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Gonalo Sampaio.

Vida e obra pensamento e aco

Gonalo Sampaio. Vida e obra - pensamento e aco1


Joo Paulo Cabral2 NDICE Apresentao ............................................................................................................................................. 4 I. G. Sampaio iderio poltico e cvico, e tica da aco ....................................................................... 7 1. G. Sampaio redactor da Folha Democratica................................................................................ 7 2. G. Sampaio, Joo Franco e o Partido Regenerador Liberal .......................................................... 12 3. G. Sampaio e a Monarquia do Norte ............................................................................................. 20 4. G. Sampaio mestre incompreendido?......................................................................................... 29 II. G. Sampaio e o estudo da msica popular ......................................................................................... 45 1. A conferncia no salo do jornal O Primeiro de Janeiro........................................................... 45 2. G. Sampaio e o fado ...................................................................................................................... 48 3. G. Sampaio e Luis Cresp .............................................................................................................. 51 4. G. Sampaio e Afonso Valentim..................................................................................................... 52 5. G. Sampaio e o estudo da msica popular do Minho e da msica sacra ....................................... 55 6. Outras msicas populares .............................................................................................................. 57 III. G. Sampaio e o estudo da Histria da Botnica ................................................................................ 59 1. A Histria da Botnica vista por G. Sampaio ............................................................................... 59 2. G. Sampaio e Amato Lusitano ...................................................................................................... 92 IV. G. Sampaio e o estudo da flora vascular portuguesa ...................................................................... 105 1. G. Sampaio e a Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais ...................................................... 105 2. A rede de colaboradores .............................................................................................................. 122 2A. Os Herbrios de Coimbra e de Lisboa ................................................................................... 122 2B. Os Jesutas da Broteria ........................................................................................................... 123 2C. Clemente Loureno Pereira .................................................................................................... 125 2D. J. M. Miranda Lopes .............................................................................................................. 127
As biografias publicadas de G. Sampaio (MORAIS, 1937; ROZEIRA, 1946; PIRES DE LIMA, 1938, 1952; SALEMA, 1991) so muito sumrias. Parte da bibliografia de G. Sampaio est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ e https://museuvirtual.up.pt/up/jsp/pesquisas.faces. 2 Professor Associado do Departamento de Botnica da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto e Investigador do Centro Interdisciplinar de Investigao Marinha e Ambiental da Universidade do Porto. Rua do Campo Alegre, s/ n. Edifcio FC4, 4169-007 Porto. E-mail: jpcabral@fc.up.pt. URL: http:// www.fc.up.pt/pessoas/jpcabral/
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3. As Floras publicadas, inditas e inacabadas................................................................................ 136 3A. As Floras regionais publicadas .............................................................................................. 136 3B. O Manual da Flora Portugueza e o Prodromo da Flora Portugueza....................................... 140 3C. O Epitome da Flora Portuguesa ............................................................................................. 146 3D. A Flora Portuguesa e a Iconografia Selecta ........................................................................... 147 4. O Herbrio da Academia Politcnica e da Faculdade de Cincias do Porto ............................... 149 5. G. Sampaio e Carlos Pau o projecto da Flora Ibrica .............................................................. 152 V. G. Sampaio e a nomenclatura botnica ............................................................................................ 181 1. G. Sampaio e a Histria da nomenclatura botnica .................................................................... 181 2. A Lista das espcies do Herbrio Portugus ........................................................................... 184 3. O Congresso do Porto ................................................................................................................. 190 VI. G. Sampaio e o ensino .................................................................................................................... 196 1. O ensino elementar da Botnica .................................................................................................. 196 2. O ensino universitrio da Botnica ............................................................................................. 201 3. G. Sampaio, professor de Zoologia da Faculdade de Cincias do Porto .................................... 204 VII. G. Sampaio e o estudo dos lquenes portugueses .......................................................................... 206 1. Como organiza G. Sampaio o estudo dos lquenes portugueses? ............................................... 206 2. G. Sampaio e Bouly de Lesdain .................................................................................................. 209 3. Intercmbios com H. Olivier, A. H. Magnusson e A. Zahlbruckner .......................................... 219 4. O projecto da Flora de Lquenes de Portugal .............................................................................. 229 VIII. A consagrao. Uma obra inacabada? ......................................................................................... 231 1. A criao do Instituto de Investigaes Botnicas na Faculdade de Cincias do Porto ......... 231 2. A fundao do Instituto de Botnica Dr. Gonalo Sampaio ................................................... 232 3. Concluso .................................................................................................................................... 232 Anexo I. Nomes novos de plantas vasculares publicados por G. Sampaio .......................................... 234 Anexo II. Nomes novos de lquenes publicados por G. Sampaio ......................................................... 237 Anexo III. Espcies e variedades novas de lquenes publicadas por Bouly de Lesdain com material recolhido por G. Sampaio ..................................................................................................................... 241 Anexo III. Espcies e variedades novas de lquenes publicadas por Bouly de Lesdain com material recolhido por G. Sampaio ..................................................................................................................... 241

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Bibliografia citada ................................................................................................................................. 242 ndice remissivo .................................................................................................................................... 270

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Apresentao O final do sculo XVIII foi um perodo ureo para o estudo da flora portuguesa, com o trabalho de dois botnicos de nomeada Brotero e Link. Um sculo passado, e apesar dos trabalhos realizados pelo Conde de Ficalho (da Escola Politcnica de Lisboa), pelo Baro de Castelo de Paiva (da Academia Politcnica do Porto) e por Welwitsch, a Botnica portuguesa ansiava por modernizao. Esta tarefa seria liderada por trs botnicos portugueses notveis Jlio Henriques (da Universidade de Coimbra), A. X. Pereira Coutinho (da Universidade de Lisboa) e Gonalo Sampaio (da Universidade do Porto). G. Sampaio (1865-1937) nasceu na Pvoa de Lanhoso. Frequentou a Universidade de Coimbra e a Academia Politcnica do Porto, mas no concluiu os cursos. Em 1901, entrou como naturalista-adjunto de botnica da Academia Politcnica do Porto, em 1912, foi contratado como professor da Faculdade de Cincias do Porto, aposentando-se em 1935. Os seus primeiros trabalhos botnicos focalizam-se no estudo da flora vascular do norte do pas, publicando, em 1904, uma reviso do gnero Rubus em Portugal. Em 1905 publica as Notas criticas sobre a flora portugueza, cujo formato discusso detalhada de txones difceis, confusos ou malconhecidos da flora portuguesa e descrio de txones novos para a cincia, ser o da maioria dos seus trabalhos posteriores. G. Sampaio revela, desde incio, uma marcada preocupao com a nomenclatura botnica, apresentando ideias divergentes das seguidas nos Congressos Internacionais de Botnica. As suas propostas visavam proporcionar, nomenclatura, uma maior coerncia e organicidade internas, e dar o devido reconhecimento ao trabalho dos botnicos pr-lineanos. Em 1909, inicia a publicao do Manual da Flora Portugueza e do Prodromo da Flora Portugueza, que pretendiam constituir, quando completos, uma Flora moderna de Portugal. A partir de meados da dcada de 1910, e durante cerca de 10 anos, os estudos botnicos de G. Sampaio centram-se no estudo dos lquenes de Portugal. As suas publicaes seguem o seu formato preferido anlise crtica de txones problemticos e descrio de novos txones. Em 1923, organiza e distribui uma exsicata - Lichenes de Portugal, constituda por 300 exemplares, incluindo txones novos, por si descobertos, representativos da nossa flora. Os estudos botnicos de G. Sampaio foram acompanhados de herborizaes por todo o pas que resultaram num enriquecimento notvel do Herbrio da Academia Politcnica e da Faculdade de Cincias do Porto.

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Apesar de dotado de excepcionais dotes para o trabalho de investigao botnica capacidade de trabalho, esprito independente, crtico e de sntese, arrojo e inovao, mtodo e organizao, G. Sampaio no se isolou nem trabalhou isolado, mas antes soube construir e gerir uma rede de contactos, tanto de acadmicos como de amadores, de norte a sul do pas, e tambm estrangeiros, que potenciaram significativamente o seu trabalho e permitiram a construo e avano de uma Botnica moderna no nosso pas. Concomitante com os estudos botnicos, e sobretudo a partir do incio da dcada de 1920, G. Sampaio estuda, com afinco, a msica popular minhota. A profundidade, inovao e esprito crtico, que revelava nos estudos botnicos, sero tambm caractersticas dos seus estudos musicais. Alm de professor e investigador, G. Sampaio teve uma actividade cvica e poltica destacada, sobretudo at ao incio da dcada de 1920. Inicialmente assume-se como republicano convicto. Com o governo de Joo Franco, adere entusiasticamente ao Franquismo. Profundamente desiludido com o regime republicano instaurado em 5 de Outubro de 1910, milita activamente como monrquico. Defende as suas convices at s ltimas consequncias, participando activamente, na efmera Monarquia do Norte. Defendendo acerrimamente os seus princpios e modos de ver, tanto no campo cientfico como no poltico, do percurso de G. Sampaio emerge uma constelao de valores ticos, dos quais se salientam a honestidade, a seriedade e o patriotismo. Com este trabalho pretende-se dar a conhecer a vida e a obra de G. Sampaio, nas suas mltiplas facetas e actividades. Tendo chegado at ns um aprecivel esplio documental, a maioria do qual indito3, e devendo a Histria da Botnica ser alicerada, primordialmente, na anlise de fontes primrias, optmos por publicar, geralmente na ntegra, muitos destes documentos, em vez de transcrever partes seleccionadas. Ao optar por transcries extensas (integrais no caso de Carlos Pau, e muito extensas relativamente a Bouly de Lesdain, A. H. Magnusson e A. Zahlbruckner) dos documentos existentes no seu legado, o texto final resultou extenso, mas os documentos transcritos podem servir de fontes de trabalho para outros estudos da Histria da Botnica em Portugal.

Foi utilizado, neste trabalho, o esplio documental de G. Sampaio existente no Departamento de Botnica da Faculdade de Cincias (Universidade do Porto) e na Biblioteca Nacional de Portugal. Foi muito recentemente disponibilizado, no stio da Biblioteca Digital de Botnica da Universidade de Coimbra (http://bibdigital.bot.uc.pt/), um vasto conjunto de manuscritos epistolares de G. Sampaio. A disponibilizao desta fonte informativa ocorreu aps a redaco do presente texto, pelo que no foi nele incorporada. Estes manuscritos, depois de estudados, certamente contribuiro para um melhor conhecimento da vida e obra de G. Sampaio, e da Histria da Botnica em Portugal.

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A mesma lgica presidiu elaborao dos anexos, em que se sintetiza informao que estava muito dispersa e que, s reunida, permite uma viso de conjunto da extensa e criativa obra botnica de G. Sampaio. Destaco os mais penhorados agradecimentos Cmara Municipal da Pvoa de Lanhoso, pela edio deste trabalho, que , antes de mais, uma homenagem a um ilustrssimo cidado da Pvoa de Lanhoso, e um dos portugueses que levaram e honraram o nome do pas a todas as partes do mundo. Uma palavra de agradecimento ainda a diversas personalidades e entidades que contriburam para a realizao do presente trabalho: ao Professor Jos Pissarra, actual presidente do Departamento de Botnica (Faculdade de Cincias da Universidade do Porto), pelo apoio que lhe tem merecido o Museu do Departamento; ao Professor P.e Joo Francisco Marques, pelas discusses crticas e sugestes ao texto; Dr.a Elisa Folhadela, Assessora do Departamento de Botnica, que tem cuidado pela preservao do esplio documental de G. Sampaio, e pelo Herbrio do Departamento; e Slvia, pela reviso atenta e cuidada do texto.

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I. G. Sampaio iderio poltico e cvico, e tica da aco 1. G. Sampaio redactor da Folha Democratica 2. G. Sampaio, Joo Franco e o Partido Regenerador Liberal 3. G. Sampaio e a Monarquia do Norte 4. G. Sampaio mestre incompreendido?

1. G. Sampaio redactor da Folha Democratica Na sua juventude, G. Sampaio foi redactor do semanario politico - Folha Democratica, de periodicidade semanal, editado na Pvoa de Lanhoso. O jornal, dirigido por Albino Bastos, assumia-se como virulentamente anti-monrquico. O primeiro nmero do jornal publicado a 2 de Fevereiro de 1888 (FD 1888 02 02). G. Sampaio escrevia o seguinte editorial, em que estabelecia o paralelo entre as leis biolgicas e as sociolgicas, evocando Darwin, e assumia-se como republicano e defensor absoluto da soberania popular4: As leis biologicas que regem o organismo dum individuo so tambem leis sociologicas que regem o organismo duma nao. No meio da titanica lucta que os seres vivos e as nacionalidades vo sustentando em prol da sua existencia so as analogas condies de vitalidade ou morte reguladas sempre pelo principio da seleco natural. [...] o militarismo declina naturalmente para ceder o seu antigo prestigio s classes trabalhadoras. [...] Depois de ter derrubado a seus ps o absolutismo este movimento de reaco popular o que se prope actualmente a fazer substituir a antiga forma monarchia pela moderna forma republicana. [...] Militando, pois, nas fileiras do partido republicano combater intemeratamente por um idial, a Liberdade; por um bem, a Justia; por um soberano, o Povo. No segundo nmero, datado de 9 de Fevereiro de 1888 (FD 1888 02 09) (Estampa I.1.), no texto Artigos para o povo. I. Para que serve um rei, so enumerados alguns defeitos do regime monrquico. Que acusaes apresentava G. Sampaio ao regime em vigor? A principal era o despesismo da monarquia: [] a familia real custa annualmente ao paiz 600 a 700 contos, fra o mais que se no diz. [] Com 700 contos annuaes no se realisariam importantes melhoramentos e com os quaes o
As transcries encontram-se entre aspas, as de documentos impressos, em letra redonda, as de manuscritos em itlico. Nas transcries de manuscritos seguimos as recomendaes de COSTA (1982), transcrevendo de acordo com os originais, em que a acentuao das palavras muito irregular. Limitmo-nos a desdobrar as abreviaturas e a acrescentar alguma pontuao, quando era indispensvel para uma melhor leitura do texto. Para tornar o texto mais claro, em algumas transcries, omitimos algumas palavras. Estas foram substitudas por: [...]. Tambm utilizmos este smbolo para substituir palavras que no conseguimos transcrever. Todavia, estas omisses em nenhum caso puseram em causa o sentido do texto transcrito. Comentrios nossos intercalados nas transcries encontram-se em letra redonda, entre parntesis rectos. Considermos os documentos dactilografados como manuscritos. Sublinhmos os nomes de txones. Mantivemos geralmente a ortografia original dos nomes de pessoas, excepto para os nomes de botnicos antigos em que utilizmos vrias grafias (o nome na lngua materna, o nome latinizado e o nome aportuguesado). A ortografia dos nomes dos txones de plantas vasculares no texto principal segue SAMPAIO (1946). Os nomes actuais dos txones, de plantas vasculares foram retirados da Flora Europaea, e de lquenes do Index Fungorum (http://www.indexfungorum.org).
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povo lucraria extraordinariamente? Applicada em favor da nossa agricultura esta somma produziria incalculaveis auxilios ao proprietario pela fundao de bancos agricolas etc. Applicada em favor da instruco cobriria o paiz de jardins de infancia, cuja falta tanto se faz sentir entre ns. Emfim, 700 contos annuaes em qualquer fim que se applicassem traziam innumeros beneficios. Os monarchicos, porem, no veem que com tal bagatella se possa satisfazer muita necessidade. Conclua: a necessidade duma monarchia injustificavel. Um rei no representa mais que os restos do prestigio militar antigo, uma velharia despendiosa e inutil, sustentando-se custa do trabalho nacional [] Abaixo, pois, os reis. Viva a Republica!. Na edio da semana seguinte, a terceira do jornal, datada de 16 de Fevereiro (FD 1888 02 16) (Estampa I.2.), G. Sampaio continuava a srie de Artigos para o povo. II. Os braganas, focalizando-se agora na personalidade e obra dos monarcas que a casa de Bragana nos tem fornecido. A apreciao impiedosamente negativa e acusadora. Que defeitos tinham tido os monarcas da Casa de Bragana? Joo IV [] foi um cobarde que com medo de Filippe III quiz abandonar este paiz, fugindo para a America. Affonso VI [] era um demente [] que com uma malta de ladres e assassinos praticava nas ruas de Lisboa scenas duma devassido vergonhosa e repugnante. Pedro II, depois de ter infamemente roubado a coroa a seu irmo [] derrotou a agricultura e industria nacionaes []. Joo V gastou todas as enormes riquezas que ento nos vinhas do Brazil em luxos e vaidades []. Jos I [] no passou dum triste manequim do Marquez de Pombal. Maria I foi uma doida confirmada []. Joo VI foi um desgraado cobarde que ao ter conhecimento da invaso franceza fugiu para o Brazil deixando-nos merc dos inimigos []. Pedro IV roubou-nos o Brazil proclamando-se seu imperador. Miguel I foi um barbaro que innundou o paiz com o sangue dos liberaes. Maria II [] no duvidou, para se sustentar no throno em esmagar a vontade do povo com as armas dos soldados estrangeiros. Ora aqui esto os gloriosos coevos do senhor D. Luiz de Bragana. V-se bem, que uma familia illustre!. No nmero quarto do jornal, de 23 de Fevereiro de 1888 (FD 1888 02 23) (Estampa I.3.), G. Sampaio elogiava, sem reservas, o regime republicano, que considerava: uma boa forma de governo; a frma mais racional, mais economica e vantajosa de governo; a soberania popular sem a mordaa do veto real; queria a liberdade de consciencia, garantindo a cada um o direito de professar e manifestar a sua f religiosa. Conclua que era necessario estabelecer um governo economico, [] implantar a republica em Portugal, porque a republica era esta trindade sympathica e luminosa: liberdade, egualdade e fraternidade.

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Na edio de 1 de Maro (FD 1888 03 01), o editorial de G. Sampaio substitudo por um excerto de um texto de P.e Antonio Vieira com o titulo sugestivo de: Conjugao do verbo rapio. A citao deste texto, descritivo da governao portuguesa na ndia no tempo de S. Francisco Xavier, pretendia, naturalmente, estabelecer um paralelo com a situao que o pas vivia naquela altura. Vieira, com a sua maestria de prosa acutilante, denunciadora, mas inegavelmente realista, escrevia: Conjugam por todos os modos o verbo rapio, porque furtam por todos os modos de arte, no falando em outros novos, e exquesitos [] Finalmente, nos mesmos tempos no lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, plusquam-perfeitos, e quaesquer outros; porque furtam, furtaram, furtavam, furtariam, e haveriam de furtar mais, se mais houvesse. O sexto nmero do jornal era publicado a 8 de Maro de 1888 (FD 1888 03 08). Novamente no existe um editorial, mas a primeira pgina ocupada com uma extensa transcrio de uma notcia do jornal Seculo. A notcia relatava que o Ministro da Fazenda tinha sido eleito director da Companhia de Gaz, sendo seu importante accionista. O contedo da notcia era bem ao gosto de G. Sampaio denunciava corrupo, desvios de dinheiros, e falta de honestidade. O Ministro da Fazenda, que ha tres annos no possuia seno dividas e luctava com grandes difficuldades financeiras para viver numa vida modestissima, hoje director da companhia do norte e leste, joga na bolsa e est director da companhia do gaz. De jornalista pobre e honrado apparece-nos por encanto transformado em senhor de grandes capitaes, impondo-se ao mundo da alta finana pelo seu dinheiro mais ainda que pelas suas habilidades. [] dois annos de governao e um de intrigas bastaram para que o snr. Mariano de Carvalho nos aparea transformado em accionista poderoso das grandes companhias, quando ainda ha pouco no tinha dinheiro para pagar os seus compromissos. [] o snr. Mariano de Carvalho hoje grande accionista da Companhia do Norte e Leste e possue o numero de aces necessarias da companhia do gaz para ser eleito director dessa empreza. Aps relatar o caso concreto, a noticia do jornal resvalava para uma anlise global da situao do governo e do pas: Urge que o paiz se levante inteiro, armado dum soberbo latego, para correr os vendilhes que o infamam [] Nunca a corrupo atingiu um to subido grau de evidencia e de ganancia. [] os actuaes ministros, que hontem faziam publico alarde da sua miseria, esses que sahem do poder todos ricos. [] Estamos em pleno bandoleirismo, ao qual preciso oppr uma severa resistncia para se limpar o paiz desta imundice. Est frente dos negocios publicos um governo de directores de companhias poderosas, que tudo sacrificando aos seus interesses pessoaes, a comear pelo decoro do poder e a acabar na sua propria reputao. inaudito este espectaculo de immoralidade. Urge varrer esta porcaria, que

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transforma os representantes do poder em caixeiros e empreiteiros avidos e dos potentados da finana. [] preciso pr-se cobro a esta tremenda devassido. No nmero 12 do jornal, datado de 19 de Abril de 1888 (FD 1888 04 19), continuava-se o que se chamava de folhetim O processo da monarchia. A avaliao deste regime era feita na forma de perguntas e respostas e o saldo no podia ser mais negativo a monarquia s tinha defeitos. pergunta de O que nos diz a historia?, respondia-se que a realeza synonimo de sangue, de morticinios, de assassinatos, de incextos, de roubos em de concusses [sic]. pergunta de o que um paiz monarchico? respondia-se que era um povo declarado menor. A monarchia , ento, uma explorao?, respondia-se que sim porque explora o homem em beneficio proprio, no olhando seno aos interesses e s suas conveniencias pessoais. A existncia da monarquia era mesmo devida ignorancia e miseria dos povos. Um dos defeitos da monarquia era estar reduzida a um mero agente do nepotismo mais desenfreado e da moralidade mais affrontosa. Emergem ento dois dos temos mais caros a G. Sampaio a honra e a tica do dever, e a economia da poupana e o gasto suprfluo. Como estava ento minada a honradez da monarquia? Nos concursos publicos s so escolhidos os recommendados, os filhos ou sobrinhos dos ministros. Os politicos monarchicos adulam o rei, - quando governo, e acusam-no violentamente quando opposio. A realeza s serve para alimentar a ociosidade e o parasitismo. Qual o desperdcio da monarquia? Muitos e muitos milhares de contos, s o rei ganha um conto de reis por dia sem nada fazer, ganha a rainha, ganham os filhos do rei, o irmo do rei e toda a sua familia, alem dos extraordinarios festejos, brodios e comesainas. Qual era a soluo? Segundo a Folha democratica era destruir a realeza pelo suffragio e proclamar a republica - A republica era a suprema formula da emancipao social, um elemento dordem, de paz, de trabalho e de segurana politica. Para a sua instaurao bastava s que o povo se revestisse de energia e independencia, votando em candidatos republicanos. O folhetim O processo da monarchia continuava no nmero seguinte do jornal, datado de 26 de Abril de 1888 (FD 1888 04 26). Agora era atacado o prprio sistema representativo que se considerava pura fico dado que quem governava era efectivamente o rei e s o rei: do pao sahem os menistros, que, por seu turno, fabricam os deputados para votarem tudo quanto o rei quizer. Tambm o sistema judicirio no escapava porque deixou de ser soberano pela dependencia em que os juizes estavam dos ministros. O desperdcio da monarquia tinha levado o pas bancarrota: Quanto devemos ns? Quinhentos mil contos. Qual o nosso deficit? Dez mil contos, a tera parte das nossas receitas. Qual o estado da nossa divida fluctuante? Doze mil contos. Como remediar este mal? Reduzindo as despesas e equilibrando definitivamente a receita com a despeza Ser isto

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possivel com a monarchia? No porque do alto funccionalismo, comeando pelo rei, que nos vem o mal Qual a soluo? Mais uma vez trabalhar, com todas as nossas foras, para a immediata proclamao da republica5.

5 G. Sampaio ter abandonado a redaco da Folha Democratica depois deste nmero. Na edio de 18 de Maio de 1888 anunciado, simplesmente, que Albino Bastos era o administrador (FD 1888 05 18). O nome de G. Sampaio no figura na capa do jornal. O jornal publica-se pelo menos at 22 de Agosto de 1889, assumindo-se como orgo politico e tendo como administrador e proprietrio, Albino Bastos.

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2. G. Sampaio, Joo Franco6 e o Partido Regenerador Liberal


Joo Franco Ferreira Pinto Castelo-Branco (1855-1929), estadista, foi o fundador e dirigente da corrente poltica designada de Franquismo. Formou-se em direito pela Universidade de Coimbra em 1875. Seguiu a carreira de magistrado e notrio, nos concelhos de Sto, Baio e Alcobaa. Sendo eleito deputado pela primeira vez em 1884, abandona ento a carreira da magistratura judicial. Combate politicamente o governo do Partido Progressista, chefiado por Jos Luciano de Castro, no poder de 1886 a 1890. No governo regenerador presidido por Antonio de Serpa Pimentel, que inicia funes em Janeiro de 1890, -lhe confiada a pasta da Fazenda. Todavia, ao fim de alguns meses, em Outubro deste ano, caa o governo. Joo Franco publica ento um relatrio sobre o estado financeiro do pas, que provocou vivas discusses. Em 1891, entra como ministro das Obras Pblicas no governo presidido por Joo Crisstomo de Abreu e Sousa, que todavia s governou de Maio de 1891 a Janeiro de 1892. Reforma os institutos e escolas industriais e agrcolas, e toma vrias medidas relativas ao fomento do comrcio. No governo regenerador, presidido por Hintze Ribeiro, que se manteve no poder de Fevereiro de 1893 at Fevereiro de 1897, coube a Joo Franco a misso essencialmente poltica de ministro do Reino. Atravessa-se um perodo excepcionalmente agitado, com intensa actividade de republicanos, socialistas e anarquistas, e Joo Franco representou ento um papel de poltico autoritrio, herdeiro da doutrina do fortalecimento do poder real. Decretou a reforma da instruo secundria e a do cdigo administrativo, pela qual se adoptou um sistema mais centralista, suprimindo-se a representao das minorias nas cmaras municipais e ampliando-se o mbito da tutela do ministrio do Reino sbre as autarquias (GEPB). Contrariado com o comportamento do Parlamento, o governo dissolve-o. Por um acto adicional Carta, [] aboliu-se a parte electiva da Cmara dos Pares; convocados os colgios eleitorais (17-XI-1895), as oposies abstiveram-se, resultando de a a formao de um parlamento s composto por regeneradores (GEPB). Bastou que um pobre louco, internado no Hospital de Rilhafoles, tivesse arremessado pedras carruagem do Rei, e que uma bomba tivesse explodido, sem causar vtimas, nas escadas de um prdio de Lisboa, para logo se fazer aprovar a lei antianarquista, de 13 de Fevereiro de 1896. Nela se estabelecia que os suspeitos de ideias e prticas anarquistas deveriam ser submetidos a julgamentos expeditos e secretos, com sumarssimas garantias de defesa, devendo tais processos ser instrudos e apreciados pelo Juzo de Instruo Criminal. Os condenados cumpririam as suas penas de degrado em inspitos e longquos territrios ultramarinos (CARVALHO HOMEM, 1995:391). As Associaes Comercial, Industrial e dos Lojistas, protestam e o governo dissolve-as. O Partido Progressista une-se ento aos republicanos contra o governo. A pretexto de uma discordncia sobre a nomeao dos Pares do Reino, o governo de Hintze-Franco demite-se, e, novamente o Partido Progressista, chefiado por Jos Luciano de Castro, que forma governo. Mas este s governa durante trs anos, e, sobe novamente ao poder o Partido Regenerador. Joo Franco, que era o lder do Partido na Cmara dos Deputados, recusa entrar para o governo e entra em conflito aberto com os regeneradores - oposio que se manifesta publicamente na sesso da Cmara dos Deputados de 13 de Fevereiro de 1901. Ao lado de Joo Franco, alinham outros regeneradores como Malheiros Reimo, Melo e Sousa, Adriano Cavalheiro, Martins de Carvalho, Teixeira de Vasconcelos, Luciano Monteiro, Luis de Magalhes, Pedro Gaivo, Vasconcelos Porto, Freitas Branco, Patrcio dos Prazeres, Jos da Silva Viana, Lobo de Amaral e Jos Estvo de Morais Sarmento. No Parlamento e na Imprensa (onde tinha por rgo o Dirio Ilustrado) o novo grupo poltico entrou em luta contra o seu antigo Partido e contra o gverno (GEPB). Hintze Ribeiro ataca ento politicamente Joo Franco e seus apoiantes. Dissolve a Cmara dos Deputados e promulga uma nova lei eleitoral com o intuito de diminuir a representao dos republicanos e dos franquistas. O expediente surtiu efeito, porque no entrou no Parlamento um nico deputado republicano, ao mesmo tempo que o prprio Joo Franco perdia a eleio e via eleito um s dos seus aderentes (GEPB). Joo Franco no se d por vencido, e, funda, a 16 de Maio de 1903 um novo Partido o Regenerador Liberal, onde proclama o seu ideal de descentralizao administrativa, o seu amor educao popular, os seus projectos quanto administrao das colnias (GEPB). A actividade poltica do novo Partido febril consegue a adeso de personalidades prestigiosas, organiza reunies por todo o pas, radicando o franquismo pelas terras da provncia (GEPB). O problema do comrcio e monoplio do tabaco est ento na origem da queda de dois governos, e, causa uma ciso no Partido Progressista Jos de Alpoim sai do governo, onde ocupava a pasta da Justia, e coloca-se na oposio. O governo do Partido Progressista acaba por cair sendo substitudo, em Fevereiro de 1906, por um chefiado novamente por Hintze Ribeiro, do Partido Regenerador. Mas o modo como ocorreram as eleies causa uma indignao geral, forando Hintze Ribeiro a pedir a sua demisso, que o Rei aceita. A 17 de Maio de 1906, Joo Franco assumia enfim o pleno poder do governo, tendo Ernesto Schreter, Jos Novais, Vasconcelos Porto, Malheiros Reimo, Lus de Magalhes e Aires de Ornelas, como seus ministros. Joo Franco prometia ento que garantiria a liberdade de imprensa, modificaria a lei de 13 de Fevereiro, promoveria a descentralizao administrativa, apresentaria uma nova lei eleitoral com crculos uninominais, manteria o concurso aberto para os tabacos, no pediria nada ao pas sem assegurar, de modo real, a ordem da administrao publica [...] amnistiou sem demora os condenados por liberdade de Imprensa e encetou uma rigorosa administrao financeira, fazendo economias, mandando cessar os adiantamentos, cortando gratificaes, abonos, subsdios, remuneraes escandalosamente dadas ou no estabelecidas no oramento ou por lei (GEPB). A poltica do governo de Joo Franco tem ento uma cerrada oposio dos republicanos (que tambm pretendiam uma aniquilao do prprio regime monrquico), e tambm no Partido Regenerador. Todavia o governo de Joo Franco tem uma febril actividade legislativa. Em Maio de
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A actividade pblica jornalstica de G. Sampaio e os documentos que existem no seu esplio, indicam claramente que G. Sampaio foi um adepto do Franquismo e apoiante do Partido Regenerador Liberal. Num rascunho de uma carta para o Governador Civil de Vila Real (que seria Joo Saraiva7), datada de 6 de Junho de 19068, G. Sampaio elogiava Joo Franco que recentemente tinha assumido o poder: Venho dar-lhe os meus sinceros parabens por ter sido nomeado governador civil de Villa Real [...] No sei se se recorda de lhe ter dito [...] que se um dia o conselheiro Joo Franco fosse ao poder e
1907 era encerrada a sesso legislativa e entrava-se em ditadura. O Partido Progressista rompeu o entendimento que tinha com Joo Franco, e os Partidos da realeza ligaram-se aos republicanos contra o Franquismo. O estabelecimento da ditadura aproximou de novo Hintze Ribeiro e Jos Luciano, que publicaram manifestos a distanciar-se da experincia franquista. O que equivale a dizer que Joo Franco ia governar com a oposio dos dois Partidos monrquicos e do republicano, uns e o outro decididos a travar o que definiam como um golpe de Estado (SERRO, 1990:124). Joo Franco reconheceu que a sua manuteno no Poder s teria viabilidade atravs de medidas severssimas. Assim se explica toda uma estratgia legislativa tendente ao amordaamento da liberdade de informao e domesticao dos Poderes extragovernamentais. Os jornais foram entregues vigilncia dos Governadores Civis (decreto de 20 de Junho); as eleies municipais viram-se proteladas sine die (decreto de 14 de Outubro); aos Juzes de Instruo Criminal foram atribudas competncias alargadas, sobretudo em matria de julgamento de atentados contra a segurana do Estado (decreto de 21 de Novembro); dissolveramse as representaes camarrias em funes, substituindo-as por Comisses de Gerncia afectas ao Governo (decreto de 12 de Dezembro) (CARVALHO HOMEM, 1995:397-398). A reaco contra a ditadura foi imediata e generalizada. Os partidos dos vrios matizes protestaram com veemncia, quer junto do rei quer na imprensa. [] Na rua, multiplicavam-se os comcios, as correrias e os tumultos, motivando quase sempre a interveno das autoridades, que espancavam e prendiam (OLIVEIRA MARQUES ET AL., 1991:692). Joo Franco cometeu o erro de trazer ao Parlamento a chamada questo dos adiantamentos. O governo admitia que, ao longo dos anos, se haviam feito, pelo Ministrio da Fazenda, adiantamentos de somas avultadas aos vrios membros da famlia real, a serem deduzidas da respectiva lista civil. Como tais dedues nunca se tivessem integralmente realizado, acontecia que a famlia real devia ao Estado muitas centenas de contos, num total jamais cabalmente apurado. Para resolver a questo, Joo Franco propunha um acerto de contas, com a privao perptua das rendas de prdios pertencentes coroa, arrendados ao Estado para diversos servios pblicos, e a venda ao Estado do iate real Amlia. Propunha tambm o aumento da lista civil do rei de 100 para 160 contos. Os resultados desta questo foram desastrosos, tanto para o governo quanto para a prpria Monarquia (OLIVEIRA MARQUES ET AL., 1991:690). A 28 de Janeiro de 1908, fracassa uma tentativa revolucionria, em que participam Jos de Alpoim, Egas Moniz, Afonso Costa e o Visconde da Ribeira Brava, entre outros, estando ento a famlia real em Vila Viosa. O governo publica um Decreto, pelo qual podia banir do reino ou enviar para as colnias as pessoas que fssem pronunciadas por algum dos crimes compreendidos no artigo 1. do decreto de 21 de Novembro de 1907, quando os intersses superiores do Estado assim o aconselhassem. Este decreto do desterro foi assinado por D. Carlos em Vila Viosa, no dia 31 de Janeiro. Era a derradeira prova da ntima e funrea aliana entre o Rei e o seu Presidente do Conselho (CARVALHO HOMEM, 1995:399). No dia seguinte regressava a famlia real a Lisboa, e d-se o regicdio. Joo Franco retirou-se da vida pblica, partindo passados dias para o estrangeiro. Veio a falecer vinte e um anos depois de terminada a sua carreira poltica, em Abril de 1929 (GEPB). Goste-se ou no do seu feitio autoritrio, deve reconhecer-se que Franco tinha alma de lder e a bagagem suficiente para se impor como homem de Estado. Possuidor de uma larga cultura histrica e literria, no era o homem rstico que os seus inimigos faziam dele. Nem de outra maneira se compreenderia a aurola poltica e popular que lhe envolveu o nome (SERRO, 1990:116) (GEPB; OLIVEIRA MARQUES ET AL., 1991:689-693; CARVALHO HOMEM, 1995:390399). 7 Joo Baptista Pinto Saraiva (1866-1948) foi figura de relevo na poesia portuguesa, quer pelo seu lirismo, quer pelo seu esprito satrico. Colaborou em vrios jornais de Lisboa e Porto. Politicamente, a sua actividade foi intensa, mas no longa. Quando da ciso do Partido Regenerador, em 1901, ingressou no Partido Regenerador Liberal fundado por Joo Franco. Foi deputado numa legislatura e exerceu, em 1906, as funes de Governador Civil em Vila Real. Depois da queda do governo de Joo Franco, que se seguiu ao regicdio, embora permanecendo fiel s suas ideias monrquicas, abandonou, para sempre, a poltica. Frequentou a Escola Mdico-Cirrgica do Porto, que abandonou por doena, o mesmo tendo feito pouco tempo depois de se haver matriculado no Curso Superior de Letras (GEPB). 8 A documentao epistolar de G. Sampaio encontra-se arquivada em pastas, organizadas por ordem alfabtica de autores e, em cada autor, por ordem cronolgica, de forma a facilitar a sua consulta.

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ahi persistisse nas suas affirmaes liberaes e desse provas de realisar o seu programma, eu seria franquista, por entender util para o paiz a existencia, dentro da monarchia, de um partido com orientao democratica. Ora os ultimos acontecimentos convenceram-me de que o Sr. Conselheiro Joo Franco hoje, realmente, um convicto liberal, com uma tendencia acentuadamente progressiva e uma honestidade de processos administrativos que todo o homem serio deve aplaudir e apoiar. A sua conducta, desde que se encontra no poder, tem sido admiravel sob todos os pontos de vista, conseguindo impressionar profundamente a opinio e merecendo as simpatias dos que no pem acima dos interesses do paiz um cego espirito de partidarismo. Felicito a V. Ex.a por ter sido um dos companheiros do sr. Conselheiro Joo Franco na fundao de um partido que to correctamente est procedendo e que, espero-o, continuar a dar bons exemplos aos outros partidos, inclusivamente aos republicanos, cuja linha de procedimento perante os actos e declaraes do actual governo no tem sido de modo a merecer a aprovao de nenhum democrata sincero e honesto. Existe tambm no esplio de G. Sampaio uma carta no-datada de Joo Saraiva para G. Sampaio, que ter sido qui a resposta carta transcrita antes (Estampa I.4.): Meu Ex.mo Amigo: Como v, eu no me tinha enganado nem com a sinceridade liberal de Joo Franco nem com a nobreza moral de Gonalo Sampaio. Predisse-lhe que, subindo ao poder, o meu chefe seguiria inalteravelmente a linha politica e administrativa que havia traado, aos olhos do pas, no programma do seu partido e nos seus discursos de propaganda. E affirmei-lhe ainda, meu caro amigo, que em frente da realizao desse programa, ninguem de boa f, republicano ou no, desde que amasse o seu Pas, podia dignamente combater esse homem raro que, surgindo das ruinas dum desmantelado edifcio politico, se propunha a levantar com materiaes novos um baluarte de interesses nacionaes. O Joo Franco est a dar-me razo; mas o Gonalo Sampaio, com a sua nobre resoluo de se alistar sob a bandeira do meu partido, no lisonga apenas em mim o politico que soube prever, lisonga tambem o meu esprito, dando-lhe a camaradagem, to preciosa, dum homem de talento e dum homem de caracter. Deixe que daqui abrace o meu querido correligionario; e permitta-me ainda que eu tenha a honra de pessoalmente apresentar ao nosso chefe o novo companheiro darmas. O Joo Franco deve ir ao Porto ainda neste mez. Reserve-me para ento o prazer de o approximar desse homem que, em todas as circunstancias, hade reconhecer digno do seu apoio politico e da sua estima pessoal. Mande o seu amigo e admirador. No ano seguinte, Joo Saraiva era governador civil em Pvoa de Lanhoso e contacta novamente com G. Sampaio. Num telegrama datado de 13 de Setembro de 1907 e enviado s 12 horas e 15 minutos, Joo Saraiva escrevia do governo civil de Pvoa de Lanhoso: Gonalo Sampaio, Naturalista,

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Polytechnica, P. Lanhoso, Peo favor vir aqui at amanh 3 horas tarde. Governador Civil, Joo Saraiva. Qui para reforar o pedido, Joo Saraiva enviava novo telegrama poucos minutos depois, s 12 horas e 30 minutos para o Administrador do concelho de Pvoa de Lanhoso: Administrador do Concelho Lanhoso. Peo a V. Ex.a communique a Gonalo Sampaio Naturalista da Academia Polytechnica Porto que desejo falar-lhe com urgencia neste Governo Civil. Governador Civil, Joo Saraiva. Todavia, na actividade jornalstica que G. Sampaio expressar mais veementemente as suas convices polticas de apoio ao iderio de Joo Franco. No meio da inmera proliferao de jornais que se publicavam nas grandes cidades como Lisboa e Porto (RAMOS, 201:52-57), o Diario Nacional - jornal da manh, iniciava a sua publicao em 1907. O director e administrador era inicialmente Pedro de Mello Alvim, mas a 1 de Outubro de 1907 (DN 1907 10 01), G. Sampaio assume o cargo de director, sendo Miguel Calheiros o administrador. Em pleno auge do regime de Joo Franco, o jornal assume-se como incondicionalmente apoiante do governo, e virulentamente crtico dos partidos da oposio. Os artigos editoriais no so geralmente assinados, mas seriam escritos por G. Sampaio, ou seno, tinham certamente a sua concordncia. Nestes textos editoriais enfatizada a actividade legislativa, enrgica e reformadora, do governo de Joo Franco, em oposio prtica estagnada e rotativista dos governos anteriores, e ao iderio dos partidos da oposio. Na primeira pgina do dirio so transcritos, na ntegra, os mais importantes diplomas legislativos, e apresentadas entrevistas ao chefe do governo. G. Sampaio director do jornal at ao fim da sua publicao, e mantm-se mesmo como director do jornal que lhe sucede - O Nacional. Em 1908, com o regicdio, cai o governo de Joo Franco, mas o Franquismo e o Partido Regenerador Liberal mantm-se acesos. O Nacional, Diario regenerador-liberal, de periodicidade diria, sucedia ao Diario Nacional, e continuava a aco de propaganda e apoio ao Franquismo. G. Sampaio era o seu director. Francisco Pinto, Leite de Magalhes, Luiz Vianna, Rodrigo Solano, os redactores. A redaco e oficinas de tipografia e impresso situavam-se na Rua da Alegria, 171, Porto. Os artigos editorais da primeira pgina no aparecem assinados, mas de admitir que fossem escritos por G. Sampaio, ou se no, teriam certamente o seu aval. Nestes artigos emerge o iderio ideolgico do Franquismo e do pensamento de G. Sampaio. Na edio de 5 de Maro de 1908 (N 1908 03 05), o editorial intitulava-se Para a frente e pretendia manter acesa a chama do Franquismo: Engana-se redondamente o governo se pensa que pode aniquilar, por qualquer modo, o partido regenerador-liberal ou submetter de novo o paiz ao dominio das praxes rotativas. Nem nos aniquila, por mais que o tente, nem conseguir nunca vencer a reao que se fez nas consciencias limpas contra o modo como

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regeneradores e progressistas vinham, desde longa data, administrando de commum acordo os negocios da nao. Os velhos processos do rotativismo fizeram o seu tempo, felizmente, porque no ha fora que os possa restaurar. No est disto convencido o governo? Parece que no, se attendermos serie de actos que mais definem a sua aco e que trahem, evidentemente, o pensamento occulto de restabelecer por completo o miseravel regimen em que viviamos antes de ter subido ao poder o partido politico do snr. conselheiro Joo Franco. O partido regenerador-liberal, pugnando com f inquebrantvel pela realisao de um programma de moralidade governativa, de reforma cabal nos nossos costumes politicos. Alguns dias depois, na edio de 21 de Maro de 1908 (N 1908 03 21) (Estampa I.5.), o editorial, sugestivamente intitulado A bambochata, numa linguagem truculenta, assumia-se totalmente desencantado com o novo governo ps-regicdio: O espectaculo que se vem desenrolando no ministerio do reino, num triste crocitar de corvos perante a carnia planturosa e ainda quente da mesma prsa, prova em demasia toda a extranha verdade das nossas palavras. E mesmo nelle, assim convertido, numa intima ligao aos erros passados, na chocadeira-Pinheiro dos futuros deputados da nao, que o paiz hoje crava e prende os olhos, admirado de que um ministerio chamado, como o actual, de concentrao monarchica, por tl forma descure e malbarate os interesses do paiz, trahindo a propria lisura da funco que foi chamado a excercer, para se entregar de animo irreflectido e olhos vendados, a todo esse escandaloso tripudio eleitoral, como se o objectivo da sua misso, to delicada e importante, quanto grave e difficil, se resumisse no grosseiro e ingrato papel de verdadeiro deita-gatos dos dois partidos rotativos!. E deixemo-nos de amaveis e morbidas benevolencias. Constituido o governo numa hora de amargas desventuras, a sua misso, para cujo religioso e cabal desempenho ninguem o prendeu, devia resumir-se to smente neste simples fito: administrar o paiz, politica e economicamente, com o mais encendrado, meticuloso e inabalavel patriotismo. Ultrapassar porm taes limites, no para mais elevado tornar o desempenho dessa misso, antes para o prejudicar, emporcalhando-o e emporcalhando-se com nojentas baixesas de galopim, no procedimento que permitta desculpas, nem acto que, mesmo benevolamente, se possa admittir ou perdoar. Desde que, pois, o ministerio do reino abriu as suas portas feira de ambies em que todos o vemos convertido, ao paiz impz-se, urgentemente, o direito e o dever indeclinaveis de lhe bradar bem alto, em nome da sua boa f patriotica assim grosseiramente escarnecida, e muito embora a descontente de regeneradores, progressistas e dissidentes, que so os tres parceiros da roleta eleitoral abaixo a bambochata!.

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Na edio do dia seguinte, 22 de Maro de 1908 (N 1908 03 22), o alvo do editorial era o Partido Republicano: Republicanos e socialistas. [...] As classes obreiras, que constituem entre ns a grande massa do partido socialista, sabem ou devem saber hoje quanto sincero interesse merecem ao partido regenerador-liberal, cujo governo lhes deu, como nenhum outro, provas inequivocas do modo como desejava promover o seu bem estar e satisfazer, cuidadosamente, muitas das suas justas e insistentes reclamaes. Basta citar-se, em prova disto, a cedencia feita pelo gabinete transacto de amplos e valiosos terrenos Voz do Operario uma das associaes mais florescentes da capital, a creao da caixa de aposentaes para operarios de ambos os sexos, a lei do descano semanal e o decreto que isenta de penhora os salarios dos trabalhadores. Accrescente-se que estava annunciada j uma lei estabelecendo penses para os invalidos por accidentes de trabalho e que o chefe do governo, o snr. conselheiro Joo Franco, tinha publicamente exposto a teno em que estava de proteger, nos centros manufactureiros, a apresentao de candidaturas genuinamente operarias [...] a passagem do partido regenerador-liberal pelo poder foi altamente proveitosa para os interesses das classes trabalhadoras, at ento desattendidas e desprezadas por todos os governos. Ora que que tem feito o partido republicano em prol das classes proletarias? Uma coisa apenas: apanhar-lhes os votos a favor dos seus candidatos, sem nunca lhes ceder a menor das compensaes, nem se importar, sequer, com as suas reclamaes e interesses. [...] Na edio de 24 de Maro de 1908 (N 1908 03 24), o editorial continuava a crtica acesa ao governo em excerccio, empolgada pela questo do enterro dos autores do regicdio: O que, porm, ninguem ignora que o governo, sob o ponto de vista moral, tem sido da mais capitulante e contingente subserviencia, pois tudo ha tolerado e consentido, numa triste confuso da liberdade com a licena, como o podem demonstrar, entre outros, factos deste significativo jaez: a glorificao dos regicidas num cemiterio de Lisboa, e a abertura de subscripes na imprensa, a favor das familias desses mesmos regicidas, o que, afinal, no deixa de conduzir tambem ao mesmo escabroso e hrrido caminho o applauso de um crime, cuja gravidade no permitte attenuantes, e, consequentemente, a mais publica e implicita conivencia nesse mesmo crime, por parte dos que, daquella frma, perante o paiz inteiro procederam. Isto incontestvel! [...] Realmente, o que que elle tem feito? Revogou dois decretos de recentissima data e que visavam a castigar factos ocorridos nessa conjunctura, e cuja repetio precisava de ser a tempo e rigorosamente suffocada; dissolveu, como dissemos, o parlamento que j estava desde maio dissolvido; mandou convocar para o dia 5 de abril os collegios eleitoraes que o governo transacto j tivera mandado reunir nesse mesmo dia, e, fingindo dar-se a um genialissimo

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rasgo de legalismo, annulou o decreto dos adiantamentos que, por lei, a morte de El-Rei D. Carlos havia naturalmente j annulado! ... . O editorial da edio de 21 de Abril de 1908 (N 1908 04 21) focalizava-se no anticlericalismo do Partido Republicano, parecendo antever o desenrolar dos acontecimentos do ps 5 de Outubro de 1910: A questo religiosa. Diz-se que os republicanos vo levantar dentro em breve a questo religiosa, tanto na imprensa como no parlamento. No acreditamos. [...] Somos um paiz quasi exclusivamente catholico, sem duvida, mas o sentimento religioso do nosso povo nem se revela por actos repugnantes de fanatismo nem se define por aces de intolerancia, que seja urgente reprimir ou combater; anima-o, pelo contrario, um espirito de liberdade to ampla e manifesta que quasi nos torna desconhecidas as incompatibilidades pessoaes, por diversidade de crenas, entre individuos ou familias. Clericalismo, tal como se entende l fora, isto , a predominancia absoluta do clero sobre o povo, impondo-se-lhe como arbitro dos seus destinos e senhor indiscutivel da sua vontade, perigo que no temos, felizmente, na sociedade portugueza. O nosso aldeo do norte constitue uma fora politica do parocho, certamente, mas no por um motivo de submisso religiosa ou de cegueira fetichista que elle apoia eleitoralmente o seu abbade; segue-o como a um amigo e no como a um padre ou apostolo da sua seita, porque tem nelle o seu protector e conselheiro, que lhe livra os filhos de soldado, que o defende perante os rigores das auctoridades e o auxilia, sempre, em situaes embaraosas e difficeis. Que um parocho no preste favores desta natureza aos seus parochianos, e a sua influencia politica ser nulla, por mais prestigioso que seja o seu renome de sacerdote ou, at, de santo. Nestas circunstancias, pois, sem odios, sem luctas, sem perseguies religiosas, sem a menor sombra de clericalismo que especie de questo religiosa se poderia agitar entre ns, agora? Querem, porventura, que no haja religio do Estado? Mas lembrem-se, nesse caso, os que se apoiam na doutrina do sufragio, isto , na opinio da maioria, na quantidade e no na qualidade dos votos, de que a maior massa dos cidados portuguezes , evidentemente, partidaria de que o Estado professe a religio catholica, e no se esqueam de que no seria sem uma enorme violencia feita consciencia nacional e aos costumes da nossa terra que o contrario poderia conseguir-se por emquanto.[...] Para o povo, a religio no constitue apenas uma necessidade, como fonte eterna da sua moral; uma verdadeira synthese philosophica, quando lhe ministra, com a tradio biblica, uma concepo do mundo, concepo symbolica, certo, mas em harmonia com a sua falta de cultura e no opposta ao espirito e s conquistas de qualquer sciencia. Couberam nella, pelo menos, sabios como Newton, Leibnitz, Descartes e Pasteur. Ora, desde o momento que uma religio nem se mostra anti-progressiva nem antiscientifica, como o catholicismo se no mostra, segundo os factos o provam e desde o momento que se

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exerce como entre ns, sem fanatismos, sem intolerancias e sem odios, claro est que no sob o ponto de politico ou social que pode ou merece ser atacada e rebatida. Fazel-o, e fazel-o sobretudo com a sanha de certos elementos que se dizem avanados, no mais do que pretender substituir no paiz uma verdadeira e authentica tolerancia de crenas, como a que gosamos, por um fanatismo anti-religioso, que representa, sem duvida, a negao de todo o sentimento de liberdade em que devem assentar e desenvolver-se as sociedades de hoje. Certamente, pois, que o partido republicano no pretender levantar, como se affirma, a questo religiosa no paiz; essa questo nem lhe convem, nem tem agora a menor oportunidade ou condies provaveis de sucesso. O que pretende, talvez, intimidar com ella o partido nacionalista, cuja imprensa vam atacando denodadamente as phalanges do barreto phrygio, sempre no campo dos factos ou dos principios, e sem fazer o menor caso dos insultos e ameaas com que s sabem ou podem responder-lhe. G. Sampaio mantm-se como director de O Nacional at edio do 25 de Abril de 1908 (N 1908 04 25). Na edio de 26 de Abril de 1908 (N 1908 04 26) o director Leite de Magalhes (exredactor) e os redactores so os restantes antigos redactores, Francisco Pinto, Luiz Vianna e Rodrigo Solano. Relacionado com a permanncia de G. Sampaio na direco de O Nacional existe ainda, no seu esplio documental, uma carta no-datada (provavelmente de 1908), em papel timbrado da Alfandega do Porto, de Affonso Vieira dAndrade para G. Sampaio. O assunto principal um pedido de favores, mas o seu contedo interessante para se compreender o clima poltico da poca: Meu presado amigo: Recorda-se de eu lhe ter fallado outro dia noite, no Suisso, acerca dum rapaz que poderia ser um bom elemento na redaco do Diario Nacional? Fallei-lhe eu nesse rapaz que subinspector desta alfandega e se chama Luiz Vianna. Disse-lhe rapidamente quaes os servios que elle lhe podia prestar e ainda agora os confirmou. Tem pratica de jornalismo por ter sido redactor dum jornal de Vianna O Imparcial a tempo em que o Malheiro Reymo era ainda da politica regeneradora. Fundou nas ilhas onde j esteve um jornal franquista que abandonou aquando do seu regresso ao continente. Tanto o Malheiro Reymo como o Thiago dAlmeida podem inform-lo acerca dos seus meritos litterarios, porque ambos so amigos delle, politicamente e pessoalmente. Este meu amigo tem desejos de entrar para a nova redaco, mas no quer pedir nem valer-se da amizade desses seus amigos. Eu tambem no venho pedir-lhe nem metter requerimento, porque comprehendendo bem a sua actual situao, no posso nem desejo priva-lo de proceder no actual momento com toda a liberdade e com toda a circunspeco. Devo dizer-lhe porem que este rapaz versado em determinados assumptos economicos, muito estudioso, muito trabalhador e duma

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lealdade a toda a prova. dotado duma grande vivacidade e conhecedor do nosso meio politico e dos seus variados processos de combate, julgando-o doptima collaborao por exemplo na Seco dos Sueltos. Tem espirito e conhece a Chronica dos adversarios, o que parece essencial nessa seco. De resto melhor do que eu podem inform-lo o Thiago ou o Malheiro Reymo, que so patrcios delle e que o conhecem desde creana. O Francisco Pinto tambem pode dizer-lhe alguma cousa delle, se voc quizer aproveita-lo. Eis o que venho espontaneamente dizer-lhe para o caso de carecer dum elemento desta ordem, mas na certeza porem de que o Vianna nada me pediu nem suggestionou. Se tal fosse o seu intuito tinha portas melhores que a minha onde bater. Falo-lhe assim porque o conheo bem e entendo que a sua victoria s poder sahir de um corpo de redaco unidissimo e solidario, que dalma e corao entre na nova cruzada. 3. G. Sampaio e a Monarquia do Norte9 A proclamao da restaurao da monarquia e a constituio da Junta Governativa do Reino de Portugal eram anunciadas na edio de 21 de Janeiro de 1919 de O Commercio do Porto (CP 1919 01 21). Jlio Giro Faria de Morais Sarmento, visconde do Banho, era nomeado Ministro da Instruco e da Justia, e instalava-se no edifcio da Universidade do Porto: A proclamao da monarchia. A aco da Junta Governativa do Reino, installada antehontem no Porto, tornou-se hontem mais activa, recebendo adheses de numerosas entidades de diversos pontos do paiz. Essas adheses foram feitas nos termos mais calorosos, denunciando os vogaes da Junta Governativa, a par de uma grande satisfao, um decidido proposito de encaminhar os negocios publicos no sentido de que o paiz entre na normalidade, no mais curto praso possivel, e sejam devidamente consideradas as importantes e complexas questes que se acham pendentes. Esse tambem o empenho de quantos verdadeira e desapaixonadamente se interessam pela prosperidade e bem-estar deste paiz. Passamos a relatar os factos ocorridos depois da publicao do supplemento ao Commercio do Porto, distribuido hontem a todos os nossos assignantes. Ministro da Instruco e da Justia. O snr. Visconde do Banho, ministro da instruco e da justia, installou-se hontem no edificio da Universidade do Porto. Tendo officiado previamente ao reitor da Universidade, o vice-reitor em exercicio snr. Conselheiro Ferreira da Silva compareceu e ficaram destinados para os servios [...] aquelle titular o gabinete do director da Faculdade de Sciencias, a sala dos conselhos da mesma Faculdade e a sala da recepo. J depois de installado o snr. Visconde do Banho nesses aposentos, um numeroso grupo de estudantes fez-lhe uma calorosa manisfestao de sympathia, discursando em nome dos manifestantes o estudante snr. Roberto

Para uma perspectiva recente da histria da Monarquia do Norte ver SILVA (2006).

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de Espegueira Rodrigues Mendes. Nota officiosa Os ministerios da justia e instruco ficaram hontem instalados no edificio da Universidade. As reparties estaro abertas desde as 11 horas da manh s 6 e meia da tarde. S. Exc.a o snr. ministro recebe quaesquer pessoas que desejam tratar de negocios pendentes do ministerio da justia [...] e da instruco. A 27 de Janeiro, O Commercio do Porto editava um suplemento totalmente dedicado instaurao da Monarquia do Norte (CP 1919 01 27) (Estampa I.6.). Na edio do dia 22 de Janeiro (CP 1919 01 22) noticiam-se as primeiras prises dos dissidentes republicanos. A Monarquia do Norte, liderada por Paiva Couceiro tinha uma vida curta, e a Repblica era restaurada a meados do ms de Fevereiro. A edio de 14 de Fevereiro de 1919 de O Commercio do Porto (CP 1919 02 14) anunciava a restaurao da Repblica: num movimento rapido, de extraordinario e grande presteza, foi hontem restaurada a republica no Porto. Podia ainda ler-se nesta edio de O Commercio do Porto: Restaurao da Republica. Na Universidade. No edifcio da Universidade bastantes alumnos percorreram os corredores soltando vivas Republica e porta repetiram essas aclamaes, calorosamente secundadas pelo povo que se reunira. Na edio de 19 de Fevereiro (CP 1919 02 19) so, pela primeira vez, noticiadas as prises de implicados nos ultimos acontecimentos [...] que recolheram incommunicaveis ao Aljube. Nas edies do O Commercio do Porto dos dias seguintes so noticiadas mais prises de (supostos) adeptos monrquicos. Na edio do dia 21 de Maro de 1919 (CP 1919 03 21) (Estampa I.7.) podemos lr, na rubrica das prises: Em Ponte de Lima foi detido, vindo para esta cidade e recolhendo ao Aljube, o snr. G. Sampaio, professor da Universidade do Porto. Por que razo era preso G. Sampaio? Nas edies do O Commercio do Porto de 21 de Janeiro a 19 de Fevereiro de 191910 (CP 1919 01 21 1919 02 19) no encontrmos qualquer referncia a actos pblicos de G. Sampaio de adeso Junta de Paiva Couceiro. Existem, no entanto, dois documentos valiosssimos que nos indicam que G. Sampaio ter provavelmente sido preso por ter sido dirigente do Real Batalho Acadmico do Porto. LIMA (1919) num livro publicado ainda no rescaldo dos acontecimentos, escreve (Estampa I.8.): Factos mais notaveis do reinado. Batalho Acadmico. 21Janeiro-1919. Numa reunio havida ontem no edifcio da Universidade do Prto, qual assistiram professores e alunos, resolveu-se organizar o Batalho Acadmico Monrquico que incondicionalmente se colocar ao servio da Junta Governativa. O comit dirigente constituido pelos srs. Gonalo

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Os jornais O Primeiro de Janeiro e Jornal de Noticias no foram publicados durante a Monarquia do Norte.

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Sampaio, professor da Universidade; Bernardino Camilo da Costa e Joo Sampaio11, respectivamente alunos da faculdade de scincias e da Escola Superior de Farmcia. Informan-nos ainda que se contam j muitas adeses, estando a inscrio aberta na Universidade do Prto, para todos os professores e estudantes que desejem alistar-se no batalho Acadmico. Os novos voluntrios da causa monrquica sero comandados pelos alunos das escolas oficiais que sejam militares (LIMA, 1919:15). O segundo documento uma carta de G. Sampaio para sua mulher, Livia Sampaio. G. Sampaio escrevia, do Porto, a 10 de Fevereiro, para Livia Sampaio, na altura a residir em S, Ponte de Lima, a seguinte carta pattica, mas tambm demolidoramente acusativa para a direco do movimento revolucionrio monrquico, (Estampa I.9.): Livia. A causa monrquica est definitivamente perdida, no tenhas a menor duvida disso. Em Lamego fomos completamente derrotados, apezar de publicarem os jornais que derrotamos os republicanos. No publicam seno mentiras sobre mentiras, com o maior descaro! O Joo12 chegou agora, contando a nossa derrota. O batalho acadmico bateu-se bem, mas os soldados no tiveram quem os comandasse (!) e andavam toa. O Couceiro chegou, como sempre 2 horas depois da derrota! um incompetente este homem funesto, embora seja um soldado valoroso. Depois desta derrota j no podemos fazer nada, cr. Na coluna do Joaquim13 creio que no ter havido combates, a no ser que os houvesse hoje. Enfim, j se no pode vencer a partida. Mas, no entanto, nada de afligir e toca de pr o corao de largo. [...] Estou perfeitamente calmo e peo-te que tambem te no incomodes. Recomendaes a todos, teu, Gonalo Sampaio. Apesar de O Commercio do Porto nunca mencionar G. Sampaio como pertencente e dirigente do Real Batalho Acadmico do Porto, a actividade desta organizao bem relatada em diversas edies do peridico. Logo na edio do dia 22 de Janeiro de 1919 (CP 1919 01 22), podia lerse: Real Batalho Academico. O comit do Real Batalho Academico do Porto acaba de nos comunicar, para conhecimento de todos os seus alistados, que foi auctorisada pela Junta Governativa do Reino a constituio deste batalho, que fica subordinado ao ministro da guerra, de onde sero emanadas todas as ordens. O comit mostra-se muito penhorado com os snrs. Barros & C.a e Papelaria
Joo Antnio Ferreira Sampaio, filho de G. Sampaio, nasceu no Porto, na freguesia de Paranhos, a 4 de Outubro de 1898. Concluiu, na Universidade do Porto, o curso de Farmacutico-Qumico. Por Decreto de 21 de Junho de 1921, foi nomeado 2. assistente da seco de Botnica da Faculdade de Cincias do Porto. A sua nomeao para o referido cargo foi renovada sucessivamente at ao ano lectivo de 1935-36, ano em que, a 10 de Janeiro, apresentou um atestado de doena, tendo ficado ao abrigo da legislao aplicvel aos funcionrios civis tuberculosos, situao em que permaneceu at pelo menos 1942. Dedicou-se ao estudo da Flora de algumas regies do nosso pas, tendo obtido resultados que, no entanto, nunca foram publicados (PIRES DE LIMA, 1942). 12 Trata-se, seguramente, de Joo Antnio Ferreira Sampaio. 13 Trata-se certamente de Joaquim Sampaio, filho de G. Sampaio. Joaquim Antnio Ferreira Sampaio nasceu no Porto, a 6 de Julho de 1899. Frequentou a Faculdade de Cincias do Porto. Foi colector do Gabinete de Botnica, ingressando como naturalista do Instituto de Botnica em 1926. Estudou exaustivamente as cianobactrias e as desmdias portuguesas (PIRES DE LIMA, 1942).
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Araujo & Sobrinho, pela maneira captivante como atenderam os delegados do batalho nas solicitaes que lhes fizeram. Os alistados do Real Batalho Academico devem reunir hoje, ao meio dia, na Universidade do Porto. Na edio do dia seguinte (CP 1919 01 23), a notcia confirmava que se tratava de uma organizao acadmica mas tambm militar: Real Batalho Academico. Os allistados no Real Batalho Academico tiveram hontem instruco militar e hoje, s 9 horas e meia da manh, reunem na Universidade para o mesmo efeito. Nesta edio do jornal tambm se podia ler: Adeso dos academicos manifestao. Os academicos promoveram hontem uma ruidosa manifestao, para o que se reuniram em crescido numero na praa da Universidade, cerca das 2 horas da tarde, attraindo alli numerosissimas pessoas, que confratenizaram com os estudantes, no meio de uma alegria digna de registo. Organisou-se um grande cortejo pela seguinte ordem: Banda do Internato Municipal, Real Batalho Academico, na fora de 200 voluntarios, sob o comando do aspirante snr. Gandarella, com a respectiva bandeira, escoltada por uma guarda de honra feita por voluntarios armados [...]. O luzidio cortejo atravessou as ruas no meio das mais vivas e enthusiasmadas aclamaes, a que se associaram o povo, que abria alas nas ruas [...]. Ao gabinete do chefe do governo subiu uma comisso que saudou o snr. coronel Paiva Couceiro [...] o alumno da Faculdade de Sciencias snr. Marques de Carvalho proferiu um discurso cheio de patriotismo e de intenso entusiasmo, sendo as suas palavras muito aplaudidas. O Real Batalho Academico que, neste acto, fez a sua apresentao, postou-se em continncia ao chefe do governo. Na edio do dia 29 de Janeiro (CP 1919 01 29), outra notcia sobre o Real Batalho Acadmico do Porto: Real Batalho Academico. As snr.as D. Maria da Gloria Vasconcellos Montenegro, D. Estephania Frade, D. A. A. Pereira e D. Rosa da Conceio Gonalves Frade, alumnas do Lyceu do Porto, resolveram, entre as suas condiscipulas dos differentes collegios, obter donativos para a confeco de uma bandeira de sda azul e branca, a fim de a offerecer ao Real Batalho Academico do Porto. A lista da subscrio encontra-se patente no Campo dos Martyres da Patria. Na edio do dia seguinte (CP 1919 01 30), podia ler-se: Real Batalho Academico. Foram convocados os alistados do Real Batalho Academico do Porto a comparacer depois de amanh, s 10 horas da manh, na respectiva sede, sendo punidos os que faltarem. Na edio de 4 de Fevereiro (CP 1919 02 04), uma notcia informava que so alunos do Batalho iriam estar dispensados das aulas: Batalho Academico. Vai ser publicada uma portaria determinando que no sejam marcadas faltas aos alumnos que estejam em servio como voluntarios no Real Batalho Academico do Porto, devendo o respectivo commandante enviar s secretarias dos estabelecimentos de ensino a que esses alumnos pertencerem, uma relao das praas sob o seu commando a quem respeite o disposto na mesma portaria.

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Interessantemente, em Lisboa o Batalho Academico era republicano e no monrquico. Na edio de 3 de Fevereiro de 1919 da Ilustrao Portuguesa (IP 1919 02 03) eram dedicadas duas pginas ao batalho acadmico lisboeta. O tom era naturalmente de entusiasmo republicano - em Lisboa a sublevao monrquica de Monsanto tinha sido neutralizada. A mocidade das nossas escolas, levada do seu amor liberdade e aos interesses do paiz, tambem entrou espontanea e entusiasticamente na luta. No entanto tanto no Porto como em Lisboa, era a comunidade universitria que parecia ser a vanguarda da aco. Partiu da Universidade de Lisboa a ida da organisao de um batalho academico, pertencendo o maior numero dos seus alistados s faculdades de sciencias e de letras. J tiveram o seu baptismo de fogo na Serra de Monsanto. A imprensa, em geral, dedicou registos calorosos coragem e valentia dos briosos rapazes, que avanaram contra o inimigo com o sangue frio de tropas experimentadas. Sufocado o movimento em Lisboa, os academicos constituiram-se no dever de acompanhar a causa das instituies at final vitoria. Ofereceram-se para seguirem para o norte e o governo aceitou-lhes prontamente o oferecimento, aproveitando assim um concurso que, se no pode ser decisivo, sob o ponto de vista da fora, de uma alta importancia moral como estimulo para levantar o espirito publico, o que no contribue pouco para a vitoria. Pelas fotografias inseridas na pgina 88 deste artigo, sabemos que, neste batalho acadmico de Lisboa, tambm participavam alunos dos liceus e escolas secundrias de Lisboa. Por uma notcia publicada a 7 de Fevereiro (CP 1919 02 07), poderemos concluir que as aulas estariam paralizadas na cidade do Porto: Batalho Academico. Telegrama recebido. Real Batalho Academico segue bem. Sauda as suas familias. Viva Portugal restaurado! Viva a Monarquia! O commandante, Alvaro Aguiar, aspirante. Preteno de academicos. Os estudantes das 6.a e 7.a classes do Lyceu D. Manuel II que, como temos noticiado, vem ha varios dias reclamando para si as regalias concedidas aos seus collegas do Real Batalho Academico do Porto [apresentaram] a seguinte petio [...]: O funcionamento irregular das turmas, havendo algumas que tendo a frequencia normal de 99 alumnos, esto actualmente a funcionar com [ilegvel] apenas, de onde se conclui que o ensino ministrado a estes poucos assistentes se no pode fazer sem manifesto prejuizo para todos os outros que se no podem apresentar devido anormalidade do momente presente. Logo no dia 3 de Maro de 1919 era publicado, no Dirio do Govrno um Decreto (DG 1919 03 03) que estabelecia como iriam ser julgados os indivduos implicados no ltimo movimento monrquico. Considerava que era indispensvel que estes julgamentos se realizassem com rapidez mas sem postergar a defesa dos implicados. Eram criados Tribunais Militares para o julgamento tanto dos militares como dos civis. Os autos de investigao eram remetidos ao comandante da diviso

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militar em cuja rea o crime tiver sido cometido. O comandante da diviso tinha ento 48 horas para exarar o despacho. Se o comandante da diviso entender que se no constata a responsabilidade criminal eram os arguidos postos imediatammente em liberdade. Caso contrrio, lavrado o despacho de culpabilidade e remetido o processo ao auditor assistente, mandar ste entregar cpia dle aos acusados presos, dentro de quarenta e oito horas, e intim-los para, em trs dias, apresentarem, querendo, a sua defesa. O presidente do tribunal ouvido o respectivo auditor designava o dia, hora e local para o julgamento, devendo os autos ser examinados antes pelo auditor, promotor e defensor para o que cada um ter vista dles por vinte e quatro horas e sendo dado daquele despacho imediato conhecimento ao auditor assistente, a fim de, sem perda de tempo, ordenar as necessrias diligncias para o julgamento. S eram admitidos recursos depois da sentena e tendo por fundamento a preterio de qualquer formalidade substancial que haja infludo no apuramento da verdade, ou rro na classificao do crime ou na aplicao da pena, nicos que o Supremo Tribunal Militar poder conhecer, devendo o julgamento de tais recursos antepor-se aos de quaisquer outros. Na organizao dos processos e respectivos julgamentos eram observadas as disposies do Cdigo do Processo Criminal Militar, salvo as modificaes estabelecidas neste Decreto. Em Agosto decorrem muitos julgamentos dos presos implicados na Monarquia do Norte. O Primeiro de Janeiro e O Commercio do Porto narravam diariamente as sesses dos julgamentos. O Primeiro de Janeiro de 1 de Agosto de 1919 (PJ 1919 08 01) (Estampa I.7.) relatava que foram entregues ao tribunal militar os processos referentes aos presos politicos srs. Gonalo Antonio da Silva Ferreira Sampaio e Antonio Ferreira Sampaio, moradores na rua da Constituio. Esta notcia pode referir-se a Joo Antnio Ferreira Sampaio ou a Joaquim Antnio Ferreira Sampaio, que, como vimos anteriormente, participaram activamente na Monarquia do Norte. Tanto nas edies de O Primeiro de Janeiro como em O Commercio do Porto de 1 a 21 de Agosto de 1919 (PJ 1919 08 01 - 1919 08 21; CP 1919 08 01 - 1919 08 21) no encontrmos qualquer notcia referente ao julgamento de G. Sampaio. Finalmente, na edio de 21 de Agosto de 1919 (PJ 1919 08 21) (Estampa I.7.) podia ler-se: Foi restituido liberdade o snr. dr. G. Sampaio, que se encontrava em tratamento no hospital da Misericordia. G. Sampaio tinha estado cinco meses encarcerado. Encontramos eco da libertao de G. Sampaio do crcere em diversas cartas que recebeu dos seus amigos e colegas. Antnio Soeiro, em carta datada de 27 de Agosto de 1919, endereada do Porto, escrevia (Estampa I.10.): [...] Tive conhecimento que V. Ex.a, emfim, foi posto em liberdade e seu filho tambem, e, se me regosigei por isso, entristeceu-me a noticia que a Esposa de V. Ex.a me deu de

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que o meu amigo veio doente. Procureio em casa hontem, mas V. Ex.a tinha sahido ha pouco para o comboyo. Tive pena de lhe no poder dar um abrao, mas fa-lo-hei quando regresse. Como ficou o nosso Doutor Costa Pinto? Coitado. Desejava ter noticias do meu amigo. Se lhe merecer essa honra, peo a fineza de se escrever para a Contabilidade da Comp.a Carris de Ferro do Porto. Se lhe poder ser prestavel para alguma disponha, deste seu creado e creia-me [...] Ant.o Soeiro. A. Ricardo Jorge escrevia em carta datada de 29 de Agosto de 1919: A noticia da sua libertao, que o Dr. Julio Henriques me deu em Coimbra, causou-me o mais vivo contentamento. Tendo de partir nesse mesmo dia, limitei-me a telegrafar-lhe e guardar um outro [ilegvel] para uma carta que s agora pode ser escrita. Excusado dizer-lhe que aguardava com [ilegvel] o desfecho de agora, tendo seguido passo a passo confrangido a evoluo do seu caso, condenado a um silencio em virtude das noticias que me davam do Porto e mesmo aqui em Lisboa da impossibilidade de qualquer comunicao, [ilegvel] pela falta de resposta a 2 cartas sucessivas que logo a principio lhe escrevi. Ainda bem que tudo [ilegvel] terminou e terminou o melhor possivel para si, para os seus e para aqules e eu sou dste numero que no podiam conformar-se com o menor [ilegvel] de homem de envergadura que o senhor , - o nosso primeiro botanico -, que se fez graas a um tenazissimo e constante esforo, sacrificando todos os momentos pela sciencia, a que se entregou fervorosamente com lustre para o seu nome e para esta nossa pobre terra, to ingrata. A esta ou outra carta prxima, respondia G. Sampaio a A. Ricardo Jorge num bilhete-postal datado de 30 de Janeiro de 1920. J estou efectivamente em exercicio mas vou pedir uma licena de 6 mezes, porque no vale a pena ir daqui ao Prto dar aulas (BNP A/2049). J. S. Tavares escrevia em carta datada de 29 de Dezembro de 1920: Aproveito este ensejo para, mais uma vez, lhe exprimir a satisfao que tive em ver V. Ex.cia restituido, com tanta honra, aos cargos que antes to dignamente desempenhava. lvaro Basto14 escrevia em Janeiro de 1920 (Estampa I.11.): Alvaro Basto cumprimenta o seu prezado colega e amigo Gonalo Sampaio e felicita-se por ver restituir actividade scientifica quem com tanto brilho a escreve. Coimbra [dia no perceptvel] janeiro 1920. Belarmino Osrio, em carta escrita de Carvalhais (Mirandela), datada de 21 de Janeiro de 1920, escrevia: Agora mesmo acabo de tomar conhecimento da justa reparao que acaba de ser feita a V.a Ex.ca. Venho por ste motivo
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lvaro Jos da Silva Basto foi professor ordinrio de Qumica e director do Laboratrio Qumico da Universidade de Coimbra, entre 1911 e 1922. Tinha transitado da Faculdade de Filosofia, em 1911. Foi scio fundador da Sociedade Qumica e scio do Instituto de Coimbra e da Socit Chimique (RODRIGUES, 1992:298). Existe correspondncia entre lvaro Basto e G. Sampaio anterior citada acima, de 1920. Num bilhete-postal com carimbo de correio de 12 de Janeiro de 1915, o professor de Coimbra escrevia a G. Sampaio: Meu querido colega: Muito obrigado pela oferta das suas ultimas publicaes, que servem doravante de um magnifico ensino e de uma obra, os botanicos. Disponha sempre o seu amigo e admirador, Alvaro Basto.

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apresentar as minhas felicitaes e, ao mesmo tempo pedir que aceite os meus respeitosos cumprimentos [...] Belarmino Modesto Pinto Osrio. O encarceramento de G. Sampaio durante alguns meses, teve, naturalmente, eco no meio acadmico e cientfico da poca. Alguns dos colegas mais distantes no sabiam o que se tinha passado, mas sabiam que as cartas que enviavam no tinham resposta. Fr. Sennen, num bilhete-postal ilustrado datado de 24 de Setembro de 1919 dava conta da sua preocupao com a ausncia de resposta do seu colega: Depuis longtemps je suis sans nouvelles de vous et cela minquite. Je vous prie de mcrire quelques lignes. Dautre part vous maviez annonc un envoi de bonnes plantes portugaises que je nai pas reues et dont lenvoi aura t probablement retard. Dans lespoir de vous lire bientt15. J. Henriques num bilhete-postal datado de 24 de Novembro de 1919 escrevia: Desejo o seu completo restabelecimento. G. Sampaio no ter respondido, porque o colega de Coimbra, poucos dias depois, a 30 de Novembro, escrevia admirado: No sei se est vivo ou no. No entanto, G. Sampaio ter reiniciado as suas actividades no muito tempo depois da sua libertao, porque a 21 de Dezembro deste ano, J. Henriques escrevia para o colega: Recebi agora o seu postal e o manuscrito das Desmidiaceas, que muito agradeo. [...] No manda tambem alguma cousa sobre liquenes? Da carta do Nobre16 sei que ainda no est livre de tudo dos resultados dos casos belicos, e que ainda no foi reintegrado. Sinto muito isto porque muito desagradavel e prejudicial. Bem desejo que essas cousas se resolvam [...] Bom ser pelo menos que a sua saude seja boa e que todos os seus estejam bem. A 9 de Fevereiro de 1920, J. Henriques escrevia novamente para G. Sampaio: H muito tempo que no tenho noticias suas. Mandei-lhe um bilhete de parabens logo que o Nobre me deu a noticia de estar livre politicamente. No o recebeu? J foi reintegrado no seu posto universitario? Como esta de saude?. Pouco tempo depois, a 23 de Abril, em tom carinhoso, escrevia: Como est o doente? Est em bom andamento? o que muito desejo. Aps a sua libertao G. Sampaio vive, durante alguns meses, na Pvoa de Lanhoso, e, pelos registos que faz nos seus cadernos de apontamentos, trabalha afanosamente recolhendo lquenes. Num dos seus cadernos de apontamentos escreveu: Povoa de Lanhoso: 8. - 1919 e 9.. Segue-se uma extensssima lista de espcies de lquenes recolhidos em S. Gens, Lages, Pilar, Calvos, Portela, Castelo, Porto de Bois, Frades, entre outras localidades. Seguidamente existe uma lista das espcies novas para Portugal dos lquenes recolhidos, seguida de umas Observaes. Numa
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Trata-se de um documento interessante, porque tinha o endereo do Porto, mas encontra-se rasurado e escrito por cima Ponte de Lima, Freguezia de S. G. Sampaio esteve hospitalizado antes de ser libertado. Estaria a recuperar em Ponte de Lima? 16 J. Henriques referia-se a Augusto Nobre (ver captulo IV.1.).

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pgina seguinte, existe uma lista de Duvidosas, onde G. Sampaio escreve cinco nmeros de entrada do Herbrio de Lquenes da Faculdade, e, frente de cada nmero, uma identificao. Em quatro destes nmeros G. Sampaio s escreve a identificao genrica, mas no nmero 1993 escreve: Buellia Duartiana Samp. (sp. n.). Era um achado excepcional - uma espcie nova para a cincia. Esta descoberta ser publicada em SAMPAIO (1920a). Designar este lquene de Buellia duartei e escrever aps a diagnose Encontra-se este lquen no concelho da Pvoa de Lanhoso, sbre as pedras granticas da Lage-Longa, no lugar de Nasce, onde o colhi a 29 de setembro de 1919. Em Outubro de 1919, nos dias 5 e 6, faz uma excurso a Vieira do Minho. No mesmo caderno de apontamentos onde anotou as suas colheitas de Agosto e Setembro na Pvoa de Lanhoso, numa pgina seguinte escreveu Vieira (5 e 6 de 10-1919), seguida de uma lista de espcies de lquenes. No dia 14 deste ms herboriza em Ermesinde. Escreve neste mesmo caderno: Ermezinde (14-10-1919), seguida de uma lista de espcies de lquenes. No dia seguinte recolhe lquenes em Guimares. Escreve no seu caderno de apontamentos: Guimares (15-10-1919), seguida de uma lista de espcies de lquenes. G. Sampaio continuaria a manter a sua simpatia por regimes autoritrios aps o episdio da Monarquia do Norte. Numa carta que escreveu a A. Ricardo Jorge, G. Sampaio manifesta-se simpatizante do regime autoritrio instaurado pela revoluo de 28 de Maio de 1926. Com o governo sado da revoluo de Gomes da Costa, A. Ricardo Jorge17 assume a pasta do Ministrio da Instruo. G. Sampaio, numa carta datada de 3 de Julho de 1926, endereada ao Ex.mo Snr. Dr. Artur Ricardo Jorge, Ilustre Ministro da Instruo, escreve em tom contundente: No me atrevo a dar-lhe parabens por ser ministro, embora o estimasse. Deve ser uma coisa horrivel ser ministro neste pas! Pelo que lhe dou muitos parabens por ter revogado a desgraada lei do Dr. M. dos Remdios sbre o curso preparatrio de Medicina, em que aparecia esta monstruosidade pedaggica: um curso de scincia pura (a Biologia) professado por um professor de uma Faculdade profissional! [] Muito estimo v-lo a colaborar na obra de um governo que se prope corrigir os desmandos praticados pelos politicos; mas, meu amigo, isto chegou a tal podrido que mal posso acreditar no milagre que se

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Arthur Ricardo Jorge, filho do professor e distinto mdico Ricardo Almeida Jorge, nasceu em 1886. Formou-se em medicina e cedo ocupa o cargo de mdico dos Hospitais de Lisboa. No entanto, a paixo pelas cincias biolgicas leva-o a abandonar o exerccio da medicina, para se dedicar, primeiro botnica, e depois zoologia. Em 1911, entra como assistente da recentemente criada Faculdade de Cincias de Lisboa. Sob a orientao de G. Sampaio, inicia-se no estudo da flora liquenolgica portuguesa. um precioso auxiliar de G. Sampaio na edio da exsicata Lichenes de Portugal (ver captulo VII.1.). Passa a naturalista em 1919, e a professor de Zoologia da Faculdade de Cincias de Lisboa, em 1921. Organiza o Congresso Internacional de Zoologia, que decorreu em Lisboa, em 1935. Foi Ministro da Instruo em 1926, nos governos de Gomes da Costa (de 17 de Junho a 9 de Julho) e de scar Carmona (de 9 de Julho a 22 de Novembro). (GEPB; PERES, 1954:430,432, 433; OLIVEIRA MARQUES ET AL., 1991:728-732).

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anuncia. Deus os ajude e lhes d coragem no meio dos desgostos e das dificuldades que ho de ter. A quadrilha enorme, temerosa, e a desmoralizao da maioria completa (BNP A/1987).

4. G. Sampaio mestre incompreendido? G. Sampaio deslocou-se ao estrangeiro em diversas ocasies: em Maio-Junho de 1910, para participar no Congresso Internacional de Botnica realizado em Bruxelas18; em Maio de 1917, a Sevilha, para participar na Reunio da Asociacin Espaola para el Progreso de las Cincias19; em Maio de 1922, para assistir ao Doutoramento Honoris Causa de Gomes Teixeira, pela Universidade de Madrid. No estrangeiro G. Sampaio confrontado com outras realidades colegas botnicos, instituies, cidades, culturas, mentalidades e sistemas polticos. Do estrangeiro escreve para familiares e colegas em Portugal. nestes documentos, escritos no momento do confronto, na premncia do contraste e no calor das emoes, que emergem alguns dos traos profundos da personalidade e pensamento de G. Sampaio. Alguns destes so, qui, caractersticas de uma mentalidade portuguesa que se enraza num passado distante deslumbramento e aceitao incondicional por tudo quanto estrangeiro e secundarizao e desvalorizao pelo labor do portugus, mesmo quando os nacionais so excepcionais, e reconhecidos como tal pelos seus colegas de outros pases. G. Sampaio tambm no deixa de comparar os sistemas polticos dos pases que visita, com o do seu pas, e, aqui, tambm o portugus o pior. At os republicanos e o sistema republicano estrangeiros eram muito melhores do que os nacionais. G. Sampaio sente-se incompreendido por todos, e, os que o tratam como efectivamente era - uma das figuras cimeiras da Botnica europeia do incio do sculo XX, transformam-se em dolos ofuscantes para G. Sampaio. O caso de A. Zahlbruckner, que citaremos de seguida, ilustrativo. Na viagem que realizou para participar no Congresso de Botnica de Bruxelas de 1910, G. Sampaio foi acompanhado de Gomes Teixeira20, director da Academia Politcnica do Porto e
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O Congresso de Botnica de Bruxelas de 1910 (terceiro Congresso Internacional de Botnica) decorreu de 14 a 22 de Maio, sob a presidncia do Baro de Moreau, ministro belga, e secretariado por Thophile Alexis Durand (1855-1912) (http://fr.wikipedia.org/wiki/Congres_de_botanique). 19 No esplio documental de G. Sampaio existe uma factura do Gran Hotel de Madrid y su sucursal Sevilla, referente a uma estadia de G. Sampaio, em Sevilha, de 4 a 12 de Maio de 1917, seguramente para assistir a esta reunio. 20 Francisco Gomes Teixeira (1851-1933) doutorou-se em matemtica na Universidade de Coimbra com elevadssima classificao. Foi inicialmente professor da Universidade de Coimbra, e, a partir de 1884, lente-proprietrio da Academia Politcnica do Porto. Leccionou primeiro Geometria Descritiva e depois Clculo Diferencial e Integral. Em 1877, funda, em Coimbra, a revista Jornal de Cincias Matemticas e Astronmicas, que dirige durante 28 anos. Em 1905, cria os Anais Cientficos da Academia Politcnica do Porto. Foi o quarto (e ltimo) director da Academia Politcnica, cargo que ocupou at 1911, quando a instituio se transforma em Faculdade de Cincias do Porto. neste ano nomeado reitor da

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reconhecido matemtico. A viagem foi longa, tendo visitado vrias cidades e instituies de diversos pases. Existe no esplio de G. Sampaio uma carta que escreveu para Livia Sampaio. A carta no est datada, mas pelo seu contedo sabemos que foi escrita durante a viagem de 1910. Em papel timbrado do Grand Hotel Montr de Bordus, escrevia (Estampa I.12.): Minha Livia. Hoje no recebi telegramma dahi, o que me deu grande satisfao, porque prova, claramente, de que no ests mais mal. Se porventura peorares, o que espero em Deus, que no acontea, manda-mo dizer telegraphicamente para eu voltar para ahi. De modo algum quero que me occultes o teu estado, repara bem nisto que te digo. Eu continuo muito bem, pois estou completamente restabelecido. So 10 horas da noite, tendo chegado agora mesmo de jantar no restaurante do Louvre, com o dr. Gomes Teixeira e famlia. No hotel onde estamos, que o Hotel Montr, no se come; apenas se dorme e se toma caff e leite, de manh. o costume francez. Como te disse hontem Bordeus uma bella cidade, de monumentos e ruas magnificas, com um movimento enorme. Eu tenho gostado muito da Frana e de Bordeus saio, certamente, encantado. O povo francez de um requinte e amabilidade que captiva as almas delicadas, certamente. Tudo nelle distincto, desde o vesturio at ao convvio. No calculas como isto suave e como eu gostaria de viver aqui! Hoje de manh sahi com o dr. Gomes Teixeira, que foi fazer uma visita. Na volta entramos na igreja de S.ta Eulalia, um bello monumento de estylo gothico. Admiravel o interior do templo, o dcor e o espirito profundamente religioso desta populao. bem aqui a grande patria do catholicismo, por mais que as ideias revolucionarias tentem tirar-lhe o carcter que o proprio sangue lhe imprimiu. Bordeus, sendo republicana, religiosa, e o seu republicanismo moderado, porque so os chamados moderados que dominam. assim que foi hoje dia, de eleies, com triumpho para os republicanos moderados. Os proprios socialistas recebem o influxo desta tendencia e perdem o carcter radicalista que tanto tem perturbado a Frana. Basta dizer que nunca aqui houve uma greve operaria, neste tempo revoltado de greves. s quatro horas da tarde acompanhei o dr. Gomes Teixeira e filhas a casa do professor Barbarin, onde lhe foi offerecido um ch. Ficamos encantados. Allem de mathematico distincto Barbarin musico, como a senhora e filhos, preparando por isso, em sua casa um concerto em honra do dr. Gomes Teixeira. Concorreu um pianista que um artista de altissimo valor e que brevemente parte para Bruxellas a dar concertos.
Universidade do Porto, e, em 1919, seu reitor honorrio. Completa 70 anos em 1921, mas reconduzido nas suas funes. Em 1929, deixa o lugar na Universidade, para ser director do Instituto de Investigaes Cientficas da Histria das Matemticas Portuguesas. Foi Doutor Honoris Causa por vrias Universidades estrangeiras, scio da Academia das Cincias de Lisboa e presidente de diversas associaes cientficas. Foi ainda deputado em 1879, 1883 e 1884. Publicou diversos trabalhos originais e brilhantes de investigao matemtica, sendo considerado um dos acadmicos portugueses mais brilhantes (GEPB).

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Cantou uma senhora, esposa de um dos convidados e ouviu-se um trecho de piano, violino, violoncello em que entrou por vezes o proprio dr. Barbarin e esposa. Estes tocam violoncello, e muito bem. Viemos encantados com isto e com o acolhimento carinhoso, cheio de amoroso conchego com que nos acolheram. Foi para mim um dia de satisfao, porque como portuguez comoveu-me intensamente as homenagens prestadas no estrangeiro a um portuguez illustre, que hoje a maior gloria da nossa raa. Esse homem que atravessa as ruas do Porto como um desconhecido dos seus proprios compatriotas, consagrado e acolhido nos centros mais civilisados do estrangeiro com estas provas de estima, to tocantes e to significativas, que at me custa a comprehender como podera formar o seu extraordinario valor numa terra em que o verdadeiro talento no encontra meio nem incentivos para se desenvolver e frutificar. Dormirei esta noite cheio de ventura, cheio deste prazer espiritual que s poderia dar-me o prazer de me ter orgulho o ter nascido portuguez. Amanh dar-te-ei impresses de diversos aspectos de Bordeus. Agora vou deitar-me, que a noite est fria e eu no quero perder novamente a sade. Muitos beijos do teu, Gonalo. Como vo os pequenos? Amanh mandarei postais ilustrados. A 1 de Junho de 1910, Livia Sampaio escrevia a seu marido, pensando que se encontrava em Paris. O envelope tinha escrita a seguinte direco de Paris: Monsieur Gonalo Sampaio, Hotel du Rhone, Rue Jean Jacques Rousseu, Paris, Frana. Este endereo est riscado, e escrito Portugal, Porto. Quando a carta chegou a Paris, G. Sampaio j teria regressado a Portugal. A carta foi reenviada para o Porto. Meu querido Gonalo. At que enfim j te posso escrever! H tantos dias sem te poder dar noticias nossas! Eu estava anciosissima por escrever-te e agradecer-te o cuidado que tens tido em mandar-nos novas tuas. Hoje 1. de Junho recebi o teu postal com a direco para Paris, e fiquei contentissima. O que tens viajado, meu Deus! [] E no dizes ainda pouco mais ou menos quando vens, j hoje o primeiro de Junho, e nada de fallar na volta. [] Os pequenos esto bons, e mandam-te saudades. []. Do estrangeiro, G. Sampaio escreve para o jornal O Commercio do Porto trs extensos e interessantssimos textos relatando as suas impresses de viagem21. O primeiro texto publicado na edio de 24 de Maio de 1910 (CP 1910 05 24), sendo totalmente focado na figura do seu acompanhante, Gomes Teixeira. Na sua escrita, G. Sampaio transforma Gomes Teixeira no arqutipo
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O Commercio do Porto publica tambm, nesta altura, outros artigos sobre a actividade de Gomes Teixeira nesta viagem. So publicados, nos dias 27 de Maio (CP 1910 05 27), 1, 3, 5 e 9 de Junho (CP 1010 06 1,3,5,9), cinco artigos apresentados como sendo cartas de um amigo que acompanha o snr. dr. Gomes Teixeira e assinados simplesmente por C. Nestes textos, descrita em pormenor, toda a actividade de Gomes Teixeira, nos locais que visitou, em particular nas Universidades que contactou. ainda apresentada, nas edies dos dias 18, 22 e 23 de Junho (CP 1910 06 18,22,23), uma extensa carta do prprio Gomes Teixeira a relatar as suas impresses da viagem.

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do homem de cincia reconhecido pela comunidade internacional. G. Sampaio no escreve, mas fica sub-entendido, que, pelo contrrio, ele prprio - G. Sampaio, pensava no ter este estatuto, considerando-se desprezado pelos colegas, desafortunado e sozinho. Em G. Sampaio, a crise era agravada pela comparao que faz com a figura de Barbarin - msico amador de prestgio. Emerge ento em G. Sampaio outra das suas paixes a msica. Neste texto, so tambm ntidas outras das matrizes do pensamento de G. Sampaio um patriotismo e amor infinitos pela Ptria22, um desprezo absoluto pela classe poltica e pelos falsos homens de valor. Transcrevemos integralmente o texto publicado na primeira pgina do jornal: Na Belgica. O snr. Gonalo Sampaio, esclarecido naturalista da Academia Polytechnica, que foi a Bruxellas representar este estabelecimento scientifico no congresso de botanica alli realisado, prometteu dar-nos impresses da sua viagem. interessantissima, a todos os respeitos, a carta que hoje publicamos. 23Bruxellas, 18 de Maio. Apesar de me encontrar h quatro dias em Bruxellas, aonde vim com a honrosa misso de representar a nossa Academia Polytechnica no 3. congresso Internacional de botanica, s hoje que posso enviar ao Commercio do Porto as primeiras notas, escriptas muito rapidamente, sobre o certamen scientifico e sobre a grande exposio universal, que se realizam agora na bella capital dos belgas. Um pequeno incommodo de saude, a natural fadiga da viagem e as multiplas occupaes que me tomaram todo o tempo, durante estes primeiros dias, no permittiram, na verdade, que mais cdo podsse prestar algumas informaes daqui aos leitores deste jornal. , portanto, um pouco justificadamente, como vem, que inicio s agora a remessa de algumas noticias e impresses, promettendo ser de futuro to regular quanto os mil inesperados do dia a dia me consintam que o seja. Parti do Porto no dia 6 do corrente e quis a boafortuna, que nem sempre me acompanha, que seguisse no mesmo trem, para Bordeus, o eminente homem de sciencia e director da Academia Polytechnica, dr. Gomes Teixeira. O illustre mathematico, que hoje a mais authentica e brilhante gloria do nosso paiz, dirigia-se aos centros cultos do estrangeiro, no alto encargo de apreciar a organisao e o ensino em muitas das mais reputadas universidades e escolas technicas europeias. Eu sabia perfeitamente como a excepcional capacidade mental do dr. Gomes Teixeira era apreciada nos meios scientificos c de fra e, portanto, preva, por assim dizer com segurana, que esta sua viagem seria no s uma digresso triumphal para elle, mas tambem um motivo da mais intensa satisfao para a alma de todo o portuguez. No hesitei, portanto, em alterar um pouco o programa que me havia imposto e resolvi acompanhar o consagrado geometra na sua visita a Bordeus, onde esperava ter o inegualavel prazer espiritual de me sentir com orgulho
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Ver RAMOS (2001:76-79). O texto de G. Sampaio comea a partir deste ponto.

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portuguez. E no me enganei. O dr. Gomes Teixeira, o nosso e bem nosso Gomes Teixeira, teve na cidade de Bordeus a consagrao mais elevada e honrosa a que pde aspirar um trabalhador mental. Este homem modesto, este portuguez que passa diariamente pelas ruas do Porto quasi ignorado da grande maioria da populao da sua terra onde os mais insignificantes politicos so conhecidos e consagrados soube, no primeiro centro intellectual do estrangeiro a que chegou, fazer mais a bem do nome da nossa patria e da reputao da nossa raa que as mil e uma celebridades inventadas pelas gazetas de Portugal, mas inteiramente desvalidadas por aqui. Logo que soube da chegada do dr. Gomes Teixeira a Bordeus, o professor Barbarin, bem conhecido em todo o mundo scientifico pelos seus notaveis trabalhos sobre geometria no euclediana, apressou-se a visital-o no hotel, enviando-lhe, poucas horas depois, o convite para um ch das quatro horas, em sua casa. Tive a honra de acompanhar o dr. Gomes Teixeira e suas exc.mas filhas, podendo affirmar que, se poucas vezes tenho assistido a um acolhimento to fino e to delicado, nunca assisti a nenhum que mais profundas recordaes me deixasse no espirito. O professor Barbarin, que alm de mathematico notavel um amador de musica bastante distincto, tinha reunido em sua casa no s famlias diversas, representantes da aristrocacia mental de Bordeus, mas tambem artistas de verdadeiro valor, entre os quaes o pianista Dames, que j deu um concerto em Lisboa, que vem agora dar concertos a Bruxellas e que, seguidamente, ir a Anvers [Anturpia] e Bilbau. Fez-se musica de primeira ordem, musica de Bach, Beethoven, Grieg e Saint-Sans, em que tomaram parte o proprio professor Barbarin, ao violoncello, e sua esposa. No dia seguinte, o dr. Gomes Teixeira visitou o Lyceu que, devo dizer, considerado como o melhor organisado da Frana e, ao entrar numa sala de mathematica, teve a agradavel surpresa de vr que o exercicio que fra distribuido aos alumnos, nesse dia, era tirado do seu tratado das curvas, conforme gentilissimamente lho fez notar o professor. No quero deixar de mencionar que o professor Barbarin, ao apresentar em sua casa o dr. Gomes Teixeira ao director geral dos Lyceus de Bordeus, esclareceu que o nosso illustre compatriota era o auctor do notavel livro Tratado das curvas, que elle lhe havia indicado, para premio de honra aos estudantes mais distinctos. Eu creio que estes factos no pdem deixar de sensibilisar o nosso sentimento patriotico, parecendo-me que o escolher-se em Frana uma obra scientifica portugueza para ser conferida como premio de honra, significa tudo quanto de mais grato pde haver para o nosso mais justo orgulho nacional. Na Universidade, assistiu o dr. Gomes Teixeira a uma lio de mechanica celeste do dr. Picart, que o decano da Faculdade e o director do Observatorio Astronomico, sendo apresentado pelo professor aos seus alumnos nos seguintes termos: Apresento-lhes o snr. dr. Gomes Teixeira, que um claro no s na sciencia portugueza, como na de todo o mundo culto.. O dr. Duhem, que membro do Instituto de Frana e um dos maiores sabios do

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seu paiz, realisa actualmente, no grande amphithetro da Faculdade de Sciencias, uma srie de conferencias sobre a Historia da Astronomia. A uma destas conferencias, a que concorre tudo quanto de mais elevado h na mentalidade de Bordeus, assistiu o dr. Gomes Teixeira, tendo logar especial no estrado, direita do conferente. Foi nos seguintes termos que o dr. Duhem abriu Comeando a conferencia de hoje, cumpre-me saudar o illustre geometra portuguez Gomes Teixeira, director da Academia Polytechnica do Porto, que me d a honra de me ouvir. O dr. Gomes Teixeira, antes de dirigir a Polytechnica do Porto, foi professor da Universidade de Coimbra, Universidade de que j tenho falado aqui algumas vezes e de que falarei ainda em outras conferencias. Estas palavras do dr. Duhem foram cobertas por uma grande salva de palmas, dada pelos numerosos assistentes. Finalmente, para se ver bem o altissimo apreo em que no estrangeiro tido o nosso grande mathematico verdadeiro titulo de nobreza da sua patria devo ainda mencionar o facto de ter o dr. Picart convidado o dr. Gomes Teixeira a voltar a Bordeus para fazer na Faculdade de Sciencias uma srie de conferencias sobre curvas notaveis. A saudade e as recordaes com que deixei aquella importante cidade, no as posso bem exprimir. Durante tres curtos dias de permanencia alli, a minha alma de portuguez vibrou com uma intensidade de tal ordem, que confesso-o as lagrimas algumas vezes me vieram aos olhos, ao vr victoriado pelas mais prestigiosas capacidades de um grande centro de cultura um compatriota, um homem nosso, que pelo seu enorme talento e pela nobilissima vida de trabalho scientifico, merece as homenagens de todo o mundo sabio e espalha sobre o nome de todos ns que quasi o ignoramos as radiaes de toda a sua gloria. Em Pariz, onde h quatro dias me apartei do dr. Gomes Teixeira, as demonstraes de estima pelo seu alto merecimento no sero menores, pois sei positivamente que homenagens de um grande carinho e significao lhe sero prestadas pelo professorado superior da grande capital. Pezar tenho e pezar enorme de no assistir a ellas, porque do meu sentimento de raa, minha amizade pelo dr. Gomes Teixeira e ao meu amor pela terra em que nasci, no deixaria de ser incomensuravelmente grato o presencear tudo quanto em sua honra se fizer. Conto encontrar-me novamente em Gand ou em Lige com o director da Academia Polytechnica do Porto, onde poderei outra vez abraal-o, reconhecidamente, pelo muito que vem fazendo em favor do nosso prestigio nos paizes estranhos. A sua viagem, mais que uma digresso official de estudo, est representando uma importantissima misso de propaganda do seu paiz, misso que no ser menos proveitosa, do que at aqui tem sido, nos centros universitarios de todas as naes que venha a visitar. E no lhes fallo ainda hoje nem da exposio nem do congresso, onde, infelizmente, no brilhamos, pois seria mal cabido que, depois de to consoladoras noticias para todos os que lem este diario,

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passasse a tratar de coisas na realidade importantes e com opportuno interesse, mas muito menos lisonjeiras para ns. Gonalo Sampaio. O segundo texto publicado na edio de O Commercio do Porto do dia 28 de Maio (CP 1910 05 28), tambm na primeira pgina (Estampa I.13.). Desta vez, a prpria cidade e sociedade de Bruxelas que serve de paradigma para G. Sampaio criticar a sociedade e o sistema poltico portugus. Quando escreve que evoluo serena, sem rompimentos bruscos com a tradio, filiando-se no passado de Bruxelas, G. Sampaio estaria a pensar no seu pas e na sua cidade, efectivamente dilacerados pela constante agitao poltica e instabilidade institucional dos ltimos anos (RAMOS, 2001). G. Sampaio apresenta-se como um conservador progressista com respeito pelo passado, mas aberto a novos progressos e melhorias. Ao referir-se Blgica como o pas clssico do sufrgio universal, estaria G. Sampaio a pensar no seu pas, em que s os cidados (maiores do sexo masculino) que soubessem ler e escrever ou pagassem contribuies superiores a um certo montante, podiam votar? (OLIVEIRA MARQUES ET AL., 1991:412- 419)24. Ao escrever: Para o partido catholico, que h vinte e seis annos se encontra no poder, G. Sampaio estaria a pensar na constante alternncia entre partidos que ocorria no governo do seu pas, nas ltimas dcadas (RAMOS, 2001). ordem pblica nas ruas da cidade belga, mesmo com desfiles partidrios, G. Sampaio teria no seu pensamento os frequentes desacatos nas ruas da sua cidade. Ao referir o respeito pelas convices religiosas do partido socialista belga, G. Sampaio estaria a evocar mentalmente o anti-clericalismo latente (e efectivo aps o 5 de Outubro de 1910) do Partido Republicano Portugus (RAMOS, 2001:232-234, 296-301). G. Sampaio revela-se intransigentemente contra a ostentao, o desfile de celebridades, mesmo sendo de cientistas. interessante a total mudana de registo quando G. Sampaio passa da anlise da sociedade belga para a organizao do congresso de botnica25. Agora que est no domnio da cincia, o seu juzo implacvel - a sociedade belga era irrepreensvel, mas os belgas que organizaram o congresso eram uns incompetentes. J aqui, em 1910, so ntidas as opinies de G. Sampaio em relao nomenclatura botnica, e, sobretudo, quanto forma de a implementar e de a discutir. Revela-se avesso s decises tomadas por maioria em congressos internacionais, considerando estes votos colectivos como uma imposio inaceitvel. Todavia, o assunto particularmente sensvel, porque o progresso da taxonomia

Em 1911, a lei eleitoral seria alterada, tornando tambm eleitores os cidados que no sabendo ler e escrever, fossem chefes de famlia h mais de um ano. Todavia, em 1913, a lei seria novamente alterada, restringindo-se os eleitores aos cidados maiores que soubessem ler e escrever (OLIVEIRA MARQUES ET AL., 1991:417-418). 25 Para uma descrio do programa cientfico do Congresso de Botnica de Bruxelas de 1910 ver FARLOW & ATKINSON (1910).

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exige uma nomenclatura estvel com regras universalmente seguidas. G. Sampaio discordava de algumas das regras do Cdigo de Viena de 1905, e no as seguia. Tinha argumentos vlidos para apoiar algumas das suas discordncias, mas outras posies, como a dispensabilidade de diagnose latina para novos txones, no eram defensveis, e efectivamente foram responsveis por parte da sua obra ter sido votada ao esquecimento. Transcrevemos na ntegra o artigo publicado na edio de 28 de Maio de 1910 de O Commercio do Porto (Estampa I.13.): Na Blgica II. Publicamos hoje a segunda carta do distincto naturalista da Academia Polytechnica, snr. Gonalo Sampaio, enviada de Bruxellas, onde foi representar este estabelecimento de instruco no congresso de botnica alli realizado. As principais manchas obtidas pelo nosso patricio na capital da Belgica, especificam-se ahi com uma impresso cada vez maior. 26Bruxellas, 24 de Maio. Estou em vesperas de deixar Bruxellas e no ser sem uma certa saudade que me hei-de retirar desta magnifica cidade, magnifica no s pelo seu asseio, pela beleza e grandiosidade dos seus edificios, pelas suas ruas amplas, pelos seus parques sem igual, mas tambem pela perfeita organisao dos seus servios, pelo progresso enorme da sua industria, pela excellencia dos seus nucleos de cultura e pela alta educao civica da sua grande populao. A capital belga bem a capital de um povo moderno, de um povo que avana prodigiosamente, mas dirigido com excepcional criterio, procurando todas as formulas de uma civilisao perfeita, com equilibrio, ponderadamente, sem exagros perturbadores, sem demagogias desesperadas. uma evoluo serena a sua, sem rompimentos bruscos com a tradio, filiando-se no passado, que procura apenas modificar pelo aperfeioamento constante, mas que no pensa em supprimir de chofre para crear um typo modelado em frmas de um convencionalismo idealista, destacadas de tudo quanto existiu e independentes dos modos de ser ancestraes, que constituem, sem contestao possivel, as condies basilares de qualquer organismo vivo, por mais simples ou complexo que elle seja. Para o partido catholico, que h vinte e seis annos se encontra no poder, o estado actual da Belgica representa um verdadeiro titulo de gloria, pois innegavel, absolutamente, que sob a sua direco se tem realisado os mais consideraveis progressos do paiz, que hoje um dos mais avanados do mundo e que possue uma legislao em que predomina o mais accentuado espirito liberal. E que a Belgica est satisfeita com o seu governo dil-o claramente nas eleies realisadas no domingo ultimo, em que os catholicos obtiveram oitenta e seis deputados, emquanto que os liberaes monarchicos alcanaram quarenta e quatro e os socialistas tiveram apenas trinta e cinco. Devo esclarecer que este o paiz classico do suffragio universal e aquelle em que as eleies so consideradas como as mais perfeitas de toda a Europa. Na vespera do
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O texto de G. Sampaio comea a partir deste ponto.

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acto eleitoral, noite, assisti ao desfilar de uma grande multido socialista, que percorreu as ruas cantando, com archotes e com grandes cartazes illuminados, que recommendavam a sua lista. Pois no houve a menor desordem, nem qualquer interveno policial se tornou necessaria, porque o partido socialista, aqui, sabe cumprir o seu dever, educando os seus correligionarios no mais meticuloso respeito pela ordem, pelas auctoridades e pelas ideias politicas e sentimentos religiosos de todos os cidados. E, para se vr que isto assim, quero citar o seguinte facto: dias antes da eleio, os jornaes catholicos noticiavam que, num ponto qualquer da Belgica, alguns socialistas haviam commetido um acto de profanao de um crucifixo. Pois a imprensa socialista, referindo-se ao facto, declarava que no sabia o que elle teria de verdade, acrescentando, todavia, a dar-se, s poderia ser obra de estupidos selvagens e no de cidados socialistas conscientes dos seus deveres. este um bello paiz, certamente, e com algum pezar o deixarei, dentro de dois dias, dando da carruagem que me ha-de conduzir Allemanha um silencioso adeus deliciosa cidade e vendo perder-se no horisonte de infinita planicie o zimborio enorme do Palais de Justice, que o maior e mais grandioso edificio europeu, as arestas elegantes do magnifico Hotel de Ville, as igrejas de Sabion e de Sainte-Gudule, e tantas outras maravilhas architectonicas que me prenderam os olhos e o esprito s linhas supramente bellas do seu calcareo. Bruxellas uma terra cheia de coisas deliciosas, com os seus museus de Arte, em que abundam assombrosos Rubens, com as suas mulheres lindas e distinctas, com as suas escolas de primeira ordem, com as suas bibliothecas prenhes de preciosidades, com as suas avenidas sem fim e com o seu incomparavel Bois, sobretudo com o seu Bois, o passeio predilecto da cidade e do qual impossivel fazer ideia sem o vr. junto do Bois que fica a grande exposio universal, occupando uma rea extensissima, em que pavilhes sem conta formam uma verdadeira povoao, percorrida pelos trilhos de um tramway especial. Esto muito longe, ainda, de serem concluidas todas as installaes da exposio; todavia, a affluencia dos visitantes phenomennal, sobretudo em dias santificados. Fez domingo ultimo oito dias que a venda de entradas pagas ascendeu a cem mil, segundo as informaes dos jornaes. Cumpre dizer que se estava na festa do Pentecostes, muito celebradas aqui, festas de alegria e de expanso popular, que trouxeram a Bruxellas todas as populaes das aldeias e villas proximas, com as suas associaes locaes, algumas em trajes carnavalescos e todas de costumes interessantissimos; bandeira e phylarmonicas que eram horriveis e frequentemente com o seu abbade frente. Era uma coisa em extremo pittoresca toda essa turba muito ruidosa, que enchia a cidade e invadia por toda a parte as cervejarias, com os seus farneis trazidos da terreola, cantando e bebendo, como os nossos romeiros do Senhor da Pedra. Foi no recinto da exposio que se realizaram quasi todas as sesses do 3. congresso Internacional de botanica, ante-hontem encerrado. Devo dizer,

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a proposito, que, se as minhas ideias sobre o valor scientifico dos congressos no eram das mais lisonjeiras para estes, aquellas com que fico, agora, ainda o so muito menos, certamente, porque me mostraram com toda a clareza que a celebrao destes certames no corresponde a uma necessidade dos tempos modernos, em que a permuta das ideias visiveis encontra outros meios mais faceis de realizao. Por isso, perdem dia a dia o seu valor e vo tomando um caracter de festas, promovidas por empresarios avidos, no de dinheiro, mas de celebridade de ocasio, caracter que, para bem da dignidade scientifica da nossa poca, no bem que possuem. Em primeiro logar, este congresso foi mal organisado, no se pensando por um momento em coisas que podssem representar a comodidade dos congressistas, que vinham de pazes vezes bem distantes, para uma terra inteiramente desconhecida para elles e inteiramente cheia, nesta occasio, de forasteiros. No houve a menor preocupao em garantir alojamento em qualquer hotel, em prevenir contra a natural elevao dos preos, nem, ao menos, em pedir a seu favor a costumada reduco da importancia da passagem nos caminhos de ferro. O resultado foi alguns ficarem cara e pessimamente installados, mesmo depois de empregarem os maiores esforos em busca de pousada, pois um delles sei eu o dr. Chodat que, com a sua esposa, percorreu quatorze hoteis, antes que obtivesse um quarto em casa particular. Ora, este pecado de falta de boa organisao manteve-se sempre, infelizmente, porque raro era o dia em que eu podsse atinar com a hora e local dos trabalhos, por quasi sempre ser alterado o programma. Uma trapalhada! A primeira reunio dos congressistas foi no dia 15 do corrente, em sesso extraordinaria da Sociedade Real de Botanica, com tres pequenas conferencias de naturalistas belgas, prviamente annunciadas27. Seguidamente a esta sesso, que no teve o menor caracter de solemnidade, foi servido champagne no herbario e museu florestal, que esto optimamente installados e ficam no edificio do Jardim Botanico, que muito inferior a qualquer dos nossos de Lisboa e Coimbra, mas que possue estufas, na verdade, magnificas. Alli tomei relaes pessoais com Rouy, um dos botanicos do maior valor, que veio ao congresso, mas que apenas vi numa outra sesso, por se haver retirado para o seu paiz, como muitos. A visita ao Instituto de Botanica Lo Errera, annunciada no programma, deu-me a conhecer uma magnifica colleco de culturas de fungos ahi expostos pela Sociedade Botanica. Afra isto, interessou-me em particular a seco de histologia vegetal, que me pareceu imperfeitissima o que, posso asseveral-o com segurana, inferior em tudo da nossa Academia Polytechnica. Note-se, porque preciso, que o Instituto Errera um instituto j de especializao botanica, cuja frequencia
27 FARLOW & ATKINSON (1910) descreveram da seguinte forma este dia do congresso: On Sunday, the fifteenth, the members of the congress assisted at a session of the Royal Botanical Society of Belgium, held in the Dome of the large building connected with the Jardin Botanique, at which several interesting papers were presented by members of the society.

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exige a botanica geral da Universidade, ao passo que as instalaes de micrographia vegetal da nossa Polytechnica pertencem apenas ao curso de botanica geral. Neste ponto, com orgulho nacional o reconheo, a superioridade da nossa organisao evidente, para quem que visite as duas installaes, com conhecimentos technicos indispensaveis. O director do Instituto Errera um botanico muito trabalhador, de aspecto inculto, cabello e barbas crescendo vontade, mas que teve a amabilidade de offerecer a todos os congressistas o seu trabalho recente e, na verdade, de altissimo valor, Esquisse de la Gographie botanique de la Belgique, par Jean Masart. Logo primmeira sesso do congresso, pude reconhecer, com toda a nitidez, que os trabalhos, pelo menos na seco de nomenclatura das cryptogamicas28, tomariam uma orientao e seriam submetidos ao mesmo criterio absolutista que tinham dominado no anterior congresso de Vienna29. Abstive-me, portanto, de votar, como muitos dos meus collegas, reservando a minha opinio livre, como sempre, para poder proceder sobre o assumpto, nos meus trabalhos, com toda a independencia e segundo o meu criterio pessoal. Eu no posso concordar, de modo algum, com certos principios consagrados neste e no anterior congresso, principios que levantaram contra si uma aberta opposio de muitos botanicos dos mais ilustres do nosso tempo e que determinaram, at, a publicao de um codigo dissidente. Reagir, dentro dos congressos, inutil, porm, emquanto predominarem nestas assembleias mais professores do que botanicos; emquanto no fr supprimido o voto multiplo, que faz com que um senhor que representa vinte sociedades e sociedadesinhas botanicas abafe, com os seus vinte votos, vinte opinies de pessoas muito mais auctorisadas do que elle, e emquanto no se estabelecer o predominio da votao de qualidade sobre a votao numeral. Convencer os cavalheiros? Como? Pessoas com uma tendencia despotica de tal ordem, que chegam a legislar que perca o direito de prioridade em nomenclatura todo o
A data de incio da publicao vlida para as plantas vasculares tinha sido estabelecida no Congresso de Botnica de Viena de 1905. No Congresso de Botnica de Bruxelas de 1910 discutiram-se e aprovaram-se as datas para as criptogmicas (fungos, lquenes e brifitas) (FARLOW & ATKINSON, 1910). 29 G. Sampaio estaria a referir-se manuteno dos nomes conservados e obrigatoriedade de uma diagnose em latim acompanhar as novas espcies, regras contra as quais se opunha. A existncia de nomes conservados tinha sido aprovada no Congresso de Botnica de Viena de 1905, e no Congresso de Botnica de Bruxelas de 1910 foi re-afirmada a sua necessidade e importncia. FARLOW & ATKINSON (1910) descreveram da seguinte forma a unanimidade de opinies sobre este assunto: On one point, viz., the desirability of having extensive lists of genera conservanda, the expression of the opinion of those present was so strong that it was practically unanimous and commissions were appointed to prepare lists of genera conservanda in the fungi, lichens, algae, mosses and liverworts. A obrigatoriedade da diagnose latina tinha sido aprovada no Congresso de Botnica de Viena de 1905 para entrar em vigor a 1 de Janeiro de 1908. Pela descrio de FARLOW & ATKINSON (1910) houve uma moo para que esta regra fosse revista ou anulada. Ao contrrio dos nomes conservados, diversos congressistas (incluindo G. Sampaio), apesar de em minoria, apoiavam esta mudana: The motion to amend the Vienna rules by striking out the clause requiring a Latin diagnosis of new genera and species was voted down Monday afternoon along with several other motions of a general nature. The question was discussed, however, at a later time when considering a motion by the paleobotanists to the effect that a diagnosis be required only in one of the following languages: French, English, German or Italian. This discussion broadened into a general one, and although it was defeated the discussion showed that there was a strong sentiment against the Latin requirement, especially on the part of the American botanists, and the subject will probably be brought up again for discussion at the next congress.
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botanico que de futuro no publique a diagnose das suas especies novas em botanica? Por pouco que os illustres no condemnavam a gente em quinze dias de cadeia, com custas e sllos do processo, pelo delicto enorme de no publicarmos em latim a primeira communicao das nossas descobertas. Mas, pobre latim, que tambem no foi poupado e teve de soffrer as consequencias terriveis do direito de voto multiplo que assiste ao illustre representante das vinte associaes! Fique-se sabendo: 1., que dora avante se frma o genitivo latino do nome de um auctor sem primeiro latinisar esse nome, conforme ensinaram sempre os grandes mestres da nomenclatura e conforme o praticaram todos os classicos, mesmo os pre-lineanos; 2., que esse genitivo se frma muito simplesmente, acrescentando um i ao nome que no termina em consoante. Por exemplo, o genitivo de Ecluse, que latinisou o seu nome sob a frma de Clusius, porque conhecido em sciencia este notabilissimo botanico, ser dora avante no Clusii, como sempre foi e sempre escreveram os que no representaram vinte associaes de socorros botanicos, mas sim Eclusei. Querem nada mais ridiculo, com franqueza? Congressos que entram por estes e outros caminhos do mesmo valor, deshonram-se, foroso reconhecel-o, desde que acima das convenes e das fatuidades se no pe o sentimento de respeito pela dignidade da sciencia. E eis uma pequenina amostra do que me levou a abster-me de votar no congresso, acompanhando os dissidentes das suas concluses. E como esta j vai longe, concluirei amanh. Gonalo Sampaio. O terceiro e ltimo texto publicado na edio de O Commercio do Porto do dia 29 de Maio (CP 1910 05 29), tambm na primeira pgina. G. Sampaio mantm a opinio desvaforvel em relao ao Congresso, mas o tom agora muito menos severo. Aps as notas negativas do segundo artigo, G. Sampaio, salienta, neste terceiro texto, os aspectos que considera terem sido positivos no Congresso de Botnica de Bruxelas de 1910. Continuando a occupar-me do congresso de botanica, sobre o qual j fiz por um modo geral, na minha carta anterior, uma apreciao certamente desfavorvel, cumpre-me dizer que, todavia, os trabalhos de algumas seces me pareceram muito apreciaveis, sobretudo como ponto de partida para futuros estudos. G. Sampaio menciona ento as seces de bibliographia e documentao, ensino e nomenclatura phytogeographica. Todavia, infelizmente estas seces tinham sido muito pouco concorridas, no tomando parte nas sesses respectivas, por vezes, mais do que tres ou quatro congressistas. De seguida, G. Sampaio retoma o seu tom crtico e negativo: E foi isto o congresso: mal organizado desde o inicio, insignificantemente concorrido em algumas seces de primacial importancia e orientado, na unica seco de regular assistencia aos seus trabalhos a de nomenclatura das cryptogamicas pelo criterio e pelas individualidades que dominaram j no congresso de Vienna. As regras vigentes da nomenclatura botnica, nomeadamente a questo dos nomes conservados - excepes ao princpio da prioridade que G. Sampaio considerava como

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universal, emergem novamente do seu discurso custico: este criterio, repito, no pode fazer carreira na sciencia, porque se apoia em convenes despoticas, com sances irrisorias e com ameaas de castigos ridiculos, que vo de encontro ao principio do direito de prioridade, que vem fazendo progressos h mais de um seculo na botanica e cujo predominio se tem acentuado poderosamente nos ultimos tempos, em todos os centros cultos do mundo. O tom impiedoso abate-se, de seguida, sobre o vesturio dos seus colegas congressistas. O conservadorismo patente no tom da escrita de G. Sampaio: Quanto solemnidade pela frmula exterior que ainda qualquer coisa, de agradavel ao menos, nas grandes assembleias aristocraticas do pensamento ou das castas no teve nenhuma, apresentando-se quasi todos os congressistas muito em familia ou em toilette de caminho de ferro, felizmente protegidos pela ausencia de espectadores. Finalmente, G. Sampaio enaltece os aspectos positivos do congresso a que tinha acabado de assistir. Refere a interveno do dr. Nicotra, director do Jardim Botanico de Messina. Assim como tinha feito em relao a Gomes Teixeira, G. Sampaio parece rever-se na figura do botnico italiano. Tambm ele tinha dedicado todo o vigor e talento Academia Politcnica, erguendo quase szinho um monumental herbrio a partir das parcas coleces existentes: o respeitavel sexagenario, que tem tanto de cordeal e insinuante como de sabedor e reflectido, aproximou-se do estrado, pedindo licena para lr ao congresso um appllo feito aos botanicos de todas as naes, a pedir que lhe enviassem exemplares dos duplicados, para reconstituir o herbario da sua universidade, totalmente destruido pelo terramoto. Comoveu-me aquelle espectaculo indito: o de um homem um tanto cansado e abatido pela idade, que vinha alli, perante os seus collegas estrangeiros, pedir que o ajudassem no pesado trabalho de organisar de novo as suas colleces bem amadas, na preparao das quaes puzera, talvez, todo o vigor da sua mocidade e do seu talento, a energia, e que uma catastrophe lhe arrebatra num momento. Querendo certamente referir-se a Manoel Amandio Gonalves30, ento professor de botnica, escrevia G. Sampaio de seguida: Espero que a Academia Polytechnica do Porto saiba corresponder a esta eloquente aco do illustrado professor, enviando-lhe tudo quanto possa ceder, por agora, em especimes da flora portugueza. De seguida, G. Sampaio tambm elogia a Biblioteca Real de Bruxelas. Agora, o mtodo e a organizao da biblioteca, que fascinam G. Sampaio. interessante a referncia que faz a um manuscrito de msica sacra portuguesa, parecendo antever a sua paixo por esta temtica31: Eu no posso descrever o excepcionalissimo valor desta installao, nem a ordem e methodo com que tudo se encontra l disposto [] L encontrei um formosso missal [] que pertenceu a D. Joo III e sua esposa Catharina
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Ver captulo VI. Em particular pelo trabalho sobre msicos portugueses publicado em 1934.

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de Austria. O registo de G. Sampaio continua altamente elogioso quando termina, referindo-se sociedade belga, alm congresso: Mas o que maiores recordaes poder merecer-me desta inolvidvel terra h-de ser, creio-o bem, o elegantissimo raout do dia 21, no monumental Hotel de Ville, offerecido [] aos membros dos congressos [] Durante toda a durao da festa, que foi das mais bem organisadas e de maior sucesso, orchestras symphonicas, occultas com massios de palmeiras e de flres, contribuiam para a animao desta recepo, que a todos deixou uma excellente recordao. sumptuosidade da casa da camara de Bruxellas, onde o raout se effectuou, faz della um dos edificios mais notaveis da Europa, pois so pela grandeza e pelo valor architectonico do seu gothico exterior occupa um dos primeiros logares entre os grandes monumentos desta cidade, pelas riquezas e preciosidades artisticas dos seus sales constitue um verdadeiro museu, donde se no pde sahir sem uma emoo intensa. Em Maio de 1922, G. Sampaio convidado a assistir ao Doutoramento Honoris Causa de Gomes Teixeira, pela Universidade de Madrid. Existe, no seu esplio documental, o convite para assistir a esta cerimnia (Estampa I.14.). La Universidad de Madrid celebrar sesin el da 20 (sbado) de Mayo de 1922 [] para conferir la investidura de Doctor honoris causa al Exc.mo Sr. D. Francisco Gomes Teixeira. O convite era formulado pelo Catedrtico-Secretario Dr. Castro e endereado ao Sr. Dr. Gonalo Sampaio y Seora. Alguns dias depois da cerimnia, mas ainda em Madrid, G. Sampaio escrevia um bilhete-postal datado de 24 de Maio, para sua filha Julia Sampaio, a viver em S, Ponte de Lima (Estampa I.14.). Mais uma vez G. Sampaio sente-se deslumbrado pelo estrangeiro: Ex.ma Senhora D. Julia Sampaio, S, Ponte de Lima, Portugal. Julinha: Escrevo-te de Madrid, onde estou desde h cerca de oito dias e donde partirei para o Porto ainda hoje noite. Isto muito lindo e temos sido obsequiadissimos, com um banquete diario. Hoje o banquete da embaixada portugueza no fim da qual seguiremos para a estao. Recomenda-me madrinha e recebe beijos do teu pai muito amigo. Madrid, 24-5-1922, Gonalo Sampaio. A. Zahlbruckner32, liquenlogo reputado, manifestar especial apreo pelo trabalho liquenolgico de G. Sampaio. A troca epistolar e cientfica entre G. Sampaio e o botnico austraco dura poucos anos, mas teve um efeito marcante em G. Sampaio. O facto de A. Zahlbruckner tecer, nas
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Alexander Zahlbruckner (1860-1938) era neto de um botnico austraco notvel, - Johann Baptist Zahlbruckner. Formouse pela Faculdade de Filosofia de Viena, em 1883. assistente cientfico do Museu de Histria Natural de Viena (Naturhistorischen Museum), em 1886, e curador em 1912. Aposenta-se em 1922. O seu interesse por lquenes remonta a 1885, e o estudo da taxonomia destas plantas, comea em 1891. Adopta as ideias de Vainio e publica um novo sistema de classificao dos lquenes. Publica duas exsicatas de lquenes: Kryptogamae exsiccatae e Lichenes rariores exsiccati. Em 1916 inicia a publicao de um catlogo monumental de todos os txones de lquenes descritos na bibliografia o Catalogus lichenum universalis. Publica em vida nove volumes deste catlogo. O dcimo volume seria publicado postumamente, em 1940 (HAWKSWORTH ET AL., 1995:493; PIT, 2002). Ver captulo VII.3.

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suas cartas, elogios qualidade do trabalho de G. Sampaio, e, na sua compilao monumental da literatura liquenolgica (Catalogus lichenum universalis), citar os seus trabalhos, constituram para G. Sampaio um sinal vital de aceitao e apreo pelo seu trabalho. Foi num rascunho de uma carta que ter enviado a A. Zahlbruckner, que encontrmos, pela nica vez, G. Sampaio a tratar um colega seu por Mestre33. Estas particularidades so bem evidentes num rascunho de uma carta no-endereada, mas que, pelo seu contedo, se destinava seguramente a A. Ricardo Jorge. Escrevia G. Sampaio a 1 de Fevereiro de 1921, portanto no meio da sua troca epistolar com A. Zahlbruckner (Estampa I.15.): Mandei para a Broteria, onde vir publicado no prximo numero de botnica, um novo trabalho sobre liquenes de Portugal. L descrevo entre outras novidades a interessantssima Acarospora Zahlbruckneri Samp. que colhi em Santarm e em Lisboa. Hei-de mandar-lhe um exemplar para vr que se, conhecendo-a, a colhe ahi em quantidade para as distribuies. J a mandei ao Dr. Zahlbruckner, que a reputa uma boa espcie. Estou em activa correspondncia com ele, que se mostra interessadissimo com os liquenes portugueses que, diz ele, tm grande relao com os da Dalmacia. Mandei-lhe j uma coleo, na qual iam quasi todas as espcies que eu tenho descrito como novas. Pedi-lhe que as examinasse e me desse a sua opinio. Respondeu-me que as examinou e que no s as considerou espcies novas, mas tambm boas especies. Enviou-me j um pacote de liquenes contendo espcies que eu lhe pedi e liquenes da Dalmacia. Mas ainda no chegou c o pacote. Tambem diz que vai enviar-me uma segunda remessa, que est a preparar. Enfim, estou satisfeito com as suas relaes e com a maneira como me trata. Tem j a imprimir o seu Systema, ou seja, Catalogo Universal dos liquenes, em 6 volumes e nelle inclue as minhas espcies. Est a redigir a apreciao dos meus trabalhos - que todos lhe enviei, a seu pedido, para ser publicado numa revista da especialidade, em alemo. Actualmente trabalha na redaco da 2. edio do volume dos liquenes da obra do Engler e diz-me que nela vir j incluido o meu gnero Carlosia, das [...] Tendo sentido um grande prazer com isto, pois vejo que o meu esforo, desprezado em Portugal, apreciado ao menos pelas auctoridades scientificas l de fora. A maneira como o Dr. Zahlbruckner me est tratando s foi egualada at certo ponto pela forma carinhosa como me tratou o Dr. Focke a respeito dos meus trabalhos sbre os Rubus de Portugal. [...] Meu caro, no podemos ter outra recompensa superior ao prazer que se sente vendo o nosso trabalho apreciado e louvado pelos grandes mestres. Por isso nestes ltimos dias o Dr. Zahlbruckner tem-me feito feliz. Trabalho com amr, que isso me dar recompensas superiores a tudo e que fazem esquecer muito ponta-p que se leva por esta vida fra. No se esquea do que lhe pedi na ultima carta. Eu desejo apurar certas particularidades para ultimar o catalogo dos liquenes de
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Ver captulo VII.3.

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Portugal. E no deixe de colher liquenes at no sul, que deve estar cheio de novidades sem fim. G. Sampaio sente-se incompreendido por todos, excepto por A. Zahlbruckner. Rev no botnico austraco o arqutipo do que gostaria de ser e pensava que no era um botnico de prestgio internacional, respeitado e venerado por todos.

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II. G. Sampaio e o estudo da msica popular 1. A conferncia no salo do jornal O Primeiro de Janeiro 2. G. Sampaio e o fado 3. G. Sampaio e Luis Cresp 4. G. Sampaio e Afonso Valentim 5. G. Sampaio e o estudo da msica popular do Minho e da msica sacra 6. Outras msicas populares 1. A conferncia no salo do jornal O Primeiro de Janeiro A partir do incio da dcada de 1920, emerge em G. Sampaio mais uma das paixes intelectuais que o acompanharo at ao fim da vida o estudo da msica. Corresponde em G. Sampaio a mais uma derivao intelectual, e um factor adicional de disperso de interesses. Bertino Daciano R. S. Guimares34 na sua Bibliografia Musical Portuguesa (GUIMARES, 1947)35 destacava os seguintes trabalhos de G. Sampaio sobre temas musicais: As origens do fado (SAMPAIO, 1923c); os Cantos populares do Minho (SAMPAIO, 1929); os Cantos populares minhotos a Nossa Senhora (SAMPAIO, 1931c) e o Cro das maadeiras (SAMPAIO, 1933); o trabalho histrico Subsdios para a histria dos msicos portugueses (SAMPAIO, 1934b); e o seu Cancioneiro Minhoto publicado postumamente em 1940 (SAMPAIO, 1940). Em 1923, G. Sampaio realiza, no dia 5 de Maio, uma conferncia sobre os corais minhotos, no salo do jornal O Primeiro de Janeiro. Na edio deste jornal do dia seguinte publicada uma notcia sobre a conferncia (PJ 1923 05 06) (Estampa II.1.). O texto importante para a compreenso da personalidade e obra de G. Sampaio. O artigo tem o seguinte ttulo: A Sociedade de Belas Artes. Inicia-se uma srie de conferncias no Salo de Festas de O Primeiro de Janeiro. O sr. Dr. Gonalo Sampaio dissertou sobre As corais do Minho. Pudemos ler no artigo: Pelas 21,15 entra na sala o conferente, acompanhado pelo sr. Dr. Aaro de Lacerda36, que com breves palavras convida para
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Bertino Daciano Rocha da Silva Guimares nasceu no Porto, em 1901. Publicista, musiclogo e professor [foi] professor da Escola Comercial Mousinho da Silveira e director do Instituto de Cegos. Licenciado em cincias econmicas e financeiras, dedicou-se a estudos lingsticos, msica e literatura, colaborando em numerosos jornais e revistas (GEPB). Num bilhete-postal para G. Sampaio, datado de 18 de Setembro de 1931, identificava-se como sendo licenciado em Antropologia, Etnologia, Musicologia e residente na Rua da Marinha Grande, Leiria. 35 Bertino Guimares ter pedido directamente a G. Sampaio, os elementos que veio a inserir nesta resenha bibliogrfica. Escrevia para G. Sampaio (Pvoa de Lanhoso) num bilhete-postal datado de 18 de Setembro de 1931: Desculpe V. Ex.a o maador que o pela necessidade de terminar o mais cdo possivel a parte bibliogrfica do trabalho indicado. Aguardando a indicao prometida das obras sbre msica de que V. Ex.a autor, subscrevo-me com a mais alta estima, considerao e respeito. 36 Aaro Soeiro de Lacerda nasceu no Porto, em 1890. Formou-se em direito e em letras, na Universidade de Coimbra. Foi professor de Histria de Arte na Academia de Belas-Artes do Porto, e de Esttica e Histria da Arte da Faculdade de Letras do Porto. Grande amador de msica, foi professor de Histria da Msica no Conservatrio do Porto. Em 1945, reingressou no ensino universitrio (de que estava afastado por ter sido extinta a Faculdade de Letras do Porto), como professor de Esttica e Histria da Arte, da Faculdade de Letras de Coimbra. Publicou diversos estudos sobre histria de arte e uma

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presidir o sr. Moreira de S37, de quem faz o elogio como musicografo, consagrado e trabalhador incansvel. O sr. Moreira de S assume a presidencia [...] e termina pedindo ao sr. dr. Aaro que faa a apresentao do conferente. O erudito critico e ilustre professor da Faculdade de Letras, [...] comea dizendo: O dr. Gonalo Sampaio conhecido em todo o paiz e conhecido no estrangeiro como homem de sciencia. Temol-o hoje aqui como um investigador de etnografia artistica. Como botanico, o seu ultimo trabalho sobre Lichens e o triumfo ainda ha pouco alcanado no Congresso Luso-Espanhol, que adoptou a sua nomenclatura botanica em substituio da reforma decretada pelo Congresso de Viena dAustria, consagraram-no e impuzeram o seu nome como homem de sciencia. Hoje vem dizer-nos o que o seu estudo conseguiu fixar cerca dos Coraes do Minho. Feito silencio, ergue-se o conferente. Despretencioso e sorridente, num vontade que dispe bem, serenados os aplausos com que foi saudado [...]. Seguidamente G. Sampaio agradece a Moreira de S: porque [...] foi h muitos anos j, o seu primeiro professor de musica. O conferente, diz, [que] vai entrar propriamente no assunto As coraes do Minho. Explica que ha 25 anos principiou reunindo materiaes para uma monografia sobre a sua terra. Assim, encontrou, reparou e estudou as coraes, apesar de no ser musico, pois apenas em rapaz, - e que saudades desse tempo, - chegou a saber pouco mais do que a escala em violino. Trabalhos scientificos a que se dedica lhe tomaram e tomam todo o tempo e a monografia ficou aguardando melhores dias, que j vm perto, acrescente, pois j pouco lhe falta para poder aposentar-se e retirar-se para a sua aldeia, que tanto ama .... No podemos, por falta de espao, dar uma plida ideia do que foi a exposio to interessante, to viva, do dr. Gonalo Sampaio. O autor do texto faz ento uma descrio do contedo da conferncia de G. Sampaio. Termina classificando-a de duas horas de grande prazer espiritual. Num bilhete-postal escrito poucos dias depois, a 9 de Maio de 1923, G. Sampaio descrevia esta conferncia a A. Ricardo Jorge, ao mesmo tempo que o alertava para no se esquecer que tinha uma exsicata de lquenes para acabar: Desde que vim de S no pude ocupar-me mais de botnica porque s tratei de musica. H dias realizei uma conferencia no salo de festas do Primeiro de
Histria da Arte em Portugal. Dirigiu as revistas Prisma e Museu. Foi membro da Academia Portuguesa de Histria (GEPB). 37 Bernardo Valentim Moreira de S (1853-1924) foi um notvel concertista, maestro e professor de msica. Foi um dos fundadores da Sociedade dos Quartetos, em 1871, e da Sociedade de Msica de Cmara, que dirigiu. Trabalhador infatigvel e carcter nobilssimo, dedicou-se ao ensino, sendo professor e director da Escola Normal do Porto durante muitos anos. Leccionou piano, violino, composio, esttica, matemtica e lnguas e foi tambm regente de orquestra e coros, concertista, conferencista, crtico musical e autor de obras didticas. Foi o fundador, em 1881, da sociedade de concertos - Orfeon Portuense, da qual foi seu director. Realizou conferncias sobre compositores modernos, acompanhadas da execuo das mais notveis das suas obras. Fundou, em 1901, com Guilhermina Suggia, Benjamim Gouveia e Henrique Carneiro, o Quarteto Moreira de S. Foi o organizador e o primeiro director do Conservatrio Municipal do Porto em 1917 (GEPB).

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Janeiro. O annuncio dessa conferencia e o seu programa fizeram escandalo! Houve risota. Podia l ser? Um botnico a meter-se em msica! Afinal fui bem sucedido e os criticos tiveram que engolir um pouco em sco. Hontem o Moreira de S escreveu um artigo no Jornal de Noticias que me deixou como um paio. E promete outro sbre a origem do fado dada por mim. No entanto considero como finda esta diverso musical e volto s minhas plantinhas, j com saudade delas. Vou concluir as coleces, atrazadas com este incidente. No de descuide na colheita de liquenes. Nestas ferias descobri algumas novidades interessantes (BNP A/2051). Efectivamente, B. V. Moreira de S tinha publicado, no Jornal de Noticias do dia 8 de Maio uma primeira notcia sobre a conferncia de G. Sampaio, e publicaria uma outra, em continuao, na edio do dia 15 de Maio. O artigo do dia 8, intitulado Conferencia notavel, debruava-se sobre as caractersticas musicais dos corais minhotos. Moreira de S reala (e concorda com) as descobertas musicais de G. Sampaio, com nfase para a polifonia e origem grega dos corais e a prtica de quartos de tom, estabelecendo um paralelo com a prtica cientfica inovadora de G. Sampaio (JN 1923 05 08): Foi to interessante quanto instructiva a conferencia que o sr. dr. Gonalo Sampaio realizou na noite de sabado sobre as canes corais do Minho. O preleccionador eminente patenteou-se na clareza e notavel fluencia da exposio, cheia de vida, assim como o homem de sciencia, habituado ao mtodo scientifico das sciencias naturais, se mostrou em argutas observaes, pessoais e valiosissimas, j etnogrficas, j mitolgicas, j de foklore, j especialmente naturais, nas quais o preclaro conferente disse completamente a alegao de falta de competencia na especialidade. Bastava a maneira como foi analisada e exposta a estrutura polifonica das corais. No tendo minha disposio espao bastante para relatar a importante conferencia, com grande pesar sou forado a cingir-me rapidamente a dois ou tres topicos. muito curiosa a existencia da cano polifonica coral popular, por isso mesmo que excepcional. A cano popular , com raras excepes, universalmente monodica. No nosso paiz a cano harmonizada a varias vozes existe no Alentejo e em alguns outros pontos circunscritos por exemplo no termo do Do (Beira Alta), onde tambem se conhece a voz de guincho ( vulgar a locuo deitar o guincho). O canto em troas ouve-se frequentemente no Minho e alhures: mas a polifonia, tal como se pratica nas ribeiras do Cavado, Ave e Lima no sei que tenha sido [ilegvel] por algum. A este respeito a conferencia teve a importancia de uma revelao; assinalado servio, no s foklrico, mas tambem nacional prestar o sr. dr. G. S. coleccionando pelo menos algumas canes corais tipicas, como aquelas de que apresentou exemplos interessantissimos e preservando-as do seu completo desaparecimento. O eminente conferente afirmou, por forma a no admitir duvida, a pratica do quarto de tons (bipartio do semitom), efectuada pelas cantadeiras das corais. uma observao

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absolutamente inedita e pessoal de um facto curiosissimo e de grande momento etnologico. Em primeiro logar, ele prova de excepcional acuidade auditiva, pois que se no observa em todo o resto do paiz; em segundo logar, como explicar esta pratica? A influencia arabe deve ser posta completamente de parte porque os rabes s conhecem o tero de tono. O quarto de tono existe no tetracorde enharmonico grego, subsistindo ainda hoje em antigos cantos populares. O sr. dr. G. S. justificou a opinio da influencia hebraica pela sabida existencia de uma colonia grega no termo de Braga. conhecida a importancia que, j em tempos protoistoricos, tinha esta cidade na regio interamense. Podem-se tambem lembrar, talvez, as relaes, especialmente monasticas, com Constantinopla, as ordens dos Hospitalarios e dos Templarios, os contingentes fornecidos s cruzadas do Oriente, etc. Este tpico merece especial estudo. Moreira de S terminava o artigo, referindo a ltima parte da conferncia de G. Sampaio, em que foi abordada a origem do fado: Na ultima parte da sua conferencia, o sr. dr. G. S. resolveu por forma to perentoria como inesperada a debatida origem do fado. Este assunto foi versado numa maneira to erudita, to desenvolvida e to interessante, que no posso resistir tentao de o referir mais pormenorizadamente num proximo artigo. Esta palestra de G. Sampaio sobre temas musicais teve um grande impacto no meio musical nortenho. Celestino Lobo, secretrio da direco do Orfeon de Braga, escrevia a 5 de Junho de 1923 em papel timbrado do Orfeon de Braga (Estampa II.2.): A Direco do Orfeon de Braga, na sua reunio dhontem, congratulou-se com a ba ideia de tr convidado Vossa Excelencia a pronunciar em Braga a conferencia As corais do Minho. Trabalho verdadeiramente notvel e acentuadamente original que Vossa Excelencia, com todos os meritos de conferente e com todas as qualidades de Professor, soube vincar perante o auditorio que, agradavelmente, o escutou. A Direco do Orfeon de Braga agradece, sincera e fervorosamente, a vinda de Vossa Excelencia a esta cidade e jamais esquecer o grande e glorioso minhoto, brazo de Sciencia e orgulho de Portugal. Todas as nossas homenagens, todo o nosso reconhecimento, todos os nossos respeitos.

2. G. Sampaio e o fado Nesta conferncia sobre temas musicais que se realizou em Maio de 1923, G. Sampaio

pronunciou-se sobre as origens do fado. Leonardo Coimbra, um dos directores da revista A Aguia, o porta-voz da Renascena Portuguesa38, ter assistido a esta conferncia ou conhecido o seu contedo
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Todavia os contactos com a Renascena Portuguesa j vinham de uns anos atrs. No esplio documental de G. Sampaio, existe um convite datado de 30 de Janeiro de 1914 para visitar a nova sde desta colectividade, cuja inaugurao se realiza no proximo dia 1 de fevereiro, s 5 horas da tarde. O Conselho de Administrao da Renascena Portuguesa era constitudo por Alvaro Pinto, Jaime Corteso e Joaquim da Costa Carregal.

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porque escreve a G. Sampaio num bilhete-postal timbrado da Renascena Portuguesa, no-datado, mas muito provavelmente de Maio de 1923 (Estampa II.3.): Meu caro Gonalo: Peo-lhe que me mande uma nota da sua conferencia sobretudo da parte da relao entre o fado e o S. Joo para publicar neste nmero da Aguia. urgente. Saudaes familia, L. Coimbra. Efectivamente, o inovador39 trabalho de G. Sampaio publicado na revista A Aguia, em Maio40 (SAMPAIO, 1923c) (Estampa II.4.). O trabalho apresentado sob a forma de uma carta dirigida a L. Coimbra: Meu caro Leonardo Coimbra. Acabo de receber o seu bilhete pedindo alguns esclarecimentos sbre a origem do fado. Aqui os tem, redigidos muito sumria e apressadamente. Os numerosos cantos do S. Joo que se encontram no nosso pas, desde norte a sul, so simples modificaes de um canto primitivo, que ainda vive e que vem reproduzido, com insignificantes alteraes em muitas das corais do Minho. Esse canto, cuja origem se prende com as antiquissimas festas pags41 ao Sol, realizadas em Braga, e transformados pelo cristianismo em festas joaninas, tem uma importncia fundamental na msica popular portuguesa, pois no s se encontra em muitas dessas corais, como disse, mas tambm dle derivam outras, assim como um no pequeno nmero de monodias. Entre estas destacam-se particularmente os fados, de que existem muitas variedades, algumas j bem afastadas do seu tipo original e caracterstico, nascido nas vielas da capital, talvez aps a lei que, em 1761, aboliu a escravatura no continente do pas. Sabe-se com efeito, que uma parte dos pretos libertos por esse diploma se entregou vadiagem, aos vcios e ao roubo, pejando sobretudo o bairro de Alfama, onde vivia de mistura com as mulheres de m nota, promovendo desordens e cantando uma cano langorosa a que chamavam o fado42. Foi esta a gnese do fadista e, provvelmente, a do seu canto triste, fatalista e decadente. Ora, comparando as
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Pinto de Carvalho, na sua Historia do Fado, publicada originalmente em 1903 (PINTO DE CARVALHO, 1982) e Alberto Pimentel, em A triste cano do sul, publicada pela primeira vez em 1904 (PIMENTEL, 1989), j tinham associado a gnese do fado ao lundum, ideia que G. Sampaio partilha neste artigo. A contribuio original de G. Sampaio era derivar o fado e os corais do Minho, de um cntico primitivo de festas pags dedicadas ao Sol. 40 Nos fascculos 11-12 da revista A Aguia de 1923, G. Sampaio publicar a descrio do gnero novo de lquenes Carlosia Samp. e da espcie - C. lusitanica Samp. Este trabalho tinha sido acabado de apresentar ao Congresso de Salamanca, realizado em Junho deste ano (SAMPAIO, 1923b). 41 Existe aqui um erro tipogrfico, que G. Sampaio emendou num exemplar. Este trabalho foi publicado, como separata da revista - uma folha com duas pginas, com o texto j corrigido. Apresentamos a transcrio de acordo com a separata. 42 Parece ser hoje aceite, pela maioria dos investigadores, que o fado, uma forma musical que emerge, bem definida, no segundo quartel do sculo XIX, nos bairros pobres de Lisboa, uma sntese de diversas expresses musicais e danas populares existentes no Brasil e em Portugal: a principal, o lundum, uma forma musical de origem africana (possivelmente congolesa), cantada, tocada, e sobretudo danada sensualmente aos pares, ao ar livre, por negros, no Brasil colonial no fim do sculo XVIII; a modinha, um gnero de cantiga de salo que se desenvolveu em Portugal e no Brasil, a partir de meados do sculo XVIII; o fandango, uma dana portuguesa com origem espanhola; o fado, uma dana brasileira das reas rurais; e a fofa, uma dana existente no Brasil e em Portugal. As formas musicais e de dana existentes no Brasil tero sido trazidas para Portugal continental, sobretudo a partir das primeiras dcadas do sculo XIX, com o fim da guerra peninsular e o retorno da famlia real portuguesa do Brasil, mas a sua entrada inicial no nosso pas pode ser anterior e estar relacionada com a abolio da escravatura (GEPB; PINTO DE CARVALHO, 1982; PIMENTEL, 1989; CASTELO-BRANCO, 2002; NERY, 2005).

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respectivas msicas, resulta que o fado no passa, afinal, de uma leve modificao, qusi meramente rtmica, do S. Joo, que o fadista adulterou ao prolongar muito naturalmente a primeira nota radical, para dar cano o expressivo de lamento pela fatalidade do seu destino. Alterada assim a primeira fraco rtmica da frase, o princpio da simetria e da proporo, universalmente impsto pelo ouvido, determinou o resto, que qusi nada ; e assim apareceu uma cano de ritmo especial e, portanto, de aparncia inteiramente diversa daquela que lhe deu origem. G. Sampaio apresenta de seguida um exemplo musical. Termina seu velho, afectuoso amigo e admirador, Gonalo Sampaio. B. V. Moreira de S, num artigo publicado no Jornal de Noticias de 15 de Maio, apreciava da seguinte forma as opinies originais de G. Sampaio sobre o fado, expressas na conferncia realizada a 5 de Maio (JN 1923 05 15): A ultima parte da preleco do sr. dr. Gonalo Sampaio versou sobre a seguinte tese, absolutamente original: A origem do fado est na modificao rtmica da popular cantiga a S. Joo. A afirmao fundamenta-se nesta outra tese conhecida: As festas joaninas filiam-se no culto solar. Com brilhante erudio desenvolveu o conferente esta tese; referindo-a aos festejos bracarenses, salientou a sua forte tradio pag, mencionando pormenores muito curiosos e pela maior parte ignorados. Todos esses pormenores foram muito claramente realados com o culto do sol, desde a ndia, atravez da Grcia, e sobretudo de Roma que, em conexo com este culto, ideou um deus particular, o deus Jano de duas faces, considerado como um dos principais deuses. No canto dos Slios era denominado deus criador e principio de todas as coisas; como deus solar abria as portas do cu ao nascer do dia e fechava-as ao anoitecer, e por isso era representado geralmente com chaves na mo. Todos estes atributos se relacionam estreitamente com o culto do sol, como claramente o mostrou o sr. dr. G. S. na sua magistral preleco. O culto do sol de todos o mais antigo, constante e universal; sabida a primazia que ele possua no Egito e at entre os Incas do Peru. Braga, a Bracara Augusta, foi, como todos sabem, um dos mais importantes centros de cultura romana na Pennsula Ibrica. No , pois, de estranhar que as tradies pags permanecessem to vivas atravez dos tempos, mormente quando fusionadas com o culto cristo do popularssimo Batista. Assim, as cantigas joaninas, longe de serem exclusivamente regionais, difundiram-se por todo o paiz, para o que concorreu uma outra circunstancia que est na psicologia dos povos: a letra possua todas as modalidades, religiosa, graciosa e brejeira. A considerao destes factos elucida a muito interessante e original tese do sr. dr. G. S. sobre a origem do fado: O decreto que no fim do sculo XVIII tornava libertos os escravos em Portugal, provocou numerosa imigrao de africanos; muitos deles, dados vadiagem, povoaram o bairro de Alfama, apossando-se da popular cantiga de S. Joo, a que deram um ritmo langoroso e criaram assim o fado. No este o lugar para discutir tese to atraente e interessante, certamente muito mais verosmil

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do que todas as hipteses que se teem avanado, alm do facto irrecusvel de que uma leve deformao rtmica da cantiga produz uma forma do fado, talvez a primitiva, como o mostrou o douto conferente. O que certo que o fado nasceu nos alcouces de Alfama; muito tempo circunscrito sua infecta regio, os fidalgotes toireiros e fadistas introduziram-no nos sales onde suplantou as modinhas, encontrando-se depois tambem terreno propicio na estudantada de Coimbra. Neste meio culto, alguns teem procurado aristocratizar a cantilena e os autores de revistas fazem dela o principal atractivo das suas composies. Como infeccioso micrbio de uma epidemia, o fado tem-se infiltrado por toda a parte e, para irrisria desgraa, os estrangeiros consideram-no como o nosso canto nacional por excelncia. Todos aqueles em que pulsa o sagrado amor da arte pura e augusta so obrigados a gritar bem alto: O fado no a flr amvel dos campos ou dos montes portugueses; , sim, o venenoso tortulho das alfurjas.

3. G. Sampaio e Luis Cresp L. Cresp43 contacta G. Sampaio, em 1924, com o objectivo de receber ensinamentos em liquenologia, em particular sobre a prtica de identificao de lquenes. Escreve ento um bilhetepostal a G. Sampaio com a data de 4 de Novembro de 1924. Vengo comisionado por el Gobierno Espaol a estudiar con V. los lquenes. Traigo una carta de mi querido amigo el prof. G. Fragoso44. Espero hablar con V. para iniciar mis trabajos y para que V. me ayude a resolver el difcil problema de la vida Seria mas til que yo fuera a Braga a hablar con V.? Se agradeceria que me dijera donde y cuando podia hablar con V. mi direccion as, Hotel Lisbonense, Porto. A resposta de G. Sampaio foi positiva e o estgio de L. Cresp iria concretizar-se. A 12 de Outubro de 1925, Crespi escreve a G. Sampaio anunciando a sua chegada, Decididamente llegaremos a Porto el dia 15 de Octubre en el correo de Valena-Porto que habr su entrada en Porto alrededor de las 7 de la tarde. Seguidamente refere que lhe tinham indicado o Hotel e restaurante Bastos e a Penso Portuguesa para ficar alojado no Porto, e pede a opinio a G. Sampaio sobre que local escolher. O estgio de L. Cresp com G. Sampaio ter durado at ao fim do ano de 1925, dado que a 18 de Janeiro de 1926, L. Cresp escreve uma longa carta a G. Sampaio endereada de Madrid. Mi queridisimo maestro: En este punto estaba cuando recib su cariosa carta del 14. Voy pues a contestar ampliamente. 1. Le agradeceria que me enviase los lquenes de Galicia que V. determin. [] 2. La lista de lquenes de Galicia se publicar tan pronto V. me diga si me puede o n enviar esos lquenes. He querido hacerla con comentarios pero me
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Luis Cresp Jaume, botnico espanhol, foi presidente da Real Sociedade Espanhola de Histria Natural, em 1936-1938 (http://es.wikipedia.org/wiki/Real_Sociedad_Espaola_de_Historia_Natural). 44 Trata-se de R. G. Fragoso (ver captulo IV.5.).

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es imposible por ahora pues necesito revisar las colecciones del Botnico de Madrid y [] 3. He recogido bastantes lquenes del Guadarrama pro no me ocup aun de ellos hasta no concluir la formacin de la coleccin de lquenes del Museo45. Con las que tenia el Sr. Fragoso46, los que V. envi, los que yo traje de Portugal y de Galicia ya va habiendo una coleccin regular. Calculo que de momento llegara los 1500 cartones. No he podido aun inventariar las especies porque slo puedo ocuparme en esta labor tres maanas a la semana. L. Cresp era professor do Instituto-Escuela de Segunda Enseanza de Madrid e escasseava-lhe o tempo para os estudos de liquenologia o trabalho sobre os lquenes da Galiza s seria publicado em 1928. G. Sampaio ter pedido algumas informaes sobre msica popular a L. Cresp. No Cancioneiro, no estudo sobre as Toadilhas de aboiar, G. Sampaio escreve que estas caractersticas toadas de aboiar nada tm de semelhante, pela letra ou pela msica, com os cantos de arada da Galiza, de que consegui obter alguns interessantes exemplares, por intermdio do meu ilustre amigo professor D. Luiz Crespi. Numa carta datada de 1 de Abril de 1926, L. Cresp escrevia a G. Sampaio (Estampa II.5.): A otra cosa. Me han dicho que el empleo de terceras sucesivas y aun de quintas y la cancion con cierto tipo coral en Espaa solo se encuentra en el pais vasco. Recuerdo la estancia de los vizcainos en Braga, lo que V. me tiene dicho de ellos, y me pregunto: Habran influido ellos en el canto popular de Braga o habra influido Braga en el canto popular de ellos? Apunto la idea y mientras usted la analiza yo hare lo posible por buscarle canciones populares del pais vasco. Celebre inmenso el enorme exito de su conferencia y procurare que aqu sea conocida su labor musical.

4. G. Sampaio e Afonso Valentim Afonso Valentim47, professor, maestro e compositor, por quem G. Sampaio tinha uma grande admirao, era uma figura destacadssima do meio musical portuense (Estampa II.6.). Na dcada de
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L. Cresp referir-se-ia ao Museu Nacional de Cincias Naturais de Madrid. Foi criado em 1772, por Carlos III, instalandose inicialmente no actual edifcio do Museu do Prado. Em 1910, por iniciativa do seu director Ignacio Bolvar y Urrutia, muda-se para o Palcio da Indstria e Belas-Artes, onde ainda hoje se encontra. Os seus objectivos actuais centram-se na investigao, descrio e conservao da diversidade biolgica e geolgica de todo o mundo (http://es.wikipedia.org/wiki/Museo_Nacional_de_Ciencias_Naturales_Espaa). 46 Trata-se de R. G. Fragoso (ver captulo IV.5.). 47 Afonso Valentim da Costa Pinto nasceu no Porto (Foz do Douro) a 16 de Maro de 1899. Desde criana se revelaram as suas excepcionais qualidades musicais. Como executante, fez parte da orquestra sinfnica de Raimundo Macedo, da Sociedade de Concertos de Msica de Cmara e do Grupo Musical de Santa Ceclia. Em 1922, foi nomeado professor de msica nas escolas da Ordem da Trindade, e, poucos anos depois, regente do Orfeo Lusitano do Porto. Em 1925, assume a direco do grupo musical de Santa Ceclia. Em 1937, foi convidado pelo reitor da Universidade do Porto a fundar o Orfeo Universitrio, que dirigiu durante dcadas. Foi durante alguns anos professor de msica no Liceu de Rodrigues de Freitas, e, a partir de 1939, professor de msica no Conservatrio de Msica do Porto. Foi bolseiro do Instituto para a Alta Cultura,

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1920, Afonso Valentim dirigia o Orfeo Lusitano48. Num bilhete-postal escrito a A. Ricardo Jorge, datado de 24 de Janeiro de 1929, G. Sampaio anuncia ao seu colega lisboeta que iria a Coimbra trabalhar no Herbrio da Universidade e aproveitava para assistir a um concerto do Orfeo Lusitano que se realizava nessa cidade: No proximo Domingo, 27 do corrente, vou a Coimbra, onde estarei at quarta-feira. Todas as semanas irei ali resolver o melhor possvel um certo numero de duvidas sobre a flora portuguesa. A seguir irei estar oito dias em Lisboa. Quero empregar o ultimo esforo para produzir com a minha Flora um trabalho honesto. Depois disto meto-me na aldeia a passar os ltimos dias. Como Domingo, dia feriado, porque no vem pass-lo a Coimbra, onde nos juntaremos com o dr. Carrisso [L. W. Carrisso49], passando um dia agradavel? De mais noite h o concerto do Orfeon Lusitano do Porto, que muito bom e que canta coisas bonitas (BNP A/2000). G. Sampaio assistiu efectivamente ao concerto do Orfeo Lusitano realizado em Coimbra50 e ter ficado deveras impressionado com a qualidade mas tambm com as dificuldades do Orfeo, porque a 18 de Fevereiro deste ano (1929), escrevia a seguinte carta a A. Ricardo Jorge: [...] Eu estou novamente muito interessado pela minha Flora. [...] No entanto no por causa da botnica que lhe escrevo agora: por causa do Orfeo [Orfeo Lusitano]. Os rapazes, que obtiveram um grande e justo sucesso em Coimbra, esto com muito empenho em apresentar-se ao pblico de Lisboa, e contando-lhes eu a conversa que sbre isto tivemos ahi eles pedem-me para eu lhe escrever a perguntar se seria possivel um entendimento com o teatro de seu irmo, para ali realizarm uma apresentao na capital. O

tendo frequentado, em Itlia, cursos de aperfeioamento musical. Dirigiu alguns concertos histricos realizados no nosso pas, como a apresentao do Messias de Handel, da Criao do Mundo de Haydn, da Infncia de Cristo de Berlioz, do Canto do Destino de Brahms, do Requiem de Domingos Bomtempo, do Stabat Mater de Rossini, e das Sete Palavras de Cristi de Vittadini. autor de vrias composies de carcter religioso, sendo considerado um dos melhores regentes de conjuntos orfenicos. Possui o oficialato da Ordem de SantIago da Espada (GEPB). 48 O Orfeo Lusitano foi fundado em 1922. Em 1928, por ocasio do seu sexto aniversrio, realizou, de 29 de Julho a 1 de Agosto, umas festas comemorativas. No esplio documental de G. Sampaio existe um pequeno folheto evocativo destas comemoraes, que ter sido enviado a G. Sampaio (Estampa II.7.). Num texto curto subscrito pela direco do Orfeo, era sintetizada a vida do agrupamento, durante os passados seis anos de existncia: Celebra o Vosso Orfon o sexto ano duma vida progressiva e eloquentemente afirmada. Comemora, com o entusiasmo das obras que vingaram, o dia em que um punhado de dedicaes, no nmero das quais muitos de vs se contam ainda, creou para a difuso duma Arte sublime uma esforada falange!. O agrupamento, dirigido pelo maestro Afonso Valentim, realizou no dia 30 de Julho um sarau de arte. Na primeira parte, entre outras peas, cantou Misericrdia, Senhor, Coro religioso popular recolhido por: Dr. Gonalo Sampaio. Na terceira parte deste concerto cantou uma pea de Moreira de S Rataplan (Brincadeira Orfenica) em Cro mixto. 49 Lus Wittnich Carrisso (1886-1937) nasceu na Figueira da Foz. Terminou o seu curso na Faculdade de Filosofia de Coimbra e doutorou-se na Faculdade de Cincias de Coimbra em 1911. Em 1918 professor catedrtico e assume a direco do Jardim Botnico de Coimbra e do Instituto de Botnica de Coimbra, por jubilao de J. Henriques. Foi reitor da Universidade de Coimbra. Reorganiza a Sociedade Broteriana e assume a direco do seu Boletim. Dedicou-se principalmente botnica ultramarina, estudando a flora de Angola. Morre prematuramente em 1937 (GEPB; CARVALHO, 1939; CORREIA, 1939; FERNANDES, 1939; QUINTANILHA, 1975). 50 Este concerto ter sido mesmo um concerto histrico e memorvel. mencionado explicitamente na biografia de Afonso Valentim (GEPB).

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grupo magnfico, pode acreditar, sendo a unica coisa realmente boa que, no gnero, se tem realizado em Portugal. Os trechos que executam so dos melhores auctores e, se quizer, eu mando-lhe um programa do que ahi podero cantar. [...] Poder, portanto, entender-se com seu irmo sobre isto? Como o orfeo tem mais de um cento de executantes, incluindo as senhoras, compreende que as despezas de transporte e alimentao so elevadas. Haver possibilidade de com a receita se cobrirem as despezas? Os rapazes no pretendem tirar lucros; o que desejam no perder. [...] Agradar devem agradar muito, porque se ouvem com grande prazer, executando muito bem um excelente programa. Nenhum outro em Portugal se lhe aproxima, como ver, se ahi forem. O regente um formidavel artista. O professor Nascimento, do Conservatorio, pode informar, porque j aqui os ouviu, assim como qualquer dos jornalistas que c vieram. O professor Nascimento insuspeito, porque director de um orfeo em Lisboa. Peo-lhe uma resposta, no se descuidando do caso. De botnica falaremos depois. Estou agora a rever o gnero Iberis, dispondo de um material excelente: a coleco dahi, a do Museu de Madrid, o Herbrio Willkomm, o herbrio europeu e o herbrio portugus de Coimbra, alm do material de c, que bom. Todavia, o gnero extremamente dificultoso e os problemas so muitos e muito srios. O trabalho ser publicado no prximo nmero do Bol. Soc. Broteriana, porque assim o prometi ao dr. Carrisso (BNP A/2006). Existe no esplio documental de G. Sampaio um rascunho de uma carta que pensava enviar (ou ter enviado) ao Ministro da Instruo (Estampa II.8.). Pelo seu contedo, esta carta ter sido escrita na dcada de 1930, e a principal motivao era o facto de Afonso Valentim ter sido preterido num concurso para professor do Conservatrio de Msica do Porto. Neste documento, transparece a admirao de G. Sampaio para com o msico portuense, mas tambm um sentido de rectido moral e justia, parmetros inquestionveis da constelao tica de G. Sampaio. Que qualidades de Afonso Valentim eram homenageadas por G. Sampaio? Humildade, honestidade, autodidactismo, talento, mrito, competncia, iniciativa e capacidade de trabalho: Ex.mo Senhor. Alguns admiradores do maestro Afonso Valentim, entre os quais me encontrava, assignaram h dias uma exposio feita a V. Ex.a sobre os extraordinarios meritos deste musico, que tanto est nobilitando o Porto e que, infelizmente, ainda no encontrou das estaes competentes a proteco que por estas devida, sem dvida, aos que se afirmam to brilhantemente pelo talento, pelas faculdades de iniciativa e pela capacidade de trabalho. Afonso Valentim, filho de pobres, educou-se por si. No tem um curso oficial, mas tem o merecimento de ser indiscutivelmente o primeiro ensaiador e regente de massas musicais. [No] Porto tem feito executar obras notabilissimas, que nunca tinham sido ouvidas em Portugal, como o Messias de Haendel e a Criao de Haydn, a gloriosa obra dos nossos grandes polifonistas dos

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seculos 16 e 17, que estava absolutamente e criminosamente esquecida por todos, inclusivamente pelos nossos Conservatorios (!).[Deve-se a] Afonso Valentim o reconhecimento de ser apresentada em audies publicas, como trechos de Duarte Lobo, Manuel Cardoso, D. Joo IV, Loureno Rebelo, Manuel Machado, [ilegvel] e Fr. Jos da Assumpo. Eu tenho a maior admirao por este homem despretencioso e simples, extraordinria vocao do artista, que me tem tomado de assombro ao ve-lo reger com uma competencia inexcedveis massas orquestrais com cerca de 200 executantes. O que vale como pedagogo, que o diga o conselho do liceu Rodrigues de Freitas, onde foi professor interino de canto coral durante dois anos e donde saiu em nome de uma lei incompreensvel que lhe preferiu um simples diplomado com o exame do Conservatrio do Porto. Ultimamente assistiu o Porto a esta iniquidade: Afonso Valentim foi regeitado, por no ter um curso oficial, para professor interino de canto coral no Conservatrio do Porto, preferindo-se um novato, sem obra alguma, mas com o cursozinho da casa. At para interino lhe fecharam a porta, esquecendo-se que todos ou quasi todos os professores que ali se encontram nem tm curso oficial nem obra que se compare do concorrente regeitado. Pois dentro do Conservatrio que Afonso Valentim teria o seu verdadeiro e justo lugar. V. Ex.a perdoa-me, certamemente, o atrevimento de me dirigir por esta forma ao meu prprio Ministro. Reconheo a inconvenincia que cometo, mas no posso resistir a este mpeto da minha conscincia, vindo pedir encarecidamente a quem possue o poder que atenda s condies de um grande artista que muito honra, pela sua competncia e pelo seu trabalho, e que pela sua vida moral um verdadeiro e raro exemplo de honestidade. Perdoe-me pois V. Ex.a recebendo as afirmaes muito sinceras de meu maior respeito e particular considerao, Porto. A forma como G. Sampaio caracteriza Afonso Valentim parece fazer eco da sua prpria personalidade, percurso pessoal e profissional, e constelao de valores ticos. G. Sampaio tambm era um auto-didacta no tinha terminado o curso da Academia Politcnica, que tinha frequentado durante trs anos. G. Sampaio tambm era um vanguardista propunha revolues na taxonomia da flora portuguesa e na nomenclatura botnica. G. Sampaio tambm tinha re-habilitado as grandes obras dos botnicos pr-lineanos e as de Brotero, Link e van Hoffmansegg, injustamente esquecidas pelos botnicos seus contemporneos. G. Sampaio tambm gostava particularmente de resolver problemas difceis rever txones confusos ou mal-conhecidos da nossa flora.

5. G. Sampaio e o estudo da msica popular do Minho e da msica sacra Cantos populares do Minho (SAMPAIO, 1929) um trabalho muito curto. A introduo ocupa

o primeiro pargrafo. G. Sampaio elogia a riqueza da msica popular do Minho: Sem a menor sombra

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de dvida, o Minho a mais rica das nossas provncias em msica popular, visto que nenhuma outra a eguala no imenso reportrio e na assombrosa variedade dos seus cantos. Com uma excepcional aptido creadora da melodia, produzindo a maior parte das canes que anualmente aparecem pelas romarias e que se propagam para o sul alteradas mais ou menos na beleza do seu desenho e despidas do revestimento harmnico que originalmente possuiam, esta encantadora terra [...] marca sobretudo [...] pela superioridade dos seus cros de mulheres que, sob o ponto de vista polifnico, constituem a mais elevada e artistica manifestao de msica popular que se conhece. De seguida apresenta uma classificao dos principais tipos de cantos populares no-religiosos da regio, descrevendo-os sob o ponto de vista musical. No dispensa a sua crtica ao relativo esquecimento em que a msica popular da regio se encontrava: Estes cros [...] tendem actualmente a desaparecer, sem que nem pessoas cultas nem cmaras municipais se esforcem por manter a sua conservao [...]. No trabalho Cantos populares minhotos a Nossa Senhora (SAMPAIO, 1931c) so apresentadas as msicas e as letras de Salv Rainha, Av Maria, Alluia, diversos cantos de romeiros, canes redondas e cantos modernos. Escrevia na introduo, antes da anlise musical, um elogio ao Minho, sua regio natal. Sendo o povo profundamente catlico e possuindo, entre outras excelentes qualidades, aptides musicais como poucos, no poderiam os cnticos religiosos deixar de ocupar uma parte consideravel, como realmente ocupam, do seu vastssimo e formoso cancioneiro. Nesta encantadora provncia, onde tudo lindo, quem mais canta no so as aves: a mulher. Trabalha cantando, ama cantando, resa cantando. Na introduo ao Cro das maadeiras (SAMPAIO, 1933), G. Sampaio descreve o contexto em que eram cantados estes cnticos. Apresenta a msica e a letra de um cntico das mulheres que maavam o linho, recolhido em duas localidades do concelho da Pvoa de Lanhoso. De seguida analiza-o musicalmente, e finalmente apresenta a hiptese, que fundamenta, de uma origem grega para este tipo de cantares populares. O trabalho Subsdios para a histria dos msicos portugueses (SAMPAIO, 1934b) (Estampa II.9.) uma pesquisa histrica sobre importantes msicos e compositores portugueses (sobretudo de msica sacra) dos sculos XVI a XIX. So apresentadas biografias de 41 msicos relevantes deste perodo51. G. Sampaio efectua pesquisa histrica no Arquivo Distrital de Braga. Descobre muitos
Pela ordem que so mencionados no texto: P.e Pero de Gamboa, P.e Loureno Ribeiro, P.e Manoel Mendes, P.e Duarte Lobo, Manuel Machado, Fonseca, P.e Antnio Milheiro, Filipe de Magalhes, P.e Marcos Soares Pereira, Joo Loureno Rebelo, Gaspar dos Reis, P.e Manuel Cabreira, Fr. Manuel Correia, Fr. Manuel Pouso, P.e Joo dos Santos Pereira, P.e Franscisco Luiz (sculos XVI e XVII), P.e Antnio Baio Magro, P.e Antnio Vieira Gomes Marra, P.e Manuel de Matos, P.e Francisco Ferreira, Jernimo de Sequeira, Mateus de Costa Pereira, Joo Cordeiro da Silva, Andrea da Silva Gomes, Joo de Sousa Vasconcelos, Fr. Jos de Santo Antnio, Fr. Jos da Graa, Fr. Domingos de S. Jos Varela, Manuel de S
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documentos inditos e publica a sua informao mais importante. Consulta arquivos e bibliotecas especializadas em obras de msica. Consulta outros estudiosos da msica antiga como Antnio Domingues Correia52, professor do Seminrio de Braga. Cita obras clssicas da bibliografia portuguesa, das quais s vezes discorda. A primeira edio do Cancioneiro Minhoto de G. Sampaio s seria publicada postumamente em 1940 (SAMPAIO, 1940), e logo em 1944, saa uma segunda edio. A primeira edio era apresentada por Jos Vilaa. A segunda edio era prefaciada por A. Pires de Lima. No fim do prefcio, A. Pires de Lima descreve os objectivos de G. Sampaio no estudo da msica popular portuguesa: a Gonalo Sampaio no interessavam as canes alindadas, mas to smente as que so verdadeiramente populares, tradicionais, em risco eminente de se perderem. Entendia le que, antes de mais nada, era preciso inventariar fielmente o riqussimo patrimnio do cancioneiro popular, manifestaes artsticas do nosso povo, com a sua feio peculiar e distintiva entre os outros povos. O Cancioneiro apresenta, na sua introduo, textos transcritos de trabalhos anteriores. No texto principal, em Modas de Terno so apresentadas 46 composies, em Modas de Romaria, 78, nos Cantos Coreogrficos, 24, em Cantos dos Velhos Romances, 16, seguem-se 15 em Todas, e finalmente, 26 composies de msica popular religiosa.

6. Outras msicas populares Encontrmos na documentao epistolar de G. Sampaio eco das suas preocupaes com o estudo da msica popular portuguesa. Aparentemente no era s a msica minhota que interessava a G.
Couto, Antnio da Silva Leite, Jos Monteiro Pereira, Antnio Joaquim Nunes, P.e Vicente Jos Maria de Reboredo, Jernimo Xavir Varela, Fr. Antnio de S. Joaquim Almeida, P.e Henrique da Silva Barbosa, Jos Maria de Fiscal, Joaquim Jos Rodrigues da Silva, P.e Eugnio da Costa Arajo Mota, Manuel Joo de Paiva, Aires Borges (sculos XVIII e XIX). 52 Existe no esplio documental de G. Sampaio, uma carta do P.e Antnio Domingues Correia para G. Sampaio, datada de 16 de Janeiro de 1935 (Estampa II.10.), portanto posterior aos contactos que efectuou para este trabalho publicado em 1934. O contedo da carta mostra que G. Sampaio continuava a manter interesse no estudo da histria da msica portuguesa. A carta foi endereada do Colgio dos rfos: Meu Ex.mo Mestre e Amigo: Quanto me penhorou a gentileza com que V. Ex.a se dignou oferecer-me um exemplar dos interessantssimos Subsdios para a histria dos msicos portugueses! Exprimindo a V. Ex.a o meu reconhecimento, s tenho de lamentar que o meu apagado nome l figure a propsito de insignificantes dados por mim fornecidos. V-se que V. Ex.a tem toda a razo em partir dste princpio: Braga foi com certeza um importante centro de cultura musical. Da, o belo resultado das pesquisas efectuadas, com o qual me congratulo, dando a V. Ex.a os merecidos parabens. Publiquei ano passado na Aco Catlica (no me lembro o n., e no o tenho mo) a cpia de uma Proviso de D. Fr. Caetano Brando, a autorizar um Paiva, certamente antecessor dos que se fixaram em Braga, a estabelecer rancho musical. Est essa Proviso no Registo da Cmara Eclesistica. Em Viseu, se em 1910 se no perdeu o que havia no Seminrio, devem encontrar-se grandes preciosidades musicais. Ao menos, em cantocho tinha cdices muito antigos. Nenhuma referncia tenho feito ao livro impresso de msicas de Cardoso, n. 40 dos antifonrios da nossa S, em cujo Museu est. Uma vergonha para Braga ter o livro sofrido, em tempos j remotos, os vandalismos que sofreu. Seria tambm interessante apurar quem era aquele cantor da S de Braga, Carlos, que em 1742 copiou uma excelente missa polifnica, a 4 vozes, que l est, no indicando infelizmente o autor, que bem pode ser portugus. Terminando j, mais uma vez afirmo a V. Ex.a toda a sua admirao e grata estima.

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Sampaio. Um amigo seu, escrevia numa carta datada de 26 de Agosto de 1925, em tom simplista e redutor: Rosal, Sabia, Meu caro Gonalo Sampaio: Recebi j h tempos a tua cartinha, que, se por um lado me deu imenso prazer pelas tuas noticias, por outro me fez tremer pela incumbncia de que me encarregas. Tu sabes l a vida de trabalho que eu levo? No me chega o tempo para nada, e olha que o que me pedes coisa para tomar muito tempo e duvido, ainda assim, que se pudesse obter coisa de jeito. Em Silves meio em que vivo, no h povo nem musica popular. A populao da cidade compe-se de uns tantos proprietrios, comerciantes e industriaes corticeiros dum lado; do outro as massas operarias que smente se preocupam com ideias bolchevistas e imitam a burguezia em todos os seus costumes: vestuario, danas e musica. um bolchevismo russo, em que as massas comearam por usurpar os costumes burguezes enquanto lhes no podem tirar o dinheiro e as propriedades. Nas outras terras industriaes do Algarve acontece o mesmo. A populao dos campos j vae seguindo o mesmo caminho. Assim que as mulheres e filhas de quinteiros e trabalhadores do campo vestem j pela ultima moda, calam bota de taco ou sapato de taco alto e meia de seda Nos bailes dessa gente dana-se o fox-trot e o one-steeps, etc. Enfim, as caractersticas populares tm-se extinguido para dar logar a todas as macaquices da moda. Um pavor. Creio que isto so os efeitos da feliz democracia em que vivemos ha 15 anos. Aqui, no sul do Alentejo, onde tenho propriedade e onde me encontro ha um mez tratando das colheitas, ainda ha uns restos de tradio, mas j nos pequenos povos e aldeias, as raparigas se envergonham de trajar antiga, vendo-se com frequencia mulheres de braos e mos tisnados do sol, com vestidos decotados da ultima moda. Onde queres tu pois que eu v encontrar musica tradicional, musica popular leiga, ou religiosa, se j no existe povo, nem tradio, nem religio?! Em 1911 ouvi a um orador da Republica, em propaganda pela provncia, que a historia de Portugal havia comeado em 1910; tudo quanto se fez desde a fundao da monarquia at 5 de Outubro no passou de um acerto de crimes e de roubos!! disse o tal orador. Pois, amigo, parece que o povo tomou a serio semelhante vontade e transformou-se, banindo tudo quanto lhe cheire a passado. Falas-me nos cantos do S. Joo! Mas por c j ningum canta ao Batista; as festas do So Joo limitam-se a umas fogueiras onde as moas defumam as sortes; e os homens comem caracoes e bebem vinho at cair. Enfim, no exagero dizendo que no sul do pais as tradies populares desaparaceram, e as massas de operarios e trabalhadores s aspiram a uma coisa: serem ricos para no mais trabalharem. Caminhamos para o paraiso russo a passos rpidos se no houver juzo nas altas governanas. Deve estar radiante o teu campovinciano Jos Domingos dos Daibos. Um grande abrao do teu velho amigo, A. D. Lima [ilegvel].

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III. G. Sampaio e o estudo da Histria da Botnica 1. A Histria da Botnica vista por G. Sampaio 2. G. Sampaio e Amato Lusitano

1. A Histria da Botnica vista por G. Sampaio Qui pelo seu interesse particular na nomenclatura botnica, G. Sampaio foi um estudioso da Histria da Botnica. A Biblioteca da Academia era valiosssima. Possua muitas obras dos autores clssicos. A Biblioteca Pblica Municipal do Porto era tambm excepcional. Outras obras tero sido adquiridas por sua iniciativa. G. Sampaio discordava de algumas das regras vigentes da nomenclatura botnica. Apesar de concordar que o ponto de partida para a nomenclatura das plantas era balizado pelas obras fundamentais de Lineu - Species plantarum e Genera plantarum, para G. Sampaio, os autores originais pr-lineanos dos nomes dos txones deviam ser mencionados, obrigatoriamente, a seguir ao nome do txon. Esta era, na realidade, mais uma das facetas do rigorismo e respeito religioso e absoluto pelo mrito do descobridor cientfico, que norteava a vida e obra de G. Sampaio. No caso dos gneros, a questo era particularmente crtica, porque efectivamente Lineu tinha essencialmente organizado e arrumado a obra dos seus predecessores, mais do que criado um nmero significativo de gneros novos para a cincia. Era justo omitir autores pr-lineanos notveis como Boerhaave, Dillenius, Micheli, Rivinus, Rupp, Tournefort e Vaillant? Seguramente que, para G. Sampaio, no era. Mas, para atribuir correctamente a autoria original dos nomes dos txones, era necessrio consultar e estudar atentamente as obras clssicas da Botnica mundial, e foi efectivamente o que G. Sampaio fez. Este estudo no s lhe permitiu atribuir as autorias originais dos nomes dos txones (que publica eloquentemente em 1913 na Lista das espcies), como apreciar devidamente o contedo das obras clssicas, e concomitantemente, o valor e enquadramento do autor na sequncia evolutiva da Histria da Botnica. Como organizou G. Sampaio o seu estudo da Histria da Botnica? Para tentar reconstruir o percurso evolutivo da concepo de G. Sampaio sobre este assunto, recorremos a vrios elementos: os seus cadernos de apontamentos; o seu esplio epistolar; as anotaes que inseriu em muitas das obras que consultou; o prprio contedo programtico da disciplina de Botnica Geral que leccionou durante muitos anos. Um estudo aprofundado da Histria da Botnica exige a consulta das prprias fontes originais as principais obras publicadas no domnio da Botnica, a maioria das quais se encontra redigida em latim. Pelas anotaes que colocou em muitas obras, sabemos que G. Sampaio efectivamente as

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consultou e estudou. O acervo bibliogrfico da Academia Politcnica (e da Faculdade de Cincias) do Porto era riqussimo. No esplio documental de G. Sampaio existe um catlogo manuscrito das obras existentes na seco de Botnica53. G. Sampaio escreveu na capa: Universidade do Porto. Faculdade de Sciencias. Catalogo da Bibliotheca da Seco de Botnica. Organizado por Gonalo Sampaio. Porto, Novembro de 1911. Pela data inscrita, sabemos que este catlogo foi elaborado poucos meses depois da transformao da Academia Politcnica em Faculdade de Cincias do Porto54. Ter querido G. Sampaio fazer um inventrio das obras existentes na biblioteca da nova seco de Botnica? Faria este inventrio parte do seu estudo sistemtico da Histria da Botnica, tema que iria incluir no programa da Cadeira de Botnica Geral? Quais os botnicos representados na biblioteca da seco de Botnica? Encontramos obras de A. Acloque55, C. Acqua56, M. Adanson57, C. Allioni58, G. Arcangeli59, J. Casimiro Barbosa60, G. Bauhini61, W. Becker62, A. A. F. Benevides63, P.e Berardo64, Ed. Boissier65,

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Trata-se de um caderno constitudo por folhas de papel tipo almao, seccionadas a meio. Cada folha dedicada a um autor. Em cada autor, as obras esto listadas, mas sem uma ordem determinada. As folhas foram perfuradas no canto superior esquerdo. O conjunto era mantido por um grampo metlico. As folhas no esto numeradas, no sendo possvel saber se o catlogo est completo. 54 O Decreto de 22 de Abril de 1911 criava a Universidade de Lisboa e a Universidade do Porto e reformava a Universidade de Coimbra. O Decreto de 15 de Maio de 1911 organizava as Faculdades de Cincias de Lisboa, Coimbra e Porto. Finalmente, o Decreto de 22 de Agosto de 1911 estabelecia os regulamentos das trs Faculdades de Cincias. 55 Deste autor, G. Sampaio refere unicamente a Flore de France, Paris, 1894. 56 G. Sampaio cita, deste autor, Il Microscopio, Milano, 1907. 57 Michel Adanson (1727-1806), de ascendncia escocesa, foi aluno de Ren-Antoine Ferchault de Ramur e de Bernardo de Jussieu, no Museu de Histria Natural de Paris. De 1748 a 1754 viaja pelo Senegal, onde realiza importantes trabalhos de histria natural com a descoberta de espcies novas para a cincia. De regresso de frica, instala-se em casa de Bernardo de Jussieu, estudando as suas coleces botnicas. Sob a influncia deste botnico, e discordando dos sistemas de classificao de Ray, Tournefort e Lineu, publica, em 1763, a obra monumental - Familles des Plantes. Neste trabalho, apresenta e discute um novo sistema de classificao das plantas, baseado numa anlise global de 65 caracteres diversos das plantas, no incidindo apenas sobre as caractersticas do aparelho floral, como era proposto por Lineu. Idealiza a concepo de uma gigantesca Enciclopdia Universal abrangendo todas as cincias da natureza, mas a Revoluo Francesa impede a sua concretizao. Morre na solido e empobrecido. Lineu, em sua homenagem, criou o gnero Adansonia (http://fr.wikipedia.org/wiki/Michel_Adanson). G. Sampaio cita Famille des plantes, Paris, 1763. 58 Carlo Allioni (1728/1729-1804) ensinou botnica na Universidade de Turim. Foi director do Jardim Botnico de Turim. Deste autor, G. Sampaio refere, nomeadamente, a sua obra principal - Flora Pedemontana, 1785 (na qual so descritas 237 espcies novas para a cincia), e Rariorum Pedemontii stirpium, Turim, 1755. O gnero Allionia foi criado em sua homenagem (http://fr.wikipedia.org/wiki/Carlo_Allioni). 59 Giovanni Arcangeli (1840-1921) foi presidente da Sociedade Botnica de Itlia. Deste autor, G. Sampaio refere o Compendio de la Flora italiana, Torino, 1894. 60 De J. Casimiro Barbosa, G. Sampaio cita A Horta, Porto (2.a edic.). Ver captulo IV.4. 61 De Gaspar Bauhino, G. Sampaio refere o monumental Pinax Theatri Botanici, Basileae, 1671 ( a 2.a edio). 62 De Wilhelm Becker (1874-1928), G. Sampaio cita a monografia Violae Europaea, Dresden, 1910. 63 Antnio Albino da Fonseca Benevides (1816-1885) era formado em medicina pela Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa e pela Universidade de Pisa. Foi mdico da Real Cmara, do Hospital de So Jos, das Cadeias Civis e da Misericrdia, e professor de Zoologia da Academia das Cincias de Lisboa (GEPB). Publicou, em 1841, o Diccionario de glossologia botanica ou descripo dos termos technicos de organographia, taxonomia, physiologia, e pathologia vegetal. Deste autor, referido o Compendio de Botanica, Tomo I, Lisboa, 1837. 64 citada a obra Vocabulario Franco-Lusitano, segundo a nomenclatura do Dr. Brotero, Coimbra, 1840. 65 Pierre Edmond Boissier (1810-1885), botnico suo, frequentou a Academia de Genebra, onde foi aluno de A. P. De Candolle. No Inverno de 1831-1832, vive em Paris, onde contacta com diversos botnicos, provavelmente com P. B. Webb,

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A. Boistel66, G. Bonnier67, Brotero68, Af. De Candolle69, A. P. De Candolle70, Ch. Chamberlain71, E. Chavannes72, L. J. Chenon73, R. Chodat74, C. Clusius75, J. Dalechamps76, R. Dodoens77, C. Gesnerius78, J. G. Gmelin79, B. A. Gomes80 & C. M. F. da S. Beiro81,82, W. J. Hooker & G. W. Arnott83, Th.
que tinha herborizado em Espanha. Deste contacto, ter ficado a vontade de estudar a flora de Espanha, o que concretizar em 1837. Desta viagem resultou a publicao de Voyage botanique dans le Midi de lEspagne pendant lanne 1837 (em dois volumes, editado em Paris, em 1839-1845) e a descrio de um elevado nmero de espcies novas para a cincia (http://fr.wikipedia.org/wiki/Pierre_Edmond_Boissier). Deste autor, G. Sampaio refere: Elenchus plantarum novarum minusque cognitarum quas in itinere hispano legit, Genevae, 1838; Pugillus plantarum novarum, Africae borealis Hispaniaeque australis (de colaborao com G. F. Reuter), Genevae, 1852; Diagnoses plantarum novarum, 1854-59; Flora orientalis, Basileae, 1867-84, 5 vol.; Suplementum Flora orientalis, 1 vol., 1888. 66 Alphonse B. M. Boistel (1836-1908) era jurista de formao. Ensinou direito em Grenoble e Paris, tendo publicado diversas obras desta especialidade. Apaixona-se pela histria natural, dedicando-se em particular ao estudo dos lquenes de Frana. Publica, em 1902 uma obra hoje clssica da bibliografia liquenolgica - Nouvelle Flore des lichens, que G. Sampaio cita neste inventrio. Foi ainda presidente da Sociedade Geolgica de Frana (http://fr.wikipedia.org/wiki/Alphonse_Boistel). 67 Gaston Bonnier (1853-1922) foi director do laboratrio de botnica da Escola Normal Superior de Paris e, a partir de 1887, professor de botnica da Faculdade de Cincias de Paris. Participa na fundao da Revue gnrale de botanique, que dirige at 1922. Em 1890, foi eleito presidente da Sociedade Botnica de Frana. Os seus trabalhos focam temas diversos da botnica, sendo autor de muitas monografias nas reas da sistemtica, biogeografia, ecologia e fisiologia vegetais, e tambm de livros escolares de botnica, como a Nouvelle Flore pour la dtermination facile des plantes e Petite flore des coles (em colaborao com G. de Layens) (http://fr.wikipedia.org/wiki/Gaston_Bonnier). G. Sampaio cita Le Monde vgtal, Paris, 1907. 68 Representadas as obras fundamentais deste autor: Compendio de Botanica, 1788, Phytographia Lusitaniae selectior, fasc. 1., 1800, Flora lusitanica, 2 vol., 1804, Phytographia Lusitaniae selectior, 2 vol., 1816-1827, Description of a new genus of plants named Araujia, and a new species of Passiflora, 1817, Descriptions of two New species of Erythrina, 1824 e Historia natural dos pinheiros, larices e abetos, 1827. 69 Representadas obras fundamentais de Afonse De Candolle: Monographie des Campanules, Paris, 1830; Prodromus systematis naturalis regni vegetabilis, Paris, 10 vol., 1844-73, com 2 vol. de Index, por Buek; Lois de la nomenclature botanique, 2.a edic., Geneve, 1867; Monographiae Phanerogamarum, Paris, 1878; Nouvelles remarques sur la nomenclature botanique, Geneve, 1883; Origine des plantes cultives, Paris, 1896. 70 Representadas obras fundamentais de Agostinho Piramo De Candolle: Plantarum succulentarum historia (com desenhos de Redout, coloridos), Paris, 2 vol., 1799 (encadernado num volume); Catalogus plantarum Horti botanici Monspeliensis, Monspellii, 1813; Flore franaise (de Lamarck), 6 vol., Paris, 1815; Regni vegetabilis systema naturale, 2 vol., Paris, 1818-1821; Prodromus systematis naturalis regni vegetabilis, Paris, 7 vol., 1824-1839. 71 Citado o Methods in Plant Histology, Chicago, 1905. 72 G. Sampaio citava o trabalho de reviso: Monographie des Antirrhines, Paris, 1833. 73 De Leonhard Joh. Chenon, G. Sampaio listava a Nova plantarum genera, Upsaliae, 1751. 74 De Robert H. Chodat (1865-1934), G. Sampaio listava: Algues vertes de la Suisse, Berne, 1902; Principes de Botanique, Geneve, 1907; Polymorphisme des Algues (Etude critique), Geneve, 1909. 75 Deste autor, existiam Rariorum plantarum historia, Antuerpiae, 1601 (com apendice, no mesmo tomo), Fungorum in Pannoniis observatorum historia (com o precedente) [encadernada com a obra anterior] e o Exoticorum libri decem, Antuerpiae, 1605. 76 Jacques Dalchamps (DAlchamps) (1513-1588) foi mdico, botnico, fillogo e naturalista. Formou-se na Universidade de Montpellier, estudando com Guilherme de Rondelet. Vive durante alguns anos em Grenoble e Valena, instalando-se em Lyon, onde exerce medicina. G. Sampaio cita a Historie general des plantes, 2 vol., 1654, publicada em Lyon, e que a sua obra principal, onde compila todos os conhecimentos botnicos existentes na poca. Tambm designada por Historia plantarum Lugdunensis. As gravuras, em madeira, so, no entanto, de fraca qualidade. Publicou tradues dos mestres clssicos da Medicina. C. Plumier dedicou-lhe o gnero das Euforbiceas Dalechampia (http://fr.wikipedia.org/wiki/Jacques_Dalchamps; SACHS, 1906:30). 77 Deste autor, G. Sampaio cita a obra clssica: Stirpium Historiae pemtades sex, Antuerpiae, 1583. 78 De C. Gessner (Gesner), G. Sampaio listava a Opera botanica, Norimbergae, 1751. 79 G. Sampaio referia a Flora Sibirica, 2 vol. Petropoli. 80 Bernardino Antnio Gomes (1806-1877), filho de Bernardino Antnio Gomes (1768-1823), era formado em medicina, pela Faculdade de Paris, e, em matemtica, pela Universidade de Coimbra. Foi professor de Matria Mdica na Escola

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Johnson84, P. Magnol85, Rob. Morison86, C. Plnio (Segundo)87, J. Pontederae88, J. Ray89, A. Q. Rivinus90, Roemer & Schultes91, C. C. Schmidel92, C. Sprengel93, J. P. Tournefort94, S. Vaillant95, Conceio Velloso96 e Joo Vigier97. Estavam assim representadas obras de botnica (floras,

Mdico-Cirrgica de Lisboa e mdico da Real Cmara. Era scio da Academia das Cincias de Lisboa, da Sociedade de Cincias Mdicas (de que foi presidente) e da Sociedade Farmacutica Lusitana, e director do Hospital da Marinha. Foi um dos fundadores da Gazeta Mdica e do Jornal da Sociedade de Cincias Mdicas de Lisboa. Colaborou na edio de 1876 da Farmacopeia Portuguesa (GEPB). 81 Caetano Maria Ferreira da Silva Beiro (1807-1871) formou-se em medicina, em 1836, pela Universidade de Coimbra. Foi professor de Matria Mdica e Teraputica Interna na Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa, e de Agricultura Geral e Lavoura no Instituto Agrcola (de que foi director). Foi mdico da Real Cmara, e scio da Academia das Cincias de Lisboa, da Sociedade de Cincias Mdicas (de que foi presidente) e da Sociedade Farmacutica Lusitana (GEPB). 82 De B. A. Gomes e de C. M. F. da S. Beiro, G. Sampaio cita o catlogo de plantas existentes no Horto Botnico da Escola Mdico-Cirrgia de Lisboa: Catalogus plantarum Horti botanici Medico-cirurgicae Scholae Olisiponensis, Olisipone, 1852 (GOMES & BEIRO, 1852). 83 Destes autores, referida The British Flora, London, 1850. 84 De Thomas Johnson, so referidas duas edies (1633 e 1636) da monumental The herbal or generall historie of plantes by John Gerarde, London. 85 Pierre Magnol (1638-1715) foi professor e director do Jardim Botnico de Montpellier. Contactou de perto com Tournefort. Escreveu uma das primeiras floras - Botanicum Monspeliense, publicada em Lyon, em 1676. Descreveu muitas plantas novas para a cincia. Em sua homenagem, Lineu criou o gnero - Magnolia (http://fr.wikipedia.org/wiki/Pierre_Magnol; MAGNIN-GONZE, 2004:138; MLLER-WILLE & REEDS, 2007). G. Sampaio cita a edio de 1686 do Botanicum Monspeliense. 86 G. Sampaio lista a monumental Plantarum historiae universalis oxoniensis, 2 vol., 1738 (a edio original de 1680). 87 De Plnio, existiam duas edies valiosssimas: Historia natural, tradu. de Geronimo de Huerta, 2 vol., Madrid, 162429 e a Storiae mundi, Basileae, 1554. 88 Deste autor, G. Sampaio listava o Compendium tabularum botanicarum, Patavii, 1718. 89 Deste autor, G. Sampaio cita: Catalogus plantarum Angliae, Londini, 1670; Stirpium europaearum extra britannias nascentium, Londini, 1694, Synopsis methodica stirpium britannicarum, Londini, 1724 (edio 3.a); Methodus plantarum (emendata et aucta), Londini, 1733. 90 De Rivnio, G. Sampaio cita a Introductio generalis in rem Herbarium, Lipsiae, 1690. 91 G. Sampaio cita o Systema vegetabilium, 7 vol., 1817-30, (falta a 1.a parte do 7. [volume]). 92 Casimir Christoph Schmidel (1718-1792) destacou-se pelos estudos da reproduo das brifitas (SACHS, 1906:197198,438). G. Sampaio cita o Descriptio itineris per Helvetiam Galliam et Germaniae partem, Erlangae, 1794. 93 Kurt Sprengel (1766-1833), mdico, professor e botnico alemo, era sobrinho de Christian Konrad Sprengel (17501816). Notabilizou-se por ter promovido novas edies do Systema vegetabilium e de Genera Plantarum de Lineu. Deste autor, G. Sampaio lista: Historia Rei Herbariae, 2 vol., Amsterdami, 1807-1808, Species Umbelliferarum minus cognitae, Halae, 1818 e o Systema vegetabilium, 5 vol. (o 4. em 2 partes), Gottingae, 1825-8. 94 Deste autor, existia a 3.a edio (de 1719, em trs volumes, publicada em Paris) da obra fundamental: Institutiones rei herbariae. Existia ainda a Relation dun voyage du Levant, Lyon, 1717 (3 vol.). 95 Sbastien Vaillant (1669-1722) estudou com Tournefort e sucedeu-lhe na direco do Jardim do Rei, em Paris. Introduziu, em Frana, a utilizao de estufas-quentes para o cultivo de plantas suculentas. Introduziu designaes para diversas partes dos rgos florais, como os termos: estame, filete, ovrio e vulo. O seu estudo da estrutura da flor influenciou acentuadamente Lineu. Tournefort dedicou-lhe o gnero Valantia, da famlia das Rubiceas, que Lineu redenominou de Vaillantia. O seu herbrio conserva-se no Museu de Histria Natural de Paris (http://fr.wikipedia.org/wiki/Sbastien_Vaillant; MAGNIN-GONZE, 2004:113; MLLER-WILLE & REEDS, 2007). Deste autor, G. Sampaio cita o Botanicon Parisiense, 1727. 96 Frei Jos Marianno da Conceio Velloso (1732/42-1811), religioso franciscano, de nacionalidade brasileira, foi um botnico notvel. Publicou a Florae Fluminensis, em 11 volumes, a mais completa descrio, poca, da flora espontnea do Brasil. Vem para Lisboa. nomeado director literrio da Impresso Rgia (GEPB). Deste autor, G. Sampaio cita a Alographia, Lisboa, 1798 (Alographia dos alkalis fixos, vegetal ou potassa, mineral ou soda e dos seus nitratos). 97 Joo Vigier, boticrio francs, veio para Portugal em meados do sculo XVII. Parece ter estabelecido, em Lisboa, uma casa de plantas medicinais e preparados farmacuticos. Alm de erudito e activo, era esmerado botnico (GEPB). autor de uma farmacopeia, datada de 1716. Deste autor, citado: Historia das plantas da Europa, 2 vol., Lion, 1718.

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monografias, compndios), mas tambm monografias de tcnicas de microscopia e de histologia, e de horticultura. Todavia, algumas obras fundamentais da Histria da Botnica no existiam nesta Biblioteca, o que ter levado G. Sampaio a procur-las em outras Instituies, nomeadamente a Biblioteca Pblica Municipal do Porto e a Biblioteca da Escola Mdico-Cirrgica do Porto. Existe no esplio documental de G. Sampaio, trs cadernos de apontamentos dedicados ao estudo de obras clssicas da Histria da Botnica. Num deles, nas primeiras pginas tem uma listagem dos Livros de Botanica da Bibliotheca Municipal do Porto (Estampa III.1.). Que autores so citados? Acosta98, Alpini, Amati-Lusitani [Amato Lusitano], Aria Montano, Aristotelis et Theophrasto, Bauhino, Beckmanno, Bomare, Boutelon, Brez, Brotero, Candolle, Capello, Cavanilles99, Clusii [Clsio], Columna, Correia da Serra, Crantz, Desfontaines100, Dilleni [Dillenio], Dioscorides, Dodanaeus, Donati, Ferrari, Fuchs, Forskal, Gilibert, Gaertner101, Loureiro [Joo Loureiro], Linneu,

Cristbal Acosta (Cristvo da Costa) (1538-1594/1596), de ascendncia judia, nasceu em territrio africano, provavelmente em Tnger. possvel que tenha cursado cirurgia nas aulas de anatomia e cirurgia do Hospital Real de Todos os Santos, em Lisboa. Embarcou para a ndia, em 1568, na qualidade de fsico ou cirurgio da armada. Em 1569, exerceu funes de mdico no Hospital Real de Coxim. Trabalhou ainda em vrios hospitais de portos do mar de Malabar. Em Novembro de 1571, trabalhava em Tenor. Voltou depois para Coxim e, de seguida, para Portugal, provavelmente em 1572. No entanto, sai de Portugal para residir em Salamanca e depois em Burgos, onde exerce medicina. nesta cidade que, em 1578, edita a primeira verso em castelhano dos Colquios dos Simples de Garcia de Horta (WALTER, 1964). 99 Antonio Jos de Cavanilles y Palop (1745-1804) foi um notvel naturalista e botnico espanhol. Formou-se na Universidade de Valencia, em 1766. Foi ordenado sacerdote em Oviedo, em 1772. Em 1777, parte para Paris, como preceptor dos filhos do Duque do Infantado. Nesta cidade, contacta com A.-L. Jussieu. Regressa a Espanha, em 1789. Herboriza intensamente pela Pennsula Ibrica, publicando os resultados na obra em seis volumes - Icones et descriptiones plantarum quae aut sponte in Hispaniae crescunt (1791-1804), na qual descreve muitas espcies novas para a cincia. Fundou, em 1799, a revista Anales de Historia Natural, que, em 1801, d lugar aos Anales de Ciencias Naturales. Em 1801, director do Real Jardim Botnico de Madrid, cargo que ocupa at sua morte. Re-organiza a instituio, nomeadamente os seus herbrios. Entre os seus discpulos, destacam-se Mariano Lagasca y Segura, que, em 1815 seria nomeado director do Real Jardim Botnico de Madrid, e Simon de Rojas Clemente y Rubio. autor de dezenas de gneros novos e mais de mil espcies novas para a cincia (http://es.wikipedia.org/wiki/Cavanilles). 100 Ren Louiche Desfontaines (1750-1831) foi aluno de Bernardo de Jussieu. Estudou, em particular, a flora do norte de frica, constituindo um importante herbrio e publicando a Flore atlantique (1798, em dois volumes). Sucede a Le Monnier na Cadeira de Botnica, no Jardim do Rei, em Paris. As suas aulas eram assistidas por numerosa e destacada audincia. Jean Jacques Rousseau contava-se entre os seus ouvintes. Das suas obras de botnica destacam-se: Cours lmentaire (1796); Tableau de l'cole botanique du Musum d'histoire naturelle (1804); Histoire des plantes et des arbrisseaux qui peuvent tre cultivs en France en pleine terre (1809) e Expriences sur la fcondation artificielle des plantes (1831) (http://fr.wikipedia.org/wiki/Ren_Desfontaines). 101 Josef Grtner (Gaertner) (1732-1791) comeou os seus estudos com von Haller, em 1751, em Gotinga. Viaja em Itlia, Frana, Holanda e Inglaterra. Em 1760, professor de anatomia em Tubinga, e em 1768, professor de botnica em S. Petersburgo. Regressa a Calw, em 1770, para se dedicar concluso de De fructibus et seminibus plantarum. Nesta obra, descreve e ilustra a estrutura dos frutos e dos rgos florais de mais de mil plantas. Demonstra que os esporos das criptogmicas so muito diferentes dos frutos das fanerogmicas. Grtner dedicou-se especialmente ao estudo comparativo dos frutos e das sementes. Seu filho, Karl Friedrich Grtner (1772-1850), formou-se em 1796, em Gotinga. Dedicou-se, em particular, ao estudo da sexualidade nas plantas. Realiza inmeras experincias em hibridao, descrevendo pela primeira vez o processo de fertilizao em pormenor (SACHS, 1906:122-126,427-431; MAGNIN-GONZE, 2004:152).

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Matthiolo, Michelio, Plukenet, Mentzelius, Monardes102, Laicharding, Seguierio, Scopoli, Volchameri, Voutenat. Para cada autor, G. Sampaio listou as obras principais. A lpis escreveu, para algumas obras, as cotas de localizao. Seguidamente tem uma listagem, mais pequena, dos Livros de Botanica da Bibliotheca da Escola Medica do Porto. Que autores so mencionados? Bauhino, Candolle, Cooke, Crantz, Duchesne, Duhamel, Durante, Endlicher103, Figueiredo104, Gilibert105, Gleditsch106, Herail, Humelbergins, Jugen-Hansz, Jussieu [A.-L. Jussieu], Link, Linneu, Loureiro [Joo Loureiro], Ludwig107, Plenck, Porta, Saint-Hillaire108, Scopolus, Senebier, Tournefort, Vandelli, Vigier. Quais os mais importantes botnicos que marcaram a evoluo histrica desta disciplina?109

Nicols Monardes (1493-1588) foi um destacado mdico e botnico espanhol. A sua obra mais significativa Historia medicinal de las cosas que se traen de nuestras Indias Occidentales (publicada em 1569-1574) foi traduzida para latim por Clsio, que a edita em 1593, conjuntamente com uma edio dos Colquios dos Simples de Garcia de Horta (http://es.wikipedia.org/wiki/Monardes; FICALHO, 1886). 103 Stephen Ladislau Endlicher (1805-1849) foi professor de botnica e director do Jardim Botnico de Viena. Organizou uma biblioteca e um herbrio notveis. Editou os Annalen des Wiener-Museums. Alm de taxonomista, era filologista e linguista. Publicou, em 1836-1840, o Genera plantarum secundum ordines naturales disposita. O seu sistema de classificao das plantas semelhante ao de A. P. De Candolle, com quatro grandes grupos de plantas. As plantas so primeiro classificadas em dois grupos: Cormfitas e Talfitas. As cormfitas so as fanerognicas e as criptogmicas com rgos sexuais de De Candolle, e as talfitas correspondem s criptogmicas sem rgos sexuais. As cormfitas so subdivididas em trs grupos: dicotiledneas, monocotiledneas e criptogmicas com rgos sexuais (SACHS, 1906:146; GRAY, 1907:341). 104 Deve tratar-se de J. J. de Figueiredo, autor da Flora pharmaceutica e alimentar portugueza ou tractado daquelles vegetaes indigenas de Portugal, e outros nelle cultivados, publicada em 1825, obra clssica da bibliografia portuguesa desta temtica. Jernimo Joaquim de Figueiredo (1772-1828) era formado em medicina pela Universidade de Coimbra. Foi professor de Matria Mdica e Farmcia desta Universidade, e scio da Academia das Cincias de Lisboa (GEPB). 105 Num dos seus cadernos sobre os tratadistas clssicos, G. Sampaio escreveu acerca deste autor: Methodi Linneaenae botanicae, Lugduni, (no traz data), 1 vol. (Bibliotheca da Escola Medica do Porto) descrevendo esta obra como sendo uma forma do Species (no sentido, em disposio da Flora de Brotero) bem feito. Binomes (entre todos os mais notaveis), traz os synonimos para os binomes de Bauhino. Seguidamente, G. Sampaio escreveu uma lista com cerca 20 binomes especficos. 106 Gleditsch foi director do Jardim Botnico de Berlim. Estudou o processo de fertilizao nas plantas (SACHS, 1906:393394). Num dos seus cadernos sobre os tratadistas clssicos, G. Sampaio escreveu acerca deste botnico: Systema plantarum, Berolini, 1764 (Bibliotheca da Escola Medica do Porto) e sobre esta obra: um Genera com os generos muito bem definidos, mas sem indicao dos auctores nem das especies a que se refere. 107 Num dos seus cadernos sobre os tratadistas clssicos, G. Sampaio escreveu acerca deste botnico: Institutiones Regni Vegetabilis, Editio altera, aucta et emendata, Lipsiae, 1757 (Bibliotheca da Escola Medica do Porto), descrevendo esta obra da seguinte forma: uma especie de compendio de Botanica, muito interessante. Tem uma parte de morphologia, de physiologia, noes de classificao (genero e especie) e classificao, com a historia dos principais botanicos auctores de methodos. D um quadro dos generos, entre os quaes devo mencionar os generos. Segue-se uma lista de algumas dezenas de nomes genricos. 108 Auguste de Saint-Hillaire (1779-1853) foi professor em Paris. Publicou Leons de botanique em que revela influncias da doutrina da simetria de A. P. De Candolle, da teoria de metamorfose de Goethe e da doutrina de filotaxis de Schimper (SACHS, 1906:149-150). 109 Transcrevemos, de seguida, as ideias de G. Sampaio sobre a Histria da Botnica, expressas nos programas da Botnica Geral (SAMPAIO, 1911c, 1920c e 1935b).

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Para G. Sampaio, Aristteles110 foi o fundador da Botnica: Aristteles, que escreveu uma Teoria das plantas e outras obras fitolgicas de que restam apenas fragmentos, foi o verdadeiro fundador desta scincia. A seguir a Aristteles, G. Sampaio considera Teofrasto111: cujos livros botnicos esboam uma tentativa de classificao e versam grosseiramente a morfologia externa e a fisiologia das plantas, constatando os fenmenos da sexualidade e da aco fecundante do plen em espcies dioicas. Para G. Sampaio, deve-se a Dioscorides112 e a Plnio113 a criao de muitos dos nomes que ainda hoje se do s plantas: No primeiro sculo da nossa era Dioscorides, que foi o primeiro
Aristteles (384 aC-322 aC) considerado o filsofo e erudito que exerceu a mais duradoura, profunda e enriqueedora influncia no domnio das Cincias Naturais no mundo ocidental. Os seus estudos de Zoologia so, no entanto, muito mais significativos do que os de Botnica (DE WITT, 1992:46). Conjectura-se que a sua educao houvesse sido dirigida no sentido da Medicina. certo que se ocupou muito, posteriormente, da disseco de animais, e que a sua mentalidade foi sobretudo a dum naturalista, e dum naturalista classificador [] Aristteles deve ser considerado como o fundador da Zoologia na acepo verdadeira da palavra, pois foi ele quem recolheu os dispersos conhecimentos dos seus predecessores e os enriqueceu com os resultados das suas numerosas investigaes, coordenando-os cientificamente sob um critrio filosfico [] Os seus trabalhos mais notveis neste ramo da Cincia so: Gerao dos animais, Partes dos animais e Histria dos animais (GEPB). S escreveu dois livros sobre botnica que, de acordo com Julius Scaliger, foram posteriormente muito alterados ou at mesmo re-escritos, possivelmente pelo seu discpulo Teofrasto (JOHNSON, 1636; ALLORGE & IKOR, 2003:27). Aristteles considerava que tanto as plantas como os animais tm uma alma, mas a dos animais mais completa do que a das plantas. Classificou os seres vivos em funo do seu grau de perfeio, atribuindo a proeminncia ao homem. Para Aristteles, a existncia das plantas justifica-se pela sua utilidade, estando portanto, por natureza, disposio do homem. As plantas so seres vivos porque apresentam nutrio, crescimento e desenvolvimento, mas so inferiores aos animais, dado que no tm sensibilidade (emoes e pensamento) (MAGNIN-GONZE, 2004:16). 111 Tyrtamnos Teofrasto (372/370 aC-288/286 aC) foi seguidor de Plato, discpulo de Aristteles e seu sucessor na direco do Liceu. Os seus tratados de Botnica - Peri phytoon historias (Historia plantarum) e Peri phytoon aitioon (De causis plantarum), constituram, durante sculos, as obras de referncia da Botnica. Os seus trabalhos revelam uma preocupao para observar o melhor possvel as plantas. Distingue os rgos das plantas, examina as suas funes, e tenta determinar os fenmenos que ocorrem nestes rgos. Mostrou que existem diversos tipos de flores distinguiu as inflorescncias indefinidas das definidas, reconheceu diferenas na posio do ovrio, separou as corolas poliptalas das gamoptalas. Classificou as plantas com base no porte rvores, arbustos, subarbustos e herbceas, distinguindo-as, quanto ao ciclo de vida, em anuais, bienais e perenes. Para Aristteles, a Natureza era racional a estrutura dos rgos um resultado directo da sua funo a funo cria o rgo. Teofrasto salienta que podem existir excepes a esta lei a Natureza no se constri segundo uma finalidade inexorvel, a entelequia. A existncia de uma homologia entre os rgos dos animais e das plantas, no era, para Teofrasto, bem exacta os rgos das plantas so ilimitados e variveis, e, os dos animais, reduzidos e limitados. Estabelece uma diferena fundamental entre as plantas e os animais, e recusa, ao contrrio de Aristteles, qualquer analogia superficial entre a organizao vegetal e animal. Observa que existem plantas (mykes) que no tm razes, caule, folhas, flores e frutos, nem tecidos descobria os fungos. (TOURNEFORT, 1797:51; LAWRENCE, 1973:22; DE WITT, 1992:66-74; ALLORGE & IKOR, 2003:27-28; MAGNIN-GONZE, 2004:17-22). Na sua Histria das Plantas, em nove volumes, Teofrasto menciona mais de 550 plantas, a maioria das quais de importncia agrcola e econmica. As plantas so classificadas em sete classes, de acordo com as suas qualidades, tais como: o local de origem; a dimenso (erva, arbusto ou rvore); o uso como planta hortcola; se do sementes comestveis; e se causam suores. As classes so divididas em 48 seces ou captulos, em que as plantas so agrupadas por semelhanas (ADANSON, 1763:vi; MAGNINGONZE, 2004:17-22). As suas obras, escritas em grego, foram traduzidas para latim, no sculo XV, por Thodore Gaza, a pedido de Nicolau V, mas a transcrio foi muito deficiente, omitindo algumas partes, adulterando outras e alterando os nomes das plantas (JOHNSON, 1636; MAGNIN-GONZE, 2004:17-22). Era sobretudo um erudito, mas muito bem informado, e exprimia-se com muito mtodo e nitidez (GEPB). DE WITT (1992:66) considera-o como o botnico mais notvel da Antiguidade. 112 Pedacio Dioscorides Anazarbeo viveu no primeiro sculo da era crist. Estudou em Alexandria e Tarzus, e foi mdico militar grego ao servio de Nero (54-68 dC). Classificou as plantas de acordo com as suas qualidades: plantas aromticas; plantas comestveis; plantas medicinais; plantas venenosas. As suas descries das plantas so melhores do que as de
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icongrafo, compoz um tratado de matria mdica em cinco livros ilustrados, com a descrio de 600 plantas114, tratado que teve uma grande importncia como guia botnico, durante sculos115 [Estampa

Teofrasto. So referidas muitas designaes para cada planta - nomes gregos, mas tambm de pases vizinhos. Dioscorides escreveu sobre as plantas e sobre a Medicina da poca em De Materia Medica (JOHNSON, 1636; ADANSON, 1763:vi; TOURNEFORT, 1797:51-52; GEPB; DE WITT, 1992:101). Notvel observador e descritor, Dioscorides foi original em algumas indicaes (acetato de chumbo, gua de cal, xido e sal de cobre, etc.); a mandrgora, como somnfero, le a recomendava nas operaes cirrgicas [] Em Portugal, a influncia de Dioscorides foi muito grande e o ensino farmacolgico na Universidade qusi a ele se limitava, at ao sc. XVIII (GEPB). 113 Caius Plinius Secundus Major (23/24 dC - 79 dC), Plnio-o-Velho, passou a sua juventude em Roma onde estudou direito. Escolheu a carreira militar, terminando como almirante. Viveu ao tempo de Vespesiano e morreu sufocado pelos gases sulfurosos do Vesvio, ao aproximar-se do vulco para o observar de perto, na violenta erupo de 79 dC (JOHNSON, 1636; TOURNEFORT, 1797:52; DE WITT, 1992:95-101). Escreveu uma enciclopdia (De Historia Mundi) em que compilou citaes de ca. 500 autores anteriores, s quais junta as suas prprias observaes, constituindo a mais rica fonte de informaes da Antiguidade. Esta obra deve, no entanto, ser lida com ateno, dado que Plnio nela incorporava todo o tipo de informaes que obtinha - factos verdicos que tinha observado, mas tambm lendas extraordinrias e anedotas. O seu mrito cientfico no grande. No mostra empenho de estruturao filosfica; as observaes so quase todas de segunda mo, e revela pouca discriminao no separar o verdadeiro do falso e o provvel do fantasioso. O seu pensamento muitas vezes obscuro, devido falta de conhecimento pessoal das matrias de que trata e incapacidade de apreender o verdadeiro sentido das passagens que cita ou traduz. Mas a obra um grande monumento de pesquisa e valiosa por nos fornecer pormenores de uma grande variedade de assuntos sobre os quais no possumos qualquer outra fonte de informao (GEPB). Para Plnio, a definio de natureza inclua o natural e o artificial, feito pelo homem, e a ideia de histria estava associada a uma descrio e no a um sentido especfico do passado (FINDLEN, 2006b:437). Dos 37 volumes desta obra-prima monumental, 17 so dedicados s plantas. Considerado um estudioso prodigioso e incansvel, um dos eruditos mais extraordinrios da histria da humanidade, a sua influncia durante a Idade Mdia e o Renascimento foi incomparvel (DE WITT, 1992:95-101; FINDLEN, 2006b:437-438). Compilador incansvel reuniu toda a informao sobre as plantas de Teofrasto e Dioscorides (JOHNSON, 1636; ADANSON, 1763:vii). Pline, dune insatiable curiosit envers le monde, nest cependant ni un scientifique ni un philosophe (MAGNIN-GONZE, 2004:25). 114 De Materia Medica, escrito em grego ao tempo do imperador Nero, um tratado dividido em seis livros, onde trata de substncias medicamentosas na forma de aromas, leos, unguentos, licores e gomas; estuda plantas e suas partes razes, caules, folhas, bolbos, frutos e sementes e seus produtos, e vinhos, e sumos; produtos animais, compreendendo leite, enxndia, mel; produtos minerais; e venenos e antdotos. No ndice de drogas e plantas medicinais, h entradas com cerca de quatrocentas unidades (GOUVEIA, 1983:299). A cpia mais antiga que se conserva do trabalho de Dioscorides um manuscrito bizantino, em pergaminho, do sculo VI, designado de Cdex Vindobonensis ou Cdex Aniciae Julianae, que se encontra hoje em Viena. Trata-se de um manuscrito que os cidados de Honoratae, perto de Bizncio, ofereceram ao seu patrono, Juliana Anicia, em 510 dC. Em 1569, foi comprado, por um elevadssimo valor, pelo diplomata austraco Ogier Ghislain de Busbecq (1522-1592), e trazido para Viena. Antes de ser entregue Biblioteca Imperial de Viena, de Busbecq emprestou-o a Matthioli, que o estudou atentamente para redigir os seus Comentrios. Uma cpia do sculo VII, o Cdex Neapolitanus, conserva-se na Biblioteca de Npoles. Existe tambm um cdice do sculo VIII o Cdex de Munique, ilustrado com mais de 900 pequenas, mas magnficas estampas, mais do dobro das 387 ilustraes do Cdex de Juliana Anicia. Existe ainda um cdice do sculo IX - Herbarium Apulei, que se conserva em Monte Cassino, Itlia. Ermolao Barbaro (1454-1493) traduziu para latim o texto grego. Esta traduo foi publicada pela primeira vez, em 1516, e reimpressa muitas vezes, tendo-se tornado a edio de referncia at ao sculo XVIII. As descries das plantas feitas por Dioscorides so muito breves, sendo o nfase focado nas suas propriedades medicinais. Das plantas mencionadas por Dioscorides, 130 figuravam no Corpus hippocraticum. A obra de Dioscorides foi interpretada por diversos mestres botnicos como Clsio, Amato Lusitano (em 1536 no Indere Dioscorides e em 1553 na In Dioscorides Anazarbei de Medica Materia), Laguna e Matthiolo no sculo XVI, Tournefort e Sibthorp no sculo XVIII, que tentaram identificar as plantas mencionadas pelo antigo mestre. No entanto, as brevssimas descries das plantas dadas por Dioscorides dificultaram sobremaneira esta leitura botnica e taxonmica, e originaram as mais fantasiosas interpretaes do texto do mestre antigo (http://fr.wikipedia.org/wiki/Ogier_Ghislain_de_Busbecq; LAWRENCE, 1965:8-9; DE WITT, 1992:101-102; ALLORGE & IKOR, 2003:91-92; MAGNIN-GONZE, 2004:23-25; FINDLEN, 2006b:438-439). De Materia Medica, considerada uma das obras-primas da bibliografia botnica e mdica de todos os tempos, foi apreciada por Galeno da seguinte forma: na minha opinio escreveu o seu trabalho na maior das perfeies; apesar de muitos antes dele [Dioscorides] terem escrito bem sobre este assunto, nenhum escreveu to bem como ele (JOHNSON, 1636). Na Biblioteca do Departamento de Botnica (FCUP) existem duas tradues clssicas, comentadas, desta obra: uma, castelhana, de

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III.2.], e o romano Plnio compendiou em seis livros da sua Historia naturalis [Estampa III.3.] tudo quanto se sabia, errado ou certo, sobre os vegetais. Muitos dos nomes dados por estes dois sbios s plantas conservam-se ainda, como nomes de gneros, na nomenclatura moderna116. G. Sampaio considera ento a Idade Mdia como um perodo morto no desenvolvimento da Botnica117, ressurgindo esta disciplina com a expanso portuguesa e espanhola, alm-mar: Depois de Plnio, a botnica conservou-se qusi estacionria ou com progressos pouco notveis at ao sculo XVI, em que as descobertas geogrficas dos portugueses e espanhis excitaram o desenvolvimento desta scincia, pela curiosidade e pelo interesse econmico que despertavam as populaes vegetais
Andrs Laguna, publicada em Salamanca, em 1566 (Estampa III.2.); outra, italiana, de P. A. Matthioli, publicada em Veneza em 1573. So obras valiosssimas. A edio de Laguna no existia ao tempo de G. Sampaio, tendo sido adquirida, em 1948, seguramente por iniciativa de A. Pires de Lima, pelo custo de 300$00. 115 Efectivamente muitos nomes criados por Dioscorides permanecem hoje na nomenclatura botnica (DE WITT, 1992:102). Os grandes tratados de botnica dos sculos XVI-XVIII citam sistematicamente Dioscorides. Ter sido atravs destes textos que G. Sampaio teve um conhecimento pormenorizado da obra de Dioscorides. 116 Existe na Biblioteca do Departamento de Botnica (FCUP), um exemplar de uma traduo espanhola de Geronimo de Huerta desta Histria Natural de Plnio, publicada em 1624 (Estampa III.3.). Ter sido esta obra consultada por G. Sampaio? 117 no entanto de mencionar a contribuio para o estudo das plantas medicinais, de rabes notveis como Avicena (Ibn Sina), Averris (Ibn Bushd), Rhazi e Serapio, que seguiram o estilo de Dioscorides e Galeno. Avicena, no Livro II do Cnone de medicina trata de Medicinis simplicius, cujo ndice apresenta mais de 2.000 unidades. Da folha 99 a 176 trata, por ordenao alfabtica, de simples [plantas medicinais], iniciados com anisum (anis ou erva doce) a zuccaro alhusar (ar. skkar, acar) (GOUVEIA, 1983:300). Tournefort considerava Serapio como o botnico rabe mais importante: Srapion, qui vivoit dans le huitime sicle, est de tous les Arabes celui que sest le plus appliqu la connoissance des plantes et des drogues. On voit la tte de ses ouevres les noms de soixante et dix-neuf auteurs presque tous de son pays, des lumires desquels il avoit profit ; mais le corps de louvrage est presque tout tir de Dioscoride et de Galien (TOURNEFORT, 1797:55). Na Idade Mdia, os mosteiros tornaram-se os centros dos estudos botnicos e da actividade dos herbolrios. Dois importantes centros na Europa foram os mosteiros beneditinos de Monte Cassino (Itlia) e de St. Gallen (Sua). Os manuscritos medievais ocupam-se sobretudo de plantas medicinais, qui trazidas pelos monges durante as suas misses, e no de plantas das regies onde so escritos. Os textos esto tambm impregnados do contedo das obras de Dioscorides e de Plnio a traduo dos clssicos sobrepunha-se a uma observao directa e viva das plantas. Nos sculos XI-XIII, floresceu a Escola de Salerno, perto de Npoles. Nesta escola trabalharam estudiosos rabes, judeus e cristos. Constituiu-se uma excelente biblioteca de cincia. Ensinou-se. Traduziram-se os clssicos gregos. Uma das figuras proeminentes da escola foi o espanhol Arnaldo de Villanova (1235-1313), alquimista e astrlogo, que escreveu sobre plantas, medicina e agricultura (LAWRENCE, 1965:9-10). Neste perodo outros estudiosos e trabalhos importantes sobre as plantas e a Histria Natural foram Mateo Platearius (que escreveu Circa instans), Matthaeus Sylvaticus (que escreveu, com Simo Genuense, Pandectae Medicinae em que so descritas as propriedades gerais e valor curativo de simples, em doenas relacionadas com determinados rgos, e a enumerao dos simples especificados, cujas descries so dadas em ordem alfabtica, ocupando uma parte considervel do livro (GOUVEIA, 1983:300)) e Bartholomaeus Anglus ou Bartholomew Glanvill (vivo em 1397 que escreveu De proprietatibus rerum) (JOHNSON, 1636; LAWRENCE, 1965:10). Na segunda metade do sculo XV, a inveno da tipografia revolucionou totalmente a difuso das obras botnicas, que todavia eram minoritrias em relao s dedicadas religio, ao direito e poltica. Os incunbulos de botnica do sculo XV so hoje raridades valiosssimas. O primeiro a ser impresso foi o Macer Floridus de Odo de Meung (Odn de Meudon), publicado em Npoles, em 1477, por Arnoldus de Bruxella, em que so descritas as propriedades medicinais de 77 plantas. A esta edio, seguiram-se duas edies da De Materia Medica de Dioscorides em 1478, o Herbarium Apulei em 1484, o Ortus Sanitatus em 1484 e o Gart der Gesundheit em 1485 (LAWRENCE, 1965:11). Todavia, Tournefort apresenta a Idade Mdia como um perodo obscuro para a Botnica: Aprs la mort de cs mdecins Arabes, lignorance qui devint comme gnrale, fit oublier ce que la tradition avoit conserv de meilleur touchant la connoissance des plantes. On peut juger de la barbarie de ce temps-l par les uvres de [] On savisa, sur la fin du quinzime sicle, de tirer les anciens botanistes de la poussire o ils toient depuis long-temps; est lon entreprit, dans le commencement du seizime sicle, de rtablir lancienne botanique (TOURNEFORT, 1797:55-56).

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das novas terras. Merc desta influncia, produziu-se ento como que uma grande febre de saber, sobressaindo muitos naturalistas viajantes118, fundando-se os primeiros jardins botnicos, na Itlia119, e

Associada explorao botnica, criam-se, no sculo XVI, os primeiros herbrios: The more naturalists observed nature in situ, the more they realized that limited contact with specimens did not yield enough knowledge to describe and compare medicinal herbs. They needed to take nature home (FINDLEN, 2006b:447). Os primeiros herbrios constituem-se na dcada de 1540, por iniciativa de Luca Ghini. Rondelet aprendeu a tcnica de secar as plantas para herbrio, provavelmente com Ghini, durante uma viagem que realizou a Itlia, em 1549. J em 1554, Felix Platter, enquanto estudante de Medicina em Montpellier, preparava folhas de herbrio. O herbrio constituiu uma ferramenta indispensvel no avano da Botnica, dado que permitia ter sempre acessvel ao estudo, um repositrio da diversidade do mundo vegetal (FINDLEN, 2006b:447). 119 Os primeiros jardins botnicos formaram-se em Itlia - em Pdua, Pisa e Florena (1545), e Bolonha (1568), sob a direco, primeiro de Ulisse Aldrovandi (1522-1605) e depois de Cesalpino. O Jardim Botnico de Leida formou-se em 1577, sob a direco de Clsio. O Jardim Botnico de Montpellier e o Jardim Botnico de Heidelberga foram fundados em 1593 e 1597, respectivamente. No fim do sculo XVI, existiam 13 jardins botnicos em cidades europeias. Em 1673, mais seis cidades da Europa apresentavam jardins botnicos. Estes jardins, onde se cultivavam no s espcies europeias como plantas do Novo Mundo, pretendiam representar um microcosmos do mundo natural. Neles se podiam observar, ao lado das espcies medicinais descritas nos grandes tratados de Botnica, as plantas das Amricas e das ndias. Os Jardins Botnicos desempenhavam trs funes principais: 1. Repositrio de medicamentos vegetais. 2. Local de ensino, onde o professor de botnica ensinava, aos seus alunos, a natureza e virtudes das plantas. 3. Local de investigao, onde o botnico procurava conhecer melhor a planta em si, indo alm do conhecimento das suas propriedades medicinais e curativas. Os primeiros estudos de morfologia e classificao nascem nos jardins botnicos. Cesalpino escreve De plantis enquanto ensinava na Universidade de Pisa e cuidava do seu Jardim Botnico (Jardim Botnico de Pisa). Bauhino estuda no Jardim Botnico de Pdua e no Jardim Botnico de Bolonha, em 1577-1578, antes de leccionar botnica na Universidade de Basileia. O seu Pinax theatri botanici de 1623 culmina dcadas de estudo em jardins botnicos europeus. Com a criao de jardins botnicos, torna-se prtica regular, a troca de sementes e plantas, entre regies distantes e de floras diversas. Nos primeiros jardins botnicos, como o Jardim Botnico de Pdua, a disposio das plantas seguia sobretudo critrios estticos e simblicos. Estes critrios foram sendo substitudos por uma disposio das plantas por reas de distribuio geogrfica, j que o Jardim Botnico pretendia simbolizar uma miniatura do mundo vegetal conhecido. Clsio redesenhou o Jardim Botnico de Leida, criando quatro quadrantes, representando os quatro continentes, cada um subdividido em 16 seces. No Jardim Botnico de Montpellier, fundado por Pierre Richer de Belleval, as plantas estavam associadas por habitat natural, e no por utilizaes medicinais (SACHS, 1906:18; MCCLELLAN, 2003:101-102; FINDLEN, 2006a:280-283). Muito desfasados no tempo, o Jardim Botnico de Coimbra, e o Jardim Botnico da Ajuda, em Lisboa, criados no sculo XVIII, tinham os objectivos dos jardins botnicos do sculo XVI. Todavia, agora, com a influncia do Iluminismo, os Jardins Botnicos tambm deviam cultivar e estudar, alm das imprescindveis plantas medicinais, as plantas de uso alimentar e industrial, de alto valor econmico. Os Estatutos Pombalinos [da Universidade de Coimbra] dedicam um captulo prprio, [preconizando a criao] de um Jardim Botnico no qual se mostrem as plantas vivas. Pelo que, no lugar que se achar mais prprio e competente nas vizinhanas da Universidade, se estabelecer logo o dito Jardim, para que nele se cultive todo o gnero de plantas e, particularmente, aquelas das quais se conhecer ou esperar algum prstimo da Medicina e nas outras Artes, havendo o cuidado, e providncia necessria, para se ajuntarem as plantas dos meus Domnios Ultramarinos os quais tm riquezas imensas no que pertence ao Reino Vegetal. [] nele se cultivavam as plantas teis s Artes, em geral, e Medicina em particular. A existncia do Jardim Botnico criava a obrigao de o mestre universitrio de histria natural o utilizar durante a regncia do seu curso. Assim o exigiam os Estatutos: Para dar um conhecimento exacto das plantas far o mestre a demonstrao delas no Jardim Botnico todas as vezes que for necessrio, principalmente no tempo em que elas florescem e se distinguem melhor os seus diferentes caracteres, procedendo em tudo com o zelo que convm para formar discpulos solidamente instrudos nesta cincia a Botnica e capazes de a promoverem eficazmente por meio de observao (RMULO DE CARVALHO, 1987:57-59). O interesse do Real Jardim Botnico [Jardim Botnico da Ajuda] no se limitava a torn-lo em lugar aprazvel para os soberanos e meio de instruo e de educao cientfica para os infantes. Servia tambm, e em larga escala, para nele se efectuarem experincias sobre cultura de plantas das quais se pudessem vir a retirar benefcios de interesse econmico para a nao [] As espcies vegetais cultivadas no Jardim Botnico da Ajuda, que passavam de cinco mil, [] vieram, [] de toda a parte do mundo. Vandelli, ele prprio, fez vir dos mais ricos Jardins Botnicos plantas vivas e sementes e, num plano mais ambicioso, foi preparando os seus alunos matriculados na recm-criada Faculdade de Filosofia, para se dedicarem busca, colheita e classificao de plantas no territrio portugus continental, insular e ultramarino. [] Especial interesse tiveram tambm os governantes em tentar adaptar ao nosso clima continental e insular certas plantas trazidas do Ultramar, de alto valor econmico como sejam o caf, a canela,

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desenvolvendo-se a botnica descriptiva120, que desponta com os alemes Brunfels121 e [Leonardo] Fuchs122, na primeira metade do sculo, e toma, a seguir, um excepcional incremento, com a publicao de numerosas obras em todos os paizes cultos. a poca dos grandes tratadistas123.
o algodo, o cravo-da-ndia, a pimenta, o linho, o cnhamo. (RMULO DE CARVALHO, 1987:65-67). FINDLEN (2006a:280) associou a criao dos jardins botnicos ao aparecimento dos Teatros Anatmicos, no sculo XVI. 120 Este verdadeiro renascimento da Botnica era descrito por TOURNEFORT (1797:56-59) da seguinte forma: Il parut dans la suite de ce sicle-l [sculo XV] une foule de commentateurs, de critiques et de restaurateurs de lancienne botanique. Les plus fameux furent Leonicenus, Antonius Musa, Brasavolus, Otho Brunfelsius, Euricus Cordus, Ryssius, Valerius Cordus, fils dEuricius, Amatus Lusitanus, Andr Laguna, Maranta, Tragus, Cornarius, Goupil, Fuchsius, Matthiole, Dalchamp, Camerarius. Todavia, Tournefort adverte para as limitaes dos botnicos que se basearam exclusivamente nos textos dos clssicos antigos: On doit tenir compte ces auteurs de leur bonne intention ; mais ils sappliqurent peuttre avec trop dattache chercher, dans les livres des anciens, des claircissements quil nest pas possible dy trouver, cause quil ny a presque rien dans le dbris de leurs ouvrages, sur quoi lon puisse compter avec certitude. [] il falloit se consoler du peu de profit quon en pouvoit retirer, sur limpossibilit quil y avoit de pouvoir reconnotre les plantes dont les anciens nont presque laiss que les noms. Para o botnico francs, a soluo para a Botnica avanar era estudar novamente as plantas, mas agora com mais objectividade e rigor, e enquadradas num sistema de classificao moderno: On aurait pu, ce semble, faire de la botanique une science fort utile et fort agrable, si lon et joint ltude des livres anciens une exacte recherche de la nature ; et sur-tout, si lon et commenc par tablir les genres et les classes des plantes sur des principes assurs. Como interpretar objectivamente os textos clssicos? Como saber a que planta se referia por exemplo Dioscorides quando a designava por um nome vulgar? Tournefort de opinio que se devia utilizar, como guia, o nome vulgar e as propriedades medicinais, na altura reconhecidas, porque les noms que les anciens donnoint aux plantes ne soient pas si fort dguiss, que lon ne reconnt encore, dans le langage ordinaire de ceux du pays, quelques-unes de leurs syllabes. Lusage de leurs vertus nest peut-tre ps entirement perdu. Tournefort termina o raciocnio em tom positivo, enaltecendo a obra de grandes mestres botnicos dos sculos XVI-XVII: Nous devons aux veilles et aux fadigues de Dodone, de Cesalpin, de Clusius, de Lobel, de Columna, de Prosper Alpin, des deux Bauhin, et de quelques autres, ce que la botanique a de plus prcieux et de plus solide. Ils lont enrichie de ce que lEurope produit de meilleur, sans trop embarrasser si Thophraste et Dioscoride en avoient parl. 121 Otho Brunfels (1488-1534) era monge cartuxo, mas abandona a regra para se tornar pregador protestante luterano itinerante. Todavia renuncia teologia para se dedicar medicina, obtendo o ttulo de mdico em Basileia, em 1530. Os desenhos de plantas que inclui nos seus trabalhos so rigorosos e verdicos os primeiros a representarem fielmente as plantas, e de qualidade muito superior aos seus textos botnicos, que contm muitas imprecises de citaes de Dioscorides. Publicou Herbarum vivae eicones em trs volumes (1530, 1532 e 1536), com edio em Estrasburgo. As gravuras, sobre madeira, so de Hans Weiditz (muito provavelmente aluno de Albrecht Drer) e de qualidade excepcional. Pensa-se que os desenhos originais foram executados como aguarelas, a partir das quais se elaboraram as gravuras. A primeira edio da obra apresenta 135 gravuras, e as seguintes, 260. Como era tpico da poca, Brunfels interessava-se sobretudo pelo valor medicinal e pela utilidade domstica das plantas, cujas propriedades eram, s vezes, erradamente conhecidas, devido a supersties e lendas de feitiaria (JOHNSON, 1636; LAWRENCE, 1965:14-15, 1973:23; DE WITT, 1992:179-180; STRATTON, 1999; MAGNIN-GONZE, 2004:60-61). Num dos cadernos de apontamentos dedicados aos tratadistas clssicos, G. Sampaio cita a obra deste autor: Herbarum de 1530, transcrevendo, de seguida, alguns nomes latinos de plantas. 122 Leonhardt Fuchs (1501-1566) foi professor de medicina em Tubinga. Publicou, em 1542, em Basileia, De historia stirpium, que alcanou grande sucesso, sendo traduzida para diversas lnguas e editada vrias vezes. Descreve mais de 500 plantas, sendo a maioria da flora espontnea alem. As ilustraes, mais de cinco centenas, em formato grande, gravadas em madeira por Veit Rudolph Speckle, a partir de desenhos de Albert Meyer, representam plantas em plena maturao, e so de grande preciso e excelente qualidade - algum disse serem dignas de Holbein (GEPB). Esta obra contm, em quatro pginas iniciais, a primeira lista de terminologia botnica. considerada a melhor flora do sculo XVI. Foi estudada com particular ateno por botnicos posteriores como Dodonaeus e Bauhin. As obras de Brunfels e Fuchs contm as primeiras boas ilustraes botnicas (GEPB; SACHS, 1906:20-21; LAWRENCE, 1965:15-16; DE WITT, 1992:183-185; STRATTON, 1999; ALLORGE & IKOR, 2003:92-93; MAGNIN-GONZE, 2004:62; FINDLEN, 2006b:443). Num dos cadernos de apontamentos dedicados aos tratadistas clssicos, G. Sampaio escreveu o seguinte sobre a flora de Fuchs: De Historia stirpium commentarii insignes, 1 vol., 1.a edio (1542-1545). Esta obra tem muitas edies. Biblioteca de S. Lzaro (Prto), cuja edio de 1555 (Lugduni). Desta obra, G. Sampaio transcreve alguns nomes latinos de plantas. 123 Os tratadistas do sculo XVI so tambm herbolrios, dado que as suas obras tratam fundamentalmente das plantas medicinais sua caracterizao botnica, importncia mdica e usos teraputicos. Estes botnicos, alm de possurem conhecimentos aprofundados das floras regionais e da Medicina da poca, dominavam as lnguas clssicas, como o grego e

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Do sculo XVI, G. Sampaio destaca dois portugueses notveis, Amatus Lusitanicus e Garcia de Horta. De Amatus Lusitanicus124 (Joo Rodrigo Castel-Branco), G. Sampaio refere a publicao, em 1553, de Dioscorides de matria medica libros quinque enumerationes125. De Garcia de Horta126 refere a publicao em 1563 do Coloquios dos simples127 e drogas128 que adquiriu uma enorme reputao nos centros cultos, sendo vertido para latim por Clusio [Clsio] e, depois, para italiano e para francs.
o latim, e por vezes o rabe. O objectivo dos seus trabalhos era descobrir as plantas empregues pelos mdicos antigos, conhecimento que se tinha perdido no tempo. Baseavam-se nas cpias disponveis dos textos de Teofrasto, Dioscorides, Plnio e Galeno, mas as descries imprecisas destes autores antigos tornava a tarefa muito complexa. A este facto acrescia que muitas plantas descritas pelos antigos no existiam na Europa, e muitas plantas nativas da Europa no constavam dos textos antigos. Muitos gneros de plantas comemoram os nomes dos grandes tratadistas, como por exemplo Brunfelsia (de Brunfels), Fuchsia (de Fuchs), Lobelia (de Loblio), Gerardia (de Gerard) e Clusia (de Clsio) (SACHS, 1906:3-4; LAWRENCE, 1965, 1973:23). Ver nota anterior. 124 Ver captulo seguinte. 125 Matthiolo, na sua Opera omnia publicada em 1674, incluiu um trabalho sobre a obra de Amatus: Apologia adversus Amathum Lusitanum cum censura in ejusdem enarrationes. Amatus Lusitanicus e Matthiolo foram dois dos mais importantes divulgadores da obra de Dioscorides (JOHNSON, 1636). 126 GOUVEIA (1983:303-309) descreveu da seguinte forma a vida e obra de Garcia de Horta (1499-1568). Nasceu em Elvas. Terminou a sua formao acadmica nas Universidades de Salamanca e Alcal, por volta de 1523. Regressa a Portugal e exerce medicina em Castelo de Vide. Mais tarde, de 1531 a 1532, professor de Filosofia Natural na Universidade de Lisboa. Em 1534 embarca para a ndia, onde em Goa, num meio para ele excepcionalmente propcio a estes estudos, cerca de 30 anos depois, publica em 1563 os Colquios dos Simples e Drogas, resultado de trabalhos que tiveram por finalidade saber e descobrir a verdade das plantas medicinais simples, que nesta terra nascem, das quais tantos enganos e fbulas no somente os antigos mas muitos dos modernos escreveram. Nas obras de Orta h numerosssimas referncias aos clssicos, aos rabes e aos modernos [...] Nos problemas de identificao e descrio das propriedades dos simples e drogas da ndia, censura com penetrante sentido crtico, particularmente, os clssicos gregos e latinos, que acusa de exporem assuntos de que muitas vezes no tinham conhecimento directo e rigoroso; a sua crtica mais benevolente para os rabes, que considera mais conhecedores dos produtos e das suas origens; e, com algumas excepes [...] desdenha dos modernos que considera mal informados, repetindo erros de clssicos e rabes. Orta defende o rigor experimental e de observao, no criador, ou mesmo receptivo de ideias ousadas, mas paciente colector de factos e de verdades cientificamente reconhecveis, atitude que d sua obra excepcional valor, reconhecido pela quase imediata publicao de tradues adaptadas em vrias lnguas e pases da Europa [...] [Garcia dOrta] submete toda a cincia apresentada a rigorosa crtica [...] Em toda a sua obra, a primazia do trabalho cientfico evidente [...] Em cada Colquio o ponto central sempre o produto til, com a sua descrio, preparao e caractersticas. Se provm de plantas identifica-as e s vezes descreve-as, mas a maior ateno vai para a droga [...] Trata de problemas tcnicos de purificao, de branqueamento, de falsificaes, referindo a utilizao de aparelhagem e instrumentos, com a descrio de processos. Faz usualmente um bosquejo histrico da droga ou simples, e refere-se a autores que anteriormente os trataram [...] presta especial cuidado identificao das diferentes espcies [botnicas]. [Em resumo] Orta um estudioso dos produtos naturais da ndia e do Oriente, aplicando para seu conhecimento um mtodo rigorosamente cientfico. A sua formao era essencialmente mdica [...] e a sua experimentao consistia essencialmente na observao rigorosa e crtica dos produtos, das suas propriedades, e dos seus efeitos. Evita a influncia de conceitos acumulados pelos silogismos aristotlicos, e adopta uma atitude emprica donde tira todos os seus conhecimentos. esta uma norma cientfica de procedimento que se intensifica e generaliza nos sculos seguintes (XVII e XVIII), principalmente atravs de mais intenso trabalho laboratorial. Nas ideias e actuao de Orta verifica-se a inteno de pr de parte tudo que seja obscuro e no verificado, modo de actuar que representa um ntido progresso para fundamentar aquilo que mais tarde seria a cincia qumica. A desvantagem de Orta em relao a outros qumicos contemporneos est na falta de instalaes laboratoriais e do conhecimento prtico das tecnologias qumicas especializadas. Morre na ndia (GEPB; COLMEIRO, 1858:151; ROZEIRA, 1970; GOUVEIA, 1983:303-309). O Conde de Ficalho publicou na Imprensa Nacional em Lisboa, a monografia Garcia da Orta e o seu tempo (FICALHO, 1886). 127 Designam-se de simples as plantas usadas para fins medicinais e teraputicos, isoladamente, sem mistura com outras plantas ou substncias inertes (ALLORGE & IKOR, 2003:42). 128 A seco de Botnica da Faculdade de Cincias, por iniciativa de G. Sampaio, adquiriu, em 1929, um exemplar desta obra de Garcia de Horta, datada de 1891-95, pelo preo de 40$00.

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Para G. Sampaio, Conrado de Gesner129 foi quem pela primeira vez estabeleceu o conceito moderno de gnero como categoria taxonmica: o suisso Gesner, que redigiu as suas obras entre os anos de 1540 e 1565, sendo o primeiro que reconheceu um valor particular nos caracteres das flores e dos frutos para a constituio dos gneros, isto , de grupos de espcies com semelhana de organizao130. A delimitao das famlias modernas e a criao de muitos binomes especficos deve-se a um contemporneo de Gesner, o francs Loblio131 que em 1570 imprimiu os seus tratados, onde se

Konrad Gesner (Gessner) (1516-1565) foi professor em Zurique (em 1536) e em Lausana (de 1537 a 1540), cirurgio e professor de Cincias Naturais, novamente em Zurique, a partir de 1555. Funda um jardim botnico (Jardim Botnico de Zurique) e um gabinete de histria natural. considerado um exemplo tpico do homem ilustre do sculo XVI: ecltico, estudando numerosas disciplinas, das letras s cincias, e enciclopedista, escrevendo obras de compilao e sntese, como a sua monumental Bibliotheca Universalis em 20 volumes, publicados em Zurique entre 1545 e 1555, que pretendia ser a smula de todo o conhecimento poca. Publica, em 1541, em Paris, a sua Historia plantarum espcie de vade-mecum didctico e dicionrio porttil (GEPB). Foi publicada, postumamente, em fascculos, entre 1751 e 1771, a Opera botanica (Estampa III.4.). Considera a estrutura da flor e do fruto, importantes na classificao das plantas. Apesar da sua obra botnica ser reputada, a sua obra-prima Historia animalium (quatro volumes, publicados em Zurique, em 15511558; o quinto volume foi editado em 1587) - a principal obra de referncia de zoologia do sculo XVI, considerada por Cuvier como um dos fundamentos da Zoologia moderna. Todavia, Plnio e Aristteles so seus principais mestres (os seres so agrupados pelos princpios plinianos e aristotlicos) e a obra peca por excesso de fantasia no que respeita a determinados animais. Chama-se-lhe o Plnio alemo, epteto que lhe deu tambm Cuvier (GEPB). Editou as obras de outro naturalista notvel, o alemo Valrio Cordus (1515-1544). As suas ilustraes so notveis em exactido e legendagem, e revelam que Gesner, semelhana de Leonardo da Vinci, considerava que a ateno ao pormenor era indispensvel para uma compreenso cabal do organismo: in order to know a thing, it is necessary to represent and describe (PYLE, 2000). Morreu de peste com 49 anos (GEPB; SACHS, 1906:20; DE WITT, 1992:188-191; MAGNIN-GONZE, 2004:72-73; FINDLEN, 2006b:435,445). 130 Tournefort exprimia esta ideia nos seus lmens de botanique: Nous devons Gesner, la pense dtablir les genres des plantes, par rapport leurs fleurs, leurs semences et leurs fruits. Ce savant homme, qui lhistoire naturelle est si redevable, sexplique assez clairement sur ce sujet, en deux endroits de ses lettres. Les caractres des plantes sont plus sensibles, dit-il, dans les fruits, dans les semences et dans les fleurs, que dans les feuilles. Cest par leur moyen, que jai reconnu que lherbe aux poux et le pi dalouette toient de mme genre que laconit. Il a dit peu prs la mme chose dans une autre lettre adresse Adolphus Occo, fameux mdecin dAubsbourg. Il semble, dit-il, que la melisse de Constantinople approche en quelque manire du Lamium ; mais elle en diffre par la figure de la semence, qui est la partie dont je me sers principalement pour juger des rapports des plantes (TOURNEFORT, 1797:65). 131 Matthias de lObel (1538-1616) nasceu em Ryssele, na Flandres, e estudou em Montpellier. Foi mdico pessoal de Guilherme dOrange. Aps o assassinato de Guilherme dOrange, Loblio praticou medicina na Blgica, durante alguns anos. Mais tarde, parte para Inglaterra, onde se torna botanicus na corte de Jaime I. Publicou, em 1570, Stirpium adversaria nova, que pretende ser uma actualizao da De Materia Medica de Dioscorides, mas que contm ilustraes pequenas e de fraca qualidade. Em 1576, publicou Plantarum seu stirpium historia (Estampa III.4.), uma ampliao e melhoramento de Stirpium adversaria nova. A obra contm 1.450 figuras, constituindo uma verdadeira flora dos arredores de Montpellier e de Cvennes. Publicou posteriormente, em 1581, em holands, um trabalho em que compilou toda a informao contida nestas duas obras precedentes o Kruydboeck. Contm mais de 2.000 figuras de plantas, impressas por Cristophe Plantin. Em 1605, publicou mais uma edio ampliada da Stirpium adversaria nova. Publicou ainda uma edio crtica da Pharmacopea de Rondelet (JOHNSON, 1636; SACHS, 1906:31-32; LAWRENCE, 1965: 16; DE WITT, 1992:197; ALLORGE & IKOR, 2003:109-110; MAGNIN-GONZE, 2004:68-69). Loblio dividiu as plantas em sete classes, considerando a sua constituio, dimenses e qualidades medicinais. Duas destas classes - as orqudeas e as palmeiras, podem considerar-se como naturais (ADANSON, 1763:viii).

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encontram seces que correspondem a verdadeiras famlias naturais e designou j vrias plantas por binomes que ainda hoje se manteem132. Para G. Sampaio outro notvel botnico do sculo XVI foi o francs [Carlos] Clsio133, que visitou Portugal e a Espanha, publicando entre 1576 e 1601134 os seus magnficos livros, em que revela uma perfeio notvel nas descries135.
G. Sampaio estaria aqui a referir-se a Plantarum seu stirpium historia, publicado em 1576. Existe um exemplar desta obra na Biblioteca do Departamento de Botnica (FCUP) (Estampa III.4.). Toda a monografia se encontra em latim. A descrio de cada gnero comea por uma transcrio de Dioscorides. Seguem-se as descries das espcies. Algumas designadas por dois nomes, outras por vrios. Muitas das espcies esto ilustradas, por desenhos de boa qualidade. No contm anotaes, mas a obra foi consultada por G. Sampaio. Num dos cadernos de apontamentos sobre os tratadistas clssicos, G. Sampaio escreveu em relao a esta obra: Plantarum seu Stirpium historia, Antuerpia, 1576. Nota - A Stirpium adversa nova de 1570 (Londres) (de colaborao com Pena (12.a edio de 1576, Antuerpia)). Observationes sive stirpium historia de 1570. Icones plantarum 1580. Segue-se uma longa lista de nomes latinos de plantas. 133 Charles de lcluse ou de Lcluse (Clusius) (1526-1609) , como Gesner, o erudito tpico do sculo XVI: poliglota, historiador, gegrafo e naturalista. Estuda em Lovaina, Marburg e Wittenberg. Viaja pela Alemanha e pela Frana, e de 1551 a 1554, estuda medicina em Montpellier, com o notvel naturalista Guilherme de Rondelet (1507-1566). Foi nesta ltima cidade, sob a direco de Rondelet, que Clsio principiou a herborizar. Em 1554, voltou aos Pases Baixos, onde iniciou o convvio com Dodoens. Clsio encarrega-se, ento, da publicao de uma traduo para francs do Crudeboeck de Dodoens, que intitula Histoire des plantes e que publica em 1557. Entre 1560 e 1565, trabalha em Paris e Inglaterra. Durante ano e meio viaja pela Pennsula Ibrica. Da expedio resulta a publicao, em 1576, de Rariorum aliquot stirpium per Hispanium e tambm o contacto inicial com a obra de Garcia de Horta. Verificando ter o livro de Garcia de Horta grande importncia, traduziu-o para latim e resumiu-o, resultando na edio da Aromatum et simplicium aliquot medicamentorum apud indos nascentium historia. Deve-se efectivamente a Clsio, a divulgao inicial das obras de Garcia de Horta. Tambm traduziu para latim e resumiu um livro valioso de Cristvo da Costa, Tractado de las drogas, y medicinas de las Indias Orientales, resultando na publicao, em 1582, do Aromatum et medicamentorum in orientali India nascentium liber. Em 1573, director do Jardim Botnico de Maximiliano II, em Viena (Jardim Botnico de Viena). Finalmente, em 1593, professor de botnica na Universidade de Leida, onde cria um Jardim das Plantas (Jardim Botnico de Leida). Clsio dividiu as plantas em sete classes, considerando as suas dimenses, qualidades medicinais e a sua constituio. As plantas criptogmicas mereceram-lhe especial ateno. A primeira parte da Opera omnia (1601) contm a descrio de mais de 100 espcies de fungos. Clsio considerado, por isso, um dos fundadores da micologia (GEPB; JOHNSON, 1636; LEMOS, 1899:217; SACHS, 1906:30; WALTER & ALVES, 1964:v-vi; LAWRENCE, 1965:16; DE WITT, 1992:194-197; ALLORGE & IKOR, 2003:110-113; MAGNIN-GONZE, 2004:67-68; FINDLEN, 2006b:445). As suas descries das plantas so superiores s de Dodaneo e Loblio (ADANSON, 1763:ix). Sens aigu de lobservation, connaissance parfaite de son sujet, rigueur scientifique du propos ; ses admirateurs ne se sont pas tromps en surnommant de lcluse prince des descripteurs (ALLORGE & IKOR, 2003:113). Da sua vasta obra de vulgarizao faz parte o resumo latino dos Colquios e essa a razo de no terem ficado esquecidos o livro e o autor (GEPB). A Junta de Investigaes do Ultramar editou, em 1964, uma traduo portuguesa da Aromatorum et simplicium de Clsio. Parte da bibliografia de Clsio est disponvel em http://bibdigital.bot.uc.pt/. 134 G. Sampaio referia-se a vrias obras deste botnico que, j em 1911, existiam na Biblioteca de Botnica da Faculdade de Cincias do Porto. Num exemplar de Rariorum plantarum historia, publicado em 1601, G. Sampaio escreveu a seguinte anotao manuscrita (Estampa III.5.): Edio original, de 1601. G. S.. Num dos seus cadernos de apontamentos sobre os tratadistas clssicos escreveu acerca desta obra: Rariorum plantarum historiae, Anvers, 1601 (edio original). Nota. Tem mais este autor: Exoticorum liberi, Anvers, 1605. Rariorum aliquot stirpium per Hispanias observ., Anvers, 1576. Toda a monografia se encontra em latim. A gravura da folha de rosto tem representadas duas personagens, identificadas - Teofrasto e Dioscorides, indicando portanto quais eram, para Clsio, os fundadores da Botnica. As plantas esto descritas em seis captulos (livros). Muitas so designadas por dois nomes. Outras por vrios nomes. Existem diversas anotaes de G. Sampaio. Muitas referncias Lusitnia, como nomes vulgares em portugus, esto sublinhadas a lpis de cor. Alguns gneros esto extensivamente anotados por G. Sampaio, como: Cistus, Rhamnus e Narcissus. Existe um captulo parte para os fungos: Fungorum in pannoniis observatorum brevis historia, em que esto descritos 26 gneros. Neste mesmo caderno de apontamentos, G. Sampaio escreveu sobre outras obras deste autor: Exoticorum Liberi Decem, Anvers, 1605 e Rariorum aliquot stirpium per Hispanias observationes Historia, Antuerpia, 1576, das quais transcreveu diversos nomes latinos de plantas.
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Ainda deste sculo, considerou botnicos notveis, como: o holands Dodaneo136, que em 1583 deu luz a principal das suas obras, com as diagnoses de muitas espcies novas137 e o italiano Cesalpino138, que o fundador do primeiro sistema artificial de classificao, exposto em 1583 no seu De plantis libri XVI, sistema que divide os vegetais de que trata em 15 classes apoiadas sobre
Clsio foi efectivamente um observador excepcional. Descreveu cerca de 600 novas plantas com tal preciso e rigor que foi possvel identific-las com segurana (DE WITT, 1992:194-197). 136 Rembert Dodoens (Dodonaeus) (1517-1585) estudou medicina em Lovaina. Em 1548, medico-chefe em Malines (Mechelen), e posteriormente em Viena, tornando-se mdico pessoal do imperador Maximiliano II e seguidamente do imperador Rudolfo II. Em Viena, encontra Clsio, ento director do Jardim Botnico do Imperador (Jardim Botnico de Viena). Em 1577, instala-se em Colnia, posteriormente em Mechelen, e finalmente em Anturpia. Em 1582, professor de medicina em Leida, cidade onde morre. Em 1554, publica, em flamengo, uma flora - Crudeboeck, em que descreve mais de 1.000 espcies de plantas, acompanhadas de cerca de 700 estampas de gravuras sobre madeira (reproduzidas da obra de Fuchs). A obra foi re-editada muitas vezes em flamengo, ingls e latim (a 13.a edio em flamengo, foi publicada em 1644). Em 1583, publica Stirpium historiae pemptades sex, onde descreve mais de 2.000 plantas, acompanhadas de mais de 1.300 ilustraes (Estampa III.6.). Dodaneo descreve as plantas com preciso e rigor (LAWRENCE, 1965:16; DE WITT, 1992:193-194; MAGNIN-GONZE, 2004:70). Dodaneo classifica as plantas em 29 classes, de acordo com as suas qualidades e propriedades, a sua dimenso e a sua constituio (ADANSON, 1763:viii; DAVOINE, 1850). Clsio traduziu para francs algumas obras de Dodaneo. Stirpium historiae pemptades sex de Dodaneo influenciou directamente a obra do botnico ingls John Grard - The herball or general historie of plantes publicada em 1633 e 1636 (JOHNSON, 1636). DAVOINE (1850) publicou uma lista de equivalncia entre os nomes utilizados por Dodaneo e os nomes lineanos. 137 G. Sampaio refere-se obra Stirpium historiae pemptades sex. Sive liberi XXX que, j em 1911, existia na Biblioteca de Botnica da Faculdade de Cincias do Porto (Estampa III.6.). Neste exemplar, G. Sampaio escreveu a seguinte anotao: Esta a principal obra de Dodoens, que nella refundiu todas as suas obras anteriores. esta a edio original. Gonalo Sampaio (1909). Num dos cadernos de apontamentos sobre os tratadistas clssicos, escreveu a propsito desta obra: Stirpium Historiae Pemtades sex sive libri XXX, Anvers, 1583. Nota esta a principal obra do auctor, que nella refundiu as suas obras anteriores. Edio original. De seguida transcreveu, desta obra, muitos nomes latinos de plantas. Toda a monografia se encontra escrita em latim. A obra est organizada em seis partes (pemptades), cada uma tem vrios livros, que por sua vez cada um contm vrios captulos. Em cada captulo, as plantas esto ordenadas por gneros. Cada gnero descrito pormenorizadamente. As diferentes espcies de cada gnero, designadas pela nomenclatura polinomial, esto tambm descritas com pormenor. A maioria das espcies est acompanhada de uma ilustrao. No final existem vrios ndices, contendo um destes ndices todas as plantas citadas no trabalho. 138 Andrea Cesalpino (1519-1603), mdico e botnico italiano, natural de Arezzo, foi professor na Universidade de Pisa e director do seu Jardim Botnico (Jardim Botnico de Pisa). Depois passa para Roma, onde mdico pessoal do Papa Clemente VIII e professor do Colgio de Cincias. Viveu em Roma at sua morte. Atribui-se-lhe a descoberta da circulao pulmonar do sangue. Estabelece semelhanas entre a estrutura e a circulao, nos animais e nas plantas. Para Cesalpino, o sangue anlogo da seiva. As plantas extraem a seiva do solo, que contem todos os nutrientes de que a planta necessita para viver. Onde se encontra o corao das plantas? Para Cesalpino, as plantas tm um pequeno corao o corculum, situado na plntula entre os cotildones, e nas plantas adultas, entre a raiz e o caule. A cabea das plantas a raiz, porque uma planta absorve os seus nutrientes atravs deste rgo. A medula das dicotiledneas homloga da coluna vertebral dos vertebrados. considerado um botnico aristotlico, cujas concluses se fundamentavam mais no raciocnio do que na observao (GEPB; SACHS, 1906; LAWRENCE, 1973:23; DE WITT, 1992:200-201, 350-353; DEAR, 2006:117). Filsofo muito discutido, e acusado de ateu nos tribunais da Inquisio, nega a alma sensitiva dos animais, mesmo dos mais perfeitos, e situa a alma humana no corao, como centro das sensaes (GEPB). A sua obra principal, De plantis libri xvi, publicada em 1583, constituda por 16 livros, onde so descritas 1.520 plantas. O seu conceito de gnero, como categoria taxonmica, aproxima-se da acepo moderna, tendo portanto exercido influncia em botnicos posteriores como Tournefort e Lineu (PORTER, 1959:11). Tournefort explicitava-o da seguinte forma: Cet auteur regardoit les fruits et les semences, comme les parties des plus essentielles des genres. On a eu raison, dit-il, dtablir plusieurs genres de plantes sur la production et sur la structure des fruits, puisque la nature nemploie pour la production daucune autre partie des plantes, un aussi grand nombre de diffrentes pices (TOURNEFORT, 1797:66-67). Cesalpino distribuiu as plantas por 15 classes, de acordo com as caractersticas da raiz, da flor, do fruto e da semente (ADANSON, 1763:ix-x; MAGNIN-GONZE, 2004:76-77). Deve-se-lhe a descoberta do sexo nos rgos das flores, sendo considerado o precursor de Lineu (GEPB). O seu herbrio, preparado em 1563, e constitudo por 768 espcimes, identificados com os respectivos nomes latinos e italianos, encontra-se hoje no Museu de Histria Natural de Florena (PORTER, 1959:11).
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caracteres dos frutos e subdivididas em 47 ordens139. Foi este ensigne botnico quem, pela primeira vez, notou e aproveitou como elemento taxinmico o nmero de cotildones do crculo seminal140. Na viragem do sculo XVI para o XVII, G. Sampaio salienta duas figuras notveis, os irmos Bauhino, Gaspar e Joo: em 1596, o suisso Gaspar Bauhino141 faz aparecer o seu clebre Pinax, que um tratado enorme sobre a sinonmia de seis mil plantas conhecidas no seu tempo142 [Estampa

Admitindo seguir as doutrinas de Aristteles a forma de um rgo provm da sua funo, Cesalpino considerava que, no reino vegetal, a estrutura do fruto reflecte a semelhana e proximidade entre as espcies. Para Cesalpino, o fruto desempenha uma funo primordial dado que o garante da perenidade. Diversas das categorias taxonmicas propostas por Cesalpino ainda hoje so aceites (DE WITT, 1992:200-201). 140 G. Sampaio no destaca, neste texto, dois botnicos notveis do sculo XVI: Pier Andrea Matthioli (Mathiolo, Matthiolo, Matthiolus) (1501-1577) e Fabius Columna (1567-1650). Matthioli foi mdico do Arquiduque Ferdinando I e do Imperador Maximiliano II de ustria. Foi um estudioso das obras clssicas de Plnio e de Dioscorides. Os seus Comentarii in sex libros Pendacii Dioscoridis so muito mais do que uma traduo da obra do mestre grego, dado que Matthioli acrescenta as suas prprias observaes botnicas e mdicas s plantas descritas por Dioscorides. Matthioli foi o primeiro estudioso srio do Cdex Aniciae Julianae, da obra do mestre grego. Conheceu pessoalmente Clsio e provavelmente Dodoens (SACHS, 1906:29; LAWRENCE, 1965:16-17). 141 Kaspar (Gaspard) Bauhin (1560-1624) forma-se em medicina em Basileia, em 1581, onde se torna professor de anatomia e botnica. Publica Phytopinax em 1596, Prodromus pinax theatri botanici em 1620, e Pinax theatri botanici em 1623. Estas obras so compilaes da informao conhecida na poca sobre as plantas. Para cada espcie, Bauhin apresenta, de forma exaustiva, os sinnimos conhecidos. Todas as partes da planta so descritas de forma breve, mas concisa: the description of a single species is here in fact developed into an art and becomes a diagnosis (SACHS, 1906:33). Algumas espcies so designadas por dois nomes, sendo pois um precursor da nomenclatura binomial que se estabelecer em definitivo mais de um sculo depois. Todavia, a maioria designada pela nomenclatura polinomial. No Prodromus descreve ca. de 600 espcies novas. O Pinax, publicado em 1623, sintetiza toda a obra de Bauhin. So descritas ca. de 6.000 plantas. JOHNSON (1636) descreveu-o como o resultado de 40 anos de trabalho. Tournefort caracteriza-o da seguinte forma: le Pinax de Gaspard Bauhin, qui est un excellent livre, o ce savant homme a ramass tous les diffrens noms que les auteurs qui lont prced ont donn aux espces de plantes (TOURNEFORT, 1797). Em Pinax, o conceito de espcie e de gnero aproximam-se da concepo moderna. Um gnero um conjunto de espcies bem diferentes das espcies pertencentes a outro gnero. O gnero , para Bauhin, uma constelao morfolgica, obtida a partir da sntese de um conjunto dos caracteres comuns a um grupo de espcies, com afinidades evidentes. A espcie , para Bauhin, um conjunto de plantas morfologicamente muito prximas. As obras de Gaspar Bauhino foram consideradas como a bblia dos botnicos at s obras de Lineu (GEPB; JOHNSON, 1636; SACHS, 1906:33-36; DE WITT, 1994:28-30; ALLORGE & IKOR, 2003:110; MAGNIN-GONZE, 2004:81-83). G. Bauhino dividiu as plantas em 12 classes, considerando a sua constituio e composio, e as suas qualidades e propriedades (ADANSON, 1763:xiii-xiv). O Prodromus pinax theatri botanici est disponvel em http://bibdigital.bot.uc.pt/ 142 Existia, em 1911, na Biblioteca de Botnica da Faculdade de Cincias do Porto um exemplar do Theatri botanici deste autor, datado de 1671 (cuja 1.a edio de 1623) Este exemplar encontra-se hoje no Departamento de Botnica (FCUP) (Estampa III.7.). Muitos nomes de autores, de gneros e de espcies esto sublinhados a lpis vermelho. So provavelmente marcaes de G. Sampaio. Num dos seus cadernos de apontamentos sobre os tratadistas clssicos escreveu sobre esta obra: Pinax theatri botanici, edio 2.a (1671). A edio 1.a de 1623. Desta obra so transcritos dois binomes especficos. Trata-se de uma obra monumental, que compila muita da informao conhecida poca sobre as plantas. Todos os grandes tratadistas do passado so citados: Amatus, Anguillara, Aristoteles, Avicenna, Caesalpinus, Clusius, Columna, Dioscorides, Dodonaeus, Galenus, Hippocrates, Lobelius, Matthiolus, Oviedus, Plinius, Svvertius, Virgilius. As plantas esto organizadas por grupos. Em cada um, so descritos os gneros. A maioria dos gneros designada por uma nica palavra, cuja etimologia apresentada. Em cada gnero so apresentadas as espcies. As espcies so designadas por duas ou mais palavras. Para cada espcie, estabelece correspondncia com as plantas descritas pelos tratadistas clssicos. No final, existe um ndice com os nomes dos gneros e das espcies. Toda a obra est escrita em latim.

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III.7.]. Seu irmo mais velho, Joo Bauhino143, redigiu uma Historia universalis plantarum, que contem tudo quanto em botnica se havia escrito, mas que s veio a imprimir-se em 1660. No sculo XVII, a inveno do microscpio permitia a descoberta da clula e dos tecidos vegetais144. G. Sampaio destaca o ingls Grew145 e o italiano [Marcelo] Malpighi146 [que] fundam a histologia, em trabalhos publicados entre 1673 e 1675, representando as composies de tecidos vegetais, com desenhos de clulas, de vasos e de traqueias, ao mesmo tempo que estudam a anatomia e a germinao das sementes147.

143 Joo Bauhino (1541-1613), mdico franco-suio, importante pela sua obra pstuma, excelentemente ilustrada, publicada em 1650 e 1651 - Historia plantarum universalis, em trs volumes, onde descreve mais de 5.000 plantas e ilustra mais de 3.000, classificadas em 40 classes de acordo com a sua constituio e composio, a sua dimenso e a durao do seu ciclo de vida, e as suas qualidades e propriedades (ADANSON, 1763:xv-xvi,11; LAWRENCE, 1973:24; ALLORGE & IKOR, 2003:110; MAGNIN-GONZE, 2004:81). 144 A descoberta do microscpio permitia ver o mais pequeno, mas tambm obrigava a compreender melhor, com mais rigor e exactido, o que se observava. SACHS (1906:220-222) sintetiza as implicaes da descoberta do novo equipamento ptico na investigao do mundo vivo da seguinte forma: The invention of the microscope made small things seem large, and revealed to sight what was too small to be seen without it; but the use of magnifying glasses brought an advantage with it of a different kind it taught those who used them to see scientifically and exactly. In arming the eye with these increased power the attention was concentrated on definite points in the object; what was seen was to some extent indistinct, and always only a small part of the whole object; perception by means of the optic nerve had to be accompanied by conscious and intense reflection, in order to make the object, which is observed in part only with the magnifying glass, clear to the mental eye in all the relations of the parts to one another and to the whole. Thus the eye armed with the microscope became itself a scientific instrument, which no longer hurried lightly over the object, but was subjected to severe discipline by the mind of the observer and kept to methodical work. [] This enhancement of the mental capacity of the observer by the microscope is however the result of long practice [] In examining the structure of plants, as in every science, it is necessary to work with the mind upon the object seen with the eye of sense, to separate the important from the unimportant, to discover the logical connection between the several perceptions, and to have a special aim in the examination. 145 Nehemiah Grew (1628/1641-1711) estudou em Cambridge, especializou-se em medicina em Leida, e instalou-se como mdico em Londres. Foi secretrio da Royal Society em 1677. Os seus desenhos de histologia so considerados obrasprimas inultrapassveis de rigor e esttica. A sua The anatomy of vegetables publicada em 1672, The comparative anatomy of trunks publicada em 1674/1675, e The anatomy of plants editada em 1682, marcam uma etapa histrica na histologia vegetal (SACHS, 1906:239-240; DE WITT, 1992:289-292; MAGNIN-GONZE, 2004:97-98). 146 Marcello Malpighi (1628-1694) foi professor em Bolonha, Pisa e Messina. Em 1691 retira-se para Roma, onde mdico pessoal do Papa Inocncio XII. No satisfeito com os microscpios italianos da poca, Malpighi construa os seus prprios aparelhos. Em 1669, foi eleito Fellow da Royal Society de Londres, instituio que publicar, postumamente, grande parte da sua obra. Estudou vrios tecidos do homem, tendo descoberto a camada profunda da epiderme o corpo mucoso de Malpighi. Outras e numerosas partes anatmicas do corpo humano tm o seu nome, pelos estudos que delas fez: cpsula de Malpighi; corpsculos de Malpighi; glomrulos de Malpighi; pirmides de Malpighi. Descobre os capilares sanguneos dos pulmes. Constatou que existe uma correspondncia fundamental entre a estrutura anatmica dos animais e das plantas. Demonstra a importncia dos cotildones na germinao, e das folhas na fisiologia das plantas (GEPB; SACHS, 1906:235239; DE WITT, 1992:285-289; PICCOLINO, 1999; GRIBBIN, 2002:142-144; MAGNIN-GONZE, 2004:97-98). Foi um experimentador infatigvel [] Em oposio a uma viso dogmtica e retrgrada da Medicina, Malpighi elogiava as descobertas cientficas da sua poca, em particular, o carcter experimental da cincia moderna, que no era baseada exclusivamente em raciocnios a priori como faziam os adeptos de Galeno [] O conhecimento baseia-se na observao (PICCOLINO, 1999). 147 Malpighi, Grew e van Leeuwenhoek so considerados os fundadores da Histologia (DE WITT, 1992:286). As suas obras devem, no entanto, ser entendidas no contexto da poca, e no como se tivessem sido escritas aps a formulao da teoria celular. Na anatomia vegetal moderna, a interpretao dos tecidos vegetais comea e baseia-se na unidade bsica - a clula. Na anatomia de Malpighi e Grew, parte-se do macroscpico para o tecido, focalizando a ateno, no na sua constituio, mas nas inter-relaes entre os diferentes tecidos dos rgos das plantas: With Grew as with Malpighi the main point of enquiry is not the individual cell, but the histology (SACHS, 1906:232-233,240).

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Em 1661, Gabriel Grisley148 publica em Lisboa o primeiro inventrio da flra portuguesa, sob o ttulo Viridarium lusitanicum149. No final do sculo XVII, o ingls Morison150 [publica] em 1680 uma histria das plantas profusamente ilustrada151, [afirmando-se] como o mais antigo mongrafo pelo seu trabalho especial sobre as apiceas, Plantarum umbelliferarum distributio nova, aparecido em 1672152. Para G. Sampaio, J. Ray153 era o fundador da classificao natural das plantas: o seu Methodus plantarum, de 1682, em que se encontram pela primeira vez grupos de vegetais definidos

148 O mdico alemo Gabriel Grisley [] veio para Portugal no tempo de D. Joo IV e [] entre ns exerceu a Medicina com influncia notria no nosso meio por intermdio de uma sua obra, publicada em lngua portuguesa, Desengano para a Medicina, que teve diversas edies, entre ns, nos sculos XVII, XVIII e at XIX! (RMULO DE CARVALHO, 1987:13). 149 Esta obra de Grisley foi editada, em 1789, pela Academia das Cincias de Lisboa. A proposta, feita por Vandelli, consta da acta da sesso de 16 de Novembro de 1788 daquela Academia atendendo a que este livro foi at agora o nico de Botnica que sobre Portugal houvesse. A reedio levada a efeito pela Academia no foi motivada pela excelncia da obra, cujo texto, no dizer da mesma acta, era originalmente escuro e confuso, mas porque Vandelli desejou aplicar s plantas referenciadas por Grisley, talvez como entretenimento e exerccio, as regras da classificao estabelecidas entretanto por Lineu (RMULO DE CARVALHO, 1987:13). J. Ray publica, em 1694, a Stirpium europaearum extra Britannias nascentium sylloge. Nas pginas 370 a 392 desta monografia, Ray incluu uma listagem das plantas descritas por Grisley: Viridarium lusitanicum Grisleii resectis refectis duntaxat Indicis, Americanis, Hispanicus nostris, inque Europa passim sponte nascentibus. As espcies esto designadas pela nomenclatura polinomial, por ordem alfabtica. Algumas tm o nome vulgar em portugus. Algumas espcies so seguidas de uma breve descrio em latim. Existem algumas anotaes manuscritas de G. Sampaio, nas margens de algumas folhas deste trabalho. Ter sido esta obra, uma das fontes que G. Sampaio utilizou para estudar os trabalhos de Grisley sobre a flora portuguesa? 150 Robert Morison (1620-1683), escocs, foi mdico de Carlos II de Inglaterra. Com Cromwell, refugia-se em Paris, onde intendente do Jardim do Rei. Regressa a Inglaterra em 1660. Em 1669 professor na Universidade de Oxford (SACHS, 1906; DE WITT, 1994:40-41; MAGNIN-GONZE, 2004:116; MLLER-WILLE & REEDS, 2007). 151 G. Sampaio estaria provavelmente a referir-se obra Plantarum historia universalis oxoniensis que, j em 1911, existia na Biblioteca de Botnica da Faculdade de Cincias do Porto (onde hoje permanece no Departamento de Botnica). No incio, a obra apresenta um prefcio do autor que assina Robertus Morison, medicus & professor regius botanicus, nec non Universitatis Oxon. P. B. ejusdemque Horti Praefectus primus. Toda a obra est escrita em latim. As plantas esto distribudas por 18 classes, baseadas no tipo de fruto. Em cada seco, so apresentados os gneros. Cada gnero caracterizado, com referncias aos clssicos - Plnio e Dioscorides. Para cada gnero, existe um quadro resumo, que quase uma chave dicotmica, separando as espcies, por caractersticas principais. Em cada gnero, so descritas as espcies. Cada espcie designada pela nomenclatura polinomial. Muitas espcies so ilustradas. As ilustras esto agrupadas por gneros. Os tratadistas clssicos so citados, com especial nfase para Bauhino. 152 Esta obra ainda hoje considerada como uma referncia no estudo desta famlia. Utiliza a forma e a estrutura dos frutos como um carcter primrio da classificao nesta famlia (SACHS, 1906:67; DE WITT, 1994:41; MAGNIN-GONZE, 2004:116). 153 John Ray (1627-1705) foi filsofo, telogo e naturalista. Entrou para a Universidade de Cambridge, em 1644, terminando o curso de teologia, em 1648. Ensina grego, matemtica e humanidades, no Trinity College desta Universidade, e nos tempos livres, estuda botnica. Viaja pela Gr-Bretanha, na companhia de Francis Willughby, estudando a flora e fauna regionais. Publica, em 1660, uma flora de Cambridge - Catalogus stirpium circa Cantabrigiam nascentium. A qualidade desta obra conduz a Botnica descritiva a um nvel superior. Para cada espcie nova, apresenta uma diagnose, em que refere o habitat, as caractersticas morfolgicas, a poca de florao, a durao do ciclo de vida, e as propriedades medicinais da planta. Herboriza intensamente em numerosas regies de Inglaterra. Recolhe plantas, que cultiva em Cambridge, num jardim botnico e experimental. De 1663 a 1666, viaja e herboriza pela Europa - Pases Baixos, Alemanha, ustria, Itlia, Malta, Sua e Frana, acumulando material para a elaborao de uma flora europeia. Em 1670, publica a primeira flora britnica o Catalogus plantarum Angliae et insularum adjacentium. Em 1667, membro da Royal Society de Londres (PORTER, 1959:11; LAWRENCE, 1973:24-25; GRIBBIN, 2002:203-213; FORD, 2003:565; MAGNIN-GONZE, 2004:99-102: MLLER-WILLE & REEDS, 2007). Tournefort descrevia assim a contribuio de Ray para a definio do conceito de gnero: lhistoire des plantes quil nous a donn, est une bibliothque botanique, dans laquelle on trouve non-seulement tout ce que les auteurs ont dit de meilleur sur chaque plante, mais encore les caractres des genres y

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no por um caracter tirado de um rgo especial mas sim por um conjunto de caracteres deduzidos de vrios rgos. Deve-se a este botnico ingls a separao das plantas com flor, das sem flor, e das monocotiledneas, das dicotiledneas. A sua Historia plantarum generalis, publicada em 1686 e 1704, abrange 18.655 formas de plantas e constitui o mais completo inventrio de espcies vegetais realizado at essa poca154 G. Sampaio considerava Rivnio155 como o continuador de Gesner na definio e estabelecimento do moderno conceito de gnero156: Rivnio, que no seu Ordo plantarum quoe sunt flore irregulari, tetrapetalo, publicado em 1690157, estabeleceu gneros bem apoiados nos caracteres da flor e do fruto. Para G. Sampaio, tambm se devia a este botnico alemo, o fim da tradicional diviso das plantas em lenhosas e herbceas: no seu Introductio generalis [universalis] in rem herbarium, aparecido em 1690, acaba com a tradicional distino das plantas em rvores e ervas, sustentada ainda

sont designs dune manire assez commode (TOURNEFORT, 1797:68). Nas suas obras apresenta-se como Joannis Raii, Joannes Raius ou Joannis Ray. 154 Esta obra, publicada em trs volumes (1686, 1688, 1704), um verdadeiro embrio de uma primeira flora mundial. Ray faz a transio entre os antigos sistemas de classificao das plantas, baseados no porte, e os modernos, baseados em caractersticas morfo-anatmicas. Mantm a diviso primria das plantas em herbceas e rvores, mas cada um destes grupos sub-dividido em monocotiledneas e dicotiledneas (as herbceas so antes subdivididas em plantas sem flor criptogmicas, e com flor). Ray tambm distingue as gimnosprmicas das angiosprmicas. Esta forma de classificao das plantas representa um avano notvel (SACHS, 1906:69-74; GRAY, 1907:333; PORTER, 1959:11-12; LAWRENCE, 1973:2425; GRIBBIN, 2002:211; FORD, 2003:565; MAGNIN-GONZE, 2004:99-102). No seu conjunto, as plantas so distribudas em 33 classes considerando diversas caractersticas: dimenses e porte; durao do ciclo de vida; habitat; caracteres da flor, fruto e semente (ADANSON, 1763:xxix). A Historia plantarum generalis extravasa a classificao, abordando outros temas da Botnica como a anatomia, a morfologia, a fisiologia, os mtodos de propagao, as propriedades medicinais, as relaes entre as plantas e o habitat, os mtodos de recolha, secagem e preservao das plantas, a qumica, e as doenas das plantas. Il nest pas donc exagr de dire que Ray apporte la botanique empirique, alors naissante, ce que Thophraste a donn la botanique ancienne, et quil unit le tout dans une science cohrente (MAGNIN-GONZE, 2004:102). Num dos seus cadernos de apontamentos sobre os tratadistas clssicos G. Sampaio escreveu sobre esta obra: Historia plantarum (2.a edic. 1693) 3 vol., grande formato Londini, transcrevendo de seguida um grande nmero de nomes genricos e especficos. Diversas importantes obras de Ray existiam j em 1911, na Biblioteca de Botnica da Faculdade de Cincias do Porto. 155 A. Q. Bachmann (1652-1723/1725) que se faz chamar de Rivinus (Augustus Quirinus), mdico, botnico e astrnomo alemo, foi professor em Lpsia. Distinguiu-se sobretudo como mdico e botnico. Em vez de agrupar as plantas pela sua semelhana aparente, apresentou um sistema de classificao baseado na flor o nmero e a regularidade das ptalas. Diversas das suas ideias foram aceites por Lineu (GEPB; GRAY, 1907:332-333; DE WITT, 1994:43; MAGNIN-GONZE, 2004:119; MLLER-WILLE & REEDS, 2007). 156 De todas as categorias taxonmicas, o gnero talvez a que tem razes mais antigas, qui por ser, na realidade, the lowest most clearly definable groups [of species] which the botanist recognizes and accounts worthy to bear the generic name (GRAY, 1907:323). Desde h muito tempo que se utiliza a designao de, por exemplo, pinheiros, carvalhos, trevos, violetas, para referir plantas que hoje se consideram espcies de um mesmo gnero. Apesar de ter sido Tournefort quem estabeleceu, em definitivo, a concepo moderna de gnero, outros botnicos que o precederam, como Brunfels, j tinham delineado este conceito. Lineu ir adoptar os gneros de Tournefort e de Plumier, contemporneo de Tournefort, que em 1703 denomina mais de 900 plantas americanas, colocando-as em determinados gneros (GRAY, 1907:333; PORTER, 1959:67-68; LAWRENCE, 1973:50-51). 157 Nesta obra, Rivnio dividiu as plantas em 18 classes, de acordo com determinadas caractersticas da flor. Estas foram subdivididas em 91 seces, baseadas em caractersticas da flor e do fruto (ADANSON, 1763:xix-xx; SACHS, 1906:75-76).

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por Ray e seguida por Tournefort, estabelecendo um novo sistema de classificao baseado sobre a forma da corola158. Para G. Sampaio, deve-se a [Jos Pitton de] Tournefort159 a elaborao definitiva do conceito moderno de gnero160, como categoria taxonmica: Nas suas obras publicadas em 1694, Les lmens
Nesta obra, Rivinus tambm usa, para designar muitas plantas, a nomenclatura binria, sendo assim um dos precursores da revoluo lineana (SACHS, 1906:74-75; DE WITT, 1994:43). Esta obra existia j em 1911, na Biblioteca de Botnica da Faculdade de Cincias do Porto. 159 Joseph Pitton de Tournefort (1656-1708), o pai da botnica francesa, nasceu em Aix-en-Provence. Estudou num colgio de jesutas, onde aprendeu as lnguas antigas. Em 1679, parte para Montpellier, onde estuda medicina. Herboriza intensamente no sul de Frana, nos Alpes e nos Pirinus. aluno de Pierre Magnol, com o qual estabelece relaes de amizade para o resto da vida. Em 1683, parte para Paris, onde exerce as funes de professor de botnica no Jardim do Rei. Viaja ento na Pennsula Ibrica, e alguns anos depois, na companhia de Andreas Gundelscheimer (mdico e naturalista) e de Claude Aubriet (ervanrio e desenhador), na Grcia, sia e frica, mas a peste que grassava no Egipto f-lo regressar a Frana, em 1702. Em 1701, membro da Academia das Cincias de Paris. Publica, em 1694, lmens de botanique, ilustrado com 451 estampas de Claude Aubriet, e descrevendo 698 gneros e 10.146 espcies. Esta obra seria ampliada e traduzida para latim em Instituciones rei herbariae de 1700 (TOURNEFORT, 1797; SACHS, 1906:76-79; PORTER, 1959:12; LAWRENCE, 1973:24; DE WITT, 1994:87; ALLORGE & IKOR, 2003:157-162; FORD, 2003:565; MAGNIN-GONZE, 2004:117). Em 1702, foi nomeado professor de medicina do Colgio de Frana (GEPB). Para M. Adanson, Tournefort a introduit dans la Botanike lordre, la puret & la prcision, en donnant les prncipes les plus sages & les plus certains pour ltablissement des genres & des espces, & en fondant sur cs prncipes la mtode la plus facile & la plus exacte que ait paru jusqu ce jour. semelhana do sistema de classificao de Rivnio, Tournefort organizou as plantas em 22 classes, de acordo com a durao do seu ciclo de vida e com diversas caractersticas da flor, em particular da corola. Distingue flores com ptalas e sem ptalas, com corolas regulares e irregulares. Todavia, mantm a antiga diviso primria das plantas em herbceas e rvores e no distingue as mono- das dicotiledneas. O sistema de classificao de Tournefort considerado mais artificial do que o de Ray (ADANSON, 1763:xxx; GRAY, 1907:333; PORTER, 1959:12; MAGNIN-GONZE, 2004:117). 160 Tournefort, na introduo aos seus lmens de botanique, explicitava da seguinte forma o seu conceito de gnero: Pour avoir une ide claire du mot de genre, au sens quon droit le prendre dans la botanique, il faut remarquer quil est absolument ncessaire, dans cette science, de ramasser comme par bouquets, les plantes qui se ressemblent, et les sparer davec celles qui ne se ressemblent pas. Cette ressemblance doit tre tire uniquement de leurs rapports prochains, cest-dire, de la structure de quelques-unes de leurs parties, et lon ne doit point faire dattention aux rapports loigns qui se trouvent entre certaines plantes, comme sont les rapports des vertus quelles ont, ou des lieux o elles naissent. Nous considrerons donc les plantes, parmi lesquelles la mme structure des parties se trouvera, comme les plantes renfermes dans le mme genre ; de sorte que nous appellerons un genre de plante, lamas de toutes celles qui auront ce caractre commun qui les distingue essentiellement de toutes les autres plantes (TOURNEFORT, 1797:60). Para Tournefort, o gnero no era portanto um grupo de plantas aparentadas pelas suas propriedades (medicinais) ou pela sua distribuio e ecologia, como os botnicos antigos e a maioria dos tratadistas dos sculos XV e XVI admitia, mas um conjunto de plantas semelhantes na sua organizao e estrutura. Seguidamente, Tournefort discorria sobre o conceito de espcie: Mais, comme les plantes de mme genre diffrent encore entrelles par quelque particularit, nous appellerons espces, toutes celles, qui, outre le caractre gnrique, auront quelque chose de singulier, que lon ne remarquera pas dans les autres plantes du mme genre ; par exemple, toutes celles que nous appellerons des renoncules auront un caractre commun tir de la structure de quelques-unes de leurs parties, qui tablira leur genre, et qui ne conviendra quaux seules renoncules. Mais comme toutes les renoncules ne se ressemblent que dans ce caractre commun, et quelles sont diffrentes dans quelques autres de leurs parties, la diffrence de ces parties tablira les diffrentes espces de renoncules (TOURNEFORT, 1797:60-61). Terminava, resumindo lapidarmente o conceito (moderno) de gnero (como unidade taxonmica): Les caractres des genres doivent avoir deux conditions : 1. tre aussi semblables quil se peut dans toutes les espces ; 2. tre sensibles et faciles remarquer, sans quon soit oblig demployer le microscope pour les dcouvrir (TOURNEFORT, 1797:61). Tournefort aborda ento a problemtica da nomenclatura dos gneros, tecendo consideraes de acuidade e modernidade notveis. Para Tournefort, o nome de um gnero deve ser: 1. Um nico nome, que no pode ser usado em mais nenhum outro gnero. 2. Se possvel, deve ser um nome j usado pelos tratadistas clssicos, mas caso este seja confuso, deve ser substitudo por outro. 3. A etimologia do nome no se aplica necessariamente a todas as plantas pertencentes ao gnero. Pode s se aplicar a algumas espcies do gnero. Muitos nomes foram criados pelos botnicos antigos e pelos tratadistas para gneros com outro significado (plantas afins nos seus efeitos medicinais ou ecologia). Ao alterar o conceito de gnero, a etimologia do nome perdeu, em muitos casos, a sua aplicao objectiva (TOURNEFORT, 1797:61-64). DE WITT (1994:87-88) apreciava a
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de botanique161 e em 1700 Institutiones rei herbariae162 [Estampa III.8.], Tournefort define inequivocamente muitos dos gneros modernos de plantas vasculares, sendo desta forma um dos criadores da moderna taxonomia botnica e um dos grandes botnicos pr-lineanos: s Tournefort, porm, que fez verdadeiramente a abstraco dos caracteres genricos, e definiu os gneros de todas as plantas que estavam conhecidas163. [] A reforma de Tournefort, em 1700, distribuindo em gneros precisa e scientificamente definidos todas as plantas at a conhecidas, foi uma reforma fundamental de taxinomia e, ao mesmo tempo, de nomenclatura, porque estabeleceu que o nome da espcie fosse o nome latino do respectivo gnero seguido de um pequeno nmero de termos descriptivos, que permitissem distingui-la das suas congneres. G. Sampaio considera que Tournefort ampliou o conceito gesneriano de gnero, baseado na flor e no fruto, acrescentando que tambm os rgos vegetativos devem servir, quando do analogias ou diferenas muito acentuadas, para estabelecer gneros naturais, embora secundrios164. Este critrio, combatido mais tarde por Lineu, foi seguido por qusi todos os grandes botnicos e o que domina actualmente165.
contribuio de Tournefort para o conceito de gnero como categoria taxonmica da seguinte forma: Tournefort interpretou o gnero no sentido clssico-filosfico do termo. O gnero a essncia (essentia) que caracteriza um grupo de organismos que possui em comum um certo nmero de propriedades, mas cujos membros se distinguem uns dos outros por algumas diferenas (differentiae). Cada planta contm a essncia do gnero mas tambm a diferena que prpria espcie. 161 As ilustraes so de C. A. Aubriet, desenhador que acompanharia Tournefourt numa viagem ao mediterrneo oriental (DE WITT, 1994:87). Num dos cadernos de apontamentos sobre os tratadistas clssicos, G. Sampaio escreveu a propsito desta obra: Elemens de Botanique, Paris, 1694 considerando ser um livro precioso, com capitulos notaveis sobre a historia da Botanica e metodos e ideias sobre o genero. Entre os auctores citados, na bibliografia, no traz Rivinus!. De seguida, G. Sampaio escreveu uma extensssima lista de gneros citados por Tournefort nesta obra. No fim da lista, G. Sampaio escreveu ainda o seguinte comentrio: Revi esta obra na Bibliotheca da Universidade de Coimbra, onde existe um magnifico e bem conservado exemplar. Note-se que em alguns pontos, Tournefort d notas sobre os caracteres que Rai adscreve a alguns generos, fazendo comentarios. Teria J. Rai em realidade dado caracteres genericos? preciso apurar este ponto. Esta obra no existia na Biblioteca de Botnica da Faculdade de Cincias ao tempo de G. Sampaio. Existia na Biblioteca Pblica Municipal do Porto, onde ainda hoje se encontra. 162 Nesta obra, Tournefort segue o sistema de classificao das plantas de Rivinus. As plantas so divididas em dois grandes grupos, herbceas e lenhosas. Dentro de cada grupo, a classificao baseada nos caracteres da flor, em particular da corola, resultando em 22 classes. Algumas das classes de Tournefort constituem hoje famlias (DE WITT, 1994:88-89; MAGNIN-GONZE, 2004:117). Esta obra fundamental (a edio de 1717) existia na Biblioteca de Botnica da Faculdade de Cincias ao tempo de G. Sampaio. 163 Tournefort caracterizou cerca de 700 gneros de plantas (DE WITT, 1994:88; MAGNIN-GONZE, 2004:117). 164 Tournefort considerava que as caractersticas da flor e do fruto eram os elementos principais para a delimitao da maioria dos gneros de plantas. No entanto, em algumas famlias, como as Chenopodiaceae e as Brassicaceae, as caractersticas das sementes, das plntulas e dos embries, tambm eram importantes para a separao dos gneros. Nas conferas, a forma e arranjo das folhas permite a separao dos gneros, quando as caractersticas da flor no diferem significativamente entre estes gneros (PORTER, 1959:68). Tournefort considerava, efectivamente, a existncia de dois tipos de gneros. Os gneros de primeira ordem eram definidos e delimitados unicamente pelas caractersticas da flor e do fruto, mas nos de segunda ordem, eram necessrias caractersticas de outros rgos, ou outras caractersticas gerais como a existncia de sucos internos, o sabor e o gosto, e o porte da planta. Tournefort argumentou, de forma exaustiva, na introduo aos seus lmens de botanique, a importncia relativa das caractersticas dos principais rgos das plantas, para a definio e delimitao dos gneros: il est certain que les rapports qui font les caractres des genres des plantes, se doivent trouver dans deux ou dans trois de leurs parties. Pour dterminer ce nombre plus prcisment, il faut combiner toutes les parties des plantes, deux deux ou trois trois. [] Nous navons donc plus choisir pour la combinaison des

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Tournefort tem particular relevo para o estudo da flora portuguesa dado que percorreu largamente o nosso paiz em 1689, elaborando um amplo catlogo de plantas por ele observadas, catlogo cujo manuscrito original se encontra no museu de botnica da Universidade de Coimbra. No inco do sculo XVIII, em 1727, surge um volume notvel no campo da fisiologia, o Vegetatable statik, do sbio ingls Hales166, que estabelece ideias precisas e exactas sobre a absoro radicular, a circulao de seiva e a transpirao das folhas. Tambm nas primeiras dcadas do sculo XVIII, em 1718 o boticrio francs Joo Vigier167 publicou na nossa lngua uma Historia das plantas da Europa168, com numerosas gravuras extradas das obras de Mattiolo [Matthiolo]169.
deux parties; car il ne reste que celle des fleurs et de des fruits, et certainement cest la seule dont on pt faire un bon usage. Il est constant que les rapports de structure qui se trouvent entre les fleurs et les fruits de diffrentes plantes, sont beaucoup plus justes, et frappent plus vivement que ceux que lon pourroit trouver entre les feuilles compares avec les feuilles, ou entre les autres parties des plantes compares chacune sa semblable. [] On peut donc tablir pour maxime gnrale en botanique, que la fleur et le fruit sont des parties absolument ncessaires, pour ltablissement de tous les genres dont les espces portent des fleurs et des fruits, mais que ces parties ne suffisent pas toujours pour distinguer ces genres les uns des autres (TOURNEFORT, 1797:78-79,82). 165 Existe na Biblioteca do Departamento de Botnica (FCUP) um exemplar da 3.a edio, datada de 1717, desta famosa obra de Tournefort Institutiones rei herbariae (Estampa III.8.). O exemplar apresenta na primeira pgina o carimbo da Real Academia do Porto (Academia Real da Marinha e Comrcio do Porto), e contem diversas anotaes de G. Sampaio. Neste exemplar, alguns gneros esto extensivamente anotados. O terceiro volume, com o texto principal descritivo, encontra-se em mau estado de conservao, apercebendo-se que foi muitssimo manuseado. Toda a monografia est escrita em latim. O texto comea com uma biografia de Tournefort, seguindo-se uma bibliografia do autor, e, uma lista dos trabalhos referenciados no texto. Duas referncias esto marcadas a lpis: Gerardi, 1597, Historia plantarum e Rivini, 1690, Introductio generalis in rem herbarium. De seguida, existe um longo texto sobre a Histria da Botnica. Segue-se o corpo principal do trabalho com a descrio das plantas. As plantas esto organizadas em 22 classes, cada classe correspondendo a um tipo de organizao floral, como foi referido em nota anterior. S so descritas as plantas vasculares. Em cada classe, esto descritos os gneros. Cada gnero designado geralmente por um nome, mas alguns tm dois nomes. A seguir ao nome latino, tem o nome vulgar em francs. O gnero caracterizado em latim, mas sem referncias a autores anteriores. Ao lado da descrio do gnero, na margem, dada a indicao da estampa correspondente, presente nos outros dois volumes. Em cada gnero so listadas as espcies. Nas espcies, Tournefort no usa a nomenclatura binria, mas antes a polinomial. A seguir ao nome da espcie, so indicadas as referncias da bibliografia dos tratadistas clssicos. Segue-se um glossrio. No final existe um ndice de autores, um ndice de gneros, um ndice de nomes vulgares (em francs) e um ndice de sinnimos. Aps o texto principal, existe ainda um Corollarium institutionum rei herbariae. G. Sampaio escreveu a tinta: O Corollarium de Tournefort foi originalmente publicado em 1703. Trata-se de uma adenda com gneros e espcies no includos na parte principal da monografia. 166 Stephen Hales (1677-1761) estudou teologia em Cambridge, tornando-se padre em 1709. Foi admitido como membro da Royal Society em 1718. Vegetable staticks, or an account of some statical experiments on the sap in plants, publicado em 1727, sintetiza 25 anos de experimentao, sobre a fisiologia e nutrio das plantas. Nestes estudos utilizou, muitas vezes, a planta do girassol em crescimento, como modelo experimental. Demonstra que a transpirao ocorre atravs das folhas. Determina experimentalmente a quantidade de gua que uma planta liberta na transpirao. Demonstra que constituintes gasosos da atmosfera so utilizados na nutrio das plantas (SACHS, 1906:476-482; DE WITT, 1993:71-74; MAGNIN-GONZE, 2004:115). 167 Merece tambm registo a presena, entre ns, no sculo XVIII, de um outro mdico estrangeiro, mdico francs, no aqui de passagem mas com residncia permanente em Lisboa durante mais de trinta anos. Chamava-se Jean Vigier. (RMULO DE CARVALHO, 1987:14). 168 A obra, em francs, foi editada, pela primeira vez, em Lyon, em 1670. A traduo para portugus foi do prprio Vigier, e esta edio de 1718, tambm foi editada em Lyon (RMULO DE CARVALHO, 1987:14). A obra existia na Biblioteca de Botnica da Faculdade de Cincias ao tempo de G. Sampaio (permanece hoje no Departamento de Botnica, FCUP). Vigier reconhece que segue Gaspar Bauhino na organizao da obra: esta obra parecia impossvel sem valerse da maravilhosa obra do grande G. Bauhino; este he o grave Autor que no seu Pinax, que a Botanica considera como sua tocha; porque sem ella estaria ainda de presente no cahos; deunos a ordem que nesta obra se tem seguido & deu ocasion de a dividir em doze

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Tambm na primeira metade do sculo XVIII, dois botnicos notveis do contribuies importantes na taxonomia botnica, em particular na delimitao de gneros das plantas novasculares. O italiano Micheli170 publica, em 1729, o seu Nova plantarum genera171, onde so descritos vrios gneros novos, sobretudo de criptogamas172, e dada uma primeira noo sobre a

livros & cada livro em seis divisoens em que estaon os mesmos ttulos; asim que de baixo dos generos & especies principaes, puseraonse as plantas cujas qualidades notician a que dellas participaon; os que tiverem penetrado a ideia de Bauhino conheceraon a utilidade deste exerccio, visto que naon ha sciente na Medecina que naon huja recebido o Pinax por huma das maravilhosas obras de arte, & que seu autor, que sem duvida conhecia sua ponderaaon & merito della fs sobre seu frontespicio o panagyrico, disendo que hera achave dos outros autores & que a tinha trasido meyo sculo na sua cabea primeiro que a dar a luz. Seguidamente apresenta o esquema geral usado na obra da classificao das plantas: Distribuiaon das plantas conteudas nesta historia segundo a ordem do Pinax de Gaspard Bauhino; divididas em doze livros cada livro em seis divisoens. Vigier apresenta ento os gneros contidos em cada um dos doze livros. Seguidamente apresenta uma Tabuada das virtudes das plantas contidas nesta obra, em que para cada patologia, indica as plantas a utilizar. Segue-se uma lista de abreviaturas das obras citadas no texto e um ndice dos nomes vulgares. Em seguida descreve as plantas: descripaon h o que ensina o conhecimento pella distribuiaon de todas suas partes & de tudo o que lhe succede desde seu nascimento ate a sua morte; tem se lhe encontrado muytas difficuldades porque como se quiz tratar succintamente, & sem embarassos, naon se pude se naon com muyto travalho representar tantas cousas em taon poucas regras, o que tem que narrar em cada planta. Algumas espcies s tm um nome, outras dois, outras mais. So indicados os sinnimos de Bauhino e Matthiolo e as qualidades medicinais da planta. A seguir ao nome da espcie, apresenta os nomes vulgares em portugus, espanhol, francs, italiano e alemo. Indica tambm qual o habitat das plantas. Existe uma pequena gravura a acompanhar cada espcie. No final do segundo volume, existe um ndice geral, com os nomes das espcies e os nomes vulgares em vrias lnguas. Os volumes s apresentam o carimbo verde do Instituto de Botnica, mas no final do segundo volume, encontra-se a seguinte frase manuscrita: H da Snr.a Francisca Shouza [?] da Silva, Boticaria nesta Villa da Povoa de Lz.o. Os exemplares tero sido adquiridos por G. Sampaio? 169 Petrus Andreas Matthiolus, mdico italiano, notabilizou-se pela sua edio da obra de Dioscorides. Matthiolo publicou vrias edies da obra clssica de Dioscorides. Escritas em latim e profusamente ilustradas, contm muitas adies e comentrios ao trabalho de Dioscorides. Alguns desenhos so, no entanto, considerados como fantasiosos, dado Matthiolo parecer pretender seguir antes a descrio do mestre grego, do que retratar fielmente a planta viva (JOHNSON, 1636). Matthiolo publicou, em 1674, a sua Opera omnia. Esta obra, que permanece na Biblioteca do Departamento de Botnica (FCUP), era conhecida de G. Sampaio que escreveu por detrs da capa do volume: Em 1598 publicou em Francof. Gasp. Bauhino todas as obras de Matthiolo, com o titulo de Math. Opera omnia, 1 vol. a 2.a edio da obra, a que pertence este volume, foi publicada em Basileae, em 1674. G. Sampaio. 170 Pier Antonio Micheli (1679-1737) um dos fundadores da Micologia. Foi botnico de Cosimo III (Grande Duque da Toscania), e dirigiu os parques municipais e o Jardim Botnico de Florena. Na sua obra mais importante - Nova genera plantarum, publicada em 1729, Micheli segue o sistema de classificao, e os gneros de Tournefort, mas amplia excepcionalmente o nmero de fungos conhecidos. So descritos 900 gneros de fungos, muitos novos para a cincia, como Aspergillus, Botrytis, Clathrus, Geaster, Mucor, Polyporus, Puccinia e Tuber. Com a ajuda do microscpio, que na poca comeou a ser utilizado na investigao botnica, descreve e desenha os esporos de todos os grupos de fungos. No himeniforo das agaricales, observa os cistdios e verifica que os basdios formam quatro esporos (basidisporos). Descreve, pela primeira vez, o asco com ascsporos em Pertusaria. Observa os peridolos nos basidiocarpos do gasteromiceto Cyathus. Cultiva, em amostras de frutas, esporos de Aspergillus, Botrytis e Mucor (SACHS, 1906:211; DE WITT, 1994:133-134; HAWKSWORTH ET AL., 1995:276-277; MLLER-WILLE & REEDS, 2007). 171 Esta obra fundamental de Micheli no existiria na Biblioteca da Faculdade de Cincias do Porto, mas, G. Sampaio t-la- consultado na Biblioteca Pblica Municipal do Porto, onde ainda hoje se encontra. Efectivamente, G. Sampaio, num dos seus cadernos de apontamentos, indicou-a numa listagem de tratados clssicos de Botnica existentes nesta Biblioteca. Toda a obra est escrita em latim. Para cada gnero, feita uma descrio, com citao de bibliografia, e uma lista das espcies com os seus respectivos autores. A nomenclatura das espcies polinomial. A obra tem 108 estampas, muitas das quais ilustrando fungos e lquenes. 172 Mas tambm gneros novos de plantas vasculares que G. Sampaio incluir na sua Lista das espcies explicitamente com a autoria de Micheli: Cynomorium Mich., Montia Mich., Tillaea (Tillea em Micheli) Mich., Vallisneria Mich. e Zannichellia Mich.

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esporulao dos fungos. O ingls Dillenio173 faz aparecer, em 1741, a sua Historia muscorum, obra amplamente ilustrada, contendo a discrio de mais de cem gneros novos de criptogamas, ainda hoje conservados174. Lineu175, o genial botnico sueco do sculo XVIII foi o fundador da moderna taxonomia biolgica: Linneu, possuidor de uma erudio profunda e dotado de um esprito metodizador verdadeiramente extraordinrio, publica numerosas obras sobre scincias naturais, entre os anos de 1731 e 1775, em que se revela o maior sistematizador de todos os tempos. No entanto, para G.

173 Johann Jakob Dillen (Dillenius) (1684/1687-1747) foi professor de botnica na Universidade de Oxford, em 1728, e um excelente desenhador. Dedicou especial ateno ao estudo dos fungos, lquenes e musgos. No Catalogus plantarum e seu Apndice, publicados em 1718 e 1719, respectivamente, so descritos diversos gneros de plantas vasculares, novos para a cincia. Na Historia muscorum de 1741, Dillenius descreve todos os lquenes conhecidos na poca (HAWKSWORTH ET AL., 1995:134; MAGNIN-GONZE, 2004:89; MLLER-WILLE & REEDS, 2007). 174 Para G. Sampaio, Dillenio era tambm importante como criador de diversos gneros novos de plantas vasculares. Na Lista das espcies, G. Sampaio refere os seguintes gneros, com a autoria explcita deste botnico: Alisma Dill., Carex Dill., Centunculus Dill., Draba Dill., Festuca Dill., Hollosteum Dill., Iberis Dill., Mesembryanthemum Dill., Myosostis Dill., Pancratium Dill., Serratula Dill. e Sherardia Dill. O Catalogus plantarum e o seu Apndice existiam na Biblioteca Pblica Municipal do Porto, onde G. Sampaio os ter consultado. Num dos seus cadernos de apontamentos, G. Sampaio indicou este Catalogus e apndice numa listagem dos tratados clssicos de Botnica, existentes nesta Biblioteca. Existe ainda no seu esplio documental, um pequeno manuscrito, qui escrito na Biblioteca, na presena da obra, onde G. Sampaio listou e comentou os Generos novos de Dillenius transcritos do Apndice ao Catalogus plantarum (Estampa V.6.). frente de Alisma escreveu . Muito bem, de Centuculus , de Draba , de Festuca Parece, pela figura, ser bem a Festuca, de Holosteum , de Iberis , de Myosotis bem este genero, que o auctor discute bem dizendo que o Myosotis de Tournefort o genero Cerastium, de Serratula !!, de Sherardia bem este genero!!. 175 Carulus Linnaeus (1707-1778) era mdico e botnico. Quando jovem, e patrocinado pela Academia de Cincias de Uppsala, realizou, em 1732, uma expedio botnica Lapnia, em que recolheu mais de 100 espcies novas para a cincia. Como resultado desta viagem publicou, em 1737, uma Flora Lapnica. Em 1735, viaja para a Holanda, onde se forma em medicina. Contacta com Grovonius e Boerhaave. Nenhum outro perodo da vida de Lineu foi to produtivo em trabalho botnico como os trs anos que passou na Holanda. Viaja ainda por Inglaterra e Frana, regressando Sucia, a Estocolmo, em 1738, onde exerce medicina, e, finalmente em 1742, professor de histria natural em Uppsala, onde permanece at sua morte. Uma das suas maiores contribuies foi o Systema naturae regnum vegetabile publicado pela primeira vez na Holanda, em 1735. A dcima edio, publicada em 1758, a obra base da organizao taxonmica do mundo vegetal. Na classificao das plantas, considerou certas caractersticas dos rgos sexuais, como os caracteres primrios. As plantas so distribudas por 24 classes, de acordo com as seguintes caractersticas: ausncia ou presena de flor; presena de flores unissexuais na mesma planta ou em plantas diferentes; nmero, morfologia e posio relativa dos estames. As classes foram subdivididas em ordens, baseadas no nmero de estiletes no carpelo. Qui a maior contribuio de Lineu foi a adopo universal da nomenclatura binomial para designar todas as espcies do mundo vivo. Bauhino, Ray, Rivnio e Tournefort tinham anteriormente utilizado a nomenclatura binomial, mas sem o carcter obrigatrio e universal que Lineu ir impor. A nomenclatura binomial possibilita uma melhor e mais fcil ordenao, catalogao e indexao dos nomes das espcies (como ordenar facilmente designaes polinomiais de espcies?), mas alguns historiadores da Botnica atribuem-lhe tambm uma clara e prosaica motivao de economia de papel: Linnaeus felt that too much space was devoted to the lengthy Latinized plant descriptions that were then current. By reducing the description to genus and species (one word for each) he reduced his printing costs (FORD, 2003:568). Na primeira edio de Species plantarum, publicada na Holanda em 1753, Lineu descreve 7.300 espcies de organismos e identifica-as por um binome especfico. Constitui a data de incio para a publicao vlida de espcies de plantas vasculares. No entanto, s so descritas 170 espcies de fungos, distribudas pelos gneros: Agaricus, Clathrus, Hydnum, Mucor, Phallus e Tremella. A grande maioria dos lquenes colocada no gnero Lichen. A segunda edio de Genera plantarum foi publicada em 1742 (Estampa III.9.). A delimitao dos gneros baseia-se em Tournefort, mas Lineu d nfase s caractersticas dos frutos. A edio de Genera plantarum de 1754 (1.a edio em 1737) constitui a data de incio para a publicao vlida de gneros de plantas vasculares (GEPB; SACHS, 1906; GRAY, 1907:333-338; PORTER, 1959:14-17; LAWRENCE, 1973:25-30; HAWKSWORTH ET AL., 1995:251; GRIBBIN, 2002:213221; MAGNIN-GONZE, 2004:120-128). Parte da bibliografia de Lineu est disponvel em http://bibdigital.bot.uc.pt/

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Sampaio necessrio separar as contribuies verdadeiramente originais de Lineu, das que so secundrias. Para G. Sampaio, o mrito excepcional do botnico sueco foi sem dvida a aplicao da nomenclatura binria a todas as espcies e a organizao sistematizada de toda a informao sobre as espcies conhecidas na poca: Coordenando e revendo toda a imensa obra dos seus antecessores, Linneu depura e fixa a terminologia botnica, define com clareza e rigor as ideias [], torna precisa a noo de espcie, com variedades. Tambm foi fundamental a reforma de nomenclatura de Linneu, em 1753, porque aplicou a todas as plantas conhecidas at ali a nomenclatura binria das espcies, fixandoa definitivamente. Efectivamente, antes de Lineu, a maioria dos botnicos utilizava uma nomenclatura polinomial para caracterizar as espcies. No entanto, alguns botnicos pr-lineanos j definiam muitas das espcies por duas nicas palavras. G. Sampaio faz questo de homenagear estes autores: Quanto nomenclatura binria, deve-se esclarecer que a tendncia para o seu emprego se vinha acentuando desde Loblio, Clsio e outros, tendo Rivnio preconizado a sua vantagem e havendo-a Chenon [L. J. Chenon] empregado pela primeira vez como norma invarivel, em 1751, no seu Nova plantarum genera. Para G. Sampaio, a importncia da revoluo lineana da taxonomia botnica era potenciada pela divulgao sem precendentes das obras do botnico sueco: Sem luxo e relativamente baratas, essas obras [tornaram-se] acessiveis a qusi todos e, espalhando-se rapidamente no mundo culto, exercem uma aco divulgadora como no existe igual. Os estudos de botnica local desenvolvem-se, ento, por toda a parte, impregnados dessa influncia lineana, que bem clara e palpvel nas inmeras floras que vo aparecendo sobre todos os paizes, desde 1753 at aos comeos do sculo XIX. No entanto, para G. Sampaio no foi o grande mestre isento de erros e de graves imperfeies nas suas obras176. Diversos botnicos notveis continuaram e consolidaram a revoluo lineana da nomenclatura binria. Miller177 adota a nomenclatura binria na edio de 1759 do seu The gardeners
SACHS (1906:85-90) considera mesmo que as obras de Lineu esto impregnadas da filosofia aristotlica e do escolasticismo desprezo (recusa) pela observao directa e pela experimentao e construo de teorias baseadas em ideias pr-concebidas: the most pernicious feature in scholasticism and the Aristotelian philosophy is the confounding of mere conceptions and words with the objective reality of the things denoted by them; men took a special pleasure in deducing the nature of things from the original meaning of the words, and even the question of the existence or nonexistence of a thing was answered from the idea of it. This way of thinking is found everywhere in Linnaeus, not only where he is busy as systematist and describer, but where he wishes to give information on the nature of plants and the phenomena of their life. A ambivalncia de Lineu excepcional organizador e sistematizador, mas observador e experimentador distorcido era sintetizada por Sachs, neste texto, da seguinte forma: This remarkable combination of an unscientific philosophy with mastery over the classification of things and conceptions, this mixture of consistency in carrying out his scholastic principles with gross inaccuracies of thought, impart to his style an originality, which is rendered still more striking by the native freshness and directness, and not unfrequently by their poetic feeling, which animate his periods. 177 Philip Miller (1691-1771) foi jardineiro-chefe do Jardim Botnico de Chelsea (Physic Garden), de 1752 a 1770. Publica, entre 1755 e 1760, Figures of the most beautiful, useful and uncommon plants, com ilustraes de Dionysius Ehret (1708-1770), considerado como um dos mais excepcionais ilustradores da Histria da Botnica. Ao introduzir a
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dictionary178, uma das mais notveis obras floristicas; Hudson publica uma flora da Inglaterra em 1760; von Haller179 a da Suissa em 1768; Crantz a da ustria, em 1769; Lamarck180 a da Frana, em 1778. Roth181 [publica] entre 1787 e 1800, uma flora da Alemanha; Willdenow182, comea a publicar o seu Species plantarum em 1797183 as doutrinas de Lineu haviam triunfado por toda a parte184.
gravao em placas de cobre, Ehret obteve ilustraes botnicas com um detalhe e pormenor sem precedentes. P. Miller considerado um conhecedor e observador excepcional das plantas, distinguindo-se em particular, as suas obras sobre as plantas cultivadas. Lineu considerou-o como o prncipe dos jardineiros (hortulanorum princes). Miller demonstrou que, em algumas plantas, nomeadamente na tulipa, so as abelhas que transportam os gros de plen das flores masculinas para as femininas. Era scio da Royal Society de Londres (DE WITT, 1993: 242; FORD, 2003:568-571; MAGNIN-GONZE, 2004:112). 178 A primeira edio desta obra foi publicada em 1731, seguindo-se diversas re-edies, sendo a oitava publicada em 1768. Ao adoptar o sistema de classificao de Lineu, Miller foi dos primeiros botnicos ingleses a abandonar os sistemas de classificao de Ray e Tournefort (DE WITT, 1993: 242). Na Biblioteca do Departamento de Botnica (FCUP) existe um exemplar da terceira edio desta obra datada de 1737. O exemplar no tem qualquer carimbo, nem anotao. J existiria no tempo de G. Sampaio? Trata-se efectivamente de uma obra de grande envergadura, com centenas de pginas simultaneamente um tratado de jardinagem, floricultura, horticultura, fruticultura, arboricultura e botnica sistemtica e aplicada. Toda a obra est escrita em ingls. A maioria das entradas do dicionrio corresponde a nomes de gneros de plantas, mas tambm existem entradas pormenorizadas sobre temas to diversos como: as estufas; cada um dos meses do ano (em que descrevem detalhadamente os trabalhos a realizar no jardim, na horta, no pomar); o vinho; as sebes; o higrmetro; os relvados; o microscpio; os cogumelos; doenas como o mldio; a chuva, o sol, o arco-ris, o vento, o solo. As entradas sobre as plantas referem-se geralmente a nomes de gneros. Estes esto dispostos por ordem alfabtica, mas ocasionalmente Miller intercala gneros prximos. Por exemplo, logo a seguir ao Abies, trata do Pinus, continuando com Abrotanum, Absinthium. Em cada gnero, Miller indica a etimologia do nome, o nome vulgar em ingls, e as caractersticas das plantas pertencentes ao gnero. No entanto, no cita os tratadistas clssicos. Seguidamente, indica as espcies do gnero. Cada espcie designada pelo polinome usado por um tratadista clssico, seguido do nome vulgar. Nesta edio de 1737, Miller ainda utiliza a nomenclatura polinomial. Pelas palavras de G. Sampaio, sabemos que Miller, numa edio posterior desta obra ter adoptado a nomenclatura binria ento recentemente introduzida por Lineu. Aps a indicao das espcies, Miller descreve, detalhadamente, como cultivar as plantas citadas. Miller conhecia bem os tratadistas clssicos. Logo no incio da obra lista a bibliografia que vai citar ao longo do seu trabalho. Boccone, Boerhaave, Caesalpinus, Bauhinus, Clusius, Dodonaeus, Magnol, Lobel, Dalechamp, Malpighius, Morison, Pluknet, Plumier, Ray, Tournefort e Zanoni, figuram entre os tratadistas clssicos citados. 179 Albrecht von Haller (1708-1777) estudou medicina em Leida com Boerhaave, tornando-se mdico em 1725. Foi professor de anatomia, medicina e botnica em Gotinga, em 1736, onde fundou um jardim botnico (Jardim Botnico de Gotinga) e uma sociedade cientfica. Em 1753, retirou-se para a Sua. Publica, em 1768, a primeira flora sua - Historia stirpium indigenarum Helveticae inchoata, utilizando ainda a nomenclatura polinomial (DE WITT, 1993:14-15; MAGNINGONZE, 2004:129). 180 Jean-Baptiste de Monet, cavaleiro de Lamarck (1744-1829) ficou conhecido na Histria da Botnica pela Flore franaise publicada em 1778, em trs volumes, escrita sob a forma de chaves artificiais destinadas a permitir a identificao das plantas francesas. Em 1781, foi nomeado correspondente do Jardim do Rei e do seu Gabinete. O seu tratado de botnica ocupa os quatro primeiros volumes da Encyclopdie mthodique (1783-1793) e contribuiu para o progresso da Botnica e seu estabelecimento, no incio do sculo XIX, como uma disciplina autnoma dentro das Cincias Naturais. Tambm conhecido pela sua teoria o Lamarckismo, segundo a qual as mudanas no ambiente provocam mudanas na estrutura dos organismos (tais como novas utilizaes e rgos, ou a perda de partes, ou de rgos, por desuso), e que essas modificaes eram herdadas pelos descendentes. A sua teoria fica cristalizada na Philosophie zoologique de 1809 (LAWRENCE, 1973:33; GRIBBIN, 2002:236-237; ALLORGE & IKOR, 2003:641-643; MAGNIN-GONZE, 2004:156-157). 181 A. W. Roth (1757-1834) foi mdico em Vegesack, perto de Bremen. Publicou, em 1782, um trabalho sobre a planta insectvora Drosera rotundifolia. Roth destacou-se pelo estudo das algas, sendo o primeiro botnico a delimitar este grupo de plantas, num sentido moderno que ainda hoje se mantm, ao contrrio da concepo confusa lineana das Cryptogamia algae. Roth define algas como plantas (com clorofila, ao contrrio dos fungos) sem vasos, sem rgos (raiz, caule, folhas e flores) e no tendo os esporos envolvidos por uma estrutura, protectora (DE WITT, 1994:121). 182 Karl Ludwig Willdenow (1765-1812) estudou medicina e tornou-se boticrio em Berlim. Em 1798, foi nomeado professor de histria natural em Berlim. Publica, em 1792, Grundriss der Kruterkunde zu Vorlesungen entworfen

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Para G. Sampaio foi Antnio Loureno de Jussieu185 quem estabeleceu, em 1789 na sua Genera plantarum186 [Estampa III.10.], o primeiro sistema natural de classificao das plantas: As plantas devem ser reunidas num mesmo grupo [] no pela semelhana ou diferena de um s carcter, mas sim pela semelhana ou diferena de um grupo de caracteres, positivos ou negativos, que definam suficientemente o conjunto geral da sua organizao187. Jussieu considerava no entanto que os caracteres no tinham todos a mesma importncia188. G. Sampaio escrevia: O carcter de maior
(Elementos de botnica para o uso no ensino), que atinge grande fama e difuso, com diversas re-edies. Neste trabalho, Willdenow tenta explicar a influncia do clima sobre o tipo de vegetao e as alteraes da vegetao da Terra ao longo da sua evoluo. a primeira tentativa de explicao cientfica da distribuio das plantas a fundao da fitogeografia. Em 1801, director do Jardim Botnico de Berlim, cuja coleco amplia excepcionalmente. Publica, entre 1803 e 1816, Hortus berolinensis, uma coleco de 108 excelentes gravuras sobre cobre, de plantas. Em 1809, publica Enumeratio plantarum horti regii berolinensis em que apresenta a diagnose de 1180 gneros, representando 6351 espcies, seguindo directamente o sistema lineano de classificao. Publica tambm, de 1797 a 1810, uma edio revista de Species plantarum, de Lineu. nomeado professor de botnica na Universidade de Berlim, em 1810 (DE WITT, 1994:154-155; MAGNINGONZE, 2004:155). 183 Entre 1797 e 1810, Willdenow publicou, em quatro volumes, uma reviso da Species plantarum de Lineu. Aps a sua morte, foi publicado o volume 5 em 1820, e o volume 6 em 1824-1825. Trata-se de uma ampliao e melhoria excepcional da obra de Lineu, em que Willdenow descreve 353 gneros e 4.600 espcies novas para a cincia. , na realidade, uma nova Species plantarum, e uma anteviso do que seria a monumental Das Pflanzenreich de Engler (DE WITT, 1994:154155). 184 Willdenow publicou, em 1787, um prodromo da flora de Berlim. So listadas 1234 espcies, incluindo as criptogmicas. interessante a forma do autor designar as espcies. O nome do gnero est em letra maiscula, o epteto especfico em itlico, seguindo-se uma srie de nomes em letra redonda. Willdenow parece querer fazer a transio entre a recente nomenclatura binomial e a antiga polinomial. Em 1809, Willdenow publica uma listagem completa das espcies existentes no Jardim Botnico de Berlim (Enumeratio plantarum horti regii berolinensis). Neste trabalho, Willdenow designa as espcies unicamente pelo seu binome. A nomenclatura polinomial fora definitivamente abandonada. 185 Antoine-Laurent de Jussieu (A.-L. Jussieu) (1748-1836) pertencia a uma famlia de distintos botnicos franceses. Formou-se em medicina, em 1770. Foi professor no Jardim do Rei e director do Museu de Histria Natural de Paris. Foilhe incumbida a reforma da Escola de Botnica do Jardim das Plantas [de Paris] e nela aplicou as ideias de seu tio, Bernardo de Jussieu (tambm um botnico notvel), o chamado mtodo natural, que exps em duas memrias Academia em 1773 e 1774 (GEPB). Publicou, em 1789, a sua obra principal - Genera plantarum secundum ordines naturales disposita. Nesta obra, as plantas so classificadas em 15 classes, de acordo com as seguintes caractersticas: nmero de cotildones; nmero de ptalas; posio relativa dos estames e da corola. Foi membro da Sociedade Lineana de Londres. Atravessa a Revoluo Francesa sem percalos, talvez pelas suas relaes cordiais com Lamarck. Retira-se em 1826, e morre cego, perto de Paris. A.-L. Jussieu reconhecer explicitamente a influncia de seu tio no seu sistema de classificao das plantas. Os seus conceitos de classificao botnica foram seguidos por Lamarck, na sua Encyclopdie mthodique. (GEPB; GRAY, 1907:338-339; PORTER, 1959:17-18; LAWRENCE, 1973:33-34; DE WITT, 1994:91-94; ALLORGE & IKOR, 2003:309313; MAGNIN-GONZE, 2004:144-145). 186 Existe na Biblioteca do Departamento de Botnica (FCUP) um exemplar desta edio da obra de A.-L. Jussieu (Estampa III.10.). O exemplar tem o carimbo da Real Academia do Porto. Numa das primeiras pginas, G. Sampaio escreveu: Esta 1.a edio mais estimada que a 2.a sahida em Usteri, em 1791. Regula no seu custo 5 francos. G. Sampaio. 187 O Marqus de Condorcet, na introduo edio de 1789, escrevia que A.-L. Jussieu considerava que pour suivre la marche de la Nature dans le rapprochement ds espces, il faut joindre celles que se ressemblent par le plus grand nombre de leurs caractres. 188 No sistema de classificao de A.-L. Jussieu, os caracteres das plantas no tinham todos o mesmo peso ou valor. O Marqus de Condorcet, na introduo edio de 1789 escrevia: des caracteres plus constants & dautres qui le sont moins, donne lieu lnonc dun autre principe; savoir, que les caractres doivent tre pess ou calculs suivant leur valeur relative, de sorte quun caractre constant quivaut plusieurs caractres variables. Para Jussieu, os caracteres mais gerais e menos variveis so os dos rgos mais essenciais, como a flor e o fruto. A raiz, o caule e as folhas so rgos secundrios os seus caracteres so mais variveis e menos importantes que os da flor e fruto.

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poder associativo [] tem o nome de carcter dominante e serve por si s, em muitos casos, para definir o grupo taxinmico em que se manifesta189. No sistema da classificao de A.-L. Jussieu todos os vegetais conhecidos [eram distribudos] em famlias definidas qusi sempre com nitidez scientfica190. A fisiologia vegetal tambm progredia. O holands Ingenhousz191, em 1780, e o susso Senebier192, em 1788, constatam nos vegetais verdes o fenmeno da clorocarbonizao luz e o da respirao na obscuridade193.

189 A.-L. Jussieu considerava que, nas plantas, existiam caracteres fundamentais primrios, secundrios e tercirios, que definiam (e distinguiam entre si) os diferentes nveis da hierarquia sistemtica. O Marqus de Condorcet, na introduo edio de 1789, definia da seguinte forma estes trs tipos de caracteres morfolgicos exibidos pelas plantas. Os caracteres primrios eram essentiels, toujours constants, uniformes dans tous les ordres, & tirs dorganes essentiels ; tels sont linsertion des tamines ou leur disposition relativement au pistil, la situation de la corolle staminifre, & le nombre des lobes ou cotyledons de lembrion. Quanto ao nmero de cotildones, as plantas eram classificadas em acotiledneas (sem cotildones), monocotiledneas (um cotildone) e dicotiledneas (dois cotildones). Quanto corola, as plantas eram classificadas em aptalas (sem corola), monoptalas (corola constituda por uma s pea) e poliptalas (corola constituda por duas ou mais peas). Quanto posio dos estames relativamente ao pistilo, os estames eram classificados em epigneos (estames numa posio superior ao ovrio), hipogneos (estames numa posio inferior ao ovrio) e perigneos (estames inseridos no clice). Quanto aos caracteres secundrios, escrevia Condorcet que les seconds sont gneraux, presquuniformes dans tous les ordres, variables seulement par exception, & tirs dorganes non essentiels ; tels sont la prsence ou le dfaut du calice soit de la corolle non staminifre, la structure de la corolle considre comme monopetale ou polypetale, la situation relative du calice & du pistil, enfin la prsence ou labsence ainsi que la nature du perisperme que est un corps particulier environnant lembrion, que lon rencontre dans beaucoup de semences, & auquel Grew & M. Gaertner donnent le nom latin dalbumen. Finalmente, relativamente aos caracteres de terceira ordem, Condorcet escrevia que les caractres de la troisime classe, sont tantt uniformes, tantt variables & tirs des organes, soit essentiels, soit non essentiels ; tels sont le calice monophylle ou polyphylle, lovaire simple ou multiple, le nombre, la proportion & la connexion des tamines ; le nombre des loges du fruit & sa manire de souvrir, la position des feuilles & des fleurs & dautres caractres analogues. 190 A.-L. Jussieu organizou as plantas, semelhana de Ray, em trs grandes grupos: acotiledneas, monocotiledneas e dicotiledneas. O primeiro grupo continha as plantas sem flor as criptogmicas. As mono- e dicotiledneas eram subdivididas de acordo com caractersticas dos estames e da corola. O grupo das monocotiledneas era constitudo por trs classes e o das dicotiledneas por 11. O reino vegetal tinha portanto 15 classes. As classes eram constitudas por ordines naturales, num total de 100 famlias. A ltima era a das conferas. A organizao em famlias de Jussieu ainda hoje vlida na nomenclatura botnica (GRAY, 1907:338-339; DE WITT, 1994:91-94). As 15 classes de Jussieu eram definidas com base nos caracteres fundamentais primrios. O sistema de classificao das plantas de Jussieu era efectivamente hierrquico e coerente. As caractersticas de cada classe eram observadas em todas as ordens que constituam a classe. Cada ordem era sub-dividida em seces. As caractersticas de cada ordem eram observadas em todos os gneros que a constituam. Ao caracterizar um gnero, Jussieu no repetia as caractersticas da ordem a que pertencia (dado que estas eram implcitas no sistema hierrquico) mas to-somente indicava os caracteres diferenciais desse gnero, que o distinguia dos outros gneros da mesma ordem. Jussieu tambm formulava um conceito moderno de espcie e gnero, como categorias taxonmicas. Vicq dAzyr, da Academia Real de Medicina (Francesa), na introduo edio de 1789 descrevia como Jussieu concebia a espcie e o gnero botnicos. Pertencem mesma espcie: toutes les plantes parfaitement semblables dans toutes leurs parties, & que si reproduisent toujours sous les mmes formes. Os gneros so conjuntos de espcies anlogas entre elas: ici ce nest plus une ressemblance complette quon exige; ce font des analogies susceptibles de diffrens degrs de nuances dont les limites ne sont pas dtermines dune manire aussi prcise [] de ne rassembler, dans un mme genre, que les espces qui se rapprochent par le plus grand nombre de leurs caractres. 191 Jan Ingen-Housz (1730-1790/1799) formou-se em medicina, em Leida, em 1753. Em 1765, instala-se em Londres. Experimentador persistente em fisiologia vegetal, publica, em 1779, Experiments upon vegetables, discovering their great power of purifying the common air in the sunshine, and of injuring it in the shade and at night, onde demonstra que durante o dia as plantas purificam o ar pela absoro do flogstico que transformam em alimento vegetal, libertando o seu resduo - excrementitious fluid (pelo processo que posteriormente ser designado de fotossntese em que ocorre uma

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O sculo XVIII ter em Portugal botnicos e naturalistas excepcionais, que G. Sampaio naturalmente destaca. Domingos Vandelli194, naturalista italiano convidado pelo Marqus de Pombal para reformar o ensino portugus das scincias histrico-naturais. G. Sampaio destaca o papel do naturalista italiano na fundao do Jardim Botnico da Universidade de Coimbra e no Jardim Botnico da Ajuda, em Lisboa, e a sua obra fundamental Diccionario dos termos technicos de Historia natural (Estampa III.11.). Em 1790 aparece em Lisboa a Flora Conchichinensis do missionrio portugus Joo Loureiro, dois volumes notabilssimos em que so descritas muitas espcies orientais ainda ento desconhecidas e definidos numerosos gneros novos. O abade Correia da Serra195, sbio botnico reputadssimo em todos os centros de cultura, considerado o primeiro fisiologista do seu tempo e um

absoro de dixido de carbono e libertao de oxignio), mas que, durante a noite, o tornam nocivo (pela respirao, onde ocorre uma libertao de dixido de carbono). A produo de oxignio cessa na obscuridade, produzindo ento toda a planta, dixido de carbono. A produo de oxignio durante o dia excede a de dixido de carbono durante a noite, depende da intensidade luminosa, e ocorre sobretudo na face inferior das folhas (SACHS, 1906:491-495; DE WITT, 1993:76-79; MAGNIN-GONZE, 2004:158-159). 192 Jean Senebier (1742-1809) nasceu e morreu em Genebra. Em 1782, publica Mmoires physico-chimiques sur linfluence de la lumire solaire, pour modifier les tres des trois rgnes de la nature, et surtout ceux du rgne vgtal, onde confirma as interpretaes de Ingen-Housz. Demonstra que a produo de oxignio depende directamente da presena do flogstico (dixido de carbono). Publica a Physiologie vgtale, em 1799-1800, onde descreve os rgos das plantas e seu funcionamento. Senebier, tal como Ingen-Housz, no identifica a natureza qumica do flogstico (SACHS, 1906:495-497; DE WITT, 1993:79-80; MAGNIN-GONZE, 2004:159). 193 As descobertas de Ingen-Housz e de Senebier seriam aprofundadas por Nicolas Thodore de Saussure (1767-1843). Utilizando mtodos experimentais mais rigorosos que os seus antecessores, Saussure demonstra que o aumento da massa nas plantas feito essencialmente a partir do dixido de carbono e da gua, que todas as partes das plantas respiram, absorvendo oxignio, e que os nitratos e outros minerais so indispensveis nutrio vegetal sendo absorvidos do solo e no da atmosfera. Finalmente, Liebig, qumico notvel, demonstra que todo o carbono das plantas provm do dixido de carbono atmosfrico (SACHS, 1906:497-531). 194 Domingos Vandelli (1730-1816) nasceu em Pdua, em 1730, e faleceu em Lisboa, a 27 de Junho de 1816. Doutorou-se em filosofia na Universidade de Pdua. Em 1772, nomeado, pelo governo de D. Jos I, lente de histria natural e qumica da Universidade de Coimbra. Em Coimbra, dirigiu os primeiros trabalhos para a criao do Jardim Botnico de Coimbra. Foi jubilado em 1790. Vem para Lisboa, como Director do Real Museu e Jardim Botnico da Ajuda. Das suas obras de histria natural, destaca-se o Diccionario dos Termos Technicos de Historia Natural, publicado em Coimbra, em 1788, e o Viridarium Grisley Lusitanicum, Linneanis nominibus illustratum, editado em 1789 (GEPB; FERNANDES, 1980; CABRAL & FOLHADELA, 2006). Sobre a vida e obra de Vandelli ver o detalhado trabalho de BRIGOLA (2003). A bibliografia de Vandelli est disponvel em http://bibdigital.bot.uc.pt/ 195 MATTOS (1881) descreveu a vida e obra de Jos Corra da Serra (1750-1823) nos seguintes termos (Estampa III.12.): Nasceu em Serpa, em 1750. Aos seis anos de idade parte com os pais para Npoles. Tem formao eclesistica, onde adquire conhecimentos aprofundados de lnguas e de histria natural. Contacta com Antonio Verney. Desloca-se ento para Roma, onde conhece D. Joo de Bragana, Duque de Lafes. ordenado presbtero, em 1775. Regressa a Portugal, em 1777. Com o Duque de Lafes, funda, em 1779, a Academia das Cincias de Lisboa, assumindo a funo de secretrio. Sofre perseguies nos tempos ominosos do intolerantismo religioso e da tyrannia politica, pedindo asilo em Frana (1786-1791, onde conhece o botnico Brousonet), e em Inglaterra, em 1797. Em Londres, recebido por Joseph Banks, presidente da Royal Society de Londres. Nas Philosophical Transactions publica dois trabalhos, e nas Transactions of the Linnean Society duas memrias. Em 1801, nomeado conselheiro da delegao portuguesa em Londres, cargo que pouco tempo exerceu, sendo delle destitudo por intrigas do embaixador. Deixa Londres, passa por Frana, e finalmente dirige-se para os Estados Unidos da Amrica, onde tem uma brilhante carreira de diplomata e investigador. Em 1816, nomeado por D. Joo VI, ministro plenipotencirio junto do governo da repblica dos Estados-Unidos. Em 1821, regressa a Portugal, e de novo secretrio da Academia das Cincias de Lisboa. A idade 71 anos, e a diabetes, tinham no entanto enfraquecido Corra da Serra. Morre nas Caldas da Rainha em 1823.

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dos maiores e mais aprofundados carpologistas de todos os paizes (Estampa III.12.). Na viragem para o sculo XIX, G. Sampaio destaca naturalmente a figura tutelar de Flix Avelar Brotero196 (Estampa III.13.) professor da Universidade de Coimbra, autor de um magnifico Compendio de Botnica (1788) e numerosos trabalhos fitogrficos, inicia em 1800 a publicao da sua Phytographia Lusitaniae selectior, obra ampla e muito bem ilustrada com gravuras a buril, recomeada em 1816 [Estampa III.14.]. A sua Flora lusitanica, em 2 volumes aparecidos em 1804, um trabalho clssico, ainda hoje o nico de conjunto que existe completo sobre a vegetao do nosso paiz. [Estampa III.14.]

Julio Henriques publicou uma biografia de Brotero, da qual extramos os elementos seguintes (Estampa III.13.) (HENRIQUES, 1882): Felix da Silva de Avellar (1744-1828) nasceu em Santo Anto do Tojal, perto de Lisboa. Educado pelos avs, estuda no Convento de Mafra as primeiras letras, grammatica latina, lgica e metaphisica. Em Lisboa tinha convivncia intima com Francisco Manoel do Nascimento, cujas ideias desagradaram ao Santo Officio, que lhe instaurou processo, tentando encarceral-o. Em 1778, emigra para Frana. Em Paris a Historia natural tinha ento cultores distinctos. O genio de Buffon dava ao museu do rei grande esplendor; Valmont de Bomare, fazendo cursos publicos sobre as sciencias naturaes, chamava para ellas a atteno dos estudiosos; A.-L. Jussieu, herdeiro dum nome glorioso nos annaes de Botanica, publicava o seu Genera plantarum secundum ordines naturales disposita; Lamarck creava nome com a publicao da Flora francesa, onde os sbios e os amadores encontravam ptimos elementos de estudo; Desfontaines, Geoffroy Saint-Hillaire e outros brilhavam pelo seu saber. Tudo nessa poca tendia a dar grande superioridade aos estudos histrico-naturaes. F. dAvellar que por esse tempo tomou o nome de Brotero (significando Amante dos mortaes) - no deixou de conhecer a importancia de taes estudos e por isso os seguiu. Ouviu as lies dos grandes naturalistas, praticou com os sbios mais disctinctos. Deste trabalho resulta a publicao, em Paris, do Compendio de Botanica. O Compendio era no seu tempo um livro de primeira ordem em toda a parte. Em Portugal tinha e tem valor excepcional. A introduo historica optimamente feita e por isso mereceu elogios do professor Link. A parte anatomica e physiologica corresponde sciencia daquelle tempo. O systema linneano alli exposto com mxima clareza e o methodo de estudar e descrever as plantas nada deixa a desejar. O diccionario dos termos prprios da Botnica, que frma quasi todo o segundo volume da obra ainda hoje o melhor e mais completo, que existe em lngua portugueza. Decide voltar para Portugal, em 1790. Logo no ano seguinte foi encarregado do ensino da botnica e da agricultura, na Universidade de Coimbra. O jardim botanico [Jardim Botnico de Coimbra], que tinha sido comeado em 1774 sob a inspeco de Vandelli, s chegou a ter verdadeira importancia no tempo de Brotero. O plano por elle indicado para as obras necessrias prova valiosa do seu saber e bom senso. Dedica-se tambm ao estudo da flora portuguesa. Herboriza na Serra da Estrela, no Alentejo e no Algarve. Em resultado destes trabalhos deu Brotero publicidade em 1804 a Flora lusitanica e de 1816 a 1827 a Phytographia Lusitaniae selectior. Na Flora descreve Brotero 1885 especies de plantas que colheu nas suas herborisaes e a disposio dellas, artificial como a de Lneo, mais simples e homognea. Muitas destas especies so descriptas como novas e ainda hoje muitas conservam a sua autonomia, outras, melhor estudadas, no constituam novidades. A parte relativa s cryptogamicas bastante deficiente e no nos deve por isso causar admirao, atenta a dificuldade da materia. Hoje raro o botanico, que estudando as phanerogamicas, estude ao mesmo tempo as cryptogamicas. As frmas e organisao so to diversas, que tal estudo constitue uma verdadeira especialidade. Na Phytographia Lusitaniae selectior a Flora corrigida e ampliada. As descripes so completas e acompanhadas de gravuras representando as especies descriptas. Em 1811 foi chamado por D. Joo VI, ento regente, para director do real museu e jardim botanico da Ajuda [Jardim Botnico da Ajuda]. Falleceu em Alcolena de Belm em 4 dagosto de 1828. Deve ter-se em vista na apreciao dos trabalhos scientificos de Brotero uma circunstancia, que considero de muito valor; o isolamento de Brotero. Achar-se s, sem companheiros nas herborisaes, sem homens competentes para com elles discutir os pontos duvidosos, com relaes difficeis com os sbios estrangeiros e de certo com meios limitados, de fazer desanimar os mais corajosos. Apesar de tudo Brotero no desanimou. Brotero possua qualidades litterarias muito notveis. A educao classica, que tinha recebido, era prpria para isso. Na introduo da Flora e da Phytographia, nas descripes botnicas, no Compendio, em fim em todos os escriptos, notavel a correco da linguagem e a elegncia da forma. Os botanicos estrangeiros no desprezavam o nome do botanico portuguez e como prova de considerao, Sprengel, Cavanilles, Willdenow, como ainda hoje Hackel, Boissier, Willkomm e outros, tem ligado o nome de Brotero ao de muitas especies, que descreveram. A bibliografia de Brotero est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ e http://bibdigital.bot.uc.pt/

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No sculo XIX continuam os progressos da botnica descritiva e acentuam-se os estudos da fisiologia e da histologia dos vegetais197. Em 1803 o suisso Vaucher198 publica a Historie ds conferves deau douce, em que pela primeira vez so descritas a esporulao e a ovulao isogmica nas algas; Ehrenberg199 consigna em 1820 a ovulao nos fungos ficomicetos200; em 1822, e depois em 1830, o italiano Amici201 estuda definitivamente a germinao do plen sobre o estigma e a deslocao do tubo polnico at ao vulo. Efectivamente ser neste sculo que se estabelecem as fundaes da botnica moderna, com o conhecimento aprofundado dos ciclos de vida em todos os grandes grupos de vegetais (desde as bactrias at s angiosprmicas). G. Sampaio descreve sucintamente os marcos histricos deste progresso: em 1834 Unger202 descobre pela primeira vez os anterozides, nos musgos,

Neste captulo, G. Sampaio no menciona diversas contribuies importantes no estudo da clula vegetal: a de Robert Brown (1773-1858), no estudo do ncleo; a de Matthias Schleiden (1804-1881) e de Theodor Schwann (1810-1882), no estabelecimento da teoria celular a clula como unidade fundamental da constituio e do desenvolvimento das plantas e dos animais; a de Hugo von Mohl (1805-1872), no estudo do protoplasma; a de Karl Ngeli (1817-1891), no estudo do ncleo e da diviso celular (SACHS, 1906:139-144,188-197,226-227,292-297; MAGNIN-GONZE, 2004:175-177). O incremento dos estudos de citologia e histologia vegetais e concomitante aprofundamento do conhecimento da clula vegetal, deveu-se ao notvel desenvolvimento da arte da microscopia, nas primeiras dcadas do sculo XIX. O ver mais pequeno suscitava interpretaes para aquilo que se observava pela primeira vez. Por sua vez, as hipteses, para serem testadas, exigiam novas observaes, qui com maior pormenor. O escolasticismo no podia manter-se nas Cincias Naturais. SACHS (1906:182-183,257-258) sintetizou esta revoluo do estudo do microscpico da seguinte forma: Investigation by means of the microscope enforces on the observer the very highest strain of attention and its concentration on a definite object, while at the same time a definite question to be decided by the observation has always to be kept before the mind [] serious attention to microscopy was one of the causes which introduced the best observers to the practice of inductive enquiry, and gave them an insight into its nature; and in a few years time when the actual results of these investigations began to appear, and when a wholly new world disclosed itself to botanists, especially in the Cryptogams, then questions arose on which the dogmatic philosophy had not essayed its ancient strength; the facts and the questions were new and untouched, and presented themselves to unprejudiced observation in a purer form than those which during the first three centuries had been so mixed with the old philosophy and with the principles of scholasticism. 198 Vaucher (1763-1841) era padre em Genebra. Descobre as clulas sexuais de uma alga verde, que, mais tarde, em sua homenagem, ser designada por De Candolle, de Vaucheria. Observa e desenha a reproduo sexual em algumas algas verdes, como Spirogyra e Zygnema (DE WITT, 1994:122; MAGNIN-GONZE, 2004). 199 C. G. Ehrenberg (1795-1876) estudou teologia e medicina em Lpsia e Berlim. Entre 1820 e 1825, viaja no Mdio Oriente e recolhe animais, plantas e fsseis. nomeado professor da Academia das Cincias de Berlim, em 1827. Na sua obra Mycetogenesis, publicada em 1829, Ehrenberg observa o ciclo sexual em Sporodinia, constituindo a primeira observao da reproduo sexual nos fungos. Observa e descreve os esporos dos fungos, e a sua germinao. Tambm realiza importantes observaes microscpicas em outros microrganismos (SACHS, 1906:211-212; DE WITT, 1994:114115). 200 Os fungos menos evoludos (Chytridiomycetes, Hyphochytriomycetes, Oomycetes e Zygomycetes) foram designados, at meados do sculo XX, de ficomicetos. Hoje sabemos que este grupo , evolutiva e estruturalmente, muito diverso (os chitridiomicetos e os zigomicetos so muito diferentes e mais evoludos do que os restantes ficomicetos), pelo que a designao no mais usada. Ehrenberg observou o ciclo sexual em Sporodinia. Trata-se de um zigomiceto do grupo das Mucorales, em que a reproduo sexual ocorre por fuso de gametngios, originando um zigosporngio. 201 Giovanni B. Amici de Florence (1786-1863) era um microscopista de renome e tambm matemtico. Contribuiu para um melhor conhecimento do processo de fertilizao nas plantas (SACHS, 1906:434; MAGNIN-GONZE, 2004:174). 202 Franz Unger (1800 - 1870) foi mdico e depois professor de botnica em Viena. Observa a formao de uma parede transversal nas clulas vegetais em diviso. Demonstra que as clulas vegetais se multiplicam por diviso, e no se formam umas no interior de outras, como afirmava Mirbel (SACHS, 1906:325-326; MAGNIN-GONZE, 2004:177).

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e o francz Thuret203 revela a sexualidade nas algas; em 1848 o polaco conde Suminsky204 descreve a formao do ovo nos fetos, o alemo Hofmeister205, entre 1849 e 1851, descobre a oosfera nas angiospermas, com a sua transformao em ovo pela aco do conteudo do tubo polnico, e define o gametfito e o esporfito nas brifitas, nas pteridfitas e nas spermatfitas; em 1850 o francs Garreau demonstra a continuidade da respirao dos vegetais, na luz e na obscuridade, como fenmeno independente da clorocarbonizao; [] Schwendener206 funda em 1867 a teoria simbitica dos liquenes; em 1896 os japoneses Ikeno e Hirase descobrem nas gimnospermas natrices os anterozides mveis, com clios, e a formao do ovo; o russo Nawaschine consigna, em 1898, a existncia de anterozoides moveis no tubo polnico das angiospermas e surpreende o fenmeno da dupla fecundao nestas plantas. A taxonomia botnica acompanhava este esforo de sistematizao do conhecimento botnico207: o suisso [Agostinho Piramo] A. P. De Candolle208 inicia em 1824 a publicao de uma

G. A. Thuret (1817-1875) foi um dos fundadores da algologia moderna, tendo elucidado, em particular, os ciclos de vida em diversos grupos de algas. Num trabalho publicado em 1840, descreveu, nas Characeae (grupo de algas verdes), os anterozides (clulas masculinas flageladas) a libertarem-se dos anterdios. Thuret e Decaisne apresentam, em 1844, uma comunicao Academia das Cincias de Paris, onde descrevem os anterozides de Fucus (uma alga castanha), notando que os flagelos destas clulas so diferentes dos observados nas Characeas. Em 1853, Thuret demonstra, experimentalmente, o papel dos anterozides, no ciclo sexual de Fucus. A reproduo sexual nas algas vermelhas muito diversa das restantes algas, e Thuret e Bornet publicam, em 1866, um trabalho em que descrevem que nestas algas, as clulas sexuais masculinas (espermcios) se fundem com os tricognios dos carpognios, as clulas femininas (SACHS, 1906:209; DE WITT, 1994:125-126). 204 Michael Jerome Lesczyc-Suminski (1820-1898) descobriu o mecanismo da reproduo nos fetos (SACHS, 1906:438-439; MAGNIN-GONZE, 2004:184). 205 Wilhelm Hofmeister (1824-1877) no teve uma formao acadmica em botnica, mas, por influncia de Gustav Reichenbach de Hamburgo, tornou-se num especialista em microscopia vegetal. Em 1863, convidado para professor de botnica na Universidade de Heidelberga. Especializa-se no estudo da estrutura, desenvolvimento, reproduo e ciclo de vida das gimnosprmicas, angiosprmicas e criptogmicas superiores. Era dotado de uma maestria das tcnicas de microscopia, de uma capacidade de observao invulgar e de uma aptido excepcional para descrever e desenhar as suas observaes (SACHS, 1906:199-203; MAGNIN-GONZE, 2004:184-185). 206 Simon Schwendener (1829-1919), professor em Basileia, demonstra que os lquenes so constitudos por um fungo e uma alga. Interpreta a associao liqunica como um fenmeno de parasitismo do micobionte sobre o fotobionte (MAGNINGONZE, 2004:196). 207 G. Sampaio no menciona a importante contribuio dos evolucionistas Darwin e Wallace, e dos geneticistas Mendel e De Vries, para o avano da Botnica do sculo XIX (MAGNIN-GONZE, 2004:188-192). 208 Augustin Pyrame De Candolle (1778-1841), suio, formou-se em medicina em 1804, em Paris. Frequentou o Museu de Histria Natural de Paris, sendo influenciado pelo transformismo de Lamarck e de Geoffroy Saint-Hillaire. Em 1808, nomeado professor de botnica na Universidade de Montpellier, sucedendo a Broussonet. Em 1813, publica o Catalogus plantarum Horti botanici Monspeliensis. Lamarck confiou-lhe a redaco da 3.a edio da Flora francesa que refundiu por completo, publicando-a em 1815, em Paris, numa edio em seis volumes. Em 1816, regressa a Genebra, sua cidade natal, onde ensina histria natural e dirige o Jardim Botnico (Jardim Botnico de Genebra). Apesar de ter estudado a fisiologia vegetal e publicado Physiologie Vgtale, ser na taxonomia vegetal que se notabilizar, adoptando os princpios do mtodo natural de A.-L. Jussieu, que todavia aperfeioa. Publica o Regni vegetabilis systema naturale, em dois volumes, de 1818 a 1821, e inicia a publicao do monumental Prodromus systematis naturalis regni vegetabilis, que acabar por ser uma obra de trs geraes (Agostinho Piramo, Afonso e Casimiro), publicada entre 1825 a 1873. A obra todavia no alcanou o objectivo inicial de ser um catlogo completo de todas as espcies conhecidas, e suas variedades. Publicou, em 1809, Gographie agricole et botanique tornando-se com Willdenow e Humboldt, um dos fundadores da ecologia vegetal

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vasta flora universal, o Prodromus systematis naturalis regni vegetabilis, em que so estabelecidos originalmente, embora com denominaes hoje no adotadas, os quatro grandes grupos primrios dos vegetais actualmente admitidos209. Em Portugal em 1809 os alemes conde de Hoffmansegg e professor Link210, que haviam percorrido o nosso paiz em 1798 e 1799, comeam a publicar em Berlim a sua luxuosa Flore portuguaise, cujo ultimo fascculo apareceu em 1840, ficando incompleta. Mas para G. Sampaio, o real valor cientfico desta obra no to elevado como o da sua apresentao: Este trabalho, com magnificas estampas coloridas, est longe de possuir, no entanto, um valor scientifico correspondente ao aparato com que foi executado. No ltimo pargrafo dos programas da Botnica Geral que se tem vindo a analisar, G. Sampaio refere as exploraes e as colheitas de plantas portuguesas feitas pelo austraco dr. Welwitsch211. A ltima frase naturalmente dedicada ao decano da botnica portuguesa da poca, Jlio Henriques da Universidade de Coimbra, em tons de admirao e rasgados elogios: Porm, em 1879, o sbio e venerando professor de botnica na Universidade de Coimbra, snr. dr. Julio Henriques, funda a Sociedade Broteriana e consegue com os seus incitamentos e sua tenacidade produzir entre ns

e da fitogeografia. Em 1813, publica a Thorie lmentaire de la botanique. O seu herbrio, ampliado por seu filho e neto, e totalizando 399.646 espcimes, foi entregue, em 1921, cidade de Genebra (GEPB; SACHS, 1906:126-139; PORTER, 1959:18-19; LAWRENCE, 1973:34-35; DE WITT, 1993:95-98; DROUIN, 2001; ALLORGE & IKOR, 2003:680-681; MAGNINGONZE, 2004:165-166). A sua influncia no desenvolvimento dos estudos botnicos foi primordial e a sua obra, um verdadeiro monumento de trabalho e erudio. O seu filho Afonso e seu neto Casimiro continuaram a sua obra com notvel proficincia (GEPB). 209 A. P. De Candolle dividiu as plantas em vasculares (fanerogmicas) e celulares (avasculares criptogmicas). As plantas vasculares foram subdivididas em di- e monocotiledneas. As plantas avasculares foram subdivididas em plantas com rgos sexuais (fetos, musgos e hepticas) e plantas destitudas destes rgos (lquenes, fungos e algas) (GRAY, 1907:339-340). Os sistemas de classificao de De Candolle e de Endlicher, semelhantes entre si, so ainda hoje utilizados, nomeadamente na organizao das disciplinas no ensino da Botnica. 210 Heinrich Friedrich Link (1767-1851) aps ter terminado os seus estudos em medicina e cincias naturais em Gotinga, leccionou em Rostock (1792), Wroclaw (1811) e Berlim (1815), onde foi director do Jardim Botnico (Jardim Botnico de Berlim). Na companhia do Conde de van Hoffmansegg, Link viajou em Portugal e na Grcia, nos anos de 1797-1799. O relato da viagem a Portugal aparece numa obra em trs volumes Voyage au Portugal. Como resultado dessas exploraes foi publicada a monumental Flore Portuguaise, em dois volumes, editados em 1809 e 1820. So tambm importantes as suas contribuies em estudos de anatomia e fisiologia vegetais (GEPB; SACHS, 1906:267-268; MAGNIN-GONZE, 2004:194; CABRAL & FOLHADELA, 2006). Parte da bibliografia de Link e van Hoffmansegg est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ e http://bibdigital.bot.uc.pt/ 211 Frederico Artur Welwitsch (1806-1872), mdico austraco, cedo se interessou pelas cincias naturais. Numa misso botnica aos Aores e Cabo Verde, passa por Lisboa, onde acaba por residir durante alguns anos. Foi conservador do Jardim Botnico da Ajuda. Herborizou frequentemente no continente, recolhendo muitos exemplares para herbrio. Antes de partir para frica, o seu herbrio vendido Academia das Cincias de Lisboa. Posteriormente, em 1853, o herbrio de Welwitsch passa para a Escola Politcnica de Lisboa, onde ainda hoje se encontra. Em 1853, por iniciativa do visconde de S da Bandeira, parte para uma grande viagem cientfica a frica. No deserto de Momedes descobre a planta notvel que em sua homenagem ser designada de Welwitschia Bainesii Hooker. Os gneros Welwitschella O. Hoffm. e Welwitschiina Engl. tambm lhe foram dedicados. Aps a sua morte, gerou-se uma sria disputa entre os governos ingls e portugus sobre as suas coleces africanas, mas estas acabaram por chegar a Lisboa em 1878. Algumas foram estudadas pelo Conde de Ficalho (GEPB; PALHINHA, 1953; MELO, 1987).

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um renascimento de actividade investigadora no campo da botnica a que de futuro se far toda a justia.

2. G. Sampaio e Amato Lusitano Amato Lusitano foi um mdico e botnico notvel do Renascimento portugus212. As suas descobertas mdicas atrairam estudiosos da Histria da Medicina. Maximiano de Lemos publica, em
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Joo Rodrigues de Castelo Branco nasceu em 1511, em Castelo Branco, no seio de uma famlia judia. Parte para Salamanca, em 1526, onde frequenta sua Universidade. Estuda latim, grego, hebraico e rabe, msica e matemtica, filosofia, metafsica, tica e medicina. colega de Andrs Laguna, que se tornar tambm num grande vulto da Medicina do sculo XVI e publicar, em 1555, uma traduo para castelhano da De Materia Medica de Dioscorides. Amato Lusitano termina o curso em 1529, regressando a Portugal. No pra, porm, em parte alguma; digressa de uma terra para outra, ou porque em nenhuma se ajeita, ou porque o humor erradio o propele a divagar. Quem olhar para o mapa onde se marquem os lugares do Reino em que o Amato estanciou e passou, poder notar que constituem e se dispem em torno de cinco pontos de atraco um, a sua terra Castelo Branco os outros, quatro cidades de importncia, como centros que eram da vida nacional, Coimbra, Santarm, vora e Lisboa (RICARDO JORGE, 1963:147). Aps cinco anos de permanncia em Portugal, parte para Anturpia, em 1534. Na cidade flamenga, vai encontrar o condiscpulo de Salamanca, Luiz Nunes, os colegas portugueses Manuel Brudo (a quem se deve um tratado notvel sobre diettica), Manuel Reinel e Pedro Fernandes, os cirurgies Martinho e Mestre Dionysio (que tinha sido physico-mor de D. Manuel), alm de outras personagens como o clebre humanista valenciano Luis Vives, o naturalista alemo Joo Amonio Agricola, o matemtico Cristiano Morciense, e provavelmente Erasmo de Roterdo. Estudou e adquiriu vastos conhecimentos de botnica mdica, e publicou o seu primeiro livro - Index Dioscorides, hoje rarssimo, com uma nica edio em 1536. Neste trabalho, Amato faz um comentrio aos dois primeiros livros de Dioscorides, acrescentando muitas plantas nativas de Portugal e dos territrios ultramarinos. Ali trabalhou at 1541, ano em que se dirige para Ferrara, para ocupar a ctedra de anatomia na sua Universidade, a convite de Hercules II dEste, duque de Ferrara. Dos seus amigos contavam-se o mdico Antnio Musa Brasavola (que escreveu sobre plantas medicinais), o anatomista Joo Baptista Canano (autor de um tratado sobre os msculos), e o botnico Falconer. Com Canano, pratica a disseco de cadveres, fundamental para o conhecimento real da anatomia humana. Inicia a redaco da obra propriamente clnica, as Centurias Medicas (dezenas de edies, entre 1551 e 1654) e da sua obra de matria mdica, os Comentrios a Dioscorides (Enarrationes, mais de dez edies entre 1553 e 1577). Durante seis anos e cinco meses ensina em Ferrara, de onde parte para Ancona, em Maio de 1547, onde vai exercer medicina. chamado a tratar a irm do Papa Jlio III, tornando-se mdico permanente de vrios mosteiros. Em 1549, termina a redaco da primeira Centuria, em que descreve 100 casos mdicos, acompanhados do seu tratamento e desfecho clnico. De Ancona sai para Veneza, para tratar Diego Hurtado de Mendoza, embaixador de Carlos V junto da Repblica de Veneza, regressando depois a Ancona. De Ancona parte para Roma, em finais de 1550, onde permanece at Maio de 1551. Juntamente com Laguna, trata o Papa Jlio III. No Vero de 1551, volta a residir em Ancona. Com a eleio do Papa Paulo IV, em Maio de 1555, ocorre a perseguio dos judeus de Ancona. Amato abandona a cidade e parte para Pesaro, onde chega em fins de 1555. Deixa Pesaro em 1556, e parte para Dubrovnik (Ragusa), e, finalmente, para Salonica em 1559, exercendo activamente a sua profisso at sua morte, a 21 de Janeiro de 1568. Faleceu vtima de peste. Entre 1549 e 1561, escreveu sete das suas Centurias. As suas Centurias estabeleceram-no como um investigador reputado em vrios domnios, incluindo a anatomia, medicina interna, dermatologia e doenas mentais. O livro tambm uma fonte preciosa de informao sobre a Medicina e a vida do dia-a-dia do sculo XVI. A sua obra botnica um longo e erudito comentrio a Dioscorides, o celebrado autor grego. [...] o interesse de Amato pelas plantas era menos o do botnico ou do agricultor do que o do mdico e do humanista. A botnica, com efeito, uma das predileces dos humanistas, que voltavam os olhos para a natureza a fim de a contemplar na sua magestade e formusura. Mas era tambm, e principalmente no caso de Amato, o desejo de aproveitar as propriedades teraputicas das plantas, seguindo nisto uma tradio de muitos sculos, pois at ao sc. XVI quase todo o interesse pelas plantas era de ordem mdica. [...] (MILLER GUERRA, 1968). Na edio dos Comentrios a Dioscorides de 1558, com 800 pginas, 30 ilustraes excelentes, sobretudo de plantas, Amato fornece os nomes das plantas e animais em grego, latim, italiano e rabe (em alguns tambm em frans e alemo). Indica erros que tinham sido cometidos por Matthiolo na edio de 1544 dos seus Comentrios a Dioscorides, o que desagradou profundamente o botnico de Viena que o acusa de heresia. Se algum dia por vir algum se abalanar a tentar a histria social deste Pas, no so poucas as espcies que o Amato ministrar dados curiosos sobre usos e costumes, produes do solo, comrcio, indstria, alimentao, etc. A Histria Natural em terra portuguesa teve nele o seu primeiro registador; [foi

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1899, uma Historia da Medicina em Portugal, e, em 1907, Amato Lusitano: a sua vida e a sua obra213. Ricardo Jorge214 tambm se sente atrado por este to extraordinrio portugus do sculo XVI. De 1914 a 1916 publica, na revista Arquivos de Histria da Medicina Portuguesa, dirigida por Maximiano de Lemos, vrios artigos sobre a vida e actividade mdica de Amato. Em 1916, o conjunto destes artigos era publicado sob a forma de separata dos Arquivos (RICARDO JORGE, 1916)215. Todavia, uma apreciao profunda da obra e prtica mdica de Amato exigia uma discusso dos seus Comentarios a Dioscorides, e esta necessitava de slidos conhecimentos botnicos. Ricardo Jorge
tambm pioneiro no estudo da] nossa Botnica e Matria Mdica (RICARDO JORGE, 1963:184). Em resumo, Amato aprofundou os dois sectores predilectos do quinhentismo mdico: a Botnica ou estudo dos simples e drogas teraputicas, e a Anatomia, que aps vinte sculos de quase estagnao, desde Galeno, ia transitar para os moldes definitivos do saber moderno, fundados na observao e no experimento (DIAS, 1952) (COLMEIRO, 1858:150; LEMOS, 1899:226-237; 1913; DIAS, 1952, 1968; MILLER GUERRA, 1968; RICARDO JORGE, 1963; EJ, 1971:795-796). 213 Publicar ainda, em 1913, Amato Lusitano. Novas investigaes (LEMOS, 1913), e, em 1922, Amato Lusitano: correces e aditamentos. 214 Ricardo Almeida Jorge (1858-1939), nascido no Porto, desde criana mostrou uma inteligncia excepcional, qualidades de trabalho raras e uma nsia de saber insacivel. Formou-se pela Escola Mdico-Cirrgica do Porto, em 1879. O laboratrio de bacteriologia, criado em 1892 [no Porto, por iniciativa da Cmara Municipal], um dos primeiros que houve no mundo. Em 1884, eleito para o Conselho Superior de Instruo Pblica. A partir de 1895, lente-proprietrio da Cadeira de Higiene e Medicina Legal da Escola Mdico-Cirrgica do Porto. Durante a peste bubnica que surge no Porto, em 1899, a populao do Porto no aceitou as medidas sanitrias preconizadas por Ricardo Jorge, que, contestado e perseguido, se viu coagido a refugiar-se em Lisboa. Efectivamente, as medidas que adoptou, de estudo e isolamento dos doentes, pesquisas bacteriolgicas e saneamento dos prdios habitados pelos doentes, apesar de modelares e impondo a sua fama internacional como epidemiologista, foram mal compreendidas pela populao que o apupou, repeliu e ameaou de morte. Em Lisboa, por renncia de Bello de Moraes, lente da Cadeira de Higiene na Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa, e Inspector Geral dos Servios Sanitrios. Bate-se pela formao tcnica de bons sanitaristas, publica o Regulamento dos servios de sade e Beneficincia Pblica e o boletim dos servios sanitrios do Reino. Escreve trabalhos sobre as principais doenas infecciosas importantes da poca como a peste, clera, tuberculose, febre tifide, lepra, tifo exantemtico, febre amarela, difteria, varola, doena do sono e dengue, entre outras. A sade pblica o objectivo principal das suas meditaes, do seu ensino e das suas decises. Jubilado em 1929, fica na presidncia tcnica do Conselho Superior de Higiene, permanece como representante de Portugal no Office Internacional dHygine de Paris, e depois no Comit de Hygine da Sociedade das Naes. Ricardo Jorge, homem de invulgar personalidade e mltiplas e elevadas aptides, tambm se notabilizou na Histria. Mais de trinta por cento das suas obras so de histria. Deixou estudos profundos e completos e notas rpidas, mas precisas e seguras, sobre a histria da Higiene, da Salubridade, da Literatura e da Arte, entre as quais sobressaem: o estudo biogrfico sobre Francisco Rodrigues Lobo, Amato Lusitano, os Amigos de Ribeiro Snchez, estudo artstico sobre El Greco, as pginas dedicadas catedral de Westminster, Batalha e outros mais. O seu estilo pessoalssimo, de uma riqueza sem par, deixa na literatura portuguesa, pginas de inestimvel valor (BOTELHO, 1999a:261-264) (GEPB; GARRETT, 1941; MONTEIRO, 1941; BOTELHO, 1999a:261-264, 1999b:298). 215 Ricardo Jorge publicaria, em 1936, uma adenda a estes Comentos (RICARDO JORGE, 1936). No prefcio deste texto eram relatadas as atribulaes da publicao da primeira parte: a 1.a parte saiu em 1916 como separata dos Archivos da Histria da Medicina Portuguesa de Maximiano de Lemos, de que os 50 exemplares s me chegaram s mos em 1924. Maus fados de bero perseguiram o aparecimento deste trabalho, a testemunharem a averso da publicidade que o meio reserva para certas obras e certos homens como que a condenar-lhes a pena inrcia e ao silncio. Comeado em Maio de 1907, foi tal a azfama febril com que o acometi que, dentro de dois meses, tinha levado a carreira do Amato at sua partida de Portugal. Continuado no ano seguinte, ficava o texto integralmente prontificado em meados de 1909. Reconhecida a impossibilidade de lhe fazer ver a luz do prelo, acamei na secretria os quartos de papel, rabiscados numa consoladora paixo de investigao e de crtica at que em 1914, a rogos de Maximiano de Lemos, foi saindo aos pedaos no seu peridico, donde se coligiu a separata. Em 1963, foi publicado o texto completo, que inclua uma parte indita sobre As Conquistas e as Drogas das ndias, no publicada em vida por Ricardo Jorge (RICARDO JORGE, 1963). A edio de 1963 foi organizada por A. Ricardo Jorge, que ter escrito a Nota editorial (que todavia no aparece assinada). Existe na Biblioteca Nacional de Portugal, integrada no esplio de Ricardo Jorge (BNP, E18), diversa documentao de A. Ricardo Jorge relativa a esta edio. O texto de Ricardo Jorge de 1916 foi, no entanto, alterado, na edio de 1963.

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devia possuir bons conhecimentos de botnica, porque esta disciplina fazia parte integrante da formao mdica da poca. O seu colega do Porto, Maximiano de Lemos, tinha publicado um livro de rudimentos de botnica para as escolas. No entanto, discutir a Botnica dos tratadistas antigos exige uma formao avanada em taxonomia, porque ainda no estava bem estabelecida uma nomenclatura inequvoca para as espcies vegetais. Como procede ento Ricardo Jorge para desbravar os Comentarios a Dioscorides de Amato? Consulta a bibliografia publicada: a Flora lusitanica de Brotero, o Boletim da Sociedade Broteriana, a Flora de Portugal de A. X. Pereira Coutinho. Escreve a J. Henriques. Consulta Baltasar Osrio sobre a fauna portuguesa, Carolina Michaelis sobre a etimologia de algumas palavras, e G. Sampaio sobre a flora de Portugal 216. Mas estes contactos tero sido feitos muito perto da publicao, e os comentrios que recebe dos trs investigadores, no so incorporados no texto principal, mas antes sob a forma de notas de rodap de pgina. Ricardo Jorge ter escrito a G. Sampaio em Maio de 1916. G. Sampaio responde numa carta datada de 18 de Maio de 1916217. Trata-se de um documento de valor excepcional pelo que o transcrevemos na ntegra: Ex.mo Senhor. Recebi ha dias as provas do estudo de V. Ex.a sbre o Amatus Lusitano; mas estava eu to sobrecarregado de trabalho urgente que s hontem que as pude lr e consultar depois alguns livros, nos intervalos das minhas aulas. O assunto difcil e requer, para ser bem resolvido, tempo de que certamente se no pode dispr, por estar o artigo j espera de reviso para se imprimir. Nestas condies limito-me a expr algumas consideraes faceis, mas sem importncia. V. Ex.a faz a identificao das espcies botnicas referidas por Amatus baseando-se nos nomes populares, quasi sempre; o resultado que no pode haver segurana nessas identificaes. O significado dos nomes populares muito varivel, designando-se com o mesmo termo, espcies diversas, segundo as regies do pas. Alm disso so fornecidos aos auctores por pessoas que por vezes conhecem mal as plantas e que, por isso, podem indicar para uma espcie um nome vulgar que pertence realmente a outra. por isto, talvez que se encontram nas nossas obras botnicas muitos nomes populares erroneamente aplicados, inclusive nas de Brotero, donde vrios individuos teem
Escrever Ricardo Jorge: recorremos reviso dos professores nossos amigos, D. Carolina Michaelis de Vasconcelos, Baltasar Osrio e Gonalo Sampaio, que gentil e proficientemente nos enviaram rpido as suas anotaes, reflexes e correces, que no sabemos agradecer bastante. Delas nos aproveitamos, conforme consta das notas (RICARDO JORGE, 1916:130). 217 A carta de G. Sampaio encontra-se no esplio de Ricardo Jorge depositado na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP, E18). No Departamento de Botnica (FCUP) existe o rascunho desta carta enviada a Ricardo Jorge (Estampa III.15.). O rascunho est datado de 17 de Maio de 1916, portanto foi escrito na vspera da carta que foi efectivamente expedida. transcrio integral da carta enviada, acrescentmos alguns tpicos que esto no rascunho, mas que G. Sampaio retirou na carta expedida.
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copiado esses erros, espalhando-os218. Haja vista o que acontece com os termos cevadilha, cornicabra, etc. Mas vamos ao Amatus, que eu no tive tempo de compulsar, dvo dize-lo: 1. - Pelo nome de palmito e palma agreste parece que Amatus se refere, realmente, Chamaerops humilis Lin.219; mas as informaes que d que se no conformam bem com esta concluso. Cumpre ter em vista que Mathilo na sua Apologia adversus Amathum Lusitanicum ataca acerbamente o nosso semijudeu, como ele lhe chama, por descrever erroneamente a organisao da palmeira (palma). Por outro lado de notar que o termo palmito e palma usado pelo nosso povo para outras plantas, como por exemplo palmitos220 ou palmas de S.ta Rita, aplicado a um Gladiolus de cultura ornamental. Ora o facto de Amatus dar uma descripo da palma que no corresponde s palmeiras, de dar para o seu palmito indicaes que no lhe convem, pelo que parece, e de ter o nome palmito diversas aplicaes no povo portugus, no sero suficientes para tornar pelo menos duvidosa a identificao que V. Ex.a faz? Devo dizer aqui que a citada obra de Mathilo a critica mais notavel que conheo do nosso Amatus, critica que outros comentaristas apenas realam.221 2. - A industria do esparto222 em Portugal no determinou a cultura entre ns dessa poacea, que se importou sempre de Espanha. Pode-se ver isto nas Viagens em Portugaldo prof. Link [Voyage au
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Sobre a dificuldade em identificar com certeza as espcies botnicas a partir dos nomes vulgares ou dos nomes que constam dos tratadistas clssicos como Dioscorides, escrevia Ricardo Jorge: A sobreposio do nome clssico grecolatino, a do nome vulgar e a do nome taxonmico, pode conduzir a erros graves [...] a correspondncia do nome vulgar que abrange por vezes espcies afins e at diversas, varivel alis regionalmente, [...] demanda ateno e pesquizas; muito mais a correspondncia com o vocbulo erudito do Dioscorides e seus tradutores e comentadores [...] H casos em que a maranha dos textos helenicos, latinos e arabes se torna um labirinto indestrinavel (RICARDO JORGE, 1916:129-130). Ricardo Jorge assinala, muito bem, a importncia da ilustrao neste processo de descodificao dos tratados clssicos, sem esquecer que os textos mais antigos no tinham ilustraes: Desde que os tratadistas comearam a recorrer imagem gravada, deram objectividade comparvel e contrastvel sua nomenclatura; mas como os textos primordiais [Ricardo Jorge estaria aqui a referir-se por exemplo aos trabalhos de Plnio e Dioscorides] carecem de figurao, as estampas no so mais do que um documento de interpretao a ilustrar o comentrio. Neste campo era preciso associar de par, alm do dado bionmico, o dado histrico, o lingustico e filolgico a conjugao da scincia positiva e da scincia erudita (RICARDO JORGE, 1916:130). 219 Esta espcie tambm designada por palmeira das vassouras (GOMES & BEIRO, 1852:174; VASCONCELOS, 1915:65). 220 Palmito tambm pode designar a espcie americana - Yucca gloriosa Lin. (GOMES & BEIRO, 1852:189). 221 No rascunho existe, sobre este assunto, o seguinte texto que G. Sampaio suprimiu da carta expedida: as informaes que d que certamente se no aplicam, porque as fibras desta planta no so celulsicas mas sim esclerenquimatosas, no podendo portanto aplicar-se ao fabrico de tecidos, nem poderiam dar bolsas de dinheiro com flexibilidade e maleabilidade aceitveis. Cestas e condessas, isso sim. [...]. Qui em virtude de G. Sampaio, na carta enviada, no ter levantado objeces explcitas (apesar de as ter em mente), utilizao da palmeira das vassouras no fabrico de vesturio, Ricardo Jorge indicar, no seu texto publicado, a utilizao desta planta para o fabrico de bolsas e vesturio: faziam-se do cortex fibroso pequenas bolsas de dinheiro muito usadas em Portugal. Se no fra a abundncia de linho e lan, dali se poderiam tirar fibras texteis para vesturio (RICARDO JORGE, 1916:130). Efectivamente, a Chamaerops humilis era, no sculo XIX, cultivada no sul da Europa e no Norte de frica (especialmente na Arglia) para a extraco de fibras. Estas eram exportadas para a Inglaterra, Frana, Alemanha e Estados Unidos da Amrica, para serem utilizadas na confeco de cestaria (JACKSON, 1890:145). 222 O esparto a Stipa tenacissima Lin. (sinnimo: Macrochloa tenacissima (Lin.) Kunth.), uma espcie que ocorre espontaneamente no Algarve, sobretudo na regio do Cabo de S. Vicente, nos arredores de Lagos e em vrios pontos da Serra do Algarve (GOMES & BEIRO, 1852:203; VASCONCELOS, 1915:39; GEPB; SAMPAIO, 1946:66). As flhas servem

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Portugal], que observa que sendo esta planta indgena no Algarve se poderia cultivar ali, em terrenos que aponta, em vez de se comprar em Espanha. Portanto no tem razo de ser a opinio do dr. Jlio Henriques, que V. Ex.a cita. Tal cultura nunca se fez, que eu saiba.223 3. - No sei as razes que V. Ex.a tem para identificar a gr dos tintureiros de que fala Amatus, com a gr de carrasco que fornecia a prpura224. No digo que no tenha V. Ex.a razo, note-se; o que digo que a no conheo, nem tenho tempo de consultar o Amatus, que talvez a fornea. Como V. Ex.a sabe, havia vrias grs em tinturaria225 industrial, e a que mais se empregava em Portugal na tingidura de panos, era a constituda pelas cocas da Chrozophora tinctoria A. Juss. (tornesol) que se cultivava no Algarve, donde era remetida em sacos e em grande quantidade para as fbricas de panos do pas. 4. - Quanto Isatis tinctoria Lin.226 (pastel do reino) observo que se o sr. P. Coutinho a eliminou da nossa flora cometeu um rro grave. No tinha base para fazer isso e, pelo contrario, tinha em publicaes minhas a indicao de localidades portuguesas onde a crucfera se encontra espontnea. planta frequente por toda a margem do rio Douro, desde o Prto Barca dAlva e o dr. Palhinha possui um bom exemplar que lhe cedi no ano passado, assim como o Herbrio da Universidade de
para a fabricao de cordas, esteiras, cestas, etc., e do um bom material para a fabricao de papel (VASCONCELOS, 1915:39). Em Inglaterra, Thomas Routledge, introduziu, em 1856, o fabrico de papel a partir de esparto importado. Um nmero da revista Journal of the Society of Arts de 1856 foi impresso em papel confeccionado a partir de esparto (JACKSON, 1890:123-124). No nosso pas, o esparto importado, no se utilizando o nativo (GEPB). Em tempos antigos, o esparto era um produto economicamente relevante, sendo mencionado explicitamente no Foral Manuelino de Aljezur, de 1504 (MARTINS, 2004). Pela anlise deste foral se pode concluir que j nesta poca, o esparto era geralmente importado de fora, sendo utilizado, localmente, no fabrico de esteiras, cestaria e cordas. 223 Todavia Ricardo Jorge escrever: O esparto - Stipa tenacssima, L. - nasce na Andaluzia, principalmente no Reino de Murcia, e na provincia do Algarve [...] Das suas fibras slidas e tenazes fabricam-se cordas, vlas, cabos [...] assim como infinito nmero de cestas, condessas e ceiras [...] para levar figos, passas, e outras mercadorias para a Frana, Alemanha, Prssia, Bomia e Rssia [...] Aqui temos em pleno desenvolvimento no sculo XVI a indstria do esparto e o comrcio de exportao de frutas secas para a Europa central e setentrional. Hoje no Algarve, diz J. Henriques que o emprego da Stipa tenacissima indgena est qusi abandonado (RICARDO JORGE, 1916:130). 224 Ricardo Jorge manter a identificao da gr dos tintureiros com as galhas dos carvalhos: Nascia tambm apud lusitanos, como j contara Plnio (L. IV, en. 51), a gr dos tintureiros, o kermes vegetal dos arabes, insecto parasita do carvalho, Coccus ilicis (gr do carrasco, do Quercus coccifera Lin.); parte corticosa da gr, menos rica, chamavam os portugueses cascolho (ib.). Os tintureiros empregavam muito, e sem le no podiam tingir pano (Lib. II, en. 170) (RICARDO JORGE, 1916:131). As galhas do carvalho-cerquinho (Quercus pyrenaica Willd.), causadas pela picada de um insecto do gnero Cynips, foram usadas no nosso pas, nomeadamente em Alpendurada, para tingir tecidos (de l ou de algodo), conferindo uma cor cinzenta escura (CARDOSO, 1927:44-46). 225 Tambm se chamava de tintureira a Phytolacca dioica Lin., uma espcie da Amrica do Sul (GOMES & BEIRO, 1852:156-157). empregada para dar cr ao vinho, mas perigosssimo tal emprgo, porque planta muito venenosa, dando origem a desastres mortais (VASCONCELOS, 1915:33). 226 Isatis tinctoria Lin. designada de pastel-dos-tintureiros, corando de azul (GEPB; VASCONCELOS, 1915:66; GOMES & BEIRO, 1852:11; SAMPAIO, 1946:250). uma espcie da Europa Central e do Sul. No sculo XV, desenvolveu-se a sua cultura nos Aores (GEPB). G. Sampaio considerava que, no nosso pas, nas margens do rio Douro, existia uma raa prpria que designou de lusitanica (SAMPAIO, 1946:250). O gnero Isatis foi formalmente criado por Tournefort, mas j Bauhino utilizava o nome Isatis e a designao de pastel, para as plantas deste gnero (TOURNEFORT, 1719:211). Lineu, em Genera plantarum, aceitou o gnero tournefortiano.

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Coimbra possui outros, tambm enviados por mim.227 Tambem no verdade, creio eu, que esta planta viesse das ilhas, como V. Ex.a indica, porque o pastel das ilhas, que fornecia o indigo, era constituido por plantas do gnero Indigofera (I. tinctoria, I. anil, etc.)228, que nada tinham com o nosso pastel do reino.229 5. - O que se faz com os cistos no propriamente o que se pode designar de escvas, porque estas plantas exsudam uma matria viscosa, o ldanum, que estraga por completo o vesturio, a que se pega. Mas fazem-se umas vassouras do Cistus hirsutus Lin., no Minho, com que no fim das espadeladas se tiram do vesturio de trabalho os fiapos e tomentos do linho, quasi impossiveis de tirar de outra forma. Basta passar estas vassouras levemente pela roupa para que todos esses fiapos se peguem s folhas da planta. Usar-se-iam estas vassouras nas fabricas de tecidos, para limpar a roupa dos operrios?230 H nos nossos montes uma planta denominada mtapulga (Odontites tenuifolia Pers.) de cujos ramos finos e hirtos se fazem ainda hoje umas pequeninas vassouras, que so, realmente verdadeiras e ptimas vasouras. To boas que os negociantes de panos do Prto e Braga no querem outras para limpar as fazendas, encomendando-as para Traz dos Montes, onde se fabricam em grande quantidade. Ser a estas que Amatus se refere, dando respectiva planta o nome de sargao? Note-se que este nome empregado para designar espcies muito diversas, inclusivamente algas martimas231. No Minho aos Cistus chamam saganhos232, e no sargaos. 6. - A planta denominada pelos antigos tratadistas Salicornia no , como V. Ex.a supe, qualquer espcie de Salsola, mas uma planta do actual gnero Salicornia233, com quasi certeza a Salicornia
Ricardo Jorge escreve Pereira Coutinho no insere ste Isatis na sua flora, embora Willkomm lhe d ainda como habitat a Lusitnia; Brotero diz que j pouco se cultivava. [...] Assevera-me o prof. Gonalo Sampaio que no deve eliminar-se a Isatis tinctoria da flora portuguesa, pois que colheu, mencionando-os nas suas publicaes, exemplares de produo espontnea por toda a margem do Douro (RICARDO JORGE, 1916:131). 228 Da Indigofera tinctoria extrai-se um pigmento indigo. As folhas so imersas em gua. O pigmento presente nas folhas (indicano) converte-se em indigotina, que misturada com um alcali, origina o corante efectivo, que cora de azul a prpura. A planta da famlia das leguminosas (Fabaceae), encontra-se naturalizada em regies da sia tropical e temperada e de frica (http://en.wikipedia.org/wiki/Indigofera_tinctoria). 229 Todavia Ricardo Jorge ir manter o pastel-das-ilhas como sendo, no a Isatis tinctoria (o pastel ou o pastel do reino) como sugeria G. Sampaio, mas antes diversas espcies do gnero Indigofera, como a I. tinctoria Lin. e a I. anil Lin.: O pastel do reino fra-se substituindo j no sculo XVI pelo pastel das ilhas o anil fornecido pelas Indigoferas (I. tinctoria, I. anil, etc.) - um produto colonial dos insulares, vassalos da cora portuguesa, acabando com a cultura europeia do pastel que de facto em Frana era muito intensa nas provncias meridionais (RICARDO JORGE, 1916:131). 230 Ricardo Jorge manter, no entanto, no texto principal, a utilizao dos Cistus para fabricar escovas de fatos: Faziam-se escovas de fato [...] dos cistos que os lusitanos apelidam de sargaos (cerguaos); o Cistus monspelliensis, L. (RICARDO JORGE, 1916:131). 231 Sargao a designao popular para as macroalgas marinhas que so arrojadas s praias em certas alturas do ano. Todavia, VASCONCELOS (1915:78) admite sargao como nome vulgar do Cistus monspeliensis Lin. 232 Em especial ao Cistus hirsutus Lam., espcie que se distribui no norte e centro do pas. O Cistus salvifolium L designado de saganho-mouro, frequente em quase todo o pas (GEPB). 233 SAMPAIO (1946:154) considerar a existncia, no nosso pas, de quatro espcies deste gnero: S. europaea Lin., S. fruticosa Hill., S. glauca Stok. e S. macrostachya Moric.
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fructicosa Hill. (non Lin.), que abunda nos chamados prados salgados da pennsula hispnica e de toda a regio mediterrnica234. A Salicornia era empregada como kali235, como se pode ver em vrios tratadistas antigos (C. Bauhino, etc.).236 7. - Deve V. Ex.a suprimir a nota sobre o termo Anthylis de Amatus, nota que envolve vrios equvocos. Explico. O termo Anthylis vem de Dioscorides, que o empregou para plantas de gneros diferentes, como evidente pelas respectivas estampas, e admitido, sem discrepncia, por todos os auctores. Ora numa dessas Anthylis de Dioscorides viu Amatus, pela figura, uma planta de Valencia, que era realmente empregada como barrilheira237. Por isso aplicou a essa planta valenciana o termo genrico de Anthylis, e, como nesse tempo os gneros eram constitudos mais pela analogia de organizao, resultou que aplicou s plantas barrilheiras o nome genrico de Anthylis. Mais tarde C. Bauhino denominou o gnero de barrilheiras pelo nome kali, de que menciona vrias espcies, entre as quais a Salicornia. Mathilo criticou Amatus por ter chamado Anthylis a uma barrilheira, sustentando que nenhuma das Anthylis de Dioscorides era um kali. Esta critica de Dioscorides repizada depois por outros, no obstante botnicos dos mais eminentes preferirem o critrio de Amatus, tais como Clusius, que no clebre livro Rariorum plantarum historiae descreveu e figurou (lib. IV, pag. CIXXXVJ) precisamente a planta valentiana a que se referiu Amatus, dando-lhe o nome de Anthylis Valentina, que Lineu mais tarde mudou. Outros autores interpretaram Dioscorides de modo diferente, donde resultou que o nome Anthylis foi empregado pelos modos mais diversos, durante muitos anos, mas sem se referir a qualquer planta do gnero hoje assim designado [Anthyllis L.]. J v V. Ex.a que o ter Amatus chamado Anthylis s kalis no resultou de ele se equivocar com qualquer
Em Portugal ocorre nos terrenos salgados perto do litoral. As Kali dos tratadistas clssicos foram incorporadas, por Tournefort, em dois gneros: Salicornia e Kali. No gnero Salicornia, Tournefort albergou duas destas Kali, designadas por Gaspar Bauhino no seu Pinax, de 1623, de Kali geniculatum, majus sempervirens e Kali geniculatum brevius, annum (TOURNEFORT, 1719, Corollarium:51). Lineu, em Genera plantarum, aceitou o gnero tournefortiano (LINNAEO, 1754:4). Acerca das salicornias, escrevia Vigier: Toda a planta tem gosto salgado [...] O sal que se tira [das] cinzas [...] os arabios o chamaon alkali (VIGIER, 1718). 236 Ricardo Jorge, no entanto, manter a identificao das salicornias dos tratadistas, como espcies do gnero lineano Salsola: As hervas que pela lixiviao da cinza do o lcali, empregado na confeio do sabo e vidro, cresciam optimamente em Espanha no reino de Valena, especialmente nos logares marinhos [...] ste alcali a soda, que ento e por muito tempo se extraa das cinzas da Salsola soda L., S. longifolia, Forsk., S. vermiculata, L., S. Tragus, L., S. kali, Ten. [...] a Salicornia dos antigos; o salicor ou salicon dos espanhoes do gnero Salsola e no do gnero intitulado Salicornia (RICARDO JORGE, 1916:131-132). 237 Designam-se de barrilheiras algumas das Kali dos tratadistas clssicos, incorporadas por Tournefort no gnero Kali - as sodas (TOURNEFORT, 1719:247). O gnero Salsola foi formalmente criado por Lineu, em Genera plantarum, para substituir o gnero Kali de Tournefort (LINNAEO, 1754:104). Pertence famlia das quenopodiceas. A Salsola kali Lin. vulgarmente chamada de gramata, barrilha ou barrilheira-espinhosa (GEPB; VASCONCELOS, 1915:12; SAMPAIO, 1946:156). uma planta anual. A Salsola soda Lin. designa-se de soda ou barrilha (SAMPAIO, 1946:156). Ambas estas espcies se encontram no litoral martimo do nosso pas, nas areias e salgadios. As salsolas foram h sculos plantas muito apreciadas para a extraco do carbonato de sodio destinado ao fabrico do vidro e dos sabes, constituindo ento uma grande base de riqueza no litoral mediterrneo, principalmente Marrocos, sul de Espanha (Alicante) [] salsola est ligada a descoberta do fabrico do vidro (GEBP).
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espcie do actual gnero Anthylis [Anthyllis L.], pois que nessa poca essas espcies no eram chamadas por ningum Anthylis. Foi muito depois de Amatus que Lobelio creou o gnero que denominou Anthylis leguminosa, que nada tinha com os gneros chamados at ahi Anthylis. O azedo mas notvel Rivnio , que, muito depois, em 1694, denominou o genero Anthylis leguminosa de Lobelio pelo nico nome de Anthylis, que Tournefort, logo a seguir adoptou, bem como, mais tarde, Linneu [Anthyllis L.]. Devo acrescentar que a Anthylis de Amatus, ou Anthylis Valentina de Clusius, hoje a Frankenia pulverulenta de Linneu, planta dos terrenos salgados, como a Frankenia laevis Lin.238, considerada tambem por C. Bauhino como um kali (Cali, sic).239 8. - Tambem sobre a identificao dos tipos tenho algumas dvidas, mas no posso, sem tempo suficiente, verificar o valor delas. Por isso s estas coisas ligeiras: O milho mido (Panicum miliaceum) hoje conhecido no norte mais particularmente pelo nome de milho alvo240. Parece que era especialmente cultivado no Minho, como se deduz do seguinte dictado antigo: Homem do Minho que cala de pau e veste de linho, come po de passarinho e bebe vinho de enforcado, livre-me Deus dele e do Diabo. E tambem a cantiga transmontana: Vz dizeis que viva o Minho/ No sei que graa lhe achais/ Terra do milho mido/ Alimento dos pardais. Do milho alvo ainda hoje se fabrica po nos arredores de Braga, vendendo-se no mercado da cidade. para mim o mais saboroso po. possvel e at provvel que os termos canoro e candial provenham da antiga denominao especfica Olyria candorem; mas para se apurar isto com segurana necessrio algum tempo e vagar.241 A planta hoje denominada simplesmente milho nunca foi designada pelo povo milho americano o que uma etiqueta posta pelos cultos. Chamou-se a principio milho grosso e milho maz242. A palavra maz,

O gnero Frankenia foi proposto por Micheli e aceite por Lineu em Genera plantarum (LINNAEO, 1754:154). Ricardo Jorge incorpora esta importante observao de G. Sampaio sobre os diferentes significados da palavra Anthyllis numa nota: mas o snr. G. Sampaio pondera-me que o gnero Anthyllis foi creado muito posteriormente por Lobelio, para abranger plantas que nada tinham com as que eram designadas pelo nome clssico de Anthyllis. Aqui est um exemplo de como os arbitrios dos scientistas vieram ainda mais turvar o problema da identificao do vocabulrio greco-latino. (RICARDO JORGE, 1916:132) 240 Em Portugal, na Idade Mdia, era muito cultivado, e designado de milium, milio ou milho (ALMEIDA, 1992:107). A introduo do milho mas no sculo XVI, veio relegar esta cultura para segundo plano (ALMEIDA, 1992:128). 241 Ricardo Jorge aceita esta observao de G. Sampaio, escrevendo numa nota: Conta-nos o snr. G. Sampaio que o milho mido ainda hoje se panifica nos arredores de Braga sob o nome de milho alvo, e muita gente o saboreia. (RICARDO JORGE, 1916:134). 242 E ainda de milho (GOMES & BEIRO, 1852:201), milho grande, milho grado, milho de maaroca (ALMEIDA, 1992:108). O milho Zea mays Lin., uma espcie originria do Mxico, tendo-se espalhado pela Amrica Central e do Sul. Foi trazido para a Europa pelos viajantes espanhis do tempo de Colombo. Os portugueses levaram-no para vrias partes do mundo. A sua cultura em Portugal iniciou-se nas primeiras dcadas do sculo XVI, tendo sofrido uma rpida expanso no norte do pas. No final do sculo XVI incio do sculo XVII, no Minho e nas Beiras, a broa de milho tinha j um destacado lugar na alimentao do povo (ALMEIDA, 1992). VIGIER (1718:32) escrevia no incio do sculo XVIII: O milho grosso he taon conhecido neste reino que h escusada a descripam. Mas um termo indgena americano (MARTINS, 1908; ALMEIDA, 1992:108).
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derivada sem duvida de mays (Zea mays, Lin.), ainda hoje se conserva em todo o Minho, pelo menos, para a designao palha mas com que se indica a palha respectiva, do Zea mays, Lin.243 9. - No sei se ser exacta a informao de que o Asparagus officinalis Lin. (com mais harmonia pelas leis da nomenclatura Asparagus sativus Hill.) se no cultivava na pennsula no tempo de Amatus. No tempo de Gryslei cultivava-se em Portugal, pois este auctor o menciona no seu Viridarium lusitanicum publicado em 1661, isto , cerca de um sculo depois de Amatus.244 10. - No Minho a planta que se come falta de hortalia a Brassica sabularia Brot.245, a que chamam saramago, distinguindo bem do Raphanus raphanistrum Lin.246, que denominam labrsto e que nunca consegui apurar que se coma e que, at, toxica pelo suco, quando em contacto com o sangue. certo que tambem h regies onde chamam saramago s duas plantas, mas distinguindo os campnios muito bem as duas, que consideram como se fossem assim como variedades, apenas, de uma s espcie. Tambem noutras localidades chamam labrsto s duas brassicceas; mas, em qualquer destes casos, constatei que o povo s procura e colhe para o caldo a Brassica sabularia. Pergunto, agora: o povo come realmente o Raphanus raphanistrum em ano de fome? Ou o asseverarse isso vir, apenas, do facto de Brotero e outros aplicarem exclusivamente o nome saramago ao Raphanus raphanistrum, ao passo que o povo o aplica ou s Brassica sabularia ou simultaneamente a esta e ao Raphanus? Que o povo come o saramago no h duvida; o que falta saber qual a espcie botnica que corresponde realmente a esse saramago comestivel. Comer as duas especies? As minhas observaes s comprovam que come a Brassica.247 10. - preciso que V. Ex.a observe bem no Amatus se a tal leituga248,249a que se refere realmente a Tolpis barbata Gaert. facto que me custa a crr. No v ele referir-se, pelo contrrio, alface, a que

Ricardo Jorge incorpora esta observao de G. Sampaio, escrevendo em nota de rodap: O milho grosso tambm se chamou em tempo milho maez, de mais, que ainda hoje subsiste em palha maez, termo porque designam a sua palha (RICARDO JORGE, 1916:134). 244 Todavia Ricardo Jorge ir manter no texto principal: Os espargos (Asparagus officinalis, Lin.) aqui pela Espanha nem sequer se cultivavam, contentando-se com a nascena espontnea dos bravios (RICARDO JORGE, 1916:136). 245 Tambm chamada de couve da areia e mostarda brava (VASCONCELOS, 1915:61). 246 Sinnimo de Raphanus silvestris Lamk. (SAMPAIO, 1946:230). O rabanete, rabo ou rabias o R. sativus Lin. (GOMES & BEIRO, 1852:12; SAMPAIO, 1946:230). SAMPAIO (1946:610) tambm admite que labresto seja a lapsana - Lapsana communis Lin. (GEPB). 247 Ricardo Jorge, que no texto principal, tinha identificado o saramago de Amato como o Raphanus raphanistrum Lin., acrescenta esta observao de G. Sampaio numa nota: Observa o snr. G. Sampaio que no Minho tambm comida como hortalia e com o nome de saramago a Brassica sabularia, Brot.; em algumas regies ao raphanus chamam labrsto, e em outras empregam indiferentemente para as duas plantas, ora saramago, ora labrsto. Duvida qual seja das duas, tanto mais que nunca viu comer seno a Brassica (RICARDO JORGE, 1916:136). 248 Tolpis barbata (Lin.) Gaert. (Crepis barbata Lin.) era designada de leituga ou olho-de-mocho (GEPB; VASCONCELOS, 1915:51; GOMES & BEIRO, 1852:99; SAMPAIO, 1946:610). Trata-se de uma espcie da Europa do Sul e da frica do Norte e frequente no nosso pas.

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em vrias regies ainda algumas pessoas chamam leituga. Apezar de Brotero identificar o termo leituga com a Tolpis, a verdade que eu nunca verifiquei que fra dos livros, e no pvo, se chamasse leituga a tal planta. J vi que se chamasse leituga aos Sonchus, mas s Tolpis no. No Minho h o termo leituga aplicado s Hypochaeris, planta que colhem para alimentao dos porcos. Ora que os cevados comam as Hypochaeris compreende-se, mas que os portuguezes comessem noutras pocas as Tolpis coisa que no cmo.250 12. - Mathiolo corrigiu alguns erros que Amatus cometeu, realmente, sbre as Cucurbitceas; no entanto no me parece que Mathiolo e Laguna sejam neste ponto incompreensiveis, desde que se recorra s obras dos auctores que os estudaram e nos do boas estampas, sempre superiores s descripes. 13. - necessario apurar bem se o pilriteiro de que os rapazes comiam os frutos era o Crataegus oxyacantha Lin.251 ou a pereira brava, porque o povo d o nome de pilriteiro a estas duas plantas que so frequentes nos montados. A Pirus piraster252 d realmente pilritos que se podem comer, sendo os de algumas variedades bastante desenvolvidos e carnudos; mas o Crataegus, coitadinho, d uns pilritos pequenitos sempre, que so tudo caroo e pelica.253 14. - A de identificar a Barba de bode de Amatus com o Tragopogon porrifolius Lin., que no pode ser, de modo algum. Mathiolo j reprobou a Amatus o facto de ele ter aplicado a uma planta que no podia ser o Tragopogon a denominao Hirci barbula com que era designada, ento, esta ltima espcie. A designao portugueza de barba de bode dada pelos novos botnicos ao Tragopogon254 no uma designao popular, mas sim e unicamente uma designao dos antigos tratadistas, traduo
Neste ponto, o rascunho da carta segue da seguinte forma, terminando a comunicao de G. Sampaio a Ricardo Jorge: o caso muito srio, mas est-me a faltar a luz, porque so 8 horas da tarde. Por isso peo licena a V. Ex.a para continuar amanh, em que me devo referir a um erro grave de interpretao que o que diz respeito ao chamado Barba de bode. Esse erro de Amatus at j est apontado por Mathiolo. Por outro lado no se trata de um erro de Amatus, a bem dizer. Mas o que errneo identificar o seu Barba de bode com o Tragopogon. V. Ex.a desculpa a minha redaco, porque eu escrevo a toda a pressa, lamentando que a falta de tempo suficiente coisa de 15 dias, no permita estudar estes pontos a srio. Amanh, como disse, escreverei nova carta a V. Ex.a, continuando. Prto, 17 5. - 1916, De V. Ex.a admirador e muito reconhecido, Gonalo Sampaio. 250 Escreveria Ricardo Jorge: o snr. G. Sampaio me fez notar quam pouco crvel era que a tolpis pudesse ser comestvel, devendo tratar-se antes de qualquer alface, ou talvez algum Sonchus, a que j ouviu chamar leituga. E o que , visto que Amato lhe d o nome francs lettron, hoje laiteron ou laitron, botnicamente Sonchus. O Sonchus oleraceus, L. tambm se come em Frana cosido ou em salada (RICARDO JORGE, 1916:135-137). 251 Tambm chamado de espinheiro alvar de casca verde ou espinheiro ordinario de flor branca (GOMES & BEIRO, 1852:56). 252 Nome actual: Pyrus pyraster Burgsd. G. Sampaio considerava o Pirus communis ra. piraster Samp. como o catapereiro, escalheiro-preto ou pilriteiro-negro (SAMPAIO, 1946:400). 253 Ricardo Jorge escrever no seu livro: G. Sampaio reflexiona que entre ns se chama tambm pilriteiro a Pirus piraster que d pilritos mais comestveis que a oxycantha (RICARDO JORGE, 1916:139). 254 Todavia as plantas do gnero Tragopogon Tour. so tradicionalmente designadas de barba-de-bode (VIGIER, 1718:501; GOMES & BEIRO, 1852:100), apesar de SAMPAIO (1946:615) no admitir essa interpretao.
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exacta de Hirci barbula. possivel que no tempo de Amatus o povo portuguez chamasse barba de bode a uma planta que no era o Hirci barbula dos tratadistas. A no ser assim, Amatus enganouse; porque o Tragopogon ou Hirci barbula dos antigos botnicos no d tubrculos, como lhe observa muito bem o Mathiolo.255 Trata-se de uma liguloflor que Amatus, pela semelhana de muitos caracteres, poderia tomar pelo verdadeiro Hirci barbula? Neste caso s poderia ser a Crepis bulbosa Cass., embora se no saiba que os pequenos tuberculos desta planta sejam comestiveis. Eu, pelo menos, no o sei. H em Portugal umas pequenas umbeliferas do gnero Bunium (gnero Conopodium para outros) que produzem uns pequenos tubrculos que so na verdade saborosos e que os rapazes procuram com avidez, chamando planta trangulho. Mas no acredito que o povo lhe chamasse barba de bode (que seria um disparate) nem que Amatus confundisse tal planta com o Hirci barbula dos tratadistas, atentas as formidaveis diferenas que separam as duas. O mais provavel, pois, que se trata da Crepis bulbosa, embora se no saiba ou esteja verificado que os seus tubrculos se possam comer. 15. - O po e queijo de Amatus de modo algum pode ser a Primula vulgaris Huds., no obstante nos arredores do Prto e em localidades da Beira chamarem a esta planta po e queijo. Nada pode ter, igualmente, com os Thlaspi, como j o observou Mathilo, que diz poder tratar-se do Lotus (hoje Nymphaea). No sei se se trata ou no da Nymphaea, porque no tenho modo, agora, de estar a mastigar o latim do Amatus; o que sei, porm, que os nossos garotos gostam imensamente de comer o receptculo frutfero da Nymphaea lutea Lin. a que chamam, at, nalgumas localidades (Ponte de Lima, etc.) figueira dagua. Parece, portanto, que o Mathiolo, sem ver, acertou no alvo. Pode ser que a planta se chamasse po e queijo, porque do seu rizoma se tem feito uma farinha para gro, e ainda hoje se faz na Russia. Nesse caso o po seria o rizoma e o queijo o receptaculo frutifero.256 16. - Quanto ao chupa mel certamente est bem, correspondendo esta designao de Amatus ao Cerinthe major. Todavia eu no sei que os rapazes cheguem flr o que no admira, porque c para o norte no existe a planta. Aqui pelo Minho os rapazes chupam a corola, pela base, do Lamium maculatum, que denominam chuchas e chuchapitos.

A este propsito, Ricardo Jorge escrevia em nota de rodap: A barba de bode, barbula hirci dos clssicos, segundo os nossos praxistas um Tragopogon. G. Sampaio nega tal identificao, que j Matthiolo assacava contra Amato. Entra mesmo em dvida se barba de bode ser nome vulgar, ou apenas reminiscncia erudita; vejo todavia que em Espanha ao Tragopogon chamam barba cabruna, e em Frana barbe de bouc. Pelos tubrculos radicais supe que se tratar no Amato da Crepis bulbosa, Cuss, ignorando alis que les sejam comestveis (RICARDO JORGE, 1916:140). 256 Ricardo Jorge escreveria: Tanto a snr.a D. Carolina Mich. como o snr. G. Sampaio, dizem-me que no Norte se chama po e queijo Primula vulgaris, Unds. ste ltimo pende porisso a crr que o po e queijo do Amato seja, como j supozera Matthiolo, um lotus (Nymphaea), de que os nossos garotos comem o receptculo floral (RICARDO JORGE, 1916:140).

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17. - No deve ser a Clematis flammula Lin., mas sim a Clematis vitalba Lin. (conhecida em portuguez por cip do reino e erva das chagas257) que Amatus se refere. A primeira coisa rarissima em Portugal e limitada ao Algarve, creio eu; a segunda relativamente frequente e com a aplicao das suas folhas vesicantes arranjaram os mendigos falsas chagas para expr nas feiras em romarias. 18. - Em Portugal no est confirmada a existencia do Senecio praealtus Bert., que apenas uma variedade pouco distinta do Senecio crucifolius Lin. O sr. P. Coutinho que, com um dos seus numerosos e audaciosos equvocos, julgou encontrar no Senecio jacobeu Lin.258 var. intermedius Willk. o Senecio de Bert. J rectifiquei este erro grave na minha Lista das espcies do Herbrio Portugus pag. 134, em nota. A tasna, tasneira, tasninha, mija-co, erva de S. Thiago (que tantos so os nomes que o nosso povo lhe d) corresponde, pois, ao Senecio jacobaea Lin. var. intermedia Willk.259 19. - muito provavel que o tremoo de co de Amatus seja o Astragalus lusitanicus Lamk. de que conheo os nomes populares tremoo e alfavaca dos montes, j inventariados no Dicionario das plantas de Portugal que teem nome popular de Augusto de Vasconcelos260. Investigue V. Ex.a neste sentido.261 So estas as observaes que um apurado exame das provas me sugeriu. Alguns outros pontos deveriam ser melhor analizados do que foram. Desculpe V. Ex.a a redaco imperfeitissima, de fugida, e perdoe-me a demora a que fui forado por trabalhos que no momento no podia pr de lado. Na tipografia esperavam as gravuras dos meus trabalhos um sbre espcies novas e os desenhos estavam ainda por fazer. De V. Ex.a , com muita considerao, Gonalo Sampaio Porto, 18-5-1916 P. S. Lendo novamente as provas reparei que o Amatus fala da raiz bulbosa do palmito. Ora a Chamaerops no tem bolbos, e isto mais convencido me faz de que no se trata desta planta.

Ou ainda por vide branca (GOMES & BEIRO, 1852:1). A ortografia actual do nome da espcie Senecio jacobaea L. 259 Ricardo Jorge escrever: tasna ou tasneira Senecio jacobaea L. o S. jacobaea L., rectifica o prof. G. Sampaio, e no o S. praeaeltus Bert. apud Pereira Coutinho (RICARDO JORGE, 1963:206). 260 Este Dicionrio das Plantas de Portugal que teem nome popular de Augusto Vasconcelos (VASCONCELOS, 1915) tinha sido revisto pelo prprio G. Sampaio, que escreveu, em forma de prefcio, uma Apreciao. G. Sampaio escrevia que recomendava este trabalho pelo rigor da sua taxinomia botnica, pelo cuidado que demonstra em fornecer uma nomenclatura scientifica modernizada e pela ateno que presta ao significado dos termos vulgares nas diversas regies do pas, considerando-o como repositrio mais sortido e mais ponderadamente feito dos nomes populares dos vegetais espontneos do pas. 261 Ricardo Jorge escrever no seu livro: tremoos de co, fava venenosa para os ces e para o homem, que no consigo identificar. Talvez seja, segundo G. Sampaio, o tremoo Astragalus lusitanicus Lam. (RICARDO JORGE, 1963:206).
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Neste documento G. Sampaio revela assim, de forma bem patente, os seus conhecimentos aprofundados dos antigos tratadistas de botnica, e tambm da flora popular portuguesa262.

Interessantemente, G. Sampaio s opinou quanto flora do continente. No trabalho publicado de Ricardo Jorge existe um extenso captulo sobre a flora ultramarina que no contm qualquer comentrio de G. Sampaio. No ter sido pedido? Ou G. Sampaio ter declinado? Efectivamente a flora ultramarina nunca foi estudada por G. Sampaio.

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IV. G. Sampaio e o estudo da flora vascular portuguesa 1. G. Sampaio e a Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais 2. A rede de colaboradores 2A. Os Herbrios de Coimbra e de Lisboa 2B. Os Jesutas da Broteria 2C. Clemente Loureno Pereira 2D. J. Miranda Lopes 3. As Floras publicadas, inditas e inacabadas 3A. As Floras regionais publicadas 3B. O Manual da Flora Portugueza e o Prodromo da Flora Portugueza 3C. O Epitome da Flora Portuguesa 3D. A Flora Portuguesa e a Iconografia Selecta 4. O Herbrio da Academia Politcnica e da Faculdade de Cincias do Porto 5. G. Sampaio e Carlos Pau o projecto da Flora Ibrica

1. G. Sampaio e a Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais A Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais foi fundada em 1907, e, logo nesse ano, editava o

primeiro nmero da sua revista, o Bulletin de la Socit Portuguaise de Sciences Naturelles. A direco da revista era confiada a F. Mattoso Santos, presidente da Sociedade, e a M. Athias e C. Frana, seus secretrios. No primeiro nmero da revista (primeiro fascculo do primeiro volume), era feita uma introduo Sociedade, escrita em francs, em que se explicitavam os seus objectivos. O objectivo primrio era ser um frum para os estudos de Histria Natural em Portugal: La Socit Portuguaise de Sciences Naturelles se met la disposition de tous les naturalistes qui voudront sadresser elle pour obtenir les renseignements dont ils auront besoin, relativement la faune, la flore, la constitution minralogique et gologique du Portugal, et se charge de leur procurer, leurs frais, du matriel pour leurs tudes et pour des Muses et de leur adresser dans les conditions quils auront soin dindiquer. La Socit peut galement donner aux naturalistes voyageurs qui voudront faire des excursions scientifiques dans le Portugal, toutes les indications relatives au sjour, moyens de transport. A Sociedade tambm se propunha publicar catlogos da fauna, flora e mineralogia do pas e das colnias. No seu Boletim, na seco de Ofertas e Pedidos, seriam publicados pedidos de ofertas e pedidos de materiais para troca entre scios. A Sociedade agradecia o envio de publicaes para a sua Biblioteca. Aps este texto introdutrio, seguia-se um outro mais longo sobre a fundao da Sociedade. Quais as razes invocadas para a necessidade (e importncia) de fundar, em Portugal, nessa poca, uma sociedade cientfica dedicada ao estudo da Histria Natural? As razes fundamentais eram as seguintes: A. As Cincias Naturais tinham, em Portugal, desde h muito tempo, um nmero considervel de cultivadores apaixonados.

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B. O nmero de trabalhos publicados na rea era j considervel. C. Existiam algumas publicaes regulares de Cincias Naturais: os Annaes de Sciencias Naturaes publicados no Porto por Augusto Nobre; o Boletim da Sociedade Broteriana de Coimbra dirigida pelo iminente botnico Prof. Julio Henriques; a Broteria dirigida por J. S. Tavares do Colgio de So Fiel, um dos nossos mais distintos naturalistas. D. Alm destas revistas exclusivamente dedicadas Histria Natural, existiam outras que tambm inseriam trabalhos de Cincias Naturais: o Jornal de Sciencias Mathematicas, Physicas e Naturaes - publicao oficial da Academia das Cincias de Lisboa; O Instituto - Revista scientifica e literria, do Instituto de Coimbra; os Trabalhos do laboratrio de Analyse clnica do Hospital de S. Jos e os Archivos do Real Instituto Bacteriolgico Camara Pestana. E. Alm de publicarem nestas revistas nacionais, os naturalistas portugueses tambm publicavam em revistas estrangeiras. F. Apesar de numerosos, os naturalistas portugueses trabalhavam sozinhos, s existindo a Sociedade Broteriana de Coimbra, como associao e frum de naturalistas portugueses. Perante este enquadramento e constrangimentos, a Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais pretendia ser um frum para os naturalistas portugueses comunicarem os seus trabalhos, trocarem ideias, contribuindo desta forma para o desenvolvimento das Cincias Naturais em Portugal. A existncia da Academia das Cincias de Lisboa no podia ser razo impeditiva, dado que esta instituio se dedicava a todas as cincias e os seus membros eram em nmero restrito, pelo que no poderia desempenhar as funes a que se propunha a Sociedade. Quando surge a ideia da fundao da Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais? A ideia nasceu no XV Congresso Internacional de Medicina que se realizou em Lisboa em Abril de 1906263. O conselheiro F. Mattoso Santos e os naturalistas do Museu Nacional de Zoologia, ficaram ento encarregados de fundar a Sociedade. Uma circular, assinada por F. Mattoso Santos, Bethencourt Ferreira, C. Frana, Anthero F. de Seabra, Celestino da Costa e M. Athias, foi enviada maioria dos naturalistas portugueses264. Muitos responderam positivamente265. Os estatutos foram aprovados
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Organizado por Miguel Bombarda, contou com a presena de mais de 2.000 congressistas, de 27 pases, de todas as partes do mundo. Foram discutidos 134 temas de estudo e apresentadas cerca de 500 comunicaes livres. O programa cientfico foi publicado por M. Bombarda, em mais de 20 volumes de actas, logo em 1907 (CELESTINO DA COSTA, 1999:3536). 264 A gnese da Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais foi referida e descrita na revista Broteria, que transcreveu, na ntegra, esta circular, assim como os seus primeiros estatutos, e comentrios de J. S. Tavares. A circular foi enviada em Outubro de 1906 e constava do seguinte texto: Por occasio do Congresso Internacional de Medicina que se reuniu em Lisboa em Abril do corrente ano, dois ilustres professores allemes, os srs. Waldeyer e Benda, impressionados pela belleza e pela riqueza da fauna das nossas costas, proposeram na seco de Anatomia que o Congresso exprimisse o voto de que se

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oficialmente a 15 de Abril de 1907. A primeira reunio ocorreu a 29 de Abril de 1907. O presidente honorrio era D. Carlos I, naturaliste des plus distingus, dont les remarquables travaux, bien connus de tous, et la passion pour les Sciences Naturelles, notamment pour la Zoologie maritime, justifiaient amplement la rsolution de la Socit. Ainda neste primeiro nmero da revista, eram apresentados os estatutos da Sociedade. Nestes ficavam cristalizadas as ideias-fora que tinham motivado e justificado a fundao da Sociedade (j enunciadas nos textos precedentes). Assim, a finalidade da Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais era cultivar e desenvolver as Cincias Naturais e publicar trabalhos nesta rea. A sede localizava-se em Lisboa. S eram admitidas pessoas que tivessem feito trabalhos cientficos de valor reconhecido na rea das Cincias Naturais, ou que tivessem contribudo para o desenvolvimento destas Cincias em Portugal. Existiam cinco classes de membros: membros fundadores (membros data da aprovao dos estatutos); membros honorrios (ttulo conferido pela Sociedade a personalidades de elevada categoria cientfica); membros titulares (todos os membros residentes em Portugal); membros correspondentes (todos os membros residentes no estrangeiro); membros benfeitores (membros que tinham prestado Sociedade servios importantes ou lhe tinham feito doaes). Os membros fundadores e titulares

creasse, em Portugal, uma Estao de Biologia maritima, similhante s que existem em outros paizes, tais como a Itlia, a Allemanha e a Frana. Esta proposta foi tanto melhor acolhida quanto certo que de ha muito havia em esprito de investigadores portugueses a noo de que seria de um grande proveito para a sciencia e para o nosso pas, o estabeleceremse em Portugal, Institutos onde os nossos naturalistas e os estrangeiros podessem vir aproveitar das condies excepcionais que aqui se encontram reunidas para o prosseguimento de interessantes exploraes scientficas. Desde 1864 o illustre zoologo, professor Barbosa du Bocage, ps em relevo a excellncia dos nossos mares para estudos oceanogrphicos e a partir de ento ficaram elles sendo considerados como manancial riquissimo. Em diversas publicaes, auctorisados especialistas, como so os snrs. Augusto Nobre, Rocha Peixoto, Mello de Mattos, etc., demonstraram suficientemente a verdade de tal assero e o primeiro destes naturalistas creou um Laboratrio de Zoologia martima []. Para o convencimento de que muito se pode fazer neste sentido entre ns, no pouco teem concorrido as investigaes de S. M. ElRei o Senhor D. Carlos que, nas suas exploraes, tem descoberto exemplares que muito teem enriquecido a scincia e que cada vez mais revelam o interesse que h em se estudar duma maneira systemtica, e com o auxilio de todos os progressos technicos das scincias naturais, a Biologia dos nossos mares. O que todas estas observaes mostraram ser uma necessidade, o voto emittido pelo Congresso converteu numa urgencia e mal ficaria a Portugal deixar perder a opportunidade de realizar uma obra de to grande alcance. Encarando o problema pelos seus varios aspectos e procurando a melhor frma de o resolver, pareceu-nos que seria vantajoso comear por constituir uma aggremiao de naturalistas portugueses, no s zologos, como tambem bilogos, botnicos, gelogos, etc., porque a todos pde interessar uma tal fundao. Congregando assim numa sociedade os que cultivam entre ns os diversos ramos das scincias naturais, affigurase-nos que mais facilmente se pode estimular e desenvolver o estudo destas scincias e mais facilmente promover a criao e manuteno de instituies onde os estudiosos possam encontrar os meios indispensveis para as suas investigaes. Nesta orientao pensmos, pois, em fundar, em Portugal uma associao de caracter exclusivamente scientifico, sob o titulo de Sociedade Portuguesa de Sciencias Naturais, da qual enviamos a V. Exc.a um projecto de estatutos. evidente que procurando fundar uma tal aggremiao, no podiamos deixar de nos dirigir aos naturalistas mais eminentes do nosso pas, solicitando-lhes no s o seu assentimento, como tambem a sua valiosa opinio sobre o modo como a nossa ida poder ser mais facilmente posta em prtica e do modo mais proveitoso possivel. Desde j agradecemos a V. Exc.a a fineza de nos enviar a sua adheso at 15 de Novembro do corrente anno, acompanhando-a de quaisquer modificaes ou addies que julgue dever fazer ao projecto de estatutos que elaboramos (B, VII:127-128). 265 Os naturalistas que responderam positivamente circular enviada constituram os scios fundadores da Sociedade (B, VII:128)

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pagavam uma cota mensal de 500 ris, os membros correspondentes, uma cota anual de 5.000 ris, no pagando cotas os membros honorrios e benfeitores. Existiam sesses ordinrias e sesses extraordinrias. Os corpos gerentes da Sociedade eram constitudos por um presidente, vice-presidente, primeiro secretrio, segundo secretrio, primeiro vice-secretrio, segundo vice-secretrio e tesoureiro. O Boletim tinha como redaco, o presidente e os dois secretrios da Sociedade. No primeiro ano, o presidente de honra era, como j foi referido, o Rei D. Carlos I. Barbosa du Bocage era o membro honorrio. Os Estatutos da Sociedade eram modificados na Assembleia Geral de 10 de Maro de 1908. Continuavam a existir cinco classes de scios, mas as categorias originais eram ligeiramente modificadas, e criava-se uma nova modalidade de scio. Os membros fundadores eram englobados nos scios titulares. Mantinham-se as categorias de scios honorrios, correspondentes e benfeitores. A nova classe de scios associados, era destinada aos residentes em Portugal que se interessavam pelos progressos das Cincias Naturais e da obra da prpria S. P. C. N. No segundo volume do Bulletin de la Socit Portugaise de Sciences Naturelles encontramos a lista de todos os scios da Sociedade. Assim no final de 1908, a Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais tinha, como membros honorrios: C. Benda, professor na Universidade de Berlim; R. Blanchard, professor da Faculdade de Medicina de Paris; S. Ramn y Cajal266, professor na Universidade de Madrid; Ferreira da Silva267, professor da Academia Politcnica do Porto; A. Laveran, professor da Escola de Medicina de Val-deGrce; O. Thomas, professor e naturalista do Museu Britnico e W. Waldeyer, professor da Universidade de Berlim.

Santiago Ramn Y Cajal (1852-1934) formou-se em medicina, em Saragoa. Em 1875, professor de Anatomia na Faculdade aragonesa, onde se dedica afincadamente Histologia e tcnica histolgica. Em 1883, professor na Faculdade de Medicina de Valncia. Em 1892, professor de Histologia e Anatomia Patolgica da Universidade de Madrid, aposentando-se em 1922. Foi presidente da Real Sociedade Espanhola de Histria Natural, em 1897, sendo eleito seu presidente honorrio em 1932. Realizou notveis e originais estudos sobre a anatomia e fisiologia do sistema nervoso, demonstrando que o crebro constitudo por bilies de clulas individuais - os neurnios. Foi, conjuntamente com Camillo Golgi, Prmio Nobel da Medicina em 1906. Dado a trabalhos literrios e filosficos, dotado de uma grande e vasta cultura, tanto cientfica, como artstica e literria, [] a sua influncia em Espanha foi muito grande (GEPB) (http://es.wikipedia.org/wiki/Real_Sociedad_Espaola_de_Historia_Natural; GEPB, ABBOTT, 2008:940). 267 Antnio Joaquim Ferreira da Silva (1853-1923) cursou filosofia na Universidade de Coimbra. Foi lente de qumica da Academia Politcnica do Porto. Em 1889, Director do Laboratrio Municipal de Qumica do Porto e do Posto Fotomtrico. Em 1902, professor de Qumica Legal e Sanitria na Escola de Farmcia portuense. Em 1911, professor de Qumica Orgnica da Faculdade de Cincias do Porto, sendo tambm seu director em 1911-1912. Fundou, em 1905, a Revista de Qumica Pura e Aplicada. Aposentou-se em 1923. Publicou muitos trabalhos, sobretudo na rea da Qumica. Foi scio da Academia das Cincias de Lisboa (GEPB; MARINHO, 1924; SANTOS, 1996:141).

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A lista completa dos seus scios titulares (e fundadores) era a seguinte (transcrevendo do Boletim da Sociedade): Alberto de Aguiar268, professor da Escola de Medicina do Porto; J. M. de Almeida Lima269, professor na Escola Politcnica de Lisboa; J. Antunes Pinto270, professor de Fisiologia na Escola de Medicina Veterinria; Marck Athias271, chefe de servio do Instituto Real de Bacteriologia Camara Pestana; A. Avila Horta, veterinrio, assistente do Instituto Real de Bacteriologia Camara Pestana; C. Azevedo de Menezes272, naturalista; J. A. P. Azevedo Neves273, director do Laboratrio do Hospital de S. Jos em Lisboa; C. Bello de Morais274, professor na Escola de Medicina

Alberto Pereira Pinto de Aguiar nasceu no Porto, em 1867. Formou-se na Escola Mdico-Cirrgica do Porto, sendo nesta escola, lente-proprietrio de Patologia Geral, em 1900. Regeu diversas Cadeiras como Higiene, Bacteriologia e Parasitologia, Qumica Biolgica, Patologia Geral, Fisiologia. Foi director da Faculdade de Medicina do Porto e scio da Academia das Cincias de Lisboa. Jubilou-se em 1935. A sua obra publicada extraordinariamente valiosa (GEPB). 269 Joo Maria de Almeida Lima (1859-1930) foi lente-substituto de Fsica Experimental da Escola Politcnica de Lisboa e professor da Faculdade de Cincias de Lisboa. Foi director da Faculdade de Cincias de Lisboa, reitor da Universidade de Lisboa, presidente da Academia das Cincias de Lisboa e Ministro do Fomento (GEPB). 270 Jos Antunes Pinto nasceu em Lisboa e morreu em 1925. Foi lente de Patologia Geral, Especial e Clnica Mdica do Instituto Geral de Agricultura e professor de Histologia e Fisiologia Geral da Escola Superior de Medicina Veterinria, da qual foi tambm director (GEPB). 271 Marck Athias (1875-1946) dotado de extraordinria inteligncia e de grande curiosidade foi um dos propulsionadores da nova medicina portuguesa. Trabalhou no laboratrio do histologista Mathias Duval, em Paris, terminando o curso de Medicina, nesta cidade, com 22 anos de idade. Regressa ento a Portugal. Com o auxlio de Miguel Bombarda, instala um laboratrio de histologia. Entra para a Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa, em 1903, como preparador de histologia e fisiologia, mas rapidamente atinge o topo da carreira docente, em 1910. Liga-se a Carlos Frana, que trabalhava no Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana. Com a criao da Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1911, escolhido para seleccionar o equipamento principal a ser adquirido para os seus Institutos (os antigos laboratrios da Escola Mdico-Cirrgica). Para dar resposta a este objectivo, viaja pelo estrangeiro (Paris, Gante, Bruxelas, Lpsia e Gotinga) para visitar outros Institutos onde pudesse adquirir o conhecimento cientfico e prtico da melhor aparelhagem a adquirir. Funda, na Faculdade de Medicina de Lisboa, o Instituto de Fisiologia e Qumica Fisiolgica. Fiel sua cincia me, a histologia, Athias utilizou sempre o mtodo morfolgico para os seus estudos fisiolgicos, na sua grande maioria pertencentes ao campo da histofisiologia e alguns mesmo da histopatologia. No entanto, por diversas razes, deixa o Instituto de Fisiologia para ser investigador do Instituto Portugus de Oncologia. Foi ainda presidente da Junta de Educao Nacional. Como bibliotecrio da Biblioteca Central [da Faculdade de Medicina de Lisboa], orientou a compra de livros e revistas e organizou a classificao das espcies mais raras. Deixou como discpulos, A. Celestino da Costa e Abel Salazar (GEPB; BOTELHO, 1999b:293; CELESTINO DA COSTA, 1999:33-34, 43-44). 272 Carlos Azevedo de Menezes (1863-1928) foi funcionrio da secretaria da Cmara Municipal do Funchal, transitando depois para a direco da Biblioteca Municipal. Apaixonado pela Botnica, publicou trabalhos em importantes revistas cientficas da poca, dos quais se destacam os Subsidios para o conhecimento da flora das Ilhas Selvagens, e diversos trabalhos sobre a flora da Ilha da Madeira (GEPB). 273 Joo Alberto Pereira de Azevedo Neves (1877-1955) formou-se em medicina pela Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa. Foi nomeado professor de Medicina Legal da Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1911. Foi ainda director do Instituto de Medicina Legal, director da Faculdade de Medicina de Lisboa, reitor da Universidade Tcnica de Lisboa, Ministro e secretrio de Estado do Comrcio e dos Negcios Estrangeiros (1918) e presidente da Academia das Cincias de Lisboa. Foi um pioneiro da Medicina Legal, Luta contra o Cancro, Fisioterapia, e do Ensino tcnico profissional (BOTELHO, 1999b:301) (GEPB; BOTELHO, 1999b:301). 274 Carlos Bello de Morais (1868-1933) formou-se em medicina, em Lisboa, em 1892. Foi lente-proprietrio da 2.a Cadeira (Fisiologia Especial) e da 7.a Cadeira (Patologia Interna), na Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa. Foi director de enfermaria do Hospital de S. Jos, director do Hospital Escolar de Santa Marta, presidente da Sociedade Portuguesa de Cincias Mdicas e da Associao dos Mdicos Portugueses. Foi director da Medicina Contemporanea durante muitos anos, onde publicou inmeros trabalhos, e da revista Lisboa Mdica (GEPB; BOTELHO, 1999b:300; JORDO, 1999:159-165). Foi um erudito e dos grandes mestres da cincia moderna e clnico de grande prestgio. Modesto e inteiramente votado cincia eximiu-se sempre a cargos honorficos, recusando o seu nome, em 1923, para a eleio presidncia da Repblica.

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de Lisboa; A. Bensaude275, professor de Mineralogia do Instituto Industrial; Bethencourt Ferreira276, naturalista do Museu Bocage; Annibal Bettencourt277, director do Instituto Real de Bacteriologia Camara Pestana; N. Bettencourt278, assistente no Instituto Real de Bacteriologia Camara Pestana; Miguel Bombarda279, professor de Histologia e Fisiologia Geral na Escola de Medicina de Lisboa; Ildefonso Borges280, veterinrio assistente do Instituto Real de Bacteriologia Camara Pestana; Camara

Decidido a s desenvolver a sua actividade no campo cientfico, representou o pas, com brilho, em vrios congressos internacionais (GEPB). 275 Alfredo Bensaude nasceu em Ponta Delgada, em 1856. Era formado em geologia-mineralogia pela Universidade de Gotinga. Foi professor do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa. Por incumbncia de Brito Camacho, Ministro do Fomento, elaborou uma reforma para o Instituto Superior Tcnico (GEPB). 276 Jlio Guilherme Bethencourt Ferreira (1866-1948) formou-se na Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa, tendo exercido clnica nesta cidade. Foi naturalista do Museu Bocage (Lisboa) e assistente da Faculdade de Cincia de Lisboa. Em 1923, foi nomeado 1. assistente do subgrupo de Zoologia da 3.a seco (Cincias Histrico-Naturais) da Faculdade de Cincias do Porto, onde permaneceu at sua aposentao, em 1936. Tomou parte na misso mdica Madeira, dirigida por Carlos Frana, durante a epidemia de clera de 1910. Foi scio da Academia das Cincias de Lisboa (GEPB; FCP, 1969:327). 277 Annibal Bettencourt (1868-1930) foi colaborador e colega de trabalho de Cmara Pestana, desde os primeiros estudos sobre a anlise bacteriolgica das guas de Lisboa (1892), sucedendo-lhe, depois, na direco do Instituto Bacteriolgico. Foi professor de Bacteriologia e Parasitologia da Faculdade de Medicina de Lisboa. Esteve ligado fundao da Sociedade Portuguesa de Biologia e da Sociedade Portuguesa de Fotografia, de que foi o seu primeiro presidente e cultor exmio desta arte. Publicou a maior parte dos seus trabalhos nos Arquivos do Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana (GEPB; BOTELHO, 1999b:294; CELESTINO DA COSTA, 1999:49). Foi dos primeiros que em Portugal se dedicaram ao estudo da Microbiologia, cincia em que veio a ser mestre insigne [] Dirigiu em todos os seus pormenores a instalao do modelar [Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana] no Campo dos Mrtires da Ptria, que em breve se tornou, graas competncia e superior orientao do seu primeiro director, o primeiro grande centro de estudos de Medicina Experimental em Portugal (GEPB). 278 Nicolau Anastcio de Bettencourt nasceu em Angra do Herosmo, em 1872. Foi mdico bacteriologista, professor de Bacteriologia da Faculdade de Medicina de Lisboa, mdico dos hospitais civis de Lisboa e director do Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana (GEPB). 279 Miguel Augusto Bombarda (1851-1910) nasceu no Rio de Janeiro. Estudou na Escola Politcnica de Lisboa e na Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa, onde se distinguiu como aluno brilhante. Foi mdico cirurgio do Hospital de S. Jos, em 1879, e, cirurgio extraordinrio, em 1884. Em 1892, director do Hospital Rilhafoles (que mais tarde se transformaria, em sua homenagem, no Hospital M. Bombarda), onde se destaca na sua reorganizao sanitria, nosocomial, disciplinar, policial e administrativa. um dos fundadores da psiquiatria portuguesa. Elabora valiosssimos relatrios mdico-legais, bem como pareceres com que responde a numerosas consultas mdico-forenses dos mais reputados advogados. Integra tambm o Conselho Superior de Higiene e a sua interveno scio-sanitria pauta-se por abrangentes aces de divulgao dos princpios de higiene colectiva e individual, de noes cientficas elementares, e, mais tarde, das suas ideias polticas. Em 1896, abre um curso livre de Psiquiatria, para estudantes e mdicos, com lies peridicas todos os domingos. Na Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa, lente-proprietrio da 2.a Cadeira (Fisiologia e Histologia), e, a partir de 1903, da 14.a Cadeira (Fisiologia Geral e Histologia). Em Rilhafoles cria o laboratrio onde M. Athias orientar investigadores notveis como Carlos Frana, Azevedo Nunes, Pinto de Magalhes e Celestino da Costa. Preside Sociedade de Cincias Mdicas de 1900 a 1903. redactor do Correio Medico. Funda, em 1883, com Manuel Bento de Sousa e J. T. de Sousa Martins, a publicao Medicina Contemporanea. Como Secretrio-Geral, organiza a mquina complexa do XV Congresso Internacional de Medicina realizado em 1906. Morre assassinado, em 1910, s mos de um doente (GEPB; BARBOSA, 1999:221-229; BOTELHO, 1999b:294). Para uma descrio do Congresso Internacional de Medicina, realizado em Lisboa, em 1906, ver CHORO (1906). 280 Ildefonso Borges nasceu em Santa Cruz da Graciosa, em 1864. Formou-se em agronomia e medicina veterinria no Instituto de Agronomia e Veterinria. Foi professor de Parasitologia e de Patologia Extica na Escola Superior de Medicina Veterinria, assistente do Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana e director interino da Estao Zootcnica Nacional (GEPB).

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Pestana, agrnomo; E. P. Canto e Castro281, professor no Liceu de Lisboa; A. Cardoso Pereira282, qumico; A. Carvalho de Figueiredo, naturalista; F. A. Chaves283, director do Servio de Meteorologia dos Aores; P. Choffat284, membro da Comisso dos Servios Geolgicos de Portugal; J. M. Corra de Barros, naturalista; A. Corra Mendes, director do Laboratrio de Bacteriologia de Luanda (Angola); A. P. Celestino da Costa285, assistente no Laboratrio de Histologia da Escola de Medicina de Lisboa; A. A. da Costa Ferreira286, professor no Liceu Central de Lisboa; C. Frana287, chefe de servio do

Eugnio Vaz Pacheco do Canto e Castro formou-se em filosofia, na Universidade de Coimbra. Em 1888, foi nomeado professor do liceu de Ponta Delgada. Veio depois para Lisboa, para um dos seus liceus, mas voltou j doente, a Ponta Delgada, onde morreu em 1911. Interessou-se por estudos geolgicos, pedaggicos e filosficos (GEPB). 282 Artur Cardoso Pereira nasceu em 1865. Formou-se na Escola-Mdico Cirrgica do Porto. Especializou-se em qumica analtica no estrangeiro. Foi assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa, director do laboratrio qumico do Instituto de Medicina Legal de Lisboa e professor de Qumica Geral e Qumica Inorgnica do Instituto Superior Tcnico. Aposentou-se em 1935 (GEPB). 283 Francisco Afonso Chaves (1857-1926) estudou na Escola Politcnica de Lisboa. Foi director do Observatrio Meteorolgico de Ponta Delgada e do Servio Meteorolgico dos Aores. Deu notvel impulso e unidade aos estudos meteorolgicos e geofsicos nos Aores. Foi membro de diversas comisses meteorolgicas internacionais, nomeadamente do Comit Meteorolgico Internacional. Como naturalista, a sua obra foi tambm notvel, fundando o Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada. R. Moniez dedicou-lhe uma espcie de crustceo: Cypriodopsis Chavesi; Adrien Dollfuss consagrou-lhe o gnero e espcie Chavesia costulata, e a espcie Trichoniscus Chavesi. A um peixe foi dado o nome de Myctophum Chavesi Collet (GEPB). 284 Lon Paul Choffat (1849-1919), suo, teve a sua formao acadmica em geologia, em Zurique. Vem para Portugal a convite de Carlos Ribeiro, acabando por permanecer no nosso pas quase 40 anos. Trabalhador infatigvel e investigador criterioso deixou estudos importantes e diversificados sobre a geologia de Portugal (GEPB). 285 Augusto Pires Celestino da Costa (1884-1956) terminou o curso de medicina, em 1905. Fundou, em 1911, na recentemente criada Faculdade de Medicina de Lisboa, o Instituto de Histologia e Embriologia. Durante 43 anos exerce, neste Instituto, a funo de professor de Histologia e Embriologia, e de investigador. Foi director do Laboratrio Central do Hospital de S. Jos, director da Faculdade de Medicina de Lisboa, e presidente da Junta de Educao Nacional, do Instituto para a Alta Cultura e da Sociedade das Cincias Mdicas de Lisboa. Foi ainda Doutor Honoris Causa por vrias Universidades estrangeiras. Foi o mais destacado embriologista da Pennsula Ibrica. Destaca-se tambm como pedagogo, tendo publicado os manuais necessrios ao estudo das matrias que ensinava: um Manual de Tcnica Histolgica (1.a edio em 1921); os Elementos de Embriologia (Manual de Embriologia) (1.a edio em 1933); o Manual de Histologia (em colaborao com P. R. Chaves, 1.a edio em 1937), o Tratado Elementar de Histologia e Anatomia Microscpica; as Lies sobre a Histofisiologia das Glndulas Endcrinas. Tambm esteve envolvido na criao da Sociedade Portuguesa de Biologia, em 1920, e dos respectivos boletins. Foi ainda director tcnico do Aqurio Vasco da Gama, entre 1917 e 1923, procurando torn-lo um verdadeiro Instituto de Biologia Martima (GEPB; BOTELHO, 1999b:296; CELESTINO DA COSTA, 1999:45-47). 286 Antnio Aurlio da Costa Ferreira (1879-1922) formou-se em filosofia e medicina na Universidade de Coimbra. Foi professor do Liceu Cames, em Lisboa. Em 1919 entrava como naturalista do Museu Bocage em Lisboa, e, em 1921, era nomeado professor de anatomia antropolgica, na Faculdade de Medicina de Lisboa. Convidado pelo dr. Brito Camacho para realizar estudos antropolgicos em Moambique, partiu para esta colnia, onde pouco depois da chegada e sob uma grave depresso nervosa, ps termo existncia. Em 1910 tinha sido eleito deputado por Setbal, e, em 1911, nomeado director da Casa Pia de Lisboa. Foi vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais, e Ministro do Fomento em 1912-1913, no governo de Duarte Leite. vastssima a sua bibliografia. Costa Ferreira foi um trabalhador infatigvel, um notvel investigador e do seu extraordinrio labor ficaram inmeros trabalhos (GEPB). 287 Carlos Frana (1877-1926) nasceu em Torres Vedras. Formou-se em medicina na Escola Mdica-Cirrgica de Lisboa. Foi um dos jovens colaboradores de Cmara Pestana, especializando-se em doenas infecto-contagiosas e em parasitologia humanas. Ao lado de Cmara Pestana, participou no combate epidemia de peste que ocorreu no Porto em 1899 (onde morrer o distinto bacteriologista lisboeta). Em 1910, tambm combater esta doena na Madeira. nomeado mdicoauxiliar do Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana, sendo seu sub-director em 1905. Neste ano, entra como naturalista para o Museu de Zoologia da Escola Politcnica. Aps a implantao da Repblica, incompatibiliza-se com as autoridades de sade, abandona o Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana, e retira-se para a sua Quinta de Colares, onde seul et isol du

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Instituto Real de Bacteriologia Camara Pestana; Jacintho P. Gomes288, naturalista do Museu Nacional de Histria Natural, seco de Mineralogia; J. A. Guimares289, naturalista; Ayres Kopke, professor na Escola de Medicina Tropical de Lisboa; A. Le Cocq290, director geral da Agricultura; Maximiano de Lemos291, professor na Escola de Medicina do Porto; C. J. Lima Alves, chefe de servio no Instituto Agronmico; E. Lima Bastos, chefe de servio no Instituto Agronmico; A. Luisier292, professor do Colgio de Campolide; T. Martins Nato, naturalista; H. Mastbaum293, qumico; F. Mattoso Santos294,

monde, avec de trs maigres ressources, il improvise un petit laboratoire o il vat continuer ses brillantes investigations (QUINTANILHA, 1926). A partir desta data, dedica-se botnica. Contacta com A. X. Pereira Coutinho, J. Henriques e G. Sampaio. Estuda primeiro um parasita flagelado existente no ltex das eufrbias. De seguida, dedica-se ao estudo das plantas carnvoras. Deste estudo, resultam vrias publicaes no Boletim da Sociedade Broteriana. Finalmente, a Faculdade de Medicina de Lisboa convida-o para professor de parasitologia. Faz investigao no Instituto Rocha Cabral. Inicia estudos sobre a malria, mas adoece. Morre prematuramente antes dos 50 anos (GEPB; QUINTANILHA, 1926). 288 Jacinto Pedro Gomes formou-se na Escola de Freiberg. Foi naturalista do Museu Nacional da Escola Politcnica, onde sucedeu, em 1883, a Alfredo Bensade. Foi assistente da Faculdade de Cincias de Lisboa e colaborador dos Servios Geolgicos (GEPB). 289 Jos de Ascenso Guimares (1862-1922) estudou botnica com J. Henriques, na Universidade de Coimbra. Pertenceu direco da Companhia das guas Livres de Lisboa durante 25 anos. A Botnica ocupava-lhe alguns dos tempos livres. Recolheu muitos exemplares para o Herbrio da Universidade de Coimbra. Publicou, na revista Broteria de 1904, uma monografia das Orobanchceas, e na revista Polytechnica de 1907, um estudo sobre as orqudeas portuguesas (TAVARES, 1922). 290 Alfredo Carlos Le Cocq, prestigioso agrnomo, fundou o Laboratrio de Patologia Vegetal, em Lisboa. Foi eleito deputado em vrias legislaturas (GEPB). 291 Maximiano Augusto de Oliveira Lemos Jnior (1860-1923) formou-se em medicina pela Escola Mdico-Cirrgica do Porto. Foi lente-proprietrio da Cadeira de Medicina Legal at 1911, dirigindo tambm a Morgue do Porto. Em 1916, professor da Cadeira de Histria e Filosofia Mdicas e tica Profissional na Faculdade de Medicina do Porto. Foi director desta Faculdade, de 1918 a 1922. Em 1921, vice-reitor da Universidade do Porto. Em 1923, abandona a carreira docente por motivos de sade. Dirigiu a Enciclopdia Portuguesa Ilustrada, em 11 volumes. Da sua vasta bibliografia, destacam-se os trabalhos sobre a Histria da Medicina - a Histria da Medicina em Portugal publicada, em 1899, e as monografias sobre Amato Lusitano, Zacuto e Ribeiro Sanches. Fundou e dirigiu a revista Arquivos de Histria da Medicina Portuguesa, de que saram 20 volumes, constituindo um repositrio valioso sobre a Histria da Medicina em Portugal. Entre os seus mais prximos amigos contava-se Ricardo Jorge, que, alis, tambm se dedicou, de forma notvel, ao estudo da Histria da Medicina (GEPB). 292 P.e Alphonse Luisier (1872-1957) nasceu em Frignoley (Sua) e morreu no Colgio Nuno lvares. Ingressou na Companhia de Jesus aos 19 anos. Faz os seus estudos teolgicos em Innsbruch (ustria). A diversidade botnica do Tirol ter despertado, no jovem padre jesuta, o gosto pela Botnica, em particular pelos musgos e hepticas. Ensina no Colgio de Campolide, entre 1907 e 1910. Com a expulso dos padres jesutas aps a implantao da Repblica em 1910, exila-se em Salamanca, onde reside na rua Serranos, 2. Herboriza intensamente nesta regio. Alguns anos mais tarde desloca-se para o Colegio del Pasaje em La Guardia, na Galiza, onde ensina e dirige a Broteria. Regressa finalmente a Portugal, em 1932. Dirige a srie de Cincias Naturais da Broteria e ensina no Colgio Nuno lvares. Publica, em 1924, Musci Salmanticenses, descrevendo 184 txones, incluindo vrios novos para a cincia. Conhecedor profundo da flora briolgica da Madeira, publica Les Mousses de Madre (1917-1922), e uma segunda edio sob o ttulo Les Mousses de lArchipel de Madre et en general des les Atlantiques (1927-1932, 1938, 1942, 1945). Publica ainda dezenas de trabalhos de briologia. um dos fundadores da briologia moderna. Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto, em 1942, e titular da insgnia da Ordem Militar de Santiago do governo portugus. Em sua homenagem tm-lhe sido dedicados txones novos para a cincia: Luisieria fariae Tav., Luisieria lantanae Tav. e Luisierella pusilla Ther., alm de outros mencionados no presente trabalho. A sua coleco de brifitas encontra-se hoje no Colgio Nuno lvares. O seu carcter definido por CASTELLARNAU (1958): Era austero, pero tratable y de un corazn bondadoso y muy caritativo (GEPB; CASTELLARNAU, 1958; MELO, 1987). 293 Hugo Mastbaum (1859-1945) nasceu na Alta Silsia e morreu em Lisboa. Era doutorado em filosofia e qumica pela Universidade de Berlim. Veio para Portugal a convite do ministro Emdio Navarro e foi colocado na Direco Geral de

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Conselheiro, professor de Zoologia na Escola Politcnica de Lisboa; Candido Mendes295, naturalista, professor no Colgio de S. Fiel; J. Miranda do Valle296, chefe de servio na Escola de Medicina Veterinria; F. Mller297, inspector do Jardim Botnico de Coimbra; F. Newton298, naturalista; A. Nobre299, naturalista do Museu da Academia Politcnica do Porto; A. C. Oliveira Pinto300, professor no Colgio de Campolide; J. da Cunha Paredes, veterinrio, assistente do Instituto Real de Bacteriologia Camara Pestana; J. V. Paula Nogueira301, professor na Escola de Medicina Veterinria; A. Pereira, director do Instituto Pasteur do Porto; Pereira e Sousa, naturalista; M. A. Pinto, chefe do Laboratrio Nobre, Porto; J. P. Rasteiro302, chefe de servio no Instituto Agronmico; M. Rebimbas303, naturalista;
Agricultura. Foi director do Laboratrio de Anlises Qumico-Fsicas e director-adjunto da Estao Agrria Nacional. Foi scio de diversas sociedades cientficas e da Academia das Cincias de Lisboa. A sua bibliografia muito vasta (GEPB). 294 Fernando Mattoso Santos (1849-1921) formou-se em filosofia e em medicina na Universidade de Coimbra. Foi mdico na Goleg, lente-proprietrio da Cadeira de Zoologia e Anatomia Comparadas na Escola Politcnica de Lisboa e lente do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa. Foi eleito deputado em vrias eleies. Em 1900, Hintze Ribeiro, que chefiava o governo, confiou-lhe a pasta da fazenda, em substituio do conselheiro Anselmo de Andrade (GEPB). 295 P.e Cndido de Azevedo Mendes (1874-1944) nasceu em Soutos (Torres Novas). Em 1888, entrou no noviciado da Companhia de Jesus, no Colgio do Barro, perto de Torres Vedras. Cursou Teologia em Roma, tendo sido ordenado sacerdote em 1905. Desde cedo manisfestou inclinao especial para as Cincias Naturais, em especial para a entomologia. Ensinou no Colgio de S. Fiel. Juntamente com J. S. Tavares e C. Zimmerman, fundou a revista Broteria, em 1902. Com a expulso dos jesutas aps a instaurao da Repblica em 5-10-1910, exila-se em Salamanca, onde, em 1912, retoma a edio da Broteria. Vive ainda no Colegio del Pasaje at 1932. A sua notvel coleco entomolgica encontra-se hoje no Colgio Nuno lvares (Caldas da Sade, Santo Tirso) (LUISIER, 1944). 296 Jos Miranda do Valle nasceu em 1877. Formou-se em medicina veterinria, em 1898. Em 1904, foi nomeado professor do Instituto de Agronomia e Veterinria de Lisboa (GEPB). 297 Adolfo Frederico Mller (1842-1920) fez os primeiros estudos em Lisboa. Desloca-se para a Alemanha, em 1857, onde faz o curso de Silvicultura. Regressa a Lisboa, em 1860, entrando ao servio da Administrao Geral das Matas do Reino neste mesmo ano. Em 1865, nomeado chefe da seco florestal do Mondego. Em 1874, foi nomeado inspector do Jardim Botnico de Coimbra, onde se conservou em actividade at 1914, quando adoeceu gravemente. Retira-se para Lisboa, onde morre no Hospital de S. Jos (B, XXI:88-90; GEPB). 298 Francisco Newton, filho do distinto botnico portuense Isaac Newton, foi naturalista e explorador de Cabo Verde, Guin e Timor. Os seus espcimes zoolgicos enriqueceram os Museus de Lisboa e Porto (GEPB). 299 Augusto Pereira Nobre (1865-1946) nasceu no Porto. Frequentou a Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra e a Academia Politcnica do Porto. Iniciou as suas investigaes malacolgicas no Museu Allen. Parte depois para Paris onde trabalha no Museu de Histria Natural. Entrou como naturalista-adjunto da Academia Politcnica do Porto, em 1901, na mesma altura que G. Sampaio. Em 1911, nomeado professor extraordinrio do 2. grupo (Cincias Biolgicas) da 3.a seco (Cincias Histrico-Naturais) da Faculdade de Cincias do Porto, regendo as Cadeiras de Zoologia Geral, Zoologia dos Invertebrados e Zoologia dos Vertebrados. Foi director do Museu e Laboratrio de Zoologia e da Estao de Zoologia Martima, anexos Faculdade de Cincias e da Estao Aqucola do Ave. Foi scio correspondente da Academia das Cincias de Lisboa. Foi ainda professor da Faculdade de Farmcia e reitor da Universidade do Porto. Foi Ministro da Instruo dos governos de Antnio Maria da Silva (de 26 de Junho a 19 de Julho de 1920 e de 6 de Fevereiro a 30 de Novembro de 1922), de Liberato Pinto (de 29 de Novembro de 1920 a 2 de Maro de 1921) (GEPB; AFSP, 1911-1914; AFSUP, 1914-1918; PERES, 1954:280,292,325; OLIVEIRA MARQUES ET AL., 1991:728-732). 300 P.e Antonio da Costa e Oliveira Pinto foi professor do Colgio de Campolide e um dos fundadores da revista Broteria. Era especialista em fsica-qumica. 301 Joo Viegas Paula Nogueira (1859-1944) formou-se em medicina veterinria e em agronomia no Instituto de Agronomia e Veterinria. Em 1918, foi nomeado director da Instruo Agrcola nos Ministrios da Instruo e da Agricultura, e director da Escola Superior de Medicina Veterinria. Como professor, dedicou-se especialmente a trabalhos bacteriolgicos, soros e vacinas para o gado (GEPB). 302 Joaquim Pedro da Assuno Rasteiro (1866-1936) formou-se no Instituto de Agronomia e Veterinria. Foi professor e director do Instituto Superior de Agronomia. Publicou diversos estudos agronmicos, de ndole muito variada. Foi scio da Academia das Cincias de Lisboa (GEPB).

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M. A. Reis Martins304, chefe de servio do Instituto Real de Bacteriologia Camara Pestana; A. A. Rocha Peixoto305, naturalista da Academia Politcnica do Porto; A. S. Sampaio, naturalista; Gonalo Sampaio, naturalista do Museu da Academia Politcnica do Porto; Anthero F. de Seabra306, conservador do Museu Bocage (seco de Zoologia do Museu de Histria Natural de Lisboa); A. Seabra, agrnomo; J. de Seixas Palma, qumico, assistente do Instituto Real de Bacteriologia Camara Pestana; J. S. Tavares307, professor no Colgio de S. Fiel; F. X. Silva Telles308, professor na Escola de

P.e Manuel Rebimbas foi um dos fundadores da revista Broteria. Miguel Augusto Reis Martins (1864-1942) formou-se em medicina veterinria e agronomia no Instituto de Agronomia e Veterinria. Em 1895, foi nomeado veterinrio do Ministrio das Obras Pblicas, em 1897, chefe de servio do Instituto de Agronomia e Veterinria, e, em 1899, professor tcnico da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra. Em 1902, foi nomeado para chefe de servios de soros e vacinas do Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana. Em 1911, professor da Cadeira de Higiene e Diettica dos Animais Domsticos e Bacteriologia da Escola Superior de Medicina Veterinria, e, de 1919 a 1931, seu director interino (GEPB). 305 Antnio Augusto da Rocha Peixoto (1868-1909), natural da Pvoa de Varzim, dedicou-se s cincias naturais e aos estudos histricos. Formado pela Academia Politcnica do Porto, ingressou como naturalista-adjunto do Gabinete de Mineralogia, Geologia e Paleontologia, da Academia Politcnica, em 1901. Foi director da Biblioteca Pblica Municipal do Porto e do Museu Municipal do Porto. Exerceu tambm considervel actividade como escritor e jornalista. Investigou e publicou trabalhos sobre a histria das nossas indstrias locais, instituies jurdicas, actividades artsticas e comerciais da Antiguidade. Foi um dos fundadores da Revista de Cincias Naturais e da Portugaliae. Publicou na Revista de Portugal. Foi scio da Academia das Cincias de Lisboa (GEPB). 306 Anthero Frederico Ferreira de Seabra (1874-1952) fez os estudos universitrios em Paris. De regresso a Portugal, dedicou-se ao estudo dos vertebrados do continente e ultramar, sob a orientao de Barbosa du Bocage. De 1896 a 1904, foi naturalista-coadjuvante do Museu Zoolgico da Universidade de Lisboa, passando a conservador, em 1904. Simultaneamente trabalhava em entomologia no Laboratrio de Patologia Vegetal, para onde entrara em 1905. De 1912 a 1917, foi assistente da Faculdade de Cincias de Lisboa, e, de 1918 a 1921, naturalista do Museu Zoolgico. De 1909 a 1914, foi director do Aqurio Vasco da Gama. Em 1922, foi ocupar o lugar de naturalista do Museu Zoolgico da Universidade de Coimbra, onde se manteve at reforma. Foi scio da Academia das Cincias de Lisboa. Especializou-se em entomologia, tornando-se num dos mais destacados especialistas portugueses nesta disciplina - o seu nome passou a ser considerado como um dos mais notveis entre os zologos e entomologistas contemporneos. Notabilizou-se essencialmente pela perfeio e honestidade dos seus trabalhos de sistemtica; lutando com as maiores dificuldades de ambiente e de recursos materiais e bibliogrficos, persistiu sempre, numa dedicao rara e exemplar. A sua vida de investigador pode ser apontada entre ns como um modelo invulgar de probidade cientfica (GEPB). 307 P.e Joaquim da Silva Tavares (1866-1931) nasceu em Cardigos. Estuda Humanidades e Filosofia no Colgio de Setbal, de 1882 a 1888, ingressando oficialmente na Companhia de Jesus, em 1888. Ensina no Colgio de Campolide e no Colgio de S. Fiel. Termina a sua formao religiosa em Viena (ustria) em 1899, regressando ento a Portugal. Ensina durante um ano no Colgio de Setbal. Em 1901, estabelece-se no Colgio de S. Fiel. director do Herbrio e do Museu de Histria Natural deste colgio. Funda a Broteria. Em 1908, nomeado reitor do Colgio. Na sequncia da implantao do regime republicano, exila-se em Salamanca, e depois no Brasil. Fixa residncia na Baa em colgio jesuta, onde logo em 1912 continua a publicao da Broteria, que agora se sub-intitula Revista Luso-Brazileira. Em 1914, regressa Galiza. Em 1928, regressa definitivamente a Portugal. Entomologista desde cedo, especializa-se no estudo das cecdias, em especial nas deformaes das plantas induzidas por insectos, tornando-se num reputadssimo especialista desta matria. Publica dezenas de artigos cientficos. Em 1928, torna-se scio efectivo da Academia das Cincias de Lisboa. membro de diversas academias e sociedades cientficas estrangeiras. Faleceu em Paris. So-lhe dedicados diversos txones, de que se destacam trs gneros novos para a cincia: Tavaresia Kief., Tavaresiella del Guercio e Silvatares Nav. (GEPB; LEITE, 1931). Parte da coleco de cecdias de J. S. Tavares encontra-se hoje no Colgio Nuno lvares (Caldas da Sade). 308 Francisco Xavier da Silva Telles (1860-1930) formou-se na Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa. Foi mdico da Armada, professor e reitor da Universidade de Lisboa, e, em 1929, durante algumas semanas, Ministro da Instruo Pblica. Ensinou Higiene e Climatologia, Geografia Econmica e Administrao Colonial, na Escola de Medicina Tropical e no Instituto Superior do Comrcio. Publicou trabalhos em reas diversificadas, com nfase na geografia e antropologia. Foi o introdutor da geografia no ensino superior. Foi scio da Academia das Cincias de Lisboa (GEPB; PIMENTA, 2004).
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Medicina Tropical de Lisboa; M. de Souza da Camara309, professor no Instituto Agronmico; A. J. de Souza Jnior310, professor na Escola de Medicina do Porto; R. T. Palhinha311, professor da Escola Politcnica de Lisboa; C. Torrend312, naturalista; J. Verissimo dAlmeida313, professor do Instituto Agronmico e C. Zimmermann314, naturalista e professor do Colgio de S. Fiel. Como membros correspondentes a Sociedade tinha: F. Mesnil, chefe de servio no Instituto Pasteur de Paris; A. de Miranda Ribeiro, director do Museu de Histria Natural do Rio de Janeiro; R. J. Pocock, professor e superintendente da Sociedade dos Jardins zoologicos de Londres; C. L. Porter, professor e director do Museu de Histria Natural de Santiago do Chile; E. Schmitz315, naturalista, antigo reitor do Seminrio do Funchal. Existiam ainda como membros associados: C. Arruda Furtado, estudante de Medicina; F. Betti, professor no Liceu de Lisboa; G. Brites, mdico municipal em Loul; A. J. Ferreira, agrnomo; A. F. B. de Fonseca, agrnomo; A. Gio, professor no Liceu de vora; A. R. Jorge316, estudante de Medicina; J. S. Leite, mdico dos Hospitais de Lisboa; J. Marques de Carvalho, agrnomo, viticultor na Chamusca; A. Pacheco, mdico; H. Parreira, chefe de laboratrio na Escola de Medicina de Lisboa; A. A. Sarmento, naturalista e F. F. Silva, agrnomo.
Manuel de Souza da Camara nasceu em Lisboa, em 1871. Foi lente do Instituto de Agronomia e Veterinria de Lisboa, leccionando a 6.a Cadeira (Silvicultura e Tecnologia Florestal) e a 7.a Cadeira (Viticultura e Arboricultura). No Instituto Superior de Agronomia foi professor da 9.a Cadeira (Silvicultura e Tecnologia Florestal) e da 10.a Cadeira (Parasitologia e Patologia Vegetal). Foi director deste Instituto durante alguns anos. Foi eleito deputado em duas eleies (1911 e 1921), governador civil de vora (1917-1918) e Ministro da Agricultura (de 25 de Maio a 30 de Agosto de 1921). Foi membro e vogal de diversas comisses governamentais e scio da Academia das Cincias de Lisboa. Aposentou-se em 1941. Dos seus trabalhos publicados, destacam-se os estudos sobre micoses de plantas agrcolas e de fungos portugueses (GEPB). 310 Antnio Joaquim de Souza Jnior (1871-1938) formou-se na Escola Mdico-Cirrgica do Porto, em 1898. Reputado bacteriologista e epidemiologista, foi mdico do Hospital do Bonfim e professor da Faculdade de Medicina do Porto, regendo as Cadeiras de Cirurgia, Teraputica e Tcnica Cirrgica, e Anatomia Patolgica. Foi eleito deputado e senador, tendo sido Ministro da Instruo Pblica, em 1913 e 1924-1925. Aposentou-se em 1928 (GEPB). 311 Ruy Telles Palhinha foi o sucessor de A. X. Pereira Coutinho na direco do Jardim Botnico de Lisboa e do Herbrio da Faculdade de Cincias de Lisboa. Foi reitor do Liceu Central de Lisboa em 1907-1908 (ALCL, 1907-1908:3), e do Liceu Cames em 1908-1909 (ALC, 1908-1909). Organizou a 2.a edio da Flora de Portugal de A. X. Pereira Coutinho. Estudou sobretudo a flora dos Aores. Tambm se dedicou a estudos da histria das Cincias Naturais (MELO, 1987). 312 P.e Camillo Torrend foi um dos fundadores da revista Broteria. Foi professor no Colgio de Campolide e especialista em fungos, de renome mundial. 313 Jos Verissimo dAlmeida (1834-1915) foi lente do Instituto de Agronomia e Veterinria, e, posteriormente, professor e director do Instituto Superior de Agronomia e director do Laboratrio de Patologia Vegetal. Investigou e publicou sobre temas agronmicos, e, sobretudo, sobre patologia vegetal (GEPB; TAVARES, 1915). 314 P.e Carlos Zimmermann foi um dos fundadores da revista Broteria. Foi professor no Colgio jesuta de So Fiel e especialista em microscopia e histologia vegetal, tendo-se dedicado, sobretudo, ao estudo das diatomceas. 315 P.e Ernesto Joo Schmitz (1854-1922), de nacionalidade alem, mas naturalizado portugus, entrou, em 1864, para a Congregao da Misso de So Vicente de Paulo, e, em 1881, assumia as funes de professor e vice-reitor do Seminrio diocesano do Funchal. No ano seguinte, funda, neste estabelecimento, um Museu de Histria Natural, onde rene exemplares da fauna, flora e geologia da ilha. Em 1908, retira-se para Jerusalm, para dirigir o Hospcio de So Paulo, em 1914, passa para o Hospcio de Tabgha, nas margens do Lago Tiberades, e, finalmente, no Vero de 1920, dirige o Hospcio de So Carlos, em Haia, onde faleceu. Descobriu muitas espcies novas para a cincia, que foram descritas por colegas naturalistas que lhes atriburam um epteto especfico em sua homenagem. Foi tambm um notvel poliglota, dominando vrias lnguas. Era scio da Academia das Cincias de Lisboa (GEPB). 316 Trata-se provavelmente de A. Ricardo Jorge (Arthur Ricardo Jorge).
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A lista dos membros da Sociedade Portuguesa de Cincias era assim excepcional. Era dominada pela presena de mdicos e veterinrios. Participavam todos os mais destacados botnicos jesutas317, muitos naturalistas das escolas superiores (nomeadamente G. Sampaio), e tambm agrnomos, e ainda professores dos liceus. A Sociedade tem, no incio, um mpeto e um ritmo febril de reunies cientficas318. No dia 20 de Maio de 1907, C. Frana apresenta duas comunicaes. Na reunio do dia 4 de Junho deste ano, A. Luisier apresenta o estudo que tinha acabado de ser publicado no Boletim da Sociedade. Anthero F. de Seabra faz a apresentao de um trabalho que iria ser publicado no Boletim. Na sesso de 18 de Junho, C. Frana apresenta uma nova comunicao e Anthero F. de Seabra faz a apresentao de duas notas publicadas no Boletim. Na sesso de 2 de Julho, A. A. da Costa Ferreira apresenta uma comunicao e Anthero F. de Seabra apresenta vrios trabalhos de botnica e zoologia que tinham acabado de ser publicados no Boletim. Na reunio de 16 de Julho, J. S. Tavares, J. da Camara Pestana, A. Luisier e C. Frana, apresentavam comunicaes cientficas.

Na revista Broteria, J. S. Tavares, um dos scios fundadores da Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais, tecia os seguintes comentrios constituio desta nova associao cientfica portuguesa: julgamos opportuno o ensejo de patentearmos o nosso intimo regosijo por vermos assim fundada a Sociedade Portuguesa de Sciencias Naturais, cumprindose assim o desejo to ardentemente expresso, ha muito tempo, por varios naturalistas portugueses. de esperar que todos, unidos por este lao, conjuguem os seus esforos para o adiantamento das Sciencias naturaes em Portugal e para o conhecimento da nossa fauna e flora no extrangeiro. Se, nos ultimos annos, sem esse estimulo e auxilio mutuo, estas sciencias teem tomado um to grande desenvolvimento, e se teem manifestado tantos noveis naturalistas em publicaes de valor a honrar a sua ptria e a tornar conhecidos os seus nomes; natural que se encete agora o periodo aureo para estes estudos em Portugal. Muito vale, com effeito, a unio dos esforos e vontades para um fim determinado; grande incitamento ao estudo a emulao despertada pelo exemplo de collegas. As comunicaes feitas Sociedade pelos socios, as publicaes da mesma Sociedade, a sua bibliotheca, os estabelecimentos maritimos que ha-de fundar, tudo isso sero outros tantos incentivos a estimular o brio dos Naturalistas portugueses. Foi o movimento associativo que no seculo passado tornou to florescente o estudo nos differentes ramos da Zoologia e Botanica, em todas as naes da Europa. De seguida, J. S. Tavares menciona a Real Sociedade Espanhola de Histria Natural, como exemplo a seguir pela congnere portuguesa: Bem humilde foi em seus princpios (1871) a Real Sociedade Hespanhola de Historia Natural [Real Sociedade Espanhola de Histria Natural] e bem menos que hoje em Portugal eram ento os Naturalistas hespanhoes. E, com tudo, essa sociedade desenvolveu-se, cresceu e hoje uma das mais importantes de Europa, contando em seu seio Naturalistas de grande nomeada, tanto nacionaes como extrangeiros. a ella, pde dizer-se, que a Hespanha deve tudo quanto se conhece sobre a fauna e flora, bem como sobre a constituio do seu solo. ella ainda que, custa de importantes dispendios, inaugurou, com resultados to brilhantes, as misses scientificas que teem por fim tornar conhecida a fauna e a flora das possesses hespanholas na frica. Terminava, em tom positivo e de esperana: a nova Sociedade propugna exactamente a fundao e augmento de taes estabelecimentos [estaes de biologia martima], e s por isso, quando outros motivos no houvesse, seria digna de toda a estima e auxilio. Outra vantagem, muito para ponderar, trar ainda a nova Sociedade, e que o nosso Paiz poder ser por ella representado no extrangeiro no que diz respeito a Sciencias naturaes, assim como a ella se podero dirigir os Naturalistas em tudo o que lhes intersse saber sobre a nossa fauna e flora; coisas que at agora se no podiam fazer, com desar [pesar] do nome de Portugal. Antevendo, pois, um futuro glorioso nova Sociedade, dir-lhe-hemos bem alto, resumindo nestes tres vocbulos os ardentes votos que fazemos pelo seu desenvolvimento, para gloria da Ptria e para lustre e progresso da sciencia: Vivat, crescat, floreat (B, VII:133-134). 318 As reunies so descritas, com algum pormenor, na revista Broteria, serie de Vulgarizao Scientifica, de onde retirmos as informaes que se seguem.

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Todavia, diversos botnicos iminentes da poca no aderiram Sociedade e no iriam publicar os seus trabalhos no Bulletin: J. Mariz319 e J. Henriques320 da Universidade de Coimbra e A. X. Pereira Coutinho321 da Escola Politcnica de Lisboa. G. Sampaio s publicar um trabalho na revista da

Joaquim de Mariz Jnior nasceu em Coimbra a 28 de Janeiro de 1847. Terminou o curso de medicina da Universidade de Coimbra, em 1878. Exerceu clnica durante algum tempo. Entra como naturalista-adjunto Cadeira de Botnica da Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra, em 1879. Realiza muitas herborizaes no pas, enriquecendo assinalavelmente o Herbrio da Universidade e contribuindo para as distribuies de plantas da Sociedade Broteriana em mais de 200 espcies. Adquire um profundo conhecimento da flora portuguesa, tornando-se o responsvel pela reviso das determinaes da Flora lusitanica exsiccata distribuda pela Sociedade Broteriana. Publica, em fascculos, os Subsdios para o estudo da flora portuguesa, que ocuparam inmeros volumes deste Boletim. autor de algumas espcies novas para a cincia: Celsia brassicifolia Mariz, Succisa Carvalheana Mariz, Daveaua anthemoides Mariz. O seu grande prestgio entre os botnicos da poca levou a que alguns lhe dediquassem espcies novas, como: Conopodium Marizianum Samp., em homenagem aos grandes conhecimentos botanicos e notaveis qualidades de trabalho do meu amigo e illustre naturalista da Universidade de Coimbra dr. Joaquim de Mariz, a quem devem numerosas e importantes monographias sobre a flora phanerogamica do nosso paiz (SAMPAIO, 1905e). Era tambm desenhador exmio, tendo desenhos seus sido publicados em obras artsticas. Morre a 1 de Abril de 1916 em consequncia de uma pneumonia, com pouco mais de 69 anos. J. Henriques, director do Herbrio escreveu a seu respeito: Nos 37 anos durante os quais ocupou ste lugar, foi sempre empregado zeloso, trabalhador conscencioso, podendo servir de exemplo, concluindo que Foi um grande e eficaz trabalhador (HENRIQUES, 1917a) (GEPB; HENRIQUES, 1916a, 1917a). 320 Jlio Augusto Henriques (1838-1928) era formado em direito e depois em filosofia pela Universidade de Coimbra, onde se doutorou em 1865. nomeado lente-substituto aos 28 anos, e em 1874, lente-proprietrio, sendo-lhe ento confiada a direco do Jardim Botnico de Coimbra. Em 1879, cria a Sociedade Broteriana e funda o Boletim da Sociedade Broteriana. Deve-se tambm a J. Henriques a compra do valiosssimo herbrio de Willkomm. Em 1906, inicia a publicao, em fascculos, do seu Esboo da Flora da Bacia do Mondego, que aparecer como volume independente em 1913 (HENRIQUES, 1913). So enumeradas 1.515 espcies. Estudou ainda a flora das Serras da Estrela, Caramulo, Buaco, Lous, Gers, Maro, e a flora de So Tom e Prncipe. Descreveu diversas espcies novas para a cincia, tanto do continente como das colnias, e foram-lhe dedicadas espcies novas e o gnero Henriquesia Pass. & Thm. Publicou diversos trabalhos de Botnica geral (HENRIQUES, 1885, 1889b, 1916b). Traduziu para portugus algumas obras de Agricultura e Botnica geral muito em uso na sua poca, como a de J. D. Baker, J. D. Hooker e H. Tanner. Escreveu dois trabalhos biogrficos sobre J. F. Correa da Serra (HENRIQUES, 1918, 1923). Publicou ainda os programas de disciplinas que leccionava na Universidade de Coimbra (HENRIQUES, 1889a, 1892) (GEPB; FERNANDES, 1958, 1963; QUINTANILHA, 1975; CABRAL & FOLHADELA, 2006). Parte da bibliografia de J. Henriques est disponvel em http://bibdigital.bot.uc.pt/ 321 D. Antnio Xavier Pereira Coutinho (1851-1939) era formado em agronomia, em 1874, pelo Instituto Geral de Agricultura (Lisboa). Comea a trabalhar como agrnomo, em Bragana, em 1875. Estuda a flora espontnea da regio. Estas herborizaes foram certamente decisivas na sua orientao como naturalista. Envia exemplares das suas coleces para J. Henriques. Iniciou a sua vida de professor no Instituto Geral de Agricultura em 1880. nomeado lente-proprietrio em 1882, e, em 1883, rege a Cadeira de Silvicultura e Economia Florestal, transitando em 1886 para a Cadeira de Qumica Agrcola. Na dcada de 1880, publica um Curso de Silvicultura (COUTINHO, 1886, 1887), cuja segunda parte (Esboo de uma flora lenhosa) ter uma segunda edio em 1936 (COUTINHO, 1936). escolhido pelo Conde de Ficalho para seu sucessor no cargo de naturalista-adjunto da Seco de Botnica do Museu Nacional de Lisboa, anexo Escola Politcnica de Lisboa, cargo que ocupa de 1890 at 1921, quando atingiu o limite de idade. Em 1891, concorre vaga de lentesubstituto da 9. Cadeira da Escola Politcnica, apresentando como dissertao As juncceas de Portugal (COUTINHO, 1890). Aps a morte do Conde de Ficalho, ascendeu, em 1903, ao lugar de lente-proprietrio da 9. Cadeira. A este incumbia tambm a direco do Jardim Botnico anexo Politcnica (Jardim Botnico de Lisboa). Continuava no entanto no Instituto de Agronomia e Veterinria, onde da Cadeira de Qumica passa para a de Botnica (que regeu at ao limite de idade). Ao ser promulgada a reforma do ensino universitrio que transformou a Politcnica em Faculdade de Cincias de Lisboa, passou categoria de professor ordinrio. Publicou em 1913, a 1. edio da sua Flora de Portugal (COUTINHO, 1913). A flora desactualizou-se rapidamente. A 2. edio desta Flora de Portugal, revista pelo seu autor (que contava ento 86 anos de idade) saiu a pblico pouco tempo depois da sua morte (1939). R. T. Palhinha dirigiu a nova edio, impressa sob os auspcios do Instituto para a Alta Cultura. Esta 2. edio da Flora de Portugal (COUTINHO, 1939) enumera 799 gneros e 2.845 espcies, mais 12 e 110, respectivamente, que a 1. edio. A. X. Pereira Coutinho publicou, de 1914 a 1930, as Notas da Flora de Portugal, I a VII. Mais tarde, em 1935, reuniu essas Notas no Suplemento da Flora de Portugal (COUTINHO, 1935). A. X. Pereira Coutinho tambm se dedicou ao estudo dos lquenes. Publica em 1916

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Sociedade, logo no primeiro volume (SAMPAIO, 1907), e o Bulletin de la Socit Portuguaise de Sciences Naturelles nunca se estabelecer como um importante porta-voz dos botnicos portugueses. Por que razo a Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais no se impe como frum dos botnicos portugueses? A nosso ver por duas razes principais: na rea da Botnica j existiam a Sociedade Broteriana322 e o seu Boletim, e a revista Broteria323; a diversidade de formaes e interesses dos seus membros era excessiva, sendo a componente mdica-veterinria muito dominante. No esplio documental de G. Sampaio existem diversas cartas manuscritas de Anthero F. de Seabra - um dos impulsionadores e fundadores da Sociedade, dirigidas para G. Sampaio. O contedo destes documentos apoia a interpretao que apresentmos, e permite-nos conhecer melhor o percurso inicial da Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais e tambm a Histria da Botnica em Portugal. Numa carta no-datada mas que pelo seu contedo deve ser de 1907, Anthero F. de Seabra escrevia para G. Sampaio (Estampa IV.1.): Meu prezado amigo. Recebi o seu trabalho324 que desde j agradeo em nome da direco da nossa Sociedade. Na proxima reunio, apresento-o e entrego-o para entrar j no 1. numero do Boletim. Espero tambem uns trabalhos do Nobre e no sei se o Correa de Barros mandar alguma couza. J h bastantes trabalhos e [ilegvel] de forma que o Boletim fica j naturalmente com mais de 100 paginas. O que nos poder mandar bem vindo e bem recebido.
Lichenum Lusitanorum Herbarii Universitatis Olisiponensis Catalogus (COUTINHO, 1916) e em 1917 o respectivo suplemento (COUTINHO, 1917a). Publicou tambm outros inventrios das coleces do Herbrio da Escola Politcnica (COUTINHO, 1917b, 1917c, 1919, 1921). tambm importante a ateno que A. X. Pereira Coutinho dedicou ao ensino da Botnica a nvel pr-universitrio. Publicou numerosssimas obras destinadas ao ensino da Botnica e da Agricultura nos liceus e escolas primrias (COUTINHO, 1893, 1896, 1898, 1900, 1906, 1907a, 1907b, 1920, 1923, 1928). Era scio da Academia das Cincias de Lisboa. Em 1935, foi-lhe conferido o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra. Teve Aurlio Quintanilha como um dos seus mais distintos discpulos. Atingido o limite de idade, a ltima fase da sua vida decorreu na Quinta da Ribeira de Caparide (Estoril), dedicando-se ento ao estudo dos fungos basidiomicetos, sobre os quais publicou dois trabalhos (GEPB; PALHINHA, 1940; FERNANDES, 1958, 1963; TAVARES, 1969; MELO, 1987; CABRAL & FOLHADELA, 2006; http://www.isa.utl.pt/home/node/268). Foi publicada uma lista completa das suas obras no Boletim da Sociedade Broteriana (BSB, II srie, volume XIV:XI-XX) e em TAVARES (1969). Parte da bibliografia de A. X. Pereira Coutinho est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ 322 A Sociedade Broteriana foi fundada, em 1879, por J. Henriques. Tinha como finalidade o estudo da flora portuguesa e o intercmbio de plantas (exemplares de herbrio) entre os seus scios. O Boletim da Sociedade Broteriana era o porta-voz da Sociedade, tendo-se iniciado a sua publicao em 1883. Em 1930, iniciou-se a publicao das Memrias da Sociedade, e em 1935, do Anurio (COUTINHO, 1938; CARVALHO, 1939). O Boletim da Sociedade Broteriana est disponvel em http://bibdigital.bot.uc.pt/ 323 A Broteria iniciou a sua publicao em 1902, com o subttulo de Revista de Sciencias Naturaes do Collegio de S. Fiel. A ideia da criao da revista parece ter partido de J. S. Tavares, ento professor no Colgio de So Fiel, ao qual se juntaram C. Zimmermann e Candido Mendes, tambm professores neste Colgio. Estes trs professores constituam a direco da revista, tendo como colaboradores destacados A. Luisier (do Colgio de Torres Vedras), A. C. Oliveira Pinto (do Colgio de Campolide), C. Torrend (do Colgio de Campolide), Longinos Navs (de Saragoa) e M. Rebimbas (a viver na Blgica). A maioria dos fundadores da Broteria esteve associada fundao da Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais (AZEVEDO, 1913; ver captulo IV.1.). Sobre a fundao e os primeiros anos da Broteria, ver o pormenorizado trabalho de FRANCO (2003a). FRANCO (2003b) apresenta biografias exaustivas dos fundadores e directores da revista. 324 Trata-se de SAMPAIO (1907). Como j referimos, seria o nico trabalho que G. Sampaio publicar na revista da Sociedade (Estampa IV.2.). Este trabalho de G. Sampaio foi apresentado por Anthero F. de Seabra, na sesso da Sociedade de 2 de Julho de 1907 (B, VII:44).

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Qualquer trabalho que tenha mesmo estampas mande porque sendo coisa que se possa fazer pela photographia manda-se para a Allemanha e vem de l trabalho bem feito como pode ver no Boletim do Instituto Bacteriolgico Camara Pestana. Toda a gente em que me fala foi convidada para entrar para a Sociedade. O Bocage hoje socio honorrio. Como sabe este velho mestre est completamente cego e j mal se levanta da cadeira onde passa os seus dias. No podemos contar com elle a no ser como ornamento. Pereira Coutinho no vae a Sociedade nenhuma. No se negou, creio mesmo que vae agora entrar, mas j se sabe que homem que no apparece. Dr. J. Henriques no quis ser fundador. Creio que agora proposto na proxima reunio. O Sr. Mariz, no sei porque motivo, declarou muito determinantemente e antes mesmo de saber quem entrava ou quem no entrava para a Sociedade, que no aceitava o convite que lhe foi dirigido. Tenho visto com prazer que os socios que foram convidados para fundadores e no aceitaram, terem agora entrado como effectivos. De todos os naturalistas e professores notveis que conheo no h quem tenha sido excludo. No se convidou o Gerard [?] porque um homem que tem magoado quasi toda a classe, contudo, estou certo que se elle de um dia para o outro quiser entrar, ningum de certo se levantava contra isso. Para facilidades de dinheiro e por causa dos socios estrangeiros, convidou-se para presidente honorario da Sociedade, o Rei que aceitou. Enfim, o proximo numero do Boletim onde vem publicadas as actas das sesses, por os socios que no podem assistir a ellas ao corrente de tudo. Que a Sociedade til, , que tem tudo [ilegvel] principio tambem inegvel; que h muito mais quem trabalhe do que se esperou ainda uma verdade, agora, ou vae por agua a baixo isso meu presado amigo, no sei mas possivel que no. [] P. S. Receber as provas do seu artigo que forem necessarias. Se conhece algum naturalista do Norte que queira entrar para a Sociedade, faz-nos muito favor em indicar o seu nome. Numa outra carta tambm no-datada mas que pelo seu contedo deve ser prxima de 24 de Abril de 1909 que mencionaremos de seguida, escrevia Anthero F. de Seabra a G. Sampaio: Meu prezado amigo. Deve estar surpreendido com a minha demora em responder sua estimada carta. No tenho tido um momento de meu com trabalhos do laboratrio, com a doena de dois dos meus pequenos e com a minha prpria falta de saude. Agora felizmente l vae tudo a entrar outra vez no estado normal e em principio tambem a funcionar com um pouco mais de rhythmo! Estive no Algarve uns dias mas sempre de corrida de uma terra para outra. tarde, est tudo seco excepto as arvores prprias da regio. Ainda assim pude trazer uma grande quantidade de insectos que entretive hontem a preparar. Tenho tambem j preparada nova caada no Gerez e j estou a ver o que havia com respeito aquella supposta raridade do Burragevro [?] mas por enquanto no digo nada. Como naturalmente sabe pelo Nobre, o Frana [Carlos Frana] foi para Unhaes da Serra [?] tratar-se, ver se

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arranjava ar que lhe purificasse o sangue creio que bastante arruinado. Ainda o fiz rir com a sua apreciavel carta, mas elle estava muito preocupado e partiu de Lisba numa verdadeira fuga de homem doente. Creio que o governo da Academia Polytechnica do Porto se prepara para entregar o Aquario Sociedade de Sciencias Naturaes, e se assim succeder fica provado at evidencia que o primeiro governo do mundo! Se porem succede o contrario o Wenceslau fica abaixar dada a critica! A respeito da excurso? Agora estou tambem a ver em que pra isto do Aquario mas ao Gerez pelo menos tenho de voltar. [] No fui ainda a Portalegre. A 24 de Abril de 1909 escrevia: Castelo Branco. Meu prezado amigo. O Frana deseja acompanhar-nos s Berlengas e creo que arranjou maneira pratica de nos transportar para l. Peolhe que me mande dizer para Lisboa o dia em que espera poder fazer essa explorao. Sigo daqui para Portalegre. Depois vou para Lisba. A carta seguinte, curta, em estilo telegrfico, s compreensvel atendendo histria da cincia em Portugal, nos meses seguintes implantao de Repblica a 5 de Outubro de 1910. Escrevia Anthero F. de Seabra a 7 de Dezembro de 1910 (Estampa IV.2.): Lisboa. Meu prezado amigo. Desculpe a demora! No tenho um momento de meu. Os musgos esto salvos. O P. Coutinho j os encontrou e separou para lhe serem restitudos. o critrio da comisso ou pelo menos dos naturalistas. Dado que material de trabalho especial, deve ser entregue aos seus donos. Fico esperando o seu [] trabalho. No se esquea! Olhe que fao um grande empenho nelle. Efectivamente os colgios jesutas foram extintos e as suas coleces biolgicas desmembradas logo aps o 5 de Outubro de 1910. A 18 de Novembro de 1910, nomeada, pelo governo, uma comisso encarregada de examinar urgentemente as coleces scientificas e a bibliotheca existentes no Collegio de Campolide, pertencente ao Estado, classificando o que encontrar digno de aproveitamento, e propondo ao Ministro da Justia o destino a dar a esses objectos e livros, como entenderem mais util ao progresso da sciencia e ao enriquecimento das colleces, museus e bibliothecas de Lisboa (AZEVEDO, 1913). Ora Anthero F. de Seabra era precisamente um dos membros desta Comisso325. A presena de professores da Escola Politcnica e de diversos liceus da capital poderia antever que o esplio do Colgio seria distribudo pela Escola Politcnica e liceus de Lisboa. Mas a comisso rene-se e vota por unanimidade que se restituam as coleces aos seus
A comisso era constituda por: Alberto Ferreira Vidal, reitor do Liceu de Passos Manuel; Anselmo Braamcamp Freire, presidente da Cmara Municipal de Lisboa e director do Arquivo Histrico; Adolpho Penna, professor do Liceu da Lapa; J. M. de Almeida Lima; Anthero F. de Seabra; A. A. da Costa Ferreira; A. Machado; A. X. Pereira Coutinho e Balthasar Osorio, professores da Escola Politcnica; Gabriel Pereira, inspector das Bibliotecas; Jos Leite de Vasconcellos, director do Museu Etnolgico (AZEVEDO, 1913). A 21 de Novembro, eram adicionados comisso, os seguintes elementos: J. Verissimo dAlmeida; Francisco Julio Henriques Cortes, do Colgio Militar (AZEVEDO, 1913).
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proprietrios (AZEVEDO, 1913). Isto significa que os exemplares que estivessem no Colgio de Campolide e que pertencessem aos botnicos jesutas deveriam ser-lhes devolvidos, mas se estivessem l por emprstimo de outras instituies, deveriam ser entregues aos seus proprietrios das instituies originrias. Tal deveria ser o caso com os musgos de A. X. Pereira Coutinho, que pertenceriam ao Herbrio da Escola Politcnica de Lisboa, mas que estariam nessa altura no Colgio de Campolide326. A carta seguinte datada de 7 de Outubro de 1915 e o assunto no diz respeito Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais: Mogofores, 7 de Outubro de 1915. Meu prezado amigo, Deve naturalmente saber j pelo Nobre do meu desejo de concorrer aos lugares de assistentes da Faculdade de Sciencias do Porto. Sei muito bem quanto problemtico o futuro desses lugares mas uma serie de fortissimas contrariedades obriga-me a procurar por todos os meios qualquer coisa fora de Lisboa e como sabe eu tirando-me da minha especialidade sou completamente inutil. Deixando pois o Museu de Lisboa e a Faculdade, tenho de procurar outro Museu e outra Faculdade. Eu cheguei a concorrer a Lisboa, [enviei para l] os meus trabalhos e papelada, mas j pedi para me devolverem tudo para mandar para o [ilegvel] Como sabe eu concorro ou desejo concorrer ao abrigo da lei de 12 de Maio de 1911 e regulamento de 3 de Junho de 1915 que foi publicado no Diario do Governo n. 194. Alem da dificuldade do concurso, ser ou no ser admitido, ficar ou no ficar aprovado, tenho luctado com outra semelhante procurando um lugar que me d o [ilegvel] mensal para viver ahi com a minha famlia pois vivo com os 300.000 ris que me pode dar a situao de 2. assistente verdadeiramente impossvel. Enfim, vamos a ver. Creia-me sempre seu amigo. As pretenses de Anthero F. de Seabra no se concretizariam, mas insistir novamente. No existe mais correspondncia de Anthero F. de Seabra para G. Sampaio, mas, em 1920, o investigador de Lisboa ter re-insistido junto do professor do Porto sobre a possibilidade de ingressar na Faculdade de Cincias do Porto. No esplio documental de G. Sampaio existe um currculo dactilografado de Anthero F. de Seabra que contm a sua bibliografia entre 1897 e 1920. O ltimo documento existente no esplio de G. Sampaio respeitante Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais uma curta missiva num carto de Celestino da Costa, tesoureiro da Sociedade para G. Sampaio, datada de 13 de Janeiro de 1921 (Estampa IV.3.): [...] Por ocasio da minha ida ao Porto, em Janeiro de 1918, falei a V. Ex.a em regressar Sociedade de Sciencias Naturais, de que V. Ex.a foi um dos fundadores, e tive o prazer de ouvir o seu consentimento. [ilegvel] Agora venho falar com V. Ex.a perguntando-lhe se me quer dar a honra de deixar que o seu nome prestigioso fique numa
O emprstimo de material de herbrio entre Instituies era (e ainda ) muito frequente. Existia tambm a oferta de material duplicado que iria enriquecer a instituio a que se oferecia.
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lista de scios. Segundo os estatutos, V. Ex.a no obrigada a pagar as quotas atrasadas. Apenas no caso de querer publicar algum trabalho s poder fazer depois de satisfeitas as quotas.[...]. Todavia G. Sampaio no tinha aderido ao projecto da Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais e efectivamente nunca dela fez parte.

2. A rede de colaboradores 2A. Os Herbrios de Coimbra e de Lisboa G. Sampaio ir estabelecer intensa permuta e emprstimo de material com os Herbrios de Coimbra (dirigido por J. Henriques) (Estampas IV.4. e IV.5.) e Lisboa (dirigido por A. X. Pereira Coutinho). A elaborao de uma flora tem de se basear em material de herbrio. Os trabalhos de J. Henriques, A. X. Pereira Coutinho e G. Sampaio foram efectivamente acompanhados de extensivas herborizaes. O Herbrio da Universidade de Coimbra seria o mais completo na altura, em parte devido s extensas herborizaes feitas por J. Mariz. O Herbrio da Escola Politcnica tinha sido enriquecido pelo material recolhido por J. Daveau327. No entanto, o pas era extenso para os meios de transporte da poca, e portanto difcil de herborizar. Tero sido estes factores que levaram J. Henriques, A. X. Pereira Coutinho e G. Sampaio, a permutar entre si, e sobretudo a emprestar muitos espcimes dos seus herbrios para os colegas examinarem? (Estampa IV.6.) No Herbrio da Universidade de Coimbra estava integrado o notvel Herbrio de Willkomm328, adquirido por iniciativa de J. Henriques, uma deciso histrica de grande alcance. Era constitudo por 100.000 exemplares representando 10.000 espcies, principalmente da regio mediterrnea. Tinha
Jules Daveau (1852-1929) nasceu perto de Paris. Aos 14 anos ingressa como jardineiro do Museu de Histria Natural de Paris. Encontrando-se vago o lugar de primeiro jardineiro do Jardim da Escola Politcnica (Jardim Botnico de Lisboa), a direco do Jardim consulta o Museu de Histria Natural de Paris, que indica J. Daveau para o cargo. Inicia funes em 1876, dedicando-se afincadamente ao estudo da flora portuguesa, e publicando diversos trabalhos. Abandona Lisboa, em 1892. Em 1893, entra como jardineiro-chefe do Jardim Botnico de Montpellier. Passa a conservador do Museu. Organiza modelarmente os Herbrios desta Universidade francesa, enriquecendo-os com numerosos exemplares (GEPB; PALHINHA, 1930; COUTINHO, 1938; MELO, 1987). 328 Moriz Willkomm nasceu em 1821, em Herwigsdorf. Estudou medicina e cincias naturais em Lpsia. Viajou em Espanha, em 1844 e 1850, herborizando intensamente. Publica os resultados destas excurses em Spicilegium Florae hispanicae e Sertum Florae Hispanicae, onde prope muitas espcies novas para a cincia. Apresenta, em 1850, a sua tese doutoral sobre as Globulariceas. Em 1855, abandona Lpsia para ser professor em Tharandt. Traduziu para latim, a flora aragonesa de Loscos e Pardo. Vive na Rssia, em 1868, onde estuda a sua flora. Em 1873, faz mais uma viagem a Espanha, acompanhado de Fritze, Winkler e Hegelmaier. Finalmente, professor na Universidade de Praga, onde se jubila. Publica importantssimos trabalhos sobre a flora ibrica: Icones et descriptiones plantarum, em 1852-1856, Illustrationes florae hispanicae, em 1881-1892, e, sobretudo o Prodromus Florae Hispanicae, de co-autoria com J. Lange (botnico dinamarqus), publicado em 1862-1880, em 3 volumes. Se trata de la primera obra que rene y actualiza los conocimientos sobre la flora espaola, presentando detalladas descripciones y claves originales para los gneros, pero atendiendo tambin a enumerar con cuidado las localidades conocidas de cada especie por regiones (MATEO SANZ, 1995b).
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servido de base ao Prodromus Florae Hispanicae, trabalho basilar de Willkomm e Lange sobre a flora portuguesa (BSB, srie I, X:6-7; FERNANDES, 1977). Ao Herbrio da Universidade de Coimbra estava ligada a importantssima Sociedade Broteriana. O Boletim da Sociedade Broteriana assumia-se como o mais importante porta-voz da renovao da Botnica portuguesa (Estampa IV.7.), ao qual se associaria, alguns anos mais tarde, a revista Broteria, dos jesutas portugueses. Logo em 1894, G. Sampaio, ainda aluno da Academia Politcnica, inscreve-se como scio da Sociedade Broteriana. A sua actividade desde logo destacada. Ser um dos poucos colectores de plantas para a Flora lusitanica exsiccata329 (Estampa IV.7.). Participa activamente nas distribuies de plantas entre scios330 (Estampa IV.7.).

2B. Os Jesutas da Broteria331 Alm da Universidade de Coimbra e da Escola Politcnica de Lisboa, foram os padres jesutas

da revista Broteria (Estampa IV.8.), outro dos pilares fundamentais da rede de intercmbio cientfico que G. Sampaio soube construir ao longo da sua carreira, e que se veio a revelar de primeira e capital importncia para os seus estudos botnicos. Os contactos de G. Sampaio com os padres jesutas remontam ao incio da dcada de 1900. G. Sampaio estabelecer uma longa e rica troca epistolar e cientfica, tanto com A. Luisier como com J. S. Tavares (Estampa IV.9.), que se prolongar por mais de duas dcadas332. Com sede no Colgio de S. Fiel, em Lourial do Campo, perto de Castelo Branco333, a publicao da revista Broteria inicia-se em 1902. O Colgio de Campolide, em Lisboa, era outro dos
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A Flora lusitanica exsiccata foi uma coleco de exemplares de herbrio (exsicata), representativa da flora portuguesa, organizada pela Sociedade Broteriana. Esta exsicata no era vendida, mas antes permutada com outras instituies e particulares, por outras exsicatas, desta forma enriquecendo-se notavelmente o Herbrio da Universidade de Coimbra. Esta exsicata organizou-se em centrias (100 exemplares). Nos anos de 1886, 1887, 1888, 1889 e 1890, foram produzidas duas centrias em cada ano. A exsicata continua nos anos subsequentes, mas com a distribuio de uma centena de plantas por ano at 1893, e a partir deste ano, uma centena de dois em dois anos, at 1899. Termina em 1911, com a centria XIX. A Flora lusitanica exsiccata seria portanto constituda por 1900 espcimes de plantas (correspondendo a um nmero aproximadamente igual de espcies). Tal como nas distribuies aos scios, na exsicata foram inlcudos exemplares de algas, fungos, lquenes, hepticas, musgos, fetos, gimnosprmicas e angiosprmicas, sendo naturalmente este ltimo grupo, o mais representado. Nas primeiras centrias, a maioria dos exemplares da exsicata foi recolhida por A. Mller. Uma parte dos exemplares da exsicata foi recolhida pelos scios da Sociedade, como por exemplo G. Sampaio. 330 Um dos objectivos da Sociedade Broteriana era a permuta de plantas (exemplares de herbrio) entre os seus scios. Entre a sua criao e 1900 o nmero de plantas permutadas entre os scios da Sociedade foi impressionante. S entre 1880 e 1889 foram distribudos 1265 exemplares de herbrio, por cada scio, com a seguinte distribuio por grupo: algas (50); fungos (6); lquenes (18); hepticas (5); musgos (25); pteridfitas (26); gimnosprmicas (1); monocotiledneas (218); dicotiledneas (916). 331 Agradecemos penhoradamente ao P.e Jos Carvalhais a amvel disponibilidade em nos guiar pelo Museu de Histria Natural do Colgio das Caldas da Sade e Dra. Maria Jos Carvalho, bibliotecria do Colgio, importantes indicaes bibliogrficas sobre a matria deste captulo. 332 Apesar de G. Sampaio s publicar o seu primeiro trabalho na revista Broteria em 1916. 333 Sobre o Colgio de S. Fiel ver GOMES (2003) e SALVADO (2003).

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centros de cultura cientfica dos fundadores da Broteria (PINTO, 1910a, 1910b). O Colgio de S. Fiel, o Colgio de Setbal e o Colgio de Campolide fundam e ampliam tenazmente os seus herbrios (Estampa IV.8.). O Herbrio do Colgio de S. Fiel tornar-se- num dos melhores do nosso pas (HENRIQUES, 1920, 1922). As coleces iniciam-se com C. Zimmermann em 1897 (TAVARES, 1924). Em 1903, J. S. Tavares assume a direco deste herbrio (TAVARES, 1924). Como seria de esperar, estabelece-se a troca de exemplares e a discusso das respectivas determinaes, com os Herbrios da Academia Politcnica do Porto, da Escola Politcnica de Lisboa, e da Universidade de Coimbra. Os futuros fundadores da Broteria inscrevem-se como scios da Sociedade Broteriana no fim da dcada de 1890 e iro participar nas distribuies de plantas da Sociedade, na flora lusitanica exsiccata e no Boletim (Estampa IV.9.). No Boletim de 1902 (BSB, srie I, XIX), A. Luisier, C. Zimmermann e J. S. Tavares aparecem, pela primeira vez, referidos como scios e participantes nas distribuies para os anos de 1899-1902. Participam nas distribuies de 1903-1906 (BSB, srie I, XXI). Participam tambm na Flora lusitanica exsiccata nas centrias XIX (BSB, srie I, XXVI). A. Luisier publica um trabalho sobre a flora da regio de Setbal no Boletim da Sociedade (BSB, srie I, XIX). Em 1907, a revista Broteria divide-se em trs sries, uma de vulgarizao cientfica, outra de botnica, e uma outra de zoologia (AZEVEDO, 1913). A implantao da Repblica em 1910 seria trgica para a Companhia de Jesus, para os jesutas botnicos, e para a Broteria. Todavia, a Companhia resiste, e no Brasil e na Galiza parece florescer redobrada. Expulsos de Portugal, alguns dos professores do Colgio de Campolide emigram para a Blgica, instalam-se no Chteau de Dielighem, em Jette-Saint-Pierre-lez-Bruxelles, e fundam o Instituto NunAlvares que inicia as suas aulas a 7 de Novembro de 1912. No entanto, a guerra com a Alemanha iria tornar a permanncia do Colgio na Alemanha, invivel. Em 1914, o Instituto Nuno lvares muda-se para o Hotel de Los Placeres, em Lourizn, perto de Pontevedra. No entanto, as condies do Hotel para o ensino seriam deficientes e, em 1916, o Instituto muda-se para o Colegio del Pasaje em La Guardia (Estampa IV.10.). A Broteria interrompe a sua edio em 1910, mas reaparece logo em 1912 com edio no Brasil, e sub-ttulo Revista Luso-Brazileira. Em 1913, era editada em Salamanca, e, em 1916, no Colegio del Pasaje. O Instituto NunAlvares e a Broteria permaneceram em solo espanhol at 1932, ano em que regressaram definitivamente a Portugal (AZEVEDO, 1913; ONC, 1914-1934). O Instituto Nuno lvares instala-se ento no Colgio das Caldas da Sade (Colgio Nuno lvares) (Estampa IV.10.), onde ainda hoje permanece em funcionamento regular. No seu Museu de Histria Natural encontram-se as coleces dos antigos colgios de S. Fiel, Campolide e Setbal (Estampa IV.11.)

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Com o exlio dos jesutas no terminou o intercmbio entre A. Luisier, J. S. Tavares e G. Sampaio. Pelo contrrio, o perodo de permanncia no Colegio del Pasaje foi especialmente rico para o intercmbio cientfico entre os exilados e G. Sampaio, e para a qualidade cientfica da Broteria.

2C. Clemente Loureno Pereira Na dcada de 1920, G. Sampaio trava conhecimento com Clemente Loureno Pereira e J. M.

Miranda Lopes. Inicia-se ento uma colaborao entre G. Sampaio e os procos amadores de botnica que se prolongar por vrios anos. C. L. Pereira vivia em Insalde (Paredes de Coura) e ir estudar a flora do Minho. J. M. Miranda Lopes vivia em Argoselo (Vimioso) e ocupar-se- da flora de Trs-osMontes. Ambos so introduzidos nos estudos botnicos por J. Henriques, mas talvez devido idade do professor de Coimbra que em 1920 j estava aposentado h vrios anos, os contactos so posteriormente dirigidos para G. Sampaio. Nas palavras de ambos se sente vibrar a paixo (tardia) do naturalista, o amor pela natureza, pela vida, pelas plantas como organismos, que como ns partilham a biosfera. G. Sampaio era muito melhor conhecedor da flora, do que C. L. Pereira e J. M. Miranda Lopes. Independentemente das idades de cada um, estabelece-se uma relao semelhante de um aluno com o seu professor. Colhem plantas, identificam. Enviam exemplares para G. Sampaio confirmar as identificaes. Esta colaborao ser muito profcua, porque dar origem a duas floras regionais, uma de Paredes de Coura e outra de Vimioso. O enriquecimento foi mtuo. C. L. Pereira e J. M. Miranda Lopes apreenderam a Botnica (sistemtica) e G. Sampaio enriqueceu o seu conhecimento da flora portuguesa e o Herbrio da Faculdade de Cincias. Numa poca em que as deslocaes eram difceis, ter colectores permanentes no Minho e em Trs-os-Montes era uma grande ajuda para a explorao da flora do continente portugus. A colaborao foi especialmente profcua em relao flora transmontana que era na altura mal conhecida. As herborizaes de J. M. Miranda Lopes daro a conhecer diversas variedades e espcies novas para a cincia. Os trabalhos botnicos de ambos so publicados no Boletim da Sociedade Broteriana. Foi atravs de J. Henriques que C. L. Pereira se iniciou nos estudos botnicos no fim da dcada de 1910. Publica no Boletim da Sociedade Broteriana de 1920 (volume XXVIII) uma primeira flora regional de Paredes de Coura (plantas vasculares) (PEREIRA, 1920) (Estampa IV.12.). J. Henriques escreve uma pequena nota explicativa: O estudo [...] foi cuidadosamente realizado pelo Rev. P.e Clemente Loureno Pereira, o qual com o fim de conhecer a vegetao da regio percorreu todo o concelho observando com cuidado todas as plantas vasculares que por ali se encontravam. Dirigiu-se a mim para o auxiliar, no que me deu muito prazer, e concorreu de modo especial para enriquecer o

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herbrio da Universidade com os exemplares que enviou. Bom exemplo deu, digno de ser seguido para se conseguir um conhecimento exacto da flora do nosso pas. Na introduo sua flora, C. L. Pereira faz uma caracterizao geogrfica do concelho, menciona culturas agrcolas e caracteriza sumariamente a vegetao. Termina a introduo agradecendo a contribuio do professor coimbro: O estudo que se segue devido iniciativa do Sr. Dr. J. Henriques. Um grande nmero de plantas, a maior parte, foram estudadas por le; as restantes foram estudadas por mim, mas verificadas por le. Dedicava-me ao estudo das plantas por distraco, movido por certas dificuldades consultei-o, e no s tive a resposta que desejava, como tambm o incitamento para continuar, com mais proveito, os meus estudos. Desde ento nunca mais faltou o seu conselho de amigo, nem a sua sbia orientao; e foi assim que se estudou a flora do concelho de Paredes de Coura, o que no se teria feito sem a sua interveno. Agradeo-lhe muito sinceramente todos os favores que to generosamente me dispensou. O estudo das plantas vasculares de Paredes de Coura por C. L. Pereira seguido por um estudo dos musgos do mesmo concelho por A. Machado334 e dos lquenes por G. Sampaio. O trabalho de G. Sampaio uma listagem de espcies, sem comentrios adicionais. No Congresso do Porto organizado por G. Sampaio no Vero de 1921, este fez meno do trabalho meritrio que estava a ser realizado pelo proco minhoto. G. Sampaio ter incentivado C. L. Pereira a prosseguir os seus estudos da flora de Paredes de Coura com vista elaborao de uma flora regional completa. No ano seguinte, em 1923, J. Henriques ter contactado C. L. Pereira para que publicasse no Boletim uma nova verso, melhorada, da flora de Paredes de Coura. Tendo G. Sampaio publicado, em 1920, uma primeira listagem dos lquenes deste concelho, J. Henriques tambm ter pedido a C. L. Pereira que enviasse para G. Sampaio amostras de lquenes do concelho. C. L. Pereira parece recuperar do desalento porque termina a sua Flora da Bacia do Minho que seria publicada nos Anais da Faculdade de Cincias do Porto, qui por iniciativa de G. Sampaio. O trabalho publicado em duas partes (PEREIRA, 1931a, 1931b), onde so listadas 773 espcies de plantas vasculares, correspondendo a 417 gneros. Algumas das espcies descritas so novas para a flora portuguesa. A maioria dos exemplares recolhida por C. L. Pereira, uma minoria por G. Sampaio. Para cada espcie geralmente indicada a sua frequncia, se rara se vulgar. Os locais de colheita so variados, do litoral ao interior, de norte a sul da bacia do rio Minho. Numa curta introduo, o autor
334 Antnio Luis Machado Guimares nasceu em Lisboa, em 1883. Formou-se em 1905, na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra. Foi professor no Liceu Cames (Lisboa), Rodrigues de Freitas (Porto) e em Braga. Em 1914, entra como assistente de Zoologia da Faculdade de Cincias do Porto, atingindo o topo da carreira, em 1921. Desenvolveu estudos botnicos, focalizados na flora briolgica portuguesa (GEPB).

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descreve sumariamente a regio em estudo, incluindo at alguns dados artsticos. Chama a ateno para o facto de na Flora de Paredes de Coura, publicada no Boletim da Sociedade Broteriana, terem algumas espcies ficado mal classificadas; por isso prevalece a classificao do presente trabalho. Termina com a expresso do meu sincero agradecimento ao sr. Dr. G. Sampaio pela coadjuvao que me prestou para realizar ste trabalho, que no seria possvel sem o seu auxlio. No se tratando de um trabalho propriamente de investigao, esta flora regional foi certamente um importante contributo para a sistematizao do conhecimento da nossa flora continental.

2D. J. M. Miranda Lopes J. M. Miranda Lopes335 publica, em 1926, no volume IV da nova srie do Boletim da Sociedade Broteriana uma primeira verso da Flora do concelho de Vimioso, datada de Novembro de 1926 (LOPES, 1926) (Estampa IV.13.). Os contactos com G. Sampaio tero sido posteriores a esta primeira publicao. A primeira carta de J. M. Miranda Lopes para G. Sampaio que existe no seu esplio epistolar data de 21 de Outubro de 1927. No correio dhontem enviei a V. Ex.cia 17 cartazes com exemplares secos de varias plantas da Flora da minha terra, onde vo algumas que V. Ex.cia deseja vr; e nem sequer tive tempo para lhe escrever duas palavras, porque ando atarefado com o fabrico do vinho da minha colheita, que este ano foi mais abundante do que esperava e que me apanhou sem vasilhame suficiente para o deitar. Por isso, s hoje posso escrever-lhe duas palavras para lhe dizer que no dia 11 dirigi a V. Ex.cia uma carta para a Povoa de Lanhoso, por no saber se j estaria no Porto. Das outras plantas que V. Ex.cia desejava vr no fiquei com exemplares. Iro na Primavera do proximo ano. Mandei [...] buscar o Aconitum Napellus336, mas s me trouxe hastes secas e algumas folhas e capsulas dos fructos tambem j secos, e algumas raizes que tm a forma de bolbos
P.e Jos Manuel Miranda Lopes (1872-1942) nasceu em Argoselo (Vimioso, Bragana). Frequentou o Seminrio de Bragana, tendo sido ordenado presbtero a 3 de Novembro de 1895. Foi reitor da Igreja de Caro de 1900 a 1909, e seguidamente proco de Argoselo, sua terra natal. O seu ministrio era por vezes sentido de forma no recompensada. Desabafava para G. Sampaio numa carta datada de 30 de Agosto de 1928: Eu tenho-me entretido com a direo espiritual dos meus paroquianos de Pinelo, que me desgostaram bastante, como ver pela inclusa instruo paroquial que lhes dirigi, e no proximo numero do Mensageiro Paroquial publico outra. V. Ex.cia no imagina quanto custa a aturar o povo, e os sacrificios que um pobre paroco faz, para lhe prestar a assistencia religiosa e ministrar a instruo e educao moral, de que tanto carece, para ver se a sociedade mais perfeita e feliz. No imagina! E por fim, aqueles por quem nos sacrificamos s nos do amarguras e desgostos! Com isto quasi que se perde a vontade de fazer bem. Mas paciencia. J agora terei de levar [...] a minha cruz. Auxiliado por J. Henriques, A. X. Pereira Coutinho e G. Sampaio estuda pormenorizadamente a flora de Vimioso. Deste estudo resulta a publicao, no Boletim da Sociedade Broteriana, de uma flora do concelho (LOPES, 1926, 1928, 1930, 1933). Descobre duas espcies novas para a cincia (Gagea nova Samp. e Saxifraga Lopesiana Samp.) que so descritas formalmente por G. Sampaio. Publicou ainda Argoslo Notcia histrica e corogrfica e uma monografia sobre Caro (LOPES, 1939) (FERNANDES & GARCIA, 1943). Agradecemos ao Dr. Carlos Prada de Oliveira alguns elementos da biografia de J. M. Miranda Lopes, assim como a fotografia inserida na Estampa IV.14. 336 A ortografia actual do nome da espcie Aconitum napellus L.
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rhizomorfosos e que vou plantar na minha horta. Se V. Ex.cia quer algumas raizes desta planta, enviolhas na volta do correio. Num dos cartazes vae um exemplar da Euphrasia officinalis L. para V. Ex.cia colocar no seu herbrio. Peo-lhe o favor de me devolver todas as outras plantas, pois no possuo outros exemplares, e no posso ficar desarmado. Nem mesmo do Cirsium transmontanum tenho outro exemplar. Os mais que colhi foram para Lisboa e Coimbra337. Peo-lhe que na devoluo ligue bem os cartazes para que as plantas no se estraguem no correio, pois as outras sofreram bastante, e se no conseguir met-las todas na pasta onde foram, pode devolver metade noutros dois cartes bastante consistentes e bem ligados. E por hoje no posso mais. Desejo-lhe muita saude; e creia sempre na elevada estima, admirao e respeito com que sou. G. Sampaio iria descrever, posteriormente, uma nova raa de Aconitum Napellus Lin., que designou de lusitanicum, restringida s terras de Miranda. Tero sido estes exemplares, descobertos por J. M. Miranda Lopes, os utilizados por G. Sampaio para descrever a nova raa? A Euphrasia seria de facto a E. hirtella Jord. ex Reut., espcie circunscrita, no nosso pas, aos lameiros de Vimioso. Era uma novidade taxonmica para a nossa flora, a primeira espcie deste gnero observada em Portugal. Na segunda parte da flora do concelho de Vimioso, J. M. Miranda Lopes descrevia maravilhado a descoberta desta planta: No dia 27 de mesmo ms de Junho tive tambm a felicidade de encontrar prximo da raia que nos separa da Espanha, nas faldas da Serra de Rompe Abarcas, no lameiro de Orreta Funda da Quinta de Vale-de-Pena, anexa da freguezia de Pinelo, a Euphrasia hirtella, Jord. var. latibracteata (Sen.), descoberta h poucos anos na Espanha pelo Padre Sennen (Frre Sennen). gnero novo para a Flora de Portugal (LOPES, 1928:235). G. Sampaio descrevia a descoberta da seguinte forma, em trabalho datado de Julho de 1931: Do sr. P.e J. Miranda Lopes recebi h trs anos exemplares desta espcie [Euphrasia hirtella Jord.], que uma novidade para Portugal, assim como o respectivo gnero. Aquele meu prezado amigo colhera a planta perto da fronteira espanhola, em Junho de 1927. (SAMPAIO, 1931b:157). A flora de Trs-os-Montes era nesta poca mal conhecida. O contedo desta carta, e das restantes que citaremos
Este taxon novo seria proposto por A. X. Pereira Coutinho, num artigo que era publicado no mesmo volume do Boletim da Sociedade Broteriana (BSB, srie II, V), onde J. M. Miranda Lopes publicaria a segunda parte da flora do concelho de Vimioso. J. M. Miranda Lopes descrevia desta forma a descoberta desta planta: No dia 14 de Junho encontrei nas margens da Ribeirinha de Pinelo uma planta que me prendeu logo a ateno pela viscosidade do invlucro, e esta era to grande, que ao mais leve contacto aderia fortemente aos dedos e ao papel. Observando a planta com uma lente, descobri em cada bractea do invlucro como que uma lgrima de matria gelatinosa muito viscosa escorrendo do espinho, que muito curto, inofensivo e adunco. No encontrei ste carcter da planta descrito nos indivduos de meu conhecimento pertencentes mesma famlia, e para tirar as minhas dvidas enviei ao Ex.mo Sr. Dr. Pereira Coutinho alguns exemplares desta planta. Sua Excelncia estudou-a, confrontou-a com outras plantas da mesma espcie, que obteve do rico Herbrio de Montpellier, e em sua amvel carta de 22 de Julho declarou-me que estvamos em presena de uma variedade ou subespcie nova. Descreveua minuciosa e admirvelmente, como se v noutro lugar do presente volume dste Boletim, e deu-lhe logo o nome de Cirsium transmontanum para assegurar a prioridade da descoberta (LOPES, 1928:234-235). J. M. Miranda Lopes estaria aqui a referir-se seguramente aos Herbrios da Faculdade de Cincias de Lisboa e da Universidade de Coimbra.
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neste captulo, mostra o papel activo que J. M. Miranda Lopes desempenhou para o melhor conhecimento da flora transmontana. No ms seguinte, em carta datada de 18 de Novembro de 1927, J. M. Miranda Lopes dirigia-se a G. Sampaio: Reservo-me porem para reformar o meu modestissimo trabalho quando concluir a minha explorao botanica em todas as freguesias do concelho, e ento, seguindo as regras que V. Ex.a me indicar, veremos como uniformizar a nomenclatura botanica. Inicia-se ento uma curta mas intensa troca de plantas e opinies entre o proco transmontano e G. Sampaio. J. M. Miranda Lopes enviava plantas para o Porto com identificaes provisrias. Recebia de volta os comentrios de G. Sampaio. Logo a 29 de Novembro deste ano, J. M. Miranda Lopes acusa a recepo de plantas enviadas por G. Sampaio: Recebi tambem as plantas da ultima remessa, e chegaram muito bem felizmente. G. Sampaio teria encontrado uma Centaurea nos exemplares enviados por J. M. Miranda Lopes que lhe ter parecido (inicialmente) uma espcie nova, e ter informado o proco transmontano da novidade. Nesta mesma carta, J. M. Miranda Lopes regozijava: Grande prazer me deu V. Ex.a com a noticia de que a linda e pequenina Centaurea que lhe enviei com o numero 582 talvez uma especie nova. Se V. Ex.a podesse desde j formar com segurana o seu juizo, bem era menciona-la j na 2. Lista das plantas da Flora do concelho de Vimioso, que tenciono publicar no proximo volume do Boletim da Sociedade Broteriana. V. Ex.a porem far o que julgar mais seguro e prudente. Tratando-se realmente de uma especie nova, muito agradeo a lembrana de a dedicar ao humilde parocho de Argozelo, se com isso V. Ex.a quer honrar o clero de Portugal. No sendo com este intuito, eu antes queria que ela ficasse com o nome de V. Ex.a muita pena terei se ella no torna a mostrar-se aos meus olhos. [...] Foi a Divina Providencia que me deu a felicidade de estabelecer relaes espirituais com V. Ex.cia. Se no fosse V. Ex.a que triste figura no faria eu com a apresentao desta planta!338. No ano seguinte, 1928, escrevia a 21 de Maio para G. Sampaio: Muitissimo obrigado pela determinao das plantas e pela remessa da lista das que V. Ex.cia colheu por estes sitios em 1907. J. M. Miranda Lopes publicar, em 1928, no volume V da nova srie do Boletim da Sociedade Broteriana, uma primeira adenda sua Flora do concelho de Vimioso (LOPES, 1928). Antes da publicao e com as provas tipogrficas na mo, escreve, a 4 de Julho deste ano, uma carta a G. Sampaio (Estampa IV.14.), pedindo uma resposta definitiva sobre algumas espcies que o professor teria indicado como novas: recebi de Coimbra as provas tipograficas do meu trabalho sobre a Flora do Concelho de Vimioso. a 2. Lista, onde menciono as plantas que colhi durante o ano de 1927 e outras que ainda no estavam bem estudadas. So de facto 190 especies. Peo-lhe o favor de me dizer
338

Esta novidade no viria a ser confirmada. Ver pargrafo seguinte.

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se acha conveniente que inclua j nesta lista algumas das plantas mais raras e notaveis que colhi nestes ultimos meses, e que foram por V. Ex.cia estudadas e classificadas. Para assegurar a prioridade da descoberta parecia-me que no seria mal dar j a noticia da nova variedade da Saxifraga granulata e da Centaurea que V. Ex.cia me dedicou, se se trata efectivamente duma especie nova. Por este correio lhe envio um ramo desta planta com flores mais desenvolvidas. [...] Talvez se trate duma simples forma da Centaurea melitensis, L., mal descrita na Flora de Sr. Dr. Pereira Coutinho. A resposta de G. Sampaio ter sido positiva em relao primeira espcie e negativa em relao segunda. A Saxifraga ser designada por G. Sampaio de Saxifraga Lopesiana Samp., e que J. M. Miranda Lopes publicar na segunda parte da sua flora de Vimioso (LOPES, 1928). J. M. Miranda Lopes descrevia, encantado, a descoberta desta planta: A Saxifraga Lopesiana Samp., planta muito mimosa e delicada, que ficaria bem em bordaduras entre as mais lindas dos nossos jardins espcie nova para a scincia (Lopes, 1928:235). Posteriormente, G. Sampaio considerar esta espcie efectivamente como uma variedade da S. granulata - Saxifraga granulata var. Lopesiana (Samp.) Samp. (SAMPAIO, 1931b:156-157). Escrevia neste trabalho: a var. Lopesiana descobriu-a ste meu prezado amigo [J. M. Miranda Lopes] tambm nos arredores de Argoslo, em prados naturais. uma planta relativamente grande, elevada e ramosa no cimo, que a princpio tomei como espcie prpria mas que depois preferi inscrever como variedade da S. granulata, atendendo ao polimorfismo desta. proxima da S. Rouyana Magn. (1893). (SAMPAIO, 1931b:157). Numa carta escrita no ms seguinte, datada de 30 de Agosto de 1928, J. M. Miranda Lopes antevia dificuldades quanto a acrescentar a descrio da nova saxifraga ao trabalho que estava prestes a ser publicado no Boletim da Sociedade Broteriana: j tempo de dar-lhe noticias minhas e saber se continua passando bem. Eu tenho sentido algumas perturbaes cardiacas, que me no deixam dar grandes passeios e muito menos fazer longas jornadas para herborizar. Apenas vou colhendo uma ou outra planta, que aparece beira dos caminhos, quando tenho de sahir a cavalo. Colhi h dias uma umbellifera muito linda, de flores brancas como a neve, muito finas e delicadas, e que no rara por estes stios. Parece ser um Petroselinum, mas no encontro chave que lhe sirva bem. V. Ex.cia ver quando ahi aparecer. Muito obrigado pela determinao das plantas que lhe enviei em 22 de julho. Falta o nome da Ferula gigante, e das duas umbelliferas [...]. Muitssimo penhorado agradeo tambem as preciosas instrues que me enviou para bem secar as plantas. Muito estimo que continue a trabalhar no seu Compendio de Botanica e Manual da Flora Portugueza e que estes seus trabalhos

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obtenham um exito muito feliz. Recebi agora uma carta do Sr. Dr. Quintanilha339 em que me diz que o meu trabalho j est impresso, e que as ultimas notas que lhe mandei j no chegaram a tempo por ele j estar em S. Pedro de Moel. Tambem me participa que no proximo ms de setembro parte para Berlim e que por l se demora um anno. Custa-me deveras que aquelas notas no venham no texto, principalmente as palavras de agradecimento que dirigia a V. Ex.cia por me ter dedicado a Saxifraga da minha terra e com que tanto honrou o clero do nosso paiz. [...]. Todavia os receios de J. M. Miranda Lopes felizmente no se concretizariam, e a nova saxifraga seria includa nesta segunda parte da Flora de Vimioso, assim como os agradecimentos a G. Sampaio. Escrevia J. M. Miranda Lopes no fim da introduo deste trabalho: Ao Ex.mo Sr. Dr. Gonalo Sampaio, distinto professor da Universidade do Prto, muitssimo reconhecido agradeo tambm os preciosos esclarecimentos que me deu crca da determinao de muitas plantas que vo na lista e doutras que me pediu para examinar e incluir no Herbrio da sua Universidade (LOPES, 1928:236). No texto referente nova saxifraga, acrescentava descrio que ter sido escrita por G. Sampaio: Descobri esta planta em maio de 1925 em Argoselo nos lameiros do Ferradal e Vale-de-Ladigo. No a inclui na primeira lista por ter dvidas crca da sua determinao. Foi agora estudada e classificada pelo meu ilustrssimo e querido amigo Ex.mo Sr. Dr. Gonalo Sampaio (LOPES, 1928:243). As herborizaes de J. M. Miranda Lopes e a colaborao com G. Sampaio continuaram. A 14 de Maio de 1929 escrevia para G. Sampaio mais uma carta rejubilante de alegria contagiante: debaixo dum calor extraordinario, em direco a Vimioso; e percorrendo montes e vales, ora a p, ora a cavalo, cheguei por fim, s 2 da tarde, ao local onde pela 1. vez encontrei a Saxifraga Blanca, no dia 18 de Abril. Depois de verificar que beira do caminho numa extenso de 200 metros aproximadamente no havia nada, entrei num lameiro proximo, e, logo ao primeiro golpe de vista dei com uma pequena colnia desta linda planta, colhendo os exemplares que por este correio lhe envio em trs papeis separados340. Antes porem de chegar ao local, tive a felicidade de encontrar outras plantas notaveis, que lhe envio tambem por este correio. Lindissima e muito rara por estes sitios, pois nunca a tinha visto, a planta numero 1052 que 1. vista me parece uma Linaria ou uma Polygala.

339 Aurlio Quintanilha nasceu em Angra do Herosmo em 1892. Licenciou-se em Cincias Naturais pela Faculdade de Cincias de Lisboa, em 1919. Entra ento para assistente da Universidade de Coimbra, onde se doutora em 1926, com um estudo sobre um grupo de fungos aquticos (Contribuio ao estudo dos Synchytrium). Em 1928 professor catedrtico da Universidade. De 1928 a 1931 especializa-se em gentica de fungos com Kniep na Alemanha. Regressa a Coimbra. Publica em 1933 Le problme de la sexualit chez les champignons. Afastado do servio e aposentado em 1935, parte em 1943 para frica, onde organiza os servios de investigao cientfica e experimentao agrcola do algodoeiro (GEPB; FERNANDES, 1962, 1975; QUINTANILHA, 1975). 340 Trata-se da Saxifraga carpetana Boiss. & Reut. subsp. carpetana (sinnimo: S. blanca Willk.), desconhecida at ento no nosso pas.

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[...] Notavel e interessantissima e muito ornamental a planta numero 1055!! Nunca tinha visto coisa semelhante. Outra descoberta notavel a Paeonia que vae com o numero 1054. Como ver esta lanuginosa no s na pagina inferior das folhas, mas at mesmo na capsula dos fructos. Trata-se portanto duma planta ou nova para a nossa flora ou para a sciencia. A linda Veronica que lhe mandei com o numero 1050 tambem me parece nova. Se o for, desejava dedica-la ao meu amigo, fazendo eu a diagnose. Descobri em Vimioso um verdadeiro paraiso botanico!. Pela descrio da Paeonia, com as folhas pubescentes, ter parecido a G. Sampaio que se tratava da P. officinalis Lin., uma espcie desconhecida em Portugal, e ter pedido a J. M. Miranda Lopes mais pormenores. J. M. Miranda Lopes responde rapidamente, a 20 de Maio de 1929, dando detalhes sobre a planta em questo: Hontem, por ser Domingo e ter muito servio religioso, no me foi possivel ter o prazer de acusar a sua correspondencia de 15, 16 e 17 do corrente. Fao-o hoje para lhe agradecer, muitissimo penhorado, no s o favor da determinao das plantas que ultimamente lhe enviei, mas tambem as entusiasticas felicitaes que me dirigiu pelas minhas descobertas botanicas. Eu tambem estou encantado com as lindas plantas que no dia 13 encontrei nos montes e lameiros de Vimioso! [...] Da Paeonia [...] s encontrei um exemplar, ultima hora, quando, estava j a sahir do monte, mas provvel que no mesmo local apaream mais. As flores deste exemplar que eu vi so cor de rosa muito viva, ou purpureos, como a Paeonia lusitanica; e as da Paeonia humilis, umas so cor de rosa vivo, outras dum roseo mais esbatido e outras at com estrias quasi esbranquiadas. Desta aparecem exemplares mais pequenos com as flores amareladas carmezim e com os segmentos mais estreitos. A esta forma pequena que Retzius daria com preciso o nome de P. humilis. Mas a 1. que lhe mandei e que colhi em Vimioso, nos lameiros do Aveloso, uma planta robusta, bastante alta e ainda mais alta que a P. lusitanica. Com esta descrio, G. Sampaio ter confirmado que a Paeonia de folhas pubescentes seria de facto a P. officinallis L., e que a segunda Paeonia de flores carmezim e folculos pequenos seria a P. microcarpa Boiss. & Reut. A primeira era uma espcie nova para Portugal, a segunda uma espcie quasi desconhecida no nosso pas. Relataria as novidades em trabalho datado de Julho de 1931: Esta Paeonia officinalis [] nova para a flora do nosso pas, tendo sido encontrada em Vimioso, a 13 de Maio de 1929, pelo sr. P.e Manuel Miranda Lopes, digno Prior de Argoslo, de quem recebi um bom exemplar. ste distinto sacerdote tem prestado grandes servios ao estudo da flora portuguesa, com minuciosas e frutferas herborizaes realizadas no seu concelho. [] Em Portugal [a Paeonia microcarpa Bois. & Reut.] tinha sido encontrada apenas por Tournefort e mais tarde por Carlos Machado nas margens da ribeira de Niza, prximo de Portalegre; mas em 1929 foi descoberta e colhida

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em vrias localidades do concelho de Vimioso, pelo sr. P.e Miranda Lopes, de quem recebi bons e numerosos exemplares. (SAMPAIO, 1931b:137-138). As descobertas de J. M. Miranda Lopes continuavam. A 15 de Junho de 1929 escrevia nova carta para G. Sampaio a relatar as ltimas descobertas: A aroidacea que lhe mandei com o n. 1066 espontanea. No tinha duvida alguma. Vive nas margens da Ribeira de Avelouro, nas encostas dum grande vale entre serras e grandes penedos e muito distante dos [...] Colhi-a em 30 de Junho do ano passado pela 1. vez mas s com fructos e ainda verde. Este ano voltei l para ver se a encontrava com flores e apesar de ser um pouco antes daquela data, j s encontrei com flores o exemplar que lhe mandei que era lindissimo e estava na pujana e no seu maximo desenvolvimento. Sem flores vi muitos no mesmo local. Esta planta tem as folhas alabardinas, maculadas de branco, com grandes auriculas, espadice amarelo com uma clava ou maa bastante grande e comprida, perfeitamente cilindrica (!) e as sementes so cor de canela, bordadas com alveolos e (albumen?). Parece-me ser o Arum italicum Mill. Este ano j no possivel obter um exemplar vivo, e o unico com que fiquei meti-o num papel, no foi seco com presso, e quando o colhi j tinha o espadice seco. A espatha esbranquiada. Oportunamente lhe enviarei este exemplar assim mesmo como est341. A Calluna pubescens Koch rarissima por estes sitios. Eu nunca a tinha visto. Quando a colhi pareceu-me que tinha a pubescencia glandulosa; mas agora, que j est seca, fui ver e no a tem. Mas a pubescencia muito espessa e parece-me uma coisa nova. Vive [...] nas faldas da serra de Aveloso, onde encontrei uma grande colonia de Paradisia lusitanica, gigantes a sua variedade transmontana, por mim descoberta em 1928 em Vimioso; mas agora com as folhas to grandes, glabras e lusidias que at me parecem diferentes. No a colhi porque as flores no tinham ainda desabrochado.. G. Sampaio ter tido dvidas em relao a este Arum de que lhe falava J. M. Miranda Lopes, dado que o Arum maculatum Lin., ento desconhecido em Portugal, tem o espdice violceo. Ter pedido um exemplar ao proco transmontano que lhe respondeu poucos dias depois, a 21 de Junho de 1929: O gigantesco Arum italicum que foi na mesma remessa levava o apendice da espadice, e ia at embrulhado num papel fino para que no se estragasse com a presso. Estou bem certo disto. Talvez se desprendesse ahi ao abrir o volume e cahisse no cho. Era exemplar unico!. Todavia, o Arum maculatum Lin. acabaria por ser observada em Vimioso pouco tempo depois. Era uma espcie nova para Portugal! A descoberta seria publicada por G. Sampaio, em trabalho datado de Julho de 1931: Esta espcie, que no era ainda conhecida na flora do nosso pas, foi descoberta e colhida no trmo de Vimioso, em 1930, pelo sr. Prior de Argoslo, P.e Jos Manuel Miranda Lopes, a quem devo a fineza de me enviar um exemplar. O seu
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A descrio de J. M. Miranda Lopes condiz com esta identificao.

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espadice tem apndice avermelhado-violceo e o pednculo mais longo que os pecolos das folhas, caracteres que o apartam bem nitidamente do A. italicum Mill., frequente de norte a sul (SAMPAIO, 1931b). A variedade nova de Paradisia ser designada no trabalho de J. M. Miranda Lopes publicado em 1928 de Paradisia lusitanica var. transmontana Samp. SAMPAIO (1931b) ir consider-la como uma variedade de uma espcie j existente: Anthericum Liliago var. transmontanum (Samp.) Samp. Escrevia neste trabalho: Foi descoberta esta variedade em 1927, pelo sr. Prior de Argoselo, P.e Jos Manuel Miranda Lopes. No volume VI da nova srie do Boletim da Sociedade Broteriana (1929-1930), J. M. Miranda Lopes publicar, uma segunda adenda sua Flora do concelho de Vimioso (LOPES, 1930). A ltima carta de J. M. Miranda Lopes para G. Sampaio datada de 7 de Outubro de 1933. Escrevia: H muito tempo que no tenho o prazer de receber noticias suas. Deus queira que no seja por falta de saude, e que tenha passado melhor dos seus padecimentos. Em maio de 1931 encontrei na mata duma cortinha de Visconde de Paradinha uma planta rara e que me pareceu muito interessante. De balde, por varias vezes, fui ao stio, em diversas epocas, para vr se a encontrava com flores e frutos. Resolvi ento colher alguns bolbos e plantei-os na minha horta de Vale de Ladigo. No Domingo passado, fui l, e quando suponha que a planta tivesse morrido, surpreendeu-me com uma rara e linda flor amarela, semelhante dum Crocus, verificando que os rapazes haviam j cortado mais duas hastes certamente tambem com flor. No um Crocus com certeza, pois na Flora de Portugal no vem mencionada especie alguma com flor amarela; e pelo estudo que fiz suponho, e tenho quasi a certeza de que a Sternbergia lutea, Gaud. Se o , temos mais uma especie e um genero novo para a flora portugueza. No lhe mando a flr, porque j no est em condies de a estudar. Tive de me ausentar repentinamente em servio do meu ministrio; deixei-a por esquecimento sobre a mesa do meu escritrio, e quando reparei, encontrei-a completamente seca e enrugada. Tambem ha anos vi a mesma planta em Aveloso, mas sem flr. Peo-lhe o favor de me dizer se conhece esta especie como espontanea em Portugal. [...] P. S. Aquela planta que lhe mandei em novembro o Evonymus europaeus L.342, especie e familia nova para a nossa flora. Podemos antever qual ter sido a resposta de G. Sampaio a esta carta porque, J. M. Miranda Lopes, na introduo terceira (e ltima) adenda flora de Vimioso (LOPES, 1933)343 d conta e discute as duas novidades taxonmicas contidas nesta carta. G. Sampaio ter provavelmente respondido a J. M. Miranda Lopes que a Sternbergia lutea (L.) Ker Gawl. ex Spreng. no era considerada uma espcie verdadeiramente espontnea no nosso pas
A ortografia actual do nome da espcie Euonymus europaeus L. Ficando portanto editado um conjunto de quatro publicaes sobre a flora do concelho de Vimioso (LOPES, 1926, 1928, 1930, 1933).
343 342

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(ocorre no Mediterrneo), e qui ter sugerido que investigasse em pormenor o local da sua provenincia. Toda a histria se encontra na introduo a esta adenda. Aps referir como e onde tinha encontrado to notvel espcie, J. M. Miranda Lopes explica como encontrou uma planta extica naquele stio: consultmos ltimamente o actual [...] possuidor do casal [que] informou-nos que, em poca muito remota, as antigas senhoras da sua casa tinham nas proximidades um quintal ajardinado, onde talvez cultivassem esta planta. ste quintal foi destrudo para lhe darem outra servido domstica; e poderamos supor que, ento, algum bolbo, arremessado dali, foi parar ao local, onde encontrou terreno do seu agrado e proliferou. Depois, comunicou-me em carta muito amvel, que esta linda e mimosa planta tambm se encontra na sua Quinta da Sudade, na povoao de Saldonha, concelho de Alfndega da F, em terreno enlameirado e sem cultura alguma, de mistura com outras ervas, que ali vegetam espontneamente, debaixo da rama duma nogueira e em montes de ameixeiras abandonadas; e que se recorda perfeitamente de a ver tambm, quando estudante, h pelo menos quarenta anos, em Castro Vicente, concelho de Mogadouro em terra coberta de relva e no cultivada [...] (LOPES, 1933:178-179). J. M. Miranda acrescenta que em Junho de 1931 tambm a observou em Avelanoso em alguns quintais, concluindo que por tudo isto, emquanto novas descobertas no vierem provar o contrrio, podemos afirmar, sem a menor dvida, que a Sternbergia lutea Gawl., tambm actualmente subespontnea em Portugal, na Provncia de Trs-os-Montes, sendo mais um gnero e uma espcie nova para a flora portuguesa (LOPES, 1933:179). Apresenta tambm resultados detalhados em relao a Euonymus europaeus Lin., espcie que se pensava ser exotica no nosso pas. Refere que o facto de se encontrar agora em Argoselo, encravado nos rochedos das margens do rio Sabor, quasi beira do rio, em stio deserto, solitrio e muitssimo afastado da povoao, distncia de sete quilmetros, aprximadamente, vem provar-nos que esta planta tambm espontnea em Portugal, e, por emquanto, privativa da regio transmontana; e por isso no temos dvida em a mencionar como espcie e famlia nova para a nossa flora (LOPES, 1933:177). Apoia a sua concluso no registo de observaes anteriores de outros botnicos que tambm a observaram em diversos locais de Trs-os-Montes. Apresenta ainda um mapa com as localizaes de todas as observaes conhecidas da espcie. Termina a introduo mais uma vez, muitssimo penhorado, [agradecendo] aos Ex.mos Srs. Dr. Gonalo Sampaio e Dr. Luiz W. Carrisso o valiosssimo auxlio que tm prestado [ao seu] humilde e insignificante trabalho (LOPES, 1933:177). Que balano se pode fazer do trabalho de J. M. Miranda Lopes? Com o auxlio dos professores das Universidades de Lisboa, Coimbra e Porto, nomeadamente de G. Sampaio, contribuiu de forma fundamental para um conhecimento moderno da flora regional de Trs-os-Montes. Emerge assim como

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um exemplo paradigmtico de como um botnico amador, se for devidamente enquadrado por especialistas, pode prestar um relevante servio Botnica.

3. As Floras publicadas, inditas e inacabadas 3A. As Floras regionais publicadas G. Sampaio publicou em vida cinco Floras regionais completas, duas (a do Torro e de Odemira) no incio da sua carreira (em 1901 e 1908, respectivamente), uma em 1923 (de Ponte de Lima), e outras duas (Caldelas e Trancoso) j bem no fim da sua carreira (1934 e 1936, respectivamente). O formato das Floras semelhante. So listadas as espcies recolhidas nas herborizaes que tinha feito na regio. Para cada espcie, indica o habitat e a abundncia. Discute aspectos taxonmicos relevantes. So registadas diversas variedades e espcies novas para Portugal. So ainda propostos alguns txones novos para a cincia, e tambm novas combinaes (Anexo I). Na introduo ao trabalho sobre a Flora do Torro (SAMPAIO, 1901b), G. Sampaio explica porque razo elaborou este trabalho, e como decorreu a herborizao, sem dispensar alguns apontamentos de viagem. G. Sampaio visita o Dr. Diniz Neves, seu particular amigo, na vila do Torro, no Alentejo, perto de Alcovas. Antes da listagem das espcies observadas na herborizao, G. Sampaio descreve, na introduo, a viagem de ida, em particular o caminho que fez de diligncia entre a estao de caminho-de-ferro das Alcovas e a vila do Torro, distante de 19 quilmetros. As palavras de G. Sampaio so de puro naturalista extasiado perante a natureza, com uma viva admirao potenciada pela exploso da Primavera nos campos alentejanos. Existe no esplio documental de G. Sampaio uma carta de Dinis Neves, datada de 8 de Outobro de 1898, que ter sido escrita depois das herborizaes de G. Sampaio (Estampa IV.15.): Odemira, 8-10-98, Meu caro Gonalo, Da tua preguia no fallo pelo duplo motivo de saber noticias tuas [ilegvel] pelo dr. [ilegvel] e de saber que ella incorregivel. Que tu obtenhas nas tuas aspiraes o sucesso digno dos teus merecimentos coisa em que constantemento penso, escusado sera repeti-lo. A tua flora j acabou de ser publicada? Fizeste-me a promessa de um exemplar; mas tambem te esqueceu, pelos modos [...] Por aqui eu doume muito bem se no achasse abafadio este ambiente de medico [...] Desconfio que nasci em equilibrio instavel. J que a medicina tem de ser o meu triste fardo, [...] Resta-me esperimentar a situao de medico camarario.[...]. A flora contm uma listagem de 222 espcies observadas por G. Sampaio durante esta estadia no Torro. patente a preocupao com a dignificao e reavaliao dos txones broterianos e linkeanos. Muitas das espcies listadas tm binomes criados por Brotero ou por Link e van

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Hoffmansegg. Ao referir o Colchicum fritillatum Link., G. Sampaio chama a ateno para o facto de ser este o binome vlido. O nome dado por Brotero - Colchicum lusitanum, posterior. Ao listar o Alyssum campestre subsp. colinum Brot., G. Sampaio acrescenta que, parece-me, no obstante as opinies em contrario, uma boa subespecie. Ao indicar o Raphanus silvestris Lamk., G. Sampaio concorda com Rouy e Foucaud que, na sua flora de Frana, consideraram o binome lineano R. raphinastrum vicioso por tautologia, sendo portanto necessria a sua substituio. Ao citar a Linaria linogrisea Hoff. & Link, G. Sampaio faz uma pormenorizada discusso do gnero, referindo trabalhos do Conde de Ficalho, com cujos pontos de vista concorda, e demonstrando que num trabalho do botnico francs Rouy havia um erro consideravel, para cuja rectificao aproveito agora o ensejo. Nesta discusso, G. Sampaio recorre s diagnoses de Brotero, mostrando que conhecia bem as obras do botnico coimbro. G. Sampaio apresenta ainda espcies novas para a flora portuguesa, e algumas variedades novas para a cincia (Estampa IV.16.), e dedica uma delas (Narcissus junquilla var. Henriquesii Samp.) ao ex.mo sr. Dr. Julio Henriques, sabio lente de botanica na Universidade de Coimbra. O trabalho sobre a Flora de Odemira (SAMPAIO, 1908) inicia com uma descrio da regio, incluindo aspectos econmicos e culturais. Tal como para o seu trabalho sobre a flora do Torro, tambm este foi proporcionado por uma visita a pessoas amigas, tendo estado na regio em 1893, 1899 e 1905 para proceder [...] a herborisaes mais largas e minuciosas. So listadas 887 espcies. Prope algumas variedades novas. Detem-se no gnero Spergularia, onde prope duas espcies novas: Spergularia colorata Samp. e Spergularia modesta Samp.344 No gnero Carex tambm prope uma espcie nova, Carex intacta Samp.345. Prope ainda uma nova sub-espcie - Arenaria conimbricensis Brot. ra. littorea Samp. (Estampa IV.17.) Apresenta diagnoses em latim para as espcies novas. A flora de Ponte de Lima (SAMPAIO, 1923d) um curto trabalho com dez pginas, datado de Dezembro de 1923. G. Sampaio lista as espcies mais vulgares, muitas acompanhadas dos respectivos nomes vulgares, para os principais habitats da regio. Refere as espcies cultivadas. Cita espcies importantes da Serra dArga. A revista de divulgao cientfica mas G. Sampaio no deixa de salientar a existncia de algumas espcies notveis: seria demasiado extensa, para se publicar aqui, a lista completa das vasculares do concelho; por isso limito-me a juntar s espcies j mencionadas sem dvida suficientes para definirem o caracter botnico da regio mais algumas dignas de
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Estas duas espcies no sero includas em SAMPAIO (1946). SAMPAIO (1921b) considerar esta espcie como sinnimo de Carex helodes Link. Todavia, ser considerada vlida em SAMPAIO (1946).

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registro. Termina mencionando as criptogmicas: os musgos estudados por A. Machado; as clorfitas por seu filho, Joaquim Sampaio; os fungos parasitas por R. G. Fragoso; os lquenes estudados por si, dos quais destaca algumas espcies novas para a cincia, j descritas e publicadas anteriormente, mas que tambm tinha encontrado em Ponte de Lima. Alguns anos mais tarde, foi pedida novamente a colaborao de G. Sampaio, para esta publicao no peridica. Numa carta datada de 10 de Agosto de 1932, Rodrigo Abreu, encarregado de dirigir o oitavo volume do Almanaque, escrevia a G. Sampaio: Ex.mo Senhor Dr. Gonalo Sampaio: No tenho a honra de conhecer V. Ex.a pessoalmente mas o acaso quiz que um amigo comum me animasse a dirigir-me a solicitar um alto favor, que me relevar, tendo em considerao o fim a que se destina. Fui encarregado, por conterraneos meus, de dirigir a publicao do 8. volume do Almanaque de Ponte de Lima publicao que reune artigos sobre histria, etnografia, arqueologia, arte e flora, etc., que interesse regio limiana, Ribeira-Lima, principalmente. A sbia colaborao de V. Ex.a era preciosa por todos os ttulos distinctos que a recomendam. Nesta conformidade venho solicita-la, ao mesmo tempo que [ilegvel] dignar perdoarme a ousadia com que me atrevo a pedi-la. Entre os colaboradores tenho figuras de professores e escritores de renome nacional como o dr. Gomes Teixeira, dr. Tiago dAlmeida, Teixeira de Pascoais, Ricardo jorge, etc. O encargo que tomei livre de qualquer proveito material, que toda a receita reverte a favor da casa editora. Com a mais alta considerao me subscrevo. De V. Ex.a admirador atento e venerado, Rodrigo Abreu. As ltimas duas floras regionais so j publicadas na dcada de 1930. Seguem o esquema que tinha utilizado nas floras regionais anteriores, indicando para cada espcie a sua abundncia e habitat tpico. Na introduo Flora de Caldelas (SAMPAIO, 1934a) refere que se trata da listagem das espcies encontradas apenas [no] lugar das termas e seus arredores. Ter frequentado as termas nestes anos? Na Flora de Caldelas, de acordo com as suas palavras, o trabalho de campo teria sido realizado em 1908, portanto muito antes da sua publicao. Alm das plantas que colheu nas herborizaes de 1908, G. Sampaio reconhece, na introduo, que estudou exemplares recolhidos por outros colectores, tais como Seabra Couceiro, Manuel Ferreira, e Carlos Lacerda. Alguns desses exemplares analisados por G. Sampaio, encontravam-se no Herbrio da Universidade de Coimbra. Destes trabalhos resultam poucas novidades nomenclaturais. Prope a seguinte espcie nova para a cincia: Carex Broteriana Samp.346, que faz acompanhar de um curtssimo texto de diagnose em latim. Alm destas floras regionais publicadas, G. Sampaio deixou inacabada uma Flora Duriense, que provavelmente foi a primeira Flora a ser escrita. A. Pires de Lima, que conhecia bem a obra e o esplio
346

Em substituio de Carex caespitosa, que tinha proposto no Manual da Flora Portugueza.

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documental de G. Sampaio, escrevia em 1937, numa bibliografia de G. Sampaio: 1899. Flora Duriense. (Encontram-se algumas dezenas de pginas impressas, desconhecendo-se por completo onde foi publicado ste trabalho) (PIRES DE LIMA, 1937:39). Numa outra biografia de G. Sampaio, escrevia A. Pires de Lima: Inditos. Flora Duriense (de que se encontram impressas 164 pginas) Porto, 1898-99 ? incompleta (PIRES DE LIMA, 1942:37). Na Biblioteca Pblica Municipal do Porto existe um volume encadernado com algumas obras de G. Sampaio. Entre os trabalhos - Quadro dichotomico de 1895 e Plantas Novas I de 1900, encontra-se um trabalho impresso constitudo por 144 pginas, mas sem capa, nem indicao de editor. A sua posio relativa no volume encadernado compatvel com as datas apresentadas por A. Pires de Lima. Comea na famlia Ranunculaceae (n. 1) e termina na Cucurbitaceae (n. 34) que est incompleta. Para cada famlia apresentada uma descrio, distribuio e propriedades. Segue-se uma chave dicotmica para os gneros. Nos gneros mais numerosos existe uma chave dicotmica das espcies. Cada espcie descrita, seguindo-se o seu habitat e distribuio. No esplio documental de G. Sampaio, existem dois documentos que se presume que sejam a continuao deste trabalho impresso, depositado na Biblioteca Pblica Municipal do Porto. Um desses documentos consiste em provas tipogrficas, extensivamente emendadas, que tm mais duas famlias do que o trabalho anterior: Mesembryanthemaceae (n. 35)347 e Apiaceae (n. 36)348 (Estampa IV.18.). O outro documento consiste num manuscrito (Estampa IV.18.), onde so tratadas as seguintes famlias no includas no trabalho impresso e nas provas tipogrficas: Campanulaceae, Boraginaceae, Lamiaceae349, Plantaginaceae, Amarantaceae350, Chenopodiaceae, Polygonaceae, Aristolochiaceae, Lauraceae, Santalaceae (estas famlias tm um tratamento taxonmico completo, esto numeradas, mas a numerao no contnua), Araceae, Iridaceae, Amaryllidaceae, Ulmaceae, Urticaceae (estas famlias tm um tratamento taxonmico completo, mas no esto numeradas), Juncaceae, Alismaceae351 (estas famlias no tm um tratamento taxonmico e no esto numeradas) e na famlia Gentianaceae s foi tratado o gnero Erythraea. Mesmo com este manuscrito, a flora permanecia incompleta, faltando vrias dezenas de famlias. Todavia, esta Flora Duriense inacabada uma pea importante na bibliografia de G. Sampaio. Se foi publicada antes de 1900 trata-se de um notvel trabalho de sntese e de maturidade intelectual. G. Sampaio tinha abandonado a Academia Politcnica h cinco anos sem terminar o curso. G. Sampaio s iria iniciar a publicao do Manual da

347 348

Nome actual: Aizoaceae. Nome actual: Umbelliferae. 349 Nome actual: Labiatae. 350 Ortografia actual: Amaranthaceae. 351 Ortografia actual: Alismataceae.

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Flora Portugueza em 1909. tambm interessante observar, a que autores atribuiu G. Sampaio os gneros que tratou na Flora Duriense. A maioria dos gneros atribuda a autores pr-lineanos, sobretudo a Tournefort. Este conceito, de que muitos botnicos discordavam, ir ser mantido por G. Sampaio em toda a sua vida, ficando cristalizado na sua Lista das espcies de 1913.

3B. O Manual da Flora Portugueza e o Prodromo da Flora Portugueza Em 1909, G. Sampaio inicia a publicao, em fascculos, do Manual da Flora Portugueza e do Prodromo da Flora Portugueza (Estampa IV.19.). Aparentemente este facto desencadeou um estmulo em A. X. Pereira Coutinho, que em duas longas cartas escritas em Janeiro deste ano, fala do seu projecto da Flora de Portugal (paralelo ao de G. Sampaio), sem no entanto deixar de felicitar o seu colega. O mtodo de trabalho e programa de aco do botnico lisboeta claro. Escrevia a 15 de Janeiro de 1909 para G. Sampaio: Tambem eu trabalho ha 2 annos em escrever uns elementos da Flora portugueza. Baseio-me no herbario da Polytechnica, nas herborisaes que tenho agora mandado empreender, e nos trabalhos anteriormente publicados dos que teem estudado a nossa flora. O meu manuscripto vae acompanhando a reviso, que eu fao, do herbario. Tenho actualmente ordenados 2 armarios, com umas 900 especies, e o manuscripto respectivo. Se tiver fora e saude para continuar a trabalhar como tenho trabalhado at aqui, calculo que devo ultimar esta empreitada dentro de uns 5 anos. S tenciono entregar no fim de tudo, o manuscripto imprensa, para poder corrigir a parte j feita com o estudo das novas herborisaes e poder aproveitar os trabalhos realisados sobre a nossa flora at essa epocha. Tenho encontrado bastantes factos interessantes e vrias especies novas para a nossa flora. De algumas dessas especies, a pedido do Dr. Julio Henriques, dou noticia no proximo volume do Bolletim da Sociedade Broteriana. E logo alguns dias depois, a 21 deste ms: Quando o Mariz publicou a reviso das primeiras familias (Ranunculaceas, Caryophyllaceas, Cruciferas, Leguminosas), ainda as plantas do herbario da Polytechnica no eram enviadas para Coimbra, para serem revistas conjuntamente. Daqui resulta que muito possivel que existem no herbario da Polytechnica especies ou variedades portuguezas ainda no conhecidas, como existentes c. Mas, sem um trabalho demorado e conscencioso impossivel apural-o, com segurana. Com effeito o herbario portuguez da Polytechnica enche hoje completamente 6 grandes armarios (to grandes, que preciso uma escada para se chegar s prateleiras superiores), e tem reunidas as colheitas de Welwitsch, do Daveau, R. da Cunha, F. Mendez; mas todas estas plantas esto com a classificao provizoria dos seus collectores, e s uma reviso total do conjunto pde merecer confiana. isso o que estou fazendo, h 2 annos, e j tenho muitas plantas em ordem e apurados

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muitos factos interessantes; mas, como ainda no puz as mos nas familias a que V. Ex.a agora se reffere, comprehende decerto a impossibilidade que eu tenho de indicar especies no conhecidas, ou mesmo determinar o habitat das que j so conhecidas no paiz. Felicitando a V. Ex.a, pelo seu emprehendimento. A. Luisier recebe um exemplar do Manual da Flora Portugueza, e escreve a G. Sampaio a 1 de Setembro de 1910: Muito me regozija com a publicao do seu Manual da Flora Portugueza. Faa o possivel para que o livro possa ser publicado quanto antes. Desejaria muito que o preo seja o mais convidativo possivel para que se possa adoptar como manual escolar nos Collegios e lyceus, para os trabalhos praticos de botanica na 6. e 7. Classes. O Manual da Flora Portugueza publicado no formato de uma flora - famlias ordenadas, com chaves dicotmicas para a determinao dos gneros (em cada famlia) e das espcies (em cada gnero). As famlias, os gneros e as espcies (e as categorias infra especficas) so caracterizadas de forma sumria, mas concisa. Para cada espcie apresentada a sua distribuio no pas, e o seu nome vulgar. O mpeto de publicao era tal que no Manual G. Sampaio incorpora muitos txones novos para a cincia, sem qualquer diagnose (esta seria feita em publicaes posteriores). A publicao do Manual interrompida em Dezembro de 1914. Tinham sido publicadas 115 famlias (das 131 representadas na nossa flora), correspondendo a 534 gneros e 1.809 espcies. A ltima famlia tratada Plantaginaceae. A publicao do Prodromo da Flora Portugueza concomitante com a do Manual. O Prodromo est organizado em famlias, cada famlia apresentando os gneros e as espcies existentes em Portugal. No tem chaves dicotmicas, nem diagnoses das espcies. Para cada espcie, apresentada a sua distribuio no pas, o nome vulgar, os sinnimos, e a referncia bibliogrfica da sua publicao. As espcies j mencionadas para a nossa flora (nomeadamente por Brotero, J. Henriques, J. Mariz, Webb, Willkomm & Lange, e por G. Sampaio, em trabalhos anteriores) apresentam uma referncia bibliogrfica detalhada. G. Sampaio segue, naturalmente, os mesmos critrios nomenclaturais utilizados no Manual (e que manteria, na Lista das espcies), atribuindo a autoria da maioria dos nomes dos gneros a Tournefort. O primeiro fascculo trata das famlias Ranunculaceae, Berberaceae352, Nymphaeceae, Papaveraceae, Fumariaceae353, Brassicaceae354, Capparidaceae355, Resedaceae e Cistaceae, terminando na espcie n.195.
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Nome actual: Berberidaceae. Esta famlia encontra-se actualmente incorporada na Papaveraceae. 354 Nome actual: Cruciferae. 355 Nome actual: Capparaceae.

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No segundo fascculo termina a famlia Cistaceae, e trata das famlias Violaceae, Polygalaceae, Frankeniaceae e Dianthaceae356, terminando no gnero Velezia. No terceiro fascculo termina a famlia Dianthaceae, e trata das famlias Alsinaceae357, Portulacaceae, Tamaricaceae, Elatinaceae, Hypericaceae, Malvaceae, Linaceae, Geraniaceae, Oxalidaceae, Zygophyllaceae, Rutaceae, Aquifoliaceae, Rhamnaceae, Vitaceae e Aceraceae. No quarto e ltimo fascculo, so abordadas as famlias Anacardiaceae e Phaseolaceae358. A publicao do Prodromus termina em 1911, com o taxon n. 557. Todavia, aps 1914, G. Sampaio continuou a trabalhar no Manual. Existe no seu esplio um manuscrito com a seguinte capa: Manual da Flora Portugueza por G. Sampaio (continuao da familia das Verbenaceas at as Compostas), Porto, julho e agosto de 1917 (Estampa IV.20.). Tratase de um conjunto de folhas do tipo almao, no-numeradas, com uma organizao constante, mas caligrafia e tinta muito variveis. Que famlias so tratadas? G. Sampaio inicia o trabalho com a famlia Verbenaceae, a que atribui o nmero 116, no seguimento da famlia Plantaginaceae numerada no Manual como 115. Apresenta uma chave dicotmica para os dois gneros Vitex e Verbena, que numera como 535 e 536, tambm no seguimento da numerao do Manual. Todavia estes dois gneros no so tratados. Seguem-se as famlias Lamiaceae, Boraginaceae e Globulariaceae, que esto completas. A famlia seguinte, Rubiaceae, est incompleta, terminando no gnero Asperula com o nmero 581 (a espcie A. arvensis tem o n. 1926). As famlias seguintes, Cucurbitaceae, Campanulaceae, Lobeliaceae359, Loniceraceae360, Valerianaceae, Dipsacaceae e Ambrosiaceae361, no constam do manuscrito362. Segue-se a ltima famlia, Asteraceae363, numerada como 128, mas que est incompleta. Existe a chave da famlia com todos os gneros, mas s os seguintes gneros esto tratados, pela seguinte ordem: Micropus (n. 612 com M. supinus com o n. 2017), Achillea (n. 620), Anacyclus (n. 621), Daveaua (n. 625), Chrysanthemum (n. 626), Phalacrocarpum (n. 627), Leucanthemum (n. 628) e Bellis (n. 629 com B. silvestris com o n. 2068). Portanto, entre 1914 e 1917, G. Sampaio tinha avanado substancialmente na elaborao da sua flora, mas todavia no a tinha completado.

Esta famlia encontra-se actualmente incorporada na Caryophyllaceae. Esta famlia encontra-se actualmente incorporada na Caryophyllaceae. 358 Nome actual: Leguminosae. 359 Esta famlia encontra-se actualmente incorporada na Campanulaceae. 360 Nome actual: Caprifoliaceae. 361 Esta famlia encontra-se actualmente incorporada na Compositae. 362 Numa carta para A. Ricardo Jorge, datada de 3 de Agosto de 1917, G. Sampaio escreveu: J acabei as Valerianceas e vou entrar nas Dipsacceas para a minha Flora, o que sugere que este manuscrito pode eventualmente no estar completo (BNP A/2094). 363 Nome actual: Compositae.
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Nas cartas que escreve para A. Ricardo Jorge encontramos eco do processo de elaborao do Manual (que tambm desiga da Flora e Florita) e das dificuldades em conclu-lo. Escrevia num bilhete-postal datado de 9 de Janeiro de 1913 ainda na primeira fase de publicao: Agora vou virarme concluso da Flora, a ver se vai desta vez. J esto impressas mais 5 folhas, alm das que levou. Logo que conclua a impresso da 6.a folha (folha de impresso 23) vou dar ordens para as dobrar e organizar em fasciculos. Deste modo o meu amigo ter antes do fim do mez, assim como os assinantes e pessoas a quem envio a obra, mais 96 paginas, abrangendo o resto das dialipetalas e um grande numero de familias de gamopetalas. Com outro fasciculo concluirei a obra, se Deus quizer (BNP A/2064). No ano seguinte, em Maio de 1914, escrevia para A. Ricardo Jorge sobre o seu Manual: Estou a imprimir outra mais resumida, com diagnoses de 3 linhas e s com as raas e variedades mais salientes. para os meus rapazes, aquem agora obrigo a muitos trabalhos de classificao. De resto, a que imprimo actualmente j vai muito aperfeioada e com a nomenclatura que adoto definitivamente. Mande-me as novidades, pois pode ser que ainda se aproveitem e possam ser incluidas nesta flora (BNP A/2069). Pouco tempo antes de escrever a capa do manuscrito que continuava o Manual, escrevia numa carta datada de 27 de Junho de 1917: Estou actualmente a contas com a concluso da Flora o que ainda levar dois mezes (BNP A/2091). Mas a previso de G. Sampaio no se concretizaria. A 3 de Agosto deste ano, escrevia a A. Ricardo Jorge: J acabei as Valerianceas e vou entrar nas Dipsacceas para a minha Flora. Deste modo ficar s por fazer, antes de frias, as Compostas. No dezembro estar tudo impresso. At que enfim (BNP A/2094). Mas poucos dias depois, a 13 de Agosto, G. Sampaio adiava o estudo da vastssima famlia Asteraceae para depois das frias: Das plantas que me trouxer carregue nas Compostas quanto possa, porque o que me falta da Flora e desejo redigir essa parte logo que volte de ferias, de modo a estar o livrinho venda no fim de dezembro (BNP A/2090). Nos meses seguintes, G. Sampaio no fala do seu Manual da Flora Portugueza, nas cartas que escreve para A. Ricardo Jorge. Os lquenes parecem captar toda a sua ateno. Escrevia a 3 de Dezembro de 1917: Hontem o dr. Julio Henriques perguntou-me se eu j lhe tinha classificado os liquenes colhidos por le no ano passado em Vimioso. Fiquei atrapalhado com a pergunta e resolvi-me a classificar-lhe imediatamente a colheita. Por isso peguei novamente no microscpio, preparei reagentes frescos e atirei-me aos liquenes que hontem ficaram quasi todos determinados e que hoje ou amanh seguiro para Coimbra. Como pela sua carta vejo que est com grande pena por no ficar com os seus todos determinados, vou amanh classificar os que c tem; se quizer aproveitar a ocasio mande j o resto ou, pelo menos, aqueles que tiver mais urgencia de ver determinados. aproveitar

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esta ocasio; de contrario ha de ter paciencia, esperando para mais tarde. Bem sabe que, depois, seria grande transtorno cortar o novo trabalho que vou encetar (BNP A/2073). Mas poucos dias depois, a 13 de Dezembro, a concluso do Manual parece ecoar novamente na sua mente: Logo que acabe a Flora e os compendiozinhos de botanica para os liceus, recomearei com os liquenes, para redigir o catalogo definitivamente. Nessa ocasio que terei maior interesse em ver as suas colheitas, cata de coisas novas (BNP A/2021). Numa carta que escreve a 17 de Junho de 1918, G. Sampaio refere a elaborao de ilustraes para o seu manual que pareciam ofuscar os seus interesses liquenolgicos: Estou agora muito ocupado a fazer figurinhas para a prxima folha de impresso da Flora. Os liquenes repousam at ao proximo ano lectivo (BNP A/1992). A 23 de Agosto deste ano, G. Sampaio escrevia a A. Ricardo Jorge sobre o seu eterno problema com as Asterceas (Compositae): Depois que vim de Coimbra no peguei mais em liquenes e apenas tratei, em junho, da sua nomenclatura, que tenho quasi toda revista, de harmonia com as minhas regras. A seguir retomarei a Flora, mas os exames no me deixaram fazer nada. S depois destes que consegui trabalhar nela regularmente. Estou, portanto, com as Asteraceas a contas, j fiz a chave dos gneros que ficou excelente e j tratei alguns destes. Qualquer Asteracea que no possuo ser muito bem vinda, se porventura tiver novos exemplares (BNP A/2027). Pouco tempo depois, a 20 de Outubro de 1918 escrevia no entanto: A sua vinda ao Prto transtornou-me o trabalho da Flora, fazendo-me derivar outra vez para os liquenes; no entanto, conto em voltar novamente concluso do livrinho dentro de 15 dias (BNP A/2029). Em 1920, aps o episdio da seu encarceramento e a redaco do Epitome364, a concluso da flora parecia iminente, mas a mincia e o rigorismo com que G. Sampaio revia a taxonomia da flora portuguesa pareciam atrasar inexoravelmente a concluso do seu Manual-Flora. Escrevia a A. Ricardo Jorge a 3 de Outubro: J estou no Porto e ocupo-me em dar os ultimos retoques na minha Florita, para a entregar tipografia o que espero seja ainda antes do Natal. Tem-me dado um trabalho enorme, no calcula, mas espero que saia bastante perfeita, tanto pela clareza das chaves e rigoroso inventrio das especies, como pela nomenclatura uniforme que sigo. As dvidas que me ficam e so poucas s as poderia tirar consultando o herbario de Lisboa, que infelizmente uma coleco hermeticamente fechada aos que trabalham fora dahi coisa mesteriosa, enfim! [] No entanto muito me obsequiar mandando-me exemplares, se os tiver disponiveis de Ulex, sobretudo dos que P. Coutinho denomina U. scaber365, U. janthocladus366, U. Welwitschianus367, U. Vaillant368, U.
364 365

Ver captulo seguinte. G. Sampaio designar esta espcie de Ulex scaber var. Welwitschianus Samp. (SAMPAIO, 1946:265).

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Webbianus369, e U. luridus370. Estou a fazer a reviso, a serio deste gnero371, com os materiais de Coimbra e os meus. Julgo que o Coutinho no tem isso bem determinado, a julgar pela sua Flora. Tambm me interessam [] Estas plantas interessam-me muito, porque tenho duvidas sobre las, e queria resolver essas duvidas para a minha Florita. So 38 especies, creio eu [] De Coimbra recebi uma grande poro de boas plantas, algumas das quais eu no tinha [] Preciso com rapidez de acabar a Flora [] (BNP A/2014). No dia seguinte escrevia: Como no sahi, trabalhei em casa, revendo as Plumbaginaceas. [Refere seguidamente a taxonomia desta famlia, referindo os gneros Limonium e Statice.] As chaves ficaram muito boas, creio eu, no podendo dar lugar a dvidas ou a hesitaes na determinao das especies. Com as modificaes que tenho feito ultimamente na Flora confesso que esta agora me satisfaz (BNP A/2045). Alguns anos depois, em 1929, a 24 de Janeiro, ainda restavam dvidas sobre a flora portuguesa porque escrevia para A. Ricardo Jorge: No proximo Domingo, 27 do corrente, vou a Coimbra, onde estarei at quarta-feira. Todas as semanas irei ali resolver o melhor possvel um certo numero de duvidas sobre a flora portuguesa. A seguir irei estar oito dias em Lisboa. Quero empregar o ultimo esforo para produzir com a minha Flora um trabalho honesto. Depois disto meto-me na aldeia a passar os ltimos dias (BNP A/2000). Mas no ano seguinte, o impasse mantinha-se. Escrevia a A. Ricardo Jorge a 6 de Agosto: Aos liquenes s voltarei depois de acabar a nova edio da Flora, em que trabalho com amor. Deus queira que no prximo ano eu termine este trabalho, como espero! Terei de ir vrias vezes a Coimbra e de fazer algumas herborisaes ainda. A reviso da nomenclatura vou-a fazendo aqui no Prto. Enfim, estou novamente a trabalhar com entusiasmo nas fanerogamas, esperando realizar qualquer coisa de geito (BNP A/2066). Porque ter interrompido G. Sampaio a publicao do seu Manual?372 A paixo pelo estudo dos lquenes parece-nos ser uma das razes principais. Num bilhete-postal que escreve para A. Ricardo Jorge datado de 13 de Fevereiro de 1918, G. Sampaio invoca dificuldades econmicas para a
A ortografia actual do nome da espcie Ulex ianthocladus Webb. A ortografia actual do nome da espcie Ulex welwitschianus Planch. G. Sampaio designar esta espcie de Ulex scaber var. Wilkmmii Samp. (SAMPAIO, 1946:265). 368 A ortografia actual do nome da espcie Ulex vaillantii (Webb) Nyman. G. Sampaio designar esta espcie de Stauracanthus Boivini for. Vaillntii Samp. (SAMPAIO, 1946:266). 369 A ortografia actual do nome da espcie Ulex webbianus Coss. G. Sampaio designar esta espcie de Stauracanthus Boivini for. Webbianus Samp. (SAMPAIO, 1946:266). 370 G. Sampaio designar esta espcie de Stauracanthus Boivini for. luridus Samp. (SAMPAIO, 1946:266). 371 G. Sampaio publicaria uma reviso dos gneros Ulex Lin. e Stauracanthus Link, em 1924 (Sampaio, 1924). 372 Jos Vilaa, no prefcio ao Cancioneiro Minhoto, tambm publicado postumamente, escrevia, em tom de conhecimento pessoal e prximo de G. Sampaio: Talvez por honestidade visto que o Estado lhe pagou para estudar botnica a sua ltima preocupao foi a Flora Portuguesa, sobre a qual morreu abraado, como se fora a bem-amada. Que Deus me d vida at terminar a Flora o que mais peo - dizia-me certo dia.
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publicao do seu Manual: Por causa do preo exageradissimo do papel deixo de concluir agora a flora; por isso trabalho activamente no catalogo dos liquenes, redigindo as chaves de muitos gneros. Conto assim entregar o manuscrito ao dr. Julio l para julho do corrente (BNP A/1995). 3C. O Epitome da Flora Portuguesa O Epitome da Flora Portuguesa, que permaneceu em manuscrito (Estampa IV.21.), um dos textos-chave na vida e obra de G. Sampaio. O manuscrito constitudo por 295 pginas numeradas, de caligrafia homognea, sugerindo que se trata de um texto elaborado de seguida num espao de tempo relativamente circunscrito. Talvez pressionado pelas difceis condies de vida que teria no crcere, qui ecoando na sua mente o quase-completo manuscrito do Manual de 1917, G. Sampaio lana-se na sua concluso. O manuscrito dedicado a Manoel Amandio Gonalves. G. Sampaio escreve na capa a dedicatria a meu professor de botnica na antiga Academia Politcnica do Porto, meu protector e amigo. No prefcio, G. Sampaio escreve que este livro (que no prefcio chama livrinho) se destinava para servir nos trabalhos praticos de classificao [...] nos cursos de botnica. G. Sampaio sublinha que se tratava de um manual escolar, e no de um trabalho avanado de sistemtica, reduzi, alm disto, as chaves quasi que maior simplicidade, indicando apenas os caracteres diferenciais mais salientes dos diversos grupos [...] e pondo frequentemente de lado os caracteres classicos para os substituir por outros que permitam uma mais facil analise e uma mais rapida determinao. No fim do prefcio, explicita mesmo como devem decorrer os trabalhos prticos, o professor [...] deve explicar [...] o modo simples de usar esta Flora, classificando [...] uma planta de que haja distribuido exemplares a todos os alunos. Cada um destes, munido de uma Flora, de uma boa lupa e de um escalpelo, vai acompanhando o professor na leitura das chaves e no exame dos caracteres da planta, at sua determinao final, devendo o professr ter o cuidado de comear pelos vegetais de flores relativamente grandes, e de classificao pouco dificil [...] de todas as especies determinadas deve o aluno secar e preparar um exemplar para o seu herbario [...]. Termina o prefcio com uma observao interessante, Devo notar, finalmente, que este genero de trabalhos ao princpio detestado pela maioria dos nossos estudantes, mas tambem posso afirmar, com a experincia de bastantes anos, que passado algum tempo constitui um verdadeiro prazer para todos eles. Finalmente o prefcio termina com, Porto, Aljube, 27-5-1919. Neste Epitome so tratadas todas as famlias de plantas vasculares existentes em Portugal continental. No entanto, a famlia Asteraceae373 no est completa, faltando o tratamento de algumas

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Nome actual: Compositae.

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dezenas de gneros, sendo Bellis o ltimo gnero estudado. Que avanos faz G. Sampaio neste Epitome em relao ao Manual da Flora Portugueza de 1909-1914 e ao manuscrito de 1917? Esto tratadas as famlias Cucurbitaceae, Campanulaceae, Lobeliaceae374, Loniceraceae375, Valerianaceae, Dipsacaceae e Ambrosiaceae376, ausentes do manuscrito de 1917. A famlia Asteraceae tem a chave para os gneros. Os 19 primeiros gneros desta famlia tambm esto estudados, desde Micropus a Bellis. Apesar de ser uma flora incompleta representa um avano em relao aos seus trabalhos anteriores.

3D. A Flora Portuguesa e a Iconografia Selecta Aps a morte de G. Sampaio, so publicadas duas obras fundamentais do professor, a Flora

Portuguesa (SAMPAIO, 1946) (Estampa IV.22.) e a Iconografia Selecta da Flora Portuguesa (SAMPAIO, 1949) (Estampa IV.23.). A Flora de G. Sampaio foi publicada sob a direco de A. Pires de Lima377, que subscreve o prefcio da obra, onde relata a sua gnese e percalos na sua edio. A. Pires de Lima comea por referir a elaborao do Manual e o impasse na sua concluso: Em 1909, comeou o Prof. Gonalo Sampaio a impresso do seu Manual da Flora portuguesa. [] Infelizmente, outros estudos solicitaram mais a sua ateno, de modo que o trabalho foi interrompido e no chegou a completar-se. No entanto, mesmo incompleto, este Manual prestou inestimveis servios a sucessivas geraes de estudantes, tal era a luminosa clareza e preciso com que estavam organizadas as chaves dicotmicas, qualidades ainda exaltadas pelas figurinhas que ilustravam o texto, desenhadas pelo prprio autor. E, assim, a edio, mesmo incompleta, h muito tempo que est esgotada. Muitas e muitas vezes insisti com o malogrado Professor e grande naturalista, para que terminasse a sua Flora e dela fizesse uma nova edio, no s pela grande falta que estava fazendo, mas por ser, entre as suas obras, a que lhe poderia trazer algumas compensaes materiais. Mas o desintersse qusi mrbido de Gonalo Sampaio tirava todo o valor a ste argumento . Seguidamente, A. Pires de Lima menciona quais os elementos utilizados para a edio da Flora. Refere que o texto uma sntese do Manual de 1909-1914 e de manuscritos posteriores noEsta famlia encontra-se actualmente incorporada na Campanulaceae. Nome actual: Caprifoliaceae. 376 Esta famlia encontra-se actualmente incorporada na Compositae. 377 Amrico Pires de Lima (1886-1966) era mdico pela Escola Mdico-Cirrgica do Porto. Entra em 1913, para a Faculdade de Cincias do Porto como 2. assistente. Em 1919, passa a 1. assistente, atingindo o topo da carreira docente em 1921. Foi director da Faculdade de Farmcia do Porto de 1929 a 1932, e director da Faculdade de Cincias do Porto, de 1935 a 1945. Em 1935, por jubilao de G. Sampaio, sucede-lhe na direco do Instituto de Botnica. jubilado em 1956 por atingir o limite de idade. Publica muitos e valiosos trabalhos na rea da medicina, da botnica ultramarina e da Histria da Botnica (GEPB; PIRES DE LIMA, 1942; FCP, 1969:250-259).
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publicados. Os gneros Calendula a Hieracium da famlia Asteraceae que G. Sampaio no tratou em nenhuma obra impressa ou indita378, tero sido elaborados por A. Rozeira379. A ordenao do ndice dos nomes especficos e da sinonmia foi tambm inteiramente de A. Rozeira. A. Pires de Lima salienta ainda a importncia e alcance da edio, no deixando de caracterizar a personalidade do mestre: Esta Flora vem prestar incalculveis servios aos que pretendam ou sejam obrigados ao estudo da nossa flora continental. Mas no interessa smente aos estudantes, antes, interessa a todos, mesmo aos naturalistas feitos. Era Gonalo Sampaio uma personalidade forte, de critrio bem marcado, corajoso e original. No lcito desconhec-lo em obedincia a certos dogmatismos, que so incompatveis com o esprito cientfico, base indispensvel de tda a Cincia.. A edio Flora Portuguesa foi custeada pelo Instituto para a Alta Cultura. A Iconografia Selecta foi publicada pouco depois da Flora. O prefcio de A. Pires de Lima que explica a origem e objectivos da obra. Um dos planos que o Prof. Gonalo Sampaio mais acarinhou foi o de uma Iconografia Selecta da Flora Portuguesa, onde fossem representadas as plantas mais notveis, acompanhadas pelos respectivos comentrios. Para isso conseguiu que, no Oramento do Estado, em anos sucessivos, lhe fosse concedida uma verba especial consignada. A habilssima desenhadora D. Sara Cabral Ferreira, sob a orientao constante do Prof. Sampaio, meteu mos obra, chegando a desenhar cento e cinquenta plantas. Nessa altura houve quem supusesse dar melhor aplicao quela verba, transferindo-a para outro destino qualquer. O Prof. Gonalo Sampaio, com a sua hipersensibilidade, ficou profundamente desgostoso e melindrado, abandonando a sua obra, que deixou incompleta. Este facto determinou que fosse perdido para sempre o texto com que o grande naturalista acompanharia as suas estampas. Alm disso, estas cento e cinquenta, de certo, no eram todas aquelas que planeava incluir na sua Iconografia. Assim, mesmo inacabado, pareceu-nos um dever indeclinvel dar publicidade ao presente Atlas, que ficar, sem dvida, um marco importante na Bibliografia Botnica Portuguesa. Isto s se tornou possvel, graas ao auxlio precioso do Instituto para a Alta Cultura. Como nem todos os desenhos foram sombreados pela autora, encarregou-se desse

G. Sampaio ter tido, recorrentemente, algumas dificuldades em abordar a extensa famlia das Compostas. Numa carta dirigida a A. Ricardo Jorge, datada de 13 de Agosto de 1917, G. Sampaio parecia querer definitivamente resolver esta dificuldade: Das plantas que me trouxer carregue nas Compostas quanto possa, porque o que me falta da Flora e desejo redigir essa parte logo que volte de ferias, de modo a estar o livrinho venda no fim de dezembro (BNP A/2090). No ano seguinte, em carta datada de 23 de Agosto, escrevia a A. Ricardo Jorge: A seguir retomarei a Flora, mas os exames no me deixaram fazer nada. S depois destes que consegui trabalhar nela regularmente. Estou, portanto, com as Asteraceas a contas, j fiz a chave dos gneros que ficou excelente e j tratei alguns destes. Qualquer Asteracea que no possuo ser muito bem vinda, se porventura tiver novos exemplares (BNP A/2027). 379 Arnaldo Deodato da Fonseca Rozeira era nesta altura professor do 2.o grupo da 3.a seco da Faculdade de Cincias do Porto (PIRES DE LIMA, 1942).

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servio o desenhador Sr. Francisco de Sousa. As estampas vo com os nomes que o Prof. Gonalo Sampaio lhes atribuiu. Mas no fim vai uma sinonmia elaborada pelo Dr. Arnaldo Rozeira.. Que espcies se encontram representadas nesta Iconografia? As que mereceram especial ateno de G. Sampaio e que foram discutidas ao longo das suas publicaes cientficas. Esto representadas muitas espcies de Brotero e de Link. Diversas espcies e variedades de G. Sampaio. Naturalmente que dado destaque aos Rubus 30 estampas. O volume termina com uma bibliografia pormenorizada dos autores das espcies representadas. 4. O Herbrio da Academia Politcnica e da Faculdade de Cincias do Porto Quando G. Sampaio entra como aluno da Academia Politcnica380 j a instituio possua um Herbrio valioso. J. Casimiro Barbosa381 (Estampa IV.24.) e Joaquim Tavares382 (Estampa IV.25.) tinham herborizado intensamente e recolhido muitos exemplares para o herbrio da Academia. Existia uma rica coleco de exemplares recolhidos por Eugne Schmitz (Estampa IV.26.) e por Isaac Newton383 (Estampa IV.27.). Ainda aluno da Academia Politcnica e qui motivado por Amandio Gonalves, lente de botnica, G. Sampaio recolhe plantas para o Herbrio da Academia (Estampa IV.28.). Quando

No ano lectivo de 1890-1891 inscreve-se na 7. Cadeira (Chimica inorganica, 1. Parte: Chimica inorganica geral) e na 10. Cadeira (Botanica, 1. Parte: Botanica). No ano lectivo seguinte, 1891-1892 encontra-se inscrito novamente na 7. Cadeira (Chimica inorganica, 1. Parte: Chimica inorganica geral), na 8. Cadeira (Chimica organica e analytica. 1. Parte: Chimica organica geral e biologica. 2. Parte: Chimica analytica), e na 11. Cadeira (Zoologia, 1. Parte: Zoologia). No se inscreve no ano lectivo seguinte, 1892-1893. Finalmente, no ano lectivo de 1894-1895, encontra-se inscrito nas seguintes disciplinas: 2. Cadeira (Calculo differencial e integral), 4. Cadeira (Geometria descriptiva. 1. Parte), 6. Cadeira (Physica, 1. Parte), 8. Cadeira (Chimica organica e analytica. 2. Parte: Chimica analytica), e 18. Cadeira (Desenho, 1. Parte e 2. Parte). Do curso da Academia Politcnica, G. Sampaio s teve aprovao nas 7., 10. e 11. Cadeiras (SAMPAIO, 1912b). Portanto, G. Sampaio no termina o curso da Politcnica. Alm de frequentar a Academia Politcnica do Porto, G. Sampaio ter frequentado o curso de Matemtica da Universidade de Coimbra, onde obteve aprovao em Algebra superior e Geometria analtica. (SAMPAIO, 1912b). A frequncia da Universidade de Coimbra deve ter ocorrido no ano lectivo de 1892-1893 e/ou 1893-1894. 381 Joaquim Casimiro Barbosa (1841-1921) era natural do Porto. Concluiu o curso de farmacutico na Escola MdicoCirrgica do Porto, em 1861. Em 1875, nomeado 1. oficial do Jardim Botnico e Experimental da Academia Politcnica do Porto. Em 1913, chefe dos jardins e arvoredos da Cmara Municipal do Porto. Publicou trabalhos sobre horticultura e jardinagem. Foi redactor do Jornal de Horticultura Pratica e colaborou em diversos jornais da especialidade como o Jornal Horticulo-Agricola (PIRES DE LIMA, 1942:14). 382 Joaquim Tavares era jardineiro do Jardim Botnico e Experimental da Academia Politcnica do Porto quando G. Sampaio entrou como naturalista. 383 Isaac Newton, de ascendncia inglesa, nasceu no Porto em 1840. Foi um dos mais notveis colectores de criptogmicas portuguesas. Herborizou sobretudo nos arredores do Porto. Os exemplares de algas foram posteriormente estudados por Richter, os musgos e hepticas por Lindberg, e os lquenes por Nylander. Participou na importante exsicata de algas Phycotheca Universalis de Hanck e Richter (GEPB). Os seus exemplares encontram-se hoje no Herbrio do Departamento de Botnica (FCUP). J. SAMPAIO (1946, 1947) descreveu pormenorizadamente a importncia de I. Newton no estudo das criptogmicas portuguesas.

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nomeado naturalista384, continua as herborizaes agora com ainda maior intensidade (Estampas IV.29. e IV.30.). Durante mais de uma dcada ir ter como companheiro das suas herborizaes, Edwin Johnston385 (Estampa IV.31.). Encontramos agradecimentos explcitos ao trabalho do colega amador. G. Sampaio escreve no trabalho de 1899 ao referir a descoberta da Viola collina Bess.: foi na volta de um pequeno passeio botanico com o meu amigo Edwin Johnston que encontrei [...]. As cartas de E. Johnston para G. Sampaio revelam um enorme gosto pela botnica e vontade de ajudar o jovem naturalista. Numa carta datada de 10 de Julho de 1905 (Estampa IV.32.), escrevia: Amigo e Snr. Sampaio: Hontem, sempre consegui arranjar-lhe alguns exemplares da tal Pinguicula, e aguardo as suas ordens a respeito das mesmas. Se quizer, levo-lhe as plantas sua casa, com muito gosto, como tambem specimens do Ranunculus Holianus, das margens do Tamega, e [...] Pena que as Pinguiculas sejam poucas, mas a estao j est bastante adiantada. Se eu soubera em Maio ou Junho que desejava ter exemplares destes arredores, facilmente tinha arranjado um bom numero de plantas, pois varias vezes tenho atravessado terrenos nos quaes a Pinguicula abundante. Queira, pois, avisar-me com antecedencia, sendo possivel, de qualquer planta que lhe possa arranjar, que eu com o maior prazer farei o possivel para executar as suas ordens. As colheitas de E. Johnston e a ajuda a G. Sampaio continuaro por muitas anos. Num bilhete-postal datado de 3 de Junho de 1913, escrevia para G. Sampaio: Estive ante-hontem em Lea do Balio e graas s informaes que me deu, encontrei o Lychnis flos-cuculi, quasi em frente do mosteiro. Como, porm, as plantas eram poucas, s levei comigo uns seis exemplares para seccar. Foi a primeira vez que vi esta planta, a crescer, neste pas. G. Sampaio teve tambm um forte intercmbio de exemplares de herbrio com instituies e sociedades cientficas. Destas destaca-se a sociedade alem dirigida por Otto Leonhardt, sediada em Nossen. Existe no esplio de G. Sampaio dois catlogos desta sociedade, um referente a 1906/1907 e outro para 1912/1913 (Doubletten Verzeichnis des Berliner Botanischen Tauschvereins). Na introduo dos catlogos era explicado como funcionava a sociedade, que de facto mais se assemelhava a uma firma comercial. Os exemplares eram permutados ou vendidos (a 0,05 marcos cada). Cada scio

nomeado naturalista-adjunto da seco de Botnica, por Decreto de 5 de Dezembro de 1901 (DG 1901 12 12). Residia na Rua de Costa Cabral, 1399 (AAPP, 1901-1902). No mesmo Decreto nomeado Antnio Augusto da Rocha Peixoto, para a seco de Mineralogia, e Augusto Pereira Nobre, para a seco de Zoologia. 385 Edwin Johnston, de ascendncia inglesa, nasceu no Porto em 1841. Era empregado auxiliar de casas comerciais do Porto. De temperamento srio e reservado, ocupava todo o tempo livre no estudo da flora. Nas herborizaes, procurava observar com cuidado as fases das plantas, registando as pocas de florao das espcies que encontrava. Faleceu a 7 de Abril de 1917 no Porto. Foi um dedicado amigo das plantas (GEPB; HENRIQUES, 1917b). Nas Notas criticas sobre a flora portugueza G. Sampaio dedicou-lhe a Brassica Johnstoni Samp.

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devia ainda pagar 1 marco por ano de subscrio, e as despesas de envio das plantas. As listas eram extensssimas e abrangiam fungos, algas, lquenes, hepticas, musgos, fetos, e fanerogmicas. O. Leonhardt escrevia numa carta para G. Sampaio datada de 2 de Maro de 1905: Jai reu vos desiderata et je vous les enverrai la fin de la distribution avec le compte. En mme temps je vous retourne votre liste. Jai marqu lencre rouge combien je dsir de chaque espce. Je me rjouirai beaucoup quand nous pouvons changer lanne prochaine. Je vous serais oblig si vous pouvez rcolter encore dautres espces en grand nombre qui ne se trouvent pas dans la liste. O catlogo de 1906/1907 encontra-se muito marcado, e o de 1912/1913 tambm tem muitas espcies sublinhadas. Existe uma importante factura desta sociedade que mostra que G. Sampaio ter enviado 1.366 espcimes e que ter recebido 1.768 exemplares. O total a pagar era de 39,05 marcos. A factura no est datada, mas na parte inferior, com a letra de G. Sampaio est escrito: Pago. Enviei cheque em maio de 1908 sobre Hamburg [] foi em carta registada (Estampa IV.33.). Este pagamento talvez tenha ocorrido de facto a 24 de Julho deste ano de 1908, porque existe uma carta de O. Leonhardt, sem data, mas que acusa a recepo deste pagamento (Estampa IV.33.): Ne sachant pas bien de franais je puis vous rpondre prsent seulement votre lettre du 24-7.1908. Dabord je vous accuse rception de la somme de 39,05 Mk. qui mest bien parvenu. Vous vous plaignez davoir reu trop peu dexemplaires mais lchange ce fait daprs le nombre des units. Votre compte se ferait donc de la faon suivante : Vous mavez envoy : 5030 units. Do je dduis 20 pour cent, reste : 4024 units. Je vous ai envoy: 3171 units. Donc je vous dois encore : 853 units. Il va sans dire que vous recevrez ces 853 units la prochaine fois. Pour les frais de port et demballage jai dpens 7,60 Mk., que vous devez me rembourser daprs les Statuts de la Socit. Si je ne vous ai pas envoy ce compte tout de suite dans le paquet, cest que je ne sais pas le franais ; je suis trs tonn que vous soutenez que nos relations seraient dsavantageuses pour vous ; cest injuste, en tout cas. Si javais connu le contenu de votre carte du 15-8-1908, je ne vous aurais pas envoy ma liste de desiderata. Mais jespre que nous nous comprendrons mieux aprs ces explications et que nos relations seront bonnes lavenir. Si vous restez membre de la Socit, je vous prie de menvoyer les plantes que je dsire avoir et je les accepterez avec la valeur que vous avez indique. Esta carta importante porque nos mostra outros aspectos do funcionamento da sociedade botnica dirigida por O. Leonhardt. Dos exemplares recebidos eram descontados 20%, presumivelmente para despesas de manuteno da Sociedade. Este desconto de 20% dos exemplares no se encontra, de facto, explicitado nos catlogos. Pelo contedo da carta, sabemos que G. Sampaio estaria desagradado com o modo de funcionamento da sociedade. Seria por causa desta inesperada

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penalizao? Com efeito, pelo esplio documental de G. Sampaio, sabemos que as permutas que efectuava eram tipicamente equitativas. Esta carta mostra-nos tambm, que G. Sampaio j tinha enviado mais de cinco milhares de exemplares de herbrio para a sociedade. Existe ainda um bilhete-postal de O. Leonhardt datado de 22 de Junho de 1909: Aujourdhui je vous adresse trois paquets. Jespre que vous serai satisfait de mon envoi, qui contient de tres belles plantes. Je vous prie, Monsieur, de vouloir bien menvoyer la cotisation et les frais de port de lanne, en somme Mark 15,20. No existe no esplio de G. Sampaio mais documentos epistolares da sociedade de O. Leonhardt. O elevadssimo nmero de exemplares de herbrio que G. Sampaio enviou para esta Sociedade demonstra bem a sua grande capacidade de organizao e de trabalho.

5. G. Sampaio e Carlos Pau o projecto da Flora Ibrica A correspondncia entre C. Pau386 e G. Sampaio muita extensa e abrange mais de trs dcadas (Estampa IV.34.). Nela se espelham as vidas e obras dos dois botnicos387. A sua anlise contribui
MATEO SANZ (1995a) publicou uma biografia detalhada de C. Pau, de onde extramos os seguintes elementos mais relevantes. Carlos Pau Espaol (1857-1937) nasceu em Segorbe (Castelln, Valencia). Licenciou-se pela Faculdade de Farmcia de Barcelona em 1882, e doutorou-se pela Universidade de Madrid, em 1884, com uma tese sobre as Ranunculceas e suas propriedades farmacuticas. Regressa ento a Segorbe. Em Olba, instala uma botica de farmcia e herboriza intensamente. Dirige uma botica de farmcia em Gea de Albarracn, no vero de 1886. Conhece o padre e naturalista e entomologista Bernardo Zapater. Em Setembro de 1886, instala-se definitivamente em Segorbe, montando uma botica de farmcia. No mais abandonar Segorbe, excepto para curtas excurses botnicas e uma expedio a Marrocos. Conhece ento o botnico espanhol Francisco Loscos, com quem privou pouco tempo, em virtude do seu falecimento em Novembro de 1886. Contacta com o padre Antonio Badal Solsona, com Juan Ruiz Casaviella, Jos Pardo Sastrn. Do estrangeiro, corresponde-se com J. Lange, A. Todaro, D. Halacz, A. Callier, K. Richter, M. Willkomm, K. Christ, F. Crpin, W. Bernaulli, C. Magnier, Foucault, E. Reverchon, M. O. Debeaux, E. J. Neyraut, L. Lhomme, D. Stapf e L. Giraudias. Entre 1887 e 1895 publica as Notas botnicas a la flora espaola sobre a flora de Teruel e Castelln. Em 1891, inicia a sua colaborao com a revista Actas de la Sociedad Espaola de Historia Natural - entre 1893 e 1900 publicar 42 trabalhos nesta revista. Em 1902, scio da Sociedad Aragonesa de Ciencias Naturales, recentemente criada em Saragoa. No Boletn de la Sociedad Aragonesa de Ciencias Naturales publica 40 trabalhos, entre 1902 e 1914. No Bullet de la Instituci Catalana de Histria Natural publica 11 trabalhos, entre 1906 e 1914. Contacta com Benito Vicioso, Joan Cadevall, ngel Sallent, Estanislao Vayreda e Adeodat Marcet. Mantem uma intensa troca epistolar e de plantas com B. Merino, botnico jesuta que vivia em La Guardia, na Galiza, e com Fr. Sennen, padre francs que, ainda jovem, se estabelece em Barcelona. Participa activamente na exsicata de Sennen, Plantes dEspagne. Contacta tambm com Longinos Navs, padre jesuta, que vivia em Saragoa, especialista em lquenes e insectos. Do estrangeiro relaciona-se com N. Kheil, H. Lveill, G. Beauverd, R. von Wettstein, A. von Hayek, E. Janchen, H. Gross, L. H. Knoche, L. Hmet, C. Pitard, R. H. Chodat e D. Praui. No perodo final da sua vida (1915-1937) faz uma excurso a Marrocos, em Abril-Junho de 1921. director da Cavanillesia. Publica na Broteria, em Le Monde des Plantes, no Boletn de la Sociedad Ibrica de Ciencias Naturales e no Boletn de la Real Sociedad Espaola de Historia Natural. Publica uma flora de Granada, uma de Almria, e uma de Marrocos. Contacta con Font Quer (prestigioso y enciclopdico botnico catalan), Carlos Vicioso, Emilio Huguet del Vilar (que se dedicava geobotnica e edafologia - personaje bastante singular hombre europesta, muy culto y polifactico), Arturo Caballero, R. Gonzlez Fragoso (a quem enviava plantas infectadas com fungos parasitas), Francisco Beltrn, Mariano Losa (professor de botnica em Barcelona durante o ps-guerra), Manuel Vidal, Jos Cuatrecasas (hombre laborioso y brillante, que, apoyado de cerca de FontQuer y a distancia por Pau, accede antes de cumplir los treinta aos a la ctedra de Botnica de la Facultad de Farmacia de Madrid). No estrangeiro comunica com R. Maire, E. Jahandiez, C. dAlleizette, P. Allorge, C. Lacaita, O. Gavioli, J. S. Gilmour, A. W. Hill, B. A.
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para um melhor conhecimento da Botnica peninsular nos incios do sculo XX. No esplio documental de G. Sampaio existem as cartas enviadas por C. Pau a G. Sampaio. LANZ (2000, 2001) transcreveu muitas das cartas enviadas por G. Sampaio a C. Pau que se encontram hoje no Instituto Botnico de Barcelona, assim como muitas das cartas enviadas por C. Pau a G. Sampaio que se encontram no seu esplio documental (Departamento de Botnica, Faculdade de Cincias do Porto), a que Lanz teve acesso). assim possvel reconstituir grande parte do intercmbio epistolar entre estas duas figuras cimeiras da Botnica peninsular do incio do sculo XX. Foi atravs de B. Merino388 que se iniciou a troca epistolar entre G. Sampaio e C. Pau. O botnico jesuta escrevia a C. Pau numa carta datada de 14 de Fevereiro de 1900: He invitado al Sr. Gonzalo Sampaio, encargado del Jardn Botnico de Oporto, a entrar en relaciones con Vd. (LANZ (2000:365). G. Sampaio ter tomado a iniciativa de escrever a C. Pau, enviando alguns dos seus trabalhos publicados e indagando do interesse do botnico catalo em trocar plantas de herbrio. C. Pau responde positivamente numa carta datada de 5 de Janeiro de 1903389: Segorbe. [] He ledo con gusto su trabajo Plantas nuevas390 [] Mis deseos son igualmente conocer la flora portuguesa que hoy desconozco por completo. Indicar V. condiciones y rdenes, pues yo tendr mucho gusto en complacerle en todo cuanto me sea posible; el nmero puede V. indicarlo. Yo podra fcilmente proporcionarle hasta 600 formas espaolas y que tengo de aos anteriores. Ms adelante remitira V. una muestra de ms plantas, mejor dicho, le hara a V. participe de mis campaas botnicas anuales, recogiendo a su intencion un ejemplar de todas las especies que recogiera en mis viajes. Mis
Fedstschenko, M. M. Iljin, G. I. Sirjaev, H. Reese, K. Ronninger, F. L. Diels, C. Faust e W. Rothmaler. O seu herbrio, qui o melhor herbrio particular da Pennsula, contava com 100.000 espcimes. A sua biblioteca continha 700 volumes. 387 MATEO SANZ (1996) descreveu, com muita pertinncia, o mtodo de trabalho de C. Pau construo e manuteno de uma gigantesca teia de colaboradores e colectores de plantas por toda a pennsula: su labor como coordinador de una importante red de recolectores y aficionados, gracias a lo cual desarroll, en la prctica una especie de ctedra popular abierta, que contribuira decisivamente a la formacin botnica e incluso a la profesionalizacin de numerosos e importantes especialistas de finales del pasado y primera mitad de ste. Esta tambm era a forma de trabalhar de G. Sampaio. No entanto, enquanto que G. Sampaio enriquecia o Herbrio da Academia Politcnica e da Faculdade de Cincias do Porto, C. Pau construa um herbrio excepcional, mas particular: pero esa labor, no remunerada y, en principio, desarrollada con una generosidad y diligencia que cuesta creer a quien no ha ledo esa exhaustiva e incontestable documentacin de primero mano a que nos estamos refiriendo, le revierte a l el beneficio de los envos regulares de plantas de los ms variados orgenes; gracias a lo cual pudo llegar a estar en condiciones de elaborar el que fue probablemente el herbario privado ms completo y valioso que se ha formado en nuestro pas, y con ese valioso material en su poder tener la visin de conjunto ms completa que en su poca tuvo nadie sobre la flora espaola. 388 P.e Baltasar Merino (1845-1917) realizou os seus estudos teolgicos nos E. U. A. Viveu no seminrio de Porto Rico, mas o seu estado de sade obrigou-o a regressar Galiza. Ensina e investiga no Colegio del Pasaje, onde viver quase at aos seus ltimos dias. Os seus primeiros trabalhos so dedicados meteorologia, mas, a partir de 1890, a sua ateno focaliza-se no estudo da flora galega. Publica una Flora da Galiza (trs volumes, publicados em 1905, 1906 e 1909), seguida de vrias Adies, publicadas na revista Broteria, serie Botanica (LUISIER, 1917). A bibliografia de B. Merino est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ 389 Citada e transcrita parcialmente por LANZ (2001:332). 390 C. Pau estaria a referir-se aos trabalhos: SAMPAIO (1899b, 1899c, 1900b, 1900c, 1903a).

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formas nuevas, siempre que poseo ejemplares para repartir, son las primeras especies que comunico; muchas las tengo agotadas, pero de bastantes puedo disponer de ejemplares que tendr cuidado de mandarlos V.. No final deste ano de 1903, C. Pau insiste na troca de plantas numa carta datada de 4 de Novembro391: Segorbe. [] rendirle a V. el ofrecimiento de plantas espaolas que a V. hice el ao pasado. Pues bien, a fines de ao podr remitirle a V. sobre 500 especies de fanerogamicas; V. me las devolver en plantas fanerogamicas portuguesas cuando pueda y lo venga bien. Pude V. tomar le tiempo que le plazca. Como estoy muy ocupado, no puedo mandrselas a V. enseguida como eran mis deseos; pero lo har. Estoy en deuda con el Sr. Henriques392. O envio de plantas de C. Pau para G. Sampaio concretiza-se alguns meses depois. Numa carta datada de 14 de Abril de 1904 C. Pau escrevia a G. Sampaio393: [...] Segorbe. Tengo el gusto de participarle que ayer saliera para V. dos paquetes de plantas y que celebrar que sean de su agrado. Estoy convencido de que nuestras floras respectivas no podrn nunca llegar un estado completo de conocimiento, sin una union sincera y franca, asi sea necesaria igualmente, de los botnicos portugueses y espaoles. Existe tal relacion entre ambas floras que nada puede hacerse en una regin sin la otra. Fue un gran bien para la flora portuguesa la adquisicin por el Sr. Henriques del herbario de Willkomm394. Pueden contar conmigo incondicionalmente todos los botnicos portugueses; y siento en el alma, no haber procurado conocer mucho antes V.os para que mis colecciones hubieran podido ser por V.os conocidas y posedas. Bastante progres la flora portuguesa en estos ltimos aos; mas creo que ah debern descubrirse mil especies ms que no se citan, siendo como son vulgares, frecuentes y abundantes en esta parte de la Peninsula. Teniendo el gusto de repetirme de V. muy servidor, queda desendole salud este su aff.mo. C. Pau salientava assim a importncia da cooperao entre botnicos portugueses e espanhis no estudo da flora ibrica. Este intercmbio devia abranger a troca de plantas e de opinies sobre a taxonomia das plantas ibricas e a elaborao de uma Flora da pennsula. O primeiro desiderato iria concretizar-se. Infelizmente, o segundo no se efectivaria. G. Sampaio recebe as plantas e responde logo a 18 de Abril de 1904, lamentando no poder nessa altura retribuir as plantas enviadas por C. Pau: Infelizmente no me possvel retribuir condignamente a V. Ex.a nesta ocasio - o que muito sinto porque por motivos de pouca sade e excesso de trabalho, tanto no professorado como na imprensa diria395, onde ganho o po da famlia,

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Citada e transcrita parcialmente por LANZ (2001:332). C. Pau referia-se a J. Henriques. 393 Citada e transcrita em LANZ (2000:366). 394 Ver captulo IV.2A. 395 Ver captulo I.

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no pude realisar grandes colheitas no anno pasado [passado]. Demais acontece que tendo h pouco feito as distribuies para os botnicos e museus estrangeiros com que este Jardim Botnico permuta, esgotei quasi completamente os duplicados. Nos fins de junho remetterei a V. Ex.a uma colleco de plantas tam considervel quanto me seja possvel; ao presente apenas lhe poderei enviar um pequeno pacote, contendo algumas plantas interessantes da flora portugueza, entre as quaes algumas espcies de Rubus que se encontram na Galiza. Actualmente interesso-me muito por este gnero [...] (LANZ, 2001:332). A esta carta respondeu C. Pau poucos dias depois, a 27 de Abril de 1904396: En mi poder su grata del 18: no hay prisa en recibir sus plantas; cuando V. pueda, puede hacerlo. Respecto a mis proximas campaas he de decir a V. que este ao me ser imposible salir un paso de casa, tengo ya dos o tres meses a mi buena madre delicada, y la ancianidad es muy egosta; as es que de buena voluntad y por complacer al nico ser que tengo en el mundo, querido, [] aqu, hasta que pueda hacerlo, si puedo hacerlo. Del gnero Rubus poseo varias formas nuevas (R. Francosianus, R. Merinoi397, R. galloecicus, R. lucensis, R. profundus ) que, ciertamente, alguno ha de pertenecer a las nuevas de V. igualmente. Menos el R. Merinoi que es forma hermossima. Yo no poseo ejemplares, pero quizas el P. Merino guarde alguno del Merinoi, y aunque solamente se lo comunique merece la pena verlo. Cita V. los R. Genevieri398 y R. Koehleri399, que en Galicia no se han descubierto en su forma tipica. El Koehleri pertenece a mi variedad galloecicus n. v.; y el Genevieri tipico, que lo juzgo sinnimo de Babingtonii400, no lo he visto de Galicia ms que una forma del R. fuscus Wh. N., que bien puede asimilarse el Genevieri: hay dos formas: R. Francosianus mihi f.a microacanthus; R. Francosianus mihi f.a macroacanthus. Para distinguirlo del Genevieri basta ver el envs de las hojas, velloso-tomentoso. Se V. ha propuesto alguna especie afine de estas dos especies (Koehleri et Genevieri), con seguridad pertenecen a estas indicadas, por no existir otras en Galicia conocidas hasta hoy. El P. Merino me pidi las descripciones de las especies nuevas y en ello andaba cuando recibi su carta: por su contenido deduzco que vamos a tomar por especies nuevas las mismas formas probablemente, y yo siento no poder participarle a V. ejemplares mos por nicos en mi herbario. Agradecer a V. que, si no lo es enojoso, me proporcione muestras de V., para no perjudicarle a V. adelantando las descripciones o aumentando los sinnimos. Sentiria nicamente que el R. Merinoi estuviera descrito por V., tratndose del P. Merino. Los dems, creama que me son indiferentes por

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Citada e transcrita em LANZ (2001:333). A ortografia actual do nome da espcie Rubus merinoi Pau ex Merino. 398 A ortografia actual do nome da espcie Rubus genevieri Boreau. 399 A ortografia actual do nome da espcie Rubus koehleri Weihe & Nees. 400 A ortografia actual do nome da espcie Rubus babingtonii T.B.Salter.

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tratarse de un gnero que ms o menos tarde ha sufrir un estudio serio y filosfico, y las consecuencias [] un desmoche terrible de especies. He trado de los Pireneus aragoneses dos especies nuevas, tambin del grupo Radula; describo otro Rubus nuevo de Huelva. Y en mi herbario existen varias formas para m desconocidas procedentes de Catalua. Pero no tengo tiempo por atenciones de la botica, y por el estado de excitacin [] la enfermedad de mi buena madre. Neste ano de 1904 G. Sampaio terminava o seu monumental estudo sobre os Rubus portugueses e a resposta de C. Pau, muito pormenorizada e receptiva em relao a este grupo de plantas com a indicao de uma espcie nova R. merinoi401, que desconhecia (e no existia em Portugal), ter agradado sobremaneira a G. Sampaio. A 10 de Agosto de 1904, G. Sampaio escreve a C. Pau. LANZ (2000:366) resume o contedo desta missiva: anuncia envio de cien pliegos ulteriores de Rubus en especial y se interesa por conocer, sobre todo, el Rubus merinoi Pau. Mas as plantas prometidas por G. Sampaio tardam em chegar a Segorbe e C. Pau escreve uma carta a 28 deste ms de Agosto de 1904402, focalizado em receber plantas portuguesas em troca das que tinha enviado: Todava no he recibido sus plantas de V. y le ruego se sirva decirme a qu estacin factur el paquete. Si no lo hubiera hecho sera para m ms conveniente el que fuera a Sagunto. Las plantas que a m en primer lugar me interesan son las de la Pennsula, y de Portugal las formas propias de esta flora: de la isla de Madera, no siendo alguna especie que exista en las floras mediterrneas, no me importan. Del Rubus Merinoi no poseo ms que un solo ejemplar, que proporcionar a V. apenas pasen unos das, pues hoy tengo bastante que hacer con las plantas de mis amigos espaoles. Ya me lo devolver V. cuando le convenga, pues no tengo prisa por hoy. No creo que V. haya [] esta especie. En las muestras del P. Merino hay un inconveniente, porque la inmensa mayora, sobre todo los ejemplares de aos atrs, no trae fragmentos de ramos esteriles (turiones)403. No me cabe duda alguna de que muchas especies propuestas por V. existen en Galicia y existen en mi coleccion; algunas coincidirn con las especies a V. indicadas, pero no han sido publicadas esperando que el P. Merino me las completara. Si de ellas poseyera ms de que un ejemplar ya se lo proporcionar a V. Ah en las cercanias de Oporto existen, segn los autores, bastantes formas propias de Portugal y que no poseo: quedara muy agradecido a V. si pudiera proporcionrmelas para mi coleccin. No tengo prisa en recibir las plantas que V. me

Descrito por C. Pau no Boletn de la Sociedad Aragonesa de Ciencias Naturales de 1904 (volume 3). Citada e transcrita em LANZ (2001:333-334). 403 As caractersticas que, poca, eram consideradas como as mais relevantes para a taxonomia deste gnero eram as dos caules estreis (turies) e a cor, forma e comprimento dos rgos florais, as quais foram utilizadas por G. Sampaio no seu estudo monogrfico sobre os Rubus portugueses (SAMPAIO, 1904e). Para uma correcta identificao, os exemplares de Rubus deviam possuir os caules estreis e o rgos florais.
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ofrece; poco a poco ya har V. lo que buenamente pueda; y si no puede V., por ms que lo sienta y lo lamente, no por eso he de incomodarme con V. ni tenerle resentimiento alguno. Esta carta chega ao Porto em poucos dias. G. Sampaio responde a 1 de Setembro de 1904: Creio que lhe remetti algumas espcies que o devem interessar; brevemente remeterei outro pacote. Se V. Ex.a quizesse ter esse incmodo, poderia enviar-me uma lista das espcies de Portugal que mais deseja possuir e eu farei o possvel por lhe enviar exemplares dessas espcies (LANZ, 2001:334). Neste lote de plantas, G. Sampaio enviava diversos exemplares de Rubus, alguns de espcies e variedades novas para a cincia, por si propostas. Durante o seu trabalho de reviso dos Rubus portugueses, tinha acumulado um grande nmero de exemplares. Tinha certamente muitos duplicados. tambm muito provvel que G. Sampaio, ao enviar o material para C. Pau, esperasse receber em troca alguns comentrios, que poderiam ser teis para o trabalho que ultimava. Efectivamente, C. Pau, numa carta resposta de 11 de Setembro de 1904404 anuncia finalmente o envio do exemplar do R. merinoi e continua a discusso da sistemtica e taxonomia deste difcil gnero das Rosacas, iniciada na carta de 27 de Abril deste ano: Remito la muestra del Rubus Merinoi para que V. la conozca. No tengo otro ejemplar; a tener otro, no tendria inconveniente en ofrecerselo a V., pero V. muy bien comprendera que tratandose de ejemplar nico, no es conveniente desprenderme de l. De los Rubus de V., nicamente el R. Henriquesii Samp.405 (R. lucencis Pau hb) ha sido recogido por el P. Merino en Cabaas (Ancares). Es ms parecido a la muestra de Jerez, pero las hojas no son ms vellosas en el envs, estpulas filiformes, ms grcil; pero creo entra bien en el tipo R. Henriquesii. El R. lusitanicus406, no! ha sido recogido por el P. Merino todava, en Galicia: a m no me lo ha remetido. R. galloecicus Pau hb. Entre R. babingtonii et Genevieri -. Tallos florferos robustos, aguijones mayores: floribundus. Muy parecido al R. brigantinus Samp.407, pero ms gladulfero y aguijones menores: panoja floribunda, etc. El Rubus elatior, villicaulis408 [] si que vive en Galicia. Las plantas portuguesas que a m ms me convienen y vera con placer son las que pertenecen a las especies tpicas de Brotero, Mariz, Henriques, de V., etc. Las de Link, Hoffmansegg, Welwitsch Es decir: las propias de la flora de Portugal. Agradezco mucho los estudios que V. ha hecho sobre el

Citada e transcrita em LANZ (2001:334-335). Espcie nova para a cincia, publicada a 15 de Outubro de 1903 (SAMPAIO, 1904a). A ortografia actual do nome da espcie Rubus henriquesii Samp. 406 Teria G. Sampaio enviado um exemplar do Rubus lusitanicus var. signifer Samp., uma variedade nova que publicaria pouco tempo depois (SAMPAIO, 1904e)? 407 Espcie nova para a cincia, publicada em Janeiro de 1904 (SAMPAIO, 1903b) 408 Teria G. Sampaio enviado um exemplar do Rubus villicaulis Koehl. var. beirensis Samp., uma variedade nova que tinha sido publicada em Janeiro de 1904 (SAMPAIO, 1903b)? Esta variedade seria retirada em SAMPAIO (1904e), sendo substituda por Rubus obtusangulus Gremli ra. beirensis (Samp.) Samp.
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gnero Spergularia409. Y me voy a permitir indicarle que la Sperg. purpurea P., segn ejemplares que recog en Aranjuez (1. class?), para m es sinnimo de la Sp. longipes (Lg.)410, muestra que he visto con frecuencia en la provincia de Madrid. La Sp. diandra creo que ha de existir en Portugal411, pues yo la poseo o la he recogido desde Castilla la Vieja hasta la Btica. Aqui en Espaa creo que es la especie ms vulgar y frecuente. Por estas razones yo creo, y repito, que la Sp. diandra debe encontrarse en Portugal, siendo como es muy vulgar en toda la parte de la Peninsula por mi conocida. G. Sampaio envia para C. Pau mais plantas, assim como o monumental trabalho Notas criticas que recentemente tinha publicado. O botnico espanhol escreve numa carta datada de 19 de Janeiro de 1905412: Segorbe [] En mi poder las plantas y el folleto que se ha servido V. comunicarme por todo lo cual le manifiesto mi agradecimiento. Entre ellas veo la Centaurea Fraylensis, que no posea, y le doy un milln de gracias por habermela proporcionado: ella sola, vale por ciento. Mis plantas no tardaran en ir y maana mismo comenzar prepararlo. Hubiera visto con agrado algunas formas que V. trae en sus Notas criticas como [Segue-se uma discusso das espcies descritas por G. Sampaio neste trabalho] Le felicito por sus descubrimientos y porque adivino en V. al futuro autor de la flora portuguesa. Yo creo que seria V. fcil publicarla un poquito ms seria que la italiana de Arcangeli [G. Arcangeli], ms detenida que la reciente de Battandier y Trabut, menos apasionada y farragosa que la de Rouy413 [] los autores alemanes le pueden servir de buen ejemplo; yo estoy muy entusiasmado con sus producciones, porque son el nico freno que puede contener las escapadas de la escuela francesa, parcial y envidiosa como nadie. De falsa y envidiosa la motej Bubani! []. No fim da carta, C. Pau pergunta a G. Sampaio se existe alguma biblioteca de botnica venda: Si por casualidad se enajenara alguna biblioteca portuguesa en donde existieran libros clsicos de botnica, agradeceria V. se sirviera tomarse la molestia de participarmelo pues, con el precio, se podria hacer alguna compra. Pergunta tambm se existe algum herbrio portugus
C. Pau referia-se ao trabalho monogrfico sobre o gnero Spergularia (SAMPAIO, 1904d), datado de Maro de 1904, que G. Sampaio lhe teria enviado. Pelo que escreve, de seguida, nesta carta, C. Pau no concordava com algumas das opinies expressas por G. Sampaio, sobre a sistemtica e taxonomia deste gnero. 410 Pelo contrrio, G. Sampaio tinha considerado a Spergularia longipes Lge., como uma variedade da Spergularia purpurea (Pers.) G. Don.: Seja como for, o que no se pde admittir mais o erroneo conceito de Lange e outros botanicos que filiam a S. longipes no mesmo grupo especfico da S. campestris. Collocando-a como simples variedade da S. purpurea, a que refiro a planta da margem do rio Douro, no fao mais do que pr-me em harmonia com os factos sobre as relaes das frmas, sem me atrever a assegurar definitivamente que a planta portuguesa corresponde na realidade especie de Pers. (SAMPAIO, 1904d). G. Sampaio manter esta opinio na Lista das espcies (SAMPAIO, 1913b:79). 411 Pelo contrrio, G. Sampaio no admitia a existncia, em Portugal, da Spergularia diandra (Guss.) Boiss. Manter esta opinio na Lista das espcies (SAMPAIO, 1913b:79). 412 Citada e transcrita na integra em LANZ (2001:335). 413 G. Rouy, E.-G. Camus & J. Foucaud publicaram, entre 1893 e 1913, uma flora de Frana, em 14 volumes.
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disponvel para compra: Lo mismo compraria un herbario portugues (unicamente) si por casualidad supiera V. de alguno que lo quisiera vender; pero habia de poseer de mil especies por arriba, y no ser exajerado el precio. Alguns meses depois, numa carta datada de 22 de Maio de 1905414, C. Pau recorda a G. Sampaio que ainda no lhe tinha devolvido o exemplar do Rubus merinoi emprestado e manifestava a sua vontade de conhec-lo pessoalmente: Segorbe [] Mi permito recordarle V. la muestra del Rubus Merinoi que todava no he recibido, y como V. puede suponer, tengo necesidad de poseerla. Ya encargar al P. Merino me procure algunos pies ms adelante pues tendra gusto en repartirla. [] Tengo tambin deseo de recorrer el norte de Portugal; y espero entonces hacer conocimiento personal de V., ms ahora no podr ser porque mi buena madre no me deja, ni yo lo intentar. No fim da carta insistia: Existe en Portugal algn botnico que se dedique la venta de las plantas?. O intercmbio epistolar continuava em 1906. Numa carta com data de 2 de Fevereiro415, escrevia C. Pau a G. Sampaio: Segorbe, El Prodromus Florae Hispanicae, de los autores Willkomm y Lange, fue obra producida muy a la ligera, y con desatencion grande en lo que corresponde a la bibliografia espaola, que desdearon, o que no posean. Le deseo bueno resultado en el Manual da Flora Portuguesa416 y celebro mucho conocer sus intenciones de producir una obra de ms empuje. [] Agradecer a V. mucho poseer las plantas que V. pueda proporcionarme este verano, y recibir con agradecimiento las nuevas y raras que V. indica en su carta. Yo pienso ir, si el tiempo es lluvioso, a Sierra Morena; veremos lo que hago; pero no puedo apartarme hoy muy lejos, por cuestiones de familia. Yo deseo visitar de Portugal la Sierra de la Estrella, pero me es imposible por causa de no poder abandonar mi buena madre sufre infinito cuando estoy ausente, y yo no tengo otra obligacin que complacerla y esperar tiempos peores para explorar lejanas tierras. Con mucho sentimiento, pero sin violencia, me veo reducido hoy a no pasar fuera del pueblo ms de seis u ocho dias. No ano seguinte, a 30 de Abril de 1907, G. Sampaio escreve a C. Pau. LANZ (2000:366) resume o contedo desta correspondncia: pide a Pau materiales autenticos de plantas diversas, muy en especial dos Brassica, en prstamo si es preciso, y anuncia envi de paquete. Durante dois anos a correspondncia entre os dois botnicos parece ter-se interrompido, para se reactivar em 1910. Numa carta com data de 14 de Setembro417, C. Pau escrevia para G. Sampaio: Segorbe, He tenido sumo gusto el ver carta de V. por aqu, despus de tanto tiempo que nuestras
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Citada e transcrita na integra em LANZ (2001:336). Citada e transcrita na integra em LANZ (2001:336). 416 A publicao do Manual da Flora Portugueza s se iniciaria em 1909. 417 Citada e transcrita na ntegra em LANZ (2001:337).

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relaciones cientificas fueron interrumpidas. He pasado dos aos de muchos afanes y trabajos y no pude dedicar las plantas ms que alguno que otro rato; el ao prximo creo estar listo como aos anteriores y no tendr inconveniente a proporcionarle plantas del pas. Por este ao no puedo ofrecer nada los amigos porque mis viajes fueran visitas y no herborizaciones serias. No ano seguinte, a 24 de Abril418 nova carta de C. Pau para G. Sampaio: Segorbe, [] me apresuro a contestar V. comenzando por mostrarle mi agradecimiento por la sealada distincin que V. me dispensa, solicitando mi colaboracin para los anales de la Academia Polytechnica do Porto, y la cual no puedo negarme y si aceptar muy reconocido su atencin de V. Puede V., pues, contarme entre los colaboradores. Comenzare, por consiguiente, con un trabajito ligero sobre las plantas del Riff (Marruecos) que recog en mi visita del ao pasado y dar las descripciones de las formas nuevas. Y, probablemente, podr remitir durante al ao alguno que otro artculo sobre flora peninsular. Em Maio de 1909 G. Sampaio tinha iniciado a publicao, em fascculos, do Manual da Flora Portugueza, que pretendia constituir uma nova Flora de Portugal. Em Janeiro de 1912 tinham sido editadas as pginas 321-336, mas a obra estava longe de estar terminada. G. Sampaio numa carta datada de 13 de Maro deste ano de 1912, imputava parte das dificuldades situao do pas: A agitao poltica em que se tem encontrado Portugal obriga-me a constantes interrupes no meu trabalho botnico, algumas bem demoradas. Deus queira que isto sossegue, para ver se consigo acabar a impresso de minha Flora, h j trs annos em impresso typogrfica! (LANZ, 2001:338). C. Pau respondia logo a 18 de Maio de 1912419 em tom positivo, conhecendo bem o que significava a gigantesca tarefa de escrever uma flora mesmo de um pas pequeno como Portugal: Segorbe, [] Casi es un bien que demor V. su flora porque algo nuevo aadir V. y algo igualmente corregir, pues, los das no pasan intilmente para el estudioso. [] Com a publicao das Lista das espcies e seus trs apndices, 1913 e 1914 constituam dois anos chave na vida e obra de G. Sampaio. As questes da nomenclatura botnica emergiam com toda a intensidade no trabalho de G. Sampaio. O segundo apndice era publicado a 14 de Fevereiro de 1914. Numa carta para C. Pau datada de 2 de Maro deste ano, G. Sampaio revelava o seu total enfoque nas questes nomenclaturais. LANZ (2000:366) sintetiza-a da seguinte forma: referente a los gneros Armeria y Limonium pero cuyo propsito evidentsimo es atraer a Pau a puntos de vista nomenclaturales que hacen de Sampaio un autor heterodoxo en alguna medida.

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Citada e transcrita na ntegra em LANZ (2001:337). Citada e transcrita na ntegra em LANZ (2001:338).

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A troca epistolar parece interromper-se em 1915 e 1916. Em Maio de 1917 G. Sampaio participa no Congresso de Sevilha da Asociacin Espaola para el Progreso de las Cincias onde apresenta um trabalho sobre Os lquenes espanhoes do Herbarium Willkomm. Todavia C. Pau no participa no Congresso mais uma vez o encontro pessoal entre os dois botnicos peninsulares, ambicionado h mais de uma dcada, ficava adiado. Nesta reunio, ter sido decidido que o Congresso a realizar em 1921, teria lugar no Porto. De regresso cidade onde residia, G. Sampaio escreve a C. Pau a 10 de Maio. LANZ (2000:366) resume o contedo desta correspondncia da seguinte forma: Sampaio, gratamente impresionado por el ambiente andaluz, toma parte all en el Congreso de la Asociacin Espaola para el Progreso de las Ciencias lamenta que no hubiera ido Pau, quien por lo visto no era muy de congresos y all se le ha dicho que tena la intencin el de Segorbe de visitarle pronto en Oporto, lo que celebra mucho. Le pide, adems, que no deje de asistir en 1921 al congreso luso-hispano de Oporto, que acaba de convocarse. Seguem-se vrios anos de aparente incomunicabilidade epistolar. O avizinhado Congresso do Porto reactiva a comunicao, mas infelizmente o encontro pessoal entre ambos no se concretizaria mais uma vez. C. Pau escrevia para G. Sampaio a 8 de Abril de 1921: Segorbe, Yo tambien tengo ganas de conocer a V. personalmente y si puedo, procurar acudir al congreso, por mas que siempre he procurado apartarme de la gente de Madrid, por no haber padecido de los de esa Corte mas que perjuicios y molestias sin cuento. Pero, por complacerle a V. acudir, aunque solamente lo haga por una sola vez. Queria ir a baos este mes de junio; pero, para que vea V. que mis deseos de conocerle son grandes, dejaremos para julio mis baos y lo cambiaremos por la visita a Porto. Ser probable que salga esta semana prxima para Marruecos, en donde pienso estar unos dos meses; recorrer y estudiar detenidamente Tnger, de donde me faltn la mar de tipos clsicos de esta interesante localidad; despus, pasar a Tetuan para terminar en Sexahuen. El viaje no est del todo decidido; quizas me arrepienta a ltima hora; pero, mi intencion es visitar Marruecos este mes de Abril y de Mayo. [] He tenido la fortuna de poder estudiar con entera libertad el herbario de Planellas; cuando se publique en Broteria, ver V. alli lo que me parecen algunas especies de este botnico. Le agradezco en el alma sus delicadas invitaciones i ofrecimientos, que estimo en mucho y que tengo a mucho honor; estas delicadas invitaciones me obligan a no negarme y a manifestarle a V. mi sincero agradecimiento, del modo mas completo que me sea factible; y creo que no hay mejor, que non negarme a su peticion. Aps a realizao do Congresso do Porto G. Sampaio escreve a C. Pau uma carta datada de 10 de Agosto de 1921 agora focalizada no difcil grupo das Ulicneas: No sei se lhe agradeci j o exemplar de Ulex baeticus Bois. que teve a amabilidade de me enviar e que foi para

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mim precioso [] Pelo meu travalho sobre o gn. Ulex, apresentado ao Congresso, reconheci em Portugal as seguintes espcies: [] Estas concluses do meu trabalho devem certamente concordar com as observaes de V. Ex.a. Resultam de alguns anos de observaes dos nossos Ulex e da sua comparao com numerosas formas clssicas. Que esteja reposto dos seus incmodos quanto deseja [] (LANZ, 2000:367). Numa carta datada de 27 de Dezembro deste ano, G. Sampaio tee consideraes extra-botnicas, sobre a situao poltica espanhola: Aproveito este ensejo para o felicitar pelo xito das foras espanholas em Marrocos. Creia que me tem dado o maior prazer os triunfos do herico exrcito da Espanha, paiz irmo da minha ptria e pelo qual eu sempre senti um grande afecto. Que a Espanha desagrave o traioeiro insulto feito sua bandeira quanto do corao apeteo, embora no seja apologista de guerras (LANZ, 2000:367). C. Pau responde a 5 de Janeiro do ano seguinte, 1922420. Os comentrios polticos de G. Sampaio desencadearam comentrios cidos de C. Pau, que se tornaro constantes e de crescente acutilncia nos anos seguintes: [] Acabo de ver un trabajo de no recuerdo que autor publicado en la revista del dr. Henriques, y siento en el alma tener que decirle a V. que acusa un desconocimiento tan grande de la flora general de nuestra peninsula que me hizo dao tal desconocimiento. [] Gracias por el interes que demuestra por nuestras contiendas en Marruecos; yo soy muy piadoso, y sobre estas cosas, me limito a ponerme una hoja de parra. Creame, amigo Sampaio, no estan a la altura del pueblo espaol sus gobernantes. A medida que ascendio la cultura media de los espaoles, ha ido rebajando la talla de nuestros directores. No parece sino que lo mas despreciable, lo mas bajo y lo mas indocto ha subido a la superficie y con un descaro insultante y un cinismo desvergonzado, todavia nos insultan, a los que callamos y pagamos y mantenemos a esta pilleria. Sampaio, el poso subio a la superficie y la locura ordena y manda. El golfo, el haragan, el fracasado, el inadaptable se empea en que no haya categoras; el cretino no busca mas que desaparezca el hombre de cultura superior y el bueno. Lo bajuno pasea por encima de nuestras cabezas. Es V. joven y lo compadezco; yo ya soy viejo y lo que me pueda de vida lo dedico unicamente al estudio de las plantas. No fui jamas politico y ahora menos. Na frase inicial desta carta, C. Pau referia-se certamente ao trabalho de A. X. Pereira Coutinho Breves consideraes estatsticas acerca da flora portuguesa publicado no volume XXVIII do Boletim da Sociedade Broteriana. Desde h vrios anos que se tinham estabelecido fortssimas divergncias cientficas entre G. Sampaio e A. X. Pereira Coutinho, pelo que a opinio negativa de C. Pau teve naturalmente uma boa receptividade da parte de G. Sampaio. Escrevia a 18 de Junho de 1922, aproveitando para enumerar e enfatizar as suas crticas ao trabalho do professor de Lisboa:
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Citado e transcrito por LANZ (2000:367).

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inteiramente justa a sua crtica ao trabalho de P. Coutinho publicado no ltimo volume da revista do dr. Jlio Henriques. Quando li aquilo fiquei envergonhado pelos disparates que nesse infeliz trabalho se contram [contam]. Este professor tem passado a vida no gabinete, no herborizando nunca, a no ser em frias, nos terrenos da sua quinta em Caparide. Apezar disso, escreve sobre tudo o que lhe d na gana, sem a menor preparao, compilando e roubando dos outros, falseando a verdade at conscientemente, do que tenho provas, e sonegando os herbrios da Universidade de Lisboa, onde professor, ao exame de outros botnicos, com um esprito de enveja muito mesquinho. No ano passado pediu a aposentao de professor, sendo substitudo pelo dr. Palhinha. Desta maneira, j eu pude examinar as plantas daquele herbrio onde existem as colheitas preciosas de Welwitsch que com o sr. Coutinho eu no podia examinar (LANZ, 2000:367-368). A esta carta responde logo C. Pau a 23 de Junho deste ano de 1922421, instalando-se definitivamente o seu estilo impiedoso de crtica mordaz e acutilante: [] No estoy mal de salud; pero, el brazo derecho no tiene fuerza ni para sacar un paquete del herbario y lo tengo que extraer con la izquierda; el pie no he repetido pero, me resiento si camino mucho; en fin, una ruina. Veremos si este mes proximo en los baos de Camarena echamos un remiendo a este cuerpo. Estas molestias me preocupan poco; mas me hicieron pensar los catarros intestinales, a mi vuelta de Marruecos y parece que han desaparecido y ha mi estomago vuelto a estar como siempre. Espero que suceda con estos intentos de reuma lo mismito. Le agradezco mucho a V. las noticias que del Sr. P. Coutinho me comunica. Me lo figuraba; pero, no es lo mismo que saberlo. Aqu tambien se da esa cosecha. Dejo a su libertad el envio de las plantas portuguesas que a V., le pareciere; como sean proprias de Portugal y formas endemicas, todas me gustaran. Yo por mi parte, procurare tambien remitirle las que juzgue interesantes y sobre todo, los numerosos hybridos que he publicado. Ahora, unicamente le agradeceria a V. todas las formas de Sideritis que crezcan en Portugal; sean o no vulgares; por que un amigo mio pretende publicar una monografa del genero y con este motivo, incluiria las de toda la Peninsula. Estos dias le remiti todas las de mi coleccin y alla las tiene. Aqu se han descubierto una infinidad de hibridos y estos dias he visto otro nuevo. Recibi su grata carta del dia 5 de los corrientes y no se como manifestar a V. mi agradecimiento tanto por su interes como por el afecto que demuestran sus palabras. Yo aceptaria con mucho entusiasmo las proposiciones que pudieran hacerme de Madrid422; pero, amigo Sampaio, hay una no pequea dificultad y es: [a frase seguinte est escrita a vermelho] que no soy rico para abandonar el negocio de mi profesion, ni soy lo bastante pobre para salir huyendo de aqu. Me confesar con V. Mi
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Citada e transcrita, parcialmente, em LANZ (2000:368). Estaria C. Pau a referir-se j ao Projecto da Flora Ibrica? Ver frente neste captulo.

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independencia es grande y el mayor placer y fortuna que a mi ver puede desear una persona es: [a frase seguinte est escrita a vermelho] poder mantener una perro, una escpeta y un caballo. Esto lo vengo poseyendo desde mi niez y con este goce me contento. La ciencia o el estudio de las plantas lo tome por distraccion recreativa y con el fin de ni aburrirme, por que mi caracter no puede estar ocioso; padezco mas y sufro que estar trabajando o ocupado en algo. Sin darme cuenta me fui colando en el estudio y como financieramente no andaba corto y mi carcter no es para tener ahorros ni llegar a rico, me gastaba todos los aos la mayor parte de mis ganancias en libros, viajes y plantas; por que dado me manera de pensar, me los hubiera gasto en vicios y distracciones, que me hubiesen perjudicado, tanto el cuerpo, como al espiritu. Esto como V. ve carece de merito alguno y quizas por esta misma independencia, que da el trabajo y no necesitar proteccion oficial, haya sido lo que soy. Figurese V. por un momento que yo saliera de aqu, gozando de una renta, con lo poco mio y lo de la profesion, de 15 a 20.000 pesetas, y despreciara esta vida tranquila. Que diria V.? Pues, con toda seguridad que V. me tacharia de anormal y loco, y no lo diria infundadamente. Buena es la ciencia; pero, no hay que despreciar los bienes terrenales por una gloria que pudiera resultar causa eficiente de nuestra vida desesperada. Ya lo dijeron los griegos: [a frase seguinte est escrita a vermelho] La vejez sin dineros es muy larga y muy fea. El mucho bien hace mal, decia mi santa madre. Eso mismo me sucede a mi; si fuese un desgraciado, me acojeria a lo de Madrid, si antes no estaba ya en Barcelona, de donde tambien me reclaman. Y arbol viejo transplantado o muerto o desmedrado. He terminado de estudiar las talamifloras de Marruecos; creame que estoy verdaderamente satisfecho, por que salen mas novedades de las que esperaba. Es una verdadera lastima no haber podido estar todo el mes de junio para que las plantas se hubiesen podido recoger en sus diferentes fases de vejetacion. A 24 de Julho de 1922 nova carta de C. Pau para G. Sampaio423: Mi distinguido y muy apreciado amigo: Debo comenzar por manifestar a V. mi agradecimiento por el concepto cientifico que le merece mi modestisima persona; los amigos son muy complacientes y alguna vez algo exagerados; pero, de todos modos hay que reconocer la buena intencion y quedar muy reconocido y manifestar, por lo menos, que hacemos lo que se puede por no dejar en mal lugar a los amigos. Ademas, estas buenas ausencias obligan mucho al que se tiene por buen nacido. Esta carta la escribo solamente para dar a V. muestras de mi reconocimiento y para que V. vea que deseo visitarle a V.; pues, el ao pasado le rogu al amigo Font424 para ir a Porto y Coimbra y no pudo ser la cosa, y como
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Citada e descrita, mas no transcrita, em LANZ (2000:368). C. Pau referia-se a Font Quer. Ver biografia frente, neste captulo.

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sabe los deseos que tengo de visitar a V. y de ver algo del herbario de Willkomm, por eso me dice en su carta de ir el ao prximo a visitar a V. Es un buen naturalista y muy entusiasta; celebraria que hiciese con V. buenas amistades; tiene un buen colector, quizas el mejor que yo haya conocido y podria cambiar con V. muy curiosas especies. Este ao me remeti sobre una docena de especies interesantisimas de Almeria y como nuevas para la ciencia. Ahora anda por Gibraltar y Tarifa. En las Baleares tambien hizo descubrimientos notables, bajo el punto de vista geogrfico. Gros es muy superior. Celebraria conocer todo cuanto V. public y pueda publicar en lo sucesivo; y no tema mis criticas ni mis observaciones, que yo soy muy tolerante y ademas, me hago cargo de la situacin, edad, , de los escritores y comprendo bastante bien el estado de cada uno para portarme segn sus maneras de ser. Lo que me irrita algo es la trapacerias y demas producciones del que carece de injenio, talento, material de estudio, habito de trabajo, practica tenaz y constantes, , y se mete a escribir doctoralmente, unicamente, porque un Estado cualquiera lo elev a un destino por artes ocultas y que tom en serio su papel de comediante. Lo que mas me disgusta es la falta de seriedad y la sobre de petulancia. Al modesto se lo dispenso todo; todo y todo. Por que ese fu mi principio y no hay que olvidarlo jamas. Por ah se comienza y algunas veces asi mesmo se acaba. Hoy, el talento y el genio, sin dinero, no van a ninguna parte. Los sabios totalmente individualistas son tan raros, como las lunas verdes. Ha de ser el Estado el puede sufragar los gastos que se requieren para no trabajar en tonto; es muy corta la vida de un individuo para acumular lo que se exije en las ciencias todas. Estoy conforme en lo que V. me dice sobre los generos de las labiadas que me cita; es muy sano su parecer de V. Seguir su opinin en cuanto pueda meter baza o la ocasion se presente. G. Sampaio responde num bilhete-postal datado de 17 de Agosto deste ano. LANZ (2000:368) sintetiza assim o seu contedo: dice haber estado en Lisboa donde le convoco el Ministerio de Instruccin, se refiere brevemente a Sideritis haba dado ya lista de las portuguesas: promete ahora rpido envio y anuncia el simultneo de la parte publicada (1909-1914) de su Manual da flora portuguesa. G. Sampaio envia o exemplar da parte publicada do Manual da Flora Portugueza e C. Pau responde numa carta datada de 21 de Setembro de 1922425 (Estampa IV.35.), elogiando a obra do professor: [] Por fin lleg un Manual da Flora Portuguesa, despus de un mes exacto de andar perdido por la huelga de los correos. Temi no recibirla y esperaba el resultado para escribir a V. Ante todo le doy V. las ms expresivas gracias por el envo de la Flora, que le agradezco infinito. Estas obras de difcil manejo, [cuando] sean completas las especies de la flora, sirven mucho y se manejan continuadamente para la ortografa de las especies, para recordar nombres de especies y de autores y
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Citada muito sumariamente, mas no transcrita em LANZ (2000:368), que a datou erradamente de Novembro.

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para darse enseguida cuenta de sus endemismos. Pero, amigo Sampaio, estos manuales son muy difciles de escribir. [] es mas facil una monografia, una obra extensa y hasta colosal, que un compendio. Para publicar una monografa flora grande y con pretensiones, no se necesita mas que materiales; pero, en un compendio se necesita sumo dominio de la especialidad, conocer la organografia externa, dominar y tener siempre presente la morfologa caracteristica de las especies, parea dar las sentencias reales y no compendiar lo indiferente y sin interes diferencial. Y luego, no sirven mas que para determinar lo conocido y confundir lo nuevo para la ciencia con cualquiera especie del genero. El procedimiento dicotmico conduce tales absurdas determinaciones Su obrita la encuentro bastante clara y las descripciones precisas y nada latosas. Me gusta mas que todo; por su modestia, por que demuestra superiores conocimientos fitograficos, por su claridad y sencillez, porque no es tan superficial como la de Battandier y Trabut426, ni la encuentro tan pretenciosa como la de su paisano Pereira Coutinho427. Una obrita como esta suya nos hace falta en Espaa; yo la escribir, pero, no puedo comprometerme y ni quizas pudiera. Y nada [] que suprimir en estas floras son: la descripcin de las familias! No sirven para nada, apenas conoce uno las plantas. Yo envidio los que disponen de tranquilidad y de tiempo para escribir: [] el que puede dedicarse escribir el tiempo que se necesita para publicar obras extensas y de substancia. Yo no paso, ni pasar ms que por un guerrillero, que aprovecha la ocasin de acudir a las plantas, cuando puede y lo dejan, y no cuando quiere. Yo espero continuar, porque la cosa no lleva camino mejor: eso que gozo ahora da misma libertad que hace aos y eso que tengo mejor independencia. [] Creo no se negar V. el placer de la continuacion de su Manual, que realmente y sin simulacion, me gusta; y eso que siempre [] prevencion los compendios. Hay cierta cosa en la sapiencia, que sin ser orador, se es elocuente, y sin apasatora y teatral presentacion es bella una obra [] eso descubro en su manual. Y ya ve V. como paso por alto lo sistematico, teorico taxonomico. Em 1923 parece no ter havido comunicao entre os dois botnicos. A 12 de Julho de 1924, G. Sampaio escrevia num bilhete-postal: Chegando hoje ao Porto, para principiar os exames, tive o prazer de encontrar as publicaes que V. Ex.a teve a gentilesa de enviar-me. Li-as com ateno, como sempre fao quando se trata de botnicos autorizados, aproveitando muito com essa leitura. Muito obrigado por este oferecimento e tambm pelas palavras to amveis com que se refere ao meu humilde trabalho, a respeito do Astragalus hypoglottis Lin. [] Com a doena de meu filho428 tenho
J. A. Battandier e L. Trabut publicaram, em 1898, uma flora da Arglia. C. Pau estava a referir-se Flora de Portugal publicada, em 1913, por A. X. Pereira Coutinho. Dado que o Manual de G. Sampaio no tinha sido completado, a Flora de A. X. Pereira Coutinho era a nica flora de Portugal completa editada. 428 G. Sampaio estaria a referir-se a seu filho, Fernando Sampaio.
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vivido quasi todo o ano em Braga, onde o clima lhe mais favorvel; por isso trabalhei pouco em botnica, entretendo-me mais particularmente com a histria da msica popular, que muito me interessa tambm. com muito prazer que recebo notcias de V. Ex.a, a quem me afiz a estimar e a admirar h muito tempo. Espero enviar-lhe no prximo mez um pequeno folheto sobre fanergamas (LANZ, 2000:368-369). C. Pau responde a 27 deste ms de Julho de 1924429: No he contestado antes a su grata del 12 por encontrarme ausente: acostumbro, despus de mi catarro gastro-intestinal de origen griposo a pasar unos dias a 1.400 m., y a tomar aguas. Tambien vine indispuesto de mi viaje a Marruecos y tengo necesidad de tomar esta agua, por agradecimiento; por que ahora no me son necesarias. Todos tenemos una preocupacin; y la mia no ha sido siempre mas que el temor a una molestia intestinal, por los abusos que en mis viajes he tenido que hacer. Por fortuna mia, mis temores por ahora, no han pasado de temores. Le agradecer una lista del fasciculo de Brotero, conteniendo solamente ao, relacin de las especies y su pgina. Conozco este fascculo, por haberlo visto en la biblioteca de un amigo; pero, me pareci que a del ao 1901. Ademas: Colmeiro430 dijo, que este fascculo sali lleno de erratas tipogrficas y no se difundi. Y como el mismo Brotero dice que referir a su fasciculo las descripciones de su Fitografia, como se lee en el prologo, como no lleva la sinonimia de la genista, por este motivo admiti la de Cavanilles, que data del mes de Enero. El Sr. Lacaita me dijo de viva voz, que la especie se conservaba en el Hb. [Herbrio] de Linn; no obstante, yo me inclino al parecer de V.; por que estos problemas nicamente pueden resolverlos a satisfaccion, los naturales de un pas, por aquello de nuestro refrn: [A frase seguinte est em tinta azul] Mas sabe el loco en su casa, que el cuerdo en la agenda. Yo no me ha detenido a estudiar este asunto; asi es, que no puedo fundamentar mi parecer, mas que en lo dicho o comunicado por V.; por que en los herbarios hay [A palavra seguinte est em tinta azul] malicias como esta, que paso a decirle. Un botnico cre la especie A; otro que detras vino propuso para esta misma especie el nombre B; pero, con el tiempo, vino a revisar el herbario del primer botnico que creo la especie A, y como la vio autentica y no podia negarse la identidad de A y B, pues, no encontr mejor resolucion, que robar la planta tpica, substituyndola por una forma disparatadamente diversa. Esto creo que ha sucedido en Paris y en el herbario de Desfontaines. Adulterar el pas de origen ha sido frecuente. En Clusius ya lo tengo
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Citada muito sumariamente, e s transcritas duas frases, em LANZ (2000:369). C. Pau estaria a referir-se a Miguel Colmeiro y Penido (1816-1901). Foi professor de botnica e reitor da Universidade Central de Madrid. Foi director do Real Jardim Botnico de Madrid, um dos scios fundadores da Real Sociedade Espanhola de Histria Natural e membro da Real Academia de Cincias Exactas, Fsicas e Naturais de Espanha. Entre as suas obras publicadas, destaca-se a monografia de carcter histrico: La Botnica y los botanicos de la pennsula hispano1858) (http://es.wikipedia.org/wiki/Miguel_Colmeiro_y_Penido; lusitana (COLMEIRO, http://es.wikipedia.org/wiki/Real_Sociedad_Espaola_de_Historia_Natural; SNCHEZ DEL RIO, 2003:15-16).

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observado. Hay naciones que a la ausencia de tica se la llama patriotismo. Y describir una especie, para luego de conocida la equivocacion, pasar la descripcion a otro tipo, tampoco faltaron botanicos que lo hicieron, como Arvet-Touvet431. Por eso yo no creo que en los textos: descripcion y nada mas. Y si con la muestra conviene, superior. Pensaba visitarle a V. este mes de Agosto, y asi se lo particip al Sr. Tabares; pero, uno de mis dependientes se cay estos dias de la jaca y se fractur el brazo; y aqu me tiene V. sin poder ausentarme una temporada, como eran mis deseos. Tengo vivos deseos de visitar al Sr. Henriques y de revisar el herbario de Willkomm; yo creo que en dia ha de ser; pero, esto se alrga [alarga] mucho y ya me va desespacienciando [sic]. Veremos si a Septiembre puedo largarme unos dias a Madrid, y de aqu a esa. Ver con sumo gusto el trabajo ofrecido; yo estoy bajo la influencia perezosa mas grande que he podido en mi vida; no hago nada y aun escribir a los amigos. Veremos si con el fresco del Otoo, sacudo esta indolencia que me tiene prisionero. Si dura este estado, soy hombre al agua. A 30 de Julho de 1924 G. Sampaio escrevia a C. Pau, empenhado em publicar a sua Flora de Portugal432: Desejo principiar brevemente a impresso da minha nova Flora, que julgo razoavelmente executada tanto pelo lado da taxinomia como da nomenclatura. Falta-me rever o gnero Iberis, que em Portugal est mal estudado, mas encontro duas dificuldades, que s poderei resolver com o auxlio dos botnicos espanhis433. Sem solucionar esses dois problemas impossvel fazer obra segura, e o Prodromus do Willkomm, assim como o respectivo herbrio, em vez de auxiliar a resoluo dos casos complicam-na. [] V. Ex.a muito me obsequiaria, tambm, cedendo-me exemplares de todas as suas espcies novas, pois teria o maior prazer em ter no herbrio desta Universidade as espcies de fanergamas descritas por V. Ex.a (LANZ, 2000:369). Nova comunicao de G. Sampaio a 8 de Agosto: Acabo de regressar de uma excurso botnica pelas Beiras, onde tudo estava seco e ruim, no conseguindo eu mais do que fadigas e insolaes inteis. Venho um pouco doente, com dores e alguma temperatura, as [s] noites. Vamos ver o que sai daqui. Agora mesmo escrevi a relao das plantas descritas por Brotero na 1.a edio do fasc. 1. da Phytographia [Phytographia Lusitaniae selectior]. Esta 1.a edio inteiramente diferente da segunda. [] Estou
J. M. C. Arvet-Touvet (1841-1913), botnico amador, especializou-se no gnero Hieracium, publicando, em 1913, a monografia Hieraciorum praesertim Galliae et Hispanica systematicus. Neste gnero, props numerosas espcies novas para a cincia (http://fr.wikipedia.org/wiki/Casimir_Arvet-Touvet). 432 A partir de incios da dcada de 1920, com a redao do Epitome em 1919 - uma flora abreviada, mas quase completa, emerge em G. Sampaio uma vontade psquica para publicar a verso completa da sua Flora de Portugal. Todavia, aos perodos de enfoque obsessivo (mas em que as dvidas no tinham fim havia sempre espcies para observar melhor), seguem-se fases de disperso por outros assuntos como os lquenes e os estudos da msica popular, e o trabalho nunca seria publicado. Como seria de esperar, tambm nas cartas para C. Pau se evidenciam estas ambivalncias e dialcticas do pensamento e aco de G. Sampaio. Var captulo IV.3B. 433 G. Sampaio publicaria, em 1936, uma reviso do gnero Iberis (SAMPAIO, 1936b).
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neste momento a sentir-me com febre, e por isso, termino esta carta para me recolher cama. Se puder enviar-me, por emprstimo, as Iberis que lhe pedi, muito me obsequiava. Sobretudo os exemplares de Gutarrn e o n. de Bourgeau que indiquei. [] Disculpe-me V. Ex.a pelo mal ataviado nesta carta, que escrevo j com certa dificuldade (LANZ, 2000:369). A resposta de C. Pau foi muito rpida e positiva porque G. Sampaio escrevia logo no dia 11: Achando-me um pouco melhorado de sade, levantei-me hoje da cama, onde estive desde sbado, para vir at ao Gabinete do Botnico. Com grande prazer recebi a carta de V. Ex.a assim como a amostra da Iberis de Gutarrn. [] Como disse a V. Ex.a encontro-me um pouco melhorado e livre j de febre; por isso pude escrever esta longa carta sobre um assunto que a outros aborreceria, mas que a ns tanto nos interessa! So estes os meus nicos prazeres; do resto s tenho encontrado dissabores e dificuldades na vida. Mas isto chega-me, graas a Deus, que bem sabe o que deve dar a cada um. A notcia que h dias me deu, do [de] que tenciona vir c em Setembro, satisfez-me muito, pois tenho a [o] maior prazer em conhece-lo pessoalmente (LANZ, 2000:369-370). A 19 de Novembro deste ano, escrevia novamente G. Sampaio: [] Eu vivo actualmente em Braga, onde venho ao Porto dar aulas em trs dias da semana. Vou escrever ao amigo que V. Ex.a me recomenda, mandando-lhe as publicaes que deseja. com o maior interesse que espero a publicao dos novos trabalhos de V. Ex.a, onde tenho aproveitado tantas coisas excelentes. Ultimamente tenho-me ocupado menos de botnica por causa de estudos de ordem musical que trago entre mos e que espero publicar brevemente (LANZ, 2000:370). Em 1925 prossegue o intercmbio epistolar entre os dois botnicos. A morte recente de seu filho Fernando Sampaio teria motivado o envio dos psames por C. Pau. G. Sampaio responde a 22 de Janeiro de 1925, re-insistindo no problema de terminar a sua Flora de Portugal: Muito lhe agradeo os psames pelo falecimento do meu querido filho Fernando, vitimado pela tuberculose pulmonar. Meu filho Joaquim, ferido por incidente com arma de caa, est felizmente quasi curado, ficando apenas com uma cicatriz no queixo inferior. Depois deste estudo terei completado, finalmente, o estudo dos gneros difceis da flora portugueza, cujo conhecimento julga j bastante perfeito. Uma ou outra dvida, aqui e ali, dvidas que procurarei esclarecer pouco a pouco. Findo isto, tenciono redigir a Flora portugueza descritiva, que ser o meu testamento. Estou canado, meu caro amigo, e sinto que o meu termo se aproxima a passos acelerados. Em 15 de Junho prximo inicia-se em Coimbra o Congresso hispano-lusitano. No querer vir c nessa ocasio, em que deve ter muitos companheiros de viagem? A Universidade de Coimbra tem instalaes e herbrios dignos de serem vistos, entre os quais o herbrio de Willkomm, que o deve interessar (LANZ, 2000:370). C. Pau responde numa carta datada

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de 6 de Fevereiro de 1925434: Dispnseme la tardanza en contestarle, a pesar de ser su causa intencionada; por que cuando lleg su grata del dia 16 del mes pasado, y me enter del cmulo de fatalidades que sobre su persona gravitaron, no me quedaron ganas de escribirle a V., por que me hubiese sido imposible encontrar frases de consuelo, y no hubiese dicho mas que esas tonterias corrientes, que se suelten sin pizca de sentimiento e interes. Hoy, todavia, no s que decirle a V., y ahora si que necesito de su bondad que me perdone, pues no me atrevo ni a mandarle frases de consuelo, por no encontrarlas, adecuadas a las desgracias circunstancias, quizas este ejemplo pudiera servirle de alivio, aunque no de consuelo. Cuando falleci mi buen padre, me quit de tal manera el sentido, que me crei atontado y llegu, como dije a los amigos, a querer retirarme del estudio de las plantas; por favorecer al sr. Vicioso, el ao 1892, me entretuve en revisar un envio de plantas aragonesas en numero de un millar, y aquello me volvi a reconciliarme con las plantas. Ante este sufrimiento, vivi en una pena continua, temiendo que al fallecimiento de mi santa madre se duplicara la conmocion psiquica; pero, dio la casualidad, de mandarme unos dias antes el hijo de Vicioso una notabilisima coleccion de plantas de Persia; y me tir con furia a su estudio, para distraer el pensamiento, que lo tena preocupado por la perdida de mi querida madre. Este trabajo me salv de esta preocupacin y segui la vida, sino con alegria, por que ya no era posible, al menos, con cierta insensibilidad tranquila, que me hace soportar la vida con resignacin filosfica y conformidad natural. Este medicamento moral pudiera a V. igualmente serle de alguna utilidad. El Ulex canescens Lange que V. me comunica, no es igual al que yo poseo de la Sierra de Gata435; esto confirma la imposibilidad geogrfica, que yo temia. Los herbarios, a veces caen en manos imperitas o [palavra seguinte em tinta azul, o restante pargrafo a vermelho] maliciosas, que alteran y cambian los ejemplares; como sucede con este ejemplo. La Vicia calcarata Desf. ha de tener las flores mitad menores que la V. sativae, y legumbres de 2 cm. Pues, bien; los autores la asimilaron a otras especies de legumbres mayores y fueron dando tumbos, solamente por que no podian sospechar que fuera la V. disperma DC. Yo no afirmo que el mismo Candolle robara la especien del herbario de Desfontaines y la substituyera con otra disparatadamente diversa; pero, si estoy seguro, que alguien cometi esa barbaridad, sea discipulo o amigo de Candolle; por que los lacayos son peores que los amos y desean
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Citada e transcrita muito sumariamente por LANZ (2000:370). Em dois trabalhos j publicados (SAMPAIO, 1922b e 1924), G. Sampaio tinha referido que esta espcie era nova para Portugal. No primeiro destes trabalhos, datado de 1920, indicava a sua distribuio como sendo dos arredores de Faro e de Sagres. No segundo trabalho, publicado em Dezembro de 1924, j apresentava a sua rea de distribuio como sendo o Algarve (em Portugal) e o Cabo da Gata (Espanha). G. Sampaio ter-se- baseado em exemplares desta espcie enviados por C. Pau? No entanto, pela observao de C. Pau, existiam no seu herbrio exemplares desta espcie ou desta localidade, mal etiquetados, o que lhe motiva os rudes comentrios que se seguem.

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congraciarse. Y ejemplos de escamoteo no son raros en los herbarios; y muchisimo mas, [palavras seguintes em tinta azul] cuando los manejan los que fueron nuestros enemigos. Esa es mi unica preocupacin: el temor de que mi herbario vaya a caer en manos de nuestra envidiosa y analfabeta sabidura oficial. Para evitar este peligro, no tendr otro remedio que mandar mi coleccion al extranjero. Probablemente, estos das tendr que estudiar un Ulex nuevo de Marruecos; entonces, ver mis muestras del Cabo de Gata y le mandar un trozo, con el fin de que V. lo compare con el suyo. Y si V. pudiera visitar la provincia de Huelva, desde Ayamonte hasta la Capital, veria una abundancia de Ulex, con algunas formas muy curiosas. Y gracias mil por su atencion. Na carta seguinte de C. Pau para G. Sampaio, datada de 12 de Junho de 1925, mencionado o projecto da Flora Ibrica, dirigido por G. Sampaio, e patrocinado pelo governo espanhol. Todavia a ideia remonta a alguns anos antes. A primeira referncia que existe no esplio documental de G. Sampaio sobre este assunto ocorre numa carta de R. G. Fragoso436 para G. Sampaio, datada de 30 de Maio de 1922. Em jeito de apresentao escreve: El Jardin437, hoy reunido bajo su direccion con el Museo438, forma parte del Instituto de Ciencias Naturales con el Museo Antropolgico, y como yo soy profesor de dicho Instituto, agregado al Museo y Gefe de este Laboratorio botnico, al pasar al Botnico, sigo siendo profesor del Instituto pero agregado al Jardin y Gefe en el de la Seccion de Criptogamia. Seguidamente apresenta a proposta da Flora Ibrica: de Barcelona Dr. Caballero439, discipulo mio de Micologia, y amigo muy querido, tendremos a nuestra disposicin los Herbarios
Romualdo Gonzlez Fragoso (1862-1928) nasceu em Sevilha. Graduou-se em medicina pela Universidade de Sevilha. Em 1911 e 1912 estagia em Frana, Blgica e Sua na rea da Micologia. Em 1918, nomeado naturalista do Museu Nacional de Cincias Naturais de Madrid e, posteriormente, director do Laboratrio de Criptogamia deste museu. nomeado professor honorrio do Museu e do Real Jardim Botnico de Madrid. Foi presidente da Real Sociedade Espanhola de Histria Natural, em 1920. Estuda a flora micolgica espanhola, portuguesa, marroquina e da Repblica Dominicana. Especializa-se em uredinceas e ustilaginceas (sobretudo parasitas de plantas, musgos e lquenes), mas tambm estuda deuteromicetos e basidiomicetos. O Herbrio de Criptogmicas, por si criado em 1915 no Museu Nacional de Cincias Naturais de Madrid, ser incorporado, em 1928, nos herbrios do Real Jardim Botnico de Madrid. Conhece pessoalmente G. Sampaio no Congresso do Porto de 1921, estabelecendo-se desde logo uma colaborao e amizade que perduraro at sua morte. Autor de uma vastssima obra cientfica foi um dos fundadores dos estudos modernos das uredinceas e ustilaginceas. Publica em 1924-1925 a Flora Ibrica Uredales em dois volumes. Publica em 1927 uma obra de referncia sobre os hifomicetos Estudio sistemtico de los hifales de la Flora espaola conocidos hasta esta fecha. A colaborao dos botnicos portugueses permitir-lhe- estudar a flora micolgica portuguesa publicando vrios trabalhos: Algunos hongos de la flora lusitanica (Broteria, 1924:128-133), a monumental Contribucin a la flora micolgica lusitnica (Boletim de Sociedade Broteriana, 1923:3-83) e Adiciones a la micoflora lusitnica (Congresso de Coimbra, Ciencias Naturales, Asociacin Espaola para el Progreso de las Ciencias, 1925:5-27). UNAMUNO (1928) escrever a seu respeito: porque toda su vida fue eso: trabajo incesante y fructifero [] merece el nombre de Saccardo espaol. De acordo com UNAMUNO (1928), do labor cientfico de R. G. Fragoso resultaram a publicao de 193 formas e variedades, 544 espcies, 1 subgnero, e 13 gneros novos para a cincia (http://es.wikipedia.org/wiki/Romualdo_Gonzlez_Fragoso; http://es.wikipedia.org/wiki/Real_Sociedad_Espaola_de_Historia_Natural; UNAMUNO, 1928; SAMPAIO, J., 1948, 1949). 437 R. G. Fragoso referir-se-ia ao Real Jardim Botnico de Madrid. 438 R. G. Fragoso estaria a referir-se ao Museu Nacional de Cincias Naturais de Madrid. 439 R. G. Fragoso referir-se-ia a Arturo Caballero Segars (1877-1950). Estudioso da flora norte africana, foi professor em Barcelona e depois em Madrid. Foi director do Real Jardim Botnico de Madrid (MATEO SANZ, 1995a).
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todos, y cualquier planta que Vd. desee consultar estar a su disposicin en cuanto la pida. Esto se lo digo en vista a su colaboracin para la flora ibrica. Escoja Vd. una familia, la que V. quiera, pida las plantas y tipos que desee, y cuanto tengamos aqu, incluso notas de libros, copias, etc. Con eso, su profundo conocimiento de la flora lusitnica y el Herbario de Willkomm, nadie estar como Vd. en disposicin de hacer admirablemente las floras das familias de la peninsula ibrica. Por esta carta deduzimos que o projecto seria promovido por R. G. Fragoso, de Madrid, e por Caballero, de Barcelona. O projecto no se concretiza, mas dois anos depois, Font Quer440, tambm de Barcelona (do Museu de Cincias Naturais), prope a elaborao de um catlogo da flora ibrica, dirigido por G. Sampaio em colaborao com C. Pau. Escreve numa carta datada de 5 de Fevereiro de 1924: Creo que es indispensable publicar el catlogo de la flora ibrica si se quieren establecer con probabilidades de xito las nuevas reglas de nomenclatura propuestas por V.; y creo tambien que si el Sr. Pau se decidia a emprender esa obra junto con V. adelantaramos mucho en la resolucin de no pocos problemas de sistemtica, y de nomenclatura especialmente. Yo podria ofrecer a los dos la hospitalidad de las publicaciones de esto Museo, para editar el catlogo con la mxima dignidad. Si llegbamos asi a tener una obra parecida al Genera de Dalla Torre441, concerniente a la flora peninsular, es indudable que nuestros botnicos lo adoptarian de muy buena gana. Sus puntos de vista me parecieron muy lgicos. Slo falta desarrollar la idea, dndole la forma prctica de un catlogo. Esta carta importante porque mostra o alcance e o impacto que as propostas de nomenclatura botnica apresentadas por G. Sampaio no Congresso do Porto tiveram na comunidade de taxonomistas espanhis. R. G. Fragoso insistiria em carta datada de 8 de Maro de 1926: Hemos de ocuparnos los botnicos y Bolvar442, de ver como se hace algo de la flora ibrica, contando sobre todo con su valiosisima cooperacin.

Pius Font i Quer (1888-1964) foi botnico, farmacutico e qumico. Foi professor de farmcia e botnica na Universidade de Barcelona, e professor na Escola de Agricultura. Foi vice-presidente nos Congressos Internacionais de Botnica de Paris (1954) e Edimburgo (1964). Herborizou na Pennsula Ibrica e em Marrocos. Das suas obras, destacamse: Instruccions per a la recollecci, preparaci i conservaci de les plantes (Museu Martorell, Barcelona, 1917); Illustrationes Florae Occidentales (Museo de Ciencias Naturales, Barcelona, 1926); Diccionario de botnica (1953); Plantas medicinales: el Dioscorides renovado (1964) (http://es.wikipedia.org/wiki/Pius_Font_i_Quer). Parte da bibliografia de Font Quer est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/. 441 Karl Wilhelm von Dalla Torre (1850-1928), naturalista austraco, estudou cincias naturais na Universidade de Insbruque. Nesta universidade, foi depois professor de entomologia e zoologia. Publicou trabalhos sobre a sistemtica dos himenpteros e sobre a flora dos Alpes e do Tirol (http://es.wikipedia.org/wiki/Dalla_Torre). 442 R. G. Fragoso estaria a referir-se a Ignacio Bolvar y Urrutia (1850-1944). Professor de entomologia na Universidade Central de Madrid foi um especialista mundial em ortpteros. Foi um dos scios fundadores e presidente da Real Sociedade Espanhola de Histria Natural, membro da Real Academia de Cincias Exactas, Fsicas e Naturais de Espanha, e presidente da Junta para Ampliacin de Estudios e Investigaciones Cientficas. Foi tambm director do Museu Nacional de Cincias Naturais de Madrid (no qual exerce uma notvel actividade organizativa) e do Real Jardim Botnico de Madrid. Com a

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Retomemos a carta de C. Pau para G. Sampaio datada de 12 de Junho de 1925443 (Estampa IV.36.). O botnico catalo no parece disposto a participar no projecto da Flora Ibrica, mas no tem dvidas que G. Sampaio era o nico capaz de a concretizar: Con individuos de su psicologa y de su elevado juicio, muy superior y poco frecuente, se puede hablar con franqueza, segn es mi carcter, rebelde al fingimiento y muy apartado del [palavra seguinte em tinta azul; o restante pargrafo a vermelho] amigo, que o no piensa como habla, o no habla como piensa. Otro, con menos motivos, que yo le di a V., en mi carta anterior, se hubiera creido, enfatuado en su analfabetismo cientifico, que mis observaciones eran motivadas por la envidia; en V., y me felicito, no encuentro ni rastros de esa cretina suposicion. Por lo que no cambio de parecer, y le felicitar cordialmente, el que V. pueda ver terminada la flora [palavra seguinte em tinta azul] Peninsular, y yo tambien estar de en horas buenas por ello. No desista y manos a la obra; ya que yo, por circunstancias que no hacen al caso, [palavras seguintes em tinta azul] ni quiero ni debo hacerla. Este mes de Mayo ha sido uno de los que mas correspondencia cientifica he padecido; y si a esto aadimos los paquetes de plantas, deducir V. lo divertido que estuve y ver V. ademas, la causa de que no contestara a su grata ltima antes. Y atienda V. al despacho con la epidemia gripal pasad. Ayer le remiti a V. una memoria acerca de las plantas almerienses; alli ya ver V. algunos sinonimos, de los que V. me pedia parecer. De toda la lista que V. me remite, me parece que de casi todas podr decirle a V. algo; menos de las de Lzaro, que no son mas que collonadas y modos de darse importancia con falsas creaciones y publicadas solamente con miras al ombligo. No he conocido persona [p]seudocientifica que anduviera mas a trompicones con los limites de la ignorancia necia. Vea V. los enebros (Juniperus), cuatro especie de dos solamente; el genero Alsine: tres especies de una. Yo no poseo esta obra, para evitarme un dia el disgusto de ocuparme de ese esperpento botanico. [] Yo creo que lo mas conveniente seria el que V. me remitiese la lista de por familias de todas las especies que V. incluye en su flora, y con ellas a la vista le comunicaria lo que buenamente pudiera yo decirle, tanto para aadir, como para suprimir. Vaya un sinonimo que todavia no he publicada, pero que esta a punto de aparecer en mis notas matritenses. [] Nada, nada; el Compendio lo hace V.; en la Peninsula no conozco a nadie que pudiera intentarlo mas que V. solamente; animo, y a trabajar; y cuando nos veamos por esa, hablaremos de largo y entonces ver V. de lo que soy capaz, para que V. publique una flora digna de V. y la Peninsula. Son centenares las especies descubiertas en Espaa, y son mas los descubrimientos sinonmicos publicados

guerra civil em Espanha, exila-se, em 1939, no Mxico (http://es.wikipedia.org/wiki/Ignacio_Bolvar_y_Urrutia; SNCHEZ DEL RIO, 2003:13). 443 Citada e transcrita muito sumariamente por LANZ (2000:371).

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en las revistas, y sin embargo, en la obra de Lzaro444 no aparecen; proceden como el pajaro aquel, que metia la cabeza bajo del ala, y no viendo al cazador, el cazador tampoco lo veia. Jente de una miopa cerebral tan sumamente necia, que se llagaban a creer que en sus manos residia la fama y credito cientificos de los trabajadores de su pais. Una conspiracion del silencio, que unicamente aprovechada esa por los legos y ayunos de cultura cientifica. Y como todos estan a la misma altura de la Maritornes de Cajal, que apenas sabia contar mas que por los dedos Willkomm mismo, public una monografa de las cistaceas y no se puede pedir mayor desconocimiento de la flora espaola; Grosser se meti en lo mismo, y este fue peor, por que su monografia no pasa de ser una verdadera desdicha. Si V. sigue a estos autores deduzca lo que a V. le puede acontecer. Pero, yo creo que el genero mas mal tratado de espaa es el Linaria, sobre todo, la seccion supina. Y el mismo Prodromus fue hecho tan de prisa, que parece no sea producto de un cerebro sajon. Kehil ya me dijo hablando un dia, la causa de haberse escrito. Colmeiro lleva algunos datos que conociendo a fondo la geografia botanica espaola y la de las costas africanas, sobre todo de Marruecos, se puede obtener alguna noticia interesante, aunque no sea segura, como todas las suyas. []. A 19 de Setembro de 1925 C. Pau escreve a G. Sampaio retomando a discusso da obra de Brotero. G. Sampaio conhecia como ningum a obra do mestre de Coimbra. Uma das suas preocupaes durante toda a vida foi justamente a anlise crtica das obras fundamentais de Brotero, e tambm as de Link e van Hoffmansegg - os mais notveis estudiosos da flora portuguesa dos sculos XVIII e XIX445. Escrevia C. Pau: Mi distinguido y muy apreciado amigo: Doy a V. un million de gracias por la molestia causada al proporcionarme la relacion completa de las especies de Brotero, publicadas en su primer fascculo y edicion de 1800. Noticia que debi haber adquirido de su misma obra, pues el prlogo de la edicion del ao de 1918 [1818], se encuentra esta advertencia, del mismo Brotero: In hujus Phytographici Tomo I., Stirpium descriptiones, qua antea jm anno MDCCC in primo Fasciculo edideram. Esto, no se puede negar. Del estudio de las floras mediterraneas, occidentales, he llegado a darme cuenta de la falsa politica (o lo que sea) seguida por los autores de
C. Pau referir-se-ia a Blas Lzaro y Ibiza (1858-1921). Era doutorado em cincias e em farmcia. Trabalhou no Museu Nacional de Cincias Naturais de Madrid e no Real Jardim Botnico de Madrid. Foi professor de botnica da Universidade Central de Madrid, presidente da Real Sociedade Espanhola de Histria Natural (em 1901) e membro da Real Academia de Cincias Exactas, Fsicas e Naturais de Espanha. Publicou importantes obras sobre a flora ibrica: Contribuciones a la Flora de la Pennsula Ibrica e a monumental Botnica descriptiva. Compendio de la Flora Espaola (em dois volumes, editado em Madrid, em 1896) (http://es.wikipedia.org/wiki/Real_Sociedad_Espaola_de_Historia_Natural; SNCHEZ DEL RO, 2003:109). Parte da bibliografia de Blas Lzaro y Ibiza est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/. 445 G. Sampaio contribuiu para uma reavaliao das obras destes botnicos: 1. Demonstrando a prioridade de vrias espcies broterianas e de Link e van Hoffmansegg em relao a propostas posteriores. 2. Mostrando interpretaes erradas de espcies broterianas por botnicos posteriores. 3. Reavaliando a posio taxonmica de txones broterianos. 4. Restaurando espcies broterianas. 5. Indicando imprecises cometidas nestes trabalhos.
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las floras; por el desconocimiento de que ha tenido de la vejetacion vecina y similar, se han propuesto especies nuevas, que ya fueron publicadas; pero, de todos los botnicos, ninguno como Ball, en sus plantas de Marruecos. De todos los botnicos extranjeros, creo que Cosson fue el que mas conoci la biblioteca botanica de la Peninsula. Hoy mismo, creo que el Trifolium arrietesecctum Brotero, fitigrafia [Phytographia Lusitaniae selectior] I, tbla 63, es un sinnimo del Tr. cartaiense Coicy., f. occidental del T. lappaceum446. Al menos, la muestra de Marruecos es muy parecida a la estampa de Brotero. Pudiera V. proporcionarme ejemplares para confirmar la sospecha mia? He pasado por una situacion tan particular, que no he tenido ganas ni de escribir a los amigos; jamas conoci tal [] de pereza como me ha dominado este mes y el pasado. Espero con verdadera ansia el mes prximo, para ver si vuelven mis entusiasmos, por este sino, estoy completamente perdido para el estudio de la botnica. Aqu delante de la mesa tengo un monton de cartas incontestadas, y esta dirigida a V., es la primera, que me saca de la indiferencia en que he vivido. Ya conoce V. la causa de no haberle contestado antes y de no haberle acusado recibo de su ltima, dndole las gracias por su atencion. Tengo verdaderos deseos de conocerles a Vds. personalmente y de visitarles; esta era mi intencin; pero, no encuentro amigo que me acompae. Asi se lo dije al Sr. Tabares. No habr mas remedio, si me decido a verles ah, que hacer el viaje yo solo; aunque sea por etapas, para menos molestias. Aunque tengo confianza en la dependencia, conviene no abusar. A troca epistolar interrompida e retomada em 1928. G. Sampaio escrevia a C. Pau uma carta datada de 19 de Junho de 1928. LANZ (2000:371) sintetiza o seu contedo da seguinte forma: se anuncia envio a Pau de unos Rubus cogidos por Sampaio en Galicia en el verano de 1927, con los que pretende se le aclare lo que son R. galloecicus Pau y R. merinoi Pau. A 11 de Novembro deste ano, G. Sampaio escrevia novamente a C. Pau: Ainda que muito tardiamente venho agradecer-lhe as informaes que me deu sobre os Rubus. Era escusado o enviar-me os exemplares, porque eu tinha c duplicados. Logo que de Madrid me mandem as provas do trabalho incluirei nele a diagnose do Rubus Paui, nob., que uma linda e inconfundvel espcie da Galiza447. Reato agora a minha actividade botnica, suspensa durante trs anos. Nas passadas frias j realizei herborizaes em diferentes localidades e dentro de alguns dias vou redigir um trabalho novo sobre fanerogmia da flora portugueza. Sobre uma planta de que vou tratar nesse trabalho desejava um esclarecimento, que o seguinte: De que cor so as ptalas do Helianthemum Viciosorum, Pau? (LANZ, 2000:371). C. Pau
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G. Sampaio tambm considerava o Trifolium arrectisetum de Brotero como uma forma do Trifolium lappaceum Lin. (SAMPAIO, 1913b:56). 447 G. Sampaio no publica esta espcie de Rubus, nem localizmos, no seu herbrio, qualquer exemplar. Alis, depois da edio do Manual, G. Sampaio no publicar mais nenhum taxon deste gnero.

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respondia a 29 de Novembro de 1928: He recibido la suya del dia 21 con suma alegria, por apreciar en mucho su amistosa correspondencia, que echaba de menos. Le agradezco la dedicatoria del Rubus, y espero de V., que me dar el obsequio de un ejemplar, cuando a V. le venga bien remitirmelo; pues, no es cosa de que esta forma, falte en mi coleccin particular. Yo me crei descansar, cuando llegase a los 70 aos; pero me sucede ahora, que jamas he tenido mas ocupacin que estos aos; el pasado revis sobre 5.000 pliegos de consulta, y este ao, sobre ser mucho menor nmero, tambien he tenido que dedicar algunos meses a las plantas. Creo, como le decia al P. Navas448, que la muerte nos sorprender sobre la mesa de estudio. Cosa de que no estoy quejoso. Esta aficion no altera el sistema nervioso. [C. Pau seguidamente responde questo colocada por G. Sampaio sobre o Helianthemum, tecendo consideraes sobre este gnero]. Em 1929 continua o intercmbio entre os dois botnicos. Escrevia C. Pau a G. Sampaio numa carta datada de 23 de Fevereiro449: Tuve verdadera alegria al ver carta de V.; pero, luego, al leerla y enterarme de sus Plagas, tuve un verdadero sentimiento y solamente me consuela, la creencia en que estoy, de que la cosa no ha que tener fatales consecuencias y que me da de comunicar V. prontamente noticias de un completo restablecimiento. A cuidarse y a buscar en el estudio de las plantas una distraccion agradable y un sedante moral, que nos es necesario a todos. Yo no tengo otra distraccion en este cochino mundo. Efectivamente; tiene V. mucha razon, para decir del herbario de Willkomm lo que escribe; y no solamente es este gnero, proximamente ver V., lo que digo del gnero Thymus, apenas se publique mi trabajo. Alli digo que la estampa de Boissier del Th. hirtus es el verdadero. No pareced obra de un sajon; por mas que un amigo me dice que el Reino Vegetal de Engler450, le parece que es una empresa editorial y no verdaderamente cientifica. Con la Sociedad Espaola de H. N.451, no quiero tratos de ninguna clase; la cosa est en manos de un botarate, y yo no aguanto groserias de nadie y menos de una cuadrilla de necios y envidiosos, que no quieren disfrutar mas que los de la

C. Pau estaria a referir-se a Longinos Navs. Citada e transcrita muito sumariamente por LANZ (2000:371). 450 H. G. Adolf Engler (1844-1930), professor de botnica em Berlim, publicou com Karl Prantl (1849-1893), o monumental catlogo da flora mundial Die natrlichen Pflanzenfamilien. A primeira edio foi publicada em 1899-1914, seguindo-se uma segunda edio em 1925-1942. Prantl encarregou-se do tratamento das criptogmicas (oito volumes), enquanto Engler, em colaborao com diversos botnicos, estudou as fanerogmicas. Cada famlia descrita em pormenor e ilustrada, apresentando-se chaves para os gneros. O sistema de classificao das plantas adoptado nesta obra ainda hoje utilizado, tanto em manuais e livros de texto, como nos herbrios. Engler viajou na frica tropical e na sia e dirigiu o Jardim Botnico de Berlim (PORTER, 1959:22; MAGNIN-GONZE, 2004:197-198). 451 A Real Sociedade Espanhola de Histria Natural foi fundada em 1871. Entre os scios fundadores, contam-se distintos naturalistas espanhis como Ignacio Bolvar y Urrutia, Miguel Colmeiro y Penido e Joaqun Gonzlez Hidalgo. Actualmente, tem como objectivos o fomento do estudo da natureza, a defesa do patrimnio natural, e contribuir para a formao de professores de cincias naturais. a mais antiga sociedade cientfica espanhola privada (http://es.wikipedia.org/wiki/Real_Sociedad_Espaola_de_Historia_Natural).
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camarilla, pagando todos lo mismo. A mi tambien me han hecho algunas groserias y por este motivo, he dejado de escribir en la Espaola. Y si en el homenaje al Sr. Bolvar452 publico lo de los tomillos, es por agradecimiento a D. Ignacio; tanto, que el dia que falte este seor, si le sobrevivo, me dar de baja enseguida. Alli no tengo otro colega mas que el dicho consocio; lo demas, me han resultado suegras. G. Sampaio escreve a 23 de Maro. LANZ (2000:371) descreve o contedo desta correspondncia: pide prestamos de Gagea, ms informaciones. Dice que sale al dia siguiente hacia su casa de Pvoa-de-Lanhoso. Estou trabalhando de novo na botnica e preparo algumas publicaes para breve. A esta carta respondeu C. Pau a 3 de Abril deste ano de 1929 (Estampa IV.37.), re-abordando a questo do projecto da Flora Ibrica. As palavras de C. Pau parecem indicar que os botnicos de Barcelona (presumivelmente A. Caballero ou Font Quer) estariam a tentar que fosse ele prprio a dirigir ou elaborar esta flora peninsular. Este facto dever-se-ia a um manifesto desinteresse da parte de G. Sampaio em assumir a direco da Flora Ibrica? Mas C. Pau sente que no tem capacidade ou condies para concretizar o projecto: No escribi a V. a Povoa por el motivo de mi excursin a Cullera, una sierra que penetra en el golfo sucronense, y que desconocia. Rocas peladas de misera vegetacin y esta atrasada, e de donde no he traido grandes cosas; pero, creo que he logrado descubrir un [] Yo no tengo otro entretenimiento y paso la vida muy agradablemente y con verdadera alegria. Estos dias me han escrito de Barcelona, proponindome la publicacin de una flora peninsular; pero, me parece que yo [a frase seguinte est escrita a tinta preta, quando o restante pargrafo est a tinta vermelha] no tengo materia de mrtir. Me gustara publicarla, pero no me sujeto, tengo miedo a la esclavitud que supone un trabajo de tanta seriedad cientifica, y mi naturaleza me dice que yo ni servo, ni quiero ser santo ni sabio. Yo creo que los trabajos criticos solamente los pueden hacer los naturalistas del pais, y no los extranjeros; por poco que valga un botnico indgena, est en condiciones de superioridad sobre el estrao al pais. Ya lo ver V. prximamente en un trabajo mio sobre el gnero Thymus, llegando Boissier a publicar el Th. vulgaris como Th. hirtus Willd. En su lmina del Voyage bot. Miller, Boissier, Rouy, Rueter, etc., desconocieron el vulgarisimo Th. vulgaris espaol. Y con el el Zygis se puede decir lo mismo. G. Sampaio responde logo a 13 de Abril deste ano de 1929. um dos documentos-chave para a compreenso da vida e obra de G. Sampaio. O contedo da carta precioso para a compreenso da histria do projecto da Flora Ibrica, pois permite responder questo que formulmos no pargrafo anterior, e elaborar uma proposta interpretativa do desenrolar dos acontecimentos histricos. Existiam os conhecimentos necessrios para elaborar esta flora. Teoricamente o projecto seria exequvel, se
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C. Pau referir-se-ia a Ignacio Bolvar y Urrutia.

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ambos tivessem elan mental para aguentar a realizao de uma tarefa de to grande envergadura. Todavia a ambos faltava esta capacidade de concentrao psquica, em que a ateno teria de estar focalizada durante anos (dcadas?) seguidos num nico objectivo e objecto de estudo. O impasse da Flora Ibrica parecia contagiar a concluso da sua Flora de Portugal. O tom de desmoralizao e desnimo perante o gigantismo dos objectivos. Escrevia G. Sampaio: Chegando da Pvoa tive o prazer de encontrar a carta de V. Ex.a, assim como os exemplares de Gagea que teve a gentileza de emprestar-me e que eu devolverei daqui a alguns dias. Eu no conheo a G. pratensis var. Gusonii, nem encontro a sua diagnose453. Poder V. Ex.a enviar-me a cpia da diagnose desta variedade Gussonii ou, pelo menos, dizer-me quais as diferenas que ela apresenta do tipo da espcie? [] Aguardo, com o mximo interesse, o seu trabalho sobre os Thymus, com que muito devo aproveitar. Os trabalhos de V. Ex.a so para mim preciosos, por eles tenho aproveitado muito. Lstima que V. Ex.a no queira aceitar o encargo de escrever a Flora peninsular, que seria a coroa do seu labor verdadeiramente notvel. Como em tempos lhe comuniquei, eu desejava colaborar com V. Ex.a numa obra dessa natureza, mas os meus desgostos e o desnimo que eles me determino fizeram-me desistir desse intento. No entanto estou pronto a fornecer a V. Ex.a tudo quanto queira da flora portuguesa, com o maior prazer. Actualmente desejo apenas concluir a Flora portugueza, de que s me resta apurar um certo nmero de pontos duvidosos. Para isso fao constantes visitas, quasi todas as semanas, aos herbrios de Coimbra e de Lisboa, onde tenho verificado diferentes erros. Acabado este trabalho de apuramento, ser publicada a Flora portugueza, inteiramente refundida. E est cumprida a minha misso de botnico. Descanar e morrer na minha aldeia quanto depois me resta fazer. Levo para a sepultura o imenso pezar de o no conhecer pessoalmente e de no o poder abraar, como a um verdadeiro irmo, a quem muito quero. Unidos pelo esprito e pelo trabalho, condenou-nos o destino a vivermos materialmente sempre separados (LANZ, 2000:371-372). Neste ano a 17 de Maio uma outra carta de G. Sampaio para C. Pau: H poucos dias escrivi-lhe uma carta dizendo-lhe que no conhecia nem a Gagea Gussonei Terr. nem a sua diagnose e pedia-lhe, por isso, para me remeter os caracteres diferenciais dela para a G. pratensis. Veja como est perdida a minha memria: hontem, indo pasta

453 No Manual da Flora Portugueza e na Lista das espcies, G. Sampaio tinha considerado a existncia, em Portugal, de trs espcies de Gagea: G. foliosa R. et S.; G. Soleirolii Sch.; G. bohemica R. et S. (SAMPAIO, 1909-1914:88; 1913b:29). J. M. Miranda Lopes descobre, em Vimioso, uma Gagea nova. Em Maro de 1929, envia exemplares para G. Sampaio, pedindo a sua opinio. Querendo ter a certeza de que se tratava de uma variedade nova de G. pratensis, G. Sampaio pede a C. Pau a diagnose de G. pratensis var. Gussonei (Gagea gussonei A.Terracc.). Concluiria que a Gagea de Vimioso no era esta variedade, que alis no existia no nosso pas. A Gagea nova ser publicada por J. M. Miranda Lopes, em 1930, como Gagea nova Samp. (LOPES, 1930:272). Posteriormente, G. Sampaio design-la- como Gagea pratensis ra. nova (Samp.) Samp. (SAMPAIO, 1931b:123). Neste trabalho publicado, G. Sampaio descreve a descoberta da variedade nova, e suas caractersticas diferenciais.

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do gn. Gagea, do herbrio deste Instituto, encontro a G. Gussonei []. LANZ (2000:371-372) resume a continuao desta correspondncia: Discurre a continuacin sobre sus problemas en el gnero; con harta lucidez, naturalmente, que no es lo mismo un lapsus que tener la memoria perdida. Y acaba, muy diplomaticamente, ofrecindose a enviar materiales en prstamo. Dos anos de 1930 e 1931 no se registam trocas epistolares. Em 1932 existe a possibilidade para um encontro pessoal entre ambos, que mais uma vez no se concretizar. G. Sampaio escrevia num bilhete-postal datado de 7 de Julho de 1932: Chegando agora de Braga, tive o prazer de encontrar a carta de V. Ex.a, que me deu um grande gosto com a noticia de que vir aqui dentro de poucos dias. No imagina quanto me alegro com a sua visita! Eu estou no Porto at ao fim do mez corrente e desejaria saber a hora e dia da sua chegada para o esperar na estao do Caminho de ferro (LANZ, 2000:371-372). A 4 de Setembro escrevia G. Sampaio a C. Pau em tom de desalento: Muito pezar tive de que no viesse ao Porto, pois muito desejo abraa-lo. H muito anos que mantemos relaes scientficas, com a maior e a mais leal amizade; por isso lamentvel ser que nunca nos encontrssemos pessoalmente na vida, que para mim j no pode ser longa. Tive h dias uma pequena congesto pulmonar e os mdicos no querem que eu volte a fazer esforos fsicos. Acabaram para mim as herborizaes. Mando-lhe um pequeno retrato, como recordao que lhe quero deixar, se por ventura eu deixar de existir de um dia para o outro. Muito estimo sempre as suas notcias e muito le [lhe] desejo que tenha sade e felicidade. E mande-me, que eu no posso deixar de ter prazer em ser-lhe agradvel (LANZ, 2000:372-373). Em 1933 a troca epistolar dominada por um problema com a revista Cavanillesia. Escrevia G. Sampaio numa carta datada de 5 de Novembro: Muito desejo que esteja de boa sade; a minha, infelizmente no das melhores. Venho pedir-lhe o favor de recomendar administrao da Cavanillesia para responder se sim ou no receberam um cheque de 60 pesetas que lhes enviei em 13 de Outubro de 1932. V. Ex.a h de estar lembrado de que lhe pedi o favor de considerar este Instituto como assinante da Cavanillesia, enviando-me os n.os publicados e a respectiva conta. O meu pedido foi satisfeito e eu recebi, efectivamente, os n.os publicados e a nota da sua importncia, que era de 60 pesetas. Remeti para a Cavanillesia essa importncia, em cheque, por intermdio de um Banco. Nunca me mandaram aviso de recepo dessa quantia, e perguntando eu para a Cavanillesia se receberam ou no essas 60 pesetas, no responderam. Peo a V. Ex.a para me informar se esse cheque foi ou no recebido; pois caso no foi recebido na Cavanillesia, eu tenho de fazer uma reclamao no Banco. Algum o h de ter recebido e o Banco se encarregar de saber quem o recebeu e descontou. O que eu preciso de saber se a Cavanillesia o recebeu ou no. No compreendo porque motivo me no

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respondem num simples postal. Mando a V. Ex.a cpia da ltima carta que eu enviei Cavanillesia em 15 de Julho passado. No sei se a revista deixou de publicar-se; o que sei que nunca mais recebi fascculo algum (LANZ, 2000:372-373). C. Pau responde a 15 deste ms de Novembro de 1933454: Mi distinguido colega y muy apreciado amigo. No se puede V. imaginar, en el compromiso que me ha puesto su carta de V.; habia decidido no hacer caso de los amigos de Barcelona, no escribindoles para nada; pero su carta de V., no me lo permite, y ayer mismo, escribi al Sr. Font Quer y esperaremos su respuesta, que me apresurar a comunicar a V., apenas la reciba. Quizas no haya tenido amigo alguno, que me hubiera hecho torcer mi decisin, mas que V., y la groseria que con un amigo mio, sea cometido. No me estraa nada de lo que me cuenta en un cataln. Aqu entre los valencianos tenemos este refan: Catal, sino te lha fet, te la far. Que dice: Catalan, si no ta la ha hecho, te la har. Pero, el defecto mayor que tienen los de Barcelona, es el de que desconocen la educacion; y adems, el negocio sea como sea, antes de todo. Yo estoy muy disgustado con Cavanillesia por dos o tres gorrineras cometidas conmigo; y decidi no colaborar mas en ella. Todos quieren mi herbario; pero, todos quieren adquirirlo de momio; y yo primero le pego fuego o lo mando al extranjero, que me lotiman [lo timen]. Quien lo quiera, que lo pague. A mi, tambin me sucedi con el administrador de Cavanillesia, lo mismo que a V. An espero acuse de recibo de 50 pesetas que le remeti, por dos anualidades que le pagaba. Dame pan, y llamame socialista. Ya me dira V. el resultado, si a mi, por estar distanciado, no me quieren contestar a lo suyo. A ltima correspondncia entre ambos permanece no esplio de G. Sampaio. Trata-se de uma fotografia de C. Pau que escreveu na parte detrs: A un amigo estimado Sr. Sampaio. C. Pau. Ag. 1935 (Estampa IV.34.). Num carto-de-visita, que todavia no est datado, mas poderia acompanhar esta fotografia escreveu455: Mi distinguido amigo: Ahi van esas dos fotos y vea V. como no tengo edad para trotar por el mundo, y no para escribir tampoco trabajos de botanica. He perdido el entusiasmo y ya ni tengo ganas de trabajar ni encuentro placer en publicar novedades cientificas. Todo muere. Tengamos salud en lo poco que nos queda y lo mismo le desea a V. como siempre su amigo q. e. s. m..

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Citada e transcrita por LANZ (2000:373). Citada e transcrita por LANZ (2000:374).

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V. G. Sampaio e a nomenclatura botnica 1. G. Sampaio e a Histria da nomenclatura botnica 2. A Lista das espcies do Herbrio Portugus 3. O Congresso do Porto 1. G. Sampaio e a Histria da nomenclatura botnica Num dos seus cadernos de apontamentos, G. Sampaio escreve, em poucas pginas, a sua

histria da nomenclatura botnica (Estampa V.1.). O texto, muito sinttico, inicia-se com Nomenclatura, e termina com a seguinte frase: 1913 Sampaio: Lista das especies do herbario portugues. Pelas razes que desenvolveremos ao longo deste captulo, consideramos que esta uma das obras-chave de G. Sampaio e marca uma revoluo na taxonomia botnica no incio do sculo XX. Esta sntese da histria da nomenclatura terminando na sua Lista das espcies e a longussima lista de investigadores a quem enviou, por sua iniciativa, esta obra, mostra que G. Sampaio tambm a consideraria uma das suas mais importantes criaes. Que sntese faz G. Sampaio da histria da nomenclatura botnica? G. Sampaio deixou os captulos I - Idade antiga e II Idade media em branco e s escreveu sobre a Idade moderna. Comea com Lineu, 1753, Species plantarum. Seguidamente, 1866, em que o Congresso internacional de Botanica de Londres456, encarregou Al. De Candolle de redigir o Codigo de nomenclatura. No ano seguinte, 1867, o Congresso internacional botanico de Paris457, discutiu e aprovou o Codigo de Alph. De Candolle [Af. De Candolle]458: Lois de la nomenclature botanique459. Em 1883, Af. De Candolle publicou as Nouvelles remarques sur la

O Congresso de Botnica de Londres de 1866 decorreu de 22 a 31 de Maio. Foi assistido por 143 participantes, a grande maioria europeus. O discurso de abertura foi proferido por A. P. De Candolle (http://fr.wikipedia.org/wiki/Congres_de_botanique). 457 O Congresso de Botnica de Paris de 1867 decorreu de 16 a 23 de Agosto (http://fr.wikipedia.org/wiki/Congres_de_botanique). 458 Afonso De Candolle (1806-1874), filho de A. P. De Candolle (Agostinho Piramo), sucedeu ao pai na regncia da Cadeira de Botnica, em Genebra, e continuou a publicao do Sistema natural de 1844 a 1874 (Prodromus systematis naturalis regni vegetabilis, 10 vol., Paris). Publicou obras notveis como a Geografia botnica racional e a Origem das plantas cultivadas (Origine ds plantes cultives, Paris, 1896). Para o Congresso de Botnica de Paris de 1867, elaborou as Leis da nomenclatura botnica (Lois de la nomenclature botanique), que constituem o designado Cdigo de Paris de 1867, que completou com as Novas observaes sobre a nomenclatura botnica (Nouvelles remarques sur la nomenclature botanique, Geneve, 1883). Seu filho, Casimiro De Candolle, dedicou-se ao estudo da morfologia geral dos vegetais, publicando as Consideraes sobre o estudo da filotaxia, em 1881, e a Anatomia comparada das folhas nas famlias das dicotiledneas. Devem-se-lhe notveis estudos de fisiologia vegetal e investigaes sbre a germinao (GEPB). 459 As leis da nomenclatura botnica (o Cdigo de Paris de 1867), antes de apresentadas ao Congresso foram discutidas por uma comisso composta por Barthlemy Charles Joseph Du Mortier (1797-1878), Hugh dAlgernon Weddell (18191877), Ernest Staint-Charles Cosson (1819-1889), Jules mile Planchon (1823-1888), August Wilhelm Eichler (18391887), Louis douard Bureau (1830-1918), alm do prprio Af. De Candolle. Estas regras estabeleciam: a data de incio de toda a nomenclatura vegetal com as obras de Lineu, mas no especificava quais os trabalhos em referncia; o princpio da prioridade, sem excepes; as normas para a citao dos autores, para a publicao vlida e para a aceitao e rejeio de

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nomenclature botanique em que o autor D novos comentarios, esclarecimentos, adies e interpretaes ao Codigo de 1867 [Cdigo de Paris de 1867], dizendo que quanto aos generos de Lineu a 1.a edio do Genera plantarum (1737) que deve ser invocada. Neste mesmo ano, Asa Gray publica no Journal of Science, vol. XXVI, o trabalho Some points in Botanical Nomenclature; a revision of Nouvelles remarques sur la nomenclature botanique par M. A. de Candolle, mas G. Sampaio no faz comentrios a este trabalho. Em 1891, o dr. Otto Kuntze publica a Revisio generum plantarum460 e no ano seguinte, 1892, na Rochester Meeting (Congresso de Rochester, da Associao Americana para o Avano da Sciencia Agosto) so aprovados 7 artigos divergentes do Codigo de Paris [Cdigo de Paris de 1867] (homonimos; prioridade aos gneros de 1753, etc.)461. Neste mesmo ano realiza-se o Congresso internacional botanico de Gnova (setembro)462 que estabelece como ponto de partida da nomenclatura tanto para os gneros como para as especies o ano de 1753 (Species plantarum de Linneu), mantendo a lei da prioridade, a partir desta data, mas com excepes para generos consignados numa lista de nomina regicienda. Em nome do Comit de iniciativa, Ascherson463 apresentou uma lista de nomes a conservar, mas esta lista no foi apreciada, por falta de tempo. O congresso nomeou uma comisso para elaborar uma lista de nomes genericos a conservar (nomina conservanda). No ano seguinte, O. Kuntze publica em Junho o Codex nomenclaturae botanicae emendatus464. Em 1894 realiza-se, em Setembro, o Congresso dos naturalistas de Viena (ou Assembleia dos naturalistas de Viena em que Ascherson e Engler combatem a data de 1737 para [a] prioridade de gneros, advogando a de 1753 com um periodo de 50 anos para os generos que no forem

nomes (http://fr.wikipedia.org/wiki/Congres_de_botanique; LAWRENCE, 1973:176). As regras de Af. De Candolle foram descritas pormenorizadamente por GRAY (1907:347-358) 460 Otto Kuntze propunha a data de 1735 (1737) como a data para o incio da publicao vlida dos nomes genricos. 461 Este Cdigo de Rochester de 1892 diferia das regras de Af. De Candolle nos seguintes aspectos principais: a necessidade da existncia de tipos nomenclaturais (espcimes de herbrio) para fixar as espcies; o incio da publicao vlida com Species Plantarum de Lineu; a possibilidade do epteto especfico ser idntico ao nome do gnero (tautonmia) (TAVARES, 1958:12; LAWRENCE, 1973:177). 462 O Congresso de Botnica de Gnova de 1892 decorreu de 4 a 11 de Setembro. Foi organizado pela Sociedade Botnica de Itlia, tendo sido supervisionado por Alberto Giulio Ottone Penzig (1856-1929) e inaugurado por Giovanni Arcangeli. O Congresso manifestou-se em desacordo com as regras propostas por O. Kuntze (http://fr.wikipedia.org/wiki/Congres_de_botanique). 463 Paul Friedrich August Ascherson (1834-1913). 464 No Congresso de Botnica de Viena de 1905, O. Kuntze tentou impor, sem sucesso, as suas ideias sobre a nomenclatura botnica. LUISIER (1906:56-57) descreveu o assunto da seguinte forma: Sabidas so as exorbitantes pretenses do dr. Otto Kuntze (S. Remo) que queria ser nada menos que o unico legislador e juiz nesta questo e impr uma reforma que pde ser theoricamente recommendavel, mas que, na practica, s poderia produzir, como notou muito bem o dr. Fedde, um inextricavel chaos. O congresso fez justia a estas pretenses e, por duas vezes, ouvida a leitura dos protestos do dr. Kuntze, votou-se por unanimidade, que se passasse ordem do dia.

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binomizados durante esse periodo. Neste mesmo ano, J. Briquet465 publica a Question de nomenclature. Em 1895 Ascherson e Engler admitem a prioridade de generos e especies desde 1753, mas em vez de uma lista de excepes propem um periodo prescritivo de 50 anos para os generos que durante esse tempo no tivessem aplicao em binomes. Em jeito de observao pessoal concordante, G. Sampaio escreve a seguir Principio de bons resultados prticos. Neste ano, Lester F. Ward publica The nomenclature question e Emile Levier La Pseudo-priorit et les noms a bequilles. Em 1896, J. Briquet publica a continuao da sua Question de nomenclature. Em 1897 na Nomenklaturreg os botanicos do Museu de Berlim propoem a prescrio por 50 anos para os nomes genericos que nesse tempo no forem binomizados, mas cassando essa prescripo para os que ficam tomados em monografias e grandes obras floristicas ( este o Codigo articulado dos botanicos do Museu de Berlim)466. Em 1900 realiza-se o Congresso internacional botanico de Paris467, mas G. Sampaio no insere nenhum comentrio neste texto. Em 1903 so publicadas as Regras berlinezas (ou Regras do Museu de Berlim) que renovam o principio da prescripo. Neste mesmo ano na Preposition de changements avec lois de la nomenclature botanique de 1867 par un groupe de botanistes belges et suisses proposta a data de 1753 com uma lista de excepes que seria elaborada segundo a regra prescritiva do Museu de Berlim. Para o ano de 1904, G. Sampaio refere dois documentos elaborados por botnicos italianos e o Code de la nomenclature botanique elaborado pela comisso de nomenclatura da A. A. A. S. [American Association for the Advancement of Science] em 1904 Projecto americano.

John Isaac Briquet (1870-1931). No volume XIV do Boletim da Sociedade Broteriana (1897), J. Henriques apresentava uma introduo explicativa a estas regras e uma traduo das regras para portugus (HENRIQUES, 1897). As regras utilizadas pelos botnicos nas instituies alems eram essencialmente as seguintes: A. O nome vlido de um gnero ou espcie o nome mais antigo, vlido de acordo com as regras princpio da prioridade. B. A data de incio da publicao vlida para nomes de gneros e espcies a da publicao de Species plantarum de Lineu. C. Se o nome de um gnero no se tornar generalizado nos 50 anos posteriores sua publicao, este nome deixa de ser vlido. D. Quando uma espcie transferida de gnero, deve conservar o seu epteto especfico e o autor inicial figurar entre parntesis a seguir ao nome da espcie e antes do nome do autor que transferiu a espcie de gnero. E. Os txones novos tm de ser acompanhados de uma diagnose publicada em obra impressa. Referncias de txones novos em etiquetas de exsicatas ou catlogos comerciais no so vlidas. 467 O Congresso de Botnica de Paris de 1900 geralmente considerado como o primeiro Congresso Internacional de Botnica. Decorreu de 1 a 10 de Outubro, tendo sido presidido por Jules De Seynes (1833-1912) e assistido por 230 congressistas (http://fr.wikipedia.org/wiki/Congres_de_botanique).
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Em 1905 ocorreu o Congresso internacional botanico de Viena [Congresso de Viena de 1905]


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, mas G. Sampaio deixa essa pgina em branco. Em 1907 o American Code of botanical

nomenclature o Codigo dissidente Americano469 ao qual G. Sampaio tambm no faz comentrios. Este pequeno texto termina, como j referimos com a Lista das espcies publicada em 1913.

2. A Lista das espcies do Herbrio Portugus O Congresso de Botnica de Viena de 1905470, marca uma etapa histrica na nomenclatura botnica. Elaborado sob a forma de 58 artigos e diversas recomendaes471, o primeiro Cdigo era de tal forma coerente e moderno, que, apesar de diversas melhorias e aperfeioamentos posteriores, ainda permanece hoje como o esqueleto do Cdigo Internacional de Nomenclatura Botnica contemporneo. Quais as principais normas estabelecidas pelo Cdigo de Viena de 1905? Podemos resumi-las da seguinte forma (BRITTON, 1905; BRIQUET, 1907: LAWRENCE, 1973): A. Cada taxon s pode ter um nome vlido. Este o nome mais antigo, vlido de acordo com as regras princpio da prioridade (artigo 15.). B. A data de incio da publicao vlida para todos os txones a da 1.a edio da Species plantarum de Lineu 1753. Para os gneros referidos nesta obra, so vlidas as descries posteriores apresentadas na 5.a edio de Genera plantarum de Lineu publicada em 1754 (artigo 19.). C. Podem existir excepes aplicao estrita do Cdigo - nomes conservados (artigo 20.). Por exemplo, nomes que no tm prioridade mas que esto to enraizadas no uso botnico, cuja supresso poderia causar perturbaes e inconvenientes472.

O Cdigo de Viena de 1905, aprovado neste congresso, seria herdeiro das Regras de Af. De Candolle, contrrio s pretenses do Cdigo de Rochester de 1892, e constituiriam o esqueleto do Cdigo moderno actual (LAWRENCE, 1973:177178). Ver captulo seguinte. 469 O Cdigo Americano de Nomenclatura Botnica de 1907 era herdeiro do Cdigo de Rochester de 1892, e diferia do Cdigo de Viena de 1905 nos seguintes aspectos cruciais: recusar a existncia de nomes genricos conservados; recusar a necessidade de diagnose latina para acompanhar a publicao de novos txones; impor a necessidade da existncia de tipos nomenclaturais (LAWRENCE, 1973:178-179). 470 Constituiu o segundo Congresso Internacional de Botnica. Decorreu de 11 a 18 de Junho, tendo sido presidido por Richard von Wettstein von Wettersheim (1863-1931) e Julius von Wiesner (1838-1916), e secretariado por A. Zahlbruckner. Assistiram 500 congressistas, estando representadas mais de 200 instituies e sociedades botnicas (http://fr.wikipedia.org/wiki/Congres_de_botanique). A. Luisier, descreveu, na revista Broteria, como decorreram os trabalhos do Congresso (LUISIER, 1906). 471 A discusso da nomenclatura no Congresso de Botnica de Viena de 1905 foi liderada por J. Briquet, C. H. M. Flahault, K. Mez e Rendle. O. Kuntze tentou impedir esta discusso, declarando que o congresso era incompetente e ilegtimo, mas no teve sucesso (http://fr.wikipedia.org/wiki/Congres_de_botanique; BRITTON, 1905; LUISIER, 1906:56). O Cdigo aprovado foi baseado numa proposta elaborado por J. Briquet (LUISIER, 1906:56). 472 No Congresso de Botnica de Viena de 1905 foi aprovada uma lista (elaborada por Harms de Berlim) com 400 nomes genricos que constituiam excepes ao princpio da prioridade (BRITTON, 1905). O presidente da Comisso Americana de

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D. Todos os nomes de txones novos tm de ser publicados em obras impressas. Comunicaes orais, nomes colocados em coleces (exsicatas por exemplo) ou em jardins, no constituem publicao vlida (artigos 35. e 37.). E. A partir de 1 de Janeiro de 1908, nomes de txones novos s sero vlidos quando acompanhados de uma descrio (diagnose) em latim (artigo 36.). F. Em publicaes anteriores a 1 de Janeiro de 1908, estampas com legenda podem substituir a diagnose latina (artigo 37.). G. No entanto, se se tratar de uma combinao nova, com a categoria de espcie ou inferior (uma espcie transferida de gnero, uma espcie convertida em variedade ou vice-versa, por exemplo), considerada validamente publicada se se referenciar com preciso a uma descrio anterior. A simples indicao de um nome anterior no suficiente (artigo 37.). H. As principais categorias infra-especficas so (por ordem decrescente de hierarquia): subespcie, variedade, sub-variedade, forma e sub-forma. Podem ser criadas categorias intercalares com a condio de no provocar confuso ou erro (artigo 12.). I. A data de um nome de taxon novo a da sua publicao efectiva, que se encontra inscrita na obra (artigo 39.). J. O nome de qualquer taxon deve ser acompanhado do respectivo autor (artigo 40.). L. Quando se subdivide um gnero ou uma espcie, um dos novos txones deve manter o nome original (artigos 45. e 47.). M. Quando uma espcie transferida de gnero, o epteto especfico original tem de ser mantido, excepto se no novo gnero j existir esse epteto (artigos 48. e 53.). N. O nome de um taxon no pode ser rejeitado sob o pretexto de ter sido mal escolhido, de no ser agradavel, de que outro melhor, ou mais conhecido, [...] nem por outro motivo contestavel ou de pouco valor (artigo 50.). O. Um nome de um taxon deve ser rejeitado, nomeadamente, quando esse nome j tiver sido validamente utilizado anteriormente, quando o taxon comprehender elementos completamente incoherentes ou que possa ser origem permanente de confuso ou de erros, ou quando no obedecer s regras do Cdigo (artigo 51.). P. O nome rejeitado tem de ser substitudo pelo vlido mais antigo, respeitante ao mesmo taxon (artigo 56.).
Nomenclatura protestava contra algumas das regras do Cdigo de Viena de 1905, em particular contra estes nomes genricos conservados, num artigo publicado na revista Science logo a 13 de Outubro de 1905 (EARLE, 1905).

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Q. As regras s podem ser modificadas em Congresso Internacional de Botnica (artigo 58.). G. Sampaio discordava de algumas das regras do Cdigo de Viena de 1905 e era adepto de vrias disposies do Cdigo Americano de Nomenclatura Botnica de 1907, em particular quanto refutao dos nomes conservados e da necessidade de diagnose latina. A sua discordncia aparece formalizada e aplicada pela primeira vez na sua obra Lista das espcies representadas no Herbrio Portugus publicada em 1913 (Estampa V.2.), e seus trs apndices, publicados no ano seguinte (SAMPAIO, 1913b, 1914a, 1914b, 1914c)473. Trata-se de uma listagem de todas as espcies de plantas vasculares na altura existentes no Herbrio da Faculdade de Cincias, com os nomes de acordo com as suas regras de nomenclatura474. G. Sampaio tinha a noo que a sua obra era chocante e revolucionria porque ia contra um certo consenso estabelecido pelo Cdigo de Viena de 1905. Escrevia a A. Ricardo Jorge a 16 de Maio de 1913: Se demorar posso mandar-lhe para ahi ou para onde me indicar, um trabalho que est a imprimir e que o ha de interessar bastante, creio eu. Vai nlle toda a minha pouco sciencia, mas vai toda. Deve deitar cerca de 100 paginas e deve ficar em impresso este mez, sem falta. Ultimamente tenho adquirido muitas e boas obras antigas, entre as quais todas as do Hill475, porque andava ancioso. Com o que tenho j posso fazer coisa aceitvel e, por isso, vou deitar mos obra de reviso da nomenclatura das vasculares portuguezas, segundo os meus principios. Estou quasi resolvido a
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Estas listagens tinham, tambm, o grande mrito de restabelecer alguns binmios criados por Brotero, Link e van Hoffmansegg, que tinham prioridade e eram vlidos, mas que tinham entrado no esquecimento pela publicao, por outros botnicos, de nomes novos (mas que afinal eram sinnimos de acordo com as regras do Cdigo de Viena de 1905. 474 A. Luisier apreciava da seguinte forma estas publicaes de G. Sampaio: constitue um valioso instrumento de trabalho para todos os que estudam a flora portugusa. A nomenclatura empregada pelo Sr. Gonalo Sampaio, afasta-se, verdade, em alguns pontos das regras do congresso botanico de Vienna, mas essas pequenas divergencias provm da aplicao logica dos proprios princpios formulados pelo mesmo Congresso. Da aplicao dos principios adoptados pelo A. resulta um certo numero de combinaes binomicas novas (B, XIII:64). 475 Na Biblioteca do Departamento de Botnica (FCUP) existe um exemplar de A History of Plants de J. Hill, publicado em Londres, em 1751. Ter sido adquirido por iniciativa de G. Sampaio? interessante que no resumo da Histria da Botnica includo no programa da Botnica, publicado em 1911, G. Sampaio no mencione este importante autor ingls. Esta carta posterior, pelo que de admitir que, quando escreveu o programa da disciplina, no conhecesse a obra de Hill. Todavia G. Sampaio conhecia bem a bibliografia deste botnico ingls. Num dos seus cadernos de apontamentos sobre os tratadistas clssicos escreveu: A History of plants, London, 1751 que considera ser uma especie de Genera plantarum seguindo o criterio de Linneu. No emprega nomenclatura binaria. Na pgina seguinte, escreveu sobre The useful family herbal, London, 1754 deste mesmo autor, que considera que trata de muitos generos, dispostos por uma forma exquisita e por vezes emprega binomes para as especies. Entre os generos e binomes notaveis:. Segue-se uma lista com algumas dezenas de nomes latinos de plantas. Uma outra obra deste autor de seguida analisada: The British Herbal, London, 1756 que G. Sampaio classifica como sendo uma especie de Flora ingleza, em grande formato e com numerosas gravuras. Os principais nomes genericos e binomes que contem so:. Segue-se tambm uma lista de nomes. A seguir, ainda deste autor, G. Sampaio escreveu sobre o Index Kewensis, London, 1768 que opina tratar-se de um catalogo com descripes das especies, algumas novas. Nomes notaveis:. Na lista que seguidamente apresenta, G. Sampaio sublinha, com dois traos pretos, o binome Mariana mariana que faz equivaler a Cardus marianus Lin. G. Sampaio considerava que o gnero Mariana tinha sido efectivamente criado por este autor ingls, porque tinha sido o primeiro a binomi-lo depois de Lineu.

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inutilizar toda a parte impressa da Flora e comear uma nova impresso, que ir rpida, em harmonia com o que desejo. Deste modo sahir uma obra bonita e da minha affeio. O que est choca-me por ser heterogeneo e por conter coisas que agora emendaria. No gosto de obras imperfeitas, desde que se possam fazer melhor (BNP A/2012). Pouco tempo depois, com a impresso dos vrios apndices Lista das espcies escrevia em Maio: Desculpe-me por no lhe ter mandado o 1. suplemento. Ando muito esquecidio e o muito trabalho mais agrava o meu mal. [] Nada mais tenho publicado, embora tenha preparado um 3. suplemento e continue a trabalhar com intensidade (BNP A/2069). G. Sampaio pretendia, naturalmente, difundir pelos seus colegas botnicos as ideias contidas na Lista das espcies. Existe no seu esplio um documento importante que sugere que ter enviado exemplares para todos botnicos que conhecia (ou mesmo que no conhecia mas a quem considerava importante dar a conhecer este seu ltimo trabalho), e outras pessoas do seu relacionamento cientfico, cultural e poltico. So duas folhas de papel almao quase totalmente preenchidas. Intitula Lista das pessoas a quem enviei (+) ou vou enviar a Lista do Herbrio Portuguez da Faculdade de Sciencias (Estampa V.3.). Que botnicos esto na lista? Muitos dos mais notveis da poca. De Espanha: C. Pau, B. Merino, Fr. Sennen476, Lzaro y Ibiza e A. Luisier. De Frana: Bouly de Lesdain, J. Daveau, Abb H. Coste477, H. Leveill, A. Bouchon, Beille e G. Rouy. Da Sua: G. Beauverd, R. Chodat, H. Schinz, Hassler, A. Thellung478 e G. Mller. Da Blgica: De Wildeman479. De Itlia: L. Nicotra e A. Fiori. Da Rssia: G. Dervitsky. Da Alemanha: W. Focke, P. Ascherson, P. Graebner, A. Engler. Da Inglaterra: W. Linton e W. M. Rogers. De Portugal: Santos Motta (Braga), Julio Henriques (Coimbra), Joaquim de Mariz (Coimbra), A. X. Pereira Coutinho (Lisboa), A. Ricardo Jorge (Lisboa), Antonio Mantas (Lisboa)480, J. M. Queiroz Veloso481 (Lisboa), Sousa Junior (Lisboa), Carlos Frana (Lisboa), A. A. da

Frre Sennen (1861-1937), tienne Marcellin Granier-Blanc, era francs. O seu herbrio, constitudo por cerca de 85.000 espcimes, encontra-se actualmente no Instituto Botnico de Barcelona (http://www.institutbotanic.bcn.es/herbario.html). Bibliografia de Fr. Sennen est disponvel em http://bibdigital.rjb.csic.es/ 477 Hippolyte Jacques Coste (1858-1924), padre, dedicou-se botnica. Publicou uma Flora de Frana (1900-1906), ilustrada com desenhos originais, de grande qualidade. O seu herbrio conserva-se hoje no Instituto de Botnica da Universidade de Montpellier 2 (http://fr.wikipedia.org/wiki/Hippolyte_Coste). 478 Albert Thellung (1881-1928), botnico suo, especialista em taxonomia. 479 Emile August Joseph De Wildeman (1866-1947). 480 Antnio Mantas (1878-1939) era republicano fervoroso desde os bancos da escola. Os seus artigos primaram sempre, no s pelo vigor do ataque como pela clareza da exposio. Foi eleito deputado pela Guarda, na legislatura de 1921, e exerceu altas funes no Ministrio da Instruo (GEPB). 481 Jos Maria Queiroz Veloso nasceu em Barcelos, em 1860. Formou-se pela Academia Politcnica do Porto e pela Escola Mdico-Cirrgica do Porto. Cedo abandonou a prtica da Medicina, para se dedicar ao jornalismo. Foi um dos fundadores da Folha Nova, que teve uma influncia importante na vida cultural do Porto. Anos depois, entrou para a redaco da Provincia, onde conheceu Antero de Quental, Ea de Queirs e Carlos Mayer. Em 1892, vive em Lisboa e entra para a redaco do Novidades onde, ao tempo, estavam Eugnio de Castro e Melo Barreto. Colabora no Reporter e no Tempo. Em 1895, professor do liceu de vora, em cuja cidade tambm director da Biblioteca Pblica. Em 1900, ingressa na poltica, filiando-se no Partido Regenerador. Foi eleito deputado, em diversas legislaturas. Foi nomeado para

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Costa Ferreira (Casa Pia de Lisboa), M. de Souza da Camara (Instituto dAgronomia), J. Verissimo dAlmeida (Instituto dAgronomia), Jos de Magalhes482 (redaco da Lutta, Lisboa), Anthero F. de Seabra (Faculdade de Sciencias de Lisboa), C. Azevedo de Menezes (Bibliotheca Municipal do Funchal), Antonio Machado, Tude de Sousa483 (Servios Florestais) e A. Bensaude (Instituto Superior Technico). Alm destas individualidades tambm esto representadas largas dezenas de Jardins e Sociedades Botnicas de diversas cidades europeias e extra-europeias como Tquio, Manila, Cairo e Alger e muitas bibliotecas portuguesas Biblioteca Municipal do Porto, da Escola Mdica do Porto, da Faculdade de Sciencias do Porto, do Lyceu de Braga, Biblioteca Publica de Braga e da Associao Academica do Porto. Que regras discordantes apresentava G. Sampaio? Estas so claramente enunciadas e justificadas na introduo primeira Lista das espcies publicada em Julho de 1913. As trs mais importantes eram as seguintes: A. Para os nomes de gneros, restringir o princpio da prioridade a nomes que tenham sido usados na criao de binmios. Um nome de um gnero s se torna vlido quando for utilizado na formao de um binmio especfico, em data posterior a 1753. Escrevia G. Sampaio: Esse congresso [de Viena], fixando como ponto de partida para a nomenclatura dos gneros a data de 1753, aceitou e consagrou, ipso facto, a boa doutrina dos que sustentavam que nenhuns nomes genricos deviam prevalecer s pela circunstncia de serem mais antigos contra os que Linneu binomizou na 1.a edio do Species plantarum. Ora isto reconhecer, evidentemente, que o ser um termo empregado na formao de binomes especficos o que lhe constitui, fundamentalmente, a base da prioridade em nomenclatura binria. E no se deixe de acentuar que um tal critrio realiza melhor que nenhum outro o

governador civil em Viana do Castelo. Aps a instaurao da Repblica, foi director da Faculdade de Letras de Lisboa (em vrios mandatos) e vice-reitor da Universidade de Lisboa. Desempenhou vrios cargos na Direco Geral de Instruo Pblica e no Ministrio da Instruo Pblica. Foi scio da Academia das Cincias de Lisboa e da Academia Portuguesa de Histria. Jubilou-se em 1950. um dos raros exemplos de longevidade em plena posse das suas faculdades intelectuais e de verdadeiro esprito produtivo. Tem sido um dos mais entusisticos propugnadores do intercmbio luso-espanhol (GEPB). 482 Jos Antnio de Magalhes nasceu em 1867. Formou-se em medicina, em 1889, na Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa (juntamente com Cmara Pestana). Foi professor de Patologia da Escola de Medicina Tropical (cargo de que foi jubilado), e mdico no Hospital da Marinha, no Arsenal de Marinha e a bordo de navios de guerra e navios-hospitais. Exerceu medicina em Angola, Moambique, e na Guin. Realizou vrias conferncias sobre assuntos sociais e pedaggicos. Antes do advento do regime republicano, tomou parte numa srie de conferncias sobre educao popular, realizadas na Voz do Operrio e no Ateneu Comercial, organizadas por um grupo de colaboradores do jornal A Luta. Em 1913 realizou, na Universidade Livre, um curso de Psicologia em dez lies, com demonstraes prticas e exerccios. Colaborou intensamente em revistas mdicas e jornais (GEPB). 483 Tude Martins de Sousa (1874-1951) concluiu o curso de regente-agrcola na Escola de Agricultura de Coimbra, em 1893. De 1904 a 1915, foi regente-florestal na Serra do Gers. Exerceu alguns cargos nos servios prisionais (GEPB).

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principal fim para que se convocou aquela assembleia: procurar o meio de obstar, o mais possvel, substituio de antigas por novas combinaes binmicas. B. O autor original do nome do taxon deve manter-se. De acordo com as regras em vigor, a publicao vlida dos txones de plantas vasculares comeava em Lineu. Mas, enquanto que em relao aos binomes especficos, muitos tinham sido efectivamente criados pelo botnico sueco484, a maioria dos nomes genricos era pr-lineanos Lineu tinha-os adoptado, modificando alguns e mantendo a maioria. Para G. Sampaio era injusto omitir a autoria destes gneros pr-lineanos, os quais tinham sido definidos, com um conceito moderno de gnero, pela primeira vez, por Boerhaave485, Dillenius, Micheli, Rivinus, Rupp, Vaillant e sobretudo por Tournefort486. Existia ainda uma discordncia fundamental entre o ponto de vista de G. Sampaio e o de Lineu relativamente autoria dos nomes genricos pr-lineanos. Para G. Sampaio, Rivinus era efectivamente o autor de muitos dos gneros pr-lineanos, dado que tinha sido o primeiro botnico que os tinha bem caracterizado. Para Lineu a autoria destes gneros deveria ser atribuda a Tournefort, que segundo G. Sampaio os tinha citado a partir de Rivnio. C. No aceitar excepes s regras, como os nomes conservados. Escrevia G. Sampaio: Uma lista de excepes, por ltimo, reprovo-a em absoluto, porque representa a condenao dos prprios princpios da nomenclatura. Ou um nome est de harmonia com as regras estabelecidas e aceita-se, ou no est e, nesse caso, regeitado. Alem disso, a pouca coerncia da lista aprovada pelo congresso torna-se manifesta, desde que se comparem os nomes que ele rejeitou com outros que, no os mencionando, parece admitir. G. Sampaio tinha um esprito resoluto e determinado, e no s prope regras discordantes, como demonstra que so exequveis, aplicando-as flora do nosso pas. Mas para as aplicar na Listas

Muitos dos autores pr-lineanos utilizam efectivamente uma nomenclatura polinomial para designar as espcies, sistema dificil de manusear e sistematizar. Uma das criaes geniais de Lineu foi a aplicao da nomenclatura binria a todas as espcies biolgicas conhecidas na poca. O sistema binomial era muito mais fcil de organizar e sistematizar do que a nomenclatura polinomial. Ver captulo III.1. 485 Hermann Boerhaave (1668-1738), mdico holands, foi nomeado professor de medicina e botnica da Universidade de Leida, em 1690. Foi director do Jardim Botnico de Leida, que ampliou e melhorou substancialmente (MAGNIN-GONZE, 2004:111; MLLER-WILLE & REEDS, 2007). 486 Apesar de G. Sampaio considerar estes botnicos como os autores dos gneros pr-lineanos, a maioria dos nomes -lhes anteriores, alguns datam at de Dioscorides e Plnio. A obsesso pela verdadeira autoria dos nomes dos gneros, fez G. Sampaio escrever, num dos exemplares da Lista das espcies, para os gneros pr-lineanos, o nome dos autores que considerava serem os verdadeiros.

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das espcies teve que fazer uma consulta exaustiva dos autores pr-lineanos487 e das obras clssicas ps-Lineu488. O trabalho foi gigantesco.

3. O Congresso do Porto As questes da nomenclatura botnica sero retomadas por G. Sampaio alguns anos mais tarde, no Oitavo Congresso da Asociacin Espaola para el Progreso de las Ciencias (realizado conjuntamente com o Primeiro Congresso da Associao Portuguesa para o Progresso das Cincias), que decorreu no Porto de 26 de Junho a 1 de Julho de 1921489. A sesso de abertura do congresso foi
A consulta da bibliografia pr-lineana era tambm indispensvel para G. Sampaio delinear a sua Histria da Botnica. Qual das duas vertentes ter suscitado os primeiros interesses de G. Sampaio? 488 Nomeadamente de Boissier, Brotero, Cavanilles, Af. De Candolle, Decaisne, Link y van Hoffmansegg, Lacaita, Lagasca, Lamarck, Loscos y Willkomm. 489 J. S. Tavares, que, com A. Luisier, assistiu e participou no Congresso do Porto, descreveu a reunio, em traos gerais, num artigo publicado na revista Broteria (TAVARES, 1921). J. S. Tavares, assim como os restantes membros da Companhia de Jesus, tinha sido expulso de Portugal, aps a instaurao de Repblica. Em 1921, diversos dos fundadores e redactores da Broteria viviam no Colegio del Pasaje, em La Guardia, na Galiza. Aps 11 anos de exlio, a participao de J. S. Tavares numa reunio desta dimenso, com centenas de investigadores portugueses e espanhis, teve em si um grande impacto, e explica a importncia que d, no incio do seu texto, ao que denomina de intercmbio cientfico: No nos poucos dias que duram os congressos, em grande parte occupados em diverses e festas, que se fazem descobrimentos scientificos, nem a elles se destinam essas reunies. O resultado prtico de maior monta o chamado intercmbio scientifico, quere dizer, as relaes que se estabelecem ou se estreitam entre scientistas da mesma especialidade, para se auxiliarem com o estmulo da emulao e com o saber mtuo de experincias e investigaes feito. Este intercmbio tem summa importncia, no tanto por occasio do congresso, como sobretudo nos tempos subsequentes. Verdade que, muita vez, j nos dias do congresso essa vantagem se pode apalpar visivelmente, no s nas conferncias pblicas feitas geralmente pelos homens mais eminentes, mas ainda pelas explicaes dadas de viva voz com a apresentao e discusso das comunicaes. Tambm no raro, que alguns naturalistas apresentem ao Congresso os seus trabalhos prticos de colleces e preparaes microscpicas, como fizeram na seco de Anatomia do Congresso Internacional de Medicina em Lisboa, onde nos mostraram preparaes microscpicas notveis. Na Seco de Medicina do Congresso do Prto, no s estavam patentes aos Congressistas os Laboratrios e Museus da Faculdade respectiva, e bem assim os Hospitais, mas ainda vrios cirurgies do Prto dedicaram aos Congressistas diversas sesses de demonstrao operatria. Accrescem para os naturalistas as excurses ao campo feitas por toda a Seco, ou mais ordinriamente por grupos de particulares. Assim, na Subseco de Biologia, foi organizada uma excurso em que entraram 5 entomologistas, trs de Madrid Drs. J. Dusmet, C. Bolvar e C. Ceballos e dois portugueses Correia de Barros e o padre Tavares distncia de 20 kilmetros do Prto, no magnfico automvel em que o Sr. J. Dusmet viera de Madrid. Este facto leva-nos j a outra vantagem particular do Congresso do Prto e foi a unio e estreitamento de relaes entre os scientistas portugueses e espanhis, muita vez to distanciados por dios e rivalidades seculares de raa e de nacionalidade. Esta unio foi apregoada por todas as formas, pode dizer-se em todos os discursos das solennes sesses de inaugurao e encerramento, em tdas as saudaes officiais e no officiais, nas festas celebradas em honra dos Congressistas, e nas sesses ordinrias das diversas Seces, sendo mtuos os elogios e calorosos os vivas a Espanha e a Portugal, e saindo dessas manifestaes entusisticas mais vivo e incendiado o patriotismo. As duas naes rivalizaram como num grande certame: cada uma apresentou os seus scientistas mais notveis e estes, por sua vez, estadearam os seus descobrimentos scientificos, nas exposies de instrumentos para o progresso das scincias e da indstria, e nas innmeras communicaes feitas s 8 Seces do Congresso. Cada scientista de persi uma unidade a concorrer com a sua cota parte para o progresso scientifico; todos ou muitos juntos formam uma pliade brilhante que muito honra a Pennsula Ibrica, que muito anima ao trabalho scientfico, que estimula muitas actividades latentes, que nos reprehende a indolncia, que muito desperta a nobre emulao e o pundonor, mostrando que acima da vil politicagem e dos bens materiais, um interesse se alevanta superior a scincia com as diversas actividades da industria e do progresso que da mesma scincia, bem orientada, dimanam. De seguida, a apreciao de J. S. Tavares entra num tom de confiana, patriotismo e auto-estima da nao portuguesa e da Pennsula Ibrica (em que no deixa de mencionar a proscrio da Companhia de Jesus), qui aguado pelo seu longo exlio de 11 anos, que bem contrasta com o pessimismo de G. Sampaio (ver captulo I.4.). Em Portugal ento, esta manifestao da actividade intellectual, perante a qual houve uma qusi trgua
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realizada no Teatro de So Joo, no dia 26 de Junho de 1921, tendo o discurso inaugural sido proferido por Gomes Teixeira, reitor honorrio da Universidade do Porto. Os discursos da inaugurao das seces foram tambm lidos no dia 26 de Junho de 1921. Na 4. seco, Cincias Naturais, o discurso inaugural foi proferido por G. Sampaio, e focou precisamente a Reviso das regras da nomenclatura botnica490 (SAMPAIO, 1921c) (Estampa V.4.). Oito anos passados sobre a publicao da primeira Lista das espcies, mantinha G. Sampaio as suas ideias originais e pessoais sobre a nomenclatura botnica? G. Sampaio mantinha, no essencial, as suas posies. Alis ir mant-las at ao fim da sua produo cientfica, chegando a publicar em 1931 um artigo s dedicado questo da taxonomia e nomenclatura dos gneros (SAMPAIO, 1931a). O discurso de G. Sampaio na abertura da 4.a seco do Congresso do Porto segue o seu estilo habitual autoconfiante, contundente, implacvel e com alguma ironia. Interpretemos o essencial. G. Sampaio comea por recordar que o Congresso espanhol de Sevilha realizado em 1917, ao qual tinha assistido, o tinha encarregado de uma reviso urgente s regras internacionais de nomenclatura botnica em vigor. Seguidamente chama a ateno para a importncia da nomenclatura biolgica, e sobretudo necessidade de existirem regras precisas para o seu uso: uma linguagem to opulente pela quantidade de nomes que, a no ser muito racionalmente estabelecida e precisamente regrada o mais metdica, o mais uniforme, o mais mnemnica e o mais simples possvel tornar-seia um babel na scincia, em vez de ser, como deve ser, um meio claro de compreenso.

e se abateram dios e todas as luctas mesquinhas, sentando-se juntos e confraternizando scientficamente nas sesses ordinrias monrchicos e republicanos de todos os partidos, sacerdotes sem excluso de jesutas da Associao Espanhola, ao lado de professores primrios, de senhoras illustradas e de scientistas de todas as categorias, essa manifestao intellectual ou assembleia selectssima de cerca de 2.000 Congressistas, dizia eu, foi de summa importncia para soerguer o esprito nacional abatido por tantas calamidades e luctas estreis. Alli pde cada qual reconhecer, que a scincia nacional, mais cultivada do que fariam suppor tantos contratempos e reveses, no envergonhou Portugal perante os sbios espanhis que, tantos em nmero cerca de 500 -, concorreram quelle certame. E tambm se mostrou ao mundo illustrado, como j indiquei noutro lugar, que a scincia da Pennsula, em todos os ramos da actividade intellectual, no anda to atrasada como crem algumas naes rivais. O Congresso do Porto no faria m figura se celebrara as suas sesses em Paris, em Roma ou nalguma outra cidade onde mais se cultivam as scincias. As naes que, como Espanha e Portugal, podem ao mundo apresentar citologistas como Ramn y Cajal, mathemticos como Gomes Teixeira, chmicos como Ferreira da Silva e o padre Victoria, physicos como Virglio Machado, entomologistas como Bolvar e o padre Navs, e botnicos como Jlio Henriques, C. Pau e Gonalo Sampaio, para no citar seno meia dzia de nomes dentre uma pliade luzidssima de scientistas e investigadores dos segredos da natureza; tais pases nada tm que ruborizar perante a scincia estrangeira, nem se podem dizer naes mortas, por quanto tais se devem considerar to somente aquellas que no apreciam nem cultivam a scincia. Para J. S. Tavares, o saldo do Congresso do Porto era muito positivo, e a confiana nos investigadores portugueses (e espanhis) e nos seus trabalhos, elevada. 490 J. S. Tavares descreveu os trabalhos iniciais da 4. seco da seguinte forma (TAVARES, 1921): O discurso inaugural foi feito pelo sr. prof. Gonalo Sampaio, da Universidade do Porto, e versou sbre Reviso das regras de nomenclatura botnica. Pelo grande nmero de communicaes 54 em portugus e 33 em castelhano fz-se mester subdividir esta Seco em duas Subseces que trabalharam independentes: uma de Biologia, e outra de Scincias Geolgicas e Anthropolgicas. Nesta, realizou-se a conferncia com projeces, do sr. D. Lucas Fernndez Navarro, da Universidade de Madrid, sbre La Piedra de Manzanares. Topologa de una regin grantica bien tpica.

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Na nomenclatura botnica, a maior dificuldade que ainda nos oferece [...] reside na parte relativa aos gneros, que por ora se no encontra regulamentada de forma inteiramente satisfatria. Seguidamente G. Sampaio faz um historial do conceito de gnero, citando a formulao de Gesner, Tournefort, e finalmente Lineu. Ora para G. Sampaio, Lineu teve os mais assignalados mritos, mas em relao aos gneros o seu trabalho criticvel: refundiu grande nmero dos gneros de Tournefort e de Ray, ao mesmo tempo que mudou discricionariamente as denominaes de outros, sem respeito pela prioridade, e transferiu o significado de muitos, creando assim uma homonmia extremamente perturbadora da clareza e da tradio. G. Sampaio faz ento um historial dos Cdigos de nomenclatura at ao de Viena. Detm-se neste cdigo que contm regras excelentes mas que no so suficientemente completas e precisas em certos pontos. G. Sampaio focaliza ento o seu discurso nas suas discordncias relativamente ao Cdigo de Viena de 1905. Comea por discordar das excepes ao princpio da prioridade, como os nomes conservados ou rejeitados, que constituem uma quebra sempre complicadora das regras. G. Sampaio acharia prefervel a regra utilizada pelos botnicos alemes no final do sculo XIX que previa a prescrio dos nomes dos gneros no usados ao fim de meio sculo. Mas para G. Sampaio a soluo que preconiza a de ceder a prioridade aos nomes de gneros s quando so usados na formao de binomes especficos porque verifica-se com facilidade que entre dois ou mais sinnimos genricos publicados depois de 1753 aquele que se perpetuou ou mais se generalizou no uso dos botnicos foi, por via de regra, o que primeiro teve emprego na formao de binomes especficos, embora por vezes mais novo que os outros. Seguidamente aplica a sua regra nomenclatura de diversos gneros da flora portuguesa, concluindo pelas suas vantagens. Seguidamente aborda a questo da autoria dos nomes dos txones. Na Lista das espcies, G. Sampaio tinha defendido a autoria taxativa e explcita dos nomes criados por autores pr-lineanos, que, pelo Cdigo de Viena de 1905, seriam substitudos pelo de Lineu. G. Sampaio pretendia justamente homenagear todos os grandes botnicos pr-lineanos, que afinal tinham uma quota-parte na revoluo lineana. Que posio apresenta agora G. Sampaio? No mantm a posio inicial, mas a sua nova formulao o autor separado do validador - pretende continuar a homenagear os verdadeiros autores dos nomes pr-Lineu: necessidade urgente que existe, hoje mais que nunca, de separar as noes de validao e de autoria dos nomes taxinmicos [...] nada mais falso e mais inquo, realmente, do que atribuir a um botnico moderno os nomes genricos ou especficos estabelecidos pelos autores prelineanos, nomes que esse botnico no creou mas simplesmente validou, por se ter limitado a

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adopta-los nas suas obras depois de 1753 [...]. G. Sampaio formulava a seguinte pergunta, sabendo que tinha razo: porque Lineu ou Miller aceitaram, com os respectivos ttulos, gneros de Rivinus, de Ray, de Tournefort [Estampa V.5.], de Dillenius [Estampa V.6.] e de outros, deveremos ns considerar Lineu ou Miller como autores dessas creaes, de mais a mais quando eles prprios as indicam como sendo daqueles tratadistas anteriores?. De seguida, perguntava de outra forma, evocando a verdade e a justia, valores to caros ao seu comportamento e tica: Com que verdade e com que justia se pode escrever: Carlina Lin., Linaria Mill., Hedypnois All. e Corydalis Med., se estes gneros foram originalmente definidos e assim denominados no por Lineu, Miller, Allioni e Mdicus mas sim, respectivamente, por Ray, Rivinus, Tournefort e Dillenius? [...] Suprimir as firmas de autoria destes grandes botnicos antigos que se chamaram Lobelius, Clusius, Dodaneus, C. Bauhinus, Rivinus, Ray, Tournefort e Dillenius, para as substituir pelas dos modernos s vezes bem menos importantes cometer simultaneamente tres espcies de aces recriminveis: 1. afirmar uma falsidade por cada substituio; 2. praticar uma injustia com o autor espoliado; 3. apagar vestgios de uma poca que foi verdadeiramente prodigiosa pela grandesa do trabalho e da f scientifica. Qual a forma que G. Sampaio prope para homenagear os botnicos pr-lineanos? escrever entre colchetes e adiante do autor antigo de uma designao, quer do gnero quer da espcie, o botnico moderno que a validou, isto , que pela primeira vez a empregou a partir de 1753. Deste modo teramos para os gneros: Fumaria Riv. [Lin.], Dracunlus Tour. [Mill.], Cakile Tour. [Gaert.], Lobelia Plum. [Lin.], Narthecium Moerh. [Huds.], Calocasia Boerh. [Scot.], Crupina Dill. [Cass.]. Quase no final da sua palestra, G. Sampaio retoma as crticas abordagem que Lineu fez dos gneros na sua obra botnica: Quasi todas as pessoas de uma certa cultura teem a ideia errnea de que a botnica descritiva saiu de um jacto das mos de Lineu e que foi ele, na realidade, quem deu a conhecer scincia a imensa quantidade de gneros e de plantas cujas denominaes trazem a sua assignatura. Ora a verdade que os gneros e as espcies que este naturalista descreveu originariamente so em nmero muito reduzido e que o facto de se encontrar a sua firma na maior parte dos nomes taxinmicos resulta principalmente: 1. de ter passado forma binria um elevadssimo nmero de designaes polinmicas dos antigos - pertencentes muitas a vegetais que nem conhecia -; 2. de ter mudado arbritariamente os nomes de vrios gneros, assim como os de muitas espcies j designadas binariamente; 3. de lhe serem indevidamente atribudos muitos nomes que ele no creou mas apenas adaptou. Suprimindo estes ltimos, que devem regressar posse dos seus legtimos autores, muito se contribuir, portanto, para que da obra do grande sueco se no tenha um conceito to exageradamente falso como em geral feito.

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G. Sampaio terminava o discurso no seu tom habitual. Afirmava que as regras do Cdigo de Viena de 1905 no conseguiram ainda impor-se, em 16 anos, a uma considerao tal dos botnicos que possa dar esperanas de vir a ser quasi geral; muitos so os que as no seguem, por desacordo com algumas das suas disposies, e em Portugal e na Hespanha no conheo um nico que as pratique, embora alguns possam haver que delas se julguem partidrios. Finalmente em tom de confiante iberismo: ao actual Congresso, [...] no faltam autoridade, competncia e patriotismo para promover a preparao de um Cdigo hispano-portugus de nomenclatura botnica, em que se afirme tambm o vigor e a independncia mental da nossa raa para a soluo dos seus problemas scientficos de maior actualidade. Efectivamente G. Sampaio faz aprovar, no ltimo dia do Congresso do Porto (1 de Julho de 1921), um mini-Cdigo de Nomenclatura Botnica, constitudo por nove artigos491 (VOTO, 1922) (Estampa V.7.). Qual o contedo deste mini-Cdigo hispano-portugus? A essncia do que tinha sido defendido no discurso de abertura. No artigo 1. afirmava-se que a data de incio da publicao vlida no admitia excepes: para cada tipo ou grupo taxinmico s se pode adoptar em ciencia uma nica designao (nome ou binome), a qual ser sempre a primeira publicada, a partir de 1753, com as condies de validade exigidas pelas regras. A palavra sempre est em itlico no texto, pretendendo reforar o seu significado. No eram portanto admitidos os nomes conservados. No artigo 3. afirmavase que os nomes genricos no se podem considerar vlidos antes de serem empregados na constituio de binomes especficos, a partir de 1753. Nos artigos 8. e 9. distinguia-se o autor do txon do seu validador: Artigo 8.. A validao de nomes taxinmicos alheios no confere ao validador a autoria desses nomes, a no ser que este lhes altere inteiramente o significado. 1. Considera-se validador de um nome taxinmico o primeiro que o empregou, a partir de 1753, em condies de validade. 2. Considera-se autor de um binome vlido ou validado o primeiro que o empregou, em qualquer poca, para designar a respectiva espcie. 3. Considera-se autor de um nome genrico o primeiro que o empregou quer em binome vlido ou validado, quer como designao de um gnero devidamente definido. Artigo 9.. Depois do nome de um tipo ou grupo dever-se- indicar

J. S. Tavares apreciou da seguinte forma estas resolues do Congresso do Porto (TAVARES, 1921): Com serem estas, vantagens importantssimas, outras h ainda no Congresso do Prto que cumpre considerar, e vm a ser as resolues tomadas nas differentes Seces ou apresentadas na sesso de encerramento. Uma das mais importantes sem dvida a proposta do sr. Gonalo Sampaio, na Subseco de Biologia, para a unificao da nomenclatura botnica, proposta que foi provisriamente adoptada nas bases apresentadas pelo illustre professor, sendo logo nomeada uma commiso composta de dois botnicos portugueses o proponente e o sr. dr. Antnio Machado e outros dois espanhis srs. Carlos Pau e R. Fragoso para no entanto estudar o assumpto e apresentar no Congresso de 1923 em Salamanca as bases do cdigo definitivo.

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sempre, e nas condies das regras, o respectivo autor; nos nomes de origem prelineana podero as obras eruditas indicar ainda o validador, entre colchetes e seguidamente ao autr. Todavia este cdigo hispano-portugus concordava em muitas disposies com o Cdigo de Viena de 1905. O artigo 6. correspondia aos artigos 48. e 53. do Cdigo de Viena, respeitantes manuteno do epteto especfico de espcies que so transferidas de gnero. O artigo 7. tinha o teor dos artigos 45. e 47. do Cdigo de Viena, respeitantes manuteno do nome do taxon quando este subdividido. Que avaliao se pode fazer destas propostas de G. Sampaio, discordantes do Cdigo de Viena de 1905? A limitao da prioridade dos nomes genricos era herdeira da regra que os Jardins e Museus Botnicos alemes usavam no fim do sculo XIX, que previa a prescrio dos nomes de gneros que no fossem usados na formao de nomes de espcies, ao fim de 50 anos da sua criao. O carcter moderador e clarificador desta regra incontestvel, dado que existe no actual Cdigo de Nomenclatura Zoolgica. A inexistncia de nomes conservados e a explicitao do autor efectivo do txon confeririam, sem dvida, uma maior coerncia interna, transparncia e carcter orgnico nomenclatura botnica (regras simples, universais, sem excepes, autoria explcita), mas a sua aplicao obrigaria a que se procedesse a uma reviso completa dos nomes dos gneros e das espcies e dos seus autores, de que resultaria um elevadssimo nmero de alteraes nomenclaturais. Talvez por G. Sampaio propor uma revoluo na taxonomia botnica um corte drstico com o passado -, as suas propostas no foram incorporadas nos cdigos de nomenclatura subsequentes e no cdigo actualmente em vigor492.

O Cdigo de nomenclatura actualmente em vigor, no seu artigo 46., prev que se possa indicar, facultativamente, o autor original do taxon, seguido de ex, antes do nome do seu validador. Assim o gnero Lupinus criado por Tournefort e validado por Lineu pode ser citado como Lupinus Tourn. ex L. (1753). Esta formulao aproxima-se da de G. Sampaio, mas no tem a nfase no autor original que G. Sampaio sempre afirmou. No cdigo hispano-portugus, a indicao do autor do taxon era obrigatria, a do validador facultativa. No Cdigo moderno ocorre o oposto.

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VI. G. Sampaio e o ensino 1. O ensino elementar da Botnica 2. O ensino universitrio da Botnica 3. G. Sampaio, professor de Zoologia da Faculdade de Cincias 1. O ensino elementar da Botnica G. Sampaio dedicou naturalmente o seu empenho no ensino universitrio da Botnica. No entanto, existem documentos que provam que o ensino da Botnica a nvel elementar tambm foi objecto de estudo e dedicao por parte de G. Sampaio. Os seus colegas de Lisboa e de Coimbra A. X. Pereira Coutinho e J. Henriques, tinham publicado alguns manuais de botnica para o ensino elementar ou liceal493. A. X. Pereira Coutinho tinha mesmo uma longussima bibliografia nesta matria, tendo publicado manuais para muitas das reformas do ensino que ocorreram nas primeiras dcadas do sculo XX. A vocao docente de G. Sampaio (aliada a uma notvel capacidade de sntese e elaborao) ter sido precoce. Em 1890 inscreve-se na Academia Politcnica do Porto. Existe no seu esplio documental um manuscrito intitulado Curso dos Lyceus. Historia Natural. II. Botanica por Gnalo Sampaio, alumno da Polytechnica do Porto, 1891. Seria o resultado da frequncia das aulas de botnica, neste ano leccionadas pelo seu lente-proprietrio, Manoel Amandio Gonalves494? Trata-se de um caderno de capa preta, com algumas dezenas de pginas, escritas com tinta e caligrafia variveis, e com abundantes rasuras. O texto aborda os seguintes tpicos: estrutura da clula vegetal; tecidos vegetais; fisiologia e nutrio vegetais; estrutura da flor e do fruto; reproduo; classificao; caractersticas dos principais grupos - dos fungos s angiosprmicas; caractersticas diferenciadoras das principais famlias, com referncia a espcies relevantes (com indicao do nome vulgar e respectivo binome latino). No final existe uma lista de Estampas com 118 ttulos. Trata-se de um texto curto, mas de grande equilbrio sinttico. A nfase na descrio das famlias parece antever a predileco de G. Sampaio pela taxonomia vegetal. Existe no esplio documental de G. Sampaio, um rascunho de uma carta, datado de 28 de Agosto de 1913, que G. Sampaio pensava enviar (ou ter enviado) para o Ministro da Instruo (Estampa VI.1.). Nesta carta, G. Sampaio propunha-se elaborar um compndio de botnica para os

Mencionados nas biografias destes dois botnicos apresentadas no captulo IV.1. Manoel Amandio Gonalves nasceu no Porto em 1861. Bacharel em Filosofia pela Universidade de Coimbra, foi nomeado lente-substituto da seco de Filosofia da Academia Politcnica do Porto por Decreto de 19 de Junho de 1884, e lente-proprietrio da 11. Cadeira - Zoologia desta Academia, por Decreto de 14 de Agosto de 1885. Em 1890 transitava para a Cadeira de Botnica. Em 1912, por motivo de doena, foi substitudo na regncia da Botnica por G. Sampaio. Aposentou-se em 1915 (PIRES DE LIMA, 1942:31-32; FCP, 1969:245).
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liceus: Perdoe-me V. Ex.a por tomar-lhe tempo, que deve ser coisa bem preciosa e escassa para um ministro. No entanto eu tenho absoluta necessidade de expor a V. Ex.a o seguinte: Estou aqui na aldeia, trabalhando sem descano nuns livrinhos de botnica para os liceus. O meu desejo harmonizar o que se estude nos liceus com o que se estuda, depois, nas universidades. um grave inconveniente que os estudantes tenham, nos cursos superiores, de se verem na dura necessidade de esquecere o que lhes ensinaram nas escolas mdias e estudar coisas elementares ou gerais, de novo. O meu programa na Universidade do Porto est em completa desarmonia com o da instruo secundaria; da mesma forma o est o da Universidade de Lisboa publicado ultimamente que confere sensivelmente com o que publiquei h dois anos. Com este proposito de harmonizar os dois ensinos o do liceu e o da Universidade comecei a escrever o livrinho das 3 primeiras classes. O programa liceal est longe, e muito, de ser bom; mas aceitavel, desde que se lhe faa uma pequena alterao no na quantidade e natureza das materias, mas apenas na sua disposio. Poderei eu esperar que com essa alterao nos meus livritos eles possam de futuro ser aprovados? A alterao que proponho esta: 1.a classe Morfologia externa. 2.a classe Histologia. 3.a classe Fisiologia da nutrio. 4.a classe Fisiologia da reproduo. 5.a classe Classificao. 6.a classe Reviso da morfologia e fisiologia. 7.a classe Botanica especial. Isto no altera muito pela natureza dos materiais, o que est que na disposio uma salgalhada enorme mas melhorou-o muito. Demais, como na 5.a classe acaba para os alunos do curso de letras o estudo da botanica, no se compreende que eles fiquem com o curso cortado, como ficam actualmente. Por isso como proponho melhor, porque estudam todos os alunos a morfologia externa e interna, a fisiologia e, por fim, no 5.o ano, a classificao. Os que seguem letras ficam com um curso completo, embora elementar; os que vo para scincias apenas revm na 6.a classe tudo que estudaram antes e aperfeioam os seus conhecimentos aprofundando-os com a botanica especial, na 7.a classe. Desejava o conselho de V. Ex.a. Devo fazer os livros segundo este plano ou seguir risca os programas? Desculpe-me V. Ex.a esta impertinencia. Existe no esplio documental de G. Sampaio, o manuscrito deste pequeno curso de Botnica do curso dos liceus (1.a, 2.a, 3.a, 4.a, 5.a classes) (Estampa VI.2.) Trata-se de um documento constitudo por dois cadernos manuscritos, com letras muito variadas e muitas emendas e rasuras. O prefcio est datado de 20 de Agosto de 1913 e foi escrito em S. Gens de Calvos, Pvoa de Lanhoso. Foi portanto escrito pouco dias antes da carta que mencionamos atrs. A obra ter assim provavelmente sido escrita em diversas ocasies e finalizada no Vero de 1913. Para alguns captulos existem, s vezes, duas verses, uma seria um rascunho inicial, a outra, a verso mais finalizada. Como na maioria das suas obras, G. Sampaio incorpora, neste prefcio, muitas observaes pessoais e forma de pensar.

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Comea por referir que considerava que a instruo liceal deveria ser ministrada no por classes mas sim por por disciplinas isoladas e completas, embora sriadas numa ordem logicamente estabelecida. Seguidamente refere que um dos seus objectivos era harmonizar os conhecimentos adquiridos pelos estudantes na instruo secundria com os que, mais tarde, tero de receber nas nossas universidades. Um dos pargrafos seguintes dedicado ao mtodo de ensinar a Botnica nos liceus: o ensino dos liceus deve incidir mais sbre a educao logica e geral do esprito dos alunos, pelo desenvolvimento das faculdades de percepo e memria, pelo exerccio da anlise metdica, pela aquisio de rigor e facilidade no raciocnio e pelo aperfeioamento da exposio verbal e escrita, do que sbre o preparo de uma instruo intensa em cada scincia [...] o ensino secundrio deve sobretudo ministrar bem, e com especial cuidado, os conhecimentos que constituem os princpios basilares e as noes gerais [...] no procurando versar os assuntos com aquela particularidade que transformaria os liceus em autnticas universidades. Apesar de ser omisso quanto necessidade de um ensino prtico e experimental da Botnica, mesmo a nvel pr-universitrio, G. Sampaio tem razo quando apela para uma clara separao entre a profundidade de um ensino liceal em relao ao universitrio, no se devendo colocar nos programas do ensino liceal, assuntos particulares ou de pormenor. No ltimo pargrafo deste prefcio, G. Sampaio assume-se contra as sebentas e, correctamente, concede ao professor, a liberdade (e necessidade) de adaptar o compndio resumido s circunstncias concretas: se devem adoptar no tratados desenvolvidos, como convem em aulas da especialidade, mas antes simples compndios, onde estejam reunidos e condensados os conhecimentos que de maneira alguma os estudantes devem deixar de reter com segurana e perfeita clareza. Para esplanao de certas minudncias l est o professor, que as far, ampliando o livro segundo o seu critrio e feitio pedaggico, em proporo com o tempo, com os recursos mentais dos prprios discpulos e com muitas outras circunstncias furtuitas, que nunca o autor dos textos adoptados pode calcular e prevenir. A seguir ao prefcio, segue-se o texto do compndio. Para a 1.a classe, o programa comea com uma descrio sumria do que a Botnica. Segue-se a morfologia da raz e do caule. Para a 2.a classe, o texto escrito s trata da estrutura das clulas. Portanto, o manuscrito que G. Sampaio nos deixou est muito incompleto, em relao ao seu desiderato. Porque ter desistido G. Sampaio de finalizar este compndio de botnica para os liceus?

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Este projecto de compndio de botnica para os liceus, apesar de no ter sido finalizado por G. Sampaio, poder ter sido aproveitado e continuado por Celestino Maia. Nesta poca, Celestino Maia era 2. assistente provisrio, do 2. grupo da 3.a seco, da Faculdade de Cincias do Porto (AFSP)495 e tambm professor do Liceu Alexandre Herculano do Porto. Em 1914 publica um pequeno livro que intitula A Botnica nos liceus (MAIA, 1914), que dedica ao distinto professor e ilustre botnico Gonalo Sampaio, humilde homenagem do seu discipulo496. Pelo prefcio podemos concluir que tinha j frequentado durante trs anos a Faculdade, e, que, pela observao dos seus colegas alunos, tinha concludo que a preparao que traziam dos liceus [era] pssima, se no nula [e que esta] devia ser a consequncia do mau ensino recebido. O objectivo deste pequeno trabalho era, para o seu autor, investigar as causas deste mau ensino, propondo a sua eliminao, e buscar a maneira de o tornar eficaz, remodelando-o. Na introduo, traa um diagnstico muito desvaforvel do ensino liceal da Botnica da altura: o ensino da botnica, como o das scincias histrico-naturais em geral, est abandonado qusi por completo na maior parte dos nossos liceus. Porque era to mau o ensino da Botnica nos liceus? Para Celestino Maia as causas eram as seguintes: A carga horria era reduzida quatro horas semanais para a fsica, qumica, zoologia, botnica, mineralogia e geologia (na 3.a, 4.a e 5.a classes). A Botnica era geralmente deixada para o fim do ano. Os professores eram muitas vezes mdicos, pelo que insistiam mais na Zoologia, do que na Botnica. Os mtodos de ensino e o programa eram inadequados. O autor apresenta ento os remdios. Celestino Maia tem uma viso correcta e moderna do mtodo de ensinar as cincias naturais, que mantm hoje toda a sua actualidade: No sou daqueles que prescrevem o livro, nem mesmo nos cursos superiores, mas entendo que para o ensino das scincias naturais o livro coisa secundria e a observao da natureza tudo. observando animais que a zoologia se deve aprender e no decorando um livro ou fixando-lhe as gravuras. E o que digo da zoologia digo da botnica e da mineralogia, disciplinas que s se aprendem bem no campo, herborizando e coleccionando minerais e rochas. [...] Sem ser prtico no pode o ensino ser bom. O conhecimento exclusivo dum livro sempre verbal, falso, incompleto. Um aluno, que estude botnica pelo livro apenas, julgar a natureza submetida rigorosamente s formas-tipo que o livro lhe descreve, e adquirir ideias esquemticas, precisas, duma preciso mais bela do que real. [...] Fazer estudar um livro a um aluno empregar mal a sua actividade intelectual, fazer-lhe do crebro um depsito de conhecimentos doutrem, cansar-lhe a memria sem lhe desenvolver o esprito. E concretizando, afirma: No se dever dizer ao aluno as partes constituintes duma clula, sem que ste as veja
Celestino da Costa Maia termina o curso de Cincias Histrico-Naturais com 16 valores em 1916 (FCP, 1969:379). Existe no esplio documental de G. Sampaio, um exemplar desta obra, com a seguinte dedicatria manuscrita do autor: Ao Il.mo e Ex.mo Snr. Gonalo Sampaio, em testemunho de viva gratido, oferece, Celestino Maia.
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nitidamente, no se lhe deve falar em estruturas de caule, raiz, etc., sem lhas mostrar em cortes vivamente coloridos, que prendam a sua ateno. A fisiologia dever ensinar-se fazendo experincias muito simples, a morfologia verificando-a nos diferentes vegetais, a taxinomia praticando-a. Exemplares vivos, microscpios e preparaes devero estar sempre presentes em todas as aulas. [...] O professor [...] deve ir para o campo, em excurses, ensinar os seus alunos a observar directamente o mundo botnico, insistindo sobretudo na morfologia externa, pedra angular da taxinomia actual. Os alunos devem herborizar, criando o gsto pelas coleces e interesse pela observao. Para auxiliar o ensino das cincias naturais, Celestino Maia advoga a existncia, nos liceus, de museus de Histria Natural: preciso que nos liceus haja museus de histria natural, no digo ricos que deslumbrem visitantes, mas teis, modestos e sobretudo pedaggicos. [...] Enquanto no houver em todos os liceus pequeninos gabinetes de histria natural, enquanto o professor no fr um prtico e o aluno um observador, o ensino h de ser sempre estril, mesmo para os mais intiligentes. Seguidamente, Celestino Maia caracteriza o que deve ser um bom compndio, e as ideias, correctas, seguem de perto as do seu professor da Faculdade, G. Sampaio: um bom livro deve ser curto sem ser deficiente, frisando bem o que h de essencial em cada captulo; simples na linguagem; homogneo e preciso na terminologia scientifica; despertando a curiosidade do aluno e afeioando-lhe as qualidades de observao. Finalmente, Celestino Maia apresenta a sua proposta de programa para a Botnica. Critica o programa em vigor estabelecido por Decreto de 5 de Agosto de 1905. Que programa prope Celestino Maia para o ensino pr-universitrio? O esquema semelhante ao delineado por G. Sampaio no manuscrito de 1913, e , de certa forma, uma simplificao do programa que G. Sampaio propunha para o ensino universitrio da Botnica em 1911 (SAMPAIO, 1911c), que mencionaremos no captulo seguinte. 1.a classe. Morfologia externa das plantas. Raz, caule, folha, flor e fruto. 2.a classe. Citologia e histologia vegetais. 3.a classe. Fisiologia vegetal. Nutrio, crescimento e propagao. 4.a classe. Taxonomia vegetal. Sistemas de classificao e caractersticas dos grandes grupos de plantas, das bactrias s angiosprmicas. Nomenclatura botnica. 5.a classe. Geografia botnica. Prtica de identificao de plantas at famlia. 6.a classe. Reviso coordenada das matrias anteriores. 7.a classe. Trabalhos prticos. Herborizaes e identificao de plantas por meio de floras analticas. Manuseamento de microscpios. Tcnica histolgica. Execuo de preparaes temporrias e definitivas.

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2. O ensino universitrio da Botnica No ano lectivo de 1910-1911, Manoel Amandio Gonalves era o lente-proprietrio da 10.

Cadeira - Botnica, e G. Sampaio naturalista-adjunto da Cadeira de Botnica (AAPP, 1910-1911). No ano lectivo seguinte, Manoel Amandio Gonalves adoece e no se encontra em exerccio por motivo de doena verificada pela junta mdica (AFSP). Mas os Decretos da criao da Universidade do Porto e da sua Faculdade de Cincias tinham tirado a possibilidade legal de G. Sampaio leccionar, dado ser naturalista e no ter terminado o curso da Academia Politcnica. O Conselho Acadmico da Faculdade encarrega G. Sampaio de, excepcionalmente, substituir o lente doente (SAMPAIO, 1912b). G. Sampaio substitua Amandio Gonalves e fazia imprimir os programas dos seus cursos (SAMPAIO, 1911b, 1911c). O programa do curso de microscopia vegetal (SAMPAIO, 1911b) focava a utilizao dos aparelhos usados em microscopia, a tcnica de realizao de preparaes para observao microscpica e a fotomicrografia (Estampa VI.3.). O captulo I era dedicado ao conhecimento pratico dos apparelhos. Referia os diferentes tipos de microscpio, e as partes que os constituem. Os diferentes tipos de oculares e objectivas eram mencionados. Seguia-se uma parte circunstanciada referente s imagens obtidas no microscpio, focando a aberrao de esfericidade, a aberrao cromtica, a distncia focal, a distncia frontal e o ngulo de abertura, e a ampliao total. Seguidamente focavamse as boas regras de utilizao do microscpio. Aps esta abordagem do microscpio, estudavam-se alguns acessrios e outros aparelhos indispensveis microscopia vegetal: os micrmetros; a cmara clara; o polarizador e os micrtomos. O captulo II era dedicado tcnica de realizao de preparaes microscpicas para botnica. Dos reagentes, mencionavam-se os fixadores, e os corantes, com as respectivas utilizaes nas coloraes citolgicas e histolgicas diferenciais. Seguia-se uma descrio das etapas das tcnicas com material inteiro e com impregnao em parafina e cortes finos. O ltimo captulo era dedicado microfotografia. Apesar do texto ser curto, trata-se na realidade de um brevssimo guia para ser usado na execuo dos trabalhos prticos. O texto termina com a seguinte indicao reveladora: O chefe dos trabalhos prticos, Gonalo Sampaio, confirmando que G. Sampaio estaria de facto a leccionar os trabalhos prticos em substituio de Amandio Gonalves. Os programas descritivos de Botnica geral (SAMPAIO, 1911c) apresentam na capa: Organizados por Gonalo Sampaio naturalista encarregado da regncia do curso, como que a enfatizar o seu estatuto profissional e a actividade que na prtica desenvolvia. O programa terico focava os seguintes aspectos: 1. Citologia e histologia vegetal. Organitos celulares. Clulas especializadas. 2. Morfologia e organografia vegetais. Raz, caule, folha, flor e fruto: morfologia

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externa; organizao interna. 3. Fisiologia vegetal. Nutrio. Circulao interna. Respirao. Produtos secundrios. Crescimento. Propagao dos vegetais. 4. Ciclos de vida e reproduo nos principais grupos de plantas. 5. Taxonomia vegetal. Nomenclatura botnica. Sistemas de classificao das plantas. 6. Caractersticas gerais das bactrias, fungos, algas, lquenes, brifitas, e plantas vasculares. Fungos: ficomicetos, ascomicetos e basidiomicetos. Algas: fefitas, clorfitas e rodfitas. 7. Geografia botnica e paleontologia vegetal. 8. Histria da Botnica. A Botnica em Portugal. O programa prtico correspondia ao do curso de microscopia vegetal, seguido de prtica de diagnose e identificao de plantas vasculares da flora portuguesa com a utilizao de floras analticas e noes de preparao de material para herbrio. Nesta parte prtica de taxonomia vegetal, os alunos comeavam por executar desenhos [] de gomos, folhas, flores, ramos, ou plantas completas. Seguia-se a diagnose do exemplar em estudo. G. Sampaio indica explicitamente como o aluno deve proceder, indicando os sete passos sucessivos a utilizar na descrio de um exemplar. Apresenta um exemplo. Aps a diagnose seguia-se a determinao por meio de uma flora analtica. Finalmente os alunos aprendiam a preparar folhas de herbrio, desde as herborizaes, at etiquetagem final dos espcimes na folha de herbrio. Tal como o programa do curso de microscopia vegetal, tambm este texto , na realidade, mais um compndio resumido e conciso, do que um simples programa de um curso. Alm dos temas do curso, G. Sampaio incorpora, no texto, observaes e comentrios a smula do que entenderia ser o cerne das matrias. O esprito parece ser o que tinha formulado no manuscrito inacabado do compndio de botnica para os liceus: transmitir no compndio as ideias basilares e deixar ao professor a sua explanao. No captulo da taxonomia vegetal, G. Sampaio inclui a nomenclatura botnica497. Refere as principais regras da nomenclatura. Nas nove regras enunciadas, G. Sampaio no menciona as que, poucos anos depois, iro ser o foco das suas atenes a questo da nomenclatura dos gneros, dos nomes conservados e da referncia aos autores descobridores das espcies. Todavia, ao referir com algum pormenor as contribuies de Tournefort e Lineu, sente-se j em G. Sampaio o substrato em que iria alicerar as suas propostas drsticas de nomenclatura da Listas das espcies de 1913. Destaca a histria do conceito de gnero e o papel de Tournefort como o primeiro equacionador do conceito moderno do gnero como categoria taxonmica. A contribuio de Lineu tambm naturalmente destacada, mas a admirao e considerao de G. Sampaio para com o mestre sueco comedida Lineu foi o genial criador e uniformizador da nomenclatura binria, o sistematizador e catalogador
497

Ver captulo V.1.

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incansvel, mas no foi o fundador da taxonomia botnica. No captulo da Histria da Botnica498, a histria da taxonomia novamente abordada, e em particular a do conceito de gnero. O ltimo captulo do programa terico dedicado Histria da Botnica em Portugal. A 13 de Julho de 1911 publicado um Decreto que permitia o concurso a 2. assistente a indivduos que, nos ltimos anos, tenham publicado trabalhos scientficos de reconhecido merecimento sbre as disciplinas do grupo a que pretendem concorrer, e a 17 de Agosto um outro diploma que permitia que os naturalistas fossem promovidos a primeiros assistentes, desde que os Conselhos Escolares julguem de merecimento os trabalhos por les executados, mas sem direito a promoo (AFSP). Estava assim aberta a possibilidade de G. Sampaio entrar como primeiro assistente da Faculdade. Todavia, o desfecho seria outro. A legislao (Decreto de 15 de Maio de 1911) previa no artigo 33. que O provimento [dos] lugares feito por concurso, por distino e por antiguidade e no artigo 42. que A promoo a professor ordinrio faz-se, em regra, por antiguidade de servio; mas pode a Faculdade propr a nomeao para tal lugar de pessoa de excepcional valor, que tenha prestado relevantes servios scincia. G. Sampaio poderia portanto entrar para professor da Faculdade por mrito, sem ter um curso universitrio. Tal viria a acontecer. Por Decreto de 7 de Dezembro de 1912, G. Sampaio era nomeado directamente para o topo da carreira de professor - Professor Ordinrio da 3. Seco Cincias Histrico-Naturais, 2. Grupo Cincias Biolgicas da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto499 (AFSP) (Estampas VI.4. e VI.5.). G. Sampaio far imprimir, em 1920, uma segunda edio do programa da Botnica geral (SAMPAIO, 1920c) e uma terceira, em 1935 (SAMPAIO, 1935b) (Estampa VI.5.). Na contra-capa da edio de 1935, G. Sampaio escreve: A 2.a edio destes Programas descritivos foi publicada em 1920 e est desde h muito tempo inteiramente esgotada. Seguidamente, ao iniciar o programa terico escreve: As matrias apontadas neste programa so devidamente explicadas e desenvolvidas na aula, reforando mais uma vez a sua forma de entender estes textos, como compndios-smulas e no como sebentas.

Ver captulo III.1. G. Sampaio nomeado professor ordinrio por proposta do conselho escolar da Faculdade, nos termos do pargrafo nico do art. 41. do Decreto de 22 de Abril e art. 42. do Decreto de 15 de Maio de 1911 (AFSP, 1911-1912 a 1913-1914). Quando em 1921 criado o Instituto de Investigaes Botnicas, com G. Sampaio como director, no seu currculo, a nomeao para professor descrita da seguinte forma: Em 1911-1912 concorreu a um lugar de professor, sendo admitido, e sendo depois, por proposta unnime do jri ao Governo da Repblica, isento, por distino, das respectivas provas e despachado para o lugar que actualmente desempenha (DG 1921 03 21). G. Sampaio reger, nos anos lectivos de 19131914, as Cadeiras de Botnica (curso geral), Morfologia e fisiologia vegetais, Botnica especial e Scincias naturais (Botnica) (AFSP). No ano lectivo de 1917-1918, reger as seguintes disciplinas: Botnica (curso geral), Morfologia e fisiologia vegetais, Botnica especial e geografia botnica e Botnica F.Q.N. (preparatrios para Medicina) (AFSUP).
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Na edio de 1935, o programa da Botnica geral segue o esquema dos anteriores. Na nomenclatura botnica, enuncia oito regras. Volta a no mencionar as suas regras discordantes do cdigo estabelecido. O texto da Histria da Botnica praticamente idntico ao das edies anteriores.

3. G. Sampaio, professor de Zoologia da Faculdade de Cincias do Porto No mencionado nas bibliografias publicadas sobre G. Sampaio, o facto do professor de botnica ter sido nomeado para reger algumas Cadeiras de Zoologia, por impedimento de Augusto Nobre, seu professor titular (que entretanto era nomeado para a Cmara dos Deputados)500. Num telegrama com o carimbo de 3 de Janeiro de 1914, o secretrio-geral (do Ministrio da Instruo?) escrevia para A. Nobre: Deciso sua Ex.a Ministro no confirma regencia cadeiras segundos assistentes efectivos devendo ser consultados primeiros assistentes faculdade e professores se podem reger. Se caso estes no o fazerem podero ser nomeados segundos assistentes conforme parecer Procuradoria Republica deciso Ex.mo Ministro enviada hontem reitoria. Secretario Geral A. [] Andrade. Mas, na altura, no 2. grupo da 3.a seco da Faculdade de Cincias do Porto (Cincias Biolgicas), os dois lugares de primeiros assistentes no estavam preenchidos (AFSP) A. Mendes Correia e A. Pires de Lima eram segundos assistentes efectivos (AFSP). Por estas razes, o Conselho Escolar decide nomear G. Sampaio, o nico professor em funes do 2. grupo, para reger uma das disciplinas de Zoologia. No ofcio n. 422, datado de 12 de Janeiro de 1914, o Director da Faculdade escrevia para G. Sampaio (Estampa VI.6.): De harmonia com o oficio de V.ssa Ex.cia acerca da regncia dos cursos de Zoologia, e dada a auctorisao do Conselho Escolar desta Faculdade para essa nomeao ser feita por mim, comunico que fica V.ssa Ex.cia encarregado de reger o curso de Zoologia dos Invertebrados, podendo desde j tomar conta da respectiva regncia. O esprito organizado de G. Sampaio revela-se em dois cadernos de apontamentos de Zoologia dos Invertebrados que permanecem no seu esplio. Num dos cadernos (Estampa VI.7.) G. Sampaio escreve na primeira pgina: Apontamentos de Zoologia. Gonalo Sampaio, Janeiro de 1914. Seguem-se diversas pginas sobre a biologia dos invertebrados, com muitas rasuras. G. Sampaio tinha sido nomeado a 14 de Janeiro. Iniciava portanto os seus estudos de Zoologia poucos dias depois. Num outro caderno, sem data, que intitulava Zoologia (Estampa VI.8.), o contedo semelhante, mas tem poucas rasuras. Seria, provavelmente, o seu segundo caderno de apontamentos de Zoologia dos Invertebrados.

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Ver biografia de Augusto Nobre no captulo IV.1.

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Permanece todavia na dvida se efectivamente G. Sampaio ter leccionado esta disciplina de Zoologia. No Anurio da Faculdade de Cincias referente a este ano lectivo (AFSP), a regncia das disciplinas de Zoologia esto atribudas a Augusto Nobre (Estampa VI.6.). No entanto, num bilhete manuscrito, datado de 19 de Janeiro de 1916, o Director da Faculdade escrevia a G. Sampaio: V. Ex.cia tomar conta da regncia do curso de Zoologia (F. C. N.) logo que as aulas reabram, cessando a pena dos alunos, efectuando-se assim a auctorizao do Conselho da Faculdade, no impedimento do respectivo professor, dr. A. Nobre.

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VII. G. Sampaio e o estudo dos lquenes portugueses 1. Como organiza G. Sampaio o estudo dos lquenes portugueses? 2. G. Sampaio e Bouly de Lesdain 3. Intercmbios com H. Olivier, A. H. Magnusson e A. Zahlbruckner 4. O projecto da Flora de Lquenes de Portugal

1. Como organiza G. Sampaio o estudo dos lquenes portugueses? Entre 1916 e 1923, G. Sampaio quase deixa o estudo da flora vascular portuguesa para se

dedicar intensamente ao estudo da flora liqunica portuguesa501 (SAMPAIO, 1916a, 1916b, 1917a, 1917b, 1917c, 1917d, 1918a, 1918b, 1920a, 1921a, 1922a, 1923a). Este perodo termina lapidarmente com a publicao em Maro de 1923 da sua exsicata Lichenes de Portugal502 e do trabalho sobre um novo gnero de lquenes, Carlosia Samp. (SAMPAIO, 1923b). O arranque do estudo sistemtico e aprofundado dos lquenes portugueses ter comeado em 1915. Num dos seus cadernos de apontamentos G. Sampaio escreveu, no seu tom organizado habitual, numa pgina em forma de capa: Liquenes portuguses (apontamentos) por Gonalo Sampaio, Porto, 1915 (Estampa VII.1.). Na folha seguinte do caderno, G. Sampaio escrevia sobre o seu mtodo de trabalho e fontes de consulta: Para o estudo dos lquenes portugueses sirvo-me de um microscpio Zeiss, grande modelo, com platina normal. Oculares empregadas n. 4 e n. 2 (micromtrica). Objectivos a*, C e E. Lupa Zeiss. Reagentes empregados: hidrato de potssio (K), hipoclorito de clcio (CaCl) e agua iodada (J). Escala micromtrica: objectivo E e ocular 2: cada diviso do micrmetro ocular corresponde a 2 micras (). As coleces de lquenes de que dispunha para estudo e comparao eram descriminadas nesta mesma pgina503: Colees de lquenes consultados: 1.a Coleo de lquenes portugueses, de Isac Newton, classificada por Nylander504, existente na

Neste perodo, G. Sampaio publica ainda um trabalho sobre uma espcie nova de Centaurea (SAMPAIO, 1916c) e dois trabalhos sobre algas verdes de gua doce (SAMPAIO, 1920b, 1921d). 502 A exsicata de G. Sampaio Lichenes de Portugal, datada de Maro de 1923, era constituda por 6 sries de 50 exemplares cada, num total de 300 espcimes. Destes, 18 representavam txones novos para a cincia validamente publicados por G. Sampaio. A exsicata segue uma ordem taxonmica. As espcies esto agrupadas por gneros, e estes em famlias. Os primeiros espcimes so de lquenes foliceos e fruticulosos. A maioria dos exemplares (178) foi recolhida por G. Sampaio. Um nmero aprecivel (37) foi recolhido por A. Ricardo Jorge. Mais de 75% dos exemplares foram recolhidos entre 1920 e 1921. 503 Estas coleces, j valiosas em 1915, seriam enriquecidas nos anos seguintes pela aquisio de outras coleces como (Estampa VII.2.): o Herbarium A. Le Jolis; Lichenes Italiae meridionalis, de A. Jatta; Flora exsiccata Austr.-Hung., de Lojka; Lichenes rariores exsiccati, de A. Zahlbruckner; Lichenes Gallici exsicc., de C. Roumoguere; Swedish Lichens e Lichenes selecti Scandinavici exsiccati, de A. H. Magnusson; Herbarium Bouly de Lesdain, de Bouly de Lesdain; Bryotheca, de C. Sbarbaro; Herbarium Lichenum Moroviae, de Suza; Herbarium of Geo. Knox Merrill Todas estas coleces permanecem no Herbrio do Departamento de Botnica (FCUP). 504 William Nylander (1822-1899) nasceu na Finlndia. Cedo se interessou pelo estudo dos lquenes. Foi professor na Universidade de Helsnquia, mas em 1863 parte para Paris, onde permanece at sua morte. Deve-se a Nylander a descoberta das reaces coloridas dos lquenes com a potassa e com o hipoclorito de clcio, que sero designadas de testes

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Faculdade de Sciencias do Porto. 2.a Die Flechten Europas, von Ph. Hepp, existente na Faculdade de Sciencias do Porto [Estampa VII.3.]. 3.a Coleo de lquenes estrangeiros da Faculdade de Sciencias do Porto. 4.a Guide lmentaire du lichenologue exsiccata do Abb J. Harmand, existente na Faculdade de Sciencias do Porto. 5.a Lichenes Gallici praecipui exsiccati por Claudel et Harmand, existente na Faculdade de Scincias do Porto [Estampa VII.2.]. 6.a Coleo de lquenes estrangeiros da Universidade de Coimbra. 7.a Coleo de lquenes portuguezes da Universidade de Coimbra [Estampa VII.1.]. 8.a Coleo de lquenes portuguezes de Welwitsch, da Universidade de Coimbra505. Na pgina seguinte, G. Sampaio descriminava a bibliografia de que

K e C. Este autor no admitia a natureza simbitica da associao liqunica proposta por Schwendener. Pouco receptivo a crticas, morre em 1899, em isolamento cientfico (SMITH, 1921:16-17; HAWKSWORTH ET AL., 1995:318). 505 Na correspondncia com J. Henriques encontramos eco desta fase inicial da investigao liquenolgica de G. Sampaio. J. Henriques, no seu tom habitual de modstia e generosidade, escrevia a G. Sampaio numa carta datada de 20 de Maro de 1915, oferecendo no s a coleco como importante bibliografia: A remessa do todos os lichenes foi devida ao amvel oferecimento de [ilegvel] aumentar a coleco de Coimbra. um grande servio que presta, porque eu nada sei de lichenes, como de muita outra cousa. Os enganos que encontra no so de muita responsabilidade. O Moller foi quem remetia exemplares especialmente [ilegvel] de botanicos alemes e muitas vezes do Nylander. Como as cousas daqui eram, no sei bem, mas bem possvel que houvesse trocas. Muitos exemplares vinham de Newton j classificados. No se teria ele enganado tambm? Como h remdio para todos os males, a cura certa e a coleco ficar apresentvel e boa para quem queira estudar. Mandarei o volume dos lichenes da obra do Engler und Prantl. No digo que seja hoje porque chove a bom chover, mas espero que amanh haver alguma aberta, que permita ir ao correio. Pouco tempo depois, G. Sampaio devolvia a Coimbra, alguns dos lquenes emprestados. J. Henriques agradecia o trabalho do colega, em carta datada de 7 de Junho de 1915. Nesta carta, depois de fazer referncia aos lquenes, falou sobre a sua paixo pela Botnica e as perspectivas de trabalho aps a sua aposentao: Recebi a sua carta e o pacote de lichenes. Muito agradeo todo o trabalho que teve e os exemplares novos com que enriqueceu a coleco do nosso herbrio. S tratarei de dispor tudo na devida ordem depois de me ver livre de aulas e de exames. No sei se j lhe disse como tenciono dispor a minha vida. Tenho j completado 50 anos de professorado; entendo que est no caso de me aposentar, mas de modo a continuar a trabalhar. Para isso penso em ser colocado no lugar que deixou o dr. Mariz. Fico muito bem a tratar do erbrio e museu, que criei e aos quaes tenho muita afeio, e fico livre de aulas, [ilegvel], exames, isto de tudo que nos causa incomodo. Se quiser dar um passeio para erborizar, nada me impedir. um bom servio para um velho que ainda tem alguma viso. Eu tinha pensado no Johnston, mas por fim escolhi-me e preferi-me. A Faculdade j concordou comigo e [ilegvel] falta-me s intender-me com o ministro. Espero ir a Lisboa para a semana para ver o que ele dir. []. Nos seus cadernos de apontamentos, G. Sampaio registou o trabalho de estudo e reviso dos lquenes da Universidade de Coimbra. Numa pgina escreveu: Generos novos para Coimbra seguido de cinco nomes. Numa pgina seguinte escreveu: Mandadas para Coimbra: as que no tinham: x, seguido de uma lista de mais de trinta espcies, algumas assinaladas com um x antes do nome. Numa outra pgina tratou dos erros de determinao que encontrou nos exemplares estudados, seguida de uma lista das Etiquetas que foram para Coimbra, e que tenho a emendar para ficarem em harmonia com a obra do Zahlbruckner, como deseja o dr. Julio Henriques. Estes podero ser os exemplares que G. Sampaio estudou em 1915, mas nos trs anos seguintes, o trabalho adquire uma envergadura muito maior. Numa pgina que intitula de Liquenes do Herbario da Universidade de Coimbra (revistos por G. Sampaio, maro de 1916), G. Sampaio listou os exemplares que tinha estudado. Para cada espcie, enumerou os exemplares com o nome do local e colector. Nos exemplares que tinham sido j estudados por Nylander, escreveu: Det. Nylander. Encontramos citados exemplares colhidos por Estcio da Veiga, Isaac Newton, J. Henriques, Mller, Welwitsch, mas tambm muitos exemplares recolhidos por si prprio, indicando que G. Sampaio tinha oferecido ao Herbrio de Coimbra muitos dos seus duplicados. A lista extensa tem mais de cem espcies. Logo a seguir, G. Sampaio listou uma 2.a remessa, que ter sido o seguinte lote de lquenes de Coimbra por si estudados. A lista menos extensa. Segue-se uma 3.a remessa (12-2.-1917) tambm muito extensa que termina com Foi feita esta 3.a remessa (2 pacotes) em 12-2. -1917) e ainda uma 4.a remessa (em 7 do 2. - do 1918) que ocupa duas pginas e meia do seu caderno de apontamentos. Nestas listas, a fraco de exemplares colhidos por G. Sampaio considervel, pelo que conclumos que G. Sampaio contribuiu para um enriquecimento da coleco liquenolgica da Universidade de Coimbra.

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dispunha506. Que obras tinha para consulta? A Flora italica cryptogama pars III507 de A. Jatta, Lichens de Frane508 de Harmand509, Flore des Lichens de lOrne510 de H. Olivier, Nouvelle Flore des Lichens511 de Boistel, The Lichen Flora of Great Britain de W. A. Leighton, Systema Lichenum Germaniae512 de G. W. Koerber513, Lichenographia europaea reformata514 de E. Fries515, Lichenographiae suecicae prodromus516 [Estampa VII.4.], Methodus qua omnes detectos Lichens517, Lichenographia universalis518 [Estampa VII.5.] e Synopsis methodica Lichenum519 de Erik Acharius520. Finalmente, G. Sampaio descriminava quais os liquenlogos com que me correspondo. Nesta lista s constam dois investigadores, Bouly de Lesdain e F. Erichsen. Nos anos seguintes G. Sampaio ir estabelecer correspondncia com outros especialistas - A. H. Magnusson, H. Olivier e A. Zahlbruckner.
As obras citadas por G. Sampaio so clssicas da bibliografia mundial e permanecem hoje na Biblioteca do Departamento de Botnica (FCUP). Apresentam extensas anotaes manuscritas de G. Sampaio. Alm destas obras mencionadas, G. Sampaio consultou outras, que tambm permanecem na Biblioteca do Departamento de Botnica, e que tambm apresentam diversas anotaes manuscritas de G. Sampaio. 507 JATTA, A. (1909-1911) Flora italica cryptogama. Pars III. Societ Botnica Italiana; L. Cappelli. 508 HARMAND, J. (1905) Lichens de France. Catalogue systematique et descriptif. Paul Klincksieck; Paris. 509 P.e Juliano Harmand (1844-1915), de nacionalidade francesa, foi professor de histria natural no Instituto de Malgrange, perto de Nancy. Em 1889, sobreveio-lhe uma surdez que o obrigou a abandonar o ensino, dedicando-se liquenologia, em que se tornaria uma autoridade mundial. Orienta Valrio Cordeiro no estudo dos lquenes da regio de Setbal, que publica um trabalho na revista Broteria, serie Botanica, de 1914 e 1915. Harmand publica, no Bulletin de la Socit Botanique de France de 1906 e 1909, uma reviso geral dos lquenes portugueses (CORDEIRO, 1916). 510 OLIVIER, H. (s/d) Flore analytique et dichotomique des lichens de lOrne. Chez lauteur; Autheil (Orne). 511 BOISTEL, A. (1902) Nouvelle flore des lichens. 2.e Partie (partie scientifique). Paul Dupont; Paris. 512 KOERBER, G. W. (1855) Systema lichenum germaniae. Verlag Von Trewendt & Granier; Breslau. 513 Gustav Wilhelm Krber (1817-1885) foi professor na Universidade de Vratislavia na Polnia. Contribuiu decisivamente para um melhor conhecimento da natureza da associao liqunica em De gonidiis lichenum publicado em 1840, e para a taxonomia dos lquenes crustceos (recorrendo ao estudo de caractersticas microscpicas). As suas obras principais so Systema lichenum germaniae (1854-55) e Parerga lichenologica (1859-1865) (HAWKSWORTH ET AL., 1995:229). 514 FRIES, E. (1831) Lichenographia europaea reformata. Typis Berlengianis; Lundae. 515 Elias Magnus Fries (1794-1878) considerado o Lineu dos fungos. Estuda com Acharius e torna-se professor de botnica na Universidade de Uppsala. O Systema mycologicum em trs volumes (1821-1832) e o Elenchus fungorum (1828) constituem um enorme avano na taxonomia dos fungos, e continuam a ser dos trabalhos mais importantes de micologia sistemtica, especialmente para o grupo dos himenomicetos. So descritos perto de 5.000 fungos. Utiliza a cor dos esporos como caracterstica discriminante dos gneros. Distingue os ascomicetos dos basidiomicetos por um conjunto de caractersticas macroscpicas. No recorre observao microscpica cuidada e portanto no os distingue pelas suas caractersticas mais fundamentais a presena de ascos e basdios, respectivamente (esta observao primordial caber a Joseph-Henri Lveill em 1834) (HAWKSWORTH ET AL., 1995:168; MAGNIN-GONZE, 2004:171). 516 ACHARIUS, E. (1798) Lichenographiae suecicae prodromus. Lincopiae; D. G. Bjrn. 517 ACHARIUS, E. (1803) Methodus qua omnes detectos lichenes. Impensis F. D. D. Ulrich, Typis C. F. Marquard; Stockholmliae. 518 ACHARIUS, E. (1810) Lichenographia universalis. Apud Iust. Frid. Danckwerts; Gottingae. 519 ACHARIUS, E. (1814) Synopsis methodica lichenum. Litteris et Sumtibus Svanborg et Soc.; Lundae. 520 Erik Acharius (1757-1819) foi o fundador da liquenologia moderna. Mdico em Wadstena na Sucia, cedo se interessou por este grupo de plantas. Foi aluno de Lineu e correspondente de E. Fries. Divide as criptogmicas em seis famlias, ocupando os lquenes um destes grupos. Os lquenes so distribudos por classes, com base nas caractersticas dos corpos frutferos. Deve-se a Acharius as designaes para importantes estruturas dos lquenes como apotcio, peritcio, cifela e cefaldio. O entusiasmo pelos lquenes era to grande que parece ter morrido de comoo (em 14 de Agosto de 1819) quando soube que uma grande coleco de lquenes de Espanha lhe tinha sido enviada (SMITH, 1921:10-11; HAWKSWORTH ET AL., 1995:3).
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Assim como em relao s plantas vasculares, G. Sampaio ir estudar a flora liqunica portuguesa focalizando a sua ateno em determinadas espcies, e no seguindo um estudo sistemtico por grupos ou famlias. As suas publicaes seguem o seu formato preferido anlise e discusso de 50 - 100 txones crticos da flora liqunica portuguesa. Escrevia numa carta dirigida a A. Ricardo Jorge datada de 21 de Fevereiro de 1916: Os liquenes novos para Portugal vou publica-los em duas ou tres series de cerca 50 especies cada serie (BNP A/2011). Dos trabalhos de G. Sampaio sobre a flora liqunica portuguesa resultou um gnero novo e um nmero elevado de espcies novas para a cincia521. As espcies novas so geralmente acompanhadas de uma diagnose em latim. Tal como procedia em relao s plantas vasculares, G. Sampaio ir homenagear algumas pessoas ao escolher o nome do gnero e os eptetos especficos para as espcies novas.

2. G. Sampaio e Bouly de Lesdain Bouly de Lesdain, H. Olivier, A. H. Magnusson e A. Zahlbruckner desempenharam um papel muito importante na investigao liquenolgica de G. Sampaio. Enquanto que em relao s plantas vasculares, G. Sampaio tinha colegas botnicos portugueses com quem podia trocar impresses sobre a identificao de exemplares difceis e sobre a taxonomia de determinados gneros (o que alis fez), em relao aos lquenes no existia em Portugal, nessa poca, nenhum botnico com grande experincia neste grupo de vegetais. A. X. Pereira Coutinho tambm intentava a renovao do herbrio de lquenes de Lisboa, mas a relao entre ambos, a partir de meados da dcada de 1910, deteriorou-se. A. Ricardo Jorge era ainda mais inexperiente do que G. Sampaio. Alis foi o professor do Porto quem orientou o investigador de Lisboa para a rea liquenolgica, onde realizou um excelente trabalho de recolha sistemtica em reas do pas mal conhecidas. Em Espanha, o panorama era igualmente desolador. L. Cresp estagiou com G. Sampaio, no Porto, sobre a identificao de lquenes da Galiza. Emilio Del Vilar recorreu a G. Sampaio, em muitas ocasies, para a identificao de lquenes espanhis. Apesar de G. Sampaio ter sua disposio boas coleces e exsicatas liquenolgicas nacionais e estrangeiras e bibliografia de excelente nvel, surgem sempre dvidas para quem no tem muita experincia (e mesmo at quem tem muita prtica), nomeadamente quando se estudam espcimes de regies mal conhecidas como era o nosso pas, nessa poca. Por estas razes, G. Sampaio ter tido a iniciativa de contactar com Bouly de Lesdain, H. Olivier, A. H. Magnusson e A. Zahlbruckner, figuras cimeiras da liquenologia mundial de ento. Assim como em relao s plantas vasculares, tambm nos lquenes, os colegas com quem contactou revelaram-se surpreendidos com a qualidade e maturidade de
521

Ver Anexo II.

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G. Sampaio, desconhecido at ento no crculo dos liquenlogos mundiais. Ser mesmo no contacto com estes quatro botnicos que G. Sampaio se sentir mais bem compreendido pela comunidade cientfica estrangeira. Dedicar vrias espcies novas a estes liquenlogos, pretendendo com este gesto retribuir os conselhos recebidos pelos colegas estrangeiros. Que exemplares de lquenes envia para os colegas estrangeiros? Pela anlise da correspondncia e dos seus cadernos de apontamentos, conclui-se que G. Sampaio, correctamente, d prioridade a enviar exemplares de espcies novas que tinha descrito, ou que pensava descrever brevemente, ou sobre as quais tinha dvidas. Ser com Bouly de Lesdain que G. Sampaio manter a mais intensa troca de exemplares e sugestes sobre a taxonomia de lquenes (Anexo III) (Estampas VII.6. e VII.7.). A primeira carta enviada por Bouly de Lesdain existente no esplio de G. Sampaio datada de 1902, portanto muito antes da fase liquenolgica de G. Sampaio. A correspondncia atravessa a fase dos Rubus e continuar at 1925. A correspondncia focalizada nos lquenes comea em 1920. Num bilhete-postal datado de 18 de Maio de 1920, enviado de Dunquerque, Bouly de Lesdain escrevia: [] Je vous adresse aujourdhui un coli postal de lichens ou vous trouvez, je lespre quelques espces qui peuvent vous intresser.[]. G. Sampaio ter recebido estes lquenes e enviou uma remessa com lquenes portugueses. Bouly de Lesdain, num bilhete-postal datado de 24 de Outubro de 1920 pronunciava-se em particular sobre as limitaes de um destes exemplares: [] Je viens de commencer ltude du Lecania (n. 2349) que vous mavez envoy et que je serai heureux de vous ddier sil est indit comme je le crois. Lchantillon est malheureusement trop petit, et je dsirerais en recevoir dautres pour tudier le dveloppement des apothcies, aussi que les [] Jespre que le coli de lichens que je vous ai adress il y a quelques mois, vous est parvenu en bon tat. []. Nos cadernos de apontamentos de G. Sampaio existe um pequeno texto referente aos lquenes que tero sido enviados para Bouly de Lesdain e que so referidos nesta carta. No topo da pgina G. Sampaio escreveu: Para o dr. Bouly de Lesdain rue Emmery 16 Dunkerque (remetidas em fins de abril de 1920)522 (Estampa VII.6.). Segue-se uma lista dos exemplares enviados com a respectiva identificao e nmero de entrada do herbrio da Faculdade. Dos 17 exemplares enviados por G. Sampaio, nove eram de espcies ou combinaes novas suas: Acarospora Schleicheri ra. transtagana Samp.523, Acarospora varzinensis

522 523

Neste ms G. Sampaio vivia na Pvoa de Varzim. Este taxon no foi publicado por G. Sampaio.

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Samp.524 , Diphratora subdisparata (Nyl.) Samp.525, Lecania citrinella Samp.526, Lecania Lesdaini Samp.527 (Estampa VII.7.), Lecidea Chodati Samp.528, Lecidea macrocarpoides Samp.529, Pachyphiale decipiens Samp.530, Pachyphiale limica Samp.531. No exemplar n. 2349 G. Sampaio tinha colocado s a identificao genrica: Lecania sp.?. frente com outra tinta escreveu: Lec. Sampaiana, B. Lesd., provavelmente depois de ter recebido uma resposta de Bouly de Lesdain532. No final da pgina escreveu: Respondeu agradecendo e dizendo que eram quasi todos novas para ele e que lhe deram um grande prazer. Promete enviar liquenes e diz que a Lecania (2349) a julga nova e que teria muito desejo em dedicar-ma, caso eu no quizesse descrev-la533. Portanto, dos lquenes novos enviados por G. Sampaio nesta remessa, alguns j tinham sido descritos nas suas publicaes, mas outros permaneciam ainda inditos. Com este envio pretenderia G. Sampaio saber a opinio do liquenlogo francs? No ms seguinte, num bilhete-postal com o carimbo de Dunquerque e datado de 10 de Novembro de 1920, Bouly de Lesdain escrevia: [] Je rassemble en ce moment des matriaux pour une monographie des Lecania dEurope. Je vous serai trs reconnaissant sil vous tait possible de maider dans ce travail en menvoyant les espces (de nombreuses localits si possible) que vous avez
S seria publicado em Dezembro de 1920 (SAMPAIO, 1920a). O exemplar a que se refere (n. 2233) tinha sido recolhido, h pouco tempo, precisamente na Pvoa de Varzim. 525 Combinao nova publicada em SAMPAIO (1917d). 526 Este taxon tinha sido publicado em SAMPAIO (1917c). 527 G. Sampaio tinha publicado este lquene como Caloplaca Lesdaini Samp. (SAMPAIO, 1916a). Pouco tempo depois publicava-o como uma nova combinao - Lecanora Lesdaini (Samp.) Samp dedicada ao snr. Bouly de Lesdain, insigne liquenlogo de Dunkerque, com quem desde h vrios anos mantenho cordiais relaes (SAMPAIO, 1916b). Finalmente considerou-o como Lecania Lesdaini (Samp.) Samp. (SAMPAIO, 1917d). 528 S seria publicado em Dezembro de 1920 (SAMPAIO, 1920a). O exemplar a que se refere (n. 2347) tinha sido recolhido h pouco tempo na Pvoa de Varzim. 529 Este taxon tinha sido publicado em SAMPAIO (1917a). 530 G. Sampaio tinha publicado este lquene como Gyalecta decipiens em SAMPAIO (1918a). 531 S seria publicado em SAMPAIO (1922a). 532 G. Sampaio tinha publicado este taxon como uma nova combinao de Lecanora rimularum Wedd. (SAMPAIO, 1917a). No entanto, esta nova combinao j tinha sido publicada antes por outros botnicos, como Olivier, no sendo portanto vlida. A problemtica deste taxon era descrita por G. Sampaio numa carta endereada da Pvoa de Varzim e enviada a A. Ricardo Jorge a 16 de Maio de 1920: Emende tambem na planta que levou do litoral de Lea como Lecania rimularum. Tendo dvidas e parecendo-me diversa desta, consultei o dr. Bouly, perguntando-lhe se no seria espcie nova. Respondeume que o , e boa espcie, dedicando-me-a com o nome de Lecania Sampaiana, B. de Lesd. Corrija portanto a determinao. E para que no fique sem a Lecania rimularum procurarei brevemente enviar-lhe um exemplar desta, dos meus duplicados (BNP A/2088). 533 No bilhete-postal datado de 24 de Outubro de 1920 que transcrevemos, Bouly de Lesdain escreve efectivamente que lhe parecia uma espcie nova e que a poderia dedicar a G. Sampaio: je serai heureux de vous ddier sil est indit comme je le crois. No encontrmos a meno que G. Sampaio refere de caso eu no quizesse descrev-la. Este aspecto no de somenos importncia porque dos sete txones novos descobertos por G. Sampaio e descritos por Bouly de Lesdain, s quatro tero o botnico francs e G. Sampaio, como autores. Parece um pouco discutvel esta atitude de Bouly de Lesdain de publicar os restantes txones novos com a sua autoria exclusiva, apesar de mencionar que tinha sido G. Sampaio quem os tinha recolhido. Tanto mais que, em 1920, G. Sampaio j no era um principiante na liquenologuia, apesar de ser, certamente, menos experiente do que Bouly de Lesdain.
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loccasion de rcolter. Je serais heureux de recevoir le Lecania rimularum Wedd. que je nai jamais vu. []. O interesse de Bouly de Lesdain pelas Lecania spp. teria sido suscitado pelo exemplar n. 2349 enviado por G. Sampaio (e que efectivamente se viria a revelar uma espcie nova para a cincia)? G. Sampaio enviou mais amostras do exemplar n. 2349 e Bouly de Lesdain responde, j decidido, num bilhete-postal com o carimbo de Dunquerque datado de 4 de Dezembro de 1920: [] Jai reu en bon tat les 2 boites de lichens que vous mavez envoyes par la poste, et vous remercie des espces nouvelles quelles renfermaient. Le nouvel chantillon de Lecania portait de nombreuses spermogonies et tait beaucoup mieux caractris que le premier. Ce sera le Lecania Sampaionis534. Jai tudi aussi le n. 2027 ; cest un Microglaena (paraphyses graciles dense ramoso-connexae) qui est nouveau ; je le dcrirai dans mes prochaines Notes Lichnologiques sous le nom de M. Sampaionis535. Je vais tudier les autres genres, et vous en enverrai les noms. []. Poucos dias depois, Bouly de Lesdain escrevia, numa carta datada de 8 de Dezembro anunciando novamente a publicao das duas espcies novas: [] Jai appuis avec beaucoup de peine que vous venez dtre aussi cruellement prouv par la mort dun fils qui vous tait si cher536; en cette douloureuse circonstance je vous prie de vouloir bien agrer toute la part que je prends votre deuil. Vous avez raison de vous remettre au travail, car il aide oublier. Jai dj dtermin quelques uns de vos lichens et trouv parmi eux des nouveauts ; je vous ai dailleurs envoy dj deux dterminations. Je publierai dans mes prochaines Notes Lichenologiques les espces nouvelles que je trouvai dans lenvoi que vous venez de me faire. Quant aux autres lichens que vous menvoyer dans la suite, ils seront publis sous nos deux noms, puisque cela vous fait plaisir537. Si vous ne possdez pas louvrage de lAbb Harmand Lichens de France rest malheureusement inachev, je vous conseille vivement de lacheter car il est indispensable un lichnologue. []. A parte restante da carta consta de transcries (da obra de Harmand?) de descries de diversas espcies; qui pedidas por G. Sampaio: Acarospora transtagana Hue538, Lecidea derivata Nyl., Lecidea millegrana (Tayl.)
Esta espcie nova para a cincia ser efectivamente descrita em BOULY DE LESDAIN (1921): Lecania sampaiana B. de Lesd. Portugal, Povoa de Varzim, n. 2351, Vila do Conde, n. 2349, sur les roches granitiques au bord de la mer. Leg. Dr. G. Sampaio, 1920 (Estampa VII.8.). 535 Esta espcie nova para a cincia ser efectivamente descrita em BOULY DE LESDAIN (1921): Microglaena Sampaiana B. de Lesd. Portugal, Povoa de Lanhoso, n. 2027. Leg. Dr. G. Sampaio, 1919. 536 Bouly de Lesdain estaria a referir-se a Alberto Ferreira Sampaio, que faleceu em 1920. Em Lquenes inditos (SAMPAIO, 1920a), G. Sampaio dedicar-lhe-ia uma espcie nova para a cincia Acarospora Alberti Samp. dedicada adorada memria de meu filho Alberto, para quem era sempre um grande prazer acompanhar-me nas minhas excurses liquenolgicas. Que o nome do pequeno lquen fique lembrando a creana alegre, inteligente e boa que comigo passou dias dos mais felizes naquela tranquila aldeia e que hoje deve gosar no seio de Deus o merecido prmio da sua vida exemplar. 537 Esta frase de Bouly de Lesdain no revela efectivamente uma atitude de respeito e considerao pelo naturalista portugus; o tom de uma certa sobranceria. 538 Bouly de Lesdain deveria estar a referir-se Acarospora transtagatana.
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Nyl., Lecidea athalloides Nyl., Lecidea deceptoria Nyl., Graphis striatula Nyl., Chiodecton spilocarpum Nyl. e Pertusaria exalbescens Nyl. Existe ainda uma pequena lista com identificaes de exemplares da coleco de G. Sampaio (na carta, a lista no est por ordem numrica): n. 1938 Lecidea granulosa var. hilaris Nyl.539; n. 1989 Apothcies trop jeunes ne renferment pas de spores540; n. 2005 Aspicilia calcarea (spores averties)541; n. 2169 vu seulement des spermogonies542; n. 2374 Opegrapha zonata Kob.543; n. 3001 Lecania cyrtella Th. Fr.544. Poucos dias depois, a 17 de Dezembro de 1920 Bouly de Lesdain escrevia novamente, continuando com a anlise dos lquenes enviados por G. Sampaio em que tinha encontrado mais espcies novas: [] Je vous adresse la liste de dterminations des lichens que vous mavez envoys ; un certain nombre sont nouveaux et seront dcrits dans mes prochaines Notes lichnologiques . Les autres espces nouvelles que vous menverrez seront dcrites sous nos deux noms. [] Quand vous mcrivez, envoyez moi je vous prie la liste de mes brochures que vous possdez []. Segue-se uma lista com a numerao de G. Sampaio, com determinaes e comentrios de B. de Lesdain (na carta a lista no est por ordem): n. 101 Ramalina usneoides (Ach.) Fr.545; n. 1134 Schismatomma chloroticum Samp. 546 parait bien nouveau; n. 1164 Acarospora Fuana B. de Lesd.547; n. 1934 Lecidea infidula Nyl.548; n. 1959 Lecidea platycarpa Ach.549; n. 1988 Thelidium umbrino-fuscum B. de Lesd.550; n. 1993 Buellia Duarti Samp.551 parait bien tre une espce nouvelle; n. 1995 Lecidea

G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecidea viridescens?. 540 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecidea. 541 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Aspicilia operta Samp.. Esta espcie nova nunca ser publicada, mas existem no seu herbrio dois exemplares. 542 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Arthonia. 543 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Opegrapha zonata. 544 Este nmero no consta da lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias. 545 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Ramalina. 546 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Schismatomma chloroticum Samp.. G. Sampaio publicar este lquene com o nome de Pilocarpon leucoblepharum (Nyl.) Vain. var. chloroticum Samp. (SAMPAIO, 1923a). 547 Esta espcie nova para a cincia ser efectivamente descrita em BOULY DE LESDAIN (1921), mas com outro nome: Acarospora duriana B. de Lesd. et Sampaio. Portugal, Foz-Tua, rives du fleuve Douro, u il forme des plaques trs tandues recouvrant les roches schisteuses, n. 1164. Leg. Dr. G. Sampaio, 1916. 548 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecidea infidula Nyl.. 549 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecidea platycarpa. 550 Esta espcie ser publicada com outro nome (ver carta seguinte). G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Verrucaria Sampaiana B. de Lesd..

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scabra / Lecidea protrusa var. subviridans (Nyl.)552 votre dtermination est exacte; n. 2027 Microglaena Sampaionis B. de Lesd.553; n. 2039 Rhizocarpon obscuratum (Ach.) Krb.554; n. 2067 Acarospora555 chantillon insuffisant; n. 2292 Aspicilia recedens (Nyl.) Arn.556; n. 2347 Lecidea viridans Krb.557; n. 2349, 2351 Lecania Sampaionis B. de Lesd.558; n. 2370 Buellia atroalbella (Nyl.) Oliv.559; n. 2371 Arthonia pruinosa Ach.560; je ne connais pas votre Arthonia algarbica, et serais heureux de le recevoir loccasion; n. 2379 Lecanora Bragana B. de Lesd.561; n. 2388 Lobaria mollissima Samp.562; dcouverte trs intressante que vous pouvez publier ; je viens de revoir toutes les espces que je possde, je nai rien dapprochant ; n. 2416 Lecanora Limana B. de Lesd.563; n.

Esta espcie nova publicada como Buellia Duartei Samp., num trabalho (SAMPAIO, 1920a) terminado antes de receber esta carta de Bouly de Lesdain. Esta situao ocorreu com outras espcies (ver nota 562). 552 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecidea protrusa var. subviridans (conf. B. de Lesd.). 553 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Microglaena Sampaionis B. de Lesd.. Esta espcie nova para a cincia ser efectivamente descrita em BOULY DE LESDAIN (1921): Microglaena Sampaiana B. de Lesd. Portugal, Povoa de Lanhoso, n. 2027. Leg. Dr. G. Sampaio, 1919. Esta espcie nova ser includa na exsicata Lichenes de Portugal com o n. 28. Ver nota 535. 554 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Rhizocarpon. 555 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Acarospora. 556 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Aspicilia recedens. 557 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecidea Chodati Samp.. Esta espcie nova ser publicada por G. Sampaio num trabalho datado de Dezembro deste ano de 1920 (SAMPAIO, 1920a). 558 Esta espcie nova para a cincia ser efectivamente descrita em BOULY DE LESDAIN (1921): Lecania sampaiana B. de Lesd. Portugal, Povoa de Varzim, n. 2351, Vila do Conde, n. 2349, sur les roches granitiques au bord de la mer. Leg. Dr. G. Sampaio, 1920. G. Sampaio na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias escreve para estes espcimes: Lecania Sampaiana B. de Lesd.. Esta espcie nova ser includa na exsicata Lichenes de Portugal com o n. 137. Ver nota anterior. 559 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Buellia. 560 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Arthonia. 561 Esta espcie nova para a cincia ser efectivamente descrita em BOULY DE LESDAIN (1921), mas com outro nome: Lecanora bracarensis B. de Lesd. et Sampaio. Portugal, Braga (Falperra), Commune dans le nord du Portugal sur les vieux chnes, n. 2379. Leg. Dr. G. Sampaio, 1920 (Estampa VII.9.). Esta espcie nova ser includa na exsicata Lichenes de Portugal com o n. 75. Todavia G. Sampaio na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias escreve para este espcime: Lecanora Celestini Samp.. Efectivamente ir descrever esta espcie nova Lecanora Celestini Samp., num trabalho datado de Dezembro deste ano de 1920 (SAMPAIO, 1920a). 562 Esta espcie nova publicada por G. Sampaio como Lobaria mollissima Samp. num trabalho datado de 14 de Dezembro de 1920 (SAMPAIO, 1920a). Portanto G. Sampaio j tinha escrito o trabalho quando recebeu esta carta de Bouly de Lesdain, situao que ocorreu com outras espcies (ver nota 551). G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lobaria mollissima Samp.. 563 Esta espcie nova para a cincia ser efectivamente descrita em BOULY DE LESDAIN (1921), mas com outro nome: Lecanora Limica B. de Lesd. et Sampaio. Portugal, Ponte do Lima, sur les pierres granitiques dun mur, n. 2416. Leg. Dr. G. Sampaio, 1916. Esta espcie nova ser includa na exsicata Lichenes de Portugal com o n. 83. G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecanora.

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2416 Lecanora Lusitanica B. de Lesd.564 nov. sp.; n. 2417 2418 Lecanora piniperda Krb. nova var. Lusitanica B. de Lesd.565; dans le n. 2418 se trouve une Rhinodina que je nai pu tudier compltement parce quil y avait trop peu dapothcies; cest rechercher: n. 2422 Lecidea voisin du L. latypiza Nyl.566; il faudrait voir encore dautres exemplaires; n. 2423 Spores 21-22 11-12 567. No fim de uma das pginas escrevia: Acarospora Lesdaini. Est-ce lAbb Harmand qui vous avait dtermin ce lichen ? Je ne trouve plus lexemplaire type ; attendez avant de publier votre lichen sous ce nom. A 16 de Fevereiro do ano seguinte, 1921, Bouly de Lesdain escreve novamente, continuando com a discusso dos lquenes enviados por G. Sampaio: [] Veuillez je vous prie de maccuser si jai tard si longtemps vous rpondre, mais je voulais auparavant revoir la plante que jaurais nomme Thelidium568, et diverses accusations men avaient empch jusqu prsent. Jai donc revu ce matin, au microscope, le Thelidium en question, et jai trouv [segue-se uma enumerao de trs caractersticas do exemplar] Ce lichen est donc revoir et jen supprimerai la description. Quand les preuves corriger de mes Notes lichenologiques me seront retournes, je changerai un certain nombre de noms. Le n. 2370 est en effet un peu diffrent du Buellia atroalbella, mais il se rapproche [] beaucoup de certaines exemplaires que je possde, et qui proviennent de lherbier de Lamy de la Chapelle. Je nai pu retrouver lAcarospora Lesdaini dtermin par lAbb Harmand. Le dernier fascicule des Lichens de France de lAbb Harmand est le n. 5 crustacs [] Je serai trs heureux davoir vos publications lichnologiques ; je ne possde que la dernire ; je vous demanderai en mme temps, si cela vous est possible, de menvoyer un chantillon des espces nouvelles que vous avez dcrites, et que vous ne mavez pas envoyes. Le Ramalina Panizzei569 est indiqu aux environs de Porto ; je ne connais pas cette espce ; lavez-vous trouvez ?.

Dever aqui haver um erro de Bouly de Lesdain porque o n. 2416 aparece repetido. G. Sampaio escreveu por baixo: vem tambem como Lec. limana, B. de Lesd.. 565 Bouly de Lesdain comea por escrever Lecanora subpiniperda B. de Lesd.; depois risca o sub e acrescenta a nova variedade, talvez por verificar que a Lecanora subpiniperda era uma espcie que j existia (Lecanora subpiniperda C. Knight 1882). Esta espcie nova para a cincia ser efectivamente descrita em BOULY DE LESDAIN (1921): Lecanora piniperda nov. var. lusitanica B. de Lesd. et Sampaio. Portugal, Ponte de Lima, sur vieilles corces, n. 2417. Povoa de Lanhoso, sur Pirus communis, n. 2418. Leg. Dr. G. Sampaio, 1920. Esta espcie nova ser includa na exsicata Lichenes de Portugal com o n. 77. G. Sampaio na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias escreve para estes dois espcimes: Lecanora piniperda var. lusitanica B. de Lesd.. 566 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecidea latypiza. 567 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecidea latypiza. 568 Bouly de Lesdain refere-se ao exemplar n. 1988. 569 A ortografia actual do nome da espcie Ramalina panizzei de Not. (1846).

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Alguns meses depois, num bilhete-postal datado de 28 de Maio de 1921 (Estampa VII.9.), Bouly de Lesdain anunciava a G. Sampaio a publicao eminente das suas Notes lichnologiques. XVIII onde deveriam figurar as descries das espcies novas baseadas em exemplares recolhidos por G. Sampaio. O contedo da missiva bizarro. Bouly de Lesdain afirma ter emendado as provas mas no tomou nota das emendas! J no sabe exactamente quais as espcies que tm G. Sampaio como coautor! [] Le n. XVIII de mes Notes lichnologiques, est actuellement limpression. Quand jai reu les feuilles dimprimerie pour les corrections, jai chang les 3 noms : L. limana, L. Bragana, Acarospora Fuana570. Malheureusement jai oubli de pendre note de ces corrections, et il mest absolument impossible de vous dire quel est celui des deux adjectifs que vous mavez propos que jai employ. Ces espces ont t publies sous nos deux noms ; je nai de certitude que pour le Lecanora piniperda nov. var. Lusitanica B. de Lesd. et Sampaio571. Je vous remercie beaucoup des brochures que vous avez eu lamabilit de menvoyer, et que jai lu avec le plus grand intrt ; permettez moi de vous fliciter dtre aussi comptent dans [] toutes les parties de la botanique.[]. No ano seguinte, continuava a troca epistolar entre G. Sampaio e Bouly de Lesdain e o envio de lquenes do Porto para Dunquerque. Num bilhete-postal datado de 22 de Fevereiro de 1922 escrevia o liquenlogo francs: [] Je vous remercie beaucoup de loffre si aimable que vous me faites de menvoyer des lichens ; [] A la mort de lAbb Hue, jai reu un certain nombre de tirs part de ses travaux ; Veuillez je vous prie mindiquer les ouvrages de cet auteur que vous possdez ; je pourrai trs probablement vous donner quelques brochures qui vous manquent []. No ms seguinte, a 8 de Maro, Bouly de Lesdain escrevia novamente a G. Sampaio : [] Je regrette beaucoup de ne pouvoir moccuper des Lichens dAfrique dont vous me parlez, car pour mener bien un pareil travail, il faudrait habiter [] Paris, afin de pouvoir consulter les types qui se trouvent dans lherbier du Musum. Je vous remercie beaucoup de lenvoi de lichens rares que vous mannoncez ; je les [] avec le plus grand plaisir. [] Je vous enverrai tout prochainement le grand nombre des brochures publies par lAbb Hue. Vous me feriez plaisir, si dans vos excursions vous pourriez me rcolter le plus grand nombre possible de formes de Lepra. Jen possde dj plus dun millier. Je les aurais communiqus lAbb Hue qui dsirait en faire la monographie. A sa mort, le Musum qui hritait de ses collections, ma renvoy mes chantillons, ainsi que les nombreuses diagnoses despces nouvelles quil avait reconnues. Quand jaurai mis un peu dordre dans le manuscrit, dont les feuillets ont t
570 Efectivamente Bouly de Lesdain publicaria estas trs espcies com os nomes de Lecanora limica, Lecanora bracarensis e Acarospora duriana. Ver notas anteriores e Anexo III. 571 As espcies que foram efectivamente publicadas em co-autoria foram: Lecanora Limica, Lecanora piniperda nov. var. lusitanica, Lecanora bracarensis (Estampa VII.9.) e Acarospora duriana (Anexo III).

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mlangs, et dont certains me manquent encore, je le publierai probablement dans le Bulletin de la Soc. de bot. de France. [] Toujours votre disposition quando vous dsirez avoir la copie de diagnoses de lichens. G. Sampaio envia efectivamente mais uma remessa de lquenes para Bouly de Lesdain. Num dos seus cadernos de apontamentos, escreveu: B. de Lesd. (2.a remessa) 15-3.-1922572. Segue-se uma lista com as seguintes espcies (por esta ordem): Koerberia biformis Mass.; Pertusaria exalbescens Nyl.; Lecanora Celestini Samp.573; Lecanora lisbonensis Samp.574; Lecidea portuensis Nyl.; Acarospora Alberti Samp.575; Acarospora Zalhbruckneri Samp.576; Caloplaca limitosa Oliv.; Solenopsora vulturiensis Bap.; Rinodina Olivieri Samp.577; Lecanora intercincta Nyl. Das 11 espcies da lista, cinco eram txones novos de G. Sampaio, dos quais um ainda permanecia indito. Quereria G. Sampaio pedir uma opinio sobre as suas descobertas? Bouly de Lesdain ir discutir estes exemplares na correspondncia que escreve seguidamente. Todavia no bilhete-postal seguinte, datado de 1 de Outubro de 1922, Bouly de Lesdain ainda discutia os exemplares de uma remessa anterior: [] Je viens de revoir votre n. 2422 (Gouveia 5-8-1916) [] Cest le Lecidea latipiza Nyl.
578

. Le n. 1286 (Povoa de Lanhoso 9 1919) [] ressemble

extrieurement au Verrucaria Romeana579 que jai dcrit dans mes notes lichnologiques580, mais il faudrait voir les spores que je nai pas trouvs ; en possdez vous dautres exemplaires ?581. Alguns dias depois, num bilhete-postal datado de 18 deste ms de Outubro, continuava a discusso de exemplares de remessas anteriores e referia-se ltima remessa: [] Je viens revoir le lichen que vous mavez envoy ; cest le Pertusaria velata Nyl. ; Vous ne mavez pas envoy le Rinodina Olivieri je ne peu donc vous donner mon avis ce sujet. Le Verrucaria dont ce vous avais parl dans ma dernire carte (1988) et qui vous mavez envoy autrefois, est insuffisant. Il faudrait pour en faire ltude de recueillir dautres exemplaires582. Je vous remercie beaucoup de lannonce que vous me
A primeira remessa tinha sido em Abril de 1920. Ver nota 522. Esta espcie nova tinha sido descrita num trabalho datado de Dezembro de 1920 (SAMPAIO, 1920a). 574 Esta espcie nova tinha sido descrita num trabalho datado de Dezembro de 1920 (SAMPAIO, 1921a). 575 Esta espcie nova tinha sido descrita num trabalho datado de Dezembro de 1920 (SAMPAIO, 1920a). 576 Esta espcie nova tinha sido descrita num trabalho datado de Dezembro de 1920 (SAMPAIO, 1921a). 577 G. Sampaio ainda no tinha publicado esta espcie nova. Ser publicada como Rinodina confragosa (Ach.) Korb. var. oliveri Samp. (SAMPAIO, 1923a). 578 Ver nota 566. 579 A ortografia actual do nome da espcie Verrucaria romeana B. de Lesd. 580 BOULY DE LESDAIN (1921). 581 G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecanora saxicola. 582 Bouly de Lesdain tinha identificado este espcime n. 1988 como Thelidium umbrino-fuscum em carta anterior. Ser publicado em BOULY DE LESDAIN (1923): Verrucaria Sampaiana B. de Lesd. Portugal, Povoa de Lanhoso, sur les roches granitiques, n. 1988. Leg. Dr. G. Sampaio, 1919. G. Sampaio na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da
573 572

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faites du prochain envoi de votre travail sur les lichens du Portugal, et serais heureux si vous pourriez en mme temps menvoyer vos premires brochures sur les lichens, auxquelles je tiens beaucoup, et qui ont t malheureusement perdues. A correspondncia seguinte um bilhete-postal datado de 17 de Maro de 1923 e revela que G. Sampaio ter enviado mais uma remessa de lquenes para Bouly de Lesdain: [] Je vous remercie beaucoup des lichens que vous mavez envoys ; les Crocynia mont paru intressantes, mais je ne les tudierai que lorsque jaurai pu faire paratre le manuscrit de lAbb Hue Monographie des Crocynia . Buellia Jorgei
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cest le Buellia subdisciformis (Nyl.) Jatta, dont les apothcies sont en


584

effet parfois pruineuses.[] 2629 Aspicilia corrugata (Arn.) Nyl. Lecidea corrugata Arn.

.[] Vos

lichens mintressent toujours beaucoup, et je recevrai avec plaisir ceux dont vous mannoncez lenvoi. Numa carta datada de 17 de Julho deste ano de 1923, escrevia Bouly de Lesdain: [] Je vous remercie beaucoup de lintressante brochure que vous avez eu lamabilit de menvoyer585, et vous flicite de toutes vos belles dcouvertes. Vous trouverez ci-joint la description abrge dun Koerberia que vous pouvez peut tre rencontr dans votre pays. Je vous ai crit il y a quelque temps pour vous demander des gramines en change de Rubus ; je serai trs heureux si vous voulez bien me rpondre ce sujet. No ano seguinte, 1924, numa carta datada de 29 de Fevereiro, escrevia Bouly de Lesdain : [] Voila bien longtemps que je nai eu de vos nouvelles ; jespre que vous ntes pas souffrant, et que jaurai bientt le plaisir de recevoir un mot de vous. Jai reu dernirement de M. Ove Hoeg un travail intitul The corticolous Norwegian Pertusariaceae and Thelotramaceae dans lequel il dmontre que le Pertusaria velata est trs rare en Europe, et que presque tous les exemplaires (Europens) ainsi appels sont constitus par 2 nouvelles espces, le Pertusaria subviridis et le P. speciosa Ove Hoeg. Le
Faculdade de Cincias escreve para este espcime: Verrucaria Sampaiana B. de Lesd.. Ao publicar esta espcie nova s com a sua autoria, Bouly de Lesdain no cumpria efectivamente a promessa que tinha feito de incluir G. Sampaio como autor das espcies a publicar posteriormente s Notes lichnologiques. XVIII. Estranhamente, na correspondncia seguinte a este bilhete-postal datado de 18 de Outubro de 1922, Bouly de Lesdain no volta a referir-se a esta nova Verrucaria. Ter informado G. Sampaio da sua publicao? Mas G. Sampaio toma conhecimento da publicao de Bouly de Lesdain e em Novos materiais para a liquenologia portuguesa datado de Maro de 1924 ir cit-la como espcie nova para a flora portuguesa com a autoria de Bouly de Lesdain. 583 G. Sampaio ainda no tinha publicado esta espcie nova. Ser publicada num trabalho datado de Maro de 1924 (SAMPAIO, 1923a). Esta espcie nova ser includa na exsicata Lichenes de Portugal com o n. 180. A opinio negativa de Bouly de Lesdain, considerando o espcime como pertencente a uma espcie j descrita, no ter assim influenciado G. Sampaio que o publica como uma espcie efectivamente nova. 584 Bouly de Lesdain referia-se provavelmente a Aspicilia corrugatula (Arnold) Hue e a Lecidea corrugatula Arnold. G. Sampaio, na lista dos exemplares do herbrio de lquenes da Faculdade de Cincias, escreve, para este espcime: Lecidea corrugatula Arn. (=Aspicilia Nyl.). 585 Bouly de Lesdain referia-se provavelmente ao trabalho SAMPAIO (1923a), datado de Maro de 1924. Neste trabalho, G. Sampaio propunha efectivamente uma espcie nova de Koerberia K. lusitanica. Foi provavelmente esta espcie nova de Koerberia que ter suscitado o comentrio seguinte de Bouly de Lesdain.

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Pertusaria que vous mavez envoy Ponte de Lima sur Pinus silvestris, que javais nomm P. velata, doit en ralit tre appel P. speciosa. Voici dailleurs la diagnose de cette espce [] Jespre pouvoir faire paratre bientt le manuscript de lAbb Hue Monographia Crocyanum qui renferme la description dun grand nombre despces nouvelles. Jai aussi limpression une note sur Lcologie dune Aulnaie Alnus glutinosa. Je vous enverrai naturellement ces 2 brochures des quelles seront parues. Em 1925, termina o intercmbio epistolar entre Bouly de Lesdain e G. Sampaio. Num bilhetepostal datado de 28 de Janeiro escrevia Bouly de Lesdain: [] Je vous remercie beaucoup de votre monographie des Ulex du Portugal586 qui est trs intressante. Comme je vous lai dj crit, je serais trs heureux de me procurer de gramines et vous feriez bien plaisir sil vous tait possible de menvoyer. Adressez moi un mot je vous prie pour me dire si cest possible, et dans ce cas, je vous enverrai un colis postal de phanerogames provenant de mon herbier (France, Algrie, et un bon nombre de numros dexsicata) vous pourrez alors menvoyer en change les gramines quil vous plaira. []. A 5 de Dezembro deste ano escrevia Bouly de Lesdain pela ltima vez a G. Sampaio : [] La Flore des Lichens de France, interrompue par la mort de son auteur, va probablement continuer ; dans ce cas, je me chargerai des Verrucaries. Le travail sera particulirement difficile [] il suffit de lire louvrage de Mr. Vainio sur les lichens de la Finlande, pour voir que Nylander a donn le mme nom des espces ?? diffrentes. [].

3. Intercmbios com H. Olivier, A. H. Magnusson e A. Zahlbruckner O intercmbio epistolar entre H. Olivier e G. Sampaio reduzido, mas significativo, dado que G. Sampaio publicar um txon novo para a cincia dedicado a este liquenlogo. No esplio documental de G. Sampaio s existe uma carta de H. Olivier para G. Sampaio (Estampa VII.10.). No se encontra datada, mas deve ter sido escrita no final de 1923 ou incios de 1924, pelas razes que seguidamente se expem. H. Olivier inicia a carta por responder s questes sobre bibliografia colocadas por G. Sampaio, referindo as obras de Boistel e Forsell. Seguidamente H. Olivier escreve sobre o exemplar de Rinodina que ter sido enviado por G. Sampaio, considerando-o como uma espcie nova para a cincia: Je sors dexaminer votre Rinodina autant que mes tremblantes peuvent le faire. Il semble rentrer dans le groupe de R. confragosa. Thalle K+ lgrement jauni mais, autant que jai pu voir, spores beaucoup plus petites, etc., laspect extrieur est assez celui du Rinodina atrocinerea Krb., mais raction toute diffrente et spores 19,19 9,6 (20,23 11,12 dans
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Bouly de Lesdain referia-se provavelmente ao trabalho SAMPAIO (1924), datado de Dezembro de 1924.

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atrocinerea). Je ne possde rien de pareil dans mon herbier, je crois quil y a bien l une nouvelle espce demandant une bonne description. No esplio de G. Sampaio existe o rascunho da sua carta para H. Olivier que ter merecido a resposta acima transcrita: Je vous remercie trs vivement de vos notables brochures sur les Opegraphes et sur les Arthonies dEurope ; elles mont fait un grand plaisir. [] je possde dj Les principaux parasites des lichens avec supplment. [] je vous prie de menvoyer seulement le I volume de vos Lichenes de lOrient avec supplment, bien que les Lecidea de la Flore dEurope, suite du Lecides. Ci-joint je vous envoye un billet de vingt francs pour le payement de ces ouvrages et des ports de courrier. Connaissez-vous cher Monsieur le moyen dobtenir en France [segue-se uma srie de trabalhos de Forsell, Hue, e Boistel] Je nai pas obtenu encore ces ouvrages et je les payerais tout prix. Jaurai un grand honneur de vous ddier une Rinodine que je crois nouvelle, en la nomment Rinodina Olivieri ; cependant je veux la soumettre votre examen avant la publication de sa diagnose. Cette plante, que je vous remette dans ce moment, prsente des apothcies zeorines ce que je nai pas vu dans quelque autre Rinodine de ma connaissance. On la trouve sur les rochers granitiques de vieux chteau romain de Lanhoso au nord de Portugal. Elle sera distribue dans fascicule IV de mes Lichens de Portugal . G. Sampaio ir seguir a recomendao de H. Olivier e publicar em Novos materiais para a liquenologia portuguesa, datado de Maro de 1924 (SAMPAIO, 1923a) este novo taxon como uma nova variedade da Rinodina confragosa: Rinodina confragosa (Ach.) Korb. var. oliveri Samp. (Estampa VII.11.). Aps a diagnose, escreve neste trabalho: Esta nova variedade, que muito distinta, consagro-a memria do falecido liquenolgo francs Abade Olivier, com quem nos ltimos anos mantive relaes scientficas e de quem recebi deferncias que muito me penhoraram. G. Sampaio tambm ir cumprir o que escreveu a H. Olivier incluindo este lquene na sua exsicata Lichenes de Portugal com o n. 194. A. H. Magnusson587 ter sabido do trabalho de G. Sampaio atravs de A. Zahlbruckner. A. H. Magnusson estava particularmente interessado no gnero Acarospora e G. Sampaio j tinha publicado

587 Adolf Hugo Magnusson (1885-1964) foi professor liceal em Gotemburgo na Sucia, de 1909 a 1948. Dedicava o seu tempo livre liquenologia, estudando, em especial, a flora liqunica do Havai, da Escandinvia e da China, e os gneros Acarospora, Caloplaca, Lecanora e Lecidea. Descreveu cerca de 900 espcies novas, em aproximadamente 150 trabalhos publicados. Destes trabalhos, destacam-se as 15 publicaes da srie New or interesting Swedish lichens e a monografia sobre o gnero Acarospora. Elaborou uma exsicata de lquenes escandinvios - Lichenes selecti Scandinavici exsiccati, organizada em 17 sries, num total de 425 exemplares, distribudos entre 1927 e 1952. Colaborou com G. Sampaio e Carlos das Neves Tavares (Faculdade de Cincias de Lisboa) no estudo dos lquenes portugueses, publicando diversas espcies novas para a cincia baseadas em exemplares portugueses. Vrios investigadores dedicaram-lhe nomes de espcies novas de lquenes (TAVARES, 1965; HAWKSWORTH ET AL., 1995:261).

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algumas espcies novas deste gnero, incluindo uma precisamente dedicada a A. Zahlbruckner588. Escrevia A. H. Magnusson para Gonalo Sampaio a 5 de Outubro de 1922: [] By a visit this summer to Hofrat Zahlbruckner, Wien, I have heard that you have a great interest in lichens and I have there seen some species of Portuguese Acarospora, a genus of which I have just finished a monograph (in English) of the Scandinavian 30 species. I now intend to continue with the European and should be grateful to get specimens from you, both from the new ones you have described and from others in your country. As I have a great many duplicates I am willing to send you some species in exchange other lichens if you have an interest in Swedish lichens (a great many are from Lappland). At the same time I send you my small papers. I also read German and French. []. G. Sampaio escreveu no fim da pgina, um resumo em portugus da carta: Viu no herbrio de Zahlbruckner especies de Acarospora mandadas por mim. Concluiu uma memoria, em ingles, sobre as Acarospora da Scandinavia e vai continuar com as da Europa. Pede troca de Acarospora, assim como de qualquer liquenes com liquenes da Laponia. G. Sampaio respondeu rapidamente a A. H. Magnusson que retribui, a 27 deste ms de Outubro de 1922, com uma carta e um envio de lquenes escandinavos: [] I thank you very much for your friendly letter and I have to day sent you a parcel with 75 lichens mostly from the desiderata list. In my unarranged collections I have most of what you have not obtained this time, but I hope to get them ready by and by [sic]. I have also many duplicates from the mountains and am willing to send you a list of between 4 500 [sic] species if you are interested in a further exchange. I shall be very much pleased to obtain those you have told me in the list, because they all are new and certainly not to be obtainable in a Swedish museum. I should also be very glad if you still had some excerpts of your lichenological papers to send me, because I have nothing of what you have written, and because there are few botanical periodicals in this town and none from Portugal. I must try to get the lichenological literatur in antiquaries and in excerpts from the authors.[]. G. Sampaio recebeu os lquenes de A. H. Magnusson e num dos seus cadernos de apontamentos, escreve: Lichens scandinavos mandados por A. H. Magnusson 11-1922 78 exemplares (Estampa VII.12.). Segue-se uma lista de 25 espcies dos gneros Catillaria, Caloplaca, Aspicilia, Lecidea, Buellia, Rhizocarpon, Pyrenopsis, Lecania, Lecanora, Cetraria, Peltigera, Gyrophora, Pertusaria e Cladonia. frente de algumas das espcies G. Sampaio escreve comentrios sobre os espcimes. frente de Caloplaca pyracea: A nossa pequenina dos calcareos. frente de
Acarospora alberti Samp. (SAMPAIO, 1920a), Acarospora flavorubens Bagl. et Car. var. angulosa Samp. (SAMPAIO, 1917a), Acarospora granatensis Samp. (SAMPAIO, 1917b), Acarospora varzinensis Samp. (SAMPAIO, 1920a) e Acarospora Zahlbruckneri Samp. (SAMPAIO, 1921a).
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Lecidea paupercula: Parece a Aspicilia olivacea. frente de Lecidea neglecta: Temos. Parece uma Lepraria sbre os musgos, esteril. frente de Peltigera spuria: Temos. G. Sampaio retribui enviando as suas publicaes e promete enviar lquenes portugueses. A. H. Magnusson responde numa carta datada de 17 de Dezembro de 1922: [] I am very much obliged to you for your sending of your interesting lichenological papers and I am very curious on your sendings of lichens to come. Biatorella campestris is not in my own collections but I have succeeded to find out a little bit from dr. Hultings herbarium which belongs to our museum. Perhaps can find out what you need. The whole specimen is very bad and apothecia are very scarce and difficult to find. You need not send it back. When your sending of lichens has arrived it will be a pleasure to me to send you another set in return as I have rather rich collections of duplicates.[]. G. Sampaio concretiza ento o envio de lquenes portugueses. Envia um ou vrios dos primeiros fascculos da sua exsicata Lichenes de Portugal e uma Acarospora que lhe ter parecido ser uma espcie nova. A. H. Magnusson responde, positivamente, numa carta datada de 1 de Junho de 1923 (Estampa VII.12.): [] I have received your postcard and am very much obliged to you for your promise to send me the rest of your exsiccata. I have also received and examined your Acarospora [segue-se uma descrio sumria do exemplar] Certainly it is a new species, deserving the name of picea. It is not identical to any of the Scandinavian ones, the European ones I hope to study more completely at the end of this summer. I should like to possess the sent specimen, but if you have only this I will send it back in my next sending to you. []. G. Sampaio ter ficado entusiasmado com esta carta de A. H. Magnusson, e, ter respondido que lhe dedicaria esta nova espcie (Estampa VII.13.). A. H. Magnusson responde, rapidamente, em tom modesto e despretensioso, num bilhete-postal com data de 29 de Julho de 1923: [] I thank you for your last postcard and for the promise to send me the continuation of your exsicata. Of course, I feel very proud if you will name an Acarospora after me, though I think one must be careful in using names of persons. Only if there is not a good name, pointing out characteristics, it must be used, and I myself have named one species Duriehzii, in want of a better name. The Acarospora peliocypha in Gall. Prec. Exs. is (at least the copy in Uppsala) Acarospora Lesdainii, a variable but not rare species, formerly quite misunderstood. I hope to get my paper printed this winter and am very thankful for all [] from Portugal with its rich flora. In a few days I will go to Helsingforo to study the authentic specimens of Acharius and Nylander, and I hope by and by to come to the European collections. []. A 17 de Setembro deste ano escrevia num bilhete-postal para G. Sampaio: [] On my return from Finland I found the Acarospora come which you mentioned in your last card. It was forgotten till

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I some days ago again found it. Such specimens are not seldom in Sweden and I have called them Lesdainii. But after having, these last days, seen the authentic specimen of Lesdainii (from Lesdain), I find that it is not the typical form. But it is so varying a species that I have not been able to find the limits between the forms and therefore provisionally calls it only Lesdainii. As it perhaps will go some time before my monograph will be printed I will send you the key of the species in order to give you some idea of it. But keys are always very incomplete and give no idea of the variability of the species. By and by I have obtained a number of duplicates of lichenological literature as perhaps you too have. I send a list of them if there should happen to be some which you have not. Then there perhaps may be an exchange of duplicates of papers. []. A carta era acompanhada de uma chave dicotmica do gnero Acarospora, e uma lista de bibliografia de Wainio e A. Zahlbruckner. No existe mais correspondncia entre A. H. Magnusson e G. Sampaio. G. Sampaio publicar esta nova Acarospora como A. Magnussoni Samp. em Novos materiais para a liquenologia portuguesa datado de Maro de 1924, mas com a data de publicao de 1923 (Estampa VII.13.). Escrevia nesta publicao: Segundo a autorizada opinio do sr. H. Magnusson, liquenlogo escandinvico, a quem consultei sbre esta planta, trata-se de uma espcie nova, do grupo smaragdula. Nestas condies tenho o maior prazer em dedic-la a ste distinto especialista do gnero Acarospora. O contacto entre G. Sampaio e A. Zahlbruckner anterior ao com H. Olivier e A. H. Magnusson. Num bilhete-postal no-datado, mas com carimbo de correio de Dezembro de 1920 (dia ilegvel), e escrito em alemo, A. Zahlbruckner pedia separatas dos trabalhos publicados por G. Sampaio: Lquenes novos para a flora portuguesa I III589. A. Zahlbruckner era um reputadssimo liquenologista e este bilhete-postal ter parecido a G. Sampaio uma oportunidade para estabelecer contacto com este investigador. No esplio documental de G. Sampaio existe um rascunho de uma carta para A. Zahlbruckner. O manuscrito no se encontra datado, mas foi escrito muito provavelmente prximo do dia 13 de Janeiro de 1921, face ao contedo dos documentos que mencionamos de seguida. O rascunho, escrito a lpis, contm: [...] Jai reu avec plaisir votre carte postale, mais je suis forc vous rpondre en franais, puisque, malheureusement, je ne connait pas lidiome de votre patrie. En premier lieu, je dois vous remercier trs vivement lenvoi des separatae que vous mannoncez et que jespre avez linteret le plus grand. Je vais vous remettre mes Liquenes novos para a flora portuguesa I-III [os trabalhos que tinham sido pedidos por A. Zahlbruckner]. Trs prochainement je vous enverrai mes Novas contribuies para o estudo dos liquenes portugueses qui sont sous
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presse590, et la description du genre nouveau de Carlosia nob., avec la diagnose de lespce portugaise Carlosia virescens.591 Cest pour moi un grand plaisir lchange de lichens que vous me proposez. Cijoint je vous envoye une liste despces plus interessantes dont je puis vous offrir des chantillons. Dans ce moment je ne pourrai vous envoyer les espces marques avec +, mais je les enverrai presque toutes aprs mes rcoltes lt prochain. Toutefois, si vous avez un interet tout particulier de examiner quelques de ces espces, je pourrai vous remettre les chantillons de notre herbier, sous la condition quils seront renvoys le plus rapidement possible notre Universit. [...]. Existe nos cadernos de apontamentos de G. Sampaio, uma lista dos lquenes que seriam os mencionados nesta carta: No topo da pgina escreveu: Ao prof. Zahlbruckner, mandei em 13 de Janeiro de 1921 (Estampa VII.14.). Segue-se uma lista de 12 espcies da sua autoria. Todas esto marcadas com uma cruz antes: Lecania Lesdainii Samp.592; Lecania citrinella Samp.593; Gyalecta decipiens Samp.594; Pachyphyale limica Samp.595; Acarospora Zahlbruckneri Samp.596 (Estampa VII.15.); Acarospora alberti Samp.597; Acarospora varzinensis Samp.598; Schismatomma chloroticum Samp.599; Omphalaria grantica Samp.600; Buellia Duartei Samp.601; Lecanora Celestini Samp.602; Lobaria mollissima Samp.603. As restantes oito espcies so de outros autores. Algumas destas espcies novas de G. Sampaio, tinham acabado de ser publicadas. O conjunto era impressivo. Saberia G. Sampaio que A. Zahlbruckner estava em vias de publicar o seu Catlogo Universal de Lquenes, uma obra monumental com a citao de todas as espcies publicadas, e pretenderia divulg-las junto do liquenlogo austraco? A. Zahlbruckner responde logo numa carta datada de 20 de Janeiro de 1921 (em papel timbrado do Botanische Abteilung des Naturhistorischen Staatsmuseums, Wien), aps ter recebido a carta de G. Sampaio, mas sem ainda ter recebido os lquenes enviados a 13 de Janeiro passado (Estampa VII.16.):

SAMPAIO (1921a). Este gnero novo s seria publicado em 1923 (SAMPAIO, 1923b). A espcie ser Carlosia lusitanica Samp. e no Carlosia virescens Samp. 592 Este lquene tinha sido publicado em SAMPAIO (1917d). 593 Este lquene tinha sido publicado em SAMPAIO (1917c). Em SAMPAIO (1917d) transferido para o gnero Lecanora. 594 Esta espcie tinha sido publicada em SAMPAIO (1918a). 595 Esta espcie s seria publicada em SAMPAIO (1922a). 596 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1921a) (Estampa VII.15.). 597 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1920a). 598 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1920a). 599 Esta espcie seria publicada como Pilocarpon leucoblepharum (Nyl.) Vain. var. chloroticum Samp. em SAMPAIO (1923a). 600 Esta espcie tinha sido publicada em SAMPAIO (1916b). 601 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1920a). 602 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1920a). 603 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1920a).
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Jai reu vos deus lettres avec beaucoup de plaisir. Je repondrai en franais, quoiqui ma connaissance de cette idiome est trs imparfaite. Mais, dans ce rapport, je lespre, vous ne serez pas un critique rigoureux, car notre correspondance ne veut tre une discussion philologique. La flore lichnoliogique de Lusitanie est trs interessante renfermant beaucoup des formes atlantiques et appartenant au climat plus chaud. Je connais les lichens de la Dalmatie ; la comparaison avec la flore lichnique de votre pays est trs important pour mes tudes, bien quil existe, je crois, une diffrence dans le substratum. Je vais prparer pour vous une collection des espces desideres et des espces dalmatiques. Cest avec impatience que jattends le paquet annonc pour vous pour voir les chantillons intressants. Maintenant je prpare une deuxime dition des Lichens de Engler-Prantl. [] Votre nouveau genre sera [] dans cette nouvelle dition. Mon Catalogus Lichenum Universalis est sous presse, il comprendra 6 volumes. Savez-vous la pagination originale de votre tude : Contrib. para o estudo dos lquenes portugueses 604 dans les Annales de la Academia Polytech. do Porto, vol. XIII ? Je veux citer la pagination du separatum. Les Annal. Acad. Polytech. sont dans notre bibliothque seulement jusqu'au 1914. Agrez, cher Monsieur lassurance de mes sentiments les plus distingus. A. Zahlbruckner recebe, enfim, os lquenes enviados por G. Sampaio. Em troca envia a sua exsicata Lichenes rariores exsiccati e responde num bilhete-postal datado de 27 de Fevereiro de 1921: Cher Monsieur : Aujourdhui jai envoy a votre adresse le paquet avec les Lichenes rarior. exsic. [] le prix est de 5 francs. [] Je prpare maintenant un second paquet de lichens pour principalement des Verrucarias. G. Sampaio tinha uma boa coleco de lquenes, mas a de angiosprmicas seria ainda melhor, e ter perguntado a A. Zahlbruckner se no estaria interessado em trocar os seus lquenes por plantas vasculares portugueses. A flora portuguesa muito diversa da austraca e A. Zahlbruckner esperava ansioso por ver as novidades da flora lusitanica. Escrevia numa carta data de 26 de Abril de 1921 : Cher Monsieur : [] Jattends avec impatience la collection de phanrogames, que vous avez la bont denvoyer au notre Musum. La liste renferme des plantes trs intressantes, dont plusieurs manquent dans notre herbier. G. Sampaio envia as plantas e A. Zahlbruckner agradece numa carta datada de 7 de Julho deste ano: Cher Monsieur : Nous avons reu en bon tat la prcieuse collection de phanrogames du Portugal ; il-y-a beaucoup des espces, que nous ne possdent pas. Je me dpche de vous prsenter nos meilleures remerciements et je vous prie aussi lavenir garder le souvenir de notre Musum. Prochainement paraitra une nouvelle centurie de nos Kryptogamae
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SAMPAIO (1918a).

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exsiccatae ; je envoyerai un spcimen complet pour votre Institut et les lichens pour vous. [] Maintenant demeure chez moi un lichnologue sudois, M. E. du Rietz, qui veut apprendre mes mthodes605. [] Deux fascicules de mon Catalogus lichenum universalis sont parus, malheureusement je ne possde pas des exemplaires pour pouvoir vous envoyer un de ceux. [] O intercmbio de material com A. Zahlbruckner continua em 1922. G. Sampaio teria dificuldades com o gnero Koerberia e ter pedido a A. Zahlbruckner exemplares destes lquenes. Num bilhete-postal de 22 de Fevereiro de 1922, respondia o botnico austraco, lamentando-se das precrias condies do seu herbrio: Cher Monsieur : Je vous adresse aujourdhui des petits chantillons du Koerberia biformis, et je vous en prie les accepter pour votre herbier. En automne jai prpar pour vous une nouvelle collection mais je ne pu finir ce travail dans notre herbier pas chauff. Je continuerai la distribution dans printemps. [] Jespre avec le plus vif intrt ldition de vos Lich. du Portugal exsic. []. A. Zahlbruckner referia-se exsicata Lichenes de Portugal que G. Sampaio iria distribuir poucos meses depois, neste ano. Portanto G. Sampaio ter informado o colega suo desta distribuio, como se constata por esta carta. G. Sampaio recebeu estas amostras de Koerberia e ter respondido rapidamente. Desta resposta existe o rascunho datado de 2 de Maro de 1922 (Estampa VII.14.): 2-3-1922 [...] Je vous remercie beaucoup lenvoye des chantillons de Koerberia. Ils mont permis de reconnaitre que ce genre est represent en Portugal par deux espces trs distinctes : une est la K. biformis, qui vit sur les arbres, lautre on la trouve sur les roches granitiques et je la nommerai K. rupestris dans une notice sur des lichens nouveaux de mon pays. Cependant, si vous le permettez, jobserve ici que ce genre Koerberia
Interessantemente, G. Einar du Rietz ir estudar lquenes de G. Sampaio, em particular a Lobaria mollissima Samp., espcie nova descrita por G. Sampaio em 1920 no trabalho Liquenes inditos. Como mencionmos, G. Sampaio enviou para A. H. Magnusson, em 1923, parte ou a totalidade da sua exsicata Lichenes de Portugal. A Lobaria mollissima era o exemplar n. 226 desta coleco. Foi no Herbrio de A. H. Magnusson que Einar du Reitz a encontrou e estudou. Mas Einar du Reitz constata que o espcime de G. Sampaio efectivamente mais afim do gnero Erioderma do que do gnero Lobaria, no qual G. Sampaio o tinha colocado. Publica as suas descobertas em 1926, na revista Botaniska Notiser e informa G. Sampaio das suas observaes. Em Maio de 1926 escreve uma carta do Museu Botnico de Uppsala na Sucia. A carta estaria escrita numa lngua que G. Sampaio no sabia ler (alemo?) e ter pedido a A. Ricardo Jorge para a traduzir. esta traduo (dactilografada em papel timbrado do Museu Bocage em Lisboa) que permanece no esplio documental de G. Sampaio. Einar du Reitz comea por referir como tinha encontrado este espcime de G. Sampaio e o tinha achado pouco tpico de uma Lobaria e mais parecido com uma Erioderma: Numa reviso das Stictaceas do Herbario de Magnusson encontrei um exemplar da Lobaria mollissima recentemente descrita por G. Sampaio [] que me pareceu precisamente muio pouco semelhante a uma Lobaria e pelo contrario me lembrou o genero Erioderma que me levou a consultar para comparao as especies deste genero existentes no Museo de Upsala. Donde pude concluir, primeiro que o liquen em questo era seguramente um Erioderma [] O genero Erioderma fica assim pela primeira vez indicado na Europa. [] considero-o seguramente uma espcie distinta. Como o nome especifico tem porem a prioridade, [] a espcie deve portanto chamar-se Erioderma mollissimum (Samp.) DR.. De seguida, Einar du Reitz indica as semelhanas e diferenas com espcies prximas. Termina salientando o carcter notvel da distribuio deste gnero de lquenes, que tem espcies na Amrica do Sul e esta espcie em Portugal, mas admite que, por se tratar de um gnero mal conhecido, a questo possa ser esclarecida no futuro.
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ne doit pas entrer dans la famille des Collemaceae ; il a le thalle structure stratifie et ses gonides ne sont pas nostocoides, comme affirment les auteurs, vu quils se prsentent, au contraire, trs distinctement scytonenioides. Je crois, donc, quils appartiennent aux Pannariaceae, sapprochant du genre Massalongia par son thalle blanc en dessous, etc. De plus, la structure du thalle des plantes du genre Koerberia nest pas, comme vous le pourrez trs facilement vrifier, la structure indique dans les livres, et les apothcies sont lcanorines et non pas lecideines, car elles ont un bord thallin, avec gonides. Ce bord disparat bientt dans K. biformis, mais dans K. rupestris il est permanent. Je vous prie, cher Matre606, dexaminer par un moment cette question, car je crois que, alors, vous reconnaitrez rapidement que jaffirme la verit. En reconnaissant que les deux espces du Portugal appartiennent aux Pannariaceae, mais ne trouvant pas decrit dans cette famille un genre correspondant, javois cru quelles representaient un genre nouveau. Mais, dernirement, la lecture de la diagnose de K. biformis ma fait suspecter quelle serait une des deux espces trouves par moi en Portugal ; par ce motif je vous ai pri de menvoyer un petit chantillon de Koerberia pour lucider le cas. Dans ce moment je vous envoye un chantillon de K. biformis recolt par moi Coimbra ; la K. rupestris est trs rare, mais vous en recevrez un exemplaire dans mes Lichenes de Portugal . Toutefois, si vous desirez examiner dej cette plante, je pourrai vous remettre lchantillon que je vous ai destin. Agreez, cher Monsieur, lassurance de ma consideration la plus distingue, G. Sampaio. Estas duas espcies do gnero Koerberia sero referidas no trabalho que publicar Novos materiais para a liquenologia portuguesa datado de Maro de 1924. A espcie nova para a cincia ser todavia designada de K. lusitanica Samp., e no K. rupestris como anunciava nesta carta para A. Zahlbruckner. A K. lusitanica ser efectivamente includa na sua exsicata Lichenes de Portugal com o n.55. A carta chega rapidamente a Viena, e, A. Zahlbruckner responde numa carta datada de 8 de Maro de 1922 (Estampa VII.17.). O botnico austraco ficou surpreendido com a mincia e capacidade de observao de G. Sampaio. A sua carta muito elogiosa para G. Sampaio: Cher Monsieur : Je vous remercie bien votre lettre et lenvoiye dchantillon de Koerberia biformis. Ce que vous crivez concernant la structure de ce lichen est trs intressant et de grande importance pour moi, car je prpare maintenant une deuxime dition des lichens pour Engler Prantl Naturliche Pflanzenfamilien . Ldition 1 de cette ouvrage tait trs press par M. Engler, parce que M. [...] charg dcrire les lichens, ne pouvait pas faire la partie systmatique et jai accept la faire dans les moments dernires. Alors je nai pu tudier tous les genres des lichens concernant leur structure plus
No encontrmos esta forma de tratamento em mais nenhum documento escrito por G. Sampaio. Efectivamente A. Zahlbruckner ser para G. Sampaio uma figura endeusada. Ver captulo I.4.
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oublie et jai accept les descriptions des auteurs plus rcents. Aussi le genre Koerberia. Ces lichens se trouvais dans lAutriche dautrefois seulement les environs de Vienne, ou M. Schaler la trouv et dtermin. Beaucoup de lichnologues modernes se contentent de dterminer les espces et ngligent dtudier la structure des lichens mmes et ne connaissant pas les mthodes modernes pour examiner exactement le thalle et le systme dinvolucre des apothcies. Je vois avec grand plaisir, que vous pntrez dans ces dtails et jaccepterais avec grand intrt la description exacte ralis pour vous. G. Sampaio ainda ter enviado para A. Zahlbruckner pelo menos mais duas remessas de lquenes. Nos seus cadernos de apontamentos escreveu 2.a remessa, mas no colocou datas. A incluso da Carlosia rupestris indica que anterior a 1924. Efectivamente, esta espcie ser publicada como C. lusitanica. A lista constituda, maioritariamente, por espcies suas e de Bouly de Lesdain, a si dedicadas: Lecidea macrocarpoides Samp.607; Lecidea Chodati Samp.608; Rinodina confinis Samp.609; Carlosia rupestris Samp.610; Alectoria variegata Samp.611; Lecanora pachycarpa Samp.612; Lecania Sampaiana B. de Lesd.; Microglaena Sampaiana B. de Lesd.; Lecanora bracarensis B. de Lesd.613. Existe ainda uma outra lista: Ao dr. Zahlbruckner (9-11-24). A lista constituda quase exclusivamente por espcies suas: Acarospora Magnussoni Samp.614; Aspicilia transmontana Samp.615; Bacidia sulphurella Samp.616; Carlosia lusitanica Samp.617; Chiodecton Fragosoi Samp.618; Cyphelium Zahlbruckneri Samp.619 (Estampa VII.18.); Gyalecta deminuta Samp.620; Lecanora lisbonensis Samp.621; Lecidea Machadoi Samp.622; Lecidea rigata Samp.623; Pyrenopsis anemoides Samp.624; Ramalina portuensis Samp.625; Rinodina Lesdani Samp.626 e Verrucaria limae Samp.627. Portanto, a maioria destas espcies tinha sido recentemente publicada nos Novos materiais para a liquenologia
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Esta espcie tinha sido publicada em SAMPAIO (1917a). Esta espcie tinha sido publicada em SAMPAIO (1920a). 609 Esta espcie publicada em SAMPAIO (1923a). 610 Esta espcie publicada em SAMPAIO (1923b) como Carlosia lusitanica. 611 Esta espcie publicada em SAMPAIO (1917d) como Alectoria dichotoma (Hoffm.) Samp. var. variegata Samp. 612 Esta espcie tinha sido publicada em SAMPAIO (1917a). 613 Ver captulo anterior sobre Bouly de Lesdain. 614 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a). 615 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a). 616 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a). 617 Esta espcie tinha sido publicada em SAMPAIO (1923b). 618 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a). 619 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a) (Estampa VII.18.). 620 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a). 621 Esta espcie tinha sido publicada em SAMPAIO (1921a). 622 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a). 623 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a). 624 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a). 625 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a). 626 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a). 627 Esta espcie tinha acabado de ser publicada em SAMPAIO (1923a).

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portuguesa datado de Maro de 1924, poucos meses antes do envio destes exemplares a A. Zahlbruckner. O envio no foi assim com o intuito de G. Sampaio pedir uma opinio sobre a qualidade das novas espcies, mas antes com o objectivo de divulgar o seu trabalho junto de A. Zahlbruckner, seguramente para que este as citasse no seu Catlogo Universal em edio. Qual foi a retribuio de A. Zahlbruckner? A citao dos txones novos de G. Sampaio no seu Catlogo monumental (Anexo II) (Estampa VII.19.).

4. O projecto da Flora de Lquenes de Portugal G. Sampaio teve o projecto de redigir uma flora liqunica de Portugal. Vrios documentos apontam inequivocamente neste sentido. Em 1921 num currculo que redige para apoiar a sua nomeao como primeiro director do ento criado Instituto de Investigao Botnica da Faculdade de Cincias do Porto escrever no final do currculo, um Catlogo analtico dos lquenes portugueses, em preparao. A. Ricardo Jorge escreve numa carta datada de 18 de Novembro de 1921: Fico radiante com a ideia da sua Flora Descriptiva mas julgue que perder recorrendo a estranhos. Tomra tambem ver as suas gravuras. Sobre estes e outros assuntos voltarei a escrever com mais vagar. Numa outra carta datada de 21 de Abril de 1924, A. Ricardo Jorge escrevia: E as floras e o catalogo geral dos liquenes? Que pena tenho que no apresse a sua publicao. Aproveite a quietude de Braga para lhes dar o ultimo retoque e depois deite-as c para fora. L. W. Carrisso, da Faculdade de Cincias de Coimbra escrevia para G. Sampaio a 1 de Fevereiro de 1922: Diz-me o Quintanilha [Aurlio Quintanilha] (que muito lhe agradece os cumprimentos, que retribue) que V. Ex.a elaborou, para seu uso, uma chave para a determinao dos liquenes portugueses. No estar V. Ex.a disposto a dar-mo-la, para ser publicada no volume em impresso do Boletim? Ficar-lhe hiamos mais uma vez muito agradecidos pela honrosa colaborao. L. Cresp, numa carta com a data de 12 de Maro de 1926, escrevia: Con reserva le dir que ya trat con D. Ignacio Bolvar [] su proyecto de escribir una flora de la pennsula en claves. En principio est acordado invitar a V. a que la haga y [] proyecto es el siguiente: Que V. venga a Madrid dos meses, para ver los herbarios y recoger materiales: Despus trabajaria en esa para la redaccin de la flora, que llevaria los ms dibujos posibles, para lo cual dispondramos de dibujantes del Museo628 y de lo que yo pudiera hacer. Hecho el trabajo, la Junta629 se posesionaria de el, ofrecindole el tanto por ciento de la venta. Todo esto son
L. Cresp referia-se ao Museu Nacional de Cincias Naturais de Madrid. L. Cresp referia-se Junta para Ampliacin de Estudios e Investigaciones Cientficas. Esta instituio foi criada em 1907, por decreto de Afonso XIII, tendo como objectivo a promoo da investigao e educao cientficas. Durante a Guerra civil, foi dissolvida, pelo governo de Burgos, por decreto de 19 de Maio de 1938. Terminada a Guerra civil, o
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las ideas que existen y que yo tratar de mejorar cuanto sea posible contando con la buena voluntad de todos para con V. nada definitivo hay; pero nos reuniremos pronto, se acordarn las bases del acuerdo y si yo me anticipo a darle estas noticias es para advertirle que cuando reciba las propuestas, vengan de quien vinieren, las estudie y medit y ponga a ellas cuantos reparos estime oportunos. Dos cosas anhelo a cual ms vivamente: que haga la Flora Vd. y que por ello reciba los mayores beneficios econmicos. No tenga V. escrpulos en cuestiones econmicas y tenga siempre la seguridad de que las ofertas que se le hagan estaran hechas por personas serias y que procuran encontrar la frmula [] mas ventajosa para V. y para la cultura botnica en Espaa. Todavia a ideia no avana. Numa carta com a data de 13 de Outubro de 1926, L. Cresp informava G. Sampaio que Me dijo el Sr. Bolvar630 que no era posible invitarle a V. a venir este otoo porque la Junta631 careca de recursos econmicos para ello; pero que confiaba en poderlo hacer para ao nuevo. Ha pasado la Junta situaciones muy difciles con D. Miguel Primo de Rivera que justifican en esta imposibilidad actual, aunque vamos mucho los que lamentamos no verle a V. pronto. No existe nestes documentos a explicitao do tipo de flora em causa. Seria uma flora vascular ibrica, na continuao da ideia lanada por R. G. Fragoso e Font Quer?632 Ou seria uma flora liqunica ibrica? Esta segunda hiptese talvez seja mais plausvel, dado que L. Cresp tinha trabalhado com G. Sampaio unicamente no estudo de lquenes e a correspondncia de L. Cresp com G. Sampaio versava quase exclusivamente a liquenologia. G. Sampaio no publica nenhuma flora de lquenes de Portugal mas deixou, nos seus cadernos de apontamentos, muitas pginas de rascunhos sobre esta flora. Encontramos assim listas de espcies e chaves dicotmicas sobre diversos gneros. Existe mesmo um caderno de apontamentos onde escreve numa das pginas iniciais: Lquenes. Chaves dicotmicas para as especies portuguesas, pr Gonalo Sampaio, Porto, Junho de 1916 (Estampa VII.20.). A data que coloca corresponde ao incio do seu estudo dos lquenes portugueses. Este seria portanto um caderno que, presumivelmente, iria preencher medida que avanava o seu trabalho liquenolgico. Deixa algumas pginas em branco, seguidamente apresenta chaves dicotmicas e/ou listas de espcies para diversos gneros. O caderno apresenta, de seguida, outros assuntos. Perto do fim tem um Quadro dos generos dos lichenes portugueses com chaves dicotmicas para a determinao genrica.

governo de Franco criou, a 24 de Novembro de 1939, o Conselho Superior de Investigaes Cientficas (CSIC), que ainda hoje se mantm em funcionamento (http://es.wikipedia.org/wiki/Junta_para_la_Ampliacin_de_Estudios). 630 L. Cresp referir-se-ia a Ignacio Bolvar y Urrutia. 631 L. Cresp referia-se Junta para Ampliacin de Estudios e Investigaciones Cientficas. 632 Ver captulo IV.5.

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VIII. A consagrao. Uma obra inacabada? 1. A criao do Instituto de Investigaes Botnicas na Faculdade de Cincias do Porto 2. A fundao do Instituto de Botnica Dr. Gonalo Sampaio 3. Concluso 1. A criao do Instituto de Investigaes Botnicas na Faculdade de Cincias do Porto Pode dizer-se que o reconhecimento pblico da obra de G. Sampaio se inicia em 1921 com a criao, na Faculdade de Cincias do Porto, do Instituto de Investigaes Botnicas, sendo o seu director, G. Sampaio. O processo de criao destes Institutos descrito em pormenor no prprio Dirio do Governo que os institucionaliza (DG 1921 03 21). A proposta era aprovada em Conselho Escolar da Faculdade, ratificada pelo Senado da Universidade do Porto, e o reitor, Augusto Nobre, a remetia para o Ministro da Instruo Pblica, Antnio Jos de Almeida, que a aprovava a 24 de Novembro de 1920. A proposta era pormenorizadamente justificada. No prembulo, elogiava-se a obra de G. Sampaio: A carreira scientifica [...] comprovada pelos numerosos trabalhos de investigao scientifica original [...] concorrendo desta forma consideravelmente para o reconhecimento da flora portuguesa. Esses trabalhos vm sendo publicados, sem interrupo, desde h muitos anos, em revistas scientificas [...] que muito honram, certamente, a mentalidade portuguesa. Apresenta-se de seguida detalhadamente o currculo de G. Sampaio. Tem este professor exercido uma grande actividade em servio da scincia, contribuindo com numerosas descobertas e publicaes para o estado adiantado em que, com verdadeira honra para o pas, se encontra actualmente o conhecimento da flora portuguesa. Considerava-se ento que a actividade de investigao de G. Sampaio tinha sido particularmente relevante a trs nveis: no estudo de plantas vasculares; no estudo de criptogmicas; na nomenclatura botnica. Em relao aos estudos da flora vascular portuguesa, listavam-se as espcies novas para a cincia propostas at data por G. Sampaio. Resumia-se da seguinte forma a sua contribuio para o conhecimento da flora vascular portuguesa: a sua iniciativa define-se pela publicao de numerosas notas crticas sobre plantas portuguesas, pela correco de classificao de muitas outras, que andavam erroneamente determinadas, e pela descoberta de grande quantidade de variedades e de mais de cem espcies cuja existncia era ignorada na flora do pas. Em relao s criptogmicas, pode ler-se: porm no estudo dos lquenes portugueses que mais se tem acentuado a sua aco, mencionando at hoje, em vrias publicaes, cerca de trezentas espcies inditas para o pas, com bastantes gneros e famlias que se desconheciam em Portugal. A contribuio de G. Sampaio na nomenclatura botnica era sintetizada da seguinte forma: Dos seus estudos de reviso e uniformizao de nomenclatura, assunto de tamanha importncia [...] tem resultado no s a reposio duma elevada quantidade de

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binomes vlidos, que andavam desconhecidos em documentos antigos ou eram mal interpretados, mas tambm a formao de muitas combinaes binmicas novas, umas de harmonia com as regras formuladas pelo moderno Cdigo de Viena de 1905, outras resultantes da aplicao de princpios novos de nomenclatura estabelecidos originalmente por ste professor. De seguida segue-se uma lista dos trabalhos publicados. A lista termina com a indicao dos trabalhos em impresso, em publicao, e em preparao.

2. A fundao do Instituto de Botnica Dr. Gonalo Sampaio Em Maro de 1935, a homenagem pblica a G. Sampaio cristalizava na criao de um Instituto com o seu nome. No Dirio do Governo de 8 de Maro de 1935 era publicado um Decreto que transformava o Laboratrio e Museu de Botnica da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto em Instituto de Botnica Dr. Gonalo Sampaio (DG 1935 03 08) (Estampa VIII.1.).

3. Concluso O que nos deixou G. Sampaio? 1. Do ponto de vista de pensamento poltico, cvico e tico, uma defesa de convices at s ltimas consequncias, um patriotismo e um amor infinitos pela Ptria, uma tica pautada pela honestidade e seriedade. 2. Do ponto de vista da investigao musical, uma anlise crtica da origem do fado, um trabalho original de recolha e anlise da msica popular do Minho e um estudo da Histria da msica sacra portuguesa. 3. Do ponto de vista da investigao botnica, as suas mais importantes contribuies centraram-se no estudo da flora portuguesa de plantas vasculares e de lquenes, na nomenclatura botnica, e na Histria da Botnica. 3A. No estudo da flora vascular portuguesa destaca-se: 1. A criao de um grande nmero de nomes novos para a cincia (espcies e variedades novas e novas combinaes), em particular no gnero Rubus (Anexo I) (Estampa VIII.2.), sendo de lamentar que muitos destes nomes novos no merecessem a ateno devida em catlogos monogrficos como a Flora Europaea (Anexo I). 2. A elaborao de uma Flora e de uma Iconografia de Portugal, que no entanto, s foram publicadas postumamente. 3B. No estudo da flora liqunica portuguesa destacam-se: 1. A criao de um elevado nmero de nomes novos para a cincia, dos quais se salienta um gnero novo (Anexo II) (Estampa VIII.3.). Os

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nomes validamente publicados em obra impressa totalizam 101, sendo um gnero e, os restantes, espcies, variedades ou raas novas para a cincia, assim como novas combinaes de nomes. 2. A descoberta de vrias espcies e variedades novas para a cincia que foram descritas formalmente por Bouly de Lesdain (Anexo III). 3. A elaborao e distribuio de uma monumental exsicata de lquenes portugueses constituda por 300 exemplares (Estampa VIII.4.). 4. A elaborao de uma Flora ou Catlogo dos lquenes portugueses, que todavia no foi concludo, nem publicado. 4. De salientar ainda, o notvel enriquecimento e modernizao do Herbrio da Academia Politcnica e da Faculdade de Cincias do Porto, com a preparao de milhares de espcimes e a aquisio, por permuta ou compra, de um nmero tambm elevado de exemplares estrangeiros. 5. A contribuio de G. Sampaio para a nomenclatura botnica centrou-se na proposta de regras divergentes do Cdigo oficial, muitas com carcter moderador e clarificador incontestvel, que todavia no tero merecido a ateno crtica devida. 6. Por fim, no estudo da Histria da Botnica G. Sampaio, notabilizou-se por uma anlise original obra botnica de Amato Lusitano, uma viso abrangente do processo da evoluo histrica da Botnica e por uma dignificao do trabalho desenvolvido pelos botnicos portugueses notveis que o precederam. 7. Infelizmente, no conseguiu concretizar o convite do governo espanhol para dirigir a elaborao de uma Flora Ibrica.

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Anexo I. Nomes novos de plantas vasculares publicados por G. Sampaio

Na tabela seguinte, apresentamos uma lista dos novos nomes (txones novos e novas combinaes de txones de G. Sampaio) de plantas vasculares publicados por G. Sampaio. Esta lista foi elaborada com base nos trabalhos que G. Sampaio publicou. S foram includos os nomes publicados em obra impressa, acompanhados de uma diagnose em portugus e/ou em latim, com exemplares recolhidos por G. Sampaio e actualmente no Herbrio do Departamento de Botnica (FCUP). Nas combinaes novas indica-se, entre parntesis, a ortografia original do taxon. Todos os nomes esto de acordo com a ortografia original de G. Sampaio utilizada na publicao. As datas referem-se s publicaes citadas na bibliografia. Muitos dos nomes novos propostos por G. Sampaio no foram considerados na compilao da Flora Europaea.

Alsine maritima Samp. ra. atheniensis (Samp.) Samp. (1946:344) (Spergularia atheniensis (Heldr. et Sart) Aschers var. salinaria Samp. (1904d:160)) Alsine purpurea Heynh. var. crassipes (Samp.) Samp. (1946:343) (Spergularia purpurea (Pers.) Don. var. crassipes Samp. (1905e:23)) Alsine purpurea Heynh. var. indurata (Samp.) Samp. (1946:343) (Spergularia purpurea (Pers.) Don. var. indurata Samp. (1905e:22-23)) Alsine rupicola Heynh. var. australis (Samp.) Samp. (1946:343) (Spergularia rupicola Leb. var. australis Samp. (1899c:71, 1904d:161-162)) Anthericum liliago Lin. var. transmontanum (Samp.) Samp. (1931b:121) (Paradisia lusitanica var. transmontana Samp. (Em LOPES, 1928:239)) (1) Anthericum lusitanicum (Samp.) Samp. (1931b:120) (Paradisia lusitanicum Samp. (1909-1914:87)) (1) (2) Arenaria conimbricensis Brot. ra. littorea Samp. (1908:26) Brassica Johnstoni Samp. (1905e:8-9) (2) Bunium flexuosum With. ra. Marizianum (Samp.) Samp. (1946:427) (Conopodium Marizianum Samp. (1905e:77-78)) (2) Carex algarbiensis Samp. (1921b:144) (1) (2) Carex Broteriana Samp. (1934a:68) (1) (2) Corydalis claviculata DC var. picta Samp. (1935a:222) (1) (2) Cynoglossum clandestinum Desf. var. fallax Samp. (1901b:66) Daucus breviaculeatus Calestani var. rubescens Samp. (1935a:238) (1) Dianthus Marizi (Samp.) Samp. (1922:134) (Dianthus graniticus var. Marizi Samp. (1905e:14)) Digitalis Amandiana Samp. (1905e:21) (2) Echium Broteri Samp. (1900a:9) (2) Echium gaditanum Bois. form. campestre (Samp.) Samp. (1946:534) (Echium rosulatum Lge. var. campestre Samp.

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(1899c:75)) Epilobium alpinum Lin. var. diffusum (Samp.) Samp. (1946:405) (Epilobium aganallidifolium Lam. var. diffusum Samp. (1905e:190)) Erodium sublyratum Samp. (1912a:52) (1) (2) Euphrasia Mendonae Samp. (1937:50) (1) (2) Evax lusitanica Samp. (1921b:161) (1) (2) Gagea pratensis R. & S. ra. nova (Samp.) Samp. (1931b:123) (Gagea nova Samp. (Em LOPES, 1930:272)) (1) Gratiola officinalis Lin. var. meonantha (Samp.) Samp. (1909-1914:404) (Gratiola meonantha Samp. (1905e:54-55)) Juncus subnodulosus Schrk. var. farctus (Samp.) Samp. (1946:95) (Juncus obtusiflorus Ehrh. var. farctus Samp. (1905e:73)) Laserpitium thalictrifolium Samp. (1912a:53-54) (1) (2) Linaria pygmea (Samp.) Samp. (1935a:243) (Linaria Munbyana var. pygmea Samp. (1922:135)) (1) (2) Linaria spartea (Lin.) Hoff. et Link var. expensa Samp. (1905e:48) Lithospermum lusitanicum Samp. (1913b:123) (2) Loeflingia Tavaresiana Samp. (1905e:25) (2) Millegrana Radiola Druce var. emarginata (Samp.) Samp. (1946:334) (Radiola multiflora (Lam.) Gmel. var. emarginata Samp. (1899c:72)) Montia lusitanica Samp. (1912a:52) (1) (2) Myosotis globularis Samp. (1900c:115) (1) (2) Nepeta latifolia DC var. controversa Samp. (1921b:160) Nephrodium filix-mas C. Rich. ra. rupestre (Samp.) Samp. (1921b:142) (Nephrodium rupestre Samp. (1909-1914:8)) (2) Rosa rubiginosa Lin. ra. lusitanica (Samp.) Samp. (1946:398) (Rosa viscaria Rouy ra. lusitanica (Samp.) Samp. (1908:43)) Rubus beirensis (Samp.) Samp. (1913b:89) (Rubus obtusangulus Gremli ra. beirensis (Samp.) Samp. (1904e:41)) (2) Rubus bifrons Vest. var. duriminius Samp. (1903a:7) Rubus brigantinus Samp. (1903b:120) (2) Rubus castranus (Samp.) Samp. (1913b:89) (Rubus mercicus Bagnall var. castranus Samp. (1904e:38)) (2) Rubus gerezianus (Samp.) Samp. (1909-1914: 327) (Rubus koehleri Veihe var. gerezianus Samp. (1903b:121-122)) (2) Rubus Henriquesii Samp. (1904a:58) (2) Rubus herminicus Samp. (1912a:53) (1) Rubus maranensis (Samp.) Samp. (1913b:90) (Rubus discerptus Mul. var. maranensis Samp. (1904e:62-63)) (2) Rubus Muenteri Mars. ra. minianus (Samp.) Samp. (1913b:89) (Rubus incurvatus Bab. var. minianus (Samp.) Samp. (1904e:34), Rubus minianus Samp. (1904b:42)) Rubus nitidus W. et N. var. lusitanicus Samp. (1903a:4) Rubus obtusangulus Gremli ra. Caldasianus (Samp.) Samp. (1913b:89) (Rubus caldasianus Samp. (1903a:6)) (2) Rubus peratticus Samp. (1904c:55) (2) Rubus portuensis Samp. (1903a:8) (2)

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Rubus subincertus Samp. (1904b:41) (2) Rubus thyrsoideus Wim. ra. peculiaris (Samp.) Samp. (1946:390) (Rubus peculiaris Samp. (1904c:54)) Rubus vagabundus Samp. (1904b:43) (2) Saxifraga granulata Lin. var. Lopesiana (Samp.) Samp. (1931b:156) (Saxifraga Lopesiana Samp. (Em LOPES, 1928:243)) Senecio gallicus Chaix var. maritimus Samp. (1905e:39-40) Seseli granatense Willk. var. Peixoteanum (Samp.) Samp. (1913b:97) (Seseli Peixoteanum Samp. (1905e:36)) Silene duriensis (Samp.) Samp. (1921b:151) (Silene Boryi Bois. var. duriensis Samp. (1900c:112)) (1) (2) Statice humilis Link var. odorata (Samp.) Samp. (1946:441) (Armeria Willkommii J. Henriq. var. odorata Samp. (1903a:13)) (2) Teucrium Haenseleri Bois. var. Luisieri Samp. (1905e:62) (Teucrium Luisieri Samp. (1900b:10)) (1) Thymus caespititius Brot. var. macranthus Samp. (1900b:12) (1) Trichonema bulbocodium Gaw. for. debilis (Samp.) Samp. (1946:126) (Romulea bulbocodium (Lin.) S. et Maur. var. debilis Samp. (1905e:11)) Trichonema Clusianum Lge. var. serotina (Samp.) Samp. (1946:125) (Romulea Clusiana (Lge.) Nym. var. serotina Samp. (1905e:10)) Trichonema tenellum (Samp.) Samp. (1946:126) (Romulea tenela Samp. (1905e:13-14)) Trigonella polycerata Lin. var. amandiana (Samp.) Samp. (1946:285) (Trigonella Amandina Samp. (1899c:143-144)) (1) Veronica arvensis Lin. ra. demissa (Samp.) Samp. (1946:479) (Veronica demissa Samp. (1900c:117)) (1) (2) Veronica officinalis Lin. ra. Carquejiana (Samp.) Samp. (1946:476) (Veronica Carquejeana Samp. (1905e:47)) Wilckia gracilima (Samp.) Samp. (1913b:56) (Malcomia gracilima Samp. (1909-1914:195)) (2)

(1) Diagnose em latim. (2) Citado na Flora Europaea.

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Anexo II. Nomes novos de lquenes publicados por G. Sampaio

Na tabela seguinte, apresentamos uma lista dos nomes novos (txones novos e novas combinaes) de lquenes publicados por G. Sampaio. Esta lista foi elaborada com base nos trabalhos que publicou e no estudo crtico de PAZ-BERMDEZ
ET AL.

(2002). Os nomes encontram-se com a

ortografia original de G. Sampaio. As datas referem-se s da lista de bibliografia. Os txones novos que G. Sampaio props na sua exsicata, Lichenes de Portugal mas que no publicou em obra impressa, no foram includos.
Acarospora Alberti Samp. (1920a:5-6) (1) (6) Acarospora flavorubens Bagl. & Car. var. angulosa Samp. (1917a:21) (4) Acarospora granatensis Samp. (1917b:142) (1) (6) Acarospora Lesdainii Harm. Ex A. L. Sm. var. alberti Samp. (1927:143) (5) Acarospora Lesdainii Samp. (1927:143) (5) Acarospora Magnussoni Samp. (1923a:173) (6) Acarospora varzinensis Samp. (1920a:4-5) (1) (6) Acarospora Zahlbruckneri Samp. (1921a:31-32) (1) (6) Alectoria dichotoma (Hoffm.) Samp. (1917d:41) (3) Alectoria dichotoma (Hoffm.) Samp. var. variegata Samp. (1917d:41) (4) (6) Amphiloma lobulatum (Oliv.) Samp. (1927:143) (3) (6) Arthonia algarbica Samp. (1918a:28) (1) (6) Arthopyrenia cinereopruinosa Koerb. var. olivetorum Samp. (1927:138) (4) Aspicilia transmontana Samp. (1923a:169) (1) (6) Bacidia cuprea (Mass.) Samp. (1921a:24) (2) Bacidia mesoidea (Nyl.) Samp. (1921a:25) (2) Bacidia sulphurella Samp. (1923a:174) (1) (6) Blastenia subarenaria Samp. (1917c:48-49) (1) (6) Buellia Duartei Samp. (1920a:1-2) (1) (6) Buellia indissimilis (Nyl.) Samp. (1921a:18) (2) (6) Buellia Jorgei Samp. (1923a:177-178) (1) (6) Buellia myriocarpa Mudd. var. lusitanica Samp. (1923a:177) (4) Buellia pseudosaxatilis Samp. (1917c:49-50) (1) (6) Buellia subcinerascens (Nyl.) Samp. (1917d:139) (2) (6) Calicium brunneolum Ach. var. stemonoides Samp. (1917a:23) (4) Caloplaca herminica Samp. (1917c:47-48) (1) (6) Caloplaca Lallavei (Clem.) Samp. (1918a:34) (2) Caloplaca Lesdaini Samp. (1916a:37) (4) Caloplaca peregrina Samp. (1917c:48) (1) (6) Carlosia lusitanica Samp. (1923b) (1) (6) Carlosia Samp. (1923b) (1) (6) Catillaria melastigma Samp. (1927:144) (5) Cetraria chlorophylla Samp. (1916b:82) (5) Chiodecton Fragosoi Samp. (1923a:167-168) (1) (6) Cladonia foliacea Willd. ra. convoluta Samp. (1927:151) (5)

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Cladonia subturgida Samp. (1918a:38) (1) (6) Cladonia verticillata Hoff. ra. cervicornis Samp. (1927:151) (5) Collema anemoides Samp. (1918a:25) (1) (6) Collema Harmandii Samp. (1918a:25-26) (4) (6) Collemopsidium stenosporum Samp. (1918a:25) (1) (6) Coniocybe brunneola (Ach.) Samp. (1922a) (3) Coniocybe chrysicephala (Fr. fil.) Samp. (1922a:153) (2) Cyphelium Zahlbruckneri Samp. (1923a:161) (1) (6) Diphratora subdisparata (Nyl.) Samp. (1917d:129) (3) Diphratora vulturiensis Samp. (1917d:129) (5) Diploschistes cinereocaesius Samp. (1927:145) (5) Diploschistes cinereocaesius Samp. var. violarius Samp. (1927:145) (5) Girardia cantabrica Samp. (1927:137) (5) Gyalecta decipiens Samp. (1918a:31) (1) (6) Gyalecta deminuta Samp. (1923a:168-169) (1) Gyalecta limica Samp. (1916a:38-39) (4) (6) Gyrophora torrefacta Samp. (1917a:39) (5) Hypogymnia tubulosa Samp. (1927:147) (5) Koerberia lusitanica Samp. (1923a:167) (4) (6) Lecania badiella Samp. (1920a:3) (1) (6) Lecania citrinella Samp. (1917c:49) (1) (6) Lecania Lesdani (Samp.) Samp. (1917d:144) (5) Lecania rimularum Samp. (1917a:38) (5) (6) Lecanora calvosina Samp. (1923a:170) (1) (6) Lecanora Celestini Samp. (1920a:6-7) (1) (6) Lecanora circumrubens Samp. (1917c:47;1917d:44-45) (1) (6) Lecanora citrinella (Samp.) Samp. (1917d:43) (1) (3) (6) Lecanora conimbricensis (Samp.) Samp. (1916b:75) (1) (6) Lecanora conimbricensis (Samp.) Samp. var tumidula Samp. (1916b:75) (4) Lecanora gerezina (Samp.) Samp. (1921a:32-33) (2) (6) Lecanora herminica (Samp.) Samp. (1917d:46-47) (1) (3) (6) Lecanora Lesdaini (Samp.) Samp. (1916b:73) (1) (3) (6) Lecanora lisbonensis Samp. (1921a:33) (1) (6) Lecanora pachycarpa Samp. (1917a:26) (1) (6) Lecanora peregrina (Samp.) Samp. (1917d:46) (1) (3) (6) Lecanora pruinella (Bagl.) Samp. var. cintrana Samp. (1916b:74-75) (4) (6) Lecanora rustica Samp. (1923a:170) (1) (6) Lecanora subarenaria (Samp.) Samp. (1917d:49) (1) (3) (6) Lecanora tristis Samp. (1917a:28) (1) Lecidea acicularis (Anzi) Samp. (1916b) (3) (6) Lecidea athallina (Hellb.) Samp. (1917d:51) (2) Lecidea atrogrisea (Hepp.) Samp. (1916b:78-79) (2) (6) Lecidea Chodatii Samp. (1920a:3-4) (1) (6) Lecidea flavigrana Samp. (1922a:156-157) (1) (6) Lecidea limica (Samp.) Samp. (1916b:77-78) (1) (3) Lecidea Machadoi Samp. (1923a:171-172) (1) (6) Lecidea macrocarpoides Samp. (1917a:36-37) (1) (6) Lecidea moriformis (Th. Fr.) Samp. (1917a:34-35) (2) (6) Lecidea nigrescens (Anzi) Samp. (1916b:79) (2) (6)

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Lecidea populicola Samp. (1918a:36) (1) (6) Lecidea pseudosaxatilis (Samp.) Samp. (1917d:52) (1) (3) (6) Lecidea rigata Samp. (1923a:172) (1) (6) Leciographa Fragosoi Samp. (1923a:178-179) (1) Leciographa parellaria (Nyl.) Samp. (1917d:140) (2) Leiophloea sphaeroides (Wallr.) Samp. (1923a:162) (2) (6) Leiophloea biformis (Oliv.) Samp. (1927:137) (5) Lemmopsis affine Samp. (1918a:26) (1) (6) Lepraria candelaris (Schaer.) Samp. (1927:151) (3) Leptorhaphis epidermis (Ach.) Th Fr. var. olivetorum Samp. (1923a:162-163) (4) Leptorhaphis pinicola Samp. (1923a:163) (1) (6) Lobaria mollissima Samp. (1920a:7) (1) (6) Lopadium athalloides (Nyl.) Samp. (1921a:19) (2) (6) Lopadium Newtonii Samp. (1920a:2-3) (1) (6) Microglaena Cordeiri (Harm.) Samp. (1922a:151) (2) (6) Omphalaria granitica Samp. (1916b:66) (1) (6) Pachyphiale carneolutea (Oliv.) Samp. (1921a:22-23) (2) (6) Pachyphiale limica Samp. (1922a:153-154) (5) Parmelia conspersa Ach. ra. lusitanica Samp. (1927:148) (5) Parmelia stygia Ach. var. herminica Samp. (1917a:13) (4) Pertusaria aspicilioides Samp. (1917a:33) (1) (6) Pertusaria lutescens Lamy var. conimbricensis Samp. (1917b:143) (4) Pertusaria pseudocorallina Samp. (1927:140) (5) Pertusaria pseudocorallina Samp. var. concreta Samp. (1927:140) (5) Physcia caesia Nyl. var. perrugosa Samp. (1922a:162-163) (4) Physcia hispida Tuck. ra. leptalea Samp. (1927:147) (5) Physma hispanicum Samp. (1917b:136-137) (1) (6) Pilocarpon leucoblepharum (Nyl.) Vain. var. chloroticum Samp. (1923a:168) (4) Polyblastia exigua Samp. (1922a:152) (1) (6) Psoroma murale Samp. (1927:142) (5) Psorotichia Henriquesii Samp. (1918b) (1) Psorotichia macrospora Samp. (1923a:166) (1) (6) Pyrenopsis anemoides Samp. (1923a:165-166) (1) (6) Pyrenopsis calvosina Samp. (1923a:165) (1) (6) Ramalina portuensis Samp. (1923a:179) (1) (6) Rhizocarpon discrepans Samp. (1917c:50) (1) (6) Rhizocarpon geographicum DC. var. lavatum Samp. (1923a:178) (4) Rinodina atrocinerella (Nyl.) var. macrospora Samp. (1918a:30) (4) Rinodina cintrana (Samp.) Samp. (1922a:161) (3) (6) Rinodina confinis Samp. (1923a:177) (4) (6) Rinodina confragosa (Ach.) Korb. var. oliveri Samp. (Olivieri) (1923a:176) (4) Rinodina conimbricensis Samp. (1916a:37-38) (4) Rinodina conimbricensis Samp. var. tumidula Samp. (1916a:38) (4) Rinodina Lesdaini Samp. (1923a:175-176) (1) (6) Schismatomma diplotommoides (Bagl.) Samp. (1917d:53-54) (2) (6) Schismatomma graphidioides Samp. (1917d:141) (5) Solenopsora holophaea (Mont.) Samp. (1921a:26) (2) Solenopsora olivacea (Fr.) Samp. var. spadicea Samp. (1927:144) (5) Solenopsora subdisparata (Nyl.) Samp. (1921a:26) (3) (6)

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Toninia abilabra (Duf. ex Fr.) Samp. (1918a:32) (2) (6) Toninia lurida (Bagl.) Samp. (1918a:32-33) (5) (6) Toninia sabulosa (Mass.) Samp. (1918a:32) (2) (6) Umbilicaria deusta (Ach.) Samp. (1917a:25) (2) Verrucaria Carrisoi Samp. (1922a:150-151) (1) (6) Verrucaria fallaciosa (Stitz.) Samp.(1917d:55) (2) (6) Verrucaria Limae Samp. (1923a:163-164) (1) (6) Xanthocarpia aurantiaca (Hepp) Samp. (1927:143) (3) (6) Xanthocarpia vitellinula (Nyl.) Samp. (1927:143) (3) (6)

(1) Nome validamente publicado. Diagnose latina original. (2) Nome validamente publicado. Nova combinao. Diagnose em portugus. (3) Nome validamente publicado. Nova combinao. (4) Nome originalmente no validamente publicado, porque no acompanhado de uma diagnose latina, exigida pelo Cdigo de Nomenclatura ento em vigor. Hoje considerado validamente publicado de acordo com o Cdigo de Nomenclatura actual, porque acompanhado de uma diagnose em portugus. (5) Nome no validamente publicado. Muitos destes nomes foram publicados sem qualquer descrio. Outros so novas combinaes, mas sem referncia correcta ao respectivo basinmio. (6) Citado por A. Zahlbruckner em Catalogus lichenum universalis com Sampaio como autor.

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Anexo III. Espcies e variedades novas de lquenes publicadas por Bouly de Lesdain com material recolhido por G. Sampaio

Na tabela seguinte, apresentamos uma lista dos txones novos de lquenes publicados por Bouly de Lesdain com material recolhido por G. Sampaio em Portugal.
Acarospora duriana B. de Lesd. & Samp. (1921) (1) Lecania sampaiana B. de Lesd. (1921) (1) (3) Lecanora bracarensis B. de Lesd. & Samp. (1921) (1) (4) Lecanora Limica B. de Lesd. & Samp. (1921) (1) (5) Lecanora piniperda Krber var. lusitanica B. de Lesd. & Samp. (1921) (1) (6) Microglaena sampaiana B. de Lesd. (1921) (1) (7) Verrucaria Sampaiana B. de Lesd. (1923) (2)

(1) Publicado em BOULY DE LESDAIN (1921). (2) Publicado em BOULY DE LESDAIN (1923). (3) Inserida por G. Sampaio na sua exsicata Lichenes de Portugal com o n. 137. (4) Inserida por G. Sampaio na sua exsicata Lichenes de Portugal com o n. 75. (5) Inserida por G. Sampaio na sua exsicata Lichenes de Portugal com o n. 83. (6) Inserida por G. Sampaio na sua exsicata Lichenes de Portugal com o n. 77. (7) Inserida por G. Sampaio na sua exsicata Lichenes de Portugal com o n. 28.

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Bibliografia citada633 Departamento de Botnica da Faculdade de Cincias do Porto634 1. Correspondncia recebida por G. Sampaio
De Abreu, Rodrigo: 1932 08 10 De Basto, Alvaro: 1915 01 12 1920 01 00; dia ilegvel De Bouly de Lesdain, M.: 1920 05 18 1920 10 24 1920 11 10 1920 12 04 1920 12 08 1920 12 17 1921 02 16 1921 05 28 1922 02 22 1922 03 08 1922 10 01 1922 10 18 1923 03 17 1923 07 17 1924 02 29 1925 01 28 1925 12 05 De Carrisso, L. W.: 1922 02 01 De Celestino da Costa: 1921 01 13 De Coimbra, Leonardo: no-datado; datao provvel: Maio de 1923 De Correia, Antnio Domingues 1935 01 16 De Coutinho, A. X. Pereira: 1909 01 15 1909 01 21 De Cresp, Luis: 1924 11 04 1925 10 12 As datas encontram-se no seguinte formato: ano ms dia. O esplio documental de G. Sampaio encontra-se no Departamento de Botnica (FCUP) onde pode ser consultado a pedido.
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1926 01 18 1926 03 12 1926 04 01 1926 10 13 De Font Quer: 1924 02 05 De Fragoso, Romualdo Gonzalez: 1922 05 30 1926 03 08 De Guimares, Bertino Daciano: 1931 09 18 De Henriques, Jlio: 1915 03 20 1915 06 07 1919 11 24 1919 11 30 1919 12 21 1920 02 09 1920 04 23 De Johnston, Edwin: 1905 07 10 1913 06 03 De Leonhardt, Otto: 1905 03 02 no-datada; data provvel prxima de 24 de Julho de 1908 1909 06 22 De Lima (ilegvel), A. D.: 1925 08 26 De Lobo, Celestino: 1923 06 05 De Lopes, Jos Manuel Miranda: 1927 10 21 1927 11 18 1927 11 29 1928 05 21 1928 07 04 1928 08 30 1929 05 14 1929 05 20 1929 06 15 1929 06 21 1933 10 07 De Luisier, Alphonse: 1910 09 01 De Magnusson, A. H.: 1922 10 05

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1922 10 27 1922 12 17 1923 06 01 1923 07 29 1923 09 17 De Neves, Dinis: 1898 10 08 De Olivier, H.: no-datada; datao provvel: final de 1923 ou incios de 1924 De Osrio, Belarmino: 1920 01 21 De Pau, Carlos: 1903 01 05 1903 11 04 1904 04 14 1904 04 27 1904 08 28 1904 09 11 1905 01 19 1905 05 22 1906 02 02 1910 09 14 1911 04 24 1912 05 18 1921 04 08 1922 01 05 1922 06 23 1922 07 24 1922 09 21 1924 07 27 1925 02 06 1925 06 12 1925 09 19 1928 11 29 1929 02 23 1929 04 03 1933 11 15 1935 00 00; datao provvel: Agosto de 1935 De Ricardo Jorge, Arthur: 1919 08 29 1921 11 18 1924 04 21 De Sampaio, Livia: 1910 06 01 De Saraiva, Joo: no-datada; datao provvel: 1906 1907 09 13 (telegrama) De Sennen, Fr.: 1919 09 24

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De Seabra, Anthero F. de: no-datada; datao provvel: 1907 no-datada; datao provvel: perto de 24 de Abril de 1909 1909 04 24 1910 12 07 1915 10 07 De Soeiro, Antonio: 1919 08 27 De Tavares, J. S. 1920 12 29 De Vieira dAndrade, Affonso: no-datada; datao provvel: 1908 De Zahlbruckner, A.: 1920 12 00; dia ilegvel 1921 01 20 1921 02 27 1921 04 26 1921 07 07 1922 02 22 1922 03 08

2. Correspondncia de G. Sampaio no-expedida ou rascunho de correspondncia expedida


Para A. Ricardo Jorge (provavelmente), datada de 1 de Fevereiro de 1921. Para A. Zahlbruckner, datada de 2 de Maro de 1922. Para A. Zahlbruckner, no-datada, muito provavelmente alguns dias anterior a 13 de Janeiro de 1921. Para H. Olivier, no-datada, provavelmente de final de 1923 ou incios de 1924. Para o Governador Civil de Vila Real, datada de 6 de Junho de 1906. Para o Ministro da Instruo, datada de 28 de Agosto de 1913. Para o Ministro da Instruo, no-datada, provavelmente da dcada de 1930. Para Ricardo Jorge, datada de 17 de Maio de 1916.

3. Correspondncia enviada por G. Sampaio


Para Sampaio, Julia: 1922 05 24 Para Sampaio, Livia: no-datada; datao provvel: Maio de 1910 1919 02 10

4. Manuscritos de G. Sampaio de obras suas no-publicadas


Manuscrito da continuao da Flora Duriense. Manuscrito intitulado Curso dos Lyceus. Historia Natural. II. Botanica por Gnalo Sampaio, alumno da Polytechnica do Porto, 1891. Manuscrito intitulado Botnica do curso dos liceus (1.a, 2.a, 3.a, 4.a, 5.a classes). Gonalo Sampaio, Professor na Faculdade de Scincias da Universidade do Prto. Prto, Tipografia, 1913.

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Manuscrito intitulado: Epitome da Flora Portuguesa, pelo Dr. Gonalo Sampaio, prof. Da Universidade do Porto, Porto, Aljube, 27-5.-1919. Manuscrito intitulado: Manual da Flora Portugueza por G. Sampaio (continuao da familia das Verbenaceas at as Compostas), Porto, julho e agosto de 1917.

5. Manuscritos diversos de G. Sampaio


Em cadernos de apontamentos: Ttulo: 2.a remessa (para A. Zahlbruckner). Ttulo: Ao dr. Zahlbruckner (9-11-24). Ttulo: Ao prof. Zahlbruckner, mandei em 13 de Janeiro de 1921. Ttulo: Apontamentos de Zoologia. Gonalo Sampaio, Janeiro de 1914. Ttulo: B. de Lesd. (2.a remessa) 15-3.-1922. Ttulo: Binomes especficos vlidos encontrados nas obras dos botnicos antigos e que me interessam para a reviso da nomenclatura da Flora portuguesa. Gonalo Sampaio (Trs cadernos de apontamentos dedicados aos tratadistas clssicos). Ttulo: Correspondencia, Botnica, de Gonalo Sampaio (Caderno com os correspondentes de G. Sampaio). Ttulo: Ermezinde (14-10-1919). Ttulo: Generos novos de Dillenius . Ttulo: Generos novos para Coimbra; Mandadas para Coimbra: as que no tinham: x; Etiquetas que foram para Coimbra, e que tenho a emendar para ficarem em harmonia com a obra do Zahlbruckner, como deseja o dr. Julio Henriques; Liquenes do Herbario da Universidade de Coimbra (revistos por G. Sampaio, maro de 1916); 2.a remessa; Foi feita esta 3.a remessa (2 pacotes) em 12-2. -1917); 4.a remessa (em 7 do 2. - do 1918). Ttulo: Guimares (15-10-1919). Ttulo: Lichens scandinavos mandados por A. H. Magnusson 11-1922 78 exemplares. Ttulo: Lquenes (Herbario da Faculdade de Sciencias do Prto). Ttulo: Liquenes portuguses (apontamentos) por Gonalo Sampaio, Porto, 1915. Ttulo: Lquenes. Chaves dicotmicas para as especies portuguesas, pr Gonalo Sampaio, Porto, Junho de 1916. Ttulo: Lista das pessoas a quem enviei (+) ou vou enviar a Lista do Herbrio Portuguez da Faculdade de Sciencias. Ttulo: Livros de Botanica da Bibliotheca da Escola Medica do Porto. Ttulo: Livros de Botanica da Bibliotheca Municipal do Porto. Ttulo: Nomenclatura (Histria da nomenclatura botnica). Ttulo: Para o dr. Bouly de Lesdain rue Emmery 16 Dunkerque (remetidas em fins de abril de 1920). Ttulo: Povoa de Lanhoso: 8. - 1919 e 9.. Ttulo: Universidade do Porto. Faculdade de Sciencias. Catalogo da Bibliotheca da Seco de Botnica. Organizado por Gonalo Sampaio. Porto, Novembro de 1911. Ttulo: Vieira (5 e 6 de 10-1919). Ttulo: Zoologia. Manuscrito do discurso de G. Sampaio na abertura da 4.a seco do Congresso do Porto. Manuscrito do mini-Cdigo de Nomenclatura Botnica aprovado no Congresso do Porto. Manuscrito do trabalho Nota sbre o gnero Carlosia. Manuscrito do trabalho Subsdios para a Histria dos msicos portugueses.

6. Outros documentos
Bilhete de Identidade de Gonalo Antonio da Silva Ferreira Sampaio, Prof. da Faculdade de Sciencias do Ministerio da Instruo Publica, Universidade do Porto, datado de 1 de Janeiro de 1925. Bilhete manuscrito, datado de 19 de Janeiro de 1916, do Director da Faculdade de Cincias do Porto, para G. Sampaio. Capas (trs) para as trs centrias da exsicata Lichenes de Portugal. Carto pessoal de Afonso Valentim, Rua da Torrinha, 275, Porto.

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Carto pessoal de Docteur Bouly de Lesdain, Dr. es Sciences, 16, rue Emery, Dunkerque. Carto pessoal de Gonalo Sampaio, Naturalista adjunto Academia Polytechnica, Porto, Jardim Botanico. Carto pessoal de Gonalo Sampaio, Naturalista adjunto Polytechnica do Porto. Carto pessoal de Gonalo Sampaio, Prof. da Universidade. Carto pessoal de P.e Affonso Luisier, S. J., Serranos, 2, Salamanca. Convite da Renascena Portuguesa, datado de 30 de Janeiro de 1914. Convite da Universidade de Madrid para G. Sampaio assistir ao Doutoramento Honoris Causa de Gomes Teixeira, datado de Maio de 1922. Convocatria dactilografada para G. Sampaio participar numa reunio da Comisso Executiva do Congresso do Porto, datada de 6 de Abril de 1921. Currculo dactilografado de Anthero F. de Seabra, que contm a sua bibliografia entre 1897 e 1920. Factura de Otto Leonhardt, Nossen, referente venda de exemplares de herbrio. Documento datado por G. Sampaio de Maio de 1908. Factura do Gran Hotel de Madrid y su sucursal Sevilla, referente a uma estadia de G. Sampaio, em Sevilha, de 4 a 12 de Maio de 1917. Folheto comemorativo do sexto aniversrio do Orfen Lusitano de 1928. Fotografia de Afonso Valentim, com a seguinte mensagem manuscrita: Ao Ex.mo Senhor Dr. Gonalo Sampaio, Homenagem de Afonso Valentim, Dezembro de 1931. Fotografia de J. Mariz, no-datada. Fotografia de J. M. Miranda Lopes em Argoselo, no-datada (oferta de Carlos Prada de Oliveira). Fotografia de Julio Henriques, com a seguinte dedicatria manuscrita: Ao meu dedicado amigo Gonalo Sampaio, recordao do meu 80.mo aniversario, Coimbra 17 de Janeiro de 1918, Julio Henriques. Fotografia do Colgio jesuta del Pasaje, em La Guardia (cpia de originais do Colgio Nuno lvares, Caldas da Sade). Fotografia do Colgio Nuno lvares, em Caldas da Sade, no incio da dcada de 1930 (cpia de originais do Colgio Nuno lvares, Caldas da Sade). Fotografia pessoal de Carlos Pau, datada de 1935. Fotografia pessoal de G. Sampaio, provavelmente da dcada de 1930. Fotografias do Colgio de Nuno lvares na actualidade. Ofcio n. 422, datado de 12 de Janeiro de 1914, do Director da Faculdade de Cincias do Porto, para G. Sampaio. Provas tipogrficas da continuao da Flora Duriense, muito emendadas. Provas tipogrficas do trabalho sobre o gnero Carlosia (SAMPAIO, 1923b). Telegrama de Joo Saraiva para o Administrador do concelho de Pvoa de Lanhoso, datado de 13 de Setembro de 1907.

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Telegrama do secretario geral (do Ministrio da Instruo?) para Augusto Nobre, de 3 de Janeiro de 1914. Trabalho de um aluno: Gabinete de Microphotographia da Academia Polytechnica do Porto, Vasos riscados dum caule de feto, Abril de 1910, Guilherme Machado Braga, n. 43. Trabalho de um aluno: Gabinete de Microphotographia da Academia Polytechnica do Porto, Corte transversal do caule de Petroselinum sativum, Abril de 1910, J. M. V. Castro e Silva, n. 57. Traduo (dactilografada em papel timbrado Museu Bocage em Lisboa) feita por A. Ricardo Jorge de uma carta de Einar du Reitz do Museu Botnico de Uppsala na Sucia para G. Sampaio, datada de Maio de 1926.

7. Comentrios de G. Sampaio em obras impressas (anotaes manuscritas)


Em Corollarium institutionum rei herbariae de Tournefort. Em Genera plantarum de Lineu. Em Genera plantarum de A.-L. Jussieu. Em Opera omnia de Matthiolo. Em Rariorum plantarum historia de Clsio. Em Stirpium historiae pemptades sex. Sive liberi XXX de Dodaneo. Em Theatri botanici de Gaspar Bauhino.

Biblioteca Nacional de Portugal 8. Correspondncia expedida por G. Sampaio para A. Ricardo Jorge
(BNP A/1987-2099) 1913 01 09 A/2064 1913 05 16 A/2012 1914 05 00 A/2069: no datado: carimbo: 1[ilegvel o segundo nmero]-5-14 19H 1916 02 21 A/2011 1917 06 27 A/2091 1917 08 03 A/2094 1917 08 13 A/2090 1917 12 03 A/2073 1917 12 13 A/2021 1918 02 13 A/1995 1918 06 17 A/1992 1918 08 23 A/2027 1918 10 20 A/2029 1920 01 30 A/2049 1920 05 16 A/2088 1920 10 03 A/2014 1920 10 04 A/2045 1923 05 09 A/2051: o dia ilegvel, mas pelo seu contedo datvel do dia 9. 1926 07 03 A/1987 1929 01 24 A/2000 1929 02 18 A/2006 1930 08 06 A/2066

9. Esplio de Ricardo Almeida Jorge


(BNP, E18) Carta de G. Sampaio para Ricardo Jorge, datada de 18 de Maio de 1916. Provas tipogrficas emendadas, do trabalho de RICARDO JORGE (1963)

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Fontes impressas 10. Peridicos e monografias AAPP, Annuario da Academia Polytechnica do Porto Edies para os anos lectivos: 1901-1902 e 1910-1911. ABBOTT, ALISON 2008 Hidden treasures: the Cajal collection in Madrid. Nature, 452: 940. ADANSON, M. 1763 Familles des plantes. I. Partie. Contenant une prface istorike sur ltat ancien & actuel de la Botanike, & une torie de cette Science. A Paris, Chez Vincent, imprimeur-libraire de Mgr. le Comte de Provence, rue de S. Severim. AFSP, Anurio da Faculdade de Scincias do Porto Edio para os anos lectivos: 1911-1912 a 1913-1914. AFSUP, Anurio da Faculdade de Scincias da Universidade do Porto Edio para os anos lectivos: 1914-1915 a 1917-1918. ALC, Annuario do Lyceu de Cames Annuario de 1908-1909. ALCL, Annuario do Lyceu Central de Lisboa Annuario de 1907-1908. Typographia do Annuario Commercial, Lisboa. ALLORGE, LUCILE & IKOR, OLIVIER 2003 La fabuleuse odysse des plantes. Les botanistes voyageurs, les Jardins des Plantes, les herbiers. Hachette Littratures, Paris, 861 pp. ALMEIDA, LUS FERRAND DE 1992 A propsito de milho marroco em Portugal nos sculos XVI-XVIII. Revista Portuguesa de Histria, 27: 103-143. DAVOINE, P.-J. 1850 loge de Rembert Dodons. Typographie de J. F. Olbrechts, Bruxelles, 146 pp. AZEVEDO, C. M. 1913 A Broteria no exlio. Broteria Suplemento de Maro-Abril de 1913. B, Broteria Volume VII, serie de Vulgarizao Scientifica. Volume XIII, serie Botanica. Volume XXI. BARBOSA, ANTNIO

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250

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Apresentamos uma bibliografia completa de G. Sampaio. Ver captulo IV.3A.

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1901a

1909a 1909b 1910a 1910b 1910c 1911a

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1911b 1911c 1912a 1912b 1913a 1913b

1913c 1914a

1914b

1914c

1915 1916a 1916b 1916c 1917a 1917b

1917c 1917d 1918a 1918b 1920a 1920b

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1920c 1921a 1921b 1921c

1921d 1922a 1922b 1923a 1923b 1923c 1923d 1924 1929 1931a 1931b 1931c

1933 1934a 1934b 1935a 1935b 1936a 1936b 1937

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ndiceremissivo
A
A Aguia, 48 A. A. da Costa Ferreira, 111, 116 A. A. F. Benevides, 60 A. Acloque, 60 A. Bensaude, 110, 188 A. C. Oliveira Pinto, 113 A. Cardoso Pereira, 111 A. H. Magnusson, 206, 208, 220, 221, 222, 223, 226 A. J. de Souza Jnior, 115 A. Le Cocq, 112 A. Luisier, 112, 123, 124, 125, 141, 187 A. Machado, 120, 126 A. Nobre, 113, 205 A. P. De Candolle, 60, 61, 64, 90, 91, 181 A. Pires de Lima, 57, 138, 147, 148 A. Ricardo Jorge, 26, 28, 43, 46, 148, 206, 209, 229 A. Rozeira, 148 A. Thellung, 187 A. X. Pereira Coutinho, 94, 112, 115, 117, 120, 121, 122, 127, 128, 140, 162, 166, 187, 196, 209 A.-L. Jussieu, 85, 86 Aaro de Lacerda, 45 Academia das Cincias de Lisboa, 30, 60, 64, 76, 87, 106, 109, 113, 114, 115, 188 Academia Politcnica, 124, 146, 149, 196, 201 Academia Politcnica do Porto, 29, 108, 113, 149 Academia Polytechnica do Porto, 34, 41, 120, 160 Academia Portuguesa de Histria, 46, 188 Academia Real da Marinha e Comrcio, 80 Acarospora, 43 Acarospora Alberti Samp., 212, 217, 237 Acarospora duriana B. de Lesd. & Samp., 241 Acarospora flavorubens Bagl. & Car. var. angulosa Samp., 237 Acarospora granatensis Samp., 237 Acarospora Lesdainii Harm. Ex A. L. Sm. var. alberti Samp., 237 Acarospora Lesdainii Samp., 237 Acarospora Magnussoni Samp., 228, 237 Acarospora varzinensis Samp., 237 Acarospora Zahlbruckneri Samp., 43, 221, 224, 237 Acharius, 208, 222 Af. De Candolle, 61, 181, 182, 184, 190 Affonso Vieira dAndrade, 19 Afonso Valentim, 52, 53, 54 Alberto de Aguiar, 109 Alberto Pimentel, 49 Aldrovandi, 68 Alectoria dichotoma (Hoffm.) Samp., 237 Alectoria dichotoma (Hoffm.) Samp. var. variegata Samp., 228, 237 Alsine maritima Samp. ra. atheniensis (Samp.) Samp., 234 Alsine purpurea Heynh. var. crassipes (Samp.) Samp., 234 Alsine purpurea Heynh. var. indurata (Samp.) Samp., 234 Alsine rupicola Heynh. var. australis (Samp.) Samp., 234 lvaro Basto, 26 Amandio Gonalves, 146, 149, 201 Amato Lusitano, 66, 92, 93, 112, 233 Amici, 89 Amphiloma lobulatum (Oliv.) Samp., 237 Annibal Bettencourt, 110 Anthericum liliago var. transmontanum (Samp.) Samp., 234 Anthericum lusitanicum (Samp.) Samp., 234 Anthero F. de Seabra, 106, 114, 116, 118, 119, 120, 121, 188 Anthylis, 98 Antnio Domingues Correia, 57 Antonio Mantas, 187 Antnio Soeiro, 25 Arenaria conimbricensis Brot. ra. littorea Samp., 137, 234 Argoselo, 125, 127 Aristteles, 65, 71, 74 Armeria Willkommii J. Henriq. var. odorata Samp., 236 Arnaldo de Villanova, 67 Arnoldus de Bruxella, 67 Arthonia algarbica Samp., 237 Arthopyrenia cinereopruinosa Koerb. var. olivetorum Samp., 237 Ascherson, 182, 183, 187 Asociacin Espaola para el Progreso de las Cincias, 29 Aspicilia transmontana Samp., 237 Athias, 105, 106, 109, 110 Aubriet, 78, 79 Aurlio Quintanilha, 118, 131, 229 Averris, 67 Avicena, 67 Ayres Kopke, 112

B
B. A. Gomes, 61 B. Merino, 153 Bachmann, 77 Bacidia cuprea (Mass.) Samp., 237 Bacidia mesoidea (Nyl.) Samp., 237 Bacidia sulphurella Samp., 237 barba-de-bode, 101 Barbaro, 66 Barcelona, 171, 187 barrilheiras, 98 Belarmino Osrio, 26

Gonalo Sampaio. Vida e obra pensamento e aco

271

Belleval, 68 Bello de Morais, 109 Bernardo de Jussieu, 60, 63, 85 Bertino Daciano R. S. Guimares, 45 Bethencourt Ferreira, 106, 110 Biblioteca Pblica Municipal do Porto, 59, 63, 79, 81, 82, 139 Blastenia subarenaria Samp., 237 Boerhaave, 82, 84, 189 Boissier, 60, 88, 176, 190 Boistel, 61, 208, 219 Boletim da Sociedade Broteriana, 117, 118, 123 Bolvar, 52, 172, 176, 177, 190, 229, 230 Bouly de Lesdain, 187, 206, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 214, 215, 216, 217, 218, 219, 228, 233, 241 Brassica Johnstoni Samp., 150, 234 Broteria, 43, 112, 114, 118, 123, 124, 125, 171 Brotero, 55, 61, 63, 64, 88, 94, 97, 100, 101, 136, 149, 157, 167, 168, 174, 186, 190 Broussonet, 90 Brunfels, 69 Buellia Duartei Samp., 214, 224, 237 Buellia indissimilis (Nyl.) Samp., 237 Buellia Jorgei Samp., 237 Buellia myriocarpa Mudd. var. lusitanica Samp., 237 Buellia pseudosaxatilis Samp., 237 Buellia subcinerascens (Nyl.) Samp., 237 Bunium flexuosum ra. Marizianum (Samp.) Samp., 234

Casimiro De Candolle, 181 Catlogo analtico dos lquenes portugueses, 229 Catalogus lichenum universalis, 42, 43, 226, 240 Catillaria melastigma Samp., 237 Cavanilles, 63, 88, 167, 190 cecdias, 114 Celestino da Costa, 106, 109, 110, 111, 121 Celestino Lobo, 48 Celestino Maia, 199 Centurias Medicas, 92 Cesalpino, 68, 73, 74 Cetraria chlorophylla Samp., 237

Ch
Ch. Chamberlain, 61 Chiodecton Fragosoi Samp., 228, 237 Chodat, 38, 61, 152, 187 chupa mel, 102

C
cip do reino, 103 Circa instans, 67 Cladonia foliacea Willd. ra. convoluta Samp., 237 Cladonia subturgida Samp., 238 Cladonia verticillata Hoff. ra. cervicornis Samp., 238 Clsio, 66, 68, 70, 72, 73, 74, 83 Clusius, 40, 61, 69, 72, 73, 74, 84, 98, 167, 193 Cdex Aniciae Julianae, 66, 74 Cdex de Munique, 66 Cdex Neapolitanus, 66 Cdex Vindobonensis, 66 Cdigo Americano de Nomenclatura Botnica de 1907, 184 Cdigo de Paris de 1867, 181 Cdigo de Rochester de 1892, 182, 184 Cdigo de Viena de 1905, 184, 185, 186 Colgio de Campolide, 112, 114, 118, 123, 124 Colgio de S. Fiel, 113, 114, 123, 124 Colgio de Setbal, 114, 124 Colegio del Pasaje, 112, 113, 124, 125, 190 Colgio Nuno lvares, 112, 113, 114, 124 Collema anemoides Samp., 238 Collema Harmandii Samp., 238 Collemopsidium stenosporum Samp., 238 Colmeiro, 70, 93, 167, 174 Colquios dos Simples, 63, 64, 70 Columna, 63, 69, 74 Comentrios a Dioscorides, 92 Compendio de Botanica, 60, 61, 88, 130 Conceio Velloso, 62 Conde de Ficalho, 91, 117 Congresso de Botnica de Bruxelas de 1910, 35, 39 Congresso de Botnica de Gnova de 1892, 182 Congresso de Botnica de Londres de 1866, 181 Congresso de Botnica de Paris de 1867, 181 Congresso de Botnica de Paris de 1900, 183

C
C. Acqua, 60 C. Allioni, 60 C. Azevedo de Menezes, 109, 188 C. Frana, 105, 106, 111 C. L. Pereira, 125, 126 C. M. F. da S. Beiro, 61 C. Pau, 152, 153, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 172, 173, 174, 175, 176, 178, 179, 180, 187 C. Torrend, 115 C. Zimmermann, 115, 124 Caballero, 171 Calicium brunneolum Ach. var. stemonoides Samp., 237 Caloplaca herminica Samp., 237 Caloplaca Lallavei (Clem.) Samp., 237 Caloplaca Lesdaini Samp., 211, 237 Caloplaca peregrina Samp., 237 Cancioneiro Minhoto, 57, 145 Candido Mendes, 113, 118 Cantos populares do Minho, 45, 55 Cantos populares minhotos a Nossa Senhora, 45, 56 Carex algarbiensis Samp., 234 Carex Broteriana Samp., 138, 234 Carex intacta Samp., 137 Carlosia lusitanica Samp., 237 Carlosia Samp., 49, 206, 237

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Congresso de Botnica de Viena de 1905, 182, 184 Congresso de Salamanca, 49 Congresso de Sevilha, 161 Congresso do Porto, 126, 161, 171, 172, 191, 194 Coniocybe brunneola (Ach.) Samp., 238 Coniocybe chrysicephala (Fr. fil.) Samp., 238 Conopodium Marizianum Samp., 117, 234 corais do Minho, 45, 47, 48, 49 Cordus, 69, 71 Cro das maadeiras, 45, 56 Correia da Serra, 87 Corydalis claviculata DC var. picta Samp., 234 Crantz, 63, 64, 84 Cristbal Acosta, 63 Cristvo da Costa, 63, 72 Cynoglossum clandestinum Desf. var. fallax Samp., 234 Cyphelium Zahlbruckneri Samp., 228, 238

D
Dalechamps, 61 Dalla Torre, 172 Darwin, 7, 90 Daucus breviaculeatus Calestani var. rubescens Samp., 234 De Historia Mundi, 66 De Materia Medica, 66, 67, 71, 92 De Vries, 90 De Wildeman, 187 Decaisne, 90, 190 Decreto de 15 de Maio de 1911, 203 Desfontaines, 63, 88, 167, 170 Dianthus graniticus var. Marizi Samp., 234 Dianthus Marizi (Samp.) Samp., 234 Diario Nacional, 15, 19 Digitalis Amandiana Samp., 234 Dillen, 82 Dillenio, 82 Dillenius, 59, 82, 189, 193 Dinis Neves, 136 Dioscorides, 63, 65, 66, 67, 69, 70, 71, 72, 74, 76, 81, 92, 93, 95, 98, 189 Diphratora subdisparata (Nyl.) Samp., 211, 238 Diphratora vulturiensis Samp., 238 Diploschistes cinereocaesius Samp., 238 Diploschistes cinereocaesius Samp. var. violarius Samp., 238 Dodaneo, 72, 73 Dodoens, 61, 72, 73, 74 Dodonaeus, 69, 73, 74, 84 Duque de Lafes, 87

Echium rosulatum Lge. var. campestre Samp., 234 Edwin Johnston, 150 Ehrenberg, 89 Ehret, 83 Endlicher, 64 Engler, 43, 85, 176, 182, 183, 187, 207, 225, 227 Epilobium aganallidifolium Lam. var. diffusum Samp., 235 Epilobium alpinum Lin. var. diffusum (Samp.) Samp., 235 Epitome da Flora Portuguesa, 146 Ernesto Joo Schmitz, 115 Erodium sublyratum Samp., 235 Escola de Salerno, 67 Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa, 60, 62, 93, 109, 110, 114, 188 Escola Mdico-Cirrgica do Porto, 13, 63, 93, 109, 112, 115, 147, 149, 187 Escola Politcnica, 91, 111, 117, 120, 122 espargos, 100 esparto, 95, 96 espcies broterianas, 174 espinheiro, 101 Euphrasia Mendonae Samp., 235 Evax lusitanica Samp., 235 exsicata, 28, 149, 150, 237 exsicatas, 183, 185

F
F. A. Chaves, 111 F. Mattoso Santos, 105, 106, 112 F. Mller, 113 F. Newton, 113 F. X. Silva Telles, 114 Faculdade de Cincia de Lisboa, 110 Faculdade de Cincias de Lisboa, 28, 109, 112, 114, 115, 117, 128, 131, 220 Faculdade de Cincias do Porto, 4, 22, 29, 60, 72, 73, 74, 76, 77, 78, 81, 108, 110, 113, 121, 126, 147, 148, 153, 199, 204, 229, 231, 233 Faculdade de Medicina de Lisboa, 109, 110, 111, 112 Faculdade de Medicina do Porto, 109, 112, 115 fado, 45, 47, 48, 49, 232 Fernando Sampaio, 166, 169 Ferreira da Silva, 20, 108, 191 Flahault, 184 Flora Duriense, 138 Flora francesa, 88, 90 Flora Ibrica, 171, 173, 177, 233 Flora lusitanica, 61, 88, 94, 117, 123, 124 Flora lusitanica exsiccata, 117, 123 Flora Portuguesa, 138, 147 Flore Portuguaise, 91 Folha Democratica, 7, 11 Font Quer, 172, 177, 230 Fr. Sennen, 27, 187

E
E. P. Canto e Castro, 111 Echium Broteri Samp., 234 Echium gaditanum Bois. form. campestre (Samp.) Samp., 234

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Frankenia, 99 Franquismo, 5, 12, 13, 15 Fries, 208 Fuchs, 63, 69, 70, 73

G
G. Arcangeli, 60, 158 G. Bonnier, 61 Gaertner, 63, 86 Gagea nova Samp., 127, 178, 235 Gagea pratensis ra. nova (Samp.) Samp., 178, 235 Galeno, 66, 67, 70, 75, 93 Garcia de Horta, 63, 64, 70, 72 Grtner, 63 Gaspar Bauhino, 60, 74, 98 Gaza, 65 Genera plantarum, 59, 64, 82, 85, 88, 96, 98, 99, 182, 184, 186 Genera plantarum secundum ordines naturales disposita, 64, 85, 88 Gesner, 71, 72, 77, 192 Gessner, 61, 71 Ghini, 68 Girardia cantabrica Samp., 238 Gleditsch, 64 Gomes Teixeira, 29, 30, 31, 41, 42, 138, 191 gr dos tintureiros, 96 Gratiola meonantha Samp., 235 Gratiola officinalis Lin. var. meonantha (Samp.) Samp., 235 Grew, 75, 86 Grisley, 76 Gyalecta decipiens Samp., 238 Gyalecta deminuta Samp., 238 Gyalecta limica Samp., 238 Gyrophora torrefacta Samp., 238

incunbulos, 67 Ingen-Housz, 86, 87 Insalde, 125 Instituto Bacteriolgico Cmara Pestana, 109, 110, 111, 114 Instituto de Agronomia e Veterinria, 110, 113, 114, 115, 117 Instituto de Botnica Dr. Gonalo Sampaio, 232 Instituto de Investigaes Botnicas, 203 Instituto Geral de Agricultura, 109, 117 Instituto para a Alta Cultura, 52, 111, 117, 148 Instituto Superior de Agronomia, 113, 115 inveno da tipografia, 67 Isaac Newton, 149, 207

J
J. A. Guimares, 112 J. A. P. Azevedo Neves, 109 J. Antunes Pinto, 109 J. Briquet, 183, 184 J. Casimiro Barbosa, 60, 149 J. Daveau, 122, 187 J. G. Gmelin, 61 J. Henriques, 27, 94, 96, 112, 117, 118, 119, 122, 125, 126, 127, 183, 196, 207 J. J. de Figueiredo, 64 J. Lange, 122, 152 J. M. de Almeida Lima, 109 J. M. Miranda Lopes, 125, 127, 129, 131, 134 J. M. Queiroz Veloso, 187 J. Mariz, 117, 122 J. Miranda do Valle, 113 J. P. Rasteiro, 113 J. Pontederae, 62 J. S. Tavares, 26, 106, 114, 123, 124, 125 J. V. Paula Nogueira, 113 J. Verissimo dAlmeida, 115, 120, 188 Jacintho P. Gomes, 112 Jardim Botnico da Ajuda, 68, 87, 88, 91 Jardim Botnico de Berlim, 64, 85, 91, 176 Jardim Botnico de Bolonha, 68 Jardim Botnico de Chelsea, 83 Jardim Botnico de Coimbra, 53, 68, 87, 88, 113, 117 Jardim Botnico de Florena, 81 Jardim Botnico de Genebra, 90 Jardim Botnico de Gotinga, 84 Jardim Botnico de Heidelberga, 68 Jardim Botnico de Leida, 68, 189 Jardim Botnico de Lisboa, 117, 122 Jardim Botnico de Montpellier, 62, 68 Jardim Botnico de Pdua, 68 Jardim Botnico de Pisa, 68, 73 Jardim Botnico de Turim, 60 Jardim Botnico de Viena, 64, 72, 73 Jardim Botnico de Zurique, 71 Jardim Botnico e Experimental, 149

H
H. Coste, 187 H. Mastbaum, 112 H. Olivier, 208, 209, 219, 220, 223 Hales, 80 Harmand, 207, 208, 212, 215 Herbrio da Universidade de Coimbra, 122, 138 herbrios, 68, 122, 124, 153, 163, 169, 176, 178 Herbarium Apulei, 66, 67 herbolrios, 67, 69 Hintze Ribeiro, 12 Hirci barbula, 101 Hofmeister, 90 Hypogymnia tubulosa Samp., 238

I
Iconografia Selecta, 147, 148 Ildefonso Borges, 110

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Jardim do Rei, 62, 63, 76, 78, 84, 85 jardins botnicos, 68 Jatta, 206, 208, 218 Joo Bauhino, 75 Joo Franco, 12, 13, 14, 15, 17 Joo Loureiro, 87 Joo Sampaio, 22, 25 Joo Saraiva, 13, 14 Joo Vigier, 80 Joaquim Sampaio, 22, 138 Joaquim Tavares, 149 Jornal de Noticias, 47 Jos de Magalhes, 188 Julia Sampaio, 42 Juncus obtusiflorus Ehrh. var. farctus Samp., 235 Juncus subnodulosus Schrk. var. farctus (Samp.) Samp., 235 Junta para Ampliacin de Estudios e Investigaciones Cientficas, 172, 229, 230

K
Kali, 98 Koerber, 208 Koerberia lusitanica Samp., 238 Krber, 208

L
L. Cresp, 51, 229 L. J. Chenon, 61 L. W. Carrisso, 229 lObel, 71 labrsto, 100 Lacaita, 152, 167, 190 Laguna, 66, 92, 101 Lamarck, 84, 85, 88, 90, 190 Laserpitium thalictrifolium Samp., 235 Lecania badiella Samp., 238 Lecania citrinella Samp., 238 Lecania Lesdani (Samp.) Samp., 238 Lecania rimularum Samp., 238 Lecania sampaiana B. de Lesd., 212, 214, 241 Lecanora bracarensis B. de Lesd. & Samp., 241 Lecanora calvosina Samp., 238 Lecanora Celestini Samp., 214, 217, 224, 238 Lecanora circumrubens Samp., 238 Lecanora citrinella (Samp.) Samp., 238 Lecanora conimbricensis (Samp.) Samp., 238 Lecanora conimbricensis (Samp.) Samp. var tumidula Samp., 238 Lecanora gerezina Samp., 238 Lecanora herminica (Samp.) Samp., 238 Lecanora Lesdaini (Samp.) Samp., 238 Lecanora Limica B. de Lesd. & Samp., 241 Lecanora lisbonensis Samp., 238 Lecanora pachycarpa Samp., 238 Lecanora peregrina (Samp.) Samp., 238

Lecanora piniperda Krber var. lusitanica B. de Lesd. & Samp., 241 Lecanora pruinella (Bagl.) Samp. var. cintrana Samp., 238 Lecanora rustica Samp., 238 Lecanora subarenaria (Samp.) Samp., 238 Lecanora tristis Samp., 238 Lecidea acicularis (Anzi) Samp., 238 Lecidea athallina (Hellb.) Samp., 238 Lecidea atrogrisea (Hepp.) Samp., 238 Lecidea Chodatii Samp., 238 Lecidea flavigrana Samp., 238 Lecidea limica (Samp.) Samp., 238 Lecidea Machadoi Samp., 228, 238 Lecidea macrocarpoides Samp., 238 Lecidea moriformis (Th. Fr.) Samp., 238 Lecidea nigrescens (Anzi) Samp., 238 Lecidea populicoa Samp., 239 Lecidea pseudosaxatilis (Samp.) Samp., 239 Lecidea rigata Samp., 239 Leciographa Fragosoi Samp., 239 Leciographa parellaria (Nyl.) Samp., 239 Leiophloea biformis (Oliv.) Samp., 239 Leiophloea sphaeroides (Wallr.) Samp., 239 leituga, 100, 101 Lemmopsis affinis Samp., 239 Leonardo Coimbra, 48 Leonhardt em Nossen, 150 Lepraria candelaris (Schaer.) Samp., 239 Leptorhaphis epidermis (Ach.) Th Fr. var. olivetorum Samp., 239 Leptorhaphis pinicola Samp., 239 Lesczyc-Suminski, 90 Liceu Cames, 115, 120 Lichenes de Portugal, 28, 206, 237 Lichenes rariores exsiccati, 42, 206, 225 Linaria Munbyana var. pygmea Samp., 235 Linaria pygmea (Samp.) Samp., 235 Linaria spartea (Lin.) Hoff. et Link var. expensa Samp., 235 Lineu, 59, 62, 73, 74, 77, 79, 82, 83, 84, 85, 96, 98, 99, 181, 183, 184, 186, 189, 190, 192, 193, 195, 202, 208 Link, 55, 64, 88, 91, 95, 136, 137, 149, 157, 174, 186, 190 Linnaeus, 82, 83 Lista das espcies, 59, 81, 82, 103, 140, 181, 184, 186, 187, 188, 189, 191 Lithospermum lusitanicum Samp., 235 Livia Sampaio, 22, 30, 31 Lobaria mollissima Samp., 239 Loblio, 70, 71, 72, 83 Lobelius, 74, 193 Loeflingia Tavaresiana Samp., 235 Longinos Navs, 118, 152 Lopadium athalloides (Nyl.) Samp., 239 Lopadium Newtonii Samp., 239

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M
M. A. Reis Martins, 114 M. Adanson, 60 M. de Souza da Camara, 115 M. Rebimbas, 113 Macer Floridus, 67 Madrid, 51, 171, 172, 229 Magnol, 62, 78, 84 Malcomia gracilima Samp., 236 Malpighi, 75 Manoel Amandio Gonalves, 41, 196, 201 Manual da Flora Portugueza, 4, 130, 138, 140, 141, 142, 143, 147, 160, 165 Marqus de Condorcet, 85, 86 mtapulga, 97 Mathiolo, 101, 102 Mathilo, 95, 98, 102 Matthaeus Sylvaticus, 67 Matthioli, 67 Matthiolo, 70, 81, 102 Matthiolus, 74, 81 Maximiano de Lemos, 92, 93, 112 Mendel, 90 Meyer, 69 Micheli, 59, 81, 99, 189 Microglaena Cordeiri (Harm.) Samp., 239 Microglaena sampaiana B. de Lesd., 241 Miguel Bombarda, 106, 109, 110 milho mas, 99 milho mido, 99 Millegrana Radiola Druce var. emarginata (Samp.) Samp., 235 Miller, 83, 84, 177, 193 mini-Cdigo de Nomenclatura Botnica, 194 Mirbel, 89 Monardes, 64 Monarquia do Norte, 20, 21, 25, 28 Monte Cassino, 66, 67 Montia lusitanica Samp., 235 Moreira de S, 46, 47, 50, 53 Morison, 62, 76, 84 Museu de Histria Natural de Paris, 60, 62, 122 Museu Nacional de Cincias Naturais de Madrid, 52, 171, 172, 174, 229 msica popular, 45, 57 Myosotis globularis Samp., 235

nomes conservados, 184, 189 Nylander, 149, 206, 207, 219, 222

O
O Commercio do Porto, 20, 21, 22, 25, 31, 35, 36, 40 O Nacional, 15, 19 O Primeiro de Janeiro, 25, 45 O. Kuntze, 182 O. Leonhardt, 151, 152 Odemira, 137 Odo de Meung, 67 Ogier Ghislain de Busbecq, 66 Omphalaria granitica Samp., 239 Orfeo Lusitano, 53 Orfeon de Braga, 48

P
P. Choffat, 111 Pachyphiale carneolutea (Oliv.) Samp., 239 Pachyphiale limica Samp., 239 Paiva Couceiro, 21, 23 palmeira das vassouras, 95 po e queijo, 102 Paradisia lusitanica var. transmontana Samp., 134, 234 Paradisia lusitanicum Samp., 234 Paredes de Coura, 125, 127 Parmelia conspersa Ach. ra. lusitanica Samp., 239 Parmelia stygia Ach. var. herminica Samp., 239 Partido Regenerador Liberal, 13, 15 pastel do reino, 96, 97 pastel-das-ilhas, 97 pastel-dos-tintureiros, 96 Pertusaria aspicilioides Samp., 239 Pertusaria lutescens Lamy var. conimbricensis Samp., 239 Pertusaria pseudocorallina Samp., 239 Pertusaria pseudocorallina Samp. var. concreta Samp., 239 Physcia caesia Nyl. var. perrugosa Samp., 239 Physcia hispida Tuck. ra. leptalea Samp., 239 Physma hispanicum Samp., 239 Phytographia Lusitaniae selectior, 61, 88, 168, 175 Pilocarpon leucoblepharum (Nyl.) Vain. var. chloroticum Samp., 213, 239 pilriteiro, 101 Pinax, 60, 68, 74, 80, 98 Pinto de Carvalho, 49 plantas carnvoras, 112 Platearius, 67 Plnio, 62, 65, 66, 67, 70, 71, 74, 76, 95, 96, 189 Polyblastia exigua Samp., 239 Pvoa de Lanhoso, 4, 6, 7, 14, 27, 28, 45, 56, 197 Prantl, 176, 207, 225, 227 princpio da prioridade, 183, 184, 188 Prodromo da Flora Portugueza, 4, 140 Prodromus Florae Hispanicae, 122, 123, 159

N
N. Bettencourt, 110 Ngeli, 89 Narcissus junquilla var. Henriquesii Samp., 137 Nepeta latifolia DC var. controversa Samp., 235 Nephrodium filix-mas C. Rich. ra. rupestre (Samp.) Samp., 235 Nephrodium rupestre Samp., 235 nomenclatura botnica, 172, 184, 190, 202, 231

Gonalo Sampaio. Vida e obra pensamento e aco

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Prodromus systematis naturalis regni vegetabilis, 61, 90, 91, 181 Psoroma murale Samp., 239 Psorotichia Henriquesii Samp., 239 Psorotichia macrospora Samp., 239 Pyrenopsis anemoides Samp., 239 Pyrenopsis calvosina Samp., 239

R
R. G. Fragoso, 171, 230 R. T. Palhinha, 115, 117 Radiola multiflora (Lam.) Gmel. var. emarginata Samp., 235 Raius, 77 Ramalina portuensis Samp., 239 Ramon y Cajal, 108 Ranunculus, 150 Ray, 62, 76, 77, 78, 82, 84, 192, 193 Real Academia de Cincias Exactas, Fsicas e Naturais de Espanha, 167, 174 Real Academia do Porto, 80, 85 Real Batalho Acadmico do Porto, 21, 22 Real Jardim Botnico de Madrid, 63, 167, 171, 173, 174 Real Sociedade Espanhola de Histria Natural, 51, 108, 116, 167, 171, 172, 174, 176 Renascena Portuguesa, 48 revoluo de 28 de Maio de 1926, 28 Rhizocarpon discrepans Samp., 239 Rhizocarpon geographicum DC. var. lavatum Samp., 239 Ricardo Jorge, 26, 28, 53, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 112, 142, 143, 144, 145, 148, 186, 187, 209, 211, 226, 229 Rinodina atrocinerella (Nyl.) var. macrospora Samp., 239 Rinodina cintrana (Samp.) Samp., 239 Rinodina confinis Samp., 239 Rinodina confragosa (Ach.) Korb. var. oliveri Samp. (Olivieri), 239 Rinodina conimbricensis Samp., 239 Rinodina conimbricensis Samp. var. tumidula Samp., 239 Rinodina Lesdaini Samp., 239 rio Minho, 126 Rivnio, 77, 83 Rivinus, 59, 62, 77, 78, 79, 189, 193 Robert Brown, 89 Rocha Peixoto, 57, 114, 150 Rodrigo Abreu, 138 Romulea bulbocodium (Lin.) S. et Maur. var. debilis Samp., 236 Romulea Clusiana (Lge.) Nym. var. serotina Samp., 236 Romulea tenela Samp., 236 Rondelet, 61, 68, 71, 72 Rosa rubiginosa Lin. ra. lusitanica (Samp.) Samp., 235 Rosa viscaria Rouy ra. lusitanica (Samp.) Samp., 235 Roth, 84 Rouy, 38, 137, 158, 177, 187, 235

Royal Society, 75, 76, 80, 84 Rubus beirensis (Samp.) Samp., 235 Rubus bifrons Vest. var. duriminius Samp., 235 Rubus brigantinus Samp., 235 Rubus caldasianus Samp., 235 Rubus castranus (Samp.) Samp., 235 Rubus discerptus Mul. var. maranensis Samp., 235 Rubus gerezianus (Samp.) Samp., 235 Rubus Henriquesii Samp., 235 Rubus herminicus Samp., 235 Rubus incurvatus Bab. var. minianus (Samp.) Samp., 235 Rubus koehleri Veihe var. gerezianus Samp., 235 Rubus maranensis (Samp.) Samp., 235 Rubus mercicus Bagnall var. castranus Samp., 235 Rubus minianus Samp., 235 Rubus Muenteri Mars. ra. minianus (Samp.) Samp., 235 Rubus nitidus W. et N. var. lusitanicus Samp., 235 Rubus obtusangulus Gremli ra. beirensis (Samp.) Samp., 235 Rubus obtusangulus Gremli ra. Caldasianus (Samp.) Samp., 235 Rubus peculiaris Samp., 236 Rubus peratticus Samp., 235 Rubus portuensis Samp., 235 Rubus subincertus Samp., 236 Rubus thyrsoideus Wim. ra. peculiaris (Samp.) Samp., 236 Rubus vagabundus Samp., 236 Rupp, 59, 189

S
saganhos, 97 Saint-Hillaire, 64 Salamanca, 112, 114 Salicornia, 97, 98 Salsola, 97, 98 saramago, 100 Saussure, 87 Saxifraga granulata Lin. var. Lopesiana (Samp.) Samp., 236 Saxifraga granulata var. Lopesiana (Samp.) Samp., 130 Saxifraga Lopesiana Samp., 127, 130, 236 Schismatomma graphidioides Samp., 239 Schistomma diplotommoides (Bagl.) Samp., 239 Schleiden, 89 Schmidel, 62 Schwann, 89 Schwendener, 90, 207 Senebier, 64, 86, 87 Senecio gallicus Chaix var. maritimus Samp., 236 Serapio, 67 Seseli granatense Willk. var. Peixoteanum (Samp.) Samp., 236 Seseli Peixoteanum Samp., 236 Silene Boryi Bois. var. duriensis Samp., 236 Silene duriensis (Samp.) Samp., 236

Gonalo Sampaio. Vida e obra pensamento e aco

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Sociedade Broteriana, 91, 94, 106, 112, 117, 118, 123, 124, 125, 127, 128, 129, 130, 134, 140, 162, 171, 183 Sociedade Farmacutica Lusitana, 62 Sociedade Portuguesa de Cincias Naturais, 105, 106, 107, 108, 118, 121 Solenopsora subdisparata (Nyl.) Samp., 239 Solenospora holophaea (Mont.) Samp., 239 Solenospora olivacea (Fr.) Samp. var. spadicea Samp., 239 Species plantarum, 183, 184 Spergularia, 137 Spergularia atheniensis (Heldr. et Sart) Aschers var. salinaria Samp., 234 Spergularia colorata Samp., 137 Spergularia modesta Samp., 137 Spergularia purpurea (Pers.) Don. var. crassipes Samp., 234 Spergularia purpurea (Pers.) Don. var. indurata Samp., 234 Spergularia rupicola Leb. var. australis Samp., 234 Sprengel, 62, 88, 134 Statice humilis Link var. odorata (Samp.) Samp., 236 Subsdios para a histria dos msicos portugueses, 45, 56, 57

Tude de Sousa, 188

U
Umbilicaria deusta (Ach.) Samp., 240 Unger, 89 Universidade de Coimbra, 60, 87, 122, 123 Universidade do Porto, 60

V
Vaillant, 59, 62, 189 van Hoffmansegg, 55, 91, 137, 174, 186, 190 van Leeuwenhoek, 75 Vandelli, 64, 87, 88 Vaucher, 89 Veronica arvensis Lin. ra. demissa (Samp.) Samp., 236 Veronica Carquejeana Samp., 236 Veronica demissa Samp., 236 Veronica officinalis Lin. ra. Carquejiana (Samp.) Samp., 236 Verrucaria Carrisoi Samp., 240 Verrucaria fallaciosa (Stitz.) Samp., 240 Verrucaria Limae Samp., 240 Verrucaria Sampaiana B. de Lesd., 213, 217, 241 Vigier, 62, 64, 80, 98, 99, 101 Vimioso, 125, 127, 129, 131, 134 von Haller, 63, 84 von Mohl, 89 Voyage au Portugal, 91, 96

T
tasna, 103 txones broterianos, 136, 174 Teofrasto, 65, 66, 70, 72 Teucrium Haenseleri Bois. var. Luisieri Samp., 236 Teucrium Luisieri Samp., 236 Th. Johnson, 62 Thuret, 90 Thymus coespititius Brot. var. macranthus Samp., 236 Tirol, 112 Toninia abilabra (Duf. ex Fr.) Samp., 240 Toninia lurida (Bagl.) Samp., 240 Toninia sabulosa (Massal.) Samp., 240 Torro, 136, 137 Tournefort, 59, 62, 64, 65, 66, 67, 69, 71, 73, 74, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 84, 96, 98, 99, 140, 189, 192, 193, 195, 202 tremoo de co, 103 Trichonema bulbocodium Gaw. for. debilis (Samp.) Samp., 236 Trichonema Clusianum Lge. var. serotina (Samp.) Samp., 236 Trichonema tenellum (Samp.) Samp., 236 Trigonella Amandina Samp., 236 Trigonella polycerata Lin. var. amandiana (Samp.) Samp., 236

W
W. Becker, 60 Wallace, 90 Weiditz, 69 Welwitsch, 91, 140, 157, 163, 207 Wilckia gracilima (Samp.) Samp., 236 Willdenow, 84, 85, 90 Willkomm, 54, 88, 97, 117, 122, 152, 154, 159, 161, 165, 168, 169, 172, 174, 176, 190

X
Xanthocarpia aurantiaca (Hepp) Samp., 240 Xanthocarpia vitellinula (Nyl.) Samp., 240

Z
Zahlbruckner, 29, 42, 43, 206, 207, 208, 209, 220, 223, 224, 225, 226, 227, 228, 240

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