos e maravilhados. Relatavam epidemias devastadoras, crueldades
executadas com requinte por homens que veneravam a lua, inúmeras
batalhas tingidas com as cores do crepúsculo, homens que degustavam
a carne de seus semelhantes como se saboreassem rabo de carneiro, palácios com jardins esplêndidos, dotados de paredes inclinadas e rasgadas
por janelas ogivais que apontavam para o poente, onde repousa a lua de
ramadã. Relatavam também os perigos que haviam enfrentado: rios de
superfície tão vasta que pareciam um espelho infinito; a pele furta-cor
de um certo réptil que o despertou com o seu brilho intenso quando cerrava as pálpebras na hora sagrada da sesta; e a ação de um veneno que os
nativos não usavam para fins belicosos, mas que ao penetrar na pele de
alguém, fazia-lhe adormecer, originando pesadelos terríveis, que eram a
soma dos momentos mais infelizes da vida de um homem.
Passados onze anos, talvez em 11, Hanna enviou-nos dois retratos
seus, colados na frente e no verso de um papel-cartão retangular; dentro
do envelope havia apenas um bilhete em que se lia: “entre as duas folhas
de cartão há um outro retrato; mas este só deverá ser visto quando o próximo parente desembarcar aqui”. Ao ler o bilhete, meu pai, dirigindo-se
a mim, sentenciou: chegou a tua vez de enfrentar o oceano e alcançar o
desconhecido, no outro lado da terra.
Eu sabia o nome do lugar onde Hanna morava, sabia que ali todos conheciam todos e que os inimigos mais ferrenhos se esbarravam de vez
em quando. A viagem foi longa: mais de três mil milhas navegadas durante várias semanas; em certas noites, eu e os poucos aventureiros que
me acompanhavam parecíamos os únicos sobreviventes de uma catástrofe. Chegamos, enfim, na cidade de Hanna, numa noite de intenso calor. Já não sabia há quanto tempo viajávamos e nada, a não ser a voz do
comandante da embarcação, anunciou que tínhamos atracado à beira de
um porto. Da proa ou de qualquer ponto do barco, nenhuma luz artificial
era visível para alguém que mirasse o horizonte; mas bastava alçar um
pouco a cabeça para que o olhar deparasse com uma festa de astros que se
projetavam na superfície do rio, alongando-se por uma infindável linha
imaginária ao longo do barco; a escuridão nos indicava ser ali a fronteira
entre a terra e a água.
Nelson Provazi
259 A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
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Ansioso, esperei o amanhecer: a natureza, aqui, além de misteriosa é
quase sempre pontual. Às cinco e meia tudo ainda era silencioso naquele
mundo invisível; em poucos minutos a claridade surgiu como uma súbita revelação, mesclada aos diversos matizes do vermelho, tal um tapete
estendido no horizonte, de onde brotavam miríades de asas faiscantes:
lâminas de pérolas e rubis; durante esse breve intervalo de tênue luminosidade, vi uma árvore imensa expandir suas raízes e copa na direção
das nuvens e das águas, e me senti reconfortado ao imaginar ser aquela a
árvore do sétimo céu.
Ao meu redor todos ainda dormiam, de modo que presenciei sozinho
aquele amanhecer, que nunca mais se repetiria com a mesma intensidade. Compreendi, com o passar do tempo, que a visão de uma paisagem
singular pode alterar o destino de um homem e torná-lo menos estranho
à terra em que ele pisa pela primeira vez.
Antes das seis, tudo já era visível: o sol parecia um olho solitário e brilhante perdido na abóbada azulada; e de uma mancha escura alastrada
diante do barco, nasceu a cidade. Não era maior que muitas aldeias encravadas nas montanhas do meu país, mas o fato de estar situada num
terreno plano acentuava a repetição dos casebres de madeira e exagerava
a imponência das construções de pedra: a igreja, o presídio, um ou outro
sobrado distante do rio; é inútil afirmar que não havia palácios; estes, faziam parte das invenções de Hanna, o mais imaginoso entre os irmãos do
meu pai; lá na nossa aldeia, o rabo descomunal de um carneiro servia-lhe
de estímulo para que contasse um mundo de histórias; os mais velhos o
escutavam com atenção e o patriarca de Tarazubna, cego e surdo, intervinha com uma palavra ou um gesto nos momentos de hesitação, quando
algo escapa à fala. [...]”
“Foi assim que teu pai reumiu sua vinda ao Brasil, numa tarde em que o procurei para puxar assunto. Curiosa era a maneira como se dirigia a mim:
sempre olhando para o Livro aberto. Folheava-o
vez ou outra, esfregando os dedos nas folhas de
papel e esse convívio inquieto das mãos com o
texto sagrado parecia animar sua voz.
[...]
[...] O convívio com teu pai me instigou a ler As
mil e uma noites, na tradução de Henning. A leitura
cuidadosa e morosa desse livro tornou nossa amizade mais íntima; por muito tempo acreditei no
que ele me contava, mas aos poucos constatei que
havia uma certa alusão àquele livro, e que os episódios de sua vida eram transcrições adulteradas
de algumas noites, como se a voz da narradora
ecoasse na fala do meu amigo. No início de nossa
amizade ele se mostrara circunspecto e reservado,
mas ao concluir a leitura da milésima noite ele se
tornara um exímio falador. Às vezes, a leitura de um
livro desvela uma pessoa. Mas o curioso é que ele
sempre deixava uma ponta de incerteza ou descrédito no que contava, sem nunca perder a entonação
adusto: abrasado, quente.
desvelar: tirar o véu; revelar.
miríade: número
correspondente a dez mil;
enorme quantidade.
Parisiense: na obra, loja
administrada pelo pai da
narradora principal.
ramadã: mês do calendário
islâmico (o nono), durante o
qual os muçulmanos devem
jejuar do nascimento ao pôr
do sol.
sétimo céu: o mesmo que
paraíso, para os adeptos do
islamismo.
Nelson Provazi
260 UNIDADE 4 CAMINHOS
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LITERATURA
e o fervor dos que contam com convicção. Os fatos e incidentes ocorridos
na família de Emilie e na vida da cidade também participavam das versões confidenciadas por teu pai aos visitantes solitários da Parisiense. O
que me fez pensar nisso foi a coincidência entre certas passagens da vida
de outras pessoas, que mescladas a textos orientais ele incorporava à sua
própria vida. Era como se inventasse uma verdade duvidosa que pertencia
a ele e a outros. Fiquei surpreso com essas coincidências, mas, afinal, o
tempo acaba borrando as diferenças entre uma vida e um livro.”
(Relato de um certo Oriente. 2. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989. p. 71-80.)
1. Observe o início dos capítulos 4 e 5.
a. Quem está contando a história do libanês que vem ao Brasil? A quem esse narrador
conta a história? Justifique sua resposta com elementos do texto.
b. Em frases como “Chegamos, enfim, na cidade de Hanna” e “Ansioso, esperei o amanhecer”, do capítulo 4, a voz que conta esses fatos é a mesma do narrador identificado no item a da questão? Explique como se dá a relação de vozes no texto.
c. Que sinal de pontuação é utilizado para marcar a introdução de um novo narrador
na narração principal da obra?
a) Quem conta a história
é Dorner, o fotógrafo alemão amigo da família. E
conta-a à filha adotiva do
libanês, narradora central
da obra, conforme o trecho
“Foi assim que teu pai resumiu sua vinda ao Brasil,
numa tarde em que o procurei para puxar assunto”.
b) Não, a voz que narra é a
do próprio libanês. Isso se
explica porque o alemão
reproduz textualmente a
narração em 1» pessoa
feita pelo imigrante, em
uma tarde em que conversaram.
As aspas.
Memória e confissão
Em entrevista, Milton Hatoum comentou a respeito de Relato de um certo Oriente:
No Relato há um tom de confissão, é um texto de memória sem ser memorialístico, sem ser autobiográfico; há, como é natural, elementos de minha vida e da vida familiar. Porque minha intenção,
do ponto de vista da escritura, é ligar a história pessoal à história familiar: este é o meu projeto. Num
certo momento de nossa vida, nossa história é também a história de nossa família e a de nosso país
(com todas as limitações e delimitações que essa história suscite).
Memória? Com relação ao Relato, percebi que causou, talvez, para alguns leitores, uma certa estranheza, a estrutura de encaixes em que está vazado: vozes narrativas que se alternam... Mas, se a própria memória também é desse mesmo modo... O tempo narrativo, no livro, é um tempo fragmentário,
que reproduz, de certa forma, a estrutura de funcionamento da memória: essa espécie de vertiginoso
vaivém no tempo e no espaço.
(Entrevista concedida a Aida Hanania. Disponível em:
(http://hottopos.com/collat6/milton1.htm. Acesso em: 20/2/2016.)
2. O libanês veio para o Brasil por determinação de seu pai e por influência de seu tio
Hanna.
a. Que impressões o tio passava aos parentes do Líbano a respeito do lugar onde
vivia?
b. Tudo o que Hanna contava sobre o Brasil era verdadeiro? Justifique sua resposta
com elementos do texto.
3. A linguagem das obras de Milton Hatoum costuma ser bem-trabalhada. Observe os
seguintes trechos descritivos e figurados presentes no texto lido:
• “a claridade surgiu como uma súbita revelação, mesclada aos diversos matizes
do vermelho, tal um tapete estendido no horizonte, de onde brotavam miríades de asas faiscantes: lâminas de pérolas e rubis”
Ele passava a impressão de que era um lugar exótico e cheio de aventuras,
com animais estranhos, rios intermináveis e homens canibais.
Não; Hanna exagerava e fantasiava, como, por exemplo, ao citar a existência de palácios com jardins
esplêndidos e características árabes (“janelas ogivais que apontavam para o poente”).
REGISTRE
NO CADERNO
261 A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
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• “o sol parecia um olho solitário e brilhante perdido na abóbada azulada; e de uma
mancha escura alastrada diante do barco, nasceu a cidade”
a. Que figuras de linguagem são utilizadas para descrever o amanhecer na cidade?
b. Explique o que são, no contexto, as “miríades de asas faiscantes: lâminas de pérolas
e rubis”.
c. Que característica do amanhecer é destacada no segundo trecho?
d. Que importância essas descrições têm na narrativa, considerando-se a situação vivida pela personagem?
Comparação e metáfora.
São os reflexos da luz do sol nas águas do rio,
com tons brancos e vermelhos.
A presença de uma luz estonteante e as nuances coloridas do amanhecer.
Elas expressam as sensações visuais da personagem ao assistir, pela primeira vez, a um amanhecer no
Brasil e na cidade a que chegara (Manaus), delimitada com uma floresta e situada na linha equatorial.
As mil e uma noites
A obra As mil e uma noites é uma coletânea de contos originários das tradições indiana, persa e árabe, convertidos à
escrita árabe a partir do século IX d.C.
Na obra, a narradora das histórias é Xerazade, esposa do
rei Xariar.
O rei, enfurecido por ter sido traído pela primeira esposa,
casa-se a cada noite com uma virgem e manda matá-la no dia
seguinte, a fim de evitar nova traição. Xerazade, após o casamento, evita sua morte com o seguinte ardil: cada noite, ela
conta uma história ao rei e, ao raiar do dia, deixa a narração
suspensa.
Xariar, movido pela curiosidade, vai poupando Xerazade da
morte, a fim de ouvir, na noite seguinte, a continuação da
narrativa. Depois de 1001 noites, ele desiste de seu propósito
inicial.
Um dos traços característicos dessa obra é a multiplicidade
de narradores. Xerazade cede sua voz para que as personagens de suas narrativas contem, em 1ª ou em 3ª pessoa, suas
próprias histórias.
4. O imigrante libanês gostava de contar histórias e apreciava muito As mil e uma noites,
o que despertou no amigo fotógrafo o interesse pela obra.
a. As histórias que ele contava ao fotógrafo eram verdadeiras? Justifique sua resposta
com elementos ou trechos do texto lido.
b. Que aspectos de personalidade aproximavam o libanês e Sherazade, a narradora de
As mil e uma noites?
c. Leia o boxe “As mil e uma noites” e responda: Que relação existe entre Relato de um
certo Oriente e As mil e uma noites?
5. Milton Hatoum é um escritor brasileiro descendente de libaneses. Releia o boxe “Memória e confissão” e, depois, responda:
a. Considerando-se a afirmação “o tempo acaba borrando as diferenças entre uma
vida e um livro”, feita no capítulo 5, pode-se dizer que Milton Hatoum também participa da tradição árabe-libanesa dos contadores de história? Por quê?
b. Como Hatoum lida, em Relato de um certo Oriente, com os elementos da vida real e
da fantasia?
4. a) Nem todas; ao ler As
mil e uma noites, o alemão
percebeu que algumas
histórias contadas pelo
libanês misturavam fatos
verdadeiros de sua vida
com histórias dessa obra,
conforme ele afirma no
trecho: “O que me fez pensar nisso foi a coincidência
entre certas passagens da
vida de outras pessoas,
que mescladas a textos
orientais ele incorporava à
sua própria vida”.
Ambos eram contadores de histórias e gostavam de misturar dados da realidade à fantasia.
Em ambas as obras, há uma multiplicidade de narradores, ou seja, o narrador principal
cede espaço para a voz de outros narradores.
a) Sim, ele se liga a essa
tradição, pois é também
um contador de histórias
que, de certa forma, mistura elementos da vida
pessoal dele e da família
com elementos fantasiosos, como as que contava
o libanês personagem de
Relato de um certo Oriente.
Hatoum afirma que, para compor a obra, usou elementos da memória, porém, ela não é autobiográfica. Logo, a narrativa mistura memórias de vivências, lembranças de personagens e fatos imaginados.
REGISTRE
NO CADERNO
Professor: Se quiser, faça um paralelo entre a narradora principal da obra e o próprio escritor. Ambos têm um passado vivido na cidade
de Manaus e são de família libanesa; além disso, o escritor também saiu de seu lugar de origem para estudar em outros países. A
escrita de Relato de um certo Oriente é, de certa forma, um reencontro do escritor com seu passado.
The Bridgeman Art Library / Keystone Brasil
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
FOCO NO TEXTO
Leia as notas de jornal a seguir.
Análise linguística:
as diferentes formas de dizer
LÍNGUA E LINGUAGEM
Ladra abandona filha de
anos durante assalto
Flagrada furtando uma loja com três
comparsas, uma mulher saiu correndo e
deixou a filha de 3 anos no local do furto,
em Jundiaí, interior de São Paulo. O caso
aconteceu na terça-feira, mas só anteontem as imagens da ação foram divulgadas pela polícia. Seguranças entregaram
a menina ao Conselho Tutelar. A Justiça
decidirá o destino da criança. Ela pode ficar sob a guarda dos avós.
Duas das suspeitas acabaram detidas. A
mãe da menina abandonada não havia sido
localizada até a manhã de ontem.
Mulher é feita refém em
shopping no Tatuapé
Uma mulher foi mantida refém por um homem com uma faca no pescoço, ontem à
tarde, na praça de alimentação do Shopping
Metrô Tatuapé, na zona leste da capital. Parte do local foi esvaziada pelos policiais, e frequentadores chegaram a pensar que havia
um arrastão. O homem acabou preso pela
PM. A vítima não ficou ferida, mas foi atendida por uma equipe médica.
JUNDIAÍ VIOLÊNCIA
1. Ambas as notas fazem referência a problemas de violência envolvendo mulheres.
a. Em qual delas a mulher é a agente responsável pela violência?
b. Em qual delas a mulher sofre a violência?
c. Quais outros termos, além de mulher, cada uma das notas utiliza na manchete e ao
longo do texto para fazer menção à mulher a que se refere?
2. Releia a 1ª manchete.
a. Reescreva-a, substituindo a palavra ladra pela palavra mulher.
b. Discuta com os colegas e o professor: Quais são as possíveis mudanças de sentido
entre a manchete original e a escrita por você no item anterior?
c. É possível pensar que a 1ª manchete não utiliza a palavra mulher para evitar uma
ambiguidade. Explique qual seria essa ambiguidade.
d. Proponha uma reescrita para a 1ª manchete, utilizando a palavra mulher e eliminando a ambiguidade apontada por você no item anterior.
Na 1ª.
Na 2ª.
Na 1ª: ladra, a mãe da menina abandonada; na 2ª: a vítima.
Mulher abandona filha de três anos
durante assalto.
O termo mulher é mais genérico e isento de julgamento em relação à pessoa a que se refere, se comparado ao termo ladra.
Nessa reescrita da manchete, a mulher poderia ser também
a vítima do assalto.
Entre outras possibilidades: “Mulher abandona filha de 3 anos ao praticar assalto”.
(O Estado de S. Paulo, 12 de junho de 2015.)
263 A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
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3. As manchetes lidas foram redigidas com estruturas diferentes, em vozes
distintas (leia o boxe “Voz ativa e voz passiva analítica”).
a. Reescreva a 1ª manchete utilizando a estrutura da 2ª.
b. Reescreva a 2ª manchete, utilizando a estrutura da 1ª.
c. Discuta com os colegas e o professor: Quais são as possíveis mudanças de sentido entre as manchetes originais e as escritas por você nos
itens anteriores?
Releia os trechos a seguir, extraídos, respectivamente, da 1ª e da 2ª notas,
e responda às questões de 4 a 6.
I. “Flagrada furtando uma loja com três comparsas,
uma mulher saiu correndo”
II. “A v’tima não ficou ferida”
4. Sobre os gêneros das palavras em destaque, responda:
a. Apenas pela leitura isolada dessas frases, é possível saber se comparsas e vítima
são homens ou mulheres? Justifique sua resposta.
b. Deduza, com base no texto das notas como um todo: Comparsas e vítima são homens ou mulheres? Justifique sua resposta com elementos dos textos.
5. Observe que foram utilizados, respectivamente, o numeral três e o artigo a antes das
palavras em destaque.
a. Na primeira frase, se houvesse artigo antes de comparsas, seria possível identificar
de imediato o gênero dessa palavra? Justifique e proponha uma reescrita que comprove sua resposta.
b. Reescreva essa frase, mudando o gênero original que a palavra tem no texto.
c. Discuta com os colegas e o professor: Por que a presença do artigo a na segunda
frase não permite identificar o gênero da pessoa a que ela se refere? Dê um exemplo de frase que ilustre sua afirmação.
6. Entre os dois termos em destaque, um tem um sentido mais pejorativo, isto é, geralmente é utilizado em contextos nos quais se quer exprimir certa reprovação.
a. Identifique qual é esse termo.
b. Proponha uma substituição desse termo por outro que não altere o sentido do
enunciado, mas que não tenha o mesmo tom depreciativo.
c. Embora não tenha um sentido pejorativo tão marcado, o outro termo também
pode ser utilizado com esse tom de reprovação. Imagine uma situação e crie um
enunciado no qual o segundo termo apresente sentido depreciativo.
7. Releia o trecho a seguir, extraído da 2ª nota.
“Uma mulher foi mantida refém por um homem com uma faca no pescoço”
Filha de 3 anos é abandonada por ladra durante assalto
Mulher fica refém em shopping no Tatuapé ou Homem faz mulher refém em shopping no Tatuapé.
O destaque que é dado a um ou outro elemento das manchetes (a ladra, a
filha, a mulher ou o homem) varia conforme a construção.
Não, pois se trata de nomes que têm a mesma forma para
se referir a ambos os gêneros.
São todas mulheres, o que se confirma pelo uso da expressão duas das suspeitas na 1ª nota, e pelo fato de vítima retomar mulher, na 2ª.
Sim, pois o artigo definiria o gênero: “Flagrada [...] com as três comparsas”.
“Flagrada [...] com os três comparsas”.
Porque a palavra vítima é flexionada no feminino, independentemente
da pessoa a quem se refira: “O homem foi uma vítima da situação”.
comparsas
companheiras, parceiras, pares
Ele sempre se faz de vítima.
Voz ativa e voz passiva
analítica
Como você já deve ter estudado em
anos anteriores, a gramática tradicional
chama de voz a relação entre sujeito e
verbo. Entre as relações possíveis, destacamos para esse estudo a voz ativa
(quando o sujeito é agente da ação verbal: mulher rouba carro) e a voz passiva
analítica (quando o sujeito é paciente
da ação verbal: mulher é roubada por
seu vizinho).
REGISTRE
NO CADERNO
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
a. Essa frase foi escrita de forma ambígua. Identifique a expressão que a torna ambígua e explique quais são as duas leituras possíveis.
b. Proponha uma reescrita para a frase, eliminando a ambiguidade.
8. Discuta com os colegas e o professor e conclua: As palavras que escolhemos para
fazer menção a pessoas e ações podem afetar a visão de nossos interlocutores em
relação aos fatos a que nos referimos? Dê exemplos do estudo realizado que justifiquem sua resposta.
REFLEXÕES SOBRE A lÍNGUA
Ao produzirmos um texto, oral ou escrito, numa situação de
comunicação formal ou informal, construímos uma realidade. Nossos interlocutores, com base nos textos e discursos
que conhecem, estabelecem relações entre o texto e outros
discursos sobre o assunto e o gênero e, por fim, constroem
sua interpretação a respeito do que dissemos ou escrevemos. Em nossa vida, intercalamos o papel de produtor e
destinatário e, quando nos engajamos na compreensão
de um texto, fazemos o mesmo: relacionamos o texto
lido ou ouvido a outros que conhecemos para construir
nossa leitura.
Por isso, como você viu no estudo da seção anterior, cada
palavra que lemos ou escrevemos e cada estrutura que escolhemos utilizar em nossos textos podem ressaltar ou atenuar
determinado aspecto do assunto tratado. Assim, é muito
importante que essas escolhas sejam feitas de forma
consciente, a fim de que os textos que produzimos cumpram nossos objetivos. Da mesma forma, é importante saber
identificar essas diferentes estratégias na leitura de um texto, para podermos construir
uma compreensão o mais crítica e aprofundada possível.
AplIQUE O QUE ApRENDEU
Leia a seguir um texto que circula em vários sites e blogs da Internet.
A arte de escrever
NO DOUTORADO:
O dissacarídeo de fórmula C12H22011, obtido através da fervura e evaporação de H2O
do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus Officinarum
Linneu, 15, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de
reduzidas dimensões e arestas retilíneas, impressiona favoravelmente as papilas
gustativas e apresenta considerável resistência a modificar suas dimensões.
NO MESTRADO:
A sacarose extraída da cana-de-açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo
de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos troncopiramidais de base regular, impressiona o paladar, porém não altera suas dimensões
lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial.
A expressão: com uma faca no pescoço. Do jeito como foi escrita, tanto
o homem quanto a mulher poderiam estar com a faca no pescoço.
Entre outras possibilidades: “Um homem manteve uma mulher refém colocando uma faca no pescoço dela”.
Sim. As estruturas das frases mudam o destaque que se dá a pessoas ou fatos e o uso de determinadas palavras
pode direcionar a leitura com o uso de termos mais depreciativos, isentos ou elogiosos. Por exemplo, uso da voz
passiva ou da voz ativa, uso de palavras como ladra, mulher, comparsa, vítima.
REGISTRE
NO CADERNO
Andressa Hon—rio
Ao produzirmos um texto, oral ou escrito, numa situaçãode
comunicação formal ou informal, construímos uma realidade. Nossos interlocutores, com base nos textos e discursos
que conhecem, estabelecem relações entre o texto e outros
discursos sobre o assunto e o gênero e, por fim, constroem
sua interpretação a respeito do que dissemos ou escrevemos. Em nossa vida, intercalamos o papel de produtor e
Por isso, como você viu no estudoda seção anterior, cada
palavra que lemos ou escrevemos e cada estrutura que escolhemos utilizar em nossos textos podem ressaltar ou atenuar
determinado aspecto do assunto tratado. Assim, é muito
importante que essas escolhas sejam feitas de forma
consciente, a fim de que os textos que produzimos cum265 A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
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NA GRADUAÇÃO:
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e apresentando-se em blocos
sólidos de pequenas dimensões e forma troncopiramidal, tem sabor deleitável, todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.
NO ENSINO MÉDIO:
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel,
mas não muda de forma quando pressionado.
NO ENSINO FUNDAMENTAL:
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio nem flexível.
NA SABEDORIA POPULAR:
Rapadura é doce, mas não é mole não!
(Stella Maris Bortoni-Ricardo. Disponível em:
http://www.stellabortoni.com.br/index.php/artigos/1166-aapaiuaa-i-ioii-mas-oao-i-moli-oao.
Acesso em: 15/3/2016.)
1. Troque ideias com os colegas e o professor para resolver as seguintes questões.
a. Identifique oralmente as expressões que correspondem umas às outras em cada
estágio do texto. Siga o exemplo a seguir.
SABEDORIA POPULAR DOUTORADO
Rapadura De “O dissacarídeo de fórmula C12H22011” até “arestas retilíneas”
é doce “impressiona favoravelmente as papilas gustativas”
mas não é mole “apresenta considerável resistência a modificar suas
dimensões.”
b. Identifique oralmente termos e expressões que seriam característicos dos diferentes níveis de titulação na descrição da rapadura:
Doutorado:
Mestrado:
Graduação:
Ensino médio:
Ensino fundamental:
c. Tendo em vista suas respostas aos itens anteriores, descreva brevemente a lógica
de organização do texto.
2. O título do texto é “A arte de escrever”.
a. Levante hipóteses: Com esse modelo de organização, o que o texto considera que
seja “a arte de escrever”?
b. Segundo essa lógica, de quais habilidades depende “a arte de escrever”?
c. É possível considerar que esse título é irônico? Justifique sua resposta.
3. Com base em suas respostas às questões anteriores, conclua: Qual sentido é construído por esse texto em relação ao conhecimento científico e acadêmico?
Professor: Não há necessidade de reproduzir as tabelas do item a nem fazer
cópias de trechos dos textos no caderno no item b, basta identificar oralmente
com os alunos, conforme aponta o enunciado.
“dissacarídeo de fórmula C12H22011”, “fervura e evaporação de H2
O”, “caule da gramínea Saccharus Officinarum
Linneu, 1758”, “forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas”
“sacarose extraída da cana-de-açúcar”, “processo de purificação e refino”, “pequenos sólidos troncopiramidais de base regular”
“açúcar não submetido à refinação”, “blocos sólidos de pequenas dimensões e forma troncopiramidal”
“açúcar não refinado”, “pequenos blocos”
“açúcar mascavo”, “tijolinhos”
A lógica parte do princípio de que, quanto maior é a formação do autor do
texto, mais específica e detalhada será sua escrita.
Uma forma específica de desenvolver um conteúdo, que depende dos conhecimentos e da posição social do autor e dos meios de circulação dos textos. b) Ter conhecimento menos ou mais aprofundado
sobre o assunto e saber se
adaptar à linguagem (termos, vocabulário, estruturas, gêneros, etc.) mais
valorizada em cada meio.
Nesse caso, sim, pois mostra como um simples ditado popular pode se tornar ininteligível se escrito
em uma linguagem não adequada a esse gênero e aos interlocutores.
O de que há casos em que a linguagem acadêmica utiliza uma linguagem demasiadamente específica
e complicada para dizer algo que poderia ser dito de forma muito mais simples.
Mestrado
De “A sacarose extraída” até “de
base regular”
“impressiona o paladar”
De “porém não altera” até “tensão
axial”.
Graduação
De “O açúcar” até “forma troncopiramidal”
“tem sabor deleitável”
De “todavia” até “compressão”.
Ensino médio
De “Açúcar” até “blocos”
“tem o sabor agradável do mel”
“mas não muda de forma quando
pressionado.”
Ensino fundamental
“Açúcar mascavo em tijolinhos”
“tem o sabor adocicado”
“mas não é macio nem flexível.”
REGISTRE
NO CADERNO
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língua e
linguagem
Leia as manchetes e lides a seguir, que fazem referência a um mesmo fato, para responder às questões 4 e 5.
I. Morador de rua é condenado a 5 anos de prisão por carregar
Pinho Sol e água sanitária
Laudo fala em “ínfima possibilidade” de produtos serem utilizados como
bomba incendiária, mas juiz acatou o pedido do MP e condenou Rafael Vieira
(Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/morador-de-rua-e-condenado-a5-anos-de-prisao-por-carregar-pinho-sol-e-agua-sanitaria-7182.html. Acesso em: 16/3/2016.)
II. Catador é o primeiro condenado após onda de manifestações
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/12/1380488-catador-e-o-primeirocondenado-apos-onda-de-manifestacoes.shtml. Acesso em: 16/3/2016.)
III. Catador de latas é o primeiro condenado após onda de protestos
Homem de 26 anos foi preso por portar artefato explosivo durante manifestação que
levou centenas de milhares de pessoas às ruas do centro do Rio, em 20 de junho
(Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,catador-de-latas-e-o-primeirocondenado-apos-onda-de-protestos,1104164. Acesso em: 16/3/2016.)
IV. ÚNICO CONDENADO PELAS MANIFESTAÇÕES É JOVEM, NEGRO E POBRE
Rafael Braga Vieira, de 26 anos, nascido na Vila da Penha, no Rio de Janeiro, que diz
nunca ter participado de uma manifestação, foi condenado a cinco anos de prisão
por posse de explosivos: ele carregava uma garrafa de Pinho Sol e outra de cloro.
Especialistas afirmam ser impossível fazer um coquetel molotov com uma garrafa de
plástico. Mesmo assim Rafael cumpre pena em Bangu 5. Uma condenação anterior
por roubo pode ter influenciado o juiz.
(Disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/favela247/129515/%C3%9Anico-condenado-pelasmanifesta%C3%A7%C3%B5es-%C3%A9-jovem-negro-e-pobre.htm. Acesso em: 16/3/2016.)
V. Homem é condenado a seis anos por levar garrafa em protesto no Rio
Rapaz foi em 20 de junho, dia da maior manifestação ocorrida na cidade, com participação de 300 mil pessoas
(Disponível em: http://www.tribunahoje.com/noticia/86218/brasil/2013/12/04/homeme-condenado-a-seis-anos-por-levar-garrafa-em-protesto-no-rio.html. Acesso em: 16/3/2016.)
4. Como cada uma delas se refere:
a. ao indivíduo que é foco da notícia?
b. ao que se passou com ele?
c. aos objetos que ele carregava?
d. ao local onde ele estava?
5. Comparando os textos, identifique e justifique suas respostas.
a. Qual mais se solidariza com o indivíduo a que se refere?
b. Qual tem um posicionamento desfavorável em relação ao indivíduo a que se
refere?
I. “morador de rua”; II. “catador”; III. “catador de latas”; “primeiro condenado”; IV. “único condenado”; “jovem, negro e pobre”; “Rafael Braga Vieira, de 26 anos, nascido na Vila da Penha, no Rio de
Janeiro, que diz nunca ter participado de uma manifestação”; V. “homem”; “rapaz”
I. “é condenado [...] por carregar”; II. “é o primeiro condenado”; III. “é o primeiro condenado [...] por
portar”; IV. “único condenado pelas manifestações [...] a cinco anos de prisão por posse”; V. “condenado
a seis anos por levar garrafa em protesto”
I. “Pinho Sol e água sanitária”; III. “artefato explosivo”; IV. “uma garrafa de Pinho Sol e outra de cloro”; V. “garrafa”
III. “durante manifestação que levou centenas de milhares de pessoas às ruas do centro do Rio, em 20 de junho”; V. “em
protesto no Rio”; “20 de junho, dia da maior manifestação ocorrida na cidade, com participação de 300 mil pessoas”.
5. a) O texto IV, que dá detalhes sobre quem é o rapaz, reforça que ele foi o único condenado, salienta sua condição desfavorável na sociedade e
acrescenta que, segundo especialistas, o material que ele portava não era explosivo, como se alegou na condenação.
O texto III, que afirma que ele carregava um “artefato explosivo”, fato que por si só já o condena.
REGISTRE
NO CADERNO
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TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia a história em quadrinhos a seguir.
(Disponível em: http://
www1.folha.uol.com.br/
fsp/images/i2210201102.jpg.
Acesso em: 16/3/2016.)
1. Levante hipóteses e justifique suas respostas com elementos do texto:
a. Quem é o homem de óculos e terno?
b. Quem o interpela, sem aparecer no texto?
2. As interpelações da(s) personagem(ns) que não aparece(m) vão fazendo com que a
personagem de terno modifique uma de suas afirmações anteriores.
a. Identifique, nos três primeiros quadros, quais são os termos correspondentes que
fazem parte dessa modificação.
b. Deduza: Qual seria a versão dessa informação no 3¼ quadrinho? Justifique.
3. Releia os trechos a seguir, extraídos das falas interrompidas da personagem de terno.
I. “Mais um ditador sanguinário”
II. “Durante décadas ele aterrorizou a população”
III. “As forças da liberdade, com forte apoio”
a. Quais termos dessas frases se referem diretamente ao “ditador” mencionado?
b. Quais termos se referem àqueles que combateram o “ditador” mencionado?
c. Tendo em vista os termos e expressões utilizados pelo homem de terno em relação
ao “ditador” mencionado, conclua: Qual é o posicionamento dele? Justifique com
base em suas respostas aos itens anteriores.
4. No último quadrinho, o homem de terno interrompe sua exposição.
a. Por que ele fica irritado?
b. Identifique, nessa fala, a expressão que ele utiliza para se referir às intervenções
da(s) outra(s) personagem(ns).
c. Conclua: Por que ele utiliza essa expressão?
Um professor, porque está diante de um painel e tem um bastão, como se
estivesse regendo uma classe.
Provavelmente, um ou mais alunos, porque é questionada a fala do professor, que, por sua vez, faz referência a aí no fundo.
se vai; morreu; foi morto
Provavelmente, assassinado,
seguindo o ápice da gradação. Além disso, o professor se mostra irritado, como se seu discurso camuflado estivesse sendo desvendado.
sanguinário; ele aterrorizou
forças da liberdade
Contrário ao “ditador”, pois utiliza termos depreciativos para se referir a ele e termos mais favoráveis para falar de quem era contra ele.
Em razão das contínuas interrupções a sua fala e por estar sendo contrariado.
teoria da conspiração
Porque ele julga que as indagações têm o objetivo de atrapalhar e mudar o foco de sua exposição, pois o obrigam
a rever e reelaborar sua fala.
REGISTRE
NO CADERNO
Laerte
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Verbete e projeto de pesquisa
PRODUÇÃO DE TEXTO
O CONTEXTO DE
PRODUÇÃO E RECEPÇÃO
DOS TEXTOS
Quais textos você produzirá
nesta unidade? Com que finalidade? Quem irá ler os seus textos?
Nesta unidade, nosso projeto é
a organização de uma feira de profissões, a ser realizada com a ajuda
da comunidade escolar e do bairro.
A finalidade em vista com a realização da feira é que, por meio do
contato com profissionais de áreas
variadas, os alunos da escola conheçam as múltiplas possibilidades
profissionais existentes no mercado de trabalho.
No decorrer da unidade, estudaremos alguns gêneros que auxiliarão na realização da feira: o verbete, o projeto de pesquisa, a carta
de apresentação e a entrevista de
emprego.
Verbete
FOCO NO TEXTO
Leia o texto:
(Disponível em: http://escola.britannica.com.br/article/481705/
America-Latina. Acesso em: 20/2/2016.)
Britannica Escola Online/ Enciclopédia Escolar Britannica
269PRODUÇÃO DE TEXTO
A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
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1. O texto lido é um verbete, gênero muito utilizado em contextos relacionados à construção de conhecimento formal e à transmissão de informações. Que tipos de verbete
você conhece? Em quais suportes eles são veiculados?
2. Observe o verbete lido.
a. Descreva sua estrutura formal.
b. Levante hipóteses: O formato do verbete em estudo se repete em todos os textos
desse gênero? Justifique sua resposta com base em exemplos que você conheça.
c. Note que há alguns termos em destaque, grafados em azul e sublinhados. Levante
hipóteses: Por que isso acontece? Justifique sua resposta com base no suporte de
circulação do verbete em estudo.
3. Observe os quadros laterais, na cor laranja.
a. Qual é o conteúdo deles?
b. Discuta com os colegas e o professor: Qual é a importância dessas informações
para a construção de sentidos do verbete?
4. Observe as formas verbais utilizadas em cada seção do verbete em estudo. Em quais
tempos, pessoas e números elas estão conjugadas:
a. na introdução?
b. na seção “População”?
c. na seção “História”?
5. Com base nas respostas à questão 2, levante hipóteses:
a. Por que apenas uma das pessoas verbais é utilizada? Qual é o efeito que esse uso
cria nos textos?
b. Por que o tempo verbal utilizado predominantemente na seção “História” é diferente do tempo empregado nas outras seções?
6. Você viu, no estudo de língua e linguagem deste capítulo, que a escolha das palavras
influencia diretamente os sentidos criados nos textos. Isso ocorre, de forma menos
ou mais explícita, em qualquer gênero, inclusive nos verbetes. Releia os seguintes trechos do verbete em estudo.
I. “Os espanhóis conquistaram grande parte da América Latina no século XVI.”
II. “Muitos índios morreram lutando contra os europeus ou de doenças trazidas por
eles da Europa.”
III. “Milhões de europeus se estabeleceram nessas áreas. Eles trouxeram suas línguas, a religião católica e sua cultura. Os europeus também trouxeram muitos
africanos escravizados para trabalhar na América.”
Seguem algumas propostas de substituição das formas verbais em destaque em
cada um dos trechos:
I. invadiram / chegaram a / tomaram / dominaram / descobriram / civilizaram
II. morreram por resistir aos / foram assassinados pelos / morreram por não aceitar
os / morreram porque afrontaram os / tiveram sua população dizimada pelos /
foram mortos pelos
III. invadiram essas – impuseram − escravizaram / fixaram-se nessas – levaram − levaram / contribuíram para o desenvolvimento dessas – cederam − conduziram
Há um título em letras maiores, seguido de uma introdução, dois subtítulos, seguidos de pequenos
textos que desenvolvem o assunto, e uma barra lateral com vários quadros.
2. b) Não; os verbetes de
dicionário, por exemplo,
têm definições mais diretas e objetivas, não apresentam subdivisões e, em
muitas publicações, não
são acompanhados de nenhuma imagem.
Como se trata de um verbete digital, as palavras em destaque correspondem a links, isto é, são termos que levam a outras entradas da
própria enciclopédia.
Os quadros contêm imagens com legendas, áudios e vídeos.
Elas complementam e expandem o conteúdo do texto verbal,
possibilitando um aprofundamento da leitura do verbete.
presente do indicativo, 3ª pessoa do singular e do plural
presente do indicativo, 3ª pessoa do singular e do plural
pretérito perfeito e pretérito imperfeito do indicativo, presente do
indicativo e do subjuntivo, 3ª pessoa do singular e do plural
É utilizada apenas a 3ª pessoa porque o verbete é um gênero no qual autor e leitor não são identificados, e o
emprego dessa pessoa cria um efeito de impessoalidade e imparcialidade no texto.
Porque a seção “História” trata do passado, diferentemente das demais partes,
que tratam do conceito por meio de uma estrutura baseada em afirmações tidas
como verdadeiras e universais independentemente de tempo.
6. a) Expressam um ponto de vista contrário: I.
invadiram, tomaram, dominaram; II. foram assassinados pelos, tiveram sua
população dizimada pelos,
foram mortos pelos; III.
invadiram essas, impuseram, escravizaram.
Não assumem um ponto
de vista: I. chegaram a,
descobriram; II. morreram
por resistir aos, morreram
por não aceitar; III. fixaram-se nessas, levaram,
levaram.
Revelam um ponto de vista
favorável: I. civilizaram; II.
morreram porque afrontaram os; III. contribuíram
para o desenvolvimento
dessas, cederam, conduziram.
Resposta pessoal. / Em geral, os verbetes circulam em enciclopédias e
dicionários, impressos ou on-line. Há algumas revistas que também contêm verbetes.
REGISTRE
NO CADERNO
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a. Em seu caderno, organize em três grupos os termos apresentados como propostas
de substituição. No primeiro grupo, inclua os que expressam um ponto de vista explicitamente contrário à ação a que se referem; no segundo, os que não assumem
um ponto de vista; no terceiro, os que revelam um ponto de vista favorável.
b. Compare os grupos organizados por você no item anterior e, considerando o sentido dos termos utilizados no verbete original, conclua: Qual é o sentido construído
pelo uso das formas verbais escolhidas para figurar no verbete em estudo?
c. Discuta com os colegas e o professor e, depois, levante hipóteses: Esse sentido é
desejável em todo verbete? Justifique sua resposta.
O sentido de imparcialidade, de isenção, em uma tentativa de não assumir muito explicitamente um ponto de vista.
Sim, pois se espera que os verbetes conceituem e descrevam objetivamente um termo, e não que emitam opinião sobre ele.
Dicionário ‘Michaelis’ muda verbete de casamento após pressão on-line
De “união legítima entre homem e mulher” para “ato solene de união entre duas pessoas”.
A petição on-line criada pelo paulista Eduardo Santarelo
surtiu efeito: casado há três anos com o companheiro
Maurício, ele pedia a alteração da definição de “casamento” no tradicional dicionário “Michaelis” em português.
Após mais de 3.000 pessoas endossarem o pedido de
Maurício no site Change.com, Breno Lerner, diretor da
Editora Melhoramentos, responsável pela publicação, se
posicionou: “Agradecemos ao organizador e signatários
por nos alertarem sobre este importante tópico”, disse
Lerner. “Solicitamos a nossos dicionaristas uma nova
redação do verbete.”
A mudança na versão digital do dicionário já aconteceu.
“Para as versões em papel, conforme sejam feitas as
reim pressões e novas edições, o verbete será corrigido”,
informou o diretor da editora.
Na definição anterior, casamento aparecia como “união legítima entre homem e mulher”, e “união legal entre homem e mulher,
para constituir família”.
O novo verbete não traz em nenhum momento as palavras homem ou mulher – agora a definição de casamento se refere a
“pessoas”:
“1 Ato solene de união entre duas pessoas; casório, matrimônio. 2 Cerimônia que celebra vínculo conjugal; matrimônio. 3 União
de um casal, legitimada pela autoridade eclesiástica e/ou civil; matrimônio”, informa o “Michaelis”. [...]
OUTROS DICIONçRIOS
Outros dicionários populares no Brasil já definem casamento como união entre pessoas, sem indicação de gênero.
No “Houaiss”, casamento é o “ato ou efeito de casar(-se)”, “o ritual que confere o status de casado”.
O “Aurélio” diz que casamento é o “contrato de união ou vínculo entre duas pessoas que institui deveres conjugais”. [...]
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/bbc/2015/07/1650633-dicionario-michaelismuda-verbete-de-casamento-apos-pressao-on-line.shtml. Acesso em: 22/2/2016.)
HORA DE ESCREVER
Como você sabe, no final desta unidade realizaremos uma feira de profissões. Há, a
seguir, duas propostas de elaboração de verbetes. A primeira deve ser desenvolvida como
exercício, e a outra tem como finalidade a produção de verbetes que deverão ser expostos
na feira.
1. Leia, a seguir, um trecho de uma crônica de Rubem Braga, na qual ele faz comentários
sobre guarda-chuvas. Imagine que você se inclui entre as pessoas que redigem os textos que vão compor uma enciclopédia sobre objetos que perduram através dos anos.
Com base na crônica de Rubem Braga, escreva o verbete guarda-chuva.
REGISTRE
NO CADERNO
Petição on-line foi atendida por editora que publica dicionário;
versão na internet já está atualizada.
casamento
ca.sa.men.to
sm (casar+mento2
) 1 União legítima de homem e mulher. 2 União homem e mulher,
para constituir família. 3 Cerimônia ou festa nupcial
Fotografias: Thinkstock/Getty Images
271Produção de texto
A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
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Coisas antigas
[...]
Depois de cumprir meus afazeres voltei
para casa, pendurei o guarda-chuva a um canto e me pus a contemplá-lo. Senti então uma
certa simpatia por ele; meu velho rancor contra guarda-chuvas cedeu lugar a um estranho
carinho, e eu mesmo fiquei curioso de saber
qual era a origem desse carinho.
Pensando bem, ele talvez derive do fato, creio
que já notado por outras pessoas, de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno mais infenso a mudanças. Sou apenas um quarentão,
e praticamente nenhum objeto de minha infância existe mais em sua forma primitiva. De
máquinas como telefone, automóvel, etc., nem é
bom falar. Mil pequenos objetos de uso mudaram de forma, de cor, de material; em alguns casos, é verdade, para melhor; mas mudaram.
O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs,
as sombrinhas, já se entregaram aos piores
desregramentos futuristas e tanto abusaram
que até caíram de moda. Ele permaneceu austero, negro, com seu cabo e suas invariáveis
varetas. De junco fino ou pinho vulgar, de algodão ou de seda animal, pobre ou rico, ele se
tem mantido digno.
Reparem que é um dos engenhos mais
curiosos que o homem já inventou; tem ao
mesmo tempo algo de ridículo e algo de fúnebre, essa pequena barraca ambulante.
Já na minha infância era um objeto de
ares antiquados, que parecia vindo de épocas remotas, e uma de suas características era
ser muito usado em enterros. Por outro lado,
esse grande acompanhador de defuntos sempre teve, apesar de seu feitio grave, o costume
leviano de se perder, de sumir, de mudar de
dono. Ele na verdade só é fiel a seus amigos
cem por cento, que com ele saem todo dia, faça
chuva ou faça sol, apesar dos motejos alheios;
a estes, respeita. O freguês vulgar e ocasional,
este o irrita, e ele se aproveita da primeira distração para fugir.
Nada disso, entretanto, lhe tira o ar honrado.
Ali está ele, meio aberto, ainda molhado, choroso; descansa com uma espécie de humildade
ou paciência humana; se tivesse liberdade de
movimentos não duvido que iria para cima do
telhado quentar sol, como fazem os urubus. [...]
(Rubem Braga. São Paulo: Global, 2013. Coleção Melhores Crônicas.
Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/
coisas-antigas-cronica-de-rubem-braga/. Acesso em: 19/2/2016.)
Thinkstock/Getty Images
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UNIDADE 4 CAMINHOS
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2. Leia, a seguir, o verbete enfermagem, da Enciclopédia escolar britânica.
Inspirem-se no verbete lido para criar verbetes sobre carreiras, profissões e áreas de
atuação existentes no mercado de trabalho. Vocês podem fazer a seleção dos verbetes por meio de diferentes critérios, entre eles:
• interesses da classe
• novas profissões do século XXI
• profissões em alta nos dias de hoje
• profissões muito antigas que persistem até os dias de hoje
Organizem-se em dois ou três grupos, cada um dos quais deverá ficar responsável
por escrever verbetes para serem incluídos em um dos seguintes suportes: mural, dicionário, enciclopédia. Definam um critério para orientar a escolha dos verbetes que
cada grupo escreverá.
(Disponível em: http://escola.britannica.com.br/article/482080/enfermagem. Acesso em: 7/2/2016.)
Britannica Escola Online/ Enciclopédia Escolar Britannica
273PRODUÇÃO DE TEXTO
A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
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ANTES DE ESCREVER
Planeje seu verbete, seguindo estas orientações:
• Pesquise reportagens, artigos científicos, documentos, entre outros textos, que tratem
da profissão relacionada ao verbete cuja criação ficou sob sua responsabilidade (certifique-se de que são fontes confiáveis).
• Selecione dos textos pesquisados as informações que você considerar mais importantes para constar no verbete.
• Defina a forma de apresentação do seu verbete: menos ou mais desenvolvido, em um
único bloco ou subdividido em seções temáticas, etc.
• Defina se serão utilizadas imagens e quais serão, tendo em vista o aspecto central do
termo em foco.
• Escreva em um tom impessoal, na 3ª pessoa, sem manifestar seu ponto de vista e sem
se dirigir diretamente aos leitores.
• Não utilize termos que expressem ponto de vista negativo ou elogioso, a fim de que
seu verbete seja o mais possível isento de opinião pessoal.
• Evite utilizar adjetivos qualificadores que denotem uma visão muito particular, procure
ser conciso e evite explicitar sua opinião.
ANTES DE pASSAR A lImpO
Antes de dar seu verbete por finalizado, observe:
• se as informações são suficientes e condizentes com as do material de consulta que
você selecionou;
• se a forma de apresentação que você escolheu para o seu verbete cumpre os objetivos
pretendidos;
• se a(s) imagem(ns) contribui(em) para o sentido construído no verbete, sem apontar
para outro(s) sentido(s);
• se o tom do texto é impessoal, sem o uso de 1ª pessoa ou interpelação ao leitor;
• se foram evitados termos pejorativos ou elogiosos, bem como adjetivos qualificadores
que expressem opiniões pessoais.
Projeto de pesquisa
Ao concluir o ensino médio, caso opte por ingressar em uma universidade, você certamente tomará contato com projetos de pesquisa desenvolvidos por seus professores. O
desenvolvimento de um projeto de pesquisa abrange todo o trabalho a ser realizado por
uma pessoa ou por um grupo de pessoas com o fim de refletir sobre um assunto relacionado a uma determinada área de estudo.
Para que trabalhos como esse possam ser iniciados, é preciso haver um ponto de partida. Esse ponto de partida é a elaboração de um projeto de pesquisa que expresse as
intenções de uma pessoa ou de um grupo de pessoas.
Veja, a seguir, a estrutura básica de um projeto de pesquisa, com as principais informações que ele deve conter, segundo um parâmetro (com alguma possibilidade de variação) estabelecido pelas diversas comunidades de pesquisadores.
título da pesquisa (relacionado ao problema proposto)
Nome do pesquisador/Nome do orientador
introdução
Apresentação do contexto a partir do qual surgiu a ideia da pesquisa.
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objetivos e perguntas da pesquisa
Enumeração de tópicos que indiquem a finalidade da pesquisa, isto é, o que se pretende com o trabalho, e questões a serem respondidas com a pesquisa. A formação dos
objetivos geralmente se inicia com verbos no infinitivo, tais como comparar, analisar,
reconhecer, interpretar, etc.
relevância e justificativa
Esclarecimento da importância do trabalho e explicação das razões pelas quais sua
realização trará contribuições para a construção do conhecimento na área de estudo
em que ele se insere.
revisão da literatura/referenciais teóricos
Exposição do que se tem falado sobre o assunto da pesquisa na área pesquisada e em
outras áreas, com o fim de situar o leitor e comprovar que o autor do projeto conhece
o campo de estudo e sabe que a abordagem proposta naquele projeto ainda não foi
realizada.
Metodologia e recursos necessários
Esclarecimento dos métodos que serão utilizados para desenvolver a pesquisa: entrevistas, reuniões, questionários, diários de campo, experimentos em laboratório, etc.,
bem como as ferramentas necessárias para desenvolver tais métodos: gravações em
áudio, vídeos, transcrições, registros pessoais escritos, etc.
Cronograma
Detalhamento do tempo a ser gasto em cada etapa do trabalho (em geral, é apresentado em uma tabela que indica o tempo nas colunas e as atividades a serem realizadas, uma em cada linha).
referências bibliográficas
Citação dos livros, revistas, artigos, filmes, etc. mencionados no texto do projeto.
anexos
Inclusão de documentos, fotos ou outros registros importantes para a concepção do
projeto de pesquisa.
HORA DE ESCREVER
Há, a seguir, uma proposta de elaboração de um breve projeto de pesquisa. Trata-se
de uma pesquisa rápida, que você pode desenvolver no decorrer desta unidade, a fim
de tomar contato com essa prática. Depois, na feira de profissões, você apresentará esse
projeto e os resultados a que chegou com a pesquisa. Sugerimos para pesquisa alguns
tópicos da área de linguagem e de literatura que você estudou neste ano. Escolha, para
desenvolver em sua breve pesquisa, um destes tópicos.
• A concordância no português falado na comunidade escolar. Em que aspectos ela difere das regras da norma-padrão? (Faça uma pesquisa investigativa, por meio da gravação de falas de diferentes pessoas que convivem na escola, seguida da transcrição e da
análise dessas falas.)
• A colocação pronominal no português falado pela comunidade escolar. Em que aspectos ela difere das regras da norma-padrão? (Faça uma pesquisa investigativa, por meio
da gravação de falas de diferentes pessoas que convivem na escola, seguida da transcrição e da análise dessas falas.)
• A construção dos fatos pela mídia. (Escolha dois ou mais veículos de comunicação que
noticiaram certo fato de maneiras distintas e discuta os efeitos de sentido das diferentes maneiras de tratar o assunto.)
275PRODUÇÃO DE TEXTO
A literatura brasileira contemporânea. Análise linguística: as diferentes formas de dizer. Verbete e projeto de pesquisa CAPÍTULO 1
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• Diálogos entre pintura e poesia. (Escolha um(a) pintor(a) e um(a) escritor(a) cujas obras
apresentem elementos em comum, identifique e descreva o diálogo que há entre as
produções desses artistas.)
• Intertextualidade na poesia brasileira dos séculos XX e XXI. (Escolha textos que dialogam entre si, de dois ou mais autores, e mostre a intertextualidade presente neles.)
Após a elaboração do projeto, dê início à pesquisa e, na feira de profissões, apresente,
junto com o projeto, os resultados a que você chegou com o trabalho.
ANTES DE ESCREVER
Ao planejar seu projeto de pesquisa, siga estas orientações:
• Elabore um conjunto de questões, tendo em mente o que você pretende com sua
pesquisa.
• Formule perguntas pontuais e específicas e estabeleça objetivos que possam ser alcançados em um tempo reduzido.
• Faça as adaptações no modelo de estrutura básica de projeto de pesquisa apresentado,
caso considere que uma das partes dele não se encaixa na sua proposta.
• Monte um “esqueleto” inicial, conforme o modelo de estrutura de projeto apresentado
e complete-o com base na orientação que pretende dar à sua pesquisa.
ANTES DE pASSAR A lImpO
Antes de dar seu projeto de pesquisa por finalizado, observe:
• se os objetivos e as questões foram suficientemente especificados e se eles podem ser
contemplados em uma pesquisa breve;
• se os objetivos estão claros e condizentes com as questões apresentadas;
• se todas as partes que você listou como necessárias estão detalhadas;
• se as informações apresentadas em cada parte estão condizentes com a função
delas (na parte Objetivos e perguntas da pesquisa, é esclarecida a finalidade do trabalho?; na parte Relevância e justificativa, é exposta a razão pela qual o trabalho
será realizado?; etc.);
• se o trabalho a ser realizado é compatível com o cronograma proposto.
Professor: O objetivo em vista com a proposta é que os alunos aprendam algumas formas de conceber e realizar uma pesquisa. Portanto, sugerimos que os projetos sejam breves, para que possam ser concluídos entre uma e três semanas, a fim de serem apresentados na feira.
276 UNIDADE 4 CAMINHOS
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Panorama da literatura portuguesa
no século XX
análise linguística: gerúndios e
gerundismo
Carta de apresentação
Panorama da literatura portuguesa
no século XX: Fernando Pessoa e
José Saramago
2
LITERATURA
CAPÍTULO
O pescador, tapeçaria de
Almada Negreiros (1893-1970),
escritor e artista plástico
que foi um dos fundadores
do Modernismo português.
Coleção Particular
277 Panorama da literatura portuguesa no século XX. Análise linguística: gerúndios e gerundismo. Carta de apresentação CAPÍTULO 2
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A literatura portuguesa trilhou no século XX caminhos parecidos com os
da literatura brasileira em relação a propostas e fases.
A primeira fase do Modernismo português teve início em 1915, com a
publicação da revista Orpheu. Vivia-se em Portugal um momento de mudanças, em virtude do início da República, proclamada no país em 1910, e da
Primeira Guerra Mundial (1914-18).
Tal qual no Brasil, as primeiras manifestações modernistas foram
fortemente influenciadas pelas correntes de vanguarda, mas apresentavam ainda algumas influências do Simbolismo e do decadentismo do
final do século XIX. Participaram dessa geração, entre outros, Mário de
Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa, que você vai estudar
neste capítulo.
Em 1927, um novo grupo de escritores lançou a revista Presença, que, sem
romper com a geração anterior, tinha a finalidade de renovar a literatura por
meio de uma pesquisa estética que explorasse novas formas de expressão
literária e introduzir questões levantadas pela filosofia de Bergson e pela
psicanálise de Freud. Entre os integrantes desse grupo, destacam-se principalmente José Régio, Miguel Torga, Adolfo Casais Monteiro e Branquinho
da Fonseca.
Os temas sociais e o engajamento político, que marcaram a produção
literária no Brasil no início dos anos 1930, surgiram em Portugal alguns anos
mais tarde, entre as décadas de 1930 e 1940, com o Neorrealismo. Nesse momento, a literatura se voltou para problemas do contexto social, dominado
pela Segunda Guerra Mundial e pela ditadura de Salazar. Surgiram nesse
momento, em Portugal, importantes escritores, entre eles, Ferreira de Castro, Alves Redol e Manuel da Fonseca.
A partir da década de 1960, conviveram na literatura portuguesa várias
tendências, como o Neorrealismo e o Surrealismo. Com a Revolução dos
Cravos (1974), o fim da ditadura salazarista e o início do processo de independência das colônias portuguesas na África, a literatura portuguesa
começou a buscar novos rumos, seja produzindo uma literatura de guerra,
seja produzindo uma literatura marcada pelo experimentalismo estético.
Os principais autores desse período são Antônio Lobo Antunes, Wanda Ramos, Jorge de Sena, Augusto Abelaira e José Saramago, que você vai estudar neste capítulo.
Fernando Pessoa
Ao lado de Camões, Fernando Pessoa é considerado um dos dois maiores
poetas da literatura portuguesa e uma das principais expressões literárias
em nossa língua.
Escreveu poemas, contos e textos de estrutura dramática, mas foi principalmente como poeta que mais se destacou.
O aspecto mais intrigante da poesia de Pessoa é a heteronímia, ou
seja, ele criou não apenas obras, mas também escritores, cada um com
uma biografia, traços físicos, profissão e estilo literário próprios. Alguns
especialistas, que ainda estão estudando a obra não publicada do poeta,
atestam que, além de Fernando Pessoa ele-mesmo, isto é, do ortônimo,
há mais de cem heterônimos, semi-heterônimos e heterônimos pouco
desenvolvidos do autor. Os mais bem-acabados e conhecidos são Alberto
Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, que você vai conhecer neste capítulo. Também se destaca na prosa o semi-heterônimo Bernardo Soares.
A publicação da revista Orpheu nº 1
ocorreu em janeiro de 1915. A do nº 2,
que foi o último, aconteceu em abril
do mesmo ano.
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa (1888-1935) nasceu
e morreu em Lisboa. Quando menino,
viveu com a família na África do Sul e foi
educado em uma escola irlandesa. Por
causa de sua familiaridade com a língua
inglesa, as três primeiras obras literárias
que produziu foram escritas e publicadas
em inglês. Além dessas obras, publicou,
em vida, apenas mais uma, Mensagem
(1934), em língua portuguesa.
Começou a estudar Filosofia, em Lisboa, mas abandonou o curso e tornou -
se crítico literário.
Foi estudioso de astrologia e ocultismo.
Orpheu Lda/Capa de José Pacheco Ullstein Bild/Getty Images
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literatura
FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, um painel de textos de Fernando Pessoa.
Texto 1
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
(Obra poŽtica. Rio de Janeiro: Aguilar, 1965. p. 164-5.)
Texto 2
O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.
(Idem, p. 223.)
calha: trilho; cano de
metal, aberto em cima,
colocado ao longo de
telhados para escoamento
da água das chuvas.
comboio: trem; grande
número de veículos que se
dirigem a um mesmo posto
ou destino.
279 Panorama da literatura portuguesa no século XX. Análise linguística: gerúndios e gerundismo. Carta de apresentação CAPÍTULO 2
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Texto 3
As rosas amo dos jardins de Adônis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.
(Idem, p. 259.)
Texto 4
Poema em linha reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Adônis: na mitologia grega, deus da vegetação,
representado por um jovem dotado de grande beleza.
Apolo: na mitologia grega, deus da luz, da beleza das
artes, do equilíbrio e da razão, representado por um jovem
nu, no auge do vigor.
insciente: não conhecedor, ignorante.
volucre: que vive pouco, efêmero.
Rafael Neves Bilbioteca Nacional de Portugal, Lisboa, Portugal
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LITERATURA
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
(Idem, p. 418-9.)
1. Observe os poemas do ponto de vista formal.
a. Quais deles apresentam o verso livre? E o verso regular?
b. Em qual deles a linguagem é clássica, com vocabulário elevado e inversões sintáticas?
c. Em qual os versos são longos e a linguagem tem um tom irreverente?
2. No painel de textos, há um poema de Fernando Pessoa ele-mesmo e
outros três de heterônimos dele. Leia, nos boxes, as características dos
heterônimos e do ortônimo e, com base nelas, conclua:
a. Qual deles é o autor do poema “Autopsicografia”? Justifique sua resposta.
b. E do texto 2? Justifique sua resposta.
c. E do texto 3? Justifique sua resposta.
d. E do “Poema em linha reta”? Justifique sua resposta.
3. “Autopsicografia” é um poema metalinguístico, que põe em discussão a
própria criação literária e sua relação com os leitores.
a. Levando em conta que a palavra fingir vem da forma latina fingire,
que significa “modelar, esculpir, inventar”, explique: Se o poeta
sente uma dor real, vivida, então por que ele finge “a dor que deveras sente”?
b. Se os leitores não sentem as duas dores do poeta nem a que eles têm,
então qual é a dor que eles sentem? Justifique sua resposta com base
na segunda estrofe.
c. Nesse processo, qual é a participação do leitor no processo de criação
literária?
d. Na última estrofe, há uma contraposição entre coração e razão, criada
por meio de uma imagem. Qual é a imagem? Como ela se relaciona
com o processo de criação literária?
e. Como conclusão, explique o título do poema, “Autopsicografia”.
REGISTRE
NO CADERNO
Os textos 2 e 4 apresentam o verso livre; os
textos 1 e 3, o verso regular.
No texto 3.
No texto 4.
É Fernando Pessoa ele-mesmo, em virtude do tema metalinguístico e
do uso do verso regular (redondilha). É Alberto Caeiro, em virtude da temática filosófica, da visão antimetafísica do mundo e
do uso do verso livre.
É Ricardo Reis, em virtude da presença de elementos da mitologia (Adônis, Apolo), do tema
do carpe diem e do uso de versos regulares.
É Álvaro de Campos, em virtude do uso de versos longos e livres, da
irreverência e da crítica aos comportamentos sociais.
O poeta é aquele que cria, que inventa com base em uma experiência real, e aí reside a criação
literária, ou seja, ele parte de uma dor real, vivida, para criar uma segunda dor, fingida.
3. b) Professor: Abra a discussão com a classe, pois pode haver mais de uma interpretação. Sugestão: É a dor que eles imaginam, a
partir da leitura. O leitor participa da situação,
com a sua experiência pessoal e com a sua
imaginação; logo, ele também cria uma dor,
uma quarta dor.
O leitor é um agente, alguém que, de certo modo, também
contribui para a construção dos sentidos do texto.
d) É a imagem de um comboio de corda (o coração), que gira entretendo a razão. A emoção e
a razão são a base da criação literária.
Professor: Comente com os alunos que, em
toda a história da literatura, houve a tensão
entre esses dois elementos, ora prevalecendo
um, ora outro.
Tomando de empréstimo o conceito de psicografia (processo de registro mediúnico de texto cuja autoria é atribuída a um espírito), o título sugere que, na criação literária, ocorre um processo análogo:
o poeta parte de sua experiência pessoal e concreta e, por meio da invenção, como faz o artesão,
transforma-a em objeto artístico, fazendo uso da razão e da emoção.
Álvaro de Campos
Engenheiro formado em Glasgow, é
o heterônimo mais modernista. Na fase
inicial de sua poesia, mostra-se influenciado pelo Futurismo e exalta a velocidade e as máquinas. Posteriormente,
desenvolve uma poesia mais reflexiva,
com crítica às estruturas sociais e certa
melancolia em relação à infância e ao
passado. Sua linguagem é explosiva, rebelde, contestatória e com a utilização
de versos livres e longos.
Alberto Caeiro
É considerado por Pessoa o mestre
dele próprio e dos demais heterônimos.
Poeta e filósofo, Caeiro nega toda forma de conhecimento oficial, extraído
dos livros, e desenvolve suas ideias a
partir da observação direta da natureza.
Para ele, as sensações são o meio de
conhecer a realidade. Sua linguagem
é simples, direta e com a utilização de
versos livres.
Ricardo Reis
É o heterônimo ligado à tradição
clássica da poesia. Estudou em colégio
jesuíta, é monarquista e amante das
culturas grega e latina. Reside no Brasil.
Tem uma linguagem elevada, às vezes com inversões sintáticas, e aborda
temas clássicos da poesia, como o carpe diem e o locus amoenus. Emprega
versos regulares.
Pessimista, sente-se parte de uma civilização decadente, que caminha para
o nada.
281 Panorama da literatura portuguesa no século XX. Análise linguística: gerúndios e gerundismo. Carta de apresentação CAPÍTULO 2
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4. O texto 2 é um exemplo do pensamento filosófico de um dos heterônimos de Fernando Pessoa.
a. Na concepção do eu lírico, qual é o mistério das coisas ou a metafísica
(investigação do que está além do mundo material)?
b. O eu lírico considera que as sensações são o meio de conhecer a realidade. Comprove essa afirmação com trechos do poema.
4. a) Na concepção do eu lírico, não existe metafísica nem há sentido oculto nas coisas. Elas simplesmente são o que são, sem mistério.
“Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?”, “Sempre que olho para as cousas...
/ Rio como um regato que soa fresco numa pedra.”
5. No texto 3, o eu lírico se dirige à mulher amada, Lídia, e, comparando a
vida às rosas, faz um convite a ela.
a. Qual é o convite?
b. Que relação esse convite tem com a tradição clássica da poesia?
c. Que outros elementos da tradição clássica podem ser notados nesse
poema?
6. No “Poema em linha reta”, o eu lírico faz uma oposição entre ele e todas
as outras pessoas que conhece.
a. Na opinião dele, como as outras pessoas se mostram socialmente?
b. Como o eu lírico se sente, ou como se avalia? Justifique sua resposta
com palavras e expressões do texto.
c. Que figura de linguagem se verifica em versos como “Todos os meus
conhecidos têm sido campeões em tudo” e “Nunca foi senão príncipe
– todos eles príncipes – na vida...”?
d. O que o poema critica?
O eu lírico convida a mulher amada para viverem a vida de modo intenso e inconsciente, sem pensar no tempo ou no amanhã, da
mesma forma que a rosa vive o dia, ou seja, simplesmente nasce ao amanhecer e morre ao final da tarde, sem pensar em nada.
Esse convite expressa o conceito clássico do carpe diem (viver o dia) na poesia.
A presença de elementos da mitologia (Adônis e Apolo) e o uso de versos regulares.
Todas as outras pessoas se mostram perfeitas:
“campeões em tudo”, “príncipes”, “semideuses”.
Ele se sente apenas humano, cheio de defeitos e limitações, conforme demonstra o emprego de palavras e expressões como parasita, sujo, grotesco, mesquinho, etc.
Ironia.
Critica a falsidade das pessoas em seus comportamentos e em suas relações sociais, como se
todas usassem máscaras sociais, deixando de ser autênticas.
Fernando Pessoa ele-mesmo
A obra ortônima do poeta apresenta -
se como modernista, com algumas influências remanescentes do Simbolismo.
A obra Mensagem é voltada para o
passado histórico português, em especial
para o período heroico das navegações.
O poeta se interessou também pela
poesia musical e pela metalinguagem.
Seus textos são construídos com bastante cuidado formal.
Fernando Pessoa cantado e declamado
Vários poemas de Fernando Pessoa foram transformados em canções. O compositor André Luís Vieira musicou alguns poemas de
Mensagem e convidou grandes vozes da MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Gal Costa e outros, para cantá-las. O
músico paulista Arrigo Barnabé fez o mesmo com parte do “Poema
em linha reta”.
Os poemas de Pessoa também vêm sendo declamados por grandes artistas, como Paulo Autran e Maria Bethânia.
Essas canções e declamações podem ser acessadas na Internet.
REGISTRE
NO CADERNO
Os heterônimos de Fernando
Pessoa na ótica de Almada
Negreiros, poeta e pintor
do Modernismo português.
Capa do disco Mensagem,
de André Luís.
Celestino Manuel/Isuzu Imagens
Gradiente/Gravadora Eldorado/Warner Music/
Sérgio Mineiro/Sérgio Campanelle/André Luiz Oliveira
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LITERATURA
JosŽ Saramago
José Saramago (1922-2010) nasceu
em Golegã, uma pequena cidade de
Portugal. Quando jovem, embora fosse
apaixonado por livros, não pôde cursar
a universidade por falta de recursos. Fez
curso técnico e seu primeiro trabalho foi
como serralheiro.
Até tornar-se escritor, exerceu diversas
profissões, como mecânico, desenhista
técnico, funcionário público e jornalista.
Em 1995, ganhou o Prêmio Camões,
o mais importante conferido a escritores de língua portuguesa, e, em 1998,
o Nobel de literatura. Tornou-se o mais
conhecido escritor de língua portuguesa
em todo o mundo.
Nos últimos anos de sua vida, casado
com a tradutora espanhola Pilar del Rio,
morou na ilha espanhola de Lanzarote,
nas Ilhas Canárias.
José Saramago
José Saramago é o mais importante escritor da literatura portuguesa
contemporânea.
Estreou na literatura com o romance Terra do pecado (1947), mas seu
prestígio como escritor aconteceu quando tinha 58 anos, a partir da publicação de Levantado do chão (1980), obra com um estilo muito particular, que
seria sua marca literária. Foi, porém, com Memorial do convento (1982) que o
autor ganhou projeção internacional.
Em seu texto, há uma grande subversão no uso dos sinais de pontuação.
Utiliza apenas a vírgula e o ponto; sem travessões ou aspas e com pouco
uso de verbos dicendi (como perguntou, respondeu, etc.), as vozes das personagens se misturam à voz do narrador. Os parágrafos podem ser longos
ou curtos, seguindo uma lógica interna. O uso constante do fluxo de consciência torna a narrativa ainda mais complexa. Muitos leitores, diante do
estranhamento, desistem de ir adiante, enquanto outros se apaixonam pela
leitura. Trata-se de uma escrita diferente, que exige um leitor atento e mais
experiente.
Assumido até o fim da vida como homem de esquerda e ateu, Saramago produziu obras em geral reflexivas, filosóficas, críticas em relação aos
comportamentos sociais e que, muitas vezes, criam atmosferas surrealistas,
como em Ensaio sobre a cegueira (1994), na qual as pessoas começam a ficar
cegas de um dia para o outro e, diante de uma situação insólita, revelam
facetas de personalidade surpreendentes.
Saramago escreveu obras sobre temas históricos, como Memorial do
convento, Jangada de pedra (1986), História do cerco de Lisboa (1989) e A viagem do elefante (2008), sobre temas religiosos, como O evangelho segundo
Jesus Cristo (1991), sobre temas existenciais, como Todos os nomes (1997) e
Ensaio sobre a lucidez (2004), além de uma obra intrigante sobre um dos heterônimos de Fernando Pessoa, O ano da morte de Ricardo Reis (1984). Entre
os gêneros que cultivou estão o romance, o teatro, o conto e a poesia.
Todos os nomes
O romance Todos os nomes, de José Saramago, conta a história do Sr. José
– única personagem que tem nome em toda a obra –, homem de meia-idade, metódico, que vive sozinho em uma casa ao lado da Conservatória Geral
do Registo Civil, onde trabalha. É um funcionário exemplar e, na função subalterna e burocrática que exerce, de auxiliar de escrita, seu trabalho é registrar o nome de todas as pessoas que nascem e morrem, bem como as datas
de nascimento e morte delas. Em sua vida pacata, o protagonista adquire
um hobby: colecionar recortes com informações sobre as pessoas famosas
que morrem. Às vezes, para completar seu álbum com informações precisas
sobre os mortos, o Sr. José se atribui uma tarefa hercúlea, fazendo buscas
e investigações em arquivos restritos da Conservatória. Certo dia, um fato
muda sua rotina: chega às suas mãos a ficha de uma mulher não famosa, e o
protagonista se interessa em saber de que ela havia morrido. Obcecado pela
informação, empreende uma verdadeira investigação sobre a morta, chegando a usar documentos falsos em nome da Conservatória para entrevistar
parentes dela. Descobre que a mulher se suicidara. O Sr. José vai, então, ao
cemitério Todos os Nomes (o Cemitério Geral) e encontra, na parte reservada
aos suicidas, o túmulo com a indicação do número correspondente ao dela.
Companhia das Letras Carlos Avarez/Gettyimages
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FOCO NO TEXTO
No cemitério, surge um pastor com suas cabras e inicia uma conversa com o Sr. José.
Leia, a seguir, o texto relativo a esse momento da narrativa.
[...] Qual é então a verdade do talhão de suicidas, perguntou o Sr. José, Que
neste lugar nem tudo é o que parece, É um cemitério, é o Cemitério Geral, É um
labirinto, Os labirintos podem ver-se de fora, Nem todos, este pertence aos invisíveis, Não compreendo, Por exemplo, a pessoa que está aqui, disse o pastor tocando com a ponta do cajado no montículo de terra, não é aquela que você julga.
De repente, o chão pôs-se a oscilar debaixo dos pés do Sr. José, a última pedra do
tabuleiro, a sua derradeira certeza, a mulher desconhecida enfim encontrada, tinha acabado de desaparecer, Quer dizer que esse número está enganado, perguntou a tremer, Um número é um número, um número nunca engana, respondeu
o pastor, se levassem de cá este e o colocassem noutro sítio, mesmo que fosse no
fim do mundo, continuaria a ser o número que é, Não percebo, Já vai perceber, Por
favor, a minha cabeça é uma confusão, Nenhum dos corpos que estão aqui enterrados corresponde aos nomes que se leem nas placas de mármore, Não acredito,
Digo-lho eu, E os números, Estão todos trocados, Porquê, Porque alguém os muda
antes de serem trazidas e colocadas as pedras com os nomes, Quem é essa pessoa,
Eu, Mas isso é um crime, protestou indignado o Sr. José, Não há nenhuma lei que
o diga, Vou denunciá-lo agora mesmo à administração do Cemitério, Lembre-se
de que jurou, Retiro o juramento, nesta situação não vale, Pode-se sempre pôr a
palavra boa sobre a má palavra, mas nem uma nem outra poderão ser retiradas,
palavra é palavra, juramento é juramento, A morte é sagrada, A vida é que é sagrada, senhor auxiliar de escrita, pelo menos assim se diz, Mas tem de haver, em
nome da decência, um mínimo de respeito por quem morreu, vêm aqui as pessoas recordar os parentes e amigos, a meditar ou a rezar, a pôr flores ou a chorar
diante de um nome querido, e vai-se a ver, por culpa da malícia de um pastor de
ovelhas, o nome autêntico de quem ali está é outro, os restos mortais venerados
não são de quem se supõe, a morte, assim, é uma farsa, Não creio que haja maior
respeito que chorar por alguém que não se conheceu, Mas a morte, Quê, A morte
deve ser respeitada, Gostaria que me dissesse em que consiste, na sua opinião,
o respeito pela morte, Acima de tudo, não a profanar, A morte, como tal, não é
profanável, Sabe muito bem que é de mortos que estou a falar, não da morte em
si mesma, Diga -me onde encontra aqui o menor indício de profanação, Ter-lhes
trocado os nomes não é uma profanação pequena, Compreendo que um auxiliar
de escrita da Conservatória do Registro Civil tenha dessas ideias acerca dos nomes. O pastor interrompeu-se, fez sinal ao cão para que fosse buscar uma ovelha
que se tresmalhara, depois continuou, Ainda não lhe disse por que razão comecei
a trocar as chapas em que estão escritos os números das sepulturas, Duvido que
Nelson Provazi
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literatura
me interesse sabê-lo, Duvido que não lhe interesse, Diga lá, Se for certo, como é
minha convicção, que as pessoas se suicidam porque não querem ser encontradas, estas aqui, graças ao que chamou a malícia do pastor de ovelhas, ficaram definitivamente livres de importunações, na verdade, nem eu próprio, mesmo que
o quisesse, seria capaz de lembrar-me dos sítios certos, a única coisa que sei é o
que penso quando passo diante de um desses mármores com o nome completo
e as competentes datas de nascimento e morte, Que pensa, Que é possível não
vermos a mentira mesmo quando a temos diante dos olhos. Já havia muito tempo que a neblina tinha desaparecido, podia-se perceber agora como era grande o
rebanho. O pastor fez com o cajado um movimento por cima da cabeça, era uma
ordem ao cão para que fosse reunir o gado. Disse o pastor, É a altura de me ir embora com as ovelhas, não seja que comecem a aparecer os guias, já vejo luzes de
dois carros, mas aqueles não vêm para aqui, Eu ainda fico, disse o Sr. José, Está a
pensar, realmente, em ir denunciar-me, perguntou o pastor, Sou um homem de
palavra, o que jurei, está jurado, Tanto mais que com certeza o aconselhariam a
calar-se, Porquê, Imagine o trabalho que daria desenterrar toda esta gente, identificá-la, muitos deles não são mais do que pó entre pó. As ovelhas já estavam reunidas, alguma, ainda atrasada, salvava agilmente por cima das campas para fugir
ao cão e juntar-se às irmãs. O pastor perguntou, Era amigo ou parente da pessoa
a quem veio visitar, Nem sequer a conhecia, E apesar disso vinha procurá-la, Por
não a conhecer é que a procurava, Vê como eu tinha razão quando lhe disse que
não há maior respeito que chorar por uma pessoa que não se conheceu, Adeus,
Pode ser que ainda venhamos a encontrar-nos alguma vez, Não creio, Nunca se
sabe, Quem é você, Sou o pastor dessas ovelhas, Nada mais, Nada mais. Uma luz
cintilou ao longe, Aquele está a vir para aqui, disse o Sr. José, Assim parece, disse
o pastor. Levando o cão à frente, o rebanho começou a mover-se em direcção à
ponte. Antes de desaparecer atrás das árvores da outra margem, o pastor virouse e fez um gesto de despedida. O Sr. José levantou também o braço. Via-se agora
melhor a luz intermitente do carro dos guias. De vez em quando desaparecia, escondida pelos acidentes do terreno ou pelas construções irregulares do Cemitério,
as torres, os obeliscos, as pirâmides, depois reaparecia mais forte e mais próxima,
e vinha depressa, sinal evidente de que os acompanhantes não eram muitos. A
intenção do Sr. José, quando dissera ao pastor, Eu ainda fico, tinha sido apenas a
de ficar sozinho durante uns minutos antes de meter os pés ao caminho. A única
coisa que queria era pensar um pouco em si mesmo, achar a medida justa da sua
decepção, aceitá-la, pôr o espírito em paz, dizer de uma vez, Acabou-se, mas agora
uma outra ideia lhe aparecera. Aproximou-se duma sepultura e tomou a atitude
de alguém que estivesse a meditar profundamente na irremissível precariedade da existência, na vacuidade de todos os sonhos e de todas as esperanças, na
fragilidade absoluta das glórias mundanas e divinas. Cismava com tanta concentração que nem deu mostras de ter-se apercebido da chegada dos guias e
da meia dúzia de pessoas, ou pouco mais, que acompanhavam o enterro.
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Não se moveu durante todo o tempo que durou a abertura da cova,
a descida do caixão, o reenchimento do buraco, a formação do costumado montículo com a terra que tinha sobejado. Não se moveu
quando um dos guias espetou no lado da cabeceira a chapa metálica
negra com o número da sepultura a branco. Não se moveu quando o
automóvel dos guias e o carro fúnebre se afastaram, não se moveu
durante os escassos dois minutos que os acompanhantes ainda se
conservaram ao pé da campa dizendo palavras inúteis e enxugando alguma lágrima, não se moveu quando os dois automóveis em
que tinham vindo se puseram em marcha e atravessaram a ponte.
Não se moveu enquanto não ficou só. Então foi retirar o número que
correspondia à mulher desconhecida e colocou-o na sepultura nova.
Depois, o número desta foi ocupar o lugar do outro. A troca estava
feita, a verdade tinha-se tornado mentira. Em todo o caso, bem poderá vir a suceder que o pastor, amanhã, encontrando ali uma nova
sepultura, leve, sem saber, o número falso que nela se vê para a sepultura da mulher desconhecida, hipótese irónica em que a mentira,
parecendo estar a repetir-se a si mesma, tornaria a ser verdade. As
obras do acaso são infinitas. O Sr. José foi para casa.
[...]
(Todos os nomes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 239-43.)
1. A primeira dificuldade do leitor que começa a ler as obras de Saramago
é se acostumar com a pontuação do texto.
a. A fim de compreender como se organiza o texto de Saramago, reescreva em seu caderno o trecho que segue, empregando os sinais de
pontuação convencionais.
“Qual é então a verdade do talhão de suicidas, perguntou o Sr. José,
Que neste lugar nem tudo é o que parece, É um cemitério, é o Cemitério Geral, É um labirinto, Os labirintos podem ver-se de fora, Nem
todos, este pertence aos invisíveis, Não compreendo, Por exemplo, a
pessoa que está aqui, disse o pastor tocando com a ponta do cajado no
montículo de terra, não é aquela que você julga.”
b. Confronte sua reescrita com a dos colegas. Elas ficaram iguais?
c. Que efeito a pontuação utilizada por Saramago produz na leitura do
texto?
2. Depois de muitos esforços para recolher informações sobre a mulher
suicida e descobrir onde estava o túmulo dela, o Sr. José tem uma grande surpresa.
a. Qual é a surpresa?
b. Considerando-se a profissão e os hábitos do protagonista, por que ele
acha inadmissível o que ficou sabendo?
irremissível: o que não se pode
evitar ou não se pode perdoar.
talhão: parte do cemitério reservada
para enterrar certas pessoas.
1. a) – Qual é então a verdade do talhão de suicidas? – perguntou o Sr. José.
– Que neste lugar nem tudo é o que parece.
– É um cemitério, é o Cemitério Geral.
– É um labirinto.
– Os labirintos podem ver-se de fora.
– Nem todos, este pertence aos invisíveis.
– Não compreendo.
– Por exemplo, a pessoa que está aqui – disse o
pastor, tocando com a ponta do cajado no montículo de terra – não é aquela que você julga.
Professor: Provavelmente, haverá reescritas com pequenas diferenças. O importante aqui é que os alunos discutam as múltiplas possibilidades de organização do texto e da produção de sentido.
Ela cria sentidos ambíguos, uma vez que não se sabe exatamente quem está falando. Como
consequência, ela exige uma atenção redobrada do leitor, principalmente nos momentos
iniciais da leitura.
Saber que o pastor trocava os números dos túmulos.
Como auxiliar de escrita e alguém que vivia organizando informações precisas quanto a nome, nascimento e morte de
pessoas, a ação do pastor era uma afronta a tudo o que ele acreditava ser correto.
A intimidade de Saramago no
filme JosŽ e Pilar
O documentário JosŽ e Pilar, feito
pelo cineasta português Manoel Gonçalves Mendes, é quase uma invasão
de privacidade. Em vez de haver a voz
de um narrador que conta a história de
alguém, como é comum nos documentários, são as próprias personagens,
Saramago e sua mulher, Pilar, que contam como vivem. Abrindo ao cineasta
as portas da casa onde residiam, na Espanha, Saramago e Pilar nos permitem
acompanhar seu cotidiano, ver cenas do
escritor escrevendo e apreciar a bela
paisagem da ilha de Lanzarote.
REGISTRE
NO CADERNO
Jumpcut/El Deseo/02 Filmes
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LITERATURA
3. O pastor, em sua fala, faz declarações sobre a vida, a morte e os mortos. Do ponto de
vista dele:
a. O que é sagrado: a vida ou a morte? O que é improfanável: a vida ou a morte?
b. Ele desrespeita os mortos com sua ação? Por quê?
c. Ele fez uma boa ação para a mulher suicida? Por quê?
4. Depois que o pastor se afasta, o Sr. José fica pensativo. Releia este trecho:
“Aproximou-se duma sepultura e tomou a atitude de alguém que estivesse a
meditar profundamente na irremissível precariedade da existência, na vacuidade
de todos os sonhos e de todas as esperanças”.
a. De que tipo ou de que natureza é o pensamento do protagonista?
b. Avaliando a vida que tivera até ali e a aventura em que se metera para descobrir
informações sobre a mulher suicida, como agora o protagonista se posiciona diante
da vida? Justifique sua resposta.
5. No final do texto, o Sr. José tem uma ação surpreendente.
a. Qual é essa ação? Ela é coerente com o perfil da personagem?
b. Considerando a possibilidade de o pastor fazer mais uma vez uma troca, explique a
relatividade do que é verdade e mentira nessa situação.
c. Considerando o tipo de vida, as ideias e os valores do protagonista, o que essa ação
representa para ele? O Sr. José será a mesma pessoa depois disso?
6. O Sr. José é a única personagem da obra que tem nome; além disso, trata-se de um
nome comum. Nas placas do cemitério aonde José vai, não há nomes; há apenas números que identificam os mortos. O cemitério chama-se Todos os Nomes, que é também o nome da obra de Saramago. Relacione esses elementos e conclua:
a. Que sentido tem a identificação dos mortos por meio de números, em vez de nomes?
b. Considerando-se o título do romance, que sentido tem a falta de nomes próprios
na obra, a não ser o de José?
c. E a atribuição do nome JosŽ ao protagonista?
A vida é sagrada, e a morte,
improfanável.
Não, ao contrário; ele acha que nada é mais respeitoso do que alguém rezar diante do túmulo de um desconhecido.
Sim, porque, segundo ele, os suicidas não querem ser encontrados pelos
vivos, e a troca das placas contribui para a realização desse desejo.
Trata-se de um pensamento filosófico, existencial.
Na reflexão que faz sobre a vida, ele percebe que tudo aquilo
em que acreditava não tinha valor verdadeiro.
5. a) O sr. José troca a
placa de identificação do
túmulo onde uma pessoa
acabara de ser enterrada,
o que é incoerente com a
postura metódica e com os
valores que ele tivera até
então.
b) Talvez o pastor troque a
placa e a deixe exatamente no lugar onde deveria
estar. Isso mostra a relatividade do que é considerado verdade ou mentira,
pois o ponto de vista é
determinante para os julgamentos que fazemos.
c) Representa uma ruptura em relação à rigidez
e burocracia da sua vida
profissional e aos seus valores e crenças. Assim, o
protagonista liberta-se de
si próprio e talvez, a partir
dali, passe a viver de outra
maneira.
6. a) O uso de números
para identificar os mortos,
em vez de nomes, sugere a
massificação ou a coisificação do ser humano, que,
em vez de ser visto como
pessoa, é visto como coisa
ou como quantidade. Além
disso, tem o sentido de
que, como se trata de mortos, pouco importa quem
tenham sido em vida.
b) Da mesma forma que o
emprego de números para
identificar os mortos, a
ausência de nomes no romance remete à falta de
identidade das pessoas,
cada uma considerada um
ser qualquer na multidão.
O nome JosŽ acentua o aspecto de universalidade atribuído ao protagonista, ou seja, José representa a todos nós,
que vivemos em uma sociedade massificada, que pouco valoriza e respeita as pessoas em sua individualidade.
Por meio do estudo realizado neste capítulo, você viu que:
• a literatura portuguesa no século XX guarda semelhanças com o Modernismo brasileiro, que vão da fase de
ruptura com o passado até a fase neorrealista, de denúncia e crítica da realidade, e à fase de experimentalismo
estético; os seus principais autores são Fernando Pessoa e José Saramago;
• além de ser marcada por uma rica produção literária, a obra de Fernando Pessoa se destaca também pela presença de heterônimos, isto é, escritores independentes, com biografia, visão de mundo e estilo próprios, entre eles
Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos;
• José Saramago é um escritor cuja obra tem um estilo pessoal próprio, que subverte a pontuação tradicional e,
com isso, exige um leitor atento e participante: em suas obras, são frequentes a reflexão existencial, situações
surpreendentes, às vezes surrealistas, e a crítica aos problemas sociais.
literatura
287 Panorama da literatura portuguesa no século XX. Análise linguística: gerúndios e gerundismo. Carta de apresentação CAPÍTULO 2
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FOCO NO TEXTO
Leia a tira a seguir.
Adão Iturrusgarai/Acervo do cartunista
Análise linguística:
gerúndios e gerundismo
LÍNGUA E LINGUAGEM
1. No 1º quadrinho, a personagem faz uma afirmação.
a. O que denota a expressão da personagem nesse quadrinho?
b. Observe o nome da personagem e o título pelo qual ela é apresentada e deduza:
Qual é a relação entre eles?
c. Que imagem a tira constrói sobre as pessoas que estudam português? Levante hipóteses: Essa é uma postura comum a todos os estudiosos da língua portuguesa?
2. Observe o 2º quadrinho.
a. Qual é a relação dele com a fala da personagem do 1º quadrinho?
b. Deduza: A que uso da língua corresponde a expressão tiponite aguda? Essa expressão sugere aprovação ou reprovação? Justifique sua resposta com elementos do
texto.
3. Sobre o 3º e o 4º quadrinhos:
a. O que denota a expressão de cada uma das personagens?
b. Que relação há entre o 4º quadrinho e o 3º quadrinho?
c. Deduza: A qual fato corresponde a expressão gerundismo nesse contexto? Trata-se
de uma classificação que sugere aprovação ou reprovação? Justifique sua resposta
com elementos do texto.
d. Você concorda que as falas do 4º quadrinho possam ser classificadas dessa forma?
4. Agora, leia o diálogo a seguir, que contém as mesmas expressões tratadas como
gerundismo na tira em estudo, imaginando que ele aconteceu entre dois colegas de
trabalho, no escritório da empresa.
REGISTRE
NO CADERNO
Serenidade, tranquilidade.
O nome Norma faz referência às normas que regem o uso padrão da língua ou às regras da gramática normativa.
Professor: Espera-se que
os alunos reconheçam
que se trata de um estereótipo e que obviamente
nem todos os estudiosos
da língua assumem essa
postura. Comente que,
na atualidade, esse papel
tem sido desempenhado
mais por jornalistas e pela
sociedade em geral do que
pelos próprios estudiosos
da língua.
A imagem de que os estudiosos de português se ocupam com as normas da gramática, além de julgar e policiar os usos
que os falantes da língua fazem dela.
Ele mostra uma situação de conversa que exemplifica a “tiponite aguda”, mencionada pela personagem no 1º quadrinho.
Ao uso excessivo da expressão tipo. A expressão tiponite aguda remete a uma doença ou a um problema
de saúde. Além disso, quando no 1º quadrinho a personagem fala em “algo pior”, ela afirma indiretamente
que se trata de algo ruim e sugere reprovação em relação ao fato mencionado.
No 3º, de preocupação, angústia; no 4o
, de indiferença ou até mesmo de soberba, presunção.
b) O 4º quadrinho mostra
uma situação de fala que
em tese exemplificaria o
fato mencionado pela personagem no 3º quadrinho.
c) Ao uso de locuções
como vou estar almoçando e vou estar falando.
Sugere reprovação, dada
a expressão de repulsa da
personagem no 3º quadrinho e a retomada de sua
fala no 1º, segundo a qual
esse uso seria ainda “pior”
se comparado a outro, já
considerado ruim.
Resposta pessoal. Professor: Lance a discussão em sala e deixe em aberto, já
que as próximas questões farão uma análise mais específica das construções.
(Folha de S. Paulo, 14/3/2013.)
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língua e
linguagem
O aspecto verbal
Você certamente já sabe que os verbos se conjugam em tempos, pessoas e modos variados. Outra categoria
que também influencia no sentido dos verbos é o aspecto relacionado tanto aos sentidos do verbo quanto ao
posicionamento do falante em relação à forma verbal que utiliza.
Para este estudo, é importante destacar que alguns verbos apresentam aspecto menos ou mais contínuo ou
durativo, isto é, representam ações que se prolongam menos ou mais no tempo, por seu próprio sentido, ainda
que dependam do contexto do enunciado em que aparecem. Por exemplo, ações como cair, tropeçar, nascer e
morrer são não durativas por princípio, ao passo que ações como trabalhar, crescer, estudar e morar são, em
princípio, durativas.
— Posso passar na sua sala ao meio-dia hoje?
— Puxa, hoje nesse horário vou estar almoçando.
— E no final da tarde?
— No final da tarde vou estar falando com os funcionários da filial de Recife em uma
videoconferência.
a. Discuta com os colegas e o professor: O uso das expressões vou estar almoçando e
vou estar falando, nesse diálogo, causa algum estranhamento?
b. As formas verbais do gerúndio podem ser utilizadas para diferentes finalidades,
todas relacionadas a situações em que o verbo tem um aspecto durativo, isto é,
indica que a ação realizada tem certa duração no tempo. No diálogo lido, o uso do
gerúndio tem essa finalidade? Justifique sua resposta.
c. Deduza: Essas expressões exemplificam de fato ocorrências de gerundismo, tal
como considera a personagem da tira?
Espera-se que os alunos digam que não, uma vez que esses usos são corriqueiros em situações de fala cotidiana.
REGISTRE
NO CADERNO
Sim, pois indicam ações que vão acontecer durante certo período de tempo: almoçar e falar.
Espera-se que os alunos percebam que não, uma vez que a reprovação expressa
pela personagem da tira indica que gerundismo seria uma construção estranha à
língua, inadequada ou errada.
5. Observe as seguintes possibilidades para indicar futuro:
dormirei – vou dormir chamarei – vou chamar farei – vou fazer
encontrarei – vou encontrar estarei – vou estar
a. Faça uma rápida pesquisa com seus colegas: Entre os pares listados, quais dessas
formas vocês mais usam em seu dia a dia?
b. Levante hipóteses: Qual é a relação entre esse uso do futuro e a construção chamada de gerundismo na tira em estudo?
Resposta pessoal.
Atualmente, no Brasil, as locuções são mais comuns do
que as formas do futuro simples.
A construção chamada de gerundismo na tira é formada pelo futuro do verbo estar seguido
do gerúndio, indicando uma ação que vai ocorrer no futuro e que terá certa duração: estarei
almoçando/falando, vou estar almoçando/falando. Shutterstock / Sergey Nivens
289 Panorama da literatura portuguesa no século XX. Análise linguística: gerúndios e gerundismo. Carta de apresentação CAPÍTULO 2
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6. Agora leia o diálogo a seguir, imaginando que ele também aconteceu entre dois colegas de trabalho, no escritório da empresa.
— Então o e-mail do fornecedor não chegou?
— Não. Mas eu vou estar enviando para você
assim que recebermos.
— Ótimo. Ainda hoje faço o pagamento.
— Ok, já aviso que você vai estar transferindo
o dinheiro para a conta dele.
a. Com base nas informações do boxe “O aspecto verbal”, discuta com os colegas e o
professor: Qual é a diferença, no sentido e no aspecto, das expressões verbais destacadas no diálogo acima em comparação com as expressões verbais destacadas
na questão 4?
b. Observe as construções vou estar enviando, vou enviar, enviarei e levante hipóteses:
Quais são as diferenças de sentido entre elas?
c. Entre as construções do item anterior, qual seria classificada como gerundismo
pela professora da tira em estudo? E, nesse caso, qual poderia ser a repercussão
social do uso excessivo dessa forma?
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
O gerúndio, assim como o infinitivo e o particípio, formas nominais dos verbos em
português, pode se ligar a outros verbos em locuções verbais, a fim de construir um determinado sentido em um enunciado.
No caso do gerúndio, esse traço de sentido em geral está associado ao prolongamento da ação verbal. É o chamado aspecto contínuo ou durativo do verbo, utilizado sem
causar estranhamento em enunciados como “estou estudando o dia todo”. Esse uso,
entretanto, tem gerado polêmica em construções como “amanhã vou estar estudando
o dia todo” ou, ainda, “vou estar enviando a mensagem para vocês”, como visto no estudo da seção anterior.
Esse estranhamento se deve especialmente ao aspecto durativo ou não durativo do
verbo principal das orações nas quais a locução aparece. À parte o aspecto durativo, há
algumas hipóteses sobre o uso dessa construção, entre elas:
• trata-se de uma sobreposição de verbos auxiliares, uma vez que a expressão vou estar
estudando, por exemplo, poderia em tese ser substituída por vou estudar ou estarei
estudando, com apenas um verbo auxiliar acompanhando o verbo principal;
• a construção com o gerúndio deixa o enunciado mais polido;
• a construção com o gerúndio marca menos o compromisso estabelecido pelo enunciado;
• a construção com o gerúndio modifica o aspecto dos verbos não durativos, acrescentando a eles a ideia de que levará um tempo para a ação se concretizar.
Qualquer que seja a intenção dos falantes ao utilizarem tais formas, mais interessante
do que condená-las como erradas ou impuras é analisá-las e discutir em quais situações
elas ocorrem, por que isso acontece e se há alternativas mais eficientes ou se elas cumprem devidamente sua finalidade.
Nas expressões destacadas no diálogo acima, diferentemente do que ocorre no diálogo da questão 4, os verbos têm
sentido não durativo, uma vez que enviar e transferir são ações que, em geral, se iniciam e terminam pontualmente.
REGISTRE
NO CADERNO
6. b) É possível considerar
que há uma gradação na
ênfase e na assertividade
de cada uma das ocorrências: enviarei é a mais enfática e assertiva, seguida
de vou enviar e, por fim,
vou estar enviando, a qual,
por sua vez, pode ainda dar
o sentido de que a pessoa
que a profere ainda vai demorar para de fato enviar.
c) A professora provavelmente recriminaria a construção vou estar enviando,
que, se usada em excesso,
pode acarretar discriminação e preconceito, uma vez
que o dito gerundismo tem
sido repelido socialmente
por se tratar de uma construção que normalmente
subverte o valor semântico e o emprego padrão de
alguns verbos.
Thinkstock/Getty Images
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
APLIQUE O QUE APRENDEU
Leia o anúncio a seguir.
(Disponível em: http://www.putasacada.com.br/wp-content/uploads/2015/06/
60x40_vw-4-zone-cannes-201531-1024x682.jpg. Acesso em: 3/4/2016.)
1. Relacione as partes verbal e não verbal do anúncio:
a. Quem são as personagens retratadas e qual é a relação entre elas?
b. Qual é a relação entre as cores dos balões das falas de cada personagem e o sentimento que elas deixam transparecer com suas falas?
2. Releia a primeira fala:
“Mãe, eu tô pensando em morar sozinho.”
a. Identifique a ocorrência do verbo estar + gerúndio.
b. Levante hipóteses: Por que ela foi escrita dessa forma? Como seria a forma escrita
padrão?
c. Discuta com os colegas e o professor: Qual sentido o uso dessa locução verbal constrói no texto?
d. Imagine outras situações em que esse mesmo recurso é usado com esse fim e conclua: Em quais contextos essa ocorrência é comum?
3. Sobre o anúncio, como um todo:
a. Quem é o anunciante?
b. Qual é o produto anunciado?
c. Identifique o enunciado do anúncio que marca a relação entre o produto anunciado e o texto central do anúncio e explique essa relação.
Da esquerda para a direita: o filho mais velho, o pai, a mãe e o
filho mais novo. Formam uma família.
As cores reforçam a ideia de “temperatura” das falas. Assim, em
amarelo está a fala mais amena de todas; em laranja, uma fala
um pouco mais tensa; em vermelho, a mais tensa e exaltada; e,
em azul, a mais fria.
REGISTRE
NO CADERNO
“tô pensando (em morar)”
Porque se trata de uma conversa informal, em família. Na escrita padrão, seria: “estou pensando (em morar)”.
Ao utilizar o gerúndio na locução verbal estou pensando, o filho ameniza sua fala, sugere
que se trata de uma ideia apenas, como se ainda não estivesse decidido.
2. d) Professor: Coloque
em discussão na classe. É
provável que os próprios
alunos já tenham utilizado
esse recurso. O importante
é eles concluírem que se
trata de um recurso utilizado quando se vai falar
sobre um assunto adverso
para o interlocutor. Introduzir a conversa dessa
forma ameniza o que será
dito depois: “Pai, estou
pensando em viajar com
meus amigos”; “Professor,
estávamos pensando se
a prova não poderia ser
adiada para a outra semana”; etc.
A montadora Volkswagen.
Um carro com um sistema diferenciado de ar-condicionado.
“Cada um sente as coisas de um jeito”. Assim como cada pessoa da família recebe uma mesma notícia de forma diferente, eles sentem o ar de
forma diferente quando estão juntos no carro. Daí a conveniência de se ter um ar-condicionado com controles diferentes de temperatura.
AlmapBBDO
MÃE, EU TÔ
PENSANDO
EM MORAR
SOZINHO.
ONDE? POR QUÊ?
EU POSSO
FICAR COM O
SEU QUARTO?
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Panorama da literatura portuguesa no século XX. Análise linguística: gerúndios e gerundismo. Carta de apresentação CAPÍTULO 2
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4. Leia a seguir um parágrafo de um texto dissertativo sobre supostas desvantagens da
Internet, escrito por um aluno do ensino médio.
A rapidez da Internet gera uma acomodação, causando sedentarismo físico e
mental, não despertando o senso crítico e não desenvolvendo a mente para criar
opiniões novas. Um exemplo da falta de incentivo ao pensamento crítico é o famoso “copiar e colar”, não obrigando nem mesmo o aluno a ler o que está na tela,
apenas achando que está certo, causando por fim a falta de interesse em pesquisar
sobre o assunto.
a. Na estrutura do texto dissertativo, o uso excessivo do gerúndio pode gerar imprecisão. Identifique, na ordem em que aparecem no texto, as expressões a que se
referem as formas verbais:
• causando:
• (não) despertando:
• (não) desenvolvendo:
• (não) obrigando:
• achando:
• causando:
b. Identifique o trecho no qual o uso excessivo de gerúndio deixa o texto impreciso,
prejudicando a retomada dos termos.
c. Reescreva o parágrafo, eliminando o excesso de formas no gerúndio e tornando as
referências mais claras.
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia o cartum a seguir.
REGISTRE
NO CADERNO
“a rapidez da Internet”
“a rapidez da Internet”
“a rapidez da Internet”
“o famoso ‘copiar e colar’”
“o aluno”
“a rapidez da Internet”, “falta de incentivo ao pensamento crítico”, “o
famoso ‘copiar e colar’”, “apenas achando que está certo” (neste caso,
não é possível determinar com certeza a referência, nem pelo contexto).
O segundo período, de “Um exemplo da falta de incentivo”
até “pesquisar sobre o assunto”.
Entre outras possibilidades: A rapidez da Internet gera uma acomodação e pode causar sedentarismo físico e mental, impossibilitando o desenvolvimento do senso crítico e da mente para criar opiniões novas. Um exemplo da falta de incentivo ao pensamento
crítico é o famoso “copiar e colar”, que não obriga nem mesmo o aluno a ler o que está na tela. Isso pode deixar a impressão de que
tudo o que se lê está certo, e tamanha facilidade causa, por fim, a falta de interesse em pesquisar sobre o assunto.
(Disponível em: http://themaharani.blogspot.com.br/2006_10_01_archive.html. Acesso em: 25/3/2016.)
1. É comum ouvir que o gerundismo começou com os operadores de telemarketing.
Relacione as partes verbal e não verbal do cartum.
a. Qual é o sentido construído pelo título no contexto do cartum?
b. Qual é o sentido construído pelo uso da expressão proteção pelo telemarketing no
contexto do cartum?
O de que será retratada uma situação que
ilustre a rotina da máfia nos dias atuais.
O de que a própria máfia, que o ameaça, contratou uma empresa de telemarketing
para fazer o serviço de cobrar a proteção oferecida aos comerciantes e empresários.
Fernando Gonsales
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
2. Observe as seguintes construções:
“vamos estar incendiando”
“vamos estar explodindo”
a. Como a personagem descobriu que estava falando com uma empresa de telemarketing?
b. Discuta com os colegas e o professor: Por que essas construções são
associadas ao telemarketing pela personagem?
c. O aspecto dos verbos principais utilizados nessas construções é durativo? Justifique sua resposta.
d. Levante hipóteses: Por que, no telemarketing, operadores usam com
frequência essa estrutura? Justifique sua resposta.
3. A fala atribuída ao telemarketing, no cartum em estudo, causa efeito de
humor e quebra a expectativa dos leitores ao sobrepor dois discursos
que não combinam.
a. Quais são esses discursos? Por que eles não combinam?
b. Qual efeito de sentido essa combinação de discursos constrói em relação à ameaça feita no cartum?
Leia este anúncio:
Pelo uso das construções chamadas de gerundismo,
com a estrutura ir + estar + gerúndio.
2. b) Porque essa fala é considerada típica dos
operadores de telemarketing, uma vez que
esse tipo de serviço disseminou a construção
ir + estar + -ndo, ainda que ela ocorra também
em outros contextos.
c) Não. Incendiar e explodir, nesse contexto,
são ações pontuais, pois, ainda que possam
durar determinado tempo, são iniciadas momentânea e pontualmente por uma pessoa.
d) Para tentar elaborar uma fala mais polida,
mais gentil, demonstrando cordialidade e falando de forma menos impositiva, já que se
trata de um serviço que, em geral, é utilizado
para resolver situações delicadas, como cobranças, pedidos de doações ou oferecimento
de produtos.
3. a) O discurso de ameaça, que pretende
amedrontar o interlocutor, e o discurso do telemarketing, que tenta demonstrar gentileza
e polidez em relação ao interlocutor. Eles não
combinam porque têm intenções divergentes
e seguem direções opostas.
b) O de que se trata de uma ameaça fraca,
sem ênfase, cujo autor não está de fato comprometido com a ação. Nesse caso, ela provavelmente não vai se cumprir; portanto, não
põe medo nem impõe respeito.
No princípio era o gerúndio
Circula em certos meios de comunicação uma hipótese, defendida por
alguns professores de português, de
que a construção denominada por eles
gerundismo tem origem em uma tradução da estrutura de futuro da língua
inglesa will be -ing, que equivaleria à
nossa forma vai estar -ndo.
Para muitos linguistas, entretanto,
essa hipótese não procede, principalmente pelo fato de que a maioria dos
falantes que usa a forma brasileira não
fala inglês. Além disso, pode-se inferir,
pelos contextos de uso da construção
brasileira, que há por parte dos falantes a intenção de expressar cordialidade e polidez, em vez de dar uma resposta seca e direta com o uso da forma
simples do verbo.
4. O texto central do anúncio utiliza várias formas verbais no gerúndio.
a. Identifique essas formas verbais.
b. Indique o agente de cada uma dessas formas.
5. Releia o trecho a seguir.
“Estamos sugerindo o jeito mais difícil.”
dando, casando-se, sendo, estamos sugerindo
Das três primeiras, o leitor (“você”), e da última, o nós implícito, ou seja, o anunciante, a revista Época Negócios.
(Disponível em: http://www.sotitulos.com.br/wp-content/
uploads/2012/11/13606.jpg. Acesso em: 26/3/2016.)
Mohallem Meirelles
REGISTRE
NO CADERNO
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a. Proponha outra redação para essa frase, sem utilizar o gerúndio.
b. Discuta com os colegas e o professor: Qual é a diferença de sentido entre a versão
do anúncio e a redação proposta por você no item anterior?
c. Com base no restante do anúncio, deduza: Qual é “o jeito mais difícil”? Justifique
sua resposta.
6. Tendo em vista o sentido das primeiras formas verbais, é possível considerar que o
texto do anúncio faz uso de um recurso de ironia.
a. Identifique e explique esse recurso, justificando sua resposta com base no texto.
b. Explique como esse recurso contribui para a construção da imagem da revista.
Sugerimos o jeito mais difícil.
A versão do anúncio é
menos enfática, um jeito
mais brando de se dar uma
sugestão. Esse uso deixa o
anúncio mais coloquial e
próximo do leitor.
O jeito mais difícil é “sendo inovador”, pois na frase seguinte a expressão “inspiração
para inovar” sugere que é essa a sugestão que a revista leva a seus leitores.
6. a) As duas primeiras
sugestões – dar um golpe
na bolsa e casar por interesse – são feitas apenas
para ressaltar a terceira:
ser inovador. Na verdade,
o enunciador despreza as
primeiras sugestões, daí
a ironia.
b) Esse recurso contribui para construir uma
imagem de uma revista
competente em sua área
de atuação, que inspira
atitudes louváveis em
seus leitores e os leva a
fazer história; uma revista séria, mas que também
sabe fazer brincadeiras
inteligentes.
Carta de apresentação
As cartas de apresentação podem ter diferentes objetivos: apresentar um livro, um
grupo, uma pessoa ou a si mesmo. Neste capítulo, vamos estudar esse gênero textual,
tendo em vista que, com certa frequência, esse tipo de carta é solicitado, entre outras
situações, em processos seletivos para cursos ou empregos e viagens de intercâmbio.
FOCO NO TEXTO
Leia a carta de apresentação a seguir.
Senhor diretor de Siete Días [revista de Buenos Aires]
Um amigo meu, o desenhista Quino (se chama assim, mas
quando assina cheques põe Joaquín Lavado), me disse que você
teria muito interesse em contratar a mim e a meus amiguinhos,
Susanita, Felipe, Manolito e Miguelito, para juntos trabalharmos
todas as semanas em sua revista.
Aceitamos com muito gosto, mas antes devo dizer a você que
em minha casa a família aumentou, porque em 21 de março nasceu meu irmãozinho, o que alegrou bastante meu pai e minha
mãe; e a mim trouxe curiosidade. Agora estamos todos muito
preocupados em cuidar dele e pensando em um nome de que
ele goste quando for grande. Como me parece que você e os leitores da revista queriam me conhecer um pouco melhor antes
de assinar o contrato, envio-lhe meu curriculum (é assim que
se escreve?), mas não tão completo porque de algumas coisas já
não me lembro mais. [...]
Na vida real eu nasci em 15 de março de 1962. Meu pai é corretor de seguro, e em casa se entretém cuidando de plantas. Minha mãe é dona de casa. Eles se conheceram quando estudavam
juntos na faculdade, mas depois ela abandonou o curso para,
segundo ela, cuidar melhor de mim. O nome que me colocaram
foi em homenagem a uma menina que trabalhava no filme “Dar
REGISTRE
NO CADERNO
PRODUÇÃO DE TEXTO
Joaquín Salvador Lavado (QUINO) Joaquín Salvador Lavado (QUINO)
294 UNIDADE 4 CAMINHOS
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a cara”, feito com base no livro do escritor David Viñas. Em 22
de setembro de 1964, Quino conseguiu uma recomendação para
que eu trabalhasse na revista Primeira Plana, e em março de
1965 me levaram ao jornal diário El Mundo. [...]
Nos últimos dias recebi muitas cartas e telefonemas perguntando sobre meu irmãozinho. Quase todos se preocupam
em saber como meus pais me explicaram o assunto. Foi assim: me chamaram um dia, ficaram muito corados, disseram
que tinham de me dizer algo muito importante. Meu pai me
contou que eles haviam encomendado um irmãozinho para
mim, que antes de ele nascer minha mãe cuidaria dele, porque ele cresce como uma sementinha, e que havia plantado
nela porque sabe muito de plantas. Eu não entendi muito bem, mas
fiquei contente de saber a verdade, porque a maioria das crianças da
escola falam que os nenéns nascem em repolhos ou que a cegonha os
traz de Paris... [...]
[...] gosto de ler, escutar os noticiários, ver TV (menos as séries), brincar
de xadrez, boliche e balanço. Gosto muito de brincar e correr ao ar livre,
onde haja árvores e passarinhos, como em Bariloche. Quando fomos de
férias para lá, passamos dias muito bonitos. Esse ano não saímos de férias,
porque esperávamos a chegada de meu irmãozinho. [...]
Entre as coisas de que não gosto estão: primeiro, sopa; depois, que me
perguntem se gosto mais do papai ou da mamãe; ainda, o calor e a violência. Por isso, quando for grande, vou ser tradutora da ONU. Mas quando os
embaixadores brigarem, vou traduzir tudo ao contrário, para que se entendam melhor e haja paz de uma vez por todas.
Até a semana que vem,
Mafalda
(Sergio Moreno. In: Quino. Toda Mafalda. 22. ed. Buenos Aires:
Ediciones de la Flor, 2010. p. 570-571. Tradução dos autores.)
1. Sobre a carta de apresentação lida, responda às perguntas a seguir e justifique suas
respostas com trechos do texto.
a. Quem se apresenta a quem?
b. Qual é a motivação para a escrita da carta?
c. Qual é a faixa etária da autora da carta?
2. Releia estes trechos:
• “Um amigo meu, o desenhista Quino [...], me disse que você teria muito interesse
em contratar a mim e a meus amiguinhos”
• “Na vida real eu nasci em 15 de março de 1962.”
• “Em 22 de setembro de 1964, Quino conseguiu uma recomendação para que eu
trabalhasse na revista Primeira Plana, e em março de 1965 me levaram ao jornal
diário El Mundo.”
REGISTRE
NO CADERNO
Mafalda se apresenta ao diretor da revista Siete Dias,
conforme indicam o vocativo e a assinatura.
Segundo o texto, Quino, amigo de Mafalda, disse a ela que o diretor da revista Siete
Dias gostaria de contratá-la para trabalhar semanalmente na revista. Aparentemente,
ele gostaria de conhecê-la melhor antes de assinar o contrato.
Ela é criança, pois usa termos típicos do vocabulário infantil, como amiguinhos, irmãozinho. Essa hipótese é reforçada pela história de como os pais lhe contaram sobre a gravidez da mãe e pelo trecho, no final, “quando eu for grande”.
Joaquín Salvador Lavado (QUINO)
295
PRODUÇÃO
DE TEXTO
Panorama da literatura portuguesa no século XX. Análise linguística: gerúndios e gerundismo. Carta de apresentação CAPÍTULO 2
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Levante hipóteses:
a. Qual é a relação entre Mafalda e Quino?
b. Por que, ao se referir a sua data de nascimento, Mafalda diz “na
vida real”?
c. Qual seria, então, a outra data de “nascimento” de Mafalda?
d. No último trecho, há dados cuja presença é importante em cartas de
apresentação profissional. Identifique quais são eles e comente essa
afirmação.
3. A carta de Mafalda foi publicada na seção da revista Siete Días na qual,
da semana seguinte em diante, circulariam tiras semanais com a personagem. Tendo em vista essa informação, responda:
a. Quem, de fato, escreveu a carta?
b. A quem, de fato, a carta se dirigia?
c. Apesar dessas diferenças, o texto cumpre o papel de carta de apresentação? Justifique sua resposta.
4. Releia o trecho:
“Como me parece que você e os leitores da revista queriam me conhecer um pouco melhor antes de assinar o contrato, envio-lhe meu
curriculum (é assim que se escreve?), mas não tão completo porque de
algumas coisas já não me lembro mais.”
a. O trecho parece adequado para uma carta de apresentação com vistas a um emprego? Justifique sua resposta.
b. No caso da carta lida, ele tem um efeito negativo? Por quê?
c. Quais sentidos esses dizeres de Mafalda permitem que os leitores
construam sobre ela?
5. Na carta que escreve, Mafalda apresenta as informações que julga serem relevantes para seu novo trabalho. Com base nas respostas às questões anteriores, levante hipóteses sobre qual seria a relevância das seguintes informações:
a. “devo dizer a você que em minha casa a família aumentou, porque
em 21 de março nasceu meu irmãozinho, o que alegrou bastante meu
pai e minha mãe; e a mim trouxe curiosidade. Agora estamos todos
muito preocupados em cuidar dele e pensando em um nome de que
ele goste quando for grande.”
b. “Eu não entendi muito bem, mas fiquei contente de saber a verdade,
porque a maioria das crianças da escola falam que os nenéns nascem
em repolhos ou que a cegonha os traz de Paris...”
c. “Entre as coisas de que não gosto estão: primeiro, sopa; depois, que
me perguntem se gosto mais do papai ou da mamãe; ainda, o calor e
a violência.”
REGISTRE
NO CADERNO
Mais que “amigo”, Quino é o criador e o desenhista de Mafalda.
Porque ela se refere à data em que foi criada por Quino, e não ao dia em que ocorreu a primeira publicação
de tira de que ela é personagem.
A data da primeira publicação de tira com ela, ou seja, o dia em que a personagem “nasceu” para o público, 22 de setembro de 1964.
Esses dados se referem à experiência profissional. Mafalda menciona que já trabalhou em outros
grandes veículos de comunicação e, portanto, estaria qualificada para a atividade.
Quino.
Aos leitores da revista.
Sim, pois sua principal função era apresentar a personagem Mafalda e as demais
personagens da tira que circularia na seção da revista a partir da semana seguinte.
Não, pois, aparentemente, demonstra
despreparo do autor.
4. b) Não, pois Mafalda é uma criança, e
isso explica o fato de ela desconhecer as
regras do mundo corporativo, segundo as
quais devem constar no currículo todas as
informações profissionais relevantes para o
emprego pleiteado.
Os de que ela é uma garota espontânea, sincera, franca, não finge
saber o que não sabe para tentar impressionar.
5. a) O fato de o irmão ter nascido há pouco
tempo e de ela e a família estarem ocupados
com ele adianta aos leitores que muitas tiras
terão como tema a chegada dessa nova personagem. 5. b) Mostra que Mafalda é uma criança esperta, que não se conforma com
respostas que não façam sentido para ela.
c) Ter conhecimento do que a personagem não gosta poderá ajudar os leitores
a entender melhor a sátira de algumas tiras.
Dicas para escrever uma
carta de apresentação
ao se candidatar a uma
vaga de emprego
• Se o departamento ou o nome da
pessoa que vai receber a carta for
conhecido, dirija-se diretamente ao
departamento ou à pessoa no início
do texto.
• Mencione no texto o nome da
empresa.
• Faça referência a qualidades e
características que sejam requisitos
relacionados, de fato, ao trabalho
a ser realizado. O anúncio da vaga
pode ajudar a saber quais são elas.
• Não faça referência a defeitos.
• Revise a carta. Erros gramaticais,
ortográficos e até de digitação
podem fazer com que sua carta não
seja lida até o fim.
• Empregue um tom e um vocabulário
formal. Poucas são as situações em
que a informalidade é bem recebida.
• Utilize um papel discreto. A não ser
em situações muito específicas,
em que se trate de trabalhos pouco
convencionais, que demandam
aptidões artísticas e criativas,
papéis chamativos não são
convenientes.
• Seja direto, sucinto e objetivo, de
modo a não ultrapassar uma página.
• Finalize a carta com seu nome e/ou
assinatura.
296 UNIDADE 4 CAMINHOS
PortuguesContemporaneo3_UN4_CAP2_277a298.indd 296 5/12/16 6:36 PM
HORA DE EsCREvER
Na carta de apresentação que você leu, a “pessoa” que se apresenta é,
na verdade, uma conhecida personagem de histórias em quadrinhos. Leia, a
seguir, alguns trechos de uma carta escrita por Leonardo da Vinci, no século
XV, na qual ele se apresentava com o objetivo de trabalhar como escultor,
em Milão.
[...] Já fiz planos de pontes muito leves [...] Sou capaz de desviar
a água dos fossos de um castelo cercado [...] Conheço meios de destruir seja que castelo for [...] Sei construir bombardas fáceis de serem deslocadas [...] galerias e passagens sinuosas que se podem escavar
sem ruído nenhum [...] carros cobertos, estáveis e seguros, armados com
canhões.
Estou, sem dúvida, em condições de competir com qualquer outro
arquiteto, tanto para construir edifícios públicos ou privados como para
conduzir água de um sítio para outro.
E, em trabalhos de pintura ou na lavra do mármore, do metal ou da argila, farei obras que seguramente podem suportar o confronto com qualquer outro, seja ele quem for.
(Apud Maria Teresa Vianna van Acker. Renascimento e humanismo ―
O homem e o mundo europeu do século XIV ao século XVI. São Paulo: Atual, 1992. p. 36-7.)
Note que, assim como faz Mafalda na carta estudada anteriormente, Da Vinci fala de
sua experiência na área do trabalho pleiteado e menciona realizações suas anteriores.
Além disso, menciona as habilidades que tem e se compromete com a realização de um
bom trabalho. Esses dois exemplos possibilitam o estabelecimento de um modelo de carta de apresentação, como o que segue.
Ao Departamento de Recursos Humanos (ou nome da pessoa responsável pelo recrutamento)
Sou estudante do (especificações do curso/nível), já concluí os cursos
de (cursos que fez), nos quais conheci (breve exposição sobre o conteúdo
do curso relacionado à vaga pretendida) e tenho experiência de atuação
como (função/cargo no qual já trabalhou/estagiou) ao longo de (especifique o tempo). Sou (liste duas ou três características suas que possam contribuir para o bom desempenho no trabalho pretendido, como organizado,
flexível, dedicado, interessado, motivado, disposto a aprender).
Tenho responsabilidade e comprometimento em relação às tarefas a
mim conferidas e, em geral, facilidade de relacionamento nos ambientes
sociais e profissionais. Encaminho meu currículo para a vaga (especificar),
conforme anúncio publicado.
Buscando desenvolvimento profissional e uma oportunidade no mercado de trabalho, pretendo ocupar a posição de (cargo pretendido) na empresa (nome da empresa), reconhecida amplamente por sua importante
atuação na área (se quiser, especificar a área).
bombarda: máquina com
cordas e molas usada para
arremessar pedras.
Dê continuidade à
organização da feira de
profiss›es, escrevendo
uma carta de apresentação que, durante a
realização do projeto,
poderá servir como modelo a participantes do
evento.
297PrODuÇÃO De teXtO
Panorama da literatura portuguesa no século XX. Análise linguística: gerúndios e gerundismo. Carta de apresentação CAPÍTULO 2
PortuguesContemporaneo3_UN4_CAP2_277a298.indd 297 5/12/16 6:36 PM
Ademais, acredito que, com meu empenho e entusiasmo, posso contribuir diretamente para o crescimento da empresa.
Estou à disposição para maiores esclarecimentos.
Cordialmente,
(Nome e/ou assinatura)
Com base na carta de Mafalda, nos trechos da carta de Leonardo da Vinci e no modelo oferecido, escreva você também uma carta de apresentação. Tomando por base seus
planos, em relação ao futuro, e considerando que em breve você poderá precisar produzir
uma carta com essa finalidade, escolha uma das seguintes situações.
1. Você se candidatou a uma vaga de trabalho (defina uma área de sua preferência) e, no
processo seletivo, uma das fases solicita a escrita de uma carta de apresentação.
2. Você pretende fazer um curso no exterior e, para isso, vai passar por um processo de
seleção em um programa de viagem. Uma das etapas consiste em escrever uma carta
de apresentação.
Nas duas situações, é solicitado do candidato que esclareça:
• por que escolheu esse programa de viagem/trabalhar nessa área;
• por que acredita ser um bom candidato para o programa de viagem/trabalho;
• como pretende conciliar a viagem/o trabalho com suas atividades escolares;
• como a experiência do curso/do trabalho se encaixa nos seus planos para o futuro.
ANTEs DE EsCREvER
Ao planejar sua carta de apresentação, siga estas orientações:
• Utilize uma variedade de acordo com a norma-padrão da língua.
• Enumere características pessoais suas que você acredita serem as mais relevantes no
contexto.
• Mencione experiências anteriores bem-sucedidas que julgue importantes no contexto.
• Justifique o seu interesse pelo programa/pelo trabalho;
• Mostre que você merece ser selecionado pelo programa/para a vaga de trabalho, porém sem que a carta fique excessivamente autoelogiosa.
ANTEs DE PAssAR A LImPO
Antes de dar sua carta por finalizada, observe:
• se você utilizou uma variedade de acordo com a norma-padrão da língua;
• se as características pessoais e as experiências anteriores que você mencionou são, de
fato, relevantes no contexto de apresentação da carta;
• se você justificou devidamente o seu interesse pelo programa/trabalho, com base em
fatos e não apenas no seu desejo;
• se você mostrou que é a pessoa certa a ser escolhida, mas sem parecer arrogante.
298 UNIDADE 4 CAMINHOS
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Literaturas africanas de língua
portuguesa e literatura negro-brasileira
Análise linguística: polissemia e
ambiguidade
Entrevista de emprego
Literaturas africanas de língua
portuguesa e literatura negro-brasileira
Literaturas africanas de língua portuguesa
3
LITERATURA
CAPÍTULO
Professor: Tendo em vista o
grande número de autores africanos de língua portuguesa e
escritores negro-brasileiros, optamos por trabalhar, neste capítulo, apenas com poemas, a fim
de contemplar um número maior
de escritores e explorar textos
integrais. Lembre aos alunos
que, no capítulo 2 da unidade
1, foi trabalhado o conto “Nós
choramos pelo cão tinhoso”, do
escritor angolano Ondjaki.
Fine Art / AGB Photo/Coleção particular
A canção do pico (1947), de Gerard Sekoto.
299 Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
PortuguesContemporaneo3_UN4_CAP3_299a329.indd 299 5/12/16 6:37 PM
© Thomas Meyer / Corbis / Fotoarena
Depois de quase 500 anos de dominação política, cultural e linguística de Portugal nas
colônias africanas − Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe −, o aparecimento das literaturas de língua portuguesa naquele continente se deu,
grosso modo, a partir da década de 1940.
Evidentemente, antes disso, houve manifestações literárias populares e orais nas línguas nativas dessas colônias − produção a que alguns especialistas chamam de oratura,
em contraposição à palavra literatura −, mas há poucos registros dessa produção oral.
Ao escreverem literatura em língua portuguesa, os escritores naturalmente se dividiam entre dois mundos: de um lado, usavam a língua oficial, implantada pelos portugueses e historicamente associada aos modelos da literatura da metrópole; de outro lado,
tratavam da realidade local e incluíam em suas obras descrições da vida e dos costumes
das populações das colônias.
Muitos desses escritores fizeram seus estudos na Europa e, ao regressarem à África,
cheios de ideias liberais, atuavam na imprensa como jornalistas e assumiam uma postura
contrária ao colonialismo português.
A Revolução dos Cravos (1974), em Portugal, pôs fim à ditadura salazarista naquele país
e, como decorrência, eclodiram várias guerras nas colônias africanas, as quais levaram ao
fim o colonialismo português. A literatura, nesse momento, tornou-se claramente engajada, já que muitos dos escritores chegaram a participar diretamente da guerra de libertação.
O escritor português Manuel Ferreira, ao estudar a produção literária das colônias durante o período colonial, identifica quatro fases na evolução das literaturas africanas de
língua portuguesa:
• fase em que o escritor manifesta alienação cultural e falta de compromisso com sua terra e sua gente;
• fase em que o escritor revela um sentimento nacional e interesse
pela realidade circundante; também aqui se manifesta o tema da
negritude ou da dor de ser negro;
• fase de resistência, em que o escritor toma consciência de sua condição
de colonizado e empreende um discurso de revolta contra o colonizador;
• fase histórica da independência nacional, momento de afirmação do
escritor africano, no qual se exalta a liberdade e o orgulho africano e
se abordam temas como a África, o povo negro, sua cultura, sua história e suas tradições.
Como se nota na evolução dessas fases, gradativamente se instala uma questão essencial para os escritores africanos: a da identidade nacional. Aos poucos, os escritores
vão deixando de se considerar parte da literatura portuguesa para se assumirem como
escritores africanos ou, especificamente, angolanos, moçambicanos, etc.
Em Angola, os autores de maior destaque são: Castro Soromenho, Antônio Jacinto,
Viriato da Crua, Agostinho Neto, José Luandino Vieira, Ruy Duarte de Carvalho, Manuel
Rui, Pepetela, José Luís Mendonça, José Eduardo Agualusa, Ondjaki e Adriano Mixinge.
Em Moçambique, destacam-se José Craveirinha, Mia Couto, Noémia de Sousa, Rui
Guerra, Rui Knopfli, Luís Bernardo Honwana, Rui Nogar, João Dias, Ungulani Ba Ka Khosa,
João Paulo Borges Coelho e Paulina Chiziane.
Em Cabo Verde, destacam-se Manuel Lopes, Jorge Barbosa, Corsino Fortes, Orlanda
Amarílis, Germano Almeida, Osvaldo Osório, Vera Duarte e Amílcar Cabral.
Em São Tomé e Príncipe, destacam-se Francisco da Costa Alegre, Francisco José Tenreiro, Alda do Espírito Santo e Conceição Lima.
Em Guiné-Bissau, quase não há fontes literárias escritas. O escritor Abdulai Silva, com
seus romances Eterna paixão (1994), A última tragédia (1995) e Mistida (1997), é considerado o fundador da ficção guineense. Também se destaca o romancista Filinto de Barros.
Além das literaturas africanas de língua portuguesa, em nossa língua ainda há produção literária na Ásia, como em Macau (na China), Goa (na Índia) e em Timor Leste (sudeste
asiático), reflexo das navegações e da colonização portuguesa.
Neste grafite de 2014,
fotografado numa
das ruas de Lisboa,
o capitão Fernando
José Salgueiro Maia,
um dos ícones da
Revolução dos Cravos,
em Portugal.
300 UNIDADE 4 CAMINHOS
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LITERATURA
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, dois textos: o primeiro é um poema de Viriato da Cruz, poeta angolano. O segundo é de José Craveirinha, poeta moçambicano.
Texto 1
Namoro
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com a letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas.
Sua pele macia — era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
tão rijo e tão doce — como o maboque...
Seu seios laranjas-laranjas do Loge
seus dentes... — marfim...
Mandei-lhe uma carta
e ela disse que não.
Mandei-lhe um cartão
que o Maninho tipografou:
“Por ti sofre o meu coração”
Num canto — Sim, noutro canto — Não
E ela o canto do Não dobrou.
Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigênia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.
Levei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.
[...]
Andei barbado, sujo e descalço,
como um mona-ngamba
Procuraram por mim
“ — Não viu... (ai, não viu...?) Não viu Benjamim?”
E perdido me deram no morro da Samba.
Para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do
[Bairro Operário]
Tocaram uma rumba — dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: “Aí, Benjamim!”
Olhei-a nos olhos — sorriu para mim
pedi-lhe um beijo — e ela disse que sim.
(Viriato da Cruz. In: Rogério Andrade Barbosa. No ritmo dos tant‹s. Brasília: Thesaurus, 1991. p. 95-6.)
Nelson Provazi
fímbria: beira, franja.
maboque: fruta semelhante à laranja, mas de casca dura.
malta: turma.
mona-ngamba: carregador.
quimbanda: curandeira.
sumaúma: paina; fibra oriunda dos frutos da paineira.
301 Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
PortuguesContemporaneo3_UN4_CAP3_299a329.indd 301 5/12/16 6:37 PM
Texto 2
Quero ser tambor
Tambor está velho de gritar
Ó velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.
Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.
Nem nada!
Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.
Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
Ó velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Ó velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!
(Craveirinha. In: Rogério Andrade Barbosa. No ritmo dos tant‹s.
Brasília: Thesaurus, 1991. p. 131-2.)
Mafalala: bairro da
periferia de Maputo,
capital de Moçambique.
zagaia: lança.
Viriato da Cruz
Viriato Francisco Clemente da Cruz
(1928-1973) nasceu em Angola e morreu em Pequim, na China.
Foi participante do movimento cultural “Vamos descobrir Angola” e um dos
principais incentivadores da poesia angolana entre as décadas de 1940 e 1960.
Na década de 1950, atuou clandestinamente no Partido Comunista contra
a política colonialista. Em 1960, foi um
dos fundadores do Movimento Popular
de Libertação de Angola (MPLA).
Entre outras obras, publicou Poemas (1961).
1. No poema “Namoro”, o eu lírico, identificado no texto como Benjamim,
se apaixona por uma moça e tenta se aproximar dela.
a. Até a quarta estrofe, de que meios ele se vale para tocar o coração da
moça?
b. Desses meios, quais são escritos?
c. De que tipo são os outros meios?
2. Compare o tamanho e o conteúdo das quatro primeiras estrofes do poema
“Namoro”.
a. Qual delas é maior? O que justifica o tamanho dessa estrofe?
b. A mulher amada se sensibiliza com elogios, chantagens ou fervor religioso?
REGISTRE
NO CADERNO
Ele manda uma carta, depois um cartão, depois um recado e
depois faz um feitiço com uma curandeira.
A carta e o cartão.
O recado é oral, e o feitiço é religioso.
A primeira estrofe é maior porque ela reproduz todos os elogios que ele fez a ela. Além
disso, a carta normalmente é um gênero de tamanho maior do que o cartão.
Não.
Nelson Provazi
302 UNIDADE 4 CAMINHOS
PortuguesContemporaneo3_UN4_CAP3_299a329.indd 302 7/6/17 08:44
LITERATURA
3. Desprezado, Benjamim fica “barbudo, sujo e descalço”, se isola e se marginaliza.
a. O que muda a sorte de Benjamim e lhe permite conquistar o coração
da mulher amada?
b. Qual é o “argumento” que finalmente a convence?
O baile, onde a encontra e dança com ela.
O “argumento” é a proximidade entre eles e sua qualidade de bailarino, pois dança muito bem a rumba.
REGISTRE
NO CADERNO
José Craveirinha
Craveirinha (1922-2003) nasceu na Mafalala, bairro periférico de Maputo, capital de Moçambique.
Mestiço – filho de um português e de uma africana –, teve acesso à educação formal, lusitana.
Falava duas línguas, o português e o ronga (dialeto africano). Foi escritor e jornalista e se engajou
nas lutas pela libertação do colonialismo português, participando da Frelimo (Frente de Libertação de
Moçambique), motivo pelo qual esteve preso entre 1965 e 1969. Também foi um dos escritores que
lutaram pelo resgate da identidade cultural dos moçambicanos.
Considerado por muitos críticos como o maior poeta moçambicano, Craveirinha foi o primeiro escritor africano a ganhar o Prêmio Camões, em 1991. Entre suas obras, estão Xibugo (1964), Karingana
ua Karingana (1974) e Maria (1988).
Tambores
O tambor é um dos mais antigos instrumentos musicais da humanidade e
historicamente está associado a lutas,
combates rituais de iniciação e cerimônias religiosas.
Na cultura africana, tem um papel
expressivo, sendo frequentemente utilizado nas apresentações musicais e nas
cerimônias religiosas.
A Mafalala, a marrabenta
e a identidade cultural
moçambicana
Os escritores José Craveirinha e Noémia de Souza nasceram na Mafalala.
Segundo Mia Couto, um dos principais
nomes da literatura moçambicana atual,
a Mafalala da infância e adolescência
desses autores “os ajudou a entender que
havia uma pátria amordaçada, que pedia
a indignação e a luta emancipadora”.
Craveirinha incentivou músicos de
Maputo a prestigiarem a marrabenta –
gênero de música e de dança até então
desprezado pelo governo português –
como meio de resistir culturalmente à
dominação portuguesa.
4. O poema apresenta uma forte musicalidade, determinada pelas rimas
e, principalmente, pelo ritmo. Que relação tem a musicalidade do poema com o seu conteúdo?
5. O poema “Quero ser tambor”, de Craveirinha, integra a obra Karingana ua
Karingana, publicada em 1974, quando Moçambique ainda era uma colônia portuguesa. No poema, o eu lírico opõe o que quer ser ao que não
quer ser.
a. O que ele quer ser?
b. O que ele não quer ser?
6. Moçambique conquistou sua independência política em 1975. Antes disso, Portugal considerava Moçambique como parte de seu território, e a
língua e a cultura portuguesas eram impostas como meio de dominação política.
Leia o boxe “Tambores” e, considerando a situação de produção do poema, responda:
a. O que representa o tambor para a cultura africana e moçambicana,
em particular?
b. As coisas que o eu lírico não quer ser – flor, rio, zagaia, poesia – são
todas provenientes do desespero. Levante hipóteses: Nesse contexto,
a que se refere a expressão do desespero?
c. O desejo de ser um tambor revela, por parte do eu lírico, uma dimensão pessoal ou coletiva? Justifique com elementos do texto.
7. Releia estes versos do poema:
• “Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala”
• “e nem zagaia por enquanto”
• “Só tambor ecoando como a canção da força e da vida”
• “até a consumação da grande festa do batuque!”
A musicalidade do texto reforça o seu conteúdo, em que a música também tem um papel de destaque.
Quer ser um tambor.
Ele não quer ser flor nascida no mato nem rio correndo para o mar nem zagaia nem poesia.
Representa a identidade moçambicana ou a própria colônia, Moçambique.
6. b) A expressão do desespero refere-se à situação de opressão política e cultural na qual
viviam os moçambicanos.
c) Uma dimensão coletiva, pois se identifica
com toda a colônia, conforme os versos “Só
tambor de pele curtida ao sol da minha terra /
Só tambor cavado nos troncos duros da minha
terra”. O tambor e sua música representam a
voz do povo moçambicano.
Apresentação
de marrabenta
na Mafalala.
Thinkstock/Getty Images
Gonçalo Rosa da Silva
Flora Pereira da Silva / Afreaka
303 Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
PortuguesContemporaneo3_UN4_CAP3_299a329.indd 303 5/12/16 6:37 PM
a. Como se pode compreender “o silêncio amargo da Mafalala”?
b. Por que o eu lírico afirma “nem zagaia por enquanto”?
c. Levante hipóteses: O que representam a “canção da força e da vida” e a “festa do
batuque”?
8. Considerando o contexto político de produção do poema e o papel do poeta nesse
contexto, conclua: O próprio poema pode ser considerado uma espécie de tambor
“rebentando o silêncio” na colônia moçambicana? Por quê?
A literatura negro-brasileira
Há, na cultura brasileira, um grupo significativo de escritores negros e mestiços que
produzem uma literatura identificada com suas raízes históricas e culturais, normalmente chamada de afro-brasileira ou afrodescendente. Essas raízes evidentemente remetem
à sua origem africana e ao processo histórico de escravização e discriminação que os negros sofreram e sofrem no Brasil.
Essa denominação, entretanto, é questionada por alguns negros por várias razões. Primeiramente porque nem todo país africano é negro. Em segundo lugar, porque, mesmo
nos países africanos de língua portuguesa, há escritores brancos − como é o caso de Mia
Couto, Luandino, Antônio Jacinto, Pepetela, Nadine Gordimer, entre outros − que não têm
como prioridade, em seu projeto literário, a luta contra o preconceito racial.
É por essa razão que alguns militantes da causa negra preferem o uso da expressão
literatura negro-brasileira para identificar a produção que tem na negritude um de seus
pilares centrais. Cuti, escritor brasileiro, por exemplo, explica a diferença:
[...] a palavra “negro” nos remete à reivindicação diante da existência do racismo,
ao passo que a expressão “afro-brasileiro” lança-nos, em sua semântica, ao continente
africano, com suas mais de 54 nações, dentre as quais nem todas são de maioria de
pele escura, nem tampouco estão ligadas à ascendência negro-brasileira. Remete-nos,
porém, ao continente pela via das manifestações culturais. Como literatura é cultura,
então a palavra estaria mais apropriada a servir como selo.
(Cuti. Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010. p. 40.)
A literatura negro-brasileira – isto é, a literatura que reflete um posicionamento de
um sujeito etnicamente negro – teve suas primeiras manifestações na obra de Luiz
Gama (1830-1882), Cruz e Sousa (1861-1898) e Lima Barreto (1881-1922), que atuaram de
forma isolada.
No século XX, surgem várias associações negras que se interessam pela produção literária, formando um grupo de produtores e leitores de literatura negro-brasileira. Entre os
escritores que surgiram desses grupos estão Abdias Nascimento, Solano Trindade, Eduardo de Oliveira, Carlos de Assumpção, Oswaldo de Camargo e Oliveira Silveira.
Em 1978, foram fundados os Cadernos negros, que até hoje servem como meio de
agregação e de divulgação da produção literária negro-brasileira. Em 1980, foi fundado
o grupo Quilombhoje, formado pelos escritores Cuti, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina
e Abelardo Rodrigues com o objetivo de promover eventos culturais de literatura negrobrasileira. Além do grupo Quilombhoje, que continua muito ativo, tem destaque o grupo
GENS (Grupo de escritores negros de Salvador) e o Negrícia – Poesia e Arte de Crioulo, na
cidade do Rio de Janeiro.
A censura, o medo, a tristeza.
Naquele momento – um ano antes da revolução –, ele ainda não pensava em lutar com armas para conquistar a liberdade do país.
A “canção da força e da vida” representa o tempo novo e a nova vida que hão de vir com a Independência
ou com a revolução. A “festa do batuque” é a própria festa da liberdade.
Sim, pois é um poema que valoriza e estimula a identidade moçambicana, e não portuguesa; logo,
assume um caráter político, colocando-se contra o colonialismo português.
REGISTRE
NO CADERNO
Conheça os escritores
e as ações do grupo
Quilombhoje,
acessando o site
http://www.
quilombhoje.com.br.
Quilombhoje
304 UNIDADE 4 CAMINHOS
PortuguesContemporaneo3_UN4_CAP3_299a329.indd 304 5/12/16 6:37 PM
literatura
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, dois poemas dos autores negro-brasileiros Adão Ventura e Márcio
Barbosa.
Texto 1
Para um negro
In: Axé: antologia contemporânea
para um negro
a cor da pele
é uma sombra
muitas vezes mais forte
que um soco.
para um negro
a cor da pele
é uma faca
que atinge
muito mais em cheio
o coração.
(Adão Ventura. In: Zilá Bernd (org.). Antologia de poesia afro-brasileira –
150 anos de consciência negra no Brasil. Belo Horizonte: Mazza, 2011. p. 202.)
Texto 2
Nossa gente
nossa gente também veio
pra ser feliz e ter sorte
nossa gente é quente
é bela e forte
mas às vezes essa gente
passa, inconsciente
sofre, mas não se mexe
ri, mas não se gosta
nossa gente inconsciente
sofrendo, fica fraca
nem vê que por dentro ainda
traz a força da mãe áfrica
nem vê que pode vencer
pois tem energia nos braços
e pode ter liberdade
alegria e espaço
Carybé. Figuras, 1986./ Coleção particular
superando a pobreza
socializando a riqueza
inventando unidade
solidariedade, abraços
nosso povo é lindo
nosso povo é afro
e perfeito vai destruindo
ódios e preconceitos
“esse povo negro
que se diz moreno”
com suas cores, com seu jeito
é um povo pleno
nossa gente é ventania
é ousadia, é mar cheio
nossa gente também veio
pra ser feliz e ter sorte
(Márcio Barbosa. In: Luiz Carlos Santos, Maria Galas, Ulisses Tavares (org. ).
O negro em versos. São Paulo: Moderna, 2005. p. 98-9.)
305 Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
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1. No poema “Para um negro”, o eu lírico sugere o que representa a cor da
pele para um negro por meio de duas metáforas.
a. Quais são as metáforas?
b. Interprete as metáforas e responda: O que a cor da pele representa
para um negro?
c. Essas metáforas sugerem o ponto de vista de alguém. Quem é o
agente de ações como desferir o soco ou a facada?
2. O título do poema é ambíguo. Comente os sentidos que ele apresenta.
3. O poema “Nossa gente” descreve os negros brasileiros.
a. O eu lírico se inclui entre o grupo designado pela expressão Nossa
gente? Por quê?
b. Segundo o poema, quais são as qualidades do povo negro do Brasil?
Justifique sua resposta com palavras e expressões do texto.
c. Explique o sentido da palavra inconsciente nestes versos:
“mas às vezes essa gente
passa, inconsciente
sofre, mas não se mexe
ri, mas não se gosta
nossa gente inconsciente
sofrendo, fica fraca”
4. Compare o poema de Adão Ventura e o de Márcio Barbosa. Que semelhanças e diferenças apresentam quanto ao tratamento do tema?
É uma “sombra mais forte que um soco” e “uma
faca que atinge muito mais em cheio o coração”.
1. b) As metáforas representam o modo como o negro sente a discriminação de que é vítima: como um golpe, um soco ou uma facada no coração.
Sente, ainda, o peso da história de maus-tratos no período da escravidão.
Todos os que discriminam em razão da cor da pele negra e o peso de sua história.
O título, “Para um negro”, sugere ao mesmo tempo uma dedicatória (poema dedicado a todos os negros que
sofrem preconceito) e também o ponto de vista de um negro, ou seja, o modo como ele sente o preconceito.
Sim, pois o emprego do pronome possessivo
“nossa”, em 1» pessoa, inclui o enunciador.
É um povo belo e forte (“é bela e forte”), lindo, afro, valente e ousado (“nossa gente é ventania / é ousadia”).
Os versos dão a entender que o
próprio povo negro às vezes não
tem consciência de sua negritude, não se gosta, não se valoriza
e, assim, enfraquece.
REGISTRE
NO CADERNO
4. Ambos os poemas abordam
o tema “ser negro” no Brasil. O
texto 1, porém, enfoca a perspectiva histórica, psicológica e
emocional do negro que sofre
preconceito; já o texto 2, ao
mesmo tempo que valoriza a
negritude brasileira, destacando a beleza e o caráter dos negros, lamenta que alguns não
tenham consciência de seus
valores e de seus direitos, e por
isso se anulam e sofrem, acomodando-se ao preconceito.
Adão Ventura
Adão Ventura (1946-2004 ) nasceu em
Santo Antônio do Itambé, Minas Gerais.
Formou-se em Direito, foi professor
de literatura contemporânea na Universidade do Novo México, nos EUA,
diretor da Fundação Palmares durante
muitos anos.
Publicou vários livros de poesia, entre eles Abrir-se um abutre ou mesmo
depois de deduzir dele o azul (1970), As
musculaturas do Arco do Triunfo (1976)
e A cor da pele (1980).
Márcio Barbosa
Márcio Barbosa nasceu em São Paulo em 1959. Formado em Filosofia pela
USP, atua no movimento negro desde
1976 e atualmente é um dos diretores
do Quilombhoje e um dos responsáveis
pelos Cadernos negros. Profissionalmente, atua no meio editorial.
• As literaturas africanas de língua portuguesa, em sua maioria, começam a ter registros escritos a partir da década de 1940 e estiveram,
durante muito tempo, atreladas aos modelos da literatura portuguesa.
• Aos poucos, essa produção deixa a postura indiferente em relação à
condição do negro colonizado e passa a incorporar elementos da paisagem e da vida africana. Revela, então, a consciência de ser colonizado e
empreende um discurso de contestação e revolta contra o colonizador.
• A Revolução dos Cravos (1974), em Portugal, acelera o processo de independência das colônias. Durante as guerras de libertação, surge uma
literatura engajada e social. Após a independência, os textos se voltam
para a exaltação da liberdade, do povo e da cultura africana.
• No Brasil, surge no século XIX uma produção literária de escritores negros que se estende até os nossos dias. Nessa produção, há os que
defendem uma identidade negro-brasileira, isto é, voltada para a valorização da negritude e para o combate ao preconceito.
Autoria desconhecida Acervo pessoal
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Mesmo estando a uma distância de milhares de quilômetros, escritores do Brasil e da
África muitas vezes estabelecem um diálogo entre si, já que vivem ou viveram experiências semelhantes.
A seguir, você vai ler dois poemas: o primeiro é do poeta angolano Agostinho Neto
(1922-1979). O segundo é de Cuti, pseudônimo de Luís Silva (1951), poeta da atualidade e
militante da causa negra.
Agostinho Neto
António Agostinho Neto (1922-1979)
foi um médico angolano, formado nas
Universidades de Coimbra e de Lisboa.
Foi presidente do Movimento de
Libertação de Angola e, em 1975, tornou-se o primeiro presidente do país.
Em 1975-1976, recebeu o Prêmio Lenine
da Paz.
Entre suas obras de poesia e de política estão Poemas (1961), Sagrada
esperança (1974) e A renúncia impossível (1982).
ENTRE TEXTOS
Mohamed Amin & Duncan Willetts/A24/Camerapix/
Africa Twenty-Four Media/AFP
The Bridgeman Art Library/Keystone Brasil/Bibliotheque Nationale, Paris, França
Texto 1
Velho negro
Vendido
e transportado nas galeras
vergastado pelos homens
linchado nas grandes cidades
esbulhado até ao último tostão
humilhado até ao pó
sempre sempre vencido
É forçado a obedecer
a Deus e aos homens
perdeu-se
Perdeu a pátria
e a noção de ser
Reduzido a farrapo
macaquearam seus gestos e a sua alma
diferente
Velho farrapo
Negro
perdido no tempo
e dividido no espaço!
Ao passar de tanga
com o espírito bem escondido
no silencio das frases côncavas
murmuram eles:
pobre negro!
E os poetas dizem que são seus irmãos.
(Agostinho Neto. Sagrada esperança. São Paulo: Ática, 1985.
Disponível em: http://www.escritas.org/pt/t/13234/velho-negro.
Acesso em: 20/3/2016.)
esbulhado: privado de alguma coisa
a que tinha direito; roubado.
galera: antiga embarcação longa e de
baixo bordo, movida a vela ou a remos.
vergastado: açoitado.
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Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
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Texto 2
Sou negro
In: Poemas da carapinha, 1978.
Sou negro
Negro sou sem mas ou reticências
Negro e pronto!
Negro pronto contra o preconceito branco
O relacionamento manco
Negro no ódio com que retranco
Negro no meu riso branco
Negro no meu pranto
Negro e pronto!
Beiço
Pixaim
Abas largas meu nariz
Tudo isso sim
— Negro e pronto! —
Batuca em mim
Meu rosto
Belo novo contra o velho belo imposto
E não me prego em ser preto
Negro pronto
Contra tudo o que costuma me pintar de sujo
Ou que tenta me pintar de branco
Sim
Negro dentro e fora
Ritmo-sangue sem regra feita
Grito-negro-força
Contra grades contra forcas
Negro pronto
Negro e pronto
Negro sou!
(Cuti. In: Zila Bernd (org.). Antologia de poesia afro-brasileira Ð 150 anos de consciência
negra no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2011. p. 145.)
Cuti
Luiz Silva (1951), mais conhecido poeticamente como Cuti, nasceu em Ourinhos
e estudou Letras na Universidade de São
Paulo. Fez mestrado e doutorado em Letras na Unicamp-SP.
É dramaturgo, ensaísta, ficcionista,
poeta e tem uma forte atuação junto à
comunidade afro-brasileira.
Foi um dos fundadores do grupo Quilombhoje Literatura e um dos organizadores da série Cadernos Negros.
1. No texto 1, o eu lírico se refere à figura de um “velho negro”.
a. Qual é a diferença de sentido entre a expressão negro velho e velho negro?
b. Quem é o “velho negro” do poema? A expressão se refere a um único homem ou a
mais de um? Justifique sua resposta.
c. De que época e lugar é o “velho negro”?
d. Como o “velho negro” é tratado em todos os lugares onde vive ou viveu?
e. Qual é a identidade cultural desse “velho negro”? Justifique sua resposta com elementos do texto.
REGISTRE
NO CADERNO
a) Negro velho refere-se a um homem negro com idade avançada;
já a expressão velho negro, além desse sentido, pode ter também
o sentido de ser o “antigo negro”, o negro histórico, que continua
sendo tratado da mesma forma há tantos anos.
O velho negro se refere a todos os negros que hoje estão fora da África.
Ele é tanto o negro do passado quanto o do presente, sem um lugar definido, conforme os versos “perdido no tempo / e dividido no espaço”.
Historicamente, o “velho negro” vem sendo torturado, explorado, zombado.
Ele perdeu sua identidade: já não tem sua pátria nem sua religião, perdeu a “noção de ser”.
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2. Dê uma interpretação ao último verso do texto 1.
3. O texto 2 é introduzido pelos versos:
“Sou negro
Negro sou sem mas ou reticências
Negro e pronto!”
a. Levante hipóteses e explique: O que seria um “negro com mas ou reticências”?
b. A expressão “Negro e pronto!” é empregada três vezes no poema. Que sentido ela
assume no poema, levando em conta o ponto de exclamação e a repetição?
c. No poema, que diferença de sentido há entre “Negro e pronto!” e “Negro pronto”?
4. O poema apresenta forte musicalidade, determinada pelo ritmo, por rimas (internas
e externas) e pelas aliterações.
a. Faça um levantamento das aliterações do poema.
b. Identifique rimas internas e externas no texto.
c. Que relação há entre os recursos sonoros do poema (aliterações, ritmo) e seu sentido mais geral?
5. Releia estes versos:
“Meu rosto
Belo novo contra o velho belo imposto
[...]
Negro pronto
Contra tudo o que costuma me pintar de sujo
Ou que tenta me pintar de branco”
a. Que novo conceito de belo o texto apresenta? Justifique sua resposta com elementos do texto.
b. Interprete os dois últimos versos desse trecho.
6. Compare os dois textos e aponte aspectos comuns entre eles quanto à abordagem do
tema.
Professor: Sugerimos abrir a discussão com a
classe. Do nosso ponto de vista, trata-se de uma
ironia do eu lírico, que não vê os poetas de seu
tempo lutarem pela causa do negro.
REGISTRE
NO CADERNO
Seria uma forma de se referir ao negro de forma preconceituosa,
como se fosse necessário fazer algum tipo de ressalva.
3. b) A frase reitera o assumir a identidade negra, ou
seja, o eu lírico enfatiza que é negro exatamente como
é, sem necessidade de acrescentar ou explicar nada.
“Negro e pronto!” expressa o sentido indicado no item anterior; já “Negro pronto” é
aquele que, com maturidade, está preparado para lutar por seus direitos.
Há a aliteração dos encontros consonantais gr, pr, br, tr como
nas palavras negro, pronto, preconceito, branco, retranco.
Rimas internas: pronto/contra, prego/preto. Rimas externas: entre outras,
branco/manco/retranco/pranto; sim/mim; rosto/imposto; força/forcas.
A sonoridade do poema reitera a expressividade e a força das palavras.
A voz do eu lírico soa como um grito de protesto.
O novo conceito de belo é o da beleza negra, ou seja, uma beleza que contém beiço, cabelo pixaim, nariz de abas largas,
elementos normalmente desprezados segundo o padrão de beleza preconceituoso dos brancos.
Os dois últimos versos se referem a um discurso social preconceituoso, segundo o
qual o negro é sujo ou o negro é bom quando, na visão do branco, anula suas próprias referências étnico-culturais e assume características do branco.
Ambos os textos abordam o tema do negro historicamente discriminado, a ponto de perder sua própria identidade. No texto
de Agostinho Neto, entretanto, não se vislumbra uma saída. Já no texto de Cuti, o eu lírico é um sujeito que dá um basta a
essa situação e assume sua identidade negra, irrestritamente.
The Bridgeman Art Library / Keystone Brasil
309 Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
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FOCO NO TEXTO
Leia o anúncio a seguir.
Análise linguística:
polissemia e ambiguidade
LÍNGUA E LINGUAGEM
1. Explique com outras palavras que sentido a primeira frase do anúncio constrói quando lida isoladamente. Se o anúncio fosse composto apenas por essa frase, qual seria
a ideia veiculada por ele? O anúncio constrói o sentido de que, mesmo sem investir em boa propaganda, o interlocutor poderia
conquistar parcerias em negócios importantes, veiculando uma ideia de que não seria preciso investir em boa propaganda para se ter sucesso nos negócios.
REGISTRE
NO CADERNO
(Zero Hora, Porto Alegre, 4/12/2013. Disponível em: https://www.pinterest.com/pin/510525307737757894/
?from_navigate=true. Acesso em: 8/4/2016.)
Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap)/ Associação Latino-americana das Agências de Publicidade (Alap)/ Associação Riograndense de Propaganda (ARP)/
Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro)/ Sindicato das Agências de Propaganda no Estado do Rio Grande do Sul (Sinapro-RS)
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língua e
linguagem
2. Em relação à segunda frase:
a. Qual termo é retomado pelo pronome seu?
b. A quem se refere esse pronome?
3. Há uma expressão do anúncio que tem sentidos diferentes nas duas leituras, isto é,
uma expressão polissêmica.
a. Qual é essa expressão?
b. Explique quais são os dois sentidos dessa expressão no contexto do anúncio.
4. Observe a parte inferior do anúncio em estudo.
a. Quem é o anunciante?
b. Qual fato motivou a publicação do anúncio?
5. O anúncio em estudo explora a ambiguidade, isto é, as múltiplas possibilidades de
leitura de um enunciado, por meio da polissemia de uma expressão.
a. Levante hipóteses: Por que o anúncio em estudo utiliza essa estratégia?
b. Quais efeitos de sentido são criados com o uso dessa estratégia?
REFLEXÕES SOBRE A LÍNGUA
Você viu, no estudo do anúncio publicitário, que uma mesma expressão pode ter sentidos variados, isto é, pode ser polissêmica, e dar origem a leituras diversas, dependendo
do contexto no qual é inserida. De fato, uma das características das palavras e expressões
de uma língua é a polissemia: uma palavra ou expressão só pode ser de fato compreendida quando circula em um enunciado específico, dito por um enunciador, que se dirige a
um ou mais interlocutores, com um determinado objetivo.
A polissemia é uma das possibilidades de se construir ambiguidade. Esta, por sua vez,
é um recurso importante da língua, utilizado para produzir efeitos variados nos textos,
principalmente o humor. Se utilizada de forma consciente e como uma estratégia, a ambiguidade pode ser muito produtiva. Se construída acidentalmente, por falta de familiaridade no trabalho com a linguagem, a ambiguidade pode gerar ruídos no processo de
construção da leitura.
APLIQUE O QUE APRENDEU
Leia a tira a seguir e responda às questões 1 e 2.
negócio
Ao próprio interlocutor, tratado por voc• no anúncio.
REGISTRE fechar um grande negócio NO CADERNO
Os sentidos de confirmar uma grande parceria de trabalho ou o sentido de encerrar as atividades de uma grande empresa.
Um conjunto de organizações ligadas à área da publicidade e propaganda: Associação Brasileira de Agências de
Publicidade; Associação Latino-americana de Publicidade; Associação Rio-grandense de Propaganda; Federação
Nacional das Agências de Propaganda; Sindicato das Agências de Propaganda do RS.
O dia mundial da propaganda, 4 de dezembro.
5. a) A fim de chamar a atenção de empresários sobre a importância da propaganda
para a sobrevivência do negócio que eles
administram.
Um efeito tragicômico, uma vez que a quebra de expectativa do leitor cria humor a partir de uma hipótese trágica.
(Disponível em: http://www.jacarebanguela.com.br/wp-content/uploads/2010/04/N%C3%ADquel.jpg. Acesso em: 9/4/2016.)
Fernando Gonsales
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1. A ambiguidade da tira é pautada na polissemia de uma palavra.
a. Qual é essa palavra?
b. Quais são as duas possibilidades de sentido trabalhadas na tira? Justifique sua resposta com trechos do texto.
c. Discuta com os colegas e o professor: Em uma conversa entre duas pessoas na
praia, essa ambiguidade existiria? Justifique sua resposta.
2. Além do termo polissêmico, dois elementos da tira possibilitam a construção da ambiguidade.
a. Entre as opções a seguir, indique em seu caderno quais são eles, justificando sua
resposta.
• as cores das bananas
• a legenda do 1º quadrinho
• a fala do 1º quadrinho
• a fala do 2º quadrinho
• os desenhos
b. Conclua: Quais outros fatores podem ser importantes na construção de uma ambiguidade?
3. Leia os trechos a seguir, adaptados de notícias de jornal.
I. A testemunha confirmou que assistiu ao incêndio do seu apartamento
II. O corpo foi abandonado ao lado do banco
III. O homem segurou a mulher com as duas mãos amarradas
IV. A mãe cortou a manga para a filha
V. Recortei essa tira do jornal para fazermos o trabalho
VI. A moça guardou o estojo da caneta que ganhou em seu aniversário
VII. Mãe obriga filha a ficar em casa por passeio de um fim de semana
VIII. Ele prestará depoimento pela terceira vez nesta semana
a. Discuta oralmente com os colegas e o professor: Qual é a ambiguidade presente
em cada uma delas?
b. Nas questões anteriores, você viu que a ambiguidade foi utilizada propositalmente
como uma estratégia. No caso desses trechos, é possível considerar que a ambiguidade tem essa mesma função? Justifique sua resposta.
c. Escolha três desses trechos e proponha uma reescrita para cada um, eliminando a
ambiguidade.
4. Leia os textos I e II.
descascar
Os sentidos de “trocar de pele” pela exposição
excessiva ao sol e de “tirar a casca”.
Não, pois só a opção de trocar a pele devido à
exposição ao sol seria considerada.
REGISTRE
NO CADERNO
X X
Os fatores contextuais que explicitam a situação de comunicação em que o enunciado é dito. Nesse caso, as
imagens são importantes quando se trata de um texto que mistura as linguagens verbal e não verbal.
O incêndio foi no apartamento ou a testemunha estava no apartamento?
Banco: assento ou agência bancária?
O homem ou a mulher estava com as mãos amarradas?
Manga fruta ou manga da camisa?
Tira: história em quadrinhos ou pedaço?
Ganhou o estojo ou ganhou a caneta?
O passeio será uma recompensa por ficar em casa ou foi o motivo pelo qual ela ficou em casa?
Pela terceira vez só nesta semana ou esta semana será a terceira vez?
Respostas em cada trecho.
b) Provavelmente não, pois
se trata de trechos que
narram fatos que em tese
aconteceram; portanto,
não é desejável que se
abra a possibilidade de
mais de uma leitura, já que
cada um faz referência a
uma situação específica.
c) Possibilidades variadas
de resposta, com base nas
possibilidades mencionadas no item a. Por exemplo,
“A testemunha confirmou
que assistiu ao incêndio
quando estava em seu
apartamento”, ou “A testemunha confirmou que viu
seu apartamento se incendiar/ser incendiado.”
(Disponível em: https://alegriaeboadisposicao.
wordpress.com/2012/11/01/algumas-pessoasprecisam-de-terapia/. Acesso em: 10/4/2016.)
I.
Rony Costa/Finephoto
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
A construção do humor nos dois textos se centra na utilização do recurso da ambiguidade, pautado em duas estratégias: a polissemia e a ambiguidade por segmentação.
a. Deduza: Qual dos textos constrói a ambiguidade por segmentação? Justifique sua
resposta, indicando qual é o trecho responsável pela ambiguidade.
b. E qual constrói a ambiguidade por polissemia? Nesse caso, qual é o termo polissêmico?
c. Em um dos textos em estudo, a ambiguidade só pode ser compreendida se for considerada, além da parte verbal, a imagem. Identifique qual é ele e justifique sua
resposta.
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
1. Leia a piada a seguir.
A mulher chega afobada na delegacia:
— Seu delegado, meu marido saiu de casa ontem à noite para comprar arroz e
até agora não voltou. O que eu faço?
— Sei lá, dona, faz macarrão!
A construção do humor da piada lida se pauta na ambiguidade de uma frase, entendida de formas distintas pelas duas personagens que participam do diálogo.
a. Identifique qual é essa fala e quais são as duas interpretações possíveis.
b. Em uma piada como essa, o humor só se constrói se a expectativa inicial do leitor é
quebrada com uma resposta inesperada. Discuta com seus colegas e professores e
conclua: Por que a resposta dada pelo delegado é inesperada?
2. A frase a seguir é ambígua porque o termo não pode fazer referência a partes distintas dela. Observe:
O candidato não foi eleito porque teve votos de sua cidade, apenas.
a. Identifique as duas partes a que o não pode corresponder e explique a ambiguidade mencionada.
a) O texto I, pois explora
a dupla possibilidade de
segmentação da expressão ter a pia, que, quando
pronunciada rapidamente,
se confunde com a palavra
terapia.
O texto II, pois explora dois sentidos da palavra engarrafamento: ação de colocar em garrafa e congestionamento.
No texto II, pois é o desenho das formigas entrando em uma garrafa que abre a possibilidade da
compreensão da palavra engarrafamento como “ação de colocar em garrafa”.
REGISTRE
NO CADERNO
a) A pergunta “O que eu
faço?”. Pela resposta do
delegado, ele entendeu
que a mulher estaria perguntando para ele “O que
eu faço de comida?” quando, na verdade, ela perguntava “O que eu faço para
encontrar meu marido?”.
b) Porque o cenário construído anteriormente, associado a uma série de conhecimentos comuns (como, por
exemplo, o que se pretende
ao se procurar uma delegacia), conduz o leitor a pensar que a intenção da mulher, ao ir até a delegacia, é
buscar ajuda para encontrar
o marido.
O não pode se referir apenas à expressão foi eleito, indicando que o candidato não foi eleito e que a explicação para esse fato seria o restante
da frase, porque ele foi votado apenas pelos eleitores de sua cidade. A outra possibilidade de leitura é entender que o não pode se referir a todo
o restante da oração, com o sentido de que ele foi eleito e não foi só porque ele teve votos de sua cidade, mas também de outras localidades.
II.
(Disponível em: http://jeremiah-mb.blogspot.com.br/2006_04_01_archive.html. Acesso em: 10/4/2016.)
© 2016 King Features Syndicate/Ipress
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b. Agora leia o mesmo enunciado, em dois contextos distintos:
A opção da equipe foi por uma campanha localizada e o município de origem do
candidato tem um número muito pequeno de eleitores. O candidato não foi eleito
porque teve votos de sua cidade, apenas.
A equipe foi extremamente competente e a campanha foi muito bem conduzida em todo o País, trazendo votos de todas as localidades. Por isso, é preciso reafirmar que o candidato não foi eleito porque teve votos de sua cidade, apenas.
Nesses casos, a ambiguidade da frase permanece?
c. Conclua: Além da construção do texto, qual outro fator é preponderante na produção ou na resolução de uma ambiguidade? Justifique sua resposta com base na
discussão dos itens anteriores.
Leia o anúncio a seguir.
Não. REGISTRE
NO CADERNO
O contexto no qual a frase se insere é um fator preponderante para resolver uma ambiguidade. O que
foi dito antes da frase nos exemplos do item b construiu parte do contexto e permitiu que a ambiguidade inicial fosse desfeita.
(Disponível em: http://www.blogdocrespo.
com.br/post/2015/10/04/E-preciso-tocar
-no-assunto-Previna-se.aspx. Acesso em:
10/4/2016.)
3. Sobre o anúncio, em geral:
a. Quem é o anunciante?
b. Qual é o seu público-alvo?
c. Levante hipóteses: A quem se refere o termo a gente no anúncio? Qual efeito de
sentido o uso desse termo constrói nesse contexto? Justifique sua resposta.
Unimed, uma empresa de planos de saúde.
O público em geral, mas principalmente as mulheres.
3. c) Ao anunciante e seus interlocutores em conjunto. O uso desse termo, além de colocar anunciante
e público em um mesmo grupo, cria um efeito de proximidade, uma vez que se trata de uma expressão
pronominal utilizada em situações menos formais, gerando certa intimidade entre os interlocutores.
DeBrito
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4. Há no anúncio em estudo um termo polissêmico que cria um efeito de ambiguidade.
a. Identifique o termo e as duas possibilidades de leitura.
b. Levante hipóteses: Esse uso foi proposital ou acidental? Justifique sua resposta.
c. Entre os efeitos de sentido listados a seguir, identifique em seu caderno qual esse
uso constrói no anúncio.
• humor • suspense X • ênfase • ironia
d. Discuta com os colegas e o professor: Essa ambiguidade pode ser desfeita pelo contexto no anúncio em estudo? Justifique sua resposta.
5. Conclua: Qual é a importância da utilização do recurso da ambiguidade na construção desse texto?
REGISTRE
NO CADERNO
O termo tocar, que pode ter o sentido de “falar
sobre” ou o de “pôr a mão”, “apalpar”.
Proposital, pois tem a função de chamar a atenção dos leitores para o anúncio.
d) Não, pois embora a
expressão nesse assunto
leve à interpretação do
termo tocar como “falar
sobre”, a intenção, nesse
caso, é justamente que
as duas possibilidades de
leitura se mantenham sobrepostas.
A sobreposição das duas possibilidades de leitura, ao mesmo tempo que chama a atenção para o anúncio e enfatiza o termo
tocar, mantém forte a referência à importância do exame de toque para se detectar o câncer de mama, mesmo sem falar
diretamente nele.
Entrevista de emprego
PRODUÇÃO DE TEXTO
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, a transcrição de trechos de uma entrevista de emprego, fruto de
adaptação de entrevistas reais e simulações de entrevistas.
Entrevistador: − Boa tarde, Pedro, tudo bem?
Candidato: − Tudo bem.
Entrevistador: − Você trouxe seu currículo?
Candidato: − Trouxe... (colocando a mão no bolso) É... (retirando um papel dobrado
do bolso) Eu acredito que cê possa ficar um pouco chateado, mas eu acredito que somos homens, né? Um currículo todo bonitinho, perfumado, num ia pegar bem, né?...
Entrevistador: − Certo. E você acha que as suas características se encaixam na
nossa vaga?
Candidato: − Ah, mais ou menos... É que eu tô desempregado, aí queria arrumar um
emprego e eu achei que... ah, achei que, de repente, dava pra entrar nessa vaga. E
pra mim agora num importa, qualquer emprego serve, porque eu preciso ajudar a
minha família.
Entrevistador: − Ok... E me fala um pouco sobre o seu último emprego.
Candidato: − Foi como auxiliar técnico em inspeção veicular, numa empresa que
não era muito grande. Até que o trabalho era bom, mas a empresa na época começou a num me pagar direito e tal, e a empresa acabou falindo.
[...]
Entrevistador: − E nas suas horas vagas, o que você mais gosta de fazer?
Candidato: − Ficar no facebook.
Entrevistador: − Ah, tá... É... E você tem projetos de voltar a estudar, continuar a sua
formação escolar, acadêmica?
315PRODUÇÃO DE TEXTO
Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
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Candidato: − Ah, assim... Eu num tenho muita
vontade não, porque eu acho que eu já estudei
bastante na minha vida até terminar o ensino
médio, mas se for preciso eu até faço, assim, um
curso, se não for demorar muito tempo...
[...]
Entrevistador: − Como você se vê daqui a dez
anos?
Candidato: − Espero que casado... Porque, aliás,
eu vou tá com 30, espero que esperando meu segundo filho. Quero tê filho novo, quero jogar bola
com ele.
Entrevistador: − Certo... Eu vou encaminhar o
seu currículo aqui pro pessoal da empresa responsável e eles vão entrar em contato com você... O seu endereço de e-mail é esse aqui? [email protected]?
Candidato: − É, esse aí mesmo. Mas olha, nessa próxima semana eu vou pro interior de férias com meus pais, então nem adianta me escrever que eu não vou
conseguir ver e-mail. Então deixa pra outra, que é quando eu vou poder começar
no trabalho, tudo bem?
Entrevistador: − Ah, tá... ok, tudo bem. Obrigado.
Candidato: − Obrigado.
(Texto dos autores baseado em entrevistas reais disponíveis na Internet.)
1. O texto lido mostra que, na entrevista de trabalho, Pedro se comportou de maneira
inadequada em determinados aspectos. Discuta com os colegas e o professor e identifique em quais dos pontos indicados a seguir pode-se perceber que Pedro não se
saiu bem.
I. Trajes
II. Detalhes sobre emprego anterior
III. Planos para o futuro
IV. Justificativa para a escolha da vaga
V. Uso do celular
VI. Excesso de cumprimentos ao entrevistador
VII. Endereço de e-mail
VIII. Pouco conhecimento sobre a empresa
IX. Relação mantida com os estudos
X. Apresentação do currículo
XI. Ocupação do tempo livre
XII. Ressalvas no final da entrevista
XIII. Desinformação quanto a acontecimentos nacionais e internacionais
2. Com base no texto lido, justifique a inadequação a cada ponto indicado por você na
questão anterior.
REGISTRE
NO CADERNO
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2. Professor: Sugerimos discutir oralmente com os alunos essa questão. II: falou mal da empresa antiga, dizendo que não pagavam direito; III: falou apenas
da vida pessoal (casar e ter filhos); IV: não mostrou interesse pelo trabalho
especificamente nem pela empresa, e justificou a tentativa de emprego por
interesses pessoais (estar desempregado, precisar ajudar a família); VII: o
e-mail faz referência a atributos extremamente pessoais e indicados por meio
de gírias (gato, sarado); IX: demonstrou desinteresse (“já estudei bastante”;
“se não for demorar muito”); X: além de levar o currículo dobrado e dentro do
bolso, sugeriu que um homem não pode ter um currículo bem-apresentado;
XI: menção a uma única atividade e, ainda, extremamente banal (navegar nas
redes sociais); XII: fez objeções a possível procedimento da empresa, antes
mesmo de ser contratado, ao avisar que não iria ler e-mails durante uma viagem de passeio.
Shutterstock
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UNIDADE 4 CAMINHOS
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3. Discuta com os colegas e o professor e aponte alternativas de comportamento ou de
respostas do candidato que seriam mais adequados ao objetivo de ser escolhido para
a vaga de trabalho.
4. Tendo em vista as modificações de comportamento ou de respostas apontadas na
questão anterior, que respostas você daria às seguintes perguntas em uma entrevista
de emprego?
a. Você acha que as suas características se encaixam na nossa vaga?
b. Fale um pouco sobre o seu último emprego.
c. Nas suas horas vagas, o que você mais gosta de fazer?
d. Você tem projetos de voltar a estudar e continuar a sua formação escolar?
e. Como você se vê daqui a dez anos?
Professor: Sugerimos que, antes da discussão proposta, leia com os
alunos o boxe “Perguntas mais frequentes em entrevistas de emprePossibilidades variadas de resposta. go e orientações de resposta”.
REGISTRE
NO CADERNO Possibilidades variadas de resposta.
Dicas sobre como se preparar para uma entrevista de emprego e como se portar durante
sua realização
•Levar sempre uma cópia do currículo.
• Vestir-se de acordo com o ambiente da empresa.
• Ter conhecimento acerca da atuação da empresa na qual vai fazer a entrevista.
• Estar informado sobre acontecimentos nacionais e internacionais importantes da atualidade.
• Desligar o celular e, caso tenha se esquecido, não atender, se tocar.
• Não falar mal de empresas em que já trabalhou nem de pessoas com quem conviveu em ambiente de trabalho.
Perguntas mais frequentes em entrevistas de emprego e orientações de resposta
— Fale um pouco sobre você.
•Fale por cerca de um minuto. De maneira breve, conte onde nasceu, como é sua família, onde estudou, quais
cursos fez, quais estágios e trabalhos anteriores realizou. (Se ainda não trabalhou, cite projetos de que participou,
trabalhos voluntários que fez).
— Por que você quer trabalhar aqui?
• Dê uma resposta que demonstre conhecer a história da empresa, tentando encaixar o seu perfil profissional
no perfil solicitado para a vaga oferecida. Por isso, é importante pesquisar antes sobre a empresa e mostrar na
entrevista que o seu perfil tem afinidades com o que é esperado na função.
— Quais são as suas principais qualidades/pontos fortes?
• Responda sinceramente; não invente e procure citar características desejáveis para o cargo pretendido e, se for
possível, dar exemplos de situações anteriores de trabalho em que a qualidade citada foi um destaque.
— Quais são os seus principais defeitos/fraquezas?
• Responda sinceramente; não tente mencionar como defeito o que em tese é tido como qualidade, como,
“detalhista”, “perfeccionista”, “sincero”. Cite uma característica que não seja essencial para assumir a função
pretendida (como ser muito tímido, pouco organizado, apressado, etc.).
— O que costuma fazer nas horas vagas?
•Mencione atividades que, de alguma forma, indiquem valores relacionados à empresa e à vaga pretendida: viajar,
praticar esportes, reunir-se com amigos, etc.
— Quais são seus planos para o futuro? Como você se imagina daqui a x anos?
• Tente relacionar seus planos futuros com o trabalho pretendido. Mostre o que tem feito para conseguir cumprir
seu planejamento e atingir seus objetivos.
— Por que escolher você e não alguém entre os outros candidatos?
•Mostre que tem vontade de trabalhar na empresa e na vaga pretendida, especificamente. Mencione o que você
acredita que pode aprender com o trabalho e também como você pretende contribuir para a empresa com a
experiência que tem.
317Produção de texto
Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
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5. Escolha, juntamente com o professor e os colegas, duplas para representar, em duas versões, a entrevista lida: com o comportamento e as respostas adequados e com o comportamento e as respostas inadequados.
Depois, responda:
a. Você percebeu todas as inadequações das respostas de Pedro logo na
primeira leitura do texto? Compare sua resposta com a dos colegas.
b. Caso você já tenha passado por uma entrevista de emprego, ouviu alguma dessas perguntas e/ou deu alguma dessas respostas? Comente
com os colegas como foi.
6. Observe a linguagem utilizada pelo participante da entrevista nestes
trechos:
• “Eu acredito que cê possa ficar um pouco chateado, mas eu acredito que somos homens, né? Um currículo todo bonitinho, perfumado, num ia pegar bem, né?...”
• “Ah, mais ou menos... É que eu tô desempregado, aí queria arrumar um emprego e eu achei que... ah, achei que, de repente, dava
pra entrar nessa vaga. E pra mim agora num importa, qualquer
emprego serve, porque eu preciso ajudar a minha família.”
a. Qual forma de tratamento o entrevistado utiliza para se dirigir ao entrevistador? Em entrevista de emprego, essa forma pode ser adequada ou inadequada. Explique essa afirmação e dê exemplos de situação em que ela é adequada.
b. Supondo que a entrevista de emprego lida tenha ocorrido em uma
situação muito formal, explique por que os trechos a seguir se mostram inadequados.
• “num ia pegar bem”
• “É que eu tô desempregado, aí queria arrumar um emprego”
• “ah, mais ou menos... [...] eu achei que... ah, achei que, de repente,
dava”
• “entrar nessa vaga”
• “qualquer emprego serve”
c. Discuta oralmente com os colegas e o professor e imagine como as
falas transcritas nessa questão poderiam ser modificadas para se
adequar a um contexto mais formal.
HORA DE PRODUZIR
Seguem duas propostas de produção de entrevistas de emprego simuladas. Por meio dessas simulações você e seus colegas poderão se preparar
para a participação em entrevistas de emprego reais.
Combine com o professor como a classe pode se organizar em grupos, a
fim de desenvolver as propostas da melhor forma possível.
Resposta pessoal.
Resposta pessoal.
REGISTRE
NO CADERNO
a) A forma é cê. Em entrevista de emprego, ela
é adequada, por exemplo, em regiões do país
nas quais esse uso é corrente e não demonstra desrespeito ou excesso de informalidade e
também em situação na qual entrevistador e
entrevistado tivessem idades muito próximas,
ou se já se conhecessem antes da entrevista,
ou a entrevista ocorresse em um ambiente
muito informal. Em situação muito formal, ou
sendo o entrevistador uma pessoa mais velha,
ou sendo o ambiente muito sóbrio, a forma
mais adequada é senhor.
Gírias como pegar bem são mais adequadas em contextos informais.
O uso de aí remete a uma fala muito informal, assim como
a expressão arrumar um emprego.
O uso excessivo de ah pode demonstrar hesitação, falta de assertividade. A expressão de repente, por sua
vez, remete à ideia de decisão acidental, sem reflexão.
A expressão entrar na vaga é típica de contextos informais.
O uso dos termos qualquer e serve desvaloriza o trabalho almejado.
Possibilidades variadas de resposta, entre elas: a troca de cê por você ou senhor; de num ia pegar bem por não seria
necessário; de ah, mais ou menos e achei que de repente dava por penso/acredito que sim; de entrar nessa vaga por
essa vaga pode ser adequada para mim; de qualquer emprego serve por seja este ou outro emprego.
Dê continuidade à
organização da feira de
profiss›es, gravando vídeos com simulações de
entrevistas que serão
exibidos na feira a fim de
orientar os visitantes.
Outras perguntas frequentes
em entrevistas de emprego
Em uma entrevista de emprego, você
pode se deparar também com perguntas
como as que seguem. Quais respostas
você daria a elas?
•— Por que veio fazer esta
entrevista?
•— O que motiva você a fazer um
bom trabalho?
•— Você trabalha bem em equipe?
•— Até hoje, quais foram as
experiências que lhe deram maior
satisfação?
•— O que você procura em um
emprego?
•— Quais são os seus objetivos a
curto prazo? E a longo prazo?
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1. Tomando como roteiro a entrevista de emprego lida neste capítulo, gravem em vídeo
duas versões da cena: uma com comportamentos e respostas inadequados do candidato, como no texto original, e outra com comportamentos e respostas adequados.
Na feira, ao apresentar os vídeos, deixem claro aos visitantes qual é o comportamento
recomendado e qual é o não recomendado.
2. Tomando por base as dicas dadas nos boxes deste capítulo, imaginem outras possíveis situações de entrevistas de emprego. Encenem e gravem as situações em vídeos
e os apresentem depois aos visitantes da feira.
A postura corporal na entrevista de trabalho
Considerando que a expressão corporal influencia muito a imagem que transmitimos de nós, vale a pena, em uma
entrevista de emprego, levar em conta estas recomendações:
• Evite cruzar os braços ou colocar os cotovelos em cima da mesa.
• Procure manter a cabeça erguida e evite ficar olhando para baixo o tempo todo.
• Fale olhando diretamente para o entrevistador, porém, sem encará-lo, a fim de não parecer agressivo.
• Incline levemente o corpo para a frente, mas não avance muito na direção do entrevistador, pois isso pode parecer
invasivo.
• Evite gestos repetitivos (sacudir os pés ou as pernas, levar a mão à boca, coçar a cabeça, mexer no cabelo).
• Procure se sentar em uma postura neutra, nem muito rígida nem muito relaxada.
• Não fique muito parado nem gesticule demais.
• Evite ficar olhando a todo o momento para o relógio.
ANTES DE ENCENAR
Ao escrever um diálogo que comporá a entrevista, incluam:
• algumas das perguntas mais frequentes na
situação;
• as respostas mais adequadas para cada uma
das perguntas formuladas.
AO ENCENAR
Na encenação da entrevista:
• observem a adequação da postura corporal e
dos trajes dos participantes;
• tenham em mente o diálogo escrito, mas não falem de forma decorada, pois soaria
falso, e procurem, de fato, se imaginar na situação representada.
DEPOIS DE ENCENAR
Após a encenação e a gravação da entrevista, assistam ao vídeo e observem:
• se os participantes atuaram com naturalidade, como se, de fato, estivessem vivendo a
situação encenada;
• se estão contemplados no vídeo o comportamento e as respostas considerados adequados em entrevista de emprego;
• se, nos vídeos em que há exemplos de comportamentos e respostas inadequados, há
clareza de que se trata de atitudes que não devem ser seguidas.
Thinkstock/Getty Images
319PRODUÇÃO DE TEXTO
Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
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MUNDO JUVENTUDE E TRABALHO
Você viu, nesta unidade, dois gêneros diretamente relacionados à esfera do trabalho:
a carta de apresentação e a entrevista de emprego. Leia o texto a seguir e, depois, discuta
com os colegas e o professor as questões propostas, justificando seus pontos de vista.
Mercado é cruel com o jovem
Quem antes só estudava agora procura emprego para ajudar a complementar a renda da família
QUEILA ARIADNE
Não está fácil para ninguém. Mas, para os jovens, arrumar um emprego está ainda
mais difícil. [...]
Elisa Rodrigues/Futura Press
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A coordenadora da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, Adriana Beringuy, explica que a desocupação cresceu entre todas as faixas etárias, mas o ritmo
está mais intenso entre os jovens de 18 a 24 anos. "O crescimento se deve tanto pelos
que perderam o emprego, quanto por aqueles jovens que antes não estavam nem
trabalhando, nem procurando, mas agora saem da inatividade e pressionam a taxa
de desemprego", explica.
No quarto período do curso de psicologia, Gabriela Magalhães Silva, 21, está procurando emprego há quatro meses e teme ter que trancar o curso. "Eu sou bolsista,
mas tenho muitos outros gastos, como passagens e lanche. Eu nunca tinha ficado tanto
tempo sem emprego. Agora, já fiz várias entrevistas e não fui chamada. O problema é
que tem muita gente procurando ao mesmo tempo", diz Gabriela.
Segundo a coordenadora do departamento de carreiras do Ibmec, Fernanda Schroder,
é exatamente isso que está acontecendo. "O número de pessoas procurando recolocação
aumentou muito. E, por outro lado, vemos que a oferta das vagas está menor do que a
procura, o que faz o desemprego ficar ainda maior. Nesse cenário, as empresas têm que
cortar custos e ficam mais seletivas. Portanto, preferem empregar uma pessoa que já tem
experiência do que dar uma oportunidade de primeiro emprego ao jovem", avalia.
"Como tem muita gente procurando, as empresas acabam oferecendo salários menores. Sem falar na inflação, que já faz a renda familiar cair. Então, os jovens estão buscando emprego para contribuir em casa", analisa Fernanda.
A poucos meses de completar 16 anos, Karolaine Anastácia fez questão de fazer sua
carteira de trabalho. Acompanhada pela mãe, Iracema Maria Rosa, 42, ela conta que
quer encontrar um emprego para ter condições de pagar cursos de qualificação. "Minha
mãe já paga inglês, porém quero fazer informática também", destaca. "Mas está difícil."
O especialista em inteligência de negócios do site Vagas.com, Rafael Urbano, afirma
que a conjuntura econômica obrigou o jovem a mudar de comportamento. "Se antes ele
dedicava mais tempo aos estudos, agora precisa complementar a renda da família." [...]
Idosos também estão em busca de oportunidades de trabalho
A procura de emprego também cresceu entre os idosos. No primeiro semestre deste
ano, o volume de pessoas com mais de 65 anos que enviaram currículos ao cadastro do
site Vagas.com aumentou 25% em relação ao mesmo período do ano passado. "Sabemos que a procura por trabalho é um movimento global, mas me chamou atenção a
quantidade de pessoas mais velhas buscando uma oportunidade ou um segundo emprego, para aumentar a renda", afirma especialista em recrutamento Rafael Urbano.
Apesar do aumento da busca de vagas pelos mais velhos, o desemprego da população
com 50 anos ou mais (2,6%) é quase quatro vezes menor do que entre os jovens. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desocupação atinge 11,9% de
quem tem entre 18 e 24 anos.
(Queila Ariadne, 9/8/2015. Disponível em: http://www.otempo.com.br/capa/economia/
mercado-%C3%A9-cruel-com-o-jovem-1.1082291. Acesso em: 9/4/2016.)
1. Você trabalha ou já trabalhou? Você julga importante um jovem trabalhar antes de
completar o ensino médio?
2. Você já passou por algum processo de seleção para conseguir uma vaga de emprego?
Em caso afirmativo, conte brevemente como foi esse processo.
3. Você vivenciou ou conhece alguém que tenha vivenciado dificuldades específicas na
busca por um trabalho, seja pela idade, seja pela falta ou pelo excesso de experiência?
4. Quais são seus planos para o próximo ano, após concluir o ensino médio?
321PRODUÇÃO DE TEXTO
Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
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POR DENTRO DO ENEM E DO VESTIBULAR
ENEM EM CONTEXTO
Se o objetivo principal das questões do Enem é avaliar a competência leitora dos estudantes, isso pode ser feito com textos atuais, de autores que atuam no cenário cultural
brasileiro de hoje. Por isso, boa parte das questões de literatura faz uso de textos de autores contemporâneos, que você estudou nesta unidade. Veja como isso acontece nesta
questão do Enem 2015:
da sua memória
mil
e
mui
tos
out
ros
ros
tos
sol
tos
pou
coa
pou
coa
pag
amo
meu
ANTUNES, A. 2 ou + corpos no mesmo espaço.
São Paulo: Perspectiva, 1998.
Trabalhando com recursos formais inspirados no Concretismo, o poema atinge uma expressividade que se caracteriza pela
a. interrupção da fluência verbal, para testar os limites da lógica racional.
b. reestruturação formal da palavra, para provocar o estranhamento no leitor.
c. dispersão das unidades verbais, para questionar o sentido das lembranças.
d. fragmentação da palavra, para representar o estreitamento das lembranças.
e. renovação das formas tradicionais, para propor uma nova vanguarda poética.
REGISTRE
NO CADERNO
X
O poema do poeta e compositor Arnaldo Antunes, ex-Titãs, alinha-se aos pressupostos do movimento concretista, que objetiva romper com a linearidade do verso tradicional, explorando a visualidade do poema e a multiplicidade de sentidos advindos da ruptura das palavras e disposição
verbal. Veja que, com exceção de um, todos os versos apresentam apenas três letras.
O poema é constituído de uma única frase – “Mil e muitos outros rostos soltos pouco a pouco
apagam o meu” –, que remete à memória do interlocutor do eu lírico, identificado pelo pronome de
3ª pessoa sua, que aos poucos vai se esquecendo do eu lírico.
Na questão, todas as afirmações feitas na 1ª parte de cada item são verdadeiras, ou seja, os versos
exploram a interrupção da fluência verbal, reestruturam formalmente a palavra, exploram a fragmentação e a dispersão aleatória de letras e renovam as formas tradicionais da poesia. Contudo, o
problema dos itens está na segunda parte, que indica uma finalidade para o uso desses recursos.
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REGISTRE
NO CADERNO
QUESTÕES DO ENEM E DO VESTIBULAR
1. (ENEM)
O açúcar
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
[dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
(...)
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
Ferreira Gullar. Toda Poesia. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1980. p. 227-8.
A antítese que configura uma imagem da divisão social
do trabalho na sociedade brasileira é expressa poeticamente na oposição entre a doçura do branco açúcar e
a. o trabalho do dono da mercearia de onde veio o açúcar.
b. o beijo de moça, a água na pele e a flor que se dissolve na boca.
c. o trabalho do dono do engenho em Pernambuco,
onde se produz o açúcar.
d. a beleza dos extensos canaviais que nascem no regaço do vale.
e. o trabalho dos homens de vida amarga em usinas
escuras.
2. (ENEM)
À garrafa
Contigo adquiro a astúcia
de conter e de conter-me.
Teu estreito gargalo
é uma lição de angústia.
Por translúcida pões
o dentro fora e o fora dentro
para que a forma se cumpra
e o espaço ressoe.
Até que, farta da constante
prisão da forma, saltes
da mão para o chão
e te estilhaces, suicida,
numa explosão
de diamantes.
PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas.
São Paulo: Cia. das Letras, 1992.
A reflexão acerca do fazer poético é um dos mais marcantes atributos da produção literária contemporânea,
que, no poema de José Paulo Paes, se expressa por
um(a)
a. reconhecimento, pelo eu lírico, de suas limitações
no processo criativo, manifesto na expressão “Por
translúcidas pões”.
b. subserviência aos princípios do rigor formal e dos
cuidados com a precisão metafórica, como se em
“prisão da forma”.
c. visão progressivamente pessimista, em face da impossibilidade da criação poética, conforme expressa
o verso “e te estilhaces, suicida”.
d. processo de contenção, amadurecimento e transformação da palavra, representado pelos versos “numa
explosão / de diamantes”.
X
X
A mais coerente é expressa no item d, que relaciona forma e conteúdo, ou seja, o estreitamento
formal do poema associa-se à ideia de que as lembranças que o interlocutor tem do eu lírico vão,
pouco a pouco, desaparecendo.
Como se nota, nesse tipo de questão não é preciso ter amplo conhecimento teórico acerca do
Concretismo ou do autor. Basta ser um leitor perspicaz e ser capaz de estabelecer relações entre
forma e conteúdo de um texto.
REGISTRE
NO CADERNO
323 Por dentro do Enem e do vestibular
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e. necessidade premente de libertação da prisão representada pela poesia, simbolicamente comparada à
“garrafa” a ser “estilhaçada”.
3. (ENEM)
Aquarela
O corpo no cavalete
é um pássaro que agoniza
exausto do próprio grito.
As vísceras vasculhadas
principiam a contagem
regressiva.
No assoalho o sangue
se decompõe em matizes
que a brisa beija e balança:
o verde – de nossas matas
o amarelo – de nosso ouro
o azul – de nosso céu
o branco o negro o negro
CACASO. In: HOLLANDA, H. B. (Org.). 26 poetas hoje.
Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.
Situado na vigência do Regime Militar que governou
o Brasil, na década de 1970, o poema de Cacaso edifica
uma forma de resistência e protesto a esse período, metaforizando
a. as artes plásticas, deturpadas pela repressão e censura.
b. a natureza brasileira, agonizante como um pássaro
enjaulado.
c. o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexidade com a Ditadura.
d. o emblema nacional, transfigurado pelas marcas do
medo e da violência.
e. as riquezas da terra, espoliadas durante o aparelhamento do poder armado.
4. (ENEM)
Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No
princípio. As mulheres, principalmente as mortas do
álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançando em redor
olhares complacentes, lamentando os que não faziam
parte do nosso clã. [...]
Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei
furiosa. [...]
REGISTRE
NO CADERNO
X
É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos.
Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se
casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro,
não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque
sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus,
ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o
convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem
mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com
violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima,
mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?
TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Representante da ficção contemporânea, a prosa de
Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos
sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)
a. convivência frágil ligando pessoas financeiramente
dependentes.
b. tensa hierarquia familiar equilibrada graças à presença da matriarca.
c. pacto de atitudes e valores mantidos à custa de
ocultações e hipocrisias.
d. tradicional conflito de gerações protagonizado pela
narradora e seus tios.
e. velada discriminação racial refletida na procura de
casamentos com europeus.
5. (ENEM)
Texto I
Voluntário
Rosa tecia redes, e os produtos de sua pequena
indústria gozavam de boa fama nos arredores. A reputação da tapuia crescera com a feitura de uma maqueira de tucum ornamentada com a coroa brasileira,
obra de ingênuo gosto, que lhe valera a admiração de
toda a comarca e provocara a inveja da célebre Ana
Raimunda, de Óbidos, a qual chegara a formar uma
fortunazinha com aquela especialidade, quando a
indústria norte-americana reduzira à inatividade os
teares rotineiros do Amazonas.
SOUSA, I. Contos amazônicos. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
Texto II
Relato de um certo oriente
Emilie, ao contrário de meu pai, de Dorner e dos
nossos vizinhos, não tinha vivido no interior do Amazonas. Ela, como eu, jamais atravessara o rio. Manaus
era o seu mundo visível. O outro latejava na sua memória. Imantada por uma voz melodiosa, quase encantaX
324 UNIDADE 4 CAMINHOS
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da, Emilie maravilha-se com a descrição da trepadeira
que espanta a inveja, das folhas malhadas de um tajá
que reproduz a fortuna de um homem, das receitas
de curandeiros que veem em certas ervas da floresta
o enigma das doenças mais temíveis, com as infusões
de coloração sanguínea aconselhadas para aliviar trinta e seis dores do corpo humano. “E existem ervas que
não curam nada”, revelava a lavadeira, “mas assanham
a mente da gente. Basta tomar um gole do líquido fervendo para que o cristão sonhe uma única noite muitas
vidas diferentes”. Esse relato poderia ser de duvidosa veracidade para outras pessoas, mas não para Emilie.
HATOUM, M. São Paulo: Cia. das Letras, 2008.
As representações da Amazônia na literatura brasileira mantêm relação com o papel atribuído à região na
construção do imaginário nacional. Pertencentes a contextos históricos distintos, os fragmentos diferenciamse ao propor uma representação da realidade amazônica em que se evidenciam
a. aspectos da produção econômica e da cura na tradição popular.
b. manifestações culturais autênticas e da resignação
familiar.
c. valores sociais autóctones e influência dos estrangeiros.
d. formas de resistência locais e do cultivo das superstições.
e. costumes domésticos e levantamento das tradições
indígenas.
6. (ENEM)
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
[...]
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos
os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual
e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária.
[...] BRASIL. Lei n. 8 069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da criança
e do adolescente. Disponível em: www.planalto.gov.br (fragmento)
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REGISTRE
NO CADERNO
Para cumprir sua função social, o Estatuto da criança e
do adolescente apresenta características próprias desse
gênero quanto ao uso da língua e quanto à composição
textual. Entre essas características, destaca-se o emprego de
a. repetição vocabular para facilitar o entendimento.
b. palavras e construções que evitem ambiguidade.
c. expressões informais para apresentar os direitos.
d. frases na ordem direta para apresentar as informações mais relevantes.
e. exemplificações que auxiliem a compreensão dos
conceitos formulados.
7. (ENEM)
Palavras jogadas fora
Quando criança, convivia no interior de São
Paulo com o curioso verbo pinchar e ainda o ouço
por lá esporadicamente. O sentido da palavra é o de
“jogar fora” (pincha fora essa porcaria) ou “mandar
embora” (pincha esse fulano daqui). Teria sido uma
das muitas palavras que ouvi menos na capital do
estado e, por conseguinte, deixei de usar. Quando
indago às pessoas se conhecem esse verbo, comumente escuto respostas como “minha avó fala isso”.
Aparentemente, para muitos falantes, esse verbo é
algo do passado, que deixará de existir tão logo essa
geração antiga morrer.
As palavras são, em sua grande maioria, resultados de uma tradição: elas já estavam lá antes de
nascermos. “Tradição”, etimologicamente, é o ato de
entregar, de passar adiante, de transmitir (sobretudo valores culturais). O rompimento da tradição de
uma palavra equivale à sua extinção. A gramática
normativa muitas vezes colabora criando preconceitos, mas o fator mais forte que motiva os falantes a extinguirem uma palavra é associar a palavra,
influenciados direta ou indiretamente pela visão
normativa, a um grupo que julga não ser o seu. O
pinchar, associado ao ambiente rural, onde há pouca escolaridade e refinamento citadino, está fadado
à extinção?
É louvável que nos preocupemos com a extinção
de ararinhas-azuis ou dos micos-leão-dourados, mas
a extinção de uma palavra não promove nenhuma
comoção, como não nos comovemos com a extinção
de insetos, a não ser dos extraordinariamente belos.
Pelo contrário, muitas vezes a extinção das palavras
é incentivada.
VIARO, M. E. Língua Portuguesa, n. 77, mar. 2012 (adaptado).
A discussão empreendida sobre o (des)uso do verbo
“pinchar” nos traz uma reflexão sobre a linguagem e
seus usos, a partir da qual compreende-se que
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325 Por dentro do Enem e do vestibular
PortuguesContemporaneo3_UN4_CAP3_299a329.indd 325 5/12/16 6:37 PM
a. as palavras esquecidas pelos falantes devem ser descartadas dos dicionários, conforme sugere o título.
b. o cuidado com espécies animais em extinção é mais
urgente do que a preservação de palavras.
c. o abandono de determinados vocábulos está associado a preconceitos socioculturais.
d. as gerações têm a tradição de perpetuar o inventário de uma língua.
e. o mundo contemporâneo exige a inovação do vocabulário das línguas.
8. (FUVEST-SP) Sobre o emprego do gerúndio em frases
como “Nós vamos estar analisando os seus dados e
vamos estar dando um retorno assim que possível”,
um jornalista escreveu uma crônica intitulada “Em
2004, gerundismo zero!”, da qual extraímos o seguinte trecho:
Quando a teleatendente diz: “O senhor pode estar
aguardando na linha, que eu vou estar transferindo
a sua ligação”, ela pensa que está falando bonito. Por
sinal, ela não entende por que “eu vou estar transferindo” é errado e “ela está falando bonito” é certo.
a. Você concorda com a afirmação do jornalista sobre
o que é certo e o que é errado no emprego do gerúndio? Justifique sucintamente sua resposta.
b. Identifique qual de seus vários sentidos assume o
sufixo empregado na formação da palavra “gerundismo”. Cite outra palavra em que se utiliza o mesmo sufixo com esse mesmo sentido.
9. (FUVEST-SP) Leia o texto.
Ditadura / Democracia
A diferença entre uma democracia e um país totalitário é que numa democracia todo mundo reclama,
ninguém vive satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma ditadura o que acha do seu país,
ele responde sem hesitação: “Não posso me queixar”.
Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos.
a. Para produzir o efeito de humor que o caracteriza,
esse texto emprega o recurso da ambiguidade? Justifique sua resposta.
b. Reescreva a segunda parte do texto (de “Mas” até
“queixar”), pondo no plural a palavra “cidadão” e fazendo as modificações necessárias.
X
REGISTRE
NO CADERNO
8. a) Pode-se concordar com a afirmação do jornalista ao se considerar que ela se pauta no aspecto durativo do verbo “falar” e no aspecto não durativo do verbo
“transferir”, o que explica por que um admitiria a construção com o gerúndio e o outro, não. Além disso, ao dizer que “ela pensa que está falando bonito”, o
jornalista toca em outro ponto relevante desse uso do gerúndio, que seria a subjacente intenção de ser cordial e polido.
b) O sufixo “-ismo”, nesse
contexto, dá a ideia de tendência viciosa, mau uso,
como se vê em palavras como
modismo, ou consumismo.
9. a) Sim, pois em “Não posso me queixar” há duas possibilidades de leitura: “não tenho nada do que me queixar, estou satisfeito”, ou “não tenho permissão
para me queixar, pois se o fizer serei punido”.
b) Mas se você perguntar a quaisquer cidadãos de uma ditadura o que acham do seu país, eles respondem sem hesitação: “Não podemos nos queixar”.
10. (UNICAMP-SP)
Nessa propaganda do dicionário Aurélio, a expressão
“bom pra burro” é polissêmica, e remete a uma representação de dicionário.
a. Qual é essa representação? Ela é adequada ou inadequada? Justifique.
b. Explique como o uso da expressão “bom pra burro”
produz humor nessa propaganda.
Produção de texto
11. (UNICAMP-SP) Imagine-se na posição de um leigo em
informática que, ao ler a matéria Cabeça nas nuvens,
reproduzida abaixo, decide buscar informações sobre o
que chamam de computação em nuvem. Após conversar com usuários de computador e ler vários textos sobre o assunto (alguns dos quais reproduzidos a seguir
em I, II e III), você conclui que o conceito é pouco conhecido e resolve elaborar um verbete para explicá-lo.
Nesse verbete, que será publicado em uma enciclopédia
on-line destinada a pessoas que não são especializadas
em informática, você deverá:
• definir computação em nuvem, fornecendo dois exemplos para mostrar que ela já está presente em atividades realizadas cotidianamente pela maioria dos usuários de computador;
• apresentar uma vantagem e uma desvantagem que a
aplicação da computação em nuvem poderá ter em um
futuro próximo.
Cabeça nas nuvens
Quando foi convidado para participar da feira
de educação da Microsoft, Diogo Machado já sabia
que projeto desenvolver. O estagiário de informática da Escola Estadual Professor Francisco Coelho
Ávila Júnior, em Cachoeiro de Itapemirim (ES), estava cansado de ouvir reclamações de alunos que
perdiam arquivos no computador. Decidiu criar um
Retirada de www.eitapiula.net/2009/09/aurelio.jpg
Editora Positivo
326 UNIDADE 4 CAMINHOS
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10. a) A representação aludida é a de que o dicionário é o “pai dos burros”, associando o uso do dicionário à ignorância. Dito de outra forma, o dicionário serviria a quem não conhece a língua ou, mais do que isso, a quem a conhece mal.
É inadequado associar ignorância ao uso do dicionário: a representação pressupõe que as pessoas possam conhecer todas as palavras de uma língua e
seus significados ou, ainda, que o dicionário possa conter todas as palavras e
significados de uma língua. Diferentemente, o dicionário é um objeto histórico
e só imaginariamente poderia conter todas as palavras e os significados de
uma língua, que também é histórica. O dicionário, assim como qualquer outro
instrumento linguístico, é resultado de interpretações sobre a língua e não
um retrato da realidade dessa língua, além de ser um importante instrumento
de consulta.
10. b) Pra burro é frequentemente associado à intensidade, quantidade, ao
advérbio muito. Assim, a expressão bom pra burro significa "muito bom". Ao
vir junto à imagem de um dicionário, permite a associação à expressão pai dos
burros (representação estabilizada de dicionário). O humor é provocado, portanto, pela convivência das duas associações no uso da expressão, colocando
lado a lado a qualidade de ser muito bom e a imagem estereotipada de ser
destinado a pessoas burras.
sistema para salvar trabalhos na própria internet,
como ele já fazia com seus códigos de programação.
Dessa forma, se o computador desse pau, o conteúdo ficaria seguro e poderia ser acessado de qualquer
máquina. A ideia do recém-formado técnico em informática se baseava em clouding computing (ou
computação em nuvem), tecnologia que é a aposta
de gigantes como Apple e Google para o armazenamento de dados no futuro.
Em três meses, Diogo desenvolveu o Escola na
nuvem (escolananuvem.com.br), um portal em que
estudantes e professores se cadastram e podem armazenar e trocar conteúdos, como o trabalho de matemática ou os tópicos da aula anterior. As informações
ficam em um disco virtual, sempre disponíveis para
consulta via web.
(Extraído de Galileu, n¼ 241, ago. 2011,
São Paulo: Editora Globo, p. 79.)
I
“Você quer ter uma máquina de lavar
ou quer ter a roupa lavada?”
Essa pergunta resume de forma brilhante o conceito de computação em nuvem, que foi abordado em
um documentário veiculado recentemente na TV.
(Adaptado de: http://toprenda.net/2010/04/
computacao-em-nuvem-voce-ja-usa-e-nem-sabia.)
II
Vamos dizer que você é o executivo de uma
grande empresa. Suas responsabilidades incluem
assegurar que todos os seus empregados tenham o
software e o hardware de que precisam para fazer o
seu trabalho. Comprar computadores para todos não
é suficiente – você também tem de comprar software
ou licenças de software para dar aos empregados as
ferramentas que eles exigem.
Em breve, deve haver uma alternativa para executivos como você. Em vez de instalar uma suíte de
aplicativos em cada computador, você só teria de
carregar uma aplicação. Essa aplicação permitiria
aos trabalhadores logar-se em um serviço baseado
na web que hospeda todos os programas de que o
usuário precisa para o seu trabalho. Máquinas remotas de outra empresa rodariam tudo – de e-mail
a processador de textos e a complexos programas
de análise de dados. Isso é chamado computação
em nuvem e poderia mudar toda a indústria de
computadores.
Se você tem uma conta de e-mail com um serviço baseado na web, como Hotmail, Yahoo! ou Gmail,
então você já teve experiência com computação em
nuvem. Em vez de rodar um programa de e-mail no
seu computador, você se loga numa conta de e-mail
remotamente pela web.
(Adaptado de Jonathan Strickland, Como funciona a
computação em nuvem. Disponível em:
http://informatica.hsw.uol.com.br/computacao-em-nuvem.htm.)
III
A simples ideia de determinadas informações
ficarem armazenadas em computadores de terceiros
(no caso, os fornecedores de serviço), mesmo com documentos garantindo a privacidade e o sigilo, preocupa pessoas, órgãos do governo e, principalmente,
empresas. Além disso, há outras questões, como o
problema da dependência de acesso à internet: o que
fazer quando a conexão cair? Algumas companhias
já trabalham em formas de sincronizar aplicações
off-line com on-line, mas tecnologias para isso ainda
precisam evoluir bastante.
(Adaptado de O que é Cloud Computing? Disponível em:
http://www.infowester.com/cloudcomputing.php.)
327 Por dentro do Enem e do vestibular
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Feira de profissões − Você
no mercado de trabalho
Como encerramento da unidade, você e seus colegas realizarão uma feira de profissões,
na qual serão divulgados e expostos verbetes sobre profissões, projetos de pesquisa, cartas
de apresentação e vídeos com entrevistas de emprego simuladas.
1. Organizando, preparando e divulgando o evento
• Definam data, horário, estrutura, público-alvo e meios de divulgação da feira. Procurem
convidar toda a comunidade escolar e também familiares e vizinhos da escola, especialmente
aqueles que têm empresas ou negócios próprios.
• Ao divulgar a feira entre donos de empresas estabelecidas na região da escola, convidem-nos
para falar sobre ela e, quem sabe, iniciar na feira um processo de recrutamento de novos
funcionários.
• Na divulgação do evento para a comunidade escolar, familiares e vizinhos da escola
especifiquem as atividades que serão realizadas.
2. Realizando a feira
Os verbetes
• Definam uma maneira de divulgar os verbetes produzidos por vocês no capítulo 1: em livros
impressos, na forma de enciclopédia ou dicionário, em fôlderes avulsos, em murais.
• Organizem uma escala entre os autores dos verbetes para que sempre haja alguém disponível
para orientar os visitantes, na consulta aos textos.
Projetos de pesquisa
• Procurem, em um centro universitário próximo à escola, ou por meio de um dos professores
da classe, fazer contato com pesquisadores que estejam desenvolvendo algum projeto de
pesquisa. Falem com alguns desses pesquisadores e façam a eles o convite para participar Blend RF/KidStock/Diomedia
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da feira, dando uma breve palestra em que expliquem
o projeto de pesquisa no qual trabalham e como o
desenvolvem.
• Convidem, se possível, um pesquisador que possa
falar sobre a elaboração de um projeto de pesquisa.
Sugiram que ele conte como surgiu a ideia do projeto,
como foi sua escrita e o processo de avaliação do
texto por uma comissão.
• Preparem um local para a apresentação tanto dos
projetos que escreveram no capítulo 1 quanto dos
resultados das breves pesquisas que desenvolveram a
partir dele.
As cartas de apresentação
• Decidam como reunir as cartas de apresentação produzidas por vocês no capítulo 2, a fim
de que elas sirvam como modelos aos visitantes. Elas podem ser expostas em um mural ou
agrupadas em uma antologia de cartas de apresentação.
• Em um local com computadores, ofereçam aos visitantes consultoria sobre a escrita de cartas
de apresentação. Com base no estudo que realizaram, deem dicas, sugestões e orientações
sobre como produzir cartas de apresentação que, de fato, sejam eficientes e atendam
ao fim para o qual foram escritas. Tirem dúvidas que os visitantes tenham e, aos que se
interessarem, ajudem a escrever suas cartas.
As entrevistas de emprego
• Preparem um local para exibir aos visitantes os vídeos com as simulações das entrevistas
de emprego produzidas por vocês no capítulo 3. Elaborem uma programação para que todos
possam se organizar e assistir aos vídeos.
• Reservem um local em que vocês possam prestar consultoria aos visitantes que desejem
tirar dúvidas sobre como se portar em entrevistas de emprego. Para dar dicas, sugestões e
orientações, tomem por base o estudo realizado no capítulo.
• Se julgarem interessante, preparem um mural e exponham nele essas dicas, sugestões e
orientações.
• Caso a feira tenha a participação de donos de empresas, disponibilizem aos que se
interessarem um espaço para recrutamento de possíveis funcionários.
Michel Baret/Gamma-Rapho via Getty Images
Phil Boorman/Cultura RF/ Getty Images
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Apêndice
Análise sintática do período composto
A análise da função que as orações podem exercer nos períodos, também conhecida
como análise sintática do período composto, já teve, no passado, bastante relevância nos
estudos de gramática na escola.
Nos dias de hoje, quando os estudos da língua se voltam mais para as funções sociais
do texto e a adaptação da linguagem a situações de comunicação diversas – isto é, o uso
da língua para produzir e ler textos dos mais variados gêneros de forma adequada e coerente – a análise das orações perdeu prestígio. Alguns de seus conceitos básicos, entretanto, podem auxiliar no estudo de certos tópicos importantes da gramática prescritiva e da
norma-padrão, como a pontuação.
Apresentamos, em caráter complementar e para fins de consulta, as orações coordenadas e subordinadas de nossa língua, segundo a descrição da gramática normativa. Consulte-a sempre que houver necessidade.
Orações coordenadas
São aquelas que possuem independência sintática, ou seja, cada uma delas apresenta
sujeito, predicado e outros termos da oração, sem precisar se ligar a outra oração para
se completar. Podem ser assindéticas, quando se ligam umas às outras sem conjunção, e
sindéticas, quando se ligam por meio de conjunção.
As orações coordenadas sindéticas classificam-se em:
• Aditivas: Estabelecem com a oração anterior uma relação de adição ou acréscimo. As
principais conjunções são: e, nem, que e as locuções não só... mas (também), tanto...
como, etc.
Fui ao banco e paguei todas as contas.
• Adversativas: Estabelecem com a oração anterior uma relação de oposição, contraste,
ressalva. As conjunções mais comuns são: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no
entanto.
Fui ao banco, mas não consegui pagar as contas.
• Alternativas: Expressam alternância ou ideias que se excluem. As conjunções mais
usadas são: ou, ou... ou, ora... ora, quer... quer, já... já, etc.
330 ApÊNDICE
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Vá de carro ou tome o metrô.
A criança ora saía de casa, ora entrava.
• Conclusivas: Exprimem uma ideia de conclusão em relação à afirmação feita na oração
anterior. As conjunções mais comuns são: portanto, logo, assim, por isso, de modo que,
pois (depois do verbo).
Os donos da casa estão cansados, logo é hora de partir.
• Explicativas: Explicam a declaração feita na oração anterior. São introduzidas pelas
conjunções pois (anteposto ao verbo), que, porque, etc.
É melhor se apressar, pois já é tarde.
Orações subordinadas
São aquelas que mantêm uma dependência sintática em relação à oração principal,
ou seja, desempenham uma função sintática em relação a outra.
As orações subordinadas classificam-se em três grupos, de acordo com o valor que
podem desempenhar, ou seja, um valor de substantivo, de adjetivo ou de advérbio.
Orações substantivas
São aquelas que têm valor de substantivo e exercem em relação à oração principal
uma das funções próprias do substantivo, que pode ser de sujeito, de objeto direto, de
objeto indireto, de complemento nominal, de predicativo do sujeito e de aposto. São introduzidas pelas conjunções integrantes que e se.
• Subjetiva: É a que exerce a função de sujeito da oração principal. Geralmente, na oração principal, há expressões como convém, é bom, é importante, é necessário, etc.
É bom que você chegue mais cedo amanhã.
or. principal or. subord. subst. subjetiva
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• Objetiva direta: É a que exerce função de objeto direto em relação ao verbo da oração
principal.
Eu sempre disse que você tinha jeito de artista.
or. principal or. subord. subst. objetiva direta
• Objetiva indireta: É a que exerce a função de objeto indireto em relação ao verbo da
oração principal.
Lembrou-se de que já era final de mês.
or. principal or. subord. subst. objetiva indireta
• Completiva nominal: É a oração que exerce a função de complemento nominal em
relação a um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) da oração principal.
Você é contrário a que façamos um pedido formal ao juiz?
or. principal or. subord. subst. completiva nominal
• Predicativa: É aquela que exerce a função de predicativo em relação ao sujeito da oração principal.
A verdade é que algumas pessoas precisam ser mais educadas.
or. principal or. subord. subst. predicativa
• Apositiva: É aquela que exerce a função de aposto em relação a um elemento da oração principal.
Preciso lhe dizer um segredo: (que) estou namorando.
or. principal or. subord. subst. apositiva
332 APæNDICE
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Orações adjetivas
São aquelas que desempenham o papel de adjetivo em relação a um nome (substantivo ou pronome) da oração principal. Podem ser de dois tipos, de acordo com o sentido.
São introduzidas por pronomes relativos: que, quem, o qual, cujo, etc.
• Restritiva: É a que delimita, restringe ou particulariza o sentido de um nome da oração
principal. Na escrita, liga-se ao antecedente sem vírgulas.
Eu não vi a pessoa que entrou na loja.
or. principal or. subord. adj. restritiva
• Explicativa: É a que acrescenta ao antecedente uma informação que já é do conhecimento do interlocutor; ela pode também generalizar ou universalizar o sentido do
antecedente. Na escrita, aparece entre vírgulas.
As crianças, que já estavam com muito sono, foram para a cama.
or. principal or. subord. adj. explicativa or. principal
Se o mesmo enunciado estivesse sem vírgulas – As crianças que já estavam com muito sono foram para a cama –, a oração passaria a restritiva e, nesse caso, considera-se que
havia crianças com sono e crianças sem sono; foram para a cama apenas as que estavam
com sono. Já na oração adjetiva explicativa, entre vírgulas, o que se diz é que todas as
crianças estavam com sono e por isso todas foram para a cama.
Orações adverbiais
São as que desempenham a função de advérbio em relação ao verbo da oração principal.
Da mesma forma que o advérbio, elas também expressam valores semânticos de tempo,
lugar, causa, condição, etc. Classificam-se em:
• Temporal: É a que indica o tempo ou o momento em que se deu a ação verbal na oração
principal. Pode ser introduzida por conjunções como quando, enquanto, assim que, mal,
logo que, etc.
Quando vier à Bahia, venha me visitar.
or. subord. adv. temporal or. principal
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• Proporcional: É a que indica uma proporção em relação ao fato expresso na oração
principal. Pode ser introduzida pelas conjunções à medida que, à proporção que, ao passo que, etc.
Fui compreendendo melhor à medida que ia lendo sobre o assunto.
or. principal or. subord. adv. proporcional
• Final: É a que indica uma finalidade da ação praticada na oração principal. Pode ser
introduzida por conjunções como a fim de que, para que, etc.
Empreste o celular para que eu fotografe vocês dois.
or. principal or. subord. adv. final
• Causal: É a que indica a causa do efeito expresso na oração principal. Pode ser introduzida por conjunções como uma vez que, porque, posto que, já que, etc.
Preferi não falar nada na reunião, uma vez que sou novo na empresa.
or. principal or. subord. adv. causal
• Comparativa: É a que estabelece uma comparação em relação a um elemento da oração principal. Pode ser introduzida por conjunções como como, que, do que, assim como,
(tanto) quanto, etc.
Você trabalha muito, assim como eu (trabalho).
or. principal or. subord. adv. comparativa
• Consecutiva: É a que expressa uma consequência, um efeito do fato mencionado na
oração principal. Pode ser introduzida por conjunções como que (precedida de tal, tão,
tanto), de modo que, de sorte que, etc.
Choveu tanto que inundou minha casa.
or. principal or. subord. adv. consecutiva
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• Condicional: É a que expressa uma condição ou uma hipótese para que ocorra o fato
expresso na oração principal. Pode ser introduzida por conjunções como se, desde que,
contanto que, salvo se, a menos que, etc.
Obteremos sucesso desde que todos se empenhem ao máximo.
or. principal or. subord. adv. condicional
• Conformativa: É a que expressa uma ideia de conformidade ou de concordância entre um fato e outro expresso na oração principal. Pode ser introduzida por conjunções
como conforme, consoante, segundo, etc.
Montamos o aparelho de som conforme as instruções do manual.
or. principal or. subord. adv. conformativa
• Concessiva: É a que indica uma concessão, um fato contrário ao expresso na oração
principal, porém insuficiente para anulá-lo. Pode ser introduzida por conjunções como
embora, ainda que, mesmo que, se bem que, por mais que, etc.
Vou lhe emprestar algum dinheiro, embora eu não possa.
or. principal or. subord. adv. concessiva
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ORIENTAÇÕES
DIDÁTICAS
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 341
A ESTRUTURA E A METODOLOGIA DA OBRA....................................................342
• AS UNIDADES ............................................................................................................342
Aberturas de unidade ..................................................................................................342
• OS CAPÍTULOS ...........................................................................................................343
LITERATURA ..............................................................................................................343
Seções ....................................................................................................................... 347
Sugestões de estratégias para o trabalho com a literatura ................................................. 351
LÍNGUA E LINGUAGEM ................................................................................................ 352
A gramática na escola .................................................................................................. 352
Um pouco de história .................................................................................................. 353
Um caminho possível para o ensino da gramática ............................................................ 355
Seções ...................................................................................................................... 361
Sugestões de estratégias para o trabalho com a gramática no texto .................................. 364
Avaliação da gramática ................................................................................................365
PRODUÇÃO DE TEXTO ............................................................................................... 366
Os projetos de produção textual .................................................................................... 367
Os gêneros do discurso ............................................................................................... 368
Metodologia de ensino e a realização de projetos............................................................. 373
Seções ....................................................................................................................... 376
Temas e interdisciplinaridade ........................................................................................ 378
Oralidade e gêneros orais ............................................................................................. 379
Sugestões de estratégias para produção de texto ............................................................. 379
Avaliação dos textos ................................................................................................... 380
OUTRAS SEÇÕES ........................................................................................................ 381
Boxes ........................................................................................................................ 381
Mundo plural ............................................................................................................. 382
Por dentro do Enem e do vestibular ................................................................................383
Apêndice .................................................................................................................. 384
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INTRODUÇÃO
Prezado professor:
Esta coleção foi escrita para você, que sempre desejou trabalhar com uma obra
de língua portuguesa que integrasse os conteúdos de literatura, de gramática e
de produção textual. Uma obra que não tratasse os estilos de época da literatura
de forma cristalizada e estanque, mas estabelecesse relações dialógicas entre a literatura de um autor e de uma época com obras e autores de outras épocas. Uma
obra que apresentasse não apenas os conteúdos essenciais de gramática, mas
também uma forma diferente de abordá-los, além de incluir capítulos inteiros
dedicados à análise linguística. Uma obra que trabalhasse os gêneros de discurso com uma perspectiva dos estudos de letramento, com diferentes práticas de
leitura e escrita, e que incluísse gêneros da esfera digital e gêneros multimodais,
como o roteiro de documentário e o conto multissemiótico.
Esta coleção tem por finalidade dar uma abordagem contemporânea aos conteúdos da disciplina, atualizada em relação aos estudos literários, à teoria de gêneros e às novas concepções de língua e linguagem.
O trabalho de literatura privilegia o desenvolvimento da competência leitora
de textos literários, ao mesmo tempo que estabelece nexos com seu contexto
de produção, com textos de outras áreas do conhecimento, bem como com outras linguagens e artes. Além disso, a literatura está presente ao longo de todo o
livro, seja nas frentes de gramática, seja na de produção de textos. As literaturas
africanas de língua portuguesa têm um espaço privilegiado na obra, da mesma
forma que a literatura negro-brasileira, até então nunca tratada em outros manuais didáticos.
O estudo da gramática privilegia os conteúdos indispensáveis para a proficiência linguística do estudante, sempre trabalhados de forma contextualizada e
por uma perspectiva textual e enunciativa. Textos estudados na parte de literatura frequentemente são retomados para serem vistos também sob a perspectiva linguística e gramatical, em cujos exercícios são propostos outros textos
do autor estudado na parte de literatura. Ainda, em momentos oportunos, os
exercícios são associados a estratégias de produção de textos, em um trabalho
conjunto entre as frentes de gramática e produção.
A produção textual, por sua vez, organiza-se em torno de projetos e de diferentes práticas sociais de linguagem, envolvendo gêneros escritos, orais, digitais
e multimodais. Sempre que possível, os gêneros explorados nessa parte “dialogam” com os gêneros ou com o contexto histórico trabalhados em literatura, bem
como com os conteúdos explorados na gramática.
Enfim, esta é uma obra sintonizada com o nosso tempo, com as atuais necessidades do aluno e com o seu desejo, professor, de ministrar um curso rico e
instigante de língua portuguesa.
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A ESTRUTURA E A METODOLOGIA DA OBRA
As unidades
Cada volume que compõe a coleção organiza-se em quatro unidades. O nome
de cada unidade contempla o sentido geral dos conteúdos trabalhados em literatura, gramática e produção de texto. Como exemplo, no volume 1, tem-se: unidade 1: Rumores da língua e da literatura; unidade 2: Engenho e arte; unidade 3:
Palavras em movimento; unidade 4: Palavra e razão.
Cada uma das unidades tem três capítulos e em cada capítulo há o trabalho
com as três frentes: Literatura, Língua e linguagem e Produção de texto. Para as
escolas que optam pelo sistema bimestral, sugere-se que cada unidade seja trabalhada em um bimestre.
Aberturas de unidade
Na abertura da unidade, há sempre uma imagem representativa do período
que será estudado em literatura, com uma legenda ampliada que comenta a
obra. Além dessa imagem, em destaque, há também textos e imagens relacionados aos conteúdos de gramática e de literatura que serão trabalhados, bem como
o anúncio do projeto de produção textual que será realizado pelos estudantes ao
longo da unidade. O papel da abertura é despertar a curiosidade dos estudantes
e estimulá-los para os estudos que serão desenvolvidos na unidade.
Díptico de Wilton (1395) UNIDADE
1
EU E O MUNDO
O navio negreiro (1840), de Joseph M. William Turner. A tela tem como tema um fato histórico: o navio negreiro Zong, superlotado,
transportava mais de 400 escravos da África para a Jamaica. Doenças começaram a se disseminar e a provocar grande número de
mortes. O capitão do navio decidiu, então, lançar ao mar parte dos escravos e cobrar depois uma indenização pelos mortos. Mais
de uma centena de escravos morreu nessa viagem.
The Museum of Fine Arts, Boston, Estados Unidos
12
MOSTRA DE CINEMA –
MEMÓRIAS EM DOCUMENTÁRIO
Participe, com toda a classe, da realização de uma mostra sobre cinema. Nela,
você e seus colegas apresentarão documentários que produziram na unidade e
farão a exposição dos relatos e roteiros que
deram origem a eles.
Relatos
Quando eu tinha 5 anos, minha mãe sempre
me dizia que a felicidade é a chave para a vida.
Quando eu fui para a escola, me perguntaram
o que eu queria ser quando crescesse. Eu escrevi: “Feliz”. Eles disseram que eu não tinha
entendido a pergunta, e eu lhes disse que eles
não entendiam a vida.
(John Lennon)
Os nomes dos bichos não são os bichos.
Os bichos são:
Macaco gato peixe cavalo vaca elefante baleia galinha.
Os nomes das cores não são as cores.
As cores são:
Preto azul amarelo verde vermelho marrom.
Os nomes dos sons não são os sons.
Os sons são.
[...]
(Arnaldo Antunes. "Nome não". © Rosa Celeste/Universal Music.)
[...] Destruamos as teorias, as poéticas e os sistemas.
Derrubemos este velho gesso que mascara a fachada da arte! Não há regras
nem modelos; ou antes, não há outras regras senão as leis gerais da natureza
que plainam sobre toda a arte, e as leis especiais que, para cada composição,
resultam das condições de existência próprias para cada assunto. [...]
O poeta, insistamos neste ponto, não deve, pois, pedir conselho senão à
natureza, à verdade, e à inspiração,
que é também uma verdade e uma natureza.
(Victor Hugo. “Do grotesco e do sublime”. In: Cromwell. São Paulo: Perspectiva, s. d. p. 57.)
© Bettmann/Corbis/Latinstock
13
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Os capítulos
Os três capítulos que constituem cada uma das unidades integram, conjuntamente, o estudo de Literatura, de Língua e linguagem e de Produção de texto. Esse
trabalho integrado permite um constante diálogo entre as três frentes de Língua
Portuguesa, de modo que os textos dos diferentes autores da literatura, os gêneros
mais cultivados no período em estudo, bem como a temática dos movimentos literários servem como referência para o desenvolvimento de tópicos gramaticais e de
produção de textos. Como exemplo, no primeiro capítulo da unidade 2 do volume 1,
o estudo das figuras de linguagem, na frente de Língua e linguagem, é feito a partir
de poemas líricos de Camões e o estudo do gênero resumo, em Produção de texto,
é realizado a partir de resumos que tratam da obra Os lusíadas e dos avanços científicos conquistados no contexto sócio-histórico desse épico português.
Literatura
Esta obra didática tem como princípio a ideia de Antonio Candido (2011) de que
as produções literárias enriquecem a nossa percepção e a nossa visão de mundo,
e sua fruição é um direito das pessoas de qualquer sociedade. Tendo como base
tal perspectiva, o ensino de literatura, nesta obra didática, prioriza o desenvolvimento da capacidade leitora do aluno por meio de atividades que propiciam
uma vivência efetiva com o texto literário em suas dimensões estética, cultural
e histórica, ampliando sua visão de mundo e estimulando sua fruição literária.
Diferentemente do ensino pautado em memorização mecânica de autores,
de obras e de características de determinado movimento literário, as atividades
aqui propostas têm como foco a compreensão e a interpretação do texto literário; a análise dos efeitos de sentido produzidos por recursos fonológicos, sintáticos e semânticos; a reflexão a respeito das relações entre o texto e seu contexto
de produção e recepção, observando a visão de mundo e os valores cultivados na
época; a observação da adesão e da ruptura dos autores a propósito dos paradigmas do movimento literário ao qual pertencem, bem como a verificação dos
temas e os procedimentos formais que caracterizam a obra do autor em estudo.
A respeito da leitura do texto literário, os Parâmetros curriculares nacionais +
ensino médio afirmam:
A leitura do texto literário – e a consequente percepção dos recursos expressivos de que se vale o autor para
constituir seu estilo – mobiliza uma série de relações: entre texto e contexto sociocultural de produção e recepção;
entre escolhas do autor, temáticas abordadas, estruturas
composicionais e estilo, apenas para citar algumas. [...] A
leitura da obra literária poderá assim fazer muito mais
sentido para os estudantes, pois passa a ser entendida não
como mero exercício de erudição e estilo, mas como caminho para se alcançar, por meio da fruição, a representação
simbólica das experiências humanas.
(Par‰metros curriculares nacionais + ensino mŽdio: orientações
educacionais complementares aos PCN. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002. p. 55.)
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Tendo como referência tal concepção, a abordagem da literatura nesta obra
leva o estudante a observar, por exemplo, que, no Arcadismo, os valores burgueses da família e do trabalho, cultivados no contexto do Iluminismo, são tematizados na produção poética de Tomás Antônio Gonzaga e que, no Romantismo, com
A obra depende estritamente do artista e das condições sociais que determinam a sua posição. Por motivo de
clareza, todavia, preferi relacionar ao artista os aspectos
estruturais propriamente ditos; quanto à obra, focalizemos o influxo exercido pelos valores sociais, ideologias e
sistemas de comunicação, que nela se transmudam em
conteúdo e forma, discerníveis apenas logicamente, pois
na realidade decorrem do impulso criador como unidade
inseparável. Aceita, porém, a divisão, lembremos que os
valores e as ideologias contribuem principalmente para
o conteúdo, enquanto as modalidades de comunicação influem mais na forma.
(Antonio Candido. Literatura e sociedade. São Paulo: Publifolha, 2000. p. 27.)
Como sugere o documento oficial, os textos adquirem um sentido mais completo quando são relacionados à ambientação sociocultural de suas respectivas
composições. Com base nessa concepção e na ideia de que os movimentos literários expressam valores e visões de mundo que são marcados pelos mais variados
tipos de fenômeno – do conhecimento filosófico aos movimentos sociopolíticos
e econômicos –, esta obra também propõe, em uma perspectiva interdisciplinar,
atividades baseadas em textos de diferentes áreas do saber – como Filosofia,
História, Matemática, Sociologia e Arte –, promovendo, ao mesmo tempo, o conhecimento do contexto sociocultural dos textos literários e das concepções de
mundo e de valores vigentes na época estudada.
Há, também, ao longo da obra, um permanente diálogo entre os textos literários do período em estudo e textos recentes de diferentes gêneros, tais como
o romance, o poema, o cordel, a letra de canção, a crônica, entre outros, a fim de
que o estudante perceba a literatura não apenas como uma criação cultural historicamente situada, mas, também, como organismo vivo e em diálogo com produções culturais contemporâneas, locais e universais. Da mesma maneira, esta
obra explora o diálogo entre textos verbais, multimodais (textos que combinam
palavras com imagens, cores, sons, formas, como filmes, tiras, histórias em quadrinhos, canções, etc.) e não verbais (como a pintura, a escultura, a fotografia e
o desenho), criando cruzamentos entre diversas linguagens que ampliam o universo cultural do estudante e auxiliam na aprendizagem dos temas e dos procedimentos formais que orientam as produções literárias nos diferentes períodos
da história.
As atividades didáticas aqui propostas têm, fundamentalmente, como base
teórica as concepções de Antonio Candido sobre as relações entre literatura e sociedade e de Mikhail Bakhtin a propósito do dialogismo, bem como as ideias de
Marisa Lajolo e Regina Zilberman a respeito dos contextos de produção e recepção das obras literárias no Brasil.
De acordo com Antonio Candido,
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Conforme o fragmento em destaque, não há objeto que não seja permeado
pelo discurso, e todo discurso dialoga com outros discursos. A partir desse princípio dialógico, o texto é concebido como um tecido de vozes que respondem umas
às outras, se completam ou se polemizam e, por isso, como assinala Fiorin, “o
dialogismo é tanto convergência, quanto divergência; é tanto acordo, quanto desacordo; é tanto adesão, quanto recusa; é tanto complemento, quanto embate”
(2008, p. 170).
Tendo em vista essa concepção dialógica da linguagem, esta obra didática
propõe atividades que estabelecem relações tanto entre textos literários e textos
filosóficos ou históricos, como entre produções literárias de diferentes épocas e
lugares. Como exemplo, citam-se os diálogos estabelecidos entre o episódio do
Gigante Adamastor de Os lusíadas, de Camões (cerca de 1524-1580), e o poema
“Mar portuguez”, de Fernando Pessoa (1888-1935); entre o poema em prosa “Em-
[...] todo discurso concreto (enunciação) encontra aquele objeto para o qual está voltado, sempre, por assim dizer, desacreditado,
contestado, avaliado, envolvido por sua névoa escura ou, pelo contrário, iluminado pelos discursos de outrem que já falaram sobre
ele. O objeto está amarrado e penetrado por ideias gerais, por pontos de vista, por apreciações de outros e por entonações. Orientado
para o seu objeto, o discurso penetra neste meio dialogicamente
perturbado e tenso de discursos de outrem, de julgamentos e de entonações. Ele se entrelaça com eles em interações complexas, fundindo-se com uns, isolando-se de outros, cruzando com terceiros;
e tudo isso pode formar substancialmente o discurso, penetrar em
todos os seus estratos semânticos, tornar complexa a sua expressão, influenciar todo o seu aspecto estilístico.
(Mikhail Bakhtin. Questões de literatura e de estética:
a teoria do romance. São Paulo: Hucitec, 2002. p. 86).
o desenvolvimento da imprensa e a invenção do folhetim, a forma do romance se
modificou, tanto no estilo quanto na técnica narrativa. Portanto, o estudo de literatura aqui proposto leva em conta os elementos do contexto sócio-histórico não
apenas exteriormente, como uma referência que permite identificar, na matéria
do texto, a expressão de uma determinada época ou sociedade, mas também
como fator da própria construção artística, observando, em conformidade com as
ideias de Antonio Candido (2000), o externo que se torna interno.
Com a finalidade de aprofundar o conhecimento do estudante sobre o contexto de produção e de recepção das obras literárias, o estudo da literatura contempla, além dos autores, o público leitor e os meios de circulação da produção
literária (por escrito em livros, revistas e jornais, oralmente em salões literários,
academias, nas cortes, igrejas, feiras, etc.). A abordagem do contexto de produção
e recepção das obras permite ao estudante observar o processo de formação do
escritor e do leitor brasileiro e as relações que vão sendo estabelecidas entre o
autor, a obra e o público ao longo da história do Brasil.
Como já foi mencionado anteriormente, esta obra didática também é orientada pela concepção dialógica da linguagem teorizada por Bakhtin. De acordo com
esse autor:
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paredado”, de Cruz e Sousa (1861-1898), e o poema “A cor da pele”, de Adão Ventura (1946-2004); ou ainda entre o romance Vidas secas, de Graciliano Ramos (1892-
1953), e o poema “O retrato do sertão”, de Patativa do Assaré (1909-2002). Os
diálogos podem, ainda, estabelecer uma relação intertextual – relação na qual a
referência a outro texto pode aparecer explícita ou implicitamente –, como ocorre nos diálogos entre o cordel A batalha de Oliveiros com Ferrabrás, de Leandro
Gomes de Barros (1865-1918), e a novela de cavalaria História do imperador Carlos
Magno e dos doze pares de França (século XV), bem como entre o romance Era
no tempo do rei, de Ruy Castro (1948), e Memórias de um sargento de milícias, de
Manuel Antônio de Almeida (1831-1861).
Além dos textos verbais, há, da mesma maneira, propostas de diálogos entre
textos multimodais e não verbais, como o estudo comparado entre a escultura e
a crônica ou a tirinha, entre a pintura e a crítica de arte ou a carta aberta, como,
também, o estudo dos diálogos entre a história em quadrinhos ou a canção e os
temas e estilos cultivados pelos diversos movimentos artísticos e literários. Esse
trabalho de leitura com as diferentes linguagens ao longo do processo de formação do estudante no ensino médio, além de contribuir de modo significativo para
seu desenvolvimento como leitor literário, amplia sua visão de mundo, enriquece
seu repertório cultural e propicia sua apreciação estética dos bens culturais nacionais e estrangeiros.
Na coleção, além do trabalho sistematizado de leitura, há também sugestões
de músicas populares e clássicas, filmes nacionais e internacionais e sites de pesquisa que enriquecem o estudo de literatura e propiciam a interação da linguagem literária com outras linguagens.
A proposta de ensino de literatura que aqui se apresenta contempla os múltiplos diálogos entre as diferentes linguagens, entre os textos e seus contextos,
entre as diferentes áreas do saber, entre o passado e o presente, para que o estudante, para além do “mero exercício de erudição e estilo”, como registram os
Parâmetros curriculares nacionais + ensino médio, exercite a reflexão e a criticidade, experimente a fruição estética e literária, adquira o conhecimento do outro e
conquiste o conhecimento de si.
n Bibliografia
BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e estética: a teoria do romance. São Paulo:
Hucitec, 2002.
BARROS, Diana Pessoa de; FIORIN, José Luiz (orgs.). Dialogismo, polifonia,
intertextualidade. São Paulo: Edusp, 1994.
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino
médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2006.
________. Secretaria de Educação Média e Tecnologia. Parâmetros curriculares
nacionais (ensino médio): linguagens, códigos e suas tecnologias, 2000. Brasília:
MEC/SEMTEC, 1999.
________. Secretaria de Educação Média e Tecnologia. Parâmetros curriculares
nacionais + ensino médio: orientações educacionais complementares aos PCN.
Brasília: MEC/SEMTEC, 2002.
CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. São Paulo: Publifolha, 2000.
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________. Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011.
FIORIN, José Luiz. Interdiscursividade e intertextualidade. In: BRAIT, Beth (org.).
Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2008. p. 161-193.
LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática,
1996.
RONCARI, Luiz. Literatura brasileira:dos primeiros cronistas aos últimos românticos.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014.
Seções
Como em cada unidade é estudado um movimento literário ou parte dele, a frente de literatura desenvolve os
capítulos, essencialmente, de duas maneiras: a) trabalha
a leitura, apresentando os procedimentos mais comuns
aos movimentos literários estudados ao longo do ensino médio; b) trabalha a leitura focalizando os temas e o
estilo das obras e dos autores estudados e suas relações
com o mundo.
Capítulo 1: Os movimentos literários
Os primeiros capítulos de cada unidade são, em geral,
iniciados com o Foco na imagem, seção em que o estudante toma contato com a estética literária do movimento em estudo por meio da leitura e interpretação de uma
pintura ou desenho representativo do período literário
a ser estudado, ampliando sua capacidade de leitura de
texto não verbal. Na sequência, a seção Fique conectado!
apresenta sugestões de objetos culturais relacionados
com o período em estudo, tais como filmes, livros, músicas, sites de Internet, museus, igrejas, etc. Algumas dessas sugestões aparecem ao longo da unidade, seja por
meio de boxes explicativos, seja por meio de estudos nas
seções Foco no texto, Entre textos ou Conexões. Além de
participar desse trabalho sistematizado proposto nesta
obra, é importante que os estudantes entrem em contato com outros objetos culturais sugeridos no Fique conectado!, a fim de aprofundar seu conhecimento sobre o
período estudado, de despertar sua sensibilidade estética e de promover o conhecimento de outras linguagens.
O tópico O contexto de produção e recepção antecipa o
estudo do texto literário com a finalidade de apresentar
aos estudantes o contexto específico de elaboração e circulação das obras em estudo. Esse tópico se divide em Os
meios de circulação, que focaliza quem produz literatura,
quem é o público leitor e por que meios os textos literários circularam na época (por escrito, em livros, revistas e
jornais; oralmente, em salões literários, academias, nas
O contexto de produção
e recepção do Trovadorismo
A obra arquitetônica e as pinturas que você examinou em Foco na imagem foram produzidas durante a Idade Média, momento em que, na literatura, surgiu o Trovadorismo.
Ao conjunto de produções literárias da Baixa Idade Média, em Portugal,
chamamos Trovadorismo. Em uma época na qual a escrita se restringia a
poucos, quem produzia a poesia trovadoresca em Portugal, durante os séculos de XII a XIV? Como ela era difundida? Quem era o público consumidor?
Os meios de circulação
O florescimento das cantigas trovadorescas em Portugal se deu em parte na corte, por influência das cantigas provenientes da França, e em parte
na cultura popular ibérica. Apesar disso, era essencialmente na corte que
elas eram cantadas e executadas. Os trovadores (geralmente nobres) eram
os criadores das cantigas, mas quem as cantava e tocava, com o acompanhamento de outros músicos, era o jogral. Assim, de castelo em castelo, de
feudo em feudo, essas composições eram transmitidas oralmente.
As cantigas representam um momento decisivo na cultura da Baixa Idade Média, uma vez que são a primeira importante manifestação cultural
leiga, rompendo com os temas religiosos que marcaram o mundo medieval.
Amplie seus conhecimentos sobre a arte na
Idade Média, pesquisando em:
LIVROS
• O nome da rosa, de Umberto Eco (Nova
Fronteira); O cavaleiro inexistente, de Ítalo
Calvino (Companhia das Letras); A dama e
o unicórnio, de Tracy Chevalier (Bertrand
do Brasil); Contos e lendas da Távola
Redonda, de Jaqueline Miranda (Companhia
das Letras); A demanda do Santo Graal
(Companhia das Letras).
FILMES
• O nome da rosa, de Jean-Jacques Annaud;
Excalibur, de John Boorman; O feitiço de
Áquila, de Richard Donner; Rei Arthur, de
Antoine Fuqua; Cruzada, de Ridley Scott;
Joana d´Arc, de Luc Besson.
MÚSICAS
• Conheça as músicas que Carlos Núñez e José
Miguel Wisnik criaram a partir das cantigas
de Martim Codax para o espetáculo de dança
Sem mim. Ouça também as músicas do disco
Musikantiga 1 e as adaptações que o Grupo
de Música Antiga Mundinho, da Galícia, fez do
cancioneiro medieval ibérico.
SITES
• http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp
• http://educaterra.terra.com.br/voltaire/
cultura/2005/07/14/001.htm
• http://www.musee-moyenage.fr/
IGREJAS
• O Brasil não tem igrejas do estilo gótico, mas
tem várias inspiradas nesse estilo: Catedral
de Petrópolis (RJ), Santuário do Caraça (MG),
Catedral da Sé (SP, foto), Catedral de Santos
(SP), Catedral Metropolitana de Vitória (ES)
e Catedral Metropolitana de Fortaleza (CE),
entre outras.
FIQUE CONECTADO!
A dama e o unicórnio, tapeçaria medieval
francesa que pode ser vista no Museu
Nacional da Idade Média, em Paris.
Delfim Martins/Pulsar Imagens
Diomedia / Mary Evans / Ronald Grant
Museu de Cluny, Paris, França Editora Bertrand Brasil
Poesia para ser cantada
[Na Idade Média, em Portugal] duas
eram as espécies de poesia trovadoresca: a lírico-amorosa, expressa em duas
formas, a cantiga de amor e a cantiga
de amigo; e a satírica, expressa na cantiga de escárnio e de maldizer. O poema
recebia o nome de “cantiga” (ou ainda
de “canção” e “cantar”) pelo fato de
o lirismo medieval associar-se intimamente com a música: a poesia era cantada, ou entoada, e instrumentada. Daí
se compreender que o texto sozinho,
como o temos hoje, apenas oferece uma
incompleta e pálida imagem do que seriam as cantigas quando cantadas ao
som do instrumento, ou seja, apoiadas
na pauta musical. Todavia, dadas as
circunstâncias sociais e culturais em
que essa poesia circulava, perderamse numerosas cantigas, e a maioria
das pautas musicais. Destas, somente
restaram sete, pertencentes a Martim
Codax, trovador da época de Afonso III
(fins do século XIII). O acompanhamento
musical fazia-se com instrumentos de
corda, sopro e percussão (viola, alaúde,
flauta, adufe, pandeiro, etc.).
(Massaud Moisés. A literatura portuguesa através
dos textos. 17. ed. São Paulo: Cultrix. p. 15.)
40 UNIDADE 1 RUMORES DA LÍNGUA E DA LITERATURA
O Romantismo
LITERATURA
Romantismo
O substantivo
O relato de experi•ncias vividas
CAPÍTULO 1
FOCO NA IMAGEM
Observe a tela a seguir, do pintor romântico alemão Caspar Friedrich.
As fases da vida (1835).
Museum der Bildenden Kunste, Leipzig, Alemanha
14 UNIDADE 1 EU E O MUNDO
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cortes, igrejas, rádio, etc.), e O movimento literário em contexto (O Classicismo em
contexto, O Arcadismo em contexto, etc.), que apresenta as principais relações
entre os paradigmas do movimento literário em
estudo e seu contexto sociocultural, econômico
e político. Assim, tem-se a oportunidade de abordar as relações entre autor, obra e público, as relações do movimento literário com seu momento
histórico e, como decorrência, a visão de mundo
e os valores cultivados na época. Essa seção também apresenta imagens que ilustram temas e
perspectivas estéticas que orientam o movimento literário.
A seção Foco no texto pode apresentar um ou
mais textos de autores brasileiros, portugueses
ou africanos. Como exemplo, no capítulo 1 da
unidade 1 do volume 2 da coleção, o estudo das
características do Romantismo é feito a partir do
poema épico “I-Juca-Pirama”, de Gonçalves Dias,
e de um poema lírico de Álvares de Azevedo; por
meio dessas leituras, o estudante apreende os
temas, os procedimentos formais, os valores e
as ideologias que engendraram o movimento romântico. Como fechamento da seção Foco no texto, há, em todos os capítulos, a seção Arquivo, um
quadro-resumo com as principais informações
sobre literatura veiculadas no capítulo.
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, dois trechos do poema épico “I-Juca-Pirama” (em tupi, “O que há
de ser morto”), de Gonçalves Dias.
No poema, o último descendente da tribo tupi é feito prisioneiro pelos timbiras e é
dado início ao ritual antropofágico. O guerreiro, antes de receber o golpe fatal, inicia seu
canto de morte, no qual narra toda a sua bravura e revela que tem um pai cego e doente
e pede para ser libertado a fim de cuidar dele. O cacique timbira lhe concede a liberdade,
e o guerreiro promete voltar logo após a morte do pai. Quando parte e encontra o pai,
o ancião percebe, pelo cheiro das tintas, que o filho fora preso para o sacrifício e decide
levá-lo até os timbiras para que o ritual antropofágico fosse cumprido.
VIII
“Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
“Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz.
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
[...]
“Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d’argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.”
IX
Isto dizendo, o miserando velho
A quem Tupã tamanha dor, tal fado
Já nos confins da vida reservara,
Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
Da sua noite escura as densas trevas
Palpando. — Alarma! alarma! — O velho para
O grito que escutou é a voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
Noutra quadra melhor. — Alarma! alarma!
— Esse momento só vale apagar-lhe
Os tão compridos transes, as angústias,
Que o frio coração lhe atormentaram
De guerreiro e de pai: — vale, e de sobra.
Ele que em tanta dor se contivera,
Tomado pelo súbito contraste,
Desfaz-se agora em pranto copioso,
Que o exaurido coração remoça.
A taba se alborota, os golpes descem,
Gritos, imprecações profundas soam,
Emaranhada a multidão braveja,
Revolve-se, enovela-se confusa,
E mais revolta em mor furor se acende.
E os sons dos golpes que incessantes fervem.
Vozes, gemidos, estertor de morte
Vão longe pelas ermas serranias
Da humana tempestade propagando
Quantas vagas de povo enfurecido
Contra um rochedo vivo se quebravam.
Rita Barreto
18 UNIDADE 1 EU E O MUNDO
4. A poesia de Gonçalves Dias expressa um novo ponto de vista a respeito do indígena.
Diferentemente de toda a literatura anterior, em que prevalecia a visão que o branco
tinha a respeito dos povos nativos, o poeta romântico buscou dar voz ao índio, mostrando-o pela perspectiva dos seus próprios valores e da sua própria cultura. De acordo com o poema em estudo, que valores o indígena associa ao ritual antropofágico?
5. Um dos traços importantes do Romantismo é o nacionalismo e a busca das raízes nacionais. Enquanto na Europa essas raízes foram buscadas na Idade Média, no Brasil,
uma nação recém-independente, os primeiros poetas românticos elegeram o índio, a
fauna e a flora como elementos fundadores de nossa nacionalidade.
a. No poema de Gonçalves Dias, o herói indígena, como representante de nossas raízes, destaca-se por quais valores e sentimentos?
b. A valorização da figura do índio pelos escritores românticos europeus, por influência de Rousseau, está presente também no Romantismo brasileiro. Leia o boxe
“Rousseau e a crítica à sociedade” e identifique no herói do poema “I-Juca-Pirama”
elementos relacionados ao mito do bom selvagem.
Agora, leia o seguinte poema de Álvares de Azevedo.
A T...
No amor basta uma noite para fazer de um homem um Deus.
Propércio
Amoroso palor meu rosto inunda,
Mórbida languidez me banha os olhos,
Ardem sem sono as pálpebras doridas,
Convulsivo tremor meu corpo vibra:
Quanto sofro por ti! Nas longas noites
Adoeço de amor e de desejos
E nos meus sonhos desmaiando passa.
A imagem voluptuosa da ventura...
Eu sinto-a de paixão encher a brisa,
Embalsamar a noite e o céu sem nuvens,
E ela mesma suave descorando
Os alvacentos véus soltar do colo,
Cheirosas flores desparzir sorrindo
Da mágica cintura.
Sinto na fronte pétalas de flores,
Sinto-as nos lábios e de amor suspiro.
Mas flores e perfumes embriagam,
E no fogo da febre, e em meu delírio
Embebem na minh’alma enamorada
Delicioso veneno.
[...]
Ah! vem, pálida virgem, se tens pena
De quem morre por ti, e morre amando,
Dá vida em teu alento à minha vida,
Une nos lábios meus minh’alma à tua!
Eu quero ao pé de ti sentir o mundo
4. De acordo com o poema,
o ritual antropofágico
envolve valores como a
coragem e a dignidade
diante da vida e da morte.
REGISTRE
NO CADERNO
Pela coragem, bravura, dignidade, fidelidade
às suas tradições e amor filial.
O herói é fiel ao pai e à nação à qual pertence, mostrando, assim, honradez e
firmeza de caráter, já que sacrifica a própria vida por tais valores.
Ofélia (1863-1864), de Arthur Hughes.
Ashmolean Museum, University of Oxford, Inglaterra
20 UNIDADE 1 EU E O MUNDO
10. A atração pela morte, expressa em descrições mórbidas de figuras humanas, em cenários lúgubres, em ambientes noturnos e no desejo de morrer, é um dos temas românticos. No texto em estudo, como a atração pela morte se apresenta? Justifique
sua resposta com elementos do texto.
10. A atração pela morte se
apresenta por meio de
elementos descritivos referentes ao eu lírico (“Amoroso palor meu rosto inunda”, “Mórbida languidez
me banha os olhos”) e à
sua amada (“pálida”, “desmaiando”), assim como na
sugestão de sua própria
morte (“E no teu seio ser
feliz morrendo”).
Abadia no carvalhal
(1809-1810), de Caspar
David Friedrich.
Por meio da leitura de textos de Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo, você viu que, no Romantismo:
• predominam o sentimento e a subjetividade do poeta
e, como consequência desse voltar-se para si, o subjetivismo, o sentimentalismo e o egocentrismo, assim
como a fantasia, os sonhos e os devaneios;
• há a valorização da nacionalidade e, portanto, das
raízes históricas nacionais; o índio, a fauna e a flora,
elementos também valorizados pelo Romantismo europeu, foram eleitos como os representantes da nacionalidade brasileira;
• a mulher é retratada de diferentes maneiras: associada a figuras incorpóreas e assexuadas (virgem,
criança, anjo, etc.) ou a elementos da natureza (brisa,
flores, etc.), com os quais pode chegar a ser confundida; e como uma figura capaz de colocar o eu lírico em
contato com o divino ou a suprema felicidade;
• o amor é idealizado apresentando um caráter sublime
e transcendental;
• há a presença da religiosidade e de elementos da tradição cristã;
• há a atração pela morte, expressa por meio de descrições mórbidas e pela manifestação do desejo de
morrer;
• os elementos formais, como a métrica, o ritmo e as rimas, e os estilísticos têm relação com o estado emocional do poeta, o que pode resultar em poemas desprovidos de regularidade quanto a rimas, ritmo e métrica.
11. No Classicismo e no Neoclassicismo, são comuns referências a deuses da mitologia
greco-latina. Observe estes versos do poema de Álvares de Azevedo:
“Na tu’alma infantil; na tua fronte
Beijar a luz de Deus; nos teus suspiros
Sentir as virações do paraíso;”
Esses versos se referem a deuses da mitologia greco-latina ou à divindade do cristianismo? Referem-se à divindade do cristianismo.
REGISTRE
NO CADERNO
Staalice Schlosser und Garten, Schloss Charlottenburg, Berlim, Alemanha
22 UNIDADE 1 EU E O MUNDO
348 MANUAL DO PROFESSOR
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Geralmente no final da frente de literatura do primeiro capítulo de cada
unidade, a seção Entre saberes apresenta um conjunto de textos interdisciplinares que situam a estética literária do ponto de vista histórico, filosófico,
econômico, político e de outras manifestações artísticas do período. Como esses textos pertencem a diferentes áreas do conhecimento, é importante que,
nessa seção, eles sejam lidos na classe e suas questões sejam discutidas e
resolvidas oralmente, a fim de estimular o interesse dos estudantes. Determinadas reflexões realizadas no Entre saberes podem ser retomadas nos capítulos seguintes.
As sociedades europeias
dos séculos XVII e XVIII
[...] A igreja barroca, com sua decoração exuberante, com suas
cerimônias marcadas pelo caráter de espetáculo, revela a tendência típica das sociedades europeias dos séculos XVII e XVIII. Depois do impacto da Reforma, a Igreja Católica toma severas medidas para reconquistar seus fiéis. Um meio eficiente para atingir
esse objetivo é transformar o culto num momento sublime, em
que a beleza esteja presente sob todas as formas, incentivando
a devoção [...] Por outro lado, os soberanos dos grandes Estados
nacionais lançam mão dos mesmos recursos para a afirmação de
seu poder absoluto [...]
[...] os reis mantêm seu prestígio incentivando o respeito de
seus súditos através do luxo e da pompa, o que lhes confere uma
imagem majestosa e sempre digna de homenagens. E a classe
aristocrática, desde os nobres da corte aos senhores de terras,
acompanha essa ostentação, orientando, por sua vez, o comportamento da burguesia que, amparada no acúmulo de dinheiro,
procura adotar hábitos aristocráticos.
(Arte nos sŽculos. São Paulo: Abril, 1970. p. 1055-6.)
Que valores as sociedades
europeias cultivavam no período do Barroco? Como se desenvolveram a ciência e a filosofia
na Europa do século XVII? Como
era, então, a sociedade colonial
brasileira?
Para refletir sobre essas questões, leia os textos a seguir.
ENTRE
SABERES
ARTE • FILOSOFIA
HISTÓRIA • LITERATURA
Francis Bacon e a ci•ncia moderna
O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) defendia que o método para
conhecer e dominar a natureza é o da experimentação (empiria), ou seja, a
experiência dos sentidos, baseada em observar, tocar, sentir o cheiro, etc.
Portanto, na concepção dele, além do raciocínio lógico, o conhecimento
exige a experiência sensorial. Essa ideia de Bacon foi um dos alicerces da
ciência moderna.
Francis Bacon (1618), obra
de artista desconhecido. Photononstop/ AFP
National Portrait Gallery, Londres, Inglaterra
Galeria dos Espelhos do Palácio de Versalhes, França. Esse palácio é um ícone
da arquitetura barroca francesa e um exemplo da opulência da monarquia
absolutista. A Galeria dos Espelhos, cujo teto é decorado com afrescos de Charles
Le Brun (1619-1690), é uma das dependências mais suntuosas do palácio.
183 Barroco. Letras e sons. Os gêneros digitais CAPÍTULO 1
Filosofia e ciência na Idade Moderna
No plano intelectual, o pensamento de Galileu, Descartes e Newton
completou o processo iniciado no Renascimento. O estudo físico e matemático da natureza, chamado filosofia natural, deu passos gigantescos a
partir do método indutivo que havia sido definido por Bacon no Novum
organum. Pela observação e experimentação constatava-se a regularidade dos fenômenos. Havia ordem no universo. Esta ordem natural, estruturada como sistema, tinha leis, que poderiam ser descobertas através de
procedimentos metodológicos adequados. [...]
No entanto, a Península Ibérica continuou refratária às novas correntes
filosóficas [...]:
Os trabalhos de Galileu e Harvey [...] de Bacon, Descartes, Grotius e
Hobbes [...] todos concluídos na primeira metade do seiscentismo, não
conseguiram modificar a rotina da Companhia [de Jesus]. Continuou a
ensinar o latim decorado e a desprezar o grego e as línguas vivas, inclusive a portuguesa, as histórias universal e pátria, nos estudos menores; e
a repelir [...] a matemática, a física experimental e a anatomia, nos superiores. (Carlos Rizzini, Hipólito da Costa e o Correio Brasiliense)
(Arno Wehling e Maria José C. M. Wehling. Formação do Brasil colonial.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 103-4.)
A sociedade rural no Brasil do século XVII
[...] A obra literária está muito ligada ao tipo de vida social a que pertencem os que a produzem, assim como os que a consomem. Não basta haver
escritores, é preciso também haver os que leem e reconhecem na literatura
alguma função ou importância em suas vidas. [...] no Brasil do século XVII,
a vida social era por demais acanhada para suportar uma literatura rica ou
criar condições concretas para o desenvolvimento das atividades literárias.
Nessa época, a base social da vida brasileira estava nos engenhos ou nas grandes propriedades rurais e fazendas, onde se plantava a cana-de-açúcar, o tabaco ou o algodão. A vida
predominante era a rural [...]
O grande proprietário rural, na figura do pai e senhor, estendia seu domínio e autoridade
sobre o conjunto de seus familiares e homens livres, que precisavam, de alguma forma, submeter-se a ele, muitas vezes decidindo sobre os seus destinos; sobre os escravos, então, o seu
mando era absoluto [...] Com esse tipo de relações e a vida rústica, sobrava pouco espaço para
a literatura e menos ainda para alguém se dedicar a ela. Alcântara Machado, que procurou
reconstituir a vida social na capitania de São Vicente, nos séculos XVI e XVII, através dos testamentos que deixaram os homens da época, observou neles uma série de fatos importantes
para pensarmos a vida cultural de então. O pouco de educação que se podia alcançar nos colégios jesuítas, ou através de professores contratados e mal pagos, era restrito aos meninos, a
quem se ensinava a ler, escrever e contar. O latim ficava apenas para aqueles que se fossem
dedicar à vida eclesiástica. Às meninas, ensinava-se a coser, lavar, fazer renda [...] Eram raras
as mulheres que sabiam ler e escrever, sendo a maior parte dos testamentos delas assinados
por “outrem a pedimento da outorgante: por ser mulher e não saber ler”. Os poucos livros de
particulares deixados aos herdeiros eram, na maioria, devocionários e de literatura religiosa
[...] Eram raros os livros de literatura profana, didáticos ou jurídicos, sendo mencionados apenas alguns, e o autor fez questão de notar: “Nenhum exemplar dos Lusíadas”.
(Luiz Roncari. Literatura brasileira — Dos primeiros cronistas aos últimos românticos. São Paulo: Edusp, 2014. p. 102-6.)
refratário: indiferente, desinteressado.
Luís XIV
O monarca absolutista francês Luís
XIV, o Rei Sol, construiu o suntuoso
Palácio de Versalhes e foi protetor das
letras, das artes e das ciências. Seu
reinado foi marcado por um excepcional desenvolvimento de obras literárias, entre as quais se destacam as de
Molière e Racine, escritas para teatro.
E ainda, como resultado das relações
comerciais da França com o Levante,
a primeira tradução, do árabe, do livro
das Mil e uma noites, feita por Antoine
Galland (1646-1715) e publicada entre
1704 e 1717.
Luís XIV, por Hyacinthe Rigaud
(1659-1743), em Versalhes.
Museu do Louvre, Paris, França
184 UNIDADE 3 PALAVRAS EM MOVIMENTO
Capítulos 2 e 3: Autores e obras
Em geral, o segundo e terceiro capítulos de cada unidade se centram na leitura das obras dos autores mais significativos da literatura brasileira, portuguesa e africana. Eles apresentam informações biográficas, bem como os principais
traços das obras, os gêneros cultivados, a temática e os traços estilísticos do(s)
autor(es) em estudo.
Nesses capítulos, destacam-se também as literaturas negro-brasileira e africana: além de serem focalizadas suas produções literárias contemporâneas na
seção Foco no texto, também se estabelece, na seção Entre textos, o diálogo entre
os textos literários de autores negros brasileiros de épocas diferentes e entre os
textos literários de autores negros brasileiros e de autores negros africanos.
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LITERATURA
FOCO NO TEXTO
Você vai ler, a seguir, dois poemas dos autores negro-brasileiros Adão Ventura e Márcio
Barbosa.
Texto 1
Para um negro
In: Axé: antologia contemporânea
para um negro
a cor da pele
é uma sombra
muitas vezes mais forte
que um soco.
para um negro
a cor da pele
é uma faca
que atinge
muito mais em cheio
o coração.
(Adão Ventura. In: Zilá Bernd (org.). Antologia de poesia afro-brasileira –
150 anos de consciência negra no Brasil. Belo Horizonte: Mazza, 2011. p. 202.)
Texto 2
Nossa gente
nossa gente também veio
pra ser feliz e ter sorte
nossa gente é quente
é bela e forte
mas às vezes essa gente
passa, inconsciente
sofre, mas não se mexe
ri, mas não se gosta
nossa gente inconsciente
sofrendo, fica fraca
nem vê que por dentro ainda
traz a força da mãe áfrica
nem vê que pode vencer
pois tem energia nos braços
e pode ter liberdade
alegria e espaço
Carybé. Figuras, 1986./ Coleção particular
superando a pobreza
socializando a riqueza
inventando unidade
solidariedade, abraços
nosso povo é lindo
nosso povo é afro
e perfeito vai destruindo
ódios e preconceitos
“esse povo negroê
que se diz moreno”
com suas cores, com seu jeito
é um povo pleno
nossa gente é ventania
é ousadia, é mar cheio
nossa gente também veio
pra ser feliz e ter sorte
(Márcio Barbosa. In: Luiz Carlos Santos, Maria Galas, Ulisses Tavares (org. ).
O negro em versos. São Paulo: Moderna, ç005. p. 98-9.)
305 Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
Mesmo estando a uma distância de milhares de quilômetros, escritores do Brasil e da
África muitas vezes estabelecem um diálogo entre si, já que vivem ou viveram experiências semelhantes.
A seguir, você vai ler dois poemas: o primeiro é do poeta angolano Agostinho Neto
(1922-1979). O segundo é de Cuti, pseudônimo de Luís Silva (1951), poeta da atualidade e
militante da causa negra.
Agostinho Neto
António Agostinho Neto (1922-1979)
foi um médico angolano, formado nas
Universidades de Coimbra e de Lisboa.
Foi presidente do Movimento de
Libertação de Angola e, em 1975, tornou-se o primeiro presidente do país.
Em 1975-1976, recebeu o Prêmio Lenine
da Paz.
Entre suas obras de poesia e de política estão Poemas (1961), Sagrada
esperança (1974) e A renúncia impossível (1982).
ENTRE TEXTOS
Mohamed Amin & Duncan Willetts/A24/Camerapix/
Africa Twenty-Four Media/AFP
The Bridgeman Art Library/Keystone Brasil/Bibliotheque Nationale, Paris, França
Texto 1
Velho negro
Vendido
e transportado nas galeras
vergastado pelos homens
linchado nas grandes cidades
esbulhado até ao último tostão
humilhado até ao pó
sempre sempre vencido
É forçado a obedecer
a Deus e aos homens
perdeu-se
Perdeu a pátria
e a noção de ser
Reduzido a farrapo
macaquearam seus gestos e a sua alma
diferente
Velho farrapo
Negro
perdido no tempo
e dividido no espaço!
Ao passar de tanga
com o espírito bem escondido
no silencio das frases côncavas
murmuram eles:
pobre negro!
E os poetas dizem que são seus irmãos.
(Agostinho Neto. Disponível: http://www.escritas.org/pt/
t/13234/velho-negro. Acesso em: 20/3/2016.)
esbulhado: privado de alguma coisa
a que tinha direito; roubado.
galera: antiga embarcação longa e de
baixo bordo, movida a vela ou a remos.
vergastado: açoitado.
307 Literaturas africanas de língua portuguesa e literatura negro-brasileira. Análise linguística: polissemia e ambiguidade. Entrevista de emprego CAPÍTULO 3
Texto 2
Sou negro
In: Poemas da carapinha, 1978.
Sou negro
Negro sou sem mas ou reticências
Negro e pronto!
Negro pronto contra o preconceito branco
O relacionamento manco
Negro no ódio com que retranco
Negro no meu riso branco
Negro no meu pranto
Negro e pronto!
Beiço
Pixaim
Abas largas meu nariz
Tudo isso sim
— Negro e pronto! —
Batuca em mim
Meu rosto
Belo novo contra o velho belo imposto
E não me prego em ser preto
Negro pronto
Contra tudo o que costuma me pintar de sujo
Ou que tenta me pintar de branco
Sim
Negro dentro e fora
Ritmo-sangue sem regra feita
Grito-negro-força
Contra grades contra forcas
Negro pronto
Negro e pronto
Negro sou!
(Cuti. In: Zila Bernd (org.). Antologia de poesia afro-brasileira Ð 150 anos de consciência
negra no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, ç011. p. 1ê5.)
Cuti
Luiz Silva (1951), mais conhecido poeticamente como Cuti, nasceu em Ourinhos
e estudou Letras na Universidade de São
Paulo. Fez mestrado e doutorado em Letras na Unicamp-SP.
É dramaturgo, ensaísta, ficcionista,
poeta e tem uma forte atuação junto à
comunidade afro-brasileira.
Foi um dos fundadores do grupo Quilombhoje Literatura e um dos organizadores da série Cadernos Negros.
1. No texto 1, o eu lírico se refere à figura de um “velho negro”.
a. Qual é a diferença de sentido entre a expressão negro velho e velho negro?
b. Quem é o “velho negro” do poema? A expressão se refere a um único homem ou a
mais de um? Justifique sua resposta.
c. De que época e lugar é o “velho negro”?
d. Como o “velho negro” é tratado em todos os lugares onde vive ou viveu?
e. Qual é a identidade cultural desse “velho negro”? Justifique sua resposta com elementos do texto.
REGISTRE
NO CADERNO
a) Negro velho refere-se a um homem negro com idade avançada;
já a expressão velho negro, além desse sentido, pode ter também
o sentido de ser o “antigo negro”, o negro histórico, que continua
sendo tratado da mesma forma há tantos anos.
O velho negro se refere a todos os negros que hoje estão fora da África.
Ele é tanto o negro do passado quanto o do presente, sem um lugar definido, conforme os versos “perdido no tempo / e dividido no espaço”.
Historicamente, o “velho negro” vem sendo torturado, explorado, zombado.
Ele perdeu sua identidade: já não tem sua pátria nem sua religião, perdeu a “noção de ser”.
308 UNIDADE 4 CAMINHOS
Nos capítulos 2 e 3, a seção Foco no texto pode
aparecer mais de uma vez, dependendo do número de autores abordados. Nesses capítulos, as seções Entre textos e Conexões aparecem de modo
eventual.
A seção Entre textos promove um estudo
comparado entre textos de períodos diferentes
que podem pertencer à literatura brasileira, portuguesa ou africana e que dialogam a propósito
do tema ou apresentam uma relação intertextual. Como exemplo, citam-se a leitura comparada
dos poemas “Velho negro”, do angolano Agostinho Neto (1922-1979), e “Sou negro”, do brasileiro Cuti (1951); do soneto “Aos principais da Bahia
chamados os caramurus”, de Gregório de Matos
(1636-1696), e do poema “relicário” de Oswald de
Andrade (1890-1954); e do romance A audácia
dessa mulher, de Ana Maria Machado (1941), que
apresenta uma relação intertextual com Dom
Casmurro, de Machado de Assis (1839-1908). A
finalidade dessa seção é mostrar aos estudantes
que textos escritos em diferentes épocas, mais
recuadas no tempo ou mais recentes, guardam
relações próximas com temas e estruturas ainda recorrentes nos dias de hoje, e
que, portanto, a literatura é uma manifestação cultural universal.
350 MANUAL DO PROFESSOR
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A seção Conexões propõe o estudo de textos de diferentes linguagens, como a
história em quadrinhos, a canção, a pintura, a escultura e a tirinha. O estudo pode
envolver o diálogo entre textos não verbais e multimodais, como a escultura O
pensador, de Rodin, e uma tirinha da Mafalda, do cartunista argentino Quino; de
textos não verbais e verbais, como Os profetas, do escultor Aleijadinho, e a crônica “Colóquio das estátuas”, de Carlos Drummond de Andrade, como também os
diálogos que textos multimodais estabelecem com temas e procedimentos formais de diferentes movimentos literários, como o diálogo que as canções de Lulu
Santos e de Gilson e Joran estabelecem com os temas cultivados no Arcadismo.
Marcos Amend/Pulsar Imagens
Rubens Chaves/Pulsar Imagens
Marcos Amend/Pulsar Imagens
Rogério Reis/Pulsar Imagens
Marcos Amend/Pulsar Imagens
Quando o Barroco entrou em decadência na Europa, em Minas Gerais o ciclo do
ouro ocasionou o surgimento do chamado
barroco mineiro, no qual se destacou o escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa,
o Aleijadinho. No adro (pátio) do Santuário
de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, Minas Gerais, se encontra uma das mais importantes obras do
artista: o conjunto de esculturas chamado
Profetas (1800-1805), constituído por esculturas em pedra-sabão em tamanho quase
natural.
Observe com atenção as fotos a seguir.
Agora discuta com os colegas o roteiro proposto.
1. As esculturas representam doze profetas, todos segurando rolos de textos chamados
filactérios, nos quais estão registradas as principais profecias ou eventos marcantes da
vida das figuras representadas. Observe as imagens dos quatro profetas em destaque.
a. Além dos filactérios que os profetas seguram em uma das mãos, que outros elementos as esculturas apresentam em comum?
b. Os gestos e a expressão facial, assim como determinados objetos e animais, diferenciam as esculturas e se relacionam com os dizeres do filactério que cada figura
segura. Com base nessas informações, associe os dizeres a seguir a Baruc, Daniel,
Abdias ou Jonas. Justifique as associações.
I. “Engolido por uma baleia, permaneço três dias e três noites no seu ventre; depois
venho a Nínive.”
II. “Eu vos arguo (repreendo), ó Idumeus e gentios. Anuncio-vos e vos prevejo pranto
e destruição.”
III. “Encerrado na cova dos leões por ordem do rei, sou libertado, incólume (ileso), com
o auxílio de Deus.”
IV. “Eu predigo a vinda do Cristo na carne e os últimos tempos do mundo, e previno os
piedosos.”
Professor: Você poderá desenvolver a
atividade oralmente ou por escrito.
Adornos de cabeça (barrete ou turbante), túnicas
(curtas ou longas) e mantos sobre os ombros.
Jonas: presença de uma baleia junto ao pé da escultura.
Abdias: o dedo em riste tem relação com o clímax das proféticas palavras de destruição.
Daniel: presença de um leão junto à perna esquerda da escultura.
Baruc: a expressão do rosto e a postura frontal, sem tensão ou
torção no corpo, sugerindo o modo circunspecto como o profeta
anuncia a vinda do Cristo e os últimos tempos do mundo.
Baruc. Daniel. Abdias. Jonas.
Os Profetas: Amós (1),
Abdias (2), Jonas (3),
Baruc (4), Isaías (5),
Daniel (6), Oseias (7),
Jeremias (8), Ezequiel (9),
Joel (10), Habacuc (11) e
Naum (12). As esculturas
estão dispostas de
modo que as figuras
parecem se relacionar
e, ao mesmo tempo,
convidar o fiel a subir as
escadarias da igreja.
REGISTRE
NO CADERNO
LITERATURA
1
2
3
4
6
5 8
7
9
10
11
12
229 O Barroco no Brasil (II). Ortografia. O artigo de opinião CAPÍTULO 3
2. O escritor Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) registrou em uma crônica suas
impressões sobre os Profetas. Leia, a seguir, um trecho dessa crônica.
Colóquio das estátuas
Sobre o vale profundo, onde flui o Rio Maranhão, sobre os campos de congonha, sobre
a fita da estrada de ferro, na paz das minas exauridas, conversam entre si os profetas.
Aí onde os pôs a mão genial de Antônio Francisco, em perfeita comunhão com
o adro, o santuário, a paisagem toda – magníficos, terríveis, graves
e eternos –, eles falam de coisas do mundo que, na linguagem das
Escrituras, se vão transformando em símbolo.
As barbas barrocas de uns, panejadas pelo vento que corre as
gerais, lembram serpentes vingativas, a se enovelarem; [...] os doze
consideram o estado dos negócios do homem, a turbação crescente
das almas, e reprovam, e advertem.
[...]
Na sua intemporalidade, são sempre atuais os profetas. Em qualquer tempo, em qualquer situação da história, há que recolher-lhes a
lição:
[...] Oseias dá uma lição de doçura, mandando que se receba a mulher adúltera, e dela se hajam novos filhos. Mas Nahum, o pessimista, não crê na reconversão de valores caducos:
— Toda a Assíria deve ser destruída – digo eu.
Contudo, há esperança, mesmo para os que forem atirados à jaula
dos leões – conta-nos Daniel (e em numerosas partes do mundo eles
continuam a ser atirados; apenas os leões se disfarçam); esperança
mesmo para os que, por três noites, habitarem o ventre de uma baleia – é a experiência de Jonas, a caminho de Nínive.
(In: Passeios na ilha ‒ Divagações sobre a vida literária e outras matérias.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1975. p. 31-3.)
a. Segundo Drummond, os Profetas, além de “magníficos”, são “terríveis, graves”. Na
sua opinião, que elementos das esculturas sugerem tais características?
b. De acordo com Drummond, os profetas são sempre atuais. Por quê? Justifique sua
resposta com exemplos apresentados no texto.
caduco: ultrapassado,
superado.
turbação: desassossego,
perturbação.
2. b) Os profetas são atuais porque representam comportamentos humanos; portanto, são intemporais. Oseias é um exemplo de tolerância, pois não condena a
mulher adúltera. Naum, ao contrário, mostra-se intolerante (ou pessimista, segundo Drummond) diante dos assírios. Daniel e Jonas são exemplos de superação
diante das dificuldades da vida.
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho
Nascido em Ouro Preto, Minas Gerais, por volta de 1730, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, era mestiço, filho
de uma escrava e de um arquiteto português. Além de seguir o ofício do pai, dedicou-se também à arte do entalhe e
à escultura. Considerado o maior artista brasileiro do século XVIII, Aleijadinho associou a estética barroca ao uso de
materiais brasileiros, como a pedra-sabão, e conferiu um estilo marcante à sua rica e extensa obra. Produziu projetos de
igrejas, altares, púlpitos, talhas e frontispícios e também esculturas em diversas cidades mineiras, como Congonhas do
Campo, Ouro Preto, Sabará, São João del Rei, Tiradentes e Mariana.
Por volta dos 50 anos, começou a sofrer de uma doença que provocou deformações em seus pés e mãos, o que lhe
valeu o apelido de Aleijadinho. Ainda assim, continuou a atuar com talento e genialidade, como demonstram seus doze
Profetas, esculpidos entre 1800 e 1805. Faleceu em Ouro Preto, em 1814.
Diomedia/Photononstop/Tibor Bognar
O profeta Naum e
o filactério com os
dizeres: “Exponho
que castigo espera
Nínive pecador.
Declaro que a Assíria
será completamente
destruída”.
Detalhe do Cristo
carregando a cruz. Os
olhos amendoados
são um dos traços
característicos
da escultura de
Aleijadinho.
2. a) Professor: Abra a discussão com a classe. Espera-se que os alunos percebam a relação entre os filactérios, os gestos e as expressões faciais das esculturas.
Sugestão: Os dizeres dos filactérios, com advertências, reprovações e até mensagens de perdão e esperança, associados aos gestos, às expressões faciais e aos detalhes
das vestimentas das esculturas, sugerem a caracterização de “magníficos” e ao mesmo tempo “terríveis” e “graves”, atribuída por Drummond aos profetas de Aleijadinho.
Rogério Reis/Pulsar Imagens
230 UNIDADE 3 PALAVRAS EM MOVIMENTO
O propósito dessa seção é ampliar o repertório cultural do estudante e reforçar
a ideia de que temas, perspectivas e formas presentes nas diferentes manifestações culturais do passado, entre as quais a literatura, ainda estão presentes
na contemporaneidade. Em relação à estratégia de ensino, o professor poderá
desenvolver essa atividade com os estudantes, oralmente ou por escrito. Como
essa seção pode envolver música e imagens, se houver a possibilidade de os estudantes ouvirem as canções ou observarem as imagens em um projetor, na sala de
aula, a atividade oral torna-se ainda mais interessante.
Sugestões de estratégias
para o trabalho com a literatura
Na frente de Literatura, é importante diversificar o trabalho de leitura dos textos das seções Foco no texto e Entre textos. Essa leitura pode ser feita de maneira
silenciosa ou em voz alta, dependendo do tamanho do texto e do seu grau de
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dificuldade. Para a leitura de poemas, recomenda-se, principalmente no 1º ano
do ensino médio, a leitura oral feita com entonação e ênfase, a fim de que os
estudantes percebam mais facilmente os recursos estilísticos do texto, como a
sonoridade, as imagens, as inversões, etc. Uma vez que estejam mais familiarizados com a leitura desse gênero, é importante que eles também se habituem à
leitura silenciosa. Para os gêneros em prosa, sugere-se alternar as leituras oral e
silenciosa, conforme julgar conveniente.
Em relação às questões propostas nessas seções, sugere-se a resolução oral e
coletiva, individual ou em grupo na sala de aula ou em casa, dependendo do texto
em análise.
Em todos os casos, é importante que o professor promova a discussão na classe no momento da correção, confrontando respostas e avaliando o grau de compreensão dos estudantes.
Na seção Entre saberes, como já se mencionou, é importante que os textos
sejam lidos na classe e suas questões sejam discutidas e resolvidas oralmente.
Na seção Conexões, o professor pode optar pela leitura e resolução oral ou por
escrito, conforme julgar conveniente.
Em relação à avaliação, sugere-se seguir a metodologia adotada nesta obra,
propondo aos estudantes questões que explorem os recursos fonológicos, sintáticos e semânticos dos textos literários; suas relações com o contexto sócio-histórico, bem como as relações que eles estabelecem com textos literários de épocas
e lugares diferentes.
Língua e linguagem
A gramática na escola
O trabalho com a gramática nas aulas de língua portuguesa vem sendo
há muitos anos alvo de discussão e de críticas, sem que, no entanto, se estabeleçam critérios práticos e objetivos para a implementação de um novo
modelo de trabalho com os conteúdos gramaticais nas escolas. Tais críticas
surgem, em parte, porque o ensino médio atualmente não é mais, como
ocorria décadas atrás, uma preparação para o estudo acadêmico, restrita a
um pequeno número de estudantes que tinham como objetivo ingressar em
um curso superior. Faz parte do ensino médio, hoje em dia, uma enorme
parcela da população jovem que, se ainda não trabalha, pretende ingressar
o quanto antes no mercado de trabalho. Nesse contexto, convém (re)pensar
a função do estudo da língua materna, priorizando seu papel de desenvolver
as habilidades dos estudantes para que estes se constituam em cidadãos
autônomos e críticos, que circulem com desenvoltura por práticas variadas
de leitura e escrita, em situações sociais diversas, seja nas instituições superiores de ensino, seja no trabalho.
Isso significa, especialmente nas aulas de gramática, explorar os textos em
uma perspectiva enunciativa, no sentido bakhtiniano do termo. Voloshinov, do
Círculo de Bakhtin, cuja abordagem dialógica já foi mencionada anteriormente,
considera que
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Esse ponto de vista, associado ao trabalho com a gramática na escola, implica
estudar os textos de forma não desvinculada de suas situações de origem, mas, ao
contrário, examinando os sentidos da língua que só podem ser construídos nesses
contextos de produção e de circulação, ao se levar em conta quem produz, para
quem, com quais finalidades e por meio de quais estratégias. E, para se considerar
esse último fator – o das estratégias utilizadas na construção de sentidos de um
texto –, pode ser muito conveniente que se trabalhem conceitos gramaticais; não
com a abordagem de uma gramática essencialmente tradicional e normativa, mas
de uma gramática que tem por objetivo analisar os fatos linguísticos tal como eles
ocorrem no mundo, para além do conhecimento metalinguístico por muito tempo
priorizado na instituição escolar. Lançando mão de alguns conceitos da gramática,
é possível comparar, avaliar, refletir, colocar em discussão e concluir em que pontos
essa descrição gramatical ainda pode ser relevante e em quais contextos ela já não
se mostra importante, ou pode mesmo ser considerada desnecessária.
Um pouco de história
A perspectiva de trabalho com a gramática aqui proposta não é tão recente.
Já em 1990, Maria Helena de Moura Neves, em seu livro Gramática na escola,
afirmava que professores de Língua Portuguesa muitas vezes se viam entre a
cobrança que a sociedade em geral e a família dos estudantes fazem da escola
e as concepções acerca do ensino de gramática trazidas pelos Estudos Linguísticos que comprovam a ineficácia do aprendizado de regras da gramática normativa para que os estudantes se tornem bons leitores e produtores de textos
eficientes. Segundo Neves,
A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema
abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada,
nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social
da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações.
A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua.
(Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2002. p. 123.)
[...] é como se o professor, com aulas regulares de gramática, provesse para si um álibi para o caso de uma falta de progresso do aluno
na apropriação que este deva fazer, gradativamente, dos recursos de
sua língua. [...] Assim, embora saiba que a gramática que ele ensina
não ajudará o aluno a escrever melhor (em nenhum dos pontos de
vista), ele cumpre o ritual do ensino sistemático da gramática como
meio de eximir-se de culpa maior (NEVES, 1990, p. 48).
Se tomamos por base uma análise histórica, vemos que, até meados do século XIX, o estudo das línguas era considerado um mero treino intelectual na formação do indivíduo, “conveniente para desenvolver, para exercitar, disciplinar o
espírito” (CHERVELL, 1990, p. 3, 4). Contrariamente ao que se poderia acreditar,
a “teoria” gramatical ensinada na escola não é expressão das ciências ditas ou
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[...] a atitude que a sociedade espera dos profissionais
da linguagem, excetuando talvez os grandes escritores.
Não adotá-la tem para muitos profissionais da linguagem
(inclusive muitos professores jovens e bem informados)
um sentido de traição (ILARI; BASSO, 2009, p. 211).
presumidas “de referência”, mas sim uma disciplina que foi historicamente criada
pela própria escola, na escola e para a escola (CHERVELL, 1990, p. 6, 7).
No contexto brasileiro, ao longo de muitos anos, o estudo dessa gramática foi
valorizado, tendo sido tal tradição interrompida pela reformulação do ensino à época do regime militar, na década de 1960, quando se passou a considerar a língua
instrumento primordial para o desenvolvimento do país e reformulou-se o ensino
com base em objetivos essencialmente utilitaristas, mudando-se inclusive o nome
da disciplina escolar, que recebeu os nomes de Comunicação e expressão e Comunicação em língua portuguesa, e não mais Português. É nessa circunstância que
surge a questão, reproduzida ainda nos dias de hoje e responsável pela polêmica
em torno das aulas de Língua Portuguesa, sobre a necessidade de ensinar ou não
gramática na escola. Os Parâmetros curriculares nacionais do ensino médio (2000)
ressaltam que, em princípio, não haveria problema em trabalhar com a gramática.
O problema é como esse trabalho será realizado, a fim de que não se transforme
em uma camisa de força, tanto para os professores, quanto para os estudantes.
Na mesma época da instituição dos PCN, começaram a ser incorporadas ao
ensino as propostas de trabalho com os gêneros do discurso e a perspectiva
enunciativa na análise de textos na escola, a fim de focalizar uma formação do
estudante que preconize a construção da cidadania, com perspectivas culturais
que garantam o acesso não apenas ao conhecimento historicamente acumulado,
mas também à construção coletiva de novos conhecimentos, ponto de vista reiterado por documentos oficiais mais recentes, tais como PCN + ensino médio (2007)
e Diretrizes nacionais curriculares para a educação básica (2013). De acordo com
essa proposta, é possível considerar, no ensino de gramática, que determinadas
regras da norma-padrão estabelecida são parte do conhecimento histórico acumulado e é importante que os estudantes tomem contato com elas e desejável
que as dominem, mas é primordial que esse aprendizado se dê de forma contrastiva e reflexiva, visando à contrução de novos conhecimentos, e não à imposição
de regras inflexíveis e, muitas vezes, defasadas.
A defasagem de formas e normas torna-se evidente especialmente no mundo atual, permeado por novas tecnologias e pela necessidade de múltiplos letramentos, que modificam constantemente as relações entre professores e estudantes em sala de aula. As transformações e mudanças são muito rápidas e
estar formado para uma atuação cidadã implica necessariamente muito mais
do que reproduzir dados, decorar classificações ou reconhecer símbolos. É nesse
sentido que Sírio Possenti, renomado linguista brasileiro, afirma em seu livro Por
que (não) ensinar gramática na escola que “uma coisa é o estudo da gramática e
outra é o domínio ativo da língua”.
Embora a discussão seja antiga, a materialização de tais ideias em propostas
concretas de ensino, por motivos diversos, não é tão comum. Ilari e Basso, em seu
livro O português da gente (2009), mesmo assumindo uma postura contrária ao
ensino da gramática normativa, reconhecem que a atitude normativa é
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[...] a situação que o professor enfrenta hoje: a Linguística tem demonstrado que a Gramática Normativa tem
inúmeros problemas, como definições erradas, ou exemplificações inadequadas. Apesar disso, por força da tradição e falta de alternativas viáveis, na maioria dos cursos de
Pedagogia e Letras essa é praticamente a única gramática
ensinada (KLEIMAN; SEPULVEDA, 2012, p. 36).
Como conciliar, então, como sugere Sírio Possenti, “uma perspectiva de ensino
de gramática destinado especificamente a quem tem como utopia alunos que
escrevam e leiam”? O risco, ao se tentar responder a uma questão como essa, é
associar diretamente o estudo da gramática a uma forma supostamente correta
de falar e escrever, o que leva a uma falácia, um mito de que, para saber ler e escrever bem, é necessário dominar regras gramaticais. Contrariando essa concepção
estão grandes escritores brasileiros, entre eles Luis Fernando Verissimo, Fernando
Sabino e Ziraldo, para citar apenas alguns, que bradam aos quatro ventos quanto
não sabem gramática e quanto ela é problemática para eles. É nesse sentido que
Kleiman e Sepulveda apontam que
Kleiman e Sepulveda também salientam ser essa
O que não é defendido por nenhum linguista é a concepção
prescritiva, ou normativa, predominante na escola, que justifica
o ensino da gramática para aprender a falar e escrever “corretamente” e que pressupõe uma relação entre o conhecimento de
regras e o uso “correto” da língua. A noção de “uso correto” da
Gramática Normativa tem como ideal uma norma que não existe mais, nem na língua escrita nem na língua falada, e que se resume aos textos de autores consagrados. Essa concepção ignora
as mudanças pelas quais a língua passa e a enorme variação dialetal (devido a diferenças regionais, sociais, etárias), na situação
comunicativa de uso (formal, informal, escrito, falado) que caracterizam toda língua viva (KLEIMAN; SEPULVEDA, 2012, p. 42).
Acreditamos ser essencial considerar a língua viva, em uso, e trabalhar com
os estudantes em um nível de reflexão sobre a linguagem que possibilite a eles
um distanciamento para operar cada vez mais conscientemente sobre suas escolhas linguísticas.
Um caminho possível para
o ensino da gramática
Pesquisadores das áreas da Linguística e da Linguística aplicada vêm problematizando a abordagem da gramática nas aulas de Língua Portuguesa, contestando conceitos da gramática normativa já sedimentados pelo ensino tradicional
e sugerindo que os professores se adaptem a novas propostas. Na grande maioria
dos casos, a contraposição se pauta na ideia de que o ato de ensinar gram‡tica estaria relacionado a um exercício puramente escolar de apreensão e aplicação de
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regras não necessariamente ligadas aos usos da língua nas interações sociais, ao
passo que o estudo e a análise da língua considerariam tais usos, configurando-se
em um trabalho de reflexão recorrente e organizada, voltada para a produção de
sentidos e/ou para a compreensão mais ampla dos usos e recursos linguísticos,
com o fim de contribuir para a formação de leitores-escritores de gêneros diversos, aptos a participarem de eventos de letramento com autonomia e eficiência,
como aponta Márcia Mendonça (MENDONÇA, 2006, p. 208).
É nessa última linha que se encaixa a proposta deste livro: em vez de explorar
uma gramática que seja considerada como norma para uma língua-padrão imposta aos estudantes, nossa proposta é analisar essa mesma norma, que deve,
sim, sob a nossa perspectiva, ser conhecida e dominada por eles, mas em constraste com as diversas variedades do português brasileiro encontradas em todas
as regiões do país e especialmente nas comunidades de cada escola que venha
a utilizar o livro. Este projeto busca um caminho intermediário entre o ensino da
gramática normativa fora de contexto, que impõe regras descompassadas com o
tempo atual dos estudantes, e o abandono total de seus conceitos e regras.
Em geral, o que vemos acontecer no ensino da gramática é que, tanto os currículos quanto os materiais didáticos, ao estabelecerem quais conteúdos devem ser
trabalhados em cada ano escolar, bem como sua sequência, pautam-se, nas palavras
de Ilari e Basso (2009), em “um mesmo ‘roteiro padrão’, que inclui, basicamente, as
classes de palavras, a morfologia flexional e derivacional, a concordância, a sintaxe
da oração e a sintaxe do período” (ILARI; BASSO, 2009, p. 212). E, tal como afirma Bagno em seu livro Português ou brasileiro? (2004), a norma-padrão clássica da língua
portuguesa descrita pela gramática normativa data do século XVI e “representa uma
seleção arbitrária de regras, feita num determinado lugar, numa determinada época, para uso de um grupo restrito de falantes/escreventes” e que, com a finalidade
de colonização e dominação, “passou a ser identificada como a língua portuguesa,
quando, de fato, é só uma pequena parte dela” (BAGNO, 2004, p. 49).
Consideramos, nesta coleção, que esse roteiro de conteúdos pode ser trabalhado em favor de um ensino pautado em uma reflexão crítica, funcionando
como um guia de localização e organização dos conteúdos curriculares ao longo
dos três anos do ensino médio. Os conteúdos se encontram, portanto, dispostos
em uma sequência que pode ser tomada como clássica, mas o tratamento dado a
esses conteúdos tende a uma proposta que visa trabalhá-los com foco na análise
de textos e discursos, e não em seus conceitos, apenas. Tal como aponta Bagno,
[...] se a gente pega uma frase [...] e se limita a dissecá-la, a cortá-la em pedacinhos e a dar nomes a esses pedacinhos, vamos aprender muito sobre ela, mas também
deixaremos de aprender outras tantas coisas, talvez mais
numerosas e interessantes (BAGNO, 2004, p. 33).
Por esse motivo, neste livro, optamos por redimensionar o status de determinados conteúdos que historicamente, na escola, são relegados à ação da simples
memorização, sem a exigência de uma atitude crítica e reflexiva por parte dos
estudantes. É o caso, por exemplo, das conjugações verbais, por si sós, ou da análise sintática pura, que se encontram, entre outros conteúdos, reunidos de forma
sistematizada e sucinta em um apêndice ao final de cada volume.
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FOCO NO TEXTO
Observe as imagens abaixo.
O que é semântica?
LÍNGUA E LINGUAGEM
1. Discuta com os colegas e o professor: O que as imagens retratam?
2. O texto a seguir circulou em adesivos de uma escola de natação. Leia-o.
1. Professor: É esperado que, nas respostas, haja divergências entre o que os alunos veem: na I, uma jovem com um casaco e com uma pena na cabeça ou uma
senhora cabisbaixa, de perfil; na II, um cálice ou dois perfis; na III, um homem
tocando um saxofone ou um rosto. Aproveite a ocorrência de diferentes respostas
a fim de chamar a atenção dos alunos para o fato de que o ponto de vista do leitor é
um dos fatores essenciais para a construção de leituras/interpretações de textos.
I II III
"Enigmas Visuais". Rio de Janeiro: Frente Editora, 2004. p. 50
"Enigmas Visuais". Rio de Janeiro: Frente Editora, 2004. p. 53.
Enigmas Visuais". Rio de Janeiro: Frente Editora, 2004. p. 58.
a. É possível considerar que, nesse contexto, há ao menos dois significados para o termo nada. Quais são eles?
b. Esse duplo sentido, chamado ambiguidade, é prejudicial para a compreensão do
enunciado?
c. Levante hipóteses: Qual é a função da ambiguidade nesse texto?
3. Imagine a seguinte situação: mãe e filha estão conversando e concordando sobre a
importância de manterem hábitos saudáveis; a mãe, sabendo do sedentarismo da
filha, diz: “Eu nado. E você, nada?”. Nesse contexto, como essa fala poderia ser compreendida?
Uma forma do verbo nadar (“Você também nada?”) e o pronome indefinido nada (“Você não faz nada?”).
Não.
A ambiguidade não é um deslize; pelo contrário, foi criada propositalmente, como um recurso para chamar a atenção dos interlocutores.
Poderia ser compreendida como uma imposição, algo como: “Deixe de ser sedentária e vá fazer alguma atividade física!”.
Eu nado.
E você, nada?
REGISTRE
NO CADERNO
134 UNIDADE 2 ENGENHO E ARTE
LÍNGUA e
LINGUAGEM
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
Vimos que determinados textos, verbais ou não verbais, frases, ou mesmo uma única
palavra podem assumir sentidos diversos, ou mesmo sobrepostos, dependendo do contexto de circulação e do ponto de vista dos interlocutores. O ramo da linguística que estuda o significado, isto é, os sentidos da língua, é chamado de semântica.
Em geral, construímos os sentidos dos textos tanto pelo que conhecemos das
estruturas linguísticas e suas construções, como pelos fatores contextuais envolvidos no uso dessas construções: quem fala, para quem, com quais intenções, em que
lugar, etc.
Assim, seja para compreender, seja para produzir textos, realizamos, como interlocutores, muitas vezes inconscientemente, operações linguísticas diretamente ligadas a
questões semânticas, ou seja, relacionadas aos processos de construção de sentidos da
língua. Você vai conhecer, neste e no capítulo seguinte, alguns dos temas relacionados ao
estudo da semântica.
Ambiguidade e polissemia
Ambiguidade é a duplicidade de sentidos apresentada por alguns textos. O texto “Eu
nado. E você, nada?”, visto anteriormente, é um exemplo de emprego de ambiguidade.
É comum, em alguns textos, a ambiguidade ser utilizada como recurso para chamar a
atenção dos interlocutores ou para criar um efeito de humor.
Leia a tira:
(Disponível em: http://devir.com.br/hqs/gatos.php. Acesso em: 15/8/15.)
Pela expressão facial do gato no 1º quadrinho, é possível perceber que ele está
incomodado e que, quando diz “Você tá roncando demais!!”, a intenção dele é fazer
uma reclamação, queixar-se de que a gata está roncando “demasiadamente”, “mais
do que deveria”. Pela resposta da gata no 㺠quadrinho, entretanto, vemos que ela
entende — ou finge entender — o termo demais como uma gíria. A fala do gato,
nesse caso, tem para ela o sentido de “Você está roncando muito bem!”, “Você está
roncando maneiro!”. Outra possibilidade de entender a resposta da gata é que ela
não se importa com o incômodo do gato e até faz a ele uma provocação, voltando a
dormir e a roncar.
A ambiguidade pode se dar também no nível sonoro, pela segmentação de palavras.
Leia as piadas:
Laerte
135 O Classicismo em Portugal. Semântica (I). Textos instrucionais CAPÍTULO 2
Essa decisão tem essencialmente o objetivo de priorizar, nos estudos desenvolvidos ao longo dos volumes, uma abordagem crítica e reflexiva, que parte de
textos que circulam socialmente, com os quais os estudantes em geral têm contato em sua vida fora da escola, objetivando aprofundar as possibilidades de leitura e construção de sentidos a partir desses textos.
Tal perspectiva preza por trabalhar os conteúdos, levando em consideração
sua importância na construção dos gêneros e dos sentidos dos textos especificamente nas situações de comunicação em que normalmente circulam fora da
sala de aula e da escola. Isso porque já se sabe que abordagens estritamente conteudistas, como as adotadas no ensino de gramática mais tradicional, não têm
contribuído para melhorar os índices de leitura e produção escrita dos estudantes
brasileiros, como mostra o desempenho do país em avaliações externas, sejam
elas estaduais ou nacionais, sejam internacionais.
A iniciativa de levar determinados conteúdos para o apêndice tem como objetivo,
portanto, abrir espaço nos livros da coleção para a discussão de conteúdos mais relevantes e significativos para os estudantes, como ocorre, por exemplo, em dois capítulos destinados à semântica no livro do 1º ano; ou em um capítulo que discute a relatividade das classificações verbais ao tratar da categoria de aspecto verbal, no livro do
2º ano; ou, ainda, em seis capítulos destinados à análise linguística no livro do 3º ano,
sem que um conteúdo gramatical clássico específico precise necessariamente ser exposto. Nos casos mencionados, o trabalho gramatical é unicamente proposto a fim de
que os estudantes aprimorem seu conhecimento sobre a língua e principalmente sua
proficiência leitora e sua capacidade de escrita de diferentes gêneros. Ademais, em todos os capítulos, o estudo da gramática visa à construção de uma postura mais crítica
de leitura, uma vez que mesmo os conteúdos clássicos são discutidos sempre levando
em consideração as possibilidades a que dão margem na construção de sentidos.
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
FOCO NO TEXTO
Leia as manchetes do texto a seguir.
Análise linguística:
informatividade e senso comum
LÍNGUA E LINGUAGEM Salles Chemistri
207 A geração de 45: João Cabral de Melo Neto. Análise linguística: informatividade e senso comum. A dissertação (II) CAPÍTULO 2
FOCO NO TEXTO
Leia o cartum a seguir.
Análise linguística: implícitos e
intertextualidade
LÍNGUA E LINGUAGEM
1. Observe a parte não verbal do cartum.
a. O que cada um dos três pássaros está fazendo?
b. O que o olhar do crocodilo expressa?
2. Agora leia a fala do pássaro e levante hipóteses:
a. O começo de sua fala é uma resposta dada a qual fala anterior, implícita no contexto do cartum? De quem foi essa fala?
b. O receio desse pássaro é de que aconteça o quê?
c. O olhar do crocodilo é consequência de qual ação anterior que ele praticou?
3. Leia o boxe “O crocodilo e o pássaro-palito” e responda:
a. Qual é o “livro sobre os animais” a que o terceiro pássaro faz referência?
b. Por que ele julga importante que o crocodilo tenha lido esse livro?
O 1º está ciscando no dente do crocodilo e o 2º
está virado para o 3º, que olha para cima com
uma expressão preocupada e fala alguma coisa.
Tédio, cansaço, preguiça.
Entre outras possibilidades, algo como: “Pode vir comer com a gente,
não tem nenhum perigo”, dita por um dos outros passarinhos.
De que o crocodilo os devore.
Provavelmente ele tem esse olhar porque acabou de se alimentar, está com o estômago cheio e prestes a dormir.
Um livro de biologia ou
uma enciclopédia.
Para saber que a relação entre eles é cooperativa, isto é, se o crocodilo não comer o pássaro, nenhum sai prejudicado e ambos se beneficiam.
(Disponível em: http://www.graphiqbrasil.com/tirasclassicas/animalcrackers.html. Acesso em: 18/3/2016.)
O crocodilo e o pássaro-palito
No estudo dos tipos de relações dos seres, a biologia chama a
atenção para a protocooperação existente entre algumas espécies,
na qual há benefícios para todos os seres envolvidos, embora eles não
dependam um do outro para sobreviver. É esse o caso do crocodilo e
do pássaro-palito: o pássaro se alimenta de parasitas e restos de comida que estão na boca do crocodilo e, como consequência, contribui
para a higiene bucal de seu companheiro.
4. O humor do cartum é construído com base em uma quebra de expectativa trazida
pela fala do pássaro.
a. Qual expectativa é quebrada?
b. Uma pessoa que não conhece a relação ecológica existente entre crocodilos e pássaros é capaz de compreender o cartum em sua totalidade? Justifique sua resposta.
A de que as relações entre animais irracionais são predeterminadas, não
envolvendo negociação ou raciocínio científico que dê base a elas.
Não, pois não compreenderá a qual “livro” o pássaro faz referência, nem entenderá o
que os pássaros fazem na boca do crocodilo sem que ele os devore.
REGISTRE
NO CADERNO
Rog Bollen / Dist. by Tribune Media Services
Juniors Bildarchiv GmbH/Alamy Stock Photo/Fotoarena
234 UNIDADE 3 HORA E VEZ DA LINGUAGEM
LÍNGUA e
LINGUAGEM
2. As expressões sair da cabeça e sair do papel são utilizadas no anúncio com sentido
figurado. Explique, no contexto, qual é o sentido de:
a. “cada ideia que não sai da cabeça do consumidor”?
b. “centenas de outras que não saíram do papel”?
3. Leia as informações da parte inferior do anúncio. Sabendo que Sistema Verdes Mares
é uma grande rede de televisão do Estado do Ceará:
a. Deduza: O que é “GP Verdes Mares”?
b. Por que há um período de inscrições e um regulamento?
c. A quem o anúncio se dirige?
4. Observe a parte não verbal do anúncio. Levante hipóteses:
a. Quem está segurando a caneta?
b. O que representam a caneta e o papel?
c. O que representam as gotas no papel?
5. Junto ao logotipo GP Verdes Mares, lê-se: “1% inspiração.”
a. Conclua: O que representam os 99% restantes?
b. Explique por que, no contexto do anúncio, o confronto entre as formas do singular
e do plural e do presente e do passado do verbo empregado são fundamentais para
a construção dos sentidos do texto.
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
Relatividade das classificações verbais
Nem sempre é possível conseguir identificar exatamente a qual tempo ou modo uma
ou outra forma verbal se refere, pois há questões contextuais da situação de comunicação dos textos que são fundamentais para a compreensão. Como falante nativo da língua
portuguesa, você é capaz de perceber isso facilmente.
Leia o pequeno depoimento a seguir, escrito com os verbos em sua maioria no passado. Perceba que as formas verbais em destaque, embora morfologicamente sejam construídas no pretérito perfeito do modo indicativo, não têm valor de passado.
Dormi o dia todo e acordei cansada! Sempre tive muito sono. Só quando
vivi no interior, consegui levantar cedo todos os dias. Por isso, vamos combinar depois do almoço, que até essa hora com certeza já acordei.
Na primeira ocorrência, a forma dormi, acrescida da expressão o dia todo, ganha uma ideia
de duração prolongada, podendo ser substituída por Fiquei dormindo. A forma tive, por sua
vez, tem um valor de presente, pois se refere a algo que sempre aconteceu e ainda acontece,
reforçada pelo termo sempre, que poderia ser suprimido, sendo a forma verbal substituída por
tenho. Em consegui, a expressão todos os dias dá um caráter de ação rotineira no passado, papel cumprido pelo pretérito imperfeito do indicativo: conseguia. Por fim, a forma acordei tem
Cada ideia aprovada para uma propaganda que não sai da cabeça
do consumidor adquire o sentido de que a ideia fica impregnada,
afixada na mente do consumidor.
Centenas de outras ideias que o publicitário teve para a campanha e que não
foram aprovadas adquire o sentido de que ficaram só no planejamento inicial, não
foram realizadas.
Grande Prêmio Verdes Mares
Porque se trata da divulgação de uma premiação e,
para concorrer, os interessados precisam ter acesso
a essas informações.
A publicitários e agências que produzem campanhas e anúncios.
Um publicitário, criador, redator de anúncios.
O trabalho de passar para o papel as ideias que lhe ocorrem.
O suor, dando a entender que se trata de um trabalho árduo.
O trabalho e o esforço do criador dos anúncios.
A forma sai, no singular e no presente, comprova que apenas uma das ideias foi
aproveitada e reforça que ela está atual e ininterruptamente na cabeça do consumidor, ao passo que, na forma saíram, o uso passado destaca todo o trabalho feito
para que se chegasse à boa ideia, e o plural reforça o processo de que muitas ideias
anteriores foram necessárias até se chegar à escolhida.
REGISTRE
NO CADERNO
225 O Realismo e o Naturalismo no Brasil. O verbo (II). A entrevista CAPÍTULO 2
LÍNGUA e
LINGUAGEM
FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, uma redação que teve nota máxima no exame do Enem.
A imigração no Brasil
Durante, principalmente, a década de 1980, o Brasil mostrou-se um país de emigração. ■, inúmeros brasileiros deixaram ■ em busca de melhores condições de vida. No
século XXI, um fenômeno inverso é evidente: a chegada ao Brasil de grandes contingentes imigratórios, com indivíduos de países subdesenvolvidos latino-americanos. No
entanto, as condições precárias de vida ■ são desafios ■ para a plena adaptação de
todos os cidadãos ■.
A ascensão do Brasil ao posto de uma das dez maiores economias do mundo é um
importante fator atrativo ■. ■ o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nacional,
segundo previsões, seja menor em ã01ã em relação a anos anteriores, o país mostra
um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo
aumento do poder de consumo da classe C.
■ contribui para a construção de uma imagem positiva e promissora do Brasil no
exterior, o que favorece a imigração. A vida dos imigrantes no país, ■, exibe uma diferente e crítica faceta: a exploração da mão de obra e a miséria.
■, para impedir a continuidade ■, é imprescindível a intervenção governamental,
por meio da fiscalização de empresas que apresentem imigrantes como funcionários,
bem como a realização de denúncias de exploração por brasileiros ou por imigrantes. ■,
é necessário fomentar o respeito e a assistência a eles, ideais que devem ser divulgados
por campanhas e por propagandas do governo ou de ONG’s, além de garantir seu acesso à saúde e à educação, por meio de políticas públicas específicas ■.
(Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2013/
guia_de_redacao_enem_2013.pdf. Acesso em: 20/2/2016.)
1. Em sua primeira leitura, você certamente percebeu que faltam alguns termos fundamentais para a compreensão do texto.
a. Entre as expressões do quadro a seguir, identifique os que completam adequadamente
o texto e escreva-os em seu caderno, na ordem em que devem ser empregadas.
a esse grupo Embora entretanto Na chamada década perdida
dessas pessoas Portanto aos estrangeiros Ademais Esse aspecto
dessa situação ao governo e à sociedade brasileira à nova realidade o país
b. Reveja no texto os seguintes trechos e expressões e indique qual(is) expressão(ões)
do quadro do item anterior retoma(m) cada um deles.
Na chamada década perdida / o país / dessas pessoas / ao governo e à sociedade brasileira / à nova realidade
/ aos estrangeiros / Embora / Esse aspecto / entretanto / Portanto / dessa situação / Ademais / a esse grupo
Análise linguística: progressão
referencial e operadores
argumentativos
LÍNGUA E LINGUAGEM
191 A poesia de 30: Cecília Meireles e Vinícius de Morais. Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos. A dissertação (I) CAPÍTULO 1
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O caso dos capítulos cuja parte de gramática se intitula “Análise linguística”,
no volume 3 da coleção, merece um comentário à parte. A expressão análise linguística foi citada pela primeira vez no contexto do ensino de gramática por Wanderley Geraldi, em seu livro O texto na sala de aula, em 1987. Mais recentemente,
foi retomado e aprofundado por Márcia Mendonça em seu artigo “Análise linguística no ensino médio: um novo olhar, um outro objeto”, de 2006, no qual a autora
ressalta o fato de que, em relação a alguns conteúdos da gramática normativa,
“muitos professores não encontram outra razão para ensinar o que ensinam nas
aulas de gramática, a não ser a força da tradição” (p. 202). A pesquisadora prossegue, assumindo a posição de que
A AL [Análise Linguística] não elimina a gramática das
salas de aula, como muitos pensam, mesmo porque é impossível usar a língua ou refletir sobre ela sem gramática.
[...] A AL engloba, entre outros aspectos, os estudos gramaticais, mas num paradigma diferente, na medida em que
os objetivos a serem alcançados são outros (MENDONÇA,
2006, p. 206).
O quadro a seguir, proposto por Mendonça (2006, p. 207), ilustra algumas das
diferenças básicas entre o ensino de gramática e a análise linguística.
ENSINO DE GRAMÁTICA PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA
• Concepção de língua como sistema, estrutura inflexível
e inviável.
• Concepção de língua como ação interlocutiva situada,
sujeita às interferências dos falantes.
• Fragmentação entre os eixos de ensino: as aulas de
gramática não se relacionam necessariamente com as
de leitura e de produção textual.
• Integração entre os eixos de ensino: a AL é ferramenta
para a leitura e a produção de textos.
• Metodologia transmissiva, baseada na exposição
dedutiva (do geral para o particular, isto é, das regras
para o exemplo) + treinamento.
• Metodologia reflexiva, baseada na indução (observação
dos casos particulares para a conclusão das
regularidades/regras).
• Privilégio das habilidades metalinguísticas. • Trabalho paralelo com habilidades metalinguísticas e
epilinguísticas.
• Ênfase nos conteúdos gramaticais como objetos de
ensino, abordados isoladamente e em sequência mais
ou menos fixa.
• Ênfase nos usos como objetos de ensino (habilidades de
leitura e escrita), que remetem a vários outros objetos
de ensino (estruturais, textuais, discursivos,
normativos), apresentados e retomados sempre que
necessário.
• Centralidade da norma-padrão. • Centralidade dos efeitos de sentido.
• Ausência de relação com as especificidades dos gêneros,
uma vez que a análise é mais de cunho estrutural e,
quando normativa, desconsidera o funcionamento
desses gêneros nos contextos de interação verbal.
• Fusão com o trabalho com os gêneros, na medida em
que contempla justamente a intersecção das condições
de produção dos textos e das escolhas linguísticas.
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ENSINO DE GRAMÁTICA PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA
• Unidades privilegiadas: a palavra, a frase e o período. • Unidade privilegiada: o texto
• Preferência pelos exercícios estruturais, de identificação
e classificação de unidades/funções morfossintáticas e
correção.
• Preferência por questões abertas e atividades de
pesquisa, que exigem comparação e reflexão sobre
adequação e efeitos de sentido.
Assumindo a perspectiva da Análise linguística, pretendemos, com esses
capítulos, proporcionar a professores e estudantes uma reflexão “sobre elementos e fenômenos linguísticos e sobre estratégias discursivas, com o foco
nos usos da linguagem” (MENDONÇA, 2006, p. 206). Para tanto, as propostas
de análise linguística são tratadas como ferramenta para o trabalho de leitura
e de produção de textos, com ênfase nos usos e na construção de sentidos.
Isso ocorre sempre tendo em vista a realidade dos estudantes do ensino médio e as situações de comunicação de que participam, seja como leitores, seja
como produtores de texto.
São estes os assuntos desenvolvidos na obra nos capítulos mencionados.
VOLUME 3
Unidade 3
Capítulo 1 Análise linguística: progressão referencial e operadores argumentativos
Capítulo 2 Análise linguística: informatividade e senso comum
Capítulo 3 Análise linguística: implícitos e intertexto
Unidade 4
Capítulo 1 Análise linguística: as diferentes formas de dizer
Capítulo 2 Análise linguística: gerúndios e gerundismo
Capítulo 3 Análise linguística: polissemia e ambiguidade
Assim, consideramos que conhecer algumas regras da gramática normativa pode permitir aos estudantes aprender sobre a língua e seu funcionamento. Além disso, conhecer os preceitos da gramática tradicional possibilita fazer
reflexões para, inclusive, poder criticar e entender as críticas feitas a alguns
de seus conceitos e, ainda, conhecer as regras impostas por essa gramática
pode auxiliar na realização de leituras mais aprofundadas dos textos com os
quais convivemos em nosso dia a dia, dentro e fora da escola. Como expõe
Mendonça, focalizar “os recursos linguísticos usados para construir sentido”
em um texto, qualquer que seja ele, pode “ampliar os potenciais de leitura” e
levar a reflexões sobre os usos da língua, suas possibilidades e consequências,
contribuindo para “ajudar os alunos a desenvolverem habilidades importantes para a formação de leitores proficientes, autônomos e críticos” (MENDONÇA, 2006, p. 212-214).
Não se trata de, conforme fazem gramáticas específicas publicadas recentemente por linguistas pesquisadores da área, propor discussões técnicas, de nível
superior, para estudantes da educação básica. Trata-se, na verdade, de discutir os
conceitos da gramática normativa vinculados aos usos da língua, os quais estão
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diretamente relacionados ao público com que se trabalha, são situados e variam
conforme variarem os interesses de cada escola, cada classe e, em última instância, cada estudante. Uma abordagem que explora conteúdos gramaticais, mas
que, ao mesmo tempo, assume uma postura crítica e está constantemente refletindo acerca das propostas da Linguística e da Linguística aplicada para o ensino,
sem perder de vista as necessidades da escola.
Ratificamos nosso ponto de vista de que sistematizar um conteúdo da gramática normativa em uma aula de Língua Portuguesa não é necessariamente um
problema e pode contribuir, sim, para a formação dos estudantes, considerando
os usos que eles já fazem da língua e a importância de levá-los a refletir sobre
esses usos, a fim de explorá-los com eficiência, segundo suas intenções e as necessidades das situações de comunicação das quais venham participar.
n Bibliografia
BAGNO, M. Português ou brasileiro?: um convite à pesquisa. 4. ed. São Paulo:
Parábola Editorial, 2004.
BRASIL. MEC. Parâmetros curriculares nacionais do ensino médio – Língua
Portuguesa. Brasília, DF: SEF/MEC, 2000.
____. PCN+ ensino médio: orientações educacionais complementares aos parâmetros
curriculares nacionais – Língua Portuguesa. Brasília, DF: SEF/MEC, 2007.
____. Diretrizes curriculares nacionais gerais da educação básica. Brasília, DF: SEB/
MEC, 2013.
CHERVEL, A. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de
pesquisa. In: Teoria e Educação, n¼ 2: 177-229. Porto Alegre, 1990.
GERALDI, J. W. (org.). O texto na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Ática, 1999.
ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que
falamos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009.
KLEIMAN A.; SEPULVEDA, C. Oficina de gramática: metalinguagem para
principiantes. Campinas: Pontes, 2012.
MENDONÇA, M. Análise linguística no ensino médio: um novo olhar, um outro
objeto. In: BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. Português no ensino médio e formação do
professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. p. 199-226.
NEVES, M. H. de M. Gramática na escola. São Paulo: Contexto, 1990.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras,
1996.
VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2002.
Seções
A frente de Língua e linguagem se inicia com a seção Foco no texto, na qual o
estudante responde a um conjunto de perguntas que o levam a analisar como o
conceito gramatical a ser estudado no capítulo contribui para a construção de
sentidos no texto, levando em conta toda a situação de comunicação na qual o
texto foi produzido e circulou.
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
Uma variedade é melhor que outra?
Podemos dizer que o português são muitos e que todas as suas variedades servem às
finalidades para as quais existem. Determinar a norma-padrão de uma língua não significa definir uma variedade como a mais correta, mais completa, mais bonita ou mais
dotada de certa qualidade específica. Trata-se, na verdade, de adotar uma convenção a
fim de instituir e fixar um modo mais estável de se produzirem textos que possam perdurar por um período mais longo. O estabelecimento dessa convenção, sem dúvida, envolve
relações de prestígio, poder, classe social. Em outras palavras, toda variedade linguística
poderia, em princípio, ser definida como a norma-padrão, o que teria como consequência
a produção de materiais e gramáticas para descrevê-la e legitimá-la.
Tipos de variação
Como vimos, a maneira de usar a língua varia segundo diversos elementos, constituindo, assim, diversos tipos de variação.
Variação diacrônica
Releia dois trechos das cantigas reproduzidas neste capítulo, na seção Literatura:
Passa seu amigo,
que lhi ben queria;
o cervo do monte
a augua volvia,
leda dos amores,
dos amores leda.
(Pero Meogo)
Quantos an gran coita d’amor
eno mundo, qual og’ eu ei,
querrian morrer, eu o sei,
o averrian én sabor.
Mais mentr’ eu vos vir’, mia senhor,
sempre m’eu querria viver,
e atender e atender!
(João Garcia de Guilhade)
Nesses trechos, conseguimos reconhecer algumas palavras que utilizamos hoje em
dia, como “lhi”, “ben”, “augua”, “gran”, “og”, “ei”, “querrian”, “averrian”, “mia”, que correspondem, respectivamente, a lhe, bem, água, grande, hoje, hei, queriam, haveriam e minha.
Essa variação na língua, que ocorre através do tempo, é chamada de diacrônica. É possível, assim, considerar que o português arcaico, ou galego-português, é uma variedade
antiga do português atual.
Não é preciso voltar séculos no tempo para perceber esse tipo de variação. Na canção
“Vozes da seca” há os termos vosmicê e mercê, equivalentes, hoje, a você, ocê, cê. Diferenças no uso da língua entre gerações que convivem em uma mesma época também constituem a variação diacrônica, da qual são exemplos expressões e gírias usadas apenas por
nossos pais ou avós.
Variação diatópica
Você já se observou tentando adivinhar a região do Brasil da qual uma pessoa é, apenas por ouvi-la pronunciar algumas palavras? Isso se deve à percepção de que o modo de
pronunciar as palavras depende do lugar de origem do falante. Na canção “Vozes da seca”,
por exemplo, a ocorrência “pudê”, em vez de poder, indica uma pronúncia típica da região
Nordeste do Brasil.
Essa variação relacionada a lugar de origem do falante, chamada diatópica, inclui não
apenas a pronúncia, mas também o uso de determinadas palavras, expressões e construções, independentemente de outros fatores, como idade ou escolarização, por exemplo.
Professor: Não se espera que a classificação a seguir seja memorizada
pelos alunos. A finalidade principal de a apresentarmos aqui é que, por
meio dos exemplos, eles compreendam melhor o processo de variação
linguística.
51 Literatura na Baixa Idade Média: o Trovadorismo. Variedades linguísticas. O poema CAPÍTULO 2
Fernando Favoretto/Criar Imagem
Luis Matuto
Variação diastrática
Há uma variação diretamente relacionada à escolarização dos falantes, chamada diastrática. Ocorrências como “seu doutô”, “pidimo”, “inté”, entre outras, encontradas na canção “Vozes da seca”, são típicas da fala de quem permaneceu por pouco tempo na escola
e, assim, não teve acesso ao aprendizado da norma-padrão.
Vale lembrar que, em nosso país, o número de anos que uma pessoa frequenta a escola tem, em geral, relação com classe social. Quase sempre, pessoas de classe social mais
elevada têm maior escolaridade.
Variação diamésica
Outra das variações, chamada diamésica, diz respeito ao meio ou veículo em que o texto
circula. Fala e escrita, por exemplo, constituem meios ou veículos diferentes; assim, ocorrências como “rédias”, “ismola”, “distino” são observadas inclusive na fala de pessoas escolarizadas que, na escrita, empregam naturalmente as formas rédeas, esmola, destino.
Essa variação tem relação também com o grau de formalidade dos textos. Em uma
palestra, por exemplo, a fala é geralmente mais estruturada do que em uma conversa
informal. Por outro lado, um bilhete deixado na porta da geladeira possibilita muito mais
flexibilidade nos usos da língua escrita do que o texto de um trabalho escolar.
A ortografia, uma convenção
Algumas das ocorrências do galego-português vistas em textos literários ou em documentos dos séculos XII a XVI são registros muito próximos
da língua oral. Isso porque o galego-português constituía uma derivação
do latim vulgar, que não tinha registros escritos, exclusivos do latim clássico. Quando as línguas derivadas do latim vulgar, entre elas o galego-português, começaram a ganhar importância e viu-se a necessidade de produzir
textos escritos, tais línguas precisaram passar por um novo processo de
organização e sistematização.
Esse processo de organização e sistematização inclui a ortografia, convenção social que, ao instituir formas de registro menos mutáveis, possibilita que documentos escritos em uma língua sejam lidos ao longo do tempo.
Iniciada a partir de uma língua falada, a língua escrita certamente recebe influências
da fala e das inúmeras variações que esta sofre, decorrentes de quem fala, quando fala,
onde fala, entre outros fatores. É comum, assim, que, no começo do processo de organização da escrita de uma língua, haja oscilações entre as construções possíveis.
APLIQUE O QUE APRENDEU
Leia os textos e, com base em quando, por quem e onde foram provavelmente produzidos, relacione, em seu caderno, cada um dos itens a seguir.
Texto 1
Poeta, cantô da rua,
Que na cidade nasceu,
Cante a cidade que é sua,
Que eu canto o sertão que é meu.
Se aí você teve estudo,
Aqui, Deus me ensinou tudo,
Sem de livro precisá
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí,
Cante lá, que eu canto cá.
[...]
(Patativa do Assaré. Cante lá que eu canto cá. Filosofia de um
trovador nordestino. 16 ed. Petrópolis: Vozes, 1978.)
UNIDADE 1 RUMORES DA LÍNGUA E DA LITERATURA 52
LÍNGUA e
Estrutura de palavras
LINGUAGEM
LÍNGUA E LINGUAGEM
FOCO NO TEXTO
Leia estes dois cartuns, de Caulos:
1. No primeiro cartum, há um desmembramento da palavra insano.
a. Considerando que o radical latino sanus significa “são, que tem estabilidade física e
emocional”, responda: Que relação há entre a divisão da palavra e o comportamento
das personagens?
b. Conforme sugere a resposta do item anterior, qual é o sentido da partícula in- em
insano?
c. Conclua: Qual é o sentido da palavra insano?
2. No segundo cartum, cada personagem, como no primeiro cartum, também representa uma letra e, juntas, formam a palavra infiel.
a. Com o afundamento das duas personagens que estão à frente do grupo, que palavra se forma?
b. Levando-se em conta o sentido das palavras fiel e infiel, que relação há entre as
duas letras iniciais de infiel e o afundamento desses personagens?
c. Compare estas palavras:
infiel
infeliz
incômodo
ineficaz
Conclua: Qual é o sentido da partícula in- nessas palavras?
Na situação, as personagens que representam as letras i e n mostram-se impassíveis, sem medo, sugerindo que são
imprudentes; já a parte sano, que se refere à sanidade mental ou ao bom-senso, foge do perigo.
negação, privação
louco, demente
fiel
2. b) Com o afundamento das
duas personagens que representam as letras i e n e, portanto, formam a partícula in-,
sobram as letras que formam
fiel. Desse modo, o naufrágio
das duas letras iniciais sugere
visualmente que as personagens que abandonaram a
fidelidade sofrem as consequências da infidelidade.
A partícula in- tem o sentido de negação.
REGISTRE
NO CADERNO
Caulos
Caulos
(Só dói quando eu
respiro. Porto Alegre:
L&PM, 2001. p. 55.)
293 O Arcadismo no Brasil (I). Estrutura de palavras. O texto de divulgação científica (I) CAPÍTULO 2
LÍNGUA e
LINGUAGEM
Concordância verbal
FOCO NO TEXTO
Leia o poema a seguir, de Ferreira Gullar, escrito durante o período do regime militar
no Brasil:
Dois e dois: quatro
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
LÍNGUA E LINGUAGEM
SHNA/Shutterstock
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
− sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
(Toda poesia. 18. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2009. p. 171.)
1. Leia a seguir um depoimento de Ferreira Gullar, dado na Bienal do Rio de Janeiro, em
2009, no qual ele comenta sobre a situação em que esse poema foi escrito:
Muitos amigos estavam presos, muita gente sumiu, então havia um grande desapontamento em todos nós, que tínhamos lutado pela reforma agrária, pela mudança
das condições do país [...] Então esse poema foi escrito um pouco pensando nas pessoas
que estavam presas e em tudo, em todos nós que estávamos perdendo o ânimo [...].
(Transcrito do vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=T2iTZJAOz6c. Acesso em: 18/1/2016.)
a. A 1ª estrofe apresenta uma síntese das ideias principais do poema. Considerando
o contexto social e político em que o poema foi produzido, explique o sentido dos
versos “embora o pão seja caro / e a liberdade pequena”.
b. Tendo em vista o momento caracterizado por Gullar, conclua: O que expressam os
dois primeiros versos dessa estrofe?
c. Segundo o depoimento de Gullar, a quem ele se dirigia com seu poema?
2. Embora em seu depoimento Gullar tenha explicitado a quem se dirigia com seu texto, no poema o eu lírico se dirige especificamente a um “tu”, que aparece em meio a
uma comparação.
a. Levante hipóteses: Quem é o tu a que o eu lírico se dirige?
b. Com o que o eu lírico compara os elementos trazidos na 2ª, na 3ª e na 4ª estrofes?
Esses versos remetem à situação desfavorável vivida à época, na qual o custo
de vida era alto e as pessoas não tinham liberdade de expressão nem liberdade
política.
O desejo do eu lírico de levar ânimo às pessoas à sua volta, afirmando sua previsão positiva para o
futuro como uma certeza e garantindo que ela é tão certa quanto um cálculo matemático.
À sociedade em geral, às pessoas que se viam sem esperanças na vida e no futuro.
Possibilidades variadas de resposta: A uma pessoa querida que
se encontrava distante ou que estava muito desanimada com a
situação e a quem ele gostaria de encorajar.
Com a sua certeza de que a vida vale a pena.
23 O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
A fim de que os conteúdos gramaticais abordados não se encerrem em si mesmos, sempre que possível a frente de gramática retoma em seu estudo os textos
trabalhados na frente de literatura ou adianta alguma reflexão sobre o gênero
que será trabalhado na produção de texto.
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LÍNGUA e
LINGUAGEM
LÍNGUA
Pronomes pessoais e
pronomes possessivos
Leia um trecho de um diálogo entre Paulo e Lúcia, personagens de Lucíola, obra estudada na seção de literatura deste capítulo.
— Pelo que vejo, Lúcia, nunca amarás em tua vida!
— Eu?... Que ideia! Para que amar? O que há de real e de melhor na vida é
o prazer, e esse dispensa o coração. O prazer que se dá e recebe é calmo e doce,
sem inquietação e sem receios. Não conhece o ciúme que desenterra o passado,
como dizem que os abutres desenterram os corpos para roerem as entranhas.
Quando eu lhe ofereço um beijo meu, que importa ao senhor que mil outros
tenham tocado o lábio que o provoca? A água lavou a boca, como o copo que
serviu ao festim; e o vinho não é menos bom, nem menos generoso, no cálice
usado, do que no cálice novo. O amor!... O amor para uma mulher como eu seria
a mais terrível punição que Deus poderia infligir-lhe! Mas o verdadeiro amor
d’alma; e não a paixão sensual de Margarida, que nem sequer teve o mérito
da fidelidade. Se alguma vez essa mulher se prostituiu mais do que nunca, e se
mostrou cortesã depravada, sem brio e sem pudor, foi quando se animou profanar o amor com as torpes carícias que tantos haviam comprado.
(Op. cit., p. 132.)
Para se referir a Lúcia, Paulo utiliza o pronome pessoal de 2ª pessoa tu,
muito usado no Brasil na época em que se passa a narrativa e ainda hoje em
algumas regiões. Por isso, emprega o verbo na 2ª pessoa do singular (amarás)
e o pronome possessivo também de 2ª pessoa, (tua), para se referir à vida de
sua interlocutora (“tua vida”). Já Lúcia, para se referir a Paulo, utiliza o pronome
de tratamento senhor (“que importa ao senhor”). Paulo, como interlocutor de
Lúcia, é considerado 2ª pessoa, mas o pronome de tratamento senhor, como
os outros, é considerado de 3ª pessoa. Por isso, Lúcia usa o pronome pessoal
lhe, de 3ª pessoa, para se referir a Paulo (“quando eu lhe ofereço”). Ao se referir
a seu próprio beijo, ela utiliza o pronome de ᪠pessoa meu (“um beijo meu”).
Assim, definimos:
Pronomes possessivos são aqueles que dão ideia de posse.
Os pronomes possessivos utilizados atualmente no português do Brasil
são apresentados no seguinte quadro.
PESSOA PORTUGUÊS BRASILEIRO FORMAL PORTUGUÊS BRASILEIRO INFORMAL
SINGULAR
᪠meu(s), minha(s) meu(s), minha(s)
2ª teu(s), tua(s) teu(s), tua(s), seu(s), sua(s)
3ª seu(s), sua(s) dele(s), dela(s)
PLURAL
᪠nosso(s), nossa(s) nosso(s), nossa(s)
2ª vosso(s), vossa(s) seu(s), sua(s), de vocês
3ª seu(s), sua(s) dele(s), dela(s)
Tu ou voc•
O pronome pessoal tu ainda é amplamente utilizado em Portugal. No Brasil,
o uso mais corriqueiro para se dirigir à
pessoa com quem se fala (2a. pessoa do
discurso), atualmente, é a forma você,
embora em regiões específicas, como o
Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul,
entre outras, ainda seja comum o emprego de tu.
Além da substituição da forma tu pela
forma você, há no Brasil ainda variação
na conjugação do verbo nas regiões
que utilizam tu. Em algumas, o verbo
é mantido na 2a. pessoa gramatical (tu
vais, tu vieste) e, em outras, é usado na
3
a. pessoa gramatical, igual a quando se
emprega você (tu vai, tu veio).
Andressa Honório
137 A prosa romântica no Brasil (II). O pronome (I). A crônica (II) CAPÍTULO 2
LÍNGUA e
LINGUAGEM
4. Em seu caderno, identifique, na descrição a seguir, quais dos termos em
destaque constroem cada um dos sentidos enumerados.
“Ozzy não se divertiu muito. Talvez porque tenha sentido saudades de sua casa. Certamente, fará outro passeio
como esse apenas se for obrigado por seus pais.”
I. intensidade II. exclusão III. negação IV. afirmação V. dúvida
5. Em seu caderno, escreva a única palavra que completa cada frase a seguir, substituindo a expressão entre parênteses.
a. Ao entrar no mar, Ozzy gritou ▀ (com desespero).
b. Para fugir da borboleta, Ozzy correu ▀ (com rapidez).
c. (no fim) ▀, Ozzy pôde descansar ▀ (com tranquilidade) em seu
quarto.
6. Em relação à questão anterior:
a. Quais dos termos escritos por você modificam verbos?
b. E qual termo modifica toda uma oração?
c. Qual das circunstâncias a seguir esses termos acrescentam às frases?
• intensidade
• dúvida
• modo
• interrogação
REFLEXÕES SOBRE A LÍNGUA
No estudo da tira, você viu que há palavras e expressões que, no discurso, constroem sentidos circunstanciais de lugar, tempo, intensidade, modo,
entre outros. Elas podem se referir a verbos, a outros termos, ou mesmo a
orações inteiras. São elas: na praia, no campo, agora, já, muito, etc. Essas
palavras e expressões são denominadas advérbios e locuções adverbiais.
Do ponto de vista semântico, os advérbios podem ser conceituados desta forma:
Advérbio é a palavra que acrescenta atributos, qualificações,
particularidades a outros termos (em especial verbos, adjetivos,
substantivos e outros advérbios) ou a orações inteiras.
Do ponto de vista morfológico, os advérbios são palavras que não sofrem
nenhuma variação e, por isso, independem do tempo, do número e das pessoas envolvidas no enunciado.
No trecho do poema “Via Láctea”, de Olavo Bilac, estudado por você na
seção Literatura deste capítulo, foram utilizados diversos advérbios. Releia a
seguir as duas primeiras estrofes.
(III) (I) (V)
(IV)
desesperadamente
rapidamente
finalmente tranquilamente
Desesperadamente, rapidamente, tranquilamente.
finalmente
X
(II)
Longe de ti, se escuto, porventura,
Teu nome, que uma boca indiferente
Entre outros nomes de mulher murmura,
Sobe-me o pranto aos olhos, de repente...
Tal aquele, que, mísero, a tortura
Sofre de amargo exílio, e tristemente
A linguagem natal, maviosa e pura,
Ouve falada por estranha gente...
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© Angeli - Ozzy Tirex e mais uma cambada de bichos de estimação - Cia. das Letras - São Paulo.
241 Parnasianismo. O advérbio. A reportagem CAPÍTULO 3
J. l. Bulcão/Pulsar Imagens
6. Releia as orações:
“os nordestino têm muita gratidão”
“pidimo proteção a vosmicê”
“nunca mais nóis pensa em seca”
a. Reescreva as orações segundo as regras da norma-padrão escrita.
b. Discuta com os colegas e o professor: Quais são as diferenças entre a forma original
e a forma das orações conforme a norma-padrão?
c. Observe a concordância entre o sujeito e o verbo em cada oração. Há uma regra
comum para as três? Explique como ela é feita em cada uma.
7. Observe os seguintes pares de ocorrências: por / pur, qui / lhe, esmola / ismola,
sem gastar / vai dá.
a. Em cada um dos pares de ocorrências, uma é grafada segundo a norma-padrão.
Indique as ocorrências que seguem a norma e reescreva corretamente as que não
seguem.
b. Levante hipóteses: O que levou à escrita dessas palavras de uma maneira diferente
da prescrita pela norma ortográfica?
8. Por ser letra de canção, o texto em estudo circula principalmente por via oral, isto é,
ele é mais cantado e ouvido do que escrito e lido. Com base nesse fato e nas respostas
às questões anteriores, levante hipóteses:
a. As grafias e as construções que, no texto, estão em desacordo com a norma-padrão
devem ser vistas como um problema? Justifique sua resposta.
b. Por que há oscilações entre ocorrências semelhantes, como por e “pur”, “qui” e lhe,
esmola e “ismola”, gastar e “dá”?
REFLEXÕES SOBRE A LÍNGUA
No estudo do texto literário deste capítulo, você leu cantigas escritas em galego-português, na Idade Média, pelos antigos trovadores. O galego-português é uma língua de origem latina da qual deriva
o português brasileiro, tal como conhecemos hoje. É um equívoco,
entretanto, acreditarmos que o português brasileiro é uma língua falada homogeneamente em todo o país, uma vez que há elementos
diversos que contribuem para que ela sofra variações.
Essas variações são de natureza geográfica, histórica, social, entre
outras, e a elas se devem as diferenças observadas entre os falares
dos brasileiros.
Alterações lexicais, semânticas e sintáticas, isto é, quanto a vocabulário, significados e construções, são comuns e naturais, fazendo parte
da evolução de qualquer idioma. Assim:
Varia•‹o lingu’stica são os diferentes modos de falar uma língua – as
variedades linguísticas – relacionados à idade do falante, à sua classe
social, ao espaço em que ele se encontra e, ainda, aos objetivos e aos
usos específicos que ele faz da língua.
Os nordestinos têm muita gratidão / pedimos proteção a vossa mercê / nunca mais nós pensamos em seca.
Na 1ª, o plural em nordestinos; na 2ª, a ortografia e o acréscimo do s em pidimo e a ortografia em vosmicê; na 3a
, a ortografia em nós e a concordância verbal em pensamos.
por, lhe, esmola, sem gastar / por, que, esmola, vai dar
A influência da pronúncia das palavras, pois ao falarmos é muito comum o e ser
pronunciado como i e o o como u e o r final dos infinitivos não ser pronunciado.
8. a) Não, pois a normapadrão é um modelo,
uma referência que
orienta os usuários
da língua quando
precisam usar o português de modo mais
formal, o que não é o
caso da canção.
Porque, tratando-se de uma variedade oral e de pouco prestígio social, não há registros escritos suficientes para que se
instituam regras para essa variedade, diferentemente do que ocorre com a norma-padrão.
6. c) Não. Na primeira, o
verbo está no plural,
concordando com o
sujeito. Na segunda,
o verbo concorda
com o sujeito, mas
tem uma grafia influenciada pela fala,
diferente da padrão.
Na terceira, o verbo
está no singular e o
sujeito, no plural.
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50 UNIDADE 1 RUMORES DA LÍNGUA E DA LITERATURA
Os pronomes pessoais, por sua vez, podem ser definidos assim:
Pronomes pessoais são aqueles que se referem
aos participantes da situação discursiva.
Os pronomes pessoais utilizados atualmente no português brasileiro são apresentados no seguinte quadro.
PESSOA PORTUGUÊS BRASILEIRO FORMAL PORTUGUÊS BRASILEIRO INFORMAL
Sujeito Complemento Sujeito Complemento
SINGULAR
1ª eu me, mim, comigo eu, a gente eu, me, mim, prep. + eu, mim
2ª
tu, você, o
senhor, a
senhora
te, ti, contigo, prep. + o
senhor, com a senhora você/ocê/tu você/ocê/cê, te, ti, prep. +
você/ocê (= docê, cocê)
3ª ele, ela o/a, lhe, se, si, consigo ele/ei, ela ele, ela, lhe, prep. + ele, ela
PLURAL
1ª nós nos, conosco a gente a gente, prep. + a gente
2ª
vós, os
senhores, as
senhoras
vos, convosco, prep. + os
senhores, as senhoras vocês/ocês/cês vocês/ocês/cês, prep. +
vocês/ocês
3ª eles, elas os/as, lhes, se, si, consigo eles/eis, elas eles/eis, elas, prep. + eles/eis,
elas
(In: Ataliba Castilho. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2ç1ç, p. 477.)
Também são pronomes pessoais os pronomes de tratamento, utilizados quando o falante se dirige a interlocutores específicos. Em tempos antigos, não era usual alguém se
dirigir diretamente a seu interlocutor em uma interação, daí esses pronomes serem classificados como de 3ª pessoa.
Hoje em dia se utilizam no Brasil basicamente as formas de tratamento você, quando
se tem uma relação de maior intimidade, e senhor, quando se quer indicar distanciamento entre os interlocutores (por motivos variados, como diferenças hierárquicas, demonstração de respeito, diferenças de idade).
Voc• e sua evolu•‹o
A origem de você é a forma de tratamento Vossa Mercê, utilizada na língua falada pelos portugueses que chegaram ao
Brasil nos séculos XVI e XVII. Segundo alguns estudiosos, a evolução da palavra pode ter apresentado as seguintes formas,
algumas coexistentes ainda hoje.
Vossa Mercê – Vossemecê – vosmecê – vosmincê
– vassuncê – vancê – mecê – você – ocê – cê
Os usos atuais dos pronomes de tratamento são apresentados na tabela a seguir.
PRONOME E SUA ABREVIATURA EMPREGO
Você (v.) Em tratamento informal cotidiano
Senhor, senhora (Sr., Sra.) Em tratamento formal, cerimonioso, respeitoso para homens e mulheres
casadas
Senhorita (Srta.) Em tratamento formal, cerimonioso, respeitoso para mulheres solteiras
138 UNIDADE 2 O TEMPO DE CADA UM
Encerrado o estudo por meio do qual o estudante
tem o primeiro contato com o conteúdo, materializado
em um texto específico, a seção Reflexões sobre a língua
retoma o estudo anterior com foco nos tópicos relacionados ao conteúdo gramatical a ser desenvolvido no
capítulo. Nessa seção é construída uma reflexão sobre
o conceito em estudo e, caso haja nomenclaturas e subclassificações, estas são apresentadas de forma direta e
objetiva, em boxes complementares.
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Na sequência, o estudante tem duas seções com exercícios que exploram o conteúdo gramatical do capítulo: Aplique o que aprendeu e Texto e enunciação. Ambas
as seções exploram a gramática por meio de textos com o objetivo de contribuir
para o desenvolvimento de uma postura crítica de leitura no estudante. A diferença
entre elas é que, na primeira, há exercícios mais simples e diretos, com textos variados. A segunda, por sua vez, centra-se em um ou no máximo dois textos, que são
explorados a fundo, levando-se necessariamente em consideração os elementos
enunciativos que os constituem e que influem diretamente nos seus sentidos.
Classificação dos advérbios
Tradicionalmente, as gramáticas normativas classificam os advérbios por um critério semântico, tendo em vista a circunstância que expressam. Essas classificações podem variar de acordo com a fonte. A seguir, estão algumas delas.
• Lugar/espaço: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás, além, lá, detrás, cá, acima, onde, perto, aí,
abaixo, aonde, longe, debaixo, afora, embaixo, em cima, etc.
• Tempo: hoje, logo, ontem, outrora, amanhã, cedo, depois, antigamente, antes, doravante, nunca, então, jamais,
agora, sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, às vezes, etc.
• Modo: bem, mal, assim, melhor, pior, depressa, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à toa, à vontade, às
escondidas, aos poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, de cor, em vão e grande parte dos que
terminam em -mente: calmamente, tristemente, pacientemente, amorosamente, escandalosamente, etc.
• Afirmação: sim, certamente, realmente, efetivamente, decerto, etc.
• Negação: não, nem, nunca, jamais, tampouco, de jeito nenhum, etc.
• Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavelmente, quiçá, talvez, casualmente, etc.
• Intensidade: muito, demais, pouco, tão, bastante, mais, menos, quanto, quão, tanto, tudo, nada, todo, quase,
extremamente, intensamente, grandemente, etc.
• Interrogação: onde, por que, quando, como.
As palavras denotativas
Há, na língua, palavras que têm função semelhante à dos advérbios,
porém tradicionalmente não são classificadas como advérbios pelas
gramáticas normativas, que preferem denominá-las palavras denotativas. Essas palavras se dividem de acordo com seu valor semântico,
sendo algumas delas:
• palavras denotativas de inclusão: ainda, até, mesmo, inclusive,
também;
• palavras denotativas de exclusão: apenas, exclusivamente, salvo,
senão, somente, simplesmente, só, unicamente;
• palavras denotativas de retificação: aliás, isto é, melhor, ou antes.
Nesse trecho do poema, as palavras e expressões longe, porventura, de repente e tristemente são advérbios.
Longe acrescenta um sentido espacial, de lugar, à forma
verbal escuto (“escuto longe de ti”); porventura reforça
em toda a oração anterior (“se escuto longe de ti”) a ideia
de que se trata de uma hipótese; de repente acrescenta à
oração “Sobe-me aos olhos o pranto” o modo como isso
ocorre, isto é, de forma repentina; o mesmo ocorre com
tristemente, que reforça o modo como se “ouve a linguagem natal falada por estranha gente”.
1. Em sua fala no 1º quadrinho, a atendente utilizou um advérbio e uma expressão adverbial.
a. Qual desses termos se refere a lugar/espaço?
b. Qual desses termos se refere a tempo?
2. No 2º quadrinho, o paciente questiona a data de sua consulta.
a. Na avaliação dele, qual seria o problema dessa data?
b. Identifique os advérbios na fala do paciente. Qual é o valor semântico desses advérbios?
aqui
daqui a três meses
Ela está muito longe.
até lá e já, que se referem a tempo.
(Disponível em: http://solinguagem.blogspot.com.br/2012_04_01_archive.html. Acesso em: 18/1/2016.)
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APLIQUE O QUE APRENDEU
Leia a tira a seguir e responda às questões de 1 a 3.
Laerte
242 UNIDADE 3 EM BUSCA DA VERDADE
7. Você viu que o advérbio é considerado pela gramática normativa como uma classe de
palavras que não se flexiona. É comum, entretanto, encontrarmos construções do tipo:
– Vamos falar baixinho.
– O restaurante é longinho.
– Cheguei agorinha.
a. Discuta com os colegas e o professor: Qual sentido constrói o acréscimo do sufixo
–inho aos advérbios nesses casos?
b. Cite outros exemplos em que essa mesma construção é possível.
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia o cartum a seguir para responder às questões de É a 5.
O sufixo dá mais ênfase ao sentido do advérbio, como se fosse dito:
bem baixo, bem longe, bem agora.
Rapidinho, juntinho, pertinho, cedinho, entre outras possibilidades.
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1. O cartunista faz uma sátira com uma expressão muito utilizada atualmente na fala
de algumas pessoas. Relacione as falas ao desenho das personagens:
a. Qual palavra e qual expressão são alvo da sátira?
b. Como as personagens do cartum foram desenhadas?
c. Qual relação há entre a palavra meio e o desenho? Qual o sentido da palavra meio
nesse caso?
Meio e meio que.
Elas foram desenhadas pela metade, apenas
da barriga para baixo, sem tronco e cabeça.
Nesse caso, meio significa “metade”.
Caco Galhardo
244 UNIDADE 3 EM BUSCA DA VERDADE
Sugestões de estratégias
para o trabalho com a gramática no texto
O trabalho com a gramática inicia-se sempre com a seção Foco no texto, que
exige a leitura de um texto no qual o conteúdo a ser estudado é utilizado de forma particular, contribuindo efetivamente para a construção de sentidos do texto
em estudo.
Dependendo do assunto do capítulo, o professor poderá adotar estratégias diferentes: discutir inicialmente com a classe (o que é o texto a ser lido, qual é a sua
função, em quais situações é utilizado) é uma estratégia que pode dar pistas para
que posteriormente os estudantes respondam às questões do estudo. É também
possível conversar com os estudantes sobre o assunto que será estudado, perguntar se já o estudaram, se lembram a que se refere tal conteúdo e pedir que levantem
hipóteses sobre a relação entre ele e o texto a ser lido.
Feita a leitura do texto, o encaminhamento do estudo também poderá contar
com variadas estratégias, uma vez que as questões podem ser respondidas em
conjunto, em grupos, ou individualmente, a critério do professor. Do nosso ponto
de vista, a alternância de estratégias é conveniente para que as aulas tenham
sempre uma dinâmica e uma motivação diferentes.
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A seção Reflexões sobre a língua pode dar base para o desenvolvimento da
aula, conduzido pelo professor. Esse texto não necessariamente precisa ser lido
integralmente e em voz alta para toda a classe, mas pode ser utilizado como
um momento de sistematização da explicação do professor, no qual os estudantes leiam em grupos menores, em duplas ou individualmente, em casa ou
em classe, a fim de esclarecer possíveis dúvidas que tenham permanecido após
a explicação. Ele também pode servir como base para a resolução dos exercícios
da seção Aplique o que aprendeu, a qual, por sua vez, pode ser utilizada pelo professor como uma avaliação prévia para sondar a compreensão da classe como
um todo sobre o assunto em estudo. Assim, dependendo dos objetivos do professor, esses exercícios podem também ser realizados em grupos menores, em
duplas ou mesmo individualmente.
Recomendamos, ainda, que os textos trabalhados na seção Texto e enunciação
sejam lidos conjuntamente entre professor e estudantes e discutidos com indagações iniciais por meio das quais a classe levante hipóteses e faça inferências, antes
de começar a responder às questões efetivamente: qual é o gênero do texto em
estudo?, qual é a sua função na sociedade?, em quais situações de comunicação
é utilizado?, qual é a sua relação com o conteúdo que está sendo estudado?, etc.
Avaliação da gramática
Além do uso das próprias seções da obra para sondar a compreensão dos estudantes em relação ao conteúdo estudado, que permite um acompanhamento processual do andamento da classe, o professor também poderá lançar mão de outras
estratégias, como, por exemplo, pedir aos estudantes que, com base nos textos do
livro, pesquisem outros textos em que o fenômeno ou processo em estudo ocorra.
Essas pesquisas podem dar origem a um portfólio individual, no qual cada estudante
aprofunde os estudos realizados no capítulo.
Quanto às avaliações elaboradas pelo professor, é importante que estas levem
em conta a metodologia de trabalho da obra, com a qual os estudantes estão
familiarizados. Dessa forma, é interessante abordar enunciativamente os textos escolhidos para compor possíveis provas e atividades extras, e não centrar os
exercícios em atividades de mero reconhecimento de classificações gramaticais.
Para tanto, vale a pena o professor estar atento aos textos que circulam socialmente e, ao se deparar com um texto que por algum motivo chame sua atenção,
colocar-se questões como:
• Por que esse texto é interessante/engraçado?
• Onde ele circula?
• Qual a situação de comunicação em que ele se insere (quem diz, o quê, para
quem, com quais objetivos, etc.)?
• Qual é o trabalho feito com a linguagem?
• Qual conteúdo pode ser abordado em um estudo sobre esse texto?
Ao responder a essas perguntas para si mesmo e ao socializá-las com os estudantes, construindo conjuntamente em aula todo esse contexto, torna-se mais
fácil para a classe perceber de que maneira o saber gramatical permite compreender melhor o funcionamento da língua.
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Projetos, utopias e valores constituem ingredientes fundamentais da educação. A palavra projeto tem duas dimensões, futuro, ou
antecipação, e abertura, ou não determinação. O projeto sempre implica realização dos atores; ou seja, um projeto está ligado à vontade
de fazer algo, à ação; Projetar é lançar para a frente, é antever sua
realização no futuro. A capacidade de elaborar projetos é própria do
homem, pois somente ele é capaz não só de projetar como também
de viver sua própria vida como um projeto. Já as utopias podem ser
vistas como formas radicalizadas de projetos que visam à humanidade em seu conjunto (KLEIMAN; MORAES, 1999, p. 39-40).
Com base na ideia do planejamento de ações dos atores sociais, os estudantes, no
desenvolvimento de um projeto de produção textual, são envolvidos em diferentes
práticas, individuais e coletivas, que vão desde o contato, o estudo e a produção de
textos de diferentes gêneros até práticas secundárias, mas não menos importantes,
como tomada de notas, distribuição de tarefas, organização de eventos, produção em
diferentes suportes, interação com pessoas de dentro ou de fora da escola, etc.
Realizar um sarau literomusical, por exemplo − como é a proposta do projeto
da unidade 1 do volume 1 −, implica vivenciar, dominar e produzir gêneros como
o poema e o texto dramático e, além disso, participar de múltiplas atividades,
como memorizar um texto para declamação ou para representação, participar
da encenação de uma esquete teatral juntamente com outros estudantes, dividir
tarefas como montar cenários, cuidar da sonoplastia e da indumentária, produzir
convites para o evento, enviá-los por meio das redes sociais, etc.
Muitos desses projetos envolvem o trabalho com diferentes linguagens, mídias e tecnologias, como a realização de um documentário (capítulo 3 da unidade 2 do volume 2), que propõe diferentes atividades, como produzir um
roteiro escrito, filmar, editar, inserir áudio. Ou, ainda, a organização de uma anPor fim, recomendamos que o professor busque, no trabalho com produção
de texto, retomar os conteúdos gramaticais já trabalhados em classe, sempre
que isso for possível.
Produção de texto
O trabalho de produção textual desta coleção se articula em torno de uma
perspectiva dos estudos de letramento e de uma concepção social de leitura e
escrita, que envolve não apenas o desenvolvimento de uma competência ou habilidade relacionada a um conteúdo – por exemplo, ser capaz de produzir uma
notícia –, mas também o desenvolvimento de uma prática social e discursiva, que
é inseparável de seu contexto de produção e recepção.
Nessa perspectiva, o trabalho com projetos de produção textual, sustentados
pelos gêneros do discurso, ganha fundamental importância, uma vez que são eles
a ferramenta por meio da qual as práticas sociais de linguagem são realizadas e
um conjunto de gêneros, selecionados para esse fim, são estudados e produzidos.
Refletindo sobre a importância dos projetos para o desenvolvimento da leitura
e da escrita, Ângela Kleiman e Sílvia Moraes afirmam:
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Julgamos que esse caminho é bastante pertinente e produtivo quando se tem
claro o objetivo do projeto, um corpo coeso de profissionais e domínio dos meios para
sua realização. Levar esses pressupostos às últimas consequências, entretanto, torna-se inviável em uma obra didática, uma vez que ela deve apresentar uma proposta
metodológica e um elenco de conteúdos, ou seja, de gêneros a serem trabalhados.
Portanto, sem abrir mão da perspectiva de letramento e das práticas sociais de
produção textual, esta coleção procura uma terceira via, que tem nos projetos seu
ponto de partida e, ao mesmo tempo, apresenta uma proposta de trabalho sistematizada. A fim de torná-la mais flexível e contar com a participação ativa dos
estudantes, muitas das decisões sobre os projetos são tomadas por eles, em conjunto com o professor responsável. Por exemplo, se pretendem fazer uma revista
impressa ou digital, se um jornal mural ou jornal impresso, se produzir um livro de
contos do grupo ou da classe, quem serão os convidados, de que meios se valerão
para fazer os convites, etc. Tal como afirma Kleiman (2007),
O projeto pedagógico (DEWEY, 1997; HERNANDEZ e VENTURA,
1998), que pode abranger desde o grande projeto interdisciplinar da
escola que atende a interesses de diversas turmas até o trabalho em
pequenos grupos de uma turma, pode proporcionar a alunos heterogêneos quanto ao domínio da escrita, com trajetórias de leitura e
de produção textual diferentes, pelas diferentes experiências com
que chegam à escola.
[...] um projeto de letramento de reciclagem de latinhas de alumínio se distingue de uma campanha de reciclagem de latinhas feita
pela associação de moradores do bairro. No primeiro, o número de
latas recolhidas pode ser motivador para o aluno, mas para o professor a motivação para realizar as atividades reside nas oportunidades
que o projeto cria para fazer cálculos, computar, representar dados,
fazer campanhas publicitárias, preparar anúncios para o rádio, enfim, para motivar os alunos a participarem de práticas letradas diversas e usarem a língua escrita.
tologia de contos fantásticos multimodais (capítulo 3 da unidade 1 do volume 3),
que explora, além da palavra escrita, diferentes recursos, como voz, música, imagem e movimento.
Os projetos de produção textual
Algumas escolas que adotam o letramento como perspectiva de trabalho rejeitam a estruturação prévia de um currículo de produção textual, uma vez que
preferem submeter aos estudantes todas as decisões a serem tomadas: o tema
a ser explorado num projeto multidisciplinar, as práticas sociais implicadas, os
gêneros do discurso que decorrem dessas práticas sociais e outras ações necessárias para a realização do projeto. Ao mesmo tempo que motiva os estudantes, o
projeto abre oportunidades para o professor explorar de forma mais significativa
conteúdos curriculares, conforme aponta Kleiman (2007):
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O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de
cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por
seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicas e gramaticais –, mas também,
e sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos
(conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se
indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados
pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis
de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso
(BAKHTIN, 1997, p. 279).
Assim, em cada volume da coleção, são desenvolvidos quatro projetos. O tema
de cada um está normalmente atrelado aos conteúdos trabalhados em literatura e,
na medida do possível, também aos de gramática. Os gêneros explorados em cada
unidade decorrem das necessidades concretas exigidas para a realização do projeto.
Como exemplo, na unidade 1 do volume 1, conforme já mencionado, é proposto o
projeto de realização de um sarau literomusical, no qual serão apresentadas declamação de poesia e representação teatral. Logo, para realizar o projeto, os estudantes precisam conhecer e produzir o poema e o texto dramático. Esses conteúdos de
produção textual estão diretamente relacionados com os conteúdos de literatura,
que vão tratar do aparecimento da poesia e do teatro na Idade Média em Portugal.
Já na unidade 4 do volume 1, momento em que na parte de literatura se estuda a produção literária árcade, feita à época do Iluminismo e da Enciclopédia, o
objetivo do projeto é promover, no final do ano, uma Feira do conhecimento sobre
o mundo material na sociedade contemporânea. Para isso, é necessário que os
estudantes conheçam e sejam capazes de produzir gêneros relacionados à esfera
escolar e acadêmica, como o seminário e o texto de divulgação científica.
Para que professor e estudantes não deixem nunca de lado a dimensão da
prática social, tendo sempre em mente a finalidade de suas produções, nesta coleção, o projeto é primeiramente anunciado na abertura de cada unidade e posteriormente detalhado no primeiro capítulo de produção textual. Além disso, é
retomado em cada um dos demais capítulos para, finalmente, ser concluído no
Projeto, ao término de cada unidade.
Os gêneros do discurso
A referência teórica que utilizamos nesta coleção é o conceito de gênero do
discurso apresentado por Mikhail Bakhtin no texto “Os gêneros do discurso”:
Assim, para Bakhtin, os gêneros são enunciados, orais e escritos, mais ou
menos estáveis e que circulam em esferas específicas. Não se deve considerar
o gênero apenas como uma reunião dos três elementos centrais – tema, construção composicional e estilo – que formam os enunciados, mas também observar outros elementos da situação de produção, de recepção e de circulação
desses gêneros, como o papel dos interlocutores, a finalidade do uso do gênero,
as relações dialógicas entre gêneros da mesma esfera ou com outras esferas, etc.
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Daí a importância de reiterar, no conceito bakhtiniano, a estabilidade relativa dos
gêneros: muito mais do que uma lista de características fixas que, se atendidas,
darão origem a textos de determinados gêneros, estes podem variar, dentro de algumas limitações da própria prática social, conforme variarem as especificidades
dos projetos desenvolvidos em cada escola.
Dada a importância que os gêneros têm para os fundamentos e os objetivos
desta coleção, os conceitos de discurso, gênero do discurso e esfera de circulação
são trabalhados com os estudantes já no primeiro capítulo do volume 1 desta obra.
Paralelamente à fundamentação teórica dos gêneros do discurso e dos estudos de
letramento, também tomamos como referência as publicações do conhecido grupo
de Genebra, composto de estudiosos liderados por Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz
e Jean-Paul Bronckart, que há duas décadas vem trabalhando na Universidade de Genebra com o ensino de língua a partir dos gêneros do discurso. E, ainda, um conjunto
de publicações de autores brasileiros que atuam nessa área, como Luís Antônio Marcuschi, Roxane Rojo, Ângela Dionísio, Ângela Kleiman, além de pesquisadores que
vêm estudando as relações entre gêneros e as TICs (Tecnologias da informação e da
comunicação) na esfera escolar, como Maria Teresa Freitas, Marcelo Buzato, José Manuel Moran e Carla Viana Coscarelli. (Ver sugestão bibliográfica ao final desta seção.)
Tendo em vista o grande número de gêneros que circulam socialmente e a
necessidade de focar naqueles que sejam compatíveis com os interesses do estudante do ensino médio e com suas necessidades para ter uma atuação discursiva
autônoma e cidadã na vida social, selecionamos 38 gêneros a partir de vários
critérios, como a relação entre a produção textual e as partes de literatura e gramática; os projetos que nascem dessa relação; e as competências envolvidas em
cada gênero ou grupo de gêneros.
Eis a tipologia textual apresentada pelos autores de Genebra:
Domínios sociais de comunicação
ASPECTOS TIPOLÓGICOS
Capacidades de linguagem dominantes
Exemplos de gêneros orais e escritos
Cultura literária ficcional
NARRAR
Mimeses da ação através da criação da
intriga no domínio do verossímil
Conto maravilhoso
Conto de fadas
Fábula
Lenda
Narrativa de aventura
Narrativa de ficção científica
Narrativa de enigma
Narrativa mítica
Sketch ou história engraçada
Biografia romanceada
Romance
Romance histórico
Novela fantástica
Conto
Crônica literária
Adivinha
Piada
...
Documentação e memorização das ações
humanas
RELATAR
Representação pelo discurso de
experiências vividas, situadas no tempo
Relato de experiência vivida
Relato de viagem
Diário íntimo
Testemunho
Anedota ou caso
Autobiografia
Curriculum vitae
...
Notícia
Reportagem
Crônica social
Crônica esportiva
...
Histórico
Relato histórico
Ensaio ou perfil biográfico
Biografia
...
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Domínios sociais de comunicação
ASPECTOS TIPOLÓGICOS
Capacidades de linguagem dominantes
Exemplos de gêneros orais e escritos
Discussão de problemas sociais controversos
ARGUMENTAR
Sustentação, refutação e negociação de
tomadas de posição
Textos de opinião
Diálogo argumentativo
Carta de leitor
Carta de reclamação
Carta de solicitação
Deliberação informal
Debate regrado
Assembleia
Discurso de defesa (advocacia)
Discurso de acusação (advocacia)
Resenha crítica
Artigos de opinião ou assinados
Editorial
Ensaio
Transmissão e construção de saberes
EXPOR
Apresentação textual de diferentes formas
dos saberes
Texto expositivo
(em livro didático)
Artigo enciclopédico
Exposição oral Texto explicativo
Seminário Tomada de notas
Conferência Resumos de textos expositivos e
explicativos
Comunicação oral Resenha
Palestra Relatório científico
Entrevista de especialista Relato oral de experiência
Verbete ...
Instruções e prescrições
DESCREVER AÇÕES
Regulação mútua de comportamentos
Instruções de montagem
Receita
Regulamento
Regras de jogo
Instruções de uso
Comandos diversos
Textos prescritivos
...
(Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz. Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas: Mercado de Letras, 2004. p. 60-1.)
Para os autores dessa proposta, o trabalho com os gêneros deve levar em
conta o exercício permanente das cinco “capacidades de linguagem dominantes” – narrar, relatar, argumentar, expor e descrever ações. Assim, desde os
primeiros anos, o estudante trabalha com gêneros relacionados com as diferentes capacidades, de modo que, ao longo de sua vida escolar, por várias
vezes ele argumente, narre, exponha, instrua e relate. Em outras palavras, o
trabalho com gêneros variados permite que as capacidades sejam retomadas,
como em uma espiral, com diferentes gêneros e graus de dificuldade e complexidade cada vez maiores.
A tipologia apresentada pelo grupo de Genebra e as capacidades de linguagem dominantes foram observadas e atendidas sempre que possível, uma vez
que um dos pilares desta coleção também é a conexão entre literatura, produção
de texto e gramática.
Eis a sequência de projetos e gêneros proposta por esta obra:
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VOLUME 1
UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4
Projeto
Sarau literomusical −
Cantigas, poemas e
teatro
Feira cultural –
Renascimento, engenho
e arte
Mundo cidadão
Feira do conhecimento –
O mundo material na
sociedade
contemporânea
Capítulo 1 • O que é gênero do
discurso • O resumo
• Blog
• Comentário de
Internet
• O seminário
Capítulo 2 • O poema • Dicas e tutoriais • O debate regrado • O texto de divulgação
científica (I)
Capítulo 3 • O texto teatral • A carta pessoal • O artigo de opinião • O texto de divulgação
científica (II)
VOLUME 2
UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4
Projeto
Mostra de cinema –
Memórias em
documentário
Noite literária – Do
cotidiano à utopia Fatos em revista Jornal opinião
Capítulo 1 • O relato de
experiências vividas • A crônica (I) • A notícia • O editorial
Capítulo 2
• Cartaz
• Anúncio publicitário
• A crônica (II) • A entrevista • A resenha crítica
Capítulo 3 • O documentário • Edital, estatuto e ata • A reportagem
• Carta aberta
• Carta de leitor
VOLUME 3
UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4
Projeto
Antologia de contos,
minicontos e contos
fantásticos multimodais
Cidadania em debate Simulado Enem: a
redação em exame
Feira de profissões –
Você no mercado de
trabalho
Capítulo 1 • O conto • O debate deliberativo • A dissertação (I) • Verbete e projeto de
pesquisa
Capítulo 2 • O conto moderno e
contemporâneo • Relatório e currículo • A dissertação (II) • A carta de
apresentação
Capítulo 3 • O conto fantástico
• As cartas
argumentativas de
solicitação e de
reclamação
• A dissertação (III) • Entrevista de emprego
371 MANUAL DO PROFESSOR
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Tomando como exemplo o volume 1 da coleção e cotejando-o com a proposta do grupo de Genebra, é possível notar que gêneros como o poema e o
texto teatral pertencem ao grupo dos gêneros literários; o debate regrado e
o artigo de opinião pertencem ao grupo dos gêneros argumentativos; a carta
pessoal e o blog pertencem ao grupo dos gêneros do relato; o resumo, o seminário e o texto de divulgação científica pertencem ao grupo dos gêneros
comprometidos com a “transmissão e construção de saberes”; comentário de
Internet, debate regrado e artigo de opinião pertencem ao grupo dos gêneros
argumentativos; e, por fim, dicas e tutoriais pertencem ao grupo das “instruções e prescrições”.
Dessa forma, nesse volume, as cinco capacidades apontadas pelos pesquisadores de Genebra – narrar, relatar, argumentar, expor e descrever ações
– são contempladas por meio de gêneros condizentes com a faixa etária e
com o grau de interesse do estudante e o nível de complexidade dos próprios gêneros.
Os gêneros e suas esferas de circulação
Outro critério importante na seleção dos gêneros e na proposição dos projetos
para esta coleção são as esferas de circulação dos gêneros nas quais o estudante
já atua ou ainda vai atuar, seja em sua vida pessoal, seja na vida profissional, seja
na acadêmica, seja em sua atuação político-cidadã.
Gêneros como blog, comentário de Internet, dicas e tutoriais estão diretamente relacionados com suas práticas discursivas na esfera digital, que seguramente já ocorrem hoje em sua fase de vida adolescente e continuarão a ocorrer
na fase adulta.
O resumo, o seminário, o verbete, o projeto de pesquisa, o relatório, o texto
de divulgação científica e a dissertação estão relacionados com a esfera escolar
e acadêmica e, portanto, lhe são úteis hoje, no ensino médio, e, em sua maioria,
também o serão futuramente ao dar continuidade aos estudos.
O debate regrado, o debate deliberativo, o artigo de opinião, as cartas argumentativas de reclamação e de solicitação e a carta de leitor são gêneros relacionados com a esfera política e cidadã, já que permitem ao estudante, como
cidadão, interferir na realidade e transformá-la. Da mesma forma, gêneros
como edital, estatuto e ata estão relacionados à esfera jurídica e são importantes para a plena atuação cidadã do estudante. Da mesma forma, gêneros
da esfera jornalística, como a notícia, a reportagem e a entrevista, entre outros,
são essenciais para sua análise crítica dos fatos da realidade e para sua atuação
político-cidadã.
Por fim, gêneros como relatório, currículo, carta de apresentação e entrevista
de emprego estão relacionados principalmente com a esfera profissional e serão essenciais ao estudante que, ao concluir o ensino médio, deseja ingressar no
mercado de trabalho, fazer intercâmbio e concorrer a uma bolsa de estudos ou,
futuramente, a uma vaga de mestrado ou doutorado.
372 MANUAL DO PROFESSOR
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FEIRA DO
CONHECIMENTO
Participe, com toda a classe, da
produção de uma feira sobre o mundo material na sociedade contemporânea, na qual você e seus colegas
vão apresentar seminários e expor e
distribuir artigos de divulgação científica que produzirão nesta unidade.
04 01 332 F PORTINOV1 Entra poema concreto
“pluvial / fl uvial”, de Augusto de Campos. Segue
referência. Favor, indicar a fonte.
Se o erro e a ignorância forjaram as
cadeias dos povos e os preconceitos
as consolidaram, a ciência, a razão e
a verdade poderão um dia rompêlas. Oprimido, durante uma longa
série de séculos, pela superstição e
a credulidade, o espírito humano
finalmente despertou. [...] Até mesmo os príncipes, cansados de seus
delírios, buscam agora na razão um
remédio contra os males que eles
mesmos procuraram.
(Barão de Holbach. Apud Giovanni Reale e Dario Antiseri.
História da filosofia. São Paulo:
Paulinas, 1990. v. 2, p. 728-9.)
Augusto de Campos
Thinkstock/Getty Images
255
O seminário
PRODUÇÃO DE TEXTO
O seminário é um gênero oral, de elaboração individual ou coletiva, cujo produto final
é um texto falado. Os autores do texto de um seminário produzem, portanto, uma fala. Na
escola, a realização de seminários tem em vista, principalmente, que os conteúdos estudados possam ser expostos de maneira diferente da que ocorre nas aulas, quando o professor
é geralmente o centro da atenção dos alunos. Em um seminário, os alunos assumem um
papel mais ativo e passam a ser eles mesmos o centro mediador do conhecimento.
O espectador de um seminário também pode e deve ter um papel ativo: ao ouvir o
conteúdo exposto, convém que faça anotações e as relacione com seu próprio conhecimento sobre o assunto, a fim de que, no final da apresentação, possa tirar dúvidas sobre
o assunto e contribuir com informações complementares.
Os seminários não existem apenas no contexto do ensino básico. Também são muito
comuns em universidades e eventos científicos e culturais em que pesquisadores, estudantes, professores, profissionais e especialistas em certas áreas se reúnem para discutir
determinados assuntos.
FOCO NO TEXTO
Leia o texto a seguir.
No seminário Humor, Indivíduo e Sociedade, [...] promovido pela
Globo Universidade em parceria com o Departamento de Psicologia da
PUC-Rio, participaram nomes representativos do humor carioca, tanto
entre os seus “militantes” quanto entre os que teorizam a respeito [...]
[como os] humoristas Maurício Sherman (diretor), Claudio Manoel (ator
e autor/Casseta) [...]. Representando os teóricos, [o professor] Bernardo
Jablonski (moderador) e os psicanalistas Daniel Kupermann e Joel Birman. A seguir, transcrevemos, a título de ilustração, alguns dos depoimentos que julgamos mais significativos com relação ao que foi proferido durante o seminário por parte de alguns de seus participantes.
Bernardo Jablonski: Para abrir o presente evento, escolhemos uma frase de Charles Chaplin: “O humor nos permite ver o irracional através do
O contexto de produção e recepção dos textos
Quais textos você produzirá nesta unidade? Com que finalidade? Quem os lerá?
Nesta unidade, desenvolveremos o projeto Feira do conhecimento. Para isso,
vamos estudar dois gêneros que podem auxiliar na realização dessa feira: o seminário e o texto de divulgação científica. O primeiro será a base do evento, uma vez que,
nele, você e seus colegas vão apresentar suas reflexões nesse formato, e o segundo
será o meio pelo qual vocês irão divulgá-las para um público mais abrangente.
O objetivo principal da feira será a discussão do tema O mundo material na
sociedade contempor‰nea. No decorrer da unidade, você e os colegas vão, além
de ler textos sobre assuntos relacionados ao tema, decidir como se organizar, qual
subtítulo utilizar no nome da feira e qual forma de participação cada um terá no
preparo e na realização do evento.
275PRODUÇÃO DE TEXTO
Arcadismo. Coerência e coesão. O seminário CAPÍTULO 1
Metodologia de ensino e a realização de projetos
Como já foi dito anteriormente, o ponto de partida do trabalho de produção textual
são os projetos, que vão organizar todas as produções de texto realizadas na unidade.
Já na abertura das unidades, o projeto é anunciado pela primeira vez.
Depois, no capítulo 1, o boxe “O contexto de produção e recepção dos textos” apresenta o projeto de
forma mais desenvolvida. Por meio dele, o estudante conhecerá os objetivos do projeto, terá em vista
os elementos da situação de produção e recepção
dos textos e conhecerá as etapas de trabalho. Na
sequência, dá início à sua primeira produção.
FEIRA DO
CONHECIMENTO
Participe, com toda a classe, da
produção de uma feira sobre o mundo material na sociedade contemporânea, na qual você e seus colegas
vão apresentar seminários e expor e
distribuir artigos de divulgação científica que produzirão nesta unidade.
O contexto de produção e recepção dos textos
Quais textos você produzirá nesta unidade? Com que finalidade? Quem os lerá?
Nesta unidade, desenvolveremos o projeto Feira do conhecimento. Para isso,
vamos estudar dois gêneros que podem auxiliar na realização dessa feira: o seminário e o texto de divulgação científica. O primeiro será a base do evento, uma vez que,
nele, você e seus colegas vão apresentar suas reflexões nesse formato, e o segundo
será o meio pelo qual vocês irão divulgá-las para um público mais abrangente.
O objetivo principal da feira será a discussão do tema O mundo material na
sociedade contempor‰nea. No decorrer da unidade, você e os colegas vão, além
de ler textos sobre assuntos relacionados ao tema, decidir como se organizar, qual
subtítulo utilizar no nome da feira e qual forma de participação cada um terá no
preparo e na realização do evento.
373 MANUAL DO PROFESSOR
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Nos capítulos 2 e 3, no momento em que é convidado a produzir, o estudante é
lembrado de que os textos que ele vai criar fazem parte de um projeto maior, em
construção desde o início da unidade.
Ao final da unidade, na seção Projeto,
ocorre a culminância ou a etapa final do
projeto que vinha sendo realizado, que
pode ser a organização de um sarau, de
uma feira de profissões, de uma mostra, de
um debate ou a publicação de um livro de
contos ou de uma revista digital, ou uma
representação teatral, e assim por diante.
6. Observe estes desenhos:
Os três apresentam um ou dois círculos com bordas pretas, indicados
por um fio e uma seta. Considerando todo o infográfico, deduza: Qual
efeito é criado com essa composição?
HORA DE ESCREVER
Uma das características marcantes do mundo contemporâneo é a cultura consumista. Há quem acredite que o desejo de consumo mudou os valores sociais e que, hoje, para muitas pessoas, ter mais, isto é, consumir mais,
significa ser melhor do que quem tem menos, isto é, consome menos.
A visão consumista tem como consequência não apenas a aquisição
compulsiva de mercadorias e bens muitas vezes supérfluos, mas também a
adoção de um modo de alimentação cada vez menos saudável, com o consumo de um grande número de produtos industrializados. Nesse contexto,
é muito comum o desperdício e, consequentemente, uma grande produção
de diversos tipos de lixo.
Em meio a tal situação, têm surgido iniciativas voltadas à diminuição
da produção de lixo. Essas iniciativas envolvem pesquisas e estudos que, na
contramão da mentalidade consumista, procuram resgatar valores de outras épocas ou buscar maneiras de amenizar as consequências do despejo
de lixo no meio ambiente.
Os círculos se associam ao formato de uma
lupa, gerando um efeito de zoom, com detalhes de parte do desenho principal.
Dê continuidade aos
preparativos para a Feira
do conhecimento que
você e os colegas começaram a desenvolver no
capítulo 1 desta unidade,
produzindo um texto de
divulgação científica que
contenha também um infográfico e que explore
o tema do consumo no
mundo contemporâneo.
Robin Jareaux/Getty Images
Scientific American Brasil/5w Infographics
REGISTRE
NO CADERNO
319 O Arcadismo no Brasil (II). Formação de palavras. O texto de divulgação científica (II) CAPÍTULO 3 PRODUÇÃO DE TEXTO
Esse texto será depois reunido aos dos colegas e comporá uma revista
que a classe distribuirá aos visitantes da Feira do conhecimento.
ANTES DE ESCREVER
Planeje seu texto, lembrando-se de:
• utilizar uma publicação confiável como fonte de informação sobre o estudo ou pesquisa que será o tema do seu texto;
• deixar claro quais são os objetivos do estudo ou da pesquisa, bem como
os sujeitos ou instituições nela envolvidos, tanto como participantes
quanto como responsáveis;
• apresentar vozes dos pesquisadores, citando suas instituições de origem
e a relação que mantêm com a(s) instituição(ões) que realiza(m) o estudo
ou pesquisa;
• se possível, entrevistar outros especialistas e expor os pontos de vista deles sobre o estudo ou pesquisa;
• pesquisar uma imagem interessante (uma foto, um gráfico, um esquema,
um desenho) relacionada ao tema do estudo ou pesquisa e criar uma legenda informativa e objetiva para acompanhá-la;
• descrever resumidamente e em linguagem acessível ao público em geral
os passos e os procedimentos empregados no estudo ou pesquisa;
• traduzir para o leitor, em linguagem comum, termo(s) técnico(s) cujo emprego seja indispensável no seu texto;
• mencionar pontos positivos e pontos negativos do estudo ou pesquisa;
• apresentar ressalvas, deixando claro que não há responsabilidade do
autor do texto pelo estudo ou pesquisa e seus resultados;
• selecionar um trecho do texto para deixar em destaque, a fim de que o
leitor fique motivado para ler o texto todo.
ANTES DE PASSAR A LIMPO
Antes de dar seu texto por terminado, verifique:
• se as informações apresentadas possibilitam ao leitor conhecer os passos, os responsáveis e os objetivos do estudo ou pesquisa;
• se há vozes dos pesquisadores e de especialistas no assunto;
• se a imagem escolhida para ilustração é interessante e relacionada ao assunto do estudo ou pesquisa;
• se a legenda faz referência direta à imagem da ilustração;
• se a linguagem utilizada, embora contenha termos técnicos, é acessível
ao público em geral;
• se, caso tenha havido emprego de termo(s) técnico(s), você o(s) traduziu
com palavras mais comuns, de fácil compreensão para leitores não especializados no assunto;
• se você apontou pontos positivos e negativos do estudo ou pesquisa, fazendo ponderações quanto aos objetivos pretendidos;
• se a responsabilidade pelo desenvolvimento do estudo ou pesquisa foi
mencionada com clareza;
• se o trecho que você selecionou para ficar em destaque é, de fato, chamativo e faz referência à parte mais importante do estudo ou pesquisa.
Dê continuidade aos
preparativos para a realização do projeto Feira do conhecimento
que você e os colegas
começaram a desenvolver no capítulo anterior, produzindo um
texto de divulgação
científica relacionado
ao tema explorado no
seminário que seu grupo preparou.
304 UNIDADE 4 PALAVRA E RAZÃO
Dê continuidade aos
preparativos para a realização do projeto Feira do conhecimento
que você e os colegas
começaram a desenvolver no capítulo anterior, produzindo um
texto de divulgação
científica relacionado
ao tema explorado no
seminário que seu grupo preparou.
Dê continuidade aos
preparativos para a Feira
do conhecimento que
você e os colegas começaram a desenvolver no
capítulo 1 desta unidade,
produzindo um texto de
divulgação científica que
contenha também um infográfico e que explore
o tema do consumo no
mundo contemporâneo.
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Feira do conhecimento —
O mundo material na
sociedade contemporânea
Como encerramento desta unidade, realizaremos uma Feira do conhecimento, na qual serão
apresentados os seminários preparados por você e seus colegas e serão expostos e distribuídos os
textos de divulgação científica que vocês produziram.
1. ORGANIZANDO E DIVULGANDO O EVENTO
• Escolham uma data e um horário, de preferência ao longo de todo um dia, ou de mais de um dia.
• Deem ao evento o título O mundo material na sociedade contemporânea, seguido de um
subtítulo atraente.
• Pensem no público que querem atingir e como farão para convidá-lo: por meio de cartazes, jornal da
escola, avisos nas salas, redes sociais.
• Escolham e organizem os espaços: os locais onde serão apresentados os seminários, onde será
distribuída a publicação com artigos de divulgação científica, onde ficarão os murais com os textos
de divulgação científica, além daqueles em que ocorrerão outras atividades que vocês queiram
realizar.
• Confiram se o tamanho das letras dos textos verbais e a qualidade das imagens estão adequados à
exposição em murais, considerando que os convidados farão a leitura de pé, ao visitar a feira.
RICO UNIDADE 4 PALAVRA E RAZÃO 328
2. REALIZANDO A FEIRA
Apresentação de seminários
• Programem a apresentação dos seminários. Fiquem atentos ao
tempo de que cada grupo poderá dispor e ao número de salas
necessárias para que todos os grupos possam se apresentar com
conforto e tranquilidade.
• Divulguem a programação não apenas para quem vai participar
das apresentações, mas também para os convidados. Essa
programação pode, por exemplo, ser disponibilizada no blog
produzido por vocês na unidade anterior.
Ciência em revista
• Reúnam em uma revista os artigos de divulgação científica
produzidos no capítulo 2. Façam cópias da revista e as
distribuiam aos convidados no dia da feira.
• Escolham um lugar estratégico para deixar a publicação de vocês,
isto é, um lugar em que os convidados passem ao circular pela
feira e, assim, se interessem em lê-la. Vocês podem também
fazer um cartaz, chamando atenção para a revista.
Ciência em murais
• Exponham em murais os textos de divulgação científica produzidos no capítulo 3. Vocês
podem organizar os textos por afinidade de assunto e em quantos murais forem necessários.
Criem para cada mural um título convidativo à leitura.
• Além do tamanho das letras e da qualidade das imagens dos textos, verifiquem se o número
deles em cada mural está adequado às condições de leitura.
Andreas Stamm/Getty Images
Wavebreakmedia/Deposit Photos/Glow Images
329
n Bibliografia
Para os professores que desejam se aprofundar na teoria de gêneros do discurso, sugerimos:
ANTUNES, Irandé. Avaliação da produção textual no ensino médio. In: BUNZEN, C.;
MENDONÇA, M. (orgs.). Português no ensino médio e formação do professor. São
Paulo: Parábola, 2006. p. 163-180.
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 1997.
BRAIT, Beth (org.). Bakhtin – Conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.
_____; PISTORI, Maria Helena Cruz. A produtividade do conceito de gênero em
Bakhtin e o círculo. Revista Alfa, nº 56. (Disponível na Internet.)
KLEIMAN, Angela B. Letramento e suas implicações para o ensino de língua
materna. Signo (Santa Cruz do Sul), v. 32, nº 53, dez. 2007.
_____; MORAES, Silvia E. Leitura e interdisciplinaridade. Campinas: Mercado de
Letras, 1999.
MACHADO, Irene. Gêneros discursivos. In: Beth Brait (org.). Bakhtin − Conceitoschave. São Paulo: Contexto, 2005.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São
Paulo: Parábola, 2008.
Aos professores que querem se aprofundar nos estudos que envolvem multiletramento e as relações entre gêneros e as tecnologias da informação e da comunicação (TICs), sugerimos:
375 MANUAL DO PROFESSOR
PortuguesContemporaneo3_MP_337a384.indd 375 16/05/16 09:13
ARAÚJO, Júlio César (org.). Internet e ensino: novos gêneros, outros desafios. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2007.
BUNZEN, Clecio; MENDONÇA, Márcia. Múltiplas linguagens para o ensino médio.
São Paulo: Parábola, 2013.
COSCARELLI, Ana Elisa Ribeiro (org.). Letramento digital: aspectos sociais e
possibilidades pedagógicas. 3. ed. Belo Horizonte: Ceale/Autêntica, 2011.
ROJO, Roxane (org.). Escol@ conectada: os multiletramentos e as TICs. São Paulo:
Parábola, 2013.
_____. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola, 2009.
_____; MOURA, Eduardo (orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.
MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos. Hipertexto e gêneros digitais:
novas formas de construção do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
Seções
A parte de produção textual inicia-se normalmente com um breve comentário
a respeito do gênero a ser estudado na seção Foco no texto. Por meio do estudo
de um ou mais textos do referido gênero, o estudante responde a um conjunto
de perguntas que o levam a observar os elementos constitutivos daquele gênero,
tais como a situação de interlocução (quem é o enunciador e o destinatário), o
suporte e o veículo em que o gênero circula, a finalidade central do texto, o tipo
de conteúdo que normalmente há nesse gênero (o tema), sua estrutura (o modo
composicional) e o uso da língua e seus graus de formalidade ou de informalidade do discurso (estilo).
PRODUÇÃO DE TEXTO
O artigo de opinião
Neste capítulo, você leu um sermão do Pe. Antônio Vieira. O sermão pertence ao grupo
dos gêneros argumentativos, uma vez que tem a finalidade de convencer os interlocutores.
Nos dias atuais, um dos mais importantes gêneros argumentativos é o artigo de
opinião, encontrado geralmente em revistas, jornais impressos e sites da Internet. A finalidade do gênero é expressar o ponto de vista do seu autor a respeito de um assunto
controverso e geralmente do interesse da sociedade.
FOCO NO TEXTO
Leia o artigo de opinião a seguir, de autoria da psicóloga Rosely Sayão.
No lugar do outro
Estamos vivendo uma crise intensa: a das relações humanas. Todos os
dias testemunhamos ou protagonizamos, tanto na vida presencial quanto
na virtual, comportamentos e atitudes que vão do ódio declarado ou sutil ao
desdém em relação ao outro. As relações humanas, sempre tão complexas,
exigem, no entanto, delicadeza, atenção e compromisso social. Tem sido difícil manter a saúde mental e a qualidade de vida no contexto atual.
Crianças e adolescentes já dão sinais claros de que têm aprendido muito com nossa dificuldade em conviver com as diferenças e de respeitá-las;
de tentar colocar-se no lugar do outro para compreender suas posições e
atitudes; de ter compaixão; de conflitar em vez de confrontar; de agir com
doçura, por exemplo. Conseguir fazer isso é ter empatia com o outro.
Pais e professores têm reclamado de comportamentos provocativos,
desrespeitosos, desafiadores e desobedientes dos mais novos. Entretanto, se pudéssemos nos dedicar por alguns momentos à auto-observação,
constataríamos essas características também em nós, adultos.
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240 UNIDADE 3 PALAVRAS EM MOVIMENTO
Mas são os mais novos que levam a pior nessa história: crianças
e adolescentes que desobedecem, desafiam e têm comportamentos
considerados agressivos, como os nossos, podem receber diagnósticos
e orientação para tratamento. Conheço famílias com filhos diagnosticados com “Transtorno Desafiador Opositivo”, porque têm comportamentos típicos da idade.
Há uma grande preocupação global com a nossa atual falta de empatia. Um sinal disso foi a inauguração, em Londres, do primeiro Museu da
Empatia.
Nele, os visitantes são convocados a experimentar/enxergar o mundo
pelo olhar de um outro ‒ não próximo ou conhecido, mas um outro com
quem eles não têm qualquer relação. A expressão que deu sentido ao museu é a expressão inglesa “in your shoes” (em seus sapatos), que em língua
portuguesa significa “em seu lugar”.
Os visitantes se deparam, na entrada, com uma caixa com diferentes
pares de sapatos usados. Escolhem um de seu número para calçar e recebem um áudio que conta uma parte da história da pessoa que foi dona
daquele par.
Desenvolver a empatia é uma condição absolutamente necessária
para ensiná-la aos mais novos. Aliás, eles podem tê-la mais facilmente do
que nós. Um pai me contou, comovido, que conversava com um amigo a
respeito da situação de muitos refugiados de países em guerra e que comentou que não adiantava a busca por outro local, já que a crise de empregos era mundial. Seu filho, de sete anos, que estava por perto, perguntou
de imediato: “Pai, se tivesse guerra aqui, você preferiria que eu morresse?”.
Ele mudou de ideia.
Estacionar o carro em vaga de idosos, grávidas e portadores de deficiência é mais do que contravenção: é falta de
empatia. Reclamar da lentidão dos velhos é mais do que desrespeito: é falta de empatia. Agredir ostensivamente o outro
por suas posições é mais do que dificuldade em lidar com as
diferenças: é falta de empatia. Do mesmo modo, reclamar do
comportamento dos mais novos é falta de empatia.
A empatia pode provocar uma grande mudança social,
diz Roman Krznari, estudioso do tema. Vamos desenvolvê-la
para ensiná-la?
(Folha de S. Paulo, 22/9/2015.)
1. Os textos de opinião costumam apresentar o tema e o ponto de vista do autor nos
primeiros parágrafos.
a. Qual é a afirmação feita no início, em torno da qual a autora desenvolve o texto?
b. O fenômeno apontado no 1º parágrafo diz respeito a um termo do âmbito da psicologia apresentado pela autora no 2º parágrafo. Qual é esse termo? A que ele corresponde?
c. Em que consiste o fenômeno apontado pela autora? Como ele se manifesta? Dê
exemplos extraídos do texto.
2. De acordo com o texto, a falta de empatia é um problema específico das crianças e
dos jovens? Justifique sua resposta com elementos do texto.
desdém: desprezo,
indiferença.
sutil: delicado, fino, leve.
A afirmação de que estamos vivendo uma crise das relações humanas.
Empatia, que é a capacidade de se identificar com outra pessoa, de se colocar no lugar dela e sentir o que
ela sente.
Consiste na falta de empatia, que se manifesta, por exemplo, na dificuldade de conviver com pessoas diferentes, de compreender o comportamento e
a opinião dos outros, em reclamar da lentidão dos velhos, em estacionar o carro em vagas reservadas a idosos, grávidas e portadores de deficiência.
Não, a falta de empatia é um fenômeno que se observa entre crianças, jovens e adultos, conforme o trecho “Entretanto, se pudéssemos nos dedicar por
alguns momentos à auto-observação, constataríamos essas características também em nós, adultos”.
REGISTRE
NO CADERNO
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241PRODUÇÃO DE TEXTO
O Barroco no Brasil (II). Ortografia. O artigo de opinião CAPÍTULO 3
376 MANUAL DO PROFESSOR
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Concluído o estudo do gênero e de seus aspectos constitutivos, o estudante chega à seção Hora de escrever, na qual são apresentadas as propostas
de produção textual do gênero em estudo. No livro do professor, há, quando
necessário, comentários e sugestões sobre o número mínimo de produções
recomendado naquele capítulo. Quando há três propostas, por exemplo, sugerimos e indicamos aquelas que, do nosso ponto de vista, são indispensáveis
para a apropriação do gênero. Também nesse momento fazemos sugestões ao
professor sobre a melhor forma de desenvolver a atividade: se individualmente, se em grupos ou se coletivamente.
Depois de esclarecidas as propostas e os meios de realizá-las, o estudante chega à subseção Antes de escrever ou Antes de debater, por exemplo, quando se trata
de gêneros orais, na qual encontra orientações que deve levar em conta durante
o processo de produção de texto. São elementos relacionados com a situação de
produção, com a abordagem do tema, com a estrutura do texto, com o uso adequado da linguagem, etc.
HORA DE ESCREVER
O trabalho infantil é proibido no Brasil, conforme determina o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA). E quando o trabalho consiste em participar de uma novela de
televisão, de uma peça de teatro ou de uma propaganda de TV? A lei deve valer também
para esses casos?
Leia, a seguir, parte de uma reportagem sobre o assunto.
Crianças sem esperança
Ex-atores mirins compartilham em seminário as dores e delícias da experiência;
Judiciário cobra regulamentação do trabalho infantil artístico
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO
Para Felipe Paulino, 22, foi
um tiro no pé. Fernando Meirelles selecionou o aluno de
teatro no morro do Vidigal,
no Rio, para “Cidade de Deus”
(2002). No filme, Zé Pequeno o
forçava a escolher: queria bala
na mão ou no pé? Levou no último. Tinha oito anos.
Hoje Felipe diz que, se tivesse filho, acharia “absurdo”
deixá-lo atuar na “cena mais
violenta da história do cinema” ‒ impressão dele e do site
americano Pop Crunch, que pôs
o “take” brasileiro à frente, por
exemplo, do estupro de “Laranja Mecânica” e elogiou a “performance convincente” do ator
mirim.
Só que, segundo Felipe, o
“medo era bem real”, induzido
pela preparadora de elenco Fátima Toledo.
Para Bruna Marquezine, ô9,
dia de set era melhor que recreio. “Yes, hoje tem gravação!”,
recorda a experiência de acordar e ir trabalhar na TV desde,
bom, sempre. Estreou como
a Salete da novela “Mulheres
Apaixonadas” (2003), na Globo.
Tinha sete anos.
Lembra de chorar ao se ver
no “Fantástico”: “Me senti tão
importante”. Questionada se
“hábitos narcisistas” teriam
sido nutridos na infância, nega:
“Todo ator é narcisista”. Sempre
tirou notas boas e, se os pais a
tivessem proibido de se manifestar artisticamente, diz que
teria enlouquecido.
Na semana passada, Felipe
e Bruna contaram suas histórias para um público de advogados, promotores e juízes, em
seminário no TRT (Tribunal
Regional do Trabalho) da 2» Região (São Paulo).
Todos concordam que falta
regulamentar a legislação sobre o tema. O problema é como.
Não há consenso sobre em que
casos a carreira infantojuvenil
é danosa.
A jornada pode diminuir o
tempo para brincar, se estender até tarde da noite, prejudicar os estudos e render contratos abusivos para a garotada
‒ que, na prática, “não pode
ter dor de barriga” ou apenas
“não estar a fim de trabalhar
no dia”, diz a advogada Sandra
Cavalcante, autora de “Trabalho Infantil Artístico ‒ do Deslumbramento à Ilegalidade”
(LTr Editora).
O ofício às vezes requer aparato psicológico que nem veterano tem. [...]
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO
RICO
243PRODUÇÃO DE TEXTO
O Barroco no Brasil (II). Ortografia. O artigo de opinião CAPÍTULO 3
6. Observe estes desenhos:
Os três apresentam um ou dois círculos com bordas pretas, indicados
por um fio e uma seta. Considerando todo o infográfico, deduza: Qual
efeito é criado com essa composição?
HORA DE ESCREVER
Uma das características marcantes do mundo contemporâneo é a cultura consumista. Há quem acredite que o desejo de consumo mudou os valores sociais e que, hoje, para muitas pessoas, ter mais, isto é, consumir mais,
significa ser melhor do que quem tem menos, isto é, consome menos.
A visão consumista tem como consequência não apenas a aquisição
compulsiva de mercadorias e bens muitas vezes supérfluos, mas também a
adoção de um modo de alimentação cada vez menos saudável, com o consumo de um grande número de produtos industrializados. Nesse contexto,
é muito comum o desperdício e, consequentemente, uma grande produção
de diversos tipos de lixo.
Em meio a tal situação, têm surgido iniciativas voltadas à diminuição
da produção de lixo. Essas iniciativas envolvem pesquisas e estudos que, na
contramão da mentalidade consumista, procuram resgatar valores de outras épocas ou buscar maneiras de amenizar as consequências do despejo
de lixo no meio ambiente.
Os círculos se associam ao formato de uma
lupa, gerando um efeito de zoom, com detalhes de parte do desenho principal.
Dê continuidade aos
preparativos para a Feira
do conhecimento que
você e os colegas começaram a desenvolver no
capítulo 1 desta unidade,
produzindo um texto de
divulgação científica que
contenha também um infográfico e que explore
o tema do consumo no
mundo contemporâneo.
Robin Jareaux/Getty Images
Scientific American Brasil/5w Infographics
REGISTRE
NO CADERNO
319 O Arcadismo no Brasil (II). Formação de palavras. O texto de divulgação científica (II) CAPÍTULO 3 PRODUÇÃO DE TEXTO
377 MANUAL DO PROFESSOR
PortuguesContemporaneo3_MP_337a384.indd 377 16/05/16 09:13
Por fim, depois de produzir seu texto, o estudante encontrará, na subseção Antes de passar a limpo, instruções sobre como fazer uma avaliação do próprio texto
ou do texto de um colega, caso o professor proponha uma atividade desse tipo.
São aqui lembrados, de forma mais sucinta, os aspectos essenciais do gênero,
apontados na seção Antes de escrever.
Temas e interdisciplinaridade
Na seleção de textos explorados na parte de produção textual, procuramos selecionar aqueles cujos temas estão diretamente relacionados com a esfera pessoal, com o
mundo em que vivemos e com as preocupações e necessidades do jovem atual.
Entre outros, são explorados temas como a adolescência, o amor, a infância,
as redes sociais, o trabalho infantil em atividades artísticas, a velhice, meio ambiente, violência contra a mulher, estupros de adolescentes, consumismo, a reciclagem do lixo, o conflito de gerações, o preconceito, cidadania, direitos do cidadão e do consumidor, publicidade infantil, a imigração no Brasil, o adolescente no
mercado de trabalho, além das múltiplas possibilidades temáticas que surgem
no trabalho com gêneros literários, como o poema, o conto e a crônica, e os temas
do cotidiano presentes em gêneros jornalísticos, como a notícia, a reportagem, a
entrevista, o editorial, a resenha crítica, etc.
Muitos dos temas abordados em produção textual – como a cidadania, a
produção de lixo nas grandes cidades, o preconceito, a discriminação de gênero,
entre outros – são transversais e interdisciplinares e permitem uma abordagem
ANTES DE ESCREVER
Planeje sua crônica, lembrando-se de:
• ter em vista o público para o qual vai escrever: jovens e adultos que se interessam por
leitura e pelo tema;
• decidir o tipo de crônica que quer escrever: reflexiva, sem desenvolver propriamente
uma história; narrativa, com o relato de episódios de sua experiência pessoal, acrescidos de reflexão; ficcional, contando uma história inventada; ou de humor;
• relatar as ações de forma breve e situadas em um tempo e um espaço limitados, caso a
crônica envolva episódios biográficos ou uma história ficcional;
• empregar verbos e pronomes em 1» pessoa, caso você se coloque diretamente no texto
ao expressar suas ideias e reflexões sobre o tema ou ao relatar episódios de sua vida;
• empregar uma linguagem de acordo com a norma-padrão, menos ou mais formal, conforme o perfil dos leitores que pretende atingir.
ANTES DE PASSAR A LIMPO
Antes de dar sua crônica por terminada, verifique:
• se ela corresponde ao tipo de crônica que decidiu escrever;
• se ela aborda o tema de forma original, curiosa e instigante, apresentando uma visão
rica sobre os jovens e adolescentes de hoje e sobre o uso da tecnologia;
• se ela emociona ou faz rir e se sua leitura pode possibilitar uma nova visão sobre o tema;
• caso haja personagens, ações, tempo e espaço, se são limitados;
• se o grau de formalidade ou informalidade da linguagem é adequado ao perfil dos
interlocutores;
• se o foco narrativo é adequado ao propósito da narração (refletir, criticar ou divertir).
378 MANUAL DO PROFESSOR
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sob diferentes pontos de vista. Assim, os projetos de produção textual podem se
tornar também projetos interdisciplinares, contando com a colaboração de professores de outras disciplinas.
Convém que, no planejamento anual e bimestral, esteja prevista a realização
de projetos e que o convite aos professores de outras áreas e disciplinas seja feito
com antecedência, a fim de que eles também possam se organizar e incluir essas
atividades em seu planejamento.
Oralidade e gêneros orais
Os projetos permitem diferentes formas de expressão e interação oral no
âmbito da sala de aula, como debater no grupo estratégias para desenvolver
o projeto, discutir maneiras de divulgação das produções, decidir sobre o suporte dos materiais, etc. Além disso, vários dos projetos implicam o uso da
oralidade em situações de fala pública, como declamar poemas em um sarau
literário, apresentar os trabalhos produzidos pela classe em uma feira ou em
uma mostra de produção textual, instruir oralmente os visitantes sobre como
fazer uma carta de apresentação ou sobre como participar de uma entrevista
de emprego, etc.
Além dessas situações, a obra também se propõe a trabalhar os gêneros orais
públicos, como a representação teatral, o debate regrado, o debate deliberativo, o
seminário, a entrevista falada, os gêneros orais de um jornal falado e a entrevista
de trabalho.
Tanto no trabalho com esses gêneros e situações orais quanto no trabalho
com os gêneros escritos, há o exame da variedade linguística e dos graus de formalidade do discurso mais adequados a cada gênero e a cada situação.
Sugestões de estratégias
para produção de texto
A parte de produção textual inicia-se sempre com a seção Foco no texto, que
exige a leitura de um texto representativo do gênero a ser estudado.
Dependendo do gênero, o professor poderá adotar estratégias diferentes. Se
for um texto longo, poderá pedir aos estudantes que leiam o texto individualmente e em silêncio para, a partir daí, iniciar os trabalhos. Se for um texto de
leitura breve, entretanto, a leitura poderá ser feita em voz alta pelo próprio professor ou por um estudante.
Feita a leitura do texto que servirá como objeto de análise, o encaminhamento
do estudo também poderá contar com variadas estratégias. O professor poderá
promover uma discussão com toda a classe, em torno de cada questão e do texto,
e poderá também dividir os estudantes em pequenos grupos, a fim de que resolvam juntos as questões propostas. Eventualmente, também poderá optar pela
resolução individual das questões.
Do nosso ponto de vista, a alternância de estratégias é conveniente para que
as aulas tenham sempre uma estratégia e uma motivação diferentes.
379 MANUAL DO PROFESSOR
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Na seção Hora de escrever, são apresentadas as propostas de produção textual. É importante que o professor coordene esse momento da atividade, a fim
de tornar claras não só as propostas, mas também as dinâmicas envolvidas. Por
exemplo, dependendo do gênero, algumas produções poderão ser feitas individualmente e outras, em grupo.
Nesse momento, também é normal que, dependendo do projeto a ser desenvolvido, os estudantes precisem se reunir em grupo para tomar algumas decisões, mesmo que, posteriormente, a produção de cada um seja individual.
Quando o estudante iniciar a produção do texto propriamente dita, não há
necessidade de o professor ler com a classe as orientações da subseção Antes de
escrever. Basta que recomende a sua leitura, caso haja dúvidas.
Concluída a escrita do texto, o professor deve recomendar à classe que avalie
o texto seguindo os critérios apresentados na seção Antes de passar a limpo. Essa
subseção deve ser um roteiro de avaliação do próprio texto, com critérios objetivos, a fim de que o estudante o reescreva, se necessário.
Avaliação dos textos
Além da autoavaliação, já mencionada, o professor também poderá lançar
mão de outras estratégias, como promover uma troca de textos entre duplas
ou pequenos grupos de três ou quatro estudantes, a fim de que um leia o
texto do outro e o avalie, segundo os critérios apresentados na seção Antes de
passar a limpo.
Eventualmente, o professor também poderá sugerir a alguns estudantes que
leiam o próprio texto, em voz alta, e pedir à classe uma avaliação baseada nos
mesmos critérios, evidenciando os aspectos positivos do texto e os aspectos que
ainda possam ser revistos.
Considerando que o projeto é o elemento catalisador de todas as atividades de
produção textual, entendemos que a versão e o suporte finais dos textos produzidos são a própria concretização do projeto, seja no formato de um jornal, seja no
de uma revista, de um documentário, de um sarau, etc.
Assim, sugerimos aos professores que avaliem não apenas o texto, do
ponto de vista dos elementos básicos que constituem o gênero, mas também avaliem o processo como um todo, já que o texto, em si, é apenas uma
etapa desse processo.
Quanto à avaliação do professor, lembramos, primeiramente, que avaliação
não é exatamente igual a correção. O conceito de correção está tradicionalmente
associado à ideia de uma correção gramatical e formal do texto (paragrafação,
por exemplo).
A avaliação ocorre em todos os momentos do processo e de diferentes formas.
A principal delas se dá quando o texto está em seu suporte final e no processo
concreto de interação com seus destinatários.
Caso o professor opte por fazer uma avaliação detalhada do texto, sugerimos
que leve em conta os critérios indicados na seção Antes de passar a limpo, que contemplam diferentes aspectos, relacionados à estrutura, à linguagem, à interlocução, ao uso da língua, etc.
380 MANUAL DO PROFESSOR
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Outras seções
Boxes
Os boxes aparecem nas três frentes – Literatura, Língua e linguagem e Produção de texto
– e cumprem diferentes funções. Eles apresentam biografias de autores, artistas e personalidades, curiosidades de uma época e sugestões
de livros, filmes, músicas e sites; trabalham conceitos de literatura e de outras áreas do saber;
ampliam determinados aspectos tratados no
texto-base e relacionam aspectos culturais
e comportamentais do passado e de hoje; e
trazem informações complementares a respeito da gramática. Os boxes enriquecem os
conteúdos trabalhados, uma vez que acrescentam novas informações, aprofundam reflexões e ampliam as referências culturais
dos estudantes.
5. Gonçalves Dias utilizou como epígrafe de seu poema alguns versos
do poeta romântico espanhol José Zorrilla. A epígrafe é uma frase
ou uma pequena citação que pode servir como apoio temático a um
texto. De que modo o poema “Consolação nas lágrimas” se relaciona
à epigrafe?
A segunda geração romântica
Após o amadurecimento da tradição literária nacionalista ocorrida na
década de 1840, o Romantismo brasileiro passou a apresentar nos anos seguintes maior subjetividade, cultivada pelos poetas ultrarromânticos. Os
poetas dessa segunda geração romântica, influenciados por autores europeus, como o inglês Lorde Byron e o francês Alfred de Musset, voltaram-se
para seu mundo interior e tematizaram principalmente o amor, o devaneio,
o tédio e a morte. Tais poetas, na maioria adolescentes que não chegaram
a atingir a plena juventude, distinguiram-se por um profundo pessimismo,
típico do “mal do século”, e pelo desinteresse por questões político-sociais.
Álvares de Azevedo foi o expoente da segunda geração romântica. Além
dele, destacam-se os poetas Casimiro de Abreu, com a obra Primaveras
(1859), Fagundes Varela, com Cantos e fantasias (1865), e Junqueira Freire,
com Inspirações do claustro (1855).
Álvares de Azevedo
A poesia de Álvares de Azevedo tem um significado importante para a
literatura brasileira. Isso porque, além de ter cultivado uma poesia sublime,
elevada, o jovem poeta foi quem inseriu na nossa poesia elementos da realidade cotidiana, considerados, na época, baixos e prosaicos. Essa dualidade
aparece na principal obra poética do autor, a Lira dos vinte anos (1853).
A primeira e a terceira partes dessa obra apresentam o lado idealizado
da vida, regido, segundo Álvares de Azevedo, pela figura do mítico Ariel (espírito leve e diáfano que, em uma peça de Shakespeare, habita o sonho e
o ar). No capítulo anterior, você conheceu a poesia do autor representativa
desse lado sublime, em que há elementos como o ambiente onírico (sonho)
e o devaneio; o amor sublime, platônico, isto é, idealizado; a virgem pálida,
angelical e assexuada que o eu lírico, como um voyeur solitário, apenas observa; a morte como saída para as angústias ou como um meio de alcançar
a plenitude do amor espiritual e eterno.
A segunda parte da Lira dos vinte anos – que você irá conhecer neste capítulo – pertence aos domínios de Caliban (monstro que, na peça de
Shakespeare, simboliza o erótico e o desmazelo). Essa outra face da obra,
representada, sobretudo, pelo poema “Ideias íntimas” e pela série “Spleen
e charutos”, desmitifica os elementos sublimes contidos na primeira parte.
Álvares de Azevedo afirma, no prefácio dessa parte da obra, que o poeta,
“antes e depois de ser um idealista, é um ente que tem corpo” e, por isso,
nos domínios de Caliban, irá retratar também elementos prosaicos, comuns,
da realidade cotidiana. De forma irônica, o autor zomba da figura do poeta
e de sua condição no mundo burguês; questiona seus próprios heróis; troca
a disciplina e o estudo pela indolência e pelo vício; compara a musa inspiradora à fumaça de um charuto; substitui o ambiente etéreo por uma lua
“amarelada”, “vagabunda” e acompanhada por nuvens “cor de cinza”.
Como para o eu lírico o pranto não é amargo e, ao contrário disso, inspira prazer, o
poema dialoga diretamente com a epígrafe, pois, de acordo com os versos do poeta
espanhol, “As lágrimas [...] divertem / Em vez de doer”.
O “mal do século”
A expressão acima começou a ser
empregada entre os autores românticos
europeus, após 1830, para designar a
inadequação do eu à ordem do mundo.
Esse mal-estar existencial se traduziu
em uma produção literária marcada por
um pessimismo profundo, melancolia,
tédio, tristeza e sofrimento.
Os poetas viram nesse momento,
como saída para o desencanto do mundo e como fuga da vida cotidiana, uma
poesia voltada para a imaginação, a
fantasia, o devaneio, o sonho, a nostalgia da infância, o mistério, a noite, a
loucura, o vício e a morte.
A literatura de evasão pelos sonhos
cultivada pelos poetas românticos valoriza um estado mental que, no final do
século XIX, foi bastante explorado por
Freud e depois, a partir da década de
1920, pelos surrealistas.
Álvares de Azevedo
Manuel Antônio Álvares de Azevedo
nasceu em 1831, na cidade de São Paulo. Mudou-se com a família para o Rio
de Janeiro, onde passou a infância e
realizou os estudos básicos. Originário
de uma família abastada, deu continuidade aos estudos em São Paulo, onde
ingressou na faculdade de Direito em
1848. Em sua vida estudantil, além de
se destacar como aluno brilhante, revelou-se um talento literário precoce.
Toda a obra do autor, constituída por
poemas, contos, ensaios, cartas e uma
peça de teatro, foi produzida enquanto
ele cursava Direito. Nesse período, integrou grupos boêmios e participou da
Sociedade Epicureia, associação dos
estudantes de Direito que tinha como
principal fonte de inspiração os textos
literários e o modo de vida do poeta
inglês Lorde Byron.
Em 1852, em decorrência da queda
de um cavalo, morreu aos 21 anos, sem
ter visto sua obra reunida e publicada
em livros.
Biblioteca Nacional
UNIDADE 1 EU E O MUNDO 50
APLIQUE O QUE APRENDEU
Leia as tiras abaixo, de Caco Galhardo, e responda às questões de 1 a 4.
(Folha de S. Paulo, 18/4/2011.)
Aspectos formais e
semânticos do comparativo e
do superlativo
Os graus comparativo e o superlativo
podem apresentar variações sintáticas
e semânticas.
O comparativo pode expressar:
• igualdade: Ela é tão simpática
quanto a amiga.
• superioridade: Ela é mais simpática
do que a amiga.
• inferioridade: Ela é menos simpática
do que a amiga.
O superlativo pode se dar de forma:
• analítica (com o emprego de palavras
como muito, bastante + adjetivo): Ela
é muito simpática.
• sintética (com o emprego de adjetivo
+ sufixo): simpaticíssima.
O superlativo é relativo quando uma
qualidade de um ser é destacada em
relação a outros. Nesse caso, há o emprego de artigo e das expressões mais
... de, menos ... de: Ela é a garota mais
simpática da empresa.
(Folha de S. Paulo, 28/7/2011.)
1. A personagem Lili, da primeira tira, está separada do marido, mas mantém amizade com ele. Levante hipóteses: Por que ela estava entrevistando outras mulheres?
2. Segundo o ex-marido, entre as duzentas mulheres entrevistadas, havia
“loiras lindíssimas, ruivas estonteantes, morenas esculturais”.
a. Quais são os adjetivos empregados na caracterização dessas mulheres?
b. Entre esses adjetivos, apenas um está no grau superlativo. Qual é ele?
c. Do ponto de vista semântico, o emprego do superlativo, no contexto,
confere ao adjetivo que está nesse grau um sentido mais destacado
do que o dos demais adjetivos? Justifique sua resposta.
3. No último quadrinho da tira, Lili responde “Li-xo!”, o que corresponde a:
“Elas são li-xo!”.
a. Por que Lili não gostou de nenhuma das mulheres que entrevistou?
b. Levante hipóteses: Por que a palavra lixo está dividida silabicamente?
c. A palavra lixo é, normalmente, substantivo. No contexto, ela tem esse
valor? Justifique sua resposta.
4. Na segunda tira, a personagem diz que precisam escolher a goleira do
time e “ela tem que ser a mais alta”.
a. Em que grau está o adjetivo alta?
b. A que substantivo se refere a palavra alta: a goleira ou a outro substantivo, não explícito? Justifique sua resposta.
Para escolher uma delas para se tornar namorada ou
mulher do ex-marido.
lindíssimas, estonteantes, esculturais
lindíssimas
2. c) Não, pois os adjetivos estonteantes e esculturais têm um valor semântico tão destacado quanto
lindíssimas, o que ocorre por causa da carga semântica dessas palavras.
3. a) Porque está com ciúme e, por isso, acha que todas são inadequadas.
Para destacar a palavra, sugerindo total desprezo de Lili pelas mulheres.
Não; no contexto, ela tem valor de adjetivo, porque é utilizada para caracterizar as mulheres entrevistadas. Equivale
a dizer que as mulheres são “horríveis” ou “inadequadas”.
Está no superlativo relativo.
Essa informação não está explícita no texto. Pode se referir à goleira mais alta entre as candidatas a goleira
ou pode se referir à jogadora mais alta entre as que foram escaladas para jogar.
Caco Galhardo Caco Galhardo UNIDADE 1 EU E O MUNDO 58
9. Entre os itens a seguir, indique em seu caderno qual não corresponde
a um compromisso que os documentaristas devem assumir com os
participantes do documentário.
a. Manter uma relação ética, em que haja respeito e lealdade entre
quem vai dar o depoimento e quem vai divulgá-lo.
b. Esclarecer que o ponto de vista do filme independe da posição dos
entrevistados.
c. Deixar em aberto a possibilidade de, em um mesmo documentário,
expor opiniões contraditórias ou ideias em conflito.
d. Concordar com tudo o que é dito pelos entrevistados.
10. A seguir estão relacionadas as ações que normalmente se incluem nas
diversas etapas de produção de um documentário.
• definição do tema a ser abordado
• determinação do público-alvo
• pesquisa sobre o tema escolhido
• elaboração de um pré-roteiro, com especificação de cenas, depoimentos e relatos que se deseja captar
• elaboração do contrato ou da declaração a ser assinado(a) pelos participantes do filme
• agendamento das gravações com os participantes do documentário
• gravação de conversas, entrevistas e depoimentos
• conferência dos conteúdos gravados e comparação entre o que se
esperava e o que foi obtido
• captação de cenas e depoimentos faltantes
• elaboração de um roteiro de montagem do documentário, com a descrição detalhada das imagens, das falas e dos créditos a serem colocados no filme
• seleção das imagens mencionadas no roteiro de montagem
• edição em computador das imagens, na sequência e nos formatos
especificados no roteiro de montagem
• conferência e finalização da edição
• exibição do filme ou disponibilização dele na Internet
Indique as ações que fazem parte das etapas:
a. planejamento do filme;
b. preparação e filmagem das cenas;
c. edição do filme;
d. divulgação do filme.
11. Tendo em vista as respostas dos itens da questão anterior, conclua:
Na produção de um documentário, em quais etapas se concentra a
maior parte do trabalho?
X
10. a) definição do tema a ser abordado; determinação do público-alvo; pesquisa
sobre o tema escolhido; elaboração de
um pré-roteiro, com especificação de
cenas, depoimentos e relatos que se
deseja captar; elaboração do contrato
ou da declaração a ser assinado(a) pelos participantes do filme; agendamento
das gravações com os participantes do
documentário
10. b) gravação de conversas, entrevistas e
depoimentos; conferência dos conteúdos gravados e comparação entre o que
se esperava e o que foi obtido; captação
de cenas e depoimentos faltantes
10. c) elaboração de um roteiro de montagem
do documentário, com a descrição detalhada das imagens, das falas e dos créditos a serem colocados no filme; seleção
das imagens mencionadas no roteiro de
montagem; edição em computador das
imagens, na sequência e nos formatos
especificados no roteiro de montagem;
conferência e finalização da edição
REGISTRE
NO CADERNO
exibição do filme ou disponibilização dele na Internet
Nas etapas do planejamento e da edição.
Pesquisar e pesquisar
Normalmente, a pesquisa é
o primeiro grande passo de um
documentário. Mesmo quando o realizador conhece fatos e
personagens, e supõe os aspectos da história que vai contar, é
durante a pesquisa que muito
do que vai ser perseguido nas
gravações vai se delinear. Mas
diferente dos filmes de ficção,
que trabalham com roteiros
bem definidos, o documentário muitas vezes é um na hora
da pesquisa e outro na hora
das gravações. Muitas vezes é
outro na hora da montagem.
[...] O que é importante é que
haja compromissos claros entre os sujeitos e a realidade
retratada, entre o público que
vai assistir e as intenções de
seu autor. É do equilíbrio e do
respeito entre essas forças que
nasce uma obra.
(Eduardo Ramos. Disponível em:
http://nucleodevideosp.cmais.com.br/uma-conversasobre-documentario-3. Acesso em: 20/11/2015.)
Shutterstock
89PRODUÇÃO DE TEXTO
O Romantismo no Brasil (II). O artigo. O documentário CAPÍTULO 3
381 MANUAL DO PROFESSOR
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MUNDO
Empreendedorismo e Internet
Muitos jovens utilizam a Internet hoje em dia não apenas como meio de comunicação
com amigos pelas redes sociais, mas também como meio de trabalho. Alguns deles se tornam referência para milhares de outros jovens, ao disseminar comportamentos e lançar
tendências, fazendo do mundo digital um empreendimento pessoal. Uma pesquisa feita
com 1 êê0 jovens de todas as classes sociais e regiões do Brasil, publicada em 201ê pela
Fundação Telefônica/Vivo, em parceria com o Ibope, o Instituto Paulo Montenegro e a Escola do Futuro da USP, revelou que grande parte deles utiliza a Internet para desenvolver
projetos, realizar inovações, abrir negócios, entre outras possibilidades. Veja, a seguir, na
forma de gráficos, alguns dos resultados obtidos pelo estudo.
TECNOLOGIA
Fundação Telefônica Vivo
1
2
3
7
6
5
4
246 UNIDADE 3 PALAVRAS EM MOVIMENTO
Com base na leitura dos gráficos, troque ideias com os colegas:
1. O perfil dos alunos da classe coincide com o da maioria apontado pela pesquisa?
2. Vocês conhecem algum empreendedor digital? Em qual ramo de atividade ele está envolvido?
3. Alguém da classe já trabalha ou pretende trabalhar com Internet? Como?
(Gráficos disponíveis em: http://fun
dacaotelefonica.org.br/wp-content/
uploads/pdfs/juventude_conectada
online.pdf. Acesso em: 22/9/2015.) Fundação Telefônica Vivo Fundação Telefônica Vivo
247 O Barroco no Brasil (II). Ortografia. O artigo de opinião CAPÍTULO 3
Mundo plural
Esta seção é facultativa nos capítulos e aparece duas vezes em cada volume,
podendo ocorrer na parte de literatura, na de gramática ou na de produção de
textos, indiferentemente.
O objeto desta seção é estabelecer vínculos entre o conteúdo trabalhado no
capítulo e a realidade em que vivemos hoje. Assim, por exemplo, se o texto literário explorado envolve uma questão de ética, apresentamos um texto que discute a ética na política ou na imprensa; se, em produção de texto, o estudante
está trabalhando com gêneros digitais, apresentam os um texto sobre empreendedorismo e Internet; se um texto trabalhado na parte de produção textual
aborda a discriminação da mulher ou do negro na sociedade, apresentamos um
texto sobre o preconceito; ao ser trabalhado o tema do meio ambiente, apresentamos um texto que analisa as relações entre consumo e meio ambiente; e
assim por diante.
Além do texto, sugerimos também um conjunto de questões que servem de
roteiro para uma discussão em torno do texto.
382 MANUAL DO PROFESSOR
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Por dentro do Enem e do vestibular
Esta seção aparece ao final de cada uma das quatro unidades dos três volumes
da coleção e contempla as três frentes – Literatura, Língua e linguagem e Produção de texto. Ela sempre se inicia com uma questão comentada do Enem, a fim
de que o estudante conheça as exigências desse sistema de avaliação e, também,
algumas estratégias para a leitura e a resolução das questões propostas. Além do
Enem, a seção também reúne provas de redação e questões objetivas e dissertativas de diferentes vestibulares do país. Como as propostas de redação e as questões se relacionam com os conteúdos trabalhados na unidade, o professor pode
solicitar aos estudantes que as resolvam à medida que os conteúdos vão sendo
desenvolvidos ou que resolvam esse conjunto de questões quando terminar a
unidade. A resolução também pode ser feita individualmente ou em grupos, na
própria sala de aula ou em casa.
ENEM EM CONTEXTO
Há questões do Enem, nas provas de Língua Portuguesa, nas quais são explorados textos que
estabelecem diálogos com diferentes períodos históricos. Veja como isso ocorre na questão a seguir
e tente resolvê-la.
(ENEM)
Casa dos Contos
& em cada conto te cont
o & em cada enquanto me enca
nto & em cada arco te a
barco & em cada porta m
e perco & em cada lanço t
e alcanço & em cada escad
a me escapo & em cada pe
dra te prendo & em cada g
rade me escravo & em ca
da sótão te sonho & em cada
esconso me affonso & em
cada claúdio te canto & e
m cada fosso me enforco &
ÁVILA, A. Discurso da difamação do poeta. São Paulo: Summus, 1978.
O contexto histórico e literário do período barroco-árcade fundamenta o poema Casa
dos Contos, de 1975. A restauração de elementos daquele contexto por uma poética contemporânea revela que:
a. a disposição visual do poema reflete sua dimensão plástica, que prevalece sobre a observação da realidade social.
b. a reflexão do eu lírico privilegia a memória e resgata, em fragmentos, fatos e personalidades da Inconfidência Mineira.
c. a palavra “esconso” (escondido) demonstra o desencanto do poeta com a utopia e sua
opção por uma linguagem erudita.
d. o eu lírico pretende revitalizar os contrastes barrocos, gerando uma continuidade de
procedimentos estéticos e literários.
e. o eu lírico recria, em seu momento histórico, numa linguagem de ruptura, o ambiente
de opressão vivido pelos inconfidentes.
X
Para a resolução da questão, é importante conhecer a história dos poetas árcades e o envolvimento que tiveram com a Inconfidência Mineira. E também ter conhecimentos a respeito da poesia
concreta, que subverte a forma e realiza experiências com a linguagem.
As afirmações feitas nas alternativas de a a d contêm elementos que não podem ser inferidos
com base nos dados da questão, tais como observação da realidade social, resgate de fatos e personalidades pela memória, desencanto com a utopia e revitalização dos contrastes barrocos.
A afirmação da alternativa correta, a e, por sua vez, é a que tem relação com a solicitação feita
na questão, por mencionar o ambiente opressor vivido pelos inconfidentes, referido no poema em
trechos como “em cada escada me escapo”, “em cada pedra te prendo”, “grade”, “escravo”, “sótão”,
“fosso” e na alusão à figura histórica de Cláudio Manuel da Costa, poeta inconfidente que morreu
enforcado na prisão.
POR DENTRO DO ENEM E DO VESTIBULAR
UNIDADE 4 PALAVRA E RAZÌO 324
QUESTÕES DO ENEM E DO VESTIBULAR
(ENEM) Texto para as questões 1 e 2:
1 Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
4 Pelo traje da Corte, rico e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
7 Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
10 Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
Aqui descanse a louca fantasia,
13 E o que até agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.
Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho.
A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2çç2, p. 78-9.
1. Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e
os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca da relação entre o poema
e o momento histórico de sua produção.
a. Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira
estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou
seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje “rico
e fino”.
b. A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada
pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.
c. O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar uma representação literária realista da vida nacional.
d. A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária que
reproduz a condição histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
e. A realidade de atraso social, político e econômico do
Brasil Colônia está representada esteticamente no
poema pela referência, na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.
2. Assinale a opção que apresenta um verso do soneto de
Cláudio Manoel da Costa em que o poeta se dirige ao
seu interlocutor.
X
a. “Torno a ver-vos, ó montes; o destino” (v. 1)
b. “Aqui estou entre Almendro, entre Corino,” (v. 5)
c. “Os meus fiéis, meus doces companheiros,” (v. 6)
d. “Vendo correr os míseros vaqueiros” (v. 7)
e. “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,” (v. 11)
3. (ENEM)
Manuel Bandeira
Filho de engenheiro, Manuel Bandeira foi obrigado a abandonar os estudos de arquitetura por causa
da tuberculose. Mas a iminência da morte não marcou de forma lúgubre sua obra, embora em seu humor
lírico haja sempre um toque de funda melancolia, e
na sua poesia haja sempre um certo toque de morbidez, até no erotismo. Tradutor de autores como Marcel
Proust e William Shakespeare, esse nosso Manuel traduziu mesmo foi a nostalgia do paraíso cotidiano mal
idealizado por nós, brasileiros, órfãos de um país imaginário, nossa Cocanha perdida, Pasárgada. Descrever
seu retrato em palavras é uma tarefa impossível, depois que ele mesmo já o fez tão bem em versos.
Revista Língua Portuguesa, no
4ç, fev. 2ç.
A coesão do texto é construída principalmente a partir
do(a):
a. repetição de palavras e expressões que entrelaçam
as informações apresentadas no texto.
b. substituição de palavras por sinônimos como “lúgubre” e “morbidez”, “melancolia” e “nostalgia”.
c. emprego de pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos: “sua”, “seu”, “esse”, “nosso”, “ele”.
d. emprego de diversas conjunções subordinativas que
articulam as orações e períodos que compõem o texto.
e. emprego de expressões que indicam sequência, progressividade, como “iminência”, “sempre”, “depois”.
4. (FUVEST-SP) Leia os versos abaixo, pertencentes a uma
cantiga de amigo, do Trovadorismo português.
Ai, flores, ai flores do verde ramo
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
(sabedes = sabeis; u = onde)
Encontre no trecho um exemplo de derivação imprópria.
X
X
amado
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NO CADERNO
325 Por dentro do Enem e do vestibular
383 MANUAL DO PROFESSOR
PortuguesContemporaneo3_MP_337a384.indd 383 16/05/16 09:13
APÊNDICE
Homônimos e parônimos
acender: pôr fogo ascender: elevar-se, subir
acento: inflexão de voz, tom de voz assento: base, lugar de sentar-se
acessório: o que pertence a um instrumento ou máquina;
o que não é principal
assessório: relativo a assessor, isto é, a assistente
caçado: apanhado na caça cassado: anulado
cegar: tornar ou ficar cego segar: ceifar
cela: aposento de religiosos; pequeno quarto sela: arreio de cavalgadura
censo: recenseamento senso: juízo
cessão: ato de ceder sessão: tempo de duração de um espetáculo ou uma reunião
secção ou seção: corte, divisão
chá: bebida preparada com folhas xá: título do soberano da Pérsia
cheque: ordem de pagamento xeque: perigo; lance de jogo de xadrez; chefe de tribo árabe
cível: relativo ao Direito Civil civil: polido; referente às relações entre cidadãos
cocho: recipiente feito geralmente com tronco de árvore coxo: que manca
comprimento: extensão cumprimento: ato de cumprimentar; saudação
concerto: sessão musical; harmonia conserto: remendo, reparo
coser: costurar cozer: cozinhar
deferir: atender, conceder diferir: distinguir-se; adiar
desconcertado: embaraçado, perturbado desconsertado: desarrumado, estragado
descrição: ato de descrever discrição: qualidade de ser discreto
descriminar: inocentar discriminar: distinguir, diferenciar
despensa: compartimento da casa em que se guardam
mantimentos
dispensa: ato de dispensar
despercebido: não notado desapercebido: desprevenido; desprovido
emergir: sair de onde estava mergulhado; vir à tona imergir: mergulhar
emigração: ato de emigrar (sair do país) imigração: ato de imigrar (entrar em um
país para nele morar)
eminente: superior, excelente iminente: que está prestes a acontecer
empossar: dar posse empoçar: formar poça
espectador: aquele que assiste a algo expectador: aquele que tem expectativa
espiar: espreitar expiar: sofrer pena ou castigo
esterno: osso da região do tórax externo: que está fora
estirpe: raiz; linhagem extirpe: forma do verbo extirpar (arrancar, extinguir)
estrato: camada; sequência de um tipo de nuvens extrato: produto resultante de extração
flagrante: evidente, manifesto fragrante: perfumado; aromático
fluir: mover-se de forma contínua fruir: desfrutar
fuzil: arma de fogo fusível: dispositivo utilizado em instalações elétricas
incidente: que incide; episódio acidente: acontecimento imprevisto; formação irregular
relativa ao relevo geográfico
infligir: aplicar ou impor castigo ou pena infringir: transgredir
incipiente: que está no começo; iniciante insipiente: que não tem sabedoria
intenção: propósito intensão: intensidade, força
intercessão: ato de interceder interseção: ato de cortar
laço: nó que se desata facilmente lasso: fatigado, cansado
mandado: ordem judicial mandato: período de permanência em um cargo
330 APÊNDICE
APæNDICE
Formação dos tempos verbais simples
segundo a gramática normativa
Presente do indicativo, presente do subjuntivo
e imperativo
1. Do presente do indicativo deriva o presente do subjuntivo.
• 1ª conjugação: troca-se a vogal final do presente do indicativo por -e.
• 2ª e 3ª conjugações: troca-se a vogal final da 1ª pessoa do presente do indicativo por -a.
1
a. CONJUGAÇÃO 2
a. CONJUGAÇÃO 3
a. CONJUGAÇÃO
PRESENTE DO
INDICATIVO
PRESENTE DO
SUBJUNTIVO
PRESENTE DO
INDICATIVO
PRESENTE DO
SUBJUNTIVO
PRESENTE DO
INDICATIVO
PRESENTE DO
SUBJUNTIVO
conto
contas
conta
contamos
contais
contam
conte
contes
conte
contemos
conteis
contem
vivo
vives
vive
vivemos
viveis
vivem
viva
vivas
viva
vivamos
vivais
vivam
ajo
ages
age
agimos
agis
agem
aja
ajas
aja
ajamos
ajais
ajam
2. Do presente do indicativo e do presente do subjuntivo originam-se o imperativo afirmativo e o imperativo negativo.
PRESENTE DO
INDICATIVO
IMPERATIVO
AFIRMATIVO
PRESENTE DO
SUBJUNTIVO
IMPERATIVO
NEGATIVO
falo
falas/
fala
falamos
falais/
falam
→
→
__________
fala tu
fale você
falemos nós
falai vós
falem vocês
←
←
←
fale
fales
fale
falemos
faleis
falem
→
→
→
→
→
__________
não fales tu
não fale você
não falemos nós
não faleis vós
não falem vocês
340 APÊNDICE
APæNDICE
Análise sintática do período composto
A análise da função que as orações podem exercer nos períodos, também conhecida
como análise sintática do período composto, já teve, no passado, bastante relevância nos
estudos de gramática na escola.
Nos dias de hoje, quando os estudos da língua se voltam mais para as funções sociais
do texto e a adaptação da linguagem a situações de comunicação diversas – isto é, o uso
da língua para produzir e ler textos dos mais variados gêneros de forma adequada e coerente – a análise das orações perdeu prestígio. Alguns de seus conceitos básicos, entretanto, podem auxiliar no estudo de certos tópicos importantes da gramática prescritiva e da
norma-padrão, como a pontuação.
Apresentamos, em caráter complementar e para fins de consulta, as orações coordenadas e subordinadas de nossa língua, segundo a descrição da gramática normativa. Consulte-a sempre que houver necessidade.
Orações coordenadas
São aquelas que possuem independência sintática, ou seja, cada uma delas apresenta
sujeito, predicado e outros termos da oração, sem precisar se ligar a outra oração para
se completar. Podem ser assindéticas, quando se ligam umas às outras sem conjunção, e
sindéticas, quando se ligam por meio de conjunção.
As orações coordenadas sindéticas classificam-se em:
• Aditivas: Estabelecem com a oração anterior uma relação de adição ou acréscimo. As
principais conjunções são: e, nem, que e as locuções não só... mas (também), tanto...
como, etc.
Fui ao banco e paguei todas as contas.
• Adversativas: Estabelecem com a oração anterior uma relação de oposição, contraste,
ressalva. As conjunções mais comuns são: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no
entanto.
Fui ao banco, mas não consegui pagar as contas.
• Alternativas: Expressam alternância ou ideias que se excluem. As conjunções mais
usadas são: ou, ou... ou, ora... ora, quer... quer, já... já, etc.
330 APÊNDICE
Apêndice
O apêndice é uma seção que se encontra ao
final de cada volume, na qual são expostos de
forma direta e objetiva conteúdos específicos da
gramática normativa, tais como listas de palavras
homônimas e parônimas, conjugações verbais,
classificações sintáticas. O apêndice tem por objetivo servir como material de referência, disponível para que os estudantes o consultem quando
julgarem necessário.
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