Grande Culturas - Cultivar 185

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 185 • Outubro 2014 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa capa

Proteção inicial...................................24

Charles Echer

Como o tratamento de sementes com fungicidas pode blindar a fase inicial das plantas de soja contra doenças

Grãos depreciados......................10 Mais produtividade.....................16 Em vagens e grãos......................18 O manejo adequado da podridão branca da espiga, doença que provoca sérios prejuízos em milho

A importância de conter a mancha de phoma, doença que limita a cultura do cafeeiro

Índice

De que modo realizar o controle adequado de pragas que tiram o sossego dos sojicultores

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

Diretas

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Podridão branca da espiga em milho

10

• Editor

Ataque do nematoide Tubixaba tuxaua

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• Redação

Mancha de phoma em café

16

Pragas que afetam vagens e grãos em soja

18

Nossa capa - Tratamento de sementes em soja

24

Manejo da ferrugem asiática

30

Manejo de viroses em trigo

32

Resultados do Seedcare em cinco anos no Brasil

37

Mudas pré-brotadas no plantio de cana

40

Nutrição correta nos canaviais

42

Saldo de um ano do The Good Grow Plan

44

Coluna ANPII

46

Coluna Agronegócios

48

Mercado Agrícola

50

REDAÇÃO

• Vendas

Sedeli Feijó José Luis Alves

Gilvan Dutra Quevedo Karine Gobbi Rocheli Wachholz

Rithieli Barcelos

CIRCULAÇÃO

• Design Gráfico e Diagramação

• Coordenação

• Revisão

• Assinaturas

MARKETING E PUBLICIDADE

• Expedição

Cristiano Ceia

Simone Lopes Natália Rodrigues Clarissa Cardoso

Aline Partzsch de Almeida

• Coordenação

Edson Krause

Charles Ricardo Echer

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Outubro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 204,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.




Diretas Aquisição

A FMC Corporation anunciou um acordo para adquirir a Cheminova A/S, uma subsidiária integral de Auriga Industries A/S. A Cheminova é uma empresa multinacional de defensivos agrícolas com sede na Dinamarca. A FMC irá financiar a aquisição completa através de dívidas pendentes e reservas de caixa. A transação deverá ser concluída no início de 2015. "A Cheminova é uma empresa que há muito tempo consideramos como um potencial e atraente parceiro. Possui uma abordagem estratégica semelhante à da FMC quanto à aplicação de tecnologia para oferecer soluções aos seus clientes, e tem um portfólio de produtos altamente complementar, além de presença geográfica. Essa transação vai ampliar nosso portfólio de soluções agrícolas e reforçar significativamente nosso acesso aos principais mercados finais agrícolas”, explicou o presidente, CEO e chairman da FMC Corporation, Pierre Brondeau. Pierre Brondeau

Evento

O coordenador de Marketing para Café da DuPont, Luis Guilherme Bergamin, participou do III Simpósio sobre Tecnologias no Cultivo do Cafeeiro, em setembro, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Esalq/USP, em Piracicaba. Empresa patrocinadora do evento, a DuPont Proteção de Cultivos apresentou seu novo inseticida Benevia, produto que acaba de ter sua importação autorizada, em caráter emergencial e temporário, para controle da broca do Luis Guilherme Bergamin café no estado de Minas Gerais.

Daninhas

A FMC participou do XXIX Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, em Gramado, no Rio Grande do Sul. O evento refletiu a respeito do impacto das mudanças sobre a ciência das plantas daninhas, que assume relevância em termos de segurança alimentar. O gerente de produtos herbicidas da FMC, Jonas Cuzzi, explicou a importância de apoiar e trocar experiências com consultores, pesquisadores e pessoas atuantes no segmento. “Informações e debates são essenciais para o desenvolvimento de uma agricultura produtiva e responsável”, ressaltou o gerente.

Aniversário

Biocatalisador

A UPL lançou no 8º Grande Encontro de Variedades de Cana-deAçúcar, em Ribeirão Preto, o ATRiun, primeiro biocatalisador do mercado. Patenteado pela UPL, o produto foi desenvolvido no Brasil, em parceira com uma subsidiária alemã, cuja assinatura é “mais ATR com mais Benefícios”. “O ATRiun atua de maneira diferenciada na planta, proporcionando o aumento da quantidade de açúcares, sem inibir o crescimento. Tudo sem causar danos às culturas vizinhas”, ressaltou o gerente de Produtos da UPL, Diego Arruda. Através do aumento de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) na fase final da cultura, permite a colheita antecipada. Além disso, proporciona maior flexibilidade ao produtor, já que não tem carência, ou seja, a planta pode ser colhida Diego Arruda logo após a aplicação.

Cana

Jonas Cuzzi

Em 1999, a Dupont Pioneer ingressou no segmento de soja no Brasil e, durante estes 15 anos, tem investido em soluções para os sojicultores brasileiros. Atualmente, existem 21 variedades de soja no portfólio da empresa, que podem ser combinadas com o Tratamento de Sementes Industrial da DuPont Pioneer, auxiliando no controle de pragas e doenças durante as fases iniciais da planta. “Alta produtividade com máxima rentabilidade é o objetivo primário da DuPont Pioneer. Focada em tecnologia de manejo e informação agronômica, a empresa trabalha para que o agricultor brasileiro produza mais e melhor, com estabilidade e segurança”, afirma o diretor de Produção Soja da Dupont Pioneer, Geraldo Davanzo.

06

Parceria

Facilitar a avaliação dos modelos agropecuários sustentáveis que podem ser adotados nas propriedades rurais do país, permitindo a comparação entre eles e a elaboração de projetos de financiamento voltados para o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC). Estes são os objetivos do site Agrosustenta, plataforma desenvolvida pelo Instituto CNA, em parceria com a Basf. Ao reunir as informações no site http://www. agrosustenta.com.br, CNA e Basf pretendem auxiliar produtores e técnicos a superarem as dificuldades para elaborar projetos e estimular a adesão ao Programa ABC. “Decidimos apoiar essa iniciativa já que ela tem sintonia com nossa estratégia de negócios, que é a de oferecer apoio de forma completa aos produtores rurais”, avaliou o vice-presidente de Unidade de Proteção Francisco Verza de Cultivos da Basf, Francisco Verza.

A FMC Agricultural Products realiza o Expert Cana direcionado a gerentes, supervisores e consultores das principais usinas dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Alagoas, com o intuito de refletir, discutir e difundir os aspectos técnicos e a rentabilidade do cultivo da cana. O encontro conta com especialistas em pragas e plantas daninhas, como Michel Fernandes, Leila Dinardo Miranda e Roberto Toledo, que também abordam a tendência do mercado, o manejo de pragas, o controle químico, entre outros assuntos. O gerente de Marketing Cana da FMC, Roberto Puzzo, destacou a relevância do Encontro no cenário atual da cana no Brasil. “Com o Expert Cana visamos levar informações que devem ser consideradas nas opções de manejo nos canaviais. O objetivo é auxiliar o produtor na escolha de tecnologias assertivas, para conquistar um melhor retorno sobre o investimento realizado”, afirmou Puzzo. Roberto Puzzo

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Congresso

Pesquisa

No mês de setembro, em Campinas, São Paulo, diversas instituições de pesquisa, a convite da Bayer, se reuniram para a Academia Bayer de Inovação, a fim de discutirem os resultados de trabalhos executados na safra 2013/14. O objetivo da iniciativa é estabelecer uma plataforma de troca de informações sobre ciências agrícolas para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável. “A união de diversos elos da cadeia de pesquisa é essencial para o desenvolvimento da agricultura brasileira”, afirmou o diretor de Desenvolvimento Agronômico da Bayer CropScience para América Latina, Bernard Jacqmin.

Acordo

Bernard Jacqmin

A Bayer CropScience e a inglesa PlantImpact firmaram um novo acordo para comercialização de Veritas, tecnologia que melhora a capacidade das plantas de soja e de feijão de fixar flores e vagens, contribuindo para o preenchimento de grãos em estágios críticos de seu desenvolvimento. A parceria comercial prevê a integração do produto Veritas ao portfólio da Bayer, com comercialização exclusiva no Brasil já para safra 2014/2015. “Esse tipo de parceria contribui para estarmos ainda mais próximos dos nossos clientes", destacou o diretor de Marketing Estratégico de Culturas e Mauro Alberton Portfólio da Bayer, Mauro Alberton.

A Bayer CropScience participou do XXIX Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. A empresa mostrou pesquisas e ações para evitar a resistência de daninhas a herbicidas, como a adoção da rotação de culturas e de mecanismos de ação de herbicidas. De acordo com o gerente de Marketing Estratégico Milho e Feijão da Bayer, Sergio Catalano, o evento foi uma oportunidade de entender as novas tendências relacionadas a essas invasoras. “O debate ajuda a Bayer a aprimorar e desenvolver novas soluções para auxiliar o produtor a conter as plantas daninhas”, afirmou.

Fanpage

Sergio Catalano

A Unidade de Proteção de Cultivos da Basf Brasil lançou sua fanpage na rede social Facebook. A página tem o objetivo de aproximar os agricultores brasileiros e outros públicos interessados em agronegócio. “Esta ferramenta é útil para a nova maneira que nos comunicamos. As novidades poderão ser publicadas de forma mais dinâmica e acessadas inclusive pelo celular ”, afirmou o diretor de Marketing da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Brasil, Oswaldo Marques Gomes. Para acompanhar as postagens basta acessar https://www.facebook.com/BASF.AgroBraOswaldo Marques Gomes sil, fazer login e clicar em curtir.


Futuro sustentável

Clube

A Basf desenvolveu um novo processo de direcionamento do seu portfólio, com base em critérios de sustentabilidade através do método denominado Sustainable Solution Steering. Com este processo, é possível mensurar a contribuição dos produtos para a sustentabilidade dentro de seus diversos mercados e indústrias, além de permitir a ampliação desta contribuição a partir do estabelecimento de planos de ação. O portfólio de produtos da marca está sob revisão contínua. “Tem se tornado cada vez mais importante para nossos clientes a viabilidade de combinação de demandas econômicas, ambientais e sociais, e nós consideramos este cenário uma oportunidade de negócio para a Basf ”, afirmou o presidente da Junta Diretiva, Kurt Bock.

Kurt Bock

Broca

O inseticida Atabron, da Arysta LifeScience, obteve registro para combate à broca-da-cana-deaçúcar. Atabron 50 EC é um inseticida fisiológico que age no crescimento da broca-da-cana, especificamente na sua mudança de estágio, promovendo o controle da praga. “É uma nova ferramenta à disposição do agricultor, que traz de forma efetiva uma contribuição para os ganhos dos indicadores financeiros do setor sucroenergético. Atabron está disponível em todos os estados produtores”, informou o gerente de Marketing Cana da Arysta LifeScience, José Renato José Renato Gambassi Gambassi.

Autorizado

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) divulgou a autorização, para uso comercial, do milho e da soja Enlist da Dow AgroSciences nos Estados Unidos. Os eventos Enlist integram o Sistema Enlist de Controle de Plantas Daninhas, uma nova tecnologia herbicida que combate plantas resistentes e de difícil controle. "O Enlist ajudará os agricultores a aumentar a produtividade para atender à crescente demanda por uma alimentação segura e acessível", afirmou o presidente da Dow AgroSciences, Tim Hassinger. As intenções comerciais para o Enlist em 2015 serão definidas após a decisão da Agência de Proteção Ambiental Norteamericana (EPA) sobre o Tim Hassinger herbicida Enlist Duo.

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A 20ª edição do Clube da Fibra da FMC foi marcada por comemorações e homenagens especiais: os 15 anos da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), os 40 anos da FMC no Brasil e as 20 edições do evento. Mais de 150 produtores rurais participaram de palestras com especialistas que abordaram o futuro do setor e toda a cadeia produtiva. O diretor geral Brasil da FMC, Walter Costa, falou sobre as conquistas do setor. “Já são 20 edições do Clube da Fibra em prol do setor. Sabemos que a cultura é importante para vocês, para nós e também para o País, e continuaremos por meio de um futuro sustentável. Tem que ser bom para o meio ambiente, sociedade e para o negócio e é nesse sentido que nos orientamos ao investirmos constantemente em pesquisas e inovações tecnológicas”, enfatizou. Walter Costa

Convênio

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e a Basf assinaram convênio de cooperação técnico-científica com a finalidade de desenvolver projetos e atividades voltados à pesquisa, ao desenvolvimento científico e tecnológico, à difusão e transferência de tecnologias, ao planejamento e ao desenvolvimento institucional conjunto, o que inclui projetos relacionados à tecnologia Clearfield. “A Basf e o Irga estão trabalhando em conjunto para desenvolver novas tecnologias, novos produtos e novas variedades, que garantirão aos agricultores a sustentabilidade da orizicultura a médio e longo prazo”, destacou o diretor de Vendas Sul da Clairton Silva Basf, Clairton Silva.

Percevejos

A Syngenta apresentou o Engeo Pleno, inseticida da marca indicado para o controle de percevejos e que pode ser usado nas mais diferentes culturas. “É o produto mais bem adaptado para o controle de percevejos na soja. Aplicado corretamente durante os estágios reprodutivos das plantas, o seu efeito residual garante um controle mais efetivo, menores danos às vagens e confere mais qualidade aos grãos. Esses fatores afetam diretamente o lucro do produtor”, avaliou o gerente de Inseticidas da Syngenta, Aimar Pedrini. Aimar Pedrini



Milho

Grãos depreciados

Cultivar

A podridão branca da espiga é uma doença que causa enormes prejuízos em milho, por afetar e depreciar o produto final. Para que seu controle seja eficaz e sustentável é necessária a adoção do maior número possível de medidas de manejo, de modo conjunto e planejado

A

podridão branca da espiga é uma enfermidade que causa grandes prejuízos na cultura do milho, por afetar diretamente o produto comercial, ou seja, os grãos. Esta doença é causada por dois tipos de

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fungos, Stenocarpella maydis [sinônimo de Diplodia maydis] e Stenocarpella macrospora [sinônimo de Diplodia macrospora] que podem provocar infecção e resultar em “grãos ardidos”. Os grãos infectados por estes fungos

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apresentam coloração marrom e quando a frequência e a severidade do ataque são altas, observa-se a formação de uma camada esbranquiçada entre as fileiras de grãos na espiga, responsável pelo nome “podridão branca da espiga”. O


Fotos Embrapa

Tabela - Resultados médios de porcentagem de grãos ardidos em 10 híbridos de milho, em função da inoculação com os fungos, S. maydis e S. macrospora e do tratamento testemunha (T – sem inoculação) em função das safras agrícolas (2006/07 e 2007/08), em sistema de cultivo convencional HÍBRIDOS

Grãos infectados pelo fungo apresentam coloração marrom

desenvolvimento da doença tem potencial para atingir parte ou a totalidade da espiga, podendo iniciar-se pela base ou pela ponta da espiga. (Pinto et al, 2006). A podridão branca da espiga afeta a produção em diversos aspectos, como, por exemplo, a queda na produtividade e nas características dos grãos colhidos, além da produção de micotoxinas que podem influenciar o valor econômico do grão e redução na qualidade nutricional da ração (Molin & Valentini, 1999). Uma maior intensidade de podridões de espiga geralmente acarreta em crescimento da incidência de grãos ardidos, indesejáveis à comercialização, pela exigência das agroindústrias em adquirir matéria-prima de qualidade. Na hora da entrega do produto final o valor pago pode ser reduzido devido à presença de grãos ardidos (Reis et al, 2004). A podridão branca pode ser controlada de diversas maneiras. Os métodos mais usuais e eficientes são a utilização do controle genético, químico e cultural. Na literatura é possível encontrar alguns trabalhos sobre estes métodos de controle.

Controle genético

Atualmente há uma grande quantidade de híbridos disponíveis no mercado, muitos apresentados como portadores de resistência genética a

AG 6018 AG 8021 DKB 199 2 A 525 NB 7215 DKB 350 DKB 390 P 30F53 2 B 710 NB 7210

S. maydis 1,60 aB 3,17 aB 2,84 aA 5,10 bB 7,74 bB 4,60 bB 15,08 cB 2,33 aB 4,81 bB 7,08 bB

Safra 2006/2007 S. macrospora 1,81 aB 1,72 aB 3,98 aA 3,08 aB 2,97 aB 3,88 aB 3,47 aB 2,63 aB 3,37 aB 2,69 aB

Grão ardido (%) 27,66 a 35,33 a 15,00 a 53,33 b 50,00 b 22,33 a 33,94

Produtividade (kg ha-1) 10,556 b 11,433 a 10,000 b 9,477 b 10,992 a 12,162 a 8,34

Adaptado de Gralak et al, 2010. Comportamento de Híbridos de Milho Comerciais Inoculados a Campo com o Fungo Stenocarpella maydis

S. maydis 11,43 cA 8,46 bA 5,87 aA 0,84 cA 26,33 eA 19,65 dA 19,07 dA 5,78 aA 24,89 eA 25,12 eA

Safra 2007/2008 S. macrospora 8,29 cA 4,85 bA 1,78 aA 6,08 cA 22,56 eA 17,11 dA 31,07 gA 7,23 cA 26,75 eA 39,37hA

Testemunha 2,15 aA 4,71 bA 3,03 aA 3,10 aA 5,67 bA 6,62 bA 6,77 bA 9,14 cA 4,83 bA 13,53 dA

Médias seguidas de mesmas letras minúsculas na coluna e maiúscula na linha pertencem ao mesmo agrupamento pelo teste de Scott Knott, em nível de significância de 5%. Adaptado de Mendes et al, 2010. Comportamento de híbridos de milho inoculados com os fungos causadores do complexo grãos ardidos

diversas doenças. Em 2010 Gralak et al avaliou o comportamento de seis híbridos comerciais, divididos em dois grupos: tolerantes (2B604, P30R50 e Fórmula) e suscetíveis (2B710, DKB390 e P30K64) quanto a S. maydis. Os autores verificaram diferença na suscetibilidade dos híbridos ao fungo causador da podridão branca de espigas, sendo que os híbridos 2B604, P30R50, Fórmula e P30K64 (Tabela 1) apresentaram as menores porcentagens de grãos ardidos. Os autores inferiram que a escolha correta do híbrido é capaz de reduzir as perdas agronômicas de produtividade de grãos. Mendes(2010), testando resistência de dez híbridos em relação à resistência ao fungo S. maydis, verificou que o híbrido NB7210 obteve também a maior porcentagem de grãos ardidos, seguido dos híbridos DKB390 e 2B710, sendo os valores superiores a 22% (Tabela 2). Segundo o autor, o fato de ter havido híbridos com elevadas porcentagens de grãos ardidos, quando inoculado com S. maydis, permite inferir que existe dife-

Tabela - Produção e porcentagem grãos ardidos de seis híbridos comerciais submetidos à inoculação com o fungo Stenocarpella maydis Híbrido 2B604 P30R50 FÓRMULA 2B710 DKB390 P30K64 CV%

Testemunha 3,37 aA 2,92 aA 2,81 aA 3,33 aA 3,94 aA 2,83 aB 2,09 aB 2,11 aB 2,92 aA 3,49 aB

Sintomas de podridão branca em espiga de milho

rença entre os híbridos e que possuem comportamento diferente para cada um dos fungos causadores da podridão branca. Para o fungo S. macrospora o híbrido 2B710 obteve a maior incidência de grãos ardidos, com valor de 27%, pertencendo, assim, ao grupo de híbridos considerados suscetíveis. O híbrido que obteve o menor percentual foi o 2A525, com 4,39%, pertencendo assim ao grupo considerado como resistente aos fungos causadores de podridão. É importante salientar que em todos os programas de manejo integrado o controle genético deve ser o primeiro a ser adotado. A diferença de materiais comerciais disponíveis no mercado, com diferentes graus de resistência à podridão branca, caracteriza uma vantagem ao produtor no manejo desta enfermidade.

Controle químico

A utilização do controle químico muitas vezes se faz necessária, diante das perdas em decorrência desta enfermidade. Carvalho et al, 2004, testando a influência de diferentes doses de thiabendazole na incidência de S. maydis, verificou que o tratamento com fungicida reduziu significativamente a incidência de S. maydis, de aproximadamente 70% nas sementes não tratadas para menos de 10% nas sementes tratadas (Figura 1A). No mesmo trabalho, no resultado de germinação, verificou-se aumento na porcentagem de sementes germinadas com o aumento das doses utilizadas nos testes (Figuras 1B e 1C). O índice de velocidade de germinação das plântulas foi influenciado pela dose do fungicida utilizado (Figura 1D). Sementes tratadas com thiabendazole, na dose

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Figura 1 - Incidência de Stenocarpella maydis (A), germinação (%) em condições de temperatura ideal (B), e no teste de frio (C) e índice de velocidade de germinação (IVG) (D) de sementes de milho (Zea mays) tratadas com diferentes doses de thiabendazole

Fonte: Carvalho et al, 2004. Relação do T amanho de Sementes de Milho e Doses de Fungicida no Controle de Stenocarpella maydis

intermediária, apresentaram emergência mais rápida. Atualmente no site do Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa) existem apenas dois produtos registrados para o controle de S. maydis, ambos com o mesmo ingrediente ativo e consequentemente mesmo modo de ação. Fato este merecedor de atenção pela impossibilidade de rotação de produto, o que fatalmente aumenta o risco de resistência de isolados a este fungicida.

Controle cultural

Apesar de pouco divulgadas e muitas das vezes ignoradas por agricultores, as práticas culturais apresentam grande eficiência no controle de doenças de plantas, especialmente quando os métodos de controle tradicionais não funcionam. Essas práticas são relativamente simples e de baixo custo de

implantação. Em trabalho para verificar o efeito da densidade de plantas na incidência de grãos ardidos, nos sistemas de rotação e monocultura, Trento et al observaram que à medida que se aumenta a densidade de plantas também cresce a incidência de fungos tanto em lavouras conduzidas em sistema de monocultura quanto em rotação de culturas (Figura 2). A população de plantas também pode ser considerada fator importante na incidência das podridões da espiga, a alta densidade de plantas, os altos níveis de nitrogênio e os baixos níveis de potássio como fatores que indicam maior suscetibilidade aos patógenos, além de criarem um microclima favorável ao desenvolvimento dos patógenos. Outra observação é que em lavouras conduzidas em sistema de monocultura a incidência de grãos ardidos foi maior quando comparada à rotação de cultu-

Figura 2 - Efeito da densidade de plantas de milho (Zea mays) na incidência de grãos ardidos em sistemas de rotação e de monocultura

Fonte: Trento et al, 2002. Efeito da rotação de culturas, da monocultura e da densidade de Plantas na incidência de grãos ardidos em milho.

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ras. A presença de espigas infectadas remanescentes na superfície do solo de um ano agrícola para outro, como ocorrido na monocultura, serve como fonte de inóculo contribuindo para o aumento da incidência de grãos ardidos nesse sistema. Outra medida cultural importante, que possui influência na incidência da podridão branca e consequentemente em grãos ardidos, é o momento da colheita. Em avaliação dos grãos de milho dos híbridos XL 344 e XL 2124 quanto à incidência de grãos ardidos, Santin et al observou aumento nos dois híbridos cultivados sobre as duas coberturas (aveia e nabo) de solo até a quarta avaliação (Figura 3). Nas avaliações seguintes, foi detectada a redução da incidência de grãos ardidos. Isso se explica, possivelmente, devido ao aumento dos sintomas de colonização dos grãos por fungos ter ocorrido enquanto os grãos apresentavam teores de umidade acima de 18%. Abaixo desse teor de umidade dos grãos, a infecção e a colonização deixam de ser sintomáticas. O controle da podridão branca é possível de diversas maneiras, como escolha de material resistente, uso de defensivos agrícolas e práticas culturais relativamente simples, como rotação de culturas, densidade ideal de plantio e colheita na época adequada. Entretanto, para se realizar um controle eficaz e sustentável ao longo do tempo, deve-se utilizar o maior número de medidas conjuntamente possíveis, evitando adotar apenas uma determinada tática por C ser mais fácil ou de menor custo. Leandro Alvarenga Santos e Cacilda Márcia D. Rios Faria, Unicentro

Figura 3 - Incidência de grãos ardidos (GA) em grãos de milho dos híbridos XL 212 e XL 344, cultivados sobre duas coberturas vegetais do solo, Av = aveia; Na = nabo, avaliados em sete coletas em intervalos de nove dias

Fonte: Santin et al, 2004. Efeito do retardamento da colheita de milho na incidência de grãos ardidos e de fungos patogênicos.

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Doenças

“Gigante” minúsculo Gilberto Schneider

Com comprimento superior a um centímetro na fase adulta, o nematoide Tubixaba tuxaua é parasita em culturas como soja, trigo, algodão e milho. Disseminado em lavouras do oeste paranaense, há relatos de danos associados à mesma espécie também em cultivos de soja no Maranhão e em Tocantins

O

s termos Tubixaba e Tuxaua são sinônimos de Morubixaba, cuja tradução de dialeto indígena para o português é patrão, chefe, cacique, significando o cacique dos caciques ou chefe dos chefes. Certamente, o nome escolhido teve como inspiração as dimensões do corpo de nematoides adultos, em especial o seu comprimento, que pode ser superior a um centímetro.

O nematoide Tubixaba tuxaua (Aporcelaimidae) teve o seu primeiro relato na década de 80, quando descrito em associação à rizosfera de plantas de soja cultivar Bragg com sintoma de nanismo. Por ser diferente dos demais nematoides fitoparasitas, T. tuxaua foi considerado, à época de sua descrição, um parasita potencial da soja e do trigo. Além dessas culturas, T. tuxaua afeta culturas como milho, algodão e mandioca,

além de plantas de cobertura de verão como Dolichos lab-lab (labelabe), Crotalaria juncea (crotalária), Mucuna aterrima (mucuna preta), Mucuna deeringiana (mucuna anã), Canavalia ensiformis (feijão de porco) e plantas de cobertura de inverno como Lupinus albus (tremoço branco), Lathyrus clymenum (ervilhaca forrageira), Vicia villosa (ervilhaca peluda), Pisum sativum var. arvense cultivar Iapar 83 (ervilhaca comum) e Avena strigosa

Espigas de milho colhidas em área com presença de nematoides (esquerda) e produto oriundo de cultivo sem incidência (direita)

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Fotos Cleber Furlanetto

Redução do porte de plantas de trigo (esquerda) e amarelecimento causado pelo nematoide Tubixaba tuxaua

(aveia preta). O amplo círculo de hospedeiras de T. tuxaua é um indicativo de que este nematoide apresenta um hábito alimentar pouco especializado, com um odontoestilete curto e largo, característico de nematoides onívoros. Nematoides onívoros obtêm seu alimento de diferentes fontes, incluindo pelos radiculares, mas são diferenciados dos fitoparasitas por não se alimentarem de raízes de plantas superiores. Certamente T. tuxaua se adaptou à convivência com plantas cultivadas pelo homem e desenvolveu a capacidade de sugar em suas raízes. Esta hipótese é sustentada pela constante associação deste nematóide com plantas cultivadas que apresentam, entre outros sintomas, nanismo acentuado e também por ensaios realizados em condição controlada envolvendo a inoculação do nematoide em plantas cultivadas em vasos. Durante a sua alimentação, T. tuxaua insere o seu curto estilete superficialmente em tecidos das raízes, alimentando-se de células individuais e levando-as à morte. Após sugar o conteúdo celular, o nematoide migra para outro local da raiz iniciando um novo processo de alimentação. Um número superior

a 100 T. tuxaua pode ser encontrado junto à rizosfera de plantas cultivadas em áreas infestadas. No entanto, poucos nematoides (20 nematoides/raiz de planta) podem causar sintomas visíveis em campo. Tendo em vista o manejo cultural de T. tuxaua, apenas Raphanus sativus var. oleiferus (nabo forrageiro) tem apresentado bom desenvolvimento e contribuído para a redução populacional do nematoide quando cultivado em áreas infestadas. No entanto, novas pesquisas necessitam ser realizadas no sentido de se descobrir outras plantas com potencial para uso em rotação. O alqueive com revolvimento do solo (aração) também pode ser adotado como método de controle em áreas infestadas, contribuindo para a exposição do nematoide à luz solar e para a remoção de alimento (ausência de plantas cultivadas e de plantas daninhas). Como fêmeas de T. tuxaua apresentam ciclo de vida longo (superior a seis meses) e baixa taxa de oviposição, as populações levam mais tempo para atingirem níveis populacionais elevados em campo. Portanto, táticas de manejo envolvendo a escassez de alimento ao nematoide podem contribuir para a redução

Plantas à esquerda com nematoide (acima e abaixo) e à direita sem incidência

populacional em campo. A presença de T. tuxaua em diferentes municípios do oeste paranaense é um indicativo de que este nematoide encontra-se disseminado nesta região. No entanto, danos à cultura da soja têm sido também atribuídos a nematoides do gênero Tubixaba nos estados do Maranhão e Tocantins. No entanto, a confirmação da identidade dessas espécies C ainda carece de futuros estudos. Cleber Furlanetto e Gilberto Schneider, Universidade de Brasília

Tubixaba tuxaua pertence à família Aporcelaimidae (machos de até 11,3mm e fêmeas de até 11,8mm), podendo ser visto a olho nu

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Café

Mais produtividade Cultivar

Doença importante em cafeeiro, a mancha de phoma causa severas limitações principalmente em regiões de altitude elevada e com predomínio de baixas temperaturas, vento e umidade. O tratamento preventivo, com aplicação de fungicida no momento correto, é uma estratégia importante para reduzir as perdas e aumentar a rentabilidade

A

mancha de phoma é doença importante em cafeeiro, devido aos prejuízos significativos que causa à produção. Sua gravidade é maior em regiões de altitude elevada onde predominam temperaturas baixas, ventos frios e umidade na lavoura. A suscetibilidade de nossas cultivares comerciais, face de exposição da lavoura, alta capacidade de multiplicação do fungo, sua adaptação, resistência e/ou sobrevivência são também fatores ligados à gravidade da doença (Krohling; Matiello 2011). O fungo ataca folhas, flores, frutos e ramos do cafeeiro produzindo lesões bem características. Os danos causados por essa doença refletem diretamente na produção, uma vez que ocorre a morte dos botões florais, das brotações novas, mumificação de frutinhos e má granação dos frutos devido à desfolha, comprometendo o desenvolvimento da produção da safra corrente e do ano subsequente. A mancha de phoma vem ganhando notoriedade entre a comunidade técnica

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e produtora cafeeira e cada vez mais seu controle tem recebido notoriedade através dos resultados de pesquisas mostrando redução de perdas de produtividade muito expressivas. A condição ideal para o desenvolvimento do fungo reside em temperatura média abaixo de 20ºC e presença de umidade (sendo a do orvalho já suficiente como fator umidade). O controle químico desta doença é oneroso, pois dependendo da região abrange um período muito longo de proteção. Entretanto, é indispensável e deve ser recomendado de forma preventiva para lavouras com boas perspectivas de produção e principalmente em locais onde ocorre umidade contínua e temperaturas baixas no período de abril a outubro (antes da colheita até a fase de chumbinho do cafeeiro). Quando a doença for constatada no final do período chuvoso (em abril/maio) atacando as folhas novas e os ramos do ponteiro, deve-se efetuar uma ou duas pulverizações (em intervalo de 30 dias) com

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fungicidas específicos, com o objetivo de reduzir a desfolha da planta, a incidência de seca de ramos e a quantidade de inóculo residual que irá favorecer o ataque da doença na época do florescimento e formação dos frutos (Matiello, 2010). Conhecer as épocas de maior incidência (que estão relacionadas às condições climáticas favoráveis para a ocorrência da doença), alta capacidade de multiplicação do fungo, sua adaptação, resistência e/ou sobrevivência são fatores fundamentais para obter êxito no controle da phoma. Quadro 1 - Produtividade média de café (sacos por hectare) em função das épocas de aplicação do fungicida Boscalida. Fazenda Engenho, Serra do Salitre (MG), 2012 T1 T2 T3 T4 T5

Tratamentos Médias* Testemunha 24,2 C Pré-Colheita; Pós Colheita; Pré Florada; Pós Florada 42,6 A Pós Colheita; Pré Florada; Pós Florada 42,7 A Pré Florada; Pós Florada 33,3 B Pré-Colheita; Pré Florada; Pós Florada 31,3 B

*Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. C.V%=20


Fotos Rafael Gonzaga

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Tratamentos consistiram em: 1: Testemunha (sem aplicação); 2: Pré-Colheita; Pós-Colheita; Pré-Florada; Pós-Florada; 3: Pós-Colheita; Pré-Florada; Pós-Florada; 4: Pré-Florada; Pós-Florada; 5: Pré-Colheita; Pré-Florada; Pós-Florada

Experimento

Com o objetivo de conhecer melhor a dinâmica da doença e seu impacto na produtividade do cafeeiro foi desenvolvido um experimento no município de Serra do Salitre, Minas Gerais, para avaliar a produtividade do cafeeiro em função das diferentes estratégias (épocas) de aplicação (pré-colheita, pós-colheita, pré-florada e pós-florada) do fungicida Boscalida na dose de 180 gramas por hectare (em cada aplicação), bem como definir o melhor modelo para região de alta pressão da doença em questão. O trabalho foi realizado no período de abril de 2011 a junho 2012, na Fazenda Engenho, localizada no município de Serra do Salitre, em Minas Gerais. A variedade utilizada foi a Catuai Amarelo, plantada em 1986 no espaçamento de 4m x 1m, totalizando 2,5 mil plantas/ha. Os dados climáticos da região durante o período do experimento foram coletados na estação meteorológica da Cooxupé, em Serra do Salitre, Minas Gerais (situada no mesmo microclima da fazenda (mesma altitude e a 7km da fazenda), sendo a coleta feita diariamente conforme Gráficos 1 e 2. Para avaliação do experimento foi realizada a derriça de quatro plantas por parcela e também coletado o café de varrição das mesmas plantas. As épocas de aplicação do fungicida Boscalida foram as seguintes: Tratamento 1: Testemunha (sem aplicação); Trata-

mento 2: Pré-Colheita; Pós-Colheita; Pré-Florada; Pós-Florada; Tratamento 3: Pós-Colheita; Pré-Florada; Pós-Florada; Tratamento 4: Pré-Florada; Pós-Florada; Tratamento 5: Pré-Colheita; Pré-Florada; Pós-Florada. Ocorreu a pré-colheita no mês de abril, a pós-colheita em agosto (logo após o término da colheita), a pré-florada em setembro (após o início das chuvas na fase de cotonete) e a pós-florada no mês de outubro (depois da queda da maioria das flores) Os demais tratos culturais da lavoura foram realizados conforme orientação técnica. Também é importante destacar que foi utilizado hidróxido de cobre na dose de 2kg por hectare nos meses de janeiro de 2011, agosto de 2011 (juntamente com a pulverização de pós-colheita) e janeiro de 2012 em todos os tratamentos. Os resultados obtidos através do experimento são apresentados no Quadro 1. É possível observar que as maiores produtividades foram obtidas no Tratamento 2 (Pré-Colheita; Pós-Colheita; Pré-Florada; Pós-Florada) e Tratamento 3 (Pós–Colheita, Pré-Florada e Pós-Florada), sendo o Tratamento 3 o mais viável economicamente. Também é importante destacar que o não controle da phoma, no Tratamento 1 (Testemunha), para um bom pegamento da florada/chumbinhos, causa prejuízo

enorme ao produtor com uma quebra de 43% na produção (perda de 18,5 sacas por hectare) quando comparado como manejo mais viável economicamente (Tratamento 3). O controle da phoma como objetivo de bom pegamento da florada deve ser preventivo no perído de pós-colheita, préflorada e pós-florada, pois em anos em que as condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento do fungo é impossível fazer um controle eficiente após a doença já estar instalada na lavoura na fase da florada do cafeeiro, pois essa fase é curta e o desenvolvimento do fungo muito rápido. O protutor não pode correr o risco de esperar para ver se nesse ano terá condição climática favorável para a doença, para só então dar início ao tratamento fúngico. O cafeicultor deve ter bom conhecimento da sua capacidade operacional (maquinário) e quais talhões têm maior projeção de safra para assim priorizar essas áreas no controle da phoma (principalmente na época da pulverização de pré-florada, fase que dura poucos dias). Sendo assim, é de extrema importância conhecer as condições ambientais favoráveis para esta doença e manejá-la corretamente para reduzir perdas em produtividade e em rentabilidade das lavouras C cafeeiras. Rafael Pereira Gonzaga, Cooxupé/Minas Gerais

Gráfico 1 - Média da temperatura mínima (oC), durante o período de janeiro 2011 Gráfico 2 - Índice pluviométrico (mm), durante o período de janeiro 2011 a agosto a Agosto 2012. Fazenda Engenho, Serra Salitre (MG), 2012 2012. Fazenda Engenho, Serra Salitre (MG), 2012

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Soja

Em vagens e grãos Crébio José Ávila

Lagartas broqueadoras e percevejos são sérios limitantes à produtividade na cultura da soja. Por isso muita atenção deve ser dispensada ao manejo destas pragas, com medidas integradas, racionais e adotadas no momento correto

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soja é um dos principais produtos brasileiros de exportação, sendo esta leguminosa cultivada desde o Rio Grande do Sul até o extremo Norte e Nordeste do Brasil. Apresenta, ainda, perspectivas de expansão de cultivo para novas fronteiras agrícolas nos próximos anos, e é um dos principais produtos geradores de divisas ao País. Após ou até mesmo durante a época de ocorrência de lagartas desfolhadoras na cultura da soja, começam a surgir os artrópodes fitófagos sugadores ou as lagartas broqueadoras, que podem danificar as vagens e/ou os grãos da cultura. Para se alimentarem, os percevejos inserem seus estiletes em diferentes estruturas das plantas, embora os grãos, em fase de enchimento, sejam os locais preferidos. Além dos percevejos, algumas espécies de lagartas, que se alimentam das folhas da soja, podem também broquear as vagens em formação ou

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quando estas já estão completamente formadas, reduzindo assim a produtividade da cultura.

Percevejos fitófagos sugadores

Os percevejos pentatomídeos fitófagos são considerados o principal problema entomológico na cultura da soja. O percevejomarrom (Euschistus heros), o percevejoverde-pequeno (Piezodorus guildinii) e o percevejo-verde (Nezara viridula) são as três espécies mais abundantes que ocorrem na cultura, na região Centro-Sul do Brasil. A intensidade de danos desses percevejos é variável de acordo com a espécie e a densidade populacional do inseto, bem como com o estádio de desenvolvimento das plantas, sendo o percevejo-verde-pequeno P. guildinii o mais daninho, enquanto o percevejo-marrom E. heros é o que causa menor dano à cultura, embora a sua população venha sendo consideravelmente superior às das demais espécies.

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Os percevejos adultos de E. heros apresentam coloração marrom-escura e dois prolongamentos laterais na região do protórax (um de cada lado) em forma de espinhos pontiagudos e uma mancha branca em formato de “meia-lua” no final do escutelo. Os ovos de coloração amarela a bege são depositados nas folhas ou nas vagens da soja, dispostos em duas a três fileiras paralelas, contendo de cinco a oito ovos por postura. As ninfas, embora iniciem sua alimentação no 2º instar, somente causam danos nos grãos de soja a partir do 3º instar. Pode ocorrer até três gerações durante o ciclo da soja, dispersando após a colheita das cultivares precoces para talhões de soja mais tardia ou para outras culturas adjacentes, como o algodoeiro. No período da entressafra entram em diapausa na palhada do cultivo antecedente ou nas proximidades. O adulto do percevejo-verde-pequeno, P. guildinii, mede cerca de 10mm de comprimento,


D

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Jurema Rattes

Embrapa

C

Jurema Rattes

B

Jurema Rattes

Jurema Rattes

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Embrapa

apresenta coloração verde-clara, que pode tornar-se amarelada no final de sua vida. Apresenta tipicamente uma listra transversal de coloração marrom-avermelhada na região dorsal do tórax, próximo da cabeça. Os ovos são de coloração escura e dispostos sempre em fileiras duplas, contendo de 11 a 15 unidades por postura, depositados nas vagens, folhas, haste principal ou ramos laterais. Estudos evidenciaram que o percevejo-verde-pequeno prejudica mais a qualidade dos grãos e as sementes de soja e causa maior intensidade de retenção foliar que as demais espécies de percevejos que atacam a cultura. Já o percevejo-verde, N. viridula, é uma espécie que tradicionalmente ocorre nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os adultos medem de 12mm a 17mm, possuem coloração verde e manchas avermelhadas nos últimos segmentos da antena. Os ovos que apresentam inicialmente coloração amarelada são depositados na face inferior das folhas de soja em formato hexagonal, contendo de 80 a 100 ovos por postura. As ninfas de 1º e 2º instar são gregárias, enquanto as de 3º instar abandonam o hábito gregário e começam os danos nas vagens e nos grãos de soja. A colonização das plantas de soja pelos percevejos coemça em meados ou final do período vegetativo da cultura, ou logo no início da floração. Nesta época, os percevejos estão saindo da diapausa ou de hospedeiros alternativos e migram para a soja. Com o início do período reprodutivo, a partir do aparecimento das vagens, as populações desses insetos, especialmente de ovos e ninfas, aumentam, podendo atingir níveis elevados entre o final do desenvolvimento das vagens e início do enchimento dos grãos, período em que a soja é mais suscetível ao ataque. A população cresce até o final do enchimento de grãos, quando atinge o pico populacional, normalmente com a soja em maturação fisiológica. A partir daí a população tende a decrescer e, na colheita, os percevejos remanescentes se dispersam para as plantas hospedeiras alternativas e, mais tarde, para os nichos de diapausa (palhada), no caso do percevejo-marrom. Os danos dos percevejos nas plantas são causados pela introdução do seu aparelho bucal (estilete) nas vagens, podendo atingir os grãos ou as sementes em desenvolvimento, sendo estes danos irreversíveis a partir de determinados níveis populacionais. Os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e com a cor mais escura que o normal, podendo apresentar doenças, como a mancha-fermento, causada pelo fungo Nematospora corily, transmitido durante a

Percevejos fitófagos da soja. Adulto do marrom (A); ninfa do marrom (B); adulto do verde pequeno (C); ninfa do verde pequeno (D); adulto do verde (E); ninfa do verde (F)

alimentação. Ataques nos estádios R3 e R4 podem favorecer o abortamento de vagens, enquanto nos estádios de enchimento da vagem (R5) podem afetar negativamente, tanto o rendimento da cultura, como a qualidade dos grãos ou sementes produzidas, e provocar alterações nos teores de proteína e de óleo. Além do dano direto, um ataque severo de percevejos na soja pode causar distúrbio fisiológico na planta, o que, em consequência, proporciona o aparecimento de retenção foliar e/ou haste verde, fenômeno conhecido como “soja louca”, que retarda e/ou dificulta a colheita da soja. Outras espécies de percevejos, tais como Dichelops melacanthus, D. furcatus, Edessa meditabunda, Thyanta perditor e Neomegalotomus parvus podem, eventualmente, atacar a soja, porém, não chegam a atingir populações que prejudiquem a produtividade e a qualidade das sementes de soja, embora suas injúrias nas plantas somem-se às das outras três espécies citadas anteriormente.

Lagartas que atacam vagens e grãos

Além dos percevejos, existe um complexo de lepidópteros que, embora se alimentem de folhas e de outras partes das plantas de soja, podem também danificar as vagens e os grãos e, consequentemente, reduzir a produtividade da cultura. Dentre as principais espécies de lagartas que apresentam este comportamento, destacam-se: Spodoptera eridania, S. cosmioides, Heliothis virescens, Maruca vitrata e Helicoverpa armigera. A separação das espécies de Spodoptera tem sido muito difícil em razão da grande variabilidade específica e ocorrência de sinônimos neste gênero. S. eridania (Figura 2A) é uma espécie de importância crescente na região dos Cerrados, pois ataca a cultura da soja, causando desfolha ou destruindo vagens. Os ovos, de forma arredondada plana, são depositados sobre as plantas e cobertos com escamas da mariposa, podendo a fêmea ovipositar de 800 a dois mil ovos durante seu ciclo vital. As lagartas, que podem atingir 50mm de comprimento, são

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C

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Embrapa

B

André Shimohiro

Embrapa Embrapa

A

Lagartas de Spodoptera eridania (A) e Spodoptera cosmioides (B), Heliotis virescens (C) e Helicoverpa armigera (D)

de coloração marrom-escura e apresentam uma faixa longitudinal amarela no corpo, que é interrompida por uma mancha escura no tórax. Essas lagartas são encontradas com mais frequência no baixeiro das plantas de soja (terço inferior) e são mais ativas no período noturno, momento este que é mais adequado para realizar o seu controle. Já S. cosmioides é uma espécie que ataca um grande número de hospedeiros incluindo algodoeiro, hortaliças, legumes, cereais, frutíferas e florestas. Os ovos são depositados nas folhas de soja, normalmente, em camadas sobrepostas de coloração marrom, à semelhança das posturas de S. frugiperda. As lagartas dos últimos instares apresentam a cabeça castanho-amarelada, com pontuações douradas sobre o dorso, distribuídas em duas linhas longitudinais de coloração alaranjada. Os danos na soja são semelhantes àqueles causados por S. eridania. H. virescens é uma espécie de longa ocorrência no Brasil, sendo sua lagarta conhecida, popularmente, como lagarta-das-maçãs-do-algodoeiro e que tradicionalmente ataca cultivos de algodão, soja e tomate. Os ovos cilíndricos, de coloração amarelada e dotados de estrias longitudinais, são depositados isoladamente nas folhas da soja. As lagartas apresentam coloração variável de verde, rósea a amarelada, presença de pintas escuras no dorso e microespinhos na base da inserção dos pelos, o que confere uma textura áspera quando são tocadas. Alimentam-se preferencialmente de vagens na soja, embora eventualmente possam causar desfolha na cultura. A broca-da-vagem da soja, Maruca

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vitrata, é considerada uma praga sazonal na cultura da soja, sendo sua ocorrência associada a fatores climáticos, especialmente em períodos de seca com a alta temperatura. Os ovos de coloração amarelo-claro e com o córion levemente reticulado são depositados durante a noite especialmente em flores, botões florais, pecíolos e vagens. As lagartas, de coloração amarela a castanho-clara brilhante, apresentam segmentações bem evidentes no corpo, com pontuações escuras e pelos. Elas broqueiam as vagens, as hastes e pecíolos da soja, e podem, eventualmente, danificar inflorescências, e quando encontram-se nos instares mais avançados de desenvolvimento, as lagartas podem penetrar nas vagens ou nas hastes da planta de soja e alimentar-se do seu conteúdo. Os danos causados por esta praga são de difícil percepção, mas podem ocasionar a quebra das plantas em razão do ataque na haste principal. Sua observação no campo pode ser feita com cortes longitudinais na haste das plantas atacadas. H. armigera é uma espécie que até pouco tempo era considerada praga quarentenária A1 no Brasil. Sua detecção oficial foi realizada em 2013, nos estados de Goiás, Bahia e Mato Grosso, associada principalmente às culturas do algodão e da soja, sendo esta constatação o primeiro registro de ocorrência da praga nas Américas. Os ovos de H. armigera são de coloração branco-amarelada e apresentam um aspecto brilhante logo após a sua deposição no substrato, mas tornam-se marrons-escuros próximo do momento de

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eclosão da larva. A porção apical do ovo é lisa, porém, o restante da sua superfície é esculpido em forma de nervuras longitudinais. O período larval de H. armigera é completado com o desenvolvimento de seis distintos instares. Os primeiros instares larvais alimentam-se nas partes mais tenras das plantas, onde podem produzir um tipo de teia ou até mesmo formar um pequeno casulo. À medida que as larvas crescem adquirem diferentes colorações, variando do amarelo-palha ao verde, apresentando listras de coloração marrom lateralmente no tórax, no abdômen e na cabeça. As lagartas de H. armigera podem se alimentar de folhas e hastes das plantas de soja, mas têm preferência pelas estruturas reprodutivas, como os botões florais, vagens e grãos em formação e até mesmo secos, causando deformações ou podridões nestas estruturas ou ainda a sua queda. Essa inerente capacidade de H. armigera causar danos nas partes reprodutivas da cultura, em associação à sua habilidade de atacar um grande número de hospedeiros, é fator que eleva o status de importância econômica dessa praga.

Manejo de percevejos fitófagos sugadores

O controle de percevejos sugadores na cultura de soja se inicia no estádio R3, ou seja, logo após a formação dos "canivetinhos", que são os primórdios do desenvolvimento das vagens. Todavia, o manejo de percevejos na cultura deve começar com as estratégias empregadas para o controle de pragas iniciais e de lagartas desfolhadoras. Dessa forma, a utilização de táticas de controle seletivas, que preservem os inimigos naturais (predadores, parasitoides e patógenos) na fase vegetativa da cultura, contribuirá para o estabelecimento do equilíbrio biológico no agroecossistema, proporcionando reflexos positivos no manejo de percevejos na fase reprodutiva. Nos estádios da soja que apresentam suscetibilidade ao ataque dos percevejos (após R3), o controle deve ser realizado com base nos níveis de ação determinados pela pesquisa, que é de dois percevejos por metro de fileira de plantas para lavouras de grãos e um percevejo por metro de fileira para lavouras destinadas a sementes. Para isso, os percevejos devem ser monitorados através de amostragens utilizando o pano de batida. Essa vistoria na lavoura deve ser executada, no mínimo, uma vez por semana, a partir do início do desenvolvimento de vagens (fase de “canivetinho”), até a maturação fisiológica (R7) em diferentes pontos da lavoura, intensificando as amos-


mais tempo sobre a superfície tratada, o que intensifica a sua contaminação. O sal não é volátil, portanto, não atrai os percevejos de áreas vizinhas, como temiam alguns produtores no passado. Várias espécies de parasitoides são normalmente encontradas nas lavouras de soja atuando sobre as populações dos percevejos fitófagos. Dentre os parasitoides de ovos destacam-se as espécies Trissolcus basalis, que ocorre no estado do Paraná, e Telenomus podisi, que apresenta predominância na região Centro-Oeste do Brasil. Já Hexacladia smithii é um parasitoide de adultos dos percevejos, sendo já constatado nos estados do Paraná e de Mato Grosso do Sul. A sensibilidade desses insetos benéficos aos inseticidas é alta, sendo muitas vezes totalmente dizimados das lavouras, quando se aplicam produtos de amplo espectro.

Manejo de lagartas que atacam vagens e grãos

Semelhantemente ao abordado para os percevejos fitófagos, os surtos de lagartas que atacam vagens e grãos da soja estão intimamente associados aos desequilíbrios biológicos no agroecossistema. Esses desequilíbrios são provocados pelo uso abusivo de agroquímicos (inseticidas, fungicidas e herbicidas), especialmente durante a fase vegetativa da cultura, os quais destroem os inimigos naturais (predadores, parasitoides e patógenos) que normalmente mantêm essas pragas sob controle. Um programa de manejo integrado, que busca prevenir o surgimento de lagartas que destroem vagens e grãos de soja, deve priorizar o uso de produtos seletivos para o

complexo de inimigos naturais das pragas na fase vegetativa da soja, em detrimento aos produtos de amplo espectro de ação como piretroides e organofosforados. Em adição, as aplicações de inseticidas para o controle das pragas, especialmente na fase vegetativa da soja, devem ser realizadas sempre obedecendo os níveis de ação determinados pela pesquisa. A implementação destas duas ações contribuirá para intensificar o controle biológico natural das lagartas que atacam vagens e grãos no agroecossistema de soja, reduzindo a sua ocorrência e abundância na fase reprodutiva da cultura. Entretanto, o emprego de inseticidas químicos pode ser necessário, em certas situações, para o controle destas lagartas, devendo-se, neste caso, utilizar produtos seletivos ou até mesmo biológicos, seguindo os níveis de ação. No caso de broca-das-vagens, recomenda-se efetuar o controle químico quando for constatado cerca de 5% a 10% de vagens atacadas por essa praga, devendo a amostragem ser realizada em pelo menos um ponto por hectare, contando as vagens intactas e com danos de lagartas na área amostral. Grigolli et al (2013) avaliaram a eficácia de inseticidas químicos no controle de lagartas de Maruca vitrata na cultura da soja, constatando-se que os produtos clorpirifós, clorantraniliprole + lambdacialotrina e teflubenzurom foram os que tiveram melhor desempenho no C controle desta praga. Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Silvestre Bellettini, Univ. Estadual do Norte do Paraná

Embrapa Soja

tragens nas bordaduras, onde os insetos normalmente começam a colonização da soja. Nas amostragens, é importante identificar as formas jovens dos percevejos (ninfas) que, a partir do terceiro instar, devem ser registradas junto com os adultos. A simples observação visual das plantas de soja não expressa a real população de percevejos que pode estar ocorrendo na área. Em geral, cultivares precoces escapam dos danos dos percevejos. Porém, quando se multiplicam nessas cultivares, dispersam-se para as cultivares de ciclo médio e mais tardio, onde podem causar os maiores prejuízos. A época de semeadura influencia a dinâmica populacional dos percevejos, devendo-se evitar os plantios muito tardios, onde ocorrem as maiores concentrações desses insetos. A escassez de ingredientes ativos para o controle de percevejos e o uso abusivo de produtos nas lavouras têm proporcionado elevados surtos dessas pragas e selecionado populações resistentes aos inseticidas químicos. Para que esses problemas não sejam intensificados, recomenda-se que o mesmo inseticida não seja utilizado na mesma área repetidas vezes ou em doses maiores que as recomendadas. No período da colonização, quando as populações de percevejos estão concentradas nas bordas da lavoura, o controle pode ser efetuado somente nessas áreas marginais, evitando-se a dispersão dos insetos para toda a lavoura. Vários inseticidas são recomendados pela Comissão de Entomologia da Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil (RPSRCB) para o controle dos percevejos (www. cnpso.embrapa.br). Além da eficiência, o critério da seletividade, ou seja, o efeito dos produtos sobre os inimigos naturais, deve ser também considerado na escolha. Eventualmente, durante os meses de outubro e novembro, podem ser constatadas altas populações de percevejos fitófagos na fase vegetativa da soja. Essas infestações não causam danos significativos à cultura, não havendo, portanto, necessidade de controle do percevejo. Em lavouras de soja muito adensadas, como as que existem atualmente, os inseticidas aplicados em pulverização podem não atingir os percevejos devido ao fenômeno conhecido como "efeito guarda-chuva". Nestas condições, o uso do sal de cozinha (NaCl) na concentração de 0,5% na calda inseticida (500g para cada 100L de água) pode incrementar a mortalidade dos percevejos em pelo menos 25%, quando comparado a áreas aplicadas sem o sal. O sal apresenta um efeito arrestante sobre o percevejo, fazendo com que permaneça

Monitoramento de percevejos realizado com pano de batida de 1,5m de largura

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Soja

Arsenal eficiente

Charles Echer

Phomopsis sojae, Colletotrichum truncatum, Cercospora kikuchii, Fusarium semitectum, Sclerotinia sclerotiorum, Corynespora cassiicola, Aspergillus flavus e Rhizoctonia solani são os principais fungos transmitidos por sementes que afetam as lavouras de soja no Brasil. Para combater doenças causadas por esses patógenos o tratamento adequado com fungicidas é ferramenta fundamental dentro das estratégias de manejo integrado

A

cultura da soja está sujeita ao ataque de um grande número de doenças fúngicas que podem causar prejuízos tanto ao rendimento quanto à qualidade das sementes produzidas. Entretanto, já é possível realizar o controle econômico das doenças da soja pela utilização das tecnologias geradas pelas instituições de pesquisa brasileiras, mesmo estando a cultura sob condições climáticas adversas ao seu bom desenvolvimento e, portanto, favoráveis ao ataque das doenças. Assim sendo, o sucesso no controle dessas enfermidades vai depender

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das práticas adotadas pelo produtor, a quem cabe, juntamente com a assistência técnica, a tomada de decisões no momento oportuno. No manejo integrado das doenças da soja, não se deve usar nenhum método isolado de controle, tomando o cuidado de se adotar práticas conjuntas para obter uma lavoura sadia e, consequentemente, produção de sementes de alta qualidade e livres de patógenos. Dentre essas práticas, podem-se citar: adubação equilibrada (principalmente em relação ao potássio - K), uso de cultivares resistentes às doenças, rotação de culturas, aplicação de fungicidas

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para o controle de doenças de final de ciclo e tratamento de sementes com fungicidas para o controle de fungos das sementes e, em algumas situações, do solo.

Transmissão

A maioria das doenças de importância econômica que ocorrem na cultura da soja é causada por patógenos que podem ser transmitidos pelas sementes. Isso implica na introdução de doenças em áreas novas ou mesmo a reintrodução em áreas cultivadas em que a doença já havia sido controlada pela


adoção de práticas eficientes de manejo, como, por exemplo, a rotação de culturas. Através das sementes, esses microrganismos sobrevivem através dos anos e se disseminam pela lavoura, como focos primários de doenças.

em sementes de soja é F. semitectum. É considerado patogênico, por afetar a germinação em laboratório. De maneira semelhante a Phomopsis spp., o fungo F. semitectum está frequentemente associado a sementes que sofreram atraso na colheita ou deterioração no campo.

Patógenos-alvo

Phomopsis sojae

Este fungo frequentemente reduz a qualidade das sementes de soja, especialmente quando ocorrem períodos chuvosos associados a altas temperaturas, durante a fase de maturação. Este patógeno está frequentemente associado às sementes que sofreram atraso na colheita, principalmente devido à ocorrência de chuvas. Phomopsis sojae é o principal agente causador da baixa germinação de sementes de soja, no teste padrão de germinação no laboratório, à temperatura de 25ºC.

Sclerotinia sclerotiorum

Causador da podridão branca da haste e da vagem, este patógeno tem nas sementes a sua principal fonte de inóculo primário da doença. A transmissão por semente pode ocorrer tanto através de micélio dormente (interno) quanto por escleródios misturados às sementes. O fungo, devido à formação de estruturas de resistência (escleródios), é de difícil erradicação após introduzido numa área. Este patógeno produz apotécios sobre

Corynespora cassiicola

Causador da mancha-alvo, esse fungo é transmitido pelas sementes de soja. Dentre as estratégias de manejo recomendadas o tratamento de sementes é uma medida que pode auxiliar no manejo da mancha-alvo, contribuindo para redução do inóculo nas áreas de cultivo. C. cassiicola é um patógeno transmitido por sementes e somente o ativo carbendazim tem hoje registro em tratamento de sementes para o seu controle. Portanto, torna-se importante conhecer a ação de novos fungicidas em tratamento de sementes, os quais já são recomendados para outros alvos na cultura, como mais uma ferramenta dentro do manejo da mancha-alvo.

Ademir Henning

Um grande número de microrganismos fitopatogênicos pode ser transmitido pelas sementes de soja, sendo o grupo dos fungos o mais numeroso. A ocorrência de fungos em sementes de soja tem sido relatada em diversos países do mundo onde a cultura é explorada. Até 1981, já havia registro de 35 espécies de fungos transmitidos pelas sementes, sendo que os de maior importância no Brasil são Phomopsis sojae, Colletotrichum truncatum, Cercospora kikuchii, Fusarium semitectum, Sclerotinia sclerotiorum, Corynespora cassiicola, Aspergillus flavus e Rhizoctonia solani.

seus próprios escleródios, que são as estruturas de sobrevivência.

Colletotrichum truncatum

É o causador da antracnose, que tem nas sementes o mais eficiente veículo de disseminação. É comum o aparecimento de sintomas nos cotilédones, caracterizados pela necrose, logo após a germinação. Esse fungo pode causar a deterioração das sementes, morte de plântulas e infecção sistêmica em plantas adultas.

Cercospora kikuchii

O sintoma mais evidente do ataque deste fungo é observado nas sementes, que ficam com manchas típicas de coloração roxa. Porém, vale ressaltar que nem todas as sementes com este tipo de sintoma apresentam o fungo. Por outro lado, sementes aparentemente sadias (sem a presença da mancha púrpura no tegumento) podem estar contaminadas com este patógeno. Assim, só através do Teste de Sanidade de Sementes é que se pode ter a certeza da presença ou não desse patógeno nas sementes. Trabalhos têm demonstrado não haver qualquer efeito negativo desse fungo na qualidade da semente.

Fusarium semitectum

Dentre as espécies de Fusarium, a mais frequentemente encontrada (98% ou mais)

O tratamento de sementes industrial (TSI) tem amplo potencial de crescimento no Brasil

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Ademir Henning

Avanços tecnológicos têm permitido progressos importantes no tratamento de sementes

Aspergillus flavus

Diversas espécies de Aspergillus ocorrem em sementes de soja, porém, a mais frequente é A. flavus. Tem sido observado que, em sementes colhidas com teores elevados de umidade, um retardamento do início da secagem por alguns dias é suficiente para reduzir sua qualidade, devido à ação desse fungo. Quando encontrado em alta incidência, pode reduzir o poder germinativo das sementes e a emergência de plântulas no campo.

Rhizoctonia solani

Os principais sintomas dessa doença ocorrem na fase inicial de desenvolvimento da soja e são aqueles decorrentes da doença conhecida por tombamento de plântulas ou damping–off, que pode ocorrer tanto em pré quanto em pós-emergência. Entre os patógenos responsáveis, destacam-se Rhizoctonia solani, Sclerotium rolfsii e Pythium spp. Há diferenças básicas entre os sintomas característicos que causam. Em todos os casos, as plântulas emergem normalmente e, após alguns dias, apresentam menor porte, as folhas escurecem e murcham e as plantas morrem. Na região CentroOeste do Brasil, principalmente na soja cultivada nos Cerrados, merece destaque o tombamento causado por R. solani, que é um fungo polífago, pois ataca um grande número de espécies vegetais. Este patógeno é habitante natural do solo. Pode ser transmitido pelas sementes, porém, raramente isto ocorre, motivo pelo qual a semente não é considerada a principal fonte de inóculo desse fungo. A planta atacada por R. solani

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desenvolve apodrecimento seco das raízes, estrangulamento do colo e lesões deprimidas e escuras (marrom-avermelhada) no hipocótilo, abaixo e ao nível do solo, resultando em murcha, tombamento ou sobrevivência temporária com emissão de raízes adventícias acima da região afetada. Estas plantas geralmente tombam, num período compreendido entre pré-emergência e dez a 15 dias após a emergência.

Fome oculta

Em algumas situações, infecções nos estádios iniciais permanecem dormentes, não provocando a morte das plantas. Estas, por sua vez, tornam-se amareladas (semelhantes àquelas com deficiência de nitrogênio) e subdesenvolvidas (atrofiadas, de menor porte e raquíticas), sendo que, em função deste aspecto, muitas vezes o stand parece irregular. Na maioria das vezes, estas plantas, mesmo infectadas de uma forma sistêmica pelo patógeno, passam despercebidas dentro da lavoura, completam seu ciclo reprodutivo sem que estes sintomas sejam observados. É de se esperar que estas plantas produzam menos do que as sadias. A este tipo de situação e sintomatologia que estamos chamando de “fome oculta”.

Escolha do fungicida

Para a escolha correta de um fungicida, o primeiro aspecto que deve ser considerado é o organismo alvo do tratamento. Neste contexto, é sabido que, de forma variável, os fungicidas diferem entre si quanto ao espectro de ação ou especificidade. Assim, a ação combinada de fungicidas sistêmicos com protetores tem sido

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uma estratégia das mais eficazes no controle de patógenos das sementes e do solo, uma vez que o espectro de ação da mistura é ampliado pela ação de dois ou mais produtos. Desse modo, verificam-se melhores emergências de plântulas no campo com a utilização de misturas, em comparação ao uso isolado de um determinado fungicida. Deve-se ressaltar que o efeito principal do tratamento de sementes de soja com fungicidas é observado na fase inicial do desenvolvimento da cultura (no máximo até 15 dias após a emergência). Nesse período, ocorre uma eficiente proteção da soja, proporcionando a obtenção de populações adequadas de plantas em função da uniformidade na germinação e emergência. Entretanto, deve-se destacar que, caso as condições climáticas sejam favoráveis, após este período de proteção alguns fungos poderão se instalar nas plântulas de soja – o que é normal - em decorrência da perda do poder residual dos fungicidas, o que não significa que o tratamento foi ineficiente. Atualmente, as misturas mais utilizadas para o tratamento de sementes de soja são: carbendazim + thiram, carboxin + thiram, fludioxonil + mefenoxan, fipronil + piraclostrobin + tiofanato metílico, fludioxonil + mefenoxan + thiabendazole, tiofanato metílico + fluazinan e clorotalonil + tiofanato metílico

Tendências para o futuro

Atualmente, a agricultura vem experimentando grandes avanços tecnológicos, o que, há muito tempo, não era possível em função da indisponibilidade dessas tecnologias. As principais mudanças decorrem da incorporação dessas novas tecnologias, onde as mais recentes estão relacionadas à indústria de sementes e de fungicidas. Quando se fala em progressos no tratamento de sementes com fungicidas, duas situações apresentam-se como realidade: (I) o tratamento de sementes industrial (TSI) e (II) o uso de fungicidas com características que vão além da fungitoxicidade.

Tratamento de sementes industrial (TSI)

O tratamento de sementes industrial (TSI) tem amplo potencial de crescimento no Brasil. Considerando a modernização da agricultura, o TSI agrega vantagens relacionadas à diminuição de riscos de ataque de fungos alvos do tratamento de sementes, por garantir uma maior precisão do tratamento. Esta prática caracteriza-se basicamente pela utilização de equipamentos especiais que asseguram cobertura, dose e qualidade das sementes, possibilitando a comercialização das mesmas já tratadas dentro de elevados e seguros padrões de qualidade. Existem dois sistemas de tecnologias de aplicação em uso


no TSI: o sistema de tratamento de bateladas e o de fluxo contínuo. Ambos proporcionam a mesma qualidade de aplicação do fungicida, do pó secante e do polímero, diferindo principalmente pelo consumo de energia, volume de sementes tratadas, versatilidade de aplicação de vários ativos e na performance de produção do tratamento de sementes. O TSI é realizado por profissionais especializados que operam sistemas altamente sofisticados e computadorizados que propiciam o monitoramento de todas as operações envolvidas no processo.

Além da fungitoxicidade

Os últimos 50 anos experimentaram grandes avanços na tecnologia relacionada aos defensivos agrícolas. Até recentemente o uso de fungicidas tinha por objetivo exclusivamente o controle de fitopatógenos. O surgimento de novas moléculas de fungicidas com características que vão além da fungitoxicidade é outro ponto importante quando se fala em progressos no tratamento de sementes. Os fungicidas modernos da atualidade pertencem ao grupo daqueles que atuam em um único sítio de ação, diferentemente dos compostos orgânicos e inorgânicos de antigamente, que tinham atuação multissítios. A maioria desses fungicidas é absorvida pela planta através das raízes, chegando até a parte aérea, apresentando desde translocação

OBJETIVOS

Quando tratar

1) Erradicar ou reduzir, aos mais baixos níveis possíveis, os fungos presentes nas sementes; 2) Proporcionar a proteção das sementes e plântulas contra fungos do solo; 3) Promover condições de uniformidade na germinação e emergência; 4) Evitar o desenvolvimento de epidemias no campo; 5) Proporcionar maior sustentabilidade à cultura pela redução de riscos na fase de implantação da lavoura; 6) Promover o estabelecimento inicial da lavoura com uma população ideal de plantas.

1) Quando as sementes estiverem contaminadas por fungos fitopatogênicos (determinado através da realização do teste de sanidade de sementes); 2) Quando as condições de semeadura são adversas, tais como: ocorrência de chuvas muito pesadas, que provocam a formação de uma crosta grossa na superfície do solo, dificultando a emergência das plântulas, solo compactado, semeadura profunda, semeadura em solo com baixa disponibilidade hídrica, semeaduras em solos com baixas temperaturas e alto teor de umidade; 3) Em casos de práticas de rotação de culturas ou de cultivo em áreas novas.

translaminar à sistêmica completa. Além disso, os avanços relacionados à formulação e adjuvantes contribuíram ainda mais para o aumento do desempenho desses fungicidas, que vão desde a elevada atividade intrínseca até um efeito duradouro mais pronunciado (long lasting effect), isso a taxas de aplicação (doses) bem mais baixas que aquelas observadas para os fungicidas mais antigos (30-125g/ha para DMIs, QoIs e SDHI

carboxamidas em comparação com 1.000g/ ha para os organometálicos, ditiocarbamatos e fitalimidas). Esses produtos são capazes de atuar também em rotas metabólicas secundárias, culminando por reduzir o impacto dos patógenos sobre as plantas e, finalmente, levando ao seu controle. Algumas estrobilurinas apresentam estas características, como, por exemplo, a piraclostrobina e alguns fungicidas


Dirceu Gassen

Tratar as sementes é importante para garantir proteção na fase inicial do desenvolvimento da cultura

do grupo das carboxamidas, como o sedaxane. Dessa forma, produtos com ação exclusiva sobre patógenos tendem a ceder terreno para aqueles cujo efeito ocorre sobre rotas metabólicas secundárias, ou mesmo através do fortalecimento de processos de síntese nas plantas, culminando por reduzir o impacto dos patógenos sobre as plantas e, finalmente, levando ao seu controle. Com o lançamento das estrobilurinas e com a evolução deste grupo de produtos químicos, o conceito de controle ganhou novas perspectivas, devido à comprovação de influências diretas advindas da utilização desses produtos em processos fisiológicos de plantas não infectadas. A essa atividade, denominou-se “efeito fisiológico”. Um dos mais promissores é a estrobilurina piraclostrobina que, além da ação fungicida, tem proporcionado aumento de produtividade atribuído aos efeitos fisiológicos proporcionados, os quais são conhecidos nas fases vegetativa e reprodutiva. Um novo grupo de fungicidas para tratamento de sementes está em desenvolvimento pela indústria: os SDHIs (Succinate De-Hydrogenase Inhibitors ou inibidores da enzima desidrogenase do succinato). Dentre os produtos pertencentes a este grupo, destaca-se o sedaxane, ingrediente ativo pertencente à classe das carboxamidas. Esse fungicida, desenvolvido especificamente para o tratamento de sementes, já está registrado em diferentes países e em fase de registro para uso em soja no Brasil. Possui a capacidade de promover um excelente enraizamento das

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culturas, quando aplicado via tratamento de sementes, por atuar em rotas metabólicas secundárias, conferindo às plantas, além do poder fungicida intrínseco à sua molécula, algum efeito secundário sobre sua fisiologia, atuando como um estimulante do enraizamento.

Considerações finais

De todos os patógenos comentados anteriormente, os mais importantes do ponto de vista epidemiológico e de potencial de danos são Sclerotinia sclerotiorum, Colletotrichum truncatum e Corynespora cassiicola, que têm nas sementes a sua principal via de sobrevivência, transmissão e disseminação além do fungo de solo Rhizoctonia solani. Para os fungos de sementes anteriormente citados (Sclerotinia sclerotiorum, Colletotrichum truncatum e Corynespora cassiicola), considerando o portfólio de fungicidas recomendados para o controle desses patógenos nas culturas da soja, pode-se afirmar que o produtor tem a sua disposição excelentes opções para o tratamento de sementes, que tradicionalmente é realizado com produtos curativos, protetores e/ou sistêmicos. Estes fungicidas, além de controlar eficientemente o inóculo inicial transmitido através da semente infectada, propiciam residual de 12 a 15 dias na proteção da plântula. Atualmente, o tratamento de sementes com dois ou três princípios ativos tem sido a maneira mais eficiente de controle desses patógenos presentes nas sementes, com ênfase para os fungicidas do grupo de benzimidazóis,

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carboxamidas, algumas estrobilurinas e uma fenilpiridinilamina. Das misturas fungicidas atualmente disponíveis no mercado, compostas por ingredientes ativos pertencentes a esses grupos de fungicidas, os melhores resultados no controle desses patógenos presentes nas sementes de soja estão sendo obtidos com fluazinam + tiofanato metílico, carbendazim + thiram, fludioxonil + mefenoxan + thiabendazole, fipronil + pyraclostrobin + tiofanato metílico e sedaxane, nas doses recomendadas pelos fabricantes. Em relação ao fungo de solo Rhizoctonia solani existe uma lacuna a ser preenchida quando se considera o portfólio de produtos recomendados para o tratamento de sementes de soja. Há a necessidade premente de novas moléculas mais específicas para o controle das doenças causadas por esse patógeno (quer seja em relação ao tombamento de plântulas ou quanto à fome oculta). Resultados de pesquisa têm demonstrado que as misturas que têm em suas formulações fungicidas à base de estrobilurinas e de carboxamidas são as mais eficazes no controle desse patógeno. Como exemplo de fungicidas pertencentes a esses grupos é possível citar algumas estrobilurinas que apresentam estas características, como, por exemplo, a piraclostrobina, e alguns fungicidas do grupo das carboxamidas, como o sedaxane. Em se tratando da fome oculta, por exemplo, há necessidade de produtos que apresentem maior sistemicidade em termos de tempo de proteção mais longo, ou seja, um efeito duradouro mais pronunciado (longlasting effect). Doenças causadas por R. solani são monocíclicas, não havendo a produção de inóculo secundário. Isso quer dizer que não há transmissão de planta para planta, sendo que o inóculo vem todo do solo. Nesse contexto, quanto mais tarde a doença aparecer, menores serão os danos ocasionados. A única maneira de minimizar esses efeitos negativos, fazendo com que a doença entre mais tarde na lavoura, seriam fungicidas para tratamento de sementes com características de sistemicidade mais duradoura, conforme discutido anteriormente. Com a intensificação da agricultura, tem-se observado um aumento significativo no uso e na dependência desses fungicidas de alta performance que atuam em um único sítio de ação, o que representa um aumento no risco de resistência aos patógenos-alvo. Dessa forma, o uso de misturas de fungicidas de diferentes modos de ação é a estratégia mais eficiente no sentido de aumentar o número de alvos a serem controlados, bem como no manejo da resistência, prolongando o tempo de vida dos ativos. C Augusto César Pereira Goulart Embrapa Agropecuária Oeste



Soja

Monitoramento e controle

Fotos Divulgação

A ferrugem asiática, causada por Phakopsora pachyrhizi, é uma doença extremamente agressiva e de manejo exigente. Por isso, para preservar a eficiência dos fungicidas disponíveis no mercado e garantir que o produtor não perca ferramentas importantes de controle é indispensável o acompanhamento criterioso e contínuo da sensibilidade do fungo à aplicação destes defensivos

D

e acordo com a Embrapa Soja, a ferrugem asiática é atualmente uma das doenças mais importantes que afetam a cultura.

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No Brasil, sua primeira ocorrência foi detectada em 2001 e, desde a safra de 2007/2008, os danos em produtividade se mantêm relativamente mais baixos em

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decorrência da aplicação de fungicidas. A fim de preservar a eficiência dos fungicidas e acompanhar o comportamento de sensibilidade da ferrugem asiática aos mecanismos de controle existentes no mercado, grandes esforços são investidos nos estudos de monitoramento da sensibilidade de Phakopsora pachyrhizi (fungo causador da ferrugem da soja) aos fungicidas dos grupos químicos dos DMIs (fungicidas que atuam na demetilação da síntese de esteróis nos fungos, como o ingrediente ativo tebuconazol), QoIs (como os princípios ativos azoxistrobina, piraclostrobina e trifloxistrobina) – iniciados na safra 2005/2006 – e dos SDHIs (carboxamidas) – mais recentemente. No caso da Bayer CropScience, tais pesquisas estão sendo conduzidas por meio de uma metodologia de monitoramento desenvolvida por pesquisadores do Centro de Pesquisa e Inovação Bayer em parceria com especialistas do Instituto de Fungicidas da empresa, em Monheim, na Alemanha, reconhecida e adotada pelo Frac Internacional (Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas) e também validada pela comunidade científica nacional e internacional. Desde o início deste trabalho, os ensaios são conduzidos seguindo a mesma metodologia e os procedimentos. A proposta é estabelecer uma base de comparação entre os valores de EC 50 (concentração de produto necessária para controlar 50% dos indivíduos) de uma população de fungo que não sofreu pressão de seleção por fungicidas com os valores constatados nos estudos de monitoramento para cada ingrediente ativo em questão, relacionando-os com resultados dos mesmos produtos em campos de ensaios – conduzidos paralelamente. Os principais objetivos


Ferrugem da soja não tratada

Trifloxistrobina, inibindo a germinação de esporos

Protioconazol, inibindo a biossíntese do ergosterol

são: identificar com antecedência uma possível situação de resistência iminente (quando o mecanismo de resistência é quantitativo), verificar se as estratégias de manejo da resistência apresentam resultados positivos e, finalmente, verificar se a resistência é a real causa da ausência de controle da doença. Neste caso, é importante verificar a variação na sensibilidade do fungo P. pachyrhizi a fungicidas. Os resultados obtidos auxiliam na tomada de decisões para o controle de determinados fungos fitopatogênicos em plantas cultivadas, tais como definição do intervalo de aplicação, doses, combinação e rotação entre diferentes produtos com modo e/ou sítio de ação diferenciado; bem como definir a demanda em buscar novas moléculas atuantes no controle deste fungo. Observações a partir da safra 2007/2008 demonstraram que as amostras coletadas nas principais regiões produtoras de soja do Brasil – no mês de março – predominaram as populações menos sensíveis aos DMIs de primeira geração (triazóis como o ingrediente ativo tebuconazol), principalmente em alguns estados do Centro-Oeste. Na safra 2008/2009, as amostras coletadas no mesmo mês e os locais da safra anterior mostraram que o predomínio de populações menos sensíveis aos DMIs de primeira geração estendeu-se para outras localidades do País, além de estados das regiões Centro-Oeste, Sudoeste (São Paulo e Minas Gerais) e Sul (Paraná e Rio Grande do Sul). Entre as safras 2009/2010 e 2013/2014, observou-se que populações menos sensíveis aos DMIs de primeira geração foram detectadas em praticamente todos os estados brasileiros produtores de soja. A flutuação da sensibilidade do fungo aos fungicidas deste grupo químico ocorre, claramente, desde a safra 2007/2008 - período em que os triazóis deixaram, oficialmente, de ser

recomendados para aplicações de forma isolada na cultura. Para os fungicidas do grupo das estrobilurinas (QoIs) não foram observadas quaisquer mudanças de desempenho neste período, em nenhuma região, evidenciando que os ingredientes ativos pertencentes a este grupo químico continuam importantes e indispensáveis no controle da ferrugem-asiática da soja.

Neste sentido, é importante ressaltar que combinações de dois ou mais modos de ação para um fungicida devem ser realmente complementares, ou seja, atuando em sítios de ação completamente distintos da fase de desenvolvimento do fungo, como, por exemplo, inibindo a biossíntese do ergosterol – substância importante para manutenção da integridade da membrana celular dos fungos, em complemento com a inibição da respiração mitocondrial (complexo III), que bloqueia a transferência de elétrons entre o citocromo b e o citocromo c1, no sítio QoI, interferindo na produção de ATP. A combinação trifloxistrobina + protioconazol age de duas maneiras: no controle da ferrugem asiática da soja e no complexo de doenças (tais quais manchaalvo, oídio, mela, antracnose e doenças de final de ciclo). Por isso, é recomendado o uso, preventivamente, na primeira aplicação ou nas duas primeiras quando o plano de utilização de fungicidas foliares for de mais de duas aplicações. Desta forma, é possível explorar bem o espectro de ação oferecido, iniciar de forma robusta a prevenção e o controle da ferrugem da soja e, consequentemente, melhorar ainda mais o desempenho do fungicida C subsequente. Rafael Pereira, Rodrigo Guerzoni e Cleonilda Santos, Bayer CropScience

Inovação na defesa contra a resistência

Desde o início do monitoramento até o seu lançamento no mercado, o protioconazol tem apresentado os menores valores quando determinada a EC50 no programa de monitoramento da ferrugem. Este é o resultado de milhares de experimentos em áreas de demonstração de diferentes regiões produtoras de soja no Brasil, que receberam o tratamento trifloxistrobina + protioconazol nas primeiras aplicações. A comparação é feita com fungicidas recentemente lançados no mercado, como as combinações de estrobilurinas (QoI) e carboxamidas (SDHI). Por se tratar de um fungicida composto por um inovador ingrediente ativo e ligação diferenciada no sítio de ação do fungo, o protioconazol é a nova geração no grupo químico dos DMIs, sendo quimicamente classificado como triazolintiona (Frac classification on mode of action 2014 – www.frac.info).

Efeito do protioconazol em ferrugem da soja

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Trigo

Viroses no ataque Fotos Douglas Lau – Embrapa Trigo

Nanismo amarelo, mosaico comum e mosaico estriado estão entre as infecções causadas por vírus na cultura do trigo. Medidas integradas, adotadas de modo racional e criterioso, são necessárias para que o controle ocorra de modo eficiente

O

trigo e outros cereais de inverno são afetados por diversas viroses. Nas condições brasileiras, duas foram relatadas desde a expansão da triticultura, nos anos 1970, e continuam sendo frequentes, causando prejuízos econômicos: o nanismo amarelo, causado por espécies dos vírus Barley yellow dwarf virus (BYDV) e Cereal yellow dwarf virus (CYDV), e o mosaico comum do trigo, atribuído ao Soil-borne wheat mosaic virus (SBWMV). Recentemente também foi detectado no país o mosaico estriado do trigo, causado por Wheat streak mosaic virus (WSMV).

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Nanismo amarelo

Os nomes dos vírus de plantas costumam fazer referência ao hospedeiro e aos sintomas típicos decorrentes da infecção. No caso do Barley yellow dwarf virus (BYDV - Luteovirus), a descrição original ocorreu em cevada e os sintomas evidentes nesse hospedeiro são forte amarelecimento das folhas (que ocorre no sentido do ápice para a base da folha), redução do crescimento e atraso no desenvolvimento da planta. A redução de crescimento não se restringe à altura (nanismo), também podem ser reduzidos o número de afilhos, a massa foliar e a massa do sistema radicular. Entre os sintomas mais característicos desta

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virose está a alteração da coloração do limbo foliar. No trigo, geralmente ocorre o amarelecimento do limbo foliar, mas, dependendo da cultivar, outras tonalidades mais avermelhadas podem ser observadas. Além da alteração da cor, ocorrem modificações morfológicas, com o limbo foliar adquirindo aspecto lanceolado e tornandose mais rígido. O conjunto destas alterações morfo-fisiológicas pode levar ao atraso no desenvolvimento da planta (aumento do tempo necessário para completar o ciclo) e tornar a planta menos capaz de suportar estresses ambientais, como o déficit hídrico. A diminuição da produtividade é decorrente da redução do número e do peso


dos grãos. A expressão dos sintomas é variável e depende do nível de suscetibilidade e tolerância da cultivar e da época em que as plantas foram infectadas. Quanto mais cedo ocorrer a infecção, mais severos tendem a ser os sintomas. Assim, os sintomas nem sempre são evidentes, podendo ser percebidos apenas de maneira comparativa entre plantas infectadas e não infectadas. Os sintomas geralmente são observados em grupos de plantas (reboleiras), que correspondem às áreas de multiplicação e dispersão do afídeo vetor. As espécies de BYDV (Luteovirus) e CYDV (Polerovirus) são transmitidas por afídeos (pulgões) (Hemiptera, Aphididae). Das várias espécies de BYDV (BYDV-PAV, BYDV-PAS, BYDV-MAV) e de CYDV (CYDV-RPV, CYDV-RPS), no Brasil predomina BYDV-PAV. No outono, este vírus pode ser facilmente encontrado em aveia-preta (cujas folhas ficam com uma coloração avermelhada e o limbo da folha enrolado). Também em plantas de aveia é comum encontrar o pulgão da aveia (ou do colmo) Rhopalosiphum padi, um dos mais eficientes transmissores de BYDVPAV. Este vírus também é transmitido por afídeos que ocorrem em estádios mais avançados do trigo, como Metopolophium dirhodum (pulgão da folha) e Sitobion avenae (pulgão da espiga). Amplamente distribuído nas regiões tritícolas brasileiras, este vírus pode limitar a produção de grãos. As cultivares brasileiras de trigo são suscetíveis ao BYDV-PAV (ou seja, são infectadas pelo vírus), mas variam quanto à tolerância (capacidade de suportar a infecção viral). Estudos de caracterização da reação de cultivares, por meio de inoculação no estádio inicial de desenvolvimento (duas a três folhas), realizados com as cultivares de trigo recomendadas para plantio no Rio Grande do Sul, no período de 2011 a 2013, evidenciaram que em média as cultivares avaliadas apresentaram uma redução do seu potencial produtivo de aproximadamente 50%.

e a primavera, quando as temperaturas são amenas e as populações de afídeos numerosas, ocorre migração de afídeos de gramíneas infectadas para gramíneas sadias, permitindo a transmissão do vírus. Para as condições brasileiras, pode ocorrer a migração dos afídeos de plantações de aveia para os cultivos recém-implantados de trigo.

Controle

O potencial de dano deste complexo afídeo-vírus à produção de trigo resulta da interação dos componentes: incidência da doença decorrente das condições epidemiológicas e do nível de tolerância/ resistência das cultivares. Anos de invernos secos e com temperaturas elevadas favorecem as populações de afídeos, permitindo aumento da incidência da virose. Para controlar as populações de afídeos pode-se combinar práticas culturais (evitar a presença de plantas reservatórios), o controle químico e biológico. O controle biológico, realizado principalmente por espécies de microimenópteros (“vespinhas”), tem grande êxito no Brasil, reduzindo de forma considerável a população de afídeos. O controle químico pode ser realizado no tratamento de sementes e em aplicações na parte aérea. Os níveis de ação preconizados são 10% das plantas com afídeos nas fases vegetativas e dez pulgões por afilho/espiga nas fases reprodutivas. As cultivares de trigo, mesmo sendo suscetíveis, apresentam variação da reação ao BYDV. Assim, pode-se se optar por

cultivares que sejam menos intolerantes principalmente nas regiões de clima mais quente e, portanto, mais sujeitas à transmissão do vírus.

Mosaico comum

O mosaico comum do trigo no Brasil ocorre principalmente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no sul do Paraná, sendo atribuído ao Soil-borne wheat mosaic virus (SBWMV). A sua distribuição está diretamente relacionada às condições do clima frio e úmido que favorece o vetor Polymyxa graminis. Os danos à produção, causados por mosaico, em geral, são limitados a pequenas extensões, mas como cultivares suscetíveis podem ter perda total, sob condições ambientais favoráveis, grandes áreas cultivadas com esses materiais podem ser comprometidas.

Sintomas

Mosaico é um sintoma que se caracteriza pela alternância entre tecidos sadios e afetados. Nas folhas, o mosaico expressa-se pela alternância entre áreas verdes e descoloridas (geralmente amareladas). Padrões em listras são comuns. Plantas de trigo com mosaico comum apresentam-se amareladas e com crescimento retardado. Dependendo da cultivar, pode ocorrer o enrosetamento, com a formação abundante de brotações curtas. Muitas vezes não ocorre o espigamento. A distribuição de plantas doentes no campo, normalmente, ocorre em áreas definidas, preferencialmente em locais onde a drenagem do solo não é boa.

Ciclo da doença

Para que o vírus possa ser disseminado, são necessárias as presenças de plantas hospedeiras e do afídeo vetor. Ao se alimentar da seiva de uma planta infectada, o afídeo adquire partículas virais, que migram pelo seu trato digestivo, hemocele e acumulamse na glândula salivar. O vírus é retido nas mudanças de fase do afídeo, mas não é transmitido à sua progênie. A transmissão ocorre quando o afídeo virulífero alimentase de uma planta sadia. O vírus não é transmitido por outros insetos, sementes, solo ou mecanicamente. Durante o outono

Redução do crescimento de plantas de trigo devido à infecção por Barley yellow dwarf virus. As plantas no centro da reboleira foram infectadas no início do seu desenvolvimento, sendo mais afetadas

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Fotos Douglas Lau – Embrapa Trigo

Impactos à produtividade causados pelo nanismo amarelo. O gráfico representa a distribuição de frequência por classe de dano % (redução do potencial produtivo quando da infecção em estádio inicial de desenvolvimento) sofrido pelas cultivares que compunham os ensaios estadual de cultivares do Rio Grande do Sul nos anos 2011, 2012 e 2013

Avermelhamento das folhas de aveia-preta causado por BYDV-PAV

Etiologia

Embora o SBWMV (Furovirus) tenha sido primariamente atribuído como agente causal do mosaico do trigo no Brasil, outros vírus como o Wheat spindle streak mosaic virus (WSSMV - Bymovirus) também podem estar presentes. Em comum estes vírus são transmitidos pelo protista Polymyxa graminis, um parasita obrigatório de raízes de plantas.

Epidemiologia

As epidemias da doença estão diretamente ligadas às condições ambientais

que favorem a disseminação do vetor P. graminis. Esse parasita obrigatório é capaz de colonizar raízes de várias gramíneas e de transmitir várias espécies de vírus. Possui duas fases de vida: primária ou esporangial (com produção de zoósporos – esporos flagelados que se movimentam na presença de água) e secundária ou esporogênica (com produção de esporos de resistência). Em períodos frios e úmidos (água livre no solo), os zoósporos são liberados e infectam as raízes de plantas hospedeiras. Em épocas desfavoráveis, o fungo sobrevive na forma de esporo de resistência. No Brasil, em áre-

as deixadas em pousio no inverno por cinco anos, verificou-se a ocorrência da doença quando do plantio de cultivares suscetíveis. Os esporos podem ser transportados facilmente com solo contaminado.

Controle

O longo período de sobrevivência do vetor e a diversidade de plantas hospedeiras dificultam o controle desta virose de outra forma que não por meio da resistência genética. Assim, em áreas com histórico da doença recomenda-se optar por cultivares resistentes ao mosaico comum. Em geral, os obtentores divulgam a reação de suas cultivares a esta virose.

Mosaico estriado do trigo

Diferentemente das duas viroses anteriores, o mosaico estriado do trigo Wheat streak mosaic virus (WSMV) foi recentemente relatado na América do Sul, primariamente na Argentina e, posteriormente, no Brasil. Na Argentina, já ocorreram epidemias em condições de campo. No Brasil, o vírus e seu ácaro vetor vêm sendo monitorados, não havendo, até o momento, epidemias em condições de lavoura.

Vetor

Sintomas de mosaico em folha de trigo causado por Wheat streak mosaic virus

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O ácaro do enrolamento do trigo, Aceria tosichella, Keifer (Prostigmata: Eriophyidae) é muito pequeno e de difícil observação. Esbranquiçado e de corpo alongado, costuma se alojar na bainha das folhas. Apenas em grandes populações causa danos às plantas. Porém, é capaz de transmitir diferentes espécies de vírus, sendo as mais importantes Wheat streak mosaic virus (WSMV - Potyviridae, Tritimovirus), Wheat mosaic virus (WMoV) e Triticum



mosaic virus (TriMV–Potyviridae).

Reação de cultivares de trigo – Ensaio estadual de cultivares 2011, 2012 e 2013 - ao BYDV–PAV, agente causal do nanismo amarelo. As células em branco não contêm informação, pois a cultivar não estava em teste naquele ano. Valores médios devem ser considerados com cautela, pois algumas cultivares foram avaliadas em um único ano

Distribuição

Na América do Sul, vírus e vetor foram detectados na última década e monitoramento a campo realizado desde 2006 indica que este complexo está em expansão. No Brasil, o número de localidades com ocorrência de A. tosichella e o número de plantas hospedeiras têm ampliado, sendo que, além do norte e noroeste do Rio Grande do Sul, há detecção positiva também no oeste de Santa Catarina e centro-sul do Paraná. Pelo menos duas linhagens de A. tosichella estão presentes no Brasil e na Argentina. Em 2006, o único vírus descrito na América do Sul era o WSMV, sendo posteriormente relatado o HPV e mais recentemente há indícios de TriMV (ambos na Argentina). No Brasil, o WSMV foi detectado e a população viral assemelha-se à da Argentina, o que sugere a introdução a partir de uma fonte comum ou migração do vírus entre estes países.

Sintomas

Os sintomas de infecção por WSMV podem ser confundidos com mosaico comum. As plantas de trigo infectadas exibem, inicialmente, pequenas lesões cloróticas nas folhas mais jovens. Evoluem para estrias amarelas paralelas às nervuras das folhas, que, posteriormente, se fundem, formando um padrão de estrias verdes e amarelas em linhas descontínuas, típicas de mosaico.

Controle

No Brasil, apesar da ampliação da área com ocorrência do vetor A. tosichella, até o momento as populações são pouco numerosas, não sendo evidenciados surtos epidêmicos em condições de lavoura.

Sintomas de mosaico comum em planta de trigo

Nos países em que ocorrem, as epidemias normalmente estão associadas à presença de plantas que atuam como reservatório do ácaro e do vírus. Podem atuar como reservatórios outras gramíneas cultivadas com o milho ou gramíneas daninhas. Em tais situações, recomenda-se a eliminação de gramíneas da área antes do plantio das culturas de inverno. O controle químico com acaricidas não é usualmente empregado em condições de lavoura. A resistência das cultivares de trigo empregadas no Brasil ao WSMV vem sendo caracterizada, revelando que são suscetíveis, embora algumas exibam sintomas menos severos. Douglas Lau, Embrapa Trigo

Conjunto de plantas com sintomas de mosaico. Geralmente a doença ocorre em reboleiras, mas sob condições favoráveis grandes áreas de lavoura podem ser afetadas (esquerda). Aceria tosichella – Ácaro do enrolamento do trigo e vetor do Wheat streak mosaic virus (direita)

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Syngenta

Empresas

Tratamento eficaz

O Seedcare Institute completa cinco anos de atuação no Brasil dedicados a disseminar o conhecimento sobre tratamento de sementes entre os diversos agentes do setor

C

om o objetivo de prestar serviços e desenvolver soluções completas e integradas que alavanquem o negócio de tratamento de sementes da Syngenta, foi criado em 2009 o Seedcare Institute. Uma de suas principais missões perseguidas reside em, através de treinamentos e suporte a eventos de campo, levar a mensagem de qualidade e tecnologia aos clientes produtores de sementes e também aos usuários finais das sementes tratadas. O trabalho realizado pelo instituto é amplo. No mês em que completa cinco anos de atuação, o Seedcare contabiliza mais de 3,5 mil visitantes, treinamentos e palestras que superam mil horas, além da difusão de conhecimento através de várias publicações

em congressos e eventos científicos. Em parceria com outros departamentos da Syngenta, o Seedcare Institute também trabalha no desenvolvimento de tecnologias, processos e capacitações que minimizem os riscos de contaminação oriundos do manuseio de produtos químicos e sementes tratadas. Dispositivos de controle de poeira, sistemas fechados e automatizados de transferência e aplicação de químicos, capacitação de operadores, fazem parte do dia a dia do Seedcare Institute e esse conhecimento é usado para ajudar os clientes a adequarem suas instalações e processos às exigências legais para o manuseio de defensivos. O Seedcare Institute faz parte de uma

rede de institutos, cujo órgão central se encontra na Suíça e é responsável por coordenar o trabalho em nível global. Além do instituto central, na Suíça, existem três outros com alcance regional: no Brasil, em Holambra (Latam), nos EUA, em Stanton (Noram), e na China, em Beijing (Apac). Em países-chave há ainda institutos que atendem às necessidades do negócio local. Além disso, a implementação de outras unidades em países da América Latina está bastante avançada. A área de Seedcare da Syngenta foca no sucesso do estabelecimento das culturas, através do tratamento de sementes. O objetivo é de que os produtores consigam alta produtividade sem se preocupar com

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Fotos Syngenta

doenças, pragas e nematoides que atingem as plantas durante a fase inicial de seu desenvolvimento.

Palavra de quem conhece

Quem se utiliza da tecnologia e dos serviços oferecidos pelo Seedcare Institute mostra-se satisfeito. É o caso do G4 Sementes, formado por Sementes Girassol, Sementes Tropical, Sementes Arco-Íris e Sementes São Jerônimo. “Para nós do G4 Sementes esta parceria está sendo excelente, já realizamos um treinamento sobre Tratamento de Sementes com a equipe comercial do G4 em Rondonópolis, juntamente com os profissionais da área de semente das empresas proprietárias e fundadoras do G4. O retorno dos participantes foi dos melhores e já estamos nos planejando para fazer uma visita no Seedcare Institute, em Holambra”, relata o gerente de Desenvolvimento de Mercado do G4 Sementes, Márcio de Andrade. A Sementes Belagrícola é outra empresa que também faz uso do suporte do instituto e que aprova os resultados. “Como parceiros da Syngenta considera-

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mos de grande valia esse suporte que o Seedcare Institute vem dando ao nosso tratamento de sementes industrial, focado basicamente nos pilares de treinamento, produtos e serviços”, afirma o responsável pela Produção de Sementes da Belagrícola, Leandro de Oliveira. Oliveira cita três pilares abrangidos pelo trabalho.“ Em termos de treinamento, foi feita a capacitação dos operadores em segurança operacional, e das técnicas da empresa nos métodos de análise de sementes tratadas. Em produtos, foram geradas informações de compatibilidade, aplicabilidade dos produtos e criação de novos protocolos de tratamento. Em relação à qualidade, houve auxílio nos projetos de melhoria, com suporte às máquinas, avaliando o recobrimento das sementes e certificando a aplicação da dose correta do tratamento de sementes industrial”. “O Seedcare Institute é um pilar muito importante para o processo de tratamento industrial de sementes. O trabalho desenvolvido junto com eles dá os direcionamentos quanto ao tratamento de sementes, garantindo comodidade e segurança para nossos agricultores que adquirem sementes tratadas com produtos da Syngenta, garantindo o ponto de partida para uma safra de sucesso. Nós, da área de Qualidade de Soja, trabalhamos junto com o Seedcare Institute no intuito de garantir a qualidade das sementes tratadas com os produtos de TS da Syngenta, trazendo assim segurança à cadeia produtiva”, explica o gerente de Qualidade da Syngenta, Luciano Bordin.

nas sementes tratadas os mesmos testes fisiológicos que os clientes utilizam para certificar suas sementes, respeitando os períodos e as condições de armazenamento. Já no centro de Tecnologia de Aplicação, os técnicos analisam o impacto das diferentes receitas de tratamento nos processos de movimentação, ensaque e plantio das sementes, garantindo que a fluidez seja mantida em níveis satisfatórios. Além disso, vários parâmetros de qualidade do tratamento são também avaliados como formação de poeira, resistência à abrasão/descascamento, qualidade visual do recobrimento. O Quality Assurance é o departamento onde se analisa a assertividade da dose aplicada às sementes. Isto é feito através de dois métodos: o Slak (Seed Loading Analysis Kit) que estima a dose de ingredientes ativos aplicados às sementes, pela intensidade da coloração atingida, e o HPLC (High Performance Liquid Chromatography), que avalia de forma direta e com alta precisão o teor de ingredientes ativos específicos, por cromatografia. Em função do crescimento do uso de agentes biológicos de controle e nutrição através do tratamento de sementes, foi criado no Seedcare Institute um laboratório, batizado de Biolab, para execução de bioensaios, onde se avalia a compatibilidade e eficiência destes agentes em combinação com as receitas tradicionais de tratamento químico.

Treinamento

O Seedlab é o laboratório de fisiologia de sementes. Neste departamento é estudado o efeito dos produtos químicos e biológicos sobre a viabilidade e vigor das sementes dos clientes. Técnicos aplicam

Integra a missão do Seedcare Institute levar o conhecimento sobre tratamento de sementes aos diversos agentes da cadeia de produção, beneficiamento e uso de sementes. Para isso, são oferecidos diferentes tipos de visitas, treinamentos e palestras voltados aos profissionais que atuam neste C mercado.

Alta tecnologia no tratamento de sementes é objetivo perseguido pelo Instituto

Oliveira, da Belagrícola, avalia positivamente o suporte do Seedcare

Laboratórios, centros e tecnologias

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Cana-de-açúcar

MPB no canavial

Charles Echer

O uso de mudas pré-brotadas no plantio de cana-de-açúcar é uma prática nova, que tem apresentado resultados promissores. Contudo, alguns aspectos ainda precisam ser melhor elucidados no uso desta tecnologia, como a estratégia de emprego de herbicidas no manejo de plantas daninhas. Preliminarmente tem sido obtida boa seletividade com a aplicação em antecedência ao plantio e em complemento, após os 40 dias do plantio

A

estimativa brasileira de produção de cana-de-açúcar é de 671,9 milhões de toneladas, o que coloca o País no posto de maior produtor mundial (Conab, 2014). A elevada produção também se dá devido à constante renovação dos canaviais, que segundo a Conab (2013) ficou em torno de 20% da área cultivada com gasto de 15t colmos/ha para o plantio tradicional e 20t colmos/ha para o plantio mecânico. Os colmos usados como mudas no plantio dos novos canaviais precisam ser livres de pragas e patógenos causadores de doenças. Para conseguir colmos com considerável sanidade ao plantio, o produtor de cana-de-açúcar precisa formar canaviais com constantes vistorias sanitárias, conhecidos como viveiros. Práticas como tratamento térmico (imersão dos colmos em água a 52°C antes do plantio para eliminação de patógenos), rouguing (inspeções com arranquio de touceiras infectadas por pragas ou patógenos) e irrigação, oneram a formação dos viveiros. Ao considerar a necessidade atual de colmos para plantio de cana-de-açúcar (15t a 20t de colmos para plantar 1ha) o produtor necessita ampliar os canaviais de viveiro, o que aumenta ainda mais os custos para o plantio comercial. Na tentativa de reduzir o consumo de

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colmos para o plantio, opções como o uso de mudas pré-brotadas (MPB) tem proporcionado vantagens aos produtores, que, ao invés de utilizarem colmos, passam a usar diretamente mudas. Segundo Landell et al (2013) no sistema MPB, o consumo de colmos é reduzido entre 0,5t de colmo/ha a 1t de colmo/ha, além de otimizar o uso de fertilizante e proporcionar melhor gerenciamento sobre pragas e doenças como escaldadura e raquitismo. O produtor que se interessa pelas MPB pode formar suas próprias plantas de acordo com a metodologia preconizada por Landell (2013). A cartilha foi desenvolvida pela equipe do Centro de Cana do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e está disponível no site do Instituto. Outra opção é o produtor adquirir as MPB com empresas produtoras, a exemplo da própria usina em que o produtor é fornecedor de cana-de-açúcar. A ideia das MPBs surgiu da necessidade do Programa Cana do IAC entregar às usinas cooperadas material isento de Sphenophorus levis (praga que coloniza os colmos da canade-açúcar). Assim, desde 2009, a equipe tem investido na formação de MPB, que além de evitar a disseminação da praga também diminui o volume de material a ser transportado. O plantio de MPB é feito em linhas es-

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paçadas de 1,50m e 0,50m entre plantas. Os sulcos são mais rasos que o sistema tradicional de plantio e pode também ser substituídos por covas, geralmente, realizados mecanicamente. A formação de viveiros constituiu a primeira utilização das MPB, mas atualmente as usinas de cana-de-açúcar têm encontrado outros usos para a nova tecnologia. O segundo emprego é no replantio da cana-de-açúcar nas falhas do plantio comercial, que com menor esforço o produtor pode manter o estande do canavial. O terceiro uso é em áreas de viveiro, porém, no sistema de “meiosi”, que constitui no plantio de duas linhas de cana-de-açúcar com MPB (espaçadas a 1,5m), um espaço maior (próximo a 15m), o plantio de outras duas linhas com MPB e assim sucessivamente. Nos espaços de 15m entre as linhas duplas de cana-de-açúcar, cultiva-se outra cultura (amendoim, soja ou girassol). Após sua colheita, utilizam-se dos colmos de cana-de-açúcar formados nas linhas duplas para plantar os espaços de 15m desocupados. As usinas ainda têm dado um quarto uso para utilização das MPB, que é conhecido como revitalização das soqueiras. Nessa modalidade, as MPB são plantadas nas falhas


IAC

das soqueiras, comum pelo arranquio das colhedoras. Com isso, algumas usinas têm conseguido manter a produtividade do canavial por mais tempo, ou seja, aumentar a longevidade da soqueira.

Uso de herbicidas

O manejo químico de plantas daninhas no plantio com MPB ainda precisa ser melhor elucidado. No campo, tem-se observado que tratamentos herbicidas de uso tradicional na cultura prejudicam as plantas no sistema MPB, particularmente, se aplicados logo após o transplante. Na tentativa de amenizar a questão, apresentase como proposta um manejo químico que permita que as MPBs não recebam herbicidas logo após o transplante (fase do pegamento), mas sim antes do plantio e após o estabelecimento (40 dias do transplante) das mudas (Figura 1). Estudos preliminares em casa de vegetação no IAC demonstraram que o plantio superficial das MPBs permitiu que as raízes permanecessem na mesma camada de solo que os herbicidas, posteriormente aplicados. Com isso, observaram-se sintomas de intoxicação pronunciados nas MPBs, o que é comum em plantas jovens devido ao pouco desenvolvimento do tecido vegetal facilitar a dinâmica dos herbicidas nas plantas. Para minimizar a intoxicação das MPBs pode-se aplicar herbicidas antes do plantio com posterior incorporação (pré-plantio incorporado - PPI). A escolha dos herbicidas deve se dar em função da físico-química das moléculas, de modo que se tenha opção de uso para todas as épocas do ano (seca ou chuva). Assim como para também atender a diversificada flora daninha típica das culturas nos trópicos. A resposta ao problema, certamente, está em manejos específicos que permitam diminuir o período de convivência entre as MPBs e os herbicidas no solo. As aplicações de herbicidas em plantio pré-incorporado (PPI) parecem ser uma prática interessante,

Mudas pré-brotadas com 60 dias, aptas ao plantio

pois o período em que a molécula herbicida fica disponível no solo ocorre antes do plantio das culturas. A aplicação de herbicidas em PPI é usual em áreas de alta infestação de plantas daninhas, mas seu sucesso depende da incorporação do herbicida no solo e também do tempo mínimo de espera até o plantio, que pode ser de até 60 dias. As aplicações do herbicida em PPI minimizam o banco de sementes de plantas daninhas no solo e as infestações posteriores são menos severas. Se o transplante das MPBs for realizado nesse período, as plantas da cultura serão pouco prejudicadas pela interferência imposta pelas plantas daninhas, mesmo sem a necessidade de aplicar herbicida imediatamente ao plantio. Após o plantio, não deve ser aplicado herbicida de imediato, permitindo que as MBPs se estabeleçam apenas influenciadas pelas aplicações dos herbicidas aplicados em PPI. Com isso, a seletividade dos tratamen-

tos é melhorada e as mudas se desenvolvem melhor. Entretanto, devido à diversidade e à densidade populacional da flora daninha presente nas regiões tropicais, há necessidade de complementar as aplicações em PPI, quando as MPBs tiverem no segundo mês após o transplante. A escolha dos herbicidas para uso em pós-emergência deve também seguir as características físico-químicas das moléculas. Assim, o produtor terá opções de uso em todas as épocas do ano, ao mesmo tempo em que também atenda a diversa flora daninha. Com isso, o manejo complementar com herbicida poderá ser direcionado em pósemergência das infestantes, se necessário após o primeiro mês do transplante. Nesses casos, a aplicação do herbicida será realizada quando as mudas já estiverem mais desenvolvidas, aproximadamente 40 dias depois do transplante (plantio), por consequência, com as estruturas do tecido vegetal mais desenvolvido. Nos plantios tradicionais da cana-deaçúcar, os herbicidas pós-emergentes são aplicados depois do segundo mês da instalação do canavial (após “quebra lombo”) e mesmo assim são seletivos à maioria das cultivares. Pelos experimentos preliminares realizados no IAC, observou-se que as plantas oriundas de MPB apresentam porte similar às plantas originadas de toletes quando ambas atingem 40 dias de desenvolvimento. Os estudos sobre o melhor método de controle de plantas daninhas em sistema de plantio com MPB ainda não está elucidado. Mas, a aplicação de tratamentos herbicidas com antecedência ao plantio e em complemento após os 40 dias do plantio das MPBs tem demonstrado seletividade. C Carlos Alberto Mathias Azania, Andréa A. PaduaAzania, Renan Vitorino, Ivo Soares Borges e Tácio Peres da Silva, IAC

Figura 1 - Proposta para aplicação de herbicidas em sistema de plantio de cana-deaçúcar com mudas pré-brotadas (MPB). Instituto Agronômico de Campinas, Centro de Cana, Ribeirão Preto, 2014

Rizoma danificado por larva de S. levis e rizoma danificado com a presença da larva de S. levis

Campo plantado com MPB após 60 dias da aplicação e incorporação (PPI) de herbicidas. Instituto Agronômico, 2013

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Fotos Yara Brasil Fertilizantes

Cana-de-açúcar

Nutrição racional O uso de programas nutricionais eficientes para o manejo de nutrientes em culturas como a cana-de-açúcar proporciona benefícios importantes ao desempenho das plantas, com reflexos positivos na produtividade e na qualidade final

N

a agricultura, todas as culturas são fertilizadas de maneira a atingir níveis nutricionais adequados para se obter uma boa produtividade e a melhor qualidade do produto. É possível citar dois exemplos: a qualidade da lavoura de café e do cafezinho que chega à mesa do consumidor e o teor de doçura do tomate sweet grape. Para um melhor resultado produtivo, é necessário adequar a adubação, relacionando-a com a demanda de cada nutriente para a cultura e o momento cíclico, estado fenológico ou climático. Podemos destacar a citricultura, onde o cálcio e o boro devem estar disponíveis nos períodos de pré-florada – primeiro para garantir uma melhor estrutura das flores e o segundo, que tem grande influência na polinização, garante, ao atuar na formação do tubo polínico, o máximo de formação dos frutos e consequentemente uma maior produção, pois atua na formação do tubo polínico. Dessa forma, o agricultor pode e deve pensar na adubação como um programa

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nutricional, onde o objetivo final será suprir a demanda de cada nutriente no momento em que a planta mais necessita para obter os resultados esperados. A aplicação de programas nutricionais pode ser feita de diversas formas, como com produtos compostos de micronutrientes no tratamento das mudas ou sementes, com formulações para plantio à base de NPK, coberturas de nitrogênio e cálcio com ou sem fósforo, aplicações foliares de micronutrientes, entre outras modalidades. Na cultura da cana-de-açúcar não é diferente. O manejo dos nutrientes deve obedecer às demandas nutricionais exigidas pela cultura de forma completa, pela adoção de um sistema ou programa nutricional que melhor se encaixe com as necessidades próprias da lavoura, a finalidade do produto final, as condições climáticas, além de formas e fontes que os nutrientes deverão conter no momento de aplicação e absorção pela planta. A construção de um programa nutricional é a soma de todos esses fatores, observando as propostas de produtos e suas possibilidades

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de aplicação, tanto para atender às demandas da planta como às necessidades do agricultor com itens de alta relevância no custo de produção, como a operacionalidade das tarefas no campo. Dentro do programa nutricional para a cultura de cana, o nitrogênio, relacionado sempre ao crescimento vegetativo nos canaviais, tem também papel fundamental como composição dos blocos de proteína, fotossíntese e produção de açúcar, características principais nessa cultura. A aplicação do nitrogênio é feita nas canas de plantio e soqueiras, ou nos rebrotamentos da gramínea. O excesso de nitrogênio pode influenciar de maneira negativa, prolongando o crescimento vegetativo, atrasando o amadurecimento e a maturação da cana, e acarretando prejuízos físicos à planta, como o acamamento, que prejudica os componentes de qualidade como a cor e pureza do açúcar. Deve-se também levar em consideração a aplicação equilibrada de potássio, para que se tenha a maior taxa de conversão de açúcar possível. Resíduos da


cultura e da indústria são frequentemente usados no incremento do nitrogênio e devem ser levados em consideração na hora da entrada com os fertilizantes minerais. O nitrogênio deve ser aplicado sempre de maneira parcelada, com o objetivo de aproveitamento máximo do nutriente, casando essa aplicação com as condições climáticas ideais da lavoura de cana. Dentre os macronutrientes, o fósforo é um elemento que necessita ser aplicado em grandes quantidades em algumas culturas e é de fundamental importância no ciclo de cana. Por ser um grande promovedor do fluxo de energia dentro da planta, sua aplicação está ligada diretamente ao crescimento e rendimento da lavoura, funcionando primeiramente no incremento de massa de raiz para um estabelecimento pronto e adequado da planta, e em sequência atuando na formação de colmos e fechamento das ruas. A aplicação inadequada de fósforo na lavoura de cana reduz o perfilhamento, o comprimento intermodal e a área radicular, além de poder afetar componentes de qualidade, como a cor do caldo da cana, uma bebida muito popular e bem difundida na população brasileira. Quando comparado ao nitrogênio e ao potássio, o fósforo é aplicado em menores quantidades, mas de forma nenhuma deve ser de um programa nutricional voltado à produtividade da cultura de cana. Tradicionalmente, seu uso é feito em atividades de fosfatagem de pré-plantio e entre algumas soqueiras, além de estar nas aplicações de NPK no plantio. Novas fontes e formas de fósforo têm sido usadas com sucesso nas adubações de cobertura, fazendo com que a planta prolongue seu ciclo de cortes, como é o caso de produtos com diferentes formas e níveis de solubilidade do elemento, que proporcionam um maior rendimento do canavial. O potássio, assim como o nitrogênio e o fósforo, é de suma importância para o canavial, por sua relação direta com os níveis de açúcar, sua deposição e transporte da cultura (a principal e mais valorizada qualidade do produto), lavoura, fotossíntese, regulação da abertura de estômatos pela pressão de turgor, entre outros benefícios que estão relacionados ao desenvolvimento da cultura. Esse nutriente ainda está relacionado à redução das fibras e do nível de POL. No entanto, aplicações excessivas de potássio influenciam de forma negativa à cristalização do açúcar, resultando em fraca recuperação do açúcar bruto e refinado. O equilíbrio entre potássio e nitrogênio deve ser obedecido para uma melhor resposta à adubação, que é principalmente concentrada nas fertilizações de cobertura das soqueiras. A deficiência de potássio é facilmente detectada nas plantas, observando as margens das folhas,

que passam de cloróticas até queimadas, principalmente em folhas mais velhas. O cálcio, o enxofre e o magnésio também devem estar nos níveis adequados, à medida que são corresponsáveis por benefícios nutricionais como a estrutura da planta, a fotossíntese, o crescimento e a qualidade de açúcar. São tão importantes quanto os outros e devem ser sempre utilizados nos programas nutricionais verificando-seo melhor “timing” de aplicação, bem quanto às dosagens a serem feitas e de que forma. De suma importância e às vezes deixados em segundo plano, os micronutrientes fazem toda a diferença nas estratégias de fertilização, tendo quase sempre uma ótima resposta em produtividade e qualidade de produto, quando aplicado em quantidades adequadas e para a aplicabilidade de fases nas quais se tem a melhor resposta a essa tarefa, que pode ser realizada em diversas etapas da cultura, com a aplicação de fertilizantes no plantio, muda ou tolete, coberturas, além de correções e suplementações foliares no momento de controle de insetos ou patógenos. É possível mencionar como exemplo a aplicação de molibdênio junto do controle de cigarrinha. As aplicações de maior sucesso são feitas a partir de tratamento dos toletes e foliares, com os produtos à base de zinco, boro, molibdênio e em casos de exceção até de ferro em solos bastante arenosos, como em algumas regiões do Nordeste. Os programas nutricionais devem reunir todas essas adubações de forma a simplificar as recomendações de fertilizantes durante todo o ciclo da cana-de-açúcar, e deve levar em conta todas as fases de nutrição, desde o plantio, passando pelas variações de clima, de solo, se é cana de ano ou ano e meio, até as soqueiras, passando por todas as aplicações a serem feitas durante os cortes, que geralmente são de cinco e sete, além de já propor uma estratégia de renovação desse canavial. Os programas nutricionais devem pro-

Corneta aborda a importância da nutrição equilibrada para culturas como a cana-de-açúcar

porcionar produtos finais de qualidade, no caso da cana entregue nas usinas, o produto deve ter um bom tamanho e calibre, bom nível de sólidos solúveis totais, o grau brix, baixo nível de fibras e níveis adequados de sacarose (POL). A maioria das empresas de fertilizantes ainda comercializa esse insumo pensando em atender de forma isolada os momentos da cultura, tradicionalmente, onde são oportunizados os nutrientes principais, nem sempre olhando todas as características e peculiaridades da lavoura. As culturas devem ser olhadas de forma sistêmica, e os programas nutricionais completos possuir esse objetivo, levando-se em conta as condições climáticas regionais, variedades empregadas, além de oferecer soluções com o melhor custo-benefício, onde a aplicabilidade do produto, o desempenho, o grau de volatilização, entre outras características, devem ser levados em consideração na hora da escolha da melhor opção para o agricultor. Assim, programas nutricionais podem ser considerados como a melhor escolha na hora de adubar as culturas, na busca por melhor rentabilidade C da lavoura. Erico Marocco Corneta, Yara Brasil Fertilizantes

Os programas nutricionais precisam ser planejados e posicionados de modo a refletir positivamente na qualidade do produto final

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Empresas

Saldo positivo Syngenta

Em um ano de atividades do The Good Grow Plan Syngenta contabiliza progresso da iniciativa no Brasil

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m setembro a Syngenta realizou evento de comemoração de um ano do lançamento do The Good Growth Plan, em São Paulo, e aproveitou a oportunidade para a atualização do progresso da iniciativa. O projeto consiste em seis compromissos mensuráveis até o ano de 2020, que pretendem contribuir com o desafio de segurança alimentar global e sustentabilidade dos processos produtivos. Durante o evento, o diretor para o Mercado de Cana, Daniel Bachner, apontou as iniciativas que a empresa tem adotado no último ano para atingir os objetivos até 2020. “A Syngenta estabeleceu uma rede global de 893 fazendas de referência, que variam de pequenos a grandes produtores, e 2.673 fazendas para a realização de um comparativo. Dessas 893, 140 estão no Brasil e abrangem produtores de milho, soja, café, cana, tomate, entre outras culturas. Essas propriedades referência estão adotando protocolos de cultivo personalizados, com o objetivo de aumentar a produtividade sem o uso de mais terras, água ou insumos”, afirmou o diretor. O progresso das fazendas é medido pela Market Probe, agência independente de pesquisa de mercado. Também são coletados dados sobre produtividade da terra e eficiência de fertilizantes, defensivos, água e energia na produção do cultivo. Os projetos e as soluções que auxiliam a Syngenta no atendimento aos compromissos

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estabelecidos estão em andamento em todas as regiões que a empresa atua no mundo. Entre os exemplos de projetos implantados no Brasil está o Campos Integrados Cana-de-Açúcar. Nele foram instalados campos em parceria com os clientes, adotando protocolo Syngenta. Esses campos são então comparados com os que utilizaram protocolo padrão do próprio agricultor. Até o momento, 107 dos 300 campos instalados em dez estados brasileiros já foram colhidos e registraram aumento médio de 9,1 toneladas por hectare. Entre os exemplos está também a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) para recuperação do solo. A Syngenta patrocina e

faz parte do comitê gestor da Rede de Fomento da iLPF. Essa é uma iniciativa coordenada pela Embrapa para a difusão do conceito de produção intensiva sustentável, que integra atividades agrícolas, pecuária e florestais na mesma área, possibilitando a recuperação de pastagens degradadas com essa estratégia de utilização do solo. Outro projeto é o Água Viva para recuperação de nascentes, implementado pela Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel) em parceria com a Syngenta. Contribui para mitigar a pressão sobre os mananciais, capacitando os agricultores e as comunidades para proteger, recuperar e conservar as nascentes existentes em áreas rurais públicas e propriedades privadas. O projeto teve início em 2004 no Paraná e foi ampliado para outros estados. No ano de 2013 foram recuperadas mais de mil nascentes nos estados de Paraná, Santa Catarina, Goiás e Alagoas. Em 2014 está sendo comemorada a recuperação da nascente de número oito mil. O aumento do número de iniciativas organizadas pela Syngenta se dá por meio de colaborações com governo, ONGs e instituições de pesquisa. Podem-se destacar, dentre as parcerias já estabelecidas, o apoio da Soil Leadership Academy (Academia de Liderança de Solos), da United Nations Convention to Combat Desertification (Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas), a expansão das relações com a United States Agency for International Development (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), a Fair Labor Association (Associação do Trabalho Íntegro) e agora parceria com a organização ambiental global The Nature Conservancy. Após o fechamento do primeiro ano do The Good Growth Plan, a Syngenta divulgará os resultados obtidos nos diferentes projetos organizados no Relatório Anual 2014, que será publicado em março de 2015. C

seis compromissos estabelecidos pela Syngenta há um ano no lançamento do projeto 1) aumentar a eficiência dos cultivos: acrescer a produtividade média dos grandes cultivos do mundo em 20% no mesmo espaço, com a mesma quantidade de insumos e água; 2) recuperar terras cultiváveis: aumentar a fertilidade de dez milhões de hectares de terras cultiváveis à beira da degradação; 3) ajudar a biodiversidade a florescer: aumentar a biodiversidade de cinco milhões de hectares de terras cultiváveis;

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4) capacitar pequenos agricultores: atingir 20 milhões de pequenos produtores e ajudá-los a aumentar a produtividade em 50%; 5) melhorar a segurança das pessoas: treinar 20 milhões de trabalhadores agrícolas sobre segurança no trabalho, principalmente em países em desenvolvimento; 6) cuidar de cada trabalhador: lutar por condições de trabalho justas em toda a rede da cadeia de suprimento.



Coluna ANPII

Elemento essencial

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A Fixação Biológica de Nitrogênio e sua importância para a vida na terra

ez por outra é necessário pensar um pouco sobre a vida na terra. Como começou, como se mantém, como está decorrendo no momento, se terá fim algum dia, e outras indagações para buscar entender o planeta em que vivemos. Sempre que se pensa nisto nos vem à cabeça o sol, sua energia presente no nosso cotidiano. E daí vamos para as plantas, princípio fonte de todas as formas de vida humana e animal. E quando chegamos às plantas, logo pensamos na fotossíntese, a transformação da energia radiante em todo o verde existente no planeta. Mas outro fenômeno tão importante quanto a fotossíntese para a vida na terra é a fixação biológica do nitrogênio. Sem o esplendor do sol, de forma invisível mas presente no dia a dia, a FBN é tão responsável pela vida vegetal como a

também lentamente liberados para nutrição de pastagens e florestas. Mas como não existem rochas com nitrogênio, de onde veio toda a massa deste elemento que nutriu imensas pastagens e florestas e, mais tarde, culturas, durante os milênios quando não havia a presença de fertilizantes químicos? No correr de milênios, silenciosamente, bilhões de microrganismos se encarregaram de transferir e transformar o nitrogênio existente em abundância na atmosfera para o sistema solo-planta. Sem este fenômeno bioquímico a vida na terra, tal como a concebemos, não existiria, pois o nitrogênio é elemento químico imprescindível para todos os processos vitais. E o mais importante é que o nitrogênio é um nutriente inesgotável, pois é totalmente reciclado pela ação de um pool de microrganismos que

car” este fenômeno e colocá-lo a serviço da agricultura de alta produtividade. Ao contrário do fósforo e potássio, que vão se esgotando no solo à medida que se intensificam os cultivos, o nitrogênio, em solos cultivados com leguminosas, vai aumentando gradativamente, quanto mais se cultivam plantas desta família. A moderna tecnologia selecionou as melhores bactérias fixadoras, logrou veiculá-las em suportes adequados desenvolvendo o inoculante, insumo hoje indispensável para as culturas de soja, feijão, caupí e outras. Através de processo de seleção de cepas, a pesquisa identificou aquelas bactérias mais eficazes e mais competitivas; a indústria de inoculantes, por sua vez, desenvolveu as formulações que permitem que o produto seja transportado para longas distâncias e permaneça à disposição dos agricultores

Mas outro fenômeno tão importante quanto a fotossíntese para a vida na terra é a fixação biológica do nitrogênio fotossíntese. Na lenta formação dos solos, por milênios de transformações químicas e biológicas, as rochas que contêm fósforo e potássio foram sendo modificadas para formas aproveitáveis pelas plantas. O mesmo ocorre com os micronutrientes,

o trazem do ar para o solo, o transferem para as plantas e o devolvem posteriormente para a atmosfera, para reiniciar um novo ciclo. Outro aspecto importante na Fixação Biológica do Nitrogênio é que a moderna técnica agronômica conseguiu “domesti-

Ciclo do nitrogênio

durante período hábil até o momento da semeadura. Assim, através do uso de um fenômeno natural, de imensa importância para a vida no planeta, a ciência agronômica criou um produto que tornou a fixação ainda mais eficaz e utilizada com maior intensidade naquelas culturas onde se faz necessário um grande aporte de nitrogênio. Hoje, mesmo com a elevada capacidade genética da soja para se obter mais grãos por hectare, o inoculante fornece toda a quantidade de nitrogênio para as mais elevadas produtividades. Dezenas de trabalhos têm demonstrado, de forma inequívoca, que com soja de ciclo curto ou longo, determinado ou indeterminado, plantada em alta ou baixa densidade, o inoculante é capaz de suprir todo o nitrogênio necessário para a cultura. A ANPII, que reúne atualmente 11 empresas produtoras de inoculante, todas com setor de pesquisa e desenvolvimento, trabalha em conjunto com a pesquisa para tornar este insumo cada vez mais eficiente C e fácil de usar pelo agricultor. Solon de Araujo Consultor da ANPII

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Coluna Agronegócios

T

Pragas quarentenárias

odos sabemos que a agricultura é uma atividade de alto risco. Os principais são os riscos de mercado (excesso de produção, baixa demanda, flutuação de preços), a variação da taxa de câmbio, o clima (recentemente exacerbado pelas mudanças climáticas globais) e os riscos sanitários. Neste último grupo, queremos destacar o enorme perigo representado pelas pragas quarentenárias ou exóticas, ou seja, aquelas que ainda não foram registradas no Brasil, mas que, devido às condições do nosso ambiente, podem ingressar e se adaptar aos nossos cultivos. Inúmeras pragas, que não existiam no Brasil, foram introduzidas em nosso país. A maioria delas o foi por acidente, desídia ou desinformação. Ao longo dos últimos 100 anos, 60 espécies de novas pragas foram introduzidas no país. Algumas vieram carregadas pelo vento, especialmente esporos de fungos. Outras atravessaram a nossa enorme fronteira terrestre, vindas de outros países da América Latina. Mas, a maior parte ingressou por meio de produtos agrícolas como sementes ou mudas, ou abrigadas em embalagens de produtos, como as de madeira ou papelão. Uma vez em nosso território, a praga pode ou não se estabelecer, dependendo das condições ambientais e de alimentação. Porém, uma vez estabelecida, os prejuízos podem ser enormes. Entre as pragas introduzidas que causaram maiores prejuízos estão a ferrugem da soja e o bicudo do algodoeiro, sem olvidar outros problemas sanitários, como a traça-do-tomateiro, as moscas das frutas, o minador dos citrus, o HLB, a ferrugem laranja da cana, para não falar da vassoura-de-bruxa, que ingressou em uma área livre do sul da Bahia, vinda de Rondônia. Também precisamos tratar como riscos quarentenários as pragas já erradicadas, como é o caso do vírus da febre aftosa, ou em vias de erradicação, como a carpocapsa da maçã: no retorno dessas pragas sabe-se, de antemão, que o ambiente é propício ao seu estabelecimento.

Impactos

Conforme o Brasil se torna um grande protagonista da produção e do comércio mundial de produtos agrícolas, com intensas trocas comerciais, mais exposto o país fica ao ingresso de novas pragas. Sem diminuir a importância transcendental de dispormos de um serviço oficial de Defesa Agropecuária de primeira linha, é importante ter em mente que

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defesa agropecuária é, acima de tudo, uma ação interdependente. Os atores privados, como agricultores ou importadores, e mesmo passageiros e turistas internacionais, têm enorme responsabilidade no processo, devendo tomar todos os cuidados para não servir de agentes de introdução de uma praga. Desde que a ferrugem da soja ingressou no Brasil (safra 2001/02) até este ano, a praga impôs custos adicionais aos agricultores superiores a R$ 45 bilhões. Apenas na última safra foram R$ 4,5 bilhões gastos com a aplicação de fungicidas. Ou seja, nos últimos 12 anos os agricultores gastaram valor equivalente a 89 milhões de sacas de soja – mais que a colheita da última safra - apenas para controlar a ferrugem. Somente no ano passado, esse custo equivaleu a 179% de tudo o que a Embrapa investiu no mesmo ano, para pesquisar todas as culturas e criações de importância econômica, em todo o Brasil!

Perigos

Ainda existem muitas pragas que não ingressaram no Brasil. A mosca-da-carambola até já ingressou na fronteira norte do Amapá, porém, está contida e não atingiu as áreas de fruticultura. Outras estão em países fronteiriços, como a monilíase do cacaueiro. Nos demais países e continentes há ameaças sanitárias para, praticamente, todas as culturas e criações do Brasil, ou para espécies da fauna e flora nativa. No caso da soja, nossa cultura mais importante sob o aspecto econômico, atenção deve ser dada a algumas pragas, como a mancha vermelha e o pulgão da soja. Por vezes a praga é polífaga, com ampla adaptação e muitos hospedeiros, como ocorreu com a introdução recente de Helicoverpa armigera. Existe uma praga com comportamento similar à lagarta Helicoverpa, cujo nome científico é Halyomorpha halys, conhecida nos EUA como percevejo marmorizado marrom, que ataca tanto leguminosas, como a soja, quanto frutíferas como pêssegos, maçãs, cerejas, framboesas e peras ou, ainda, hortaliças como tomate e feijão-verde. A praga foi introduzida da Ásia há uma década e dispersou-se rapidamente por diversas regiões dos EUA. Trata-se de um inseto da família Pentatomidae, a mesma do percevejo marrom da soja, nativo da China, Coreia, Japão e Taiwan. Além do dano direto causado pelo sugamento de partes da planta, esse percevejo pode transmitir doenças ou abrir “portas” para que penetrem e ataquem as plantas. Apenas

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na última safra, nas frutíferas do estado de Maryland (EUA), foram constatados prejuízos superiores a 30 milhões de dólares. Os adultos medem cerca de 17 milímetros, tamanho parecido com o de seus “primos” que atacam a soja no Brasil. São vários tons de marrom nas partes superior e inferior do corpo, entremeados com partes cinza, preto ou cobre, além de marcas azuladas, espalhadas pelo dorso. Também de forma similar aos demais pentatomídeos, as glândulas de mau cheiro estão localizadas na parte ventral do tórax, entre o primeiro e segundo par de pernas, e na superfície dorsal do abdômen. O odor desagradável, típico dos percevejos, é exalado em situação de perigo, para afastar seus predadores, e serve como alerta aos demais membros da colônia.

Alerta

Devemos considerar o percevejo marmorizado marrom como um sério risco para a nossa agricultura, e medidas devem ser tomadas para impedir o seu ingresso, e para detectar precocemente uma introdução. Também devemos estar municiados com medidas de detecção e controle para a eventualidade de seu aparecimento em nossas lavouras. O seu rápido alastramento nos EUA é um indicador de que o mesmo pode ocorrer no Brasil. Em seu local de origem, na Ásia, o percevejo tem quatro gerações por ano. Nos EUA já foram detectadas três gerações em uma mesma safra, demonstrando que já se adaptou às condições daquele país. Os primeiros indicativos mostram que o controle químico dessa praga não é fácil. Por outro lado, diversos inimigos naturais já foram encontrados, sendo o mais eficiente uma vespinha que parasita os ovos do percevejo. Provavelmente esta será a melhor forma de mantê-lo em populações abaixo do nível de dano. Para tanto, precisamos investir em pesquisa preventiva desde agora, para que possamos estar preparados para sua eventual introdução. Se ele nunca ingressar no Brasil, melhor para todos nós, porém, sempre tendo presente que o investimento em pesquisa será sempre pequeno comparado ao prejuízo potencial e, seguramente, deixará um legado que será útil para casos semelhantes. C

Décio Luiz Gazzoni

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja



Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

À espera de uma grande safra que vai exigir mais profissionalismo do produtor O Brasil começa a plantar uma nova e grande safra. Tudo indica que haverá recorde de plantio de soja e queda no cultivo de milho e de feijão, com estabilidade nas áreas de arroz, ao mesmo tempo em que tudo aponta para crescimento na área de algodão, sorgo e girassol. Assim segue o “baile” da produção brasileira, que ainda continua carente de infraestrutura de armazenagem e transporte, verdadeiros sustentáculos de boas margens de lucros. Com isso, a nova safra vai exigir um pouco mais de profissionalismo dos produtores, porque o cenário é diverso do registrado nestes últimos três anos, onde qualquer produtor conseguia obter lucros, pois as cotações agrícolas estavam bastante favoráveis, com níveis altos de preços e, mesmo cometendo erros nos campos ou na comercialização, os números finais eram positivos. Agora, com um mercado mais competitivo, uma grande safra nos EUA e as cotações internacionais menores, é necessário fazer contas, traçar estratégias de comercialização, para não ficar atrelado a momentos desfavoráveis para venda da safra. Tudo aponta que haverá pouca comercialização antecipada e, dessa, forma fica muito arriscado para o produtor carregar dívidas para quitar na fase de colheita, quando as ofertas deverão crescer. Isso porque não há capacidade de armazenagem para toda safra e, neste contexto, é normal ocorrer alta nos fretes e desvalorização dos preços dos produtos agrícolas na base da produção. Portanto, é importante não deixar dívidas para quitar na “boca” da colheita. Outro fator importante reside no indício de que a comercialização deste novo ano será lenta, o que pode favorecer o produtor que tiver mais fôlego para os negócios, podendo retardar as vendas e ganhar mais, uma vez que haverá evolução das cotações ao longo do tempo e aqueles que tiverem safra disponível para negócios tendem a ganhar um pouco mais. Outro ponto importante é que o Brasil se encontra num ano em que a eficiência e a alta produtividade farão a diferença entre um bom lucro e uma margem apertada ou até mesmo perdas. Isso porque muitos produtores, em anos de mercado um pouco mais fraco, como este, de safra maior e preços menores, reduzem os investimentos em tecnologia sem olhar os resultados que podem obter. Economizam em fatores que são relativamente baratos para o global da safra e perdem fatias importantes da produtividade. Atualmente, o peso maior são os custos fixos, como máquinas e terras, e custos relativamente menores se encontram em insumos básicos, como fertilizantes, sementes e tratamentos das lavouras, que normalmente fazem a diferença, com lucros de uma produtividade que apenas tira os gastos. Portanto, é começo de plantio e para obter sucesso é importante concretizar uma grande colheita, com boa produtividade, que normalmente irá refletir em custos proporcionais menores. Mesmo com os números da safra americana, em pouco tempo o mundo irá consumir tudo e o mercado retomará o lado positivo dos negócios. Tende a ser um bom ano para bons produtores.

MILHO

Safrinha acima das expectativas

Os números finais da safrinha ficaram acima das expectativas, com o Milho expressando boa produtividade, estimado em cerca de 47,6 milhões de toneladas. Somadas às aproximadamente 29 milhões de toneladas colhidas na primeira safra totaliza 76,6 milhões de toneladas, o que obriga o Brasil a enviar para exportação uma boa fatia desta colheita para que não resulte em sobras internas que prejudiquem a comercialização em médio prazo. O mercado foi ao fundo do poço neste final de agosto e começo de setembro. Mas de outubro em diante tende a começar a navegar na linha positiva e recuperar parte das perdas que apresentou nestes últimos meses. A grande safra será importante para dar apoio ao crescimento do setor de carnes, que avançará na exportação e também para manter o País na disputa entre os grandes exportadores mundiais de milho. O mais importante é que atualmente o mercado mundial já é dependente de milho brasileiro, o que serve de apelo para que o mercado internacional comece a mostrar ajustes na linha de cima para as cotações, para que não sofra um vazio de ofertas. A safra de verão

mostra forte queda de plantio, o que irá impactar no compensar o momento negativo que vive a Bolsa de abastecimento de 2015. Chicago, operando descasada da realidade do mercado real da Soja. SOJA Safra em plantio recorde arroz A safra se encontra em plantio e deverá ser a maior Safra em plantio com boas expectativas da história em área, podendo chegar à marca dos 32 Os produtores estão otimistas com a nova safra em milhões de hectares e colheita superior a 95 milhões plantio. Há indicativos de estabilidade a leve crescimento de toneladas. Tudo isso em um ano em que as cotações da área no Rio Grande do Sul, fato que irá resultar, em internacionais sofreram forte queda e se encontram nos condições ideais, em números próximos das 9 milhões menores indicativos registrados em quatro anos. Porém de toneladas, o que atualmente não é uma grande safra isso somente não afetou as cotações finais, porque há que possa afetar o mercado e derrubar as cotações. É uma grande safra nos EUA e tudo aponta para grande preciso lembrar do mercado interno em crescimento safra também no Brasil. Mas somente este fato isolado de demanda, exportações em crescimento de venda e não significa que haverá grandes ofertas de produtores indicativos do dólar mais caro em 2015. Desta forma vendendo a qualquer preço. Fato este que impulsionou haverá dificuldade maior para importar e cotações os prêmios nos portos e neste ultimo mês de setembro internacionais maiores em dólares. Tudo aponta para registrou indicativos de US$ 3,00 por bushel acima de um bom ano novamente aos arrozeiros. Os negócios Chicago para os embarques da Soja brasileira. Uma têm fluido de maneira escalonada e o setor vende dentro mostra de que na safra nova já se navega entre US$ 0,50 das necessidades de caixa. Neste final de ano o governo a US$ 1,00 acima de Chicago, seguindo esta politica dos deverá aproveitar para vender parte dos estoques velhos produtores americanos e brasileiros de segurarem as que tem em mãos para fazer caixa e terá menos influencia ofertas. Certamente serão pagos prêmios maiores para no mercado em 2015.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do Trigo brasileiro colhe uma das maiores safras do cereal dos últimos 10 anos. Volume que chega em um momento em que boa parte dos moinhos realizaram grandes importações beneficiados pela retirada da taxa de importação, com custos baixos que fizeram as cotações recuarem no mercado interno. O governo prejudicou os produtores ao isentar a taxa de importação até o final de agosto e agora o mercado tende a se acomodar, com a chegada da safra. Mostrará reação de fevereiro em diante, porque tudo aponta para o dólar mais caro e custos de importações maiores o que obrigarão os moinhos a melhorarem os níveis que pagam aos produtores a partir do final do ano. O ideal para os produtores é retardar a comercialização para deixar o mercado voltar a ser comprador. No momento o mercado se mostra vendedor e neste cenário o produtor perde. algodãO - Os produtores colheram a safra e vem negociando parte da exportação. Estão otimistas com o que vem pela frente, porque mesmo não tendo grande apoio nos indicativos da Bolsa de Nova York há agora avanços no cambio e boa demanda internacional pelo algodão brasileiro. Nesta nova safra deve ser registrado crescimento de área. Alguns produtores tradicionais apontam que a soja, que recebeu áreas de Algodão neste ultimo ano, deverá devolver parte destas áreas. Desta forma tudo caminha para o crescimento do plantio da pluma nos estados de Mato Grosso e da Bahia. Com boas expectativas de ganhos aos produtores. china - As compras seguiram fortes com indicativos de avanço no consumo interno de grãos para suprir a demanda crescente de alimentos. O País sofreu com o clima neste ano, perdendo grandes volumes de safra o que irá manter os chineses comprando forte em 2015. Com os indicativos de importações de soja sendo ajus-

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tados para cima pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mensalmente, apontando que irão importar pelo menos 74 milhões de toneladas de Soja neste novo ano, contra 69 milhões de toneladas do ano anterior. Com projeções dos chineses de que as importações serão maiores e que já teriam comprado até o meio de setembro mais de 19 milhões de toneladas da safra que será colhida agora nos EUA. Devem seguir comprando forte e também vão adquirir outros grãos, porque houve perdas em todos os cultivos na China. rússia - Os russos sofreram embargo comercial dos EUA, dos parceiros da Europa e outros da Ásia e América do Norte. Com isso abriram as portas para as importações de alimentos do Brasil e assim 2015 promete ser o ano dos negócios com os russos, com grandes volumes de carnes para aquele destino, lembrando que são os maiores importadores mundiais de carne. Certamente outros alimentos seguirão o mesmo destino, o que favorece o bom desempenho do agronegócio brasileiro. biodiesel - É chegado o momento do crescimento da produção e consumo do biodiesel no Brasil, com a nova legislação brasileira obrigando o uso da mistura de 7% de biodiesel no diesel a partir do dia primeiro de novembro. Em 2015 teremos um crescimento do consumo interno de biodiesel na ordem de 1,5 bilhões de litros, o que totalizará um volume de consumo de 4,5 bilhões de litros. Desta forma haverá alta demanda interna de grãos de soja para esta produção, porque a maior parte deste biodiesel terá como origem o óleo de Soja que é o produto mais barato para produzir este aditivo antipoluição. Fator positivo para o mercado da Soja, lembrando que na Argentina o governo passou de B5 para B10, ou seja, 10% de biodiesel no diesel. Por aqui o Brasil caminha para o B7.

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