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Silvicultura

Tropical
o potencial
madeireiro e não
madeireiro das
espécies tropicais
organização:
FATIMA C. M. PIÑA-RODRIGUES
JOSÉ MAURO SANTANA DA SILVA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Silvicultura tropical [livro eletrônico] : o potencial madeireiro


e não madeireiro das espécies tropicais / organização
Fátima C. M. Piña-Rodrigues, José Mauro Santana da
Silva. -- Sorocaba, SP : Ed. dos Autores, 2021. PDF

Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-00-21092-7

1. Florestas - Conservação 2. Madeira - Brasil 3. Mane-


jo florestal 4. Manejo florestal sustentável 5. Tecnologia I.
Piña-Rodrigues, Fátima C. M.
II. Silva, José Mauro Santana da.

21-62748 CDD-634.909811

Índices para catálogo sistemático:

1. Manejo de produtos florestais : Silvicultura


634.909811

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427


Silvicultura
Tropical
o potencial
madeireiro e não
madeireiro das
espécies tropicais

organização:
FATIMA C. M. PIÑA-RODRIGUES
JOSÉ MAURO SANTANA DA SILVA

2021
ficha técnica
organização:
• Fatima C. M. Piña-Rodrigues • José Mauro Santana da Silva •

colaboração e revisão:
• Ivonir Piotrowski • Lausanne Soraya de Almeida • Suéllen Marum •

projeto gráfico e diagramação:


• Dedê Paiva • www.dedepaiva.com.br •

autores:
• Ana Cláudia Lira Guedes • André Cesar Furlaneto Sampaio • Andrés Avella-
Muñoz • Aparecida Juliana Martins Corrêa • Bárbara Guerreira Alpande Ferreira
• Breno Henrique Pedroso De Araújo • Bruno Costa Do Rosário • Caleb De Lima
Ribeiro • Carlos André Stuepp • Christopher Thomas Blum • Danielle Miranda
De Souza Rodrigues • David Pessanha Siqueira • Deborah Guerra Barroso •
Deborah Cristina Portes • Edgar Andrés Avella-Muñoz • Eduardo Ciriello •
Eduardo Malta Campos Filho • Elivelton Marcos Gurski • Fabiano Gumier Costa
• Fátima C.m Piña-Rodrigues • Franciellen Paola De Sá • Francielli Teleginski •
Frederico Drumond Martins • Giovanna Campos Mamede Weiss De Carvalho •
Helena Cristina Rickli-Horst • Ivonir Piotrowski • Jeniffer Grabias • João Paulo
Fidalgo Carvalho • Juan Carlos Villalba-Malaver • Katia Christina Zuffellato-Ribas
• Lausanne Soraya Almeida • Leandro Porto Latoh • Lucas Amaral De Melo •
Luciana Missae Sato • Luciana Aparecida Rodrigues • Luciele Milani Zem •
Marcela Aparecida de Moraes • Marcelino Guedes • Maria Alves Ferreira • Maria
Kalyane Farias da Silva • Maria Olinda Cherem Corte Bezerra Da Silva • Mariana
Bensberg Alves Guedes • Marília Borgo • Michele Fernanda Bortolini • Miguel
Luiz Menezes Freitas • Pablo Melo Hoffman • Rachel Martins Da Rocha Silva •
Rafael De Souza Silva • Rafaela Cristina Ferreira Borges • Renata Cristina Martins
Pereira • Renata Maggioni • Renata De Deus Silva • Román Ospina-Montealegre
• Rosely Menezes Da Silva Ribeiro • Rosimeri Oliveira Fragoso • Samir Rolim •
Santiago José Elías Velazco • Valeria Ciriello • Valmir Campolino Lorenzi •
PREFÁCIO
“Confusões novas” é o nome de uma pasta criada no meu computador em
1.º de janeiro para arquivar e gerenciar demandas e atividades, fossem
elas boas ou ruins, surgidas no ano entrante. Isso à parte dos livros que
projetara escrever. Mas ninguém poderia imaginar, àquelas alturas do
2020 começando, que em poucos dias o planeta seria imerso numa cruel,
avassaladora e gigantesca pandemia: a do coronavírus.

Com várias confusões em curso – e agora sob regime de confinamento


social –, no mês de junho recebi o convite da Comissão Organizadora do
livro Silvicultura Tropical, para prefaciá-lo. Era uma demanda nova, mas do
rol das boas e irrecusável. Como dizer não à líder do grupo, Prof.ª Fátima
Piña-Rodrigues, minha ex-colega na Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ) – ainda na ativa na Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar, campus Sorocaba)? Ademais, como apresentar uma negativa
para prefaciar um livro de Silvicultura, se foi através dela que, quatro anos
antes do meu ingresso na universidade, descobri a Engenharia Florestal?

Só titubeei em aceitar em face dos muitos outros nomes que poderiam


fazê-lo com maior competência e da minha dificuldade natural em cumprir
prazos após aposentar-me. Mas, considerei incivilizado recusar o convite.
Isso posto, cumpre-me redigir alguns parágrafos sobre a Silvicultura.

As florestas fazem parte da história da espécie humana e do seu destino.


Assim, para assegurar a sua sobrevivência, os humanos desenvolveram num
primeiro momento, a Silvicultura para utilizar, manter e recuperar florestas.

De procedência milenar, e hoje parte integrante da Ciência Florestal, a


Silvicultura consolidou-se na Europa e deu origem naquele continente
aos Cursos de Engenharia Florestal no crepúsculo do século XVIII, e,
em solo pátrio, de 1960 em diante. É um ramo do conhecimento de
fundamental importância para o desenvolvimento florestal do Brasil, que dispõe da
segunda maior área de florestas do nosso planeta. Essa riqueza e a possibilidade da criação
de novas conferem ao país a oportunidade de transformar-se na maior economia florestal
da terra, no curto espaço de uma geração.

Admite uma corrente de pensadores ter ocorrido a ampla disseminação da Silvicultura no Brasil
na segunda metade do século XX. Conjuntura esta secundada num instrumento econômico:
o incentivo fiscal para reflorestamento. Criado em 1966 por lei específica, o mecanismo iria
imprimir ritmo à implantação de florestas no País até 1988. Porém, com a ressalva: privilegiando
apenas espécies exóticas, principalmente dos gêneros Eucalyptus e Pinus.

Retrocedendo-se temporalmente, pode-se também associar o surgimento da silvicultura de


exóticas no País, ainda que em menor escala, à introdução da eucaliptocultura. Conduzida
no estado de São Paulo na primeira década do século XX por Edmundo Navarro de Andrade,
na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, a iniciativa era voltada à produção de lenha e
dormentes para ferrovias.

Cumpre relembrar, no entanto, que poucos meses após desembarcar com a Corte Portuguesa
no Brasil em 1808, o monarca D. João VI mandou preparar um jardim de aclimatação
destinado à cultura de especiarias das Índias Orientais. Três anos depois o Monarca baixou
um Alvará criando a Real Junta da Fazenda dos Arsenais, Fábrica e Fundição da Capitania, a
ela agregando, explicitamente, também um jardim botânico para cultura de plantas exóticas.

Em relação às espécies nativas, o emprego delas em plantios de recuperação na Floresta da


Tijuca no Rio de Janeiro, nas décadas de 1860/70/80, reveste-se de especial simbolismo. Além
de utilizar tais espécies para recuperar áreas de antigos cafezais, a iniciativa destinava-se à
proteção de mananciais de água que abasteciam parte da cidade. A experiência silvicultural
é considerada pioneira, ao menos por parte da comunidade que trabalha com a temática,
quer do ponto de vista da biologia, quer da história.

No tocante à Amazônia, há uma corrente, pequena é verdade, que considera o nascedouro


da Silvicultura na região na Estação Florestal de Curuá-Una, no estado do Pará. Naquele sítio,
a partir de 1958 foram instalados os primeiros experimentos de regeneração natural com
espécies tropicais no País.

Numa outra frente, o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) iniciou suas pesquisas
na área da Reserva Florestal Ducke e na Estação Experimental de Silvicultura Tropical a partir
de 1963, áreas onde vem produzido resultados de pesquisa desde então.

Outra linha histórica indicativa de traços da silvicultura das espécies nativas em nosso país
pode ser encontrada na construção da legislação: ora procurando protegê-las, ora buscando
estimular o cultivo delas. Pode-se considerar que, ao menos no plano das intenções da
proteção, ela nasceu em 1605, com o Regimento do Pau-Brasil. O ato, baixado por Dom
Felipe 3.º, trazia prescrições destinadas a garantir a regeneração da espécie.

A partir daquele ato, verifica-se que a Silvicultura brasileira de nativas – mesmo antes de ser
formalizada enquanto tal – permeia nos quatro séculos seguintes a legislação sobre florestas
em geral ou sobre espécies florestais em particular. Além do Regimento do Pau-Brasil, outro
simbólico ato que o sucedeu foi uma Carta Régia de 1677 sobre cacau. Enquanto o primeiro
voltava-se aos cuidados com a regeneração daquela espécie tintorial, o segundo destinava-
se a estimular o cultivo desta outra, degustativa e alimentícia.

Entre 1637-39, Pedro Teixeira navegou duplamente o rio Amazonas (partiu de Cametá, no
Pará, foi a Quito e voltou), comandando uma grande expedição de reconhecimento da sua
bacia. Um dos relatores da jornada, Cristóbal de Acuña, registrou cacau como uma das quatro
grandes riquezas da região, capaz de enriquecer muitos reinos. Evidência que, associada a
outras, levariam a coroa a baixar a mencionada Carta Régia para o cultivo do cacau na região.

O gênero Theobroma foi provavelmente o primeiro de planta autóctone a ser cultivado no


Brasil pelos europeus, e seguramente o primeiro de porte arbóreo. Pode-se tributar-lhe
ter sido o precursor da silvicultura tropical no país. O certo é que, antes de ser introduzido
na costa Atlântica, o gênero Theobroma já era cultivado largamente no vale amazônico,
retrocedendo assim a origem da silvicultura desta espécie nativa.
Na verdade, a longa trajetória da legislação relacionada às espécies nativas atravessou
séculos num equilíbrio tênue entre a busca da proteção, de um lado, e o estímulo ao cultivo,
de outro.

No tocante ao livro, a sua preparação revela um verdadeiro trabalho de gestão de recursos


culturais e humanos. A obra teve o mérito de reunir uma plêiade de profissionais, de distintas
áreas, focados num objetivo comum no âmbito de um campo da ciência tão determinante
para a sobrevivência da espécie humana e do planeta: a Silvicultura. Um caso concreto bem
sucedido e realizado em curto prazo – dois anos, segundo me revelou a própria Prof.ª Fátima.

O livro está estruturado em 33 capítulos, dois dos quais gerais; os demais abordam cada um
uma espécie vegetal tropical, seguindo, quando possível um roteiro assemelhado que en-
globa: botânica da espécie, tecnologia da madeira e dos produtos não madeireiros, tecnolo-
gia de sementes, produção de mudas, patologia florestal e outras informações, tudo relativo
à respectiva espécie. Refletindo, assim, um grande esforço de investigação e divulgação do
conhecimento, de forma abrangente.

Espera-se que o aprendizado operacional para a produção de tão abrangente trabalho


estimule o grupo a prosseguir nessa linha de investigação e divulgação de outras espécies.
Certamente dialogando e interagindo com outros grupos de pesquisa interessados na mes-
ma temática, de modo a agregar novos colaboradores.

A obra é azada para os tempos atuais em que o País está às voltas com a proposta de recuper-
ar com essências nativas uma expressiva superfície do seu território, dispersa em milhares
de propriedades e posses rurais familiares.

Pelo menos 12 milhões de hectares de recuperação de vegetação nativa até 2030 é objetivo
geral da Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg), meta consignada
no Plano de idêntica nomenclatura e sigla (Planaveg). Instituída por decreto em janeiro de
2017, estabeleceu a Proveg como seu principal instrumento de implementação o Planav-
eg, para dar conta das exigências estabelecidas nas regras de transição contidas na Lei de
Proteção da Vegetação Nativa, de 2012, substituta do Código Florestal de 1965.
A meta de
recuperação de
1 milhão de hectare/ano
(em média) nos 12 anos seguintes ao
lançamento do Planaveg revela, por si só, a necessidade de o País
aportar, na terceira década do milênio, gigantescos esforços em várias
direções: geração de conhecimento, coleta de sementes, produção
de mudas, assistência técnica florestal, plantio propriamente...

No que concerne a exóticas, o avanço, ainda que concentrado em


poucas espécies, foi considerável nos últimos 50 anos, tanto na
pesquisa e disseminação do conhecimento, quanto na efetivação de
áreas plantadas, cuja cifra é estimada em 10 milhões de hectares.

Espera-se que o País possa, nas próximas décadas, consolidar uma


“segunda onda” no campo da Silvicultura: o das espécies nativas.
Para o sucesso do empreendimento, as instituições e os profission-
ais envolvidos nesse campo da ciência deverão dedicar-se laboriosa-
mente para a redução do custo por hectare de recuperação da vege-
tação nativa. Pois enquanto este superar o valor por unidade de área
da terra em questão, não haverá instrumento legal capaz de imputar
apenas ao proprietário o custo de recuperação.

A obra em apreço, visa a contribuir nesse novo contexto. Parabéns aos


autores, pelo esforço empreendido!

José de Arimatéa Silva


Eng.º Florestal, Prof. aposentado da UFRRJ
Sorocaba, setembro de 2020
.
Sumário
Apresentação 14

A silvicultura próxima da natureza e a valorização da floresta nativa do Brasil 16

Silvicultura próxima a natureza: o caso dos produtos florestais não madeireiros 32

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm. 60

Ateleia glazioveana Baill. 84

Calophyllum brasiliense 92

Calycophyllum spruceanum Benth. K. Schum. 110

Campamonesia xanthocarpa (Mart.) O.Berg 130

Cariniana legalis (Mart.) Kuntze 146

Colletia paradoxa (Spreng.) Escal. 164

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. 176

Curitiba prismatica (D.Legrand) Salywon & Landrum 202

Dipteryx alata Vogel 214

Drimys brasiliensis Miers 226

Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish 234

Ilex paraguariensis A. St.-Hil. 252

Mimosa caesalpiniifolia Benth. 280

Mimosa strobiliflora Burkart 314

Moringa oleifera Lam. 324


Pereskia aculeata Mill. 360

Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardlew. 372

Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme 384

Plathymenia reticulata Benth 394

Psychotria nuda (Cham. & Schtldl.) Wawra 420

Tectona grandis Lf 436

Tibouchina spp. 460

I. Tibouchina affinis fothergillae Cogn. 462

II. Tibouchina granulosa Cogn. 468

III.Tibouchina heteromalla Cogn. 474

IV. Tibouchina moricandiana var. vinaceae Baill. 480

V. Tibouchina sellowiana (Cham.) Cogn. 486

Toona ciliata M. Roem 492

Trithrinax acanthocoma Drude 524

Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. 538

Vochysia bifalcata Warm. 558

SILVICULTURA DE ESPÉCIES LATINO-AMERICANAS 568

Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze. 568

Quercus humboldtii Bonpl. 580


Apresentação
É uma grande satisfação e orgulho participar da apresentação de uma
publicação tão relevante e apropriada para o mundo de hoje. Esse
trabalho coordenado pelos professores José Mauro Santana da Silva
e Fatima C.M. Piña-Rodrigues, Eng. Ambiental Ivonir Piotrowski e
Eng. Florestal, Lausanne Soraya de Almeida e e Arquiteta Urbanista e
Paisagista Suéllen Marum, com a participação de vários especialistas
renomados, é uma importante contribuição para tornar o Brasil um
líder global na silvicultura tropical e ajudar o país no cumprimento de
seus compromissos nacionais e internacionais.

A atual crise climática demanda soluções urgentes e ambiciosas para


manter o aumento médio da temperatura global entre 1,5-2,0oC até o
final do século. Estudos científicos já mostraram que parte desse desa-
fio deve resolvido através de soluções baseadas na natureza, como re-
cuperação de áreas degradadas em larga escala. Um dos compromissos
globais assumidos é o Bonn Challenge, o qual tem a meta de restaurar
e reflorestar 350 milhões de hectares de áreas e florestas degradadas
até 2030. Desde 2011, quando foi anunciado a meta do Bonn Chal-
lenge, surgiram muitas iniciativas regionais e locais como a Iniciativa
20 x 20, AFRI100, Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Aliança para
Restauração da Amazônia, Programa Reflorestar, Plano Conservador da
Mantiqueira, Rede de Sementes Xingu, Programa 1 Bilhão de Árvores,
Programa Nascentes, e muitos outros.

O Brasil se comprometeu a restaurar e reflorestar 12 milhões de hect-


ares de terras degradadas como parte de seu esforço para alcançar as
metas climáticas e com isso a aceleração e ampliação de programas de
reflorestamento através do plantio de árvores de espécies nativas tor-
nou-se uma questão prioritária. Além disso, a inserção de espécies na-

14
tivas em sistemas de produção agropecuários pode ser um negócio
viável para o produtor e investidor. Mas para que o Brasil tenha
sucesso na implementação de uma silvicultura de espécies nativas,
é necessário aumentar o conhecimento sobre as espécies nativas e
desenvolver tecnologias e soluções científicas para diminuir a per-
cepção de riscos por parte dos produtores rurais e investidores.

O livro “Silvicultura Tropical: o potencial madeireiro e não madeireiro


das espécies tropicais” supre uma lacuna importante no conheci-
mento das espécies nativas. Ao abordar a botânica das principais
espécies nativas tropicais, tecnologia da madeira e dos produtos
não madeireiros, tecnologia de sementes e mudas, melhoramento
genético, manejo silvicultural e patologia, os autores conseguiram
tornar esse conhecimento útil e prático para pesquisadores e produ-
tores rurais, técnicos, extensionistas e estudantes.

Estou certo que essa publicação não só ajudará no aumento do nos-


so conhecimento sobre as principais espécies nativas tropicais, mas
servirá de inspiração para todos aqueles que acreditam no papel da
silvicultura tropical numa economia de baixo carbono para o Brasil.

Miguel Calmon
Consultor Sênior - WRI Brasil
Julho 2020

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A silvicultura próxima da natureza
e a valorização da floresta nativa
do Brasil
João Paulo Fidalgo Carvalho
Licenciatura e mestrado em Engenharia Florestal, doutorado na área da Silvicultura e pós-
doutoramento na mesma área nos EUA (USDA Forest Service, Southern Research Station e North
Carolina State University, Fulbright). Professor de Silvicultura e Dendrologia da Universidade de Trás-
os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real, desde 1988. Membro do Centro de Investigação e de
Tecnologias Agro-Ambientais e Biológicas (CITAB), Membro delegado da Organização Internacional
de Silvicultura Pro Silva – Integrated Forest Management desde 2001 e integra o grupo de trabalho
inter-institucional para a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas para as Florestas.
Silvicultura Tropical

Introdução

A floresta autóctone ou nativa constitui um importante património natural do Brasil pelo


que assume uma grande importância a vários níveis. Possui várias valências, importantes para
o ambiente em geral e como suporte de vida da sociedade. Para além do seu valor intrínseco,
a floresta nativa é relevante não apenas ao nível ambiental e ecológico, mas também do ponto
de vista económico e social. Do ponto de vista ecológico, desempenha importantes funções
relacionadas com o ciclo hidrológico, a conservação do solo, o sequestro de carbono atmosférico,
a regulação climática, e constitui o habitat para muitas formas de vida que dela dependem. É um
recurso económico, fornecendo diversos bens e serviços que as populações humanas necessitam,
possibilitando diversas actividades económicas. A nível social, a floresta é também relevante,
oferece paisagem, constitui um espaço para o recreio, assim como abrange ainda aspectos
históricos e culturais, contribuindo para a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida.
As políticas florestais ao longo das últimas décadas em pouco favoreceram a floresta
natural, com os programas a beneficiarem sobretudo outras espécies florestais. Em muitos casos,
assiste-se a uma degradação e fragmentação mais ou menos importante da floresta nativa, o que
acarreta alguns problemas ao nível da sua gestão florestal e de conservação dos habitats.
Um crescente abandono de terras marginais e de algumas atividades degradativas

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a que se tem assistido, bem como, medidas políticas de desenvolvimento sustentável, abrem

A silvicultura próxima da natureza e a valorização da floresta nativa do Brasil


caminho a uma recuperação e valorização da floresta nativa. De igual modo, uma maior conscien-
cialização para as questões ambientais, de conservação e recuperação dos ecossistemas naturais,
aliado tanto a uma valorização das suas potencialidades, como a uma silvicultura multifuncional e
sustentável, possibilitará tomar no futuro um novo rumo.
Para a actualidade e o futuro, a sustentabilidade na silvicultura vai para além da função
unicamente económica e da produção lenhosa, para considerar também aspectos ecológico-
ambientais e sociais. O conceito de uso múltiplo e de multifuncionalidade foi utilizado pela
Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas para a formulação
do desenvolvimento sustentável (Brundtland, 1987).
Pela sua importância, a floresta nativa constitui um recurso que importa gerir de forma adequada
de modo a proporcionar não apenas a sua valorização como também assegurar a sua conservação e
utilização de forma sustentada, em benefício dos ecossistemas e das populações humanas.
Neste capítulo, aborda-se a importância da floresta nativa, com referência às principais
ameaças e desafios, bem como, o importante contributo que uma silvicultura de base natural pode
desempenhar para a valorização e sustentabilidade do património florestal nativo do Brasil.

Importância da Floresta Nativa

A floresta autóctone ou nativa constitui um património natural do território pelo que assume
uma grande importância a vários níveis. Para além do seu valor intrínseco, a floresta nativa é relevante
não apenas ao nível ambiental e ecológico mas também do ponto de vista económico e social.
A floresta nativa tem desde logo uma importância própria independentemente da
utilidade que possa ter para o ser humano. Um aspecto importante da floresta nativa deve-se
à sua multifuncionalidade, sendo relevante do ponto de vista ambiental e na conservação da
biodiversidade, assim como, ao nível económico ao fornecer diversos produtos e serviços do
ecossistema associados com diversas actividades humanas (Lanly, 1999; Anand, 2004).
Adicionalmente, possui também um valor histórico e tradicional ligado com diversos
aspectos sociais e culturais próprias do território. Cabe também referir uma importância educacional
e científica, proporcionando actividades escolares e o desenvolvimento do conhecimento com
oportunidades em diversas áreas do saber, considerando ainda que o conhecimento que se
detém acerca da biodiversidade e outros elementos das áreas florestais naturais é em muitos casos
escasso (Brandon et al., 2005; Camila et al., 2017; Oliveira et al., 2017).

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A floresta nativa possui, de forma sintética, as seguintes principais funções, utilizações e benefícios:
• regulação climática; amenização do clima;
• manutenção dos ciclos biogeoquímicos;
• armazenamento de carbono atmosférico;
• conservação da água e do solo;
• habitat; conservação da biodiversidade;
• controlo biológico;
• preservação e melhoria da paisagem;
• preservação de valores históricos, culturais e científicos;
• promoção de actividades de recreio e do turismo;
• recursos genéticos;
• produção de bens não-lenhosos;
• produção de bens lenhosos.
Uma adequada conservação, silvicultura e promoção deste recurso natural são essenciais de
modo a garantir não apenas a sua preservação como poder providenciar o bem-estar e o desenvolvimento
Silvicultura Tropical

sócio-económico nas diversas regiões do território brasileiro.

Importância socioeconômica
A floresta nativa providencia diversos produtos lenhosos ou madeireiros e não-madeireiros
bem como serviços que contribuem directamente para a economia das zonas rurais e do país como
um todo. Para além da madeira, são diversos os produtos que derivam da floresta nativa.
A madeira é um recurso renovável e um dos mais importantes materiais de construção. A
madeira retém carbono, é biodegradável, permite uma grande variedade de aplicações e requer
pouca energia na manufactura. A aplicação de uma adequada silvicultura é necessária para a obtenção
destes produtos de uma forma sustentável. Tal permite a sua valorização e contribuir para uma melhor
rentabilização da floresta e da economia das comunidades rurais. Ao mesmo tempo, promovem-se os
ecossistemas naturais com consequências positivas para o meio ambiente.
A floresta nativa fornece, igualmente, diversos produtos não-madeireiros, como sejam, frutos,
plantas aromáticas, medicinais e mel.
A Figura 1 mostra a proporção dos diversos bens providenciados pelas árvores nativas, para
as principais utilizações, listadas no Anexo 1 (57 espécies) e abordadas neste livro. A proporção de
espécies com mais de uma utilização potencial é de cerca de 65%. Além da madeira, podem ter
outras importantes utilizações, como recurso alimentar, medicinal, ornamental, entre outros diversos
interesses, além de valores históricos, culturais e científicos (uso cosmético, interesse etnográfico,

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artesanato, entre outros). Tal significa um enorme interesse e potencial económico e social.
Pode, igualmente, ser relevante na promoção do turismo e de actividades de recreio e de lazer
ligadas com a natureza (Thomas, 1983). Em muitas zonas do território o turismo de natureza tem um
papel estratégico para o desenvolvimento económico e social das populações residentes.
A silvicultura deverá procurar a valorização dos produtos conduzindo a uma maior
rentabilidade da floresta nativa, assim como, simultaneamente garantir as diversas funções do
ecossistema, contribuindo também para a saúde e o bem-estar das comunidades humanas.

A silvicultura próxima da natureza e a valorização da floresta nativa do Brasil


Figura 1. Bens providenciados pelas espécies arbóreas nativas do Brasil, indicadas no Anexo 1 (57 espécies).
A: Relação percentual dos diversos bens das espécies arbóreas nativas. B: Número e proporção de espécies com
relação ao número de potenciais utilizações simultâneas.

Importância Ambiental e Ecológica


A floresta nativa desempenha importante função ambiental e ecológica, na conservação da
água, do solo e da biodiversidade. Providencia um bom tipo de matéria orgânica, a manutenção
dos processos edáficos e a conservação da água. Constitui o habitat para inúmeras espécies de flora
e fauna que dela dependem e, neste sentido, é essencial na manutenção da vida selvagem. Dela
dependem para abrigo, alimentação e reprodução. São diversos os biomas e ecossistemas florestais
naturais presentes no território nos quais coabitam espécies de diversos grupos, mais ou menos
interdependentes nas suas relações tróficas e interagindo com o meio. A perda de espécies e a
degradação dos sistemas naturais têm acompanhado o ser humano durante séculos e, actualmente,
é acentuada pela contínua destruição da floresta natural. O desenvolvimento sustentável da
sociedade apenas poderá ser feito assegurando a sustentabilidade do meio ambiente. Diversas
convenções e compromissos internacionais (ex: Conferência do Rio de Janeiro, 1992; Convenção
da Diversidade Biológica, 1992; Objectivos do Desenvolvimento Sustentável, 2015) enfatizam a
conservação do meio como parte do desenvolvimento económico e social. Como é mencionando na

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Convenção “a conservação da diversidade biológica é uma preocupação de toda a humanidade” da
qual depende para a sua sobrevivência e qualidade de vida. A Declaração de Princípios adoptada nas
Conferências Ministeriais de Protecção das Florestas (Helsínquia, 1993; Lisboa, 1998) sublinham
uma vez mais a conservação do meio como parte do desenvolvimento económico e social e, neste
âmbito, a floresta nativa desempenha um papel fundamental. É declarado que a floresta deverá
ser gerida de forma sustentada de modo a garantir necessidades sociais, culturais, económicas e
ecológicas no presente e para as futuras gerações. Trata-se de um conceito há muito conhecido
na comunidade científica, em preocupação com a expansão demográfica, a sobre-exploração dos
recursos naturais e a deterioração dos habitats.
A floresta nativa contribui, também, para a mitigação das alterações climáticas pelo
sequestro de carbono atmosférico, realizada tanto na parte aérea como na parte subterrânea, com
um contributo particularmente importante dado que promove melhores características do solo e
de armazenamento de carbono no ecossistema.
Silvicultura Tropical

Principais Ameaças e Desafios para a Floresta Nativa


A floresta nativa apresenta algumas ameaças, a maioria das quais ligadas com o
inadequado uso do território e da floresta. De entre os factores de degradação mais comuns
referem-se a desmatação, a rearborização com espécies introduzidas, a exploração desregrada da
floresta, a ação destrutiva do pastoreio e das queimadas. Outros factores ocorrem em situações
particulares ligados com a gestão do solo, a conservação da biodiversidade, diversas formas de
poluição causadas pelo ser humano, aproveitamento dos recursos naturais, controlo de diversos
impactos, a protecção de habitats de grande interesse natural ou em risco, entre outros.
A floresta nativa tem sido, em várias situações, e além das áreas protegidas,
excessivamente explorada, muitas vezes sem um adequado aproveitamento, rentabilidade e
sem considerar a sua integridade, regeneração e perpetuação. Por outro lado, algumas práticas
de silvicultura têm sido também nefastas para o ecossistema e para as diferentes comunidades
de seres vivos que dela dependem. Actualmente, muitas áreas de floresta nativa encontram-se
ameaçadas ou degradadas.
Quando a floresta nativa é destruída, os seus efeitos vão-se repercutir negativamente
na diversidade existente, nas condições de vida de muitas espécies e nas condições do meio
físico (ex: aridez do clima, degradação do solo, etc.). Uma progressiva fragmentação da floresta
nativa levanta problemas de conservação do habitat e de diversas espécies que dela dependem.
Com a sucessiva fragmentação assiste-se a uma diminuição da diversidade biológica, e

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em determinados casos à extinção de várias espécies. Espécies que exigem uma maior área
territorial ou que tenham menor capacidade de dispersão vêem-se mais afectadas na sequência
de fragmentos cada vez mais pequenos e isolados (Faanes, 1984; Collingham & Huntley, 2000).
A alteração climática tem também impacto na floresta nativa, nomeadamente na
distribuição geográfica das espécies no território, na composição da floresta, na sua produtividade,
na capacidade de providenciar as suas funções, além de riscos relacionados com factores bióticos
e abióticos. As modificações nos valores médios e na variabilidade climática, com ocorrência de

A silvicultura próxima da natureza e a valorização da floresta nativa do Brasil


fenómenos climáticos extremos, afecta o regime hídrico e térmico, e deste modo, as condições da
vegetação e do solo. Nas zonas mais termófilas e xerófilas agravam-se os riscos de desertificação e
de degradação do solo. Esta ameaça da desertificação é igualmente resultado de uma inadequada
gestão do território e da floresta nativa que foi realizada no passado.
Uma importante medida passa pela implementação de uma adequada silvicultura, que
promova o aumento da resiliência, mantendo ou melhorando a capacidade de adaptação às
alterações climáticas, especialmente no longo termo, a conservação da biodiversidade incluindo
de populações mais ameaçadas, mantenha os povoamentos florestais em bom estado.
Outras ameaças passam pela pecuária e sua relação com a desmatação e o fogo, que
se poderá agravar no cenário climático. Estas ações associadas com a actividade pastoril,
juntamente com os danos provocados pelos animais na regeneração arbórea, podem afectar
a ocupação florestal e limitar a expansão natural do bosque. Interessa adoptar práticas de
pastoreio específicas, regular e condicionar a sua prática em determinadas zonas.
À escala da paisagem a floresta nativa poderá ser conjugada com outras formas de
ocupação do solo (agricultura, agro-floresta, pastagem), o ordenamento dos territórios, assim
como, com as variações das características do meio que podem conduzir, para além das áreas
protegidas, a áreas florestais com diferentes características, de conservação e de condução,
contribuindo para a sua preservação e valorização. Um dado ecossistema florestal insere-se
numa matriz da ecologia da paisagem própria que se desenvolve como um todo e em que
operam diversos processos funcionais.
Uma outra dificuldade e desafio estão ligados com a atribuição de um valor de mercado
a determinados serviços ecossistémicos, como sejam, a conservação da biodiversidade, a
conservação e provisão de água, e a proteção ambiental. Torna-se necessário desenvolver
instrumentos políticos que valorizem estes serviços e benefícios fornecidos pela floresta nativa.

21
Silvicultura Próxima da Natureza
Origem e Breve Enquadramento Histórico da Silvicultura
Próxima da Natureza
As raízes da silvicultura próxima da natureza encontram-se no centro da Europa,
particularmente em França e Alemanha, onde a partir dos inícios do séc. XIX se desenvolveram
os conceitos e práticas associados a uma silvicultura de base natural que mais tarde se viriam a
consubstanciar no que atualmente se consideram as características deste tipo de silvicultura.
Nesta época, muitas das florestas europeias, incluindo na França e Alemanha, encontravam-
se num estado de sobre-exploração, onde a madeira era o recurso mais requerido. As preocupações
dos governantes pela salvaguarda de uma produção florestal e por uma adequada condução
da floresta promoveram, na época, o estabelecimento do ensino florestal e de políticas de
desenvolvimento. A primeira escola florestal alemã, representada por Hartig e Cotta (final séc. XVIII
- início séc. XIX), difundiram uma prática silvícola cujas influências, em determinados contextos,
ainda se estendem até aos dias de hoje, muito orientada para plantações, desbastes antecipados e
Silvicultura Tropical

cortes rasos. As flo­restas puras, regulares, e o recurso à reflorestação artificial, tornou-se o ideal da
época, especialmente com resinosas.
Mais tarde, em meados do séc. XIX, as consequências económicas e ecológicas nefastas
da monocultura regular viriam a tornar-se evidentes, com a consequente redução de diversidade
biológica, a acidificação dos solos, o surgimento de pragas, a redução da resistência a tempestades,
além de uma produção de madeira de baixo valor. Tal levou a uma progressiva renúncia à silvicultura
artificial. Váris reações surgiram então e diversos cientistas e técnicos passaram a defender uma
silvicultura que atendesse não apenas à produção de madeira, mas também aos aspectos naturais,
realizada de outra forma. Defendiam o retorno às espécies folhosas, à regeneração natural dos
povoamentos, bem como, à importância das considerações ecológicas. A silvicultura da primeira
escola alemã foi alterada e melhorada, introduzindo-se noções de ecologia florestal na condução
dos povoamentos. Passou a dar-se preferência a um modo de condução que assenta na melhoria
progressiva com desbastes selectivos e na regeneração natural, em con­trapartida à aplicação de
cortes rasos seguido de plantação em afectações equiénias o que tem efeitos negativos sobre as
características biofísicas e o funcionamento do ecossistema.
Um dos precursores foi também Gayer (1886), na Alemanha, que lançou os fundamentos
de um tratamento natural da floresta. Descreve um modo de silvicultura conforme a natureza,
constituindo um marco no futuro desenvolvimento da silvicultura de bases naturais.
Posteriormente, Möller (1922) esclarece o conceito de floresta perene ou durável com base na

22
conservação da continuidade do carácter florestal, na utilização da regeneração natural, na recolha
periódica e no melhor aproveitamento do cresci­mento do povoamento.
Desde os finais do séc. XIX vai difundir-se a corrente duma visão mais integradora da floresta na
sociedade, o aparecimento de movimentos ambientais e culturais defen­dendo uma silvicultura mais
equilibrada e multifuncional. Neste sentido, são aplicados e expandidos conhecimentos e práticas
florestais que se haviam desenvolvido neste campo, conferindo à silvicultura outros requisitos.
Nas últimas décadas, uma parte importante da silvicultura que tem vindo a ser desenvolvida,

A silvicultura próxima da natureza e a valorização da floresta nativa do Brasil


tanto na Europa como em outros continentes, procura ir ao encontro destes desafios, na promoção
de uma silvicultura multifuncional e sustentável (ProSilva, 2020).

Principais Características e Benefícios da SilviculturA


Próxima da Natureza e sua Relação com a Floresta Nativa
As alterações sociais e económicas que foram ocorrendo nas últimas décadas conduziram
a silvicultura a incorporar a sustentabilidade e a multifun­cionalidade em face das novas
exigências da sociedade, percepcionada a degradação do meio ambiente e a importância da
floresta nas suas várias dimensões.
A compatibilização entre o aproveitamento dos recursos naturais e a sua conservação
coloca importantes desafios relacionados com a exploração desses recursos e a susten­tabilidade
dos ecossistemas. A sustentabilidade na silvicultura envolve considerar o conjunto das funções
providenciadas pelo ecossistema. Procura-se que estas funções sejam combina­das tanto quanto
possível. Promover e manter as componentes e o funcionamento do ecos­sistema é importante
para a sustentabilidade e o bem-estar, providenciando os bens e os serviços associados.
Actividades que não tenham um impacto negativo no meio ambiente ganham vantagem
competitiva. Além disso, uma contínua degradação do meio e delapidação dos recursos reduz
a produtividade económica. Assim, a manutenção do capital natural é um elemento crítico
para assegurar o futuro desenvolvimento económico. O progresso económico não é assim
incompatível com a sustentabili­dade ambiental.
Um desafio importante envolve o desenvolvimento e aplicação de uma forma de
condução dos povoamentos florestais que possa gerar um incentivo económico sustentável e
que simultaneamente considere os aspectos ecológicos e sociais. Neste contexto, a silvicultura
próxima da natureza pode contribuir para uma floresta multifuncional, rentável e sustentável,
tornando possí­vel conciliar a produção com a conservação do ecossistema florestal. Tem tido uma
grande importância pela sua aproximação aos processos naturais, à conservação dos recursos e

23
às suas vantagens económico-financeiras e ecológicas. Defende uma silvicultura com vista a um
ren­dimento económico, procurando assegurar as condições naturais e uma melhoria do valor
do povoamento. Por outro lado, apresenta uma ampla flexibilidade podendo também aplicar-se
quando a conservação é o objectivo primordial.
Trata-se de uma silvicultura integrada e de base ecológica providenciando um conjunto
de valores que melhoram a rentabilidade económica e as condições ecológicas do povoamento.
Possibilita conjugar vários elemen­tos ecológicos, económicos e sociais, fazendo uso
de procedimentos e técnicas que actuam em conformidade com os processos naturais, na
regeneração e condução dos povoamentos florestais, respeitando o equilíbrio dos sistemas
naturais, e considerando o ecossistema florestal como um todo.
Respeita os processos da dinâmica florestal, utilizando as suas forças e conduzindo o
povoamento florestal na realização dos seus objectivos. Os processos naturais são preferíveis
a medidas artificiais, tomando em consideração a dinâmica florestal e procurando obter
uma harmonia no seio da biocenose florestal. A silvicultura procura adequar a condução do
Silvicultura Tropical

povoamento florestal de modo a permitir as suas múltiplas funções de forma durável e rentável.
A silvicultura próxima da natureza procura garantir as seguintes quatro principais funções
e benefícios:
• conservação da biodiversidade;
• protecção do solo e do microclima;
• produção de bens lenhosos e não-lenhosos;
• promoção da paisagem, do recreio e dos aspectos sócio-culturais.

Proporciona várias possibilidades de intervenção, permitindo um maior rendimento


económico, directo e indirecto, e a obtenção de receitas periódicas de forma continuada. Diversos
estudos mostram que este tipo de silvicultura permite uma maior produção de madeira, em
quantidade e valor, comparativamente a outras formas de silvicultura, permitindo um maior
rendimento económico, para além dos outros benefícios mencionados (Carvalho, 2018).
Promove a diversidade do povoamento, permitindo uma produção flexível e orientada. Uma
característica importante está relacionada com o uso e aproveitamento da regeneração natural, o
que permite um maior sucesso na renovação e continuidade do povoamento, bem como, reduzir
ou eliminar os custos de regeneração. A cobertura permanente e a continuidade do conjunto das
funções constituem elementos importantes, ligado à capacidade de responder às necessidades da
sociedade e da conservação ambiental. Por outro lado, é também oferecida uma maior capacidade

24
de resistência e de resiliência a factores adversos. Permite uma melhor capacidade de adaptação
face às alterações climáticas.
O respeito pelas funções ecológicas e de conservação é considerado essencial para a
continuidade económica. As diferentes operações silvícolas consideram as influências que podem ter
sobre o solo, o ambiente florestal e as biocenoses, de forma a manter e promover processos naturais,
bem como, a manutenção e melhoria das características do solo e da sua produtividade. A exploração
de recursos não deverá exceder a taxa de reno­vação dos mesmos, afectar o sistema e o seu potencial

A silvicultura próxima da natureza e a valorização da floresta nativa do Brasil


evolutivo. São providenciados serviços do ecossistema de forma inerente, como sejam, a conservação
da biodiversidade, incluindo a preservação de espécies raras ou em risco, a conservação do solo e
da água, a regularização climática, o sequestro e armazenamento de carbono, e a conservação da
paisagem importante ao nível do lazer e do turismo.
Para além dos desenvolvimentos com vista a uma múltipla funcionalidade, tem-se também
procurado uma redução dos custos na silvicultura. Apoiando-se nos pro­cessos naturais, possibilita
também, por esta via, uma maior eficiência económica ao reduzir a necessidade de intervenções. Uma
silvicultura deste tipo tem sido muito alargada, promovendo a combinação de funções ecológicas e
sociais, juntamente com retornos económicos sustentáveis.
Concilia e integra os aspectos eco­nómicos e ecológicos, permitindo assegurar de forma
sustentada e contínua diversos bens e serviços prestados pelo ecossistema florestal. Tal tem benefícios
para o proprietário, a sociedade e o meio ambiente em geral.

Figura 2. A floresta nativa


brasileira e a silvicultura próxima
da natureza com relação ao uso
múltiplo e a multifuncionalidade
no fornecimento de bens e
serviços e o contributo para a
sustentabilidade.

25
Conclusão

A floresta nativa enfrenta actualmente diversas ameaças e desafios. Neste contexto,


a silvicultura deverá considerar as múltiplas funções da floresta nativa. Além dos diversos
produtos que fornece, de valor económico directo, providencia também importante função de
protecção ambiental e de conservação da biodiversidade. Igualmente importante é o incentivo
à preservação do ambiente e da boa gestão deste recurso natural no longo prazo. A silvicultura
deverá procurar um adequado aproveitamento e valorização da floresta nativa contribuindo
para uma melhor rentabilidade económica e o cumprimento das suas diversas funções.
A silvicultura confronta-se hoje com importantes desafios relacionados com aspectos
como as alterações climáticas, o combate à desertificação, a conservação da biodiversidade, do
solo e da água. Paralelamente, questões de rentabilidade e de eficiência económica são também
importantes. Alguns desafios colocados na silvicultura envolvem a escolha de um modo de
tratamento adequado e uma conjugação da produção florestal com outros benefícios e serviços
Silvicultura Tropical

do ecossistema. Neste sentido, a conciliação da economia com a ecologia, a conjugação das


vertentes ambiental, social e económica, são de grande relevância para a silvicultura, por forma
a contribuir para um desenvolvimento sustentável.
Uma silvicultura moderna procurará a integração dessas vertentes, promovendo a
multifuncionalidade, a capacidade de adaptação e a rentabilidade do povoamento florestal. A
prática silvícola que provoque danos como a erosão do solo, a perda de nutrientes e de matéria
orgânica do solo, ponha em causa a conservação da água, da biodiversidade, afecte aspectos
ambientais ou cause a degradação da paisagem, não é, pois, sustentável.
Uma silvicultura que seja orientada para os diferentes usos e funções do povoamento
florestal é, também, geradora de novas actividades, de empregos e de receitas, contribuindo
para o desenvolvimento das comunidades locais e do país em geral.
Uma adequada política florestal é igualmente um factor importante a ter em conta já que
promove e assegura uma apropriada silvicultura. Promove a qualidade da floresta, a preservação do
meio ambiente, a adopção de adequadas práticas, assim como, apropriadas condições de trabalho
e de remuneração. Por outro lado, aumenta a atenção e preocupação da sociedade para as questões
ambientais e as relações da indústria com o meio ambiente, modificando comportamentos.
A aplicação de uma adequada silvicultura, que respeite as componentes e o
funcionamento do ecossistema, como preconizado pela silvicultura próxima da natureza, pode
possibilitar um aproveitamento sustentável de várias florestas nativas, sem colocar em risco as

26
comunidades bióticas e o meio biofísico. Noutras situações, em habitats específicos ou em áreas
protegidas, que requeiram uma proteção particular, pode ser necessário uma abordagem de
não-intervenção. Por seu turno, em áreas recentemente instaladas ou restauradas, pode também
este tipo de silvicultura providenciar uma adequada forma de intervenção ao proporcionar um
rendimento económico periódico e continuado, ao mesmo tempo que assegura a permanência
e funcionamento do ecossistema florestal. Tal terá consequências positivas no ambiente, na vida
das populações e no desenvolvimento sócio-económico do Brasil.

A silvicultura próxima da natureza e a valorização da floresta nativa do Brasil


É neste contexto que a silvicultura próxima da natureza poderá ter um contributo
importante, para a floresta em geral, e a floresta nativa em particular, pelas várias características
e benefícios que proporciona para o desenvolvimento sustentável.

Agradecimentos
Cabe um especial agradecimento à Professora Fátima Piña-Rodrigues da Universidade
Federal de São Carlos – Campus Sorocaba pelo convite para redigir o presente capítulo para o
livro sobre a floresta nativa do Brasil. O presente trabalho é financiado por Fundos Nacionais
através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do Projeto UIDB/04033/2020.

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28
Anexo 1 – Resumo dos principais bens associados a diversas espécies arbóreas nativas do Brasil.
Principais Utilizações
Designação Nome
Frutos
científica comum Madeira Medicinal Ornamental Outros
comestíveis
Flores
Acca sellowiana Feijoa X
comestíveis.
Albizia edwallii Albizia X

Amburana Cumaru-
X X

A silvicultura próxima da natureza e a valorização da floresta nativa do Brasil


cearensis nordestino

Anadenanthera Interesse
Angico X
spp. etnográfico.

Astrocaryum
Murumuru X Uso cosmético
murumuru
Ateleia
Timbó X
glazioviana
Calophyllum
Guanandi X X
brasiliense

Calycophyllum
Pau-Mulato X X X Uso cosmético
spruceanum

Campamonesia
Guabiroba X
xanthocarpa

Cariniana Jequitibá
X X
estrellensis branco

Cariniana legalis Jequitiba--rosa X X X

Carpotroche
Sapucainha X X X
brasiliensis
Casearia
Guaçatunga X
lasiophylla
Cedrela fissilis Cedro rosa X X X

Ceiba speciosa Paineira rosa X

Copaifera
Copaíba X X Uso cosmético
langsdorffii

Cordia trichotoma Louro-pardo X X

Cybistax Caroba-de-flor-
X X
antisyphilitica verde

29
Principais Utilizações
Designação Nome
Frutos
científica comum Madeira Medicinal Ornamental Outros
comestíveis
Jacarandá da
Dalbergia nigra X X
Bahia
Dimorphandra
Fava-d’anta X
mollis
Dipteryx alata Baru X X
Drimys
Cataia X
brasiliensis
Eugenia
Uvaia X X
pyriformis
Hymenea Interesse
Jatobá X X X
courbaril etnográfico.
Ilex
Erva-mate X X
paraguariensis
Joannesia Boleira, Óleo com
X X
princeps Indaguaçu diversos usos.
Silvicultura Tropical

Interesse
Lafoensia pacari Dedaleiro X X X
etnográfico.
Uso cosmético.
Mauritia flexuosa Buriti X X X
Outros usos.

Mimosa scabrella Bracatinga X X


Myrcianthes
Araçá X X X
gigantea
Óleo, folhas
comestíveis,
Moringa
Moringa forragem
oleifera X X
animal, uso
cosmético.
Óleo para
Ocotea odorifera Canela-sassafrás X X
diversos usos.
Ocotea porosa Imbuia X Uso cosmético
Oenocarpus
Patauá X X Uso cosmético
bataua
Interesse
Oreopanax fulvus Tamanqueira X
etnográfico
Interesse
etnográfico.
Pereskia aculeata Ora-pro-nóbis X X X
Folhas
comestíveis.
Pilocarpus
Jaborandi X
microphyllus

30
Principais Utilizações
Designação Nome
Frutos
científica comum Madeira Medicinal Ornamental Outros
comestíveis
Piptocarpha Vassourão
X
angustifolia branco
Plathymenia
Vinhático X
foliosa
Resina para
Protium spp Breu X X
diversos usos.
X

A silvicultura próxima da natureza e a valorização da floresta nativa do Brasil


Psidium rufum Aracá

Psychotria nuda Psicotria X


Quillaja
Pau-sabão X X
brasiliensis
Schinus Aroeira Interesse
X X
terebinthifolius pimenteira etnográfico.

Solanum
Baga de veado X X
diploconos

Swietenia
Mogno X X
macrophylla

Tachigali vulgaris Taxi-branco X X

Tectona grandis Teca X X


Tibouchina aff.
Quaresmeira X
fothergillae
Tibouchina
Quaresmeira X
granulosa
Tibouchina
Orelha de onça X
heteromalla
Tibouchina
Manacá X
sellowiana
Tibouchina
Quaresmeira X
vinaceae
Trithrinax
Carandaí X
acanthocoma
Interesse
alimentar,
Virola
Ucuuba X X cosmético,
surinamensis
farmacêutico,
etnográfico.
Vochysia bifalcata Guaricica X
Zeyheria
Ipê-tabaco X
tuberculosa

31
Silvicultura próxima à
natureza: o caso dos
produtos florestais não-
madeireiros
fatima C.M. Piña-Rodrigues
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), especialista
em Produção e Tecnologia de Sementes pela Associação Brasileira
de Educação Agrícola Superior (ABEAS), mestrado em Engenharia
Florestal pela Escola Superior de Agricultura Luis de Queiróz da
Silvicultura Tropical

Universidade de São Paulo (ESALQ – USP), Doutorado em Ecologia pela


Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e Pós Doutorado na
Universidade de Missouri (UMSL) e Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Rio Douro (UTAD) em Ecologia Aplicada. Professora Titular - Full
Professor – UFSCAR- Universidade Federal de São Carlos - Campus
Sorocaba - Departamento de Ciências Ambientais – SP.

José Mauro Santana da Silva


Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal,
Aperfeiçoamento em Entomologia, Aperfeiçoamento em Ecologia
e Mestrado em Ciência Florestal, ambos pela Universidade Federal
de Viçosa (UFV). Doutorado em Agronomia – Irrigação e Drenagem
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).
Professor Titular - Full Professor – UFSCAR – Lasem. Universidade
Federal de São Carlos - Campus Sorocaba - Departamento de Ciências
Ambientais – SP.

Lausanne Soraya de Almeida


Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal e mestrado
na Área de Silvicultura (produção de mudas nativas), ambos pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Doutoranda Programa de
Planejamento e Uso dos Recursos Renováveis- PPGPUR - UFSCAR-
Universidade Federal de São Carlos - Campus Sorocaba

32
1.Introdução

A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros


A mudança de paradigmas mundiais se consolidou no mundo no início dos anos 90
levando a uma série de compromissos com foco na sustentabilidade do uso dos recursos naturais,
associada a medidas para mitigação dos impactos climáticos e fortalecimento da conservação
e restauração de florestas firmadas a partir do Acordo de Paris (Graichen et al. 2016; Griscom
et al. 2017). É neste panorama que cadeias produtivas social, ecológica e economicamente
sustentáveis ampliaram sua participação no mercado, com os produtos florestais não madeireiros
ganhando destaque com políticas públicas em várias partes do mundo (Straatmann 2014).
Historicamente os produtos florestais não-madeireiros (PFNM) foram commodities
valorizadas, mas que se tornaram irrelevantes depois da Segunda Guerra Mundial deixando
de ser incluídos em estatísticas florestais ou mesmo políticas públicas (Sill et al. 2011). Desde
então, passam por períodos, como no final dos anos 80, que oscilam entre o grande interesse
pelas espécies, seus usos e manejos ( Johnson 1987; Fearnside 1989) e em meados dos anos
90 em que voltam a ter valor econômico (Padoch 1992; Richards 1993). Nos anos 2000-2010,
o maior foco foi a socioeconomia e a sustentabilidade do uso dos recursos naturais nas regiões
tropicais (Ros-Tonen 2000; Shone; Caviglia-Harris 2006), mas foi na década seguinte que
praticamente duplicaram-se as publicações sobre produtos não-madeireiros nos neotrópicos,
passando de 3990 para 75101, a maioria envolvendo temas como geração de renda, melhora
da qualidade de vida (Shackleton et al. 2011; Urzedo et al. 2016), impactos, manejo e políticas
públicas (Ingram 2014; Muler et al. 2014; Shackleton and Pandey 2014). Esa alteração se
refletiu na forma com os não-madeireiros passaram a ser explorados nas florestas tropicais.
No Brasil, muitas comunidades dependem da extração de produtos florestais não-
madeireiros para sua subsistência (Kluppel et al. 2010), em geral concentradas em apenas uma
ou poucas espécies. É o caso dos quilombolas na Mata Atlântica com Euterpe edulis Mart. –
Jussara (Barroso, Reis, and Hanazaki 2014; Fanelli et al. 2012; Pupo 2007), dos camponeses
capixabas, com o Cambuci - Campomanesia phaea (O.Berg.) Landrum (Guimarães, Souza, and
Bellon 2014), da Castanha-do-Brasil- Bertholletia excelsa Bonpl (Silva et al. 2013) e da Andiroba
– Carapa guianensis Aubl. (Silva et al. 2010) na Amazônia. Mas foi nos anos 2000 que iniciou
uma etapa que vem se espalhando por todo país, com a mudança da escala de produtos de
subsistência para iniciativas comerciais que se fortaleceram com o crescimento da bioindústria

1 1
Número de artigos constatados com a ferramenta Google Scholar, com as palavras-chave “non-timber forest products” and
“tropical forest” nos períodos de 1999 a 2009 e 2010 a 2020.

33
de cosméticos. Capitaneadas internacionalmente por grupos comerciais como a Body Shop, estas se
engajaram nos princípios de uso sustentável e geração de renda propostos nos anos 90, baseados
em acordos entre comunidades e empresas (Counsell & Rice 1992). No Brasil, este movimento
se fortaleceu liderado por empresas como a Natura, com sua linha Ekos, o Boticário entre outras.
Estes acordos, regulamentados em 2001 pela Medida Provisória 2.186/2001 (Brasil 2001) foram
posteriormente revistos com a Lei de Acesso a Biodiversidade nº 13.123/2015 (Brasil 2015).
A conversão das escalas do uso cultural e de subsistência para o de atendimento da
demanda e qualidade industriais impulsionou a organização de cadeias produtivas que envolveram
comunidades rurais e urbanas, tanto na extração quanto no cultivo, manejo e expedição, gerando
novos arranjos produtivos (Enríquez 2010). Ao mesmo tempo, ainda nos anos 2000, reações aos
fenômenos de globalização iniciaram processo de devolver às comunidades locais o direito de uso
e de discutir a quem as florestas pertenciam (White and Martin 2002). No Brasil, este processo
levou à edição da Medida Provisória 2.186/2001 (Brasil 2001) que, no seu bojo trazia a tentativa
de reconhecimento dos saberes tradicionais associados à floresta e seus produtos. Em seu Artigo
Silvicultura Tropical

10, inciso III, estabeleceu o direito à “repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da
exploração de componente do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado”,
em geral, as comunidades locais. Porém, esta mudança no modelo de uso dos recursos florestais
somente pôde ser iniciada em função de um movimento que a antecedeu, e que foi essencial para
garantir o direito à terra, à floresta e seus produtos. Iniciado com o apoio de grupos organizados
na Amazônia, resultou em processos para a regulamentação fundiária (Dias et al. 2011). Neste
processo se estabeleceram as bases do manejo florestal comunitário, marco da viabilização do
escalonamento do uso dos produtos florestais não-madeireiros pelas comunidades e empresas.
Com esta abordagem introdutória, o presente capítulo pretende ir além dos conceitos,
métodos e processos de manejo e uso dos produtos florestais não-madeireiros. Busca também
resgatar um pouco da história, das pessoas e instituições que se envolveram e viveram, na prática, o
processo de valorização deste importante recurso florestal. Ao mesmo tempo, traz em seu título um
desafio: a silvicultura próxima a natureza. Com este conceito, enfatiza a importância de se repensar
a visão ainda dominante de “exploração” dos recursos florestais para a aplicação de práticas de
“colheita”, ou seja, só se retira da floresta aquilo que a natureza é capaz de repor, mantendo-se
sua estabilidade, resiliência e os processos ecológicos fundamentais. Este talvez, o maior desafio
do século XXI para os engenheiros florestais, biólogos e tantos outros profissionais que atuam na
área ambiental. Chegou a hora de encarar que é preciso se empenhar para rever as práticas do
século passado de manejo dos recursos florestais e deixar de vê-los apenas como produtos ou

34
serviços, em uma lógica única e antropocentrista. Neste novo cenário, é preciso plantar e cultivar
para produzir madeira e produtos não-madeireiros, principal nortefoco do presente livro. Mas até
lá, temos de produzir e por isto devemos cada vez mais nos aproximar, estudar, entender e aplicar
os processos que a própria natureza nos ensina.

2. Manejo Florestal Comunitário e os

A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros


produtos florestais não-madeireiros

Nos últimos 30 anos não é possível falar de produtos florestais não-madeireiros sem analisar
sua inserção no Manejo Florestal Comunitário (MFC). Neste contexto, a Amazônia se destaca com
a produção de 48,8% dos produtos da extração vegetal brasileira (IBGE 2020), realizados em sua
maioria por meio de Plano de Manejo Florestal Comunitário e Familiar.
Conflitos entre patrões, compradores de madeira e comunidades ribeirinhas em meados dos
anos 90 foram o estopim do movimento social liderado por sindicatos, associações de produtores
rurais e organizações não-governamentais como a FASE - Federação dos Órgãos para Assistência
Social e Educacional, com os Projetos Bem-te-vi e Gurupá (Pará) (Oliveira Junior 1991; Amaral
et al. 2007), o CTA-Centro de Trabalhadores da Amazônia no Acre e LAET2 em Porto de Móz (Pará),
com forte apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Entre os objetivos alcançados a ampliação das
formas de uso dos recursos florestais3 e de transformação e comercialização dos produtos. Além
disto, as ações se ampliaram e abriram espaço para o processo de regulamentação fundiária das
comunidades locais (Dias et al. 2011) que foi a porta aberta para se rediscutir o direito de manejo
da floresta, até aquele momento concedido apenas à empresas, na maioria madeireiras (Piña-
Rodrigues 1998; Piña-Rodrigues and Mota 2000).
O manejo florestal era regulamentado pelo Decreto Federal nº 1282/1994 (Brasil 1994) que
definia os princípios e diretrizes em especial no que se referia à comprovação de posse da terra. Em
todo o Brasil, e especialmente na Amazônia, esta era uma questão que envolvia conflitos, disputas
e entraves no acesso ao crédito e uso dos recursos naturais (Dias et al. 2011; Azevedo et al. 2008).
Contudo, por iniciativa de várias ONGs e com o apoio do IBAMA-Diretoria de Recursos Naturais-

2 LAET- Laboratório Agroecológico da Transamazônica vinculado a Universidade Federal do Pará-UFPA no NAEA- Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos, Programa PAET- Programa Agroextrativista da Transamazônica financiado pela Comunidade Econômica Europeia. O projeto em
Porto-de-Moz (PA) foi coordenado pelo LAET e uma ONG francesa -GRET.

3 A metodologia participativa empregada foi pioneira com a elaboração do plano de uso dos recursos florestais nas comunidades do Camutá
do Pucuruí e da Ilha de Santa Bárbara (Dias et al. 2011), elaborado em colaboração entre a FASE-Projeto Gurupá, a Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro e o Museu Emílio Goeldi.

35
DIREN, realizou-se no Acre no final dos anos 90, uma reunião organizada com a liderança do IIEB-
Instituto Internacional de Educação do Brasil, FASE, CTA e outras instituições, onde se traçou o
esboço das diretrizes que foram consolidadas na Instrução Normativa (IN) nº 04/98 (IBAMA-DIREN
1998). Esta regulamentou e flexibilizou as exigências de comprovação da posse da terra e permitiu
a realização de manejo florestal por associações de produtores, sindicatos e grupos legalizados por
meio dos Planos de Manejo Florestal Comunitário. Posteriormente, o manejo dos recursos florestais
por comunidades se ampliou, abrangendo os produtos não madeireiros, passando a ser regulado
pela IN nº 15/2001 (IBAMA 2001) sobre Manejo Florestal Sustentável de Uso Múltiplo na Amazônia
Legal. Todo este arcabouço legal, contudo, focava a Amazônia face a sua enorme importância tanto
na produção madeireira quanto não-madeireira, ficando os outros biomas restritos a legislações
específicas (SEMA 1994; 2018).
Para implementar as ações de MFC foi criado o Programa Federal de Manejo Florestal
Comunitário e Familiar (MAPA 2016) pelo Decreto nº 6.874/09 (Brasil 2009) tendo como um
dos seu objetivos “estimular a diversificação produtiva e a agregação de valor à produção florestal
Silvicultura Tropical

de base comunitária e familiar”. Apesar de algumas iniciativas bem sucedidas no manejo de


não-madeireiros (p. ex. Silva et al. 2010; Piña-Rodrigues et al. 2019), mudanças políticas e de
regulamentação até 2016 (Waldhoff and Silva 2019) se juntaram à desarticulação de programas
governamentais no setor de meio ambiente, bem como a extinção de conselhos, comitês gestores
a partir da restruturação ministerial ocorrida em 2019. Contudo, ainda é preciso adequar os
mecanismos legais para viabilizar e ganhar escalas sustentáveis de produção dos produtos
florestais não-madeireiros. Isto é claramente comprovado quando se verifica que até 2007, dos
1,6 milhões de hectares de planos de manejo comunitários certificados, 99% deles envolviam
produtos florestais não-madeireiros, mas restritos a projetos com apoio do ProManejo na Flona do
Tapajós e ONG´s no Pará,Acre e Amazonas (Amaral et al. 2007).
Resgatar as oportunidades criadas no bojo dos planos de manejo comunitários e familiares
é um dever de todos que se engajam e atuam na área ambiental. É uma forma de acesso democrático
e de resguardar o adequado uso sustentável dos recursos florestais. É preciso aprender com o
passado e entender que, diferentemente da madeira, os produtos florestais não madeireiros estão
intrinsecamente ligados às tradições e a cultura dos povos, seja no artesanato, no uso diário aos
hábitos de consumo e à segurança alimentar.

36
3. Produtos florestais não madeireiros:
conceitos e definições
A denominação de produtos florestais não madeireiros (PFNM) envolve recursos animais
e vegetais que são extraídos, colhidos ou manejados nas florestas nativas ou não. Vários conceitos
podem ser encontrados na literatura dependendo dos seus objetivos. O mais empregado é o
aplicado pela FAO- Food Agriculture Organization, que define os PFNM como “...bens de origem

A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros


biológica que não sejam madeira, bem como serviços, derivados de florestas e usos aliados
da terra.” (FAO. UNASYLVA 1999). Contudo, outras instituições adotam uma visão que analisa e
inclui como as pessoas utilizam os recursos da floresta e, portanto, consideram como PFNM até
produtos de madeira, como os usados para artesanato ou lenha (CIFOR 2020) ou incluem os
serviços ambientais como um destes produtos (Janse and Ottitsch 2005). No presente capítulo
serão enfatizados os produtos e não os serviços, os quais em um conceito mais amplo estão
contidos na definição de PFNM (FAO. UNASYLVA 1999; FAO 2020).
Além das diferentes abordagens, os PFNM são classificados de acordo com o tipo de
cultivo como: (a) produtos silvestres (wild forest products)-quando oriundos diretamente das
florestas naturais, como o mel, frutos silvestres, insetos comestíveis, (b) semi-silvestres (semi-
wild forest products)- quando colhidos diretamente na floresta, mas já se encontram submetidos
a alguma forma de intervenção para o aumento de sua produtividade, como os frutos do açaí
- Euterpe precatoria Mart. e da jussara – E. edulis Mart.; e (c) produtos florestais manejados
(managed forest products) - são aqueles produtos que podem ser obtidos diretamente na floresta
manejada ou plantada, como a borracha da seringueira Hevea brasiliensis (Willd. ex A.Juss.)
Müll.Arg., bambus, nozes e gomas (FAO 2020; Muir 2020). Em uma definição mais clássica,
considera-se que a origem deve ser de áreas com”uso similar a florestas” o que envolve a colheita
em condições de florestas não-plantadas, excluindo-se aquelas cultivadas em quaisquer graus
de seleção consideradas como em processo de domesticação, não sendo consideradas como
PFNM (Villalobos and Ocampo 1997).

3.1 Os PFNM e suas categorias de uso e origem do


material vegetal
3.1.1 Categorias de uso
No Brasil o IBGE classifica os produtos como extrativos e os separa de acordo com o uso
no mercado comercial (Tabela 1). A maior proporção de PFNM destina-se ao consumo alimentar

37
(83,0%), sendo que erva-mate (Ilex paraguariensis A.St.-Hil.) e açaí (E. precatoria), juntos
representaram 72,5% de toda a produção entre 2013-2018 (Figura 1) (IBGE 2020). A categoria
com a segunda maior produção é a das oleaginosas (10%), entre as quais se destaca o babaçu
(9,0%) seguido da copaíba, cumaru, licuri, oiticica, pequi, tucum e outras com menos de 1%
da produção total. Entre as fibras, a maior produção é de piaçava (4,3%) e carnaúba com 0,2%,
seguidas do buriti (0,1%) (Tabela 2).
Apesar da lista de PFNM abranger cerca de 35 espécies e produtos, os dados do IBGE não
contêm detalhes sobre as espécies empregadas pela indústria de cosméticos. O exemplo disto é
a ausência na lista de ucuúba ou virola (Virola surinamensis) cuja extração se intensificou a partir
de 2013. Apenas uma empresa de cosméticos coletou em 2016 cerca de 500 toneladas em cada
uma das suas 15 comunidades associadas, o que totalizou a extração estimada de 7.500 toneladas.
Isto representa volume maior do que o obtido para as borrachas e para a categoria de aromáticos,
medicinais e corantes, onde a espécie está incluída. Esta questão é relevante pois a indústria
de cosméticos e de medicinais são as que mais têm investido na pesquisa, cultivo, extração e
Silvicultura Tropical

industrialização dos PFNM.

Tabela 1: Relação da produção anual (toneladas) por categorias de uso oriundos da extração vegetal no período
de 2013 a 2018 nas diferentes regiões brasileiras. Adaptado de IBGE (2020).

Classes de uso 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Alimentícios 574807 614331 642578 646963 675816 701637 3856132

Oleaginosos 96147 90442 85680 68518 58143 53965 452895

Fibras 49081 48474 46840 47567 12322 10402 214686

Ceras 20362 21085 22034 19666 20580 19068 122795

Borrachas 1958 1539 1499 1206 1062 875 8139

Aromáticos, medicinais,
458 459 463 467 357 924 3128
tóxicos e corantes

Gomas não elásticas - 1 3 3 1 1 9

Total 742813 776331 799097 784390 768281 786872 4657784

38
A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros
Figura 1: Percentual total da extração de produtos extrativos vegetais por classe de uso
segundo o IBGE (2020).

Tabela 2: Quantidade anual (toneladas) de produtos florestais não madeireiros oriundos do processo de
exploração dos recursos florestais nativos por extrativismo vegetal nos anos de 2013 a 2018. Fonte: Adaptado de
IBGE (2020). Ver nomes científicos no Anexo 1.

Grupo do produto 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total %


Erva-mate 300128 333017 341251 352968 383922 392962 2104248 45,2

Açaí 202216 198149 216071 215631 219710 221646 1273423 27,3

Babaçu 89739 83917 77955 61598 54330 50798 418337 9,0

Castanha-do-pará 38300 37499 40643 34903 23357 34170 208872 4,5

Piaçava 44617 45758 44805 45662 9783 8481 199106 4,3

Carnaúba 18251 19137 19974 17957 19409 17943 112671 2,4

Pequi ... 19241 18866 17859 21915 21495 99376 2,1

Pinhão 8293 8777 8393 7746 9293 9462 51964 1,1

Umbu 7561 7466 7451 8470 7542 7765 46255 1,0

Palmito 4620 4729 4669 4277 4350 4336 26981 0,6

Licuri 3760 3744 4072 3839 1151 1078 17644 0,4

Castanha-de-caju 2931 2489 2160 1499 1421 1411 11911 0,3

Carnaúba 2112 1948 2060 1709 1171 1124 10124 0,2

Carnaúba 2317 1878 1298 1125 1431 1389 9438 0,2

Pequi 1544 1381 2228 1471 832 765 8221 0,2

Hevea 1760 1446 1447 1202 1052 875 7782 0,2

Mangaba 639 685 663 1068 1124 1751 5930 0,1

Tucum 513 484 489 462 478 401 2827 0,1

Buriti 466 466 451 441 491 497 2812 0,1

39
3.1.2 Origem do material vegetal
A denominação de origem do material vegetal relaciona-se à parte da planta que é
utilizada para a produção comercial ou tradicional. Esta questão é chave, pois, juntamente com a
autoecologia da espécie, direciona as práticas de amostragem para definir sua capacidade produtiva
e as técnicas de manejo e cultivo. Casos como a extração de palmito requer práticas destrutivas do
indivíduo, causando a retirada total da planta; no entanto, para o açaí que perfilha, a extração e
corte dos estipes não remove todo indivíduo como acontece para a jussara que não perfilha e tem
desenvolvimento mais lento. Por isto, o inventário, a extração e o manejo são distintos, embora
ambas sejam do gênero Euterpe.
As partes empregadas da planta incluem frutos e/ou sementes, estruturas de sustentação
(estipe ou caule), folhas e raízes. O maior percentual de produtos é obtido dos frutos e sementes,
seguido do estipe (caso das palmeiras) ou caule (Figura 2). O fato destas partes serem as mais
utilizadas na produção comercial enfatiza os impactos que a atividade extrativa pode ter sobre as
populações naturais, nas quais a extração de frutos e sementes tem efeito direto sobre a regeneração
Silvicultura Tropical

natural das espécies e a coleta do estipe ou caule e da raiz causam efeito direto na estrutura da
população. Por isto, uma das etapas mais importantes do manejo de PFNM é o levantamento da
capacidade produtiva e de suporte de uma área, o que permite definir não apenas o volume ou
quantidade do produto existente em uma área, mas também o quanto a população é capaz de
suportar a atividade extrativa sem alterar sua estrutura populacional e regeneração.

Figura 2: Percentual de uso das


diferentes partes das plantas
empregados para a extração de
produtos vegetais nas diferentes
classes de uso definidas pelo
IBGE (2020). Baseada na lista
de produtos da extração vegetal
(IBGE 2020).

40
4.Potencial produtivo: do inventário ao
manejo sustentável
Dentro do conceito de silvicultura próxima à natureza4, a avaliação da capacidade produtiva
e de suporte, parte do princípio de que na busca da sustentabilidade da produção, migra-se do con-
ceito de “exploração” que representa a retirada do produto diretamente da natureza, sem práticas de
reposição e controle, para o de “colheita”. Neste último, incorporam-se práticas de reposição e manejo

A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros


em que a retirada de qualquer produto, agrícola ou florestal, não afete sua regeneração natural, sen-
do capaz de manter as funções ecológicas da floresta e a estrutura das populações.
A redução dos impactos da exploração dos PFNM requer conhecimentos sobre a ecologia das
espécies em diferentes condições. Algumas espécies podem ser negativamente afetadas em termos
de reprodução e de crescimento da população (Rijkers et al. 2006; Gaoue and Ticktin 2010), enquan-
to em outras a extração não afetou sua dinâmica ou demografia (Guedje et al. 2007). Diferenças de
respostas dependem do histórico evolutivo da espécie, da parte da planta utilizada e, principalmente,
das práticas de manejo adotadas (Ticktin 2004).
Particularmente os impactos nas populações naturais devem ser avaliados para espécies
que estejam com algum grau de ameaça. Segundo o Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas (IUCN
1998), encontram-se algumas das espécies relacionadas como submetidas à extração e comercial-
ização no Brasil, dentre as quais se destacam a ucuúba ou virola (Virola surinamensis), considerada
como “em perigo” (EN- endangered), o pinhão ou araucária (Araucaria angustifolia), classificada como
“criticamente ameaçada” (CR - critically endangered). Nestas condições, métodos extrativos como a
retirada de suas sementes podem ser tão danosos à sobrevivência e manutenção das populações
naturais quanto a extração madeireira. Por isto, o devido controle do processo extrativo, bem como a
realização de planos de manejo são imprescindíveis para o uso comercial destas espécies.

4.1 Capacidade produtiva e capacidade de suporte dos


recursos não madeireiros

A capacidade produtiva se refere ao potencial de produção de um PFNMA ou de uma


população, local ou região sendo avaliada por técnicas de inventário. Nestas condições envolve o
estudo demográfico da população em que é necessário se identificar os indivíduos imaturos, jovens
e adultos, o que requer conhecimentos sobre a biologia e ecologia da espécie. Isto porque, muitas

4 Ver as definições e conceitos no capítulo “Silvicultura Próxima à Natureza” do Prof. João


Carvalho Fidalgo- UTAD

41
espécies apresentam características morfológicas distintas nos diferentes estádios de desenvolvimento.
Além disto, para avaliar a capacidade de suporte, ou seja, a quantidade de produto, planta ou parte que
se pode remover da população requer entender o ciclo de produção de cada espécie.

4.1.1 Etapas da avaliação do estoque dos PFNM


O ciclo produtivo de cada espécie muitas vezes não está disponível por meio de pesquisas
científicas. Para muitas espécies, requer o uso de metodologias participativas, entrevistas com
informantes-chave nas comunidades e o acesso ao conhecimento tradicional das comunidades locais.
Todo este processo deve obedecer rigorosamente à Lei 13.123/2015 (Brasil 2015), regulamentada
pelo Decreto 8.772 de 11 de maio de 2016 (Brasil 2016) dispondo sobre o acesso ao patrimônio
genético, a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e a repartição de benefícios
para conservação e uso sustentável da biodiversidade. Ao mesmo tempo, em instituições de pesquisa,
empresas e ONG, deve-se seguir os respectivos Conselhos de Ética e o registro da pesquisa no Sistema
Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado- SISGEN (MMA
Silvicultura Tropical

2020b), sob controle do CGen -Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (MMA 2020a).
As informações devem buscar: (a) identificar as diferentes fases de desenvolvimento das plantas,
da jovem a adulta, (b) o tempo que uma planta demora para ir de jovem a juvenil a adulta, (c) o ponto
ótimo de colheita e (d) o padrão de distribuição espacial dos indivíduos nas áreas a serem amostradas
(Figura 3). A partir destes dados é possível definir o ciclo de produção da espécie, o que será essencial
para escalonar a colheita com base no potencial produtivo da área no espaço e no tempo.
A amostragem em campo depende bastante da forma de distribuição espacial das plantas
nas áreas. Espécies como o açaí ocorrem de forma mais agregada do que jussara, sendo ambos
mais abundantes em áreas de solos mais úmidos. É muito comum que a área a ser inventariada
tenha zonas secas mais altas e baixas e úmidas. O lançamento de parcelas aleatórias em toda a
área pode gerar sub ou super amostragem da população, distorcendo os resultados. Nestes casos,
a adoção de métodos de amostragem sistemáticos, distribuídos de forma regular em toda a área
oferece resultados mais compatíveis.
Estudos em Florestas Ombrófilas Mistas para avaliação de volume de madeira indicaram
que intensidades amostrais de 2,5% da área total (Cysneiros et al. 2018) e unidades amostrais de
1.000 m² de 10 m x 100 m foram eficientes para avaliar a densidade de plantas e de 25 m x 40 m
para estimar volume e área basal, independentemente de sua distribuição aleatória ou sistemática
(Sydow et al. 2017). Contudo, esses autores destacam que, o tipo de amostragem deve considerar as
características do local a ser inventariado, da espécie, do tipo de dado que se deseja obter e o limite

42
de erro admissível em função dos objetivos pretendidos, não havendo uma recomendação universal.
Inventário de produtos florestais não madeireiros realizado na Amazônia evidenciou a
dificuldade de amostragem de vários produtos de diferentes origens das parcelas das plantas em
uma única área. Em um total de 30 ha foram testados 22 tamanhos de parcelas desde 20 m x 20 m
(400 m²) até 30 m x 50 m (15.000 m²) e ficou evidenciado erros amostrais superiores a 20% sendo
recomendado realizar o inventário considerando os diferentes tamanhos de parcelas para as formas

A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros


de vida, árvores, palmeiras, cipós e outras (Farias 2012).

Determinação do estoque de estipe ou caule


A amostragem nestes casos assemelha-se muito àquela efetuada nos inventários e levantamentos
fitossociológicos onde se avalia o número de indivíduos para obter-se a abundância (número de plantas
totais) e a densidade (nº de plantas/hectare) e o seu volume por meio de equações hipsométricas. No
entanto, é necessária atenção em função do esforço amostral. Parcelas maiores podem ser eficientes
para avaliar as plantas adultas, contudo podem gerar muito esforço para avaliar a regeneração natural
ou juvenis, sendo, portanto, necessário planejar subparcelas menores para avaliar outros estádios
de desenvolvimento. No caso de estudos com açaí foram observadas parcelas com 6 m x 12 m para o
levantamento das touceiras em quintais produtivos (Aguiar, Simões, and Simões 2017) e de até 70 a
80 m² para estudos de regeneração natural em áreas de várzea (Vasconcellos et al. 2001). No caso de o
produto extrativo ser palmito, é importante a anotação dos dados de diâmetro, pois esta característica está
associada à produção bruta de palmito (Bovi et al. 1990). Para a produção de cascas, no caso do angico
(Anadenanthera peregrina (L.) Speg.), as árvores podem ser cubadas em pé, obtendo-se o volume total de
casca de cada árvore com base na equação volumétrica VFcc=0,00009×DAP1,77693×HT0,943269 onde VFcc
é o volume total do fuste com casca (m³); DAP é o diâmetro a altura do peito (cm) e HT a altura total (m)
empregadas por Andrade et al. (2013). Para a avaliação do volume de casca em barbatimão, recomenda-
se o emprego da equação LnV=-(0,949993 Ln(dap²ht)+ε) - 9,23466), onde LnV é o logarítimo neperiano
do volume; dap é o diâmetro a altura do peito (cm); ht é a altura total (m); Ln=  logaritmo neperiano e ε
é o erro de estimado esperado segundo Gama et al. (2015). Para cada espécie deve-se determinar as
relações entre os volumes com e sem casca, assim como definir qual o tempo de intervalo de extração e
área de casca a ser removida por planta para evitar a morte do indivíduo. Este fator é bastante relevante
para espécies produtoras de óleo ou resinas extraídas do seu tronco que devem ser avaliadas a cada local
de colheita. Dados existentes evidenciam ampla variação da produtividade e qualidade de óleos extrativos
entre plantas, locais, fatores climáticos ou mesmo dependendo do ciclo de extração, como já constatado
para várias espécies de copaíba (Rigamento-Azevedo et al. 2004a; Rigamonte-Azevedo et al. 2004b).

43
Figura 3: Etapas a serem realizadas para o levantamento da capacidade de produção e de suporte das áreas de
extração e/ou colheita de espécies florestais com potencial não madeireiro considerando o ciclo de produção de
cada espécie. Fonte: Os autores.
Silvicultura Tropical

44
Determinação do estoque de volume de frutos e sementes
Como a produção de óleos extrativos, a de frutos e sementes tem alta variação em função
do controle genético e da interação ambiental (Piña-Rodrigues, Figliolia, and Silva 2015). Espécies
como o buriti, apenas uma palmeira pode produzir de 1 a 9 cachos com 600 a 1200 frutos que
podem chegar de 40 a 360 Kg de frutos, encontrando-se cerca de 60 a 70 plantas fêmeas por hectare
com capacidade de produção de 2,5 a 23 toneladas/ha (Cymeris, Paula-Fernandes, and Rigamonte-

A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros


Azevedo 2005). A extração de óleo indicou que 3,29±1,04 ton/ha de frutos fornecem 57,5±17,0 kg
de óleo/ha, o que é considerada baixa produtividade entre espécies oleaginosas (Barbosa, Lima, and
Mourão Junior 2010). Por sua vez, espécies como o urucum (Bixa orellana L.) e o pinhão (Araucaria
angustifolia Kuntze) provêm de cultivos, plantios florestais ou mesmo de áreas nativas manejadas para
a produção de semente ou madeira, como no caso do pinhão ou araucária. Cerca de 69% da produção
de urucum provém de misturas de sementes produzidas nas regiões norte e sudeste (Albuquerque &
Meireles 2012), mas apenas 60% deste material é aproveitado pela indústria por não apresentar um
teor mínimo de 2,5% de bixina, a substância empregada como corante (São José et al. 2007; Santos,
Lourenzani, and Lourenzani 2019). A produtividade pode variar de cerca de 800 na Bahia até 2500
kg/ha em São Paulo (IBGE 2020).
A viabilidade econômica dos PFNM’s fica evidenciada quando se constata que em 2015, quando
se verificou o pico de sua produção, entre a classe dos alimentícios, o açaí gerou R$ 480,6 milhões, a
erva-mate R$ 396,3 milhões, a castanha-do-pará atingiu R$ 107,4 milhões e entre as ceras, a carnaúba
rendeu R$ 195,6 milhões, o babaçu R$ 107,7 milhões e a piaçava atingiu R$ 101,3 milhões (IBGE
2020). Desta forma fica caracterizada a relevância social, por sua produção estar na maioria concentrada
em comunidades, e econômica. Evidencia simultaneamente que os estudos de inventário e capacidade
produtiva devem ser elaborados para cada localidade e população vegetal, o que permite a estimativa
não apenas da quantidade produzida, mas também do rendimento do produto final.
Ao se levantar a literatura sobre a produção, sistema produtivo, técnicas de manejo e de extração
do produto vegetal, constata-se alta concentração de publicações e pesquisas em diferentes setores em
espécies-chave tais como castanha-do-brasil e açai na Amazônia, buriti e angico no nordeste entre outras.
Ao mesmo tempo fica evidenciada a maior concentração de estudos químicos e bioquímicos ligados
aos compostos produzidos pelas plantas e sua extração, síntese e refinamento, fator claramente ligado
à importância dada ao registro de patentes e processos. Por outro lado, as publicações que envolvem
a ecologia e produção vegetal das mesmas espécies em grande parte são divulgadas e apresentaadas
em eventos, dissertações, teses e até em trabalhos de conclusão de curso, sem que estes se revertam
posteriormente em artigos cientificos. Esta questão é relevante pois é importante a revisão por pares

45
e especialistas como nas revistas especializadas, o que traz maior credibilidade aos processos. Esta
questão ressalta a necessidade não apenas de pesquisa, mas também de divulgação dos resultados, o
que contrasta com o enorme potencial da biodiversidade brasileira (L. C. de Oliveira 2020).

5. Estudos de caso
Muitas espécies que vêm sendo utilizadas como produtos florestais não madeireiros
não aparecem na listagem oficial do IBGE (2020). Isto ocorre em função de sua menor escala de
produção ou mesmo devido a problemas de registro e levantamento de dados de campo destes
produtos. No Anexo 1 são relacionadas algumas espécies como a priprioca, o murumuru, o patauá
e a sapucainha, todas tradicionalmente utilizadas por comunidades e cuja utilização em escala
industrial se intensificou a partir de 2018, posteriormente aos dados coletados pelo IBGE.
A partir deste contexto, serão apresentados estudos de caso de espécies florestais que
têm relevante interesse, quer originado de usos tradicionais ou mesmo econômico. Parte destes
Silvicultura Tropical

estudos não foram publicados, como é o caso da ucuuba, mas vêm da experiência dos autores
e das publicações existentes. O objetivo deste item é complementar e partilhar processos e
procedimentos que muitas vezes não são diretamente discutidos em publicações científicas ou se
encontram diluídos em vários textos.

5.1 Floresta Amazônica


5.1.1 Ucuúba ou Virola – Virola surinamensis
O uso de ucuúba ou virola para fins madeireiros é abordado em um dos capítulos do presente
livro, mas a atividade extrativa das sementes, embora seja realizada desde muito tempo pelos
habitantes da região amazônica (Piña-Rodrigues 1999), começou a atingir escala industrial após o
início dos anos 2010. Sua ocorrência agrupada em áreas de várzea, rápido crescimento, reprodução
precoce, com as plantas jovens produzindo sementes a partir dos 4-5 anos em plantios comerciais
e a partir dos 8-10 anos em áreas naturais, ao mesmo tempo que facilita a atividade extrativa das
sementes tem efeito direto na regeneração natural da população (Piña-Rodrigues et al. 2019). Estudos
demográficos em áreas com e sem exploração de madeira de ucuúba mostraram que os indivíduos
que atingem o estádio de “vara” ou “filhotões” (altura > 1,5 m) são os que têm maior probabilidade
se chegarem a fase de adultos (Figura 4).
Após levantamento do potencial produtivo e acompanhamento fenológico e demográfico para
avaliação do impacto da extração de sementes da espécie em três localidades no estuário amazônico,

46
foi constatado que áreas com número de filhotões inferior a 10% do número de plantas adultas (CAP>
30 cm) devem ser enriquecidas com mudas, realizando-se o manejo e a limpeza para promover o
desenvolvimento dos filhotões. Estas práticas favorecem e contribuem para manter a sustentabilidade
futura da área onde se realiza extração de sementes. Para isto, a colheita de sementes deve retirar no
máximo 1/3 das sementes de cada planta e evitando-se a extração no período de lançante, quando as
sementes são transportadas pela água para disseminação natural (Piña-Rodrigues et al. 2019).

A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros


5.1.2 Açai – Euterpe precatória
O açaí sempre foi empregado pelas populações locais para alimentação a partir do
aproveitamento de seus frutos e, posteriormente para a retirada de palmito em escala comercial.
Nos anos 2000, com a disseminação do consumo de açaí no Brasil e no exterior, as pressões para a
coleta do fruto cresceram. Com estas condições instalou-se o conflito entre as duas formas de uso:
a coleta de frutos e a extração de palmito. Estas tornaram-se incompatíveis, com práticas de manejo
distintas dos açaizais afetando a reprodução das plantas e criando conflitos entre os grupos sociais
envolvidos nas atividades (Mourão 2010). Programas governamentais a partir da década de 90
passaram a incentivar o plantio e manejo de açaizais nativos promovendo o raleio das touceiras
(Santana et al. 2008). Contudo, a prática contínua deste tipo de manejo, a falta de enriquecimento
com material genético de outras áreas mais o fato da espécie apresentar polinização por insetos
pequenos (Venturieri et al. 2014), favorecendo o cruzamento entre plantas próximas, o controle
genético das características de produção de frutos (Teixeira et al. 2012) e a densidade de plantas
contribuíram para o aumento do parentesco entre elas tendo como consequência a redução da
produtividade. Ao mesmo tempo, a expansão destas áreas nas várzeas levou a retirada e corte de
várias espécies florestais como a andiroba, a ucuúba e o breu, causando forte impacto e gerando
grandes extensões de açaizais manejados.
Plantios de açaí na região norte e açaizais manejados se espalharam pela região do Pará
estendendo-se até regiões de terra firme a partir de material melhorado e adaptado variando
de espaçamentos de 15 a 36 m² (Oliveira et al. 2015). Para o manejo são feitos desbastes
dosdesbastados os perfilhos, mantendo-se, no máximo, cinco plantas por touceira de diferentes
estadios de desenvolvimento, jovens, juvenis e adultos efetuando-se o controle da altura retirando-
se as plantas mais altas, o que dificulta a colheita dos frutos (Oliveira et al. 2002). A produção
concentra-se a partir de março com cachos que podem variar de 1 a 8 por planta, produzindo até
6.000 sementes/planta ou 13 kg de frutos/touceira entre 3 e 5 anos e chegando até mais de 32 kg
aos 8-10 anos (Oliveira et al. 2015).

47
5.2 Cerrado
5.2.1 Pequi – Caryocar brasiliense
O pequi é uma espécie de uso tradicional entre os indígenas do Brasil Central, se configurando
em um dos seus principais itens alimentares. Ocorre em todas as regiões de Cerrado brasileiro e
apresenta variedades como por exemplo o pequi sem espinho cultivado pelos indígenas do Parque
indígena do Xingu (MT) (Rocha et al. 2007; Oliveira and Scariot 2010). Levantamentos em várias
regiões indicam densidades distintas, entre 25 a 100 plantas/hectare, com produção na estação
chuvosa de cada região, concentrados entre outubro e fevereiro com produção bianual, ou seja, com
uma safra a cada dois anos (Oliveira and Scariot 2010). Há relação entre o diâmetro do tronco e a
produção e árvores mais grossas (> 11-25 cm de diâmetro) podem produzir de 350 a 3400 frutos por
hectare (Oliveira 2009).
O ponto de maturação dos frutos de pequi influencia a qualidade dos frutos para a indústria
alimentícia, por isto a colheita é realizada no solo, de 2 a 3 dias após a dispersão natural, com a
retirada de apenas 1/3 da produção por área, para que 10 frutos possam germinar e cinco sejam
Silvicultura Tropical

usados para a dispersão por animais (Oliveira and Scariot 2010).

Figura 4: Representação das etapas e produção de sementes em diferentes fases de desenvolvimento de ucuuba
(Virola surinamensis). Adaptado de Piña-Rodrigues et al. (2019).

48
6. Considerações finais
Em todas as espécies usadas como não madeireiras e com múltiplos usos, conhecer infor-
mações sobre a sua biologia reprodutiva, estrutura populacional e genética contribui para que não
se cometam erros no futuro. Como foi visto, há enorme potencial destas espécies, principalmente nas
indústrias químicas e alimentícias. A extração deve ser cada vez mais associada ao manejo e a colheita
sustentável em que não basta ter plantas, é preciso garantir a sustentabilidade da população.

A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros


A biodiversidade brasileira, cantada em verso e prosa, deixará de ser um patrimônio do
país se pesquisas básicas e avançadas como a de genética, seleção de populações no nível químico
não se juntarem ao plantio e cultivo das espécies. Não se trata de substituir o uso tradicional e
o manejo pelo plantio, mas sim de coexistir as duas formas de produção. Experiências como as
que vêm sendo conduzidas no plantio e manejo da jussara na Floresta Atlântica tiveram muito a
aprender com os erros com o açaí. O que fica claro, para nós que queremos conservar para produzir
sempre, é que sem conhecer e estudar as espécies não é possível avançar. Assim, definitivamente,
não se faz ciência.

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57
8. ANEXO 1: Lista de nomes científicos e
comuns das espécies de produtos florestais não
madeireiros citadas e com potencial de utilização.

Nome comum Nome científico Família botânica

Açaí Euterpe precatoria Mart. Arecaceae

Acariquara-branca Campomanesia grandiflora (Aubl.) Sagot Myrtaceae

Acariquara-roxa Minquartia guianensis Aubl. Olacaceae

Angico-vermelho Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Fabaceae

Babaçu Attalea speciosa Mart. ex Spreng. Arecaceae

Bacaba Oenocarpus bacaba Mart. Arecaceae

Bacabinha Oenocarpus minor Mart. Arecaceae

Chrysophyllum sanguinolentum subsp. balata (Ducke)


Balata Sapotaceae
Silvicultura Tropical

T.D.Penn.

Barbatimão Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Fabaceae

Breu Protium Burm.f. spp Burseraceae

Breu-branco Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Burseraceae

Breu-vermelho Protium altissimum (Aubl.) Marchand Burseraceae

Buriti Mauritia flexuosa L.f. Arecaceae

Canudo-de-pito Mabea fistulifera Euphorbiaceae

Carapanauba Aspidosperma spp Mart. & Zucc. Apocynaceae

Carnaúba Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore Arecaceae

Castanha-de-caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae

Castanha-do-pará Bertholletia excelsa Bonpl. Lecythidaceae

Caucho Castilla ulei Warb Moraceae

Cipó-titica Heteropsis spp Kunth Araceae

Copaíba Copaifera L. spp Fabaceae

Cumaru Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. Fabaceae

Cupuaçu Theobroma grandiflorum  (Willd. ex Spreng.) K.Schum. Malvaceae

Erva-mate Ilex paraguariensis A.St.-Hil. Aquifoliaceae

58
Nome comum Nome científico Família botânica

Guaçatonga Casearia sylvestris Sw. Salicaceae

Guaraná Paullinia cupana Kunth Sapindaceae

Seringueira Hevea brasiliensis (Willd. ex A.Juss.) Müll.Arg. Euphorbiaceae

A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros


Jaborandi Piper aduncum L. Piperaceae

Jarina Phytelephas macrocarpa Ruiz & Pav. Arecaceae

Jerivá Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman Arecaceae

Jurema-preta Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Fabaceae

Juçara Euterpe edulis Mart. Arecaceae

Licuri Syagrus amicorum K. Soares & C. A. Guim. Arecaceae

Maçaranduba Manilkara spp Adans. Sapotaceae

Mangaba Hancornia speciosa Gomes Apocynaceae

Murumuru Astrocaryum faranae F.Kahn & E.Ferreira Arecaceae

Oiticica Couepia impressa Prance Chrysobalanaceae

Patauá Oenocarpus bataua Mart. Arecaceae

Pau-rosa Aniba rosaeodora Ducke Lauraceae

Pequi Caryocar brasiliense Cambess. Caryocaraceae

Piaçava Aphandra natalia (Balslev & A.J.Hend.) Barfod Arecaceae

Pinhão Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze Araucariaceae

Piprioca Cyperus articulatus L. Cyperaceae

Sapucainha Carpotroche brasiliensis (Raddi) A Gray Achariaceae

Sorva Couma spp Aubl. Apocynaceae

Taboa Typha domingensis Pers. Typhaceae

Tucum Bactris glaucescens Drude Arecaceae

Ucuuba Virola pavonis (A.DC.) A.C.Sm. Myristicaceae

Umbu Spondias tuberosa Arruda Anacardiaceae

Urucum Bixa orellana L. Bixaceae

Ucuuba ou virola Virola surinamensis (Rol) et Warb Myristicaceae

59
Amburana cearensis
(Allemão) A. C. Sm.
Rachel Martins da Rocha Silva
Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), mestranda em Produção Vegetal pela UENF, área de Silvicultura.

Giovana Campos Mamede Weiss de Carvalho


Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), Mestre em Produção Vegetal pela UENF, doutoranda em Produção Vegetal pela
UENF, área de Silvicultura.

Renata de Deus Silva


Bióloga, graduada pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), mestre em Produção Vegetal
pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), doutoranda em
Produção Vegetal pela UENF, área de Silvicultura.

Deborah Guerra Barroso


Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Mestre em
Silvicultura Tropical

Agronomia pela UFLA e doutora pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(UENF). Professora Associada na área de Silvicultura e Sistemas Agroflorestais da UENF.

A espécie Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm., também é conhecida por cerejeira,


cumaru, amburana-de-cheiro, cumaru-do-Ceará, imburana, cerejeira-rajada, cumaru-das-
caatingas, cumbaru, umburana-vermelha, imburana-cheirosa, cumaru-de-cheiro, louro-
ingá, cumaré. É uma espécie arbórea, angiosperma, pertencente à família Fabaceae. Na
Figura 1, pode-se observar uma exsicata da espécie, depositada no Missouri Botanical
Garden Herbarium.
Foi relatada pela primeira vez pelo botânico brasileiro Francisco Freire Allemão, em
1862, sob o nome de “Torresea cearensis”, em comparação a um gênero “Torresea” descrito por
Ruiz e Pavon para uma espécie forrageira da Venezuela. Trinta e dois anos mais tarde, Schwacke
e Taubert (1894) descreveram o gênero Amburana, de acordo com a espécie Amburana claudii.
Pensavam estar encontrando um gênero diferente do descrito por Freire Allemão, mas em 1935
é feita a descrição da Amburana acreana por Ducke, com sutis diferenças taxonômicas. Smith
(1940) realiza a alteração do gênero, mantendo a espécie Amburana cearensis como referência
a Torresea cearensis de Fr. Allem. e Amburana claudii de Schwacke & Taubert. Bernardi (1984),
trabalhando com famílias botânicas paraguaias, sinonimizou A. cearensis com A. claudii e
Torresea cearensis. Atualmente, o gênero Amburana possui três espécies: A. cearensis (Allemão)
A.C.Sm., A. acreana (Ducke) A.C.Sm. e A. erythrosperma E.P. Seleme, C.H. Stirt. & V.F. Mansano,

60
sendo esta última endêmica da região
Centro-Sul da Bahia.
É uma espécie amplamente
difundida pela América do Sul,
encontrada também na Argentina,
na Bolívia, no Paraguai e no Peru. No
Brasil, embora sendo originária da
Caatinga, tem ocorrência confirmada

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.


também em domínios da Mata
Atlântica, Cerrado e Pantanal, nas
regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste
e Sudeste (Flora do Brasil, 2020). É
característica de floresta estacional,
um tipo de vegetação florestal com
estação seca demarcada. Entretanto,
pode ocorrer em floresta estacional
semidecidual, vegetação pertencente
ao bioma da Mata Atlântica, Figura1: Exsicata de Amburana cearensis (Allemão)
ocorrendo, ocasionalmente, também A.C.Sm., depositada no Missouri Botanical Garden
Herbarium. Retirado de Tropicos.org. Jardim
no Cerrado, cuja característica é a Botânico de Missouri. Fotógrafo: MBG CC-BY-NC-AS.
dupla estacionalidade climática, onde
no verão ocorrem chuvas fortes e frequentes e, logo em seguida, ocorre um período de forte
estiagem. Neste ambiente, a espécie se restringe aos afloramentos rochosos ou calcáreos. Há a
ocorrência no Cerrado e no Pantanal, porém bem restrita às áreas próximas ao Cerrado (conhecida
como zonas de transição), com vegetação e clima mais semelhantes a este (Mendonça et al. 1998).

1. Botânica
Amburana cearensis apresenta porte arbóreo, mas seu fuste e copa variam em função
do ambiente. As árvores presentes em florestas mais adensadas possuem fuste reto, podendo
atingir até 20 m (Seleme et al., 2015), com copa espalhada e larga, enquanto indivíduos da
Caatinga são o oposto, com altura de 4 a 10 metros (Lorenzi, 2008), com fuste sinuoso, curto e com
muitas irregularidades, e as copas são curtas e achatadas (Carvalho, 2003).

61
O caule é liso, castanho, com frequente desprendimento da casca em formato laminar, desde a
fase jovem até idades mais avançadas (Figura 2). Após o corte, apresenta forte odor de cumarina (Flora
do Brasil, 2020). O mesmo acontece com as raízes superficiais (Queiroz, 2020). Pode atingir de 20 a 50
cm de diâmetro na altura do peito (Carvalho, 2003).
A amburana armazena água em seu caule acima da média da maioria das espécies que
possuem madeira mais densa (Lima, 2007).
Silvicultura Tropical

A B c

Figura 2: Desprendimento da casca em minicepa juvenil (A) e em exemplares adultos (B e C) de Amburana


cearensis (Allemão) A.C.Sm. (B e C), localizados no Polo de Educação Ambiental da Mata Atlântica (PEAMA),
pertencente ao Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) - Campus de Alegre. Foto A: Rachel Martins da Rocha
Silva. Fotos B e C: Renata de Deus Silva.

Suas folhas alternas, compostas e


imparipinadas, com pecíolos geralmente
cilíndricos e não ranhurados, tamanho de
10 a 15 cm de comprimento e com estípulas
presentes apenas na fase de muda. Os
folíolos, cujas dimensões variam de 3-6 x
2,5-3 cm, são alternos, elípticos a ovais, com
Figura 3: Folha de Amburana cearensis (Allemão) ápice arredondado ou acuminado e com base
A.C.Sm (A), com folíolos alternos. Foto: Rachel Martins arredondada, características que a diferem da
da Rocha Silva.
Amburana acreana (Seleme et al., 2015) e
se apresentam em uma quantidade variável
entre 7 a 15 por folha (Figura 3).

62
A espécie é caducifólia,
com queda de folhas quando se
inicia a floração e a senescência
é intensificada com a formação
dos frutos (Santos, 2014),
conforme observado na Figura
4. O início das brotações se dá
na presença de dias mais longos
(Lima, 2007).
Na Paraíba, foi obser-
vado por Santos (2014) que A B
a intensidade de senescência

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.


Figura 4: Processo de perda das folhas de Amburana cearensis
das folhas é mais visível entre (Allemão) A.C.Sm, em Juazeiro-BA. (A) 01/04/2016 e (B) 5/08/2016.
os meses de maio a dezembro. Fotos: Marcelo do Nascimento Araujo. Fonte: Araujo e Dantas, (2018).

As plantas permanecem sem


folhas até três meses, enquanto
totalmente coberta com folhas
passam apenas um mês e meio.
Apresenta inflorescên-
cia congesta, paniculadas,
A B
axilares ou terminais, com 2-5
cm de comprimento. As flores
são aromáticas, hermafroditas
e a corola apresenta uma
única pétala adaxial, branca
ou amarelada. O androceu
apresenta 10 estames livres e
anteras amarelas (Lima, 1989;
Seleme et al., 2015). O ovário
é curvado (Queiroz, 2012 e
Seleme et al., 2015), como pode c

ser observado na Figura 5. Figura 5: Detalhes da flor com estames livres e ovário vermelho (A);
Formação dos botões florais (B) e Inflorescências (C) de Amburana
cearensis (Allemão) A.C.Sm. Fotos: Rubens Teixeira de Queiroz.

63
A antese é noturna, ocorrendo por volta das 18:00 horas. Em Juazeiro-BA, suas flores são visitadas
durante o dia por 25 espécies, entre himenópteros, dípteros, lepidópteros e coleópteros, e durante a noite
por três espécies de lepidóptero e um díptero. Considerando-se comportamento e frequência, as abelhas Apis
mellifera, Centris sp., Frieseomelita doederleini, Meliponia marginata e Xylocopa sp. são consideradas como
polinizadores diurnos dessa espécie, sendo as maiores taxas de e produção obtidas através da polinização
cruzada (Dias et al, 2007).
Os frutos são criptossâmaras, com uma câmara apical de sementes, oblonga e enrugada,
medindo, em média, 6 cm de comprimento, de coloração escura, com deiscência apical (Barroso et al.,
1999 e Araujo e Dantas, 2018). O endocarpo membranoso envolve a semente preta, o que a diferencia
da Amburana erythrosperma, cujo endocarpo é parcialmente desenvolvido e não envolve a semente
vermelha (Seleme et al., 2015).
Silvicultura Tropical

Figura 6: Semente com ala (A) e


sementes após o beneficiamento
(B) de Amburana cearensis
(Allemão) A.C.Sm. Foto A: Rubens
A Teixeira de Queiroz. Foto B:
B
Renata de Deus Silva.

Os frutos possuem quase sempre apenas uma semente alada, rugosa, achatada, ovoide,
oblonga, elíptica, com cerca de 2 cm x 0,9 a 1,3 cm, segundo Carvalho (2003), mas, segundo
Seleme et al. (2015) essas dimensões variam de 12 a 14 x 7 a 9 mm (Figura 6).
As sementes nigrescentes apresentam forte aroma de cumarina e gosto amargo picante
(Leal et al., 2005; Lorenzi, 2008). São produzidas cerca de 1.650 sementes por kg. Classificadas
como oleaginosas, as sementes do cumaru possuem 23% de óleo natural que é muito empregado
no uso medicinal (Matos et al., 1992; Maia, 2008).

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS
A madeira da amburana apresenta cerne uniforme, bege, castanho claro ou bege rosado,
com veios escurecidos (Rossi, 2008), de corte macio e moderadamente durável quando exposta a
intempéries, com boa resistência em usos internos e ao ataque de fungos e insetos (MAIA, 2004;
Campos Filho e Sartorelli, 2015).

64
No ano de 2014/2015 o valor do metro cúbico de madeira em pé de amburana variava de
R$ 103,00 a R$ 370,001 (Campos Filho e Sartorelli, 2015).
A madeira da amburana é utilizada na confecção de móveis nobres, portas, barris de cachaça, na
marcenaria, em esculturas, na construção civil, produção de carvão e para a restauração de áreas degradadas
(Andrade-lima, 1989; Aquino et al., 2005; Lima, 2014; Campos et al., 2013; Campos Filho e Sartorelli, 2015).
Também apresenta como peculiaridade odor agradável de cumarina e gosto adocicado (Pareyn, 2018).
A densidade da madeira apontada pela literatura é de 0,55 a 0,63g cm-3, sendo classificada
como moderadamente densa (Almeida et al., 2015; Rossi, 2008).
Segundo Almeida et al. (2015), apesar de apresentar poder calorífico acima dos 7.000 cal.g-1,
o que demonstra potencial energético para produção de carvão, a madeira da amburana apresenta
baixo teor de lignina (21,14%) e elevado teor de cinzas (4,3%).
Destaca-se a indicação de sua madeira na confecção de barris para envelhecimento de cachaça.

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.


Tradicionalmente, as cachaças de melhor qualidade eram envelhecidas em tonéis de Carvalho, porém, as
espécies nativas vêm sendo utilizadas para este fim (Pareyn et al., 2010). A cada bebida é conferida um
aroma, coloração e sabor específico, de acordo com a madeira utilizada. Alguns barris conferem sabores
mais marcantes, e outros, como a amburana, mais suaves e agradáveis (Santiago et al., 2014).

2.2. EXTRATIVOS
A amburana possui amplo uso medicinal popular, que pode ser comprovado pela abundância
de compostos como cumarina, glicosídeos fenólicos e flavonoides (Almeida et al., 2010). Do tronco é
comum a exsudação de resina, que é utilizada para a fabricação de goma (Carvalho, 2003).
Na medicina popular, as sementes e a casca da amburana maceradas são utilizadas para
tratamento de doenças reumáticas, problemas com asma e bronquite, enfermidades pulmonares, mal-
estares digestivos, coriza, cólicas e como antiespasmódicas (Tigre, 1968; Braga, 1976; Berg, 1986; Teske
e Trentini, 1997). Na Bolívia, em região endêmica em casos de malária, o decocto da entrecasca de A.
cearensis é utilizado para o alívio dos sintomas, como febre e calafrios (Gimenez et al., 1996).
A cumarina, extraída das sementes, do lenho e da casca, cujo aroma é semelhante ao da baunilha,
pode ser utilizada em perfumes (como fixador ou para destacar a fragrância), detergente, pasta de dente,
cigarros e em bebidas alcoólicas, na confecção de doces, biscoitos e sabão (Carvalho, 2003; Rodrigues,
2005). Os primeiros perfumes a com cumarina foram Houbigant Fougère Royale, lançado em 1882, e
Guerlain Jicky, de 1889 (Pagani, 2015).

1 Taxa: 2,634 Real - Brasil= 1 dólar-EUA, data da cotação: 01/2015, (http://www.acinh.com.br/servicos/cotacao-dolar)

65
Também pode ser utilizada na composição de borrachas, plásticos, tintas e spray, para mascarar
odores de solventes orgânicos (Rodrigues, 2005).
Das sementes também podem ser feitos inseticidas para repelir insetos e traças (Carvalho, 2003).
O uso de extrato aquoso de sementes de amburana resultou em 100% de mortalidade de larvas de Aedes
aegypti após 1 a 3 horas de exposição (Farias, et al. 2010). Também peptídeo extraído das sementes
apresenta ação fungicida, inibindo Colletotrichum lindemuthianum, Fusarium oxysporum, Fusarium
solani, Candida albicans e Saccharomyces cerevisiae (Santos et al., 2010). O extrato aquoso das sementes
apresenta ainda efeito antiedematogênico, embora tenha apresentado ação tóxica e mutagênica em
células eucarióticas de Allium cepa cultivadas, demonstrando a necessidade de estudos adicionais que
demonstrem a segurança na utilização do extrato de Amburana cearensis (Lima et al. 2013).
A casca da amburana, também rica em cumarina, entre outros compostos, é utilizada no controle
de dores reumáticas, por ter função anti-inflamatória e analgésica (Teófilo et al.,1999; Benko-Iseppon e
Crovella, 2010; Canuto et al., 2010; Lopes, 2010; Vasconcelos et al., 2010; Leal et al., 2011). Apresenta
ainda capacidade hepatoprotetora, o que se deve, em parte, à sua atividade antioxidante (Leal, et al. 2008) e
Silvicultura Tropical

bronco dilatadora (Benko-Iseppon e Crovella, 2010). O decocto da casca apresenta atividade antimicrobiana
sobre bactérias Gram-positivas, sendo indicado para conservação de alimentos, inibindo microrganismos
patogênicos e melhorando a qualidade higiênico-sanitária do processo (Ferreira et al., 2020).
Estudos tem mostrado que derivados de cumarina, naturais e híbridos podem gerar novos fármacos
antimaláricos, com perfis quimioterapêuticos aprimorados para pacientes sensíveis a outras drogas ou que
tenham desenvolvido resistência aos medicamentos usuais, com toxicidade reduzida (Hu et al., 2018).
Figueiredo et al. (2013) indicam que extratos etanólicos de folhas de A. cearensis apresentam
ação antibacteriana, devido à presença de vários compostos, com a possibilidade de aumentar o
potencial antimicrobiano de fármacos contra microrganismos multirresistentes, pelo uso combinado
de produtos naturais com aminoglicosídeos.

3. Tecnologia de sementes
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
Por volta de 10 anos, a amburana inicia sua fase reprodutiva. Cada árvore adulta pode atingir
a produção média de 12 Kg de sementes (Carvalho, 1994; Franklin, 1952). O preço de um quilo (Kg)
de sementes de amburana, contendo por volta de 2.103 unidades (Costa, 2009), varia de R$ 380,00
a R$ 1026,002.

2 Levantamento realizado em maio de 2020. *Taxa: 5,0788 Real - Brasil= 1 dólar-EUA, data da cotação: 21/05/2020, Banco do Brasil - www.bb.com.br)

66
3.2 FENOLOGIA
De maneira geral, a floração se dá juntamente com o término da época chuvosa, quando
as árvores perdem quase todas as suas folhas (Lorenzi, 2008). Porém, o comportamento fenológico
da amburana, varia em função dos diferentes ambientes onde ocorre. No Ceará, o florescimento e
frutificação acontecem todos os anos, durante a época da seca (Oliveira et al., 1988). Já em Pernambuco,
a floração e a frutificação ocorrem a cada dois anos (Machado e Barros, 1997), como também observaram
Japiassu, et al. (2016) no semiárido paraibano.

3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO


A espécie é caducifólia, com galhos sem folhas quando se inicia a floração (Lorenzi, 2008). A
época de floração da espécie pode variar conforme região como pode ser observado na Tabela 2.
A fenofase botão floral correlaciona-se positivamente com a precipitação, durando por até

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.


quatro meses, com picos que variam de maio a junho, no município de Soledade, PB (Santos, 2014),
onde os picos da antese variam de junho a agosto.
Segundo Kiill (2010) e Silva et al. (2006), por iniciar seu florescimento na época da seca,
justamente o oposto da maioria das espécies da Caatinga, a amburana é vista por alguns autores
como uma árvore muito importante para a manutenção da população de abelhas. Isto se deve ao fato
de a mesma propiciar a produção de pólen na “entressafra”.

Tabela 1: Época de floração de Amburana cearensis, em diferentes Estados e Biomas brasileiros.


Meses do ano
UF Biomas
j f m a m j j a s o n d
Bahia2 Caatinga
Ceará1 Caatinga
Paraíba5* Caatinga
Pernambuco1 Caatinga
Rio Grande do Norte3 ** Caatinga
São Paulo1 Mata Atlântica
1
Carvalho, 2003; 2Silva et al., 2006; 3Amorim et al., 2009; 5Santos, 2014.
* Extensão do período variou entre os 3 anos de observação
** Variação observada entre os anos de 2000 (M;J) e 2001 (S;O)

67
3.4. FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA
O período de frutificação se dá no início da estação seca (Maia, 2008). Entretanto, na Tabela 2 é
possível observar a época de frutificação em alguns estados brasileiros, onde há a ocorrência da espécie.
Tabela 2: Época de frutificação de Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm., em diferentes
Estados e Biomas brasileiros.
Meses do ano
UF Biomas
j f m a m j j a s o n d
Bahia2 Caatinga

Ceará1 Caatinga
Goiás1 Cerrado
Paraíba5* Caatinga
Pernambuco1 Caatinga
Rio Grande do Norte3 ** Caatinga

São Paulo1 Mata Atlântica


Silvicultura Tropical

1
Carvalho, 2003; 2Silva et al., 2006; 3Amorim et al., 2009; 5Santos, 2014.
* Extensão do período variou entre os 3 anos de observação
** Variação observada entre os anos de 2000 (M;J) e 2001 (S;O)

No município de Malta, PB, a colheita dos frutos pode ser realizada a partir dos 54 dias após
a antese, com os frutos ainda fechados, quando apresentam coloração marrom escura, uma fenda
na parte superior, e sementes com capacidade de originar uma plântula saudável (Lopes et al.,
2014). Aos 63 dias após a antese ocorre a deiscência natural dos frutos, com dispersão anemocórica
das sementes.
Desta forma, a colheita das sementes de amburana é realizada de forma manual, após o
amadurecimento dos frutos e antes da total abertura dos mesmos. É possível realizá-la a partir da
agitação de galhos sobre um encerado (Dantas et al., 2012), ou com auxílio de podão ou escadas. A
catação de sementes no chão, após sua dispersão natural, pode resultar em elevada taxa de predação,
contaminação e perda de viabilidade.

3.5. MANEJO DE SEMENTES


Após a colheita as vagens devem ser submetidas à secagem em local arejado e sombreado
(Rossi, 2008). Posteriormente, realiza-se a extração das sementes e remoção da ala. Depois, recomenda-
se que seja feita a seleção de sementes, separando as sadias das pútridas ou com sinais visíveis de
ataques por insetos (Souza et al., 2015).

68
As sementes da amburana são ortodoxas e não apresentam dormência (Angelim et al.,
2007; Lopes, et al. 2014; Silva et al., 2019), mas o vigor e velocidade de germinação podem variar
em função da matriz ou do lote (Silva et al., 2019; Porcino, 2019).
Os testes de germinação sob condições controladas devem ser feitos a 35oC, independente
do substrato, sendo areia ou vermiculita os substratos mais indicados por Guedes et al. (2010) para
avaliação da qualidade fisiológica das sementes. Temperatura alternada de 20°-30°C e substrato rolo
papel foram recomendados por Salomão e Cavallari (1992). A emissão da raiz primária ocorre por volta
de cinco dias após a semeadura (Cunha e Ferreira, 2003).
Porcino (2019) utilizou o teste de tetrazólio para inferir sobre a qualidade dos lotes de sementes
de amburana, descrevendo danos mecânicos, deterioração por umidade e ataque de percevejos.

3.6. ARMAZENAMENTO

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.


É possível armazenar sementes de amburana por 24 meses (Dantas et al. 2008; Araujo et al.,
2017), mantendo o percentual de germinação, quando acondicionadas em embalagens plásticas,
independente do ambiente, enquanto que em embalagem de papel, não devem ser mantidas em
câmara fria, pois ocorre diminuição da qualidade fisiológica após 9 meses de armazenamento (Dantas
et al. 2008). O mesmo foi observado por Lucio et al. (2016) que armazenaram sementes por 12 meses,
sem redução do percentual de germinação, em câmara fria, câmera úmida e sem controle de ambiente,
quando acondicionadas em sacos plásticos. Quando armazenadas em sacos de papel, o percentual foi
mantido apenas sob condição ambiente, havendo perda de viabilidade nas demais condições.
Entretanto, Araujo et al. (2017) observaram que o armazenamento em sacos de papel, sem
controle das condições ambientais reduziu o percentual de emergência e características biométricas
das mudas, sugerindo a importância de recipientes herméticos também para armazenamento
nestas condições.

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
A produção de mudas de Amburana é realizada comercialmente através de sementes. Contudo,
para o cultivo da mesma é necessário realizar a escolha do substrato e recipiente a ser utilizado. Quanto ao
primeiro, é indicado o uso de substratos comerciais para espécies florestais, areia, vermiculita expandida,
solo ou a mistura de alguns destes componentes (Rossi, 2008; Costa, 2009; Souza et al., 2015).
Os recipientes mais utilizados são o saco de polietileno de 650 cm3 ou tubetes de polipropileno
de 280 cm3 (Carvalho, 2003; Souza et al., 2015). Entretanto, deve-se considerar que as raízes da amburana

69
são tuberosas desde a fase de mudas (Figura 7), com raízes laterais delgadas. Por esta razão, o tamanho
do recipiente deverá ser compatível com o tempo previsto de permanência das mudas no viveiro. Essas
estruturas napiformes, também denominadas xilopódio, podem atingir 3 cm de diâmetro aos 9 meses
após a semeadura, armazenam água e nutrientes, garantindo a sobrevivência da espécie em períodos
de grandes estiagens em seus primeiros anos de vida (Maia, 2004; Santos 2015). Sob condições de
estresse hídrico há aumento da ramificação destas raízes (Santos 2015).

Figura 7: Raízes tuberosas


de mudas de Amburana
Silvicultura Tropical

cearensis (Allemão) .C.Sm.


Fotos: Deborah Guerra
A B Barroso

A semeadura deve ser realizada diretamente no recipiente onde a muda irá se desenvolver ou
em sementeiras para posterior repicagem. No primeiro caso, deve-se semear de uma a duas sementes
por recipiente com a profundidade de 1 cm. No segundo caso, a repicagem deve ser realizada para
os recipientes quando as plântulas apresentarem pelo menos dois pares de folhas definitivas, sendo
importante, em ambos os casos que o material seja mantido sob irrigação constante e sombreamento
adequado no início de sua formação (Carvalho, 2003; Silva et al., 1985; Souza et al., 2015). O período
para produção das mudas por sementes é de 90 dias, quando estariam aptas para o plantio (Souza
et al., 2015). Entretanto, devem-se considerar as diferentes condições edofoclimáticas das áreas
de plantio, pois em condições mais adversas, mudas mais robustas podem apresentar melhor
desempenho pós plantio.
Estudos sobre a propagação vegetativa da espécie in vitro vêm sendo realizados para fins de
produção de mudas e conservação, com bons resultados na formação de plântulas (Fermino Junior
e Scherwinski-Pereira, 2012; Campos et al., 2013; Costa et al., 2015; Costa, 2018; Silva, 2019).
Entretanto, são necessários mais estudos em virtude da difícil aclimatização, com baixa sobrevivência
das plantas após serem encaminhadas para casa de vegetação.
Pesquisas sobre o processo de propagação por miniestaquia têm sido conduzidas no Setor
de Silvicultura da UENF (Figura 8). Nos primeiros ensaios, Silva et al. (2019) observaram que há

70
potencial de enraizamento das miniestacas provenientes de minicepas produzidas por sementes.
O início do enraizamento adventício foi observado entre 30 e 40 dias após o estaqueamento, atingindo,
aos 70 dias de permanência em câmara de nebulização intermitente, 60% e 20% de enraizamento
em miniestacas apicais e basais, respectivamente (Figura 9). Embora com menor percentual de
enraizamento dos primeiros 70 dias após o estaqueamento, observa-se maior percentual de
sobrevivência de mudas formadas a partir de miniestacas basais, aos 250 dias. Entretanto, vale ressaltar
que o índice de produção de mudas de amburana por miniestaquia ainda é baixo, estando em curso
estudos para amentar a capacidade de enraizamento adventício e avaliações sobre a tolerância às
podas, a capacidade de brotação e a produtividade das minicepas (Silva et al., np).

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.


Figura 8: Corte das
mudas para formação do
minijardim de Amburana
cearensis (Allemão)
A b
A.C.Sm. (A); Minijardim
multiclonal em tubetes
(B). Miniestacas em setor
de enraizamento, sob
nebulização intermitente
(C), com imagem em
destaque das Miniestacas
intermediárias (D). Fotos:
c D
Renata de Deus Silva.

A b

Figura 9: A e B -
Miniestacas apicais
e intermediárias de
Amburana cearensis
(Allemão) A.C.Sm.,
confeccionadas com 7
cm de comprimento
aos 60 dias após o
estaqueamento. Fotos:
Renata de Deus Silva. Apical – 60 dias Intermediária – 60 dias

71
5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
Embora em 1998 tenha composto a lista de espécies ameaçadas da International
Union for Conservation of Nature and Natural Resources (ARW, 1998), Amburana cearensis foi
classificada em 2013 como espécie não ameaçada, de interesse para pesquisa e conservação por
Martinelli e Moraes (2013), que a enquadraram entre as “espécies de valor econômico e com
declínio verificado ou projetado”.
Com o objetivo de preservar as informações genéticas contidas nos exemplares existentes,
amenizando os riscos de erosão genética e garantindo subsídios para atender a demandas futuras
para produção de fármacos e cosméticos, foi instalado um banco ativo de germoplasma na
EMBRAPA Semiárido, para conservação ex situ de acessos de amburana, provenientes de Petrolina,
PE, Juazeiro, BA e Lagoa Grande, PE (Souza et al., 2011). Porém, há escassez de estudos objetivando
o melhoramento da A. cearensis.
Catelan et al. (2003) analisaram por meio de marcadores genéticos, a variabilidade da
amburana. Foram avaliadas 4 populações localizadas no Vale do Paranã, em Goiás, e utilizados 123
Silvicultura Tropical

marcadores moleculares para quantificar a variabilidade genética. Ao final do estudo, obtiveram


um bom índice de variabilidade genética entre 11 indivíduos de uma das populações estudadas,
informações importantes para implementação da conservação “in situ” e “ex situ” da espécie.
A manutenção da variabilidade genética das populações in situ, permite a seleção para
atender a demanda de plantios comerciais, com diferentes estratégias durante os ciclos de
melhoramento, sendo importantes os trabalhos que investiguem a variabilidade de populações,
nos seus diferentes biomas de ocorrência.

6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


6.1. SISTEMA DE PLANTIO
Por ser uma espécie que não tolera altos níveis de sombreamento e por não ser muito
exigente nutricionalmente, é indicada em estádios iniciais de recuperação de áreas degradadas e
para o reflorestamento em geral, observando que a espécie investe cerca de 80% da biomassa em
seu sistema radicular (Ramos et al., 2004; Campanha e Araújo, 2010).
A amburana também pode ser utilizada em sistemas agroflorestais (Souza Filho et al.,
2005; Pimentel e Guerra, 2015), pois além de propiciar ambiente adequado ao desenvolvimento
das plantas de menor estatura, apresenta múltiplos usos (madeireiro e medicinal). Destaca-se
ainda por ser uma espécie com potencial melífero (Campanha e Araújo, 2010) e com expressiva
visitação de abelhas (Dias et al, 2007).

72
A espécie mostra-se indiferente ao uso de cobertura morta e adaptada às condições de
baixa matéria orgânica no solo, condições em que apresentou maior crescimento inicial em sistema
agroflorestal em Quixeramobim, Ceará (Pimentel e Guerra, 2015). Isto permite que seja utilizada
ainda, com bom percentual de sobrevivência, no enriquecimento de áreas em diferentes estágios
de degradação, como foi avaliado por Guarino e Scariot (2012), que introduziram a espécie em
áreas intactas, intermediárias e altamente exploradas, e observaram melhor desempenho nos
ambientes mais abertos e impactados.

6.2. ESPAÇAMENTO
Alguns autores mencionam os seguintes espaçamentos: 3x3m (Barroso et al., 2018), 3x2
m (Campos Filho e Sartorelli, 2015), 4x10 m (Pimentel e Guerra, 2015) e 4x4 m (Carvalho, 2003).
Entretanto, não há pesquisas comparativas de espaçamento e densidade de indivíduos por

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.


hectare para a espécie, para fins de potencializar a produção econômica ou tornar mais eficientes
os reflorestamentos ambientais. O espaço vital ideal deve ser avaliado em condições de plantio
puro, sistemas produtivos consorciados, em plantios mistos para recuperação de áreas degradadas
e em sistemas de enriquecimento, tomando-se como base a densidade observada em ambientes
naturais de ocorrência.

6.3. ADUBAÇÃO
Não há recomendações específicas de adubação para a espécie, devendo ser realizada com
base na análise do solo, evitando assim que a disponibilidade de nutrientes seja um fator limitante
para o desenvolvimento das mesmas.
Entretanto, pouco se conhece sobre a resposta da maioria das espécies florestais nativas
à adubação de base ou cobertura, sendo necessários testes para que o processo de correção e
fertilização não resulte em gastos desnecessários ao produtor.
A resposta de mudas de amburana ao nitrogênio é pequena, tanto na fase de viveiro (Dutra
et al., 2015), como no campo (Duboc e Guerrini, 2013), o que os autores atribuem à sua provável
capacidade de nodulação. No entanto, a amburana não é capaz de se associar com bactérias do
gênero Rhizobium (Araujo e Dantas, 2018). Não há relatos de nodulação da espécie na literatura e
não foi observada nodulação, em pesquisas na fase de viveiro, que se encontram em andamento
no Setor de Silvicultura da UENF.
A amburana apresenta maior crescimento quando adubada com fósforo, sendo o
requerimento maior no Cerrado Denso (Latossolo Vermelho-Amarelo), do que em Plintossolo, no

73
entorno de mata de galeria (Duboc e Guerrini, 2013). Também Dutra et al. (2015), observaram
maior incremento na biomassa radicular de mudas com o aumento das doses de fósforo.
Santana (2012) e Oliveira et al. (2015a) descrevem a eficácia da associação de Acaulospora
longula com Amburana cearensis, propiciando à amburana melhor desempenho em solos com baixa
disponibilidade nutricional, promovendo maior crescimento da espécie.
Com base nas práticas de adubação, o nitrogênio e o potássio devem ser aplicados de
forma parcelada durante o cultivo, pela mobilidade e perdas por volatilização ou lixiviação. Já o
fósforo pode ser aplicado durante no plantio, juntamente com os micronutrientes, diretamente nas
covas, por possuir baixa mobilidade no solo.

6.4. PREPARO DO SOLO


Não há relato de cultivos extensos da
espécie e, no geral, os plantios são realizados em
reflorestamentos ambientais, sistemas agroflorestais
Silvicultura Tropical

ou enriquecimento, em que a amburana atua como


componente facilitador do processo sucessional e
como fornecedora principalmente de produtos não
madeireiros. Estes plantios costumam ser realizados
sob cultivo mínimo, com preparo de cova ou sulcos
de plantio.

7. POTENCIAL PRODUTIVO
No atual cenário, a exploração da espécie
tem sido realizada de forma extrativista, com foco
Figura 10: Avaliação em plantio puro de
Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm., aos 17 especialmente nos extratos medicinais encontrados
anos, na Floresta Estadual José Zago, em Trajano em sua casca e suas sementes.
de Morais, RJ. Foto: Maríllia Grasiela O.S. Souza.
Em 2018, a exportação de produtos
florestais não madeireiros, rendeu ao Brasil mais de
366 milhões de dólares (SNIF, 2019), o que demonstra a importância econômica das florestas,
aliada aos serviços ambientais, e a amburana apresenta forte potencial neste cenário.
O mercado de fitoterápicos vem crescendo, sobretudo em países desenvolvidos, o que tem
fomentado o comércio internacional de plantas medicinais ou seus compostos. Segundo dados

74
da BRAVER (2018), o mercado mundial de medicamentos à base de plantas cresceu 7,6% entre
2012 e 2016, destacando-se a importância de políticas públicas para que esse mercado resulte
em benefícios para os produtores e comunidades extrativistas de países em desenvolvimento.
Em área de Mata Atlântica, Barroso et al. (2018) avaliaram árvores de amburana a partir
de 17 anos após o plantio (Figura 10), e na medição realizada aos 21 anos foi observada grande
variabilidade fenotípica entre os indivíduos, que apresentaram valores médios de DAP de 9
cm (variando de 4,2 – 17,6 cm) e altura de 7,5 m (variando de 3,1 a 17,3 m). De 22 espécies
nativas plantadas na área, plantadas em parcelas homogêneas, a amburana apresentou o menor
percentual de sobrevivência (47%) e crescimento biométrico.

8. OUTRAS INFORMAÇÕES

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.


Mudas de amburana inoculadas com Claroideoglomus etunicatum apresentam maior
acúmulo de massa seca na parte aérea, maior conteúdo de clorofila, fenóis, taninos e flavonoides, o
que representa uma tecnologia alternativa para aumentar os níveis foliares de compostos bioativos
(Oliveira et al. 2015).

9. REFErÊNCIAS
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83
Ateleia glazioveana Baill.
Katia Christina Zuffellato-Ribas
Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Biológicas e doutorado em Ciências
Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia
Vegetal pela Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular do Departamento de Botânica da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

Maria Olinda Cherem Corte Bezerra Da Silva


Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal e mestrado em botânica pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA: Floresta Ombrófila Mista e Floresta Estacional Semidecidual.
1.2 NOME COMUM: Timbó, timbé, timbózinho, timbó-de-palmeira, cinamomo-bravo ou
maria-preta (MARONA, 1992; CARVALHO, 2002).
1.3 NOME CIENTÍFICO: Ateleia glazioveana Baill.
Silvicultura Tropical

1.4 FAMÍLIA: Fabaceae


1.5 PORTE: De 5 a 15 m de altura e 20 a 30 cm de DAP, podendo atingir até 25 m de altura
e 70 cm de DAP na idade adulta.

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS
2.1 DENSIDADE DA MADEIRA
A madeira do timbó é moderadamente densa (0,50 a 0,76 g/cm3) a 12% de umidade (SILVA,
1967), e (0,72 a 0,81 q/crn’’) a 15% de umidade (STILLNER, 1980). Alburno e cerne não são diferenciados
e possuem coloração amarelada. A casca e alburno do timbó desprendem odor forte e desagradável. Sua
madeira apresenta baixa durabilidade natural, facilmente atacada por carunchos (BOITEAUX, 1947), sendo
necessário tratamento preservante para obras externas. No entanto, é adequada para lenha, com densidades
comparáveis às de algumas espécies de Eucalyptus utilizadas para este fim (MATTOS et al., 2000), mas
aplicada também na agroindústria, na carpintaria, marcenaria e confecção de objetos leves (BAGGIO, 2001).

2.2 PRODUTOS NÃO-MADEIREIROS


A biomassa aérea fornece material com propriedades inseticidas, tóxicas a peixes e ao gado
(MARONA, 1992). A rotenona é a principal substância inseticida presente no vegetal, e é empregada na
fabricação de iscas granuladas para o controle de formigas cortadeiras (ORTEGA; SCHENKEL, 1987; GAVA

84
et al., 2001). O timbó tem ainda potencial de produção e qualidade para uso como adubo verde,
comparável a espécies tropicais (BAGGIO et al., 2002).

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES: Em plantios, o processo reprodutivo se
inicia por volta dos quatro anos de idade (CARVALHO, 2002).

3.2 FENOLOGIA
Inflorescências terminais com até 15 cm de comprimento, em cachos amarelos polinizados por
pequenos insetos. O fruto é samaróide indeiscente, unisseminado, semiorbicular, medindo de 2,2 a
2,7 cm de comprimento por 0,8 cm de largura, de cor amarelo-claro, com uma ala pequena ao largo da

Ateleia glazioveana Baill.


sutura superior e com a semente visível no centro, disperso pelo vento. As sementes se assemelham a
feijões marrom-avermelhados de 0,4 a 0,7 cm no maior eixo (LONGHI 1995; CARVALHO, 2002) .

3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO: De outubro a janeiro, no Rio Grande do Sul e de


novembro a janeiro, no Paraná (LONGHI 1995; CARVALHO, 2002).

3.4 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA


De março a maio, em Santa Catarina; de maio a junho, em São Paulo; de abril a julho, no
Paraná e no Rio Grande do Sul (LONGHI, 1995; CARVALHO, 2002)

3.5 MANEJO DE SEMENTES


Para colheita e beneficiamento, as sementes são extraídas manualmente do fruto. É
possível o beneficiamento mecânico com boa eficiência, utilizando-se uma máquina trituradora
de grãos adaptada para sementes florestais (RAGAGNIN; DIAS, 1985). As sementes do timbó
representam 57,4% do peso dos frutos e o número de sementes por quilograma perfaz 13.170
a 24.000 (ALCALAY; AMARAL, 1988; LORENZI, 1992).

3.6 QUEBRA DE DORMÊNCIA: Não apresenta dormência. Contudo, recomenda-se


imersão em água fria por 24 a 48 horas para embebição, acelerando assim a germinação (LONGHI
et al., 1984).

3.7 ARMAZENAMENTO
As sementes do timbó são de comportamento ortodoxo. Apresentam capacidade germinativa
inicial de 90%. Quando armazenadas em tamboretes em câmara fria (3 a 5°C e 92% de UR) mantém
a germinação em até dois anos após o armazenamento (CARVALHO, 2002).

85
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Recomenda-se que a semeadura seja realizada em sementeira, com posterior repicagem, de duas
a cinco semanas após a emergência, para sacos de polietileno com dimensões mínimas de 20 cm de
altura e 7 cm de diâmetro, ou em tubetes de polipropileno de tamanho médio (CARVALHO, 2002) .
A germinação é epígea, com início entre dez a 70 dias após a semeadura. O poder germinativo é
alto (até 100%) e, em média 80%. As mudas atingem porte adequado para plantio, cerca de seis meses
após a semeadura. A germinação das sementes chega a 90% após dois anos de armazenamento em
câmara fria (CARVALHO, 2002).

4.2 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA


Há relatos na literatura que a propagação vegetativa do timbó pode ser realizada por estacas de
ramos e de brotações de raízes (MAIXNER; FERREIRA, 1976). No entanto, metodologias e resultados
detalhados são escassos.
Silvicultura Tropical

Entre os anos de 2005 a 2007, a Embrapa Florestas e o GEPE (Grupo de Estudo e Pesquisa
em Estaquia), realizaram uma vasta pesquisa coordenada pelo Dr. Antonio Aparecido Carpanezzi,
da Embrapa Florestas e, pela Profa. Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), acerca da propagação vegetativa do timbó.
Plantas matrizes com cerca de 15 m de altura foram selecionadas aleatoriamente em quatro
timbozais nativos pertencentes à Floresta Estacional Semidecidual (IBGE, 1992) nos municípios de
Barracão - PR e Flor da Serra do Sul - PR.
Ao final do último mês de cada estação, ou seja, inverno/2005 (agosto), primavera/2005
(novembro), verão/2006 (fevereiro) e outono/2006 (maio), foram realizadas coletas do material vegetal.
Ramos foram retirados da copa das árvores e estacas foram confeccionadas com dez a 12 cm de
comprimento, a partir das brotações apicais do ano, com corte reto no ápice e em bisel na base, sem
folhas. Após desinfestação com hipoclorito de sódio a 0,5% por cinco minutos, seguida de lavagem em
água corrente por mais cinco minutos e fungicida benomyl a 0,5 g L-1 por 15 minutos, as bases das estacas
foram imersas por dez segundos nas soluções hidroalcoólicas (50% v/v) de ácido indol butírico (IBA) e
em talco, nas seguintes concentrações: 0, 2000 e 5000 mg L-1 e mg Kg-1 IBA. O plantio das estacas foi
realizado em tubetes de 53 cm3 utilizando dois tipos de substrato: vermiculita de granulometria média
e casca de arroz carbonizada (CAC). O material permaneceu 60 dias em casa de vegetação climatizada,
com temperatura de 25°C ± 2°C e UR ≥ 80%.
Foram consideradas estacas enraizadas aquelas que se apresentavam vivas e com pelo menos

86
uma raiz com mais de 0,1 cm de comprimento; estacas com calos aquelas que se apresentavam vivas e
com massa de células indiferenciada na base; estacas vivas aquelas que permaneceram sem alterações
desde o momento da instalação do experimento, sem a formação de raízes ou calos; estacas mortas
aquelas que apresentavam tecido necrosado e; estacas brotadas aquelas que apresentavam pelo menos
um broto na porção apical, com mais de 0,1 cm.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado em esquema fatorial de 2
x 3 x 2 (2 substratos x 3 concentrações de IBA x 2 veículos de aplicação) com doze tratamentos, quatro
repetições e dez estacas por unidade experimental, totalizando 480 estacas/estação.
As concentrações de IBA utilizadas não induziram o enraizamento do timbó em nenhuma época
estudada, com exceção do inverno/2005, que apresentou somente três estacas enraizadas (uma em
cada concentração aplicada), não ultrapassando 0,5 cm de comprimento.
A formação de calos (35,8% no inverno/2005), a sobrevivência (45,0% na primavera/2005,
95,8% no verão/2006 e 95,4% no outono/2006) e a brotação (91,3% no inverno/2005 e 58,8% no

Ateleia glazioveana Baill.


verão/2006 e outono/2006) apresentaram valores consideráveis e geralmente melhores quando
o substrato utilizado foi a vermiculita, independente da estação estudada. A mortalidade foi
praticamente nula. Com exceção da primavera/2005, as estacas permaneceram vivas e brotadas, o
que sugere translocação de maior parte das reservas para o ápice da estaca num primeiro momento,
impossibilitando rizogênese (SILVA, 2007).
Nas condições do presente trabalho, não é recomendada a utilização de estacas caulinares a partir
de brotação de copa de árvores adultas para a propagação vegetativa do timbó. O uso de IBA não induziu a
rizogênese. Os substratos utilizados não influenciaram as respostas de enraizamento da espécie.
Em outro experimento, foram coletadas estacas a partir de brotações epicórmicas de plantas
matrizes em áreas experimentais da Embrapa Florestas, em Colombo - PR, no final do outono/2006.
Algumas árvores de dois e dez anos de idade foram podadas anualmente, conferindo às
brotações a mesma idade fisiológica no momento da coleta, ou seja, um ano.
Foram confeccionados dois tipos de estacas: apicais, com 0,6 cm de diâmetro e; subapicais,
com 1,0 cm de diâmetro, das matrizes de dois e dez anos de idade. As estacas tinham dez a 12 cm de
comprimento, corte reto no ápice e em bisel na base, sem folhas.
Os tratamentos de desinfestação e de indução do enraizamento com ácido indol butírico foram
os mesmos do experimento anterior, bem como os substratos, condição de casa de vegetação e as
variáveis avaliadas.
Após 60 dias da instalação, o enraizamento foi nulo para a estaquia apical e subapical a partir
de brotações epicórmicas de árvores de timbó. O uso de IBA não promoveu a indução da rizogênese

87
em material rejuvenescido. Não houve influência dos substratos utilizados nem da idade cronológica das
plantas matrizes utilizadas.
Num último experimento, ramos de timbó com 30 cm de comprimento e 1-2 cm de diâmetro, confec-
cionados com corte reto no ápice e em bisel na base, sem folhas, foram coletados de plantas matrizes de dois e
dez anos de idade, em áreas experimentais da Embrapa Florestas, em Colombo - PR, no final do outono/2006.
Após os mesmos procedimentos metodológicos descritos anteriormente, as estacas foram
plantadas a campo, em canteiros com 20 cm de profundidade de preparo mecânico, sem adubação, a pleno
sol, recebendo regas diárias de 4 L H2O m-2 nos primeiros 30 dias e semanais após esse período.
Após 180 dias do plantio, as “árvores instantâneas”, como são chamadas essas estacas maiores
plantadas diretamente a campo, foram avaliadas. Brotações de árvores mais velhas (dez anos) são mais
indicadas para fornecerem “árvores instantâneas”, plantadas a campo, com porcentagens de enraizamento
de 37,5% no tratamento com 2500 mg L-1 IBA e 38,3% para 5000 mg L-1 IBA. A maior porcentagem de
enraizamento nos tratamentos em talco foi de 15,8% na testemunha (0 mg Kg-1 IBA). A sobrevivência média
das estacas foi de 3,6 a 9,4%, a formação de calos foi de 34,2 a 41,4%, a mortalidade foi de 25,8 a 35,3% e
a porcentagem de estacas brotadas foi de 62,5 a 70,3%.
Silvicultura Tropical

4.3 MANEJO
A produção de sementes é irregular, com intervalos de até dez anos, segundo moradores de regiões
de ocorrência natural do sul do Brasil. Há alguns relatos de que a produção de sementes pode ser anual, mas a
maioria afirma que dificilmente as plantas produzem sementes em quantidades significativas (GAVA et al., 2001).

5. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


5.1 SISTEMA DE PLANTIO
O timbó ocorre em vários tipos de solos, sendo comum em solos muito pedregosos e de
pouca profundidade. Devem ser evitados solos excessivamente úmidos e mal drenados. Em plantios
experimentais tem crescido melhor em solos com propriedades físicas adequadas como profundo, bem
drenado e com textura que varia de franca a argilosa, e de fertilidade química alta (CARVALHO, 2002).

5.2 ADUBAÇÃO
É recomendado o uso de 70% de solo de campo + 30% esterco bovino, como substrato em
nível de campo (Ataides et aI., 1996).

5.3 RECOMENDAÇÕES E TRATOS CULTURAIS


O timbó pode ser plantado a pleno sol em plantio puro, em função de suas características
ecológicas, ou em plantio misto, associado com espécies secundárias a clímax, ou que necessitam de
sombra na fase jovem. Apresenta brotação vigorosa após corte.

88
6. MANEJO PARA A PRODUÇÃO
6.1 CICLOS DE CORTE
O crescimento do timbó é considerado lento a moderado. Em pesquisa realizada pela Embrapa
Florestas, foi constatada produtividade volumétrica máxima em plantios de 9,80 m3/ha.ano-1. O baixo
crescimento observado em Concórdia - SC, ocorreu em função de geadas fortes verificadas em todos os
quatro anos do experimento (CARVALHO, 2002).

7. PATOLOGIA FLORESTAL
7.1 DOENÇAS E PRAGAS
Há relatos que em viagem a Ererchim - RS e municípios próximos no noroeste gaúcho, em março de
2001, pesquisadores da Embrapa Florestas detectaram, na região, uma praga que, grosseiramente, atacou
ao menos 50% das árvores nativas de idades mediana e adulta. A praga é uma lagarta pequena (uns 2 cm de
comprimento) que desfolha as copas e refugia-se no interior de uma teia esbranquiçada que tece, onde também
defeca. O empupamento dá-se fora dessa teia, pois não foram encontradas pupas ali. As árvores atacadas têm,

Ateleia glazioveana Baill.


de modo estimado, 70% a 100% da folhagem destruída e substituída pelas teias brancas. Como o timbó é
uma árvore abundante na região, as copas brancas nas matas são muito evidentes na paisagem. Segundo
informações de moradores locais antigos, a ocorrência de árvores com o mesmo sintoma é cíclica, ocorrendo
em espaços longos (por exemplo dez anos) ou às vezes, em dois anos seguidos. Os mesmos pesquisadores,
detectaram a praga também na região contígua de Santa Catarina (Concórdia e proximidades), onde o timbó é
menos frequente e o ataque pareceu menos intenso (Carvalho, 2002).

8. OUTRAS INFORMAÇÕES
A espécie é arbórea, decídua, heliófila e pioneira, sendo comum em ambientes abertos, onde se instala
com facilidade. Encontrada em povoamentos puros, tem capacidade de fixar nitrogênio e ocupar solos rasos e
pedregosos. É recomendada para conservação, recuperação de solos e de ecossistemas degradados, podendo
constituir alternativa para o controle de voçorocas, devido ao seu sistema radicular, que é pivotante, vigoroso
e de grande agressividade, estabelecendo-se por plantio direto das sementes (FERREIRA; TREVIZAN, 1984;
CARVALHO, 2002). Pode, também, ser plantada em matas ciliares em locais sem inundação (FERREIRA, 1983).
Foi realizado ainda um estudo anatômico das bases das estacas utilizadas nos três experimentos
descritos no item 4.2, objetivando sua caracterização, bem como a presença de possíveis barreiras anatômicas
à rizogênese (SILVA, 2007). Não ocorreram diferenças estruturais entre as estacas coletadas nas diferentes
estações do ano, entre os diferentes tipos de estacas, bem como entre as diferentes idades de plantas matrizes.
As estacas apresentaram periderme com duas a cinco camadas de súber e presença de lenticelas. A região
cortical possui células parenquimáticas com conteúdo denso e esclereídes dispersas. As fibras pericíclicas

89
formam, ora um anel contínuo com três a cinco camadas ao redor do cilindro vascular (estacas de brotações de
copa), ora dispostas em grupos, não formando camada contínua (estacas de brotações epicórmicas). No floema
secundário, além dos elementos de tubo crivado, células companheiras e parenquimáticas, foram observadas
fibras e idioblastos com cristais. A faixa cambial é estreita, com poucas células derivadas. O xilema secundário
é desenvolvido, com elementos de vasos isolados ou em séries radiais, raios estreitos e fibras com parede
espessa. A medula é parenquimática. A estrutura anatômica das estacas não impediu por si só o enraizamento
destas. Testes com lugol e cloreto férrico foram inconclusivos para a associação à rizogênese (SILVA, 2007).
Até o momento, com os propágulos vegetais estudados, o timbó pode ser considerada uma espécie
de difícil enraizamento, necessitando de mais estudos sobre o rejuvenescimento e utilização de cofatores
do enraizamento.

9. REFERÊNCIAS
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STILLNER, F. J. Dormentes de madeiras “brancas”. Roessléria, Porto Alegre, v.3, n.2, p.141-164, 1980.

91
Calophyllum brasiliense (Cambess.)
Valeria Ciriello
Engenheira agronoma, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências
Agronômicas, UNESP Botucatu. Atualmente é sócia e Diretora da empresa Futuro Florestal,
especialista em plantio de madeiras nobres.

Luciane Missae Sato


Bióloga, Mestre em Ciência florestal, ambos pela UNESP Botucatu. Atualmente é Doutoranda
em Agronomia (Sistemas de Produção - Genética, Melhoramento e Propagação de Plantas
pela UNESP Ilha Solteira.

Eduardo Ciriello
Engenheiro agronomo, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências
Agronômicas, UNESP Botucatu. Atualmente é sócio e Diretor da empresa Futuro Florestal,
especialista em plantio de madeiras nobres.

Fátima Conceição Marquez Piña-Rodrigues


Silvicultura Tropical

Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro (UFRRJ), especialista em Produção e Tecnologia de Sementes pela Associação Brasileira
de Educação Agrícola Superior (ABEAS), mestrado em Engenharia Florestal pela Escola Superior de
Agricultura Luis de Queiróz da Universidade de São Paulo (ESALQ – USP), Doutorado em Ecologia
pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e Pós Doutorado na Universidade de Missouri
(UMSL) e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Rio Douro (UTAD) em Ecologia Aplicada. Professora
Titular - Full Professor – UFSCAR- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - CAMPUS SOROCABA -
Departamento de Ciências Ambientais – SP.

Marcela Aparecida de Moraes


Formada em Engenharia Agronômica na Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira/FEIS-UNESP em
julho de 2009. Mestrado em Sistema de Produção na Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira/FEIS-
UNESP em fevereiro de 2012. Doutorado em Sistema de Produção na Faculdade de Engenharia de
Ilha Solteira/FEIS-UNESP em fevereiro de 2016. Pós Doutorado em Fisiologia Vegetal na Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/FFCLRP-USP. Atualmente é professora celetista em
melhoramento vegetal e florestal na Faculdade de Ciências Agronômicas/FCA-UNESP.

Miguel Luiz Menezes Freitas


Engenheiro Agrônomo, graduação em Agronomia pela Universidade de Taubaté (UniTau), mestrado
em Sistemas de Produção pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FEIS/
UNESP) e Doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (FCAV/UNESP). É Pesquisador Científico do Instituto Florestal de São Paulo,
Coordenador do Grupo de Pesquisa em Conservação e Melhoramento Genético de Espécies Arbóreas,
revisor de diversas revistas científicas e professor das disciplinas de Conservação de recursos genéticos
vegetais (Programa de Pós-graduação em Agronomia da FEIS/UNESP) e Conservação e uso do material
genético de espécies arbóreas (Programa de Pós-graduação em Planejamento e Uso de Recursos
Renováveis da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/Sorocaba)

92
1. BOTÂNICA

O guanandi (Calophyllum brasiliense Cambess.) é uma espécie florestal secundária
intermediária tardia da família Clusiaceae, promissora para exploração da madeira nobre, planta
medicinal e reabilitação de áreas inundáveis, com demanda por estudos do aproveitamento
da madeira juvenil (Barreiros et al. 2016). A espécie pode ser conhecida por diversos nomes
populares variando de região para região, segundo Carvalho (2003), como guanandi, olandi,
jacareúba (Amazônia), gulande-carvalho, guanandi-carvalho, guanandi-cedro, landim, bálsamo
jacareúba, cedro-do-pântano, guanandi amarelo, guanandi poca, olandi-carvalho, é uma espécie

Calophyllum brasiliense (Cambess.)


arbórea da família Clusiaceae (antiga Guttiferae).
Pesquisadores afirmam que essa espécie pode ocorrer em todos os biomas, exceto no
bioma pampa. Sua ocorrência na Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica) restringe-se,
principalmente, às superfícies pleistocênicas e holocênicas onde predominam os organossolos
(solos orgânicos) e espodossolos hidromórficos (podzóis hidromórficos), ambos de baixa fertilidade
natural (Carvalho 1996). Essa espécie é uma planta nativa da Floresta Ombrófila Densa.

1.1. BIOMA
Ocorre desde a Região Amazônica a Santa Catarina. A espécie pode ser encontrada na
Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica, desde o Estado do Amazonas até Santa Catarina. O
guanandi não é uma espécie endêmica do Brasil, podendo ocorrer do México até a América do
Sul (Carvalho 2003, Silva 2005).

1.2. NOME CIENTÍFICO (COMPLETO)


Calophyllum brasiliense Cambess.

1.3. NOMES VULGARES


Bálsamo-jacareúba, beleza, cedro-mangue, cedro-do-pântano, guanandi-amarelo,
guanandi-carvalho, guanandi-poca, guanandi-cedro, guanandi-jaca, guanandi-landim, guanandi-
lombriga, guanandi-piolho, guanandi-rosa, guanandi-vermelho, guanantim, guanandi-da-praia,
guanandirana, gulanvin-carvalho, inglês, jacaríuba, jacareaba, jacareíba, jacareúba, landinho,
lantim, landi-carvalho, landi, landim, lanfim, mangue, mangue-seco, olandi-carvalho, oanandí,
oonandi, olandí, olandim, pau-de-maria, pau-de-azeite, pau-de-santa-maria, pau-sândalo,
pindaíva, uá-iandi (fruta oleosa).

93
Silvicultura Tropical

Figura 1: Árvores nativas de Guanandi. Fotos: Futuro Florestal

1.4. FAMÍLIA: Clusiaceae

1.5. SINONÍMIA
Calophyllum antillanum Britton, C. chiapense Standley, C. ellipticum Rusby, C. lucidum Benth., C.
piaroanum A. Castillo & C. Gil. e C. rekoi Standl.

1.6. PORTE
Sob o aspecto do porte pode chegar a 40 m de altura e 1,5 m de diâmetro; o tronco é reto e
cilíndrico, protegido por uma casca marrom escura (Lorenzi 2000).

2. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS

O guanandi é uma espécie de folhas perenes, com copa larga e arredondada, densa e de coloração
verde-escuro. A casca externa é marrom-escuro ou pardacenta, fissurada de alto a baixo, descamando em
placas retangulares. A casca interna possui coloração rósea, é aromática, amargosa e ácida, exsudando
látex amarelado e pegajoso. As folhas são simples, opostas, elípticas, coriáceas e apresentam dimensões
de 5 a 15 cm de comprimento por 3 a 7 cm de largura, com nervuras laterais abundantes, próximas e
paralelas. O pecíolo é verde-escuro, lustroso, espesso e mede até 2 cm de comprimento.

94
As flores são brancas, reunidas em racemos axilares ou panículas de 2,5 a 6 cm (Lorenzi
1992). Entretanto, a espécie apresenta o sistema reprodutivo complexo, pois possui flores
hermafroditas e masculinas em indivíduos separados ou em diferentes proporções num mesmo
indivíduo (Marques 1994). Geralmente a floração ocorre durante os meses de setembro a novembro
(Lorenzi 1992), mas em algumas localidades o período pode mudar. No Distrito Federal floresce de
setembro a outubro; em São Paulo de novembro a junho; na Paraíba em dezembro e no Paraná de
janeiro a março (Carvalho 1994).
Os frutos são do tipo drupa globosa, indeiscentes, carnosos, com pericarpo verde
lactescentes quando maduros, apresentando dimensões de 19 a 30 mm de diâmetro. A polpa é
oleaginosa, envolvendo uma semente, que é globosa e de coloração castanha (Carvalho 1994). Os
frutos são dispersos pela água (hidrocoria), por morcegos, veados e tucanos (zoocoria) ou podendo
ainda cair no solo (autocoria). A dispersão hidrocórica ocorre em função da localização frequente da

Calophyllum brasiliense (Cambess.)


espécie junto aos cursos d´água. É importante ressaltar que as sementes não germinam enquanto
estão submersas, mas permanecem viáveis e flutuam (Lobo et al. 1995). A maturação dos frutos
ocorre de abril a junho (Lorenzi 1992)

Figura 2: Flores (A), frutos (B), sementes (C) e madeira de guanandi (E). Fotos: Futuro Florestal

95
3. CARACTERÍSTICAS SILVICULTURAIS

Pode ocorrer em locais desde o nível do mar até 1500 m de altitude, com precipitação
média anual entre 1.100 e 4.000mm e temperatura média anual entre 15ºC e 28ºC. Na Floresta
Amazônica está presente nas várzeas e igapós. Nos cerrados ocorre nas matas de galeria. Cresce
bem em solos aluviais, argilosos, sílico-argilosos ou arenosos, ácidos (pH 4,5-6,0), e apresenta
excelente adaptação tanto a ambientes encharcados quanto a locais secos (Silva 2005).
Segundo os autores Oliveira & Joly (2010) e Souza et al. (2007) trataram a espécie C.
brasiliense como tolerante a inundação, com preferência em colonizar solos com alta saturação
hídrica, sendo considerada de grande plasticidade ecológica. Na América Central, é encontrado em
solos ricos em ferro (Fe) e alumínio (Al) e pobres em potássio (K) e P (Piotto 2005).
O guanandi é considerado uma espécie secundária/intermediária tardia (Durigan & Noguei-
ra 1990), porém ocorrem guanandizais quase puros, em condições pioneiras, no litoral paranaense
(Carvalho 1996). Também é uma espécie florestal esciófila, que se regenera abundantemente à som-
bra, portanto necessita de sombreamento de intensidade média na fase juvenil (Lopez et al. 1987).
Silvicultura Tropical

Apresenta crescimento monopodial, característica que proporciona fustes bem definidos.


Os galhos são finos, mas a desrama natural é fraca, sendo necessárias as podas (Carvalho 1994).
Em plantios puros observou-se desrama natural quando os ramos que ficam na sombra
são finos, com espessura de até 5cm. (Valeria Ciriello – comunicação pessoal) Os métodos de
regeneração para os povoamentos de guanandi comumente utilizados são plantios puros a pleno
sol ou em plantios mistos, associados às espécies pioneiras. Pode-se também utilizar plantios em
faixas na vegetação matricial arbórea. Outra característica importante para a silvicultura dessa
espécie é a capacidade de brotação a partir da touça após o corte (Angeli et al. 2006).

4. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS
A madeira de guanandi é moderadamente densa, apresentando massa específica aparente
entre 0,62 e 0,79g/cm³, a 15% de umidade e densidade básica entre 0,49 a 0,51 g/cm³ (Jankows-
ky et al. 1990). O alburno possui coloração bege-rosado. O cerne pode variar entre o bege-rosado a
róseo-acastanhado. De modo geral, esta madeira apresenta superfície lustrosa e áspera, textura fina e
grã geralmente irregular (Carvalho 1994). A madeira apresenta uma boa durabilidade. Seu uso é diver-
so, podendo ser usada para fabricação de móveis de alta qualidade, construção civil, construção naval,

96
parquete, marcenaria, mourões, laminados decorativos, fabricação de barris de vinho, tanoaria, mon-
tantes de escadas singelas ou extensíveis e embalagens, entre outros (Lorenzi 1992, Carvalho 1994).
Uma curiosidade é que a madeira ainda é pouco utilizada no Brasil, em contraste com
sua popularidade em outros países da América do Sul e do Caribe, podendo substituir o mogno
(Swietenia spp. e o cedro (Cedrela spp.) esteticamente (Carvalho 2003).
Além dos produtos madeireiros, o guanandi é indicado para obtenção de resina com
propriedades medicinais (uso veterinário), taninos (casca e folhas), óleo essencial (fruto) e saponina
(folhas) (Carvalho 1994).
Estudos com os diversos subprodutos não madeireiros tem sido desenvolvidos por empresas
como a Tropica Flora Reflorestadora, Futuro Florestal, Instituto Coruputuba principalmente com o uso
das sementes, como produção de bebidas, chocolates e óleo para cosméticos, porém o mercado das
sementes ainda é incerto, sendo que atualmente elas são utilizadas comercialmente somente para

Calophyllum brasiliense (Cambess.)


produção de mudas.

Figura 3: Características da madeira (A, B) e produtos confeccionados com o guanandi (C,D).


Fotos: Futuro Florestal e Tropical Flora Reflorestadora

97
5. TECNOLOGIA DE SEMENTES
5.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
As sementes dessa espécie são fotoblásticas neutras, ou seja, germinam tanto na presença
de luz como na ausência (Marques 1994). Isso quando vem ocorrer a germinação em laboratório.
A polpa é oleaginosa, envolvendo uma semente, que é globosa e de coloração castanha (Carvalho
1994). Um quilograma de frutos contém cerca de 160 sementes (Lorenzi 1992).
5.2 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA
A floração e a frutificação são supra-anuais e irregulares (Newstrom et al. 1994). Em relação a esses
aspectos ocorrem em diferentes períodos pelo fato de ocorrer em várias regiões em diferentes biomas.
Os frutos podem ser coletados diretamente no chão ou nas árvores, quando apresentarem
coloração verde amarelada e iniciarem a queda espontânea. O transporte dos frutos é realizado em sacos
de ráfia para evitar excesso de umidade, aquecimento e proliferação de microrganismos (Silva 2005).
Devido a esse fato é comum encontrar em alguns pontos dos plantios ou mesmo fora deles,
montes de sementes limpas e prontas para semeadura.
Silvicultura Tropical

5.3 MANEJO DE SEMENTES


Em relação ao manejo de sementes, podem ser semeadas em sacos plásticos (7cm x 25cm),
em tubetes ou em canteiros contendo substrato organo-argiloso e, em seguida, cobertas com 1cm
do substrato peneirado. A germinação é hipógea e criptocotiledonar. O período de germinação está
compreendido entre 15 e 60 dias, com porcentagem média de 75-96%. A repicagem pode ser feita 1
semana após a emergência das plântulas. Em laboratório, a germinação pode ser conduzida em substrato
areia e sob temperatura de 25°C (Silva 2005). O substrato e a temperatura interferem diretamente na
germinação, por disponibilizar água e aeração em proporção adequada, e por propiciar maior velocidade
de embebição e germinação, respectivamente (Stockman et al. 2007, Carvalho & Nakagawa 2012).

5.4 GERMINAÇÃO E DORMÊNCIA


Como mencionado anteriormente, os morcegos são agentes dispersivos dos frutos desta espécie.
Os morcegos do gênero Artibeus Leach, 1821 (família Phyllostomidae, subfamília Stenodermatinae) sele-
cionam os frutos vigorosos; consomem o epicarpo e o mesocarpo liberando o endocarpo em locais simi-
lares ao seu habitat (Passos & Graciolli 2004). Estes podem dispersar os frutos além da sua área de cultivo.
As sementes de guanandi apresentam dormência tegumentar, que pode ser superada por
escarificação mecânica ou estratificação em areia úmida por 60 dias. Sem aplicação de tratamentos
para superação de dormência, a germinação pode demorar até seis meses (Carvalho 1994).

98
5.5. ARMAZENAMENTO
A longevidade das sementes é variável de acordo com o genótipo, mas o período de
conservação do potencial fisiológico depende, em grande parte, do grau de umidade, da temperatura
e das condições do ambiente de armazenamento (Ferreira & Borghetti 2004, Marcos Filho 2005). O
objetivo é manter a qualidade das sementes durante o período em que ficam armazenadas, visto
seu melhoramento não ser possível, mesmo sob condições ideais (Ferreira & Borghetti 2004).
Em câmara fria é possível guardar as sementes por no máximo 4 meses e manter as
sementes ainda com viabilidade de germinação, porém o ideal é coloca para germinar logo após a
colheita (Futuro Florestal, dados não publicados).

6.PRODUÇÃO DE MUDAS
6.1 MÉTODO DE SEMEADURA, PRODUÇÃO E MANEJO

Calophyllum brasiliense (Cambess.)


Em relação a produção de mudas, Lisboa et al. (2012) perceberam baixa produção de massa seca
da parte aérea e do sistema radicular, além de crescimento em diâmetro e altura praticamente linear.
Recomenda-se semear uma semente em sacos de polietileno com dimensões mínimas de 20
em de altura e 7 em de diâmetro, ou em tubetes de polipropileno grande (Carvalho, 2003). Cuidados são
recomendados no sombreamento com 50% de intensidade luminosa, na fase de viveiro (Carvalho 1996).

Figura 4: Mudas de guanandi, viveiro Futuro Florestal.

No viveiro da Futuro Florestal foram feitos diversos testes com semeadura direta ou indireta
e a melhor maneira identificada foi semear em canteiros de areia e depois realizar o transplante em

99
tubetes de 180 a 200ml com substrato comercial, devido ao fato da germinação ser muito irregular a
semeadura indireta seguida de transplante proporciona uma canteiro de mudas com tamanho mais
homogêneo com relação a desenvolvimento das mudas. As mudas permanecem na sombra por 60 a
90 dias e no sol para sua devida rustificação de 60 a 120 dias dependendo da época do ano. As mudas
são entregues com 30 a 40cm de altura e 1,5 a 2,5cm de diâmetro do coleto.

7. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO



O guanandi está na lista de espécies florestais tropicais amazônicas que devem ser consideradas
em programas de conservação de recursos genéticos in situ e ex situ (Dubois 1986). Entretanto, pouco se
conhece sobre a espécie. Kawaguici & Kageyama (2001) observaram expressiva variabilidade genética
entre plântulas, indivíduos juvenis e adultos. Reis et al. (2009) observaram os mesmos resultados e
associaram alta diversidade genética à alta densidade populacional apresentada pela espécie na área
amostrada. Porém, Souza et al. (2007) ressaltam presença de endogamia na população estudada,
Silvicultura Tropical

recomendando coletar sementes com pelo menos 81 m de distância. Estas informações ressaltam o
potencial da espécie para ser empregada em programas de melhoramento. Desse modo, é preciso
estabelecer estudos para estimar os parâmetros genéticos e predizer ganhos de seleção dos caracteres de
interesse, e assim, estabelecer a melhor estratégia de seleção para futuros programas de melhoramento.
Outro fator importante constatado foi à viabilidade de sua propagação vegetativa através das
técnicas de estaquia que ampliam as ferramentas para clonagem dos melhores indivíduos e assim a sua
multiplicação para testes clonais e pomares (Ciriello 2010). Muitos estudos ainda se fazem necessários
para que exista um trabalho de melhoramento genético eficaz para a espécie que deve ter como objetivo
principal a diminuição de tempo de ciclo, já que a espécie apresenta boa forma e madeira de qualidade.

8. SISTEMAS DE PLANTIO
O principal modelo utilizado para a espécie é o plantio homogêneo a pleno sol, onde a espécie
se desenvolve bem, apesar de ser classificado como uma espécie secundária na sucessão ecológica,
trata-se de uma espécie heliófita que tem como ativador do seu crescimento a luz solar, dessa forma
apresenta bom desenvolvimento a pleno sol. Os plantios mistos ou consorciados também são bem
aceitos pela espécie, desde que seja consorciado com espécies com ritmos de crescimento compatível
para evitar a competição e assim a supressão de seu crescimento. Em sistemas agroflorestais a espécie
se adapta com muita facilidade e se torna muito eficaz dentro desses sistemas, trabalhos realizados

100
com café, se mostraram viáveis e com uma interação positiva entre as espécies, e devido às adubações
realizadas no café para sua produção anual, as árvores continuaram a responder positivamente a
essas adubações, com maior incremento e sanidade (Ciriello, 2014)

Calophyllum brasiliense (Cambess.)


Figura 5: Plantio puro e sistema agroflorestal
com guanandi. Fotos: Futuro Florestal

8.1 ADUBAÇÃO
Uma das etapas mais importantes da silvicultura é a definição da adubação ideal para cada
espécie nas diversas etapas de seu desenvolvimento. Entretanto, Carvalho (2003) relata que a maioria
das informações sobre espécies florestais nativas relaciona-se, principalmente, às características
botânicas e dendrológicas, e informações sobre exigências nutricionais são escassas.
O nitrogênio é um dos nutrientes exigidos em grande quantidade pelas culturas agrícolas. Na
maioria das espécies cultivadas, principalmente as de ciclo anual, o metabolismo do nitrogênio tem
sido bastante estudado, porém para espécies florestais não ocorre o mesmo, sobretudo as espécies
nativas (Marques et al. 2006).
Em estudo avaliando doses de N, P, K e calcário durante os 10 primeiros meses de
desenvolvimento o guanandi apresentou baixa ou nenhuma resposta às adubações nitrogenada e
potássica durante o período avaliado, demonstrando pequena exigência a esses nutrientes nesta
fase de desenvolvimento. Os níveis de saturação por bases do solo também pouco influenciaram
no crescimento dessa espécie. Para a adubação fosfatada, houve uma resposta altamente positiva,
demonstrando ser imprescindível na implantação de reflorestamentos desta espécie em solos
carentes em fósforo. (Ciriello, 2010)

101
Em experimento com omissão dos nutrientes N, P, K, Ca, B e Zn realizado com mudas de
guanandi (Calophyllum brasiliense), concluiu-se que a omissão de N seguida pela omissão de P
foram as que mais afetaram o crescimento da espécie e que os nutrientes que provocaram sintomas
mais visíveis em suas folhas foram o N e o Ca (Rosa 2008).
Propagação vegetativa: estacas caulinares apicais dessas espécies são consideradas difíceis
de enraizar utilizando-se AIB, nas dosagens O, 1000, 2000, 4000 aplicados a seco e 1000 pprn após
lavagem em água corrente por 22 horas, em duas épocas do ano: final das chuvas e início da seca (Silva
& Ribeiro 1999).
O guanandi é considerado uma espécie dependente por micorrizas (Câmara et al. 2016,
Simão Soares et al. 2017).

8.2. PREPARO DO SOLO


O preparo de solo costuma ser feito com a técnica do cultivo mínimo com uso do implemento
subsolador florestal ou em locais muito íngremes com preparação de covas. Geralmente é utilizado
Silvicultura Tropical

calagem para elevar a saturação por bases a 60%, porém mais estudos são necessários para
determinação da correção do solo ideal para a espécie. (Valeria Cirielo - comunicação pessoal)

8.3. RECOMENDAÇÕES E TRATOS CULTURAIS


8.3.1. Controle de matocompetição
Para controle da matocompetição não existem produtos registrados para a cultura. Para o
primeiro ano recomenda-se capina com roçada nas entrelinhas e carpa na linha ou coroamento.
(Valeria Cirielo - comunicação pessoal)

8.3.2. Podas e desramas


As atividades de podas e desramas são de
extrema importância para a produção de madeira
nobre de alta qualidade. Para o guanandi deve ser feita
poda de 1/3 da copa, retirando-se ramos mais baixos.
Devem ser feitas também correções de bifurcações e
ramos ladrões. As intervenções devem ocorrer entre
uma e duas vezes por ano, durante os 4 primeiros anos,
Figura 6: Detalhe a poda recém efetuada de
iniciando no segundo ano após o plantio. guanandi, sem danificação do colar de cicatrização.
Foto: Futuro Florestal

102
A cicatrização dos ramos podados apresenta cicatrização efetiva após 6 a 12 meses dependendo
da espessura do ramo podado. As podas devem ser realizadas com serrotes de poda florestal bem afiados
e constantemente limpos, com os cortes realizados no ponto correto evitando danificação do painel para
favorecer uma cicatrização completa.

8.3.3. Desbastes /colheita


Sobre os desbastes muito pouco ainda se conhece para que exista um programa de desbastes
definido, o que nos serve de base como parâmetro são os inventários florestais contínuos, que
merecem atenção especial assim como metodologias diferenciadas, pois se trata de uma espécie
pouco cultivada, apresentando grande heterogeneidade entre as plantas no mesmo talhão, que pode
se intensificar com as características do sítio. Nos espaçamentos utilizados em plantio puro estão
indicados 2 a 3 desbastes seletivos ao longo do ciclo de 20 a 25 anos. O momento correto de realizar

Calophyllum brasiliense (Cambess.)


o desbaste será indicado pelo inventário florestal (Ciriello 2010).

Figura 7: Fotos de inventário florestal, desbaste e madeira beneficiada do desbaste de


guanandi com 7 anos de idade. Foto Futuro Florestal

103
Figura 8: Colheita com 18
anos na Costa Rica, madeira
serrada de 9 anos em Garça,
SP. Fotos Futuro Florestal

9. PATOLOGIA FLORESTAL
O guanandi apresenta ao longo de seu desenvolvimento diversas pragas com diferentes
níveis de dano e frequência, porém até o momento as pragas ocorridas se mostraram passíveis de
controle e de manejo integrado, sem até o momento a presença de alguma praga que inviabilize
Silvicultura Tropical

a sua produção comercial. As pragas descritas pelos autores foram: trips, lagartas desfolhadoras,
lagarta enroladeira: besouro amarelo, pulgão, mosca branca. Dentre essas pragas acima citadas a
que se apresenta recorrente em todas as regiões onde foi plantada a espécie, destacamos a Trips
que tem ocorrido em todas as regiões sem exceção, que causam danos mais no início do plantio
até o 3° ano após esse período as plantas já possuem uma copa formada e o nível de dano fica
bastante reduzido e a partir daí a planta convive bem com a praga. As outras pragas citadas ocorrem
esporadicamente e sua ocorrência pode variar entre regiões (Ciriello 2010).
Até o momento não foi detectada doença que torne inviável a plantação de guanandi,
porém tem-se acompanhado o aparecimento de fungos causando danos de baixa intensidade
nesta espécie. Os principais casos de doenças fúngicas relatadas até o momento são: Phomopsis
sp. no caule de guanandi; Pestalotia sp., Monochaetia sp., Colletotricum sp., Rizoctonia sp. e
Cladosporium sp. em folhas de guanandi; Sclerotium sp. e Rhizoctonia sp, atacam sementes
guanandi (Ciriello 2014).

10. POTENCIAL PRODUTIVO


10.1 CICLOS DE CORTE
As previsões de produtividade e ciclo de corte para a espécie tomaram como base trabalhos
realizados na América Central como ponto de partida para os plantios e projetos da empresa, utilizando

104
como base os trabalhos realizados por Petit & Montagnini (2004), onde foram estimados 296 m³ de
madeira produzidas em 18,5 anos. Esses estudos se realizaram na América Central.
Atualmente após 16 anos e muitas experiências vivenciadas no Brasil com a espécie o ciclo
é estimado em 20 a 25 anos em plantios puros com espaçamentos de 3 x 2 m até 3 x 3 m com 2 a
3 desbastes ao longo do ciclo (Futuro Florestal, 2020).
Em medições realizadas em diversos inventários pela empresa Futuro Florestal verificou-se
heterogeneidade em dados em plantios com mesma idade, devido a qualidade de sítio e manejo,
principalmente. Em plantios de 10 a 11 anos com bom manejo nutricional o DAP médio estava com
12,5cm e altura média 9m, porém esses plantios sofreram com atraso em seu primeiro desbaste,
portanto é possível melhorar esses dados realizando desbaste no momento correto. Verifica-se que
em locais com solos arenosos e fracos com índice pluviométrico menor que 1200mm por ano o
guanandi não deve ser indicado para reflorestamento comercial.

Calophyllum brasiliense (Cambess.)


10.2. PREÇO DA MADEIRA
Ao final de um ciclo de 20 anos de produção de madeira para serraria, Navarro (2007),
com base nos dados cedidos pela Tropical Flora Reflorestadora, estimou receita total de R$
213.697,60 por hectare, com valores de R$ 57,60/ha ao final do 5º ano, R$ 1.750,00/ha (12º ano),
R$ 11.550,00/ha (15º ano) e R$ 200.340,00/ha (20º ano) para plantios de reflorestamento da
espécie em espaçamento de 3 x 2m. O valor estimado do m³ da madeira em tora ao final de um
ciclo de 18,5 anos é de R$ 2.000,00 (Tropical Flora Reflorestadora 2012).
Entre os anos de 2014 e 2015 o valor do m³ da madeira em pé estava entre R$ 103,00 a R$
370,00 (Campos Filho & Sartorelli 2015). Esse valor se refere a madeiras nativas.
Em planos de manejo no estado do Tocantins a madeira serrada verde tem sido
comercializada com preço médio de R$1500,00/m³ e no varejo, em São Paulo, ela chega a ser
comercializada entre R$2500,00 a R$3.000,00 dependendo do formato das peças. Essa madeira
tem sido muito consumida pela indústria naval brasileira para a fabricação de escunas. Os plantios
de guanandi realizados no Brasil ainda se encontram jovens (entre 10 a 15 anos de idade), portanto
é raro encontrar cotações de preços de madeira plantada dessa espécie no mercado de serrarias e
madeiras processadas. Em Garça, SP madeiras serradas verdes de desbaste com idade de 15 anos
estão sendo comercializadas por R$2.500,00 por metro cúbico para diversas finalidades (Rodrigo
Ciriello - comunicação pessoal).

105
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109
Calycophyllum spruceanum Benth.
K. Schum. (Rubiaceae)
Marcelino Carneiro Guedes
Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de
Viçosa, aperfeiçoamento no departamento de Solos da UFV, mestrado em Ciências Florestais
pela Universidade de São Paulo (ESALQ - USP) e doutorado em Recursos Florestais pela USP.
Atualmente é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA),
e professor e orientador nos PPGs em Biodiversidade Tropical e Ciências Ambientais, na
Universidade Federal do Amapá.

Bruno Costa do Rosário


Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade do Estado do Amapá
(UEAP), mestrado em Ciências de Florestas Tropicais pelo Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (INPA).

Breno Henrique Pedroso Araújo


Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade do Estado do
Amapá (UEAP), mestrado em Ciências de Florestas Tropicas pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Silvicultura Tropical

da Amazônia – INPA. Atualmente é professor EBTT no Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Amapá, Campus Porto Grande.

DanielLe Miranda DE SOUSA Rodrigues


Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade do Estado do Amapá
(UEAP) e mestrado em Biodiversidade Tropical pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).

Ana Cláudia Lira-Guedes


Engenheira Agrônoma, graduação em agronomia [UFRA] Universidade Federal Rural da Amazônia,
mestrado em Ciências Florestais [Esalq] e doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental [EESC],
pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora na EMBRAPA - Amapá

1. Introdução
A preferência pelo cultivo de espécies exóticas, ocorre, principalmente, pela falta
de conhecimento técnico científico sobre a silvicultura e manejo de espécies nativas
tropicais. A maioria das informações silviculturais e tecnologias desenvolvidas nos últimos
anos no Brasil, são, sobretudo, destinadas às arbóreas exóticas, como Pinus e Eucalyptus
(PANCEL, 2015; MENDONÇA et al., 2017). Em termos de qualidade da madeira e, até
mesmo, capacidade produtiva, é bastante plausível imaginar que, dentre as mais de dez
mil espécies arbóreas nativas da Amazônia, não será difícil encontrar espécies com melhor
desempenho do que as citadas anteriormente.

110
O C. spruceanum é uma espécie florestal de uso madeireiro e não madeireiro, muito
encontrada em florestas de várzea do estuário do rio Amazonas. É uma árvore de porte alto,
com fuste retilíneo e ramificação apenas no ápice (ALMEIDA, 2004), que favorece a produção de
madeira para serraria e também para uso energético. A espécie tem diversos nomes populares

Calycophyllum spruceanum Benth. K. Schum. (Rubiaceae)


no Brasil, como pau-mulato, pau-mulateiro ou mulateiro. No Peru é conhecido como capirona,
na Argentina palo blanco, na Bolívia guayabochi, na Colômbia alazano, no Equador corusicao e
na Venezuela araguato (SOTELO-MONTES; WEBER, 1997).
A madeira do pau-mulato é uma das mais comercializadas no Amapá (QUEIROZ;
MACHADO, 2007). Nesse Estado, foi estimada a comercialização de 6.960 m3 de madeira
serrada da espécie, 20% da venda total, que movimentou 16 milhões de reais no ano de 2012
(CASTILHO, 2013). Nas micro serrarias familiares das várzeas, a participação do pau-mulato
chega a 25% do total de madeira serrada, indicando que existe uma parte da madeira que é
utilizada pelas próprias famílias ribeirinhas e não é comercializada.
Além da importância pelo uso madeireiro, o pau-mulato também apresenta uso não
madeireiro. Suas cascas são utilizadas para confecção de cosméticos como sabonetes esfoliantes
e também têm propriedades medicinais (REVILLA, 2001; SHULTES; RAFFAUF, 1990).
A abertura de clareiras na floresta de várzea, para a prática da agricultura itinerante de
corte e queima, propicia o surgimento de elevada quantidade de regenerantes de pau-mulato.
Nessa fase inicial, seu crescimento pode atingir 3 m de altura em um ano (CASTILHO, 2013).
O rápido desenvolvimento, aliado à boa densidade e qualidade da madeira para diversos
usos, mesmo em indivíduos jovens, torna a espécie altamente atrativa, despertando interesse
em seu cultivo. Ao contrário do pau-mulato, a maioria das espécies de rápido crescimento
apresenta densidade baixa. Aquelas com densidade elevada, normalmente apresentam lento
crescimento e não suportam manejos mais intensivos, já que dependem de longos ciclos para
reposição dos estoques colhidos.
Além do rápido crescimento e qualidade da madeira, a elevada disponibilidade de
mudas em áreas de regeneração natural e a adaptação a vários sistemas de plantio confirmam
a viabilidade de sistemas intensivos de cultivo do pau-mulato. Isso é reforçado pela
possibilidade de obtenção, ao longo do ciclo, de variadas volumetrias de madeira que têm
mercado garantido, sem custos de produção de mudas em viveiro e de plantio em campo
quando é realizado o manejo da regeneração natural.
Com o manejo da regeneração natural nos roçados abandonados e enriquecimento
com outras espécies de interesse, em sistemas mistos (GUEDES et al., 2016), pode-se ampliar

111
a capacidade produtiva da área, em menor tempo, mantendo a produção agrícola e promovendo
a recuperação dessas áreas abandonadas da agricultura itinerante. Essa otimização da produção
volumétrica de madeira e de outros produtos, como o açaí, em pequenas áreas, facilita o trabalho
do produtor, resultando em geração de renda e fomento da economia local.
Por outro lado, se essas áreas da agricultura itinerante forem abandonadas em definitivo,
sem ser manejadas, capoeiras e florestas secundárias ricas em pau-mulato serão formadas, mas
com menor crescimento das árvores e formação de fustes de menor qualidade. Nesse caso, o pau-
mulato pode ser usado como indicador de áreas com intervenção antrópica. Em determinadas
áreas de floresta madura onde surge alguma mancha com elevada densidade de árvores adultas
de pau-mulato, é um indicativo de que houve ali ação humana que abriu aquela área, como no
caso dos roçados para cultivos agrícolas. Como se trata de uma espécie heliófila, típica de áreas
abertas em início de sucessão, a germinação e o desenvolvimento das plântulas de pau-mulato
depende de quantidade elevada de luz, sendo que as mesmas não se desenvolvem bem quando
sombreadas sob o dossel da floresta.
Silvicultura Tropical

O objetivo desse capítulo de livro é organizar o conhecimento gerado sobre C. spruceanum


durante execução de projetos liderados pela Embrapa Amapá no estuário do rio Amazonas, sintetizar
o conhecimento existente na literatura oriundo de estudos no Brasil e em outros países e incentivar
seu cultivo, buscando a valorização da espécie. Com isso, espera-se reunir e disponibilizar nesse
trabalho informações gerais e silviculturais necessárias ao manejo e plantio do pau-mulato, para
promover o uso e conservação deste importante recurso florestal.

2. Ecologia da espécie
Ocorre no Brasil, e em vários países da América do Sul, como Peru, Colômbia, Equador
e Bolívia. No Brasil, é mais encontrada em floresta de várzea, ao longo do estuário do rio
Amazonas. Também é encontrada em outras regiões da Amazônia, nas várzeas ou capoeiras
altas, campos de pastagens, áreas degradadas, desenvolvendo-se, geralmente, como espécie
dominante (REVILA, 2000). O pau-mulato pode também estar presente em florestas de terra
firme, em decorrência de seu eficiente sistema de dispersão pelo vento e pela água (ALMEIDA,
2004). No Peru, é uma das árvores preferidas para utilização em sistemas agroflorestais
(SOTELO-MONTES; WEBER, 1997).
É uma espécie tipicamente heliófila, que necessita de muita luz para se desenvolver e áreas
abertas em início da sucessão (JONG, 2001), pois as sementes germinam melhor em temperaturas

112
elevadas (ALMEIDA, 2004). Por isso, apresenta regeneração abundante em áreas abandonadas na
agricultura itinerante (CASTILHO et al., 2013), em agrupamentos quase homogêneos (GONZÁLES,
2007), com densidade que pode chegar a mais de 100.000 regenerantes por hectare (CASTILHO, 2013).
Em floresta natural do Acre, a floração acontece de março a maio; a frutificação, de maio a
setembro e a queda de frutos, de setembro a outubro. Seu sistema sexual é hermafrodita. A polinização
das flores é realizada por diminutos insetos, que visitam suas pequenas flores brancas, com grande
número de estames. O fruto é uma cápsula com, aproximadamente, 1 cm de comprimento, deiscente,
contendo várias sementes aladas, que são dispersadas pelo vento (D´OLIVEIRA et al., 1992).
É uma árvore de grande porte, que pode atingir 20-35 m de altura. Sua característica marcante
é o fuste retilíneo, com casca lisa, marrom ou esverdeada, que descama em longas tiras, e madeira de

Calycophyllum spruceanum Benth. K. Schum. (Rubiaceae)


excelente qualidade (ALMEIDA, 2004) e trabalhabilidade (ANDRADE et al., 2017).
O C. Spruceanum é uma espécie indicada para policultivos (ALMEIDA, 2004), uma vez que
apresenta copa pequena e rala, que permite a passagem da luz, causando pouco sombreamento. Com isso,
é favorecido o cultivo consorciado, pois há possibilidade de desenvolvimento conjunto de outras espécies.

3. Transplante e produção de mudas


O pau-mulato apresenta elevado potencial de regeneração natural, cujas mudas podem
ser transplantadas para aproveitamento em outras áreas. A regeneração é mais eficiente e há maior
abundância de mudas em áreas onde houve fogo, que pode quebrar a dormência do banco de sementes
presente no solo. Esses maciços iniciais, quase puros da espécie (Figura 1), são importantes fontes de
propágulos da espécie, sem custos com a produção de mudas.

Figura 1: A. Mudas de pau-mulato regeneradas em área de várzea utilizada para agricultura de corte e
queima, 6 meses após abandono do roçado, município de Mazagão - AP. B. Transplante de mudas durante curso
sobre manejo da regeneração natural na região do Bailique, Macapá - AP. Fotos: Marcelino Guedes e Bruno Rosário.

113
Nas várzeas do Mazagão, a densidade média de plântulas (mudas) logo após abandono do
roçado foi de 46.895 ind ha-1 (CASTILHO, 2013). Na Ilha das Cinzas, Gurupá - PA, após inventário
100% de todas as áreas com regeneração natural de pau-mulato mapeadas na Ilha, observou-se
uma densidade geral de 29.533 mudas ha-1 (ROSÁRIO, 2017).
A elevada densidade inicial de mudas de pau-mulato pode comprometer o crescimento da
espécie. Se o excedente delas não for eliminado, as mudas poderão permanecer como varetas por
muito tempo, pois a densidade chega a ser tão elevada que as mudas ficam praticamente unidas e
não conseguem se desenvolver. Assim, torna-se necessário o raleio ou desbaste da maioria delas,
por meio de arranque ou corte.
As mudas arrancadas podem ser aproveitadas para plantio em espaços vazios, quando
houver falha de regenerantes na própria área, ou transplantadas para outras áreas. Para isso, basta
retirar a muda com um bloco de solo e transplantá-la para o local desejado, de forma semelhante
ao que se faz com as mudas no manejo de açaizeiros. O solo siltoso da várzea facilita a manutenção
da terra em volta das raízes para fazer o transplantio.
Silvicultura Tropical

O transplantio é mais recomendado para áreas próximas de onde as mudas estão sendo
retiradas. No entanto, em muitos casos, haverá a necessidade de produção de mudas em viveiros,
principalmente, quando houver a possibilidade de usar matrizes selecionadas.
A produção de mudas de pau-mulato pode ser realizada pelo método sexuado (por
meio de sementes), ou pelo método assexuado, por propagação vegetativa. No caso da
estaquia (GATTI, 2002; VALLEJOS-TORRES et al., 2014; ABANTO-RODRIGUEZ et al., 2016),
as estacas devem ser submetidas a 3.000 ppm de ácido indolbutírico (AIB), que propicia o
enraizamento em torno de 12 dias.
Para a produção de mudas por via sexuada, os frutos coletados devem ser acondicionados
e transportados em sacos de ráfia, para evitar excesso de umidade, aquecimento e proliferação
de microrganismos (ALMEIDA, 2004; PIÑA-RODRÍGUEZ et al., 2015.). Em relação às sementes,
a literatura indica que não há necessidade de tratamentos pré germinativos (FLORES, 1996). O
tempo inicial e médio da germinação diminui conforme o aumento da temperatura, variando de
15 dias para sementes sob 15ºC a 5 dias para sementes sob 32,5ºC (ALMEIDA, 2003).
As mudas podem ser preparadas em sementeiras, para que, posteriormente, sejam
repicadas para sacos plásticos de 15 cm x 30 cm. Após 6 a 9 meses no viveiro, as mudas estarão
prontas para o plantio no local definitivo (MARANHO et al., 2013).
Os melhores substratos utilizados para mudas de pau-mulato devem ser a base de matéria
orgânica, como: terra agrícola + casca de arroz + esterco de galinha (ABANTO-RODRIGUEZ et al.,

114
2016). No entanto, a semeadura pode ser realizada apenas em terra vegetal, dispondo as sementes
sobre o substrato e cobrindo-as apenas levemente, devido à necessidade de luz para a germinação
(ALMEIDA, 2004).

4. Cultivo do pau-mulato por meio de plantios


convencionais
Para que o plantio florestal seja estabelecido com sucesso, é preciso seguir alguns passos
essenciais como: definir o objetivo do plantio (produção de madeira serrada, produção de carvão,
plantios de enriquecimentos de capoeiras, recuperação de áreas degradadas, produção de não

Calycophyllum spruceanum Benth. K. Schum. (Rubiaceae)


madeireiros...) e os perfis de espécies correspondentes. Além desses passos, tem-se a análise do
sítio em que se deseja plantar e por último a seleção das espécies ou da espécie mais adequada
conforme a escolha da área (PANCEL, 2015).

4.1 Áreas aptas


A análise dos sítios, ou seja, das áreas em que se deseja realizar o plantio, é essencial para
a boa adaptação da espécie que se deseja plantar, para que a mesma possa expressar seu potencial
genético. O sítio florestal conjuga uma combinação de vários fatores ambientais (solo, topografia,
clima...) e competitivos (RIBEIRO et al., 2002). Em um sítio adequado, o desenvolvimento das
plantas é otimizado, visto que esse fator é determinante, principalmente, na fase inicial de
crescimento das plantas (TAKEDA, 2008). Portanto, antes de realizar o plantio, é imprescindível
que sejam realizados levantamentos acerca da altitude da área, precipitação anual e características
físicas e químicas do solo (PANCEL, 2015).
Para o C. spruceanum, alguns estudos evidenciam que a espécie tem baixa exigência em
termos de fertilidade dos solos (SOTELO-MONTES; WEBER, 1997; MARANHO et al., 2013). O pau-
mulato é encontrado tanto em áreas de várzea quanto em áreas de terra firme (MPEG, 2004),
e se adapta em solos com variadas classes texturais, mas se desenvolve melhor em áreas com
conteúdo orgânico de médio a alto e ambientes úmidos. Por outro lado, a acidez elevada do solo
pode ser um problema. A espécie não se desenvolve bem em solos muito ácidos, com pH entre 4
e 4,5, se adaptando melhor em solos com pH próximo de 7 e saturação de alumínio menor que
30% (REVILLA, 2001). Recomenda-se que o plantio dessa espécie seja realizado em áreas com
precipitação de média à alta (maior que 2500 mm ano-1).

115
4.2 Preparo do solo
O principal objetivo do preparo do solo é oferecer condições adequadas ao plantio e
estabelecimento das mudas no campo (EMBRAPA FLORESTA, 2003). No plantio convencional
para mudas de pau-mulato, dependendo do tipo de solo em que se deseja cultivá-lo, recomenda-
se a realização da subsolagem, variando de 30 a 60 cm (MARTINS, 2010). Como já mencionado,
em áreas onde o pH do solo é baixo, as mudas de pau mulato encontram dificuldades para o
seu crescimento, sendo necessário, portanto, que nessas áreas seja aplicado o calcário, com o
objetivo de corrigir a acidez e elevar os teores de cálcio e magnésio (GONÇALVES, 2005).
O plantio das mudas de pau-mulato deve ser realizado em covas que podem ser abertas
de maneira mecanizada, quando a área permitir a entrada de tratores adaptados, ou manual,
com o auxílio de cavadores (ARAUJO et al., 2013). As covas devem ter as seguintes medidas: 20
cm de diâmetro e 25 cm de profundidade. Após a abertura, recomenda-se, caso seja necessário,
a fertilização, que pode ser por meio do NPK ou adubo orgânico (CHUNG SALDAÑA, 2013).
Silvicultura Tropical

4.3 Espaçamento
A escolha do espaçamento influencia diretamente na taxa de crescimento das plantas,
na qualidade da madeira e na idade de corte (BALLONI; SIMÕES, 1980). O espaçamento deve
ser definido em função dos objetivos do plantio, visando também adequar a densidade de
plantio para a obtenção do máximo de retorno por área (DANIEL, 2006). Para o C. spruceanum,
estudos com diferentes espaçamentos já foram realizados. Em sua maioria, os resultados
indicam que espaçamentos ideais para a produção de madeira, devem seguir os arranjos de
3 m x 3 m e 2 m x 3 m (UGARTE-GUERRA,Domínguez-Torrejón, 2010; CENTENO AVENDAÑO,
2012; CHUNG SALDAÑA, 2013; GUEDES, et al., 2016). Outros espaçamentos, como 4 m x 3 m
e 5 m x 5 m, também mostram resultados positivos em termos de crescimento em sistemas
consorciados, ressaltando a importância dessa espécie e seu elevado potencial para implantação
de sistemas silvipastoris (OLIVEIRA, et al., 2012).

4.4 Adubação
Em alguns estudos que avaliaram diferentes dosagens de NPK em plantios de pau-
mulato, foi gerada a recomendação de 120 g de NPK 20:20:20 por muda, caso o produtor tenha
recursos financeiros e queira investir em adubação (CHUNG SALDAÑA, 2013). Contudo, como
o pau mulato é uma planta que tolera ambientes com baixas fertilidades, a adubação também
pode ser realizada com produtos à base de compostos orgânicos, sendo possível até mesmo

116
dispensar a adubação. É importante salientar que se o plantio ocorrer em áreas de várzea
estuarina, por exemplo, não é recomendável a utilização de fertilizantes, visto que esses sítios
apresentam solos com elevada fertilidade (COSTA-NETO; SILVA, 2003).

4.5 Tratos culturais


Após o plantio no local definitivo, é necessário que sejam realizados, de maneira periódica,
tratos culturais. Essas operações de controle do mato competição, objetivando eliminar a vegetação
invasora, também é importante como medida de proteção contra o fogo e facilita as operações
de combate às formigas (MARTINS, 2010). Os tratos culturais são de suma importância para se
evitar o atraso no crescimento inicial por competição. Um dos pontos positivos e que potencializa

Calycophyllum spruceanum Benth. K. Schum. (Rubiaceae)


o uso do pau-mulato em plantios, é a situação de seu status fitossanitário, que confirma que essa
espécie não é atacada por pragas e / ou doenças (BAUTISTA; INCA, 2016)

5. Cultivo do pau-mulato por meio do manejo


da regeneração natural
Além do cultivo por meio do plantio convencional, como mostrado anteriormente, o pau-
mulato tem grande potencial para ser cultivado por meio de uma técnica silvicultural conhecida
por “condução da regeneração natural”. Conforme Kellermann, (2011), a regeneração natural
refere-se às fases iniciais de estabelecimento e desenvolvimento das plantas. O entendimento
dos processos de regeneração natural é de suma importância para o planejamento do manejo e
para a aplicação de práticas silviculturais direcionadas ao aproveitamento contínuo da floresta,
que vão favorecer o crescimento e maximizar o volume das espécies desejáveis por unidade de
área (GAMA, et al., 2003).
A abundante regeneração natural do pau-mulato em áreas de roçado abandonado,
formando povoamentos quase puros da espécie, é um convite ao manejo da regeneração
natural. Mas o que permite o manejo da regeneração natural desta espécie? Estudos já
mostraram que essa espécie tem uma característica bastante peculiar, sobretudo no seu
ambiente natural de maior ocorrência, a várzea amazônica, onde a espécie forma um banco de
plântulas superabundante em áreas abertas, podendo alcançar mais de 50.000 indivíduos ha-¹
(APPLEGATE et al., 2000; JONG, 2001; CASTILHO, et al., 2013). Tais fatores, aliados aos tratos
silviculturais, permite manejar a espécie com baixos custos operacionais e com retorno em
curto prazo (MPEG, 2004).

117
O manejo da regeneração de pau-mulato pode ser realizado de maneira a formar plantios
homogêneos ou sistemas agroflorestais (SAF´s). Nesse último sistema, pesquisas já demonstraram
a eficiência e retorno financeiro do uso do pau-mulato como espécie arbórea (SOTELO-MONTES;
WEBER, (1997); SEARS et al., (2014), GUEDES et al., 2016, CASTILHO et al., 2013), com aplicação
de técnicas adequadas para o manejo da regeneração.
Entre as técnicas silviculturais que podem ser adotadas, destaca-se o desbaste, que é a
principal ferramenta para o aproveitamento do potencial de regeneração natural em áreas de
agricultura itinerante. Essa técnica silvicultural pode ser definida como a eliminação de parte do
povoamento florestal, removendo-se dessa forma as árvores excedentes, para reduzir a competição
inter e intraespecífica pelos fatores de crescimento, como água, luz e nutrientes. Assim, o potencial
produtivo do povoamento fica concentrado em um número limitado de árvores remanescentes
(AMBIENTE BRASIL, 2009; MARTINS, 2010; CASTILHO, 2013).
Os desbastes são divididos em duas categorias, seletivo e sistemático. No manejo da
regeneração de pau-mulato, o desbaste seletivo deve ser empregado. O mesmo implica na escolha
Silvicultura Tropical

de indivíduos com base em algumas características que são pré-estabelecidas, de acordo com o
propósito a que se destina a produção (MARTINS, 2010), removendo indivíduos considerados
inferiores, dominados ou defeituosos (GUEDES et al., 2016; CASTILHO, 2013).
No sistema de manejo do processo de regeneração natural do pau-mulato, descrito em
Guedes et al. (2016), são previstos dois desbastes sequenciais. O primeiro desbaste deve ocorrer
por volta dos 6 meses após abandono da atividade no roçado. Contudo, se o desbaste não acontecer
no momento ideal, após alguns anos, ainda é possível proceder a roçagem das varetas para
realização do primeiro desbaste. A remoção dos indivíduos pode ser realizada de forma manual,
por meio do arranquio (regenerantes até um ano de idade) ou por meio de terçados, machados
e/ou motosserras (indivíduos com mais de um ano de idade). O segundo desbaste é realizado
quando a área estiver com 5 a 7 anos. O desbaste é realizado nas árvores mais finas e baixas,
deixando aquelas mais desenvolvidas para o final do ciclo.
Ao aplicar o desbaste seletivo, os maiores indivíduos da regeneração natural devem ser
deixados, respeitando a distância mínima média de 3 m entre plantas, de maneira a organizar e
otimizar o espaçamento e a distribuição das plantas na área (EMBRAPA FLORESTA, 2003; GUEDES
et al., 2016). Com isso, será eliminado o excedente, deixando apenas a quantidade ideal de paus-
mulatos. Para implantação de sistemas só com pau-mulato (plantio homogêneo), em linhas ou
faixas orientadas no sentido do deslocamento do sol (DURIGAN, et al., 2004), a densidade final
recomendada gira em torno de 1.200 ind. ha-1 (GUEDES et al., 2016).

118
Outros padrões de espaçamentos podem ser estabelecidos como: 2 m X 2 m; 2 m X 3 m
e 3 m X 4 m e até maiores, de acordo com a quantidade de regeneração disponível, tamanho
das áreas e objetivo do plantio (D´OLIVEIRA et al., 1992). Quanto menor a densidade, os valores
de crescimento em altura e diâmetro tendem a ser maiores, o que foi constatado por Ugarte-
Guerra; Domínguez-Torrejón, (2010); avaliando plantios com 1312, 1236, 800 e 768 ind. ha¹.
No entanto, a otimização da volumetria final de madeira produzida vai depender de um balanço
entre o crescimento e a própria densidade remanescente.
Na implantação de consórcios ou Sistemas Agroflorestais (SAFs), a partir do manejo da
regeneração natural do pau-mulato, deve-se deixar espaçamentos maiores, com densidade em
torno de 600 ind. ha-1 de paus-mulatos (GUEDES et al., 2016). Nesse caso, devido às dificuldades

Calycophyllum spruceanum Benth. K. Schum. (Rubiaceae)


para manter o alinhamento e um espaçamento padrão, o sistema é organizado em faixas de 3 m
de largura, de maneira alternada, com e sem regenerantes de pau-mulato (Figura 2). Na primeira
faixa, ficam os paus-mulatos, com abundância em torno de 17 indivíduos por faixa. Na segunda,
limpa-se toda a área para plantar as culturas agrícolas de interesse do produtor no meio da faixa.
Nas faixas de pau-mulatos, se houver excesso, eliminam-se os menos desenvolvidos e todos
os outros regenerantes. Se a abundância de paus-mulato for baixa, realiza-se o transplantio de
mudas que seriam desbastadas em outras faixas.

Figura 2- Ilustração orientadora da implantação do sistema de


manejo da regeneração do pau-mulato consorciado com outras
culturas. Fonte: Guedes et al. (2016)

119
Figura 3: Áreas de
várzea com manejo da
regeneração natural de
Silvicultura Tropical

pau-mulato e produção
de banana, na Ilha das
Cinzas, Gurupá - PA e
em Mazagão - AP. (Fotos:
Marcelino Guedes e
Danielle Rodrigues).

No exemplo prático aqui mostrado, tem-se o seguinte arranjo agroflorestal: pau mulato
(regeneração), culturas agrícolas (banana e açaí). Esse arranjo pode ser implantado em módulos
de 51 m de largura x 52 m de comprimento, que define o sentido das linhas e deve seguir o
deslocamento do sol (leste/oeste). Para a instalação de um módulo com 17 faixas (9 com paus-
mulato e 8 com as culturas associadas), de 3 m de largura cada, são necessárias 110 mudas de
bananeira e 110 mudas de açaizeiros, deixando-se 6 mudas de reserva para cada cultura.
Assim como nos plantios convencionais, nesse sistema também há necessidade da
realização de tratos culturais, visando o controle periódico de plantas indesejáveis. Na fase
inicial, recomenda-se uma limpeza na área de plantio no mínimo a cada 3 meses. No sistema
misto, são geradas receitas ao produtor em mais curto prazo, com a colheita de culturas como
a banana, que produzem em menor tempo, enquanto se espera o desenvolvimento do pau-
mulato para realização do segundo desbaste.
O segundo desbaste deve ser realizado pelo menos 5 anos após o primeiro desbaste.
Nessa época, mesmo no sistema misto, a densidade em torno de 600 ind. ha-1 de paus-mulatos,

120
será suficiente para uma boa produção de madeira roliça, como quantificado no próximo item.
Essa madeira roliça pode ser utilizada em construções rústicas e também para produção de
carvão e lenha.
Após o segundo desbaste, deve ficar na área em torno de 100 a 200 árvores por hectare,
dependendo do tipo e diversidade do sistema adotado. De acordo com os interesses do produtor,
e em função da realidade de cada área, ajustes podem ser realizados para deixar mais ou menos
paus-mulato após o segundo desbaste, árvores essas que serão destinadas às serrarias, no final
do ciclo, aproximadamente, com 15 anos.
Depois da liberação realizada no segundo desbaste, as melhores árvores de pau-mulato
para serraria podem ser colhidas ao longo do tempo, na medida em que forem atingindo o DMC

Calycophyllum spruceanum Benth. K. Schum. (Rubiaceae)


(diâmetro mínimo de corte). Inclusive, a colheita parcelada é mais condizente com a realidade
e capacidade produtiva das pequenas serrarias familiares das várzeas estuarinas. A colheita
parcelada também fornece uma entrada periódica de renda para remunerar a mão de obra
familiar, funcionando como uma poupança ao longo do tempo.

6. Desenvolvimento e produção do pau-


mulato oriundo de regeneração natural
As plântulas de pau-mulato em áreas com abundância de regeneração natural, antes
do primeiro desbaste, apresentam altura média de 30,4 cm e diâmetro na base do solo de
0,51 cm, aos 6 meses. Após desbaste e eliminação do excedente, o pau-mulato se desenvolve
rapidamente. Em várzea do Mazagão - AP, o crescimento médio foi de 1,2 m em altura e 2,6
cm em diâmetro por ano, após realização do desbaste aos 6 meses, para manter a densidade
remanescente de 600 mudas ha-1 (CASTILHO, 2013). Nessa fase, algumas mudas podem crescer
até 3 m em altura por ano, o que demonstra variabilidade de crescimento entre plantas e boa
possibilidade de seleção de indivíduos com maior capacidade de desenvolvimento.
Em áreas de 5 a 11 anos de idade, aptas para realização do segundo desbaste, as taxas
de crescimento em diâmetro do pau-mulato podem variar de 0,9 a 2,4 cm ano-1 (CASTILHO,
2013), como foi o caso de observações realizadas em povoamentos desta espécie no município
de Mazagão. Os testes para avaliação do segundo desbaste, permitiram a cubagem rigorosa e a
quantificação da volumetria da madeira roliça que é possível obter nessa fase.
O volume de madeira (m3) nessa fase, pode ser estimado por meio da equação de dupla
entrada (diâmetro na altura de 1,3 m – DAP, em cm e altura total – Ht, em m): V= 0.00008

121
* DAP1.99038 * Ht0.80224 (ARAÚJO, 2015), ou pela equação de simples entrada: V= 0,0184 -
0,00598*DAP + 0,00082*DAP2 (CASTILHO, 2013). A volumetria média encontrada das 696
árvores abatidas (DAP variando de 4,5 cm a 19,0 cm) para cubagem rigorosa e realização do
segundo desbaste, foi igual a 0,03685 m3 por árvore.
Em áreas de SAFs com 7 anos e baixa densidade de pau-mulato, a média dos diâmetros
foi de 17,1 cm e a média da altura foi de 15,4 m. Nessas condições, cada pau-mulato produz 0,2
m3 de madeira roliça e seriam necessárias 5 árvores para produção de 1 m3.
Em três áreas pesquisadas com o uso de SAFs, com idade de 10 a 11 anos e baixas
densidades do pau-mulato, a média do DAP das árvores foi de 20 cm. Algumas árvores de maior
crescimento já atingiram o diâmetro mínimo de 50 cm, considerado como limite para corte e
produção de madeira serrada.
No trabalho de Rosário (2017), que avaliou o desenvolvimento do pau-mulato em
sistema de manejo da regeneração natural (Figura 3), com introdução de banana, na Ilha das
Cinzas, Gurupá - PA, as bananeiras começaram a produzir com 1 ano de idade.
Silvicultura Tropical

Nessas áreas manejadas houve um desenvolvimento quatro vezes superior às áreas sem
manejo. Com manejo, o crescimento médio foi de 2,3 m em altura e de 3,2 cm em diâmetro por
ano (ROSÁRIO, 2017).

7. Eliminação e condução da rebrota


O corte dos paus-mulatos para realização dos desbastes deve ser feito bem próximo ao
solo. Após o corte, deve ser realizada a manutenção da área por meio da desbrota dos ramos novos
que forem emitidos após o corte, dos indivíduos que devem ser eliminados da área para manter a
densidade adequada.
Após o corte ou após a desbrota, o controle para evitar novas brotações pode ser realizado
por meio da aplicação de alguns produtos, que não vão causar contaminação do ambiente
inundado da várzea. Testes iniciais realizados na Ilha das Cinzas, Gurupá-PA, demonstraram que
uma solução salina saturada de (NaCl), assim como a aplicação de óleo lubrificante queimado,
reaproveitado dos motores utilizados nas embarcações e nas residências, podem ser utilizados
para tal finalidade. Esses produtos devem ser pincelados sobre as cepas, logo após o corte.
No entanto, ainda são necessárias mais pesquisas sobre esse ponto específico para gerar uma
recomendação adequada.
Uma maneira de evitar o custo com o controle da rebrota, é provida quando se faz o primeiro

122
desbaste no período adequado (em torno de 6 meses). Nessa idade, as mudas excedentes podem
ser eliminadas por meio do arranque. Isso evita a rebrota, que poderá ocorrer se as plântulas forem
eliminadas por corte, pelo processo de roçagem. Deve-se evitar arrancar as mudas no período do
verão amazônico (setembro a novembro), quando a água das marés não adentra nas áreas mais
elevadas de várzea e o solo siltoso fica muito seco e duro. Isso dificulta o arranque das mudas e
exige maior esforço físico.
A elevada capacidade de rebrota do pau-mulato pode ser interessante para o
desenvolvimento de novos sistemas silviculturais, com condução da brotação, principalmente nos
plantios convencionais, como realizado em outras espécies como o eucalipto. Para essa espécie
foi desenvolvido um sistema de condução de rebrota, com recomendação de desbrota geral para

Calycophyllum spruceanum Benth. K. Schum. (Rubiaceae)


deixar apenas um broto por toco, pois assim ele crescerá mais vigoroso (FERRARI et al., 2004).
Alguns produtores de eucalipto preferem deixar até 3 brotos, ou dois, se houver falha na planta
vizinha, principalmente para produção de lenha. Nesse caso, cada broto deve ser deixado, nas
extremidades e na parte mais baixa do toco da árvore, para, posteriormente, permitir cortes mais
rentes ao solo e maior ganho de madeira. É recomendado que os cortes deixem cerca de 10 a 15
cm de toco - sempre com o broto localizado do meio para baixo.
As experiências com sistemas de condução e eliminação da rebrota desenvolvidos para outras
espécies arbóreas, podem ajudar a definir orientações para o cultivo e manejo do pau-mulato. No
entanto, ainda são necessários muitos testes e experimentos sobre a silvicultura do C. spruceanum,
assim como de muitas outras espécies arbóreas nativas da Amazônia, para que ocorra o desejado
desenvolvimento da silvicultura tropical.

8. A qualidade da madeira do pau-mulato e


seus usos
A qualidade tecnológica da madeira é essencial para determinar o uso madeireiro de
determinada espécie florestal. Tanto para a madeira serrada como para a madeira roliça, suas
propriedades físicas e mecânicas é que devem definir o melhor tipo de processamento e o uso.
No caso do pau-mulato, essas propriedades também são importantes para validar a possibilidade
de uso das árvores de menores diâmetros provenientes dos desbastes.
No trabalho de Araújo et al.(2013), realizado em floresta de várzea do município de
Mazagão - AP, foi avaliada a qualidade da madeira de diferentes classes diamétricas de paus-
mulatos, em amostras da base e topo do tronco de 15 árvores. As árvores foram selecionadas em

123
uma floresta secundária sem manejo, sendo 3 árvores em cada uma das 5 classes: 1) 15 < DAP
< 20 cm, 2) 25 < DAP < 30 cm, 3) 35 < DAP < 40 cm, 4) 45 < DAP < 50 cm, 5) DAP > 55 cm.
Os resultados dessa pesquisa evidenciaram que as árvores de pau-mulato com menores
diâmetros também apresentam boa qualidade da madeira. Amostras de árvores mais finas
apresentaram a mesma densidade e resistência quando comparadas às mais grossas. A força
média necessária para quebrar as amostras foi de 92,88 Mpa e os valores de densidade básica
da madeira variaram de 0,58 a 0,72 g cm-3. A contração volumétrica média para as amostras de
pau-mulato foi de 14% (ARAÚJO et al., 2016).
Essas propriedades tecnológicas habilitam a espécie para diversos fins, principalmente,
para uso na construção civil. Normalmente, a madeira serrada de pau-mulato é muito utilizada
para confecção de estrutura para telhado, e também como piso e parede das casas de madeira.
Praticamente, todas as casas das famílias ribeirinhas do interior, que vivem nas proximidades
dos rios, são de madeira, assim como várias casas localizadas nas próprias cidades. No interior
também é muito comum o uso da madeira roliça do pau-mulato para construção de estruturas
Silvicultura Tropical

rústicas e, nos portos, como suporte e baliza para ancoragem das embarcações. Essa madeira
roliça também pode ser empregada como postes, como biomassa e fonte de energia. Nas casas
das várzeas, é frequentemente utilizada como lenha para combustão direta no fogão.
O uso da madeira roliça para diversos fins é facilitado no caso do pau-mulato, pois as
árvores oriundas do segundo desbaste, com idade em torno de 5 anos, apresentam forma
cilíndrica muito bem definida e troncos extremamente retos. Nesse caso do uso da madeira
roliça de pau-mulato de regeneração natural, quando for possível a divisão do tronco, é
recomendável que a parte da base seja utilizada para energia, e o topo para as construções.
A ponta do fuste do pau-mulato tem maior estabilidade dimensional e está menos sujeita a
rachadura (ARAÚJO et al., 2016).
O manejo do processo da regeneração natural e potencial biológico do C. spruceanum
apresenta uma série de vantagens, como já demonstrado. No entanto, esse manejo apresenta
limitações em termos de área e por não utilizar mudas melhoradas. Assim, recomenda-se que
estudos também sejam direcionados para um programa de melhoramento e para propagação
vegetativa da espécie.

124
9. Agradecimentos
À Embrapa, que financiou o projeto Florestam (ecologia e manejo florestal para
uso múltiplo de várzeas do estuário amazônico). À FINEP, que patrocinou o projeto “manejo
comunitário integrado de recursos ambientais do estuário amazônico”, desenvolvido em parceria
com a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas (ATAIC). Uma boa parte
das informações aqui relatadas é fruto desses projetos.
Aos nossos parceiros, agroextrativistas de áreas de várzea do estuário do rio Amazonas.
Pela hospitalidade, pelo camarão com açaí batido na hora, um agradecimento especial!
Às instituições de fomento (CAPES e CNPq) que financiaram bolsas para os estudantes,

Calycophyllum spruceanum Benth. K. Schum. (Rubiaceae)


sem os quais não conseguiríamos realizar esse trabalho.

10. Referências
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129
Campomanesia xanthocarpa
Mart. ex O. Berg.
DEBORAH CRISTINA PORTES
Engenheira Agrônoma, graduação em Agronomia pela Pontifícia Universidade Católica
do Paraná, mestrado em Morfogênese e Biotecnologia Vegetal (Produção Vegetal) pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

FRANCIELLI TELEGINSKI
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Estadual
do Centro-Oeste, UNICENTRO-Irati-PR. mestrado em Agronomia-Produção Vegetal pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Biológicas e
doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia Vegetal pela Università
Silvicultura Tropical

di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular do Departamento de Botânica da


Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e
Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA
Habita preferencialmente sítios úmidos das matas de altitude, na Floresta Estacional
Semidecidual e Floresta Ombrófila Mista (REITZ et al., 1988; MARCHIORI; SOBRAL, 1997;
LORENZI, 2002; BACKES; IRGANG, 2002).

1.2 NOME COMUM: Guabiroba, guavirova, guabirobeira-do-mato, guabirobeira


(SIMÃO, 1971; LORENZI, 2002).

1.3 NOME CIENTÍFICO: Campomanesia xanthocarpa Mart. ex O. Berg.

1.4 FAMÍLIA: Myrtaceae (Myrtoideae)

1.5 PORTE:
Árvore mediana, de 10 - 25 m de altura, entre 30 - 70 cm de DAP e comumente com
diâmetro de 30 a 50 cm (Figura 1A). Possui tronco geralmente tortuoso dotado de caneluras e casca
pardo-acinzentada, que se soltam em delgadas tiras; muitas vezes provido de raízes tabulares. A
copa é densa e arredondada (SIMÃO, 1971; BARROTO DO CARMO; MORELLATO, 2001).

130
Campomanesia xanthocarpa Mart. ex O. Berg.
Figura 1: Campomanesia xanthocarpa Mart. Ex O. Berg: A. Planta adulta. B. Floração.
C. Frutos jovens (verdes) e maduros (amarelo-alaranjado). D. Porcentagem das partes do
fruto. E. Paraulaca dives em folhas de guabiroba.

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS
2.1 DENSIDADE DA MADEIRA
A madeira de guabiroba é densa, resistente e de boa durabilidade natural, fornecendo
matéria prima para a fabricação de tábuas, instrumentos musicais e cabos de ferramentas (LORENZI,
2002). Com densidade de 0,86 g/cm3, a madeira de Campomanesia xanthocarpa é indicada para
plantios em áreas degradadas, podendo ser utilizada também como espécie ornamental e tabuados
em geral (SILVA, 1967; SANCHOTENE, 1985). A lenha é apreciada para a secagem e torrefação da
erva-mate, pois desprende um aroma agradável durante a combustão (CORREA, 1984).

131
2.2 PRODUTOS NÃO MADEIREIROS
Dentre os usos da espécie, o chá das folhas de guabiroba é bastante citado, sendo a infusão
das folhas utilizada no tratamento de diversas doenças, incluindo inflamatórias, renais e digestivas
(ALICE et al., 1995), bem como para reduzir os níveis de colesterol sanguíneo (KLAFKE et al., 2010).
Em análise fitoquímica do extrato de folhas de Campomanesia xanthocarpa, observou-se a presença
de flavonóides, saponinas, taninos e terpenos (CERQUEIRA, 2002; MARKMAN et al., 2004; KLAFKE et
al., 2010). As pectinas encontradas na espécie são utilizadas nas indústrias alimentícia e farmacêutica,
devido às suas propriedades geleificantes e estabilizantes (SANTOS et al., 2009).
A composição química do óleo das folhas de C. xanthocarpa coletadas no Rio Grande do Sul,
apresentou um rendimento de 0,2% em óleo essencial, rico em sesquiterpenos, destacando-se dentre
eles o espatulenol (9,9%), o globulol (6,2%) e o epi-globulol (2,0%); e, entre os monoterpenos, o
linalol (17,2%) (LIMBERGER, 2001). Já o óleo de folhas coletadas em Curitiba-PR, apresentou como
componentes majoritários os sesquiterpenos espatulenol (7,39%), globulol (2,94%) e epi-globulol
(0,88%); e, como principais monoterpenos, o linalol (4,24%) e o β-cariofileno (1,77%) (GOUVÊA, 2001).
Silvicultura Tropical

O óleo dos frutos de C. xanthocarpa apresenta como componentes majoritários, α-pineno


(15,0%), o-cimeno (10,8%) e β-pineno (10,5%) (VALLILO et al., 2006). Alguns monoterpenos são
considerados como alternativas potenciais aos inseticidas comerciais sintéticos, já que são reconhecidos
como seguros pela United States Food and Drug Administration sendo, portanto, largamente
utilizados em condimentos artificiais, perfumes, formulações de expectorantes, descongestionantes,
analgésicos externos e antisépticos (KLOCKE et al., 1987; DUNKEL & SEARS, 1998).
O extrato vegetal liofilizado das folhas de C. xanthocarpa apresenta atividade antimicrobiana
com concentração mínima de inibição (CMI) > 1000 e < 500 μg mL-1 em relação à Staphylococcus
aureus; CMI < 500 e > 100 μg mL-1 para Salmonella cholerasuis e CMI < 1000 e > 500 μg mL-1
em relação à Candida albicans, além de mostrar atividade citotóxica nos ensaios da letalidade de
artêmias, com DL50 de 0,503 mg mL-1 (MARKMAN, 2002).
Os frutos de guabiroba possuem polpa aromática e agradável ao paladar humano e animais
domésticos ou selvagens (CORRÊA, 1984), apresentam propriedades nutricionais devido ao seu
alto teor de vitamina C, sais minerais e compostos fenólicos, o que permite considerá-la alimento
funcional (SANTOS et al., 2009). Ainda pouco aproveitados, os frutos são consumidos in natura, embora
apresentem elevado potencial como fonte nutricional e como matéria prima para a agroindústria
de alimentos (LORENZI, 2002). Quando maduros, os frutos de guabiroba têm um curto período
para serem aproveitados, de cinco a sete dias, se armazenados sob refrigeração. Em função desta
característica, uma possibilidade para melhor aproveitamento dos frutos frescos é o processamento, o

132
qual visa não só a obtenção de produtos com características sensoriais e nutricionais próximas às do
fruto in natura, mas também como microbiologicamente seguros (SANTOS, 2011).
Sob o ponto de vista nutricional e considerando-se o peso médio de 86 frutos escolhidos
aleatoriamente como sendo equivalente a 2,86 g,verificou-se que 10 frutos contribuem aproximadamente
com 5,4% em fibras, 1,6% em vitamina B2 e 8,5% em vitamina C na dieta alimentar diária de indivíduos
adultos, quando se tomam como base os valores recomendados pela Organização Mundial de Saúde
(média de 33,5 g por dia em fibras (ORGAMIZATIÓN MUNDIAL DE LA SAUD, 1990) e pela Legislação
Brasileira de Alimentos para ingestão diária de vitaminas (IDR por indivíduo) (BRASIL, 1998). Os frutos
in natura de C. xanthocarpa apresentam baixo valor calórico (57,3 kcal 100 g-1) devido, principalmente,
ao alto teor de umidade e, por conseguinte, uma menor concentração de açúcares, lipídios e proteínas
em suas estruturas (endocarpo, mesocarpo e sementes) (VALLILO et al., 2008).

Campomanesia xanthocarpa Mart. ex O. Berg.


3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
Produz anualmente grande quantidade de sementes, amplamente disseminadas pela
avifauna que ingere seus frutos (LORENZI, 2002).
O fruto da guabiroba tem sabor doce, e contém de 1 a 6 sementes (Figura 1D). Sua semente
é achatada, castanha e mede de 3 a 8 mm de diâmetro (CARVALHO, 2006).

3.2 FENOLOGIA
Apresenta folhas verdes e opostas, simples e membranáceas, as quais variam em tamanho e
forma, oscilando entre 3,5-8,0 cm de comprimento por 2,5-4,5 cm de largura, oval-oblongas a oblongas
(SIMÃO, 1971; CORREA, 1984; LEGRAND, 1957; MATTOS, 1983). Suas flores são hermafroditas, isoladas,
esbranquiçadas, axilares e se encontram na extremidade de pedúnculos unifloros ou reunidos sobre
pequenos ramos laterais, medindo de 1,0 a 3,5 cm (Figura 1B). O cálice é pentâmero, um pouco
pubescente interiormente e com bordos ciliados. (SIMÃO, 1971; LORENZI, 2002; BIAVATTI et al., 2004). O
tipo de dispersão é zoocórica atraindo, principalmente, pássaros, pequenos mamíferos como o macaco,
peixes e répteis (CORRÊA, 1984; CARVALHO & NAKAGAWA, 2000; FRISCH & FRISCH, 2005).

3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO


Floresce durante os meses de setembro, outubro e novembro (SIMÃO, 1971; MARCHIORI
& SOBRAL, 1997; LORENZI, 2002). A espécie concentra todo o período reprodutivo nos meses de

133
agosto a dezembro, nas estações da primavera e verão. Durante o outono e parte do inverno, a espécie
apresenta repouso reprodutivo (EMBRAPA FLORESTAS, 2011).

3.4 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA:
A frutificação ocorre a partir de novembro, atingindo a maturação dos frutos de novembro
a janeiro (JOLY, 1966; LEGRAND & KLEIN, 1977; LORENZI, 2002). A quantidade produzida depende
do tamanho da planta. Não existem dados sobre a produtividade, visto não terem sido encontrados
relatos de plantações comerciais de guabiroba (CARRARA; CARRARA, 1997).
Os frutos são do tipo baga glabra, de formato redondo de 1 a 2 cm de diâmetro. Apresentam
cor verde quando jovens e amarelo-alaranjado quando maduros (Figura 1C).

3.5 MANEJO DE SEMENTES


As sementes são separadas manualmente da polpa, seguida da lavagem em água corrente
com a auxílio de uma peneira.
Silvicultura Tropical

3.6 QUEBRA DE DORMÊNCIA


Não possuem dormência; recomenda-se apenas a remoção das sementes da polpa do fruto
(RAGAGNIN, 1986).

3.7 ARMAZENAMENTO
Apresentam comportamento recalcitrante, tornando-se inviáveis após 30 dias de
armazenamento (CARVALHO, 2006).
Após a colheita das sementes, estas devem permanecer viáveis por apenas 15 dias, pois
trata-se de sementes recalcitrantes (BORDIGNON, 2000; SIMÃO et al., 2007).

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO:
A semeadura é feita em sementeiras, utilizando-se cobertura leve ou semeando-
se duas sementes em sacos de polietileno, com dimensões mínimas de 20 cm de altura e
7 cm de diâmetro ou em tubetes de polipropileno de tamanho médio. Quando necessária,
a repicagem deve ser feita em embalagens individuais, quando as mudas atingirem de 3
a 5 cm de altura (CARVALHO, 2006). As sementes de guabiroba têm germinação hipógea,
com emergência de 30 a 60 dias após a semeadura e não necessitam de tratamentos
pré-germinativos (CARVALHO, 2006).

134
Em testes de germinação de guabiroba, cujas sementes foram mantidas em germinadores
sob luz constante, avaliando-se três temperaturas (20°C, 25°C e 30°C) e três substratos (papel mata-
borrão, areia e vermiculita), TELEGINSKI (2016) observou que a média de todos os tratamentos foi
boa (81,4% de germinação), e os substratos areia e vermiculita foram os mais eficientes para o
índice de velocidade e tempo médio de germinação. A temperatura de 30°C foi mais eficiente,
sendo a recomendada para germinação de sementes de C. xanthocarpa.

Campomanesia xanthocarpa Mart. ex O. Berg.


Figura 2: Técnicas
de resgate em
plantas matrizes
de Campomanesia
xanthocarpa Mart ex
O. Berg: A. Decepa a
altura do caule de 1,0
m do solo. B. Brotações
epicórmicas oriundas de
decepa, 7 meses após
o corte. C. Anelamento
a altura de 1,0 m do
solo. D. Aspecto geral
da região anelada.
E. Procedimento de
envergamento com
a fixação da copa em
plantas vizinhas. F.
Aspecto geral do caule
envergado. IRATI-PR.
Fonte: TELEGINSKI
(2016)

135
4.2. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA
Para a propagação assexuada da guabiroba, poucos estudos relatam sucesso no
enraizamento. Em experimento com diferentes tipos de estacas realizado por TELEGINSKI (2016),
foram confeccionadas estacas a partir de material oriundo de brotações epicórmicas produzidas
por decepa da copa de plantas matrizes selecionadas (Figura 2A), brotações epicórmicas oriundas
de anelamento do caule, brotações epicórmicas oriundas de fragmentos de tronco mantidos em
casa de vegetação (Figura 3), envergamento (Figura 2E) e poda, além da coleta de brotações de
copa nas quatro estações do ano.
Silvicultura Tropical

Figura 3: Técnicas de resgate em plantas matrizes de Campomanesia xanthocarpa:


A. Fragmentos de troncos recém colocados em casa de vegetação. B. Fragmentos
de tronco 60 dias após a instalação, evidenciando as brotações epicórmicas. C.
Aspecto das brotações do ano no inverno. D. Aspecto das brotações do ano na
primavera. IRATI -PR. Fonte: TELEGINSKI (2016)

136
As estacas foram confeccionadas com 12 cm de comprimento e sem folhas na porção apical,
corte em bisel na base e reto no ápice, desinfestação com hipoclorito de sódio a 0,5% por 5 minutos,
sendo em seguida suas bases submetidas aos tratamentos com diferentes concentrações de ácido indol
butírico (IBA), sendo 0; 500; 1000 e 2000 mg L-1, por 10 segundos de imersão de suas bases, em solução
50% hidroalcoólica. O plantio se deu em tubetes de polipropileno com capacidade de 100 cm3 com
substrato comercial à base de casca e serragem de Pinus, cinza, cama de aves, fibra de papel recuperada,
vermiculita expandida, carvão vegetal e fibra de coco. Após 120 dias em casa de vegetação climatizada,
observou-se mortalidade de 100% do material coletado das brotações de copa nas quatro estações do
ano. Brotações epicórmicas oriundas de decepa apresentaram 25,5% de enraizamento e de fragmentos
de tronco/inverno 44,4%, independente do uso de IBA. Para o material coletado a partir das brotações
de poda, o enraizamento e a formação de calos foram nulos (Figura 4).

Campomanesia xanthocarpa Mart. ex O. Berg.

Figura 4: Resultados da aplicação de técnicas de rejuvenescimento e estaquia em


Campomanesia xanthocarpa: A. Origem da brotação em fragmentos de tronco. B. Aspecto
geral das brotações epicórmicas. C. Aspecto geral das estacas semilenhosas. D. Aspecto
geral das brotações em estacas com 60 dias após a instalação do experimento. E. Estacas
mortas após 120 dias da instalação do experimento. F. Estacas enraizadas (120 dias
após instalação do experimento). G. Estacas com calos (120 dias após instalação do
experimento). H. Aspecto geral dos calos. CURITIBA-PR. Fonte: TELEGINSKI (2016)

137
Com relação à técnica de alporquia, esta foi realizada em dez matrizes de guabiroba, nas
quais, para confecção dos alporques foram utilizados ramos jovens, dos quais foi retirado um anel
de casca de aproximadamente 2,0 cm de largura com o auxílio de um estilete (TELEGINSKI, 2016).
Em cada ferimento foram adicionadas diferentes concentrações de IBA (0, 500, 1000 e 2000 mg K-1)
veiculadas em pasta de vaselina, onde cada concentração compôs um tratamento. Em seguida, a
região foi envolvida com substrato vermiculita e plástico transparente. Após um ano da confecção dos
alporques, observou-se que a técnica de alporquia em C. xanthocarpa, utilizando o regulador vegetal
IBA não foi eficiente, pois não promoveu o enraizamento dos ramos (Figura 5).
Silvicultura Tropical

Figura 5: Confecção de alporques em Campomanesia xanthocarpa: A. Região anelada


do ramo. B. Adição de IBA veiculado em pasta de vaselina. C. Envolvimento da região
anelada com substrato e plástico transparente. D. Aspecto final dos alporques. IRATI-
PR. Fonte: TELEGINSKI (2016)

Visto se tratar de uma espécie arbórea e nativa, muitos estudos ainda necessitam ser realiza-
dos, visando sanar uma série de lacunas ainda abertas, principalmente no que tange a uma forma de
rejuvenescimento bem sucedida, a qual forneça propágulos juvenis com alto índice rizogênico.

4.3 MANEJO
As técnicas de propagação vegetativa vêm sendo utilizadas como auxílio e superação das
dificuldades na propagação de espécies nativas, permitindo que as plantas sejam propagadas
independentemente de estarem ou não em sua fase reprodutiva. Algumas técnicas utilizadas por
Teleginski (2016) para Campomanesia xanthocarpa são estaquia de brotações do ano com a aplicação de

138
ácido indol butírico (IBA), estaquia de brotações epicórmicas obtidas por anelamento, decepa de tronco,
brotações de poda e envergamento, além da técnica de alporquia e testes de germinação de sementes.

5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO


Campomanesia xanthocarpa está sofrendo a cada dia com a erosão genética ocasionada pelos
desmatamentos indiscriminados, sendo necessária a criação de unidades de conservação maiores, para
preservação desta espécie bem como de várias outras, que apresentam grande potencial econômico,
devendo-se proceder a recuperação de áreas degradadas e a recomposição da reserva legal das propriedades
com mudas originárias de sementes coletadas nas reservas remanescentes, de modo a preservar sua
variabilidade genética para as gerações futuras, incluindo também medidas práticas como a domesticação

Campomanesia xanthocarpa Mart. ex O. Berg.


da espécie, a qual envolve a determinação de métodos de propagação vegetativa (PEIXOTO et al., 2005).
Previamente à produção de mudas clonais, a seleção das matrizes a serem utilizadas na coleta
dos propágulos é de suma importância e deve se basear em características fenotípicas de interesse,
como resistência a doenças, densidade básica da madeira e produtividade. Em estudos recentes sobre
restauração florestal, a técnica do resgate de indivíduos da flora, sejam eles plântulas, plantas jovens
ou adultas, é tida como uma alternativa viável (NAVE, 2005). As matrizes selecionadas e multiplicadas
assexuadamente passam a constituir os clones. Esse processo é também conhecido como resgate de
material superior (ALFENAS et al., 2004).
Em programas de estabelecimento de bancos de germoplasma ou de melhoramento
genético, a juvenilidade do material vegetal pode ser a chave do sucesso (HIGASHI et al., 2000),
principalmente ao se trabalhar com espécies lenhosas, pois a aptidão à propagação vegetativa está
associada ao grau de maturação do material utilizado (SANTOS et al., 2004).
Com relação à juvenilidade do material a ser utilizado com maior sucesso às respostas positivas
de propagação assexuada, Teleginski (2016) compilou uma série de informações preliminares sobre
Campomanesia xanthocarpa.

6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


6.1. SISTEMA DE PLANTIO
O plantio deve ser realizado em solos profundos, ricos em matéria orgânica e com boa
fertilidade, adotando um espaçamento adequado ao manejo que se deseja dar a guabiroba,
considerando seu porte arbóreo e a possibilidade de consorciação. Sua produção e conservação
dependem, exclusivamente, da manutenção de seus hábitats naturais (LISBOA et al., 2011).

139
7. MANEJO PARA PRODUÇÃO
7.1. TÉCNICAS DE CULTIVO E COLHEITA DA PRODUÇÃO
Por ser uma árvore recomendada para plantios consorciados, compondo sistemas
agroflorestais, as podas de limpeza da guabirobeira são recomendadas para facilitar a colheita,
eliminar galhos pouco promissores, arejar a copa e formar uma arquitetura vegetal adequada ao
manejo de produção proposto (LISBOA et al., 2011).

8. PATOLOGIA FLORESTAL
8.1 DOENÇAS E PRAGAS
A cultura de Campomanesia xanthocarpa é atacada por alguns insetos-praga, que deteri-
oram o fruto ou ocasionam danos diretos na planta, prejudicando direta ou indiretamente a pro-
dução. Neosilba pradoi sp. nov. (Diptera: Lonchaeidae) foi relatada em frutos de guabiroba no sul
do Brasil (Rio Grande do Sul e Santa Catarina), no sudeste (Estado de São Paulo) e na região cen-
Silvicultura Tropical

tro-oeste (Estado do Mato Grosso do Sul) (STRIKIS & LERENA, 2009). Também como praga de frutos
destacam-se as moscas-das-frutas Ceratitis capitata, Anastrepha fraterculus e Anastrepha obliqua
(Diptera: Tephritidae), sendo a mais frequente Anastrepha fraterculus (FRANZON & RASEIRA, 2004;
MALDANER, 2011).
Nas fruteiras nativas, besouros desfolhadores são destacados como potenciais pragas e
causadores de inúmeros danos, conforme já observado por Sá (2012). Este autor verificou a pre-
sença do besouro Costalimaita ferruginea Fabricius 1801 (Coleoptera: Crysomelidae) em goiabeira
Psidium guajava (Myrtaceae), na qual este torna a folha rendilhada após promover inúmeras per-
furações durante sua alimentação, reduzindo a capacidade fotossintética e a produção da planta.
Entretanto, para guabiroba (C. xanthocarpa) ainda não havia relatos da ocorrência de besouros
desfolhadores (crisomelídeos).
Luckmann et al. (2015) identificaram Paraulaca dives sendo o primeiro registro deste
inseto danificando guabiroba no estado do Paraná e no Brasil. O besouro Paraulaca dives mede
10 mm de comprimento, apresenta coloração verde metálica brilhante nos élitros, azul escuro
metálico no protórax e pernas marrom-clara (Figura 1E). As folhas consumidas apresentaram
perfurações rendilhadas no centro do limbo foliar, bem como nas extremidades, com redução da
capacidade fotossintética da planta, o que pode comprometer o desenvolvimento vegetativo e/
ou a produção de frutos. Verificou-se que os danos ocorrem em todas as folhas, sem preferência
entre folhas jovens ou senescentes.

140
9. REFERÊNCIAS
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145
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)
Eduardo Ciriello
Engenheiro agronomo, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências
Agronômicas, UNESP Botucatu. Atualmente é sócio e Diretor da empresa Futuro Florestal,
especialista em plantio de madeiras nobres.

Fátima Conceição Marquez Piña-Rodrigues


Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro (UFRRJ), especialista em Produção e Tecnologia de Sementes pela Associação
Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS), mestrado em Engenharia Florestal pela
Escola Superior de Agricultura Luis de Queiróz da Universidade de São Paulo (ESALQ – USP),
Doutorado em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e Pós Doutorado
na Universidade de Missouri (UMSL) e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Rio Douro (UTAD)
em Ecologia Aplicada. Professora Titular - Full Professor – UFSCAR- UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SÃO CARLOS - CAMPUS SOROCABA - Departamento de Ciências Ambientais – SP.

Luciane Missae Sato


Silvicultura Tropical

Bióloga, Mestre em Ciência florestal, ambos pela UNESP Botucatu. Atualmente


é Doutoranda em Agronomia (Sistemas de Produção - Genética, Melhoramento e
Propagação de Plantas pela UNESP Ilha Solteira.

Marcela Aparecida de Moraes


Formada em Engenharia Agronômica na Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira/FEIS-
UNESP em julho de 2009. Mestrado em Sistema de Produção na Faculdade de Engenharia
de Ilha Solteira/FEIS-UNESP em fevereiro de 2012. Doutorado em Sistema de Produção na
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira/FEIS-UNESP em fevereiro de 2016. Pós Doutorado
em Fisiologia Vegetal na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/FFCLRP-
USP. Atualmente é professora celetista em melhoramento vegetal e florestal na Faculdade de
Ciências Agronômicas/FCA-UNESP.

Valeria Ciriello
Engenheira agronoma, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências
Agronômicas, UNESP Botucatu. Atualmente é sócia e Diretora da empresa Futuro
Florestal, especialista em plantio de madeiras nobres.

Miguel Luiz Menezes Freitas


Engenheiro Agrônomo, graduação em Agronomia pela Universidade de Taubaté (UniTau),
mestrado em Sistemas de Produção pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (FEIS/UNESP) e Doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCAV/UNESP). É Pesquisador Científico do Instituto
Florestal de São Paulo, Coordenador do Grupo de Pesquisa em Conservação e Melhoramento
Genético de Espécies Arbóreas, revisor de diversas revistas científicas e professor das disciplinas
de Conservação de recursos genéticos vegetais (Programa de Pós-graduação em Agronomia
da FEIS/UNESP) e Conservação e uso do material genético de espécies arbóreas (Programa de
Pós-graduação em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis da Universidade Federal de São
Carlos – UFSCar/Sorocaba)

146
1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA
O Jequitibá rosa ocorre preferencialmente nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, tanto na floresta pluvial atlântica como na
semidecídua de altitude e da bacia do Paraná (Lorenzi 2014).

1.2 NOME CIENTÍFICO (COMPLETO)


Cariniana legalis (Mart.) Kuntze
Publicado em: Revisio Generum Plantarum 3(23): 89. 1898.

Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)


{Revis. Gen. Pl.}

1.3 NOMES VULGARES


Jequitibá-rosa; caixão (MG, RJ), coatinga (MG), congolo-de-porco, cravinho-branco (ES),
estopa, jequitibá (AL, BA, ES, MG, RJ, SP), jequitibá-agulheiro, jequitibá-branco (BA, MG, RJ),
jequitibá-cedro, jequitibá-de-agulheiro, jequitibá-grande, jequitibá-rei, jequitibá-vermelho
(BA, MG, RJ, SP), pau-caixão, pau-carga (AL, PE), pau-de-cachimbo, pau-de-carga (PE), pau-de-
cerne (AL), sapucaia-de-apito (PE), sapucaia-de-assovio.

1.4 FAMÍLIA: Lecythidaceae.


1.5 SINONÍMIA
Cariniana brasiliensis Casar.; Couratari legalis Mart.

1.6 PORTE
A espécie pode atingir de 30 a 50 m de altura e 70 a 100 cm de diâmetro (Lorenzi
1992). Sebbenn et al. (2009) encontraram, aos 26 anos de idade, altura média de 15,3 m e
DAP de 16,1 cm.

2. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS
É uma das maiores árvores do Brasil extra-amazônico. Possui tronco ereto e cilíndrico,
revestido por casca pardacenta e fissurada. Folhas elípticas a oval-elípticas, membranáceas,
glabras, sem estípulas, de 4-8 cm de comprimento por 2,0-4,0 cm de largura. Flores pequenas,
cremes, dispostas em panículas axilares e apicais. A espécie apresenta sistema reprodutivo

147
misto com predominância a alogamia (Sebbenn et al. 2000; Tambarussi et al. 2017) e polinizada
por abelhas e sua dispersão de pólen pode atingir até 922 m de distância (Tambarussi et al.
2015) (Lorenzi 2014). Os frutos são tipo pixídio alongado e cilíndricos, com biometria média de
5,6 cm de comprimento, 2,37 cm de largura, 2,39 cm de espessura e massa de 331,8g. Cada
fruto pode apresentar de 8 a 16 sementes. As sementes são estenospérmicas, semicirculares ou
triangulares com tegumentos rígidos e presença de alas (Ribeiro et al. 2015).
O hipocótilo mede cerca de 5,0 cm de comprimento, entumecido na base, castanho,
com estrias castanho-escuras. Cotilédones opostos, foliáceos, persistentes ou não, verdes ou
amarelados, superfície lisa, brilhante, curtamente peciolados. Epicótilo curto, com cerca de
2,0 cm de comprimento, cilíndrico, reto. Protófilos simples, opostos, com 4,5 cm a 7,8 cm de
comprimento e 2,6 cm a 3,2 cm de largura, subcilíndrica, pecioladas (pecíolo com 1,0 cm a 1,9
cm de comprimento). Caule arroxeado próximo à base cilíndrica, a partir do segundo ou terceiro
par de folhas. Gemas axilares diminutas (Rêgoe & Possamai 2001).
O sistema radicular apresenta raiz primária axial, cilíndrica, reta, com 15,0 cm a 20,3 cm
Silvicultura Tropical

de comprimento. As raízes secundárias são finas, em pouca quantidade e esparsas, de coloração


castanho-clara.

3. CARACTERÍSTICAS SILVICULTURAIS
Jequitibá rosa é uma espécie semi heliófila, que tolera sombreamento durante os pri-
meiros anos, não é tolerante a baixas temperaturas quando jovem. Apresenta crescimento mo-
nopodial com boa forma de fuste, independentemente do espaçamento. Apresenta boa desra-
ma natural, com galhos finos na sua maioria e boa cicatrização. Pode ser plantado a pleno sol,
em plantio puro ou em plantio misto, observando-se nos plantios desuniformidade de cresci-
mento entre os exemplares, e em vegetação matricial arbórea, em faixas abertas em vegetação
secundária e plantio em linhas. Brota da touça após corte, podendo ser manejado por talhadia
(Carvalho 1994).
No município de Garça, SP na Tropical Flora Reflorestadora foi plantado em sistemas puros,
mistos e agroflorestais, onde se mostrou ser uma espécie bem adaptável aos diversos modelos de
plantio. Seu crescimento inicial se mostrou um pouco lento e exigente nos 3 primeiros anos, fato
que melhorou conforme a espécie se tornou adulta.

148
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)
Figura 1: Características de árvores de Jequitibá Rosa (Cariniana legalis) em cidades localizadas
no interior de SP. (Fotos: Rodrigo Ciriello)

4. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS
Madeira moderadamente densa (densidade 0,53 a 0,78 g/cm³), macia ao corte, grã di-
reita, textura média, de baixa resistência ao ataque de organismos xilófagos quando exposta a
condições adversas, superfície irregularmente lustrosa e um pouco áspera, durável. Alburno pou-
co diferenciado do cerne, geralmente bege-claro. Cerne geralmente róseo-acastanhado ou bege
rosado, ou ainda bege-rosado-escuro, eventualmente com sombras pardacentas. Cheiro e gosto
imperceptíveis. Baixa a moderada permeabilidade às soluções preservantes, quando submetida
à impregnação sob pressão. O fuste apresenta 76% de madeira e 24% de casca. A madeira tem
aplicação semelhante à do cedro (Cedrela fissilis), sendo um pouco inferior (Carvalho 1994, Lorenzi
2014, Campos Filho & Sartorelli 2015).
Aos 26 anos de idade, a espécie apresentou as seguintes propriedades anatômicas de ma-
deira: 1,6 mm de comprimento de fibra, 3,3µm de espessura da parede da fibra, 467 µm de
comprimento de elementos de vaso, 109,8 µm de diâmetro de vaso, 15,9 nºmm-2 em frequência
de vasos, 6,7 nºmm-1 em frequência de raio, 363 µm de altura dos raios multisseriados, 199 µm
de altura dos raios unisseriados, 33,1 µm de largura dos raios multisseriados e 18,6 µm de largura
dos raios unisseriados (LRU) (Lima et al. 2011).

149
Em função destas características, a madeira é muito utilizada em obras internas da construção
civil, como assoalhos e esquadrias, para contraplacados, folhas faqueadas, móveis, na confecção de
brinquedos, compensados, salto de calçados, lápis, cabo de vassouras, etc. O tanino de sua casca é
empregado no curtimento de couros, e sua casca também tem grande poder desinfetante, sendo
por isso usada na medicina popular, contra as afecções da boca, inflamação da garganta e das
mucosas, amigdalites, anginas e faringites, fazendo-se gargarejos com o chá quente. Produz lenha
de má qualidade.

Figura 2: Madeira
Silvicultura Tropical

de jequitibá rosa
(Foto: Valeria
Ciriello) e cachaça
armazenada em
tonel de Jequitibá
rosa (site Terra
vermelha).

As flores de jequitibá rosa são melíferas. O fruto vazio dessa espécie é usado na Região
Sudeste como cachimbo rústico (“pito”). A exuberância de seu porte proporciona grande efeito
ornamental sendo muito usada no paisagismo de parques, praças públicas e jardins. Esta árvore
é tão monumental e admirada que emprestou seu nome a cidades, ruas, palácios, parques, etc.
Como planta tolerante à luz direta, é excelente para plantios mistos com fins preservacionistas. Os
frutos e as sementes servem de alimento para muitos animais. Os macacos prego (Cebus apella
nigritus) são os principais responsáveis pela liberação das sementes. Na restauração de mata ciliar,
a espécie é indicada para locais livres de inundação (Carvalho 1994, Lorenzi 2014).

5. TECNOLOGIA DE SEMENTES
5.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
A semente é do tipo obovado, plano-convexo; extremidade micropilar aguda; provida de
fina asa unilateral papirácea, com expansão da testa de comprimento variável na região da rafe e

150
pré rafe, contendo feixe funicular; micrópila situada na extremidade aguda do núcleo seminífero
e hilo pequeno, lateral, localizado no terço final do dorso da asa; chalaza marrom-escura localizada
no ápice da semente. A superfície da semente é rugosa, opaca, de coloração marrom-clara, com es-
trias longitudinais. Mede em média 24,6 mm (variando de 21,5 mm a 28,3 mm) de comprimento
e largura média de 8,0 mm (variando de 5 mm a 11,2 mm) (Rêgo & Possamai 2001, Frigieri et al.
2016). Embrião axial longo, constando do eixo hipocótilo-radícula, com cotilédones amarelo-claros
e foliáceos, imbricados, finos, amplamente expandidos, plicados, formando pregas bastante acen-
tuadas (Rêgo & Possamai 2001). Um kg pode conter aproximadamente 22.470 a 27.155 sementes
(Lorenzi 2014, Frigieri et al. 2016).

Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)


Figura 3: Foto do fruto e sementes de jequitibá rosa. Foto: Valeria Ciriello

5.2 ÉPOCA DE FLORAÇÃO


O jequtibá rosa floresce durante os meses de dezembro a fevereiro.

5.3 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA.


A maturação dos frutos verifica-se no período agosto a setembro (Lorenzi 2014). Recomen-
da-se fazer a colheita quando os frutos apresentarem coloração marrom e ainda fechados direto na
árvore (Souza Junior & Brancalion 2016).

5.4 MANEJO DE SEMENTES


Após colheita levá-los ao sol para completar sua abertura e a liberação das sementes (Souza
Junior & Brancalion 2016).

151
5.5 QUEBRA DE DORMÊNCIA
As sementes de jequitibá rosa não possuem dormência (Frigieri et al. 2016). Em condições de
laboratório, Rêgo & Possamai (2004) sugerem o uso de vermiculita como substrato, e temperaturas
de 20°C a 30°C para atingir 97% de germinação.

5.6 ARMAZENAMENTO
Não é recomendável o armazenamento das sementes de jequitibá rosa, visto que as mesmas
perdem a viabilidade com pouco de tempo de colhidas. No entanto, Abreu (2009) observou que o
jequitibá rosa apresenta comportamento de semente ortodoxa em duas formas de armazenamen-
to. Adicionalmente, foi constatado que o teor de água mais adequado para o armazenamento das
sementes no freezer (-20°C) e no nitrogênio líquido foi de 3,7%, no qual apresentou 80% e 84% de
porcentagem de germinação, respectivamente, em 360 dias de armazenamento.
Silvicultura Tropical

6. PRODUÇÃO DE MUDAS
6.1 MÉTODO DE PRODUÇÃO DE MUDAS - VIA SEMINAL
No viveiro Futuro Florestal as sementes são colocadas para germinar em canteiros de areia
e após 15 a 20 dias, quando estão com o primeiro par de folhas, são transplantadas em tubetes de
200 a 290ml chamados de tubetão. As mudas são colocadas em viveiro de 50% de sombreamento
e mantidos assim até estarem com o mínimo de 20 cm de altura. O tempo de sombra depende
diretamente da época do ano, no verão entre 60 a 80 dias e no inverno entre 80 a 120 dias. Após
esse período devem ser colocados em viveiros a pleno sol onde ficam mais 60 a 120 dias para
terminar o seu desenvolvimento e rustificação. Após rustificação, o jequitibá rosa pode ser plan-
tado no campo em pleno sol ou em áreas com sombreamento inicial. Com um quilo de sementes
é possível produzir em média 12 mil mudas, sendo que as sementes têm que ser recém colhidas
para ter uma boa germinação (Ciriello, Valeria dados não publicados).
Como a maioria das espécies nativas, o jequitibá rosa não possui um protocolo padrão de
propagação vegetativa para produção de mudas em larga escala. Hernandez et al. (2013) observaram
que estacas apicais (15 cm de tamanho e com dois pares de folhas reduzidas à metade de seu ta-
manho original) são mais promissoras para o enraizamento e sobrevivência, e que a adição de ácido
indolbutírico (AIB) não apresentou influência significativa na sua propagação.
A micropropagação propicia a confecção de mudas com boa qualidade sanitária, em escala
comercial. Como esta técnica não existe protocolo específico para o jequitibá rosa, Aragão et al. (2017)

152
sugerem o uso do meio de cultura Murashige e Skoog (MS), com explantes oriundos de segmentos
nodais cotiledonares (75% de enraizamento).

6.2 PRODUÇÃO DE MUDAS - VIA PROPAGAÇÃO VEGETATIVA


E ENXERTIA
O Brasil é portador de uma grande diversidade de espécies florestais que possuem um bom
potencial produtivo, mas devido à falta de pesquisas relacionadas às mesmas, há falta de informações
sobre os aspectos de propagação vegetativa dessas espécies que impõe um limite na disponibilidade
de mudas no mercado e no desenvolvimento de plantios comerciais. Nos dias atuais, é reconhecida
a necessidade de maior quantidade de dados e informações relacionadas às espécies de importância
econômica e ecológica, para suprir as demandas do mercado consumidor de madeiras e outros
produtos florestais e abastecer os programas de restauração ecológica. O aumento da compreensão
sobre a produção de mudas florestais com um bom nível de qualidade, quantidade e diversidade,

Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)


suficiente para a constituição de povoamentos com espécies nativas para diversas finalidades, se
apresenta como fator essencial para o desenvolvimento da silvicultura de espécies nativas no Brasil
(Hernandez 2013). Atualmente a propagação de jequitibá rosa no Brasil é realizada por sementes, o
que limita a disponibilidade de suas mudas e o desenvolvimento de seus povoamentos. A propagação
vegetativa mostra-se como alternativa viável para a produção de mudas dessa espécie, o que possibilita
a implantação de povoamentos comerciais ou para outros fins. O uso da propagação vegetativa com
espécies florestais, combinada com programas de melhoramento, possui como objetivos adiantar
o crescimento, expandir a produtividade e produzir madeira de qualidade e homogênea, através da
multiplicação de plantas selecionadas (Hernandez 2013 apud Alfenas et al. 2004).Segundo Hernandez
(2013 apud Xavier et al. 2009), dentre os métodos de propagação vegetativa, a estaquia estabelece
uma das técnicas, cujos princípios são de vasto conhecimento para as espécies de Eucalyptus, sendo
largamente utilizada na clonagem de árvores, o que possibilitou o desenvolvimento da silvicultura
clonal de maneira acentuada em várias partes do mundo. Hernandez (2013 apud Assis 1997) relata que
essa técnica é uma das que se possui maior domínio e conhecimento científico, caracterizando um dos
maiores avanços tecnológicos na área florestal. Hernandez (2013 apud Paiva & Gomes 2005) aponta
para o fato de que antes que houvesse a chegada das técnicas de mini estaquia e micro estaquia, a
estaquia foi uma das que propiciou maior viabilidade econômica para a constituição de plantios clonais,
por meio da multiplicação de genótipos selecionados, em menor tempo. Hernandez (2013 apud Rocha
2002) demonstra que determinados estudos relacionados às técnicas de propagação vegetativa para
algumas espécies pode ser viável, como demonstrado através da avaliação da técnica de enxertia em

153
jequitibá rosa, obtendo-se 45% de taxa de sobrevivência dos enxertos aos 90 dias de idade, em que foram
usadas mudas propagadas por sementes, com seis meses de idade, como porta-enxerto, e propágulos
coletados da árvore matriz de interesse como enxertos. Hernandez (2013 apud Santos 2002), destaca
que aplicando a técnica de mini estaquia, foi observado que a utilização dos reguladores de crescimento
AIB e ANA influenciam de forma considerável no enraizamento das mini estacas de jequitibá rosa, com
obtenção de 60% de enraizamento, quando foi aplicado o ANA, com uma concentração de 4.000 mg L-1,
enquanto com o AIB, o enraizamento das mini estacas, de modo geral, foi de 47,9%.
Silvicultura Tropical

Figura 4: Produção de mudas de jequitibá rosa em Garça, SP. A – germinador em areia,


B – mudas recém transplantadas, C – muda em tubete pronta para plantio, D – mudas em
embalagem rocambole. (Fotos: Valeria Ciriello)

154
7. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
O conhecimento da variabilidade genética em uma população é a base para se iniciar um
programa de melhoramento de uma espécie. Por isso, é de fundamental importância estudos, a
partir de estimativa de parâmetros genéticos, que descrevam os níveis de variação genética entre
progênies, a magnitude do controle genético dos caracteres e os ganhos esperados com a seleção
(Sebbenn et al. 1994, Freitas et al. 2006). Neste contexto, estudos sobre as características genéticas
de populações são essenciais para traçar a estratégia mais eficaz na seleção. Os caracteres quanti-
tativos determinam quais estratégias de seleção são mais adequadas em genótipos superiores e
estender o conhecimento sobre a estrutura genética de populações (Silva et al. 2012).
Sebbenn et al. (2009) estudaram um teste de procedências e progênies de jequitibá
rosa, oriundas de polinização aberta coletadas em três populações naturais do Estado de São
Paulo. Aos 26 anos de idade o caráter DAP apresentou 5,35% de coeficiente de variação genética

Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)


e 0,23 de herdabilidade MÉDIA de progênies. O volume apresentou a mesma magnitude de her-
dabilidade, porém o coeficiente de variação genético foi maior, com 13,15%. O interessante foi a
presença de fortes correlações genéticas entre os caracteres altura vs DAP e DAP vs volume, o que
possibilita a seleção direta e indireta entre estes caracteres. Desta forma, os autores concluíram
que a espécie conservada na forma ex situ, possui potencial para o melhoramento genético, com
ênfase na produção de madeira.
Em outra população natural de jequitibá rosa, no Estado de São Paulo, Tambarussi et al.
(2017) observaram variabilidade genética, por meio de marcadores moleculares. Entretanto,
os autores se preocuparam com os níveis de depressão por endogamia em seus descendentes,
ocorrendo um decréscimo na sobrevivência das mudas de até 30,4% e em altura 12,8%, fruto
de cruzamentos entre indivíduos aparentados. Desta forma, recomenda-se a coleta de sementes
de jequitibá-rosa em vários fragmentos florestais, com pelo menos 352 m de distância cada
árvore-matriz, para evitar a depressão por endogamia (Tambarussi et al. 2015), uma vez que a
espécie possui potencial para programas de melhoramento.

8. SISTEMAS DE PLANTIO

Jequitibá rosa pode ser implantado em sistemas florestais puros ou mistos, bem como em
sistemas agroflorestais, sendo recomendado o plantio por mudas em sistemas mistos para melhor
formação do fuste (Campos Filho & Sartorelli 2015). Para plantios florestais puros ou mistos recomen-

155
da-se plantio adensado de 3 x 2 m com 1666 plantas/ha, 3 x 2,5 m com 1333 plantas/ha ou 3 x 3
m com 1111 plantas/ha. No entanto, Oliveira et al. (2018) avaliaram árvores com 38 anos de idade,
em três tipos de espaçamento (3 x 1,5 m; 3 x 2 m e 3 x 2,5 m) e observaram que o uso do espaça-
mento mais estreito apresentou maior volume (648,55 m3. árvore-1), porém o maior espaçamento
propiciou maior densidade de madeira (0,799 g.cm-3), podendo produzir até 17 m3. ha-1ano-1.
Em Garça, SP foram feitos plantios puros adensados (foto 5B) bem como plantios mistos
(foto 5 A e 6B ) consorciando a espécie com outras de ritmo de crescimento compatível para evitar
competição e supressão de seu crescimento, como louro pardo (Cordia trichotoma), ipê felpudo
(Zeyheria tuberculosa), guanandi (Calophyllum brasiliense), entre outras.
Silvicultura Tropical

Figura 5: A) Sistema florestal misto com as espécies jequitibá rosa (Cariniana legalis), ipê felpudo
(Zeyheria tuberculosa), Saguaragi (Colubrina gladulosa) e Louro pardo (Cordia trichotoma). B) Plantio
florestal puro de Jequitibá rosa no espaçamento 3 x 2m, Tropical Flora Reflorestadora, Garça,SP.
(Fotos: Rodrigo Ciriello)

Em plantios agroflorestais (foto 6A) existem diversos modelos dependendo das culturas
a serem plantadas em conjunto com a espécie. O plantio da espécie com pupunha (Bactris gasi-
paes) em Garça, SP demonstrou que ela cria uma sombra um pouco demasiada para a pupunha,
portanto deve ser plantada em espaçamentos menos adensados, como 8 x 8 m para que não afete
negativamente a cultura da pupunha que é exigente em luz.
Santos (2018) observou melhor desenvolvimento em árvores de jequitibá rosa plantadas
em sistemas agroflorestais do que em sistemas apenas florestais puros ou mistos, segundo o autor
o espaçamento mais amplo pode ter sido um fator importante, porém destaca-se o também o fato
de que em sistemas agroflorestais existe um manejo melhor de adubação.

156
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)
Figura 6: A) Plantio agroflorestal - Jequitibá rosa com pupunha B) Plantio florestal misto com 12
anos de idade, árvores de Jequitibá rosa com sementes, Tropical Flora Reflorestadora, Garça, SP.
(Fotos: Valeria Ciriello)

8.1 ADUBAÇÃO
Espécie exigente em relação a fertilidade do solo e tratos culturais, como adubação e
controle da matocompetição, principalmente nos 3 primeiros anos, sendo que se não for dada
condição adequada as mudas ficam amareladas e com crescimento muito lento.
Em plantios da empresa Tropical Flora (Garça, SP) não se notou diferença de desenvolvimento
entre o plantio puro ou misto, sendo que em ambos a espécie cresceu de forma semelhante. Em
sistemas agroflorestais com pupunha a espécie se desenvolveu de forma espetacular, porém
promoveu sombra excessiva para a cultura da palmeira, pela sua densa copa, o que gerou a
necessidade de uma poda mais radical para que a cultura se mantivesse no sistema de maneira
produtiva. Em locais próximos a cercas de gado se observou que os animais apreciam suas folhas
para alimentação, portanto em sistemas silvipastoris se faz necessário que a planta não tenha mais
folhas na altura dos animais para que não haja danos as árvores e isso ocorrerá aos 5 anos, com
manejo de poda das árvores.

8.2 PREPARO DE SOLO


O preparo do solo deve ser feito na forma de cultivo mínimo com subsolador florestal com
prévia calagem em área total para solos com V%< 50%. Elevar saturação de bases para 60% em um

157
a três anos. Em plantios diversos se observa que nos três primeiros anos é necessário ser rigoroso
no manejo nutricional, caso contrário a planta pode ficar amarelada e demorar em demasia para se
adaptar ao local, crescendo de forma lenta. Estudos complementares, que possam gerar conhecimento
a respeito do melhor manejo nutricional para a espécie, são necessários.
Silvicultura Tropical

Figura 7: A) Plantio de Jequitibá rosa realizado no Dia de Campo florestal na Unesp/Botucatu com
mudas doadas do Viveiro Futuro Florestal. B) Muda com 3 meses de idade em Garça, SP.

8.3 RECOMENDAÇÕES E TRATOS CULTURAIS


8.3.1. CONTROLE DE MATOCOMPETIÇÃO
Para controle da matocompetição não existem produtos registrados para a cultura. Nos dois
primeiros anos não se recomenda a utilização de glifosato por se tratar de uma planta sensível a este
princípio ativo sendo que se observou diversos danos ocorridos após utilização deste produto. Portanto
recomenda-se capina manual na linha de plantio e roçada mecanizada na entrelinha, sendo necessário
novos estudos indicando quais produtos herbicidas são eficientes e não causem dano à cultura.

8.3.2 PODAS E DESRAMAS


As atividades de podas e desramas são de extrema importância para a produção de madeira
nobre de alta qualidade. Para jequitibá rosa deve ser feita poda de 1/3 da copa, retirando-se ramos mais

158
baixos. Devem ser feitas também correções de
bifurcações e ramos ladrões. As intervenções
devem ocorrer entre uma e duas vezes por
ano, durante os 6 primeiros anos, iniciando no
segundo ano após o plantio.
A cicatrização dos ramos podados
apresenta cicatrização efetiva após 6 a 12
meses dependendo da espessura do ramo
podado. As podas devem ser realizadas
com serrotes de poda florestal bem afiados
e constantemente limpos, com os cortes
realizados no ponto correto evitando
danificação do painel para favorecer uma

Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)


cicatrização completa.

Figura 8: Poda de árvore com


poda já cicatrizada e poda
recente. Foto : Valeria Ciriello

8.3.3. DESBASTES /COLHEITA


Sobre os desbastes muito pouco ainda se conhece para que exista um programa de desbastes
definido, o que nos serve de base como parâmetro são os inventários florestais contínuos, que
merecem atenção especial assim como metodologias diferenciadas, pois se trata de uma espécie
pouco cultivada, apresentando grande heterogeneidade entre as plantas no mesmo talhão, que pode
se intensificar com as características do sítio. Nos espaçamentos utilizados em plantio puro estão
indicados 2 a 3 desbastes seletivos ao longo do ciclo de 20 a 25 anos. O momento correto de realizar
o desbaste será indicado pelo inventário florestal.
Para o corte para produção de madeira para serraria são estimados de 40 a 50 anos (Campos
Filho & Sartorelli 2015), porém empresas do setor indicam ciclos de 20 a 25 anos, devido ao
crescimento satisfatório que vem observando desde 2010 em plantio no interior de SP.

159
9. PATOLOGIA FLORESTAL
A praga principal que ocorre nos plantios
de jequitibá rosa, acompanhados pela empresa
Futuro Florestal, é a formiga cortadeira que deve
ser controlada em todas as fases de desenvolvi-
mento da mesma. Com relação às doenças, a
única vivenciada com a espécie até o momento
foi em mudas conforme foto 9. A doença ainda
não está com diagnóstico completo e existe a
suspeita do fungo Pestalotis sp, ainda faltando
confirmação. No campo não existem registros de Figura 9: Sintoma de ataque e fungos em mudas
doença para essa espécie até o momento. de Jequitibá Rosa. (Foto: Valeria Ciriello)
Silvicultura Tropical

10. POTENCIAL PRODUTIVO


10.1 DADOS DE CRESCIMENTO DA ESPÉCIE
Campos Filho & Sartorelli (2015) destacam que a velocidade de crescimento da espécie é
moderada a rápida, de 10 a 21,70 m³/ha/ano, dependendo da região. Aos 14 anos, pode atingir altura
média de 13,55 m. Com um IMA de 10 m³/ha/ano, em um ciclo de 40 anos produzirá 400 m³ de madeira
por hectare, sendo que o período de colheita varia de 40 a 50 anos para madeira de serraria.
Santos (2018) avaliou diversos modelos de plantio com a espécie, onde num dos modelos
de plantio misto as árvores encontravam-se aos 11 anos com DAP médio de 15 cm e altura média
de 13m, em sistema agroflorestal teve resultados melhores com 9 anos de idade, observando DAP
médio de 21 cm e altura média de 14m.

10.2 RENDIMENTOS ECONÔMICOS / PREÇOS DA MADEIRA


De acordo com Campos Filho & Sartorelli (2015) o valor da madeira em pé para os anos
de 2014 e 2015 era de aproximadamente R$ 136,67 a R$ 570,00 o m³. Cotações realizadas
por Rodrigo Ciriello da empresa Futuro Florestal em 2018, demonstraram que o metro cúbico
de madeira serrada verde era comercializado no atacado paulista pelo preço de R$1300,00 a
R$1500,00 por metro cúbico, já no varejo madeireiras da região da Rua do Gasômetro em São
Paulo comercializavam com preços bem superiores, dependendo da dimensão e formato da
madeira serrada, algumas lojas chegavam até R$5.000,00 o metro cúbico.

160
11. REFERÊNCIAS
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Atlantic Forest. Plant Cell Cult. Micropropag. 13(2): 41-50.

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Frigieri, F.F., Iwanicki, N.S., Gandara, F.B., Ferraz, E.M., Romão, G.O., Coletti, G.F., Souza, V.C. &
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do Brasil. vol. 1 - 6. ed. - São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora

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Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)


Tambarussi, E.V., Boshier, D., Vencovsky,
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reveals significant isolation and
near neighbor pollen dispersal
in small Cariniana legalis Mart.
Kuntze populations in the
Brazilian Atlantic Forest. Ecology
and Evolution 5(23): 5588–5600.

163
Colletia paradoxa (Spreng.) Escal.
(RHAMNACEAE)
Elivelton Marcos Gurski
Engenheiro Florestal, graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Mestrando em Conservação da Natureza pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Atualmente Diretor Técnico da Sociedade Chauá, atuando em trabalhos e
pesquisas na área de conservação da natureza e silvicultura de nativas da Floresta
com Araucária.

Pablo Melo Hoffmann


Engenheiro Florestal, graduação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Doutorando em Ciências Florestais (UFPR). Atualmente Diretor Executivo da
Sociedade Chauá e Coordenador do Viveiro Chauá de espécies nativas da Floresta
com Araucária.

Santiago José Elías Velazco


Silvicultura Tropical

Engenheiro Florestal, graduação pela Facultad de Ciências Forestales, Universidad


Nacional de Missiones, e Pós-graduação em Engenharia Florestal, nível Mestrado e
Doutorado pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente é pesquisador pós-
doutoral no Instituto de Biologia Subtropical (UNaM-CONICET, Argentina).

Jeniffer Grabias
Bióloga, graduação Bacharel em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário
Autônomo do Brasil (Unibrasil). Mestre em Engenharia Florestal pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Atua como consultora em conservação da natureza na
Sociedade Chauá.

Marília Borgo
Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, Mestrado em Botânica e Doutorado em
Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é
especialista em Serviços Ambientais da The Nature Conservancy, trabalhando com
desenvolvimento e implementação de projetos florestais de carbono e suporte a
estratégias de pagamento por serviços ambientais.

Valmir Campolino Lorenzi


Engenheiro Florestal graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR). Atua como Consultor Florestal autônomo.

André Cesar Furlaneto Sampaio


Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal
do Paraná, especialização em Gestão e Engenharia Ambiental pelo Instituto de
Engenharia do Paraná, mestrado e doutorado em Geografia pela Universidade
Estadual de Maringá. Atualmente é Conselheiro fiscal e técnico da Sociedade Chauá.

164
1. BOTÂNICA
1.1 Distribuição
Nativa no Brasil, Uruguai e Argentina (Paz & Bassagoda 1999). No Brasil está presente
nos biomas Mata Atlântica e Pampa, nas tipologias vegetacionais de Estepes (campos naturais),
Floresta Estacional Semidecidual (Lima et al. 2020, Rambo 1951, Johnston & Soares 1972) e

Colletia paradoxa (Spreng.) Escal. (RHAMNACEAE)


na transição entre campos naturais e a Floresta Ombrófila Mista. No Uruguai apresenta-se na
costa litorânea do país. Na Argentina, no sudoeste da província de Buenos Aires, onde ocorre
em grandes aglomerados denominados “Currales” (Tortasa 1989, Heuser 2011).

1.2 Nome científico


Colletia paradoxa (Spreng.) Escal. Tem como sinonímia Colletia cruciata Gillies &
Hook. O termo Colletia presta homenagem ao botânico Collet. O gênero Colletia Comm. ex.
Juss. engloba cinco espécies, sendo que duas ocorrem no Brasil: Colletia paradoxa e Colletia
spinosissima (Bastos & Moraes 1999).

1.3 Nome comum


A espécie é conhecida popularmente no Brasil como cruzeiro, quina-do-rio-grande,
quina-de-porto-alegre e quina-cruzeiro (Johnston & Soares 1972). Na Argentina, é chamada
de crucero, cura-manoel, curro, espina-de-la-cruz e quina. No Uruguai, barba-de-tigre, espina-
de-la-santa-cruz, quina-del-campo e rama-negra (Tortasa 1995). Nos Estados Unidos e Europa, é
comumente conhecida por Anchor plant (Burncoose 2018, Trionursery 2018).

1.4 Nível de ameaça de extinção


Para os parâmetros do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora 2012) a
espécie se enquadra como EN- em perigo critérios B2ab (i,ii,iii). Na Lista Vermelha da Flora do
Rio Grande do Sul a espécie foi enquadrada como VU -Vulnerável (CONSEMA 2002).

1.5 Porte e características botânicas


• Hábito: arbusto subáfilo, de 1 a 4 m de altura, em condições específicas
pode passar de 5 m. Apresenta crescimento lento e adaptado a ambientes áridos
(D´Anbrogio & Medan 1993).
• Fuste: tronco pouco desenvolvido e ramificado, apresentando ramos
achatados lateralmente (cladódios) muito espinhentos. A casca apresenta

165
coloração pardo acinzentada com fissuras superficiais (DAnbrogio & Medan 1993).
• Copa: crescimento horizontal de 1,5 a 4 m (Heuser 2011).
• Folhas: pequenas, opostas, pediceladas, com coloração verde clara, apenas
ocorrendo em ramos jovens; trinérveas ou peninérveas e de pilosidade inexistente;
limbo elíptico a ovalado, de margem serreada, medindo de 3,5 a 17,5 mm de
comprimento e 1,8 a 8,5 mm de largura; pecíolos de 0,5 a 2,5 mm de comprimento;
estípulas de até 3 mm de comprimento, pareadas, triangulares, de cor marrom
e pilosas (Heuser 2011). Os espinhos desempenham a função da fotossíntese
quando não há folhas (Santos 2008).
• Senescência foliar: caducifólia (Heuser 2011).
• Flores: urceolada, com 5 estames; anteras pretas com odor agradável (Heuser
2011); hermafrodita, de 6 a 10 mm de comprimento e de 3,5 a 5 mm de largura,
de cor branca, ocorrendo em grande quantidade; perfeita, incompleta e de simetria
radial; fascículos de até 10 flores, situados na axila dos ramos; pedicelos de 2 a
Silvicultura Tropical

3 mm de comprimento; cálice petaloide, carnoso, formando longo tubo de base


larga; corola ausente; estames excertos, alternissépalos; ovário semi-ínfero,
tricarpelar, trilocular com um óvulo por lóculo, com estigma trilobado, expandido
(Santos 2008).
• Frutos: seco, do tipo cápsula anomalicida, tricoca, glabro, de textura crustácea,
castanho-escuro quando maduro, medindo de 4,5 a 6,5 mm de largura por 4 a 6 mm
de comprimento; deiscente, mericarpos livres entre si e da parede extremamente
fina do fruto, abrindo-se para liberação das sementes; com coloração castanho-
amarelada a marrom-avermelhada, brilhantes, ligeiramente obovados (Santos
2008) (Figuras 1b-d).
• Extrativos: apresenta quantidade significativa de extrativos em suas raízes,
também presentes no caule e folhas (Bastos & Moraes 1999).
• Outras características: as raízes têm nódulos resultantes da simbiose
com actinomicetos do gênero Frankia, responsáveis pela fixação de nitrogênio
atmosférico (D´Anbrogio & Medan 1993); adaptabilidade em ambientes onde o
solo não possui características favoráveis, como a presença de rochas e com regime
hídrico inferior à média (Tortasa 1989).

166
A B

Figura 1:
Floração (a), frutos

Colletia paradoxa (Spreng.) Escal. (RHAMNACEAE)


em diferentes
pontos de
D maturação na planta
(b), frutos maduros
em ramo (c) e
sementes de Colletia
paradoxa (d).

2. Tecnologia da madeira e dos produtos


não madeireiros
C. paradoxa possui valor econômico atual para uso como ornamental e planta medicinal
em substituição à quina-verdadeira, com propriedades febrífugas e tônicas (Bastos & Moraes
1999). Alguns elementos em seu extrato têm ação antimicrobiana, purgante e emulsionante
(Giacomelli 2005). É comercializada e largamente cultivada na Europa e nos Estados Unidos
(Burncoose 2018, Trionursery 2018). Os anéis de crescimento da madeira são aparentes, de
densidade média alta, devido ao seu crescimento lento e em condições adversas, como solos
rasos e pedregosos (Marzocca & Marthi 1951).

3. Tecnologia de sementes
3.1 Fenologia
A espécie leva de 2 a 3 anos para atingir a idade reprodutiva e iniciar a produção de flores
e frutos. Sua floração é abundante, como observado em alguns indivíduos no ambiente natural em
Palmas, PR (Figura 2).

167
Figura 2:
Acompanhamento
fenológico de
indivíduo de Colletia
paradoxa em
remanescente florestal
em Palmas, PR.

3.1.1 Floração
Silvicultura Tropical

O pico da floração é o mês de março, estendendo-se até abril, com florações ocorrendo
fora deste período de janeiro a outubro (DAnbrogio & Medan 1993). Na época da floração,
a espécie é muito visitada por abelhas e pequenos insetos, que atuam como agentes de
polinização (DAnbrogio & Medan 1993). Em indivíduos introduzidos na região de Campo Largo,
PR, verificou-se de uma a duas florações por ano.

3.1.2 Frutificação e colheita


A frutificação acontece a partir do mês de agosto, estendendo-se até dezembro, mês
em que os frutos estão maduros (DAnbrogio & Medan 1993). A coleta dos frutos pode ser
realizada com a ajuda de podão ou, para indivíduos de menor porte, com uso de tesoura de
poda, procurando-se causar o menor dano possível à planta. É recomendado o uso de luvas e
embalagem resistente, caso sejam coletados ramos, devido aos espinhos que a planta possui.

3.2 Produção de frutos e sementes


De forma geral, a produção de frutos e sementes por indivíduo é baixa. Cada fruto
apresenta entre 2 a 3 sementes, com comprimento e largura médios de 4,4 e 4,8 mm,
respectivamente (Tabela 1). As sementes medem, em média, 3,3 mm de comprimento e 2,22
mm de largura (Tabela 2). C. paradoxa apresenta 133.855 sementes por quilograma.

168
Tabela 1: Características biométricas dos frutos de Colletia paradoxa.
Número de Massa de
Comprimento Espessura
Largura (mm) Massa (g) sementes por sementes por
(mm) (mm)
fruto fruto (g)
Média 4,41 4,83 4,24 4,48 2,81 0,04
Desvio padrão 0,87 0,90 0,75 0,80 0,47 0,02
CV 19,75 18,66 17,82 17,78 16,62 56,33
CV: Coeficiente de variação (%).

Tabela 2: Características biométricas das sementes de Colletia paradoxa.


Comprimento Largura Massa
Espessura (mm)
(mm) (mm) (g)

Colletia paradoxa (Spreng.) Escal. (RHAMNACEAE)


Média 3,37 2,22 2,15 0,01
Desvio padrão 0,37 0,29 0,38 0,01
CV 11,09 13,21 17,82 47,23
CV: Coeficiente de variação (%).

3.3 Manejo de sementes


Para as verificar melhores técnicas na germinação e no manejo das sementes realizou-se um
delineamento experimental inteiramente casualizado com oito tratamentos, sendo cinco repetições com
20 sementes cada, mantidas em germinador Mangelsdorf em temperatura de 25°C e em câmara de
germinação BOD a 20°C. Foram testados vários fatores: quebra de dormência (escarificação mecânica),
maturidade de sementes (maduras ou imaturas), substratos e temperaturas (Sociedade Chauá 2020).
Devido a diversificação desigual de fatores nos tratamentos, os dados foram analisados por
meio de modelos lineares, ajustados para cada variável resposta (G, IVG, TMG). As análises foram feitas
no software R v.3.6.1 5. Considerou-se primeiramente os modelos que apresentaram normalidade e
homocedasticidade nos resíduos (verificadas visualmente nos gráficos). Modelos fora desse padrão,
e com a presença de outliers, foram transformados pela função Box-Cox. Na sequencia, para todos os
modelos, as médias foram estimadas e comparadas por meio do teste de contraste Tukey (p<0,05)
(Sociedade Chauá 2020) (Fig. 3).
Verificou-se que o melhor resultado foi o encontrado na temperatura de 25°C, utilizando-
se sementes provindas de frutos verdes. Os tipos de substratos testados não apresentaram
diferença significativa entre os testes. A quebra de dormência não se mostrou eficaz para
aumentar a germinação de forma significativa. A temperatura de 20°C se mostrou como um
fator altamente limitante da germinação (Sociedade Chauá, 2020).

169
Silvicultura Tropical

Figura 3: Germinação de Colletia paradoxa, de sementes provenientes de frutos com coloração distinta, conduzida
em diferentes substratos e temperaturas. Barras verticais representam intervalos de confiança de 95%. IVG: índice
de velocidade de germinação; Z: sincronia da germinação; TMG: tempo médio de germinação. Tratamentos: T1 -
sementes de frutos marrons, substrato papel, a 20°C; T2 - sementes de frutos marrons, substrato vermiculita, a 20°C; T3
- sementes de frutos marrons escarificadas mecanicamente, substrato papel, a 20°C; T4 - sementes de frutos marrons,
substrato papel, a 25°C; T5 - sementes de frutos marrons, substrato vermiculita, a 25°C; T6 - sementes de frutos marrons,
escarificadas mecanicamente, substrato papel, a 25 °C; T7 - sementes de frutos verdes, substrato papel, a 25°C; T8 -
sementes de frutos verdes, substrato papel, a 20°C.

Dessa forma, após a coleta, recomenda-se separar os frutos em duas categorias, de acordo com a
coloração: marrom e esverdeada, pois sementes provindas dos frutos esverdeados germinaram melhor
e em menor tempo do que as de frutos de coloração marrom. Após essa separação é recomendada a
secagem dos frutos em ambiente de laboratório por cerca de 5 dias. Quando os frutos estiverem secos
o suficiente, deve-se realizar o beneficiamento pressionando-os até que abram, mas com cuidado para
que as sementes não sejam danificadas. A retirada das impurezas pode ser feita com auxílio de peneiras.

3.4 Quebra de dormência


Não apresentou nenhum tipo de dormência, conforme os testes de germinação realizados,
porém, a informação deverá ser confirmada com estudos adicionais. Existe suspeita de dormência
tegumentar, pois uma espécie similar, Colletia spinosissima, apresenta essa característica (Sociedade
Chauá, 2020).

170
3.5 Armazenamento
As sementes da C. paradoxa são ortodoxas, tolerando secagem a baixos níveis de
umidade até 5% e temperaturas até -18°C (Johnston & Soares 1972). Para o armazenamento,
é necessária a diminuição do teor de umidade das sementes, podendo ser armazenadas em
embalagem plástica em geladeira comum.

4. Produção de mudas
4.1 Método de semeadura, estaquia e produção
A primeira etapa da produção de mudas de C. paradoxa é a seleção das sementes, sendo
preferível as imaturas. Posteriormente, é indicada a realização da semeadura em bandejas sementeiras,

Colletia paradoxa (Spreng.) Escal. (RHAMNACEAE)


preenchidas com 70% de terra preta e 30% de vermiculita. Não se recomenda a semeadura
diretamente em recipientes individuais, devido à falta de sincronização da germinação. A espécie
demonstra preferência por temperaturas medianas, germinando em porcentagem significativamente
maior quando em ambiente acima de 20°C. As mudas demonstram boa resistência à repicagem.
Recomenda-se realizar este procedimento quando as plântulas atingirem pelo menos 5 cm de altura,
pois se evita danos ao sistema radicular. Apesar da preferência da espécie por ambiente a pleno
sol, recomenda-se evitar excesso de
luminosidade nos primeiros 40 dias
após a repicagem, para período
de adaptação. A germinação, em
geral, inicia-se após uma semana,
podendo se estender até quatro
meses. Dessa forma, recomenda-se a
realização da repicagem das plântulas
periodicamente (Figura 4). Sugere-se o
uso de embalagem plástica individual
de aproximadamente 0,5 L. Quanto ao
substrato das embalagens individuais,
foi verificado crescimento satisfatório
com o uso de preparado comercial
de terra preta, composto orgânico e Figura 4: Plântulas de Colletia paradoxa repicadas
carvão vegetal, na proporção 7:2:1 com 2 meses

171
É possível realizar a propagação vegetativa da espécie por meio de estaquia. Para isso,
devem ser retiradas da planta-mãe estacas semi-lenhosas ou lenhosas, de aproximadamente 10
cm. As estacas podem ser fixadas, em uma profundidade próxima de 3 cm, em bandejas com
substrato poroso, composto por aproximadamente 67% de terra preta e 33% de vermiculita, ou
diretamente em embalagens plásticas de 14 x 20 cm, em que é indicada a utilização de terra preta,
composto orgânico e areia na proporção de 4:2:1. Observou-se um enraizamento lento.

4.2 Manejo
O melhor método para sua propagação é a semeadura em bandejas sementeiras, seguida
de repicagem para embalagens de aproximadamente 0,5 L e, posteriormente, de 10 L ,ou ainda,
plantadas diretamente no solo.
Indica-se que haja uma boa drenagem e que as irrigações sejam periódicas, devendo as
sementeiras permanecerem em local arejado à meia sombra.
C. paradoxa se mostra versátil, sendo tolerante a geadas e temperaturas de até -10°C
Silvicultura Tropical

(Burncoose 2018) e suportando estiagem e calor intenso (Rolston 1978). Em Campo Largo,
verificou-se bom crescimento e desenvolvimento, mesmo em solo pouco drenado.

5. Cultivo e atividades silviculturais


5.1 Sistema de plantio
O transplante das mudas maiores é simples, não ocasionando danos e apresentando
uma taxa de mortalidade mínima.
A propagação vegetativa da espécie via estaquia é outro método viável. Tem sido
praticada e bem-sucedida em alguns viveiros nos Estados Unidos e na Europa (Burncoose 2018,
Trionursery 2018). Contudo, o enraizamento pode levar até um ano.
Tanto em plantios quanto em vasos, pode ser realizada a poda dos galhos. A poda é bem
aceita, no entanto, pode prejudicar a floração se feita de forma inadequada e em época imprópria.
C. paradoxa é cultivada comercialmente em larga escala nos Estados Unidos e na
Inglaterra (Burncoose 2018).

5.2 Espaçamento
Considerando que a espécie tem um crescimento horizontal com copa irregular, o
espaçamento mínimo indicado para plantio de produção é de pelo menos 2 m entre plantas. Plantas

172
de aproximadamente 60 cm de altura devem ser cultivadas em vasos de no mínimo de 10 L para que
seu sistema radicular não seja prejudicado, tampouco seu desenvolvimento geral comprometido.

6. Potencial produtivo
No Brasil, a espécie é de importância pouco notável, levando em conta suas
características e beleza única (Souza & Lorenzi 2005). É muito utilizada na Europa como planta
ornamental em jardins, praças e em locais com circulação restrita de pessoas, por possuir
espinhos (Burncoose 2018).
Nos Estados Unidos, mudas com tamanho entre 12 e 18 cm de altura, são vendidas por
cerca de $ 50,00 (Trionursery 2018). Em viveiros na Inglaterra, a planta com o mesmo porte ou

Colletia paradoxa (Spreng.) Escal. (RHAMNACEAE)


pacotes com cinco sementes custam em média £ 15,00 (Burncoose 2018).

7. Patologia florestal
7.1 Doenças e pragas
Não foram identificadas doenças que afetam o desenvolvimento da planta.

8. Outras Informações
A espécie é rara na natureza, ocorrendo em pequenas populações e com distribuição
discreta. Esforços para a manutenção das populações naturais devem ser desenvolvidos para
a conservação de C. paradoxa, juntamente com ações relacionadas à produção comercial. A
grande ameaça para a espécie é a conversão de suas áreas de ocorrência natural em pastagens,
agricultura e reflorestamentos.
A Sociedade Chauá desenvolve, desde 2011, o projeto de Conservação de Espécies
Raras e Ameaçadas da Floresta com Araucária, e Colletia paradoxa é uma das espécies alvo
desta iniciativa. Por meio desse projeto, cadastrou-se 12 matrizes, para as quais se tem
acompanhamento fenológico e coleta de sementes, para fins de pesquisa, produção e plantios
de reintrodução da espécie na natureza.

173
9. Referências
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175
Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud
Valeria Ciriello
Engenheira agronoma, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP Botucatu.
Atualmente é sócia e Diretora da empresa Futuro Florestal, especialista em plantio de madeiras nobres.

Maria Kalyane Farias da Silva


Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); Mestranda em Produção
Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).

David Siqueira Pessanha


Engenheiro Agrônomo, graduação em Agronomia e mestrado em Produção Vegetal pela Universidade Estadual do
Norte Fluminense Darcy Ribeiro, doutorando em Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro.

Luciane Missae Sato


Bióloga, Mestre em Ciência florestal, ambos pela UNESP Botucatu. Atualmente é Doutoranda em Agronomia (Sistemas
de Produção - Genética, Melhoramento e Propagação de Plantas pela UNESP Ilha Solteira.

Fátima Conceição Marquez Piña-Rodrigues


Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),
Silvicultura Tropical

especialista em Produção e Tecnologia de Sementes pela Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS),
mestrado em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura Luis de Queiróz da Universidade de São Paulo
(ESALQ – USP), Doutorado em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e Pós Doutorado na
Universidade de Missouri (UMSL) e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Rio Douro (UTAD) em Ecologia Aplicada.
Professora Titular - Full Professor – UFSCAR- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - CAMPUS SOROCABA -
Departamento de Ciências Ambientais – SP.

Marcela Aparecida de Moraes 


Engenheira Agrônoma e mestre em  Sistema de Produção pela Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira/FEIS-UNESP.
Doutora em Sistema de Produção pela Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira/FEIS-UNESP.Pós Doutora em Fisiologia
Vegetal pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/FFCLRPUSP. Atualmente é professora celetista em
Melhoramento Vegetal e Florestal na Faculdade de Ciências Agronômicas/FCA - UNESP  marcela.apmoraes@gmail.com

Eduardo Ciriello
Engenheiro agronomo, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP Botucatu.
Atualmente é sócio e Diretor da empresa Futuro Florestal, especialista em plantio de madeiras nobres.

Deborah Guerra Barroso


Engenheira Agrônoma, graduação em Agronomia e mestrado em Agronomia pela Universidade Federal de
Lavras (UFLA), e doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(UENF). Atualmente é professora associada da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)

Miguel Luiz Menezes Freitas


Engenheiro Agrônomo, graduação em Agronomia pela Universidade de Taubaté (UniTau), mestrado em Sistemas
de Produção pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FEIS/UNESP) e Doutorado em Genética e
Melhoramento de Plantas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCAV/UNESP). É Pesquisador
Científico do Instituto Florestal de São Paulo, Coordenador do Grupo de Pesquisa em Conservação e Melhoramento
Genético de Espécies Arbóreas, revisor de diversas revistas científicas e professor das disciplinas de Conservação de
recursos genéticos vegetais (Programa de Pós-graduação em Agronomia da FEIS/UNESP) e Conservação e uso do
material genético de espécies arbóreas (Programa de Pós-graduação em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis da
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/Sorocaba)

176
1. BOTÂNICA

Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud é uma espécie arbórea caducifólia, de
ocorrência natural na América Latina, nas áreas tropicais e subtropicais do Brasil, Argentina
e Paraguai e Bolívia. No Brasil ocorre nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste Sudeste e
Sul, em áreas sob domínio de Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa (Stapf, 2015) e na
Amazônia (Bezerra, 2005).
É conhecida popularmente como louro-pardo, ipê-louro, louro-amargoso, frei-

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud


jorge, ajuí, amora-do-mato-alto (PR), cambará-uçú (SP), canela-batata (RJ, SP), canela-
branca-do-brejo, canela-louro (ES), canela-parda, capoeira (BA), cascudinho (SP), claraíba
(BA, SP), claraíba-parda (BA), folha-larga (SE), freijó (AL, BA, CE, DF), frejó (PE), jurutê (SP),
laurel (BA), louro (DF, ES, MG, MS, PR, RS, SP), louro-amarelo (RS), louro-amargoso, louro-
anhinha, louro-batata (RJ, SP), louro-branco (RS, SC, SP), louro-cabeludo, louro-cascudo,
louro-mutamba (BA), louro-negro (SC), louro-preto (RS), louro-verdadeiro, louro-da-serra
(PR, RS), louro-do-mato (RJ), louro-do-sul, louro-de-colar (BA), malvão (DF), maria-preta
(PR), mutamba (BA), pau-cachorro (SP), pereiro-malva (DF), peribi, peteribi. Na Argentina,
peterebi e loro negro (Carvalho 2002) e no Paraguai, peterevy (Carvalho 2002). Pertence à
família Boraginaceae, que compreende mais de duas mil espécies, dispostas em cerca de
100 gêneros, abrangendo plantas arbóreas, arbustivas e herbáceas. O gênero Cordia é um
dos mais importantes, contendo cerca de 250 espécies.
A árvore pode atingir de 8 a 35 m de altura e 40 a 100 cm de diâmetro a altura do
peito na idade adulta. Em condições naturais, pode atingir 13,78 m de altura e 15,69 cm de
diâmetro a altura do peito (DAP), aos 19 anos de idade (Freitas et al. 2006). Em plantios com
9 anos de idade, que receberam adubação e demais tratos culturais, a espécie atingiu 9,6 m
de altura e 18,2 cm de DAP (Radomski et al. 2012).
Seu tronco é reto, de seção cilíndrica a ovalada, com fuste bem definido, e casca
cinza-clara, com sulcos longitudinais (Figura 1), o fuste atinge de 10 a 15 m de comprimento
(Reitz et al. 1983). Apresenta ramificação monopodial quando jovem e dicotômica ou
simpódica quando adulta (Carvalho 2003a).
A copa é estreita em comunidades fechadas e em ambientes abertos apresenta maior
diâmetro.

177
Figura 1: Fuste de Cordia
trichotoma (Vell.) Arrab. Ex
Steud., aos 28 anos após o
plantio, na FLOE José Zago,
Trajano de Moraes, RJ. Foto:
Angêlo Roberto Zago.
Silvicultura Tropical

Figura 2: Folhas de Cordia trichotoma


(Vell.) Arrab. Ex Steud., de matriz em
teste de progênie em Linhares, ES.
Superfície adaxial (A) e abaxial (B).
Fotos: Ananda Virgínia de Aguiar.

178
As folhas são simples,
alternas, espiraladas, subcoriáceas,
com ápice acuminado. O pecíolo
é cilíndrico, delgado, piloso e
esbranquiçado (Lopes, 2020). Há
grande variação entre suas folhas,
havendo formas glabras e pilosas
(Freitas et al, 2006), com diferenças
também no tamanho e na tonalidade
(Figura 2). Possuem ramos e folhas
com presença variável (de escasso a

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud


abundante) de tricomas estrelados
(Figura 3) Figura 3: Ramo de um indivíduo de C. trichotoma em São
A inflorescência é cimoso- Manuel, SP, no ano de 2020. O aspecto aveludado  decorre
da densidade elevada de tricomas estrelados, característica
paniculada, terminal, constituída diagnóstica da espécie. Foto: Gabriel Mendes Marcusso.
por grupos de pequenas flores,
perfumadas e melíferas, de
coloração branca, que se tornam
posteriormente pardas, com
prefloração valvar simples (Figura 4).
A flor é pedunculada, hermafrodita,
isostêmone, com ovário súpero,
cálice gamossépalo de coloração
verde, assimétrico. É gamopétala,
pentâmera, actinomorfa, possuindo
desde sua base 1,5 a 2 cm de altura e
0,4 a 0,5 mm de largura. Apresenta
heterostilia, característica do gênero
(Gibs e Taroda, 1983; Felippi et al.
Figura 4: Flores de um indivíduo de C. trichotoma em
2012), o que garante reduzida taxa
São Manuel, SP, no ano de 2020. É possível observar nesta
de autofecundação. fotografia a coloração amarronzada na face abaxial das pétalas
de algumas flores, indicativo de senescência floral no evento
reprodutivo. Foto: Gabriel Mendes Marcusso.

179
O fruto é simples, seco, drupáceo,
cilíndrico, indeiscente e de coloração marrom.
É totalmente encerrado pelo tubo da corola e
pelo cálice persistente, encimado pela base
ampliada e estilete também persistente
(Figura 5). A persistência do cálice e da corola
marcescente, após o amadurecimento dos
frutos, auxilia na dispersão dos diásporos pelo
vento (Souza 2008; Felippe et al. 2012).
Figura 5: Frutos de Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. As sementes de louro pardo apresen-
Ex Steud. Foto: Deborah G. Barroso
tam formato cilíndrico, elipsoidal e ficam pre-
sas à parede do fruto pela base do estigma
(Figura 6), sendo dispersa a longas distâncias
(Felippi et al. 2012). Embora as sementes
Silvicultura Tropical

apresentem elevado teor de água elevado


após a colheita, acima de 50% (Felippi et al.,
2012; Berghetti et al., 2015), comum em se-
mentes recalcitrantes, são classificadas como
ortoxas, em função da tolerância ao desse-
Figura 6: Sementes de Cordia trichotoma (Vell.)
Arrab. Ex Steud, com cálice e estilete persistentes. camento (Galíndez et al., 2019). A produção
Foto: Deborah G. Barroso de sementes se inicia, em média, aos 4 anos
(Campos Filho e Sartorelli 2015).

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS
2.1. Madeira
O louro-pardo apresenta cerne e alburno distintos, sendo o cerne pardo-claro-amarelado,
uniforme ou com listas levemente escurecidas, e o alburno amarelo-pardacento, com superfície
lustrosa e levemente áspera ao tato, textura média, cheiro pouco acentuado e camadas de
crescimento pouco distintas (Cadermatori et al. 2009)
A madeira do louro-pardo é macia, com densidade que varia de 0,50 a 0,72 g.cm-³ .
Apresenta baixa resistência ao corte manual no plano transversal, comportamento de bom a

180
regular na operação de aplainamento, sendo fácil de trabalhar, com bom lixamento e corte lateral
por fresa (Rolim et al. 2018). É adequada também para confecção de peças envergadas, indicada na
confecção de móveis de luxo, revestimento decorativo, lâminas faqueadas, lambris, embarcações
leves, entre outros (Figura 7) (Cadermatori et al., 2009). Entretanto, apresenta comportamento
ruim em furações por brocas helicoidais e broca chata, podendo gerar arrancamento de fibras e
pequenos cavacos.

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud


Figura 7: Banco feito com madeira de desbaste de louro pardo produzidas pela empresa Tropical Ecowood em
Garça, SP. Peças produzidas com madeira de desbaste de louro pardo (design: Sérgio Cabral). Fotos: Rodrigo Ciriello

No processo de laminação, apresenta boas características físico-mecânicas e qualidade


de colagem, para a confecção de painéis compensados (Trianoski e Iwakiri 2018). A madeira
apresenta melhor performance mecânica quando comparada a madeira de Pinus e a adição de
10% da casca de C. trichotoma na produção de painéis de C. trichotoma ou painéis de Pinus,
proporciona incrementos na estabilidade, sem prejuízos para as propriedades mecânicas
(Trianoski et al. 2017).
Outra importante característica da madeira é a elevada resistência natural ao cupim
subterrâneo (Nasutitermes corniger Motsch.), assemelhando-se à madeira de jurema-preta
(Mimosa tenuiflora) e sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), em qualquer posição da madeira no eixo
casca-medula (Paes et al. 2007), isso demonstra aptidão também ao uso em ambientes externos.
Em levantamento realizado na região de Sooretama, ES, produtores rurais e comerciantes
apontam o uso de louro-pardo na confecção de móveis e esquadrias, para uso interno e obras
protegidas. Foi indicada para o mercado de móveis de luxo, assim como a Paratecoma peroba,
atingindo valor comercial semelhante ao do Handroanthus impetiginosus (Bonnet e Curcio, 2015).

181
2.2. Produtos não madeireiros
As espécies do gênero Cordia são amplamente estudadas em relação aspectos etnobotânic-
os e etnofarmacológicos, com importantes dados compilados na revisão de Matias et al. (2015), que
descreve a aplicação de compostos extraídos do cerne de C. trichotoma para fins antiinflamatórios,
cicatrizantes, anti-helmínticos, antimaláricos e diuréticos e no tratamento de doenças pulmonares,
infecções urinárias e hanseníase.
Os usos tradicionais e farmacológico de espécies do gênero Cordia foram avaliados por Oza
e Kulkarni (2017) e os autores observaram oito diferentes sesquiterpenos e fenilpropanóide na
madeira de C. trichotoma. Os autores ainda destacaram que fenilpropanóides, em geral, apresen-
tam propriedades antilarvais contra o Aedes aegypti, embora o isolado encontrado na madeira de
C. trichotoma ainda não tenha sido testado.
O óleo essencial extraído da madeira tem como principais componentes o α-cadinol e o
α-muurolol. O α-cadinol apresenta atividades antifúngicas e anti-deterioração da madeira (Wille et
al., 2017), o que pode explicar sua boa resistência.
Silvicultura Tropical

Por sua florada abundante e farta visitação de abelhas (Bezerra, 2005), tem elevado poten-
cial melífero, importante na composição de sistemas agroflorestais, representando a possibilidade
de exploração madeireira e não madeireira.

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1. Produção de sementes
O louro pardo apresenta floração anual, e o número de sementes por Kg pode variar de 20.000
a 56.100 unidades (Castiglioni, 1975; Lorenzi, 2002; Mendonça et al., 2001; Felippi et al., 2012; Souza
Junior e Brancalion, 2016), inciando a fase reprodutiva a partir do quinto ano após o plantio. Entretanto,
um dos problemas da espécie é o fato de não haver uma taxa de produção média anual, sendo esta
dependente das condições climáticas, hábito dos polinizadores, entre outros fatores (Zimmermann et al.
2017). As sementes da espécie, geralmente, são comercializadas com o cálice aderente.

3.2. Fenologia
O louro-pardo possui flores pequenas, brancas, perfumadas, com floração vistosa, que ocorre
em diferentes épocas, conforme as condições climáticas da região onde se encontra (Carvalho 2003a,
Palioto et al., 2007; Felippi et al., 2012; Vieira et al., 2013), demonstrando plasticidade fenotípica em
suas fenofases em função do meio.

182
No Rio Grande do Sul, o amadurecimento ocorre com os maiores índices pluviométricos.
Entretanto, o excesso de chuvas durante a floração prejudica o desenvolvimento inicial de frutos,
provocando queda dos botões florais (Felippi et al., 2012).
A antese de C. trichotoma ocorre por volta de 18:00h, em Rio Branco, AC, estendendo-se
por mais de vinte e quatro horas. Os atrativos florais incluem cor, forma, odor e inflorescências
terminais com grande quantidade de flores pequenas (Bezerra, 2005).
O polinizador efetivo da espécies observado no Acre, é a Ornidia obesa Fabricius, uma mos-
ca que é atraída pelo odor desagradável das flores após a antese, semelhante a matéria orgânica
no início de decomposição. Entretanto, o sistema de polinização é generalista, pois no início da
antese as flores apresentam odor adocicado, atraindo também Lepdopteros (mariposa e borboleta)
e Himenopteros (vespa e abelha). As abelhas (Tetragonisca weyrauchi Schwarz e Tetragona sp.) e

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud


dípteros (Palpada obsoleta Wiedemann e Palpada sp.) são polinizadores eventuais, carregando o
pólen e tocando estigmas durante as visitas (Bezerra, 2005).
No período de maturação dos frutos, a espécie apresenta desfolhamento, o que favorece
sua dispersão anemocórica.

3.2.1 Floração
Tabela 1: Época de floração de Cordia trichotoma, em diferentes Estados e Biomas brasileiros.
Meses do ano
UF Biomas
J F M A M J J A S O N D
Acre Amazônia
Bahia3 Caatinga
Rio Grande do Sul2 Mata Altântica
Paraná1 Mata Atlântica
1
Palioto et al., 2007;2Felippi et al., 2012; 3Vieira et al., 2013; 4Bezerra, 2005.

3.2.2. Frutificação
Tabela 2: Época de frutificação de Cordia trichotoma, em diferentes Estados e Biomas brasileiros.
Meses do ano
UF Biomas
J F M A M J J A S O N D
Acre Amazônia
Rio Grande do Sul2 Mata Altântica
Paraná1 Mata Atlântica
1
Palioto et al., 2007; Felippi et al., 2012.
2

183
Deve-se considerar que Toscan et al. (2017), analisando a produção de serapilheira e a chuva
de sementes em fragmento de Floresta Estacional Semidecidual do oeste do Paraná, com coletores
suspensos, observaram na fração de materiais reprodutivos da serapilheira, diásporos de Cordia Tri-
chotoma, em todos os meses, exceto dezembro e janeiro.

3.3 Colheita e Manejo de sementes


A colheita das sementes deve ser realizada diretamente da árvore, quando os diásporos
apresentam cor parda, com o perianto completamente seco, quando sofrem abscisão espontânea
(Figura 8). A colheita precoce resulta na inviabilidade das sementes, associada à coloração verde e
consistência tenra dos diásporos (Machado et al., 2015). A semente estará madura quando o fruto se
apresentar firme ao ser comprimido, ou quando intumescido.
Por apresentar forte capacidade de
brotação a partir de raízes superficiais, deve-se
tomar cuidado com a distância na colheita de
Silvicultura Tropical

sementes, evitando o acesso a clones de uma


mesma matriz.
Após a colheita, os frutos devem ser
separados dos galhos e secos ao sol ou à
meia sombra por sete dias. Após a secagem,
devem ser retirados o pedúnculo e pétalas
secas, por maceração ou esfregaço manual.
Essa operação também pode ser feita a partir
de um descascador escarificador, com alto
Figura 8: Diásporos de louro pardo no ponto de rendimento. O cálice permanece aderido ao
colheita. Foto: Valeria Ciriello.
fruto envolvendo a semente.
O percentual germinativo das sementes é superior quando é retirado todo o perianto
(Berghetti et al., 2015; Silva et al. np), favorecendo também sua desinfestação e possibilitando seu
estabelecimento in vitro (Fick et a. 2007).
As sementes de C. trichotoma não apresentam dormência física nem fisiológica, (Carvalho,
2003; Vaz et al., 2015; Galíndez et al., 2019), apresentando percentual de germinação acima de 70%
(Berghetti et al., 2015; Machado et al., 2015; Galíndez et al., 2019). Machado et al (2015) observaram
maior porcentagem de germinação e índice de velocidade de germinação dos diásporos sob 20 °C e
fotoperíodo de 12 h.

184
3.4 Armazenamento
O teor de umidade das sementes após a colheita é elevado, atingindo valores de 51,2
a 63,4%, com perianto (Felippi et al. 2012; Berghetti et al., 2015), e de 53,7%, com a retirada do
perianto (Berghetti et al., 2015), característica de sementes recalcitrantes. Entretanto, são tolerantes
à dissecação (<5% de umidade) e baixas temperaturas de armazenamento (-20 a 5oC), sendo
classificadas como ortodoxas (Galíndez et al., 2019).
As sementes maduras podem ser armazenadas por até quatro anos sem perda de viabilidade,
quando conservadas com teor de água reduzido (em torno de 8%) e em ambiente refrigerado (5°C),
pela redução da atividade fisiológica e bioquímica (Vaz et al. 2015).
A remoção do cálice floral e da corola marcescente favorece o armazenamento das sementes,
sendo eficazes para controle das pragas e melhoria da taxa de germinação. (Fleck et a. 2019)

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud


4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1. Propagação sexuada
A propagação comercial do louro-pardo é feita principalmente por sementes. A germinação
das sementes é do tipo epígea, com plântula fanerocotiledonar (Figura 9), com cotilédones arredon-
dados e bordas irregulares (Berghetti et al., 2015).
A espécie é tolerante à repicagem e recomenda-se 55% de sombreamento na fase inicial
(Zimmermann et al., 2017). A semeadura para posterior repicagem pode ser feita em areia.

Figura 9: Plântulas de Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud, com cotilédones foliáceos
expandidos, aos 21 dias após a semeadura. Fotos: Maria Kalyane Farias da Silva.

As sementes começam a germinar de 7 a 30 dias após a semeadura (Felippi et al. 2012; Da Ros
et al., 2015; Souza Junior e Brancalion, 2016; Galíndez et al. 2019), variando entre verão e inverno.

185
No viveiro da Futuro Florestal a repicagem é realizada quando as plântulas apresentam os
cotilédones abertos, com no máximo o primeiro par de folhas (Figura 10), com perdas pós repicagem
de no máximo de 15% (Valeria Ciriello, dados não publicados).

Figura 10: Mudas de louro pardo com


20 dias após repicagem, no Viveiro Futuro
Florestal – Garça, SP. Foto: Valeria Ciriello.

A semeadura ou repicagem devem ser realizadas em recipientes com volume de no mínimo 120
Silvicultura Tropical

cm3 (Malavasi e Malavasi, 2006). Os autores avaliaram as mudas produzidas em recipientes de diferentes
volumes (50 a 300 cm3) e observaram aos seis meses após o plantio em sítio com boa fertilidade, não havia
mais as diferenças biométricas apresentadas na expedição de mudas produzidas em recipientes com vol-
umes que variavam de 120 a 300 cm3. Deve-se considerar, entretanto, que o trabalho foi conduzido com
ciclo de produção das mudas de apenas três meses e que ciclos maiores devem ter recipientes compatíveis,
evitando restrição radicular, suberização das raízes e comprometimento do desempenho pós plantio.
Ciclo de produção de 3 a 4 meses resultam em mudas, com aproximadamente de 15 a 25 cm
de altura e diâmetros do colo maior que 2 mm (Souza Junior e Brancalion, 2016).

Figura 11: Mudas de louro pardo prontas para o plantio em tubetes (A) e embalagem rocambole (B), no Viveiro
Futuro Florestal – Garça, SP. Fotos: Valeria Ciriello.

186
No viveiro da Futuro Florestal, as mudas são mantidas à sombra nos primeiros 60 a 90 dias,
conforme condições climáticas e depois passam pela fase de rustificação por mais 60 a 90 dias. As
mudas são produzidas em tubetes de 200 cm3 e atingem 30 cm de altura em média neste tempo de
produção, conforme pode ser observado na Figura 11 (Valeria Ciriello, dados não publicados).
A escassez ou o excesso de água durante a fase de viveiro é prejudicial para as mudas e para a
otimização do processo produtivo. Para ciclos de seis meses, de mudas produzidas em recipientes de
110 cm3, Kelling et al. (2017) recomendaram aplicação de lâminas água de 4mm.dia-1 nos primeiros
60 dias e, em seguida, 8mm.dia-1 (até os 180 dias). Os autores sugerem ainda o uso de polímero
hidro retentor no substrato, entretanto, as lâminas de irrigação devem ser ajustadas, para garantir a
manutenção da disponibilidade de água, sem excessos e redução de oxigenação.
Mudas de louro pardo são responsivas à adubação dom P e K, sendo importante verificar a

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud


necessidade de complementação em substratos pobres. Berghetti et al. (2019) obtiveram mudas com
maior crescimento e desempenho fotossintético, com a aplicação de 450 mg dm-3 de fósforo e 50 mg
dm-3 de potássio, em substratos com baixa fertilidade e baixa saturação por bases.
A rustificação das mudas ainda no viveiro é também uma etapa importante para melhoria do
desempenho após o plantio no campo, onde as mudas enfrentam condições adversas de clima e solo.
Nesse sentido, Cadorin et al. (2015) avaliaram técnicas para rustificação de mudas de C. trichotoma e
verificaram que a aplicação de metil jasmonato ou mesmo a submissão das mudas a flexões caulin-
ares, ambos durante 8 semanas, foi suficiente para melhoria da rustificação e melhoria no crescimen-
to inicial após plantio no campo.

4.2. Propagação assexuada


A propagação vegetativa é uma ferramenta importante para a multiplicação de forma
rápida de indivíduos superiores, e garante, também, a produção de mudas em diferentes períodos
do ano, sendo a estaquia e a miniestaquia as técnicas mais utilizadas para a propagação vegetativa
comercial de espécies florestais.
No entanto, há limitações quanto à produção de mudas de C. trichotoma por estaquia e
miniestaquia, mesmo quando o material vegetativo é juvenil, em função do baixo percentual de
enraizamento, mesmo com uso de reguladores de crescimento (Faganello et al., 2015; Kielse et
al., 2015; Somavilla, 2018). Embora o percentual de enraizamento de miniestacas semilenhosas
tenha sido crescente com o aumento da concentração de AIB a que foram submetidas antes do
estaqueamento (Faganello et al., 2015), o máximo percentual atingido foi inferior a 30%.

187
É possível realizar a propagação vegetativa de louro-pardo por meio de estacas de raízes,
tendo sido testada a técnica a partir de raízes de matrizes com 3 anos de idade. O enraizamento é
influenciado positivamente pelo uso de AIB, com incrementos percentuais observados com o aumento
das concentrações até 30 mM, (maior concentração avaliada pelos autores), com imersão da base por 10
segundos. São indicadas estacas basais e medianas, de 3 a 5 cm (Kielse et al., 2013).
Embora materiais juvenis tenham maior habilidade de enraizamento, miniestacas de louro par-
do, provenientes de minicepas produzidas por estaquia de raízes de árvores com três anos (provenientes
de KIELSE et al., 2013) apresentaram maior percentual de enraizamento (38%), número e comprimento
de raízes que aquelas provenientes de minicepas produzidas por sementes (1,6%), o que atribuíram
ao fato de que as minicepas obtidas por miniestaquia radicular representam materiais genéticos com
capacidade de enraizamento adventício (Kielse et al., 2015).
Testes vêm sendo realizados no Setor de Silvicultura, da Universidade Estadual do Norte Flumin-
ense, visando à propagação vegetativa de indivíduos selecionados de C. trichotoma em teste de progênie
conduzido por pesquisadores da EMBRAPA Florestas, no âmbito do projeto Biomas, após sete anos do plan-
Silvicultura Tropical

tio no campo. O trabalho visa à produção de mudas a partir da indução de brotações em ramos da copa
(Figura 12). Os primeiros resultados indicaram que a espécie apresenta boa capacidade de brotação (Figura
13), porém com variação quantitativa entre as matrizes (Silva et al. 2019). O número de brotações varia de
1,18 a 5,49 brotações por dm2, mas as estacas confeccionadas a partir delas (Figura 14) apresentam percen-
tual de enraizamento inferior a 5%, o que justifica a continuidade das pesquisas para viabilizar esta forma
de multiplicação de materiais selecionados e a homogeneidade dos plantios comerciais (Silva et al. np).

Figura 12: Coleta de galhos em copa de Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud, aos 7 anos
após o plantio (A), e galhos seccionados, separados por matriz. Fotos: David Pessanha Siqueira.

188
Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud
Figura 13: Brotação em galhos de copa de de Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud, coletados
aos 7 anos após o plantio, dispostos em câmara de nebulização intermitente. Fotos: David
Pessanha Siqueira (A) e Maria Kalyane Farias da Silva (B).

Figura 14: Miniestacas produzidas a partir das brotações epicórmicas induzidas em galhos
de copa de de Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud (A) e muda com um ano após o
estaqueamento, com 40 cm de altura (B). Fotos: Maria Kalyane Farias da Silva.

A propagação vegetativa in vitro da espécie mostrou-se viável a partir de explantes nodais


de 2cm de comprimento, excisados de mudas de louro pardo, aos seis meses após a semeadura
(Mantovani et al., 2001). Os autores observaram boa taxa de multiplicação e alongamento de
brotações em meio WPM, suplementado com BAP e GA3, e alto percentual de enraizamento destas
brotações (>70%) com o uso de Ácido Indol-3-Butírico 0,5 mg.L-1 e Carvão Ativado 1,5 g.L-1.

189
5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
Por ser uma espécie alógama e apresentar grande variabilidade em diferentes características
fenotípicas, entre e dentro de populações, o louro-pardo apresenta grande potencial para
melhoramento genético da espécie, visando atender diferentes demandas.
Em teste com 22 progênies, instalado em Luiz Antônio-SP, provenientes de matrizes
localizadas em Bauru, Freitas et al. (2006) observaram aos 19 anos após o plantio variabilidade de
características herdáveis, indicando a importância da seleção dentro de progênies, com estimativa de
ganhos genéticos expressivos para DAP e volume, sem alteração no número de progênies, garantindo
assim a manutenção da base genética.
Em talhão puro de louro-pardo, na FLOE José Zago, em Trajano de Moraes, a avaliação aos 23
anos após o plantio também expressou alta variabilidade no crescimento da espécie, com valores de
DAP variando de 3 a 28 cm e altura estimada de 3,2-17,8 m (Barroso et al. 2018).
No plantio de louro-pardo em linhas, na composição de sistema silvipastoril, Radomski et al.
(2012) descreveram grande variação nas características de crescimento da espécie, que se acentuam
Silvicultura Tropical

com o aumento da idade.


Estudos vêm sendo conduzidos na EMBRAPA Florestas, relacionados à produtividade,
adaptabilidade e estabilidade de progênies de Cordia Trichotoma em dois solos de diferentes
texturas. O autor observou diferenças significativas (p<0,01) entre as progênies para todos os
caracteres quantitativos avaliados nos dois tipos de solo, inferindo sobre o potencial de exploração
em programas de melhoramento genético, por meio da seleção direta ou indireta. Além de detectar
variação genética considerável, principalmente em altura e diâmetro a 1,30 m do solo, nos dois locais
de implantação, indicando também a possibilidade de ganho de seleção para estes caracteres. Os
coeficientes de variação genética e herdabilidade, principalmente em nível de média de progênies,
evidenciaram alto controle genético (Santos, 2018).

6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


6.1. Sistema de plantio
A espécie apresenta taxa de crescimento relativamente alta e capacidade de alterações
plásticas na arquitetura hidráulica, bem como o aumento na eficiência de transporte de água
em função da disponibilidade de luz com a abertura do dossel, ainda que isso não seja um
fator limitante, o que a torna mais competitiva em clareiras e locais abertos (Campanello et al.,
2008), sendo indicado para processos iniciais de restauração, plantios mistos e em plantios de
enriquecimento, agregando valor econômico, pela valorização de sua madeira no mercado.

190
Montagnini et al (1997) observaram alto percentual de sobrevivência da espécie em
diferentes áreas sob enriquecimento na província de Missiones, Argentina. Embora a espécie tenha
apresentado crescimento mais lento que outras 10 espécies nativas introduzidas em quatro sítios
de mata secundária. O enriquecimento foi feito em faixas, cuja disposição variou com o relevo da
área. As faixas foram abertas com 2 m de largura e espaçamentos que variaram de 8 a 25 m, sendo
plantadas mudas de mais de 60 cm de altura, a cada 5 m. Os autores destacaram o fato de que
a capina necessária para o estabelecimento inicial das mudas e manutenção do enriquecimento,
favoreceu também a regeneração natural, sendo identificadas 11 espécies de interesse econômico
nas linhas de C. trichotoma.
Por ser caducifólia e permitir a entrada periódica de luz na área, seu consorcio em sistemas
agroflorestais pode apresentar interações positivas com outras espécies, sendo necessários estudos

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud


sobre práticas de manejo que permitam a sincronia adequada para o compartilhamento de recursos
entre os componentes do sistema.
Em consórcio com erva-mate (2,5x1,5m) e outras espécies madeireiras 6,0x7,5m, inseridas
nas linhas do erval), Baggio et al. (2011) observaram que a arborização foi positiva para os ervais
e destacaram o maior crescimento de C. trichotoma, com relação às demais espécies (Peltophorum
dubium, Parapiptadenia rigida, Cabralea canjerana, Patagonula americana e Handroanthus
heptaphyllus). Observada a necessidade
de intervenção no manejo, em função da
grande população arbórea utilizada, foram
realizadas operações de poda e desbaste
seletivo, aos 5 anos após o plantio, com
redução de 30% das árvores.
De forma geral, plantios
consorciados devem ser avaliados de
forma contínua, com intervenções
realizadas conforme o comportamento
dos componentes, garantindo a máxima
rentabilidade do sistema. Na Figura 15
pode-se observar o louro-pardo em plantio
consorciado com Zeyheria tuberculosa,
Figura 15: Detalhe do fuste de Cordia trichotoma Colubrina glandulosa e Cariniana legalis,
(Vell.) Arrab. Ex Steud, aos cinco anos, em plantio
misto, no município de Garça-SP. Foto: Valeria Ciriello. para produção madeireira.

191
6.2. Espaçamento
Em um plantio homogêneo de C. trichotoma em espaçamento 3x3m, observou-se sobre-
vivência de 95.9% dos indivíduos aos 17 anos de idade. No mesmo plantio, avaliações biométricas
realizadas aos 21 anos revelaram em média, em média, 12 m de altura e 13 cm de DAP (Barro-
so et al. 2018), com alta variabilidade, anteriormente abordada (Item 5). O reduzido crescimento
diamétrico da espécie, indica a importância de testar plantios em espaçamentos maiores, associa-
do aos trabalhos de seleção e melhoramento. Destaca-se o fato que o plantio nunca recebeu tratos
culturais e silviculturais e foi realizado em área de pastagem degradada.
Práticas silviculturais como o desbaste seletivo ou o corte final da madeira de C. trichotoma
podem ser realizados, visando o incremento em altura e/ou diâmetro das árvores remanescentes.
O uso de espaçamentos maiores no plantio de materiais selecionados, podem também favorecer o
crescimento da espécie e retardar a necessidade de intervenções, entretanto.

6.3. Adubação
Silvicultura Tropical

A espécie mostrou-se responsiva a adubações com K e P na fase de viveiro (Berghetti et al.,


2019), mas não há pouca informação sobre adubações de base e cobertura para a cultura no campo.
Radomski et al. (2012) observaram efeito positivo sobre o crescimento das mudas de lou-
ro-pardo com adubação de plantio utilizando adubo orgânico e mineral, com aplicação de 5 L de
esterco de gado e 100 g de NPK nas formulações: 5-25-25 ou 2-25-25.
Também Antonelli et al. (2015), em sistema silvipastoril, observaram incremento no cresci-
mento em altura e diâmetro de colo e de copa, com o aumento de doses de N, P e K. O adubo foi
aplicado em covetas laterais no segundo mês após o plantio. O aumento foi observado até as doses
de 99, 66 e 27 g planta-1, de N, P2O5 e K2O, respectivamente.
Apesar das poucas informações sobre práticas de adubação e demandas nutricionais da espécie,
em estudo realizado por Sanchez et al. (2013), onde são analisadas variações na composição de espécies
arbóreas ao longo de um gradiente altitudinal (2, 100, 300, 600 e 1000 m), em uma encosta da Mata
Atlântica no sudeste do Brasil, C. trichotoma foi identificada em um único estrato (300 m de altitude),
com densidade de 6 indivíduos ha−1. A análise realizada no solo das diferentes faixas indica que longe
dos extremos, onde foram identificados indivíduos de louro-pardo, os solos são mais ricos em nutrientes
minerais e apresentam suprimento de água equilibrado, com riqueza de espécies e dossel formado por
árvores mais altas. Os valores descritos na faixa de 300m foram: 5,3 mg.dm-3 de P; 69,7 mg.dm-3 de K;
0,77 cmolc.dm-3 de Ca; 0,41 cmolc.dm-3 de Mg; 4,6% de matéria orgânica; e pH 4,1; 58, 18 e 23% de
areia, silte e argila, respectivamente.

192
Estas informações podem servir de base para nortear estudos sobre as demandas nutricionais
da espécie para fins de produção.

6.4. Preparo do solo e plantio


A relação entre características ambientais em diferentes altitudes e o crescimento de C.
trichotoma foi avaliada por de Souza et al. (2019) em uma área de Floresta Atlântica, no Paraná.
A espécie apresentou maior crescimento diamétrico em altitudes mais elevadas (>600m), onde
a fertilidade do solo é reduzida. Entretanto, os solos das regiões mais altas apresentaram melhor
drenagem, alta precipitação e umidade relativa durante a estação seca. Este estudo sugere que
a espécie pode não ser exigente nutricionalmente, entretanto, a escolha da área de plantio deve
priorizar solos bem drenados, característica também observada por Sanchez et al. (2013).

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud


Santos (2018) verificou sobrevivência de C. trichotoma superior a 80% até o quarto ano após
o plantio, entretanto, a sobrevivência foi maior em solo argiloso em comparação a um solo arenoso.
O plantio do louro pardo é feito por mudas, recomendando-se covas com pelo menos
20x20x20 cm em áreas de Latossolo Vermelho-escuro (Radomski et al., 2012). Como nos demais
plantios florestais, deve-se priorizar o cultivo mínimo, utilizando-se escarificador, para romper
camadas de impedimento nas linhas de plantio, ou brocas para abertura das covas.

6.5. Recomendações e tratos culturais


É importante manter o coroamento das plantas após o plantio, uma vez que, sendo heliófita,
a espécie responde ao aumento da luminosidade, o que favorece seu estabelecimento e crescimento
inicial, em especial em áreas de enriquecimento, onde a limpeza das faixas de plantio deve ser
mantida nos primeiro anos (Montagnini et al. 1997).
Sua capacidade de rebrota permite a condução de novo fuste após o corte, entretanto, não há
informações sobre este manejo para a espécie, sendo importantes estudos para avaliar a possibilidade
de condução de plantios de louro-pardo por talhadia.
Considerando a heterogeneidade descrita por diferentes autores (Freitas et al. 2006; Radomski
et al., 2012; Barroso et al.; 2018; Santos et al. 2017; Santos, 2018), os plantios comerciais de louro-
pardo, em especial aqueles implantados a partir de mudas produzidas por sementes, devem ser
implantados em espaçamentos mais adensados, para posterior desbaste seletivo. Não há na literatura
informações sobre a resposta da espécie aos desbastes e a capacidade de retomar incrementos após a
estagnação. Observa-se, no entanto, que mesmo aos 21 anos após o plantio em espaçamento 3x3m,
sem nenhum tipo de trato silvicultural, a espécie apresentou capacidade de incremento, ainda que

193
pequena, nos últimos 4 anos avaliados por Barroso et al. (2018), sendo importantes estudos de desbaste
para a cultura.
Em condições de plantios menos adensados, com maior incidência de luz, o louro-pardo pode
apresentar pequena ocorrência de galhos na parte mais baixa do fuste, o que não ocorre ou é menos
intenso em plantios adensados ou de enriquecimento (Radomski et al., 2012).
Considerando a importância econômica de sua madeira, a realização de desramas é impor-
tante para aumentar a qualidade da mesma, pela redução do núcleo nodoso. Em sistemas agroflor-
estais, essa prática deverá ser também realizada na copa, ao logo do crescimento da espécie, de forma
sincronizada com as demandas dos demais componentes do sistema. Entretanto, não há informações
sobre a época ideal para o início desta prática, intensidade e frequência ao longo do ciclo da cultura,
nos diferentes sistemas de cultivo.
Radomski et al. (2012) realizaram a poda de árvores de louro-pardo plantadas em linha, em
sistema silvipastoril, com sete e nove anos de idade, retirando 50% da copa, não havendo ainda infor-
mações de seu efeito sobre a qualidade da madeira.
Silvicultura Tropical

7. POTENCIAL PRODUTIVO
O louro pardo possui boa forma do fuste e madeira de ótima qualidade, além dos extrativos
que possuem excelente valor comercial. Entretanto ainda são poucas as informações sobre a con-
dução silvicultural da espécie e seu potencial de produção.
No plantio de C. trichotoma em linha, sob sistema silvipastoril, Radomski et al (2012) obti-
veram, aos 10 anos após o plantio, árvores com altura média de 9,6 m e diâmetro médio de 18,2
cm, com incremento médio anual de 1,82 cm.
Aos 17 anos após o plantio em sistema puro e consorciado, Santos et al. (2017) obtiveram
média de diâmetro de 12,8 cm para a espécie, entretanto, com variação de 4 a 26 cm, indicando
grande heterogeneidade dos plantios, o que destaca a necessidade de seleção de materiais para a
implantação de povoamentos produtivos.
Em arborização de ervais no Rio Grande do Sul, o louro-pardo se destacou entre as espécies
madeireiras inseridas, apresentando aos nove anos após o plantio realizado juntamente com a er-
va-mate, 75% dos indivíduos com DAP maior que 20cm e 15%, com DAP maior que 30 cm (Baggio
et al., 2011), crescimento superior aos trabalhos citados de plantios mais antigos.
Em teste de progênie com 19 anos Freitas et al (2006) obtiveram DAP médio das progênies
variando de 13 a 20,25 cm, altura de 10,5 a 14,9 m e volume estimado de 0,10 a 0,25 m3/árvore.

194
Um plantio homogêneo de C. trichotoma, realizado com mudas seminais em espaçamento 3x3m
apresentou, aos 17 anos, qualidade do fuste de 3.29 em uma escala de 0 a 5 que considera de-
feitos, tortuosidades e ramificações no fuste (Barroso et al. 2018)
A inserção do louro-pardo em plantios mistos para recuperação de áreas degradadas, recom-
posição de reserva legal e sistemas agroflorestais, além de agregar valor econômico direto, pode
agregar funcionalidades ambientais vantajosas, que devem ser potencializadas por práticas de mane-
jo adequadas.
O preço do metro cúbico da madeira serrada no mercado doméstico está entre U$900 a U$1.200
segundo dados do IBF1, que sugere rotação aos 30 anos para a espécie, com práticas de desbaste duran-
te a condução dos plantios. Segundo Carvalho (2003b), o primeiro corte pode ser realizado aos 15 anos.
Em cotações realizadas no estado de São Paulo2, a madeira serrada seca em estufa de Cordia

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud


goeldiana, que é semelhante à do Louro pardo, tem o metro cúbico comercializado por R$4.500,00,
com diversas dimensões. Neste levantamento não foi encontrada madeira de louro-pardo disponível
para comercialização.

8. PATOLOGIA FLORESTAL

Os frutos de louro-pardo são atacados por Amblycerus longesuturalis e A. profaupar
(Chrysomelidae: Bruchinae), cujas fêmeas depositam ovos entre o cálice marcescente e o fruto, e as
larvas perfuraram o tegumento para consumirem as reservas das sementes, danificando o embrião
e afetando significativamente a germinação. Estas larvas são parasitadas pelos himenópteros dos
gêneros Bracon, Mirax, Omeganastatus e Triapsis (Fleck et al., 2019).
As plantas podem ser atacadas pelo percevejo Dictyla monotropidia (Stal), Hemiptera, da
família Tingidae, que sugam as folhas, causando amarelecimento, escurecimento e queda. A desfol-
ha reduz o ritmo de crescimento, podendo levar à morte da planta (THOMAZINI e RIBEIRO, 2009). A
adoção de plantios mistos pode reduzir a incidência da praga.
Foi descrita a presença de fungos dos gêneros Alternaria spp., Trichoderma spp. e Rhizopus
spp. em sementes (Berghetti et al., 2015), sendo recomendado pelos autores o tratamento das mes-
mas com Captan (480g L–1 de N-triclorometiltio-4-ciclo-hexeno-1,2-dicarboximida), na dosagem

1 Instituto Brasileiro de Florestas (https://www.ibflorestas.org.br/conteudo/conheca-as-6-especies-nativas-resistentes-a-geadas-para-a-


producao-de-madeira; Acesso em 24/06/2020.

2 Informação: Rodrigo Ciriello - Futuro Florestal (2020). U$1.00 = R$5,30.

195
0,18 g 100 g–1 de sementes. Os autores observaram também a presença de Fusarium spp. em 78,1%
das sementes avaliadas, independente do beneficiamento. Esse fungo é transmitido via semente
para plântulas, causando lesões nas raízes, que evoluem para o colo e causam tombamento.
Nos meses que antecedem o inverno, no município de Dois Vizinhos, PR, Antonelli et al. (2015)
observaram a ocorrência de uma bacteriose foliar nas plantas de louro-pardo (patógeno não identifica-
do). As plantas apresentaram parte das folhas com manchas escuras e processo acentuado de abscisão.

9. OUTRAS INFORMAÇÕES

As árvores de C. trichotoma foram classificadas como uma das mais utilizadas por macacos
(Cebus apella nigritus), como sítio para dormir, no Parque Nacional Iguazú, Argentina (Di Bitetti et al.
2000), devido à arquitetura de sua copa. Este fato reforça a importância de manter a espécie conser-
vada em ambientes naturais, contribuindo com o equilíbrio do ecossistema.
As inflorescências do louro pardo são habitadas por formigas do gênero Pseudomyrmex
Silvicultura Tropical

(Bezerra et al., 2005).

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201
Curitiba prismatica (D.Legrand)
Salywon & Landrum (MYRTACEAE)
Pablo Melo Hoffmann
Engenheiro Florestal, graduação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutorando em
Ciências Florestais (UFPR). Atualmente Diretor Executivo da Sociedade Chauá e Coordenador
do Viveiro Chauá de espécies nativas da Floresta com Araucária.

Elivelton Marcos Gurski


Engenheiro Florestal, graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Mestrando
em Conservação da Natureza pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente
Diretor Técnico da Sociedade Chauá, atuando em trabalhos e pesquisas na área de
conservação da natureza e silvicultura de nativas da Floresta com Araucária.

Caleb de Lima Ribeiro


Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), Mestrando pelo PPG da Botânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS).
Silvicultura Tropical

Santiago José Elías Velazco


Engenheiro Florestal, graduação pela Facultad de Ciências Forestales, Universidad Nacional
de Missiones, e Pós-graduação em Engenharia Florestal, nível Mestrado e Doutorado pela
Universidade Federal do Paraná. Atualmente é pesquisador pós-doutoral no Instituto de
Biologia Subtropical (UNaM-CONICET, Argentina).

Jeniffer Grabias
Bióloga, graduação Bacharel em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Autônomo
do Brasil (Unibrasil). Mestre em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Atua como consultora em conservação da natureza na Sociedade Chauá.

Mariana Bensberg Alves Guedes


Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR). Atua como técnica florestal na consultoria Grupo INDEX.

Marília Borgo
Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, Mestrado em Botânica e Doutorado em
Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é especialista
em Serviços Ambientais da The Nature Conservancy, trabalhando com desenvolvimento e
implementação de projetos florestais de carbono e suporte a estratégias de pagamento por
serviços ambientais.

1. Botânica
1.1 Distribuição
A espécie ocorre no bioma Mata Atlântica, na Floresta Ombrófila Mista (Siminski et al. 2011,
Salywon & Landrum 2007), alcançando zonas de tensão com a Floresta Estacional Semidecidual

202
(Ferreira Junior& Vieira 2014). Curitiba prismatica é uma espécie florestal típica de sub-bosque,
principalmente nas florestas em estágio médio e avançado na formação Montana (Siminski et al.

Curitiba prismatica (D.Legrand) Salywon & Landrum (MYRTACEAE)


2011). Ocorre nos Estados de Santa Catarina, no planalto norte catarinense e no Paraná, distribuindo-
se no Primeiro e Segundo Planaltos (Salywon & Landrum 2007). Neste último estado é encontrada
de maneira significativa no perímetro de São Mateus do Sul e municípios próximos. A espécie se
desenvolve em clima tipo Cfb de Köppen (Hanisch et al. 2010, Rode et al. 2010, Watzlawick et al.
2011). É encontrada na faixa altitudinal de 750 a 1.050 m s.n.m. (Salywon & Landrum 2007), em
áreas de Latossolo Vermelho (Hanisch et al. 2010, Greiner et al. 2011), Cambissolo Háplico Distrófico
e Argissolo Vermelho-Amarelado Distrófico (Albuquerque2015). Sua distribuição foi correlacionada
com aspectos químicos do solo, como teor de Cálcio, de Potássio e de Magnésio (Albuquerque 2015).

1.2 Nome científico


Curitiba prismatica (D.Legrand) Salywon & Landrum, de sinonímia botânica Eugenia
prismatica D.Legrand, é a única espécie que representa o gênero (Salywon & Landrum 2007, Brazilian
Flora Group 2015), diferenciando-se dos outros gêneros de Myrtinae por possuir embrião em forma
de “C”, tegumento ósseo, hipanto e frutos angulosos tetrâmeros (Salywon & Landrum 2007).

1.3 Nome comum


C. prismatica é conhecida popularmente como cerninho, murta, guajissara, murta-do-mato,
caviúna, quebra-machado e guabirobinha-angulosa (Lorenzi 1998, Barbieri & Heiden 2009).

1.4 Nível de ameaça de extinção


Segundo a avaliação de status de ameaça pelo CNCFlora em parceria com Sociedade Chauá,
apurada em 2018, que seguiu critérios e métodos baseados no que determina a International
Union for Conservation of Nature (IUCN), C. prismatica está classificada como “Em perigo” (EN)
(CNCFlora, dados não publicados). Ribeiro & Blum (2018), seguindo metodologia semelhante,
também avaliaram C. prismatica como EN. Segundo esses autores, tal enquadramento se deve
ao efeito do impacto da perda de habitat associado à fragmentação das subpopulações, e a
distribuição geográfica reduzida.
Estima-se que a Floresta Ombrófila Mista (FOM) possua atualmente apenas 3% de
floresta remanescente, o que é agravado quando se constata que somente cerca de 0,7% se
encontra em estágios avançados (Castella & Britez 2004), condição considerada preferencial
para C. prismatica (Salywon & Landrum 2007, Siminski et al. 2011).

203
Em algumas situações a espécie é vista como um problema para o manejo de plantios de
Ilex paraguariensis A. St.- Hil. (erva-mate), além de outras atividades que envolvem o manejo de
vegetação natural (Mello & Peroni 2015).

1.5 Porte e características botânicas


• Hábito: árvore ou arbusto de 1 a 12m de altura; com ramos achatados, lisos ou com
descamação em lâminas finas; ramos jovens pouco a densamente pubescentes, de
coloração acastanhada, tornando-se glabrescentes e de coloração marrom-acinzentada
(Salywon & Landrum 2007).
• Folhas: opostas, cartáceas a submembranáceas, ligeiramente discolores e densamente
cobertas por pontuações translúcidas; com lâminas elípticas, de 2-5,8 x 1-3,2 cm; de
margem plana; ápice agudo a acuminado; de base cuneada a acuminada; com nervura
central sulcada, glabra ou esparsamente pubérula, com tricomas simples, apressos na face
adaxial e salientes na face abaxial; apresentando nervuras laterais 6-9, impressas em ambas
Silvicultura Tropical

as faces; nervura marginal distante 1-1,8 mm da margem; pecíolos densa a esparsamente


pubérulos, acanalados, de 2-4 x 0,8 mm (Salywon & Landrum 2007) (Figura 1a).
• Flores: axilares, solitárias ou em pares, em ramos bracteados de 2(-5) mm; pedúnculos
achatados de 3-13 x 0,5 mm; botões piriformes, com (3-) 4-5 mm de comprimento e 2,5
mm de diâmetro; lobos do cálice 4, orbiculares, de 1,5-2 x 1,5-2 mm; hipanto 4-angulado,
com 1,5-2 mm (Salywon & Landrum 2007).
• Frutos: escuros, oblanceolados a oblongos, 4-angulados, com 12-19 x 5 mm (Lorenzi
1998, Salywon & Landrum 2007) (Figura 1b).

A b

Figura 1: Detalhe das folhas e do fruto imaturo (a) e maduro (b) de Curitiba prismatica.

204
2. Tecnologia da madeira e dos produtos
não madeireiros
2.1 Densidade da madeira
A madeira é moderadamente pesada (densidade média), dura, de coloração amarelo
avermelhada, grã direita, e apresenta resistência mediana para usos na construção civil
(Lorenzi 1998).
Em algumas regiões é comum o corte de C. prismatica para o consumo domiciliar de
madeira, empregada na confecção de cercas, ferramentas diversas e lenha (Salywon & Landrum

Curitiba prismatica (D.Legrand) Salywon & Landrum (MYRTACEAE)


2007, Siminski et al. 2011, Mello & Peroni 2015).

2.2 Uso em restauração de áreas degradadas


A espécie ocorre no sub-bosque florestal (Salywon & Landrum 2007), sendo bastante
expressiva nesta sinúsia (Kozera et al. 2006, Mello & Peroni 2015). Lorenzi (1998) menciona que
a espécie pode ser utilizada em plantios heterogêneos para a recuperação de áreas degradadas.
De fato, considerando o rápido crescimento e resiliência; tolerância a podas e produção de frutos
atrativos para a fauna, é possível inferir que a espécie é altamente indicada para uso em projetos
de restauração e enriquecimento florestal.
Avaliou-se um plantio em campo e verificou-se que a espécie apresenta um
desenvolvimento regular em condições de sombreamento (área com sub-bosque degradado
em Curitiba-PR) (Tabela 1 e Figura 2), sendo que a mortalidade das mudas após doze meses do
plantio (14%) pode ser considerada baixa e satisfatória.

Figura 2: Médias do diâmetro da base e da altura da parte aérea e de mudas de Curitiba


prismatica, após três e 12 meses do plantio. As barras verticais representam intervalos de
confiança de 95%.

205
O crescimento da espécie nos primeiros 12 meses mostrou-se baixo, com incremento médio da altura da
parte aérea (H) de 1,92 cm e do diâmetro da base (DB) de 0,47 mm. Contudo, observa-se que são valores
significativos quando comparados a outras Myrtaceae plantadas no mesmo local (valores médios): Myrcia
multiflora (Cambuí) (H = 1,13 cm e DB = 0,23 mm), e Eugenia pyriformis (Uvaia) (H = 0,74 cm e DB =
0,21mm). Em outras localidades na mesma região, comparativamente, os dados de crescimento de outras
espécies da família foram superiores, após o mesmo período de acompanhamento, como por exemplo:
Psidium rufum (Araçá-roxo) (H = 8,18 cm e DB = 0,57 mm), Plinia peruviana (Jabuticaba) (H = 4,56 cm
e DB = 0,53 mm), Eugenia involucrata (Cerejeira) (H = 4,35 cm e DB = 0,45 mm).

Tabela 1: Médias do diâmetro da base e da altura da parte aérea de mudas de


Curitiba prismatica, após três e 12 meses do plantio.
Variável Meses após o plantio Média ± IC
3 2,29 ± 0,10 a
Diâmetro (mm)
12 2,80 ± 0,11 b
3 18,38 ± 0,51 a
Altura (cm)
Silvicultura Tropical

12 20,68 ± 0,54 b
Letras diferentes em cada variável denotam diferença significativa ao intervalo de confiança (IC) de 95%.

2.3 Extrativos
A espécie não tem seu potencial comprovado para e retirada de extrativos, contudo as folhas
possuem um aroma agradável, sendo provavelmente viável a extração de óleo essencial.

2.4 Uso como ornamental


C. prismatica tem aspecto ornamental e pode ser utilizada para o paisagismo e para a arborização
urbana (Lorenzi 1998). Devido à sua adaptação ao sombreamento, alta tolerância a podas e ao rápido
crescimento, pode ser utilizada como cerca viva em pequenos espaçamentos e também como planta de vaso.

2.5 Problemas de manejo


Em algumas áreas, em especial naquelas voltadas à exploração de Ilex paraguariensis (erva-
mate) e ao pastoreio de gado, em sistema denominado faxinal, é relatado o hábito de supressão anual
dos indivíduos de C. prismatica por serem considerados “pragas”, devido ao rápido crescimento no
sub-bosque (Mello & Peroni 2015).

206
3. Tecnologia de sementes
3.1 Fenologia
Estudos sobre a biologia reprodutiva de Myrtaceae no Brasil (Gressler et al. 2006) e da sub
família Myrtoideae (Nic Lughadha & Proença 1996) demonstraram que a polinização geralmente é
feita por diferentes famílias da ordem Hymenoptera. A dispersão da espécie é zoocórica (Moro & Lima
2012), sendo realizada principalmente pela avifauna (Lorenzi 1998).

3.1.1 Floração: A época de floração tem o início em meados de dezembro, continuando

Curitiba prismatica (D.Legrand) Salywon & Landrum (MYRTACEAE)


aproximadamente até fevereiro, com redução gradativa da quantidade de flores no ciclo (Salywon &
Landrum 2007).

3.1.2 Frutificação e colheita: Segundo Salywon & Landrum (2007), a espécie inicia a
frutificação em fevereiro, ocorrendo o amadurecimento dos frutos em abril. Lorenzi (1998) afirma
que a frutificação ocorre quase simultaneamente ao amadurecimento dos frutos de janeiro a março.
Os frutos devem ser coletados ao apresentarem coloração arroxeada, indicando a maturidade das
sementes (Lorenzi 1998). Aparentemente as árvores com menor porte apresentam maior quantidade
de frutos. Os frutos imaturos são de difícil visualização, sendo facilmente confundidos entre as folhas
e os galhos. Para a coleta em indivíduos mais altos, é necessário o auxílio de tesoura de poda alta ou
escalada da árvore, pois os frutos não se desprendem dos ramos prontamente.

3.2 Produção de sementes


A partir do período da semeadura, C. prismatica pode levar, em média, 10 anos para alcançar
a maturidade reprodutiva (Martinelli & Moraes 2013). Cada fruto produz, em média, 5 sementes.
Segundo Rego et al. (2011), o peso de mil sementes é de 4,52 g (CV=1,96%), com 220.994 sementes
por quilograma. Como acontece com várias espécies nativas, C. prismatica apresenta variações
significativas nas quantidades de frutos e sementes produzidos ao longo dos anos.

3.3 Manejo de sementes


Logo após a coleta, é indicada a realização do beneficiamento dos frutos e sementes, que pode ser
facilitado acondicionando-se os frutos em embalagem fechada até a decomposição parcial de sua polpa
(Lorenzi 1998). É importante o acompanhamento desse processo para evitar a fermentação e consequente
degradação das sementes. Para a separação da polpa e limpeza das sementes, é indicada a utilização de
peneira grossa sob água corrente, realizando maceração suave para evitar danos às sementes.

207
3.4 Quebra de dormência
A espécie não necessita de tratamentos de quebra de dormência.

3.5 Armazenamento
As sementes são recalcitrantes. Desta forma, o armazenamento não é recomendado, pois
pode acarretar na inviabilidade das sementes em um curto período de tempo.

3.6 Germinação
A germinação das sementes tem sua condição ótima na temperatura de 25oC, reduzindo
significativamente o poder germinativo em temperaturas mais altas (Rego et al. 2011) (Tabela 2).

Tabela 2: Dados de Rego et al. (2011) sobre a porcentagem de germinação de


sementes de Curitiba prismatica em diferentes substratos e temperaturas.
Tratamentos 20oC 25oC 30oC
Papel toalha 85,0 a 86,3 a 22,5 b
Silvicultura Tropical

Rolo de papel 86,9 a 80,6 a 33,1 a


Areia 80,0 a 85,6 a 26,2 ab
Médias (blocos) 83,9 A 84,2 A 27,3 B
Médias seguidas por letras distintas minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas diferem entre si pelo
teste de Tukey em 5% de probabilidade. DMS: tratamentos e blocos (5,39) interação (9,34) CV = 8,19%.

4. Produção de mudas
4.1 Método de semeadura e produção
Segundo Rego et al. (2011), em laboratório, a espécie tem seu melhor desempenho na porcentagem
e nos índices de germinação nas temperaturas de 20oC até 25oC, em areia ou papel, ultrapassando 80%.
Desta forma, como a espécie possui taxa de germinação elevada, é aconselhável a semeadura diretamente
em recipientes definitivos. Contudo, como a espécie apresenta bastante resistência à repicagem, uma
alternativa que se mostra bastante eficaz é a semeadura em bandejas sementeiras ou em canteiros com
substrato composto por quatro partes de solo e uma de vermiculita. Neste caso, as sementes devem ser
dispostas uniformemente, com 3 cm de distância entre si, em profundidade de cerca de 2 cm.
A emergência pode ocorrer de forma heterogênea, variando desde dias até algumas
semanas. Sendo assim, no caso da repicagem a partir de sementeira, é necessário um planejamento
desta atividade em várias fases. Esse procedimento deve ser realizado quando a parte aérea
das plântulas atingir aproximadamente 5 cm. Para a produção em viveiro é indicado o uso de

208
embalagens plásticas de 14x20 cm, as quais devem ser preenchidas com substrato composto de
aproximadamente 47% de terra preta, 47% de composto orgânico e 6% de areia.
Para cultivo em vasos, é importante fornecer espaço suficiente no recipiente a ser utilizado,
sendo indicado um volume mínimo de substrato de 15-20 L, para plantas de até 60 cm.

5. Cultivo e atividades silviculturais


5.1 Sistema de plantio
C. prismatica aceita condições de sombreamento, mostrando-se muito resiliente e

Curitiba prismatica (D.Legrand) Salywon & Landrum (MYRTACEAE)


apresentando características interessantes para a produção de mudas e boa resposta à poda, de
condução ou o corte raso, com uma rebrota vigorosa.

5.2 Espaçamento
A amplitude de utilização da espécie resulta na possiblidade do uso de diferentes
espaçamentos para cada aplicação. Para o uso como cerca viva é indicado o espaçamento de 0,5 a
1 m. Para o plantio de enriquecimento ou consórcio com outras espécies, é indicado o mínimo de
4 m entre as plantas. Os espaçamentos sugeridos foram fundamentados em situações práticas de
aplicações em jardins e também de acordo com o espaçamento observado no ambiente natural.

5.3 Adubação
Foi realizado experimentos em viveiro com o objetivo de verificar o crescimento das mudas e
recomendar a adubação mais adequada. A espécie apresentou resposta para adubação química apenas
no período entre o terceiro e o quarto mês após a aplicação (Tabela 3 e Figura 3). Foram testadas diferentes
adubações em viveiro com micronutrientes (Ca 17%, Mg 8%, S 5%, B 0,30% e Zn 1%) e macronutrientes
(NPK15-10-10), seguindo um delineamento inteiramente casualizado em diferentes doses e composições.

Tabela 3: Médias de altura da parte aérea e do diâmetro da base de mudas de


Curitiba prismática em resposta à adubação química após 4 meses de aplicação.
Tratamento Altura (cm) ± IC Diâmetro (mm) ± IC
T1 6,57 ± 0,70 a 0,59 ± 0,12 a
T2 5,10 ± 0,70 ab 0,63 ± 0,12 a
T3 4,15 ± 0,70 ab 0,81 ± 0,12 a
T4 2,69 ± 0,70 b 0,36 ± 0,12 a
T5 3,90 ± 0,70 ab 0,66 ± 0,12 a
Letras diferentes denotam diferença significativa ao intervalo de confiança (IC) de 95%.Tratamentos: T1-
20 mg de macronutrientes; T2 - 20 mg de macronutrientes com 20 mg de micronutrientes; T3 - 10 mg de
macronutrientes com 10 mg de micronutrientes; T4 - 20 mg de micronutrientes; T5 – Testemunha.

209
Figura 3: Altura da parte
aérea e diâmetro da base
de mudas de Curitiba
prismatica submetidas a
diferentes tratamentos de
adubação. Barras verticais
representam intervalos
de confiança (IC) de 95%.
Tratamentos: T1- 20 mg de
macronutrientes; T2 - 20 mg
de macronutrientes com 20
mg de micronutrientes; T3 - 10
mg de macronutrientes com
10 mg de micronutrientes; T4
- 20 mg de micronutrientes;
T5 – Testemunha.

Os resultados dos testes


Silvicultura Tropical

demonstraram que a melhor


adubação foi a do tratamento T1- 20
mg macronutrientes por saquinho
de 14x20 cm. Não é recomendada
a utilização de micronutrientes
isoladamente, pois isso parece ter
prejudicado o crescimento da parte
aérea das mudas (Figura 4). Figura 4: Mudas de Curitiba prismatica submetidas a diferentes
tratamentos de adubação em viveiro, sendo apresentados os
tratamentos T5, T1, T2, T3 e T4, da esquerda para a direita.

5.3 Preparo do solo


A espécie ocorre geralmente em solos bem drenados e com algum teor de material orgânico
na composição. Desta forma, o cultivo e plantios podem ser conduzidos com a mesma condição.
Para as mudas cultivadas em embalagens de 14x20 cm, os berços podem ter as dimensões de
20-25 cm de raio por 30-40cm de profundidade. É recomendada a adição de matéria orgânica e a
adubação química somente de macronutrientes.

5.4 Recomendações e tratos culturais


Para as plantas de vaso é recomendada a poda periódica para manutenção de características
de forma desejada.

210
6. Manejo para a produção
6.1 Técnicas de cultivo e colheita da produção
Como a espécie é de sub-bosque, um cuidado importante é o controle da luminosidade sobre
a muda, recomendando-se locais com aproximadamente 50% sombreamento.
O principal problema nos sistemas de produção é a perfuração da embalagem pelas raízes
das mudas. Sendo assim, a movimentação das mudas e a poda periódica de raízes é uma técnica
utilizada na maioria dos viveiros para amenizar este problema.

6.2 Manejo da produção e do cultivo

Curitiba prismatica (D.Legrand) Salywon & Landrum (MYRTACEAE)


Para potencializar o crescimento e cultivo em viveiro, a aplicação periódica de adubo ajuda
no desenvolvimento da planta em altura, chegando em menor tempo no tamanho ideal para a
comercialização.

7. Potencial produtivo
7.1 Rendimentos econômicos
O custo da coleta de sementes em remanescentes florestais naturais para fins de conservação
pode chegar a R$ 950,00 por quilograma de sementes. O valor de venda da muda de 30 a 60 cm
de altura pode chegar a R$ 20,00 na região de Curitiba, Paraná.

8. Patologia florestal
8.1 Doenças e pragas
A espécie parece estar muito bem adaptada e ser bastante resistente. Não foi observada a
incidência de doenças nas mudas em viveiro, em plantios em campo, bem como em matrizes em
ambiente natural.

9. Outras informações
A Sociedade Chauá tem acompanhado algumas áreas onde a espécie ocorre, com indivíduos
mapeados em unidades de conservação e áreas privadas. Neste contexto, foi possível verificar aspectos
descritos neste capítulo. A produção de frutos e volume de coleta varia significativamente a cada ano. Em
função do curto período de produtividade de frutos, o custo de coleta pode ter acréscimos significativos se não
for sincronizado com o período de maturação dos mesmos. Apesar da resiliência da espécie a podas e ao corte
raso, a degradação das populações é contínua em diversas áreas, e é necessária a valorização da espécie no
âmbito econômico e cultural e, também, o desenvolvimento de técnicas de manejo para a sua perpetuidade.

211
10. Referências
Albuquerque, J.M. 2015. Fatores ecológicos e ocorrência de espécies na Floresta Ombrófila Mista,
em sistema faxinal. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná, Paraná.

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213
Dipteryx alata Vogel
EDUARDO MALTA CAMPOS FILHO
Biólogo. Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de São
Paulo (USP). Coordenador técnico de Restauração florestal do Instituto
Socioambiental.

RAFAEL DE SOUZA SILVA


Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia Agronômica pela
Universidade de São Paulo - Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (ESALQ – USP). Estudante no bacharelado de Comunicação das
Artes do Corpo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA
Silvicultura Tropical

Cerrado (Sano 2004), Caatinga, Mata Atlântica, partes da Amazônia (Campos Filho
& Sartorelli 2013, 2015a, 2015b) e Pantanal (WebAmbiente 2018).

1.2 ESTADOS DE OCORRÊNCIA


AC, MT, MS, TO, GO, PA, AM, RO, BA, CE, MA, PI, DF, MG, SP, RJ (Campos Filho &
Sartorelli 2013, 2015a, WebAmbiente, 2018).

1.3 DISTRibUIÇÃO NATURAL


Ampla no Brasil, exceto nas regiões frias e litorâneas, ocorrendo provavelmente,
entre 200 e 800m em relação ao nível do mar. Mais abundante em Cerradão, Florestas
Estacionais e no Cerrado Sentido Restrito sobre solos areno-argilosos e bem drenados, mas
também presente nas áreas de Cerrado com murundus (Sano 2004, Naturatins 2019) e nas
zonas de transição entre os biomas Caatinga e Amazônia. Apresenta distribuição irregular
na paisagem, mas pode formar grandes agrupamentos homogêneos (Haase, Hirooka 1998
apud Sano 2004). Foi observado 26% de frequência em 316 áreas amostradas de Cerrado
Sentido Restrito e também nos contornos do complexo do Pantanal (Sano et al. 2004).
Densidade relatada de até 143,3 indivíduos ha-1 em Floresta Estacional Semidecidual,
sobre solos de baixa fertilidade, ácidos e com maiores conteúdos de alumínio; 23
indivíduos adultos ha-1 em área de transição Cerrado Denso e Mata Estacional, e área
basal de 13 m2 ha-1 nas áreas de Cerrado com murundus (Sano 2004).

214
1.4 NOME POPULAR
Varia com o local, sendo mais conhecida como Baru (GO, TO, MG e DF) e Cumaru e
Cumbaru (SP, MT e MS). Os outros nomes que incluem diferentes espécies são Barujo, Castanha-
de-ferro, Coco-Feijão, Cumaru-da-folha-grande, Cumarurana, Cumaru-roxo, Cumaru verdadeiro,
Cumbary, Emburena-brava, Feijão-coco, Fruto-de-macaco, Meriparagé, Pau-Cumaru, Baruzeiro,
Bauí, Bugreiro, Chuva-de-ouro, Guaiçára, Fava-de-cumaru, Sucupira-branca, (Plataforma
Webambiente 2018, Sano et al. 2004).

1.5 NOME CIENTÍFICO: Dipteryx alata Vogel

1.6 SINONÍMIA: Coumarouna alata (Vogel) Taub.; Cumaruna alata (Vogel) Kuntze
(WebAmbiente 2018, Borges et al. 2017)

Dipteryx alata Vogel


1.7 FAMÍLIA: Fabaceae (ou Leguminosae), mesma família do champanhe (cumaru),
jatobá, feijão, tamboril, ingá e angelim (Campos Filho 2009b)

1.8 CARACTERÍSTICAS
Árvore de madeira densa e velocidade de crescimento moderada. De 8 a 20m de altura,
podendo alcançar 25 m em solos férteis. A copa pode ser alongada ou larga, de 6 a 11 m de
diâmetro. Tem tronco com casca clara (cor cinza-claro), com 70 cm de diâmetro, e pode viver por
muitas décadas. As folhas são compostas, alternas, pinadas, imparipinadas, lisas, do tipo ráquis
(ou raque) e pecíolo alado (alas entre os folíolos). O fruto é lenhoso, do tipo drupa, coberto por
polpa doce de cor creme ou marrom-claro. O fruto tem casca lenhosa, com “caroço duro” (Da Costa
et al. 2014), que não abre sozinha. Inflorescência do tipo panícula, com 200 a 1000 flores (Sano
2004). Sementes de cor marrom ou avermelhada a quase preta, brilhante e única para cada
fruto, lisa e dispersas por animais (zoocoria) e por gravidade (barocórica) (Sano 2004, Campos
Filho & Sartorelli 2013, 2015a). Plântula fanerocotiledonar-epígeo-armazenadora (Consolaro
et al. 2019). Plantas adultas, frutificadas, em geral, perdem as folhas no final da estação seca.
De início das chuvas, as folhas novas surgem com o crescimento imediato dos ramos terminais
(Sano et al. 2004). Árvores juvenis e eventualmente algumas adultas são sempre verdes.

1.9 GRUPO ECOLÓGICO


Não Pioneira (Da Costa et al. 2014). Secundária Inicial ou Tardia (Naturatins 2019).

215
Grupo de Diversidade (Barbosa et al. 2017, WebAmbiente 2018). Árvore longeva (Campos Filho &
Sartorelli 2015b).

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


MADEIREIROS E NÃO MADEIREIROS
2.1 DENSIDADE DA MADEIRA
A madeira é pesada, de alta densidade (0,90 a 1,2 g cm-3), com tronco cilíndrico e reto
castanho-amarelado, de aspecto fibroso atenuado. Compacta e de alta durabilidade natural,
elevada resistência ao apodrecimento e muito resistente ao ataque de fungos e cupins.

2.2 PRODUTOS NÃO MADEIREIROS


O fruto e as sementes são comestíveis. A castanha de baru tem ganhado fama e mercado de
forma crescente nos últimos anos. A polpa do fruto é uma farinha (Da Costa et al. 2014) que pode ser
Silvicultura Tropical

usada em receitas de bolos, biscoitos e outros doces (paçoquinhas, pé-de-moleque, rapaduras etc),
mas ainda não existe mercado estruturado. A castanha torrada é saborosa, tem 23% de proteína (valor
maior que a castanha-de-caju e a castanha-do-pará) e é rica em ferro, zinco, magnésio, fósforo e cobre.
Além disso, é fonte de cálcio e fibras, origem de seu apelido “Viagra do cerrado”. O óleo da castanha é
de excelente qualidade como aromatizante e usado como azeite de mesa e cosmético.

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 FLORAÇÃO
Novembro a fevereiro (Cerrado) (Sano et al. 2004) e outubro a novembro (Pantanal) (Pott & Pott
1994 apud WebAmbiente 2018). Campos Filho & Sartorelli (2013, 2009b, 2015a) observam floração
de outubro a janeiro no Mato Grosso (Amazônia, Cerrado e transição Amazônia/Cerrrado), sendo farta
e em época importante para a fauna, pois durante as chuvas há menos floradas na região.

3.2 FRUTIFICAÇÃO
Os frutos estão maduros entre março e agosto e produz maior quantidade de frutos a cada
dois anos (Campos Filho 2009b). Frutos estão maduros quando a polpa é macia e doce, caindo
naturalmente dos galhos (Campos Filho 2009b). A semente fica solta dentro do fruto (Sano et al.
2004), o que garante a maturidade da semente (Consolaro et al. 2019).

216
3.3 SÍNDROME DE DISPERÃO
Barocórica e zoocórica (Consolaro et al. 2019). Dá frutos a partir de 4 anos de idade. Seus frutos
alimentam e são dispersos por morcegos, araras, macacos, roedores, gado, entre outros. Sendo
uma espécie de vida longa e com frutos atrativos da mastofauna, torna a espécie indispensável em
projetos de restauração ecológica (Campos Filho 2009b, Campos Filho & Sartorelli 2015a).

3.4 COLETA DE SEMENTES


O fruto pode ser colhido no chão sob a árvore, pois cai quando maduro, com cor marrom-
clara e medindo até 6,5 cm de comprimento. Colete os frutos que tiverem caído no chão.
Chacoalhe o fruto e perceba se há semente dentro (Campos Filho 2009b). As sementes no
interior dos frutos são marrons e medem até 3 cm de comprimento (Campos Filho & Sartorelli
2015b). Pode-se partir os frutos com auxílio do “quebrador de baru”, uma guilhotina adaptada
para retirar as sementes sem machucá-las, (Campos Filho et al. 2009a), mas isso não é pré-
requisito para a rápida e boa germinação do baru. Não coletar os frutos remanescentes do ano

Dipteryx alata Vogel


anterior, eles são fáceis de identificar, pois ficam semi-abertos, fungados e apodrecidos. Retirar
do lote os frutos apodrecidos, fungados e malformados. Os frutos devem ser armazenados em
recipiente vedado e mantidos em local seco e fresco, assim a viabilidade pode ser conservada
por mais de dois anos (Sano et al. 2004).

3.5 ARMAZENAMENTO DE SEMENTES


A semente é ortodoxa. Quando madura, o teor de umidade médio é de 6,3 (6,2 - 6,4)%
(Consolaro et al. 2019). Deve ser mantida desidratada e resfriada em ambiente seco ou em
recipientes hermeticamente fechados (Campos Filho & Sartorelli 2013, 2015a). Após um ano,
apresenta apenas pequena redução de germinação (Campos Filho, 2009b). Para armazenamento,
não se recomenda sempre a retirada da semente do interior do fruto em função da redução da
germinação (Consolaro et al 2019). Sementes de baru podem ser guardadas na cinza do próprio
baru queimado em garrafa pet. Já os frutos, para serem beneficiado no próximo ano, são guardados
em embalagens permeáveis, que permitem a troca de água, por exemplo, o saco de rafia, em
local com ventilação (Costa et al. 2014). Caso haja retirado as castanhas do fruto, guarde em local
protegido da luz e água. Use folhas secas e moídas de nim, mata-menino, eucalipto, ou cinza-de-
fogão, como repelente de insetos (Campos Filho 2009b).

217
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 NÚMERO DE SEMENTES
O número de sementes por kg é de 600 a 1190 (sementes kg-1) (Campos Filho & Sartorelli
2013, 2015a, WebAmbiente 2018).

4.2 PESO DE SEMENTES


O peso de mil frutos é 22,5 (21,3- 24,3) Kg (Consolaro et al 2019).

4.3 QUEBRA DE DORMÊNCIA


Não apresenta dormência. Não é necessário extrair a semente do fruto para ela germinar. Cerca
de 90% dos frutos apresentam sementes sadias (Sano 2009) e pode ser plantado diretamente no
solo, com ótima germinação e sobrevivência (Campo Filho 2009b, Campos Filho & Sartorelli 2015b).

4.4 GERMINAÇÃO
Silvicultura Tropical

A taxa de germinação em laboratório é alta, frequentemente entre 84 e 95% (Campos Filho


& Sartorelli 2013, 2015a). Em viveiro, frutos apresentaram germinação duas vezes maior que
sementes (93% vs. 55%), tardando a germinação apenas 15 dias (45 vs. 30 dias) (Consolaro et al.
2019). Sementes dentro do fruto germinam em até 60 dias. Para germinar mais rápido, corte o
fruto até ver a parte da castanha, ou retire a semente de dentro do fruto (Campos Filho, 2009b).

4.5 ESTABELECIMENTO EM CAMPO


Por semeadura direta, a taxa média de conversão de sementes em plântulas foi de 67% (56% -
77%) plântula semente-1 (Consolaro et al. 2019), com sobrevivência de plântulas de 86 % ao final do
primeiro ano (Consolaro et al 2019).

5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO


5.1 ESTUDOS DE PROGÊNIES
As diferenças no crescimento entre as progênies mostram alta variabilidade e potencial
para seleção de plantas. A massa dos frutos e das sementes também apresenta diferenças entre
árvores e regiões do Estado de Goiás e Minas Gerais e entre procedências em Minas Gerais.
Apesar de ainda não existirem relatos sobre a herdabilidade das características de sementes, há
uniformidade nas dimensões e frutos por árvore-mãe, indicando influência de genes maternos

218
para esse caráter (Roach, Wulff 1987 apud Sano et al. 2004). Assim, a seleção de plantas pode ser
baseada em frutos e sementes (Sano et al. 2004). Em um experimento, com 47 progênies, sendo
26 sementes e 17 progênies dos municípios de Três Lagoas (MS) e Brasília (DF), houve diferenças
significativas entre progênies para DAP (Diâmetro à Altura do Peito), sendo a herdabilidade no
sentido restrito foi alta, com mínimo de 0,31). As procedências e progênies demonstram ter
variabilidade genética, que pode ser explorada em programas de melhoramento florestal, com
ampla base genética (Santos et al. 2018).

5.2 ESTUDOS DE POPULAÇÕES NATURAIS


Na literatura, há registros de que existem diferenças entre as populações locais, em altura
da planta e do fuste e DAP (Diâmetro à Altura do Peito) (Sano et al. 2004)

6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


6.1 USO DA TERRA

Dipteryx alata Vogel


Recomenda-se o plantio de baru para enriquecer áreas em regeneração natural, pastagens,
agroflorestas e projetos de recomposição da vegetação nativa. Tolera secas de até 6 meses (Campos
Filho & Sartorelli 2015b). Não tolera geadas (Campos Filho & Sartorelli 2015b).

6.2 SOLOS
Indica-se o plantio em solos bem drenados, de fertilidade química média, não encharcados,
profundos ou não, calcários ou ácidos. Os solos são de preferência lateríticos, areno-argilosos com
predominância da fração areia-grossa.

6.3 DENSIDADE DE PLANTIO


Recomenda-se em torno de 1 Kg de sementes de baru por hectare (semente ha-1) ou 22 kg
de frutos hectare-1 (Sampaio et al. 2015) para se estabelecer entre 150 e 600 plantas por hectare.

6.4 ADUBAÇÃO
Possui baixa exigência de adubação e ocorre em solos tanto de baixa como de alta fertilidade. Devi-
do a sua alta produção de folhas ricas em nitrogênio, é indicada para recuperação de áreas degradadas,
com grande potencial de melhorar a fertilidade do solo devido à formação de nódulos de algas azuis em
suas raízes, capazes de disponibilizar no solo o nitrogênio que retiram do ar (Campos Filho 2009b).

219
6.5 PREPARO DO SOLO
Preparo do solo pode ser feito em covetas, covas, sulcos canavieiros ou florestais e/ou por
gradagem, incluindo a possibilidade de combinação dessas técnicas para enterrar frutos até 5 cm de
profundidade e sementes até 3 cm de profundidade.

6.6 FORMA DE PLANTIO


Enterrar o fruto ou a semente bem rasa no solo afofado. Tolera meia sombra (Campos
Filho 2009b).

6.7 ALTURA DA PLÂNTULA AO TRÊS MESES


7 (6 - 9) cm (Consolaro et al. 2019).

7. MANEJO PARA PRODUÇÃO


Silvicultura Tropical

7.1 EM FAIXAS INTERCALAS COM ENRIQUECIMENTO DO CERRADO


Em sistemas agroflorestais, há a possibilidade de plantio intercalado em linhas, com
espécies-chave de árvores frutíferas e madeireiras, culturas agrícolas, adubos verdes e espécies
florestais regenerantes, tanto de modo mecanizado como manual (Miccolis et al 2016).

7.2 SISTEMAS SILVIPASTORIS


Introdução de espécies com copa densa, como o baru, e que cujos frutos alimentam animais,
são indicados para serem associadas aos pastos (Miccolis et al 2016) e podem ser podados durante
a estação seca.

7.3 FRUTO
Os frutos maduros são coletados no próprio chão ou “de vez”, sacudindo os galhos da área
sobre uma lona estendida no chão para amparo.

7.4 MADEIRA
Realizar desramas periódicas de galhos laterais, embora o baru tenda a desenvolver fuste
vertical, principalmente em plantios de alta densidade com sombreamento lateral.

220
8. POTENCIAL PRODUTIVO
8.1 USO MADEIREIRO
Como madeira serrada/roliça é indicada para obras hidráulicas, construção de estruturas
externas, como cercas, estacas, esteios, postes, mourões, dormentes, carroceiras, e em pontes;
construção naval e civil, como esteios, ripas, caibros, tacos de assoalho, marco de porta e janelas,
forros, lambris; em implementos agrícolas, moenda manual para cana, cetro de rodas e tornearia
(Sano 2004, Campos Filho & Sartorelli, 2017a)

8.2 VALOR DA MADEIRA EM PÉ


R$ 103,00 a R$ 370,00 o m3 (Campos Filho e Sartorelli 2015b)

8.3 VELOCIDADE DE CRESCIMENTO


Lenta, com IMA (Incremento Médio Anual) de 7,30 m3 ha-1 ano-1, atingindo altura média de
7,34 m aos 10 anos. Estima-se produção de até 146 m3 de madeira por hectare (m3 ha-1) em 10 anos

Dipteryx alata Vogel


(Campos Filho e Sartorelli 2015b).

8.4 TEMPO PARA COLHEITA


Madeira para serraria a partir de 20 ou 30 anos. Frutos a partir de 6 anos (Campos Filho e
Sartorelli 2015b).

8.5 NÃO MADEIREIRO (FRUTO)


A quantidade de frutas média possível de ser coletada em um dia é de 90Kg por pessoa
(Sampaio et al. 2015). No Brasil, a capacidade produtiva anual de frutos de Baru provavelmente está
na casa das dezenas de toneladas e, das sementes, na casa das centenas de toneladas.

8.6 VALOR DO FRUTO


Na cidade de São Paulo, a castanha torrada e salgada chega a custar, em embalagens de 100 g,
até R$ 14,00. A polpa do fruto é doce e comestível, mas ainda não tem espaço no mercado (Campos
Filho & Sartorelli 2015b).

8.7 TEMPO PARA COLHEITA


Frutos com polpa e castanhas a partir de 6 anos (Campos Filho & Sartorelli 2015b).

221
8.8 MERCADO
O baru como substituto das nozes é uma alternativa interessante e vem sendo usado na
elaboração do molho pesto (molho italiano para massas), podendo atender a restaurantes e ao mercado
externo. O baru para exportação tem sido procurado para fazer parte da composição de cereais matinais,
na forma de barras. Bombons e bolos confeccionados com as amêndoas também têm sido testados e
aprovados. O licor é outro produto com grande aceitação no mercado. O baru deve ser avaliado, visando
ao planejamento de uma estratégia de produção e de comercialização de seus produtos. Essa estratégia
deverá contemplar a organização com base nas populações locais da produção, beneficiamento,
embalagem dos produtos, campanha de divulgação e marketing. É fundamental a avaliação da oferta
sazonal de frutos pela natureza, bem como seu manejo e o estabelecimento de seu cultivo, possibilitando
a expansão do mercado atual (Sano et al. 2004). Devido ao alto teor de ácido linoleico, óleo da semente
pode ser usado como antirreumático e antiespasmódico e, a casca do tronco, para cólica intestinal
(Naturatins 2019). A casca do fruto também é usada como carvão e apresenta alto poder calorífero. Em
épocas de seca, a polpa é consumida por bovinos e suínos em pastagens no Cerrado (Naturatins 2019).
Silvicultura Tropical

9. PATOLOGIA FLORESTAL
9.1 PRAGAS E DOENÇAS
A polpa do fruto de baru, armazenada sem tratamento prévio, em sacos de aniagem, por
exemplo, juta e/ou rafia, foi muito danificada por insetos (larvas de coleópteros e lepidópteros), mas
as sementes, protegidas pelo fruto, apresentaram incidência de insetos em torno de apenas 10%. A
polpa absorve muita água e umidade durante o período chuvoso, acelerando seu apodrecimento por
fungos (Sano et al 2004) o que pode facilitar também a germinação das sementes.

10. OUTRAS INFORMAÇÕES


O gado aprecia os frutos, folhas e como sombra para repouso, sendo indicado para
sombreamento de pastagens, sendo muito consorciada em sistemas agrossilvipastoris (Campos Filho
2009b). Abelhas, moscas, borboletas, vespas e beija-flores visitam suas flores em busca de pólen
e néctar. As árvores de baru adultas precisam receber pólen de outras plantas para produzir frutos
e dependem das mamangavas para isso. Já as mamangavas dependem da existência de flores de
outras espécies para sobreviver o restante do ano, além de troncos podres para nidificarem. O baru
pode ter sua frutificação comprometida pelo uso de agrotóxicos nas proximidades.

222
A B

c d

Dipteryx alata Vogel


e

Figura1: A. Visão Geral de Trono e copa do Baru; B. Indivíduo Jovem de Baru com 2 meses de
idade, após semeadura direta no solo; C. Detalhe de raque alada entre os folíolos do Baru, face
abaxial; D. Detalhe da Inflorescência e face adaxial dos folíolos do Baru; E. Fruto do Baru; F.
Sementes do Baru. Fotostiradas em Canarana, MT, por Eduardo Malta/ISA, 2011

223
11. REFERÊNCIAS
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225
Drimys brasiliensis Miers
RENATA DE ALMEIDA MAGGIONI
Engenheira Agrônoma. Graduação em Engenharia Agronômica, e mestrado em Agronomia
– Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é doutoranda
em Agronomia-Produção Vegetal (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Biológicas e doutorado
em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia Vegetal pela Università di Pisa, Italia. Atualmente é
Professora Titular do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
onde coordena o Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA: Floresta Ombrófila Mista
Silvicultura Tropical

1.2 NOME COMUM: Cataia, casca-d’anta, paratudo, canela-amarga, ”caá-tuya”


(BACKES; IRGANG, 2002; LORENZI; MATOS, 2008).

1.3 NOME CIENTÍFICO: Drimys brasiliensis Miers

1.4 FAMÍLIA: Winteraceae

1.5 PORTE: Árvore de porte médio, podendo chegar até 20 metros de altura, com
fuste curto, de até 40 cm de diâmetro (GOTTSBERGER et al., 1980; BACKES; IRGANG, 2002)

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROSDENSIDADE DA MADEIRA
Madeira médio-pesada, usada em carpintaria interna e caixotaria, lenha e carvão
(BACKES; IRGANG, 2002). A madeira é amarelada, com largas veias rosas, muitas vezes
castanho-claras, fácil de trabalhar, porém pouco resistente ao tempo (LONGHI, 1995).

2.1 PRODUTOS NÃO-MADEIREIROS


Pode ser utilizada como condimento, por meio de suas cascas secas e moídas usadas
em substituição à pimenta do reino (TRINTA; SANTOS, 1997). As folhas e cascas de cataia
são utilizadas na medicina popular e na indústria farmacêutica por apresentarem atividades

226
estimulante, antiespasmódica, aromática, antidiarreica, antifebril, contra hemorragia uterina e em
certas afecções do trato digestivo, além de atividades biológicas como bactericida, antifúngica e
antialérgica. Além disso, é particularmente indicada como tônico revigorante durante a convalescença
(SIMÕES et al., 1986; LORENZI; MATOS, 2008). A espécie também apresenta importância fitoquímica,
sendo matéria prima para fabricação de um produto chamado drimanial, o qual possui ação efetiva no
combate à enxaqueca causada pelo glutamato monossódico, apresentando poucos efeitos colaterais
(CAVALHEIRO, 2006). As folhas picadas de cataia produzem forragem para o gado e suas flores
possuem aplicação na indústria da perfumaria francesa (LONGHI, 1995). A árvore possui qualidades
ornamentais que a recomendam para o paisagismo em geral (LORENZI, 2002). Em estudo mais recente
realizado na Universidade Federal do Paraná, sugere-se que a utilização de folhas teria potencial para
uso em substituição às cascas, facilitando a coleta do material sem prejudicar o desenvolvimento da

Drimys brasiliensis Miers


planta, o que corriqueiramente ocorre com a extração da casca que, se mal executada, causa lesões

a C

Figura 1: Coleta e extração de óleo essencial de folhas e cascas de Drimys brasiliensis, no


município de Curitiba-PR: A. Área de coleta. B. Coleta de folhas. C. Cascas coletadas no verão e
inverno de 2017. Fonte: MAGGIONI (2017)

227
D

Figura 1: Coleta e extração de óleo essencial de folhas e cascas de Drimys brasiliensis, no


município de Curitiba-PR: D. Extração do óleo essencial de folhas e cascas em equipamento tipo
Clevenger. Fonte: MAGGIONI (2017)

nos tecidos do caule, chegando a impedir o luxo da seiva floemática pela criação de um Anel de
Malpighi. Os autores relatam que o teor do óleo essencial de folhas de Drimys brasiliensis é altamente
superior ao teor do óleo essencial de suas cascas e as atividades farmacológicas de folhas e cascas
Silvicultura Tropical

são muito similares (MAGGIONI et al., 2018).

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
A colheita de sementes é realizada manualmente. 1 kg de frutos tem cerca de 835 g de
sementes e 1 kg de sementes tem, aproximadamente, 280.000 unidades (LONGHI, 1995). Abreu
(2002) encontrou 237.353 sementes, com teor de umidade de 7,14%.

3.2 FENOLOGIA
A espécie possui frequência anual de florescimento e frutificação, com períodos diferenciados entre
o local de desenvolvimento da espécie (MARIOT et al., 2011). As flores são brancas e vistosas (LONGHI,
1995). A visitação de polinizadores em suas flores é de baixa frequência considerando a quantidade
de flores disponíveis, apesar da diversidade de espécies de visitantes (MARIOT et al., 2014), porém a
espécie apresenta alta taxa de frutificação, o que pode ser explicado pela sua autocompatibilidade e a
ocorrência de flores monóicas, favorecendo a autofecundação (GOTTSBERGER et al., 1980).Os frutos são
do tipo baga vermelho-escuras que passam a pretas quando maduras, com 0,4 a 0,6 cm de diâmetro
contendo no seu interior inúmeras sementes (LONGHI, 1995). As sementes são reniformes, pequenas e
pretas brilhantes, com aproximadamente 0,3 a 0,4 cm de comprimento, apresentando dormência por
imaturidade embrionária (ABREU et al., 2005a; LORENZI; MATOS, 2008).

228
3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO
A espécie floresce de julho a abril em Santa Catarina (TRINTA; SANTOS, 1997); de junho a novembro na
região de Botucatu, SP (GOTTSBERGER et al., 1980) e de dezembro a março em Caçador, SC (MARIOT, 2008).

3.4 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA


A frutificação de Drimys brasiliensis ocorre a partir de outubro em Santa Catarina (TRINTA;
SANTOS, 1997) e entre setembro e janeiro em Botucatu (GOTTSBERGER et al., 1980). Mariot (2008)
verificou que a espécie frutifica o ano todo na Região de Caçador (SC). Os frutos são consumidos
por aves que auxiliam na dispersão de suas sementes. Os frutos devem ser colhidos diretamente da
árvore quando iniciarem a queda espontânea (CARVALHO, 2008).

3.5 MANEJO DE SEMENTES


Os frutos, do tipo baga, produzem aproximadamente seis sementes por baga. O
beneficiamento deve ser realizado manualmente (CARVALHO, 2008).

Drimys brasiliensis Miers


3.6 QUEBRA DE DORMÊNCIA
A estratificação em areia por 60 dias é eficiente para superar a dormência das sementes
de Drimys brasiliensis. Podendo-se obter maiores valores de velocidade e percentagem de
germinação em temperatura constante de 17ºC e com o uso dos substratos ágar, areia e papel
de filtro (ABREU et al., 2005b).

3.7 ARMAZENAMENTO
As sementes começam a perder o poder germinativo a partir dos 30 dias (BACKES; IRGANG, 2002).

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
As sementes são retiradas a mão, com muito cuidado, e semeadas com pequena cobertura
de terra, mas protegidas dos raios solares diretos. Recomenda-se semear em sementeiras ou em
sacos de polietileno com dimensões mínimas de 20 cm de altura e 7 cm de diâmetro, ou ainda em
tubetes de polipropileno de tamanho médio. Quando necessária, a repicagem deve ser feita de 1
a 2 semanas após a germinação (CARVALHO, 2008).

4.1.1 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA


A propagação vegetativa por estaquia pode ser uma alternativa para produção de mudas da
espécie, já que as sementes da mesma apresentam dormência por imaturidade embrionária. É

229
recomendado o rejuvenescimento do material vegetativo por meio da técnica de miniestaquia para
obter-se resultados mais favoráveis de enraizamento. A coleta dos propágulos pode ser realizada
durante o ano todo. Recomenda-se miniestacas de 6-8 cm de comprimento com corte em bisel na
base e reto no ápice, mantendo duas folhas com sua área reduzida à metade. As miniestacas devem
ser plantadas em tubetes de polipropileno contendo vermiculita e casca de arroz carbonizada (1:1) e
mantidas em casa de vegetação por aproximadamente 120 dias (MAGGIONI, 2017).
Silvicultura Tropical

a B C

D e

Figura 2: Miniestaquia de Drimys brasiliensis, no município de Curitiba-PR: A. Minicepa.


B. Miniestaca. C. Miniestaca enraizada. D. Experimento instalado. E. Casa de vegetação
climatizada. Fonte: MAGGIONI (2017)

5. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


5.1 SISTEMA DE PLANTIO
A cataia é uma espécie indicadora de ambientes de clima úmido e tolerante a baixas
temperaturas (FALKENBERG; VOLTOLINI, 1995; OLIVEIRA et al., 2008). É comum em terrenos brejosos
ou bem drenados, se adaptando a diversas condições fitossociológicas (OLIVEIRA; MATTOS, 2010).

230
5.2 ESPAÇAMENTO
Existem poucos dados sobre crescimento em plantios de cataia; entretanto, o crescimento é
lento. É recomendado plantio em linhas em espaçamento de 10 m x 4 m (CARVALHO, 2008).

5.3 RECOMENDAÇÕES E TRATOS CULTURAIS


A espécie é arbórea, monóica, heliófila, perenifólia e pioneira, ocorrendo em matas de altitude
e ciliares de terrenos brejosos ou bem drenados (CARVALHO, 2008; LORENZI; MATOS, 2008).

6. MANEJO PARA A PRODUÇÃO


6.1 MANEJO DA PRODUÇÃO E DO CULTIVO
Segundo Mariot et al. (2010), a espécie possui potencial de manejo em florestas secundárias
por favorecer o diâmetro de altura do peito (DAP), altura (H) e área basal (AB), além de indicar um
potencial para cultivo em sistemas agroflorestais. O autor frisa a importância do manejo sustentável

Drimys brasiliensis Miers


da casca de forma a incentivar a conservação da espécie, além de promover a proteção de regiões
remanescentes de florestas, sugerindo que a coleta de cascas seja realizada em árvores com diâmetro
de altura do peito (DAP) superior a 5 cm e que sejam coletadas lascas de casca com 2 cm de largura
por 2 m de comprimento, distanciadas 4 cm entre si, e que as explorações sejam realizadas a cada
cinco anos para recuperação das árvores.

7. POTENCIAL PRODUTIVO
7.1 RENDIMENTOS, CUSTOS
Indústrias farmacêuticas do Estado de São Paulo adquirem cascas dessa espécie para a formulação
de compostos fitoterápicos. Em 2008 as mesmas indústrias passaram a pagar R$20,00 por quilo de
casca seca, ao invés dos habituais R$3,00, em virtude da exploração estar sendo realizada seguindo
alguns critérios de sustentabilidade (MARIOT, 2011). O rendimento do óleo essencial de cascas é 0,15%
com predominância de monoterpenos. No comércio, 100 g de casca custa de 15 a 20 reais.

8. REFERÊNCIAS
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germinação de sementes de cataia (Drimys brasiliensis Miers. Winteraceae). Revista Brasileira
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233
Eremanthus erythropappus (DC.)
MacLeish
Eremanthus incanus (Less.) Less.
(Asteraceae)
Maria Alves Ferreira
Engenheira Florestal com mestrado e doutorado em Fitopatologia, com ênfase em Patologia
Florestal. É orientadora no Programa de Pós-graduação em Agronomia/Fitopatologia do
Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.

Renata Cristina Martins Pereira


Engenheira Florestal com mestrado em Fitopatologia, com ênfase em Patologia Florestal.
Atualmente é doutoranda no curso de Pós-graduação em Agronomia/Fitopatologia do
Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.

Lucas Amaral de Melo


Silvicultura Tropical

Engenheiro Florestal e de Segurança do Trabalho com mestrado em Doutorado na


área de Ciências Florestais. É coordenador e professor do curso de graduação em
Engenharia Florestal e orienta do Programa de Pós-graduação em Engenharia Florestal
no Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.

A candeia é nome popular dado para algumas espécies arbóreas da família


Asteraceae. O nome comum é oriundo da capacidade da madeira em queimar produzindo
chamas, assim como os antigos candeais. Dois gêneros dentro da família Asteraceae
podem ser chamados de candeia, sendo eles: Eremanthus Less. (Sensu Schultz-Bip) e
Vanillosmopsis Schultz-Bip. O nome Eremanthus tem origem grega e refere-se aeremos
(solitário) e anthos (sustentação de flor), enquanto Vanillosmopsis está relacionado ao
odor de baunilha característico desse gênero (Macleish, 1987).
Loeuille (2011) realizou um estudo filogenético das 22 espécies do gênero
Eremanthus e demonstrou seu monofiletismo, incluindo o gênero Vanillosmopsis.
As espécies do gênero Eremanthus ocorrem na América do Sul, sendo encontradas
na Argentina, no Paraguai e no Brasil (Carvalho, 1994). No Brasil, a candeia pode
ser encontrada nos estados de Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro
(Teixeira e Nunes, 1996). Entretanto, das 22 espécies, apenas duas ocorrem em larga
escala no estado de Minas Gerais e possuem maior interesse econômico, sendo elas E.
erythropappus e E. incanus.

234
1. BOTÂNICA
Eremanthus erythropappus apresenta folhas alternas ou fasciculadas, papiráceas a
coriáceas, inteiras, oblongo-elípticas a ovaladas, de ápice obtuso ou acuminado, base obtusa,

Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish (Asteraceae)


margem inteira e pecíolo de 0,5 a 1,0 cm de comprimento com 0,3 a 0,5 cm de diâmetro.
Lâmina de 8 a 15 cm de comprimento por 5 a 8 cm de largura, discolor, face adaxial de coloração
verde-pálido e a abaxial verde-esbranquiçado (Dutra et al., 2011).
Eremanthus erythropappus é utilizada para a extração de óleo essencial e para a
produção de moirões, devido a sua alta durabilidade, enquanto que E. incanus é apenas
utilizada para a produção de moirões, pois não apresenta potencial para extração de óleo
(Scolforo et al., 2012). Comercialmente, a espécie E. erythropappus tem sido bastante explorada
pelas empresas que extraem seu óleo para a indústria de cosméticos, que necessita do corte da
árvore, transformando a madeira em cavacos. Ambientalmente, a espécie é importante devido
à formação de povoamentos puros que protegem outros maciços florestais, e de acordo com
Oliveira-Filho e Fluminhan Filho (1999), esses povoamentos formam um tampão antifogo,
devido a sua resistência moderada a incêndios.
A capacidade de se desenvolver em solos pouco férteis, rasos, pedregosos e em elevadas
altitudes permite que essa espécie seja introduzida em locais onde seria difícil a implantação de
culturas agrícolas ou de outras espécies florestais (Rizzini, 1979). Devido às suas particularidades
e visando minimizar a exploração de candeais nativos, os plantios de candeia surgem como
uma promissora opção de cultivo florestal (Figura 1).

Figura 1: Regiões no sul de Minas Gerais onde ocorre naturalmente (A) e onde está sendo plantada (B)
a espécie Eremanthus erythropappus.

235
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
A exploração dos produtos retirados da candeia movimenta a economia no setor rural,
estabelecendo empregos e renda para a população. A madeira é a matéria prima de onde se extrai
um óleo essencial, que tem grande importância na indústria de cosméticos e farmacêuticos devido ao
seu principal componente, o alfabisabolol, que possui propriedades medicinais (Teixeira et al., 1996).
O cultivo de candeais para extração de óleo essencial é mais lucrativo em relação aos
plantios que tem como finalidade a produção de moirões (Scolforo et al., 2012). Pequenos e
médios produtores rurais, principalmente do sul de Minas Gerais, têm feito plantios há cerca
de dez anos com a espécie, principalmente com o objetivo de produção de mourões para serem
utilizados em suas propriedades e também para a comercialização da madeira para empresas
que realizam a extração do óleo.
Alguns estudos também têm sido conduzidos com o intuito de avaliar outros fatores
Silvicultura Tropical

de produção, tais como o consórcio da espécie com cultivos agrícolas, o seu uso como espécie
melífera, testes com o intuito de seleção de materiais genéticos mais produtivos, produção de
óleo, dentre outros (Melo, 2012; Nascimento et al., 2015; Pinto Junior, 2016).
A implantação de candeais no estado de Minas Gerais é uma promissora atividade
alternativa para a geração de renda. Sendo assim o potencial de algumas áreas no estado foram
analisadas por Oliveira (2012), que relatou que 7,5% e 25% das propriedades rurais nas regiões
de Carrancas e de Morro do Pilar são ocupadas, naturalmente, por essa espécie, respectivamente.
Nessas regiões, a atividade principal é a pecuária, entretanto com a devida orientação técnica
para a implantação e manejo da candeia, a exploração dessa espécie teria êxito.

2.1 EXTRATIVOS
Até o ano de 2016, toda a madeira de candeia explorada e consumida era advinda de
povoamentos naturais. Somente em 2018 é que os primeiros plantios começaram a ser cortados,
porém num percentual muito baixo em relação aos planos de manejo de candeais nativos existentes.
Anatomicamente, o lenho da candeia apresenta anéis de crescimento que possuem
alternância de lenhos inicial e tardio com zonas fibrosas e uma fina linha de parênquima marginal
(Chagas et al., 2007). A madeira é branca ou acinzentada e apresenta densidade entre 0,60 e
0,78 g/cm3 (Peréz et al., 2004), características essenciais para produção de moirões. Um moirão de
candeia, sem qualquer tratamento químico, dura cerca de 20 a 25 anos.

236
A madeira da espécie E. erythropappus pode ser usada para construções de currais ou galpões
quando o diâmetro for acima de 15 cm e para construção de cercas quando possuem diâmetro de, no
mínimo, 7 cm. Árvores com diâmetro menor que 7 cm não são economicamente viáveis, pois a madeira
apresenta baixa durabilidade. Essa atividade normalmente é feita por trabalhadores rurais e pequenos
produtores rurais, que se dedicam à retirada dessa espécie em propriedades rurais de terceiros.
O óleo essencial é outro produto retirado do lenho da candeia (E. erythropappus) é composto por
um álcool terciário (C15 H26O) conhecido por alfabisabolol. Esse óleo é um subproduto do metabolismo
secundário da planta que se acumula nos espaços intracelulares. O alfabisabolol é o principal componente
do óleo de candeia, possuindo propriedades físico-químicas desejáveis, como estabilidade, sem riscos

Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish (Asteraceae)


toxicológicos e também não apresentam decomposição e degradação (Citróleo, 2012).
Apesar de estar presente em diversas espécies de plantas, Matriarca chamomilla, Myoporum
grassifolium, Plinia cerrocampanensis (Altoé, 2012), a espécie arbórea E. erythropappus se destaca
pela grande quantidade de indivíduos presente na natureza, alto teor de álcool e grande quantidade
de óleo por planta. Esse óleo contém aproximadamente 70% de alfabisabolol (Scolforo et al., 2012) e
estima-se que mais da metade do produto final produzido no Brasil seja comercializado para o exterior.
Devido a suas propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes, antimicóticas e antiespasmódicas, ele
pode ser encontrado na formulação de produtos de higiene, cremes, bronzeadores, protetores solares,
creme dental entre outros (Scolforo et al., 2012).
Os óleos essenciais estão associados a diversas funções fisiológicas das plantas, envolvidos na
sobrevivência do indivíduo, exercendo um papel fundamental na sua defesa contra microrganismos
e predadores e também servem como atrativos para insetos e agentes fecundadores (Scolforo et al.,
2012). Esses óleos são compostos voláteis de composição lipofílica, diferente de óleos e gorduras
que têm composição glicerídica (International Standard Organization- ISO). Presentes em diversos
órgãos das plantas podem ser obtidos por meio de destilação por arraste a vapor d´água. O óleo
essencial da candeia pode ser obtido a partir dos galhos, folhas, fuste e raízes da árvore, entretanto
é mais comum a utilização do tronco e de galhos com, no mínimo, 3 cm de diâmetro.
O álcool terciário alfabisabolol, possui funções biológicas como inseticida, fungicida,
antibacteriano e anti-inflamatório. Diversas pesquisas comprovam a eficiência do alfabisabolol no
tratamento de doenças humanas como a Leishmania infarntum (Morales-Yusteaet al., 2010), contra o
câncer de pâncreas (Seki et al., 2011), como gastroprotetor (Bezerra et al., 2009; Leite et al., 2009) e
como agente que atua na permeabilidade da membrana celular de bactérias a antibióticos.
Essas propriedades antimicóticas e antibacterianas, associados à constante preocupação em
minimizar o impacto ambiental pelo uso de fungicidas, tornam o alfabisabolol um composto promissor

237
para o controle de doenças em plantas. Estudos que avaliaram a germinação de esporos da ferrugem
Phakopsora pachyhizi, Hemileia vastatrix, Cerotelium fici e Puccinia psidii comprovaram a eficiência
do óleo essencial no controle dessas doenças (Salustiano et al., 2006). Além disso, para fungos como
Alternaria carthami, Alternaria sp. e Rizoctonia solani, o óleo essencial de candeia proporcionou 100%
de inibição do crescimento micelial na concentração de 200 μL/ml e inibiu totalmente o crescimento
micelial de R. solani, independentemente da concentração utilizada (Hillen, 2012).
A atividade inseticida do alfabisabolol também já foi testada por Andrade et al. (2004) em Bermisia
argentifolli (mosca branca), uma praga comum no Brasil, responsável pela devastação de culturas de algodão
e frutas comestíveis de valor comercial, como melão e melancia. Para testar a eficiencia como inseticida,
foram coletadas amostras de dois locais diferentes, com diferentes teores de alfabisabolol. Posteriormente,
foram testados em diferentes concentrações (2; 1,5; 1; 0,5; 0,25 e 0,10 g/L), ocorrendo maior mortalidade
de insetos na concentração de 2 g/L, sem diferenças entre as amostras coletas nos dois locais.
Silvicultura Tropical

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1. PRODUÇÃO DE SEMENTES
A exploração da candeia aumentou nos últimos anos e, consequentemente, a demanda por
sementes de qualidade para a implantação de povoamentos com a espécie. No entanto, existem
poucos estudos sobre a qualidade de sementes do gênero Eremanthus, sendo que as espécies
desse grupo apresentam índices de germinação consideravelmente baixos devido à presença de
grandes quantidades de sementes mal formadas no momento da dispersão (Chaves e Ramalho
1995, Tonetti et al., 2006). Anatomicamente, as sementes são um aquênio cilíndrico, escuras, com
aproximadamente 2 mm de comprimento. O embrião possui cotilédones de coloração amarela e um
eixo hipocótilo-radícula curto (Chaves e Ramalho, 1996). Sua germinação depende de vários fatores,
principalmente da temperatura e da presença de luz. Geralmente, estando viáveis e em condições
favoráveis, a sementes germinam de sete a vinte dias após a semeadura.

3.2. FENOLOGIA
A inflorescência possui coloração púrpura, com flores hermafroditas que produzem grande
quantidade de pólem e néctar, tornando a espécie particularmente interessante para abelhas do
gênero Trigoma e Apis. Para dispersão, a semente possui uma estrutura de dispersão anemocórica,
denominada de “pappus”. As flores e os frutos possui uma configuração na borda externa da copa
facilitando a polinização e dispersão dos aquênios (Vieira et al., 2009).

238
3.3. ÉPOCA DE FLORAÇÃO
O florescimento da espécie E. erythropappus ocorre entre julho e setembro, já sua
frutificação pode ocorrer entre os meses de agosto a novembro, época em que a temperatura
aumenta e inicia-se o período de chuvas. As sementes devem ser coletadas logo no início da
dispersão natural, antes que ocorra a secagem na própria árvore e que sejam dispersas pelo
vento. Devem ser coletados os capítulos com restos de pedúnculo e colocados em sacos de
aniagem, com informações de georreferenciamento do local de coleta (Scolforo et al., 2012).

3.4. FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA

Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish (Asteraceae)


Os frutos são do tipo cipsela (Loeuille et al., 2012) e possuem adaptações típicas para
dispersão anemocórica “pappus” comum à família Asteraceae (Vieira et al., 2009). Feitosa et al.
(2009) estudaram a viabilidade das sementes de candeia e observaram significativa variação
entre progênies de mesma procedência quanto ao percentual de germinação e sementes vazias,
atribuindo o fato ao grande número de embriões mal formados.
Para a coleta de sementes, devem-se priorizar matrizes selecionadas, que apresentem tronco
cilíndrico, copa pequena, boas condições fitossanitárias e ramos finos com ângulo de inserção
próximos a 90 graus (Scolforo et al., 2012).
O número de matrizes selecionado varia de acordo com o objetivo, entretanto
independentemente do caso, a matriz deve ser identificada. No caso de povoamentos naturais,
deve-se manter uma distância mínima de 50 a 100 metros entre os indivíduos selecionados a fim
de reduzir as chances de coletar material endogâmico. Mas já existem pomares de sementes, com
matrizes selecionadas geneticamente que tem disponibilizado material genético para interessados
em implantar povoamentos florestais com a espécie (Melo, 2012).

3.5. MANEJO DE SEMENTES


O beneficiamento deve ser feito em local fechado devido à perda de sementes pelo vento,
sendo esse processo manual. Primeiramente, os frutos devem ser secos ao sol, em seguida deve-se
macerar a matéria seca sobre uma peneira. Para isso, uma bandeja deve ser colocada para recolher
as sementes. Posteriormente o material deve ser soprado, pois esse processo ajuda na separação
das sementes dos “pappus”, estrutura que favorece a dispersão da semente (Scolforo et al., 2012),
assim como ajuda a eliminar grande parte dos frutos sem sementes.
Como as coletas de sementes são feitas entre os meses de agosto a novembro, é importante
garantir sua viabilidade em armazenamento, a fim de manter as sementes viáveis por, no mínimo,

239
um período de tempo para coincidir com o processo de produção de mudas do ano seguinte.

3.6. ARMAZENAMENTO
As sementes de Eremanthus sp. podem ser secas a níveis baixos de umidade (5 a 7% de
umidade) e armazenadas em ambientes com baixas temperaturas (5ºC).
De acordo com Davide et al. (2011), sementes de E. incanus, que possui sementes muito
parecidas às sementes de E. erythropappus, conseguiram atingir 11% de umidade quando secas
ao sol, enquanto na secagem rápida com uso de sílica gel e na secagem com uso de sais, atingiu
4% e 8%, respectivamente. A germinação mesma (75%) quando as sementes foram secas em sílica
gel e armazenadas no freezer ou em câmara fria, e obtiveram viabilidade de 50% quando secas
de forma lenta e mantidas sob as duas condições de armazenamento. Sementes de candeia não
apresentam dormência (Tonetti et al., 2006), podendo ser semeadas tão logo sejam beneficiadas.
Silvicultura Tropical

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
A candeia tem recebido grande destaque devido a sua geração de renda que pode ser
secundária, quando indivíduos já existentes em candeais nativos são explorados, ou principal,
quando são introduzidos novos plantios. Entretanto para se obter sucesso na produção de árvores
com qualidade e características desejadas e, consequentemente, obter lucro, é importante a
adoção correta de várias técnicas de cultivo, como utilizar matrizes que apresentam qualidade
genética, escolher a área adequada para a espécie e identificar o clima ideal. A obtenção
de candeais com alto rendimento volumétrico, que gerem receita satisfatória, depende
primeiramente da utilização de mudas de qualidade, morfologicamente bem formadas e livres
de patógenos. Para conseguir mudas de candeia com essas características podem ser feitas a
multiplicação sexuada e assexuada.

4.1. PRODUÇÃO DE MUDAS POR SEMENTES


A propagação seminal é o método mais comum para a produção de mudas de candeia,
sendo poucos os viveiros que comercializam essas espécies devido à dificuldade de controle no
processo de crescimento da muda (Scolforo et al., 2012), podendo ser feita em sacos plásticos e
em tubetes. Os sacos plásticos são mais utilizados para sua produção, sendo suas dimensões 8 x
15 cm e 11 x 22 cm as mais utilizadas. Nesse caso, a semeadura deve ser feita diretamente no saco
plástico, colocando de 6 a 10 sementes por recipiente e o tempo de produção de mudas é de 5 a

240
6 meses. Os tubetes também podem ser utilizados, apresentando mais vantagens em relação aos
sacos plásticos, devido às suas arestas internas que evitam o enovelamento da raiz, menor volume
de substrato para a produção da muda e redução da incidência de pragas e doenças (Scolforo et al.
2012), sendo neste caso o ciclo de produção de 4 a 5 meses (Melo et al., 2014).
O crescimento e a qualidade das mudas dependem diretamente da composição do substrato
utilizado e a proporção de cada componente (Carneiro 1995). O solo não é um componente muito
utilizado por viveiristas (Davide et al., 2008), entretanto na produção de mudas em sacos plásticos ele
é usado como principal mistura (Carneiro 1995; Davide et al., 2008; Gomes e Paiva, 2011;Melo et al.,
2014). Para a produção de mudas de candeia em saco plástico além do solo, são utilizados esterco de

Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish (Asteraceae)


curral curtido e casca de arroz carbonizada, sendo adicionados 5kg de superfosfato simples e 120g de
cloreto de potássio a cada m³ de substrato.
Na produção de mudas em tubetes as formulações de substratos mais utilizadas são casca
de arroz carbonizada, compostos orgânicos diversos, moinha de carvão, serragem entre outros. Melo
et al. (2014) estudaram a sobrevivência e o crescimento de mudas de E. erythropappus, avaliando a
viabilidade de acordo com o custo por metro cúbico de substrato produzido. Os autores utilizaram
dez formulações de substrato com esterco de curral curtido, casca de arroz carbonizada, fibra de
coco e vermiculita média. A sobrevivência das mudas de candeia não obteve êxito nos tratamentos
com maiores percentuais de esterco, apresentando altas taxas de mortalidade das mudas, além de
influenciar de forma negativa no crescimento das mudas de candeia.
Para ambos os sistemas de produção, deve ser realizado o desbaste após 35 dias da semeadura,
deixando apenas uma muda por recipiente. Dez dias após o desbaste, pode-se realizar adubações de
cobertura, com 1Kg de monoamônio fosfato (MAP) purificado e 100g de cloreto de potássio, diluídos
em 100 litros de água, solução está aplicada a cada sete dias para mudas feitas em saco plástico e 15
dias para tubetes (Scolforo et al., 2012).
O período de 10 a 15 dias de rustificação é essencial para as mudas adquirirem resistência
às condições enfrentadas no campo, sendo que nesta fase as irrigações e adubações nitrogenadas
devem ser reduzidas ao máximo, as mudas devem permanecer no sol e devem ser mantidas ou
aumentadas as adubações com potássio.
Melo et al. (2014) verificaram que o melhor substrato para a produção de mudas de candeia
em tubetes é uma proporção de 60% de fibra de coco lavada, mais 30% de casca de arroz carbonizada
e 10% de vermiculita de granulometria média, com 4 Kg de Osmocote (adubo de liberação lenta) por
m³ de substrato (Figura 2).

241
Figura 2: Mudas de candeia (E. erythropappus) produzidas em tubetes. Mudas com 35 dias após a semeadura e
antes do desbaste (A). Mudas com quatro meses após a semeadura, prontas para serem plantadas no campo (B).

4.2. PRODUÇÃO DE MUDAS CLONAIS


A propagação assexuada, propagação vegetativa ou propagação clonal possibilita obter uma
nova planta com as mesmas características genéticas da planta - mãe de onde teve a parte vegetativa
coletada e apresenta como principal vantagem, a uniformidade dos plantios.
Silvicultura Tropical

A clonagem das mudas pode ser realizada por enxertia, cultura de tecidos, alporquia,
estaquia e miniestaquia. A enxertia ajuda a diminuir o tempo de produção de sementes e
frutos e rejuvenesce os propágulos já que uma parte adulta é enxertada em uma muda jovem.
A cultura de tecidos consiste em produzir tecidos ou órgãos da planta em meio de cultura
asséptico. Dentre as técnicas de propagação vegetativa que tem sido utilizadas para a produção
de mudas de candeia, as que têm apresentado melhor resultado são a estaquia e a miniestaquia
(Melo et al., 2012), devido sua aplicabilidade operacional e baixo custo operacional (Xavier et

Figura 3: Brotações de candeia (E. erythropappus) que podem ser utilizadas no processo de
propagação vegetativa. Brotações em galhos podados (A). Brotações de raízes (B).

242
al., 2009; Scolforo et al., 2012), sendo brotações da espécie obtidas a partir de brotações de
galhos podados ou raízes após a decepa da árvore (Figura 3). Entretanto, atualmente, a forma
mais eficiente para a produção de mudas de candeia é a propagação seminal, sendo a coleta em
pomares de sementes, a melhor opção.

5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO


As estratégias de melhoramento genético de espécies florestais nativas baseiam-se nos
mesmos princípios do melhoramento de exóticas, uma vez que todo método de melhoramento

Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish (Asteraceae)


é fundamentado na existência de variabilidade genética. Nesse sentido, deve-se levar em
consideração a biologia reprodutiva e a estrutura genética, o tamanho efetivo de populações e a
variação genética entre e dentro de populações (Kanashiro, 1992).
A Universidade Federal de Lavras (Departamento de Engenharia Florestal) tem
desenvolvido trabalhos desde 1990 com a espécie E. erythropappus. A espécie se tornou atrativa
devido ao interesse para a confecção de moirões para cerca e para a extração de óleo essencial,
rico em alfabisabolol, que amplamente utilizado nas indústrias farmacêuticas e de cosméticos
na forma de hidratantes e loções cicatrizantes. Embora as espécies de candeia apresentem uma
relativa distribuição, principalmente no estado de Minas Gerais, estas vêm sendo ameaçadas
pelo corte indiscriminado, visto que o interesse econômico é grande. Com isto, plantios foram
realizados principalmente na região sul do Estado de Minas Gerais, utilizando-se de mudas obtidas
a partir de sementes não melhoradas. Portanto, é necessário iniciar o melhoramento genético da
candeia, por meio da instalação de testes que propiciem a seleção de materiais genéticos mais
produtivos, a fim de aumentar a produtividade dos povoamentos, elevando o retorno econômico
a quem cultiva a espécie e reduzindo a pressão sobre os candeais nativos (Melo 2013). O mesmo
autor estudou plantios que foram implantados, principalmente, na região sul do Estado de Minas
Gerais, utilizando-se de mudas obtidas a partir de sementes não melhoradas e verificou-se que
existe variabilidade genética, sendo possível a seleção entre as progênies e entre os indivíduos
pertencentes às melhores progênies, de forma que, quanto mais precoce a seleção, maiores são
os ganhos anuais em relação às características de crescimento, porém maior é a probabilidade de
incorrer em erros na seleção. De acordo com Galdino et al. (2006), existem diferenças no rendimento
de óleo essencial e no teor de alfabisabolol de diferentes genótipos de E. erythropappus, sendo
importante que genótipos mais produtivos sejam selecionados. Silva et al. (2002) observaram
diferenças significativas entre progênies da espécie para as características diâmetro de coleto,

243
taxa de sobrevivência e altura total das mudas em viveiro, evidenciando que a candeia pode ser
utilizada em programas de seleção de genótipos a fim de melhorar tais caracteres.
Nos últimos cinco anos, os plantios comerciais de candeia em Minas Gerais já têm sido
feitos com genótipos selecionados em testes genéticos, já que, segundo Scolforo et al. (2012), o uso
de sementes de candeia sem melhoramento genético faz com que povoamentos não demonstrem
o potencial produtivo que podem alcançar (Scolforo et al., 2012). Esses testes foram instalados
nas zonas rurais de Aiuruoca e Baependi, municípios localizados no sul do estado e que são áreas
de ocorrência natural da espécie, e estão sendo continuamente avaliados e conduzidos para fins
acadêmicos e comerciais.

6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


6.1. SISTEMA DE PLANTIO
De acordo com Scolforo et al. (2012), nos locais onde a vegetação é composta de
Silvicultura Tropical

gramíneas menos agressivas, não é necessário revolver o solo e recomenda-se apenas fazer
sulcos a 30 cm de profundidade one não houver afloramentos de rochas e onde o relevo for
pouco acidentado.

6.2. ESPAÇAMENTO
Vários são os fatores que interferem na produção e viabilidade econômica dos plantios de candeia.
De acordo com Silva (2014), o plantio de candeia em espaçamentos de 3,0 x 1,5 m foi considerado mais
eficiente, devido seu maior valor volumétrico individual, em relação aos espaçamentos 1,5 x 1,5 m, 2,0
x 1,5 m e 2,5 x 1,5 m. O autor considerou que para os espaçamentos 3,0 x 1,5 m, 2,5 x 1,5 m, 2,0 x 1,5
m e 1,5 x 1,5 m, a idade ótima de corte é de 12, 13, 13, e 15 anos, respectivamente.

6.3. ADUBAÇÃO
Para a adubação, recomenda-se utilizar 50 g de adubo N:P:K (20-00-20) por, aplicando-se a
uma distância so pé da planta equivalente a 2/3 do raio da copa. Essa adubação deve ser realizada
após seis meses do palntio ou no início da temporada de chuva seguinte (Scolforo et al., 2012).

6.4. PREPARO DO SOLO


O preparo de solo em locais onde a mecanização não for possível, deve-se fazer apenas o
coveamento (30 x 30 x 30 cm) do terreno, utilizando enxadetas. De acordo com Scolforo et al., (2012)

244
o procedimento de preparo do solo como aração, gradagem e sulcagem não é o mais recomendado,
pois pode sujeitar o solo a uma maior erosão causada por chuvas e ventos. Esse tipo de operação,
porém, é recomendado para terrrenos onde a declividade é acentuada.

7. POTENCIAL PRODUTIVO
Scolforo et al., (2012), calcularam a produção volumétrica de um plantio de candeia (em
espaçamento 2,0 x 2,5 m) com 10 anos de idade e estimaram em 43,05 m3 de madeira por hectare.
Considerando a madeira a extração de óleo, o preço em 2012 situava-se em torno de R$ 130,00,

Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish (Asteraceae)


esperando-se uma renda bruta de R$ 12.846,60 por hectare. Ao se considerar a produção 1.500
moirões, vendidos a R$ 10,00 cada, resultaram-se em uma renda bruta de R$15.000,00.

8. OUTRAS INFORMAÇÕES
8.1. DOENÇAS E PRAGAS EM CANDEIA
Apesar dos benefícios econômicos e ambientais advindos de plantios florestais,
muitos problemas surgem com a implantação de uma monocultura (Galdino et al., 2006).
Consequentemente, vários fatores podem contribuir para a redução da sua produtividade e
comprometer o fornecimento de madeira para o mercado. Dentre eles, citam-se as adversidades
climáticas, as pragas e as doenças. Entre as doenças relatadas, podem ser citadas manchas foliares,
cujos agentes etiológicos podem ser Phyllachora eremanthi e Asteridiella cyclopoda (EMBRAPA
2016), e a ferrugem da candeia, cujo agente etiológico é Puccinia velata (Dietel, 1897).
A ferrugem tem ocorrido com frequência, podendo causar danos em árvores no campo na
região do sul de Minas Gerais. Os sintomas causados por esse fungo são pústulas amarronzadas
em folhas adultas, especialmente quando o patógeno se encontra em condições ambientais
favoráveis, entre os meses de maio a agosto.
A ferrugem foi relatada pela primeira vez em Eremanthus sp. por Dietel (1897), na
cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Em seguida, ela foi reportada por Jackson e Holway (1932)
como P. vanillosmopisdis e Uredo illaudanda. Contudo, os segundos autores não compararam
suas amostras com o material de P. velata, pois apenas o gênero da espécie foi mencionado
no primeiro relato. Posteriormente, Carvalho (2012) comparou exsicatas dos dois materiais e
confirmou que as duas se tratavam da espécie E. erythropappus, definindo como nome oficial
para o patógeno P. velata.

245
Silvicultura Tropical

Figura 4: Características morfológicas dos esporos de Puccinia velata. Teliósporos


arredondados em ambas as extremidades (A e B). Ornamentações na parede dos
urediniósporos (C e D). Pústulas marrons escuras na parte abaxial e necrose dos
tecidos na superfície adaxial (E). Pústula de urediniósporos na parte adaxial da folha
de E. erythropappus, em lupa (F).

246
Além disso, Jackson e Holway (1932) encontraram apenas teliósporos e urediniósporos,
sendo que as fases de pícnio e écio não foram observadas. O télio de P. velata é hipófilo, com
0,2 a 0,4 mm de diâmetro, densamente agrupados ou dispersos, castanhos amarronzados.
Teliósporos de (27-) 29-32 x (21-) 22-24 µm, amplamente elipsoide, arredondado em ambas
as extremidades, ligeiramente ou não contraídos no septo; as paredes laterais têm 1,5-2 µm, a
parede no ápice possui 2-3 µm, são castanhos claros, com verrugose; poro na célula superior,
poro na menor célula ao lado do pedúnculo; pedicelo caduco, hialino e pequeno (Dietel,
1897). Os urediniósporos foram encontrados separadamente da fase de télio, possuindo
formato arredondado, cor marrom escuro, com 23-25 x 29-31 µm e com ornamentações na

Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish (Asteraceae)


parede (Figura 4).
Apesar de ser uma árvore economicamente importante, existem poucos estudos sobre
a sua fitossanidade, tanto fitopatológico, quanto entomológico. Quanto às pragas Dysschema
sacrifica (Hübner, 1831) (Lepidoptera: Arctiidae) foi relatada em plantas de E. erythropappus em
Diamantina, estado de Minas Gerais. Os danos causados pela larva desse inseto são desfolhas
nas árvores, já o adulto e os ovos não causam danos fisiológicos à planta (Fonseca, 2014). Além
desse lepidóptero, formigas cortadeiras também atacam plantas de candeia, tanto em fase
de mudas, quanto em povoamentos adultos, reforçando a hipótese de estes insetos serem as
principais pragas de espécies florestais no Brasil.

9. REFErÊNCIAS
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junho de 2020.

251
Ilex paraguariensis A. St.-Hil.
Francielen Paola de Sá
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR), mestrado em Biotecnologia pela Universidade
Federal de Sergipe (UFS) e doutorado em Agronomia (Produção Vegetal)
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em
Estaquia (GEPE).

Carlos André Stuepp


Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal, Mestrado em
Agronomia (Produção Vegetal), Doutorado em Agronomia (Produção Vegetal)
e doutorando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

Katia Christina Zuffellato-Ribas


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Biológicas
Silvicultura Tropical

e doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista


Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia Vegetal pela
Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular do Departamento de
Botânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo
de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA
1.1. BIOMA
No Brasil a erva-mate é nativa da Floresta ombrófila mista (FERLA;
MARCHETTI; SIEBERT, 2005), onde cresce espontaneamente em regiões constituídas
por matas de Araucaria angustifolia (pinheiro-do-Paraná) (OLIVEIRA; ROTTA, 1983).

1.2 NOME COMUM: Erva-mate, yerba mate, hierba mate, mate,


maté, té del Paraguay, té de San Bartolomé, té de los Jesuitas, káhá (MÁRQUEZ
et al., 2013).

1.3 NOME CIENTÍFICO: Ilex paraguariensis A. St.-Hil.

1.4 FAMÍLIA: Aquifoliaceae

1.5 PORTE: Em condições naturais de floresta a altura varia entre 12


a 30 m (GAUER; CAVALLI-MOLINA, 2000); quando cultivada varia de 3 a 5 m
(ZAMPIER, 2001).

252
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
2.1 PRODUTOS NÃO MADEIREIROS
A erva-mate possui propriedades estimulantes e medicinais, as quais vem sendo
exploradas pela indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética. Tais propriedades são em
virtude da presença de compostos bioativos como:
• Flavonóides – quercitina, rutina, ácido gálico, catequina, epigalocatequina galato
(CHANDRA; DE MEJIA, 2004; LIMA et al., 2014);
• Metilxantinas – cafeína e teobromina (BOAVENTURA et al., 2013);
• Compostos fenólicos – ácido clorogênico e cafeico (LIMA et al., 2014).

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


De forma geral, esses compostos oferecem propriedades anti-inflamatórias (LIMA et al.,
2014), antioxidantes (BOAVENTURA et al., 2013), neuroprotetivas, diuréticas (BRANCO et al.,
2013), hepatoprotetiva, (TAMURA et al., 2013), anti-obesidade (LIMA et al., 2014), além de serem
capazes de reduzir os riscos de doenças cardiovasculares (CARDOZO JUNIOR; MORAND, 2016).
Os flavonoides presentes no extrato aquoso de erva-mate possuem atividade antioxidante por
prevenir a peroxidação lipídica (ANESINI et al., 2012). Estudos demonstram a relação positiva entre
o sombreamento dos ervais e o teor de compostos fenólicos e flavonoides (FERREIRA et al., 2016;
ROSSA et al., 2017). Mudas de erva-mate submetidas a diferentes níveis de sombreamento (0,18, 35
e 50%) apresentam maior acúmulo de compostos fenólicos e flavonoides no sombreamento de 35%,
sendo que estes compostos estão correlacionados com a capacidade antioxidante da erva-mate.
As metilxantinas são alcaloides naturais presentes na erva mate que possuem várias
propriedades farmacológicas, incluindo estimulante do sistema nervoso central, relaxante
muscular, ação diurética, anti-inflamatória e antirreumática (MAZUR et al., 2014). A cafeína
(um tipo de metilxantina), em emulsão, é capaz de reduzir o diâmetro de células do tecido
adiposo, atuando como um complemento para tratar a celulite, ação amplamente explorada
pela indústria cosmética e farmacêutica (VELASCO et al., 2008).
As saponinas compõem outro grupo identificado na erva-mate, as quais vem sendo
utilizadas na fabricação de fármacos, produtos de limpeza e rações, por apresentarem
propriedades detergentes, surfactantes e anti-inflamatórias (HAUPTLI; LOVATTO, 2006; SILVA
et al., 2011). As saponinas também são capazes de interferir no metabolismo do colesterol
por inibir a lipase pancreática e a difusão passiva de ácido cólico, formando micelas que não
podem ser absorvidas e então são excretadas (SILVA et al., 2011).

253
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES:
Após cinco anos do plantio de mudas originadas via sementes e após dois anos do
plantio de mudas originadas por propagação vegetativa (ZAMPIER, 2001).

3.2 FENOLOGIA
A espécie apresenta períodos fenológicos bem definidos. Os eventos reprodutivos da erva-
mate, desde a formação do botão floral até a maturação dos frutos, ocorrem entre os meses de
setembro a maio (PIRES et al., 2014). De acordo com esses autores, a antese ocorre nos meses de
outubro até novembro; de outubro até o final de março são observados frutos imaturos e, em maio
ocorre a mudança de coloração dos frutos de verde (Figura 1A) para vermelho arroxeado (Figura 1B).
Silvicultura Tropical

A B

Figura 1. Frutos de erva-mate: A. Frutos verdes; B. Frutos vermelho arroxeados. Foto: Maria
Cecília Mireski (2017)

De maneira geral, os ramos levam entre 35 a 40 dias após o corte para brotar; de 40 a
45 dias após a brotação para ter 50% da planta com flores; de 30 a 40 dias após a floração para
a produção de frutos, e igual período até a maturação (SUERTEGARAY, 2002).

3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO


De setembro a novembro no Paraná, de setembro a dezembro em Santa Catarina e de
setembro a outubro no Rio Grande do Sul (CARVALHO, 1994).
A erva-mate é uma planta alógama dióica com um dos sexos abortivos, ou seja, todas as
flores possuem estames e pistilos, porém nas flores femininas os estames são atrofiados e nas
masculinas o pistilo se deprime e aborta (ZAMPIER, 2001; SOUSA; DAROS; STURION, 2003).

254
As flores são pediceladas e dispostas em inflorescência fasciculada nas axilas foliares,
possuem cálice gamossépalo com quatro sépalas de coloração verde clara e uma corola com
quatro pétalas de coloração branca e quatro estames inseridos entre as pétalas (alternipétalos)
(PIRES et al., 2014).

3.4 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA


A frutificação ocorre de dezembro a abril (CARVALHO, 1994). O desenvolvimento e a
maturidade dos frutos ocorrem de fevereiro a março (SOUSA; DAROS; STURION, 2003).

3.5 MANEJO DE SEMENTES


Após a colheita dos frutos, somente aqueles que apresentarem coloração violeta-escuro,
deve-se separá-los das sementes por meio da maceração em peneiras, seguida da lavagem em
água corrente para eliminação de impurezas e, secagem a temperatura ambiente por 24 horas

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


(ZANON, 1988).

3.6 QUEBRA DE DORMÊNCIA


Devido a imaturidade embrionária e a dormência tegumentar, as sementes de erva-
mate necessitam da estratificação por um período de seis a sete meses (CUQUEL; CARVALHO;
CHAMMA, 1994; FOWLER et al., 2007).

Em condições laboratoriais, a estratificação pode ser realizada em caixa gerbox,


semeando as sementes (120 g) entre duas camadas de areia seca, com uma espessura de
8 a 10 cm cada (ZANON, 1988). O substrato deve ser umedecido com água até atingir 60%
da capacidade de campo (CUQUEL; CARVALHO; CHAMMA, 1994). No caso de sementes
armazenadas, recomenda-se como procedimento prévio à estratificação, mergulhar as sementes
em água, em temperatura ambiente por 3 dias, para o amolecimento do tegumento (FOWLER;
STURION, 2000).

Recomenda-se a alternância de luz e temperatura por meio da manutenção dos gerbox


contendo as sementes em germinador (8 horas iluminadas com luz branca e fluorescente
a 35º e 16 horas de escuro à temperatura de 15ºC), aliado ao uso de solução de nitrato de
potássio (0,2%) em substituição à água durante o umedecimento do substrato para redução
(de sete para quatro meses) do período necessário para quebra da dormência das sementes
(CUQUEL; CARVALHO; CHAMMA, 1994). Conforme as recomendações das regras de análise

255
de sementes (BRASIL, 2009), o substrato deve ser inicialmente umedecido com a solução de
nitrato de potássio, mas o reumedecimento, se necessário, deve ser feito com água.

3.7 ARMAZENAMENTO
As sementes de erva-mate podem ser armazenadas à temperatura ambiente por até 30
dias, mantendo o máximo poder germinativo; quando armazenadas a 5ºC (±1) a viabilidade é
mantida por até 150 dias (FONTANA et al. 1990 citado por CATAPAN, 1998).
As sementes de Ilex paraguariensis apresentam comportamento ortodoxo, permitindo
a secagem em câmara seca (14°C ±1°C e 38% ± 3% UR) ao nível de 5,9% de umidade, por um
período de 49 dias (MEDEIROS; SILVA, 2001).

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Silvicultura Tropical

Após a estratificação, a semeadura deve ser realizada em sementeiras, seguida da repicagem


em recipientes individuais até atingirem de 10 a 20 cm de altura para o plantio a campo.
Recomenda-se a semeadura a lanço, de 150 a 250 g de sementes estratificadas por metro
quadrado de canteiro, utilizando como substrato uma mistura na proporção 1:1 (v/v) de solo
peneirado (5 mm) e areia com granulometria média, mantendo um sombreamento ao nível de
50% (STURION, 1988; SANTIN et al., 2008).
A erva-mate apresenta germinação fanerocotiledonar, epígea, com uma fase hipógea,
em que a semente permanece no solo e o hipocótilo, apresenta a forma de U invertido, até sua
elevação epigeal, processo que ocorre a partir do 40º dia após a semeadura estendendo-se até o
120º dia (KUNIYOSHI, 1983; STURION, 1988).

4.2 MANEJO
Após atingirem de 2 a 4 cm de altura, as mudas devem ser transferidas da sementeira
para tubetes médios (100 cm3 de capacidade) em um ambiente com sombrite com capacidade
de interceptação da luz de 70% até atingirem de 10 a 20 cm de altura, após o qual podem ser
transplantas para campo (WENDLING; GUASTALA; DEDECEK, 2007).
Com relação ao substrato a ser utilizado durante a produção de mudas, Wendling et al.
(2007) estudando diferentes formulações de substratos contendo distintas proporções de esterco
bovino curtido, serragem semidecomposta, palito de erva-mate picado, terra de subsolo, substrato

256
comercial à base de casca de pinus e húmus de minhoca, verificaram que aquele composto de 40%
de esterco bovino e 60% de serragem apresentou boa relação custo-benefício, sendo adequado
para produção de mudas de erva-mate.

Quanto à exigência nutricional, Ceconi et al. (2007), verificaram efeito benéfico da


adição de fósforo ao substrato. Esses autores indicam o uso de 360 e 450 mg kg-1 de fósforo,
porém, essa quantidade poderá variar conforme as características do solo. Com relação à
adubação com nitrogênio e potássio, esta não deve ser superior a 100 mg Kg-1 de substrato
(SANTIN et al., 2008).

4.3 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA


A propagação vegetativa da erva-mate é uma alternativa tecnicamente viável para driblar
as limitações inerentes à propagação seminal da espécie, como a baixa, lenta e desuniforme

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


germinação e, dos problemas gerados pela implantação de ervais a partir de mudas propagadas
via sexuada. Além disso, tem-se a necessidade de multiplicação clonal de materiais genéticos
melhorados como forma de se obter mudas em curto espaço de tempo e com melhor qualidade
genética (WENDLING et al., 2013). Desta forma, diversos estudos vêm sendo conduzidos desde a
década de 80, com diferentes enfoques, sendo um deles o desenvolvimento de metodologias de
produção clonal de mudas.
A erva-mate pode ser propagada vegetativamente por meio de diferentes técnicas como:
a estaquia, miniestaquia, enxertia e micropropagação. Os propágulos vegetativos podem ser
coletados de diferentes porções do ramo/muda: apical, mediano e basal e, podem ser oriundos
tanto de material propagado via seminal (juvenil) quanto de árvores adultas (madura), desde que
seja induzido o rejuvenescimento do material (e.g. uso de brotações do ano e/ou epicórmicas),
tendo em vista que a espécie é considerada de difícil enraizamento quando propagada por meio
de materiais adultos (KRATZ et al., 2015; STUEPP et al., 2017).
Não há um consenso quanto à metodologia padrão a ser empregada para produção
clonal de mudas, havendo variações quanto ao tamanho ideal do propágulo, área foliar a ser
mantida na confecção da estaca/miniestaca, necessidade da aplicação e concentração ideal de
regulador vegetal.
Graça et al. (1988) trabalhando com estaquia de erva-mate, confeccionaram propágulos
com 12 cm de comprimento com um par de folhas na porção apical. Estes autores observaram
que o enraizamento das estacas foi estimulado pelo uso do ácido indol butírico (IBA), mesmo

257
o material sendo de origem seminal, no qual a concentração recomendada foi de 8000 mg L-1. Da
mesma forma, SÁ et al. (2018) verificaram que a aplicação e 8000 mg L-1 beneficiou o enraizamento
de miniestacas de erva-mate, proporcionando 70% de enraizamento.
Já em estacas caulinares rejuvenescidas, a aplicação da auxina sintética IBA não
influenciou o enraizamento, tanto das estacas obtidas de brotações do ano de árvores de 13
anos, quanto de material oriundo da decepa de árvores de 17 anos (BITENCOURT et al., 2009).
Com relação ao substrato, Brondani et al. (2009) indicam o uso da mistura de casca de
arroz carbonizada + substrato à base de casca de pinus e vermiculita (1:1 v/v) na produção de
mudas de erva-mate propagadas via estaquia.
Uma das técnicas amplamente utilizadas para produção clonal de mudas é a miniestaquia.
Esta consiste em manter as plantas matrizes (denominadas minicepas) em recipientes (tubetes,
bandejas, vasos, telhas de amianto, sacos plásticos) onde, após a poda dos ápices, estas emitem
brotações que são coletadas, estaqueadas e mantidas em casa de vegetação até a formação do
sistema radicial, originando assim mudas geneticamente idênticas a planta matriz.
Silvicultura Tropical

Com relação à técnica de miniestaquia em erva-mate, o sistema semi-hidropônico para


condução de minicepas mostrou-se tecnicamente viável (WENDLING; DUTRA; GROSSI, 2007).
Este sistema proporcionou alto índice de sobrevivência e produtividade das minicepas (superior
a 95% e 291 miniestacas m-2 de minijardim, respectivamente) e altos índices de sobrevivência
das miniestacas após a rustificação (WENDLING; DUTRA; GROSSI, 2007). Desta forma, o sistema
semi-hidropônico é capaz de manter a viabilidade das minicepas com o decorrer das coletas e
conservar o alto vigor fisiológicos das miniestacas.
Quanto à concentração da solução nutritiva utilizada no sistema semi-hidropônico,
Wendling et al. (2007) avaliaram a resposta das minicepas e, das miniestacas oriundas destas,
quando submetidas à soluções nutritivas formuladas a partir de adubos comerciais, nas
concentrações de 100% e diluídas para 50% e 75% da solução original. Tais autores verificaram
que a erva-mate produz mais miniestacas em soluções menos concentradas.
Uma outra forma de propagação vegetativa de erva-mate consiste no uso de brotações
epicórmicas. Wendling et al. (2013) desenvolveram um método para resgatar plantas adultas
de erva-mate, sem a necessidade do corte raso das matrizes. Para tanto, coletaram galhos basais
de árvores de erva-mate com 19 anos de idade e os acondicionaram em bandejas de areia
sob ambiente com umidade e temperatura controlados. Em tais condições, ocorreu a emissão
de brotações epicórmicas, estas foram coletadas e confeccionadas em estacas de 4-8 cm de
comprimento. As bases das estacas foram imersas em solução hidroalcóolica (álcool:água, 1;1,

258
v/v) de IBA na concentração de 6000 mg L-1 por 10 segundos, plantadas em bandejas contendo
substrato de cascas de arroz carbonizado e mantidas no ambiente de enraizamento por 90 dias.
Foram verificados adequados índices de enraizamento, sobrevivência, número e comprimento
de raízes com uso desta técnica.
A propagação clonal da erva-mate também pode ser realizada por meio da
micropropagação. Esta técnica consiste em cultivar qualquer parte destacável da planta matriz
(e.g. gemas, ápices caulinares, meristemas, fragmento de raízes, folha) denominado explante,
em recipientes contendo o meio de cultura em condições laboratoriais, com completo controle
de temperatura, umidade, fotoperíodo e assepsia.
Protocolos de cultivo in vitro recomendam o uso de ápices caulinares oriundos de embriões
zigóticos imaturos de erva-mate, cultivados em meio base formado por ¼ da concentração dos
sais do meio MS (Murashige & Skoog), 8,88 µM de BAP (6-benzilaminopurina) e 7,38 µM IBA
(HORBACH et al., 2011). Já GRIEBELER et al. (2014) sugerem o uso de 0,5 µM NAA (ácido naftaleno

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


acético) como fonte auxínica durante o desenvolvimento inicial de explantes de Ilex paraguariensis.
Para a multiplicação in vitro da erva-mate podem ser empregados como propágulos
vegetativos tanto segmentos apicais, quanto nodais de brotações de plântulas micropropagadas
de erva-mate (QUADROS, 2013).
A enxertia também pode ser empregada como forma de propagação vegetativa da erva-
mate. Este método é um dos mais utilizados na formação de pomares clonais de produção de
sementes melhoradas, permitindo a antecipação do florescimento e redução do porte das árvores.
Comparando diferentes métodos de enxertia, Wendling et al., (2004) verificaram que
a garfagem em fenda cheia é o mais adequado, viabilizando a maior união do enxerto e porta-
enxerto, em relação a garfagem sob casca e borbulhia. De acordo com esses autores, pode-se
coletar propágulos das diferentes partes da planta matriz (base, parte mediana e apical), sem
interferir na sobrevivência dos enxertos.
A enxertia de copa (sobre-enxertia) de erva-mate também é uma forma de propagação
tecnicamente viável, apresentando altos índices de sobrevivência dos enxertos (média de 92,2%)
após 30 dias da enxertia; porém, com o decorrer do tempo, este índice tende a reduzir (para
cerca de 50,3%) após 180 dias da enxertia (WENDLING et al., 2009). Segundo estes autores,
a idade da planta matriz da qual são retirados os enxertos influencia nas taxas de pegamento.
Neste estudo, foram utilizadas plantas matrizes acima de 80 anos e de 10 anos de idade e, foi
constato que as melhores taxas de pegamento foram obtidas nas árvores mais novas.

259
Porém, um dos problemas recorrentes durante a prática da enxertia é a oxidação dos
tecidos no ponto de soldadura, acarretando na redução dos índices de pegamento e sobrevivência
dos enxertos. No entanto, tal efeito pode ser minimizado com a aplicação de antioxidantes como
ácido cítrico e polivinilpirolidona (WENDLING; HOFFMANN; LIRA, 2004).

5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO


Ilex paraguariensis é uma espécie alógama dióica críptica, característica que não permite a
autopolinização (SOUSA; AGUIAR; SPOLADORE, 2015). A dioicia é um mecanismo importante para o
melhoramento genético, pois possibilita a inclusão de indivíduos selecionados, na proporção de sexo
desejada (SOUSA; DAROS; STURION, 2003). Além disso, favorece cruzamentos aleatórios por meio da
polinização cruzada, estimulando a panmixia e permite a participação proporcional dos gametas no
“pool” gênico (SOUSA; AGUIAR; SPOLADORE, 2015). No entanto, a proporção de sexo, a distribuição
espacial e temporal dos indivíduos em reprodução, pode limitar o tamanho efetivo populacional
(SOUSA; DAROS; STURION, 2003).
Silvicultura Tropical

Além disso, a espécie é diplóide (2n=40); desta forma, os modelos tradicionais de genética
quantitativa baseados em diploidia podem ser aplicados à erva-mate (RESENDE et al., 2000).
O melhoramento genético da espécie iniciou em 1974 na Argentina e, na década de
90 no Brasil, objetivando obter cultivares e sementes geneticamente superiores, com enfoque
principalmente nas características silviculturais como: produção de massa verde, resistência a pragas
e doenças, adaptação, desfolhamento, tipo de ramificação e arquitetura (RESENDE et al., 2000;
SIMEÃO et al., 2002).
Tais programas de melhoramento são conduzidos pelo Instituto Nacional de Tecnologia
Agropecuária (INTA) na Argentina, pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural
de Santa Catarina (EPAGRI) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)
(RESENDE et al., 2000).
Até as últimas décadas, o programa de melhoramento do INTA baseou-se na seleção
de clones e progênies considerando o rendimento a campo; porém, estudos recentes têm sido
realizados utilizando ferramentas moleculares.
Quanto ao programa da EPAGRI, esta possui uma das maiores coleções brasileiras de erva-
mate, com indivíduos de várias procedências, todas de origem natural e com grande variabilidade
fenotípica (VIDOR et al., 2002). Estudos preliminares foram conduzidos a fim de selecionar
procedências considerando: altura de planta, diâmetro de copa, densidade foliar, sobrevivência das
plantas, comportamento de rebrote e identificação de plantas femininas e masculinas, sendo então

260
identificadas seis procedências: Água Doce, Concórdia, Barão de Cotegipe, Passo Fundo, Ilópolis e
Venâncio Aires, as quais se destacaram em todas as variáveis analisadas (VIDOR et al., 2002).
Por sua vez, o programa conduzido pela Embrapa (PROMEGEM) baseia-se na conservação
genética, avaliação e seleção de procedências e progênies de meios-irmãos de erva-mate em
vários locais do Paraná e Rio Grande do Sul, considerando a variabilidade genética entre e
dentro de populações (RESENDE et al., 2000; SIMEÃO et al., 2002; STURION, 2009).
Além disso, nos programas de melhoramento mais recentes, estão sendo consideradas
as propriedades associadas às características dos produtos oriundos da erva-mate. Pesquisadores
da Embrapa Florestas estão trabalhando na seleção de plantas com teores conhecidos de cafeína,
teobromina, compostos fenólicos e saponinas, substâncias que podem atender as demandas da
indústria farmacêutica, alimentícia e cosmética.
Estudos indicam que o potencial de produção destas substâncias, principalmente
cafeína, advém de 60% da característica genética da planta. Desta forma, pesquisas estão em

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


desenvolvimento visando produzir cultivares diferenciadas e, identificar as condições ambientais
e de manejo que induzam o máximo potencial produtivo destas.
O melhoramento genético da erva-mate tem sido limitado por vários fatores. A avaliação
agronômica e os programas de seleção são baseados essencialmente no rendimento da cultura
e, são escassas informações a respeito dos genes envolvidos com as características agronômicas
(DEBAT et al., 2014). Diante da importância de se alcançar o melhoramento genético baseado em
ferramentas moleculares, cientistas argentinos identificaram genes envolvidos com o metabolismo
celular (e.g. estresse oxidativo, defesa contra patógenos, resposta hormonal) (DEBAT et al., 2014).
De acordo com esses autores, a partir deste estudo amplia-se o conhecimento sobre o genoma da
erva-mate, permitindo obter cultivares com maior rendimento, resistentes ao estresse hídrico e
tolerantes a doenças, considerando para tal, caracteres moleculares.
O sucesso da implantação de ervais depende do uso de técnicas que visem à manutenção
e multiplicação de material genético superior, algo possível por meio da propagação vegetativa,
técnica que apresenta o maior avanço nos programas de melhoramento da espécie (SANTIN et
al., 2015). Conforme esses autores, o uso de mudas propagadas vegetativamente, com material
geneticamente superior, reflete em ervais com desenvolvimento uniforme, alta produtividade e
qualidade do produto final, assegurando a comercialização e maior rendimento industrial.
Além disso, ressalta-se a importância da associação do desenvolvimento dos programas
de melhoramento com os protocolos de propagação vegetativa específicos para cada clone/
cultivar selecionada (WENDLING, 2004).

261
A b
Silvicultura Tropical

d e

Figura 2. Erva-mate: A. Plantio puro em espaçamento de 3x2 m. B. Plantio misto, consorciado com Araucaria
angustifolia em fase adulta. C. Plantio misto, consorciado com Araucaria angustifolia em fase juvenil. D. Poda
de erveiras com manutenção do “baixeiro”. E. Poda total de erveiras sem manutenção de ramos e folhas.Fonte:
Fazenda Vila Nova, Bitumirim Ind. e Com. de Erva-mate Ltda., Ivaí- PR.

262
6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS
6.1 SISTEMA DE PLANTIO
A partir da década de 1980, fomentou-se a implantação de ervais homogêneos, principalmente,
em decorrência da expansão do plantio de culturas anuais, em áreas onde se explorava ervais nativos
(ANDRADE, 2002; SANTIN et al., 2013). A erva-mate é tradicionalmente cultivada em ambiente
sombreado, mas com boa adaptação a pleno sol, seu plantio pode ser realizado em ambas as condições,
de acordo com os objetivos de produção. No Brasil, os sistemas de plantio de erva-mate podem ser
divididos em plantios extrativistas, com plantas de ocorrência natural, estabelecidas em sub-bosque
de floresta ombrófila mista, plantios semiextrativistas, com plantas que são mantidas em sub-bosque
de floresta ombrófila mista manejada, com ou sem adensamento, visando a melhoria no sistema de
produção de erva-mate e, plantios puros de erva-mate, atuando esta como uma espécie agronômica.
Neste último, há ainda a possibilidade de aplicação de Sistemas Agroflorestais, em consórcio com
culturas agrícolas anuais (EMBRAPA, 2010; PALACIOS, 2010).

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


A recomendação de plantios mistos é baseada no melhor desempenho da espécie em
condição de sombra em sua fase juvenil, como ocorre em plantios sob formações florestais pioneiras
ou secundárias (CARVALHO, 1994). O plantio misto de erva-mate, principalmente associada à Araucaria
angustifolia (Figura 2B, C), tem resultado também no melhor controle de pragas tradicionalmente
verificadas em plantios puros. É importante destacar que a produção de biomassa fresca sofrerá
considerável influência do sistema de cultivo (misto ou puro) (CARON et al., 2014) e do tipo de cultivo
(sombreado e a pleno sol) (RAKOCEVIC et al., 2008; RAKOCEVIC; MARTIM, 2011).

6.2 ESPAÇAMENTO
A definição do melhor espaçamento a ser utilizado na produção de biomassa de erva-mate
dependerá do sistema de plantio adotado. Para plantios puros, recomendam-se espaçamentos
de 2,0 m x 2,0 m (2500 plantas ha-1), 3,0 m x 2,0 m (1667 plantas ha-1) e 3,0 m x 1,5 m (2222
plantas ha-1) (Santin et al., 2014). Para plantios mistos, a densidade apresentará relação direta com
a intensidade luminosa que chegará até as plantas, seja na condição de plantios em consórcio com
espécies florestais ou mesmo em condição de sub-bosque em Floresta Ombrófila Mista.
Em condição de sub-bosque, recomenda-se o espaçamento de 2,0 m x 2,0 m (2500 plantas
ha-1), ou um dos espaçamentos descritos para plantios puros. Devido à heterogeneidade na entrada
de luz, pode-se optar pelo uso de espaçamentos variáveis em função da intensidade luminosa. Nestes
casos, sugere-se a manutenção de um espaçamento fixo entre linhas e redução do espaçamento entre
plantas em pontos de maior incidência luminosa.

263
Em sistemas agroflorestais, em consórcio com culturas agrícolas, pode-se optar pela
utilização de linhas simples ou múltiplas. O espaçamento pode ser fixo entre plantas, de 1,50 m, e
variável entre renques, dependendo dos equipamentos agrícolas utilizados no sistema de cultivo
das culturas anuais. A utilização de plantios com maior densidade amplia proporcionalmente os
custos de implantação e manutenção, devendo-se avaliar todas as etapas de plantio e manejo para
a determinação do espaçamento a ser adotado.

6.3 ADUBAÇÃO
Para a adubação da cultura de erva-mate, deve-se levar em consideração as diferentes fases
do ciclo de produção da espécie. Isto inclui o preparo do solo pré-plantio, fases de formação da
copa e produção de biomassa comercial. A tolerância da espécie a níveis elevados de Al3+ faz com
que a aplicação de calcário tenha por objetivo o suprimento de Ca e Mg, o qual pode ser aplicado
na cova ou na área total de plantio, incorporado ou não ao solo (SANTIN et al., 2014).
A adubação no plantio deve ser realizada de acordo com a análise química do solo. Pode ser
Silvicultura Tropical

aplicada diretamente na cova ou em covetas laterais, a uma distância mínima de 10 cm da muda.


Em caso de subsolagem, pode-se aplicar em filetes contínuos na linha de plantio. As adubações
pós-plantio podem ser aplicadas por cobertura, na projeção da copa (vide item 7.3. Manejo da
produção e do cultivo) (SANTIN et al., 2014).

6.4 PREPARO DO SOLO


O método de preparo do solo para plantio ou reforma de novos ervais ocorrerá de acordo com
o sistema de plantio adotado (vide item 6.1. Sistema de plantio). Em plantios mistos, o preparo pode
ser manual, com uso de enxadão, ou semi-mecanizado, com o uso de motocoveador. Recomendam-se
covas com, no mínimo 30 cm de largura e 30 cm de profundidade, mantendo-se o fundo preenchido
com solo revolvido. Tais dimensões visam atender às necessidades da espécie em sua fase inicial de
desenvolvimento, favorecendo o máximo vigor das raízes.
Em plantios puros ou mistos, que permitam o preparo mecanizado da área, pode-se adotar
técnicas que visem a descompactação das camadas superficiais do solo, sobretudo em áreas com
histórico de uso agropecuário intenso. A subsolagem na linha de plantio tem gerado bons resultados
no preparo de solos florestais. A quebra da compactação do solo em camadas sub-superficiais (20-
40 cm) torna as características físicas do solo mais adequadas para o desenvolvimento do sistema
radicular (DEDECEK; RODIGHERI, 1999).

264
A época de preparo do solo deve ocorrer próxima à época de plantio, geralmente no
inverno, por levar a um menor estresse das mudas devido aos efeitos climáticos. Em áreas de sub-
bosque, o preparo do solo e plantio podem ser realizados durante todo o ano, atendo-se apenas à
disponibilidade de água para o pegamento e desenvolvimento inicial das mudas.

6.5 RECOMENDAÇÕES E TRATOS CULTURAIS


Por se enquadrar como uma cultura perene, é importante que sejam realizados tratos
culturais no sentido de controle da matocompetição. A manutenção de cobertura vegetal nas
entrelinhas do plantio tem reduzido significativamente a perda de solo por erosão (THOMAZ;
ANTONELI, 2008). Recomendam-se espécies com maior velocidade de recobrimento do solo,
maior volume de matéria verde e bom desenvolvimento radicular (PHILIPOVSKY et al., 2002).
Para o uso de cobertura morta, pode-se optar pela deposição da palhada obtida com a roçada da
vegetação das entrelinhas.

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


7. MANEJO PARA A PRODUÇÃO
7.1 TÉCNICAS DE CULTIVO E COLHEITA DA PRODUÇÃO
O plantio de erva-mate tem como objetivo a produção de biomassa foliar (folhas e ramos
finos menores de 7 mm de diâmetro), tornando adequada a atividade de poda, essencial na
condução e colheita do produto comercial. A poda deve ser realizada por pessoas treinadas,
que conheçam as características da espécie (DA CROCE, 1997). A manutenção de ramos e folhas
(20% das folhas) é importante para a redução do estresse das plantas podadas (PENTEADO
JUNIOR; GOULART, 2017). Evitar a remoção total da biomassa foliar melhora as condições de
sanidade dos ramos e caules mais grossos, fundamentais para o bom desempenho produtivo
nas colheitas subsequentes (BURTNIK et al., 1996). De acordo com Penteado Junior & Goulart
(2017), é possível dividir os ramos da erveira em três tipos: “bandeiras”, caracterizados por um
maior comprimento e dominância apical; “bandeirinhas”, ramos de crescimento vertical ou
lateral, com diâmetro menor que 2 cm; “ramos finos”, com diâmetro inferior a 1 cm.
A primeira poda a ser realizada é a poda de formação, que tem por objetivo
aumentar a amplitude da copa. Deve ocorrer entre o primeiro e terceiro ano após o plantio,
cortando-se em bisel o ramo principal, entre 20 e 40 cm acima do solo (PENTEADO JUNIOR;
GOULART, 2017). Um modo simples de identificar a época adequada para a poda de formação
é quando o caule já apresenta, na altura de poda, tecidos maduros com casca acinzentada.

265
A poda de formação é essencial para orientar o desenvolvimento dos ramos laterais, com ocupação
de maior área horizontal e melhor relação de ramos finos.
A poda de limpeza, realizada previamente à colheita, tem por objetivo colher os ramos
maduros dominados na parte inferior da erveira. Pode ser realizada nos meses de abril, para
plantas maduras; e entre julho e agosto, para plantas jovens. Serve também como método de
controle cultural contra agentes danosos, uma vez que se removem os ramos com alguma indicação
fitopatológica (EMBRAPA, 2010).
A poda de condução é realizada na época da colheita de biomassa comercial e está
relacionada à produtividade e longevidade das erveiras (SCARPARE FILHO et al., 2011). Inicia-se
entre o 2o e 4o ano após o plantio do erval, ocorrendo em intervalos de 12, 18 ou 24 meses. A
poda de condução consiste na colheita manual de todos os ramos finos que estiverem orientados
para o centro da copa, incluindo os ramos dominantes com tecidos maduros, mantendo-se uma
porção basal de 10 a 15 cm de comprimento. Devem ser eliminados os ramos sombreados e/ou
malformados, desde a sua inserção. Mantem-se os ramos jovens (imaturos) que estejam dispostos
Silvicultura Tropical

horizontalmente ao solo (do centro para fora da copa), os quais serão colhidos futuramente e
servirão para ampliar a copa da erveira. Recomenda-se a manutenção de pelo menos um ramo
com folhas em cada galho.
A melhor época para realização da poda das erveiras é entre os meses de maio e agosto
(EMBRAPA, 2010). Recomenda-se evitar o corte de ramos “bandeiras” com caule imaturo (cor
verde), cortando-se apenas aqueles com diâmetro maior que 2,5 cm e tecidos maduros na base.
Deve-se cortar em bisel, com ferramentas limpas e afiadas, tomando-se cuidado para não deixar
lascas provenientes da poda. Há ainda a poda de rebaixamento via decepa, recomendada para
ervais com elevada idade e que já tenham entrado em decadência produtiva. Pode ser executada
de uma só vez ou em etapas ao longo de dois anos, tendo por objetivo revigorar as erveiras e
formar uma nova copa (SCARPARE FILHO et al., 2011).

7.2 CICLOS DE CORTE


Em áreas de extrativismo ou plantios de baixa densidade, deve optar-se por ciclos longos,
variando entre 36 e 60 meses. Isso é comum em áreas de manejo de ervais em condições naturais,
por exemplo, em áreas de reserva legal de propriedades rurais. Nas últimas décadas, o aumento
da demanda por matéria prima e o consequente adensamento dos povoamentos tem gerado
uma redução nos ciclos de colheita de erva-mate (SANTIN et al., 2013). Como o ciclo de colheita de
erva-mate depende essencialmente do sistema de produção adotado, são comuns intervalos entre

266
colheitas de 12, 18 e 24 meses em plantios puros ou mistos adensados (SANTIN et al., 2014) e de até
60 meses em sistemas extrativistas.
Em sistemas puros, ou em condução adensada sob sub-bosque, recomenda-se a aplicação
de ciclos de corte anuais (12 meses), com remoção de, no máximo 70% da copa, mantendo-se área
foliar suficiente para uma boa recuperação das erveiras (DANIEL, 2009; SANTIN et al., 2014). Em
casos de colheita bianual, a remoção da copa pode alcançar até 80% (Figura 2D).
A aplicação de ciclos de colheita anuais tem sido economicamente mais viável aos
produtores que os ciclos bianuais (MEDRADO; MOSELE, 2004).
O aumento do intervalo entre as colheitas favorece o crescimento dos ramos mais
grossos em detrimento da biomassa comercial, gerando assim uma redução na relação entre
biomassa comercial e biomassa não comercial (SANTIN et al., 2014). A vida útil produtiva dos
povoamentos de erva-mate tem variado entre 35 a 40 anos (EMBRAPA, 2010).

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


7.3 MANEJO DA PRODUÇÃO E DO CULTIVO
O manejo de ervais nos diferentes sistemas de produção consiste na poda (item 7.1.
Técnicas de cultivo e colheita da produção) e na adubação.
A adubação ao longo dos ciclos de produção é essencial para se obter bons resultados em
colheitas subsequentes, suprindo a necessidade nutricional das plantas de erva-mate.
Em sistemas mistos, em condições de sub-bosque de florestas plantadas ou nativas,
principalmente leguminosas, uma porção considerável dos nutrientes exportados na colheita
pode ser compensada pelo aporte nutricional provido pela serrapilheira (SANTIN et al., 2014),
ou pelos resíduos da própria poda, como galhos grossos. Contudo, o aumento na intensidade
das colheitas tem gerado limitações na recuperação dos ervais (SANTIN et al., 2014). Nestes
casos, visando o aumento da disponibilidade de biomassa vegetal e a conservação dos solos,
pode-se optar pela implantação de culturas anuais ou perenes, de acordo com as características
de adaptação à região de cultivo.
A adubação quando realizada, deve ser feita com base na máxima eficiência técnica
e econômica da cultura (ANGHINONI; BAYER, 2004). Os níveis de fertilidade do solo e o estado
nutricional das plantas determinam o rendimento e a sustentabilidade da produção de biomassa
comercial a longo prazo (SOSA, 1994). A adubação e a calagem para erva-mate, independente da
fase de desenvolvimento da cultura e do sistema de produção (exceto ervais nativos), deverá basear-
se no teor de matéria orgânica e na disponibilidade de Ca, Mg, P e K do solo (SANTIN et al., 2014).
As adubações que visem o manejo da produção, sempre que possível, devem ser aplicadas

267
em épocas que antecedam o início da retomada de crescimento das plantas, o que comumente
ocorre na primavera e, em menor intensidade no outono, para a erva-mate (RAKOCEVIC;
MARTIN, 2011). Santin et al. (2014) recomendam que a adubação das fases de formação de
copa seja realizada em um círculo na projeção da copa, distante 40 cm do caule, para plantios
com densidade inferior a 1800 plantas ha-1; para plantios com densidade superior, pode-
se realizar a adubação em área total. Já para a fase de produção, os autores recomendam a
adubação em área total, respeitando-se a distância de 40 cm do caule.
A quantidade total dos fertilizantes pode ser parcelada em duas, três ou quatro aplicações,
em frações iguais, de acordo com o intervalo entre colheitas (12, 18 ou 24 meses). A última
quantidade aplicada, principalmente potássica e nitrogenada, não deve ficar distante da data
programada para a colheita, evitando assim que as plantas sofram por deficiência nutricional
no momento de retomada de crescimento (SANTIN et al., 2014). O aporte de matéria orgânica
gerado pelos resíduos da poda ou da manutenção da cobertura vegetal do solo são importantes
para a compensação nutricional dos ervais (SANTIN et al., 2014; THOMAZ; ANTONELI, 2008).
Silvicultura Tropical

Na fase produtiva, a calagem atua na disponibilização de Ca2+ e Mg2+ sem, no entanto,


ter como objetivo a neutralização do Al3+ do solo (SANTIN et al., 2013; 2014). Santin et al.
(2014) sugerem duas situações em que a calagem é necessária em ervais, a primeira ocorre
em solos com elevada disponibilidade natural de Al3+ e baixa disponibilidade de Ca2+, na
qual recomenda-se manter teores inferiores a 4,5 cmolc dm-3, e a segunda em solos com baixa
disponibilidade natural de Al3+ e elevada disponibilidade de Ca2+, na qual recomenda-se
manter teores inferiores a 6,5 cmolc dm-3. Em ambos os casos a calagem é aplicada na camada
de 0-20 cm do solo.

8. POTENCIAL PRODUTIVO
8.1 RENDIMENTOS ECONÔMICOS
A cultura da erva mate é uma alternativa técnica e economicamente viável tanto como
plantio homogêneo quanto em sistemas agroflorestais contribuindo, principalmente, para o
fortalecimento da agricultura familiar por meio do aumento na produção, diversificação de
produtos e renda (JUNIOR et al., 2017; RODIGHERI, 1997).
Na tabela 1. são apresentados os custos fixos e variáveis de um erval natural sombreado
com adensamento em pequena propriedade rural na região Paraná.

268
Tabela 1. Custos fixos e variáveis de um erval natural sombreado com adensamento em
pequena propriedade rural.
Descrição Custos (R$/ha)
Custos Fixos
Remuneração do capital fixo 240,12
Subtotal Custos Fixos 240,12
Custos variáveis
Aquisição de insumos e ferramentas 936,26
Custos de implantação do adensamento 585,00
Custos de poda de formação das nativas 380,70
Custo de colheita – erva mate adensada e não adensada 3.240,00
Custos de manutenção 405,00
Pagamento de encargos sociais dos colaboradores
Safra da erva mate não adensada 3.997,35
Safra da erva mate adensada e não adensada 6.281,55
Subtotal custos variáveis 15.825,86

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


Custos totais 16.065,98
(VIEIRA, 2012)

A maior proporção dos custos totais está ligada aos custos variáveis, respondendo por
98,5%, dos quais 48% devem-se ao pagamento de encargos sociais aos colaboradores (VIEIRA,
2012). De acordo com Junior et al.( 2017) o valor da muda foi o que mais impactou o custo total
durante fase de implantação do erval, representando 49% do custo total.
Com relação a análise dos indicadores econômicos demonstrados na Tabela 2, o valor
presente líquido (VPL) da erva-mate é rentável independentemente do tamanho da área plantada
(MALINOVSKI et al., 2006). De acordo com esses autores, a taxa interna de retorno (TIR) indica
que a atividade é capaz de superar a taxa mínima de atratividade e, mesmo com a redução no VPL
promovida pela inserção do custo de oportunidade da terra nos custos, a atividade mantêm-se
economicamente rentável ao produtor.
Tabela 2. Indicadores econômicos para o cultivo da erva-mate em São José dos Pinhais – PR (2001).
Indicadores econômicos
Tamanho da área VPL (R$) com custo de
plantada (ha) VPL (R$) TIR
oportunidade. da terra
0,480 3278,13 22% 1956,45
0,990 7143,02 24% 4407,92
1,211 8748,02 24% 5899,23
1,508 10953,16 24% 7404,17
(MALINOVSKI et al., 2006).

269
A cultura da erva-mate tem seu retorno de investimento no quinto ano após o plantio, e o maior
investimento ocorre no primeiro ano com a redução deste a partir do segundo ano, estabilizando a
produção no nono ano (JUNIOR et al., 2017).

8.2 CAPACIDADE PRODUTIVA


Para plantios puros de erva-mate, o rendimento médio é de 15 a 20 Kg por planta. Em
ervais nativos sob regime extrativista, as erveiras tendem a obter um porte maior e são colhidas em
intervalos de 3 a 5 anos, dependendo das condições edafoclimáticas, com produtividade variando
de 80 a 180 Kg de biomassa comercial por planta (DANIEL, 2009).
A baixa qualidade genética, associada a ausência de um pacote técnico e tecnológico
disponível para plantios de erva-mate, tem levado à resultados variados, com indicativos de
produtividade média de 6,2 t ha-1 (IBGE, 2013). Entre os fatores que afetam negativamente
a produtividade dos ervais, estão a utilização de solos com baixa fertilidade, aliados à falta de
reposição nutricional dos plantios, o baixo conhecimento técnico em relação ao manejo de poda,
Silvicultura Tropical

controle de pragas e manutenção da qualidade das erveiras e, a baixa qualidade genética das
mudas produzidas que, com raras exceções, são plantadas no Brasil.
De acordo com Santin et al. (2014), a perspectiva de produção de biomassa comercial
em solos com disponibilidade adequada de nutrientes deveria ser superior a 20 t ha-1. Estudos
recentes têm mostrado que resultados ainda superiores a estes poderiam ser alcançados com a
melhoria da qualidade genética dos materiais utilizados em plantios de novos ervais (STURION et
al., 1995; STURION; RESENDE, 2005; 2010). Em testes de procedências e progênies conduzido pela
Embrapa Florestas, Wendling et al. (2016), verificaram variações na produtividade: entre sexo, com
maior produtividade média em plantas do sexo feminino (14,10 Kg planta-1); entre morfotipos,
com destaque para o morfotipo denominado sassafrás (10,51 Kg planta-1); e procedências, com
destaque para os materiais provenientes de Quedas do Iguaçu (PR), Barão de Cotegipe (RS) e Ivaí
(PR), este último correspondente à região de implantação e avaliação dos diferentes materiais.
A evolução das técnicas de propagação assexuada da espécie (vide item 4. Produção de
mudas), ainda em processo de consolidação, traz consigo a perspectiva de um aumento significativo no
potencial produtivo da espécie. Avaliando sete procedências por um período de 18,5 anos, Wendling
et al. (2018) e Sturion et al. (2017) afirmam que a seleção dos melhores 30 clones, com base no
valor genotípico previsto (u+g), resultaria em um ganho de 372,6% para a variável produção de
biomassa comercial, ressaltando ainda, que os clones com maior potencial de produção de biomassa
apresentaram produção média após 18,5 anos acima de 40 Kg planta-1. Com isso é possível inferir

270
sobre a capacidade produtiva dos novos ervais. Por exemplo, uma ou várias procedências clonais,
implantadas em sistema puro, com espaçamento fixo de 3 m x 1,5 m (2222 plantas ha-1) e uma
produtividade média de 20 Kg planta-1, proporcionaria uma produtividade subestimada acima
de 40 t ha-1 em ciclos de bianuais, como o apresentado pelos autores.

9. PATOLOGIA FLORESTAL
9.1 DOENÇAS E PRAGAS
Em sistemas de cultivo misto, em sub-bosque florestal, não tem sido verificados danos
significativos causados por pragas ou doenças, fato que está relacionado ao equilíbrio biológico
gerado pela diversidade de plantas e insetos, mantendo quaisquer agentes danosos potenciais em
baixos níveis populacionais (BORGES et al., 2003). Em plantios puros, a ausência de inimigos naturais
tem gerado constantes relatos de ocorrências de pragas na cultura. Pesquisas indicam mais de 80
espécies de insetos que se alimentam de diferentes partes da planta de erva-mate, alguns, entretanto,

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


com baixo potencial para causar prejuízos econômicos à cultura (IEDE; MACHADO, 1989).
Destaque deve ser dado a três pragas com ocorrência descrita em diferentes regiões
produtoras de erva-mate no Brasil, Hedypathes betulinus (broca-da-erva-mate) (Figura 3B), Gyropsylla
spegazziniana (ampola-da-erva-mate) (Figura 3E) e Thelosia camina (lagarta-da-erva-mate) (Figura
2D). Além destas, diversas espécies de Hylesia spp. (lagartas-do-cartucho) e Ceroplastes grandis
(cochonilha-de-cera) são verificadas com frequência em ervais (PENTEADO 1995; IEDE et al.,2000).
Hedypathes betulinus tem sido considerada a praga de maior importância econômica em
cultivos puros de erva-mate, com ocorrência em regiões fitogeográficas de distribuição natural de
ervais nativos (PEDROSA-MACEDO, 1993). Os danos se caracterizam por galerias formadas pelas
larvas em direção ao colo da planta, chegando até as raízes, onde ocorrem os maiores danos
(DANIEL, 2009). Ao final da fase de pupa, a larva desce para a região basal dos ramos onde realiza
um anelamento, tornando os ramos susceptíveis à quebra, em alguns casos levando a morte da
erveira (Figura 3A) (ALENCAR, 1960). Entre os sintomas do ataque estão a presença de serragem na
base do caule e, em ataques mais intensos, de ramos quebrados (DANIEL, 2009).
Gyropsylla spegazziniana é uma praga de ação moderada no Brasil, com maior
severidade registrada em plantios de erva-mate na Argentina (FLORES, 1997). Trata-se de uma
praga especifica da erva-mate que pode atacar desde mudas em condições de viveiro até plantas
adultas. Os danos causados provem da sucção da seiva pelo inseto, induzindo a formação de
ampolas nas folhas jovens (FIGURA 3E, F) (CHIARADIA et al., 2000).

271
Thelosia camina é uma lagarta (Figura 3D) que provoca considerável redução da biomassa
comercial de erva-mate. Possui registro de ocorrência entre os meses de setembro e março, com
pico populacional no início de dezembro (PENTEADO et al., 2000). Ataca tanto plantas jovens
como plantas adultas a campo (IEDE; MACHADO, 1989), sendo capaz de desfolhar totalmente
erveiras em períodos de 24 horas (GALLO et al., 1988).
Silvicultura Tropical

A b c

D E F

Figura 3. Erva-mate: A. Planta morta por ataque de Hedypathes betulinus. B. Hedypathes betulinus
na fase adulta. C. Planta sendo atacada por Thelosia camina. D. Lagarta de Thelosia camina. E. Ninfas e
excrementos de Gyropsylla spegazziniana. F. Folha jovem atacada por Gyropsylla spegazziniana.
Fonte: Fazenda Vila Nova, Bitumirim Ind. e Com. de Erva-mate Ltda., Ivaí- PR.

9.2 MANEJO E CONTROLE


Hedypathes betulinus, praga com maior severidade em erva-mate, é também a que
apresenta maiores perspectivas de controle. O método mais simples de controle tem sido a
catação manual dos insetos (SOARES; IEDE, 1997), o qual é mais eficiente em plantios de menor
dimensão, mantendo os mesmos em níveis não prejudiciais à cultura. Outra prática adotada é

272
o controle biológico por meio de parasitóides de Eurytoma sp. (TRUJILLO, 1995), Labena fiorii
sp. (GRAF; MARZAGÃO, 1999) e principalmente pelo uso de Beauveria bassiana (Balls.) Vuil.,
que apresentam elevada patogenicidade contra adultos de H. betulinus (FANTI et al., 2013;
SCHAPOVALOFF et al., 2014).
O controle também pode ocorrer com a poda dos ervais, por meio da maior abertura do
centro da copa, deixando-a em formato de taça e assim, tornando H. betulinus mais suscetível
ao ataque de predadores naturais e elevada luminosidade (SOARES; IEDE, 1997). A ampliação
da complexidade de espécies dos plantios, principalmente arbóreas, é também uma das formas
de ampliar a presença de predadores, levando à redução dos níveis populacionais da praga.
Segundo informação pessoal do Sr. Afonso Oliszeski, proprietário da Bitumirim Ind.
e Com. de Erva-mate Ltda., localizada em Ivaí- PR, ao longo de 40 anos de sua experiência
cultivando erva-mate, o consórcio de erva-mate com Araucaria angustifolia (Figura 2 B, C), mesmo
em baixa densidade, tem mostrado elevada eficiência no controle populacional de H. betulinus.

Ilex paraguariensis A. St.-Hil.


Tal fato somado às perspectivas de melhoramento genético para as duas espécies, tende a ser
um potencial método de controle de pragas com baixo investimento para os produtores.
A ampola da erva-mate é uma praga verificada constantemente em plantios puros e,
em menor frequência em plantios mistos (TRUJILLO, 1995; DIAZ, 1997; EMBRAPA, 2010). O
controle de Gyropsylla spegazziniana é bastante complexo. No Brasil, pouca atenção tem sido
despendida em seu controle; no entanto, é importante manter o monitoramento de ocorrência
por meio de armadilhas luminosas (FLORES, 1997) e de danos nos ervais, a fim de evitar maiores
prejuízos. O controle cultural da ampola da erva-mate é realizado por meio da erradicação e
queima dos ramos atacados (DANIEL, 2009).
Uma técnica de manejo aplicada no controle de Thelosia camina é a exposição das pupas
por meio do revolvimento do solo (DANIEL, 2009).
A utilização de armadilhas luminosas, ou mesmo a catação das folhas com postura, tem sido
uma medida auxiliar no controle (PENTEADO, 1995). O controle biológico da espécie é uma alternativa
viável, feito por meio da utilização de Bacillus thuringiensis, recomendado em concentrações de
2,5 g L-1 (MAZUCHOWSKI 1989; DA CROCE; FLOSS, 1999).
Como os maiores avanços no controle de pragas e doenças tem sido alcançado em
plantios mistos, torna-se relevante a utilização de sistemas consorciados com espécies florestais,
como Araucaria angustifolia, que assegurem a conservação dos ecossistemas, visando a melhoria
da qualidade do produto e do sistema de produção adotado.

273
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279
Mimosa
caesalpiniifolia
Benth.
Luciana Aparecida Rodrigues
Engenheira Florestal, graduação pela Universidade
Federal de Viçosa, Mestrado em Fitotecnia pela
Universidade Federal de Viçosa e Doutorado
e pós doutorado em Produção Vegetal pela
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro. Atualmente é professora Associada da
Silvicultura Tropical

Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy


Ribeiro, Laboratório de Solos.

Rosely Menezes da Silva Ribeiro


Engenheira Agrônoma, graduação e mestrado
em Produção Vegetal pela Universidade Estadual
do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).

Deborah Guerra Barroso


Engenheira Agrônoma, graduada pela
Universidade Federal de Lavras (UFLA), Mestre
em Agronomia pela UFLA e doutora pela
Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro (UENF). Atualmente é professora
Associada na área de Silvicultura e Sistemas
Agroflorestais da UENF.

280
Mimosa caesalpiniifolia Benth.
(homotípico Mimosa caesalpiniaefolia
(Benth.)), pertencente à família Fabaceae
Lindl., possui diferentes nomes comuns:
sabiá, cebiá, sansão-do-campo, unha
de gato. Uma das exsicatas (Figura 1)
encontra-se depositada no The New York
Botanical Garden (Dutra e Amorim 2015).
Esta espécie é endêmica do Brasil, com
presença confirmada nas regiões Norte
(Amazonas, Pará, Rondônia), Nordeste

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


(Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão,
Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande
do Norte), Centro-Oeste (Distrito Federal,
Goiás, Mato Grosso do Sul), Sudeste
(Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de
Janeiro, São Paulo), Sul (Paraná, Santa Figura 1: Exsicata de Mimosa caesalpiniifolia Benth.,
Catarina). Seu domínio fitogeográfico é depositada no The New York Botanical Garden (Dutra &
Amorim 2015 - <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/
na Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata floradobrasil/FB18776).
Atlântica (Flora Brasil 2020).
Apresenta grande capacidade de adaptação aos diferentes tipos climáticos, vegetan-
do em locais com pluviosidade média anual entre 315 a 2.400 mm (Pareyn et al. 2018),
ocorrendo espontaneamente em áreas de caatinga semi úmidas. Também ocorre em áreas
mais secas, com temperaturas médias variando entre 20 e 28 ºC (Ribaski et al. 2003), embo-
ra tolere temperaturas de até 12 ºC (Pareyn et al. 2018). O sabiá é uma espécie considerada
pioneira, ocorrendo tanto em formações primárias quanto secundárias (Pareyn et al. 2018).

1. BOTÂNICA
O sabiá (Figura 2a) é uma árvore que pode chegar a até 12 m de altura e 30 cm de
diâmetro de tronco (Campos Filho & Sartorelli 2015). A copa é aberta, o tronco possui casca
espessa (Figura 2b), com presença de pontuações glandulares negras.

281
Silvicultura Tropical

Figura 2: Mimosa caesalpiniifolia Benth. Plantas em cerca viva (A); Fusto e casca (B);
Presença de acúleos em ramos jovens (C); Ramos e folíolos (D).

Os ramos são armados com acúleos recurvados e dilatados na base, estriados, castanho-claros
a acinzentados, sendo de glabros a pubérulos (Figura 2c), com pontuações glandulares negras; es-
típulas linear-lanceoladas de 3 - 7 mm de comprimento (Amorim et al. 2016). Os acúleos se apresen-
tam desde os ramos mais jovens aos mais velhos. No entanto, são encontradas na natureza plantas
sem a presença destes acúleos.
As folhas são pinadas, com 2 a 4 pares de pinas, 2 a 4 pares de folíolos (Figura 2d). Os pecíolos
medem de 2,2 a 3,7 cm de comprimento, apresentam raque 1,2 - 4,4 cm. Os folíolos distais apresentam
31 - 38 x 21 - 29 mm e são ligeiramente obovais com ápices arredondados, base oblíqua, margem dis-
cretamente crenada, glabros em ambas as faces e com 3-nérvios (Amorim 2014). A árvore não apresenta
desrama natural, mantendo grande quantidade de galho quando não é realizada a desrama artificial.

282
As espigas (Figura 3a, b) apresentam 4,7 - 5,6 cm de comprimento, 1 - 2 fasciculadas, cilíndricas,
axilares ou agrupadas em panículas terminais com pedúnculo de 8 - 18 mm de comprimento, pubes-
cente. As brácteas são lanceoladas ao longo do pedúnculo com duas bractéolas na base de cada flor. As
flores (Figura 3a) são trímeras, diplostêmones, sésseis, brancas, bissexuais, cálice campanulado, glabro,
inconspícuo, lacínias retas; corola gamopétala, com cerca de 2 mm de comprimento, lacínias levemente
patentes. Os estames são de 6,5 - 6,0 mm de comprimento, dialistêmones, filetes brancos, anteras
isomorfas, castanho-claras, ovário séssil (Amorim 2014).

Mimosa caesalpiniifolia Benth.

Figura 3: Mimosa caesalpiniifolia Benth. Espigas (A); Flores e cachos (B); Vagens imaturas
(C); Sementes claras, sementes escuras e artículos (D); Detalhes da semente clara, semente
escura e artículo (E).

283
Os frutos apresentam cerca de 10 cm de comprimento (Figura 3c), sendo craspédio,
estipitado, artículo quadrado a retangular, indeiscente, liso, verdes, quando jovem e marrom,
quando maduro (Queiroz 2009). As sementes com variam de 5,4 a 6,9 mm de comprimento e 4,8
a 6,3 mm de largura (Alves et al. 2005), são de creme a marrom-claro (Figura 3d, e) em formato
obovóide, não alada (Lima 1985).

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS
2.1. Madeira
Como madeireira, a espécie é explorada devido às suas propriedades físico-mecânicas, sendo
utilizada para a produção de estacas, portas, mourões, dormentes, lenha, carvão (Pareyn et al. 2018),
forquilhas, esteios, vergas e enxaimés (Carvalho 2007), com destaque para uso como estacas.
A madeira de M. caesalpiniifolia possui 56,9% de celulose, 70,0% de hemicelulose, 32,4%
Silvicultura Tropical

de lignina e densidade ponderada média de 0,80 g cm-3 (Gonçalves et al. 1999). Gonçalves et
al. (2010) caracterizaram a madeira do sabiá e observaram que o fuste apresentou, em média,
7,5% de casca, 36% de umidade, 9% de extrativos e 4,2 t ha-1 de extrato potencial de tanino.
Segundo os mesmos autores, a densidade básica da madeira não é homogênea, ela varia na
direção radial e na direção axial do tronco. O carvão do sabiá tem alto poder calorífico, o rendi-
mento gravimétrico de 32,04%, teor de cinza de cerca de 1,71% e rendimento em carbono fixo
em 25,40% (Campos Filho & Sartorelli 2015) e o peso específico da madeira é em torno de 0,87
g cm-3 (Ribaski et al. 2003). A madeira é indicada para a produção de carvão vegetal e lenha,
em função das suas boas características físico-químicas (Carvalho 2007). Plantios destinados a
produção de carvão e lenha é uma alternativa para reduzir a pressão sobre florestas nativas e
diversificar a renda dos produtores.
Carvalho (2007) descreve a madeira como dura, compacta, com superfície lisa e brilhante
e, sua durabilidade é mantida quando submetida à umidade ou quando enterrada. Mesmo sem
tratamento, ela apresenta vida útil acima de 20 anos (Pareyn et al. 2018), sendo indicada para
construção de cerca e também como tutora de cultura como a uva. A madeira possui resistência
natural a cupins (Nasutitermes corriger Motsch) que pode ser devido ao teor de cinzas e de extrativos
fenólicos existentes em sua madeira, sendo que as estacas com fenótipo sem acúleos são as mais
indicadas para uso em construções rurais, uma vez que apresentam menor perda de massa provocada
pela ação dos cupins (Alencar et al. 2011).

284
2.2 Produtos não madeireiros
• Extrato da madeira: o sabiá se apresenta como alternativa para a produção de ade-
sivos para aplicação na fabricação de chapas de madeira aglomerada. O rendimento de extratos po-
lifenólicos é de 3,7 - 4,6% na madeira (Gonçalves et al. 2003). Todas as partes da planta apresentaram
taninos vegetais, porém, a casca apresenta maior teor de taninos condensados, o que pode justificar
sua extração a nível comercial (Azevedo et al. 2017).

• Cerca viva: esta forma de utilização do sabiá é largamente utilizada e faz com que
esta espécie seja amplamente conhecida, uma vez que muitos quilômetros de plantios são obser-
vados a margens de rodovias e estradas. Oferece proteção e segurança com baixo custo, apresenta
grande durabilidade, diminui a visibilidade interna de forma mais ecológica e com melhor aspecto
paisagístico em propriedades rurais, indústrias, loteamentos. Nas áreas de mineração diminuem
o impacto visual gerado pela atividade. Os acúleos das plantas de sabiá fornecem proteção contra

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


a transposição de pessoas e animais, principalmente, quando a cerca viva é manejada com es-
paçamento reduzido formando uma parede ou uma barreira física. Outra vantagem da cerca viva
com o sabiá é a grande capacidade de rebrota quando ocorre queimada, além de ser resistente a
secas periódicas. Cultivos com espaçamentos maiores de 2 a 3 metros podem ser realizados para
utilização das árvores como piquetes para rotação de animais ou divisão de propriedades rurais,
onde não há necessidade de barreira física e visual, podendo-se fazer uso de arames. A utilização
do sabiá na forma de quebra-vento também pode funcionar como barreira vegetal para insetos em
cultivos agronômicos. De acordo com Shimbori et al. (2012), o sabiá como quebra vento influencia
positivamente a cultura do cafeeiro pelo seu efeito indireto sobre a entomofauna, proporcionando
maior diversidade do lado de dentro da cerca.

• Uso na alimentação animal: as ramas do sabiá são apreciadas por bovinos, caprinos
e ovinos, apresentando-se como fonte de proteínas e nutrientes, resultando em aumentos de pro-
dução animal (Carvalho et al. 2006). A alimentação de cabras com folhas secas de M. caesalpiniifolia
representa uma alternativa promissora para o controle de infecções por nematóides gastrointestinais,
responsáveis por consideráveis perdas econômicas na caprinocultura (Brito et al. 2018). A concen-
tração total de tanino condensado e proteína precipitada por fenóis no sabiá é maior comparativa-
mente a outras leguminosas como o Cajanus cajan, Gliricidia sepium, dentre outras (Pereira et al.
2018). Por ser uma leguminosa com capacidade de se associar a bactérias diazotróficas, consegue
maior aquisição de N, elevando o teor proteico das folhas. O teor de proteína bruta é de 13,48% a
17,06% das folhas e dos frutos maduros ou secos (Campos Filho & Sartorelli 2015), tornando im-

285
portante seu uso como forragem (Moura et al. 2006). Aos 60 dias após a poda em plantas com
13 anos de idade, Caldas (2007) obteve a biomassa seca de forragem de 147 e 158 kg ha-1 no
período de seca e de chuva, respectivamente.
A presença de acúleos dificulta o manejo de podas nessa espécie, mas plantas sem acúleos já
vem sendo cultivadas, o que facilita o manejo das plantas e o pastoreio. Também não foram verificadas
diferenças na composição química, no que se refere à alimentação animal, entre plantas com e sem
acúleos (Vieira et al. 2005). A produção e qualidade das plantas são diferenciadas entre o período de
seca ou de chuva. No período chuvoso, de acordo com Vieira et al. (2005), foram observados 26,45%
de matéria seca; 27,63% de proteína bruta, 44,39% de fibra em detergente neutro (FDN), 25,80%
de fibra em detergente ácido (FDA), 1,24% de cálcio (Ca), 0,22% de fósforo (P), 1,63% de potássio
(K) e 1,12% de sódio (Na). No período seco, os valores médios observados foram de 42,39% de MS;
19,30% de PB; 39,05% de FDN; 21,83% de FDA; 1,25% de Ca; 0,15% de P; 1,63% de K e 0,27% de
Na, indicando, ser uma espécie importante em períodos de menor crescimento de outras forrageiras.
Além do uso como forrageira, o cultivo do sabiá em sistema silvipastoril atua como sombra para o
Silvicultura Tropical

bem estar animal e pode ser planta para divisão de piquetes.

• Apicultura: esta espécie tem potencial como melífera. Nas condições edafoclimáticas
do Nordeste brasileiro pode ser usada como fonte de recursos alimentares (em especial pólen), per-
mitindo a manutenção de grandes colônias de abelhas (Döhler & Pina 2017). A maior produtividade
de néctar e pólen ocorre nos períodos chuvosos (Santos et al. 2018). Dentre as abelhas que visitam
o sabiá está a Melipona subnitida Ducke, conhecida como jandaíra. Esta abelha é nativa do nordeste
do Brasil, é sem ferrão e o seu mel é muito conhecido pela população do Nordeste, que lhe atribui
propriedades medicinais. Análise realizada por Silva et al. (2013), mostrou predominância do pólen
de sabiá nas amostras do mel produzidas por essas abelhas.

• Uso do sabiá na medicina popular: em áreas rurais, a casca do sabiá em in-


fusão é consumida como tônico no tratamento da bronquite e para estancar sangramento (Car-
valho 2007). Extrato etanólico de suas inflorescências promove hipotensão e bradicardia e o chá
de suas flores promove hipotensão e taquicardia (Santos et al. 2015), sendo importante o uso
criterioso desses extratos.

• Recuperação ambiental: por apresentar rápido crescimento, é indicado para a


recuperação do solo em áreas preservação permanente e áreas degradadas, tanto em plantios puros
quanto heterogêneos. O aporte de serapilheira ao solo permite a formação de um reservatório de

286
material orgânico e de nutrientes, o que é fundamental para a sustentabilidade dos ecossistemas
(Costa et al. 2004). Mendonça et al. (2008) verificaram em cavas de extração de argila em
recuperação, que o sabiá aos 12 meses promoveu a entrada de fitomassa seca de 3,6 t ha-1 no
cultivo puro e de 1,3 t ha-1 no cultivo consorciado com Eucalyptus robusta, sendo a quantidade de
nutrientes fornecidos somente pelas folhas podadas dessas plantas de N=37,5; P=2,7; K=1,3;
Ca=26,4 e Mg=46,9 kg ha-1. A serapilheira das folhas de sabiá pode acumular anualmente por
hectare 133 kg de N; 6 kg de P; 18 Kg de K; 40 Kg de Ca e 16 Kg de Mg (Andrade et al. 2000). Isso
é particularmente importante quando se trata de recuperação de áreas onde a camada orgânica do
solo é removida como é o caso de área de mineração.
Outra característica importante desta espécie é a capacidade de estabelecer associações
simbióticas com microrganismos, aumentando a possibilidade de desenvolvimento da espécie frente
a adversidades. O sabiá estabelece associação com fungos micorrízicos arbusculares (FMAs), que
possibilita o aumento na absorção de nutrientes no solo, por meio das hifas extracelulares, aumentando

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


a superfície de absorção, além de aumentar a resistência da planta a condições adversas de clima e
solo. A colonização das plantas de sabiá com FMAs ocorre mesmo sob baixa densidade de esporos no
solo (Garcia et al. 2017) tornando possível a inoculação de fungos nativos em áreas com problema
edáficos. O sabiá também se associa a bactérias diazotróficas que promovem a fixação biológica do
nitrogênio (FBN), aumentando a aquisição de N (Caldas et al. 2009, Mendes et al. 2013, Tavares et al.
2016, Garcia et al. 2017). Em área de restinga degradada, a inoculação do sabiá com FMAs junto com
o Bradyhizobium aumentou consideravelmente o crescimento e o acúmulo de nutrientes nas plantas
(Tavares et al. 2016). Em áreas degradadas pela mineração de Mn, o sabiá atua como fitoestabilizadora,
tendo maior crescimento quando inoculado com fungo micorrízico arbuscular (Garcia et al. 2017).
Plantas de sabiá apresentam capacidade de tolerância a solo contaminado com óleo diesel e ensaios
ecotoxicológicos demonstraram que, mesmo em um curto prazo, o sabiá promoveu a fitorremediação
de solo contaminado, principalmente, quando inoculado com o FMA (Pinto 2016).

• Adubação verde: folhas e ramos do sabiá podem ser depositados no solo como adubo
verde com alto teor de N, proveniente da FBN, e também dos nutrientes absorvidos pelas raízes e
transferidos para a parte aérea. Pode ser plantado nas entrelinhas de uma cultura, plantio em aleias
ou mesmo pode ser utilizado material proveniente da poda da cerca viva. Aos 65 dias após a aplicação
de podas do sabiá no solo foram observados aumentos no conteúdo dos nutrientes na parte aérea
de plantas de milho (Oliveira et al. 2018), indicando que esta espécie pode recuperar a fertilidade do
solo e fornecer nutrientes para outras culturas.

287
• Compostagem: as folhas e ramos jovens do sabiá podem ser utilizados na produção
de composto orgânico e / ou húmus em vermicompostagem. São utilizadas folhas verdes ou secas
oriundas das podas ou senescência natural, juntamente com outros materiais de baixa relação C/N (fácil
decomposição) e ativador ou isca [estercos, cama de frango, composto orgânicos, farinhas (de sangue,
de peixe, de ossos) e tortas orgânicas de processamento industrial]. Em folhas senescentes a relação C/N
é de 15:1 e nos ramos (de até 20 mm de diâmetro) é de 29:1. Os ramos jovens podem ser utilizados,
desde que sejam triturados, para facilitar a ação dos microrganismos decompositores. Os ramos e galhos
maduros não são recomendados por serem de difícil decomposição, podendo ser utilizados para a
estrutura das leiras, para a proteção da pilha de compostagem contra o excesso de radiação solar e perda
da umidade e para auxiliar no revolvimento para o aumento da aeração.

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 Fenologia, época de floração, frutificação e colheita
Silvicultura Tropical

No bioma Caatinga, o sabiá é a espécie arbórea que entra em dormência mais cedo na
estação seca, podendo acontecer de agosto a setembro, dependendo da data do fim do período
chuvoso, com perda total de suas folhas. Aproximadamente, 60 dias após o início das chuvas, a
vegetação plena é alcançada, seguindo-se a floração, que pode durar até dois meses (Pereira et al.
1989). Na Região Nordeste, a floração ocorre no início do período chuvoso, podendo acontecer
também de março a abril no Maranhão; de abril a junho, em Pernambuco; de outubro a dezembro
no Ceará e de novembro a dezembro em Sergipe (Pareyn et al. 2018). Na Região Sudeste a planta
apresenta maior taxa de deposição de material senescente no período de fevereiro a junho que
corresponde a época de redução da temperatura e da precipitação (Andrade et al. 2000). Com isso
a floração pode variar de uma região para outra dependendo do clima. Dentre os visitantes da
florada estão Apis mellifera, Scaptotrigona postica e Melipona subnitida (Santos et al. 2018).
Regiões em que a floração se estabelece de abril a junho, a frutificação ocorre de maio a
outubro, sendo que, nesse caso a queda dos frutos ocorre a partir de setembro (Ribaski et al. 2003).
De acordo com Lorenzi (2017), em florescimentos que ocorrem entre os meses de novembro e
março, e o amadurecimento dos frutos ocorre de setembro a novembro.

3.2 Manejo das sementes


A árvore produz grande quantidade de sementes viáveis e são encontradas sementes verdes
e marrons clara. A colheita dos frutos do sabiá deve ser iniciada aos 154 dias após a antese (Alves et

288
al. 2004), quando os frutos iniciarem a queda espontânea, podendo ser colhidos diretamente da
árvore (Lorenzi 2017), o que possibilita até 80% de germinação das sementes e acúmulo máximo de
massa seca (Alves et al. 2004). Deve-se, em seguida, levá-los ao sol para secar para facilitar a abertura
manual e retirada das sementes. Não há a necessidade de retirar as sementes das pequenas vagens,
bastando separar os seus artículos (Lorenzi 2017). Um quilograma de sementes apresenta de 22.400
a 33.000 unidades (Ribaski et al. 2003, Lorenzi 2017). O vigor das sementes apresenta relação direta
com o seu tamanho, justificando-se a adoção de classes de tamanho para a formação de mudas. O
peso de 100 sementes é de 26,4 g para sementes pequenas, de 36,9 g para sementes médias e de
de 48,0 g para sementes grandes (Alves et al. 2005).

3.3 Quebra de dormência


As sementes do sabiá apresentam dormência do tipo impermeabilidade do tegumento à água,
constituindo-se fator limitante à sua propagação. Para germinação, as sementes necessitam de trata-

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


mento para a sua ruptura, podendo ser por processos físicos ou químicos (Ribaski et al. 2003). Para a
quebra da dormência é indicada a imersão em ácido sulfúrico concentrado de 10 e 13 minutos ou ainda
o desponte na região oposta à micrópila (Bruno et al. 2001). A imersão das sementes em água quente
(100 ºC), durante um minuto, também é indicada (Martins et al. 1992), mas com menores resultados de
germinação das sementes (Bruno et al. 2001), por outro lado, é importante considerar que é um méto-
do de mais fácil manuseio, principalmente quando comparado ao uso do ácido sulfúrico concentrado.
Cuidados devem ser tomados com o tempo da imersão em água a 100 ºC, sendo que, por mais de 3
minutos inviabilizam a germinação das sementes de sabiá (Martins et al. 1992).
A quebra de dormência pode proporcionar percentual de germinação de até 80% (Ribaski et
al. 2003). As sementes de coloração verde escarificadas pelo desponte manual na região oposta ao
eixo embrionário apresentam boa qualidade fisiológica e germinaram bem a 30 ºC. Nesta tempera-
tura, se comportaram como fotoblásticas positivas preferenciais (Silva et al. 2008).
A germinação sem tratamentos para quebrar a dormência é maior em vagens com coloração
marrom-clara (Nogueira et al. 2013a).
No campo, a dormência é um mecanismo de manutenção do banco sementes dessa es-
pécie por um período mais prolongado. A capacidade invasora dessa espécie sugere que ocorre a
quebra de dormência em condição natural. De acordo com Nogueira et al. (2013b), fatores intrínse-
cos à planta como, maturação fisiológica e dormência, além de fatores extrínsecos como, faixa ade-
quada de temperatura, substrato adequado e quantidade de água e luz podem influenciar tanto a
germinação quanto a expressão do vigor de um lote de sementes. À medida que diminui seu teor

289
de água e ocorre a maturação fisiológica, as sementes de sabiá tornam-se mais dormentes (Alves
et al. 2004). Ensaios de restrição hídrica (com sementes submetidas à superação de dormência por
meio de desponte na região oposta à micrópila) indicaram alta qualidade fisiológica das sementes
quando submetidas a capacidades de retenção de 40% e 50%, contudo, mostraram–se capazes de
se adaptar ao estresse hídrico severo, apresentando resultados satisfatórios também aos 20% de
retenção hídrica, podendo assim, ser utilizada com sucesso em algumas fases na recuperação de
áreas degradadas (Bezerra et al. 2019).

3.4 Armazenamento
A viabilidade de sementes armazenadas a seco é superior a um ano (Carvalho 1976, Lorenzi
2017). Medeiros et al. (2014) verificaram que o armazenamento de sementes de sabiá em recipientes
de vidro em ambiente de laboratório (25 ºC e 31% UR), por períodos de até dois anos, garante a viabili-
dade de lotes de sementes desta espécie. Na natureza, o poder germinativo dura até o primeiro inverno
(Durigan et al. 1997). A taxa de germinação varia entre 65% a 90% (Carvalho 1976, Alves et al. 2005),
Silvicultura Tropical

sendo que as sementes claras e escuras apresentam comportamento semelhante em relação à germi-
nação e sendo maior à temperatura de 25 ºC (Bruno et al. 2001), mas Silva et al. (2008) observaram que
a qualidade fisiológica das sementes de coloração verde clara é melhor que as sementes escuras.

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
A produção das mudas pode ser realizada por semeadura e propagação vegetativa pelo
plantio de estacas.

.4.1. Método de semeadura e produção


A semeadura pode ser realizada em bandejas de polipropileno ou ainda em canteiros de re-
picagem e, após a emergência, devem ser transferidas para outro recipiente de cultivo de mudas ou
diretamente para o campo. A semeadura também pode ser realizada diretamente no campo, ou em
sacos de polietileno (Figura 4a, b) ou em tubete de polipropileno.
Após o semeio, as sementes devem ser cobertas, recebendo uma fina camada do substrato. A
emergência geralmente inicia-se cinco dias após a semeadura (Carvalho 1976).

4.1.1. Substratos: Diferentes substratos podem ser utilizados para o semeio, no entanto,
cada tipo de recipiente requer substrato com características físicas diferentes.
Para o semeio em bandeja ou em canteiros, utiliza-se a areia lavada que facilita a retirada das

290
raízes do substrato. A repicagem para um recipiente de maior dimensão, quando necessário (sacolas
de polietileno), deve ser feita quando as plântulas atingirem 3 a 5 cm de altura (Carvalho 2007).
Para cultivo de mudas em tubetes, a semeadura deve ser realizada diretamente no tubete.
Os substratos, no cultivo dos tubetes, devem proporcionar boa qualidade ao torrão evitando
a quebra das raízes ou a desestruturação do torrão no momento da retirada da mesma para o
plantio. Nesse caso os substratos comerciais são mais indicados, normalmente sendo compostos
por materiais à base de fibra de coco, cascas e vermiculita. Na utilização de substratos comerciais
devem ser seguidas as recomendações do fabricante. Melo et al. (2018) observaram que mudas de
sabiá produzidas em tubetes 110, 180 e 280 cm³ apresentaram maiores qualidades morfológicas
que aquelas produzidas em tubetes de 33 e 55 cm³, no entanto, a sobrevivência no campo
foi semelhante para mudas produzidas em todos os volumes testados, e, além disso, após a
implantação no campo a diferença entre elas tende a desaparecer.
Na produção de mudas em sacos de polietileno, embora a mistura de solo + areia 1: 1 seja

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


largamente utilizada, a mistura de solo com componentes orgânicos tem a vantagem da sua função
como condicionador e fertilizante. Pode ser utilizada a proporção solo + esterco 2: 1 ou, se o solo for
de textura argilosa ou muito argilosa, utilizar proporção 1: 1: 1 de solo: areia: componente orgânico
(esterco, composto orgânico, cama de frango composto de lixo urbano, vermicomposto ou outro). Não se
recomenda a produção de mudas de sabiá contendo nas combinações dos substratos o resíduo de sisal
(Lacerda et al. 2006). Na utilização do solo como substrato de cultivo, puro ou em mistura, o mesmo deve
ser coletado do horizonte B (também chamado de terra de barranco ou subsolo), isso para evitar inóculos
de fitopatógenos e também a germinação de sementes de espécies indesejáveis (Freire et al. 2013).
No cultivo em sacos de polietileno devem ser semeadas de duas a três sementes (figura 4a)
por recipiente (dependendo da taxa de germinação) com posterior raleio, mantendo-se a planta
mais vigorosa (Figura 4b).
Entre 3 e 4 meses após o semeio as mudas estarão com altura média de 20 cm podendo ir
para o campo (Ribaski et al. 2003).

4.2 Nutrição e adubação das mudas


Os níveis críticos de nutrientes na parte aérea em mudas de sabiá aos 120 dias após o semeio
foram: N = 16 a 17,3 g kg-1; P = 1 a 1,5 g kg-1; K = 5,7 a 7,1 g kg-1; Ca = 10 a 14,4 g kg-1 e Mg
= 1,3 a 2,4 g kg-1 na matéria seca de folhas (Gonçalves et al. 2013). Os teores podem variar em
função do substrato, da adubação das plantas e também com a idade da planta. Barroso et al. (1998)
observaram em mudas de 120 dias cultivadas em substrato a bases de bagaço de cana + torta de

291
filtro (3: 2 v/v) os seguintes teores de macronutrientes (g kg-1) N = 10,3; P = 2,3; K = 14,3; S = 2,0;
Ca = 18,3 e Mg = 3,7. Para os micronutrientes (mg kg-1) são: Fe = 32,71; Mn = 122,4 e Zn = 26,6.
Embora seja considerada uma planta rústica, que cresce em uma variedade de clima e tipos de
solo, as mudas do sabiá são responsiva à adubação com o N (Barroso et al. 1998, Marques et al. 2006,
Gonçalves et al. 2013) e com o P, mas exige baixo requerimento de K e Ca (Gonçalves et al. 2013).
O nível crítico no solo para plantas de sabiá com 120 dias, observadas por Gonçalves et al.
(2013) foram: P = 77 a 110 mg dm-³; K = 51 a 86,5 mg d-³; para Ca = 0,8 a 2,2 cmolc dm-³ e para
o Mg foi de 0,2 a 0,25 cmolc dm-³ de solo.
Trabalhos com recomendação de adubação de nutrientes específica para mudas de sabiá
encontram-se na tabela 1.

Tabela 1: Adubação em mg dm-3 para mudas de sabiá recomendada para diferentes


substratos e diferentes autores.
Micronu-
Substrato N P K Ca/Mg Referência
trientes
Silvicultura Tropical

---------------------------------------- mg dm-3 ------------------------------------------


312 - 600 0,8 de Ca Gonçalves et al.
Solo 50-200 50 de K
de P 0,2 de Mg 2013
72 – 107 Costa Filho et al.
Solo de P 2013
124 a Marques et al.
Solo
200 (2006)
Bagaço de cana
Barroso et al.
+ torta de filtro 200 (1998)
(3:2 v/v)

Solo + areia 1:1 1000 de 200 de 500 de 200 de Freire et al.


calcário
(v/v) P2O5 K2O FTE (2013)*
dolomitico

A aplicação de calcário dolomitico é indicada quando o teor de magnésio no solo estiver muito
baixo e, quando necessária, deve ser aplicada de dois a três meses antes do plantio. Freire et al. (2013)
recomendam o uso de fontes menos solúveis de P, tais como fosfato de rocha e termofosfato, uma vez
que as raízes das leguminosas acidificam o solo aumentando a solubilidade do P dessas fontes que são,
também, mais baratas que as fontes solúveis. A aplicação do P é localizada, ou seja, deve ser realizada
de forma que o elemento fique bem próximo as raízes. N e K devem ser parcelados em duas ou até três
vezes, com a primeira aplicação entre 5 e 10 dias após a emergência das plântulas e as demais a cada
20 dias, aplicados na água de irrigação. De acordo com Marques et al. (2006), a fonte sulfato de amônio
proporcionou melhor qualidade das mudas comparativamente às fontes nitrato de amônio e nitrato
de cálcio. Por outro lado, dentre os adubos minerais, a ureia tem a vantagem de ser, normalmente, de

292
menor preço no mercado. Alternativamente, o composto orgânico proporciona a entrada de nutrientes
no substrato, sendo aplicado de forma a compor até 30% do volume do substrato.

4.3 Associação com microrganismos simbiônticos:


Espécies da família Fabaceae, como a M. caesalpiniifolia se associam simbioticamente a com
as bactérias diazotróficas (popularmente conhecida como rizóbio), formando nódulos radiculares
(Figura 4 c, d, e), onde ocorre a fixação biológica do N2 atmosférico (FBN). O N fixado pela bactéria
é transferido para a planta hospedeira que, por sua vez, nutre a bactéria com carboidratos. Este
processo permite a entrada de nitrogênio no sistema solo-planta, substituindo de forma parcial
ou total a necessidade de adubação nitrogenada (Cassetari et al. 2016). Os nódulos de rizóbio são
encontrados nas raízes axiais e secundárias do sabiá (Figura 4c) (Feliciano 1989). Em alguns locais, o
sabiá consegue associar com bactérias diazotróficas nativas sem necessidade de realizar inoculação
(Figura 4c). No entanto, são encontradas no comércio estirpes selecionadas para inoculação em

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


sabiá, efetivas no aumento do crescimento e no acúmulo de N da planta (Stamford & Silva 2000). O
inoculante deve ser aplicado nas sementes. Essa inoculação é necessária, principalmente, quando
a nodulação é pobre em espécies já cultivadas no local ou quando a leguminosa sucede a uma
cultura não leguminosa em rotação ou ainda na recuperação de solos degradados, onde o número
de células de rizóbios é inferior a 50 células por grama de solo (Cassetari et al. 2016).
Os fungos micorrízicos arbusculares (FMAs) também se associam simbioticamente ao
sabiá. Estruturas como vesículas, arbúsculos e hifas se estabelecem dentro das raízes, recebendo
carboidratos da planta hospedeira. Por sua vez, as hifas extracelulares dos FMAs crescem no solo,
absorvem nutrientes e os transfere para as raízes. Essas hifas extracelulares funcionam como
uma extensão da raiz, aumentando a superfície de absorção de água e nutrientes. Este aspecto é
particularmente importante nos solos tropicais, com predomínio de baixos teores disponíveis de P.
Os FMAs também aumentam a tolerância do sabiá a estresses abióticos (Garcia et al. 2017). Pinto
(2016) verificou em mudas de sabiá com 90 dias que a colonização com FMA aumentou a altura,
diâmetro, biomassa da parte aérea e das raízes e, o aumento no conteúdo de macronutrientes
com a inoculação foi de 2,8 vezes para o N; de 2,6 vezes para o P; de 2,7 vezes para o K; de 2,5
vezes para o Ca e de 2,3 vezes para o Mg. Inóculos nativos de FMAs também colonizam as raízes,
no entanto, em áreas de mineração os mesmos são exportados junto com a camada superficial do
solo. Nesse caso é importante o plantio de mudas já inoculadas. A inoculação deve ser realizada
junto ao semeio ou misturadas ao substrato de produção de mudas, no entanto, inóculos comerciais
não são encontrados facilmente no mercado.

293
Silvicultura Tropical

Figura 4: Mimosa caesalpiniifolia Benth. Produção de mudas com semeio direto


em sacolas de polietileno- plântulas recém-germinadas (A); Muda produzida em
sacolas de polietileno (B); Raiz ainda no substrato evidenciando nódulos de rizóbio
nativo (C); Raiz lavada com nódulos de rizóbio nativo (D) e Nódulos de rizóbio
extraído das raízes do sabiá (E).

294
Os FMAs, indiretamente, interferem na associação da planta com o rizóbio. Isso ocorre porque
o processo de FBN é altamente exigente em energia na forma de ATP, de modo que o aumento no
suprimento de P proporcionado pelo FMA beneficia esse processo (Cassetari et al. 2016). A inoculação
dos fungos micorrízicos Glomus clarum, Gigaspora margarita + o inoculante de rizóbio BR3405 em
plantas de sabiá, em condição de campo, aumentou consideravelmente o crescimento e os conteúdos
de N e P, levando à redução da necessidade de fertilizantes comparativamente às plantas não
inoculadas (Mendes et al. 2013).

4.4. Manejo das mudas:


A irrigação deve ser diária, mas a quantidade de água irá variar com o substrato e com o
recipiente de cultivo, sombreamento e umidade relativa do ar.
Na produção de mudas de sabiá, o sombreamento de até 50% aumenta o diâmetro do colo,
a biomassa de folhas e o desenvolvimento das raízes. Apesar das plantas tolerarem sombreamento

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


de até 92%, acima de 50% já diminui a qualidade das mudas (Câmara & Endres 2008). As mudas
produzidas em viveiro sob sombreamento devem, antes de serem transferidas para o campo, irem
para um sistema de rustificação, com a eliminação gradativa da sombra até ficarem a pleno solo.
O plantio no campo (tanto por semeio quanto por mudas) deve ser feito em período de chuvas
ou realizar a irrigação até o pegamento das mudas. As mudas devem apresentar no mínimo 20 cm de
altura (Ribaski et al. 2003, Carvalho 2007). Plantios em áreas degradadas devem ser realizados com
mudas com mais de 50 cm de altura para aumentar a porcentagem de sobrevivência.

5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO


O uso do sabiá para o pastejo de gado e o manejo de podas para produção de estacas são di-
ficultados pela presença dos acúleos. Trabalhos com melhoramento genético estão sendo realizados,
principalmente, visando a melhor utilização do sabiá para uso como forragem, onde as plantas sem
acúleos e altos teores proteicos são almejadas (Machado et al. 2018).
De acordo com Drumond et al. (1999), no ano de 1988, foram identificados exemplares
de sabiá com ausência de acúleos. Estudos foram realizados com esses exemplares onde foi
constatado que o caráter ausência de acúleos é recessivo, determinado por um ou mais genes.
A propagação vegetativa é uma opção para a manutenção de plantas aculeadas, mas trabalhos
com melhoramento genético vêm sendo realizados a partir desses espécimes sem acúleos, obtidos
em condições naturais. Lima et al. (2008) avaliaram progênies de 16 progenitores de sabiá

295
previamente selecionados para ausência de acúleos. As progênies provenientes da população
melhorada obtiveram maior proporção de plantas sem ou com poucos acúleos, quando comparadas
com um grupo de progênies de população não melhorada. Concluíram que a variabilidade entre
progênies indica a possibilidade de se obter variedade de sabiazeiro forrageiro livre de acúleos. As
progênies melhoradas também foram mais procuradas pelos animais quando foi observado o grau
de preferência dessas progênies por bovinos em pastejo.
Diversas instituições de pesquisa na Região Nordeste do Brasil vêm trabalhando com o sabiá
em programas de melhoramento genético, existindo algumas coleções de acessos que garantem a
conservação da sua diversidade genética em condições ex situ (Machado et al. 2018). Nessas coleções,
a seleção e o melhoramento podem ser destinados para a obtenção de plantas com características
fenotípicas diferenciadas. O uso madeireiro do sabiá também pode apresentar ganhos expressivos com
trabalhos de seleção e melhoramento, uma vez que a espécie apresenta grande variabilidade fenotípica
de características herdáveis, permitindo a seleção de indivíduos com fustes mais retos e de maior
incremento diamétrico, bem como de indivíduos que lancem menor número de galhos, facilitando
Silvicultura Tropical

o manejo para exploração madeireira. Da mesma forma, o potencial medicinal da espécie deverá ser
explorado nesse sentido, potencializando seu uso.

6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


6.1. Sistemas de plantio
O sabiá pode ser plantado em diferentes sistemas de cultivo, como o sistema convencional,
sistema de cultivo mínimo, sistema em plantio direto, sistema agroflorestal (agrossilvicultural e
silvipastoril). Pode ser plantado em aleias, visando sombreamento ou fornecimento de biomassa
vegetal para culturas consorciadas. Na recuperação de áreas degradadas pode ser implantada em
cultivo puro ou misto, com diferentes espécies florestais. A dimensão das covas para plantios no
campo deve ser de 20 x 20 x 20 cm, sendo maior para mudas com mais de 50 cm de altura (Figura
4b), destinada a recuperação de áreas degradadas.

6.2. Espaçamentos
Plantios destinados a produção de mourão, estacas, lenha ou mel requerem espaçamentos
maiores, tais como: 3 x 2,5 m; 3 x 3 m; 4 x 2,5 m ou 4 x 3 m, em plantios puros ou mistos com outras
espécies (Campos Filho & Sartorelli 2015).
Nos plantios de cercas vivas e quebra-vento são utilizados espaçamentos mais reduzidos,

296
mas ainda assim podem sofrer variações. No plantio de cerca viva, onde é requerido impedimento
físico para passagem de pessoas e animais, o espaçamento deve ser de 10 a 20 cm (Figura 5a), com
semeadura de forma contínua diretamente na linha de plantio. Após a germinação das sementes
realiza-se o raleio para ajuste do espaçamento.
Cerca viva para quebra vento ou para diminuir a visibilidade em locais amplos e a maiores
distâncias (áreas de mineração, propriedades rurais às margens de rodovias ou delimitação de
propriedades rurais) onde as plantas serão mantidas acima de 3 m de altura utiliza-se espaçamentos
de 30 a 80 cm de distância. Nestes espaçamentos maiores, o plantio pode ser realizado também
em fila dupla, com distanciamento de 30 - 50 cm entre as fileiras alternando as plantas, de forma a
manter um plantio triangular. Ajustes devem ser realizados no procedimento das podas de condução
de forma a manter uma linha de plantio com plantas mais altas e outra com plantas mais baixa.
No plantio para cerca destinado a divisão de área, onde serão utilizados arames, o espaçamento
é de 2 a 3 metros entre plantas.

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


Nos cultivos em aleias, o espaçamento deve permitir o cultivo de culturas agrícolas nas
entrelinhas. Na linha de plantio, o espaçamento pode variar de 0,5 a 4 metros. Na entrelinha o
espaçamento irá depender da cultura consorciada e do sombreamento desejado, recomenda-se
espaçamentos maiores que 5 metros.

6.3. Nutrição, manejo e adubação


6.3.1. Nutrição
A concentração de nutrientes em plantas adultas pode variar em função da idade da planta
e também com a parte da planta avaliada (folhas ou folhas + galhos). Os teores médios de nutrien-
tes observados nas folhas de sabiá em plantios de 8 e 11 anos (retirados de galhos com diâmetro
maior que 8 cm) foram: N = 20,42 g kg-1; P = 0,60 g kg-1; K = 14,84 g kg-1; Ca = 8,56 g kg-1; Mg
= 2,86 g kg-1 e S = 1,14 g kg-1 de biomassa seca (Moura et al. 2006). Em plantios em aleias com
cerca de 24 meses de implantação foram observados aos 80 dias após a poda, os seguintes teores
foliares: N = 23,4 g kg-1, P = 1,5 g kg-1 e K = 6 g kg-1 de biomassa seca (Queiroz et al. 2007).

6.3.2. Manejo do solo e adubação


O sabiá desenvolve-se bem em solos profundos. Esta espécie cresce também em solos com
baixos teores de nutrientes disponíveis, no entanto, em solos de alta fertilidade ou com adubação
mineral ou orgânica o incremento em altura é mais acentuado, obtendo-se melhores resultados em
termos de produção de madeira (Ribaski et al. 2003).

297
Esta espécie tolera bem solos ácidos (Costa Filho et al. 2013). A calagem em doses
altas (acima de 3 ton ha-1) pode reduzir o crescimento da planta e a nodulação por bactérias
diazotróficas, sendo desnecessária quando são usadas estirpes de rizóbio selecionadas quanto a
resistência a acidez (Stamford & Silva 2000), entretanto, a calagem deve ser utilizada em áreas
de mineração onde a camada orgânica do solo (camada superficial) foi retirada e não recolocada.
Além disso, com a colheita e a remoção da madeira, ocorre exportação de cálcio, sendo necessária
a sua reposição (Freire et al. 2013). Nos cultivos agroflorestais a calagem deve ser realizada na
cultura de interesse econômico.
Trabalhos sugerindo recomendação de adubação específica para o sabiá na fase de
implantação no campo ou para adubação pós-plantio são escassos. O que se encontra são
recomendações para espécies da mesma família (Fabaceae) ou Leguminosae de maneira geral.
Em plantas com 24 meses, cultivadas em aleias, a aplicação de 60 kg ha-1 de P2O5 na forma de
superfosfato simples, não proporcionou aumento na fitomassa ou alteração nos teores foliares
de nutrientes, inclusive do fosforo (Queiroz et al. 2007). A aplicação das doses de P2O5 de até
Silvicultura Tropical

200 kg ha-1 na forma de superfosfato simples em plantas de sabiá com 13 anos, cultivadas em
solo com baixos teores de P, promoveu pequenos incrementos nas características morfológicas e
na composição química das plantas de sabiá (Caldas 2007). As respostas observadas nas plantas
de sabiá em função da adubação fosfatada dependem da idade da planta, dos teores disponíveis
de nutrientes no solo antes da adubação, da disponibilidade de água, da textura do solo e das
associações com FMAs e rizóbio.
Freire et al. (2013), no manual de adubação e calagem do Estado do Rio de Janeiro sugerem
uma recomendação para leguminosas arbustivas e árvores fixadoras de N2, incluindo, o sabiá. Para
o plantio recomenda-se a aplicação de 25 g por cova de calcário dolomítico (considerando PRNT
de 100%). Em solos com teores disponíveis de fósforo menores que 10 mg dm-3 deve-se aplicar
40 kg ha-1 de P2O5 (este valor deve ser dividido pelo número de covas por hectare e aplicado na
cova de plantio). Em solos com teores disponíveis de potássio menores de 45 mg dm-3, aplicar 60
kg ha-1 de K2O. Para os micronutrientes, aplicar de 20 a 30 g por cova de FTE (Mo=0,1%; B=1,8%;
Cu=0,8%; Mn=2%; Fe=3% e Zn= 8%). O nitrogênio não é recomendado para leguminosas,
mas é importante a inoculação do rizóbio para garantir a eficiência da fixação biológica do N2 e
também a aplicação de composto orgânico na cova de plantio (até 30% do volume do solo da
cova). A adubação de cobertura não é recomendada por esse autor. Entretanto, deve-se considerar a
exportação de nutrientes a cada ciclo de corte, com isso a adubação deve ser repetida e nesse caso,
o calcário precisa ser considerado para reposição do cálcio exportado.

298
7. MANEJO PARA PRODUÇÃO
O manejo das plantas de sabiá depende do objetivo do cultivo, mas envolve basicamente práticas
de podas, tanto para a produção de cerca viva como de estacas. Na produção de estacas é utilizado o
sistema de talhadia seletiva, sendo melhor do ponto de vista ambiental, uma vez que não expõe o solo
como ocorre no corte raso.

7.1. Manejo para produção de estacas


Plantas de sabiá apresentam características cespitosas (Figura 5b), formando touceiras desde
jovens, podendo variar de 3 a 8 brotações (Carvalho 2007). Deve ser realizada a desbrota (limpeza),
com manutenção de 3 a no máximo 6 brotações para a condução das varas, sendo selecionadas as
brotações mais vigorosas, retas e equidistantes (Figura 5c, d). O número de pernadas conduzidas
influenciará o incremento diamétrico das estacas, sendo menor incremento para maiores números

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


de pernadas conduzidas. A condução das hastes deve ser iniciada no primeiro ano após o plantio e
as hastes mantidas sob limpeza periódica das brotações (pelo menos uma vez ao ano), para retirada
de excesso de galhos, evitando novas bifurcações (Figura 5c, d, e) e garantindo maior incremento por
haste (Carvalho et al. 2004, Barbosa et al. 2008).
A exploração pode ser iniciada a partir do quarto ano após o plantio com plantas chegando
até 4 m de altura (Carvalho 2007). No sistema de talhadia a colheita das estacas do sabiá é realiza-
da com corte seletivo, sendo retirada somente uma haste (fuste) de cada planta anualmente. Este
procedimento irá favorecer o crescimento das demais hastes e manter a produtividade ao longo do
tempo. Para a produção madeireira, por sua capacidade de rebrota, que na região serrana do Rio
de Janeiro se inicia sete dias após o corte (Barbosa et al. 2008), a exploração é realizada de forma
contínua, com a seleção de estacas em função do diâmetro desejado. Após a colheita do fuste
selecionado ocorre grande número de brotações na base remanescente, dentre as quais deve ser
selecionada e mantida somente a mais retilínea e vigorosa para formação de nova haste, sendo as
demais brotações retiradas.
O manejo por talhadia seletiva torna a cultura interessante para plantios em locais aciden-
tados, mantendo a área sempre coberta, e também pode ser conduzido em sistemas agroflorestais,
onde é mantida a cultura agrícola tolerante ao sombreamento. Sua associação com o rizóbio ben-
eficia a produção das demais culturas (Queiroz et al. 2007, Oliveira et al. 2018), benefícios estes
associados tanto à produção madeireira e quanto não madeireira da espécie.

299
Em áreas com plantas mais velhas e sem manejo de condução das brotações, onde a reforma
é necessária, pode ser realizada a poda na altura de 30 cm do solo, com o manejo subsequente das
brotações para condução das hastes (Carvalho et al. 2004).
Silvicultura Tropical

Figura 5: Plantas de Mimosa caesalpiniifolia Benth. Cerca viva – espaçamento


reduzido (A); Ramificação cespitosa (B); Manejo de podas com condução com 3 hastes
em média (C); Manejo de podas com condução com 4 hastes (D); Plantas sem limpeza
das brotações e sem a condução das hastes (E).

7.2 Manejo da cerca viva, quebra vento, aleias


O manejo da cerca viva e do quebra vento é basicamente a manutenção das podas,
que depende da altura desejada das plantas. Para cerca viva, após o plantio, quando as plantas
atingirem entre 50 e 80 cm, efetua-se a poda na altura variando entre 20 e 50 cm do solo

300
(Figura 6a). As plantas irão brotar, sendo estas vigorosas e numerosas, formando uma touceira.
Quando esses ramos atingirem entre 40 e 60 cm devem ser reduzidos para 20 a 30 cm (esta
poda é importante quando houver necessidade de impedimento visual). A partir daí as podas
são realizadas segundo a necessidade, em função da altura desejada e /ou do quanto se quer
de massa de material vegetal para diminuir a visibilidade ou o vento (Figura 2a). A cerca viva
pode chegar a quatro metros de altura em dois anos com 50 cm de largura (Ribaski et al. 2003),
podendo ser usada como quebra vento.
Na cerca viva dupla, a poda das plantas pode ser diferenciada em cada uma das linhas,
deixando-se uma linha com plantas mais altas e na outra linha plantas mais baixas. Para a linha
com plantas de menor altura deve ser seguido o sistema de poda anteriormente mencionado para
cerca viva, de forma que, à altura dos olhos, a massa vegetal fique intensa. Na linha de plantio com
plantas que devem ficar mais altas a primeira poda deve ser realizada quando as plantas estiverem
com altura entre 1,50 e 2,00 m, sendo podadas entre 1,00 e 1,20 m de altura, o que permitirá que

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


ramifiquem em maior altura (Figura 6c, d).
O espaçamento reduzido e a copa fechada (principalmente se houver presença de espinhos)
funcionam como barreiras físicas à passagem de pessoas e animais (Figura 2a). O manejo da cerca
viva para plantas que irão receber arame deve seguir o mesmo procedimento adotado para aleias.
Nos sistemas agroflorestais as podas devem ser realizadas, principalmente, visando às
culturas de interesse agrícola, mantendo o controle do sombreamento. Além das podas, pode ser
necessária a retirada de plantas de sabiá para aumentar a luminosidade quando estas estiverem
muito altas e proporcionando muito sombreamento. A primeira poda no sistema de aleias pode ser
realizada quando as plantas atingirem cerca de 2 m, sendo podadas a cerca de 1,5 m, mantendo-
se somente a haste principal. Entre 80 - 100 dias após a primeira poda, já pode ser realizada a
segunda dos ramos da copa. Essa poda deve ser realizada sempre que houver grande quantidade
de biomassa da parte aérea ou para regular o sombreamento. A biomassa da poda pode ser utilizada
para alimentação de gado, em composteiras ou ainda como adubo verde, e os galhos para lenha.

8. CRESCIMENTO, PRODUÇÃO E CUSTO


O crescimento do sabiá no campo varia, principalmente, em função do clima, do solo,
regime de manejo de adubação, inoculação com rizóbio. Comparativamente a muitas espécies
florestais é de rápido crescimento, podendo atingir 6 m de altura e 6,5 cm de DAP já aos 7 anos de
idade no Nordeste (Ribaski et al. 2003).

301
Silvicultura Tropical

Figura 6: Plantas de Mimosa caesalpiniifolia Benth. Muda plantada para cerca viva (A);
Primeira poda da muda para condução de cerca viva (B); Ramificação em plantas adultas
podendo ser utilizada para lenha (C); Alta ramificação em planta adulta após poda (D).

Em plantio de sabiá em aleias, com espaçamento de 50 cm entre plantas e 5,6 m entrelinhas


(e consorciado com milho nestas entrelinhas) foi verificado uma produção média de fitomassa de
1.093 kg ha-1 no primeiro corte (realizado aos 8 meses após o plantio) e de 1.990 kg ha-1 em poda
realizada 80 dias após a primeira. O acúmulo de nutrientes observado na parte aérea podada variou

302
de 26 a 47 kg ha-1 de N, 1,6 a 3 kg ha-1 de P e 7 a 12 kg ha-1 de K (Queiroz et al. 2007), podendo fertilizar
outra cultura nesse sistema, com redução significativa nos custos com adubo, além das melhorarias
que a entrada de matéria orgânica pode proporcionar sobre os atributos do solo.
Para produção de lenha a exploração inicia-se entre 4 e 6 anos após o plantio (Pareyn et
al. 2018). A produção da madeira é dependente, dentre outros fatores, do espaçamento adotado.
Num espaçamento de 2 x 2 m foi obtido o volume médio de 46,5 m3 de madeira por hectare em
plantações com seis anos de idade (Ribaski et al. 2003). Também foram observados em plantios
com 8 anos a altura média das plantas de 10,16 m e produção entre 92 e 138 m3 ha-1 de madeira.
O incremento médio anual pode chegar a 23 m3 ha-1 (Campos Filho & Sartorelli 2015).
Para produção de estacas os povoamentos de sabiá podem ser explorados pelo sistema
de talhadia seletiva, visando o benefício do maior desenvolvimento das hastes (Carvalho 2007)
e com colheita contínua. Entre 4 e 6 anos após o plantio é possível obter até quatro estacas de
aproximadamente 8 cm de diâmetro (Carvalho 2007). A produção irá variar, principalmente, em

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


função do espaçamento adotado, do número de hastes conduzidas para cada planta e também
no número de estacas obtidas por cada haste. Aos cinco anos de idade a produção em média é de
5.000 estacas por hectare (Pareyn et al. 2018), podendo chegar a até 9.000 unidades por hectare
de estacas quando bem manejada em plantio com 8 anos (Ribaski et al. 2003).
O plantio de um hectare com espaçamento 3 x 2 m resulta em 1.667 plantas. Sendo
realizada a condução de 3 brotações em cada planta totalizam no mínimo 3 fustes por planta,que
dependendo da altura, pode produzir até duas estacas, com qualidades distintas (fino, médio
e grosso), conforme mostrado na Figura 5c. Se a colheita for realizada no sistema de talhadia
seletiva, onde é retirado somente um fuste de cada planta por ano, a cada ano serão colhidas no
mínimo 1.667 estacas. Considerando que, cada estaca seja comercializada por um valor médio de
R$ 10,00 (cotação do dólar americano em R$ 4,85 em 08/06/2020) de acordo com o site de venda
on line da MFRural (2020), resulta em uma renda bruta de R$16.670,00 (dezesseis mil seiscentos
e setenta reais) por hectare ano-1. Se for realizado o corte raso, com a colheita de todos fustes
de cada planta, totalizará cerca 5.000 mourões por hectare, podendo gerar uma receita bruta de,
aproximadamente, R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por hectare a cada ciclo de corte.
De acordo com Pareyn et al. (2018), no Nordeste, o sabiá é uma das poucas espécies
madeireiras exploradas economicamente que possui sistema de produção e mercado organizado,
apresenta rendimento elevado aos produtores com pontos de comercialização fixos.

303
9. PRAGAS E DOENÇAS
Poucas informações são encontradas sobre de pragas e / ou doenças das folhas, frutos,
caule e raízes do sabiá.
Barreto & Marini (2002) observaram que o fungo Mycovellosiella robsii, um tipo de fungo
hifomiceto cercosporóide, foi associado a manchas foliares no sabiá, comumente encontrada neste
hospedeiro no Estado de Rio de Janeiro. Plantas inoculadas com este fungo começam a apresentar
sintomas da doença oito dias após a inoculação, com lento desenvolvimento dos sintomas. No
entanto, com o tempo, a doença causa danos consideráveis à folhagem, particularmente no final
da estação chuvosa.
As sementes do sabiá são muito atacadas pelo coleóptero Bruchus pisorum L.. Este
inseto perfura as vagens antes da coleta ou logo após o seu beneficiamento (Ribaski et al. 2003),
prejudicando a qualidade das sementes. As sementes devem ser selecionadas para garantir maior
percentual de germinação e também para o armazenamento e comercialização.
Silvicultura Tropical

A cigarrinha Poekilloptera phalaenoides (L., 1758) da ordem Homoptera, Família Flatidae,


ataca os galhos de sabiá, tanto na forma jovem quanto na forma adulta (Silva et aI. 1968). Este inseto
excreta uma substância pegajosa que faz com que a fumagina (fuligem) cresça na planta e cubra
folhas e galhos, o sintoma observado é a presença de filamentos longos e enrolados, de exsudato
ceroso cobrindo os galhos (Pires et al. 2011), sendo as excreções úmidas e pegajosas. Sugere-se que
o sabiá possa ser um local de reprodução para P. phalaenoides, além de ser uma fonte de abrigo e
alimento e, portanto, um potencial hospedeiro para esta cigarrinha (Menezes et al. 2012).

10. OUTRAS INFORMAÇÕES RELEVANTES


Alguns produtores evitam o cultivo do sabiá em função da dificuldade de manejo. O sabiá
apresenta alta capacidade invasora em áreas com supressão de outras espécies devido à grande
produção de sementes que permanecem viáveis no campo por vários anos (Pareyn et al. 2018).
Em condições naturais, as sementes são capazes de germinar tanto a pleno sol (luz do espectro
vermelho) como sob luz filtrada pela vegetação (espectro vermelho-extremo) (Silva et al. 2008).
Além disso, efeitos alelopáticos do sabiá com outras espécies também podem ocorrer, levando a
diminuição da germinação de sementes de outras espécies ou atuando na diminuição da taxa de
crescimento das plantas. O extrato de folhas verdes de sabiá promoveu o retardamento e a inibição
de germinação de sementes de ipê amarelo (Tabebuia alba (Cham.)) (Piña-Rodrigues & Lopes

304
2001). Mas esse efeito alopático sobre a germinação parece não ocorrer para todas as espécies
vegetais e também varia com a condição fisiológica da folha. Extrato das folhas secas de sabiá não
apresentou o mesmo efeito alelopático que as folhas verdes (Piña-Rodrigues & Lopes 2001), além
disso, diferentes concentrações do extrato de folhas jovens de sabiá também não prejudicaram a
germinação das sementes de fava (Ferreira et al. 2010).
Se por um lado os produtores consideram como negativa essa característica de alastramento
das plantas, por outro lado, essa mesma característica é positiva quando se trabalha na recuperação
de áreas degradadas em que se almeja a cobertura rápida do solo com menos investimento em
manejo. Nessas áreas, após o estabelecimento do sabiá, pode ser realizado o corte raso ou o corte
seletivo para diminuir a densidade do plantio do sabiá permitindo a regeneração de outras espécies
nativas ou possibilitando o plantio de enriquecimento com outras espécies florestais. O material
obtido do corte das árvores pode ser utilizado para carvão ou lenha, sem contar a serapilheira
depositada que auxilia na recuperação do solo.

Mimosa caesalpiniifolia Benth.


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Mimosa strobiliflora Burkart
(FABACEAE - MIMOSOIDEAE)
Elivelton Marcos Gurski
Engenheiro Florestal, graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Mestrando
em Conservação da Natureza pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente
Diretor Técnico da Sociedade Chauá, atuando em trabalhos e pesquisas na área de
conservação da natureza e silvicultura de nativas da Floresta com Araucária.

Pablo Melo Hoffmann


Engenheiro Florestal, graduação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutorando
em Ciências Florestais (UFPR). Atualmente Diretor Executivo da Sociedade Chauá e
Coordenador do Viveiro Chauá de espécies nativas da Floresta com Araucária.

Santiago José Elías Velazco


Engenheiro Florestal, graduação pela Facultad de Ciências Forestales, Universidad Nacional
de Missiones, e Pós-graduação em Engenharia Florestal, nível Mestrado e Doutorado pela
Universidade Federal do Paraná. Atualmente é pesquisador pós-doutoral no Instituto de
Silvicultura Tropical

Biologia Subtropical (UNaM-CONICET, Argentina).

Jeniffer Grabias
Bióloga, graduação Bacharel em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Autônomo
do Brasil (Unibrasil). Mestre em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Atua como consultora em conservação da natureza na Sociedade Chauá.

Marilia Borgo
Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, Mestrado em Botânica e Doutorado em
Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é especialista
em Serviços Ambientais da The Nature Conservancy, trabalhando com desenvolvimento e
implementação de projetos florestais de carbono e suporte a estratégias de pagamento por
serviços ambientais.

André Cesar Furlaneto Sampaio


Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, especialização em Gestão e Engenharia Ambiental pelo Instituto de Engenharia
do Paraná, mestrado e doutorado em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá.
Atualmente é Conselheiro fiscal e técnico da Sociedade Chauá.

1. Botânica
1.1 Distribuição
A espécie é nativa no bioma Mata Atlântica, presente na Floresta Ombrófila Mista, sendo
endêmica do Brasil, especificamente do Estado do Paraná. Foi encontrada exclusivamente em
altitudes entre 800 m s.n.m. (O.S. Ribas 3947) e 915 m s.n.m. (J.M. Silva et al. 8344), em área

314
de transição entre floresta e campo naturais (Silva & Oliveira 2008, Missouri Botanical Garden 2018).
Apresenta apenas uma população natural conhecida atualmente, todas suas coletas são restritas às
margens do Rio Iguaçu nos municípios da Lapa e de Porto Amazonas (C.V. Martin 6; J.M. Silva 3418;

Mimosa strobiliflora Burkart (FABACEAE - MIMOSOIDEAE)


O.S. Ribas 3600, 3947, 8206), constam apenas 13 registros de coleta (Flora do Brasil 2018).

1.2 Nome científico


Mimosa strobiliflora Burkart. Não possui sinonímias. O gênero Mimosa L. apresenta mais
de 540 espécies, sendo o segundo maior gênero de Mimosoideae, (Simon et al. 2011).

1.3 Nome comum


Tem sido chamada de angiquinho-rosa em alguns viveiros.

1.4 Nível de ameaça de extinção


Em avaliação ainda não publicada pelo CNCFlora, realizada com a colaboração da
Sociedade Chauá, a espécie se enquadra como Criticamente em Perigo-CR. Esse status de
ameaça se deve principalmente à uma população pequena, áreas de ocorrência e ocupação
restritas, e ameaças ao habitat (CNCFlora 2020).

1.5 Porte e características botânicas


• Hábito: espécie pioneira, heliófita, arbustiva de até 3 metros de altura na idade
adulta (Flora do Brasil 2018).
• Fuste: irregular, curto e de coloração ferrugínea (Figura 1a).
• Copa: irregular, ampla e densa, com diâmetro de copa variando de 0,5 m até 2,5 m.
• Folhas: untuosas ao tato (Missouri Botanical Garden 2018); folhas bipinadas com
até 13 pares de pinas opostas (Figura 1b).
• Senescência foliar: semidecídua (Missouri Botanical Garden 2018).
• Flor: inflorescência com coloração lilás-rosada (Missouri Botanical Garden
2018);monóica com 1-3 inflorescências interfoliares (Figura 1c).
• Fruto: infrutescência globosa, de coloração verde clara quando imatura e marrom
escura quando madura, com 6 a 7 frutos (Figura 1d-e); cada fruto apresenta de 3 a 4
sementes, lustrosas, de cor marromescura (Figura 1f).
• Características organolépticas: não estudadas.

315
A B

C D
Silvicultura Tropical

e f

Figura 1: A. Fuste; B. Folhas; C. Botões e inflorescência; D. Infrutescência imatura; E. Infrutescên-


cia madura; F. sementes de Mimosa strobiliflora.

2. Tecnologia dos produtos não madeireiros


Existe potencial para uso ornamental, como planta de destaque em uma composição ou
em formações, além do cultivo em vasos. Apresenta potencial melífero e para uso em plantios
de restauração.

3. Tecnologia de sementes
3.1 Fenologia
A floração acontece entre os meses de junho e novembro, sendo este período observado
em indivíduos cultivados na região de Campo Largo, PR. A frutificação inicia em agosto, estando
os frutos prontos para coleta em novembro e dezembro. A produção de frutos por planta é alta,

316
consequentemente produzindo um grande número de sementes. Os frutos devem ser coletados
diretamente do arbusto quando apresentarem coloração marrom escura. Na maioria dos casos, faz-se
necessário o uso de uma tesoura de poda ou podão para que a planta não seja danificada. Como a
semente é muito pequena, deve-se tomar o cuidado para não perder a época de amadurecimento dos
frutos e, consequentemente, das sementes.

3.2 Produção de sementes


Foi realizada a biometria de infrutescências, frutos e sementes de Mimosa strobiliflora no
Laboratório de Pesquisa de Espécies Nativas (LAPEN) da Sociedade Chauá (Figura 2). Para isso foram

Mimosa strobiliflora Burkart (FABACEAE - MIMOSOIDEAE)


coletadas infrutescências de quatro indivíduos, provenientes do plantio realizado na Sociedade Chauá
no município de Campo Largo, PR. Foram mensuradas cinco variáveis de 100 infrutescências (Tabela
1), frutos (Tabela 2) e sementes (Tabela 3). Em média, cada infrutescência apresenta 22 sementes
enquanto que cada fruto possui 3. As sementes apresentam comprimento de 3,11 mm e largura de
2,89 mm. O número de sementes por quilograma é de 154.062 sementes.

A B C

Figura 2: A. Infrutescência; B.Fruto e C. semente de Mimosa strobiliflora durante realização de biometria.

Tabela 1: Biometria de infrutescências de Mimosa strobiliflora.


Comprimento Largura Espessura Massa
Infrutescência N° de sementes
(mm) (mm) (mm) (g)
Média 22,037 27,895 23,012 1,078 22,760
Desvio padrão 4,014 4,695 5,054 0,437 9,898
CV 18,214 16,831 21,964 40,502 43,487
CV: coeficiente de variação (%).

317
Tabela 2: Biometria de frutos de Mimosa strobiliflora.
Comprimento Largura Espessura Massa Nº de
Fruto
(mm) (mm) (mm) (g) sementes
Média 16,749 4,283 2,068 0,049 3,610
Desvio padrão 2,173 0,517 0,407 0,013 0,984
CV 12,973 12,071 19,704 27,066 27,248
CV: coeficiente de variação (%).

Tabela 3: Biometria de sementes de Mimosa strobiliflora.


Comprimento Largura Espessura Massa
Semente
(mm) (mm) (mm) (g)
Média 3,113 2,891 1,415 0,008
Desvio padrão 0,344 0,316 0,204 0,001
CV 11,060 10,940 14,424 16,634
CV: coeficiente de variação (%).

3.3 Manejo de sementes


Silvicultura Tropical

Para se verificar melhores técnicas para germinação e manejo das sementes realizou-se
um delineamento experimental inteiramente casualizado com seis tratamentos, sendo cinco
repetições com 25 sementes cada. Foi testada a quebra de dormência por imersão em água
por 48 horas com temperatura inicial de 80°C, a fotoblastia e o uso de vermiculita em seis
tratamentos (Sociedade Chauá 2020).
Devido a diversificação desigual de fatores nos tratamentos, os dados foram analisados
por meio de modelos lineares, ajustados para cada variável resposta (Germinação, Índice
de Velocidade de Germinação e Tempo Médio de Germinação). As análises foram feitas no
software R v.3.6.1 Considerou-se primeiramente os modelos que apresentaram normalidade
e homocedasticidade nos resíduos (verificadas visualmente nos gráficos). Modelos fora desse
padrão, e com a presença de outliers, foram transformados pela função Box-Cox. Na sequencia,
para todos os modelos, as médias foram estimadas e comparadas por meio do teste de contraste
Tukey (p<0,05) (Figura 3).
Os resultados não foram conclusivos tanto para a efetividade da quebra de dormência
quanto para a fotoblastia. Observando-se os valores de G e IVG, verifica-se a propensão de
efetividade na quebra de dormência proposta e, que a germinação pode ter sido beneficiada
pelo ambiente escuro. Novos experimentos são necessários para confirmações. Para TMG não
houve diferença significativa entre os tratamentos. O tratamento três apresentou os melhores
resultados (Sociedade Chauá 2020).

318
Mimosa strobiliflora Burkart (FABACEAE - MIMOSOIDEAE)
Figura 3: Efeito de diferentes substratos,temperaturas, condições de luminosidadee quebra de
dormência na germinação de Mimosa strobiliflora.
Barras verticais representam intervalos de confiança de 95%. TMG: tempo médio de germinação;
IVG: índice de velocidade de germinação; Z: sincronia da germinação. Tratamentos: T1: sem quebra
de dormência, papel filtro, fotoperíodo de 12 h a 25°C em câmara Mangelsdorf; T2: quebra de
dormência por 48h, papel filtro, fotoperíodo de 12 h a 25°C em câmara Mangelsdorf; T3: quebra
de dormência por 48h, papel filtro, ambiente escuro, 25°C em câmara Mangelsdorf; T4: quebra de
dormência por 48h, vermiculita, fotoperíodo de 12 h a 25°C em câmara Mangelsdorf; T5: quebra
de dormência por 48h, vermiculita, ambiente escuro, fotoperíodo de 12 h a 25°C em câmara
Mangelsdorf; e T6: sem quebra de dormância, papel filtro a 30°C em câmara de germinação BOD .

A partir desses resultados, mesmo que inconclusivos, recomenda-se realizar o tratamento


de quebra de dormência das sementes, imersas em água a 80°C (apenas temperatura inicial para
imersão) durante 48 h, para posteriormente seguir com a semeadura em bandejas sementeiras,
utilizando como substrato terra preta e vermiculita na proporção de 3:1.
Após a coleta é aconselhado manter os frutos em bandejas ou peneiras, para evitar a
perda de sementes, em ambiente ventilado para a abertura natural das vagens. O beneficiamento
é feito a partir da maceração das infrutescências passando por peneiras para retirada das
impurezas maiores e cuidadosamente com o auxílio de um ventilador pode-se fazer a retirada
das impurezas menores.

319
3.4 Quebra de dormência
As sementes apresentam dormência devido a impermeabilidade do tegumento, sendo
recomendada a imersão em água em temperatura de 80 °C e posterior permanência na água por
períodos de 1, 24 ou 48 h, fora do aquecimento.
As sementes de M. strobiliflora apresentam germinação insatisfatória quando imersas em
água em temperatura ambiente e, as que não passam por nenhum tratamento pré-germinativo
não apresentam germinação (Biondi & Leal 2008).

3.5 Armazenamento
Assim como para as demais espécies pertencentes a família Fabaceae (Mimosoideae),
as sementes de M. strobiliflora se comportam como ortodoxas, podendo ser armazenadas por
longos períodos.
Silvicultura Tropical

4. Produção de mudas
4.1 Método de semeadura e produção
A semeadura pode ser realizada em bandeja, sementeira ou diretamente em recipiente
individual.

4.2 Manejo
Recomenda-se o uso de sementeira
seguida de repicagem para embalagens de
0,5 L. Posteriormente, pode-se transplantar as
mudas para recipientes de 10 L ou diretamente
no solo. A repicagem deve ser feita quando as
plântulas atingirem altura de 5 a 8 cm. A espécie
não sofre com a repicagem, mas é recomendado
extremo cuidado com as plântulas neste
procedimento, sendo este um estágio crítico
para a sobrevivência e o bom crescimento das
mudas (Figura 4).
Apesar de preferir locais a pleno sol,

Figura 4: Plântulas de Mimosa strobiliflora, com


recomenda-se ter cuidado com as mudas
aproximadamente 2 meses, em sementeira. recém repicadas para não expor as mesmas

320
em locais muito ensolarados durante o período de adaptação, por aproximadamente 40 dias.
Em viveiro, o crescimento se mostrou satisfatório quando utilizado substrato terra preta,
composto orgânico e areia na proporção de 4:2:1.

5. Cultivo e atividades silviculturais


5.1 Sistema de plantio
Trata-se de espécie com poucos estudos e com potencial para uso ornamental, portanto seu
plantio deve seguir objetivos paisagísticos. Pode ser utilizada em projetos de restauração, encaixando-
se como pioneira, podendo funcionar em várias metodologias de plantios.

Mimosa strobiliflora Burkart (FABACEAE - MIMOSOIDEAE)


O crescimento em altura ocorre de forma pouco uniforme. Plantas aos 15 meses de idade,
semeadas e repicadas na mesma data, apresentaram, em ambiente a pleno sol, de 15 a 60 cm de
altura, enquanto as cultivadas à meia sombra chegaram em média a 160 cm.

5.2 Espaçamento
Tendo em vista que a espécie é heliófila e com crescimento lateral pouco amplo, alcançando um
raio de 1,5, raramente ultrapassando 2 m, o espaçamento mínimo indicado é de 1,5 a 2,0 m para que
haja espaço suficiente para um desenvolvimento satisfatório, como observado nas plantas cultivadas em
Campo Largo, PR. Em áreas de restauração, o espaçamento entre plantas pode ser aumentado.

5.3 Preparo do solo


Evidências demonstram preferência por solos bem drenados, rochosos e arenosos junto a
afloramentos de arenito (Flora do Brasil 2018). Em teste no viveiro da Sociedade Chauá, verificou-
se que a espécie se desenvolve bem em solos pouco drenados também, mostrando-se bastante
versátil quanto ao substrato de crescimento (Sociedade Chauá 2020)

6. Manejo para a produção


6.1 Técnicas de cultivo e colheita da produção
Tolera podas moderadas, que podem ser feitas entre janeiro e fevereiro (Sociedade
Chauá 2020).

6.2 Ciclos de produção


Pensando no uso da espécie para paisagismo e para restauração o período de produção,

321
contabilizado desde a semeadura, é de aproximadamente um ano e meio. Considerando que para
esses fins serão utilizadas mudas de maior porte e que, provavelmente estarão logo iniciando sua
fase reprodutiva. Em indivíduos cultivados em Campo Largo, PR, a primeira floração ocorreu após dois
anos (da data de semeadura), seguido da frutificação.

7. Potencial produtivo
7.1 Rendimentos, econômico
Apresenta potencial melífero, sendo suas flores atrativas e muito visitadas por abelhas e
outros insetos, produzindo pólen e néctar em grande quantidade. Assim, a espécie poderá ser
utilizada em terrenos degradados, para melhorar o pasto apícola no outono e inverno.
O uso em projetos de restauração pode ser cogitado, pois a espécie tem potencial por cobrir
rapidamente o terreno e fixar nitrogênio. É recomendada, também, para plantio em terrenos com
drenagem lenta, como observado em plantio em Campo Largo, PR.
Silvicultura Tropical

O potencial paisagístico é outra alternativa de uso por apresentar folhas claras, precocidade
de reprodução, floração intensa e bela por vários anos (flores vistosas de coloração lilás-rosadas).

8. Patologia florestal
8.1 Doenças e pragas
A família Fabaceae (Mimosoideae) pode ser atacada pela lagarta desfolhadora Automeria
sp. (Lepidoptera: Saturniidae), Oncideres spp. (Coleoptera: Cerambycidae), serrador e cochonilhas,
que expelem substâncias açucaradas, muito procuradas por formigas e que, consequentemente,
também podem atacar M. strobiliflora. Os serradores e as cochonilhas são as causadoras de danos
mais graves. A família é atacada, em grau variável, por essas pragas, que não constituem limitações
sérias (Carpanezzi & Laurent 1988, Pedrosa-Macedo & Schonherr 1985).

9. Outras informações
Para redução de seu risco de extinção esforços para a manutenção das populações naturais
devem ser desenvolvidos concomitantemente a ações relacionadas à produção comercial.

322
10. Referências
Ambiente Brasil.2017. Arbusto ameaçado de extinção é pesquisado no Paraná. Disponível em
http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2002/08/06/7597-arbusto-ameacado-
de-extincao-e-pesquisado-no-parana.html (acesso em 22-III- 2017).

Ambiente Brasil. 2017. Arbusto ameaçado de extinção é pesquisado no Paraná. Disponível em


http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2002/08/06/7597-arbusto-ameacado-
de-extincao-e-pesquisado-no-parana.html (acesso em 22-III- 2017).

Biondi, D.& Leal, L. 2008. Tratamentos pré-germinativos em sementes de Mimosa

Mimosa strobiliflora Burkart (FABACEAE - MIMOSOIDEAE)


strobiliflora Burkart. Scientia Agraria 9 (2): 245-248.

Carpanezzi, A.A. & Laurent, J.M.E. 1988.Manual técnico da bracatinga (Mimosa scabrella
Benth.). Embrapa CNPF: Colombo.

Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora). 2020. Mimosa strobiliflora in Lista Vermelha
da flora brasileira. (perfil feito em colaboração com técnicos da Sociedade Chauá - no prelo).

Flora do Brasil. 2018. Mimosa in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do
Rio de Janeiro.Disponível em http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB100982
(acesso em 26-VI-2018).

Missouri Botanical Garden. 2018. Mimosa strobiliflora Burkart. Disponível em http://www.


tropicos.org/Name/13016562?tab=distribution (acesso em 26-VI-2018).

Pedrosa-Macedo, J.H. &Schonherr, J. 1985. Manual dos Scolytidae nos reflorestamentos


brasileiros.Universidade Federal do Paraná: Curitiba.

Silva S.F. & Oliveira S.M.F.2008. Boletim do Museu Botânico Municipal - 1971-2008.
Museu Botânico Municipal: Curitiba (1): 01-63.

Simon, M.F., Grether, R., Queiroz, L.P., sarkinen, T.E., Dutra, V.F. & Hughes, C.E.
2011. The evolutionary history of Mimosa (Leguminosae): Toward a phylogeny of the
sensitive plants. Am. J. Bot. 98:1201-1221. http://dx.doi.org/10.3732/ajb.1000520

Sociedade Chauá. 2020. Boletim Técnico Mimosa strobiliflora . Campo Largo, Paraná. 5p.
Disponível em https://www.sociedadechaua.org/edicao-atual (acesso em 15-V-2020).

323
Moringa oleifera
Luciana Aparecida Rodrigues
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidade Federal de Viçosa, Mestrado em Fitotecnia pela
Universidade Federal de Viçosa e Doutorado e pós doutorado em
Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro. Atualmente é professora Associada da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Laboratório de Solos.

David Pessanha Siqueira


Engenheiro Agrônomo, graduação em Agronomia e mestrado em
Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro, doutorando em Produção Vegetal pela Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
Silvicultura Tropical

1. BOTÂNICA
A espécie Moringa oleifera Lam (sinônimo: Moringa
pterygosperma Gaertner) é nativa do noroeste Indiano, região do
Himalaia, popularmente conhecida no Brasil como: moringa, acácia
branca, moringueiro, árvore rabanete de cavalo, quiabo de quina e cedro.
Também conhecida como a árvore de “ben”, árvore da vida e a árvore dos
milagres (Fuglie 2001).
Pertencente à família Moringaceae, gênero Moringa, esta
espécie apresenta rápido crescimento, porte pequeno ou médio, com
altura variando entre 5 e 12 m (Figura 1A) e diâmetro do caule entre 10
e 30 cm, copa aberta, galhos em forma de sombrinha, fuste reto, casca
esbranquiçada (Figura 1B) e madeira esponjosa (Ramachandran et al.
1980, Morton 1991, Fahey 2005).

324
Moringa olefeira
Figura 1: A. Árvore de moringa (Moringa Oleifera Lam.) e B. tronco esbranquiçado.

As folhas (Figura 2) são compostas


em formato de pena, verde pálido,
tripinatas com cerca de 20-50 cm de
comprimento, dispostas em espiral
(Ramachandran et al. 1980, Morton 1991,
Fahey 2005). Os folíolos variam de 1 a 2
cm, apresentando bordas lisas e nervuras
bem pronunciadas, em verde claro.
Os pedúnculos florais apresentam
tricomas sendo as flores agrupadas em
formato de cacho com coloração branca
ou creme e tamanho entre 2,0 e 2,5 cm
(Figura 3A). Apresenta cinco estames
de cor amarela. As sépalas e as pétalas
também aparecem em número de cinco.
Figura 2: Folhas da moringa.
As sépalas estão voltadas para baixo

325
(Muhl et al. 2013) e as pétalas podem se apresentar levemente curvadas para baixo ou na horizontal
(Morton 1991) (Figura 3C). Os pedúnculos florais são emitidos ao longo dos ramos apicais em
diferentes épocas. Assim, em um mesmo ramo são observados cachos recém-lançados com botões
(mais próximo ao ápice do ramo), cachos com flores abertas, vagens verdes e vagens em diferentes
fases de amadurecimento (na parte mais madura do ramo) (Figura 3D).
Silvicultura Tropical

Figura 3: Moringa oleifera Lam: A. Detalhes das flores; B. Pedúnculo floral; C. Inseto visitando flores;
D. Diferentes fases de desenvolvimento reprodutivo de plantas de moringa em um mesmo ramo.

Os frutos (formato de vagens) podem se apresentar individualmente ou em pares, sendo


pendulares, marrons, triangulares, achatados nas extremidades, apresentando em média de 30
cm de comprimento e 2 cm de largura (Figura 4A e B, 5A).

Figura 4: Moringa oleifera Lam: A) Frutos triangulares da moringa em diferentes estágios de


desenvolvimento; B) Vagens com abertura longitudinal.

326
Figura 5: Moringa oleifera Lam: A. Sementes nos frutos e B. Sementes da moringa apresentando três asas

As sementes são marrom escuro com três asas e aspecto de papel. A característica de semente
alada está relacionada à dispersão anemocórica (Ramos et al. 2010) (Figura 5B).
Cada fruto tem em média 12 sementes, e o peso médio de 1000 sementes é de 197 g,
medindo em média 1,04 cm de comprimento e 1,0 cm de espessura (Ramos et al. 2010). As sementes
contêm no seu interior uma massa branca e oleosa. O núcleo é encoberto por uma concha, medindo
até 1 cm de diâmetro (Lorenzi & Matos 2002). O embrião é oleaginoso, possui um par de cotilédones
e apresenta germinação hipógea-criptocotiledonar (Ramos et al. 2010).
A raiz primária e as secundárias se apresentam na forma fasciculada e tuberosa com espessamento

Moringa olefeira
devido ao acumulo de substâncias de reserva (Figura 6). Das raízes tuberosas partem as mais finas que
são as raízes de absorção de água e nutrientes. A casca da raiz é de cor pardo-clara, espessa, mole e
reticulada, externamente. Tem odor pungente e sabor semelhante ao do rabanete (Cysne 2006).
Difundida na África ocidental, América central e do
sul, vem sendo cultivada em diferentes regiões tropicais e
subtropicais do mundo, como regiões leste, oeste e sul da
África, Ásia, América Latina incluindo o Brasil, no Caribe,
na Florida e nas Ilhas do Pacífico (Fahey 2005, http://www.
fao.org/traditional-crops/moringa/es/).
A moringa apresenta característica de alta
plasticidade em relação ao ambiente, ou seja, crescem
bem em locais de 0 a 1800 m de altitude, precipitação
pluviométrica entre 500 e 1500 mm por ano, podendo
tolerar razoavelmente bem até seis meses de estação seca,
se adaptando bem a regiões áridas (Duke 1983, Sánchez
et al. 2005), configurando-se como uma espécie pantropical,
Figura 6: Raízes de Moringa
ou seja, habita qualquer região dos trópicos (Gerdes 1996). oleifera Lam aos 10 meses após o
No entanto, na Índia, é plantada principalmente em regiões plantio em solo de textura média.

327
abaixo de 900 m de altitude. Em climas mais secos, tende a preferir os bancos de rios, áreas de depleção
de lagoas, os leitos dos rios secos, ou em qualquer lugar com maior acesso à água (CAB. ORG 2017), no
entanto não tolera alagamento.
Embora a espécie esteja adaptada a grande variação do clima, Dalla Rosa (1993) afirma que a
espécie se desenvolve melhor quando a faixa de temperatura está entre 26°C e 40°C e com precipitação
anual mínima de 500 mm.

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS
2.1 DENSIDADE DA MADEIRA
A madeira da moringa é considerada macia, com grande maleabilidade e baixa qualidade,
podendo ser empregada na fabricação de brinquedos e outros materiais esculpidos. A moringa é
considerada de múltiplos usos, no entanto não é uma espécie cujos produtos principais estão ligados
ao potencial madeireiro.
Silvicultura Tropical

2.2 PRODUTOS NÃO MADEIREIROS


A moringa é uma espécie que apresenta alto valor social em áreas carentes, sendo o cultivo
e consumo incentivado por organizações humanitárias no mundo todo em função do elevado valor
nutricional presente nas folhas, flores, frutos e raízes (proteínas, vitaminas, aminoácidos, minerais e
carotenos, todos de alto valor biológico), o que confirma o potencial para uso na alimentação humana
e animal (Fahey 2005, Berroterán 2015, Montilla-Mota et al. 2017), especialmente nas regiões onde
a subnutrição é uma preocupação.
De acordo com Martin et al. (2013), alguns autores fazem alusão a uma citação do Antigo
Testamento, em Êxodos 15: 23-25 (https://www.bible.com/pt/bible/211/EXO.15.NTLH), sobre uma
planta que acreditam ser a moringa, isso porque consta que Moisés teria usado uma planta para
limpar as águas de um poço que eram amargas. Outros consideram que a moringa é mencionada
na “Shushruta Sanhita” da Índia, que foi escrita no início do século I DC (Bose 2007).

Folhas
As folhas são ricas em proteínas, minerais, compostos de β-caroteno e antioxidantes, sendo
usadas não apenas para a alimentação humana e animal, mas também na medicina tradicional (Leone
et al. 2016). A FAO (Food and Agriculture Organization, sigla en inglês) considera as folhas da moringa
como um superalimento na recuperação da desnutrição infantil em função de seu alto valor nutricional.

328
Após a secagem, se acondicionadas em local seco e fechadas, as folhas apresentam alta
durabilidade, podendo ser utilizadas para confecção de chá. Após moagem, são usadas como
farinha na preparação de sopa e mingau, como aromatizante ou como suplemento de saúde. As
folhas processadas transformadas em pó são também acondicionadas em cápsulas e tabletes para
a comercialização (Ambrose et al. 2016).
De acordo com Oliveira et al. (2017), a moringa também pode ser utilizada como matéria
prima para a produção de feno e utilizada na dieta de bezerros. Como forragem para animais já
vem sendo utilizada em vários países africanos e na Nicarágua (Martin et al. 2013), inclusive no
Brasil (Oliveira et al. 2017).
Na medicina, Al-Asmari et al. (2015) relatam que estudos comprovam o tratamento de células
cancerígenas com extratos das folhas e da casca do tronco da moringa. Os estudos foram realizados
indicando a viabilidade do seu uso no tratamento de câncer de mama e colo-retal. Wang et al. (2016),
Vergara-Jimenez et al. 2017 e Gómez-Martinez et al. (2020) relatam a presença de flavonóides e o
efeito antioxidante e eliminador de radicais livres nos extratos das folhas da moringa. Apresenta,
ainda, potencial anti-inflamatório e analgésico (Martínez-González et al. 2016), indicando o amplo

Moringa olefeira
espectro de ação do extrato das folhas dessa espécie.
Estudo fitoquímico do extrato etanólico das folhas de moringa realizado por Barreto et al. (2009)
indicaram a presença de derivados benzilnitrilas niazirina, niazirinina e 4-hidroxifenil-acetonitrila.
Os óleos essenciais das folhas apresentam como
constituintes principais o fitol (21,6%) e timol (9,6%) que
apresentam importantes usos na medicina.
O extrato etanólico de folhas da moringa
exibiu atividade antipirética na dosagem de 100, 200
e 400 mg kg-1 em ratos (Bhattacharya 2014), indicando
a possibilidade de uso como antitérmico. Extratos
foliares de moringa apresentam substâncias inibitórias
ao crescimento de fungos contaminantes em meios de
cultura, incluindo Aspergillus spp. e Penicillium spp.
(Ayanbimpe et al. 2009).
A comercialização de folhas de moringa em pó
ocorreu amplamente no Brasil até o ano de 2019. Elas
foram vendidas em cápsulas (Figura 7), em saquinho Figura 7: Embalagem para
comercialização da moringa em
ou enlatadas. As receitas do uso das folhas em chás e da cápsulas

329
farinha das folhas na culinária são amplamente divulgadas nas redes sociais, elevando a demanda
por de mudas e produtos de moringa.
Do ponto de vista nutricional, as pesquisas tem mostrado que os teores de nutrientes
nas folhas da moringa são significativos podendo restabelecer situação de desnutrição humana
e animal. No entanto, de acordo com Leone et al. (2016) não se sabe o efeito do consumo desses
produtos em longo prazo, sobre o estado nutricional, composição corporal, estado de crescimento
dos seres humanos e se traz algum risco de doenças ou complicações indiretas. A ampla gama
de antioxidantes vitais, antibióticos e nutrientes, incluindo vitaminas e minerais presentes na
moringa explicam os usos medicinais das diferentes partes da espécie (Abdull Razis et al. 2014) e
indicam necessidade de cuidados no consumo humano.
No Brasil, a moringa foi largamente comercializada com uma variedade de alegações
terapêuticas não permitidas para alimentos. Assim a Agência Nacional de Vigilância Sanitaria
(ANVISA) passou a orientar os cidadãos para não fazerem uso da moringa como remédio, alimento
ou o consumo de produtos contendo moringa. A resolução RE 1.478/2019 publicada no Diário
Silvicultura Tropical

Oficial da União onde consta que a ANVISA proibiu, a fabricação, a importação, a comercialização, a
propaganda e a distribuição de todos os alimentos que contenham Moringa oleifera. “Está proibida
em quaisquer formas de apresentação, como chá, cápsulas etc., quanto o próprio insumo”. ... “As
infrações sanitárias para estabelecimentos que realizam a venda irregular desses produtos estão
descritas na Lei 6.437/1977. As multas variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão” (Brasil, 2019).

Sementes
As sementes da moringa para aplicações alimentares e não alimentares, parecem ser
promissoras devido à alta proporção de ácidos graxos monoinsaturados e saturados, esteróis e
tocoferóis, além de proteínas ricas em aminoácidos sulfatadas. A quantidade de óleo das sementes
pode chegar até 45% (Leone et al. 2016).
O óleo, vulgarmente conhecido como “óleo de ben” apresenta diversas formas de
utilização, como por exemplo, em substituição ao azeite na alimentação humana, bem como
para aplicações não alimentares, como biodiesel, cosméticos e lubrificantes finos para máquinas
(Leone et al. 2016).
O biodiesel derivado da moringa é um potencial substituto para o diesel originário do
petróleo (Rashid et al. 2008), no entanto, Azad et al. (2015) ressalvam que são necessários novos
estudos em relação a performance dos motores e estudo de emissão de gases, aprimorando o uso
do óleo da moringa para esta finalidade.

330
Na confecção de cosméticos, o óleo extraído das sementes de moringa é considerado
excelente emoliente cosmético natural, com quase total ausência de cor e odor, apresentando alta
concentração de ácido oleico (>73%) (Leone et al. 2016).
As cascas das sementes, após a extração do óleo, apresentam alto potencial para produção
de briquetes ou lenha ecológica devido ao valor do poder calorífico (entre 15,87 e 23,31 MJ kg-
1
) e tecnologia produtiva simples e acessível (Pereira 2015). Após a extração de óleo, os resíduos
também podem ser utilizados como fertilizante orgânico para melhorar a produtividade agrícola
(Emmanuel et al. 2011).
As sementes da moringa possuem capacidade de coagulação de materiais sendo usados
com eficácia no tratamento de águas, para redução da turbidez em água de irrigação, água turva,
águas residuais e água da torneira. A argila dispersa em água, inicialmente passa pelo processo
de floculação, e, em seguida, precipitação, sendo depositado no fundo do recipiente (Figura 8A,
B e C). O processo de limpeza da água inicia no momento em que as partículas de semente são
adicionadas a solução de água turva.
Podem ser adicionadas no recipiente de água turva para a limpeza da água, as sementes

Moringa olefeira
maceradas ou trituradas formando uma pasta ou triturada em liquidificador com água formando
uma solução concentrada. Esse processo de coagulação das partículas sólidas em suspensão ocorre
pela presença proteínas catiônica diméricas e aminoácidos específicos que se ligam as partículas
indesejadas dispersas na água formando um aglomerando (Ndabigengesere & Narasiah 1998,
Camacho et al. 2017).
As sementes da moringa também se mostraram eficientes na biossorção de metais pesados
presentes na água, como cádmio, chumbo e o níquel, em que, as sementes se apresentam como uma
alternativa mais simples e barata quando comparada a produtos químicos utilizados na adsorção de
metais pesados, reduzindo seus teores na água (Reddy et al. 2011, Obuseng et al. 2012).
De acordo com Esnarriaga (2010), as sementes trituradas também podem ser eficientes nos
tratamentos de efluentes brutos de fossas sépticas biodigestora, sendo uma alternativa de fácil acesso
e de baixo custo, em relação a outros produtos químicos utilizados, como o sulfato de alumínio.
O uso de suspensões preparadas com sementes de moringa associada a coagulantes
químicos no tratamento da água residuária de usinas de concreto reduzem em até 99% a turbidez
da água, podendo essa água ser reutilizada (Paula 2014). O resíduo das sementes após a extração
de óleo, também podem ser utilizadas no tratamento de águas residuais por meio da coagulação
aumentado a eficiência de utilização das sementes. Ndabigengerese e Narasiah (1998), no entanto,
consideram que a aplicação de moringa em solução aumenta a concentração de matéria orgânica

331
Silvicultura Tropical

Figura 8: Provetas com 500


mL de água em dois tipos de
solos argilosos com (proveta
da direita) e sem (proveta da
esquerda) sementes de Moringa
oleifera Lam. maceradas (3
sementes por proveta). A. 20
minutos após a inserção das
sementes maceradas; B. 2 horas
após a inserção das sementes
maceradas; C.16 horas após
a inserção das sementes
maceradas.

na água tratada, demandando a aplicação de cloro para a desinfecção. Assim os autores sugerem
a purificação das proteínas ativas das sementes de moringa e a aplicação direta dessas proteínas no
processo de coagulação no tratamento de água e esgoto.
A utilização das sementes para o tratamento das águas pode ser importante em regiões que
não possuem rede de tratamento de água ou fazem uso de águas de poços e/ou açudes, muitas vezes
compartilhadas com animais. Apesar da limpeza da água proporcionada pela moringa, a mesma
pode não ser considerada potável. Alguns trabalhos citam o efeito do extrato da semente da moringa

332
atuando como agente fungicida ou bactericida e na redução significativa de coliforme fecal na água,
no entanto, outros tratamentos adicionais para eliminar possíveis contaminantes microbiológicos são
importantes, sendo recomendável a fervura da água e/ou aplicação de cloro.

Raízes
Assim como outras partes da planta, as raízes possuem altas concentrações de nutrientes, no
entanto, contém também alcalóides e compostos fitoquímicos que são tóxicos. Esses compostos estão
presentes principalmente nas cascas das raízes, não devendo ser consumida como alimento. Mesmo com
a retirada da casca, as raízes apresentam alcaloides que, se consumidos em grandes quantidades, pode
causar paralisia nervosa (Bhattacharya 1978), dentre outros efeitos que comprometem à saúde humana.
As raízes apresentam propriedade antitumoral e também propriedades relacionadas ao
hormônio sexual. De acordo com Bose (2007), a ação hormonal ocorre pela inibição da manutenção
e crescimento de órgãos reprodutivos, atuando como contraceptivo. Além disso, o consumo das raízes
pode induzir alterações no útero, acarretando aborto ou infertilidade (Pandey et al. 2011).

Moringa olefeira
Árvore
A moringa é cultivada em jardins domésticos, como árvore para sombreamento ao redor de
campos de futebol ou áreas de lazer como ornamental (Figura 9A e B). A moringa também pode ser
usada como adubo verde ou utilizada em composteiras.Também é usado para suportes para vinhas e
pimenta, abrigo para animais, cerva viva, ornamentação e melífera (Figura 9C) (CABI.ORG 2017).

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 FENOLOGIA, ÉPOCA DE FLORAÇÃO E FRUTIFICAÇÃO
O florescimento e frutificação ocorrem simultaneamente (Figura 3C e 9C) o ano todo, como
vem sendo observado em árvores matrizes de regiões tropicais onde a temperatura varia em média
entre 21  oC a 38 oC. Em regiões de menor precipitação, o florescimento e frutificação simultâneos
são menores (Pereira 2015), aumentando no início da estação chuvosa e mantendo-se mais
intensa até o final das chuvas. Menor florescimento e frutificação nos meses de temperatura mais
baixa também foram observados no acompanhamento de matrizes em regiões com estações frias
(inverno) bem definidas.
As flores podem se abrir ao longo do dia e o tempo de vida é de, aproximadamente, 100
horas. A polinização ocorre principalmente por insetos (himenópteros, dípteros, coleópteros,

333
lepidópteros) (Figura 4A e 9C) e pássaros (beija-flores). Entre os himenópteros, as abelhas se
destacaram (Kiill et al. 2012).
Ao fim da fase de maturação, os frutos apresentam grande aumento de volume. São
deiscentes, apresentando três pontos de abertura longitudinal no final do estágio de maturação
(Figura 4B) (Ramos et al. 2010), no entanto grande parte dos frutos não racham não sendo observada
as fendas ainda quando estão na árvore.

3.2 PRODUÇÃO DE SEMENTES


Em um mesmo ramo, diferentes fases reprodutivas das plantas de moringa podem ser
encontradas, ou seja, de botões florais a frutos maduros (Figura 3D e 9B), o que fornece um
escalonamento natural na produção de sementes. De acordo com Ramachandran et al. (1980)
Morton (1991), Rangel (1999), a árvore floresce e produz frutos e sementes durante todo o ano,
principalmente em regiões tropicais com boa distribuição de chuvas.
Devido ao potencial de escalonamento natural de produção de sementes e a característica
Silvicultura Tropical

deiscente das vagens, na produção de sementes é preciso monitoramento contínuo para garantir que as
vagens já estejam no ponto de maturação adequado e que a coleta seja feita antes da abertura natural.
Isso evitará perda das sementes, embora nem todos os frutos se abram ainda quando estão na planta.

3.3 COLHEITA DAS SEMENTES

Figura 9: A. Árvore de moringa como planta ornamental em área de lazer, B. Galhos de moringa
produzindo flores e vagens; C) A) Flores de moringa sendo visistadas por abelhas.

334
Para a produção de sementes, a colheita das vagens secas (maduras) pode ser realizada por
catação. Nesse caso, a coleta das vagens pode ser realizada continuamente durante todo o ano. Se
a colheita for realizada por meio do corte dos galhos e ramos produtivos contendo as vagens será
necessário esperar nova carga de produção de sementes. Ainda assim, a colheita das vagens maduras
pode ser realizada a cada 3-4 meses dependendo das condições de manejo do solo e do clima.

3.4 MANEJO DE SEMENTES


Após a coleta das vagens, estas devem ser secas ao ar e à sombra, em seguida devem ser abertas
e as sementes extraídas (Ayerza 2012). Após a extração das sementes, é importante que a aparência
geral seja observada, as que apresentarem injurias, deformacoes e sinais de ataque de pragas.

3.5 QUEBRA DE DORMÊNCIA


As sementes de moringa nao apresentam limitações para a germinação, entretanto,
RABBANI et al. (2013) recomendam que a pré-embebição das sementes em água por 24 horas
pode promover melhor expressão da viabilidade e vigor das plântulas. Os mesmos autores afirmam

Moringa olefeira
que as sementes germinam entre 6 e 10 dias. No entanto, em regiões tropicais tem-se observado
percentual de germinação das sementes da moringa acima de 90 % mesmo sem pré-embebição.
As sementes de moringa não requerem nenhum tipo de tratamento para quebra de dormência.

3.6 ARMAZENAMENTO
Com relação ao armazenamento das sementes da moringa, elas podem tolerar a perda de
umidade e baixa temperatura (sementes ortodoxas). Oliveira et al. (2009) e Bezerra et al. (2004a),
consideram que as sementes podem ser armazenadas por até 6 meses, tanto em câmara fria como em
temperatura ambiente, sem qualquer perda de viabilidade, desde que armazenadas em embalagens
hermeticamente fechadas. Após 12 meses em temperatura ambiente, as sementes perdem a sua
viabilidade, com a redução de 78% da germinação, e após 24 meses, a redução na germinação
chega a 100%. Quando armazenadas em condições de baixa temperatura (10°C) e baixa umidade do
ambiente (55% de umidade), as sementes mantêm o percentual de germinação por até 12 meses e
aos 24 meses, a redução da germinação é de aproximadamente 15%.
De acordo com Rangel (1999), a viabilidade das sementes sofre redução de aproximadamente
50% após 12 meses de armazenamento. Já Silva et al. (2012) verificaram a germinação de sementes
acondicionadas em sacos plástico em câmara fria, por até 27 meses (com temperaturas variando entre
9-14°C, e 60% de umidade relativa).

335
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
A moringa é uma planta alógama que pode ser propagada por sementes ou estacas (Silva
& Kerr 1999). Plantios para produção de folhas em cultivos adensados devem ser realizados
preferencialmente pelo plantio das sementes diretamente no campo. Plantios para produção de
sementes (em espaçamentos maiores) devem ser realizados pelo plantio das mudas no campo,
nesse caso, as mudas podem ser produzidas por sementes ou por estaquia.

A. Produção de muda através das sementes


Sementes mais pesadas apresentam maior percentagem e velocidade de germinação e
plântulas mais vigorosas comparadas às classificadas como leves (Bezerra et al. 2004b) devido ao
maior tecido de reservas presente no interior das sementes.
Hassanein et al. (2017) observaram boa germinação (>80%) das sementes de moringa em
temperaturas entre 15 e 20ºC, em condições de laboratório. Temperaturas mais elevadas podem
Silvicultura Tropical

incrementar a velocidade de germinação. Pereira et al. (2015) indica a faixa de temperatura de 20


a 30°C para a germinação de sementes quando o substrato for a vermiculita e para germinação em
rolo de papel a indicação é a combinações de temperatura de 20 e 25°C.

Semeio
As sementes podem ser germinadas em sementeiras individuais, em bandejas, tubetes,
sacolas plásticas ou diretamente no campo. Para plantios adensados, a semeadura direta no campo
deve ser feita em covetas ou sulco de plantio a uma profundidade que varia de 1 a 2 cm e espaçamento
entre as sementes de 10 cm. Após o semeio, as sementes devem ser cobertas com solo.
As mudas podem ser produzidas em bandeja de 50 células e de 3 - 4 cm de largura e
profundidade. Cada célula recebe uma semente. As plântulas, ao apresentarem de 3 a 5 cm de
altura ou o primeiro par de folhas, devem ser transplantadas. Essas plântulas também podem ser
transplantas para recipientes maiores (tubetes ou sacos plásticos), onde permanecem até atingir
tamanho adequado para o plantio no campo (cerca de 30 cm de altura). As plântulas (3-5 cm altura)
também podem ser transplantadas diretamente para o campo quando o cultivo for adensado para
produção de folhas.
O uso de recipientes individuais é preferido por minimizar os danos ao sistema radicular das
mudas no momento do transplantio. A moringa é uma planta bastante sensível a danos mecânicos
que ocorrem durante o plantio no campo sendo retardada a taxa de crescimento inicial (Amaglo

336
2006). Mudas destinadas ao plantio para produção de sementes (em espaçamentos grandes) podem
ser produzidas diretamente no tubetes plásticos. Nesse caso também pode ser realizado o plantio
de de 1 a 2 sementes por tubete sendo cobertas com o substrato de cultivo por uma camada de um
centímetro. Depois é feito o raleio deixando-se uma planta por tubete.

Substratos
Diferentes substratos podem ser utilizados para a germinação das sementes. Bezerra et al.
(2004b) verificaram que, para o semeio em bandejas, o substrato Plantmax® e a mistura de solo
esterilizado + húmus de minhoca + pó de coco lavado na proporção de 2:1:1 proporcionaram
percentagem e velocidade de germinação superior à vermiculita, no entanto, as plântulas
desenvolveram-se melhor no substrato Plantmax®.
Neves et al. (2007) recomendam a areia como melhor substrato para germinação da
moringa, enquanto que, para a produção das mudas a mistura de 75% de areia + 25% de húmus
de minhoca foi o mais indicado.
Na produção das mudas de moringa, a adição das diferentes fontes de matéria orgânica

Moringa olefeira
ao substrato (areia ou solo) resulta em ganhos significativos sobre o desenvolvimento das mudas
(Almeida 2012). Na formação das mudas de moringa, Neves et al. (2010) avaliaram diferentes
fontes de matéria orgânica e observaram que o substrato formado pela mistura de solo + lodo de
esgoto e também a mistura de solo + esterco bovino proporcionaram maiores valores de matéria
seca da parte aérea, comparado ao substrato formado pela mistura de solo + esterco de aves.
A mistura de composto de lixo urbano + fibra de coco ou de vermicomposto + fibra de coco
também podem ser utilizadas com sucesso como substrato para a produção de mudas de moringa.
A proporção de 25%:75% fibra de coco:composto ou vermicomposto levou a maior produção de
matéria fresca e nutrição das plantas de moringa (Rodrigues et al. 2016).

b. Produção de mudas por estacas


A moringa pode ser propagada por estacas, devendo ser selecionas estacas de pelo menos
5-10 cm de diâmetro e 45-150 cm de altura (Amaglo 2006, Garrido 2015). Na produção das estacas,
deve-se evitar o uso de tecido verde jovem do caule, deve-se fazer uso de partes mais resistentes
(lignificadas) e mais robustas. Após a retirada das estacas, as mesmas podem ficar por um periodo de
até tres dias ao ar à sombra antes do plantio (Amaglo 2006), sendo recomendado o estaquemanto
o mais breve possível. Longos períodos de exposicão das estacas acarretará desidratação e o
enraizamentoe/ou brotação das gemas laterais poderá ser prejudicada.

337
As estacas para a produção das mudas devem ser plantadas aprofundando-as no solo
em até um terço do seu comprimento, ou seja, estacas de 90 cm devem ser aprofundadas em
até 30 cm. O estaqueamento deve ser feito em local que evite a desidratação das mesmas,
proporcionando o desenvolvimento adequado do sistema radicular que, após o plantio no
campo, será responsável pelo suprimento da demanda hídrica e nutricional da planta. As
estacas podem ir para o campo de 2 a 3 meses após o estaqueamento (https://miracletrees.org/
growing_moringa.html).
Comparando-se mudas produzidas a partir das sementes com aquelas produzidas por
estaquia, verifica-se que mudas produzidas a partir das estacas crescem mais rapidamente, mas
desenvolvem um sistema radicular raso que as torna mais susceptível ao estresse por umidade
e ao dano devido ao vento (Amaglo 2006).

4.2 MANEJO
As mudas de moringa devem ser irrigadas diariamente, no entanto deve-se tomar cuidado
Silvicultura Tropical

para que o substrato não fique encharcado por longos períodos, ocasionando a morte das raízes,
especialmente substratos com alta capacidade de retenção de água. Cuidados também devem ser
tomados quando se utiliza substratos demasiadamente porosos (areia, fibras grossas de coco) que
podem requerer maior número de irrigações em função da acentuada perda de água por lixiviação
principalmente em períodos com alta temperatura ou baixa umidade relativa do ar.
Com relação à nutrição das mudas de moringa na fase de viveiro, Vieira et al. (2008),
avaliando o crescimento inicial da espécie sob omissão de nutrientes concluíram que a omissão de
nitrogênio, fósforo e magnésio é mais prejudicial ao crescimento da parte aérea comparativamente
ao potássio, cálcio e enxofre.
A adubação para no semeio (fase de germinação) não é necessário uma vez que as sementes
armazenam nutrientes para o crescimento inicial da plântula, mas é necessária para o crescimento
da muda, no entanto informações nutricionais nas fases inicias de desenvolvimento são escassa
na literatura. O uso de substratos a base de compostos orgânicos já oferece certa quantidade de
nutrientes para as mudas, muitas vezes sendo o suficiente para o seu crescimento até a expedição
para o campo. Se for utilizada terra ou areia como substrato, maior atenção deve ser dada a adubação.
Freire et al. (2013), recomendam adubação para produção de mudas de espécies arbustivas,
que pode ser também utilizadas para a produção de mudas de moringa. Para cada 1 m3 de substrato
(areia ou solo) deve ser aplicado de 1000 g de P2O5 (como superfosfato simples) juntamente com
200 g de K2O (como KCl). Também deve se adicionar 200 g FTE e 500 g de calcário dolomítico (se

338
o substrato apresentar baixos teores de Ca ou altos teores de Al trocável). A aplicação de composto
orgânico é recomendada como condicionador do solo e para o fornecimento de nutrientes.
No cultivo de mudas destinadas a plantios orgânicos, a fonte de P deve ser o fosfato
natural, fosfato de rocha ou o também chamado de pó de rocha. As cinzas podem fornecer
altas quantidades de K. A aplicação de composto orgânico é importante no fornecimento de N
e também de micronutrientes. Souza et al. (2015), avaliando diferentes níveis de fertilização
orgânica (esterco bovino) na produção das mudas afirmam que, a aplicação de pequenas doses
é suficiente para obtenção de mudas de boa qualidade, sendo recomendada a aplicação de cerca
de 20 g dm-3 esterco bovino.

5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO


As plantas de moringa apresentam grande variabilidade fenotípica (altura do fuste,
numero de sementes por vagem, peso das sementes), que é resultante das condições de cultivo
e também pela variabilidade genética. Algumas variedades são mais conhecidas e vem sendo

Moringa olefeira
testadas como Jaffna, Chauakacheri Murunga, Chem, Kadu, Palmurungai e Periyakulam 1 (PKM
1) (Tsaknis et al. 1998).
Na Índia, vários testes de cultivos em diferentes condições climáticas foram realizados com
a variedade Periyakalum-1 (PKM-1), que é uma variedade lançada inicialmente pela Horticultural
Research Station da Tamil Nadu Agricultural University (Lalas & Tsaknis 2002). Esta variedade tem
sido propagada por sementes, sendo destinada para plantios adensados com replantio anual
(Rangel 1999). Foi observada diferença acentuada entre na produtividade das cultivares a PKM-
1 proveniente da Índia e da cultivar proveniente da África. Estas diferenças indicam que maiores
níveis de diversidade genética podem ser esperados dentro das populações de PKM-1. Essas
descobertas sustentam a cultivar PK1 como boa candidata para o desenvolvimento de variedades
melhoradas (Ayerza 2011). Experimentos realizados na Argentina com as duas cultivares distintas
e em quatro diferentes locais indicaram grande variação na quantidade de frutos, por outro lado, o
teor de óleos extraídos não diferiu entre as duas cultivares (Ayerza 2012).
O Centro de Promoção e Biodisel de Jatropha (CJP) lançou em 2012 uma nova variedade
de moringa chamada de Maru-moringa. A produção de sementes dessa variedade inicia entre
4 e 6 meses após plantio no campo com rendimento comercial por 10 anos (http://www.
jatrophabiodiesel.org/moringa/agronomy.php, acesso em 04 de abril de 2018). Esta variedade
é bastante ramificada, apresenta floração precoce e maior produtividade.

339
De acordo com Rangel (1999) a produção óleo pode ser aumentada com a obtenção de
um híbrido de Moringa oleifera e Moringa peregrina (Forssk.) Fiori, que é altamente produtiva
apresentado 50 % de óleo.
A obtenção de híbridos para a produção de folhas também pode ser importante no aumento
da produção. Por outro lado, deve-se considerar nesses cruzamentos se a qualidade nutricional das
folhas está sendo mantidas e para quais regiões ou nível tecnológico seria mais adequada.
Além do melhoramento genético visando à produção de sementes, devido à facilidade
de enraizamento das estacas da moringa quando em condições adequadas, indivíduos que
apresentarem características superiores (em produção de folhas, sementes ou de óleo, por exemplo)
podem ser propagados vegetativamente por estaquia obtendo-se indivíduos com as características
da planta matriz que podem ser cultivados em larga escala.

6.  CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


Silvicultura Tropical

6.1 SISTEMA DE PLANTIO


O sistema de cultivo da moringa para produção de folhas é diferente do sistema de cultivo
para produção de vagens e sementes. Na produção de folhas, o espaçamento é adensado e a
planta é conduzida como arbustiva. Na produção de sementes o espaçamento é maior. Tanto para
a produção de folhas como de sementes, a moringa pode ser cultiva em sistema convencional ou
o sistema de cultivo orgânico.
A moringa pode integrar um sistema agroflorestal, onde podem ser produzidas espécies
olerícolas nas entrelinhas. No sistema agroflorestal, o espaçamento pode ser a partir de 2 x 4m
(Leone et al. 2016), podendo ser maior dependendo das espécies agrícolas consorciadas, ainda
dependendo se o plantio da moringa for destinado da produção de folhas ou de sementes. No
sistema silvipastoril, o espaçamento deve ser maior que 10 x 10 m, para haver boa entrada de
luminosidade para o capim e as plantas devem se conduzidas para ficarem mais altas servindo
de sombra para o gado. Além disso, as folhas da moringa podem ser usadas na composição da
alimentação do gado e novilhas ou na produção de sementes.
A moringa pode também ser cultivada em vasos para utilização de folhas em pequena escala
em viveiros, residências e até apartamentos. Neste caso, o semeio pode ser realizado diretamente
em vasos de 5 a 20 litros de capacidade (Figura 10 A). Os cuidados com o espaçamento, adubação
e manejo seguem o mesmo princípio do plantio no campo (10B, C, D e E).

340
Moringa olefeira

Figura 10: Cultivo de plantas de moringa em vasos. A. Mudas de moringa aos


20 dias após o semeio; B. Moringa com cerca de 3 meses; C. Local da primeira
poda para ajuste da arquitetura da parte aérea; D. Logo após a primeira poda
para ajuste da arquitetura da parte aérea, plantas rebrotando; E. Plantas no
ponto da colheita das folhas.

341
6.2 ESPAÇAMENTO
Devido aos múltiplos usos atribuídos a moringa, a distância de plantio é variável em função
do objetivo ou da finalidade da produção e também do sistema de cultivo.
Se o cultivo é destinado a coleta das folhas, o espaçamento deve ser mais adensado,
podendo variar entre: intensivo (espaçamento de 10 cm x 10 cm a 20 cm x 20 cm), semi-intensivo
(espaçamento 50 cm × 100 cm) ou integrado em um sistema agroflorestal (espaçamento de 2-4
m entre as fileiras) (Leone et al. 2016). Mendieta-Araica et al. (2013), após avaliação de diferentes
espaçamentos recomendam 4 cm x 15 cm, num total de 167.000 plantas ha-1, nesse ultimo caso, um
sistema superadensado.
Se a finalidade do plantio for a produção de sementes, o espaçamento deve ser maior,
recomendando-se 3 x 3 m. A maior área disponível para cada planta irá propiciar maior oferta
de água, nutrientes e incidência solar favorecendo a formação de vagens e sementes de melhor
qualidade (Garrido 2015). Outro espaçamento indicado é 1,2 m dentro da linha, e 5 m entre as
linhas (1666 plantas ha-1) ou 4 m entre as linhas (2000 plantas ha-1), sendo utilizado em Ecossistema
Silvicultura Tropical

Yungas (Ayerza 2012). Estes espaçamentos são interessantes para sistemas consorciados com outras
espécies semi-perenes ou mesmo olerícolas. Para plantios em consórcios, Garrido (2015) recomenda
espaçamentos entre 2 e 4 m. Distâncias maiores favorecem a entrada de luz tanto para a moringa
quando para a cultura consorciada.

6.3 PREPARO DO SOLO


Apesar de crescer bem em uma grande variedade de solos, a moringa se desenvolve melhor
em solos aluviais, leves ou arenosos. Em relação à acidez se desenvolve bem em solos neutros a
ligeiramente ácidos, embora cresça também em solos alcalinos até pH 8,5 (Dalla Rosa 1993).
Solos muito compactados devem receber aração principalmente se o plantio for mais
adensado (caso seja para a produção e folhas). Neste caso, a definição das covas depende se o semeio
será direto no campo ou se serão transplantadas as mudas.
O semeio diretamente no campo deve ser realizado em sulco de plantio de cerca de 1 a 2 cm
de profundidade (Item 4.1), ou covetas de até 3 cm de profundidade. Somente deve ser realizada a
semeadura direta no campo em locais com precipitação estável e bem distribuída na época do plantio,
ou quando é possível realizar a irrigação. Na semeadura direta a uniformidade de crescimento das
mudas será menor e a taxa de mortalidade é mais alta (até 30 %), aumentando o número de sementes
necessárias para realização do plantio.

342
O transplantio de plântulas, indicado para espaçamento adensado, deve ser realizado
em sulco de plantio de 5 a 10 cm de profundidade ou covetas de 5 a 10 cm de profundidade
e 5 a 7 cm de diâmetro. Isso depende do tamanho do torrão da plântula (até 5 cm de altura).
Os cuidados devem ser para que o sistema radicular fique bem acomodado e também para não
ocorrer afogamento do coleto.
O plantio das mudas no campo deve ser realizado quando as mudas apresentarem até 60 cm
altura. Essa altura, no entanto, é recomendada para espaçamentos maiores, ou seja, para a produção
de sementes, vagens, flores ou para fins ornamentais. Mudas provenientes de produção por estacas
podem ser maiores, até 90 cm de altura.
As covas devem ser de 20 x 20 cm até 40 x 40 cm (altura x diâmetro) dependendo da altura
da muda e do sistema radicular.

6.4 ADUBAÇÃO
A moringa tolera nível de pH entre 4,5 a 8 (Duke 1983, Sánchez et al. 2005), no entanto,
a calagem é recomendada quando o pH estiver abaixo de 5 ou o teor de cálcio no solo estiver

Moringa olefeira
baixo (menor que 1,6 cmolc dm-3) ou o teor de Al for maior que 1 cmolc dm-3 (Sobral et al. 2015). A
calagem deve ser realizada em área total antes do plantio tanto para plantios adensados quanto para
espaçamentos maiores.
O cálculo da quantidade de calcário a ser aplicada pode ser baseado na fórmula da saturação
de bases, visando atingir 60 % da saturação de bases do solo ou para a elevação dos teores de cálcio
somados ao de magnésio para até 3 cmolc dm-3 (Freire et al. 2013). Sem a análise do solo, a aplicação
do calcário não deve ser maior que de 1 Mg por ha.
Adubações específicas para a fase de plantio tanto para moringa quanto para plantas arbustivas
com as características da moringa são raras. Freire et al. (2013) sugere para o plantio de leguminosas
arbustivas em solos com baixos teores de P (<10 mg dm-3) e K (<45 mg dm-3) a aplicação de 40
e 60 kg ha-1 de P2O5 (como superfosfato simples) e K2O (como KCl), respectivamente. A adubação
nitrogenada não é recomendada por Freire et al. (2013) para leguminosas arbustivas, no entanto,
para o plantio da moringa no campo, a aplicação do N é importante. Leone et al. (2016) recomendam
que no preparo do solo para a semeadura ou do plantio das mudas de moringa no campo, para
estimular crescimento vegetativo, pode-se realizar a aplicação de 120 kg ha-1 N: P: K (15:15:15) o que
corresponde a cerca de 18 kg ha-1 de N, 18 kg ha-1 de K2O e 18 kg ha-1 de P2O5.
Assim, pode-se aplicar cerca de 20 kg ha-1 de N no plantio na forma de ureia, nitrato ou sulfato
de amônio. Além disso, aplicação de 20 a 30 g FTE-Br 12 por cova é importante para fornecimento

343
de micronutrientes principalmente em solos de textura média a arenosa ou quando os teores
verificados pela análise de solo indicar valores baixos (Freire et al. 2013). Essa adubação pode
ser realizada tanto para cultivos adensados para a produção de folhas quanto para espaçamentos
maiores destinados a produção de sementes. No plantio de mudas em covas, deve-se dividir o valor
da recomendação por hectare pelo número de plantas por hectare e aplicar o adubo misturado ao
solo da cova de plantio.
Para cultivos orgânicos, os compostos orgânicos devem ser aplicados para suprir nutrientes,
principalmente o N, K e micronutrientes e também serve como condicionador do solo. O composto
orgânico deve ser aplicado na cova ou no sulco de plantio em até 30 % do volume do solo da
cova ou do solo retirado no sulco de plantio, podendo ser esterco bovino, compostos orgânicos,
vermicomposto, cama de frango, etc.
É importante lembrar que na fase inicial de crescimento da planta, o P é um elemento de
grande importância, assim, mesmo se for aplicado adubo orgânico a complementação da adubação
do P deve ser realizada na fase de plantio das mudas no campo. Com isso solos com baixos teores de
Silvicultura Tropical

P (10<mg dm-3) devem receber a aplicação de 40 kg ha-1 de P2O5 na forma de fosfato natural

6.5 RECOMENDAÇÕES E TRATOS CULTURAIS


Durante o transporte da muda para o campo deve-se evitar o estresses as mudas tais como
danos mecânicos na parte aérea e nas raízes. Antes do plantio, devem-se retirar as mudas do saquinho
ou do tubete sem prejudicar as raízes. A dimensão das covas deve ser em função do recipiente em
que as mudas foram produzidas, devendo garantir que o sistema radicular fique bem acomodado.
Quando o plantio no campo for realizado por transplantio das mudas, as mesmas devem
ser irrigadas imediatamente após serem colocadas nas covas para manutenção do status hídrico.
A irrigação deve ser regular durante os primeiros dois meses, mas o solo não deve permanecer
encharcado (Amaglo 2006), garantindo maior taxa de sobrevivência da muda no novo ambiente.
A melhor época para o plantio é na estação chuvosa. Se o plantio foi realizado na época
seca, recomenda-se um sombreamento parcial e irrigação diária até que a planta se estabeleça
no sítio de plantio (Rangel 1999). O plantio deve ser feito em solos bem drenados, pois o
encharcamento prejudica o crescimento desta espécie. Se a área for sujeita a alagamento
periódico o ideal é o plantio em camaleão, ou pequenas elevações de terra.
O crescimento inicial das plantas de moringa também é prejudicado pela salinidade,
sendo o sódio absorvido e translocado para a parte aérea em grande quantidade (Freire &
Miranda 2012) podendo prejudicar o crescimento inicial das plantas.

344
Com relação ao manejo das plantas daninhas, o controle deve ser realizado principalmente
por capina mecânica. O uso de herbicidas deve ser evitado principalmente no cultivo para
produção de folhas.

7. MANEJO PARA A PRODUÇÃO


7.1 TÉCNICAS DE CULTIVO E COLHEITA DA PRODUÇÃO
Para a produção de sementes
Para estimular a produção de vagens, antes do primeiro florescimento, cerca de 3 meses
após o plantio no campo, deve ser realizada as podas para a adequação das árvores. As plantas entre
60 cm e 100 cm de altura devem receber uma poda nos primeiros 10 cm do ápice, com auxílio de
uma tesoura de poda (Figura 10 B). Isso estimulará a emissão das brotações laterais. Quando essas
brotações secundárias atingirem 20 a 30 cm devem também ser podadas a cerca de 5-10 cm do
ápice. As brotações terciárias irão surgir e também devem ser podadas da mesma forma. As brotações
da quarta poda já não devem ser podadas, essas brotações devem crescer normalmente (https://

Moringa olefeira
miracletrees.org/growing_moringa.html).
As plantas atingem de 3 a 5 m no primeiro anos de plantio no campo. A floração e a produção
das sementes ocorrem já no primeiro ano após o plantio no campo, no entanto a produção comercial
somente será significativa a partir do segundo ano.
Nos cultivos destinados a produção de óleos, as vagens devem ser colhidas quando estiverem
castanhas, secas, opacas e quebradiças, mas ainda fechadas, evitando que as sementes sejam perdidas
(https://miracletrees.org/growing_moringa.html).
A colheita das vagens pode ser realizada pela poda dos ramos e em seguida, realizada a
separação das sementes das vagens, no entanto nesse tipo de colheita cachos de flores são também
coletados diminuindo o rendimento. Outra forma de coleta das sementes é por catação manual
ou cortando-se somente os pecíolos das vagens maduras. Os pecíolos, no momento da colheita,
apresentam entre 5 e 10 cm e mantém a vagem suspensas nos galhos podendo facilmente ser
cortados (Figura 9B).
É necessário cuidado no momento da colheita, devendo-se remover as vagens de tal forma
que os novos botões florais, as flores (Figura 3D) e as vagens mais jovens não sofram injúrias,
prejudicando as colheitas subsequentes (Rangel 1999). Após a coleta das vagens, estas devem ser
secar ao ar e à sombra, e em seguida devem ser abertas e as sementes coletadas (Ayerza 2012).

345
Para produção de folhas
A colheita das folhas (Figura 11 A e B), em plantios de alta densidade, pode ocorrer quando as
plantas apresentarem entre 1,5 e 3,0 m, que será entre 60 e 90 dias após o plantio no campo ou cerca
de 60 dias após a colheita anterior das folhas. O corte das plantas para a colheita deve ser realizado
entre 20 a 45 cm acima do solo (Amaglo 2006). Para o corte dos ramos pode ser utilizada tesoura de
poda ou podão usada para poda de cerca viva.

Figura 11:
Silvicultura Tropical

A. Colheita da parte
aérea de plantas
de moringa e B.
Folhas de moringa
separadas dos
ramos lignificados
em bandeja para
secagem

7.2 CICLOS DE CORTE


Para a produção de sementes, a cada 4 ou 5 anos é necessário realizar o corte da árvore a
um metro de altura. Novas brotações irão surgir. Nesse caso, devem ser realizadas novas podas para
ajustar a arquitetura da planta para a produção. Assim quando os ramos atingirem entre 30 e 40 cm
devem ser podados a 10 cm do ápice. As novas brotações também devem ser podadas (por mais 3
vezes) de acordo com o item 7.1 deste capítulo. Para a produção de folhas, o replantio das plantas
devem ser deve ser realizados a cada dois anos.

7.3 MANEJO DA PRODUÇÃO E DO CULTIVO


A produção das folhas e sementes depende diretamente da disponibilidade de água. Em
locais com chuvas bem distribuídas a produção de vagens é praticamente contínua ao longo do
ano. Em locais com chuvas mal distribuídas, recomenda-se a irrigação através de um sistema de
gotejamento para ocorrer a produção de sementes também durante a estação seca (Leone et al.

346
2016). A aplicação de 900 mm de irrigação por ano garante uma boa produção de frutos (Muhl et al.
2014). De acordo com Foidl et al. (2001), com o fornecimento de água e nutrientes adequadamente,
pode haver aumento da produção de biomassa para mais de 100 Mg ha-1.
A fertilização aumenta a capacidade de crescimento e produção das plantas. O cultivo
sucessivo da moringa no mesmo local, sem o manejo adequado da adubação, reduz os nutrientes
do solo acentuadamente por serem exportados com as folhas. A ordem de exportação de nutrientes
é K>N>Ca>Mg>P (Rodrigues et al. 1016), sendo que o K, e o N são exportados em grandes
quantidades devendo ser repostos ao solo na forma de adubação orgânica ou mineral. A deficiência
de N diminui consideravelmente a quantidade de folhas produzidas e o crescimento da planta.
A análise foliar das plantas pode dar uma indicação da necessidade de adubação. Os
teores nutricionais adequados nas folhas de mudas de moringa observados por Vieira et al. (2008)
foram de 37,45; 2,31; 23,48; 12,08; 2,12; e 1,86 g kg-1, respectivamente para N; P; K; Ca; Mg e
S. Rodrigues et al. (2016) observaram os seguintes teores adequados de nutrientes em mudas
de moringa com 50 dias: 30,0; 2,5; 37,0; 14,5; e 2,9 g kg-1, respectivamente para N; P; K; Ca;
Mg. Folhas de moringa apresentando teores menores podem estar em condições de deficiência

Moringa olefeira
nutricional requerendo a adubação.
As recomendações de adubação para a produção de moringa são escassas. A análise de
solo deve ser realizada para nortear as recomendações de adubação na fase de produção. Os
nutrientes devem ser repostos conforme o resultado da análise de solo indique baixos teores do
elemento no solo, tanto para os cultivos adensados quanto para os cultivos em espaçamentos
maiores. Para a adubação de P e K a recomendação de Freire et al. (2013) para leguminosas
arbustivas pode ser uma indicação.
Em solos com baixos teores de P (<10mg dm-3) e K (<45 mg dm-3) os autores sugerem ser
realizada a aplicação anual com 40 kg ha-1 de P2O5 (como superfosfato simples) e 60 kg ha-1 K2O (como
KCl). O P deve ser aplicado em uma única aplicação no inicio do período de chuvas. O K pode ser
parcelado em duas vezes no ano. Solos muito arenosos, onde não são realizadas aplicações anuais de
matéria orgânica devem receber, a cada dois anos, aplicação de micronutrientes de liberação lenta,
podendo ser o FTE-Br12 na dose de 20 a 30 g por planta.
Para a adubação nitrogenada, várias indicações são encontradas na literatura. Amaglo
(2006) recomenda a aplicação anual de 370 g de sulfato de amônio por planta (74 g N). A aplicação
de 7,5 kg de adubo orgânico e 370 g de sulfato de amônia por planta resultou em um aumento
de três vezes mais de matéria seca em relação àquelas que não receberam a essas aplicações
(Sundararaj et al. 1970). Mendieta-Araica et al. (2013) recomendam a aplicação de 521 kg de N ha‑1

347
ano-1 no cultivo com o espaçamento de 0,4 x 0,15 m, podendo ser utilizada essa mesma adubação
para espaçamentos maiores para a produção de folhas. Isaiah (2013) testou doses de NPK (15:15:15)
variando de 30 a 120 kg ha-1 nas plantas de moringa. O autor observou que a aplicação de 60 a 90 kg
ha‑1 proporcionou maior quantidade de folhas. Essa dose corresponde a aplicação de 9 – 14 kg ha-1 de
N, 9 – 14 kg ha-1 de P2O5 e 9 – 14 kg ha-1 de K2O. O N foi aplicado na forma de ureia.
Na adubação de produção em cultivos orgânicos de moringa, as cinzas e compostos orgânicos,
cama de frango, compostos biodinâmicos podem ser aplicados como condicionadores de solo e para
o aumento no teor de nutrientes, podendo ser aplicado de 3 a 8 kg por planta a até 60 cm do tronco
contornando a planta. No caso de plantios adensados aplicar esse valor em até um m2 na linha de plantio.
A aplicação deve ser realizada a cada corte das folhas ou no mínimo duas vezes por ano
na fase de produção. A cama de frango e o vermicomposto são mais indicado por apresentar bons
teores de N. Adubação fosfatada (fosfato natural) deve ser realizada somente uma vez ao ano,
no início da estação chuvosa. A aplicação de composto orgânico deve ser realizada tanto para os
cultivos orgânicos quanto os cultivos convencionais
Silvicultura Tropical

Para cultivos orgânicos e convencionais, análise de solo indicando baixos teores de Ca e Mg


ou alto teor de alumínio trocável devem receber até 1 Mg ha-1 de calcário logo em seguida às podas,
sendo a aplicação a lanço.

8. POTENCIAL PRODUTIVO
8.1 RENDIMENTO ECONÔMICO
As produções foliares de moringa podem viabilizar empreendimentos econômicos para
atender a crescente demanda por produtos da folha da moringa (Amaglo 2006).
Muitos estudos sobre o uso das sementes para extração de óleos destinados a produção de
combustível, para uso na culinária e em cosméticos já foram realizados e produtos da moringa estão
sendo comercializados em diferentes países. O uso da semente da moringa no processo de limpeza da
água vem sendo estimulado e utilizado nos países em desenvolvimento nas comunidades carentes
com problemas com o abastecimento de água potável e também no auxílio ao tratamento de diferentes
doenças. Com isso, o plantio com vistas na comercialização de folhas e sementes foi crescente até o
ano de 2019 quando saiu a protaria da ANVISA (Brasil, 2019) proibindo a comercialização. Além disso,
o aumento dos plantios também tem viabilizado o comércio das mudas entre os viveiristas e tem
aumentando mais ainda o potencial de comercialização das sementes também para a produção de
mudas.

348
8.2 RENDIMENTOS, CUSTOS
O preço da semente de moringa varia muito na mídia. Em site de comercialização de semente
(https://sementescaicara.bbshop.com.br/-moringa-oleifera-3) foi verificado que o preço da semente é
de R$ 64,90 para 250 g de semente, correspondente a cerca de R$260,00 o quilograma. Considerando
que um kg de sementes contêm cerca de 3500, o preço de 100 sementes, nesse caso, seria de cerca
de R$7,50. Em sites onde a comercialização é realizada por número de sementes, o preço de 100
sementes tem variado entre R$13,00 e R$75,00. O preço de cada muda no mercado tem variado de
R$10,00 a R$20,00, sendo comercializada em tubetes plásticos ou em saquinhos. O preço varia com
a altura das mudas, sendo mais caras conforme o aumento no tamanho.
A compra das mudas destinadas a plantios para a produção de folhas ou sementes pode
onerar consideravelmente a implantação do cultivo. Fontenele (2015), avaliando os custos de
implantação de plantios de diferentes espécies para compensação florestal, observou que as etapas
mais onerosas foram as de aquisição de insumos, em especial as mudas e a de plantio (que inclui
atividades de preparo do solo e o plantio propriamente dito. A aquisição de mudas corresponde a
cerca de 60 % do valor dos insumos e a cerca de 24 % do custo total da implantação. Com isso, dada a

Moringa olefeira
facilidade da germinação das sementes, no plantio adensado para produção de folhas recomenda-se
o plantio direto no campo em sulco de plantio, reduzindo-se o custo com a obtenção das mudas, com
substratos, recipientes, etc.
Os valores observados para a comercialização de folha de moringa seca para chá variam muito.
No ano de 2019, foi verificado que o valor do pó da folha variou entre R$5,00 e R$40,00 a cada 100
g, quando comercializado em saquinhos ou recipientes. A comercialização do pó em capsulas estão
com valores variando de R$15,00 a R$ 48,00 a caixa com 100 capsulas de 600 mg.
Na produção de óleo é verificado que o óleo representa entre 22 e 40% do peso das sementes
de M. oleifera (Abdulkarim et al. 2005), sendo considerado um alto rendimento. Na mídia, o preço do
óleo varia de R$45,00 a R$280,00 para cada 100 mL de óleo da semente da moringa.

8.3 CAPACIDADE PRODUTIVA


Na capacidade produtiva das plantas de moringa deve ser considerado o produto a ser
extraído: se é casca, raiz, folhas ou sementes. A capacidade produtiva varia muito dependendo do
objetivo do cultivo, entre as regiões e os manejos adotados.
A variabilidade da produção depende da densidade de plantio, da condição edafoclimática
local e do nível tecnológico adotado. Plantios sob irrigação e com adubações baseadas em
resultados de análise do solo ou do substrato de cultivo resultam em grandes produções, mantendo

349
a produtividade e sua entrada no mercado ao longo do ano. Por outro lado, considerando a
rusticidade da espécie e sua capacidade de se adaptar a condições adversas, esta espécie pode
ser cultivada com cuidados mínimos e ainda assim manterá uma boa produção. Isso é importante
quando é cultivada em comunidades carentes para o uso das folhas na recuperação da nutrição
humana ou animal ou para uso das sementes no cuidado da água.
Assim, o que se encontra na literatura acerca da sua produção apresenta uma grande
variabilidade, tanto para produção de folhas quanto pra a produção de sementes. Os valores variam
muito entre diferentes autores.

Folhas
O rendimento na produção de folhas depende da finalidade do cultivo, podendo ser para
comercialização de folha secas ou frescas ou pó da folha ou para alimentação do gado.
Na coleta das folhas são colhidos também galhos e ramos. As folhas correspondem a cerca
de 30 % do total de matéria fresca colhida. Amaglo (2006), obteve a produção média de matéria
Silvicultura Tropical

fresca de 580 Mg de material fresco ha-1 ano-1, que levou a produção de cerca de 174 Mg de folhas
frescas. No Senegal, o rendimento por corte foi menor que 45 Mg ha-1 durante a estação seca,
enquanto durante a estação chuvosa o rendimento por corte atingiu 115 Mg ha-1. Com irrigação
hidropônica, foi possível seis cortes por ano com produção de 115 Mg de biomassa fresca, com um
rendimento de cerca de 34,5 Mg de folhas frescas.
Ainda na produção de folhas, Medienta-Araica et al. (2013), verificaram que a moringa pode
manter até 27 Mg ha-1 de matéria seca em condições de floresta tropical seca ao longo do tempo, com
uma densidade de plantio de 167.000 plantas ha-1. Amaglo (2006) considera que algumas áreas
produzem até 100 kg de pó de folha (folha seca e moída) por semana. Para a produção de 1 kg de
folhas secas são necessários cerca de 8 kg de folhas frescas (com hastes removidas).
Para a produção de pó, as folhas devem ser separadas de galhos, pecíolos, ramos, levando a um menor
rendimento. No uso de folhas para a produção de silagem ramos e pecíolos podem ser adicionados,
aumentando o rendimento.

Sementes
Na produção de sementes o rendimento também depende da finalidade. Atualmente,
as sementes têm sido destinadas principalmente para produção de óleos ou para o processo de
coagulação da água ou, ainda, para a produção de mudas.

350
As sementes destinadas a produção de mudas não exige a retirada do tegumento. Por outro
lado, no processo de retirada do óleo, a massa que sobra da prensagem pode ser utilizada para outras
atividades como no processo de limpeza da água (Paula 2014) ou como ração para animais.
A produção anual de sementes em Ecossistema de Chaco Árido foi de 176,17 e 481,25 kg
árvore-1, para árvores de 1 e 2 anos, respectivamente (Ayerza 2012). Por outro lado, Foidl et al. (2001)
relatam valores menores na produção. De acordo com os autores, uma única árvore pode produzir de
15000 a 25000 sementes.
Ndubuaku et al. (2014) estudaram os rendimentos de moringa em toda a Nigéria e relataram
média de produção de vagens de 37,69 toneladas ha-1 ano-1 e capacidade de produção de sementes
de 16,74 toneladas ha-1 ano-1 variando com a localização, tipo de solo e as condições climáticas.
Em um cultivo com boas condições ambientais e bem irrigado, um indivíduo jovem pode
produzir 600 vagens, gerando 300 g de pó de sementes. Já um indivíduo adulto pode produzir 1600
vagens, com produção de 800g de pó de semente (https://miracletrees.org/growing_moringa.html.
Na produção de óleos Leone et al. (2016) relatam que aproximadamente 3030 kg de óleo
podem produzir 1000 L de biodiesel. Consideram que um equivalente a 3,03 Mg ha-1 de sementes

Moringa olefeira
oleaginosas pode ser colhido de regiões mais secas e 6,06 Mg ha-1 em solos irrigados, levando a uma
produção de cerca de 1000 a 2000 l óleo ha-1 . A produção anual de óleo proveniente de árvores cultivadas
na Argentina em 2003 e 2004 foi de 595 e 564 kg ha-1 (Ayerza 2011). A variedade Maru-moringa
produz, na fase madura, de 3000 a 4000 litros de óleo por hectare, em condições de adequada nutrição
e irrigação (http://www.jatrophabiodiesel.org/moringa/agronomy.php, acesso em 04/04/2018).
A produção é dependente também do espaçamento. Foi verificado que o espaçamento
de 0,5 m x 0,5 m proporcionaran os valores de produção de frutos, sementes e produção de
óleo de 2111, 621 e 82 kg ha-1, respectivamente enquanto o espaçamento de 1,0 m x 1,0 m de
espaçamento reduziu os valores de frutos, sementes e produção de óleo sendo de 552, 142 e 13
kg ha-1, respectivamente (Safaa et al. 2016).
Como melífera, a moringa produz continuamente flores o ano todo em regiões tropicais
mais quentes em que não ocorrem restrições hídricas severas, isso é particularmente importante
considerando a redução da floração da maioria das espécies vegetais nos períodos de temperatura
mais baixa.
Os principais fatores que afetam o rendimento da moringa são: clima, inoculação com
micorrizas arbusculares, irrigação, remoção de plantas daninhas, sistema de poda, uso de fertilizantes,
densidade de plantio, genótipo, controle de pragas e doenças (http://www.jatrophabiodiesel.org/
moringa/agronomy.php. acesso em 04/04/2018).

351
9. PATOLOGIA FLORESTAL
9.1 DOENÇAS E PRAGAS
Lezcano et al. 2014 verificando os agentes fúngicos associados a sintomas de doenças em
plantas de moringa identificaram Colletotrichum dematium (Pers.) Groove, associado a cloroses,
necroses do talo e manchas foliares e Fusarium solani (Mart.) Sacc., associado a manchas e necroses
do talo e até mortes das plantas. A podridão da raiz pode ser causada por Diplodia sp. (Rangel
1999). Outros fungos podem ser encontrados atacando a moringa: Cercospora moringicola, Puccinia
moringae, Oidium spp. e Sphaceloma morindae (Duke 1983).
Com relação as pragas, a lagarta de pelo (Eupterote molifera Wlk.) pode causar desfolhamento.
Outros relatos são encontrados, como um afídeo (Aphis caraccivera), lagartas (Tetragonia sva),
(Metanastia hytaca) e (Helioti armiger) e o besouro (Diaxenopsis apomecynoidies). A mosca do fruto
(Glitonia spp.) causa seca e apodrecimento dos frutos (Ramachandran et al. 1980, Duke 1983). O
ataque de insetos nos frutos e sementes pode levar a redução acentuada da produtividade. Além
disso, as formigas cortadeiras também utilizam suas folhas podendo desfolhar árvores inteiras de
Silvicultura Tropical

moringa. No plantio de mudas no campo esse pode ser um problema que deve ser resolvido com o
controle das formigas.

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359
Pereskia aculeata Mill.
LUCIELE MILANI ZEM
Engenheira Agrônoma, graduação em Agronomia pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, Especialização em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas
no Agronegócio pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Mestrado e
Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Biológicas e
doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia Vegetal pela Università
di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular do Departamento de Botânica da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e
Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA
Silvicultura Tropical

1.1 BIOMA
É de clima Tropical e Subtropical, sendo encontrada em domínios brasileiros
de Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica (BARBOSA, 2012).

1.2 NOME COMUM


Seu nome indígena é mori ou guaiapá; é conhecida como carne de pobre,
em referência ao seu elevado teor de proteína; como ora-pro-nobis, devido a
expressão “rogai-por-nós” e também é chamada de roga-por-nós, rosa-madeira,
jumbeba, azedinha, surucucu, lobolobô e espinho-de-santo-antônio (ALMEIDA-
FILHO;CAMBRAIA, 1974; ALMEIDA, 2012; CASTRO;SCIO, 2014; ZAPPI et al., 2015).

1.3 NOME CIENTÍFICO: Pereskia aculeata Mill.

1.4 FAMÍLIA: Cactaceae

1.5 PORTE
É uma espécie perene, conhecida popularmente como planta de quintal,
com características de trepadeira, atingindo até 10 metros de altura, crescendo
mesmo sem a presença de anteparo (SOUZA et al., 2010; SILVEIRA, 2016)
(Figura 1 A).

360
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
2.1 PRODUTOS NÃO MADEIREIROS
Pereskia aculeata é uma planta alimentícia não-convencional (PANC) consumida
pelas populações rurais e urbanas, que contribui na complementação alimentação e na
economia familiar, (SOUZA et al., 2009) destacando-se em preparações como farinhas (folhas
secas), saladas, refogados, tortas e massas alimentícias (ROCHA et al., 2008; SILVEIRA, 2016).
Alimentos formulados com a inclusão de Pereskia aculeata indicam um potencial de melhoria
na qualidade nutricional e/ou sensorial dos produtos (WANG et al., 1996; ROCHA et al.,
2008). Os frutos de Pereskia aculeata possuem potencial para uso em geléias e na produção
de licores, além de serem utilizados como expectorantes e antissifilíticos (VASQUES-ARAUJO;
JOAQUIM, 2007; OLIVEIRA et al., 2011; SANTOS et al., 2011).

Pereskia aculeata Mill.


O alto conteúdo proteico e de fibras do tipo mucilagem em suas folhas indicam-na
como importante fonte de alimentação humana e animal (MERCÊ et al., 2001; ROSA; SOUZA,
2003; DIAS et al., 2005; DUARTE; HAYASHI, 2005; TAKEITE et al., 2009). O efeito não citotóxico
do extrato hidroetanólico das suas folhas comprova sua seguridade na utilização destas como
fonte alimentar (CARVALHO et al., 2014).

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
1 a 8 sementes por fruto, embora seja mais comum encontrar de 2 a 3 sementes por
fruto (ROSA; SOUZA, 2003). Possuem formato lenticular, cor marrom-escura a preta e são
brilhantes quando maduras (ROSA; SOUZA, 2003).

3.2 ÉPOCA DE FLORAÇÃO


Suas flores são pequenas, brancas e amareladas, exalando forte aroma, e nas primeiras
horas de luz solar iniciam a antese, permanecendo abertas até o entardecer (Figura 1 C)
(FREITAS, 1992; SILVEIRA, 2016). As flores possuem cerca de 4 cm de diâmetro e seus
receptáculos possuem de 6 a 8 bractéolas foliares que aparecem nos frutos, mas quando
amadurecem, elas caem (ROSA; SOUZA, 2003). Possuem perianto carnoso, néctar e pólen
abundantes. O forte contraste das anteras e grãos de pólen de cor amarela atraem grande
quantidade e diversidade de insetos (Figura 1 B) (FREITAS, 1992). Suas flores são muito

361
cultivadas para fins de produção de mel pelos apicultores, uma vez que a floração, que ocorre
de janeiro a abril, é rica em pólen e néctar (BRASIL, 2010).

3.2 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA


Seus frutos podem apresentar formato arredondado, oval ou piriforme. São pequenas
bagas verdes quando imaturos e amarelo-alaranjados ou avermelhados quando maduros
(BRASIL, 2010; SILVEIRA, 2016). A colheita dos frutos é realizada de março a junho, podendo se
estender a setembro em algumas regiões (Figura 1 D).

3.3 MANEJO DE SEMENTES


Os frutos, quando coletados, deverão ser acondicionados em sacos plásticos transparentes
e as sementes retiradas da mucilagem, com o auxílio de uma tesoura limpa (VASQUES-ARAÚJO;
JOAQUIM, 2007).
Silvicultura Tropical

3.4 QUEBRA DE DORMÊNCIA


As sementes apresentam boa taxa de germinação e bom índice de velocidade de
germinação, não apresentando dificuldades para a quebra de dormência (VASQUES-ARAÚJO;
JOAQUIM, 2007). Seu alto índice de germinação indica ausência de dormência nas suas sementes,
apresentando, aproximadamente, porcentagem de emergência de 83% com índice de velocidade
de germinação de 13,07 (SOUZA, 2014). Para a germinação de suas sementes é estabelecido um
intervalo de temperatura ótimo entre 6ºC e 38ºC, com máximo de germinação em 33ºC, além de
ser independente da presença de luz no intervalo ótimo de temperatura.

3.5 ARMAZENAMENTO
Vale ressaltar que suas sementes apresentam comportamento recalcitrante, germinando
logo após a dispersão ou enquanto ainda na planta matriz, devido ao seu elevado teor de
umidade (DAU; LABOURIAU, 1974).

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
A produção se dá basicamente via propagação assexuada por meio da estaquia caulinar,
sendo de fácil enraizamento, crescimento rápido e vigoroso (SILVA JÚNIOR et al., 2010). A

362
estaquia caulinar de Pereskia aculeata foi realizada por Zem (2017) em diferentes substratos
e nas quatro estações do ano. Nesse experimento, o autor constatou que independente do
substrato utilizado, o enraizamento é considerado satisfatório (81-98%) durante todo o ano.

4.2 MANEJO
O material vegetativo utilizado para enraizamento consiste de ramos com a presença de
acúleos (Figura 1 E, F, G), a partir dos quais são confeccionadas estacas caulinares semilenhosas
com aproximadamente 10-12 cm de comprimento, com corte reto no ápice e em bisel na base,
sendo mantidas duas folhas na porção apical com sua área reduzida a metade. Após a confecção
as estacas devem ser submetidas à desinfestação em hipoclorito de sódio a 0,5% durante 10
minutos, posteriormente lavadas em água corrente por 5 minutos. Na sequência, as estacas
são plantadas em tubetes de polipropileno com capacidade de 53 cm3, contendo os substratos,
podendo ser vermiculita de granulometria fina, vermiculita:casca de arroz carbonizada (1:1, v/v)
ou até mesmo substrato comercial. As estacas deverão sem mantidas em casa de vegetação

Pereskia aculeata Mill.


climatizada com nebulização intermitente, com umidade relativa do ar de 80% e temperatura
entre 20 e 30ºC (ZEM,2017).

4.3 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA


Estudos realizados com a propagação vegetativa via estaquia caulinar de Pereskia aculeata
utilizaram quatro tipos de substratos (vermiculita, vermiculita:casca de arroz carbonizada,
vermiculita:Plantmax®, Plantmax®) em material vegetal coletado nas quatro estações do ano
(outono, inverno, primavera, verão) mostrando elevados percentuais de enraizamento (81-98%)
para os substratos vermiculita, vermiculita:casca de arroz carbonizada e Plantmax®, não havendo
diferença significativa entre si. No entanto, o uso da mistura vermiculita:Plantmax® apresentou
menores percentuais de enraizamento, marcadamente nas estações da primavera (27,50%) e
verão (38,75%), sendo considerado portanto um substrato insatisfatório (ZEM, 2017).

5. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


5.1 PREPARO DO SOLO
Não é exigente por solos férteis (SILVA JÚNIOR et al., 2010).

363
6. MANEJO PARA A PRODUÇÃO
6.1 TÉCNICAS DE CULTIVO E COLHEITA DA PRODUÇÃO
Na colheita de suas folhas para uso alimentício, é recomendada a coleta juntamente com o
pecíolo, quando estas possuírem entre 7 a 9 cm de comprimento (Figura 1 H, I, J) (SILVEIRA, 2016).
Essa colheita é iniciada somente de 2 a 3 meses após o plantio e seu rendimento varia de 2.500 a
5.000 kg/ha (BRASIL, 2010; SILVEIRA, 2016).

7. POTENCIAL PRODUTIVO
7.1 RENDIMENTOS, ECONÔMICO
Na colheita das folhas para uso alimentício, seu rendimento varia de 2.500 a 5.000 kg/
ha (BRASIL, 2010; SILVEIRA, 2016).

7.2 RENDIMENTOS, CUSTOS


Silvicultura Tropical

No sistema de produção de mudas via estaquia caulinar, na distribuição dos custos totais,
há um maior custo para o processo de implantação (84,61%) em relação a processos de operação
(15,39%). Considerando que para a produção de aproximadamente 23.000 mudas de Pereskia
aculeata, o custo de implantação de uma casa de vegetação de 136 m2 é de U$$ 0.24 por muda
e o custo de operação para produção dessas 23.000 mudas a cada 60 dias é de U$$ 0.04, o custo
final é de U$$ 0.28 por muda produzida a cada 60 dias. Ao analisar a relação benefício/custo para
o sistema de produção, nota-se que esta relação é superior aos custos descontados, evidenciando o
fato que o sistema de produção de mudas de Pereskia aculeata é lucrativo. No entanto, vale lembrar
que quanto maior o preço de venda da muda, maior a relação benefício/custo e então mais viável
economicamente será a atividade (ZEM, 2017).

7.3 CAPACIDADE PRODUTIVA


Em uma casa de vegetação de aproximadamente 136 m2 é possível distribuir em torno de
123 bandejas de 187 células, totalizando 23.000 tubetes. Ou seja, uma capacidade produtiva de
23.000 mudas a cada 60 dias, portanto 138.000 mudas por ano (ZEM, 2017).

8. PATOLOGIA FLORESTAL
8.1 DOENÇAS E PRAGAS
A espécie possui histórico de baixa incidência de pragas e doenças (SILVA JÚNIOR et al.,

364
2010). Não há relatos de pragas e doenças importantes para a cultura, a não ser pelo ataque às
suas folhas por besouros (vaquinhas e idiames) (BRASIL, 2010).

9. OUTRAS INFORMAÇÕES
Devido as suas características nutricionais é de grande importância o estudo do
enraizamento de estacas de Pereskia aculeata a fim de viabilizar o seu cultivo em larga escala
(ZEM, 2017). A multiplicação por meio da propagação vegetativa via estaquia caulinar é uma
técnica muito utilizada e os fatores intrínsecos estão diretamente relacionados à facilidade de
enraizamento, mas é importante ressaltar que outros fatores como temperatura, luz, substrato
e época do ano também podem exercer influência no sucesso dessa técnica (FACHINELLO et al.,
1995; HARTMANN et al., 2011).
Um detalhado estudo anatômico foi realizado por Zem (2017) a fim de descrever o
processo rizogênico ocorrente nas bases das estacas. Percebeu-se que o caule do qual foram

Pereskia aculeata Mill.


confeccionadas as estacas de Pereskia aculeata apresentava atividade cambial intensa, sendo
notada a presença de um tecido de cicatrização, sendo a partir daí, provavelmente pelo trauma
produzido pelo corte na confecção das estacas, o local de formação das raízes adventícias.
O teor proteico da espécie é de boa qualidade, apresentando em torno de 85% de
digestibilidade e com elevados teores de aminoácidos essenciais, destacando-se a lisina,
leucina e valina (MAZIA, 2012). Há relatos de que os aminoácidos mais abundantes são o
triptofano (2.046 g 100 g-1) e o ácido glutâmico (9,90 g 100 g-1) (TAKEITI et al., 2009).
A ausência de toxicidade e a qualidade dos nutrientes em suas folhas a tornam muito
importante na alimentação humana bem como na animal (TAKEITI et al., 2009), podendo ser utilizada
em preparações como farinhas, refogados, tortas, saladas e nas indústrias alimentícias em geral, além
de conter um índice de aceitabilidade para consumo acima de 70% (ROCHA et al., 2008).
A espécie, além de ser rica em proteínas, apresenta elevados teores de fibras e minerais,
com destaque para o cálcio (3.800 mg 100 g-1) e ferro (28,12 mg 100 g-1) (ROCHA et al., 2008;
ALMEIDA et al., 2014).
Quanto à composição bromatológica da farinha das folhas e caules de Pereskia aculeata,
após determinação e quantificação dos nutrientes e minerais presentes, há estudos que indicam
que a farinha de folhas foi a que apresentou melhores resultados para a porcentagem cinzas
(21,51%), lipídeos (3,01%), proteínas (15,50%) e fibras (60,74%), quando comparada à farinha
de caules, com um maior valor calórico total de 117,82% (ZEM, 2017).

365
Visando oferecer uma recomendação de uso de um produto alimentício com maior
qualidade nutricional e acessível à maioria da população, foi analisada a composição bromatológica
de macarrão talharim, cupcake e suco a base de farinha de folhas e caules, bem como folhas frescas
de Pereskia aculeata (ZEM, 2017). O macarrão talharim preparado com a substituição de 30% de
farinha de trigo por 30% de farinha de folhas secas de Pereskia aculeata apresentou melhores
teores de cinzas (4,07%), lipídeos (2,89%), proteínas (10,71%) e fibras (13,94%), apresentando
ainda os menores valores calóricos totais (342,41) e melhores resultados para os minerais fósforo
(2,78 g kg-1), sódio (0,90 g kg-1), potássio (14,30 g kg-1), magnésio (2,26 g kg-1), cálcio (8,20 g kg-1),
ferro (203,32 mg kg-1), manganês (32,67 mg kg-1) e zinco (22,88 mg kg-1) ao ser comparado com o
macarrão talharim sem a adição de Pereskia aculeata (ZEM, 2017).
Os cupcakes preparados com farinha de folhas secas e com farinha de folhas+caules
secos de Pereskia aculeata são os mais indicados para o consumo, pois apresentaram resultados
semelhantes para os minerais, fósforo, sódio, magnésio, cobre e zinco, com boas qualidades
nutricionais, além de apresentarem boa quantidade de fibras e proteínas (ZEM, 2017).
Silvicultura Tropical

Os sucos preparados à base de Pereskia aculeata, folhas e caules ou só folhas, são todos
indicados para o consumo, devido sua boa qualidade nutricional para os minerais fósforo, sódio,
potássio, magnésio, cálcio, cobre, ferro e manganês, agregando assim propriedades ao suco de
laranja lima natural (ZEM, 2017).
Diante da demanda da população por alimentos saudáveis e com melhor qualidade
nutricional é importante caracterizar sensorialmente os produtos a base de Pereskia aculeata
visando identificar a sua aceitação (ZEM, 2017).
Um estudo de três receitas de macarrão, pão e pizza a base de Pereskia aculeata mostrou
que 78% dos julgadores gostaram do macarrão talharim tradicional branco e do macarrão com
30% de farinha de Pereskia aculeata e 84% preferiram o macarrão talharim adicionado de 10% de
farinha de Pereskia aculeata, sendo que a preferência do consumidor foi pelo macarrão talharim
com 10% de farinha de Pereskia aculeata. Em relação ao pão, aquele tradicional branco obteve
64% de aceitabilidade e o pão adicionado de 10% de farinha de Pereskia aculeata com 68%;
já para o pão com 30% de farinha de Pereskia aculeata não houve diferença significativa nos
resultados entre os julgadores, pois 48% não gostaram e 46% gostaram do pão, o que significa
que este não foi muito bem aceito pelos julgadores. Os julgadores ao serem questionados sobre
a preferência entre os três tipos de pães, relataram que em primeiro lugar estaria o pão com a
adição de 10% de farinha de Pereskia aculeata (56%). Quanto à massa de pizza, bastante popular
e um dos produtos mais consumidos no mundo, os resultados mostram que 92% dos julgadores

366
a

Pereskia aculeata Mill.


C D

E F h

i j

Figura 1: Pereskia aculeata: A. Planta matriz. B. Visitação de inseto nas flores. C. Flor. D. Produção de
frutos. E. Caules secos. F. Acúleos nos caules lenhosos e semilenhosos. G. Acúleos nos caules lenhosos.
H. Colheita de folhas. I. Folhas secas para produção da farinha. J. Folhas. Fonte: ZEM (2017)

367
preferiram a pizza tradicional branca, e 60% e 54% dos julgadores gostaram da pizza adicionada
de 10% e 30% de farinha de Pereskia aculeata, respectivamente, mas ao serem questionados sobre
a preferência entre as três receitas de pizza, relataram que em primeiro lugar estaria ainda a pizza
tradicional branca (56%) (ZEM, 2017).
Devido a estas características e resultados de estudos realizados com a farinha de Pereskia
aculeata, o interesse das indústrias alimentícia e farmacêutica pelo gênero Pereskia vem aumentado,
ressaltando-se o alto teor de proteínas com boa digestibilidade, teor de fibras e minerais como o
ferro e cálcio (ALMEIDA; CORRÊA, 2012).
Diante da carência de informações relacionadas à análise biológica da espécie, determinou-
se a digestibilidade in vivo, o PER (coeficiente de eficácia proteica), o NPR (razão proteica líquida),
o teor de aminoácidos e o escore químico de aminoácidos (EQ) de proteínas de farinha de folhas
secas de Pereskia aculeata, concluindo que a farinha produzida a partir de folhas de Pereskia
aculeata pode não ser adequada para garantir níveis satisfatórios de crescimento quando fornecida
na dieta como única fonte proteica, porém deve considerar a sua adequação na manutenção do
Silvicultura Tropical

metabolismo proteico no organismo indicado pelo NPR (ZEM, 2017).

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371
Pilocarpus microphyllus
Stapf ex Wardlew.
Fabiano Gumier-Costa
Biólogo, graduação em Ciências Biológicas, Bacharelado e Licenciatura
pela Universidade Federal de Viçosa, especialização em Gestão e Manejo
Ambiental e Sistemas Florestais pela Universidade Federal de Lavras
(UFLA), mestrado em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido pela
Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente é analista ambiental do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO).

Frederico Drummond Martins


Biólogo, graduação em ciências biológicas pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Especialização em Educação Ambiental, Cidadania
Silvicultura Tropical

e Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Pará (UFPA)


mestrado em biodiversidade e unidades de conservação pelo Jardim
Botânico do Rio de Janeiro - JBRJ. Analista ambiental do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), com coordenação
regional do ICMBio nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

Samir Gonçalves Rolim


Engenheiro Agrônomo pela Universidade de São Paulo (USP), mestrado
em Ciências Florestais e doutorado em Recursos Florestais, ambos pela
Universidade de São Paulo (USP). Gerente de Restauração Florestal na
Amplo Engenharia e Gestão de Projetos. Colaborador do Laboratório
de Dendrologia e Silvicultura Tropical, Centro de Formação em Ciências
Agroflorestais, Universidade Federal do Sul da Bahia.

1. Distribuição Geográfica do
Jaborandi
O jaborandi é uma planta de porte arbustivo ou de arvoretas,
alcançando, geralmente, no máximo cinco metros, e pertence à Família
Rutaceae. O gênero Pilocarpus é neotropical e possui 16 espécies,
ocorrendo desde o México até a Argentina, sendo que 13 delas

372
ocorrem no Brasil (Skorupa 2000).
P. microphyllus, a espécie de maior
interesse comercial, tem ocorrência
na Amazônia e na Caatinga, nos
estados do Maranhão, Pará e Piauí
(Pirani 2015). Existem registros no
Suriname e estudos de distribuição

Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardlew.


potencial indicam que a espécie
pode ocorrer em outros estados
brasileiros (Roraima, Tocantins,
Ceará), mas buscas de campo
precisam ser feitas para confirmar
essas ocorrências (Caldeira et al.
2017). No ambiente natural P.
microphyllus tem distribuição
agregada, em área denominada
popularmente pelos extrativistas de
“bolas” ou ‘reboleiras”, que podem
variar de menos de um a dezenas de
hectares. Geralmente é encontrada Figura 1: Folheiros coletando a planta no seu ambiente
sobre solos bem drenados, arenosos, natural em Carajás (PA), uma mata baixa de transição. Foto:
João Marcos Rosa.
com rochas ou cascalhos, em áreas
mais iluminadas, geralmente de floresta estacional decidual (no Piauí) ou nas transições de
floresta ombrófila (Figura 1) com vegetação mais aberta, como a vegetação rupestre ferruginosa
em Carajás (PA) (Gumier-Costa 2016, Silva et al. 1996).
Possui vários nomes vulgares como: arruda, arruda brava, jaborandi, jaburandi,
jaborandi verdadeiro, jaborandi do Maranhão, jaborandi de folha pequena e jaborandi do Pará.
Mas o termo mais consagrado na literatura é jaborandi verdadeiro.
Este táxon é facilmente reconhecível por seus folíolos reduzidos, sésseis, de base
assimétrica e ápice emarginado, além de possuir pecíolos e raques evidentemente aladas.
A parte da planta utilizada é a folha, de onde se extrai a maior quantidade de pilocarpina
(Figura 2).

373
Silvicultura Tropical

Figura 2: Detalhes da coleta, transporte e secagem no extrativismo e nos plantios de jaborandi. Fotos à esquerda
de João Marcos Rosa e à direita de Fabiano Gumier Costa.

374
2. Aplicações e Usos Comerciais
A espécie P. microphyllus é utilizada pela indústria farmoquímica para a extração de
pilocarpina, alcaloide imidazólico, empregado na produção de colírios eficazes para o tratamento
do glaucoma (Sandhu et al. 2006; Sawaya et al. 2011). A palavra jaborandi deriva da expressão
em Tupi ”ya-mbo-r-endi”, traduzida, geralmente, como “que faz babar ou salivar”, relacionada
à propriedade de excitação das glândulas salivares, que chamou inicialmente a atenção dos
naturalistas e exploradores. Além disso, a mastigação de folhas de jaborandi em abundância
provoca sudorese (Holmstedt 1979). Tais propriedades apontam o uso intenso dessa planta pelos
indígenas, provavelmente em práticas tradicionais de cura e rituais xamânicos (Gumier-Costa
2016). As primeiras amostras de jaborandi foram levadas para a Europa pelo médico Symphronio
Coutinho em 1873. O alcaloide foi descoberto por Hardy e Gerrard em 1875 e introduzido por

Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardlew.


Adolfo Weber na oftalmologia em 1876 (Holmstedt 1979, Merck 1997, Homma 2012).
A pilocarpina é um agonista colinérgico que aumenta o fluxo salivar e tem sido usado no
tratamento de xerostomia1 (Bernardi et al. 2002). A pilocarpina também é usada em investigações
de neurotransmissores (Freitas et al. 2003) e pesquisas sobre o mal de Alzheimer e outras doenças
neurodegenerativas (Segura et al. 2003). Kalil et al. (1998) evidenciaram que a pilocarpina atua de
forma relevante na regeneração hepática em ratos prevenindo edemas e perda de peso em cobaias.
Outros constituintes dos óleos essenciais de algumas espécies de Pilocarpus também estão sendo
pesquisados como P. grandiflorus que apresentaram atividade antifúngica (Souza et al. 2005).
Guerreiro et al. (2000) registraram eficiente ação de extratos de P. riedelianus no controle dos micro-
organismos Staphylococcus aureus, Bacilo sistilis, Candina krusei, Cryptococcus laurenti, Rhodotorula
rubra, Saccharomyces cerevisae e Candida albicans. Neste mesmo trabalho foi destacada a eficiente
ação inibitória sobre o fungo Leucoagaricus gongylophorus, simbionte de formigas cortadeiras.
Mafezoli et al. (2000) evidenciaram atividade inibitória de extratos de P. spicatus sobre tripomastigotos
de Trypanosoma cruzi.
Diversas empresas cosméticas difundem a ideia de que o jaborandi favorece o crescimento
capilar devido às substâncias pilosina e carpilina, sendo eficiente no tratamento ou prevenção da
calvície (Custodio 2014). Existe um vasto mercado para esta linha de produtos, encontrados em
qualquer farmácia ou supermercado. Apesar disso, é inexistente na literatura científica trabalhos que
analisem a eficácia de produtos cosméticos derivados de jaborandi. Geralmente, nos rótulos destes
produtos constam, dentre outros componentes, extratos das espécies P. pennatifolius e P. jaborandi.

1 Boca seca ou xerostomia é um sintoma comum, frequentemente associado com hipossuficiência das glândulas salivares
induzida por estágios fisiológicos transitórios, doenças ou efeitos de quimioterapia ou radioterapia.

375
Entre as espécies de Pilocarpus, P. microphyllus apresenta o maior teor alcalóide total, mas tem
apenas 35% de pilocarpina em relação aos alcalóides totais. Três outras espécies contêm mais pilocarpina
em relação aos alcalóides totais: P. jaborandi (70,8%), P. racemosus (45,6%) e P. trachyllophus (38,7%) e
podem ser candidatos à extração de pilocarpina (Sawaya et al. 2011).
A destruição dos ambientes naturais de ocorrência da espécie e a coleta predatória motivaram
a inserção de P. microphyllus na lista oficial de flora brasileira ameaçada, junto com outras espécies do
gênero: P. alatus, P. trachyllophus e P. jaborandi (MMA 2014).

3. Mercado: Histórico e Perspectivas 


Historicamente a exploração de jaborandi esteve associada à demanda da empresa Alemã Merck,
que por um século dominou o mercado de compra de folhas de jaborandi, extração e comercialização de
sais de pilocarpina (Pinheiro 2002, Homma 2012, Gumier-Costa et al. 2016).
Em 1973 a Merck instalou em Parnaíba (Piauí) a empresa Vegetex, que fazia a extração e
comercialização de sais de pilocarpina com matéria prima vegetal de origem extrativista. Em 1989 a
Merck adquiriu a Fazenda Chapada, uma propriedade de 500 ha em Barra do Corda (Maranhão), onde
Silvicultura Tropical

estabeleceu o primeiro cultivo de jaborandi, atingindo a autossuficiência em 2002 (Homma 2014).


Em 2002, a empresa Vegetex foi adquirida pelo Grupo Centroflora que continuou a adquirir folhas de
jaborandi de origem extrativista e, principalmente, do cultivo da Merck até 2008. Em 2009 a Merck saiu
dos negócios com jaborandi e pilocarpina após vender sua “Divisão de Produtos Naturais” no Maranhão,
incluindo a Fazenda Chapada, para a empresa Quercegen Pharmaceuticals. Atualmente o Grupo
Centroflora adquire folhas de jaborandi a partir da compra de extrativistas nos três estados de ocorrência
natural da planta. De outro lado, a empresa Sourcetech (Pindamonhagaba, SP), adquire jaborandi do
cultivo da Quercegen.
O Grupo de Centroflora e a empresa Sourcetech dividem o mercado de comercialização de sais
de pilocarpina, o que permite afirmar que metade do jaborandi processado atualmente pelas indústrias
farmoquímicas tem origem extrativista e outra metade vem do cultivo ou domesticação (Grabher 2015,
Gumier-Costa et al. 2016).
No passado, em todas as regiões de ocorrência do jaborandi, a Merck possuía uma rede de
atravessadores que compravam as folhas secas da planta e enviavam para a Fazenda Chapada no
Maranhão. Nessa instalação as folhas eram pesadas, secas e prensadas para envio até Parnaíba, onde
ocorria a extração da pilocarpina. Sua qualidade era testada com base no teor de pilocarpina e, com base
nisso, era efetuado o pagamento aos fornecedores (Pinheiro 2002, Homma 2014). Nessa fase que se
intensificou entre os anos 70 e 90, não havia qualquer tipo de trabalho de articulação na base da cadeia
extrativista, especialmente no que diz respeito às condições de trabalho ou repartição de benefícios.
Relações de trabalho precárias, análogas ao aviamento e trabalho escravo, eram recorrentes.
376
No sudeste do Pará, em especial na Floresta Nacional de Carajás, aconteceram diversos conflitos
entre o IBAMA2 e a mineradora Vale (então estatal CVRD) que tinham que lidar com o acesso desordenado
de coletores de folhas de jaborandi, conhecidos como “folheiros”. Após cobranças sobre a Merck, esta
viabilizou a elaboração de um documento técnico para orientar o manejo e coleta de jaborandi na área
e criação da Cooperativa de Colhedores de Folhas de Jaborandi - Yaborandi (Merck 1997). Ações mais
efetivas do IBAMA (posteriormente sucedido pelo ICMBio²) se intensificaram a partir de 2003, visando
orientar o manejo do jaborandi, favorecer a melhor organização dos extrativistas e mediar às relações
com os laboratórios compradores de folhas (Gumier-Costa 2016). Atualmente é possível constatar maior
articulação dos extrativistas em Carajás, mas essa realidade é muito diferente dos cenários observados
em outras regiões em que ainda ocorre extrativismo de jaborandi (Grabher 2015).
As séries históricas de produção extrativista de folhas de jaborandi e de exportações de
pilocarpina mostram queda e tendência de estagnação (Gumier-Costa et al. 2016). Entre 1990 e 2003, a

Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardlew.


produção média de folhas oriundas do extrativismo foi de cerca de 1.400 toneladas.ano-1. Entre 2004 e
2014, essa média caiu para 260 toneladas.ano-1 (IBGE 2016). A pilocarpina é um dos principais produtos
farmacêuticos exportado pelo Brasil, com média de 3.000 kg ano-1 de 2001 a 2011, mas com redução
nos últimos anos para cerca de 2.000 kg ano-1. Entretanto, o valor da produção cresceu de US$1.983
kg-1 em 1997 para US$3.104 kg-1 em 2015 (MDIC 2016). A maior parte da pilocarpina é exportada,
principalmente para a Alemanha, sede do maior cliente das duas empresas brasileiras que dividem esse
mercado. Gumier-Costa (2016) estimou em U$$ 5 milhões a produção anual potencial de pilocarpina
apenas a partir das reservas de jaborandi de Carajás. A principal explicação para a redução da demanda
de pilocarpina pelo mercado mundial seria a redução da participação da pilocarpina nas composições
dos medicamentos para tratamento de glaucoma (Souza Filho et al. 2003). Apesar desse cenário, a
prospecção de outros alcaloides imidazólicos e outras substâncias no gênero Pilocarpus (Sawaya et al.
2011) sinalizam novas possibilidade de usos para essas plantas.

4. Produtividade no Extrativismo e Plantio


Em Carajás as reservas de jaborandi foram estimadas em cerca de 1.277 ha (Merck 1997),
posteriormente atualizado para 1.814 ha (Gumier-Costa 2012). Entretanto um novo mapeamento aponta
para a existência de quase 5.000 ha (UFRA 2016). As plantas aptas ao manejo possuem densidade de
4.000 a 6.000 indivíduos ha-1, com uma produção de 120 a 190 kg ha-1 de folhas por colheita (Merck
1997, Golder 2012). Embora as colheitas possam ser anuais no extrativismo, é recomendado pelo menos
2 ou até 3 anos de descanso entre colheitas no extrativismo, pois do contrário o teor de pilocarpina pode
diminuir e consequentemente o preço do produto.

2 Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Desde 2007, a gestão das Unidades de Conservação
Federais compete ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

377
No cultivo a densidade é 50.000 indivíduos ha-1, plantados em linhas duplas com 1,2 m de
largura, com espaçamento de 60 cm, entre cada linha, com colheita a partir do quarto ano (Homma
2003) e produção de 3.000 kg de folhas ha-1 em cinco colheitas anuais (Gumier-Costa et al. 2016). O
sistema intensivo de plantio, com adubação e irrigação, reduz o teor de pilocarpina foliar, provavelmente
por que a planta necessita de stress para desencadear o processo biossintético (Caldeira et al. 2016),
mas a quantidade produzida compensa essa desvantagem (Tabela 1). De acordo com Grabher (2015),
a quantidade e qualidade dos estoques de jaborandi nas diferentes regiões são variáveis, apresentando
piores valores nos locais em que ocorre coleta há mais tempo, no Maranhão e Piauí (Tabela 2).

Tabela 1: Construída a partir das análises da exploração de jaborandi pela Cooperativa COEX
Carajás e empresa Vegeflora entre 2008 e 2013. Fonte: Elaborada pelo autor.
Número de Preço Produção Teor de
Sistema Plantas ha-1
Colheitas ano-1 relativo (Kg ha-1) Pilocarpina (%)
Extrativismo 2-3 4 a 6 mil 1 120 a 190 0,93
Cultivo 5 50 mil 0,3 3 mil 0,5
Silvicultura Tropical

Tabela 2. Tamanho e qualidade dos estoques de jaborandi nas regiões com extrativismo. Fonte:
Grabher (2015).
Cocais Centro e Oeste São Félix do Xingu Carajás
(MA) (MA) (PA) (PA)
Tamanho do
Escasso escasso abundante abundante
recurso
Qualidade do
degradado pouco conservado conservado conservado
recurso

O jaborandi tem maior produção a pleno sol que na sombra (Assis et al. 2016) e o corte dos ramos
deve ser feito em plantas maiores que 50 cm de altura e menores que 2 m, sendo que as plantas menores
que 50 cm são deixadas como estoque futuro e as maiores são deixadas como matrizes de sementes
(Gumier-Costa 2012). A colheita das folhas ocorre predominantemente na estação seca e cada planta tem
uma produtividade entre 20 e 30 gramas de folhas secas a cada colheita (Golder 2012, Gumier-Costa 2012).
A coleta excessiva e frequente de folhas da mesma planta pode provocar perda de vigor e até mesmo levar
a mortalidade (Pinheiro 1997). No sistema extrativista as folhas são secadas ao ar livre sobre lona plástica
por cerca de 2 dias (Figura 2), até uma umidade de 10-12%, sendo protegidas à noite para não reabsorver a
umidade, a qual pode causar fermentação das folhas e diminuir o valor do produto (Frazão & Pereira 1979,
citado por Pinheiro 2002).
O banco de germoplasma da Embrapa em Belém conserva diversos acessos de várias regiões do
Pará e Maranhão, as quais mostram variabilidade genética entre e dentro de populações, e que podem
auxiliar no melhoramento de características da planta para cultivo (Moura et al. 2005a, Moura et al. 2005b).

378
5. Tecnologia de Sementes e Mudas
Muniz (2008) cita o período de floração de abril a maio e frutificação de maio a junho no Maranhão.
Já um estudo fenológico do jaborandi cultivado a pleno sol no horto de plantas medicinais da Embrapa
mostra a ocorrência de floração e frutificação em todos os meses do período avaliado de agosto de 2010 a
dezembro de 2012, sendo julho geralmente o mês de menor frequência desses eventos, o que favoreceria a
coleta de sementes quase o ano todo (Oliveira et al. 2016). Em Carajás, em populações naturais, Caldeira et
al. (2017) cita que as plantas perdem e renovam folhas o ano todo, com picos dessa atividade entre setembro
a janeiro, podendo ser consideradas sempre-verdes. Citam ainda que a floração tenha longa duração, mas
com picos de fevereiro a abril. A frutificação também tem longa duração, com picos de maio a junho.
A porcentagem de germinação pode alcançar 70 a 84% em substrato arenoso, mas é bem variável
entre diferentes acessos e tipos de substrato (Meneses et al. 2016). As sementes devem ser coletadas antes da

Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardlew.


abertura das cápsulas, semeadas o mais breve possível (Marques & Costa 1994) ou conservadas em câmara
com baixa temperatura e umidade por curto período (Caldeira et al. 2016). A semeadura pode ser feita em sacos
plásticos, com 3 sementes, deixando apenas 1, com melhor vigor (10 cm de altura) após 10 a 30 dias. Também
pode ser feita em sementeira, com repicagem quando a planta atingir 10 cm de altura (Marques & Costa 1994).
Protocolos de micropropagação de P microphyllus foram desenvolvidos, com excelente resultado
de germinação (93%) e baixo índice de contaminação (6,7%) com a utilização de 3% de hipoclorito de
sódio e ausência de ácido giberélico (Sabá et al. 2002).

6. Pragas e Doenças
Existe o relato de apenas 2% de infestação nas raízes de jaborandi nativo de Fusarium moniliforme
(Marques & Costa 1994), um fungo de importância agrícola (Nelson 1992). Entretanto, de acordo com
Gumier-Costa (2012) não existem relatos ou evidências de campo sobre pragas ou doenças no jaborandi
nativo que afetem a produção. O autor explica que talvez pelos altos teores de alcaloides presentes na
planta, os eventos de herbivoria, por exemplo, sejam raros. No entanto, existem problemas no plantio
adensado devido a bicho pau (Ordem Phasmatodea), gafanhotos (Ordem Orthoptera) e nematoides
(Filo Nematoda) (Pinheiro 2002, Gumier-Costa 2012). Como a pilocarpina é usada, principalmente,
na produção de colírios, o controle de pragas com pesticidas representaria risco à saúde dos usuários
desses medicamentos (Gumier-Costa 2012) e para controle dos insetos a empresa liberou em toda a
área de cultivo emas e galinhas d’angola, mantendo os níveis de infestação destes insetos sob condições
razoáveis de manejo (Pinheiro 2002, Gumier-Costa 2012). Com relação aos nematoides, a variedade
“linha v” apresenta menores taxas de infestação pelos parasitas (Gumier-Costa 2012) e bons resultados
tem sido alcançados com a inoculação das plantas com a bactéria Pasteuria penetrans, um método

379
menos acessível a pequenos produtores (Pinheiro 2002). O controle de gramíneas e plantas daninhas é
feito com o pastejo de cabras, eliminando o uso de herbicidas (Gumier-Costa 2012).

7. Importância Econômica para os Coletores


Extrativistas
Historicamente o valor pago pelas folhas de jaborandi sempre variou de acordo com a qualidade
do produto, em uma relação direta com o teor pilocarpina. Em suma as folhas eram classificadas em quatro
classes (A, B, C e D). A folha tipo “A” tem altos teores de pilocarpina, cor creme-esverdeada que indica
desidratação satisfatória (cerca de 10-12 %) e tamanho relativamente grande (Pinheiro 2002). No projeto de
manejo do jaborandi (Merck 1997) as classes de folhas em Carajás (PA) foram, em sua maioria, classificadas
como “A”. Pinheiro (2002) cita que, em 1997 pagava-se entre US$ 2,50 e US$ 4,00 kg-1, dependendo da
classificação destas. Atualmente a Cooperativa COEX Carajás comercializa pelo valor médio de R$3 14,00
kg-1 de folha seca, sendo que 20% ficam para a cooperativa, e não há classificação e pagamento pelo teor de
pilocarpina. O valor atual corresponde a US$ 4,00 kg-1 (U$ 1,0 dólar a R$ 3,5).
Silvicultura Tropical

Considerando que a produção total em 2013 foi igual a 32.675 kg de folhas secas e que a
produção média de cada coletor é 1.307 kg neste ano (Gumier-Costa et al., 2016), a renda exclusiva devida
ao jaborandi foi de aproximadamente R$ 14.638 nesse ano para cada coletor. Como a atividade de coleta é
sazonal ao longo do ano, os coletores têm atividades extras, trabalhando como agricultor, pintor, pedreiro,
auxiliar em sondagem mineral, etc., com renda extra anual mensal que varia de 1,57 a 3,92 salários
mínimos (entrevista em 2010, Gumier-Costa et al. 2016). Portanto, a renda do jaborandi representa 30 a
76% da renda familiar dos coletores em Carajás.
O jaborandi foi coletado durante muito tempo em Carajás de maneira não sustentada e eram
extraídas grandes quantidades de folhas (entre 50 a 80 toneladas ano-1, Gumier-Costa 2012). Práticas de
manejo racionalizaram a coleta e produção, para cerca de 30 toneladas ano-1, gerando benefícios contínuos
às famílias de extrativistas em consonância com a conservação dessa espécie.

8. Referências
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Pesquisa em Ciências Ambientais na Amazônia, Belém (PA), 16 a 18/11 de 2016.

3 Em acordo recente com a empresa compradora de folhas, os extrativistas em Carajás passavam a assumir os custos com frete,
alimentação e outras despesas relacionadas à coleta. Entre 2008 e 2014, a empresa arcava com esses custos.

380
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383
Piptocarpha angustifolia
Dusén ex Malme
Carlos André Stuepp
Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal, Mestrado em
Agronomia (Produção Vegetal), Doutorado em Agronomia (Produção
Vegetal) e doutorando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

Rosimeri De Oliveira Fragoso


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas (Bacharel) pela Universidade
Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), especialização em Biologia da
Conservação pela Faculdade Assis Gurgacz, mestrado em Conservação
e Manejo de Recursos Naturais pela Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (UNIOESTE) e doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em
Silvicultura Tropical

Estaquia (GEPE)

Katia Christina Zuffellato-Ribas


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências
Biológicas e doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia
Vegetal pela Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular do
Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
onde coordena o Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA: Mata Atlântica
1.2 NOME COMUM:
Vassourão-branco, vassourão-cavalo ou apenas vassourão
1.3 NOME CIENTÍFICO:
Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme
1.4 FAMÍLIA: Asteraceae
1.5 PORTE: Arbóreo

384
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
2.1 DENSIDADE DA MADEIRA: Sua madeira é leve (0,40 a 0,57 g cm-3 a 15%
de umidade), apresentando baixa durabilidade quando exposta ao tempo, com alburno e cerne
praticamente indistintos (SEITZ, 1976; TEIXEIRA, 1977; CARVALHO, 2006).

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES

Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme


3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
Do ponto de vista botânico, há erros comuns de classificação e distinção de frutos e
sementes de Piptocarpha angustifolia, os quais não são separados na propagação (FLOSS, 2004).
No entanto, em análise mais detalhada, percebe-se que a unidade de dispersão da espécie
consiste de um fruto seco indeiscente, denominado cipsela (fruto típico das Asteraceae), o qual
pode conter ou não a semente aderida, com cálice persistente, chamado pappus, que geralmente
atua na dispersão (SEITZ, 1976; FOSSATI, 2007; FOSSATI; NOGUEIRA, 2009). Suas sementes de
fato são pequenas, alongadas, de cor amarela, com média de 3,3 mm de comprimento por 0,65
mm de largura e 0,06432 g de peso (KELLERMANN et al., 2016).
A produção de sementes em Piptocarpha angustifolia é irregular, com baixos
percentuais de germinação, em torno de 10%, comumente atrelados à imaturidade do
embrião. Apesar disso, a espécie possui 1,2 milhões de sementes Kg-1 (SEITZ, 1976), podendo
produzir entre 120.000 e 130.000 plântulas Kg-1 de sementes (SEITZ, 1976). Como um dos
limitantes na coleta de sementes florestais nativas diz respeito ao tamanho das populações
e sua distribuição (MEDEIROS; NOGUEIRA, 2006), ressalta-se a necessidade de seleção de
plantas matrizes para coleta de sementes em populações maiores de Piptocarpha angustifolia.

3.2 FENOLOGIA
As flores surgem no período de inverno, momento no qual as plantas ficam com
a copa rala. Possui inflorescência em capítulos axilares, solitários ou em grupos de dois a
três, com seis a oito flores de cor paleácea (CARVALHO, 2003). Sua polinização é realizada
principalmente por abelhas e pequenos insetos (SEITZ, 1976). Os frutos são do tipo aquênio,
com aproximadamente 5 mm de comprimento, e a dispersão ocorre por via anemocórica
(CARVALHO, 2006).

385
3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO
O florescimento de Piptocarpha angustifolia ocorre entre meados de outubro e dezembro
(SEITZ, 1976), podendo se estender até janeiro (CARVALHO, 2003), ou ainda apresentar um
atraso no período de floração, com início em dezembro e término em janeiro (MANTOVANI et al.,
2003).

3.4 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA


O amadurecimento dos frutos de Piptocarpha angustifolia ocorre entre os meses de
outubro, novembro até meados de fevereiro (CARVALHO, 2003; MANTOVANI et al., 2003;
EMBRAPA FLORESTAS, 2011). A colheita dos frutos deve ser realizada no início do processo de
dispersão, evitando assim, a perda excessiva de propágulos.

3.5 MANEJO DE SEMENTES


Em função do reduzido tamanho das sementes, os frutos devem ser coletados
Silvicultura Tropical

juntamente com os ramos aos quais estão presos, acondicionados em sacos e transportados
para o local de beneficiamento. Deve-se macerar os frutos para o desprendimento das
sementes (CARVALHO, 2006). Avaliando o beneficiamento de sementes de Vernonanthura
discolor (Spreng.) H.Rob., Grzybowski (2016) alcançou percentuais de germinação superiores
quando da combinação de métodos de beneficiamento (manual e mecânico), resultando na
remoção de estruturas dispersoras.

3.6 QUEBRA DE DORMÊNCIA


As informações com relação à quebra de dormência de sementes da espécie são
escassas. Suas sementes são fotoblásticas positivas e termossensíveis, com dormência endógena
(CARVALHO, 2006). De acordo com Seitz (1976), a germinação pode ocorrer tanto na presença
como na ausência da luz, com influência apenas sobre a velocidade de germinação. No entanto,
quando secas perdem essa sensibilidade à luz, indicando alterações bioquímicas no processo de
secagem (FLOSS, 2004).

3.7 ARMAZENAMENTO
A longevidade de sementes de Piptocarpha angustifolia em condições de armazenamento
é reduzida, com um período de viabilidade que varia entre três meses e oito meses (LORENZI,
2002) em ambiente controlado, e doze meses em câmara seca a 5 ºC (SEITZ, 1976).

386
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
A produção de mudas de vassourão-branco pode ser realizada via seminal e clonal. A
produção de mudas via seminal tem apresentado algumas limitações como o reduzido tamanho
das sementes e o baixo percentual de germinação. Tais características inviabilizam a semeadura
diretamente no recipiente, fazendo-se necessária a germinação em sementeiras e posterior
repicagem das plântulas. A repicagem tem sido recomendada entre três e cinco semanas após a
germinação (CARVALHO, 2006).
Já a produção de mudas via clonal tem sido considerada, até o momento, o método mais
eficiente de propagação desta espécie (STUEPP, 2017). Para o resgate vegetativo recomenda-se o
uso de estacas caulinares semilenhosas, com 10-12 cm, provenientes de brotações epicórmicas de
decepa. Além disso, previamente ao estabelecimento em casa de vegetação, por se tratar de um

Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme


propágulo vegetativo proveniente de condições não assépticas, deve-se realizar a desinfestação
das estacas com hipoclorito de sódio a 0,5% por 10 minutos e logo em seguida a lavagem em água
corrente por 5 minutos (STUEPP, 2017).
Após a obtenção das primeiras plantas clonais via estaquia, inicia-se o processo de propagação
massal por meio da utilização da técnica de miniestaquia em sistema semi-hidropônico (STUEPP et
al., 2016; 2017a), com a confecção de miniestacas com 8 cm de comprimento, mantendo-se duas
folhas reduzidas a 50% de sua superfície original e plantadas em caixas plásticas (STUEPP et al.,
2017a) para posterior repicagem ou diretamente em tubetes de polipropileno com capacidade de
110 cm³ (STUEPP et al., 2016). Para ambos os protocolos de estaquia e miniestaquia apresentados
não é necessário o uso de regulador vegetal.

4.2 MANEJO
O manejo das mudas deve ser realizado de acordo com o método de produção utilizado.
As mudas seminais apresentam um melhor desenvolvimento em suas fases iniciais sob condições
de sombreamento (SEITZ, 1976). Já para mudas clonais, existem protocolos hábeis a serem
aplicados para a produção massal de mudas (vide item 4.1). Tanto para o resgate vegetativo como
para a propagação massal, recomenda-se a utilização de substrato composto a base de vermiculita
de granulometria média e casca de arroz carbonizada (1:1 v/v). O ambiente recomendado tem
sido casa de vegetação climatizada com nebulização intermitente (temperatura de 24 ºC ±
2 ºC e umidade relativa do ar superior a 80%) (STUEPP, 2017).

387
A b
Silvicultura Tropical

c D

Figura 1: Piptocarpha angustifolia. A. Minijadim clonal. B. Mudas clonais.


C. Planta adulta. D. Plantio misto.

O manejo do minijardim clonal (Figura 1A) deve receber fertirrigação por gotejamento
três vezes ao dia a uma vazão média de 6 L m-2 dia-1 com solução nutritiva composta por
monoamônio fosfato (0,065 g L-1), sulfato de magnésio (0,40 g L-1), nitrato de potássio (0,44 g
L-1), sulfato de amônio (0,2 g L-1), sulfato de potássio (0,07 g L-1), cloreto de cálcio (0,40 g L-1),
ácido bórico (2,88 mg L-1), sulfato de manganês (3,70 mg L-1), molibdato de sódio (0,18 mg
L-1), sulfato de zinco (0,74 mg L-1) e hidroferro em pó (81,80 mg L-1), substituída a cada duas
semanas. A coleta de miniestacas deve ser realizada de forma seletiva, mantendo a capacidade

388
de regeneração das minicepas após cada coleta. A tabela abaixo contém recomendações sobre
o manejo hídrico e nutricional em diferentes ambientes utilizados para a produção de mudas
clonais (Figura 1B) de Piptocarpha angustifolia (STUEPP et al., 2016) (Tabela 1).

Tabela 1. Temperatura e umidade média em diferentes ambientes utilizados na produção de mudas de


Piptocarpha angustifolia.

Ambiente Temperatura Umidade Irrigação Fertirrigação* Tempo

Casa de Nebulização 90-110


20 ºC ± 10 ºC >80% -
vegetação intermitente dias

4 g L-1 uréia; 3 g L-1 superfosfato

Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme


Miniaspersão
simples; 0,25 g L-1 FTE BR 10
Casa de (1 min, 5x ao dia
18 ºC ± 15 ºC 24 a 95% [7% Zn, 4 % Fe, 4 % Mn, 0,1% Mo, 30-60 dias
sombra com vasão de 97
2,5 % B, 0,8% Cu] e 3 g L-1 cloreto
L hora-1)
de potássio
4 g L-1 sulfato de amônio; 1 g L-1
Miniaspersão
superfosfato simples; 1 g L-1 FTE BR
(30 min, 4x ao
Pleno Sol - - 10 [7% Zn, 4 % Fe, 4 % Mn, 0,1% 30-60 dias
dia com vasão de
Mo, 2,5 % B, 0,8% Cu] e 4 g L-1
97 L hora-1)
cloreto de potássio

*A fertirrigação deve ser realizada em intervalos de 7 dias, em uma concentração de 5 L 1000 plantas-1

5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO



Piptocarpha angustifolia possui elevado potencial de melhoramento, no entanto,
não existem experimentos validando sua aplicação para fins comerciais. Existe atualmente
a necessidade de avaliações de progênies em diferentes regiões de interesse para facilitar a
seleção de materiais genéticos superiores para a finalidade de produção madeireira. Além do
potencial madeireiro, suas folhas podem ser utilizadas como forragem animal, apresentando
entre 12 e 15,6% de proteína bruta e 4% de tanino (LEME et al., 1994).

389
6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS
6.1 SISTEMA DE PLANTIO
A espécie se adapta bem a plantios mistos e puros; no primeiro caso, com a finalidade de
restauração de ecossistemas degradados, no segundo, com a finalidade de produção de madeira
(Figura 1D). Em função do rápido crescimento inicial, pode ser utilizada no tutoramento de espécies
umbrófilas (CARVALHO, 2006). Apresenta boa regeneração natural em florestas secundárias,
viabilizando também a condução e manejo destas mudas para as finalidades supracitadas
(CARVALHO, 2006).

6.2 ESPAÇAMENTO
A espécie ocorre naturalmente em condições de adensamento, no entanto, não se
recomenda a utilização de espaçamentos inferiores a 2 x 2 m (SEITZ, 1976). Em plantios puros
seminais a única informação refere-se ao espaçamento de 5 x 5 m (CARVALHO, 2006). Contudo,
para se obter um bom desenvolvimento das plantas, associado à facilidade de manejo, recomenda-
Silvicultura Tropical

se a implantação de plantios puros em espaçamento de 3 x 2 m (STUEPP et al., 2017b).

6.3 ADUBAÇÃO
A adubação deve ser realizada com base nas condições de sitio do local de plantio. Na
ausência de tais informações, recomenda-se a aplicação de 200 g de NPK (4-14-8) por planta, 50%
no momento do plantio, incorporando-a juntamente com o solo removido das covas, e o restante
como adubação de cobertura, de 90 a 120 dias após o plantio.

6.4 PREPARO DO SOLO


Para plantios com finalidade de produção de madeira, o preparo do solo deve ser realizado
por meio da subsolagem na linha de plantio (50 cm de profundidade) (STUEPP et al., 2017b).
Para áreas não mecanizáveis ou com o intuito de restauração de ecossistemas degradados pode-se
optar pela realização de covas, de tamanho não inferior a 40 x 40 cm.

6.5 RECOMENDAÇÕES E TRATOS CULTURAIS


O preparo inicial da área de plantio pode ser realizado de forma química, por meio da utilização
de herbicidas, ou mecânica, por meio da roçada na área total de implantação. Após o plantio, os tratos
culturais consistem basicamente na roçada e controle da matocompetição na linha de plantio ou,
coroamento das plantas, mantendo-se um raio entre 50-100 cm livre de plantas daninhas.

390
A planta possui características ortotrópicas, rápido crescimento, alcançando de 15
a 25 m de altura quando adulta (FOSSATI, 2007; FOSSATI; NOGUEIRA, 2009), ou ainda 30
metros de altura (SEITZ, 1976). Seu tronco é liso e comumente ultrapassa os 40 cm de diâmetro
(CARVALHO, 2006). Apresenta desrama natural dos ramos mais velhos à medida que cresce,
formando longos fustes sem ramificações (SEITZ, 1976) (Figura 1C).

8. POTENCIAL PRODUTIVO
8.1 CAPACIDADE PRODUTIVA, ETC.
Pouco se sabe a respeito do desenvolvimento desta espécie em condições de campo,
seja em plantios puros ou mistos (CARVALHO, 2006).
Há uma estimativa de produção de até 30 m3 ha-1 ano-1 determinado aos 7 anos de

Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme


idade para um povoamento de 1.000 plantas por hectare (SEITZ, 1976).

9. OUTRAS INFORMAÇÕES
Piptocarpha angustifolia é uma espécie com elevado potencial de utilização na
restauração de ecossistemas degradados, terrenos erodidos e com baixas condições de
resiliência natural. No Brasil, são inexistentes os plantios com fins comerciais para a espécie,
e a produção de mudas por via seminal para fins ecológicos é escassa devido às limitações
existentes em seu processo de reprodução sexuada (SEITZ, 1976; CARVALHO, 2003).
Entretanto, o pouco conhecimento a respeito da silvicultura de Piptocarpha angustifolia
tem ampliado, ao longo dos anos, a lacuna entre suas funções e potenciais econômicos e
ecológicos e sua real utilização. Além disso, sua utilização com duplo propósito (restauração
de ecossistemas degradados e produção de madeira) torna a espécie ainda mais interessante,
possibilitando a utilização de áreas degradadas para fins produtivos (SEITZ, 1976).

10. REFERÊNCIAS
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Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1977.

393
Plathymenia reticulata Benth
Deborah Guerra Barroso
Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Mestre em
Agronomia pela UFLA e doutora pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF). Atualmente é professora Associada na área de Silvicultura e Sistemas
Agroflorestais da UENF.

Giovanna Campos Mamede Weiss de Carvalho


Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), Mestre em Produção Vegetal pela UENF, e atualmente é doutoranda em
Produção Vegetal pela UENF, área de Silvicultura.

David Pessanha Siqueira


Engenheiro Agrônomo, graduação pela Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro (UENF) e mestrado em Produção Vegetal pela UENF, doutorando em
Produção Vegetal pela UENF.

A espécie Plathymenia reticulata Benth é uma angiosperma da família Fabaceae


Silvicultura Tropical

Lindl, popularmente conhecida como vinhático, vinhático-do-campo, amarelinho, candeia,


pau-de-candeia, vinhático-testa-de-boi. Segundo Carvalho (2009) tem como sinonímias:
Plathymenia foliolosa Benth. (1841); Pirottantha modesta Spegazzini (1916); Plathymenia
modesta (Speg.) Burkart (1939).
Trata-se de um gênero neotropical, nativo da América do Sul, encontrado na Bolívia,
Norte do Paraguay, Suriname (Warwick e Lewis 2003), Argentina, com ampla distribuição
geográfica. No Brasil tem ocorrência registrada nos estados do Pará (Norte); Bahia, Ceará,
Maranhão e Piauí (Nordeste); Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso
(Centro-oeste); Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo (Sudeste); e Paraná
(Sul).
A porção centro-norte do estado de Minas Gerais é considerada por Novaes (2009)
um centro de diversidade genética e, provavelmente, a mais antiga área de ocorrência
da espécie, sendo prioritário para a conservação da mesma. Enquanto as populações do
nordeste do Brasil e do sul do Cerrado apresentam diversidade muito baixa.
As primeiras exsicatas, coletadas em Minas Gerais, datam de 1838 e se encontram
no Muséum National D´histoire naturelle, Paris (Figura 1). Em 1842, George Bentham
foi o primeiro a descrever o gênero Plathymenia, no qual incluiu duas espécies, P.
reticulata e P. foliolosa. Warming, em 1908, observou o caráter vicariante das mesmas,
afirmando ser P. reticulata árvore campestre, dos cerradões e cerrados e P. foliolosa árvore

394
de ambientes florestais (Marinis,
1966). A diferenciação baseava-se no
habitat, altura da copa, características
das folhas, inflorescências (Heringer
1956). Entretanto, Warwick e Lewis
(2003), analisando exsicatas de
grande abrangência geográfica,
sem observar correlação entre
variações morfológicas e distribuição
geográfica, nem características

Plathymenia reticulata Benth


que diferenciassem as espécies,
propuseram a sinonimização das
mesmas, admitindo somente a
espécie P. reticulata.
A alta diversidade
ecofisiológica do vinhático permite
sua ocorrência em uma ampla
faixa geográfica, do Cerrado à Mata
Atlântica. Nos ecótonos ocorrem
populações com comportamento Figura 1: Exsicata de Plathymenia reticulata
Benth., depositada no Muséum National
intermediário em diferentes D’histoire Naturelle, Paris. (https://science.
características, indicando a mnhn.fr/institution/mnhn/collection/p/item/
p02930548)
participação de genes das populações
de floresta e cerrado (Lemos Filho et
al. 2008).

1. BOTÂNICA
O vinhático possui porte arbóreo, com estatura média à grande, de comportamento
decíduo, podendo atingir até 30 m de altura e 70 cm de diâmetro na idade adulta (Carvalho
2009). Sua copa é aberta, irregular, com ramos longos, cilíndricos e pouco difusos (Figura 2).
Seu tronco, na fase jovem, apresenta grande número de lenticelas (Figura  3). Ao
amadurecer, a casca se torna quebradiça e, na fase adulta, apresenta espessura de 11,1 ± 2 mm,

395
em ecótipos de Mata, e 8 ± 1,65 mm,
em ecótipos de Cerrado (Toledo et al.
2012). O ritidoma suberoso, de cinza
a pardacento e opaco, é estratificado
e apresenta fissuras longitudinais
profundas, que se fragmentam
em pequenas escamas lenhosas
e quebradiças, que se soltam, de
forma variável (Figura 4). Abaixo do
ritidoma a casca apresenta coloração
marrom avermelhada a vinho e,
quando ferida, produz rapidamente
resina (Figura 5). Esta coloração da
casca resultou em seu nome popular
Silvicultura Tropical

“vinhático” (Silva 2005).

Figura 2: Plathymenia reticulata Benth, aos 17 anos após o


plantio na Floresta Estadual José Zago, Trajano de Moraes, RJ.
Foto:Deborah Guerra Barroso.

A b

Figura 3: Plathymenia reticulata Benth. na fase jovem, em Figura 4: Tronco de indivíduo adulto de
detalhe o caule com lenticelas. Fotos: Deborah G. Barroso Plathymenia reticulata Benth. Foto: Deborah
G. Barroso

396
Figura 5: Casca
de Plathymenia
reticulata Benth
abaixo do ritidoma
(A) e com exsudação
de resina após o
ferimento (B). Fotos:
David Pessanha a b
Siqueira

As folhas são compostas e biparipinadas, apresentam filotaxia alterna e espiralada. As


pinas são opostas e folíolos oblongos, alternos ou opostos, emarginados, glabros. Apresentam

Plathymenia reticulata Benth


estrutura secretora externa na ráquis, no encontro entre as pinas. Ocorre queda de folhas na
estação seca, que se inicia mais cedo em populações de cerrado do que nas populações de mata,
onde o período seco é menos severo (Goulart et al. 2005).
A espécie é predominantemente alógama. Suas flores são hermafroditas numerosas,
brancas, medindo de 5 mm a 7 mm de comprimento, segundo Carvalho (2009), e dispostas em
inflorescência. A inflorescência, em espiga, é longa, com botões fusiformes, subsésseis. Quando
abertas, as flores apresentam cinco pétalas brancas e diminutas, estames numerosos, com filete
branco e longo e anteras brancas (Figura 6).

a b

Figura 6: Distribuição das inflorescências nos ramos (A) e detalhes da distribuição das flores na inflorescência
em forma de espiga (B) de Plathymenia reticulata Benth. Fotos: https://rubens-plantasdobrasil.blogspot.com/

397
O fruto é um criptolomento (Barroso et al. 1999), crasso, seco, achatado, liso e deiscente,
de coloração castanha-avermelhada e margens sinuosas (Figura 7A).
As sementes encontram-se em posição transversal ao fruto e se destacam revestidas
pelo endocarpo subcoriáceo, de tonalidade palha (Figura 7B). Apresentam formato obovoide,
com 0,7 a 1,0 cm de comprimento, tegumento rígido, glabro, de coloração castanha, com
pleurograma contínuo em ambas as faces, de coloração mais clara que o tegumento (Figura 7A).
Segundo Fonseca et al. (2013), um quilo contem, em média, 27.140 sementes. A germinação
das sementes é epígea (Figura 8)

Figura 7:
Aspectos da
vagem com
sementes
envoltas pelo
Silvicultura Tropical

endocarpo (A) e
da vagem com
as sementes
beneficiadas
de Plathymenia
reticulata Benth
(B). Fotos:
David Pessanha
a b Siqueira

Figura 8:
Plântulas de
Plathymenia
reticulata
Benth em teste
de emergência
(A) e em teste
de germinação
sob condições
controladas
(B). Fotos:
Priscila G. F. de
Sousa
a b

398
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS NÃO
MADEIREIROS
2.1 MADEIRA

A espécie é considerada de grande interesse madeireiro, causa principal de sua exploração


desordenada, sendo importante o estudo de técnicas silviculturais que viabilizem seu plantio
comercial.

Figura 9: Táboa
de Plathymenia
reticulata Benth.

Plathymenia reticulata Benth


Sua madeira é leve e resistente ao ataque de insetos xilófagos. O cerne e o alburno se
distinguem pela coloração. O cerne é amarelado ou castanho amarelado, com veios dourados
Figura 9, enquanto o alburno é amarelo esbranquiçado. A madeira é de fácil torneamento e
bom acabamento em plaina e lixa.
Segundo Toledo (2012), a densidade da madeira é determinante na separação dos
ecótipos de Mata e Cerrado. Os indivíduos que ocorrem em Mata apresentam menor densidade
da madeira e maior conteúdo de água na saturação, quando comparados aos de Cerrado, com
densidade de 0,65 ± 0,05 g cm-3 e 0,74 ± 0,06 g cm-3, para Mata e Cerrado, respectivamente. A
diferença também aparece na espessura do alburno, com média de 25 ± 6,7 mm nos indivíduos
localizados na Mata e 15 ± 2,3 mm nos do Cerrado. Valores semelhantes de densidade também
foram observados por Longui et al. (2012), em árvores provenientes de plantio puro (3x2 m),
na Floresta Estadual de Assis (SP), com variações longitudinais radiais
Por suas características, seu uso madeireiro se adequa à movelaria e acabamentos
em construção civil, como esquadrias, forros e pisos. Por ser leve e resistente à umidade, sua
madeira é utilizada na construção de pequenas embarcações, o que se observa no interior do
Espírito Santo e do Rio de Janeiro. É considerada boa para confecção de peças curvadas e corpo
de instrumentos musicais, como guitarra.
Apesar de seu uso frequente em marcenaria, o pó da madeira de vinhático foi associado
a melasmas (Pires et al. 1999), o que deve ser um alerta para cuidados especiais no manuseio
constante da mesma em condições de serraria.

399
Por sua resistência à umidade é também utilizada na fabricação de toneis destinados ao
envelhecimento de cachaça. Entretanto, segundo Faria et al. (2003), apesar da transferência de
compostos fenólicos, similar à madeira do carvalho, a cachaça apresenta coloração mais escura e
baixa aceitação pelo consumidor, em comparação ao carvalho e outras espécies nativas avaliadas.
Na avaliação de durabilidade natural de madeiras em contato com o solo, a madeira
vinhático proveniente de cerrado apresentou durabilidade de 12 a 15 anos, enquanto as de mata,
de 15 a 20 anos (Rocha et al. 2000). Warwick e Lewis (2003), em sua revisão afirmam que mourões
de vinhático podem durar mais de 50 anos e que a madeira é muito inflamável.
A casca de P. reticulata também possui forte potencial para fabricação de rolhas, uma vez que a
cortiça da casca apresenta características celulares semelhantes à cortiça de Quercus suber. A extração
de ácidos graxos e terpenos/terpenoides também agrega valor à cortiça da espécie (Mota et al. 2016).

2.2. PRODUTOS NÃO MADEIREIROS


Além do uso da madeira, o vinhático produz compostos químicos, como tanino e flavonoides,
Silvicultura Tropical

com atividade anti-inflamatória, antimicrobiana (Fernandes et al. 2005, Toledo et al. 2011) e depurativa
do sangue (Santos et al. 2006). Há relatos populares, do uso de infusão das folhas para doenças
pulmonares e para de pele, bem como decocção da casca para problemas de varizes e edemas.
O tanino, presente na casca do vinhático, pode também atuar como inibidor natural dos
componentes do veneno de cobra, responsáveis pela indução da inflamação no local da picada,
podendo ser utilizado como uma nova estratégia terapêutica, reduzindo sequelas (Farrapo et al.
2011; Moura et al., 2016). Entretanto, o extrato da casca apresenta propriedades mutagênicas,
embora revele potencial anticancerígeno, sendo importante o isolamento dos princípios terapêuticos
(Della Torre et al. 2011). De acordo com Albuquerque et al. (2013), a administração oral do extrato
aquoso de P. reticulata a 0,5 e 1,0 g.kg-1 é segura, com relação à reprodução, parâmetros de fertilidade
ou indução à teratogenicidade.
Um inibidor de tripsina, isolado a partir de sementes de vinhático mostrou atividade
inibitória significativa contra proteases semelhantes à tripsina, presentes nos intestinos larvais de
Anagasta kuehniella (praga de grãos e produtos armazenados de arroz, aveia, centeio, milho e
trigo) e Diatraea saccharalis (broca da cana de açúcar), com potencial para suprimir o crescimento
de larvas (Ramos et al. 2008).
O ferimento de seu tronco resulta em rápida exsudação de resina, entretanto, não há
menção na literatura das características e uso desta resina. Com relação as flores, são abundantes
e muito visitadas por abelhas conferem à espécie o potencial apícola (Campos Filho, 2012).

400
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
O vinhático é uma espécie alógama, cuja polinização é realizada essencialmente por
abelhas e insetos de pequena dimensão (Warwick e Lewis, 2003 e Novais et al. 2010). Em função
de sua importância econômica, e consequente corte seletivo em populações naturais, bem como
da fragmentação antrópica de suas áreas de ocorrência, é importante que se tome cuidado na
colheita de sementes, para que os lotes sejam compostos por um número adequado de matrizes,
que permitam boa diversidade genética dos povoamentos a serem implantados e deem suporte a
futuros programas de melhoramento da espécie para plantios de silvicultura econômica.

3.2 FENOLOGIA (ÉPOCA DE FLORAÇÃO E FRUTIFICAÇÃO)


O comportamento fenológico da espécie varia com a localização e consequente
influência das condições edafoclimáticas. A variação das épocas de floração e frutificação do

Plathymenia reticulata Benth


vinhático, segundo diferentes autores, encontra-se na Tabela 1.

Tabela 1: Época de florescimento e frutificação de Plathymenia reticulata Benth, em populações de


diferentes procedências.
Procedências Meses do ano
UF Município/Bioma J F M A M J J A S O N D
Distrito Federal1 - X X X X
Catalão / Cerrado denso X X
Goiás2
Catalão / Cerrado rupestre X X X X X X X
Maranhão3 Santa Quitéria/ Cerrado X X X X X
Mato Grosso do Sul 1 - X X
Rio Doce (Parque Estadual do Rio
Doce) / Floresta Atlântica X X X
Bom Jesus do Amparo / Floresta
Minas Gerais4 Atlântica X X X X X
Paraopeba / Cerrado X X X
Felixlândia / Cerrado X X X X X
Rio de Janeiro 1 - X X X X
Silva Jardim e Casimiro de Abreu
Rio de Janeiro5 (Reserva Biológica Poço das X X
Antas) / Mata Atlântica
São Paulo1 - X X
Ilha Solteira e Mogi Guaçu /
São Paulo6 Cerrado X X X
1
Carvalho (2008); Martins e Moreno (2018); Bulhão e Figueiredo (2002); Goulart et al. (2005); 5Pereira et al. (2008); 6Lima
2 3 4

(1990). : Florescimento e X: Frutificação.

401
Embora descrita como espécie de produção anual por alguns autores, segundo Pessanha
et al. (2018) e relatos de alguns produtores de sementes e mudas, a espécie tem apresentado
comportamento de produção de sementes supra anual no estado do Rio de Janeiro. A espécie
apresenta assincronia fenológica entre os indivíduos (Goulart et al. 2005 e Lemos Filho et al., 2008).

3.3 MANEJO DE SEMENTES E COLHEITA


Por apresentar dispersão anemocórica de frutos e sementes, a colheita deve ser feita na
copa, com escalada, em especial quando se pretende realizar plantios nos quais seja importante a
identificação das matrizes. É importante que os lotes destinados à recuperação ou restauração de
áreas degradadas sejam compostos por sementes de diferentes matrizes, com distância mínima de
100 metros entre si.
Os frutos devem ser colhidos após escurecimento e início das primeiras fendas, antes de
sua abertura. As vagens devem ser secas a sombra até completarem sua abertura. As sementes,
que são ortodoxas, devem ser retiradas do interior do revestimento formado pelo endocarpo, para
Silvicultura Tropical

posterior semeadura ou armazenamento.


Para controle de fungos em sementes de vinhático, antes de testes laboratoriais, Rios et al.
(2015) recomendam lavagem em água destilada, posterior imersão em etanol (70% - v/v), por um
minuto, e em seguida em água sanitária (2,0 – 2,5% de cloro ativo), suplementada com fungicida do
grupo benzimidazol por 30 minutos (200mL de Derosal® em 1000mL de solução). Após o tratamento as
sementes devem ser lavadas cinco vezes em água destilada.
Sousa et al. (2016) aplicaram revestimento em sementes de Plathymenia reticulata com
adição de fungicida, observando manutenção da qualidade das sementes, entretanto, ao adicionarem
fertilizantes ao revestimento, houve redução do percentual e da velocidade de germinação.

3.4 ARMAZENAMENTO
Não há informações na literatura sobre condições de armazenamento ideias para
sementes de vinhático, entretanto, o armazenamento em condições de temperatura e umidade
não controladas, de sementes acondicionadas em saco de papel permeável resultou em queda
acentuada no poder germinativo das sementes no período de um ano (Braga et al., 2007). Isso
indica a importância da determinação de embalagens e demais condições de armazenamento,
que permitam aumentar o período de conservação das sementes, em especial, considerando as
dificuldades de acesso às matrizes e procedimentos para colheita.

402
A predação é muito comum em ambientes naturais. Suas vagens e sementes são atacadas
por brocas de Eburodacrys sexmaculata, Cerambycidae e larvas de Pelecopselaphus blanda,
Buprestidae (Lima 1955). Lopes et al. (2010) também relataram predação de sementes por
coleópteros da Família Bruchinae. Esse tipo de praga pode comprometer o armazenamento das
sementes e a qualidade do lote, causando danos no embrião e proliferação de microrganismos.
Embora não sejam prescritos controles específicos para essas pragas em sementes de vinhático,
práticas como o expurgo com Fosfato de Alumínio, uso de embalagens herméticas (Freitas et al.
2016) ou exposição das sementes a temperaturas baixas (freezer comum por 48 horas), podem
contribuir no controle das larvas e ovos das brocas, sendo importante o estudo das mesmas sobre
a qualidade das sementes desta espécie.

3.5 QUEBRA DE DORMÊNCIA


A espécie apresenta variação de dormência tegumentar entre e dentro de populações, em

Plathymenia reticulata Benth


função da interação de fatores genéticos e ambientais (Lacerda et al. 2004). Os autores observaram
em sementes de duas populações, que a escarificação mecânica acelerou a germinação e resultou
em aumento de 43 a 110% em relação à testemunha, procedimento também indicado por Braga
et al. (2007), em lotes colhidos em Montes Claros, MG e por Borges et al. (2019), em sementes
colhidas em matrizes na região sudeste de Goiás. Também Siqueira (2018) observou dormência
em lote coletado em Santa Maria Madalena-RJ, indicando que a imersão das sementes em água a
80º C e retirada após o resfriamento favoreceu a germinação uniforme das sementes. Entretanto,
outros autores não observaram dormência em lotes de sementes em Minas Gerais e Bahia (Lopes
et al. 2010 e Fonseca et al. 2013).

4.    PRODUÇÃO DE MUDAS
Até o momento, a produção comercial de mudas de vinhático é feita essencialmente por
sementes e a oferta das mudas depende do acesso a matrizes em fragmentos naturais ou plantios.
As mudas podem ser produzias em sacos plásticos ou tubetes de, no mínimo, 180 cm3 (Figura 10).
A semeadura pode ser feita em substrato comercial, ou diferentes misturas, sendo
importante a garantia de boa drenagem, favorecendo o crescimento da muda e a nodulação da
espécie. Misturas de até 20% de lodo de esgoto com substrato comercial ou com fibra de coco são
adequadas para a produção de mudas de vinhático em tubetes, sem prejuízos na nodulação da
espécie e com boa consistência de torrão (Siqueira et al. 2019).

403
Figura 10: Mudas de
Plathymenia reticulata
Benth, em tubetes de 280
cm-3, aos 90 dias após a
semeadura.

Conforme o substrato utilizado é necessária a complementação nutricional, por meio de


adubação de base e de cobertura.
Alguns trabalhos indicam a utilização de adubos formulados, de liberação lenta, no substrato
comercial à base de casca de pinus, sem a necessidade de complementação durante o ciclo no viveiro
Silvicultura Tropical

(Pereira et al. 2016 e Siqueira et al. 2019), entretanto, deve-se considerar as características químicas
do substrato utilizado. Freitas et al. (2017) recomendam 300 mg dm-3 of P para a produção de mudas
de vinhático, em solo como substrato, sem a necessidade de calagem.
O vinhático apresenta boa nodulação natural de bactérias diazotróficas (Figura 11), podendo
ser observada a presença de nódulos ativos em mudas aos 60 dias após a semeadura. Esta característica
pode reduzir a necessidade de adubação nitrogenada, embora sejam necessários estudos que avaliem
a eficiência desta simbiose na fixação de N.

Figura 11. Nodulação em


sistema radicular de mudas
b
de Planthymenia reticulata
Benth, aos 60 (A) e aos 120
dias após a semeadura (B) e
detalhe da coloração rósea
a c no interior do nódulo (C).

404
Em função do potencial da espécie para plantios de silvicultura econômica, e dos
ganhos que podem ser obtidos pelo resgate vegetativo de matrizes adultas, pesquisas têm sido
conduzidas para viabilizar a propagação vegetativa do vinhático.
O resgate poderá ainda permitir a implantação de unidades de produção de sementes,
com garantia de máxima variabilidade de indivíduos com características desejáveis. Entretanto,
as informações referentes à propagação vegetativa da espécie limitam-se à multiplicação a partir
de materiais juvenis.
O vinhático apresenta boa brotação de minicepas produzidas a partir de sementes,
com aumento da produtividade ao longo das coletas sucessivas. A condução de minicepas sem
restrição do sistema radicular resulta em maior produção de miniestacas por minicepas (Carvalho
2020). Esta capacidade de brotação indica potencial para a propagação por miniestaquia a
partir de material juvenil (Figura 12). Entretanto, Neubert et al. (2017), Pessanha et al. (2018) e
Rodrigues (2018) observaram baixo percentual de enraizamento das minicestacas produzidas

Plathymenia reticulata Benth


da espécie, enquanto Carvalho (2020), apesar de indicar baixo percentual de enraizamento das
miniestacas na expedição da câmara de nebulização, obteve índice de produção de mudas de
50%, aos 120 dias após o estaqueamento.

Figura 12: Coleta de


brotações em minicepas
de Plathymenia
reticulata Benth.
conduzidas em tubetes
(A) e em canaletões
(B), em casa de
vegetação, na Unidade
de Apoio à Pesquisa da
Universidade Estadual
do Norte Fluminense a b
Darcy Ribeiro.

A aplicação de diferentes concentrações de auxina exógena na base das estacas não


estimulou o enraizamento (Neubert 2014 e Pessanha et al. 2018), bem como o manejo de luz
e nitrogênio nas minicepas. Entretanto, mesmo com pequeno percentual de mudas enraizadas,
Pessanha et al. (2018) obtiveram mudas de boa qualidade, como observado na Figura 13B.

405
a b

Figura 13: Miniestacas de Plathymenia reticulata Benth em câmara de nebulização (A) e mudas produzidas,
aos 100 dias após o estaqueamento (B). Fotos: Deborah G. Barroso

Pessanha et al. (2018) também realizaram análise anatômica da base das miniestacas
e não observaram barreiras que justificassem o baixo percentual de enraizamento. Outros
trabalhos tem sido realizados no Setor de Silvicultura do Laboratório de Fitotecnia da UENF,
Silvicultura Tropical

com foco no aumento do enraizamento da espécie.


Na multiplicação in vitro, embora segmentos cotiledonares tenham sido indicados para
emissão de gemas axilares, esta proliferação é reduzida com o aumento do número de subcultivos
(Moura et al. 2012). Os autores também não obtiveram alongamento das brotações em diferentes
combinações de ANA e BAP e concentrações de GA3, adicionadas ao meio de cultura.

Figura 14:
Germinação de
sementes de
Plathymenia reticulata
Benth in vitro, com
posterior repicagem
de segmentos de
segmentos nodais
a b
(A); plântula, aos 30
dias após a repicagem
(B); transferência para
enraizamento ex vitro
(C); transferência de
plântulas enraizadas
para câmara de
nebulização (D).
c d Fotos: Sara Edy G.
Lima Pessanha

406
Alguns trabalhos vêm sendo conduzidos no Laboratório de Biologia Celular e Tecidual da UENF,
a partir da germinação de sementes in vitro (Figura 14). Além do baixo percentual de enraizamento de
microestacas produzidas por seccionamento de brotações obtidas in vitro, o protocolo de aclimatização
ainda não é definido, havendo muitas perdas entre o laboratório e a casa de vegetação.

a b c

Plathymenia reticulata Benth


Figura 15: Brotações aos 20 dias após a coleta de galhos do terço inferior da copa (A) e aos 90 dias após o
anelamento (B) e o corte (C) de matrizes de Plathymenia reticulata Benth, aos oito anos após o plantio.
Fotos: Giovanna C. M. W de Carvalho

A tentativa de multiplicar as brotações obtidas por meio de enxertia também foi realizada
por Carvalho (2020), mas sem sucesso no pegamento a partir das técnicas de borbulhia e
minigarfagem (Figura 16) em porta enxertos com dois anos de idade. Entretanto, a minigarfagem
apesentou-se viável em testes preliminares e novos experimentos encontram-se em andamento,
com variação da idade do porta enxerto e do manejo pós enxertia.

a b c d

Figura 16: Mudas de Plathymenia reticulata Benth enxertadas por borbulhia (A e B) e por minigarfagem (C e D),
com propágulos obtidos pelo resgate vegetativo de matrizes adultas. Fotos: Giovanna C. M. W de Carvalho

407
5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO

Considerando a variação fenotípica observada em diferentes populações naturais e
plantios (Figura 17), bem como a diversidade genética elevada, observada por Lemos Filho et
al. (2008) e por Souza et al. (2017), mesmo em populações sob corte seletivo em ambiente
fragmentado, a espécies apresenta forte potencial para o melhoramento genético, o que poderá
ter como foco seu uso madeireiro e medicinal.

Figura 17: Plantio


Silvicultura Tropical

de Plathymenia
reticulata Benth.,
em Santa Maria
Madalena, RJ
(Fazenda Rochela),
aos 6 anos. Fotos:
a B Deborah G. Barroso

A literatura apresenta evidências de características adaptativas em populações de P.


reticulata, relacionadas ao seu habitat de origem e diferenças genéticas entre populações de
cerrado e floresta (Lemos Filho et al. 2008)
Sua baixa demanda nutricional e boa adaptação a sítios adversos, destacam a importância
desta espécie frente às mudanças climáticas em curso. Segundo Carvalho (2008), a precipitação
pluvial média anual dos locais de ocorrência varia de 316 a 2.500 mm, com ampla faixa de
temperatura e ocorrência de geadas.
Apesar da importância econômica da espécie, ainda não existem variedades melhoradas,
dando claro indicativo de que todo o potencial de variabilidade genética continua inexplorado.
Muito se pode fazer em termos de seleção, de formação de populações superiores, ou até
mesmo a exploração de hibridações para fins de desenvolvimento de híbridos ou de segregantes
superiores.

408
6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS
6.1 SISTEMA DE PLANTIO
O vinhático pode ser utilizado em plantios puros ou consorciados, incluindo sistemas
agroflorestais, para os quais é indicado, especialmente pelo sombreamento moderado de sua copa
e por sua capacidade de fixar nitrogênio. Na maioria dos plantios adota-se o cultivo mínimo.
Foi uma das três espécies de maior interesse dos produtores no manejo de sombreamento
de cacau em sistema de cabruca, no levantamento realizado em 14 municípios localizados
no Sudeste da Bahia (Piasentin et al. 2014). Esta escolha foi atribuída tanto à qualidade da
madeira para o setor moveleiro e construção civil, quanto pela altura das árvores e qualidade
de sombreamento, resultante do grande porte, copa alta, ampla e pouco densa.
Além da copa naturalmente pouco densa, a espécie apresenta queda total das folhas
na época seca do ano (entre julho e outubro), com abertura da copa de quase 50% em plantio
espaçado 3 x 3 m aos 27 anos de idade em Santa Maria Madalena, RJ (Siqueira et al. np). A

Plathymenia reticulata Benth


entrada de luz na época de menores temperaturas pode favorecer espécies consorciadas sob a
copa das árvores.
Entretanto, é importante conhecer o padrão das espécies consorciadas, para ajuste adequado
do espaçamento, garantindo interações positivas entre os componentes do sistema. Em plantio
de vinhático em faixas de 6 x 4 m, consorciado com café (3 x 0,7 m), na Zona da Mata em Minas
Gerais, só foi possível o aproveitamento de quatro colheitas de café, em função do sombreamento
(Matiello et al. 2009), sendo indicados estudos para ajuste da densidade de árvores.
Informações de produtores apontam a espécie como boa opção para sistema silvipastoril,
uma vez que, além das características descritas, não é forrageada por bovinos, caprinos, ovinos
e equinos. Plantio de vinhático em Santa Maria Madalena, RJ, na forma de talhão puro em
pastagem, tem sido conduzido a partir de dois anos após o plantio, com criação de ovinos da
raça Dorper, White Dorper e mestiço Santa Inês com Dorper, além da presença de equinos e
bovinos de corte1.
O vinhático é indicado também para plantios mistos em recuperação de áreas degradadas
(Silva 2007 e Cortes 2012). Está entre as espécies que contribuem rapidamente para o incremento
de N e C ao solo de plantio (Montagnini 2001) e apresenta elevada eficiência de uso de nutrientes,
quando comparada a outras espécies tropicais (Montagnini e Jordan 2002).

1 Informação pessoal de Rene Rene Domingos de Abreu Monnerat (EMATER)

409
6.2. ESPAÇAMENTO
São incipientes as informações sobre o espaçamento adequado de plantio para produção
madeireira. Teste de espaçamento, conduzido em Linhares, ES (Figura 18), tem demonstrado que
a espécie apresenta menor percentual de bifurcação em plantios mais adensados, entretanto,
há redução do incremento diamétrico (Barroso et al., np), indicando que a espécie necessita de
manejo adequado de poda e desbaste, conforme espaçamento adotado.
É importante levar em consideração o diâmetro da copa, observando que plantios muito
adensados podem levar à redução da atividade fotossintética, pela menor incidência de luz na
copa, prejudicando o potencial produtivo da espécie.
Silvicultura Tropical

Figura 18:
Plathymenia reticulata
Benth, 4,5 anos após o
plantio, em diferentes
espaçamentos, no
município de Linhares,
ES – Projeto Biomas
Foto: Deborah G.
Barroso

6.3 ADUBAÇÃO
A prática de adubação de plantio deve ser baseada na análise prévia do solo. A exigência
nutricional apresenta variações inter e intraespecíficas. A capacidade de absorção, translocação,
acúmulo e uso dos nutrientes variam entre espécies, procedências, progênies, e mesmo entre
clones de uma mesma espécie, o que influencia o crescimento e produtividade das culturas.
Duboc e Guerrini (2006) observaram que a espécie foi responsiva à aplicação de fósforo
e nitrogênio em áreas de cerrado denso e matas de galeria, com aumento do crescimento
inicial no campo em diâmetro. Entretanto, em Sooretama-ES, Carreço (2017) não observou
resposta da espécie no campo, sob diferentes doses de P (base), N e K (parcelados – base e
cobertura), indicando que o vinhático é uma planta pouco exigente, o que enfatiza seu potencial
na recuperação de áreas degradadas (Montagnini e Jordan 2002; Melo et al. 2004), tolerando
inclusive áreas sujeitas à geada.

410
O vinhático associa-se com bactérias do gênero Rhyzobium, realizando a fixação biológica
do nitrogênio, sendo observada por Souza (2010) nodulação abundante para esta espécie na
Região Amazônica.
Por haver poucos estudos sobre a demanda nutricional da espécie, alguns produtores
adotam doses recomendadas para outras espécies florestais, o que reforça a necessidade de
pesquisas na área.

6.4 PREPARO DO SOLO E PLANTIO


A espécie é reportada em solos pobres e férteis, entretanto, segundo Cavalho (2008), não
tolera encharcamento. Plantios em áreas com muitas gramíneas devem ser precedidos de capina
química ou mecânica.
Sob sistema de cultivo mínimo, as mudas devem ser plantadas em covas com no mínimo 40
cm de diâmetro e profundidade, quando não houver sulcamento ou subsolagem prévia da área.

Plathymenia reticulata Benth


A utilização de polímero hidro retentor na cova de plantio é importante, especialmente em
solos arenosos, permitindo maior intervalo entre turnos de rega após o plantio.

6.5 RECOMENDAÇÕES E TRATOS CULTURAIS


Não há relatos sobre a intensidade de ataque de formigas em plantios de vinhático, mas,
de forma geral, recomenda-se o controle de formigas cortadeiras, antes e depois dos plantios
florestais. Entretanto, segundo produtores, não foram observados ataques de formigas à espécie
depois do plantio, em Santa Maria Madalena2 e em Itaocara, onde talhões próximos, plantados
com Khaya ivorensis, sofrem ataques frequentes3.
Embora tenham crescimento rápido, após o plantio, a área deve ser mantida roçada e as
mudas devem ser coroadas, para que não sejam abafadas por gramíneas, até seu estabelecimento.
Técnicas alternativas ao coroamento, como cobertura com papelão tratado ao redor da muda,
têm demonstrado resultados positivos na redução da mato-competição, reduzindo o número
de capinas, bem como da exposição de raízes. Esta técnica resulta ainda em menor variação
de temperatura e manutenção da umidade na região onde se encontra o sistema radicular da
planta, podendo contribuir para o crescimento inicial mais acelerado das mudas após o plantio,
como observado por Martins et al. (2004)

2 Informação pessoal de Rene Domingos de Abreu Monnerat (EMATER)

3 Rommel Monnerat Erthal (Eng. Agrônomo)

411
Plantios de vinhático sem manejo costumam apresentar alto percentual de plantas bifurcadas,
com crescimento dos fustes reto e vertical (Figura 19). Embora não existam dados de pesquisa sobre o
manejo de podas na espécie, o comportamento observado tem levado alguns produtores a realizarem
podas mediante as primeiras ramificações observadas2. Entretanto, em povoamentos adensados no
município de Linhares, observa-se forte desrama natural. Essas informações indicam a importância de
estudos que determinem o protocolo deste manejo para a espécie, como o momento das primeiras
intervenções e o percentual de redução da copa, que não afetem o crescimento das plantas e,
consequentemente, a produção de madeira.
O conhecimento sobre o efeito do espaçamento e desbastes sobre o crescimento e produção
da espécie, poderá indicar o melhor manejo para obtenção de diferentes produtos madeireiros.

Figura 19: Aspectos


Silvicultura Tropical

da bifurcação de
fustes de Plathymenia
reticulata Benth., aos
17 anos após o plantio
na Floresta Estadual
José Zago, em Trajano
de Moraes, RJ (A), e
aos 4,5 anos após o
plantio, no município
de Linhares, ES (B).
Foto A: Marília G. O. S.
a B Souza; Foto B: Deborah
G. Barroso

7. POTENCIAL PRODUTIVO
Não há histórico de plantios comerciais extensos descritos para a espécie, sua exploração
ainda se dá em áreas naturais, sob manejo de cortes seletivos e em pequenos talhões puros ou
mistos. Entretanto, alguns plantios pequenos têm demonstrado que a espécie é promissora para a
sivicultura econômica em diferentes condições edafoclimáticas. Segundo Durigan et al. (1999), a
exploração da espécie em plantios puros pode ter início a partir de 10 anos, colhendo-se indivíduos
com diâmetro superior a 13 cm.
Povoamento de vinhático aos 21 anos em Trajano de Moraes, plantado em talhão puro (3 x 3
m), em área com pastagem degradada e sem manejo silvicultural, apresentou DAP variando de 14,8
a 39,5 cm (Barroso et al., 2018) e dois fustes em grande parte dos indivíduos. Avaliando o mesmo

412
plantio aos 27 anos, Siqueira et al. np observaram DAP médio de 25.36 cm, o que evidencia que a
espécie continua apresentando incremento diamétrico mesmo com espaçamento reduzido.
Já em consórcio com café (adubado até o quarto ano), com espaçamento 6 x 4 m, em Martins
Soares – MG, aos sete anos as árvores apresentaram diâmetro médio de 30,8 cm (Martiello, 2009).
Em plantio misto, em Poço das Antas, Silva Jardim-RJ, aos 3 anos após o plantio (2 x 2 m), as árvores
apresentavam em média 6,78 m de altura e 11,2 cm de diâmetro à altura do solo.
Em Itaocara, plantas com dois anos encontram-se, em média, com 2,75 m de altura e 7,2 cm
de diâmetro ao nível do solo (Erthal, R.M. et al. np). Este povoamento foi plantado no espaçamento
6x6m, pelo interesse do produtor em conduzir a área sob sistema silvipastoril.
Para a produção de toras de madeira com 80cm de diâmetro, o ciclo pode variar de 60 a
80 anos (Carvalho 2008). Entretanto, dimensões menores, em plantios homogêneos podem ser
economicamente vantajosas e reduzir a pressão antrópica sobre a população nativa.

Plathymenia reticulata Benth


8. OUTRAS INFORMAÇÕES
Foi observada presença urbana de Cryptococcus gattii associadas à decomposição nas cavidades
das árvores jovens de P. reticulata, com boas condições e sem furos nos troncos, localizadas em vias
públicas, no município de Cuiabá (Anzai et al. 2014). Esta levedura pode causar infecção sistêmica
em humanos, sendo adquirida por inalação de esporos viáveis. Manifesta-se, principalmente, nos
pulmões e sistema nervoso central.
Apesar de sua ampla diversidade e evidências adaptativas, Bouchardet et al. (2015) observaram
que as sementes de vinhático não são tolerantes às frequentes queimadas que ocorrem no Cerrado,
com expressiva redução da germinação e, consequentemente, do recrutamento de novos indivíduos.
Os autores acreditam que apenas os frutos localizados nos ramos mais altos de indivíduos adultos não
sejam afetados. Este impacto sobre o ciclo reprodutivo da espécie reforça a necessidade de ações voltadas
para sua conservação in sito e ex situ, bem como para os cuidados do manejo do fogo nessas áreas.

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419
Psychotria nuda (Cham. & Schtldl.) Wawra.
BÁRBARA GUERREIRA ALPANDE FERREIRA;
Engenheira Florestal. Possui graduação em Engenharia Florestal, mestrado em Agronomia
(Produção Vegetal), e doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR) - Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Biológicas e doutorado em
Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e pós-
doutorado em Fisiologia Vegetal pela Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular
do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde coordena o
Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA: Mata Atlântica
Silvicultura Tropical

1.2 NOME COMUM: Cravo-negro, araçá-de-macaco, café-do-mato, flor-de-cera, pimenteira,


sonhos-de-ouro, grandiuva-d´anta, casca-d´anta, pasto-de-anta e pau-de-anta (DELPRETE et al., 2005).

1.3 NOME CIENTÍFICO: Psychotria nuda (Cham. & Schtldl.) Wawra.

1.4 FAMÍLIA: Rubiaceae

1.5 PORTE: P. nuda é uma espécie distílica representada por arbustos ou arvoretas, com
altura variando de 4 a 6m e diâmetro a 1,30 m (DAP) de 5 a 13 cm (dados aproximados retirados de IZA,
2002; FERREIRA, 2013; VIBRANS et al., 2013), caracterizada por apresentar: 1) ramos cilíndricos ou às
vezes aplainados, glabros com gema apical com tricomas; 2) folhas opostas, com forma lanceolada,
base cuneada e ápice agudo, de consistência sub coriácea e coloração verde escura; lâmina foliar de
4,5 a 12 cm de comprimento por 2,5 a 4,8 cm de largura com face abaxial e adaxial glabras, exceto na
nervura central; pecíolo de 2 a 25 mm e estípulas persistentes, glabras, bilobadas, unidas ao redor do
caule pela bainha (DELPRETE et al., 2005; KLEIN, 2007; TAYLOR, 2007; PAIVA; LOPES, 2013) (Figura 1).

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS
Espécie não madeireira, ou seja, sem aptidão para produção de madeira serrada (PIAZZA
et al., 2017), apresentando somente referência ao uso da madeira como lenha (ZAMBIAZI, 2017).

420
Apesar de não possuir potencial madeireiro, a espécie é importante para manter a sustentabilidade
do ecossistema, devido principalmente ao seu número elevado de indivíduos e floração maciça,
que por sua vez produz abundante quantidade de néctar e frutos para a fauna, constituindo assim,
importante recurso na cadeia alimentar do ecossistema, atraindo diversos visitantes florais e dispersores
de sementes (ALMEIDA; ALVES, 2000; CASTRO; ARAÚJO, 2004; BARBOSA, 2012). Desta forma, é
uma espécie de importante status ecológico nas regiões em que ocorre (CASTRO; ARAÚJO, 2004),
apresentando potencial para recuperação de áreas degradadas. Seu uso como espécie potencial para

Psychotria nuda (Cham. & Schtldl.) Wawra


utilização em sistemas de recuperação é reforçado pela sua presença na regeneração natural de áreas
degradadas que foram isoladas para permitir a recomposição natural da vegetação (MANTOVANELLI,
2009; MIRANDA NETO et al., 2014; MOURA, 2016; SEUBERT et al., 2017; SILVA, 2017).
Somado à importância ecológica, a espécie apresenta características morfológicas com
potencial para utilização ornamental e paisagística, com flores amarelas vistosas de cálice vermelho e
frutos azul escuro, além de porte arbustivo (DELPRETE et al., 2005; PAIVA; LOPES, 2013). É recomendada
para plantio em praças públicas ou mesmo em interiores, uma vez que exige ambientes sombreados
e úmidos (NERY et al., 2014).

2.1 DENSIDADE DA MADEIRA


Não há informações precisas sobre a densidade da madeira da espécie, sendo encontrado
somente que os valores de módulo de elasticidade e densidade da madeira são maiores que os
encontrados para outras espécies típicas de sub-bosque de florestas tropicais (CORRÊA, 2011).
Valores de densidade da madeira para outras espécies de Psychotria são encontrados na literatura,
variando de 0,38 a 0,69 g/cm3 (SANTOS et al., 2008; OLIVEIRA, 2014; SANTOS, 2016).

2.2 PRODUTOS NÃO MADEIREIROS


Investigações fitoquímicas de P. nuda resultaram, até o momento, na identificação e isolamento
dos alcaloides indólicos estrictosamida (alcaloide majoritário) e 5,6-dihodro-β-carbonila (KONRATH
et al., 2002; FARIA et al., 2009; MORAES et al., 2011). Adicionalmente, atividades biológicas foram
identificadas para a espécie, como atividade anti-inflamatória, antibacteriana (MORAES et al., 2011)
e antioxidante (SALGADO, 2011), além de ser considerada antifúngica, antimicrobiana, analgésica,
antimalárica, amebicida e de ação tipo opioíde (LEAL, 1994; ELISABETSKY et al., 1995; CORDELL,
2001; MORENO et al., 2004; FARIAS, 2006; CHOUDHURY et al., 2011). As atividades biológicas deste
gênero geralmente estão relacionadas à composição química alcaloidica (SALGADO, 2011) a qual,
apresenta grande diversidade estrutural em espécies de Psychotria, como alcaloides isoquinolínicos,
indol-monoterpênicos e alcalóides polindólicos (FARIAS, 2006).

421
Adicionado ao potencial farmacêutico, os alcaloides isolados da espécie possuem
importância biogenética e taxonômica por serem úteis como marcadores quimiotaxonômicos,
uma vez que o gênero Psychotria possui complexa taxonomia (BOTH, 2005; FARIA, 2006;
KERBER, 2008). Em trabalho publicado por pesquisadores do National Cancer Institute (CRAGG
et al., 2006), o gênero Psychotria foi apontado como gênero “hot”, referindo-se ao potencial
citotóxico de seus extratos e frações.

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 FENOLOGIA
O ciclo fenológico é anual, exceto para a frutificação, cujo ciclo é contínuo. A floração
é classificada, segundo sua duração, como intermediária, ou seja, categorizada pela presença
de flores de 1 a 5 meses (NEWSTRON et al., 1994). A espécie exibe síndrome de polinização
mista, apresentando ornitofilia, psicofilia e melitofilia. Durante o período de floração, a espécie
Silvicultura Tropical

é visitada principalmente por beija-flores das espécies Thalurania glaucopis (Trochilinae),


Ramphodon naevius (Phaethorninae) e Phaethornis ruber (Phaethorninae) e por insetos das
ordens Hymenoptera (gêneros Euglossa e Trigona) e Lepidoptera (famílias Nymphalidae, e
Hesperidae) (ALMEIDA; ALVES, 2000; CASTRO; ARAÚJO, 2004; ALMEIDA, 2005; TAVARES, 2011).
A síndrome de dispersão é zoocórica (MELO, 2000, ZAÚ, 2010) onde, dentre os consumidores de
frutos, destacam-se Lipaugus lanioides, seguido de Baryphthengus ruficapillus e Saltator similis
(ALMEIDA; ALVES, 2000).
Como em outras espécies da família Rubiaceae, a espécie apresenta distilia associada
ao sistema heteromórfico de auto incompatibilidade, com formas florais longistilas e brevistilas
(CASTRO; ARAÚJO, 2004; ALMEIDA, 2005; DELPRETE et al., 2005; PEREIRA et al., 2006; KLEIN,
2007), onde os grãos de pólen viáveis são significativamente mais numerosos em flores
longistilas do que em brevistilas (ALMEIDA, 2005; KLEIN, 2007)

3.1.1 MORFOLOGIA FLORAL


Apresenta flores com duas formas florais (longistilas e brevistilas), sésseis, simpétalas,
sinsépalas, nectaríferas e de ovário ínfero, reunidas em inflorescências terminais, cimosas sésseis,
não ramificadas, glabras, sésseis com 1 a 6 flores; brácteas verdes, ovaladas ou elípticas; corola
amarela vivo carnosa de forma tubular-infundibuliforme com cinco pétalas fundidas, glabra de
22 a 24 mm de comprimento e de 3 a 4 mm de diâmetro; cálice persistente campanulado até
urceolado de 8 a 15 mm, glabro com consistência coriácea e de coloração rosado ou vermelho;

422
ovário ínfero com estilete claro e estigma bífido; estames epipétalos e antera com deiscência
longitudinal e nectário na forma de disco (DELPRETE et al., 2005; TAYLOR, 2007; PAIVA; LOPES,
2013) (Figura 1).

Psychotria nuda (Cham. & Schtldl.) Wawra


a B

C D

E F

Figura 1: Psychotria nuda: A. Planta matriz adulta. B. Ramo. C. Inflorescência com flor em
antese. D. Infrutescência com fruto maduro e imaturo. E. Detalhes do gineceu e androceu de
flor brevistila a direita e longistila a esquerda. F. Detalhes do fruto maduro e sementes. Fonte:
FERREIRA (2013)

423
3.2 ÉPOCA DE FLORAÇÃO
O período de floração é relatado na literatura em períodos semelhantes, ou seja, no final
da estação chuvosa, porém com pequenas diferenças. Entre março e junho, com pico de floração
em abril e maio (ALMEIDA; ALVES, 2000, ALMEIDA, 2005), entre fevereiro e junho, com pico em
abril (IZA, 2002; CASTRO; ARAÚJO, 2004; DELPRETE et al., 2005) e entre março e julho (TAVARES,
2011). Também sendo relatada pelo menos uma matriz em floração durante todos os meses,
ocorrendo diminuição na porcentagem de matrizes com flor durante os meses mais frios e de
menor pluviosidade (MARTIN-GAJARDO; MORELLATO, 2003).

3.3 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA
O período de frutificação é o evento fenológico com maior duração, ocorrendo ao longo
de todo o ano, havendo maior quantidade de indivíduos nesta fenofase em setembro, e maior
quantidade de frutos maduros entre dezembro e fevereiro, coincidindo com os meses de maior
pluviosidade, temperatura e fotoperíodo (ALMEIDA; ALVES, 2000; CASTRO; ARAÚJO, 2004; ALMEIDA,
Silvicultura Tropical

2005; DELPRETE et al., 2005). Os frutos podem permanecer imaturos por aproximadamente oito
meses (CASTRO; ARAÚJO, 2004; ALMEIDA, 2005).

3.3.1. MORFOLOGIA DOS FRUTOS


Frutos subglobosos de 5-8 por 8 mm de coloração azul escuro quando maduros, com uma
ou duas sementes por fruto e reunidos em infrutescência (DELPRETE et al., 2005; TAYLOR, 2007;
PAIVA; LOPES, 2013) (Figura 1).

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
Atualmente, somente informações sobre a produção de mudas por meio de propagação
vegetativa da espécie estão disponíveis na literatura. Estudos sobre a reprodução sexuada existem
somente para outras espécies do gênero Psychotria.

4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO


4.1.1 PROPAGAÇÃO SEXUADA
Para P. nuda não há informações sobre propagação por sementes. No geral, para o gênero
Psychotria, não é recomendada a produção de mudas por sementes, devido à baixa e demorada
germinação (LAMEIRA, 2002) e perda de viabilidade das sementes após a estocagem (CHATERJEE,
1993). A porcentagem máxima de germinação chega a 66% em temperatura de 25ºC para a

424
espécie Psychotria ipecacuanha (ROSA; FERREIRA, 2001), e o início da germinação, para Psychotria
hoffmannseggiana, ocorre 88 dias após a semeadura (PIETROBOM et al., 2010).

4.1.2 PROPAGAÇÃO ASSEXUADA


Para a propagação assexuada ou vegetativa da espécie recomenda-se a produção de mudas
via estaquia, utilizando-se estacas caulinares semilenhosas confeccionadas com cerca de 8 a 13 cm
de comprimento, com corte em bisel na base e corte reto na porção superior, com a presença de duas
folhas na porção apical das estacas com sua área reduzida à metade. É necessário seguir o seguinte
procedimento: depois de confeccionadas, as estacas devem receber tratamento fitossanitário,
permanecendo submersas em hipoclorito de sódio a 0,5% por 10 minutos (ação bactericida), sendo
lavadas posteriormente em água corrente por 5 minutos e, em seguida, plantadas em tubetes de

Psychotria nuda (Cham. & Schtldl.) Wawra


polipropileno. O substrato utilizado pode ser composto somente de vermiculita de granulometria
média ou mistura com casca de arroz carbonizada, na proporção de 1:1(v/v). As estacas devem ser
mantidas em ambiente com umidade e temperatura controladas, durante aproximadamente 60
dias (ZUFFELLATO-RIBAS; WITT, 2009; FERREIRA et al., 2014; NERY, et al., 2014)
P. nuda é classificada como espécie de fácil enraizamento, pois enraíza sem a necessidade
de tratamentos com reguladores vegetais como, por exemplo, o ácido indol butírico (ZUFFELLATO-
RIBAS; WITT, 2009; NERY et al., 2014). Assim, o custo envolvido na produção de mudas da espécie
é diminuído, pois não há necessidade de tratamentos para favorecer o processo de rizogênese.
Mesmo sendo uma espécie de fácil enraizamento, alguns detalhes devem ser considerados
para que a estaquia apresente bons resultados. Como o processo de enraizamento de estacas está
intimamente relacionado ao comportamento fenológico da espécie, recomenda-se a coleta do
material vegetal para a confecção as estacas, durante a primavera e verão (ZUFFELLATO-RIBAS;
WITT, 2009; FERREIRA et al., 2014; NERY et al., 2014), épocas em que a espécie está em pleno vigor
vegetativo. A estaquia realizada nesses períodos pode chegar a uma porcentagem de enraizamento
de 92%. Caso a estaquia seja realizada em períodos diferentes dos citados, um tempo maior
do que 60 dias se faz necessário para que ocorra o enraizamento. Os valores de porcentagem
de enraizamento podem sofrer alterações devido a diversos fatores que estão relacionados ao
processo, como o genótipo, estado nutricional e local das matrizes fornecedoras de propágulos
para a estaquia (FERREIRA, 2013).
Outro método viável de propagação vegetativa para a produção de mudas da espécie é a
miniestaquia (FERREIRA, 2013). Não há informações sobre outras técnicas de produção de mudas
por propagação vegetativa, até o momento, na literatura.

425

5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
A seleção de materiais genéticos superiores para a espécie é possível, considerando o
processo de enraizamento adventício no processo de propagação vegetativa, uma vez que a
formação e desenvolvimento de raízes adventícias é influenciado pelas características genéticas de
cada planta matriz, fornecedora do material vegetal (FERREIRA, 2013).

6. OUTRAS INFORMAÇÕES
6.1 ANATOMIA
Apresenta folhas hipoestomáticas com estômatos paracíticos. Epiderme abaxial e adaxial
unisseriadas com deposição delgada de cutícula em ambas as faces. O mesofilo é classificado
como dorsiventral com parênquima paliçádico bisseriado ou trisseriado na região adaxial, e
parênquima lacunoso na região abaxial com grandes espaços intercelulares, ambos com células
de parede delgada. Cristais prismáticos estão presentes no córtex da nervura central e na lâmina
Silvicultura Tropical

foliar, além de idioblastos com um cristal estiloide grande e solitário no mesofilo da lâmina
foliar (VIEIRA; GOMES, 1995; FERMINO JUNIOR et al., 2004; MIGUEL et al., 2009; MATTOS,
2011; FERREIRA, 2013; MELO JUNIOR et al., 2017). A região da nervura central apresenta
epiderme adaxial e abaxial unisseriadas, tecido parenquimático envolvendo o feixe vascular,
duas regiões laterais ao feixe de aerênquima com células braciformes e esclereides isolados. O
sistema vascular é classificado como colateral e em forma de “U”, sendo acompanhado por dois
feixes laterais menores, os quais nas regiões mais apicais da folha não estão presentes (VIEIRA
et al., 1992; FERREIRA, 2013) (Figura 2).
O caule (ramos provenientes de árvores adultas) possui epiderme unisseriada com cutícula
espessa; córtex composto de uma primeira região de parênquima, seguido de colênquima angular
e, mais internamente, presença de mais uma região de tecido parenquimático, finalizando na
endoderme, camada mais interna do córtex, a qual, é unisseriada e com presença de estrias de
Caspary. O cilindro central é delimitado externamente por periciclo fibroso descontínuo, apresenta
floema primário, câmbio vascular, floema e xilema secundários contínuos e visíveis (caule em
crescimento secundário inicial). Floema secundário com elementos de tubo crivado e células
companheiras visíveis. Xilema secundário com elementos de vaso isolados ou em grupos
radiais, grande quantidade de fibras e raios discretos, seguido por xilema primário e medula
parenquimática com células isodiamétricas e esclereides isolados ou formando pequenos
grupos (FERREIRA, 2013) (Figura 3).

426
a

Psychotria nuda (Cham. & Schtldl.) Wawra


B C

D E

Figura 2: Secções transversais da região da nervura central e mesofilo foliar e; secções


paradérmicas da epiderme abaxial de folhas de Psychotria nuda coradas com safrablau:
A. Vista geral da nervura central. B. Detalhe do tecido vascular, evidenciando fibras
perivasculares, floema e xilema. C. Região abaxial da nervura central, detalhando o
aerênquima, colênquima e parênquima. D. Detalhe do mesofilo foliar. E. Vista geral
da distribuição dos estômatos paracíticos. ca- colênquima angular; p- parênquima; ae-
aerênquima; fp- fibras perivasculares; Xl- xilema; Fl- floema; Eps- epiderme adaxial;
Pp- parênquima paliçádico; Pl- parênquima lacunoso; Epi- epiderme abaxial; dp- divisão
periclinal; - esclereides. Fonte: FERREIRA (2013)

427
a
Silvicultura Tropical

B C

D E

Figura 3: Secções transversais de caule de Psychotria nuda clarificadas e coradas com


safrablau: A. Vista geral periférica do corte. B. Detalhe evidenciando o tecido vascular.
C. Detalhe da endoderme e estria de Caspary. D. Vista geral interna do corte. E. Detalhe
evidenciando a medula e esclereides isolados e formando pequenos grupos. Ep-
epiderme; pe- parênquima externo; ca- colênquima angular; pi- parênquima interno;
fp- fibras perivasculares; ed- endoderme; Flp- floema primário; Fls- floema secundário;
rf- raios floemáticos; c- câmbio; Xls- xilema secundário; M- medula; - cristais prismáticos;
- esclereídes. Fonte: FERREIRA (2013)

428
As flores são quase totalmente glabras, com presença de tricomas tectores, somente na
base da corola, e cutícula contínua em todos os órgãos florais. Corola com superfície adaxial
exibindo papilas de formato arredondado e estriado, enquanto a superfície abaxial apresenta
forma de polígono sem estrias. Cálice com superfícies abaxial e adaxial sem grandes saliências,
sendo que a epiderme adaxial, ao contrário da abaxial, não possui estômatos. Nectário liso na
forma de disco tipo peristílico sobre o ovário e em torno do estilete, com células possuindo
grandes vacúolos, epiderme unisseriada com estômatos (sem tricomas, papilas e ceras),
diversas camadas de parênquima com pequenos espaços intercelulares e idioblastos contendo
ráfides. Osmóforos localizados na superfície abaxial dos lóbulos da colora de flores em antese,
indicados através da coloração com vermelho neutro, não havendo diferenças anatômicas que
diferenciem essa estrutura. As anteras e os estiletes apresentam uma diversidade de variações

Psychotria nuda (Cham. & Schtldl.) Wawra


anatômicas, com papilas na epiderme em regiões mais próximas ao estômio e ao estigma, e,
quanto mais longe destas estruturas, as superfícies mostram-se mais planas. Os grãos de pólen
são bicelulares com formato esferoide, não apresentando aberturas, sendo sua exina espiculada
(KLEIN, 2007; KLEIN et al., 2007).

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435
Tectona grandis
Rafaela Cristina Ferreira Borges
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Faculdade
de Agronomia e Engenharia Florestal (FAEF), mestrado e doutorado em
fitopatologia pela Universidade de Brasília (UnB).

Maria Alves Ferreira


Engenheira Florestal com mestrado e doutorado em Fitopatologia, com
ênfase em Patologia Florestal. Atualmente é professora e orientadora no
Programa de Pós-graduação em Agronomia/Fitopatologia do Departamento
de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.

1. Aspectos gerais da espécie


Silvicultura Tropical

Teca, nome popular da espécie (Tectona grandis L. f.), é uma espécie


arbórea de grande porte, decídua, diploide (2n=36), pertence à família Lamiaceae,
as populações nativas são encontradas em regiões tropicais e subtropicais do
Sudeste Asiático, em países como Índia, Mianmar, Tailândia, Laos e Indonésia
(Ilha de Java) (Gill et al.; 1983, Kaosa-Ard 1989). Essa espécie possui distribuição
natural descontínua entre 10 e 25°N e entre 0 e 10°S, sendo encontrada de 0 m
a 1300 m de altitude e com exigência de precipitação anual de 800 a 2500 mm
e temperatura ideal entre 2° a 42°(Graudal et al., 1999).
Plantios de teca em escala comercial são relatados desde o século
XVIII, quando os britânicos demandavam grandes volumes de madeira para
embarcações (Angeli et al., 2003). Atualmente, a teca é uma espécie amplamente
cultivada e economicamente muito atraente. Suas áreas comerciais concentram-
se na Ásia, África, América do Sul, América Central e Oceania. Entre os países
produtores, a Índia possui a maior área plantada sendo aproximadamente,
25 vezes maior que a área plantada no Brasil (Kollert et al., 2012), que hoje
apresenta aproximadamente 87.410 ha de área plantada de teca. (Ibá, 2015).
Nas áreas de ocorrência natural, a teca pode atingir entre 25 e 60
metros de altura, 55 cm e 80 cm de diâmetro (Kaosa-Ard 1981; Weaver 1993).

436
2. Tecnologia da madeira e dos produtos
não madeireiros
2.1 Densidade da madeira
A teca possui madeira porosa a semiporosa com anéis de crescimentos nitidamente
distintos demarcados por linhas de parênquima marginal, contendo alburno claro, com coloração
extremamente distinta do cerne, cuja cor é marrom (Weaver, 1993). A durabilidade natural,
estabilidade e resistência à umidade, aos insetos e aos fungos, são associadas a compostos
orgânicos e inorgânicos da madeira: Sílica, Naftotectona e a Antratectona (May, 1997).
A densidade básica média da madeira de teca é de 0,65 g/cm³, porém variações ocorrem
de acordo com o local e a idade. A madeira da teca apresenta uma boa trabalhabilidade,
sendo muito utilizada para confecção de lâminas, pelo setor moveleiro de alto padrão e
construção naval, além da fabricação de compensados (Premrasmi et al., 1967; Miranda
et al., 2011). A qualidade da madeira é determinada pelas suas propriedades físicas e

Tectona grandis
mecânicas, abrangendo aspectos como densidade, dureza, textura e grã, características que
tem sido bastante utilizada na classificação e na avaliação da qualidade (Mori et al., 2005).
Entretanto, características estéticas como cor e desenho são atributos importantes para
classificação do uso da madeira e suas diferentes finalidades e, assim, estabelecer o seu valor
comercial (Janin et al., 2001). A cor natural da madeira pode ser influenciada por fatores
genéticos e ambientais; composição química (principalmente teor e natureza dos extrativos);
estrutura anatômica (anéis de crescimento, vasos, raios e tipo de parênquima axial); posição
de amostragem na árvore (nos sentidos radial e axial); condições edáficas e climáticas; altura,
diâmetro e idade da árvore; tratos silviculturais (McGinnes and Phelps, 1983; Desch et al.,
1993; Gonçalez, 1993; Mady, 2000).
A teca também possui produtos para fins não madeireiros, como a produção de
energia, por meio de aproveitamento de resíduos (Catie, 1986; Vriend, 1998; Maldonado et
al., 1999). Ademais as folhas são aproveitadas como embalagens de açougue, os extrativos
como corantes, sendo aplicados para tingir seda e, ainda, no ramo fármaco são utilizados no
combate à malária e à anemia (Catie, 1986; Maldonado et al., 1999; Gomes et al., 2011).
Recentemente, pesquisa com extratos de suas flores apontou o potencial antidiabético,
antioxidante, anti-inflamatório, analgésico e cicatrizante (Majumdar et al., 2007; Bhatia et
al., 2011; Ramachandran et al., 2011a; Ramachandran et al., 2011b).

437
3. Produção de sementes
3.1 Fenologia
A fenologia da teca é rigorosamente marcada pelos meses secos e chuvosos. A partir do
início da estação chuvosa, a árvore retoma o seu desenvolvimento meristemático apical, entre os
meses de dezembro a março ocorre o seu florescimento (Palupi et al., 1998). Com o início do
regime de seca, há a redução de seu desenvolvimento meristemático, ocorrendo à queda de folhas
e frutos, voltando a emitir novas brotações na estação chuvosa (Palupi et al., 1998).

3.2 Época de floração


Com relação à coloração das flores, a teca apresenta desde branco ao creme, sem perfume,
numerosas, hermafroditas, actinomórficas, hexâmeras, com desenvolvimento protândrico, e dispostas
em inflorescências terminais ou axilares do tipo panículas (Mohanadas et al., 2002; Tangmitcharoen
et al., 1997) (Figura 1). Cada panícula pode conter de 2700 ± 240 flores, sendo que a cada dia,
aproximadamente 1 a 3% florescem, levando de 1 a 2 meses para a floração completa (Tangmitcharoen
Silvicultura Tropical

et al., 1997). Inicialmente apenas 1% das flores formadas em cada inflorescência se tornarão frutos,
enquanto que a queda de frutos imaturos varia entre 34 e 58% (Mohanadas et a., 2002). As flores
iniciam sua abertura a partir das 7h, com dispersão de pólen a partir das 8h e receptividade de estigma
das 11h até às 13h, a partir das 15h o estigma colapsa e perde sua função, seguindo-se do rompimento
das anteras até às 17h, quando ocorre a queda da corola (Hedegart, 1973).

Figura 1: Panículas (A e B), Estrutura floral (B e C) e Frutos (D).

438
3.3 Frutificação e colheita
Os frutos são leves, esféricos, de coloração marrom, do tipo drupa e medem de 1 cm a 2
cm de diâmetro (Cáceres Florestal S.A., 2006). Cada fruto é composto por uma camada fina
quebradiça superficial, semelhante a um balão (exocarpo), que envolve uma estrutura esponjosa
ou coriácea, esférica, de textura semelhante a feltro (mesocarpo). Abaixo do mesocarpo, encontra-
se um endocarpo de estrutura bem densa e lenhosa, de formato quadrangular, constituído por
quatro lóculos, podendo conter de 0 a 4 sementes, sendo o mais comum que contenha apenas
uma semente ( Sivakumar et al., 2002., Slator et al., 2013). A primeira frutificação ocorre entre
os 5 e 6 anos de idade da planta ( Palupi et al., 1998).

3.4 Manejo de Sementes


Geralmente, as sementes de teca são coletadas do solo e o tempo para a coleta de sementes
(em climas tropicais) é entre março e abril. Uma vez que a demanda por sementes de teca tem
aumentado, a coleta de sementes de árvores em pé tornou-se mais comum, especialmente
em pomares de sementes, ou seja, para obter quantidades maiores e superiores de sementes.

Tectona grandis
Contudo, esse método possui a desvantagem de obter sementes imaturas, que geralmente
têm baixo potencial de germinação e longevidade, especialmente quando é necessário
armazenamento em longo prazo. Técnicas utilizadas para o julgamento da maturidade das
sementes e / ou amadurecimento dos frutos das espécies são, portanto, necessárias. De acordo
com Kaosa-ard, 1994 o fruto leva cerca de 45 dias após a polinização para que as sementes de
teca se desenvolvam em tamanho real, e cerca de 70 a 150 dias para que um fruto em tamanho
normal atinja a maturidade. O período para a coleta de sementes de teca é entre janeiro e maio.
Entretanto, recomenda-se que as sementes de teca não sejam coletadas antes de janeiro. Após a
coleta, as frutas são secas ao sol por 2-3 dias e posteriormente colocadas em sacos de polietileno
ou algodão. Em seguida, o pericarpo da fruta é removido apertando e,ou batendo no saco. A
casca é então separada da fruta pelo sopro e triagem.

3.5 Quebra de dormência


Para que a dormência da semente de teca existe vários estudos realizados. Por exemplo,
Vieira et al, 2009, Vieira et al. (2009) também concluiu que o tratamento pelo aquecimento
em estufa a 80 ºC por 12 horas, seguido da imersão por seis horas à temperatura ambiente é
indicado para a superação de dormência de diásporos de teca, considerando seu desempenho
e sua maior praticidade e que a escarificação manual também é eficiente na superação de

439
dormência em relação aos diásporos não tratados. Recomenda-se, também, mergulhar os
frutos em água corrente por 24 horas antes da semeadura da semeadura, demonstrando que
o endocarpo lenhoso é plenamente permeável e que há necessidade de um estresse mecânico
nos frutos, capaz de trincar o endocarpo e expor as sementes ao ambiente para iniciar a
germinação (Slator et al., 2013).

3.6 Armazenamento
A conservação das sementes de teca é muito simples, devido a característica de
dormência das sementes que auxilia no processo de armazenamento. Com isso, para armazenar
as sementes, o mesmo autor relata que basta colocá-las em um saco de náilon e guardá-lo num
lugar fresco, seco e protegido da luz. Kaosa-art, 1994 relata que o armazenamento de sementes
de teca, em larga escala, geralmente é de curto prazo (1 a 2 anos). Nesse tipo de armazenamento,
as sementes são mantidas nos sacos (cerca de 45 kg/ saco) e colocadas em uma sala protegida
de cupins e ratos.
Silvicultura Tropical

O mesmo autor discute que para armazenamento em longo prazo (2-5 anos), as sementes
devem estar secas e limpas e devem ser mantidas em sacos de plástico (cerca de 25 kg/ saco)
e colocado em uma sala de estocagem isolada. Para armazenamento a longo prazo (mais de
5 anos), é necessário um armazenamento a frio. O armazenamento em câmaras frias é usado
apenas para fins especiais, como testes de progênie e proveniência, banco de genes, conservação
etc. As sementes de teca não podem ser armazenadas com segurança, mesmo durante 1 ano, em
condições úmidas e sem nenhuma proteção especial, devem ser armazenadas com segurança
por 2-5 anos em sacos plásticos e jarros de vidro selados e colocadas em salas comuns, devem
ser armazenadas com segurança por 2-5 anos em sacos plásticos selados ou sacos de algodão e
colocadas em câmaras frigoríficas a uma temperatura entre -4°C a +4°C (Koasa-art, 1994). São
aplicados testes de sementes de teca para constatar qualidades como: pureza, determinação da
massa e,ou volume das sementes e viabilidade pelo teste de germinação.

4. Método de Semeadura e Produção,


manejo
As mudas de teca podem ser produzidas por sementes e estaquia, sendo os dois métodos
amplamente difundidos nos trópicos do mundo (Yasodha et al., 2004).

440
4.1 Produção de mudas a partir de sementes
A produção de mudas a partir de sementes ainda é a mais utilizada, no entanto pouco
eficiente, pois a quantidade produzida por árvore é reduzida, as taxas de germinação são
relativamente baixas e, para garantir o poder de viabilidade de germinação dessas sementes,
são necessários locais com temperaturas e umidades controladas (Hedegart, 1974; Monteuuis
et al., 2007). As sementes originam-se a partir de um processo de fertilização (reprodução
sexual e fusão de gametas). Essa técnica não permite que as plantas originadas apresentem
características semelhantes à planta matriz, podendo haver, portanto, a formação de plantios
heterogêneos (Abdelnour et al.,2005).
Para produzir as mudas por meio do método seminal, recomenda-se semear os frutos em
bancos de areia esterilizada e cobrir o local com plástico preto até a fase de germinação, devendo
ser irrigado duas vezes ao dia, no início da manhã e no final da tarde. Aproximadamente 30 dias
após a germinação, as plântulas devem ser transplantadas para tubetes, os quais irão promover
melhor desenvolvimento das raízes. A repicagem deve ser realizada assim que as mudas
apresentarem dois pares de folhas verdadeiras. As mudas irão permanecer por um período de

Tectona grandis
12 dias na casa de sombra e, posteriormente serão mantidas em pleno sol para rustificação por
um período de 60 dias, logo depois são expedidas para plantio.

4.2 Cultivo in vitro de teca


A micropropagação ou propagação in vitro permite a produção massal de indivíduos com
características genéticas desejáveis e alto padrão de sanidade das mudas em um curto período
de tempo. Neste aspecto, o emprego de técnicas biotecnológicas para a cultura da teca tem sido
muito utilizado (Fermino Jr et al., 2009).
O processo de micropropagação de teca consiste basicamente nas seguintes fases: a)
Seleção, Desinfestação e Cultivos dos Explantes em meio nutritivo sob condições assépticas Fig.
2 ; b) multiplicação dos propágulos a partir de sucessivos subcultivos em meios adequados
de multiplicação; e c) Cultivo dos propágulos vegetativos em meio de enraizamento por
um período de 60 dias e subsequente transplantio da microestaca para o tubete e substrato
adequados. Essas mudas deverão ser mantidas em casa de vegetação por um período de 30
dias para enraizamento em condições favoráveis de temperatura e nebulização intermitente de
água.

441
Silvicultura Tropical

Figura2: Obtenção dos explantes (A ), Explantes em meio de crescimento (B e C) e Microestaca


em fase de plantio no viveiro (D).

4.3 Etapas da produção de mudas de teca por estaquia


A primeira fase da produção de muda pelo método de estaquia ocorre na retirada
de estacas do minijardim clonal Fig. 3 (a), sendo retiradas, com o auxílio de uma tesoura de
poda, e variando de 10 cm a 12 cm de comprimento. As estacas são mergulhadas em um balde
com água para evitar a perda de água por um período máximo de 15 minutos e são coletadas
com um par de folhas, sendo cortadas, pelo menos, em 50 % para evitar a perda de água.
Posteriormente as estacas são levadas para um espaço para realização do plantio e são tratadas
com ácido indolbutírico para auxiliar no enraizamento. Esse acontecerá em casa de vegetação
por um período aproximado de 20 dias a 30 dias, sendo que o intervalo de tempo dependerá
das condições e de cada material clonal.
Após o enraizamento as mudas serão enviadas para casa de sombra, onde a luminosidade
será reduzida em pelo o menos 30%. Nesa fase, as mudas são tratadas com fértil irrigação,
permanecendo por um período de 12 dias a 15 dias no máximo.
A última etapa da produção de mudas, por estaquia, é a rustificação das mudas em pleno sol,
por um período máximo de 60 dias e posteriormente o envio das mudas para o plantio em campo.

442
Figura 3: Minijardim clonal de teca (A ), Plantio das estacas com adição hormonal (AIB) (B e C) e
Mudas em pleno sol em fase de expedição para campo.

5. Potencial de melhoramento genético

Tectona grandis
5.1 Sistema de reprodução
A reprodução da Teca é, predominantemente, por alogamia, ou seja, por fecundação cruzada.
Em trabalhos realizados em populações dessa árvore na Tailândia, observou-se que as taxas de
cruzamentos variam entre (82% a 97%), sendo suas flores bissexuais e com idade de florescimento
muito variável, dependente de condições edafoclimaticas, tratos silviculturais e da genética (Keiding,
1985). No Brasil, em plantios clonais, o florescimento começa aos 2 anos de idade. O Florescimento
é anual, aproximadamente, um mês após o período chuvoso. Os agentes polinizadores são insetos
e o florescimento geralmente permanece de duas a quatro semanas. A única espécie do gênero
Tectona que é comercialmente plantada no mundo é espécie T. grandis, sendo uma espécie diploide
com 2n=36 cromossomos, e o genoma é aproximadamente 300 Mbp.

5.2 Importância e histórico do melhoramento


genético no Brasil
A introdução da teca na América do Sul ocorreu primeiramente na Venezuela entre os
anos de 1926 e 1936, seguindo posteriormente para o Brasil e Argentina (Mello, 1963). Em
1930, no Brasil foram introduzidas algumas sementes no Jardim Botânico do Rio de Janeiro e
no Horto Florestal de Rio Claro-SP. Já os plantios em escala comercial começaram na década de
60, implantados na região de Cáceres-MT pela empresa Cáceres Florestal. Os primeiros plantios

443
comerciais de origem clonal foram iniciados em 2003 pela empresa Floresteca. Atualmente, todas
as florestas de teca no Brasil, pertencentes às maiores empresas produtoras, são de origem clonal.
Seu melhoramento no Brasil é praticado principalmente por duas grandes empresas,
cujo objetivo final é madeireiro. A base genética atual da teca existente no Brasil é muito
curta, o banco de germoplasma possui baixa diversidade genética. As características morfo-
genéticas da maioria dos materiais pertencentes a esses bancos são semelhantes aos materiais
da Tailândia e da Indonésia.
Recentemente, com a necessidade de ampliar a base genética, o pré-melhoramento
adotado para a cultura tem sido a Seleção Recorrente Intrapopulacional (SRI).
Além do melhoramento convencional, tem-se realizado a seleção assistida, realizada
durante o processo de piramidação de alelos. Essa é uma estratégia que vem sendo considerada
como uma forma de desenvolver cultivares com resistência duradoura e de amplo espectro.
Ultimamente houve um aumento no uso de ferramentas de nova geração, visando a acelerar o
processo do melhoramento para a cultura. Com o objetivo de identificar e caracterizar genes, a
Silvicultura Tropical

utilização de estudos de transcriptoma tem sido empregada, seus resultados permitem identificar
quais genes são diferencialmente expressos e com isso, possibilita a busca de genes em materiais
elites, como aqueles que têm aumento de lignina, genes responsáveis por resposta de defesa,
estresse hídrico e salinização. Assim é possível o desenvolvimento de clones superiores.

5.3 Cultivo e atividades silviculturais


Com relação às características edafológicas, o plantio pode ser instalado em uma grande
variedade deste, mas preferencialmente a espécie deverá ser implantada em solos com fertilidade
moderada, ou melhor, de boa drenagem com boa retenção de água, com pH próximo aos valores
neutros, variando entre 6,5 a 7,5 (krishnapillay, 2000).
No Brasil, o melhor momento para o plantio ocorre nos meses de outubro a janeiro. Essa
cultura suporta uma grande variedade climática, porém seu desenvolvimento ocorre no clima
tropical úmido, com verão chuvoso e inverno seco (CÁCERES FLORESTAL S/A, 2006). Segundo
Bezerra et al. (2011), o regime de precipitação ideal para o bom desenvolvimento da espécie varia
entre 1.200 a 2.500 mm., apresentando desenvolvimento ótimo na faixa de temperatura que
varia de 23ºC a 27ºC, geralmente encontrada na região dos trópicos, com altitude máxima de 700
m e valores de 13ºC e 43ºC de temperatura mínima e máxima respectivamente, Pelissari (2012).
O preparo de solo em cultivo mínimo para espécies florestais compreende o sulcamento/
subsolagem apenas na linha de plantio. Essa operação pode ser realizada concomitantemente à

444
adubação de base. A adubação de plantio recomendada é 100 kg/ha de MAP + 1kg/ B. O MAP
fornece nitrogênio amoniacal e fósforo, essenciais para o crescimento radicular e desenvolvimento
inicial das plantas, além de ser livre de cloro, sódio e metais pesados. Apresenta baixo pH (pH em
solução a 1%: 4,5) com elevado poder tamponante.
Após 30 dias do plantio a área deve ser vistoriada para se avaliar a necessidade de replantio.
Para plantios seminais, recomenda-se a adoção de espaçamento em plantios comerciais
de 3m x 2m, correspondendo a uma densidade populacional de 1.667 árvores/ha (PELISSARI
et al., 2014). Os plantios comerciais clonais têm sido conduzidos em espaçamento de 6m x 5m,
correspondendo a uma densidade populacional de 334 árvores/ha.
O amplo espaçamento requerido para o rápido crescimento das árvores estimula a emissão
de ramos laterais, conferindo maior vigor e persistência a eles. Tendo em vista que o propósito do
reflorestamento é a produção de madeira de qualidade, sem nós, a desrama artificial é indispensável.
A desrama é essencial para a obtenção de madeira de alta qualidade para o mercado internacional,
porque melhora a qualidade das hastes aumentando a proporção de madeira livre de nó. Recomenda-
se a retirada de 50% dos galhos da altura total da planta. O período ideal para se realizar a desrama é a

Tectona grandis
época seca, favorecendo melhor cicatrização do local podado, evitando entrada de fungos. A primeira
poda deve ser efetuada um ano após o plantio, com auxílio de motopoda. O ramo deve ser cortado
rente à sua inserção no tronco, evitando a retirada do colo (Figura 4B).
Em princípio, seis podas, espaçadas a cada dois anos, são suficientes para o ciclo de corte
de 19 anos para plantios clonais.

Figura 4: Desrama
da teca com auxílio
da motopoda (A),
Desrama do galho sem
a retirada do colo.

445
Manejo para a produção
A colheita florestal é constituída por todas as atividades do desbaste e corte final, é realizada
de forma mecanizada ou semimecanizada. Na forma mecanizada são utilizados o Harvester (HV)
para o corte e tratores auto-carregáveis (TAC) para o baldeio; já na semi-mecanizada, o corte é feito
com motosserras e o baldeio com o TAC.
Para produção sólida de madeira de teca, a melhor idade da colheita depende principalmente
do método de plantio (seminal ou clonal), o que definirá o ciclo de corte da floresta. Geralmente,
no Brasil, o ciclo final de produção para o plantio de origem seminal é de aproximadamente 22
anos, mas a maioria dos plantios realizados têm sido de origem clonal, que tem por finalidade
reduzir o ciclo de corte final para 16 anos.
Previamente aos desbastes, realiza-se a seleção e marcação das árvores a serem
desbastadas. Nesse momento, são priorizadas as árvores doentes, tortas, bifurcadas, com menores
diâmetros, permitindo distribuição espacial uniforme entre as árvores remanescentes, assim os
remanescentes serão os melhores indivíduos para o corte final.
Silvicultura Tropical

Os ciclos de desbastes serão definidos em função do espaçamento e qualidade da floresta.


Geralmente em plantios clonais, o primeiro desbaste é realizado com aproximadamente três anos,
sendo o produto comercializado na forma de energia, painéis e artesanatos. Do segundo ano ao
sétimo ano, essa madeira já apresenta as qualidades apreciáveis no mercado interno. O terceiro
desbaste é realizado no décimo ano, pois as características dessa madeira são aceitáveis para o
mercado de exportação, com maior valor agregado ao produto. Por último, é realizado um último
desbaste é conduzido de acordo com a necessidade da floresta. Ao final do ciclo de produção, serão
conduzidas 125 árv/ ha com as qualidades superiores para o corte final.
A substituição dos plantios seminais para os plantios clonais tem aumentado, em função
do rápido crescimento e qualidade da madeira com o mesmo nível de excelência, possibilitando o
alcance de maiores preços no mercado internacional.

Pragas e Doenças
A introdução da teca no Brasil, em escala comercial, ocorreu no início dos anos 70. Desde
então, muitas doenças economicamente importantes de etiologia fúngica, associadas às extensas
perdas de rendimento e qualidade têm sido relatadas.
Entre as doenças foliares que ocorrem nesta espécie florestal, destaca-se a ferrugem cujo
agente causal é patógeno obrigatório e muito especializado. O fungo responsável pela ferrugem
na Teca (Olivea neotectonae) (Pieri et al., 2011), causa desfolha intensa nas plantas, ocasionando

446
redução da taxa fotossintética e consequentemente, reduzindo o índice volumétrico final.
Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas de coloração marrom com pústulas pulverulentas de
coloração amarelada constituídas pela massa de urediniósporos do patógeno. Em plantas jovens,
com aproximadamente um ano, os danos são observados nas folhas mais baixas (Arguedas et al.
2004). Em plantas adultas, as folhas infectadas são as mais velhas.
Em áreas nos quais os plantios são seminais, a incidência da doença pode chegar a 100%,
diferindo apenas o nível de severidade da doença em indivíduos distintos. No Brasil, alguns clones
comerciais apresentam resistência à ferrugem.
A murcha de Ceratocystis (Ceratocystis fimbriata) foi relatada no Brasil em 2012 (Firmino et
al., 2012). A murcha de Ceratocystis é atualmente uma das principais doenças em plantios comerciais
de teca no Brasil. Os principais sintomas causados pela doença são: murcha, escurecimento radial
do lenho e morte da planta. O uso de materiais resistentes é o melhor método de controle, porém
a base genética da espécie ainda é pouca explorada. A doença pode ser disseminada de várias
maneiras, como o contato de raízes, ação de coleobrocas, plantios de mudas infectadas e uso de
ferramentas de poda. Em plantios seminais a incidência pode chegar até 42% em floresta com

Tectona grandis
idade de variando de 10 anos a 15 anos, em plantios clonais a incidência pode variar de 10% a 20%,
diferenças encontradas nos padrões de incidência em relação aos materiais genéticos plantados,
observando que alguns materiais apresentam mais tolerância que outros. Em 2014, percebendo as
perdas que estavam ocorrendo em função desta doença, foi realizado um estudo do transcriptoma
na interação compatível entre um clone susceptível a Ceratocystis fimbriata com a finalidade de
identificar genes inibidos ou induzidos após inoculação. Aproximadamente, 1.400 genes foram
diferencialmente expressos na interação Tectona- Ceratocystis fimbriata. Esses resultados serão
úteis para a introdução ou deleção de genes em um clone elite.
O cancro da teca causado por Lasiodiplodia theobromae foi relatado no Brasil em 2015
Figura 5 (Borges et al., 2015). O patógeno é disseminado na floresta, principalmente por
ferramentas de poda. A incidência dessa doença na cultura, pode variar de 5% a 10, sendo uma
doença que está tipicamente relacionada ao manejo da floresta, principalmente em atividades
ligadas à desrama. O atraso da desrama favorecerá o aumento do diâmetro dos galhos, isso
implica à dificuldade de cicatrização e, facilitando a entrada do patógeno. Um bom planejamento
de manejo deverá ser realizado a fim de reduzir as perdas ao final do ciclo de produção, essa
doença afeta especificamente o cerne. O cancro é um dos sintomas típicos dessa doença para
a cultura (em função de desrama), podendo ser acompanhado da exsudação dos vasos e
descoloração do tecido vascular.

447
Silvicultura Tropical

Figura 5: Povoamentos de Tectona grandis (A), tronco com sintomas, desprendimento da casca e rachaduras (B),
disco com cancro e escurecimento dos vasos (C). Coloração da colônia e picnídios (D), células conidiogênicas (E,F,
G, K e L). Conídios imaturos com parede dupla e sem septos (H). Conídios em transição e maduros ( I). Lóculos
mostrando a disposição das células conidiogênicas e conídios imaturos ( K e L). Lóculos mostrando a textura (M).

448
Em levantamentos de campo realizados em 2014, uma doença vascular da teca com um
conjunto peculiar de sintomas foi encontrada em áreas comerciais em Mirassol do Oeste, Estado
do Mato Grosso, Brasil. Os principais sintomas causados pela doença são murcha, desprendimento
da base da árvore, morte da planta e como consequência da doença o valor agregado do produto
madeireiro é afetado, em função da modificação da coloração radial do lenho.
Os isolados de Fusarium oxysporum foram consistentemente isolados dessas árvores
afetadas. No presente relato, realizamos análises morfométricas, bem como ensaios de
patogenicidade desses isolados, com o objetivo de caracterizar os agentes causadores associados a
essa nova doença vascular em condições brasileiras (Borges et al., 2018).
O complexo de espécies de Fusarium oxysporum (FOSC) é um grupo cosmopolita de
patógenos transmitidos pelo solo que tem sido relatado principalmente em associação com
doenças de murcha vascular em uma ampla gama de espécies de plantas (O’Donnell et al. 2010).
Cerca de 80 especialidades específicas do formato do hospedeiro são descritas dentro do complexo
de espécies de F. oxysporum. Os três clones de teca usados nos ensaios de patogenicidade
exibiram sintomas de murcha após a inoculação com um isolado morfológica e molecularmente

Tectona grandis
idêntico aos isolados de Fusarium re-isolados em BDA, cumprindo assim os postulados de Koch.
Algo surpreendente é a ausência de relatos formais de membros do FOSC infectando teca em
outros continentes, incluindo a Ásia. De fato, para nosso conhecimento, este é o primeiro relato
deste fungo em teca no Neotrópico e, provavelmente, o primeiro relato mundial de doença por
murcha causada por F. oxysporum nesta espécie hospedeira. As áreas geográficas dos isolados de F.
oxysporum, nas quais encontramos maiores identidades de sequência durante a busca do BLASTn
foram principalmente de países da Ásia (dados não mostrados), o que sugere que os isolados de
F. oxysporum são mais prováveis do que endêmicos do Brasil. A teca é uma espécie de floresta
tropical encontrada dispersa pela Índia, Mianmar, Laos e Tailândia e vários membros do FOSC
são conhecidos por serem transmitidos através de sementes contaminadas ou mudas (Reis et al.
2008; Cabral et al., 2014). ) ou como endófitos. Portanto, esta espécie F. oxysporum de teca foi mais
provavelmente introduzida no Brasil por meio de material vegetal contaminado.
As áreas comerciais de produção de teca no Brasil estão se expandindo, mas algumas
doenças transmitidas pelo solo já causaram graves perdas de rendimento e qualidade. Nesse
contexto, o manejo dessa doença deve ser realizado desde a fase de viveiro, evitando assim a
disseminação da doença para o campo.
Em agosto de 2016, plantas de teca infectadas com Paramyrothecium roridum foram
encontradas em uma área de produção no Estado de Mato Grosso. Os sintomas iniciais foram

449
circulares a subcirculares, 1mm a 4 mm, com coloração castanho escuro ao longo da folha (Figura 6A).
Exposta a alta umidade, as lesões expandiram-se para 6 a 20 mm com manchas concêntricas distintas
com a formação de esporodóquio de coloração preta (Figura 6B). Ao longo do ciclo de produção, as
lesões foram expandindo ao longo das folhas, promovendo amarelecimento e queda. Como resultado
da doença, ocorre a redução da taxa fotossintética e consequente redução do desenvolvimento da
muda (Borges et al., 2018). Esse patógeno foi relatado anteriormente infectando teca em Taiwan
(Doilom et al., 2016). No Brasil, o primeiro relato da doença sobre teca ocorreu em 2018 (Borges et
al.,2018). A incidência dessa doença na fase de viveiro é de aproximadamente 10% ao longo da fase
de produção (Mini-jardim clonal, casa de sombra e pleno sol). O controle preventivo da doença na
fase de viveiro necessário, a fim de evitar potenciais perdas nas condições de campo.
Silvicultura Tropical

Figura 6: Sintomas de mancha foliar em Tectona grandis causado por Paramyrothecium roridum e características
morfológicas de Paramyrothecium roridum. A, B, sintomas de infecção natural; (C) Conídio; D, E, Conidióforos com
fiálides produzindo conídios.

A mancha causada por Corynespora cassiicola foi observada em viveiro de teca na fase de
minijardim clonal e pleno sol. Os sintomas têm início com a ocorrência de manchas pequenas na
superfície da folha, as quais eventualmente tornam-se marrom. Com o progresso da doença, as lesões
aumentam de tamanho tornando-se bastante distintas das outras doenças. Essas lesões são circulares
e de coloração marrom-claras medindo de aproximadamente 1 cm de diâmetro, podendo apresentar

450
anéis concêntricos e um halo clorótico circundante (Figura 7). Com a expansão das lesões ocorre
desfolha generalizada. Nos ramos e pecíolos, ocorrem manchas amarronzadas e alongadas. A queda
das folhas irá resultar em uma redução do desenvolvimento no viveiro, e uma vez que o controle da
doença não tenha sido realizado de forma efetiva, essa doença poderá progredir na fase de campo.

Tectona grandis

Figura 7: Sintomas de mancha em teca (Tectona grandis) causada por Corynespora cassiicola (A),
Esporo do patógeno (B, C e D).

451
O manejo dessa doença deve ser realizado desde a fase de viveiro, evitando assim a
disseminação da doença para o campo.
A mancha angular, causada por Xanthomonas fuscans está sendo relatada no Brasil, causando
danos na produção na fase de viveiro, principalmente na fase de expedição das mudas para campo
(Figura 8). Em maio de 2016, lesões foliares necróticas (≈ 15% incidência) foram encontradas em
plantas de teca na fase de expedição. As lesões evoluem para grandes pontos angulares, muitas vezes
cercados por halos cloróticos. Outros estudos estão sendo realizados para definição desse patógeno
como potencial patovar ou subespécie. Os sintomas podem afetar diretamente o desenvolvimento das
mudas na fase de viveiro, e no campo posteriormente também inibir o desenvolvimento em função da
redução da taxa fotossintética (Borges et al., 2018). Neste contexto, estratégias de gestão integrada de
controle são necessárias desde a fase de viveiro.
Silvicultura Tropical

Figura 8: Sintomas da
mancha-angular em teca
(Tectona grandis) causada
por Xanthomonas fuscans.
(A) sintomas iniciais nas
plantas (infecção natural)
e (B) planta exibindo
manchas foliares necróticas
que evoluíram para pontos
angulares, frequentemente,
cercados por halos cloróticos
(infecção natural).

Em junho de 2017, sintomas de galhas da coroa (Figura 9) foram observados em mini-cepas


em mini-jardim clonal de teca (≈ incidência de 30%) no Estado de Mato Grosso, Brasil. Essa é uma
doença causada por Agrobacterium tumefaciens e se caracteriza-se pelo crescimento de tumores na
junção entre o caule e a raiz (coroa). A formação desses tumores é o resultado de um processo natural
de transferência de genes de Agrobacterium spp. para o genoma da planta infectada.
Essa doença foi relatada anteriormente em florestas de teca na Costa Rica. No entanto, no
Brasil está sendo relatado pela primeira vez na fase de viveiro, que poderá emergir como um novo e
significativo patógeno de viveiro e se expandir para campo.

452
Figura 9: Sintomas de galhas da coroa em cepas em mini-jardim clonal de teca (Tectona grandis)
causada por Agrobacterium tumefaciens. (A e B) Sintomas de galhas da coroa em mini cepas em
mini-jardim clonal de teca. Sintomas de galhas na coroa em raízes em mudas em fase de expedição
para campo (C). Fonte: Borges et al., 2018.

Em agosto de 2019, foi publicado o primeiro relato de T. grandis como hospedeiro do ToCV, bem

Tectona grandis
como o primeiro relatório de infecção por vírus nessa planta lenhosa no Brasil (Borges et al., 2019).
Foram observados sintomas de amarelecimento Internervais em folhas mais velhas
semelhantes aquelas induzidas por espécies do gênero Crinivirus (família Closteroviridae). A
incidência no viveiro foi de 90% em mudas com 100 dias de idade. Além disso, uma infestação grave
de mosca branca foi observada em associação com essas plantas sintomáticas. Quinze amostras de
folhas coletadas aleatoriamente de plantas sintomáticas distintas foram testadas quanto à presença
do vírus da clorose do tomate (ToCV) e do vírus da clorose infecciosa do tomate (TICV), dois crinivírus
relatados infectando uma ampla variedade de culturas no Brasil (Fonseca et al. 2016).
Amostras de folhas de plantas de teca assintomáticas (n = 10) também foram coletadas
e empregadas como controle negativo. A extração total de RNA foi realizada usando reagente TRIzol
(Thermo Fisher Scientific, Waltham, MA) de todas as amostras de plantas sintomáticas e assintomáticas.
Os ensaios de RT-PCR foram conduzidos usando o par universal de primers HS-11 / HS-12 (que amplifica
um segmento de RNA-2 de 587-bp que engloba o gene da proteína HSP70h), seguido de uma PCR
realizada com o par de primers ToCV- ( ToC-5 / ToC-6) e iniciadores específicos para TICV (TIC-3 / TIC-
4) (Dovas et al. 2002). Todas as 15 amostras de teca sintomáticas foram positivas apenas para ToCV
(≈463-bp amplicons). O produto de PCR de uma amostra selecionada aleatoriamente foi sequenciado
diretamente. A sequência obtida (GenBank MH688047) exibiu 99,7% de identidade com a sequência
equivalente de um isolado de ToCV de tomate relatado no Brasil (EU868927). Cinco amostras sintomáticas

453
também foram positivas em ensaios de hibridação por transferência de pontos usando uma sonda de
RNA derivada de proteína de revestimento (fragmento 436-nt do RNA-2; iniciadores MA-380 / MA-381)
(Fortes et al. 2012). A extração total de DNA e os ensaios de PCR também foram conduzidos usando
amostras de mosca branca (três conjuntos de n = 10 cada) coletadas em plantas sintéticas de teca. Um
segmento do gene da citocromo oxidase I mitocondrial (mtCOI) foi amplificado usando os iniciadores
específicos C1-J-2195-FW e L2-N-3014-RV (Simon et al. 1994), produzindo -860 pb de amplicons. O
sequenciamento direto de três amplicons obtidos das amostras de mosca branca (MH688048) indicou
alta identidade (99%) das espécies de B. tabaci Mediterranean (MED) (= biótipo Q). Os ensaios de
transmissão de ToCV foram realizados usando adultos de B. tabaci MED. Trinta moscas brancas virulíferas
derivadas de moscas brancas saudáveis ​​alimentadas com plantas de teca infectadas com ToCV foram
confinadas em gaiolas separadas com teca saudável (n = 6) e cv de tomate. Mudas de Santa Clara (n = 6).
As moscas-brancas avirulíferas também foram confinadas a teca saudável (n = 6) e tomate (n = 6) plantas
(controles negativos). Após 72 h, as moscas brancas foram eliminadas por pulverização com inseticida.
Trinta dias após o período de acesso à alimentação, apenas as plantas de teca e tomate expostas a B. tabaci
Silvicultura Tropical

MED virulíferas exibiram sintomas do tipo crinivírus e foram positivas para ToCV em ensaios de RT-PCR. A
introdução de B. tabaci MED no sul do Brasil foi relatada recentemente (de Moraes et al. 2017). Nossos
resultados também confirmam a presença de B. tabaci MED na região central do Brasil e sua associação
com a infecção pelo ToCV de mudas de T. grandis. Embora expressem sintomas leves em geral, os potenciais
efeitos negativos do ToCV em plantas de teca precisam ser investigados com mais detalhes.

6. REFERÊNCIAS
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458
459
Tectona grandis
Tibouchina spp.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia Agronômica,
mestrado e doutorado em produção vegetal pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR), e Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia
da Universidade Federal do Paraná (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências
Biológicas e doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e pós-doutorado em
Fisiologia Vegetal pela Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora
Titular do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia
Silvicultura Tropical

(GEPE).

O gênero Tibouchina foi criado e descrito por AUBLET (1775), para


uma espécie localizada na Guiana Francesa, denominada de Tibouchina
aspera Aubl., porém o reconhecimento do gênero ocorreu mais de
cem anos depois. Compreendendo cerca de 350 espécies distribuídas
desde América Central aos extremos da América do Sul e, com maior
concentração no Brasil, apresenta alguns de seus representantes com os
nomes populares de Quaresmeiras, Manacás da Serra, Orelha de Onça,
dentre outros. O gênero corresponde a um grupo amplamente distribuído
nas diversas formações vegetacionais brasileiras, como restingas, florestas
pluviais, matas ciliares, cerrados e campos de altitude (MEYER, 2008).
O gênero possui indivíduos de porte herbáceo a arbóreo, suas
flores são tetrâmeras ou pentâmeras, dispostas em cimeras discasiais,
panículas terminais ou menos frequentes solitárias. As pétalas possuem
formato obovado, ápice irregular, circular ou truncado e coloração
variada tendendo ao roxo. Os frutos são capsulares e apresentam lóculos
em número igual ao de pétalas, com numerosas sementes cocleadas,
minuciosamente tuberculadas (MEYER, 2008).

460
Os usos de várias espécies de Tibouchina partem desde ornamentação urbana, como
plantio em “boulevards” proporcionando cores vivas aos espaços urbanos devido a bela
coloração das flores (Figura 1), atraindo animais silvestres até o uso em reflorestamento e
recuperação de áreas degradadas.
Algumas espécies pertencentes ao gênero Tibouchina, como T. affinis fothergillae,
T. granulosa, T. heteromalla, T. moricandiana variedade vinaceae e T. sellowiana, apresentam
grande número de sementes, porém com baixa germinabilidade. Ainda contam com
tamanho reduzido das sementes, fato que dificulta grandemente a propagação sexuada
(RODRIGUES et al., 2011).

Tibouchina spp.

Figura 1: Flores de diferentes espécies de Tibouchina: A. Tibouchina affinis fothergillae, B. Tibouchina


moricandiana variedade vinaceae, C. Tibouchina sellowiana e D. Tibouchina heteromalla, Curitiba-PR.
FONTE: Latoh (2019).

461
I. Tibouchina affinis
fothergillae Cogn.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia
Agronômica, mestrado e doutorado em  Agronomia -
Produção Vegetal  pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR),  Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em
Ciências Biológicas e doutorado em Ciências Biológicas
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia Vegetal pela
Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular
do Departamento de Botânica da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e
Silvicultura Tropical

Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. Botânica
1.1 BIOMA
Apresenta maior concentração de indivíduos nos
biomas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e, com menor
frequência nos biomas do Pantanal e Pampa (GOLDENBERG
et al., 2012).

1.2. NOME COMUM: Quaresmeira

1.3 NOME CIENTÍFICO:


Tibouchina affinis fothergillae Cogn.

1.4 FAMÍLIA: Melastomataceae

1.5 PORTE: Classificada como um arbusto, com


porte variando de 1 a 3,5 m de altura (MEYER, 2008).

462
2. PRODUÇÃO DE MUDAS
2.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Os indivíduos pertencentes à família Melastomataceae como Tibouchina affinis
fothergillae, apresentam baixa eficiência no processo de propagação sexuada, dando assim
espaço à propagação vegetativa (CESAR et al., 2009).

2.2 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA


Visando a máxima eficiência na produção de mudas, é recomendada a técnica de

I. Tibouchina affinis fothergillae Cogn.


propagação vegetativa via estaquia caulinar, almejando assim índices de até 97% de
enraizamento em breve período (60 dias) (LATOH et al., 2016).
Os propágulos (estacas caulinares) devem ser confeccionados com aproximadamente
10 cm de comprimento com corte em bisel na base, reto na porção apical, mantendo-se duas
folhas reduzidas à metade na região apical (vv). Posteriormente, é necessária a realização de
desinfestação do material vegetal com hipoclorito de sódio 0,5% durante 10 minutos seguido
de lavagem em água corrente. O plantio dos propágulos deve ser realizado em tubetes de
53 cm³ de volume, previamente preenchidos com substrato comercial. O ideal é de que 1/3
da estaca fique enterrada no substrato, sendo imprescindível o uso de casa de vegetação
climatizada, com aproximadamente 90% de umidade relativa do ar e temperaturas entre
25-30° C. Aproximadamente 60 dias após o plantio, os propágulos se apresentarão enraizados
e com brotações, caracterizando a formação completa de uma muda (LATOH et al., 2016).
É válido ressaltar que de acordo com a estação do ano em que é realizada a coleta do
material vegetal, pode ocorrer interferência direta no processo rizogênico (Tabelas 1 e 2).
Pelo fato de T. aff. fothergillae ser caracterizada como uma espécie de fácil enraizamento
(LATOH et al., 2016), apresentando possivelmente concentrações de auxinas e cofatores
ideais em seus tecidos, o uso de reguladores vegetais pode ser descartado, gerando assim
economia no processo produtivo (HARTAMANN et al., 2011; LATOH et al., 2016).

3 OUTRAS INFORMAÇÕES
3.1 EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA
Durante os anos de 2015 e 2016, o Engenheiro Agrônomo Leandro Porto Latoh, sob a
orientação e supervisão da Profa. Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, realizou uma pesquisa
cujo objetivo principal era a avaliação do enraizamento de Tibouchina affinis fothergillae,

463
por meio da propagação vegetativa via estaquia caulinar nas quatro estações do ano, com a
aplicação de diferentes concentrações de ácido indol butírico (IBA).
O experimento foi conduzido em casa de vegetação climatizada, com temperatura média
de 25ºC ± 2°C e umidade relativa do ar UR= 85%, localizada no Setor de Ciências Biológicas, da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba- PR.
Estacas caulinares de Tibouchina affinis fothergillae foram coletadas a partir de plantas
matrizes localizadas nos jardins do Campus III da UFPR, nas quatro estações do ano. As coletas
foram realizadas no segundo mês de cada estação, ou seja, em julho de 2015 (inverno), outubro
de 2015 (primavera), janeiro de 2016 (verão) e abril de 2016 (outono).
As estacas foram confeccionadas com aproximadamente 10 cm de comprimento, corte em
bisel na base e reto no ápice, sendo mantidos um par de folhas reduzidas à metade na porção
apical, com posterior desinfestação utilizando hipoclorito de sódio a 0,5 % por 10 minutos,
seguida de lavagem em água corrente por 5 minutos.
As bases das estacas foram submetidas a tratamentos (T), com diferentes concentrações de
Silvicultura Tropical

ácido indol butírico (IBA), em solução hidroalcoólica 50% por 10 segundos de imersão, conforme
segue: T1: 0 mg L-¹ IBA; T2: 1500 mg L-¹ IBA; T3: 3000 mg L-¹ IBA.
O plantio foi realizado em tubetes de polipropileno (53 cm³) com vermiculita de
granulometria fina e Tropstrato® (substrato comercial) na proporção de 1:1 (v/v), em casa
de vegetação, sendo avaliadas após 60 dias. Foram consideradas as seguintes variáveis:
porcentagem de enraizamento (estacas que estavam vivas e emitiram raízes de, no mínimo 2
mm de comprimento), número médio de raízes/estaca, comprimento médio das 3 maiores raízes/
estaca, porcentagem de estacas com calos (estacas vivas, sem raízes, que emitiram massa de
células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas vivas (estacas que não emitiram raízes
e nem massa de células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas mortas, porcentagem
de estacas que mantiveram as folhas iniciais e porcentagem de estacas brotadas.
Foram utilizados 3 tratamentos com 4 repetições de 20 estacas por unidade experimental,
totalizando 240 estacas por espécie. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado,
num esquema fatorial 3 x 4 (3 concentrações de IBA x 4 épocas do ano), sendo os resultados
submetidos ao teste de homogeneidade pelo Teste de Bartllet e ao teste de médias pelo Teste
de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Após 60 dias da instalação dos experimentos, verificou-se que T. aff. fothergillae não
apresentou diferença estatística para enraizamento nas diferentes estações do ano e concentrações
de IBA utilizadas, demonstrando que a espécie é de fácil enraizamento (mais de 90% de indução

464
radicial) e que não existe interferência das diferentes estações do ano sobre a rizogênese.
Resultados semelhantes foram encontrados por RIBEIRO et al. (2007), os quais aplicaram
diferentes concentrações de IBA em estacas apicais e medianas de T. aff. fothergillae, não
encontrando diferença estatística entre a aplicação do regulador vegetal e a rizogênese, devido
um elevado índice de enraizamento (94%).
Em estudo realizado por CÉZAR et al. (2009), ao analisarem as técnicas de estaquia e
alporquia com a espécie T. aff. fothergillae, submetida à aplicação de diferentes concentrações
de ácido naftaleno acético (NAA), os autores constataram 100% de rizogênese nos tratamentos
utilizados, sem a necessidade de utilização da auxina sintética.
No presente experimento, ocorreu diferença estatística entre as diferentes estações
estudadas para a variável comprimento radicial, onde a estação da primavera (15,25 cm)
apresentou melhor média e o inverno (5,46 cm) com os menores resultados, sendo possível

I. Tibouchina affinis fothergillae Cogn.


inferir que em estações com temperaturas médias inferiores o comprimento do sistema radicial
é reduzido (Tabela 1).
A manutenção das folhas originais foi estatisticamente superior nas estações do outono e
primavera em relação às demais, possivelmente por apresentar equilíbrio hormonal ideal entre
auxina e etileno. Nota-se que a manutenção foliar não altera o potencial rizogênico da espécie.

Tabela 1: Comparação de médias das variáveis porcentagem de enraizamento (EE), comprimento


médio de raízes/estaca (CM) e estacas que mantiveram as folhas (EMF) em T. aff. fothergillae, nas
quatro estações do ano, após 60 dias de permanência em casa de vegetação, Curitiba-PR.

EE CM EMF
Estações
% N° %
Outono 91,00 a 7,08 c 92,91 a

Inverno 92,08 a 5,46 d 69,16 b

Primavera 97,08 a 15,25 a 85,83 a

Verão 90,41 a 9,98 b 59,58 b

CV (%) 6,80 12,45 16,21


Médias seguida da mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente pelo teste de
Tukey ao nível de 5% de probabilidade. CV: Coeficiente de variação.

465
Houve interação dupla entre as variáveis número médio de raízes/estaca (NR) e estaca
com brotação (EB), com as diferentes estações do ano.
O NR presente no sistema radicial foi estatisticamente superior nas estações da primavera
e verão (17,92 e 16,57) com uso de 3000 mg L-1 de IBA.
Segundo HARTMANN et al. (2011), além do uso de reguladores vegetais para a indução
rizogênico, o mesmo apresenta grande importância no aumento da velocidade, porcentagem,
qualidade e uniformidade do sistema radicial.
A presença de estacas com a existência de brotações foi acima de 85% para todas as
estações e concentrações, podendo os propágulos serem caracterizados como mudas (Tabela 2).

Tabela 2: Comparação de médias da interação da variável número médio de raízes/estaca (nr) e


estacas com brotações (eb) em T. aff. fothergillae, nas quatro estações do ano, sob 3 concentrações
de iba, após 60 dias de permanência em casa de vegetação, Curitiba-PR.

Variáveis Tratamentos 0 mg L-1 1500 mg L-1 3000 mg L-1


Silvicultura Tropical

Outono 5,31 cB 7,58 bAB 8,88 bA

Inverno 11,10 aA 10,91 abA 11,13 bA

NR Primavera 10,23 abC 13,39 aB 17,92 aA

Verão 7,40 bcC 12,50 aB 16,57 aA

CV (%) 16,11

Outono 86,23 aA 88,75 aA 85,00 aA

Inverno 98,75 aA 96,25 aA 96,25 aA

EB Primavera 93,75 aA 95,00 aA 95,00 aA

Verão 88,75 aA 90,00 aA 87,50 aA

CV (%) 9,18

Médias seguidas da mesma letra minúscula na vertical e médias seguidas da mesma letra maiúscula na
horizontal, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
CV: Coeficiente de variação.

466
I. Tibouchina affinis fothergillae Cogn.

Figura 2: Tibouchina aff. fothergillae: A. Planta matriz. B. Ramo oriundo da planta matriz.
C. Propágulo confeccionado. D. Propágulo enraizado. E/F. Flores, Curitiba- PR.

467
II. Tibouchina granulosa
Cogn.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia
Agronômica, mestrado e doutorado em  Agronomia -
Produção Vegetal  pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR),  Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em
Ciências Biológicas e doutorado em Ciências Biológicas
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia Vegetal pela
Silvicultura Tropical

Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular


do Departamento de Botânica da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e
Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA:
1.1 BIOMA
Apresenta maior concentração de indivíduos nos
biomas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e, com menor
frequência nos biomas do Pantanal e Pampa (GOLDENBERG
et al., 2012).

1.2 NOME COMUM: Quaresmeira

2.1.3 NOME CIENTÍFICO


Tibouchina granulosa Cogn.

2.1.4 FAMÍLIA: Melastomataceae

2.1.5 PORTE: Classificada como uma arvoreta,


com porte variando de 3 a 7 m de altura (LORENZI, 2008).

468
2. PRODUÇÃO DE MUDAS
2.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Os indivíduos pertencentes à família Melastomataceae como Tibouchina granulosa,
apresentam baixa eficiência no processo de propagação sexuada, dando assim espaço à
propagação vegetativa (CESAR et al., 2009).

2.2 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA


Para a produção de mudas de Tibouchina granulosa com alta qualidade fitotécnica
recomenda-se o uso da estaquia caulinar, com a aplicação do regulador vegetal ácido indol
butírico (IBA), na concentração de 3000 mg L-1, devendo a coleta do material vegetal ser realizada

II. Tibouchina granulosa Cogn.


a partir de brotações epicórmicas na estação do verão (LATOH et al., 2016).
Os propágulos (estacas) devem ser confeccionados com aproximadamente 10 cm de
comprimento com corte em bisel na base, reto na porção apical, mantendo-se duas folhas reduzidas à
metade na região apical (Figura 3).Após a desinfestação do material vegetal com hipoclorito de sódio
0,5% durante 10 minutos seguido de lavagem em água corrente, as estacas devem ser tratadas por
10 segundos em solução hidroalcoólica 50% com 3000 mg L-1 de IBA e o plantio realizado em tubetes
de 53 cm³ de volume, previamente preenchidos com substrato comercial. É ideal que 1/3 da estaca
fique enterrada no substrato e que o material vegetal permaneça em casa de vegetação climatizada.
Pelo fato de T. granulosa ser caracterizada como uma espécie de difícil enraizamento (2
a 41% de enraizamento), apresentando possivelmente concentrações de auxinas e co-fatores
inadequadas em seus tecidos, o uso de reguladores vegetais como ácido indol butírico (IBA)
torna-se necessário, elevando a eficiência no processo produtivo (LATOH et al., 2016).

3. OUTRAS INFORMAÇÕES
3.1 EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA
Nos anos de 2015 e 2016, o Engenheiro Agrônomo Leandro Porto Latoh, sob a orientação
e supervisão da Profa. Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, realizou pesquisa cujo objetivo
principal era a avaliação do enraizamento de Tibouchina granulosa, por meio da propagação
vegetativa via estaquia caulinar nas quatro estações do ano, com a aplicação de diferentes
concentrações de ácido indol butírico (IBA).
O experimento foi conduzido em casa de vegetação climatizada, com temperatura
média de 25ºC ± 2°C e umidade relativa do ar UR= 85%, localizada no Setor de Ciências
Biológicas, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba- PR.

469
Estacas caulinares de Tibouchina granulosa foram coletadas a partir de plantas matrizes
localizadas nos jardins do Campus III da UFPR, nas quatro estações do ano. As coletas foram
realizadas no segundo mês de cada estação, ou seja, em julho de 2015 (inverno), outubro de 2015
(primavera), janeiro de 2016 (verão) e abril de 2016 (outono).
As estacas foram confeccionadas com aproximadamente 10 cm de comprimento, corte em
bisel na base e reto no ápice, sendo mantidos um par de folhas reduzidas à metade na porção
apical, com posterior desinfestação utilizando hipoclorito de sódio a 0,5 % por 10 minutos,
seguida de lavagem em água corrente por 5 minutos.
As bases das estacas foram submetidas a tratamentos (T), com diferentes concentrações
de ácido indol butírico (IBA), em solução hidroalcoólica 50% por 10 segundos de imersão,
conforme segue: T1: 0 mg L-¹ IBA; T2: 1500 mg L-¹ IBA; T3: 3000 mg L-¹ IBA.
O plantio foi realizado em tubetes de polipropileno (53 cm³) com vermiculita de granulometria
fina e Tropstrato® (substrato comercial) na proporção de 1:1 (v/v), em casa de vegetação, sendo
avaliadas após 45 dias. Foram consideradas as seguintes variáveis: porcentagem de enraizamento
Silvicultura Tropical

(estacas que estavam vivas e emitiram raízes de, no mínimo 2 mm de comprimento), número
médio de raízes/estaca, comprimento médios das 3 maiores raízes/estaca, porcentagem de
estacas com calos (estacas vivas, sem raízes, que emitiram massa de células indiferenciadas na
base), porcentagem de estacas vivas (estacas que não emitiram raízes e nem massa de células
indiferenciadas na base), porcentagem de estacas mortas, porcentagem de estacas que mantiveram
as folhas iniciais e porcentagem de estacas brotadas.
Foram utilizados 3 tratamentos com 4 repetições de 20 estacas por unidade
experimental, totalizando 240 estacas por espécie. O delineamento experimental foi o
inteiramente casualizado, num esquema fatorial 3 x 4 (3 concentrações de IBA x 4 épocas do
ano). Os resultados foram submetidos à análise de homogeneidade pelo Teste de Bartllet e
posteriormente, submetidos à análise de variância pelo teste F, sendo as médias comparadas
pelo Teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
Após 60 dias de instalação T. granulosa apresentou diferença estatística para as variáveis
estacas enraizadas, mortas e que mantiveram as folhas originais nas diferentes estações do ano.
Visando o maior índice de enraizamento, é indicado que a coleta do material vegetal de T.
granulosa seja realizada na estação do verão, pois a mesma foi estatisticamente superior às demais estações,
demonstrando que o efeito do ambiente interfere diretamente no processo rizogênico da espécie.
O uso de IBA influencia positivamente o enraizamento adventício para essa espécie,
podendo ser indicada a concentração de 3000 mg L-1.

470
A mortalidade da espécie foi estatisticamente superior na estação da primavera
(79,16%), quando comparada às demais estações.
A manutenção das folhas originais não diferiu estatisticamente entre as diferentes
estações, porém foram encontrados valores numericamente superiores na estação do verão e
outono (Tabela 3).

Tabela 3: Comparação de médias das variáveis porcentagem de enraizamento (ee), porcentagem


de estacas mortas (em) e estacas que mantiveram as folhas (emf) em T. Granulosa, nas quatro
estações do ano e porcentagem de enraizamento (ee) sob 3 concentrações de iba, após 60 dias
de permanência em casa de vegetação, Curitiba-PR.
EE EM EMF EE
Estações IBA
% % % %
Outono 2,08 c 52,08 b 27,50 a 0 mg L-1 10,62 b

Inverno 5,83 bc 56,66 b 10,00 a 1500 mg L-1 17,81 ab

II. Tibouchina granulosa Cogn.


Primavera 15,83 b 79,16 a 11,25 a 3000 mg L-1 20,31 a

Verão 41,25 a 43,75 b 34,16 a

CV (%) 56,77 25,19 54,72 CV (%) 56,77


Médias seguida da mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente pelo teste de
Tukey ao nível de 5% de probabilidade. CV: Coeficiente de variação.

A técnica de propagação vegetativa via estaquia para T. granulosa se justifica, uma vez que,
segundo LOPES et al. (2005), suas sementes apresentam dormência após maturação fisiológica, com
baixa porcentagem de formação de mudas seminais.
BORTOLINI et al. (2009), em estudo realizado com enraizamento de estacas caulinares de
quatro espécies do gênero Tibouchina Aubl., obtiveram resultados semelhantes com uso de diferentes
concentrações de IBA para o enraizamento de Tibouchina granulosa, sendo a concentração de 3000
mg L-1 a que apresentou os melhores resultados.
Verificou-se a interação entre as variáveis número médio de raízes/estaca (NR), comprimento
médio de raízes/estaca (CM) e estacas vivas (EV).
Para NR, não houve diferença estatística entre as estações do outono e inverno com uso das
diferentes concentrações de IBA. Porém, na primavera o uso de 1500 mg L-1 apresentou redução
estatisticamente significativa em relação às demais concentrações. Já no verão, existiu um aumento
estatisticamente significativo conforme houve a elevação das concentrações. Entre as diferentes

471
concentrações utilizadas, o uso de 3000 mg L-1 na estação da primavera pode ser recomendado.
Para CM, as estações da primavera e verão apresentaram valores superiores em relação às
demais estações. A aplicação de maiores concentrações de IBA foram estatisticamente significativas
para o aumento no comprimento radicial nas estações da primavera e verão.
Para EV as estações do outono e inverno demonstraram diferença estatística em relação ao
verão e primavera, sendo que o uso de IBA resultou na diminuição da sobrevivência das estacas no
verão, uma vez que estacas vivas são a diferença entre estacas enraizadas, com a formação de calos
e mortas. Para as demais estações, o uso de IBA não apresentou diferença estatística (Tabela 4).

Tabela 4: Comparação de médias da interação da variável número médio de raízes/estaca


(NR), comprimento médio de raízes/estaca (CM) e estacas vivas (EV) em T. granulosa, nas
quatro estações do ano sob 3 concentrações de iba, após 60 dias de permanência em casa de
vegetação, Curitiba-PR.

Variáveis Tratamentos 0 mg L-1 1500 mg L-1 3000 mg L-1


Outono 0,00 bA 0,87 bA 0,87 cA
Silvicultura Tropical

Inverno 1,25 abA 1,41 bA 1,75 cA

NR Primavera 2,18 abA 4,27 aB 7,55 aA

Verão 2,49 aB 3,86 aAB 5,18 bA

CV (%) 46,90

Outono 0,00 cA 0,50 cA 1,01 cA

Inverno 1,15 cAB 0,26 cB 2,05 cA

CM Primavera 4,21 bB 9,46 aA 9,01 aA

Verão 7,15 aA 7,91 bA 7,34 bA

CV (%) 17,54

Outono 41,25 aA 46,25 aA 50,00 aA

Inverno 46,25 aA 26,25 bB 40,00 aA

EV Primavera 7,50 cA 7,50 cA 0,00 bA

Verão 22,50 bA 11,25 cB 11,25 bB

CV (%) 24,98
Médias seguidas da mesma letra minúscula na vertical e médias seguidas da mesma letra
maiúscula na horizontal, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. CV: Coeficiente de variação.

472
II. Tibouchina granulosa Cogn.

Figura 3: Tibouchina granulosa. A. Planta matriz. B. Ramo coletado. C. Propágulo


confeccionado. D. Propágulo enraizado. E-F. Flores, Curitiba-PR.

473
III.Tibouchina
heteromalla Cogn.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia
Agronômica, mestrado e doutorado em  Agronomia -
Produção Vegetal  pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR),  Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em
Ciências Biológicas e doutorado em Ciências Biológicas
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia Vegetal pela
Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular
do Departamento de Botânica da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e
Silvicultura Tropical

Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA
Apresenta maior concentração de indivíduos nos
biomas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e, com menor
frequência nos biomas do Pantanal e Pampa (GOLDENBERG
et al., 2012).

3.1.2. NOME COMUM: Orelha de Onça

3.1.3 NOME CIENTÍFICO


Tibouchina heteromalla Cogn.

3.1.4 FAMÍLIA: Melastomataceae

3.1.5 PORTE: Classificada como arbusto variando


de 1 a 2 m de altura e com elevada ramificação (LORENZI, 2008).

474
2. PRODUÇÃO DE MUDAS
2.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Tibouchina heteromalla é um dos 4570 indivíduos da família Melastomataceae que apresenta
dificuldade na propagação sexuada, por conta do grande número de sementes abortadas e a baixa
taxa de germinação (CLAUSING; RENNER, 2001; PERALTA, 2002; CESÁR et., 2009).

2.2 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA


Para produção de mudas de Tibouchina heteromalla em larga escala, com alta
porcentagem de enraizamento (100%) e curto período de tempo, é recomendada a técnica de

III.Tibouchina heteromalla Cogn.


propagação vegetativa via estaquia caulinar (LATOH et al., 2016). Recomenda-se para tal, que
a coleta do material vegetal seja realizada preferencialmente em estações com temperatura
média elevada, propiciando aumento dos atributos fitotécnicos.
Os propágulos (estacas) devem ser confeccionados com aproximadamente 10 cm de
comprimento com corte em bisel na base, reto na porção apical e mantendo-se duas folhas
reduzidas à metade na região apical (Figura 4).
Posteriormente à confecção dos propágulos, é indicada a desinfestação do material vegetal
com hipoclorito de sódio 0,5% durante 10 minutos seguido de lavagem em água corrente.
O plantio dos propágulos deve ser realizado em tubetes de 53 cm³ de volume, previamente
preenchidos com substrato comercial. É ideal que 1/3 da estaca fique enterrada no substrato.
É imprescindível o uso de casa de vegetação climatizada para produção de mudas a
partir da técnica de estaquia caulinar para T. heteromalla.
Aproximadamente 45 dias após o plantio, os propágulos se apresentarão enraizados e
com brotações, caracterizando a formação completa de uma muda.
Pelo fato de T. heteromalla se caracterizar como uma espécie de fácil enraizamento,
apresentando possivelmente concentrações de auxinas e cofatores ideais em seus tecidos, o
uso de reguladores vegetais é descartado, gerando assim economia no processo produtivo
(LATOH et al., 2016).

3. OUTRAS INFORMAÇÕES
3.1 EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA
Em pesquisa realizada pelo GEPE - Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia, sob a
coordenação da Profa. Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, o Engenheiro Agrônomo Leandro

475
Porto Latoh realizou vários experimentos com o gênero Tibouchina e, dentre eles, com a espécie
Tibouchina heteromalla.
O experimento foi conduzido em casa de vegetação climatizada, com temperatura média
de 25ºC ± 2°C e umidade relativa do ar UR= 85%, localizada no Setor de Ciências Biológicas,
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba- PR.
Estacas caulinares de Tibouchina heteromalla foram coletadas a partir de plantas matrizes
localizadas nos jardins do Campus III da UFPR, nas quatro estações do ano. As coletas foram
realizadas no segundo mês de cada estação, ou seja, em julho de 2015 (inverno), outubro de
2015 (primavera), janeiro de 2016 (verão) e abril de 2016 (outono).
As estacas foram confeccionadas com aproximadamente 10 cm de comprimento, corte em
bisel na base e reto no ápice, sendo mantidos um par de folhas reduzidas à metade na porção
apical, com posterior desinfestação utilizando hipoclorito de sódio a 0,5 % por 10 minutos,
seguida de lavagem em água corrente por 5 minutos.
As bases das estacas foram submetidas a tratamentos (T), com diferentes concentrações
Silvicultura Tropical

de ácido indol butírico (IBA), em solução hidroalcoólica 50% por 10 segundos de imersão,
conforme segue: T1: 0 mg L-¹ IBA; T2: 1500 mg L-¹ IBA; T3: 3000 mg L-¹ IBA.
O plantio foi realizado em tubetes de polipropileno (53 cm³) com vermiculita de
granulometria fina e Tropstrato® (substrato comercial) na proporção de 1:1 (v/v), em casa
de vegetação, sendo avaliado após 45 dias. Foram consideradas as seguintes variáveis:
porcentagem de enraizamento (estacas que estavam vivas e emitiram raízes de, no mínimo 2 mm
de comprimento), número médio de raízes/estaca, comprimento médios das 3 maiores raízes/
estaca, porcentagem de estacas com calos (estacas vivas, sem raízes, que emitiram massa de
células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas vivas (estacas que não emitiram raízes
e nem massa de células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas mortas, porcentagem
de estacas que mantiveram as folhas iniciais e porcentagem de estacas brotadas.
Foram utilizados 3 tratamentos com 4 repetições de 20 estacas por unidade
experimental, totalizando 240 estacas por espécie. O delineamento experimental foi o
inteiramente casualizado, num esquema fatorial 3 x 4 (3 concentrações de IBA x 4 épocas do
ano). Os resultados foram submetidos ao teste de homogeneidade pelo Teste de Bartllet e, à
análise de variância pelo teste F, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de
5% de probabilidade
Após 45 dias de instalação T. heteromalla apresentou diferença estatística para o

476
enraizamento, sendo as estações da primavera, verão e inverno (99,16%, 100% e 99,16%,
respectivamente) superiores ao outono (87,50%).
O uso de ácido indol butírico (IBA), não foi responsivo para o enraizamento da espécie,
demonstrando que a mesma pode ser considerada uma espécie de fácil enraizamento.
Em pesquisa realizada por LATOH et al. (2016), Tibouchina heteromalla apresentou
valores acima de 85% de enraizamento, apresentando-se como uma espécie com alto vigor,
sendo desnecessário o uso de regulador vegetal para indução da rizogênese.
O comprimento médio radicial foi estatisticamente superior na estação da primavera,
evidenciando o fato de que em estações com temperatura média elevada existe maior atividade
metabólica do vegetal. Esse fato foi comprovado nas estações do outono e inverno, pois estas
apresentam valores estatisticamente inferiores às demais estações.
A manutenção foliar é estatisticamente superior nas estações do outono, inverno e
primavera; no entanto na estação do verão não houve diferença estatística em relação ao

III.Tibouchina heteromalla Cogn.


inverno. Para T. heteromalla a manutenção foliar não interfere no processo rizogênico e nem
no comprimento médio radicial. No entanto, segundo HARTMANN et al. (2011), as folhas são
centros de produção de compostos que auxiliam o processo rizogênico bem como o crescimento
radicial (Tabela 5).

Tabela 5: Comparação de médias das variáveis porcentagem de enraizamento (EE),


comprimento médio de raízes/estaca (CM) e estacas que mantiveram as folhas (EMF)
em T. heteromalla, nas quatro estações do ano, após 60 dias de permanência em casa de
vegetação, Curitiba-PR.

EE CM EMF
Estações
% N° %
Outono 87,50 b 7,15 c 88,33 a

Inverno 99,16 a 6,03 c 79,16 ab

Primavera 99,16 a 14,73 a 90,58 a

Verão 100,00 a 11,32 b 67,50 b

CV (%) 4,00 21,21 13,55

Médias seguida da mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente pelo teste de
Tukey ao nível de 5% de probabilidade. CV: Coeficiente de variação.

477
Houve interação entre as estações do ano e as diferentes concentrações de IBA para as
variáveis número médio de raízes/estaca (NR) e estacas com brotação (EB).
O número de raízes é influenciado diretamente nas estações da primavera e verão com uso de
1500 mg L-1 e 3000 mg L-1 de IBA. Nas demais estações não existe diferença estatística entre a estação
do ano e as concentrações de IBA utilizadas. Com o uso de 1500 mg L-1 de IBA o número de raízes foi
estaticamente superior em todas as estações do ano, salvo na estação do outono. Já com o uso de 3000
mg L-1 as estações da primavera e verão apresentaram médias estatisticamente superiores às demais.
A presença de brotações apresenta redução estatisticamente significativa com uso de
3000 mg L-1 de IBA nas estações do outono e primavera. Nas demais estações do ano não existe
acréscimo e/ou decréscimo com uso do regulador vegetal. O uso de 1500 mg L-1 IBA apresenta
redução estatisticamente significativa na estação do outono. Esta redução é ampliada com uso de
3000 mg L-1IBA na estação do outono e afeta a estação da primavera (Tabela 6).
Tabela 6: Comparação de médias da interação da variável número médio de raízes/estaca (nr)
e estacas com brotações (eb) em t. heteromalla, nas quatro estações do ano sob 3 concentrações
Silvicultura Tropical

de iba, após 60 dias de permanência em casa de vegetação, Curitiba-pr.

Variáveis Tratamentos 0 mg L-1 1500 mg L-1 3000 mg L-1

Outono 7,30 bA 7,64 bA 8,59 cA

Inverno 12,85 aA 13,21 aA 11,92 bcA

NR Primavera 11,17 abB 18,07 aA 20,73 aA

Verão 12,22 abB 15,30 aAB 16,75 abA

CV (%) 20,04

Outono 85,00 bA 90,00 bA 60,00 cB

Inverno 100,00 aA 100,00 aA 100,00 aA

EB Primavera 100,00 aA 92,50 abAB 90,00 bB

Verão 97,50 aA 95,00 abA 97,50 abA

CV (%) 5,23
Médias seguidas da mesma letra minúscula na vertical e médias seguidas da mesma letra
maiúscula na horizontal, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. CV: Coeficiente de variação.

478
III.Tibouchina heteromalla Cogn.

Figura 4: Tibouchina heteromalla. A. Planta matriz. B. Ramo coletado. C. Propágulo


confeccionado. D. Propágulo enraizado. E-F. Flores, Curitiba-PR.

479
IV. Tibouchina moricandiana
var. vinaceae Baill.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia Agronômica, mestrado e
doutorado em  Agronomia - Produção Vegetal  pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR),  Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Biológicas e
doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia Vegetal pela Università
di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular do Departamento de Botânica da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e
Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA
Silvicultura Tropical

1.1 BIOMA
Apresenta maior concentração de indivíduos nos biomas da Amazônia,
Cerrado, Mata Atlântica e, com menor frequência nos biomas do Pantanal e Pampa
(GOLDENBERG et al., 2012).

1.2. NOME COMUM: Quaresmeira

1.3 NOME CIENTÍFICO: Tibouchina moricandiana var. vinaceae Baill.

1.4 FAMÍLIA: Melastomataceae

1.5 PORTE: A espécie é classificada como uma arvoreta, com porte variando
de 1,5 a 3 m de altura (LORENZI, 2008).

2. PRODUÇÃO DE MUDAS
2.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Tibouchina moricandiana var. vinaceae é um dos 4570 indivíduos da família
Melastomataceae, que apresenta dificuldade na propagação sexuada, por conta do
grande número de sementes abortadas e a baixa taxa de germinação (CLAUSING;
RENNER, 2001; PERALTA, 2002; CESÁR et., 2009).

480
2.2 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA
Para produção de mudas de T. moricandiana var. vinaceae recomenda-se a técnica
de propagação vegetativa via estaquia caulinar, com uso do regulador vegetal ácido indol
butírico (IBA), na concentração de 3000 mg L-1, devendo a coleta do material vegetal ser
realizada na estação da primavera, visando assim elevados índices de enraizamento e maior
número de raízes por muda.

IV. Tibouchina moricandiana var. vinaceae Baill.


As estacas devem ser confeccionadas com aproximadamente 10 cm de comprimento com
corte em bisel na base, reto na porção apical e mantendo-se duas folhas reduzidas à metade na
região apical (Figura 5).
Pelo fato de T. moricandiana var. vinaceae se caracterizar como uma espécie de fácil
enraizamento (mais de 75% de enraizamento), o uso de reguladores vegetais como ácido
indol butírico (IBA), na concentração de 3000 mg L-1 em solução hidroalcoólica 50% por
10 segundos de imersão é recomendado, elevando a eficiência no processo produtivo
(HARTAMANN et al., 2011; LATOH et al., 2016).
Posteriormente à confecção, é indicada a desinfestação do material vegetal com
hipoclorito de sódio 0,5% durante 10 minutos seguido de lavagem em água corrente.
O plantio dos propágulos deve ser realizado em tubetes de 53 cm³ de volume, previamente
preenchidos com substrato comercial, mantidos em casa de vegetação climatizada.
Aproximadamente 60 dias após o plantio, os propágulos se apresentarão enraizados e
com brotações, caracterizando a formação completa de uma muda.

3. OUTRAS INFORMAÇÕES
3.1 EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA
Uma das linhas de pesquisa do GEPE - Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia, coordenado pela
Profa. Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, é o estudo da propagação vegetativa via estaquia do gênero
Tibouchina. Dentre as espécies estudadas, pelo Engenheiro Agrônomo Leandro Porto Latoh, executou
experimentos entre 2015 e 2016 com a espécie Tibouchina moricandiana variedade vinaceae.
O experimento foi conduzido em casa de vegetação climatizada, com temperatura média
de 25ºC ± 2°C e umidade relativa do ar UR= 85%, localizada no Setor de Ciências Biológicas,
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba- PR.
Estacas caulinares de Tibouchina moricandiana variedade vinaceae foram coletadas a
partir de plantas matrizes localizadas nos jardins do Campus III da UFPR, nas quatro estações

481
do ano. As coletas foram realizadas no segundo mês de cada estação, ou seja, em julho de 2015
(inverno), outubro de 2015 (primavera), janeiro de 2016 (verão) e abril de 2016 (outono).
As estacas foram confeccionadas com aproximadamente 10 cm de comprimento, corte em
bisel na base e reto no ápice, sendo mantidos um par de folhas reduzidas à metade na porção
apical, com posterior desinfestação utilizando hipoclorito de sódio a 0,5 % por 10 minutos, seguida
de lavagem em água corrente por 5 minutos.
As bases das estacas foram submetidas a tratamentos (T), com diferentes concentrações de
ácido indol butírico (IBA), em solução hidroalcoólica 50% por 10 segundos de imersão, conforme
segue: T1: 0 mg L-¹ IBA; T2: 1500 mg L-¹ IBA; T3: 3000 mg L-¹ IBA.
O plantio foi realizado em tubetes de polipropileno (53 cm³) com vermiculita de
granulometria fina e Tropstrato® (substrato comercial) na proporção de 1:1 (v/v), em casa de
vegetação, sendo realizada avaliação após 45 dias.
Foram consideradas as seguintes variáveis: porcentagem de enraizamento (estacas que estavam
vivas e emitiram raízes de, no mínimo 2 mm de comprimento), número médio de raízes/estaca,
Silvicultura Tropical

comprimento médio das 3 maiores raízes/estaca, porcentagem de estacas com calos (estacas vivas, sem
raízes, que emitiram massa de células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas vivas (estacas
que não emitiram raízes e nem massa de células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas
mortas, porcentagem de estacas que mantiveram as folhas iniciais e porcentagem de estacas brotadas.
O delineamento estatístico foi composto por 3 tratamentos com 4 repetições de 20 estacas
por unidade experimental, totalizando 240 estacas por espécie. O delineamento experimental
foi o inteiramente casualizado, num esquema fatorial 3 x 4 (3 concentrações de IBA x 4 épocas
do ano). Os resultados foram submetidos à análise de variância pelo teste F, sendo as médias
comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
Após 60 dias da instalação dos experimentos, a análise estatística demonstrou que o
enraizamento de T. moricandiana var. vinaceae não apresentou diferença estatística entre
as estações do outono e primavera (91,25% e 98,33%, respectivamente), sendo as mesmas
superiores às demais estações.
PEREIRA et al. (2015), corroboram com os resultados encontrados no presente trabalho,
uma vez que em seu trabalho com T. moricandiana var. vinaceae, os autores verificaram que
o uso de IBA nas concentrações de 0, 1000 e 2000 mg Kg-¹/mg L-¹ não apresentou diferença
estatística com relação ao enraizamento.
Para número médio de raízes/estaca, pode-se perceber que estações com temperatura média
elevada, proporcionam um maior incremento à variável, fato este comprovado pelos resultados

482
obtidos nas estações da primavera e verão, as quais além de serem estatisticamente diferentes, são
superiores às demais estações. Porém, além das estações de coleta, o uso do regulador vegetal
IBA (1500 mg L-1 e 3000 mg L-1) proporcionou incremento à variável (Tabela 7).

Tabela 7: Comparação de médias das variáveis porcentagem de enraizamento (EE), número


médio de raízes/estaca (NR), porcentagem de estacas mortas (EM) e estacas com brotações (EB) Em
T. moricandiana var. vinaceae, nas quatro estações do ano e número médio de raízes/estaca (NR)
para 3 concentrações de IBA, após 60 dias de permanência em casa de vegetação, Curitiba-PR.

EE NR EB EM NR
Estações IBA
% N° % % N°
Outono 91,25 a 5,98 c 80,41 bc 1,15 c 0 mg L-1 6,11 b

IV. Tibouchina moricandiana var. vinaceae Baill.


Inverno 80,00 b 5,17 c 82,50 b 11,33 b 1500 mg L-1 7,05 ab

Primavera 98,33 a 9,27 a 96,25 a 1,66 c 3000 mg L-1 7,67 a

Verão 77,91 b 7,35 b 69,58 c 20,83 a

CV (%) 10,83 17,76 13,61 39,80 CV (%) 17,76

Médias seguida da mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente pelo teste de
Tukey ao nível de 5% de probabilidade. CV: Coeficiente de variação.

Houve interação entre as diferentes épocas de coleta e concentrações do regulador vegetal


para comprimento médio de raízes/estaca, estacas vivas e mortas.
O comprimento médio de raízes/estaca é influenciado diretamente por épocas de coleta
com temperaturas médias elevadas (primavera e verão), porém apenas na coleta realizada na
estação da primavera houve resposta positiva com uso do regulador vegetal, apresentando
aumento estatisticamente significativo com uso de 3000 mg L-1 IBA.
Segundo FERRIANI et al. (2007), espécies lenhosas submetidas a baixas temperaturas
entram em dormências para proteger seus meristemas, com redução das atividades nos
tecidos jovens do floema secundário, dos raios vasculares e do câmbio; porém tal mudança
acarreta no aumento da síntese de compostos fenólicos e inibidores, reduzindo e/ou cessando
temporariamente seu crescimento.
A sobrevivência dos propágulos está diretamente atrelada com a época de coleta do material
vegetal para T. moricandiana var. vinaceae, fato este observado nas estações do outono e inverno.
Estações com temperaturas amenas aumentam a sobrevivência dos propágulos, possivelmente
por reduzirem sua atividade metabólica, a fim de acumularem reservas. Porém, o uso de 1500 mg

483
L-1 e 3000 mg L-1 de IBA, proporcionou elevação estatisticamente significativa na sobrevivência
dos propágulos na estação do inverno.
A mortalidade não apresenta diferença estatisticamente nas estações do outono e primavera
com uso de diferentes concentrações de IBA. Já no inverno o uso de 1500 mg L-1 sugere uma redução
na mortalidade em relação às demais concentrações. No verão, o uso de 3000 mg L-1 IBA proporcionou
uma elevação estatisticamente significativa na mortalidade. A realização da coleta nas estações do outono e
primavera sem a utilização de IBA reduza porcentagem de mortalidade. Já uso de 1500 mg L-1 e 3000 mg
L-1 IBA aumentam a mortalidade na estação do verão; porém reduzem nas demais estações (Tabela 8).
Tabela 8: Comparação de médias das variáveis comprimento médio de raízes/estaca (CM),
estacas vivas (EV) e mortas (EM) em T. moricandiana var. vinaceae, nas quatro estações do ano
sob 3 concentrações de IBA, após 60 dias de permanência em casa de vegetação, Curitiba-PR.

Variáveis Tratamentos 0 mg L-1 1500 mg L-1 3000 mg L-1


Outono 2,48 bA 2,52 bA 2,33 cA
Silvicultura Tropical

Inverno 2,62 bA 3,28 bA 2,52 cA

CM Primavera 7,56 aB 7,97 aB 11,87 aA

Verão 6,87 aA 8,05 aA 7,95 bA

CV (%) 15,93

Outono 8,75 aA 6,25 aA 7,50 bA

Inverno 2,50 bC 6,25 aA 12,50 aA

EV Primavera 0,00 bA 0,00 bA 0,00 cA

Verão 2,50 bA 0,00 bA 1,25 cA

CV (%) 51,40

Outono 1,25 bA 1,25 bA 1,25 cA

Inverno 15,00 aA 4,00 bB 15,00 bA

EM Primavera 0,00 bA 5,00 bA 0,00 cA

Verão 17,50 aB 18,75 aB 26,25 aA

CV (%) 39,80
Médias seguidas da mesma letra minúscula na vertical e médias seguidas da
mesma letra maiúscula na horizontal, não diferem significativamente entre si
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CV: Coeficiente de variação.

484
IV. Tibouchina moricandiana var. vinaceae Baill.

Figura 5:
Tibouchina
moricandiana
var. vinaceae. A.
Planta matriz. B.
Ramo coletado.
C. Propágulo
confeccionado.
D. Propágulo
enraizado. E-F.
Flores, Curitiba-PR.

485
Silvicultura Tropical

486
V. Tibouchina sellowiana (Cham.) Cogn.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia Agronômica, mestrado e doutorado
em Agronomia - Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR),  Grupo de Estudo
e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

Michele Fernanda Bortolini 


Bióloga, graduação em Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade Es-
tadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), mestrado e doutorado em Agronomia - Produção Vegetal
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Biológicas e doutorado em Ciências

V. Tibouchina sellowiana
Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisio-
logia Vegetal pela Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular do Departamento de Botânica da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA:
1.1 BIOMA: Mata Atlântica
1.2 NOME COMUM: Manacá, Manacá da Serra, Quaresmeira ou Tibuchina
1.3 NOME CIENTÍFICO: Tibouchina sellowiana (Cham.) Cogn.
1.4 FAMÍLIA: Melastomataceae
1.5 PORTE: Arbóreo

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS
Seu pequeno porte não favorece o aproveitamento de sua madeira (REITZ et al. 1988).

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 ÉPOCA DE FLORAÇÃO: Dezembro a maio, ou durante o outono (SOUZA, 1986;
BIONDI; ALTHAUS, 2005).

3.2 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA


De abril a junho (SOUZA, 1986; BIONDI; ALTHAUS, 2005). Os frutos devem ser colhidos ainda
fechados, porém maduros, em seguida submetidos a secagem a sol para a liberação das sementes (BAR-
BOSA et al., 1988).

487
3.3 MANEJO DE SEMENTES
As sementes são consideradas fotoblásticas positivas, recomendando-se o teste de germinação em
papel filtro ou areia, em 30º C e fotoperíodo de 12 horas (BARBOSA et al., 1988).

3.4 QUEBRA DE DORMÊNCIA: Não se faz necessária.

3.5 ARMAZENAMENTO
Sementes de T. sellowiana permaneceram viáveis por 15 dias quando armazenadas em sacos
de papel em câmara seca com 42% de UR (BARBOSA et al., 1988).

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO:
A produção de mudas pode ser realizada com semeadura em canteiro, seguida de
repicagem e transplantio. Como as sementes desta espécie são de difícil coleta e manuseio
Silvicultura Tropical

devido ao tamanho reduzido das mesmas (BARBOSA et al., 1988), a propagação vegetativa pode
ser alternativa na produção de mudas.

4.2 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA:


Para T. selolowiana, recomenda-se que estacas semilenhosas sejam coletadas na época da
primavera, confeccionadas com aproximadamente 10cm de comprimento e um par de folhas na
porção apical, com sua área reduzida pela metade (Figura 6A), submetidas a tratamento com 3.000
mg L-1IBA na forma líquida ou em talco e mantidas em casa de vegetação climatizada por 65
dias, para obtenção de indução radicial (Figura 6B).de aproximadamente 78% de enraizamento
(Bortolini et al., 2008).

5.PATOLOGIA FLORESTAL
5.1 DOENÇAS E PRAGAS
Podem ocorrer manchas foliares causadas por Bagnisiopsis sp. (AUER, 1996).

5.2 OUTRAS INFORMAÇÕES


A espécie Tibouchina sellowiana possui potencial ornamental, com copa bem formada e de floração
exuberante, com flores que variam do branco à coloração rosa até púrpura (Figura 1C). Apresenta ainda funda-
mental importância para a recuperação de ecossistemas degradados (TABARELI; MANTOVANI, 1999).

488
V. Tibouchina sellowiana

Figura 6:
Tibouchina
sellowiana:
A. Estacas
semi lenhosas
confeccionadas.
B. Estacas semi
lenhosas enraizadas
após 65 dias em
casa de vegetação.
C. Planta matriz em
fase reprodutiva.

489
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491
Toona ciliata M. Roem
Giovanna Campos Mamede Weiss de Carvalho
Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), Mestre em Produção Vegetal pela UENF, e atualmente é doutoranda em
Produção Vegetal pela UENF, área de Silvicultura.

Deborah Guerra Barroso


Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Mestre em
Agronomia pela UFLA e doutora pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF). Atualmente é professora Associada na área de Silvicultura e Sistemas
Agroflorestais da UENF.

A espécie pertence à família Meliaceae, uma das nove famílias da ordem


Sapindales (APG, 2003), que compreende 52 gêneros e 600 espécies distribuídas,
principalmente, na região tropical e subtropical, constituída por espécies de interesse
econômico devido aos seus compostos químicos e, principalmente, à qualidade da
Silvicultura Tropical

madeira (Jussieu, 2009; Gouvêa, 2005). No Brasil, essa família engloba cerca de 88
espécies arbóreas, distribuídas entre os gêneros Azadiracha, Cabralea, Carapa, Cedrela,
Guarea, Melia, Swietenia, Toona e Trichilia (Flora do Brasil, 2018).
O gênero Toona foi originalmente descrito, em 1846, por Roemer. As folhas,
raízes, casca e a madeira de espécies do gênero Toona são utilizadas para fins medicinais
como fitoterápicos, por apresentar atividades: antifadiga, antifúngica, antibacteriana,
citotoxicidade, hipoglicemiante, antidiabético, antioxidante, antiúlcera, gastro-protetora,
anti-inflamatória, analgésica, anti-cancerígena e antiproliferativa, devido, principalmente,
à presença de cumarinas, flavonóides, fitoesterol, fenóis, taninos, alcaloides, triterpenos,
esteróides e antraquinonas (Negi et al., 2011).
A espécie foi descoberta por volta de 1790, na Austrália, e após o reconhecimento
do seu potencial madeireiro para construção naval e, posteriormente, para carpintaria,
passou a ser explorada intensivamente. Desta forma, em 1795, foi necessária a emissão
de regulamentos para controlar seu corte em áreas de ocorrência natural, passando a ser
conhecida como “ouro vermelho” (Bygrave & Bygrave, 2005).
Sua principal vantagem, em relação aos cedros brasileiros e a algumas espécies
da mesma família, é a ausência de ataques pela broca Hypsipyla grandella, praga cujos
danos compreendem, principalmente, a redução do valor da madeira em função de
bifurcações no tronco ocasionadas após dano na gema apical.

492
1. BOTÂNICA

O cedro australiano apresenta rápido crescimento, podendo atingir cerca de 20 a 35
m de altura (Figura 1 e 2). Seu tronco é ereto e cilíndrico, às vezes bifurcado, revestido por
casca de cor amarronzada e por casca interna marrom a avermelhada, fibrosa; madeira de
seiva branca, rosa ou vermelha, que exala cheiro forte quando cortada (Lorenzi et al., 2003;
Bygrave e Bygrave, 2005; Hua e Edmonds, 2008).
Segundo Pinheiro et al. (2003), citado por Casara (2016), o tronco de cedro
australiano apresenta sapopemas baixas, assimétricas e pouco desenvolvidas. A casca é
grossa, dura, com deiscência em placas retangulares e escamiformes, de coloração cinza a
marrom, com manchas de líquens.

Toona ciliata M. Roem


Figura 1: Árvore de cedro
australiano (Toona ciliata) com 5 anos
de idade pertencente a empresa Bela
Vista Florestal. Autor: Ricardo Vilela,
Bela Vista Florestal.

Figura 2: Plantio clonal de


cedro australiano (Toona
ciliata) com 4 anos de idade
pertencente a empresa Bela
Vista Florestal. Foto: Ricardo
Vilela, Bela Vista Florestal.

No caule de brotações e mudas da espécie é possível verificar a presenças de lenticelas


(Figura 3).

493
Figura 3: Presença de lenticelas
em brotação de minicepas de cedro
australiano (Toona ciliata) oriundas
do minijardim clonal estabelecido
na Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro - UENF Foto:
Giovanna C.M.W. de Carvalho.

As folhas são alternas, mais comumente paripinadas, mas em algumas plantas da espácie
notam-se folhas imparipenadas (Figura 4 A e B). As folhas são compostas, em geral, por 4-9 pares
Silvicultura Tropical

de foliolos, alternos, de comprimento variado, mas crescente a partir da base da folha até o topo
onde apresenta menor crescimento (Figura 4 A e B).
A coloração das folhas é variável, mas em sua maioria são verdes bem escuras e as juvenis
apresentam coloração avermelhada (Figura 4 C).

A C

Figura 4: Folhas de cedro australiano (Toona ciliata) oriundas de minijardim clonal estabelecido
na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF. Foto: Giovanna C.M.W. de
Carvalho.

494
De acordo com Hua e Edmonds (2008), a espécie apresenta raquis frequentemente
avermelhadas, caracteristica esta observada no clone TC3 (Figura 5) estudado por Lamônica (2013),
Barros (2015) e Oliveira (2016).

A B

Figura 5: Detalhe da raquis avermelhada de folhas de brotações do clone TC3 oriundas do minijradim

Toona ciliata M. Roem


clonal de cedro australiano (Toona ciliata) estabelecido na Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro – UENF. Foto: Giovanna C.M.W. de Carvalho.

O cedro australiano é uma espécie alógama (Pinheiro et al., 2003). Quanto à polinização, a
presença de nectários e de odor atrativo em suas flores, assim como o tamanho reduzido de seu pólen
(Vieira, 2013), sugerem que a espécie é polinizada por pequenos insetos, como abelhas e mariposas,
que, segundo Carvalho (2007), são polinizadores comuns em espécies da família Meliaceae.
As inflorescências, além de muito floridas e perfumadas, apresentam coloração branca a
branco cremoso; são terminais, pendular e as panículas atigem de 25 a 40 cm (Bygrave e Bygrave,
2005; Gouvêa et al., 2008; Hua e Edmonds, 2008).
Na antese, as flores maduras são morfologicamente bissexuais, mas funcionalmente
unissexuais, com os staminodes ou pistilloides sendo bem desenvolvidos nas flores funcionalmente
masculinas ou femininas, respectivamente. As pétalas e os estames não são adnados, mas os estames
são unidos ao ovário em sua base, em flores masculinas e femininas.
Nota-se ainda nas flores um nectário vermelho brilhante na base do gineceu. Nas flores
masculinas, a largura média do ovário é cerca de metade da observada nas flores femininas. O estigma
é capitato, com a diferenciação das papilas estigmáticas (Gouvêa et al., 2008). Os grãos de pólen da
espécie são considerados pequenos e apresentam alta viabilidade em todos os estádios durante a
abertura dos botões florais. Além disso, esta viabilidade é mantida mesmo após o armazenamento
por um período de um ano após a coleta dos mesmos, a qual pode ser realizada no estádio de flor

495
fechada. Essa característica é importante quando o objetivo é realizar polinizações controladas em
programas de melhoramento (Vieira, 2013).
O cedro australiano, apresenta frutos tipo cápsulas oblongas de 2 x 1 cm as quais começam
a apracer quando a planta atinge em torno de 6 a 8 anos. Suas sementes apresentam 1,5 x 0,5 cm
e coloração marrom claro; são aladas em ambas as extremidades, com asas desiguais (Bygrave e
Bygrave, 2005; Hua e Edmonds, 2008).

2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS


NÃO MADEIREIROS

A espécie fornece madeira de boa qualidade e de aceitação mundial para marcenaria e
construção civil (Flora of China, 2008) conforme figura 6.
Silvicultura Tropical

A B

Figura 6: Madeira de cedro australiano (Toona ciliata) no deposito da empresa Bela Vista Florestal.
Fotos: Foto: Ricardo Vilela, Bela Vista Florestal.

Também pode ser empregada em projetos de arborização (Lorenzi et al., 2003); produção
de painéis OSB ou Oriented Strand Board utilizados como paredes e tetos, base de pisos para
aplicação de carpetes, pisos de madeira, ladrilhos, tapumes e barracões de obras, carrocerias,
embalagens, estrutura de móveis, decoração e design (Iwakiri et al., 2014); confecção de painéis
cimento-madeira (Sá et al., 2010); produção de painéis aglomerados (Trianoski et al., 2014);
produção de painéis compensados (Albino et al., 2011); acabamentos internos, sem exposição a
umidade (Almeida et al., 2012); fabricação de moveis (Muller et al., 2004), dentre outras utilidades.
O cedro australiano produz madeira com densidade básica relativamente baixa, segundo
Trianoski et al. (2014), sendo os resultados apresentados pela literatura de: 0,337 g cm-3

496
(Pereyra et al., 2006), 0,306 g cm-3 (Ziech, 2008), 0,306 g cm-3 (Souza, 2008), 0,314 g cm-3
(Nassur, 2010), 0,304 g cm-3 (Ribeiro et al., 2011), 0,320 g cm-3 (Bufalino et al., 2012), 0,318 g
cm-3 (Braz et al., 2013), 0,33 g cm-3 (Trianoski et al., 2014).
Nisgoski et al. (2011), estudando a caracterização anatômica da madeira de cedro
australiano aos 18 anos, plantados na região de Corupá (SC), observaram que a madeira
apresenta cerne e alburno distintos, com coloração variando do castanho avermelhado ao
castanho rosado, anéis de crescimento distintos a olho nu, textura média a fina, com brilho e
grã regular, não sendo indicada para a produção de papel do tipo embalagem. Almeida et al.
(2012) caracterizaram a mesma como sendo de textura média, apresentando linhas vasculares
retilíneas, grã direita ou ligeiramente irregular (inclinada), com cheiro agradável ao corte, sem
gosto, com superfície radial pouco lustrosa, macia ao corte e cerne de coloração bege-rosado,
distinto do alburno que é marrom-claro.
Braz et al. (2013) classificaram a madeira de cedro australiano como leve, com
estabilidade dimensional intermediária e utilização limitada em situações que exijam maiores

Toona ciliata M. Roem


esforços mecânicos, como para fins estruturais, devido aos baixos valores referentes à resistência
mecânica da madeira. Contudo, verificaram que com o aumento da idade são obtidos melhores
valores tanto para as propriedades físicas quanto para as mecânicas.
Bufalino et al. (2015), estudando a composição e propriedades de painéis OSB de
cedro australiano, destacam que o alto conteúdo de extrativos presente na madeira prejudica a
ressitência mecânica, contudo representa efeito positivo nas propriedades de resistência à água.
A madeira da espécie é classificada como moderadamente resistente a biodeterioração em
relação ao fungo xilófago Trametes versicolor e, altamente resistente ao Gloeophyllum trabeum
(Almeida et al., 2012). Além disso, se mostrou suscetível ao ataque do cupim-de-madeira
seca (Cryptotermes brevis). Contudo, apresentou níveis de danos próximos ao moderado em
função da alta mortalidade dos insetos, que foi de 66,58% (Gonçalves e Oliveira, 2006), devido,
provavelmente, à presença de substâncias presentes nos extrativos de sua madeira, como os
limonóides (Ribeiro et al., 2014).
Em povoamento de Marechal Floriano (ES), toras de 18 anos apresentaram grande
presença de nós e protuberâncias, com conicidade pouco pronunciada (Nassur et al., 2013).
Contudo, os autores destacam que as imperfeições podem ser minimizadas, utilizando-se
práticas básicas de condução de plantios de espécies arbóreas como a desrama, uma vez que
não foram realizados tratos culturais na área.

497
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 Produção de sementes
A cada quilograma de sementes de cedro australiano são contabilizados cerca de 170.000 a
220.000 sementes (RAS Florestal, 2013), com percentual de germinação em torno de 70 a 90% (Souza
et al., 2010). O preço do quilo (Kg) das sementes varia conforme fornecedor e região (Tabela 1).
Tabela 1: Preço do quilograma de sementes de cedro australiano (Toona ciliata).
Preço/Kg em real Preço/Kg em dólar* Fornecedor
R$ 1.200,00 US$ 228,28 Fornecedor 1 - BA
R$ 1.300,00 US$ 247,31 Fornecedor 2 - SP
R$ 3.120,00 US$ 593,54 Fornecedor 3 - RS
R$ 990,00 US$188,33 Fornecedor 4 - SP
Levantamento realizado em maio de 2020. *Taxa: 5,2566 Real - Brasil= 1 dólar-EUA, data da cotação:
15/05/2020, Banco do Brasil - www.bb.com.br).

Vale ressaltar a ausência de pomares de produção de sementes de cedro australiano registrados


no Brasil. Portanto, não há a seleção de matrizes para coleta das mesmas, o que resulta no insucesso de
muitos plantios realizados com mudas propagadas por sementes.
Silvicultura Tropical

3.2 Fenologia
Na Austrália, mais precisamente no Lamington National Park (a 30 km do interior da costa, perto
de Brisbane no sudeste de Queensland), o período sem folhas da espécie é de junho a agosto, com
floração em outubro (Heinrich et al., 2009).
O pico de crescimento foliar em cedro australiano na costa sul de Nova Gales do Sul – Austrália, de
acordo com Bygrave e Bygrave (2005), compreende os meses de outubro a março. Os autores destacam
que a coloração das folhas em processo de expansão é inicalmente, vermelha, passando para castanho
avermelhado e por fim verde. A produção de brotações ocorre de setembro a janeiro, sendo esta mais
elevada entre novembro e dezembro. Quanto à floração, esta é acentuada em dezembro com frutificação
em março acompanhada da dispersão de sementes.
Os mesmos autores salientam que, nesse mesmo local, o cedro australiano geralmente perde
suas folhas no final do mês de maio e a nova folhagem começa no final de julho. Desta forma, o ciclo
sazonal de eventos citados ocorre durante um período de cerca de 9 meses.
Ainda sobre a fenologia foliar da espécie, classificada como decídua, a partir da análise de árvores
localizadas em uma floresta de Loharbond, (no distrito de Cachar, no sul de Assam e nordeste Índia), a
iniciação foliar inicia-se em março, com expansão total da folha (32,6 cm2 por folha) no mesmo mês, com
pico de massa seca das folhas (3,067 mg cm-2) em julho e com pico de nitrogênio na massa da folha madura
(0,043 mg cm-2) entre junho e julho. A vida útil de suas folhas é de 168 dias (Athokpam e Garkoti, 2015).

498
3.3 Época de floração
No Brasil, o cedro australiano floresce entre os meses de agosto e novembro, entretanto, devido a
fatores ambientais, já foi observada antecipação de mais de um mês (Gouvêa, 2005; Souza et al., 2010).

3.4 Frutificação e colheita


A frutificação da espécie ocorre entre os meses de janeiro e março (Gouvêa, 2005; Souza et al., 2010).
A colheita de sementes pode ser dificultada em função do porte das árvores, da sua posição
e da deiscência dos frutos, que fazem com que as sementes sejam dispersas rapidamente pelo vento
(dispersão anemocórica). Assim, a colheita deve ser realizada por meio da escalada após maturação dos
frutos, evidenciada pelo seu escurecimento, e início da abertura dos mesmos, principalmente quando se
deseja coletar sementes de matrizes selecionadas.
Na literatura não foram reportados danos em sementes de cedro australiano caudados por
ataque de insetos ou por predação. Porém, assim como o mogno africano (Khaya ivorensis), espécie
arbórea pertencente à mesma família, o cedro australiano é considerado resistente ao ataque da

Toona ciliata M. Roem


Hypsipyla grandella. No entanto, Lemes et al. (2019) relatou pela primeira vez, em maio de 2018, danos
da broca em frutos e sementes de mogno africano em plantio (175 ha) para produção de madeira serrada
no município de Corinto – MG.

3.5 Manejo de sementes


Após a colheita dos frutos, os mesmos devem ser secos a sombra, em local seco e ventilado, até
que completem sua abertura, para então proceder à coleta das sementes.
Para a realização de testes laboratoriais, de acordo com o Manual de Procedimentos para Análise
de Sementes Florestais (Lima Junior, 2010), é comum para algumas espécies florestais a realização da
assepsia das sementes com solução comercial de NaClO. Para tal, 1 mL ou 2 mL da solução comercial de
hipoclorito de sódio são dissolvidos em 100 mL de água. Em seguida, as sementes, são submergidas
na solução, agitadas cuidadosamente e deixadas em repouso por dois minutos. Depois, utiliza-se uma
peneira para lavar as sementes em água corrente e por último é realizado enxágue com água destilada.
Para secagem, as sementes devem ser dispostas sobre papel absorvente. Para cedro australiano,
antes da realização desses testes, Lucchese et al. (2018) recomendam que as sementes removidas do
armazenamento sejam desinfetadas em álcool 70% por 30 segundos e NaClO a 1% por 60 segundos,
seguidas de lavagem em água esterilizada por 60 segundos.

499
3.6 Armazenamento
As sementes de cedro australiano, apresentam comportamento ortodoxo (Pereira et al., 2015),
entretanto, perdem rapidamente o potencial de germinação após colhidas. Segundo Scocchi et al. (2006),
as sementes quando em temperatura ambiente, aos 4 meses, apresentam 50% do poder germinativo
e aos 9 meses 0%. Já em ambiente com temperatura reduzida (refrigerador a 4±1ºC), as sementes
apresentaram 50% de poder germinativo aos 8 meses e 10% aos 12 meses de armazenamento.
A redução no percentual de germinação também ocorre em outras condições. Em embalagem
multifoliada, em condições de temperatura ambiente (25±2°C), sementes de cedro australiano
apresentaram 78% de germinação após um mês de armazenamento, sendo o percentual reduzido para
54% aos seis meses (Blesa et al., 2017).
A variação no fotoperíodo de 12h e 24h de luz não influencia a germinação das sementes desta
espécie, cujos testes laboratoriais devem ser conduzidos em substrato sobre papel, de acordo com
Medeiros et al. (2015). Segundo o autor, a salinidade pode prejudicar o desenvolvimento das plântulas
da espécie, a partir da concentração de 20 mM.
Silvicultura Tropical

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 Propagação sexuada
A qualidade da muda produzida é de grande importância, pois garantirá o sucesso do plantio. A
produção de mudas do cedro australiano pode ser realizada via sementes. Para isso, devido ao tamanho das
mesmas, estas devem ser semeadas primeiramente em bandejas, sendo distribuídas de forma uniforme e
recobertas por uma fina camada do mesmo substrato utilizado (Kalil Filho e Wendling, 2012).
Quanto ao substrato ideal para emergência de plântulas, Migliorini et al. (2015) recomendam
a utilização dos substratos compostos de casca de arroz carbonizada e vermiculita, visto maior
desenvolvimento inicial da espécie.
A germinação das sementes ocorre dentro de 7 a 21 dias e as plântulas devem ser repicadas com
cerca de 5 cm de altura (Kalil Filho e Wendling, 2012).

4.2 Estruturas, Recipientes e substratos


Para a produção de mudas em regiões propensas a geadas, recomenda-se a utilização de telas de
sombreamento. O uso de uma camada simples de tela de sombreamento (50%) é eficiente para proteção e,
consequentemente, para o melhor desenvolvimento das mudas de cedro australiano (De Marco et al., 2014).

500
O recipiente mais utilizado para a espécie é o tubete, entretanto o volume do mesmo pode
influenciar o crescimento e desenvolvimento das mudas, principalmente do sistema radicular.
Desta forma, o tubete recomendado para produção de mudas da espécie é o de 280 cm3 por
proporcionar maior crescimento em altura e diâmetro à altura do colo (Lisboa et al., 2012).
Além do recipiente, o substrato é um dos insumos mais importantes para a produção de
mudas florestais. Em geral para produção de mudas da espécie utiliza-se substrato florestal comercial.
Portanto, a escolha do mesmo deve ser feita em função de suas características físicas e químicas, bem
como das condições ambientais no viveiro. A utilização de biossólido ou lodo de esgoto tratado como
um dos componentes do substrato de mudas de cedro australiano é recomendado nas proporções
de 70 a 100% com diferentes proporções de outros componentes como terra de subsolo (até 30%),
esterco bovino e substrato comercial (Caldeira et al., 2012).
Para a produção de mudas de cedro australiano, em geral, utiliza-se adubos de liberação lenta em
mistura com o substrato. Esses são responsáveis pela distribuição gradual dos nutrientes, favorecendo a
sincronização entre a liberação e demanda de nutrientes requeridos pela planta (Shaviv, 2001).

Toona ciliata M. Roem


Recomenda-se para a espécie fertilizante de liberação lenta Osmocote Plus®, na formulação
de 15-09-12, é de 8,0 kg m-³ de substrato (Somavilla et al., 2014). Kalil- Filho e Wendling (2012)
obtiveram sucesso na produção de mudas de cedro australiano oriundas de sementes utilizando
substrato composto por 50% de casca de pinus decomposta, 25% de fibra de coco moída e 25% de
turfa, e enriquecido com 1,3 Kg de adubo de liberação lenta (Osmocote: 15-9-12), por m3 de substrato.
Os FMAs proporcionaram incrementos significativos no crescimento e na nutrição das mudas
da espécie, destacamdo-se as espécies Gigaspora margarita, Glomus clarum e Glomus etunicatum
(Lima et al. (2015). Além disso, foram observados desempenho superior ou equivalente das mudas
com FMAs em relação as mudas cultivadas em solos adubados com fósforo, podendo haver redução de
custos com adubação fosfatada pelo uso de fungos micorrízicos.

4.3 Propagação assexuada


O cedro australiano apresenta grande potencial para com a propagação vegetativa, sendo
esta de grande importância no caso de estabelecimento de povoamentos voltados para produção
madeireira, uma vez que a mesma permite a seleção e multiplicação de materiais com características
silviculturais desejáveis, bem como mantem a uniformidade do plantio.
Lamônica et al. (2012) e Pereira et al. (2015) obtiveram sucesso no resgate de material
adulto da espécie utilizando a técnica do corte raso (Figura 7), seguida da coleta das brotações e
multiplicação dos materiais, em casa de vegetação, por estaquia.

501
A B

Figura 7: Mudas formadas por estaquia após coleta de brotações da cepa, oriundas do resgate
vegetativo de cedro australiano (Toona ciliata) por corte raso. Fotos: Kelly Ribeiro Lamônica.

Lamônica (2012) também avaliou outros métodos de resgate de materiais adultos no campo
como anelamento e semianelamento, além da coleta de galhos, porém sem sucesso na fase de
Silvicultura Tropical

enraizamento (Figura 8).

A b

Figura 8: Resgate vegetativo de cedro australiano (Toona ciliata) por Brotações de ramos adultos
em leitos de areia. Fotos: Kelly Ribeiro Lamônica.

Além da estaquia, o cedro australiano pode ser propagado com sucesso por miniestaquia
(Figura 9 e 10) (Ferreira, 2009; Silva et al., 2012; Lamônica, 2013; Souza et al., 2014; Maluleque,
2014; Oliveira, 2016; Barros, 2015), sendo viáveis as miniestacas obtidas de todas as posições ao
longo das brotações (Ferreira et al., 2012), com miniestacas apresentando elevado percentual de
enraizamento (100%) sem necessidade de aplicação de reguladores de crescimento (Souza et al.,
2009; Lamônica, 2013).
A produtividade de miniestacas é variável conforme condução e manejo do minijardim
(Tabela 2), o que determinará a capacidade produtiva do viveiro.

502
A B

Figura 9: Implantação do minijardim clonal de cedro australiano (Toona ciliata) na Universidade

Toona ciliata M. Roem


Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF. A. Minijardim clonal de cedro australiano;
B. Coleta de brotações do minijardim clonal; C. Miniestacas caulinares em setor de enraizamento
(câmara de nebulização intermitente). Fotos: Kelly Ribeiro Lamônica e Giovanna C.M.W. de Carvalho.

A B

C D

Figura 10: A. Minijardim clonal de cedro australiano (Toona ciliata) estabelecido na empresa Bela
Vista Florestal; B. Coleta de miniestacas de cedro australiano; C. Mudas clonais de cedro australiano
e D. Sistema radicular de muda clonal de cedro australiano. Fotos: Ricardo Vilela, Bela Vista Florestal.

503
A utilização de miniestacas foliares não é recomendado para espécie, pois apesar do
alto percentual de enraizamento (96%) as mesmas não apresentaram emissão de brotação
após enraizamento, não havendo, portanto, crescimento e desenvolvimento da parte aérea
(Moraes et al., 2014).
Tabela 2: Produtividade de miniestacas/minicepa de cedro australiano (Toona ciliata)
estabelecidos em diferentes sistemas.
Referência Sistema Tipo de miniestaca Produtividade Nº Coleta/Intervalo
Ferreira 2009 Canaletão Caulinar 3,6 7 / 15 dias
Canaletão Caulinar 3,5 6 / 32 dias
Silva et al. 2012
Tubete Caulinar 1,24 4 / 32 dias
Lamônica 2013 Canaletão Caulinar 2,59 a 4,54 10 / 30 dias
Canaletão Caulinar 2,6 5 / 32 dias
Souza et al. 2014
Tubete Caulinar 1,0 3 /31 dias

Clones propagados por miniestaquia apresentam maior controle da perda de água através
das folhas, em comparação com mudas oriundas de sementes (Oliveira et al., 2019). Entre os três
Silvicultura Tropical

clones estudados, não foi observada diferença na condutividade hidráulica das raízes, nem no
crescimento radicular. Todavia, houve variação no controle estomático entre os mesmos.
Além dos métodos de propagação citados anteriormente, a enxertia também foi estudada.
Todavia, com o objetivo de conferir resistência à broca Hypsipyla grandella em espécies da mesma
família suscetíveis ao ataque. Os estudos mostraram que podem ocorrer problemas como a
incompatibilidade entre os materiais, verificadas no enxerto de Toona ciliata em Swietenia macrophylla
(Perez et al., 2010), inviabilizando a utilização da técnica. Alem disso, não foi relatado problemas de
incompatibilidade no autoenxerto de cedro australiano.
Na enxertia de Cedrela fissilis (enxerto) em cedro australiano (porta-exerto) o pegamento
observado foi de 95%, resultado superior para mesma combinação de espécies utilizando o cedro
australiano como enxerto que apresentou pegamento de 60% (Kalil Filho e Hoffmann, 2008).

4.4 Nutrição
As mudas da espécie devem ser adubadas para manter seu vigor de crescimento e
desenvolvimento, visto a elevada exigência nutricional (Souza et al., 2010; Moretti et al., 2011).
Os nutrientes N, P, K, S e Mg, além do calcário, limitam o crescimento inicial das plantas. E entre os
micronutrientes o Cu foi o que mais limitou o crescimento inicial em altura. Desta forma, a ordem de
exigência nutricional apresentada pelas plantas de cedro, verificado por Moretti et al. (2011), é P, N, S,
Ca, K, Mg e Cu.

504
Fontes et al. (2013) estudou o efeito de cinco doses de fósforo (20, 100, 200, 300 e 400
mg dm–3) e dois níveis de calagem (0,0 e 0,5 vezes a necessidade de calagem) em mudas de
cedro australiano conduzidas em casa de vegetação. Os autores observaram comportamento
linear da espécie em resposta à adição de doses de P e a calagem. Para o primeiro caso os
autores inferem que a fração do P (5 - 173 mg dm-3) disponível para absorção da planta estava
abaixo do ideal à expressão da máxima produção de biomassa, assim esta apresentou menor
resposta à adição de P. Além disso, os autores sugerem que o cedro apresente algum mecanismo
de regulação de acúmulo de P na parte aérea em virtude do comportamento quadrático à adição
de P, em relação à eficiência de translocação deste nutriente.
Em estudo com clones de cedro australiano Lamônica (2013) verificou que o potássio foi o
nutriente mais exportado pelas minicepas dos três clones, seguidos do N, Ca, P, Mg, S, Mn, Fe, Zn, B e
Cu. Resultados semelhantes foram obtidos por Souza et al. (2014), que verificaram que os nutrientes
mais extraídos pelas minicepas, no de­correr das coletas de miniestacas, em minijardins conduzidos
em canaletão e tubete, foram o nitrogênio e o potássio. Oliveira et al. (2019), trabalhando com a

Toona ciliata M. Roem


mesma espécie verificou que o potássio, o nitrogênio e o cálcio, ao final de 432 dias de exploração
dos minijardins, foram os nutrientes mais exportados para os três clones avaliados.
No caso de micronutrientes, o crescimento de mudas de cedro mediante a aplicação
de doses de boro (0, 1, 2,5 e 10 mg dm³) não foi influenciado, provavelmente em função da
concentração presente no solo, a qual foi suficiente para o crescimento das mudas. Contudo,
a aplicação de 10 mg dm³ de boro não é recomendada visto o aparecimento de sintomas de
toxidez, reduzindo percentual de sobrevivência das mesmas (Oliveira, 2016).
A demanda por nutrientes pode ser diferente conforme genótipos da mesma espécie
como observado por Lamônica (2013) para três clones de cedro australiano. Batista (2014),
trabalhando com quatro clones da mesma espécie, além das diferenças de utilização dos
nutrientes P, K, Ca e Mg, verificou diferenças quanto ao crescimento, produção de biomassa e
eficiências de absorção e translocação dos nutrientes.
Para mudas de cedro australiano Moretti et al. (2011) descreveram os sintomas visuais de
deficiência de nutrientes (Tabela 3), onde os sintomas de deficiência de enxofre foram os primeiros
a serem detectados, seguidos do calcário e nitrogênio, 30 dias após o transplantio das mudas.

505
Tabela 3: Descrição dos sintomas visuais de deficiência nutricional em Toona ciliata.
Nutriente Sintomas
Redução do tamanho; menor número de folhas; folhas velhas com coloração
Nitrogênio (N) verde-pálida progredindo para amarelo intenso uniforme no limbo, pecíolo
e nervuras.
Menor crescimento das plantas; menor número de folhas; raiz principal
Fósforo (P) mais longa e com poucas raízes laterais; folhas com tonalidade amarelada,
com pouco brilho e, posteriormente, arroxeadas.
Redução do tamanho da planta; clorose marginal a partir do ápice das folhas
Potássio (K) mais velhas avançando em direção à parte central, por entre as nervuras;
necrose das folhas.
Folhas mais novas recurvadas para baixo e com surgimento de clorose
Cálcio (Ca) seguida por necrose nas pontas; redução do número de folhas; raízes menos
desenvolvidas e espessas, com poucas raízes laterais e de coloração escura.
Magnésio (Mg) Clorose internerval das folhas mais velhas; redução da altura das plantas.
Coloração verde nas folhas novas, em um tom mais claro; crescimento em
Enxofre (S)
altura reduzido; prejuízos desenvolvimento da raiz.
Fonte: Moretti et al. (2011).
Silvicultura Tropical


A identificação dos sintomas visuais de deficiência ou toxidez de nutrientes em plantas
constitui uma ferramenta que deve ser utilizada em conjunto com a análise química da planta e do
solo, com o objetivo de realizar correções no programa de adubação. Esses trabalhos evidenciam
a necessidade de programa de adubação diferenciado entre os materiais genéticos da espécie, a
fim de se obter resultados positivos quanto ao vigor e sobrevivência das mudas produzidas após
plantio no campo.

5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO


A espécie apresenta grande potencial de melhoramento genético, já tendo sido iniciado
o processo de seleção de materiais (Rosado et al., 2019).
Em 2006 foi criado o Programa de Melhoramento Genético do Cedro Australiano da empresa
Bela Vista Florestal, com o apoio de instituições como CSIRO, a Universidade Federal de Lavras (UFLA),
o Instituto Estadual de Florestas – IEF/MG, entre outras. A empresa desenvolveu 6 clones da espécie,
registrados no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) (Figura 11).
O avanço de programas como este, permitirá a oferta de materiais adaptados a
diferentes condições edafoclimáticas, maior homogeneidade, produtividade e resistência a
pragas e doenças.

506
A B

C
Figura 11: A e B.
Hibridação em cedro
australiano realizado
pelo Professor
Sebastião Carlos da
Silva Rosado (UFLA); C.
Plantio de sementes ao
lado de plantio clonal
de cedro australiano

Toona ciliata M. Roem


(Toona ciliata). Foto:
Ricardo Vilela, Bela
Vista Florestal.

6. PLANTIO, CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


Os plantios de cedro australiano em solo brasileiro encontram-se distribuídos pela região


sudeste, principalmente, nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo (Flora do Brasil, 2018).
De acordo com Souza et al. (2010) a cultura pode ser estabelecida em ampla faixa de altitude (até
1.700 m), apresentando redução na velocidade de crescimento quando em altitudes mais acentuadas,
corroborando, portanto, o zoneamento agroecológico de pequena escala para a espécie, na Bacia do Rio
Itapemirim –ES, realizado por Paiva et al. (2007), que restringe o plantio da espécie na região norte da
Bacia devido a maiores altitudes. Ainda segundo os autores, boa parte da Bacia apresenta boas condições
para o cultivo desta espécie, representando cerca de 52,2 % da área.
No Estado do Espírito Santo, 73% do território estadual foi classificado como inapto,
enquanto apenas 27% se encontra apto ao cultivo (Klippel et al., 2009).
O cedro australiano apesar de tolerante a baixas temperaturas, não resiste a geadas intensas
(Navroski et al., 2017). Contudo, plantios acompanhados pela empresa Bela Vista Florestal, no estado
de MG, SP, PR e SC demonstram que a espécie é capaz de tolerar geadas leves. A temperatura ideal
para o desenvolvimento dos plantios de cedro australiano está entre 20 a 26ºC (Souza et al., 2010).

507
No Brasil a espécie desenvolve-se em áreas com precipitação anual de 1.100 mm (Souza
et al., 2010). Apesar de ser considerada moderadamente tolerante à falta de água, a mesma é
altamente responsiva à quantidade de água disponibilizada durante seu cultivo, porém não tolera
longos períodos de encharcamento.

6.1 Preparo do solo


Para o estabelecimento de plantios da espécie devem ser evitados solos rasos ou que
apresentem elevada compactação e/ou algum impedimento físico (Souza et al., 2010). De acordo
com a empresa Bela Vista Florestal, a espécie apresenta melhor desenvolvimento em solos aluviais,
latossolos bem corrigidos, férteis e eutróficos e, em solos de textura média. Portanto, no caso de
solos arenosos pobres, o plantio pode ser recomendado mediante preparo e correção do mesmo, em
função da necessidade apresentada pelo genótipo utilizado.
O plantio pode ser realizado após preparo convencional do solo ou sob cultivo mínimo.
A prática da subsolagem é importante para a espécie, mas caso são seja adotada, é importante a
Silvicultura Tropical

abertura de covas com no mínimo 40 cm de diâmetro e profundidade.


O combate a formigas cortadeiras é imprescindível para a espécie, cujos ataques se dão
imediatamente após o plantio a formigas e cupins antes do plantio e após o plantio assim como para
as demais espécies florestais.

6.2 Correção e adubação


O cedro australiano é uma cultura exigente em nutrientes, sendo necessária a realização das
práticas de correção do solo e adubação mediante análise do solo.
Braga e Neto (2011) constataram efeito positivo no crescimento inicial da espécie com
elevação da saturação por bases por meio da aplicação de diferentes doses de calcário (12% MgO e
50% CaO). Na ausência de calagem foram constatados sintomas visuais de deficiência, provavelmente,
em função dos baixos teores de Ca (0,1 cmol dm-3) e Mg (0,1 cmol dm-3) no solo. Os autores destacam
a necessidade da correção da acidez do solo quando a saturação por bases estiver abaixo de 50%.
A espécie mostra-se responsiva à adubação com enxofre, mesmo em solos com teor inicial de
6,2 mg dm-3 (Braga et al., 2014). Os autores recomendam adubação sulfatada, uma vez que obtiveram
bons resultados com doses variando de 65 a 72 mg dm-3.
Da Ros et al. (2014), avaliando o crescimento inicial no campo de cedro australiano consorciado
com Eucalyptus grandis com quatro doses de fósforo (0, 50, 100 e 150 kg ha-1 de P2O5), observaram
que não houve resposta à adubação fosfatada, o que atribuíram ao pH do solo (6,1), contribuindo

508
para disponibilização de nutrientes, atendendo assim as exigências nutricionais nos estágios iniciais
de crescimento da cultura, mesmo com teor médio no solo de 4,5 mg dm-3. Os mesmos autores
avaliaram também o crescimento do cedro sob quatro doses nitrogênio (0, 25, 50 e 75 kg ha-1 de N),
recomendando 44 kg ha-1 de N.

6.3 Epaçamento
A empresa Bela Vista Florestal recomenda os espaçamentos 3x4 m e o 3,5 x 3,5 m, não sendo
indicados os espaçamentos menores do que 9 m2 por planta e maiores que 13 m2/planta, devido à
intensidade de desbastes e ausência de testes em espaçamentos maiores. 
A cultura tem sido utilizada na Zona da Mata, Minas Gerais, em sistemas agroflorestais (SAF)
com café, com o intuito de diversificar a produção, bem como a conservação, por meio do aumento
da matéria orgânica do solo. Muller et al. (2004) verificaram que o espaçamento 2,5 x 3 m não é
recomendado para o sistema, pois o adensamento da espécie florestal reduziu a produtividade do
café. Em contrapartida, no sistema com café no espaçamento 2 x 1,2m e cedro em fila indiana, a

Toona ciliata M. Roem


produção do café se manteve com a produção de grãos maiores e com maturação mais homogênea.
No consórcio entre cedro australiano e café a empresa Bela Vista Florestal recomenda os
espaçamentos de 17 x 6 m ou 20 x 5 m, sendo plantadas 4 linhas de café puro e uma de café com
cedro. Em caso de baixa disponibilidade de mão de obra para colheita, uma linha apenas de cedro.
Em plantio misto com jequitibá rosa (Cariniana legalis), boleira (Joannesia princeps) e farinha
seca (Pterigota brasiliensis), no espaçamento 3 x 3 m, a cultura apresentou alta sobrevivência (71%)
e maior crescimento em altura (média igual a 2,77 m), diâmetro do colo (média igual a 48,44 mm) e
diâmetro da copa (média igual a 170,95 cm) aos 12 meses após o plantio.

6.4 Plantio
O plantio deve ser realizado de preferência no período chuvoso, sendo recomendação a
utilização de irrigação durante veranicos e plantios tardios. As mudas devem ser plantadas de forma
que parte de cima do torrão fique nivelado ao solo (Figura 12), evitando o excesso de terra sobre o
caule da muda, que pode ocasionar a queima do mesmo e, consequentemente, a morte da planta
levando a falhas no plantio.
Dentre as recomendações, logo após o plantio está a reposição de plantas que morreram, a
fim de evitar a irregularidade do povoamento, bem como roçadas na linha de plantio e coroamento
das mudas para impedir e/ou reduzir a mato competição.

509
A B

C D E
Silvicultura Tropical

Figura 12: Plantio correto de mudas de cedro australiano realizado no Primeiro dia de Campo
sobre cedro australiano da Bela Vista Florestal em 2016. A. Modelador de cova para plantio
das mudas; B. Muda de cedro australiano na cova; C. Fechamento da cova; D. Muda plantada; e
E. Cone de papel (patenteado pela empresa Bela Vista Florestal) que tem por objetivo proteger
a muda contra queima das raízes, escaldadura do caule pelo aquecimento do solo no verão.
Fotos: Giovanna C.M.W de Carvalho

6.5 Capinas manuais ou químicas


Quanto a utilização de herbicidas como controle de plantas invasoras em áreas cultivadas
com a espécie, vale ressaltar a ausência de produtos registrados e específicos para mesma. Desta
forma, estudos sobre a fitotoxidade de herbicidas foram realizados para cultura, onde constatou-se
que o haloxyfop-methyl apresenta potencial para ser utilizado nos plantios com a espécie por não
ocasionar alterações no desenvolvimento da mesma (Oliveira et al., 2008).
Os herbicidas glyphosate e sulfentrazone não devem ser recomendados por ocasionar a
morte de algumas plantas da espécie (Oliveira et al., 2008), assim como o oxyfluorfen, isoxaflutole,
chlorimuronethyl, imazethapyr e nicosulfuron, por proporcionarem altos níveis de fitotoxicidade para
espécie, sendo observados clorose acentuada e redução do número de folhas (Brighenti e Muller, 2014).

6.6 Tratos silviculturais


O cultivo de cedro australiano depende da prática da desrama (Figura 13 e 14), em especial
para materiais provenientes de sementes. A primeira desrama pode ser realizada, de forma moderada,

510
aos dois anos após o plantio. As demais deverão ser feitas paralelamente ao desbaste e de acordo com
o crescimento da planta.

A B c

d e

Toona ciliata M. Roem


Figura 13: Desrama em cedro australiano (Toona ciliata) realizado no Primeiro dia de Campo sobre
cedro australiano da Bela Vista Florestal em 2016. A. Seleção do galho; B. corte de parte do galho a
fim de evitar que o peso do mesmo durante o corte cause ferimentos no tronco da arvore; C. corte
do galho; D e E. detalhe no tronco após o corte do galho. Fotos: Giovanna C.M.W. de Carvalho.

É importante que a desrama não exceda 50% da altura da planta, a fim de não comprometer o
crescimento das mesmas e a formação do fuste (Souza et al., 2010) ou 30% do volume de folhas (Bela
Vista Florestal, 2018) devendo ser realizadas rentes ao tronco.
A empresa Bela Vista Florestal (2018) recomenda três períodos de desramas leves na
implantação. A primeira, desrama de condução, aproximadamente aos 7 meses; a segunda desrama
de galhos baixos, aos 19 meses e a desrama de galhos altos aos 31 meses; podendo haver a
necessidade de podas de galhos em plantas que apresentem bifurcação.
Povoamentos com mudas produzidas por sementes, no espaçamento 3 x 2 m, podem ter o
primeiro desbaste realizado entre 2 e 5 anos com remoção seletiva de 60% dos indivíduos, e o segundo
aos 10 anos, com a remoção de 50%, conforme a heterogeneidade do material. Desta forma ao final do
ciclo 80% das plantas serão desbastadas, com população final de 333 plantas/ha. Para povoamentos
clonais, com máximo 12 m2 e mínimo de 9 m2 por planta, também são recomendados dois desbastes,
sendo o primeiro entre 2 e 3 anos, com a remoção seletiva dos 25% indivíduos inferiores, o segundo, aos
8 anos, pode ser realizado de forma sistemática eliminando 50% do estande (Bela Vista Florestal, 2018).

511
Figura 14: Desrama
de cedro australiano
(Toona ciliata) em
plantio consorciado
com café realizado na
empresa Bela Vista
Florestal em 2016.
Foto: Ricardo Vilela,
Bela vista Florestal.

7. POTENCIAL PRODUTIVO
O corte do cedro australiano (Figura 15, 16 e 17) de acordo com Souza et al. (2010) pode
ocorrer, aproximadamente, aos 12 anos. Contudo, experiências com a espécie obtidas em plantios na
Silvicultura Tropical

empresa Bela Vista Florestal mostram que o corte deve ser realizado a quando a planta apresentar no
mínimo 50 cm de DAP, por volta dos 15 anos após o plantio. Diante disso, a colheita pode ser antecipada
ou adiada levando-se em consideração as condições do povoamento e a finalidade da madeira.
De acordo com Souza et al. (2010), a produtividade média do cedro australiano aos 10
anos, é de 150 m3 ha-1. Segundo a Bela Vista floresta inventários feitos mostram que produtividade
anual de cedro australiano clonal está entre 17 e 37 m3 ha-1, até o terceiro ano. A empresa destaca
que para plantios de cedro oriundos de sementes a produtividade esperada é de 15 m3.ha-1.ano e
para clones, de 30 m3.ha-1.ano.
O crescimento da espécie em Adrianópolis – PR foi avaliado por meio dos anéis de crescimento.
Para isso foram coletados discos a 1,30 m de altura (DAP) e estabelecidas classes diamétricas ao longo
do tempo, sendo observadas diferenças de crescimento entre as mesmas. As árvores enquadradas
na classe de menor diâmetro apresentaram menor incremento (1,0 cm/ano) logo após o plantio,
enquanto as demais classes apresentaram crescimento inicial satisfatório. No entanto, segundo o
autor este incremento foi inferior ao encontrado pelo mesmo na literatura para espécie. As árvores
com diâmetro na classe intermediaria (21,5 a 25,6 cm) apresentaram crescimento lento a partir do
quarto ano e as de maior diâmetro (máx. 43,1 cm) tiveram o crescimento estabilizado a partir do nono
ano de cultivo (Ricken et al., 2011). Estas avaliações ajudam a definir o manejo da cultura.
De acordo com a Bela Vista Florestal para o cedro oriundo de mudas de sementes no 5º ano
realiza-se desbaste seletivo de 1.000 plantas (30 m3 de lenha); no 10º ano, desbaste seletivo de 333

512
plantas (48 m3 rendimento na serraria de 33%, ou 16 m3 serrados); no 15º ano, corte raso de 333
plantas (122 m3, rendimento na serraria de 50% ou 61 m3 serrados). Para clones, realiza-se desbaste
seletivo no 2º ano de 200 plantas (15 m3 de lenha); no 8º ano desbaste seletivo de 300 plantas (120
m3, rendimento na serraria de 33% ou 40 m3 serrados) e no 15º ano, corte 300 plantas (220 m3,
rendimento na serraria de 50% ou 110 m3 serrados).
Os custos de implantação da espécie variam com a localização da propriedade e condições da área.
O retorno estimado para plantios de cedro por clones desenvolvidos pela Bela Vista Florestal, segundo a
empresa, pode ser o dobro de povoamentos implantados a partir de sementes hoje disponíveis no mercado.
Com o objetivo determinar o fator de forma para o cedro australiano, uma cubagem foi
realizada a partir de 117 árvores pertencentes a um plantio comercial, em espaçamento 3 x 2 m,
estabelecido em 1999 na Fazenda Berneck, localizada em Adrianópolis – PR. O volume real médio
por árvore da madeira de cedro australiano com casca foi de 0,52 m3 e sem casca foi de 0,49 m3. Os
fatores de forma (volume real / volume cilíndrico) médios calculados para árvores individuais com e
sem casca foram de 0,54 e 0,51, respectivamente (Kalil Filho et al., 2019).

Toona ciliata M. Roem


A b

c d e

Figura 15. Colheita de cedro australiano com 8 anos (Toona ciliata) realizada na empresa Bela Vista
Florestal. Foto: Ricardo Vilela, Bela vista Florestal.

513
A b

Figura 16. Colheita de toras de cedro australiano (Toona ciliata) com 50 a 70 cm de diâmetro, aos
12 anos após o plantio, obtidas a partir de plantio consorciado com café, realizado pela empresa
Bela Vista Florestal. Foto: Ricardo Vilela, Bela vista Florestal.
Silvicultura Tropical

Figura 17: Madeira


de desbaste de cedro
australiano (Toona ciliata)
realizada na empresa Bela
Vista Florestal aos 4,5 anos
de idade. Foto: Ricardo
Vilela, Bela vista Florestal.

8. PATOLOGIA FLORESTAL
O ataque de pragas e o desenvolvimento de patógenos, dependendo do nível dos danos, podem
inviabilizar um plantio. Segundo Abrahão (2012), trabalhando em plantios e remanescentes florestais de Mata
Atlântica em propriedades particulares vinculadas ao Programa de Conservação da Biodiversidade em Terras
Privadas, promovido pelo Instituto BioAtlântica –IBio, em uma dessas propriedades, localizada Jaguaré – ES, o
cedro australiano foi a espécie que apresentou maior número de indivíduos recrutas. Entretanto, a espécie se
destacou pela maior frequência de indivíduos mortos, devido ao desenvolvimento comprometido pela ação
de insetos, sendo este detectado pela presença de perfurações nos fustes causados possivelmente por cupins.

8.1 Doenças
O fungo fitopatogênico Phyllachora balansae Speg. tem sido comumente encontrado em
folhas e hastes de cedro australiano e em outras espécies da mesma família (Viana et al., 2012;
Zacaroni et al., 2013; Silva, 2014).

514
Para cedro-rosa (Cedrela fissilis), pertencente à mesma família do cedro australiano, os sintomas
da doença podem ser descritos inicialmente pelo aglomerado de pontuações pretas sobre o limbo
com posterior amarelecimento desta região, formando uma mancha irregularmente arredondada, de
coloração marrom, podendo ou não ser circundada por uma borda amarela (Viana et al., 2012). Segundo
os autores, pode haver a formação de grandes áreas cloróticas, dando à folha um aspecto de mosaico.
A remoção das folhas afetadas pela doença e aplicação de caldas com ação fungicida podem ser
utilizadas para o controle, não havendo ainda na literatura produtos químicos específicos para cultura.
Em regiões da Índia foram relatadas presença de fungos cercosporioides em cedro australiano, como
Pseudocercospora toonae em mudas, apresentando rápida disseminação no viveiro; Pseudocercosporella
miliusae em plantas jovens no campo, com cerca de 2 m de altura, e Pseudocercospora duabangae, presente
nas folhas maduras, em florestas naturais e plantios (Mehrota e Verma, 1991).
No Brasil ainda não há relatos da ocorrência de fungos cercosporioides em cedro australiano.
Contudo, Silva (2014) observou em mudas de cedro australiano, do viveiro florestal do Departamento
de Ciências Florestais da UFLA, manchas de cor marrom no limbo foliar, com formato circular irregular a

Toona ciliata M. Roem


angular e diâmetro entre 2 e 7 mm, sem formação de halo.
Os sintomas dessa doença caracterizam-se por manchas marrons nas folhas, rodeadas por
tecido clorótico, evoluindo para manchas irregulares ou angulares, variando a coloração de canela
a marrom. As lesões totalmente desenvolvidas são ligeiramente deprimidas e necróticas1.
Para esta espécie florestal não se encontra opções para o controle químico, entretanto práticas
culturais para outras culturas de ciclo perene podem ser adotadas, como a utilização de sementes
sadias, viveiros bem arejados e com sombreamento adequado, manter o suprimento de nutrientes
adequados e evitar irrigação excessiva.

9. OUTRAS INFORMAÇõES
O cedro australiano foi identificado como uma das espécies arbóreas promissoras para
a pesquisa dendroclimatológica na região da Australasia (região que inclui a Austrália, Nova
Zelândia, Nova Guiné e pequenas ilhas da parte oriental da Indonésia), uma vez que foi observada
produção anual de aneis distintos, característica essa considerada um pré-requisito para a
dendroclimatologia tropical de alta qualidade (Heinrich et al., 2009). Este estudo mostrou que as
diferenças nas larguras dos anéis dependem principalmente da precipitação anual.
O cedro australiano está entre as espécies arbóreas de preferência dos morcegos Pteropus

1 Sintomas descritos em Agrofit.


Link: http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons

515
giganteus para formação de colônias de poleiros ativas, observadas em florestas fragmentadas de
Tripura, nordeste da Índia. Durante o dia ensolarado esta espécie prefere folhas maiores devido ao maior
sombreamento das mesmas e, às vezes, mudam para folhas compostas paripinadamente (lotadas no
final do galho) como as de cedro australiano, as quais ajudam a manter a escuridão e a temperatura
necessárias durante o periodo da tarde (Majumdar et al., 2016).

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523
Trithrinax acanthocoma Drude
(ARECACEAE)
Pablo Melo Hoffmann
Engenheiro Florestal, graduação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Doutorando em Ciências Florestais (UFPR). Atualmente Diretor Executivo da
Sociedade Chauá e Coordenador do Viveiro Chauá de espécies nativas da Floresta
com Araucária.

Elivelton Marcos Gurski


Engenheiro Florestal, graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Mestrando em Conservação da Natureza pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Atualmente Diretor Técnico da Sociedade Chauá, atuando em trabalhos e
pesquisas na área de conservação da natureza e silvicultura de nativas da Floresta
com Araucária.

Santiago José Elías Velazco


Silvicultura Tropical

Engenheiro Florestal, graduação pela Facultad de Ciências Forestales, Universidad


Nacional de Missiones, e Pós-graduação em Engenharia Florestal, nível Mestrado
e Doutorado pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente é pesquisador pós-
doutoral no Instituto de Biologia Subtropical (UNaM-CONICET, Argentina).

Jeniffer Grabias
Bióloga, graduação Bacharel em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário
Autônomo do Brasil (Unibrasil). Mestre em Engenharia Florestal pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Atua como consultora em conservação da natureza na
Sociedade Chauá.

Marilia Borgo
Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, Mestrado em Botânica e Doutorado
em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente
é especialista em Serviços Ambientais da The Nature Conservancy, trabalhando
com desenvolvimento e implementação de projetos florestais de carbono e
suporte a estratégias de pagamento por serviços ambientais.

Caleb de Lima Ribeiro


Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR), Mestrando pelo PPG da Botânica pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Christopher Thomas Blum


Engenheiro Florestal, Especialista em Gestão e Engenharia Ambiental, Mestre
e Doutor em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Atualmente é Professor Adjunto do Curso de Engenharia Florestal da UFPR e
professor do Programa de Pós Graduação em Engenharia Florestal da UFPR.

524
1.Botânica
1.1 Distribuição
Nativa no bioma Mata Atlântica (Flora do Brasil 2020). No Brasil, a espécie ocorre nos Estados
do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, associada principalmente à Floresta com Araucária,
sendo encontrada em áreas montanhosas e abertas (Reitz 1974). É citada como elemento estranho
na zona litorânea dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Cano et al. 2013). Nos dias de

Trithrinax acanthocoma Drude (ARECACEAE)


hoje, em toda sua área de ocorrência, é extremamente rara e encontrada em populações relictuais de
tamanho reduzido. Fora do país, há registros de pequena população na Ciudad del’Este (Paraguai),
possivelmente resultante de indivíduos introduzidos (Cano et al. 2013).

1.2Nome científico: Trithrinax acanthocoma Drude


Descrita em Garten flora XXVII. (1878) 361. t. 959. Segundo Soares et al. (2014), a espécie
é frequentemente identificada de forma incorreta como Trithrinax brasiliensis. Isso se confirma
por meio de Carvalho (2010), Sühs & Putzke (2010) e Cano et al. (2013), que definem ainda T.
acanthocoma como uma variedade de T. brasiliensis.

1.3 Nome comum


No Brasil é conhecida como buriti, buriti-palito, carandá, carandaí, carandá-falso, carandá-
moroti, surro (Cano et al. 2013, Soares et al. 2014). Na Europa e Estados Unidos, é comumente
chamada de Brazilian needle palm, Spiny fiber palm e Caranday (mypalm shop).

1.4 Nível de ameaça de extinção


Em avaliação de risco de extinção pelo Centro Nacional de Conservação da Flora
realizada em parceria com a Sociedade Chauá em 2018, espécie foi enquadrada como VU,
vulnerável - critérios C2a(i) (CNCFlora, dados não publicados); também se encontra listada
como CR, criticamente em perigo, critérios A4acd, na lista de espécies ameaçadas do Rio
Grande do Sul (Rio Grande do Sul 2014).
Segundo Cano et al. (2013), a perda de habitats se mostrou como o principal fator
de risco de extinção para a espécie, causando, principalmente, a diminuição da área de
ocupação. Ela foi observada em unidades de conservação, ocorrendo na Área de Relevante
Interesse Ecológico do Buriti (ARIE Buriti), em Pato Branco, PR (Hoffmann et al. 2015). Em
estudo realizado em Araranguá, SC, foi observado que o recrutamento de indivíduos é
reduzido, sendo provavelmente impactado pelo gado (Zocche et al. 2007).

525
Em um levantamento de indivíduos em uma população em Laranjeiras do Sul, PR, encontrou-
se 145 indivíduos adultos. Contudo, em levantamento expedito, verificou-se que a regeneração é
próxima de zero. Constatou-se também a existência de populações naturais em meio áreas de floresta
ciliar na região de Irati-PR, existindo poucos indivíduos regenerando no sub-bosque.

A B

c d
Silvicultura Tropical

Figura 1: Folhas (a), inflorescências (b), frutos (c) e semente (d) de Trithrinax acanthocoma.

1.5 Porte e características botânicas


• Hábito: estipe único, com 1,5-13 x 0,17-0,35 m (Cano et al. 2013, Soares et al. 2014).
• Fuste: retilíneo (Cano et al. 2013, Soares et al. 2014).
• Copa: crescimento monopodial com 15-51 folhas contemporâneas (Cano et al. 2013,
Soares et al. 2014).
• Folhas: alternas, compostas, palmado-flabeliformes; limbo rígido, com 32-46
folíolos; segmentos basais com 35-40 x 0,8-2 cm, segmentos médios com 50-101 x 1,5-
3,4 cm, segmentos apicais com 63-113 x 1,5-3,7,5 cm; folíolos com recorte no ápice
7-8,7 cm; pecíolo 3-90 cm (Figura 1a). Possui bainha das folhas persistente e uma rede
de fibras terminada em espinhos, deixando o fuste com aspecto muito característico
(Cano et al. 2013, Soares et al. 2014).

526
• Senescência foliar: perenifólia.
• Flor: planta monóica; 2-7 inflorescências interfoliares (Figura 1b); racemos com
pedúnculos, 6-7 ramificações principais; flores espiraladas, 7-8 mm de largura, coloração
pálido amarelada(Cano et al. 2013, Soares et al. 2014).
• Fruto: drupa globosa, pálido amarelada, com 2-4 cm de diâmetro (Figura 1c); uma
semente por fruto(Figura 1d) (Cano et al. 2013, Soares et al. 2014).
• Características organolépticas: não possui.
• Outras características: raízes adventícias a até 3 m do solo (Cano et al. 2013,
Soares et al. 2014); a espécie é tolerante a climasfrios, suportando de-5 até -10 °C,em
condições de ambiente seco.

Trithrinax acanthocoma Drude (ARECACEAE)


2.Tecnologia dos produtos não madeireiros
A espécie apresenta valor econômico atual como palmeira ornamental, com potencial
ampliação de uso, inclusive sendo comercializada em algumas floriculturas na região de Curitiba-
PR. É possível encontrar informações sobre a espécie em diversos sites na internet, assim como,
plantas e sementes para comercialização em vários países da Europa e também nos Estados Unidos.
O carandaí era bastante utilizado para alimentação e produção de bebidas alcoólicas, a
partir de seus frutos e sementes (Corrêa 1931). Historicamente, era utilizado para construção de
cercas e tochas, a partir de seus troncos; para leques, vassouras e chapéus, a partir de suas folhas;
para tecelagem, a partir das fibras do pecíolo (Corrêa 1931). Devido à redução da população natural,
o uso foi reduzido quase que exclusivamente à confecção de chapéus a partir das folhas (Pereira et
al. 2011, Cano et al. 2013).

3.Tecnologia de sementes
3.1 Fenologia
3.1.1 Floração
A floração acontece de dezembro a março (Pingitori 1978), sendo também observada em
julho e agosto em indivíduos cultivados na região de Campo Largo, PR (Hoffmann et al. 2015).

3.1.2 Frutificação e colheita


A frutificação acontece entre janeiro e março. A produção de sementes pode variar
significativamente a cada temporada de frutificação, por fatos ainda não esclarecidos

527
cientificamente. É provável que isso esteja relacionado à falta de polinizadores, variações de
temperatura e eventos climáticos fora do padrão.
Para melhor aproveitamento e menor risco de perda de viabilidade das sementes,
recomenda-se fazer a coleta diretamente da planta. Na maioria dos casos, faz-se necessário o
uso de uma tesoura de poda alta com haste telescópica. A coloração amarelada, textura carnosa
e queda espontânea são bons indicativos de maturidade dos frutos.
Em indivíduos no ambiente natural foi observada, com frequência, a predação de frutos
imaturos ainda na planta mãe, assim como, a predação das sementes no solo. Isso demonstra
indícios da importância da espécie para a manutenção da fauna silvestre.

3.2 Produção de sementes


• Tipo de semente: de forma geral, as palmeiras se comportam como
recalcitrantes, sendo esperado esse comportamento para T. acanthocoma (Reis et al.
1999, Nascimento et al. 2010,Nazario & Ferreira 2012, Rodrigues et al. 2014).
Silvicultura Tropical

• Número de sementes por kg: 315 (Hoffmann et al. 2017).


• Biometria de frutos e sementes: procedeu-se a avaliação no Laboratório
de Pesquisa de Espécies Nativas (LAPEN) da Sociedade Chauá, sendo mensurados
o comprimento e a largura de 100 frutos e sementes coletados de 12 matrizes,
provenientes da ARIE do Buriti, no município de Pato Branco-PR. Calculou-se a
média, desvio padrão e o coeficiente de variação (Tabela 1). As sementes possuem
diâmetro entre 1,9-2,2 cm (Hoffmann et al. 2017).
• Tipo de plântula: criptocotiledonar hipógea de reserva (Hoffmann et al. 2017)
(Figura 2a).

Tabela 1: Biometria de frutos e sementes de Trithrinax acanthocoma.


Largura (cm) Comprimento (cm)
Média 2,39 2,45
Frutos
DP 0,12 0,11
CV 4,81 4,54
Média 1,73 1,71
Sementes DP 0,09 0,09
CV 5,11 5,52
DP: desvio padrão; CV: coeficiente de variação (%).

528
A B

Figura 2: Emergência de plântulas em composto orgânico com vermiculita (a) e detalhe das
raízes de plântulas de Trithrinax acanthocoma(b).

3.3 Manejo de sementes

Trithrinax acanthocoma Drude (ARECACEAE)


Primeiramente, para o beneficiamento dos frutos recomenda-se deixá-los imersos em água
por 24 horas para amolecer a polpa. Em seguida, deve-se macerar a polpa contra uma peneira de
malha grossa; este processo é simples e eficiente para a limpeza das sementes em frutos.

3.4.Quebra de dormência
A espécie não necessita de quebra de dormência.

3.5.Armazenamento
Recomenda-se não armazenar por longo período devido ao comportamento recalcitrante.
De forma geral, as espécies do gênero Trithrinax podem ser armazenadas por mais tempo (alguns
meses) que outros gêneros da mesma família, principalmente pela espessura do tegumento
(Costa & Marchi 2008, Meerow & Broschat 2015).

4.Produção de mudas
4.1 Método de semeadura e produção
A germinação é geralmente baixa e não uniforme, podendo durar de quatro até dez
meses (Tabela 2). Em experimento em viveiro, sementes oriundas de 12 matrizes localizadas na
ARIE Buriti, em Pato Branco-PR, foram depositadas em sementeiras de poliuretano e mantidas
em casa de vegetação. Foram feitas quatro repetições de 100 sementes, em substrato com
composto orgânico comercial.

529
Tabela 2: Emergência de Trithrinax acanthocoma em sementeiras com composto
orgânico comercial.
E% TMG IVG
Média 43,50 295,92 0,15
DP 15,37 12,02 0,05
CV 35,34 4,06 35,49
DP: desvio padrão; CV: coeficiente de variação (%); E%: porcentagem de emergência; TMG: tempo médio
de germinação; IVG: índice de velocidade de germinação.

A baixa porcentagem de emergência foi provavelmente ocasionada ou pelas características


da semente recalcitrante ou pela alta taxa de predação das sementes, mesmo em viveiro (Hoffmann
et al. 2017). Apesar da emergência apresentar patamares medianos e não uniformes, as plântulas
demonstraram alta porcentagem de sobrevivência (99%) após 90 dias da repicagem.
• Semeadura: pode ser realizada em sementeiras, utilizando como substrato composto
orgânico e vermiculita na proporção de 3:1 (Figura 2a).Segundo Anderman (Informação
verbal)1, a semeadura pode também ser realizada diretamente em areia.
Silvicultura Tropical

• Repicagem das plântulas: é recomendado extremo cuidado na repicagem das


plântulas, sendo este um estágio crítico para o bom crescimento e sobrevivência das
mudas no futuro. Segundo relatos de Anderman (Anderman, L., op. cit.,p. 6), danos nas
raízes (Figura 2b) durante a repicagem causam altas taxas de mortalidade nas mudas.

4.2.Manejo
• Repicagem para vasos: Recomenda-se fazer a repicagem para embalagem
plástica individual quando as plântulas estiverem com pelo menos 10 cm de altura e
com sistema radicular desenvolvido. É necessário fazer a repicagem para embalagens
grandes (aproximadamente 1,7 L) (Figura 3).
• Substrato para mudas em viveiro: em viveiro, o crescimento é satisfatório
quando utilizado substrato preparado comercial, composto orgânico e areia na
proporção de 4:2:1;
• Condições de luz: apesar de tolerar luminosidade, recomenda-se ter cuidado
em deixar mudas de pequeno porte expostas ao sol; após período de adaptação
de cerca de 30 dias, as mudas maiores passam a tolerar muito bem a incidência
luminosa direta;

1 Anderman, L. Informações sobre produção de mudas de Trithrinax acanthocoma. Viveiro Porto Amazonas, Porto Amazonas, 10
de maio 2018. Comunicação verbal.

530
• Cuidados com as mudas: não foram observadas pragas ou doenças, mesmo
em cultivos comerciais de média e grande escala. As maiores limitações da planta
referem-se ao espaço disponível no recipiente do plantio e a deficiências nutricionais.

Trithrinax acanthocoma Drude (ARECACEAE)


Figura 3: Mudas de Trithrinax acanthocoma repicada sem tubete de 290 cm3 (a) e muda
posteriormente transplantada para embalagem de 1,7 L (b).

5.Cultivo e atividades silviculturais


5.1 Sistema de plantio
O plantio direto no solo (mudas de 30 a 40 cm) e em leiras é uma forma eficaz de cultivo
da espécie em grande escala. Plantio em curvas de nível mostrou desenvolvimento superior em
virtude da manutenção da umidade e matéria orgânica.
Segundo relatos de experiências empíricas, o crescimento e “engorda” das mudas pode
também ser realizado em vasos, que devem ser progressivamente aumentados de tamanho, inclusive
viabilizando melhor desenvolvimento da planta no momento do plantio definitivo (Figura 3).
Em experimentos de reintrodução da espécie, implantados em janeiro e fevereiro de
2018, utilizando-se mudas de 30 cm de altura cultivadas em embalagens de plástico de 1,7 L, a
sobrevivência das mudas após quatro 4 meses (plantio em Piraí do Sul, PR) e cinco meses (plantio
em Campo Largo, PR), foi muito próxima a 100%.

5.2 Espaçamento
O espaçamento mínimo de 1,5 m se mostrou adequado para plantas de 1,5 m de altura (“ponta
de folha”). Plantios com espaçamento de 1 m também foram testados, mas são mais adequados para
a produção de plantas de menor porte.

531
O diâmetro de copa raramente ultrapassa 2,5 m, e comumente, na natureza, os indivíduos
crescem muito próximos uns dos outros. Desta forma, não há restrições para o uso de um espaça-
mento menor no local de plantio definitivo. No paisagismo pode agregar valor estético e aspecto
natural ao uso da espécie em agrupamentos.

5.3 Adubação
Para a produção em média escala foi constatada eficiência do uso de macronutrientes NPK
(Nitrogênio-Fosforo-Potássio) e micronutrientes adicionalmente ao sulfato de ferro (Anderman,
L., op. cit.,p. 6).

5.4 Preparo do solo


De forma geral, a espécie tem preferência e cresce muito bem em solos bem drenados,
sendo indicado o preparo de leiras seguindo as curvas de nível do terreno. Também é importante
proceder com correção de acidez (Anderman, L., op. cit.,p. 6). Em plantios em Campo Largo-PR,
Silvicultura Tropical

a espécie também se desenvolveu bem em solos mais argilosos e pouco drenados, denotando
sua a versatilidade (Sociedade Chauá, dados não publicados).

5.5 Recomendações e tratos culturais


A poda periódica das folhas é indicada quando se trata de uso ornamental. Para o envase
em embalagens para adaptação ao crescimento final para a comercialização, é recomendado o
“desmame”2 das plantas no período precedente ao plantio em vasos.

6. Manejo para a produção


6.1 Técnicas de cultivo e colheita da produção
Para mudas ornamentais de maior porte, os procedimentos mais usuais são a semeadura
em canteiros e posterior repicagem em bandejas sob sombreamento, seguidos de plantio em
campo para posterior replantio em vasos. Neste sistema, aos seis anos é esperado que as plantas
estejam prontas para a comercialização, com 1,50 m de altura (Anderman, L., op. cit.,p. 6).
As mudas plantadas no solo em leiras podem ser retiradas sem o desmame. Contudo,
o uso desta técnica resulta em um desempenho significativamente menor no crescimento das
plantas em vaso.

2 Poda do sistema radicular.

532
Foi constatado que a espécie sofre estresse logo após o envase. Para minimizar essa situ-
ação, recomenda-se que o envase seja realizado nos meses de inverno e as plantas sejam então
alocadas em estufa sombreada até o verão, quando devem retomar o crescimento com maior vigor.
Outra prática utilizada, inclusive em outros países, é a mudança progressiva de vasos
menores para maiores. Esse sistema tem maior custo de implantação, mas a planta apresentará
melhor qualidade e crescimento contínuo (Anderman, L., op. cit.,p. 6).
No caso de uso para reintrodução e restauração de áreas degradadas, plantas menores
têm excelente sobrevivência em campo quando há o controle de mato-competição.
Em relação ao uso de folhas para confecção de chapéus, segundo Pereira et al. (2011), a
coleta deve ser feita de forma manual, retirando-se somente as folhas intermediárias, aptas ao
uso neste tipo de artesanato. Recomenda-se retirar de 2 a 3 folhas de cada palmeira. A coleta de

Trithrinax acanthocoma Drude (ARECACEAE)


folhas maduras pode ser periódica mas deve ser feita com cuidado para não danificar os brotos,
de forma a garantir o processo de brotação e a integridade e permanência das palmeiras.

6.2 Ciclos de produção

Para uso como ornamental, tendo como produto final plantas de 1,50 m de altura, o ciclo
é de cerca de seis anos a partir da semeadura. Segundo Soares et al. (2014), a espécie apresenta
o crescimento vegetativo mais rápido do gênero. Em indivíduos cultivados em Campo Largo, PR,
a primeira floração ocorreu após dez anos, e a primeira frutificação aos 13 anos após o plantio.
Para a produção de mudas para reintrodução da espécie, são necessários cerca de 3 anos desde
a semeadura.

7.Potencial produtivo
7.1 Rendimento econômico
Para a produção de plantas de 1,5 m, recomenda-se plantio com espaçamento de 1,5
m, o que resulta em aproximadamente 4.400 indivíduos em um hectare. Na região de Curitiba,
uma planta deste porte é vendida ao preço de R$ 90,00 a R$ 120,00, diretamente do produtor.
Mudas com altura de 35 cm, têm o custo de produção de aproximadamente R$ 25,00.
Na Europa e nos Estados Unidos a espécie é amplamente comercializada, e o preço para
plantas de maior porte pode variar de $ 38,00 até $ 213,00. Mudas menores (de até 25 cm) cus-
tam de $ 3,15 até $ 35,40, e as sementes podem variar de aproximadamente $ 2,00 a $ 19,45
(Tabela 3).

533
Tabela 3: Preços de plantas e sementes de Trithrinax achantocoma na Europa e nos Estados Unidos
(USD 1,00 = BRL 3,70).

País Produto Porte/Quantidade USD ($) Website


Dinamarca Planta Não informado 3,15 https://www.barney.dk

Itália Planta 10-15 cm 3,48 https://www.subito.it

RepúblicaCheca Planta 20-25 cm 10,39 http://tropik.cz

Noruega Planta 15 cm 35,40 https://www.tradera.com

ReinoUnido Planta 90-110 cm 38,22 https://www.mypalmshop.com

Espanha Planta 60-80 cm 53,21 https://www.jardineriakuka.com

Alemanha Planta 100 cm 63,79 https://www.ebay.de

França Planta 100-120 cm 79,09 https://www.terrelointaine.fr

ReinoUnido Planta 140-160 cm 92,74 https://www.mypalmshop.com


Silvicultura Tropical

França Planta 120-140 cm 106,14 https://www.tropicaflore.com

Bélgica Planta Não informado 139,20 http://www.florafair.eu

Hungria Planta 140 cm 213,44 http://www.palmakert.hu

Estados Unidos Semente 5 unidades 2,00 http://www.tradewindsfruit.com

Estados Unidos Semente 5 unidades 13,99 https://www.amazon.com

Estados Unidos Semente 2 unidades 19,95 https://www.frozenseeds.com

8. Patologia florestal
8.1 Doenças e pragas
Até o momento não foram relatadas pragas.

8.2 Manejo e controle


A espécie é bastante resistente; a mudança de recipientes, e adubação periódica com NPK
pode sanar a maioria das fragilidades da espécie.

534
9. Outras informações
A espécie é extremamente rara na natureza e ocorre em pequenas populações relictuais
nos estados do sul do Brasil. Esforços para a manutenção das populações naturais devem ser
desenvolvidos concomitantemente a ações relacionadas à produção comercial.
Justamente por seu uso ornamental, a espécie foi bastante explorada e indivíduos
adultos eram comumente retirados da natureza. A coleta predatória de frutos também foi
causadora do declínio das populações naturais.
Outro fator importante que já foi e continua sendo uma ameaça à espécie é a conversão
de áreas naturais em pastagens e áreas para agricultura. O carandaí normalmente ocorre em
áreas abertas e em campos naturais que são as fisionomias mais degradadas e ameaçadas de

Trithrinax acanthocoma Drude (ARECACEAE)


desparecer na sua região natural de ocorrência.
A Sociedade Chauá desenvolve, desde 2011, o projeto de Conservação de Espécies
Raras e Ameaçadas da Floresta com Araucária, e o carandaí é uma das espécies alvo dessa
iniciativa. Por meio desse projeto, já foram cadastradas 170 matrizes, sendo que para 25 delas
é realizado acompanhamento fenológico e coleta de sementes (anuais) para fins de pesquisa,
produção e plantios de reintrodução da espécie.

10. Referências
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537
Virola surinamensis - Ucuúba
Aparecida Juliana Martins Corrêa
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal e Mestrado pela Universidade Federal
de São Carlos (UFSCAR) e Doutoranda do Programa de Planejamento e Uso dos Recursos
Renováveis - PPGPUR da Universidade Federal De São Carlos (UFSCAR) - Campus Sorocaba

Ivonir Piotrowski
Engenheiro Ambiental, graduação em Engenharia Ambiental pela Universidade de Sorocaba
(UNISO), Técnico Agropecuário, Mestre e Doutorando do Programa de Planejamento e Uso dos
Recursos Renováveis- PPGPUR - UFSCAR- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - CAMPUS
SOROCABA

José Mauro Santana da Silva


Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal, Aperfeiçoamento em Entomologia,
Aperfeiçoamento em Ecologia e Mestrado em Ciência Florestal, ambos pela Universidade
Federal de Viçosa (UFV). Doutorado em Agronomia – Irrigação e Drenagem pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professor Titular - Full Professor – UFSCAR
– LASEM. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - CAMPUS SOROCABA - Departamento de
Ciências Ambientais – SP.
Silvicultura Tropical

Fatima Conceição Márquez Piña-Rodrigues


Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro (UFRRJ), especialista em Produção e Tecnologia de Sementes pela Associação
Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS), mestrado em Engenharia Florestal pela
Escola Superior de Agricultura Luis de Queiróz da Universidade de São Paulo (ESALQ – USP),
Doutorado em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e Pós Doutorado
na Universidade de Missouri (UMSL) e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Rio Douro (UTAD)
em Ecologia Aplicada. Professora Titular - Full Professor – UFSCAR- UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SÃO CARLOS - CAMPUS SOROCABA - Departamento de Ciências Ambientais – SP.

1. BOTÂNICA:
1.1 BIOMA

A distribuição geográfica da espécie, no mundo, está restrita à Flora Neotropical,


desde a Costa Rica, Panamá, Guianas, Brasil e Antilhas (Croat 1978, Rodrigues 1980,
Jardim & Mota 2007), sendo o gênero mais disperso dentre as Myristicaceae. No Brasil,
concentra­-se na parte ocidental da Bacia Amazônica, característica principalmente em
áreas de Várzea (Rodrigues 1976), Matas de Galeria e Terra Firme, podendo ser encon-
trada também em áreas de Caatinga, nas áreas mais próximas à Amazônia nas regiões
Nordeste e Centro-Oeste (Flora do Brasil 2020 2018).

538
1.2 NOME COMUM
Ucuúba, ucuúba da várzea, ucuúba branca, ucuúba verdadeira, ucuúba amarela, ucuúba
branca, ucuúba cheirosa, andiroba (CE), árvore do sebo, bicuíba, noz moscada (PA) (Lorenzi 2014),
urucuba, mucuíra, ucuúba de baixio, ucuúba de igapó (Flora do Brasil 2020 2018).

1.3 NOME CIENTÍFICO: Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb.

1.4 FAMÍLIA: Myristicaceae

1.5 PORTE
De hábito arbóreo, atinge entre 25 a 35 m de altura e 60 a 90 cm de diâmetro a altura do
peito (DAP). Possui casca grossa, dura e fissurada, de coloração vermelho-amarronzada (Lorenzi 2014,

Virola surinamensis
Riba-Hernández et al. 2014), com raízes tabulares de sustentação (Piña-Rodrigues 1999) que chegam
a atingir até 3,0 m de altura em indivíduos de maior diâmetro (Figura 1).

Figura 1: Árvore de ucuúba - Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. em área natural de várzea
alta em Cotijuba, Belém, Pará (Autor: F.C.M. Piña-Rodrigues).

539
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
2.1 DENSIDADE E USO DA MADEIRA

Espécie de madeira leve e macia, de baixa densidade (0,48 g.cm-1), empregada na


fabricação de compensados, parte interna de móveis e portas, caixas, contraplacados, pasta
celulósica, papeis kraft, embalagens, artigos esportivos, brinquedos, lápis, palitos, cabos de
vassoura, nos mais diferentes tamanhos (Rodrigues 1976, Leite & Lleras 1993, Leite et al. 2006,
Morais & Gutjahr 2009, Varejão et al. 2012, Lorenzi 2014).

2.2 EXTRATIVOS:
Espécie com potencial multiprodutos, da qual das sementes, ricas em gordura, ex-
trai-se a manteiga para a manufatura de sabão, velas, cremes e cosméticos, produtos far-
macêuticos e combustível (Rodrigues 1972, Galuppo & Carvalho 2001, Neves et al. 2002,
Silvicultura Tropical

Morais & Gutjahr 2009 e Lorenzi 2014), torta, para adubo e ração animal, devido ao alto teor
de nitrogênio nutricional (Rodrigues 1972), a casca e as folhas, junto com as sementes, tam-
bém são utilizadas para a fabricação de cosméticos (Figura 2) e produtos medicinais em geral
(Morais & Gutjahr 2009).

Figura 2: Linha de produtos cosméticos empregando extrativos das sementes e frutos de Virola surinamensis
(Rol. ex Rottb.) Warb. (acima) no Projeto “Conservação e Manejo de Ucuúba” envolvendo quatro comunidades
do estuário amazônico como parte de convênio entre a Universidade Federal de São Carlos e Natura (Autor:
Natura Inovação, Programa de Pesquisa em Bioagricultura) e resina extraída do caule, empregada fins medicinais
utilizada amplamente por indígenas como cicatrizante (abaixo) (Foto: os autores).

540
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.2 FENOLOGIA

Planta dioica, polinizada principalmente por dípteros, visitada também por himenópteros,
coleópteros e homópteros (Piña-Rodrigues, 1999; Jardim & Mota 2007). As flores femininas são
menos numerosas e menores do que as masculinas, situando-se na parte superior da copa, muitas
vezes dificultando a sua visualização do solo a olhos nus (Piña-Rodrigues 1999). As masculinas são
abundantes, pequenas e localizadas na parte mais externa da copa, sendo facilmente identificadas
as plantas em floração (Figura 3). Estudos realizados (Piña-Rodrigues, 1999; Jardim & Mota 2007)
sobre a polinização e fenologia da espécie em diferentes regiões do estuário amazônico indicaram a
ocorrência de períodos diferenciados de floração entre plantas femininas e masculinas.

3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO

Entre junho e março, com picos entre novembro e fevereiro (Rodrigues 1976, Rodrigues

Virola surinamensis
1980, Riba-Hernández et al. 2014). Ao longo de 37 meses, 34 plantas de uma população equiânea
foram avaliadas (Piña-Rodrigues 1999). Constatou-se a floração contínua da população, com maior
sincronia e percentual de plantas em floração entre as femininas que apresentavam floração com
duração mais curta ( menor ou igual a 30 dias) do que as plantas masculinas (maior do que 45 dias
por planta), mas com picos de floração no período seco (julho-agosto) e chuvoso (outubro a fevereiro).
As plantas masculinas apresentaram mais dois eventos de floração anual, com intervalos entre 4 a 6
meses, variável conforme o indivíduo e, apenas 22% das plantas masculinas apresentaram floração
contínua ao longo do ano, se caracterizando como indivíduos-chave na promoção do fluxo gênico.
A maioria das plantas da população apresentou apenas um evento de floração por ano. De maneira
geral, as plantas masculinas apresentaram frequência subanual (floração mais de uma vez ao ano)
enquanto entre as femininas se constatou dois padrões distintos, um grupo anual, com florescimento
anual único (42,9%) e supra anual com duas florações por ano a cada seis meses (14,2%).
O padrão de floração contínuo da população pode ser ocasionado pelas diferenças de fre-
quência e duração da floração entre plantas de diferentes sexos. Para as plantas masculinas, a sobre-
posição dos padrões de floração de plantas com duração prolongada e de plantas subanuais podem
caracterizar esta continuidade (Piña-Rodrigues 1999). Entre as femininas, a floração de diferentes
plantas em épocas distintas e por períodos de curta duração e que se sobrepõem ou se alternam com
masculinas, ocasionam o padrão observado de floração contínua na população. Foi constatado que
algumas plantas masculinas apresentaram maior valor reprodutivo (sincronia de floração com plan-

541
tas femininas), contudo o estudo conduzido evidenciou que poucas plantas foram responsáveis pela
maior proporção de fluxo de pólen, sendo que apenas 3,1% das plantas apresentaram sincronia no
processo reprodutivo (floração sincronizada).
Silvicultura Tropical

Figura 3: Planta dioica com flores masculinas, pequenas e abundantes (acima, à esquerda) e
sua distribuição na copa de uma planta masculina (à direita). Flores femininas no alto da copa
em uma árvore feminina (embaixo, à esquerda). Foto: os autores.

3.4 FRUTIFICAÇÃO, DISPERSÃO E COLHEITA:

O fruto é um folículo simples, unicarpelar, carnoso, verde-amarelado externamente, contendo


uma semente globosa, de arilo avermelhado e gorduroso, rico em lipídios (Gurgel et al 2006). No
estuário amazônico, os primeiros frutos surgem de 30 a 45 dias após o início da floração, com a
dispersão ocorrendo 3 a 4 meses depois, com um pico de frutificação de menor intensidade na estação
seca (junho a agosto) e outro de alta intensidade de outubro a janeiro (Piña-Rodrigues 1999). Dados
de algumas regiões na Amazônia mostraram a frutificação ocorrendo entre abril e agosto (Rodrigues
1976, Rodrigues 1980, Riba-Hernández et al. 2014). A dispersão se concentra no início da estação
das águas (setembro) sendo que as plantas que dispersam em agosto-setembro foram as mesmas
que floresceram na estação seca (junho a agosto), estendendo-se até janeiro. Dispersa por animais
frugívoros, sobretudo primatas (macacos) e aves grandes como tucanos, sendo atrativa à fauna devido
ao seu arilo avermelhado e gorduroso (Croat 1978, Howe & Richter 1982, Jardim & Mota 2007).

542
Dispersas pela água e pela fauna, são transportadas a curtas e longas distâncias (Howe
& Richter 1982, Piña-Rodrigues 1999, Galuppo & Carvalho 2001). Suas sementes são de baixa
densidade o que permite a sua flutuação nas águas da várzea, sendo a hidrocoria um dos
principais agentes dispersores à maiores distâncias (Piña-Rodrigues 1999). Dados da autora
mostraram que cada fruto de ucuúba permanece na árvore por 7 a 10 dias, após o que, caso
não seja removido pelos dispersores, cai ao solo de onde pode ser removido por formigas ou
carregado pela água das marés ou cheias nas várzeas onde ocorre ou mesmo inicia o processo
de germinação ou deterioração.
Frutificação irregular, com dois períodos de dispersão de sementes, sendo maior no período
das chuvas (dezembro a janeiro) resultante das plantas que floresceram de julho a agosto, com
um pico de menor intensidade entre a estação seca e chuvosa (agosto-novembro) (Piña-Rodrigues
1996). A colheita pode ser feita na árvore, com equipamentos de escalada, no chão, no entorno das
matrizes ou diretamente nas águas dos rios e igarapés (Figura 4), uma vez que a dispersão é tanto
zoocórica quanto hidrocórica.

Virola surinamensis

Figura 4: Dispersão e colheita de sementes de Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. na planta
(acima), no solo (no centro) e na água dos rios e igarapés (abaixo). Fotos acima: os autores; Foto
abaixo: Natura Inovação, Programa de Pesquisa em Bioagricultura (divulgação).

543
São considerados maduros os frutos que se apresentam abertos expondo as sementes
marrons com o arilo avermelhado (Piña-Rodrigues 1999). Para a coleta, Lima et al. (1999)
recomendam 20 matrizes na coleta de sementes, escolhidas ao acaso, com distância mínima de
duas vezes a altura da árvore, a fim de evitar retirada de sementes de matrizes com algum grau de
parentesco (Lima et al. 1999).

3.5 PRODUÇÃO DE SEMENTES

Cerca de 3000 frutos anuais, atrativos a espécies frugívoras (Howe & Richter 1982). Estu-
dos desenvolvidos em quatro regiões do estuário amazônico1 indicou o potencial de produção de
4,4±3,91 kg por árvore, variando de 0,4 a 16 kg por planta. Dados obtidos mostram que a quanti-
dade de frutos é mais homogênea entre áreas, do que a massa de sementes obtidas uma vez que há
ampla variação no tamanho das sementes entre matrizes e locais.
Silvicultura Tropical

Figura 5: Frutos e sementes recém-colhidas no solo


de Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. (acima)
e retiradas da água (abaixo), mostrando a remoção
do arilo durante sua permanência imersa em água
corrente. Foto: os autores.

1 Projeto “Conservação e Manejo de Ucuúba” envolvendo quatro comunidades do estuário amazônico


como parte de convênio entre a Universidade Federal de São Carlos e Natura.

544
3.6 MANEJO DE SEMENTES

Suas sementes são dependentes de bastante umidade, a fim de manter a viabilidade, além
do fato do embrião ter (e ser) de vida curta, por isso, são mantidas na beira da várzea (Rodrigues
1980). Na dispersão as sementes apresentam o embrião ainda imaturo, mal desenvolvido (Piña-Ro-
drigues 1999). Isto requer que, para as sementes recém-colhidas permaneçam de 1 a 2 dias imersas
em água corrente (estratificação) o que aumenta sua germinação. Nas sementes colhidas na água dos
rios ou igarapés, esta prática de estratificação já foi realizada naturalmente e as sementes podem ser
usadas logo após a colheita. Recomenda-se não efetuar quaisquer tipos de secagem das sementes e
realizar apenas a remoção do arilo em água corrente e manter a sombra, por poucas horas e realizar a
semeadura o mais rápido possível.

Virola surinamensis

Figura 6: Manejo das


sementes de Virola
surinamensis (Rol. ex Rottb.)
Warb. com a lavagem
em água corrente para a
retirada do arilo (acima) e
sua manutenção por até 7
dias em área sombreada
para eliminar o excesso de
umidade (abaixo). Foto: os
autores.

545
3.7 GERMINAÇÃO E QUEBRA DE DORMÊNCIA

A germinação ocorre, em média, aos 20 dias de semeadura, do tipo criptocotiledonar,


epígea e de emergência reta (Gurgel et al. 2006), preferencialmente aos 30 °C (Limas et al. 2007).
Suas sementes são recalcitrantes e não suportam a secagem (Cunha et al. 1992, Limas et al. 2007). A
permanência das sementes na água dos rios favorece a manutenção da viabilidade e a germinação
das sementes, devido à remoção de inibidores que causam germinação lenta e irregular (Piña-
Rodrigues & Figliolia 2005). Os autores verificaram que a espécie pode ter dormência embrionária,
ou seja, precisa de um certo tempo no solo ou na água para completar seu desenvolvimento, o que
poderia ser classificado como uma adaptação, que melhora o estabelecimento da espécie em áreas
úmidas (Piña-Rodrigues & Figliolia 2005). As sementes devem ser imersas em água corrente por
até 7 dias (Piña-Rodrigues & Mota 2005), antes de serem semeadas logo após a colheita (Rodrigues
1972) ou por meio de escarificação mecânica (Pinheiro 2013).
Silvicultura Tropical

3.8 ARMAZENAMENTO

O armazenamento em temperatura ambiente (27 ± 3 °C e 75 ± 5% de umidade relativa do


ar) e em germinador (20 ± 1 °C e 58 ± 2%) se mostrou inviável, devido à característica recalcitran-
te da semente (Limas et al. 2007). O recomendável é a sua semeadura o mais breve possível em
função de sua curta longevidade natural (Piña-Rodrigues 1999). No caso de ser necessário o seu
armazenamento, a prática mais empregada é sua manutenção em embalagens permeáveis (sacos
de estopa ou aninhagem), mergulhadas em recipientes contendo água corrente. Nesta condição,
as sementes podem permanecer viáveis por até dois a três meses, embora reduzam seu potencial
germinativo e vigor (Piña-Rodrigues 1999).

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO

A germinação ocorre após 35 dias de semeadura (Piña-Rodrigues & Figliolia 2005) e


devem ser levadas a campo após 60 dias com aproximadamente 40cm de altura (Rodrigues
1972). No campo, pode ser inibida por aberturas de grandes clareiras (maiores do que 200 m²),
por ressecamento do solo ou pela alta incidência de luz (Piña-Rodrigues 1999). São plantas

546
que precisam de 60 a 80% de sombra (Silva et al. 1996, Piña-Rodrigues 1998) e, mesmo
assim, podem formar bancos persistentes de mudas. Suas plântulas são tolerantes à sombra,
com desenvolvimento lento (Piña-Rodrigues et al. 1996, Piña-Rodrigues 1999), mas de fácil
regeneração. As mudas devem ser instaladas a 50% de sombreamento inicial (Lima et al. 2006).
As mudas podem ser produzidas em sementeiras e repicadas em sacos pretos de polietileno,
usando substrato contendo solo orgânico e areia (Lima et al. 1999).

Virola surinamensis
Figura 7: Mudas de Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. em condições de viveiro (acima) e em área natural
(abaixo), em Cotijuba (PA). Foto: os autores.

4.2 MANEJO DAS MUDAS

Medidas como a coleta parcial de sementes, ou dias intervalados de coleta, ajudam não
só na produção, mas também na regeneração e na dispersão de material genético da espécie
em áreas naturais. recomenda-se que sementes em estádios iniciais de germinação, podem
ser aproveitadas na produção de mudas (Correa 2016). No viveiro é recomendado que, após
a muda atingir 20 cm sejam mantidas em condição de meia-sombra (50 a 70% de sombra),
com irrigação pelo menos duas vezes por dia mantendo o substrato úmido. As mudas a serem
plantadas devem passar por um período de endurecimento no sol, por cerca de 15-30 dias antes
do plantio.

547
5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
Aos 60 meses de idade, Maeda et al. (2001) aplicou diferentes critérios de seleção, com
fins de melhoramento genético, em apenas uma geração, mostrando que, a partir da utilização do
índice de seleção combinado, os ganhos podem variar entre 36 e 152%, dependendo do objetivo
(variável) analisada. Isso demonstra o alto potencial da espécie para o melhoramento genético.
A formação de bancos de germoplasma experimentais, conforme Piña-Rodrigues et al. (1996),
além de conhecer a diversidade, a estrutura genética e manter as populações remanescentes são
estratégias tanto para a conservação quanto para o melhoramento genético (Hou et al. 2012).
Entende-se que é importante fazer a manutenção da diversidade genética, a fim de se estabelecer
populações base, independente do objetivo final, de conservação ou melhoramento. Ações como
a coleta de sementes para a produção de mudas pelos produtores, a implantação de mudas no
campo, sejam plantios puros, consórcios, recuperação de áreas degradadas, fornecimento de
insumos industriais (Maeda et al. 2001, Souza et al. 2008), sistemas agroflorestais, como forma de
subsistência e renda alternativa aos produtores (Vieira et al. 2007, Castro et al. 2009), intercâmbio
Silvicultura Tropical

de material genético para a seleção em ambientes distintos (Maeda et al. 2001, Shimizu 2007),
criação de políticas públicas, como concessões de áreas naturais dentro de Unidades de Conservação
de Uso Sustentável (UCUS), com foco no manejo de produtos não madeireiros uma vez que a
Portaria nº 71 de 11 de julho de 1994 proibiu o corte de V. surinamensis (Homma 2012), mas, foi
liberado a partir da revogação desta legislação e publicação da portaria nº 73/2004, deixando a
espécie, mais uma vez sob risco de processo de extinção (Correa 2016).
Estudos realizados em Breves (PA) mostraram a possibilidade de altos ganhos genéticos (até
20%) com base na seleção de indivíduos baseado em sua altura e diâmetro, características associadas
à forma da espécie (Leite et al. 2006). Matrizes com maior desenvolvimento em altura tendem a
produzir progênies também de rápido desenvolvimento e por isto, a seleção materna se mostra
eficiente para o melhoramento genético. Outra questão observada foi que, testes de procedência
conduzidos em Capitão Poço e Igarapé-Açu (PA) evidenciou a possibilidade de plantio da espécie em
região de terra-firme em função da procedência.

6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS


6.1 SISTEMA DE PLANTIO
Naturalmente, suas populações apresentam distribuição espacial agregada, com distân-
cias máximas de 25 m entre indivíduos adultos, e alta densidade de plantas jovens e adultas,

548
tanto na várzea baixa quanto na alta (Piña-Rodrigues 1999, Correa 2016). Na várzea, é comum
o rio encher e vazar vários metros duas vezes ao dia, alterando o nível do rio em até 12 metros,
com resultados dinâmicos nos processos erosivos e sedimentares que alteram o curso dos rios e
os modelos da paisagem ao longo do tempo. Essa dinâmica acaba diversificando os elementos
da paisagem, formando áreas inundadas, campos, florestas iniciais, florestas primárias, sistemas
agrícolas, agrossilvipastoris e florestas secundárias, junto às populações ribeirinhas.
Existem registros de bancos experimentais de germoplasma, plantados no estado do Pará,
na década de 1990, por Piña-Rodrigues (1999) e plantios em sistemas agroflorestais experimentais
em Cotijuba (Belém-PA). O plantio deve considerar a localização geográfica da recomposição, pois a
localização espacial influencia a composição e a estrutura dos ambientes (Vale et al. 2014).
A atividade extrativa madeireira afetou a abundância e a distribuição espacial da regeneração
natural e dos adultos em áreas do estuário amazônico, mas essas diferenças também podem estar
relacionadas às condições de sítio (Piña-Rodrigues 1994, Piña-Rodrigues 1999).
O plantio puro e consorciado de ucuúba em áreas de terra-firme foi realizado em sistema de

Virola surinamensis
ensaio de progênie e procedência em Breves, Portel, Icoaraci, Igarapé-açu e em sistemas consorciados
e puros em Igarapé-açu e Capitão Poço, todos no estado do Pará (Piña-Rodrigues et al. 2000). Em to-
das as áreas a espécie apresentou comportamento de crescimento similar ao de Paricá – Schizolobium
amazonicum (Leles et al. 2003) com altura superior a 14 m aos 7 anos de idade.

6.2 ESPAÇAMENTO: Há relatos de experimentos com espaçamento em 3 x 3 m (Azevedo


et al. 1999, Neves et al. 2001), e 3 x 4 m, para a produção de madeira serrada (Lima et al. 1999).

6.3 ADUBAÇÃO: Em cova, com 60 g de superfosfato triplo em solos com níveis de fósforo
abaixo de 7 p.p.m. (Lima et al. 1999).

6.4 PREPARO DO SOLO: Em condições normais na Amazônia em áreas de terra-firme,


a vegetação existente foi eliminada manualmente, e o solo, submetido à gradagem (Lima et al. 1999).

6.5 RECOMENDAÇÕES E TRATOS CULTURAIS


Em campo, o plantio deve ser executado no período das chuvas (de dezembro a maio). Capina
manual duas vezes ao ano, nos primeiros dois anos. Combate ao ataque de formigas e controle de
pragas e doenças em geral (Lima et al. 1999).

549
7. MANEJO PARA A PRODUÇÃO
7.1 TÉCNICAS DE CULTIVO E COLHEITA DA PRODUÇÃO
Ferreira et al. (2014) observaram que diferentes intensidades de exploração resultaram em
diferenças na estrutura populacional das matrizes (DAP > 30 cm) e de árvores jovens (DAP < 10 cm),
uma vez que ambas se constituem nos maiores alvos da exploração seletiva.

7.2 CICLOS DE CORTE
É considerada de crescimento intermediário (DAP > 10 cm e Incremento Médio Anual para o
DAP, aos 6 anos de idade, de 1,8 cm.ano-1) (Souza et al. 2010) a lento (Pinedo-Vasquez et al. 2001).

7.3 MANEJO DA PRODUÇÃO E DO CULTIVO


A extração madeireira nas áreas de várzea foi uma das principais atividades produtivas.
Cametá (PA) foi um dos grandes polos madeireiros de espécies da várzea (Hummel et al. 2010),
por meio do processo de toras dos municípios de Cametá e Igarapé-Miri, enquanto o material de
Silvicultura Tropical

Abaetetuba e Cotijuba abastecia as serrarias e fábricas de compensado localizadas em Belém e


entorno (F.C.M. Piña-Rodrigues, informação pessoal). A partir do Decreto n° 1963/96 (Brasil 1996),
houve redução da atividade madeireira no estuário amazônico, em especial entre os anos de 1998
e 2009 (AIMEX 2010). A espécie tem potencial de manejo, devido ao seu rápido crescimento e
regeneração abundante de plântulas, nas áreas de várzea baixa, chegando a compor 90% da
regeneração natural nessas áreas. Deste total, apenas 3% se tornam varas (Piña-Rodrigues 1998).
Para o manejo sustentável da espécie sugere-se que a retirada de indivíduos de diâmetro
superior a 30 cm seja realizada após avaliar o número de plantas no estádio de vara (altura > 1,5
m). Nesta condição, existe a probabilidade de cerca de 10% que cada indivíduo na fase de vara se
transforme em planta adulta, desde que efetuado o manejo de liberação (limpeza e retirada de
cipós e abertura para entrada de luz). De acordo com o “Manual de boas práticas de manejo” (Piña-
Rodrigues et al. 2018), de cada árvore feminina cerca de 400 sementes viram mudas e apenas 13
delas atingem a fase de vara ou “filhotão”, chegando a árvore adulta em condições naturais em
uma relação 1 planta adulta para cada 10 filhotões. Isto representa que, ao se extrair uma árvore
adulta de uma área, é necessário pelo menos a presença ou condução da regeneração natural para
manter 10 filhotões ou a realização de enriquecimento com cerca de 50 a 100 mudas por árvore
extraída ou a condução de pelo menos 400 plantas da regeneração natural (altura < 50 cm).

550
9. PATOLOGIA FLORESTAL
9.1 DOENÇAS E PRAGAS
É suscetível ao ataque de cupins do gênero Nasutitermes (Chaves et al. 2012). Os ataques à
madeira são comuns e ocorrem em todas as partes componentes do tronco e, segundo Abreu et al.
(2002), as principais espécies xilófagas são Xyleborus affinis, Platypus parallelus, Nasutitermes corni-
ger, X. ferrugineus, X. volvulus, Platypus sp., Cresinus sp., Dinoderus bifoveolatus. Também identific-
aram outros insetos das famílias Cerambycidae, Silvanidae, Staphylinidae, Diptera (estágio larval),
Colydiidae, Cucujudae e Nitidulidae (Abreu et al. 2002).

9.2 MANEJO E CONTROLE


As indústrias não costumam utilizar produtos químicos contra insetos xilófagos, nem proced-
imentos padrão para a secagem da madeira (Abreu et al. 2002).

Virola surinamensis
10. OUTRAS INFORMAÇÕES
A espécie continua “em perigo”, conforme a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da
União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN, ou IUCN na sigla, em inglês) (IUCN
2014), embora ausente da Lista Oficial de Espécies Ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente,
conforme Instrução Normativa n° 6, de 23 de setembro de 2008 (Brasil 2008). Somente no final
de 2014 é que o reconhecimento de sua condição como ameaçada foi dado, por meio da Portaria
nº 443, de 17 de dezembro de 2014, atualizando a lista oficial de espécies ameaçadas da flora,
enquadrando-a como “vulnerável” (Brasil 2014, IUCN 2014).
Sua atual condição é dada pelo extrativismo intenso, iniciado na década de 1960, com
a coleta de sementes para a indústria farmacêutica, posteriormente substituída pela exploração
seletiva madeireira, graças a sua boa qualidade na produção de compensados (Piña-Rodrigues
& Mota 2000). A exploração desenfreada tornou a espécie restrita ao corte a partir de 1996,
a partir do Decreto n° 1963, de 25 de julho de 1996 (Brasil 1996), insuficiente para deter a
extração ilegal (Piña-Rodrigues 1999, Piña-Rodrigues & Mota 2000). Fragoso (2016) mostrou
que a extração de ucuúba não parou, a retirada dos indivíduos jovens (DAP < 10 cm), usados na
produção de cabos de vassoura e escoras para a construção civil, ainda ocorre. Apesar de todo o
esforço para a preservação das populações remanescentes (Correa 2016), não houve proteção
efetiva da espécie (Smeraldi et al. 1996), cujo cenário evidencia a vulnerabilidade da espécie aos

551
processos exploratórios continuados e a necessidade de sua conservação. O plantio em escala
comercial, seja em plantios puros ou consorciados se apresenta como estratégia adequadas não só
para a produção de madeira como também de não madeireiros.

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557
Vochysia bifalcata Warm.
HELENA CRISTINA RICKLI-HORST
Bióloga. Mestrado e Doutorado (Produção Vegetal), pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-RIBAS


Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Biológicas e doutorado
em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia Vegetal pela Università di Pisa, Italia. Atualmente
é Professora Titular do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).

1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA
Encontra-se distribuída de forma natural no Bioma Mata Atlântica. Está presente
Silvicultura Tropical

na Floresta Ombrófila Densa (Floresta Tropical Pluvial Atlântica), sendo abundante e


frequente nas formações das Terras Baixas e Submontana nos Estados do Paraná e
de São Paulo, ocupando o estrato superior e intermediário. Também pode ocorrer na
Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária), na formação Alto-Montana, no maciço
do Itatiaia, no Estado do Rio de Janeiro (NEGRELLE et al., 2007; CARVALHO, 2008).

1.2 NOME COMUM


Guaricica, pau-de-vinho, vinheiro, pau-amarelo, canela-santa, morici, murici,
murici–vermelho e caixeta-do-interior (CARVALHO, 2008; LORENZI, 2009).

1.3 NOME CIENTÍFICO: Vochysia bifalcata Warm.

1.4 FAMÍLIA: Vochysiaceae

1.5 PORTE
Espécie arbórea, com copa densa perenifólia. Na idade adulta, suas árvores
podem atingem dimensões próximas a 25 m de altura e 100 cm de DAP (diâmetro à
altura do peito). Seu tronco é reto e cilíndrico, podendo apresentar um fuste longo, de
até 18 m de comprimento (CARVALHO, 2008; LORENZI, 2009).

558
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
2.1 DENSIDADE DA MADEIRA
A madeira de Vochysia bifalcata é moderadamente densa (0,50 a 0,55 g.cm-3), a 15 % de
umidade, macia ao corte, de textura grossa, suscetível ao rachamento e empenamento durante
o processo de secagem. Possui baixa resistência mecânica e é suscetível ao apodrecimento
(CARVALHO, 2008; LORENZI, 2009). Não há diferenciação entre alburno e cerne, apresentando
coloração rósea-pálida, com manchas esbranquiçadas (CARVALHO, 2008).

2.2 PRODUTOS NÃO MADEIREIROS


A madeira serrada e roliça de Vochysia bifalcata pode ser utilizada na confecção de

Vochysia bifalcata Warm.


laminados para a produção de embalagens leves, brinquedos, caixotaria, uso em obras de
acabamento interno e externo de residências e confecção de remos. Também é uma espécie
que possui características adequadas para extração de celulose, produção de papel, assim
como lenha de boa qualidade, podendo ser utilizada no fornecimento de energia (NEGRELLE
et al., 2007; CARVALHO, 2008; LORENZI, 2009).
A partir da resina do tronco de árvores de Vochysia bifalcata é possível produzir uma
bebida chamada de vinho-de-guaricica, a qual é consumida in natura pela população da
região do litoral do Estado do Paraná (CARVALHO, 2008; MAYWORM et al., 2011).

3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
Seus frutos são do tipo capsula lenhosa, trígona, rimosa, medindo de 2,5 a 4 cm de
comprimento quando maduros; pedúnculo com 2 a 3 cm de comprimento e 0,2 a 0,3 cm de
largura.
Em cada lóculo do fruto há a presença de uma semente, totalizando 3 sementes por
fruto. Sua semente é alada, de coloração marrom-escura, com núcleo seminal basal, medindo
de 3,5 a 4 cm de comprimento e 1 cm de largura (NEGRELLE et al., 2007; CARVALHO, 2008).
O número de sementes de Vochysia bifalcata por quilo é de 10.551 a 23.500 (CARVALHO,
2008; LORENZI, 2009; RICKLI et al., 2014). O peso de 1000 sementes é de aproximadamente
94,8 g, com grau de umidade das sementes de 11,8% (RICKLI et al., 2015).

559
3.2 FENOLOGIA
As flores de Vochysia bifalcata são reunidas em inflorescências, formando cachos terminais,
medindo de 9 cm a 40 cm de comprimento, 4 a 4,5 cm de largura, com coloração amarela
(NEGRELLE et al., 2007; CARVALHO, 2008). A polinização ocorre principalmente por abelhas,
destacando-se a abelha-mandaçaia (Melipona quadrifasciata) e a abelha-mamangava (Bombus
morio), além de borboletas e outros insetos (CARVALHO, 2008).
Sua floração destaca-se do resto da vegetação por ser amarelada e vistosa (CARVALHO, 2008).

3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO


A época de floração varia de acordo com a sua localização geográfica, ocorrendo,
geralmente, de novembro a março para o Rio de Janeiro; de janeiro a março em São Paulo e no
Paraná e de fevereiro a abril em Minas Gerais (NEGRELLE et al., 2007; CARVALHO, 2008).

3.4 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA


Silvicultura Tropical

Segundo Carvalho (2008), a frutificação ocorre entre os meses de novembro a dezembro, no


Estado do Paraná; de março a julho, no Estado do Rio de Janeiro e em agosto, no Estado de São Paulo.
Devido a dispersão de suas sementes ser anemocórica, ou seja, pelo vento, seus frutos,
que são do tipo capsula lenhosa, trígona e deiscente, devem ser coletados ainda fechados,
diretamente das plantas matrizes (CARVALHO, 2008).

3.5 MANEJO DE SEMENTES:


Segundo Carvalho (2008) e Rickli et al. (2014), a abertura dos frutos deve ser feita
naturalmente, mantendo-os em ambiente ventilado para liberação das sementes, as quais
devem ser extraídas manualmente.

3.6 QUEBRA DE DORMÊNCIA


As sementes de Vochysia bifalcata apresentam leve dormência tegumentar, sendo
superada pela imersão em água a temperatura ambiente, por 24 horas (CARVALHO, 2008).
Entretanto, não existem estudos mais aprofundados sobre a dormência da espécie.

3.7 ARMAZENAMENTO
As sementes de Vochysia bifalcata podem ser classificadas como intermediárias, ou seja,
as sementes sobrevivem moderadamente à dessecação até atingirem em torno de 12% de

560
umidade (base úmida) apresentando comportamento que se situa fisiologicamente entre
recalcitrantes e ortodoxas (MEDEIROS; EIRA, 2006). As sementes perdem a viabilidade após 6
meses da coleta, em condições de ambiente não controlado (CARVALHO, 2008).

4. PRODUÇÃO DE MUDAS
Em regeneração natural, Vochysia bifalcata
apresenta crescimento rápido em altura e
diâmetro (CARVALHO, 2008). Já a produção de
mudas em viveiros é difícil (LORENZI, 1998),
existindo poucos relatos sobre a espécie. É
uma planta que apresenta grande dificuldade
de produção de mudas, o que ocasiona

Vochysia bifalcata Warm.


dificuldades no seu uso, por desconhecimento
das suas condições para produção em viveiro
(CARPANEZZI; CARPANEZZI, 2006).
A tentativa de produção de mudas da
espécie foi realizada no viveiro da Embrapa
Florestas, no município de Colombo - PR,
onde observou-se heterogeneidade entre as
plântulas, atraso no crescimento e alta taxa
de mortalidade das mudas em função do seu
potencial de germinação e sistema radicular
pouco desenvolvido (CARVALHO, 2008). O
mesmo autor cita outras duas tentativas de
propagação em viveiros nos municípios de Foz
do Iguaçu - PR e Dona Ema – SC, sem sucesso na
produção de mudas.
Segundo comunicação pessoal do
Figura 1: Muda de Vochysia bifalcata,
Pesquisador Ricardo Miranda Britez (2010), proveniente de regeneração natural da espécie,
da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem com sistema radicular pouco desenvolvido,
coletada no ano de 2010 na área experimental
e Educação Ambiental (SPVS), em 2010, a Moro da Mina, pertencente a SPVS (Antonina -
Instituição demonstrou grande interesse na PR). Fonte: RICKLI (2012)

561
produção de mudas da espécie, porém em inúmeras tentativas realizadas foram encontradas
dificuldades, como alta mortalidade das mudas produzidas em viveiro, apesar de haver
germinação das sementes.
De acordo com informações pessoais das autoras desse capítulo, como parte do projeto de
mestrado de Helena Cristina Rickli-Horst em parceria com a SPVS, no ano de 2010 foram coletadas
mudas provenientes de regeneração natural na região do Moro da Mina, em Antonina (PR), área
pertencente a SPVS, as quais foram levadas à condição de viveiro pertencente a Embrapa Florestas
(Colombo -PR) para aclimatação das mudas. Porém, ao longo de aproximadamente 30 dias após a
coleta, iniciou-se um processo de oxidação das plântulas e posterior morte das mudas que vinham
sendo mantidas em vasos. Ao analisar essas mudas, observaram que seu sistema radicular era
pouco desenvolvido, o que dificulta o estabelecimento das plantas (Figura 1).

4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO


A germinação em viveiro é baixa (22% a 50%) e irregular, e as plântulas formadas
Silvicultura Tropical

apresentam uma raiz pivotante muito desenvolvida em comprimento e espessura, porém com
poucas raízes laterais, de aspecto curto e fino (CARVALHO, 2008).
Em testes laboratoriais, Rickli et al. (2014) encontraram porcentagens de germinação de
sementes maiores do que as relatadas por Carvalho (2008). A utilização da temperatura de 25ºC
propiciou porcentagens de germinação de 73% utilizando-se como substrato a vermiculita,
70% sobre papel mata-borrão e 62% com rolo de papel.
Segundo as Instruções para Análise de Sementes de Espécies Florestais (BRASIL, 2013) e
Rickli et al. (2014), o teste de germinação em laboratório para sementes de Vochysia bifalcata
deve ser realizado nos substratos: sobre vermiculita, sobre papel e entre papel, na temperatura
de 25º C, com primeira contagem ao 7º dia e última contagem ao 21º dia após a instalação.

4.2 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA


Diante das dificuldades na produção de mudas de Vochysia bifalcata por sementes outras
pesquisas foram realizadas no âmbito da propagação vegetativa, por meio da técnica de estaquia
caulinar.
Danner et al. (2010) realizaram experimentos com estacas de Vochysia bifalcata coletadas de
plantas matrizes localizadas na Reserva do Cachoeira (Antonina - PR), pertencente a SPVS, na primavera
de 2009. Como tratamento utilizaram a aplicação de ácido indol butírico (0, 500, 1000 e 2000 mg L-1
de IBA) e do antioxidante polivinilpirrolidona (PVP 40) a 1000 mg L-1, devido ao conhecimento prévio

562
de que a espécie apresenta grande oxidação de seus ramos quando cortados. Contudo, o uso de IBA
e de PVP 40 não influenciaram no enraizamento das estacas, havendo uma alta porcentagem de
mortalidade, com apenas 19% de sobrevivência das estacas, sem registro de enraizamento.
Em experimento semelhante realizado por Rickli (2012), estacas semilenhosas foram
coletadas de plantas juvenis localizadas na Reserva do Cachoeira, pertencente a SPVS, em quatro
estações do ano, utilizando metodologia semelhante à de Danner et al. (2010). Como resultados,
o inverno foi a estação do ano que mais favoreceu a sobrevivência das estacas (56%) (Figura 2A).
Houve registro de estacas enraizadas e com calos, porém com percentuais reduzidos, abaixo de 1,5
%. Diante desses resultados a autora afirmou que Vochysia bifalcata é uma espécie considerada
de difícil enraizamento, ou seja, aquelas que carecem da presença de um ou mais cofatores do
enraizamento, não respondendo à aplicação de auxinas exógenas, segundo classificação de
Hartmann et al. (2011).

A b c Vochysia bifalcata Warm.

Figura 2: Estaquia de Vochysia bifalcata. A. Estacas vivas (sem enraizamento) provenientes de


brotação do ano; B. Estacas enraizadas provenientes de brotações epicórmicas por meio decepa
de plantas matrizes; C. Estacas enraizadas provenientes de brotações epicórmicas por meio
envergadura de caule de plantas matrizes. Fonte: RICKLI (2012)

Diante da dificuldade de enraizamento de estacas de Vochysia bifalcata pelos métodos


convencionais, Rickli et al. (2015) realizaram técnicas de rejuvenescimento por meio de
decepa e envergadura de plantas matrizes (Figura 3), estimulando assim a produção de
brotações epicórmicas. Estas, foram coletadas e após a confecção das estacas, tratadas com
duas concentrações de IBA (0 e 1000 mg L-1), o que resultou em altas porcentagens de

563
enraizamento. Estacas de brotações epicórmicas provenientes de decepa apresentaram maior
porcentagem de enraizamento (81%), assim como maior número de raízes por estaca (8,0 raízes/
estaca) e maior comprimento médio das três maiores raízes por estaca (2,0 cm) quando comparadas
àquelas provenientes de envergadura de caule (31% de enraizamento; 3,3 raízes/estaca com 0,7
cm) (Figura 2 B, C). Ou seja, para a produção de mudas via clonal a metodologia promissora é o
uso de decepa de plantas matrizes da espécie para a utilização de suas brotações epicórmicas na
técnica de estaquia, com maiores porcentagens de enraizamento.
Silvicultura Tropical

A b

C D

Figura 3: Técnicas de resgate vegetativo em Vochysia bifaltcata. A. Decepa de plantas


matrizes; B. Brotações epicórmicas provenientes de plantas decepadas; C. Envergadura de
caule em plantas matrizes; D. Brotações epicórmicas provenientes de plantas envergadas.
Fonte: RICKLI (2012)

564
5. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS
Grande parte da população de Vochysia bifalcata presente atualmente é originária de
regeneração natural, principalmente pelo fato de que há uma grande dificuldade de produção
de mudas e plantio da espécie (NEGRELLE et al., 2007; CARVALHO, 2008). Atualmente, não
existem protocolos específicos para cultivo e atividades silviculturais da espécie, o que torna
necessário o fomento ao desenvolvimento de mais pesquisas.

5.1 SISTEMA DE PLANTIO


Recomenda-se o sistema de plantio puro, a pleno sol, em função de suas exigências
ecológicas, não tolerando temperaturas baixas (CARVALHO, 2008).

5.2 PREPARO DO SOLO


Sabe-se apenas que a espécie é considerada dependente de alumínio (FURLEY; RATTER, 1988).

Vochysia bifalcata Warm.


6. POTENCIAL PRODUTIVO
Não existem informações sobre o rendimento econômico, custos e capacidade produtiva
de Vochysia bifalcata, principalmente pelo fato de não haver nenhum tipo de plantio comercial
até o momento. Porém, a espécie encontra-se inserida na Lista das espécies madeireiras
prioritárias da Região Sul, selecionadas no âmbito do Projeto Plantas para o Futuro, desenvolvida
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), e conduzida com recursos financeiros do Projeto
de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – PROBIO/MMA
(FANTINI, SIMINSKI; 2011). Neste Projeto, na Região Sulsão inseridas as espécies prioritárias
que apresentam disponibilidade de estudos,potencial para integrar estratégias de recuperação
ambiental, viabilidade econômica do seu cultivo ou manejo, produção de biomassa e/ou
crescimento volumétrico elevado, qualidade da madeira comprovada e multifuncionalidade
de uso da madeira. As informações contidas no projeto visam fomentar o uso dessas espécies
por pequenos agricultores e criar novas oportunidades de investimentos na região.

565
7. REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária.
Instruções para análise de sementes de espécies florestais. Brasília, DF: Mapa/
ACS, 2013. 98 p.

CARPANEZZI, A. A.; CARPANEZZI, O. T. B. Espécies nativas recomendadas para recuperação


ambiental no Estado do Paraná, em solos não degradados. Documentos 136. Colombo:
Embrapa Florestas, 2006. 57p. Disponível em: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/
infoteca/bitstream/doc/313946/1/doc136.pdf>. Acesso em: 20/11/2020

CARVALHO, P. E. R. Guaricica (Vochysia bifalcata). Circular Técnica 150. Colombo - PR: Embrapa
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DANNER, M. A.; GUBERT, C.; TAGLIANI, M. C.; ZUFFELLATO-RIBAS, K. C. Estaquia semilenhosa de


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FANTINI, A. C.; SIMINSKI, A. Espécies madeireiras nativas da Região Sul do Brasil. In: CORADIN, L.;
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atual ou potencial: Plantas para o Futuro – Região Sul. Brasília: MMA. p. 403-413, 2011.

FURLEY, P. A.; RATTER, J. A. Soil resources and plant communities of the central Brazilian cerrado
and their development. Journal of Biogeography, v. 15, p. 97-108, 1988.

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PROPAGATION: principles and practices. 8 ed. Boston: Prentice Hall. 2011. 915 p.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas


do Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum, v. 2, 2009, 384 p.

MAYWORM, M. A.; BUCKERIDGE, M. S.; MARQUEZ, U. M.; SALATINO, A. Nutritional reserves of


Vochysiaceae seeds: chemical diversity and potential economic uses. Anais Da Academia
Silvicultura Tropical

Brasileira De Ciências, v. 83, n. 2, p. 523-31, 2011.

MEDEIROS, A. C. S.; EIRA, M. T. S. Comportamento fisiológico, secagem e armazenamento


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566
2006. Disponível em: <https://www.
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Acesso em: 01/11/2017.

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(Vochysia bifalcata Warm.) por
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Vochysia bifalcata Warm.


(Tese de Doutorado). Departamento
de Fitotecnia e Fitossanitarismo,
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H. S.; ZUFFELLATO- RIBAS, K.
C. Germinação de sementes
de Vochysia bifalcata em diferentes
substratos e temperaturas. Floresta,
v. 44, n. 4, p. 669 - 676, 2014.

RICKLI, H. C.; BONA, C.; WENDLING, I.;


KOEHLER, H. S.; ZUFFELLATO-RIBAS, K.
C. Origem de brotações epicórmicas e
aplicação de ácido indolilbutírico no
enraizamento de estacas de Vochysia
bifalcata Warm. Ciência Florestal, v.
25, n. 2, p. 385-393, 2015.

567
SILVICULTURA DE ESPÉCIES
LATINO-AMERICANAS
Myrsine guianensis (Aubl.)
Kuntze.
Juan Carlos Villalba-Malaver
Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidad Distrital Francisco José De Caldas de Bogotá, professor
associado da Facultad de Ciencias Agrarias de la Universidad del Cauca
na Colombia, mestrado pela Universidad del Cauca.

Román Ospina-Montealegre
Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidad del Tolima, ProfessorTitular da Facultad de Ciências Agrarias
de la Universidad del Cauca en Colombia, mestrado em Manejo de
Silvicultura Tropical

Bosques Tropicales del Centro Agronómico Tropical de Investigación y


Enseñanza.

Edgar Andrés Avella-Muñoz


Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidad Distrital Francisco José de Caldas de Bogotá, professor
assistente da Facultad del Medio Ambiente y Recursos Naturales de
la Universidad Distrital Francisco José de Caldas en Colombia, com
especialização em Gestión y Educación Ambiental de la Universidad
Distrital Francisco José de Caldas, mestrado em Medio Ambiente y
Desarrollo, e doutorado em Ciencias de Biología pela Universidad
Nacional de Colombia Sede Bogotá.

1. Botânica
Árbol de mediana altura que alcanza los 14 m de altura y hasta
20 cm de diámetro (Toro 2011). Su tronco es liso, de color grisáceo y con
precencia de lentícelas; presenta ramificación plagiotrópica, formando
una copa de forma cónica y algunas vecez globosa, densa con follaje
color oscuro que lo hace llamativo para ser usado como ornamental
(Morales & Varon 1997); sus ramas delgadas son teretes, que se tornan
de color castaño al madurar. Las hojas son oblongo-elipticas de base
aguda y apice obtuso, de color verde oscuro brillante por el haz y de

568
color verde claro opaco por el enves, presentan puntos grandulares diminutos en ambas caras,
miden entre los 5 y 20 cm de largo y entre los 3 y los 5 cm de ancho; son simples, alternas,
dispuestas en forma helicoidal; se presentan agrupadas en los extremos de las ramas, donde
evidencian yemas parecidas a espadas, sin evidenciar la presencia de estípulas. Sus flores son
de color amarillo-versodoso, pequeñas y dispuestas en grupos a manerade fasciculos a largo
de sus ramas. Los frutos son esfericos que miden hasta 5 mm de diámetro, en forma de drupas
coriaceas que se torna de color negro brillante al madurar; en su inerior presentan una semilla
de hasta 2 mm de diámetro, de consistencia dura, opacas, con presencia de manchas oscuras y
pequeñas (CAR 2004).

Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze.


1.1 Bioma
Habita entre los 0 y los 3100 msnm, en las zonas de vida bosque húmedo tropical (bh-T),
bosque húmedos pre-montano (bh-PM), bosque muy húmedo pre-montano (bmh-PM), bosque
muy húmedo pre-montano bajo (bmh-PMB), bosque seco montano bajo (bs-MB), bosque seco
tropical (bs-T) y en el bosque muy húmedo pre-montano (bmh- PM) (CAR 2004). La ocurrencia
se reporta en Brasil, Colombia, Venezuela, Surinam, Guyana, Perú, Ecuador, Bolivia, México,
Puerto Rico, Guyana Francesa, Cuba, Trinidad y Tobago, Bahamas, Jamaica, Argentina, Belice y
Paraguay (Bernal et al 2015).

1.2  Nome Comum: cucharo, chagualo, espadero.

1.3 Nome Científico: Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze.

1.4 Família: Primulaceae

1.5  Porte: arbóreo (Bernal et al 2015)

2. Tecnologia da madeira e dos produtos


não madeireiros
El color de la madera de M. guianensis es naranja claro, sin evidencia de transición entre
albura y duramen, presenta una textura gruesa, grano oblicuo y anillos de crecimiento notables a
simple vista, (Grande & Polanco 2007). Ha sido utilizada como madera rolliza (sin transformación),
para construcciones de viviendas rurales como elemento estructural en forma de vigas y columnas,
apetecida por su resistencia al ataque de insectos xilofagos, también se emplea para fabricación

569
de postes, proveedora importante de leña para los hogares y la agroindustria rural (Ordoñez et al
2017, Coronado & Prato 2019).
Sus frutos son consumidos por las aves, las cuales son sus principales dispersores de semillas
(Bartholomäus et al 1998, Bauer et al 2012, Castillo & Calderón 2017). Tiene potencial para uso
ornamental, gracias a la belleza de su follaje y arquitectura (Morales & Varón 1997). Es clave para
involucrar en procesos de restauración de áreas degradadas y para sistemas agroforestales en los que
se puede incluir como cerca viva, contribuyendo a mejorar las condiciones de los suelos (Calle 2000,
Romero 2005, Benavideset al 2015). Además, la especie es recomendada como árbol melífero, en
especial por la producción de polen durante 6 meses del año (Silva & Restrepo 2012). También ha
sido reportada como hospedera de lepidópteros (Diniz et al 2001).

2.1 Densidade da madeira
Tiene una madera ligeramente pesada de acuerdo con las normas ASTM, con una densidad
básica que puede oscilar entre 0,58 gr-cm³-1 y 0,70 gr-cm³-1, valor que está asociado a las condiciones
Silvicultura Tropical

de crecimiento y la edad del árbol (Amorim & Ferreira 2017).

2.2 Extrativos
De la corteza se han aislado varias moléculas con actividad microbiana como la embelina
y rapanona, como las más importantes por su estabilidad química y por la formación de derivados
(Reguero et al 1989). La rapanona obtenida de M. guianensis ha sido probada para el control de
microorganismos Gram (+), Gram (-) y como agente antipalúdico e insecticida (Chaves 1992). El
extracto de las hojas ha sido evaluado para inhibir la acción del veneno de serpientes del género
Bothrops (Oliveira et al 2019).

3. Tecnologia de sementes
3.1 Produção de sementes
A pesar de la importancia ecológica y económica de M. guianensis, sus semillas no tienen
un mercado establecido y su propagación en Colombia se realiza a partir de semillas colectadas de
fuentes no evaluadas. Trabajos realizados en diferentes zonas de Colombia (Salazar 2010, Flores et al
2011, Meneses 2018) reportan amplias diferencias (26.6% - 100%), en los porcentajes de viabilidades
para semillas colectadas de árboles fuente localizados incluso en la misma área, lo que plantea la
necesidad de seleccionar fuentes semilleras para la especie.

570
3.2 Fenologia
En un periodo de dos años de seguimiento a la fenología de la especie en el sur de Brasil, se encontró
que ningún evento reproductivo demostró relación con los factores climáticos y la presencia de individuos
con frutos maduros fue prácticamente continua a lo largo de los dos años de estudio (Bauer et al 2012).

3.3 Epoca de floração
Las épocas de floración se presentan en épocas secas, las cuales para el suroccidente de
Colombia se presentan principalmente entre los meses enero-marzo y julio-agosto (Jaramillo &
Chaves 2000).

3.4 Frutificação e colheita
La recolección de los frutos se recomienda cuando el fruto se torna de un color negro, evidencia

Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze.


de la madurez del mismo y de la semilla. En el suroccidente de Colombia Salazar (2010), encontró
buena disponibilidad de frutos maduros durante el mes de abril, coincidiendo con una de las dos
épocas lluviosas de la zona. Observaciones de campo sugieren que durante los meses de noviembre
y diciembre, hay buena oferta de frutos maduros en todo el suroccidente de Colombia, coincidiendo
con la época de mayor precipitación.

3.5 Manejo de sementes
Los frutos carnosos requieren para la extracción de sus semillas de un proceso de despulpado.
Si no se retira la parte carnosa del fruto se descompone y fermenta causando daños a la semilla
especialmente por la producción de ácido acético; el proceso se lleva a cabo usualmente colocando los
frutos en tanques con agua por un tiempo aproximado de 24 a 48 horas, posteriormente se despulpan
lavándose en agua corriente o en forma manual y luego se secan en condiciones convencionales y
dependiendo de cada fruto (Trujillo 2001).

3.6 Quebra de dormência
La semilla de no requiere tratamiento pregerminativo para alcanzar su germinación,
los ensayos realizados por Flórez et al (2011), reportaron tasas hasta del 80% de germinación sin
tratamiento, sin embargo las mismas autoras reportan que el tratamiento con agua hirviendo puede
reducir significativamente el tiempo de emergencia, manteniendo los mismos porcentajes de
germinación. Otro factor influyente reportado por los autores citados fue el sustrato, siendo los más
recomendables la tierra o la mezcla de tierra y aserrín en proporción 70 - 30.

571
3.7 Armazenamento
Una especie del mismo genero, Myrsine parvifolia A. DC ha sido reportada como ortodoxa
(Ribeiro & Costa 2015), lo que significa que podría realizarse almacenamiento en periodos
prolongados de tiempo a bajos contenidos de humedad y refrigerada.

4. Produção de mudas
4.1 Método de semeadura e produção
En germinador el método de siembra se recomienda al voleo y la profundidad de 1.5
cm. El tiempo en el germinador es de 4 meses después de la siembra y se puede realizar el
trasplante con una altura de 2 a 3 cm (Gutiérrez et al 2013). Por el tamaño pequeño de
la semilla es posible sembrar directamente en tubetes, bandejas o pellets, plantando 2 o 3
semillas (dependiendo del porcentaje de germinación) y haciendo raleo posterior. La otra
opción es trasplantar a los mismos contenedores las plántulas provenientes del germinador.
Silvicultura Tropical

4.2 Manejo
Es una especie que crece colonizando áreas abiertas, incluso en suelos sobreexplotados, sobre
coberturas de tipo arbustal abierto. En trabajos de restauración ecológica en zonas de bosque seco
tropical se ha empleado M guianensis como facilitadora de la restauración, plantada alrededor de
árboles más grandes a distancias de 2x2 metros (Torres et al 2019). En un ensayo realizado en la sede
de la Universidad del Cauca, se ha observado una buena respuesta de la especie a la compactación
con distancias de 3x3 m, después de cinco años, igual respuesta se ha observado cuando se planta en
línea con la misma distancia.

5. Potencial de melhoramento genético


A pesar de su amplia distribución, importancia ecológica, su capacidad de colonizar áreas
perturbadas incluso afectadas por incendios (Hoffmann 1999) y su buena respuesta en plantaciones y
diferentes arreglos agroforestales, hasta hace unos pocos años a M. guianensis se le viene reconociendo
su potencial para iniciar programas de mejoramiento genético, con miras a incrementar la oferta de
bienes y servicios múltiples que ofrece, entre los que se incluyen la producción de madera, mejora de
suelos, conservación de la biodiversidad, producción de miel y obtención de principios activos para
aplicaciones en medicina, entre otros.

572
6. Cultivo e atividades silviculturais
6.1 Sistema de plantio
Hasta la fecha no se reporta el manejo de la especie en plantaciones puras, se han realizado
ensayos de incorporación en proyectos de restauración y sistemas agroforestales, donde se
incorpora principalmente como cerco vivo, pero no han sido objeto de evaluación. Observaciones
realizadas en el arboretum establecido en la sede las Guacas de la Universidad del Cauca, muestran
que la especie responde bien a distanciamientos de 3x3 m, alcanzando alturas máximas de
aproximadamente 6 m a los 7 años.

6.2 Espaçamento
Es una especie que responde bien a distanciamiento de 3x3 m tanto en plantación compacta
como en cerco vivo. Su desempeño en cercas vivas ha sido reportado, indicando su buen desempeño

Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze.


en asocio con otras especies (Molano et al 2003).

6.3 Adubação
No se han evaluado los requerimientos nutricionales de la especie, a nivel de vivero se evidenció
una buena respuesta con la adición de Fosfato de amonio dibasico (dap) en dosis de 2 g (Flórez et al 2011).

6.4 Preparo do solo
A pesar de que M. guianensis es una especie que se establece en suelos degradados, parece
que su capacidad de adaptación en buena parte está definida por la asociación simbiótica que
presenta con hongos endófitos (da Silva et al 2008, Cuellar 2018), lo que sugiere que enmiendas
con sustratos micorrízicos puede favorecer su desempeño, principalmente durante la preparación del
suelo para la siembra.

6.5 Recomendações e tratos culturais


La especie tiende a formar ramas casi desde la base, por lo que se sugiere practicar podas
sistemáticas, aún en plantaciones compactas, ya que las hojas de M. guianensis presentan cierta
tolerancia la sombra y la autopoda es un factor que no necesariamente se presenta en esta especie. Es
importante evaluar la respuesta de la especie a diferentes intensidades de poda. Esta especie tiende a
rebrotar y desarrollar un nuevo tallo cuando es cortada (Torres et al 2019), este hecho ha llevado a los
productores a aplicar esta técnica de manejo para obtener leña para diferentes usos, durante varios
ciclos de vida del indivíduo.

573
7. Manejo para a produção
Para la producción de madera M. guianensis se pueden plantear diferentes arreglos espaciales,
en plantaciones compactas 3x3 m, en sistemas agroforestales en fajas o líneas, asociado con praderas
o cultivos. También se puede asociar con otras especies arbóreas y arbustivas para la constitución de
cercos vivos con varios estratos.

7.1 Técnicas de cultivo e colheita da produção


Se puede propagar mediante semillas y propagación asexual mediante manejo de rebrotes.
Generalmente se cosecha a temprana edad, su madera es utilizada sin ninguna transformación
con sierras, sus productos son troncos de diámetros pequeños, que se emplean en construcciones
rurales, cabos de herramientas y leña, que no requieren grandes diámetros.

7.2 Ciclos de corte
Silvicultura Tropical

El ciclo de corta de esta especie varía de acuerdo con el piso altitudinal donde esta crece,
por ejemploBecerra (2015), reporta incrementos de aproximadamente de 0.02 m-año-1 en
diámetro para las condiciones de bosque natural en la sabana de Bogotá a 2600 m.s.n.m. De
acuerdo con este reporte y las observaciones en el arboretum de la Universidad del Cauca el
ciclo de la especies puede estar entre los 10 y 15 años. Sin embargo, de acuerdo con el producto
que se desee aprovechar (por ejemplo vigas para techos), este tiempo puede llegar a ser menor
a los 10 años.

7.3 Manejo da produção e do cultivo


Se puede plantear plantaciones de alta densidad (> 1000 árboles ha-1) y hacer raleos
para la obtención de productos de diámetros pequeños, leña o carbón. En cercas se pueden aplicar
distancias más cortas entre árboles (2 m) y hacer manejo bajo la técnica de monte bajo, sin perder
la condición del cerco.

8. Potencial produtivo
M. guianensis no es una especie incluida entre las potenciales para la producción maderera
en Colombia (MADR 2018). Sin embargo, se evidencian la producción de vigas, columnas para
construcción, postes para cerca y leña, provenientes principalmente del bosque natural y de sistemas

574
agroforestales. En la actualidad existe un potencial para la producción de semillas por la demanda
para proyectos de restauración, conservación y sistemas agroforestales (Calle 2000, Meneses 2018).

8.1 Rendimentos, econômico


Una vara con 5 m de longitud y con 8 cm de diámetro medio de M. guianensis en el
mercado está por el orden de U$ 2,5 mientras que un metro cúbico de leña de esta especie, cuesta
aproximadamente US$30 (Ordoñez et al 2017). En términos de costo benefício, es más recomendable
manejar la especie en sistema agroforestal, tipo cerca viva o árboles en línea, que generaría además
de ingresos por venta de la madera, otras externalidades que favorecen de una mejor manera al
productor (Pérez 2006).

8.2 Rendimentos, custos

Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze.


Hace falta generar más información para tener datos más precisos acerca del rendimiento de
la especie, así como de los canales de comercialización de su madera. Los costos de establecimiento
para la especie descontando los incentivos que otorga el gobierno, pueden estar por el orden de
US$210/ha (MADR 2018).

8.3 Capacidade produtiva.


Hay que avanzar en la investigación sobre la capacidad productiva de la especie,
principalmente en sistemas agroforestales, dado que la mayoría de los trabajos se han limitado
a señalar su presencia y sus bondades, pero no se ha evaluado su capacidad de producción y lo
que representa desde el punto de vista económico. De igual manera, poco se ha avanzado en el
estudio de las propiedades de la madera de M guianensis más allá de su capacidad calorífica, para
ser empleada como dendroenergía.

9. Patologia florestal
M. guianensis es un árbol que se encuentra generalmente sano en su estado natural, incluso
sus hojas son utilizadas como insecticida y como antimicrobiano.

9.1 Doenças e pragas
No se reportan estudios sobre problemas de plagas o enfermedades asociadas a la especie.

575
10. Outras informações
Dada la demanda actual de especies para la restauración ecológica, es importante avanzar
en el trabajo de selección de fuentes de semilla evaluadas de M. guianensis y explorar el mercado
potencial que tiene esta especie, considerando sus potencialidades para este fin.

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579
SILVICULTURA DE ESPÉCIES
LATINO-AMERICANAS
Quercus humboldtii Bonpl.
Juan Carlos Villalba-Malaver
Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidad Distrital Francisco José De Caldas de Bogotá, professor
associado da Facultad de Ciencias Agrarias de la Universidad del Cauca
na Colombia, mestrado pela Universidad del Cauca.

Andrés Avella-Muñoz
Ingeniería Forestal y Maestría en Manejo, Uso y Conservación del
Bosque. Facultad del Medio Ambiente y Recursos Naturales, Universidad
Distrital Francisco José de Caldas. Av. Circunvalar Venado de Oro. Bogotá,
Colombia. aavellam@correo.udistrital.edu.co

Román Ospina-Montealegre
Silvicultura Tropical

Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela


Universidad del Tolima, ProfessorTitular da Facultad de Ciências Agrarias
de la Universidad del Cauca en Colombia, mestrado em Manejo de
Bosques Tropicales del Centro Agronómico Tropical de Investigación y
Enseñanza.

1. Botânica
Árbol que alcanza los 30 m de altura y los 2 m de diámetro
en su tronco, que cuando esta en buenos suelos es vertical, grueso y
cilíndrico, tiene corteza rugosa y fisurada de color negruzco; su copa
parece un globo (globosa); su follaje es denso y grueso, su color es
verde oscuro; su ramificación es muy prolífica, las ramas jóvenes tienen
forma verticilada y están cubiertas por una vellosidad de color blanco
(pubescencia lanuginosa); sus raíces tienen forma tabloide y están
dispuestas de forma extendida. Las hojas miden 14 cm de largo por
3.5 de ancho, son simples, alternas, alargadas, están agrupadas en
manojos, terminan en punta (acuminadas), tienen una textura parecida
a la del pergamino (apergaminadas), son lisas (glabras), tienen forma

580
elíptica, su borde es ondulado y poseen pecíolos cortos; presentan estípulas libres que son
largas, angostas y efímeras (caen pronto). Las flores provienen de una especie monoica, es decir
están agrupadas en inflorescencias terminales masculinas y femeninas en el mismo individuo;
las inflorescencias masculinas son de color marrón miden 10 cm de largo y están dispuestas
en aumentos colgantes (pendulares), las flores femeninas miden 3mm de diámetro, están
muy comprimidas y su color es verde oliva. Los frutos miden 3 cm de diámetro, son aquenios
redondos, terminan en punta (apículo), poseen una tapa escamosa que los cubre (cúpula),
desprende con facilidad, tiene forma hemisférica, es redonda y su color es marrón, cada fruto
contiene una semilla. Las semillas son del mismo tamaño del fruto, están muy adheridas a él y
son de color amarillo brillante (CAR 2004).

Quercus humboldtii Bonpl.


1.1 Bioma
El roble andino (Quercus humboldtii Bonpl.) se distribuye exclusivamente en el Darién
panameño y en Colombia sobre los tres ramales de la Cordillera de los Andes, así como en
algunas estribaciones de los macizos montañosos de la región Caribe colombiana. Crece en
un amplio gradiente ambiental desde los 750 hasta 3.450 m. de elevación, en zonas con
precipitaciones anuales que varían desde los 700 mm hasta 3.000 mm (Rangel & Avella 2011)
y en suelos que pueden ser desde moderadamente fértiles y profundos hasta en proceso de
degradación (López 2014, Avella et al 2017).
En los bosques subandinos o de la media montaña, Q. humboldtii suele aparecer como
un elemento florístico más del bosque subandino, algunas veces como codominante, mientras
que en altitudes superiores, en los bosques andinos y altoandinos a altitudes mayores de 2400
m de elevación es la especie dominante, especialmente en las vertientes sub-húmedas y sub-
xerofíticas (Van der Hammen et al 2008, Avella 2016), donde genera una particular formación
vegetal denominada robledal (Avella 2016).

1.2 Nome comum: roble, roble blanco, roble andino

1.3 Nome científico: Quercus humboldtii Bonpl.

1.4  Família: Fagaceae

1.5 Porte: arbóreo

581
2.    Tecnologia da madeira e dos produtos
não madeireiros
Por su alta rigidez y elasticidad, la madera de Q. humboldtii, presenta un alto potencial
en la industria de la madera estructural, dirigida a trabajos pesados (Guerrero & Burbano 2015).
Sin embargo, los últimos años, esta madera ha mostrado bondades para el envejecimiento de
bebidas como el ron, brandy y vinos, por lo que ha cobrado una alta relevancia, en comparación
con otros robles (González et al 2008, González & Baleta 2010, Ávila et al 2017, Martínez et al
2018). Tradicionalmente, en Colombia la madera de Q. humboldtii ha sido utilizada principalmente
como fuente dendroenergética para la cocción de alimentos y para el funcionamiento de hornos
para la industria alimenticia, alfarera y de ladrillos (Díaz 2010, Ordoñez et al 2017). Lo anterior ha
conducido también a la investigación sobre la producción de carbón activado a partir de madera
de Q. humboldtii (Herrera et al 2004).
Silvicultura Tropical

2.1 Densidade da madeira


De acuerdo con Herrera et al (2004), la madera de Q. humboldtii, presenta una densidad en
estado anhidro de 0,68 g cm³-1, clasificandola como una madera dura o pesada de acuerdo con las
normas ASTM (2017). Por su parte, Escobar y Rodríguez (1993) determinaron la densidad anhidra y
básica, con valores de 0.57 y 0.53 respectivamente, catalogándola como ligeramente pesada.

2.2 Extrativo
Varios trabajos se han reportado en el tema de extractos en la madera de Q. humboldtii
(González et al 2008, Argoti et al 2011, Martínez et al 2017, Martínez et al 2018) reportando la existencia
principalmente de fenoles. El trabajo de Martínez et al (2018) reporta la presencia de fenoles de bajo
peso molecular principalmente ácidos elágico y gálico y en menor proporción los ácidos siríngico
y vanílico; así mismo la presencia de elagitaninos hidrolizables como castalagina y vescalagina y
compuestos volátiles como la vainillina; todos importantes en las propiedades asociadas a la calidad
de los vinos y otras bebidas. Por su parte, Díaz et al (2019), encontraron 19 compuestos asociados a
una bebida a base de frutos tostados de Q. humboldtii, siendo los más de mayor existencia el furfural
y alcohol furfurílico, con algunas notas de aroma y sabor similar al de la bebida de café tradicional.

582
2.3 Produtos não madeireiros
2.3.1. Café de roble
Infusión elaborada a partir de la almendra de la semilla, cuyo proceso inicia con el secado bajo
el sol de frutos maduros para facilitar la extracción de semillas, que son llevadas a un grado de tostión
uniforme a temperatura media, para posteriormente pulverizar. El polvo resultado, es utilizado para
preparar la infusión de manera convencional como se prepara el café tradicional (Potosí et al 2017).
Según el análisis proximal de las bellotas estas tienen tienen el 78% de su contenido en carbohidratos,
lo que indica un alto aporte energético, y bajo aporte nutricional a base de proteínas, fibra y minerales
con porcentajes de 0,15%, 1,93% y 2,17%, respectivamente (Pérez & Villalba 2011).

2.3.2. Hongos comestibles


En el bosque de roble sobre la madera en descomposición crecen hongos conocidos
localmente con el nombre en quechua de Callampa, que significa ´hongo comestible’ (Segarra,

Quercus humboldtii Bonpl.


2013) e identificado como Pleurotus ostreatus de la familia Pleurotaceae. Según los pobladores
locales en el Departamento del Cauca, estos hongos silvestres aparecen además en fustes en
estado de descomposición de otras especies de árboles como el balso (Heliocarpus americanus
Kunth) y el aliso (Alnus acuminata Kunth). Este alimento es ingerido después de ser freído,
guisado o asado presentando un sabor similar al pollo (Potosí et al 2017).
La hojarasca de roble fue evaluada en condiciones de laboratorio como sustrato para el
crecimiento del hongo Pleurotus ostreatus. Se observó relación inversa entre el contenido de
hoja de roble y las eficiencias debido a la naturaleza coriácea y cerosa de la hoja. Los autores
detectaron cambios en la composición del sustrato agotado, principalmente incremento de
minerales y proteínas y disminución de fibra en el bagazo de caña y en la hojarasca de roble,
siendo apto para alimentación de animales poligástricos por el contenido de proteína micelial,
presencia de celulosa y menor contenido de lignina (Vargas et al 2012).
La forma del sombrero o el píleo del hongo que creció en laboratorio fue redonda, con la
superficie lisa, abombada y convexa, en forma de ostra o concha. El tamaño de las setas cosechadas
en su madurez se caracterizó por alcanzar diámetros de 5 - 12 cm y peso entre 50 - 80 g. La
composición química de P. ostreatus, indica el alto contenido de agua (92.2%) y aporte proteínico
(39%). En bajas proporciones se encuentran contenidos de fibra (7.5%) y grasas (1%), y la presencia
de vitaminas y minerales. La composición química de P. ostreatus, indica el alto contenido de agua
(92.2%) y aporte proteínico (39%). En bajas proporciones se encuentran contenidos de fibra (7.5%)
y grasas (1%), y la presencia de vitaminas y minerales (Vargas et al 2012).

583
3.  Tecnologia de sementes
El roble posee una sola semilla que se desarrolla en una bellota de pericarpo coriáceo
(Vargas 2002). Los frutos tienen un diámetro mayor de 27 ± 2 mm, un diámetro menor de 22 ±
2 mm y un peso húmedo de 9 ± 3.3 g (n = 50). La semilla tiene un embrión grande que la ocupa
toda, de color blanquecino y posición axial (Becerra 1992, citado por: Pardo & Chiquillo 2002). Los
frutos del roble son dispersados y consumidos por especies como las ardillas (Sciurus granatensis),
tinajos (Cuniculus taczanowskii, C. paca), picures (Dasyprocta punctata) y cafuches (Pecari tajacu)
(Solano 2006, Vargas 2006).

3.1 Produção de sementes


El roble es una especie con frutos incluidos hasta una tercera parte de su longitud en un
receptáculo de brácteas pubescentes y de ápice agudo (González & Parrado 2010); posee una sola
semilla que se desarrolla en una bellota de pericarpo coriáceo, con un diámetro entre 20 y 29 mm
Silvicultura Tropical

(Vargas, 2002), su embrión es de color blanquecino, ocupa toda la semilla y está dispuesto de
manera axial (Pardo & Chiquillo, 2002).
Es notable que pocos frutos llegan al estado de madurez (Pérez et al 2013), el número total
de frutos total promedio producidos se determinó en 337,7 ± 23,8 y 101,1 ± 10,5 y el total de frutos
maduros en promedio 96,9 ± 9,8 y 24,6 ± 4,6 en dos localidades del Departamento de Santander
(Gonzalez & Parrado 2010).

3.2 Fenologia
En Colombia, el comportamiento fenológico es variable según la localidad, presentando
fenómenos de mast seeding en donde los eventos reproductivos se dan en intervalos entre uno, dos
o tres años (Gómez & Toro 2007, González & Parrado 2010). Los estudios fenológicos han mostrado
que la producción y caída de hojas ocurre durante todo el año y que la producción de flores y frutos
presentan un comportamiento bimodal (González & Parrado 2010, Pérez et al 2013, Fernández
2014, Burgos 2015). Pocos trabajos se han adelantado en diferentes regiones de Colombia para
estudiar la fenología de Q. humboldtii (Pacheco & Pinzón 1997, Pardo & Chiquillo 2002, Pérez
& Villalba 2011), encontrando diferencias entre los periodos de fructificación de la especie para
las zonas estudiadas, encontrando que la producción de frutos del roble ocurre al parecer en dos
épocas del año, coincidiendo con la finalización de las épocas de lluvia.

584
Por su parte, González y Parrado (2010) reportan una alta correlación entre la producción de
frutos, los periodos de lluvias y los contenidos de fósforo P, potasio K y aluminio Al en el suelo, siendo
el último elemento señalado, un limitante de la tasa de producción.

3.3 Época de floração


Según registro fenológico en el municipio de Popayán (Cauca, Colombia), la producción
de flores femeninas y frutos jóvenes se presenta entre finales de marzo y principios de abril,
los frutos maduros aparecen en mayo, la actividad vegetativa se caracteriza por la presencia
permanente de hojas nuevas, maduras, amarillas, sobre maduras y caída de follaje. Sin
embargo, en agosto, debido al aumento significativo de la temperatura y a la disminución en
la precipitación, se observa en los árboles caída de follaje, disminución de hojas maduras y
producción de hojas nuevas (Pérez et al 2013).

Quercus humboldtii Bonpl.


3.4 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA
En la meseta de Popayán se recomienda colectar los frutos entre los meses de mayo y
junio (Perez et al 2013), en Santander los frutos maduros se presentan en abril y mayo (González
& Parrado 2010). Aunque es habitual la colecta del suelo una vez que estos han caído de manera
natural se debe extender lonas para que caigan en ellas las semillas. La recolección directamente
del árbol no se recomienda en esta especie porque generalmente los frutos así cosechados no han
completado su desarrollo y presentan un poder germinativo bajo (Gómez & Toro 2007).

3.5 Manejo de sementes:


Se recomienda un leve secado al aire bajo techo, el cual permite no sólo separar los frutos
del involucro que los recubre, sino secar ligeramente las semillas para posteriormente sembrarlas
o almacenarlas con un contenido de humedad relativamente alto, ya que de lo contrario perderían
viabilidad (Gómez & Toro 2007). La semilla de esta especie requiere de ciertas técnicas necesarias
para eliminar impurezas, se debe verificar el buen estado de la semilla en campo para lo cual se
realiza la destrucción de la cubierta con bisturí, se divide el embrión verificando la presencia de color
beige característico de un embrión sano. Además se realiza un análisis en laboratorio sometiendo las
semillas a un procedimiento de selección manual con el fin de eliminar impurezas de las semillasy
garantizar una germinación efectiva.

585
3.6 Quebra de dormência
Lixiviación con agua temperatura ambiente. Se colocan en un recipiente limpio, después se
les adiciona agua a temperatura ambiente, hasta que queden completamente cubiertas las semillas,
se dejan hasta que aparezca el embrión, es decir que haya emergencia de la raíz, cambiando el
agua cada tres días, al día 12 aparece el embriòn y se puede iniciar la siembra (Gutiérrez et al
2013). Cuando las semillas están frescas su capacidad germinativa inicial es elevada. Para otros
autores, ésta no requiere tratamientos pre germinativos (Gómez & Toro 2007), sin embargo hay
procesos que favorecen su germinación.

3.7 Armazenamento
La semilla es recalcitrante y pierde muy rápidamente la capacidad germinativa, por lo
que es necesario almacenarla muy bien, se puede almacenar estratificándola en arena húmeda,
musgo o aserrín por 1 mes, con supervisión permanente de las semillas para detectar hongos o
almacenarla en agua con cambios periódicos (Trujillo 2009).
Silvicultura Tropical

4. Produção de mudas
4.1 Método de semeadura e produção
En vivero se recomienda la siembra directa en bolsa (Trujillo 2009, Paz et al 2012,
Gutiérrez et al 2013) con un sustrato compuesto por mezcla de tierra-arena en proporción de
3:1 (Gutiérrez et al 2013). Si por el contrario se va a hacer producción en eras de germinación se
recomienda utilizar la semilla lo antes posible apenas suceda la recolección y luego de 24 horas
de inmersión en agua; no se recomienda exposición al calor y a la humedad por períodos más
extensos. El sustrato de germinación es recomendable una mezcla de tierra negra por tres de
arena, aunque si la cantidad de individuos a reproducir no es mucha también se recomienda el
uso de turba; el sustrato debe ser desinfectado y su profundidad final no debe ser mayor a 15
cm. Para la germinación no se recomienda el uso de fertilizantes químicos ni abonos orgánicos
(Trujillo 2009).
La germinación es hipogea, inicia de 22 a 30 días después de la siembra de las semillas
emergidas por el método de lixiviación y se completa 18 días más tarde (Gutiérrez et al 2013). La
potencia germinativa de semillas frescas sembradas en un sustrato de tierra y arena (proporción
2:1), a plena exposición, varía entre 60 y 90% (Gómez & Toro 2007).
De acuerdo con Trujillo (2009), la siembra debe ser superficial, sin que la semilla

586
quede expuesta al aire o la destape el riego. Para el riego se debe mantener húmedo el sustrato
durante la germinación, sin exceso o deficiencia de agua, en lo posible utilizando elementos de
goteo fino o en lo posible con sistemas de nebulización para que no se destape la semilla con el
riego permanente. Es necesario proteger las semillas durante el proceso de germinación de las
condiciones del medio como lluvias fuertes, exceso de sol o altas temperaturas, herbivoría por
roedores o pájaros. El Uso opcional de sombra moderada, mejora las condiciones de germinación;
la germinación sucede entre 5 - 15 días. Una vez las plantas tienen entre 2 a 8 cm, se procede a
trasplantarlas a bolsas en las cuales el sustrato debe estar desinfectado; se recomienda un sustrato
con tierra fértil y cascarilla de arroz en una proporción del 20%. Es necesario que se utilice una
malla sombra del 65% para hacer el transplante. En el transplante se recomienda la adición de
micorrizas, las cuales se deben poner en contacto directo con las raíces de las plántulas aplicando
de 10 - 15 g por bolsa; la innoculación se debe realizar con hongos ectomicorrízicos pertenecientes
a los géneros Boletus, Amanita y Pisolithus mezclados con sustrato.

Quercus humboldtii Bonpl.


Se recomienda dejar las plántulas trasplantadas bajo malla sombra durante dos semanas
y luego ir aumentando el grado de iluminación hasta alcanzar el tamaño seleccionado para salir a
campo, finalmente es necesario realizar una fase de rustificación del material dejándolo a plena
exposición. El riego debe hacerse a diario luego del trasplante, de preferencia en las primeras
horas del día o al final de la tarde. La última fase de producción corresponde al crecimiento y
desarrollo después del trasplante, el cual es variable pero debe ser lo suficientemente largo para
permitir que los árboles alcancen una altura entre 20 - 25 cm para llevar a campo (Trujillo 2009).
Sepúlveda et al (2014), identificaron que el nivel medio de iluminación (30%) presenta
efectos significativos en el desarrollo de las plántulas del roble en vivero, en donde la mayor
biomasa total se obtuvo con los tratamientos de IR media (30%) y alta (65%); , lo cual podría
indicar la existencia de un cierto grado de tolerancia a la sombra, condiciones comparables a
las de los rastrojos bajos y de las plantaciones de roble en sus etapas iniciales. De igual manera
estos autores encontraron efectos significativos de la fertilización en vivero sobre el desarrollo
de plántulas cuando el Nitrógeno no está presente en proporciones cercanas al 0.5%; otros
elementos que se identificaron como limitantes en el crecimiento pero en menor medida fueron
Ca, K y P, mientras que B no fue elemento limitante.

587
5. Potencial de melhoramento genético
No existe información relacionada con investigación en mejoramiento genético de esta
especie. Sin embargo un aspecto de relevancia en este campo es lo relacionado con la diversidad
genética de Q. humboldtii. Fernández (2002) encontró que esta especie presenta altos niveles de
diversidad genética similares a los encontrados en otras especies de roble de zonas templadas.
Sin embargo, estos mismos autores en un paisaje fragmentado observaron una pérdida
moderada de esta diversidad en los individuos adultos, una tendencia a la autopolinización por
pocos árboles en fragmentos pequeños, y una alta estructura genética que necesita grandes
áreas para ser mantenida.
Según Palacios (2006), Q. humboldtii parecen tener bastante variabilidad genética a pesar
de sus reducidas poblaciones actuales, pero se deben procurar las condiciones para que estos altos
valores de diversidad genética se conserven; por ejemplo, cuando se adelanten programas de
reforestación, debe hacerse de manera independiente para cada población, sin mezclar o trasladar
Silvicultura Tropical

individuos de una población a otra, ya que es posible que esta especie sea susceptible de perder
posibles adaptaciones locales por un manejo indiscriminado de semillas. Lo anterior parece
corroborarse también desde el punto de vista ecológico dado que en la reciente investigación de
los bosques de robles de Colombia, parece haberse identificado tres tipos de bosques naturales
que podrían estar generando ecotipos especializados a condiciones ambientales particulares
(Avella et al 2017a).

6. Cultivo e atividades silviculturais


6.1 Sistema de plantio
De acuerdo con Diez et al (2017), los árboles establecidos en la cobertura de rastrojo
presentaron incrementos en altura superiores que los establecidos en la coberturas de pastos. La
diferencia promedio fue de 12 cm por año aproximadamente (82.4% por encima del crecimiento
en los pastizales). Las plántulas producidas con fertilización en vivero pueden tener un efecto en
el desarrollo de los árboles en campo (Diez et al 2017). Una ventana de oportunidad excepcional
para la plantación de esta especie en fajas de enriquecimiento en bosques secundarios
degradados. Bajo tales condiciones, los troncos suelen ser rectos y poco ramificados. Por lo cual,
estos resultados muestran el potencial de cultivar esta especie para producción de madera.

588
7. Manejo para a produção
7.1 Manejo da produção e do cultivo
Avella (2016), recomienda para el manejo de rodales naturales de Q. humboldtii
aplicar el Método de Selección en grupos ya sea por distribución del diámetro o del área
basal, pasando de una mezcla individual de individuos a una mezcla de pequeños grupos de
árboles, de esta manera el manejo de robledales uniformes en en pequeños grupos, reduciría
los costos del manejo y los impactos ambientales asociados a éste. A continuación se generan
algunas recomendaciones generales para el manejo de robledales, a manera de orientaciones
y lineamientos generales que deben ser adaptados a las condiciones locales, los objetivos
de manejo y las capacidades técnicas con que se cuenta, y evitar tratamientos homogéneos y
descontextualizados de sus realidades socioecológicos.
• Retención estructural a nivel rodal
• Manejo de árboles semilleros

Quercus humboldtii Bonpl.


• Emular regímenes de perturbaciones naturales con tamaños de claros entre 0.2 ha
a 0.5 ha con dosel residual, dejando algunos árboles remanentes
• Implementación de cortas de mejoramiento
• Tratamientos para mejorar la regeneración natural a partir de su diagnóstico y
manejo
• Se debe hacer énfasis en el manejo de la regeneración natural avanzada y en la
producción de rebrotes
• Implementación de técnicas de aprovechamiento de impacto reducido y de
conservación de la biodiversidad en bosques productores
• Desarrollo de un manual de prácticas de protección de servicios ecosistémicos,
principalmente los relacionados con regulación hídrica y protección de suelos
• Considerar estrategias de conectividad y manejo a nivel del paisaje

8. Potencial produtivo
8.1  Capacidade produtiva
Son escasos los estudios que abordan el tema del crecimiento de los bosques de roble
colombianos. León & Giraldo (2000) modelaron el crecimiento diamétrico de dos bosques de
roble en Antioquia (Colombia) a través del modelo matemático de Von Bertalanffy, encontrando
que el incremento diamétrico anual estaba entre 0.21 – 0.12 cm. Becerra (1989) a través de una

589
investigación silvicultural realizada en los bosques de roble del sector denominado como La
Sierra, en el municipio de Duitama (Boyacá) durante cuatro años, encontró que el incremento
diamétrico anual para un bosque secundario de 16,5 años es de 0,58 cm año-1. Avella et al
(2017b), establecieron a partir de parcelas permanentes de crecimiento en bosques de roble con
poca intervención un incremento diamétrico anual en adultos de 0.32 cm año-1; igualmente este
autor identificó crecimientos en la regeneración natural menores a 0.16 cm año-1, mientras que
en procesos de restauración ecológica y manejo silvicultural de bosques secundarios tasas de
crecimiento entre 0.41 cm año-1 a 0.59 cm año-1.

9. Patologia florestal
9.1 Doenças e pragas
De acuerdo con Trujillo (2009) los problemas por ataque de insectos a la semilla son
especialmente importantes debido a la acción de un coleóptero de la familia Curculionidae, cuya
Silvicultura Tropical

especie está aún sin determinar, el cual causa graves pérdidas cuando la larva penetra en la semilla y
se desarrolla dentro de esta desde estados tempranos de la formación del fruto; cuando se acerca la
época de maduración de frutos, emerge el coleóptero adulto, haciendo evidente el daño a la semilla
y la perforación. En vivero las plántulas son a veces atacadas por el hongo Pestaloia sp., que causa
manchas amarillo oscuro en las hojas, originando la necrosis y la muerte de la hoja. En plantaciones
forestales se ha detectado la muerte por la denominada “muerte descendente”, originada por el
hongo Ceratocystis fagacearum, que se evidencia con la pérdida de vigor, disminución volumétrica
del follaje acompañada de una caída abundante de las hojas e iniciando una muerte descendente
que avanza en en forma rápida hasta producir la muerte completa del árbol.

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594
595
Quercus humboldtii Bonpl.
• ANA CLÁUDIA LIRA GUEDES • ANDRÉ CESAR FURLANETO
SAMPAIO • APARECIDA JULIANA MARTINS CORRÊA • BÁRBARA
GUERREIRA ALPANDE FERREIRA • BRENO HENRIQUE PEDROSO
DE ARAÚJO • BRUNO COSTA DO ROSÁRIO • CALEB DE LIMA
RIBEIRO • CARLOS ANDRÉ STUEPP • CHRISTOPHER THOMAS
BLUM • DANIELLE MIRANDA DE SOUZA RODRIGUES • DAVID
PESSANHA SIQUEIRA • DEBORAH GUERRA BARROSO • DEBORAH
CRISTINA PORTES • EDGAR ANDRÉS AVELLA-MUÑOZ • EDUARDO
MALTA CAMPOS FILHO • ELIVELTON MARCOS GURSKI • FABIANO
GUMIER COSTA • FÁTIMA C.M PIÑA-RODRIGUES • FRANCIELLEN
PAOLA DE SÁ • FRANCIELLI TELEGINSKI • FREDERICO DRUMOND
MARTINS • GIOVANNA CAMPOS MAMEDE WEISS DE CARVALHO
• HELENA CRISTINA RICKLI-HORST • Ivonir Piotrowski •
JENIFFER GRABIAS • JOÃO PAULO FIDALGO CARVALHO • JUAN
CARLOS VILLALBA-MALAVER • KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-
RIBAS • LAUSANNE SORAYA ALMEIDA • LEANDRO PORTO LATOH
• LUCAS AMARAL DE MELO • LUCIANA APARECIDA RODRIGUES
• LUCIELE MILANI ZEM • MARCELINO GUEDES • MARIA ALVES
FERREIRA • MARIA OLINDA CHEREM CORTE BEZERRA DA SILVA
• MARIANA BENSBERG ALVES GUEDES • MARÍLIA BORGO •
MICHELE FERNANDA BORTOLINI • MIGUEL LUIZ MENEZES
FREITAS • PABLO MELO HOFFMAN • RACHEL MARTINS DA
ROCHA SILVA • RAFAEL DE SOUZA SILVA • RAFAELA CRISTINA
FERREIRA BORGES • RENATA CRISTINA MARTINS PEREIRA
• RENATA MAGGIONI • RENATA DE DEUS SILVA • ROMÁN
OSPINA-MONTEALEGRE • ROSELY MENEZES DA SILVA RIBEIRO
• ROSIMERI OLIVEIRA FRAGOSO • SAMIR ROLIM • SANTIAGO
JOSÉ ELÍAS VELAZCO • VALMIR CAMPOLINO LORENZI •

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