Revista de Controle Biológico - Gebio - Edição 1

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Revista de Controle Biológico

Distribuição gratuita

ANO 1 | n° 01 | fevereiro de 2022

FUNGO MANIPULA INSETOS E PLANTAS PARA PROMOVER SUA DISSEMINAÇÃO

SELETIVIDADE DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS AOS INIMIGOS NATURAIS

DRONES: Tecnologia Inovadora para Manejo de Pragas de Precisão


O que Os OlhOs nãO veem, O canavial sente. cOntra Os nematOides, a prOteçãO de BiOBac®.

Agora você pode contar com Biobac, a sOluçãO BiOlÓGica da upl que traz produtividade e longevidade para o canavial. É a microbiologia gerando macrorresultados.


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Editorial Gebio Revista de Controle Biológico Fevereiro de 2022

A Revista de Controle Biológico Gebio é a continuação da revista de mesmo nome, mas apresentada como G.bio. Com a agricultura se reinventando todos os dias, com novas descobertas e práticas, o controle biológico de pragas e doenças tem papel de destaque nesse cenário. Com novos produtos biológicos surgindo quase todas as semanas, ultrapassamos 400 marcas comerciais, algo impressionante, visto que em menos de uma década eram apenas sete! O uso de microrganismos sofreu uma revolução nessa década, com as formulações de fungos e bactérias cada vez mais sofisticadas, o que viabilizou o uso de muitos deles e em condições ambientais antes impossíveis. O uso de drones ampliou as áreas com liberações de macrorganismos, especialmente de Trichogramma galloi e Cotesia flavipes em cana-de-açúcar. E a tecnologia de liberação de parasitoides só aumenta o conhecimento, que desmistifica conceitos antigos e errôneos arraigados entre técnicos e agricultores. É, sem dúvida, um caminho sem volta! E nos compete divulgar os conhecimentos que surgem a todo instante para todos que têm interesse, ampliando, ainda mais, o uso dos biológicos no Brasil e no mundo. Que todos tenham uma ótima leitura!

ANO 1 . NÚMERO 1

EDITOR Alexandre de Sene Pinto alexandre@occasio.com.br

ADMINISTRAÇÃO Fabio Bueno fabio@occasio.com.br

VENDAS DE PUBLICIDADE Ligia Rizzo gebio@occasio.com.br

PROJETO E ARTE-FINALIZAÇÃO Senha Assessoria em Comuninação sac@senhaonline.com.br Diagramação Rodrigo Ferreira Iwahashi

FOTO DA CAPA: Percevejo predador em citros Heraldo Negri de Oliveira

GRÁFICA Grupo Saint Edwiges de Artes Gráficas

OCCASIO editora e análises técnicas Ltda-ME Rua do Trabalho, 396 Vila Independência, Piracicaba, SP 13.418-220 Distribuição Gratuita Todo o conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos autores que assinam. Tiragem dessa edição: 2.000 exemplares Dúvidas, opiniões ou sugestões, escrever para contato@occasio.com.br

Quer anunciar? gebio@occasio.com.br

Alexandre de Sene Pinto Editor


Sumário 6

CAMPO GRAVENA

21

PARRA FALA

11

NO CAMPO

23

NO CAMPO

16

PESQUISA

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EMPRESA

19

MANEJO

32

PÓLEN

Artrópodes benéficos em citros sumiram com tolerância zero ao greening

Broca-da-cana: a praga com múltiplas opções de controle

Fungo manipula insetos e plantas para promover sua disseminação

Seletividade de produtos fitossanitários aos inimigos naturais crucial para o sucesso de programas de controle biológico de pragas

Controle biológico de insetos transmissores de doenças o caso de Diaphorina citri por Tamarixia radiata, um novo procedimento

Drones: Tecnologia Inovadora para Manejo de Pragas de Precisão

Os vilões invisíveis da cana-de-açúcar

Abelhas e flores do cosmos: bioindicadores ambientais da diversidade


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Campo Gravena

A

primavera silenciosa da Rachel Carson dos anos 1960 está diante dos nossos olhos em pleno século 21, quando setores ambientalistas estão mais atentos pressionando o agronegócio citros, que para manter suas altas produções (cerca de 300 milhões de caixas por ano) precisaram adotar a “Tolerância Zero” (TZ) ao vetor do greening (FIg. 2), a mais devastadora doença desse século: Psilídeo dos Citros, Diaphorina citri. Acontece, porém, que a doença Greening, também conhecida como HLB (HuangLongBing), é uma bactéria, Candidatus Liberibacter asiaticus que habita e entope o floema, matando a planta cítrica inteira. A “tolerância zero” ao psilídeo com calendários de inseticidas, e a bactéria sendo erradicação, é que permite manter alta a produção brasileira como primeira do mundo, com exportação do suco concentrado para a Europa, Estados Unidos e Japão. A “limpeza” do ecossistema cítrico tem início no plantio com aplicações sequenciais semanais de inseticidas de largo espectro de ação, ainda que se mantenha a nossa recomendação de incluir biodiversidade nas entre-linhas, desde os anos 1980. Durante o tempo de formação que leva 3 a 4 anos, essas aplicações são feitas regularmente seguindo o princípio de tolerância zero ao inseto vetor porque este não dá trégua. Na picada de prova, imigrando dos vizinhos, o adulto já deixa a bactéria iniciando a infecção primária no pomar novo. O inseticida impede isso quase 100%,

Shutterstock

ARTRÓPODES BENÉFICOS EM CITROS SUMIRAM COM TOLERÂNCIA ZERO AO GREENING

Fig. 1. Evento comum nos pomares brasileiros em tempos de greening: predador de pragas dos citros imigrante solitário fêmea Harmonia axyridis depositando ovos entre uma pulverização e outra de inseticida de largo espectro.

quando aplicado semanalmente em calendário, mas como não há muita opção de grupos químicos para rotacionar não se evita a seleção para resistência, tanto para o seu alvo principal que é o próprio psilídeo, como para as demais pragas como o ácaro da leprose, moscas brancas, cochonilhas e lagartas. Felizmente essa seleção sobre adultos isolados, dispersos, esparsos, em processo de migração se torna muito difícil na prática, mas os imigrantes de pomares vizinhos onde já se pulverizou populações de infecção secundária pode ter havido seleção para resistência e o imigrante já chegado no pomar novo pode já estar tolerante ou resistente e como

sobrevivente, no processo de sugamento, introduzindo a bactéria. O mesmo pode ocorrer com os inimigos naturais nessa fase de formação dos pomares. Muito raramente um predador ou um parasitoide imigrante pode vir resistente a inseticidas de vizinhos que se multiplicaram sob calendários sucessivos de inseticidas. O que ocorre é uma total devastação de populações de inimigos naturais (insetos e ácaros benéficos) durante a formação de um pomar em tempos de greening (Fig. 6). Para que um parasitoide ou um predador se estabeleça, obviamente, é preciso ter muitos hospedeiros ou


Campo Gravena

Fig. 2. Vetor do Greening Diaphorina citri Hemiptera: Liviidae)

Fig. 3. Furo no dorso da ninfa do Psilídeo D. citri indicando parasitismo por Tamarixia radiata

várias presas, respectivamente, disponíveis em colônias ou isoladas, de uma praga (tipo psilídeo, pulgões, cochonilha, mosca branca, lagarta mede-palmo, etc) já estabelecidas previamente sobre a planta cítrica. E se essa praga é vetora de um patógeno, este já foi inserido na planta antes da atuação do inimigo natural e já afetou a planta caso esse patógeno for devastador como o Greening. É por esse motivo que os citricultores lançam mão do calendário que normalmente é mensal, mas alguns o fazem quinzenal, e há os que se arriscam a fazer semanalmente. É o chamado de “Tolerância zero ao Psilídeo e à Bactéria”. É não dar chance ao vetor imigrante sobreviver na chegada ao pomar e nem se estabelecer para procriar. Assim, nem o seu parasito principal que é a Tamarixia radiata (Fig. 3, ninfa perfurada) consegue se estabelecer no pomar sob intensa aplicação de inseticidas pois não teria o hospedeiro para a sua reprodução.

O artrópodes benéficos que sumiram

Fig. 4. Larva nova de Harmonia axyridis predando adulto do Psilídeo D. citri.

O silêncio nos agroecossistemas, em especial nos citros, se iniciaram nos anos 1980, mais precisamente em 1987, quando a bactéria habitante do xilema das plantas cítricas era

Fig. 5. Larva nova de H. axyridis predando ninfa do Psilídeo D. citri.

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transmitida pelas cigarrinhas da família Cicadellidae, nativas do Brasil. Esta bactéria já existia em plantas de uva nos Estados Unidos, cujo nome vulgar é Pierces Disease, causado pela bactéria Xilella fastidiosa. Para evitar que esta bactéria aniquilasse pomares inteiros, adotaram já os calendários de pulverizações, que não eram tão intensos porque o patógeno tinha evolução de entupimento dos vasos ascendentemente e com podas poderia evitar a erradicação total das plantas. A primavera silenciosa se radicalizou com a vinda do greening em 2004, com a bactéria já citada acima que entope o floema, portanto é descendente na evolução, sendo então muito mais daninha à citricultura, chegando à erradicações mais intensas mesmo após calendários mais significativos e frequentes de aplicações de inseticidas. Assim, de um sistema em que predominavam cochonilhas de carapaça como escama pardinha, escama parlatoria preta, escama farinha, etc, que agregavam joaninhas como Pentilia egena (Fig. 7) e Coccidophillus citricola como predadores e Aphytis holoxanthus, A. lepidosaphes e A. lingnaneinsis como parasitoides. As cochonilhas sem carapaça Planococcus citri, Praelongaorthezia praelonga, etc, e seu predador principal Azya luteipes (Coleoptera: Coccinellidae). As moscas brancas comuns da-

Fig. 6. Este é o pulgão marrom dos citros, onde em condições naturais as formas em “bolas” são os pulgões fêmeas para-sitadas por parasitoides e as larvas brancas são da joaninha Scymnus spp. Condições: sem calendário de aplicações.


8

Fig. 7

Fig. 7a

Fig. 8

Fig. 8a

Fig. 9

Campo Gravena quela época, Aleurothrixus floccosus, Dialeurodes citri e a, assim por mim denominada, mosca-branca-japonesa, Parabemisia myricae e seus predadores, bicho lixeiro Ceraeochrysa cubana (Fig. 8), Joaninhas Cycloneda sanguinea, Harmonia axiridis, Hipodammia convergens etc. as quais são atraídas por pulgões que não são alvos do manejo, mas são afetadas pelos calendários, deixando de atrair essas joaninhas que são boas predadoras de moscas brancas e principalmente psilídeo ninfas até adultos (Fig.4 e 5). Na parte aérea desapareceram também as aranhas citrícolas Frigga quintensis (Fig. 9), Misumenopis spp. (Fig. 10) e a parente da viúva negra Latrodectus sp. Na parte do solo, nos pomares em que se adotou a TZ, que são todos praticamente, tanto os destinados à indústria como os que vão para o mercado “in natura”, não se encontram mais formigas predadoras de lagartas e larvas de moscas, como as do gênero Pheidole e a lava-pés Solenopsis invicta (Fig.

Fig. 10

11). Também as aranhas predadoras que habitam o solo sob os detritos orgânicos. É a condição que chamamos de desertificação dos agroecossistemas citrícolas. Contribuem para o aumento dos surtos de Bicho Furão e Moscas das Frutas.

Como tentamos retornar o CB no agro ecossistema citros Em meio a pulverizações em calendários fixados mensal, quinzenal ou semanalmente em pomares em produção não haveria lugar tranquilo para liberação de predadores e parasitoides de laboratório, como Trichogramma pretiosum e T. atopovirilia para Bicho Furão ou Tamarixia radiata para Psilídeo do Greening. Então, a forma de entrar o controle biológico no MEPC – Manejo Ecológico de Pragas dos Citros compartilhando com os calendários é entrar com microbiodefensivos nos calendários. Estes, segundo a diretora-executiva da ABC Bio, Amália Borsari, há mais de 200 produtos registrados, volume que cresceu mais de 50% no período de dois anos, 2018 - 2019. A citricultura está começando a adotar os microbiodefensivos para algumas pragas e nós estamos empenhados em difundir a estratégia de emprego do sistema de 2 Manejos sustentados por outro importante manejo que é o fisiológico do greening MFG defendido pela empresa CONPLANT (@ conplant), sob a tutela do Dr. Camilo Medina, Consultor do GCONCI – Grupo de Consultores em Citros, sediados em Cordeirópolis (@gconci).

Adoção dos 2 manejos onde entra Alternância com microbiodefensivos e o MFG

Fig. 11

Para compensar os efeitos da TZ que por muito tempo estará presente nos pomares em função da ameaça constante do greening, enquanto não surgir algo contundente contra


Campo Gravena a bactéria C. Liberibacter asiaticus e para retornarmos integralmente ao MEP, sugerimos adotar aos poucos os sistemas de 2 manejos de pragas reforçados pelo MFG. Este sistema, o MFG, segundo Camilo, condiciona a planta a um reforço fisiológico através de fertilizantes foliares especiais, aplicados com maior frequência, que além de compensar parte da perda de absorção de nutrientes devido à redução do sistema radicular nas plantas doentes, irá permitir melhor circulação de seiva nos vasos, mesmo com a presença da bactéria. Isso se eventualmente essas plantas tiverem sido infectadas porque alguns vetores não foram controlados pelos inseticidas e microbiodefensivos aplicados no sistema de manejo I, por ineficácia devido erros como tecnologia de aplicação, dosagens, por impossibilidade de rotação correta de defensivos como manda o manejo de resistência etc. O Manejo I do Psilídeo – Calendário de 12 aplicações mensais alternados os grupos químicos de acordo com o IRAC Brasil e intercalados ou consorciados com produtos microbiodenfensivos registrados. O Manejo II Ecológico das outras Pragas integrada e sincronizadamente com o Manejo I.

Fig. 12

O Manejo I do Psilídeo e Manejo II Ecológico das outras Pragas Enquanto tivermos que aplicar mensalmente inseticidas para evitar o psilídeo adulto migrante e eventuais psilídeos em colônias se reproduzindo no pomar vindos dos vizinhos, devemos fazê-lo cuidadosamente garantindo a eficácia do controle, mas ao mesmo tempo alternando grupos químicos, modos de ação de acordo com a indicação do IRAC-Br atualizado e intercalados como produtos biodefensivos como os à base de extratos de plantas, Azadiracta indica, e biológicos como o fungo Isaria fumosorosea. Além desses cuidados como o psilídeo, devemos prestar atenção a tomada de decisões de controle biológico e sustentáveis contra outras pragas importantes como o ácaro da leprose, resgatando as nossas indicações dentro do MEP-Manejo Ecológico das outras pragas, mantendo as atividades dos Pragueiros (Fig. 12). No MEP também são aplicáveis atualmente para o Bicho Furão, Gymnandrosoma aurantiana, a liberação do Trichogramma pretiosum e o T. atopovirilia que é mais eficiente contra o ovo do Bicho Furão, segundo informação do Prof.

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Parra (ESALQ/USP). Contra as moscas das frutas a aplicação ecológica é o controle por captura massal pela CERATRAP, um conjunto de atrativos alimentares que atrai as moscas de longa distância para as armadilhas montadas numa densidade de 80 a 120/ha. Com a reintegração do Manejo do Psilídeo com o Manejo das outras pragas ecologicamente estaremos oferecendo à sociedade a produção cítrica de forma sustentável e os inimigos naturais retornarão nos pomares deixando-os de serem protagonistas de “Primavera Silenciosa” evocada por Rachel Carson nos anos 1960. Não veremos mais o esforço daquela joaninha Harmonia migrante botando ovos às “pressas” (Fig.1) pois pode ser morta pelo inseticida que certamente será aplicado para controlar o psilídeo vetor também imigrante da terrível doença que é o Greening (HLB). Aproveitamos também, para finalizar, resgatar e enaltecer o hábito de manter, cultivar a cobertura vegetal nas entrelinhas como tática de incentivar o aumento das populações de artrópodes benéficos no agronegócio citros como atitude de promover o sequestro de carbono numa citricultura sustentável ecologicamente.



No Campo

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BROCA-DA-CANA: A PRAGA COM MÚLTIPLAS OPÇÕES DE CONTROLE Por Alexandre de Sene Pinto

É

plantar cana-de-açúcar e lá vem ela, a broca-da-cana. Praga do mundo ocidental, todos os anos ela é motivo de dor de cabeça para os agricultores e para as Usinas. Essa praga que pertence ao gênero Diatraea, hoje representado por 21 espécies, tem 15 delas no Brasil. Ainda bem que atacando cana só existem duas espécies no nosso país: Diatraea saccharalis, a mais comum, e D. impersonatella, antigamente conhecida como D. flavipennella e abundante em algumas regiões do Nordeste.

Shutterstock

Consultor em Manejo Inteligente de Pragas da Occasio

É uma mariposa de ciclo curto para a cana-de-açúcar, pois numa região onde a temperatura média fica ao redor de 25ºC ela leva cerca de 45 dias desde que um ovo é colocado até atingir a fase adulta.

ovos

lagartas novas

lagartas velhas

pupas (crisálidas)

adultos

5 dias

7 dias

21-24 dias

9 dias

8 dias

• Ovos nas folhas superiores, nas chuvas, e nas inferiores, na seca.

• Ocorrem nas folhas, nas bainhas, e no colmo, na região dos nós.

• Vivem no interior dos colmos.

• Vivem no interior dos colmos.

• Abrem galerias longitudinais e algumas circulares.

• A lagarta abre um orifício grande no colmo antes de pupar, para que o adulto saia depois.

• Posturas com 5-10 ovos nas chuvas e 1-5 na seca.

Ciclo de vida (±25ºC) e hábitos da broca-da-cana.

• Vivem em canaviais e em outras gramíneas. • O macho surge 2 dias antes das fêmeas e estas levam 1-2 dias para começar a ovipositar.


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No Campo

Quando nova, a lagarta fura folhas jovens e ainda fechadas (deixando furos espelhados quando abertas), raspa folhas de todas as idades e perfura o colmo na região macia das gemas. Até entrar no colmo, a lagarta já trocou a pele pelo menos uma vez e cresceu.

Furos espelhados devido a alimentação das lagartas novas em folhas ainda fechadas dentro do cartucho (folha de milho)

Dentro do colmo, a lagarta vai trocar a pele mais quatro vezes e vai causar um estrago tão grande quanto menos fibrosa ou mais suscetível a doenças for a variedade atacada. Uma lagarta bem desenvolvida pode sair e entrar novamente no mesmo colmo ou em outro próximo, pela região superior ou inferior da planta. Na região inferior é mais comum a lagarta reentrar no colmo quando o ambiente está muito quente ou seco. Depois de causar todo o estrago possível dentro do colmo, a lagarta fura a cana e empupa, formando uma pupa (crisálida) perto do orifício de saída, que é bem grande. Em pouco mais de uma semana os adultos começam a emergir, primeiro os machos e, dois dias depois, as fêmeas. Os machos são atraídos pelo feromônio sexual liberado pelas fêmeas do começo da noite até umas 22h. Depois de dois dias de copulada as fêmeas começam a colocar seus ovos em grupos de mais ou menos 10, de um total

de cerca de 700 ovos. Nas bordaduras do canavial as posturas têm mais ovos, provavelmente na tentativa de atrair predadores para esse local. Na seca, as posturas são menores, com cerca de 5 ovos, e são colocadas mais para a parte inferior das plantas, local mais úmido. O período em que a broca-da-cana fica fora do colmo é bem curto e é exatamente o período em que a maioria dos produtos, químicos ou biológicos, é eficaz. São muitos os produtos e as estratégias para o controle da broca-da-cana. A decisão por algum deles dependerá da época de ocorrência da praga, da suscetibilidade das plantas à praga, da presença de culturas ou criações na vizinhança (regiões conhecidas como áreas de restrição), do tipo de manejo que se pretende fazer (biológico, químico ou associando ambos) e até do quanto que se pretende gastar.

0-5

6-8

AVALIAÇÃO DAS ARMADILHAS DEPOIS DE INSTALADAS (DIAS) 9-30 APLICAÇÃO DE PRODUTOS APÓS ATINGIR NÍVEL DE CONTROLE (DIAS)

Clorantraniliprole . Flubendiamida . Clorantraniliprole + Lambdacialotrina . Diflubenzurom

16-30

0-15

3-4

0-2

Trichogramma galloi

5-10

11-30

metoxifenozida + espinetoram . fisiológicos . Beauveria bassiana . Isaria fumosorosea

0-4

5-10

11-15

16-30

INVERNO

0-18 0-25

19-24

28-50 26-34

35-38

VERÃO

25-27

Cotesia flavipes

BOM

39-50

REGULAR RUIM

Período de aplicação de produtos após a constatação do nível de controle em armadilhas de feromônio da broca-da-cana.


No Campo Para quaisquer produtos ou estratégias, o momento de aplicação precisa ser bem definido e respeitado. Hoje, tem-se preferido monitorar a broca-da-cana com armadilhas de feromônio que capturam mariposas machos e permitem um período de controle bem dilatado em relação as técnicas anteriores. A melhor estratégia para as armadilhas de feromônio é trabalhar com blocos de manejo de pelo menos 500 hectares, onde uma armadilha a cada 50 hectares será instalada. As armadilhas ficam uma semana no campo e se 30% delas capturarem pelo menos 10 machos (NÍVEL DE CONTROLE), realiza-se o controle em todo o bloco de manejo. O período de realização do controle da broca-da-cana varia com o produto escolhido. No caso de produtos à base de Bacillus thuringiensis esse período não foi definido, mas deve ser entre 5 e 15 dias após atingir o nível de controle. São muitos os inseticidas, químicos ou biológicos, que podem ser escolhidos para o controle da bro-

ca-da-cana. Dentre os químicos há as diamidas (clorantraniliprole e flubendiamida), o pirazol (fipronil) e os chamados “fisiológicos” dos grupos das benzoilureias (clorfluazurom, diflubenzurom, lufenurom, novalurom, teflubenzurom e triflumurom) e diacilhidrazina (tebufenozida). Também há as misturas de clorantraniliprole + lambda-cialotrina (piretroide), lambda-cialotrina + tiametoxam (neonicotinoide) e metoxifenozida (diacilhidrazina) + espinetoram (espinosina).

OUT ABR

CONTROLE DE INÍCIO DAS CHUVAS E NA SECA No período chuvoso, em outubro-novembro no Sul, Sudeste, Norte e Centro-Oeste e março-abril no Nordeste, a população da broca-da-cana explode, pois vem de um período sem a presença de inimigos naturais. É o período ideal para usar tudo o que tiver de melhor às mãos e mais um pouco, se possível.

O fungo Isaria fumosorosea (hoje mudou para Cordyceps fumosorosea) tem sido muito estudado para o controle da broca-da-cana e tem mostrado excelentes resultados em campo no controle de ovos, lagartas e pupas.

Normalmente se usam os produtos químicos ou biológicos com maiores períodos de ação seguidos de uma liberação de Cotesia flavipes (por volta de 7-10 dias depois do primeiro controle). Ou os mesmos produtos seguidos de um dos fungos destacados. Ou a associação dos químicos de maiores períodos de ação com inseti-

Com tantas opções, é possível desenvolver diferentes estratégias de

PERÍODO SECO

INÍCIO DA INFESTAÇÃO Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte Nordeste

manejo da broca. Nas nossas experiências com consultorias em mais de 60 usinas, algumas estratégias tem se mostrado bem regulares e eficazes. Algumas serão discutidas aqui e que se encaixam em muitas das situações que os produtores de cana-de-açúcar vivem.

Dentre os biológicos, tem o produto à base da bactéria Bacillus thuringiensis var. kurstaki, o fungo Beauveria bassiana e as vespinhas parasitoide de ovos, Trichogramma galloi, de lagartas, Cotesia flavipes, e de lagartas e pupas, Tetrastichus howardi.

PERÍODO CHUVOSO

NOV MAI

DEZ JUN

13

JAN JUL

FEV AGO

MAR SET

ABR OUT

MAI NOV

JUN DEZ

JUL JAN

AGO FEV

Químicos de ação prolongada Trichogramma (3 ou 5 liberações seguidas) Fungos Beauveria ou Isaria Cotesia Químicos “fisiológicos”

Eficácia diminuída

Ação de produtos biológicos ou químicos em diferentes épocas do ano.

Boa eficácia

Menor período de ação

SET MAR


No Campo

cidas fisiológicos ou fungos. No período seco, a ocorrência da broca-da-cana diminui, mas ainda existem infestações a serem controladas. Nesse caso, o uso de inseticidas fisiológicos ou da vespinha Cotesia podem ser boas opções. A microvespa Trichogramma galloi também pode ser usada, sem prejuízo algum ao controle. “Se é bom para a broca, é bom para Trichogramma”, lembre-se sempre disso na hora de decidir pela estratégia.

VARIEDADES SUSCETÍVEIS À BROCA-DA-CANA As variedades mais suscetíveis à broca geralmente são pouco fibrosas. Enquanto em uma variedade com muitas fibras a lagartas consegue perfurar um ou dois entrenós, em uma variedade pouco fibrosa essa mesma lagarta perfura quatro até seis entrenós durante a sua vida. Como não existem produtos que controlem 100% da praga, sobrar lagartas nessas variedades pouco fibrosas é um problema grande.

Shutterstock

14

Para as variedades suscetíveis, a liberação de Cotesia após a adoção de qualquer medida de controle ajudará na manutenção de baixas populações. Não esqueça de calcular quando a vespinha deverá entrar em cena, para não aplicar fora do período ideal de ação dela.

Em áreas vizinhas a agricultores ou pecuaristas que poderiam sofrer com a aplicação de produtos quími-

PERÍODO CHUVOSO

MANEJO QUÍMICO

MANEJO QUÍMICO + BIOLÓGICO

MANEJO BIOLÓGICO

OUT ABR

São muitas estratégias, mas a liberação de Trichogramma galloi por meio de drones é a que garante maior período de ação. Três liberações em semanas seguidas de Trichogramma garante controle por 60 dias da primeira liberação. Se forem realizadas 5 liberações em semanas seguidas, esse período se estende para 120 dias.

ÁREAS DE RESTRIÇÃO E MANEJO BIOLÓGICO

PERÍODO SECO

INÍCIO DA INFESTAÇÃO Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte Nordeste

cos, especialmente quando a aplicação for aérea, não há melhor estratégia do que fazer o manejo biológico da broca-da-cana.

NOV MAI

DEZ JUN

JAN JUL

FEV AGO

MAR SET

ABR OUT

MAI NOV

JUN DEZ

JUL JAN

AGO FEV

Químicos “fisiológicos”

Químicos de ação prolongada

Químicos de ação prolongada

Químicos de ação prolongada

Trichogramma

(3 ou 5 liberações seguidas)

Químicos “fisiológicos” ou Cotesia

Químicos de ação prolongada + fungo

Químicos de ação prolongada + fungo

Químicos “fisiológicos” ou Cotesia

Trichogramma

Trichogramma

(3 liberações seguidas)

Cotesia

Trichogramma

Fungos Beauveria ou Isaria

Cotesia

(3 liberações seguidas)

(3 liberações seguidas)

Ação de produtos biológicos ou químicos em diferentes épocas do ano.

SET MAR


No Campo A aplicação dos fungos Beauveria bassiana ou Isaria fumosorosea são outras boas estratégias, com períodos de ação de 40 a 50 dias, respectivamente. Se chove demais, esse período diminui 10 dias. Apesar desses fungos afetarem lagartas do bicho-da-seda, vale lembrar que ambos existem na Natureza e que criações sem muita limpeza estariam sujeitas a eles de qualquer forma, pois ocorrem naturalmente.

Trichogramma galloi, em todos os possíveis níveis de infestação de ovos da broca-da-cana no Brasil, é de 50.000 parasitoides por hectare, em cada liberação. Se aplicar 100.000 de uma única vez, a eficácia de controle pode cair bastante.

São poucos os técnicos que conhecem de fato como aplicar produtos biológicos. Uma das regras mais importantes é não aplicar nem muito menos e nem muito mais do que a Ciência determina como a quantidade ideal.

É o que acontece com Cotesia flavipes. Nesse caso, a dose varia de 6.000 a 18.000 vespinhas por hectare. Como essa vespinha tem dificuldade de encontrar a broca em infestações menores do que 1.500 lagartas grandes por hectare, a dose a ser liberada é de 9.000 vespinhas. Em infestações entre 1.500 e 5.000, a dose é de 6.000 vespinhas. Em infestações superiores a essa, são duas vespinhas para cada broca encontrada, até o limite de 18.000 parasitoides por hectare.

Como exemplo, a dose da vespinha

Isso também serve para os fungos,

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bactérias e vírus, mas os valores superiores ainda não são bem conhecidos. Em áreas irrigadas continuamente, tem-se a possibilidade de aplicar os fungos ou a bactéria na água de irrigação. Com a vantagem de parcelar bastante a dose a ser aplicada. Mas essas áreas sempre exigem mais atenção, pelo maior ataque da broca-da-cana. É o caso das áreas de bacia de vinhaça e de cana-planta, com plantas mais suscetíveis. Com tantas opções, estratégias de controle não faltam. É sentar-se no escritório e decidir pelas opções melhores para cada situação. Mas lembre-se, não perca o momento correto de aplicação dos produtos escolhidos, pois isso comprometeria totalmente quaisquer estratégias definidas.


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Pesquisa

FUNGO MANIPULA INSETOS E PLANTAS PARA PROMOVER SUA DISSEMINAÇÃO Por Lucas Vinicius Cantori

Doutorando de Entomologia na ESALQ/USP.


Pesquisa

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O fungo

A

podridão-vermelha é uma das mais importantes doenças que acomete o setor sucroalcooleiro. Essa doença gera um prejuízo anual no Brasil na ordem de R$5 bilhões. O causador dessa doença é um fungo chamado Fusarium verticillioides. Durante muito tempo acreditou-se que essa doença estaria ligada aos danos indiretos causados pela lagarta da broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) e por outros danos físicos no caule da planta. O fungo então aproveitaria a porta de entrada e proliferaria no interior dos colmos da planta.

Colmos de cana-de-açúcar com galerias da broca-da-cana e podridão-vermelha.


18

Pesquisa mento até a fase adulta. Uma vez infectadas, as mariposas podem transmitir o fungo para a próxima geração, por meio de seus ovos (transmissão vertical). O interessante é que as mariposas infectadas são mais atraídas pelas plantas sadias. Ao contrário, acontece com mariposas não infectadas, elas têm preferência por plantas infectadas pelo fungo. Esse comportamento aumenta a disseminação do fungo nos canaviais.

Adulto da broca-da-cana.

A pesquisa

Os resultados

Recentemente foi conduzida uma pesquisa na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) que indica uma outra via de infecção desse fungo e que a dinâmica de transmissão é um pouco diferente do habitual. Os pesquisadores descobriram que na verdade é o fungo que atrai o inseto (a broca) e não como se pensava. Segundo os autores, é o primeiro caso com embasamento científico de um fungo entomopatogênico manipulando um inseto (broca) e o hospedeiro (planta) para seu benefício.

Os pesquisadores descobriram, por meio de uma série de experimentos, que as plantas infectadas por F. verticillioides produzem compostos químicos que atraem as fêmeas copuladas da broca. Depois de atraídas, essas fêmeas colocam seus ovos nas plantas infectadas. As lagartas eclodem e penetram os colmos. Dentro dos colmos as lagartas ainda são atraídas pelos compostos produzidos pelo fungo e são estimuladas a se alimentar. Nesse processo, as lagartas são contaminadas e a contaminação passa pelos estágios de desenvolvi-

Habitualmente, os fungos oportunistas não são dependentes de outros organismos para infectar um hospedeiro, basta haver lesões estruturais no hospedeiro para infectá-lo. Ao contrário do que se sabia, a podridão-vermelha não funciona dessa maneira. O fungo F. verticillioides é capaz, por meio de estímulos químicos, alterar as características comportamentais da broca-da-cana e da planta. Lagarta da broca-da-cana.

Segundo as observações dos autores, a infecção do fungo não beneficia diretamente o inseto, pois altera a sua biologia, ao contrário de outras interações planta-inseto-fungo, nas quais o fungo fornece uma qualidade nutricional superior para a prole. Por outro lado, a broca-da-cana alimentada em plantas infectadas pelo fungo, são evitadas pela vespinha Cotesia flavipes. Portanto, para a broca-da-cana, o custo da alimentação de plantas infectadas pode ser compensado pelo fato de serem evitadas pela C. flavipes. Por causa desse mecanismo de manipulação da praga e da cana-de-açúcar, a podridão-vermelha é disseminada rapidamente nos canaviais causando grandes prejuízos anualmente no Brasil. A descoberta do modo de infecção e disseminação do fungo F. verticillioides talvez, no futuro, possa alterar o modo em que se combate essa doença.


Manejo

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SELETIVIDADE DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS AOS INIMIGOS NATURAIS crucial para o sucesso de programas de controle biológico de pragas Por Geraldo Andrade Carvalho e Luis Clepf Passos

O

Brasil é um país de destaque mundial na produção agrícola, principalmente de grãos. As condições tropicais propiciam cultivos durante todo ano, sendo que em algumas regiões podem ocorrer até três safras em um mesmo ano. Entretanto, as condições climáticas favoráveis, aliadas a uma alta disponibilidade de alimento, são extremamente favoráveis ao aumento populacional de insetos pragas, principalmente aqueles que se alimentam de mais de um tipo de planta cultivada (polífagas). Consequentemente, a alimentação destes insetos impacta negativamente a produção agrícola, causando perdas qualitativas e quantitativas nos produtos vegetais e, portanto, esses insetos devem ser controlados. A aplicação de inseticidas sintéticos é a principal tática empregada para o controle de pragas agrícolas no Brasil. Entretanto, o uso indiscriminado desses produtos pode causar diversos efeitos colaterais, como mortalidade de organismos benéficos, contaminação ambiental, ressurgência de pragas secundárias causadas pela extinção de inimigos naturais, seleção de populações de pragas resistentes, entre outros. Sendo assim, é recomendado sempre que possível a utilização de agentes biológicos de

Shutterstock

Depto. de Entomologia, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG

Neoseiulus californicus

controle em programas de manejo de pragas (MIP), seja por meio de preservação de inimigos naturais já existentes nos agroecossistemas ou por liberação inundativa, onde grandes quantidades de insetos são liberadas no campo. O uso de insumos biológicos para o controle de pragas vem aumentando nos últimos anos em todo o mundo. No Brasil, estima-se um aumento de 10 a 15% na utilização de agentes biológicos a cada ano. Os inimigos naturais podem ser microrganismos que são diluídos em água e aplicados como calda inseticida (fungos, bactérias, nematoides e vírus entomopatogênicos) ou macrorganismos (parasitoides e predadores) que

são aplicados em cultivos agrícolas e podem contribuir para a regulação populacional de artrópodes pragas. Dentre os casos de sucesso do uso de inimigos naturais no Brasil destacam-se o ácaro predador Neoseiulus californicus para o controle de ácaros fitófagos; os parasitoides Cotesia flavipes e Trichogramma pretiosum para o controle da broca-da-cana e de outras mariposas. Os inimigos naturais são muito importantes para o sucesso de programas de MIP, podendo em determinados casos, diminuir de forma acentuada as aplicações de inseticidas. O controle biológico com agentes controladores de pragas contribui para a produção agrícola mais


Manejo

sustentável e atende aos anseios dos consumidores, os quais desejam cada vez mais alimentos livres de inseticidas. Entretanto, na maioria dos casos o uso de inimigos naturais deve ser complementado com aplicações de inseticidas. Para que seja possível integrar os métodos químico e biológico no controle de pragas, deve-se optar por inseticidas mais específicos aos insetos causadores de danos e com baixo ou nenhum efeito sobre inimigos naturais. É necessário realizar estudos do impacto dos inseticidas sobre organismos benéficos, visando determinar aqueles que sejam seletivos, ou seja, que matam as pragas e apresentam baixa toxicidade aos inimigos naturais. A seletividade é obtida devido às diferenças fisiológicas e ecológicas entre as espécies de organismos (praga e inimigo natural). Desta forma, tem-se a seletividade fisiológica (devido às características físico-químicas do inseticida), em que o inimigo natural apresenta maior tolerância ao produto em relação à praga-alvo, e a ecológica (relacionada às diferenças de comportamento ou hábitat entre

INÓCUO

INICIAL (laboratório)

pragas e organismos não-alvos), em que a praga é mais exposta ao produto do que o organismo benéfico em agroecossistemas. Em geral, para selecionar compostos seletivos aos inimigos naturais, os experimentos devem ser iniciados em laboratório, onde a exposição dos insetos aos produtos é máxima. Isto se deve ao fato de que em condições de laboratório os insetos ficam expostos durante todo o tempo à ação dos inseticidas e a degradação destes produtos é mais lenta em condições controladas, permitindo que o máximo efeito inseticida seja observado. Desta forma, se um inseticida for considerado inócuo em condições de laboratório, certamente será seletivo também em condições de semicampo e campo. Caso não seja inócuo em condições de laboratório, o produto deve ser avaliado em condições de casa-de-vegetação para confirmar sua toxicidade e também sua persistência. Da mesma forma, se o produto for inócuo nestas condições finaliza-se sua avaliação e, caso contrário, o produto deve ser testado em condições de campo, conforme esquema apresentado na figura destacada.

INÓCUO

INICIAL E/OU PERSISTÊNCIA (Semi-campo)

TÓXICO

TÓXICO

Em suma, a utilização de predadores, parasitoides e microrganismos como fungos, bactérias e vírus é uma realidade no MIP no Brasil. Para que seus benefícios sejam aproveitados ao máximo, estes organismos benéficos devem ser preservados quando estiverem presentes nas lavouras e, se possível, liberados para auxiliar no controle de pragas e reduzir a necessidade de aplicação de inseticidas. Caso ainda seja necessário utilizar inseticidas para o controle de pragas, deve-se dar preferência para inseticidas específicos às pragas e seletivos aos inimigos naturais. O sucesso de programas de controle biológico depende diretamente da utilização de compostos menos impactantes aos organismos benéficos. Foto: Negri

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Trichogramma pretiosum parasitando ovos de Spodoptera frugiperda

INÓCUO

CAMPO

TÓXICO

Esquema da sequência de testes que devem ser realizados para seleção de um produto químico seletivo a um inimigo natural.


Parra Fala

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CONTROLE BIOLÓGICO DE INSETOS TRANSMISSORES DE DOENÇAS o caso de Diaphorina citri por Tamarixia radiata, um novo procedimento Por José Roberto Postali Parra

Departamento de Entomologia e Acarologia, ESALQ/USP.

Foto: Negri

Assim, iniciaram-se os estudos para controlar a praga nestas áreas mencionadas, que, segundo levantamentos realizados, correspondem a 12.000 hectares, no Estado de São Paulo, por meio do parasitoide eulofídeo Tamarixia radiata, referido no Brasil em 2006, em Piracicaba. Após os estudos inter e multidisciplinares da praga e do inimigo natural, chegou-se à possibilidade de criação em larga escala do parasitoide, hoje produzido por biofábricas (10-12) em São Paulo e no Paraná. Ninfas do psilídeo

O

controle de insetos transmissores é difícil, mesmo quando se utilizam inseticidas químicos, desde que quase nunca o controle do vetor chega a ser de 100% e os insetos que sobrevivem irão transmitir a doença. No caso dos citros, onde o HLB ou “greening”, resgitrado no Brasil desde 2004, é a principal doença bacteriana da cultura, transmitida pelo psilídeo Diaphorina citri (um hemíptero que era da família Liviidae e voltou a ser Psyllidae), o controle do vetor é feito com inseticidas químicos ao longo do ano em pomares comerciais. Tais aplicações resultam em alta mortali-

dade dos psilídeos, não evitando, entretanto, a ocorrência da doença em níveis alarmantes. De onde vieram os psilídeos para veicular a doença? Trabalhos de epidemiologia constataram que os focos de contaminação vêm de pomares abandonados (devido à ocorrência do HLB), áreas de murta (Murraya paniculata, planta hospedeira do vetor), áreas orgânicas e áreas de “fundo de quintal” (que abrigam plantas cítricas) nas circunvizinhanças dos pomares comerciais, de onde os insetos infectados podem migrar a distâncias de 1,5 Km.

Os parasitoides hoje fazem parte do Manejo Externo do HLB, ao lado de outras 9 medidas (10 “mandamentos”) recomendados para o controle do “greening”, atendendo às exigências de uma Agricultura Sustentável, que devem ser atendidas por um país exportador de suco de laranja, como o Brasil. Até muito pouco tempo, liberavam-se 400 vespinhas de T. radiata por hectare, seguindo uma recomendação do México, liberação esta feita nas bordas do talhão. Recentemente, em 2019, foi feito um trabalho de Dissertação (Denis Rogério Marin, orientado pelo Dr. Haroldo Xavier Linhares Volpe e coorientado


Parra Fala

pelo Dr. José Roberto P. Parra), onde estabeleceu-se um protocolo para a liberação do parasitoide, já adotado pelo Fundecitrus e por unidades produtoras.

Foto: Negri

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Tal protocolo prevê a liberação de 3.200 T. radiata por hectare, em 56 pontos, com 57 vespinhas por ponto de liberação, considerando-se um raio de dispersão de 7,5 m do parasitoide. Se as plantas (cítricas ou murta) estiverem aglomeradas a uma distância de 7,5 m, deve-se liberar 57 vespinhas por árvore.

Adulto do psilídeo

Foto: Mike Lewis

Os resultados de controle chegam a ser de 75% e existe um estudo de zoneamento da praga e do inimigo natural, baseando-se em brotações (local de postura de D. citri) e nas exigências térmicas e hidrométricas do ambos e nele definiram-se os períodos do ano favoráveis à liberação do parasitoide, considerando-se a presença da praga (devido às brotações) e a coexistência da praga e do inimigo natural. Um aplicativo em desenvolvimento poderá favorecer a utilização do parasitoide pelo agricultor no Estado de São Paulo, indicando as épocas mais favoráveis para a liberação (ver esquema). Trata-se de um novo procedimento em controle biológico a ser seguido pelo mundo científico.

Meses adequados e inadequados para a liberação de Tamarixia radiata no Estado de São Paulo (GARCIA; DINIZ; PARRA, 2019).

Parasitoide Tamarixia radiata

GARCIA, A.G.; DINIZ, A.J.F.; PARRA, J.R.P. A fuzzy-based index to identify suitable areas for host-parasitoid interactions: case study of the Asian citrus psyllid Diaphorina citri and its natural enemy Tamarixia radiata. Biological Control, n.135, p.135-140, 2019.


No Campo

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DRONES: TECNOLOGIA INOVADORA PARA MANEJO DE PRAGAS DE PRECISÃO Por Fernando H. Iost Filho

Shutterstock

Engenheiro Agrônomo, Mestre em Entomologia

P

odemos dizer que surtos de artrópodes pragas (insetos e ácaros) são imprevisíveis na lavoura, tanto em relação à época de sua ocorrência, quanto em relação ao local de sua ocorrência na lavoura. Ainda mais, sabemos que, em grande parte dos casos, a distribuição das populações de pragas não é totalmente uniforme no campo. Apesar disso, para um manejo adequado, é necessário que tenhamos o conhecimento da distribuição de pragas, a fim de subsidiar a tomada de decisão quanto às estratégias de manejo

a serem implementadas. Portanto, o monitoramento precoce de populações de pragas é de extrema importância, ou seja, conhecer sua distribuição antes que ocupe toda lavoura. Contudo, nesse sentido esbarramos em algumas dificuldades, como o tempo e a mão-de-obra demandada para o monitoramento de pragas, principalmente em grandes áreas. E a situação se torna ainda pior quando consideramos que algumas espécies de pragas em certas culturas não dispões de nenhuma técnica confiável de amostragem.

Para minimizar as dificuldades enfrentadas no monitoramento de pragas, a tecnologia da agricultura de precisão oferece imensas oportunidades para o Manejo Integrado de Pragas (MIP). A convergência entre essas duas áreas resultou no que conhecemos como Manejo de Pragas de Precisão, o qual é baseado no monitoramento de populações de pragas utilizando tecnologias de agricultura de precisão, como o Sensoriamento Remoto espectral, e, na entrega de solução localizada, como pulverização dirigida ou liberação di-


No Campo

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recionada de inimigos naturais.

dores ou dispensers (liberadores).

Vale ressaltar que no Manejo de Pragas de Precisão, as bases do MIP não são deixadas de lado. Da mesma forma, a figura humana não é menosprezada, de modo que as funções empregadas passam por grandes transformações. O profissional do monitoramento deixa de ser aquele que entra na lavoura à procura das pragas, passando a ser aquele que analisa dados da lavoura obtidos de maneira remota, transformando-os em informação para a tomada de decisão.

Existem duas classes distintas de drones quanto ao seu funcionamento, os de asa fixa (figura 1a), e os multirotores (Figura 1b). Cada um deles tem suas próprias vantagens e limitações, e ambos podem ser utilizados na agricultura, de modo que a escolha por um ou outro depende dos objetivos que se deseja alcançar. Drones de asas fixa geralmente são utilizados em áreas maiores, voando a grandes altitudes, tendo como vantagem essa maior cobertura de área em menor período. Por sua vez, os drones de asa rotativa permitem manobras rápidas e precisas, sendo ideais para monitoramento de áreas menores e irregulares. Ainda mais, a capacidade de manobra faz com que drones de asa rotativa sejam os escolhidos para finalidades de pulverização e liberação de inimigos naturais.

Uma das tecnologias essenciais para implantação de projetos de Manejo de Pragas de Precisão são os drones. Esse é nome comum para os veículos aéreos não-tripulados, ou seja, remotamente pilotados. Por ser um veículo, a funcionalidade dessa ferramenta depende de acessórios acoplados ao mesmo, como sensores, pulveriza-

O monitoramento de lavouras com

Figura 1

a) Drone DJI Phantom 4 PRO V2.0. Fonte: www.dji.com.br;

b) Drone Sensefly Ebee. Fonte: www.sensefly.com.

utilização de sensoriamento remoto espectral é baseado em medidas de reflectância da vegetação em diferentes comprimentos de luz. Em outras palavras, utilizamos diferentes sensores para registar a energia solar que atinge as plantas e, não sendo absorvida, é refletida para a atmosfera. Posteriormente, buscamos relacionar alterações no comportamento típico de reflectância foliar com problemas fitossanitários, como infestação de pragas. Se comparado com outras plataformas, como terrestres e orbitais, o sensoriamento remoto aéreo apresenta muitas vantagens, como maior cobertura de área em relação ao sensoriamento terrestre, e, maior resolução espacial em relação ao sensoriamento orbital. Ou seja, é uma tecnologia que permite um monitoramento rápido e preciso. Diversos estudos recentes indicam que monitoramento de lavouras com sensores embarcados em drones é eficiente em uma ampla gama de culturas e pragas, como ácaros em algodão, pulgões em canola e sorgo, tripes em cebola, lagarta-do-cartucho em trigo, entre outros. Vale ressaltar que, conforme apontado anteriormente, as vantagens de cada tipo de drone foi discutida, uma vez que alguns desses trabalhos utilizaram drones de asa fixa, e outros, multirrotores. Ainda no sentido de adoção do Manejo de Pragas de Precisão, enfatizamos que não basta monitorar a lavoura e encontrar focos de infestações de pragas. Conhecendo os focos de pragas, as famosas reboleiras, faz sentido entregar soluções com precisão, apenas nesses focos. Para tanto, podem-se utilizar drones com pulverizadores ou liberadores de inimigos naturais para levar o controle apenas ao local necessário. Essa lógica é o que baseia a transição de um ciclo aberto de utilização de drones, em que seriam utilizados apenas


No Campo para monitoramento, para um ciclo fechado, no qual esses veículos são utilizados na etapa de monitoramento e na etapa de entrega de solução (Figura 2). Para tanto, é necessário que a informação do monitoramento seja processada e transformada em mapas digitais, que serão enviados aos drones de atuação, guiando a operação.

milho, algodão e florestas cultivadas.

No Brasil, existem fortes argumentos que uma das grandes responsáveis pelo aumento expressivo na utilização de controle biológico com macrorganismos foi a adoção de técnicas de liberação baseadas em drones. Hoje, esses equipamentos são utilizados em milhões de hectares de culturas extensivas, como cana-de-açúcar, soja,

Quanto à pulverização, pensando na integração de táticas de manejo, os drones podem ser utilizados para aplicações tanto de defensivos químicos, quanto microbiológicos. Vale lembrar que aplicações com drones devem ser direcionadas para situações específicas, como áreas com declividade que impede pulverização tratorizada, cul-

Dentre os principais agentes de controle utilizados nessas liberações, destacam-se parasitoides, principalmente dos gêneros Trichogramma, Cotesia e Telenomus. Além dos parasitoides, existem relatos de utilização de drones na liberação de predadores, como crisopídeos, por exemplo.

a

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turas de alto valor agregado, ou aplicações localizadas em áreas extensas. Dessa forma, podemos concluir que os drones devem ser vistos como um veículo, assim como os carros e os tratores, de modo que sua utilização no Manejo de Pragas de Precisão varia de acordo com os acessórios acoplados ao mesmo. Vale lembrar também que essa é uma tecnologia muito recente, que, com certeza, tem muito a evoluir, passando a ser presença garantida nas lavouras brasileiras.

Para saber mais, acesse: IOST FILHO, Fernando H. et al. Drones: innovative technology for use in precision pest management. Journal of Economic Entomology, v. 113, n. 1, p. 1-25, 2020

b

Lavoura

Lavoura

Drone de monitoramento

Mapa digital de infestação

Drone de atuação

Drone de monitoramento

Mapa digital de infestação

Figura 2. a) Estado da arte do paradigma do sensoriamento remoto de ciclo aberto. b) Sensoriamento remoto de ciclo fechado, com utilização de drones para detecção dos pontos de infestação e para entrega de soluções com precisão. Fonte: Adaptado de Iost Filho, F. H. et al. (2019).


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Empresa

OS VILÕES INVISÍVEIS DA CANA-DE-AÇÚCAR Por Alexandre de Sene Pinto

São muitos os problemas que os canaviais brasileiros vêm enfrentando nos últimos anos. Seca e geadas interromperam grandes progressos que os canaviais estavam alcançando em todo o país, em uma grande recuperação com investimentos em insumos e equipes. Mas além desses problemas, as pragas de solo têm deixado os agricultores e equipes de Usinas preocupados, pois, apesar dos altos investimentos em produtos e equipamentos, os resultados não têm sido os esperados. Dentre as pragas de solo, os nematoides fitopatogênicos estão entre os mais importantes, levando entre 4050% da produtividade quando em altas infestações. Os nematoides-das-galhas, Meloidogyne incognita e M. javanica, são os mais danosos à cultura, mas ocorrem em menores quantidades quando comparados ao nematoide-das-lesões, Pratylenchus zeae, e que, por isso, acaba por causar perdas mais frequentes. O nematoide Pratylenchus brachyurus também é muito comum em amostras de solo, mas pouco se conhece sobre ele e seus possíveis danos à cultura. Para diminuir a pressão populacional desses nematoides, pode-se utilizar de variedades tolerantes, visto que resistentes não existem para essa cultura, rotação com plantas não

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Consultor em Manejo Inteligente de Pragas da Occasio


Empresa Ciclo de vida (ovo-adulto) (dias)

terminado tempo e esse tempo normalmente é fatal para aqueles que estavam malnutridos. Os nematicidas químicos mais modernos são realmente “cidas” e afetam o desenvolvimento e reprodução dos principais nematoides.

Ovos por fêmea

21-30 Meloidogyne

ovo

adulto

400

21 Pratylenchus

ovo

adulto

50-80

Ciclo de vida e fertilidade de fêmeas dos nematoides mais comuns em cana-de-açúcar.

hospedeiras ou plantas armadilhas/ antagonistas, como algumas crotalárias, e vinhaça e outras fontes de matéria orgânica.

tivo dos nematoides, tem-se os ne-

Mas para o controle realmente efe-

paralisa os nematoides por um de-

maticidas químicos e biológicos. A maioria dos nematicidas químicos na verdade é nematostática, ou seja,

Ocorrência

Menos do que os mais antigos, os nematicidas químicos ainda continuam tóxicos aos humanos e ao ambiente, o que certamente é um fator a ser levado em consideração. E para quem precisa administrar a quantidade de princípios ativos que entrará no manejo fitossanitário da Unidade Agrícola, esse problema, apesar de menor, continua a existir. Os nematicidas biológicos vêm dominando o mercado agrícola nos últimos anos, pois além de não serem tóxicos aos humanos, têm baixíssi-

Prejuízos

Dificuldade de controle

Meloidogyne incognita

Meloidogyne javanica

Pratylenchus brachyurus

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?

Pratylenchus zeae

Escala de intensidade Escala de ocorrência, prejuízos e dificuldade de controle das principais espécies de nematoides que ocorrem em canaviais do Brasil.


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Empresa Pode ser melhorado em sistemas controlados e muito limpos

Características Qualidade Presença do microrganismo desejado

“On-farm” Nem sempre boa Nem sempre

Produto formulado Sempre alta Sempre

Contaminação

às vezes é alta

Muito baixa

Horário de aplicação

Final da tarde

Sem restrição

Umidade do ar

Acima de 70%

Sem restrição

Tempo de produto na calda (horas) Dose

4-6 Muito Variável

8-72 Pouco variável

Desde que haja sombra no solo ou por entre as folhas

Pode ser até maior, mas depende de tanque térmico

Todo lote produzido precisa ter a concentração do produto conhecida

Produtos à base de microrganismos “on-farm” em comparação aos formulados.

mo impacto para outros seres vivos e para o meio ambiente. Além disso, todos ocupam o espaço do solo onde poderiam desenvolver os nematoides e muitos melhoram a resistência das plantas aos nematoides, pragas e doenças e aumentam a quantidade de radicelas superficiais e de raízes profundas. Os produtos biológicos da atualidade são muito superiores àqueles de dez anos atrás, pois hoje há menor necessidade de unidades vivas (conídios, bactérias etc.) por volume de produto devido à formulação eficaz, precisa e sofisticada. As empresas idôneas que comercializam esses produtos dominam a tecnologia de formulação, fazendo com que as unidades vivas estejam mais protegidas dos fatores ambientais adversos, que sejam mais bem fixadas no alvo e mais bem misturadas à calda, entre

tantas outras melhorias. Esse é um dos motivos dos quais os produtos formulados são muito superiores àqueles produzidos na própria fazenda, chamados de “on-farm”. Os produtos biológicos “on-farm” podem até ser de boa qualidade e conter realmente o que se acredita conter, mas nunca terá a performance de um similar formulado. Um “on-farm” necessariamente precisa ser aplicado no final do dia ou à noite, com umidade relativa do ar superior a 70% e a calda não pode ficar preparada muito tempo antes do uso (no máximo entre 4 e 6 horas). Além disso, a dose de produto biológico é essencial não só para uma boa eficácia de controle, mas para garantir algum controle de nematoides, pragas ou patógenos que causam doenças em plantas. A faixa ideal de

dose normalmente é estreita. Por isso, os produtos “on-farm” precisam ter a concentração de unidades vivas (atualmente sendo chamada de UFC = unidades formadoras de colônias) calculada para cada lote produzido na fazenda, para que uma dose pequena demais ou exagerada não seja aplicada. Como exemplo, tem-se a bactéria Azospirillum brasilense, utilizada como fixadora de nitrogênio atmosférico e como bioestimulante. Para um produto com concentração de 2x108 UFC mL-1, as doses a serem aplicadas por hectare estão entre 200 e 700 mL. Se aplicar menos do que 200 ou mais do que 700 mL, dependendo da variedade de cana-de-açúcar, não há resposta da planta ao produto. Existem alguns microrganismos que


Empresa têm ação nematicida ou que alteram a biologia dos nematoides. Alguns fungos, como os dos gêneros Pochonia, Paecilomyces e Trichoderma, e bactérias, como as do gênero Bacillus, são os mais comuns e comercializados no Brasil.

nis no solo, assim como o número de ovos. Vale lembrar que a casca dos ovos e a pele externa e do interior do intestino do nematoide tem quitina. Mas existem outras substâncias produzidas por B. subtilis que diminuem a ocorrência de juvenis no solo.

Existem mais do que 300 espécies de Bacillus identificadas no mundo, mas apenas cerca de seis delas são comercializadas no país. Bacillus subtilis é a mais comum e a mais encontrada nos solos. É uma bactéria que é chamada de “multiuso”, pela versatilidade de substâncias que produz, com diferentes funções.

Não é diferente o que acontece na cultura da cana-de-açúcar, onde há diminuição de juvenis de Pratylenchus zeae e Meloidogyne spp.

Essa bactéria é conhecida pelo crescimento vegetal que promove, pelos microrganismos que causam doenças em plantas que controla e pelos nutrientes que disponibiliza para as plantas. No controle de nematoides, a produção de quitinases pela bactéria inibe a eclosão dos nematoides de seus ovos e reduz a quantidade de juve-

Recentemente a UPL lançou um produto biológico formulado para o mercado canavieiro, o Biobac. Esse produto é uma formulação da bactéria Bacillus subtilis com o diferencial de apresentar a validade bastante longa. Isso por causa da formulação desenvolvida. O Biobac surgiu inicialmente para o controle da ferrugem-do-cafeeiro, mas logo se mostrou interessante para o controle de nematoides e estreou no setor canavieiro no controle dessas pragas. As bactérias revestem as raízes e as

Número de nematoides

3000 2500

2507

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radicelas da cana-de-açúcar com um filme biológico (biofilme) e consomem os exsudatos produzidos, que impede a localização das raízes pelo nematoide, levando-os à morte. Há produção de substâncias nematicidas, nematostáticas e que alteram a biologia dos nematoides. Algumas dessas substâncias induzem à resistência sistêmica da planta aos nematoides e algumas doenças, promovem o crescimento vegetal e até solubilizam o fósforo, tornando-o disponível para a planta. Fazendo tudo isso, o produto diminui as populações de nematoides e melhora a performance da planta em acumular sacarose. O controle biológico de nematoides na cana-de-açúcar é um caminho sem volta e vai substituir os químicos obsoletos a médio prazo. O Biobac, com sua durabilidade e eficácia, surge como um aliado importante para a cana-de-açúcar e para o produtor moderno, conectado com o mundo novo.

Testemunha

Biobac

B. subtilis + B. licheniformis

Carbossulfano

2000 1500 1000

580

500 0

0

0

0

0

Raízes (50g)

0

0

Solo (1L)

Amostras

Número médio de nematoides por amostra após um ano do tratamento em sulco de plantio de cana-de-açúcar da variedade IACSP-962042. Jandaia, GO, 2020.


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Pólen

ABELHAS E FLORES DO COSMOS: BIOINDICADORES AMBIENTAIS DA DIVERSIDADE Por Por Darclet Teresinha Malerbo-Souza

Departamento de Zootecnia Apicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco

E

stima-se que haja mais de 20 mil espécies de abelhas no mundo e mais de 3.000 espécies no Brasil. Por outro lado, existem cerca de 250.000 espécies de angiospermas e, grande parte destas, depende de insetos para a polinização de suas flores e, consequentemente, para sua reprodução. A polinização é um serviço ecológico chave para a manutenção e a conservação dos ecossistemas. Os polinizadores primários da maioria das plantas são, principalmente, as abelhas, fornecendo serviços ecossistêmicos vitais para as culturas e comunidades de plantas nativas. Por isso, a manutenção das abelhas é de tamanha importância para a conservação dos mais variados habitats. Sem a polinização não seria possível que as plantas se reproduzissem e garantissem tanto o crescimento, quanto a sobrevivência, da vegetação nativa, consequentemente não produziriam as sementes e frutos, afetando a produção alimentícia. As abelhas visitam as flores das mais variadas plantas, para coletar o pólen, como uma fonte de proteína, vitaminas, minerais e lipídeos, e o néctar para a produção de mel, que é responsável pelo fornecimento de carboidratos e energia. As abelhas se beneficiam do alimento oriundo das flores; as plantas se beneficiam por dar continuidade à reprodução e o agricultor se beneficia porque, através da polinização dos cultivares, geram-se frutos de melhor qualidade, maiores, mais pesados, e, por conse-

guinte, de maior valor. Contudo, há aumento acelerado de destruição ambiental, colocando em risco de extinção diversas espécies no Brasil e no mundo, sendo ameaça para a manutenção da biodiversidade. No Brasil, as abelhas sem ferrão, também chamados de meliponíneos, são responsáveis por 40 a 90% da polinização das espécies silvestres de ambientes tropicais, sendo de fundamental importância e podendo atuar como bioindicadoras da qualidade ambiental. Uma das espécies vegetais que atraem muitas espécies de abelhas é o cosmos (Cosmos sulphureus). É pertencente ao gênero Bidens, família Asteraceae, se destacando pela facilidade de dispersão e adaptação. Já foi constatado que essa planta possui efeito alelopático inibitório sobre outras ervas daninhas, sendo alvo de diversos estudos para avaliação de sua importância do controle de espécies em ambientes rurais. É uma planta herbácea anual, originada da América do Norte e foi introduzida no Brasil como planta orna-

mental. É caracterizada por ser muito ramificada e florífera, podendo atingir até dois metros de altura, se propagando apenas por sementes. As flores do cosmos podem assumir coloração amarelo, alaranjada e arroxeada, com inflorescências do tipo capítulo (flores pequenas organizadas em espiral sobre a base/receptáculo). Possuem estruturas semelhantes às pétalas, mas que são estruturas que compõem a corola ligulada, que atrai polinizadores no geral, destacando-se as abelhas. O cosmos é muito comum tanto em áreas urbanas quanto em áreas agrícolas. Floresce o ano todo, apresentando florada vigorosa, e grande capacidade de dispersão devido à presença de sementes com pápus plumosos e estruturas de aderência. O pólen é fornecido exclusivamente por flores do capítulo cujas anteras estão fundidas em um tubo. Depois de deiscência da antera, os grãos de pólen maduros liberados se acumulam dentro deste tubo. Insetos podem forragear esse pólen somente depois de ter sido empurrado para fora do tubo estaminal pelos estigmas. Este mecanismo de apresentação de pólen é típico para representantes da Asteraceae.

Figura 1. Fases da formação dos capítulos contendo as flores de cosmos (Cosmos sulphureus), desde botão até formação de sementes.


Pólen São observadas várias espécies de abelhas coletando néctar e pólen, nas flores do cosmos. Dentre elas, espécies da família Halictidade: Pseudaugochloropsis graminea e Augochlora sp., abelhas solitárias Megachile rotundata, Xylocopa frontalis, X. griscenses e Bombus atratus, abelhas sem ferrão Plebeia remota, Trigona spinipes, Melipona scutellaris, M. fasciculata e abelhas africanizadas Apis mellifera. A abelha Ceratina sp. é observada, porém, em número reduzido. Espécies de lepidópteros, dípteros e vespídeos utilizam o néctar das flores como recurso alimentar. No geral, as abelhas visitam as flores do cosmos das 7h00 às 17h00, sendo mais frequentes entre 7h00 e 12h00. Nas flores, temos abelhas da família Halictidae que é uma das mais diversificadas, no Brasil, e apresentam brilho metálico verde, azul, avermelhado ou mesmo negro. Como exemplos de espécies bastante comuns e bem distribuídas, tem-se a Pseudaugochloropsis graminea e Augochlora sp.

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Chamada de abelha cortadora de folhas, a abelha solitária M. rotundata é europeia e foi introduzida em várias regiões do mundo. Por ser uma espécie solitária, não constrói colônias nem armazena mel, mas é um polinizador muito eficiente de alfafa, cenoura, outros vegetais e algumas frutas. Seus ninhos são forrados com folhas cortadas.

dutos (mel, pólen, geoprópolis) devido ao seu hábito de coletar fezes e materiais em putrefação para a construção de seus ninhos. Mas, essa abelha é muto frequente nas flores de diversas plantas, sendo considerada supergeneralista, e é polinizadora do chuchuzeiro, por exemplo.

Figura 4. Abelha Megachile rotundata coletando pólen

Figura 6. Abelha irapuá (Trigona spinipes) coletando pólen

A abelha sem ferrão mirim Plebeia remota visita as flores para coleta de pólen. Essa abelha, pertencente ao grupo dos meliponíneos, pode ser utilizada comercialmente. Seu mel tem propriedades medicinais, de acordo com a cultura popular. É pequena, tímida e não defensiva. Produz própolis de consistência muito gosmenta, acumulada em montículos, e usada quando ameaçada, para imobilizar e empastelar os invasores. Pode ser usada na polinização de pepinos, dentro de estufas.

A abelha sem ferrão uruçu nordestina Melipona scutellaris, também chamada de “uruçu” ou “uruçu-verdadeira”, é considerada a espécie de Melipona criada pelo homem com a maior distribuição nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, com registros do Rio Grande do Norte até Bahia. Seu nome comum vem do idioma Tupi “eiru su”, que na língua indígena significa “grande abelha”. Seu mel tem sabor agradável, menos doce que o mel das abelhas africanizadas e é uma abelha muito dócil, de fácil criação. A M. fasciculata, conhecida como uruçu cinzenta, também foi observada nas flores do cosmos. Essas duas espécies de melíponas coletaram néctar nessas flores.

Figura 2. Abelha Pseudachloropsis graminea coletando pólen, pelas escopas abdominais

Figura 5. Abelha mirim (Plebeia remota) coletando pólen

Figura 3. Abelha Augochlora sp. coletando pólen

As abelhas irapuás Trigona spinipes são observadas coletando pólen das flores do cosmos. Essa abelha pertence ao grupo dos meliponíneos, entretanto, não se utiliza seus pro-

Figura 7. Abelha uruçu nordestina (Melipona scutellaris) coletando néctar


34 quando comparada com a alta biodiversidade de espécies vegetais no ambiente urbano, uma vez que as espécies da paisagem rural comumente se associam à agricultura, silvicultura e pecuária.

Figura 8. Abelha uruçu cinzenta (Melipona fasciculata) coletando néctar

Figura 11. Abelha africanizada Apis mellifera coletando pólen

As abelhas mamangavas Xylocopa frontalis, X. griscenses e Bombus atratus foram observadas coletando néctar nas flores do cosmos, mas em menor número comparado com as outras espécies.

Quando espécies de abelhas são abundantes em determinada espécie vegetal indica ambientes preservados. Estudos têm mostrado que as cidades poderiam ser reservatórios de polinizadores, com maior biodiversidade de insetos, em comparação com o campo. Alta diversidade de espécies de plantas é característica de várias áreas urbanas. Riqueza de espécies de plantas geralmente aumentam nas cidades em comparação com áreas naturais. Portanto, as áreas urbanas são favoráveis aos polinizadores silvestres. O aumento da riqueza vegetal nas cidades acontece usando espécies de plantas ornamentais nativas e estrangeiras, em paisagismo e jardinagem.

Figura 9. Abelha mamangava (Xylocopa griscenses) coletando néctar

Ceratina sp. (Apidae: Xylocopinae: Ceratinini) são abelhas pequenas e solitárias que, apesar do tamanho e são amplamente distribuídas pelo mundo. Recentemente, foi identificada uma nova espécie de Ceratina (Ceratina fioreseana) em fazenda de Goiás (Oliveira et al., 2020).

Figura 10. Abelha Ceratina sp. coletando pólen

Além disso, mais recursos florais para as abelhas urbanas podem ser alcançados encorajando o crescimento de plantas apícolas ornamentais em jardinagem, paisagismo e para a sustentabilidade. As plantas ornamentais nem sempre são pensadas para serem boas para abelhas porque não são sempre visíveis os recursos de pólen ou néctar. Porém, muitas são adequadas para as abelhas que os visitam intensamente. Plantas ornamentais com floração em diferentes períodos, se manejados intensivamente, produzem flores e recursos (néctar e pólen) que estarão disponíveis de forma mais consistente aos visitantes de insetos, mesmo em tempos de seca.

As abelhas africanizadas Apis mellifera coletam tanto néctar quanto pólen e são muito frequentes nas flores do cosmos.

Ao analisar as diferenças entre a paisagem rural e urbana, observa-se que a rural é caracterizada por ser um ambiente pouco transformado

O conhecimento das plantas fornecedoras de recursos tróficos (principalmente pólen e néctar) às abelhas é essencial para o estabelecimento de programas de conservação desses animais. Portanto, o cosmos pode ser utilizado como espécie ornamental e deve ser plantada próxima à meliponários e apiários, sendo importante fonte de recursos alimentares para as abelhas. É considerada boa indicadora de preservação do ambiente e da diversidade de abelhas.

Literatura consultada BARBOSA, D.B. et al. As abelhas e seu serviço ecossistêmico de polinização. Revista Eletrônica Científica da UERGS, v. 3, n. 4, p. 694-703, 2017. COSTA.C, OLIVEIRA.F. Polinização: serviços ecossistêmicos e o seu uso na agricultura. 8º Edição. Mossoró-RJ. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, 2013. MALERBO-SOUZA, D. T., TOLEDO, V. A. A.; PINTO, A.S. Ecologia da Polinização. CP2, Piracicaba. 2008. OLIVEIRA, F.F., SILVA, L.R.S., ZANELLA, F.C.V., GARCIA, C.T., PEREIRA, H.L., QUAGLIERINI, C., PIGOZZO, C.M. A new species of Ceratina (Ceratinula) Moure, 1941, with notes on the taxonomy and distribution of Ceratina (Ceratinula) manni Cockerell, 1912, and an identification key for species of this subgenus known from Brazil (Hymenoptera, Apidae, Ceratinini). Zookeys, 1006. p. 137-165, 2020. OLIVEIRA, M.A., GOMES, C.F.F., PIRES, E.M., MARINHO, C.G.S., DELLA LUCIA, T.M.C. Bioindicadores ambientais: insetos como um instrumento desta avaliação. Revista Ceres, v. 61, Suplemento, p. 800-807, 2014. ROBERTO, G.B.P. et al. As abelhas polinizadoras nas propriedades rurais. Rio de Janeiro: Funbio, 2015. SILVA, B.P. ALVES, P. L. C. A.; VARELA MONTOYA, R. M.; NEPOMUCENO, M. Potencial alelopático de Cosmos sulphureus Cav., 2017,Tese Doutorado em Agronomia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária, UNESP, Jaboticabal. SILVEIRA, F.A.; MELO, G.A.R.; ALMEIDA, E.A.B. Abelhas brasileiras: Sistemática e identificação. Belo Horizonte: Fundação Araucária, 2002.


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