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A fundao da Botnica moderna em Portugal - Jlio Henriques, A. X.

Pereira Coutinho e Gonalo Sampaio

A fundao da Botnica moderna em Portugal - Jlio Henriques, A. X. Pereira Coutinho e Gonalo Sampaio.
Joo Paulo Cabral* Professor Associado do Departamento de Botnica da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto e Investigador do Centro Interdisciplinar de Investigao Marinha e Ambiental da Universidade do Porto. Rua do Campo Alegre, 1191, 4150-181 Porto. E-mail: jpcabral@fc.up.pt. URL: http:// www.fc.up.pt/pessoas/jpcabral/ NDICE pgina
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I. Introduo .............................................................................................................................................. 4 II. A Academia Politcnica do Porto da fundao ao dealbar do sculo XX ........................................ 9 1. A criao da Escola Politcnica de Lisboa ....................................................................................... 9 2. A criao da Academia Politcnica do Porto .................................................................................. 10 3. O ensino das cincias naturais nos primeiros anos da Academia ................................................... 12 4. O Jardim Botnico e Experimental da Academia ........................................................................... 15 5. O Regulamento da Academia em 1864 .......................................................................................... 17 6. O Decreto de 1865 estabelece normas para o recrutamento dos professores ................................. 18 7. A Academia nas dcadas de 1870-1880 ......................................................................................... 18 8. O Regulamento da Academia de 1888............................................................................................ 19 9. O ensino da Botnica na Academia Politcnica no dealbar do sculo XX ..................................... 21 III. Gonalo Sampaio, aluno e naturalista da Academia Politcnica do Porto ....................................... 23 1. G. Sampaio aluno da Academia Politcnica ................................................................................... 23 2. Contactos iniciais com Jlio Henriques e a Sociedade Broteriana ................................................. 23 3. G. Sampaio naturalista adjunto da Academia Politcnica .............................................................. 25 4. Contactos com A. X. Pereira Coutinho ........................................................................................... 26 5. Panorama dos estudos da flora portuguesa, 1880-1910 .................................................................. 27 6. A crise de 1906 ............................................................................................................................... 29 7. G. Sampaio e o Congresso de Botnica de Bruxelas ...................................................................... 35 IV. Gonalo Sampaio e o estudo dos Rubus portugueses ....................................................................... 37 1. A obra-chave de G. Sampaio .......................................................................................................... 37 2. Data efectiva de publicao ............................................................................................................ 37 3. Anlise geral da monografia ........................................................................................................... 38 4. Como organiza G. Sampaio o estudo dos Rubus? .......................................................................... 40 4A. O mtodo de trabalho descrito na prpria monografia ............................................................ 41 4B. As coleces de exemplares de Rubus existentes no Herbrio da Academia .......................... 42 4C. A documentao epistolar ........................................................................................................ 44 5. Reaces ao trabalho....................................................................................................................... 56 6. Mais estudos dos Rubus portugueses .............................................................................................. 60 V. A importncia da Sociedade Broteriana e do seu Boletim................................................................. 64 1. Fundao da Sociedade e seus objectivos ....................................................................................... 64 2. As distribuies de plantas aos scios ............................................................................................ 67 4. O Boletim da Sociedade Broteriana ................................................................................................ 69

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VI. A importncia da Broteria e dos jesutas botnicos na Botnica sistemtica ................................... 74 1. A fundao da Broteria em 1902 .................................................................................................... 74 2. O Colgio de So Fiel ..................................................................................................................... 78 3. A Broteria em 1907 ......................................................................................................................... 79 4. Os fundadores da Broteria e a Sociedade Broteriana...................................................................... 79 5. G. Sampaio e Alphonse Luisier ...................................................................................................... 79 6. Os Herbrios dos Colgios de S. Fiel, Setbal e Campolide .......................................................... 82 7. A implantao da Repblica ........................................................................................................... 84 VII. A Repblica e as Universidades. Gonalo Sampaio, professor da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto............................................................................................................................. 89 1. A Repblica e as Universidades ..................................................................................................... 89 2. Os cursos livres ............................................................................................................................... 89 3. A criao das Universidades de Lisboa e Porto .............................................................................. 90 4. A criao das Faculdades de Cincias de Lisboa, Coimbra e Porto ............................................... 92 5. Os regulamentos das Faculdades de Cincias ................................................................................. 94 6. A crise de G. Sampaio de 1912 ....................................................................................................... 94 7. G. Sampaio, nomeado professor ordinrio da Faculdade de Cincias do Porto ............................. 97 8. G. Sampaio encarcerado durante a Monarquia do Norte ................................................................ 99 VIII. Gonalo Sampaio e a Flora Ibrica. As exsicatas ........................................................................ 101 1. As exsicatas no incio do sculo XX............................................................................................. 101 2. G. Sampaio e a Universidade de Montpellier ............................................................................... 101 3. G. Sampaio e Carlos Pau .............................................................................................................. 104 4. G. Sampaio e Fr. Sennen............................................................................................................... 105 5. G. Sampaio e Font Quer................................................................................................................ 108 6. Outras exsicatas ............................................................................................................................ 109 7. O projecto da Flora Ibrica ........................................................................................................... 111 IX. Jlio Henriques, A. X. Pereira Coutinho, Gonalo Sampaio e as Floras de Portugal .................... 113 1. A necessidade de uma flora moderna de Portugal ........................................................................ 113 2. As personalidades de J. Henriques e A. X. Pereira Coutinho atravs do esplio epistolar .......... 113 3. A Flora de Portugal de A. X. Pereira Coutinho ............................................................................ 116 4. A Flora do Mondego de J. Henriques ........................................................................................... 126 5. O estudo da flora portuguesa por G. Sampaio .............................................................................. 126 6. A construo das Floras de Portugal ............................................................................................. 129 7. O contributo de Antnio Machado ............................................................................................... 130 8. A contribuio de Clemente Loureno Pereira ............................................................................. 131 9. A contribuio de J. M. Miranda Lopes ....................................................................................... 136 10. Carlos Frana e o estudo das plantas carnvoras ......................................................................... 142 X. Gonalo Sampaio e a Liquenologia Ibrica ..................................................................................... 146 1. G. Sampaio e M. Bouly de Lesdain .............................................................................................. 146 2. Arthur Ricardo Jorge e a exsicata Lichenes de Portugal de G. Sampaio .................................. 147 3. Os contactos com Zahlbruckner e A. H. Magnusson.................................................................... 154 4. G. Sampaio e Luis Cresp ............................................................................................................. 156 5. O projecto do Catlogo de lquenes de Portugal ........................................................................... 157 XI. Gonalo Sampaio e a Micologia Ibrica ......................................................................................... 159 XII. Gonalo Sampaio e a nomenclatura botnica................................................................................ 162 1. A nomenclatura botnica no fim do sculo XIX .......................................................................... 162 3. G. Sampaio e a nomenclatura botnica ......................................................................................... 166 4. O Congresso do Porto de 1921 e a nomenclatura botnica .......................................................... 169

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XIII. Gonalo Sampaio: uma anlise retrospectiva da sua obra ........................................................... 174 1. Cronologia..................................................................................................................................... 174 2. 1. Perodo: 1895-1908 ................................................................................................................. 174 3. 2. Perodo: 1909-1915 ................................................................................................................. 182 4. 3. Perodo: 1916-1923 ................................................................................................................. 185 5. 4. Perodo: 1924-1937 ................................................................................................................. 189 6. Obras pstumas ............................................................................................................................. 194 XIV. Gonalo Sampaio. A consagrao. O drama de uma obra inacabada? ........................................ 196 1. A criao do Instituto de Investigaes Botnicas na Faculdade de Cincias do Porto ........... 196 2. A fundao do Instituto de Botnica Dr. Gonalo Sampaio ....................................................... 198 3. Drama de uma obra inacabada? .................................................................................................... 199 XV. Resumo e concluses .................................................................................................................... 201 Anexo I. Lichenes de Portugal. A exsicata de G. Sampaio .............................................................. 205 Anexo II. Txones novos de lquenes publicados por G. Sampaio ...................................................... 214 Bibliografia citada ................................................................................................................................. 218

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I. Introduo Depois do perodo ureo do fim do sculo XVIII com as figuras de Vandelli1, Brotero2, Link e Hoffmansegg3, e apesar do trabalho do Conde de Ficalho4, do Baro de Castelo de Paiva5 e de
Domingos Vandelli (17301816) nasceu em Pdua em 1730 e faleceu em Lisboa a 27 de Junho de 1816. Doutorou-se em Filosofia na Universidade de Pdua, onde seu pai, Jernimo Vandelli, doutor em Medicina, era lente. Na Universidade de Pdua foi discpulo de Pontedera. Entre 1761 e 1764 percorreu a regio de Modena e da Lombardia, colhendo espcimes de histria natural que mais tarde ofereceu Universidade de Coimbra. Manteve correspondncia com Lineu entre 1759 e 1773. Em 1772 nomeado, pelo governo de D. Jos I, professor de Histria Natural e Qumica da Universidade de Coimbra. Em Coimbra, dirigiu os primeiros trabalhos para a criao do Jardim Botnico, conjuntamente com o professor de Fsica Dalla-Bella. O projecto foi considerado ambicioso e caro pelo Marqus de Pombal, tendo por isso sido executado s parcialmente. Foi jubilado em 1793, mas deixara j de ensinar desde 1787. Depois de jubilado, passou para Lisboa como Director do Real Museu e Jardim Botnico da Ajuda. Uma das suas grandes preocupaes foi criar discpulos que pudessem efectuar as exploraes que se impunham. Preparou assim Alexandre Rodrigues Ferreira, o afamado explorador do Brasil, Manoel Galvo da Silva, que procedeu ao reconhecimento de Goa e Moambique, e provavelmente tambm Joaquim Jos da Silva e Joo da Silva Feij, que fizeram colheitas respectivamente em Angola e Cabo Verde. Alm de ter reeditado o Viridarium de Griesley publicado em 1789, estabelecendo a correspondncia entre os nomes que ali figuram e os da nomenclatura binomial, Vandelli elaborou vrios trabalhos originais de Botnica, entre os quais avultam: Dissertatio de Arbore Draconis (1768), Sobre a utilidade dos Jardins Botanicos (1770), Fasciculus plantarum, cum novis generibus et speciebus (1771) e Florae Lusitanicae et Brasiliensis specimen (1788) e o Diccionario dos Termos Technicos de Historia Natural (1788). Entre 1789 e 1812, publicou nas Memrias Econmicas da Academia Real das Cincias de Lisboa alguns trabalhos entre os quais: Sobre o sal virgem da Ilha de Cabo Verde, Sobre as aguas de Lisboa, Sobre produtos naturais do Reino e das Colonias. Vandelli tambm reputado pela sua actividade na indstria. Fundou uma fbrica de faiana em Coimbra. sua fbrica se deve o florescimento conquistado pela indstria de cermica conimbricense nos fins do sculo XVIII e princpios do sculo XIX. A loia produzida pela sua fbrica ficou conhecida pelo nome de Loua de Vandelles ou Loua de Bandelli. Acusado de simpatia com as tropas francesas invasoras de Junot, foi preso em 1810 com 80 anos de idade e com outros presos conduzido a bordo da fragata Amazona para a Ilha Terceira. No entanto, pouco tempo depois de chegar ilha, e graas interferncia da Sociedade Real de Londres, foi concedida transferncia para Inglaterra onde residiu at 1815, quando aps a paz geral, regressou a Portugal. A sua sade mental tinhase entretanto deteriorado, morrendo j na ausncia das suas faculdades mentais. Foi comendador da Ordem de Cristo, deputado da Real Junta do Comrcio, Agricultura, Fbricas e Navegao. Scio da Academia Real das Cincias de Lisboa, e das Academias de Uppsala, Pdua e Florena (GEPB; CABRAL & FOLHADELA, 2006). Sobre a vida e obra de Vandelli ver o detalhado trabalho de BRIGOLA (2003). 2 Felix de Avellar Brotero (17441828) nasceu em Santo Anto do Tojal, e morreu em Alcolena de Belm. Orfo desde os primeiros anos de idade, vivia amparado por um tio de modestos recursos. As suas ideias filosficas e a amizade que o ligava a Filinto Elsio tornaram-no suspeito ao Santo Ofcio, e assim, aos 33 anos de idade, viu-se obrigado a emigrar para Frana. Em Paris assistiu ao curso de Histria Natural de Valmont de Bomare e s lies de Botnica no Colgio de Farmcia. Foi discpulo de Buffon, Jussieu, Aubenton e Lamark. Doutorou-se na Escola de Medicina de Reims. Publicou em Paris, em 1788, o Compendio de Botanica. Brotero regressou a Lisboa em 1790. Pela reputao que j ganhara, foi nomeado, em 1791, lente de Botnica e Agricultura na Universidade de Coimbra, por decreto de D. Maria I. Era imperioso proceder-se elaborao de uma flora do nosso pas. Brotero inicia ento herborizaes, recolhendo plantas em diversos locais, ao mesmo tempo que se ocupava do ensino e da instalao do Jardim Botnico de Coimbra. O facto de saber que os botnicos alemes Hoffmansegg e Link preparavam tambm uma Flora de Portugal, levou Brotero, embora contrariado por no a considerar completa, a publicar em 1804 a sua Flora lusitanica. Com as invases francesas, viu a sua casa incendiada e o desaparecimento da sua livraria e do seu herbrio. Depois de jubilado em 1811, Brotero passou para Lisboa, onde foi ocupar o lugar de Director do Real Museu e Jardim Botnico da Ajuda, sucedendo assim a Vandelli. A prosseguiu os seus trabalhos sobre a flora de Portugal, elaborando os dois magnficos tomos da Phytographia Lusitaniae selectior, publicados respectivamente em 1816 e 1827. Brotero tambm publicou trabalhos sobre a flora do Brasil (GEPB; FERNANDES, 1944; PIRES DE LIMA, 1944; VEIGA, 1945; CABRAL & FOLHADELA, 2006). Sobre a vida e obra de Brotero ver ainda CASTEL-BRANCO (2004). Parte da bibliografia de Brotero est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ 3 Link (17671851) aps ter terminado os seus estudos em Medicina e Cincias Naturais em Gttingen, leccionou em Rostock (1792), Breslau (1811) e Berlim (1815). Publicou, em 1795, um trabalho sobre os lquenes das rochas calcrias. Na companhia do Conde de Van Hoffmansegg (grande apaixonado pelos estudos botnicos, e grande mecenas), Link viajou em Portugal e na Grcia nos anos de 1797-1799. O relato da viajem a Portugal aparece numa obra em trs volumes Voyage au
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Welwitsch6, a botnica portuguesa no incio do sculo XX estava sedenta de modernizao7 (PIRES DE LIMA, 1944; FERNANDES, 1963).
Portugal. Como resultado dessas exploraes foi publicada a monumental Flore Portuguaise que acabou por ficar incompleta. Os dois volumes publicados ficaram carssimos, devido ao luxo da edio. Os dois volumes so ornados de magnficas estampas. Parte dos desenhos feitos em Portugal a partir das plantas frescas, so da autoria do prprio Conde. Os restantes foram executados na Alemanha por um dos melhores pintores da especialidade, a partir de plantas de herbrio. Link publicou, ainda, em 1807, o seu trabalho Grundlehren der Anatomie und Physiologie der Pflanzen (Principios fundamentais da anatomia e fisiologia das plantas). Este trabalho contm ideias inovadoras sobre a anatomia das plantas, referentes estrutura dos vasos, das glndulas excretoras e dos estomas. Link foi director do Jardim Botnico de Berlim de 1815 a 1851. Publicou ainda trs fascculos sobre a anatomia das plantas, entre 1837 e 1847. Adquiriu uma reputao durvel de anatomista, de fisiologista e de sistemata, e estudou tanto talfitos como plantas vasculares (CABRAL & FOLHADELA, 2006). Parte da bibliografia de Link e Hoffmansegg est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ 4 Francisco Manuel de Melo Breyner (1837-1903), 4. Conde de Ficalho, termina o curso na Escola Politcnica de Lisboa em 1860. nomeado lente substituto em 1861, e lente proprietrio de Botnica da Escola Politcnica em 1890. Foi por sua influncia que comearam, em 1874, as relaes entre o Jardim Botnico da Escola Politcnica e o Jardim de Kew. Deu tambm um grande impulso aos museus adstritos s Cadeiras da Politcnica, fundando o Museu Nacional de Lisboa. Foi tambm director do Instituto Geral de Agricultura de Lisboa, de 1864 a 1877. Publicou trabalhos sobre a flora continental e, especialmente, a ultramarina (GEPB; PALHINHA, 1953; MELO, 1987). 5 Antonio da Costa Paiva nasceu no Porto a 12 de Outubro de 1806. Era Doutor em Medicina e Bacharel em Filosofia pela Universidade de Coimbra. Foi nomeado lente proprietrio da 10. Cadeira e Director do Jardim Botnico e Experimental por Decreto de 11 de Junho de 1838 e Carta Rgia de 28 de Julho de 1838, tendo tomado posse do cargo em 14 de Junho de 1839. Foi nobilitado a 1. Baro de Castelo de Paiva em 1854. Em 1855 passou a viver na Ilha da Madeira, por causa duma affeco pulmonar, mas tem vindo frequentes vezes a Lisboa. Foi jubilado por Decreto de 31 de Dezembro de 1858 e Carta Rgia de 19 de Janeiro de 1859. Doou Academia Real das Cincias de Lisboa um herbrio madeirense composto de 600 espcies, e outro herbrio com 372 espcies recolhidas nas Ilhas Canrias. Deu ao Jardim Real de Kew um herbrio contendo plantas do Continente e dos Aores. Foi Cavaleiro das Ordens de Cristo e de Nossa Senhora da Conceio, scio da Academia Real das Cincias de Lisboa e de outras academias e corporaes cientficas nacionais e estrangeiras e Vogal extraordinrio do Conselho Geral de Instruo Pblica at sua extino em 1868. Adquiriu uma fortuna avultada, que tem distribuido pelos hospitaes, e outros estabelecimentos de beneficiencia do paiz, reservando para si o usofructo ou antes accumulando nas suas mos os rendimentos at os repartir segundo os impulsos da sua piedade. Falecido em 4 de Junho de 1879, legou, uma inscripo [...] de divida publica portugueza do capital de um conto de reis para se applicar o seu juro anual cultura no Jardim Botanico de mesma Academia de plantas medicinaes do territorio portuguez. As publicaes do Baro de Castelo de Paiva revelam o perfil tpico de um naturalista do sculo XVIII-XIX - o estudo de animais, plantas, agricultura, medicina, filosofia, e at poltica e economia. Publica, em 1837, Aphorismos de medicina e cirurgia practicas, em 1855, Relatorio do Baro de Castello de Paiva, encarregado pelo governo de estudar o estado da Ilha da Madeira sob as relaes agricolas e economicas, em 1866, Novissimos ou ultimos fins do homem, e ainda publica diversos trabalhos sobre colepteros e moluscos (AAPP, 1880-1881). A vida e obra do Baro de Castelo de Paiva foram sintetizadas no discurso de abertura do ano lectivo de 1879-1880, a 17 de Outubro, pelo Director interino da Academia, Arnaldo Anselmo Ferreira Braga: Antonio da Costa Paiva foi um dos distinctos professores [...] desta Academia [...] Logo que entrou no excerccio da sua cadeira, deu-se exclusivamente ao estudo da botanica, tornando-se em poucos annos um dos primeiros botanicos do nosso paiz e talvez o primeiro como professor, pela sua clareza, conciso e methodo de ensino. Dispondo de poucas foras, por causa de uma terrivel molestia pulmonar que lhe foi minando pouco a pouco a sua existencia [...] abandonou o magisterio por causa dos seus padecimentos, e foi para a Madeira incumbido pelo governo de estudar esta ilha sob as relaes agricolas e economicas; o que foi objecto dum bem elaborado relatorio que publicou em 1855. Desde este anno em diante residiu alli a maior parte do tempo, [...] no estudo da fauna e flora do archipelago madeirense e das Canarias. [...] O herbario do archipelago madeirense [...] contem 700 exemplares de plantas indigenas, representando 545 especies e o canariense comprehende 400 exemplares que representam 372 especies da flora deste archipelago [...] (AAPP, 1879-1880, 1880-1881). Ver tambm PIRES DE LIMA (1942:27-30) e SANTOS (1996). 6 Frederico Artur Welwitsch (1806-1872), mdico austraco, cedo se interessou pelas cincias naturais. Numa misso botnica aos Aores e Cabo Verde, passa por Lisboa, onde acaba por residir durante alguns anos. Foi conservador do Jardim Botnico da Ajuda. Herborizou frequentemente no continente, recolhendo muitos exemplares para herbrio. Antes de partir para frica, o seu herbrio vendido Academia Real das Cincias. Posteriormente, em 1853, o herbrio de Welwitsch passa para a Escola Politcnica de Lisboa, onde ainda hoje se encontra. Em 1853, por iniciativa do visconde de S da Bandeira, parte para uma grande viagem cientfica a frica. No deserto de Momedes descobre a planta notvel que em

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Por toda a Europa publicavam-se floras nacionais e regionais, distribuam-se coleces de plantas secas e identificadas (exsicatas). As floras de Brotero e de Link e Hoffmansegg, notveis no contexto do fim do sculo XVIII incio do sculo XIX, um sculo passado, estavam obviamente desactualizadas (FERNANDES, 1963). Era urgente a sua profunda reviso e actualizao. Tal desiderato caber a trs figuras excepcionais das Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto Jlio Henriques, Antnio Xavier Pereira Coutinho e Gonalo Sampaio, em colaborao com uma rede de botnicos nacionais e estrangeiros. A incria, a inveja e o desleixo arruinaram muitos dos nossos arquivos histricos. O Departamento de Botnica da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto tem a fortuna de possuir um vasto legado documental deixado por G. Sampaio8. O estudo do esplio documental de G. Sampaio, da exegese das suas prprias obras, complementado com o estudo das coleces do Herbrio que organizou9, permitiram conhecer melhor o homem e a sua obra10, a sua gerao, e a fundao da botnica moderna em Portugal. Foi este o principal objectivo do presente trabalho11. Considermos como esplio documental de G. Sampaio, todo o conjunto de documentos manuscritos da sua autoria ou consigo directamente relacionados. A maioria dos documentos estudados foram cartas e bilhetes-postais recebidos de colegas investigadores e cartas escritas por G. Sampaio mas no-enviadas (ou rascunhos de enviadas)12. Tambm analismos documentao no-epistolar

sua homenagem ser designada de Welwitschia Bainesii Hooker. Os gneros Welwitschella O. Hoffm. e Welwitschiina Engl. tambm lhe foram dedicados. Aps a sua morte, gerou-se uma sria disputa entre os governos ingls e portugus sobre as suas coleces africanas, mas estas acabaram por chegar a Lisboa em 1878. Algumas foram estudadas pelo Conde de Ficalho (GEPB; PALHINHA, 1953; MELO, 1987). 7 tambm necessrio referir a depredao das coleces de Histria Natural portuguesas pelas tropas francesas invasoras (FERNANDES, 1963). A relativa pobreza dos estudos de Histria Natural no sculo XIX em Portugal est provavelmente relacionada com a grande instabilidade poltica e social que o pas viveu nas primeiras dcadas deste sculo. 8 Uma palavra de especial agradecimento Dra. Elisa Folhadela, Assessora do Departamento de Botnica da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto (FCUP), que tem carinhosamente velado pela preservao do esplio documental de G. Sampaio e pelo Herbrio do Departamento. 9 Foi recentemente incorporado na Biblioteca Nacional de Portugal um importante conjunto de cartas e bilhetes-postais escritos por G. Sampaio a A. Ricardo Jorge (BN Esp. A/1987-2099). So 113 documentos manuscritos preciosos para a compreenso da vida e obra de G. Sampaio. data da concluso do presente trabalho no estava ainda disponvel a sua reproduo, pelo que s nos foi possvel realizar um estudo preliminar destes documentos. 10 As biografias de G. Sampaio publicadas (MORAIS, 1937; ROZEIRA, 1946; PIRES DE LIMA, 1938, 1952; SALEMA, 1991) so simplistas e incompletas. Parte da bibliografia de G. Sampaio est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ e https://museuvirtual.up.pt/up/jsp/pesquisas.faces. 11 Uma palavra de agradecimento a diversas entidades e personalidades que contribuiram para a realizao do presente trabalho: ao Conselho Cientfico da FCUP pela concesso de uma licena sabtica durante a qual o trabalho foi elaborado; aos editores desta revista pela receptividade e apoio publicao deste trabalho; ao Dr. Joo Manuel Martins e ao Professor P.e Joo Marques pelas discusses crticas e sugestes ao texto; ao Professor Jos Pissarra, actual presidente do Departamento de Botnica (FCUP) pelo apoio que lhe tem merecido o Museu do Departamento; Slvia pela cuidadosa reviso do texto final. 12 Inclumos as cartas escritas com mquina de escrever na categoria de manuscritos.

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diversa, nomeadamente, manuscritos de obras no-publicadas e apontamentos seus em obras impressas, suas e de outros botnicos13. A correspondncia com J. Henriques de longe a mais vasta, tanto em amplido cronolgica, como em nmero de espcimes. a nica que abrange quase toda a vida cientfica de G. Sampaio. A correspondncia com A. Luisier, A. Ricardo Jorge e J. S. Tavares tambm abrange um dilatado perodo de tempo, mas o nmero de documentos muito inferior aos relativos a J. Henriques. A correspondncia com os restantes investigadores relativamente circunscrita no tempo e em nmero de exemplares. Estes factos esto relacionados com a actividade de investigao e produo cientfica de G. Sampaio. Alguns assuntos mereceram a sua ateno durante uma fraco da sua vida cientfica. Naturalmente que estes assuntos, os lquenes por exemplo, so tema de discusso sobretudo durante os anos em que se dedica ao seu estudo. A maioria dos espcimes espitolares corresponde a correspondncia recebida por G. Sampaio. Foram datados pela data escrita pelo seu autor, ou na sua ausncia, pela data do carimbo do correio. Na ausncia destas indicaes, foi possvel, em alguns casos, fazer uma datao aproximada atravs da anlise do seu contedo. O maior volume de correspondncia refere-se a botnicos portugueses. Seguem-se os botnicos espanhis, e depois os investigadores franceses. As restantes nacionalidades so espordicas. G. Sampaio incorporou muitos comentrios e apontamentos nas obras que escreveu. Uma exegese das suas obras revela muito da sua personalidade e do seu mtodo de trabalho. Finalmente, analismos as coleces do Herbrio organizado por G. Sampaio. Durante a sua actividade cientfica foram incorporados, no herbrio, muitos espcimes. A maioria so plantas recolhidas por si, mas tambm muitos exemplares foram recebidos de fora, por permuta. O estudo de algumas destas coleces permitiu complementar e enriquecer o estudo do esplio documental. Os 12 captulos iniciais foram baseados na anlise do esplio documental de G. Sampaio. O 13. captulo uma exegese das suas obras mais importantes14. O 14. captulo um balano e

Seguindo as recomendaes de COSTA (1982), transcrevemos os manuscritos exactamente de acordo com os originais, em que a acentuao das palavras muito irregular. Limitmo-nos a desdobrar as abreviaturas e a acrescentar alguma pontuao quando era indispensvel para uma melhor leitura do texto. Para tornar o texto mais claro, em algumas transcries omitimos algumas palavras. Estas foram substitudas por: [...]. Tambm utilizmos este smbolo para substituir palavras que no conseguimos transcrever. Todavia estas omisses em nenhum caso puseram em causa o sentido do texto transcrito. Comentrios nossos intercalados nas transcries encontram-se em letra redonda, entre parntesis rectos. Sublinhmos os nomes de txones. Mantivemos geralmente a ortografia original dos nomes de pessoas. A ortografia dos nomes dos txones no texto principal segue SAMPAIO (1946). As transcries encontram-se entre aspas, as de manuscritos em itlico, as de documentos impressos, em letra redonda. 14 A anlise das obras de G. Sampaio podia ter sido intercalada no texto, no respectivo contexto cronolgico. Optmos por mant-la separada porque permite uma leitura mais tcnica da produo cientfica do investigador portuense. Deve no entanto ser lida em permanente dilogo com os captulos anteriores.

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avaliao que fazemos da obra do professor portuense. O ltimo captulo sintetiza o contedo de todo o trabalho. Em anexos apresentamos algumas anlises mais tcnicas da produo cientfica de G. Sampaio.

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II. A Academia Politcnica do Porto da fundao ao dealbar do sculo XX15 1. A criao da Escola Politcnica de Lisboa As duas escolas superiores de Lisboa e Porto foram criadas quase em simultneo. O Decreto que institua a Escola Politcnica de Lisboa era assinado pela Rainha a 11 de Janeiro de 1837 e publicado no Dirio do Governo de 16 deste ms (DG 1837 01 16). O objectivo principal era habilitar alumnos com os conhecimentos necesarios para seguirem os differentes cursos das Escholas de applicao do Exercito, e da Marinha; offerencendo ao mesmo tempo os meios de propagar a instruo geral superior, e de adquirir a subsidiaria para outras profisses scientificas (artigo 1.). Existiam os seguintes cursos na Escola: A. Curso preparatrio para oficiais de Estado Maior, de Engenharia Militar e de Engenharia Civil. B. Curso preparatrio para oficiais de Artilharia. C. Curso preparatrio para oficiais de Marinha. D. Curso preparatrio para engenheiros constructores de Marinha. E. Curso Geral (artigo 5.). A 7.a Cadeira era de Mineralogia, Geologia, e principios de Metallurgia. A 8.a Cadeira era de Anatomia, e Physiologia comparadas, e Zoologia. A 9.a Cadeira era Botanica, e principios de Agricultura (artigo 2.). No ano lectivo de 1838-1839, o programa da Botnica era o seguinte: A. Objecto da botnica, e inter-relao com outras disciplinas. B. Anatomia vegetal. Tecidos vegetais. C. Organografia vegetal. Raiz, caule, folhas, flores e frutos. D. Fisiologia vegetal. Seivas. Crescimento. Teoria da enxertia e mergulhia. E. Taxonomia. Lineu. Tournefort e Jussieu (DG 1839 01 04). Cada Cadeira tinha o seu lente proprietario e o lente substituto (artigo 8.). O lente substituto substitua o lente proprietrio nos seus impedimentos, e para os ajudar nos casos, e pelo modo que o Conselho da Eschola determinar (artigo 9.). O Conselho da Escola era formado por todos os lentes proprietrios e substitutos, sendo presidido pelo Director (artigo 20.). O director era Official General, ou Official Superior de qualquer das Armas scientificas do Exercito, nomeado pelo Governo (artigo 19.). Aos lentes era conferida grande autoridade e independncia pelo artigo 17.: O magisterio vitalicio. Nenhum Lente poder ser suspenso sem audiencia previa sobre queixa de individuo, ou informao de authoridade, nem demittido sem preceder sentena proferida em Tribunal competente. O Conselho da Escola deliberava sobre a administrao scientifica da Escola, nomeadamente sobre os programas das Cadeiras (artigo 21.). A Escola Politcnica de Lisboa teria como estabelecimento, Um Gabinete de Historia natural e Um Jardim Botanico (artigo 4.) (DG 1837 01 16).
Sobre a histria da Escola Politcnica de Lisboa ver GIL & CANLHAS (1987). Sobre a histria da Universidade do Porto ver a obra monogrfica de SANTOS (1996). Sobre a histria do ensino nas Universidades portuguesas consultar o exaustivo trabalho de CARVALHO (1996).
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Como se ensinavam as cincias naturais na Escola Politcnica? O ensino encontrava-se bem regulamentado no prprio diploma que criava a Escola Politcnica. As lies iniciavam-se com uma recapitulao, feita pelos alunos, da matria dada na aula anterior: um, ou mais estudantes fazerem uma exposio sobre a lio explicada no dia antecedente. Sendo o fim principal desta exposio habituar os alumnos a exprimirem methodica, e correctamente em pblico as suas idas (artigo 41.). Seguidamente explicar o Lente a lio do dia, fazendo elle mesmo os calculos, experiencias, e demonstraes relativas a essa lio sem dependencia dos alumnos (artigo 40.). Ao fim de algumas lies, geralmente, uma vez por semana, uma aula era de repetio das materias ensinadas, fazendo o lente ao maior numero de alumnos possivel, as interrogaes que julgar convenientes sobre os objectos ensinados desde a ultima repetio (artigo 41.). Como eram avaliados os conhecimentos dos alunos? De forma regular e laboriosa. Todos os meses, a aula das repeties era substituda por exercicios por escripto, feitos pelos alumnos na presena do respectivo Lente sobre a materia dada nesse mez [...] consistindo na resposta de dez at quinze perguntas (artigo 42.). De dois em dois ou de trs em trs meses, existiam exames orais sobre todos os objectos ensinados dentro dos respectivos perodos, em que o Lente se limitar a fazer interrogaes, mas nunca argumentar com os alumnos (artigo 43.). Estes exames orais eram classificados em mo, soffrivel, sufficiente, bom e optimo, mas a classificao no era transmitida ao aluno. No fim do ano existia um exame final, designado de annual, sobre todas as materias estudadas em cada aula. S podiam realizar o exame final os alunos que tivessem feito todos os exames orais bi- ou trimestrais. Numa urna eram colocados 10 pontos diferentes, cada um contendo 50 perguntas. Um ponto era tirado sorte. O aluno tinha quatro horas para responder por escripto, no sendo permitido ao alumno conferenciar com pessoa alguma, nem poder levar para o exame livro, ou escripto algum com o fim de o consultar (artigo 47.). A aprovao no exame final exigia pelo menos metade das respostas correctas. Se o aluno no fosse aprovado no exame final, mas tivesse nos exames orais qualificaes a [...] seu favor [...] ter direito a um novo exame, que servir para decidir definitivamente da sua sorte (artigo 49.). A assistncia s aulas era obrigatria, e nenhum alumno ser admitido ao exame annual se tiver commetido, em causa justificada perante o Conselho da Eschola, um numero de faltas igual decima parte do numero das lies que houverem em todo o anno, ou quinta parte, ainda que seja por causa justificada (artigo 52.). A carta de curso exigia a aprovao em todas as disciplinas constantes do curso (DG 1837 01 16). 2. A criao da Academia Politcnica do Porto

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A Academia Politcnica do Porto fundada em 1837 por transformao da Academia Real da Marinha e Comrcio do Porto. O Decreto da criao da Academia assinado por Passos Manuel e pela Rainha em 13 de Janeiro de 1837, dois dias depois do diploma que institua a Escola Politcnica e publicado no Dirio do Governo de 18 e 19 de Janeiro, (DG 1837 01 19). No prembulo justificada a criao da nova instituio de ensino superior na cidade nortenha: Attendendo necessidade de plantar no paiz as sciencias industriaes, que differem muito dos Estudos classicos e puramente scientificos, e at dos estudos theoricos contendo simplesmente a discripo das Artes; e offerencendo para este fim a populosa e rica cidade do Porto a localidade mais appropriada por seu extenso commercio e outras muitas circumstancias; podendo a Academia Real da Marinha e Commercio satisfazer at certo ponto a este importante objecto, logo que receba uma organisao mais conveniente (AAPP, 1879-1880). O objectivo principal da Academia era o ensino das Sciencias industriaes (DG 1837 01 19). As habilitaes para os alunos serem admitidos Academia eram: 14 annos de idade completos, approvao em leitura, escripta, e Grammatica Portugueza, e nas quatro operaes fundamentais dArithmetica (AAPP, 1880-1881). Existiam os seguintes cursos na Academia: A. Engenheiros. B. Oficiais de Marinha. C. Directores de fbricas. D. Pilotos. E. Comerciantes. F. Agricultores. G. Artistas. H. Cursos preparatrios para os oficiais do Exrcito. A 10. Cadeira - Botnica, Veterenria e Agricultura, era ministrada em trs anos, nos seguintes cursos: Engenheiros, de minas; Engenheiros, constructores de navios; Engenheiros, de pontes e estradas; Directores de fbricas; Agricultores; Cursos preparatrios para os oficiais do Exrcito. O seu programa era o seguinte: 1. Ano. Botnica terica: glossologia; anatomia; fisiologia; taxonomia segundo Brotero. Botnica prtica: exposio do sistema sexual de Lineu feita no Jardim Botnico. Veterinria terica: princpios de patologia aplicados ao estudo das doenas animais. Veterinria prtica: demonstrao das referidas doenas feita no jardim experimental, ou por auxlio de estampas. 2. Ano. Botnica terica e prtica: continuao das matrias do 1. ano. Agricultura terica: descrio dos terrenos; mtodo de adubar, semear, cultivar, plantar, e afolhar as terras. Agricultura prtica: explicao e uso prtico dos instrumentos empregues nesta cincia. Exerccios dos processos operatrios. Teorias gerais da cincia. 3. Ano. Botnica terica e prtica: continuao das matrias do 1. e 2. anos. Economia rural terica: noes gerais acerca do mtodo para que se tirem da agricultura as maiores vantagens possveis. Economia rural prtica: exposio prtica dos melhores edifcios rurais e quintais, feita por estampas e no jardim experimental. As obras de referncia eram as de Brotero, para a Botnica, e as de Huzard, para a veterinria (DG 1837 01 19; AAPP, 1880-1881; SANTOS, 1996).

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O Regulamento da Academia estabelecia os princpios orientadores do funcionamento da escola e das aulas, e do recrutamento dos professores. O artigo 162. determinava que: Haver para cada um dos cursos um Professor Proprietario, e seis substitutos. [...] Os Substitutos so demonstradores natos [...] ordenado dos lentes cathedraticos 700$000 ris anuais, dos substitutos 400$000 ris. Era institudo o Conselho da Academia pelo artigo 114.: A reunio de todos os professores proprietarios e substitutos, convocada e presidida pelo Director, frma o Conselho da Academia, a quem pertence a inspeco scientifica e economica do Estabelecimento com subordinao ao Ministerio do Reino, com quem o Director se corresponder directamente. A admisso dos lentes era tambm regulamentada neste artigo 114.: todas as cadeiras tem de ser [...] providas por meio de concurso publico [...] os concorrentes devem apresentar o seu requerimento instruido com certido do gro de doutor, ou de licenciado pela Universidade de Coimbra, ou Carta de capacidade passada pela Academia [...] o acto de habilitao consiste na lio de um ponto sobre cada uma das disciplinas de tres Cadeiras designadas pelo Conselho da Academia [...] os pontos so formados pelo Conselho academico, iguaes, pouco mais ou menos, a uma lio academica [...] O oppositor l pelo tempo de uma hora em cada uma das disciplinas do ponto [...] No fim do acto corre o escrutinio secreto pelo Conselho academico (DG 1837 01 19; AAPP, 1879-1880). O Regulamento, no seu artigo 165., tambm determinava (e regulamentava) a criao de estabelecimentos anexos Academia, nomeadamente um Gabinete de Histria Natural e um Jardim Botnico e Experimental: Alm dos Estabelecimentos, que actualmente pertencem Academia, ter mais um Gabinete de Historia Natural industrial [...] um Jardim botanico e experimental [...]. O Jardim botanico servir tambem para uso da Escla medico-cirurgica; porm a sua intendencia pertence ao Lente de Botanica [...] Haver neste Estabelecimento uma parte destinada para os ensaios de Agricultura. O Gabinete de Historia Natural formado pela colleco de productos que pertencem aos tres Reinos da Natureza. [...] A intendencia do Gabinete pertence ao Professor de Historia Natural [...] Para a intendencia do Jardim botanico, o Lente de Botanica deve ter sua ordem um Official ou Jardineiro habil para o tratamento e cultura das plantas. Antonio da Costa Paiva, Baro de Castelo de Paiva, quem assumir logo no primeiro ano, a regncia da 10. Cadeira, e manter-se- como seu lente proprietrio durante duas dcadas (DG 1837 01 19; AAPP, 1880-1881). 3. O ensino das cincias naturais nos primeiros anos da Academia Como se ensinavam as cincias naturais nas primeiras dcadas de vida da Academia Politcnica? O mtodo de ensino aulas tericas e prticas - e avaliao de conhecimentos, eram,

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naturalmente, muito semelhantes aos seguidos na Escola Politcnica de Lisboa. Os textos descritivos que so publicados no seu rgo oficial (AAPP) revelam-nos um ensino das cincias naturais correcto para a poca, porque alicerado no primado da experincia e da observao sobre a teorizao, e com uma carga horria intensa e uma avaliao de conhecimentos exigente. A importncia da prtica bem exemplificada neste texto publicado no rgo oficial da Academia: Ha nas sciencias a considerar duas partes distintas, ainda que mutuamente dependentes, e de tal frma entrelaadas que em alguns pontos parecem confundir-se: so a theoria e a prtica. A primeira, filha da profunda meditao, alimentada com as vigilias dos Sabios, resumindo em si a metaphisica e a fora da sciencia, frma a sua alma, ou essencia. A segunda, procedente da necessidade, aperfeioada com o uso, indispensavel ao mesmo tempo nos Observatorios, e nas humildes Officinas, sempre porm obediente aos ditames da primeira, e seguindo os seus influxos, parece formar o corpo, ou poro mechanica da mesma sciencia. Quanto mais progredimos no estudo, mais nos convencemos da necessidade de sua estreita alliana: e a nenhuma dellas podemos rasoavelmente dar a preferencia; pois o que uma tem de sublime, tem a outra de indispensavel, e qualquer dellas independente mal poderia utilisar-nos. A prtica sem a theoria era apenas um cgo entregue ao cgo acaso, marchando por tentativas, tropeando e cahindo a cada passo; a theoria sem a prtica no passava de bella concepo, habitando alguns cerebros privilegiados, ou quando muito as paginas de dourados livros para ornar pomposas bibliothecas. preciso portanto unilas para lhes dar uma existencia proveitosa sociedade; e foi isso o que se pretendeu nestes exercicios scientificos. Comprehende-se sob a denominao de exercicios scientificos tudo quanto tende a fixar os Estudantes nos conhecimentos adquiridos, e a guial-os na progressiva acquisio doutros. No estudo da theoria, exercitando sua memoria, desenvolvendo sua intelligencia, dilatando sua imaginao, excitando nelles o amor da verdade, finalmente ensinando-os a exprimir suas ideas com rigor e justeza, e a represental-as por signaes convencionaes, e linguagem propria. No emprego da prctica, fazendo que nelles se torne acto mechanico o que ao principio dependia de esforo de espirito, familiarisando-os com os instrumentos, operaes, e processos proprios das sciencias a que se dedicarem, e habilitando-os para conhecel-os, corrigil-os, e melhoral-os, qualquer que seja a sua frma ou circumstancias acessorias (AAPP, 1880-1881). Como decorria o ensino terico? Nas cadeiras de Filosofia Natural, as lies tericas consistiam em o lente ouvir um ou mais Estudantes [...] sobre as materias que se tiverem explicado no dia lectivo antecedente, pelo menos durante o primeiro quarto dhora. No resto do tempo explicaro as materias que se seguirem, no podendo os Estudantes interromper a sua preleco para lhes apresentarem duvidas; mas reservando-as para as occasies em que os Lentes lhes perguntarem se tem sido

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entendidos. Ao fim de um determinado nmero de aulas tericas, resumia-se e conclua-se a matria dada, eram as recordaes: Depois dum numero indeterminado de lies que possam considerar-se por sua ligao, e srie de principios que encerram, como seco ou diviso natural da Sciencia, o Lente determinar uma recordao, em que sejam apresentados esses principios separados de demonstraes, e ligados entre si segundo a sua deduco e ordem mais natural, formando uma synopsis. Estas recordaes devem ser de tal maneira ordenadas que a sua totalidade forme o resumo das disciplinas proprias de cada Cadeira. Nestes exercicios, o Lente interrogar o maior numero possivel de Estudantes [...] (AAPP, 1880-1881). Como decorria o ensino prtico? Os exerccios prticos incluiam a aplicao de frmulas, o uso de mquinas, ensaios e experincias, manipulaes, trabalhos grficos e topogrficos. Na 10. Cadeira, as aulas prticas seguiam o seguinte programa: Classificao dos vegetaes, precedendo o necessario exame e descripo de seus orgos principaes e acessorios, tanto de reproduco como de vegetao. Observaes minuciosas feitas a olhos nus, ou com instrumentos proprios, sobre a estrutura interna dos vegetaes, arranjos, dimenses, e posies relativas das differentes partes que os compem. [...] Investigaes e experiencias sobre o progresso gradual da germinao, crescimento, inflorescencia [...] Finalmente todos os trabalhos experimentaes que tendam a firmar as theorias, e a fortificar, ou destruir as hypotheses at hoje admittidas [...] (AAPP, 1880-1881). Como era ensinada a matria prtica? Todos estes trabalhos sero executados pelos Estudantes, [...] o respectivo Lente, que a elles presidir, [...] limitando-se a indicar-lhes os processos, a esclarecl-os em suas duvidas, e a dirigil-os onde errarem; insistindo no escrupulo e circumspeco com que devem marchar de degro em degro at chegarem ao conhecimento do vegetal, e mostrando-lhe a excellencia do methodo analytico de que devem usar principalmente nas classificaes [...] Estes exercicios sero feitos no Jardim Botanico, ou no Campo, neste ultimo caso, o Lente instruir os Estudantes no conhecimento dos terrenos, [...] fazendo-lhes notar os defeitos que houverem [...] nos trabalhos agricolas, como na escolha das sementeiras. [...] Ensinar o methodo de construo dos predios ruraes e finalmente far conhecer prticamente as doenas dos animaes, e os meios de as curar [...] (AAPP, 1880-1881). Como eram avaliados os conhecimentos dos alunos? Atravs de exerccios escritos, e de um exame final, oral, designado de acto. Existiam exerccios escritos ordinrios e extraordinrios: os Exercicios por escripto. [...] tero logar ou em pocas fixas e se denominaro ordinarios, ou fra dessas pocas quando as materias que se tratarem o exijam, e ento se dominaro extraordinarios. Nos Exercicios ordinarios, todos os Estudantes so obrigados a apresentar, no fim de cada mez, um exercicico ou dissertao por escripto que versar sobre a resoluo dalgum problema geral que

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envolva difficuldade, demonstrao dalguma theoria, ou finalmente sobre qualquer materia das que estudarem, a qual pela sua importancia reclama uma atteno particular. Poder tambem ser objecto destes exercicios, quando o Lente julgar conveniente, a synopsis duma grande diviso, ou seco j completamente estudada das doutrinas que ensinar. [...] O Conselho Academico determinar mensalmente, na primeira reunio, quaes devem ser os Lentes, que no seguinte mez devem exigir estes exercicios, afim de no serem sobrecarregados os Estudantes com mais dum no mesmo mez.. Os exerccios extraordinrios eram realizados quando os Lentes julgarem necessario, ou para exercitar a intelligencia dos Estudantes, ou para os familiarisar com alguns principios mais interessantes pelas suas applicaes, lhes proporo alguns problemas para resolverem por escripto sua vista, ou para lhos entregarem depois dalgum dia feriado, segundo a difficuldade do objecto. [...] Estes exercicios porm devem ser sempre de mais fcil execuo do que os ordinarios, e no demasiados frequentes. Tanto os Exercicios Ordinarios como Extraordinarios sero datados e assignados pelos seus Auctores, e apresentados aos respectivos Lentes, os quaes podero interogal-os sobre qualquer ponto delles, e declarar o seu juizo sobre os mesmos, mostrando as inexactides aonde as houver [...]. Os actos eram feitos sobre pontos [...] previamente feitos pelos Lentes [...] e authorisados pelo Conselho Academico. Cada aluno podia dar um nmero mximo de faltas s aulas. Excedendo este nmero, ficava impedido de realizar os actos. A reprovao em duas cadeiras implicava a anulao da frequncia do respectivo ano lectivo (AAPP, 1880-1881). 4. O Jardim Botnico e Experimental da Academia O Jardim Botnico e Experimental previsto no Decreto de 1837 que institua a Academia Politcnica, s viria a ser autorizado por Decreto de 20 de Setembro de 1844 (AAPP, 1879-1880; SANTOS, 1996). No entanto, s em 1852, por Decreto de 20 de Outubro, foi concedido um terreno para o estabelecimento do Jardim. O terreno, com 6.265 metros quadrados, localizava-se na cerca do extinto Convento das Carmelitas da cidade do Porto (Praa Duque de Beja). Todavia, as obras necessrias para o funcionamento do Jardim s comearam em Dezembro de 1864, e durante anos, continuaram com muita lentido [...] por ser mui diminuta a respectiva dotao. Em fins de 1865 principiou finalmente a plantao no Jardim, tendo sido utilizadas muitas plantas provenientes do Jardim Botnico da Ajuda em Lisboa (AAPP, 1878-1879). Mesmo antes do seu funcionamento efectivo, era aprovado, em 1860, o Regulamento do Jardim Botnico e Experimental. O seu artigo 2. estabelecia claramente a sua funo didtica: O Jardim botanico da Academia Polytechnica do Porto, tem por fim a instruco prtica dos alumnos da Cadeira de Botanica e suas dependencias. Dado que a sua vocao era o

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ensino (e no o lazer por exemplo), determinava-se a sua composio e organizao: Haver no Jardim exemplares de diferentes plantas, tanto indigenas como exoticas, no maior numero possivel, e como o comportar a grandeza e circumstancias do terreno, havendo ao menos uma especie de cada genero em todas as familias naturaes (artigo 3.). As plantas sero collocadas no Jardim segundo a ordem e classificao natural, e numeradas todas com uma etiqueta [...] (artigo 4.). Haver no verso da etiqueta um M, para determinar as plantas medicinaes; igualmente se marcaro as plantas venenosas com um signal convencional no verso da etiqueta [...] (artigo 5.). Haver um catalogo [...] aonde se escrevero pela ordem natural e lineana todas as plantas do Jardim [...] (artigo 6.). E finalmente: A entrada do Jardim vedada a todas as pessoas estranhas Academia Polytechnica e Escla MedicoCirurgica [...] Aos estudantes [...] ser permitida a entrada, s horas e dias que todos os annos fr fixada, e sempre compativel com as lies theoricas (artigo 7.). Como era determinado no regulamento inicial de 1837, O Lente de Botanica o Director do Jardim [...] (artigo 9.) (AAPP, 1881-1882). Em 1878, o Jardim Botnico e Experimental continha 1.301 espcies distribudas por 138 famlias (AAPP, 1878-1879). Todavia, a manuteno de to elevado nmero de plantas em boas condies (muitas seriam anuais, e portanto exigiam intensa mo-de-obra) esbarrava com dificuldades, como se deduz pelo discurso de abertura do ano lectivo de 1881-1882, proferido pelo Director Interino16: a Academia [...] seus gabinetes continuam [...] quasi desprovidos de tudo. Concede-se-lhe, verdade, em 1852, um minguado terreno para jardim, mas nenhuma subveno lhe dada. Porque tam menosprezo? Seria porque o corpo docente no a reclamasse? No, porque em seus relatorios e varias representaes que correm impressas bem fazia sentir o conselho a urgente necessidade de uma dotao qualquer. Seria porque o corpo docente deixasse de cumprir os seus deveres, e fossem improficuos os resultados de seus trabalhos? Tambem no, porque as provas esto nos seus discipulos. Referia ainda o Director: tambem no oramento geral do Estado, de 1857 para 1858 que [...] cossignado pela primeira vez o subsidio de 650$000 reis para conservao e aperfeioamento
Nas palavras do Director da Academia parece antever-se o fim trgico do Jardim Botnico e Experimental, que iria ocorrer alguns anos mais tarde, aparentemente com o consentimento dos rgos directivos da prpria Academia. PIRES DE LIMA (1937, 1942, 1949) descreveu em pormenor o desmembramento do Jardim da Academia. O processo inicia-se em 1892 com uma ordem da Direco Geral de Instruo Pblica para que a Academia cedesse, Guarda Municipal, parte do terreno onde se encontrava o Jardim Botnico. A Carta de Lei de 1 de Agosto de 1899 autorizava a alienao do Jardim, se o Governo assim o julgasse conveniente aos interesses do Estado (PIRES DE LIMA, 1942:17). Finalmente, na sesso ordinria do Conselho Acadmico da Academia de Novembro de 1903 foi votada a verba de 100$000 ris para a mudana das plantas e preparao do terreno das Virtudes. Foi criado um simulacro de Jardim Botnico na Cordoaria, mas acabou por ser desactivado por desentendimentos entre os jardineiros da Cmara e os da Academia. Houve um projecto de se reestabelecer o Jardim Botnico nos jardins do Palcio de Cristal, adquirido pela Cmara Municipal do Porto em 1933, que no se efectivou. O Jardim Botnico s viria a concretizar-se na Quinta Grande de Salabert da famlia Andresen, Rua do Campo Alegre, adquirida pela Faculdade de Cincias do Porto em 1949 por iniciativa de A. Pires de Lima e com o apoio do Reitor da Universidade, Amandio Tavares (PIRES DE LIMA, 1942, 1949; FCP, 1969:188-193). Ver Captulo III.6.
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do jardim botanico, bibliotheca, gabinete de physica, historia natural e laboratorio chimico (AAPP, 1881-1882). 5. O Regulamento da Academia em 1864 O Regulamento da Academia Politcnica do Porto era ligeiramente alterado em 1864. Mantinham-se os mesmos cursos, excepo dos Cursos preparatrios para os oficiais do Exrcito. A 10. Cadeira, Botnica, era regida pelos lentes da Seco de Filosofia. Por jubilao do Baro de Castelo de Paiva em 1859, o lente proprietrio da cadeira de Botnica era agora Francisco de Salles Gomes Cardoso17. Ocupar o cargo at 1890, sendo substitudo por M. Amandio Gonalves. Os livros de texto para esta cadeira eram os lments de Botanique de Richard e a Flore des jardins et des champs de Maout e Decaisne. O Conselho da Academia era agora designado de Conselho Acadmico. Os alunos perdiam o ano se dessem um nmero de faltas igual quarta parte do nmero legal das lies da respectiva aula. Os actos incidiam sobre as matrias dadas nas cadeiras. Os pontos devem ser feitos pelos Lentes das respectivas Cadeiras sobre todas as materias que serviram de objecto ao ensino. Um destes pontos tirados sorte 24 horas antes do exame, far o objecto especial em que os examinadores interrogaro os estudantes, mas podero aquelles fazer perguntas vagas sobre a generalidade da Cadeira. Os exames orais duravam de hora para cada Cadeira e aluno. Um dos estabelecimentos da Academia era o Museu de Histria Natural. O seu director era o Lente da 7. Cadeira. Outro estabelecimento da Academia era o Jardim Botnico e Experimental, situado, como j foi referido, na Praa do Duque de Beja. O seu director continuava a ser o Lente da 10. Cadeira. Alguns artigos do Regulamento da Academia eram dedicados gesto financeira do Jardim, complementando assim o Regulamento prprio do Jardim de 1860. O artigo 85. estabelecia que As rendas do Jardim botanico ficam exclusivamente applicadas para costeamento e aperfeioamento do mesmo Jardim. Estas rendas so: os fundos que para tal fim forem votados no oramento de Estado; a venda de plantas, sementes, flres ou outros quaesquer productos, que no fizerem falta para o estudo e demonstraes da aula de Botnica, sendo Este rendimento [...] administrado pelo Lente de Botanica, director do Jardim [...] (artigo 86.) (AAPP, 1877-1878, 1882-1883).
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Francisco de Salles Gomes Cardoso nasceu no Porto em 28 de Fevereiro de 1816. Era Doutor em Filosofia e Bacharel em Matemtica pela Universidade de Coimbra. Foi nomeado lente substituto da seco de Filosofia por Decreto de 23 de Junho de 1851 e Carta Rgia de 30 de Agosto de 1851, tendo tomado posse do cargo a 20 de Setembro de 1851. Por jubilao do Baro de Castelo de Paiva, foi promovido a lente proprietrio da 10. Cadeira, por Decreto de 2 de Maro de 1859, tendo tomado posse deste cargo a 30 de Abril de 1859. Ser substitudo por M. Amandio Gonalves em 1890. Era Capito de Fragata, Cavaleiro da Torre e Espada e Aviz, tendo sido condecorado com a medalha n. 2 dos Senhores D. Pedro e D. Maria (AAPP, 1877-1878; PIRES DE LIMA, 1942:30-31).

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6. O Decreto de 1865 estabelece normas para o recrutamento dos professores Em 1865 publicado um Decreto que estabelece as normas para o recrutamento dos professores nos estabelecimentos de ensino superior do Reino. Esta legislao uniformizava portanto as regras para a contratao dos lentes na Escola Politcnica de Lisboa, na Universidade de Coimbra e na Academia Politcnica do Porto, as trs escolas de ensino superior do pas. As regras eram muito exigentes e requeriam uma slida preparao generalista na respectiva rea de conhecimento. Na Academia Politcnica, a cadeira de Botnica pertencia seco de Filosofia. O candidato seco tinha de prestar provas sobre Botnica e Zoologia, que constituiam uma parte significativa da Histria (Filosofia) Natural. Logo no artigo 1. se estabelecia que o primeiro provimento de todos os logares do magistrio [...] feito por concurso pblico, e a nomeao deve recair em pessoas de reconhecida probidade, talento e aptido. Os candidatos deveriam ter um diploma de um curso completo de instruco superior em que se comprehenda a frequencia e exame das disciplinas que constituem as cadeiras ou seco a que os candidatos se propem As provas do concurso consistiam: A. Em duas lies, de uma hora cada uma, sobre pontos tirados sorte, quarenta e oito horas antes. Para a admisso Academia Politcnica do Porto, na seco de Filosofia, as lies do concurso eram, uma lio de physica ou chimica, outra em mineralogia e geologia; ou em anatomia e physiologia comparadas, e zoologia e botanica. Os pontos para cada lio no podem ser menos de trinta [...] (artigo 13.). Em acto continuo exposio oral de cada ponto, os candidatos so interrogados por espao de uma hora por dois membros do jury [...] (artigo 15.) B. Uma dissertao impressa sobre materia escolhida livremente pelos candidatos de entre questes importantes das sciencias, que fazem parte das faculdades, seces ou cadeiras que elles se propem professar. Esta dissertao tambm era sujeita a prova oral. No dia destinado para a sustentao da dissertao os candidatos so interrogados sobre a doutrina della [...] estas interrogaes duram hora e meia (artigo 16.). C. E ainda em trabalhos prticos. As provas prticas [...] versam sobre [...] Os candidatos so tambem obrigados a dar por escripto conta destes processos prticos. [...] Este relatrio feito na sala onde as provas forem dadas [...] so concedidas tres horas aos candidatos para satisfazer prova escripta [...] O objecto das provas prticas tirado sorte no acto mesmo de comearem estas [...] Os pontos no podem ser menos de dez [...] (artigo 14.) (AAPP, 1880-1881). 7. A Academia nas dcadas de 1870-1880

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Nas dcadas de 1870-1880 encontramos novos cursos na Academia Politcnica. Mantinha-se a 10. Cadeira Botnica, constituda por: (a) Agricultura, e (b) Veterenria. A 10. Cadeira era ministrada nos seguintes cursos: Engenheiro Civil de minas; Engenheiro Civil de pontes e estradas; Engenheiro Civil gegrafo; Agricultor; Curso preparatrio para as Escolas Mdico-Cirrgicas; Curso preparatrio para a Escola de Farmcia; Curso preparatrio para a Escola Naval, Curso de engenharia naval (AAPP, 1878-1879). No ano lectivo de 1881-1882, os livros que serviam de texto nas aulas da cadeira de Botnica eram: lments de botanique de Richard, Flore des jardins et des champs de Maout et Decaisne, e Flora lusitanica de Brotero (AAPP, 1881-1882). O ensino prtico e experimental continuava a ser entendido como parte importante e integrante da cadeira de Botnica, como se deduz das palavras que o Director Interino proferiu na abertura do ano lectivo de 1880-1881: bem reconhecida a instante necessidade de nos afastarmos um pouco mais do ensino da parte especulativa da sciencia e curarmos com todo o aproveitamento, que nos facultam os nossos meios destudo, das suas applicaes. Creio, ponto incontroverso, que a sciencia pura sem a arte, sem a pratica, tem a faculdade de desenvolver o nosso esprito, e enriquecl-o de conhecimentos, que s a sua applicao pde traduzir em melhoramentos industriaes, agricolas, commerciaes e economicos, e mostrar a sua utilidade. O ensino theorico muito importante, e sem elle, por sem duvida, que o ensino pratico se converteria em verdadeira rotina, e nunca poderia attingir ao maximo grao de perfeio, a que fatalmemnte chega, quando parallelamente seja acompanhado do estudo theorico. Nos nossos estabelecimentos de instruco superior tem sido, at ha pouco tempo, o ensino eivado desta grande falta muita theoria e quasi s theoria. Os laboratorios e gabinetes no tinham os meios precisos para as demonstraes e trabalhos que so indispensaveis aos exercicios praticos. [...] Os estabelecimentos praticos desta Academia tem sido infelizmente engeitados de toda a proteco, comparando com a dispensada aos dos outros institutos scientificos do nosso paiz.. Refere de seguida as medidas tomadas para atenuar a situao, tendo aumentado as dotaes dos gabinetes e o pessoal auxiliar nos laboratorios de chimica e physica, museu de historia natural, e jardim botanico com conservadores, preparadores e ajudantes (AAPP, 1880-1881). 8. O Regulamento da Academia de 1888 Em 1885 reformado o ensino na Academia Politcnica do Porto por Decreto de 10 de Setembro (DG 1885 09 21). A Academia passava a ser especialmente destinada a formar engenheiros civis de obras pblicas, minas e indstria, e habilitar para comerciantes. Ministrava tambm os cursos preparatrios para a admisso na Escola do exrcito, Escola naval, Escolas medico-cirurgicas e de

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farmcia (artigo 2.). Pela primeira vez, a tradicional Cadeira de Botnica, a 10.a, era sub-dividida em duas partes: 1. Botnica e 2. Botnica industrial e matrias-primas de origem vegetal (artigo 1.). A Botnica fazia parte do currculo dos cursos de: Engenheiros civis de obras pblicas e de minas; Engenheiros industriais; Cursos preparatrios para a Escola do exrcito; Cursos preparatrios para a escola naval; Curso preparatrio para as escolas mdico-cirrgicas; Curso preparatrio para a escola de farmcia (artigo 3.). Eram ministradas trs aulas semanais (artigo 1.). A Botnica industrial e matrias primas de origem vegetal era ministrada unicamente no curso de Comrcio (artigo 3.). O horrio consistia em uma aula semanal (artigo 1.). Como lente proprietrio da 10. Cadeira - Botnica, mantinha-se Francisco de Salles Gomes Cardoso. Cada Cadeira tinha um lente proprietrio, e um ou vrios lentes substitutos. Os lentes substitutos eram demonstradores natos. O Conselho acadmico continuava a ser constitudo por todos os lentes proprietrios e substitutos. O Jardim Botnico e Experimental mantinha-se como um dos estabelecimentos auxiliares de ensino. Em 1890, por Decreto de 6 de Fevereiro, M. Amandio Gonalves18 assume a regncia da 10. Cadeira (DG 1890 02 08), que manter at 1911, quando substitudo por G. Sampaio (AAPP, 1889-1890). Tinha passado quase meio sculo sobre o primeiro regulamento da Academia. Os mtodos de ensino e a avaliao de conhecimentos mantinham-se, no entanto, na essncia, inalterados. O ensino continuava a ser laborioso e exigente (se bem que um pouco repetitivo). Como decorriam as aulas? Mantinha-se a existncia do ensino terico e prtico. A instruo terica constava de lies, repeties, memrias, e dissertaes. Cada aula durava duas horas. Na primeira hora, o lente explicava a matria para o dia seguinte. Na segunda hora, interrogava os alunos ou ouvia-os de lio. Em determinados dias, previamente marcados, realizavam-se repeties orais ou escritas, com a durao de duas horas (reviso da matria dada). Os alunos podiam ser encarregados de escrever memrias ou dissertaes sobre determinados assuntos. A instruo prtica abrangia trabalhos laboratoriais e de campo, visitas, excurses e misses de estudo. A avaliao de conhecimentos seguia um esquema semelhante ao do regulamento de 1839, qui ainda mais laborioso e exigente. Existiam exames de frequncia trimestrais, orais ou escritos, consoante a cadeira. No exame de frequncia existiam pontos prelaborados. No exame oral era tirado um ponto sorte. Estas provas eram classificadas. Os alunos que atingiam uma mdia igual ou superior a 10 valores (em 20) eram admitidos a exame final, o acto. O

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Manoel Amandio Gonalves nasceu no Porto em 1861. Bacharel em Filosofia pela Universidade de Coimbra, foi nomeado lente substituto da seco de Filosofia da Academia Politcnica do Porto por Decreto de 19 de Junho de 1884 (DG 1884 06 23), e lente proprietrio da 11. Cadeira Zoologia desta Academia, por Decreto de 14 de Agosto de 1885 (DG 1885 08 20). Em 1890 transitava para a Cadeira de Botnica. Em 1912, por motivo de doena, foi substitudo na regncia da Botnica por G. Sampaio. Aposentou-se em 1915 (PIRES DE LIMA, 1942:31-32; FCP, 1969:245).

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exame final era oral, e constava de uma parte geral e de um ponto tirado sorte trs horas antes do exame. Existiam finalmente os exames gerais ou de habilitao. Os alunos que tivessem sido aprovados em todas as disciplinas obrigatrias, tinham ainda que realizar um exame geral, para obter o respectivo diploma de curso. Constava de duas partes: a primeira era a redaco completa de um projecto complexo, e a segunda de uma prova oral. (AAPP, 1889-1890). 9. O ensino da Botnica na Academia Politcnica no dealbar do sculo XX Que matrias se ensinavam na 10. Cadeira Botnica? O primeiro programa apresentado no Anurio da Academia refere-se ao ano lectivo de 1898-1899. Todavia, pelos livros de texto recomendados e mencionados no Anurio, podemos conceber o programa da cadeira de Botnica na dcada de 1890. Nos anos lectivos de 1891-1892 e 1892-1893, era o Manuel dHistoire Naturelle de Lanessan, o livro de texto recomendado (tambm para a 11. Cadeira Zoologia). Nos quatro anos lectivos seguintes, eram indicados: Botanique mdicale de Trabut; Flore lmentaire des jardins et des champs de Emmanuel Le Macut e J. Decaisne; Elementos de botanica de A. X. Pereira Coutinho. Para os anos lectivos de 1898-1899 e 1899-1900, mantem-se o texto de A. X. Pereira Coutinho e adiciona-se o Trait de botanique, em dois volumes, de Couchet. Nos anos lectivos de 1900-1901, 1901-1902, 1902-1903, 1903-1904 e 1904-1905, so a Anatomie et physiologie vgtales de Grardin e Henri Guede e o Prcis de Botanique mdicale de Trabut. Nos anos lectivos de 1905-1906 e 1906-1907, o livro de texto bsico para a Cadeira de Botnica era Leons elementaires de botanique de Daguillon (AAPP, 1891-1892, 1892-1893, 1893-1894, 1894-1895, 1895-1896, 1896-1897, 1898-1899, 1899-1900, 1900-1901, 1901-1902, 1902-1903, 1903-1904, 19041905, 1905-1906, 1906-1907). Qual o programa da 10. Cadeira Botnica - leccionada por M. Amandio Gonalves? No ano lectivo de 1898-1899 focava os seguintes aspectos fundamentais: A. Mtodos e aparelhos para a observao morfolgica. B. Clula. Tecidos e aparelhos. Raz. Caule. Folha. Flor. Reproduo. C. Desenvolvimento das talfitas. Desenvolvimento das muscneas. Desenvolvimento das criptogmicas vasculares. Desenvolvimento das fanerogmicas. D. Fruto e semente. Germinao da semente. Plantas saprofticas. Parasitismo e simbiose. Plantas carnvoras. E. Alimentos dos vegetais. Respirao. Circulao. Substncias de reserva. Sensibilidade das plantas. Crescimento dos vegetais. F. Fermentaes. Cultura dos microrganismos. G. Caracteres gerais das talfitas. Fungos. Myxomicetos, oomycetos, ustilagneas, uredneas, basidiomycetes e ascomycetes. Caracteres das famlias pertencentes a estas ordens. Estudo das espcies mais importantes sob o ponto de vista mdico. Algas.

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Cyanophyceas, chlorophyceas, pheophyceas e flordeas. Caracteres das famlias pertencentes a estas ordens. Lquenes. Bactrias. Morfologia e fisiologia. Culturas. Estudo das bactrias patognicas mais notveis. H. Caracteres gerais das muscneas. Caracteres gerais das criptogmicas vasculares. Caracteres gerais das fanerogmicas. Gimnosprmicas e angiosprmicas (AAPP, 1898-1899). A Botnica, nos finais do sculo XIX, era assim uma disciplina abrangente estudavam-se os organismos considerados como plantas na poca - das bactrias s angiosprmicas. A Microbiologia j existia como disciplina independente desde meados do sculo XIX, mas era habitual o seu ensino estar includo na Botnica. A morfologia dominava. Morfologia externa, mas tambm citologia e histologia. A fisiologia era incipiente. O Regulamento da Academia Politcnica seria modificado por decreto de 27 de Fevereiro de 1890 e de 30 de Julho e 23 de Agosto de 1894. Todavia, mantinha-se na essncia. Entretanto, os exames gerais ou de habilitao eram abolidos por Decreto de 15 de Julho de 1892 (AAPP, 18891890).

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III. Gonalo Sampaio, aluno e naturalista da Academia Politcnica do Porto 1. G. Sampaio aluno da Academia Politcnica Gonalo Antonio da Silva Ferreira Sampaio19 frequenta a Academia Politcnica do Porto durante trs anos lectivos. No ano lectivo de 1890-1891 inscreve-se na 7. Cadeira (Chimica inorganica, 1. Parte: Chimica inorganica geral) e na 10. Cadeira (Botanica, 1. Parte: Botanica) (AAPP, 1890-1891). No ano lectivo seguinte, 1891-1892 encontra-se inscrito novamente na 7. Cadeira (Chimica inorganica, 1. Parte: Chimica inorganica geral), na 8. Cadeira (Chimica organica e analytica. 1. Parte: Chimica organica geral e biologica. 2. Parte: Chimica analytica), e na 11. Cadeira (Zoologia. 1. Parte: Zoologia) (AAPP, 1891-1892). No se inscreve no ano lectivo seguinte (AAPP, 1892-1893). Finalmente, no ano lectivo de 1894-1895, encontra-se inscrito nas seguintes disciplinas: 2. Cadeira (Calculo differencial e integral), 4. Cadeira (Geometria descriptiva. 1. Parte), 6. Cadeira (Physica, 1. Parte), 8. Cadeira (Chimica organica e analytica. 2. Parte: Chimica analytica), e 18. Cadeira (Desenho, 1. Parte e 2. Parte) (AAPP, 1894-1895). Portanto, G. Sampaio no termina o curso da Politcnica20. O lente da 10. Cadeira, Botnica, era, como j referimos M. Amandio Gonalves. 2. Contactos iniciais com Jlio Henriques e a Sociedade Broteriana G. Sampaio, ainda aluno dos primeiros anos da Academia, contacta com o Herbrio da Universidade de Coimbra. A primeira carta que existe no seu esplio mesmo de Jlio Henriques21 e data de 10 de Junho de 1892. Nesta carta, J. Henriques d conselhos de como preparar

G. Sampaio nasceu na freguesia de S. Gens de Calvos, concelho de Pvoa de Lanhoso a 29 de Maro de 1865. Em 1885, matriculou-se na Escola Normal do Porto, com o intuito de ser professor primrio. No entanto, abandona a Escola Normal, voltando ao liceu de Braga onde finalmente concluiu o curso. 20 Antes de ingressar na Academia Politcnica do Porto, G. Sampaio ter frequentado o curso de Matemtica da Universidade de Coimbra, onde obteve aprovao em Algebra superior e Geometria analtica. Do curso da Academia Politcnica teria tido aprovao nas 7., 10. e 11. Cadeiras (SAMPAIO, 1912b). 21 Jlio Augusto Henriques (1838-1928) nasceu em Cabeceiras de Basto a 15 de Janeiro de 1838 e morre aos 90 anos de idade. Era formado em Direito e depois em Filosofia pela Universidade de Coimbra, onde se doutorou em 1865. nomeado lente substituto aos 28 anos e sete anos mais tarde, em 1874, lente proprietrio, sendo-lhe ento confiada a direco do Jardim Botnico da Universidade de Coimbra. Em 1880 cria a Sociedade Broteriana e funda o Boletim da Sociedade Broteriana (ver Captulo V). Deve-se tambm a J. Henriques a compra do valiosssimo herbrio de Willkomm. Em 1906, inicia a publicao, em fascculos, do seu Esboo da Flora da Bacia do Mondego, que aparecer como volume independente em 1913 (HENRIQUES, 1913). So enumeradas 1.515 espcies (ver Captulo IX). Estudou ainda a flora das Serras da Estrela, Caramulo, Buaco, Lous, Gers, Maro, e a flora de So Tom e Prncipe. Descreveu diversas espcies novas para a cincia, tanto do continente como das colnias, e foram-lhe dedicadas espcies novas e o gnero Henriquesia. Publicou diversos trabalhos de botnica geral (HENRIQUES, 1885, 1889b, 1916b). Traduziu para portugus algumas obras de Agricultura e Botnica geral muito em uso na sua poca, como a de J. D. Baker, J. D. Hooker e H. Tanner. Escreveu dois trabalhos biogrficos sobre J. F. Correa da Serra (HENRIQUES, 1918, 1923). Publicou ainda os programas de disciplinas que leccionava na Universidade de Coimbra (HENRIQUES, 1889a, 1892) (GEPB; FERNANDES, 1963; QUINTANILHA, 1975; CABRAL & FOLHADELA, 2006).

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convenientemente exemplares de Lactuca viminea para serem enviados para a Alemanha: Devo dizerlhe que o que se deseja a folha. Peo por isso que escolha exemplares com folhas bem conservadas. Embrulhando-a em qualquer cousa impermeavel [...] ou ainda em folha dalface, de esperar que as plantas cheguem a Gttingen em bom estado. G. Sampaio envia plantas para o Herbrio da Universidade de Coimbra para serem identificadas ou confirmadas as identificaes que tinha feito. Numa carta de 28 de Agosto de 1893, J. Henriques escrevia: Antes de sair de Coimbra quero dar-lhe a nota das especies que me enviou. a seguinte: [...] Vai pouca em duvida. Num bilhete-postal de 19 de Agosto de 1896, podemos ler: O Echium deve ser o E. lusitanicum frequente nas regies montanhosas.. Nesta altura, J. Mariz22 era naturalistaadjunto no Herbrio da Universidade de Coimbra e uma das pessoas mais experientes e conhecedoras da flora portuguesa. Competia-lhe, juntamente com J. Henriques, rever as identificaes das plantas distribudas aos scios da Sociedade e da exsiccata lusitanica (BSB, I-III). J. Mariz ter revisto determinaes de G. Sampaio, como se deduz pelo que J. Henriques escreve a G. Sampaio numa carta datada de 4 de Agosto de 1896: Mariz examinou o Carex e de opinio que deve ser [...]. G. Sampaio reconhecer o auxlio do naturalista coimbro dedicando-lhe, num dos seus primeiros trabalhos (sobre o gnero Mentha, publicado em 1901), uma variedade nova23 Mentha aquatica var. Marizi. G. Sampaio ter informado J. Mariz da sua inteno em lhe dedicar esta variedade, ou mesmo ter-lhe- enviado um rascunho do trabalho, dado que numa carta datada de 29 de Dezembro de 1901, J. Mariz escreve a G. Sampaio: Principio por agradecer a amabilidade de V. Exa. em me dedicar a Mentha hybrida de [...] como planta nova para a flora portugueza. [...] Pode V. Exa. mandar quando quizer o artigo em que me falla sobre as Menthas dos arredores do Porto porque ainda vem muito a
Joaquim de Mariz Jnior nasceu em Coimbra a 28 de Janeiro de 1847. Terminou o curso de Medicina da Universidade de Coimbra em 1878. Exerceu clnica durante algum tempo. Entra como naturalista adjunto cadeira de Botnica da Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra em 1879. Realiza muitas herborizaes no pas, enriquecendo assinalavelmente o Herbrio da Universidade e contribuindo para as distribuies de plantas da Sociedade Broteriana em mais de 200 espcies. Adquire um profundo conhecimento da flora portuguesa, tornando-se o responsvel pela reviso das determinaes da Flora lusitanica exsiccata distribuda pela Sociedade Broteriana. Publica, em partes, os Subsdios para o estudo da flora portuguesa, que ocuparam inmeros volumes deste Boletim. autor de algumas espcies novas para a cincia: Celsia brassicifolia Mariz, Succisa Carvalheana Mariz, Daveaua anthemoides Mariz. O seu grande prestgio entre os botnicos da poca levou a que alguns lhe dediquassem espcies novas, como: Conopodium Marizianum Samp., em homenagem aos grandes conhecimentos botanicos e notaveis qualidades de trabalho do meu amigo e illustre naturalista da Universidade de Coimbra dr. Joaquim de Mariz, a quem devem numerosas e importantes monographias sobre a flora phanerogamica do nosso paiz (SAMPAIO, 1905e). Era tambm desenhador exmio, tendo desenhos seus sido publicados em obras artsticas. Morre a 1 de Abril de 1916 em consequncia de uma pneumonia, com pouco mais de 69 anos. J. Henriques, director do Herbrio escreveu a seu respeito: Nos 37 anos durante os quais ocupou ste lugar, foi sempre empregado zeloso, trabalhador conscencioso, podendo servir de exemplo, concluindo que Foi um grande e eficaz trabalhador (HENRIQUES, 1917a) (GEPB; HENRIQUES, 1916a, 1917a). 23 Muitos nomes de txones novos que G. Sampaio ir propor ao longo da sua carreira so associados a pessoas - quem colheu a planta, quem deu opinio, quem fez sugestes, ou s caractersticas da planta.
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tempo para se publicar no Boletim da Sociedade Broteriana deste anno. De facto o trabalho seria publicado no volume XVIII do Boletim (1901). Ao contactar com a Botnica da Universidade de Coimbra, G. Sampaio ter-se- apercebido da importncia da Sociedade Broteriana24, e, logo em 1894, inscreve-se como scio (BSB, XIII). O seu endereo de Pvoa de Lanhoso. Era um dos nove scios envolvidos nas colheitas de plantas para as distribuies da Sociedade Broteriana. A sua actividade logo destacada. Ser um dos poucos colectores de plantas para a Flora lusitanica exsiccata25. Participa nas distribuies de plantas entre scios26. Encontramos elogios a este trabalho de colector em cartas dos botnicos de Coimbra para G. Sampaio. Numa carta datada de 23 de Junho de 1896, J. Henriques agradecia: Recebi hoje a sua carta e muito estimo saber que est bem disposto para continuar com os trabalhos de herborizaes e contagiava o jovem G. Sampaio com o gosto pela botnica: Se for serra da Cabreira peo-lhe que tome notas da viagem para um pequeno artigo descriptivo. Pena que no tenho um barometro [...]. J. Mariz escrevia a 9 de Abril de 1904 para G. Sampaio: Para calcular o numero de especies que precisamos colher nesta temporada para completar as nossas colleces de distribuio, tenho empenho em V. Exa. me diga se effectivamente podemos contar com algumas plantas das suas proficuas exploraes do vero passado em Traz-os-Montes e outras localidades do norte, das quaes V. Exa. nos prometteu partilha para a Sociedade Broteriana e Centurias. 3. G. Sampaio naturalista adjunto da Academia Politcnica O excepcional mrito e aptido para a Botnica do jovem G. Sampaio no teriam passado desapercebidos a M. Amandio Gonalves, professor da 10. Cadeira Botnica, e ter sido qui por sua iniciativa que G. Sampaio entra como naturalista adjunto da Academia Politcnica do Porto em 190127. J tinha publicado diversos trabalhos sobre a flora portuguesa. O futuro cientfico do jovem G. Sampaio ter parecido promissor s instncias da Academia.

A Sociedade Broteriana foi fundada em 1880 por J. Henriques. Tinha como finalidade o estudo da flora portuguesa e o intercmbio de plantas (exemplares de herbrio) entre os seus scios. A Sociedade elaborou uma exsicata, Flora lusitanica exsiccata, que era permutada por outras exsicatas de Sociedades e Instituies nacionais e estrangeiras. O Boletim da Sociedade Broteriana era o porta-voz da Sociedade, tendo iniciado a sua publicao em 1883. Em 1930 iniciou-se a publicao das Memrias da Sociedade, e em 1935, do Anurio (COUTINHO, 1938; CARVALHO, 1939). A importncia da Sociedade Broteriana e das suas publicaes ser desenvolvida no Captulo V. 25 Flora lusitanica exsiccata: centrias XIV (BSB, XII), XV (BSB, XIV), XVI (BSB, XVI), e XIX (BSB, XXVI). 26 Nos anos de 1899 a 1902 (BSB, XIX) e 1903 a 1906 (BSB, XXI). 27 nomeado naturalista adjunto da seco de Botnica, por decreto de 5 de Dezembro de 1901 (DG 1901 12 12). Residia na Rua de Costa Cabral, 1399 (AAPP, 1901-1902). No mesmo decreto nomeado Antnio Augusto da Rocha Peixoto, para a seco de Mineralogia, e Augusto Pereira Nobre, para a seco de Zoologia.

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4. Contactos com A. X. Pereira Coutinho G. Sampaio tambm estabelece contactos com a Botnica da Escola Politcnica de Lisboa e com o seu director e professor A. X. Pereira Coutinho28. A primeira carta do professor da Escola Politcnica para G. Sampaio data de 23 de Junho de 190229. Em jeito de apresentao, G. Sampaio ter enviado a A. X. Pereira Coutinho dois dos seus ltimos trabalhos publicados, um sobre o gnero Echium e outro sobre Mentha. O professor de Lisboa, nesta carta de 23 de Junho de 1902 aprecia-os da seguinte forma elogiosa: Recebi a sua Nota sobre as especies do genero Mentha dos arredores do Porto, que muitissimo agradeo, e que li com o maior prazer. Permitta-me acrescentar, e veja nisto a verdadeira expresso do meu sentir, que a julgo superiormente bem feita; pois no s mostra um grande trabalho de observao, mas um grande criterio, para a avaliao dos caracteres de um to intrincado grupo de plantas. Seguidamente, A. X. Pereira Coutinho discute o contedo do trabalho

D. Antnio Xavier Pereira Coutinho (1851-1939) era formado em Agronomia, em 1874, pelo Instituto Geral de Agricultura (Lisboa). Comea a trabalhar como agrnomo, em Bragana, em 1875. Estuda a flora espontnea da regio. Estas herborizaes foram certamente decisivas na sua orientao como naturalista. Envia exemplares das suas coleces para J. Henriques. Iniciou a sua vida de professor no Instituto Geral de Agricultura em 1880. nomeado lente proprietrio em 1882 e em 1883 rege a cadeira de Silvicultura e Economia Florestal, transitando em 1886 para a cadeira de Qumica Agrcola. Na dcada de 1880 publica um Curso de Silvicultura (Coutinho, 1886, 1887), cuja segunda parte (Esboo de uma flora lenhosa) ter uma segunda edio em 1936 (COUTINHO, 1936). escolhido pelo Conde de Ficalho para seu sucessor no cargo de naturalista adjunto da Seco de Botnica do Museu Nacional de Lisboa, anexo Escola Politcnica de Lisboa, cargo que ocupa de 1890 at 1921, quando atingiu o limite de idade. Em 1891, concorre vaga de lente substituto da 9. Cadeira da Escola Politcnica, apresentando como dissertao As juncceas de Portugal (COUTINHO, 1890). Aps a morte do Conde de Ficalho, ascendeu, em 1903, ao lugar de lente proprietrio da 9. Cadeira. A este incumbia tambm a direco do Jardim Botnico anexo Politcnica. Continuava no entanto no Instituto de Agronomia e Veterenria, onde da cadeira de Qumica passa para a de Botnica (que regeu at ao limite de idade). Ao ser promulgada a reforma do ensino universitrio que transformou a Politcnica em Faculdade de Cincias de Lisboa, passou categoria de professor ordinrio. Publicou em 1913, a 1. edio da sua Flora de Portugal (COUTINHO, 1913). A flora desactualizou-se rapidamente. A 2. edio desta Flora de Portugal, revista pelo seu autor (que contava ento 86 anos de idade) saiu a pblico pouco tempo depois da sua morte (1935). R. T. Palhinha dirigiu a nova edio, impressa sob os auspcios do Instituto de Alta Cultura. Esta 2. edio da Flora de Portugal (COUTINHO, 1939b) enumera 799 gneros e 2.845 espcies, mais 12 e 110, respectivamente, que a 1. edio. A. X. Pereira Coutinho publicou, de 1914 a 1930, as Notas da Flora de Portugal, I a VII. Mais tarde, em 1935, reuniu essas Notas no Suplemento da Flora de Portugal (COUTINHO, 1935). A. X. Pereira Coutinho tambm se dedicou ao estudo dos lquenes. Publica em 1916 Lichenum Lusitanorum Herbarii Universitatis Olisiponensis Catalogus (COUTINHO, 1916) e em 1917 o respectivo suplemento (COUTINHO, 1917a). Publicou tambm outros inventrios das coleces do Herbrio da Escola Politcnica (COUTINHO, 1917b, 1917c, 1919, 1921). tambm importante a ateno que A. X. Pereira Coutinho dedicou ao ensino da Botnica a nvel pr-universitrio. Publicou numerosssimas obras destinadas ao ensino da Botnica e da Agricultura nos liceus e escolas primrias (COUTINHO, 1893a, 1896b, 1898b, 1900a, 1906b, 1906c, 1907b, 1907c, 1920, 1923, 1928). Era scio efectivo da Academia de Cincias de Lisboa. Em 1935 foi-lhe conferido o grau honoris causa pela Universidade de Coimbra. Teve Aurlio Quintanilha como um dos seus mais distintos discpulos. Atingido o limite de idade, a ltima fase da sua vida decorreu na Quinta da Ribeira de Caparide (Estoril), dedicando-se ento ao estudo dos fungos basidiomicetos, sobre os quais publicou dois trabalhos (COUTINHO, 1931, 1934) (GEPB; PALHINHA, 1940; FERNANDES, 1963; TAVARES, 1969; MELO, 1987; CABRAL & FOLHADELA, 2006; http://www.isa.utl.pt/home/node/268). Foi publicada uma lista completa das suas obras no Boletim da Sociedade Broteriana (BSB, II srie, volume XIV:XI-XX) e em TAVARES (1969). Parte da bibliografia de A. X. Pereira Coutinho est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ 29 assim provvel que G. Sampaio s tenha contactado a Botnica de Lisboa j como naturalista da Academia, portanto depois de muitos contactos com o Herbrio da Universidade de Coimbra e a Sociedade Broteriana.

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sobre as mentas, e depois pede uma opinio sobre o gnero Echium: Tem no seu herbario um exemplar das Berlengas, colhido pelo Daveau e destribuido pela Sociedade Broteriana, com o nome de Echium Davaei, Bouy? Se tem, peo-lhe que o examine, e que me diga se lhe no parece um forma do E. rosulatum, que eu creio que bastante polymorpho no nosso paiz. Desejava esclarecer esta duvida, que tenho h muito tempo. G. Sampaio ter respondido rapidamente a este pedido de informao, dado que A. X. Pereira Coutinho escreve a 30 deste mesmo ms: Muito agradeo as informaes acerca do E. Davaei. A. X. Pereira Coutinho volta a discutir o gnero Echium em carta datada de 13 de Fevereiro de 1905: Ando agora com o genero Echium, que tenho quasi em ordem. Disponho de mais de 200 exemplares portuguezes. S tenho ainda duvidosos alguns do grupo [...] Pelos seus apontamentos vejo que chamou E. Broteri ao E. lusitanicum, Wk. Encontrmo-nos na mesma ida; eu desconhecia o seu artigo, e tinha-lhe j dado esse nome nos meus apontamentos. Tem pois o meu amigo a prioridade; peo-lhe que me d o titulo completo do jornal, no., data e paginas, para eu poder fazer a citao. De facto, no trabalho sobre o gnero Echium, G. Sampaio tinha proposto Echium Broteri Samp. como espcie nova para a cincia, sendo E. lusitanicum Willk. sinnimo da espcie nova. 5. Panorama dos estudos da flora portuguesa, 1880-1910 Entre os anos de 1888 e 1910, quando G. Sampaio inicia os seus estudos botnicos, qual o panorama da Botnica em Portugal? Encontramos no Boletim da Sociedade Broteriana, um bom espelho da botnica portuguesa. J. Henriques publicava, no primeiro volume do Boletim, um pequeno texto em que caracterizava o estado dos estudos botnicos portugueses (BSB, I). Quais os principais intervenientes? Da Escola Politcnica de Lisboa, A. Ricardo da Cunha30 como colector, e J. Daveau31

Antnio Ricardo da Cunha nasceu em Lisboa em 1830. Foi praticante de jardineiro no Jardim Botnico da Ajuda em 1852, jardineiro do Jardim Botnico da Escola Politcnica em 1873, e posteriormente conservador do Herbrio da Escola Politcnica em Lisboa, altura do Conde de Ficalho. Morreu em Lisboa em 1893 (COUTINHO, 1938; GEPB). 31 Jules Daveau nasceu em 1852, perto de Paris. Aos 14 anos ingressa como jardineiro do Museu de Histria Natural de Paris. Nas horas livres aprendia botnica no Museu, na Sorbona, e no Colgio de Frana. Em 1872 promovido a Chefe do Laboratrio de Sementes e do Jardim de Experincias de Paris, adquirindo a par dum conhecimento profundo das sementes dos diversos grupos, a habilidade que o caracterizava como jardineiro, para colocar as plantas no ambiente que mais lhe convinha (PALHINHA, 1930). Encontrando-se vago o lugar de primeiro jardineiro do Jardim da Escola Politcnica, a direco do Jardim consulta o Museu de Paris, que indica J. Daveau para o cargo. Inicia funes em 1876, tendo sido um dos mais dedicados, prestantes e zelosos do horto botnico (MELO, 1987). Elabora o primeiro Index Seminum do Jardim da Politcnica em 1878. Entre 1876 e 1892, dedica-se afincadamente ao estudo da flora portuguesa, publicando diversos trabalhos. Abandona Lisboa em 1892. O Conde de Ficalho presta-lhe sentida homenagem. Em 1893 entra como jardineirochefe do Jardim Botnico da Universidade de Montpellier. Passa a conservador do Museu. Organiza modelarmente os Herbrios desta Universidade francesa, enriquecendo-os com numerosos exemplares. Morre em Montpellier em 1929. autor de vrias espcies novas para a cincia, como por exemplo Scirpus pseudosetaceus (BSB, IX:85). J. Mariz dedica-lhe

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como sistemata e gegrafo botnico. A. X. Pereira Coutinho, do Instituto Geral de Agricultura, como sistemata. Em Coimbra, J. Henriques, J. Mariz e A. Mller32. No Porto, E. Johnston33, Eugenio Schmitz, Isaac Newton34 e J. Casimiro Barbosa35 realizam inestimveis herborizaes. No entanto, poucos se abalanavam a escrever textos de sntese como revises de gneros ou famlias, floras regionais ou snteses fitogeogrficas. O Boletim da Sociedade Broteriana era um porta-voz para a renovao da botnica portuguesa36. Que trabalhos sobre a flora portuguesa so publicados no Boletim entre 1880 e 1910? J. Daveau publica estudos das famlias Plumbaginceas (BSB, VI), Ciperceas (BSB, IX), sobre a flora do litoral (BSB, XIV), e um estudo geral sobre a geografia botnica do nosso pas (BSB, XIX). A. X. Pereira Coutinho publica estudos sobre os Quercus de Portugal (COUTINHO, 1888), sobre as famlias das Juncceas (COUTINHO, 1890), Berberidceas, Caparidceas, Droserceas, Franqueniceas, Fumariceas, Ninfeceas, Papaverceas, Poligalceas, Resedceas e Violceas (COUTINHO, 1892), Malvceas (COUTINHO, 1893b), Acerceas, Elatinceas, Empetrceas, Fraxinceas, Hipericceas, Rutceas, Tamaricceas, Zigofilceas (COUTINHO, 1895), Liliceas (COUTINHO, 1896a), Rosceas (FICALHO & COUTINHO, 1899) e Salicceas (COUTINHO, 1899), Rubiceas (COUTINHO, 1900b),
um gnero novo de plantas, Daveaua (BSB, IX:220) (PALHINHA, 1930; COUTINHO, 1938; GEPB; MELO, 1987). A actividade de J. Daveau na Universidade de Montpellier referida no Captulo VIII.2. 32 Adolfo Frederico Mller nasceu a 31 de Outubro de 1842. Faz os primeiros estudos em Lisboa. Desloca-se para a Alemanha em 1857, onde faz o curso de Silvicultura. Regressa a Lisboa em 1860, entrando ao servio da Administrao Geral das Matas do Reino neste mesmo ano. Em 1865 nomeado chefe da seco florestal do Mondego. Em 1874, foi nomeado inspector do Jardim Botnico da Universidade de Coimbra, onde se conservou em actividade at 1914, quando adoeceu gravemente. Em 1885 realiza uma importante explorao cientfica em S. Tom. Retira-se para Lisboa, onde morre em 1920 no Hospital de S. Jos. Foi um empregado zeloso, percorreu grande parte do pas, trabalhando activamente para o Herbrio da Universidade de Coimbra (B, XXI:88-90). Foram-lhe dedicados os nomes de vrios txones de vegetais e animais, como: Polypodium Molleri Bk., Polytrichum Molleri Mll., Molleriella mirabilis Winter e Lecidea Molleri Henr. (B, XXI:88-90; GEPB). 33 Edwin Johnston, de ascendncia inglesa, nasceu no Porto em 1841. Era empregado auxiliar de casas comerciais do Porto. De temperamento srio e reservado, ocupava todo o tempo livre no estudo da flora. Nas herborizaes procurava observar com cuidado as fases das plantas, registando as pocas de florao das espcies que encontrava. Faleceu a 7 de Abril de 1917 no Porto. Foi um dedicado amigo das plantas (GEPB; HENRIQUES, 1917b). Foi um incansvel e dedicado companheiro de G. Sampaio nos seus primeiros anos de herborizaes (ver Captulo XIII.2). 34 Isaac Newton, de ascendncia inglesa, nasceu no Porto em 1840. Foi um dos mais notveis colectores de criptogmicas portuguesas. Herborizou sobretudo nos arredores do Porto. Os exemplares de algas foram posteriormente estudados por Richter, os musgos e hepticas por Lindberg, e os lquenes por Nylander. Participou na importante exsicata de algas Phycotheca Universalis de Hanck e Richter. Os seus exemplares encontram-se hoje no Herbrio do Departamento de Botnica (FCUP). Seu filho, Frederico Newton, foi naturalista e explorador africano (GEPB). J. SAMPAIO (1946, 1947) descreveu pormenorizadamente a importncia de I. Newton no estudo das criptogmicas portuguesas. 35 Joaquim Casimiro Barbosa (1841-1921) era natural do Porto. Concluiu o curso de farmacutico na Escola Mdico Cirrgica do Porto em 1861. Em 1875 nomeado 1. oficial do Jardim Botnico e Experimental da Academia Politcnica do Porto. Em 1913 chefe dos jardins e arvoredos da Cmara Municipal do Porto. Publicou trabalhos sobre horticultura e jardinagem. Foi redactor do Jornal de Horticultura Pratica e colaborou em diversos jornais da especialidade como o Jornal Horticulo-Agricola (PIRES DE LIMA, 1942:14). 36 A Broteria, fundada em 1902, ir tambm ser um importante porta-voz dos botnicos portugueses (ver Captulo VI).

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Campanulceas (COUTINHO, 1901), Borraginceas (COUTINHO, 1905), Escrofulariceas (COUTINHO, 1906a), Lamiceas (COUTINHO, 1907a), sobre as monocotiledneas (COUTINHO, 1898a). J. Henriques publica estudos sobre as Gimnosprmicas (BSB, XIII), sobre as famlias das Amarilidceas (BSB, VI), Plantaginceas (BSB, XIV), Poceas (HENRIQUES, 1905). J. Mariz publica estudos sobre as famlias Crassulceas (BSB, VI e XX), Papilionceas (BSB, II), Crucferas (BSB, III), Ranunculceas (BSB, IV), Cariofilceas (BSB, V), Geraniceas (BSB, VIII), Asterceas (BSB, IX, X e XI), Apiceas (BSB, XII), Poligonceas (BSB, XIII), Amarantceas, Quenopodiceas (BSB, XIV), Ambrosiceas, Dipsacceas e Valerianceas (BSB, XV), Gencianceas e Primulceas (BSB, XVI), Convolvulceas, Cuscutceas e Solanceas (BSB, XVII), Caprifoliceas, Ericceas, Monotropceas (BSB, XVIII), Escrofulariceas (BSB, XXIII e XXIV), uma flora preliminar de Trs-os-Montes (MARIZ, 1889). Portanto, quando G. Sampaio inicia os seus primeiros estudos, existia em Lisboa e Coimbra uma pliade de botnicos que almejavam a renovao da botnica portuguesa. G. Sampaio, no Porto, apesar de ser o mais novo deste grupo de botnicos ir pertencer ao grupo dos fundadores da botnica moderna em Portugal. 6. A crise de 1906 Apesar do cargo de naturalista que ocupava e da notvel produo cientfica j publicada, irrompe em 1906 em G. Sampaio uma crise de descontentamento que atinge o clmax no Vero. A situao era to grave que G. Sampaio escreve para J. Henriques e A. X. Pereira Coutinho indagando da possibilidade de ser contratado como naturalista na Escola Politcnica ou na Universidade de Coimbra. Pelas respostas dos professores de Lisboa e Coimbra podemos conjecturar algumas razes para tal descontentamento. A. X. Pereira Coutinho responde laconicamente e sem perspectivas de soluo numa carta datada de 16 de Junho de 1906: No temos aqui regulamento para o Naturalista. Felizmente temos aqui nesta seco vivido sempre todos em boa harmonia. Imagino quanto o deve desgostar tudo isso, e acho-lhe toda a razo. Pena tenho de no lhe poder offerecer aqui um logar, que se tivesse meios para isso com a melhor vontade lho offerecia. A segunda e terceira frases deste excerto sugerem que G. Sampaio estaria numa grave situao de conflito interno com a direco da Academia Politcnica. J. Henriques responde ao pedido do colega portuense numa longa carta, datada de 2 de Junho de 1906, onde tambm no se antevem perspectivas muito favorveis: Aqui ha dous naturalistas, um em Botanica e outro em Zoologia com ordenados de 400$000 ris. J se v que esto em condies inferiores aos de Lisboa e Porto. H dous demonstradores, um para a seco de sciencias physico-

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chimicas, outro para a de sciencias historico-naturais. Estes que so encarregados do ensino pratico. Na maior parte das cadeiras so os professores que fazem este ensino recebendo uma gratificao mensal de 25$000 ris [...] Bom seria que a organizao dos museus fosse a mesma no sei se ser possvel conseguir isso, j no direi com relao ao pessoal, mas mesmo com relao a vencimentos. Note que o vencimento que propomos para os naturalistas de 1. Classe inferior ao vencimento dos professores da Universidade, que tm 800$000 ris. Poder ser o que deseja? Para despesas de exploraes temos [...] de 150$000 ris. Em Lisboa h mais. Seria bom para uns e outros puderem dispor do mesmo. Faa-me o projecto e depois de approvado trata-se de conseguir o auxilio de um politico de valor para proteger o projecto. Sem isso nada feito. A meno explcita aos vencimentos que J. Henriques faz, indica que esta seria uma das principais razes de descontentamento de G. Sampaio. No entanto, sob este ponto de vista, Coimbra no seria soluo, dado que o vencimento de naturalista era muito inferior ao do Porto e a diferena para o vencimento dos lentes ainda maior do que no Porto. Perante estas cartas de Lisboa e Coimbra, G. Sampaio ter elaborado, ou j tinha elaborado, um projecto de regulamento para os naturalistas das Politcnicas (Lisboa e Porto) e da Universidade de Coimbra a ser apresentado ao governo. No encontrmos documento de G. Sampaio sobre este projecto, mas no seu esplio, encontrmos uma carta de J. Mariz dirigida a G. Sampaio, datada de 3 de Julho de 1906, em que d o seu parecer sobre o projecto que teria sido elaborado por G. Sampaio. J. Mariz era o mais antigo naturalista das escolas superiores portuguesas. Trata-se de um documento valioso para podermos compreender esta crise de G. Sampaio de 1906. Eis a transcrio integral do parecer do naturalista coimbro: Parecer do Naturalista adjuncto de Botanica da Universidade de Coimbra. 1.- A representao ao Governo por parte dos Naturalistas adjunctos aos Gabinetes de Historia Natural das Polytechnicas e da Universidade, tal como vem esboada no projecto do Exmo. Snr. Gonalo Sampaio, no se limita s a pedir a approvao dum regulamento uniforme para o pessoal dos referidos Gabinetes desses estabelecimentos scientificos; faz mais, prope a criao de attribuies novas aos mesmos Naturalistas, como so: 1. A superintendencia dos trabalhos praticos sob a direco do professor respectivo, que para a Universidade j est sendo exercida pelos Demonstradores, logares criados pela ultima reforma universitaria, tendo um regulamento de trabalhos praticos adaptado pela faculdade de Philosophia, e approvado pela Portaria do Ministerio do Reino de 24 de Novembro de 1905; 2. A assistencia aos exames finaes fazendo elles assim parte do jury com interferencia na votao da parte pratica que na Universidade s permittida aos lentes (mesmo pelo referido regulamento). Por estas difficuldades discordo desta parte do projecto, que

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affectava o organismo universitario e talvez das Polytechnicas. 2.- O mesmo projecto cria um lugar de 2. Naturalista, que pode ser exercido por um professor substituto. Na Universidade no se pode estabelecer esta substituio porque ficava o 1. Naturalista, que de ordinario no lente, a superintender sobre os servios do 2. Naturalista, que lente. Tambem discordo deste ponto do projecto, propondo antes que, em lugar do 2. Naturalista, seja criado o logar dum Preparador do herbario e muzeu, que pode ser acumulado pelo Naturalista mediante uma gratificao, visto as relaes intimas que h entre a classificao e estudo da flora, e a disposio conveniente das plantas em herbario; exemplo: M. Willkomm foi o preparador do seu herbario do Mediterraneo. Alm disso concordo que indispensavel um conservador do herbario e museu, e um guarda e servente. 3.Concordo com a equiparao dos ordenados dos Naturalistas de Lisboa, Porto e Coimbra. 4.Concordo com a proposta das herborizaes e respectivos subsidios, menos na fixao das despezas de exploraes referidas dotao dos Gabinetes. Fazem-se as exploraes conforme houver necessidade. 5.- Finalmente concordo com o direito aposentao dos Naturalistas. Pelo parecer de J. Mariz podemos conjecturar sobre a proposta de regulamento elaborada por G. Sampaio, para os naturalistas dos estabelecimentos de ensino superior (Lisboa, Coimbra e Porto), que seria na essncia a seguinte: A. Criao dos lugares de 1. naturalista e o de 2. naturalista. B. O 1. naturalista supervisionava os trabalhos prticos (sob a direco do lente proprietrio) e fazia parte do jri dos exames, participando na votao do exame prtico. C. O lugar de 2. naturalista podia ser ocupado por um lente (depreende-se, lente substituto). Para J. Mariz esta proposta no era aceitvel dado que entrava em conflito com a orgnica da Universidade de Coimbra, e podia originar a situao que lhe parecia inaceitvel de um 1. naturalista (que no era lente) ocupar um cargo hierarquicamente superior a um lente substituto (que ocupasse o cargo de 2. naturalista). Porque razo fazia G. Sampaio esta proposta? Nesta altura, o quadro de pessoal da Academia Politcnica do Porto inclua as seguintes categorias (por ordem hierrquica decrescente): lente proprietrio, lente substituto, repetidor, demonstrador, naturalista e naturalista adjunto (AAPP, 19061907). Na 10. Cadeira Botnica, o cargo de lente proprietrio era ocupado por M. Amandio Gonalves, e o de naturalista adjunto pelo prprio G. Sampaio (AAPP, 1906-1907). G. Sampaio era naturalista adjunto desde 1901. Podemos depreender desta proposta que G. Sampaio estaria de facto a assegurar a superviso dos trabalhos prticos da cadeira de Botnica? Esta seria uma competncia de um demonstrador, quando muito de um 1. naturalista, mas G. Sampaio era s naturalista adjunto. J. Mariz tinha razo em no admitir que o lugar de 2. naturalista pudesse ser ocupado por um lente.

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Nesta altura os lentes tinham um curso superior, mas os naturalistas no o tinham necessariamente. J. Mariz tinha, mas G. Sampaio no tinha s frequentara algumas cadeiras da Academia Politcnica. Portanto estes trs documentos que analismos apontariam para trs razes principais para o descontentamento de G. Sampaio: econmicas, profissionais e outras de carcter interno da Academia Politcnica. Em termos econmicos, e para o ano de 1901 (o mais prximo de que possumos informao no Anurio da Academia Politcnica), o vencimento do naturalista adjunto era muito razovel - 600$000 ris anuais, pouco inferior ao do lente proprietrio que era de 700$000 ris (AAPP, 1901-1902). Em 1906, G. Sampaio vivia na Rua da Constituio, 974 (AAPP, 1906-1907). No sabemos quanto pagaria de renda de casa. No esplio de G. Sampaio encontrmos recibos da renda de casa, no de 1906, mas de 1912, da Rua da Constituio, 986, em que o valor mensal de 11$170 ris. Admitindo que em 1906 no pagaria mais de renda de casa do que em 1912, e que o seu vencimento seria prximo do de 1901 (50$000 ris mensais), poderamos concluir que a renda de casa no seria talvez um encargo excessivo para o seu vencimento. Poderemos depreender que no seriam econmicos os principais motivos de descontentamento? O documento que analisaremos de seguida aponta de facto para problemas profissionais e internos da Academia como causa do descontentamento de G. Sampaio. Existe no esplio de G. Sampaio um rascunho de uma carta dirigida ao ento Director da Academia, Francisco de Salles Gomes Cardoso, datada de 3 de Junho de 1906, que nos ajuda a compreender esta fase grave da vida de G. Sampaio. O tom geral da carta de extremo descontentamento, sentimento de injustia e, em alguns pontos, de acutilante revolta37. Parece ter sido escrita de um jacto num momento de irrompente descontrolo. Quais as queixas do jovem naturalista? A. Dificuldades econmicas do gabinete de Botnica: ao gabinete de botanica foi retirada desde ha annos toda a verba da dotao geral da Academia, tendo sido negado adquirir pela dotao da bibliotheca qualquer livro que me seja necesario para o exercicio das minhas funces de naturalista. B. O desmantelamento do Jardim Botnico e Experimental: foi informada favoravelmente a immediata cedencia do jardim Guarda Municipal sem se importar das necessidades do ensino nem das observaes e estudos que ahi se podessem fazer. C. O no reconhecimento do mrito do trabalho que j tinha desenvolvido como naturalista e botnico: tendo os gabinetes de sciencia naturaes obtido na exposio do Palacio uma medalha douro no houve a mais pequena palavra de louvor para os respectivos naturalistas nem ao menos lhes foi comunicada
Sobretudo se atendermos a que se tratava de um jovem naturalista no graduado a dirigir-se ao lente mais antigo da Academia que era tambm seu director.
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a distinco obtida; para o gabinete de Botnica, G. Sampaio teria sacrificado todo o meu tempo, indo jantar de noute, sujeitando-me s exploraes mais arduas por esse paiz fora; teria contribuido com todos os esforos para o estudo da nossa flora, que j me deve alguns favores. D. A situao econmica injusta em face das funes efectivas que desempenhava: foi mandado abonar aos repetidores e demonstradores gratificao de exercicio pela direco dos trabalhos praticos e foi negado fazer o mesmo para os naturalistas, que nem sequer tinham obrigao de dirigir taes trabalhos. Termina este rascunho em tom terrivelmente amargo e pessimista: Continuarei sempre no meu caminho, nem pior nem melhor, como at aqui, at ao momento que queiram cortar-me os meios de trabalho como naturalista da Academia Polytechnica. Esse momento talvez no esteja longe, quero crlo [...] a falta de considerao que tenho merecido aqui; no obstante nenhum acto da minha parte a explica e a minha dedicao pelo desenvolvimento do gabinete bem patente para quem a quiser ver. G. Sampaio tinha razo quanto ao lamentvel desmantelamento do Jardim Botnico38. A morfologia e a sistemtica eram dois aspectos basilares da Botnica da poca. O ensino da Botnica tinha uma forte componente prtica. G. Sampaio dirigia os trabalhos prticos. Como ensinar botnica sem um jardim botnico de apoio? Deixava de ser possvel mostrar aos alunos as plantas vivas em crescimento, fazer experincias de fisiologia vegetal, mostrar a diversidade morfolgica das famlias39. As aulas passavam a ser dadas com plantas previamente recolhidas, secas. Teria de haver um grande esforo de trabalho de colector. Deixava de ser possvel cultivar plantas para enriquecer o Herbrio da Academia40. Os jardineiros deixavam de recolher plantas para o Herbrio da Academia. Acresce que G. Sampaio tinha de facto realizado, desde 1901, quando foi contratado como naturalista, um trabalho de grande nvel acadmico. No se sentia recompensado. Este rascunho de carta ter sido escrito no mesmo dia ou em dias prximos das cartas que enviou para A. X. Pereira Coutinho e J. Henriques. Escrito tambm nesta altura (datado de 6 de Junho de 1906) existe um rascunho de uma carta para o governador de Vila Real. A carta trata de convices polticas e revela que G. Sampaio era adepto de Joo Franco, situando-se pois numa corrente autoritria e conservadora41. Escrevia o seguinte: Venho dar-lhe os meus sinceros parabens por ter sido
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Ver Captulo II.4. O Jardim Botnico e Experimental, como era tpico da poca, estava organizado por grupos taxonmicos (ver Captulo II). 40 Ver Captulo XIII.2. 41 O percurso poltico de G. Sampaio interessante. Em 1888, o jovem G. Sampaio, com 33 anos de idade, redactor do semanario politico, Folha Democratica, de periodicidade semanal, editado na Pvoa de Lanhoso. O jornal assume-se como virulentamente anti-monrquico. O primeiro nmero do jornal publicado a 2 de Fevereiro de 1888. Era apresentado da seguinte forma: Militando, pois, nas fileiras do partido republicano combater intemeratamente por um idial, a Liberdade; por um bem, a Justia; por um soberano, o Povo (FD 1888 02 02). No segundo nmero, no texto Artigos para

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nomeado governador civil de Villa Real [...] No sei se se recorda de lhe ter dito [...] que se um dia o conselheiro Joo Franco fosse ao poder e ahi persistisse nas suas affirmaes liberaes e desse provas de realisar o seu programma, eu seria franquista, por entender util para o paiz a existencia, dentro da monarchia, de um partido com orientao democratica. Ora os ultimos acontecimentos convenceramme de que o Sr. Conselheiro Joo Franco hoje, realmente, um convicto liberal, com uma tendencia acentuadamente progressiva e uma honestidade de processos administrativos que todo o homem serio deve aplaudir e apoiar. A sua conducta, desde que se encontra no poder, tem sido admiravel sob todos os pontos de vista, conseguindo impressionar profundamente a opinio e merecendo as simpatias dos que no pem acima dos interesses do paiz um cego espirito de partidarismo. Felicito a V. Exa. por ter sido um dos companheiros do sr. Conselheiro Joo Franco na fundao de um partido que to correctamente est procedendo e que, espero-o, continuar a dar bons exemplos aos outros partidos, inclusivamente aos republicanos, cuja linha de procedimento perante os actos e declaraes do actual governo no tem sido de modo a merecer a aprovao de nenhum democrata sincero e honesto. Repare-se que para G. Sampaio era muito importante a honestidade de processos administrativos (que via em Joo Franco), o que de certa forma indicia que o seu descontentamento era nessa ocasio em parte resultante de uma ausncia desta qualidade humana.

o povo. I. Para que serve um rei, so enumerados alguns defeitos do regime monrquico (FD 1888 02 09). Na edio da semana seguinte (FD 1888 02 16), G. Sampaio continuava a srie de Artigos para o povo. II. Os braganas, focalizando agora na personalidade e obra dos monarcas que a casa de Bragana nos tem fornecido. A apreciao muito negativa e acusadora. O quarto artigo da srie era publicado na edio seguinte do jornal (FD 1888 02 23). Neste, G. Sampaio elogiava, sem reservas, o regime republicano, que considerava: uma boa forma de governo; a frma mais racional, mais economica e vantajosa de governo; a soberania popular sem a mordaa do veto real; queria a liberdade de consciencia, garantindo a cada um o direito de professar e manifestar a sua f religiosa. Conclua que era necessario estabelecer um governo economico, [] implantar a republica em Portugal, porque a republica era esta trindade sympathica e luminosa: liberdade, egualdade e fraternidade (FD 1888 02 23). Todavia, o regime republicano que se implantou no pas em 1910 no iria corresponder s expectativas de G. Sampaio. Em cartas que escreveu a A. Ricardo Jorge, G. Sampaio manifestar-se simpatizante dos regimes autoritrios instaurados pela revoluo de 5 de Dezembro de 1917 e pela revoluo de 28 de Maio de 1926. Numa carta escrita a 13 de Dezembro de 1917, escrevia: A revoluo, que foi uma coisa excelente, deve ter beneficiado a sua questo hospitalar, com o que muito folgo (BN A/2021). Com o governo sado da revoluo de Gomes da Costa, A. Ricardo Jorge assume a pasta do Ministrio da Instruo. G. Sampaio, numa carta datada de 3 de Julho de 1926, endereada ao Exmo Snr. Dr. Artur Ricardo Jorge, Ilustre Ministro da Instruo, escreve em tom contundente: Muito estimo v-lo a colaborar na obra de um governo que se prope corrigir os desmandos praticados pelos politicos; mas, meu amigo, isto chegou a tal podrido que mal posso acreditar no milagre que se anuncia. Deus os ajude e lhes d coragem no meio dos desgostos e das dificuldades que ho de ter. A quadrilha enorme, temerosa, e a desmoralizao da maioria completa (BN A/1987). Destes elementos pode-se concluir que, para G. Sampaio, a moral, a tica, o patriotismo e a economia da poupana, seriam valores primeiros de um sistema poltico e de uma governao. No cabe obviamente neste trabalho uma discusso da Histria portuguesa dos sculos XIX-XX. No entanto referimos a actividade poltica de G. Sampaio porque ajuda a compreender o homem, de quem estamos a escrever uma biografia. Haver desenvolvimentos posteriores de actos polticos de G. Sampaio (ver Captulo VII.8).

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Esta crise de 1906 foi ultrapassada. G. Sampaio manter-se- como naturalista adjunto at 1911, quando passa directamente para o topo da carreira docente da recentemente criada Faculdade de Cincias do Porto. 7. G. Sampaio e o Congresso de Botnica de Bruxelas Em 1910 G. Sampaio assistiu ao Congresso Internacional de Botnica que se realizou em Bruxelas (SAMPAIO, 1912b). Aps o Congresso visitou alguns laboratrios e contactou com botnicos europeus. Estes contactos tero influenciado G. Sampaio, tanto do ponto de vista da docncia, como da investigao. Os contactos que estabeleceu nesta viagem tero sido importantes para a sua futura actividade de professor da Faculdade. Estas concluses podem ser retiradas de um texto escrito em Genebra a 1 de Junho de 1910. Parece tratar-se de um dirio de viagem incompleto. G. Sampaio descreve o que tinha feito nos ltimos dias da sua viagem: Deixando Bruxellas, no dia 26 de maio, dirigi-me a Lige, que uma cidade belga importante pela sua poderosa industria e pelas suas riquissimas minas de carvo, mas sem condies de belleza que a recomendem especialmente aos estrangeiros. O rio Meuse, que lhe passa a flanco, um rio turvo, sombrio, de corrente apagada, embora atravesse uma linda regio de collinas, que nos arredores da cidade quebram a monotonia verdejante das infinitas planicies do paiz. Cheguei noite, e no dia seguinte, depois de um rapido passeio pela cidade, visitei o Instituto de Botanica, onde encontrei o Dr. Grevis, que o dirige. O illustre reitor da Universidade recebeu-me [acrescentado por cima, muito] carinhosamente, prestandose com a mais penhorante delicadeza a fornecer-me todos os esclarecimentos sobre a organizao das instalaes, [...] e condies de ensino ali professado. Foi no auditorio, que um amplo amphiteatro envidraado e cheio de luz, que primeiro entramos. O mobiliario simples mas solido, composto de fiadas de mezas em semicirculo, cujo centro ocupado [...] ha [...] esquematicos a cores, sobre [acrescentado por cima, as plantas] da lio do dia e nas mezas dos alumnos viam-se exemplares de jarro e de uma orchidea indigena, [...] Segundo me explicou o Dr. Grevis uma parte do anno destinado ao estudo da macrographia e outro ao da micrographia vegetal, fazendo-se um e outro no auditorio. No estudo macrografico, ou morphologico, distribuido a cada alumno um exemplar typico de cada familia botanica que fez parte da lio, para que todos possam verificar sobre a propria planta os caracteres respectivos, que o professor faz notar e tem devidamente desenhado na lousa. O estudo micrographico ou histologico bastante reduzido para o curso geral de botanica e, sobre este ponto de vista, inegavel que na Polytechnica do Porto h uma organisao muito mais perfeita e completa, pois que ahi os alumnos no s tomam conhecimento de todos os aparelhos empregados em

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micrographia vegetal, mas praticam os processos geraes da histologia, enquanto que em Liege apenas praticam alguns cortes mo que lhes permittam examinar as cellulas dos tecidos, com a sua forma fundamental. O uso do microtomo automatico, dos aparelhos micrometricos, do [...] dos reagentes colorantes, dos methodos de incluso e da microphotografia pertence apenas aos alumnos que seguem o curso especial para o doutorado em botanica [rasurado, e, ainda assim, por uma formao rudimentar,] no se procurando, todavia, que mesmo para estes haja uma pratica superior dos nossos estudantes do Porto. [...] Nese mesmo dia, tarde, tomei o comboio que me devia transportar Alemanha, por Colonia, onde admirei a notabilissima cathedral gothica e donde segui para Bona. nesta cidade encantadora, das margens do Rheno, que vive um dos mais insignes mestres da histologia vegetal, o venerando Dr. Strasburger, director do Instituto botanico da Universidade. Recebeu-me no seu [acrescentado por cima, modesto] gabinete de trabalho, o grande homem de sciencia que todo o mundo culto conhece e admira, fallando-me com [acrescentado por cima, vivo] interesse da visita que h annos fizera a Lisboa, onde a opulenta vegetao do Jardim botanico o maravilhou deveras. Em seguida mostrou-me todo o instituto, cuja organisao semelhante do de Liege, mas muito mais completo pelo que diz respeito no estudo da micrographia. No laboratorio do doutorado, onde fui apresentado ao professor russo que ali viera estudar com o grande mestre, pude examinar magnificos trabalhos sobre a cariogamia, executados pelo assistente [...] Devo dizer que no foi sem uma certa emoo que me despedi do Dr. Strasburger, cuja affabilidade e aspecto [...] me captivaram em extremo. G. Sampaio poder ter dado conhecimento a J. Henriques das impresses desta viagem (ou seria o texto que reproduzimos um rascunho de uma carta que ter sido enviado para o seu colega de Coimbra?) porque numa carta datada de 24 de Agosto de 1910, J. Henriques respondia a um comentrio de G. Sampaio aparentemente sobre o ensino da Microbiologia na cadeira de Botnica: Vejo o que me diz relativamente a trabalhos praticos da aula de Botanica. Aqui no posso entrar em trabalhos dessa ordem. J no pouco o trabalho de anatomia. No tenho pessoal, nem tempo. Como os meus discipulos vam quasi todos para Medicina, l estudam os micrbios que cultivam no laboratrio de microbiologia, que tem bom material e pessoal muito competente. De c levam o conhecimento do microscopio e certa pratica de histologia, que lhes ser util. Creio que no prximo anno terei um curso grande e no sei como me arranjarei com elle.

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IV. Gonalo Sampaio e o estudo dos Rubus portugueses 1. A obra-chave de G. Sampaio Dedicamos este captulo anlise da obra fulcral de G. Sampaio - Rubus portuguezes. Contribuies para o seu estudo42. No sendo o trabalho mais extenso, nem mais abrangente sobre a flora portuguesa, consideramos ser o obra-chave do investigador portuense. Porqu? Pelas seguintes razes principais: A. uma obra de incio de carreira. G. Sampaio s tinha entrado como naturalista da Academia h trs anos. Quando publicada tinha 39 anos. B. Iria contestar abertamente mestres da Botnica da poca, o Conde de Ficalho e A. X. Pereira Coutinho. C. Trata-se de um gnero dificlimo do ponto de vista taxonmico43. D. Uma anlise atenta da obra em si, da sua preparao e das suas consequncias, fornece-nos uma compreenso quase total da personalidade, do mtodo de trabalho e da importncia histrica de G. Sampaio, no estudo da flora portuguesa. 2. Data efectiva de publicao G. Sampaio teria conscincia da importncia da obra que ia publicar e, qui por sua iniciativa, antes da publicao em 1905 na revista da Academia, os Annaes de Sciencias Naturaes, publica-a sob a forma de separata44 (SAMPAIO, 1904c). Temos elementos para datar com segurana a sua publicao efectiva da separata, que ter ocorrido em Dezembro de 1904. Numa carta datada de 20 de Dezembro de 1904, J. Henriques agradecia o envio do trabalho: Accuso a recepo da sua publicao sobre os Rubus portuguezes e muito a agradeo. Considerando que a correspondncia anterior de J. Henriques um bilhete-postal datado de 1 de Agosto que no menciona este trabalho e a elevada frequncia da correspondncia entre estes dois botnicos, poderamos afirmar, por estes elementos, que a monografia teria sado a pblico entre 1 de Agosto e 20 de Dezembro de 1904. Esta conjectura
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As restantes obras de G. Sampaio so analisadas no Captulo XIII. Pelas razes que sero apontadas no decurso do presente captulo, a anlise desta obra merece um captulo parte. Seria inteno de G. Sampaio ilustrar este trabalho, o que no se concretizou. Numa carta dirigida a A. Ricardo Jorge datada de 17 de Dezembro de 1902, escrevia: Esse trabalho ser illustrado com boas estampas, segundo photographias que sero tiradas pelo Dr. Amandio (BN A/2096). J perto da publicao da obra, numa carta datada de 29 de Junho de 1904, dirigida tambm a A. Ricardo Jorge, G. Sampaio escrevia: Devem dar-me um volume de cerca de 200 paginas e vai illustrado com as figuras de todas as nossas especies (BN A/2095). Esta carta sugere que as ilustraes estariam prontas. Porque no foram includas no trabalho final publicado? 43 Ver nota final deste captulo. 44 A publicao do trabalho sob a forma de separata tambm poder estar relacionada com um atraso na edio dos Anais. Todavia, numa carta que escreve a A. Ricardo Jorge, datada de 29 de Junho de 1904, G. Sampaio previa a edio da revista da Academia para antes do final do ano, o que no se ter concretizado: Por estes dias vou a Coimbra consultar o Herbario de Willkomm, e demoro-me 4 ou 5 dias, pois que aproveito a occasio para concluir a reviso das Epilobiaceas portuguezas, que publicarei ainda este anno. [] Acabado este trabalho recomearei com os Rubus, cujo estudo conto concluir at ao fim do vero, para ver publicado nos Annaes da Academia Polytechnica que comeam a sahir em novembro (BN A/2095).

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confirmada por uma carta de W. O. Focke para G. Sampaio, datada de 31 de Dezembro de 1904, em que o botnico alemo agradecia o envio do trabalho sobre os Rubus: Je viens de recevoir votre trait sur les Rubi Portugais, et je vous prie de vouloir bien accepter mes remerciments sincres. Finalmente num exemplar que se encontra autografado e comentado pelo autor encontrmos na pgina seguinte da capa, com a caligrafia de G. Sampaio, Porto, 25, XII, 1904, sugerindo que a obra lhe ter chegado s mos muito perto do dia de Natal de 1904. 3. Anlise geral da monografia A publicao da monografia tinha sido precedida, nos anos anteriores, de diversas publicaes sobre o gnero Rubus. Este era o trabalho monogrfico45. Assim como na generalidade das suas obras, G. Sampaio incorpora no texto muitos comentrios, observaes, discusses e anlises. O que nos revela uma exegese atenta da monografia? G. Sampaio inicia a introduo referindo a desadequao dos trabalhos existentes sobre os rubus portugueses. Avalia o trabalho de Brotero (que s considerava duas espcies no gnero) como muito incompleto, o trabalho publicado pelo Conde de Ficalho e A. X. Pereira Coutinho alguns anos antes (que consideraram 16 espcies no gnero; FICALHO & COUTINHO, 1899) como desadequado46 e a abordagem de B. Merino na Galiza quase inaproveitvel pela falta de material de herbrio adequado. Quais as deficincias do trabalho do Conde de Ficalho de A. X. Pereira Coutinho? Para G. Sampaio, nos exemplares estudados por estes dois botnicos faltavam os caules estreis (turies) e no existia a menor indicao sobre a cor, forma e comprimento relativos dos orgos florais. Deficincias semelhantes encontrava nos exemplares galegos de B. Merino. G. Sampaio termina o

Apesar de G. Sampaio ter iniciado o estudo dos rubus na dcada de 1890, s nos primeiros anos de 1900 inicia a publicao dos resultados destes estudos. Estes culminaro com diversas publicaes datadas de 1902, 1903 e 1904. Este mpeto final no estudo dos rubus transparece de uma carta que escreve a A. Ricardo Jorge datada de 23 de Novembro de 1902: No proximo anno conto em estudar bem os Rubus do norte para publicar uma monografia especial sobre este genero em Portugal. Estou actualmente em correspondencia com os primeiros especialistas deste genero e obtive este anno numerosas exsiccatas de Rubus estrangeiros. No meu Herbario possuo j cerca de 200 typos de Rubus europeus, todos enviados por especialistas de Inglaterra, da Frana, da Suecia e Allemanha []. Como v apezar de ser trabalho muito incompleto j tem razo de ser publicado porque amplia bastante o conhecimento de genero Rubus em Portugal (BN A/2007). Poucos dias depois, numa carta datada de 17 de Dezembro, escrevia novamente a A. Ricardo Jorge: No fim do proximo anno que vem publicarei um trabalho extenso sobre os Rubus de Portugal, para o que farei numerosas herborizaes (BN A/2096). 46 G. Sampaio cortante quando escreve que apezar de muito valiosa sobre diferentes pontos de vista, a monografia dos distintos professores , no que respeita a este genero, bastante incorrecta e deficiente. No entanto Ficalho e A. X. Pereira Coutinho tinham reconhecido, no prprio trabalho, as suas limitaes (ver mais frente neste captulo).

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raciocnio, dizendo que perante estas circumstancias, claro est que as imperfeies do trabalho seriam inevitaveis47. Seguidamente, G. Sampaio refere a elevada ocorrncia de hibridismo e variabilidade fenotpica nos rubus: constituem um genero muito complexo [] critico de um estudo extremamente dificil e composto de algumas centenas de frmas, tanto puras como hibridas, ainda hoje no totalmente conhecidas. Refere que o critrio lineano antigo, seguido por Brotero, de s considerar duas espcies no gnero, estava posto definitivamente de lado, dado que era possvel reconhecer um elevado numero de especies boas, nitidamente definidas e dominando areas geograficas extensas. Neste trabalho, G. Sampaio descreve 32 espcies, mas ressalva que o trabalho se deve considerar egualmente cheio de imperfeies e lacunas, no tendo de modo algum pretenso de o inculcar como obra definitiva sobre os Rubus portuguezes. G. Sampaio assume uma total confiana na qualidade do seu trabalho quando escreve: com certeza ficam citadas todas as silvas dominantes no paiz, isto , aquelas que se encontram com maior frequencia e que ocupam superficies mais extensas do nosso solo. Das especies acantonadas, certamente que muitas ficaro ainda por conhecer, visto que elas se limitam por vezes a areas extremamente restritas nas provincias do norte, necessitando-se para sua descoberta de exploraes minociosas e demoradas. Muitas vezes peremptrio. Ao discutir o Rubus Coutinhi Samp. e discordando da opinio de H. Sudre, escrever o ilustre rubulogista francez prof. Sudre affirma no poder admitir que plantas um pouco esteries produzam por cruzamento frmas mais ferteis do que elas. Comtudo eu tenho absoluta certaza de que os hibridos desta silva so geralmente ferteis [...]. De seguida, G. Sampaio descreve a organizao das plantas, descrevendo cada uma das partes. Finalmente, discute a difcil problemtica da definio e delimitao das espcies neste gnero. Refere o elevado polimorfismo destas plantas, bastando pequenas diferenas mesologicas para lhes imprimir modificaes por vezes to consideraveis que chegam a mascarar o facies normal da variedade, raa ou especie a que pertencem, ou seja afirmando que a diversidade fenotpica pode ser superior gentica. De entre os factores ambientais, destaca a luz. Para G. Sampaio a existncia de hibridismo outro dos factores responsveis pela variabilidade morfolgica. Salienta que apesar de muitos hbridos serem naturalmente estreis, outros so frteis, gerando-se assim uma panplia de formas morfolgicas de transio perante as quaes resulta impotente toda e qualquer tentativa de sistematisao. Como

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G. Sampaio era peremptrio porque conhecia bem como os especialistas estrangeiros tinham abordado a sistemtica do gnero (principalmente W. O. Focke e H. Sudre), e como os melhores herbrios e exsicatas distribuam os exemplares de Rubus que apresentavam sempre os turies e as peas florais.

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distinguir as formas hibridas das puras? G. Sampaio enumera vrios aspectos a ter em conta, como a morfologia dos gros de plen e a rea que ocupam. Salienta o elevado nmero de espcies endmicas peninsulares. Termina a introduo da monografia referindo a distribuio das espcies e dando conselhos prticos quanto sua colheita e secagem. Segue-se o trabalho de taxonomia do gnero Rubus. Apresenta chaves dicotmicas para chegar identificao especfica. A maior parte da monografia consiste na descrio de cada uma das espcies e hbridos considerados. Descreve formalmente a espcie, acrescentando uma valiosa seco de observaes. Trata-se de facto de uma discusso da espcie. G. Sampaio justifica e discute a sua posio. Refere opinies de colegas. Algumas contesta, com outras concorda. As observaes so frequentemente mais extensas do que as prprias descries das espcies. G. Sampaio tem o cuidado de salientar quais as caractersticas de cada uma das espcies e em que medida estas diferem umas das outras. 4. Como organiza G. Sampaio o estudo dos Rubus? Como organiza G. Sampaio o estudo dos Rubus? Para responder a esta questo utilizmos as seguintes fontes de informao: A. O contedo da prpria publicao. B. As coleces de exemplares de Rubus existentes no Herbrio da Academia. C. A documentao epistolar existente. D. Anotaes que escreveu em obras impressas. A integrao de toda esta informao permitiu-nos elaborar a seguinte arquitectura metodolgica para o trabalho publicado em 1904: . Recolha de material do campo. Herborizaes intensas em diversos locais do pas. . Estudo da bibliografia existente. Contacto com as abordagens existentes. . Estabelecimento das caractersticas determinantes na taxonomia dos Rubus portugueses: turies e orgos florais. . Aquisio de exemplares de toda a Europa: Frana, Gr-Bretanha, Europa de leste e Escandinvia. . Comparao dos seus exemplares com as espcies descritas. . Troca de opinies. Discusso com todos os especialistas em Rubus da poca: H. Sudre, W. O. Focke, W. R. Linton, W. M. Rogers. . Estabelecimento e publicao de espcies e variedades novas para a cincia. Analisemos em pormenor de que forma cada uma daquelas fontes de informao contribuiu para o esquema conceptual que propusemos.

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4A. O mtodo de trabalho descrito na prpria monografia G. Sampaio escreve na monografia que o trabalho era fruto de oito anos de estudo e investigaes. Teria portanto comeado por volta de 189648. O mtodo correcto de trabalho de G. Sampaio encontra-se sintetizado ao discutir vrias das espcies por si criadas. Por exemplo, em relao ao R. peratticus Samp., escreve que sendo de parecer que esta planta pertence ao grupo do R. uncinatus Mul., o dr. Focke observa que os foliolos so, todavia, muito diversos dos do tipo e nota a sua semelhana com o R. reniformis, Boul. & Pierrat, silva de que possuo exemplares autenticos e que o proprio rubulogista N. Boulay considera como um produto de cruzamento dos R. vesticus e R. serpens. certamente notavel a analogia de aspeto entre alguns exemplares de R. peratticus e os de R. reniformis, comtudo estas duas plantas esto longe de ser identicas e a silva portugueza no de modo algum um hibrido. Do R. uncinatus, a que se liga, realmente difere por um conjunto de caracteres valiosos, como so [...] A principio inclui esta planta e a precedentemente descrita [R. Henriquesii] num unico tipo especifico a que [...] em 1902 dei o nome de R. trifoliatus, nome que no pde sustentar se [...] por se referir no a uma verdadeira especie mas sim ao conjunto de duas, bem distintas e autonomas. [...] Convm notar que o R. peratticus se distingue muito bem do R. Henriquesii [...]49. Em outra parte do texto faz questo de explicitar que para a elaborao da sua monografia, tinha construdo um herbrio com algumas centenas de frmas autenticas, distribuidas em coleoes classicas ou determinadas por especialistas dos mais autorisados50. Na introduo da monografia, G. Sampaio agradece aos colegas especialistas - H. Sudre, M. Bouly de Lesdain, W. M. Rogers, W. R. Linton, W. O. Focke, Erichsen, F. Du Pr, A. Hayek, L. M. Neuman, a troca de exemplares de herbrio51 . Tambm na introduo, G. Sampaio agradece a W. M. Rogers, H. Sudre, M. Bouly de

Significando que G. Sampaio j trabalhava afincadamente na flora portuguesa mesmo antes de ter sido admitido como naturalista (ver Captulo II). 49 Exemplo de observao atenta e minuciosa, ponderao de caracteres, comparao com espcimes de espcies j descritas, seguida de balano e concluso: identificao de uma espcie j descrita ou espcie nova? 50 Estas frmas autenticas eram exemplares recolhidos pelos prprios autores das espcies - o que hoje se chama material-tipo. O conceito de material-tipo s ser incorporado no Cdigo de Nomenclatura de 1935 (CAMP ET AL., 1947). No entanto, como ser demonstrado neste trabalho, a importncia crucial da observao de exemplares autenticos, j estava bem presente no trabalho do taxonomista no incio do sculo XX. 51 De todos estes investigadores existem, na coleco de Rubus coligida por G. Sampaio, exemplares com data de 1904, ou data anterior a 1904. No entanto, no possvel, por vrias razes, determinar com segurana qual a parte da coleco de Rubus coligida por G. Sampaio que j estaria disponvel quando elaborou a sua monografia. Exemplares com data de colheita anterior a 1904 podem ter sido adquiridos depois desta data. Na correspondncia no se encontram listas detalhadas do material recebido. No entanto comparando as coleces coligidas por G. Sampaio e a correspondncia (as primeiras muito mais extensas do que as segundas), parece poder afirmar-se que algumas coleces no foram adquiridas directamente aos seus organizadores, mas por intermdio do ncleo de colaboradores mais prximos de G. Sampaio. A nica certeza que temos que os exemplares com data de colheita posterior a 1904, como uma parte da Batotheca

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Lesdain e W. O. Focke, os seus valiosos e autorisados esclarecimentos na determinao de varias frmas52. Ao longo da discusso das diferentes espcies includas no trabalho, este auxlio perfeitamente reconhecido e identificado53. 4B. As coleces de exemplares de Rubus existentes no Herbrio da Academia Coleces de exemplares de Rubus existentes no Herbrio da Academia. G. Sampaio deixou uma vastssima coleco de exemplares de Rubus54. Que caractersticas apresenta esta coleco? Se nos
Europaea, uma parte do Herbrio de A. Hayek, a coleco de Rubi exs. Stiriae orientalis de Sabransky e a exsicata de Fr. Sennen, no puderam ter sido observados por G. Sampaio para a elaborao da obra publicada em Dezembro de 1904. 52 Estes eram de facto os mais conceituados rubologistas da poca e G. Sampaio tinha tido o cuidado de os contactar a todos. No entanto, apesar da sintonia ter sido geral, em alguns casos a discordncia manteve-se e G. Sampaio no abdicar da sua opinio discordante. 53 Ao discutir o R. subincertus Samp., G. Sampaio admite que a tinha inicialmente considerado como uma raa do R. affinis, mas que enviou exemplares para W. O. Focke que discordou, considerando-a uma espcie nova, se bem que muito prxima desta. Ao examinar o R. Sampaianus Sud., G. Sampaio refere que inicialmente tinha identificado o exemplar como sendo R. leucandrus Focke, mas aps ter enviado material para colegas, estes consideraram-no como uma espcie nova, o que H. Sudre viria a concretizar em 1903 com a criao de R. Sampaianus Sud. Em relao ao R. peculiaris Samp., G. Sampaio diz que lhe parecia uma espcie nova dado que diferia das conhecidas, mas que H. Sudre era da opinio que se tratava de uma subespcie de R. pubescens. No entanto, W. O. Focke concordava que se tratava de uma espcie nova. Ao discutir o R. portuensis Samp., G. Sampaio refere que o prof. Sudre diz que o R. portuensis identico ao seu R. ellipticifolius. Ora, no obstante o respeito que tenho pelas opinies do eminente batologista francez, no posso concordar de modo algum com este modo de vr. Em relao ao R. brigantinus Samp., refere que W. M. Rogers lhe tinha escrito dizendo que nada ha na Inglaterra que se lhe identifique e que H. Sudre inclina-se atualmente a considerala uma especie muito interessante. Quando refere o R. Henriquesii Samp., G. Sampaio escreve parecendo-me que o R. Henriquesii oferecia uma certa analogia com algumas silvas da Inglaterra, submeti alguns exemplares ao exame do reputado especialista daquele paiz, o snr. Moyle Rogers, que a considerou uma especie inteiramente nova para ele [...] Dos batologistas de outros paizes a quem remeti egualmente a nossa frma nenhum deles foi de parecer que a planta constituisse uma especie j conhecida ou descrita. Ao discutir o R. inflexus Samp., escrever: Parecendo-me que esta curiosa silva era bastante proxima de duas especies endemicas da Inglaterra, o R. Lintoni Foche e o R. botryeros Rogers, e tendo duvidas sobre se devia filial-a em qualquer delas ou consideral-a como especie autonoma, resolvi consultar o distinto especialista inglez snr. Moyle Rogers, o qual foi de parecer que o R. inflexus constitue uma especie independente, proxima realmente daquelas plantas, mas diferindo de qualquer delas tanto, pelo menos, como elas diferem entre si. 54 Principais coleces estudadas por G. Sampaio (organizador: nome da coleco, colectores principais) . Coleces cuja maioria dos exemplares anterior a 1904: Association Rubologique. Baenitz, C.: Herbarium Europaeum, colector: H. Hofmann. Bagnall, J. E.: Set of British Rubi (1892-1895), colector: J. E. Bagnall. Beckmann, C.: Flora planitiei Germaniae boreali-occidentalis, colector: C. Beckmann. Boulay, N. & M. Bouly de Lesdain: Rubi Praesertim Gallici Exsiccati, colectores: M. Bouly de Lesdain, J. Harmand, H. Sudre. M. Bouly de Lesdain: Herbrio, colector: Pierrat. Chateau, E.: Herbrio, colector: E. Chateau. Demandt: Herbrio, colector: Demandt. Du Pr, F.: Herbrio, colector: F. Du Pr. Erichsen, F.: Herbrio, Hamburgo; Flora Hannover, colector: F. Erichsen; Flora v. Baden, colector: A. Gotz; Flora v. Schleswig-Holstein, colector: F. Erichsen. Flora Hungarica, ex. Herbrio L. Richter, colector: Harmanti. Focke, W. O.: Flora Germanicae bor., colector: W. O. Focke. Genevier, G.: Herbrio. Gravet, F.: Flora Blgica, colector: F. Gravet.

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focalizarmos s em exemplares datados antes de 1904, a coleco apresenta as seguintes caractersticas: . O nmero de espcies representadas elevado. Esto representadas muitas espcies dos autores mais importantes de Rubus: N. Boulay, W. O. Focke, G. Genevier, Lindley, P. J. Mueller, W. M. Rogers, H. Sudre, Vest, Weihe & Nees. . As espcies representadas abrangem grande parte da Europa, estando representados espcimes de Espanha, Frana, Blgica, Gr-Bretanha, Alemanha, Escandinvia e Hungria. . Esto representadas as exsicatas de Rubus mais importantes da poca. . Muitos espcimes foram colhidos pelos prprios autores das espcies representadas. Destacam-se W. O. Focke e H. Sudre, mas tambm Bagnall, G. Genevier, W. R. Linton, Waisbecker55.

Hayek, A.: Herbrio, Rubus austracos, colector: A. Hayek. Holzfuss, E.: Flora von Pommern, colector: E. Holzfuss. Lidforss, B.: Rubi Scandanavici, colector: B. Lidforss. Linton, W. R.: Herbrio, colectores: C. Bailey, W. R. Linton, W. M. Rogers. Neuman, L. M.: Plantae Scandinavicae, colector: L. M. Neuman. Rogers, W. M.: Herbrio, colector: W. M. Rogers. Scheppig, C.: Herbrio, Flora Berol., colector: C. Scheppig. Slater, H. H.: Herbrio, Inglaterra, colector: H. H. Slater. Sudre, H.: Flora Gallica, Herbarium Ruborum rariorum, colector: N. Boulay. White, J. W.: Herbrio, colector: J. W. White. . Coleces com exemplares anteriores e posteriores a 1904: Missbach, E. R.: Flora Saxnica, colector: E. R. Missbach. Sudre, H.: Batotheca Europaea, colectores: W. O. Focke, G. Genevier, P. J. Mller, H. Sudre. . Coleces cuja maioria dos exemplares posterior a 1904: Fitschen: Flora Hannoverana, Flora holsatica, colector: Fitschen. Hayek, A.: Herbarium Dr. August v. Hayek, colector: Sabransky. Kupok, S.: Herbarium S. Kupok, Bakabnya, Flora Hungariae, colector: S. Kupok. Lewin, J. P.: Plantae Suecicae, colector: L. M. Neuman. Sabransky: Herbrio, Rubi exs. Stiriae orientalis, colector: Sabransky. Sennen, Fr.: Barcelona, Plantes dEspagne. Zinsmeister, J. B.: Flora Bavarica, colector: J. B. Zinsmeister. 55 Exemplos de espcies existentes na coleco de G. Sampaio com exemplares recolhidos (ou confirmados) pelos prprios autores das espcies: R. callicomus Kpk na Flora Hungariae de Kupok. R. chlorothyros Focke na Flora Germanica bor. de W. O. Focke. R. criniger Linton no herbrio de W. R. Linton. R. crinitus Sudre na Flora Gallica de H. Sudre. R. durescens Linton no herbrio de W. R. Linton. R. echinocalyx Erichsen na Flora holsatica de Fischen. R. elegantissimus Hayek no Herbarium Dr. August v. Hayek. R. elongatispinus Sudre na Batotheca Europaea. R. eximius Erichsen na Flora holsatica de Fischen. R. falciger Kpk na Flora Hungariae de Kupok. R. glucoxylon Sudre na Batotheca Europaea. R. lanceolatus Wiasbecker no Dr. C. Baenitz Herbarium Europaeum. R. maassii Focke na Batotheca Europaea. R. macrocardicus Sabransky no Herbarium Dr. Sabransky. R. majusculus Sudre no Dr. C. Baenitz Herbarium Europaeum. R. mercius Bagnall no Set of British Rubi. R. pedatifolius Genevier na Batotheca Europaea. R. pyrenaicus Sudre na Batotheca Europaea.

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4C. A documentao epistolar A documentao epistolar de que dispomos permite afirmar, com grande segurana, que esta coleco de exemplares de Rubus datados antes de 1904 ter sido adquirida por G. Sampaio essencialmente nos primeiros anos da dcada de 1900. Podemos portanto afirmar que G. Sampaio soube construir uma excepcional coleco de Rubus europeus e que ter sido esta a coleco em que se baseou para elaborar a maior parte do seu estudo dos Rubus portugueses. G. Sampaio trocou opinies sobre a identificao de alguns dos espcimes por si recolhidos. Contactou com os mais prestigiados rubologistas da poca, N. Boulay, M. Bouly de Lesdain, W. O. Focke, A. Hayek, W. R. Linton, Neumann, W. M. Rogers e H. Sudre. Concordou com algumas opinies, discordou doutras. Mas rapidamente ganhou prestgio no meio destes especialistas56. A reputao era tambm nacional. Alguns Rubus, incluindo espcies novas descritas por G. Sampaio, sero incorporados nas distribuies de plantas e na exsicata da Sociedade Broteriana de Coimbra. G. Sampaio comeou o estudo dos Rubus por volta de 1896. O documento mais antigo sobre Rubus do seu esplio a Liste mthodique des Rubus distribus par lAssociation Rubologique en 1890. Esta Associao era dirigida na altura por N. Boulay, professor na Faculdade de Cincias de Lille. Trata-se do catlogo das espcies disponveis para permuta pela Associao, datado de 20 de Junho de 1891. Para cada espcie feita uma descrio. Em algumas espcies observa-se uma cruz a lpis do lado esquerdo. Ser uma marcao de G. Sampaio para pedir estes exemplares? Provavelmente sim, dado que na coleco de Rubus coligida por G. Sampaio existem diversos exemplares desta Associao. O catlogo termina com as seguintes indicaes subscritas pela direco da Associao: Mon intention tait dattendre les rsultats de mes expriences de culture avant de continuer lessai de Rvision entrepris il y a quelques annes ; toutefois rflexion faite et sur lavis de plusieurs associs jai rsolu de terminer ce dernier travail aussi rapidement que possible. Nous avons lieu desprer le concours dun spcialiste de lEst de la France, pour la campagne prochaine. Il nous procurera les types des espces et des varits dcrites par Godron dans la Flore de France et dans la Flore de Lorraine. Des envois considrables de diverses partes de lEurope sont galement annoncs [] Les paquets doivent tre adresss M. Boulay, Professeur la Facult des Sciences, Lille. Le nombre des

R. separinus Genevier na Batotheca Europaea. R. tarnensis Sudre na Flora Gallica de H. Sudre. R. timendus Sudre no Dr. C. Baenitz Herbarium Europaeum. 56 A atestar este facto temos por exemplo a criao da espcie Rubus Sampaianus por H. Sudre, em 1903, em homenagem ao rubologista portuense e baseada em material enviado por G. Sampaio.

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parts recueillir est toujours fix 15 ou 16. Este texto mostra que a Associao Rubolgica, semelhana da Sociedade Broteriana de Coimbra, recebia dos scios lotes de exemplares que distribuia pelos mesmos scios. Era uma forma de, por esforo colectivo, se enriquecerem as coleces de todos os scios. No incio da dcada de 1900 aumenta exponencialmente a correspondncia entre G. Sampaio e os mais prestigiados estudiosos dos Rubus europeus. Entre 1902 e 1904, o estudo dos Rubus parece tornar-se obsessivo para G. Sampaio, dado que quase toda a correspondncia versar este tema57. No incio de 1902, G. Sampaio ter iniciado os contactos com diversos rubologistas europeus solicitando permuta de exemplares de Rubus, dado que existem muitas cartas datadas de meados deste ano com resposta a esta solicitao58. M. Bouly de Lesdain, em bilhete-postal endereado de Dunquerque e datado de 5 de Janeiro de 1902, escrevia Dans un an ou deux, je compte recontinuer lAssociation Rubulogique qui a cesse il y a 3 ou 4 ans ; elle avait distribue 1200 numros de Rubus59. M. Bouly de Lesdain ter posteriormente enviado para G. Sampaio exemplares de Rubus, mas aparentemente G. Sampaio ter enviado em troca plantas que no eram Rubus, o que no ter agradado ao especialista francs que escrevia a 30 de Novembro deste ano: Jai reu hier lenvoi de plantes que vous madressez, et vous en remercie. Quand je vous ai fait un envoi de Rubus, il avait t convenu que vous ne menverriez que des Rubus en change ; je compte donc bien sur un second envoi. Vous mexcuserez si je tarde encore quelques jours [] Je nai plus de Rubus en double pour le moment. G. Sampaio satisfaz o pedido de M. Bouly de Lesdain enviando Rubus. O rubologista francs responder a 20 de Fevereiro de 1904, surpreendido com as novidades portuguesas: Dans vos rubus que jexamine la hte, je trouve quelques espces bien intressantes. Merci de votre brochure; vous avez bien raison de publier vos dcouvertes60. G. Sampaio contacta com os Rubus belgas atravs de F. Du Pr, que vivia em Bruxelas e possua plantas para permuta. O botnico belga responde a 11 de Maro de 1904: que je pourrai, []
De facto os trabalhos que publica entre 1902 e 1904 subentendem rduo labor. Poder significar que nos primeiros anos (entre 1896 e 1900) G. Sampaio ter essencialmente feito herborizaes e s depois, qui pelas dificuldades surgidas pela identificao dos espcimes que tinha em mos, contactou com os colegas rubologistas? 58 Todavia a correspondncia sobre os Rubus ultrapassar o ano de 1904 e prolongar-se- intensivamente por mais alguns anos (at 1906) e, esporadicamente, at ao fim da carreira de G. Sampaio. Tambm a maioria dos exemplares de Rubus coligidos por G. Sampaio tm uma datao anterior a 1904, mas alguns ultrapassam esta data. 59 A Association Rubologique dirigida por N. Boulay tinha entrado em inactividade no fim da dcada de 1890. 60 N. Boulay e M. Bouly de Lesdain promovem, no incio da dcada de 1900, uma Rubi Praesertim Gallici Exsiccati, com material recolhido por prestigiados colectores como J. Harmand e H. Sudre, alm dos prprios promotores. Na coleco de G. Sampaio existem diversos exemplares desta exsicata. Sero estes os exemplares a que se refere a carta de 30 de Novembro de 1902?
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envoyer pour le genre Rubus une collection des formes les plus saillantes croissant en Belgique. Si en change des plantes que je vous adresse, vous croyez devoir me faire parvenir des plantes de votre contre, je vous serais trs reconnaissant de ne joindre votre envoi que des exemplaires du genre susdit. A resposta de G. Sampaio ter sido rpida e positiva dado que F. Du Pr escreve novamente a 4 de Abril, um bilhete-postal com o carimbo de Bruxelas: Je vous adresse aujourdhui par la voie de navigation, via Anvers, un paquet de Rubus. Jespre que cet envoi vous parviendra en bon tat et que vous en serez satisfait. Outro contacto ter sido com William Moyle Rogers61. W. M. Rogers concorda com a permuta (apesar de reconhecer a sua idade avanada), escrevendo numa carta datada de 20 de Agosto de 1902: I have received your letter [] I hope to be able to send you some sheets of characteristic British Rubi for the herbarium of your Academia. I am too old now to collect Rubi duplicates in any quantities; but it will give much pleasure if I can thus far be of service to you, and I shall be glad to receive such specimens of Portuguese Rubi as you may be able to send me in exchange to my home address. Existe um rascunho de uma carta de G. Sampaio endereada a W. M. Rogers com a data de 8 de Setembro deste ano. A resposta do colega britnico datada de 29 de Dezembro que iremos mencionar frente, sugere que esta carta ter de facto sido enviada. G. Sampaio responde, em francs, ao seu colega britnico: Jai reu votre aimable lettre et je vous remercie bien la forme gentile come vous avez admis ma demande. Jespre avec le plus vif intrt vos Rubus anglais, et en change je vais vous envoyer les plantes du Portugal. [] je vous adresse aujourdhui un petit paquet de ces plantes, dont je ferai prochainement un nouveau envoi. Entre les espces maintenant envoyes vous trouverez une plante que jappelle Rubus duriminius, et donc la diagnose, en franais, se trouve incluse. [] Je vous prie, alors, de examiner la plante et de me dire si je la dois maintenir comme une espce ou si, au contraire, elle est seulement une forme dj connue62. W. M. Rogers responder a 29 de Dezembro de 1902, agradecendo os Rubus que G. Sampaio lhe tinha enviado e tecendo consideraes sobre os exemplares: I thank you for your letter of the 17th [] also thanking you for the packet of Rubus specimens which reached me a few days ago [] The specimens which you have the goodness to send me now are very interesting. I now remark on them []. Ter ocorrido novo envio de Rubus para W. M. Rogers e um pedido de opinio sobre as identificaes apostadas, dado que o rubologista britnico responder a 25 de Janeiro de 1904: I thank you for kindly sending me your Rubus specimens. There

Conjuntamente com W. R. Linton eram os dois mais importantes especialistas de Rubus da Gr-Bretanha. R. duriminius foi proposto como uma variedade nova de R. bifrons em SAMPAIO (1903a). Esta a primeira correspondncia de G. Sampaio em que pede uma opinio sobre a identificao de um exemplar de Rubus.
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can, I think, be no doubt that the R. Questierii is rightly so named, and I am glad to find that it extends into Portugal [] But I regret to say I find myself quite unable to give definitive names to all the other specimens. So far as I can judge from the pieces you have sent, we have nothing in the British Isles quite like any of them. Ainda ter ocorrido mais um envio de Rubus por G. Sampaio. W. M. Rogers escrever a 7 de Outubro deste ano de 1904: I am much obliged to you for the beautiful specimens of Rubus inflexus which I am very glad to place in my herbarium. I have examined them very carefully and I believe that while they present many features which strongly recall our 3 species, [] your plant really differs from these at least as much as they do from each other. It seems quite distinct (as compared with these) in its []. G. Sampaio tambm contacta com o rubologista ingls W. R. Linton solicitando permuta, o que aceite. Em carta datada de 11 de Setembro de 1904, W. R. Linton escrevia: Jaurai plaisir de vous envoyer une selection de British rubi, aussitt que je pourrai les preparer. Si vous avez des formes de genus [] je voudrai bien les recevoir en change. Outro contacto ainda foi com M. Gandoger63. Mas este colega aparentemente no teria na altura Rubus disponveis, dado que responde em carta endereada de Arnas, Villefranche Rhne e datada de 24 de Agosto de 1902, Je viens de recevoir votre aimable lettre, et je mempresse de vous dire que je recevrai avec beaucoup de plaisir vos plantes de Portugal. En retour, je vais vous envoyer un bon paquet de plantes rares de France [] Je possde 7 800 espces pour changer ; il me sera donc facile de vous ddommager. En 1903 je rcolterai des Rubus, genre que je connais trs bien, ayant publi des ouvrages sur lui. Si vous avez des espces de ce genre dterminer, envoyez-les moi, avec des numros, je vous en donnerai les noms exacts. G. Sampaio envia plantas para M. Gandoger. No entanto, o botnico francs no tinha Rubus para permutar, dado que escreve a 2 de Dezembro deste
Michel Gandoger realizou intensssimas herborizaes na Pennsula Ibrica. Publica em 1910 na editora Hermann de Paris o Novus conspectus Florae Europae sive enumeratio systematica, uma listagem de 27.000 espcies descritas at data em floras europeias. Num manuscrito intitulado Catalogue des plantes rcoltes en Espagne et en Portugal pendant mes voyages de 1894 1912 destinado publicao na editora Hermann, M. Gandoger listava 7.403 txones de vasculares ibricos, que havia recolhido nas suas herborizaes ou permutado com outros botnicos. Em cada taxon era indicada a localidade da observao. Escrevia no prefcio datado de Maro de 1917: Ce Catalogue est le rsultat des rcoltes faites dans la Pninsule ibrique pendant mes vingt et un voyages botaniques. [...] Ils avaient pour but lexploration mthodique et aussi complte que possible de lEspagne et du Portugal, en visitant les localits ou aucun botaniste navait t [...] Les rsultats de ces longues, pnibles et coteuses recherches ont t satisfaisantes, puisque indpendamment des localits, un grand nombre despces nouvelles voire mme des genres sont venus enrichi cette Flore merveilleuse, unique en Europe. [...] Afin de rendre plus complet ce Catalogue jy ai ajout dautres plantes reues de mes correspondants [...] cet ouvrage [...] peut donc tre considr, semble-t-il, comme le plus complet qui existe pour la Flore hispano-portugaise. O importante trabalho de estudo da flora ibrica feito por M. Gandoger era reconhecido num artigo escrito por PAU (1897), onde se pode ler: Pocas excursiones han sido hechas en estos tiempos por botnicos extranjeros que puedan compararse las practicadas por nuestro amigo: exceptuando las de Porta, no conozco otro alguno que haya recogido tanta variedad de plantas y tan notables [] A bibliografia de M. Gandoger est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/, onde se encontra este manuscrito, assim como o trabalho de C. Pau.
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ano de 1902: Jai reu votre paquet de plantes en bon tat, ainsi que vos savantes brochures botaniques. Je vous en remercie bien. Aujourdhui je vous envoi, en retour, un paquet de plantes. Je regrette de ne pouvoir vous donner des Rubus, car, en ce moment je nen ai pas de doubles, et quand vous mavez crit, il tait trop tard pour en rcolter, car les plantes taient dfleuries. Mais en 1903, je rcolterai des Rubus pour vous et beaucoup dautres plantes que je vous enverrai avec plaisir. No catlogo de plantas ibricas de M. Gandoger, datado de 1917, so referenciados muitos exemplares de rubus recolhidos em Portugal, incluindo espcies de G. Sampaio64. muito provvel que estes exemplares tenham sido os enviados por G. Sampaio entre Agosto e Dezembro de 1902. A correspondncia entre G. Sampaio e M. Gandoger acaba aqui e na coleco de Rubus coligida por G. Sampaio no existem exemplares deste botnico francs, pelo que conclumos que M. Gandoger no ter concretizado o envio dos exemplares que referia na carta datada de 2 de Dezembro. Tambm em 1902, G. Sampaio ir escrever a W. O. Focke, um dos mais eminentes rubologistas da poca. G. Sampaio seguramente consultou o trabalho monogrfico clssico de FOCKE (1877)65. Ter sido J. Henriques quem ter dado o endereo do botnico alemo a G. Sampaio, dado que podemos ler numa carta datada de 4 de Novembro de 1902: A direco do Focke a seguinte: []. Entre Agosto de 1904 e Maio de 1905 existem seis cartas ou bilhetes-postais que so importantes para avaliar a contribuio deste rubologista alemo no estudo dos Rubus por G. Sampaio. A primeira correspondncia de W. O. Focke para G. Sampaio datada de 12 de Agosto de 1904, e mostra que o botnico portuense lhe tinha enviado exemplares de Rubus pedindo uma opinio ao especialista alemo. Num bilhete-postal com o carimbo de Bremen, W. O. Focke escreve sucintamente: Cest avec beaucoup de plaisir que jai reu vos chantillons. Je nai pu jusqu prsent que trs peu de rameux de Rubi recolts dans votre patrie. Je pense que votre no. 1 (beirensis) soit le []. Segue-se uma srie de identificaes, mas W. O. Focke remete para mais tarde uma resposta detalhada: Aprs une comparaison exacte je vous crirai plus-en-dtail. Je vous serai trs oblig pour la collection de Rubi portugais, que vous avez la bienveillance de vouloir menvoyer. W. O. Focke escreve de facto uma resposta mais detalhada logo trs dias depois. Numa carta endereada de Bremen e datada de 15 de Agosto, W. O. Focke comea por reconhecer que, pelas identificaes enviadas, G. Sampaio j conhecia bem os Rubus: les dterminations des Rubi, que vous avez eu lobligeance de menvoyer,
No manuscrito citado na nota anterior, nas pginas 113-114, so citadas as seguintes espcies de Rubus da autoria da G. Sampaio, com exemplares recolhidos em Portugal: R. Henriquezii, R. minianus. So ainda citados exemplares portugueses de outras espcies deste gnero. 65 Existe no esplio documental de G. Sampaio um exemplar desta monografia com um carimbo da Academia Polytechnica e anotaes de G. Sampaio em diversas pginas. Apesar do texto principal ser escrito em alemo, todas as espcies so descritas em latim.
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rendent tmoignage dune tude approfondie. Pour cette raison jattendrai avec beaucoup dintrt votre travail sur les Rubi de votre pays. Segue-se uma lista com a identificao de sete exemplares (teriam portanto sido os enviados anteriormente por G. Sampaio). Algumas identificaes encontramse rasuradas a lpis por G. Sampaio. Para o exemplar no 1, identificado por W. O. Focke como R. obtusangulus Gremli, o nome est emendado para R. caldasianus66. Quanto ao exemplar n.o 2, identificado por W. O. Focke como R. incurvatus Bab., o nome est emendado para duriminius?67. Reconhecendo a qualidade do trabalho de G. Sampaio e a dificuldade deste grupo de plantas, W. O. Focke pede ento, na carta, que o colega portuense lhe envie exemplares, mas s se forem de txones novos para a cincia: La dtermination de ces plantes extrmement voisines est toujours assez prcaire, quand on ne peut examiner que des rameaux secs. [] Spare de mon herbier gnral je possde une collection riche dchantillons authentiques des Rubus de lEurope. Je vous serais trsoblig pour des contributions cette collection, si vous publierez des formes de Rubus sous noms nouveaux. Pour une collection des Rubus du Portugal je vous serais trs-reconnaissant68. G. Sampaio ter rapidamente enviado um segundo lote de Rubus, porque logo a 8 de Setembro, recebe nova carta de W. O. Focke, endereada de Bremen. Lamenta no poder enviar em troca material equivalente: cijoint vous trouverez mes remarques au sujet de vos Rubi. [] Je vous serai trs-oblig pour toutes les plantes que vous voulez avoir lobligeance de menvoyer. Je regrette seulement que je ne sois pas prpar de vous faire un envoi quivalent en change. Toutefois jespre que lHerbier public de cette ville maidera de runir une collection utile. Veuillez bien me faire savoir vos souhaits ; peut-tre il me sera possible de vous procurer lun ou lautre de vos desiderata. Numa folha parte dentro do envelope encontramos uma lista intitulada: Rubi de M. Sampaio, 2. envoi. Segue-se uma lista de seis exemplares identificados por W. O. Focke. Mais uma vez, G. Sampaio rasurou a lpis algumas das identificaes de W. O. Focke, de que discordava. No exemplar n.o 1, identificado por W. O. Focke como R. pericallusi (esta espcie no era reconhecida por G. Sampaio como existente em Portugal), o nome est emendado para R. peratticus69. Quanto ao exemplar n.o 2, no identificado por W. O. Focke, mas com a seguinte anotao: elle parat tre plus proche du R. incurvatus, mais je ne connais aucune forme exactement correspondante, o nome est emendado para R. peculiaris70. Relativamente ao exemplar n.o 5, identificado como R. affinis, W. O. Focke escreve que este exemplar era semelhante ao
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Espcie nova proposta em SAMPAIO (1903a). Variedade nova de R. bifrons proposta em SAMPAIO (1903a). 68 Saliente-se a utilizao por W. O. Focke da designao de amostras autnticas. 69 Espcie nova proposta em SAMPAIO (1904c). 70 Espcie nova proposta em SAMPAIO (1904c).

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n.o 2 do primeiro envio (que tinha sido identificado como R. incurvatus). G. Sampaio discorda, e considera o n.o 2 do primeiro envio como R. duriminius e este como R. subincertus71. A correspondncia entre G. Sampaio e W. O. Focke continuar aps a publicao da monografia em Dezembro de 1904. No entanto podemos afirmar que aparentemente, nesta altura, W. O. Focke desconhecia as publicaes de Sampaio de 1902 e 1904 sobre os Rubus portugueses, dado que no identificou nenhuma das plantas enviadas por G. Sampaio como sendo uma das suas espcies novas. Se atendermos ao que G. Sampaio escrever na sua monografia, os contactos com H. Sudre tero sido contemporneos com os de W. O. Focke, mas a primeira correspondncia que temos deste rubologista francs data j de 2 de Dezembro de 1904. Este documento importante porque mostra que G. Sampaio enviou exemplares de Rubus para H. Sudre, que este lhe deu a sua opinio sobre as determinaes que tinha feito e que G. Sampaio ter participado na exsicata Batotheca Europaea72. No bilhete-postal de 2 de Dezembro de 1904 com o carimbo de Toulouse, podemos ler: Votre colis mest parvenu ces jours-ci seulement ; vos matriaux seront utiliss lan prochain, car le 2e. fascicule est dj distribue. Jtudierai vos spcimens, mais ds maintenant je peu vous dire que R. []. G. Sampaio tambm contacta com o botnico austraco August Hayek solicitando permuta de Rubus. Em bilhete-postal datado de 13 de Fevereiro de 1904, A. Hayek respondia positivamente: Je suis bien prt dchanger des plantes et de vous envoyer une collection de Rubus de lAustriche. Mais prsent je nen ai que deux ou trois chantillons, mais lt prochain jen veux recueillir assez et les vous envoyer. Sil vous plait, je vous pourrait aussi vous prter toute ma collection pour quelques semaines, pour tudier les formes, mais a ne sera possible que lautomne prochain. Na carta seguinte j datada de 1906, A. Hayek refere-se coleco de Rubus colhidos por Sabransky. O facto da coleco de Rubus de G. Sampaio conter diversos exemplares de Rubus colhidos por A. Hayek com data de 1904, e o facto de G. Sampaio no seu trabalho monogrfico publicado em Dezembro de 1904 agradecer a permuta de Rubus com este rubologista austraco, sugere que, apesar de serem em nmero reduzido, A. Hayek ter de facto enviado a G. Sampaio exemplares de Rubus, aps esta carta de 13 de Fevereiro de 1904. G. Sampaio ter retribudo com um lote de Rubus, cuja recepo agradecida pelo botnico austraco numa carta com o carimbo de Viena e datada de 10 de Abril de 1906: il me faut

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Espcie nova proposta em SAMPAIO (1904b). A Batotheca Europaea foi talvez a mais importante exsicata de Rubus e a sua distribuio coincide com a elaborao do trabalho de G. Sampaio. Os fascculos I e II desta exsicata foram distribudos em 1903 e 1904 e o fascculo III em 1905 (como adiante ser referido) e, cada um, constava de dezenas de exemplares. Os colectores eram os melhores rubologistas da poca: W. O. Focke, G. Genevier, G. Mller e H. Sudre e diversas espcies distribudas eram ilustradas por exemplares recolhidos pelos autores das espcies.

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vous remercier beaucoup pour les plantes portugaises que vous mavez envoy et aussi pour les rubus trs interessants, enfin aussi pour vos travaux botaniques qui minteressaient beaucoup. Os contactos estender-se-o aos rubologistas escandinavos. Entra em contacto com L. M. Neuman. Procurando permuta de Rubus o botnico sueco responder a 20 de Fevereiro de 1904: Avec beaucoup de plaisir je vous enverrai ronces de notre pays [Sucia]; si vous voulez signer les espces desires dans Herbarium Suecium que je vous remets crois. Si vous dsiriez autres plantes de Rubi, vous pouvez signer aussi ces espces ! Les genres que je desire sont [] Peut-tre avez-vous une liste des plantes que vous voulez changer. Perante esta resposta positiva, G. Sampaio ter enviado exemplares de Rubus para L. M. Neuman que responde a 26 de Maro de 1904, discordando de uma das identificaes: Aujourdhui jai reu vos plantes. Votre lettre arriva dj 11/3. Rubus pulcherrimus que vous avez dtermin, nest pas le mien ! Bientt je vous enverrai des plantes que vous avez demandes73. Naturalmente, G. Sampaio contactou com os colegas espanhis, Baltasar Merino74 e com Carlos Pau75. O contacto inicial ter sido com B. Merino. G. Sampaio tinha especial interesse em contactar com B. Merino, dado que este botnico jesuta se encontrava a publicar uma flora da Galiza76, e a flora desta regio de Espanha tem muitas afinidades com a flora do Minho portugus77. No Vero
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Existe na coleco de Rubus de G. Sampaio diversos exemplares recolhidos por este botnico sueco. Sero provavelmente estes a que esta carta se refere. 74 Bibliografia de B. Merino est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ 75 Bibliografia de C. Pau est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ 76 P.e Merino estudava a flora galega desde finais do sculo XIX. Os resultados iam sendo apresentados nas publicaes da Real Sociedade Espanhola de Cincias Naturais (MERINO, 1901, 1902, 1911). Escrevia em 1901: iremos, desde luego, por medio de algunas notas, adelantando la noticia de las especies raras, nuevas criticas que hemos tenido la buena fortuna de encontrar. PAU (1899) apreciava da seguinte forma o trabalho do jesuta no conhecimento da flora galega: Si Espaa contara con unos cuantos colectores como el Rd. P. Merino, sera tan conocida su flora como la de la Europa Central [...] Escrupuloso y atento, ha recogido dicho naturalista los ejemplares una y mil veces hasta presentar las formas pertenecientes especies dudosas criticas en las condiciones de satisfacer los ms exigentes deseos. Llevado del amor la verdad ha repartido sus recolecciones con una libertad que no estamos acostumbrados. Sin recelos ni temores, sin falsa vanidad amor propio, sin prevencin alguna ni miedo ser juzgado, comunica sus creaciones, conocedor del inconveniente que trae el aislamiento. No ignora que el campo de la ciencia es tan vasto que cabemos en l holgadamente todos; y en su consecuencia, ha procurado aumentar sus relaciones, dando repartir, por medio de algunos amigos, sus plantas; y en verdad que veces no se le ha hecho justicia, omitiendo su nombre en algunas etiquetas [...] Otro de los mritos del P. Merino consiste en que con sus trabajos ha contribuido al conocimiento de la flora gallega, que era por extremo imperfecto; ha vulgarizado lo que ayer apenas se conoca; ha hecho con la flora de Galicia lo que Costa con la catalana, Loscos y Pardo con la aragonesa y Boissier con la granadina. Deben estar muy agradecidos los gallegos al P. Merino, y la Sociedad Espaola de Historia Natural muy orgullosa en contar entre sus miembros un socio cuya laboriosidad puede competir con la de los ms activos que conocemos. 77 A originalidade da flora galega e o seu deficiente conhecimento eram salientados por MERINO (1901): no es [...] la Flora espaola, entre las europeas, la mejor conocida (por falta, sin duda, de suficiente nmero de cultivadores de la botnica sistemtica), y que entre las varias regiones de nuestra pennsula quizs la gallega sea de las menos exploradas [...] La regin donde hemos logrado penetrar el verano pasado, estoy casi seguro que no se ha sido pisada por ningn botnico; la multitud de especies raras, en su gran mayora nuevas para la Flora gallega, lo da bastante entender. Tambm PAU (1899) salientava a originalidade da flora galega: Es preciso conocer fondo la flora gallega para darse cuenta de la extraeza que

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de 1902, G. Sampaio ter-se- mesmo deslocado ao Colegio del Apstol Santiago em La Guardia com o objectivo de conhecer B. Merino e o seu herbrio, mas o encontro no se realizou. G. Sampaio ter levado e deixado para B. Merino alguns dos trabalhos que tinha publicado. B. Merino escrever para G. Sampaio a 20 de Novembro de 1902 informando-o que tinha de facto muitos Rubus galegos, mas que era C. Pau quem estava no momento a elaborar um estudo monogrfico deste gnero, disponibilizando-se para o apresentar a C. Pau: En todo el tiempo que he empleado en recorrer Galicia, he reunido arriba de 1700 especies, tantas mas como las que contiene la Flore de lOuest de France de M. Lloyd. Pero si no fue posible verle y tratar V. en la ocasin predicha, cbeme la esperanza y satisfaccion de que por la prxima Pascua, como V. me asegura, tendr el placer de verle por aqu. [] He leido con sumo gusto los opsculos acerca de la flora de los contornos de O Porto que V. ha tenido bien dedicarme, asi como tambien la lista de exsiccata que publica el Boletim da Sociedade Broteriana donde con frecuencia aparece el nombre de V. Por lo que antecede fcilmente comprender V. que mis estudios se dirigen la Flora general de Galicia, la cual, puede decirse, que todava no existe; pues pasan de 400 especies las que he encontrado y que eran desconocidas en este pais. Por esta razon, y porque mi amigo el Sr. Pau, eminente botanico de Segorbe, me rog le enviase cuantas muestras encontrase yo del genero Rubus en Galicia, porque pretendia componer una monografa de las especies espaolas de dicho genero, monografa que llenaria el vacio en la flora nacional, al mencionado botanico he remitido ejemplares de todo. Ya tiene clasificados bastantes especies y formas gallegas, faltandole solo unas pocas. Asi que termine su trabajo las especies de Galicia procurar yo reunirlas, pues conservo ejemplares de todas de casi todas, para que V. las vea y examine, si en ello tiene V. interes. Tambien puedo poner V. en relacion con dicho Seor, quien experimentara en ello verdadera satisfaccin. Espero que para la Pascua habr completado el estudio de los Rubus, y entonces podr tener el gusto de ponerlos disposicin de V. por todo el tiempo que V. le acomode, llevarse ejemplares de los duplicados []. Aps ter recebido esta carta, G. Sampaio ter rapidamente enviado um pacote de plantas para B. Merino, que inclua algumas das espcies novas de que era autor, dado que o botnico jesuta responde a 22 de Dezembro do Colgio do Apstolo Santiago: [] le doy miles de gracias por los bellos ejemplares de plantas que ha tenido V. la bondad
siente el botnico al revisarla: se est en presencia de una flora de transicin en la cual el meridional se encuentra embarazado al determinar los ejemplares. Mi sorpresa, en vista de los envos que antes hice referencia, iba siempre en aumento: cada nuevo envo aumentaba las dificultades, por cuanto la mayora de las plantas pertenecan formas ms menos diferenciadas de la especie clsica. Es un mundo aparte el Cantn gallego, del cual pueden publicarse millares las formas nuevas, inundando de especies la flora de la Pennsula. Por lo tanto, hay que admirar el prudente criterio y buen juicio del Rdo. P. Merino, cuando, pudiendo publicar gran nmero de tipos nuevos, se redujo hacerlo nicamente de los ms importantes. Estes comentrios de C. Pau so melhor compreendidos se atendermos ao facto de viver na Catalunha e ser sobretudo conhecedor da flora mediterrnea do sul de Espanha.

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de emitirme y muy especialmente las especies que V. ha descubierto. [] El Sr. Pau me ha escrito repetidas veces deseando que le pongo yo en relacion con alguno algunos botanicos portugueses. Teniendo pues seguridad de estos sus deseos sin la menor dificultad puede V. desde luego escribirle manifestandole con entera franqueza de pensamiento [] Por mi parte tiene V. su disposicin mi Herbario de plantas de Galicia []. A contribuio de G. Sampaio para a flora galega de B. Merino aparecer explcita na obra do jesuta galego publicada em 1905 (volume I), de que falaremos frente. C. Pau iria descrever formalmente, em 1904, uma nova espcie de Rubus, R. merinoi, em homenagem precisamente ao seu colega galego. Esta espcie encontrava-se restringida ao noroeste de Espanha e portanto interessava sobremaneira ser conhecida por G. Sampaio. O botnico portuense ter escrito a C. Pau pedindo exemplares de Rubus, em particular deste R. merinoi. C. Pau responde a 25 de Agosto de 1902, prometendo enviar a espcie pedida (em troca de Rubus portuenses), mas reconhecendo que alguns dos exemplares que tinha no estavam completos porque no apresentavam amostras do turies: Del Rubus Merinoi no poseo ms que un solo ejemplar, que proporcionar V. apenas pasen unos das, pues [] tengo bastante que hacer en las plantas de mis amigos espaoles. Ya me lo devolver V. cuando le convenga pero no tengo prisa por hoy. No creo que V. haga [] esta especie. En las muestras del P. Merino hay un inconveniente, porque la inmensa mayora, salvo todo, los ejemplares de aos atrs, no trae fragmentos de ramos estriles (turiones). No me cabe duda alguna de que muchas especies propuestas por V. existen en Galicia y existen en mi coleccin; algunas coincidirn con las especies V. indicadas, pero no han sido publicadas esperando que el P. Merino me las completar. Si de ellas poseyera ms de un ejemplar yo se lo proporcionar V. Ah en las cercanas de Oporto existen, segn los autores, bastantes formas propias de Portugal y que no poseo; quedara muy agradecido a V. [] pudiera proporcionarmelas para mi coleccin. No tengo prisa en recibir las plantas que V. me ofrece; poco poco [] V. lo que buenamente pueda []. Poucos dias depois, C. Pau ir de facto enviar o exemplar do R. merinoi que tinha, aproveitando para tecer algumas consideraes sobre este gnero de rosceas. Escrevia a 11 de Setembro de 1902: Remito la muestra del Rubus Merinoi para que V. la conozca. No tengo otro ejemplar; tener otro, no tendra inconveniente en ofrecerlo V., pero V. muy bien comprender, que tratando de ejemplar nico no me es conveniente desprenderme de l. De los Rubus de V. nicamente el R. Henriquesii Samp.[] ha sido recogido por el P. Merino a Cabaas (Ancarez) [] El R. lusitanicus no ha sido recogido por el P. Merino. Todava, en Galicia, mi no me lo ha remitido. G. Sampaio tambm trocou opinies sobre os Rubus com os seus colegas portugueses, mas tanto J. Henriques como A. X. Pereira Coutinho aparentemente no se mostravam muito vontade

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neste gnero de rosceas. No entanto, os seus colegas auxiliaro G. Sampaio com informaes importantes. Em homenagem aos seus colegas, G. Sampaio ir dar o nome de cada um deles a uma espcie nova de Rubus. Em carta datada de 4 de Novembro de 1902, J. Henriques envia a transcrio da diagnose de uma dada espcie de Rubus. Provavelmente, G. Sampaio no teria acesso obra em causa. Tambm neste ano, G. Sampaio ter pedido ao seu colega de Coimbra o emprstimo dos exemplares que o Herbrio tivesse deste gnero. Na mesma carta ter informado o seu colega da nova espcie de Rubus que lhe dedicava, Rubus Henriquesii Samp.78. J. Henriques responde, em carta datada de 24 de Novembro de 1902, reconhecendo que os exemplares de herbrio que tinham no estariam completos: Pelo correio de hoje vam as plantas europeias que aqui escolheu e vam tambm os Rubus de que h exemplares [duas espcies de Rubus] e que devem ser devolvidos. Muito agradeo a sua amabilidade de me dedicar um Rubus. Bom ser que seja espcie firme. um dos gneros mais intricados e infelizmente os exemplares do herbrio de Coimbra so bem incompletos. Em futuras exploraes, haver o cuidado necessrio para colher exemplares em boa ordem. G. Sampaio dedicar tambm um Rubus ao seu colega de Lisboa R. Coutinhi Samp.79. A. X. Pereira Coutinho escreve para G. Sampaio a 1 de Fevereiro de 1904: Recebi hoje a carta de V. Exa. de 30 de Janeiro, que muito agradeo, bem como a amavel lembrana de V. Exa., dedicando-me o novo Rubus que estudou. Como digo na Introduo do trabalho s Rosaceas, todo aquelle estudo dos Rubus apenas apresentado como um prvio desbravamento do caminho, sem base solida, para a qual
Seria publicado em SAMPAIO (1904a). Rubus Coutinhi foi publicado em SAMPAIO (1903b). No entanto, em trabalhos posteriores (SAMPAIO, 1914b), provavelmente por sugesto de W. O. Focke, G. Sampaio considerar esta espcie como uma j descrita, R. Lespinassei Clav. Como referimos atrs, G. Sampaio tinha sido muito crtico em relao ao trabalho publicado pelo Conde de Ficalho e A. X. Pereira Coutinho sobre os Rubus portugueses (o trabalho estava includo numa monografia sobre as Rosceas de Portugal). O trabalho tinha sido publicado no volume XVI do Boletim da Sociedade Broteriana. Estes dois botnicos de Lisboa tinham utilizado material de herbrio muito diversificado (do Herbrio da Escola Politcnica, exemplares recolhidos por Welwitsch, J. Daveau, A. Ricardo da Cunha, do Herbrio da Universidade de Coimbra, exemplares recolhidos por J. Henriques, A. Mller, M. Ferreira e os herbrios europeu e de Willkomm), mas os exemplares no estavam completos. De acordo com a abordagem da poca do gnero Rubus, das caractersticas mais importantes para separar as diferentes espcies salientavam-se as dos turies e dos rgos florais (principalmente das spalas). Os exemplares dos bons Herbrios apresentavam sempre um fragmento do turio e as spalas parte e/ou uma descrio destes componentes da planta. As limitaes eram no entanto perfeitamente enunciadas e correctamente identificadas pelo seus autores, na introduo do trabalho. Depois de afirmar que o gnero Rubus (assim como o gnero Rosa) era de estudo intrincadssimo, que absorve hoje na Europa a atteno unica de distintos especialistas; e cuja determinao especifica, alm de exemplares muito perfeitos, pede uma longa preparao inicial. A determinao dos nossos Rubus apenas a podemos apresentar como previo desbravamento de caminho, que s de futuro poder conduzir verdade, depois de novas herborizaes e de exames mais profundos e mais fundamentais. , decerto, auspicioso o numero elevado das especies que apontmos [Brotero s tinha considerado duas espcies; neste trabalho eram reconhecidas 12], e que nos parecem bem distintas; mas a determinao de vrias forosamente sujeita a bastantes duvidas. Nem smos especialistas no assumpto; nem os exemplares trazidos pelos nossos collectores so sempre completos; nem podemos consultar as numerosas obras que seria preciso; e, por ultimo, nem sempre tinham authenticidade bem garantida os exemplares do herbario europeu com que comparmos os nossos das varias especies no representadas no herbrio de Willkomm. Esta ltima frase importante porque demonstra que os autores no tinham material de herbrio de qualidade suficiente para comparao.
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nos faltavam a mim e ao Conde de Ficalho, estudos especialisados, livros e exemplares completos. Toda essa parte do nosso trabalho repousa sobre aproximaes apenas, mais ou menos plausiveis. Acredito que, principalmente no genero Rubus, o exame das plantas vivaz de primeira importancia para a classificao; e acho que V. Exa. presta um assignalado servio nossa Flora proseguindo no estudo de um genero composto de especies to criticas e to confusas. Muito me obsequeia V. Exa. remettendo os exemplares que tiver disponiveis das frmas da nova especie, e peo desde j que se no esquea de me enviar um exemplar do seu artigo, que vou lr com o maior interese, e desejo colleccionar ao lado dos outros elementos da Flora Portugueza, que tenho reunidos. Como V. Exa. se tem dedicado bastante ao estudo deste genero Rubus, tambem muito me obsequeia, quando tiver tempo e occasio para isso, enviando-me uma lista das especies e variedades que encontrou at hoje em Portugal e no vem mencionadas no meu trabalho e do C. de Ficalho, e bem assim incluindo as especies marcadas neste trabalho, e que, segundo a sua opinio, devem mudar de denominao especfica. claro que se tiver disponivel alguns exemplares das especies alli no mencionadas, muito os agradeo egualmente, para os incluir no herbario da Polytechnica. O tom positivo, a atitude construtiva. A resposta de G. Sampaio ter sido rapidssima, dado que logo a 5 deste ms de Fevereiro, h uma nova insistncia de A. X. Pereira Coutinho: na lista dos Rubus que me enviou desejo uma poucas de especies novas, e algumas outras cujas diagnoses no tenho nos livros que aqui possuo, e como sei que se tem dedicado muito ao estudo deste intricadissimo genero, peo-lhe que, quando para isso tenha occasio opportuna, me d uma chave resumida das especies enumeradas, que, supponho, no lhe dar trabalho de mais. Tenho feito, para meu uso, as chaves dichotomicas de todas as especies nas differentes familias, chaves que vou sucessivamente corrigindo com as observaes proprias e com todas as notas alheias sobre a flora portugueza, medida que as vou encontrando. possivel que num futuro mais ou menos remoto, se as chegar a vr no grau de perfeio que lhe quero dar, me resolva a publical-a como livro elementar de facil consulta. exactamente neste sentido, e no elemento importante para a parte que tenho sobre os Rubus, que lhe fao este pedido, caso, torno a repetir, isso no lhe d trabalho de maior80. Sintetizando, a correspondncia entre G. Sampaio e os colegas europeus, com dataes anteriores publicao da monografia sobre os Rubus portugueses (Dezembro de 1904), permite concluir que, em termos de opinio sobre identificaes de espcimes e sobre a taxonomia do gnero, tero sido M. Bouly de Lesdain, W. O. Focke, L. M. Neuman e W. M. Rogers, os rubologistas que mais contribuiram para este trabalho de G. Sampaio. Em termos de material de herbrio, as
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Sobre a colaborao mtua entre A. X. Pereira Coutinho, J. Henriques e G. Sampaio ver Captulo IX.

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contribuies tero sido mais vastas. G. Sampaio ter permutado Rubus com M. Bouly de Lesdain, A. Hayek, W. R. Linton, L. M. Neuman, C. Pau, F. Du Pr, W. M. Rogers e H. Sudre. Estas concluses retiradas da anlise da documentao epistolar concordam com a informao contida na monografia de 1904, indicando que a documentao epistolar que chegou at hoje muito completa81. 5. Reaces ao trabalho Quais as reaces ao trabalho Rubus portuguezes publicado em Dezembro de 1904? A primeira reaco de W. O. Focke que escreve uma carta endereada de Bremen e datada de 31 de Dezembro de 1904. W. O. Focke agradece o trabalho e indaga sobre a coleco que G. Sampaio teria prometido enviar: Je viens de recevoir votre trait sur les Rubi Portugais, et je vous prie de vouloir bien accepter mes remerciments sincres. Dans un groupe despces extrmement affines il est, pourtant, trs difficile de connatre les plantes dcrites sans une comparaison dchantillons desschs, si lon ne peut pas tudier les buissons vivants. Vous avez eu lobligeance de mannoncer une collection de Rubi Portugais et je vous serais trs reconnaissant pour un tel envoi. No fim da carta em forma de post-scriptum, W. O. Focke escreve uma observao interessante: Est-ce que vous possdez des graines de vos Rubi qui pourront servir des essais de culture ?. W. O. Focke ter ficado surpreendido com o trabalho de G. Sampaio, tanto mais que desconheceria os trabalhos anteriores publicados pelo seu colega portuense. W. O. Focke prudente, no quer emitir opinio sobre o trabalho de G. Sampaio porque no tinha observado material suficiente. Por isso insiste para que G. Sampaio envie a coleco que tinha prometido. A pequena frase que escreve no fim da pgina parece uma re-insistncia como quem ficou pensativo e quer resolver uma dvida. W. O. Focke ter ficado intrigado ou duvidoso da proposta de taxonomia que G. Sampaio propunha para os Rubus portugueses e ter querido verificar o trabalho, observando as espcies novas em fresco e depois de secas? 82 Tambm M. Bouly de Lesdain reage rapidamente ao envio da monografia de G. Sampaio. Em carta endereada de Dunquerque e datada de 9 de Janeiro de 1905, escrevia: Jai reu aujourdhui votre trs intressante brochure sur les Rubus du Portugal et avec tous mes remerciements, je suis heureux de pouvoir vous adresser toutes mes flicitations. Au lieu dun simple catalogue, vous avez fait un travail que tous ceux que soccupent de Rubus aurait toujours le plus grand intrt consulter.

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A principal discrepncia diz respeito a H. Sudre, onde s temos correspondncia muito tardia (a partir de Dezembro de 1904). 82 A troca de sementes entre Herbrios era nesta poca vulgar e corrente e tinha como um dos objectivos, cultivar espcies exticas ou desconhecidas para obter as plantas completas, poder observ-las frescas, e sec-las para preparar exemplares para o herbrio. Ver Captulo XIII.2.

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Em Fevereiro de 1905, num bilhete-postal datado do dia 19, B. Merino reconhecia as suas dificuldades com os Rubus, e ter visto em G. Sampaio um colega que o poderia ajudar: A pesar de lo mucho que me sirve la monografa de V. sobre los Rubus portugueses, seria para mi de gran satisfaccin someterlos al criterio de V. se es que V. se anima revisarlos. En esta ciudad estoy imprimiendo la Flora de Galicia (cerca de 1,700 especies) y dentro de un mes prximamente vendr la impresin del genero Rubus, de modo que con el parecer de V. confirmando reformando el mio, las especies que yo describe llevarian el sello de la certidumbre que es lo que pretendo. A resposta de G. Sampaio ter sido rpida e afirmativa, dado que logo a 27 deste ms de Fevereiro, B. Merino escrevia para G. Sampaio: Hoy remito la coleccin de Rubus que he recogido en Galicia. Como mi proposito fue que los examinara y estudiara el Sr. Pau, preferi enviarselos completos l anque los mios quedaran deficientes. Asi es que van algunos ejemplares sin turiones. Leyendo la monografa de V. acerca de los Rubus portugueses noto que los gallegos son casi los mismos, y aunque el Sr. Pau me dio algunas determinaciones, pero como nuestros Rubus se apartan tanto de los generalmente conocidos, en algunas determinaciones ha debido cuidar cerca, pero no con la especie verdadera. V. tiene no solo ejemplares en abundancia, sino que conserva fresca la reminiscencia de los caracteres, podr con relativa facilidad y con seguridad determinar aquellos que lo pueden ser los que no tengan suficientes elementos, dejelos hasta que busque mejores ejemplares. Segue-se uma lista de 46 exemplares, a maioria identificados, mas alguns sem identificao, e outros identificados mas interrogados. En los nombres puestos me refiro la obra de V. Confieso que con la clase de ejemplares que van, tan deficientes bajo muchos conceptos, pues se necesitaria haber tenido aficion al tiempo de la recoleccion para hacerlo con ms cuidado, solo V. por la razon antes dicha puede descifrar algunos si quiera. Algunas de las especies que indico me parecen indubitables; pero en esto como en todo lo dems estoy su criterio. B. Merino confiava assim plenamente no conhecimento que G. Sampaio tinha dos Rubus, reforado pela ideia correcta que a flora galega era muito prxima da minhota e que C. Pau, no to bom conhecedor da flora do noroeste peninsular, estaria menos habilitado para a determinao dos Rubus galegos. Mais uma vez a resposta de G. Sampaio ter sido rpida, porque B. Merino escreve rejubilado a 7 de Maro de 1905: Recib con gran satisfaccin su postal del 3 del corriente y lo agradezco infinito el trabajo que V. se toma en revisar las imperfectas muestras que he conservado. [] Con la monografa de V. y el libro de Focke havemos en el futuro, [] Pues por lo que yo he podido observar, Galicia es rica y variada en especies de este genero [] Un milln de gracias [] para [] estimada oferta de especies portuguesas que, a lo que yo presumo, han de ser iguales parecidas las gallegas. As contribuies de C. Pau e G. Sampaio para o estudo dos Rubus galegos

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aparecero explcitas na Flora da Galiza de B. Merino publicada em 1905 (MERINO, 1905). No texto introdutrio ao gnero Rubus, B. Merino reconhece que, para a sua elaborao, foram decisivas duas contribuies. Gracias las indicaciones de nuestro estimado y reputado botnico Sr. Pau83, y la magnifica monografa que recientemente ha dado luz el seor Sampaio sobre los Rubus portuguezes, podemos presentar un esbozo del variadsimo conjunto, no exento de novedades, que presenta los Rubus de nuestra region. Reconhece que a flora galega era muito semelhante portuguesa (minhota) e dado que existia um especialista portugus em Rubus (portugeses) para mayor garanta de acierto, no findonos de nuestro propio estudio en gnero ten complejo, resolvimos someter nuestra coleccin imperfecta [] ao exame por G. Sampaio. Como conclusion calcula el referido batlogo [G. Sampaio] que deben existir en Galicia unas 50 especies, [B. Merino estaria a incluir aqui as raas e variedades, qui tambm os hbridos] de ellas varias nuevas para la ciencia botnica cuando menos para la Pennsula Ibrica, como sucede con el R. dumnoniensis Rabington. No entanto, B. Merino adverte que, em relao ao Rubus galegos, o trabalho era provisrio: las especies de este gnero que enseguida exponemos, no son con mucho todas las de pueblan el pas galico. Termina o texto introdutrio referindo que 14 das espcies referidas na flora tinham sido determinadas por G. Sampaio e que las descripciones que siguen, excepto tres, son la obra del Sr. Sampaio traducidas compendiadas, no sin previo examen de los ejemplares. Aps a publicao deste volume da flora galega, B. Merino ofereceu um exemplar a G. Sampaio, que ter respondido, elogiando o trabalho do seu colega galego. B. Merino escreve para G. Sampaio em 8 de Outubro de 1905, em papel timbrado do Colegio del Apstol Santiago, La Guardia, voltando a prometer recolher Rubus para o seu colega portuense: La opinin que V. ha formado de mi libro me lisonjea no poco y me anima proseguir la tarea. [] En mis viajes de herborizacion he tenido en cuenta sus encargos del genero Rubus. Le remitir una abundante y, lo que yo creo, bastante curiosa coleccin, lo malo es que los ejemplares ms interesantes cogidos en los elevados picos de Ancars a 1,400-1,600 metros tardaron ms de un mes en reunir al colegio []. Em relao aos Rubus, podemos portanto concluir que G. Sampaio deu uma contribuio significativa para o estudo das espcies galegas. A colaborao entre os dois botnicos continuar at 1914. Na sequncia da publicao da monografia, G. Sampaio ter contactado os colgios ligados Broteria, onde em todos existia um herbrio. Contactou o Colgio de S. Fiel, dado que a 15 de Junho de 1905, J. S. Tavares lhe responde: Muito prazer nos dar vindo aqui estudar os Rubus. Espero que
MERINO (1901) reconhecia o auxlio de C. Pau no estudo da flora galega da seguinte forma: Sr. Pau, cuyo ilustrado criterio he sometido gustoso todas las especies galegas, que de algn modo se apartan y diferencian de las ya conocidas en otras regiones.
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no sero s as espcies desse gnero que lhe ho de interessar aqui. A estao de Castello Novo fica a 4 kilometros do Collegio. Mas o botnico jesuta decide, de qualquer forma, enviar plantas para G. Sampaio, dado que no dia seguinte, escrever: envio inclusa a guia de um caixote que leva as Labiadas do nosso herbrio e que V. Exa. ahi conservar o tempo que lhe forem precisas. Como est com a mo na massa, peo-lhe o obsequio de as rever, e de escrever num papel parte os nomes que houver de rectificar.[...] Com as Labiadas vo tambm dois Rubus do Tirol, que peo o obsequio de os determinar. G. Sampaio tinha recebido os fascculos I e II da importante exsicata Batotheca Europaea e obter tambm o fascculo III, como se constata pelo bilhete-postal de H. Sudre, com o carimbo de Toulouse e datado de 25 de Novembro de 190584: Jexpdi aujourdhui le 3e. fascicule du Batotheca. Veuillez bien men accuser rception. Je nai pas eu de nouvelles du 2e. Jespre quil vous est parvenu. Navez-vous rien rcolt cette anne?. H. Sudre estava naturalmente interessado na participao de G. Sampaio como colector desta exsicata, como se pode ler num bilhete-postal, com o carimbo de Toulouse e datado de 13 de Fevereiro de 1906: Jespre que le 3e. fascicule du Batotheca vous est parvenue, et que pour le prochain il vous sera possible de me prparer quelques centuries de Rubus. H. Sudre iria publicar uma monografia dos Rubus europeus em 1908-1913 e volta a contactar G. Sampaio em 1910. Num bilhete-postal com o carimbo de Toulouse e datado de 23 de Abril, H. Sudre escrevia: Vous me feriez plaisir en me communiquant un exemplaire (par la poste) de la plante que M. Focke appelle Rubus epidasys (R. tomentosus Samp. Rubus Portuguezes 53). Je vous la retournerai sans retard. Je dessine en ce moment les espces de la section tomentosi pour une Rubi Europae, dont le texte [...] et je voudrais bien connatre votre plante pour en parler utilement. Je regrette que vous ne vous occupiez plus de Rubus, surtout cause de mon Batotheca, qui en est aujourdhui son 7e. fascicule et qui en comportera au moins une douzaine. Esta ser a ltima carta conhecida de H. Sudre para G. Sampaio. No ter havido mais permutas de Rubus com este rubologista francs. A. Hayek, botnico austraco, j tinha permutado exemplares de Rubus com G. Sampaio, mas tendo-lhe chegado s mos uma coleco de Rubus colhidos pelo conceituado rubologista Sabransky e sabendo dos interesses do seu colega portuense, escreve a G. Sampaio a perguntar se estaria interessado nesta invulgar coleco. Numa carta datada de 10 de Abril de 1906, escrever: Par hasard jai reu juste maintenant une collection riche de Rubus de la Stirie, dont je vous peux envoyer des doublettes. Les echantillons sont presque tous receuillis par Mr. Sabransky qui demeure present Sochau dans
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Assim como pela anlise da coleco de Rubus coligida por G. Sampaio.

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la Stirie. Les spces et formes nouvelles sont dcrites dans [] Je serais bien heureux si vous pourriez menvoyer en echange de nouveau quelques plantes du Portugal. Trocar Rubus de Sabransky por espcimes da flora portuguesa era uma excelente oportunidade e G. Sampaio ter aproveitado. Apesar de no termos mais nenhuma carta deste botnico austraco, a extensa coleco de Rubus colhidos por Sabransky em 1905, uns com a etiqueta do Herbrio Hayek e outros com a etiqueta original do seu colector, que permanece na coleco de Rubus de G. Sampaio atesta que a permuta seguramente se efectivou. As permutas com W. R. Linton continuaram tambm. Em carta datada de 22 de Setembro de 1907, W. R. Linton escrever para G. Sampaio: A prsent je vous envoi toutes les plantes que je pouvais obtenir de vos desiderata. Jespre de vous envoyer un autre paquet aprs la saison prochain si je pouvais les obtenir [] Les Rubi de Portugal que vous mavez donn sont semblablement bonnes espces, et ils bien ressemblent les plantes Anglaises. Est-ce que vous avez le Handbook of British Rubi par Rev. W. M. Rogers ? [] Cest une exposition des Rubi anglais trs excellent. 6. Mais estudos dos Rubus portugueses Como organiza G. Sampaio a continuao do seu estudo sobre os Rubus, aps a publicao da monografia?85 G. Sampaio continuar a estudar os Rubus e a enriquecer a sua coleco, se bem que a um ritmo muito mais moderado86. W. O. Focke publica em 1914 a sua obra monogrfica fundamental

A obra de G. Sampaio sobre os Rubus, as suas coleces de herbrio de Rubus e a taxonomia do gnero Rubus na pennsula ibrica tem sido objecto de estudos modernos por MONASTERIO-HUELIN (1992, 1993, 1998). O conceito de espcie neste gnero hoje muito diferente do que era na gerao de G. Sampaio. Nas primeiras dcadas do sculo XX tinham j sido propostas muitas centenas de espcies neste gnero, tornando-se a taxonomia do gnero muito complexa e impraticvel. Muitas das espcies criadas nesta poca restringiam-se a reas pequenas. Muitas destas espcies no foram localizadas hoje nos locais onde foram observadas h um sculo atrs, provavelmente devido s suas caractersticas instveis. Para MONASTERIO-HUELIN, seguindo a formulao do investigador Weber, s devem ter a categoria de espcie, as comunidades de Rubus que tenham uma rea de distribuio superior a 50 km2. As comunidades de menor rea so consideradas como formas locais e podero modificar-se com alguma rapidez no tempo. O seu nmero elevadssimo e a sua instabilidade tornam-nas de muito difcil enquadramento taxonmico, sendo nos recentes tratamentos taxonmicos do gnero Rubus listadas (mas no classificadas) junto das espcies afins. Est no entanto fora do contexto deste trabalho a anlise do trabalho de G. Sampaio luz destes conceitos modernos de espcie no gnero Rubus. 86 Nos trabalhos publicados at monografia de 1904, inclusive, G. Sampaio tinha proposto os seguintes txones novos (espcies, raas e variedades) e novas combinaes no gnero Rubus, todos acompanhados de diagnose em portugus: R. bifrons var. duriminius Samp., R. caldasianus Samp., R. nitidus var. lusitanicus Samp., R. portuensis Samp., R. rhamnifolius var. australis Samp., R. trifoliatus Samp. (em SAMPAIO, 1903a); R. brigantinus Samp., R. Coutinhi Samp., R. koehleri var. gerezianus Samp., R. villicaulis ra. beirensis Samp. (em SAMPAIO, 1903b); R. Henriquesii Samp. (em SAMPAIO, 1904a); R. minianus Samp., R. subincertus Samp., R. vagabundus Samp. (em SAMPAIO, 1904b); R. peculiaris Samp., R. peratticus Samp. (em SAMPAIO, 1904c); R. discerptus var. maranensis Samp., R. incurvatus var. minianus (Samp.) Samp., R. lusitanicus var. signifer Samp., R. mercicus var. castranus (Samp.) Samp., R. obtusangulus ra. beirensis (Samp.) Samp. (em SAMPAIO, 1904e). Alguns destes nomes seriam posteriormente alterados ou emendados por G. Sampaio. Em trabalhos posteriores propor ainda mais a seguinte espcie nova que acompanhar de uma diagnose em latim: R. herminicus Samp. (em SAMPAIO, 1912a).

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Rubi Europaei. A. X. Pereira Coutinho publica, em 1913, a primeira edio da sua Flora de Portugal (COUTINHO, 1913), onde naturalmente aborda o gnero Rubus. Retomemos o intercmbio entre G. Sampaio e W. O. Focke. Como referimos, o rubologista alemo em carta de 31 de Dezembro de 1904 insistia para que o seu colega portuense lhe enviasse exemplares de Rubus. G. Sampaio acedeu positivamente ao pedido, dado que o rubologista alemo responde numa mensagem curta em bilhete-postal com o carimbo de Bremen, datado de 30 de Maro de 1905: jai le plaisir de vous accuser la rception de votre envoi. Je vous remercie sincrement pour la collection intressante. Je nai pas encore examin un seul chantillon, mais jai vu au premier coup dil que votre R. Coutinhi est le R. Lespinassei Clavand. Un paquet pour vous suivra bientt. Dois meses depois, a 30 de Maio, W. O. Focke envia a G. Sampaio uma carta onde detalhadamente se pronuncia sobre os 18 exemplares que este lhe tinha enviado com as respectivas identificaes. A resposta de W. O. Focke significativa porque muitos dos exemplares que tinham sido identificados por G. Sampaio como suas espcies novas e diversas das identificaes, no so contestadas por W. O. Focke. Este facto significa que Focke ter lido o trabalho de G. Sampaio recebido em Dezembro do ano anterior e que ter reconhecido a validade das espcies novas nele propostas? A parte inicial da carta breve e Focke parece estar naquela altura com pressa porque prsent je suis engag dans ltude des Rubi exotiques. Na segunda folha da carta temos ento os comentrios de W. O. Focke s identificaes de G. Sampaio. Qual o balano? Os exemplares com os nmeros 1, 5 e 14, identificados por G. Sampaio como R. subincertus, R. portuensis e R. Henriquesii, no so contestados. Nos exemplares nmeros 7, 12, 15 e 16, W. O. Focke discorda da identificao. A resposta de W. O. Focke em relao ao exemplar que tinha sido identificado como sendo R. Coutinhi, que Focke considera ser uma espcie j descrita - R. Lespinassei, parece ter influenciado G. Sampaio, dado que na sua reviso do Rubus integrado no Manual e nas Listas das espcies, ir retirar o R. Coutinhi e citar o R. Lespinassei. O tema dos Rubus ser recorrente com os seus colegas de Lisboa e Coimbra. Em 1909, A. X. Pereira Coutinho ir encontrar em Sintra um Rubus que lhe parece ento ser uma espcie ou variedade nova. No sabemos se j teria o exemplar de Rubus quando inicia com G. Sampaio uma srie de trocas de impresses sobre este gnero. Em carta datada de 25 de Maio de 1909, A. X. Pereira Coutinho parecia querer reorganizar a coleco de Rubus da Escola Politcnica e retomar o estudo deste gnero: O herbario da Escola Polytechnica tem hoje os exemplares de Rubus provenientes do seu herbario, cuja lista remetto inlcusa, e que V. Exa. em tempos fez o favor de me dar, mas faltam-lhe muitos outros, cuja lista extrahi dos seus Rubus Portuguezes, e envio conjuntamente. Muito desejo completar,

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tanto quanto possivel esta colleco, e V. Exa. muito me obsequeia cedendo-me alguns exemplares de que tenha duplicados, ou guardando nas suas futuras herborizaes exemplares das especies que faltam e nesta ocasio no tenha duplicado. Segue-se uma enumerao dos exemplares ento existentes no herbrio da Escola Politcnica. Desejo tambem saber se V. Exa. posteriormente a este trabalho dos Rubus portuguezes modificou a sua opinio cerca de alguma das plantas alli descriptas, ou se lhes acrescentou j algumas especies ou frmas descobertas depois. Por ultimo, vendo neste seu citado trabalho que considera como pertencendo ao R. ulmifolius a maior parte dos exemplares que eu e o C. de Ficalho tinhamos referido ao R. [...] muito desejo conhecer a sua opinio acerca da determinao daquelles que inscrevemos sob o nome de R. discolor (alguns so da Sociedade Broteriana) e muitos dos quaes muito provavel, segundo julgo, que tambem sejam frmas da mesma especie. G. Sampaio ter atendido o pedido do seu colega lisboeta, dado que a 14 de Junho de 1909, A. X. Pereira Coutinho agradecia os exemplares de Rubus: Por ultimo a sua colleco de Rubus optima, e muitissimo lha agradeo. Entretanto, A. X. Pereira Coutinho teria escrito a G. Sampaio sobre o novo Rubus que tinha encontrado em Sintra e este ter pedido informaes adicionais ao seu colega de Lisboa. A 3 de Julho de 1909, A. X. Pereira Coutinho escrevia: Appareceram em Cintra mais uns exemplares, embora pouco abundantes do mesmo Rubus; estes teem bons turies, mas o que so bastante menos glandulosos. Os exemplares so enviados alguns dias depois. Em carta datada de 15 de Julho de 1909, A. X. Pereira Coutinho escrevia a G. Sampaio: Recebi hontem a sua carta, que muito lhe agradeo, e no correio de hoje remetto exemplares dos dois Rubus em que lhe falei, colhidos ambos em Cintra. O mais interessante dos dois, que designo R. cintranus, muito proximo do seu R. Coutinhoi; julgo mesmo que se lhe deve ligar como uma subespecie, mas a este respeito que muito desejo a sua opinio. Tem o facies do R. Coutinhoi, mas diverge por caracteres importantes, como so os ovarios glabros [] claro que a questo de considerar uma certa planta como subespecie doutra ou especie distincta uma questo apenas de bitola adoptada. Mas, pergunto quem, por exemplo, considerar o R. Genevieri como subespecie do Radula, no tem []. Este R. cintranus ir de facto ser considerado por G. Sampaio no seu Manual e nas Listas das espcies, como uma variedade nova, no do R. Coutinhi, mas do R. cunctator Focke. Por diversas vezes, J. Henriques envia exemplares de Rubus para o seu colega portuense identificar. O tom de assumida dificuldade com este gnero. Em carta datada de 12 de Julho de 1911, J. Henriques escrevia: Remeto-lhe tres exemplares de Rubus. Acertaria com os nomes especficos?. Alguns anos mais tarde, a 5 de Fevereiro de 1915, desabafava desta forma: Mando hoje um Rubus e peo que veja se os determina, podendo ficar com duplicados, se os houver. Custa-me a entender com

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estas creaturas. Vai um com o nome de R. radula, que me parece que j viu. Desde j agradeo. E a 9 de Agosto de 1917 escrevia para G. Sampaio no mesmo tom: Hoje mando um Rubus, que recebi das proximidades de Paredes de Coura. Que espcie ser? No me entendo com taes plantas.

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V. A importncia da Sociedade Broteriana e do seu Boletim 1. Fundao da Sociedade e seus objectivos A Sociedade Broteriana foi criada em 1880 por iniciativa de J. Henriques. Como porta-voz da Sociedade Broteriana, aparece o Boletim da Sociedade Broteriana. O primeiro volume, referente aos anos de 1880-1882, publicado em 1883 pela Imprensa da Universidade em Coimbra. Neste volume inaugural, J. Henriques apresenta a Sociedade e o seu Boletim, num texto datado de Dezembro de 1882 (BSB, I). A necessidade da criao da Sociedade apresentada como decorrente do atraso em que se encontrava o pas em estudos botnicos. Em Portugal, depois de Brotero (portanto tinha passado quase um sculo), a investigao na rea da Botnica encontrava-se estagnada: Em todas as as naes cultas o estudo da flora occupa a atteno de muitos naturalistas, e pde dizer-se que em todas ha numero consideravel de obras descriptivas de incontestavel valor. Portugal tem feito excepo a esta regra. Alm dos trabalhos do dr. Brotero pouco mais ha. O nosso paiz tem sido explorado botanicamente mais por extrangeiros do que por nacionaes. As exploraes botanicas do dr. Welwitsch, feitas sob a proteco da Academia Real das Sciencias, marcam um novo perodo na Botanica portugueza, porque depois delle alguns individuos tm procurado seguir-lhe o exemplo87. Seguidamente, J. Henriques justifica a necessidade da criao de uma sociedade cientfica que promovesse a superao da crise da Botnica nacional - Parte dessas difficuldades podem ser vencidas vantajosamente por meio da associao, e por isso tentei em 1879 a formao duma sociedade, cujos membros se auxiliassem mutuamente trocando entre si os productos das suas herborizaes e dando para o herbario da Universidade um certo numero de plantas em paga do trabalho que ahi poderia ser feito para a exacta determinao das especies e distribuio dos exemplares colhidos pelos socios. Desta frma reduzido o campo de explorao a uma pequena rea para cada socio, o trabalho collectivo daria resultados importantes, que de outro modo no seriam facilmente realisados, e o estudo das especies colhidas, feito no herbario da Universidade, facilitaria de certo a boa determinao especifica, havendo alli elementos para isso essenciais, taes como livros, e principalmente um herbario importante, composto na sua maior parte de plantas da regio mediterranea

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Aqui parece injusta a omisso da Flore Portuguaise, realizada por Link e Hoffmansegg, se bem que pode estar includo na referncia que J. Henriques faz s exploraes por estrangeiros. Em texto publicado alguns anos depois, J. Henriques ir homenagear devidamente estes dois botnicos alemes. Ao fazer o balano da actividade da Sociedade Broteriana na dcada de 1880, J. Henriques escrevia no volume VIII do Boletim publicado em 1890 que o desejo do grande naturalista Lineu s muito tarde comeou a ser satisfeito. Trabalharam para isso o dr. Brotero, o professor Link e o conde de Hoffmansegg (BSB, VIII).

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e muito especialmente de Hespanha, coordenado pelo professor Willkomm, um dos auctores do Prodromus Florae Hispaniae. Estava traado o objectivo primordial da Sociedade Broteriana88 - a inventariao do patrimnio florstico nacional -, e o mtodo de trabalho: diviso do pas em regies; herborizao de cada regio por um scio; confirmao das identificaes dos espcimes pelo herbrio da Universidade de Coimbra; distribuio de exemplares j identificados pelos scios. J. Henriques explica como conseguiu reunir o ncleo inicial fundador da Sociedade - me dirigi s pessoas que pela posio official ou por seus trabalhos especiaes poderiam constituir a associao. No primeiro caso estavam os agronomos e intendentes de pecuaria dos districtos, para os quaes de incontestavel vantagem o conhecimento da vegetao espontanea da regio sobre que elles tm inspeco. De seguida diz que teve xito na iniciativa, e que j tinham sido distribudas plantas aos scios e a instituies. Termina enunciando o objectivo primeiro da sua Sociedade: refazer a Flora lusitana, ou seja reformular e modernizar a flora de Brotero. Neste mesmo volume inaugural do Boletim podemos ler o regulamento da recm criada Sociedade Broteriana, onde se encontram naturalmente cristalizadas as ideias-fora enunciadas por J. Henriques. No artigo 1. determinava-se que o objectivo da Sociedade Broteriana era o estudo da flora portugueza, promovendo a formao de herbarios locaes e dando elementos para o herbario da Universidade de Coimbra. Na Sociedade existiam duas classes de scios. Os scios da designada classe A podiam oferecer plantas para o Herbrio da Universidade de Coimbra e promovem e auxiliam o estudo da flora portugueza. Os scios que sero designados da classe B e cujo nmero no podia ultrapassar 30, tinham a responsabilidade de recolher um numero de especies de plantas no inferior a 6 e em tantos exemplares, quantos forem os socios mais quatro. A que se destinavam estas plantas? Destinavam-se a ser distribudas pelos mesmos scios (as quatro suplementares ficavam no Herbrio da Universidade de Coimbra), desta forma constituindo-se os herbarios locaes e enriquecendo-se o Herbrio da Universidade, como era objectivo fundamental da Sociedade89. O artigo 3. estabelecia que os socios no devem offerecer para troca plantas que j tenham sido distribuidas, garantindo desta forma que as distribuies eram sempre de espcies originais,

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Encontramos objectivos semelhantes em outras sociedades botnicas da poca como por exemplo a Sociedad Botnica Barcelonesa (HERMIDA, 1996). 89 Esta ideia era seguida na Europa por muitas sociedades, jardins botnicos ou universidades, que por intermdio deste sistema distribuam ricas coleces de plantas. Em Espanha houve vrias destas distribuies em que participou G. Sampaio (ver Captulo VIII). A ideia das distribuies era notvel e foi determinante na formao dos principais herbrios europeus. O esforo individual no era muito (quem colhe um exemplar, colhe facilmente duas ou trs dezenas) e a recompensa era grande (recebiam-se em troca espcimes de espcies s vezes raras ou desconhecidas na regio onde se vivia).

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formando-se assim uma coleco que se tornaria cada vez mais rica. No artigo 5. indicavam-se os requisitos indispensveis para os exemplares a serem enviados pelos scios: bem seccados e acompanhados duma etiqueta, que indique: a) o nome da especie; b) o nome do socio que a colheu; c) a epocha do anno em que foi colhida; d) a localidade; e) qualquer indicao util, tam como a altitude, natureza do terreno, usos locaes da planta etc.. Estas indicaes eram indispensveis para um segundo propsito da Sociedade (enunciado no artigo 4.) que era o estudo geographico das plantas portuguezas. O Herbrio da Universidade de Coimbra constitua o ncleo agregador e dinamizador e era responsvel pela identificao das plantas enviadas pelos scios, ou confirmao das identificaes prvias apostas pelos scios nas plantas, como consta do artigo 6.: examinadas as plantas e convenientemente determinadas no Jardim de Coimbra, sero distribudas por todos os scios, de modo que cada um receber uma colleco completa das plantas que foram colligidas por todos, ficando no mesmo Jardim os exemplares que cada um mandar a mais90. Quais os scios fundadores da Sociedade Broteriana? De acordo com o regulamento, o nmero mximo de scios da classe B era 30, como j referimos. De acordo com a lista apresentada no primeiro volume do Boletim, existiam 22 scios (B) na fundao da Sociedade. Salientam-se os nomes de A. X. Pereira Coutinho, A. Ricardo da Cunha e J. Daveau em Lisboa e E. Johnston, Eugenio Schmitz, Isaac Newton e J. Casimiro Barbosa na regio do Porto. Quais os scios da classe A? Curiosamente eram em menor nmero dos que da classe B, 18. Encontramos os nomes de Conde de Ficalho, Jayme Batalha Reis, professor do Instituto Agrcola de Lisboa, A. Mller, A. Luso da Silva91, e Francisco de Salles Gomes Cardoso, lente da Academia Politcnica do Porto. Estacio da Veiga, arquelogo, era tambm scio da classe A. O arranque da Sociedade no podia ser mais auspicioso. Nas dcadas seguintes nunca o nmero de scios envolvidos nas distribuies ir ser to elevado. No volume II do Boletim so mencionados 17 scios B, no volume III, 19, no volume IV e V, 18, em 1888 j s 16 e em 1889, s 10. No volume VIII referente a 1890 so mencionados 12 scios B, mas nos anos seguintes s 9.
O Herbrio da Universidade de Coimbra, com J. Henriques como director e J. Mariz como naturalista, era, na poca, qui a instituio mais credenciada e apta para a identificao de plantas vasculares do nosso pas. Neste herbrio estava integrado o notvel Herbrio de Willkomm, adquirido por iniciativa de J. Henriques, uma deciso histrica de grande alcance. Era constitudo por 100.000 exemplares representando 10.000 espcies, principalmente da regio mediterrnea. Tinha servido de base ao Prodromus Florae Hispanicae, trabalho basilar de Willkomm e Lange sobre a flora portuguesa (BSB, X:6-7; FERNANDES, 1977) J. Henriques com 42 anos de idade em 1880 (A. X. Pereira Coutinho s tinha 29 anos; G. Sampaio tinha 15 anos, s ir inscrever-se como aluno da Academia Politcnica em 1890) assumia assim a liderana da renovao da Botnica sistemtica em Portugal. 91 Augusto Luso da Silva nasceu no Porto em 1827. Foi professor do Liceu do Porto. Publicou um compndio de Geografia. Era tambm naturalista tendo estudado moluscos terrestres e fluviais de Portugal. Estreou-se como poeta em 1853. Morreu no Porto em 1902 (GEPB).
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2. As distribuies de plantas aos scios Nas duas dcadas de 1880 e 1890, a actividade da Sociedade Broteriana, no seu principal propsito de distribuir plantas e promover a constituio de herbrios locais, ir ser impressionante e avassaladora, como se constata pela leitura do seu Boletim. Em 1880 iniciam-se as distribuies de plantas pelos scios (recolhidas pelos prprios scios). So distribudas 126 espcimes (correspondentes a igual nmero de espcies) de algas, musgos e angiosprmicas. Nos anos subsequentes continuaro as distribuies, sempre mais de uma centena de espcimes por ano, que abrangero todos os grupos considerados como plantas na poca: algas, fungos, lquenes, fetos, hepticas, musgos, gimnosprmicas e angiosprmicas. Apesar deste ltimo grupo ser o mais numeroso (como seria de esperar dado que era na altura o mais bem conhecido), notvel a diversidade de plantas distribudas pela Sociedade. De 1880 a 1889 foram distribudas 1265 exemplares de herbrio pelos scios, com a seguinte distribuio por grupo: algas (50); fungos (6); lquenes (18); hepticas (5); musgos (25); pteridfitas (26); gimnosprmicas (1); monocotiledneas (218); dicotiledneas (916). As distribuies continuaro at 1906, se bem que a um ritmo menos acelerado. Nos anos de 1890, 1891, 1892, 1893, 1895, 1896, 1902 e 1903-1906, os totais das distribuies atingiram 1347, 1410, 1461, 1516, 1566, 1689, 1748, 1806, respectivamente. Ao fim de mais de duas dcadas de distribuies, a Sociedade Broteriana tinha portanto distribudo aos seus scios (B) o nmero impressionante de 1806 espcimes (correspondendo a aproximadamente igual nmero de espcies) de todos os grupos de plantas. No era obviamente toda a flora portuguesa, mas em termos de angiosprmicas era um bom retrato! 3. A Flora lusitanica exsiccata Podemos escrever, ironicamente, que aparentemente ainda sobrava tempo equipa do Herbrio da Coimbra, dado que no volume IV do Boletim da Sociedade publicado em 1886, J. Henriques anuncia o incio da Flora lusitanica exsiccata: Les plantes portugaises tant en general assez rares dans les herbiers, le Jardin botanique de lUniversit de Coimbra commencer cette anne la publication regulire de plantes du Portugal et peut-tre des colonies. On ne vendra pas ces plantes, mais elles seront donnes en echange dautres plantes92. A Flora exsiccata lusitanica organizou-se
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A Flora lusitanica exsiccata era portanto vocacionada para a permuta com instituies congneres estrangeiras - por essa razo J. Henriques escrevia em francs. O intercmbio entre botnicos e sociedades cientficas era, na poca, intenso e J. Henriques partilhava desta ideia bem moderna da verdadeira comunicao e troca franca de ideias e plantas entre investigadores e instituies. Ao fazer um balano dos primeiros anos de vida da Sociedade Broteriana, J. Henriques

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em centrias (100 exemplares). Nos anos de 1886, 1887, 1888, 1889 e 1890, foram produzidas duas centrias em cada ano. Portanto no fim de 1890 tinha sido distribuda uma exsicata lusitanica constituda por 1.000 espcimes. A exsicata continua nos anos subsequentes, mas com a distribuio de uma centena de plantas por ano at 1893 e a partir deste ano, uma centena de dois em dois anos at 1899. Termina em 1911 com a centria XIX. A Flora lusitanica exsiccata seria portanto constituda por 1900 espcimes de plantas (correspondendo a um nmero aproximadamente igual de espcies). Quais os grupos representados? Assim como nas distribuies aos scios, foram includos na exsicata exemplares de algas, fungos, lquenes, hepticas, musgos, fetos, gimnosprmicas e angiosprmicas, sendo naturalmente este ltimo grupo, o mais representado. Nas primeiras centrias, a maioria dos exemplares da exsicata foram recolhidos por A. Mller. Uma parte dos exemplares da exsicata foi recolhida pelos scios da Sociedade. A produo desta exsicata era um esforo adicional para a equipa do Herbrio da Universidade de Coimbra. Olhando hoje para o volume de trabalho conjunto das distribuies e da exsicata lusitanica podemos imaginar o que significou de esforo monumental para a reduzidssima equipa do Herbrio da Universidade. Este facto era salientado por J. Henriques no volume XV do Boletim (1898): No herbario os trabalhos continuaram com toda a regularidade, apesar do limitadissimo pessoal. Fez-se a distribuio relativa ao 16. anno da Sociedade Broteriana e a da 15.a centuria da Flora lusitanica exsiccata. O numero de exemplares distribuidos quer de especies portuguezas, quer de plantas africanas, foi de 2:700. O numero de especies recebidas, quasi todas por troca, foi de 4:126 representado por 4:826 exemplares. Todo o servio de separao das colleces, expedio e distribuio das plantas recebidas pelos respectivos logares no herbario executado por um unico empregado, auxiliado por um pequeno rapaz. No sei se haver repartio dos estabelecimentos officiaes onde o pessoal seja to diminuto e o trabalho to regular e, pde-se dizer, no bem pago93. J. Henriques, ao fazer o balano da actividade da Sociedade Broteriana na dcada de 1880 no volume VIII do Boletim, elogiava e agradecia o trabalho dos seus colaboradores, J. Mariz e A. Mller: A estes nomes dos scios B, no posso deixar de juntar mais dois, o do Sr. Joaquim de Mariz Junior, e o do sr. Adolpho F. Mller, jardineiro-chefe do jardim botanico. Ambos tem tido uma parte importantissima

escrevia no volume III do Boletim referente ao ano de 1884: A Sociedade pde e deve entrar em relaes com sociedades analogas estrangeiras, algumas das quaes tm j pedido essas relaes. Seria facil estabelecer a troca de plantas [...] Muitos botanicos desejam com egual interesse receber plantas de Portugal. A exsicata lusitanica iniciada em 1886 estava portanto na mente de J. Henriques j h alguns anos. 93 A rotina seria imensa: receber as plantas enviadas pelos scios; fazer colheitas prprias; identificar e confirmar identificaes; elaborar etiquetas, mandar imprimir, verificar; expedir (na poca era por caminho de ferro); receber outras exsicatas em troca.

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no progresso dos estudos botanicos em Portugal, um estimado zelo e constancia as plantas portuguezas, outro explorando cuidadosa e intelligentemente grande numero de regies de Portugal. G. Sampaio ir participar na exsicata da Sociedade Broteriana j no fim da sua distribuio. Ir enviar plantas para as distribuies e receber plantas distribudas pela Sociedade. A mais antiga referncia que encontrmos um bilhete-postal de J. Mariz, datado de 18 de Julho de 1895 em que escrevia que ficava certo de lhe remetter para o Porto as plantas da Sociedade. Sero enviadas at ao dia 15 dAgosto, porque conto que a impresso das etiquetas esteja feita esta semana. Anos mais tarde, J. Mariz dirigia-se a G. Sampaio em bilhete-postal datado de 9 de Abril de 1904, Para calcular o numero de especies que precisamos colher nesta temporada para completar as nossas colleces de distribuio, tenho empenho em V. Exa. me diga se effectivamente podemos contar com algumas plantas das suas proficuas exploraes do vero passado em Traz-os-Montes e outras localidades do norte, das quaes V. Exa. nos prometteu partilha para a Sociedade Broteriana e Centurias. G. Sampaio ter respondido rapidamente a esta carta, porque numa outra de J. Mariz, datada de 14 do mesmo ms, pode lr-se: Com resposta ao obsequio da carta de V. Exa. de 11 do corrente agradeo e acceito o offerecimento das plantas com que deseja contemplar o nosso herbario, bem como as especies para as nossas distribuies (phanerogamicas); com relao aos lichens, s poderemos acceitar para a proxima distribuio as especies que forem novas para Portugal, porque j esto apartados para a coleco presente grande numero de fungos que nos mandou o Prof. de S. Fiel, J. da S. Tavares, e no podemos deixar de representar nas colleces um numero maior de phanerogamicas. muito natural que as nossas distribuies se faam depois do meado de junho e ento esta falta ser preenchida pelas plantas que V. Exa. offerece, por colheitas novas e sobejos94. 4. O Boletim da Sociedade Broteriana A edio do Boletim, que tanto esforo consumia a J. Henriques, tinha no entanto uma grande recompensa que consistia nas publicaes estrangeiras que recebia em troca95. Logo no volume II do Boletim se agradecia o intercmbio da publicao da Sociedade Broteriana com duas publicaes. O nmero de permutas cresceu exponencialmente medida que o Boletim era conhecido e ganhava

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Por esta carta vemos que o Colgio de S. Fiel tambm participava na exsicata da Sociedade Broteriana. Assim como G. Sampaio enviava lquenes para o Colgio de S. Fiel, tambm participava com o envio de lquenes para a exsicata da Sociedade. O interesse de G. Sampaio por lquenes pois muito precoce, apesar das suas publicaes mais importantes sobre este grupo s surgirem bastantes anos mais tarde. 95 Esta permuta de publicaes entre instituies e sociedades cientficas de cincias naturais manteve-se at aos dias de hoje (se bem que no presente muito diminuda), estando na origem da formao da maioria do acervo das nossas bibliotecas universitrias de cincias naturais.

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prestgio no pas e no estrangeiro. No volume XV do Boletim (1898), J. Henriques assinalava que o Boletim tinha sido permutado por 60 revistas. No volume XVI (1899), j se assinalavam 78 publicaes peridicas permutadas. No volume XVIII (1901), referem-se 72 publicaes permutadas com o Boletim. A edio do Boletim da Sociedade Broteriana foi sempre para J. Henriques uma das suas tarefas prioritrias. As dificuldades econmicas foram sempre grandes. Ao escrever sobre a Sociedade Broteriana no volume III do Boletim, J. Henriques reconhecia e agradecia o subsdio governamental: O governo, a requerimento meu, concedeu a composio e impresso do Boletim na Imprensa da Universidade, auctorisando a despeza at 90$000 ris annuaes. um grande auxilio, sem o qual o Boletim mal poderia sustentar-se. Comtudo no auxilio suficiente, por que a despeza de impresso excede aquella verba, e a essa despeza vai juntar-se s despezas com o papel, estampas, etc. Procurei remediar as difficuldades convidando varias pessoas, s quaes no seria indifferente o progresso dos estudos botanicos em Portugal, para fazerem parte da Sociedade, pagando anualmente a quantia de 1$000 ris, que se poderia considerar como importancia da assignatura do jornal. O numero das adheses a este convite foi consideravel e espero que pouco a pouco se tornar maior. Uma das causas para o elevado custo da produo do Boletim era o nmero reduzido de exemplares. Nas largas dezenas de cartas e bilhetes-postais que J. Henriques escreveu para G. Sampaio so raras as que no mencionam o Boletim e em particular as dificuldades econmicas da sua edio. Numa carta dirigida para G. Sampaio, datada de 9 de Agosto de 1917, J. Henriques queixa-se do custo do papel para a impresso do Boletim: H primeiro que ver a questo do papel. caro atendendo ao preo. Pelo empregado no vol. XXVII [...] No haver no Porto papel que sirva e por preo accessivel?. Nos ltimos anos de vida, J. Henriques torna-se pessimista em relao viabilidade da edio do Boletim, qui pela sua avanada idade. Numa carta datada de 6 de Dezembro de 1920, J. Henriques queixava-se a G. Sampaio: Bom era continuar a publicao do Boletim mas no h dinheiro. No sei ainda como ser [...] de crr que seja necessario parar com a assinatura de jornais [...]. No ano seguinte, sente-se nas palavras de J. Henriques a idade avanadssima e a dificuldade em assegurar a direco do Boletim. Escrevia para G. Sampaio em carta datada de 9 de Agosto de 1921: As estampas devem ficar muito caras na prezente ocasio. Bom seria que tivesse dinheiro para continuar a publicao. Se estivesse to pobre como ns nada poderia fazer. Brevemente mandarei o volume XXVIII do Boletim. Ser o ltimo? O Carrisso [J. Henriques referia-se a L. W. Carrisso] e o Quintanilha [J. Henriques referia-se a A. Quintanilha] entendem que deve continuar, mas para isso necessario ter colaboradores. Eu pouco posso fazer. necessaria gente nova. O meu amigo que

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poder dar bom auxilio, seu filho [J. Henriques referia-se a Joaquim Sampaio] e o Pires de Lima [J. Henriques referia-se a A. Pires de Lima] tambm, e de Lisboa, o Ricardo Jorge [J. Henriques referia-se a A. Ricardo Jorge]. Aqui o Carrisso e o Quintanilha podem tambem ajudar. Que diz? Eu tinha posto no principio do volume uma resenha do que tinha feito o Boletim, e fazia as minhas despedidas e agradecimentos. Ainda hoje o Quintanilha me perguntou se eu sempre estava disposto a rasgar essa primeira folha. No sei o que farei. Se houvesse quem queira colaborar, rasgarei a folha. Pode continuar a publicao com o mesmo titulo ou outro. Em todo o caso deve continuar a ser o orgo dos que em Portugal estudam a flora do pas ou outros estudos botanicos. D-me a sua opinio. No incio de 1922 J. Henriques escreve a G. Sampaio novamente por causa do custo elevado do papel. Num bilhete-postal datado de 6 de Fevereiro, podemos ler: Escrevo este postal para pedir um favor. No descobrir no Porto papel que sirva para Boletim do Instituto Botanico? Tenho escrito a varias fabricas, mas ou no respondem, ou mandam amostras que no servem. No estabelecimento do Sr. Domingos no haver cousa que sirva? Eu desejo papel branco, fino, bem calandrado, para servir para gravuras. As medidas do formato do Boletim so as seguintes 0,26 x 0,18, em volume j aparado. Deve por isso o papel dar um pouco mais. Desejo comear a impresso e no posso. Veja se descobre [...] mande uma folha e indicao do preo de 1000 quilos. O assunto parece ter sido resolvido, dado que a 23 deste mesmo ms, J. Henriques escrevia para G. Sampaio: Recebi tambem uma amostra de papel mandada pelo Sr. J. Gonalves que serve muito bem e j foi feita a encomenda. As dificuldades com a edio do Boletim continuavam, mas tambm o desejo em prosseguir. A 24 de Outubro de 1922 escrevia para G. Sampaio: Estou vendo que a vida do Boletim no poder ser longa por falta de dinheiro pois se agora h amigos que conseguem ter dotao para a publicao no espero que os haja sempre. [...] P. S. O seu amigo espanhol que se ocupa com os fungos no querer publicar o que se referir a Portugal no nosso Boletim?96. Pouco tempo depois, a 22 de Dezembro de 1922, novamente J. Henriques falava das dificuldades da edio do Boletim, escrevendo com lucidez: Se me faltar o subsidio oficial no poderemos continuar a publicao [...] Se fora um jornal politico alguns teria, mas jornal botanico objecto de luxo, a que poucos ligam importancia. Finalmente, num bilhete-postal datado de 1 de Abril de 1924, escrevia para G. Sampaio: No tenho esperana de poder continuar com a publicao do Boletim. A Imprensa leva muito dinheiro pela impresso do jornal, as separatas ficam muito caras. Deste volume, h 50 para o Fragoso, 50 para si, 50 para o seu filho [...]. O volume XXVIII ser de
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J. Henriques referia-se a R. G. Fragoso. Este investigador ir de facto publicar um trabalho no volume do Boletim de 1923 (ver Captulo XI).

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facto o ltimo volume do Boletim com a direco exclusiva de J. Henriques. Tinha passado 40 anos frente da publicao. O trabalho realizado era notvel, mas a idade no permitia continuar. Inicia-se uma nova srie do Boletim em 1922, em que L. W. Carrisso97 e A. Quintanilha98 assumem a liderana da publicao. O zelo e at carinho com que J. Henriques trata a edio do Boletim da Sociedade Broteriana transparecem em muitas das cartas e bilhetes-postais que escreveu para G. Sampaio. O nmero de botnicos portugueses era reduzidssimo. Existia a concorrncia de outras publicaes de cincias naturais, como as publicaes da Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais, da Academia Politcnica do Porto e, a partir do incio da dcada de 1900, a Broteria. G. Sampaio ir publicar 14 dos seus trabalhos no Boletim da Sociedade Broteriana, ao longo de toda a sua carreira cientfica. Existia a apetncia natural para G. Sampaio publicar nas edies da sua Academia Politcnica e tambm da Broteria, com quem tinha relaes de colaborao cientfica e de amizade. Em carta datada de 24 de Novembro de 1902, J. Henriques terminava com o seguinte desabafo: Pelo que me diz, parece-me que se inclina a publicar os seus trabalhos no Anurio da Academia Polytechnica. Espero em todo o caso que alguma coisa dar para o Boletim, que deve ser continuado e que deve offerecer interesse aos especialistas. O nmero de collaboradores to diminuto, que pena em fugir delles os que muito poderiam fazer. Em carta datada de 16 de Janeiro de 1905, J. Henriques queixava-se a G. Sampaio: O nmero de collaboradores to diminuto que se torna dificil completar qualquer volume. O meu amigo prefere outras publicaes e fico por isso privado do seu concurso. Posso, verdade, reproduzir os seus escriptos com a devida autorizao, mas como sabe, os originais tm mais valor. J. Henriques tenta, permanentemente, captar para o Boletim os trabalhos de G. Sampaio. Mas umas vezes tinha material a mais - as colaboraes excediam o espao disponvel, outras vezes a menos as colaboraes no chegavam para completar o volume, como compreensvel para uma revista que era publicada regularmente (em geral anualmente) e a produo cientfica dos colaboradores
Lus Wittnich Carrisso (1886-1937) nasceu na Figueira da Foz. Terminou o seu curso na Faculdade de Filosofia de Coimbra e doutorou-se na Faculdade de Cincias de Coimbra em 1911. Em 1918 professor catedrtico e assume a direco do Jardim e do Instituto de Botnica da Universidade de Coimbra, por jubilao de J. Henriques. Foi Reitor da Universidade de Coimbra. Reorganiza a Sociedade Broteriana e assume a direco do seu Boletim. Dedicou-se principalmente botnica ultramarina, estudando a flora de Angola. Morre prematuramente em 1937 (GEPB; CARVALHO, 1939; CORREIA, 1939; COUTINHO, 1939a; FERNANDES, 1939; QUINTANILHA, 1975). 98 Aurlio Quintanilha nasceu em Angra do Herosmo em 1892. Licenciou-se em Cincias Naturais pela Faculdade de Cincias de Lisboa em 1919. Entra ento para assistente da Universidade de Coimbra, onde se doutora em 1926, com um estudo sobre um grupo de fungos aquticos (Contribuio ao estudo dos Synchytrium). Em 1928 professor catedrtico da Universidade. De 1928 a 1931 especializa-se em gentica de fungos com Kniep na Alemanha. Regressa a Coimbra. Publica em 1933 Le problme de la sexualit chez les champignons. Afastado do servio e aposentado em 1935, parte em 1943 para frica, onde organiza os servios de investigao cientfica e experimentao agrcola do algodoeiro (GEPB; FERNANDES, 1962, 1975; QUINTANILHA, 1975).
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naturalmente que oscilava. Em carta datada de 3 de Maio de 1904 respondia negativamente a um pedido do seu colega portuense: Respondendo ao seu postal tenho a dizer que no possivel a publicao no Boletim. Comeou agora a composio do vol. XX com o catlogo descriptivo das gramneas e como est no se pode intercalar outro trabalho. Sinto ter de dar-lhe esta resposta. Se o catlogo ainda no estivesse comeado, ainda poderia entrar o seu trabalho; agora no pode ser. Em carta datada de 23 de Junho de 1908, escrevia J. Henriques para G. Sampaio: No tem escripto que possa servir para o Boletim da Sociedade Broteriana?. A resposta ter sido positiva, dado que J. Henriques escrevia a 3 de Setembro: Agradeo a sua carta e fico esperando o manuscrito para ir para a imprensa na 2. Feira. Numa carta datada de 25 de Maro de 1911, J. Henriques terminava uma carta para G. Sampaio: Vou comear a impresso do volume XXVI do Boletim. No ter nada para elle?. Em outras ocasies, acontecia a situao inversa. Numa carta datada de 6 de Dezembro de 1920, J. Henriques escrevia a G. Sampaio: Sinto muito no poder publicar o estudo dos Ulex. O vol. XXVIII ultimo est quase no fim. Tambm A. X. Pereira Coutinho publicou diversos trabalhos no Boletim. s vezes a demora na publicao impacientava o professor de Lisboa. Desabafava para G. Sampaio a 20 de Maio de 1907: Tenho todos os meus trabalhos da especialidade no Boletim da Sociedade Broteriana e gostava de alli os reunir todos, porque se no fosse isso no tinha dado para l o manuscripto, mas est-me a parecer que vou imprimir as Labiadas por outra parte; talvez pela Academia.

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VI. A importncia da Broteria e dos jesutas botnicos na Botnica sistemtica 1. A fundao da Broteria em 1902 A Broteria inicia a sua publicao em 1902 com o subttulo de Revista de Sciencias Naturaes do Collegio de S. Fiel99. Encontramos nas primeiras pginas uma fotografia da esttua de Avelar Brotero que se encontra no Jardim Botnico da Universidade de Coimbra. Ao escolher uma designao associada figura do ilustre botnico portugus do sculo XVIII, a revista Broteria assumia-se assim como de botnica e de cincias naturais em geral100. A introduo ao volume 1., publicado em 1902 (B, I), inicia-se com a frase A esperana de podermos concorrer de algum modo para o progresso das sciencias naturaes em Portugal que nos anima publicao da presente Revista. O naturalista tem de seguir mtodos de investigao rigorosos, mas deve contemplar, respeitar e amar o seu objecto de estudo a natureza101: A ida de concorrermos, por pouco que seja, para propagar o gosto das sciencias naturaes em nossa patria enchenos de alegria. A natureza um livro immenso, que tem ainda muitas folhas por abrir102. Seguidamente assumem a sua atitute crist - o amor a Deus passa por amar a Natureza, sua obra: Ora em todas ellas [as folhas do livro] se encontra escripto o nome augusto do Creator. E ser acaso pequena satisfao ao abril-as mostrar nellas a grandeza de Deus, que tanto se estampa na immensidade dos mundos, como na extrema pequenez de myriades de animaes e plantas, cuja existencia s o microscopio nos revela? [...] Desenvolver as sciencias naturaes pois, como que dar a mo intelligencia para a elevar suprema verdade que Deus. Os redactores explicitam ento qual ser o contedo da revista: estudo systematico da fauna e flora [...] anatomia e a histologia tanto animaes como vegetaes. Constatam e muito bem que so pioneiros nesta revista, dado que nenhum estabelecimento de ensino secundario em Portugal [...] tenha at agora publicado revista alguma scientifica. Assinalam que a sua rea prioritria de estudo ser a zona envolvente do Colgio de S. Fiel, que vae dos arredores de Castello Branco at Manteigas e Ceia. Terminam a introduo, homenageando o seu patrono e prometendo seguir-lhe as passadas: o titulo adoptado para a nossa Revista representa por um lado a justa homenagem do nosso reconhecimento ao celebre naturalista portuguez, Felix dAvelar Brotero; por outro lado ser-nos-ha de incitamento a bem merecer da partia
No centenrio da revista Broteria foi editada uma monografia evocativa com contribuies diversificadas sobre a histria da revista (RICO & FRANCO, 2003). Agradecemos Dra. Maria Jos Carvalho, bibliotecria do Colgio Nuno lvares (Caldas da Sade, Santo Tirso), importantes indicaes bibliogrficas sobre a matria deste captulo. 100 A esta atitude no estava seguramente alheia a formao e interesses dos fundadores da Broteria eram padres jesutas, mas tambm investigadores de grande nvel e reputao em diversas reas da botnica e da zoologia. 101 Sobre a pedagogia das cincias naturais vista pela Companhia de Jesus ver GORGUES (1996) e FRANCO (2003a). 102 Seguramente que no incio do sculo XX muito trabalho estava por fazer na flora e fauna do nosso pas.
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que elle tanto honrou, e tornar-nos-ha mais benevolo o acolhimento dos nossos trabalhos entre os portuguezes que se prezam de o ser103. Neste 1. volume da Broteria, C. Zimmermann inicia a publicao de um extenso texto sobre Microscopia vegetal (ZIMMERMANN, 1902, 1903, 1905, 1906). Antes de abordar propriamente a matria cientfica, C. Zimmermann escreve sobre a pedagogia das cincias naturais (que seria tambm a prtica no Colgio de S. Fiel). Os pontos de vista que expressa revelam uma correcta percepo de como se deve ensinar uma cincia experimental como a Biologia104. Aborda a importncia da microscopia no ensino das cincias naturais. Salienta a importncia de serem os prprios alunos a confeccionarem as preparaes microscpicas que iro observar, porque desta forma se despertava entre os alumnos [...] aquelle enthusiasmo de [...] observar, estudar e descrever. Para o autor, o fundamento da pedagogia das cincias naturais residia em conseguir infundir nos animos juvenis [...] amor e enthusiasmo [...] materia que lhes ensinada. Salienta, correctamente, a importncia capital da observao a prtica, primeiro: verias ento os noveis anatomistas com ideias claras e precisas das coisas, em logar das ideias vagas, ligeiras e muitas vezes incorrectas e falsas que adquiriram no estudo dos livros, embora adornados de estampas, estudo que ordinariamente se faz aborrecer por fatigar a memoria, no s por uma questo de princpio metodolgico, mas tambm por efeitos na aprendizagem, dado que o que se v grava-se mais profundamente que o que se leu ou ouviu. Partindo sempre da observao para a elaborao de interpretaes explicativas, e regressando novamente observao para confirmao das hipteses colocadas. Deve o professor fazer notar ao aluno o engano em que cahiu, e persuade-o de que na observao foi precipitado e se deixou guiar por preconceitos, parecendo-lhe ver o que imaginava, e no o que realmente havia de ver. O professor, em logar de lhes corrigir immediatamente o erro, obriga-os a novas investigaes e novo exame [...] assim pouco a pouco se acostuma o discipulo a uma observao minuciosa [...] os repetidos enganos, as continuas correces que tem de fazer aos proprios juizos, fazem-lhe conceber uma salutar desconficana de si mesmo. [...] Acautelar-se-ha naquillo que diz: no propor nem aceitar como verdadeira uma affirmao, cuja evidencia est longe de possuir. Acusa mesmo que o ensino das sciencias [...] na quasi totalidade dos estabelecimentos litterarios em Portugal demasiada, para no

Cndido Mendes de Azevedo, ao fazer um balano da actividade inicial da Broteria escrevia, num suplemento ao fascculo de Maro-Abril de 1913 um grupo de professores se props estudar a fauna e a flora de Portugal. Reuniram materiais de estudo, adquiriram livros, travaram relaes com especialistas nacionaes e estrangeiros, comearam colleces, cada um na sua especialidade; mas, para que os estudos feitos fossem de proveito mais amplo e duradouro, sentiam a necessidade de os publicar (AZEVEDO, 1913). 104 Sobre uma pedagogia moderna das cincias naturais no ensino secundrio ver os aprofundados trabalhos de PAN (1949a, 1949b).

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dizer exclusivamente, theorico. A observao primordial em Biologia, no s para a microscopia (em foco neste trabalho), como para qualquer rea das cincias naturais: sem elle [espirito de observao] o naturalista assemelhar-se-hia a um viajante melancholico e apathico que, atravessando verdejantes prados e campos cheios de fructos, no reparasse nas variegadas bobinas e flores de que esto matizados, cerrasse os ouvidos ao alegre chilrear das avezinhas e no se deixasse impressionar dos encantos da paizagem que o rodeia. C. Zimmermann faz imbuir a admirao (o amor) pela Natureza, na sua prpria observao. No duvida que seja possvel contemplar e observar (cientificamente). Das palavras de C. Zimmermann, semelhana do que podemos ler na introduo geral a este volume da Broteria, transparece a forma como entendia a Natureza admirao, gosto, amor e respeito por todas as criaturas vivas. A microscopia era importante no avano da Biologia da poca, dado que tinha revelado um novo mundo ou multido de seres notaveis pela frma, propriedade e sobretudo pelo numero incalculavel, os quaes pela sua pequenez se furtavam aos olhos. Estes pequenes seres pela microscopia ficam sob o dominio e ao alcance dos nossos sentidos; estudam-se, analysam-se, admira-se-lhes a natureza e importancia capital. O microscpio, sendo um veculo para observar os seres e as estruturas muito pequenas, podia ser utilizado para descobrir o mundo maravilhoso do microscpico, mas tambm para inculcar este amor, admirao e enthusiasmo pelas criaturas vivas. Naturalmente sendo C. Zimmermann padre jesuta, entendia a observao da natureza pela microscopia tambm como um grande incentivo e poderoso estimulo de piedade e amor de Deus, que tudo fez e ordenou com medida, peso e sabedoria summa. O amor Natureza era louvor a Deus: Quantas vezes, extasiado e como que arroubado ante as maravilhas que nas minhas preparaes o microscpio me patenteava, eu louvei a Deus, to minucioso, delicado e perfeito em suas obras!. O texto de C. Zimmermann tambm revela o investimento que o Colgio de S. Fiel fazia no adequado apetrechamento das salas de aula para o ensino das cincias naturais. Afirma peremptoriamente que a microscopia devia fazer parte do ensino secundrio, no devendo estar restringida aos cursos superiores. C. Zimmermann acusa mesmo que infelizmente muito se tem descurado em Portugal o uso do microscopio no ensino secundario. Se exceptuarmos alguns collegios de ensino particular, rarissimos so os lyceus do Estado em que os alumnos aprendam a trabalhar com o microscopio. Contentam-se com a mera descripo do instrumento, sem aproveitar as innumeras vantagens e proveitos que do seu uso podem tirar-se. Mas C. Zimmermann nem quer atribuir todas as culpas aos responsveis do Estado e afirma que a culpa vem, em grande parte pelo menos, de se desconhecer a facilidade relativa que ha em obter preparaes para observao microscpica. Sendo

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este o diagnstico, C. Zimmermann pensava contribuir para remediar a situao precisamente explicando como era fcil e simples a confeco de preparaes para observao de material biolgico, sendo este, ao fim e ao cabo, o objectivo do trabalho que iniciava. Se com isto conseguir que alguns dos meus illustres collegas se animem a estudos micrographicos, e assim contribuir para que aos seus alumnos seja ministrado um ensino practico, que no estudo da anatomia vegetal o unico proficuo, dar-me-hei por bem pago do trabalho que tomei. Outra contrariedade apontada por muitos professores era o tempo necessrio confeco das preparaes microscpicas: Todos se lastimam de que este lhes falta para taes estudos, mrmente no comeo do magisterio. Mas para C. Zimmermann economizando-o e aproventando-o bem, no faltar talvez, podendo at estas tarefas ser encaradas como tempo de descano, sendo recreao e passatempo proveitoso. Naturalmente que poderia haver estes requisitos mas faltarem os instrumentos e utensilios indispensaveis. Para C. Zimmermann vencer [...] esta difficuldade compete ao governo, e vergonha ser que negue aos lyceus o que estes precisam para a boa instruo dos alumnos. O autor endurece ento a sua linguagem, terminando em concluso que o governo no pode negar os subsidios, ao menos para apparelhos indispensaveis na instruco secundaria, e um destes , sem duvida, o microscopio. Quem eram os fundadores da Broteria105? A ideia parecer ter partido de J. S. Tavares106, ento professor no Colgio de S. Fiel, ao qual se juntaram C. Zimmermann107 e C. M. Azevedo108, tambm professores neste Colgio (AZEVEDO, 1913; LEITE, 1931; FRANCO, 2003a, 2003b). Estes trs professores constituam a direco da revista, tendo como colaboradores destacados, A. Luisier109
Sobre a fundao e os primeiros anos da Broteria ver o pormenorizado trabalho de FRANCO (2003a), que tambm apresenta biografias exaustivas dos fundadores e directores da revista (FRANCO, 2003b). 106 P.e Joaquim da Silva Tavares (1866-1931) nasceu em Cardigos. Estuda Humanidades e Filosofia no Colgio de Setbal, de 1882 a 1888, ingressando oficialmente na Companhia de Jesus em 1888. Ensina no Colgio de Campolide e no Colgio de S. Fiel. Termina a sua formao religiosa em Viena (ustria) em 1899, regressando a Portugal. Ensina durante um ano no Colgio de Setbal. Em 1901 estabelece-se no Colgio de S. Fiel. director do Herbrio e do Museu de Histria Natural. Funda a Broteria. Em 1908 nomeado Reitor do Colgio. Na sequncia da implantao do regime republicano, exila-se em Salamanca, e depois no Brasil. Fixa residncia na Baa em colgio jesuta, onde logo em 1912 continua a publicao da Broteria, que agora se sub-intitula Revista Luso-Brazileira. Em 1914 regressa Galiza. Em 1928 regressa definitivamente a Portugal. Entomologista desde cedo, especializa-se no estudo das cecdias, em especial nas deformaes das plantas induzidas por insectos, tornando-se num reputadssimo especialista desta matria. Publica dezenas de artigos cientficos. um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais. Em 1928 torna-se scio efectivo da Academia das Cincias de Lisboa. membro de diversas academias e sociedades cientficas estrangeiras. Faleceu em Paris. So-lhe dedicados diversos txones, de que se destacam trs gneros novos para a cincia: Tavaresia Kief., Tavaresiella del Guercio e Silvatares Nav. (GEPB; LEITE, 1931). Parte da coleco de cecdias de J. S. Tavares encontra-se hoje no Colgio Nuno lvares. 107 Biografia em FRANCO (2003b). 108 Biografia de Candido Mendes de Azevedo em FRANCO (2003b). 109 P.e Alphonse Luisier (1872-1957) nasceu em Frignoley (Sua) e morreu no Colgio Nuno lvares. Ingressa na Companhia de Jesus aos 19 anos. Faz os seus estudos teolgicos em Innsbruch (ustria). A diversidade botnica do Tirol tero despertado, no jovem padre jesuta, o gosto pela botnica, em particular pelos musgos e hepticas. Ensina no Colgio de Campolide entre 1907 e 1910. Com a expulso dos padres jesutas aps a implantao da Repblica em 1910, exila-se
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(ento do Colgio de Torres Vedras), Antonio da Costa e Oliveira Pinto e Camillo Torrend (do Colgio de Campolide), Longinos Navs (de Saragoa) e Manuel Rebimbas (a viver na Blgica). A maioria dos fundadores da Broteria estava associada fundao da Sociedade Portuguesa de Sciencias Naturaes (AZEVEDO, 1913). J. S. Tavares, C. M. Azevedo e L. Navs eram distintos especialistas em entomologia, C. Zimmermann em microscopia, histologia vegetal e diatomceas, A. Luisier em brifitas, A. C. Oliveira Pinto em fsica e qumica, e C. Torrend em sistemtica de fungos. 2. O Colgio de So Fiel A sede da Broteria estava no Colgio de S. Fiel, em Lourial do Campo, perto de Castelo Branco110. Neste colgio educavam uns 350 alunos, pensionistas e gratuitos, vindos de todas as provincias de Portugal e colonias [...] Era all que se publicava a Broteria, e por isso se tornara um centro scientifico dos mais importantes [...] onde acudiam os naturalistas estrangeiros a pedir informaes e materiaes de estudo para as suas especialidades. Aqui tinha a Broteria uma bibliotheca de sciencias naturaes, das melhores de Portugal, e uma completa installao de microscopia. Aqui tinha um herbario, em que, a par de um estimavel numero de phanerogamicas, avultava uma grande colleco de cryptogamicas inferiores, como de fungos, musgos, lichens e algas. O museu de Zoologia, alem da coleco de mammiferos e aves da regio, em que havia algumas especies raras, encerrava uma colleco de insectos, rica pela variedade e novidade das especies que continha. Para o publico estava exposta uma parte s dos orthopteros, nevropteros e lepidopteros da Europa, do Brazil e das colonias portuguezas, assim como parte das colleces de zoocecidias das mesmas regies (esta ultima colleco era a unica da Peninsula Ibrica). As outras colleces, de hymnopteros, hempteros, dipteros e coleopteros, encerravam elementos de grande valor; mas, assim estas como aquellas, iam-se preparando e estudando, segundo o tempo e as circunstancias o permittiam. Havia uma colleco de preparaes microscopicas, para o estudo da anatomia e histologia, tanto animaes como vegetaes,
em Salamanca, onde reside na rua Serranos, 2. Herboriza intensamente nesta regio. Alguns anos mais tarde desloca-se para o Colegio del Pasaje em La Guardia, onde ensina e dirige a Broteria. Regressa finalmente a Portugal em 1932. Dirige a srie de Cincias Naturais da Broteria e ensina no Colgio Nuno lvares. Publica em 1924, Musci Salmanticenses, descrevendo 184 txones, incluindo vrios novos para a cincia. Conhecedor profundo da flora briolgica da Madeira, publica Les Mouses de Madre (1917-1922), e uma segunda edio sob o ttulo Les Mousses de lArchipel de Madre et en general des les Atlantiques (1927-1932, 1938, 1942, 1945). Publica ainda dezenas de trabalhos de briologia. um dos fundadores da briologia moderna. Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto em 1942 e titular da insgnia da Ordem Militar de Santiago do governo portugus. Em sua homenagem tm sido dedicados txones novos para a cincia: Luisieria fariae Tav., Luisieria lantanae Tav. e Luisierella pusilla Ther., alm de outros mencionados no presente trabalho. A sua coleco de brifitas encontra-se hoje no Colgio Nuno lvares. O seu carcter definido por CASTELLARNAU (1958): Era austero, pero tratable y de un corazn bondadoso y muy caritativo (GEPB; CASTELLARNAU, 1958; MELO, 1987). 110 Sobre o Colgio de S. Fiel ver GOMES (2003) e SALVADO (2003).

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trabalho de alguns collaboradores da Broteria (AZEVEDO, 1913). O Colgio de Campolide em Lisboa era outro dos centros de cultura cientfica dos fundadores da Broteria: Outro centro scientifico era o collegio de Campolide, onde eram professores boa parte dos redactores da Broteria. Ahi tinham as suas colleces, algumas dellas importantissimas, como a de plantas phanerogamicas, as de fungos, musgos, diatomaceas e mineralogia. Ahi tinham os livros e instrumentos das suas especialidades, que eram varios ramos da historia natural, a microscopia, a physica e radiologia (AZEVEDO, 1913). 3. A Broteria em 1907 Ao fim de alguns volumes, em 1907, a revista Broteria divide-se em trs sries, uma de vulgarizao cientfica, outra de botnica, e uma outra de zoologia. As trs seces permanecero at ao volume IX referente a 1910 (AZEVEDO, 1913). Na introduo ao volume 6. (B, VI) feito um balano dos primeiros cinco anos de actividade. O balano era positivo: descrevemos mais de 100 especies novas para a sciencia [...] publicmos a monographia de uma familia botanica, as biographias de 4 naturalistas portuguezes, uma duzia de artigos sobre entomologia [...] quasi outros tantos sobre cryptogamicas inferiores e um tratado completo de technica microscopica vegetal [...] apresentmos aos leitores bastantes artigos de vulgarizao [...] encetmos j o estudo de uma das mais difficeis ordens da entomologia a dos Nevrpteros, e neste volume comeamos a publicao de uma monographia do grupo mais interessante dos fungos, qual o dos Myxomycetas. E o desejo de trabalhar (muito) tambm: O programa da Broteria vastissimo. 4. Os fundadores da Broteria e a Sociedade Broteriana Os futuros fundadores da Broteria inscrevem-se como scios da Sociedade Broteriana no fim da dcada de 1890 e iro participar nas distribuies de plantas da Sociedade, na flora lusitanica exsiccata e no Boletim. A. Luisier, C. Zimmermann e J. S. Tavares aparecem pela primeira vez como scios e participando nas distribuies para os anos de 1899-1902, no Boletim de 1902 (BSB, XIX). Participam nas distribuies de 1903-1906 (BSB, XXI). Participam tambm na Flora lusitanica exsiccata nas centrias XIX (BSB, XXVI). A. Luisier publica um trabalho sobre a flora da regio de Setbal no Boletim da Sociedade (BSB, XIX). 5. G. Sampaio e Alphonse Luisier Apesar de G. Sampaio s publicar o seu primeiro trabalho na revista Broteria em 1916, os contactos entre os fundadores da Broteria e G. Sampaio datam de muitos anos antes e remontam ao

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incio da dcada de 1900. G. Sampaio estabeleceu uma longa e rica troca epistolar e cientfica, tanto com A. Luisier como com J. S. Tavares, que se prolongou por mais de duas dcadas, desde o incio da dcada de 1900 at depois de 1920. A. Luisier, em carta datada de 30 de Setembro de 1901, remetida do Colgio de Setbal, escrevia para G. Sampaio: Devo tambem accusar a recepo das plantas que V. Exa. me mandou e que muito me interessam. G. Sampaio ter enviado exemplares de musgos para o seu colega jesuta. Num bilhete-postal datado de 12 de Junho de 1907, endereada do Colgio de Campolide, A. Luisier agradecia os exemplares: Recebi da Livraria Lopes um caixote com [...] pastas de musgos. Agradeo cordealmente to grande favor. [...] Espero encontrar na colleo bom material para os meus estudos biologicos. Em nova carta datada de 20 de Setembro deste mesmo ano, A. Luisier escrevia regozijado: Estive estes dias a examinar os musgos da Academia Polytechnica que V. Exa. me mandou. No meio de um Dicrarum seojanicum colhido por V. Exa. em Ponte de Lima, no logar chamado Formogoso, encontrei um Campylopes que me parece ser o C. flexuosus. Infelizmente no tem esporoforos. Se h essa especie, novo para Portugal. Daqui a alguns dias irei para o Colgio do Barro, Torres Vedras, onde tenciono demorar-me at ao mez de Agosto de 1908, mas em occupaes que no daro muito logar a estudos botanicos. Peo instantemente a V. Exa. que me guarde alguns exemplares dos musgos que encontrar. Brevemente remeterei para o Porto os musgos que V. Exa. me mandou com mais alguns. Existia naturalmente intercmbio recproco entre os dois botnicos. Um dos gneros que mereceu ateno particular a G. Sampaio foi o Ulex. G. Sampaio pediu exemplares emprestados a vrios herbrios, nomeadamente queles a que A. Luisier estava ou tinha estado ligado. A 7 de Julho de 1910, A. Luisier respondia: mandei h j dias os exemplares que aqui tenho dos Ulex que o amigo deseja. Infelizmente esto em muito mau estado. O herbario do Collegio de Setubal esteve muito abandonado durante annos, depois de eu sair de Setubal. O Collegio fechou-se. No anno passado tratei de trazer para Campolide esse meu herbario que tanto trabalho me tinha custado e assim ainda pude salv-lo em parte, mas os insectos tinham feito obra muito conscienciosa. [...] O estudo dos Ulex portugueses creio que no nenhuma brincadeira. Alguns dias depois, talvez porque de facto os exemplares no estivessem em condies, A. Luisier escrevia numa carta datada de 19 de Julho de 1910: O prazer que tive em ir domingo a Cintra para lhe procurar os Ulex que deseja [...] Desculpeme o meu amigo porque nesta epocha de exames est todo o meu tempo to preso que mal encontro alguns instantes nos dias de semana. [...] Quando estudei a flora de Setubal, encontrei bastante difficuldade na classificao dos Ulex porque no tinha seno uma obra ou outra [...]. E num bilhetepostal escrito pouco tempo depois, a 1 de Setembro, do Colgio de S. Fiel, Desculpe-me a demora

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involuntaria em lhe responder a agradecer a amabilidade que teve de me mandar uma prova da classificao do genero Ulex. [...] Gostei muito das suas chaves dos Ulex, e se bem um trabalho deste genero s com o uso de pode devidamente apreciar, parece-me contudo que lhe posso desde j dar com toda a justia os mais calorosos parabens, mostrando que o intercmbio era de espcimes mas tambm de ideias. Outros assuntos eram objecto de troca epistolar entre A. Luisier e G. Sampaio. A. Luisier escrevia do Colgio de Campolide para G. Sampaio a 27 de Setembro de 1907: A pedido do Dr. Fedde de Berlin traduzi para latim para serem publicadas no Reportorium speciarum novarum regni vegetabilis, as diagnoses das especies e variedades novas descriptas por V. Exa. nas suas Notas criticas sobre a flora portugueza. No julgo porm licito mandar essa traduo a Berlin, sem pedir a autorizao a V. Exa. e mandar-lhe o manuscripto para V. Exa. ver se esse vai exacto e interpretei bem o pensar de V. Exa. Peo pois encarecidamente a V. Exa. me queira dar essa autorizao quanto antes [...] H dias mandei para a Povoa de Lanhoso as segundas provas do seu artigo sobre os ranunculus [...]. A 4 de Janeiro de 1910, A. Luisier pedia informaes sobre as criptogmicas do Herbrio da Academia, e desabafava sobre os seus musgos: Um botanico italiano, o Dr. Travuso, pede-me com instancia que lhe copiasse o catalogo dos fungos da sua lista de cryptogamicas da Polytechnica do Porto. um trabalho bastante grande. Lembrei-me pedir-lhe um exemplar desse catalogo se ainda tem algum disponivel. [...] Estou actualmente rodeado de musgos. preciso aproveitar as frias para adiantar o trabalho de classificao. Aps o encerramento do Colgio de S. Fiel no ps-1910, A. Luisier exila-se em Salamanca e de l que escreve a G. Sampaio numa carta datada de 28 de Fevereiro de 1914: Muito me alegro com a noticia da proxima vinda a Salamanca do meu excellente amigo e dos estudantes de botanica. Logo que puder irei informar-me dos preos dos hotis [...] Tenciono acompanha-los nas excurses projectadas, mas eu ando sempre de batina. Espero que no ser essa circunstancia desagradavel a nenhuma das senhoras que vierem [...] Eu h muitos annos que deixei completamente de lado o estudo das phanerogamicas para consagrar exclusivamente s muscineas os raros momentos livres que me deixam as minhas outras occupaes que actualmente so muitas. [...]. Em 1915, A. Luisier encontra, nos arredores de Salamanca, uma Centaurea que no reconhece. A 4 de Junho envia a planta para G. Sampaio estudar: Por este correio mando parte de uma Centaurea que estimaria saber o nome. Como tem muitos (vo s alguns) e grandes capitulos vae dentro de [...] Se no for demasiada maada pedia o favor de ma classificar. Porem no ha urgencia nenhuma. G. Sampaio ter ficado surpreendido. Envia um exemplar para o seu colega de Coimbra. J. Henriques responde a 13 de Julho, confirmando a novidade da descoberta: Devolvo a Centaurea sem ter encontrado cousa comparavel. primeira vista

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deu-me idea da C. vicentina Well., mas examinando-a vi que era diferente. [...] P.S. J depois deste escrito percorri as Centaurea do herbrio europeu e vi aproximaes com a C. hellenica, mas s aproximaes. Era uma espcie nova. G. Sampaio dar-lhe- o nome de Centaurea Luisieri em homenagem ao seu descobridor, e publicar o trabalho na revista Broteria de 1916 (SAMPAIO, 1916c). A. Luisier recebe o trabalho e escreve de Ciudad Rodrigo a 22 de Julho de 1916: Recebi hoje e muito penhorado agradeo as duas separatas bem como a nova prova de amizade que me deu dando o meu nome Centaurea de Salamanca. J. Daveau tambm recebe o trabalho e escreve a G. Sampaio a 24 de Julho de 1916 do Jardim Botnico de Montpellier com uma frase curiosa: Hoje recebi os dois folhetos, tratando um da Centaurea Luisieri sp. nov., outro de Lichens novos para flora portuguesa. Agradeo sumamente reconhecido o favor desta offerta e felicito-o para ter encontrado num sitio to corrido como so arredores de Salamanca Centaurea nova para a sciencia. O Pe. Luisier teve a mo feliz. Ainda durante o exlio e aps a passagem por Salamanca, A. Luisier ensina no Colegio del Pasaje em La Guardia, na Galiza. Continua o seu estudo dos musgos. Em carta datada de 15 de Abril de 1921 escrevia para G. Sampaio: Devo os parabens a V. Exa. pelos seus trabalhos e em particular pelo artigo sobre as Desmidicaceas. Eu continuo, conforme posso os meus trabalhinhos sobre os musgos. Pouco tenho publicado: as ocupaes do ensino no me do vagar para mais alm da monographia dos musgos da Madeira que est em via de publicao e que terei o gosto de mandar a V. Exa. Como director da Broteria, A. Luisier insistia amide na colaborao de G. Sampaio. Em carta datada de 7 de Maio de 1921, A. Luisier elogiava o seu colega portuense e pedia colaborao para a Broteria: Sinto muito o mau estado da sua saude, o que atribuo em primeiro logar ao muito que teve de soffrer fisica e moralmente nestes annos passados. E por isso no lhe occultarei a minha admirao pelos valiosos e numerosos trabalhos scientificos que apesar de tudo continua a publicar. Se V. Exa. puder collaborar no fasciculo de Dezembro que principia a se imprimir em Outubro, muito lhe agradecerei. No ano seguinte, a 30 de Janeiro, A. Luisier escrevia para G. Sampaio: O fasciculo de Junho que ser dedicado botanica principia-se a imprimir na primeira [...] Conto com um artigo de V. Exa.. Ao mesmo tempo que J. Henriques se queixava amargamente do custo da impresso do Boletim da Sociedade Broteriana, tambm A. Luisier escrevia para G. Sampaio a 25 de Maro de 1922: nesta ocasio em que a tipografia acaba de aumentar em 50% o preo da impresso!! Por este andar no sei quanto tempo mais poderemos sobreviver. 6. Os Herbrios dos Colgios de S. Fiel, Setbal e Campolide

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O Colgio de S. Fiel, o Colgio de Setbal e o Colgio de Campolide constroem aos poucos os seus herbrios. As coleces do Colgio de Campolide so descritas por A. C. Oliveira Pinto em dois artigos que publica na revista O Nosso Colgio, 1908-1910 (ONC, 1908-1910; PINTO, 1910a, 1910b). As melhores coleces eram de fungos e musgos. Uma das mais completas colleces de fungos de Portugal [...] Dos myxomycetos seguramente, depois da do British Museum, a mais completa da Europa [...] das 283 especies conhecidas contem ella 199 especies; e entre estas algumas muito raras e novas para a sciencia [s faltando] quasi exclusivamente especies criticas ou duvidosas ou algumas rarissimas. O estudo dos mixomicetos era levado a cabo por C. Torrend, poca um dos mais reputados especialistas deste grupo de fungos. Era autor de diversos artigos publicados na Broteria e de uma Flore Gnrale des Myxomectes. As coleces de musgos continham exemplares do continente e da Madeira. As coleces eram ampliadas pela compra de exsiccata e outras colleces j feitas ou assignar as que se esto distribuindo periodicamente, e por meio de excurses scientificas como as que j se fizeram [...]; trocas com outros naturalistas, donativos feitos ao museu, etc.. Registam-se trocas de fungos e musgos com naturalistas estrangeiros, principalmente com a Sociedade de Berlim, Berliner Botanische Tauschverein. Colaborava-se com a Universidade de Coimbra: Fez-se [...] a clasificao de mais de 100 especies de fungos para o herbario de Coimbra, a pedido do Ex.mo Sr. Dr. Julio Henriques ao nosso collega P. C. Torrend. Este trabalho apparecer no Boletim da Sociedade Broteriana num estudo de conjuncto da Mycologia portugusa, coordenado pelo naturalista Sr. Traverso. A. C. Oliveira Pinto reconhece que s a boa vontade e inquebrantvel energia de trabalho [dos] dois collaboradores, P. A. Luisier e P. C. Torrend tinha permitido chegar to longe no ensino e na investigao em cincias naturais no Colgio de Campolide. De facto, pelas descries de A. C. Oliveira Pinto nestes dois artigos, a impresso de actividade febril em cincias naturais no Colgio de Campolide no fim da dcada de 1900. O Herbrio do Colgio de S. Fiel tornar-se- num dos melhores do nosso pas. As coleces iniciam-se com C. Zimmermann em 1897 (TAVARES, 1924). Em 1903, J. S. Tavares assume a direco do herbrio (TAVARES, 1924). Quem eram os principais colectores de exemplares para o Herbrio de S. Fiel? C. Torrend colhia fungos; A. Luisier, fanerogmicas (da regio da Arrbida enquanto esteve no Colgio de Setbal, e do Tirol, quando residiu na ustria) e sobretudo musgos; Meniarth recolhia plantas dos arredores do Colgio do Barro em Torres Vedras onde vivia; Valrio Cordeiro, lquenes da regio de Setbal; Manuel Pacheco, colhia algas; Sebastio Antunes, empregado do Herbrio tambm recolhia fanerogmicas (TAVARES, 1924).

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Como seria de esperar, estabelece-se a troca de exemplares (e respectivas determinaes e tambm opinies) com o Herbrio da Academia Politcnica e com os de Lisboa e Coimbra. J referimos as trocas de material de herbrio entre A. Luisier e G. Sampaio. Em outras ocasies, as trocas so dirigidas pelo seu director, J. S. Tavares. Em carta datada de 16 de Junho de 1905, endereada da Revista de Sciencias Naturaes Broteria - Collegio de S. Fiel e dirigida a G. Sampaio. J. S. Tavares escrevia: envio inclusa a guia de um caixote que leva as Labiadas do nosso herbrio e que V. Exa. ahi conservar o tempo que lhe forem precisas. Como est com a mo na massa, peo-lhe o obsequio de as rever, e de escrever num papel parte os nomes que houver de rectificar. [...] No que diz respeito questo principal isto a Nepeta multibracteata Brot., ns temos s duas Nepetas [...] No dia 23 do corrente tenho que partir para Coimbra a acompanhar os alumnos que vo fazer exame de 7. Ano. [...] Com as Labiadas vo tambm dois Rubus do Tirol, que peo o obsequio de os determinar. E num bilhete-postal escrito poucos dias depois a 9 de Julho, J. S. Tavares escrevia: e assim mal poderei tratar de lhe arranjar plantas para o herbario da Academia. Mas creio que isso se poder fazer no prximo anno lectivo. G. Sampaio ir homenagear J. S. Tavares dedicando-lhe algumas espcies novas, como por exemplo, Loeflingia Tavaresiana Samp.111. 7. A implantao da Repblica A implantao do regime republicano seria desastrosa para a actividade cientfica dos jesutas botnicos e para a Broteria. Logo no dia 8 de Outubro um decreto expulsa, desnaturaliza e espolia de tudo a todos os Jesutas que residiam em Portugal (AZEVEDO, 1913). Os padres jesutas eram expulsos de Portugal112 e a redaco da Broteria exilava-se no estrangeiro113 (AZEVEDO, 1913).

Loeflingia Tavaresiana Samp., dedicada ao meu amigo P. Joaquim da Silva Tavares, professor do Collegio de S. Fiel e distincto naturalista bem conhecido pelos seus estudos sobre as zoocecidias de Portugal (SAMPAIO, 1905e). 112 Na Blgica, os professores do Colgio de Campolide instalam-se no Chteau de Dielighem em Jette-Saint-Pierre-lezBruxelles e fundam o Instituto NunAlvres que abre as suas portas em 7 de Novembro de 1912. Todavia a guerra com a Alemanha iria tornar a permanncia em solo belga invivel. Em 1914, o Instituto desloca-se para o Hotel de Los Placeres em Lourizn, perto de Pontevedra, na Galiza. As condies do Hotel para o ensino eram deficientes e, em Setembro de 1916, o Instituto muda-se para o Colegio del Pasaje em La Guardia, Galiza. O Colegio del Apostol Santiago, instalado neste edifcio, onde vivia o P.e Merino, muda-se ento para Vigo, para o edifcio La Molinera (para uma histria deste Colgio ver http://www.colegioapostol.com/). O Instituto Nuno lvares permanece em solo espanhol at 1932, quando regressa definitivamente a Portugal, para as Caldas da Sade, onde ainda hoje se encontra. O perodo entre 1916 e 1932, de permanncia em La Guardia, ser dos mais profcuos para os jesutas botnicos portugueses (ONC, 1914-1934). 113 A publicao da revista Broteria interrompida em 1911, mas reaparece no ano seguinte com edio no Brasil. Dois annos e meio so passados, depois que os redactores da Broteria foram expulsos de Portugal pelo governo provisorio da Republica e espoliados dos seus livros e colleces scientificas, pelo unico motivo de serem jesuitas (AZEVEDO, 1913). A Broteria reappareceu aps um anno de interrupo; e reappareceu, com excesso de ousadia, augmentada em volume, confiada na benevolencia que alem-mar esperava encontrar no Brasil, para onde foi arrojada parte de seus redactores pela onda revolucionria (AZEVEDO, 1913). Em 1913, a Broteria tem a redaco em Salamanca. Com a instalao do Colgio

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Logo a 18 de Novembro de 1910, nomeada pelo governo uma comisso encarregada de examinar urgentemente as coleces scientificas e a bibliotheca existentes no Collegio de Campolide, pertencente ao Estado, classificando o que encontrar digno de aproveitamento, e propondo ao Ministro da Justia o destino a dar a esses objectos e livros, como entenderem mais util ao progresso da sciencia e ao enriquecimento das colleces, museus e bibliothecas de Lisboa (AZEVEDO, 1913). A comisso era constituda por Alberto Ferreira Vidal, reitor do Liceu de Passos Manuel, Anselmo Braamcamp Freire, presidente da Cmara Municipal de Lisboa e director do Arquivo Histrico, Adolpho Penna, professor do Liceu da Lapa, Almeida Lima, professor da Escola Politcnica, Anthero de Seabra, conservador do Museu Bocage, anexo Escola Politcnica, Antonio Aurelio da Costa Ferreira e A. Machado114, professores do Liceu Cames, A. X. Pereira Coutinho e Balthasar Osorio, professores da Escola Politcnica, Gabriel Pereira, inspector das Bibliotecas, e Jos Leite de Vasconcellos, director do Museu Etnolgico (AZEVEDO, 1913). A 21 de Novembro eram adicionados comisso os seguintes elementos: J. Verissimo de Almeida, do Instituto de Agronomia e Veterenria, e Francisco Julio Henriques Cortes, do Colgio Militar (AZEVEDO, 1913). A presena de professores da Escola Politcnica e de diversos liceus da capital era lgica tendo em conta o tipo de coleces existentes no Colgio de Campolide e fazia adivinhar que o esplio do Colgio seria distribudo pela Politcnica e liceus de Lisboa. Mas a comisso rene-se e vota por unanimidade que se restituam as coleces aos seus proprietrios (AZEVEDO, 1913). No entanto, de grande parte dos livros, instrumentos e coleces perde-se o paradeiro, e os proprietrios acabam por receber s parte do que lhes pertencia, e aps muitos meses de espera (AZEVEDO, 1913)115. Pela correspondncia recebida por G. Sampaio possvel escrever um pouco da histria das coleces biolgicas do Colgio de Campolide. Numa carta para G. Sampaio datada de 10 de Maro de 1912, A. Machado indagava: A Comisso encarregada de distribuir o material scientifico de Campolide encontrou ali uma colleco de musgos de Isaac Newton, que presentemente se encontra [...] no meu Lyceu de Cames. Peo o favor de me informar se a referida coleco pertence Escola Polytechnica do Porto, afim de a remetter para ahi. A resposta de G. Sampaio ter sido positiva, dado que poucos dias depois, a 23 do mesmo ms, A. Machado escrevia: Peo-lhe o favor de me dizer se recebeu a guia e a remessa dos musgos e se chegou a coleco em bom estado.
Nuno lvares em La Guardia, em 1916, a redao da revista passa tambm para o colgio galego, onde permanece at 1932, quando regressa definitivamente a Portugal (ONC, 1914-1934). 114 Sobre A. Machado ver Captulo IX.7. 115 Uma parte do Herbrio do Colgio de Campolide foi de facto devolvida aos seus proprietrios, encontrando-se hoje no Colgio Nuno lvares. Agradecemos ao P.e Jos Carvalhais a amabilidade e disponibilidade que teve em nos aceder a consulta do importante Herbrio do Colgio.

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Tambm em Novembro de 1910 nomeada uma comisso para estudarem o destino a dar aos livros e colleces de estudo do extincto Collegio de S. Fiel116 (AZEVEDO, 1913). Esta comisso era constituda por personalidades da regio de Castelo Branco, onde se localizava o Colgio: Jos Ramos Preto117, advogado, Gasto Randolpho Correia Mendes, professor do liceu (que por motivos pessoais, se afastou da comisso), Alfredo Alves da Mota, mdico municipal, Francisco Xavier Pereira, professor da Escola de habilitao para o magistrio primrio e Arthur Marques de Carvalho, veterinrio (AZEVEDO, 1913; SALVADO, 2001). Esta comisso no tinha o mrito da nomeada para o Colgio de Campolide e as coleces biolgicas presentes em S. Fiel seriam at mais valiosas dos que as de Campolide. A comisso elabora um relatrio datado de 22 de Fevereiro de 1911, em que se preconizava que o Herbrio fosse para o ento Liceu de Castelo Branco (SALVADO, 2001). Mas o Governo decide em contrrio e institui a Universidade de Coimbra como depositria fiel das coleces de Histria Natural de S. Fiel (SALVADO, 2001). Jos Ramos Preto, advogado na regio, reage a 16 de Janeiro de 1912, naturalmente insistindo na conduo das coleces biolgicas de S. Fiel para o liceu de Castelo Branco, dado ser esta escola absolutamente desprovida de gabinete de [...] histria natural (SALVADO, 2001). As autoridades acabaro por decidir dividir o esplio do Herbrio de S. Fiel entre o Liceu de Castelo Branco118 e o Herbrio da Universidade de Coimbra (SALVADO, 2001). Na correspondncia recebida por G. Sampaio encontramos eco desta contenda. Em carta datada de 27 de Dezembro de 1910, J. Henriques queixa-se a G. Sampaio do destino que pareciam tomar as coleces do Colgio de S. Fiel: Contava receber alguma cousa das colleces de S. Fiel, mas o Ministro da Justia dise ao Reitor, que para c nada dava, porque tudo era pouco para Lisboa. Tinham-me dito que essas colleces seriam repartidas por Coimbra e Porto. Agora tudo para Lisboa. Mas, como j referimos, as preocupaes de J. Henriques eram infundadas. Ser at no Boletim da Sociedade Broteriana, nos volumes XXVIII (HENRIQUES, 1920) e I (II srie) (HENRIQUES, 1922), que apresentado um inventrio do Herbrio de S. Fiel (parcial, s referente flora nacional; no primeiro trabalho referente s plantas vasculares e, no segundo, referente s criptogmicas). O pequeno texto que antecede o inventrio (de 1920) importante e muito elogioso para as coleces e para os
116 Sobre o desmantelamento das coleces de cincias naturais do Colgio de S. Fiel ver SALVADO (2001) e SALVADO (2003). 117 Jos Ramos Preto, margem da comisso, mas aproveitando a onda anticlerical do ps-5-10-1910, elabora um relatrio, datado de 26 de Janeiro de 1911, sobre a actividade do Colgio de S. Fiel e da Companhia de Jesus (PRETO, 1911), o qual mereceu uma resposta detalhada do P.e Cndido Mendes de Azevedo, publicada tambm em 1911 (AZEVEDO, 1911). O texto de J. R. Preto, extremamente depreciativo e acusador, centra-se em aspectos econmicos e financeiros, no referindo nem o ensino nem a investigao biolgica em S. Fiel pelo que no o discutiremos aqui; alis a ausncia de apreciao por parte de J. R. Preto do ensino e investigao em cincias naturais em S. Fiel uma das contestaes de C. M. Azevedo. 118 Onde ainda hoje se encontra na Escola Secundria de Nuno lvares (Castelo Branco).

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professores de S. Fiel119. Pode ler-se na introduo que o govrno autorisou a Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra a escolher nos seus gabinetes e laboratrios o que julgasse digno de ser aproveitado. Uma comisso para essa escolha nomeada escolheu vrios instrumentos de fsica, alguns animais empalhados, uma bela coleco de insectos, com especialidade de borboletas, a coleco preciosa de Zoocecidias, alguns livros e o herbrio. Segue-se uma descrio do Herbrio de S. Fiel: neste colaboraram os dintintos professores do Colegio, os Srs. P.e J. da Silva Tavares, C. Zimmermann, C. Torrend, A. Luisier, Meniarth, L. Antunes. No herbrio encontram-se tambm exemplares colhidos por empregados do Jardim Botanico de Lisboa e alguns dos distribuidos pela Sociedade Broteriana. No herbrio, alm de plantas portuguesas, encontram-se no poucas colhidas em diversas localidades dos pases por onde passaram aqueles professores. Este herbrio um documento valioso para o estudo da flora do pas sintetiza a qualidade e nvel do Herbrio de S. Fiel, fruto de anos (no muitos) de trabalho rduo dos jesutas fundadores da Broteria. Por fim, neste texto introdutrio prestada homenagem e reconhecimento aos notveis fundadores da Broteria: Os coleccionadores so homens de grande ilustrao scientifica, provada pelas publicaes de que so autores [...] No Colgio, alm dos servios do ensino dos colegiais, trabalhava-se utilmente e muito se fez e se poderia continuar com directores to competentes. A incluso do Herbrio de S. Fiel no Herbrio da Universidade de Coimbra tambm se atesta por uma carta de J. Henriques, dirigida a G. Sampaio, datada de 25 de Maio de 1921: Pede-me fungos e musgos. caso grave porque tenho eu de escolher o que se poder dar, e isso grave. A coleco de fungos parasitas de diversas plantas grande e levar tempo a correr. Dos fungos grandes no h muitos. Talvez possa separar alguns da coleco de S. Fiel. Dos musgos a separao trabalhosa, por serem bastantes numerosos. Verei o que poderei fazer. As coleces de diatomceas do Herbrio de S. Fiel foram, em parte, restitudas ao seu principal colector, C. Zimmermann (TAVARES, 1924). A riqueza do Herbrio do Colgio de S. Fiel data do seu desmembramento em 1910 evidenciada por J. S. Tavares, num trabalho que publica na Broteria (TAVARES, 1924): compunha-se de 93 espcies de Lichenes portugueses; 627 espcies de Musgos, portugueses e estrangeiros, incluindo a Bryotheca Europaea e a Flora exsiccata Bavarica; 521 espcies de Fungos portugueses; cerca de 3.000 Diatomceas, em que entravam as colleces compradas a Tempere e a Peragallo; 855 espcies e 106 subespcies de variedades de Phanerogmicas portuguesas, a que se devem juntar 47 Phanerogmicas estrangeiras. O nmero total das espcies de que se compunha o Herbrio de S. Fiel
Este reconhecimento ser agradecido por J. S. Tavares num artigo que publica em 1924 na revista Broteria sobre o Herbrio de S. Fiel (TAVARES, 1924).
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elevava-se por tanto a 5.121 espcies e o nmero de exemplares (no de espcies) de Phanerogamicas portuguesas ascendia a 1.311, assim distribudas: 27 Pteridfitas, 6 Gymnosprmicas, 231 Monocotyledneas e 1.043 Dicotyledneas. Naturalmente que o Herbrio de S. Fiel era especialmente rica nos grupos em que os jesutas botnicos se destacavam: musgos e diatomceas. A espoliao das coleces biolgicas do Colgio de Campolide e do Colgio de S. Fiel era grave e tem eco na prestigiada revista americana Science. No nmero publicado a 24 de Novembro de 1911, T. D. A. Cockerell dava conta do que se passara e referia um documento de protesto subscrito pelos padres jesutas exilados. Cockerell concordava que os professores jesutas tinham o direito de receber de volta os seus bens, livros e coleces. Escrevia que granting the accusations [...] that they are jesuits, and opposed to a republican form of government, there is still no justification for the action taken in depriving them of their scientific materials. No doubt the government claims that all these things belong to the colleges, and not at all to the particular men; but while this may be true in a sense, all scientific men will agree that they had rights in the matter which have been apparently ignored. De seguida o autor do texto sugere a formao de uma comisso internacional para estudar o assunto e elaborar um relatrio. Conclui: if the report supported the exiles, organized protests from the scientific bodies of different countries might be appropriate (COCKERELL, 1911).

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VII. A Repblica e as Universidades. Gonalo Sampaio, professor da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto 1. A Repblica e as Universidades A instaurao da Repblica em 5 de Outubro de 1910 desencadeou uma revoluo no ensino superior portugus. Nos anos seguintes publicada uma catadupa de legislao estrutural e normativa sobre o ensino superior, de que destaca a criao, em 1911, das Faculdades de Cincias nas trs Universidades portuguesas, Lisboa, Coimbra e Porto, com estatuto e organizao semelhantes. Seria uma medida modernizadora de grande alcance para o ensino superior no nosso pas. Enquanto no encontrmos qualquer comentrio poltico ao 5 de Outubro em toda a correspondncia de A. X. Pereira Coutinho e J. Henriques para G. Sampaio, encontrmos diversas apreciaes s alteraes legislativas que iam sendo produzidas no ensino superior. 2. Os cursos livres Uma das primeiras medidas do governo republicano, publicada a 7 de Novembro de 1910 foi a transformao dos cursos das Academias e da Universidade de Coimbra em cursos livres, sem assistncia obrigatria e regime de faltas. Pode ler-se no Dirio do Governo n. 28: Direco Geral da Instruco Secundaria, Superior e Especial. Considerando que j foi decretado o regime de cursos livres na Universidade de Coimbra e Escola Polytechnica de Lisboa [...] Considerando que os alumnos da Academia Polytechnica desejam os cursos livres; O Governo Provisorio [...] decretou: Todos os cursos professados na Academia Polytechnica do Porto so livres. Os exames [...] devero versar sobre as materias professadas durante o anno nas respectivas cadeiras [...] (AAPP, 1910-1911). Poucos dias depois, a 14 de Novembro, J. Henriques escrevia a G. Sampaio sobre este assunto: O regime dos cursos livres mau [...] H estudantes com 8 e 9 cadeiras! H um estudante matriculado no 4. ou 5. de Direito e que est dando lies no lyceu de Ponta Delgada!! Haver pas no qual isto se d?. A 27 de Dezembro deste ano, J. Henriques voltava a desabafar sobre as alteraes da rotina acadmica: Com relao aos trabalhos acadmicos [...] no sei o que ser no fim do anno. Na minha aula ainda veem bastantes alumnos e mesmo aos trabalhos prticos. De 77 faltam a esses servios uns 30. Esses nem veem s lioes theoricas nem s praticas. Que faro no fim do anno? C ainda se no falou nos tais exercicios e conferencias. Veremos se depois de fevereiro [...] se vem essa novidade.

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3. A criao das Universidades de Lisboa e Porto Os dois Decretos fundamentais que instituam as Universidades de Lisboa e Porto e as Faculdades de Cincias nas trs Universidades seriam publicados a 22 de Abril e a 15 de Maio de 1911. Os cursos, a carreira docente e o ensino universitrio seriam profundamente modificados com esta legislao. Os projectos destes diplomas tero sido discutidos nas Academias e na Universidade de Coimbra. J. Henriques enviava para G. Sampaio os seus comentrios a 26 de Fevereiro de 1911: Recebi hontem a sua estimada carta. O objecto dela complicado. O reitor da nossa Universidade deve ter ido para Lisboa; era o que ele tencionava fazer. Nada sei do que ele projecta. A organizao das faculdades tem de ser discutida nos conselhos, pois que so esses os competentes. Com relao Botanica, eu no vou muito fora da ideia de fundir a Morfologia com a Botnica Geral [...] O ensino da Botnica ficaria com a Botnica Geral e Botnica Especial. Esta parte que no deve ser tocada. Com relao ao curso de Botnica Mdica no sei o que faro as Faculdades de Medicina. O curso semestral pouco, muito especialmente o que vai de Maro a Julho, que ou tem sido muito reduzido. Aqui, como os cursos do 1. anno mdico tm sido enormes, tem sido divididos em duas turmas, tanto em Botnica como em Zoologia, uma no 1. semestre, outra no segundo, saindo as gratificaes dos rendimentos das Faculdades. Apesar disto ainda esses cursos so divididos em pequenas turmas (12 a 16 alumnos) para os trabalhos prticos. Fala-me em tres professores. Aqui temos dous e um assistente em Zoologia e outro em Botnica e agora foi a proposta para o 2. assistente. No tenho presente o que querem os de Lisboa. Ouvi lr o projecto, h tempos, mas no lhe liguei grande ateno. Esperemos pela discusso nos conselhos e pelo que os reitores nos dam. conveniente no perdermos o que temos, ou pelo menos no ficarmos ganhando menos do relativamente pouco que agora recebemos. Alguns dias depois, J. Henriques voltava questo dos cursos livres, que afinal no estariam a correr to mal quanto teria temido, escrevendo a G. Sampaio a 10 de Maro: Como tem corrido por ahi os cursos livres? Na minha aula tem havido certa frequencia e na pratica por enquanto no tenho razo de queixa. Veremos o que vir ainda. O Decreto de 22 de Abril de 1911 criava as Universidades de Lisboa e Porto e reformava a Universidade de Coimbra. O diploma comeava por definir os objectivos das Universidades portuguesas: Fazer progredir a scincia, pelo trabalho dos seus mestres, iniciar um escol de estudantes nos mtodos de descoberta e inveno scientfica; Ministrar o ensino geral das scincias e das suas aplicaes, dando preparao indispensvel s carreiras que exigem uma habilitao scientfica e tcnica; Promover o estudo metdico dos problemas nacionais e difundir a lata cultura na massa da Nao pelos mtodos da extenso universitria. Em cada Universidade, era criada uma Faculdade de

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Cincias destinada ao ensino superior e geral das cincias matemticas, fsico-qumicas e histriconaturais. Era garantida a liberdade, independncia e autonomia do ensino universitrio: S as Universidades so competentes para governar o respectivo ensino. O professor desenvolve livremente o ensino que lhe foi confiado e responde perante a Faculdade respectiva. As Faculdades organizam livremente o programa geral dos estudos, dentro do seu quadro, e so responsveis perante a Universidade. A Universidade delibera sbre a organizao do quadro de estudos e responsvel perante o Govrno (artigo 13.). O importante artigo 74. reforava lapidarmente a autonomia e a liberdade do ensino universitrio: O ensino universitrio assenta fundamentalmente no princpio da liberdade de ensinar e aprender. O artigo 40. definia a hierarquia do professorado: professores ordinrios; professores extraordinrios; assistentes; professores livres e professores contratados. A categoria de lente, com dezenas de anos no ensino superior, dava assim lugar de professor. O professor ordinrio era pois o antigo lente proprietario. Os professores ordinrios, extraordinrios e assistentes so nomeados pelo Govrno, sbre proposta das Faculdades e Escolas, mediante concurso por provas pblicas, por ttulos scientficos e servios ao ensino, ou por promoo ou transferncia, consoante os regulamentos das Faculdades e Escolas (artigo 41.), com um pargrafo nico: As Faculdades e Escolas podero extraordinariamente propor ao Govrno a nomeao sem concurso, de individualidades eminentes, de notria reputao, nas Sciencias e nas Letras. Na sequncia da criao dos cursos livres a 7 de Novembro de 1910 era agora institucionalizado o professor livre: Os professores livres so os admitidos pelas Faculdades e Escolas e autorizados pelo Senado, para regerem cursos facultativos gerais ou especiais (artigo 48.). No entanto, Os professores livres no teem ordenado do Estado; so remunerados pelos alunos, recebendo uma percentagem deduzida da propina [...], e a frequncia dos seus cursos tem valor igual ao dos cursos oficiais (artigo 55.). Eram tambm definidas as caractersticas do ensino universitrio: A atividade docente dos professores e assistentes exerce-se: expondo a scincia feita, em lies e em conferencias com os alunos; ensinando como se faz a scincia, em exerccios de investigao scientfica; ensinando o que vale a scincia, em exerccios de aplicao scientifica (artigo 51.). O ensino era organizado em dois semestres lectivos. Em consonncia com a criao dos cursos livres e a postura radical do republicanismo inicial, o artigo 75. estabelecia que: A ordem dos estudos no prescrita. Os estudantes podem inscrever-se livremente nos cursos e cadeiras, salvo as dependncias estabelecidas nos diplomas especiais e o artigo 76. que: No haver registo algum de assistncia ou falta dos alunos a qualquer dos cursos, salvo as restries constantes dos diplomas especiais. Era criada a figura de licena sabtica por um semestre ao fim de seis anos de ensino (artigo 58.). Finalmente o artigo 82. estabelecia que as Universidades conferem os

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graus de Bacharel, Licenciado e de Doutor (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914; DG 1911 04 22; SANTOS, 1996). 4. A criao das Faculdades de Cincias de Lisboa, Coimbra e Porto Pouco tempo depois do diploma que reformava a universidade portuguesa, era publicado o importante Decreto de 15 de Maio de 1911 que organizava as Faculdades de Cincias de Lisboa, Coimbra e Porto120. Este diploma era necessrio e antecipado pelo decreto anterior, que no seu artigo 41. remetia a admisso dos professores para regulamentao especfica da cada escola. Este decreto de 15 de Maio, semelhana do anterior, organizava as trs instituies universitrias de Lisboa, Coimbra e Porto, em moldes semelhantes. Era assim a machadada final no previlgio de sculos da Universidade de Coimbra. O primeiro artigo definia os objectivos das Faculdades de Cincias. A Faculdade de Cincias tem por fim a cultura, progresso e ensino das scincias matemticas, fsico-qumicas e histrico-naturais. O artigo 5. estabelecia que O ensino feito normalmente por professores ordinrios, professores extraordinrios e assistentes. Existiam primeiros assistentes e segundos assistentes (artigo 32.). A admisso dos professores s Faculdades era regulamentada numa srie de artigos. O artigo 33. definia as vias possveis de admisso: O provimento dstes lugares feito por concurso, por distino e por antiguidade. Para concorrer ao lugar de segundo assistente era necessrio apresentar pblica-forma da carta de doutor na seco respectiva121. Os segundos assistentes eram nomeados por dois anos, findos os quais teem de deixar a Faculdade se no forem reconduzidos. Os segundos assistentes reconduzidos podem concorrer ao lugar de primeiros assistentes, se houver vaga no respectivo grupo, sendo o concurso documental e efectuado perante os professores da seco respectiva (artigo 39.). A principal funo dos segundos assistentes era auxiliar os trabalhos prticos do respectivo grupo (artigo 38.). Os primeiros assistentes eram nomeados por trs anos, findos os quais teem de deixar a Faculdade, se no forem reconduzidos. Os primeiros assistentes reconduzidos podem concorrer ao lugar de professores extraordinrios, se houver vaga, no respectivo grupo, sendo o concurso ainda documental e efectuado perante os professores da respectiva seco (artigo 41.). Os primeiros assistentes auxiliam os professores nas demonstraes e experincias do curso, dirigem os trabalhos prticos dos alunos e regem os cursos de que forem
Sobre a criao da Faculdade de Cincias de Lisboa ver FERREIRA (1987). Esta exigncia do grau de doutor era uma medida avanada para a poca, mas seria pouco exequvel, dado que o grau de doutor por estas Faculdades era criado pelo mesmo diploma. Esta situao seria corrigida por legislao posterior. O Decreto de 18 de Novembro de 1911 criava um regime transitrio para os segundos assistentes, autorizando quem tivesse habilitaes para concorrer a professor das extintas Academias pudesse concorrer a segundo assistente (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914).
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encarregados pela Faculdade, podendo ainda ser autorizados a abrir cursos livres remunerados pelos alunos (artigo 40.). O artigo 42. estabelecia que A promoo a professor ordinrio faz-se, em regra, por antiguidade de servio; mas pode a Faculdade propr a nomeao para tal lugar de pessoa de excepcional valor, que tenha prestado relevantes servios scincia. Assim, os assistentes e os professores extraordinrios eram providos por concurso, mas os professores ordinrios, no topo da carreira, normalmente por antiguidade. O ensino Consta de uma parte livre (lies magistrais e lies com demonstrao) e de outra obrigatria (trabalhos prticos e estgio nos laboratrios) (artigo 5.). Aqui o diploma diverge do anterior ao considerar obrigatria a assistncia s aulas prticas. Era uma medida sensata, dado que muitos dos cursos ministrados nestas Faculdades eram de cincias experimentais122. No entanto mantinha-se a liberdade de cada aluno organizar o seu plano de estudos dado que o artigo 13. estabelecia que No h qualquer dependncia legal e obrigatria entre as disciplinas. As disciplinas eram organizadas em seces. Na 3. Seco - Cincias Histrico-Naturais, no 2. Grupo Cincias Biolgicas, as disciplinas na rea de Botnica eram: Botnica (curso geral); Morfologia e Fisiologia Vegetais; Botnica Especial e Geografia Botnica. Era ainda determinado que as Faculdades conferiam os graus de bacharel e doutor. O bacharelato obtinha-se pela frequncia de no mnimo de oito semestres. Para a obteno do grau de doutor, na seco de cincias histrico-naturais era necessrio um ano de tirocnio prtico, provado, num laboratrio nacional ou estrangeiro, e apresentao de uma tese original, impressa, sbre assunto da sua escolha. A tese ser discutida perante um jri. O diploma, no seu artigo 45., determinava que cada uma das Faculdades devia ter Um jardim, museu e laboratrios botnicos como um dos estabelecimentos anexos123 (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914; DG 1911 05 15; SANTOS, 1996).

O Decreto n. 860 de 12 de Setembro de 1914 iria instituir (se bem que com algumas restries) a obrigatoriedade geral de frequncia das aulas prticas, arrepiando portanto o caminho inicialmente traado de frequncia totalmente livre s aulas. L-se neste diploma que: Considerando que o regime dos cursos livres [...] est sendo praticado de forma que se anulam em grande parte, seno completamente, os benficos efeitos que devem resultar da reforma do nosso ensino universitrio, estabelecia-se que, nas Faculdades que ainda no tinham tornada obrigatria a assistncia s aulas prticas, ser marcada falta [...] aos alunos que no compaream, quando estes sejam em nmero superior a dois teros dos inscritos (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914). 123 A implantao do Jardim Botnico no se concretizou. Dez anos passados, a 17 de Fevereiro de 1921, era publicado um Decreto dedicado implementao do Observatrio Astronmico e do Jardim Botnico da Faculdade de Cincias do Porto (DG 1921 02 17). No prembulo deste Decreto (n. 7.325), subscrito pelo Ministro da Instruo Pblica, Augusto Nobre, relembrava-se a importncia do ensino prtico e o desmantelamento do Jardim da Academia: Sendo de absoluta necessidade que ao ensino terico se alie o ensino prtico, e no existindo na Faculdade de Scincias da Universidade do Porto [...] nem um jardim botnico, destinado ao ensino da botnica, pois o antigo Jardim Botnico e Experimental, pertencente Academia Politcnica, foi cedido pelo Governo guarda municipal do Porto, logo em seguida ao movimento revolucionrio de 31 de Janeiro, e no voltou a ser restabelecido. No artigo 1. determinava-se que a Faculdade de Cincias podia estabelecer um Jardim Botnico para o ensino da Botnica na Faculdade.

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5. Os regulamentos das Faculdades de Cincias A completar os dois diplomas anteriores, o Decreto de 22 de Agosto de 1911 estabelecia os regulamentos das Faculdades de Cincias. A admisso ao professorado (a entrada para segundo assistente) era definida no artigo 18. em nveis de grande exigncia. Os concursos constavam, em cada grupo, das seguintes provas: uma dissertao impressa e expressamente composta para o concurso; uma prova prtica sobre qualquer das disciplinas do grupo, sorteada na ocasio; uma lio sorteada com a antecedncia de 24 horas com a durao de uma hora; a dissertao era discutida durante uma hora e a lio durante meia hora, por um professor do grupo respectivo. Os pontos para a lio eram em nmero de vinte e estavam expostos durante dez dias. As trs provas eram julgadas conjuntamente (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914). Qual a reaco a esta legislao? J. Henriques em carta datada de 11 de Dezembro de 1911 escrevia para G. Sampaio: Vejo o que me diz relativamente ao seu curso de Botanica. Eu tenho dous cursos Botanica geral com 30 alumnos, Botanica medicinal com 40 e tantos. Por enquanto veem quasi todos e esto em boa ordem. Tambem no tenho livro [...] a parte pratica da classificao e descripo. Para isto usam a minha terminologia (?) Texto para as lies theoricas no h, nem legalmente pode haver. [...] apurar os livros que podem ser consultados. Por causa dos cursos praticos, tenho j 12 horas (pelo menos) de servio por semana e depois de Natal devo ter 15 horas e sem gratificao. Effeitos das leis novas. 6. A crise de G. Sampaio de 1912 Em 1912 a situao de G. Sampaio e a do prprio ensino da Botnica na recentemente criada Faculdade de Cincias da Universidade do Porto, tinham-se tornado crticas e insustentveis. No ano lectivo de 1910-1911, M. Amandio Gonalves era o lente proprietario da 10. Cadeira - Botnica e G. Sampaio, naturalista adjunto da cadeira de Botnica (AAPP, 1910-1911). No ano lectivo seguinte, M. Amandio Gonalves, adoece e no se encontra em exerccio por motivo de doena verificada pela junta mdica (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914). Mas os Decretos da criao da Universidade do Porto e da sua Faculdade de Cincias tinham tirado a possibilidade legal de G. Sampaio leccionar, dado ser naturalista e no ter terminado o curso da Academia Politcnica. O Conselho Acadmico da Faculdade encarrega G. Sampaio de, excepcionalmente, substituir o lente doente (SAMPAIO, 1912b)124, mas a
124 G. Sampaio substitua M. Amandio Gonalves e fazia imprimir os programas dos seus cursos: Microscopia Vegetal (SAMPAIO, 1911b) e Botnica geral (SAMPAIO, 1911c). G. Sampaio far imprimir, em 1920, uma segunda edio do programa da Botnica geral (SAMPAIO, 1920c) e uma terceira em 1935 (SAMPAIO, 1935b). Os tpicos abordados sero semelhantes aos da primeira edio.

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situao no poderia manter-se por muito tempo, sendo de prever que M. Amandio Gonalves fosse substitudo por um professor, talvez de outra Universidade. A situao torna-se explosiva quando na Faculdade de Cincias do Porto se abre concurso para 2. assistente da 3. Seco Cincias Histrico-Naturais. De acordo com o Decreto de 15 de Maio de 1911, para concorrer ao lugar de segundo assistente era necessrio apresentar pblica-forma da carta de doutor na seco respectiva. Ora G. Sampaio no tinha terminado o curso da Academia Politcnica e portanto no poderia concorrer. O estado de esprito do naturalista portuense era de revolta e de desnimo. No esplio epistolar de G. Sampaio existe um rascunho de uma carta datada de 7 de Maio de 1912 dirigida ao Director Geral das Colnias. O motivo (inicial) da carta era responder a um convite que lhe tinha sido feito para estudar a flora das colnias portuguesas de ento. G. Sampaio agradece, mas declina o convite. Seguidamente a carta resvala para uma anlise do seu passado, da sua situao presente e do seu futuro. O documento de grande importncia pelo que o transcrevemos na ntegra, intercalando alguns comentrios: Exmo. Snr. (Director Geral das Colnias) Em virtude de servios oficiaes que me tiveram ausente do Porto durante alguns dias, s hoje cumpro o dever de resposta ao oficio de V. Exa. [...] que muito me honra como prova de confiana da parte de VV. Exas. O Ministro das Colnias e Governador Geral da provincia de Moambique nos meus reduzidos meritos scientificos. Seria para mim grande prazer o facto de colaborar numa obra de explorao botanica bem conduzida e completa naquela nossa provincia africana, pois conheo quanto se [...] a iniciativa do Governo da Blgica em que se notabilisaram os valiosissimos trabalhos de Wildeman e Tr. Durand sobre a flora do Congo; circunstancias particulares e muito especiaes em que me encontro no permitem, porem, que eu tome parte de to consideravel empreendimento. Tenho actualmente em publicao um trabalho de conjuncto da Flora portugueza, trabalho que de modo algum devo interromper, no s porque representa o resultado de longos anos de estudo e sacrificios, mas tambem porque de qualquer utilidade o julgo para o paiz em que nasci. Alem disso no posso esquecer que todas as minhas investigaes se tm concentrado no estudo da nossa vegetao continental, sobre a qual desejo continuar e concluir diversos trabalhos iniciados, e que o estudo de uma flora africana vastissima e inteiramente nova para mim, seria quasi impossivel com vantagem e reditos para a nao [rasurado, o paiz], no periodo de enfraquecimento de energias em que infelizmente j entrei. A posio de G. Sampaio sensata - sente a presso de acabar a sua flora de Portugal e no tem dvidas que se derivasse para a flora das colnias nunca acabaria a sua flora portuguesa. A partir deste ponto, a carta deriva para uma assumida posio de protesto: No posso ocultar a V. Exa. que me sinto canado um

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pouco e sobretudo, desanimado, pois se certo que muito me penhora o convite de S. Exa. o Ministro das Colonias para cooperar em um servio de grande responsabilidade scientifica, no menos verdadeiro que a reforma do ensino universitario decretada pelo Governo Provisorio da Republica representou para mim o mais completo [rasurado, ingrato] esquecimento, seno o mais inesperado castigo, por toda uma vida de estudo desinteressadissimo e constante. Tendo-se creado por lei, h bastantes anos, os cursos praticos de sciencias naturaes na Academia Polytechnica do Porto, e tendo sido encarregados de os dirigir os respectivos naturalistas, veio essa reforma expulsalos agora desses cursos, tirando-lhes os vencimentos correspondentes de 25.000 reis mensaes, que por lei [acrescentado por cima, expressa] lhes pertenciam. Nestas condies vejo-me hoje fra da regencia de um curso que [acrescentado por cima, comigo] se abriu e fundou e que desenvolvi a ponto de fazer dele o unico regularmente organisado de todo o paiz e de tornalo merecedor [acrescentado por cima, em publicaes impressas] de elogiosas referencias de especialistas [rasurado, sabios] estrangeiros que o visitaram. [acrescentado por cima, a elas] Acresce ainda que, tendo sido eu o encarregado pelo conselho academico da regencia da [acrescentado por cima, propria] aula de Botanica, no impedimento infelizmente longo do respectivo cathedratico, [G. Sampaio refere-se aqui a M. Amandio Gonalves] me coloca a referida reforma na impossibilidade de ser admitido como simples concorrente, por provas publicas, ao logar [acrescentado por cima, at] de 2. assistente de uma cadeira que tenho regido desde h dois anos e sobre cuja materia tenho publicado mais de duas dezenas de monografias de investigao scientifica original. Com semelhante paga aos 47 anos, grande parte dos quaes tm sido gastos em estudo [acrescentado por cima, to desinteressado como persistente], v [acrescentado por cima, muito], claramente V. Exa. como justificada a descrena que me domina e a falta de energias que devo sentir para novos [acrescentado por cima, e dificeis], emprehendimentos scientificos, num paiz em que as recompensas [acrescentado por cima, a este genero de trabalhos], so da natureza das que a V. Exa. acabo de expr. Saude e Fraternidade. Faculdade de Sciencas da Universidade do Porto. O Naturalista. G. Sampaio decide ento enviar um requerimento directamente ao Ministro do Interior datado de 13 de Maio de 1912 (SAMPAIO, 1912b). Quais as pretenses de G. Sampaio? Ser admitido ao concurso para 2. assistente da 3. Seco que se encontrava aberto. Quais os argumentos que utiliza? Admite que apesar de no ter um curso superior, teve aprovao nas cadeiras de cincias naturais (10.a e 11.a cadeiras) da Academia, tinha experincia de docncia, tanto de aulas prticas como de tericas (j que h dois anos que substitua M. Amandio Gonalves na regncia da Botnica Geral) e tinha experincia de investigao: era naturalista desde 1901 e tinha um aprecivel nmero de trabalhos de

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investigao publicados (mencionando explicitamente a publicao em curso do seu Manual da Flora Portugueza). Mas o Ministro envia o requerimento para a Faculdade informar e o Conselho opina contra a pretenso de G. Sampaio125. A situao torna-se, para G. Sampaio, de tal forma grave que edita uma folha de duas pginas que faz imprimir na Tipografia do Carregal (SAMPAIO, 1912b). Neste documento, que intitula Sem comentarios, transcreve integralmente o requerimento que tinha enviado ao Ministro do Interior, acrescentando algumas consideraes suas. O documento no tem data, mas seguramente que ter sido elaborado pouco dias depois do parecer negativo do Conselho da Faculdade. As consideraes que acrescenta ao requerimento so acutilantes e de indignao. G. Sampaio comea por salientar o trabalho meritrio que ele prprio, Rocha Peixoto e Augusto Nobre, os trs naturalistas da Academia tinham desenvolvido e que todos se encontravam impossibilitados de concorrer ao concurso pela legislao em vigor. De seguida transcreve na ntegra o requerimento e acrescenta algumas consideraes. Refere a incongruncia do Conselho da Faculdade que h dois anos o tinha incumbido da regncia da Botnica, considerando-o portanto competente para as funes de professor, e que lhe nega, agora, capacidade para 2. assistente. Acrescenta que a legislao em vigor permitia a entrada na carreira de professor por mrito. Refere ilustres portugueses que no tinham nenhum curso universitrio, Bazilio Teles, Alexandre Herculano, Joo de Loureiro e Correia da Serra. 7. G. Sampaio, nomeado professor ordinrio da Faculdade de Cincias do Porto Qui em consequncia do requerimento de G. Sampaio, publicado, a 13 de Julho deste ano, um decreto que permitia o concurso a 2. assistente a indivduos que, nos ltimos anos, tenham publicado trabalhos scientficos de reconhecido merecimento sbre as disciplinas do grupo a que pretendem concorrer e a 17 de Agosto um outro diploma que permitia que os naturalistas fossem promovidos a primeiros assistentes, desde que os Conselhos Escolares julguem de merecimento os trabalhos por les executados, mas sem direito a promoo (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914). Estava assim aberta a possibilidade de G. Sampaio entrar como primeiro assistente da Faculdade. Todavia, o desfecho seria outro. A legislao (Decreto de 15 de Maio de 1911) previa no artigo 33. que O provimento [dos] lugares feito por concurso, por distino e por antiguidade e no artigo 42. que A promoo a professor ordinrio faz-se, em regra, por antiguidade de servio; mas pode a
125 Este episdio referido num bilhete-postal que escreve a A. Ricardo Jorge datado de 2 de Junho de 1912: O conselho informou contra, mas houve votos com declarao em contrario e no compareceram muitos lentes. Um delles ao ver aquilo at se retirou sem votar. Foi uma maroteira preparada, como explicarei em carta. Conto ir por estes dias a Lisboa. Haver trovoada por aqui contra a escandalosa proteco ao afilhado (BN A/2072).

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Faculdade propr a nomeao para tal lugar de pessoa de excepcional valor, que tenha prestado relevantes servios scincia. G. Sampaio poderia portanto entrar para professor da Faculdade por mrito, sem ter um curso universitrio. Tal viria a acontecer. Por Decreto de 7 de Dezembro de 1912, G. Sampaio era nomeado directamente para o topo da carreira de professor - Professor Ordinrio da 3. Seco Cincias Histrico-Naturais, 2. Grupo Cincias Biolgicas da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto126 (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914). Quais as reaces a esta nomeao? A. Ricardo Jorge127 escreve a 4 de Dezembro de 1912: Ha dias que ando para escrever-lhe desde que vi nos jornaes que o Conselho da Faculdade propusera a sua nomeao para professor ordinario. Um grandissimo abrao pela victoria alcanada128. J. Henriques numa carta datada de 6 de Abril de 1913 escrevia: tive tambem conhecimento da sua nomeao para professor effectivo. Felicito-o por isso e com muita satisfao129.
G. Sampaio nomeado Professor Ordinrio por proposta do conselho escolar da Faculdade, nos termos do pargrafo nico do art. 41. do decreto de 22 de Abril e art. 42. do decreto de 15 de Maio de 1911 (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914). Quando em 1921 criado o Instituto de Investigaes Botnicas, com G. Sampaio como director, no seu currculo, a nomeao para professor descrita da seguinte forma: Em 1911-1912 concorreu a uma cadeira de professor, sendo admitido, e sendo depois, por proposta unnime do jri ao Governo da Repblica, isento, por distino, das respectivas provas e despachado para o lugar que actualmente desempenha (DG 1921 03 21). G. Sampaio reger, nos anos lectivos de 1913-1914, as cadeiras de Botnica (curso geral), Morfologia e fisiologia vegetais, Botnica especial e Scincias naturais (botnica) (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914). No ano lectivo de 1917-1918, as seguintes: Botnica (curso geral), Morfologia e fisiologia vegetais, Botnica especial e geografia botnica e Botnica F.Q.N. (preparatrios para Medicina) (AFSUP, 1914-1915 a 1917-1918). 127 Sobre A. Ricardo Jorge ver Captulo X.2. 128 A esta carta, G. Sampaio responder num bilhete-postal datado de 9 de Janeiro de 1913: Muito obrigado pelos seus parabens. Tudo est liquidado, felizmente (BN A/2064). 129 No entanto, G. Sampaio manter sempre um sentimento estranho de no-reconhecimento pelo seu valor cientfico. Bastantes anos mais tarde num rascunho de uma carta que, apesar de no estar endereada, pelo seu contedo seguramente que se destinava a A. Ricardo Jorge, datado de 1 de Fevereiro de 1921, G. Sampaio fala de lquenes e da sua carreira cientfica: Mandei para a Broteria, onde vir publicado no prximo numero de botnica, um novo trabalho sobre liquenes de Portugal. L descrevo entre outras novidades a interessantssima Acarospora Zahlbruchneri Samp. que colhi em Santarm e em Lisboa. Hei-de mandar-lhe um exemplar para vr que se, conhecendo-a, a colhe ahi em quantidade para as distribuies. J a mandei ao Dr. Zahlbruckner, que a reputa uma boa espcie. Estou em activa correspondncia com ele, que se mostra interessadissimo com os liquenes portugueses que, diz ele, tm grande relao com os da Dalmacia. Mandeilhe j uma coleo, na qual iam quasi todas as espcies que eu tenho descrito como novas. Pedi-lhe que as examinasse e me desse a sua opinio. Respondeu-me que as examinou e que no s as considerou espcies novas, mas tambm boas especies. Enviou-me j um pacote de liquenes contendo espcies que eu lhe pedi e liquenes da Dalmacia. Mas ainda no chegou c o pacote. Tambem diz que vai enviar-me uma segunda remessa, que est a preparar. Enfim, estou satisfeito com as suas relaes e com a maneira como me trata. Tem j a imprimir o seu Systema, ou seja, Catalogo Universal dos liquenes, em 6 volumes e nelle inclue as minhas espcies. Est a redigir a apreciao dos meus trabalhos - que todos lhe enviei, a seu pedido, para ser publicado numa revista da especialidade, em alemo. Actualmente trabalha na redaco da 2. edio do volume dos liquenes da obra do Engler e diz-me que nela vir j incluido o meu gnero Carlosia, das [...] Tendo sentido um grande prazer com isto, pois vejo que o meu esforo, desprezado em Portugal, apreciado ao menos pelas auctoridades scientificas l de fora. A maneira como o Dr. Zahlbruckner me est tratando s foi egualada at certo ponto pela forma carinhosa como me tratou o Dr. Focke a respeito dos meus trabalhos sbre os Rubus de Portugal. [...] Meu caro, no podemos ter outra recompensa superior ao prazer que se sente vendo o nosso trabalho apreciado e louvado pelos grandes mestres. Por isso nestes ltimos dias o Dr. Zahlbruckner tem-me feito feliz. Trabalho com amr, que isso me dar recompensas superiores a tudo e que fazem esquecer muito ponta-p que se leva por esta vida fra. No se esquea do que lhe pedi na ultima carta. Eu desejo apurar certas particularidades para ultimar o catalogo dos liquenes de Portugal. E
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8. G. Sampaio encarcerado durante a Monarquia do Norte Na sequncia do efmero episdio da Monarquia do Norte de 1919, G. Sampaio ser encarcerado130. A proclamao da restaurao da monarquia e a constituio da Junta Governativa do Reino de Portugal eram anunciadas na edio de 21 de Janeiro de 1919 de O Commercio do Porto. O Visconde do Banho era nomeado Ministro da Instruco e da Justia e instalava-se no edifcio da Universidade do Porto. Na edio do dia seguinte noticiam-se as primeiras prises dos dissidentes republicanos. A Monarquia do Norte, liderada por Paiva Couceiro tinha uma vida curta e a Repblica era restaurada a meados do ms de Fevereiro. A edio de 14 de Fevereiro de 1919 de O Commercio do Porto anunciava a restaurao da Repblica: num movimento rapido, de extraordinario e grande presteza, foi hontem restaurada a republica no Porto. Na edio de 19 de Fevereiro so pela primeira vez noticiadas as prises de implicados nos ultimos acontecimentos [...] que recolheram incommunicaveis ao Aljube. Nas edies do O Commercio do Porto dos dias seguintes so noticiadas mais prises de (supostos) adeptos monrquicos. Na edio do dia 21 de Maro de 1919 podemos lr, na rubrica das prises: Em Ponte de Lima foi detido, vindo para esta cidade e recolhendo ao Aljube, o snr. G. Sampaio, professor da Universidade do Porto. Porque razo era preso G. Sampaio? Nas edies do O Commercio do Porto de 21 de Janeiro a 19 de Fevereiro de 1919 no encontrmos qualquer referncia a actos pblicos de G. Sampaio de adeso Junta de Paiva Couceiro. Em Agosto decorrem muitos julgamentos dos presos implicados na Monarquia do Norte. Os processos eram julgados em conselho de guerra num tribunal militar especial para julgamento de presos politicos. O Primeiro de Janeiro e O Commercio do Porto narravam diariamente as sesses dos julgamentos. O Primeiro de Janeiro de 1 de Agosto de 1919 relatava que foram entregues ao tribunal militar os processos referentes aos presos politicos srs. Gonalo Antonio da Silva Ferreira Sampaio e Antonio Ferreira Sampaio, moradores na rua da Constituio. No entanto, tanto nas edies do O Primeiro de Janeiro como no O Commercio do Porto de 1 a 21 de Agosto
no deixe de colher liquenes at no sul, que deve estar cheio de novidades sem fim. Torna-se difcil de compreender este texto, escrito por quem tinha o percurso acadmico que referimos e que era considerado e respeitado no mundo cientfico europeu. 130 No cabe, obviamente, no presente trabalho, uma anlise poltica da Monarquia do Norte, nem procedemos a qualquer investigao sobre as condies em que ter decorrido a priso de G. Sampaio. Referimos este episdio porque G. Sampaio, durante a sua priso de 1919, ter escrito uma das suas obras mais significativas, o Epitome da Flora Portuguesa (ver Captulo XIII.4.). Procurmos, pela consulta de dois jornais dirios portuenses, O Commercio do Porto e O Primeiro de Janeiro, datar o dia da sua priso e o da sua libertao. O manuscrito do Epitome da Flora Portuguesa apresenta um prefcio que termina com, Porto, Aljube, 27-5-1919. G. Sampaio preso a 22 de Maro e libertado a 21 de Agosto. Tinha sido o prefcio escrito ao comear ou finalizar a obra? Se foi escrito ao comear, o trabalho ter sido elaborado em menos de trs meses. Se o prefcio foi escrito no final da redaco, esta ter demorado no mximo dois meses. A Monarquia do Norte encontra-se relatada em detalhe por SILVA (2006).

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de 1919 no encontrmos qualquer notcia referente ao julgamento de G. Sampaio. Finalmente, na edio de 21 de Agosto de 1919 podia ler-se: Foi restituido liberdade o snr. dr. G. Sampaio, que se encontrava em tratamento no hospital da Misericordia. G. Sampaio tinha portanto estado cinco meses encarcerado131.

Pela anlise da sua correspondncia com A. Ricardo Jorge, pode-se afirmar que aps a libertao e at Maio de 1920 G. Sampaio viveu na Pvoa de Varzim, Rua Antnio Graa, 32. Num bilhete-postal datado de 28 de Maio de 1920, escrevia para A. Ricardo Jorge: Vou retirar da Povoa de Varzim para Braga (BN A/2044).

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VIII. Gonalo Sampaio e a Flora Ibrica. As exsicatas 1. As exsicatas no incio do sculo XX No incio do sculo XX, a distribuio de coleces de folhas de herbrio (exsicatas) era uma actividade muito difundida. Vrias instituies e particulares preparavam as suas exsicatas que vendiam ou permutavam por outras preparadas por outras instituies ou particulares. Esta actividade era importantssima, porque permitia o enriquecimento das coleces e herbrios. SENNEN (1932) sintetiza a importncia das exsicatas, referindo em particular que organizava: Le rsultat le plus positif des centaines de mille dexemplaires de plantes dEspagne distribus par nos exsiccata est de caractre purement scientifique: lapprovisionnement des muses, la vulgarisation de la flore ; et aussi la mise en vidence des caractres floristiques indniables propres aux plus petits domaines, lorsquils sont isols. S com bons herbrios era possvel realizar boas Floras e deste facto cedo se ter apercebido G. Sampaio que ir participar activamente em diversas exsicatas, tantos institucionais como individuais. Desta actividade resultou um enriquecimento do Herbrio da Academia e da Faculdade. Algumas exsicatas eram constitudas por plantas vasculares, outras abrangiam todos os grupos tradicionais da Botnica. As espcies endmicas eram particularmente regateadas e as exsicatas eram tanto melhores e valiosas quanto maior nmero destas espcies tivessem. Fr. Sennen, ao fazer o balano de 25 anos da sua exsicata salientava quais as caractersticas de uma boa coleco: Cet intrt se tire de la richesse des matriaux de certains groupes complexes, du nombre considrable despces rares et endmiques, de leur grande diversit gobotanique. Il rsulte aussi du nombre considrable de rcolteurs [...] et, en gnral, de labondance, de lesthtique prparation et de la belle prsentation des spcimens [...] lintrt gobotanique rsulte de la diversit des domaines qui sont entrs contribution. [...] La plage et la dune, le littoral, ltage des moyennes montagnes, ltage alpin et de la zone glaciale, ont fourni des contingents trs varis. Nas exsicatas que tiveram a colaborao de G. Sampaio eram frequentes os pedidos das espcies, endmicas portuguesas ou endmicas ibricas. Se excluirmos a Flora lusitana exsiccata da Sociedade Broteriana e as exsicatas especficas de Rubus132, encontrmos evidncia documental para a participao de G. Sampaio em diversas exsicatas europeias. Os contactos iniciam-se por volta de 1901, quando G. Sampaio entra para naturalista da Academia Politcnica. 2. G. Sampaio e a Universidade de Montpellier

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Sobre este assunto ver Captulos IV e V.

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A referncia mais antiga diz respeito Universidade de Montpellier. O Instituto de Botnica desta Universidade francesa distribua uma exsicata organizada por Ch. Flahault e J. Daveau133. No catlogo para a exsicata de 1902, Ch. Flahault descrevia o esforo de organizao do Herbrio da Universidade: nous poursuivons depuis 22 ans pour mettre lherbier de Montpellier au niveau des grandes collections nationales. Seguidamente elogiava enfaticamente o trabalho de J. Daveau na organizao do herbrio: linfatigable et savante collaboration de notre ami M. J. Daveau, e tambm a fait, pour plusieurs botanistes, de nombreuses dterminations despces exotiques, plus encore que de plantes indignes, et nous avons communiqu des lments de travail des savants de divers pays. Seguidamente, Ch. Flahault agradecia aos botnicos que tinham contribudo para a exsicata daquele ano. J. Daveau procedia reviso do Herbrio seguindo uma ordem por famlias. No catlogo de 1902, Ch. Flahault agradecia a reviso das monocotiledneas, no de 1904, a reviso das Apiceas, Araliceas, Asterceas (parte), Dipsceas, Rubiceas e Valerianceas, no de 1905, as Asclepiadceas, Asterceas (parte), Campanulceas e Ericceas, e no de 1906, as Borraginceas, Convolvulceas, Escrofulariceas, Gencianceas, Loganiceas, Orobancceas, Polemoniceas e Solanceas. Como operava a exsicata da Universidade de Montpellier? Ch. Flahault escrevia os objectivos e o modus operandi nos catlogos de 1904, 1905 e 1906: nous rappelons que nous donnons, chaque anne, tout ce dont nous pouvons disposer et que, en retour, nous acceptons les dons quon veut bien nous faire. Il ne saurait tre question pour nous dchanges ayant, de prs ou de loin, un caractre commercial. Nous avons mieux faire qu compter ou peser la valeur, forcment arbitraire et relative, de ce que nous offrons ; nous navons quun but, multiplier les moyens de travail. G. Sampaio ir trocar muitos exemplares com a Universidade de Montpellier, alguns destinados a exsicatas da
Existem no esplio de G. Sampaio os catlogos desta exsicata referentes aos anos de 1902, 1904, 1905 e 1906 (Catalogue des Plantes que lInstitut de Botanique de Montpellier peut distribuer). Neste perodo encontra-se tambm documentao epistolar sobre trocas entre a Universidade de Montpellier e G. Sampaio, pelo que se poder deduzir que este intercmbio se restringiu a este perodo. Nos catlogos esto marcadas, a lpis ou a tinta, diversas espcies. Sero presumivelmente as espcies que G. Sampaio ter pedido em troca das que enviava. Quais os botnicos que contribuam para esta exsicata? Dos botnicos que colaboraram com G. Sampaio, encontramos a referncia participao do prprio J. Daveau, de Fr. Sennen (em todos os catlogos) e de A. X. Pereira Coutinho, s no ano de 1906. A colaborao de G. Sampaio reconhecida nos catlogos referentes aos anos de 1902, 1904 e 1906. Os exemplares que no eram recolhidos em Frana tinham a indicao do pas de origem. Dado que para as distribuies de 1902 e 1904, G. Sampaio era o nico portugus que contribua para a exsicata de Montpellier, podemos identificar as contribuies que G. Sampaio ter feito para a exsicata desta universidade. No catlogo referente a 1902, G. Sampaio contribuiu com exemplares referentes a 30 txones, mas em 1904, s a nove. No catlogo referente a 1906, aparecem referidos tambm nove exemplares portugueses, mas alm de G. Sampaio, tambm A. X. Pereira Coutinho tinha contribudo. Estes incluam diversos txones da autoria de G. Sampaio (Gratiola genuflora Samp., Myosotis globularis Samp., Romulea Clusiana var. serotina Samp., Spergularia rupicola var. australis Samp. e Veronica demissa Samp.) e outros dos botnicos clssicos (Anagallis parviflora Link & Hoffm., Campanula primulaefolia Brot., Erythraea major Link & Hoffm., Linaria amethystina Link & Hoffm., Linum setaceum Brot., Ranunculus bupleuroides Brot., Silene littorea Brot., Silene scrabiflora Brot., Thymus glabratus Link & Hoffm. e Viola lusitanica Brot.). Como se referiu no incio deste captulo este tipo de exemplares eram especialmente valiosos nas exsicatas.
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Universidade francesa, outros ao seu Herbrio. J. Daveau, num bilhete-postal datado de 21 de Dezembro de 1901 escrevia para G. Sampaio que As listas das plantas a distribuir ainda no esto promptas, mas no podem tardar muito!. G. Sampaio ter enviado plantas para o Herbrio da Universidade de Montpellier em 1902. Ch. Flahault, num bilhete-postal datado de 30 de Janeiro de 1903 escrevia: Nous avons reu avec vive reconnaissance votre envoi de plantes. Lanne finit, pour ladministration de notre herbier, au 1er. Dcembre. Cest cette date que jai arrt la liste de nos doubles; cest pourquoi votre envoi ny figure pas. Mais vous pensez bien quil a t accueilli avec reconnaissance. Vous recevrez bientt notre envoi. As contribuies de G. Sampaio para o Herbrio de Montpellier continuaram. Num bilhete-postal datado de 8 de Novembro de 1905, J. Daveau escrevia: Recebi em seu tempo a sua carta avisando me da remessa de valiosos exemplares para distribuio e para a colleco deste nosso Instituto. Entretanto mando pelo correio dois dos Dianthus que me pediu [...] Com respeito ao seu pedido de correspondente para trocar Dianthus, no posso lhe dar satisfao. O melhor modo seria de dirigir seu pedido ao secretario da Sociedade Botnica de Frana que o far inserir no Boletim. J. Daveau recebe de facto as plantas de G. Sampaio e escreve a 12 de Dezembro deste ano, Recebemos o pacote de plantas e brochuras, tendo remetido ao Sr. Flahault as plantas e brochuras que lhe eram destinadas e pela minha parte agradeo as que me fez o favor de offerecer. Ch. Flahault, num bilhete-postal com a data de 11 de Dezembro deste mesmo ano, reforava as palavras de J. Daveau: Nous avons reu hier votre prcieux paquet et nous vous remercions vivement de vos brochures et de vos plantes pour nos herbiers et pour notre distribution de doubles. Tout cela nous fait grand plaisir. Ce qui nous fait de plaisir encore, cest votre grande activit et le zle avec lequel vous tudiez. Os exemplares histricos dos herbrios portugueses eram valiosos e naturalmente alvo de especial ateno. A carta de J. Daveau datada de 28 de Dezembro de 1905 dirigida a G. Sampaio esclarecedora a este respeito: Na sua prxima remessa, estimava muito receber os dois typos Linaria Ficalheana e L. Welwitchii. Emprestei (dei emprestado) a algum que no me lembro e que se esqueceu de mo devolver o trabalho do Rouy sobre Linarias de modo que estou um tanto nas escuras a respeito das espcies deste meu amigo. muito possvel que tenha confundido Ficalheana com Welwitchii. Tenho uma vaga ideia que uma espcie da pennsula de Tria falsamente chamada L. reticulata pelo conde de Ficalho, deve ser a L. Ficalheana Rouy, e que a L. filifolia [...] foi desdobrada formando a L. Welwitchii, mas no tenho textos para verificar. Agradeo muito o que me poder certificar neste respeito, assim como exemplares da espcie de Tria se os tiver134.
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O Catalogue des Plantes que lInstitut de Botanique de Montpellier peut distribuer para 1906, o ltimo que existe no

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3. G. Sampaio e Carlos Pau Talvez as trocas mais intensas tenham sido com os colegas botnicos espanhis, C. Pau, B. Merino, Fr. Sennen e Font Quer. G. Sampaio conhece C. Pau por intermdio de B. Merino. Inicialmente os interesses centram-se em Rubus135, mas rapidamente as trocas generalizam-se a outros grupos. Numa carta datada de 25 de Agosto de 1902 e endereada de Segorbe, C. Pau explicita quais as plantas que lhe interessam mais - as endmicas primeiro: Las plantas que mi en primer lugar me interesan son las de la Pennsula, y de Portugal las formas propias de esta flora; de la isla Madeira, no siendo alguna especie que exista en las floras mediterrneas, no me importan. [] Ah en las cercanas de Oporto existen, segn los autores, bastantes formas propias de Portugal y que no poseo; quedara muy agradecido a V. [] pudiera proporcionarmelas para mi coleccin. Alguns dias depois, a 11 de Setembro, C. Pau envia alguns Rubus para G. Sampaio e volta a reafirmar quais as plantas que gostava de ter em troca, Las plantas portuguesas que mi ms me convienen [] los propias de la flora de Portugal. No incio do ano seguinte, a 5 de Janeiro de 1903, C. Pau volta a manifestar o seu interesse na troca de plantas com G. Sampaio, sobretudo porque os seus deseos son igualmente conocer la flora portuguesa que hoy desconozco por completo. Indicar V. condiciones y rdenes, pues yo tendr mucho gusto en complacerle en todo cuanto me sea posible; el nmero podr V. indicarlo. Yo podra fcilmente proporcionarlo hasta 600 formas espaolas y que tengo de aos anteriores. [] Mis formas nuevas, siempre que poco ejemplares para repartir, son las primeras especies que comunico; muchas las tengo agotadas, pero de bastantes puedo disponer de ejemplares que tendr cuidado de mandarlos V.. No fim do ano, nova carta de C. Pau, datada de 4 de Novembro em que o botnico espanhol insiste na troca de plantas rendirle a V. el ofrecimiento de plantas espaolas que a V. hice el ao pasado. Pues bien, a fines de ao podr remitirle a V. sobre 500 especies de fanerogamicas; V. me las devolver en plantas fanerogamicas portuguesas cuando queda y lo venga bien. Finalmente, G. Sampaio envia um lote de plantas para C. Pau, que agradece rejubilado em carta datada de 19 de Janeiro de 1905 - En mi poder las plantas y el folleto que se ha servido V. comunicarme por todo lo cual le manifiesto mi agradecimiento. Entre ellas veo la Centaurea Fraylensis, que no posea, y le doy un milln de gracias por habermela proporcionado: ella sola, vale por ciento. Mis plantas no tardaran en ir y maana mismo comenzar prepararlo. C. Pau revela-se mesmo como um entusiasta sequioso de plantas e herbrios, perguntando a G. Sampaio se no existiria
esplio de G. Sampaio, data de 24 de Dezembro de 1905, pelo que no possvel confirmar se estas duas linarias tero sido enviadas. 135 Ver Captulo IV.4C.

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algum herbrio portugus venda: Lo mismo comprar un herbario portugues (unicamente) [] V. de alguno que lo quisiera vender; pero hace de poseer de mil especies por arriba, y no ser exajerado el precio. E novamente a mesma pergunta numa carta datada de 22 de Maro de 1905: Existe en Portugal algn botnico que se dedique la venta de las plantas?. 4. G. Sampaio e Fr. Sennen Em 1912, G. Sampaio inicia uma troca de correspondncia com Fr. Sennen de Barcelona136, que se prolongar por muitos anos. Num bilhete-postal datado de 23 de Maro de 1912, dirigida a G. Sampaio, Fr. Sennen anunciava o seu interesse em trocar plantas de herbrio: Je dsirerais la procurer soit par achat soit en change de plantes de mes exsicata. Cette anne je distribue 800 numros de plantes de Catalogue, Balares, Valence, Aragon, Castille, Asturies. Certains numros sont puiss mais la plupart sont encore reprsents. Alguns meses mais tarde, a 12 de Agosto de 1913, Fr. Sennen escrevia novamente a G. Sampaio, procurando activamente espcies endmicas portuguesas, Jaurais bien dsir publier quelques bonnes espces de Portugal, mais je ne sais si vous pourrez me donner cette satisfaction. Jusqu prsent jai un certain nombre de numros intressants. G. Sampaio envia as suas Lista das espcies do Herbrio Portugus, entretanto publicadas, pelo que a 15 de Janeiro de 1914 Fr. Sennen novamente insiste na troca de plantas: Merci pour votre Apendice a lHerbrio Portugus. Ds quil me sera possible de signaler les espces intressantes et bien nombreuses pour ma publication, je vous enverrai le Catalogue pour que vous puissiez faire votre chois. En ce moment je fais tudier quelques formes critiques par des spcialistes. G. Sampaio publica mais um apndice Lista das espcies representadas no Herbrio Portugus e envia um exemplar para Fr. Sennen. Fr. Sennen selecciona as espcies que lhe interessavam para a sua exsicata e, num bilhete-postal datado de 22 de Fevereiro de 1914, envia a lista para G. Sampaio, insistindo mais uma vez na troca de plantas seleccionadas: Merci pour votre Segundo Apendice lHerbrio Portugus. Jai dj [] sur ce riche herbario, les plantes parmi lesquelles vous pourrez faire votre choix pour les plantes rcolter pour mon exsicata. Si vous le trouvez bien je vous [] dans le fascicule que jespre vous adresser dans les premiers jours de Mars. G. Sampaio ter respondido indicando quais as plantas que poderia fornecer para a exsicata de Fr. Sennen. Num bilhete-postal ilustrado datado de 13 de Junho de 1914, Fr. Sennen pede ento a G. Sampaio as plantas seleccionadas que lhe interessavam: Je recevrai avec plaisir pour lexsicata, le Saxifraga [] et les autres plantes
Frre Sennen (1861-1937), tienne Marcellin Granier-Blanc, era francs. O seu herbrio, constitudo por cerca de 85.000 espcimes, encontra-se actualmente no Instituto Botnico de Barcelona (http://www.institutbotanic.bcn.es/herbario.html). Bibliografia de Fr. Sennen est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/
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que vous me signalez et pour lesquelles je vous [] Dj de fort bonnes plantes me sont annonces par plusieurs collaborateurs. G. Sampaio ter enviado rapidamente as plantas para Fr. Sennen, muitas em conjuntos de 20 repetidos, porque a 14 de Agosto deste mesmo ano, Fr. Sennen agradece a encomenda recebida: Jai reu ce matin vos deux postaux de belles plantes portugaises, trs intressantes pour lesquelles je vous suis bien reconnaissant, tant pou celles envoyes en 20 [A caligrafia de Fr. Sennen no inequvoca, mas parece-nos tratar do nmero 20] que pour les autres en une part. Je reviens des Pyrnes avec quelques bonnes espces. Jai aussi quelques bonnes plantes des Balares. Em troca, Fr. Sennen envia exemplares da sua exsicata para G. Sampaio e, em bilhete-postal ilustrado de 26 de Maro de 1915, pede a confirmao da recepo das suas plantas: Vous aurez sans doute reu mon envoi de plantes dEspagne, distribues en trois fascicules et 2 colis [] Jespre que vous les aurez bien reues, bien que quelques numros ne soient pas si intressants que ceux qui proviennent de vos plantes choisis de Portugal. Fr. Sennen fica maravilhado com as plantas enviadas por G. Sampaio. Talvez porque muitas espcies lhe fossem desconhecidas. Fr. Sennen vivia em Barcelona e herborizava sobretudo nesta regio. No estaria muito familiarizado com a flora portuguesa. Num bilhete-postal ilustrado de 20 de Abril de 1915 escrevia para G. Sampaio que Je suis merveill de la richesse de vos rcoltes et je me rjouis davance des envois que vous me promettez. Je vous en remercie en attendant le plaisir des beaux moments passs leur contemplation. Por um bilhete-postal de Fr. Sennen dirigido a G. Sampaio, datado de 11 de Dezembro de 1915, sabemos que Fr. Sennen envia as etiquetas impressas para G. Sampaio colocar nas folhas de herbrio: Je ne trouve pas ltiquette du petit Genista enferm dans la boite avec le Cynomorium. Veuillez me ladresser aussitt que vous le pourrez, car les tiquettes vous tre donnes sans retard limprimeur. Jespre que vous aurez reu mon petit envoi de plantes pour vos correspondants137. Alguns dias depois, a 6 de Janeiro de 1916, Fr. Sennen volta a insistir na etiqueta da Genista e pede confirmao da recepo dos exemplares enviados da sua exsicata: Je me permets de venir vous demander ltiquette du Genista qui accompagnait le Cynomorium dans la boite ; sans cette tiquette je ne pourrai pas distribuer cette intressante espce portugaise. Jespre que vous aurez galement reu mon modeste envoi pour vos amis. Todavia Fr. Sennen tinha-se enganado. No era uma Genista mas um Ulex erinaceus, uma espcie de Welwitsch. Num bilhete-postal ilustrado datado de 12 de Junho de 1916 escrevia para G. Sampaio, sempre absorvido pela sua exsicata: Je viens de recevoir ltiquette de Ulex erinaceus, que par distraction et sans faire attention aux calices, javais nomm Genista. Avez-vous dj pens mes exsiccata ? Je vais
Algumas etiquetas ainda se encontram no esplio epistolar de G. Sampaio (ver Captulo XV). As folhas de herbrio da exsicata de Fr. Sennen sairiam portanto prontas das mos de G. Sampaio.
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bientt partir pour les Pyrnes. On ma promis des plantes dAfrique. Em bilhete-postal datado de 21 de Novembro de 1918 Fr. Sennen pede a G. Sampaio uma determinada espcie para a sua exsicata: Vos belles plantes de Portugal seront toujours les bien-venues. Pourriez vous madresser quelques pieds les uns fleuris les autres en graines mres de Arenaria conimbricensis Brotero ? Je voudrais les comparer avec quelques formes critiques de ce groupe. A exsicata Plantes dEspagne de Fr. Sennen138 era vastssima, e progredia a um ritmo vertiginoso, distribuindo centenas de exemplares por ano139. Para alimentar as distribuies, Fr. Sennen precisava de receber muitas plantas dos seus colaboradores (mas estes recebiam em troca os exemplares da exsicata). Por isso encontramos muitas cartas de Fr. Sennen dirigidas a G. Sampaio indagando das prximas remessas de plantas. Em bilhete-postal datado de 28 de Maro de 1921, Fr. Sennen escrevia a G. Sampaio que Jai attendu longtemps vous dire, combien mtait agrable la lettre dans laquelle vous mannoncez votre prcieux envoi de plantes, que je nai pas encore reu. Jespre toutefois quil arrivera. Mas os envios de G. Sampaio tardavam em chegar e, por isso, Fr. Sennen escreve novamente para G. Sampaio a 4 de Janeiro de 1922: Je nai pas encore reu lenvoi que vous mavez annonc depuis longtemps. Le cahier des tiquettes de 1921 est prt pour limprimerie. Si vos plantes arrivent je les joindrai ces sries. Por intermdio de G. Sampaio, A. Ricardo Jorge tambm ir participar na exsicata de Fr. Sennen, enviando plantas e recebendo exemplares das distribuies140. A participao de A. Ricardo Jorge nesta exsicata ter sido iniciada em 1917 e sugerida por G. Sampaio. Numa carta datada de 17 de Maio de 1917, G. Sampaio escrevia a A. Ricardo Jorge: Vou escrever ao Sennen para o admitir como colaborador das suas distribuies de plantas. necessrio que o meu amigo lhe mande as plantas
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Em 1932, ao comemorar os 25 anos da exsicata Plantes dEspagne, Fr. Sennen fazia o balano da sua obra monumental (SENNEN, 1932). A exsicata ter comeado em 1906. Inicialmente foi a regio onde vivia, a Catalunha, a mais intensivamente herborisada. Fr. Sennen sintetizava modestamente o quarto de sculo da sua exsicata escrevendo neste trabalho: Toutes les vacances de ces 25 laborieuses annes ont t consacres leur exploration [] Nous ne nous attribuons dautre mrite que celui de la persvrance dans le labeur. A distribuio da exsicata terminou em 1937. No seu conjunto foi constituda por 30 sries, totalizando 10.309 espcimes (http://www.institutbotanic.bcn.es/herbario.html) 139 Analisando as etiquetas dos exemplares organizados por G. Sampaio possvel concluir que a exsicata Plantes dEspagne de Fr. Sennen distribua centenas de exemplares por ano. A srie dos exemplares n.os 2925-2940 da exsicata ter sido constituda por exemplares organizados por G. Sampaio entre Abril de 1915 e Setembro de 1916 e tero sido distribudos ainda em 1916 ou em 1917. A srie de n.os 3294-3312 da exsicata ter sido constituda por exemplares organizados por G. Sampaio entre Abril e Outubro de 1917 e tero sido distribudos neste ano ou no seguinte. Os nmeros 4308-4324 da exsicata tero sido constitudos por plantas organizadas por G. Sampaio entre Junho de 1915 e Julho de 1920 e tero sido distribudos ainda em 1920 ou em 1921 ou at em 1922. 140 A colaborao dos botnicos portuguesas na exsicata de Fr. Sennen era agradecida pelo seu autor: Le Portugal, que gographiquement ne peut tre spar de lEspagne, nous a apport son concours. Messieurs les professeurs Dr. G. Sampaio, Dr. R. Jorge, Dr. R. Palhinha, nous ont envoy le plus intressant de leur flore. A tous ces collaborateurs, dont la continuation dune coopration effective na pas toujours dpendu de leur bon vouloir, nous adressons nos plus vifs remerciements, demandant ceux que le peuvent de nous continuer leur aide bienveillante et dvoue (SENNEN, 1932).

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(30 exemplares de cada espcie) at meio de outubro. Ele distribui em janeiro. Incluso mando-lhe uma lista das espcies que pode enviar-lhe e que se encontram ahi no sul. Mandar pelo menos 10 espcies por ano (BN A/2025). Algum tempo depois, numa carta datada de 3 de Agosto deste ano, G. Sampaio escrevia entusiasmado a A. Ricardo Jorge: Irei nas frias a Castelo Branco. Ahi lhe remeto a resposta do Sennen, que diz que lhe vai enviar uma coleco dos seus duplicados. Deve ser coleco excelente, a julgar pelas que costuma mandar. Se quizer, escreva-lhe j, agradecendo e pondo-se em relao directa com ele (BN A/2094). Num bilhete-postal dirigido para G. Sampaio, datado de 10 de Maio de 1918, A. Ricardo Jorge escrevia: Levo para o Sennen o Ulex argenteus Welw.. A. Ricardo Jorge viaja muito no estrangeiro e no pas. Nas suas excurses ir recolher muitos exemplares para a exsicata de lquenes de G. Sampaio141, mas tambm para a exsicata de Fr. Sennen. Num bilhete-postal datado de 5 de Novembro de 1919, dirigido a G. Sampaio, Fr. Sennen escrevia: Je nai pas encore fait la distribution de 1918. Je la runirai celle de 1919 et vous adresserai votre contingent des premiers. Avez-vous quelques bonnes espces pour cette anne ? Ainsi que M. le Dr. Ricardo Jorge ? [] P.S. Il y a plus dun an que jai envoy [] deux colis de plantes pour le Dr. Ricardo Jorge. Num bilhetepostal dirigido a G. Sampaio datado de 12 de Maio de 1920, A. Ricardo Jorge, entre menes a lquenes, escrevia: J recebi uma infinidade (talvez 500 ou mais) de plantas do Sennen. Vou fazer uma remessa de boas especies para a distribuio e para ele. G. Sampaio, numa carta endereada da Pvoa de Varzim, datada de 16 de Maio de 1920, indagava junto de A. Ricardo Jorge da sua satisfao com a colaborao na exsicata de Fr. Sennen: Ento gostou da remessa do Sennen? Eu tambem a recebi ha dias. Distribui sempre plantas muito boas e em grande nmero (BN A/2088). Mas os envios de A. Ricardo Jorge tardavam a chegar e, por isso, Fr. Sennen num bilhete-postal dirigido a G. Sampaio datado de 4 de Janeiro de 1922 queixava-se que Je suis galement sans nouvelles de M. le Dr. Ricardo Jorge qui ma fourni pendant deux ans de bonnes plantes. Je ne sais pas mme sil a reu mes 3 ou 4 envois en plusieurs colis. No entanto, A. Ricardo Jorge continuava a herborizar para a exsicata de Fr. Sennen. Numa carta dirigida a G. Sampaio, datada de 9 de Abril de 1925, A. Ricardo Jorge escrevia que j tenho um bello programa de colheitas para o Sennen, para quem j tenho preparadas algumas boas especies a que outras se juntaro do sul. 5. G. Sampaio e Font Quer

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Ver Captulo X.2.

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G. Sampaio tambm ter participado nas exsicatas organizadas por Font Quer142 do Museu de Cincias Naturais de Barcelona: Herbario Ibrico e Flora iberica selecta. Em carta datada de 5 de Fevereiro de 1924, Font Quer escrevia que Le quedo tambien muy reconocido por el envio que me ofrece de un centenar de duplicados del Museo Botnico de Porto; los acepto, y puede remitirlos cuando guste a cambio de otras tantas especies raras, de Espaa, que puedo mandarle yo. Y, espero que asi que vuelva de lleno a los trabajos botnicos podr colaborar en la formacin del que yo quisiera que fuese Herbario Ibrico, los trabajos del cual prosiguen felizmente. El ao pasado hemos herborizado en Valencia [] Seria una lstima que en Portugal no tuvieran ningn ejemplar de este Herbario. Y como se vender a unas mil pesetas oro la coleccin de las primeras mil especies, claro es que ser difcil adquirirlo. Piensen Vds. en una posible colaboracin, y a cambio de plantas bien preparadas, lo pueden obtener gratis. Algum tempo depois, j na dcada de 1930, Font Quer ter indagado junto de G. Sampaio se queria participar numa nova exsicata em curso, a Flora iberica selecta. A resposta do professor portuense ter sido positiva, dado que o botnico de Barcelona escrevia a 18 de Fevereiro de 1935 em tom de satisfao e concretizao: Recibo con suma complacencia su carta de 9 de diciembre en la que me ofrece su colaboracin para le empresa de la Flora iberica selecta; y se lo agradezco profundamente. Ahora mismo he dispuesto que le sea remitida la ltima coleccin que nos queda de la Centuria I, que espero recibir dentro de unos dias. Viendo la coleccin, asi como hojeando las Schedae que he tenido el gusto de remitirle, se dar cuanta del carcter de la exsicata, hecha a base de especies herborizadas en sus localidades clsicas. [] Por el momento bastar con que V. remita cinco especies, con 32 pliegos de cada una, que es lo que corresponde a una Centuria de la Flora iberica selecta. Si V. ahora, sin las exigencias de su ctedra, creia posible colectar plantas para Flora iberica en cantidad mayor que 10 especies por ao, que corresponden a las dos Centurias que pensamos dar anualmente, tal vez le interesaria recibir a cambio de las que pudiese mandar y pasasen de aquel nmero una cantidad en metlico. Asi trabajan algunos colaboradores nuestros, a quienes enviamos quince pesetas por cada especie bien preparada, previamente aceptada por nosotros y en nmero de 32 ejemplares. 6. Outras exsicatas Tambm encontrmos referncia a exsicatas particulares. M. Gandoger143, num bilhete-postal com o carimbo de Villefranche Rhone, dirigido a G. Sampaio, datado de 29 de Janeiro de 1902,
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Pius Font i Quer (1888-1964). Para uma biografia sumria deste botnico catalo ver: http://www.institutbotanic.bcn.es/ Sobre M. Gandoger ver Captulo IV.4C.

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propunha-se iniciar uma troca de plantas de Frana por plantas de Portugal continental ou das suas colnias: Aurez-vous la bont de me dire si vous voudriez faire avec moi un change de plantes sches pour lherbier ? Je vous enverrai des espces rares de France avec plusieurs de mes ouvrages botaniques. En retour vous menverrez des plantes de Portugal (ou des colonies portugaises, si vous en avez). Il me reste encore 31 exemplaires de mon Flora Europae (27 vol. [] 1882-1893). Voulez vous en accepter un exemplaire en change de plantes sches exotiques ? [] Combien avez-vous de centaines de ces plantes exotiques donner ?. G. Sampaio ter respondido afirmativamente a este pedido, mencionando o seu especial interesse pelos Rubus. M. Gandoger envia nova carta de Arnas, Villefranche Rhne, datada de 24 de Agosto desse mesmo ano, em que afirmava que Je viens de recevoir votre aimable lettre, et je mempresse de vous dire que je recevrai avec beaucoup de plaisir vos plantes de Portugal. En retour, je vais vous envoyer un bon paquet de plantes rares de France [] Je possde 7 800 espces pour changer ; il me sera donc facile de vous ddommager. En 1903 je rcolterai des Rubus, genre que je connais trs bien, ayant publi des ouvrages sur lui. Si vous avez des espces de ce genre dterminer, envoyez-les moi, avec des numros, je vous en donnerai les noms exacts. G. Sampaio envia ento plantas para M. Gandoger, que responde a 2 de Dezembro deste mesmo ano, prometendo retribuir a oferta de G. Sampaio, mas infelizmente sem Rubus - Jai reu votre paquet de plantes en bon tat, ainsi que vos savantes brochures botaniques. Je vous en remercie bien. Aujourdhui je vous envoi, en retour, un paquet de plantes. Je regrette de ne pouvoir vous donner des Rubus, car, en ce moment je nen ai pas de doubles, et quand vous mavez crit, il tait trop tard pour en rcolter, car les plantes taient dfleuries. Mais en 1903, je rcolterai des Rubus pour vous et beaucoup dautres plantes que je vous enverrai avec plaisir. A correspondncia com M. Gandoger no ter sequncia. G. Sampaio ir tambm trocar plantas com o Herbrio de Gustav Mller. Em carta datada de 22 de Outubro de 1908, G. Mller escrevia Je vous en remercie cordialement [] au grand plaisir la centurie de belles plantes que vous moffrez. Jen ai dj reu quelques unes par [] de la Socit Merlinoise (Leonhardt et Mr. Giraudias). La plupart des espces seront bien dsires et il va sans dire que je vous prpar en contre valeur un envoi dont jespre que vous aurez toute entire satisfaction afin que nos relations dchange continueront. Moccupant surtout des Crucifres je vous serais bien oblig si vous pourriez me procurer un chantillon de []. Excepcionalmente, G. Sampaio adquiriu exemplares de exsicata por compra. Existem no esplio de G. Sampaio dois catlogos da firma alem Otto Leonhardt em Nossen, um referente a 1906/1907 e outro para 1912/1913 (Doubletten Verzeichnis des Berliner Botanischen

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Tauschvereins). Os exemplares eram permutados ou vendidos (a 0,05 marcos cada). As listas eram extensssimas e abrangiam fungos, algas, lquenes, hepticas, musgos, fetos e fanerogmicas. O catlogo de 1906/1907 encontra-se muito marcado e o de 1912/1913 tambm tem muitas espcies sublinhadas. Existe uma importante factura desta firma Otto Leonhardt em Nossen que mostra que G. Sampaio ter enviado 1.366 espcimes e que ter recebido 1.768 exemplares. O total a pagar era de 39,05 marcos. A factura no est datada, mas na parte inferior, com a letra de G. Sampaio est escrito que o montante tinha sido pago por cheque em Maio de 1908. Este elevadssimo nmero de exemplares que G. Sampaio enviou para esta firma demonstra uma grande capacidade de organizao e trabalho. 7. O projecto da Flora Ibrica Na dcada de 1920 houve o projecto ambicioso da elaborao de uma Flora Ibrica, dirigida por G. Sampaio, e patrocinada pelo governo espanhol. A primeira referncia consta de uma carta de R. G. Fragoso para G. Sampaio, datada de 30 de Maio de 1922. Em jeito de apresentao escreve: El Jardin, hoy reunido bajo su direccion con el Museo, forma parte del Instituto de Ciencias Naturales con el Museo Antropolgico, y como yo soy profesor de dicho Instituto, agregado al Museo y Gefe de este Laboratorio botnico, al pasar al Botnico, sigo siendo profesor del Instituto pero agregado al Jardin y Gefe en el de la Seccion de Criptogamia. Seguidamente apresenta a proposta da Flora Ibrica: de Barcelona Dr. Caballero, discipulo mio de Micologia, y amigo muy querido, tendremos a nuestra disposicin los Herbarios todos, y cualquier planta que Vd. desee consultar estar a su disposicin en cuanto la pida. Esto se lo digo en vista a su colaboracin para la flora ibrica. Escoja Vd. una familia, la que V. quiera, pida las plantas y tipos que desee, y cuanto tengamos aqu, incluso notas de libros, copias, etc. Con eso, su profundo conocimiento de la flora lusitnica y el Herbario de Willkomm, nadie estar como Vd. en disposicin de hacer admirablemente las floras das familias de la peninsula ibrica. Por esta carta deduzimos que o projecto seria promovido por R. G. Fragoso, de Madrid, e por Caballero, de Barcelona. O projecto no se concretiza, mas dois anos depois, Font Quer, tambm de Barcelona (do Museo de Cincias Naturais), prope a elaborao de um catlogo da flora ibrica, dirigido por G. Sampaio em colaborao com C. Pau. Escreve numa carta datada de 5 de Fevereiro de 1924: Creo que es indispensable publicar el catlogo de la flora ibrica si se quieren establecer con probabilidades de xito las nuevas reglas de nomenclatura propuestas por V.; y creo tambien que si el Sr. Pau se decidia a emprender esa obra junto con V. adelantaramos mucho en la resolucin de no pocos problemas de sistemtica, y de nomenclatura especialmente. Yo podria ofrecer a los dos la hospitalidad de las publicaciones de esto Museo, para editar el catlogo con la mxima dignidad. Si

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llegbamos asi a tener una obra parecida al Genera de Dalla Torre, concerniente a la flora peninsular, es indudable que nuestros botnicos lo adoptarian de muy buena gana. Sus puntos de vista me parecieron muy lgicos. Slo falta desarrollar la idea, dndole la forma prctica de un catlogo. Esta carta importante porque mostra o alcance e o impacto que as propostas de nomenclatura botnica apresentadas por G. Sampaio no Congresso do Porto tiveram na comunidade de taxonomistas espanhis. Todavia o projecto novamente no se concretizaria, mas no ter morrido. R. G. Fragoso insiste em carta datada de 8 de Maro de 1926: Hemos de ocuparnos los botnicos y Bolivar, de ver como se hace algo de la flora ibrica, contando sobre todo con su valiosisima cooperacin.

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IX. Jlio Henriques, A. X. Pereira Coutinho, Gonalo Sampaio e as Floras de Portugal 1. A necessidade de uma flora moderna de Portugal As floras disponveis, de Brotero e de Link e Hoffmansegg, com mais de um sculo de vida, estavam naturalmente ultrapassadas e desactualizadas. Por outro lado, em alguns pases, tinham sido publicadas, ou estavam a ser publicadas, floras regionais e nacionais. Era o momento para a criao de uma flora moderna de Portugal. Quem sero os protagonistas da elaborao desta flora? J. Henriques, A. X. Pereira Coutinho e G. Sampaio lideraram um grupo de botnicos que levaram a cabo este desiderato. Neste captulo discutiremos a forma como esta tarefa foi planeada e executada, com base na documentao do esplio de G. Sampaio144. 2. As personalidades de J. Henriques e A. X. Pereira Coutinho atravs do esplio epistolar Porm, antes do mtodo, os personagens. Que personalidade emerge da correspondncia escrita por J. Henriques? Existe um testemunho externo, directo, de A. Ricardo Jorge. Numa carta datada de 8 de Janeiro de 1902 dirigida a G. Sampaio, sabemos que o jovem mdico lisboeta visitou a Botnica da Universidade de Coimbra onde conheceu J. Henriques. Descreve o professor de Coimbra da seguinte forma: Contra toda a espectativa acabo de vr o que h muito tempo desejava visitar e conhecer. Chegei ontem de Coimbra onde tive a honra de conhecer o Dr. Julio Henriques que me mostrou detidamente o museu, o herbario e a bibliotheca, diversos livros (entre elles o manuscripto de Tournefort) e que me offereceu trs volumes do Boletim de Coimbra e que finalmente me convidou para socio da Broteriana. A descripo que me fez delle fica muito aqum da realidade inimaginavel a bondade, simplicidade e franqueza do seu caracter. Gostei immenso do museu que mostra o trabalho do seu director. Fallei-lhe em si, dizendo-lhe que tinha sido o Snr. Sampaio que me tinha despertado o gosto pela botanica, gabando-o elle a si como justamente o merece. Como caracterizaramos a personalidade e carcter de J. Henriques, por uma anlise do contedo das cartas que escreve para G. Sampaio? A simplicidade e generosidade so constantes nas suas missivas. A sua preocupao com o ensino ressalta de breves frases que intercala nas suas cartas. Em carta datada de 4 de Novembro de 1902 dirigida a G. Sampaio, terminava com este desabafo: Desculpe-me de s agora dar conta de mim, pois s agora comeo a entrar no meu estado normal depois da trovoada das matrculas. A 13 de Abril de 1908 terminava um bilhete-postal para G.
144 Extravasa o objectivo deste trabalho discutir em pormenor a validade cientfica das propostas que foram sendo apresentadas pelos intervenientes deste projecto. F-lo-emos s pontualmente quando se torna indispensvel para a clarificao de uma questo concreta. O nosso propsito antes desenhar e discutir a forma e o mtodo utilizados na prossecuo desta tarefa.

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Sampaio: No lhe dou j resposta s suas perguntas, porque falta o tempo. Bem sabe que estamos na terrivel epoca de exames. A 27 de Julho de 1909, escrevia para G. Sampaio: Nesta terrivel epoca de exames, em que cada dia tenho de estar quatro horas pelo menos, sentado a ouvir o que os rapazes dizem, em geral muito mal, no h grande vontade de tratar de cazos duvidosos. J. Henriques era tambm muito cioso dos seus pertences. Em carta de 24 de Novembro de 1902 dirigida a G. Sampaio, terminava com a seguinte frase: No se esquea dos livros, que ahi tem. J. Henriques era generoso mas exigente, o que se depreende de uma carta datada de 20 de Dezembro de 1904: Tenho esperado a sua anunciada visita, assim como a remessa dos livros. Vou perdendo a esperana duma e doutra, o que deveras sinto. Bem compreendo que os livros podem fazer falta. [...] mas justo devolve-los a tempo [...] Tudo quanto aqui houver est s suas ordens, livros, plantas, mas justo que no haja longas demoras em devolver o que receber. Estabelea-mos esta regra, que me parece boa. Os livros emprestados a G. Sampaio eram uma preocupao. s vezes irritava-se. Escrevia a 2 de Janeiro de 1923 para G. Sampaio: A proposito desse livro tenho a fazer-lhe um pedido no escreva nele mais do que j escreveu. Desagrada-me muito ver um livro bem impresso com correces a tinta de escrever. feitio meu. As correces feitas nem todas so legiveis, de modo que no se sabe o que l estava, nem a correco. Desculpe-me a impertinencia. Com o avanar da idade, J. Henriques irritase ainda mais com as demoras na entrega dos livros emprestados a G. Sampaio. Escrevia a 14 de Novembro de 1923: Revendo hoje o livro no qual h as notas dos livros emprestados encontro de 14 publicaes sobre liquenes que levou [...] Eu sou o responsavel por tudo isto e era-me muito agradavel que tudo voltasse. Os emprestimos sem prazo so muito inconvenientes. [...] Convem pois que o livro emprestado no esteja fora do seu lugar por muito tempo. Isto significa que me era muito agradavel que o meu amigo mandasse o que l tem, para descano meu. O zelo era tambm relativo ao material de herbrio que emprestava ao seu colega portuense. s vezes zanga-se com as demoras de G. Sampaio. Em carta datada de 23 de Janeiro de 1909, J. Henriques escrevia: H mezes que [...] pedido com instncia os Ranunculus, que ahi esto. Disse o motivo porque as pedia, que era a necessidade de as vr para o catalogo que comecei da flora da bacia do Mondego. Lembrei-me de pedir ao Dr. Aaro que, no caso de vir no Natal a Coimbra, como costumava, lhas pedisse e as trousesse. Respondeu-me que no vinha, nem que tinha falado consigo [...] H-de concordar que se eu lhe preparasse uma [...] egual ou mesmo menor, se zangaria comigo. Eu no me zango porque julgo isto devido aos seus trabalhos, mas peo encarecidamente que os mande quanto antes pois fazem-me grande falta. No esquea tambm o seu manuscripto para no atrasar muito a impresso do Boletim. Com este tom de carta, G. Sampaio ter-se- apressado a

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responder, dado que J. Henriques escreve a 8 de Fevereiro de 1909, em ambiente mais desanuviado: Muito estimei receber hontem a sua carta. A falta de resposta a varias cartas recentes e a demora na remessa das plantas comeava a inquietar-me fazendo-me desconfiar do seu modo de ver a meu respeito. [...] Ainda bem que escreveu e c espero as plantas. Grande parte da correspondncia de J. Henriques para G. Sampaio constituda por bilhetes-postais com mensagens breves, como a que escreveu para acusar finalmente a recepo destas plantas, datado de 19 de Fevereiro de 1909: Recebi finalmente as plantas. G. Sampaio dedicar especial ateno ao difcil gnero Ulex, pedindo exemplares emprestados ao Herbrio da Universidade de Coimbra. O zelo de J. Henriques bem expresso nesta frase escrita a 30 de Junho de 1910 numa carta dirigido a G. Sampaio: Mando como amostras exemplares de Ulex [so indicadas cinco espcies], exemplares unicos do herbario e por isso teem de voltar. Bastantes anos mais tarde, a 25 de Maio de 1921, dirigia-se a G. Sampaio no mesmo tom: Fiquei satisfeito com a noticia de que brevemente mandava as plantas que para ai foram. J tempo de as pr no seu lugar, e j [...] fizeram falta. De futuro dever combinar sempre para haver pequena demora. Em 1911 e face legislao republicana publicada145, J. Henriques requere a sua aposentao. Informa G. Sampaio a 25 de Maro de 1911: Requeri a aposentao, como no podia deixar de requerer em face do decreto relativo a aposentaes. Tenho as condies nelle exigidas mais de 70 anos e mais de 30 de servio. Veremos o que o governo resolve. O Dr. Arriaga antes de ir para Lisboa affirmou-me que eu seria confirmado ou conservado no meu posto, e ultimamente a faculdade a discutiu uma proposta votou que a direco do jardim a anexos me fosse conservada. Creio pois que ficarei e estimarei isso porque gosto de trabalhar e de viver com as hervas. Mas continuar a trabalhar por muitos anos aps a aposentao. s vezes de singela sinceridade. Terminava um bilhete-postal dirigido a G. Sampaio datado de 19 de Setembro de 1911: Agora trato da publicao do catalogo da biblioteca e vou comear a catalogao do museu. bom ir tratando do testamento. Num bilhete-postal datado de 11 de Abril de 1913, j aposentado e muito mais velho que G. Sampaio estimulava o seu colega portuense na tarefa a que estava acometido: Queixa-se de velhice precoce. Mau que isso seja verdade. Poupe-se para poder trabalhar ainda muito. A viagem ao Algarve devia ser interessante. terra para dar ainda boa poro de plantas. O pior haver pouco quem as possa colher segundo as regras. Quase todos esto velhos e [...] os novos no [...] vontade de continuar a nossa obra. Alguns anos mais tarde, a 9 de Fevereiro de 1920, escrevia para G. Sampaio: Como esta
Ser uma das medidas da catadupa legislativa do ps-5-10-1910. No Dirio do Governo n. 18, de 23 de Janeiro de 1911 era publicada uma determinao do Ministrio do Interior que obrigava a aposentao de todos os professores de qualquer grau ou estabelecimento de ensino no fim do ano lectivo em que tenham completado 70 anos de idade (AAPP, 1910-1911).
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de saude? Eu vou andando quasi regularmente, mas sem grandes passeios. Ao fim da tarde, terminado o meu servio, a vista est fraca apesar de eu pouco uso ter feito dela. ferrugem nas molas alimentada pelos meus 82. Como caracterizaramos a personalidade e carcter de A. X. Pereira Coutinho, por uma anlise do contedo das cartas que escreve para G. Sampaio? Bem diferente dos colegas de Coimbra e Porto. organizado e metdico e de uma grande tenacidade na prossecuo de objectivos previamente determinados146. 3. A Flora de Portugal de A. X. Pereira Coutinho A. X. Pereira Coutinho ir publicar a 1.a edio da sua Flora de Portugal em 1913147. Atravs da anlise da correspondncia que troca com G. Sampaio possvel reconstruir o mtodo e o avano da construo da flora pelo botnico lisboeta. O mtodo de trabalho de A. X. Pereira Coutinho para elaborar a sua flora de Portugal emerge em diversas das cartas que escreve para G. Sampaio. A 13 de Fevereiro de 1905 escrevia: Acabo de receber as suas plantas que muito agradeo. Chegaram em optimo estado. Peo desde j licena para as demorar c; ficam ao meu cuidado. Disponho de muitos exemplares, e a minha reviso fatalmente demorada nestas condies; desejo ir estudando genero por genero, e s ao tratar de cada um delles irei consultar as plantas respectivas do seu herbario. Em 1909, G. Sampaio inicia a publicao, em fascculos, do Manual da Flora Portugueza. Aparentemente este facto desencadeou um estmulo em A. X. Pereira Coutinho, que em duas longas cartas escritas em Janeiro deste ano, fala do seu projecto da Flora de Portugal (paralelo ao de G. Sampaio), sem no entanto deixar do felicitar o seu colega portuense. O mtodo de trabalho e programa de aco do botnico lisboeta claro. Escrevia a 15 de Janeiro de 1909 para G. Sampaio: Tambem eu trabalho ha 2 annos em escrever uns elementos da Flora portugueza. Baseio-me no herbario da Polytechnica, nas herborisaes que tenho agora mandado empreender, e nos trabalhos anteriormente publicados dos que teem estudado a nossa flora. O meu manuscripto vae acompanhando a reviso, que eu fao, do herbario. Tenho actualmente ordenados 2 armarios, com umas 900 especies, e o manuscripto respectivo. Se tiver fora e saude para continuar a trabalhar como tenho trabalhado at aqui, calculo que devo ultimar esta empreitada dentro de uns 5 anos. S tenciono entregar no fim de tudo, o manuscripto imprensa, para poder corrigir a parte j feita com o estudo das novas herborizaes e poder aproveitar os trabalhos
Exemplificaremos todas estas caractersticas em pargrafos seguintes. Esta Flora tinha sido precedida pela publicao, no Boletim da Sociedade Broteriana, de revises de muitas famlias da Flora portuguesa (ver Captulo III.5).
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realisados sobre a nossa flora at essa epocha. Tenho encontrado bastantes factos interesantes e vrias especies novas para a nossa flora. De algumas dessas especies, a pedido do Dr. Julio Henriques, dou noticia no proximo volume do Bolletim da Sociedade Broteriana. E logo alguns dias depois, a 21 deste ms: Quando o Mariz publicou a reviso das primeiras familias (Ranunculaceas, Caryophyllaceas, Cruciferas, Leguminosas), ainda as plantas do herbario da Polytechnica no eram enviadas para Coimbra, para serem revistas conjuntamente. Daqui resulta que muito possivel que existem no herbario da Polytechnica especies ou variedades portuguezas ainda no conhecidas, como existentes c. Mas, sem um trabalho demorado e conscencioso impossivel apural-o, com segurana. Com effeito o herbario portuguez da Polytechnica enche hoje completamente 6 grandes armarios (to grandes, que preciso uma escada para se chegar s prateleiras superiores), e tem reunidas as colheitas de Welwitsch, do Daveau, R. da Cunha, F. Mendez; mas todas estas plantas esto com a classificao provizoria dos seus collectores, e s uma reviso total do conjunto pde merecer confiana. isso o que estou fazendo, h 2 annos, e j tenho muitas plantas em ordem e apuradas muitos factos interessantes; mas, como ainda no puz as mos nas familias a que V. Exa. agora se reffere, comprehende decerto a impossibilidade que eu tenho de indicar especies no conhecidas, ou mesmo determinar o habitat das que j so conhecidas no paiz. Felicitando a V. Exa, pelo seu emprehendimento148. Ao contrrio de G. Sampaio, o mtodo de A. X. Pereira Coutinho linear estudar famlia por famlia. Em cada famlia, estudar gnero por gnero. Pedir exemplares emprestados (ou permutar). Estudar a bibliografia existente referente flora nacional, nomeadamente a publicada pelos seus colegas de Coimbra e Lisboa. Elaborar uma lista das espcies portuguesas e respectiva chave dicotmica. Trocar opinies e impresses com os seus colegas. Emendas e correces. Na documentao epistolar de A. X. Pereira Coutinho para G. Sampaio encontrmos prova que no Jardim Botnico da Escola Politcnica se cultivavam plantas para se obter material de herbrio ou para se realizarem observaes em condies fenolgicas particulares149. Um dos gneros mais discutidos entre A. X. Pereira Coutinho e G. Sampaio foi o Silene. Em carta datada de 24 de Outubro de 1909, A. X. Pereira Coutinho escrevia: Recebi do Museu de Paris, entre vrias plantas e sementes, as sementes de [...] e Silene italica; vou semear estas ultimas ao lado das sementes de Silene longicilia dos arredores de Lisboa, para depois comparar vivas as duas plantas. Tambm neste ano de 1909, A. X. Pereira Coutinho encontrar em Sintra um Rubus que lhe ter parecido como novo para a cincia.
A estimativa de A. X. Pereira Coutinho no era muito irrealista a 1.a edio da sua flora seria publicada em 1913. Geralmente pediam-se as sementes que eram cultivadas no Jardim Botnico. Nos Rubus tero sido utilizadas outras formas de propagao.
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Contacta com o seu colega portuense para discutir este novo Rubus e numa carta datada de 3 de Julho de 1909 temos uma indicao que estas plantas estariam a ser cultivadas no Jardim da Escola Politcnica para observao: Examinou o exemplar que lhe remetti da planta de Caparide, cultivada hoje na Polytechnica? bem o hybrido R. caesius x ulmifolius, no lhe parece?150. A primeira referncia sobre a elaborao da Flora de Portugal por A. X. Pereira Coutinho feita numa carta datada de 30 de Junho de 1902 para G. Sampaio: Encetei uns estudos preliminares, com ida de mais tarde revr as nossas Borragineas. Mas os estudos pormenorizados desta famlia s se tero efectivado algum tempo mais tarde. A 13 de Fevereiro de 1905 escrevia para G. Sampaio: Ando agora com o genero Echium, que tenho quasi em ordem. Disponho de mais de 200 exemplares portuguezes. S tenho ainda duvidosos alguns do grupo [...]. Em carta datada de 24 de Fevereiro de 1906, informa o seu colega portuense que tinha terminado a reviso das Borraginceas151 e que tinha iniciado o estudo das Escrofulariceas, pelo que pedia ao seu colega o emprstimo de exemplares desta famlia. G. Sampaio acedeu ao pedido, tendo enviado exemplares para o seu colega lisboeta. Alguns meses mais tarde, A. X. Pereira Coutinho ainda estudava esta famlia, escrevendo a 8 de Maio: tenho trabalhado persistentemente nas Escrophulariaceas, mas no posso dar ainda por terminadas seno as de corolla personada ou mascarina, grupo em j determinei 50 e tantas especies. Discute seguidamente alguns aspectos da sistemtica e taxonomia do gnero Linaria. Alguns dias depois, a 13 deste ms, informava G. Sampaio que estava a estudar o gnero Veronica e pedia uma cpia da diagnose de Veronica demissa. Na carta faz algumas consideraes sobre a taxonomia deste gnero. A 9 de Junho deste ano de 1906, A. X. Pereira Coutinho informava o seu colega portuense que estava a terminar o seu trabalho sobre as Escrofulariceas e que desejava devolver as plantas emprestadas. Refere que R. T. Palhinha e o conservador do Herbrio da Escola Politcnica tinham ido ao Cabo de S. Vicente procura da Linaria algarbiana e que a tinham encontrado. A. X. Pereira Coutinho envia para G. Sampaio, juntamente com esta carta, exemplares desta espcie e tambm de da nova Linaria de Beja. Na mesma carta, A. X. Pereira Coutinho ainda refere outro gnero desta famlia, Digitalis152. Escreve: achei muito curiosas as suas Digitalis, que ambas me parecem boas especies. O numero das especies deste genero conhecidas em Portugal sobe a 6 no meu trabalho; pois que temos na Estrella a D. nevadensis e determinei a D. minor, muito bem caracterizada nuns exemplares colhidos em Bragana ou Vimioso
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Os Rubus s tm valor para herbrio quando as plantas esto completas, o que muitas vezes no ocorre quando so observadas no campo (ver Captulo IV). 151 A. X. Pereira Coutinho publica uma reviso desta famlia no Boletim da Sociedade Broteriana (COUTINHO, 1905). 152 G. Sampaio tinha acabado de publicar a descrio de novos txones de Digitalis.

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pelo Dr. Mariz. Alguns dias depois, A. X. Pereira Coutinho ter terminado o seu estudo das escrofulariceas portuguesas153. A 16 de Junho de 1906, devolvia os exemplares emprestados, escrevendo honestamente para G. Sampaio: Vae inclusa a guia do caixote em que vo as suas plantas. Muito agradeo. Intercalei exemplares das especies ou frmas no ou pouco representadas, sempre que pude dispr delles. Infelizmente ainda no vo representadas todas as especies, mas j no faltam muitas. Com a sua auctorizao, tirei um dos exemplares de L. viscosa [...] Sem a sua auctorizao, tirei um pequeno exemplar dos duplicados da sua Digitalis Amandiana no collados; no pude resistir a essa tentao e tem l muitos; desculpe-me pois [...]. Segue-se a famlia das Labiadas (Lamiceas). Em carta datada de 31 de Dezembro de 1906, escrevia para G. Sampaio: Comeo agora a revr as Labiadas e j aqui tenho o herbario da Universidade. Muito me obsequeia se quizer enviar-me as suas; terei de as demorar aqui uns mezes, mas, tratarei dellas com cuidado e procurarei incluir os duplicados de que lhe faltar. Ficar-me-hia assim o trabalho mais facil, mas se lhe causa transtorno em demorar aqui tanto as plantas, ento melhor virem mais tarde, quando eu j tiver as minhas cousas mais adeantadas. O estudo da famlia corria bem a A. X. Pereira Coutinho154 que escrevia pouco tempo depois a 19 de Fevereiro de 1907: O meu trabalho vae relativamente adeantado, pois que j terminei o grupo das Menthinae, Thyminae e Melissinae e levo quasi no fim o estudo de genero Salvia ; tem corrido assim depressa, porque eu j tinha de h tempo preparado bastantes elementos. A. X. Pereira Coutinho ter precisado de observar exemplares de Labiadas do Herbrio do Colgio de S. Fiel. Alguns dos exemplares estariam na altura no Herbrio da Academia Politcnica, pelo que A. X. Pereira Coutinho se dirige a G. Sampaio a 23 de Abril de 1907: Pedi o herbario de S. Fiel antes das frias da Pascha e julgava que no mo remetteriam, em vista da demora. Termina esta carta fazendo um balano positivo da tarefa a que se tinha acometido: Levo o meu trabalho muito adeantado, mas preciso de umas herborizaes para esclarecer alguns pontos duvidosos. Algum tempo depois, a 9 de Maio de 1907, protesta energicamente junto do seu colega portuense: No recebi ainda o herbario de S. Fiel. Estou a terminar o meu trabalho e por isso esse herbario faz-me falta nesta occasio. Peo, pois, o favor de mo enviar com a possivel brevidade. Mas a situao ter-se- rapidamente resolvido dado que logo a 15 deste ms, escrevia para G. Sampaio: Acuso a recepo do seu bilhete, bem como do herbario de S. Fiel. V. Exa. me dir depois se, quando terminar o meu trabalho, o deve remetter para ahi ou para S. Fiel. A 20 de Maio de 1907, A. X. Pereira Coutinho informava o seu colega portuense que tinha
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A. X. Pereira Coutinho publica uma reviso desta famlia no Boletim da Sociedade Broteriana (COUTINHO, 1906a). A. X. Pereira Coutinho publica uma reviso desta famlia no Boletim da Sociedade Broteriana (COUTINHO, 1907a).

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as Labiadas a bem dizer completas. Apenas estou espera de tempo proprio para mandar colhr umas plantas em que desejo tirar umas dvidas. No lhe mandei j o seu herbario, porque se a colheita fr fructuosa, devo puder intercalar mais algum exemplar. G. Sampaio tinha enviado para A. X. Pereira Coutinho exemplares de Labiadas a pedido do colega lisboeta. Este devolve-as a 2 de Julho, j perto da concluso do estudo da famlia: Remetto inclusa a guia do caixote em que vo as suas Labiadas. [...] Inclui no seu herbario bastantes duplicados, alguns de plantas raras; s l no ficam representadas as especies ou variedades de que no me foi possivel arranjar duplicados. Mas A. X. Pereira Coutinho ter tido dvidas sobre um dos gneros da famlia e pediu emprestados a G. Sampaio exemplares de Mentha155. As plantas so devolvidas a 6 de Agosto de 1907 acompanhadas da seguinte mensagem escrita num bilhete-postal: Remetto no correio de hoje o pacote com exemplares das Menthas, que fez o favor de me enviar e que hontem recebi. Era apenas na separao e denominao das frmas de M. aquatica que desejava fazer umas alteraes. No ano seguinte, em 1908, A. X. Pereira Coutinho ter estudado as famlias Alsinceas, Silenceas, e Aizoceas, porque inicia, com G. Sampaio, uma longussima discusso sobre os gneros Loeflingia, Silene e Mesembryanthemum. A. X. Pereira Coutinho inicia a discusso numa carta datada de 2 de Junho de 1908: Tenho um exemplar unico, portugues da Loeflingia hispanica de Vila Velha de Rodam. A sua L. Tavaresiana parece-me realmente synonyma da L. pentandra, Cav.; tenho-a tambem dos arredores de Aldea Gallega e das margens do Guadiana. Quanto ainda Silene Boryi muito folgo de que V. Exa. procure rev-la e estud-la de novo com cuidado. bem possvel que se trate de uma espcie peninsular, ainda no descripta, que envolve exemplares do Douro, exemplares colhidos pelo Cutanda nos arredores de Madrid. Muito agradeo o favor de me comunicar opportunamente os resultados a que chegar. Alguns meses mais tarde, a 20 de Novembro, A. X. Pereira Coutinho insiste na Loeflingia Tavaresiana e inicia a discusso dos Mesenbryathum spp.: Por causa de um trabalho que trago actualmente entre mos, muito desejava vr um exemplar da sua Loeflingia Tavaresiana [...] (tenho as diagnoses). Se V. Exa. tem algum exemplar disponvel, muito me obsequeia dando-o para o herbario da Polytechnica; se no tem duplicado, muito me obsequeia egualmente deixando-mos examinar por uns dias. E agora uma ultima pergunta, que tambem fao. Vejo citado pelo Dr. J. Henriques, no Boletim da Sociedade Broteriana, entre plantas novas encontradas por V. Exa. em Portugal, o Mesembryanthemum glaucum, subespontaneo em Espinho. V. Exa. tem bem a certeza de que se trata desta especie? Tenciono mandar um jardineiro daqui a Espinho procur-lo pois parece-me que talvez
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G. Sampaio tinha publicado em 1901 um trabalho sobre o gnero Mentha (SAMPAIO, 1901a).

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elle possa ser o M. brachyphyllum Welw. Esta especie, exclusivamente portugueza, to proxima do M. glaucum, que Welwitsch ao principio tomou-a como uma frma delle. O Mariz que o confundio no seu trabalho com o M. nodiflorum, do qual absolutamente diverso. Acho muito interessante liquidar definitivamente este ponto, e averiguar se a especie portugeza chega at Espinho. A Loeflingia Tavaresiana era uma espcie nova proposta por G. Sampaio (SAMPAIO, 1905e). A. X. Pereira Coutinho no possua nenhum exemplar desta espcie, mas to somente a sua descrio. No estaria convencido que se tratava de uma espcie vlida e que os exemplares no fossem de Loeflingia pentandra Cav. Em relao Silene Boryi, G. Sampaio tinha-a encontrado nas margens do Douro, mas sendo diferente da espcie tpica de Boissier, tinha-a considerado como variedade nova desta espcie, Silene Boryi var. duriensis Samp. (SAMPAIO, 1900c)156. A. X. Pereira Coutinho tinha dvidas que se tratava de facto da S. Boryi Boiss., dado que esta era uma espcie alpina, de grandes altitudes. Quanto aos Mesembryanthemum, estava em causa a existncia da espcie M. glaucum L. em Espinho descrita por G. Sampaio num trabalho publicado em 1900. A. X. Pereira Coutinho tinha dvidas se no seria o M. brachyphyllum Welw. Mas no tinha razo. Esta espcie no existia em Portugal e o prprio A. X. Pereira Coutinho no a incluir na sua Flora de Portugal. G. Sampaio atende o pedido do seu colega lisboeta e ter enviado exemplares da sua L. Tavaresiana, dado que A. X. Pereira Coutinho escreve a 27 de Dezembro de 1908: Recebi-he as plantas que fez o favor de me enviar, e que muitissimo lhe agradeo. Ainda as no estudei, mas, pelo aspecto, a Loeflingia assemelha-se muito a um exemplar velho e mau, existente no herbario da Polytechnica, e colhido pelo Welwitsch, no Alemtejo. Vou comparal-os, para vr se lhe posso referir esse exemplar. Para esclarecer a dvida em relao ao Mesembryanthemum de Espinho, A. X. Pereira Coutinho escreve a 15 de Janeiro de 1909: Mandei a Espinho procurar o Mesembryanthemum em que lhe fallei, um dos jardineiros da Polytechnica; encontrou optimos exemplares, que agora aqui vou cultivar. o M. brachyphyllum, Welw.; pedi para o estrangeiro, o M. glaucum, vivo, com o qual o desejo comparar. A nossa planta considerada como boa especie no Grke Plantae Europaeae - , no Engler.[...] No conheo sufficientemente o M. glaucum para o poder decidir. Que a planta de Espinho corresponde exactamente com os exemplares de Welwitch que c tenho, isso certo. A 25 de Maio de 1909, A. X. Pereira Coutinho retoma a discusso do gnero Silene. No estava convencido que a Silene das margens do Douro observada por G. Sampaio fosse uma variedade da S. Boryi. Argumentava desta maneira: Passando a um outro assumpto. Em tempos nos Annaes de
Mais tarde, aps observao cuidada de bons exemplares da S. Boryi, de Espanha, G. Sampaio ir propor para esta variedade a categoria especfica (SAMPAIO, 1921b).
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Sciencias Naturaes e agora novamente no Prodromo da Flora Portuguesa, que V. Exa. est publicando, vejo citada uma planta em que tenho a duvida que passo a expr, pedindo desde j a V. Exa. que no veja nestas minhas palavras mais do que ellas realmente querem significar, isto , o desejo de esclarecer uma questo que bastante me interessa. Refiro-me Silene Boryi var. duriensis. A minha duvida que [esta espcie de] plantas das grandes altitudes, plantas alpinas, sendo por isso realmente para estranhar a sua existncia nas margens do Douro. verdade que Cutanda cita na Castella a Nova, em altitude bastante baixa, a var. tejedensis (que, segundo as descripes, deve ser muito proxima da sua duriensis), mas Willkomm pe em duvida que se trate da mesma especie, e lembra at a possibilidade de ser a planta de Cutanda uma especie ainda no descripta. Teve V. Exa. occasio de comparar a planta portugueza com exemplares authenticos da especie de Boissier? Se a comparou e V. Exa. tem a certeza na determinao, conclue-se que a S. Boryi planta de mais larga rea de distribuio do que se julgava, e no meramente uma planta alpina, embora suba to alto nas montanhas. Se a no pode comparar com exemplares authenticos, valia bem a pena faz-lo (existem provavelmente no herbario de Willkomm, em Coimbra), afim de se liquidar de vez esta questo. Continuando a discutir este gnero, A. X. Pereira Coutinho aproveita a ocasio para concordar com o seu colega portuense que, no Manual, considerava a S. conica e a S. conoidea, ambas como espcies existentes em Portugal, a primeira dos arredores de Lisboa e a segundo perto do Porto: Ainda a proposito deste genero Silene. Vi que V. Exa. cita, como pertencendo S. conica, as plantas dos arredores do Porto que primeiramente considerra como S. conoidea. Eu encontrei a S. conoidea nos arredores de Lisboa, uma unica vez, em 1880, e conservo no meu herbario um dos exemplares encontrado; um bom exemplar, com optimas flres e fructos. Quando vi agora a sua emenda, fui verific-lo de novo, e compar-lo com os exemplares da S. conica e S. conoidea que tenho no Herbario Europeu; o meu exemplar sem duvida da S. conoidea, e as duas especies ambas ao que parece bem raras so ento portuguezas. Quatro dias mais tarde, a 29 de Maio de 1909, aps a discusso de outras espcies, A. X. Pereira Coutinho insiste novamente na S. Boryi: E voltando ainda Silene Boryi; um caracter importante e bem caracteristico desta especie deve ser a grandeza extraordinaria do calice (que Willk. marca no Prodr. 1 = 39 mm, e que levou Bory a confundi-la com S. longiflora). Os seus exemplares do Douro tm o calice to grande?. Perante a insistncia do colega lisboeta, G. Sampaio ter perguntado a A. X. Pereira Coutinho se gostaria de receber as plantas do Douro para esclarecer o assunto. Mas A. X. Pereira Coutinho, em carta datada de 7 de Junho de 1909, insiste que seja G. Sampaio a resolver a questo, sugerindo que o seu colega portuense observasse os exemplares de S.

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Boryi recolhidos por Willkomm: Com proposito Silene Boryi, muito agradeo o seu offerecimento, mas eu preferia muito que V. Exa. a estudasse. O caminho seguro para fazer este estudo, era pedir para Coimbra o exemplar do herbario de Willkomm da verdadeira S. Boryi e compar-lo com o seu. O Willkomm diz no Prodr. que o viu vivo, portanto deve ter exemplares no seu herbario; o Dr. J. Henriques com certeza que lhe empresta esses exemplares, se o meu amigo lhos pedir. Na mesma carta de 7 de Junho, A. X. Pereira Coutinho retoma a questo da L. Taveresiana. Ainda no estava convencido que esta espcie no fosse de facto um sinnimo da L. pentandra Cav.: Quanto Loeflingia pentandra, Cav., a gravura de Cavanilles, que vi, no boa, e as descripes que conheo no so muito desenvolvidas; a frma dos estigmas, [...] que me fizeram suppor que ser identica sua Taveresiana. Creio que sejam diversas, desde que V. Exa. me diz conhecer a L. pentandra e ella ser bem distinta. Folgaria, no entanto, de vr exemplares authenticos da L. pentandra. No para corroborar este ponto, uma vez que V. Exa. o affirma com conhecimento de causa, mas porque desejava conhecer sufficientemente a especie hespanhola para a poder procurar entre ns, com mais probabilidades de a encontrar. muito provavel, com effeito, que ella esteja tambem em Portugal, sobretudo no sul, onde demais este genero parece no escassear. G. Sampaio acedeu rapidamente ao pedido do seu colega e este ter ficado convencido quanto validade da S. Taveresiana, escrevendo logo a 11 de Junho: O exemplar hespanhol da Loeflingia pentandra, que vou estudar amanh, conto remett-lo para a proxima semana, conjuntamente com as plantas que j aqui tenho apartadas para V. Exa., [...] No vale a pena remetter-me V. Exa. a Loeflingia da Zambujeira; apenas lhe peo que depois de a estudar me diga em que especie a filia. Passei rapidamente pela vista o seu pacote de plantas. Na verdade a L. pentandra tem aspecto bem diverso da sua Tavaresiana; muito mais semelhante hispanica, de que possuo no herbario europeu bons exemplares. Poucos dias depois, A. X. Pereira Coutinho a 14 de Junho, devolvia o exemplar da Loeflingia pentandra de G. Sampaio e continuava a discusso deste gnero - ainda faltava esclarecer a identidade do exemplar que tinha de Vila Velha de Rodo: Devolvo o seu exemplar de Loeflingia pentandra, e muito lhe agradeo ter-me dado ocasio de o estudar. Comparando-o com um exemplar da L. hispanica, proveniente dos Pyreneus orientaes (exsiccata Maguier), acho nos dois proximadamente o mesmo porte, o mesmo indumento, a mesma inflorescencia e as mesmas dimenses da flres. O que fica para os distinguir? O numero dos estames e a frma do estylete? Parece-me que este caracter no bastante para distinguir duas especies, e a meu vr a L. pentandra deve ser considerada uma simples variedade do typo linneano. Quanto ao meu exemplar de Villa Velha de Rodam direi que est em fructificao. Consegui contar-lhe 3 estames numa flor, e quanto ao estylete no o vi em condies favoraveis. Julgo que

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pertencer L. hispanica typica, mas seria necessario examinar a planta viva e em estado mais atrazado para o poder asseverar com certeza, uma vez que no encontro outros caracteres differenciaes. claro que a sua L. Tavaresiana bem distincta; pela inflorescencia, com as flres dispostas em pseudo-espigas alongadas, entra no typo da L. hispanica; mas com as pseudo-espigas muito mais delgadas, com as flores mais pequenas e o porte diverso, o que tudo as distingue sufficientemente, a meu vr, para ser considerada como especie distincta. De facto, A. X. Pereira Coutinho, na sua flora de 1913, ir considerar este exemplar de V. V. de Rodo como sendo a L. hispanica, e como duvidosa a existncia em Portugal da raa pentandra da L. hispanica L. G. Sampaio, no seu Prdromo, no considerar a existncia em Portugal desta raa pentandra. Dois dias depois, A. X. Pereira Coutinho retorna discusso do gnero Silene, interrompida pelas Loeflingia. A 16 de Junho de 1909, reafirmava o seu interesse na permuta de plantas do gnero Silene. Escrevia para o seu colega portuense: A Silene longicilia (Brot.) frequente nos arredores de Caparide; posso preparar e enviar-lhe bons exemplares; tem o calice [...] Quanto S. muscipula por aqui pouco frequente; s a encontrei uma vez. Muito lhe agradeo a sua proposta para a troca de plantas, e procurarei reunir aqui algumas que o interessem. Quanto tiver occasio, lhe enviarei tambem indicaes sobre as planta do norte que principalmente deseja, bem como formularei algumas duvidas que tenho sobre determinadas especies. No tenho exemplares nem da Silene mellifera nem da S. nemoralis, em que me falla. Mas ainda faltava esclarecer a Silene Boryi, e a 3 de Julho deste ano, A. X. Pereira Coutinho, escreve: Nunca pode averiguar nada acerca da Silene Boryi? A proposito dste genero, dir-lhe-ei que tenho hoje a desconfiana que eu e o meu amigo interpretamos por frma diversa a S. longicilia (Brot.), pois que o meu amigo a considera muito proxima da S. nutans e eu a considero muito mais proxima da S. italica. Hei de mandar-lhe exemplares para trocarmos impresses. A planta que eu considero como S. longicilia tem por si a tradio no nosso herbario h muitos annos (j ssim a considerou o Welwitsch tambem), e do mesmo modo a tradio de Coimbra (o Mariz tambem a esta mesma planta que se refere no seu trabalho), sendo por ultimo a mesma ainda que se encontra nos lugares citados por Brotero. Ser esta planta que eu julgo dever identificar com a S. longicilia Brot. A sua raa nemoralis da S. italica? questo essa que vista dos exemplares bem se desfaz. O gnero Silene complexo, tem muitas espcies e a discusso continuava a 21 de Agosto de 1909: arredores de Lisboa, onde Brotero indicava a sua S. longicilia, no tem sido encontrada nem a S. mutans nem coisa que se lhe aproxime; parece que esta especie tem no nosso pais limite mais superior. A S. longicilia, na minha opinio, deve pois aproximar-se ou da S. italica ou da S. nemoralis. Com vagar verificarei depois os exemplares do herbario da Polytechnica e do meu herbario. No

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herbario europeu tenho um bom exemplar da S. nemoralis (parece-me que da flora exsiccata de Maguier). No dia seguinte, A. X. Pereira Coutinho j se encontrava na sua casa de frias na Ribeira de Caparide, perto da Parede e escrevia a G. Sampaio uma carta inteiramente dedicada ao gnero Silene. O documento est infelizmente muito danificado. no entanto curiosa a seguinte frase de A. X. Pereira Coutinho que resume um homem absorvido pela botnica: Escrevi hontem, pressa, de Lisboa, e completo hoje daqui com mais vagar o meu pensamento cerca do caso da S. italica e S. longicilia, e que muito desejo vr a limpo. Novamente a Silene Boryi numa carta datada de 20 de Novembro de 1909: Tambem peo a V. Exa. que me empreste mas esse mais tarde o seu exemplar de Silene Boryi, pois que muito desejo tirar a limpo essa questo. Para a poder estudar devidamente porm indispensavel ter prezente um exemplar autentico da S. Boryi; vou pedi-lo ao dr. J. Henriques, que decerto mo empresta, se o tiver como julgo, do herbario Willkomm. Infelizmente a correspondncia entre A. X. Pereira Coutinho e G. Sampaio interrompe-se em 1910157. No nos possvel seguir o desfecho das discusses sobre estes gneros. A influncia dos trabalhos e opinies de G. Sampaio no trabalho de A. X. Pereira Coutinho emergem em diversas cartas escritas pelo botnico lisboeta. Quando recebe o trabalho de G. Sampaio sobre as Epilobiceas, escreve a 22 de Junho de 1906 a agradecer e termina confessando: Logo que tenha tempo, vou revr pelo seu trabalho uns que colhi o anno pasado. Outras vezes, A. X. Pereira Coutinho parece querer distanciar-se do seu colega portuense. G. Sampaio publica em 1909, no Boletim da Sociedade Broteriana, uma flora regional de Odemira. Envia um exemplar para o seu colega lisboeta, que agradece, numa carta datada de 24 de Outubro de 1909. Aproveita a ocasio para tecer consideraes sobre o trabalho dele e do colega portuense: Recebi o exemplar da sua Flora Vascular de Odemira, que fez o favor de me enviar, e que muito agradeo. [...] Lisoujeou-me bastante, pde crer, o facto de encontrar algumas das suas apreciaes to conformes com os resultados a que eu tambem cheguei e que vem agora publicados neste numero do Boletim da Sociedade Broteriana, que parecem escriptos pela mesma mo! No houve sugesto nem da minha parte nem da de V. Exa., pois que so pontos sobre que nunca trocmos impresses, as provas desse meu original esto j revistas h muitos mezes e eu s agora estou refferindo. Este encontro nas mesmas apreciaes, confesso-o, -me muito agradvel, e tomo-o como um bom signal de termos chegado verdade. Apenas sinto no poder generalizar estas minhas consideraes a todo o seu trabalho; mas, para ser verdadeiro, devo acrescentar que infelizmente para mim nem com

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Ver Captulo XIII.5.

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todas as aproximaes e interpretaes que V. Exa. ahi prope eu posso estar em equal concordancia. 4. A Flora do Mondego de J. Henriques J. Henriques dedicou especial ateno ao estudo das gramneas (famlia Poaceae) (HENRIQUES, 1905) e flora da regio de Coimbra (HENRIQUES, 1913). Encontramos na correspondncia para G. Sampaio muitas referncias a estes estudos. Num bilhete-postal datado de 1 de Agosto de 1904 escrevia telegraficamente: No colheu gramneas?. J. Henriques ia informando o seu colega portuense da elaborao da sua flora do Mondego. Em carta datada de 24 de Agosto de 1910, escrevia: Eu continuo com o esboo da flora do Mondego, que vai lentamente. Fao diligncias para no volume XXV dar a maior [...]. s vezes escrevia a pedir uma opinio concreta. A 14 de Agosto de 1911 escrevia para G. Sampaio: Que nome deu ao Lathyrus paluster [...]? Estou com os Lathyrus para o meu esboo da flora do Mondego e por isso desejo saber o nome novo. G. Sampaio ter respondido e J. Henriques escrevia a 19 de Setembro deste ano: Com relao ao Lathyrus deixei-o ir como est no Prodromo [J. Henriques referia-se ao Prdromo da Flora Portugueza de G. Sampaio], fazendo em nota referencia sua opinio. Num bilhete-postal datado de 22 de Maro de 1915 escrevia para G. Sampaio: Mando-lhe uma folha da pequena Flora do Mondego, que deve substituirse 1. folha do livro. Boa ou m sempre muito completa para a primeira chave publicitada. Se por ventura alguns dos seus discipulos tiverem a Flora, mandarei as folhas necessarias para a substituio. 5. O estudo da flora portuguesa por G. Sampaio Ao contrrio de A. X. Pereira Coutinho que define partida um esquema de estudo da flora portuguesa, no encontrmos em G. Sampaio tal planeamento. Que mtodo utiliza G. Sampaio para estudar a flora portuguesa? Por uma anlise da obra publicada por G. Sampaio, parece-nos ser possvel afirmar que G. Sampaio ao estudar a flora nacional foi guiado pelas seguintes motivaes principais158: A. Estudo de gneros ou espcies mal conhecidas ou confusas, dos quais j tinha bom material de herbrio. Estes txones estavam dispersos por vrias famlias, no havendo portanto uma sequncia orgnica de trabalho. B. Estudo de exemplares de espcies novas, com a proposta de criao dos respectivos txones. Atravs das suas herborizaes e de material que lhe foi oferecido, G. Sampaio

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Ver tambm Captulo XIII, 2A e 2B.

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depara-se com exemplares de espcies ainda no descritas. C. Reavaliao, clarificao e promoo das obras fundamentais da botnica portuguesa de Brotero, Link e Hoffmansegg159. G. Sampaio ir basear os seus estudos numa significativa coleco de exemplares de Herbrio. Nas primeiras herborizaes, G. Sampaio foi muitas vezes acompanhado por E. Johnston160. As cartas de E. Johnston para G. Sampaio revelam um enorme gosto pela botnica e vontade de ajudar o jovem naturalista portuense. Numa carta datada de 10 de Julho de 1905, escrevia: Amigo e Snr. Sampaio: Hontem, sempre consegui arranjar-lhe alguns exemplares da tal Pinguicula, e aguardo as suas ordens a respeito das mesmas. Se quizer, levo-lhe as plantas sua casa, com muito gosto, como tambem specimens do Ranunculus Holianus, das margens do Tamega, e [...] Pena que as Pinguiculas sejam poucas, mas a estao j est bastante adiantada. Se eu soubera em Maio ou Junho que desejava ter exemplares destes arredores, facilmente tinha arranjado um bom numero de plantas, pois varias vezes tenho atravessado terrenos nos quaes a Pinguicula abundante. Queira, pois, avisar-me com antecedencia, sendo possivel, de qualquer planta que lhe possa arranjar, que eu com o maior prazer farei o possivel para executar as suas ordens. As colheitas de E. Johnston e a ajuda a G. Sampaio continuaro por muitas anos. Num bilhete-postal datado de 3 de Junho de 1913, escrevia para G. Sampaio: Estive ante-hontem em Lea do Balio e graas s informaes que me deu, encontrei o Lychnis flos-cuculi, quasi em frente do mosteiro. Como, porm, as plantas eram poucas, s levei comigo uns seis exemplares para seccar. Foi a primeira vez que vi esta planta, a crescer, neste pas. G. Sampaio tambm estudou material permutado e emprestado. Atravs da anlise da documentao epistolar constatamos que estas trocas precederam de perto a publicao das obras. G. Sampaio publica, em 1905, um estudo sobre as Epilobiceas portuguesas e ter pedido emprestados os exemplares do Herbrio da Escola Politcnica. A. X. Pereira Coutinho responde positivamente em carta datada de 29 de Fevereiro de 1904: No dia 20 do corrente mandei despachar em grande velocidade um pequeno caixote, contendo as Epilobiaceas portuguezas da Polytechnica. As plantas foram recebidas por G. Sampaio que escreve ao seu colega de Lisboa, acusando a recepo das plantas e enviando um exemplar do trabalho publicado. A 22 de Junho de 1906, A. X. Pereira Coutinho
159 Por uma anlise dos carimbos apostos nas obras, parece-nos provvel que as obras de Brotero j existiriam na Academia. Pelo contrrio, a Flore Portuguaise de Link e Hoffmansegg ter sido comprada por iniciativa de G. Sampaio, em data posterior a 1906. Esta hiptese baseia-se numa carta de K. Hiersemann para G. Sampaio, datada de 22 de Fevereiro de 1906. Em papel timbrado Karl W. Hiersemann, Buchhaendler und Antiquar, Leipzig: Monsieur Gomes de Macedo de votre ville a bien voulu me charger de vous indiquer le prix de, Link, flore portugaise. Je suis encore la recherche de cet ouvrage et loffrirai le plus tt possible. Entretemps je me permets de vous adresser mes catalogues 313 et 315 et de vous inviter de madresser une liste de tous vos desiderata que vous ne trouves pas y annoncez. Je pourrais galement les fournir des conditions favorables. 160 Ver Captulo XIII.2.

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agradece e elogia o trabalho do seu colega portuense: Recebi o bilhete de V. Exa., accusando a recepo das plantas, assim como o exemplar do seu novo trabalho sobre as Epilobiaceas. Muito o agradeo. Foi um bom servio, tanto mais que o genero Epilobium tem srias difficuldades, mais augmentadas ainda com as frmas hybridas. Numa carta anterior datada de 27 de Abril de 1906, o botnico lisboeta tinha pedido que G. Sampaio lhe oferecesse duplicados de exemplares desta famlia quando devolvesse os da Escola Politcnica. Tambm neste ano, G. Sampaio publica um trabalho sobre o gnero Romulea (SAMPAIO, 1905b). Pede exemplares emprestados ao Herbrio de Lisboa e A. X. Pereira Coutinho responde a 13 de Fevereiro de 1905: Tenciono enviar-lhe amanh a Romulea em que me falla. No incio de 1907, G. Sampaio pede a A. X. Pereira Coutinho exemplares de Brassicceas, pedido que atendido a 23 de Abril de 1907: Remetto inclusa a guia do caminho de ferro correspondente a um caixote em que vo os generos da familia das Cruciferas que me pediu. O gnero Ulex foi tambm objecto de especial ateno por G. Sampaio. Troca exemplares e opinies com J. Henriques. Em carta datada de 8 de Junho de 1910, o botnico coimbro escrevia: Recebi a sua carta e vejo as duvidas que lhe offerecem os Ulex. genero difficil. G. Sampaio ter enviado um rascunho de um estudo sobre este gnero, dado que J. Henriques escreve a 24 de Agosto de 1910: O seu quadro dos Ulex no me parece mal, e creio que por elle se poder chegar sem difficuldade determinao das espcies. As suas reduces talvez sejam justas. um gnero bastante difficil, no tanto como o Rubus, mas d ainda que fazer. Algum tempo depois, G. Sampaio ter enviado um estudo do gnero Lupinus. J. Henriques terminava uma carta datada de 7 de Outubro de 1912: P. S. A chave dos Lupinus parece-me bem. G. Sampaio ia enviando os trabalhos que publicava aos seus colegas. Estes respondem agradecendo e insistindo sempre na esperana de ver publicada a flora de Portugal de G. Sampaio. C. Pau recebe o trabalho de G. Sampaio, Notas criticas sobre a flora portugueza, e responde a 19 de Janeiro de 1905, Hubiera visto con agrado algunas formas que V. trae en sus Notas criticas como [...] Le felicito por sus descubrimientos y porque adivino en V. al futuro autor de la flora portuguesa. Yo creo que seria V. fcil publicarla un poquito ms seria que la italiana de [...] ms detenida que la reciente de [...] menos apasionada y farragosa que la de Rouy [...] los autores alemanes [...] quieren servir de buen ejemplo [...]. B. Merino ao receber a Flora Vascular de Odemira escrevia para G. Sampaio a 27 de Outubro de 1909: he recibido con sumo gusto sus apuntos sobre la Flora vascular de Odemira. Con tantos y tan valiosos trabajos como V. y varios otros botanicos portugueses han llevado a cabo, esperamos que pronto reconstituiran la verdadera Flora de Portugal que todos tanto deseamos.

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sobretudo com a publicao do Manual que mais se sente a presso para G. Sampaio publicar uma flora de Portugal completa, tanto mais que no existia nenhuma disponvel. A. Luisier recebe um exemplar do Manual e escreve a G. Sampaio a 1 de Setembro de 1910: Muito me regozija com a publicao do seu Manual da Flora Portugueza. Faa o possivel para que o livro possa ser publicado quanto antes. Desejaria muito que o preo seja o mais convidativo possivel para que se possa adoptar como manual escolar nos Collegios e lyceus, para os trabalhos praticos de botanica na 6. e 7. Classes. J. Henriques numa carta sobre a reorganizao do ensino da botnica no ps-5 de Outubro de 1910, datada de 11 de Dezembro de 1911, escrevia singelamente: Se a sua flora j estivesse concluida aconselharia aos meus discipulos a acquisio della. Assim continuarei com as floras francesas. Um bilhete-postal de Fr. Sennen para G. Sampaio datado de 23 de Maro de 1912 sugere que as notcias progrediam, mas deturpavam-se: Un ami vient de mannoncer votre Flore de Portugal en prparation. Je dsirerais la procurer soit par achat soit en change de plantes de mes exsiccata. J. Daveau escrevia a 7 de Agosto de 1913: A sua flora, em preparao seguinte me constaram, e esperada por todos os amigos da botnica, e eu fao votos para que sahe em breve luz. A. Luisier escrevia a 14 de Maro de 1915, num bilhete-postal endereado de Salamanca : A flora portugueza que estava em preparao j est publicada?. R. T. Palhinha161 escrevia a 26 de Outubro de 1922: A sua flora? Est demorada ainda? Grande desejo tenho eu a ter mo. Servir para mim de muito, mas muito [...] terei de o incomodar por causa da sinonimia. 6. A construo das Floras de Portugal Em sntese podemos portanto afirmar que J. Henriques, A. X. Pereira Coutinho e G. Sampaio colaboraram entre si na elaborao dos seus estudos da flora de Portugal. A colaborao ocorreu a trs nveis: A. Permuta e emprstimo de material de herbrio. O pas, para os meios de transporte da poca, era extenso e portanto difcil de herborizar. As regies de Trs-os-Montes, Alentejo e Algarve, as mais afastadas destes trs centros, eram mal conhecidas. A permuta e o emprstimo de exemplares destas regies e de outras localidades enriqueceram os herbrios de Coimbra, Lisboa e Porto. B. Troca de opinies e comentrios sobre a sistemtica e taxonomia de txones. Houve troca de opinies sobre a taxonomia de txones diversos, principalmente ao nvel do gnero e espcie. C. Conhecimento prvio

161 Ruy Telles Palhinha foi o sucessor de A. X. Pereira Coutinho na direco do Jardim e Herbrio da Faculdade de Cincias de Lisboa. Foi Reitor do Liceu Central de Lisboa em 1907-1908 (ALCL, 1907-1908:3), e do Liceu Cames em 1908-1909 (ALC, 1908-1909). Organizou a 2.a edio da Flora de Portugal de A. X. Pereira Coutinho. Estudou sobretudo a flora dos Aores. Tambm se dedicou a estudos da histria das Cincias Naturais (MELO, 1987).

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da obra dos colegas. Cada um conhecia a obra publicada dos colegas. Naturalmente que a obra publicada ter influenciado o trabalho dos colegas. 7. O contributo de Antnio Machado O contacto entre A. Machado162 e A. Luisier ocorreu por intermdio de G. Sampaio e ter sido decisivo para a via de especializao que o professor dos liceus de Lisboa acabou por enveredar. Numa carta datada de 16 de Novembro de 1912, A. Machado revelava as dificuldades que tinha em, sozinho, abordar os musgos e pedia ajuda ao professor portuense: Nos momentos de cio continuo a entregarme minha paixo biolgica. Isto porm com varias dificuldades por falta de quem me oriente. Poderia o meu amigo, que se d com o Luisier, pr-me em comunicao com ele, recomendando-me a benevolncia dum especialista?. G. Sampaio ter respondido positivamente a este pedido, dado que A. Machado escreve a 21 de Abril de 1913, de Lisboa: O professor Cambeses, meu colega dum dos liceus do Porto, trouxe-me a noticia de que ainda no tinham aberto concurso a para o logar de 2. Assistente da Seco de Sciencias Biologicas [...] Apesar de me custar deixar a vida de Lisboa, cdo s reiteradas instancias de meu pai que muito deseja que eu v mudar para Famalico, onde tem algumas propriedades [...]. A abertura de concurso para assistente da Botnica do Porto ter sido confirmada por G. Sampaio, dado que poucos dias depois, a 30 deste ms, A. Machado escrevia: Estou-lhe extremamente grato pelas suas boas palavras e pelo interesse que lhe merece a minha pessoa e a que pode estar certo, procurarei sempre corresponder o melhor que souber. Tenho j todos os documentos preparados para o concurso [...] A dificuldade porem est em trabalhar agora [...] meio agitado de Lisboa e com 20 horas de servio semanal no Liceu. Vou por isso ver se obtenho licena pelo menos deum mes. Se a conseguir retirar-me-ei para Famalico a redigir a minha tese. Procurei hoje na Academia das Sciencias os livros que me indicou, mas nenhum deles consta do

Antnio Lus Machado Guimares (1883-1969) era filho de Benardino Machado. Licenciou-se em Filosofia Natural na Universidade de Coimbra em 1906. Nos anos lectivos de 1907-1908 e 1908-1909 professor extraordinrio de Lnguas no Liceu Central de Lisboa-Liceu Cames (ALCL, 1907-1908:4, ALC, 1908-1909:4). No ano lectivo seguinte ensina Lnguas, Cincias Fsicas e Naturais e Desenho. No ano lectivo 1910-1911 professor efectivo do 5. Grupo e director do Museu do Liceu Cames (ALC, 1910-1911). Nos dois anos lectivos seguintes ensina Lnguas, Cincias Fsicas e Naturais. Sobre a histria do Liceu Cames ver SILVA & VASCONCELLOS (2003). Em 1914 ingressa como 2. assistente no 2. Grupo da 3.a Seco na Faculdade de Cincias do Porto, passando a 1. assistente em 1919. Inicialmente ligado s disciplinas de Botnica, passa em 1921 para as disciplinas de Zoologia, onde permanece at sua aposentao em 1953. Foi director do Museu, Laboratrio de Zoologia e da Estao de Zoologia Martima, anexos Faculdade de Cincias. Fez parte da comisso encarregue do desmantelamento das coleces biolgicas do Colgio de Campolide. Ironicamente ter sido o seu contacto com A. Luisier o responsvel pela sua especializao em briologia, como se demonstra neste captulo. Em 1918, enquanto assistente de Botnica, publica o Catlogo descritivo de Briologia Portugusa. Publica no Boletim da Sociedade Broteriana, de 1925 a 1931, a Sinopse das Brifitas de Portugal (PIRES DE LIMA, 1942:46-48; FCP, 1969:274-277; MELO, 1987). Agradecemos ao Dr. Jos Lus Falco de Vasconcelos as valiosas informaes sobre a vida e obra de A. Machado.

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catalogo que examinei [...]. A. Machado ter de facto entrado para assistente da Faculdade. J. Henriques escrevia para G. Sampaio a 18 de Maro de 1915: Como o Antonio Machado por a est envio inclusa carta a agradecer os musgos. O contacto entre A. Machado e A. Luisier ter ocorrido na sequncia da carta que transcrevemos atrs, porque o botnico jesuta num bilhete-postal dirigido a G. Sampaio datado de 14 de Maro de 1915 escrevia: H j muito tempo que no tenho noticias nenhumas do Sr. Dr. Machado. Sob a orientao de A. Luisier, A. Machado ir realizar um importante estudo das brifitas portuguesas. 8. A contribuio de Clemente Loureno Pereira Na dcada de 1920, G. Sampaio trava conhecimento com Clemente Loureno Pereira e J. M. Miranda Lopes163. Inicia-se ento uma colaborao entre o professor portuense e os procos amadores de botnica que se prolongar por vrios anos. C. L. Pereira vivia em Insalde (Paredes de Coura) e ir estudar a flora do Minho. J. M. Miranda Lopes vivia em Argoselo (Vimioso) e ocupar-se- da flora de Trs-os-Montes. Ambos so introduzidos nos estudos botnicos por J. Henriques, mas talvez devido idade do professor de Coimbra que em 1920 j estava aposentado h vrios anos, os contactos so posteriormente dirigidos para G. Sampaio. Nas palavras de ambos se sente vibrar a paixo (tardia) do naturalista, o amor pela natureza, pela vida, pelas plantas como organismos que como ns partilham a biosfera. G. Sampaio era muito melhor conhecedor da flora, do que C. L. Pereira e J. M. Miranda Lopes. Independentemente das idades de cada um, estabelece-se uma relao semelhante de um aluno com o seu professor. Colhem plantas, identificam. Enviam exemplares para G. Sampaio confirmar as identificaes. Esta colaborao ser muito profcua, porque dar origem a duas floras regionais, uma de Paredes de Coura e outra de Vimioso. O enriquecimento foi mtuo. C. L. Pereira e J. M. Miranda Lopes apreenderam a botnica (sistemtica) e G. Sampaio enriqueceu o seu conhecimento da flora portuguesa e o Herbrio da Faculdade de Cincias. Numa poca em que as deslocaes eram difceis, ter colectores permanentes no Minho e em Trs-os-Montes era uma grande ajuda para a explorao da flora do continente portugus. A colaborao foi especialmente profcua em relao flora
P.e Jos Manuel Miranda Lopes (1872-1942) nasceu em Argoselo (Vimioso, Bragana). Frequentou o Seminrio de Bragana, tendo sido ordenado presbtero a 3 de Novembro de 1895. Foi Reitor da Igreja de Caro de 1900 a 1909 e, seguidamente, proco de Argoselo, sua terra natal. Auxiliado por J. Henriques, A. X. Pereira Coutinho e G. Sampaio estuda pormenorizadamente a flora de Vimioso. Deste estudo resulta a publicao, no Boletim da Sociedade Broteriana, de uma flora do concelho (LOPES, 1926, 1928, 1930, 1933). O seu herbrio, composto por representantes de 806 espcies, foi legado Sociedade Broteriana. Descobre duas espcies novas para a cincia (Gagea nova Samp. e Saxifraga Lopesiana Samp.) que so descritas formalmente por G. Sampaio. Publicou ainda Argoslo Notcia histrica e corogrfica e uma monografia sobre Caro (LOPES, 1939) (FERNANDES & GARCIA, 1943). Agradecemos ao Dr. Carlos Prada de Oliveira alguns elementos da biografia de J. M. Miranda Lopes.
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transmontana que era na altura mal conhecida. As herborizaes de J. M. Miranda Lopes daro a conhecer diversas variedades e espcies novas para a cincia. Os trabalhos botnicos de ambos so publicados no Boletim da Sociedade Broteriana. Foi atravs de J. Henriques que C. L. Pereira se iniciou nos estudos botnicos no fim da dcada de 1910. Publica no Boletim da Sociedade Broteriana de 1920 (volume XXVIII) uma primeira flora regional de Paredes de Coura (plantas vasculares) (PEREIRA, 1920). J. Henriques escreve uma pequena nota explicativa: O estudo [...] foi cuidadosamente realizado pelo Rev. P.e Clemente Loureno Pereira, o qual com o fim de conhecer a vegetao da regio percorreu todo o concelho observando com cuidado todas as plantas vasculares que por ali se encontravam. Dirigiu-se a mim para o auxiliar, no que me deu muito prazer, e concorreu de modo especial para enriquecer o herbrio da Universidade com os exemplares que enviou. Bom exemplo deu, digno de ser seguido para se conseguir um conhecimento exacto da flora do nosso pas. Na introduo sua flora, C. L. Pereira faz uma caracterizao geogrfica do concelho, menciona culturas agrcolas e caracteriza sumariamente a vegetao. Termina a introduo agradecendo a contribuio do professor coimbro: O estudo que se segue devido iniciativa do Sr. Dr. J. Henriques. Um grande nmero de plantas, a maior parte, foram estudadas por le; as restantes foram estudadas por mim, mas verificadas por le. Dedicava-me ao estudo das plantas por distraco, movido por certas dificuldades consultei-o, e no s tive a resposta que desejava, como tambm o incitamento para continuar, com mais proveito, os meus estudos. Desde ento nunca mais faltou o seu conselho de amigo, nem a sua sbia orientao; e foi assim que se estudou a flora do concelho de Paredes de Coura, o que no se teria feito sem a sua interveno. Agradeco-lhe muito sinceramente todos os favores que to generosamente me dispensou. O estudo das plantas vasculares de Paredes de Coura por C. L. Pereira seguido por um estudo dos musgos do mesmo concelho por A. Machado e dos lquenes por G. Sampaio. O trabalho de G. Sampaio uma listagem de espcies, sem comentrios adicionais. A primeira carta de C. L. Pereira para G. Sampaio data de 13 de Abril de 1921, e indica que G. Sampaio lhe tinha enviado um exemplar do seu Manual: Recebi, ha alguns dias, o Manual da Flora Portugueza e agradeo muito a gentileza da offerta. Est muito bem feito, sendo para lamentar que no esteja concluido. As alteraes da nomenclatura podiam fazer-se no indice, ou num appendice, e por esta forma abreviava-se a publicao, aproveitando-se tambem o trabalho j realisado. Ainda no principiei o meu estudo por causa da chuva; se no fosse esse o obstaculo ja o teria comeado. Ter o seguinte titulo: Exploraes Botanicas na Margem Portugueza do Minho. No Congresso do Porto organizado por G. Sampaio no Vero de 1921, este fez meno do trabalho meritrio que estava a ser

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realizado pelo proco minhoto. C. L. Pereira escreve a G. Sampaio a 21 de Julho de 1921: Apresentolhe os meus agradecimentos por ter feito no Congresso do Porto a apreciao do meu trabalho, pois se a apreciao no fosse feita por pessoa amiga s conseguiria uma critica desagradavel. [...] Envio-lhe algumas plantas da flora de P. de Coura que V. Exa. deseja observar, esperando que me indicar as devidas correces. [...] Envio-lhe, tambem, todas as plantas que ainda conservo pertencentes flora marginal do Minho. Inicia-se ento uma longa (at 1933) e regular troca de correspondncia, plantas e opinies. A 23 de Agosto de 1921, C. L. Pereira enviava Rubus para G. Sampaio: Pedia-lhe o favor de me classificar o Rubus que lhe envio. Foi encontrado em Insalde, pertencendo portanto flora de Paredes de Coura, e no deve ser raro nos logares frescos e onde haja agoa. Contudo passou-me inadevertido. G. Sampaio ter incentivado C. L. Pereira a prosseguir os seus estudos da flora de Paredes de Coura com vista elaborao de uma flora regional completa. A 25 de Janeiro de 1922, C. L. Pereira respondia: Concordo absolutamente com o conselho de V. Exa. para limitar o meu trabalho a um pequeno resumo. Publicando-se tudo, dava-se grande extenso ao trabalho, e contudo ficava ainda muito incompleto. Portanto, o melhor conclui-lo e depois publica-lo o mais completo que seja possivel. Isto porem deve levar bastante tempo, porque a regio extensa, e eu no sou velho, nem novo rico para poder fazer as despesas provenientes de uma explorao continua. Envio-lhe o novo manuscripto indicando nelle apenas algumas plantas interessantes. No ano seguinte, em 1923, J. Henriques ter contactado C. L. Pereira para que publicasse no Boletim uma nova verso, melhorada, da flora de Paredes de Coura. Tendo G. Sampaio publicado, em 1920, uma primeira listagem dos lquenes deste concelho, J. Henriques tambm ter pedido a C. L. Pereira que enviasse para o especialista portuense amostras de lquenes do concelho. C. L. Pereira informava G. Sampaio destes contactos a 2 de Novembro de 1923: O Snr. Dr. Julio Henriques escreveu-me, ha pouco, pedindo-me um trabalho para o Boletim Broteriano, e lembrava-me que se podia continuar o trabalho anterior cerca da flora de Paredes de Coura. Pedia-me, por isso, que lhe enviasse daqui os lichens que podesse colher para V. Exa. os estudar, e [...] O Snr. Dr. A. Machado, disse-me que V. Exa. prepara um trabalho de conjunto cerca dos lichens de Portugal, e por iso, segundo creio, mais interesse devem ter estas remessas. C. L. Pereira envia os lquenes para G. Sampaio poucos dias depois. A 29 de Novembro escrevia para o professor portuense: Envio hoje a primeira remessa de lichens; como ja sabe pela minha carta anterior, para satisfazer um pedido do Snr. Dr. Julio Henriques, que se realiza esse trabalho. As herborizaes de C. L. Pereira tero continuado e em 1927, a 3 de Novembro, escrevia para G. Sampaio em tom de concluso: Envio-lhe, pelo mesmo correio, algumas

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plantas, e pedia-lhe o favor de as rever. [...] PS O estudo da flora da bacia do Minho pode-se considerar concluido; por isso pedia-lhe o favor de a publicar quando houvesse occasio para isso. C. L. Pereira reconhece, no entanto, que no teria as melhores condies para poder organizar um herbrio em Insalde, o que era uma limitao para os seus estudos florsticos. A 27 de Julho de 1922, escrevia a G. Sampaio em tom desalentado: Eu no conservo as plantas que vou estudando por no ter logar disponivel para as recolher; por isso inteiramente razoavel que se conservem ahi. Infelizmente em dias de calor, chego a casa com ellas murchas e deterioradas o que me impede de enviar bons exemplares. O desnimo parece apoderar-se do proco minhoto, agravado por problemas familiares e dificuldades econmicas. Sugere dedicar-se s criptogmicas. A 22 de Maio de 1930 escrevia a G. Sampaio: O Sr. e o Sr. Dr. Jlio Henriques foram as nicas pessoas em que encontrei generosidade, e que me procuraram ajudar, e por isso tinha muito interesse em conhece-lo pessoalmente. Feitas estas duas excepes, posso dizer, e sem exagerar as coisas, que s tenho encontrado garotices, e o que mais irrita que aquelles que tinham obrigao de me ajudar, so os primeiros a dar o mau exemplo. Fui a Braga para ver se podia publicar um livro; mas infelizmente parece que a publicao ainda h de demorar. Com o lucro da venda dos meus livros, deste e do outro que j publiquei, tencionava adquirir um microscpio, para poder estudar um grupo de fungos ou algas, que ainda no esteja muito estudado entre ns, nem encerre difficuldades muito graves. No fui feliz na minha tentativa, e bem contra a minha vontade, tenho de reconhecer que me aconteceu como ao caador do urso que j dispunha da pelle, sem primeiramente o ter caado. Tenho bastante adiantado outro volume dedicado ao estudo da crise nacional, e assim que estiver concludo, voltarei aos primeiros amores. Ficarei, portanto de relaes cortadas com a critica, para tratar somente das flores. A doena e depois o falecimento do meu saudoso pai obrigaram-me a interromper o estudo da botnica durante 2 annos, porque nem me permittiam sair de casa, nem me consentiam as disposies para estudar164. C. L. Pereira parece recuperar do desalento porque termina a sua Flora da Bacia do Minho que seria publicada nos Anais da Faculdade de Cincias do Porto, qui por iniciativa de G. Sampaio. O trabalho publicado em duas partes (PEREIRA, 1931a, 1931b), onde so listadas 773 espcies de plantas vasculares, correspondendo a 417 gneros. Algumas das espcies descritas so novas para a flora portuguesa. A maioria dos exemplares recolhida por C. L. Pereira, uma minoria por G. Sampaio. Para cada espcie geralmente indicada a sua frequncia, se rara se vulgar. Os locais de colheita so
Esta carta sugere que C. L. Pereira no tinha, data, conhecido pessoalmente nem o professor de Coimbra nem G. Sampaio.
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variados, do litoral ao interior, de norte a sul da bacia do rio Minho. Numa curta introduo, o autor descreve sumariamente a regio em estudo, incluindo at alguns dados artsticos. Chama a ateno para o facto de na Flora de Paredes de Coura, publicada no Boletim da Sociedade Broteriana, terem algumas espcies ficado mal classificadas; por isso prevalece a classificao do presente trabalho. Termina com a expresso do meu sincero agradecimento ao sr. Dr. G. Sampaio pela coadjuvao que me prestou para realizar ste trabalho, que no seria possvel sem o seu auxlio. No se tratando de um trabalho propriamente de investigao, esta flora regional foi certamente um importante contributo para a sistematizao do conhecimento da nossa flora continental. Depois de estudadas as plantas vasculares da sua regio, C. L. Pereira retoma a vontade de se lanar na botnica criptogmica, mas novamente as dificuldades lhe parecem intransponveis. As ltimas cartas que escreve para G. Sampaio revelam um apaixonado pela natureza, que no entanto tem dificuldades para trabalhar. A 27 de Agosto de 1932 escrevia para G. Sampaio: O meu trabalho consagrado ao estudo da crise nacional est concludo; falta apenas retocar, e ler mais alguma coisa, para melhor compreenso das questes tratadas. Concluindo isto voltarei aos primeiros amores, que como sabe, o estudo da botnica. Como a necessidade engenhosa, tenho andado a organizar uma coleco de selos, para com o dinheiro da sua venda poder adquirir um microscpio. Se conseguisse adquirir este aparelho ficava bem preparado para o meu estudo. A ltima carta data de 27 de Abril de 1933. Escrevia C. L. Pereira, talvez influenciado pelos trabalhos de G. Sampaio sobre as algas desmdeas: Nesta ocasio, posso dispor de dois contos de reis, se com esta quantia pudesse adquirir um microscopio, empregava com muito gosto esta quantia para esse fim, embora isso me traga alguns sacrificios. Se no for orientado neste caso, nada farei, porque no posso fazer muita coisa com geito. Desejava portanto que V. Exa. me orientasse na escolha do aparelho, um grupo de plantas que devo estudar, e que me indicasse os livros que devo adquirir. No conheo o alemo. Traduzo alguma coisa o ingls, com o auxilio do dicionrio. De toda a nossa flora, creio que so algas as plantas que esto mais mal estudadas, e por esse motivo talvez fosse prefervel orientar nesse sentido o meu estudo. Encontramos eco deste impasse pessoal no livro que publicar em 1947 - A poltica do esprito (PEREIRA, 1947), na figura do investigador portugus - desafortunado e desapoiado pela sociedade. Neste trabalho, C. L. Pereira aborda as questes que lhe parecem ser mais prementes na sociedade portuguesa de ento. Dedica o captulo VI Reforma da instruo. Depois de referir o problema propriamente da instruo pblica, escreve sobre a investigao e os investigadores portugueses. Formula a questo, de no termos tido, uma pliade brilhante de investigadores que tenham enriquecido a cincia com as suas descobertas. Porqu? Para C. L. Pereira era inteiramente justo que

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a sociedade se interessasse pelos homens que tivessem a vocao cientfica, fornecendo-lhes os elementos de trabalho, e colocando-os ao abrigo das incertezes da vida [...] apesar de trabalharem para todos, a sociedade desconhece-os [...]. O autor considerava pois que a falta de apoio era a uma causa importante para o reduzido nmero de investigadores em Portugal. C. L. Pereira achava que apoiar os investigadores era um dever da mais trivial justia, porque o bem-estar que possue a civilizao moderna obra dos sbios. A investigao era, para C. L. Pereira, um trabalho especialmente rduo, porque era arrancar natureza a descoberta de algum dos seus segredos, [sendo para tal] preciso gastar muito tempo, passar longas viglias, sofrer muitos sacrifcios, passar talvez uma vida inteira entregue a este tormento. C. L. Pereira v mesmo o trabalho do investigador como uma obrigao [imposta por Deus] que tem de empregar o poder da sua inteligncia na conquista da verdade e do progresso, encontrando, no nos Homens, mas em Deus, o seu melhor apoio, e o estmulo mais eficaz. 9. A contribuio de J. M. Miranda Lopes J. M. Miranda Lopes publica, em 1926, no volume IV da nova srie do Boletim da Sociedade Broteriana uma primeira verso da Flora do concelho de Vimioso, datada de Novembro de 1926 (LOPES, 1926). Na introduo ao trabalho faz uma caracterizao geogrfica do concelho. Refere hidrografia, clima, geologia e agricultura. O gosto pela botnica explicado por J. M. Miranda Lopes no fim desta introduo, elogiando a figura excepcional do seu primeiro mentor: Em Abril de 1918 o Exmo Sr. Dr. Oscar de Pratt, em nome da Academia das Sciencias de Portugal, convidou-me a trabalhar na pesquisa e organizao do vocabulrio da linguagem popular desta regio. Encontrando nesta linguagem o nome de muitas plantas, comecei por aquele tempo a estudar a flora da minha terra, confrontando o nome vulgar com o nome scientifico para, nessa monografia, conscienciosamente, dar uma notcia das que fossem mais conhecidas. Notei desde logo que a maior parte das plantas dstes sitios no tem nome vulgar e que ste at varia muito de uma regio para outra. Foi ento que para resolver certas dificuldades me dirigi ao Exmo. Senhor Doutor Jlio Augusto Henriques, pedindo-lhe o favor de me orientar neste trabalho. Recebeu com a mxima gentileza o meu pedido e na carta que me escreveu em 25 de Novembro de 1918, declarou-me que se punha inteiramente minha disposio para ste fim, animando-me a colher tdas as plantas que pudesse encontrar nesta regio e a enviar-lhas para le as estudar e fazer a sua classificao. Durante estes ltimos oito anos le, o meu nobre, bondoso e respeitvel amigo, o meu querido e venerando velhinho, teve a suma bondade e a grande pacincia de aturar tdas as impertinncias da minha ignorncia neste ramo da scincia, atendendo todos os meus

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pedidos e desfazendo tdas as minhas dvidas. Bem pode dizer-se que o estudo que se segue obra sua. Eu fico apenas com o grande prazer que tive em colher e conhecer as plantas da Flora da minha terra, e com a elevada honra que me deu publicando a respectiva lista no presente volume do seu querido Boletim. Por tudo isto deixo a Sua Ex.cia a viva expresso dos meus sinceros agradecimentos e indelvel gratido. E para admirar que le, em to avanada idade, e movido apenas pelo entranhado amor que sempre teve scincia e pelo desejo de me ser agradvel, tivesse coragem para consumir os ltimos dias da sua preciosa existncia num estudo, que certamente lhe deu muitssimo trabalho, le que j nem pode escrever, e que qusi j no tem luz nos olhos, porque a deu toda s plantas e flores que tanto amou. Admirvel prova da resistncia das faculdades da sua grande inteligncia!. Os contactos com G. Sampaio tero sido posteriores a esta primeira publicao. Em carta datada de 18 de Novembro de 1927 dirigia-se ao professor portuense: Reservo-me porem para reformar o meu modestissimo trabalho quando concluir a minha explorao botanica em todas as freguesias do concelho, e ento, seguindo as regras que V. Exa. me indicar, veremos como uniformizar a nomenclatura botanica. Inicia-se ento uma curta mas intensa troca de plantas e opinies entre o proco transmontano e o botnico portuense. J. M. Miranda Lopes enviava plantas para o Porto com identificaes provisrias. Recebia de volta os comentrios do professor portuense. Logo a 29 de Novembro deste ano, J. M. Miranda Lopes acusa a recepo de plantas enviadas por G. Sampaio: Recebi tambem as plantas da ultima remessa, e chegaram muito bem felizmente. G. Sampaio teria encontrado uma Centaurea nos exemplares enviados por J. M. Miranda Lopes que lhe ter parecido (inicialmente) uma espcie nova, e ter informado o proco transmontano da novidade. Nesta mesma carta, J. M. Miranda Lopes regozijava: Grande prazer me deu V. Exa. com a noticia de que a linda e pequenina Centaurea que lhe enviei com o numero 582 talvez uma especie nova. Se V. Exa. podesse desde j formar com segurana o seu juizo, bem era menciona-la j na 2. Lista das plantas da Flora do concelho de Vimioso, que tenciono publicar no proximo volume do Boletim da Sociedade Broteriana. V. Exa. porem far o que julgar mais seguro e prudente. Tratando-se realmente de uma especie nova, muito agradeo a lembrana de a dedicar ao humilde parocho de Argozelo, se com isso V. Exa. quer honrar o clero de Portugal. No sendo com este intuito, eu antes queria que ela ficasse com o nome de V. Exa. muita pena terei se ella no torna a mostrar-se aos meus olhos. [...] Foi a Divina Providencia que me deu a felicidade de estabelecer relaes espirituais com V. Exa. Se no fosse V. Exa. que triste figura no faria eu com a apresentao desta planta!165. No ano seguinte,

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Esta novidade no viria a ser confirmada.

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escrevia a 21 de Maio para G. Sampaio: Muitissimo obrigado pela determinao das plantas e pela remessa da lista das que V. Exa. colheu por estes sitios em 1907. J. M. Miranda Lopes publicar, em 1928, no volume V da nova srie do Boletim da Sociedade Broteriana, uma primeira adenda sua Flora do concelho de Vimioso (LOPES, 1928). Antes da publicao e com as provas tipogrficas na mo, escreve, a 4 de Julho deste ano, uma carta a G. Sampaio, pedindo uma resposta definitiva sobre algumas espcies que o professor portuense teria indicado como novas: recebi de Coimbra as provas tipograficas do meu trabalho sobre a Flora do Concelho de Vimioso. a 2. Lista, onde menciono as plantas que colhi durante o ano de 1927 e outras que ainda no estavam bem estudadas. So de facto 190 especies. Peo-lhe o favor de me dizer se acha conveniente que inclua j nesta lista algumas das plantas mais raras e notaveis que colhi nestes ultimos meses, e que foram por V. Exa. estudadas e classificadas. Para assegurar a prioridade da descoberta parecia-me que no seria mal dar j a noticia da nova variedade da Saxifraga granulata e da Centaurea que V. Exa. me dedicou, se se trata efectivamente duma especie nova. Por este correio lhe envio um ramo desta planta com flores mais desenvolvidas. [...] Talvez se trate duma simples forma da Centaurea melitensis, L., mal descrita na Flora de Sr. Dr. Pereira Coutinho. A resposta de G. Sampaio ter sido positiva em relao primeira espcie166 e negativa em relao segunda. J. M. Miranda Lopes aceita a opinio e a adenda flora do Vimioso publicada. muito esclarecedora a introduo ao seu trabalho. No primeiro pargrafo, os estudos botnicos so apresentados por J. M. Miranda Lopes como a sua predilecta distraco nas poucas horas vagas da lida constante do seu ministrio paroquial, tanto mais que em aldeias sertanejas, como as do concelho de Vimioso, a gente no pode ter outra distraco mais honesta, til e agradvel. Mas a botnica tinha-se tornado mais do que uma distraco, porque no segundo pargrafo, J. M. Miranda Lopes assume-se como naturalista apaixonado e crente: encanta-me a vida das plantas, a beleza das suas flores e a variedade das suas formas; e quanto mais as conheo mais as amo e admiro, e muito mais amo e admiro a arte e sabedoria eterna do divino artista, que to bem pintou as suas ptalas, revestiu as suas flhas, bordou as suas sementes e organizou a sua delicada estructura. Seguidamente refere que, nos seus estudos botnicos, tinha utilizado a flora de A. X. Pereira Coutinho e que os professores A. X. Pereira Coutinho e G. Sampaio lhe tinham esclarecido algumas dvidas. As herborizaes de J. M. Miranda Lopes e a colaborao com G. Sampaio continuaram. A 14 de Maio de 1929 escrevia para G. Sampaio mais uma carta rejubilante de alegria contagiante: debaixo
Que G. Sampaio, em homenagem a J. M. Miranda Lopes, designar de Saxifraga granulata var. Lopesiana (Samp.) Samp., publicada em 1931 (SAMPAIO, 1931b), substituindo Saxifraga Lopesiana Samp., publicada no trabalho de J. M. Miranda Lopes de 1928 (LOPES, 1928).
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dum calor extraordinario, em direco a Vimioso; e percorrendo montes e vales, ora a p, ora a cavalo, cheguei por fim, s 2 da tarde, ao local onde pela 1. vez encontrei a Saxifraga Blanca, no dia 18 de Abril. Depois de verificar que beira do caminho numa extenso de 200 metros aproximadamente no havia nada, entrei num lameiro proximo, e, logo ao primeiro golpe de vista dei com uma pequena colnia desta linda planta, colhendo os exemplares que por este correio lhe envio em trs papeis separados. [167] Antes porem de chegar ao local, tive a felicidade de encontrar outras plantas notaveis, que lhe envio tambem por este correio. Lindissima e muito rara por estes sitios, pois nunca a tinha visto, a planta numero 1052 que 1. vista me parece uma Linaria ou uma Polygala. [...] Notavel e interessantissima e muito ornamental a planta numero 1055!! Nunca tinha visto coisa semelhante. Outra descoberta notavel a Paeonia que vae com o numero 1054. Como ver esta lanuginosa no s na pagina inferior das folhas, mas at mesmo na capsula dos fructos. Trata-se portanto duma planta ou nova para a nossa flora ou para a sciencia. A linda Veronica que lhe mandei com o numero 1050 tambem me parece nova. Se o for, desejava dedica-la ao meu amigo, fazendo eu a diagnose. Descobri em Vimioso um verdadeiro paraiso botanico!. Pela descrio da Paeonia, com as folhas pubescentes, ter parecido a G. Sampaio que se tratava da P. officinalis, uma espcie desconhecida em Portugal e ter pedido a J. M. Miranda Lopes mais pormenores. J. M. Miranda Lopes responde rapidamente, a 20 de Maio de 1929, dando detalhes sobre a planta em questo: Hontem, por ser Domingo e ter muito servio religioso, no me foi possivel ter o prazer de acusar a sua correspondencia de 15, 16 e 17 do corrente. Fao-o hoje para lhe agradecer, muitissimo penhorado, no s o favor da determinao das plantas que ultimamente lhe enviei, mas tambem as entusiasticas felicitaes que me dirigiu pelas minhas descobertas botanicas. Eu tambem estou encantado com as lindas plantas que no dia 13 encontrei nos montes e lameiros de Vimioso! [...] Da Paeonia [...] s encontrei um exemplar, ultima hora, quando, estava j a sahir do monte, mas provvel que no mesmo local apaream mais. As flores deste exemplar que eu vi so cor de rosa muito viva, ou purpureos, como a Paeonia lusitanica; e as da Paeonia humilis, uma so cor de rosa vivo, outras dum roseo mais esbatido e outras at com estrias quasi esbranquiadas. Desta aparecem exemplares mais pequenos com as flores amarelados carmezim e com os segmentos mais estreitos. A esta forma pequena que Retzius daria com preciso o nome de P. humilis. Mas a 1. que lhe mandei e que colhi em Vimioso, nos lameiros do Aveloso, uma planta robusta, bastante alta e ainda mais alta que a P. lusitanica. Com esta descrio, G. Sampaio ter confirmado que a Paeonia de folhas pubescentes

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Trata-se da Saxifraga carpetana Boiss. & Leut. (sinnimo de S. blanca Willk.), desconhecida at ento no nosso pas

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seria de facto a P. officinallis L., e que a segunda Paeonia de flores carmezim e folculos pequenos seria a P. microcarpa Boiss. & Reut.168. J. M. Miranda Lopes tambm recolhia musgos nas suas herborizaes pelo concelho de Vimioso, que eram enviados para A. Machado. Em carta datada de 10 de Junho de 1929, informava G. Sampaio destas remessas de musgos: No dia 6 tambem enviei ao Sr. A. Machado uma boa coleco de musgos das colheitas que fiz ultimamente e onde iam especies notaveis. Oxal encontrem grandes novidades para a Flora de Portugal. A poca era propcia e as descobertas de J. M. Miranda Lopes continuavam. A 15 de Junho deste ano escrevia nova carta para G. Sampaio a relatar as ltimas descobertas: A aroidacea que lhe mandei com o no. 1066 espontanea. No tinha duvida alguma. Vive nas margens da Ribeira de Avelouro, nas encostas dum grande vale entre serras e grandes penedos e muito distante dos [...] Colhi-a em 30 de Junho do ano passado pela 1. vez mas s com fructos e ainda verde. Este ano voltei l para ver se a encontrava com flores e apesar de ser um pouco antes daquela data, j s encontrei com flores o exemplar que lhe mandei que era lindissimo e estava na pujana e no seu maximo desenvolvimento. Sem flores vi muitos no mesmo local. Esta planta tem as folhas alabardinas, maculadas de branco, com grandes auriculas, espadice amarelo com uma clava ou maa bastante grande e comprida, perfeitamente cilindrica (!) e as sementes so cor de canela, bordadas com alveolos e (albumen?). Parece-me ser o Arum italicum Will. Este ano j no possivel obter um exemplar vivo, e o unico com que fiquei meti-o num papel, no foi seco com presso, e quando o colhi j tinha o espadice seco. A espatha esbranquiada. Oportunamente lhe enviarei este exemplar assim mesmo como est. [A descrio de J. M. Miranda Lopes condiz com esta identificao] A Calluna pubescens Koch rarissima por estes sitios. Eu nunca a tinha visto. Quando a colhi pareceu-me que tinha a pubescencia glandulosa; mas agora, que j est seca, fui ver e no a tem. Mas a pubescencia muito espessa e parece-me uma coisa nova. Vive [...] nas faldas da serra de Aveloso, onde encontrei uma grande colonia de Paradisia lusitanica, gigantes a sua variedade transmontana, por mim descoberta em 1928 em Vimioso; mas agora com as folhas to grandes, glabras e lusidias que at me parecem diferente. No a colhi porque as flores no tinham ainda desabrochado.[169]. G. Sampaio ter tido dvidas em relao a este Arum de que lhe falava J. M. Miranda Lopes e ter pedido um exemplar ao proco transmontano que lhe respondeu poucos dias depois, a 21 de Junho de 1929:

SAMPAIO (1913b) tinha proposto a designao de P. humilis ra. microcarpa para esta segunda Paeonia. Posteriormente, SAMPAIO (1931b) ir considerar esta variedade como sinnimo de Paeonia microcarpa Boiss. & Reut. 169 Esta variedade nova ser designada no trabalho de J. M. Miranda Lopes publicado em 1928 de Paradisia lusitanica var. transmontana Samp. SAMPAIO (1931b) ir consider-la como uma variedade de uma espcie j existente: Anthericum Liliago var. transmontanum (Samp.) Samp.

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O gigantesco Arum italicum que foi na mesma remessa levava o apendice da espadice, e ia at embrulhado num papel fino para que no se estragasse com a presso. Estou bem certo disto. Talvez se desprendesse ahi ao abrir o volume e cahisse no cho. Era exemplar unico!. G. Sampaio ter tido dvidas em relao a este Arum, dado que o Arum maculatum L. ento desconhecido em Portugal, tem o espdice violceo. Mas esta espcie acabaria por ser observada em Vimioso pouco tempo depois. No volume VI da nova srie do Boletim da Sociedade Broteriana (1929-1930), J. M. Miranda Lopes publicar, uma segunda adenda sua Flora do concelho de Vimioso (LOPES, 1930). Na introduo obra, faz uma breve resenha dos estudos botnicos do concelho. Seguidamente salienta as espcies novas para Portugal e para a cincia que estavam contidas na listagem (algumas das quais foram mencionadas atrs) e mais uma vez a contribuio de G. Sampaio: ao meu nobre e presadssimo amigo [...] um dos mais notaveis nomenclaturistas da Europa, reitero os meus cordiais agradecimentos pela classificao que fez de tdas as plantas que lhe enviei. Salienta que na listagem tinha incorporado as espcies referenciadas por J. Mariz em trabalho publicado no Boletim em 1888. Inclui ainda o estudo dos musgos por A. Machado, que elogia: insigne briologista, quem classificou a grande maioria das lindas e delicadas muscneas da minha terra. Escreve ainda na introduo: As herborizaes da ltima primavera custaram-me grandes fadigas, pois tive de percorrer a p grandes distncias, fora da localidade, em profundos, tortuosos e compridos vales e altos montes, o que para a minha idade j sacrifcio. Mas o prazer que me causou a descoberta das novas plantas que dei flora do meu pas indemnizou-me bem de tdas as canseiras, e at da m impresso que nos deixa a zombaria e o riso escarninho dos que nos chamam malucos por nos metermos nestes trabalhos. Em jeito de balano das trs publicaes: No ano corrente ainda no me foi possvel atingir o limite da rea geogrfica que tencionava explorar, porque luto constantemente com falta de tempo. Termina agradecendo s pessoas do povo que o tm ajudado guiando-me por caminhos e veredas desconhecidas e ainda ao seu fiel cavalo que indo, subindo e trepando rpidamente como um gato at onde eu quero, sem nunca se mostrar enfadado ou aborrecido. No volume VIII do Boletim (1933) ser publicada uma terceira (ltima) adenda flora de Vimioso (LOPES, 1933). Agradece novamente a colaborao de G. Sampaio e agora tambm de L. W. Carrisso da Universidade de Coimbra. So includas novamente diversas espcies novas para Portugal, mas nenhuma espcie nova para a cincia. Como balano final temos uma grande contribuio para o estudo da flora portuguesa dada por J. M. Miranda Lopes em colaborao com A. X. Pereira Coutinho, J. Henriques e G. Sampaio.

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10. Carlos Frana e o estudo das plantas carnvoras C. Frana170 publicar entre 1921 e 1925 uma srie de trabalhos sobre plantas carnvoras da flora portuguesa e sobre um parasita protozorio das eufrbias (FRANA, 1922a, 1922b, 1925a, 1925b). A maioria dos trabalhos publicada no Boletim da Sociedade Broteriana. Porqu o seu interesse nestes temas da Botnica? Num dos ltimos dos seus trabalhos - uma conferncia que realiza a 1 de Maio de 1925 e que publicada no Boletim da Sociedade Broteriana deste ano (FRANA, 1925a), C. Frana faz o balano das suas descobertas e explica a sua motivao para ter abordado esta rea to especializada da Botnica e aparentemente distanciada da sua especialidade mdica. Comea por abordar a problemtica da fitopatologia em geral, referindo como exemplo o cancro das plantas causado pelo Agrobacterium. Seguidamente refere a doena causada nas eufrbias por um protozorio flagelado do gnero Leptomonas. Ora o protozorio tem como hospedeiro primrio um hemptero, que infecta as plantas. O protozorio realiza uma parte do ciclo de vida no prprio hemptero. Qual o interesse de C. Frana? que esta doena das eufrbias tem analogias com diversas doenas humanas causadas por outros protozorios. Havendo afinidades no ciclo de vida, um melhor conhecimento da doena das eufrbias, em especial o ciclo do protozorio no hospedeiro primrio, pode contribuir para um melhor conhecimento e controlo das doenas causadas no homem. Seguidamente, C. Frana aborda o estudo das plantas carnvoras. Qual o seu interesse no estudo deste grupo to peculiar de plantas? O estudo comeou com a Drosophyllum e, nesta planta, C. Frana encontrou analogias com a nutrio humana. C. Frana observou que as folhas de Drosophyllum que capturam uma presa dias depois, a parte da flha que fartamente se alimentou do insecto tem um aspecto patolgico, apresenta-se anegrada, emmurchecida. O exame microscpico mostra-nos a causa dste deperecimento os vasos condutores da seiva elaborada e as clulas da flha nas regies prximas esto inteiramente cheios de granulaes negras, que, por completo, obliteram os vasos. Estas granulaes so os dejectos que, arrastados pela corrente circulatria e no podendo ser expulsos, para ali ficam acumulados, paralizando a circulao
Carlos Frana (1877-1926) nasceu em Torres Vedras. Forma-se em medicina na Escola Mdica-Cirrgica de Lisboa. um dos jovens colaboradores de Cmara Pestana, especializando-se em doenas infecto-contagiosas e em parasitologia humanas. Ao lado de Cmara Pestana participa no combate epidemia de peste que ocorreu no Porto em 1899 (onde morrer o distinto bacteriologista lisboeta). Em 1910 tambm combater esta doena na Madeira. nomeado mdicoauxiliar do Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana, sendo seu sub-director em 1905. Neste ano entra como naturalista para o Museu de Zoologia da Escola Politcnica. Aps a implantao da Repblica, incompatibiliza-se com as autoridades de sade, abandona o Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana e retira-se para a sua Quinta de Colares, onde seul et isol du monde, avec de trs maigres ressources, il improvise un petit laboratoire o il vat continuer ses brillantes investigations (QUINTANILHA, 1926). A partir desta data dedica-se botnica. Contacta com A. X. Pereira Coutinho, J. Henriques e G. Sampaio. Estuda primeiro um parasita flagelado existente no ltex das eufrbias. De seguida dedica-se ao estudo das plantas carnvoras. Deste estudo resultam vrias publicaes no Boletim da Sociedade Broteriana. Finalmente, a Faculdade de Medicina de Lisboa convida-o para professor de parasitologia. Faz investigao no Instituto Rocha Cabral. Inicia estudos sobre a malria, mas adoece. Morre prematuramente antes dos 50 anos (GEPB; QUINTANILHA, 1926).
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da seiva e matando o orgo da planta. Ora essas flhas, agora scas, contriburam para o sustento da [...] planta, fornecendo-lhe um precioso alimento azotado, mas so vitimas pelo trabalho digestivo [por meio de enzimas produzidas por glndulas digestivas presentes superfcie das folhas] a que tiveram de proceder. A importncia da captura das presas na nutrio da Drosophyllum j era conhecida - por esta razo as plantas tinham razes atrofiadas. A novidade descoberta por C. Frana era que as folhas que absorviam as presas morriam em resultado da absoro. Qual a relao com os animais? que nestes tambm existem patologias associadas a um excesso de protenas, por ingesto de elevada quantidades de carne. No entanto, nos animais, ao contrrio da Drosophyllum, existem mecanismos de desintoxicao do excesso de azoto os rins eliminam-no sob a forma de ureia. E se os rins no funcionarem? Ento o animal morrer pelo mesmo mecanismo que a Drosophyllum. Aps o estudo da Drosophyllum, C. Frana debruar-se- sobre outras carnvoras da flora portuguesa, a Utricularia vulgaris e a Aldrovandia vesiculosa. Encontrar nas trs carnvoras que estudou, diferentes mecanismos de captura e digesto das presas, sendo este estudo comparativo a principal contribuio de C. Frana para o melhor conhecimento das plantas carnvoras. Em Utricularia e Aldrovandia, ao contrrio de Drosophyllum, a digesto das presas era essencialmente microbiana. As plantas absorviam j os produtos da decomposio das presas, no tomando parte activa na sua degradao. Por esta razo, no sofriam os processos de intoxicao observados em Drosophyllum. No entanto o mecanismo fsico de captura era mais elaborado do que em Drosophyllum. Aps comparao com outras plantas carnvoras, C. Frana conclui que o aperfeioamento do mecanismo fsico de captura inversamente proporcional ao desenvolvimento das glndulas excretoras. Esta relao tem sentido de um ponto de vista biolgico, dado que se a planta no activamente produtora de enzimas degradadoras, tem de manter a presa capturada durante o tempo necessrio a que os microrganismos presentes no ambiente, eles prprios degradem a presa. As descobertas de C. Frana baseavam-se em observaes realizadas nas prprias plantas e tambm em trabalho de histologia. A formao de C. Frana no era de botnico. assim natural que tenha contactado os professores de botnica da poca, para aconselhamento, troca de opinies e discusso do seu objecto de estudo as plantas carnvoras portuguesas. Entra em contacto com A. X. Pereira Coutinho, J. Henriques e G. Sampaio. Existem duas cartas de C. Frana para G. Sampaio que no so datadas, mas pelo seu contedo so muito provavelmente de 1919 ou 1920. A que nos parece ser a primeira (no datada 1), pelo seu carcter de apresentao, uma longa carta enviada da Quinta Mazziotti, Collares, C. Frana explicava demoradamente ao professor portuense como pensava organizar o seu estudo das plantas carnvoras portuguesas: Em primeiro lugar, sendo eu principalmente um

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parasitologista metto foice em seara alheira [...] Tenho estudado [...] parasitas do latex das [...] que causam doena nestas plantas [...] Tem-me impressionado a falta de prosperidade das plantas carnivoras [...] Publicar um trabalho, que est prompto sobre o Drosophyllum. Claro est que no sendo botanico no quero invadir as zonas de competencia dos outros e fico-me nos limites [...] minha competencia. Como se trata porem duma planta portuguesa [...] eu gostava de tomar a minha monographia to completa quanto possivel e visto que to amavel eu gostaria: 1. Saber em que termos Link tratou o Drosophyllum e indicaes bibliogrficas to completas quanto possivel [...] 2. Saber que termos Grisley em 1661 citou ou se referiu ao Drosoplyllum? Tournefort? [...] 4.. No me tinham at aqui falado em qualquer trabalho histologico sobre o Drosophyllum; no meu estudo occupo-me especialmente da estrutura das glandulas digestivas que, por signal, muito interessante e complicada. O meu trabalho demonstra que no existe parallelismo entre o aperfeioamento nos aparelhos de captura e a capacidade dabsoro - das carnivoras mais perfeitas se bem que como aparelho de captura, seja rudimentar, o creio ter demonstrado que a alimentao carnivora uma aberrao nociva planta, o que vem contra a maioria das ideias dominantes. Do herbario que queria o seguinte; uma lista com: Localidades dos exemplos, medies da parte area e radicular. Tenho uma lista egual de Lisboa e Coimbra. Graas ao Dr. J. Henriques, que me enviou um exemplar perfeito, colhido h dias, consegui ver que, ao contrario dos informes de Darwin, a raiz de Drosophyllum muito desenvolvida. Como v quando me dirigi ao Sampaio eu queria muito mesmo o que agora peo, mas a culpa sua que abriu novos horizontes ao meu trabalho. Em resumo. No fim do meu trabalho e para lhe tirar todo o ar de ter pertencido a botanico, mas para o tornar completo e mais interessante, levar como appendice: a) Historia da planta (dadas a G. Sampaio) 1. meno, [...] b) Meno dos exemplares da Universidades de Coimbra, Porto e Lisboa. 3) Area da distribuio geografica. 4) 3 cartas de Darwin, duas dellas ineditas, emprestadas pelo Dr. Tait. [...] Das Utricularias tinha o maior empenho em as obter para continuar as minhas investigaes que tm tanto mais opportunidade que o physiologista Rafael Dubois disse ha mezes, e em ar [...] as maiores heresias. Na segunda carta no-datada (no datada 2) podemos ler: Tenho quasi concluido um trabalho sobre o Drosophilum lusitanicum Link e precisava dumas indicaes que espero dever-lhe: 1. Desejava saber quaes os exemplares que existem no Herbario da Faculdade de Sciencias, com indicao sobre o sitio em que foram colhidos e data. 2. Dos exemplares adultos gostava de saber dimenses da parte aerea e da raiz. 3. Lembro-me do Gonalo Sampaio, h annos, quando ahi estive de passagem [...] onde passei uns dias encatadores que nunca me esquecero, me mostrar a obra de Link. Podia obter-se uma photographia do desenho da Drosophyllum da referida obra?. Num

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bilhete-postal datado de 3 de Dezembro de 1920 escrevia: O D. Antonio Pereira Coutinho informoume do habitat do Drosophyllum como segue: [...] Se houver qualquer elemento a acrescentar quanto ao habitat, muito obsequio acrescentar neste mesmo postal. O trabalho de C. Frana ter progredido rapidamente. O Congresso do Porto organizado por G. Sampaio em 1921 aproximava-se - era uma boa oportunidade para C. Frana expr as suas descobertas com a Drosophyllum. Mas ir pedir ao professor portuense que seja ele a apresent-lo no Congresso. Escreve a G. Sampaio a 29 de Maro de 1921 (a carta de facto no tem a indicao do ano, mas pelo seu contedo seguramente deste ano): J h 3 dias tenho prompta a minha comunicao para o seu congresso mas como daqui, por doena do chefe do correio no registam, no lhe mandei ainda. Dei-lhe uma redaco para Congresso, isto , saltei por cima da parte mais maadora de histologia para me deter na parte citologica. [...] Consegui realizar este trabalho graas extrema amabilidade dos Professores Julio Henriques, D. Antonio Pereira Coutinho e Gonalo Sampaio, do [...] William Tait e de M.elle Sarah Manaas. Todos contribuiram com material para as minhas pesquisas e a todos deixo aqui consignada a minha gratido. [...] lhe peo mais o favor de ser o meu amigo que no Congresso apresente o meu trabalho. Perdoar este incomodo. [...] Finalmente estou ancioso pelas Utricularias [...]

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X. Gonalo Sampaio e a Liquenologia Ibrica 1. G. Sampaio e M. Bouly de Lesdain Apesar do primeiro trabalho de G. Sampaio sobre lquenes s ter sido publicado em 1916, o seu interesse por este grupo remonta aos anos de naturalista da Politcnica. M. Bouly de Lesdain, num bilhete-postal com o carimbo de Dunquerque, datado de 5 de Janeiro de 1902, escrevia que Le 8 Dcembre dernier, je vous ai envoy un coli postal de mousses et de lichens; je serais bien heureux de savoir sil vous est parvenu en bon tat. Em troca, G. Sampaio ter enviado, ao seu colega francs, exemplares de lquenes, pedindo a sua identificao ou confirmao de determinaes suas, mas, talvez por inexperincia, os exemplares no estavam em condies. M. Bouly de Lesdain, escrevia em bilhete-postal dirigido a G. Sampaio, datada de 20 de Fevereiro de 1904, Dans quelques jours, je vous enverrai la liste de dtermination des lichens envoys ; malheureusement, un certain nombre ne portent pas lindication de localit ; et sont par consquence sans valeur pour moi. Comme je colle mes lichens, je vous demanderai, si vous voulez bien me faire un autre envoi, de joindre chaque espce une tiquette indiquant la localit correcte. Era um erro elementar, resultante da sua inexperincia com este grupo. As trocas de lquenes entre M. Bouly de Lesdain e G. Sampaio continuaram e o liquenlogo francs ser um dos mais prximos colaboradores de G. Sampaio no estudo dos lquenes portugueses. Numa carta dirigida a A. Ricardo Jorge, datada de 16 de Maio de 1920, G. Sampaio escrevia: O dr. Bouly de Lesdain pediu-me a Lecania Lesdaini, que lhe enviei com outras plantas, algumas das quais novas, como [] Ficou contentssimo e promete-me uma coleco de coisas boas. [] Emende tambem na planta que levou do litoral de Lea como Lecania []. Tendo dvidas e parecendo-me diversa desta, consultei o dr. Bouly, perguntando-lhe se no seria espcie nova. Respondeu-me que o , e boa espcie, dedicando-me-a com o nome de Lecania Sampaiana, B. de Lesd. Corrija portanto a determinao. [] Vou submeter ao exame do dr. Bouly outras espcies sbre que tenho dvidas. Ele tem uma coleco de liquenes das melhores da Europa. Entre elas ir [] (BN A/2088). Poucos dias depois, a 2 de Junho, G. Sampaio escrevia novamente a A. Ricardo Jorge sobre a colaborao com o liquenlogo francs: O dr. Bouly, que ficou muito contente com os bons lquenes que lhe mandei, e com as minhas espcies, anunciou-me a remessa de uma boa coleco mas at hoje no a recebi. Oferece-se para me copiar as diagnoses dos lquenes que eu quizer e combinamos fazer juntos por proposta dele o estudo e a denominao das especies novas sbre que eu tenha qualquer duvida. [] eu tenho bastantes espcies que julgo novas, mas com duvidas. Por isso vou-lhas enviar. Como

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em Portugal ha muitas Lecanias novas, muito provavel que a Lecania algarbiensis do Coutinho o seja realmente. Porque o no convence a mandar exemplares a um especialista l de fora, para ele se pronunciar e fazer uma diagnose suficiente da planta? Seria coisa acertada (BN A/2086). Num bilhete-postal com o carimbo de Dunquerque, datada de 22 de Fevereiro de 1922, M. Bouly de Lesdain escrevia Je vous remercie [] de loffre si aimable que vous me faites de menvoyer des lichen. 2. Arthur Ricardo Jorge e a exsicata Lichenes de Portugal de G. Sampaio Arthur Ricardo Jorge171 desempenhou um papel importante no trabalho de liquenologia de G. Sampaio, recolhendo muitos exemplares para o Herbrio da Academia e da Faculdade e participando na exsicata Lichenes de Portugal de G. Sampaio172. Ter-se-o conhecido em 1901. Numa carta dirigida a G. Sampaio, datada de 8 de Janeiro de 1902, A. Ricardo Jorge, depois de referir as suas impresses da visita que tinha feito a J. Henriques em Coimbra, escrevia que Fallei-lhe em si, dizendo-lhe que tinha sido o Snr. Sampaio que me tinha despertado o gosto pela botanica, gabando-o elle a si como justamente o merece, terminando entusiasmado com a botnica, J estou com grande vontade de herborizar pois este anno hei de ter muito mais tempo de estudar porque no fao exame. Os primeiros interesses botnicos de A. Ricardo Jorge seriam as plantas vasculares. G. Sampaio ter pedido a A. Ricardo Jorge para procurar uma ou vrias Calendula em Monsanto. A. Ricardo Jorge responde ao pedido em carta datada de 16 de Abril de 1906, escrevendo que No obstante parti hoje de manh para l e ali esquadrinhei o mais que pude durante algumas horas. A unica Calendula que encontrei esta que hoje envio, apezar de no me parecer aquella que me pede. Mando-a no entanto e desejo que o Snr. Sampaio se convena de que fiz todos os esforos por realizar o seu desejo. Em 1918, os interesses cientficos de A. Ricardo Jorge direccionam-se para os lquenes, por razes de ordem acadmica e com o apoio de G. Sampaio. A. Ricardo Jorge era 2. assistente da Faculdade de Cincias de Lisboa. Em 30 de Dezembro de 1917 completava dois anos na categoria. De acordo com a legislao em vigor, para poder continuar como 2. assistente teria de ser reconduzido, caso contrrio teria de abandonar a Faculdade. Para a reconduo ter sido exigido a A. Ricardo Jorge a
Arthur Ricardo Jorge, filho do professor e distinto mdico Ricardo Jorge, nasceu em 1886. Formou-se em Medicina e cedo ocupa o cargo de mdico dos Hospitais de Lisboa. No entanto, a paixo pelas cincias biolgicas leva-o a abandonar o exerccio da Medicina, para se dedicar, primeiro Botnica, e depois Zoologia. Em 1911 entra como assistente da recentemente criada Faculdade de Cincias de Lisboa. Sob a orientao de G. Sampaio inicia-se no estudo da flora liquenolgica portuguesa. um precioso auxiliar do professor portuense na edio da exsicata Lichenes de Portugal (ver Captulo X). Passa a naturalista em 1919. Em 1921 rege cadeiras de Zoologia. Foi Ministro da Instruo em 1926 durante um curto perodo de tempo. Abandona o cargo de naturalista em 1928. Organiza o Congresso Internacional de Zoologia em 1935 (GEPB). 172 A diferena de idades e de estatuto era aprecivel e A. Ricardo Jorge assumir-se- sempre como o aluno do mestre G. Sampaio.
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apresentao de um trabalho de investigao original. Decide-se pelos lquenes, mas ter-se- apercebido tarde da sua situao profissional. Em carta dirigida a G. Sampaio, datada de 23 de Janeiro de 1918, A. Ricardo Jorge escreve que Estou desde que vim do norte a estudar lichens, tenho muitos sobretudo de Cja, S. Martinho e Obidos de que no tenho duplicados para a Polytecnica. Vou estud-los com a rapidez que me fr possivel. J mandei vir alguns bons tratados ingleses. [...] Parecelhe bem assim?! E c me vai ter perna para levar a empresa a final, o mais rapidamente que eu puder. Para isso o que preciso de saber onde encontra para cada especie descripo satisfatoria. Tenho o Nylander [...] Com isto puderei aguentar-me em auctor do trabalho? O meu amigo me dir e, como sabe quais as especies colhidas, indicar-me-ha como deverei comear e prosseguir, se devo limitar-me a Obidos (cujas especies so todas de dificil determinao), ou antes fazer uma lista das especies com algum interesse colhidas por mim no Gerez [...] Enfim entrego-me nas suas mos [...]. A resposta de G. Sampaio foi muito rpida. Escreve uma carta a 24 de Janeiro de 1918, concordando com o estudo de lquenes: Fiquei espantado com a partida que lhe fizeram; ns no exigimos aqui trabalho algum original para a reconduo. Mas at foi bom para o obrigar a cortar o plo, decidindo-se a publicar um trabalhinho. Acho bem sbre liquenes, como diz. Pode contar com tudo em que eu o posso auxiliar. [] Faa como quizer: ou noticia sbre os liquenes mais curiosos colhidos por si, em varias localidades, ou s sobre os de Obidos. Mas parece-me melhor uma noticia sobre liquenes novos ou mais raros do paiz, porque lhe d margem a indicar mais novidades. Uma memria sobre Obidos tambm era bonita, mas precisava de voltar localidade para tornar a lista mais completa. Claro est que os desenhos so sempre bons, mas s se justificam em obras de ensino ou divulgao (a que no se dirige o seu trabalho); nas obras de interesse meramente scientifico s se admitem os desenhos sobre coisas novas para a sciencia ou extremamente raras. Estes, se os fizer, so muito bem cabidos e mais interessantes tornam a sua publicao (BN A/2093). A. Ricardo Jorge efectivamente decide-se pelo estudo dos lquenes portugueses e elabora o trabalho acadmico em tempo recorde (JORGE, 1918)173. No entanto, passa da carreira docente para a
O trabalho um catlogo de 50 txones de lquenes da flora portuguesa. Na introduo, A. Ricardo Jorge salienta o deficiente conhecimento da flora liqunica portuguesa, em comparao com a flora vascular: Explorada e conhecida como se encontra atualmente a flora fanerogmica do pas, para o vasto campo da criptogamia, to incompletamente estudada ainda em Portugal, que se impe a ateno do sistemata com a garantia de mais seguras e proveitosas descobertas. Esta frase parece revelar uma consonncia de opinies com o seu orientador, G. Sampaio (ver Captulo XIII.4). Seguidamente, as palavras de A. Ricardo Jorge confirmam a urgncia da elaborao do trabalho: porque se trata duma aprendizagem, facil se torna descupar-lhe o modesto ambito, desde logo revelado no cuidado com que foram evitados certos grupos de mais difcil determinao, ao estudar as colheitas que ha mses tenho realizado em diferentes pontos do pas [...] enumerao das especies, feita segundo Zahlbruckner, duma curta descrio das novas para o pas, e da sinonmia correspondente bibliografia de que dispus, - as obras existentes na Biblioteca do Gabinete Botanico de Lisboa -, acrescentada ultimamente por uma rapida consulta realisada nas Bibliotecas dos Gabinetes Botanicos de Coimbra e Lisboa. O trabalho segue um
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de naturalista. Continua com o estudo dos lquenes e parece optar definitivamente pela botnica em vez da medicina. Em carta datada de 12 de Novembro de 1919, escrevia para G. Sampaio: No sei se sabe que fui em Julho nomeado naturalista do Gabinete. Fui-o por proposta dos meus profs. [...] Foi-me util porque larguei os meus afazeres de medico sanitario, e desde ento estou dedicando muito mais tempo aos trabalhos de botanica. [...] Foram todos estes factos que me obrigaram publicao do folheto [...] de me vr na situao de no poder receber os seus conselhos e ensinamentos. [...] Estou agora a estudar a valer os liquenes, tendo comeado claro pelos grupos mais faceis. A exsicata de G. Sampaio Lichenes de Portugal culminar de forma excepcional o seu estudo dos lquenes portugueses. A ideia de organizar esta exsicata parece datar dos incios do perodo liqunico de G. Sampaio. Em carta dirigida a A. Ricardo Jorge, datada de 1 de Maio de 1918, G. Sampaio formalizava a sua ideia e o seu empenhamento em concretiz-la: Vou comear a organizar uma coleco dos Liquenes selectos de Portugal com etiquetas impressas, para distribuir no estrangeiro em fasciculos de 50 especies. Para ficar uma coleco de futuro, talvez classica, pelo cuidado que nela vou pr. O primeiro fasciculo ser distribuido ainda este ano, para o que ando a organizar alguns nmeros. Quer o meu amigo colaborar nela, recebendo em troca uma coleco? No caso afirmativo ter de enviar-me 25 exemplares de cada espcie174 (BN A/2001). Aps a sua libertao da priso, ocorrida no Vero de 1919 e at Maio do ano seguinte, G. Sampaio vive na Pvoa de Varzim. Neste perodo, a actividade da preparao da exsicata Lichenes de Portugal febril e a participao de A. Ricardo Jorge solicitada insistantemente. Em carta datada de 11 de Maro de 1920, escrevia G. Sampaio a A. Ricardo Jorge: J tenho colados nos cartes quasi todos os lquenes (50 espcies) que devem constituir o 1. fasciculo das minhas exsicatas numeradas

figurino semelhante aos trabalhos de G. Sampaio sobre lquenes. Para cada espcie so indicadas as citaes nas obras clssicas de liquenologia, os sinnimos e os locais de colheita. Alguns txones so novos para a flora portuguesa: cinco espcies e duas variedades. Para estes tambm feita uma descrio sumria do taxon. O trabalho ter sido provavelmente impresso em Junho de 1918, dado que existe um exemplar com a seguinte dedicatria escrita pelo autor: Biblioteca do Gabinete de Botnica da Universidade do Porto. Homenagem de, Junho de 1918. 174 Como ser referido ao longo deste captulo, a exsicata Lichenes de Portugal nem ser distribuda em 1918, nem tero sido elaborados 25 exemplares, mas antes 15-16. Sobre a exsicata de lquenes ver Anexo I. No incio da sua carreira, G. Sampaio ter tido a ideia de criar uma exsicata sua. J. S. Tavares, numa carta datada de 10 de Janeiro de 1902 e escrita no Colgio de S. Fiel, escrevia a G. Sampaio: Quanto ao concorrermos para a distribuio das exsicata do herbrio da Academia, era coisa que muito desejaramos; mas no podemos prometer j; pois provvel que o Sr. Zimmermann tenha de ir continuar a sua formao no estrangeiro este anno e no sei ainda quem o substituir no trabalho rduo da herborizao. Poucos dias depois, G. Sampaio recebe uma outra carta do Colgio de S. Fiel, agora de C. Zimmermann, datada de 17 de Janeiro: Desculpe V. Exa. que s hoje accuse a recepo dos Lichens. Foram trabalhos impreteriveis que no me deixaram fazelo mais cedo. Muito agradeo a colleco e isto tanto mais por ser a primeira que adquire este Collegio. Desde j me alegro com outros Lichens que V. Exa. com sua bondade prometter. Eu da minha parte no faltarei enviar-lhe fungos. Dentro de umas 3 semanas poderei mandar uns 60, dos quaes todos so novos para Portugal. J se entende que boa vontade auxiliarei a V. Exa. na publicao da sua exsicata. Que tipo de exsicata tinha G. Sampaio em mente? Seria uma exsicata de criptogmicas?

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dos Lichenes de Portugal. Muito brevemente vo ser impressas as etiquetas e o folheto que acompanha cada fascculo. Portanto se quer colaborar nos fasciculos, tem de mandar 10 a 12 espcies pelo menos, quanto antes. De cada espcie mande para 16 coleces, que so as que se fazem apenas. Em Portugal s fica uma coleco no Porto, outra em Coimbra e outra na sua mo, se quizer colaborar. As restantes vo para os herbrios estrangeiros. Neste 1. fasciculo vo, pelo menos, essas 15 espcies que o meu amigo no deve ter, algumas delas novas para o pas ou para a sciencia, at: [] Carlosia viridescens, Samp. (gnero novo para a scincia, dedicado memoria de D. Carlos I) [175, [] Se mandar liquenes para a coleco do 1. fasciculo tenho interesse em que mande [] (BN A/2087). A esta carta respondeu positivamente A. Ricardo Jorge, em carta datada de 29 de Maro de 1920: Recebi passados 15 dias a sua carta da Povoa. Convida-me a colaborar na sua 1. distribuio de liquenes. Excusado dizer-lhe que com o maior gosto desejo contribuir para ela e na realidade de poder tornar-me merecedor dum exemplar. Pena que me mande pedir as especies com tamanha urgencia. Vou j esta semana meter-me a caminho para lhes obter. Como tem pressa irei buscar aquelas que conheo localidades. Assim desde j comprometo-me a enviar-lhe: [...] Farei as necessarias colheitas ainda nesta e em proxima semana, enviando-lhas [...] No quero [...] alguma deixar de vir a possuir um exemplar de to precioso fasciculo. A. Ricardo Jorge ter enviado os lquenes para a exsicata de G. Sampaio, porque no ms seguinte, no dia 16, G. Sampaio escrevia para A. Ricardo Jorge pensando na continuao da exsicata, mas tambm no estudo dos lquenes portugueses: Dou-lhe a novidade de que os seus liquenes j hoje ficaram colados nos cartes. Com les atingo o numero de 30 especies para as distribuies, j colhidas e preparadas. No entanto, como v, faltam-me ainda 70 para poder distribuir em junho o 1. e o 2. fasciculo. Como lhe disse, cada fasciculo compreende 50 numeros e vai numa pasta especial, etiquetada na lombada. Colha tudo quanto poder, porque em troca vai receber excelentes liquenes, que fazem parte da coleco, entre os quais [] especies novas, como a Lecidea Chodati Samp., a Lecidea Duartei Samp. e a Acarospora varzinensis Samp., etc. Alem dos liquenes que colhi em quantidade para a coleco outros novos para Portugal tenho colhido ultimamente, mas em numero de exemplares bastante limitado. Se quizer obter algum destes eu poderei trocar consigo por espcies das que me faltam e so citadas pelo Coutinho. Para essas trocas ofereo: [] Por cada liquen que quizer enviar-me, dos que vou indicar na desiderata, pode escolher dos mencionados o que quizer. Desejo receber os seguintes: [segue-se uma lista de espcies] Todos estes liquenes me interessam, porque desejo saber do que realmente se trata. Alguns deles nunca os encontrei e no creio na sua existencia no paiz, outros possuo-os mas creio que
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G. Sampaio designar de Carlosia lusitanica Samp. no trabalho que publica em 1923 (SAMPAIO, 1923b)

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o Coutinho se refere a plantas diversas delas.[] Ora muitos dos que desejo so-lhe faceis de obter, porque so dos arredores de Lisboa. Eu vou precipitar a redaco do Catalogo dos liquenes portugueses, porque o dr. Julio Henriques insta constantemente pelo original para o Boletim da Sociedade Broteriana. Por isso tenho agora o maior empenho em ver as plantas que o Coutinho cita e das quais eu ponho em duvida a boa determinao. Espero que se no descuide com as colheitas para a coleco (BN A/2089). A 12 de Maio deste mesmo ano, A. Ricardo Jorge informava G. Sampaio do andamento das colheitas, escrevendo num bilhte-postal: Ha dias mandei-lhe uma 2. remessa de liquenes com [...] Hoje envio-lhe um 3. pacote com [...] No 1. pacote ia um liquene de Obidos que no sei determinar e que lhe pedi para me dizer o que era, bem como se os 2 pacotes chegaram e os exemplares so bons e so admitidos para a distribuio. [...] Brevemente irei a Cintra, donde trarei um bom numero de especies para a distribuio. Pode contar que lhe colherei 20 a 25 especies da sua lista, 20 pelo menos com segurana. Muitas das outras especies no as possuo e no as conheo. [...] Brevemente lhe escreverei de novo sbre os seus desiderata de liquenes de que j em tempos lhe enviei alguns exemplares. Continuarei agora, procurando obter todos os que deseja, sendo alguns muito dificeis. Recebidos os lquenes, G. Sampaio escrevia a A. Ricardo Jorge, numa carta datada de 16 de Maio de 1920, rejubilado com os exemplares: A sua colaborao nos 2 fasciculos promete ser excelente (BN A/2088). Poucos dias depois, num bilhete-postal datado do dia 19, escrevia G. Sampaio a A. Ricardo Jorge: Os seus exemplares j esto colados nos cartes (BN A/2047). No dia 28 de Maio deste ano, ainda na Pvoa de Varzim, escrevia G. Sampaio a A. Ricardo Jorge: No se esquea de mandar liquenes, com fora. J tenho preparados os do 1. fasciculo; ando agora com os do 2. fasciculo e espero distribuir 3 ou 4 fasciculos juntos este ano, sem falta alguma (BN A/2044). J regressado ao Porto, escrevia G. Sampaio a 2 de Junho de 1920: No se esquea de colher sempre liquenes para as distribuies. Espero distribuir 4 fasciculos de 50 especies e para isso ainda preciso de muitos, tendo de fazer algumas herborizaes para fora do Porto. Com eles vai o meu amigo receber espcies excelentes, ver. De resto as coleces so apenas 15 o que as tornar de futuro mais valiosas; por oferta apenas cedo 7, sendo as outras fornecidas por venda ao preo de 100 escudos cada fascculo. S museus ricos ou americanos as podero adquirir, e para eles vai ser aberta assignatura brevemente. So caras? (BN A/2086). Alguns meses depois, a 23 de Novembro de 1920, G. Sampaio escrevia a A. Ricardo Jorge, continuando entusiasmado com a exsicata Lichenes de Portugal: O 1. e 2. fasciculos esto definitivamente organizados faltando apenas as etiquetas. J esto a fazer as respectivas pastas. Estes fasciculos contem muitos liquenes interessantes, no poucos novos para Portugal e alguns para a sciencia. Vai gostar de os receber (BN A/2042).

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A 20 de Dezembro de 1920, A. Ricardo Jorge dirigia-se a G. Sampaio, Escrevo-lhe de viagem para o norte, a caminho de Leiria onde vou ficar hoje para colher algumas especies de liquenes interessantes para a sua distribuio, e logo no dia a seguir escrevia, Em Leiria colhi algumas coisas boas para os seus fasciculos, com as quais ficar decerto contente. A 3 de Janeiro de 1921, G. Sampaio escrevia a A. Ricardo Jorge, em tom de extremo jubilo com as colheitas do colega de Lisboa: No se esquea de ir a Cintra colher liquenes! E colha as Toninias! E colha as Collemaceas! E colha as Verrucariaceas! E colha tudo! (BN A/2099). A 19 de Setembro deste ano, o estado de esprito e entusiasmo de G. Sampaio mantinham-se elevados, e escrevia a A. Ricardo Jorge: Como v a coleco a distribuir vai progredindo a olhos vistos, contendo j 200 especies de liquenes, deve ficar uma coleco excelente, com muitos liquenes novos ou desconhecidos nos herbrios estrangeiros. No deixe de colaborar nela o mais possvel que possa, porque h de no futuro ser uma coleco clssica dos liquenes portugueses. As suas contribuies so j excelentes, mas podem ser mais abundantes, desde que queira trabalhar. O sul poderia ficar a seu cargo. Quero organizar mais um fascculo, o 5., para fazer a distribuio muito proximamente. Ajude-me o mais que possa (BN A/2004). A. Ricardo Jorge tambm comunhava da excitao do empreendimento. A 18 de Novembro de 1921, informava G. Sampaio das suas colheitas para a exsicata, Vou no entanto fazer o que puder em todo este ms que dista do Natal, no Cacem, em Bensafrim, em Mafra e Cintra, sobretudo em Cintra, onde irei j para a semana. De resto j c tenho algumas coisas para lhe mandar como Teloschistes flavicans Norm.176. A 12 de Dezembro de 1921, A. Ricardo Jorge escrevia a G. Sampaio sobre as novas colheitas. Quanto a liquenes vou fazer uma encomenda para lhe enviar com algumas espcies para as distribuies, entre elas: [...] Na proxima 3. ou 4. feira vou para Cintra [...] colher-lhe liquenes. G. Sampaio escrevia-lhe a 15 de Dezembro: Estou j em frias, por determinao dos alunos, e passo os dias a colar liquenes, com meu filho Joaquim. Vamos no 5. fasciculo, o que quer dizer que j temos colado para cima de 30 centos de exemplares (BN A/2078). Se compararmos a lista de espcies apresentada por A. Ricardo Jorge nesta carta com a lista final das espcies da exsicata verificamos que nem todos os exemplares recolhidos por este botnico foram incorporados na exsicata. A. Ricardo Jorge ter sido informado deste facto, dado que em bilhete-postal datado de 19 de Fevereiro de 1922, pedia a G. Sampaio para No se esquea tambm, peo-lhe de me enviar preenchida a lista que lhe enviei das minhas remessas para as distribuies. Tenho empenho em saber quais as especies aprovadas. A. Ricardo Jorge prossegue as colheitas. Em bilhete-postal datado de 21 de Maro de 1923, informava G. Sampaio do que tinha recolhido ultimamente e que ansiava por ter a exsicata nas suas mos, obra na
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Esta espcie ser de facto includa como o nmero 129 da exsicata.

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qual estava a participar activamente Participo da sua satisfao pelo que diz respeito s apreciaes relativas coleco dos liquenes portugueses; essas noticias mais me crearam agora [...] por receber a coleco completa que me est reservada e que anciosamente aguardo. [...] Amanh seguiro os 15 exemplares de Buellia177. A. Ricardo Jorge continua a que juntei 15 exemplares da Lecanora178. E termina escrevendo e os exemplares j preparados da Toninia os quais, no caso de no serem bastantes, sero acrescentados com outros que colherei no proximo Domingo. A. Ricardo Jorge, numa carta datada de 9 de Abril de 1925, insistia na distribuio da exsicata, Quando tenciona fazer a distribuio dos seus Lichenes exsiccati? [...] Que especies deseja especialmente que lhe colha aqui pelos arredores?. Estaria atrasada a distribuio da exsicata? A quem foram distribudos os exemplares dos Lichenes de Portugal? Existem documentos que sugerem que foram enviadas coleces para vrios Herbrios, mas s existe um documento em que explicitamente se acusa a recepo de parte da exsicata. Para Espanha, poder ter ido uma coleco para Madrid e outra para Barcelona. Em carta datada de 7 de Maro de 1923, R. G. Fragoso escrevia a G. Sampaio, Creo podr hacerse dos suscripciones su exsicata, una para Madrid y otra para Barcelona. No olvide escribirme el precio de las mes repastos hechos que supongo ser identico al de los restantes. R. G. Fragoso estaria muito provavelmente referir-se a Font Quer do Museu de Cincias Naturais de Barcelona. Font Quer iria contactar com G. Sampaio em 1924. Propunha-se trocar exemplares de plantas, mas tambm de lquenes. Em carta datada de 5 de Fevereiro de 1924, Font Quer escrevia a G. Sampaio, Aprovecho esta oportunidad para remitirle el opsculo de Llenas sobre Lquenes de Catalua. Desde la fecha de publicacin de este folleto Llenas no se dedic ya ms al estudio de los lquenes, y su herbario lo posee este Museo, regalado por aquel autor. Espero que podr hacer a V. un buen envio de lquenes espaoles durante este ao; muchos aguardan desde hace tiempo alguien que quiera estudiarlos. Em Outubro de 1923, no dia 1, R. G. Fragoso insistia na exsicata para o Jardim Botnico de Madrid, Le ruego no olvide que el Jardin Botnico de Madrid quiere ser suscritor a su exsiccata de lquenes de Portugal, para la Catedra del Dr. Arturo Caballero. Como probablemente ser yo quien tendr que ocuparme de los lquenes en dicho Jardin tengo empeo en que su linda e interesante coleccin no falte en el. E mais uma vez, a 27 de Fevereiro do ano seguinte, insistia junto de G. Sampaio para que No olvide que el Prof. Caballero del Jardin botnico deseaba um ejemplar de su exsiccata de lquenes de Portugal. Em 1926, a 12 de Maro, L. Cresp escrevia a
Devia estar a referir-se a uma das espcies que ficaram na exsicata com os nmeros 177 e 185, respectivamente, Buellia schaereri De Not. e Buellia myriocarpa var. lusitanica Samp. 178 Deve ser uma das espcies que ficaram na exsicata com os nmeros 78 ou 79, Lecanora hageni for. coerulescens Flag. e Lecanora crenulata Hook.
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G. Sampaio El Sr. Fragoso me encarg que le dijera que podia enviar un ejemplar de su exsiccata de lquenes cuando quisiera, diciendole el precio. Respecto al segundo ejemplar habia pensado adquirirlo para el botnico, pero no est en buena armona y prefiere aplazarlo, dejando a V. en libertad para que, si desear, cumpla otros compromisos. Novamente em 1929, a 25 de Fevereiro, R. G. Fragoso escreve a G. Sampaio, sobre a compra da exsicata de lquenes, Respecto a la subscripcin de la exsiccata de lquenes de esa flora, desde luego creo poder asegurarle que el Museo, el Jardin botanico, se suscribirn la totalidad de ella, por un ejemplar. Para hacer la suscripcin [...] me diga el precio total de los tres [...] publicados. 3. Os contactos com Zahlbruckner e A. H. Magnusson G. Sampaio contacta tambm com Zahlbruckner e A. H. Magnusson, reputadssimos liquelgos da poca. Numa carta dirigida a A. Ricardo Jorge, datada de 3 de Janeiro de 1921, G. Sampaio escrevia sobre os contactos com o liquenologista de Viena: O dr. Zahlbruckner, de Vienna, que me escreveu agradecendo as minhas separatas, pedindo as minhas espcies novas de lquenes e prometendo em troca a sua coleco completa de Lichenes rariores [179] bem como tudo quanto pudesse dar das suas antigas distribuies [] J estou em organizar uma coleco para lhe mandar. Ele mandou-me um grande nmero dos seus trabalhos e promete-me o seu Catlogo Universal dos Lichenes, de que j est a imprimir o 1. volume (BN A/2099). Atravs de Zahlbruckner, G. Sampaio ir entrar em contacto com A. H. Magnusson, especialista no gnero Acarospora. Este liquenologista sueco escreve a G. Sampaio uma carta datada de 5 de Outubro de 1922. By a visit this summer to Hofrat Zahlbruckner, Wien, I have heard that you have a great interest in lichens and I have there seen some species of Portuguese Acarospora, a genus of which I have just finished a monograph (in English) of the Scandinavian 30 species. I now intend to continue with the European and should be grateful to get specimens from you, both from the new ones you have described and from others in your country. As I have a great many duplicates I am willing to send you some species in exchange other lichens if you have an interest in Swedish lichens (a great many are from Lappland). At the same time I send you my small papers. I also read German and French. G. Sampaio ter respondido rapidamente a A. H. Magnusson, pedindo alguns exemplares para troca. O investigador sueco envia nova carta, datada de 27 de Outubro, em que escreve I thank you very much for your friendly letter and I have to day sent you a parcel with 75 lichens mostly from the desiderata list. In my unarranged collections I have most of
No herbrio de G. Sampaio existe esta exsicata, pelo que muito provvel que tenha sido enviada por Zahlbruckner a G. Sampaio.
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what you have not obtained this time, but I hope to get them ready by and by. I have also many duplicates from the mountains and am willing to send you a list of between 4 500 species if you are interested in a further exchange. I shall be very much pleased to obtain those you have told me in the list, because they all are new and certainly not to be obtainable in a Swedish museum. I should also be very glad if you still had some excerpts of your lichenological papers to send me, because I have nothing of what you have written, and because there are few botanical periodicals in this town and none from Portugal. I must try to get the lichenological literatur in antiquaries and in excerpts from the authors. G. Sampaio envia as suas publicaes para A. H. Magnusson e promete enviar lquenes em troca dos que tinha recebido. A. H. Magnusson escreve a 17 de Dezembro de 1922, que I am very much obliged to you for your sending of your interesting lichenological papers and I am very curious on your sendings of lichens to come. G. Sampaio ter ento enviado a A. H. Magnusson alguns dos fascculos da sua exsicata Lichenes de Portugal. Escreve a A. Ricardo Jorge, num bilhete-postal datado de 16 de Maro de 1923: Os lichenlogos a quem tenho mandado exemplares da coleco tm todos ficado encantados. Um sueco [seguramente que G. Sampaio se refere a A. H. Magnusson] diz-me que a mais formosa remessa que tem recebido, apezar de ter trocado lichenes com especialistas de toda a Europa. Diz que pela coleco completa me enviar todos ou quasi todos os lichenes da Sucia e Noruega! Outro promete enviar de tudo que colher numa excurso lichenologica Bulgaria (BN A/2053). A 1 de Junho deste ano, A. H. Magnusson escreve a G. Sampaio agradecendo os fascculos da exsicata180, e naturalmente ansiando por receber o resto da coleco: I have received your postcard and am very much obliged to you for your promise to send me the rest of your exsiccata. I have also received and examined your Acarospora []. Certainly it is a new species, deserving the name of picea. It is not identical to any of the Scandinavian ones, the European ones I hope to study more completely at the end of this summer. SAMPAIO (1923a) prope uma espcie nova de Acarospora, A. magnussoni Samp. Ser esta espcie a que se refere A. H. Magnusson na carta? G. Sampaio ter enviado um exemplar a A. H. Magnusson e pedido a sua opinio sobre a sua determinao. A resposta de A. H. Magnusson ter confirmado a opinio de G. Sampaio de se tratar de uma espcie nova, que acaba por dedicar ao seu colega sueco.

G. Sampaio escreve num bilhete-postal datado de 22 de Maro de 1923 enviado a A. Ricardo Jorge: V colhendo o que puder para o 4. fasciculo, que desejo publicar sem a menor falta, durante este ano lectivo, para ficarem os primeiros quatro todos de 1923 (BN A/2052). Os primeiros 150 exemplares da exsicata estariam portanto prontos em Maro de 1923. Tero sido provavelmente estes os enviados a A. H. Magnusson. As duas primeiras centrias tero ficado prontas por volta de Abril de 1924, como se conclui pelo que G. Sampaio escreve num bilhete-postal enviado a A. Ricardo Jorge, datado de 4 de Abril de 1924: De resto, tudo est pronto e anda-se j a colar os do 4. fasciculo, para o qual espero a sua colaborao. No se descuide, no? (BN A/2062).

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4. G. Sampaio e Luis Cresp Atravs de R. G. Fragoso, L. Cresp contacta G. Sampaio, em 1924, com o objectivo de receber ensinamentos em liquenologia, em particular sobre a prtica de identificao de lquenes. Escreve ento um bilhete-postal a G. Sampaio com a data de 4 de Novembro de 1924. Vengo comisionado por el Gobierno Espaol a estudiar con V. los lquenes. Traigo una carta de mi querido amigo el prof. G. Fragoso. Espero hablar con V. para iniciar mis trabajos y para que V. me ayude a resolver el difcil problema de la vida Seria mais til que yo fuera a Braga a hablar con V.? Se agradeceria que me dijera donde y cuando podia hablar con V. mi direccion as, Hotel Lisbonense, Porto. A resposta de G. Sampaio foi positiva e o estgio de L. Cresp iria concretizar-se. A 12 de Outubro de 1925, Crespi escreve a G. Sampaio anunciando a sua chegada, Decididamente llegaremos a Porto el dia 15 de Octubre en el correo de Valena-Porto que habr su entrada en Porto alredor de las 7 de la tarde. Seguidamente refere que lhe tinham indicado o Hotel e restaurante Bastos e a Penso Portuguesa para ficar alojado no Porto e pede a opinio a G. Sampaio sobre que local escolher. O estgio de L. Crespi com G. Sampaio ter durado at ao fim do ano de 1925, dado que a 18 de Janeiro de 1926, L. Cresp escreve uma longa carta a G. Sampaio endereada de Madrid. Mi queridissimo maestro: En este punto estaba cuando recib su cariosa carta del 14. Voy pues a contestar ampliamente. 1. Le agradeceria que me enviase los lquenes de Galicia que V. determin. [] 2. La lista de lquenes de Galicia se publicar tan pronto V. me diga si me puede o n enviar esos lquenes. He querido hacerla con comentarios pero me es imposible por ahora pues necesito revisar las colecciones del Botnico de Madrid y [] 3. He recogido bastantes lquenes del Guadarrama pro no me ocup aun de ellos hasta no concluir la formacin de la coleccin de lquenes del Museo. Con las que tenia el Sr. Fragoso, los que V. envi, los que yo traje de Portugal y de Galicia ya va habiendo una coleccin regular. Calculo que de momento llegara los 1500 cartones. No he podido aun inventariar las especies porque slo puedo ocuparme en esta labor tres maanas a la semana. R. G. Fragoso, numa carta dirigida a G. Sampaio datada de 8 de Maro de 1926, tambm dar conta do xito do estgio de L. Cresp Cresp y familia llegaron bien, y maana le dar sus recuerdos. Viene encantado y agradecidisimo de Vd. Viene casi todos los dias a el laboratorio, y ahora se ocupa en tomar nota de los lquenes citados descritos en Espaa, que son numerosos. Mas L. Cresp era professor do Instituto-Escuela de Segunda Enseanza de Madrid e escasseava o tempo para os estudos de liquenologia. Numa carta com a data de 13 de Outubro deste ano, L. Cresp informava G. Sampaio que tinha sido nomeado director da escola mis colegas tuvieron la mala idea de nombrarme director de este liceo. Pede ento algumas

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informaes a G. Sampaio para que pudesse acabar o trabalho que tinha realizado no Porto, No publiqu aun el trabajo que hicimos en Porto porque espero que V. me envi la lista de los que all quedaron. Recordar V. que me envi una lista con las determinaciones que V. hizo despus de mi regreso a Madrid; pero en ella no vena nota alguna de localidades, por lo cual carecen de inters para publicarse. Si V. conserva los ejemplares le agradecera que los enviara o por lo menos el nmero que cada uno lleva, que me indicara la localidad. A 5 de Outubro de 1928, L. Cresp escreve novamente a G. Sampaio. Mis lquenes? Tengo muchos, tengo cosas publicables. Tengo cosas que consultarle. No tengo tempo. Este ao vuelvo a ser Director del instituto-Escuela. Sin embargo no quiero que acabe el ao sin publicar alguna nota. Destrozan mi vida las preocupaciones de mi familia y los enormes quehaceres del Instituto. Necesito una temporada a su lado. No se cuando ni como va a poder ser. O trabalho sobre os lquenes da Galiza, fruto do estgio de L. Cresp com G. Sampaio seria finalmente publicado em 1929 no Boletin de la Real Sociedad Espaola de Historia Natural181. 5. O projecto do Catlogo de lquenes de Portugal G. Sampaio teve o projecto de redigir um catlogo ou uma flora liqunica de Portugal182. Vrios documentos apontam inequivocamente neste sentido. Em 1921 num currculo que redige para apoiar a sua nomeao como primeiro director do ento criado Instituto de Investigao botnica da Faculdade de Cincias do Porto escrever no final do currculo, um Catlogo analtico dos lquenes portugueses, em preparao183. A. Ricardo Jorge escreve numa carta datada de 18 de Novembro de 1921: Fico radiante com a ideia da sua Flora Descriptiva mas julgue que perder recorrendo a estranhos. Tomra tambem ver as suas gravuras. Sobre estes e outros assuntos voltarei a escrever com mais vagar. Numa outra carta datada de 21 de Abril de 1924, A. Ricardo Jorge escrevia: E as floras e o catalogo geral dos liquenes? Que pena tenho que no apresse a sua publicao. Aproveite a quietude de Braga para lhes dar o ultimo retoque e depois deite-as c para fora. Estaria a referir-se a uma flora vascular e um catlogo de lquenes? Ou a uma flora liqunica de Portugal? G. Sampaio ter mesmo redigido algo desta flora liqunica, porque L. W. Carrisso, da Faculdade de Cincias de Coimbra escrevia para G. Sampaio a 1 de Fevereiro de 1922: Diz-me o Quintanilha (que muito lhe agradece os cumprimentos, que retribue) que V. Exa. elaborou, para seu uso, uma chave para a

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Infelizmente o trabalho ter a deficincia de no apresentar diagnoses dos txones novos propostos.

Qui no incio da dcada de 1920, quando j tinha um conhecimento bastante aprofundado da flora liqunica portuguesa e publicado diversos trabalhos nesta rea. 183 Ver Captulo XIV.1.

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determinao dos liquenes portugueses. No estar V. Exa. disposto a dar-mo-la, para ser publicada no volume em impresso do Boletim? Ficar-lhe hiamos mais uma vez muito agradecidos pela honrosa colaborao. L. Cresp, numa carta com a data de 12 de Maro de 1926, escrevia: Con reserva le dir que ya trat con D. Ignacio Bolivar [] su proyecto de escribir una flora de la pennsula en claves. En principio est acordado invitar a V. a que la haga y [] proyecto es el siguiente: Que V. venga a Madrid dos meses, para ver los herbarios y recoger materiales: Despus trabajaria en esa para la redaccin de la flora, que llevaria los ms dibujos posibles, para lo cual dispondramos de dibujantes del Museo y de lo que yo pudiera hacer. Hecho el trabajo, la Junta se posesionaria de el, ofrecindole el tanto por ciento de la venta. Todo esto son las ideas que existen y que yo tratar de mejorar cuanto sea posible contando con la buena voluntad de todos para con V. nada definitivo hay; pero nos reuniremos pronto, se acordarn las bases del acuerdo y si yo me anticipo a darle estas noticias es para advertirle que cuando reciba las propuestas, vengan de quien vinieren, las estudie y medit y ponga a ellas cuantos reparos estime oportunos. Dos cosas anhelo a cual ms vivamente: que haga la Flora Vd. y que por ello reciba los mayores beneficios econmicos. No tenga V. escrpulos en cuestiones econmicas y tenga siempre la seguridad de que las ofertas que se le hagan estaran hechas por personas serias y que procuran encontrar la frmula [] mas ventajosa para V. y para la cultura botnica en Espaa. Todavia a ideia no avana. Numa carta com a data de 13 de Outubro de 1926, L. Cresp informava G. Sampaio que Me dijo el Sr. Bolivar que no era posible invitarle a V. a venir este otoo porque la Junta careca de recursos econmicos para ello; pero que confiaba en poderlo hacer para ao nuevo. Ha pasado la Junta situaciones muy difciles con D. Miguel Primo de Rivera que justifican en esta imposibilidad actual, aunque vamos mucho los que lamentamos no verle a V. pronto. No existe nestes documentos a explicitao do tipo de flora em causa. Seria uma flora vascular ibrica, na continuao da ideia lanada por R. G. Fragoso e Font Quer?184 Ou seria uma flora liqunica ibrica? Esta segunda hiptese talvez seja mais plausvel, dado que L. Cresp tinha trabalhado com G. Sampaio unicamente no estudo de lquenes e a correspondncia de L. Cresp com G. Sampaio versava quase exclusivamente a liquenologia.

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Ver Captulo VIII.7.

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XI. Gonalo Sampaio e a Micologia Ibrica G. Sampaio ter conhecido R. G. Fragoso185 no Congresso do Porto de 1921. A partir da estabelecer-se-, entre os dois botnicos, uma troca de ideias, de exemplares de herbrio e uma amizade, que durar at morte de R. G. Fragoso. A primeira carta que encontrmos de R. G. Fragoso dirigida a G. Sampaio data de 30 de Maio de 1922. Nesta carta, em papel timbrado do Museo Nacional de Ciencias Naturales, Madrid (Hipdromo), Seccin de Botnica, R. G. Fragoso comea por recordar o seu encontro com G. Sampaio - Puede tener la seguridad de lo grato y agradable que me ha sido el conocerle y como deseo que esta amistad sea aun mas intima y amplia. Espero a la primera ocasin que nos sea posible hacerle una visita en ese hermoso pais del siempre tengo saudades. R. G. Fragoso termina com o desejo de intercmbio de plantas, mostrando R. G. Fragoso especial interesse por fungos, a sua grande especialidade - Igualmente todo cuanto envie de Hongos, lquenes, y Fanerogamas, ya le enviar Hongos procurando sean interesantes, y cuando regrese de los Pirineos el Sr. Vicioso har le envie fanerogamas del Guadarrama, de las que tenemos muchos duplicados, y que sean raras. Tambien le encargu recolecte cuidadosamente Rubus para Vd., y si no voy este verano a la sierra de Guadarrama procurar recoger lquenes. Pouco tempo depois, a 1 de Julho de 1922, R. G. Fragoso escreve novamente a G. Sampaio a informar das novidades no Jardim Botnico de Madrid, Y ocupado tambien con los opositores al concurso para la catedra vacante del Jardin botnico, el cual ha terminado hoy siendo propuesto por unanimidad como yo esperaba, el Dr. Arturo Caballero. Comienza con esto una nueva vida para el

Romualdo Gonzlez Fragoso (1862-1928) nasceu em Sevilha. Graduou-se em Medicina pela Universidade de Sevilha. Em 1911 e 1912 estagia em Frana, Blgica e Sua na rea da Micologia. Em 1918 nomeado naturalista do Museu de Cincias Naturais de Madrid e, posteriormente, director do Laboratrio de Criptogamia deste museu. nomeado professor honorrio do Museu e do Real Jardim Botnico de Madrid. Estuda a flora micolgica espanhola, portuguesa, marroquina e da Repblica Dominicana. Especializa-se em uredinceas e ustilaginceas (sobretudo parasitas de plantas, musgos e lquenes), mas tambm estuda deuteromicetos e basidiomicetos. Conhece pessoalmente G. Sampaio no Congresso do Porto de 1921, estabelecendo-se desde logo uma colaborao e amizade que perduraro at sua morte. Autor de uma vastssima obra cientfica, foi um dos fundadores dos estudos modernos das uredinceas e ustilaginceas. Publica em 1924-1925 a Flora Ibrica Uredales em dois volumes. Publica em 1927 uma obra de referncia sobre os hifomicetos Estudio sistemtico de los hifales de la Flora espaola conocidos hasta esta fecha. A colaborao dos botnicos portugueses permitir-lhe- estudar a flora micolgica portuguesa publicando vrios trabalhos: Algunos hongos de la flora lusitanica (Broteria, 1924:128-133), a monumental Contribucin a la flora micolgica lusitnica (Boletim de Sociedade Broteriana, 1923:3-83) e Adiciones a la micoflora lusitnica (Congreso de Coimbra, Ciencias Naturales, Asociacin Espaola para el Progreso de las Ciencias, 1925:5-27). UNAMUNO (1928) escrever a seu respeito: porque toda su vida fu eso: trabajo incesante y fructifero [] merece el nombre de Saccardo espaol. De acordo com UNAMUNO (1928), do labor cientfico de R. G. Fragoso resultaram a publicao de 193 formas e variedades, 544 espcies, 1 subgnero, e 13 gneros novos para a cincia (UNAMUNO, 1928; SAMPAIO, J., 1948, 1949). J. SAMPAIO (1948, 1949) descreveu pormenorizadamente a obra de R. G. Fragoso e os seus contactos com G. Sampaio. Transcreveu tambm algumas das cartas que analisamos neste trabalho.

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Botnico de Madrid que v a renacer de sus cenizas. Seguidamente R. G. Fragoso pede a colaborao de G. Sampaio e seu filho para as publicaes do Museu e Jardim Botnico de Madrid, Espero que colabore a nuestras publicaciones del Museo y Jardin con sus trabajos y que acaso mas tarde nos d alguna monografa de algun grupo de la flora ibrica. No tiene una sola tasa ni para espacio ni para ilustraciones, e igualmente su hijo, y todo botnico portugus recomendado por Vd.. Logo em 14 de Setembro deste mesmo ano, R. G. Fragoso escreve novamente a G. Sampaio. Pelo contedo da carta, compreendemos que G. Sampaio tinha enviado uma remessa de fungos para o seu colega espanhol, He determinado ya buena parte de los hongos que tuvo la bondad de enviarme, y entre ellos encuentro algunas especies y matrices no mencionadas hasta ahora en la flora lusitanica. Cuando termine con todos le remetir la lista completa. Como se compreender por outras cartas, os fungos que G. Sampaio envia para R. G. Fragoso eram fungos parasitas de plantas a maioria, uredinomicetos e ustilaginomicetos (basidiomicetos, ferrugens e morres). O conhecimento da flora portuguesa e espanhola neste grupo de fungos era reduzido. No admira pois que R. G. Fragoso ir encontrar muitas espcies novas para a pennsula e at para a cincia186. O reconhecimento de R. Fragoso a G. Sampaio seria significativo: 1 gnero e 9 espcies tm nomes associados a Sampaio187. Para G. Sampaio, a colheita destes fungos era simples, dado que realizava muitas recolhas de plantas vasculares para os seus estudos taxonmicos. Os fungos parasitas de lquenes tambm interessavam a R. G. Fragoso e para G. Sampaio seria fcil reconhec-los dado que fazia muitas colheitas de lquenes. Numa carta dirigida a G. Sampaio datada de 30 de Janeiro de 1923, R. G. Fragoso escreve que Estoy estudiando los hongos sobre lquenes, y no son ciertamente fciles [] Los lindos ejemplares de lquenes que me envia demuestran cuan seria y concienzudamente ha estudiado esa flora. O currculo de R. G. Fragoso era impressionante em termos de nmero e qualidade de publicaes. S um trabalhador incansvel podia produzir tal massa de trabalhos cientficos. Em

Os fungos enviados por G. Sampaio a R. G. Fragoso sero estudados, na sua maioria, na obra monumental de R. G. Fragoso publicada no Boletim de Sociedade Broteriana em 1923. So descritos 301 txones, na sua maioria uredinomicetos parasitas de plantas, ascomicetos saprfitos e parasitas e deuteromicetos. De estes, 58 eram novos para a cincia: 1 gnero, 40 espcies e 17 variedades e formas, todos com diagnose em latim. G. Sampaio tinha recolhido os exemplares de 45 destas novidades taxonmicas. G. Sampaio descrevia a A. Ricardo Jorge a sua colaborao com o micologista madrileno em tom naturalmente jubiloso, num bilhete-postal datado de 1 de Maro de 1923: J recebi de Madrid a lista dos centos de fungos que enviei ao dr. Fragoso, que vai sobre les publicar um trabalho extenso. H um gnero novo, que me dedicou, e crca de 40 especies novas! As especies novas para Portugal so numerosissimas. Veem classificados dois fungos colhidos pelo meu amigo ahi em Lisboa e que em enviou como lichenes (BN A/2054). 187 Physalospora sampaioi Gonz. Frag., Gloniella sampaioi Gonz. Frag., Sampaioa Gonz. Frag., Sampaioa pinastri Gonz. Frag., Discosia sampaioi Gonz. Frag., Comesia sampaioi Gonz. Frag., Nectria sampaioi Gonz. Frag., Phyllosticta sampaioana Gonz. Frag., Rhabdospora sampaioi Gonz. Frag. e Fusarium sampaioi Gonz. Frag..

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diversas cartas transparece o micologista apaixonado e zeloso que era R. G. Fragoso. Numa carta dirigida a G. Sampaio datada de 7 de Janeiro de 1923, R. G. Fragoso desabafava Yo acabo de recibir del Departamento de Agricultura de los Estados-Unidos 900 especies de hongos parasitas, exclusivamente Uredales y Ustilaginales, y tengo que prepararles una remesa analoga, lo cual concluye me deborder de travail, como dicen los franceses. G. Sampaio, muito provavelmente por iniciativa prpria, pede ento a diversos dos seus colegas botnicos portugueses, que enviem fungos parasitas para o seu colega espanhol. G. Sampaio ter perguntado a R. G. Fragoso se lhe interessava este intercmbio, dado que em carta datada de 14 de Novembro de 1922, R. G. Fragoso escreve para o seu colega portugus que Con mucho gusto recibir los nuevos hongos que me remite y cuantos me envie el Dr. Ruy Palhinha. R. T. Palhinha ter enviado exemplares para R. G. Fragoso e este ter retribudo com plantas, como se pode ler numa carta datada de 30 de Janeiro de 1923 de R. G. Fragoso para Sampaio, Hoy mismo remeto al Dr. Ruy Palhinha dos paquetes postales conteniendo unas 470 fanerogamas que ha escogido y etiquetado muy bien el Sr. Carlos Vicioso. Numa carta datada de 15 de Novembro de 1922, C. L. Pereira escrevia para G. Sampaio que Vo ainda algumas plantas parasitadas, o que sugere que este colega botnico minhoto tambm iria participar no envio de fungos parasitas para R. G. Fragoso. Tambm J. Henriques contacta com R. G. Fragoso. Em bilhete-postal com a data de 28 de Novembro de 1922, dirigido para G. Sampaio, J. Henriques escrevia que Escrevi ao Sr. Fragoso e recebi dele uma publicao sobre os fungos do [...] Vou mandar-lhe a publicao feita no Boletim. J. Henriques, sempre preocupadssimo com o Boletim de Sociedade Broteriana que dirigia, v em R. G. Fragoso um potencial novo colaborador e escreve para G. Sampaio em bilhete-postal datado de 6 de Maro de 1923, Li com satisfao a noticia sobre os fungos determinados pelo seu amigo. No serviriam para o Boletim as espcies novas?. Tal desiderato iria concretizar-se e R. G. Fragoso publicaria um trabalho no Boletim. J. Henriques escrevia para G. Sampaio a 1 de Abril de 1924, eternamente preocupado com as despesas da publicao do Boletim, As separatas do Fragoso seguiro completas por estes dias. Mal sabe os desgostos que isto me causa. O catalogo dos fungos com a estampa [...] vo passar de um conto! [...] pois de Lisboa nada se tem recebido e nada se receber decente. Da colaborao entre G. Sampaio e R. G. Fragoso nascer uma admirao e amizade mtuas, que transparecem por exemplo em nomes de espcies novas para a cincia que um e outro criam e dedicam ao seu colega e amigo. Numa carta dirigida a G. Sampaio datada de 16 de Maro de 1923, R. G. Fragoso escrevia Gracias tambin por su bondadosa dedicatoria del Chiadecton Fragosoi, que estimo en mucho, y que no s como agradecerle.

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XII. Gonalo Sampaio e a nomenclatura botnica 1. A nomenclatura botnica no fim do sculo XIX A nomenclatura um dos aspectos mais importantes do trabalho do sistemata e do taxonomista. No fim do sculo XIX, a inexistncia de regras bem estruturadas tinha permitido a proliferao inusitada de nomes, levando a sistemtica e taxonomia vegetais a uma situao incontrolvel. Perante a iminncia do caos, o Congresso Internacional de Botnica, realizado em Londres em 1866, encarregou De Candolle de redigir um conjunto de regras. Estas regras foram aprovadas no Congresso de Paris, realizado em 1867, mas as consequncias foram desastrosas. Kuntze, na sua obra Revisio generum plantarum publicada em 1891 criava 30.000 novos binmios, permitidos pelas regras aprovadas (SAMPAIO, 1921c). Promovido pela Associao Americana para o Avano das Cincias, gera-se ento, na Amrica do Norte, um movimento contra o Cdigo de Paris. No Congresso de Rochester, realizado em 1892, fixava-se a data de 1753 para o incio da publicao vlida, tanto dos gneros como das espcies. Na Europa, em Gnova, realizava-se neste mesmo ano, um Congresso de Botnica, em que se reconhecia a prioridade dos nomes genricos a partir de 1753, mas no impedindo que se restaurassem designaes mais antigas dadas por autores importantes como Adanson, Ludwig e Necker estes nomes constituiriam uma lista de excepes188 (SAMPAIO, 1921c). Os Jardins e Museus Botnicos alemes elaboravam, para seu uso, um conjunto de regras de nomenclatura que iro ser incorporadas no primeiro Cdigo de Viena de 1905. No volume XIV do Boletim da Sociedade Broteriana (1897), J. Henriques apresentava uma introduo explicativa a estas regras e uma traduo das regras para portugus (HENRIQUES, 1897). Na introduo, J. Henriques manifesta a sua opinio em relao nomenclatura botnica. Como todos os botnicos sistematas, J. Henriques estava preocupado com a situao de indeciso e arbtrio em que se encontrava a nomenclatura botnica. Escrevia, Para ns os nomes das plantas so apenas um meio para chegar a um fim e no um fim para investigaes cuja pratica se tornou uma especie de sport. Desejamos fazernos comprehender uns dos outros por meio de nomes e no queremos em vez disso fazer esforos particulares e dispender o nosso tempo em traduzir commum vocabulos desconhecidos. J. Henriques era adepto dos nomes conservados: nos leva a ser to conservadores quanto possivel, e, ao fazer-se uma reforma, salvar tudo quanto fr possivel do que anteriormente estava feito. [...] A conservao da antiga nomenclatura tem na botanica uma significao bem mais importante do que em qualquer outro

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Designados por nomes conservados.

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ramo das sciencias naturaes. Quais as regras utilizadas pelos botnicos nas instituies alems? Podemos resumi-las da seguinte forma189: A. O nome vlido de um gnero ou espcie o nome mais antigo, vlido de acordo com as regras princpio da prioridade. B. A data de incio da publicao vlida para nomes de gneros e espcies a da publicao de Species plantarum de Lineu. C. Se o nome de um gnero no se tornar generalizado nos 50 anos posteriores sua publicao, este nome deixa de ser vlido. D. Quando uma espcie transferida de gnero, deve conservar o seu epteto especfico e o autor inicial figurar entre parntesis a seguir ao nome da espcie e antes do nome do autor que transferiu a espcie de gnero. E. Os txones novos tm de ser acompanhados de uma diagnose publicada em obra impressa. Referncias de txones novos em etiquetas de exsicatas ou catlogos comerciais no so vlidas. No Congresso de Botnica realizado em Paris, em 1900, reconhecia-se a urgente necessidade de aprovar um conjunto de regras para a nomenclatura botnica. Foi nomeada uma comisso internacional, presidida por J. Briquet, com o propsito de elaborar um projecto para o cdigo de nomenclatura botnica. Este conjunto de normas seria apresentado ao Congresso de Viena, que se realizava dentro de cinco anos (BRIQUET, 1907). Tal desiderato verificou-se. A comisso presidida por J. Briquet apresenta ao Congresso de Botnica de 1905 um Texte synoptique des documents destins servir de base aux dbats du Congrs international de Nomenclature botanique de Vienne 1905 (BRIQUET, 1907). Discutidas, modificadas e aprovadas em Viena, constituram o primeiro Cdigo Internacional de Nomenclatura Botnica. 2. O Congresso de Viena de 1905 e a nomenclatura botnica O Congresso de Botnica realizado em Viena, em 1905, marca uma etapa histrica na nomenclatura botnica. Elaborado sob a forma de 58 artigos e diversas recomendaes, o primeiro Cdigo era de tal forma coerente e moderno, que, apesar de diversas melhorias e aperfeioamentos posteriores, ainda permanece hoje como o esqueleto do Cdigo Internacional de Nomenclatura Botnica contemporneo.
189 Apresentamos as regras de nomenclatura dos Cdigos antigos numa linguagem actual. Ver CAMP ET AL. (1947) e LAWRENCE (1973) para um historial dos Cdigos de Nomenclatura Botnica. Pode-se afirmar que estas regras eram modernas e com excepo da regra C sero todas incorporadas no Cdigo de Viena de 1905 e permanecero nos Cdigos posteriores e at no actualmente em vigor.

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Quais as principais normas estabelecidas pelo Cdigo de Viena? Podemos resumi-las da seguinte forma: A. Cada taxon s pode ter um nome vlido. Este o nome mais antigo, vlido de acordo com as regras princpio da prioridade (artigo 15.). B. A data de incio da publicao vlida para todos os txones a da 1.a edio da Species plantarum de Lineu 1753. Para os gneros referidos nesta obra, so vlidas as descries posteriores apresentadas na 5.a edio de Genera plantarum de Lineu publicada em 1754 (artigo 19.). C. Podem existir excepes aplicao estrita do Cdigo - nomes conservados (artigo 20.). Por exemplo, nomes que no tm prioridade, mas que esto to enraizadas no uso botnico que a sua supresso poderia causar perturbaes e inconvenientes. D. Todos os nomes de txones novos tm de ser publicados em obras impressas. Comunicaes orais, nomes colocados em coleces (exsicatas por exemplo) ou em jardins, no constituem publicao vlida (artigos 35. e 37.). E. A partir de 1 de Janeiro de 1908, nomes de txones novos s sero vlidos quando acompanhados de uma descrio (diagnose) em latim (artigo 36.). F. Em publicaes anteriores a 1 de Janeiro de 1908, estampas com legenda podem substituir a diagnose latina (artigo 37.). G. No entanto, se se tratar de uma combinao nova, com a categoria de espcie ou inferior (uma espcie transferida de gnero, uma espcie convertida em variedade ou vice-versa, por exemplo), considerada validamente publicada se se referenciar com preciso a uma descrio anterior. A simples indicao de um nome anterior no suficiente (artigo 37.). H. As principais categorias infra-especficas so (por ordem decrescente de hierarquia): subespcie, variedade, sub-variedade, forma e sub-forma. Podem ser criadas categorias intercalares com a condio de no provocar confuso ou erro (artigo 12.). I. A data de um nome de taxon novo a da sua publicao efectiva, que se encontra inscrita na obra (artigo 39.). J. O nome de qualquer taxon deve ser acompanhado do respectivo autor (artigo 40.). L. Quando se subdivide um gnero ou uma espcie, um dos novos txones deve manter o nome original (artigos 45. e 47.). M. Quando uma espcie transferida de gnero, o epteto especfico original tem de ser mantido, excepto se no novo gnero j existir esse epteto (artigos 48. e 53.).

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N. O nome de um taxon no pode ser rejeitado sob o pretexto de ter sido mal escolhido, de no ser agradavel, de que outro melhor, ou mais conhecido, [...] nem por outro motivo contestavel ou de pouco valor (artigo 50.). O. Um nome de um taxon deve ser rejeitado, nomeadamente, quando esse nome j tiver sido validamente utilizado anteriormente, quando o taxon comprehender elementos completamente incoherentes ou que possa ser origem permanente de confuso ou de erros, ou quando no obedecer s regras do Cdigo (artigo 51.). P. O nome rejeitado tem de ser substitudo pelo vlido mais antigo, respeitante ao mesmo taxon (artigo 56.). Q. As regras s podem ser modificadas em Congresso Internacional de Botnica (artigo 58.). J. Henriques esteve presente no Congresso de Viena, traduz o Cdigo e publica a verso portuguesa do Cdigo, no Boletim da Sociedade Broteriana de 1907 (volume XXIII). G. Sampaio certamente que estudou o Cdigo de Viena e ter escrito a J. Henriques emitindo a sua opinio. Pela carta de J. Henriques de 11 de Dezembro de 1908 dirigida a G. Sampaio, podemos j antever as discordncias de G. Sampaio em relao ao Cdigo de Viena, que ficariam cristalizadas nas suas listagens do Herbrio da Academia e da Faculdade. Nesta carta datada de 11 de Dezembro de 1908, J. Henriques comea por defender a qualidade deste Congresso e concomitantemente do seu Cdigo, escrevendo que Foi este congresso preparado com muita antecedncia e com maximo cuidado, sendo o projecto do codigo visto por uma comisso internacional. Ao congresso assistiram as sumidades botnicas de toda a Europa e America. [...] bem melhor que os vogais das juntas de parochia. De seguida foca o problema da obrigatoriedade da diagnose em latim nos nomes novos criados a partir de 1 de Janeiro de 1908, regra que portanto j estava em vigor e de que G. Sampaio discordaria. J. Henriques escreve que A indicao dada no art. 36 razoavel. A descripo indispensavel. No posso concordar com o meu amigo? [...] Que ella seja escripta em qualquer lingua pode admittir-se. [...] mas o nome da espcie s com o nome do autor e nada mais, no pode ser. Como poder ser essa espcie conhecida por quem no visse a planta sobre a qual o botanico fundou a espcie? Com relao ao latim poderia citar-lhe o que escreveu o grande botanico Aff. De Candolle. A lingua latina [...] de facil compreenso. Todos os naturalistas o entendem. Descriptas as espcies em latim seriam entendidas por todos. [...] A grande maioria dos botnicos fazem as diagnoses em latim, e completam ou ampliam na lingua que falam, como h-de ter visto. J. Henriques termina o raciocnio, escrevendo, acertadamente, V pois que aquela determinao no rabulica e muito menos picuinhas, um principio j anteriormente seguido, e sabendo que G. Sampaio no concordava com todas as regras e

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algumas no as cumpria, diz taxativamente, recorrendo sua senioridade que No seu herbrio h alguns nomes que deveriam ser substituidos. 3. G. Sampaio e a nomenclatura botnica G. Sampaio discordava de algumas das regras do Cdigo de Viena. A sua discordncia aparece formalizada e aplicada pela primeira vez na sua obra monumental Lista das espcies representadas no Herbrio Portugs publicada em 1913 e seus trs apndices, publicados no ano seguinte (SAMPAIO, 1913b, 1914a, 1914b, 1914c). Trata-se de uma listagem de todas as espcies de plantas vasculares na altura existentes no Herbrio da Faculdade de Cincias, com os nomes de acordo com as suas regras de nomenclatura190. Que regras discordantes apresentava G. Sampaio?191 A. Para os nomes de gneros, restringir o princpio da prioridade a nomes que tenham sido usados na criao de binmios. Um nome de um gnero s se torna vlido quando for utilizado na

Existe um caderno manuscrito de G. Sampaio que sugere que a elaborao destes trabalhos publicados em 1913-1914 teria comeado em 1910. Este caderno manuscrito tem escrito na capa: Riviso dos gneros da Flora portugueza por Gonalo Sampaio, Porto, Setembro 1910. Na contra-capa, o seguinte texto: Nota Este livro um simples borro, onde so lanadas diversas notas no ordenadas e sem redaco de carcter definitivo. Nas primeiras pginas esto escritas as Regras da nomenclatura dos gneros seguidas nesta reviso. As regras enunciadas em seguida so as que adoptaria nas Listas das espcies. Muitas pginas esto em branco, outras esto preenchidas. Em cada pgina, G. Sampaio discute dois gneros. Existem muitas rasuras. A tinta e a caligrafia variam ao longo do manuscrito. assim provvel que este tenha sido um caderno de apontamentos e rascunhos para a elaborao das Listas das espcies. 191 Quando G. Sampaio volta a propor alteraes ao Cdigo, no Congresso do Porto de 1921, ir insistir na primeira e quarta destas regras. O carcter moderador e clarificador da primeira destas regras incontestvel. A aplicao da primeira e quarta destas regras contribuiriam, sem dvida, para uma maior coerncia interna e carcter orgnico do cdigo. No entanto no foram incorporadas no Cdigo de nomenclatura botnico oficial. Em diversas cartas dirigidas a A. Ricardo Jorge, G. Sampaio exprimiu a inteno de tambm aplicar nos lquenes as suas regras pessoais de nomenclatura. Numa carta datada de 23 de Agosto de 1918, escrevia: Depois que vim de Coimbra no peguei mais em liquenes e apenas tratei, em junho, da sua nomenclatura, que tenho quasi toda revista, de harmonia com as minhas regras (BN A/2027). Alguns meses depois, numa carta com data de 12 de Dezembro, escrevia: Estou na disposio de publicar a Lista do Herbario portugues II Lichenes com a inumerao do que aqui tenho classificado. Era bom, portanto que o meu amigo publicasse primeiro as suas descobertas para eu inumeralas tambm. Porque no publica j um trabalhinho com o titulo Lichenes novos ou raros de Portugal ou coisa semelhante? Creio que era interessante (BN A/1989).

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formao de um binmio especfico, em data posterior a 1753192. No entanto, o autor original do nome do gnero deve manter-se193. B. Tornar vlidos sinnimos, quando o nome correcto, por qualquer motivo, deixar de ser vlido. C. Admitir como vlidos nomes criados sem diagnose (nomem nudum), desde que haja a certeza do grupo a que se refere e realize as outras condies exigidas. Para G. Sampaio, sobre um nomem nudum ha por vezes muito maior segurana que sbre o de muitos outros que apareceram acompanhados de diagnoses imperfeitas. D. No aceitar excepes s regras, como os nomes conservados. Quais as reaces dos seus colegas botnicos a estas regras de nomenclatura originais? B. Merino numa carta dirigida a G. Sampaio datada de 23 de Maro de 1914, em papel timbrado do Colegio del Apostol Santiago, La Guardia, reconhecia a importncia desta tarefa acometida por G. Sampaio, escrevendo que Ante todo le doy mil y mil gracias por el donativo del Herbario Portugus que supone una copiosa Biblioteca y un trabajo mprobo para compulsar las fechas de las especies primeramente binomiadas. Ha tenido V. un arranque de valor al acometer V. tal empresa de reforma que pocos se atreven llevar trmino, a pesar de todos los Congresos. Yo quise hacer algo en algunos generos como el Clinopodium pero desist luego por resultar una innovacin radical y por no disponer de suficientes medios de consulta. Le doy, pues, mi mas calurosa en hora buena, y ojala tenga V. muchos imitadores entre los botanicos presentes y futuros. Estas listagens tinham tambm o grande mrito de restabelecer alguns binmios criados por Brotero, Link e Hoffmansegg, que tinham prioridade e eram vlidos, mas que tinham entrado no esquecimento pela publicao, por outros botnicos, de nomes novos (mas que afinal eram sinnimos

As normas utilizadas pelos botnicos nas instituies alems tambm previam excepes para os nomes de gneros. No caderno manuscrito de 1910 que referimos em nota anterior (Riviso dos gneros), esta regra aparece formalizada da seguinte forma: Em botanica, s so validos os nomes genericos depois de empregados em nome binario especifico a partir de 1753, isto , da poca em que foi publicado o Species plantarum de Lineu (1.a edio). Em nomenclatura binria, um nome genrico s considerado como vlido desde que tenha entrado na formao de um binome especfico em data no anterior publicao da 1.a edio do Species plantarum de Lineu (1753). Ex. Alisma Dill. [1735] s se tornou valido para nomenclatura binria em 1753, com Lineu que o binomizou [com a criao de A. plantago e A. ranunculoides, nomeadamente]. Portanto, para G. Sampaio, os nomes de gneros em que no se definem espcies no so vlidos. 193 No caderno manuscrito de 1910 que referimos em nota anterior (Riviso dos gneros), esta regra aparece formalizada da seguinte forma: Mas a propriedade dos nomes conserva-se at Rivinius. Pela aplicao desta regra, nas Listas das espcies, G. Sampaio ir conferir a autoria de Rivinius a gneros como o Arum e a autoria de Tournefort nomeadamente a Polypodium, Adiantum, Osmunda, Ophioglossum, Equisetum e Taxus. O gnero Alisma citado em nota anterior tem a autoria de Dillenius. No mni-cdigo de nomenclatura de 1921, G. Sampaio ir manter este princpio, mas alterar a sua formalizao escrita.

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de acordo com as regras do Cdigo de Viena). A. Thellung194, num bilhete-postal dirigido para G. Sampaio, endereado de Zurique, com a data de 7 de Outubro de 1913, comeava por reconhecer a qualidade do trabalho, mas no concordar com as quatro regras nomenclaturais discordantes enunciadas por G. Sampaio, Aprs avoir tudi de plus prs votre important travail Lista das espcies representadas no Herbrio Portugus, je vois que vous avez labor la nomenclature des espces, dune manire rgulire, fidlement aux principes exposs dans lavant-propos. Les diffrences dans les dnominations des plantes, que existent entre vous et moi, sont donc de nature principielle, de sorte que toute discussion devient inutile. Seguidamente, questiona concretamente sobre uma espcie, pedindo Auriez-vous, cher Monsieur, la grande obligeance de me dire ou Link a publi en 1806 son Orchis sulphurea, et si ce nom a t publi, valablement daprs les rgles internationales ? Nous ne possdons ici presque point douvrages sur la flore portuguaise. De facto, G. Sampaio havia considerado, correctamente de acordo com as regras de Viena, Orchis sulphurea Link 1806, como o nome vlido, e Orchis pseudo-sambucina Ten. 1815, como sinnimo, dado que tinha sido publicado posteriormente. Logo no dia seguinte, A. Thellung escreve um outro bilhete-postal com mais dvidas nomenclaturais relativas a outros dois gneros. No bilhete datado de 8 de Outubro de 1913, A. Thellung perguntava Excusez-moi si je madresse encore vous avec deux questions : 1o. Je ne trouve nulle part la citation du Lythrum meonanthum Link que vous donnez comme nom valable pour le L. Graefferi Ten ; auriez-vous la bont de me la faire tenir ? 2o. lidentit du Silene laxiflora Brot. (1804) avec le S. micropetala Lag. (1816), et celle du S. scabriflora Brot. (1804) avec le S. hirsuta Lag. (1805) sont elles incontestables ? Vous nignorez pas, sans doute, que le S. laxiflora est rapport por Rohrbach (Monogr. Sil. [1865] p. 102), avec doute il est vrai, au S. hirsuta Lag., tandis que le S. scabriflora Lag. est rapporte par le mme auteur (p. 111) au S. pendula (daprs la planche 72 du Phytogr. Lusit.) ; il est toutefois possible que Rohrbach nait pas eu louvrage de Brotero la main. Tratava-se mais uma vez de desconhecimento ou falta de acesso s obras de Link e Hoffmansegg e tambm de Brotero, onde tinham sido descritas as espcies Lythrum meonanthum, Silene laxiflora e S. scabriflora. Rohrbach era uma autoridade botnica, como podia desconhecer a flora portuguesa? Todavia, G. Sampaio tinha razo nestas questes. Ter respondido ao seu colega
A troca de correspondncia com A. Thellung seria descrita por G. Sampaio em carta que escreveu a A. Ricardo Jorge, datada de 2 de Dezembro de 1918: Estou a braos com a reviso dos autores dos binomes especificos. O meu livrinho Herbario portuguez deu no gto l fora e provocou uma correspondncia especial entre mim e varios nomenclaturistas. A pedido dalguns deles vou expor as minhas doutrinas num artigo em francez. Com Thellung, de Zrich, que eu creio ser o maior nomenclaturista moderno e que um seguidor rigoroso das regras internacionais de Vienna, tenho tido longa correspodencia com respeito a certos nomes. Est hoje em completo acordo comigo em todos esses pontos e tem feito do meu trabalho uma apreciao que deveras me orgulha (BN A/2018). Todavia o artigo que G. Sampaio refere no foi publicado, nem existe no seu esplio seu rascunho ou manuscrito.
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suo explicando as suas razes, que o convenceram. Poucos dias depois, num bilhete-postal datado de 5 de Novembro de 1913, A. Thellung, escrever Veuillez vous agrer mes plus vifs remerciements pour les renseignements prcieux que vous avez bien voulu me donner sur les Orchis sulphurea Lk., Lythrum meonanthum Lk., Silene scabriflora Brot. et S. laxiflora Brot. Je partage entirement votre avis que Orch. sulph. et Lythr. meom. sont valablement publis et doivent remplacer les noms respectifs de O. pseudosambucina Ten. et L. Groefferi Ten. Quant aux deux Silene, veuillez bien excuser les doutes que jai prononces (sans aucune raison srieuse, il faut en convenir) ; toutefois, avant daccepter un changement de la nomenclature admise par Rohrbach, je dsirais tre entirement rassur !. Pelas razes que so expostas ao longo deste trabalho, consideramos estas listas como uma das obras mais importantes de G. Sampaio, pela sua original e inovadora contribuio s regras da nomenclatura botnica e pelo trabalho de re-avaliao das floras de Brotero, e de Link e Hoffmansegg195. G. Sampaio tambm as consideraria como peas fundamentais da sua produo cientfica e que iriam marcar o resto da sua vida. Numa carta dirigida a A. Ricardo Jorge, datada de 16 de Maio de 1913, escrevia G. Sampaio: Se demorar posso mandar-lhe para ahi ou para onde me indicar, um trabalho que est a imprimir e que o h de interessar bastante, creio eu. Vai nlle toda a minha pouco sciencia, mas vai toda. Deve deitar cerca de 100 paginas e deve ficar em impresso este mez, sem falta (BN A/2012). 4. O Congresso do Porto de 1921 e a nomenclatura botnica As questes da nomenclatura botnica sero retomadas por G. Sampaio alguns anos mais tarde, no Oitavo Congresso da Asociacin Espaola para el Progreso de las Ciencias (realizado conjuntamente com o Primeiro Congresso da Associao Portuguesa para o Progresso das Cincias),

No esplio documental de G. Sampaio existem diversos volumes encardenados destas Listas das espcies anotados por G. Sampaio. So documentos valiosos para uma compreenso aprofundada do pensamento de G. Sampaio em relao nomenclatura botnica. Um dos exemplares tem escrito na capa Nomenclatura do Congresso de Viena e na contra-capa Com as correces apontadas pena, a nomenclatura fica inteiramente de harmonia com as regras do Congresso de Viena dAustria. G. Sampaio. As folhas esto extensivamente anotadas. Corresponderiam s alteraes que seria necessrio realizar nas listas para a nomenclatura se adaptar s regras ento em vigor. Os autores pr-lineanos como Dillenius, Micheli, Monti, Rivinus, Royen, H. B. Rupp e Tournefort, esto riscados e substitudos por Lineu. Diversos gneros esto riscados e substitudos por outros. Outro exemplar tem escrito na capa Gneros e na contra-capa Gonalo Sampaio, 1914, Porto. Numa das pginas em branco escreveu: Nomes de gneros que adopto contra as leis do Congreso de Vienna seguida de uma lista com sete nomes. As folhas esto extensivamente anotadas. Na maioria dos nomes dos gneros, G. Sampaio acrescentou a data da publicao a seguir ao nome do autor, como que a explicitar e justificar a escolha do nome genrico de acordo com as suas regras. Estes seriam cadernos de trabalho de G. Sampaio.

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que decorreu no Porto de 26 de Junho a 1 de Julho de 1921196. A sesso de abertura do congresso foi realizada no Teatro de So Joo, no dia 26 de Junho de 1921, tendo o discurso inaugural sido proferido por Gomes Teixeira, Reitor honorrio da Universidade do Porto. Os discursos da inaugurao das seces foram tambm lidos no dia 26 de Junho de 1921. Na 4. seco, Cincias Naturais, o discurso inaugural foi proferido por G. Sampaio e focou precisamente a Reviso das regras da nomenclatura botnica (SAMPAIO, 1921c). G. Sampaio comea por afirmar que no Congresso de Sevilha tinha sido encarregado de estudar e propor uma reviso das regras da nomenclatura botnica ento em vigor, as aprovadas no Congresso de Viena em 1905197. De seguida salienta que as questes de nomenclatura biolgica teem uma importncia fundamental, porque existem muitas centenas de milhar de espcies conhecidas, e os bilogos e paleontlogos necessitando de designar todos esses grupos, criam naturalmente uma linguagem to opulenta pela quantidade de nomes que, a no ser racionalmente estabelecida e precisamente regrada o mais metdica, o mais uniforme, o mais mnemnica e o mais simples possvel tornar-se-ia uma babel na scincia, em vez de ser, como deve ser, um claro meio de compreenso. Para G. Sampaio, a maior dificuldade, na poca, residia na nomenclatura dos gneros. Faz uma breve histria do conceito de gnero. Refere a formulao pioneira de Gesner, so do mesmo gnero as plantas que teem organizao floral idntica e so de gneros diferentes as que a teem diversa, de seguida a formulao de Tournefort, fazendo em certos casos intervir [...] as caractersticas dos orgos de nutrio. Segundo G. Sampaio, Lineu adoptou a formulao gesneriana, refundindo grande nmero dos gneros de Tournefort e de Ray, mudando discricionariamente as denominaes de outros, sem respeito pela prioridade, e transferiu o
G. Sampaio ser um dos organizadores deste Congresso, que contribuir para o seu prestgio internacional. Naturalmente ocorreram precalos na sua organizao. A estes, G. Sampaio faz meno, numa carta que escreveu a A. Ricardo Jorge, datada de 24 de Maro de 1921. Escrevia, no seu tom habitual de contundncia implacvel e auto-confiana: Imagine que h dias recebeu-se dahi uma espcie de oficio quasi impondo o adiamento do Congresso e assignado pelo Celestino, pelo Palhinha, pelo Pedro da Cunha e outros! Como se fosse possivel, depois de tanto dinheiro recebido, e gasto, e depois de fixada a data com os nossos convidados espanhois, fazer uma coisa dessas! Alegam falta de tempo para apresentarem trabalhos e a nossa inferioridade perante os espanhois! Falta de tempo para um congresso fixado, para junho, ha dois annos! Falta de tempo para eles, como se para os outros no fosse o mesmo tempo! Inferioridade perante os espanhois, como se o adiamento por alguns mezes fosse capaz de nos tornar superior a elles, dado o caso que lhe sejamos inferiores! O Congresso far-se- e ser honroso para ns, assim como para os espanhois. Se em vez de serem empatas fossem trabalhadores, melhor fariam e mais concorreriam para fazermos boa figura. [] P. Script Desejo ter nas salas de Botnica, pelas paredes, os retratos de todos os que teem publicado trabalhos originais sbre a flora portugueza. Mande-me o seu e o mais depressa possivel. Eu desejaria ter tambem o do dr. Pereira Coutinho, mas certamente le no o querer ceder, por embirrar comigo, embora a crtica que eu faa aos seus trabalhos no ser inspiradas seno pelo interesse pela verdade scientifica. No entanto, reconheo que le deveria figurar na galeria, como o Mariz, o dr. Jlio, etc. Se tiver algum retrato dele publicado em qualquer revista mande-mo, desde que lhe parea que isto bem [] (BN A/2097). 197 G. Sampaio referiu-se sua deslocao a Sevilha para assistir a este congresso num bilhete-postal que escreveu a A. Ricardo Jorge, datado de 27 de Abril de 1917: No dia 3 parto daqui para Sevilha, para assistir ao Congresso que abre no dia 6 (BN A/2079).
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significado de muitos, creando assim uma homonimia extremamente perturbadora da claresa e da tradio. G. Sampaio abre aqui um parntesis para fazer um breve historial das regras da nomenclatura botnica, terminando com as primeiras regras formais de nomenclatura botnica que foram aprovadas no Congresso de Viena em 1905 e que estavam em vigor data do Congresso do Porto em 1921. Levanta ento a questo de saber se as regras em vigor permitiam obter uma satisfatria uniformidade na nomenclatura dos vegetais. G. Sampaio formula ento a sua opinio relativa ao princpio da prioridade, concentrando-se nos nomes dos gneros. Aceita o princpio da prioridade aps 1753, mas, para G. Sampaio, o princpio da prioridade nos nomes genricos no deve ser absoluto. Sintetiza dizendo que se deve aceitar como regra que os nomes genricos no binomizados so preteridos pelos sinnimos empregados em binomes. G. Sampaio mantinha portanto em 1921 a sua regra discordante j exposta nas Lista das espcies de 1913-1914198. De seguida, aborda, na sua conferncia, o que chama a separao da validao da autoria dos nomes dos txones. Assim, por exemplo, o gnero Carlina foi criado por Ray, mas validado por Lineu. Para G. Sampaio, Lineu no foi o autor do nome, mas simplesmente validou-o. Para G. Sampaio, Ray deveria continuar a ser autor do gnero. G. Sampaio prope que ento este gnero seja designado por Carlina Ray (L.)199. Chama a ateno para o facto de, apesar da genialidade de Lineu, os gneros e as espcies que este naturalista descreveu originariamente so em nmero muito reduzido. Para G. Sampaio, o facto de muitos nomes terem a autoria de Lineu, resulta de, 1. ter passado forma binria um elevadssimo nmero de designaes polinmicas dos antigos, 2. de ter mudado arbitrariamente os nomes de vrios gneros, assim como os de muitas espcies j designadas binariamente, 3. de lhe serem indevidamente atribuidos muitos nomes que le no creou mas apenas adoptou. Na parte final do seu discurso, G. Sampaio ir ainda fazer uma importante observao. Referindo-se s regras ento em vigor (aprovadas no Congresso de Viena em 1905), dir que essas regras no conseguiram ainda impr-se, em 16 anos, a uma considerao tal dos botnicos que possa dar esperanas de vir a ser quasi geral; muitos so os que as no seguem, por desacrdo com algumas das suas disposies e, de seguida, em tom sarcstico, e em Portugal e Hespanha no conheo um nico que as pratique, embora alguns possam haver que delas se julguem partidrios, e, a seguir, pela minha parte j em 1913 apliquei s vasculares portuguesas uma nomenclatura que, embora pouco afastada da de Viena,

G. Sampaio manter sempre esta opinio. Em 1931 publica mesmo um trabalho (SAMPAIO, 1931a) exclusivamente dedicado questo da nomenclatura dos gneros, em que aplica as suas regras. 199 G. Sampaio mantinha portanto a regra das Listas das espcies mas suaviza a sua apresentao. Nas Listas das espcies, nos gneros pr-lineanos, G. Sampaio s tinha colocado o autor original. Agora sugeria a adio de Lineu como validador.

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todavia pautada nos casos divergentes por princpios que julgo preferveis. Termina dizendo que ao actual Congresso, onde no faltam autoridade, competncia e patriotismo para promover a preparao de um Cdigo hispano-portugus de nomenclatura botnica. As propostas de G. Sampaio seriam formalizadas sob a forma de 9 artigos, a que poderemos chamar de mini-cdigo de nomenclatura botnica e aprovadas no dia 1 de Julho de 1921, numa reunio da subseco de Cincias Biolgicas do Congresso (VOTO, 1922). Que alteraes ao Cdigo de Viena eram propostas por G. Sampaio?200 As que tinha enunciado no seu discurso de abertura. No artigo 1. afirmava-se que a data do incio da publicao vlida no podia ter excepes: para cada tipo ou grupo taxonmico s se pode adoptar em ciencia uma nica designao (nome ou binome), a qual ser sempre a primeira publicada, a partir de 1753, com as condies de validade exigidas pelas regras. A palavra sempre est em itlico no texto, pretendendo assim reforar o seu significado. No eram portanto admitidos os nomes conservados. No artigo 3. restringia-se a prioridade dos nomes dos gneros: os nomes genricos no se podem considerar vlidos antes de serem empregados na constituio de binomes especficos, a partir de 1753. No artigo 8. reconhecia-se que o autor de um binome era o primeiro que o utilizava. O validador de um binome no era necessariamente o seu autor. Lineu utilizou muitos nomes criados por botnicos que o precederam. Para respeitar e homenagear os verdadeiros autores dos binomes, devia-se indicar, aps o binome, o autor original, seguido de Lineu entre parntesis. Quais as reaces dos seus colegas botnicos a estas propostas de alteraes das regras nomenclaturais? C. L. Pereira, numa carta dirigida a G. Sampaio, datada de 29 de Julho de 1921, escreve que tinha lido com muito prazer o discurso de V. Exa. e achei inteiramente razoaveis as regras da nomenclatura apresentada. Felicito-o por ter conseguido descobrir um meio pelo qual os naturalistas da peninsula se possam intender. Como vae acabar de publicar a sua excelente flora, era muito conveniente indicar, em appendice, as correces a fazer em virtude das regras adaptadas no congresso. Isto era muito util, porque s com as regras adoptadas no congresso, quem no tiver uma boa livraria fica a ver navio. J. Henriques era muito mais reservado e numa carta datada de 6 de Agosto de 1921, sem entrar em polmica sobre o assunto propriamente dito, escrevia que O seu projecto de modificaes das leis da nomenclatura botanica ter de ser discutido e resolvido em

200 A inexistncia de nomes conservados e a quebra da prioridade dos gneros binomeados no sero incorporadas no Cdigo oficial. interessante que nenhum dos artigos se referia publicao e diagnose. Teria G. Sampaio mudado de opinio, ou, prevendo que seria um assunto em que encontraria um desacordo generalizado, tinha decidido no o mencionar neste mini-cdigo?

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qualquer congresso geral. Convem que haja um codigo [...] para que todos o sigam. J o codigo americano forma partido. Mau ser que o exemplo seja seguido. O Cdigo de Viena estabelecia como incio da publicao vlida a obra monumental de Lineu. Mas esta era relativamente pobre em fungos. Durante anos se discutiu qual deveria ser a obra que marcasse o incio da publicao nestes outros grupos vegetais. O Cdigo de Nomenclatura actual estabelece que, para as Uredinales, Ustilaginales e Gasteromycetes, a obra de Persoon - Synopsis Methodica Fungorum, publicada em 1801 e para os restantes fungos, o Systema Mycologicum de Fries, publicado em 1821. R. G. Fragoso, em carta dirigida a G. Sampaio datada de 16 de Maro de 1923, focalizada em questes de nomenclatura, j manifestava a opinio sensata de que deveria ser a obra de Persoon o ponto de partida para a publicao vlida, dado ser, para este grupo de fungos, a primeira obra de grande vulto publicada e escarnecia sobre as rivalidades entre os taxonomistas botnicos desta forma: Volviendo el acento de la nomenclatura, hay en efecto algo de blague, pues los acuerdos de los Congresos de Viena y Bruxelas no se respectan ni aun por los mismos que firmam los dictmenes, mas que cuando los conviene. Hay una sola regla no escripta ni adoptada, pero que se sigue bien: cada auctor da preferencia los auctores de su pais, y arregla la prioridad para que asi resulte. En Micologia debe partir de Persoon. Segn el acuerdo de Bruxelas, pero esto es as en tanto conviene los alemanes que lo propusieron. Los italianos no lo aceptan, la prioridad para ellos parte de Saccardo, para otros de Linneo, y para nosotros se deberia de partir de Brotero, Lagascas, Cavanilles, etc., siguiendo el mal ejemplo.

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XIII. Gonalo Sampaio: uma anlise retrospectiva da sua obra 1. Cronologia A obra reflecte o homem. G. Sampaio transmitiu muito dos seus mtodos de trabalho, observaes e at sentimentos, ao escrever as suas publicaes cientficas. A vida, a docncia e a investigao de G. Sampaio encontram-se naturalmente espelhadas nas obras que publica201. Dividimos a sua produo cientfica em quatro perodos, que correspondem a diferentes contedos e nveis de elaborao cientfica e tambm a fases da vida do investigador portuense: 1895-1908; 1909-1915; 1916-1923; 1924-1937; e ainda obras pstumas. Neste captulo analisaremos em pormenor a produo cientfica em cada um destes perodos202. 2. 1. Perodo: 1895-1908 Este perodo delimitado pelo primeiro trabalho que G. Sampaio publica, em 1895 (SAMPAIO, 1895) e a Flora Vascular de Odemira, publicada em 1908 (SAMPAIO, 1908). O primeiro trabalho muito particular. G. Sampaio tinha acabado de frequentar a Academia durante trs anos. Dedica o trabalho ao seu professor de Botnica, M. Amandio Gonalves. Apesar de simples, revela uma invulgar apetncia para a taxonomia vegetal. Ter sido esta paixo precoce a responsvel pelo seu abandono do curso que frequentava na Academia? Agrupando os trabalhos restantes pelo seu contedo e estilo, temos: A. Uma srie de quatro trabalhos que intitula Estudos de flora local. Vasculares do Porto (SAMPAIO, 1896a, 1896b, 1897a, 1897b) e uma srie de seis trabalhos que intitula Plantas novas para a Flora de Portugal (SAMPAIO, 1899b, 1899c, 1900b, 1900c, 1903a, 1903b). B. As Notas criticas sobre a flora portugueza (SAMPAIO, 1905e) e a discusso de Ranunculus gregarius Brot. (SAMPAIO, 1907). C. Diversos trabalhos monogrficos sobre alguns txones da flora portuguesa: Primulaceae (SAMPAIO, 1899a), Echium (SAMPAIO, 1900a), Mentha (SAMPAIO, 1901a), Spergularia (SAMPAIO, 1904d), Romulea (SAMPAIO, 1905b), Epilobiaceae (SAMPAIO, 1905c) e Digitalis (SAMPAIO, 1905d). D. Vrios trabalhos sobre o estudo dos Rubus portugueses (SAMPAIO, 1899b, 1903a, 1903b, 1904a, 1904b, 1904c, 1904e, 1905a). E. Pequenas floras regionais: Torro (SAMPAIO, 1901b) e Odemira (SAMPAIO, 1908). F. A primeira listagem das espcies presentes no Herbrio da Academia Criptogmicas (1902). Como se podem caracterizar estas seis linhas de publicao?
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MORAIS (1937) e PIRES DE LIMA (1942) publicaram listas bibliogrficas completas das obras de G. Sampaio. Seguimos no presente trabalho as referncias bibliogrficas contidas nestes dois trabalhos. 202 Este captulo pretende ser um complemento e a todo o momento estabelecer o dilogo, com os captulos anteriores.

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2A. As seis publicaes da srie Plantas novas seguem um figurino afim: anlise e discusso crtica de espcies e variedades novas da flora portuguesa. A justificao e o conceito deste tipo de trabalho so explicitados na introduo ao primeiro trabalho, publicado em 1899: apezar dos numerosos trabalhos monographicos publicados nos ultimos annos sobre quasi todas as familias da flora portugueza [...] bastantes especies e variedades [...] necessitam ainda de ser inscriptas no catologo das plantas que constituem a nossa rica e interessante vegetao. No intuito, pois, de attenuar um pouco este incompleto de simples inventario, aponto seguidamente algumas dessas frmas omissas. O seu programa de trabalho era estudar essas frmas omissas, e que se encontram archivadas quer na minha colleco particular [203], quer no hervario da Academia Polytechnica. So umas colhidas por mim em diversas exploraes feitas desde ha quatro annos [204] para c; outras, porm, foram descobertas pelo sr. Joaquim Tavares, empregado do Jardim Botanico do Porto, em data anterior publicao dos referidos trabalhos. Nas suas herborizaes dos primeiros anos, E. Johnston205 era companheiro frequente de G. Sampaio. Encontramos agradecimentos explcitos ao trabalho do colega amador. G. Sampaio escreve no trabalho de 1899 ao referir a descoberta da Viola collina Bess.: foi na volta de um pequeno passeio botanico com o meu amigo Edwin Johnston que encontrei [...]. Para a elaborao destas seis publicaes no parece existir um plano prvio ordenado de estudo da flora portuguesa. O estudo de determinados txones deriva primariamente do material recolhido em herborizaes. D portanto prioridade a txones novos ou mal conhecidos, em detrimento do estudo sistemtico, sequencial e organizado da nossa flora206. Ao estudar os exemplares recolhidos nas herborizaes, verificar que alguns pertencem mesmo a espcies ou variedades novas para a cincia. Descreve ento estes txones novos, apresentando geralmente uma diagnose em latim. Um deles, Teucrium Luisieri Samp.207, dedicado a A. Luisier: foi seu descobridor o snr. Alphonse Luisier, do Collegio de S. Francisco de Setubal, a quem devo a amabilidade de remeter-me os exemplares sobre os quaes estabeleci a presente diagnose208.

A designao expressa da sua colleco particular separada do Herbrio da Academia interessante. Onde guardava G. Sampaio o seu herbrio? 204 Portanto G. Sampaio ter iniciado as suas herborizaes em 1895. Ter comeado a herborizar quando deixa de frequentar a Academia? 205 Ver Captulo III.3. 206 Ver Captulo IX.6. 207 Em publicaes posteriores (SAMPAIO, 1905e, 1921b), G. Sampaio ir considerar esta espcie como uma variedade de Teucrium Haenseleri Bois. - Teucrium Haenseleri var. Luisieri (Samp.) Samp. 208 Este ser o incio de uma longa e frutuosa colaborao entre G. Sampaio e os jesutas botnicos fundadores da revista Broteria. Ver Captulo VI.6.

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No trabalho de 1899, ao descrever vrias espcies (Viola collina Bess., Lychnis diclinis Lag.), podemos constatar que G. Sampaio as cultivava no Jardim Botnico e Experimental da Academia209. A cultura da Viola collina Bess. era importante porque as flores de fevereiro so estereis, odoriferas, com as petalas de um azul lilacineo [...]; as de maro, pelo contrario, so ferteis e apetalas. 2B. As Notas criticas um dos trabalhos de G. Sampaio publicados em revista, de maior flego e envergadura210. Trata-se de um trabalho extenso onde discute 113 espcies e variedades da flora portuguesa. Pela quantidade de informao nele contida revela enorme esforo de trabalho de investigao bibliogrfica e de herbrio. No curto trabalho sobre o Ranunculus gregarius Brot., G. Sampaio segue o formato das Notas criticas. Nestes trabalhos, G. Sampaio estuda e discute, em pormenor, um conjunto de espcies e variedades da flora portuguesa, sem seguir uma ordem determinada. No entanto, enquanto que nas Plantas novas, G. Sampaio debrua-se exclusivamente sobre txones novos para a flora portuguesa, nestas Notas criticas vai abranger tambm txones mal conhecidos, confusos na bibliografia, incorrectamente sinonimiados. Uma das contribuies mais importantes de G. Sampaio para o conhecimento e estudo da flora portuguesa a anlise crtica das obras fundamentais de Brotero, Link e Hoffmansegg211. Ao estudar em pormenor as obras clssicas destes botnicos, G. Sampaio presta um grande servio botnica portuguesa, sem o qual uma parte destas obras se teria tornado inutilizvel e caria no esquecimento. De que forma contribui G. Sampaio para uma reavaliao das obras destes botnicos? . Demonstrando a prioridade de vrias espcies broterianas e de Link e Hoffmansegg em relao a propostas posteriores. Para G. Sampaio, Silene scabriflora Brot. tem prioridade em relao a Silene hirsuta Lag. e Anthoxanthum amarum Brot. tem prioridade relativamente a Antoxanthum odoratum var. majus de Haeckel. . Mostrando interpretaes erradas de espcies broterianas por botnicos posteriores. Para G. Sampaio, a planta designada de Saxifraga umbrosa L. por De Candolle no volume IV do seu Prodromus era efectivamente a Saxifraga spathularis Brot.

Ver Captulo III.6. Este trabalho e a monografia sobre os Rubus portugueses, ambos de 1905, culminou de forma excepcional, 10 anos de trabalho. O rigor e a maturidade cientfica destes trabalhos revelam que G. Sampaio evoluiu rapidamente no domnio da taxonomia vegetal e do conhecimento da flora portuguesa. O estilo de rigor, mincia e s vezes aspereza crtica e contundncia delineado nestas Notas criticas vai ser o formato tpico de G. Sampaio, que utilizar nos trabalhos que publica no perodo de 1924-1937. 211 Este parece ser o principal desiderato das Notas criticas e da Note sur Ranunculus gregarius, Brot. e manter-se- uma constante a partir daqui. Ver Captulo IX.6.
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. Reavaliando a posio taxonmica de txones broterianos. G. Sampaio prope elevar categoria especfica Cotyledon umbilicus var. praealta Brot., designando-a de Cotyledon praealtus (Brot.) Samp. . Restaurando espcies broterianas. Lineu designou de Narcissus triandrus uma planta que possue normalmente 6 estames, 3 dos quaes so por vezes muito pequenos e pouco visiveis. Esta espcie foi designada por Brotero de N. reflexus. Para G. Sampaio o nome lineano no deve sustentarse porque redundamente falso e improprio para as caractersticas que a planta apresenta. A designao broteriana mais adequada morfologia da planta, pelo que o nome lineano deve ser substitudo pela designao broteriana. . Indicando imprecises cometidas nestes trabalhos. Para G. Sampaio, Brotero designou como Lythrum hyssopifolium L. uma planta que de facto o Lythrum meonanthum Link. Naturalmente que numa flora que se encontrava mal estudada, o seu estudo minucioso revelava txones novos para a cincia. Assim como nas Plantas novas, tambm destas Notas criticas resultaram txones novos para a cincia, diversas espcies e variedades. Infelizmente, ao contrrio do que tinha feito nas Plantas novas, apresenta a diagnose dos txones novos no em latim, mas em portugus212. Assim como nas Plantas novas, vai escolher, para as espcies novas, eptetos que homenageiam personagens que considerava relevantes para o seu trabalho e para a botnica portuguesa: Brassica Johnstoni Samp., em homenagem a Edwin Jonhston; Conopodium Marizianum Samp.213, em homenagem aos grandes conhecimentos botanicos e notaveis qualidades de trabalho do meu amigo e illustre naturalista da Universidade de Coimbra dr. Joaquim de Mariz, a quem se devem numerosas e importantes monographias sobre a flora phanerogamica do nosso paiz; Loeflingia Tavaresiana Samp., dedicada ao meu amigo P. Joaquim da Silva Tavares, professor do Collegio de S. Fiel e distincto naturalista bem conhecido pelos seus estudos sobre as zoocecidias de Portugal; Seseli Peixoteanum Samp.214, em homenagem ao meu particular amigo e illustre publicista [...] Rocha Peixoto, distincto naturalista de mineralogia na Academia Polytechnica do Porto e auctor de consideraveis trabalhos sobre a ethnographia do povo portuguez; Spergularia Nobreana Samp.215, em homenagem ao meu particular amigo Augusto Nobre [pelo] valor scientifico deste distincto naturalista de zoologia na Academia Polytechnica do Porto, bem conhecido pelas numerosas
Apesar do actual Cdigo de Nomenclatura considerar como validamente publicados estes txones, o Cdigo de Viena de 1905, na altura em vigor, exigia a publicao de uma diagnose latina e mesmo antes j esta era a prtica corrente dos taxonomistas. 213 Em SAMPAIO (1946) ser considerada como Bunium flexuosum ra. Marizianum (Samp.) Samp. 214 Em SAMPAIO (1913b) ser designada de Seseli granatense var. Peixoteanum (Samp.) Samp. 215 Em SAMPAIO (1909a) ser considerada como Spergularia media ra. Nobreana (Samp.) Samp.
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publicaes sobre a fauna do nosso paiz e colonias; Veronica Carquejeana Samp.216, dedicada ao ex.mo sr. Bento Carqueja, illustre professor da Academia Polytechnica que muito se tem interessado a favor do desenvolvimento dos gabinetes de Historia Natural deste estabelecimento scientifico. O curto trabalho sobre o Ranunculus gregarius Brot., exemplifica bem estes diferentes aspectos da reavaliao da obra broteriana. Brotero descreve uma espcie de Ranunculus que designa de R. gregarius Brot., uma espcie endmica da pennsula ibrica. Autores posteriores propuseram espcies novas como Ranunculus olysiponensis Pers., Ranunculus hollianus Rchb. e Ranunculus escurialensis Bss. & Reut., que de acordo com G. Sampaio so variedades da espcie broteriana e portanto no so vlidas como espcies autnomas. No entanto, para G. Sampaio, Brotero ter-se-ia enganado ao designar de Ranunculus dimorphorhizus uma planta que era o Ranunculus flabellatus Desf. G. Sampaio restaura a espcie broteriana e transforma as espcies posteriores em variedades da espcie broteriana. 2C. Neste perodo, G. Sampaio publica tambm estudos monogrficos sobre alguns gneros e famlias da flora portuguesa. Que mtodo de trabalho usa G. Sampaio na abordagem destes estudos monogrficos? G. Sampaio segue o seguinte esquema metodolgico sequencial: . Percepo de txones da nossa flora confusos, problemticos ou mal conhecidos. . Herborizaes e acumulao de material de herbrio. . Permuta com outros Herbrios. Estudo cuidadoso e crtico da bibliografia clssica verificao, reavaliao e completao de txones; consulta de floras europeias. . Proposta de nova abordagem. Analisemos cada uma destas etapas em pormenor. . A motivao de G. Sampaio para elaborar estas monografias parece ser primariamente a deteco de txones problemticos da nossa flora. No existe uma sequncia encadeada de estudo. O estudo do gnero Echium parece ter sido desencadeado pela observao da obra broteriana. G. Sampaio ter reparado que Brotero, na sua Flora lusitanica, descreve um Echium como sendo a espcie lineana E. italicum, mas, pela descrio que o naturalista coimbro apresenta, no se tratava da espcie de Lineu, mas de uma outra planta. G. Sampaio prope que a planta descrita por Brotero constitua uma nova espcie deste gnero que designa, em homenagem ao mestre coimbro, Echium Broteri Samp.217.

Em SAMPAIO (1946) ser designada como Veronica officinalis ra. Carquejiana (Samp.) Samp. Echium Broteri ser novamente objecto de discusso por G. Sampaio em trabalho que publicar em 1921 (SAMPAIO, 1921b).
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O estudo do gnero Mentha justificado por G. Sampaio desta forma: entre os diversos generos criticos o genero Mentha um dos mais imperfeitamente conhecidos na flora portugueza, e o seu estudo mereceria, sem duvida, a atteno e o cuidado de todos os nossos botanicos herborisadores. No s o inventario das especies cardiaes e hybridas que so complexas e por vezes de estudo bem difficil est ainda por acabar, mas tambem as condies do seu polymorphismo se desconhecem quasi por inteiro. O estudo de gnero Spergularia foi motivado por ser este gnero um dos mais imperfeitamente conhecidos, mantendo-se ainda uma lamentavel confuso tanto sobre a destrina das especies e variedades como sobre o legitimo emprego dos respectivos binomes. G. Sampaio diagnostica a situao confusa como sendo devida demasiada importancia attribuida a caracteres pouco fixos e indevidamente considerados como especificos, assim como o desprezo dos mais permanentes e seguros, o que de facto uma das causas mais vulgares e o que distingue o trabalho de um bom sistemata do de um medocre. Este esquema de trabalho, guiado pela novidade (variedades e espcies novas) exemplificado pelo trabalho publicado em 1905 sobre o gnero Digitalis. Em 1895, encontra no Herbrio da Academia, uns exemplares de Digitalis que tinham sido recolhidos em 1887 por Joaquim Tavares, jardineiro do Jardim Botnico da Academia. Reconhece que no pertenciam a nenhuma das espcies conhecidas do gnero. Para obter mais exemplares durante alguns annos diligenciei em vo descobrir novos exemplares da planta, com o intuito de proceder sobre individuos vivos a um exame perfeito dos seus caracteres, mas s em agosto de 1903, numa viagem que fiz ao Douro e Traz-os-Montes, que pude encontrar a planta juncto da foz do rio Tua escrever no trabalho publicado em 1905. Designar esta espcie nova como Digitalis Amandiana Samp. A descoberta da outra espcie nova descrita neste trabalho traada pelo autor: Descobri esta interessante planta na serra do Castro-Laboreiro, nos fins de junho de 1903. [...] Apenas pude colher dous exemplares floridos, no obstante a planta ser abundante pelas bordas dos caminhos. . Nestes estudos monogrficos, G. Sampaio far uma cuidada observao dos exemplares do Herbrio da Academia (que j existiam ou que tinha recolhido nas suas herborizaes), mas tambm de exemplares de outros herbrios nacionais e estrangeiros. No estudo do gnero Spergularia, observa os exemplares actualmente nos herbarios da Universidade de Coimbra, da Escola Polytechnica de Lisboa e da Academia Polytechnica do Porto. A reviso da famlia Epilobiaceae, baseava-se principalmente no exame e reviso de uma grande quantidade de exsicatas existentes nos herbarios da Academia Polytechnica do Porto, da Universidade de Coimbra e da Escola Polytechnica de Lisboa [...] foi, portanto, muito consideravel a colleco de exemplares facultados ao meu estudo e que me

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permittiram, certamente, no s elaborar um inventario talvez completo das nossas especies, mas tambem esboar com uma certa nitidez a rea de disperso de cada uma dellas em Portugal. Como em outros dos primeiros trabalhos, G. Sampaio foi auxiliado pelas colheitas de Joaquim Tavares, jardineiro do Jardim Botnico da Academia, e de E. Johnston seu amigo e distincto botanico. Recorre tambm ao Jardim Botnico da Academia. No estudo das spergularias escreve: pelas observaes demoradas a que procedi sobre as nossas diferentes frmas, em vivo tanto nas localidades respectivas como em experiencias culturaes. . G. Sampaio envia exemplares para especialistas estrangeiros para obter uma opinio sobre determinadas questes taxonmicas. No estudo do gnero Mentha, envia exemplares para o ex.mo sr. Ernesto Malinvaud, o sabio monographo do genero Mentha, a cujo estudo se consagra ha trinta annos, e que tinha distribudo uma exsicata de mentas francesas, Menthae exsiccatae praesertium gallicae. Do especialista francs recebe uma amabilissima carta, pela qual me confirmava ser a planta, sem a menor duvida, um hybrido [...]. . Novamente alguns txones novos para a cincia so associados a personagens importantes para G. Sampaio: prope um hbrido novo ( Mentha Marizi Samp.) que com o maximo prazer dedico [...] ao ex.mo sr. Dr. Joaquim de Mariz, meu amigo e sabio Naturalista da Universidade de Coimbra, em homenagem pelos seus importantes e numerosos trabalhos sobre a flora portugueza. 2D. A monografia sobre os Rubus portugueses, publicada em 1904, era fruto de oito anos de trabalho, como escreve G. Sampaio na introduo obra. O trabalho de 1904 culminava a publicao de uma srie de pequenos trabalhos ou apontamentos dedicados a espcies deste gnero. Logo no primeiro trabalho da primeira srie Plantas novas para a Flora de Portugal, publicado em 1899, G. Sampaio discute alguns rubus. No primeiro e segundo trabalhos da segunda srie destas Plantas novas, de 1902 e 1904, volta a discutir os rubus. Em 1904, na publicao A Revista, publica trs trabalhos onde descreve vrias espcies de Rubus novas para a cincia. A monografia de 1904 era a sntese e discusso global do seu trabalho sobre este difcil gnero de rosceas. 2E. Neste perodo publica dois trabalhos que resultam de herborizaes regionais, uma no Torro, outra em Odemira. Os dois trabalhos so apresentados em formato similar. So listadas as espcies recolhidas nas herborizaes. Em cada espcie, indica o habitat e a abundncia. Discute aspectos taxonmicos relevantes. Em ambos os trabalhos so observadas diversas variedades e espcies

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novas para Portugal. So ainda propostos alguns txones novos para a cincia e tambm novas combinaes. Na introduo ao trabalho sobre a flora do Torro, publicado em 1901, G. Sampaio explica a sua razo de ser e como decorreu esta herborizao, sem dispensar alguns apontamentos de viagem. Em Maro de 1899, G. Sampaio visita o Dr. Diniz Neves, seu particular amigo, na vila do Torro, no Alentejo, perto de Alcovas. Antes da listagem das espcies observadas na herborizao, G. Sampaio descreve, na introduo, a viagem de ida, em particular o caminho que fez de diligncia entre a estao de caminho-de-ferro das Alcovas e a vila do Torro, distante de 19 quilmetros. As palavras de G. Sampaio so de puro naturalista extasiado perante a natureza, com uma viva admirao potenciada pela exploso da Primavera nos campos alentejanos. Segue-se uma listagem de 222 espcies observadas por G. Sampaio durante esta estadia no Torro. patente a preocupao com a dignificao e reavaliao dos txones broterianos e linkeanos. Muitas das espcies listadas tm binomes criados por Brotero ou por Link e Hoffmansegg. Ao referir o Colchicum fritillatum Link., G. Sampaio chama a ateno para o facto de ser este o binome vlido. O nome de Brotero - Colchicum lusitanum, posterior. Ao listar o Alyssum campestre subsp. colinum Brot., G. Sampaio acrescenta que, parece-me, no obstante as opinies em contrario, uma boa subespecie. Ao indicar o Raphanus silvestris Lamk., G. Sampaio concorda com Rouy e Foucaud que, na sua flora de Frana, consideraram o binome lineano R. raphinastrum vicioso por tautologia, sendo portanto necessria a sua substituio. Ao citar a Linaria linogrisea Hoff. & Link, G. Sampaio faz uma pormenorizada discusso do gnero, referindo trabalhos do Conde Ficalho, com cujos pontos de vista concorda e demonstrando que num trabalho do botnico francs Rouy havia um erro consideravel, para cuja rectificao aproveito agora o ensejo. Nesta discusso, G. Sampaio recorre s diagnoses de Brotero, mostrando que conhecia bem as obras do botnico coimbro. Neste trabalho, G. Sampaio apresenta espcies novas para a flora portuguesa e algumas variedades novas para a cincia, em que uma (Narcissus junquilla var. Henriquesii Samp.) dedica ao ex.mo sr. Dr. Julio Henriques, sabio lente de botanica na Universidade de Coimbra. O trabalho sobre a flora de Odemira, de 1908, inicia com uma descrio da regio, incluindo aspectos econmicos e culturais. Assim como para o seu trabalho sobre a flora do Torro, tambm este foi proporcionado por uma visita a pessoas amigas, tendo estado na regio em 1893, 1899 e 1905 para proceder [...] a herborisaes mais largas e minuciosas. So listadas 887 espcies.

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Prope algumas variedades novas. Detem-se no gnero Spergularia, onde prope duas espcies novas: Spergularia colorata Samp. e Spergularia modesta Samp.218 No gnero Carex tambm prope uma espcie nova, Carex intacta Samp.219 Apresenta diagnoses em latim para as espcies novas. 2F. G. Sampaio ir publicar diversas listagens das espcies presentes no Herbrio da Academia. A primeira listagem de 1902 sobre criptogmicas. G. Sampaio foi nomeado naturalista-adjunto da Academia em 1901. O presente trabalho datado de Maio de 1902. Podemos assim concluir que o inventrio do herbrio ento existente na Politcnica ter sido uma das suas primeiras tarefas como naturalista da Politcnica. Tal tambm se depreende do que escreve na introduo: o gabinete de Botanica da Academia Polytechnica do Porto, actualmente dirigido pelo Ex.mo Sr. Dr. M. Amandio Gonalves, professor da cadeira de botanica, resolveu fazer a publicao do catalogo do seu Herbario portuguez, principiando pela enumerao das cryptogamicas. Mas da frase seguinte transparece que G. Sampaio considerava este trabalho como preliminar, e qui, que gostaria de s o ter publicado mais tarde: na impossibilidade, porm, de apresentar por ra trabalho definitivo, organisou-se a presente lista dispondo as plantas no pela sua criao natural, como mais tarde se far, mas antes pelo ordem alphabetica dos seus binomes. Termina a introduo escrevendo que algumas das espcies que fazem parte da listagem so desconhecidas at hoje na flora do nosso paiz ou, mesmo, na de toda a peninsula, mostrando que tinha tido o cuidado de verificar para cada espcie a bibliografia que teria disponvel na Academia. Para cada espcie, so mencionados os exemplares existentes, com indicao da respectiva localizao e de quem o colheu. Quais os colectores dos exemplares de criptogmicas do Herbrio da Academia? Nos fungos, a maioria dos exemplares so de Barros e Cunha, C. Zimmermann e do prprio G. Sampaio. Nas algas, lquenes, musgos e hepticas, a maioria dos exemplares eram de Isaac Newton, sendo um nmero reduzido de exemplares do prprio G. Sampaio. Nas pteridfitas, observa-se uma grande diversidade de colectores, nomeadamente, J. S. Tavares, A. Mller, J. Casimiro Barbosa, J. Daveau, E. Johnston, J. Henriques, A. X. Pereira Coutinho e do prprio G. Sampaio. 3. 2. Perodo: 1909-1915 De 1909 a 1914, publicado, em 12 fascculos, o Manual da Flora Portugueza (SAMPAIO, 1909-1914). Entre 1909 e 1911, publicado, nos Anais da Academia, o Prdromo da Flora
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Estas duas espcies no sero includas em SAMPAIO (1946). SAMPAIO (1921b) considerar esta espcie como sinnimo de Carex helodes Link. Todavia, ser considerada vlida em SAMPAIO (1946).

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Portugueza, em quatro partes (SAMPAIO, 1909a, 1909b, 1910a, 1911a). Em 1913, publicado o Quadro analtico para a determinao das famlias da flora portuguesa (SAMPAIO, 1913c). Em 1913 e 1914 so publicadas quatro listagens exaustivas das espcies de pteridfitas e espermatfitas do Herbrio da Faculdade (SAMPAIO, 1913b, 1914a, 1914b, 1914c). A publicao deste conjunto de trabalhos visava certamente a elaborao de uma flora de Portugal220. O Manual mesmo publicado no formato de uma flora - famlias ordenadas, com chaves dicotmicas para a determinao genrica e especfica. O mpeto de publicao era tal que no Manual G. Sampaio incorpora muitos txones novos para a cincia, sem qualquer diagnose (esta seria feita em publicaes posteriores). Todavia, o Manual quedaria irremediavelmente incompleto, no sentido de uma flora portuguesa, dado que abrangeria 115 das 131 famlias representadas na nossa flora (representando 534 gneros e 1.809 espcies, de acordo com A. Pires de Lima no prefcio edio da Flora de 1946). A ltima famlia tratada Plantaginaceae. G. Sampaio publica tambm neste perodo um trabalho sobre espcies de Quercus (SAMPAIO, 1910c). Os Estudos botanicos. Especies novas e nomes novos, publicado em 1912 (SAMPAIO, 1912a), dedicado principalmente a publicar espcies novas que tinha considerado no Manual, mas que no tinham sido formalmente descritas (s tinham sido enumeradas). Em 1913, publica Duas plantas criticas (SAMPAIO, 1913a). Publica ainda dois pequenos trabalhos da srie Plantas novas (SAMPAIO, 1910b, 1915). Nestes trabalhos e semelhana das Notas criticas, G. Sampaio analiza e discute em pormenor as obras clssicas da flora portuguesa de Brotero e de Link e Hoffmansegg. No estudo sobre espcies de Quercus, G. Sampaio considera que as espcies broterianas Quercus hybrida Brot. e Quercus fruticosa Brot. so sinnimos de espcies lamarkianas vlidas. Refere a incorreco cometida por Webb em 1838 ao considerar Quercus faginea Lamk. como uma forma do Quercus lusitanica Lamk. e sua aceitao por De Candolle no seu Prodromus Systematicus Regni Vegetabilis de 1864. Nos Estudos botanicos, o escrutnio das obras dos clssicos cerrado. Para colmatar as falhas detectadas nestas obras, G. Sampaio propor algumas espcies novas para a cincia. Citemos alguns exemplos destas espcies novas que resultam de uma reavaliao das obras de Brotero, Link e Hoffmansegg: A. Laserpitium thalictrifolium Samp. A planta tinha sido incorrectamente designada por Brotero de Laserpitium aquilegiaefolium Jacq. Link designou-a de Ligustium trilobum, mas para G. Sampaio o restritivo no se pode conservar dentro do genero a que a planta realmente pertence, por dar origem a um binome j empregado para uma espcie diversa. B. Montia lusitanica Samp. Trata-se da planta que Brotero identificou como sendo a espcie lineana Montia fontana. C. Paradisia
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Ver Captulo XIV.4.

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lusitanica (Cout.) Samp.221 Trata-se de uma reavaliao da espcie broteriana Phalangium Liliastruum Brot. A variedade Paradisia liliastrum var. lusitanica de A. X. Pereira Coutinho aqui elevada categoria de espcie222. D. Peucedanum uliginosum (Link) Samp.223 A planta foi incorrectamente designada por Brotero de Laserpitium peucedanoides. Link designou-a de Selinum uliginosum. Lange em 1865 transferiu a espcie para o genero a que realmente pertence, deu-lhe o nome de Peucedanum lancifolium, que no deve ser mantido, em presena de direitos de prioridade do restritivo linkeano mais antigo. Nos Estudos botanicos. Especies novas e nomes novos, so apresentadas breves diagnoses em latim e extensas em portugus. O trabalho Duas plantas criticas trata da discusso de duas espcies de Plantago. A espcie Plantago radicata Hoff. & Link tinha sido bem descrita pelos botnicos alemes na sua Flore Portuguaise. Em 1852, includo na obra monumental de De Candolle, Decaisne publica uma reviso da famlia das Plantaginceas. Neste trabalho, Decaisne considera a espcie dos botnicos alemes como sendo sinnima da espcie lineana Plantago subulata, e descreve uma espcie nova deste gnero Plantago acantophylla, recolhida nos arredores de Madrid. Para G. Sampaio: Plantago radicata Hoff. & Link no sinnimo de Plantago subulata L.; Plantago acantophylla Dec. sinnimo de Plantago radicata Hoff. & Link. Como justifica a sua opinio discordante? A. G. Sampaio considera Plantago radicata, apesar de polimorfa, uma espcie bem distinta de Plantago subulata L.: um desses caracteres, absolutamente fixo, consiste em que as sepalas anteriores do calix so igual e largamente escariosas de ambos os lados, coisa que no se verifica em Plantago subulata. No s verifica a diagnose lineana, como observa numerosos exemplares de Frana e Italia. Conclui que Plantago radicata Hoff. & Link e Plantago subulata L. so espcies distintas, se bem que prximas. A espcie Plantago subulata de Decaisne no era a espcie de Lineu. B. Observa exemplares de P. radicata colhidos por diversos herborisadores modernos nos arredores de Bragana, seu logar classico; compara com o mximo cuidado plantas obtidas pelo sr. Moller, em 1884 e por ele recolhidas em 1903, nos arrabaldes desta cidade; e ainda com especimens [...] vindos de diferentes localidades espanholas, inclusive Madrid, donde eram provenientes os exemplares que serviram para definir a especie (Plantago acantophylla). Compara-os e conclui que so exactamente a mesma coisa, pelo

Em SAMPAIO (1931b) ser re-nomeada como Anthericum lusitanicum (Samp.) Samp. As palavras de G. Sampaio so de alguma irritao com o colega professor de Lisboa: o sr. Pereira Coutinho, a quem por carta expuz a conveniencia de rever a planta, que eu julgava uma boa especie nova, pondo sua disposio os meus exemplares e os da P. liliastrum do Herbario da Faculdade de Sciencias da Universidade do Porto provenientes de diversos paizes da Europa, respondeu-me mantendo a sua primitiva opinio de a considerar uma mera variedade. Ver tambm neste Captulo 5.D. 223 Em SAMPAIO (1914a) ser considerado como sinnimo de Peucedanum lancifolium Lge.
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que no ha que hesitar: os binomes [...] referem-se mesma especie, devendo ser preferido o primeiro, em vista do principio da prioridade estabelecido em nomenclatura botnica, como lei. Plantago radicata portanto restaurada. Plantago acantophylla deve ser considerada como sinnimo. A variedade Plantago acanthophylla var. bracteosa tinha sido proposta por Willkomm no seu Prodomus em 1870. Para G. Sampaio, esta forma algarvia uma endmica notabilissima, que se deve manter como espcie autnoma, pelo que prope erigi-la a Plantago bracteosa (Willk.) Samp.224 4. 3. Perodo: 1916-1923 Este perodo absorvido no estudo e publicao de trabalhos sobre a flora liqunica portuguesa (SAMPAIO, 1916a, 1916b, 1917a, 1917b, 1917c, 1917d, 1918a, 1918b, 1920a, 1921a, 1922a, 1923a). O perodo termina lapidarmente com a publicao em Maro de 1923 da sua exsicata Lichenes de Portugal e do trabalho sobre um novo gnero de lquenes, Carlosia, Samp. (SAMPAIO, 1923b). O que ter levado G. Sampaio a dedicar-se afanosamente ao estudo dos lquenes de Portugal?225 Os lquenes portugueses tinham sido muito menos estudados que as plantas vasculares do nosso pas. A flora liqunica portuguesa (e da Pennsula Ibrica) era muito mal conhecida. Dado que a flora ibrica rica em endemismos, seria muito provvel que um estudo detalhado da flora liqunica de Portugal revelasse espcies novas para a cincia. O impacto cientfico (em termos de novidade) seria enorme. Parecem-nos ser estas as principais razes que tero levado G. Sampaio a bifurcar o seu trabalho de investigao. Em 1916-1917, A. X. Pereira Coutinho publica um catlogo dos lquenes do Herbrio da Faculdade de Cincias de Lisboa, onde referencia 298 txones (COUTINHO, 1916, 1917a). Era o mais recente catlogo dos lquenes portugueses. O escrutnio crtico da obra do colega de Lisboa ser tambm uma das motivaes dos estudos liquenolgicos de G. Sampaio. Escrevia a A. Ricardo Jorge numa carta datada de 3 de Janeiro de 1921: O que preciso resolver-se depressa os outros pontos obscuros do Catlogo do Pereira Coutinho [226]. Preciso de ver quanto antes os seguintes: [segue-se uma lista de espcies] As marcadas com + so aquellas em que tenho mais interesse. Pode mandar s quatro ou cinco de cada vez. Eu examino-as rapidamente e envio-lhas registadas para sua casa. Ser bom que tambm as mande registadas, para no se perderem. Agora no se demore. Examinadas

Em SAMPAIO (1914a) ser considerada como sinnima de Plantago algarbiensis (Samp.) Samp. Encontramos muitos elementos preciosos para a compreenso desta fase liqunica de G. Sampaio nas cartas que escreve a A. Ricardo Jorge. Este facto compreensvel atendendo colaborao muito prxima entre o mdico lisboeta e o botnico portuense no estudo dos lquenes portugueses. 226 Assim como nas publicaes sobre plantas vasculares, nota-se aqui a rudeza crtica com que, a partir dos incios da dcada de 1920, G. Sampaio se refere aos trabalhos de A. X. Pereira Coutinho.
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aquelas plantas esto esclarecidos todos os pontos obscuros dos liquenes portuguezes. J v que vale a pena o sacrificio de um pouco de trabalho (BN A/2099). Como organiza G. Sampaio a sua investigao da flora liqunica portuguesa?227 Podemos traar o seu mtodo pelos comentrios que insere nos trabalhos que publica e por uma anlise do seu esplio documental. Em termos de colheita de espcimes, ter um precioso auxlio de A. Ricardo Jorge, mas tambm dos botnicos jesutas. Assim como faz em relao s plantas vasculares, G. Sampaio cuidadoso e rigoroso no mtodo de trabalho. Nos seus trabalhos menciona os clssicos da literatura liqunica e a observao de espcimes de herbrios e exsicatas estrangeiros. Consulta tambm exemplares do Herbrio da Universidade de Coimbra colhidos por A. Mller e J. Henriques. Envia exemplares para colegas especialistas estrangeiros e troca impresses sobre a sua identidade. G. Sampaio apresentar a grande maioria das espcies novas de lquenes acompanhadas de uma diagnose latina, procedimento que j adoptava, desde h alguns anos, para as vasculares. Assim como em relao s plantas vasculares, G. Sampaio ir estudar a flora liqunica portuguesa focalizando a sua ateno em determinadas espcies e no seguindo um estudo sistemtico por grupos ou famlias. As suas publicaes seguem o seu formato preferido anlise e discusso de 50 100 txones crticos da flora portuguesa. Escrevia numa carta dirigida a A. Ricardo Jorge datada de 21 de Fevereiro de 1916: Os liquenes novos para Portugal vou publica-los em duas ou tres series de cerca 50 especies cada serie (BN A/2011). Dos trabalhos de G. Sampaio sobre a flora liqunica portuguesa resultou num nmero elevado de espcies (e um gnero) novas para a cincia228. As espcies novas so geralmente acompanhadas de uma diagnose em latim. Como procedia em relao s plantas vasculares, G. Sampaio ir homenagear algumas pessoas ao escolher os eptetos especficos para as espcies novas e o nome do gnero novo. Apesar da ateno focalizada nos lquenes, G. Sampaio mantm, neste perodo, o interesse no estudo da flora portuguesa. Em 1919 escreve um Epitome da Flora Portuguesa. Publica ainda uma espcie nova para a cincia, Centaurea Luisieri (SAMPAIO, 1916c), dois trabalhos sobre as algas clorfitas Desmidiceas229 (SAMPAIO, 1920b, 1921d), as Observaes sobre algumas plantas
As coleces liquenolgicas de G. Sampaio tm sido objecto de estudos modernos aprofundados (PAZ-BERMDEZ, 2003; PAZ-BERMDEZ & CARBALLAL, 2005; PAZ-BERMDEZ ET AL., 2002, 2006). O estudo dos lquenes portugueses ser continuado por Carlos das Neves Tavares, professor na Faculdade de Cincias de Lisboa. Entre 1939 e 1956 publica as Notes lichnologiques, em 1945 a Contribuio para o estudo das Parmeliceas Portuguesas e em 1950 os Lquenes da Serra do Geres. Estuda ainda a flora liqunica das ilhas e de Angola e Moambique. Como G. Sampaio, C. N. Tavares tambm organizou e distribuiu uma exsicata de lquenes portugueses, Lichens Lusitaniae Selecti exsicatti (MELO, 1987). 228 Ver Anexo II. 229 Ser seu filho, Joaquim Sampaio, quem continuar, de forma brilhante, o estudo das Desmidiceas portuguesas. G. Sampaio escreve, orgulhoso, sobre o trabalho de seu filho, numa carta dirigida a A. Ricardo Jorge, datada de 4 de Maro de
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(SAMPAIO, 1921b), e os Apontamentos sobre a flora portuguesa (SAMPAIO, 1922b), estes dois portanto j perto do fim do perodo liquenolgico. O Epitome da Flora Portuguesa, que permaneceu em manuscrito, um dos texto-chave na vida e obra de G. Sampaio. O manuscrito constitudo por pginas numeradas, de caligrafia homognea, sugerindo que se trata de um texto elaborado de seguida num espao de tempo relativamente circunscrito. Talvez pressionado pelas difceis condies de vida que teria no crcere230, qui ecoando na sua mente o quase-completo Manual de alguns anos atrs, G. Sampaio lana-se na redaco de uma flora de Portugal abreviada231. O manuscrito dedicado a M. Amandio Gonalves. G. Sampaio escreve na capa a dedicatria a meu professor de botnica na antiga Academia Politcnica do Porto, meu protector e amigo. No prefcio, G. Sampaio escreve que este livro (que no prefcio chama livrinho) se destinava para servir nos trabalhos praticos de classificao [...] nos cursos de

1921: Meu filho Joaquim anda h dois mezes com as Desmidiceas, passando todo o dia ao microscopio; agora vai comear com a cultura de algas microscopicas, que deseja apresentar ao Congresso. Ele apresenta uma memoria sobre as Desmidiceas do Porto e tem j algumas novidades para o paiz. O rapaz vai l, porque tem o vicio e sacrifica tudo a estar todo o dia a trabalhar. Mas desta maneira deixou de me preparar os liquenes o que faz muita falta (BN A/2098). A 31 de Maio deste ano, escrevia a A. Ricardo Jorge: O meu rapaz est realmente trabalhando bem e com extraordinario afinco. Tem paixo, e tem geito. O trabalho que apresenta ao Congresso bom e muito adianta o conhecimento das Desmidiceas portuguesas. Continuar com o estudo das algas em que deseja especilizar-se (BN A/1988). Joaquim Antnio Ferreira Sampaio nasceu no Porto em 1898. Frequenta a Faculdade de Cincias do Porto. Foi colector do Gabinete de Botnica, ingressando como naturalista do Instituto de Botnica em 1926. Estudou exaustivamente as cianobactrias e as desmdias portuguesas (PIRES DE LIMA, 1942). 230 Ver Captulo VII.8. 231 Todavia parte deste Epitome j poderia estar redigido ou alinhavado. A partir de 1914, em cartas que escreve a A. Ricardo Jorge, G. Sampaio faz meno da redaco de uma flora abreviada. A 20 de Abril deste ano, escreve numa carta: Estou a imprimir uma Flora para os liceus e principiantes, com a nomenclatura em harmonia com [] (BN A/2083). Num bilhete-postal datado de Maio de 1914, escrevia: Quanto Flora minha teno no a concluir. Estou a imprimir outra mais resumida, com diagnoses de 3 linhas e s com as raas e variedades mais salientes. para os meus rapazes, aquem agora obrigo a muitos trabalhos de classificao. De resto, a que imprimo actualmente j vai muito aperfeioada e com a nomenclatura que adoto definitivamente. Mande-me as novidades, pois pode ser que ainda se aproveitem e possam ser incluidas nesta flora (BN A/2069). Numa carta datada de 17 de Junho de 1918, escrevia: Estou agora muito ocupado a fazer figurinhas para a prxima folha de impresso da Flora. Os liquenes repousam at ao proximo ano lectivo (BN A/1992). Alguns meses depois, a 20 de Outubro, escrevia: A sua vinda ao Prto transtornou-me o trabalho da Flora, fazendo-me derivar outra vez para os liquenes; no entanto, conto em voltar novamente concluso do livrinho dentro de 15 dias (BN A/2029). Ter sido esta mini-flora a base do Epitome? Aps a sua libertao da priso, nas cartas que escreve a A. Ricardo Jorge, G. Sampaio continuar a referir-se concluso da sua florita. Escrevia a 3 de Outubro de 1920: J estou no Porto e ocupo-me em dar os ultimos retoques na minha Florita, para a entregar tipografia o que espero seja ainda antes do Natal. Tem-me dado um trabalho enorme, no calcula, mas espero que saia bastante perfeita, tanto pela clareza das chaves e rigoroso inventrio das especies, como pela nomenclatura uniforme que sigo. As dvidas que me ficam e so poucas s as poderia tirar consultando o herbario de Lisboa, que infelizmente uma coleco hermeticamente fechada aos que trabalham fora dahi coisa mesteriosa, enfim! [] Estas plantas interessam-me muito, porque tenho duvidas sobre las, e queria resolver essas duvidas para a minha Florita. So 38 especies, creio eu [] De Coimbra recebi uma grande poro de boas plantas, algumas das quais eu no tinha [] Preciso com rapidez de acabar a Flora [] (BN A/2014). Logo no dia seguinte, escrevia em tom positivo: As chaves ficaram muito boas, creio eu, no podendo dar lugar a dvidas ou a hesitaes na determinao das especies. [] Com as modificaes que tenho feito ultimamente na Flora confesso que esta agora me satisfaz (BN A/2045). Seria esta mini-flora a concluso do Epitome? Seria finalmente a flora (abreviada) que substituiria o Manual inacabado? Ou trabalharia em ambos os projectos? Quando menciona Flora, seria a nova flora resumida ou o Manual concludo?

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botnica. G. Sampaio sublinha que se tratava de um manual escolar e no de um trabalho avanado de sistemtica, reduzi, alm disto, as chaves quasi que maior simplicidade, indicando apenas os caracteres diferenciais mais salientes dos diversos grupos [...] e pondo frequentemente de lado os caracteres classicos para os substituir por outros que permitam uma mais fcil anlise e uma mais rapida determinao. No fim do prefcio, explicita mesmo como devem decorrer os trabalhos prticos, o professor [...] deve explicar [...] o modo simples de usar esta Flora, classificando [...] uma planta de que haja distribuido exemplares a todos os alunos. Cada um destes, munido de uma Flora, de uma boa lupa e de um escalpelo, vai acompanhando o professor na leitura das chaves e no exame dos caracteres da planta, at sua determinao final, devendo o professr ter o cuidado de comear pelos vegetais de flores relativamente grandes, e de classificao pouco dificil [...] de todas as espcies determinadas deve o aluno secar e preparar um exemplar para o seu herbario [...]. Termina o prefcio com uma observao interessante, Devo notar, finalmente, que este gnero de trabalhos ao princpio detestado pela maioria dos nossos estudantes, mas tambm posso afirmar, com a experincia de bastantes anos, que passado algum tempo constitui um verdadeiro prazer para todos eles. Finalmente o prefcio termina com, Porto, Aljube, 27-5-1919. So tratadas todas as famlias de plantas vasculares existentes em Portugal Continental. Apesar da famlia Asteraceae no estar completa (faltando o tratamento de algumas dezenas de gneros na famlia, sendo Bellis o ltimo gnero estudado), este epitome uma monumental realizao intelectual e um grande avano em relao ao Manual (mas ver Captulo XIV). O trabalho sobre a Centaurea Luisieri fruto da longa colaborao entre G. Sampaio e os fundadores da Broteria. Planta descoberta por A. Luisier nos arredores de Salamanca e proposta por G. Sampaio neste trabalho como uma espcie nova de Centaurea, com um epteto em homenagem ao seu colector. Mais uma vez, a histria do trabalho adstrita descrio cientfica e na obra se revela o investigador. Aps a descrio da espcie nova, escreve: colheu a planta nos arredores de Salamanca, enviando-ma, o meu presado amigo e insigne briologista P.e Alfonse Luisier, em 1915. No a conhecendo nem encontrando nos livros minha disposio diagnose que lhe pudesse convir, suspeitei, desde logo, que se tratava de uma espcie no descrita; no entanto enviei um exemplar ao dr. Jlio Henriques, sbio professor de botnica da Universidade de Coimbra, sempre disposto a auxiliar, por todos os modos, os trabalhos de investigao scientfica. Este meu ilustre colega, a quem muito agradeo aqui a leal boa vontade com que sempre quiz pr minha disposio todos os elementos de estudo que lhe solicitei, comunicou-me passados alguns dias que, tendo comparado a planta com as suas congneres no s do herbrio de Willkomm propriedade do seu instituto mas tambm do

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riqussimo herbrio geral da Universidade de Coimbra, nada encontrou com que a pudesse identificar. Nestas condies, descrevo agora a planta como nova, dando-lhe o nome de Centaurea Luisieri, em homenagem ao seu descobridor, a quem a fitologia portuguesa deve os mais asinalados servios. As dificuldades de G. Sampaio no estudo da planta seriam devidas ao Herbrio da Academia no ser na altura muito rico em espcies extra-portuguesas. O herbrio de Willkomm, j na altura integrado no Herbrio da Universidade de Coimbra, dedicado flora ibrica era uma fonte mais valiosa para o estudo deste exemplar desconhecido. O trabalho apresenta uma diagnose em latim. As Observaes sobre algumas plantas de 1921, segue o seu figurino preferido - discutir detalhadamente um conjunto de espcies (70 neste trabalho): clarificar sinonmias; precisar descries; rever as obras dos clssicos; propor espcies novas. So propostas algumas espcies novas para a cincia: Brassica nostalgica Samp.232, Carex algarbiensis Samp., Evax lusitanica Samp. e Silene duriensis (Samp.) Samp. Esta ltima tinha sido proposta como uma variedade de Silene Boryi, mas agora aps observao cuidada de bons exemplares da S. Boryi, de Espanha, G. Sampaio reconheceu que o material duriense era de facto muito diverso desta espcie, pelo que prope a categoria especfica. As espcies novas so acompanhadas de uma breve diagnose em latim. Em portugus so apresentadas as caractersticas que as separam de espcies prximas. Volta a discutir Echium Broteri Samp. que tinha proposto em 1900 como espcie nova. A razo desta insistncia prendia-se com a sinonmia que A. X. Pereira Coutinho tinha estabelecido entre E. Broteri e E. lusitanicum Lin, a qual no merecia o acordo de G. Sampaio. Prope ainda algumas variedades novas para a cincia. So tambm apresentadas algumas combinaes novas. 5. 4. Perodo: 1924-1937 Neste perodo, G. Sampaio ir publicar quatro trabalhos com um estilo muito semelhante e preocupaes afins: Apontamentos sobre a Flora Portuguesa, 1922233 (SAMPAIO, 1922b), Adies e correces Flora Portuguesa (SAMPAIO, 1931b), Novas adies e correces Flora Portuguesa (SAMPAIO, 1935a), e Breves notas sobre algumas plantas (SAMPAIO, 1937). Em 1931 publica um trabalho com relevncia taxonmica, Apontamentos sbre alguns gneros de plantas (SAMPAIO, 1931a). Publica ainda dois trabalhos monogrficos, uma Reviso das Ulicneas portuguesas (SAMPAIO, 1924) e uma reviso do gnero Iberis (SAMPAIO, 1936b). Duas floras regionais, uma de Caldelas (SAMPAIO, 1934) e outra de Trancoso (SAMPAIO, 1936a). Deixa ainda dois manuscritos
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Em SAMPAIO (1946) ser considerada como sinnima de Brassica oxyrrhina Coss. Pela datao pertencem ao perodo anterior, mas pelo estilo integram-se neste perodo.

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inditos, um datado de Maro de 1937, outro sem data. Finalmente, em 1927 publicado, em colaborao com L. Cresp, um trabalho sobre os lquenes de Pontevedra (SAMPAIO & CRESP, 1927). Nas quatro publicaes datadas de 1922b, 1931b, 1935a e 1937, que referimos, de estilo homogneo, G. Sampaio atinge a sua mxima elaborao e erudio no estudo da flora vascular portuguesa. Que traos comuns encontramos nestas quatro publicaes? A. Mantem-se a preocupao com o estudo, reavaliao e promoo das obras de Brotero, Link e Hoffmansegg. Citemos alguns exemplos. No trabalho de 1922b, G. Sampaio discute o gnero Juniperus em Portugal. Demonstra por anlise da diagnose original que Juniperus rufescens Link, ao contrrio do que era admitido na poca, no era sinnimo de Juniperus oxycedrus L., e que era uma espcie vlida. Considera, pelo contrrio, que Juniperus oxycedrus Brot. era sinnimo da espcie de Link. Conclui da existncia, no nosso pas, de trs espcies deste gnero, apresentando uma chave dicotmica para a sua identificao. No trabalho de 1931b, G. Sampaio faz algumas correces nomenclaturais a variedades broterianas de Avena agraria Brot. Ao discutir o Asplenium palmatum Lamk., refere que Brotero o ter confundido com Asplenium Hemionitis L., erro que se ter propagado na bibliografia. Considera que diversas espcies broterianas so sinnimas de espcies j existentes: Narcissus reflexus Brot. era efectivamente o Narcissus cernuus Salisb. e a Paeonia officinalis Brot. era a Paeonia lusitanica Mill. Chama a ateno para o facto da espcie de Link - Scilla monophylla - ter prioridade sobre a espcie broteriana, Scilla pumila. Refere que Brotero, em 1804, identificou incorrectamente uma planta como sendo a Isatis lusitanica L. Esta planta seria correctamente descrita por Link em 1806 como uma espcie nova, Isatis platiloba. Assinala a prioridade de diversos txones broterianos, em relao a outros posteriores. Por exemplo: Genista triacantha Brot. tem prioridade em relao a Spartium interruptum Cav. No trabalho de 1935a, demonstra que o binome broteriano Stipa arenaria tem prioridade sobre um outro utilizado por Link. B. So incorporadas e reconhecidas as importantes contribuies de C. L. Pereira e J. M. Miranda Lopes para o estudo da flora portuguesa234. Em relao ao primeiro escrever no trabalho de 1922b: que ao estudo da vegetao minhota vem prestando assinalados servios. Destas contribuies destaca-se a descoberta ou redescoberta de txones novos para a flora portuguesa e sobretudo a descoberta de txones novos para a cincia. Citemos alguns exemplos. Descoberta ou redescoberta dos seguintes txones novos para a flora portuguesa: Potentilla rupestris L. (no era
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Ver Captulo IX.8-9.

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observada em Portugal desde a referncia de Link e Hoffmansegg) (no trabalho de 1922b); Arum maculatum L., Carex caryophyllea Lat., Paeonia officinalis L., Paeonia microcarpa Boiss. & Reut., Trifolium phleoides Pour., Oxalis Acetosella L., Linum narbonense L., Saxifraga carpetana Boiss. & Reut., Lindernia pixidaria All., Euphrasia hirtella Jord. (no trabalho de 1931b); Carex caryophyllea Lat. (correco de localidade anteriormente indicada) (no trabalho de 1935a). Descoberta dos seguintes txones novos para a cincia (no trabalho de 1931b): Carex caryophyllea var. fuscata Samp.; Anthericum Liliago var. transmontanum (Samp.) Samp.235; Gagea pratensis ra. nova Samp.236; Odontites serotina var. Lopesiana Samp.237; Saxifraga granulata var. Lopesiana (Samp.) Samp.238. C. So tambm patentes as trocas de opinies com os colegas botnicos espanhis, R. G. Fragoso e C. Pau. De R. G. Fragoso escreve no trabalho de 1922b: sbio botnico espanhol e meu prezado amigo. Citemos alguns exemplos. G. Sampaio salienta a demonstrao da seguinte sinonmia por R. G. Fragoso: Astragalus chlorocyaneus Bois. & Reut. com Astragalus saxatilis Cav. (no trabalho de 1922b). Deve-se a C. Pau a demonstrao dos seguintes sinnimos: Trichodium salmanticum Lag. com Agrostis pallida DC, Dianthus caespitosifolius Plan. com Dianthus laricifolius Bois. & Reut. (no trabalho de 1922b); Ononis Picardi Bois. como sinnimo de Ononis subspicata Lag. (no trabalho de 1931b). Deve-se tambm a C. Pau a indicao de que a planta que tinha designado de Bivonaea Prolongi em 1931b no pertenceria a esta espcie, mas seria uma espcie nova (no trabalho de 1935a). D. Tornam-se patentes as discordncias com A. X. Pereira Coutinho239. So diversas as divergncias. G. Sampaio considera como sinnimos de txones j existentes, diversos txones propostos por A. X. Pereira Coutinho; considera que diversas espcies foram incorrectamente identificadas por A. X. Pereira Coutinho e que, de facto, no fazem parte da flora portuguesa; considera ainda que A. X. Pereira Coutinho identificou incorrectamente diversas plantas. Saliente-se no entanto que no trabalho de 1931b, G. Sampaio assinala tambm algumas concordncias com o seu colega lisboeta.
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Substituindo Paradisia lusitanica var. transmontana publicada em LOPES (1928). Substituindo Gagea nova Samp. 237 Ser considerado como Odontites rubra var. Lopesiana (Samp.) Samp. em SAMPAIO (1946). 238 Substituindo Saxifraga Lopesiana Samp. publicada em LOPES (1928). 239 A partir dos primeiros anos da dcada de 1910, emergem divergncias profundas entre G. Sampaio e A. X. Pereira Coutinho. Interrompe-se a correspondncia epistolar entre os dois botnicos. Nas suas publicaes, G. Sampaio discorda frequentemente das opinies de A. X. Pereira Coutinho. O tom por vezes agreste. Parece-nos que este distanciamento foi despoletado pela publicao da Flora de Portugal pelo botnico lisboeta em 1911. Ver tambm Captulo XIII.3 e Captulo IX.4.

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E. So em nmero elevado as alteraes nomenclaturais propostas. So propostas novas combinaes e txones novos para a cincia. So ainda reavaliados txones anteriormente propostos, por sinonmia de espcies j existentes. proposta a espcie nova Scilla beirana Samp.240. Em 1931 so publicados os Apontamentos sbre alguns gneros de plantas. Este trabalho tem relevncia taxonmica porque mostra que G. Sampaio, dez anos passados sobre o Congresso do Porto, parece manter algumas das suas ideias pessoais sobre a taxonomia e nomenclaturas botnicas241. G. Sampaio insiste na perda de prioridade para gneros que no fossem utilizados para a formao de binomes especficos. G. Sampaio prope assim a substituio do gnero Pteridium Scop. por Cincinalis Gled. e, concomitantemente, a substituio de Pteridium aquilinum Kunh. por Cincinalis aquilina Gled.. Tambm o gnero mais antigo Kundmania Scop. devia dar lugar ao gnero Brignolia Bertol., pela mesma razo242. Neste perodo so tambm publicados dois trabalhos monogrficos, um sobre as ulicneas, outro sobre o gnero Iberis. No primeiro faz uma reviso da famlia Ulicineae Rouy. Comea por descrever a morfologia destas plantas, destacando os caracteres que tm maior valor taxonmico. Faz uma breve referncia utilidade econmica dos tojais. Seguidamente aborda a classificao da famlia, referindo as contribuies dos botnicos que estudaram a nossa flora, Brotero, Welwitsch e Link e Hoffmansegg. Para G. Sampaio, a maioria das espcies propostas por estes botnicos so vlidas. G. Sampaio considera que, pelo contrrio, algumas das propostas feitas posteriormente por Webb, so de facto sinnimos de espcies anteriores ou variedades de espcies j existentes. O juzo de G. Sampaio sobre a obra de Webb muito negativo, dado que veio lanar uma perturbao deplorvel, pelos seus multplices equvocos, no estudo destas leguminosas. Ningum conseguiu mais entender-se com os complicados Ulex da pennsula, e a sua classificao foi considerada, por isso, de uma dificuldade extrema, s capaz de ser vencida por capacidades excepcionais. Ora, para G. Sampaio essa classificao nada tem de particularmente custosa ou imprecisa, desde que se atenda s aos caracteres de real valor taxinmico nestas plantas. No entanto, saliente-se que algumas das espcies propostas por Webb so consideradas como vlidas por G. Sampaio. J no trabalho publicado em 1922, G.

Em SAMPAIO (1936b) ser considerada como sinnimo de Scilla lusitanica L. Ver Captulo XII. 242 A propsito de estes dois gneros, G. Sampaio salientava a adeso de C. Pau s suas ideias escrevendo: Foi j de harmona com ste modo de pensar que, em 1922, o ilustre botnico espaol dr. Carlos Pau substituiu o nome genrico Kundmania pelo de Brignolia, sem dvida mais novo, mas com prioridade em nomenclatura binria (SAMPAIO, 1931a:48).
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Sampaio tinha considerado uma espcie de Webb (Ulex Jussiaei Webb) como sendo sinnima de uma espcie j existente (Ulex Galli Planch.). G. Sampaio refere que no Congresso do Porto de 1921 tinha apresentado uma primeira abordagem desta famlia. Refere duas combinaes novas de Stauracanthus publicadas em trabalhos anteriores, S. genistoides (Brot.) Samp. (SAMPAIO, 1912a) e S. Boivini (Webb) Samp. (SAMPAIO, 1914c). Neste trabalho prope algumas variedades novas. No trabalho sobre o gnero Iberis em Portugal, emerge uma das preocupaes que acompanharam G. Sampaio em toda a sua carreira de estudo da flora portuguesa o estudo de txones que considerava mal conhecidos ou envoltos em confuso: so pouco numerosas as Iberis da flora portuguesa e, no entanto, o seu conhecimento sistemtico tem andado at hoje num lamentvel estado de confuso e de incerteza. As contribuies dos botnicos espanhis so agradecidas. Conclui pela existncia na nossa flora de quatro espcies deste gnero. So descritas e discutidas em pormenor as espcies e variedades. Segue o seu estilo tpico, defendendo e argumentando exaustivamente sobre as suas ideias. Reavalia (e de algumas discorda) as obras clssicas de Brotero, Boissier, Reuter, Jordan, Willkomm. Critica as posies de J. Mariz e A. X. Pereira Coutinho, umas vezes concordando, outras discordando. Reavalia as suas prprias posies anteriores. Consulta material de herbrio nacional (dos Herbrios de Lisboa, Coimbra e Porto) e estrangeiro (sobretudo espanhis) e exsicatas. Prope diversas combinaes novas e uma variedade nova para a cincia. G. Sampaio publica tambm, neste perodo, duas floras regionais, uma de Caldelas, em 1934, e outra de Trancoso, em 1936. Segue o esquema que tinha utilizado nas floras regionais anteriores, indicando para cada espcie a sua abundncia e habitat tpico. Na introduo ao primeiro trabalho refere que se trata da listagem das espcies encontradas apenas [no] lugar das termas e seus arredores. Ter frequentado as termas nestes anos? No segundo trabalho, de acordo com as suas palavras, o trabalho de campo teria sido realizado em 1908, portanto muito antes da sua publicao. Alm das plantas que colheu nas herborizaes de 1908, G. Sampaio reconhece, na introduo, que estudou exemplares recolhidos por outros colectores, Seabra Couceiro, Manuel Ferreira, e Carlos Lacerda, alguns dos quais se encontravam no Herbrio da Universidade de Coimbra, mas que G. Sampaio ter analisado. Destes trabalhos resultam poucas novidades nomenclaturais. Prope a seguinte espcie nova para a cincia: Carex Broteriana Samp.243, que faz acompanhar de um curtssimo texto de diagnose em latim. A derradeira obra de G. Sampaio uma flora manuscrita datada na capa de Maro de 1937. Trata-se de um conjunto de cadernos de folhas tipo almao, escritas com caligrafia e tinta muito
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Em substituio de Carex caespitosa que tinha proposto no Manual da Flora Portugueza.

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varivel ao longo do trabalho. As folhas esto escritas de ambos os lados, mas a numerao de G. Sampaio termina na folha 42. Uns cadernos de folhas esto completos e seguidos, outros incompletos. A obra teria portanto sido escrita em vrias ocasies. Esta flora no est completa, faltando o tratamento de um nmero aprecivel de famlias: Orchidaceae a Celtidaceae, Phaseolaceae a Ericacea, e Lamiaceae a Asteraceae. G. Sampaio deixou ainda um manuscrito sem data. O manuscrito constitudo por 66 pginas numeradas, de caligrafia homognea. Apresenta o tratamento taxonmico de 12 famlias. Comea na famlia Lamiaceae e termina na famlia Asteraceae, gnero Bellis (esta famlia ficou portanto incompleta). As famlias abordadas neste manuscrito no tinham sido tratadas no Manual da Flora Portugueza, nem se encontram no manuscrito de 1937. 6. Obras pstumas Aps a morte de G. Sampaio so publicadas duas obras fundamentais do professor portuense, a Flora Portuguesa e a Iconografia selecta da flora portuguesa (SAMPAIO, 1949). A Flora de G. Sampaio foi publicada, em 1946, sob a direco de A. Pires de Lima244, que subscreve o prefcio da obra. A edio foi custeada pelo Instituto de Alta Cultura. A obra apresenta diversas figuras muito teis na identificao dos especmenes. apresentada como sendo a segunda edio da obra. Na realidade a primeira edio foi a do Manual da Flora Portugueza publicado em 1909-1914. Uma anlise do manuscrito de G. Sampaio de 1937 e do manuscrito sem data, e do Manual da Flora Portugueza e das palavras que A. Pires de Lima escreveu no prefcio da Flora, permite traar o percurso seguido na elaborao desta edio pstuma da flora de G. Sampaio. Assim o material base foi o manuscrito de 1937. Adicionaram-se as famlias Lamiaceae a Asteraceae (at ao gnero Bellis) do manuscrito sem data e que no estavam no manuscrito de 1937. As restantes famlias foram transcritas do Manual da Flora Portugueza com algumas adaptaes. Esta 2. edio da flora de Sampaio assim uma sntese do Manual de 1909-1914 e de dois manuscritos posteriores no-publicados. Os gneros Calendula a Hieracium da famlia Asteraceae que G. Sampaio no tratou em nenhuma obra245, tero sido
Amrico Pires de Lima (1886-1966) era mdico pela Escola Mdico Cirrgica do Porto. Entra para a Faculdade de Cincias do Porto como 2. assistente em 1913. Em 1919 passa a 1. assistente, atingindo o topo da carreira docente em 1921. Foi director da Faculdade de Farmcia do Porto de 1929 a 1932, e director da Faculdade de Cincias de 1935 a 1945. Em 1935, por jubilao de G. Sampaio, sucede-lhe na direco do Instituto de Botnica. jubilado em 1956 por atingir o limite de idade. Publica trabalhos na rea da medicina, da Botnica ultramarina e da histria da Botnica (PIRES DE LIMA, 1942; FCP, 1969:250-259). 245 G. Sampaio ter tido, recurrentemente, algumas dificuldades em abordar a extensa famlia das Compostas. Numa carta dirigida a A. Ricardo Jorge, datada de 13 de Agosto de 1917, G. Sampaio parecia querer definitivamente resolver esta dificuldade: Das plantas que me trouxer carregue nas Compostas quanto possa, porque o que me falta da Flora e desejo redigir essa parte logo que volte de ferias, de modo a estar o livrinho venda no fim de dezembro (BN A/2090). No ano seguinte, em carta datada de 23 de Agosto, escrevia a A. Ricardo Jorge: A seguir retomarei a Flora, mas os exames no
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elaborados por A. Rozeira246. A ordenao do ndice dos nomes especficos e da sinonmia foi tambm inteiramente de A. Rozeira. A Iconografia foi publicada pouco depois da Flora, em 1949, tambm sob o auspcio do Instituto de Alta Cultura. O prefcio de A. Pires de Lima que explica a origem da obra. As estampas (150) so de Sara Cabral Ferreira, que desenhou sob a orientao de G. Sampaio. Alguns desenhos foram finalizados por Francisco de Sousa. Que espcies se encontram representadas? As que mereceram especial ateno de G. Sampaio e que foram discutidas ao longo das suas publicaes cientficas. Esto representadas muitas espcies de Brotero e de Link. Diversas espcies e variedades do professor portuense. Naturalmente que dado destaque aos Rubus 30 estampas. O volume termina com uma bibliografia pormenorizada dos autores das espcies representadas e uma lista de sinonmia organizada por A. Rozeira. Includa nas Publicaes do Instituto de Botnica Dr. Gonalo Sampaio da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto foi publicada em 1970 uma Miscelnea dos trabalhos sobre lquenes de G. Sampaio (SAMPAIO, 1970). A. Rozeira, director do Instituto e das Publicaes prefacia a obra. As obras originais de G. Sampaio so reimpressas sem qualquer correco. adicionado um ndice remissivo dos nomes citados por G. Sampaio nas obras includas nesta antologia. So includos os seguintes trabalhos: SAMPAIO (1916a, 1916b, 1917a, 1917b, 1917c, 1917d, 1918a, 1918b, 1920a, 1921a, 1922a, 1923a, 1923b) e SAMPAIO & CRESP (1927).

me deixaram fazer nada. S depois destes que consegui trabalhar nela regularmente. Estou, portanto, com as Asteraceas a contas, j fiz a chave dos gneros que ficou excelente e j tratei alguns destes. Qualquer Asteracea que no possuo ser muito bem vinda, se porventura tiver novos exemplares (BN A/2027). 246 Arnaldo Deodato da Fonseca Rozeira era nesta altura professor do 2.o grupo da 3.a seco da Faculdade de Cincias do Porto (PIRES DE LIMA, 1942).

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XIV. Gonalo Sampaio. A consagrao. O drama de uma obra inacabada? 1. A criao do Instituto de Investigaes Botnicas na Faculdade de Cincias do Porto Pode dizer-se que o reconhecimento pblico da obra de G. Sampaio se inicia em 1921 com a criao, na Faculdade de Cincias do Porto, de trs Institutos de Investigao Cientfica, um dedicado Qumica, um dedicado Zoologia, e outro Botnica, sendo o seu director, G. Sampaio. O processo de criao destes Institutos descrito em pormenor no prprio Dirio do Governo que os institucionaliza (DG 1921 03 21). A proposta era aprovada em Conselho Escolar da Faculdade, ratificada pelo Senado da Universidade do Porto e o Reitor, Augusto Nobre, a remetia para o Ministro da Instruo Pblica, Antnio Jos de Almeida, que a aprovava a 24 de Novembro de 1920. A proposta era pormenorizadamente justificada. No prembulo, elogiava-se a obra de G. Sampaio: A carreira scientifica [...] comprovada pelos numerosos trabalhos de investigao scientifica original [...] concorrendo desta forma consideravelmente para o reconhecimento da flora portuguesa. Esses trabalhos vm sendo publicados, sem interrupo, desde h muitos anos, em revistas scientificas [...] que muito honram, certamente, a mentalidade portuguesa. Apresenta-se de seguida detalhadamente o currculo de G. Sampaio. Tem este professor exercido uma grande actividade em servio da scincia, contribuindo com numerosas descobertas e publicaes para o estado adiantado em que, com verdadeira honra para o pas, se encontra actualmente o conhecimento da flora portuguesa. Considerava-se ento que a actividade de investigao de G. Sampaio tinha sido particularmente relevante a trs nveis: estudo de plantas vasculares; estudo de criptogmicas; na nomenclatura botnica. Em relao aos estudos da flora vascular portuguesa, listavam-se as espcies novas para a cincia propostas at data por G. Sampaio. Resumia-se da seguinte forma a sua contribuio para o conhecimento da flora vascular portuguesa: a sua iniciativa define-se pela publicao de numerosas notas crticas sobre plantas portuguesas, pela correco de classificao de muitas outras, que andavam erroneamente determinadas, e pela descoberta de grande quantidade de variedades e de mais de cem espcies cuja existncia era ignorada na flora do pas. Em relao s criptogmicas, pode ler-se: porm no estudo dos lquenes portugueses que mais se tem acentuado a sua aco, mencionando at hoje, em vrias publicaes, cerca de trezentas espcies inditas para o pas, com bastantes gneros e famlias que se desconheciam em Portugal. Entre estas plantas so completas novidades para a Scincia as seguintes espcies do professor Sampaio. A contribuio de G. Sampaio na nomenclatura botnica era sintetizada da seguinte forma: Dos seus estudos de reviso e uniformizao de nomenclatura, assunto de tamanha importncia [...] tem resultado no s a reposio duma elevada quantidade de binomes vlidos, que andavam desconhecidos em documentos antigos ou eram mal interpretados, mas

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tambm a formao de muitas combinaes binmicas novas, umas de harmonia com as regras formuladas pelo moderno cdigo de Viena, outras resultantes da aplicao de princpios novos de nomenclatura estabelecidos originalmente por ste professor247. De seguida segue-se uma lista dos trabalhos publicados. A lista termina com a indicao dos trabalhos em impresso, em publicao, e em preparao. Esta parte do currculo, contendo simplesmente cinco itens, contm informaes preciosas para a compreenso da vida e obra de G. Sampaio248. Em impresso, assinala-se a reviso das ulicneas (que ser de facto publicada em 1924). Que obras estavam em publicao? O Manual da Flora Portugueza e o Epitome da Flora Portuguesa. A publicao do Manual tinha sido interrompida em Dezembro de 1914249. O Epitome tinha sido escrito durante o seu encarceramento em 1919. Ao considerar estas obras em publicao, podemos concluir que G. Sampaio teria em mente continuar a publicao do Manual, certamente para o concluir250 e publicar o manuscrito do
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A nossa anlise crtica da bibliografia de G. Sampaio (captulo XIII) coincide, em larga medida, com esta apreciao, que ter sido escrita pelo prprio G. Sampaio. 248 Os detalhes destes itens por si sugeririam que o currculo tinha sido escrito por G. Sampaio. Esta assero confirmada por uma carta que escreve a A. Ricardo Jorge e que sugere que ter sido o colega de Lisboa a corrigir as provas da tipografia do Dirio do Governo. A carta no se encontra datada, mas foi seguramente escrita no incio de 1921: Peo-lhe para ir ao Nobre e dizer-lhe que eu o tinha encarregado de rever as provas do Diario no que diz respeito aos meus trabalhos scientificos, pois necessario que isso seja revisto por um botnico. Eu mandei para l os apontamentos que o Nobre me pediu muito pressa. A lista dos meus trabalhos foi incompleta, mas isso pouco importa. [] Trata-se do processo que cria o Instituto botanico de investigao cientifica no Porto e que vem por estes dias publicado no Diario. O meu amigo faa-me o favor de ver as provas. Alem disso desejo que na lista das minhas especies corrija o bimone Carlosia virescens em Carlosia rupestris Samp. que aquele que acabo de pr nas provas de pgina que agora mandei para a tipografia (BN A/2038). 249 A no-concluso do Manual (e de uma Flora de Portugal) ter sido um dos factos que mais influenciaram a vida de G. Sampaio e ter ecoado na sua mente at morte. Numa carta datada de 9 de Janeiro de 1913, portanto ainda na fase de publicao, G. Sampaio escrevia a A. Ricardo Jorge: Agora vou virar-me concluso da Flora, a ver se vai desta vez. J esto impressas mais 5 folhas, alm das que levou. Logo que conclua a impresso da 6.a folha (folha de impresso 23) vou dar ordens para as dobrar e organizar em fasciculos. [] Com outro fasciculo concluirei a obra, se Deus quizer (BN A/2064). A partir de 1914, nas cartas que escreve a A. Ricardo Jorge, surge a meno redaco de uma flora abreviada. Ter o projecto do Manual sido pouco a pouco abandonado e G. Sampaio focalizado numa flora mais sinttica? Muito mais tarde, num bilhete-postal datado de 24 de Janeiro de 1929 dirigida a A. Ricardo Jorge, escrevia focalizado na concluso da sua flora de Portugal: No proximo Domingo, 27 do corrente, vou a Coimbra, onde estarei at quarta-feira. Todas as semanas irei ali resolver o melhor possvel um certo numero de duvidas sobre a flora portuguesa. A seguir irei estar oito dias em Lisboa. Quero empregar o ultimo esforo para produzir com a minha Flora um trabalho honesto. Depois disto meto-me na aldeia a passar os ltimos dias (BN A/2000). No ano seguinte, a 6 de Agosto, escrevia novamente a A. Ricardo Jorge: Aos liquenes s voltarei depois de acabar a nova edio da Flora, em que trabalho com amor. Deus queira que no prximo ano eu termine este trabalho, como espero! Terei de ir vrias vezes a Coimbra e de fazer algumas herborizaes ainda. A reviso da nomenclatura vou-a fazendo aqui no Prto. Enfim, estou novamente a trabalhar com entusiasmo nas fanerogamas, esperando realizar qualquer coisa de geito (BN A/2066). 250 O contedo de algumas cartas que escreve a A. Ricardo Jorge sugere que a reviso da nomenclatura dos taxnes da flora portuguesa, de acordo com as regras que preconizava, pode estar relacionada com a inconcluso do Manual e a no publicao de uma Flora de Portugal. G. Sampaio escrevia a 16 de Maio de 1913: Com o que tenho j posso fazer coisa aceitvel e, por isso, vou deitar mos obra de reviso da nomenclatura das vasculares portuguezas, segundo os meus principios. Estou quasi resolvido a inutilizar toda a parte impressa da Flora e comear uma nova impresso, que ir rpida, em harmonia com o que desejo. Deste modo sahir uma obra bonita e da minha affeio. O que est choca-me por ser heterogeneo e por conter coisas que agora emendaria. No gosto de obras imperfeitas, desde que se possam fazer melhor (BN A/2012).

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Epitome? Que obras estavam em preparao? Um Catlogo analtico dos lquenes portugueses251 e uma Iconografia selecta da Flora Portuguesa252. Todavia, nenhuma destas obras em publicao ou em preparao seriam publicadas em vida de G. Sampaio. Tambm no se concretizaria o projecto da Flora Ibrica253. Porqu? Quais as consequncias da sua no publicao? 2. A fundao do Instituto de Botnica Dr. Gonalo Sampaio

Ver Captulo X.5. Existem diversos documentos que no deixam dvidas que G. Sampaio teve o projecto de elaborar um catlogo ou flora de lquenes de Portugal e que efectivamente a comeou. Como em relao flora de plantas vasculares, esta ideia de um catlogo ou flora dos lquenes portugueses parece ecoar durante muitos anos na mente de G. Sampaio. Nas cartas que escreve a A. Ricardo Jorge, so frequentes as menes redao deste catlogo dos lquenes portugueses. A primeira referncia que encontrmos data logo do incio da sua fase liqunica. Numa carta datada de 17 de Maio de 1917, escrevia: O catalogo dos liquenes s sair para o ano, no Boletim da Sociedade Broteriana, a pedido do Julio Henriques (BN A/2025). Alguns meses depois, a 13 de Dezembro de 1917, escrevia: Logo que acabe a Flora e os compendiozinhos de botanica para os liceus, recomearei com os liquenes, para redigir o catalogo definitivamente. Nessa ocasio que terei maior interesse em ver as suas colheitas, cata de coisas novas [] Enfim, no trate por ora de nomenclatura definitiva porque o Zahlbruckner est muito longe de estar bem. Para o ano, se Deus quizer, [] saude, ter a nomenclatura dos liquenes tratada creio que regularmente no meu catalogo. (BN A/2021). Poucos dias depois, a 22 de Dezembro, novamente o catlogo: O meu catalogo s ser publicado no Boletim da Sociedade Broteriana l para 1919, embora em o entregue, como penso, nos fins de 1918. Se o meu amigo comeasse j a tentar a classificao dos liquenes ainda poderia, antes do meu trabalho, publicar algumas listas das suas colheitas, em que desse as suas descobertas (BN A/2023). No ano seguinte, a 18 de Maro de 1918, escrevia: Com a doena que me invadiu a casa no pude redigir o artigo sbre os liquenes para a Broteria. Nestas condies desisto de publicar qualquer outra serie e tudo o que tenho de novo ser publicado no Catalogo geral, no Boletim da Sociedade Broteriana. At l nem mesmo pulbicarei mais nada sbre liquenes. Deste modo tambem o Catalogo ser muito mais interessante, porque ter um grande numero de novidades para o paiz e algumas para a sciencia (BN A/2017). Numa carta datada de 16 de Abril de 1920, escrevia: Eu vou precipitar a redaco do Catalogo dos liquenes portugueses, porque o dr. Julio Henriques insta constantemente pelo original para o Boletim da Sociedade Broteriana (BN A/2089). Numa carta datada de 18 de Novembro de 1921, A. Ricardo Jorge escrevia a G. Sampaio: Fico radiante com a ideia da sua Flora Descriptiva mas julgue que perder recorrendo a estranhos. Tomra tambem ver as suas gravuras. Sobre estes e outros assuntos voltarei a escrever com mais vagar. O projecto foi mesmo comeado. L. W. Carrisso escrevia a G. Sampaio a 1 de Fevereiro de 1922: Diz-me o Quintanilha (que muito lhe agradece os cumprimentos, que retribue) que V. Exa. elaborou, para seu uso, uma chave para a determinao dos liquenes portugueses. No estar V. Exa. disposto a dar-mo-la, para ser publicada no volume em impresso do Boletim? Ficar-lhe hiamos mais uma vez muito agradecidos pela honrosa colaborao. Efectivamente, G. Sampaio, num bilhete-postal escrito a R. G. Fragoso e datado de 7 de Novembro de 1922, mas que no foi enviado, escreva: No prximo nmero de Boletim da Sociedade Broteriana comeo a publicar o Catlogo analtico dos lquenes de Portugal, com chaves dicotmicas para a determinao das famlias, gneros e espcies. J tenho redigido os gneros Cladonia, Tubercularia, Stereocaulon, Ramalina, Usnea, Cetraria, Parmelia, Physcia, Peltigera, Lobaria e Sticta. Porqu no foi esta missiva enviada? Porque no se concretizou este projecto? No entanto a ideia no morria no pensamento dos seus colaboradores, talvez por ser de importncia extrema. Em 1924, a 21 de Abril insistia A. Ricardo Jorge: E as floras e o catalogo geral dos liquenes? Que pena tenho que no apresse a sua publicao. Aproveite a quietude de Braga para lhes dar o ultimo retoque e depois deite-as c para fora. 252 A Iconografia estaria at avanada nesta data. Em carta dirigida a A. Ricardo Jorge, datada de 4 de Maro de 1921, G. Sampaio escrevia: Como deve saber, o Nobre arranjou-me o primeiro subsdio para a publicao da Iconografia. A desenhista est novamente a trabalhar nella com tda a fora. Para ficar mais barato resulveu-se que as estampas sejam impressas a preto e coloridas mo, como as do Willkomm. Mas ainda assim fica carissima, porque s a chapa custa 40 mil ris, fora papel cartolina, que caro, e impresso. Vou tentar a coisa na Alemanha a ver se mais barato, vindo de l j as estampas promptas. Um rapaz alemo vai tratar-me disso. Eu quero que dentro de dois mezes j algumas estampas estejam executadas. O texto, comeo a imprimi-lo brevemente (BN A/2098). Este documento confirma que os desenhos foram feitos sob a orientao de G. Sampaio. Todavia, a Iconografia s seria publicada postumamente em 1949. Porqu? 253 Ver Captulo VIII.8.

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Em Maro de 1935, a homenagem pblica ao professor portuense cristalizava na criao de um Instituto com o seu nome. No Dirio do Governo de 8 de Maro de 1935 era publicado um Decreto que transformava o Laboratrio e Museu de Botnica da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto em Instituto de Botnica Dr. Gonalo Sampaio (DG 1935 03 08). 3. Drama de uma obra inacabada? G. Sampaio morrer em Julho de 1937, sem ter publicado nenhuma das quatro obras que em 1921 tinha planeado. G. Sampaio deixou, no seu esplio, um volume encadernado, em que escreveu na primeira pgina, a tinta: Manual da Flora portuguesa, por Gonalo Sampaio, Novembro de 1936. Que obras fez G. Sampaio encadernar neste volume? Por esta ordem: o Quadro Analtico, o Manual da Flora portugueza, o Quadro dichotomico para a determinao das famlias e a Lista das espcies representadas no Herbrio portugus e seus apndices. Com este agrupamento de obras254, seria este o testamento cientfico de G. Sampaio? Por que razo G. Sampaio no concretizou os seus planos de trabalho to eloquentemente discriminados em 1921? Propomos as seguintes causas explicativas principais: A. Ao estudar a flora de Portugal, G. Sampaio no seguiu um plano metdico e sequencial. Foi sendo absorvido pelo estudo de txones que achava mais interessantes os mais mal conhecidos, ou confusos na bibliografia, ou os que eram novos para a cincia. A mincia e o rigor com que levou a cabo esta tarefa - o estudo moderno da flora -, consumiam muito tempo. Dificilmente seria possvel rever toda a nossa flora vascular com este detalhe. B. Disperso de interesses. O interregno que fez nos seus estudos da flora vascular, para se dedicar aos lquenes, que o absorveram quase totalmente entre 1916 e 1923, agravou ainda mais o problema anterior. Mas G. Sampaio abandona totalmente o estudo dos lquenes portugueses em 1923 para novamente se dedicar flora vascular255. Se tivesse continuado at 1937 no estudo dos lquenes, teria elaborado uma Flora de Lquenes de Portugal?

A encadernao seguramente anterior s palavras de G. Sampaio. Teria sido feita por sua iniciativa? Esta disperso de interesses poder estar associada a uma certa instabilidade psquica-emocial. A carta que escreve a A. Ricardo Jorge, datada de 4 de Fevereiro de 1922, apoia esta interpretao e antev o seu abandono do estudo dos lquenes portugueses: Estou cheio, at medula, de liquenes novos, cujo estudo se torna muito demorado. Mas quando acabaro estas pragas, santo Deus! Comeo a no ter paciencia. O meu amigo, se quizer continuar a minha tarefa dos liquenes, tem ainda muito que fazer. Isto obra muito extensa e um tanto dificil. Dei-lhe um avano bom e se o meu amigo continuar o
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C. G. Sampaio empreendeu uma remodelao profunda no ensino da Botnica da Academia. Logo aps a sua entrada como naturalista da Academia em 1901, G. Sampaio d aulas, reforma e moderniza programas. Novo impulso na modernizao do ensino da Botnica dado quando se cria a Faculdade de Cincias do Porto e entra como professor ordinrio da Faculdade. D. G. Sampaio levou tambm a cabo uma renovao profundssima do Herbrio da Academia. Herborizou intensamente. Trocou exemplares. Adquiriu exsicatas.

meu trabalho, ficar o paiz, dentro de poucos anos com o estudo dos liquenes to adiantado como em qualquer dos que mais bem conhecida tem a sua flora liquenologica (BN A/2034).

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XV. Resumo e concluses 1. J. Henriques, A. X. Pereira Coutinho e G. Sampaio foram os mentores de uma revoluo

na Botnica portuguesa, que ocorreu nas primeiras dcadas do sculo XX. 2. destacam: 2A. Botnicos associados aos Herbrios de Coimbra, Lisboa e Porto, em particular J. Mariz, A. Mller, J. Daveau, A. Ricardo da Cunha, E. Johnston, I. Newton, J. Casimiro Barbosa, A. Machado e A. Ricardo Jorge. 2B. Botnicos amadores, com destaque para C. L. Pereira, J. M. Miranda Lopes, e tambm C. Frana. 2C. Os padres jesutas ligados Broteria, em particular A. Luisier e J. S. Tavares. 2D. Botnicos espanhis, em particular B. Merino, C. Pau, Fr. Sennen, Font Quer e R. Fragoso. 3. Esta renovao profunda na Botnica portuguesa ocorreu tanto ao nvel do estudo da Nesta transformao participaram activamente outros investigadores, dos quais se

flora portuguesa como do ensino da Botnica. Desta transformao resultaram as primeiras floras modernas de Portugal e um ensino da Botnica, finalmente de cariz moderno, tanto a nvel universitrio como liceal. 4. O Boletim da Sociedade Broteriana e a Broteria foram os porta-vozes da renovao da

Botnica portuguesa. Os Herbrios de Coimbra, Lisboa e Porto e tambm dos Colgios jesutas, em particular do Colgio de S. Fiel e do Colgio de Campolide foram instrumentos indispensveis para concretizar esta renovao. A Sociedade Broteriana, atravs das distribuies de plantas aos scios e da Flora lusitanica exsiccata, promoveu activamente o enriquecimento dos herbrios nacionais. 5. As mais importantes contribuies de G. Sampaio para a renovao da botnica

portuguesa centraram-se no estudo da flora portuguesa de lquenes e de plantas vasculares. 5A. No estudo da flora liqunica portuguesa destaca-se a criao de um elevado nmero de txones novos para a cincia, a elaborao e distribuio de uma exsicata de lquenes portugueses e a

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elaborao de uma Flora ou Catlogo, que todavia no foi concludo, nem se encontraram os seus manuscritos ou rascunhos. 5B. No estudo da flora vascular portuguesa destaca-se: . Anlise e discusso crtica de txones mal conhecidos, confusos na bibliografia ou incorrectamente sinonimizados. . A criao de um grande nmero de txones novos para a cincia e novas combinaes, em particular no gnero Rubus. . A anlise crtica e reavaliao das Floras de Brotero e de Link e Hoffmansegg, em particular: demonstrando a prioridade de vrias espcies destes autores e interpretaes erradas destas espcies por botnicos posteriores; reavaliando a posio taxonmica de txones destes autores; restaurando espcies criadas por estes botnicos; indicando imprecises contidas nestes trabalhos. . A elaborao de uma Flora e de uma Iconografia de Portugal, que no entanto, deixou por concluir e publicar. 5C. Destacam-se tambm as contribuies de G. Sampaio para a nomenclatura botnica, propondo regras divergentes do Cdigo oficial, mas de carcter moderador e clarificador incontestvel, que no tero merecido a ateno crtica que mereceriam. 5D. Salienta-se ainda a contribuio de G. Sampaio para o estudo dos fungos portugueses realizado por R. Fragoso. 5E. Assinala-se tambm que G. Sampaio foi convidado pelo governo espanhol para dirigir a elaborao de uma Flora Ibrica, que todavia no se concretizou. 6. A importante contribuio de G. Sampaio para a fundao da Botnica moderna em

Portugal assentou no gnio individual e na capacidade para estabelecer e manter activa uma teia de contactos no pas e no estrangeiro. Desta rede de colaboradores destacam-se: . A. Ricardo Jorge, L. Cresp, M. Bouly de Lesdain, Zahlbruckner e A. H. Magnusson, no estudo dos lquenes. . N. Boulay, M. Bouly de Lesdain, W. O. Focke, A. Hayek, W. R. Linton, B. Merino, L. M. Neuman, W. M. Rogers e H. Sudre, no estudo dos rubus. . Os padres jesutas associados Broteria.

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7.

O rigor, a mincia e a profundidade com que estudou a flora portuguesa, a actividade

docente, aliados a uma disperso de objectos de estudo, tero sido, qui, as determinantes principais para G. Sampaio no ter almejado as grandes realizaes que planeou a publicao de uma Flora Vascular e de uma Flora de Lquenes de Portugal.

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Anexo I. Lichenes de Portugal. A exsicata de G. Sampaio

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Anexo I. Lichenes de Portugal. A exsicata de G. Sampaio A edio da exsicata Lichenes de Portugal por G. Sampaio culmina a sua excepcional carreira no estudo dos lquenes portugueses. Em captulos anteriores discutimos a elaborao da exsicata com a participao relevante de A. Ricardo Jorge e a sua distribuio. Analisamos neste anexo o contedo da obra em si256. Na tabela seguinte apresentamos uma listagem da coleco completa. Dos 300 txones, 46 so nomes novos de G. Sampaio (espcies e variedades novas e novas combinaes). No entanto, destes, 21 no foram publicados em obra impressa257. Alm destes 21, outros sete foram publicados em obra impressa (SAMPAIO & CRESP, 1927), mas sem obedecer s regras para a publicao vlida. Tendo G. Sampaio proposto, em obra impressa, 101 nomes novos (um gnero novo, e 100 espcies, variedades e raas novas e novas combinaes), conclui-se que a representao de txones de G. Sampaio na sua exsicata significativa. A etiqueta do nmero 192 tem a designao de Rinodina sintrana, mas deve tratar-se de um erro tipogrfico, e deveria ser Rinodina cintrana. Existem duas etiquetas com o nmero 80, uma com o binome Lecanora albescens e outra com Lecanora galactina. Esta etiqueta no ter sido usada, dado que no consta das coleces consultadas. Existem seis etiquetas em que no existe nenhum exemplar nas coleces estudadas. Tero sido distribudos? Se observarmos a sequncia de espcies, verificamos que existe uma ordem na exsicata. As espcies do mesmo gnero esto agrupadas em sequncia e que os gneros esto geralmente agrupados em famlias. Algumas famlias muito representadas, como Lecanoraceae e Lecideaceae, esto segmentadas em vrios grupos. A organizao geral descrita por G. Sampaio numa carta que escreve a A. Ricardo Jorge, datada de 4 de Fevereiro de 1922: Nesta primeira serie de fasciculos desejo dar todos ou quasi todos os liquenes foliceos e fruticulosos, assim como os liquenes mais frequentes do paiz (BN A/2034). Os 300 espcimes esto agrupados em seis fascculos de 50 ou trs centrias de 100. Todos tm a data de Maro de 1923. Atravs da anlise documental conclumos que os primeiros 150 exemplares estariam prontos em Maro de 1923 e as duas primeiras centrias em Abril de 1924258. Tambm foi

Para tal utilizmos os seguintes elementos: uma coleco completa de etiquetas, as coleces existentes nos herbrios das seguintes instituies: Departamento de Botnica da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto; Colgio de Nuno lvares; Real Jardim Botnico de Madrid. 257 Como referimos no captulo referente nomenclatura, tal procedimento no era admissvel na poca para a publicao vlida de novos txones (mantendo-se na actualidade tal impedimento). 258 Ver Captulo X.3.

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concludo que foram preparados 15-16 exemplares, mas destes no podemos apurar exactamente quantos foram distribudos259. As etiquetas tm ainda a indicao do colector, data de colheita e local de colheita. Quem foram os colectores dos espcimes? G. Sampaio: 178; Joaquim Sampaio: 43; G. Sampaio e Joaquim Sampaio: 29; Fernando Sampaio: 9; Joaquim Sampaio e M. Pinto: 2; G. Sampaio e Alberto Sampaio: 1; A. Ricardo Jorge: 37; R. T. Palhinha: 1. A exsicata foi portanto um esforo de colheitas da famlia Sampaio, particularmente de G. Sampaio, com uma contribuio importante de A. Ricardo Jorge, concluso a que j tnhamos chegado pela anlise documental. Quando foram colhidos os espcimes? Mais de 75% em 1920 e 1921. O mais antigo em 1916 e o mais recente em Maro de 1923. Foi portanto um enorme esforo concentrado num perodo de tempo relativamente restrito.

Nmero 001 002 003 004 005 006 007 008 009 010 011 012 013 014 015 016 017 018 019 020 021 022 023 024 025 026 027 028 029
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Nome do taxon(*) Roccella fucoides Wain. Thelotrema lepadinum Ach. Leptotrema leiospodium A. Zahlbr. Glyphis cicatricosa Ach. Enterographa hutchinsiae Koerb. Enterographa crassa Fe Enterographa venosa Mass. Graphis scripta Ach. (1) Graphis elegans Ach. Graphis dendrtica Ach. Opegrapha varia Pers. var. notha Fr. Opegrapha turneri Leight. Opegrapha vulgata Ach. var. devulgata Samp. (2) Opegrapha zonata Koerb. Opegrapha duriaei Mont. Melaspilea lentiginosa Mll.-Arg. Arthonia gregaria Koerb. Arthonia impolita Borr. var. algarbica Samp. (4) (Arthonia algarbica Samp.) Arthonia polymorpha Ach. Arthonia turbidula Nyl. Arthothelium taediosum Cout. Arthopyrenia cerasi Mass. Porina tenuifera A. L. Sm. Porina interseptula A. L. Sm. Pyrenula nitida Ach. Pyrenula nitidella Mll.-Arg. Verrucaria maura Wahl. Microglaena sampaiana B. de Lesd. Endocarpon pallidum Ach.

Ver Captulo X.2.

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030 031 032 033 034 035 036 037 038 039 040 041 042 043 044 045 046 047 048 049 050 051 052 053 054 055 056 057 058 059 060 061 062 063 064 065 066 067 068 069 070 071 072 073 074 075 076 077 078 079 080 081 082 083

Dermatocarpon miniatum Mann. Dermatocarpon aquaticum A. Zahlbr. Normandina pulchella Nyl. Sphaerophorus fragilis Pers. Cyphelium sessile Trev. Cyphelium lecideinum Trev. Girardia lanata Samp. (2) Polychidium muscicolum S. Gray Lichina pygmaea Ag. Lichina confinis Ag. Pyrenopsis triptococca Nyl. Pyrenopsis anemoides Samp. (8) Phlylliscum demangeonii Nyl. Collema fragans Ach. Collema multifidum Schaer. Lethagrium multipartitum Arn. Lethagrium aggregatum Samp. (2) Lethagrium flaccidum S. Gray Lethagrium nigrescens S. Gray (1) Leptogium palmatum Mont. Leptogium sinuatum Mass. Leptogium caesium Wain. Leptogium tremelloides S. Gray Leptogium chloromelum Nyl. Leptogium burgessi Mont. Koerberia lusitanica Samp. (8) Koerberia biformis Mass. Massalongia carnosa Koerb. Pannaria rubiginosa Del. Parmeliella plumbea Wain. var. myriocarpa A. Zahlbr. Crocynia lanuginosa Hue Endocarpiscum guepini Nyl. Gyalecta cupularis Schaer. Gyalecta croatica Schul. & A. Zahlbr. Pachyphiale carneola Arn. Pachyphiale carneolutea Samp. (6) Microphiale lutea Strn. Aspicilia intermutans Arn. Aspicilia gibbosa Koerb. Aspicilia recendens Arn. Lecanora gangaleoides Nyl. Lecanora pallida Schaer. Lecanora carpinea Wain. Lecanora celestini Samp. (5) Lecanora varia Ach. Lecanora bracarensis B. de Lesd. & Samp. Lecanora piniperda Koerb. Lecanora piniperda Koerb. var. lusitanica B. de Lesd. & Samp. Lecanora hageni Ach. for. coerulescens Flag. Lecanora crenulata Hook. Lecanora albescens Fr. fil. (10) Lecanora sordida Fr. fil. Lecanora glauco-lutescens Nyl. Lecanora limica B. de Lesd. & Samp.

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084 085 086 087 088 089 090 091 092 093 094 095 096 097 098 099 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137

Lecanora nitens Ach. Psoroma lisbonense Samp. (2) Psoroma lentigerum Koerb. Psoroma crassum Ach. Ochrolechia parella Arn. Ochrolechia subtartarea Samp. (2) Ochrolechia tartarea Koerb. Lecidea macrocarpa Fr. fil. Lecidea albocaerulescens Ach. Lecidea platycarpoides Bagl. Lecidea lithophila Ach. var. cyanea Arn. Lecidea fuscocinerea Nyl. Lecidea fuscoatra Ach. Lecidea portuensis Nyl. Lecidea myriocarpoides Nyl. Lecidea enteroleuca Ach. Lecidea exigua Schaer. Lecidea nylanderi Fr. fil. Lecidea flexuosa Nyl. Lecidea chodati Samp. (5) Lecidea lucida Ach. Lecidea quernea Ach. Lecidea demissa Fr. fil. Lepidoma tabacinum Samp. (2) Lecidea decipiens S. Gray Lepidoma deceptorium Samp. (2) Biatorella moriformis Fr. fil. Biatorella pruinosa Mudd. (1) Maronea constans Zw. Acarospora varzinensis Samp. (5) Acarospora lesdaini Harm. Acarospora lesdaini Harm. var. Alberti Samp. (9) Patellaria vitellina Hoff. Protoblastenia rupestris Stnr. var. calva Stnr. Blastenia ferruginea Koerb. Amphiloma murorum Koerb. Caloplaca cerinella Oliv. Caloplaca limitosa Oliv. Caloplaca fuscoatra A. Zahlbr. Xanthocarpia phlogina Samp. (2) Xanthocarpia irrubescens Samp. (2) Xanthoria parietina Fr. fil. Xanthoria fallax Arn. Borrera chrysophthalma Ach. Borrera villosa Ach. Teloschistes flavicans Norm. Placodium candellarium Wigg. Catillaria sphaeroides A. Zahlbr. Catillaria synothea Belt. Catillaria melastigma Samp. (9) Lecania koerberiana Lahm. Lecania cyrtella Fr. fil. Lecania lesdaini Samp. (2) Lecania sampaiana B. de Lesd.

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Lecania citrinella Samp. (3) Solenopsora vulturiensis Bag. Solenopsora subdisparata Samp. (Solenopsora subdisparata (Nyl.) Samp.) (6) Solenopsora candicans Stnr. Solenopsora olivacea Samp. (2) Solenopsora holophaea Samp. (6) (Solenopsora holophaea (Mont) Samp.) Toninia candida Fr. fil. Toninia caeruleonigricans Fr. fil. Toninia aromatica Mass. Bacidia milliaria Samp. (2) Bacidia umbrina Br. & Rost. Bacidia atrosangunea Fr. fil. Bacidia arceutina Bran. & Rost. Bacidia albescens Zw. Bacidia rubella Mass. Haematomma coccineum Koerb. Haematomma puniceum Wain. (1) Pertusaria communis DC. Pertusaria exalbescens Nyl. Pertusaria pustulata Nyl. Pertusaria wulfenii DC. Pertusaria lutescens Lamy Pertusaria laevigata Nyl. Pertusaria globulifera Nyl. Pertusaria excludens Nyl. Pertusaria ceuthocarpa Turn. var. variolosa Mudd. Pertusaria coccodes Nyl. Pertusaria pseudocorallina Samp. (9) Pertusaria corallina Arn. Pertusaria melanochlora Nyl. Phlyctis agelaea Koerb. Diploschistes ocellatus Norm. Diploschistes cinereocaesius Samp. var. violarius Samp. (9) Diploschistes actinostomus A. Zahlbr. Rhizocarpon geographicum DC. var. atrovirens Samp. (2) Rhizocarpon geographicum DC. var. lavatum Samp. (8) Rhizocarpon viridiatrum Koerb. Rhizocarpon polycarpon Fr. fil. Rhizocarpon obscuratum Mass. Buellia schaereri De Not. Buellia myriocarpa Mudd. var. lusitanica Samp. Buellia myriocarpa Mudd. var. aequata Samp. (2) Buellia Jorgei Samp. (8) Buellia stellulata Mudd. Buellia aethalea Fr. fil. Buellia lactea Koerb. Buellia Duartei Samp. (5) Diploicia canescens Mass. Rinodina discolor Arn. Rinodina demissa Arn. Rinodina pyrina Arn. Rinodina exigua S. Gray Rinodina horriza Koerb. Rinodina roboris Arn.

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Rinodina sintrana Samp. (7) (Rinodina cintrana (Samp.) Samp.) Rinodina confragosa Koerb. Rinodina confragosa Koerb. ra. Olivieri Samp. (8) Rinodina plumbella Oliv. Rinodina atrocinerella Boist. Rinodina isidioides Oliv. Rinodina confinis Samp. (8) Rinodina intermedia Bagl. Dimelaena castanoplaca Samp. (2) Physcia fusca A. L. Sm. Physcia ciliaris Ach. Physcia leucomela Ach. Physcia hypoleuca Tuck. Physcia aipolia Nyl. Physcia hispida Tuck. ra. leptalea Samp. (9) Physcia pulverulenta Nyl. var. venusta Oliv. Physcia grisea A. Zahlbr. Physcia caesia Nyl. Physcia astroidea Nyl. Physcia tribacoides Nyl. Physcia tribacia Nyl. Physcia orbicularis D. Torre & Sar. Physcia sciastrella Harm. Umbilicaria pustulata Hoff. Gyrophora spodochroa Ach. Gyrophora hirsuta Ach. Gyrophora grisea Turr. & Borr. Gyrophora polyrrhiza Koerb. Sticta fuliginosa Ach. Sticta sylvatica Ach. Sticta dufourii Del. Sticta limbata Ach. Stica aurata Ach. Lobaria scrobiculata Ach. Lobaria mollissima Samp. (5) Lobaria pulmonaria Hoff. Lobaria laciniata Wain. Lobaria laetevirens A. Zahlbr. Peltigera canina Willd. Peltigera spuria DC. Peltigera scutata Sm. Peltigera polydactyla Hoff. Peltigera horizontalis Hoff. Nephroma lusitanicum Schaer. Nephroma parile Ach. Hypogymnia physodes Nyl. Hypogymnia tubulosa Samp. (9) Parmelia stygia Ach. Parmelia prolixa Carr. Parmelia isidiotyla Nyl. Parmelia exasperata De Not. Parmelia fuliginosa Nyl. var. laetevirens Nyl. Parmelia subaurifera Nyl. Parmelia glabra Nyl.

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Parmelia conspersa Ach. Parmelia soredians Nyl. Parmelia caperata Ach. Parmelia carporrhizans Tayl. (1) Parmelia scortea Ach. Parmelia laevigata Ach. Parmelia dissecta Nyl. Parmelia revoluta Floerke Parmelia dubia Schaer. Parmelia cetrarioides Nyl. Parmelia trichotera Hue. Parmelia cetrata Ach. Parmelia sulcata Tayl. Parmelia saxatilis Ach. Parmelia omphalodes Ach. Parmeliopsis hyperopta Arn. Evernia prunastri Ach. Evernia furfuracea Mann. Platysma glaucum Nyl. Platysma chlorophyllum Arn. Cetraria aculeata Fr. Cornicularia tristis Hoff. Cornicularia intricata Samp. (2) Setaria jubata Ach. var. chalybeiformis Samp. (2) Setaria variegata Samp. (1) (2) Letharia soleirolii Hue Usnea florida Web. Usnea articulata Hoff. Ramalina farinacea Ach. Ramalina subfarinacea Nyl. Ramalina portuensis Samp. (8) Ramalina calicaris Fr. Ramalina fraxinea Ach. Ramalina populina Wain. Ramalina evernioides Nyl. Ramalina siliquosa A. L. Sm. Ramalina cuspidata Nyl. Ramalina tinctoria Ach. Leprocaulon nanum Nyl. Stereocaulon pileatum Ach. Stereocaulon coralloides Fr. Stereocaulon denudatum Floerke Tubercularia rufa O. Kz. Tubercularia ericetorum Wigg. Cladonia sylvatica Hoff. Cladonia uncialis Web. var. gracilima Samp. (2) Cladonia furcata Schrad. for. grandescens Nyl. Cladonia rangiformis Hoff. Cladonia crispata Flot. Cladonia squamosa Hoff. Cladonia parasitica Hoff. Cladonia verticillata Hoff. ra. cervicornis Samp. (9) Cladonia foliacea Willd. Cladonia foliacea Willd. ra. convoluta Samp. (9)

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300

Cladonia coccifera Willd.

(*) Nome transcrito da etiqueta. A seguir, entre parntesis, o nome que G. Sampaio utilizou quando publicou o nome. A ortografia correcta actual dos nomes novos propostos por G. Sampaio encontra-se na tabela do Anexo II. (1) Existe a etiqueta, mas no existe nenhum exemplar nas coleces estudadas. (2) Taxon no publicado em qualquer obra impressa. (3) Publicado em Espcies novas de lquenes (SAMPAIO, 1917c). (4) Publicado em Contribuies para o estudo dos lquenes portugueses (SAMPAIO, 1918a). (5) Publicado em Liquenes inditos (SAMPAIO, 1920a). (6) Publicado em Novas contribuies para o estudo dos lquenes portugueses (SAMPAIO, 1921a). (7) Publicado em Materiais para a liquenologia portuguesa (SAMPAIO, 1922a). (8) Publicado em Novos materiais para a liquenologia portuguesa (SAMPAIO, 1923a). (9) Publicado em Lquenes de la Provincia de Pontevedra (SAMPAIO & CRESPI, 1927). (10) Existe uma etiqueta impressa com Lecanora galactina Ach., mas que no ter sido usada, dado que no consta das coleces consultadas.

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Anexo II. Txones novos de lquenes publicados por G. Sampaio

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Anexo II. Txones novos de lquenes publicados por G. Sampaio Na tabela seguinte apresentamos uma lista dos novos txones publicados por G. Sampaio. Esta lista foi elaborada com base nos trabalhos que publicou e no estudo crtico de PAZ-BERMDEZ ET AL. (2002). Os txones novos validamente publicados em obra impressa totalizam 101, sendo um gnero e, os restantes, espcies, variedades ou raas novas para a cincia assim como novas combinaes de nomes. Em primeiro lugar encontra-se o nome com a ortografia moderna (de acordo com PAZBERMDEZ ET AL., 2002). As datas dos nomes referem-se data real da publicao da revista, que nem sempre coincide com a data impressa na revista. A seguir entre parntesis encontra-se o nome tal como se encontra na obra publicada. Finalmente, quando aplicvel, segue-se o nome correcto actual. Os txones novos que G. Sampaio props na sua exsicata, Lichenes de Portugal mas que no publicou em obra impressa, no foram includos (constam no entanto da tabela do Anexo I).
Acarospora alberti Samp. (1920) (Alberti) (1) Acarospora flavorubens Bagl. & Car. var. angulosa Samp. (1917) (4) Acarospora granatensis Samp. (1917) (1) Acarospora lesdainii Harm. Ex A. L. Sm. var. alberti Samp. (1927) (5) Acarospora lesdainii Samp. (1927) (5) Acarospora magnussonii Samp. (1924) (Magnussoni ) (1) Acarospora varzinensis Samp. (1920) (1) Acarospora zahlbruckneri Samp. (1921) (Zahlbruckneri) (1) Alectoria dichotoma (Hoffm.) Samp. (1917) (A. dichotoma (Usnea dichotoma Hoff.; Alectoria sarmentosa Ach.) var. variegata nob.) (2) Alectoria dichotoma (Hoffm.) Samp. var. variegata Samp. (1917) (4) Amphiloma lobulatum (Florke) Samp. (1927) (A. lobulatum Samp. (Caloplaca lobulata Oliv.)) (3) Arthonia algarbica Samp. (1918) (1) Arthopyrenia cinereopruinosa (Schaer.) A. Massal. var. olivetorum Samp. (1927) (A. cinereopruinosa Koerb. var. olivetorum Samp.) (3) Aspicilia transmontana Samp. (1924) (1) Bacidia sulphurella Samp. (1924) (1) Blastenia subarenaria Samp. (1917) = Lecanora subarenaria (Samp.) Samp. (1917) (1) Buellia duartei Samp. (1920) (Duartei) (1) Buellia jorgei Samp. (1924) (Jorgei) (1) Buellia pseudosaxatilis Samp. (1917) = Lecidea pseudosaxatilis (Samp.) Samp. (1917) (1) Buellia subcinerascens (Nyl.) Samp. (1917) (B. subcinerascens nob. in herb.) (5) Calicium brunneolum Ach. var. stemonoides Samp. (1917) (4) Caloplaca herminica Samp. (1917) = Lecanora herminica (Samp.) Samp. (1917) (1) Caloplaca lallavei (Clem.) Samp. (1918) (Caloplaca Lallavei Samp. (comb. nov.)) = Caloplaca lallavei (Clem.) Flagev (1886) (5) Caloplaca lesdainii Samp. (1916) (Lesdaini) = Lecanora lesdainii (Samp.) Samp. (1916) (4) Caloplaca peregrina Samp. (1917) = Lecanora peregrina (Samp.) Samp. (1916) (1) Carlosia lusitanica Samp. (1924) (1) Carlosia Samp. (1924) (1) Catillaria melastigma (A. Zahlbr.) Samp. (1927) (C. melastigma Samp. (Lecidea chalybaea Borr)) (5) Chiodecton fragosoi Samp. (1924) (Fragosoi) (1)

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Cladonia foliacea Willd. ra. convoluta Samp. (1927) (5) Cladonia subturgida Samp. (1918) (1) Cladonia verticillata Hoff. ra. cervicornis Samp. (1927) (5) Collema anemoides Samp. (1918) (1) Collema harmandii Samp. (1918) (Harmandi) (4) Collemopsidium stenosporum Samp. (1918) (1) Coniocybe brunneola (Ach.) Samp. (1922) (C. bruneola Samp. (Chaenotheca brunneola Mull-Arg)) (3) Coniocybe chrysicephala (Ach.) Samp. (1922) (C. chrysocephala Samp.; Chaenotheca chrysocephala Fr. Fil.) (2) Cyphelium zahlbruckneri Samp. (1924) (Zahlbruckneri) (1) Diploschistes cinereocaesius (Sw.) Samp. (1927) (D. cinerocaesius Samp.) (5) Diploschistes cinereocaesius (Sw.) Vain. var. violarius Samp. (1927) (D. cinereocaesius Samp. var. violarius Samp.) (5) Girardia cantabrica Samp. (1927) (5) Gyalecta decipiens Samp. (1918) (1) Gyalecta deminuta Samp. (1924) (1) Gyalecta limica Samp. (1916) = Lecidea limica (Samp.) Samp. (1916) (4) Koerberia lusitanica Samp. (1924) (1) Lecania badiella Samp. (1920) (1) Lecania citrinella Samp. (1917) = Lecanora citrinella (Samp.) Samp. (1917) (1) Lecanora calvosina Samp. (1924) (1) Lecanora celestinoi Samp. (1920) (Celestini) (1) Lecanora circumrubens Samp. (1917) (1) Lecanora citrinella (Samp.) Samp. (1917) (1) Lecanora conimbricensis (Samp.) Samp. (1916) (1) Lecanora conimbricensis (Samp.) Samp. var tumidula (Samp.) Samp. (1916) (2) Lecanora gerezina Samp. (1921) = Lecanora tristis Samp. (1917) (2) Lecanora herminica (Samp.) Samp. (1917) (1) Lecanora lesdainii Samp. (1916) (Lesdaini) (1) Lecanora lisbonensis Samp. (1921) (1) Lecanora pachycarpa Samp. (1917) (1) Lecanora peregrina (Samp.) Samp. (1917) (1) Lecanora pruinella (Bagl.) Samp. var. cintrana Samp. (1916) = Rinodina cintrana (Samp.) Samp. (1922) (3) Lecanora rustica Samp. (1924) (1) Lecanora subarenaria (Samp.) Samp. (1917) (1) Lecanora tristis Samp. (1917) = Lecanora gerezina Samp. (1921) (1) Lecidea chodatii Samp. (1920) (Chodati) (1) Lecidea flavigrana Samp. (1922) (1) Lecidea limica (Samp.) Samp. (1916) (1) Lecidea machadoi Samp. (1924) (Machadoi) (1) Lecidea macrocarpoides Samp. (1917) = Lecidea platycarpoies (Bagl.) Samp. (1922) (1) Lecidea nigrescens (Anzi) Samp. (1916) (L. nigrescens Samp. (Toninia nigrescens Anzi)) (2) Lecidea populicola Samp. (1918) (1) Lecidea pseudosaxatilis (Samp.) Samp. (1917) (1) Lecidea rigata Samp. (1924) (1) Leciographa fragosoi Samp. (1924) (Fragosoi) (1) Leiophloea biformis (Borrer) Samp. (1927) (Lejophlea biformis Samp. (Acrocardia biformis Oliv.))) = Leiophloea biformis (Borrer) Trevis (1860) (5) Leiophloea sphaeroides (Wallr.) Samp. (1924) (L. sphaeroides Samp. (comb. nov.)) (2) Lemmopsis affinis Samp. (1918) (affine) (1) Lepraria candelaris (L.) Samp. (1927) = Lepraria candelaris (L.) Fr. (1824) (5) Leptorhaphis epidermis (Ach.) Th Fr. var. olivetorum Samp. (1924) (4)

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Leptorhaphis pinicola Samp. (1924) (1) Lobaria mollissima Samp. (1920) (1) Lopadium athalloides (Nyl.) Samp. (1921) (L. athalloides Samp. (comb. nov.)) (2) Lopadium newtonii Samp. (1920) (Newtoni) (1) Microglaena corderoi (Harm.) Samp. (1922) (Cordeiri Samp.) (2) Omphalaria granitica Samp. (1916) (1) Pachyphiale carneolutea (Turner) Samp. (1921) (P. carneolutea Samp. (comb. nov.)) (2) Pachyphiale limica Samp. (1922) (5) Parmelia conspersa Ach. ra. lusitanica Samp. (1927) (5) Parmelia stygia Ach. var. herminica Samp. (1917) (4) Pertusaria aspicilioides Samp. (1917) (1) Pertusaria lutescens Lamy var. conimbricensis Samp. (1917) (4) Pertusaria pseudocorallina (Lilj.) Samp. (1927) (P. pseudocorallina Samp. (P. Westringii Leight)) = P. pseudocorallina (Lilj.) Arnold (1887) (5) Pertusaria pseudocorallina Samp. var. concreta Samp. (1927) (5) Physcia caesia Nyl. var. perrugosa Samp. (1922) (4) Physcia hispida Tuck. ra. leptalea Samp. (1927) (P. hispida Tuck. (Ph. tenella Ach. (1798), DC. (1805)) r. leptalea Samp.) (5) Physma hispanicum Samp. (1917) (1) Pilocarpon leucoblepharum (Nyl.) Vain. var. chloroticum Samp. (1924) (4) Polyblastia exigua Samp. (1922) (1) Psoroma murale (Schreb.) Samp. (1927) (P. murale Samp. (Lecanora saxicola Ach.)) (5) Psorotichia henriquesii Samp. (1918) (Henriquesi) (1) Psorotichia macrospora Samp. (1924) (1) Pyrenopsis anemoides Samp. (1924) (1) Pyrenopsis calvosina Samp. (1924) (1) Ramalina portuensis Samp. (1924) (1) Rhizocarpon discrepans Samp. (1917) (1) Rhizocarpon geographicum DC. var. lavatum Samp. (1924) (4) Rinodina atrocinerella (Nyl.) var. macrospora Samp. (1918) (2) Rinodina cintrana (Samp.) Samp. (1922) (1) Rinodina confinis Samp. (1924) (1) Rinodina confragosa (Ach.) Korb. var. oliveri Samp. (Olivieri) (1924) (4) Rinodina conimbricensis Samp. (1916) = Lecanora conimbricensis (Samp.) Samp. (1916) (4) Rinodina conimbricensis Samp. var. tumidula Samp. (1916) (tumdula) (4) Rinodina lesdainii Samp. (1924) (Lesdaini) (1) Schismatomma diplotommoides (Bagl.) Samp. (1917) (S. diplotommoides nob. (Lecania diplotommoides Bagl.)) (2) Schismatomma graphidioides (Leight.) Samp. (1917) (S. graphidioides nob. (Platygrapha rimata (Nyl.)) (5) Solenospora holophaea (Mont.) Samp. (1921) (S. holophaea; Parmelia holophaea Mont.) (2) Solenospora olivacea (Fr.) Samp. var. spadicea Samp. (1927) (S. olivacea Samp. var. spadicea Samp.) (5) Toninia abilabra (Dufour) Samp. (1918) (T. albiladra Samp. (comb. nov.))= Toninia albilabra (Dufour) H. Olivier (1911) (5) Toninia lurida (Arnold) Samp. (1918) (T. lurida Samp. (comb. Nov.))= Toninia lurida (Arn.) H. Olivier (1911) (5) Toninia sabulosa (Massal.) Samp. (1918) (T. sabulosa Samp. (comb. nov.)) (2) Verrucaria carrisoi Samp. (1922) (Carrosoi) (1) Verrucaria limae Samp. (1924) (Limae) (1) Xanthocarpia aurantiaca (Lightf.) Samp. (1927) (X. Aurantiaca Samp. (Placodium aurantiacum Hepp in Fl. Europ. nm. 399)) (3) Xanthocarpia vitellinula (Nyl.) Samp. (1927) (X. vitellinula Samp. (Lecanora vitellinula Nyl.)) (3)

(*) (1) Nome validamente publicado. Diagnose latina original.

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(2) Nome validamente publicado. Nova combinao. Diagnose em portugus. (3) Nome validamente publicado. Nova combinao. (4) Nome originalmente no validamente publicado, porque no acompanhado de uma diagnose latina, exigida pelo Cdigo de Nomenclatura ento em vigor. Hoje considerado validamente publicado de acordo com o Cdigo de Nomenclatura actual, porque acompanhado de uma diagnose em portugus. (5) Nome no validamente publicado. A maioria destes nomes foi includa em Lquenes de la Provincia de Pontevedra (1927), sem qualquer descrio ou diagnose.

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Bibliografia citada260 1. Fontes manuscritas Departamento de Botnica da Faculdade de Cincias do Porto261 1A. Correspondncia recebida por G. Sampaio262
De Bouly de Lesdain, M.:
1902 01 05 (BP) 1902 11 30 (C) 1904 02 20 (BP) 1905 01 09 (C) 1922 02 22 (BP)

De Carrisso, Luis W.:


1922 02 01 (C)

De Cresp, Luis:
1924 11 04 (BP) 1925 10 12 (C) 1926 01 18 (C) 1926 03 12 (C) 1926 10 13 (C) 1928 10 05 (C)

De Daveau, Jules:
1901 12 21 (BP) 1905 11 08 (BP) 1905 12 12 (BP) 1905 12 28 (C) 1913 08 07 (BP) 1916 07 24 (BP)

De Du Pr, F.:
1904 03 11 (C) 1904 04 04 (BP)

De Flahault, Ch.:
1903 01 30 (BP) 1905 12 11 (BP)

De Focke, W. O.:
1904 08 12 (BP) 1904 08 15 (C) 1904 09 08 (C) 1904 12 31(C) 1905 03 30 (BP) 1905 05 30 (C)

De Font Quer:
1924 02 05 (C)

As datas encontram-se no seguinte formato: ano ms dia. C, carta; BP, bilhete-postal no-ilustrado; BPI, bilhete-postal ilustrado. 261 O esplio documental de G. Sampaio encontra-se no Departamento de Botnica (FCUP) onde pode ser consultado a pedido. 262 A documentao epistolar de G. Sampaio encontra-se arquivada em pastas, organizadas por ordem alfabtica de autores e, em cada autor, por ordem cronolgica, de forma a facilitar a sua consulta.

260

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219

1935 02 18 (C)

De Fragoso, Romualdo Gonzalez:


1922 05 30 (C) 1922 07 01 (C) 1922 09 14 (C) 1922 11 14 (C) 1923 01 07 (C) 1923 01 30 (C) 1923 03 07 (C) 1923 03 16 (C) 1924 10 01 (C) 1924 02 27 (C) 1926 03 08 (C) 1929 02 25 (C)

De Frana, Carlos: No datada 1 (C): datao provvel 1919-1920 No datada 2 (C): datao provvel 1919-1920 1920 12 03 (BP): datao atribuda 1921 03 29 (C) De Gandoger, Michel:
1902 01 29 (BP) 1902 08 24 (C) 1902 12 02 (BP)

De Hayek, August:
1904 02 13 (BP) 1906 04 10 (C)

De Henriques, Jlio:
1892 06 10 (C) 1893 08 28 (C) 1896 06 23 (C) 1896 08 04 (C) 1896 08 19 (BP) 1902 11 04 (C) 1902 11 24 (C) 1904 05 03 (C) 1904 08 01 (BP) 1904 12 20 (C) 1905 01 16 (C) 1906 06 02 (C) 1908 04 13 (BP) 1908 06 23 (C) 1908 09 03 (C) 1908 12 11 (C) 1909 01 23 (C) 1909 02 08 (C) 1909 02 19 (BP) 1909 07 27 (C) 1910 06 08 (C) 1910 06 30 (C) 1910 08 24 (C) 1910 11 14 (BP) 1910 12 27 (C) 1911 02 26 (C) 1911 03 10 (C) 1911 03 25 (C) 1911 07 12 (C) 1911 08 14 (BP) 1911 09 19 (BP)

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220

1911 12 11 (C) 1912 10 07 (C) 1913 04 06 (C) 1913 04 11 (BP) 1915 02 05 (C) 1915 03 18 (C) 1915 03 22 (BP) 1915 07 13 (C) 1917 08 09 (C) 1920 02 09 (C) 1920 12 06 (C) 1921 05 25 (C) 1921 08 06 (C) 1921 08 09 (C) 1922 02 06 (BP) 1922 02 23 (BP) 1922 10 24 (C) 1922 11 28 (BP) 1922 12 22 (BP) 1923 01 02 (C) 1923 03 06 (BP) 1923 11 14 (C) 1924 04 01 (BP)

De Hiersemann, Karl:
1906 02 22 (C)

De Johnston, Edwin:
1905 07 10 (C) 1913 06 03 (BP)

De Linton, William R.:


1904 09 11 (C) 1907 09 22 (C)

De Lopes, Jos Manuel Miranda:


1927 11 18 (C) 1927 11 29 (C) 1928 05 21 (C) 1928 07 04 (C) 1929 05 14 (C) 1929 05 20 (C) 1929 06 10 (C) 1929 06 15 (C) 1929 06 21 (C)

De Luisier, Alphonse:
1901 09 30 (C) 1907 06 12 (BP) 1907 09 20 (C) 1907 09 27 (BP) 1910 01 04 (BP) 1910 07 07 (BP) 1910 07 19 (C) 1910 09 01 (BP) 1914 02 28 (C) 1915 03 14 (BP) 1915 06 04 (BP) 1916 07 22 (BP) 1921 04 15 (C) 1921 05 07 (C) 1922 01 30 (C) 1922 03 25 (BP)

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221

De Machado, Antnio:
1912 03 10 (C) 1912 03 23 (C) 1912 11 16 (C) 1913 04 21 (C) 1913 04 30 (C)

De Magnusson, A. H.:
1922 10 05 (C) 1922 10 27 (C) 1922 12 17 (C) 1923 06 01 (C)

De Mariz Jnior, Joaquim de:


1895 07 18 (BP) 1901 12 29 (C) 1904 04 09 (BP) 1904 04 14 (C) 1906 07 03 (C)

De Merino, Baltasar:
1902 11 20 (C) 1902 12 22 (C) 1905 02 19 (BP) 1905 02 27 (C) 1905 03 07 (C) 1905 10 08 (C) 1909 10 27 (C) 1914 03 23 (C)

De Mller, Gustav:
1908 10 22 (C)

De Neuman, L. M.:
1904 02 20 (C) 1904 03 26 (BP)

De Palhinha, Ruy Telles:


1922 10 26 (C)

De Pau, Carlos:
1902 08 25 (C) 1902 09 11 (C) 1903 01 05 (C) 1903 11 04 (C) 1905 01 19 (C) 1905 03 22 (C)

De Pereira, Clemente Loureno:


1921 04 13 (C) 1921 07 21 (C) 1921 07 29 (C) 1921 08 23 (C) 1922 01 25 (C) 1922 07 27 (C) 1922 11 15 (C) 1923 11 02 (C) 1923 11 29 (C) 1927 11 03 (C) 1930 05 22 (C) 1932 08 27 (C)

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222

1933 04 27 (C)

De Pereira Coutinho, A. X.:


1902 06 23 (C) 1902 06 30 (C) 1904 02 01 (C) 1904 02 05 (C) 1904 02 29 (C) 1905 02 13 (C) 1906 02 24 (C) 1906 04 27 (C) 1906 05 08 (C) 1906 05 13 (C) 1906 06 09 (C) 1906 06 16 (C) 1906 06 22 (C) 1906 12 31 (C) 1907 02 19 (C) 1907 04 23 (C) 1907 05 09 (BP) 1907 05 15 (BP) 1907 05 20 (C) 1907 07 02 (C) 1907 08 06 (BP) 1908 06 02 (C) 1908 11 20 (C) 1908 12 27 (C) 1909 01 15 (C) 1909 01 21 (C) 1909 05 25 (C) 1909 05 29 (C) 1909 06 07 (C) 1909 06 11 (C) 1909 06 14 (C) 1909 06 16 (C) 1909 07 03 (C) 1909 07 15 (C) 1909 08 21 (C) 1909 08 22 (C) 1909 10 24 (C) 1909 11 20 (C)

De Ricardo Jorge, Arthur:


1902 01 08 (C) 1906 04 16 (C) 1912 12 04 (C) 1918 01 23 (C) 1918 05 10 (BPI) 1919 11 12 (C) 1920 03 29 (C) 1920 05 12 (BP) 1920 12 20 (BP) 1920 12 21 (BP) 1921 11 18 (C) 1921 12 12 (BP) 1922 02 19 (BP) 1923 03 21 (BP) 1924 04 21 (C) 1925 04 09 (C)

De Rogers, William M.:


1902 08 20 (C) 1902 12 29 (C)

A fundao da Botnica moderna em Portugal - Jlio Henriques, A. X. Pereira Coutinho e Gonalo Sampaio

223

1904 01 25 (C) 1904 10 07 (BP)

De Sennen, Fr.:
1912 03 23 (BPI) 1913 08 12 (BP) 1914 01 15 (BPI) 1914 02 22 (BP) 1914 06 13 (BPI) 1914 08 14 (BPI) 1915 03 26 (BPI) 1915 04 20 (BPI) 1915 12 11 (BPI) 1916 01 06 (BPI) 1916 06 12 (BPI) 1918 11 21 (BPI) 1919 11 05 (BPI) 1921 03 28 (BPI) 1922 01 04 (BPI)

De Sudre, H.:
1904 12 02 (BP) 1905 11 25 (BP) 1906 02 13 (BP) 1910 04 23 (BP)

De Tavares, Joaquim da Silva:


1902 01 10 (C) 1905 06 15 (C) 1905 06 16 (C) 1905 07 09 (BP)

De Thellung, A.:
1913 10 07 (BP) 1913 10 08 (BP) 1913 11 05 (BP)

De Zimmermann, Carlos:
1902 01 17 (C)

1B. Correspondncia de G. Sampaio no-expedida ou rascunho de expedida


1902 09 08: Para William M. Rogers. 1906 06 03: Para o Director da Academia Politcnica do Porto. 1906 06 06: Para o Governador Civil de Vila Real. 1912 05 07: Para o Director Geral das Colnias. 1921 02 01: no identificada: provavelmente para Artur Ricardo Jorge. 1922 11 07: Para R. Fragoso (BP).

1C. Manuscritos de G. Sampaio de obras suas no-publicadas


1910 06 01: Dirio de Viagem. 1919 05 27: Epitome da Flora Portuguesa. 1937 03 : Manuscrito. sem data : Manuscrito.

1D. Manuscritos diversos de G. Sampaio


Manuscrito com comentrios edio do Manual da Flora Portugueza.
Contm o editor e as datas das publicaes dos fascculos.

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Caderno de apontamentos.
Na capa escrito: Observaes botnicas, Porto, 1898, Gonalo Sampaio.

Caderno de apontamentos.
Na capa escrito: Riviso dos gneros da Flora portuguesa por Gonalo Sampaio, Porto, Setembro - 1910

1E. Outros documentos


De Boulay, N.:
1891 06 20: Liste mthodique des Rubus distribus par lAssociation rubologique en 1890.

De Gandoger, M.:
1917 03 00 Catalogue des plantes rcoltes en Espagne et en Portugal pendant mes voyages de 1894 1912 destinado publicao na editora Hermann.

Factura de Otto Leonhardt, Nossen, referente venda de exemplares de herbrio:


Data de G. Sampaio de Maio de 1908.

Recibos de renda de casa de G. Sampaio:


Referentes a Abril de 1912 a Dezembro de 1912: Rua da Constituio, 986.

1F. Comentrios em obras impressas Comentrios de A. Ricardo Jorge: em JORGE (1918)


A monografia tem uma dedicatria do autor na folha de rosto: Biblioteca do Gabinete de Botnica da Universidade do Porto. Homenagem de, Junho de 1918.

Comentrios de G. Sampaio: em FOCKE (1877)


Volume encadernado com dois carimbos na pgina de rosto: Academia Polytechnica (azul) e Biblioteca do Instituto de Botnica (verde). Anotaes de G. Sampaio em diversas pginas.

em SAMPAIO (1904e)
Exemplar assinado pelo autor na folha de rosto. Na folha seguinte, uma anotao de G. Sampaio.

num volume encadernado contendo SAMPAIO (1913b, 1914a, 1914b, 1914c)


O volume tem escrito na capa: Nomenclatura do Congresso de Viena.

num volume encadernado contendo SAMPAIO (1913b, 1914a, 1914b, 1914c)


O volume tem escrito na capa: Gneros. Pertence a Gonalo Sampaio. Na contra-capa: Gonalo Sampaio, 1914, Porto

num volume encadernado contendo SAMPAIO, (1913c, 1909-1914, 1895, 1913b, 1914a, 1914b e 1914c)
Todas as obras tm a assinatura do autor na capa. O volume tem escrito na primeira pgina: Manual da Flora portuguesa, por Gonalo Sampaio, Novembro de 1936.

Biblioteca Nacional de Portugal 1G. Correspondncia expedida por G. Sampaio para A. Ricardo Jorge
(Esp. A/1987-2099)

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1902 11 23 (C) A/2007 1902 12 17 (C) A/2096 1904 06 29 (C) A/2095 1912 06 02 (BP) A/2072 1913 01 09 (BP) A/2064 1913 05 16 (C) A/2012 1914 04 20 (C) A/2083 1914 05 00 (BP): no datado: carimbo: 1[ilegvel o segundo nmero]-5-14 19H A/2069 1916 02 21 (C) A/2011 1917 04 27 (BP) A/2079 1917 05 17 (C) A/2025 1917 08 03 (C) A/2094 1917 08 13 (C) A/2090 1917 12 13 (C) A/2021 1917 12 22 (C) A/2023 1918 01 24 (C) A/2093 1918 03 18 (C) A/2017 1918 05 01 (C) A/2001 1918 06 17 (C) A/1992 1918 08 23 (C) A/2027 1918 10 20 (C) A/2029 1918 12 02 (C) A/2018 1918 12 12 (C) A/1989 1920 03 11 (C) A/2087 1920 04 16 (C) A/2089 1920 05 16 (C) A/2088 1920 05 19 (BP) A/2047 1920 05 28 (BP) A/2044 1920 06 02 (C) A/2086 1920 10 03 (C) A/2014 1920 10 04 (BP) A/2045 1920 11 23 (BP) A/2042 1921 00 00 (C): no datado: mas seguramente de final de 1920 incio de 1921 pelo seu contedo. A/2038 1921 01 03 (C) A/2099 1921 03 04 (C) A/2098 1921 03 24 (C) A/2097 1921 05 31 (C) A/1988 1921 09 19 (C) A/2004 1921 12 15 (BP) A/2078 1922 02 04 (C) A/2034 1923 03 01 (BP) A/2054 1923 03 16 (BP) A/2053 1923 03 22 (BP) A/2052 1924 04 04 (BP) A/2062 1926 07 03 (C) A/1987 1929 01 24 (BP) A/2000 1930 08 06 (BP) A/2066

2. Fontes impressas 2A. Peridicos e monografias AAPP, Annuario da Academia Polytechnica do Porto Edies para os anos lectivos: 1877-1878, 1878-1879, 1879-1880, 1880-1881, 1881-1882, 1882-1883, 1889-1890, 1890-1891, 1891-1892, 1892-1893, 1893-1894, 1894-1895, 1895-1896, 18961897, 1898-1899, 1899-1900, 1900-1901, 1901-1902, 1902-1903, 1903-1904, 1904-1905, 1905-1906, 1906-1907, 1910-1911. AFSP, Anurio da Faculdade de Scincias do Porto

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Edio para os anos lectivos: 1911-1912 a 1913-1914. AFSUP, Anurio da Faculdade de Scincias da Universidade do Porto Edio para os anos lectivos: 1914-1915 a 1917-1918. ALC, Annuario do Lyceu de Cames Annuario de 1908-1909, 1910-1911. ALCL, Annuario do Lyceu Central de Lisboa Annuario de 1907-1908. Typographia do Annuario Commercial; Lisboa. AZEVEDO, C. M. 1911 O Collegio de S. Fiel. Resposta ao relatorio do advogado Sr. Jos Ramos Preto. Imprenta de Gabriel Lpez del Horno, Madrid. 1913 A Broteria no exlio. Broteria Suplemento de Maro-Abril de 1913. B, Broteria Volumes I, VI, XXI. BRIGOLA, J. C. P. 2003 Coleces, gabinetes e museus em Portugal no sculo XVIII. Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, 614 pp. BRIQUET, J. 1907 Regras internacionaes da nomenclatura botanica adoptadas pelo Congresso Internacional de Botanica de Viena 1905 e publicadas em nome da Comisso de Redaco do Congresso. Introduo e traduo de J. Henriques. Boletim da Sociedade Broteriana, 23: 176-199. BSB, Boletim da Sociedade Broteriana Srie I, volumes: I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI, XXIII, XXIV, XXVI, XXVIII; Srie II, volumes: XIV. CABRAL, J. P. & FOLHADELA, E. 2006 3. BOTNICA. GONALO SAMPAIO. Catlogo da exposio. Ciclo de Exposies Aventureiros, Naturalistas e Coleccionadores. Julho-Setembro de 2006. Edio da Reitoria da Universidade do Porto, 55 pp., ISBN 972-8025-52-1, 978-972-8025-52-6. CAMP, W. H., RICKETT, H. W. & WEATHERBY, C. A. 1947 International Rules of Botanical Nomenclature. Brittonia, 6(1): 1-120. CARVALHO, A. F. 1939 Prof. Luiz Carrisso. Boletim da Sociedade Broteriana, 13(2): XI-XVI. CARVALHO, R. 1996 Histria do ensino em Portugal. Desde a fundao da nacionalidade at ao fim do regime de Salazar-Caetano. Fundao Calouste Gulbenkian, 2.a edio, Lisboa, 962 pp.

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1900b 1901 1905 1906a 1906b 1906c 1907a 1907b 1907c 1913 1916 1917a 1917b 1917c 1919 1920 1921 1923 1928 1931 1934 1935 1936

As Rubiceas de Portugal. Contribuies para o estudo da flora portugueza. Boletim da Sociedade Broteriana, 17: 7-41. As Campanulceas de Portugal. Contribuies para o estudo da flora portugueza. Boletim da Sociedade Broteriana, 18: 22-44. As Boraginaceas de Portugal. Contribuies para o estudo da flora portugueza. Boletim da Sociedade Broteriana, 21: 106-165. As Escrophulariaceas de Portugal. Contribuies para o estudo da flora portugueza. Boletim da Sociedade Broteriana, 22: 114-213. Atlas de Botanica. Mandado organizar pela Direco Geral dInstruo Publica de Portugal A Editora para uso nos Lyceus (I, II, III e IV classes). 2.a edio. A Editora, Lisboa. Curso Elementar de Botanica para uso dos Lyceus (I, II e III classes), segundo os programmas approvados pelo decreto de 3 de Novembro de 1905. 3.a edio. Aillaud, Paris-Lisboa, 309 pp. As Labiadas de Portugal. Contribuies para o estudo da flora portuguesa. Boletim da Sociedade Broteriana, 23: 51-175. Curso Elementar de Botanica para IV e V classes do Curso dos Liceus), 2.a edio, segundo os programmas approvados pelo decreto de 3 de Novembro de 1905. Aillaud, Paris-Lisboa, 139 pp. Curso Elementar de Botanica para uso dos Lyceus. VI e VII classes, 2.a edio, segundo os programmas approvados pelo decreto de 3 de Novembro de 1905. Aillaud, Paris-Lisboa, 310 pp. A Flora de Portugal (plantas vasculares) disposta em chaves dichotomicas. Aillaud, Paris, Alves, Lisboa, Francisco Alves, Rio de Janeiro, 767 pp. Lichenum Lusitanorum Herbarii Universitatis Olisiponensis Catalogus. Lisboa, 122 pp. Catalogi Lichenum Lusitanorum Herbarii Universitatis Olisiponensis. Supplementum primum. Lisboa, 40 pp. Musci Lusitanici Herbarii Universitatis Olisiponensis. Lisboa, 143 pp. Hepaticae Lusitanicae Herbarii Universitatis Olisiponensis. Lisboa, 39+5 pp. Eubasidiomycetes Lusitanici Herbarii Universitatis Olisiponensis. Lisboa, 195 pp. Rudimentos de botanica e de agricultura para os alunos do Ensino Primrio Geral (segundo o programma oficial de 7 de Novembro de 1919) (3.a, 4.a e 5.a classes). 1.a edio. Aillaud, Paris-Lisboa, Bertrand, Porto, 174 pp. Eubasidiomycetum Lusitanorum Herbarii Universitatis Olisiponensis. Supplementum. Lisboa, 13 pp. Curso Elementar de Botnica para uso dos Liceus, vols. III, IV e V (III, IV e V classes), segundo os programas aprovados pelo decreto de 23 de Dezembro de 1919. 3.a e 4.a edies. Aillaud, Paris-Lisboa, Bertrand, Porto, 273 pp. Curso Elementar de Botnica (VII classe), segundo os programas aprovados pelo decreto de 23 de Dezembro de 1919. 3.a edio. Aillaud, Paris-Lisboa, Bertrand, Porto, 278 pp. Basidiomicetas novos para a flora de Portugal. Boletim da Sociedade Broteriana, srie II, 7: 329-350. Basidiomicetas novos para a flora de Portugal. Boletim da Sociedade Broteriana, srie II, 9: 199-214. Suplemento da Flora de Portugal. Boletim da Sociedade Broteriana, srie II, 10: 43-194. Esboo de uma Flora Lenhosa Portuguesa 2.a edio. Publicaes da Direco Geral dos Servios Florestais e Aqucolas, 3(1): 7-371

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CP, O Commercio do Porto Edies dos seguintes dias do ms de Janeiro de 1919: 21, 22, 23, 24, 26, 27, 28, 29, 30, 31. Edies dos seguintes dias do ms de Fevereiro de 1919: 1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 18, 19. Edio de 21 de Maro de 1919. Edies dos seguintes dias do ms de Agosto de 1919: 1, 2, 3, 5, 6, 8, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 19, 20 e 21. DG, Dirio do Governo 1837 01 16. 1837 01 19, n. 16. 1839 01 04, n. 4. 1884 06 23, n. 139. 1885 08 20, n. 184. 1885 09 21, n. 211. 1890 02 08, n. 31. 1901 12 12, n. 281. 1911 04 22, n. 93. 1911 05 15, n. 112. 1921 02 17, n. 34, srie I. 1921 03 21, n. 73, srie II. 1935 03 08, n. 54, srie I. FCP 1969 Faculdade de Cincias do Porto. 1762-1803-1837-1911. Tipografia Bloco Grfico, Porto, 446 pp.

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1909a 1909b 1910a 1910b 1910c 1911a 1911b 1911c 1912a 1912b 1913a 1913b 1913c 1914a 1914b 1914c 1915 1916a 1916b 1916c

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1917a 1917b 1917c 1917d 1918a 1918b 1920a 1920b 1920c 1921a 1921b 1921c 1921d 1922a 1922b 1923a 1923b 1924 1931a 1931b 1934 1935a 1935b

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4312 (1920 03), 4314 (1918 08), 4315 (1917 05), 4316 (1917 06), 4317 (1916 07), 4319 (1918 05), 4320 (1916 06), 4321 (1920 03), 4323 (1920 07), 4324 (1920 03).

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ndice remissivo

A
A. C. Oliveira Pinto, 78, 83 A. H. Magnusson, 154, 155 A. Hayek, 41, 42, 43, 44, 50, 56, 59 A. Luisier, 7, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 87, 129, 130, 175, 188 A. Luso da Silva, 66 A. Machado, 85, 130, 132, 133, 140, 141 A. Mller, 28, 66, 68, 182, 186 A. Pires de Lima, 16, 183, 194, 195 A. Quintanilha, 72 A. Ricardo da Cunha, 27 A. Ricardo Jorge, 6, 7, 34, 37, 38, 97, 98, 100, 107, 108, 113, 146, 147, 148, 149, 151, 152, 154, 155, 157, 160, 166, 168, 169, 170, 185, 186, 187, 194, 197, 198, 199, 205, 206 A. Rozeira, 195 A. Thellung, 168 Academia Politcnica, 11, 12, 15, 17, 18, 19, 20, 22, 23, 25, 28, 29, 31, 32, 66, 72, 84, 93, 94, 95, 101, 119, 187 Academia Polytechnica, 15, 33, 37, 48, 72, 80, 89, 96, 175, 177, 179, 182 Academia Real da Marinha e Comrcio, 11 Acarospora, 98, 150, 154, 208, 214 Acarospora alberti Samp., 214 Acarospora flavorubens Bagl. & Car. var. angulosa Samp., 214 Acarospora granatensis Samp., 214 Acarospora lesdaini Harm. var. Alberti Samp., 208 Acarospora lesdainii Harm. Ex A. L. Sm. var. alberti Samp., 214 Acarospora lesdainii Samp., 214 Acarospora magnussonii Samp., 214 Acarospora varzinensis Samp., 208, 214 Acarospora zahlbruckneri Samp., 214 Alberto Sampaio, 206 Aldrovandia, 143 Alectoria dichotoma (Hoffm.) Samp., 214 Amphiloma lobulatum (Florke) Samp., 214 Anthericum Liliago var. transmontanum (Samp.) Samp., 140, 191 Anthericum lusitanicum (Samp.) Samp., 184 Argoselo, 131 Arthonia algarbica Samp., 206, 214 Arthonia impolita Borr. var. algarbica Samp., 206 Arthopyrenia cinereopruinosa (Schaer.) A. Massal. var. olivetorum Samp., 214 Aspicilia transmontana Samp., 214 Association Rubologique, 42, 44, 45 Augusto Nobre, 93, 97, 177, 196

Brassica Johnstoni Samp., 177 Brassica nostalgica Samp., 189 Brignolia Bertol., 192 Broteria, 28, 58, 72, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 82, 83, 84, 87, 98, 159, 175, 188 Brotero, 4, 6, 11, 19, 38, 39, 54, 64, 65, 74, 107, 113, 124, 127, 167, 169, 173, 176, 177, 178, 181, 183, 190, 192, 195 Buellia duartei Samp., 214 Buellia Duartei Samp., 209 Buellia jorgei Samp., 214 Buellia Jorgei Samp., 209 Buellia myriocarpa Mudd. var. aequata Samp., 209 Buellia myriocarpa Mudd. var. lusitanica Samp., 209 Buellia pseudosaxatilis Samp., 214 Buellia subcinerascens (Nyl.) Samp., 214 Bunium flexuosum ra. Marizianum (Samp.) Samp., 177

C
C. Frana, 142, 143 C. L. Pereira, 131, 132, 133, 134, 135, 161, 172, 190 C. M. Azevedo, 77, 86 C. Pau, 47, 51, 52, 53, 56, 57, 58, 104, 111, 128, 191, 192 C. Torrend, 78, 83, 87 C. Zimmermann, 75, 76, 78, 79, 83, 87, 149, 182 Caballero, 111, 153, 159 Caldas da Sade, 74, 84 Caldelas, 189, 193 Calicium brunneolum Ach. var. stemonoides Samp., 214 Caloplaca herminica Samp., 214 Caloplaca lallavei (Clem.) Samp., 214 Caloplaca Lallavei Samp., 214 Caloplaca lesdainii Samp., 214 Caloplaca peregrina Samp., 214 Carex algarbiensis Samp., 189 Carex Broteriana Samp., 193 Carex caryophyllea var. fuscata Samp., 191 Carex intacta Samp., 182 Carlos das Neves Tavares, 186 Carlosia, 98, 150, 185, 197, 214 Carlosia lusitanica Samp., 150, 214 Castelo de Paiva, 4, 5, 12, 17 Catlogo, 130, 154, 157, 185, 198 Catlogo analtico dos lquenes portugueses, 157, 198 Catillaria melastigma (A. Zahlbr.) Samp., 214 Catillaria melastigma Samp., 208 cecdias, 77 Centaurea Luisieri, 82, 186, 188

B
B. Merino, 38, 51, 57, 104, 128, 167 Bacidia milliaria Samp., 209 Bacidia sulphurella Samp., 214 Barcelona, 43, 105, 109, 111, 153 Batotheca Europaea, 42, 43, 44, 50, 59 Blastenia subarenaria Samp., 214 Boletim da Sociedade Broteriana, 23, 25, 64, 72, 116, 118, 119, 125, 142, 198, 201 Bouly de Lesdain, 41, 42, 44, 45, 55, 56, 146

Ch
Ch. Flahault, 102 Chiodecton fragosoi Samp., 214

C
Cincinalis Gled., 192 Cintra, 62, 80, 151, 152 Cladonia foliacea Willd. ra. convoluta Samp., 215 Cladonia foliaceae Willd. ra. convoluta Samp., 211

A fundao da Botnica moderna em Portugal - Jlio Henriques, A. X. Pereira Coutinho e Gonalo Sampaio

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Cladonia subturgida Samp., 215 Cladonia uncialis Web. var. gracilima Samp., 211 Cladonia verticillata Hoff. ra. cervicornis Samp., 211, 215 Cdigo de Viena, 162, 163, 164, 165, 166, 168, 172, 173, 177 Colgio de Campolide, 77, 78, 79, 80, 83, 84, 85, 86, 130 Colgio de S. Fiel, 58, 69, 74, 75, 76, 77, 78, 80, 81, 83, 86, 119, 149 Colgio de Setbal, 77, 80, 83 Colegio del Apostol Santiago, 84, 167 Colegio del Pasaje, 78, 82, 84 Colgio do Barro, 80, 83 Colgio Nuno lvares, 74, 77, 85 Collema anemoides Samp., 215 Collema harmandii Samp., 215 Collemopsidium stenosporum Samp., 215 Comesia sampaioi Gonz. Frag., 160 Conde de Ficalho, 4, 5, 6, 26, 27, 28, 37, 38, 54, 55, 66 Congresso de Viena, 163, 165, 169, 170 Congresso do Porto, 112, 132, 145, 159, 166, 171, 192, 193 Coniocybe brunneola (Ach.) Samp., 215 Coniocybe chrysicephala (Ach.) Samp., 215 Conopodium Marizianum Samp., 24, 177 Cornicularia intricata Samp., 211 Cotyledon praealtus (Brot.) Samp., 177 cursos livres, 89, 90, 91, 93 Cyphelium zahlbruckneri Samp., 215

exsicatas, 6, 25, 39, 43, 68, 101, 102, 109, 149, 163, 164, 179, 186, 193, 200

F
Faculdade de Cincias do Porto, 16, 35, 93, 95, 130, 134, 157, 187, 194, 196, 200 Faculdades de Cincias, 89, 90, 92, 94 Filosofia Natural, 13, 130 Flora do Mondego, 126 Flora Germanicae bor., 42 Flora Ibrica, 111, 159, 198 Flora iberica selecta, 109 flora liqunica, 148, 157, 158, 185, 186, 201 Flora lusitanica, 24, 25, 67, 68, 178 Flora lusitanica exsiccata, 24, 25, 67, 68 Flora Portuguesa, 99, 122, 186, 187, 189, 193, 194, 197 Flore Portuguaise, 5, 64, 127, 184 Folha Democratica, 33 Font Quer, 104, 109, 111, 153, 158, 201 Fr. Sennen, 42, 101, 102, 104, 105, 106, 107, 108, 129 Francisco de Salles Gomes Cardoso, 17, 20, 32, 66 Fusarium sampaioi Gonz. Frag., 160

G
G. Genevier, 43, 50 G. Mller, 50, 110 Gabinete de Historia Natural, 12 Gagea nova Samp., 131, 191 Gagea pratensis ra. nova Samp., 191 Genera plantarum, 164 Girardia cantabrica Samp., 215 Gloniella sampaioi Gonz. Frag., 160 Gyalecta decipiens Samp., 215 Gyalecta deminuta Samp., 215 Gyalecta limica Samp., 215

D
Decreto de 15 de Maio de 1911, 92, 95, 97 Decreto de 22 de Abril de 1911, 90 Desmidiceas, 186, 187 Diccionario dos Termos Technicos de Historia Natural, 4 Digitalis, 118, 174, 179 Digitalis Amandiana Samp., 179 Dimelaena castanoplaca Samp., 210 Diploschistes cinereocaesius (Sw.) Samp., 215 Diploschistes cinereocaesius (Sw.) Vain. var. violarius Samp., 215 Diploschistes cinereocaesius Samp. var. violarius Samp., 209 Discosia sampaioi Gonz. Frag., 160 Dr. C. Baenitz Herbarium Europaeum, 43, 44 Drosophyllum, 142, 144 Du Pr, 41, 42, 45, 56

H
H. Sudre, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 50, 56, 59 Herbrio da Universidade de Coimbra, 23, 24, 26, 28, 54, 65, 66, 68, 86, 87, 115, 186, 189, 193 Herbarium Dr. August v. Hayek, 43 Herbarium Ruborum rariorum, 43 Hoffmansegg, 4, 5, 6, 64, 113, 127, 167, 169, 176, 181, 183, 190, 191, 192 Hypogymnia tubulosa Samp., 210

E
E. Johnston, 28, 66, 127, 175, 180, 182 Echium, 24, 26, 118, 174, 178, 189 Echium Broteri Samp., 27, 178 Epilobiaceae, 174, 179 Epitome, 99, 186, 187, 197 Escola Politcnica, 5, 6, 9, 10, 11, 13, 18, 26, 27, 29, 54, 61, 85, 117, 118, 127, 142 Escola Polytechnica, 61, 85, 89, 179 espcies broterianas, 176, 177, 183, 190 esplio documental, 6, 7, 169, 186 Eugenio Schmitz, 28, 66 Evax lusitanica Samp., 189 exsicata, 25, 28, 42, 44, 45, 50, 59, 68, 69, 101, 102, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 147, 149, 151, 152, 153, 154, 155, 180, 185, 186, 204, 205, 206, 214

I
Iberis, 189, 192 Iconografia, 194, 195, 198 Ignacio Bolivar, 158 Insalde, 131, 133, 134 Instituto de Botnica Dr. Gonalo Sampaio, 199 Instituto de Investigaes Botnicas, 98 Isaac Newton, 28, 66, 85, 182

J
J. Briquet, 163 J. Casimiro Barbosa, 28, 66, 182, 201

A fundao da Botnica moderna em Portugal - Jlio Henriques, A. X. Pereira Coutinho e Gonalo Sampaio

243

J. Daveau, 27, 28, 54, 66, 82, 102, 103, 129, 182 J. M. Miranda Lopes, 131, 136, 137, 138, 140, 141, 190 J. Mariz, 24, 25, 27, 28, 29, 30, 31, 66, 68, 69, 141, 193 J. S. Tavares, 7, 58, 77, 78, 79, 80, 83, 84, 87, 149, 182 Jardim Botnico da Ajuda, 4, 5, 15, 27 Jardim Botnico e Experimental, 5, 12, 15, 16, 17, 20, 28, 32, 33, 176 Joo Franco, 33 Joaquim Sampaio, 186, 206 Joaquim Tavares, 175, 179, 180 Jos Ramos Preto, 86 Juniperus, 190

K
K. Hiersemann, 127 Koerberia lusitanica Samp., 207, 215 Kundmania Scop., 192

L
L. Cresp, 153, 156, 158, 190 L. M. Neuman, 41, 43, 51, 55 L. W. Carrisso, 72, 141, 157, 198 La Guardia, 52, 58, 78, 82, 84, 85, 167 Laserpitium thalictrifolium Samp., 183 Lecania badiella Samp., 215 Lecania citrinella Samp., 209, 215 Lecania lesdaini Samp., 208 Lecanora bracarensis B. de Lesd. & Samp., 207 Lecanora calvosina Samp., 215 Lecanora celestini Samp., 207 Lecanora celestinoi Samp., 215 Lecanora circumrubens Samp., 215 Lecanora citrinella (Samp.) Samp., 215 Lecanora conimbricensis (Samp.) Samp., 215, 216 Lecanora gerezina Samp., 215 Lecanora herminica (Samp.) Samp., 214, 215 Lecanora lesdainii (Samp.) Samp., 214 Lecanora lesdainii Samp., 215 Lecanora limica B. de Lesd. & Samp., 207 Lecanora lisbonensis Samp., 215 Lecanora pachycarpa Samp., 215 Lecanora peregrina (Samp.) Samp., 214, 215 Lecanora piniperda Koerb. var. lusitanica B. de Lesd. & Samp., 207 Lecanora pruinella (Bagl.) Samp. var. cintrana Samp., 215 Lecanora rustica Samp., 215 Lecanora subarenaria (Samp.) Samp., 214, 215 Lecanora tristis Samp., 215 Lecidea chodati Samp., 208 Lecidea chodatii Samp., 215 Lecidea flavigrana Samp., 215 Lecidea limica (Samp.) Samp., 215 Lecidea machadoi Samp., 215 Lecidea macrocarpoides Samp., 215 Lecidea nigrescens (Anzi) Samp., 215 Lecidea platycarpoies (Bagl.) Samp., 215 Lecidea populicoa Samp., 215 Lecidea pseudosaxatilis (Samp.) Samp., 214, 215 Lecidea rigata Samp., 215 Leciographa fragosoi Samp., 215 Leiophloea biformis (Borrer) Samp., 215

Leiophloea sphaeroides (Wallr.) Samp., 215 Lejophlea biformis Samp., 215 Lemmopsis affinis Samp., 215 Leonhardt em Nossen, 110 Lepidoma deceptorium Samp., 208 Lepidoma tabacinum Samp., 208 Lepraria candelaris (L.) Samp., 215 Leptorhaphis epidermis (Ach.) Th Fr. var. olivetorum Samp., 215 Leptorhaphis pinicola Samp., 216 Lethagrium aggregatum Samp., 207 Liceu Cames, 85, 129, 130 Liceu de Castelo Branco, 86 Lichenes de Portugal, 147, 149, 150, 204, 205, 214 Lineu, 4, 9, 11, 64, 163, 164, 167, 169, 170, 171, 172, 173, 177, 178, 184 Link, 4, 6, 64, 102, 113, 127, 144, 167, 169, 176, 177, 181, 182, 183, 184, 190, 191, 192, 195 Lista das espcies, 166, 168, 171, 199 Lobaria mollissima Samp., 210, 216 Loeflingia, 84, 120, 123, 124, 177 Loeflingia Tavaresiana Samp., 84, 177 Lopadium athalloides (Nyl.) Samp., 216 Lopadium newtonii Samp., 216

M
M. Amandio Gonalves, 17, 20, 21, 23, 25, 31, 94, 96, 174, 182, 187 M. Gandoger, 47, 109 Madrid, 111, 120, 153, 156, 158, 159, 160, 184, 205, 231, 232, 237 Manual, 61, 62, 97, 116, 122, 129, 132, 182, 183, 187, 193, 194, 197, 199, 224 Meniarth, 83, 87 Mentha, 24, 26, 120, 174, 179, 180 Mesembryanthemum, 120 Microglaena corderoi (Harm.) Samp., 216 mini-cdigo de nomenclatura, 172 Monarquia do Norte, 99 Montia lusitanica Samp., 183

N
N. Boulay, 41, 43, 44, 45 Narcissus junquilla var. Henriquesii Samp., 181 Nectria sampaioi Gonz. Frag., 160 nomem nudum, 167 nomenclatura botnica, 112, 162, 163, 169, 185, 196 nomes conservados, 162, 164, 167, 172 Notas criticas, 81, 128, 174, 176, 177, 183

O
O Commercio do Porto, 99 O Primeiro de Janeiro, 99 Ochrolechia subtartarea Samp., 208 Odemira, 125, 128, 174, 180, 181 Odontites rubra var. Lopesiana (Samp.) Samp., 191 Odontites serotina var. Lopesiana Samp., 191 Omphalaria granitica Samp., 216 Opegrapha vulgata Ach. var. devulgata Samp., 206

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244

P
Pachyphiale carneolutea (Turner) Samp., 216 Pachyphiale carneolutea Samp., 207 Pachyphiale limica Samp., 216 Paradisia lusitanica var. transmontana Samp., 140 Paredes de Coura, 63, 131, 132, 133, 135 Parmelia conspersa Ach. ra. lusitanica Samp., 216 Parmelia stygia Ach. var. herminica Samp., 216 Pertusaria aspicilioides Samp., 216 Pertusaria lutescens Lamy var. conimbricensis Samp., 216 Pertusaria pseudocorallina (Lilj.) Samp., 216 Pertusaria pseudocorallina Samp., 209, 216 Peucedanum uliginosum (Link) Samp., 184 Phyllosticta sampaioana Gonz. Frag., 160 Physalospora sampaioi Gonz. Frag., 160 Physcia caesia Nyl. var. perrugosa Samp., 216 Physcia hispida Tuck. ra. leptalea Samp., 210, 216 Physma hispanicum Samp., 216 Phytographia Lusitaniae selectior, 4 Pilocarpon leucoblepharum (Nyl.) Vain. var. chloroticum Samp., 216 Plantae Scandinavicae, 43 Plantago, 184, 185 Plantago algarbiensis (Samp.) Samp., 185 Plantago bracteosa (Willk.) Samp., 185 plantas carnvoras, 142, 143 Plantes dEspagne, 43, 107 Polyblastia exigua Samp., 216 Pvoa de Varzim, 100, 108, 149 princpio da prioridade, 163, 164, 166, 171 Prdromo, 182 Psoroma lisbonense Samp., 208 Psoroma murale (Schreb.) Samp., 216 Psorotichia henriquesii Samp., 216 Psorotichia macrospora Samp., 216 Pteridium Scop., 192 Pyrenopsis anemoides Samp., 207, 216 Pyrenopsis calvosina Samp., 216

R. peculiaris Samp., 42, 60 R. peratticus Samp., 41, 60 R. portuensis Samp., 42, 60 R. rhamnifolius var. australis Samp., 60 R. Sampaianus Sud., 42 R. subincertus Samp., 42, 60 R. T. Palhinha, 26, 118, 129, 161 R. trifoliatus Samp., 60 R. vagabundus Samp., 60 R. villicaulis ra. beirensis Samp., 60 Ramalina portuensis Samp., 211, 216 Ranunculus, 102, 114, 127, 174, 176, 178 revoluo de 28 de Maio de 1926, 34 revoluo de 5 de Dezembro de 1917, 34 Rhabdospora sampaioi Gonz. Frag., 160 Rhizocarpon discrepans Samp., 216 Rhizocarpon geographicum DC. var. atrovirens Samp., 209 Rhizocarpon geographicum DC. var. lavatum Samp., 209, 216 Rinodina atrocinerella (Nyl.) var. macrospora Samp., 216 Rinodina cintrana (Samp.) Samp., 210, 215, 216 Rinodina confinis Samp., 210, 216 Rinodina confragosa (Ach.) Korb. var. oliveri Samp. (Olivieri), 216 Rinodina confragosa Koerb. ra. Olivieri Samp., 210 Rinodina conimbricensis Samp., 216 Rinodina lesdainii Samp., 216 rio Minho, 135 Romulea, 102, 128, 174 Rubus portuguezes, 37, 39, 58, 62

S
Sabransky, 42, 43, 50, 59 Salamanca, 77, 78, 81, 82, 84, 129, 188 Sampaioa Gonz. Frag., 160 Sampaioa pinastri Gonz. Frag., 160 Saxifraga granulata var. Lopesiana (Samp.) Samp., 138, 191 Saxifraga Lopesiana Samp., 131, 138, 191 Schistomma diplotommoides (Bagl.) Samp., 216 Schistomma graphidioides (Leight.) Samp., 216 Seseli granatense var. Peixoteanum (Samp.) Samp., 177 Seseli Peixoteanum Samp., 177 Set of British Rubi, 42, 43 Setaria jubata Ach. var. chalybeiformis Samp., 211 Setaria variegata Samp., 211 Sevilha, 159, 170 Silene, 102, 117, 120, 121, 122, 124, 168, 176, 189 Silene Boryi, 120, 121, 122, 123, 124, 189 Silene Boryi var. duriensis Samp., 121 Silene duriensis (Samp.) Samp., 189 Sociedade Broteriana, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 44, 45, 52, 54, 62, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 72, 73, 79, 82, 83, 86, 101, 117, 120, 125, 130, 131, 132, 135, 136, 137, 138, 141, 142, 151, 159, 160, 161, 162, 165, 198 Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais, 72, 77 Solenopsora holophaea Samp., 209 Solenopsora olivacea Samp., 209 Solenopsora subdisparata Samp., 209 Solenospora holophaea (Mont.) Samp., 216 Solenospora olivacea (Fr.) Samp. var. spadicea Samp., 216 Species plantarum, 163, 164, 167 Spergularia, 102, 174, 177, 179, 182 Spergularia colorata Samp., 182 Spergularia modesta Samp., 182

Q
Quercus, 28, 183

R
R. bifrons var. duriminius Samp., 60 R. brigantinus Samp., 42, 60 R. caldasianus Samp., 60 R. Coutinhi Samp., 54, 60 R. discerptus var. maranensis Samp., 60 R. G. Fragoso, 71, 111, 153, 156, 158, 159, 160, 161, 173, 191, 198 R. Henriquesii Samp., 42, 53, 60 R. herminicus Samp., 60 R. incurvatus var. minianus (Samp.) Samp., 60 R. koehleri var. gerezianus Samp., 60 R. Lespinassei Clav., 54 R. lusitanicus var. signifer Samp., 60 R. mercicus var. castranus (Samp.) Samp., 60 R. minianus Samp., 60 R. nitidus var. lusitanicus Samp., 60 R. obtusangulus ra. beirensis (Samp.) Samp., 60

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Stauracanthus, 193

T
txones broterianos, 177, 181, 190 Teucrium Haenseleri var. Luisieri (Samp.) Samp., 175 Teucrium Luisieri Samp., 175 Tirol, 59, 77, 83, 84 Toninia abilabra (Dufour) Samp., 216 Toninia lurida (Arnold) Samp., 216 Toninia sabulosa (Massal.) Samp., 216 Torro, 174, 180, 181 Tournefort, 9, 113, 144, 167, 169, 170 Trancoso, 189, 193

Veronica demissa, 102, 118 Veronica officinalis ra. Carquejiana (Samp.) Samp., 178 Verrucaria carrisoi Samp., 216 Verrucaria limae Samp., 216 Vimioso, 118, 131, 136, 137, 138, 139, 140, 141 Voyage au Portugal, 5

W
W. M. Rogers, 40, 41, 42, 43, 44, 46, 55, 60 W. O. Focke, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 48, 49, 50, 54, 55, 56, 61 W. R. Linton, 40, 41, 43, 44, 46, 47, 56, 60 Welwitsch, 5, 54, 64, 106, 117, 121, 124, 192 Willkomm, 23, 31, 37, 54, 65, 66, 111, 122, 123, 125, 185, 188, 193, 198

U
Ulex, 73, 80, 106, 108, 115, 128, 192 ulicneas, 192, 197 Universidade de Mompilher, 27, 102 Utricularia, 143

X
Xanthocarpia aurantiaca (Lightf.) Samp., 216 Xanthocarpia irrubescens Samp., 208 Xanthocarpia phlogina Samp., 208 Xanthocarpia vitellinula (Nyl.) Samp., 216

V
Valrio Cordeiro, 83 Vandelli, 4 Veronica Carquejeana Samp., 178

Z
Zahlbruckner, 98, 148, 154, 198

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