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Tropical
o potencial
madeireiro e não
madeireiro das
espécies tropicais
organização:
FATIMA C. M. PIÑA-RODRIGUES
JOSÉ MAURO SANTANA DA SILVA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-00-21092-7
21-62748 CDD-634.909811
organização:
FATIMA C. M. PIÑA-RODRIGUES
JOSÉ MAURO SANTANA DA SILVA
2021
ficha técnica
organização:
• Fatima C. M. Piña-Rodrigues • José Mauro Santana da Silva •
colaboração e revisão:
• Ivonir Piotrowski • Lausanne Soraya de Almeida • Suéllen Marum •
autores:
• Ana Cláudia Lira Guedes • André Cesar Furlaneto Sampaio • Andrés Avella-
Muñoz • Aparecida Juliana Martins Corrêa • Bárbara Guerreira Alpande Ferreira
• Breno Henrique Pedroso De Araújo • Bruno Costa Do Rosário • Caleb De Lima
Ribeiro • Carlos André Stuepp • Christopher Thomas Blum • Danielle Miranda
De Souza Rodrigues • David Pessanha Siqueira • Deborah Guerra Barroso •
Deborah Cristina Portes • Edgar Andrés Avella-Muñoz • Eduardo Ciriello •
Eduardo Malta Campos Filho • Elivelton Marcos Gurski • Fabiano Gumier Costa
• Fátima C.m Piña-Rodrigues • Franciellen Paola De Sá • Francielli Teleginski •
Frederico Drumond Martins • Giovanna Campos Mamede Weiss De Carvalho •
Helena Cristina Rickli-Horst • Ivonir Piotrowski • Jeniffer Grabias • João Paulo
Fidalgo Carvalho • Juan Carlos Villalba-Malaver • Katia Christina Zuffellato-Ribas
• Lausanne Soraya Almeida • Leandro Porto Latoh • Lucas Amaral De Melo •
Luciana Missae Sato • Luciana Aparecida Rodrigues • Luciele Milani Zem •
Marcela Aparecida de Moraes • Marcelino Guedes • Maria Alves Ferreira • Maria
Kalyane Farias da Silva • Maria Olinda Cherem Corte Bezerra Da Silva • Mariana
Bensberg Alves Guedes • Marília Borgo • Michele Fernanda Bortolini • Miguel
Luiz Menezes Freitas • Pablo Melo Hoffman • Rachel Martins Da Rocha Silva •
Rafael De Souza Silva • Rafaela Cristina Ferreira Borges • Renata Cristina Martins
Pereira • Renata Maggioni • Renata De Deus Silva • Román Ospina-Montealegre
• Rosely Menezes Da Silva Ribeiro • Rosimeri Oliveira Fragoso • Samir Rolim •
Santiago José Elías Velazco • Valeria Ciriello • Valmir Campolino Lorenzi •
PREFÁCIO
“Confusões novas” é o nome de uma pasta criada no meu computador em
1.º de janeiro para arquivar e gerenciar demandas e atividades, fossem
elas boas ou ruins, surgidas no ano entrante. Isso à parte dos livros que
projetara escrever. Mas ninguém poderia imaginar, àquelas alturas do
2020 começando, que em poucos dias o planeta seria imerso numa cruel,
avassaladora e gigantesca pandemia: a do coronavírus.
Admite uma corrente de pensadores ter ocorrido a ampla disseminação da Silvicultura no Brasil
na segunda metade do século XX. Conjuntura esta secundada num instrumento econômico:
o incentivo fiscal para reflorestamento. Criado em 1966 por lei específica, o mecanismo iria
imprimir ritmo à implantação de florestas no País até 1988. Porém, com a ressalva: privilegiando
apenas espécies exóticas, principalmente dos gêneros Eucalyptus e Pinus.
Cumpre relembrar, no entanto, que poucos meses após desembarcar com a Corte Portuguesa
no Brasil em 1808, o monarca D. João VI mandou preparar um jardim de aclimatação
destinado à cultura de especiarias das Índias Orientais. Três anos depois o Monarca baixou
um Alvará criando a Real Junta da Fazenda dos Arsenais, Fábrica e Fundição da Capitania, a
ela agregando, explicitamente, também um jardim botânico para cultura de plantas exóticas.
Numa outra frente, o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) iniciou suas pesquisas
na área da Reserva Florestal Ducke e na Estação Experimental de Silvicultura Tropical a partir
de 1963, áreas onde vem produzido resultados de pesquisa desde então.
Outra linha histórica indicativa de traços da silvicultura das espécies nativas em nosso país
pode ser encontrada na construção da legislação: ora procurando protegê-las, ora buscando
estimular o cultivo delas. Pode-se considerar que, ao menos no plano das intenções da
proteção, ela nasceu em 1605, com o Regimento do Pau-Brasil. O ato, baixado por Dom
Felipe 3.º, trazia prescrições destinadas a garantir a regeneração da espécie.
A partir daquele ato, verifica-se que a Silvicultura brasileira de nativas – mesmo antes de ser
formalizada enquanto tal – permeia nos quatro séculos seguintes a legislação sobre florestas
em geral ou sobre espécies florestais em particular. Além do Regimento do Pau-Brasil, outro
simbólico ato que o sucedeu foi uma Carta Régia de 1677 sobre cacau. Enquanto o primeiro
voltava-se aos cuidados com a regeneração daquela espécie tintorial, o segundo destinava-
se a estimular o cultivo desta outra, degustativa e alimentícia.
Entre 1637-39, Pedro Teixeira navegou duplamente o rio Amazonas (partiu de Cametá, no
Pará, foi a Quito e voltou), comandando uma grande expedição de reconhecimento da sua
bacia. Um dos relatores da jornada, Cristóbal de Acuña, registrou cacau como uma das quatro
grandes riquezas da região, capaz de enriquecer muitos reinos. Evidência que, associada a
outras, levariam a coroa a baixar a mencionada Carta Régia para o cultivo do cacau na região.
O livro está estruturado em 33 capítulos, dois dos quais gerais; os demais abordam cada um
uma espécie vegetal tropical, seguindo, quando possível um roteiro assemelhado que en-
globa: botânica da espécie, tecnologia da madeira e dos produtos não madeireiros, tecnolo-
gia de sementes, produção de mudas, patologia florestal e outras informações, tudo relativo
à respectiva espécie. Refletindo, assim, um grande esforço de investigação e divulgação do
conhecimento, de forma abrangente.
A obra é azada para os tempos atuais em que o País está às voltas com a proposta de recuper-
ar com essências nativas uma expressiva superfície do seu território, dispersa em milhares
de propriedades e posses rurais familiares.
Pelo menos 12 milhões de hectares de recuperação de vegetação nativa até 2030 é objetivo
geral da Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg), meta consignada
no Plano de idêntica nomenclatura e sigla (Planaveg). Instituída por decreto em janeiro de
2017, estabeleceu a Proveg como seu principal instrumento de implementação o Planav-
eg, para dar conta das exigências estabelecidas nas regras de transição contidas na Lei de
Proteção da Vegetação Nativa, de 2012, substituta do Código Florestal de 1965.
A meta de
recuperação de
1 milhão de hectare/ano
(em média) nos 12 anos seguintes ao
lançamento do Planaveg revela, por si só, a necessidade de o País
aportar, na terceira década do milênio, gigantescos esforços em várias
direções: geração de conhecimento, coleta de sementes, produção
de mudas, assistência técnica florestal, plantio propriamente...
Calophyllum brasiliense 92
14
tivas em sistemas de produção agropecuários pode ser um negócio
viável para o produtor e investidor. Mas para que o Brasil tenha
sucesso na implementação de uma silvicultura de espécies nativas,
é necessário aumentar o conhecimento sobre as espécies nativas e
desenvolver tecnologias e soluções científicas para diminuir a per-
cepção de riscos por parte dos produtores rurais e investidores.
Miguel Calmon
Consultor Sênior - WRI Brasil
Julho 2020
15
A silvicultura próxima da natureza
e a valorização da floresta nativa
do Brasil
João Paulo Fidalgo Carvalho
Licenciatura e mestrado em Engenharia Florestal, doutorado na área da Silvicultura e pós-
doutoramento na mesma área nos EUA (USDA Forest Service, Southern Research Station e North
Carolina State University, Fulbright). Professor de Silvicultura e Dendrologia da Universidade de Trás-
os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real, desde 1988. Membro do Centro de Investigação e de
Tecnologias Agro-Ambientais e Biológicas (CITAB), Membro delegado da Organização Internacional
de Silvicultura Pro Silva – Integrated Forest Management desde 2001 e integra o grupo de trabalho
inter-institucional para a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas para as Florestas.
Silvicultura Tropical
Introdução
16
a que se tem assistido, bem como, medidas políticas de desenvolvimento sustentável, abrem
A floresta autóctone ou nativa constitui um património natural do território pelo que assume
uma grande importância a vários níveis. Para além do seu valor intrínseco, a floresta nativa é relevante
não apenas ao nível ambiental e ecológico mas também do ponto de vista económico e social.
A floresta nativa tem desde logo uma importância própria independentemente da
utilidade que possa ter para o ser humano. Um aspecto importante da floresta nativa deve-se
à sua multifuncionalidade, sendo relevante do ponto de vista ambiental e na conservação da
biodiversidade, assim como, ao nível económico ao fornecer diversos produtos e serviços do
ecossistema associados com diversas actividades humanas (Lanly, 1999; Anand, 2004).
Adicionalmente, possui também um valor histórico e tradicional ligado com diversos
aspectos sociais e culturais próprias do território. Cabe também referir uma importância educacional
e científica, proporcionando actividades escolares e o desenvolvimento do conhecimento com
oportunidades em diversas áreas do saber, considerando ainda que o conhecimento que se
detém acerca da biodiversidade e outros elementos das áreas florestais naturais é em muitos casos
escasso (Brandon et al., 2005; Camila et al., 2017; Oliveira et al., 2017).
17
A floresta nativa possui, de forma sintética, as seguintes principais funções, utilizações e benefícios:
• regulação climática; amenização do clima;
• manutenção dos ciclos biogeoquímicos;
• armazenamento de carbono atmosférico;
• conservação da água e do solo;
• habitat; conservação da biodiversidade;
• controlo biológico;
• preservação e melhoria da paisagem;
• preservação de valores históricos, culturais e científicos;
• promoção de actividades de recreio e do turismo;
• recursos genéticos;
• produção de bens não-lenhosos;
• produção de bens lenhosos.
Uma adequada conservação, silvicultura e promoção deste recurso natural são essenciais de
modo a garantir não apenas a sua preservação como poder providenciar o bem-estar e o desenvolvimento
Silvicultura Tropical
Importância socioeconômica
A floresta nativa providencia diversos produtos lenhosos ou madeireiros e não-madeireiros
bem como serviços que contribuem directamente para a economia das zonas rurais e do país como
um todo. Para além da madeira, são diversos os produtos que derivam da floresta nativa.
A madeira é um recurso renovável e um dos mais importantes materiais de construção. A
madeira retém carbono, é biodegradável, permite uma grande variedade de aplicações e requer
pouca energia na manufactura. A aplicação de uma adequada silvicultura é necessária para a obtenção
destes produtos de uma forma sustentável. Tal permite a sua valorização e contribuir para uma melhor
rentabilização da floresta e da economia das comunidades rurais. Ao mesmo tempo, promovem-se os
ecossistemas naturais com consequências positivas para o meio ambiente.
A floresta nativa fornece, igualmente, diversos produtos não-madeireiros, como sejam, frutos,
plantas aromáticas, medicinais e mel.
A Figura 1 mostra a proporção dos diversos bens providenciados pelas árvores nativas, para
as principais utilizações, listadas no Anexo 1 (57 espécies) e abordadas neste livro. A proporção de
espécies com mais de uma utilização potencial é de cerca de 65%. Além da madeira, podem ter
outras importantes utilizações, como recurso alimentar, medicinal, ornamental, entre outros diversos
interesses, além de valores históricos, culturais e científicos (uso cosmético, interesse etnográfico,
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artesanato, entre outros). Tal significa um enorme interesse e potencial económico e social.
Pode, igualmente, ser relevante na promoção do turismo e de actividades de recreio e de lazer
ligadas com a natureza (Thomas, 1983). Em muitas zonas do território o turismo de natureza tem um
papel estratégico para o desenvolvimento económico e social das populações residentes.
A silvicultura deverá procurar a valorização dos produtos conduzindo a uma maior
rentabilidade da floresta nativa, assim como, simultaneamente garantir as diversas funções do
ecossistema, contribuindo também para a saúde e o bem-estar das comunidades humanas.
19
Convenção “a conservação da diversidade biológica é uma preocupação de toda a humanidade” da
qual depende para a sua sobrevivência e qualidade de vida. A Declaração de Princípios adoptada nas
Conferências Ministeriais de Protecção das Florestas (Helsínquia, 1993; Lisboa, 1998) sublinham
uma vez mais a conservação do meio como parte do desenvolvimento económico e social e, neste
âmbito, a floresta nativa desempenha um papel fundamental. É declarado que a floresta deverá
ser gerida de forma sustentada de modo a garantir necessidades sociais, culturais, económicas e
ecológicas no presente e para as futuras gerações. Trata-se de um conceito há muito conhecido
na comunidade científica, em preocupação com a expansão demográfica, a sobre-exploração dos
recursos naturais e a deterioração dos habitats.
A floresta nativa contribui, também, para a mitigação das alterações climáticas pelo
sequestro de carbono atmosférico, realizada tanto na parte aérea como na parte subterrânea, com
um contributo particularmente importante dado que promove melhores características do solo e
de armazenamento de carbono no ecossistema.
Silvicultura Tropical
20
em determinados casos à extinção de várias espécies. Espécies que exigem uma maior área
territorial ou que tenham menor capacidade de dispersão vêem-se mais afectadas na sequência
de fragmentos cada vez mais pequenos e isolados (Faanes, 1984; Collingham & Huntley, 2000).
A alteração climática tem também impacto na floresta nativa, nomeadamente na
distribuição geográfica das espécies no território, na composição da floresta, na sua produtividade,
na capacidade de providenciar as suas funções, além de riscos relacionados com factores bióticos
e abióticos. As modificações nos valores médios e na variabilidade climática, com ocorrência de
21
Silvicultura Próxima da Natureza
Origem e Breve Enquadramento Histórico da Silvicultura
Próxima da Natureza
As raízes da silvicultura próxima da natureza encontram-se no centro da Europa,
particularmente em França e Alemanha, onde a partir dos inícios do séc. XIX se desenvolveram
os conceitos e práticas associados a uma silvicultura de base natural que mais tarde se viriam a
consubstanciar no que atualmente se consideram as características deste tipo de silvicultura.
Nesta época, muitas das florestas europeias, incluindo na França e Alemanha, encontravam-
se num estado de sobre-exploração, onde a madeira era o recurso mais requerido. As preocupações
dos governantes pela salvaguarda de uma produção florestal e por uma adequada condução
da floresta promoveram, na época, o estabelecimento do ensino florestal e de políticas de
desenvolvimento. A primeira escola florestal alemã, representada por Hartig e Cotta (final séc. XVIII
- início séc. XIX), difundiram uma prática silvícola cujas influências, em determinados contextos,
ainda se estendem até aos dias de hoje, muito orientada para plantações, desbastes antecipados e
Silvicultura Tropical
cortes rasos. As florestas puras, regulares, e o recurso à reflorestação artificial, tornou-se o ideal da
época, especialmente com resinosas.
Mais tarde, em meados do séc. XIX, as consequências económicas e ecológicas nefastas
da monocultura regular viriam a tornar-se evidentes, com a consequente redução de diversidade
biológica, a acidificação dos solos, o surgimento de pragas, a redução da resistência a tempestades,
além de uma produção de madeira de baixo valor. Tal levou a uma progressiva renúncia à silvicultura
artificial. Váris reações surgiram então e diversos cientistas e técnicos passaram a defender uma
silvicultura que atendesse não apenas à produção de madeira, mas também aos aspectos naturais,
realizada de outra forma. Defendiam o retorno às espécies folhosas, à regeneração natural dos
povoamentos, bem como, à importância das considerações ecológicas. A silvicultura da primeira
escola alemã foi alterada e melhorada, introduzindo-se noções de ecologia florestal na condução
dos povoamentos. Passou a dar-se preferência a um modo de condução que assenta na melhoria
progressiva com desbastes selectivos e na regeneração natural, em contrapartida à aplicação de
cortes rasos seguido de plantação em afectações equiénias o que tem efeitos negativos sobre as
características biofísicas e o funcionamento do ecossistema.
Um dos precursores foi também Gayer (1886), na Alemanha, que lançou os fundamentos
de um tratamento natural da floresta. Descreve um modo de silvicultura conforme a natureza,
constituindo um marco no futuro desenvolvimento da silvicultura de bases naturais.
Posteriormente, Möller (1922) esclarece o conceito de floresta perene ou durável com base na
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conservação da continuidade do carácter florestal, na utilização da regeneração natural, na recolha
periódica e no melhor aproveitamento do crescimento do povoamento.
Desde os finais do séc. XIX vai difundir-se a corrente duma visão mais integradora da floresta na
sociedade, o aparecimento de movimentos ambientais e culturais defendendo uma silvicultura mais
equilibrada e multifuncional. Neste sentido, são aplicados e expandidos conhecimentos e práticas
florestais que se haviam desenvolvido neste campo, conferindo à silvicultura outros requisitos.
Nas últimas décadas, uma parte importante da silvicultura que tem vindo a ser desenvolvida,
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às suas vantagens económico-financeiras e ecológicas. Defende uma silvicultura com vista a um
rendimento económico, procurando assegurar as condições naturais e uma melhoria do valor
do povoamento. Por outro lado, apresenta uma ampla flexibilidade podendo também aplicar-se
quando a conservação é o objectivo primordial.
Trata-se de uma silvicultura integrada e de base ecológica providenciando um conjunto
de valores que melhoram a rentabilidade económica e as condições ecológicas do povoamento.
Possibilita conjugar vários elementos ecológicos, económicos e sociais, fazendo uso
de procedimentos e técnicas que actuam em conformidade com os processos naturais, na
regeneração e condução dos povoamentos florestais, respeitando o equilíbrio dos sistemas
naturais, e considerando o ecossistema florestal como um todo.
Respeita os processos da dinâmica florestal, utilizando as suas forças e conduzindo o
povoamento florestal na realização dos seus objectivos. Os processos naturais são preferíveis
a medidas artificiais, tomando em consideração a dinâmica florestal e procurando obter
uma harmonia no seio da biocenose florestal. A silvicultura procura adequar a condução do
Silvicultura Tropical
povoamento florestal de modo a permitir as suas múltiplas funções de forma durável e rentável.
A silvicultura próxima da natureza procura garantir as seguintes quatro principais funções
e benefícios:
• conservação da biodiversidade;
• protecção do solo e do microclima;
• produção de bens lenhosos e não-lenhosos;
• promoção da paisagem, do recreio e dos aspectos sócio-culturais.
24
de resistência e de resiliência a factores adversos. Permite uma melhor capacidade de adaptação
face às alterações climáticas.
O respeito pelas funções ecológicas e de conservação é considerado essencial para a
continuidade económica. As diferentes operações silvícolas consideram as influências que podem ter
sobre o solo, o ambiente florestal e as biocenoses, de forma a manter e promover processos naturais,
bem como, a manutenção e melhoria das características do solo e da sua produtividade. A exploração
de recursos não deverá exceder a taxa de renovação dos mesmos, afectar o sistema e o seu potencial
25
Conclusão
26
comunidades bióticas e o meio biofísico. Noutras situações, em habitats específicos ou em áreas
protegidas, que requeiram uma proteção particular, pode ser necessário uma abordagem de
não-intervenção. Por seu turno, em áreas recentemente instaladas ou restauradas, pode também
este tipo de silvicultura providenciar uma adequada forma de intervenção ao proporcionar um
rendimento económico periódico e continuado, ao mesmo tempo que assegura a permanência
e funcionamento do ecossistema florestal. Tal terá consequências positivas no ambiente, na vida
das populações e no desenvolvimento sócio-económico do Brasil.
Agradecimentos
Cabe um especial agradecimento à Professora Fátima Piña-Rodrigues da Universidade
Federal de São Carlos – Campus Sorocaba pelo convite para redigir o presente capítulo para o
livro sobre a floresta nativa do Brasil. O presente trabalho é financiado por Fundos Nacionais
através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do Projeto UIDB/04033/2020.
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28
Anexo 1 – Resumo dos principais bens associados a diversas espécies arbóreas nativas do Brasil.
Principais Utilizações
Designação Nome
Frutos
científica comum Madeira Medicinal Ornamental Outros
comestíveis
Flores
Acca sellowiana Feijoa X
comestíveis.
Albizia edwallii Albizia X
Amburana Cumaru-
X X
Anadenanthera Interesse
Angico X
spp. etnográfico.
Astrocaryum
Murumuru X Uso cosmético
murumuru
Ateleia
Timbó X
glazioviana
Calophyllum
Guanandi X X
brasiliense
Calycophyllum
Pau-Mulato X X X Uso cosmético
spruceanum
Campamonesia
Guabiroba X
xanthocarpa
Cariniana Jequitibá
X X
estrellensis branco
Carpotroche
Sapucainha X X X
brasiliensis
Casearia
Guaçatunga X
lasiophylla
Cedrela fissilis Cedro rosa X X X
Copaifera
Copaíba X X Uso cosmético
langsdorffii
Cybistax Caroba-de-flor-
X X
antisyphilitica verde
29
Principais Utilizações
Designação Nome
Frutos
científica comum Madeira Medicinal Ornamental Outros
comestíveis
Jacarandá da
Dalbergia nigra X X
Bahia
Dimorphandra
Fava-d’anta X
mollis
Dipteryx alata Baru X X
Drimys
Cataia X
brasiliensis
Eugenia
Uvaia X X
pyriformis
Hymenea Interesse
Jatobá X X X
courbaril etnográfico.
Ilex
Erva-mate X X
paraguariensis
Joannesia Boleira, Óleo com
X X
princeps Indaguaçu diversos usos.
Silvicultura Tropical
Interesse
Lafoensia pacari Dedaleiro X X X
etnográfico.
Uso cosmético.
Mauritia flexuosa Buriti X X X
Outros usos.
30
Principais Utilizações
Designação Nome
Frutos
científica comum Madeira Medicinal Ornamental Outros
comestíveis
Piptocarpha Vassourão
X
angustifolia branco
Plathymenia
Vinhático X
foliosa
Resina para
Protium spp Breu X X
diversos usos.
X
Solanum
Baga de veado X X
diploconos
Swietenia
Mogno X X
macrophylla
31
Silvicultura próxima à
natureza: o caso dos
produtos florestais não-
madeireiros
fatima C.M. Piña-Rodrigues
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), especialista
em Produção e Tecnologia de Sementes pela Associação Brasileira
de Educação Agrícola Superior (ABEAS), mestrado em Engenharia
Florestal pela Escola Superior de Agricultura Luis de Queiróz da
Silvicultura Tropical
32
1.Introdução
1 1
Número de artigos constatados com a ferramenta Google Scholar, com as palavras-chave “non-timber forest products” and
“tropical forest nos períodos de 1999 a 2009 e 2010 a 2020.
33
de cosméticos. Capitaneadas internacionalmente por grupos comerciais como a Body Shop, estas se
engajaram nos princípios de uso sustentável e geração de renda propostos nos anos 90, baseados
em acordos entre comunidades e empresas (Counsell & Rice 1992). No Brasil, este movimento
se fortaleceu liderado por empresas como a Natura, com sua linha Ekos, o Boticário entre outras.
Estes acordos, regulamentados em 2001 pela Medida Provisória 2.186/2001 (Brasil 2001) foram
posteriormente revistos com a Lei de Acesso a Biodiversidade nº 13.123/2015 (Brasil 2015).
A conversão das escalas do uso cultural e de subsistência para o de atendimento da
demanda e qualidade industriais impulsionou a organização de cadeias produtivas que envolveram
comunidades rurais e urbanas, tanto na extração quanto no cultivo, manejo e expedição, gerando
novos arranjos produtivos (Enríquez 2010). Ao mesmo tempo, ainda nos anos 2000, reações aos
fenômenos de globalização iniciaram processo de devolver às comunidades locais o direito de uso
e de discutir a quem as florestas pertenciam (White and Martin 2002). No Brasil, este processo
levou à edição da Medida Provisória 2.186/2001 (Brasil 2001) que, no seu bojo trazia a tentativa
de reconhecimento dos saberes tradicionais associados à floresta e seus produtos. Em seu Artigo
Silvicultura Tropical
10, inciso III, estabeleceu o direito à “repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da
exploração de componente do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado”,
em geral, as comunidades locais. Porém, esta mudança no modelo de uso dos recursos florestais
somente pôde ser iniciada em função de um movimento que a antecedeu, e que foi essencial para
garantir o direito à terra, à floresta e seus produtos. Iniciado com o apoio de grupos organizados
na Amazônia, resultou em processos para a regulamentação fundiária (Dias et al. 2011). Neste
processo se estabeleceram as bases do manejo florestal comunitário, marco da viabilização do
escalonamento do uso dos produtos florestais não-madeireiros pelas comunidades e empresas.
Com esta abordagem introdutória, o presente capítulo pretende ir além dos conceitos,
métodos e processos de manejo e uso dos produtos florestais não-madeireiros. Busca também
resgatar um pouco da história, das pessoas e instituições que se envolveram e viveram, na prática, o
processo de valorização deste importante recurso florestal. Ao mesmo tempo, traz em seu título um
desafio: a silvicultura próxima a natureza. Com este conceito, enfatiza a importância de se repensar
a visão ainda dominante de “exploração” dos recursos florestais para a aplicação de práticas de
“colheita”, ou seja, só se retira da floresta aquilo que a natureza é capaz de repor, mantendo-se
sua estabilidade, resiliência e os processos ecológicos fundamentais. Este talvez, o maior desafio
do século XXI para os engenheiros florestais, biólogos e tantos outros profissionais que atuam na
área ambiental. Chegou a hora de encarar que é preciso se empenhar para rever as práticas do
século passado de manejo dos recursos florestais e deixar de vê-los apenas como produtos ou
34
serviços, em uma lógica única e antropocentrista. Neste novo cenário, é preciso plantar e cultivar
para produzir madeira e produtos não-madeireiros, principal nortefoco do presente livro. Mas até
lá, temos de produzir e por isto devemos cada vez mais nos aproximar, estudar, entender e aplicar
os processos que a própria natureza nos ensina.
2 LAET- Laboratório Agroecológico da Transamazônica vinculado a Universidade Federal do Pará-UFPA no NAEA- Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos, Programa PAET- Programa Agroextrativista da Transamazônica financiado pela Comunidade Econômica Europeia. O projeto em
Porto-de-Moz (PA) foi coordenado pelo LAET e uma ONG francesa -GRET.
3 A metodologia participativa empregada foi pioneira com a elaboração do plano de uso dos recursos florestais nas comunidades do Camutá
do Pucuruí e da Ilha de Santa Bárbara (Dias et al. 2011), elaborado em colaboração entre a FASE-Projeto Gurupá, a Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro e o Museu Emílio Goeldi.
35
DIREN, realizou-se no Acre no final dos anos 90, uma reunião organizada com a liderança do IIEB-
Instituto Internacional de Educação do Brasil, FASE, CTA e outras instituições, onde se traçou o
esboço das diretrizes que foram consolidadas na Instrução Normativa (IN) nº 04/98 (IBAMA-DIREN
1998). Esta regulamentou e flexibilizou as exigências de comprovação da posse da terra e permitiu
a realização de manejo florestal por associações de produtores, sindicatos e grupos legalizados por
meio dos Planos de Manejo Florestal Comunitário. Posteriormente, o manejo dos recursos florestais
por comunidades se ampliou, abrangendo os produtos não madeireiros, passando a ser regulado
pela IN nº 15/2001 (IBAMA 2001) sobre Manejo Florestal Sustentável de Uso Múltiplo na Amazônia
Legal. Todo este arcabouço legal, contudo, focava a Amazônia face a sua enorme importância tanto
na produção madeireira quanto não-madeireira, ficando os outros biomas restritos a legislações
específicas (SEMA 1994; 2018).
Para implementar as ações de MFC foi criado o Programa Federal de Manejo Florestal
Comunitário e Familiar (MAPA 2016) pelo Decreto nº 6.874/09 (Brasil 2009) tendo como um
dos seu objetivos “estimular a diversificação produtiva e a agregação de valor à produção florestal
Silvicultura Tropical
36
3. Produtos florestais não madeireiros:
conceitos e definições
A denominação de produtos florestais não madeireiros (PFNM) envolve recursos animais
e vegetais que são extraídos, colhidos ou manejados nas florestas nativas ou não. Vários conceitos
podem ser encontrados na literatura dependendo dos seus objetivos. O mais empregado é o
aplicado pela FAO- Food Agriculture Organization, que define os PFNM como “...bens de origem
37
(83,0%), sendo que erva-mate (Ilex paraguariensis A.St.-Hil.) e açaí (E. precatoria), juntos
representaram 72,5% de toda a produção entre 2013-2018 (Figura 1) (IBGE 2020). A categoria
com a segunda maior produção é a das oleaginosas (10%), entre as quais se destaca o babaçu
(9,0%) seguido da copaíba, cumaru, licuri, oiticica, pequi, tucum e outras com menos de 1%
da produção total. Entre as fibras, a maior produção é de piaçava (4,3%) e carnaúba com 0,2%,
seguidas do buriti (0,1%) (Tabela 2).
Apesar da lista de PFNM abranger cerca de 35 espécies e produtos, os dados do IBGE não
contêm detalhes sobre as espécies empregadas pela indústria de cosméticos. O exemplo disto é
a ausência na lista de ucuúba ou virola (Virola surinamensis) cuja extração se intensificou a partir
de 2013. Apenas uma empresa de cosméticos coletou em 2016 cerca de 500 toneladas em cada
uma das suas 15 comunidades associadas, o que totalizou a extração estimada de 7.500 toneladas.
Isto representa volume maior do que o obtido para as borrachas e para a categoria de aromáticos,
medicinais e corantes, onde a espécie está incluída. Esta questão é relevante pois a indústria
de cosméticos e de medicinais são as que mais têm investido na pesquisa, cultivo, extração e
Silvicultura Tropical
Tabela 1: Relação da produção anual (toneladas) por categorias de uso oriundos da extração vegetal no período
de 2013 a 2018 nas diferentes regiões brasileiras. Adaptado de IBGE (2020).
Aromáticos, medicinais,
458 459 463 467 357 924 3128
tóxicos e corantes
38
A silvicultura próxima da natureza: o caso dos produtos florestais não-madeireiros
Figura 1: Percentual total da extração de produtos extrativos vegetais por classe de uso
segundo o IBGE (2020).
Tabela 2: Quantidade anual (toneladas) de produtos florestais não madeireiros oriundos do processo de
exploração dos recursos florestais nativos por extrativismo vegetal nos anos de 2013 a 2018. Fonte: Adaptado de
IBGE (2020). Ver nomes científicos no Anexo 1.
39
3.1.2 Origem do material vegetal
A denominação de origem do material vegetal relaciona-se à parte da planta que é
utilizada para a produção comercial ou tradicional. Esta questão é chave, pois, juntamente com a
autoecologia da espécie, direciona as práticas de amostragem para definir sua capacidade produtiva
e as técnicas de manejo e cultivo. Casos como a extração de palmito requer práticas destrutivas do
indivíduo, causando a retirada total da planta; no entanto, para o açaí que perfilha, a extração e
corte dos estipes não remove todo indivíduo como acontece para a jussara que não perfilha e tem
desenvolvimento mais lento. Por isto, o inventário, a extração e o manejo são distintos, embora
ambas sejam do gênero Euterpe.
As partes empregadas da planta incluem frutos e/ou sementes, estruturas de sustentação
(estipe ou caule), folhas e raízes. O maior percentual de produtos é obtido dos frutos e sementes,
seguido do estipe (caso das palmeiras) ou caule (Figura 2). O fato destas partes serem as mais
utilizadas na produção comercial enfatiza os impactos que a atividade extrativa pode ter sobre as
populações naturais, nas quais a extração de frutos e sementes tem efeito direto sobre a regeneração
Silvicultura Tropical
natural das espécies e a coleta do estipe ou caule e da raiz causam efeito direto na estrutura da
população. Por isto, uma das etapas mais importantes do manejo de PFNM é o levantamento da
capacidade produtiva e de suporte de uma área, o que permite definir não apenas o volume ou
quantidade do produto existente em uma área, mas também o quanto a população é capaz de
suportar a atividade extrativa sem alterar sua estrutura populacional e regeneração.
40
4.Potencial produtivo: do inventário ao
manejo sustentável
Dentro do conceito de silvicultura próxima à natureza4, a avaliação da capacidade produtiva
e de suporte, parte do princípio de que na busca da sustentabilidade da produção, migra-se do con-
ceito de “exploração” que representa a retirada do produto diretamente da natureza, sem práticas de
reposição e controle, para o de “colheita”. Neste último, incorporam-se práticas de reposição e manejo
41
espécies apresentam características morfológicas distintas nos diferentes estádios de desenvolvimento.
Além disto, para avaliar a capacidade de suporte, ou seja, a quantidade de produto, planta ou parte que
se pode remover da população requer entender o ciclo de produção de cada espécie.
2020b), sob controle do CGen -Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (MMA 2020a).
As informações devem buscar: (a) identificar as diferentes fases de desenvolvimento das plantas,
da jovem a adulta, (b) o tempo que uma planta demora para ir de jovem a juvenil a adulta, (c) o ponto
ótimo de colheita e (d) o padrão de distribuição espacial dos indivíduos nas áreas a serem amostradas
(Figura 3). A partir destes dados é possível definir o ciclo de produção da espécie, o que será essencial
para escalonar a colheita com base no potencial produtivo da área no espaço e no tempo.
A amostragem em campo depende bastante da forma de distribuição espacial das plantas
nas áreas. Espécies como o açaí ocorrem de forma mais agregada do que jussara, sendo ambos
mais abundantes em áreas de solos mais úmidos. É muito comum que a área a ser inventariada
tenha zonas secas mais altas e baixas e úmidas. O lançamento de parcelas aleatórias em toda a
área pode gerar sub ou super amostragem da população, distorcendo os resultados. Nestes casos,
a adoção de métodos de amostragem sistemáticos, distribuídos de forma regular em toda a área
oferece resultados mais compatíveis.
Estudos em Florestas Ombrófilas Mistas para avaliação de volume de madeira indicaram
que intensidades amostrais de 2,5% da área total (Cysneiros et al. 2018) e unidades amostrais de
1.000 m² de 10 m x 100 m foram eficientes para avaliar a densidade de plantas e de 25 m x 40 m
para estimar volume e área basal, independentemente de sua distribuição aleatória ou sistemática
(Sydow et al. 2017). Contudo, esses autores destacam que, o tipo de amostragem deve considerar as
características do local a ser inventariado, da espécie, do tipo de dado que se deseja obter e o limite
42
de erro admissível em função dos objetivos pretendidos, não havendo uma recomendação universal.
Inventário de produtos florestais não madeireiros realizado na Amazônia evidenciou a
dificuldade de amostragem de vários produtos de diferentes origens das parcelas das plantas em
uma única área. Em um total de 30 ha foram testados 22 tamanhos de parcelas desde 20 m x 20 m
(400 m²) até 30 m x 50 m (15.000 m²) e ficou evidenciado erros amostrais superiores a 20% sendo
recomendado realizar o inventário considerando os diferentes tamanhos de parcelas para as formas
43
Figura 3: Etapas a serem realizadas para o levantamento da capacidade de produção e de suporte das áreas de
extração e/ou colheita de espécies florestais com potencial não madeireiro considerando o ciclo de produção de
cada espécie. Fonte: Os autores.
Silvicultura Tropical
44
Determinação do estoque de volume de frutos e sementes
Como a produção de óleos extrativos, a de frutos e sementes tem alta variação em função
do controle genético e da interação ambiental (Piña-Rodrigues, Figliolia, and Silva 2015). Espécies
como o buriti, apenas uma palmeira pode produzir de 1 a 9 cachos com 600 a 1200 frutos que
podem chegar de 40 a 360 Kg de frutos, encontrando-se cerca de 60 a 70 plantas fêmeas por hectare
com capacidade de produção de 2,5 a 23 toneladas/ha (Cymeris, Paula-Fernandes, and Rigamonte-
45
e especialistas como nas revistas especializadas, o que traz maior credibilidade aos processos. Esta
questão ressalta a necessidade não apenas de pesquisa, mas também de divulgação dos resultados, o
que contrasta com o enorme potencial da biodiversidade brasileira (L. C. de Oliveira 2020).
5. Estudos de caso
Muitas espécies que vêm sendo utilizadas como produtos florestais não madeireiros
não aparecem na listagem oficial do IBGE (2020). Isto ocorre em função de sua menor escala de
produção ou mesmo devido a problemas de registro e levantamento de dados de campo destes
produtos. No Anexo 1 são relacionadas algumas espécies como a priprioca, o murumuru, o patauá
e a sapucainha, todas tradicionalmente utilizadas por comunidades e cuja utilização em escala
industrial se intensificou a partir de 2018, posteriormente aos dados coletados pelo IBGE.
A partir deste contexto, serão apresentados estudos de caso de espécies florestais que
têm relevante interesse, quer originado de usos tradicionais ou mesmo econômico. Parte destes
Silvicultura Tropical
estudos não foram publicados, como é o caso da ucuuba, mas vêm da experiência dos autores
e das publicações existentes. O objetivo deste item é complementar e partilhar processos e
procedimentos que muitas vezes não são diretamente discutidos em publicações científicas ou se
encontram diluídos em vários textos.
46
foi constatado que áreas com número de filhotões inferior a 10% do número de plantas adultas (CAP>
30 cm) devem ser enriquecidas com mudas, realizando-se o manejo e a limpeza para promover o
desenvolvimento dos filhotões. Estas práticas favorecem e contribuem para manter a sustentabilidade
futura da área onde se realiza extração de sementes. Para isto, a colheita de sementes deve retirar no
máximo 1/3 das sementes de cada planta e evitando-se a extração no período de lançante, quando as
sementes são transportadas pela água para disseminação natural (Piña-Rodrigues et al. 2019).
47
5.2 Cerrado
5.2.1 Pequi – Caryocar brasiliense
O pequi é uma espécie de uso tradicional entre os indígenas do Brasil Central, se configurando
em um dos seus principais itens alimentares. Ocorre em todas as regiões de Cerrado brasileiro e
apresenta variedades como por exemplo o pequi sem espinho cultivado pelos indígenas do Parque
indígena do Xingu (MT) (Rocha et al. 2007; Oliveira and Scariot 2010). Levantamentos em várias
regiões indicam densidades distintas, entre 25 a 100 plantas/hectare, com produção na estação
chuvosa de cada região, concentrados entre outubro e fevereiro com produção bianual, ou seja, com
uma safra a cada dois anos (Oliveira and Scariot 2010). Há relação entre o diâmetro do tronco e a
produção e árvores mais grossas (> 11-25 cm de diâmetro) podem produzir de 350 a 3400 frutos por
hectare (Oliveira 2009).
O ponto de maturação dos frutos de pequi influencia a qualidade dos frutos para a indústria
alimentícia, por isto a colheita é realizada no solo, de 2 a 3 dias após a dispersão natural, com a
retirada de apenas 1/3 da produção por área, para que 10 frutos possam germinar e cinco sejam
Silvicultura Tropical
Figura 4: Representação das etapas e produção de sementes em diferentes fases de desenvolvimento de ucuuba
(Virola surinamensis). Adaptado de Piña-Rodrigues et al. (2019).
48
6. Considerações finais
Em todas as espécies usadas como não madeireiras e com múltiplos usos, conhecer infor-
mações sobre a sua biologia reprodutiva, estrutura populacional e genética contribui para que não
se cometam erros no futuro. Como foi visto, há enorme potencial destas espécies, principalmente nas
indústrias químicas e alimentícias. A extração deve ser cada vez mais associada ao manejo e a colheita
sustentável em que não basta ter plantas, é preciso garantir a sustentabilidade da população.
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Cap.6. p. 97- 129.
57
8. ANEXO 1: Lista de nomes científicos e
comuns das espécies de produtos florestais não
madeireiros citadas e com potencial de utilização.
T.D.Penn.
58
Nome comum Nome científico Família botânica
59
Amburana cearensis
(Allemão) A. C. Sm.
Rachel Martins da Rocha Silva
Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), mestranda em Produção Vegetal pela UENF, área de Silvicultura.
Agronomia pela UFLA e doutora pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(UENF). Professora Associada na área de Silvicultura e Sistemas Agroflorestais da UENF.
60
sendo esta última endêmica da região
Centro-Sul da Bahia.
É uma espécie amplamente
difundida pela América do Sul,
encontrada também na Argentina,
na Bolívia, no Paraguai e no Peru. No
Brasil, embora sendo originária da
Caatinga, tem ocorrência confirmada
1. Botânica
Amburana cearensis apresenta porte arbóreo, mas seu fuste e copa variam em função
do ambiente. As árvores presentes em florestas mais adensadas possuem fuste reto, podendo
atingir até 20 m (Seleme et al., 2015), com copa espalhada e larga, enquanto indivíduos da
Caatinga são o oposto, com altura de 4 a 10 metros (Lorenzi, 2008), com fuste sinuoso, curto e com
muitas irregularidades, e as copas são curtas e achatadas (Carvalho, 2003).
61
O caule é liso, castanho, com frequente desprendimento da casca em formato laminar, desde a
fase jovem até idades mais avançadas (Figura 2). Após o corte, apresenta forte odor de cumarina (Flora
do Brasil, 2020). O mesmo acontece com as raízes superficiais (Queiroz, 2020). Pode atingir de 20 a 50
cm de diâmetro na altura do peito (Carvalho, 2003).
A amburana armazena água em seu caule acima da média da maioria das espécies que
possuem madeira mais densa (Lima, 2007).
Silvicultura Tropical
A B c
62
A espécie é caducifólia,
com queda de folhas quando se
inicia a floração e a senescência
é intensificada com a formação
dos frutos (Santos, 2014),
conforme observado na Figura
4. O início das brotações se dá
na presença de dias mais longos
(Lima, 2007).
Na Paraíba, foi obser-
vado por Santos (2014) que A B
a intensidade de senescência
ser observado na Figura 5. Figura 5: Detalhes da flor com estames livres e ovário vermelho (A);
Formação dos botões florais (B) e Inflorescências (C) de Amburana
cearensis (Allemão) A.C.Sm. Fotos: Rubens Teixeira de Queiroz.
63
A antese é noturna, ocorrendo por volta das 18:00 horas. Em Juazeiro-BA, suas flores são visitadas
durante o dia por 25 espécies, entre himenópteros, dípteros, lepidópteros e coleópteros, e durante a noite
por três espécies de lepidóptero e um díptero. Considerando-se comportamento e frequência, as abelhas Apis
mellifera, Centris sp., Frieseomelita doederleini, Meliponia marginata e Xylocopa sp. são consideradas como
polinizadores diurnos dessa espécie, sendo as maiores taxas de e produção obtidas através da polinização
cruzada (Dias et al, 2007).
Os frutos são criptossâmaras, com uma câmara apical de sementes, oblonga e enrugada,
medindo, em média, 6 cm de comprimento, de coloração escura, com deiscência apical (Barroso et al.,
1999 e Araujo e Dantas, 2018). O endocarpo membranoso envolve a semente preta, o que a diferencia
da Amburana erythrosperma, cujo endocarpo é parcialmente desenvolvido e não envolve a semente
vermelha (Seleme et al., 2015).
Silvicultura Tropical
Os frutos possuem quase sempre apenas uma semente alada, rugosa, achatada, ovoide,
oblonga, elíptica, com cerca de 2 cm x 0,9 a 1,3 cm, segundo Carvalho (2003), mas, segundo
Seleme et al. (2015) essas dimensões variam de 12 a 14 x 7 a 9 mm (Figura 6).
As sementes nigrescentes apresentam forte aroma de cumarina e gosto amargo picante
(Leal et al., 2005; Lorenzi, 2008). São produzidas cerca de 1.650 sementes por kg. Classificadas
como oleaginosas, as sementes do cumaru possuem 23% de óleo natural que é muito empregado
no uso medicinal (Matos et al., 1992; Maia, 2008).
64
No ano de 2014/2015 o valor do metro cúbico de madeira em pé de amburana variava de
R$ 103,00 a R$ 370,001 (Campos Filho e Sartorelli, 2015).
A madeira da amburana é utilizada na confecção de móveis nobres, portas, barris de cachaça, na
marcenaria, em esculturas, na construção civil, produção de carvão e para a restauração de áreas degradadas
(Andrade-lima, 1989; Aquino et al., 2005; Lima, 2014; Campos et al., 2013; Campos Filho e Sartorelli, 2015).
Também apresenta como peculiaridade odor agradável de cumarina e gosto adocicado (Pareyn, 2018).
A densidade da madeira apontada pela literatura é de 0,55 a 0,63g cm-3, sendo classificada
como moderadamente densa (Almeida et al., 2015; Rossi, 2008).
Segundo Almeida et al. (2015), apesar de apresentar poder calorífico acima dos 7.000 cal.g-1,
o que demonstra potencial energético para produção de carvão, a madeira da amburana apresenta
baixo teor de lignina (21,14%) e elevado teor de cinzas (4,3%).
Destaca-se a indicação de sua madeira na confecção de barris para envelhecimento de cachaça.
2.2. EXTRATIVOS
A amburana possui amplo uso medicinal popular, que pode ser comprovado pela abundância
de compostos como cumarina, glicosídeos fenólicos e flavonoides (Almeida et al., 2010). Do tronco é
comum a exsudação de resina, que é utilizada para a fabricação de goma (Carvalho, 2003).
Na medicina popular, as sementes e a casca da amburana maceradas são utilizadas para
tratamento de doenças reumáticas, problemas com asma e bronquite, enfermidades pulmonares, mal-
estares digestivos, coriza, cólicas e como antiespasmódicas (Tigre, 1968; Braga, 1976; Berg, 1986; Teske
e Trentini, 1997). Na Bolívia, em região endêmica em casos de malária, o decocto da entrecasca de A.
cearensis é utilizado para o alívio dos sintomas, como febre e calafrios (Gimenez et al., 1996).
A cumarina, extraída das sementes, do lenho e da casca, cujo aroma é semelhante ao da baunilha,
pode ser utilizada em perfumes (como fixador ou para destacar a fragrância), detergente, pasta de dente,
cigarros e em bebidas alcoólicas, na confecção de doces, biscoitos e sabão (Carvalho, 2003; Rodrigues,
2005). Os primeiros perfumes a com cumarina foram Houbigant Fougère Royale, lançado em 1882, e
Guerlain Jicky, de 1889 (Pagani, 2015).
65
Também pode ser utilizada na composição de borrachas, plásticos, tintas e spray, para mascarar
odores de solventes orgânicos (Rodrigues, 2005).
Das sementes também podem ser feitos inseticidas para repelir insetos e traças (Carvalho, 2003).
O uso de extrato aquoso de sementes de amburana resultou em 100% de mortalidade de larvas de Aedes
aegypti após 1 a 3 horas de exposição (Farias, et al. 2010). Também peptídeo extraído das sementes
apresenta ação fungicida, inibindo Colletotrichum lindemuthianum, Fusarium oxysporum, Fusarium
solani, Candida albicans e Saccharomyces cerevisiae (Santos et al., 2010). O extrato aquoso das sementes
apresenta ainda efeito antiedematogênico, embora tenha apresentado ação tóxica e mutagênica em
células eucarióticas de Allium cepa cultivadas, demonstrando a necessidade de estudos adicionais que
demonstrem a segurança na utilização do extrato de Amburana cearensis (Lima et al. 2013).
A casca da amburana, também rica em cumarina, entre outros compostos, é utilizada no controle
de dores reumáticas, por ter função anti-inflamatória e analgésica (Teófilo et al.,1999; Benko-Iseppon e
Crovella, 2010; Canuto et al., 2010; Lopes, 2010; Vasconcelos et al., 2010; Leal et al., 2011). Apresenta
ainda capacidade hepatoprotetora, o que se deve, em parte, à sua atividade antioxidante (Leal, et al. 2008) e
Silvicultura Tropical
bronco dilatadora (Benko-Iseppon e Crovella, 2010). O decocto da casca apresenta atividade antimicrobiana
sobre bactérias Gram-positivas, sendo indicado para conservação de alimentos, inibindo microrganismos
patogênicos e melhorando a qualidade higiênico-sanitária do processo (Ferreira et al., 2020).
Estudos tem mostrado que derivados de cumarina, naturais e híbridos podem gerar novos fármacos
antimaláricos, com perfis quimioterapêuticos aprimorados para pacientes sensíveis a outras drogas ou que
tenham desenvolvido resistência aos medicamentos usuais, com toxicidade reduzida (Hu et al., 2018).
Figueiredo et al. (2013) indicam que extratos etanólicos de folhas de A. cearensis apresentam
ação antibacteriana, devido à presença de vários compostos, com a possibilidade de aumentar o
potencial antimicrobiano de fármacos contra microrganismos multirresistentes, pelo uso combinado
de produtos naturais com aminoglicosídeos.
3. Tecnologia de sementes
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
Por volta de 10 anos, a amburana inicia sua fase reprodutiva. Cada árvore adulta pode atingir
a produção média de 12 Kg de sementes (Carvalho, 1994; Franklin, 1952). O preço de um quilo (Kg)
de sementes de amburana, contendo por volta de 2.103 unidades (Costa, 2009), varia de R$ 380,00
a R$ 1026,002.
2 Levantamento realizado em maio de 2020. *Taxa: 5,0788 Real - Brasil= 1 dólar-EUA, data da cotação: 21/05/2020, Banco do Brasil - www.bb.com.br)
66
3.2 FENOLOGIA
De maneira geral, a floração se dá juntamente com o término da época chuvosa, quando
as árvores perdem quase todas as suas folhas (Lorenzi, 2008). Porém, o comportamento fenológico
da amburana, varia em função dos diferentes ambientes onde ocorre. No Ceará, o florescimento e
frutificação acontecem todos os anos, durante a época da seca (Oliveira et al., 1988). Já em Pernambuco,
a floração e a frutificação ocorrem a cada dois anos (Machado e Barros, 1997), como também observaram
Japiassu, et al. (2016) no semiárido paraibano.
67
3.4. FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA
O período de frutificação se dá no início da estação seca (Maia, 2008). Entretanto, na Tabela 2 é
possível observar a época de frutificação em alguns estados brasileiros, onde há a ocorrência da espécie.
Tabela 2: Época de frutificação de Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm., em diferentes
Estados e Biomas brasileiros.
Meses do ano
UF Biomas
j f m a m j j a s o n d
Bahia2 Caatinga
Ceará1 Caatinga
Goiás1 Cerrado
Paraíba5* Caatinga
Pernambuco1 Caatinga
Rio Grande do Norte3 ** Caatinga
1
Carvalho, 2003; 2Silva et al., 2006; 3Amorim et al., 2009; 5Santos, 2014.
* Extensão do período variou entre os 3 anos de observação
** Variação observada entre os anos de 2000 (M;J) e 2001 (S;O)
No município de Malta, PB, a colheita dos frutos pode ser realizada a partir dos 54 dias após
a antese, com os frutos ainda fechados, quando apresentam coloração marrom escura, uma fenda
na parte superior, e sementes com capacidade de originar uma plântula saudável (Lopes et al.,
2014). Aos 63 dias após a antese ocorre a deiscência natural dos frutos, com dispersão anemocórica
das sementes.
Desta forma, a colheita das sementes de amburana é realizada de forma manual, após o
amadurecimento dos frutos e antes da total abertura dos mesmos. É possível realizá-la a partir da
agitação de galhos sobre um encerado (Dantas et al., 2012), ou com auxílio de podão ou escadas. A
catação de sementes no chão, após sua dispersão natural, pode resultar em elevada taxa de predação,
contaminação e perda de viabilidade.
68
As sementes da amburana são ortodoxas e não apresentam dormência (Angelim et al.,
2007; Lopes, et al. 2014; Silva et al., 2019), mas o vigor e velocidade de germinação podem variar
em função da matriz ou do lote (Silva et al., 2019; Porcino, 2019).
Os testes de germinação sob condições controladas devem ser feitos a 35oC, independente
do substrato, sendo areia ou vermiculita os substratos mais indicados por Guedes et al. (2010) para
avaliação da qualidade fisiológica das sementes. Temperatura alternada de 20°-30°C e substrato rolo
papel foram recomendados por Salomão e Cavallari (1992). A emissão da raiz primária ocorre por volta
de cinco dias após a semeadura (Cunha e Ferreira, 2003).
Porcino (2019) utilizou o teste de tetrazólio para inferir sobre a qualidade dos lotes de sementes
de amburana, descrevendo danos mecânicos, deterioração por umidade e ataque de percevejos.
3.6. ARMAZENAMENTO
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
A produção de mudas de Amburana é realizada comercialmente através de sementes. Contudo,
para o cultivo da mesma é necessário realizar a escolha do substrato e recipiente a ser utilizado. Quanto ao
primeiro, é indicado o uso de substratos comerciais para espécies florestais, areia, vermiculita expandida,
solo ou a mistura de alguns destes componentes (Rossi, 2008; Costa, 2009; Souza et al., 2015).
Os recipientes mais utilizados são o saco de polietileno de 650 cm3 ou tubetes de polipropileno
de 280 cm3 (Carvalho, 2003; Souza et al., 2015). Entretanto, deve-se considerar que as raízes da amburana
69
são tuberosas desde a fase de mudas (Figura 7), com raízes laterais delgadas. Por esta razão, o tamanho
do recipiente deverá ser compatível com o tempo previsto de permanência das mudas no viveiro. Essas
estruturas napiformes, também denominadas xilopódio, podem atingir 3 cm de diâmetro aos 9 meses
após a semeadura, armazenam água e nutrientes, garantindo a sobrevivência da espécie em períodos
de grandes estiagens em seus primeiros anos de vida (Maia, 2004; Santos 2015). Sob condições de
estresse hídrico há aumento da ramificação destas raízes (Santos 2015).
A semeadura deve ser realizada diretamente no recipiente onde a muda irá se desenvolver ou
em sementeiras para posterior repicagem. No primeiro caso, deve-se semear de uma a duas sementes
por recipiente com a profundidade de 1 cm. No segundo caso, a repicagem deve ser realizada para
os recipientes quando as plântulas apresentarem pelo menos dois pares de folhas definitivas, sendo
importante, em ambos os casos que o material seja mantido sob irrigação constante e sombreamento
adequado no início de sua formação (Carvalho, 2003; Silva et al., 1985; Souza et al., 2015). O período
para produção das mudas por sementes é de 90 dias, quando estariam aptas para o plantio (Souza
et al., 2015). Entretanto, devem-se considerar as diferentes condições edofoclimáticas das áreas
de plantio, pois em condições mais adversas, mudas mais robustas podem apresentar melhor
desempenho pós plantio.
Estudos sobre a propagação vegetativa da espécie in vitro vêm sendo realizados para fins de
produção de mudas e conservação, com bons resultados na formação de plântulas (Fermino Junior
e Scherwinski-Pereira, 2012; Campos et al., 2013; Costa et al., 2015; Costa, 2018; Silva, 2019).
Entretanto, são necessários mais estudos em virtude da difícil aclimatização, com baixa sobrevivência
das plantas após serem encaminhadas para casa de vegetação.
Pesquisas sobre o processo de propagação por miniestaquia têm sido conduzidas no Setor
de Silvicultura da UENF (Figura 8). Nos primeiros ensaios, Silva et al. (2019) observaram que há
70
potencial de enraizamento das miniestacas provenientes de minicepas produzidas por sementes.
O início do enraizamento adventício foi observado entre 30 e 40 dias após o estaqueamento, atingindo,
aos 70 dias de permanência em câmara de nebulização intermitente, 60% e 20% de enraizamento
em miniestacas apicais e basais, respectivamente (Figura 9). Embora com menor percentual de
enraizamento dos primeiros 70 dias após o estaqueamento, observa-se maior percentual de
sobrevivência de mudas formadas a partir de miniestacas basais, aos 250 dias. Entretanto, vale ressaltar
que o índice de produção de mudas de amburana por miniestaquia ainda é baixo, estando em curso
estudos para amentar a capacidade de enraizamento adventício e avaliações sobre a tolerância às
podas, a capacidade de brotação e a produtividade das minicepas (Silva et al., np).
A b
Figura 9: A e B -
Miniestacas apicais
e intermediárias de
Amburana cearensis
(Allemão) A.C.Sm.,
confeccionadas com 7
cm de comprimento
aos 60 dias após o
estaqueamento. Fotos:
Renata de Deus Silva. Apical – 60 dias Intermediária – 60 dias
71
5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
Embora em 1998 tenha composto a lista de espécies ameaçadas da International
Union for Conservation of Nature and Natural Resources (ARW, 1998), Amburana cearensis foi
classificada em 2013 como espécie não ameaçada, de interesse para pesquisa e conservação por
Martinelli e Moraes (2013), que a enquadraram entre as “espécies de valor econômico e com
declínio verificado ou projetado”.
Com o objetivo de preservar as informações genéticas contidas nos exemplares existentes,
amenizando os riscos de erosão genética e garantindo subsídios para atender a demandas futuras
para produção de fármacos e cosméticos, foi instalado um banco ativo de germoplasma na
EMBRAPA Semiárido, para conservação ex situ de acessos de amburana, provenientes de Petrolina,
PE, Juazeiro, BA e Lagoa Grande, PE (Souza et al., 2011). Porém, há escassez de estudos objetivando
o melhoramento da A. cearensis.
Catelan et al. (2003) analisaram por meio de marcadores genéticos, a variabilidade da
amburana. Foram avaliadas 4 populações localizadas no Vale do Paranã, em Goiás, e utilizados 123
Silvicultura Tropical
72
A espécie mostra-se indiferente ao uso de cobertura morta e adaptada às condições de
baixa matéria orgânica no solo, condições em que apresentou maior crescimento inicial em sistema
agroflorestal em Quixeramobim, Ceará (Pimentel e Guerra, 2015). Isto permite que seja utilizada
ainda, com bom percentual de sobrevivência, no enriquecimento de áreas em diferentes estágios
de degradação, como foi avaliado por Guarino e Scariot (2012), que introduziram a espécie em
áreas intactas, intermediárias e altamente exploradas, e observaram melhor desempenho nos
ambientes mais abertos e impactados.
6.2. ESPAÇAMENTO
Alguns autores mencionam os seguintes espaçamentos: 3x3m (Barroso et al., 2018), 3x2
m (Campos Filho e Sartorelli, 2015), 4x10 m (Pimentel e Guerra, 2015) e 4x4 m (Carvalho, 2003).
Entretanto, não há pesquisas comparativas de espaçamento e densidade de indivíduos por
6.3. ADUBAÇÃO
Não há recomendações específicas de adubação para a espécie, devendo ser realizada com
base na análise do solo, evitando assim que a disponibilidade de nutrientes seja um fator limitante
para o desenvolvimento das mesmas.
Entretanto, pouco se conhece sobre a resposta da maioria das espécies florestais nativas
à adubação de base ou cobertura, sendo necessários testes para que o processo de correção e
fertilização não resulte em gastos desnecessários ao produtor.
A resposta de mudas de amburana ao nitrogênio é pequena, tanto na fase de viveiro (Dutra
et al., 2015), como no campo (Duboc e Guerrini, 2013), o que os autores atribuem à sua provável
capacidade de nodulação. No entanto, a amburana não é capaz de se associar com bactérias do
gênero Rhizobium (Araujo e Dantas, 2018). Não há relatos de nodulação da espécie na literatura e
não foi observada nodulação, em pesquisas na fase de viveiro, que se encontram em andamento
no Setor de Silvicultura da UENF.
A amburana apresenta maior crescimento quando adubada com fósforo, sendo o
requerimento maior no Cerrado Denso (Latossolo Vermelho-Amarelo), do que em Plintossolo, no
73
entorno de mata de galeria (Duboc e Guerrini, 2013). Também Dutra et al. (2015), observaram
maior incremento na biomassa radicular de mudas com o aumento das doses de fósforo.
Santana (2012) e Oliveira et al. (2015a) descrevem a eficácia da associação de Acaulospora
longula com Amburana cearensis, propiciando à amburana melhor desempenho em solos com baixa
disponibilidade nutricional, promovendo maior crescimento da espécie.
Com base nas práticas de adubação, o nitrogênio e o potássio devem ser aplicados de
forma parcelada durante o cultivo, pela mobilidade e perdas por volatilização ou lixiviação. Já o
fósforo pode ser aplicado durante no plantio, juntamente com os micronutrientes, diretamente nas
covas, por possuir baixa mobilidade no solo.
7. POTENCIAL PRODUTIVO
No atual cenário, a exploração da espécie
tem sido realizada de forma extrativista, com foco
Figura 10: Avaliação em plantio puro de
Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm., aos 17 especialmente nos extratos medicinais encontrados
anos, na Floresta Estadual José Zago, em Trajano em sua casca e suas sementes.
de Morais, RJ. Foto: Maríllia Grasiela O.S. Souza.
Em 2018, a exportação de produtos
florestais não madeireiros, rendeu ao Brasil mais de
366 milhões de dólares (SNIF, 2019), o que demonstra a importância econômica das florestas,
aliada aos serviços ambientais, e a amburana apresenta forte potencial neste cenário.
O mercado de fitoterápicos vem crescendo, sobretudo em países desenvolvidos, o que tem
fomentado o comércio internacional de plantas medicinais ou seus compostos. Segundo dados
74
da BRAVER (2018), o mercado mundial de medicamentos à base de plantas cresceu 7,6% entre
2012 e 2016, destacando-se a importância de políticas públicas para que esse mercado resulte
em benefícios para os produtores e comunidades extrativistas de países em desenvolvimento.
Em área de Mata Atlântica, Barroso et al. (2018) avaliaram árvores de amburana a partir
de 17 anos após o plantio (Figura 10), e na medição realizada aos 21 anos foi observada grande
variabilidade fenotípica entre os indivíduos, que apresentaram valores médios de DAP de 9
cm (variando de 4,2 – 17,6 cm) e altura de 7,5 m (variando de 3,1 a 17,3 m). De 22 espécies
nativas plantadas na área, plantadas em parcelas homogêneas, a amburana apresentou o menor
percentual de sobrevivência (47%) e crescimento biométrico.
8. OUTRAS INFORMAÇÕES
9. REFErÊNCIAS
ALMEIDA, A.M.C.; OLIVEIRA, E.; CALEGARI, L., MEDEIROS NETO, P.N.; PIMENTA, A.S. Avaliação
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Ateleia glazioveana Baill.
Katia Christina Zuffellato-Ribas
Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Biológicas e doutorado em Ciências
Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisiologia
Vegetal pela Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular do Departamento de Botânica da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA: Floresta Ombrófila Mista e Floresta Estacional Semidecidual.
1.2 NOME COMUM: Timbó, timbé, timbózinho, timbó-de-palmeira, cinamomo-bravo ou
maria-preta (MARONA, 1992; CARVALHO, 2002).
1.3 NOME CIENTÍFICO: Ateleia glazioveana Baill.
Silvicultura Tropical
84
et al., 2001). O timbó tem ainda potencial de produção e qualidade para uso como adubo verde,
comparável a espécies tropicais (BAGGIO et al., 2002).
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES: Em plantios, o processo reprodutivo se
inicia por volta dos quatro anos de idade (CARVALHO, 2002).
3.2 FENOLOGIA
Inflorescências terminais com até 15 cm de comprimento, em cachos amarelos polinizados por
pequenos insetos. O fruto é samaróide indeiscente, unisseminado, semiorbicular, medindo de 2,2 a
2,7 cm de comprimento por 0,8 cm de largura, de cor amarelo-claro, com uma ala pequena ao largo da
3.7 ARMAZENAMENTO
As sementes do timbó são de comportamento ortodoxo. Apresentam capacidade germinativa
inicial de 90%. Quando armazenadas em tamboretes em câmara fria (3 a 5°C e 92% de UR) mantém
a germinação em até dois anos após o armazenamento (CARVALHO, 2002).
85
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Recomenda-se que a semeadura seja realizada em sementeira, com posterior repicagem, de duas
a cinco semanas após a emergência, para sacos de polietileno com dimensões mínimas de 20 cm de
altura e 7 cm de diâmetro, ou em tubetes de polipropileno de tamanho médio (CARVALHO, 2002) .
A germinação é epígea, com início entre dez a 70 dias após a semeadura. O poder germinativo é
alto (até 100%) e, em média 80%. As mudas atingem porte adequado para plantio, cerca de seis meses
após a semeadura. A germinação das sementes chega a 90% após dois anos de armazenamento em
câmara fria (CARVALHO, 2002).
Entre os anos de 2005 a 2007, a Embrapa Florestas e o GEPE (Grupo de Estudo e Pesquisa
em Estaquia), realizaram uma vasta pesquisa coordenada pelo Dr. Antonio Aparecido Carpanezzi,
da Embrapa Florestas e, pela Profa. Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), acerca da propagação vegetativa do timbó.
Plantas matrizes com cerca de 15 m de altura foram selecionadas aleatoriamente em quatro
timbozais nativos pertencentes à Floresta Estacional Semidecidual (IBGE, 1992) nos municípios de
Barracão - PR e Flor da Serra do Sul - PR.
Ao final do último mês de cada estação, ou seja, inverno/2005 (agosto), primavera/2005
(novembro), verão/2006 (fevereiro) e outono/2006 (maio), foram realizadas coletas do material vegetal.
Ramos foram retirados da copa das árvores e estacas foram confeccionadas com dez a 12 cm de
comprimento, a partir das brotações apicais do ano, com corte reto no ápice e em bisel na base, sem
folhas. Após desinfestação com hipoclorito de sódio a 0,5% por cinco minutos, seguida de lavagem em
água corrente por mais cinco minutos e fungicida benomyl a 0,5 g L-1 por 15 minutos, as bases das estacas
foram imersas por dez segundos nas soluções hidroalcoólicas (50% v/v) de ácido indol butírico (IBA) e
em talco, nas seguintes concentrações: 0, 2000 e 5000 mg L-1 e mg Kg-1 IBA. O plantio das estacas foi
realizado em tubetes de 53 cm3 utilizando dois tipos de substrato: vermiculita de granulometria média
e casca de arroz carbonizada (CAC). O material permaneceu 60 dias em casa de vegetação climatizada,
com temperatura de 25°C ± 2°C e UR ≥ 80%.
Foram consideradas estacas enraizadas aquelas que se apresentavam vivas e com pelo menos
86
uma raiz com mais de 0,1 cm de comprimento; estacas com calos aquelas que se apresentavam vivas e
com massa de células indiferenciada na base; estacas vivas aquelas que permaneceram sem alterações
desde o momento da instalação do experimento, sem a formação de raízes ou calos; estacas mortas
aquelas que apresentavam tecido necrosado e; estacas brotadas aquelas que apresentavam pelo menos
um broto na porção apical, com mais de 0,1 cm.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado em esquema fatorial de 2
x 3 x 2 (2 substratos x 3 concentrações de IBA x 2 veículos de aplicação) com doze tratamentos, quatro
repetições e dez estacas por unidade experimental, totalizando 480 estacas/estação.
As concentrações de IBA utilizadas não induziram o enraizamento do timbó em nenhuma época
estudada, com exceção do inverno/2005, que apresentou somente três estacas enraizadas (uma em
cada concentração aplicada), não ultrapassando 0,5 cm de comprimento.
A formação de calos (35,8% no inverno/2005), a sobrevivência (45,0% na primavera/2005,
95,8% no verão/2006 e 95,4% no outono/2006) e a brotação (91,3% no inverno/2005 e 58,8% no
87
em material rejuvenescido. Não houve influência dos substratos utilizados nem da idade cronológica das
plantas matrizes utilizadas.
Num último experimento, ramos de timbó com 30 cm de comprimento e 1-2 cm de diâmetro, confec-
cionados com corte reto no ápice e em bisel na base, sem folhas, foram coletados de plantas matrizes de dois e
dez anos de idade, em áreas experimentais da Embrapa Florestas, em Colombo - PR, no final do outono/2006.
Após os mesmos procedimentos metodológicos descritos anteriormente, as estacas foram
plantadas a campo, em canteiros com 20 cm de profundidade de preparo mecânico, sem adubação, a pleno
sol, recebendo regas diárias de 4 L H2O m-2 nos primeiros 30 dias e semanais após esse período.
Após 180 dias do plantio, as “árvores instantâneas”, como são chamadas essas estacas maiores
plantadas diretamente a campo, foram avaliadas. Brotações de árvores mais velhas (dez anos) são mais
indicadas para fornecerem “árvores instantâneas”, plantadas a campo, com porcentagens de enraizamento
de 37,5% no tratamento com 2500 mg L-1 IBA e 38,3% para 5000 mg L-1 IBA. A maior porcentagem de
enraizamento nos tratamentos em talco foi de 15,8% na testemunha (0 mg Kg-1 IBA). A sobrevivência média
das estacas foi de 3,6 a 9,4%, a formação de calos foi de 34,2 a 41,4%, a mortalidade foi de 25,8 a 35,3% e
a porcentagem de estacas brotadas foi de 62,5 a 70,3%.
Silvicultura Tropical
4.3 MANEJO
A produção de sementes é irregular, com intervalos de até dez anos, segundo moradores de regiões
de ocorrência natural do sul do Brasil. Há alguns relatos de que a produção de sementes pode ser anual, mas a
maioria afirma que dificilmente as plantas produzem sementes em quantidades significativas (GAVA et al., 2001).
5.2 ADUBAÇÃO
É recomendado o uso de 70% de solo de campo + 30% esterco bovino, como substrato em
nível de campo (Ataides et aI., 1996).
88
6. MANEJO PARA A PRODUÇÃO
6.1 CICLOS DE CORTE
O crescimento do timbó é considerado lento a moderado. Em pesquisa realizada pela Embrapa
Florestas, foi constatada produtividade volumétrica máxima em plantios de 9,80 m3/ha.ano-1. O baixo
crescimento observado em Concórdia - SC, ocorreu em função de geadas fortes verificadas em todos os
quatro anos do experimento (CARVALHO, 2002).
7. PATOLOGIA FLORESTAL
7.1 DOENÇAS E PRAGAS
Há relatos que em viagem a Ererchim - RS e municípios próximos no noroeste gaúcho, em março de
2001, pesquisadores da Embrapa Florestas detectaram, na região, uma praga que, grosseiramente, atacou
ao menos 50% das árvores nativas de idades mediana e adulta. A praga é uma lagarta pequena (uns 2 cm de
comprimento) que desfolha as copas e refugia-se no interior de uma teia esbranquiçada que tece, onde também
defeca. O empupamento dá-se fora dessa teia, pois não foram encontradas pupas ali. As árvores atacadas têm,
8. OUTRAS INFORMAÇÕES
A espécie é arbórea, decídua, heliófila e pioneira, sendo comum em ambientes abertos, onde se instala
com facilidade. Encontrada em povoamentos puros, tem capacidade de fixar nitrogênio e ocupar solos rasos e
pedregosos. É recomendada para conservação, recuperação de solos e de ecossistemas degradados, podendo
constituir alternativa para o controle de voçorocas, devido ao seu sistema radicular, que é pivotante, vigoroso
e de grande agressividade, estabelecendo-se por plantio direto das sementes (FERREIRA; TREVIZAN, 1984;
CARVALHO, 2002). Pode, também, ser plantada em matas ciliares em locais sem inundação (FERREIRA, 1983).
Foi realizado ainda um estudo anatômico das bases das estacas utilizadas nos três experimentos
descritos no item 4.2, objetivando sua caracterização, bem como a presença de possíveis barreiras anatômicas
à rizogênese (SILVA, 2007). Não ocorreram diferenças estruturais entre as estacas coletadas nas diferentes
estações do ano, entre os diferentes tipos de estacas, bem como entre as diferentes idades de plantas matrizes.
As estacas apresentaram periderme com duas a cinco camadas de súber e presença de lenticelas. A região
cortical possui células parenquimáticas com conteúdo denso e esclereídes dispersas. As fibras pericíclicas
89
formam, ora um anel contínuo com três a cinco camadas ao redor do cilindro vascular (estacas de brotações de
copa), ora dispostas em grupos, não formando camada contínua (estacas de brotações epicórmicas). No floema
secundário, além dos elementos de tubo crivado, células companheiras e parenquimáticas, foram observadas
fibras e idioblastos com cristais. A faixa cambial é estreita, com poucas células derivadas. O xilema secundário
é desenvolvido, com elementos de vasos isolados ou em séries radiais, raios estreitos e fibras com parede
espessa. A medula é parenquimática. A estrutura anatômica das estacas não impediu por si só o enraizamento
destas. Testes com lugol e cloreto férrico foram inconclusivos para a associação à rizogênese (SILVA, 2007).
Até o momento, com os propágulos vegetais estudados, o timbó pode ser considerada uma espécie
de difícil enraizamento, necessitando de mais estudos sobre o rejuvenescimento e utilização de cofatores
do enraizamento.
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91
Calophyllum brasiliense (Cambess.)
Valeria Ciriello
Engenheira agronoma, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências
Agronômicas, UNESP Botucatu. Atualmente é sócia e Diretora da empresa Futuro Florestal,
especialista em plantio de madeiras nobres.
Eduardo Ciriello
Engenheiro agronomo, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências
Agronômicas, UNESP Botucatu. Atualmente é sócio e Diretor da empresa Futuro Florestal,
especialista em plantio de madeiras nobres.
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro (UFRRJ), especialista em Produção e Tecnologia de Sementes pela Associação Brasileira
de Educação Agrícola Superior (ABEAS), mestrado em Engenharia Florestal pela Escola Superior de
Agricultura Luis de Queiróz da Universidade de São Paulo (ESALQ – USP), Doutorado em Ecologia
pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e Pós Doutorado na Universidade de Missouri
(UMSL) e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Rio Douro (UTAD) em Ecologia Aplicada. Professora
Titular - Full Professor – UFSCAR- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - CAMPUS SOROCABA -
Departamento de Ciências Ambientais – SP.
92
1. BOTÂNICA
O guanandi (Calophyllum brasiliense Cambess.) é uma espécie florestal secundária
intermediária tardia da família Clusiaceae, promissora para exploração da madeira nobre, planta
medicinal e reabilitação de áreas inundáveis, com demanda por estudos do aproveitamento
da madeira juvenil (Barreiros et al. 2016). A espécie pode ser conhecida por diversos nomes
populares variando de região para região, segundo Carvalho (2003), como guanandi, olandi,
jacareúba (Amazônia), gulande-carvalho, guanandi-carvalho, guanandi-cedro, landim, bálsamo
jacareúba, cedro-do-pântano, guanandi amarelo, guanandi poca, olandi-carvalho, é uma espécie
1.1. BIOMA
Ocorre desde a Região Amazônica a Santa Catarina. A espécie pode ser encontrada na
Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica, desde o Estado do Amazonas até Santa Catarina. O
guanandi não é uma espécie endêmica do Brasil, podendo ocorrer do México até a América do
Sul (Carvalho 2003, Silva 2005).
93
Silvicultura Tropical
1.5. SINONÍMIA
Calophyllum antillanum Britton, C. chiapense Standley, C. ellipticum Rusby, C. lucidum Benth., C.
piaroanum A. Castillo & C. Gil. e C. rekoi Standl.
1.6. PORTE
Sob o aspecto do porte pode chegar a 40 m de altura e 1,5 m de diâmetro; o tronco é reto e
cilíndrico, protegido por uma casca marrom escura (Lorenzi 2000).
2. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS
O guanandi é uma espécie de folhas perenes, com copa larga e arredondada, densa e de coloração
verde-escuro. A casca externa é marrom-escuro ou pardacenta, fissurada de alto a baixo, descamando em
placas retangulares. A casca interna possui coloração rósea, é aromática, amargosa e ácida, exsudando
látex amarelado e pegajoso. As folhas são simples, opostas, elípticas, coriáceas e apresentam dimensões
de 5 a 15 cm de comprimento por 3 a 7 cm de largura, com nervuras laterais abundantes, próximas e
paralelas. O pecíolo é verde-escuro, lustroso, espesso e mede até 2 cm de comprimento.
94
As flores são brancas, reunidas em racemos axilares ou panículas de 2,5 a 6 cm (Lorenzi
1992). Entretanto, a espécie apresenta o sistema reprodutivo complexo, pois possui flores
hermafroditas e masculinas em indivíduos separados ou em diferentes proporções num mesmo
indivíduo (Marques 1994). Geralmente a floração ocorre durante os meses de setembro a novembro
(Lorenzi 1992), mas em algumas localidades o período pode mudar. No Distrito Federal floresce de
setembro a outubro; em São Paulo de novembro a junho; na Paraíba em dezembro e no Paraná de
janeiro a março (Carvalho 1994).
Os frutos são do tipo drupa globosa, indeiscentes, carnosos, com pericarpo verde
lactescentes quando maduros, apresentando dimensões de 19 a 30 mm de diâmetro. A polpa é
oleaginosa, envolvendo uma semente, que é globosa e de coloração castanha (Carvalho 1994). Os
frutos são dispersos pela água (hidrocoria), por morcegos, veados e tucanos (zoocoria) ou podendo
ainda cair no solo (autocoria). A dispersão hidrocórica ocorre em função da localização frequente da
Figura 2: Flores (A), frutos (B), sementes (C) e madeira de guanandi (E). Fotos: Futuro Florestal
95
3. CARACTERÍSTICAS SILVICULTURAIS
Pode ocorrer em locais desde o nível do mar até 1500 m de altitude, com precipitação
média anual entre 1.100 e 4.000mm e temperatura média anual entre 15ºC e 28ºC. Na Floresta
Amazônica está presente nas várzeas e igapós. Nos cerrados ocorre nas matas de galeria. Cresce
bem em solos aluviais, argilosos, sílico-argilosos ou arenosos, ácidos (pH 4,5-6,0), e apresenta
excelente adaptação tanto a ambientes encharcados quanto a locais secos (Silva 2005).
Segundo os autores Oliveira & Joly (2010) e Souza et al. (2007) trataram a espécie C.
brasiliense como tolerante a inundação, com preferência em colonizar solos com alta saturação
hídrica, sendo considerada de grande plasticidade ecológica. Na América Central, é encontrado em
solos ricos em ferro (Fe) e alumínio (Al) e pobres em potássio (K) e P (Piotto 2005).
O guanandi é considerado uma espécie secundária/intermediária tardia (Durigan & Noguei-
ra 1990), porém ocorrem guanandizais quase puros, em condições pioneiras, no litoral paranaense
(Carvalho 1996). Também é uma espécie florestal esciófila, que se regenera abundantemente à som-
bra, portanto necessita de sombreamento de intensidade média na fase juvenil (Lopez et al. 1987).
Silvicultura Tropical
96
parquete, marcenaria, mourões, laminados decorativos, fabricação de barris de vinho, tanoaria, mon-
tantes de escadas singelas ou extensíveis e embalagens, entre outros (Lorenzi 1992, Carvalho 1994).
Uma curiosidade é que a madeira ainda é pouco utilizada no Brasil, em contraste com
sua popularidade em outros países da América do Sul e do Caribe, podendo substituir o mogno
(Swietenia spp. e o cedro (Cedrela spp.) esteticamente (Carvalho 2003).
Além dos produtos madeireiros, o guanandi é indicado para obtenção de resina com
propriedades medicinais (uso veterinário), taninos (casca e folhas), óleo essencial (fruto) e saponina
(folhas) (Carvalho 1994).
Estudos com os diversos subprodutos não madeireiros tem sido desenvolvidos por empresas
como a Tropica Flora Reflorestadora, Futuro Florestal, Instituto Coruputuba principalmente com o uso
das sementes, como produção de bebidas, chocolates e óleo para cosméticos, porém o mercado das
sementes ainda é incerto, sendo que atualmente elas são utilizadas comercialmente somente para
97
5. TECNOLOGIA DE SEMENTES
5.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
As sementes dessa espécie são fotoblásticas neutras, ou seja, germinam tanto na presença
de luz como na ausência (Marques 1994). Isso quando vem ocorrer a germinação em laboratório.
A polpa é oleaginosa, envolvendo uma semente, que é globosa e de coloração castanha (Carvalho
1994). Um quilograma de frutos contém cerca de 160 sementes (Lorenzi 1992).
5.2 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA
A floração e a frutificação são supra-anuais e irregulares (Newstrom et al. 1994). Em relação a esses
aspectos ocorrem em diferentes períodos pelo fato de ocorrer em várias regiões em diferentes biomas.
Os frutos podem ser coletados diretamente no chão ou nas árvores, quando apresentarem
coloração verde amarelada e iniciarem a queda espontânea. O transporte dos frutos é realizado em sacos
de ráfia para evitar excesso de umidade, aquecimento e proliferação de microrganismos (Silva 2005).
Devido a esse fato é comum encontrar em alguns pontos dos plantios ou mesmo fora deles,
montes de sementes limpas e prontas para semeadura.
Silvicultura Tropical
98
5.5. ARMAZENAMENTO
A longevidade das sementes é variável de acordo com o genótipo, mas o período de
conservação do potencial fisiológico depende, em grande parte, do grau de umidade, da temperatura
e das condições do ambiente de armazenamento (Ferreira & Borghetti 2004, Marcos Filho 2005). O
objetivo é manter a qualidade das sementes durante o período em que ficam armazenadas, visto
seu melhoramento não ser possível, mesmo sob condições ideais (Ferreira & Borghetti 2004).
Em câmara fria é possível guardar as sementes por no máximo 4 meses e manter as
sementes ainda com viabilidade de germinação, porém o ideal é coloca para germinar logo após a
colheita (Futuro Florestal, dados não publicados).
6.PRODUÇÃO DE MUDAS
6.1 MÉTODO DE SEMEADURA, PRODUÇÃO E MANEJO
No viveiro da Futuro Florestal foram feitos diversos testes com semeadura direta ou indireta
e a melhor maneira identificada foi semear em canteiros de areia e depois realizar o transplante em
99
tubetes de 180 a 200ml com substrato comercial, devido ao fato da germinação ser muito irregular a
semeadura indireta seguida de transplante proporciona uma canteiro de mudas com tamanho mais
homogêneo com relação a desenvolvimento das mudas. As mudas permanecem na sombra por 60 a
90 dias e no sol para sua devida rustificação de 60 a 120 dias dependendo da época do ano. As mudas
são entregues com 30 a 40cm de altura e 1,5 a 2,5cm de diâmetro do coleto.
recomendando coletar sementes com pelo menos 81 m de distância. Estas informações ressaltam o
potencial da espécie para ser empregada em programas de melhoramento. Desse modo, é preciso
estabelecer estudos para estimar os parâmetros genéticos e predizer ganhos de seleção dos caracteres de
interesse, e assim, estabelecer a melhor estratégia de seleção para futuros programas de melhoramento.
Outro fator importante constatado foi à viabilidade de sua propagação vegetativa através das
técnicas de estaquia que ampliam as ferramentas para clonagem dos melhores indivíduos e assim a sua
multiplicação para testes clonais e pomares (Ciriello 2010). Muitos estudos ainda se fazem necessários
para que exista um trabalho de melhoramento genético eficaz para a espécie que deve ter como objetivo
principal a diminuição de tempo de ciclo, já que a espécie apresenta boa forma e madeira de qualidade.
8. SISTEMAS DE PLANTIO
O principal modelo utilizado para a espécie é o plantio homogêneo a pleno sol, onde a espécie
se desenvolve bem, apesar de ser classificado como uma espécie secundária na sucessão ecológica,
trata-se de uma espécie heliófita que tem como ativador do seu crescimento a luz solar, dessa forma
apresenta bom desenvolvimento a pleno sol. Os plantios mistos ou consorciados também são bem
aceitos pela espécie, desde que seja consorciado com espécies com ritmos de crescimento compatível
para evitar a competição e assim a supressão de seu crescimento. Em sistemas agroflorestais a espécie
se adapta com muita facilidade e se torna muito eficaz dentro desses sistemas, trabalhos realizados
100
com café, se mostraram viáveis e com uma interação positiva entre as espécies, e devido às adubações
realizadas no café para sua produção anual, as árvores continuaram a responder positivamente a
essas adubações, com maior incremento e sanidade (Ciriello, 2014)
8.1 ADUBAÇÃO
Uma das etapas mais importantes da silvicultura é a definição da adubação ideal para cada
espécie nas diversas etapas de seu desenvolvimento. Entretanto, Carvalho (2003) relata que a maioria
das informações sobre espécies florestais nativas relaciona-se, principalmente, às características
botânicas e dendrológicas, e informações sobre exigências nutricionais são escassas.
O nitrogênio é um dos nutrientes exigidos em grande quantidade pelas culturas agrícolas. Na
maioria das espécies cultivadas, principalmente as de ciclo anual, o metabolismo do nitrogênio tem
sido bastante estudado, porém para espécies florestais não ocorre o mesmo, sobretudo as espécies
nativas (Marques et al. 2006).
Em estudo avaliando doses de N, P, K e calcário durante os 10 primeiros meses de
desenvolvimento o guanandi apresentou baixa ou nenhuma resposta às adubações nitrogenada e
potássica durante o período avaliado, demonstrando pequena exigência a esses nutrientes nesta
fase de desenvolvimento. Os níveis de saturação por bases do solo também pouco influenciaram
no crescimento dessa espécie. Para a adubação fosfatada, houve uma resposta altamente positiva,
demonstrando ser imprescindível na implantação de reflorestamentos desta espécie em solos
carentes em fósforo. (Ciriello, 2010)
101
Em experimento com omissão dos nutrientes N, P, K, Ca, B e Zn realizado com mudas de
guanandi (Calophyllum brasiliense), concluiu-se que a omissão de N seguida pela omissão de P
foram as que mais afetaram o crescimento da espécie e que os nutrientes que provocaram sintomas
mais visíveis em suas folhas foram o N e o Ca (Rosa 2008).
Propagação vegetativa: estacas caulinares apicais dessas espécies são consideradas difíceis
de enraizar utilizando-se AIB, nas dosagens O, 1000, 2000, 4000 aplicados a seco e 1000 pprn após
lavagem em água corrente por 22 horas, em duas épocas do ano: final das chuvas e início da seca (Silva
& Ribeiro 1999).
O guanandi é considerado uma espécie dependente por micorrizas (Câmara et al. 2016,
Simão Soares et al. 2017).
calagem para elevar a saturação por bases a 60%, porém mais estudos são necessários para
determinação da correção do solo ideal para a espécie. (Valeria Cirielo - comunicação pessoal)
102
A cicatrização dos ramos podados apresenta cicatrização efetiva após 6 a 12 meses dependendo
da espessura do ramo podado. As podas devem ser realizadas com serrotes de poda florestal bem afiados
e constantemente limpos, com os cortes realizados no ponto correto evitando danificação do painel para
favorecer uma cicatrização completa.
103
Figura 8: Colheita com 18
anos na Costa Rica, madeira
serrada de 9 anos em Garça,
SP. Fotos Futuro Florestal
9. PATOLOGIA FLORESTAL
O guanandi apresenta ao longo de seu desenvolvimento diversas pragas com diferentes
níveis de dano e frequência, porém até o momento as pragas ocorridas se mostraram passíveis de
controle e de manejo integrado, sem até o momento a presença de alguma praga que inviabilize
Silvicultura Tropical
a sua produção comercial. As pragas descritas pelos autores foram: trips, lagartas desfolhadoras,
lagarta enroladeira: besouro amarelo, pulgão, mosca branca. Dentre essas pragas acima citadas a
que se apresenta recorrente em todas as regiões onde foi plantada a espécie, destacamos a Trips
que tem ocorrido em todas as regiões sem exceção, que causam danos mais no início do plantio
até o 3° ano após esse período as plantas já possuem uma copa formada e o nível de dano fica
bastante reduzido e a partir daí a planta convive bem com a praga. As outras pragas citadas ocorrem
esporadicamente e sua ocorrência pode variar entre regiões (Ciriello 2010).
Até o momento não foi detectada doença que torne inviável a plantação de guanandi,
porém tem-se acompanhado o aparecimento de fungos causando danos de baixa intensidade
nesta espécie. Os principais casos de doenças fúngicas relatadas até o momento são: Phomopsis
sp. no caule de guanandi; Pestalotia sp., Monochaetia sp., Colletotricum sp., Rizoctonia sp. e
Cladosporium sp. em folhas de guanandi; Sclerotium sp. e Rhizoctonia sp, atacam sementes
guanandi (Ciriello 2014).
104
como base os trabalhos realizados por Petit & Montagnini (2004), onde foram estimados 296 m³ de
madeira produzidas em 18,5 anos. Esses estudos se realizaram na América Central.
Atualmente após 16 anos e muitas experiências vivenciadas no Brasil com a espécie o ciclo
é estimado em 20 a 25 anos em plantios puros com espaçamentos de 3 x 2 m até 3 x 3 m com 2 a
3 desbastes ao longo do ciclo (Futuro Florestal, 2020).
Em medições realizadas em diversos inventários pela empresa Futuro Florestal verificou-se
heterogeneidade em dados em plantios com mesma idade, devido a qualidade de sítio e manejo,
principalmente. Em plantios de 10 a 11 anos com bom manejo nutricional o DAP médio estava com
12,5cm e altura média 9m, porém esses plantios sofreram com atraso em seu primeiro desbaste,
portanto é possível melhorar esses dados realizando desbaste no momento correto. Verifica-se que
em locais com solos arenosos e fracos com índice pluviométrico menor que 1200mm por ano o
guanandi não deve ser indicado para reflorestamento comercial.
105
11. REFERÊNCIAS
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Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de
Viçosa, aperfeiçoamento no departamento de Solos da UFV, mestrado em Ciências Florestais
pela Universidade de São Paulo (ESALQ - USP) e doutorado em Recursos Florestais pela USP.
Atualmente é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA),
e professor e orientador nos PPGs em Biodiversidade Tropical e Ciências Ambientais, na
Universidade Federal do Amapá.
1. Introdução
A preferência pelo cultivo de espécies exóticas, ocorre, principalmente, pela falta
de conhecimento técnico científico sobre a silvicultura e manejo de espécies nativas
tropicais. A maioria das informações silviculturais e tecnologias desenvolvidas nos últimos
anos no Brasil, são, sobretudo, destinadas às arbóreas exóticas, como Pinus e Eucalyptus
(PANCEL, 2015; MENDONÇA et al., 2017). Em termos de qualidade da madeira e, até
mesmo, capacidade produtiva, é bastante plausível imaginar que, dentre as mais de dez
mil espécies arbóreas nativas da Amazônia, não será difícil encontrar espécies com melhor
desempenho do que as citadas anteriormente.
110
O C. spruceanum é uma espécie florestal de uso madeireiro e não madeireiro, muito
encontrada em florestas de várzea do estuário do rio Amazonas. É uma árvore de porte alto,
com fuste retilíneo e ramificação apenas no ápice (ALMEIDA, 2004), que favorece a produção de
madeira para serraria e também para uso energético. A espécie tem diversos nomes populares
111
a capacidade produtiva da área, em menor tempo, mantendo a produção agrícola e promovendo
a recuperação dessas áreas abandonadas da agricultura itinerante. Essa otimização da produção
volumétrica de madeira e de outros produtos, como o açaí, em pequenas áreas, facilita o trabalho
do produtor, resultando em geração de renda e fomento da economia local.
Por outro lado, se essas áreas da agricultura itinerante forem abandonadas em definitivo,
sem ser manejadas, capoeiras e florestas secundárias ricas em pau-mulato serão formadas, mas
com menor crescimento das árvores e formação de fustes de menor qualidade. Nesse caso, o pau-
mulato pode ser usado como indicador de áreas com intervenção antrópica. Em determinadas
áreas de floresta madura onde surge alguma mancha com elevada densidade de árvores adultas
de pau-mulato, é um indicativo de que houve ali ação humana que abriu aquela área, como no
caso dos roçados para cultivos agrícolas. Como se trata de uma espécie heliófila, típica de áreas
abertas em início de sucessão, a germinação e o desenvolvimento das plântulas de pau-mulato
depende de quantidade elevada de luz, sendo que as mesmas não se desenvolvem bem quando
sombreadas sob o dossel da floresta.
Silvicultura Tropical
2. Ecologia da espécie
Ocorre no Brasil, e em vários países da América do Sul, como Peru, Colômbia, Equador
e Bolívia. No Brasil, é mais encontrada em floresta de várzea, ao longo do estuário do rio
Amazonas. Também é encontrada em outras regiões da Amazônia, nas várzeas ou capoeiras
altas, campos de pastagens, áreas degradadas, desenvolvendo-se, geralmente, como espécie
dominante (REVILA, 2000). O pau-mulato pode também estar presente em florestas de terra
firme, em decorrência de seu eficiente sistema de dispersão pelo vento e pela água (ALMEIDA,
2004). No Peru, é uma das árvores preferidas para utilização em sistemas agroflorestais
(SOTELO-MONTES; WEBER, 1997).
É uma espécie tipicamente heliófila, que necessita de muita luz para se desenvolver e áreas
abertas em início da sucessão (JONG, 2001), pois as sementes germinam melhor em temperaturas
112
elevadas (ALMEIDA, 2004). Por isso, apresenta regeneração abundante em áreas abandonadas na
agricultura itinerante (CASTILHO et al., 2013), em agrupamentos quase homogêneos (GONZÁLES,
2007), com densidade que pode chegar a mais de 100.000 regenerantes por hectare (CASTILHO, 2013).
Em floresta natural do Acre, a floração acontece de março a maio; a frutificação, de maio a
setembro e a queda de frutos, de setembro a outubro. Seu sistema sexual é hermafrodita. A polinização
das flores é realizada por diminutos insetos, que visitam suas pequenas flores brancas, com grande
número de estames. O fruto é uma cápsula com, aproximadamente, 1 cm de comprimento, deiscente,
contendo várias sementes aladas, que são dispersadas pelo vento (D´OLIVEIRA et al., 1992).
É uma árvore de grande porte, que pode atingir 20-35 m de altura. Sua característica marcante
é o fuste retilíneo, com casca lisa, marrom ou esverdeada, que descama em longas tiras, e madeira de
Figura 1: A. Mudas de pau-mulato regeneradas em área de várzea utilizada para agricultura de corte e
queima, 6 meses após abandono do roçado, município de Mazagão - AP. B. Transplante de mudas durante curso
sobre manejo da regeneração natural na região do Bailique, Macapá - AP. Fotos: Marcelino Guedes e Bruno Rosário.
113
Nas várzeas do Mazagão, a densidade média de plântulas (mudas) logo após abandono do
roçado foi de 46.895 ind ha-1 (CASTILHO, 2013). Na Ilha das Cinzas, Gurupá - PA, após inventário
100% de todas as áreas com regeneração natural de pau-mulato mapeadas na Ilha, observou-se
uma densidade geral de 29.533 mudas ha-1 (ROSÁRIO, 2017).
A elevada densidade inicial de mudas de pau-mulato pode comprometer o crescimento da
espécie. Se o excedente delas não for eliminado, as mudas poderão permanecer como varetas por
muito tempo, pois a densidade chega a ser tão elevada que as mudas ficam praticamente unidas e
não conseguem se desenvolver. Assim, torna-se necessário o raleio ou desbaste da maioria delas,
por meio de arranque ou corte.
As mudas arrancadas podem ser aproveitadas para plantio em espaços vazios, quando
houver falha de regenerantes na própria área, ou transplantadas para outras áreas. Para isso, basta
retirar a muda com um bloco de solo e transplantá-la para o local desejado, de forma semelhante
ao que se faz com as mudas no manejo de açaizeiros. O solo siltoso da várzea facilita a manutenção
da terra em volta das raízes para fazer o transplantio.
Silvicultura Tropical
O transplantio é mais recomendado para áreas próximas de onde as mudas estão sendo
retiradas. No entanto, em muitos casos, haverá a necessidade de produção de mudas em viveiros,
principalmente, quando houver a possibilidade de usar matrizes selecionadas.
A produção de mudas de pau-mulato pode ser realizada pelo método sexuado (por
meio de sementes), ou pelo método assexuado, por propagação vegetativa. No caso da
estaquia (GATTI, 2002; VALLEJOS-TORRES et al., 2014; ABANTO-RODRIGUEZ et al., 2016),
as estacas devem ser submetidas a 3.000 ppm de ácido indolbutírico (AIB), que propicia o
enraizamento em torno de 12 dias.
Para a produção de mudas por via sexuada, os frutos coletados devem ser acondicionados
e transportados em sacos de ráfia, para evitar excesso de umidade, aquecimento e proliferação
de microrganismos (ALMEIDA, 2004; PIÑA-RODRÍGUEZ et al., 2015.). Em relação às sementes,
a literatura indica que não há necessidade de tratamentos pré germinativos (FLORES, 1996). O
tempo inicial e médio da germinação diminui conforme o aumento da temperatura, variando de
15 dias para sementes sob 15ºC a 5 dias para sementes sob 32,5ºC (ALMEIDA, 2003).
As mudas podem ser preparadas em sementeiras, para que, posteriormente, sejam
repicadas para sacos plásticos de 15 cm x 30 cm. Após 6 a 9 meses no viveiro, as mudas estarão
prontas para o plantio no local definitivo (MARANHO et al., 2013).
Os melhores substratos utilizados para mudas de pau-mulato devem ser a base de matéria
orgânica, como: terra agrícola + casca de arroz + esterco de galinha (ABANTO-RODRIGUEZ et al.,
114
2016). No entanto, a semeadura pode ser realizada apenas em terra vegetal, dispondo as sementes
sobre o substrato e cobrindo-as apenas levemente, devido à necessidade de luz para a germinação
(ALMEIDA, 2004).
115
4.2 Preparo do solo
O principal objetivo do preparo do solo é oferecer condições adequadas ao plantio e
estabelecimento das mudas no campo (EMBRAPA FLORESTA, 2003). No plantio convencional
para mudas de pau-mulato, dependendo do tipo de solo em que se deseja cultivá-lo, recomenda-
se a realização da subsolagem, variando de 30 a 60 cm (MARTINS, 2010). Como já mencionado,
em áreas onde o pH do solo é baixo, as mudas de pau mulato encontram dificuldades para o
seu crescimento, sendo necessário, portanto, que nessas áreas seja aplicado o calcário, com o
objetivo de corrigir a acidez e elevar os teores de cálcio e magnésio (GONÇALVES, 2005).
O plantio das mudas de pau-mulato deve ser realizado em covas que podem ser abertas
de maneira mecanizada, quando a área permitir a entrada de tratores adaptados, ou manual,
com o auxílio de cavadores (ARAUJO et al., 2013). As covas devem ter as seguintes medidas: 20
cm de diâmetro e 25 cm de profundidade. Após a abertura, recomenda-se, caso seja necessário,
a fertilização, que pode ser por meio do NPK ou adubo orgânico (CHUNG SALDAÑA, 2013).
Silvicultura Tropical
4.3 Espaçamento
A escolha do espaçamento influencia diretamente na taxa de crescimento das plantas,
na qualidade da madeira e na idade de corte (BALLONI; SIMÕES, 1980). O espaçamento deve
ser definido em função dos objetivos do plantio, visando também adequar a densidade de
plantio para a obtenção do máximo de retorno por área (DANIEL, 2006). Para o C. spruceanum,
estudos com diferentes espaçamentos já foram realizados. Em sua maioria, os resultados
indicam que espaçamentos ideais para a produção de madeira, devem seguir os arranjos de
3 m x 3 m e 2 m x 3 m (UGARTE-GUERRA,Domínguez-Torrejón, 2010; CENTENO AVENDAÑO,
2012; CHUNG SALDAÑA, 2013; GUEDES, et al., 2016). Outros espaçamentos, como 4 m x 3 m
e 5 m x 5 m, também mostram resultados positivos em termos de crescimento em sistemas
consorciados, ressaltando a importância dessa espécie e seu elevado potencial para implantação
de sistemas silvipastoris (OLIVEIRA, et al., 2012).
4.4 Adubação
Em alguns estudos que avaliaram diferentes dosagens de NPK em plantios de pau-
mulato, foi gerada a recomendação de 120 g de NPK 20:20:20 por muda, caso o produtor tenha
recursos financeiros e queira investir em adubação (CHUNG SALDAÑA, 2013). Contudo, como
o pau mulato é uma planta que tolera ambientes com baixas fertilidades, a adubação também
pode ser realizada com produtos à base de compostos orgânicos, sendo possível até mesmo
116
dispensar a adubação. É importante salientar que se o plantio ocorrer em áreas de várzea
estuarina, por exemplo, não é recomendável a utilização de fertilizantes, visto que esses sítios
apresentam solos com elevada fertilidade (COSTA-NETO; SILVA, 2003).
117
O manejo da regeneração de pau-mulato pode ser realizado de maneira a formar plantios
homogêneos ou sistemas agroflorestais (SAF´s). Nesse último sistema, pesquisas já demonstraram
a eficiência e retorno financeiro do uso do pau-mulato como espécie arbórea (SOTELO-MONTES;
WEBER, (1997); SEARS et al., (2014), GUEDES et al., 2016, CASTILHO et al., 2013), com aplicação
de técnicas adequadas para o manejo da regeneração.
Entre as técnicas silviculturais que podem ser adotadas, destaca-se o desbaste, que é a
principal ferramenta para o aproveitamento do potencial de regeneração natural em áreas de
agricultura itinerante. Essa técnica silvicultural pode ser definida como a eliminação de parte do
povoamento florestal, removendo-se dessa forma as árvores excedentes, para reduzir a competição
inter e intraespecífica pelos fatores de crescimento, como água, luz e nutrientes. Assim, o potencial
produtivo do povoamento fica concentrado em um número limitado de árvores remanescentes
(AMBIENTE BRASIL, 2009; MARTINS, 2010; CASTILHO, 2013).
Os desbastes são divididos em duas categorias, seletivo e sistemático. No manejo da
regeneração de pau-mulato, o desbaste seletivo deve ser empregado. O mesmo implica na escolha
Silvicultura Tropical
de indivíduos com base em algumas características que são pré-estabelecidas, de acordo com o
propósito a que se destina a produção (MARTINS, 2010), removendo indivíduos considerados
inferiores, dominados ou defeituosos (GUEDES et al., 2016; CASTILHO, 2013).
No sistema de manejo do processo de regeneração natural do pau-mulato, descrito em
Guedes et al. (2016), são previstos dois desbastes sequenciais. O primeiro desbaste deve ocorrer
por volta dos 6 meses após abandono da atividade no roçado. Contudo, se o desbaste não acontecer
no momento ideal, após alguns anos, ainda é possível proceder a roçagem das varetas para
realização do primeiro desbaste. A remoção dos indivíduos pode ser realizada de forma manual,
por meio do arranquio (regenerantes até um ano de idade) ou por meio de terçados, machados
e/ou motosserras (indivíduos com mais de um ano de idade). O segundo desbaste é realizado
quando a área estiver com 5 a 7 anos. O desbaste é realizado nas árvores mais finas e baixas,
deixando aquelas mais desenvolvidas para o final do ciclo.
Ao aplicar o desbaste seletivo, os maiores indivíduos da regeneração natural devem ser
deixados, respeitando a distância mínima média de 3 m entre plantas, de maneira a organizar e
otimizar o espaçamento e a distribuição das plantas na área (EMBRAPA FLORESTA, 2003; GUEDES
et al., 2016). Com isso, será eliminado o excedente, deixando apenas a quantidade ideal de paus-
mulatos. Para implantação de sistemas só com pau-mulato (plantio homogêneo), em linhas ou
faixas orientadas no sentido do deslocamento do sol (DURIGAN, et al., 2004), a densidade final
recomendada gira em torno de 1.200 ind. ha-1 (GUEDES et al., 2016).
118
Outros padrões de espaçamentos podem ser estabelecidos como: 2 m X 2 m; 2 m X 3 m
e 3 m X 4 m e até maiores, de acordo com a quantidade de regeneração disponível, tamanho
das áreas e objetivo do plantio (D´OLIVEIRA et al., 1992). Quanto menor a densidade, os valores
de crescimento em altura e diâmetro tendem a ser maiores, o que foi constatado por Ugarte-
Guerra; Domínguez-Torrejón, (2010); avaliando plantios com 1312, 1236, 800 e 768 ind. ha¹.
No entanto, a otimização da volumetria final de madeira produzida vai depender de um balanço
entre o crescimento e a própria densidade remanescente.
Na implantação de consórcios ou Sistemas Agroflorestais (SAFs), a partir do manejo da
regeneração natural do pau-mulato, deve-se deixar espaçamentos maiores, com densidade em
torno de 600 ind. ha-1 de paus-mulatos (GUEDES et al., 2016). Nesse caso, devido às dificuldades
119
Figura 3: Áreas de
várzea com manejo da
regeneração natural de
Silvicultura Tropical
pau-mulato e produção
de banana, na Ilha das
Cinzas, Gurupá - PA e
em Mazagão - AP. (Fotos:
Marcelino Guedes e
Danielle Rodrigues).
No exemplo prático aqui mostrado, tem-se o seguinte arranjo agroflorestal: pau mulato
(regeneração), culturas agrícolas (banana e açaí). Esse arranjo pode ser implantado em módulos
de 51 m de largura x 52 m de comprimento, que define o sentido das linhas e deve seguir o
deslocamento do sol (leste/oeste). Para a instalação de um módulo com 17 faixas (9 com paus-
mulato e 8 com as culturas associadas), de 3 m de largura cada, são necessárias 110 mudas de
bananeira e 110 mudas de açaizeiros, deixando-se 6 mudas de reserva para cada cultura.
Assim como nos plantios convencionais, nesse sistema também há necessidade da
realização de tratos culturais, visando o controle periódico de plantas indesejáveis. Na fase
inicial, recomenda-se uma limpeza na área de plantio no mínimo a cada 3 meses. No sistema
misto, são geradas receitas ao produtor em mais curto prazo, com a colheita de culturas como
a banana, que produzem em menor tempo, enquanto se espera o desenvolvimento do pau-
mulato para realização do segundo desbaste.
O segundo desbaste deve ser realizado pelo menos 5 anos após o primeiro desbaste.
Nessa época, mesmo no sistema misto, a densidade em torno de 600 ind. ha-1 de paus-mulatos,
120
será suficiente para uma boa produção de madeira roliça, como quantificado no próximo item.
Essa madeira roliça pode ser utilizada em construções rústicas e também para produção de
carvão e lenha.
Após o segundo desbaste, deve ficar na área em torno de 100 a 200 árvores por hectare,
dependendo do tipo e diversidade do sistema adotado. De acordo com os interesses do produtor,
e em função da realidade de cada área, ajustes podem ser realizados para deixar mais ou menos
paus-mulato após o segundo desbaste, árvores essas que serão destinadas às serrarias, no final
do ciclo, aproximadamente, com 15 anos.
Depois da liberação realizada no segundo desbaste, as melhores árvores de pau-mulato
para serraria podem ser colhidas ao longo do tempo, na medida em que forem atingindo o DMC
121
* DAP1.99038 * Ht0.80224 (ARAÚJO, 2015), ou pela equação de simples entrada: V= 0,0184 -
0,00598*DAP + 0,00082*DAP2 (CASTILHO, 2013). A volumetria média encontrada das 696
árvores abatidas (DAP variando de 4,5 cm a 19,0 cm) para cubagem rigorosa e realização do
segundo desbaste, foi igual a 0,03685 m3 por árvore.
Em áreas de SAFs com 7 anos e baixa densidade de pau-mulato, a média dos diâmetros
foi de 17,1 cm e a média da altura foi de 15,4 m. Nessas condições, cada pau-mulato produz 0,2
m3 de madeira roliça e seriam necessárias 5 árvores para produção de 1 m3.
Em três áreas pesquisadas com o uso de SAFs, com idade de 10 a 11 anos e baixas
densidades do pau-mulato, a média do DAP das árvores foi de 20 cm. Algumas árvores de maior
crescimento já atingiram o diâmetro mínimo de 50 cm, considerado como limite para corte e
produção de madeira serrada.
No trabalho de Rosário (2017), que avaliou o desenvolvimento do pau-mulato em
sistema de manejo da regeneração natural (Figura 3), com introdução de banana, na Ilha das
Cinzas, Gurupá - PA, as bananeiras começaram a produzir com 1 ano de idade.
Silvicultura Tropical
Nessas áreas manejadas houve um desenvolvimento quatro vezes superior às áreas sem
manejo. Com manejo, o crescimento médio foi de 2,3 m em altura e de 3,2 cm em diâmetro por
ano (ROSÁRIO, 2017).
122
desbaste no período adequado (em torno de 6 meses). Nessa idade, as mudas excedentes podem
ser eliminadas por meio do arranque. Isso evita a rebrota, que poderá ocorrer se as plântulas forem
eliminadas por corte, pelo processo de roçagem. Deve-se evitar arrancar as mudas no período do
verão amazônico (setembro a novembro), quando a água das marés não adentra nas áreas mais
elevadas de várzea e o solo siltoso fica muito seco e duro. Isso dificulta o arranque das mudas e
exige maior esforço físico.
A elevada capacidade de rebrota do pau-mulato pode ser interessante para o
desenvolvimento de novos sistemas silviculturais, com condução da brotação, principalmente nos
plantios convencionais, como realizado em outras espécies como o eucalipto. Para essa espécie
foi desenvolvido um sistema de condução de rebrota, com recomendação de desbrota geral para
123
uma floresta secundária sem manejo, sendo 3 árvores em cada uma das 5 classes: 1) 15 < DAP
< 20 cm, 2) 25 < DAP < 30 cm, 3) 35 < DAP < 40 cm, 4) 45 < DAP < 50 cm, 5) DAP > 55 cm.
Os resultados dessa pesquisa evidenciaram que as árvores de pau-mulato com menores
diâmetros também apresentam boa qualidade da madeira. Amostras de árvores mais finas
apresentaram a mesma densidade e resistência quando comparadas às mais grossas. A força
média necessária para quebrar as amostras foi de 92,88 Mpa e os valores de densidade básica
da madeira variaram de 0,58 a 0,72 g cm-3. A contração volumétrica média para as amostras de
pau-mulato foi de 14% (ARAÚJO et al., 2016).
Essas propriedades tecnológicas habilitam a espécie para diversos fins, principalmente,
para uso na construção civil. Normalmente, a madeira serrada de pau-mulato é muito utilizada
para confecção de estrutura para telhado, e também como piso e parede das casas de madeira.
Praticamente, todas as casas das famílias ribeirinhas do interior, que vivem nas proximidades
dos rios, são de madeira, assim como várias casas localizadas nas próprias cidades. No interior
também é muito comum o uso da madeira roliça do pau-mulato para construção de estruturas
Silvicultura Tropical
rústicas e, nos portos, como suporte e baliza para ancoragem das embarcações. Essa madeira
roliça também pode ser empregada como postes, como biomassa e fonte de energia. Nas casas
das várzeas, é frequentemente utilizada como lenha para combustão direta no fogão.
O uso da madeira roliça para diversos fins é facilitado no caso do pau-mulato, pois as
árvores oriundas do segundo desbaste, com idade em torno de 5 anos, apresentam forma
cilíndrica muito bem definida e troncos extremamente retos. Nesse caso do uso da madeira
roliça de pau-mulato de regeneração natural, quando for possível a divisão do tronco, é
recomendável que a parte da base seja utilizada para energia, e o topo para as construções.
A ponta do fuste do pau-mulato tem maior estabilidade dimensional e está menos sujeita a
rachadura (ARAÚJO et al., 2016).
O manejo do processo da regeneração natural e potencial biológico do C. spruceanum
apresenta uma série de vantagens, como já demonstrado. No entanto, esse manejo apresenta
limitações em termos de área e por não utilizar mudas melhoradas. Assim, recomenda-se que
estudos também sejam direcionados para um programa de melhoramento e para propagação
vegetativa da espécie.
124
9. Agradecimentos
À Embrapa, que financiou o projeto Florestam (ecologia e manejo florestal para
uso múltiplo de várzeas do estuário amazônico). À FINEP, que patrocinou o projeto “manejo
comunitário integrado de recursos ambientais do estuário amazônico”, desenvolvido em parceria
com a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas (ATAIC). Uma boa parte
das informações aqui relatadas é fruto desses projetos.
Aos nossos parceiros, agroextrativistas de áreas de várzea do estuário do rio Amazonas.
Pela hospitalidade, pelo camarão com açaí batido na hora, um agradecimento especial!
Às instituições de fomento (CAPES e CNPq) que financiaram bolsas para os estudantes,
10. Referências
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(Graduação em Engenharia Florestal) Universidade do
Estado do Amapá. Macapá, 2017.
129
Campomanesia xanthocarpa
Mart. ex O. Berg.
DEBORAH CRISTINA PORTES
Engenheira Agrônoma, graduação em Agronomia pela Pontifícia Universidade Católica
do Paraná, mestrado em Morfogênese e Biotecnologia Vegetal (Produção Vegetal) pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
FRANCIELLI TELEGINSKI
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Estadual
do Centro-Oeste, UNICENTRO-Irati-PR. mestrado em Agronomia-Produção Vegetal pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA
Habita preferencialmente sítios úmidos das matas de altitude, na Floresta Estacional
Semidecidual e Floresta Ombrófila Mista (REITZ et al., 1988; MARCHIORI; SOBRAL, 1997;
LORENZI, 2002; BACKES; IRGANG, 2002).
1.5 PORTE:
Árvore mediana, de 10 - 25 m de altura, entre 30 - 70 cm de DAP e comumente com
diâmetro de 30 a 50 cm (Figura 1A). Possui tronco geralmente tortuoso dotado de caneluras e casca
pardo-acinzentada, que se soltam em delgadas tiras; muitas vezes provido de raízes tabulares. A
copa é densa e arredondada (SIMÃO, 1971; BARROTO DO CARMO; MORELLATO, 2001).
130
Campomanesia xanthocarpa Mart. ex O. Berg.
Figura 1: Campomanesia xanthocarpa Mart. Ex O. Berg: A. Planta adulta. B. Floração.
C. Frutos jovens (verdes) e maduros (amarelo-alaranjado). D. Porcentagem das partes do
fruto. E. Paraulaca dives em folhas de guabiroba.
131
2.2 PRODUTOS NÃO MADEIREIROS
Dentre os usos da espécie, o chá das folhas de guabiroba é bastante citado, sendo a infusão
das folhas utilizada no tratamento de diversas doenças, incluindo inflamatórias, renais e digestivas
(ALICE et al., 1995), bem como para reduzir os níveis de colesterol sanguíneo (KLAFKE et al., 2010).
Em análise fitoquímica do extrato de folhas de Campomanesia xanthocarpa, observou-se a presença
de flavonóides, saponinas, taninos e terpenos (CERQUEIRA, 2002; MARKMAN et al., 2004; KLAFKE et
al., 2010). As pectinas encontradas na espécie são utilizadas nas indústrias alimentícia e farmacêutica,
devido às suas propriedades geleificantes e estabilizantes (SANTOS et al., 2009).
A composição química do óleo das folhas de C. xanthocarpa coletadas no Rio Grande do Sul,
apresentou um rendimento de 0,2% em óleo essencial, rico em sesquiterpenos, destacando-se dentre
eles o espatulenol (9,9%), o globulol (6,2%) e o epi-globulol (2,0%); e, entre os monoterpenos, o
linalol (17,2%) (LIMBERGER, 2001). Já o óleo de folhas coletadas em Curitiba-PR, apresentou como
componentes majoritários os sesquiterpenos espatulenol (7,39%), globulol (2,94%) e epi-globulol
(0,88%); e, como principais monoterpenos, o linalol (4,24%) e o β-cariofileno (1,77%) (GOUVÊA, 2001).
Silvicultura Tropical
132
qual visa não só a obtenção de produtos com características sensoriais e nutricionais próximas às do
fruto in natura, mas também como microbiologicamente seguros (SANTOS, 2011).
Sob o ponto de vista nutricional e considerando-se o peso médio de 86 frutos escolhidos
aleatoriamente como sendo equivalente a 2,86 g,verificou-se que 10 frutos contribuem aproximadamente
com 5,4% em fibras, 1,6% em vitamina B2 e 8,5% em vitamina C na dieta alimentar diária de indivíduos
adultos, quando se tomam como base os valores recomendados pela Organização Mundial de Saúde
(média de 33,5 g por dia em fibras (ORGAMIZATIÓN MUNDIAL DE LA SAUD, 1990) e pela Legislação
Brasileira de Alimentos para ingestão diária de vitaminas (IDR por indivíduo) (BRASIL, 1998). Os frutos
in natura de C. xanthocarpa apresentam baixo valor calórico (57,3 kcal 100 g-1) devido, principalmente,
ao alto teor de umidade e, por conseguinte, uma menor concentração de açúcares, lipídios e proteínas
em suas estruturas (endocarpo, mesocarpo e sementes) (VALLILO et al., 2008).
3.2 FENOLOGIA
Apresenta folhas verdes e opostas, simples e membranáceas, as quais variam em tamanho e
forma, oscilando entre 3,5-8,0 cm de comprimento por 2,5-4,5 cm de largura, oval-oblongas a oblongas
(SIMÃO, 1971; CORREA, 1984; LEGRAND, 1957; MATTOS, 1983). Suas flores são hermafroditas, isoladas,
esbranquiçadas, axilares e se encontram na extremidade de pedúnculos unifloros ou reunidos sobre
pequenos ramos laterais, medindo de 1,0 a 3,5 cm (Figura 1B). O cálice é pentâmero, um pouco
pubescente interiormente e com bordos ciliados. (SIMÃO, 1971; LORENZI, 2002; BIAVATTI et al., 2004). O
tipo de dispersão é zoocórica atraindo, principalmente, pássaros, pequenos mamíferos como o macaco,
peixes e répteis (CORRÊA, 1984; CARVALHO & NAKAGAWA, 2000; FRISCH & FRISCH, 2005).
133
agosto a dezembro, nas estações da primavera e verão. Durante o outono e parte do inverno, a espécie
apresenta repouso reprodutivo (EMBRAPA FLORESTAS, 2011).
3.4 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA:
A frutificação ocorre a partir de novembro, atingindo a maturação dos frutos de novembro
a janeiro (JOLY, 1966; LEGRAND & KLEIN, 1977; LORENZI, 2002). A quantidade produzida depende
do tamanho da planta. Não existem dados sobre a produtividade, visto não terem sido encontrados
relatos de plantações comerciais de guabiroba (CARRARA; CARRARA, 1997).
Os frutos são do tipo baga glabra, de formato redondo de 1 a 2 cm de diâmetro. Apresentam
cor verde quando jovens e amarelo-alaranjado quando maduros (Figura 1C).
3.7 ARMAZENAMENTO
Apresentam comportamento recalcitrante, tornando-se inviáveis após 30 dias de
armazenamento (CARVALHO, 2006).
Após a colheita das sementes, estas devem permanecer viáveis por apenas 15 dias, pois
trata-se de sementes recalcitrantes (BORDIGNON, 2000; SIMÃO et al., 2007).
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO:
A semeadura é feita em sementeiras, utilizando-se cobertura leve ou semeando-
se duas sementes em sacos de polietileno, com dimensões mínimas de 20 cm de altura e
7 cm de diâmetro ou em tubetes de polipropileno de tamanho médio. Quando necessária,
a repicagem deve ser feita em embalagens individuais, quando as mudas atingirem de 3
a 5 cm de altura (CARVALHO, 2006). As sementes de guabiroba têm germinação hipógea,
com emergência de 30 a 60 dias após a semeadura e não necessitam de tratamentos
pré-germinativos (CARVALHO, 2006).
134
Em testes de germinação de guabiroba, cujas sementes foram mantidas em germinadores
sob luz constante, avaliando-se três temperaturas (20°C, 25°C e 30°C) e três substratos (papel mata-
borrão, areia e vermiculita), TELEGINSKI (2016) observou que a média de todos os tratamentos foi
boa (81,4% de germinação), e os substratos areia e vermiculita foram os mais eficientes para o
índice de velocidade e tempo médio de germinação. A temperatura de 30°C foi mais eficiente,
sendo a recomendada para germinação de sementes de C. xanthocarpa.
135
4.2. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA
Para a propagação assexuada da guabiroba, poucos estudos relatam sucesso no
enraizamento. Em experimento com diferentes tipos de estacas realizado por TELEGINSKI (2016),
foram confeccionadas estacas a partir de material oriundo de brotações epicórmicas produzidas
por decepa da copa de plantas matrizes selecionadas (Figura 2A), brotações epicórmicas oriundas
de anelamento do caule, brotações epicórmicas oriundas de fragmentos de tronco mantidos em
casa de vegetação (Figura 3), envergamento (Figura 2E) e poda, além da coleta de brotações de
copa nas quatro estações do ano.
Silvicultura Tropical
136
As estacas foram confeccionadas com 12 cm de comprimento e sem folhas na porção apical,
corte em bisel na base e reto no ápice, desinfestação com hipoclorito de sódio a 0,5% por 5 minutos,
sendo em seguida suas bases submetidas aos tratamentos com diferentes concentrações de ácido indol
butírico (IBA), sendo 0; 500; 1000 e 2000 mg L-1, por 10 segundos de imersão de suas bases, em solução
50% hidroalcoólica. O plantio se deu em tubetes de polipropileno com capacidade de 100 cm3 com
substrato comercial à base de casca e serragem de Pinus, cinza, cama de aves, fibra de papel recuperada,
vermiculita expandida, carvão vegetal e fibra de coco. Após 120 dias em casa de vegetação climatizada,
observou-se mortalidade de 100% do material coletado das brotações de copa nas quatro estações do
ano. Brotações epicórmicas oriundas de decepa apresentaram 25,5% de enraizamento e de fragmentos
de tronco/inverno 44,4%, independente do uso de IBA. Para o material coletado a partir das brotações
de poda, o enraizamento e a formação de calos foram nulos (Figura 4).
137
Com relação à técnica de alporquia, esta foi realizada em dez matrizes de guabiroba, nas
quais, para confecção dos alporques foram utilizados ramos jovens, dos quais foi retirado um anel
de casca de aproximadamente 2,0 cm de largura com o auxílio de um estilete (TELEGINSKI, 2016).
Em cada ferimento foram adicionadas diferentes concentrações de IBA (0, 500, 1000 e 2000 mg K-1)
veiculadas em pasta de vaselina, onde cada concentração compôs um tratamento. Em seguida, a
região foi envolvida com substrato vermiculita e plástico transparente. Após um ano da confecção dos
alporques, observou-se que a técnica de alporquia em C. xanthocarpa, utilizando o regulador vegetal
IBA não foi eficiente, pois não promoveu o enraizamento dos ramos (Figura 5).
Silvicultura Tropical
Visto se tratar de uma espécie arbórea e nativa, muitos estudos ainda necessitam ser realiza-
dos, visando sanar uma série de lacunas ainda abertas, principalmente no que tange a uma forma de
rejuvenescimento bem sucedida, a qual forneça propágulos juvenis com alto índice rizogênico.
4.3 MANEJO
As técnicas de propagação vegetativa vêm sendo utilizadas como auxílio e superação das
dificuldades na propagação de espécies nativas, permitindo que as plantas sejam propagadas
independentemente de estarem ou não em sua fase reprodutiva. Algumas técnicas utilizadas por
Teleginski (2016) para Campomanesia xanthocarpa são estaquia de brotações do ano com a aplicação de
138
ácido indol butírico (IBA), estaquia de brotações epicórmicas obtidas por anelamento, decepa de tronco,
brotações de poda e envergamento, além da técnica de alporquia e testes de germinação de sementes.
139
7. MANEJO PARA PRODUÇÃO
7.1. TÉCNICAS DE CULTIVO E COLHEITA DA PRODUÇÃO
Por ser uma árvore recomendada para plantios consorciados, compondo sistemas
agroflorestais, as podas de limpeza da guabirobeira são recomendadas para facilitar a colheita,
eliminar galhos pouco promissores, arejar a copa e formar uma arquitetura vegetal adequada ao
manejo de produção proposto (LISBOA et al., 2011).
8. PATOLOGIA FLORESTAL
8.1 DOENÇAS E PRAGAS
A cultura de Campomanesia xanthocarpa é atacada por alguns insetos-praga, que deteri-
oram o fruto ou ocasionam danos diretos na planta, prejudicando direta ou indiretamente a pro-
dução. Neosilba pradoi sp. nov. (Diptera: Lonchaeidae) foi relatada em frutos de guabiroba no sul
do Brasil (Rio Grande do Sul e Santa Catarina), no sudeste (Estado de São Paulo) e na região cen-
Silvicultura Tropical
tro-oeste (Estado do Mato Grosso do Sul) (STRIKIS & LERENA, 2009). Também como praga de frutos
destacam-se as moscas-das-frutas Ceratitis capitata, Anastrepha fraterculus e Anastrepha obliqua
(Diptera: Tephritidae), sendo a mais frequente Anastrepha fraterculus (FRANZON & RASEIRA, 2004;
MALDANER, 2011).
Nas fruteiras nativas, besouros desfolhadores são destacados como potenciais pragas e
causadores de inúmeros danos, conforme já observado por Sá (2012). Este autor verificou a pre-
sença do besouro Costalimaita ferruginea Fabricius 1801 (Coleoptera: Crysomelidae) em goiabeira
Psidium guajava (Myrtaceae), na qual este torna a folha rendilhada após promover inúmeras per-
furações durante sua alimentação, reduzindo a capacidade fotossintética e a produção da planta.
Entretanto, para guabiroba (C. xanthocarpa) ainda não havia relatos da ocorrência de besouros
desfolhadores (crisomelídeos).
Luckmann et al. (2015) identificaram Paraulaca dives sendo o primeiro registro deste
inseto danificando guabiroba no estado do Paraná e no Brasil. O besouro Paraulaca dives mede
10 mm de comprimento, apresenta coloração verde metálica brilhante nos élitros, azul escuro
metálico no protórax e pernas marrom-clara (Figura 1E). As folhas consumidas apresentaram
perfurações rendilhadas no centro do limbo foliar, bem como nas extremidades, com redução da
capacidade fotossintética da planta, o que pode comprometer o desenvolvimento vegetativo e/
ou a produção de frutos. Verificou-se que os danos ocorrem em todas as folhas, sem preferência
entre folhas jovens ou senescentes.
140
9. REFERÊNCIAS
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Sul, 1967, 41p. (Bol. n. 42).
145
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)
Eduardo Ciriello
Engenheiro agronomo, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências
Agronômicas, UNESP Botucatu. Atualmente é sócio e Diretor da empresa Futuro Florestal,
especialista em plantio de madeiras nobres.
Valeria Ciriello
Engenheira agronoma, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências
Agronômicas, UNESP Botucatu. Atualmente é sócia e Diretora da empresa Futuro
Florestal, especialista em plantio de madeiras nobres.
146
1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA
O Jequitibá rosa ocorre preferencialmente nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, tanto na floresta pluvial atlântica como na
semidecídua de altitude e da bacia do Paraná (Lorenzi 2014).
1.6 PORTE
A espécie pode atingir de 30 a 50 m de altura e 70 a 100 cm de diâmetro (Lorenzi
1992). Sebbenn et al. (2009) encontraram, aos 26 anos de idade, altura média de 15,3 m e
DAP de 16,1 cm.
2. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS
É uma das maiores árvores do Brasil extra-amazônico. Possui tronco ereto e cilíndrico,
revestido por casca pardacenta e fissurada. Folhas elípticas a oval-elípticas, membranáceas,
glabras, sem estípulas, de 4-8 cm de comprimento por 2,0-4,0 cm de largura. Flores pequenas,
cremes, dispostas em panículas axilares e apicais. A espécie apresenta sistema reprodutivo
147
misto com predominância a alogamia (Sebbenn et al. 2000; Tambarussi et al. 2017) e polinizada
por abelhas e sua dispersão de pólen pode atingir até 922 m de distância (Tambarussi et al.
2015) (Lorenzi 2014). Os frutos são tipo pixídio alongado e cilíndricos, com biometria média de
5,6 cm de comprimento, 2,37 cm de largura, 2,39 cm de espessura e massa de 331,8g. Cada
fruto pode apresentar de 8 a 16 sementes. As sementes são estenospérmicas, semicirculares ou
triangulares com tegumentos rígidos e presença de alas (Ribeiro et al. 2015).
O hipocótilo mede cerca de 5,0 cm de comprimento, entumecido na base, castanho,
com estrias castanho-escuras. Cotilédones opostos, foliáceos, persistentes ou não, verdes ou
amarelados, superfície lisa, brilhante, curtamente peciolados. Epicótilo curto, com cerca de
2,0 cm de comprimento, cilíndrico, reto. Protófilos simples, opostos, com 4,5 cm a 7,8 cm de
comprimento e 2,6 cm a 3,2 cm de largura, subcilíndrica, pecioladas (pecíolo com 1,0 cm a 1,9
cm de comprimento). Caule arroxeado próximo à base cilíndrica, a partir do segundo ou terceiro
par de folhas. Gemas axilares diminutas (Rêgoe & Possamai 2001).
O sistema radicular apresenta raiz primária axial, cilíndrica, reta, com 15,0 cm a 20,3 cm
Silvicultura Tropical
3. CARACTERÍSTICAS SILVICULTURAIS
Jequitibá rosa é uma espécie semi heliófila, que tolera sombreamento durante os pri-
meiros anos, não é tolerante a baixas temperaturas quando jovem. Apresenta crescimento mo-
nopodial com boa forma de fuste, independentemente do espaçamento. Apresenta boa desra-
ma natural, com galhos finos na sua maioria e boa cicatrização. Pode ser plantado a pleno sol,
em plantio puro ou em plantio misto, observando-se nos plantios desuniformidade de cresci-
mento entre os exemplares, e em vegetação matricial arbórea, em faixas abertas em vegetação
secundária e plantio em linhas. Brota da touça após corte, podendo ser manejado por talhadia
(Carvalho 1994).
No município de Garça, SP na Tropical Flora Reflorestadora foi plantado em sistemas puros,
mistos e agroflorestais, onde se mostrou ser uma espécie bem adaptável aos diversos modelos de
plantio. Seu crescimento inicial se mostrou um pouco lento e exigente nos 3 primeiros anos, fato
que melhorou conforme a espécie se tornou adulta.
148
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)
Figura 1: Características de árvores de Jequitibá Rosa (Cariniana legalis) em cidades localizadas
no interior de SP. (Fotos: Rodrigo Ciriello)
149
Em função destas características, a madeira é muito utilizada em obras internas da construção
civil, como assoalhos e esquadrias, para contraplacados, folhas faqueadas, móveis, na confecção de
brinquedos, compensados, salto de calçados, lápis, cabo de vassouras, etc. O tanino de sua casca é
empregado no curtimento de couros, e sua casca também tem grande poder desinfetante, sendo
por isso usada na medicina popular, contra as afecções da boca, inflamação da garganta e das
mucosas, amigdalites, anginas e faringites, fazendo-se gargarejos com o chá quente. Produz lenha
de má qualidade.
Figura 2: Madeira
Silvicultura Tropical
de jequitibá rosa
(Foto: Valeria
Ciriello) e cachaça
armazenada em
tonel de Jequitibá
rosa (site Terra
vermelha).
As flores de jequitibá rosa são melíferas. O fruto vazio dessa espécie é usado na Região
Sudeste como cachimbo rústico (“pito”). A exuberância de seu porte proporciona grande efeito
ornamental sendo muito usada no paisagismo de parques, praças públicas e jardins. Esta árvore
é tão monumental e admirada que emprestou seu nome a cidades, ruas, palácios, parques, etc.
Como planta tolerante à luz direta, é excelente para plantios mistos com fins preservacionistas. Os
frutos e as sementes servem de alimento para muitos animais. Os macacos prego (Cebus apella
nigritus) são os principais responsáveis pela liberação das sementes. Na restauração de mata ciliar,
a espécie é indicada para locais livres de inundação (Carvalho 1994, Lorenzi 2014).
5. TECNOLOGIA DE SEMENTES
5.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
A semente é do tipo obovado, plano-convexo; extremidade micropilar aguda; provida de
fina asa unilateral papirácea, com expansão da testa de comprimento variável na região da rafe e
150
pré rafe, contendo feixe funicular; micrópila situada na extremidade aguda do núcleo seminífero
e hilo pequeno, lateral, localizado no terço final do dorso da asa; chalaza marrom-escura localizada
no ápice da semente. A superfície da semente é rugosa, opaca, de coloração marrom-clara, com es-
trias longitudinais. Mede em média 24,6 mm (variando de 21,5 mm a 28,3 mm) de comprimento
e largura média de 8,0 mm (variando de 5 mm a 11,2 mm) (Rêgo & Possamai 2001, Frigieri et al.
2016). Embrião axial longo, constando do eixo hipocótilo-radícula, com cotilédones amarelo-claros
e foliáceos, imbricados, finos, amplamente expandidos, plicados, formando pregas bastante acen-
tuadas (Rêgo & Possamai 2001). Um kg pode conter aproximadamente 22.470 a 27.155 sementes
(Lorenzi 2014, Frigieri et al. 2016).
151
5.5 QUEBRA DE DORMÊNCIA
As sementes de jequitibá rosa não possuem dormência (Frigieri et al. 2016). Em condições de
laboratório, Rêgo & Possamai (2004) sugerem o uso de vermiculita como substrato, e temperaturas
de 20°C a 30°C para atingir 97% de germinação.
5.6 ARMAZENAMENTO
Não é recomendável o armazenamento das sementes de jequitibá rosa, visto que as mesmas
perdem a viabilidade com pouco de tempo de colhidas. No entanto, Abreu (2009) observou que o
jequitibá rosa apresenta comportamento de semente ortodoxa em duas formas de armazenamen-
to. Adicionalmente, foi constatado que o teor de água mais adequado para o armazenamento das
sementes no freezer (-20°C) e no nitrogênio líquido foi de 3,7%, no qual apresentou 80% e 84% de
porcentagem de germinação, respectivamente, em 360 dias de armazenamento.
Silvicultura Tropical
6. PRODUÇÃO DE MUDAS
6.1 MÉTODO DE PRODUÇÃO DE MUDAS - VIA SEMINAL
No viveiro Futuro Florestal as sementes são colocadas para germinar em canteiros de areia
e após 15 a 20 dias, quando estão com o primeiro par de folhas, são transplantadas em tubetes de
200 a 290ml chamados de tubetão. As mudas são colocadas em viveiro de 50% de sombreamento
e mantidos assim até estarem com o mínimo de 20 cm de altura. O tempo de sombra depende
diretamente da época do ano, no verão entre 60 a 80 dias e no inverno entre 80 a 120 dias. Após
esse período devem ser colocados em viveiros a pleno sol onde ficam mais 60 a 120 dias para
terminar o seu desenvolvimento e rustificação. Após rustificação, o jequitibá rosa pode ser plan-
tado no campo em pleno sol ou em áreas com sombreamento inicial. Com um quilo de sementes
é possível produzir em média 12 mil mudas, sendo que as sementes têm que ser recém colhidas
para ter uma boa germinação (Ciriello, Valeria dados não publicados).
Como a maioria das espécies nativas, o jequitibá rosa não possui um protocolo padrão de
propagação vegetativa para produção de mudas em larga escala. Hernandez et al. (2013) observaram
que estacas apicais (15 cm de tamanho e com dois pares de folhas reduzidas à metade de seu ta-
manho original) são mais promissoras para o enraizamento e sobrevivência, e que a adição de ácido
indolbutírico (AIB) não apresentou influência significativa na sua propagação.
A micropropagação propicia a confecção de mudas com boa qualidade sanitária, em escala
comercial. Como esta técnica não existe protocolo específico para o jequitibá rosa, Aragão et al. (2017)
152
sugerem o uso do meio de cultura Murashige e Skoog (MS), com explantes oriundos de segmentos
nodais cotiledonares (75% de enraizamento).
153
jequitibá rosa, obtendo-se 45% de taxa de sobrevivência dos enxertos aos 90 dias de idade, em que foram
usadas mudas propagadas por sementes, com seis meses de idade, como porta-enxerto, e propágulos
coletados da árvore matriz de interesse como enxertos. Hernandez (2013 apud Santos 2002), destaca
que aplicando a técnica de mini estaquia, foi observado que a utilização dos reguladores de crescimento
AIB e ANA influenciam de forma considerável no enraizamento das mini estacas de jequitibá rosa, com
obtenção de 60% de enraizamento, quando foi aplicado o ANA, com uma concentração de 4.000 mg L-1,
enquanto com o AIB, o enraizamento das mini estacas, de modo geral, foi de 47,9%.
Silvicultura Tropical
154
7. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
O conhecimento da variabilidade genética em uma população é a base para se iniciar um
programa de melhoramento de uma espécie. Por isso, é de fundamental importância estudos, a
partir de estimativa de parâmetros genéticos, que descrevam os níveis de variação genética entre
progênies, a magnitude do controle genético dos caracteres e os ganhos esperados com a seleção
(Sebbenn et al. 1994, Freitas et al. 2006). Neste contexto, estudos sobre as características genéticas
de populações são essenciais para traçar a estratégia mais eficaz na seleção. Os caracteres quanti-
tativos determinam quais estratégias de seleção são mais adequadas em genótipos superiores e
estender o conhecimento sobre a estrutura genética de populações (Silva et al. 2012).
Sebbenn et al. (2009) estudaram um teste de procedências e progênies de jequitibá
rosa, oriundas de polinização aberta coletadas em três populações naturais do Estado de São
Paulo. Aos 26 anos de idade o caráter DAP apresentou 5,35% de coeficiente de variação genética
8. SISTEMAS DE PLANTIO
Jequitibá rosa pode ser implantado em sistemas florestais puros ou mistos, bem como em
sistemas agroflorestais, sendo recomendado o plantio por mudas em sistemas mistos para melhor
formação do fuste (Campos Filho & Sartorelli 2015). Para plantios florestais puros ou mistos recomen-
155
da-se plantio adensado de 3 x 2 m com 1666 plantas/ha, 3 x 2,5 m com 1333 plantas/ha ou 3 x 3
m com 1111 plantas/ha. No entanto, Oliveira et al. (2018) avaliaram árvores com 38 anos de idade,
em três tipos de espaçamento (3 x 1,5 m; 3 x 2 m e 3 x 2,5 m) e observaram que o uso do espaça-
mento mais estreito apresentou maior volume (648,55 m3. árvore-1), porém o maior espaçamento
propiciou maior densidade de madeira (0,799 g.cm-3), podendo produzir até 17 m3. ha-1ano-1.
Em Garça, SP foram feitos plantios puros adensados (foto 5B) bem como plantios mistos
(foto 5 A e 6B ) consorciando a espécie com outras de ritmo de crescimento compatível para evitar
competição e supressão de seu crescimento, como louro pardo (Cordia trichotoma), ipê felpudo
(Zeyheria tuberculosa), guanandi (Calophyllum brasiliense), entre outras.
Silvicultura Tropical
Figura 5: A) Sistema florestal misto com as espécies jequitibá rosa (Cariniana legalis), ipê felpudo
(Zeyheria tuberculosa), Saguaragi (Colubrina gladulosa) e Louro pardo (Cordia trichotoma). B) Plantio
florestal puro de Jequitibá rosa no espaçamento 3 x 2m, Tropical Flora Reflorestadora, Garça,SP.
(Fotos: Rodrigo Ciriello)
Em plantios agroflorestais (foto 6A) existem diversos modelos dependendo das culturas
a serem plantadas em conjunto com a espécie. O plantio da espécie com pupunha (Bactris gasi-
paes) em Garça, SP demonstrou que ela cria uma sombra um pouco demasiada para a pupunha,
portanto deve ser plantada em espaçamentos menos adensados, como 8 x 8 m para que não afete
negativamente a cultura da pupunha que é exigente em luz.
Santos (2018) observou melhor desenvolvimento em árvores de jequitibá rosa plantadas
em sistemas agroflorestais do que em sistemas apenas florestais puros ou mistos, segundo o autor
o espaçamento mais amplo pode ter sido um fator importante, porém destaca-se o também o fato
de que em sistemas agroflorestais existe um manejo melhor de adubação.
156
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze)
Figura 6: A) Plantio agroflorestal - Jequitibá rosa com pupunha B) Plantio florestal misto com 12
anos de idade, árvores de Jequitibá rosa com sementes, Tropical Flora Reflorestadora, Garça, SP.
(Fotos: Valeria Ciriello)
8.1 ADUBAÇÃO
Espécie exigente em relação a fertilidade do solo e tratos culturais, como adubação e
controle da matocompetição, principalmente nos 3 primeiros anos, sendo que se não for dada
condição adequada as mudas ficam amareladas e com crescimento muito lento.
Em plantios da empresa Tropical Flora (Garça, SP) não se notou diferença de desenvolvimento
entre o plantio puro ou misto, sendo que em ambos a espécie cresceu de forma semelhante. Em
sistemas agroflorestais com pupunha a espécie se desenvolveu de forma espetacular, porém
promoveu sombra excessiva para a cultura da palmeira, pela sua densa copa, o que gerou a
necessidade de uma poda mais radical para que a cultura se mantivesse no sistema de maneira
produtiva. Em locais próximos a cercas de gado se observou que os animais apreciam suas folhas
para alimentação, portanto em sistemas silvipastoris se faz necessário que a planta não tenha mais
folhas na altura dos animais para que não haja danos as árvores e isso ocorrerá aos 5 anos, com
manejo de poda das árvores.
157
a três anos. Em plantios diversos se observa que nos três primeiros anos é necessário ser rigoroso
no manejo nutricional, caso contrário a planta pode ficar amarelada e demorar em demasia para se
adaptar ao local, crescendo de forma lenta. Estudos complementares, que possam gerar conhecimento
a respeito do melhor manejo nutricional para a espécie, são necessários.
Silvicultura Tropical
Figura 7: A) Plantio de Jequitibá rosa realizado no Dia de Campo florestal na Unesp/Botucatu com
mudas doadas do Viveiro Futuro Florestal. B) Muda com 3 meses de idade em Garça, SP.
158
baixos. Devem ser feitas também correções de
bifurcações e ramos ladrões. As intervenções
devem ocorrer entre uma e duas vezes por
ano, durante os 6 primeiros anos, iniciando no
segundo ano após o plantio.
A cicatrização dos ramos podados
apresenta cicatrização efetiva após 6 a 12
meses dependendo da espessura do ramo
podado. As podas devem ser realizadas
com serrotes de poda florestal bem afiados
e constantemente limpos, com os cortes
realizados no ponto correto evitando
danificação do painel para favorecer uma
159
9. PATOLOGIA FLORESTAL
A praga principal que ocorre nos plantios
de jequitibá rosa, acompanhados pela empresa
Futuro Florestal, é a formiga cortadeira que deve
ser controlada em todas as fases de desenvolvi-
mento da mesma. Com relação às doenças, a
única vivenciada com a espécie até o momento
foi em mudas conforme foto 9. A doença ainda
não está com diagnóstico completo e existe a
suspeita do fungo Pestalotis sp, ainda faltando
confirmação. No campo não existem registros de Figura 9: Sintoma de ataque e fungos em mudas
doença para essa espécie até o momento. de Jequitibá Rosa. (Foto: Valeria Ciriello)
Silvicultura Tropical
160
11. REFERÊNCIAS
Abreu, D.C.A. 2009. Bases fisiológicas para a conservação a longo prazo de sementes de Cariniana
legalis (Mart.) O. Kuntze. Tese (doutorado), Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
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162
Souza Junior, C.N. & Brancalion, P.H.S.
2016. Sementes e mudas: guia
para propagação de árvores
brasileiras. São Paulo: Oficina de
Textos.
163
Colletia paradoxa (Spreng.) Escal.
(RHAMNACEAE)
Elivelton Marcos Gurski
Engenheiro Florestal, graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Mestrando em Conservação da Natureza pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Atualmente Diretor Técnico da Sociedade Chauá, atuando em trabalhos e
pesquisas na área de conservação da natureza e silvicultura de nativas da Floresta
com Araucária.
Jeniffer Grabias
Bióloga, graduação Bacharel em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário
Autônomo do Brasil (Unibrasil). Mestre em Engenharia Florestal pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Atua como consultora em conservação da natureza na
Sociedade Chauá.
Marília Borgo
Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, Mestrado em Botânica e Doutorado em
Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é
especialista em Serviços Ambientais da The Nature Conservancy, trabalhando com
desenvolvimento e implementação de projetos florestais de carbono e suporte a
estratégias de pagamento por serviços ambientais.
164
1. BOTÂNICA
1.1 Distribuição
Nativa no Brasil, Uruguai e Argentina (Paz & Bassagoda 1999). No Brasil está presente
nos biomas Mata Atlântica e Pampa, nas tipologias vegetacionais de Estepes (campos naturais),
Floresta Estacional Semidecidual (Lima et al. 2020, Rambo 1951, Johnston & Soares 1972) e
165
coloração pardo acinzentada com fissuras superficiais (DAnbrogio & Medan 1993).
• Copa: crescimento horizontal de 1,5 a 4 m (Heuser 2011).
• Folhas: pequenas, opostas, pediceladas, com coloração verde clara, apenas
ocorrendo em ramos jovens; trinérveas ou peninérveas e de pilosidade inexistente;
limbo elíptico a ovalado, de margem serreada, medindo de 3,5 a 17,5 mm de
comprimento e 1,8 a 8,5 mm de largura; pecíolos de 0,5 a 2,5 mm de comprimento;
estípulas de até 3 mm de comprimento, pareadas, triangulares, de cor marrom
e pilosas (Heuser 2011). Os espinhos desempenham a função da fotossíntese
quando não há folhas (Santos 2008).
• Senescência foliar: caducifólia (Heuser 2011).
• Flores: urceolada, com 5 estames; anteras pretas com odor agradável (Heuser
2011); hermafrodita, de 6 a 10 mm de comprimento e de 3,5 a 5 mm de largura,
de cor branca, ocorrendo em grande quantidade; perfeita, incompleta e de simetria
radial; fascículos de até 10 flores, situados na axila dos ramos; pedicelos de 2 a
Silvicultura Tropical
166
A B
Figura 1:
Floração (a), frutos
3. Tecnologia de sementes
3.1 Fenologia
A espécie leva de 2 a 3 anos para atingir a idade reprodutiva e iniciar a produção de flores
e frutos. Sua floração é abundante, como observado em alguns indivíduos no ambiente natural em
Palmas, PR (Figura 2).
167
Figura 2:
Acompanhamento
fenológico de
indivíduo de Colletia
paradoxa em
remanescente florestal
em Palmas, PR.
3.1.1 Floração
Silvicultura Tropical
O pico da floração é o mês de março, estendendo-se até abril, com florações ocorrendo
fora deste período de janeiro a outubro (DAnbrogio & Medan 1993). Na época da floração,
a espécie é muito visitada por abelhas e pequenos insetos, que atuam como agentes de
polinização (DAnbrogio & Medan 1993). Em indivíduos introduzidos na região de Campo Largo,
PR, verificou-se de uma a duas florações por ano.
168
Tabela 1: Características biométricas dos frutos de Colletia paradoxa.
Número de Massa de
Comprimento Espessura
Largura (mm) Massa (g) sementes por sementes por
(mm) (mm)
fruto fruto (g)
Média 4,41 4,83 4,24 4,48 2,81 0,04
Desvio padrão 0,87 0,90 0,75 0,80 0,47 0,02
CV 19,75 18,66 17,82 17,78 16,62 56,33
CV: Coeficiente de variação (%).
169
Silvicultura Tropical
Figura 3: Germinação de Colletia paradoxa, de sementes provenientes de frutos com coloração distinta, conduzida
em diferentes substratos e temperaturas. Barras verticais representam intervalos de confiança de 95%. IVG: índice
de velocidade de germinação; Z: sincronia da germinação; TMG: tempo médio de germinação. Tratamentos: T1 -
sementes de frutos marrons, substrato papel, a 20°C; T2 - sementes de frutos marrons, substrato vermiculita, a 20°C; T3
- sementes de frutos marrons escarificadas mecanicamente, substrato papel, a 20°C; T4 - sementes de frutos marrons,
substrato papel, a 25°C; T5 - sementes de frutos marrons, substrato vermiculita, a 25°C; T6 - sementes de frutos marrons,
escarificadas mecanicamente, substrato papel, a 25 °C; T7 - sementes de frutos verdes, substrato papel, a 25°C; T8 -
sementes de frutos verdes, substrato papel, a 20°C.
Dessa forma, após a coleta, recomenda-se separar os frutos em duas categorias, de acordo com a
coloração: marrom e esverdeada, pois sementes provindas dos frutos esverdeados germinaram melhor
e em menor tempo do que as de frutos de coloração marrom. Após essa separação é recomendada a
secagem dos frutos em ambiente de laboratório por cerca de 5 dias. Quando os frutos estiverem secos
o suficiente, deve-se realizar o beneficiamento pressionando-os até que abram, mas com cuidado para
que as sementes não sejam danificadas. A retirada das impurezas pode ser feita com auxílio de peneiras.
170
3.5 Armazenamento
As sementes da C. paradoxa são ortodoxas, tolerando secagem a baixos níveis de
umidade até 5% e temperaturas até -18°C (Johnston & Soares 1972). Para o armazenamento,
é necessária a diminuição do teor de umidade das sementes, podendo ser armazenadas em
embalagem plástica em geladeira comum.
4. Produção de mudas
4.1 Método de semeadura, estaquia e produção
A primeira etapa da produção de mudas de C. paradoxa é a seleção das sementes, sendo
preferível as imaturas. Posteriormente, é indicada a realização da semeadura em bandejas sementeiras,
171
É possível realizar a propagação vegetativa da espécie por meio de estaquia. Para isso,
devem ser retiradas da planta-mãe estacas semi-lenhosas ou lenhosas, de aproximadamente 10
cm. As estacas podem ser fixadas, em uma profundidade próxima de 3 cm, em bandejas com
substrato poroso, composto por aproximadamente 67% de terra preta e 33% de vermiculita, ou
diretamente em embalagens plásticas de 14 x 20 cm, em que é indicada a utilização de terra preta,
composto orgânico e areia na proporção de 4:2:1. Observou-se um enraizamento lento.
4.2 Manejo
O melhor método para sua propagação é a semeadura em bandejas sementeiras, seguida
de repicagem para embalagens de aproximadamente 0,5 L e, posteriormente, de 10 L ,ou ainda,
plantadas diretamente no solo.
Indica-se que haja uma boa drenagem e que as irrigações sejam periódicas, devendo as
sementeiras permanecerem em local arejado à meia sombra.
C. paradoxa se mostra versátil, sendo tolerante a geadas e temperaturas de até -10°C
Silvicultura Tropical
(Burncoose 2018) e suportando estiagem e calor intenso (Rolston 1978). Em Campo Largo,
verificou-se bom crescimento e desenvolvimento, mesmo em solo pouco drenado.
5.2 Espaçamento
Considerando que a espécie tem um crescimento horizontal com copa irregular, o
espaçamento mínimo indicado para plantio de produção é de pelo menos 2 m entre plantas. Plantas
172
de aproximadamente 60 cm de altura devem ser cultivadas em vasos de no mínimo de 10 L para que
seu sistema radicular não seja prejudicado, tampouco seu desenvolvimento geral comprometido.
6. Potencial produtivo
No Brasil, a espécie é de importância pouco notável, levando em conta suas
características e beleza única (Souza & Lorenzi 2005). É muito utilizada na Europa como planta
ornamental em jardins, praças e em locais com circulação restrita de pessoas, por possuir
espinhos (Burncoose 2018).
Nos Estados Unidos, mudas com tamanho entre 12 e 18 cm de altura, são vendidas por
cerca de $ 50,00 (Trionursery 2018). Em viveiros na Inglaterra, a planta com o mesmo porte ou
7. Patologia florestal
7.1 Doenças e pragas
Não foram identificadas doenças que afetam o desenvolvimento da planta.
8. Outras Informações
A espécie é rara na natureza, ocorrendo em pequenas populações e com distribuição
discreta. Esforços para a manutenção das populações naturais devem ser desenvolvidos para
a conservação de C. paradoxa, juntamente com ações relacionadas à produção comercial. A
grande ameaça para a espécie é a conversão de suas áreas de ocorrência natural em pastagens,
agricultura e reflorestamentos.
A Sociedade Chauá desenvolve, desde 2011, o projeto de Conservação de Espécies
Raras e Ameaçadas da Floresta com Araucária, e Colletia paradoxa é uma das espécies alvo
desta iniciativa. Por meio desse projeto, cadastrou-se 12 matrizes, para as quais se tem
acompanhamento fenológico e coleta de sementes, para fins de pesquisa, produção e plantios
de reintrodução da espécie na natureza.
173
9. Referências
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gêneros Discaria Hooker e Colletia Com. ex. Juss. Pesquisas Botânicas (49): 121-142.
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Consema. Conselho Estadual Do Meio Ambiente. 2002. Decreto estadual nº 42.099, de 31-
XII-2002. Declara as espécies da flora nativa ameaçadas de extinção no estado do Rio
Grande do Sul e de outras providências, Palácio Piratini, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
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Disponível em https://www.sociedadechaua.org/edicao-atual (acesso em 15-V-2020).
Souza, V.C. & Lorenzi, H.2005. Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação
das famílias de Angiospermas da flora brasileira, baseado em APG II. 1 ed. Instituto
Plantarum: Nova Odessa.
175
Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud
Valeria Ciriello
Engenheira agronoma, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP Botucatu.
Atualmente é sócia e Diretora da empresa Futuro Florestal, especialista em plantio de madeiras nobres.
especialista em Produção e Tecnologia de Sementes pela Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS),
mestrado em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura Luis de Queiróz da Universidade de São Paulo
(ESALQ – USP), Doutorado em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e Pós Doutorado na
Universidade de Missouri (UMSL) e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Rio Douro (UTAD) em Ecologia Aplicada.
Professora Titular - Full Professor – UFSCAR- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - CAMPUS SOROCABA -
Departamento de Ciências Ambientais – SP.
Eduardo Ciriello
Engenheiro agronomo, mestre em Ciência florestal, ambos pela Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP Botucatu.
Atualmente é sócio e Diretor da empresa Futuro Florestal, especialista em plantio de madeiras nobres.
176
1. BOTÂNICA
Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud é uma espécie arbórea caducifólia, de
ocorrência natural na América Latina, nas áreas tropicais e subtropicais do Brasil, Argentina
e Paraguai e Bolívia. No Brasil ocorre nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste Sudeste e
Sul, em áreas sob domínio de Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa (Stapf, 2015) e na
Amazônia (Bezerra, 2005).
É conhecida popularmente como louro-pardo, ipê-louro, louro-amargoso, frei-
177
Figura 1: Fuste de Cordia
trichotoma (Vell.) Arrab. Ex
Steud., aos 28 anos após o
plantio, na FLOE José Zago,
Trajano de Moraes, RJ. Foto:
Angêlo Roberto Zago.
Silvicultura Tropical
178
As folhas são simples,
alternas, espiraladas, subcoriáceas,
com ápice acuminado. O pecíolo
é cilíndrico, delgado, piloso e
esbranquiçado (Lopes, 2020). Há
grande variação entre suas folhas,
havendo formas glabras e pilosas
(Freitas et al, 2006), com diferenças
também no tamanho e na tonalidade
(Figura 2). Possuem ramos e folhas
com presença variável (de escasso a
179
O fruto é simples, seco, drupáceo,
cilíndrico, indeiscente e de coloração marrom.
É totalmente encerrado pelo tubo da corola e
pelo cálice persistente, encimado pela base
ampliada e estilete também persistente
(Figura 5). A persistência do cálice e da corola
marcescente, após o amadurecimento dos
frutos, auxilia na dispersão dos diásporos pelo
vento (Souza 2008; Felippe et al. 2012).
Figura 5: Frutos de Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. As sementes de louro pardo apresen-
Ex Steud. Foto: Deborah G. Barroso
tam formato cilíndrico, elipsoidal e ficam pre-
sas à parede do fruto pela base do estigma
(Figura 6), sendo dispersa a longas distâncias
(Felippi et al. 2012). Embora as sementes
Silvicultura Tropical
180
regular na operação de aplainamento, sendo fácil de trabalhar, com bom lixamento e corte lateral
por fresa (Rolim et al. 2018). É adequada também para confecção de peças envergadas, indicada na
confecção de móveis de luxo, revestimento decorativo, lâminas faqueadas, lambris, embarcações
leves, entre outros (Figura 7) (Cadermatori et al., 2009). Entretanto, apresenta comportamento
ruim em furações por brocas helicoidais e broca chata, podendo gerar arrancamento de fibras e
pequenos cavacos.
181
2.2. Produtos não madeireiros
As espécies do gênero Cordia são amplamente estudadas em relação aspectos etnobotânic-
os e etnofarmacológicos, com importantes dados compilados na revisão de Matias et al. (2015), que
descreve a aplicação de compostos extraídos do cerne de C. trichotoma para fins antiinflamatórios,
cicatrizantes, anti-helmínticos, antimaláricos e diuréticos e no tratamento de doenças pulmonares,
infecções urinárias e hanseníase.
Os usos tradicionais e farmacológico de espécies do gênero Cordia foram avaliados por Oza
e Kulkarni (2017) e os autores observaram oito diferentes sesquiterpenos e fenilpropanóide na
madeira de C. trichotoma. Os autores ainda destacaram que fenilpropanóides, em geral, apresen-
tam propriedades antilarvais contra o Aedes aegypti, embora o isolado encontrado na madeira de
C. trichotoma ainda não tenha sido testado.
O óleo essencial extraído da madeira tem como principais componentes o α-cadinol e o
α-muurolol. O α-cadinol apresenta atividades antifúngicas e anti-deterioração da madeira (Wille et
al., 2017), o que pode explicar sua boa resistência.
Silvicultura Tropical
Por sua florada abundante e farta visitação de abelhas (Bezerra, 2005), tem elevado poten-
cial melífero, importante na composição de sistemas agroflorestais, representando a possibilidade
de exploração madeireira e não madeireira.
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1. Produção de sementes
O louro pardo apresenta floração anual, e o número de sementes por Kg pode variar de 20.000
a 56.100 unidades (Castiglioni, 1975; Lorenzi, 2002; Mendonça et al., 2001; Felippi et al., 2012; Souza
Junior e Brancalion, 2016), inciando a fase reprodutiva a partir do quinto ano após o plantio. Entretanto,
um dos problemas da espécie é o fato de não haver uma taxa de produção média anual, sendo esta
dependente das condições climáticas, hábito dos polinizadores, entre outros fatores (Zimmermann et al.
2017). As sementes da espécie, geralmente, são comercializadas com o cálice aderente.
3.2. Fenologia
O louro-pardo possui flores pequenas, brancas, perfumadas, com floração vistosa, que ocorre
em diferentes épocas, conforme as condições climáticas da região onde se encontra (Carvalho 2003a,
Palioto et al., 2007; Felippi et al., 2012; Vieira et al., 2013), demonstrando plasticidade fenotípica em
suas fenofases em função do meio.
182
No Rio Grande do Sul, o amadurecimento ocorre com os maiores índices pluviométricos.
Entretanto, o excesso de chuvas durante a floração prejudica o desenvolvimento inicial de frutos,
provocando queda dos botões florais (Felippi et al., 2012).
A antese de C. trichotoma ocorre por volta de 18:00h, em Rio Branco, AC, estendendo-se
por mais de vinte e quatro horas. Os atrativos florais incluem cor, forma, odor e inflorescências
terminais com grande quantidade de flores pequenas (Bezerra, 2005).
O polinizador efetivo da espécies observado no Acre, é a Ornidia obesa Fabricius, uma mos-
ca que é atraída pelo odor desagradável das flores após a antese, semelhante a matéria orgânica
no início de decomposição. Entretanto, o sistema de polinização é generalista, pois no início da
antese as flores apresentam odor adocicado, atraindo também Lepdopteros (mariposa e borboleta)
e Himenopteros (vespa e abelha). As abelhas (Tetragonisca weyrauchi Schwarz e Tetragona sp.) e
3.2.1 Floração
Tabela 1: Época de floração de Cordia trichotoma, em diferentes Estados e Biomas brasileiros.
Meses do ano
UF Biomas
J F M A M J J A S O N D
Acre Amazônia
Bahia3 Caatinga
Rio Grande do Sul2 Mata Altântica
Paraná1 Mata Atlântica
1
Palioto et al., 2007;2Felippi et al., 2012; 3Vieira et al., 2013; 4Bezerra, 2005.
3.2.2. Frutificação
Tabela 2: Época de frutificação de Cordia trichotoma, em diferentes Estados e Biomas brasileiros.
Meses do ano
UF Biomas
J F M A M J J A S O N D
Acre Amazônia
Rio Grande do Sul2 Mata Altântica
Paraná1 Mata Atlântica
1
Palioto et al., 2007; Felippi et al., 2012.
2
183
Deve-se considerar que Toscan et al. (2017), analisando a produção de serapilheira e a chuva
de sementes em fragmento de Floresta Estacional Semidecidual do oeste do Paraná, com coletores
suspensos, observaram na fração de materiais reprodutivos da serapilheira, diásporos de Cordia Tri-
chotoma, em todos os meses, exceto dezembro e janeiro.
184
3.4 Armazenamento
O teor de umidade das sementes após a colheita é elevado, atingindo valores de 51,2
a 63,4%, com perianto (Felippi et al. 2012; Berghetti et al., 2015), e de 53,7%, com a retirada do
perianto (Berghetti et al., 2015), característica de sementes recalcitrantes. Entretanto, são tolerantes
à dissecação (<5% de umidade) e baixas temperaturas de armazenamento (-20 a 5oC), sendo
classificadas como ortodoxas (Galíndez et al., 2019).
As sementes maduras podem ser armazenadas por até quatro anos sem perda de viabilidade,
quando conservadas com teor de água reduzido (em torno de 8%) e em ambiente refrigerado (5°C),
pela redução da atividade fisiológica e bioquímica (Vaz et al. 2015).
A remoção do cálice floral e da corola marcescente favorece o armazenamento das sementes,
sendo eficazes para controle das pragas e melhoria da taxa de germinação. (Fleck et a. 2019)
Figura 9: Plântulas de Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud, com cotilédones foliáceos
expandidos, aos 21 dias após a semeadura. Fotos: Maria Kalyane Farias da Silva.
As sementes começam a germinar de 7 a 30 dias após a semeadura (Felippi et al. 2012; Da Ros
et al., 2015; Souza Junior e Brancalion, 2016; Galíndez et al. 2019), variando entre verão e inverno.
185
No viveiro da Futuro Florestal a repicagem é realizada quando as plântulas apresentam os
cotilédones abertos, com no máximo o primeiro par de folhas (Figura 10), com perdas pós repicagem
de no máximo de 15% (Valeria Ciriello, dados não publicados).
A semeadura ou repicagem devem ser realizadas em recipientes com volume de no mínimo 120
Silvicultura Tropical
cm3 (Malavasi e Malavasi, 2006). Os autores avaliaram as mudas produzidas em recipientes de diferentes
volumes (50 a 300 cm3) e observaram aos seis meses após o plantio em sítio com boa fertilidade, não havia
mais as diferenças biométricas apresentadas na expedição de mudas produzidas em recipientes com vol-
umes que variavam de 120 a 300 cm3. Deve-se considerar, entretanto, que o trabalho foi conduzido com
ciclo de produção das mudas de apenas três meses e que ciclos maiores devem ter recipientes compatíveis,
evitando restrição radicular, suberização das raízes e comprometimento do desempenho pós plantio.
Ciclo de produção de 3 a 4 meses resultam em mudas, com aproximadamente de 15 a 25 cm
de altura e diâmetros do colo maior que 2 mm (Souza Junior e Brancalion, 2016).
Figura 11: Mudas de louro pardo prontas para o plantio em tubetes (A) e embalagem rocambole (B), no Viveiro
Futuro Florestal – Garça, SP. Fotos: Valeria Ciriello.
186
No viveiro da Futuro Florestal, as mudas são mantidas à sombra nos primeiros 60 a 90 dias,
conforme condições climáticas e depois passam pela fase de rustificação por mais 60 a 90 dias. As
mudas são produzidas em tubetes de 200 cm3 e atingem 30 cm de altura em média neste tempo de
produção, conforme pode ser observado na Figura 11 (Valeria Ciriello, dados não publicados).
A escassez ou o excesso de água durante a fase de viveiro é prejudicial para as mudas e para a
otimização do processo produtivo. Para ciclos de seis meses, de mudas produzidas em recipientes de
110 cm3, Kelling et al. (2017) recomendaram aplicação de lâminas água de 4mm.dia-1 nos primeiros
60 dias e, em seguida, 8mm.dia-1 (até os 180 dias). Os autores sugerem ainda o uso de polímero
hidro retentor no substrato, entretanto, as lâminas de irrigação devem ser ajustadas, para garantir a
manutenção da disponibilidade de água, sem excessos e redução de oxigenação.
Mudas de louro pardo são responsivas à adubação dom P e K, sendo importante verificar a
187
É possível realizar a propagação vegetativa de louro-pardo por meio de estacas de raízes,
tendo sido testada a técnica a partir de raízes de matrizes com 3 anos de idade. O enraizamento é
influenciado positivamente pelo uso de AIB, com incrementos percentuais observados com o aumento
das concentrações até 30 mM, (maior concentração avaliada pelos autores), com imersão da base por 10
segundos. São indicadas estacas basais e medianas, de 3 a 5 cm (Kielse et al., 2013).
Embora materiais juvenis tenham maior habilidade de enraizamento, miniestacas de louro par-
do, provenientes de minicepas produzidas por estaquia de raízes de árvores com três anos (provenientes
de KIELSE et al., 2013) apresentaram maior percentual de enraizamento (38%), número e comprimento
de raízes que aquelas provenientes de minicepas produzidas por sementes (1,6%), o que atribuíram
ao fato de que as minicepas obtidas por miniestaquia radicular representam materiais genéticos com
capacidade de enraizamento adventício (Kielse et al., 2015).
Testes vêm sendo realizados no Setor de Silvicultura, da Universidade Estadual do Norte Flumin-
ense, visando à propagação vegetativa de indivíduos selecionados de C. trichotoma em teste de progênie
conduzido por pesquisadores da EMBRAPA Florestas, no âmbito do projeto Biomas, após sete anos do plan-
Silvicultura Tropical
tio no campo. O trabalho visa à produção de mudas a partir da indução de brotações em ramos da copa
(Figura 12). Os primeiros resultados indicaram que a espécie apresenta boa capacidade de brotação (Figura
13), porém com variação quantitativa entre as matrizes (Silva et al. 2019). O número de brotações varia de
1,18 a 5,49 brotações por dm2, mas as estacas confeccionadas a partir delas (Figura 14) apresentam percen-
tual de enraizamento inferior a 5%, o que justifica a continuidade das pesquisas para viabilizar esta forma
de multiplicação de materiais selecionados e a homogeneidade dos plantios comerciais (Silva et al. np).
Figura 12: Coleta de galhos em copa de Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud, aos 7 anos
após o plantio (A), e galhos seccionados, separados por matriz. Fotos: David Pessanha Siqueira.
188
Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud
Figura 13: Brotação em galhos de copa de de Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud, coletados
aos 7 anos após o plantio, dispostos em câmara de nebulização intermitente. Fotos: David
Pessanha Siqueira (A) e Maria Kalyane Farias da Silva (B).
Figura 14: Miniestacas produzidas a partir das brotações epicórmicas induzidas em galhos
de copa de de Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. Ex Steud (A) e muda com um ano após o
estaqueamento, com 40 cm de altura (B). Fotos: Maria Kalyane Farias da Silva.
189
5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
Por ser uma espécie alógama e apresentar grande variabilidade em diferentes características
fenotípicas, entre e dentro de populações, o louro-pardo apresenta grande potencial para
melhoramento genético da espécie, visando atender diferentes demandas.
Em teste com 22 progênies, instalado em Luiz Antônio-SP, provenientes de matrizes
localizadas em Bauru, Freitas et al. (2006) observaram aos 19 anos após o plantio variabilidade de
características herdáveis, indicando a importância da seleção dentro de progênies, com estimativa de
ganhos genéticos expressivos para DAP e volume, sem alteração no número de progênies, garantindo
assim a manutenção da base genética.
Em talhão puro de louro-pardo, na FLOE José Zago, em Trajano de Moraes, a avaliação aos 23
anos após o plantio também expressou alta variabilidade no crescimento da espécie, com valores de
DAP variando de 3 a 28 cm e altura estimada de 3,2-17,8 m (Barroso et al. 2018).
No plantio de louro-pardo em linhas, na composição de sistema silvipastoril, Radomski et al.
(2012) descreveram grande variação nas características de crescimento da espécie, que se acentuam
Silvicultura Tropical
190
Montagnini et al (1997) observaram alto percentual de sobrevivência da espécie em
diferentes áreas sob enriquecimento na província de Missiones, Argentina. Embora a espécie tenha
apresentado crescimento mais lento que outras 10 espécies nativas introduzidas em quatro sítios
de mata secundária. O enriquecimento foi feito em faixas, cuja disposição variou com o relevo da
área. As faixas foram abertas com 2 m de largura e espaçamentos que variaram de 8 a 25 m, sendo
plantadas mudas de mais de 60 cm de altura, a cada 5 m. Os autores destacaram o fato de que
a capina necessária para o estabelecimento inicial das mudas e manutenção do enriquecimento,
favoreceu também a regeneração natural, sendo identificadas 11 espécies de interesse econômico
nas linhas de C. trichotoma.
Por ser caducifólia e permitir a entrada periódica de luz na área, seu consorcio em sistemas
agroflorestais pode apresentar interações positivas com outras espécies, sendo necessários estudos
191
6.2. Espaçamento
Em um plantio homogêneo de C. trichotoma em espaçamento 3x3m, observou-se sobre-
vivência de 95.9% dos indivíduos aos 17 anos de idade. No mesmo plantio, avaliações biométricas
realizadas aos 21 anos revelaram em média, em média, 12 m de altura e 13 cm de DAP (Barro-
so et al. 2018), com alta variabilidade, anteriormente abordada (Item 5). O reduzido crescimento
diamétrico da espécie, indica a importância de testar plantios em espaçamentos maiores, associa-
do aos trabalhos de seleção e melhoramento. Destaca-se o fato que o plantio nunca recebeu tratos
culturais e silviculturais e foi realizado em área de pastagem degradada.
Práticas silviculturais como o desbaste seletivo ou o corte final da madeira de C. trichotoma
podem ser realizados, visando o incremento em altura e/ou diâmetro das árvores remanescentes.
O uso de espaçamentos maiores no plantio de materiais selecionados, podem também favorecer o
crescimento da espécie e retardar a necessidade de intervenções, entretanto.
6.3. Adubação
Silvicultura Tropical
192
Estas informações podem servir de base para nortear estudos sobre as demandas nutricionais
da espécie para fins de produção.
193
pequena, nos últimos 4 anos avaliados por Barroso et al. (2018), sendo importantes estudos de desbaste
para a cultura.
Em condições de plantios menos adensados, com maior incidência de luz, o louro-pardo pode
apresentar pequena ocorrência de galhos na parte mais baixa do fuste, o que não ocorre ou é menos
intenso em plantios adensados ou de enriquecimento (Radomski et al., 2012).
Considerando a importância econômica de sua madeira, a realização de desramas é impor-
tante para aumentar a qualidade da mesma, pela redução do núcleo nodoso. Em sistemas agroflor-
estais, essa prática deverá ser também realizada na copa, ao logo do crescimento da espécie, de forma
sincronizada com as demandas dos demais componentes do sistema. Entretanto, não há informações
sobre a época ideal para o início desta prática, intensidade e frequência ao longo do ciclo da cultura,
nos diferentes sistemas de cultivo.
Radomski et al. (2012) realizaram a poda de árvores de louro-pardo plantadas em linha, em
sistema silvipastoril, com sete e nove anos de idade, retirando 50% da copa, não havendo ainda infor-
mações de seu efeito sobre a qualidade da madeira.
Silvicultura Tropical
7. POTENCIAL PRODUTIVO
O louro pardo possui boa forma do fuste e madeira de ótima qualidade, além dos extrativos
que possuem excelente valor comercial. Entretanto ainda são poucas as informações sobre a con-
dução silvicultural da espécie e seu potencial de produção.
No plantio de C. trichotoma em linha, sob sistema silvipastoril, Radomski et al (2012) obti-
veram, aos 10 anos após o plantio, árvores com altura média de 9,6 m e diâmetro médio de 18,2
cm, com incremento médio anual de 1,82 cm.
Aos 17 anos após o plantio em sistema puro e consorciado, Santos et al. (2017) obtiveram
média de diâmetro de 12,8 cm para a espécie, entretanto, com variação de 4 a 26 cm, indicando
grande heterogeneidade dos plantios, o que destaca a necessidade de seleção de materiais para a
implantação de povoamentos produtivos.
Em arborização de ervais no Rio Grande do Sul, o louro-pardo se destacou entre as espécies
madeireiras inseridas, apresentando aos nove anos após o plantio realizado juntamente com a er-
va-mate, 75% dos indivíduos com DAP maior que 20cm e 15%, com DAP maior que 30 cm (Baggio
et al., 2011), crescimento superior aos trabalhos citados de plantios mais antigos.
Em teste de progênie com 19 anos Freitas et al (2006) obtiveram DAP médio das progênies
variando de 13 a 20,25 cm, altura de 10,5 a 14,9 m e volume estimado de 0,10 a 0,25 m3/árvore.
194
Um plantio homogêneo de C. trichotoma, realizado com mudas seminais em espaçamento 3x3m
apresentou, aos 17 anos, qualidade do fuste de 3.29 em uma escala de 0 a 5 que considera de-
feitos, tortuosidades e ramificações no fuste (Barroso et al. 2018)
A inserção do louro-pardo em plantios mistos para recuperação de áreas degradadas, recom-
posição de reserva legal e sistemas agroflorestais, além de agregar valor econômico direto, pode
agregar funcionalidades ambientais vantajosas, que devem ser potencializadas por práticas de mane-
jo adequadas.
O preço do metro cúbico da madeira serrada no mercado doméstico está entre U$900 a U$1.200
segundo dados do IBF1, que sugere rotação aos 30 anos para a espécie, com práticas de desbaste duran-
te a condução dos plantios. Segundo Carvalho (2003b), o primeiro corte pode ser realizado aos 15 anos.
Em cotações realizadas no estado de São Paulo2, a madeira serrada seca em estufa de Cordia
8. PATOLOGIA FLORESTAL
Os frutos de louro-pardo são atacados por Amblycerus longesuturalis e A. profaupar
(Chrysomelidae: Bruchinae), cujas fêmeas depositam ovos entre o cálice marcescente e o fruto, e as
larvas perfuraram o tegumento para consumirem as reservas das sementes, danificando o embrião
e afetando significativamente a germinação. Estas larvas são parasitadas pelos himenópteros dos
gêneros Bracon, Mirax, Omeganastatus e Triapsis (Fleck et al., 2019).
As plantas podem ser atacadas pelo percevejo Dictyla monotropidia (Stal), Hemiptera, da
família Tingidae, que sugam as folhas, causando amarelecimento, escurecimento e queda. A desfol-
ha reduz o ritmo de crescimento, podendo levar à morte da planta (THOMAZINI e RIBEIRO, 2009). A
adoção de plantios mistos pode reduzir a incidência da praga.
Foi descrita a presença de fungos dos gêneros Alternaria spp., Trichoderma spp. e Rhizopus
spp. em sementes (Berghetti et al., 2015), sendo recomendado pelos autores o tratamento das mes-
mas com Captan (480g L–1 de N-triclorometiltio-4-ciclo-hexeno-1,2-dicarboximida), na dosagem
195
0,18 g 100 g–1 de sementes. Os autores observaram também a presença de Fusarium spp. em 78,1%
das sementes avaliadas, independente do beneficiamento. Esse fungo é transmitido via semente
para plântulas, causando lesões nas raízes, que evoluem para o colo e causam tombamento.
Nos meses que antecedem o inverno, no município de Dois Vizinhos, PR, Antonelli et al. (2015)
observaram a ocorrência de uma bacteriose foliar nas plantas de louro-pardo (patógeno não identifica-
do). As plantas apresentaram parte das folhas com manchas escuras e processo acentuado de abscisão.
9. OUTRAS INFORMAÇÕES
As árvores de C. trichotoma foram classificadas como uma das mais utilizadas por macacos
(Cebus apella nigritus), como sítio para dormir, no Parque Nacional Iguazú, Argentina (Di Bitetti et al.
2000), devido à arquitetura de sua copa. Este fato reforça a importância de manter a espécie conser-
vada em ambientes naturais, contribuindo com o equilíbrio do ecossistema.
As inflorescências do louro pardo são habitadas por formigas do gênero Pseudomyrmex
Silvicultura Tropical
10. REFErÊNCIAS
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201
Curitiba prismatica (D.Legrand)
Salywon & Landrum (MYRTACEAE)
Pablo Melo Hoffmann
Engenheiro Florestal, graduação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutorando em
Ciências Florestais (UFPR). Atualmente Diretor Executivo da Sociedade Chauá e Coordenador
do Viveiro Chauá de espécies nativas da Floresta com Araucária.
Jeniffer Grabias
Bióloga, graduação Bacharel em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Autônomo
do Brasil (Unibrasil). Mestre em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Atua como consultora em conservação da natureza na Sociedade Chauá.
Marília Borgo
Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, Mestrado em Botânica e Doutorado em
Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é especialista
em Serviços Ambientais da The Nature Conservancy, trabalhando com desenvolvimento e
implementação de projetos florestais de carbono e suporte a estratégias de pagamento por
serviços ambientais.
1. Botânica
1.1 Distribuição
A espécie ocorre no bioma Mata Atlântica, na Floresta Ombrófila Mista (Siminski et al. 2011,
Salywon & Landrum 2007), alcançando zonas de tensão com a Floresta Estacional Semidecidual
202
(Ferreira Junior& Vieira 2014). Curitiba prismatica é uma espécie florestal típica de sub-bosque,
principalmente nas florestas em estágio médio e avançado na formação Montana (Siminski et al.
203
Em algumas situações a espécie é vista como um problema para o manejo de plantios de
Ilex paraguariensis A. St.- Hil. (erva-mate), além de outras atividades que envolvem o manejo de
vegetação natural (Mello & Peroni 2015).
A b
Figura 1: Detalhe das folhas e do fruto imaturo (a) e maduro (b) de Curitiba prismatica.
204
2. Tecnologia da madeira e dos produtos
não madeireiros
2.1 Densidade da madeira
A madeira é moderadamente pesada (densidade média), dura, de coloração amarelo
avermelhada, grã direita, e apresenta resistência mediana para usos na construção civil
(Lorenzi 1998).
Em algumas regiões é comum o corte de C. prismatica para o consumo domiciliar de
madeira, empregada na confecção de cercas, ferramentas diversas e lenha (Salywon & Landrum
205
O crescimento da espécie nos primeiros 12 meses mostrou-se baixo, com incremento médio da altura da
parte aérea (H) de 1,92 cm e do diâmetro da base (DB) de 0,47 mm. Contudo, observa-se que são valores
significativos quando comparados a outras Myrtaceae plantadas no mesmo local (valores médios): Myrcia
multiflora (Cambuí) (H = 1,13 cm e DB = 0,23 mm), e Eugenia pyriformis (Uvaia) (H = 0,74 cm e DB =
0,21mm). Em outras localidades na mesma região, comparativamente, os dados de crescimento de outras
espécies da família foram superiores, após o mesmo período de acompanhamento, como por exemplo:
Psidium rufum (Araçá-roxo) (H = 8,18 cm e DB = 0,57 mm), Plinia peruviana (Jabuticaba) (H = 4,56 cm
e DB = 0,53 mm), Eugenia involucrata (Cerejeira) (H = 4,35 cm e DB = 0,45 mm).
12 20,68 ± 0,54 b
Letras diferentes em cada variável denotam diferença significativa ao intervalo de confiança (IC) de 95%.
2.3 Extrativos
A espécie não tem seu potencial comprovado para e retirada de extrativos, contudo as folhas
possuem um aroma agradável, sendo provavelmente viável a extração de óleo essencial.
206
3. Tecnologia de sementes
3.1 Fenologia
Estudos sobre a biologia reprodutiva de Myrtaceae no Brasil (Gressler et al. 2006) e da sub
família Myrtoideae (Nic Lughadha & Proença 1996) demonstraram que a polinização geralmente é
feita por diferentes famílias da ordem Hymenoptera. A dispersão da espécie é zoocórica (Moro & Lima
2012), sendo realizada principalmente pela avifauna (Lorenzi 1998).
3.1.2 Frutificação e colheita: Segundo Salywon & Landrum (2007), a espécie inicia a
frutificação em fevereiro, ocorrendo o amadurecimento dos frutos em abril. Lorenzi (1998) afirma
que a frutificação ocorre quase simultaneamente ao amadurecimento dos frutos de janeiro a março.
Os frutos devem ser coletados ao apresentarem coloração arroxeada, indicando a maturidade das
sementes (Lorenzi 1998). Aparentemente as árvores com menor porte apresentam maior quantidade
de frutos. Os frutos imaturos são de difícil visualização, sendo facilmente confundidos entre as folhas
e os galhos. Para a coleta em indivíduos mais altos, é necessário o auxílio de tesoura de poda alta ou
escalada da árvore, pois os frutos não se desprendem dos ramos prontamente.
207
3.4 Quebra de dormência
A espécie não necessita de tratamentos de quebra de dormência.
3.5 Armazenamento
As sementes são recalcitrantes. Desta forma, o armazenamento não é recomendado, pois
pode acarretar na inviabilidade das sementes em um curto período de tempo.
3.6 Germinação
A germinação das sementes tem sua condição ótima na temperatura de 25oC, reduzindo
significativamente o poder germinativo em temperaturas mais altas (Rego et al. 2011) (Tabela 2).
4. Produção de mudas
4.1 Método de semeadura e produção
Segundo Rego et al. (2011), em laboratório, a espécie tem seu melhor desempenho na porcentagem
e nos índices de germinação nas temperaturas de 20oC até 25oC, em areia ou papel, ultrapassando 80%.
Desta forma, como a espécie possui taxa de germinação elevada, é aconselhável a semeadura diretamente
em recipientes definitivos. Contudo, como a espécie apresenta bastante resistência à repicagem, uma
alternativa que se mostra bastante eficaz é a semeadura em bandejas sementeiras ou em canteiros com
substrato composto por quatro partes de solo e uma de vermiculita. Neste caso, as sementes devem ser
dispostas uniformemente, com 3 cm de distância entre si, em profundidade de cerca de 2 cm.
A emergência pode ocorrer de forma heterogênea, variando desde dias até algumas
semanas. Sendo assim, no caso da repicagem a partir de sementeira, é necessário um planejamento
desta atividade em várias fases. Esse procedimento deve ser realizado quando a parte aérea
das plântulas atingir aproximadamente 5 cm. Para a produção em viveiro é indicado o uso de
208
embalagens plásticas de 14x20 cm, as quais devem ser preenchidas com substrato composto de
aproximadamente 47% de terra preta, 47% de composto orgânico e 6% de areia.
Para cultivo em vasos, é importante fornecer espaço suficiente no recipiente a ser utilizado,
sendo indicado um volume mínimo de substrato de 15-20 L, para plantas de até 60 cm.
5.2 Espaçamento
A amplitude de utilização da espécie resulta na possiblidade do uso de diferentes
espaçamentos para cada aplicação. Para o uso como cerca viva é indicado o espaçamento de 0,5 a
1 m. Para o plantio de enriquecimento ou consórcio com outras espécies, é indicado o mínimo de
4 m entre as plantas. Os espaçamentos sugeridos foram fundamentados em situações práticas de
aplicações em jardins e também de acordo com o espaçamento observado no ambiente natural.
5.3 Adubação
Foi realizado experimentos em viveiro com o objetivo de verificar o crescimento das mudas e
recomendar a adubação mais adequada. A espécie apresentou resposta para adubação química apenas
no período entre o terceiro e o quarto mês após a aplicação (Tabela 3 e Figura 3). Foram testadas diferentes
adubações em viveiro com micronutrientes (Ca 17%, Mg 8%, S 5%, B 0,30% e Zn 1%) e macronutrientes
(NPK15-10-10), seguindo um delineamento inteiramente casualizado em diferentes doses e composições.
209
Figura 3: Altura da parte
aérea e diâmetro da base
de mudas de Curitiba
prismatica submetidas a
diferentes tratamentos de
adubação. Barras verticais
representam intervalos
de confiança (IC) de 95%.
Tratamentos: T1- 20 mg de
macronutrientes; T2 - 20 mg
de macronutrientes com 20
mg de micronutrientes; T3 - 10
mg de macronutrientes com
10 mg de micronutrientes; T4
- 20 mg de micronutrientes;
T5 – Testemunha.
210
6. Manejo para a produção
6.1 Técnicas de cultivo e colheita da produção
Como a espécie é de sub-bosque, um cuidado importante é o controle da luminosidade sobre
a muda, recomendando-se locais com aproximadamente 50% sombreamento.
O principal problema nos sistemas de produção é a perfuração da embalagem pelas raízes
das mudas. Sendo assim, a movimentação das mudas e a poda periódica de raízes é uma técnica
utilizada na maioria dos viveiros para amenizar este problema.
7. Potencial produtivo
7.1 Rendimentos econômicos
O custo da coleta de sementes em remanescentes florestais naturais para fins de conservação
pode chegar a R$ 950,00 por quilograma de sementes. O valor de venda da muda de 30 a 60 cm
de altura pode chegar a R$ 20,00 na região de Curitiba, Paraná.
8. Patologia florestal
8.1 Doenças e pragas
A espécie parece estar muito bem adaptada e ser bastante resistente. Não foi observada a
incidência de doenças nas mudas em viveiro, em plantios em campo, bem como em matrizes em
ambiente natural.
9. Outras informações
A Sociedade Chauá tem acompanhado algumas áreas onde a espécie ocorre, com indivíduos
mapeados em unidades de conservação e áreas privadas. Neste contexto, foi possível verificar aspectos
descritos neste capítulo. A produção de frutos e volume de coleta varia significativamente a cada ano. Em
função do curto período de produtividade de frutos, o custo de coleta pode ter acréscimos significativos se não
for sincronizado com o período de maturação dos mesmos. Apesar da resiliência da espécie a podas e ao corte
raso, a degradação das populações é contínua em diversas áreas, e é necessária a valorização da espécie no
âmbito econômico e cultural e, também, o desenvolvimento de técnicas de manejo para a sua perpetuidade.
211
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213
Dipteryx alata Vogel
EDUARDO MALTA CAMPOS FILHO
Biólogo. Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de São
Paulo (USP). Coordenador técnico de Restauração florestal do Instituto
Socioambiental.
1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA
Silvicultura Tropical
Cerrado (Sano 2004), Caatinga, Mata Atlântica, partes da Amazônia (Campos Filho
& Sartorelli 2013, 2015a, 2015b) e Pantanal (WebAmbiente 2018).
214
1.4 NOME POPULAR
Varia com o local, sendo mais conhecida como Baru (GO, TO, MG e DF) e Cumaru e
Cumbaru (SP, MT e MS). Os outros nomes que incluem diferentes espécies são Barujo, Castanha-
de-ferro, Coco-Feijão, Cumaru-da-folha-grande, Cumarurana, Cumaru-roxo, Cumaru verdadeiro,
Cumbary, Emburena-brava, Feijão-coco, Fruto-de-macaco, Meriparagé, Pau-Cumaru, Baruzeiro,
Bauí, Bugreiro, Chuva-de-ouro, Guaiçára, Fava-de-cumaru, Sucupira-branca, (Plataforma
Webambiente 2018, Sano et al. 2004).
1.6 SINONÍMIA: Coumarouna alata (Vogel) Taub.; Cumaruna alata (Vogel) Kuntze
(WebAmbiente 2018, Borges et al. 2017)
1.8 CARACTERÍSTICAS
Árvore de madeira densa e velocidade de crescimento moderada. De 8 a 20m de altura,
podendo alcançar 25 m em solos férteis. A copa pode ser alongada ou larga, de 6 a 11 m de
diâmetro. Tem tronco com casca clara (cor cinza-claro), com 70 cm de diâmetro, e pode viver por
muitas décadas. As folhas são compostas, alternas, pinadas, imparipinadas, lisas, do tipo ráquis
(ou raque) e pecíolo alado (alas entre os folíolos). O fruto é lenhoso, do tipo drupa, coberto por
polpa doce de cor creme ou marrom-claro. O fruto tem casca lenhosa, com “caroço duro” (Da Costa
et al. 2014), que não abre sozinha. Inflorescência do tipo panícula, com 200 a 1000 flores (Sano
2004). Sementes de cor marrom ou avermelhada a quase preta, brilhante e única para cada
fruto, lisa e dispersas por animais (zoocoria) e por gravidade (barocórica) (Sano 2004, Campos
Filho & Sartorelli 2013, 2015a). Plântula fanerocotiledonar-epígeo-armazenadora (Consolaro
et al. 2019). Plantas adultas, frutificadas, em geral, perdem as folhas no final da estação seca.
De início das chuvas, as folhas novas surgem com o crescimento imediato dos ramos terminais
(Sano et al. 2004). Árvores juvenis e eventualmente algumas adultas são sempre verdes.
215
Grupo de Diversidade (Barbosa et al. 2017, WebAmbiente 2018). Árvore longeva (Campos Filho &
Sartorelli 2015b).
usada em receitas de bolos, biscoitos e outros doces (paçoquinhas, pé-de-moleque, rapaduras etc),
mas ainda não existe mercado estruturado. A castanha torrada é saborosa, tem 23% de proteína (valor
maior que a castanha-de-caju e a castanha-do-pará) e é rica em ferro, zinco, magnésio, fósforo e cobre.
Além disso, é fonte de cálcio e fibras, origem de seu apelido “Viagra do cerrado”. O óleo da castanha é
de excelente qualidade como aromatizante e usado como azeite de mesa e cosmético.
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 FLORAÇÃO
Novembro a fevereiro (Cerrado) (Sano et al. 2004) e outubro a novembro (Pantanal) (Pott & Pott
1994 apud WebAmbiente 2018). Campos Filho & Sartorelli (2013, 2009b, 2015a) observam floração
de outubro a janeiro no Mato Grosso (Amazônia, Cerrado e transição Amazônia/Cerrrado), sendo farta
e em época importante para a fauna, pois durante as chuvas há menos floradas na região.
3.2 FRUTIFICAÇÃO
Os frutos estão maduros entre março e agosto e produz maior quantidade de frutos a cada
dois anos (Campos Filho 2009b). Frutos estão maduros quando a polpa é macia e doce, caindo
naturalmente dos galhos (Campos Filho 2009b). A semente fica solta dentro do fruto (Sano et al.
2004), o que garante a maturidade da semente (Consolaro et al. 2019).
216
3.3 SÍNDROME DE DISPERÃO
Barocórica e zoocórica (Consolaro et al. 2019). Dá frutos a partir de 4 anos de idade. Seus frutos
alimentam e são dispersos por morcegos, araras, macacos, roedores, gado, entre outros. Sendo
uma espécie de vida longa e com frutos atrativos da mastofauna, torna a espécie indispensável em
projetos de restauração ecológica (Campos Filho 2009b, Campos Filho & Sartorelli 2015a).
217
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 NÚMERO DE SEMENTES
O número de sementes por kg é de 600 a 1190 (sementes kg-1) (Campos Filho & Sartorelli
2013, 2015a, WebAmbiente 2018).
4.4 GERMINAÇÃO
Silvicultura Tropical
218
para esse caráter (Roach, Wulff 1987 apud Sano et al. 2004). Assim, a seleção de plantas pode ser
baseada em frutos e sementes (Sano et al. 2004). Em um experimento, com 47 progênies, sendo
26 sementes e 17 progênies dos municípios de Três Lagoas (MS) e Brasília (DF), houve diferenças
significativas entre progênies para DAP (Diâmetro à Altura do Peito), sendo a herdabilidade no
sentido restrito foi alta, com mínimo de 0,31). As procedências e progênies demonstram ter
variabilidade genética, que pode ser explorada em programas de melhoramento florestal, com
ampla base genética (Santos et al. 2018).
6.2 SOLOS
Indica-se o plantio em solos bem drenados, de fertilidade química média, não encharcados,
profundos ou não, calcários ou ácidos. Os solos são de preferência lateríticos, areno-argilosos com
predominância da fração areia-grossa.
6.4 ADUBAÇÃO
Possui baixa exigência de adubação e ocorre em solos tanto de baixa como de alta fertilidade. Devi-
do a sua alta produção de folhas ricas em nitrogênio, é indicada para recuperação de áreas degradadas,
com grande potencial de melhorar a fertilidade do solo devido à formação de nódulos de algas azuis em
suas raízes, capazes de disponibilizar no solo o nitrogênio que retiram do ar (Campos Filho 2009b).
219
6.5 PREPARO DO SOLO
Preparo do solo pode ser feito em covetas, covas, sulcos canavieiros ou florestais e/ou por
gradagem, incluindo a possibilidade de combinação dessas técnicas para enterrar frutos até 5 cm de
profundidade e sementes até 3 cm de profundidade.
7.3 FRUTO
Os frutos maduros são coletados no próprio chão ou “de vez”, sacudindo os galhos da área
sobre uma lona estendida no chão para amparo.
7.4 MADEIRA
Realizar desramas periódicas de galhos laterais, embora o baru tenda a desenvolver fuste
vertical, principalmente em plantios de alta densidade com sombreamento lateral.
220
8. POTENCIAL PRODUTIVO
8.1 USO MADEIREIRO
Como madeira serrada/roliça é indicada para obras hidráulicas, construção de estruturas
externas, como cercas, estacas, esteios, postes, mourões, dormentes, carroceiras, e em pontes;
construção naval e civil, como esteios, ripas, caibros, tacos de assoalho, marco de porta e janelas,
forros, lambris; em implementos agrícolas, moenda manual para cana, cetro de rodas e tornearia
(Sano 2004, Campos Filho & Sartorelli, 2017a)
221
8.8 MERCADO
O baru como substituto das nozes é uma alternativa interessante e vem sendo usado na
elaboração do molho pesto (molho italiano para massas), podendo atender a restaurantes e ao mercado
externo. O baru para exportação tem sido procurado para fazer parte da composição de cereais matinais,
na forma de barras. Bombons e bolos confeccionados com as amêndoas também têm sido testados e
aprovados. O licor é outro produto com grande aceitação no mercado. O baru deve ser avaliado, visando
ao planejamento de uma estratégia de produção e de comercialização de seus produtos. Essa estratégia
deverá contemplar a organização com base nas populações locais da produção, beneficiamento,
embalagem dos produtos, campanha de divulgação e marketing. É fundamental a avaliação da oferta
sazonal de frutos pela natureza, bem como seu manejo e o estabelecimento de seu cultivo, possibilitando
a expansão do mercado atual (Sano et al. 2004). Devido ao alto teor de ácido linoleico, óleo da semente
pode ser usado como antirreumático e antiespasmódico e, a casca do tronco, para cólica intestinal
(Naturatins 2019). A casca do fruto também é usada como carvão e apresenta alto poder calorífero. Em
épocas de seca, a polpa é consumida por bovinos e suínos em pastagens no Cerrado (Naturatins 2019).
Silvicultura Tropical
9. PATOLOGIA FLORESTAL
9.1 PRAGAS E DOENÇAS
A polpa do fruto de baru, armazenada sem tratamento prévio, em sacos de aniagem, por
exemplo, juta e/ou rafia, foi muito danificada por insetos (larvas de coleópteros e lepidópteros), mas
as sementes, protegidas pelo fruto, apresentaram incidência de insetos em torno de apenas 10%. A
polpa absorve muita água e umidade durante o período chuvoso, acelerando seu apodrecimento por
fungos (Sano et al 2004) o que pode facilitar também a germinação das sementes.
222
A B
c d
Figura1: A. Visão Geral de Trono e copa do Baru; B. Indivíduo Jovem de Baru com 2 meses de
idade, após semeadura direta no solo; C. Detalhe de raque alada entre os folíolos do Baru, face
abaxial; D. Detalhe da Inflorescência e face adaxial dos folíolos do Baru; E. Fruto do Baru; F.
Sementes do Baru. Fotostiradas em Canarana, MT, por Eduardo Malta/ISA, 2011
223
11. REFERÊNCIAS
Barbosa, L. M. et al. 2017. Lista de espécies indicadas para restauração ecológica para
diversas regiões do Estado de São Paulo. Instituto de Botânica. São Paulo, SP.
Borges, H. B. N., Silveira, E. A., Vendramin, L. N. 2017. Flora arbórea de Mato Grosso
[livro eletrônico]: tipologias vegetais e suas espécies. 1 ed. Entrelinhas. Cuiabá, MT.
Campo Filho. 2009a. Plante as árvores do Xingu e Araguaia - Manual do Plantador. Volume 1.
Instituto Socioambiental. São Paulo, SP.
Campo Filho. 2009b. Baru. In. Plante as árvores do Xingu e Araguaia - Guia de identificação.
Volume 1. Instituto Socioambiental. São Paulo, SP.
Campos Filho & Sartorelli. 2013. Baru. In. Guia de identificação de espécies-chave para
a restauração florestal na região de Alto Teles Pires (MT). The Nature Conservancy. São
Paulo, SP. Pp. 106-107.
Silvicultura Tropical
Campos Filho & Sartorelli. 2015a. Baru. In. Guia de identificação de espécies-chave para
a restauração florestal na região de Alto Teles Pires, Mato Grosso. 1 ed. The Nature
Conservancy. São Paulo, SP. Pp. 118-119.
Campos Filho & Sartorelli. 2015b. Baru. In. Guia de árvores com valor econômico. 1 ed.
Agroicone. “Iniciativa INPUT”. São Paulo, SP. Pp. 23.
Consolaro, H., et al. 2019. Sementes, plântulas e restauração no sudeste goiano. 1 ed.
Catalão: Athalaia. Brasília, DF.
Miccolis, A. et al. 2016. Restauração ecológica com sistemas agroflorestais: Como conciliar
conservação com produção: Opções para Cerrado e Caatinga. Brasília: Instituto Sociedade,
População e Natureza - ISPN/Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal - ICRAF.
Brasília, DF.
224
Sampaio, A. B. et al. 2015. Guia de restauração
do Cerrado: volume 1: semeadura direta.
Universidade de Brasília, Rede de Sementes
do Cerrado. Brasília, DF.
225
Drimys brasiliensis Miers
RENATA DE ALMEIDA MAGGIONI
Engenheira Agrônoma. Graduação em Engenharia Agronômica, e mestrado em Agronomia
– Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é doutoranda
em Agronomia-Produção Vegetal (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA: Floresta Ombrófila Mista
Silvicultura Tropical
1.5 PORTE: Árvore de porte médio, podendo chegar até 20 metros de altura, com
fuste curto, de até 40 cm de diâmetro (GOTTSBERGER et al., 1980; BACKES; IRGANG, 2002)
226
estimulante, antiespasmódica, aromática, antidiarreica, antifebril, contra hemorragia uterina e em
certas afecções do trato digestivo, além de atividades biológicas como bactericida, antifúngica e
antialérgica. Além disso, é particularmente indicada como tônico revigorante durante a convalescença
(SIMÕES et al., 1986; LORENZI; MATOS, 2008). A espécie também apresenta importância fitoquímica,
sendo matéria prima para fabricação de um produto chamado drimanial, o qual possui ação efetiva no
combate à enxaqueca causada pelo glutamato monossódico, apresentando poucos efeitos colaterais
(CAVALHEIRO, 2006). As folhas picadas de cataia produzem forragem para o gado e suas flores
possuem aplicação na indústria da perfumaria francesa (LONGHI, 1995). A árvore possui qualidades
ornamentais que a recomendam para o paisagismo em geral (LORENZI, 2002). Em estudo mais recente
realizado na Universidade Federal do Paraná, sugere-se que a utilização de folhas teria potencial para
uso em substituição às cascas, facilitando a coleta do material sem prejudicar o desenvolvimento da
a C
227
D
nos tecidos do caule, chegando a impedir o luxo da seiva floemática pela criação de um Anel de
Malpighi. Os autores relatam que o teor do óleo essencial de folhas de Drimys brasiliensis é altamente
superior ao teor do óleo essencial de suas cascas e as atividades farmacológicas de folhas e cascas
Silvicultura Tropical
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
A colheita de sementes é realizada manualmente. 1 kg de frutos tem cerca de 835 g de
sementes e 1 kg de sementes tem, aproximadamente, 280.000 unidades (LONGHI, 1995). Abreu
(2002) encontrou 237.353 sementes, com teor de umidade de 7,14%.
3.2 FENOLOGIA
A espécie possui frequência anual de florescimento e frutificação, com períodos diferenciados entre
o local de desenvolvimento da espécie (MARIOT et al., 2011). As flores são brancas e vistosas (LONGHI,
1995). A visitação de polinizadores em suas flores é de baixa frequência considerando a quantidade
de flores disponíveis, apesar da diversidade de espécies de visitantes (MARIOT et al., 2014), porém a
espécie apresenta alta taxa de frutificação, o que pode ser explicado pela sua autocompatibilidade e a
ocorrência de flores monóicas, favorecendo a autofecundação (GOTTSBERGER et al., 1980).Os frutos são
do tipo baga vermelho-escuras que passam a pretas quando maduras, com 0,4 a 0,6 cm de diâmetro
contendo no seu interior inúmeras sementes (LONGHI, 1995). As sementes são reniformes, pequenas e
pretas brilhantes, com aproximadamente 0,3 a 0,4 cm de comprimento, apresentando dormência por
imaturidade embrionária (ABREU et al., 2005a; LORENZI; MATOS, 2008).
228
3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO
A espécie floresce de julho a abril em Santa Catarina (TRINTA; SANTOS, 1997); de junho a novembro na
região de Botucatu, SP (GOTTSBERGER et al., 1980) e de dezembro a março em Caçador, SC (MARIOT, 2008).
3.7 ARMAZENAMENTO
As sementes começam a perder o poder germinativo a partir dos 30 dias (BACKES; IRGANG, 2002).
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
As sementes são retiradas a mão, com muito cuidado, e semeadas com pequena cobertura
de terra, mas protegidas dos raios solares diretos. Recomenda-se semear em sementeiras ou em
sacos de polietileno com dimensões mínimas de 20 cm de altura e 7 cm de diâmetro, ou ainda em
tubetes de polipropileno de tamanho médio. Quando necessária, a repicagem deve ser feita de 1
a 2 semanas após a germinação (CARVALHO, 2008).
229
recomendado o rejuvenescimento do material vegetativo por meio da técnica de miniestaquia para
obter-se resultados mais favoráveis de enraizamento. A coleta dos propágulos pode ser realizada
durante o ano todo. Recomenda-se miniestacas de 6-8 cm de comprimento com corte em bisel na
base e reto no ápice, mantendo duas folhas com sua área reduzida à metade. As miniestacas devem
ser plantadas em tubetes de polipropileno contendo vermiculita e casca de arroz carbonizada (1:1) e
mantidas em casa de vegetação por aproximadamente 120 dias (MAGGIONI, 2017).
Silvicultura Tropical
a B C
D e
230
5.2 ESPAÇAMENTO
Existem poucos dados sobre crescimento em plantios de cataia; entretanto, o crescimento é
lento. É recomendado plantio em linhas em espaçamento de 10 m x 4 m (CARVALHO, 2008).
7. POTENCIAL PRODUTIVO
7.1 RENDIMENTOS, CUSTOS
Indústrias farmacêuticas do Estado de São Paulo adquirem cascas dessa espécie para a formulação
de compostos fitoterápicos. Em 2008 as mesmas indústrias passaram a pagar R$20,00 por quilo de
casca seca, ao invés dos habituais R$3,00, em virtude da exploração estar sendo realizada seguindo
alguns critérios de sustentabilidade (MARIOT, 2011). O rendimento do óleo essencial de cascas é 0,15%
com predominância de monoterpenos. No comércio, 100 g de casca custa de 15 a 20 reais.
8. REFERÊNCIAS
ABREU, D. C. A.; KUNIYOSHI, Y. S.; SOUZA MEDEIROS, A. C.; NOGUEIRA, A. C. Caracterização morfológica
de frutos e sementes de cataia (Drimys brasiliensis Miers - Winteraceae). Revista Brasileira
de Sementes, Londrina, v. 27, n. 2, p. 67-74, 2005a.
231
ABREU, D. C. A.; NOGUEIRA, A. C; SOUZA MEDEIROS, A. C. Efeito do substrato e da temperatura na
germinação de sementes de cataia (Drimys brasiliensis Miers. Winteraceae). Revista Brasileira
de Sementes, Londrina, v. 27, n. 1, p.149-157, 2005b.
BACKES, P.; IRGANG, B. Árvores do Sul: guia de identificação & interesse ecológico. Rio de Janeiro:
Instituto Souza Cruz, 2002, 321 p.
FALKENBERG, D. B.; VOLTOLINI, J. C.The montane cloud forest in Southern Brazil. In:______ Tropical
montane cloud forest: Springer-Verlag, New York, 1995, 138-149 p.
Silvicultura Tropical
LONGHI, A. Livro das árvores: árvores e arvoretas do sul. Porto Alegre: L & PM, 1995. 174p.
LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2. ed. Nova Odessa:
Instituto Plantarum, 2008. 538 p.
MAGGIONI, R. A.; ROMANINI NETTO, E.; RADOMSKI, M. I.; OLIVEIRA, E. B.; DESCHAMPS, C.; ZUFFELLATO-
RIBAS, K. C. Produção de óleo essencial de folhas e cascas de Drimys brasiliensis Miers (casca-
d’anta). Revista Cubana de Plantas Medicinales, v. 23, n. 4, p. 1-17, 2018.
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MARIOT, A. Fundamentos para o manejo de populações naturais de Drimys brasiliensis
Miers - Winteraceae. 129 f. 2008. Tese (Doutorado em Ciências) - Setor de Concentração de
Recursos Genéticos Vegetais, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.
MARIOT, A.; BITTENCOURT, R.; MANTOVANI, A.; REIS, M. S. Drimys brasiliensis. Casca-de-anta. In:
CORADIN, L.; SIMINSKI, A.; REIS, A. (Ed.). Espécies nativas da Flora Brasileira de valor
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MARIOT, A.; MANTOVANI, A.; BITTENCOURT, R.; FERREIRA, D. K.; REIS, M. S. Aspectos da biologia
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Brasil. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 24, n. 4, p. 877-888, 2014.
SANTOS, T. O.; MORAIS, T. G. O.; MATOS, V. P. Escarificação mecânica em sementes de Chichá (Sterculia
foetida L.). Revista Árvore, Viçosa, v. 28, n. 1, p. 1-6, 2004.
SIMOES, C. M. O.; MENTZ, L. A.; SCHENKEL, E. P.; IRGANG, B. E.; STEHMANN, J. R. Plantas da medicina
popular no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora UFRGS,1986. 147 p.
233
Eremanthus erythropappus (DC.)
MacLeish
Eremanthus incanus (Less.) Less.
(Asteraceae)
Maria Alves Ferreira
Engenheira Florestal com mestrado e doutorado em Fitopatologia, com ênfase em Patologia
Florestal. É orientadora no Programa de Pós-graduação em Agronomia/Fitopatologia do
Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.
234
1. BOTÂNICA
Eremanthus erythropappus apresenta folhas alternas ou fasciculadas, papiráceas a
coriáceas, inteiras, oblongo-elípticas a ovaladas, de ápice obtuso ou acuminado, base obtusa,
Figura 1: Regiões no sul de Minas Gerais onde ocorre naturalmente (A) e onde está sendo plantada (B)
a espécie Eremanthus erythropappus.
235
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
A exploração dos produtos retirados da candeia movimenta a economia no setor rural,
estabelecendo empregos e renda para a população. A madeira é a matéria prima de onde se extrai
um óleo essencial, que tem grande importância na indústria de cosméticos e farmacêuticos devido ao
seu principal componente, o alfabisabolol, que possui propriedades medicinais (Teixeira et al., 1996).
O cultivo de candeais para extração de óleo essencial é mais lucrativo em relação aos
plantios que tem como finalidade a produção de moirões (Scolforo et al., 2012). Pequenos e
médios produtores rurais, principalmente do sul de Minas Gerais, têm feito plantios há cerca
de dez anos com a espécie, principalmente com o objetivo de produção de mourões para serem
utilizados em suas propriedades e também para a comercialização da madeira para empresas
que realizam a extração do óleo.
Alguns estudos também têm sido conduzidos com o intuito de avaliar outros fatores
Silvicultura Tropical
de produção, tais como o consórcio da espécie com cultivos agrícolas, o seu uso como espécie
melífera, testes com o intuito de seleção de materiais genéticos mais produtivos, produção de
óleo, dentre outros (Melo, 2012; Nascimento et al., 2015; Pinto Junior, 2016).
A implantação de candeais no estado de Minas Gerais é uma promissora atividade
alternativa para a geração de renda. Sendo assim o potencial de algumas áreas no estado foram
analisadas por Oliveira (2012), que relatou que 7,5% e 25% das propriedades rurais nas regiões
de Carrancas e de Morro do Pilar são ocupadas, naturalmente, por essa espécie, respectivamente.
Nessas regiões, a atividade principal é a pecuária, entretanto com a devida orientação técnica
para a implantação e manejo da candeia, a exploração dessa espécie teria êxito.
2.1 EXTRATIVOS
Até o ano de 2016, toda a madeira de candeia explorada e consumida era advinda de
povoamentos naturais. Somente em 2018 é que os primeiros plantios começaram a ser cortados,
porém num percentual muito baixo em relação aos planos de manejo de candeais nativos existentes.
Anatomicamente, o lenho da candeia apresenta anéis de crescimento que possuem
alternância de lenhos inicial e tardio com zonas fibrosas e uma fina linha de parênquima marginal
(Chagas et al., 2007). A madeira é branca ou acinzentada e apresenta densidade entre 0,60 e
0,78 g/cm3 (Peréz et al., 2004), características essenciais para produção de moirões. Um moirão de
candeia, sem qualquer tratamento químico, dura cerca de 20 a 25 anos.
236
A madeira da espécie E. erythropappus pode ser usada para construções de currais ou galpões
quando o diâmetro for acima de 15 cm e para construção de cercas quando possuem diâmetro de, no
mínimo, 7 cm. Árvores com diâmetro menor que 7 cm não são economicamente viáveis, pois a madeira
apresenta baixa durabilidade. Essa atividade normalmente é feita por trabalhadores rurais e pequenos
produtores rurais, que se dedicam à retirada dessa espécie em propriedades rurais de terceiros.
O óleo essencial é outro produto retirado do lenho da candeia (E. erythropappus) é composto por
um álcool terciário (C15 H26O) conhecido por alfabisabolol. Esse óleo é um subproduto do metabolismo
secundário da planta que se acumula nos espaços intracelulares. O alfabisabolol é o principal componente
do óleo de candeia, possuindo propriedades físico-químicas desejáveis, como estabilidade, sem riscos
237
para o controle de doenças em plantas. Estudos que avaliaram a germinação de esporos da ferrugem
Phakopsora pachyhizi, Hemileia vastatrix, Cerotelium fici e Puccinia psidii comprovaram a eficiência
do óleo essencial no controle dessas doenças (Salustiano et al., 2006). Além disso, para fungos como
Alternaria carthami, Alternaria sp. e Rizoctonia solani, o óleo essencial de candeia proporcionou 100%
de inibição do crescimento micelial na concentração de 200 μL/ml e inibiu totalmente o crescimento
micelial de R. solani, independentemente da concentração utilizada (Hillen, 2012).
A atividade inseticida do alfabisabolol também já foi testada por Andrade et al. (2004) em Bermisia
argentifolli (mosca branca), uma praga comum no Brasil, responsável pela devastação de culturas de algodão
e frutas comestíveis de valor comercial, como melão e melancia. Para testar a eficiencia como inseticida,
foram coletadas amostras de dois locais diferentes, com diferentes teores de alfabisabolol. Posteriormente,
foram testados em diferentes concentrações (2; 1,5; 1; 0,5; 0,25 e 0,10 g/L), ocorrendo maior mortalidade
de insetos na concentração de 2 g/L, sem diferenças entre as amostras coletas nos dois locais.
Silvicultura Tropical
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1. PRODUÇÃO DE SEMENTES
A exploração da candeia aumentou nos últimos anos e, consequentemente, a demanda por
sementes de qualidade para a implantação de povoamentos com a espécie. No entanto, existem
poucos estudos sobre a qualidade de sementes do gênero Eremanthus, sendo que as espécies
desse grupo apresentam índices de germinação consideravelmente baixos devido à presença de
grandes quantidades de sementes mal formadas no momento da dispersão (Chaves e Ramalho
1995, Tonetti et al., 2006). Anatomicamente, as sementes são um aquênio cilíndrico, escuras, com
aproximadamente 2 mm de comprimento. O embrião possui cotilédones de coloração amarela e um
eixo hipocótilo-radícula curto (Chaves e Ramalho, 1996). Sua germinação depende de vários fatores,
principalmente da temperatura e da presença de luz. Geralmente, estando viáveis e em condições
favoráveis, a sementes germinam de sete a vinte dias após a semeadura.
3.2. FENOLOGIA
A inflorescência possui coloração púrpura, com flores hermafroditas que produzem grande
quantidade de pólem e néctar, tornando a espécie particularmente interessante para abelhas do
gênero Trigoma e Apis. Para dispersão, a semente possui uma estrutura de dispersão anemocórica,
denominada de “pappus”. As flores e os frutos possui uma configuração na borda externa da copa
facilitando a polinização e dispersão dos aquênios (Vieira et al., 2009).
238
3.3. ÉPOCA DE FLORAÇÃO
O florescimento da espécie E. erythropappus ocorre entre julho e setembro, já sua
frutificação pode ocorrer entre os meses de agosto a novembro, época em que a temperatura
aumenta e inicia-se o período de chuvas. As sementes devem ser coletadas logo no início da
dispersão natural, antes que ocorra a secagem na própria árvore e que sejam dispersas pelo
vento. Devem ser coletados os capítulos com restos de pedúnculo e colocados em sacos de
aniagem, com informações de georreferenciamento do local de coleta (Scolforo et al., 2012).
239
um período de tempo para coincidir com o processo de produção de mudas do ano seguinte.
3.6. ARMAZENAMENTO
As sementes de Eremanthus sp. podem ser secas a níveis baixos de umidade (5 a 7% de
umidade) e armazenadas em ambientes com baixas temperaturas (5ºC).
De acordo com Davide et al. (2011), sementes de E. incanus, que possui sementes muito
parecidas às sementes de E. erythropappus, conseguiram atingir 11% de umidade quando secas
ao sol, enquanto na secagem rápida com uso de sílica gel e na secagem com uso de sais, atingiu
4% e 8%, respectivamente. A germinação mesma (75%) quando as sementes foram secas em sílica
gel e armazenadas no freezer ou em câmara fria, e obtiveram viabilidade de 50% quando secas
de forma lenta e mantidas sob as duas condições de armazenamento. Sementes de candeia não
apresentam dormência (Tonetti et al., 2006), podendo ser semeadas tão logo sejam beneficiadas.
Silvicultura Tropical
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
A candeia tem recebido grande destaque devido a sua geração de renda que pode ser
secundária, quando indivíduos já existentes em candeais nativos são explorados, ou principal,
quando são introduzidos novos plantios. Entretanto para se obter sucesso na produção de árvores
com qualidade e características desejadas e, consequentemente, obter lucro, é importante a
adoção correta de várias técnicas de cultivo, como utilizar matrizes que apresentam qualidade
genética, escolher a área adequada para a espécie e identificar o clima ideal. A obtenção
de candeais com alto rendimento volumétrico, que gerem receita satisfatória, depende
primeiramente da utilização de mudas de qualidade, morfologicamente bem formadas e livres
de patógenos. Para conseguir mudas de candeia com essas características podem ser feitas a
multiplicação sexuada e assexuada.
240
6 meses. Os tubetes também podem ser utilizados, apresentando mais vantagens em relação aos
sacos plásticos, devido às suas arestas internas que evitam o enovelamento da raiz, menor volume
de substrato para a produção da muda e redução da incidência de pragas e doenças (Scolforo et al.
2012), sendo neste caso o ciclo de produção de 4 a 5 meses (Melo et al., 2014).
O crescimento e a qualidade das mudas dependem diretamente da composição do substrato
utilizado e a proporção de cada componente (Carneiro 1995). O solo não é um componente muito
utilizado por viveiristas (Davide et al., 2008), entretanto na produção de mudas em sacos plásticos ele
é usado como principal mistura (Carneiro 1995; Davide et al., 2008; Gomes e Paiva, 2011;Melo et al.,
2014). Para a produção de mudas de candeia em saco plástico além do solo, são utilizados esterco de
241
Figura 2: Mudas de candeia (E. erythropappus) produzidas em tubetes. Mudas com 35 dias após a semeadura e
antes do desbaste (A). Mudas com quatro meses após a semeadura, prontas para serem plantadas no campo (B).
A clonagem das mudas pode ser realizada por enxertia, cultura de tecidos, alporquia,
estaquia e miniestaquia. A enxertia ajuda a diminuir o tempo de produção de sementes e
frutos e rejuvenesce os propágulos já que uma parte adulta é enxertada em uma muda jovem.
A cultura de tecidos consiste em produzir tecidos ou órgãos da planta em meio de cultura
asséptico. Dentre as técnicas de propagação vegetativa que tem sido utilizadas para a produção
de mudas de candeia, as que têm apresentado melhor resultado são a estaquia e a miniestaquia
(Melo et al., 2012), devido sua aplicabilidade operacional e baixo custo operacional (Xavier et
Figura 3: Brotações de candeia (E. erythropappus) que podem ser utilizadas no processo de
propagação vegetativa. Brotações em galhos podados (A). Brotações de raízes (B).
242
al., 2009; Scolforo et al., 2012), sendo brotações da espécie obtidas a partir de brotações de
galhos podados ou raízes após a decepa da árvore (Figura 3). Entretanto, atualmente, a forma
mais eficiente para a produção de mudas de candeia é a propagação seminal, sendo a coleta em
pomares de sementes, a melhor opção.
243
taxa de sobrevivência e altura total das mudas em viveiro, evidenciando que a candeia pode ser
utilizada em programas de seleção de genótipos a fim de melhorar tais caracteres.
Nos últimos cinco anos, os plantios comerciais de candeia em Minas Gerais já têm sido
feitos com genótipos selecionados em testes genéticos, já que, segundo Scolforo et al. (2012), o uso
de sementes de candeia sem melhoramento genético faz com que povoamentos não demonstrem
o potencial produtivo que podem alcançar (Scolforo et al., 2012). Esses testes foram instalados
nas zonas rurais de Aiuruoca e Baependi, municípios localizados no sul do estado e que são áreas
de ocorrência natural da espécie, e estão sendo continuamente avaliados e conduzidos para fins
acadêmicos e comerciais.
gramíneas menos agressivas, não é necessário revolver o solo e recomenda-se apenas fazer
sulcos a 30 cm de profundidade one não houver afloramentos de rochas e onde o relevo for
pouco acidentado.
6.2. ESPAÇAMENTO
Vários são os fatores que interferem na produção e viabilidade econômica dos plantios de candeia.
De acordo com Silva (2014), o plantio de candeia em espaçamentos de 3,0 x 1,5 m foi considerado mais
eficiente, devido seu maior valor volumétrico individual, em relação aos espaçamentos 1,5 x 1,5 m, 2,0
x 1,5 m e 2,5 x 1,5 m. O autor considerou que para os espaçamentos 3,0 x 1,5 m, 2,5 x 1,5 m, 2,0 x 1,5
m e 1,5 x 1,5 m, a idade ótima de corte é de 12, 13, 13, e 15 anos, respectivamente.
6.3. ADUBAÇÃO
Para a adubação, recomenda-se utilizar 50 g de adubo N:P:K (20-00-20) por, aplicando-se a
uma distância so pé da planta equivalente a 2/3 do raio da copa. Essa adubação deve ser realizada
após seis meses do palntio ou no início da temporada de chuva seguinte (Scolforo et al., 2012).
244
o procedimento de preparo do solo como aração, gradagem e sulcagem não é o mais recomendado,
pois pode sujeitar o solo a uma maior erosão causada por chuvas e ventos. Esse tipo de operação,
porém, é recomendado para terrrenos onde a declividade é acentuada.
7. POTENCIAL PRODUTIVO
Scolforo et al., (2012), calcularam a produção volumétrica de um plantio de candeia (em
espaçamento 2,0 x 2,5 m) com 10 anos de idade e estimaram em 43,05 m3 de madeira por hectare.
Considerando a madeira a extração de óleo, o preço em 2012 situava-se em torno de R$ 130,00,
8. OUTRAS INFORMAÇÕES
8.1. DOENÇAS E PRAGAS EM CANDEIA
Apesar dos benefícios econômicos e ambientais advindos de plantios florestais,
muitos problemas surgem com a implantação de uma monocultura (Galdino et al., 2006).
Consequentemente, vários fatores podem contribuir para a redução da sua produtividade e
comprometer o fornecimento de madeira para o mercado. Dentre eles, citam-se as adversidades
climáticas, as pragas e as doenças. Entre as doenças relatadas, podem ser citadas manchas foliares,
cujos agentes etiológicos podem ser Phyllachora eremanthi e Asteridiella cyclopoda (EMBRAPA
2016), e a ferrugem da candeia, cujo agente etiológico é Puccinia velata (Dietel, 1897).
A ferrugem tem ocorrido com frequência, podendo causar danos em árvores no campo na
região do sul de Minas Gerais. Os sintomas causados por esse fungo são pústulas amarronzadas
em folhas adultas, especialmente quando o patógeno se encontra em condições ambientais
favoráveis, entre os meses de maio a agosto.
A ferrugem foi relatada pela primeira vez em Eremanthus sp. por Dietel (1897), na
cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Em seguida, ela foi reportada por Jackson e Holway (1932)
como P. vanillosmopisdis e Uredo illaudanda. Contudo, os segundos autores não compararam
suas amostras com o material de P. velata, pois apenas o gênero da espécie foi mencionado
no primeiro relato. Posteriormente, Carvalho (2012) comparou exsicatas dos dois materiais e
confirmou que as duas se tratavam da espécie E. erythropappus, definindo como nome oficial
para o patógeno P. velata.
245
Silvicultura Tropical
246
Além disso, Jackson e Holway (1932) encontraram apenas teliósporos e urediniósporos,
sendo que as fases de pícnio e écio não foram observadas. O télio de P. velata é hipófilo, com
0,2 a 0,4 mm de diâmetro, densamente agrupados ou dispersos, castanhos amarronzados.
Teliósporos de (27-) 29-32 x (21-) 22-24 µm, amplamente elipsoide, arredondado em ambas
as extremidades, ligeiramente ou não contraídos no septo; as paredes laterais têm 1,5-2 µm, a
parede no ápice possui 2-3 µm, são castanhos claros, com verrugose; poro na célula superior,
poro na menor célula ao lado do pedúnculo; pedicelo caduco, hialino e pequeno (Dietel,
1897). Os urediniósporos foram encontrados separadamente da fase de télio, possuindo
formato arredondado, cor marrom escuro, com 23-25 x 29-31 µm e com ornamentações na
9. REFErÊNCIAS
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251
Ilex paraguariensis A. St.-Hil.
Francielen Paola de Sá
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR), mestrado em Biotecnologia pela Universidade
Federal de Sergipe (UFS) e doutorado em Agronomia (Produção Vegetal)
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em
Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA
1.1. BIOMA
No Brasil a erva-mate é nativa da Floresta ombrófila mista (FERLA;
MARCHETTI; SIEBERT, 2005), onde cresce espontaneamente em regiões constituídas
por matas de Araucaria angustifolia (pinheiro-do-Paraná) (OLIVEIRA; ROTTA, 1983).
252
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
2.1 PRODUTOS NÃO MADEIREIROS
A erva-mate possui propriedades estimulantes e medicinais, as quais vem sendo
exploradas pela indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética. Tais propriedades são em
virtude da presença de compostos bioativos como:
• Flavonóides – quercitina, rutina, ácido gálico, catequina, epigalocatequina galato
(CHANDRA; DE MEJIA, 2004; LIMA et al., 2014);
• Metilxantinas – cafeína e teobromina (BOAVENTURA et al., 2013);
• Compostos fenólicos – ácido clorogênico e cafeico (LIMA et al., 2014).
253
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES:
Após cinco anos do plantio de mudas originadas via sementes e após dois anos do
plantio de mudas originadas por propagação vegetativa (ZAMPIER, 2001).
3.2 FENOLOGIA
A espécie apresenta períodos fenológicos bem definidos. Os eventos reprodutivos da erva-
mate, desde a formação do botão floral até a maturação dos frutos, ocorrem entre os meses de
setembro a maio (PIRES et al., 2014). De acordo com esses autores, a antese ocorre nos meses de
outubro até novembro; de outubro até o final de março são observados frutos imaturos e, em maio
ocorre a mudança de coloração dos frutos de verde (Figura 1A) para vermelho arroxeado (Figura 1B).
Silvicultura Tropical
A B
Figura 1. Frutos de erva-mate: A. Frutos verdes; B. Frutos vermelho arroxeados. Foto: Maria
Cecília Mireski (2017)
De maneira geral, os ramos levam entre 35 a 40 dias após o corte para brotar; de 40 a
45 dias após a brotação para ter 50% da planta com flores; de 30 a 40 dias após a floração para
a produção de frutos, e igual período até a maturação (SUERTEGARAY, 2002).
254
As flores são pediceladas e dispostas em inflorescência fasciculada nas axilas foliares,
possuem cálice gamossépalo com quatro sépalas de coloração verde clara e uma corola com
quatro pétalas de coloração branca e quatro estames inseridos entre as pétalas (alternipétalos)
(PIRES et al., 2014).
255
de sementes (BRASIL, 2009), o substrato deve ser inicialmente umedecido com a solução de
nitrato de potássio, mas o reumedecimento, se necessário, deve ser feito com água.
3.7 ARMAZENAMENTO
As sementes de erva-mate podem ser armazenadas à temperatura ambiente por até 30
dias, mantendo o máximo poder germinativo; quando armazenadas a 5ºC (±1) a viabilidade é
mantida por até 150 dias (FONTANA et al. 1990 citado por CATAPAN, 1998).
As sementes de Ilex paraguariensis apresentam comportamento ortodoxo, permitindo
a secagem em câmara seca (14°C ±1°C e 38% ± 3% UR) ao nível de 5,9% de umidade, por um
período de 49 dias (MEDEIROS; SILVA, 2001).
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Silvicultura Tropical
4.2 MANEJO
Após atingirem de 2 a 4 cm de altura, as mudas devem ser transferidas da sementeira
para tubetes médios (100 cm3 de capacidade) em um ambiente com sombrite com capacidade
de interceptação da luz de 70% até atingirem de 10 a 20 cm de altura, após o qual podem ser
transplantas para campo (WENDLING; GUASTALA; DEDECEK, 2007).
Com relação ao substrato a ser utilizado durante a produção de mudas, Wendling et al.
(2007) estudando diferentes formulações de substratos contendo distintas proporções de esterco
bovino curtido, serragem semidecomposta, palito de erva-mate picado, terra de subsolo, substrato
256
comercial à base de casca de pinus e húmus de minhoca, verificaram que aquele composto de 40%
de esterco bovino e 60% de serragem apresentou boa relação custo-benefício, sendo adequado
para produção de mudas de erva-mate.
257
o material sendo de origem seminal, no qual a concentração recomendada foi de 8000 mg L-1. Da
mesma forma, SÁ et al. (2018) verificaram que a aplicação e 8000 mg L-1 beneficiou o enraizamento
de miniestacas de erva-mate, proporcionando 70% de enraizamento.
Já em estacas caulinares rejuvenescidas, a aplicação da auxina sintética IBA não
influenciou o enraizamento, tanto das estacas obtidas de brotações do ano de árvores de 13
anos, quanto de material oriundo da decepa de árvores de 17 anos (BITENCOURT et al., 2009).
Com relação ao substrato, Brondani et al. (2009) indicam o uso da mistura de casca de
arroz carbonizada + substrato à base de casca de pinus e vermiculita (1:1 v/v) na produção de
mudas de erva-mate propagadas via estaquia.
Uma das técnicas amplamente utilizadas para produção clonal de mudas é a miniestaquia.
Esta consiste em manter as plantas matrizes (denominadas minicepas) em recipientes (tubetes,
bandejas, vasos, telhas de amianto, sacos plásticos) onde, após a poda dos ápices, estas emitem
brotações que são coletadas, estaqueadas e mantidas em casa de vegetação até a formação do
sistema radicial, originando assim mudas geneticamente idênticas a planta matriz.
Silvicultura Tropical
258
v/v) de IBA na concentração de 6000 mg L-1 por 10 segundos, plantadas em bandejas contendo
substrato de cascas de arroz carbonizado e mantidas no ambiente de enraizamento por 90 dias.
Foram verificados adequados índices de enraizamento, sobrevivência, número e comprimento
de raízes com uso desta técnica.
A propagação clonal da erva-mate também pode ser realizada por meio da
micropropagação. Esta técnica consiste em cultivar qualquer parte destacável da planta matriz
(e.g. gemas, ápices caulinares, meristemas, fragmento de raízes, folha) denominado explante,
em recipientes contendo o meio de cultura em condições laboratoriais, com completo controle
de temperatura, umidade, fotoperíodo e assepsia.
Protocolos de cultivo in vitro recomendam o uso de ápices caulinares oriundos de embriões
zigóticos imaturos de erva-mate, cultivados em meio base formado por ¼ da concentração dos
sais do meio MS (Murashige & Skoog), 8,88 µM de BAP (6-benzilaminopurina) e 7,38 µM IBA
(HORBACH et al., 2011). Já GRIEBELER et al. (2014) sugerem o uso de 0,5 µM NAA (ácido naftaleno
259
Porém, um dos problemas recorrentes durante a prática da enxertia é a oxidação dos
tecidos no ponto de soldadura, acarretando na redução dos índices de pegamento e sobrevivência
dos enxertos. No entanto, tal efeito pode ser minimizado com a aplicação de antioxidantes como
ácido cítrico e polivinilpirolidona (WENDLING; HOFFMANN; LIRA, 2004).
Além disso, a espécie é diplóide (2n=40); desta forma, os modelos tradicionais de genética
quantitativa baseados em diploidia podem ser aplicados à erva-mate (RESENDE et al., 2000).
O melhoramento genético da espécie iniciou em 1974 na Argentina e, na década de
90 no Brasil, objetivando obter cultivares e sementes geneticamente superiores, com enfoque
principalmente nas características silviculturais como: produção de massa verde, resistência a pragas
e doenças, adaptação, desfolhamento, tipo de ramificação e arquitetura (RESENDE et al., 2000;
SIMEÃO et al., 2002).
Tais programas de melhoramento são conduzidos pelo Instituto Nacional de Tecnologia
Agropecuária (INTA) na Argentina, pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural
de Santa Catarina (EPAGRI) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)
(RESENDE et al., 2000).
Até as últimas décadas, o programa de melhoramento do INTA baseou-se na seleção
de clones e progênies considerando o rendimento a campo; porém, estudos recentes têm sido
realizados utilizando ferramentas moleculares.
Quanto ao programa da EPAGRI, esta possui uma das maiores coleções brasileiras de erva-
mate, com indivíduos de várias procedências, todas de origem natural e com grande variabilidade
fenotípica (VIDOR et al., 2002). Estudos preliminares foram conduzidos a fim de selecionar
procedências considerando: altura de planta, diâmetro de copa, densidade foliar, sobrevivência das
plantas, comportamento de rebrote e identificação de plantas femininas e masculinas, sendo então
260
identificadas seis procedências: Água Doce, Concórdia, Barão de Cotegipe, Passo Fundo, Ilópolis e
Venâncio Aires, as quais se destacaram em todas as variáveis analisadas (VIDOR et al., 2002).
Por sua vez, o programa conduzido pela Embrapa (PROMEGEM) baseia-se na conservação
genética, avaliação e seleção de procedências e progênies de meios-irmãos de erva-mate em
vários locais do Paraná e Rio Grande do Sul, considerando a variabilidade genética entre e
dentro de populações (RESENDE et al., 2000; SIMEÃO et al., 2002; STURION, 2009).
Além disso, nos programas de melhoramento mais recentes, estão sendo consideradas
as propriedades associadas às características dos produtos oriundos da erva-mate. Pesquisadores
da Embrapa Florestas estão trabalhando na seleção de plantas com teores conhecidos de cafeína,
teobromina, compostos fenólicos e saponinas, substâncias que podem atender as demandas da
indústria farmacêutica, alimentícia e cosmética.
Estudos indicam que o potencial de produção destas substâncias, principalmente
cafeína, advém de 60% da característica genética da planta. Desta forma, pesquisas estão em
261
A b
Silvicultura Tropical
d e
Figura 2. Erva-mate: A. Plantio puro em espaçamento de 3x2 m. B. Plantio misto, consorciado com Araucaria
angustifolia em fase adulta. C. Plantio misto, consorciado com Araucaria angustifolia em fase juvenil. D. Poda
de erveiras com manutenção do “baixeiro”. E. Poda total de erveiras sem manutenção de ramos e folhas.Fonte:
Fazenda Vila Nova, Bitumirim Ind. e Com. de Erva-mate Ltda., Ivaí- PR.
262
6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS
6.1 SISTEMA DE PLANTIO
A partir da década de 1980, fomentou-se a implantação de ervais homogêneos, principalmente,
em decorrência da expansão do plantio de culturas anuais, em áreas onde se explorava ervais nativos
(ANDRADE, 2002; SANTIN et al., 2013). A erva-mate é tradicionalmente cultivada em ambiente
sombreado, mas com boa adaptação a pleno sol, seu plantio pode ser realizado em ambas as condições,
de acordo com os objetivos de produção. No Brasil, os sistemas de plantio de erva-mate podem ser
divididos em plantios extrativistas, com plantas de ocorrência natural, estabelecidas em sub-bosque
de floresta ombrófila mista, plantios semiextrativistas, com plantas que são mantidas em sub-bosque
de floresta ombrófila mista manejada, com ou sem adensamento, visando a melhoria no sistema de
produção de erva-mate e, plantios puros de erva-mate, atuando esta como uma espécie agronômica.
Neste último, há ainda a possibilidade de aplicação de Sistemas Agroflorestais, em consórcio com
culturas agrícolas anuais (EMBRAPA, 2010; PALACIOS, 2010).
6.2 ESPAÇAMENTO
A definição do melhor espaçamento a ser utilizado na produção de biomassa de erva-mate
dependerá do sistema de plantio adotado. Para plantios puros, recomendam-se espaçamentos
de 2,0 m x 2,0 m (2500 plantas ha-1), 3,0 m x 2,0 m (1667 plantas ha-1) e 3,0 m x 1,5 m (2222
plantas ha-1) (Santin et al., 2014). Para plantios mistos, a densidade apresentará relação direta com
a intensidade luminosa que chegará até as plantas, seja na condição de plantios em consórcio com
espécies florestais ou mesmo em condição de sub-bosque em Floresta Ombrófila Mista.
Em condição de sub-bosque, recomenda-se o espaçamento de 2,0 m x 2,0 m (2500 plantas
ha-1), ou um dos espaçamentos descritos para plantios puros. Devido à heterogeneidade na entrada
de luz, pode-se optar pelo uso de espaçamentos variáveis em função da intensidade luminosa. Nestes
casos, sugere-se a manutenção de um espaçamento fixo entre linhas e redução do espaçamento entre
plantas em pontos de maior incidência luminosa.
263
Em sistemas agroflorestais, em consórcio com culturas agrícolas, pode-se optar pela
utilização de linhas simples ou múltiplas. O espaçamento pode ser fixo entre plantas, de 1,50 m, e
variável entre renques, dependendo dos equipamentos agrícolas utilizados no sistema de cultivo
das culturas anuais. A utilização de plantios com maior densidade amplia proporcionalmente os
custos de implantação e manutenção, devendo-se avaliar todas as etapas de plantio e manejo para
a determinação do espaçamento a ser adotado.
6.3 ADUBAÇÃO
Para a adubação da cultura de erva-mate, deve-se levar em consideração as diferentes fases
do ciclo de produção da espécie. Isto inclui o preparo do solo pré-plantio, fases de formação da
copa e produção de biomassa comercial. A tolerância da espécie a níveis elevados de Al3+ faz com
que a aplicação de calcário tenha por objetivo o suprimento de Ca e Mg, o qual pode ser aplicado
na cova ou na área total de plantio, incorporado ou não ao solo (SANTIN et al., 2014).
A adubação no plantio deve ser realizada de acordo com a análise química do solo. Pode ser
Silvicultura Tropical
264
A época de preparo do solo deve ocorrer próxima à época de plantio, geralmente no
inverno, por levar a um menor estresse das mudas devido aos efeitos climáticos. Em áreas de sub-
bosque, o preparo do solo e plantio podem ser realizados durante todo o ano, atendo-se apenas à
disponibilidade de água para o pegamento e desenvolvimento inicial das mudas.
265
A poda de formação é essencial para orientar o desenvolvimento dos ramos laterais, com ocupação
de maior área horizontal e melhor relação de ramos finos.
A poda de limpeza, realizada previamente à colheita, tem por objetivo colher os ramos
maduros dominados na parte inferior da erveira. Pode ser realizada nos meses de abril, para
plantas maduras; e entre julho e agosto, para plantas jovens. Serve também como método de
controle cultural contra agentes danosos, uma vez que se removem os ramos com alguma indicação
fitopatológica (EMBRAPA, 2010).
A poda de condução é realizada na época da colheita de biomassa comercial e está
relacionada à produtividade e longevidade das erveiras (SCARPARE FILHO et al., 2011). Inicia-se
entre o 2o e 4o ano após o plantio do erval, ocorrendo em intervalos de 12, 18 ou 24 meses. A
poda de condução consiste na colheita manual de todos os ramos finos que estiverem orientados
para o centro da copa, incluindo os ramos dominantes com tecidos maduros, mantendo-se uma
porção basal de 10 a 15 cm de comprimento. Devem ser eliminados os ramos sombreados e/ou
malformados, desde a sua inserção. Mantem-se os ramos jovens (imaturos) que estejam dispostos
Silvicultura Tropical
horizontalmente ao solo (do centro para fora da copa), os quais serão colhidos futuramente e
servirão para ampliar a copa da erveira. Recomenda-se a manutenção de pelo menos um ramo
com folhas em cada galho.
A melhor época para realização da poda das erveiras é entre os meses de maio e agosto
(EMBRAPA, 2010). Recomenda-se evitar o corte de ramos “bandeiras” com caule imaturo (cor
verde), cortando-se apenas aqueles com diâmetro maior que 2,5 cm e tecidos maduros na base.
Deve-se cortar em bisel, com ferramentas limpas e afiadas, tomando-se cuidado para não deixar
lascas provenientes da poda. Há ainda a poda de rebaixamento via decepa, recomendada para
ervais com elevada idade e que já tenham entrado em decadência produtiva. Pode ser executada
de uma só vez ou em etapas ao longo de dois anos, tendo por objetivo revigorar as erveiras e
formar uma nova copa (SCARPARE FILHO et al., 2011).
266
colheitas de 12, 18 e 24 meses em plantios puros ou mistos adensados (SANTIN et al., 2014) e de até
60 meses em sistemas extrativistas.
Em sistemas puros, ou em condução adensada sob sub-bosque, recomenda-se a aplicação
de ciclos de corte anuais (12 meses), com remoção de, no máximo 70% da copa, mantendo-se área
foliar suficiente para uma boa recuperação das erveiras (DANIEL, 2009; SANTIN et al., 2014). Em
casos de colheita bianual, a remoção da copa pode alcançar até 80% (Figura 2D).
A aplicação de ciclos de colheita anuais tem sido economicamente mais viável aos
produtores que os ciclos bianuais (MEDRADO; MOSELE, 2004).
O aumento do intervalo entre as colheitas favorece o crescimento dos ramos mais
grossos em detrimento da biomassa comercial, gerando assim uma redução na relação entre
biomassa comercial e biomassa não comercial (SANTIN et al., 2014). A vida útil produtiva dos
povoamentos de erva-mate tem variado entre 35 a 40 anos (EMBRAPA, 2010).
267
em épocas que antecedam o início da retomada de crescimento das plantas, o que comumente
ocorre na primavera e, em menor intensidade no outono, para a erva-mate (RAKOCEVIC;
MARTIN, 2011). Santin et al. (2014) recomendam que a adubação das fases de formação de
copa seja realizada em um círculo na projeção da copa, distante 40 cm do caule, para plantios
com densidade inferior a 1800 plantas ha-1; para plantios com densidade superior, pode-
se realizar a adubação em área total. Já para a fase de produção, os autores recomendam a
adubação em área total, respeitando-se a distância de 40 cm do caule.
A quantidade total dos fertilizantes pode ser parcelada em duas, três ou quatro aplicações,
em frações iguais, de acordo com o intervalo entre colheitas (12, 18 ou 24 meses). A última
quantidade aplicada, principalmente potássica e nitrogenada, não deve ficar distante da data
programada para a colheita, evitando assim que as plantas sofram por deficiência nutricional
no momento de retomada de crescimento (SANTIN et al., 2014). O aporte de matéria orgânica
gerado pelos resíduos da poda ou da manutenção da cobertura vegetal do solo são importantes
para a compensação nutricional dos ervais (SANTIN et al., 2014; THOMAZ; ANTONELI, 2008).
Silvicultura Tropical
8. POTENCIAL PRODUTIVO
8.1 RENDIMENTOS ECONÔMICOS
A cultura da erva mate é uma alternativa técnica e economicamente viável tanto como
plantio homogêneo quanto em sistemas agroflorestais contribuindo, principalmente, para o
fortalecimento da agricultura familiar por meio do aumento na produção, diversificação de
produtos e renda (JUNIOR et al., 2017; RODIGHERI, 1997).
Na tabela 1. são apresentados os custos fixos e variáveis de um erval natural sombreado
com adensamento em pequena propriedade rural na região Paraná.
268
Tabela 1. Custos fixos e variáveis de um erval natural sombreado com adensamento em
pequena propriedade rural.
Descrição Custos (R$/ha)
Custos Fixos
Remuneração do capital fixo 240,12
Subtotal Custos Fixos 240,12
Custos variáveis
Aquisição de insumos e ferramentas 936,26
Custos de implantação do adensamento 585,00
Custos de poda de formação das nativas 380,70
Custo de colheita – erva mate adensada e não adensada 3.240,00
Custos de manutenção 405,00
Pagamento de encargos sociais dos colaboradores
Safra da erva mate não adensada 3.997,35
Safra da erva mate adensada e não adensada 6.281,55
Subtotal custos variáveis 15.825,86
A maior proporção dos custos totais está ligada aos custos variáveis, respondendo por
98,5%, dos quais 48% devem-se ao pagamento de encargos sociais aos colaboradores (VIEIRA,
2012). De acordo com Junior et al.( 2017) o valor da muda foi o que mais impactou o custo total
durante fase de implantação do erval, representando 49% do custo total.
Com relação a análise dos indicadores econômicos demonstrados na Tabela 2, o valor
presente líquido (VPL) da erva-mate é rentável independentemente do tamanho da área plantada
(MALINOVSKI et al., 2006). De acordo com esses autores, a taxa interna de retorno (TIR) indica
que a atividade é capaz de superar a taxa mínima de atratividade e, mesmo com a redução no VPL
promovida pela inserção do custo de oportunidade da terra nos custos, a atividade mantêm-se
economicamente rentável ao produtor.
Tabela 2. Indicadores econômicos para o cultivo da erva-mate em São José dos Pinhais – PR (2001).
Indicadores econômicos
Tamanho da área VPL (R$) com custo de
plantada (ha) VPL (R$) TIR
oportunidade. da terra
0,480 3278,13 22% 1956,45
0,990 7143,02 24% 4407,92
1,211 8748,02 24% 5899,23
1,508 10953,16 24% 7404,17
(MALINOVSKI et al., 2006).
269
A cultura da erva-mate tem seu retorno de investimento no quinto ano após o plantio, e o maior
investimento ocorre no primeiro ano com a redução deste a partir do segundo ano, estabilizando a
produção no nono ano (JUNIOR et al., 2017).
controle de pragas e manutenção da qualidade das erveiras e, a baixa qualidade genética das
mudas produzidas que, com raras exceções, são plantadas no Brasil.
De acordo com Santin et al. (2014), a perspectiva de produção de biomassa comercial
em solos com disponibilidade adequada de nutrientes deveria ser superior a 20 t ha-1. Estudos
recentes têm mostrado que resultados ainda superiores a estes poderiam ser alcançados com a
melhoria da qualidade genética dos materiais utilizados em plantios de novos ervais (STURION et
al., 1995; STURION; RESENDE, 2005; 2010). Em testes de procedências e progênies conduzido pela
Embrapa Florestas, Wendling et al. (2016), verificaram variações na produtividade: entre sexo, com
maior produtividade média em plantas do sexo feminino (14,10 Kg planta-1); entre morfotipos,
com destaque para o morfotipo denominado sassafrás (10,51 Kg planta-1); e procedências, com
destaque para os materiais provenientes de Quedas do Iguaçu (PR), Barão de Cotegipe (RS) e Ivaí
(PR), este último correspondente à região de implantação e avaliação dos diferentes materiais.
A evolução das técnicas de propagação assexuada da espécie (vide item 4. Produção de
mudas), ainda em processo de consolidação, traz consigo a perspectiva de um aumento significativo no
potencial produtivo da espécie. Avaliando sete procedências por um período de 18,5 anos, Wendling
et al. (2018) e Sturion et al. (2017) afirmam que a seleção dos melhores 30 clones, com base no
valor genotípico previsto (u+g), resultaria em um ganho de 372,6% para a variável produção de
biomassa comercial, ressaltando ainda, que os clones com maior potencial de produção de biomassa
apresentaram produção média após 18,5 anos acima de 40 Kg planta-1. Com isso é possível inferir
270
sobre a capacidade produtiva dos novos ervais. Por exemplo, uma ou várias procedências clonais,
implantadas em sistema puro, com espaçamento fixo de 3 m x 1,5 m (2222 plantas ha-1) e uma
produtividade média de 20 Kg planta-1, proporcionaria uma produtividade subestimada acima
de 40 t ha-1 em ciclos de bianuais, como o apresentado pelos autores.
9. PATOLOGIA FLORESTAL
9.1 DOENÇAS E PRAGAS
Em sistemas de cultivo misto, em sub-bosque florestal, não tem sido verificados danos
significativos causados por pragas ou doenças, fato que está relacionado ao equilíbrio biológico
gerado pela diversidade de plantas e insetos, mantendo quaisquer agentes danosos potenciais em
baixos níveis populacionais (BORGES et al., 2003). Em plantios puros, a ausência de inimigos naturais
tem gerado constantes relatos de ocorrências de pragas na cultura. Pesquisas indicam mais de 80
espécies de insetos que se alimentam de diferentes partes da planta de erva-mate, alguns, entretanto,
271
Thelosia camina é uma lagarta (Figura 3D) que provoca considerável redução da biomassa
comercial de erva-mate. Possui registro de ocorrência entre os meses de setembro e março, com
pico populacional no início de dezembro (PENTEADO et al., 2000). Ataca tanto plantas jovens
como plantas adultas a campo (IEDE; MACHADO, 1989), sendo capaz de desfolhar totalmente
erveiras em períodos de 24 horas (GALLO et al., 1988).
Silvicultura Tropical
A b c
D E F
Figura 3. Erva-mate: A. Planta morta por ataque de Hedypathes betulinus. B. Hedypathes betulinus
na fase adulta. C. Planta sendo atacada por Thelosia camina. D. Lagarta de Thelosia camina. E. Ninfas e
excrementos de Gyropsylla spegazziniana. F. Folha jovem atacada por Gyropsylla spegazziniana.
Fonte: Fazenda Vila Nova, Bitumirim Ind. e Com. de Erva-mate Ltda., Ivaí- PR.
272
o controle biológico por meio de parasitóides de Eurytoma sp. (TRUJILLO, 1995), Labena fiorii
sp. (GRAF; MARZAGÃO, 1999) e principalmente pelo uso de Beauveria bassiana (Balls.) Vuil.,
que apresentam elevada patogenicidade contra adultos de H. betulinus (FANTI et al., 2013;
SCHAPOVALOFF et al., 2014).
O controle também pode ocorrer com a poda dos ervais, por meio da maior abertura do
centro da copa, deixando-a em formato de taça e assim, tornando H. betulinus mais suscetível
ao ataque de predadores naturais e elevada luminosidade (SOARES; IEDE, 1997). A ampliação
da complexidade de espécies dos plantios, principalmente arbóreas, é também uma das formas
de ampliar a presença de predadores, levando à redução dos níveis populacionais da praga.
Segundo informação pessoal do Sr. Afonso Oliszeski, proprietário da Bitumirim Ind.
e Com. de Erva-mate Ltda., localizada em Ivaí- PR, ao longo de 40 anos de sua experiência
cultivando erva-mate, o consórcio de erva-mate com Araucaria angustifolia (Figura 2 B, C), mesmo
em baixa densidade, tem mostrado elevada eficiência no controle populacional de H. betulinus.
273
10. REFERÊNCIAS
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279
Mimosa
caesalpiniifolia
Benth.
Luciana Aparecida Rodrigues
Engenheira Florestal, graduação pela Universidade
Federal de Viçosa, Mestrado em Fitotecnia pela
Universidade Federal de Viçosa e Doutorado
e pós doutorado em Produção Vegetal pela
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro. Atualmente é professora Associada da
Silvicultura Tropical
280
Mimosa caesalpiniifolia Benth.
(homotípico Mimosa caesalpiniaefolia
(Benth.)), pertencente à família Fabaceae
Lindl., possui diferentes nomes comuns:
sabiá, cebiá, sansão-do-campo, unha
de gato. Uma das exsicatas (Figura 1)
encontra-se depositada no The New York
Botanical Garden (Dutra e Amorim 2015).
Esta espécie é endêmica do Brasil, com
presença confirmada nas regiões Norte
(Amazonas, Pará, Rondônia), Nordeste
1. BOTÂNICA
O sabiá (Figura 2a) é uma árvore que pode chegar a até 12 m de altura e 30 cm de
diâmetro de tronco (Campos Filho & Sartorelli 2015). A copa é aberta, o tronco possui casca
espessa (Figura 2b), com presença de pontuações glandulares negras.
281
Silvicultura Tropical
Figura 2: Mimosa caesalpiniifolia Benth. Plantas em cerca viva (A); Fusto e casca (B);
Presença de acúleos em ramos jovens (C); Ramos e folíolos (D).
Os ramos são armados com acúleos recurvados e dilatados na base, estriados, castanho-claros
a acinzentados, sendo de glabros a pubérulos (Figura 2c), com pontuações glandulares negras; es-
típulas linear-lanceoladas de 3 - 7 mm de comprimento (Amorim et al. 2016). Os acúleos se apresen-
tam desde os ramos mais jovens aos mais velhos. No entanto, são encontradas na natureza plantas
sem a presença destes acúleos.
As folhas são pinadas, com 2 a 4 pares de pinas, 2 a 4 pares de folíolos (Figura 2d). Os pecíolos
medem de 2,2 a 3,7 cm de comprimento, apresentam raque 1,2 - 4,4 cm. Os folíolos distais apresentam
31 - 38 x 21 - 29 mm e são ligeiramente obovais com ápices arredondados, base oblíqua, margem dis-
cretamente crenada, glabros em ambas as faces e com 3-nérvios (Amorim 2014). A árvore não apresenta
desrama natural, mantendo grande quantidade de galho quando não é realizada a desrama artificial.
282
As espigas (Figura 3a, b) apresentam 4,7 - 5,6 cm de comprimento, 1 - 2 fasciculadas, cilíndricas,
axilares ou agrupadas em panículas terminais com pedúnculo de 8 - 18 mm de comprimento, pubes-
cente. As brácteas são lanceoladas ao longo do pedúnculo com duas bractéolas na base de cada flor. As
flores (Figura 3a) são trímeras, diplostêmones, sésseis, brancas, bissexuais, cálice campanulado, glabro,
inconspícuo, lacínias retas; corola gamopétala, com cerca de 2 mm de comprimento, lacínias levemente
patentes. Os estames são de 6,5 - 6,0 mm de comprimento, dialistêmones, filetes brancos, anteras
isomorfas, castanho-claras, ovário séssil (Amorim 2014).
Figura 3: Mimosa caesalpiniifolia Benth. Espigas (A); Flores e cachos (B); Vagens imaturas
(C); Sementes claras, sementes escuras e artículos (D); Detalhes da semente clara, semente
escura e artículo (E).
283
Os frutos apresentam cerca de 10 cm de comprimento (Figura 3c), sendo craspédio,
estipitado, artículo quadrado a retangular, indeiscente, liso, verdes, quando jovem e marrom,
quando maduro (Queiroz 2009). As sementes com variam de 5,4 a 6,9 mm de comprimento e 4,8
a 6,3 mm de largura (Alves et al. 2005), são de creme a marrom-claro (Figura 3d, e) em formato
obovóide, não alada (Lima 1985).
de lignina e densidade ponderada média de 0,80 g cm-3 (Gonçalves et al. 1999). Gonçalves et
al. (2010) caracterizaram a madeira do sabiá e observaram que o fuste apresentou, em média,
7,5% de casca, 36% de umidade, 9% de extrativos e 4,2 t ha-1 de extrato potencial de tanino.
Segundo os mesmos autores, a densidade básica da madeira não é homogênea, ela varia na
direção radial e na direção axial do tronco. O carvão do sabiá tem alto poder calorífico, o rendi-
mento gravimétrico de 32,04%, teor de cinza de cerca de 1,71% e rendimento em carbono fixo
em 25,40% (Campos Filho & Sartorelli 2015) e o peso específico da madeira é em torno de 0,87
g cm-3 (Ribaski et al. 2003). A madeira é indicada para a produção de carvão vegetal e lenha,
em função das suas boas características físico-químicas (Carvalho 2007). Plantios destinados a
produção de carvão e lenha é uma alternativa para reduzir a pressão sobre florestas nativas e
diversificar a renda dos produtores.
Carvalho (2007) descreve a madeira como dura, compacta, com superfície lisa e brilhante
e, sua durabilidade é mantida quando submetida à umidade ou quando enterrada. Mesmo sem
tratamento, ela apresenta vida útil acima de 20 anos (Pareyn et al. 2018), sendo indicada para
construção de cerca e também como tutora de cultura como a uva. A madeira possui resistência
natural a cupins (Nasutitermes corriger Motsch) que pode ser devido ao teor de cinzas e de extrativos
fenólicos existentes em sua madeira, sendo que as estacas com fenótipo sem acúleos são as mais
indicadas para uso em construções rurais, uma vez que apresentam menor perda de massa provocada
pela ação dos cupins (Alencar et al. 2011).
284
2.2 Produtos não madeireiros
• Extrato da madeira: o sabiá se apresenta como alternativa para a produção de ade-
sivos para aplicação na fabricação de chapas de madeira aglomerada. O rendimento de extratos po-
lifenólicos é de 3,7 - 4,6% na madeira (Gonçalves et al. 2003). Todas as partes da planta apresentaram
taninos vegetais, porém, a casca apresenta maior teor de taninos condensados, o que pode justificar
sua extração a nível comercial (Azevedo et al. 2017).
• Cerca viva: esta forma de utilização do sabiá é largamente utilizada e faz com que
esta espécie seja amplamente conhecida, uma vez que muitos quilômetros de plantios são obser-
vados a margens de rodovias e estradas. Oferece proteção e segurança com baixo custo, apresenta
grande durabilidade, diminui a visibilidade interna de forma mais ecológica e com melhor aspecto
paisagístico em propriedades rurais, indústrias, loteamentos. Nas áreas de mineração diminuem
o impacto visual gerado pela atividade. Os acúleos das plantas de sabiá fornecem proteção contra
• Uso na alimentação animal: as ramas do sabiá são apreciadas por bovinos, caprinos
e ovinos, apresentando-se como fonte de proteínas e nutrientes, resultando em aumentos de pro-
dução animal (Carvalho et al. 2006). A alimentação de cabras com folhas secas de M. caesalpiniifolia
representa uma alternativa promissora para o controle de infecções por nematóides gastrointestinais,
responsáveis por consideráveis perdas econômicas na caprinocultura (Brito et al. 2018). A concen-
tração total de tanino condensado e proteína precipitada por fenóis no sabiá é maior comparativa-
mente a outras leguminosas como o Cajanus cajan, Gliricidia sepium, dentre outras (Pereira et al.
2018). Por ser uma leguminosa com capacidade de se associar a bactérias diazotróficas, consegue
maior aquisição de N, elevando o teor proteico das folhas. O teor de proteína bruta é de 13,48% a
17,06% das folhas e dos frutos maduros ou secos (Campos Filho & Sartorelli 2015), tornando im-
285
portante seu uso como forragem (Moura et al. 2006). Aos 60 dias após a poda em plantas com
13 anos de idade, Caldas (2007) obteve a biomassa seca de forragem de 147 e 158 kg ha-1 no
período de seca e de chuva, respectivamente.
A presença de acúleos dificulta o manejo de podas nessa espécie, mas plantas sem acúleos já
vem sendo cultivadas, o que facilita o manejo das plantas e o pastoreio. Também não foram verificadas
diferenças na composição química, no que se refere à alimentação animal, entre plantas com e sem
acúleos (Vieira et al. 2005). A produção e qualidade das plantas são diferenciadas entre o período de
seca ou de chuva. No período chuvoso, de acordo com Vieira et al. (2005), foram observados 26,45%
de matéria seca; 27,63% de proteína bruta, 44,39% de fibra em detergente neutro (FDN), 25,80%
de fibra em detergente ácido (FDA), 1,24% de cálcio (Ca), 0,22% de fósforo (P), 1,63% de potássio
(K) e 1,12% de sódio (Na). No período seco, os valores médios observados foram de 42,39% de MS;
19,30% de PB; 39,05% de FDN; 21,83% de FDA; 1,25% de Ca; 0,15% de P; 1,63% de K e 0,27% de
Na, indicando, ser uma espécie importante em períodos de menor crescimento de outras forrageiras.
Além do uso como forrageira, o cultivo do sabiá em sistema silvipastoril atua como sombra para o
Silvicultura Tropical
• Apicultura: esta espécie tem potencial como melífera. Nas condições edafoclimáticas
do Nordeste brasileiro pode ser usada como fonte de recursos alimentares (em especial pólen), per-
mitindo a manutenção de grandes colônias de abelhas (Döhler & Pina 2017). A maior produtividade
de néctar e pólen ocorre nos períodos chuvosos (Santos et al. 2018). Dentre as abelhas que visitam
o sabiá está a Melipona subnitida Ducke, conhecida como jandaíra. Esta abelha é nativa do nordeste
do Brasil, é sem ferrão e o seu mel é muito conhecido pela população do Nordeste, que lhe atribui
propriedades medicinais. Análise realizada por Silva et al. (2013), mostrou predominância do pólen
de sabiá nas amostras do mel produzidas por essas abelhas.
286
material orgânico e de nutrientes, o que é fundamental para a sustentabilidade dos ecossistemas
(Costa et al. 2004). Mendonça et al. (2008) verificaram em cavas de extração de argila em
recuperação, que o sabiá aos 12 meses promoveu a entrada de fitomassa seca de 3,6 t ha-1 no
cultivo puro e de 1,3 t ha-1 no cultivo consorciado com Eucalyptus robusta, sendo a quantidade de
nutrientes fornecidos somente pelas folhas podadas dessas plantas de N=37,5; P=2,7; K=1,3;
Ca=26,4 e Mg=46,9 kg ha-1. A serapilheira das folhas de sabiá pode acumular anualmente por
hectare 133 kg de N; 6 kg de P; 18 Kg de K; 40 Kg de Ca e 16 Kg de Mg (Andrade et al. 2000). Isso
é particularmente importante quando se trata de recuperação de áreas onde a camada orgânica do
solo é removida como é o caso de área de mineração.
Outra característica importante desta espécie é a capacidade de estabelecer associações
simbióticas com microrganismos, aumentando a possibilidade de desenvolvimento da espécie frente
a adversidades. O sabiá estabelece associação com fungos micorrízicos arbusculares (FMAs), que
possibilita o aumento na absorção de nutrientes no solo, por meio das hifas extracelulares, aumentando
• Adubação verde: folhas e ramos do sabiá podem ser depositados no solo como adubo
verde com alto teor de N, proveniente da FBN, e também dos nutrientes absorvidos pelas raízes e
transferidos para a parte aérea. Pode ser plantado nas entrelinhas de uma cultura, plantio em aleias
ou mesmo pode ser utilizado material proveniente da poda da cerca viva. Aos 65 dias após a aplicação
de podas do sabiá no solo foram observados aumentos no conteúdo dos nutrientes na parte aérea
de plantas de milho (Oliveira et al. 2018), indicando que esta espécie pode recuperar a fertilidade do
solo e fornecer nutrientes para outras culturas.
287
• Compostagem: as folhas e ramos jovens do sabiá podem ser utilizados na produção
de composto orgânico e / ou húmus em vermicompostagem. São utilizadas folhas verdes ou secas
oriundas das podas ou senescência natural, juntamente com outros materiais de baixa relação C/N (fácil
decomposição) e ativador ou isca [estercos, cama de frango, composto orgânicos, farinhas (de sangue,
de peixe, de ossos) e tortas orgânicas de processamento industrial]. Em folhas senescentes a relação C/N
é de 15:1 e nos ramos (de até 20 mm de diâmetro) é de 29:1. Os ramos jovens podem ser utilizados,
desde que sejam triturados, para facilitar a ação dos microrganismos decompositores. Os ramos e galhos
maduros não são recomendados por serem de difícil decomposição, podendo ser utilizados para a
estrutura das leiras, para a proteção da pilha de compostagem contra o excesso de radiação solar e perda
da umidade e para auxiliar no revolvimento para o aumento da aeração.
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 Fenologia, época de floração, frutificação e colheita
Silvicultura Tropical
No bioma Caatinga, o sabiá é a espécie arbórea que entra em dormência mais cedo na
estação seca, podendo acontecer de agosto a setembro, dependendo da data do fim do período
chuvoso, com perda total de suas folhas. Aproximadamente, 60 dias após o início das chuvas, a
vegetação plena é alcançada, seguindo-se a floração, que pode durar até dois meses (Pereira et al.
1989). Na Região Nordeste, a floração ocorre no início do período chuvoso, podendo acontecer
também de março a abril no Maranhão; de abril a junho, em Pernambuco; de outubro a dezembro
no Ceará e de novembro a dezembro em Sergipe (Pareyn et al. 2018). Na Região Sudeste a planta
apresenta maior taxa de deposição de material senescente no período de fevereiro a junho que
corresponde a época de redução da temperatura e da precipitação (Andrade et al. 2000). Com isso
a floração pode variar de uma região para outra dependendo do clima. Dentre os visitantes da
florada estão Apis mellifera, Scaptotrigona postica e Melipona subnitida (Santos et al. 2018).
Regiões em que a floração se estabelece de abril a junho, a frutificação ocorre de maio a
outubro, sendo que, nesse caso a queda dos frutos ocorre a partir de setembro (Ribaski et al. 2003).
De acordo com Lorenzi (2017), em florescimentos que ocorrem entre os meses de novembro e
março, e o amadurecimento dos frutos ocorre de setembro a novembro.
288
al. 2004), quando os frutos iniciarem a queda espontânea, podendo ser colhidos diretamente da
árvore (Lorenzi 2017), o que possibilita até 80% de germinação das sementes e acúmulo máximo de
massa seca (Alves et al. 2004). Deve-se, em seguida, levá-los ao sol para secar para facilitar a abertura
manual e retirada das sementes. Não há a necessidade de retirar as sementes das pequenas vagens,
bastando separar os seus artículos (Lorenzi 2017). Um quilograma de sementes apresenta de 22.400
a 33.000 unidades (Ribaski et al. 2003, Lorenzi 2017). O vigor das sementes apresenta relação direta
com o seu tamanho, justificando-se a adoção de classes de tamanho para a formação de mudas. O
peso de 100 sementes é de 26,4 g para sementes pequenas, de 36,9 g para sementes médias e de
de 48,0 g para sementes grandes (Alves et al. 2005).
289
de água e ocorre a maturação fisiológica, as sementes de sabiá tornam-se mais dormentes (Alves
et al. 2004). Ensaios de restrição hídrica (com sementes submetidas à superação de dormência por
meio de desponte na região oposta à micrópila) indicaram alta qualidade fisiológica das sementes
quando submetidas a capacidades de retenção de 40% e 50%, contudo, mostraram–se capazes de
se adaptar ao estresse hídrico severo, apresentando resultados satisfatórios também aos 20% de
retenção hídrica, podendo assim, ser utilizada com sucesso em algumas fases na recuperação de
áreas degradadas (Bezerra et al. 2019).
3.4 Armazenamento
A viabilidade de sementes armazenadas a seco é superior a um ano (Carvalho 1976, Lorenzi
2017). Medeiros et al. (2014) verificaram que o armazenamento de sementes de sabiá em recipientes
de vidro em ambiente de laboratório (25 ºC e 31% UR), por períodos de até dois anos, garante a viabili-
dade de lotes de sementes desta espécie. Na natureza, o poder germinativo dura até o primeiro inverno
(Durigan et al. 1997). A taxa de germinação varia entre 65% a 90% (Carvalho 1976, Alves et al. 2005),
Silvicultura Tropical
sendo que as sementes claras e escuras apresentam comportamento semelhante em relação à germi-
nação e sendo maior à temperatura de 25 ºC (Bruno et al. 2001), mas Silva et al. (2008) observaram que
a qualidade fisiológica das sementes de coloração verde clara é melhor que as sementes escuras.
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
A produção das mudas pode ser realizada por semeadura e propagação vegetativa pelo
plantio de estacas.
4.1.1. Substratos: Diferentes substratos podem ser utilizados para o semeio, no entanto,
cada tipo de recipiente requer substrato com características físicas diferentes.
Para o semeio em bandeja ou em canteiros, utiliza-se a areia lavada que facilita a retirada das
290
raízes do substrato. A repicagem para um recipiente de maior dimensão, quando necessário (sacolas
de polietileno), deve ser feita quando as plântulas atingirem 3 a 5 cm de altura (Carvalho 2007).
Para cultivo de mudas em tubetes, a semeadura deve ser realizada diretamente no tubete.
Os substratos, no cultivo dos tubetes, devem proporcionar boa qualidade ao torrão evitando
a quebra das raízes ou a desestruturação do torrão no momento da retirada da mesma para o
plantio. Nesse caso os substratos comerciais são mais indicados, normalmente sendo compostos
por materiais à base de fibra de coco, cascas e vermiculita. Na utilização de substratos comerciais
devem ser seguidas as recomendações do fabricante. Melo et al. (2018) observaram que mudas de
sabiá produzidas em tubetes 110, 180 e 280 cm³ apresentaram maiores qualidades morfológicas
que aquelas produzidas em tubetes de 33 e 55 cm³, no entanto, a sobrevivência no campo
foi semelhante para mudas produzidas em todos os volumes testados, e, além disso, após a
implantação no campo a diferença entre elas tende a desaparecer.
Na produção de mudas em sacos de polietileno, embora a mistura de solo + areia 1: 1 seja
291
filtro (3: 2 v/v) os seguintes teores de macronutrientes (g kg-1) N = 10,3; P = 2,3; K = 14,3; S = 2,0;
Ca = 18,3 e Mg = 3,7. Para os micronutrientes (mg kg-1) são: Fe = 32,71; Mn = 122,4 e Zn = 26,6.
Embora seja considerada uma planta rústica, que cresce em uma variedade de clima e tipos de
solo, as mudas do sabiá são responsiva à adubação com o N (Barroso et al. 1998, Marques et al. 2006,
Gonçalves et al. 2013) e com o P, mas exige baixo requerimento de K e Ca (Gonçalves et al. 2013).
O nível crítico no solo para plantas de sabiá com 120 dias, observadas por Gonçalves et al.
(2013) foram: P = 77 a 110 mg dm-³; K = 51 a 86,5 mg d-³; para Ca = 0,8 a 2,2 cmolc dm-³ e para
o Mg foi de 0,2 a 0,25 cmolc dm-³ de solo.
Trabalhos com recomendação de adubação de nutrientes específica para mudas de sabiá
encontram-se na tabela 1.
292
menor preço no mercado. Alternativamente, o composto orgânico proporciona a entrada de nutrientes
no substrato, sendo aplicado de forma a compor até 30% do volume do substrato.
293
Silvicultura Tropical
294
Os FMAs, indiretamente, interferem na associação da planta com o rizóbio. Isso ocorre porque
o processo de FBN é altamente exigente em energia na forma de ATP, de modo que o aumento no
suprimento de P proporcionado pelo FMA beneficia esse processo (Cassetari et al. 2016). A inoculação
dos fungos micorrízicos Glomus clarum, Gigaspora margarita + o inoculante de rizóbio BR3405 em
plantas de sabiá, em condição de campo, aumentou consideravelmente o crescimento e os conteúdos
de N e P, levando à redução da necessidade de fertilizantes comparativamente às plantas não
inoculadas (Mendes et al. 2013).
295
previamente selecionados para ausência de acúleos. As progênies provenientes da população
melhorada obtiveram maior proporção de plantas sem ou com poucos acúleos, quando comparadas
com um grupo de progênies de população não melhorada. Concluíram que a variabilidade entre
progênies indica a possibilidade de se obter variedade de sabiazeiro forrageiro livre de acúleos. As
progênies melhoradas também foram mais procuradas pelos animais quando foi observado o grau
de preferência dessas progênies por bovinos em pastejo.
Diversas instituições de pesquisa na Região Nordeste do Brasil vêm trabalhando com o sabiá
em programas de melhoramento genético, existindo algumas coleções de acessos que garantem a
conservação da sua diversidade genética em condições ex situ (Machado et al. 2018). Nessas coleções,
a seleção e o melhoramento podem ser destinados para a obtenção de plantas com características
fenotípicas diferenciadas. O uso madeireiro do sabiá também pode apresentar ganhos expressivos com
trabalhos de seleção e melhoramento, uma vez que a espécie apresenta grande variabilidade fenotípica
de características herdáveis, permitindo a seleção de indivíduos com fustes mais retos e de maior
incremento diamétrico, bem como de indivíduos que lancem menor número de galhos, facilitando
Silvicultura Tropical
o manejo para exploração madeireira. Da mesma forma, o potencial medicinal da espécie deverá ser
explorado nesse sentido, potencializando seu uso.
6.2. Espaçamentos
Plantios destinados a produção de mourão, estacas, lenha ou mel requerem espaçamentos
maiores, tais como: 3 x 2,5 m; 3 x 3 m; 4 x 2,5 m ou 4 x 3 m, em plantios puros ou mistos com outras
espécies (Campos Filho & Sartorelli 2015).
Nos plantios de cercas vivas e quebra-vento são utilizados espaçamentos mais reduzidos,
296
mas ainda assim podem sofrer variações. No plantio de cerca viva, onde é requerido impedimento
físico para passagem de pessoas e animais, o espaçamento deve ser de 10 a 20 cm (Figura 5a), com
semeadura de forma contínua diretamente na linha de plantio. Após a germinação das sementes
realiza-se o raleio para ajuste do espaçamento.
Cerca viva para quebra vento ou para diminuir a visibilidade em locais amplos e a maiores
distâncias (áreas de mineração, propriedades rurais às margens de rodovias ou delimitação de
propriedades rurais) onde as plantas serão mantidas acima de 3 m de altura utiliza-se espaçamentos
de 30 a 80 cm de distância. Nestes espaçamentos maiores, o plantio pode ser realizado também
em fila dupla, com distanciamento de 30 - 50 cm entre as fileiras alternando as plantas, de forma a
manter um plantio triangular. Ajustes devem ser realizados no procedimento das podas de condução
de forma a manter uma linha de plantio com plantas mais altas e outra com plantas mais baixa.
No plantio para cerca destinado a divisão de área, onde serão utilizados arames, o espaçamento
é de 2 a 3 metros entre plantas.
297
Esta espécie tolera bem solos ácidos (Costa Filho et al. 2013). A calagem em doses
altas (acima de 3 ton ha-1) pode reduzir o crescimento da planta e a nodulação por bactérias
diazotróficas, sendo desnecessária quando são usadas estirpes de rizóbio selecionadas quanto a
resistência a acidez (Stamford & Silva 2000), entretanto, a calagem deve ser utilizada em áreas
de mineração onde a camada orgânica do solo (camada superficial) foi retirada e não recolocada.
Além disso, com a colheita e a remoção da madeira, ocorre exportação de cálcio, sendo necessária
a sua reposição (Freire et al. 2013). Nos cultivos agroflorestais a calagem deve ser realizada na
cultura de interesse econômico.
Trabalhos sugerindo recomendação de adubação específica para o sabiá na fase de
implantação no campo ou para adubação pós-plantio são escassos. O que se encontra são
recomendações para espécies da mesma família (Fabaceae) ou Leguminosae de maneira geral.
Em plantas com 24 meses, cultivadas em aleias, a aplicação de 60 kg ha-1 de P2O5 na forma de
superfosfato simples, não proporcionou aumento na fitomassa ou alteração nos teores foliares
de nutrientes, inclusive do fosforo (Queiroz et al. 2007). A aplicação das doses de P2O5 de até
Silvicultura Tropical
200 kg ha-1 na forma de superfosfato simples em plantas de sabiá com 13 anos, cultivadas em
solo com baixos teores de P, promoveu pequenos incrementos nas características morfológicas e
na composição química das plantas de sabiá (Caldas 2007). As respostas observadas nas plantas
de sabiá em função da adubação fosfatada dependem da idade da planta, dos teores disponíveis
de nutrientes no solo antes da adubação, da disponibilidade de água, da textura do solo e das
associações com FMAs e rizóbio.
Freire et al. (2013), no manual de adubação e calagem do Estado do Rio de Janeiro sugerem
uma recomendação para leguminosas arbustivas e árvores fixadoras de N2, incluindo, o sabiá. Para
o plantio recomenda-se a aplicação de 25 g por cova de calcário dolomítico (considerando PRNT
de 100%). Em solos com teores disponíveis de fósforo menores que 10 mg dm-3 deve-se aplicar
40 kg ha-1 de P2O5 (este valor deve ser dividido pelo número de covas por hectare e aplicado na
cova de plantio). Em solos com teores disponíveis de potássio menores de 45 mg dm-3, aplicar 60
kg ha-1 de K2O. Para os micronutrientes, aplicar de 20 a 30 g por cova de FTE (Mo=0,1%; B=1,8%;
Cu=0,8%; Mn=2%; Fe=3% e Zn= 8%). O nitrogênio não é recomendado para leguminosas,
mas é importante a inoculação do rizóbio para garantir a eficiência da fixação biológica do N2 e
também a aplicação de composto orgânico na cova de plantio (até 30% do volume do solo da
cova). A adubação de cobertura não é recomendada por esse autor. Entretanto, deve-se considerar a
exportação de nutrientes a cada ciclo de corte, com isso a adubação deve ser repetida e nesse caso,
o calcário precisa ser considerado para reposição do cálcio exportado.
298
7. MANEJO PARA PRODUÇÃO
O manejo das plantas de sabiá depende do objetivo do cultivo, mas envolve basicamente práticas
de podas, tanto para a produção de cerca viva como de estacas. Na produção de estacas é utilizado o
sistema de talhadia seletiva, sendo melhor do ponto de vista ambiental, uma vez que não expõe o solo
como ocorre no corte raso.
299
Em áreas com plantas mais velhas e sem manejo de condução das brotações, onde a reforma
é necessária, pode ser realizada a poda na altura de 30 cm do solo, com o manejo subsequente das
brotações para condução das hastes (Carvalho et al. 2004).
Silvicultura Tropical
300
(Figura 6a). As plantas irão brotar, sendo estas vigorosas e numerosas, formando uma touceira.
Quando esses ramos atingirem entre 40 e 60 cm devem ser reduzidos para 20 a 30 cm (esta
poda é importante quando houver necessidade de impedimento visual). A partir daí as podas
são realizadas segundo a necessidade, em função da altura desejada e /ou do quanto se quer
de massa de material vegetal para diminuir a visibilidade ou o vento (Figura 2a). A cerca viva
pode chegar a quatro metros de altura em dois anos com 50 cm de largura (Ribaski et al. 2003),
podendo ser usada como quebra vento.
Na cerca viva dupla, a poda das plantas pode ser diferenciada em cada uma das linhas,
deixando-se uma linha com plantas mais altas e na outra linha plantas mais baixas. Para a linha
com plantas de menor altura deve ser seguido o sistema de poda anteriormente mencionado para
cerca viva, de forma que, à altura dos olhos, a massa vegetal fique intensa. Na linha de plantio com
plantas que devem ficar mais altas a primeira poda deve ser realizada quando as plantas estiverem
com altura entre 1,50 e 2,00 m, sendo podadas entre 1,00 e 1,20 m de altura, o que permitirá que
301
Silvicultura Tropical
Figura 6: Plantas de Mimosa caesalpiniifolia Benth. Muda plantada para cerca viva (A);
Primeira poda da muda para condução de cerca viva (B); Ramificação em plantas adultas
podendo ser utilizada para lenha (C); Alta ramificação em planta adulta após poda (D).
302
de 26 a 47 kg ha-1 de N, 1,6 a 3 kg ha-1 de P e 7 a 12 kg ha-1 de K (Queiroz et al. 2007), podendo fertilizar
outra cultura nesse sistema, com redução significativa nos custos com adubo, além das melhorarias
que a entrada de matéria orgânica pode proporcionar sobre os atributos do solo.
Para produção de lenha a exploração inicia-se entre 4 e 6 anos após o plantio (Pareyn et
al. 2018). A produção da madeira é dependente, dentre outros fatores, do espaçamento adotado.
Num espaçamento de 2 x 2 m foi obtido o volume médio de 46,5 m3 de madeira por hectare em
plantações com seis anos de idade (Ribaski et al. 2003). Também foram observados em plantios
com 8 anos a altura média das plantas de 10,16 m e produção entre 92 e 138 m3 ha-1 de madeira.
O incremento médio anual pode chegar a 23 m3 ha-1 (Campos Filho & Sartorelli 2015).
Para produção de estacas os povoamentos de sabiá podem ser explorados pelo sistema
de talhadia seletiva, visando o benefício do maior desenvolvimento das hastes (Carvalho 2007)
e com colheita contínua. Entre 4 e 6 anos após o plantio é possível obter até quatro estacas de
aproximadamente 8 cm de diâmetro (Carvalho 2007). A produção irá variar, principalmente, em
303
9. PRAGAS E DOENÇAS
Poucas informações são encontradas sobre de pragas e / ou doenças das folhas, frutos,
caule e raízes do sabiá.
Barreto & Marini (2002) observaram que o fungo Mycovellosiella robsii, um tipo de fungo
hifomiceto cercosporóide, foi associado a manchas foliares no sabiá, comumente encontrada neste
hospedeiro no Estado de Rio de Janeiro. Plantas inoculadas com este fungo começam a apresentar
sintomas da doença oito dias após a inoculação, com lento desenvolvimento dos sintomas. No
entanto, com o tempo, a doença causa danos consideráveis à folhagem, particularmente no final
da estação chuvosa.
As sementes do sabiá são muito atacadas pelo coleóptero Bruchus pisorum L.. Este
inseto perfura as vagens antes da coleta ou logo após o seu beneficiamento (Ribaski et al. 2003),
prejudicando a qualidade das sementes. As sementes devem ser selecionadas para garantir maior
percentual de germinação e também para o armazenamento e comercialização.
Silvicultura Tropical
304
2001). Mas esse efeito alopático sobre a germinação parece não ocorrer para todas as espécies
vegetais e também varia com a condição fisiológica da folha. Extrato das folhas secas de sabiá não
apresentou o mesmo efeito alelopático que as folhas verdes (Piña-Rodrigues & Lopes 2001), além
disso, diferentes concentrações do extrato de folhas jovens de sabiá também não prejudicaram a
germinação das sementes de fava (Ferreira et al. 2010).
Se por um lado os produtores consideram como negativa essa característica de alastramento
das plantas, por outro lado, essa mesma característica é positiva quando se trabalha na recuperação
de áreas degradadas em que se almeja a cobertura rápida do solo com menos investimento em
manejo. Nessas áreas, após o estabelecimento do sabiá, pode ser realizado o corte raso ou o corte
seletivo para diminuir a densidade do plantio do sabiá permitindo a regeneração de outras espécies
nativas ou possibilitando o plantio de enriquecimento com outras espécies florestais. O material
obtido do corte das árvores pode ser utilizado para carvão ou lenha, sem contar a serapilheira
depositada que auxilia na recuperação do solo.
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313
Mimosa strobiliflora Burkart
(FABACEAE - MIMOSOIDEAE)
Elivelton Marcos Gurski
Engenheiro Florestal, graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Mestrando
em Conservação da Natureza pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente
Diretor Técnico da Sociedade Chauá, atuando em trabalhos e pesquisas na área de
conservação da natureza e silvicultura de nativas da Floresta com Araucária.
Jeniffer Grabias
Bióloga, graduação Bacharel em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Autônomo
do Brasil (Unibrasil). Mestre em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Atua como consultora em conservação da natureza na Sociedade Chauá.
Marilia Borgo
Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, Mestrado em Botânica e Doutorado em
Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é especialista
em Serviços Ambientais da The Nature Conservancy, trabalhando com desenvolvimento e
implementação de projetos florestais de carbono e suporte a estratégias de pagamento por
serviços ambientais.
1. Botânica
1.1 Distribuição
A espécie é nativa no bioma Mata Atlântica, presente na Floresta Ombrófila Mista, sendo
endêmica do Brasil, especificamente do Estado do Paraná. Foi encontrada exclusivamente em
altitudes entre 800 m s.n.m. (O.S. Ribas 3947) e 915 m s.n.m. (J.M. Silva et al. 8344), em área
314
de transição entre floresta e campo naturais (Silva & Oliveira 2008, Missouri Botanical Garden 2018).
Apresenta apenas uma população natural conhecida atualmente, todas suas coletas são restritas às
margens do Rio Iguaçu nos municípios da Lapa e de Porto Amazonas (C.V. Martin 6; J.M. Silva 3418;
315
A B
C D
Silvicultura Tropical
e f
3. Tecnologia de sementes
3.1 Fenologia
A floração acontece entre os meses de junho e novembro, sendo este período observado
em indivíduos cultivados na região de Campo Largo, PR. A frutificação inicia em agosto, estando
os frutos prontos para coleta em novembro e dezembro. A produção de frutos por planta é alta,
316
consequentemente produzindo um grande número de sementes. Os frutos devem ser coletados
diretamente do arbusto quando apresentarem coloração marrom escura. Na maioria dos casos, faz-se
necessário o uso de uma tesoura de poda ou podão para que a planta não seja danificada. Como a
semente é muito pequena, deve-se tomar o cuidado para não perder a época de amadurecimento dos
frutos e, consequentemente, das sementes.
A B C
317
Tabela 2: Biometria de frutos de Mimosa strobiliflora.
Comprimento Largura Espessura Massa Nº de
Fruto
(mm) (mm) (mm) (g) sementes
Média 16,749 4,283 2,068 0,049 3,610
Desvio padrão 2,173 0,517 0,407 0,013 0,984
CV 12,973 12,071 19,704 27,066 27,248
CV: coeficiente de variação (%).
Para se verificar melhores técnicas para germinação e manejo das sementes realizou-se
um delineamento experimental inteiramente casualizado com seis tratamentos, sendo cinco
repetições com 25 sementes cada. Foi testada a quebra de dormência por imersão em água
por 48 horas com temperatura inicial de 80°C, a fotoblastia e o uso de vermiculita em seis
tratamentos (Sociedade Chauá 2020).
Devido a diversificação desigual de fatores nos tratamentos, os dados foram analisados
por meio de modelos lineares, ajustados para cada variável resposta (Germinação, Índice
de Velocidade de Germinação e Tempo Médio de Germinação). As análises foram feitas no
software R v.3.6.1 Considerou-se primeiramente os modelos que apresentaram normalidade
e homocedasticidade nos resíduos (verificadas visualmente nos gráficos). Modelos fora desse
padrão, e com a presença de outliers, foram transformados pela função Box-Cox. Na sequencia,
para todos os modelos, as médias foram estimadas e comparadas por meio do teste de contraste
Tukey (p<0,05) (Figura 3).
Os resultados não foram conclusivos tanto para a efetividade da quebra de dormência
quanto para a fotoblastia. Observando-se os valores de G e IVG, verifica-se a propensão de
efetividade na quebra de dormência proposta e, que a germinação pode ter sido beneficiada
pelo ambiente escuro. Novos experimentos são necessários para confirmações. Para TMG não
houve diferença significativa entre os tratamentos. O tratamento três apresentou os melhores
resultados (Sociedade Chauá 2020).
318
Mimosa strobiliflora Burkart (FABACEAE - MIMOSOIDEAE)
Figura 3: Efeito de diferentes substratos,temperaturas, condições de luminosidadee quebra de
dormência na germinação de Mimosa strobiliflora.
Barras verticais representam intervalos de confiança de 95%. TMG: tempo médio de germinação;
IVG: índice de velocidade de germinação; Z: sincronia da germinação. Tratamentos: T1: sem quebra
de dormência, papel filtro, fotoperíodo de 12 h a 25°C em câmara Mangelsdorf; T2: quebra de
dormência por 48h, papel filtro, fotoperíodo de 12 h a 25°C em câmara Mangelsdorf; T3: quebra
de dormência por 48h, papel filtro, ambiente escuro, 25°C em câmara Mangelsdorf; T4: quebra de
dormência por 48h, vermiculita, fotoperíodo de 12 h a 25°C em câmara Mangelsdorf; T5: quebra
de dormência por 48h, vermiculita, ambiente escuro, fotoperíodo de 12 h a 25°C em câmara
Mangelsdorf; e T6: sem quebra de dormância, papel filtro a 30°C em câmara de germinação BOD .
319
3.4 Quebra de dormência
As sementes apresentam dormência devido a impermeabilidade do tegumento, sendo
recomendada a imersão em água em temperatura de 80 °C e posterior permanência na água por
períodos de 1, 24 ou 48 h, fora do aquecimento.
As sementes de M. strobiliflora apresentam germinação insatisfatória quando imersas em
água em temperatura ambiente e, as que não passam por nenhum tratamento pré-germinativo
não apresentam germinação (Biondi & Leal 2008).
3.5 Armazenamento
Assim como para as demais espécies pertencentes a família Fabaceae (Mimosoideae),
as sementes de M. strobiliflora se comportam como ortodoxas, podendo ser armazenadas por
longos períodos.
Silvicultura Tropical
4. Produção de mudas
4.1 Método de semeadura e produção
A semeadura pode ser realizada em bandeja, sementeira ou diretamente em recipiente
individual.
4.2 Manejo
Recomenda-se o uso de sementeira
seguida de repicagem para embalagens de
0,5 L. Posteriormente, pode-se transplantar as
mudas para recipientes de 10 L ou diretamente
no solo. A repicagem deve ser feita quando as
plântulas atingirem altura de 5 a 8 cm. A espécie
não sofre com a repicagem, mas é recomendado
extremo cuidado com as plântulas neste
procedimento, sendo este um estágio crítico
para a sobrevivência e o bom crescimento das
mudas (Figura 4).
Apesar de preferir locais a pleno sol,
320
em locais muito ensolarados durante o período de adaptação, por aproximadamente 40 dias.
Em viveiro, o crescimento se mostrou satisfatório quando utilizado substrato terra preta,
composto orgânico e areia na proporção de 4:2:1.
5.2 Espaçamento
Tendo em vista que a espécie é heliófila e com crescimento lateral pouco amplo, alcançando um
raio de 1,5, raramente ultrapassando 2 m, o espaçamento mínimo indicado é de 1,5 a 2,0 m para que
haja espaço suficiente para um desenvolvimento satisfatório, como observado nas plantas cultivadas em
Campo Largo, PR. Em áreas de restauração, o espaçamento entre plantas pode ser aumentado.
321
contabilizado desde a semeadura, é de aproximadamente um ano e meio. Considerando que para
esses fins serão utilizadas mudas de maior porte e que, provavelmente estarão logo iniciando sua
fase reprodutiva. Em indivíduos cultivados em Campo Largo, PR, a primeira floração ocorreu após dois
anos (da data de semeadura), seguido da frutificação.
7. Potencial produtivo
7.1 Rendimentos, econômico
Apresenta potencial melífero, sendo suas flores atrativas e muito visitadas por abelhas e
outros insetos, produzindo pólen e néctar em grande quantidade. Assim, a espécie poderá ser
utilizada em terrenos degradados, para melhorar o pasto apícola no outono e inverno.
O uso em projetos de restauração pode ser cogitado, pois a espécie tem potencial por cobrir
rapidamente o terreno e fixar nitrogênio. É recomendada, também, para plantio em terrenos com
drenagem lenta, como observado em plantio em Campo Largo, PR.
Silvicultura Tropical
O potencial paisagístico é outra alternativa de uso por apresentar folhas claras, precocidade
de reprodução, floração intensa e bela por vários anos (flores vistosas de coloração lilás-rosadas).
8. Patologia florestal
8.1 Doenças e pragas
A família Fabaceae (Mimosoideae) pode ser atacada pela lagarta desfolhadora Automeria
sp. (Lepidoptera: Saturniidae), Oncideres spp. (Coleoptera: Cerambycidae), serrador e cochonilhas,
que expelem substâncias açucaradas, muito procuradas por formigas e que, consequentemente,
também podem atacar M. strobiliflora. Os serradores e as cochonilhas são as causadoras de danos
mais graves. A família é atacada, em grau variável, por essas pragas, que não constituem limitações
sérias (Carpanezzi & Laurent 1988, Pedrosa-Macedo & Schonherr 1985).
9. Outras informações
Para redução de seu risco de extinção esforços para a manutenção das populações naturais
devem ser desenvolvidos concomitantemente a ações relacionadas à produção comercial.
322
10. Referências
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Sociedade Chauá. 2020. Boletim Técnico Mimosa strobiliflora . Campo Largo, Paraná. 5p.
Disponível em https://www.sociedadechaua.org/edicao-atual (acesso em 15-V-2020).
323
Moringa oleifera
Luciana Aparecida Rodrigues
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidade Federal de Viçosa, Mestrado em Fitotecnia pela
Universidade Federal de Viçosa e Doutorado e pós doutorado em
Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro. Atualmente é professora Associada da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Laboratório de Solos.
1. BOTÂNICA
A espécie Moringa oleifera Lam (sinônimo: Moringa
pterygosperma Gaertner) é nativa do noroeste Indiano, região do
Himalaia, popularmente conhecida no Brasil como: moringa, acácia
branca, moringueiro, árvore rabanete de cavalo, quiabo de quina e cedro.
Também conhecida como a árvore de “ben”, árvore da vida e a árvore dos
milagres (Fuglie 2001).
Pertencente à família Moringaceae, gênero Moringa, esta
espécie apresenta rápido crescimento, porte pequeno ou médio, com
altura variando entre 5 e 12 m (Figura 1A) e diâmetro do caule entre 10
e 30 cm, copa aberta, galhos em forma de sombrinha, fuste reto, casca
esbranquiçada (Figura 1B) e madeira esponjosa (Ramachandran et al.
1980, Morton 1991, Fahey 2005).
324
Moringa olefeira
Figura 1: A. Árvore de moringa (Moringa Oleifera Lam.) e B. tronco esbranquiçado.
325
(Muhl et al. 2013) e as pétalas podem se apresentar levemente curvadas para baixo ou na horizontal
(Morton 1991) (Figura 3C). Os pedúnculos florais são emitidos ao longo dos ramos apicais em
diferentes épocas. Assim, em um mesmo ramo são observados cachos recém-lançados com botões
(mais próximo ao ápice do ramo), cachos com flores abertas, vagens verdes e vagens em diferentes
fases de amadurecimento (na parte mais madura do ramo) (Figura 3D).
Silvicultura Tropical
Figura 3: Moringa oleifera Lam: A. Detalhes das flores; B. Pedúnculo floral; C. Inseto visitando flores;
D. Diferentes fases de desenvolvimento reprodutivo de plantas de moringa em um mesmo ramo.
326
Figura 5: Moringa oleifera Lam: A. Sementes nos frutos e B. Sementes da moringa apresentando três asas
As sementes são marrom escuro com três asas e aspecto de papel. A característica de semente
alada está relacionada à dispersão anemocórica (Ramos et al. 2010) (Figura 5B).
Cada fruto tem em média 12 sementes, e o peso médio de 1000 sementes é de 197 g,
medindo em média 1,04 cm de comprimento e 1,0 cm de espessura (Ramos et al. 2010). As sementes
contêm no seu interior uma massa branca e oleosa. O núcleo é encoberto por uma concha, medindo
até 1 cm de diâmetro (Lorenzi & Matos 2002). O embrião é oleaginoso, possui um par de cotilédones
e apresenta germinação hipógea-criptocotiledonar (Ramos et al. 2010).
A raiz primária e as secundárias se apresentam na forma fasciculada e tuberosa com espessamento
Moringa olefeira
devido ao acumulo de substâncias de reserva (Figura 6). Das raízes tuberosas partem as mais finas que
são as raízes de absorção de água e nutrientes. A casca da raiz é de cor pardo-clara, espessa, mole e
reticulada, externamente. Tem odor pungente e sabor semelhante ao do rabanete (Cysne 2006).
Difundida na África ocidental, América central e do
sul, vem sendo cultivada em diferentes regiões tropicais e
subtropicais do mundo, como regiões leste, oeste e sul da
África, Ásia, América Latina incluindo o Brasil, no Caribe,
na Florida e nas Ilhas do Pacífico (Fahey 2005, http://www.
fao.org/traditional-crops/moringa/es/).
A moringa apresenta característica de alta
plasticidade em relação ao ambiente, ou seja, crescem
bem em locais de 0 a 1800 m de altitude, precipitação
pluviométrica entre 500 e 1500 mm por ano, podendo
tolerar razoavelmente bem até seis meses de estação seca,
se adaptando bem a regiões áridas (Duke 1983, Sánchez
et al. 2005), configurando-se como uma espécie pantropical,
Figura 6: Raízes de Moringa
ou seja, habita qualquer região dos trópicos (Gerdes 1996). oleifera Lam aos 10 meses após o
No entanto, na Índia, é plantada principalmente em regiões plantio em solo de textura média.
327
abaixo de 900 m de altitude. Em climas mais secos, tende a preferir os bancos de rios, áreas de depleção
de lagoas, os leitos dos rios secos, ou em qualquer lugar com maior acesso à água (CAB. ORG 2017), no
entanto não tolera alagamento.
Embora a espécie esteja adaptada a grande variação do clima, Dalla Rosa (1993) afirma que a
espécie se desenvolve melhor quando a faixa de temperatura está entre 26°C e 40°C e com precipitação
anual mínima de 500 mm.
Folhas
As folhas são ricas em proteínas, minerais, compostos de β-caroteno e antioxidantes, sendo
usadas não apenas para a alimentação humana e animal, mas também na medicina tradicional (Leone
et al. 2016). A FAO (Food and Agriculture Organization, sigla en inglês) considera as folhas da moringa
como um superalimento na recuperação da desnutrição infantil em função de seu alto valor nutricional.
328
Após a secagem, se acondicionadas em local seco e fechadas, as folhas apresentam alta
durabilidade, podendo ser utilizadas para confecção de chá. Após moagem, são usadas como
farinha na preparação de sopa e mingau, como aromatizante ou como suplemento de saúde. As
folhas processadas transformadas em pó são também acondicionadas em cápsulas e tabletes para
a comercialização (Ambrose et al. 2016).
De acordo com Oliveira et al. (2017), a moringa também pode ser utilizada como matéria
prima para a produção de feno e utilizada na dieta de bezerros. Como forragem para animais já
vem sendo utilizada em vários países africanos e na Nicarágua (Martin et al. 2013), inclusive no
Brasil (Oliveira et al. 2017).
Na medicina, Al-Asmari et al. (2015) relatam que estudos comprovam o tratamento de células
cancerígenas com extratos das folhas e da casca do tronco da moringa. Os estudos foram realizados
indicando a viabilidade do seu uso no tratamento de câncer de mama e colo-retal. Wang et al. (2016),
Vergara-Jimenez et al. 2017 e Gómez-Martinez et al. (2020) relatam a presença de flavonóides e o
efeito antioxidante e eliminador de radicais livres nos extratos das folhas da moringa. Apresenta,
ainda, potencial anti-inflamatório e analgésico (Martínez-González et al. 2016), indicando o amplo
Moringa olefeira
espectro de ação do extrato das folhas dessa espécie.
Estudo fitoquímico do extrato etanólico das folhas de moringa realizado por Barreto et al. (2009)
indicaram a presença de derivados benzilnitrilas niazirina, niazirinina e 4-hidroxifenil-acetonitrila.
Os óleos essenciais das folhas apresentam como
constituintes principais o fitol (21,6%) e timol (9,6%) que
apresentam importantes usos na medicina.
O extrato etanólico de folhas da moringa
exibiu atividade antipirética na dosagem de 100, 200
e 400 mg kg-1 em ratos (Bhattacharya 2014), indicando
a possibilidade de uso como antitérmico. Extratos
foliares de moringa apresentam substâncias inibitórias
ao crescimento de fungos contaminantes em meios de
cultura, incluindo Aspergillus spp. e Penicillium spp.
(Ayanbimpe et al. 2009).
A comercialização de folhas de moringa em pó
ocorreu amplamente no Brasil até o ano de 2019. Elas
foram vendidas em cápsulas (Figura 7), em saquinho Figura 7: Embalagem para
comercialização da moringa em
ou enlatadas. As receitas do uso das folhas em chás e da cápsulas
329
farinha das folhas na culinária são amplamente divulgadas nas redes sociais, elevando a demanda
por de mudas e produtos de moringa.
Do ponto de vista nutricional, as pesquisas tem mostrado que os teores de nutrientes
nas folhas da moringa são significativos podendo restabelecer situação de desnutrição humana
e animal. No entanto, de acordo com Leone et al. (2016) não se sabe o efeito do consumo desses
produtos em longo prazo, sobre o estado nutricional, composição corporal, estado de crescimento
dos seres humanos e se traz algum risco de doenças ou complicações indiretas. A ampla gama
de antioxidantes vitais, antibióticos e nutrientes, incluindo vitaminas e minerais presentes na
moringa explicam os usos medicinais das diferentes partes da espécie (Abdull Razis et al. 2014) e
indicam necessidade de cuidados no consumo humano.
No Brasil, a moringa foi largamente comercializada com uma variedade de alegações
terapêuticas não permitidas para alimentos. Assim a Agência Nacional de Vigilância Sanitaria
(ANVISA) passou a orientar os cidadãos para não fazerem uso da moringa como remédio, alimento
ou o consumo de produtos contendo moringa. A resolução RE 1.478/2019 publicada no Diário
Silvicultura Tropical
Oficial da União onde consta que a ANVISA proibiu, a fabricação, a importação, a comercialização, a
propaganda e a distribuição de todos os alimentos que contenham Moringa oleifera. “Está proibida
em quaisquer formas de apresentação, como chá, cápsulas etc., quanto o próprio insumo”. ... “As
infrações sanitárias para estabelecimentos que realizam a venda irregular desses produtos estão
descritas na Lei 6.437/1977. As multas variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão” (Brasil, 2019).
Sementes
As sementes da moringa para aplicações alimentares e não alimentares, parecem ser
promissoras devido à alta proporção de ácidos graxos monoinsaturados e saturados, esteróis e
tocoferóis, além de proteínas ricas em aminoácidos sulfatadas. A quantidade de óleo das sementes
pode chegar até 45% (Leone et al. 2016).
O óleo, vulgarmente conhecido como “óleo de ben” apresenta diversas formas de
utilização, como por exemplo, em substituição ao azeite na alimentação humana, bem como
para aplicações não alimentares, como biodiesel, cosméticos e lubrificantes finos para máquinas
(Leone et al. 2016).
O biodiesel derivado da moringa é um potencial substituto para o diesel originário do
petróleo (Rashid et al. 2008), no entanto, Azad et al. (2015) ressalvam que são necessários novos
estudos em relação a performance dos motores e estudo de emissão de gases, aprimorando o uso
do óleo da moringa para esta finalidade.
330
Na confecção de cosméticos, o óleo extraído das sementes de moringa é considerado
excelente emoliente cosmético natural, com quase total ausência de cor e odor, apresentando alta
concentração de ácido oleico (>73%) (Leone et al. 2016).
As cascas das sementes, após a extração do óleo, apresentam alto potencial para produção
de briquetes ou lenha ecológica devido ao valor do poder calorífico (entre 15,87 e 23,31 MJ kg-
1
) e tecnologia produtiva simples e acessível (Pereira 2015). Após a extração de óleo, os resíduos
também podem ser utilizados como fertilizante orgânico para melhorar a produtividade agrícola
(Emmanuel et al. 2011).
As sementes da moringa possuem capacidade de coagulação de materiais sendo usados
com eficácia no tratamento de águas, para redução da turbidez em água de irrigação, água turva,
águas residuais e água da torneira. A argila dispersa em água, inicialmente passa pelo processo
de floculação, e, em seguida, precipitação, sendo depositado no fundo do recipiente (Figura 8A,
B e C). O processo de limpeza da água inicia no momento em que as partículas de semente são
adicionadas a solução de água turva.
Podem ser adicionadas no recipiente de água turva para a limpeza da água, as sementes
Moringa olefeira
maceradas ou trituradas formando uma pasta ou triturada em liquidificador com água formando
uma solução concentrada. Esse processo de coagulação das partículas sólidas em suspensão ocorre
pela presença proteínas catiônica diméricas e aminoácidos específicos que se ligam as partículas
indesejadas dispersas na água formando um aglomerando (Ndabigengesere & Narasiah 1998,
Camacho et al. 2017).
As sementes da moringa também se mostraram eficientes na biossorção de metais pesados
presentes na água, como cádmio, chumbo e o níquel, em que, as sementes se apresentam como uma
alternativa mais simples e barata quando comparada a produtos químicos utilizados na adsorção de
metais pesados, reduzindo seus teores na água (Reddy et al. 2011, Obuseng et al. 2012).
De acordo com Esnarriaga (2010), as sementes trituradas também podem ser eficientes nos
tratamentos de efluentes brutos de fossas sépticas biodigestora, sendo uma alternativa de fácil acesso
e de baixo custo, em relação a outros produtos químicos utilizados, como o sulfato de alumínio.
O uso de suspensões preparadas com sementes de moringa associada a coagulantes
químicos no tratamento da água residuária de usinas de concreto reduzem em até 99% a turbidez
da água, podendo essa água ser reutilizada (Paula 2014). O resíduo das sementes após a extração
de óleo, também podem ser utilizadas no tratamento de águas residuais por meio da coagulação
aumentado a eficiência de utilização das sementes. Ndabigengerese e Narasiah (1998), no entanto,
consideram que a aplicação de moringa em solução aumenta a concentração de matéria orgânica
331
Silvicultura Tropical
na água tratada, demandando a aplicação de cloro para a desinfecção. Assim os autores sugerem
a purificação das proteínas ativas das sementes de moringa e a aplicação direta dessas proteínas no
processo de coagulação no tratamento de água e esgoto.
A utilização das sementes para o tratamento das águas pode ser importante em regiões que
não possuem rede de tratamento de água ou fazem uso de águas de poços e/ou açudes, muitas vezes
compartilhadas com animais. Apesar da limpeza da água proporcionada pela moringa, a mesma
pode não ser considerada potável. Alguns trabalhos citam o efeito do extrato da semente da moringa
332
atuando como agente fungicida ou bactericida e na redução significativa de coliforme fecal na água,
no entanto, outros tratamentos adicionais para eliminar possíveis contaminantes microbiológicos são
importantes, sendo recomendável a fervura da água e/ou aplicação de cloro.
Raízes
Assim como outras partes da planta, as raízes possuem altas concentrações de nutrientes, no
entanto, contém também alcalóides e compostos fitoquímicos que são tóxicos. Esses compostos estão
presentes principalmente nas cascas das raízes, não devendo ser consumida como alimento. Mesmo com
a retirada da casca, as raízes apresentam alcaloides que, se consumidos em grandes quantidades, pode
causar paralisia nervosa (Bhattacharya 1978), dentre outros efeitos que comprometem à saúde humana.
As raízes apresentam propriedade antitumoral e também propriedades relacionadas ao
hormônio sexual. De acordo com Bose (2007), a ação hormonal ocorre pela inibição da manutenção
e crescimento de órgãos reprodutivos, atuando como contraceptivo. Além disso, o consumo das raízes
pode induzir alterações no útero, acarretando aborto ou infertilidade (Pandey et al. 2011).
Moringa olefeira
Árvore
A moringa é cultivada em jardins domésticos, como árvore para sombreamento ao redor de
campos de futebol ou áreas de lazer como ornamental (Figura 9A e B). A moringa também pode ser
usada como adubo verde ou utilizada em composteiras.Também é usado para suportes para vinhas e
pimenta, abrigo para animais, cerva viva, ornamentação e melífera (Figura 9C) (CABI.ORG 2017).
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 FENOLOGIA, ÉPOCA DE FLORAÇÃO E FRUTIFICAÇÃO
O florescimento e frutificação ocorrem simultaneamente (Figura 3C e 9C) o ano todo, como
vem sendo observado em árvores matrizes de regiões tropicais onde a temperatura varia em média
entre 21 oC a 38 oC. Em regiões de menor precipitação, o florescimento e frutificação simultâneos
são menores (Pereira 2015), aumentando no início da estação chuvosa e mantendo-se mais
intensa até o final das chuvas. Menor florescimento e frutificação nos meses de temperatura mais
baixa também foram observados no acompanhamento de matrizes em regiões com estações frias
(inverno) bem definidas.
As flores podem se abrir ao longo do dia e o tempo de vida é de, aproximadamente, 100
horas. A polinização ocorre principalmente por insetos (himenópteros, dípteros, coleópteros,
333
lepidópteros) (Figura 4A e 9C) e pássaros (beija-flores). Entre os himenópteros, as abelhas se
destacaram (Kiill et al. 2012).
Ao fim da fase de maturação, os frutos apresentam grande aumento de volume. São
deiscentes, apresentando três pontos de abertura longitudinal no final do estágio de maturação
(Figura 4B) (Ramos et al. 2010), no entanto grande parte dos frutos não racham não sendo observada
as fendas ainda quando estão na árvore.
deiscente das vagens, na produção de sementes é preciso monitoramento contínuo para garantir que as
vagens já estejam no ponto de maturação adequado e que a coleta seja feita antes da abertura natural.
Isso evitará perda das sementes, embora nem todos os frutos se abram ainda quando estão na planta.
Figura 9: A. Árvore de moringa como planta ornamental em área de lazer, B. Galhos de moringa
produzindo flores e vagens; C) A) Flores de moringa sendo visistadas por abelhas.
334
Para a produção de sementes, a colheita das vagens secas (maduras) pode ser realizada por
catação. Nesse caso, a coleta das vagens pode ser realizada continuamente durante todo o ano. Se
a colheita for realizada por meio do corte dos galhos e ramos produtivos contendo as vagens será
necessário esperar nova carga de produção de sementes. Ainda assim, a colheita das vagens maduras
pode ser realizada a cada 3-4 meses dependendo das condições de manejo do solo e do clima.
Moringa olefeira
que as sementes germinam entre 6 e 10 dias. No entanto, em regiões tropicais tem-se observado
percentual de germinação das sementes da moringa acima de 90 % mesmo sem pré-embebição.
As sementes de moringa não requerem nenhum tipo de tratamento para quebra de dormência.
3.6 ARMAZENAMENTO
Com relação ao armazenamento das sementes da moringa, elas podem tolerar a perda de
umidade e baixa temperatura (sementes ortodoxas). Oliveira et al. (2009) e Bezerra et al. (2004a),
consideram que as sementes podem ser armazenadas por até 6 meses, tanto em câmara fria como em
temperatura ambiente, sem qualquer perda de viabilidade, desde que armazenadas em embalagens
hermeticamente fechadas. Após 12 meses em temperatura ambiente, as sementes perdem a sua
viabilidade, com a redução de 78% da germinação, e após 24 meses, a redução na germinação
chega a 100%. Quando armazenadas em condições de baixa temperatura (10°C) e baixa umidade do
ambiente (55% de umidade), as sementes mantêm o percentual de germinação por até 12 meses e
aos 24 meses, a redução da germinação é de aproximadamente 15%.
De acordo com Rangel (1999), a viabilidade das sementes sofre redução de aproximadamente
50% após 12 meses de armazenamento. Já Silva et al. (2012) verificaram a germinação de sementes
acondicionadas em sacos plástico em câmara fria, por até 27 meses (com temperaturas variando entre
9-14°C, e 60% de umidade relativa).
335
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
A moringa é uma planta alógama que pode ser propagada por sementes ou estacas (Silva
& Kerr 1999). Plantios para produção de folhas em cultivos adensados devem ser realizados
preferencialmente pelo plantio das sementes diretamente no campo. Plantios para produção de
sementes (em espaçamentos maiores) devem ser realizados pelo plantio das mudas no campo,
nesse caso, as mudas podem ser produzidas por sementes ou por estaquia.
Semeio
As sementes podem ser germinadas em sementeiras individuais, em bandejas, tubetes,
sacolas plásticas ou diretamente no campo. Para plantios adensados, a semeadura direta no campo
deve ser feita em covetas ou sulco de plantio a uma profundidade que varia de 1 a 2 cm e espaçamento
entre as sementes de 10 cm. Após o semeio, as sementes devem ser cobertas com solo.
As mudas podem ser produzidas em bandeja de 50 células e de 3 - 4 cm de largura e
profundidade. Cada célula recebe uma semente. As plântulas, ao apresentarem de 3 a 5 cm de
altura ou o primeiro par de folhas, devem ser transplantadas. Essas plântulas também podem ser
transplantas para recipientes maiores (tubetes ou sacos plásticos), onde permanecem até atingir
tamanho adequado para o plantio no campo (cerca de 30 cm de altura). As plântulas (3-5 cm altura)
também podem ser transplantadas diretamente para o campo quando o cultivo for adensado para
produção de folhas.
O uso de recipientes individuais é preferido por minimizar os danos ao sistema radicular das
mudas no momento do transplantio. A moringa é uma planta bastante sensível a danos mecânicos
que ocorrem durante o plantio no campo sendo retardada a taxa de crescimento inicial (Amaglo
336
2006). Mudas destinadas ao plantio para produção de sementes (em espaçamentos grandes) podem
ser produzidas diretamente no tubetes plásticos. Nesse caso também pode ser realizado o plantio
de de 1 a 2 sementes por tubete sendo cobertas com o substrato de cultivo por uma camada de um
centímetro. Depois é feito o raleio deixando-se uma planta por tubete.
Substratos
Diferentes substratos podem ser utilizados para a germinação das sementes. Bezerra et al.
(2004b) verificaram que, para o semeio em bandejas, o substrato Plantmax® e a mistura de solo
esterilizado + húmus de minhoca + pó de coco lavado na proporção de 2:1:1 proporcionaram
percentagem e velocidade de germinação superior à vermiculita, no entanto, as plântulas
desenvolveram-se melhor no substrato Plantmax®.
Neves et al. (2007) recomendam a areia como melhor substrato para germinação da
moringa, enquanto que, para a produção das mudas a mistura de 75% de areia + 25% de húmus
de minhoca foi o mais indicado.
Na produção das mudas de moringa, a adição das diferentes fontes de matéria orgânica
Moringa olefeira
ao substrato (areia ou solo) resulta em ganhos significativos sobre o desenvolvimento das mudas
(Almeida 2012). Na formação das mudas de moringa, Neves et al. (2010) avaliaram diferentes
fontes de matéria orgânica e observaram que o substrato formado pela mistura de solo + lodo de
esgoto e também a mistura de solo + esterco bovino proporcionaram maiores valores de matéria
seca da parte aérea, comparado ao substrato formado pela mistura de solo + esterco de aves.
A mistura de composto de lixo urbano + fibra de coco ou de vermicomposto + fibra de coco
também podem ser utilizadas com sucesso como substrato para a produção de mudas de moringa.
A proporção de 25%:75% fibra de coco:composto ou vermicomposto levou a maior produção de
matéria fresca e nutrição das plantas de moringa (Rodrigues et al. 2016).
337
As estacas para a produção das mudas devem ser plantadas aprofundando-as no solo
em até um terço do seu comprimento, ou seja, estacas de 90 cm devem ser aprofundadas em
até 30 cm. O estaqueamento deve ser feito em local que evite a desidratação das mesmas,
proporcionando o desenvolvimento adequado do sistema radicular que, após o plantio no
campo, será responsável pelo suprimento da demanda hídrica e nutricional da planta. As
estacas podem ir para o campo de 2 a 3 meses após o estaqueamento (https://miracletrees.org/
growing_moringa.html).
Comparando-se mudas produzidas a partir das sementes com aquelas produzidas por
estaquia, verifica-se que mudas produzidas a partir das estacas crescem mais rapidamente, mas
desenvolvem um sistema radicular raso que as torna mais susceptível ao estresse por umidade
e ao dano devido ao vento (Amaglo 2006).
4.2 MANEJO
As mudas de moringa devem ser irrigadas diariamente, no entanto deve-se tomar cuidado
Silvicultura Tropical
para que o substrato não fique encharcado por longos períodos, ocasionando a morte das raízes,
especialmente substratos com alta capacidade de retenção de água. Cuidados também devem ser
tomados quando se utiliza substratos demasiadamente porosos (areia, fibras grossas de coco) que
podem requerer maior número de irrigações em função da acentuada perda de água por lixiviação
principalmente em períodos com alta temperatura ou baixa umidade relativa do ar.
Com relação à nutrição das mudas de moringa na fase de viveiro, Vieira et al. (2008),
avaliando o crescimento inicial da espécie sob omissão de nutrientes concluíram que a omissão de
nitrogênio, fósforo e magnésio é mais prejudicial ao crescimento da parte aérea comparativamente
ao potássio, cálcio e enxofre.
A adubação para no semeio (fase de germinação) não é necessário uma vez que as sementes
armazenam nutrientes para o crescimento inicial da plântula, mas é necessária para o crescimento
da muda, no entanto informações nutricionais nas fases inicias de desenvolvimento são escassa
na literatura. O uso de substratos a base de compostos orgânicos já oferece certa quantidade de
nutrientes para as mudas, muitas vezes sendo o suficiente para o seu crescimento até a expedição
para o campo. Se for utilizada terra ou areia como substrato, maior atenção deve ser dada a adubação.
Freire et al. (2013), recomendam adubação para produção de mudas de espécies arbustivas,
que pode ser também utilizadas para a produção de mudas de moringa. Para cada 1 m3 de substrato
(areia ou solo) deve ser aplicado de 1000 g de P2O5 (como superfosfato simples) juntamente com
200 g de K2O (como KCl). Também deve se adicionar 200 g FTE e 500 g de calcário dolomítico (se
338
o substrato apresentar baixos teores de Ca ou altos teores de Al trocável). A aplicação de composto
orgânico é recomendada como condicionador do solo e para o fornecimento de nutrientes.
No cultivo de mudas destinadas a plantios orgânicos, a fonte de P deve ser o fosfato
natural, fosfato de rocha ou o também chamado de pó de rocha. As cinzas podem fornecer
altas quantidades de K. A aplicação de composto orgânico é importante no fornecimento de N
e também de micronutrientes. Souza et al. (2015), avaliando diferentes níveis de fertilização
orgânica (esterco bovino) na produção das mudas afirmam que, a aplicação de pequenas doses
é suficiente para obtenção de mudas de boa qualidade, sendo recomendada a aplicação de cerca
de 20 g dm-3 esterco bovino.
Moringa olefeira
testadas como Jaffna, Chauakacheri Murunga, Chem, Kadu, Palmurungai e Periyakulam 1 (PKM
1) (Tsaknis et al. 1998).
Na Índia, vários testes de cultivos em diferentes condições climáticas foram realizados com
a variedade Periyakalum-1 (PKM-1), que é uma variedade lançada inicialmente pela Horticultural
Research Station da Tamil Nadu Agricultural University (Lalas & Tsaknis 2002). Esta variedade tem
sido propagada por sementes, sendo destinada para plantios adensados com replantio anual
(Rangel 1999). Foi observada diferença acentuada entre na produtividade das cultivares a PKM-
1 proveniente da Índia e da cultivar proveniente da África. Estas diferenças indicam que maiores
níveis de diversidade genética podem ser esperados dentro das populações de PKM-1. Essas
descobertas sustentam a cultivar PK1 como boa candidata para o desenvolvimento de variedades
melhoradas (Ayerza 2011). Experimentos realizados na Argentina com as duas cultivares distintas
e em quatro diferentes locais indicaram grande variação na quantidade de frutos, por outro lado, o
teor de óleos extraídos não diferiu entre as duas cultivares (Ayerza 2012).
O Centro de Promoção e Biodisel de Jatropha (CJP) lançou em 2012 uma nova variedade
de moringa chamada de Maru-moringa. A produção de sementes dessa variedade inicia entre
4 e 6 meses após plantio no campo com rendimento comercial por 10 anos (http://www.
jatrophabiodiesel.org/moringa/agronomy.php, acesso em 04 de abril de 2018). Esta variedade
é bastante ramificada, apresenta floração precoce e maior produtividade.
339
De acordo com Rangel (1999) a produção óleo pode ser aumentada com a obtenção de
um híbrido de Moringa oleifera e Moringa peregrina (Forssk.) Fiori, que é altamente produtiva
apresentado 50 % de óleo.
A obtenção de híbridos para a produção de folhas também pode ser importante no aumento
da produção. Por outro lado, deve-se considerar nesses cruzamentos se a qualidade nutricional das
folhas está sendo mantidas e para quais regiões ou nível tecnológico seria mais adequada.
Além do melhoramento genético visando à produção de sementes, devido à facilidade
de enraizamento das estacas da moringa quando em condições adequadas, indivíduos que
apresentarem características superiores (em produção de folhas, sementes ou de óleo, por exemplo)
podem ser propagados vegetativamente por estaquia obtendo-se indivíduos com as características
da planta matriz que podem ser cultivados em larga escala.
340
Moringa olefeira
341
6.2 ESPAÇAMENTO
Devido aos múltiplos usos atribuídos a moringa, a distância de plantio é variável em função
do objetivo ou da finalidade da produção e também do sistema de cultivo.
Se o cultivo é destinado a coleta das folhas, o espaçamento deve ser mais adensado,
podendo variar entre: intensivo (espaçamento de 10 cm x 10 cm a 20 cm x 20 cm), semi-intensivo
(espaçamento 50 cm × 100 cm) ou integrado em um sistema agroflorestal (espaçamento de 2-4
m entre as fileiras) (Leone et al. 2016). Mendieta-Araica et al. (2013), após avaliação de diferentes
espaçamentos recomendam 4 cm x 15 cm, num total de 167.000 plantas ha-1, nesse ultimo caso, um
sistema superadensado.
Se a finalidade do plantio for a produção de sementes, o espaçamento deve ser maior,
recomendando-se 3 x 3 m. A maior área disponível para cada planta irá propiciar maior oferta
de água, nutrientes e incidência solar favorecendo a formação de vagens e sementes de melhor
qualidade (Garrido 2015). Outro espaçamento indicado é 1,2 m dentro da linha, e 5 m entre as
linhas (1666 plantas ha-1) ou 4 m entre as linhas (2000 plantas ha-1), sendo utilizado em Ecossistema
Silvicultura Tropical
Yungas (Ayerza 2012). Estes espaçamentos são interessantes para sistemas consorciados com outras
espécies semi-perenes ou mesmo olerícolas. Para plantios em consórcios, Garrido (2015) recomenda
espaçamentos entre 2 e 4 m. Distâncias maiores favorecem a entrada de luz tanto para a moringa
quando para a cultura consorciada.
342
O transplantio de plântulas, indicado para espaçamento adensado, deve ser realizado
em sulco de plantio de 5 a 10 cm de profundidade ou covetas de 5 a 10 cm de profundidade
e 5 a 7 cm de diâmetro. Isso depende do tamanho do torrão da plântula (até 5 cm de altura).
Os cuidados devem ser para que o sistema radicular fique bem acomodado e também para não
ocorrer afogamento do coleto.
O plantio das mudas no campo deve ser realizado quando as mudas apresentarem até 60 cm
altura. Essa altura, no entanto, é recomendada para espaçamentos maiores, ou seja, para a produção
de sementes, vagens, flores ou para fins ornamentais. Mudas provenientes de produção por estacas
podem ser maiores, até 90 cm de altura.
As covas devem ser de 20 x 20 cm até 40 x 40 cm (altura x diâmetro) dependendo da altura
da muda e do sistema radicular.
6.4 ADUBAÇÃO
A moringa tolera nível de pH entre 4,5 a 8 (Duke 1983, Sánchez et al. 2005), no entanto,
a calagem é recomendada quando o pH estiver abaixo de 5 ou o teor de cálcio no solo estiver
Moringa olefeira
baixo (menor que 1,6 cmolc dm-3) ou o teor de Al for maior que 1 cmolc dm-3 (Sobral et al. 2015). A
calagem deve ser realizada em área total antes do plantio tanto para plantios adensados quanto para
espaçamentos maiores.
O cálculo da quantidade de calcário a ser aplicada pode ser baseado na fórmula da saturação
de bases, visando atingir 60 % da saturação de bases do solo ou para a elevação dos teores de cálcio
somados ao de magnésio para até 3 cmolc dm-3 (Freire et al. 2013). Sem a análise do solo, a aplicação
do calcário não deve ser maior que de 1 Mg por ha.
Adubações específicas para a fase de plantio tanto para moringa quanto para plantas arbustivas
com as características da moringa são raras. Freire et al. (2013) sugere para o plantio de leguminosas
arbustivas em solos com baixos teores de P (<10 mg dm-3) e K (<45 mg dm-3) a aplicação de 40
e 60 kg ha-1 de P2O5 (como superfosfato simples) e K2O (como KCl), respectivamente. A adubação
nitrogenada não é recomendada por Freire et al. (2013) para leguminosas arbustivas, no entanto,
para o plantio da moringa no campo, a aplicação do N é importante. Leone et al. (2016) recomendam
que no preparo do solo para a semeadura ou do plantio das mudas de moringa no campo, para
estimular crescimento vegetativo, pode-se realizar a aplicação de 120 kg ha-1 N: P: K (15:15:15) o que
corresponde a cerca de 18 kg ha-1 de N, 18 kg ha-1 de K2O e 18 kg ha-1 de P2O5.
Assim, pode-se aplicar cerca de 20 kg ha-1 de N no plantio na forma de ureia, nitrato ou sulfato
de amônio. Além disso, aplicação de 20 a 30 g FTE-Br 12 por cova é importante para fornecimento
343
de micronutrientes principalmente em solos de textura média a arenosa ou quando os teores
verificados pela análise de solo indicar valores baixos (Freire et al. 2013). Essa adubação pode
ser realizada tanto para cultivos adensados para a produção de folhas quanto para espaçamentos
maiores destinados a produção de sementes. No plantio de mudas em covas, deve-se dividir o valor
da recomendação por hectare pelo número de plantas por hectare e aplicar o adubo misturado ao
solo da cova de plantio.
Para cultivos orgânicos, os compostos orgânicos devem ser aplicados para suprir nutrientes,
principalmente o N, K e micronutrientes e também serve como condicionador do solo. O composto
orgânico deve ser aplicado na cova ou no sulco de plantio em até 30 % do volume do solo da
cova ou do solo retirado no sulco de plantio, podendo ser esterco bovino, compostos orgânicos,
vermicomposto, cama de frango, etc.
É importante lembrar que na fase inicial de crescimento da planta, o P é um elemento de
grande importância, assim, mesmo se for aplicado adubo orgânico a complementação da adubação
do P deve ser realizada na fase de plantio das mudas no campo. Com isso solos com baixos teores de
Silvicultura Tropical
P (10<mg dm-3) devem receber a aplicação de 40 kg ha-1 de P2O5 na forma de fosfato natural
344
Com relação ao manejo das plantas daninhas, o controle deve ser realizado principalmente
por capina mecânica. O uso de herbicidas deve ser evitado principalmente no cultivo para
produção de folhas.
Moringa olefeira
miracletrees.org/growing_moringa.html).
As plantas atingem de 3 a 5 m no primeiro anos de plantio no campo. A floração e a produção
das sementes ocorrem já no primeiro ano após o plantio no campo, no entanto a produção comercial
somente será significativa a partir do segundo ano.
Nos cultivos destinados a produção de óleos, as vagens devem ser colhidas quando estiverem
castanhas, secas, opacas e quebradiças, mas ainda fechadas, evitando que as sementes sejam perdidas
(https://miracletrees.org/growing_moringa.html).
A colheita das vagens pode ser realizada pela poda dos ramos e em seguida, realizada a
separação das sementes das vagens, no entanto nesse tipo de colheita cachos de flores são também
coletados diminuindo o rendimento. Outra forma de coleta das sementes é por catação manual
ou cortando-se somente os pecíolos das vagens maduras. Os pecíolos, no momento da colheita,
apresentam entre 5 e 10 cm e mantém a vagem suspensas nos galhos podendo facilmente ser
cortados (Figura 9B).
É necessário cuidado no momento da colheita, devendo-se remover as vagens de tal forma
que os novos botões florais, as flores (Figura 3D) e as vagens mais jovens não sofram injúrias,
prejudicando as colheitas subsequentes (Rangel 1999). Após a coleta das vagens, estas devem ser
secar ao ar e à sombra, e em seguida devem ser abertas e as sementes coletadas (Ayerza 2012).
345
Para produção de folhas
A colheita das folhas (Figura 11 A e B), em plantios de alta densidade, pode ocorrer quando as
plantas apresentarem entre 1,5 e 3,0 m, que será entre 60 e 90 dias após o plantio no campo ou cerca
de 60 dias após a colheita anterior das folhas. O corte das plantas para a colheita deve ser realizado
entre 20 a 45 cm acima do solo (Amaglo 2006). Para o corte dos ramos pode ser utilizada tesoura de
poda ou podão usada para poda de cerca viva.
Figura 11:
Silvicultura Tropical
A. Colheita da parte
aérea de plantas
de moringa e B.
Folhas de moringa
separadas dos
ramos lignificados
em bandeja para
secagem
346
2016). A aplicação de 900 mm de irrigação por ano garante uma boa produção de frutos (Muhl et al.
2014). De acordo com Foidl et al. (2001), com o fornecimento de água e nutrientes adequadamente,
pode haver aumento da produção de biomassa para mais de 100 Mg ha-1.
A fertilização aumenta a capacidade de crescimento e produção das plantas. O cultivo
sucessivo da moringa no mesmo local, sem o manejo adequado da adubação, reduz os nutrientes
do solo acentuadamente por serem exportados com as folhas. A ordem de exportação de nutrientes
é K>N>Ca>Mg>P (Rodrigues et al. 1016), sendo que o K, e o N são exportados em grandes
quantidades devendo ser repostos ao solo na forma de adubação orgânica ou mineral. A deficiência
de N diminui consideravelmente a quantidade de folhas produzidas e o crescimento da planta.
A análise foliar das plantas pode dar uma indicação da necessidade de adubação. Os
teores nutricionais adequados nas folhas de mudas de moringa observados por Vieira et al. (2008)
foram de 37,45; 2,31; 23,48; 12,08; 2,12; e 1,86 g kg-1, respectivamente para N; P; K; Ca; Mg e
S. Rodrigues et al. (2016) observaram os seguintes teores adequados de nutrientes em mudas
de moringa com 50 dias: 30,0; 2,5; 37,0; 14,5; e 2,9 g kg-1, respectivamente para N; P; K; Ca;
Mg. Folhas de moringa apresentando teores menores podem estar em condições de deficiência
Moringa olefeira
nutricional requerendo a adubação.
As recomendações de adubação para a produção de moringa são escassas. A análise de
solo deve ser realizada para nortear as recomendações de adubação na fase de produção. Os
nutrientes devem ser repostos conforme o resultado da análise de solo indique baixos teores do
elemento no solo, tanto para os cultivos adensados quanto para os cultivos em espaçamentos
maiores. Para a adubação de P e K a recomendação de Freire et al. (2013) para leguminosas
arbustivas pode ser uma indicação.
Em solos com baixos teores de P (<10mg dm-3) e K (<45 mg dm-3) os autores sugerem ser
realizada a aplicação anual com 40 kg ha-1 de P2O5 (como superfosfato simples) e 60 kg ha-1 K2O (como
KCl). O P deve ser aplicado em uma única aplicação no inicio do período de chuvas. O K pode ser
parcelado em duas vezes no ano. Solos muito arenosos, onde não são realizadas aplicações anuais de
matéria orgânica devem receber, a cada dois anos, aplicação de micronutrientes de liberação lenta,
podendo ser o FTE-Br12 na dose de 20 a 30 g por planta.
Para a adubação nitrogenada, várias indicações são encontradas na literatura. Amaglo
(2006) recomenda a aplicação anual de 370 g de sulfato de amônio por planta (74 g N). A aplicação
de 7,5 kg de adubo orgânico e 370 g de sulfato de amônia por planta resultou em um aumento
de três vezes mais de matéria seca em relação àquelas que não receberam a essas aplicações
(Sundararaj et al. 1970). Mendieta-Araica et al. (2013) recomendam a aplicação de 521 kg de N ha‑1
347
ano-1 no cultivo com o espaçamento de 0,4 x 0,15 m, podendo ser utilizada essa mesma adubação
para espaçamentos maiores para a produção de folhas. Isaiah (2013) testou doses de NPK (15:15:15)
variando de 30 a 120 kg ha-1 nas plantas de moringa. O autor observou que a aplicação de 60 a 90 kg
ha‑1 proporcionou maior quantidade de folhas. Essa dose corresponde a aplicação de 9 – 14 kg ha-1 de
N, 9 – 14 kg ha-1 de P2O5 e 9 – 14 kg ha-1 de K2O. O N foi aplicado na forma de ureia.
Na adubação de produção em cultivos orgânicos de moringa, as cinzas e compostos orgânicos,
cama de frango, compostos biodinâmicos podem ser aplicados como condicionadores de solo e para
o aumento no teor de nutrientes, podendo ser aplicado de 3 a 8 kg por planta a até 60 cm do tronco
contornando a planta. No caso de plantios adensados aplicar esse valor em até um m2 na linha de plantio.
A aplicação deve ser realizada a cada corte das folhas ou no mínimo duas vezes por ano
na fase de produção. A cama de frango e o vermicomposto são mais indicado por apresentar bons
teores de N. Adubação fosfatada (fosfato natural) deve ser realizada somente uma vez ao ano,
no início da estação chuvosa. A aplicação de composto orgânico deve ser realizada tanto para os
cultivos orgânicos quanto os cultivos convencionais
Silvicultura Tropical
8. POTENCIAL PRODUTIVO
8.1 RENDIMENTO ECONÔMICO
As produções foliares de moringa podem viabilizar empreendimentos econômicos para
atender a crescente demanda por produtos da folha da moringa (Amaglo 2006).
Muitos estudos sobre o uso das sementes para extração de óleos destinados a produção de
combustível, para uso na culinária e em cosméticos já foram realizados e produtos da moringa estão
sendo comercializados em diferentes países. O uso da semente da moringa no processo de limpeza da
água vem sendo estimulado e utilizado nos países em desenvolvimento nas comunidades carentes
com problemas com o abastecimento de água potável e também no auxílio ao tratamento de diferentes
doenças. Com isso, o plantio com vistas na comercialização de folhas e sementes foi crescente até o
ano de 2019 quando saiu a protaria da ANVISA (Brasil, 2019) proibindo a comercialização. Além disso,
o aumento dos plantios também tem viabilizado o comércio das mudas entre os viveiristas e tem
aumentando mais ainda o potencial de comercialização das sementes também para a produção de
mudas.
348
8.2 RENDIMENTOS, CUSTOS
O preço da semente de moringa varia muito na mídia. Em site de comercialização de semente
(https://sementescaicara.bbshop.com.br/-moringa-oleifera-3) foi verificado que o preço da semente é
de R$ 64,90 para 250 g de semente, correspondente a cerca de R$260,00 o quilograma. Considerando
que um kg de sementes contêm cerca de 3500, o preço de 100 sementes, nesse caso, seria de cerca
de R$7,50. Em sites onde a comercialização é realizada por número de sementes, o preço de 100
sementes tem variado entre R$13,00 e R$75,00. O preço de cada muda no mercado tem variado de
R$10,00 a R$20,00, sendo comercializada em tubetes plásticos ou em saquinhos. O preço varia com
a altura das mudas, sendo mais caras conforme o aumento no tamanho.
A compra das mudas destinadas a plantios para a produção de folhas ou sementes pode
onerar consideravelmente a implantação do cultivo. Fontenele (2015), avaliando os custos de
implantação de plantios de diferentes espécies para compensação florestal, observou que as etapas
mais onerosas foram as de aquisição de insumos, em especial as mudas e a de plantio (que inclui
atividades de preparo do solo e o plantio propriamente dito. A aquisição de mudas corresponde a
cerca de 60 % do valor dos insumos e a cerca de 24 % do custo total da implantação. Com isso, dada a
Moringa olefeira
facilidade da germinação das sementes, no plantio adensado para produção de folhas recomenda-se
o plantio direto no campo em sulco de plantio, reduzindo-se o custo com a obtenção das mudas, com
substratos, recipientes, etc.
Os valores observados para a comercialização de folha de moringa seca para chá variam muito.
No ano de 2019, foi verificado que o valor do pó da folha variou entre R$5,00 e R$40,00 a cada 100
g, quando comercializado em saquinhos ou recipientes. A comercialização do pó em capsulas estão
com valores variando de R$15,00 a R$ 48,00 a caixa com 100 capsulas de 600 mg.
Na produção de óleo é verificado que o óleo representa entre 22 e 40% do peso das sementes
de M. oleifera (Abdulkarim et al. 2005), sendo considerado um alto rendimento. Na mídia, o preço do
óleo varia de R$45,00 a R$280,00 para cada 100 mL de óleo da semente da moringa.
349
a produtividade e sua entrada no mercado ao longo do ano. Por outro lado, considerando a
rusticidade da espécie e sua capacidade de se adaptar a condições adversas, esta espécie pode
ser cultivada com cuidados mínimos e ainda assim manterá uma boa produção. Isso é importante
quando é cultivada em comunidades carentes para o uso das folhas na recuperação da nutrição
humana ou animal ou para uso das sementes no cuidado da água.
Assim, o que se encontra na literatura acerca da sua produção apresenta uma grande
variabilidade, tanto para produção de folhas quanto pra a produção de sementes. Os valores variam
muito entre diferentes autores.
Folhas
O rendimento na produção de folhas depende da finalidade do cultivo, podendo ser para
comercialização de folha secas ou frescas ou pó da folha ou para alimentação do gado.
Na coleta das folhas são colhidos também galhos e ramos. As folhas correspondem a cerca
de 30 % do total de matéria fresca colhida. Amaglo (2006), obteve a produção média de matéria
Silvicultura Tropical
fresca de 580 Mg de material fresco ha-1 ano-1, que levou a produção de cerca de 174 Mg de folhas
frescas. No Senegal, o rendimento por corte foi menor que 45 Mg ha-1 durante a estação seca,
enquanto durante a estação chuvosa o rendimento por corte atingiu 115 Mg ha-1. Com irrigação
hidropônica, foi possível seis cortes por ano com produção de 115 Mg de biomassa fresca, com um
rendimento de cerca de 34,5 Mg de folhas frescas.
Ainda na produção de folhas, Medienta-Araica et al. (2013), verificaram que a moringa pode
manter até 27 Mg ha-1 de matéria seca em condições de floresta tropical seca ao longo do tempo, com
uma densidade de plantio de 167.000 plantas ha-1. Amaglo (2006) considera que algumas áreas
produzem até 100 kg de pó de folha (folha seca e moída) por semana. Para a produção de 1 kg de
folhas secas são necessários cerca de 8 kg de folhas frescas (com hastes removidas).
Para a produção de pó, as folhas devem ser separadas de galhos, pecíolos, ramos, levando a um menor
rendimento. No uso de folhas para a produção de silagem ramos e pecíolos podem ser adicionados,
aumentando o rendimento.
Sementes
Na produção de sementes o rendimento também depende da finalidade. Atualmente,
as sementes têm sido destinadas principalmente para produção de óleos ou para o processo de
coagulação da água ou, ainda, para a produção de mudas.
350
As sementes destinadas a produção de mudas não exige a retirada do tegumento. Por outro
lado, no processo de retirada do óleo, a massa que sobra da prensagem pode ser utilizada para outras
atividades como no processo de limpeza da água (Paula 2014) ou como ração para animais.
A produção anual de sementes em Ecossistema de Chaco Árido foi de 176,17 e 481,25 kg
árvore-1, para árvores de 1 e 2 anos, respectivamente (Ayerza 2012). Por outro lado, Foidl et al. (2001)
relatam valores menores na produção. De acordo com os autores, uma única árvore pode produzir de
15000 a 25000 sementes.
Ndubuaku et al. (2014) estudaram os rendimentos de moringa em toda a Nigéria e relataram
média de produção de vagens de 37,69 toneladas ha-1 ano-1 e capacidade de produção de sementes
de 16,74 toneladas ha-1 ano-1 variando com a localização, tipo de solo e as condições climáticas.
Em um cultivo com boas condições ambientais e bem irrigado, um indivíduo jovem pode
produzir 600 vagens, gerando 300 g de pó de sementes. Já um indivíduo adulto pode produzir 1600
vagens, com produção de 800g de pó de semente (https://miracletrees.org/growing_moringa.html.
Na produção de óleos Leone et al. (2016) relatam que aproximadamente 3030 kg de óleo
podem produzir 1000 L de biodiesel. Consideram que um equivalente a 3,03 Mg ha-1 de sementes
Moringa olefeira
oleaginosas pode ser colhido de regiões mais secas e 6,06 Mg ha-1 em solos irrigados, levando a uma
produção de cerca de 1000 a 2000 l óleo ha-1 . A produção anual de óleo proveniente de árvores cultivadas
na Argentina em 2003 e 2004 foi de 595 e 564 kg ha-1 (Ayerza 2011). A variedade Maru-moringa
produz, na fase madura, de 3000 a 4000 litros de óleo por hectare, em condições de adequada nutrição
e irrigação (http://www.jatrophabiodiesel.org/moringa/agronomy.php, acesso em 04/04/2018).
A produção é dependente também do espaçamento. Foi verificado que o espaçamento
de 0,5 m x 0,5 m proporcionaran os valores de produção de frutos, sementes e produção de
óleo de 2111, 621 e 82 kg ha-1, respectivamente enquanto o espaçamento de 1,0 m x 1,0 m de
espaçamento reduziu os valores de frutos, sementes e produção de óleo sendo de 552, 142 e 13
kg ha-1, respectivamente (Safaa et al. 2016).
Como melífera, a moringa produz continuamente flores o ano todo em regiões tropicais
mais quentes em que não ocorrem restrições hídricas severas, isso é particularmente importante
considerando a redução da floração da maioria das espécies vegetais nos períodos de temperatura
mais baixa.
Os principais fatores que afetam o rendimento da moringa são: clima, inoculação com
micorrizas arbusculares, irrigação, remoção de plantas daninhas, sistema de poda, uso de fertilizantes,
densidade de plantio, genótipo, controle de pragas e doenças (http://www.jatrophabiodiesel.org/
moringa/agronomy.php. acesso em 04/04/2018).
351
9. PATOLOGIA FLORESTAL
9.1 DOENÇAS E PRAGAS
Lezcano et al. 2014 verificando os agentes fúngicos associados a sintomas de doenças em
plantas de moringa identificaram Colletotrichum dematium (Pers.) Groove, associado a cloroses,
necroses do talo e manchas foliares e Fusarium solani (Mart.) Sacc., associado a manchas e necroses
do talo e até mortes das plantas. A podridão da raiz pode ser causada por Diplodia sp. (Rangel
1999). Outros fungos podem ser encontrados atacando a moringa: Cercospora moringicola, Puccinia
moringae, Oidium spp. e Sphaceloma morindae (Duke 1983).
Com relação as pragas, a lagarta de pelo (Eupterote molifera Wlk.) pode causar desfolhamento.
Outros relatos são encontrados, como um afídeo (Aphis caraccivera), lagartas (Tetragonia sva),
(Metanastia hytaca) e (Helioti armiger) e o besouro (Diaxenopsis apomecynoidies). A mosca do fruto
(Glitonia spp.) causa seca e apodrecimento dos frutos (Ramachandran et al. 1980, Duke 1983). O
ataque de insetos nos frutos e sementes pode levar a redução acentuada da produtividade. Além
disso, as formigas cortadeiras também utilizam suas folhas podendo desfolhar árvores inteiras de
Silvicultura Tropical
moringa. No plantio de mudas no campo esse pode ser um problema que deve ser resolvido com o
controle das formigas.
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359
Pereskia aculeata Mill.
LUCIELE MILANI ZEM
Engenheira Agrônoma, graduação em Agronomia pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, Especialização em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas
no Agronegócio pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Mestrado e
Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA
Silvicultura Tropical
1.1 BIOMA
É de clima Tropical e Subtropical, sendo encontrada em domínios brasileiros
de Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica (BARBOSA, 2012).
1.5 PORTE
É uma espécie perene, conhecida popularmente como planta de quintal,
com características de trepadeira, atingindo até 10 metros de altura, crescendo
mesmo sem a presença de anteparo (SOUZA et al., 2010; SILVEIRA, 2016)
(Figura 1 A).
360
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
2.1 PRODUTOS NÃO MADEIREIROS
Pereskia aculeata é uma planta alimentícia não-convencional (PANC) consumida
pelas populações rurais e urbanas, que contribui na complementação alimentação e na
economia familiar, (SOUZA et al., 2009) destacando-se em preparações como farinhas (folhas
secas), saladas, refogados, tortas e massas alimentícias (ROCHA et al., 2008; SILVEIRA, 2016).
Alimentos formulados com a inclusão de Pereskia aculeata indicam um potencial de melhoria
na qualidade nutricional e/ou sensorial dos produtos (WANG et al., 1996; ROCHA et al.,
2008). Os frutos de Pereskia aculeata possuem potencial para uso em geléias e na produção
de licores, além de serem utilizados como expectorantes e antissifilíticos (VASQUES-ARAUJO;
JOAQUIM, 2007; OLIVEIRA et al., 2011; SANTOS et al., 2011).
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
1 a 8 sementes por fruto, embora seja mais comum encontrar de 2 a 3 sementes por
fruto (ROSA; SOUZA, 2003). Possuem formato lenticular, cor marrom-escura a preta e são
brilhantes quando maduras (ROSA; SOUZA, 2003).
361
cultivadas para fins de produção de mel pelos apicultores, uma vez que a floração, que ocorre
de janeiro a abril, é rica em pólen e néctar (BRASIL, 2010).
3.5 ARMAZENAMENTO
Vale ressaltar que suas sementes apresentam comportamento recalcitrante, germinando
logo após a dispersão ou enquanto ainda na planta matriz, devido ao seu elevado teor de
umidade (DAU; LABOURIAU, 1974).
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
A produção se dá basicamente via propagação assexuada por meio da estaquia caulinar,
sendo de fácil enraizamento, crescimento rápido e vigoroso (SILVA JÚNIOR et al., 2010). A
362
estaquia caulinar de Pereskia aculeata foi realizada por Zem (2017) em diferentes substratos
e nas quatro estações do ano. Nesse experimento, o autor constatou que independente do
substrato utilizado, o enraizamento é considerado satisfatório (81-98%) durante todo o ano.
4.2 MANEJO
O material vegetativo utilizado para enraizamento consiste de ramos com a presença de
acúleos (Figura 1 E, F, G), a partir dos quais são confeccionadas estacas caulinares semilenhosas
com aproximadamente 10-12 cm de comprimento, com corte reto no ápice e em bisel na base,
sendo mantidas duas folhas na porção apical com sua área reduzida a metade. Após a confecção
as estacas devem ser submetidas à desinfestação em hipoclorito de sódio a 0,5% durante 10
minutos, posteriormente lavadas em água corrente por 5 minutos. Na sequência, as estacas
são plantadas em tubetes de polipropileno com capacidade de 53 cm3, contendo os substratos,
podendo ser vermiculita de granulometria fina, vermiculita:casca de arroz carbonizada (1:1, v/v)
ou até mesmo substrato comercial. As estacas deverão sem mantidas em casa de vegetação
363
6. MANEJO PARA A PRODUÇÃO
6.1 TÉCNICAS DE CULTIVO E COLHEITA DA PRODUÇÃO
Na colheita de suas folhas para uso alimentício, é recomendada a coleta juntamente com o
pecíolo, quando estas possuírem entre 7 a 9 cm de comprimento (Figura 1 H, I, J) (SILVEIRA, 2016).
Essa colheita é iniciada somente de 2 a 3 meses após o plantio e seu rendimento varia de 2.500 a
5.000 kg/ha (BRASIL, 2010; SILVEIRA, 2016).
7. POTENCIAL PRODUTIVO
7.1 RENDIMENTOS, ECONÔMICO
Na colheita das folhas para uso alimentício, seu rendimento varia de 2.500 a 5.000 kg/
ha (BRASIL, 2010; SILVEIRA, 2016).
No sistema de produção de mudas via estaquia caulinar, na distribuição dos custos totais,
há um maior custo para o processo de implantação (84,61%) em relação a processos de operação
(15,39%). Considerando que para a produção de aproximadamente 23.000 mudas de Pereskia
aculeata, o custo de implantação de uma casa de vegetação de 136 m2 é de U$$ 0.24 por muda
e o custo de operação para produção dessas 23.000 mudas a cada 60 dias é de U$$ 0.04, o custo
final é de U$$ 0.28 por muda produzida a cada 60 dias. Ao analisar a relação benefício/custo para
o sistema de produção, nota-se que esta relação é superior aos custos descontados, evidenciando o
fato que o sistema de produção de mudas de Pereskia aculeata é lucrativo. No entanto, vale lembrar
que quanto maior o preço de venda da muda, maior a relação benefício/custo e então mais viável
economicamente será a atividade (ZEM, 2017).
8. PATOLOGIA FLORESTAL
8.1 DOENÇAS E PRAGAS
A espécie possui histórico de baixa incidência de pragas e doenças (SILVA JÚNIOR et al.,
364
2010). Não há relatos de pragas e doenças importantes para a cultura, a não ser pelo ataque às
suas folhas por besouros (vaquinhas e idiames) (BRASIL, 2010).
9. OUTRAS INFORMAÇÕES
Devido as suas características nutricionais é de grande importância o estudo do
enraizamento de estacas de Pereskia aculeata a fim de viabilizar o seu cultivo em larga escala
(ZEM, 2017). A multiplicação por meio da propagação vegetativa via estaquia caulinar é uma
técnica muito utilizada e os fatores intrínsecos estão diretamente relacionados à facilidade de
enraizamento, mas é importante ressaltar que outros fatores como temperatura, luz, substrato
e época do ano também podem exercer influência no sucesso dessa técnica (FACHINELLO et al.,
1995; HARTMANN et al., 2011).
Um detalhado estudo anatômico foi realizado por Zem (2017) a fim de descrever o
processo rizogênico ocorrente nas bases das estacas. Percebeu-se que o caule do qual foram
365
Visando oferecer uma recomendação de uso de um produto alimentício com maior
qualidade nutricional e acessível à maioria da população, foi analisada a composição bromatológica
de macarrão talharim, cupcake e suco a base de farinha de folhas e caules, bem como folhas frescas
de Pereskia aculeata (ZEM, 2017). O macarrão talharim preparado com a substituição de 30% de
farinha de trigo por 30% de farinha de folhas secas de Pereskia aculeata apresentou melhores
teores de cinzas (4,07%), lipídeos (2,89%), proteínas (10,71%) e fibras (13,94%), apresentando
ainda os menores valores calóricos totais (342,41) e melhores resultados para os minerais fósforo
(2,78 g kg-1), sódio (0,90 g kg-1), potássio (14,30 g kg-1), magnésio (2,26 g kg-1), cálcio (8,20 g kg-1),
ferro (203,32 mg kg-1), manganês (32,67 mg kg-1) e zinco (22,88 mg kg-1) ao ser comparado com o
macarrão talharim sem a adição de Pereskia aculeata (ZEM, 2017).
Os cupcakes preparados com farinha de folhas secas e com farinha de folhas+caules
secos de Pereskia aculeata são os mais indicados para o consumo, pois apresentaram resultados
semelhantes para os minerais, fósforo, sódio, magnésio, cobre e zinco, com boas qualidades
nutricionais, além de apresentarem boa quantidade de fibras e proteínas (ZEM, 2017).
Silvicultura Tropical
Os sucos preparados à base de Pereskia aculeata, folhas e caules ou só folhas, são todos
indicados para o consumo, devido sua boa qualidade nutricional para os minerais fósforo, sódio,
potássio, magnésio, cálcio, cobre, ferro e manganês, agregando assim propriedades ao suco de
laranja lima natural (ZEM, 2017).
Diante da demanda da população por alimentos saudáveis e com melhor qualidade
nutricional é importante caracterizar sensorialmente os produtos a base de Pereskia aculeata
visando identificar a sua aceitação (ZEM, 2017).
Um estudo de três receitas de macarrão, pão e pizza a base de Pereskia aculeata mostrou
que 78% dos julgadores gostaram do macarrão talharim tradicional branco e do macarrão com
30% de farinha de Pereskia aculeata e 84% preferiram o macarrão talharim adicionado de 10% de
farinha de Pereskia aculeata, sendo que a preferência do consumidor foi pelo macarrão talharim
com 10% de farinha de Pereskia aculeata. Em relação ao pão, aquele tradicional branco obteve
64% de aceitabilidade e o pão adicionado de 10% de farinha de Pereskia aculeata com 68%;
já para o pão com 30% de farinha de Pereskia aculeata não houve diferença significativa nos
resultados entre os julgadores, pois 48% não gostaram e 46% gostaram do pão, o que significa
que este não foi muito bem aceito pelos julgadores. Os julgadores ao serem questionados sobre
a preferência entre os três tipos de pães, relataram que em primeiro lugar estaria o pão com a
adição de 10% de farinha de Pereskia aculeata (56%). Quanto à massa de pizza, bastante popular
e um dos produtos mais consumidos no mundo, os resultados mostram que 92% dos julgadores
366
a
E F h
i j
Figura 1: Pereskia aculeata: A. Planta matriz. B. Visitação de inseto nas flores. C. Flor. D. Produção de
frutos. E. Caules secos. F. Acúleos nos caules lenhosos e semilenhosos. G. Acúleos nos caules lenhosos.
H. Colheita de folhas. I. Folhas secas para produção da farinha. J. Folhas. Fonte: ZEM (2017)
367
preferiram a pizza tradicional branca, e 60% e 54% dos julgadores gostaram da pizza adicionada
de 10% e 30% de farinha de Pereskia aculeata, respectivamente, mas ao serem questionados sobre
a preferência entre as três receitas de pizza, relataram que em primeiro lugar estaria ainda a pizza
tradicional branca (56%) (ZEM, 2017).
Devido a estas características e resultados de estudos realizados com a farinha de Pereskia
aculeata, o interesse das indústrias alimentícia e farmacêutica pelo gênero Pereskia vem aumentado,
ressaltando-se o alto teor de proteínas com boa digestibilidade, teor de fibras e minerais como o
ferro e cálcio (ALMEIDA; CORRÊA, 2012).
Diante da carência de informações relacionadas à análise biológica da espécie, determinou-
se a digestibilidade in vivo, o PER (coeficiente de eficácia proteica), o NPR (razão proteica líquida),
o teor de aminoácidos e o escore químico de aminoácidos (EQ) de proteínas de farinha de folhas
secas de Pereskia aculeata, concluindo que a farinha produzida a partir de folhas de Pereskia
aculeata pode não ser adequada para garantir níveis satisfatórios de crescimento quando fornecida
na dieta como única fonte proteica, porém deve considerar a sua adequação na manutenção do
Silvicultura Tropical
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Paraíba, 2007.
371
Pilocarpus microphyllus
Stapf ex Wardlew.
Fabiano Gumier-Costa
Biólogo, graduação em Ciências Biológicas, Bacharelado e Licenciatura
pela Universidade Federal de Viçosa, especialização em Gestão e Manejo
Ambiental e Sistemas Florestais pela Universidade Federal de Lavras
(UFLA), mestrado em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido pela
Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente é analista ambiental do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO).
1. Distribuição Geográfica do
Jaborandi
O jaborandi é uma planta de porte arbustivo ou de arvoretas,
alcançando, geralmente, no máximo cinco metros, e pertence à Família
Rutaceae. O gênero Pilocarpus é neotropical e possui 16 espécies,
ocorrendo desde o México até a Argentina, sendo que 13 delas
372
ocorrem no Brasil (Skorupa 2000).
P. microphyllus, a espécie de maior
interesse comercial, tem ocorrência
na Amazônia e na Caatinga, nos
estados do Maranhão, Pará e Piauí
(Pirani 2015). Existem registros no
Suriname e estudos de distribuição
373
Silvicultura Tropical
Figura 2: Detalhes da coleta, transporte e secagem no extrativismo e nos plantios de jaborandi. Fotos à esquerda
de João Marcos Rosa e à direita de Fabiano Gumier Costa.
374
2. Aplicações e Usos Comerciais
A espécie P. microphyllus é utilizada pela indústria farmoquímica para a extração de
pilocarpina, alcaloide imidazólico, empregado na produção de colírios eficazes para o tratamento
do glaucoma (Sandhu et al. 2006; Sawaya et al. 2011). A palavra jaborandi deriva da expressão
em Tupi ”ya-mbo-r-endi”, traduzida, geralmente, como “que faz babar ou salivar”, relacionada
à propriedade de excitação das glândulas salivares, que chamou inicialmente a atenção dos
naturalistas e exploradores. Além disso, a mastigação de folhas de jaborandi em abundância
provoca sudorese (Holmstedt 1979). Tais propriedades apontam o uso intenso dessa planta pelos
indígenas, provavelmente em práticas tradicionais de cura e rituais xamânicos (Gumier-Costa
2016). As primeiras amostras de jaborandi foram levadas para a Europa pelo médico Symphronio
Coutinho em 1873. O alcaloide foi descoberto por Hardy e Gerrard em 1875 e introduzido por
1 Boca seca ou xerostomia é um sintoma comum, frequentemente associado com hipossuficiência das glândulas salivares
induzida por estágios fisiológicos transitórios, doenças ou efeitos de quimioterapia ou radioterapia.
375
Entre as espécies de Pilocarpus, P. microphyllus apresenta o maior teor alcalóide total, mas tem
apenas 35% de pilocarpina em relação aos alcalóides totais. Três outras espécies contêm mais pilocarpina
em relação aos alcalóides totais: P. jaborandi (70,8%), P. racemosus (45,6%) e P. trachyllophus (38,7%) e
podem ser candidatos à extração de pilocarpina (Sawaya et al. 2011).
A destruição dos ambientes naturais de ocorrência da espécie e a coleta predatória motivaram
a inserção de P. microphyllus na lista oficial de flora brasileira ameaçada, junto com outras espécies do
gênero: P. alatus, P. trachyllophus e P. jaborandi (MMA 2014).
2 Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Desde 2007, a gestão das Unidades de Conservação
Federais compete ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
377
No cultivo a densidade é 50.000 indivíduos ha-1, plantados em linhas duplas com 1,2 m de
largura, com espaçamento de 60 cm, entre cada linha, com colheita a partir do quarto ano (Homma
2003) e produção de 3.000 kg de folhas ha-1 em cinco colheitas anuais (Gumier-Costa et al. 2016). O
sistema intensivo de plantio, com adubação e irrigação, reduz o teor de pilocarpina foliar, provavelmente
por que a planta necessita de stress para desencadear o processo biossintético (Caldeira et al. 2016),
mas a quantidade produzida compensa essa desvantagem (Tabela 1). De acordo com Grabher (2015),
a quantidade e qualidade dos estoques de jaborandi nas diferentes regiões são variáveis, apresentando
piores valores nos locais em que ocorre coleta há mais tempo, no Maranhão e Piauí (Tabela 2).
Tabela 1: Construída a partir das análises da exploração de jaborandi pela Cooperativa COEX
Carajás e empresa Vegeflora entre 2008 e 2013. Fonte: Elaborada pelo autor.
Número de Preço Produção Teor de
Sistema Plantas ha-1
Colheitas ano-1 relativo (Kg ha-1) Pilocarpina (%)
Extrativismo 2-3 4 a 6 mil 1 120 a 190 0,93
Cultivo 5 50 mil 0,3 3 mil 0,5
Silvicultura Tropical
Tabela 2. Tamanho e qualidade dos estoques de jaborandi nas regiões com extrativismo. Fonte:
Grabher (2015).
Cocais Centro e Oeste São Félix do Xingu Carajás
(MA) (MA) (PA) (PA)
Tamanho do
Escasso escasso abundante abundante
recurso
Qualidade do
degradado pouco conservado conservado conservado
recurso
O jaborandi tem maior produção a pleno sol que na sombra (Assis et al. 2016) e o corte dos ramos
deve ser feito em plantas maiores que 50 cm de altura e menores que 2 m, sendo que as plantas menores
que 50 cm são deixadas como estoque futuro e as maiores são deixadas como matrizes de sementes
(Gumier-Costa 2012). A colheita das folhas ocorre predominantemente na estação seca e cada planta tem
uma produtividade entre 20 e 30 gramas de folhas secas a cada colheita (Golder 2012, Gumier-Costa 2012).
A coleta excessiva e frequente de folhas da mesma planta pode provocar perda de vigor e até mesmo levar
a mortalidade (Pinheiro 1997). No sistema extrativista as folhas são secadas ao ar livre sobre lona plástica
por cerca de 2 dias (Figura 2), até uma umidade de 10-12%, sendo protegidas à noite para não reabsorver a
umidade, a qual pode causar fermentação das folhas e diminuir o valor do produto (Frazão & Pereira 1979,
citado por Pinheiro 2002).
O banco de germoplasma da Embrapa em Belém conserva diversos acessos de várias regiões do
Pará e Maranhão, as quais mostram variabilidade genética entre e dentro de populações, e que podem
auxiliar no melhoramento de características da planta para cultivo (Moura et al. 2005a, Moura et al. 2005b).
378
5. Tecnologia de Sementes e Mudas
Muniz (2008) cita o período de floração de abril a maio e frutificação de maio a junho no Maranhão.
Já um estudo fenológico do jaborandi cultivado a pleno sol no horto de plantas medicinais da Embrapa
mostra a ocorrência de floração e frutificação em todos os meses do período avaliado de agosto de 2010 a
dezembro de 2012, sendo julho geralmente o mês de menor frequência desses eventos, o que favoreceria a
coleta de sementes quase o ano todo (Oliveira et al. 2016). Em Carajás, em populações naturais, Caldeira et
al. (2017) cita que as plantas perdem e renovam folhas o ano todo, com picos dessa atividade entre setembro
a janeiro, podendo ser consideradas sempre-verdes. Citam ainda que a floração tenha longa duração, mas
com picos de fevereiro a abril. A frutificação também tem longa duração, com picos de maio a junho.
A porcentagem de germinação pode alcançar 70 a 84% em substrato arenoso, mas é bem variável
entre diferentes acessos e tipos de substrato (Meneses et al. 2016). As sementes devem ser coletadas antes da
6. Pragas e Doenças
Existe o relato de apenas 2% de infestação nas raízes de jaborandi nativo de Fusarium moniliforme
(Marques & Costa 1994), um fungo de importância agrícola (Nelson 1992). Entretanto, de acordo com
Gumier-Costa (2012) não existem relatos ou evidências de campo sobre pragas ou doenças no jaborandi
nativo que afetem a produção. O autor explica que talvez pelos altos teores de alcaloides presentes na
planta, os eventos de herbivoria, por exemplo, sejam raros. No entanto, existem problemas no plantio
adensado devido a bicho pau (Ordem Phasmatodea), gafanhotos (Ordem Orthoptera) e nematoides
(Filo Nematoda) (Pinheiro 2002, Gumier-Costa 2012). Como a pilocarpina é usada, principalmente,
na produção de colírios, o controle de pragas com pesticidas representaria risco à saúde dos usuários
desses medicamentos (Gumier-Costa 2012) e para controle dos insetos a empresa liberou em toda a
área de cultivo emas e galinhas d’angola, mantendo os níveis de infestação destes insetos sob condições
razoáveis de manejo (Pinheiro 2002, Gumier-Costa 2012). Com relação aos nematoides, a variedade
“linha v” apresenta menores taxas de infestação pelos parasitas (Gumier-Costa 2012) e bons resultados
tem sido alcançados com a inoculação das plantas com a bactéria Pasteuria penetrans, um método
379
menos acessível a pequenos produtores (Pinheiro 2002). O controle de gramíneas e plantas daninhas é
feito com o pastejo de cabras, eliminando o uso de herbicidas (Gumier-Costa 2012).
Considerando que a produção total em 2013 foi igual a 32.675 kg de folhas secas e que a
produção média de cada coletor é 1.307 kg neste ano (Gumier-Costa et al., 2016), a renda exclusiva devida
ao jaborandi foi de aproximadamente R$ 14.638 nesse ano para cada coletor. Como a atividade de coleta é
sazonal ao longo do ano, os coletores têm atividades extras, trabalhando como agricultor, pintor, pedreiro,
auxiliar em sondagem mineral, etc., com renda extra anual mensal que varia de 1,57 a 3,92 salários
mínimos (entrevista em 2010, Gumier-Costa et al. 2016). Portanto, a renda do jaborandi representa 30 a
76% da renda familiar dos coletores em Carajás.
O jaborandi foi coletado durante muito tempo em Carajás de maneira não sustentada e eram
extraídas grandes quantidades de folhas (entre 50 a 80 toneladas ano-1, Gumier-Costa 2012). Práticas de
manejo racionalizaram a coleta e produção, para cerca de 30 toneladas ano-1, gerando benefícios contínuos
às famílias de extrativistas em consonância com a conservação dessa espécie.
8. Referências
Assis, R.M.A., Lameira, O.A., Moura, R.C. & Costa, K.J.A. 2016. Efeito da poda e do ambiente de cultivo no
desenvolvimento de ramos de jaborandi (Pilocarpus microphyllus Stapf). In: V Simpósio de Estudo e
Pesquisa em Ciências Ambientais na Amazônia, Belém (PA), 16 a 18/11 de 2016.
3 Em acordo recente com a empresa compradora de folhas, os extrativistas em Carajás passavam a assumir os custos com frete,
alimentação e outras despesas relacionadas à coleta. Entre 2008 e 2014, a empresa arcava com esses custos.
380
Bernardi, R., Perin, C., Becker, F.L. Ramos, G.Z., Gheno, G.Z., Lopes, L. R., Pires, M. & Barros, H.M.T. 2002. Effect
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Amazônia, 51p.
383
Piptocarpha angustifolia
Dusén ex Malme
Carlos André Stuepp
Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal, Mestrado em
Agronomia (Produção Vegetal), Doutorado em Agronomia (Produção
Vegetal) e doutorando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
Estaquia (GEPE)
1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA: Mata Atlântica
1.2 NOME COMUM:
Vassourão-branco, vassourão-cavalo ou apenas vassourão
1.3 NOME CIENTÍFICO:
Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme
1.4 FAMÍLIA: Asteraceae
1.5 PORTE: Arbóreo
384
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
2.1 DENSIDADE DA MADEIRA: Sua madeira é leve (0,40 a 0,57 g cm-3 a 15%
de umidade), apresentando baixa durabilidade quando exposta ao tempo, com alburno e cerne
praticamente indistintos (SEITZ, 1976; TEIXEIRA, 1977; CARVALHO, 2006).
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.2 FENOLOGIA
As flores surgem no período de inverno, momento no qual as plantas ficam com
a copa rala. Possui inflorescência em capítulos axilares, solitários ou em grupos de dois a
três, com seis a oito flores de cor paleácea (CARVALHO, 2003). Sua polinização é realizada
principalmente por abelhas e pequenos insetos (SEITZ, 1976). Os frutos são do tipo aquênio,
com aproximadamente 5 mm de comprimento, e a dispersão ocorre por via anemocórica
(CARVALHO, 2006).
385
3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO
O florescimento de Piptocarpha angustifolia ocorre entre meados de outubro e dezembro
(SEITZ, 1976), podendo se estender até janeiro (CARVALHO, 2003), ou ainda apresentar um
atraso no período de floração, com início em dezembro e término em janeiro (MANTOVANI et al.,
2003).
juntamente com os ramos aos quais estão presos, acondicionados em sacos e transportados
para o local de beneficiamento. Deve-se macerar os frutos para o desprendimento das
sementes (CARVALHO, 2006). Avaliando o beneficiamento de sementes de Vernonanthura
discolor (Spreng.) H.Rob., Grzybowski (2016) alcançou percentuais de germinação superiores
quando da combinação de métodos de beneficiamento (manual e mecânico), resultando na
remoção de estruturas dispersoras.
3.7 ARMAZENAMENTO
A longevidade de sementes de Piptocarpha angustifolia em condições de armazenamento
é reduzida, com um período de viabilidade que varia entre três meses e oito meses (LORENZI,
2002) em ambiente controlado, e doze meses em câmara seca a 5 ºC (SEITZ, 1976).
386
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
A produção de mudas de vassourão-branco pode ser realizada via seminal e clonal. A
produção de mudas via seminal tem apresentado algumas limitações como o reduzido tamanho
das sementes e o baixo percentual de germinação. Tais características inviabilizam a semeadura
diretamente no recipiente, fazendo-se necessária a germinação em sementeiras e posterior
repicagem das plântulas. A repicagem tem sido recomendada entre três e cinco semanas após a
germinação (CARVALHO, 2006).
Já a produção de mudas via clonal tem sido considerada, até o momento, o método mais
eficiente de propagação desta espécie (STUEPP, 2017). Para o resgate vegetativo recomenda-se o
uso de estacas caulinares semilenhosas, com 10-12 cm, provenientes de brotações epicórmicas de
decepa. Além disso, previamente ao estabelecimento em casa de vegetação, por se tratar de um
4.2 MANEJO
O manejo das mudas deve ser realizado de acordo com o método de produção utilizado.
As mudas seminais apresentam um melhor desenvolvimento em suas fases iniciais sob condições
de sombreamento (SEITZ, 1976). Já para mudas clonais, existem protocolos hábeis a serem
aplicados para a produção massal de mudas (vide item 4.1). Tanto para o resgate vegetativo como
para a propagação massal, recomenda-se a utilização de substrato composto a base de vermiculita
de granulometria média e casca de arroz carbonizada (1:1 v/v). O ambiente recomendado tem
sido casa de vegetação climatizada com nebulização intermitente (temperatura de 24 ºC ±
2 ºC e umidade relativa do ar superior a 80%) (STUEPP, 2017).
387
A b
Silvicultura Tropical
c D
O manejo do minijardim clonal (Figura 1A) deve receber fertirrigação por gotejamento
três vezes ao dia a uma vazão média de 6 L m-2 dia-1 com solução nutritiva composta por
monoamônio fosfato (0,065 g L-1), sulfato de magnésio (0,40 g L-1), nitrato de potássio (0,44 g
L-1), sulfato de amônio (0,2 g L-1), sulfato de potássio (0,07 g L-1), cloreto de cálcio (0,40 g L-1),
ácido bórico (2,88 mg L-1), sulfato de manganês (3,70 mg L-1), molibdato de sódio (0,18 mg
L-1), sulfato de zinco (0,74 mg L-1) e hidroferro em pó (81,80 mg L-1), substituída a cada duas
semanas. A coleta de miniestacas deve ser realizada de forma seletiva, mantendo a capacidade
388
de regeneração das minicepas após cada coleta. A tabela abaixo contém recomendações sobre
o manejo hídrico e nutricional em diferentes ambientes utilizados para a produção de mudas
clonais (Figura 1B) de Piptocarpha angustifolia (STUEPP et al., 2016) (Tabela 1).
*A fertirrigação deve ser realizada em intervalos de 7 dias, em uma concentração de 5 L 1000 plantas-1
389
6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS
6.1 SISTEMA DE PLANTIO
A espécie se adapta bem a plantios mistos e puros; no primeiro caso, com a finalidade de
restauração de ecossistemas degradados, no segundo, com a finalidade de produção de madeira
(Figura 1D). Em função do rápido crescimento inicial, pode ser utilizada no tutoramento de espécies
umbrófilas (CARVALHO, 2006). Apresenta boa regeneração natural em florestas secundárias,
viabilizando também a condução e manejo destas mudas para as finalidades supracitadas
(CARVALHO, 2006).
6.2 ESPAÇAMENTO
A espécie ocorre naturalmente em condições de adensamento, no entanto, não se
recomenda a utilização de espaçamentos inferiores a 2 x 2 m (SEITZ, 1976). Em plantios puros
seminais a única informação refere-se ao espaçamento de 5 x 5 m (CARVALHO, 2006). Contudo,
para se obter um bom desenvolvimento das plantas, associado à facilidade de manejo, recomenda-
Silvicultura Tropical
6.3 ADUBAÇÃO
A adubação deve ser realizada com base nas condições de sitio do local de plantio. Na
ausência de tais informações, recomenda-se a aplicação de 200 g de NPK (4-14-8) por planta, 50%
no momento do plantio, incorporando-a juntamente com o solo removido das covas, e o restante
como adubação de cobertura, de 90 a 120 dias após o plantio.
390
A planta possui características ortotrópicas, rápido crescimento, alcançando de 15
a 25 m de altura quando adulta (FOSSATI, 2007; FOSSATI; NOGUEIRA, 2009), ou ainda 30
metros de altura (SEITZ, 1976). Seu tronco é liso e comumente ultrapassa os 40 cm de diâmetro
(CARVALHO, 2006). Apresenta desrama natural dos ramos mais velhos à medida que cresce,
formando longos fustes sem ramificações (SEITZ, 1976) (Figura 1C).
8. POTENCIAL PRODUTIVO
8.1 CAPACIDADE PRODUTIVA, ETC.
Pouco se sabe a respeito do desenvolvimento desta espécie em condições de campo,
seja em plantios puros ou mistos (CARVALHO, 2006).
Há uma estimativa de produção de até 30 m3 ha-1 ano-1 determinado aos 7 anos de
9. OUTRAS INFORMAÇÕES
Piptocarpha angustifolia é uma espécie com elevado potencial de utilização na
restauração de ecossistemas degradados, terrenos erodidos e com baixas condições de
resiliência natural. No Brasil, são inexistentes os plantios com fins comerciais para a espécie,
e a produção de mudas por via seminal para fins ecológicos é escassa devido às limitações
existentes em seu processo de reprodução sexuada (SEITZ, 1976; CARVALHO, 2003).
Entretanto, o pouco conhecimento a respeito da silvicultura de Piptocarpha angustifolia
tem ampliado, ao longo dos anos, a lacuna entre suas funções e potenciais econômicos e
ecológicos e sua real utilização. Além disso, sua utilização com duplo propósito (restauração
de ecossistemas degradados e produção de madeira) torna a espécie ainda mais interessante,
possibilitando a utilização de áreas degradadas para fins produtivos (SEITZ, 1976).
10. REFERÊNCIAS
CARVALHO, P. E. R. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília, DF: Embrapa Informação
Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, 2003. 1 v. 1039 p. il.
391
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brasileiras: vassourão-branco. Colombo: Embrapa Florestas, 2011. 2 p.
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Passo Fundo: UPF, 2004. 724 p.
MANTOVANI, M.; RUSCHEL, A. R.; REIS, M. S. D.; PUCHALSKI, Â.; NODARI, R. O. Fenologia reprodutiva de
espécies arbóreas em uma formação secundária da floresta atlântica. Revista Árvore, v. 27, n. 4,
p. 451-458, 2003.
392
MEDEIROS, A. C. S.; NOGUEIRA, A. C. Planejamento da coleta de
sementes florestais nativas. Colombo: Embrapa Florestas, 2006. 9
p. (Embrapa Florestas. Circular técnica 126).
393
Plathymenia reticulata Benth
Deborah Guerra Barroso
Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Mestre em
Agronomia pela UFLA e doutora pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF). Atualmente é professora Associada na área de Silvicultura e Sistemas
Agroflorestais da UENF.
394
de ambientes florestais (Marinis,
1966). A diferenciação baseava-se no
habitat, altura da copa, características
das folhas, inflorescências (Heringer
1956). Entretanto, Warwick e Lewis
(2003), analisando exsicatas de
grande abrangência geográfica,
sem observar correlação entre
variações morfológicas e distribuição
geográfica, nem características
1. BOTÂNICA
O vinhático possui porte arbóreo, com estatura média à grande, de comportamento
decíduo, podendo atingir até 30 m de altura e 70 cm de diâmetro na idade adulta (Carvalho
2009). Sua copa é aberta, irregular, com ramos longos, cilíndricos e pouco difusos (Figura 2).
Seu tronco, na fase jovem, apresenta grande número de lenticelas (Figura 3). Ao
amadurecer, a casca se torna quebradiça e, na fase adulta, apresenta espessura de 11,1 ± 2 mm,
395
em ecótipos de Mata, e 8 ± 1,65 mm,
em ecótipos de Cerrado (Toledo et al.
2012). O ritidoma suberoso, de cinza
a pardacento e opaco, é estratificado
e apresenta fissuras longitudinais
profundas, que se fragmentam
em pequenas escamas lenhosas
e quebradiças, que se soltam, de
forma variável (Figura 4). Abaixo do
ritidoma a casca apresenta coloração
marrom avermelhada a vinho e,
quando ferida, produz rapidamente
resina (Figura 5). Esta coloração da
casca resultou em seu nome popular
Silvicultura Tropical
A b
Figura 3: Plathymenia reticulata Benth. na fase jovem, em Figura 4: Tronco de indivíduo adulto de
detalhe o caule com lenticelas. Fotos: Deborah G. Barroso Plathymenia reticulata Benth. Foto: Deborah
G. Barroso
396
Figura 5: Casca
de Plathymenia
reticulata Benth
abaixo do ritidoma
(A) e com exsudação
de resina após o
ferimento (B). Fotos:
David Pessanha a b
Siqueira
a b
Figura 6: Distribuição das inflorescências nos ramos (A) e detalhes da distribuição das flores na inflorescência
em forma de espiga (B) de Plathymenia reticulata Benth. Fotos: https://rubens-plantasdobrasil.blogspot.com/
397
O fruto é um criptolomento (Barroso et al. 1999), crasso, seco, achatado, liso e deiscente,
de coloração castanha-avermelhada e margens sinuosas (Figura 7A).
As sementes encontram-se em posição transversal ao fruto e se destacam revestidas
pelo endocarpo subcoriáceo, de tonalidade palha (Figura 7B). Apresentam formato obovoide,
com 0,7 a 1,0 cm de comprimento, tegumento rígido, glabro, de coloração castanha, com
pleurograma contínuo em ambas as faces, de coloração mais clara que o tegumento (Figura 7A).
Segundo Fonseca et al. (2013), um quilo contem, em média, 27.140 sementes. A germinação
das sementes é epígea (Figura 8)
Figura 7:
Aspectos da
vagem com
sementes
envoltas pelo
Silvicultura Tropical
endocarpo (A) e
da vagem com
as sementes
beneficiadas
de Plathymenia
reticulata Benth
(B). Fotos:
David Pessanha
a b Siqueira
Figura 8:
Plântulas de
Plathymenia
reticulata
Benth em teste
de emergência
(A) e em teste
de germinação
sob condições
controladas
(B). Fotos:
Priscila G. F. de
Sousa
a b
398
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS NÃO
MADEIREIROS
2.1 MADEIRA
Figura 9: Táboa
de Plathymenia
reticulata Benth.
399
Por sua resistência à umidade é também utilizada na fabricação de toneis destinados ao
envelhecimento de cachaça. Entretanto, segundo Faria et al. (2003), apesar da transferência de
compostos fenólicos, similar à madeira do carvalho, a cachaça apresenta coloração mais escura e
baixa aceitação pelo consumidor, em comparação ao carvalho e outras espécies nativas avaliadas.
Na avaliação de durabilidade natural de madeiras em contato com o solo, a madeira
vinhático proveniente de cerrado apresentou durabilidade de 12 a 15 anos, enquanto as de mata,
de 15 a 20 anos (Rocha et al. 2000). Warwick e Lewis (2003), em sua revisão afirmam que mourões
de vinhático podem durar mais de 50 anos e que a madeira é muito inflamável.
A casca de P. reticulata também possui forte potencial para fabricação de rolhas, uma vez que a
cortiça da casca apresenta características celulares semelhantes à cortiça de Quercus suber. A extração
de ácidos graxos e terpenos/terpenoides também agrega valor à cortiça da espécie (Mota et al. 2016).
com atividade anti-inflamatória, antimicrobiana (Fernandes et al. 2005, Toledo et al. 2011) e depurativa
do sangue (Santos et al. 2006). Há relatos populares, do uso de infusão das folhas para doenças
pulmonares e para de pele, bem como decocção da casca para problemas de varizes e edemas.
O tanino, presente na casca do vinhático, pode também atuar como inibidor natural dos
componentes do veneno de cobra, responsáveis pela indução da inflamação no local da picada,
podendo ser utilizado como uma nova estratégia terapêutica, reduzindo sequelas (Farrapo et al.
2011; Moura et al., 2016). Entretanto, o extrato da casca apresenta propriedades mutagênicas,
embora revele potencial anticancerígeno, sendo importante o isolamento dos princípios terapêuticos
(Della Torre et al. 2011). De acordo com Albuquerque et al. (2013), a administração oral do extrato
aquoso de P. reticulata a 0,5 e 1,0 g.kg-1 é segura, com relação à reprodução, parâmetros de fertilidade
ou indução à teratogenicidade.
Um inibidor de tripsina, isolado a partir de sementes de vinhático mostrou atividade
inibitória significativa contra proteases semelhantes à tripsina, presentes nos intestinos larvais de
Anagasta kuehniella (praga de grãos e produtos armazenados de arroz, aveia, centeio, milho e
trigo) e Diatraea saccharalis (broca da cana de açúcar), com potencial para suprimir o crescimento
de larvas (Ramos et al. 2008).
O ferimento de seu tronco resulta em rápida exsudação de resina, entretanto, não há
menção na literatura das características e uso desta resina. Com relação as flores, são abundantes
e muito visitadas por abelhas conferem à espécie o potencial apícola (Campos Filho, 2012).
400
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
O vinhático é uma espécie alógama, cuja polinização é realizada essencialmente por
abelhas e insetos de pequena dimensão (Warwick e Lewis, 2003 e Novais et al. 2010). Em função
de sua importância econômica, e consequente corte seletivo em populações naturais, bem como
da fragmentação antrópica de suas áreas de ocorrência, é importante que se tome cuidado na
colheita de sementes, para que os lotes sejam compostos por um número adequado de matrizes,
que permitam boa diversidade genética dos povoamentos a serem implantados e deem suporte a
futuros programas de melhoramento da espécie para plantios de silvicultura econômica.
401
Embora descrita como espécie de produção anual por alguns autores, segundo Pessanha
et al. (2018) e relatos de alguns produtores de sementes e mudas, a espécie tem apresentado
comportamento de produção de sementes supra anual no estado do Rio de Janeiro. A espécie
apresenta assincronia fenológica entre os indivíduos (Goulart et al. 2005 e Lemos Filho et al., 2008).
3.4 ARMAZENAMENTO
Não há informações na literatura sobre condições de armazenamento ideias para
sementes de vinhático, entretanto, o armazenamento em condições de temperatura e umidade
não controladas, de sementes acondicionadas em saco de papel permeável resultou em queda
acentuada no poder germinativo das sementes no período de um ano (Braga et al., 2007). Isso
indica a importância da determinação de embalagens e demais condições de armazenamento,
que permitam aumentar o período de conservação das sementes, em especial, considerando as
dificuldades de acesso às matrizes e procedimentos para colheita.
402
A predação é muito comum em ambientes naturais. Suas vagens e sementes são atacadas
por brocas de Eburodacrys sexmaculata, Cerambycidae e larvas de Pelecopselaphus blanda,
Buprestidae (Lima 1955). Lopes et al. (2010) também relataram predação de sementes por
coleópteros da Família Bruchinae. Esse tipo de praga pode comprometer o armazenamento das
sementes e a qualidade do lote, causando danos no embrião e proliferação de microrganismos.
Embora não sejam prescritos controles específicos para essas pragas em sementes de vinhático,
práticas como o expurgo com Fosfato de Alumínio, uso de embalagens herméticas (Freitas et al.
2016) ou exposição das sementes a temperaturas baixas (freezer comum por 48 horas), podem
contribuir no controle das larvas e ovos das brocas, sendo importante o estudo das mesmas sobre
a qualidade das sementes desta espécie.
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
Até o momento, a produção comercial de mudas de vinhático é feita essencialmente por
sementes e a oferta das mudas depende do acesso a matrizes em fragmentos naturais ou plantios.
As mudas podem ser produzias em sacos plásticos ou tubetes de, no mínimo, 180 cm3 (Figura 10).
A semeadura pode ser feita em substrato comercial, ou diferentes misturas, sendo
importante a garantia de boa drenagem, favorecendo o crescimento da muda e a nodulação da
espécie. Misturas de até 20% de lodo de esgoto com substrato comercial ou com fibra de coco são
adequadas para a produção de mudas de vinhático em tubetes, sem prejuízos na nodulação da
espécie e com boa consistência de torrão (Siqueira et al. 2019).
403
Figura 10: Mudas de
Plathymenia reticulata
Benth, em tubetes de 280
cm-3, aos 90 dias após a
semeadura.
(Pereira et al. 2016 e Siqueira et al. 2019), entretanto, deve-se considerar as características químicas
do substrato utilizado. Freitas et al. (2017) recomendam 300 mg dm-3 of P para a produção de mudas
de vinhático, em solo como substrato, sem a necessidade de calagem.
O vinhático apresenta boa nodulação natural de bactérias diazotróficas (Figura 11), podendo
ser observada a presença de nódulos ativos em mudas aos 60 dias após a semeadura. Esta característica
pode reduzir a necessidade de adubação nitrogenada, embora sejam necessários estudos que avaliem
a eficiência desta simbiose na fixação de N.
404
Em função do potencial da espécie para plantios de silvicultura econômica, e dos
ganhos que podem ser obtidos pelo resgate vegetativo de matrizes adultas, pesquisas têm sido
conduzidas para viabilizar a propagação vegetativa do vinhático.
O resgate poderá ainda permitir a implantação de unidades de produção de sementes,
com garantia de máxima variabilidade de indivíduos com características desejáveis. Entretanto,
as informações referentes à propagação vegetativa da espécie limitam-se à multiplicação a partir
de materiais juvenis.
O vinhático apresenta boa brotação de minicepas produzidas a partir de sementes,
com aumento da produtividade ao longo das coletas sucessivas. A condução de minicepas sem
restrição do sistema radicular resulta em maior produção de miniestacas por minicepas (Carvalho
2020). Esta capacidade de brotação indica potencial para a propagação por miniestaquia a
partir de material juvenil (Figura 12). Entretanto, Neubert et al. (2017), Pessanha et al. (2018) e
Rodrigues (2018) observaram baixo percentual de enraizamento das minicestacas produzidas
405
a b
Figura 13: Miniestacas de Plathymenia reticulata Benth em câmara de nebulização (A) e mudas produzidas,
aos 100 dias após o estaqueamento (B). Fotos: Deborah G. Barroso
Pessanha et al. (2018) também realizaram análise anatômica da base das miniestacas
e não observaram barreiras que justificassem o baixo percentual de enraizamento. Outros
trabalhos tem sido realizados no Setor de Silvicultura do Laboratório de Fitotecnia da UENF,
Silvicultura Tropical
Figura 14:
Germinação de
sementes de
Plathymenia reticulata
Benth in vitro, com
posterior repicagem
de segmentos de
segmentos nodais
a b
(A); plântula, aos 30
dias após a repicagem
(B); transferência para
enraizamento ex vitro
(C); transferência de
plântulas enraizadas
para câmara de
nebulização (D).
c d Fotos: Sara Edy G.
Lima Pessanha
406
Alguns trabalhos vêm sendo conduzidos no Laboratório de Biologia Celular e Tecidual da UENF,
a partir da germinação de sementes in vitro (Figura 14). Além do baixo percentual de enraizamento de
microestacas produzidas por seccionamento de brotações obtidas in vitro, o protocolo de aclimatização
ainda não é definido, havendo muitas perdas entre o laboratório e a casa de vegetação.
a b c
A tentativa de multiplicar as brotações obtidas por meio de enxertia também foi realizada
por Carvalho (2020), mas sem sucesso no pegamento a partir das técnicas de borbulhia e
minigarfagem (Figura 16) em porta enxertos com dois anos de idade. Entretanto, a minigarfagem
apesentou-se viável em testes preliminares e novos experimentos encontram-se em andamento,
com variação da idade do porta enxerto e do manejo pós enxertia.
a b c d
Figura 16: Mudas de Plathymenia reticulata Benth enxertadas por borbulhia (A e B) e por minigarfagem (C e D),
com propágulos obtidos pelo resgate vegetativo de matrizes adultas. Fotos: Giovanna C. M. W de Carvalho
407
5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
Considerando a variação fenotípica observada em diferentes populações naturais e
plantios (Figura 17), bem como a diversidade genética elevada, observada por Lemos Filho et
al. (2008) e por Souza et al. (2017), mesmo em populações sob corte seletivo em ambiente
fragmentado, a espécies apresenta forte potencial para o melhoramento genético, o que poderá
ter como foco seu uso madeireiro e medicinal.
de Plathymenia
reticulata Benth.,
em Santa Maria
Madalena, RJ
(Fazenda Rochela),
aos 6 anos. Fotos:
a B Deborah G. Barroso
408
6. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS
6.1 SISTEMA DE PLANTIO
O vinhático pode ser utilizado em plantios puros ou consorciados, incluindo sistemas
agroflorestais, para os quais é indicado, especialmente pelo sombreamento moderado de sua copa
e por sua capacidade de fixar nitrogênio. Na maioria dos plantios adota-se o cultivo mínimo.
Foi uma das três espécies de maior interesse dos produtores no manejo de sombreamento
de cacau em sistema de cabruca, no levantamento realizado em 14 municípios localizados
no Sudeste da Bahia (Piasentin et al. 2014). Esta escolha foi atribuída tanto à qualidade da
madeira para o setor moveleiro e construção civil, quanto pela altura das árvores e qualidade
de sombreamento, resultante do grande porte, copa alta, ampla e pouco densa.
Além da copa naturalmente pouco densa, a espécie apresenta queda total das folhas
na época seca do ano (entre julho e outubro), com abertura da copa de quase 50% em plantio
espaçado 3 x 3 m aos 27 anos de idade em Santa Maria Madalena, RJ (Siqueira et al. np). A
409
6.2. ESPAÇAMENTO
São incipientes as informações sobre o espaçamento adequado de plantio para produção
madeireira. Teste de espaçamento, conduzido em Linhares, ES (Figura 18), tem demonstrado que
a espécie apresenta menor percentual de bifurcação em plantios mais adensados, entretanto,
há redução do incremento diamétrico (Barroso et al., np), indicando que a espécie necessita de
manejo adequado de poda e desbaste, conforme espaçamento adotado.
É importante levar em consideração o diâmetro da copa, observando que plantios muito
adensados podem levar à redução da atividade fotossintética, pela menor incidência de luz na
copa, prejudicando o potencial produtivo da espécie.
Silvicultura Tropical
Figura 18:
Plathymenia reticulata
Benth, 4,5 anos após o
plantio, em diferentes
espaçamentos, no
município de Linhares,
ES – Projeto Biomas
Foto: Deborah G.
Barroso
6.3 ADUBAÇÃO
A prática de adubação de plantio deve ser baseada na análise prévia do solo. A exigência
nutricional apresenta variações inter e intraespecíficas. A capacidade de absorção, translocação,
acúmulo e uso dos nutrientes variam entre espécies, procedências, progênies, e mesmo entre
clones de uma mesma espécie, o que influencia o crescimento e produtividade das culturas.
Duboc e Guerrini (2006) observaram que a espécie foi responsiva à aplicação de fósforo
e nitrogênio em áreas de cerrado denso e matas de galeria, com aumento do crescimento
inicial no campo em diâmetro. Entretanto, em Sooretama-ES, Carreço (2017) não observou
resposta da espécie no campo, sob diferentes doses de P (base), N e K (parcelados – base e
cobertura), indicando que o vinhático é uma planta pouco exigente, o que enfatiza seu potencial
na recuperação de áreas degradadas (Montagnini e Jordan 2002; Melo et al. 2004), tolerando
inclusive áreas sujeitas à geada.
410
O vinhático associa-se com bactérias do gênero Rhyzobium, realizando a fixação biológica
do nitrogênio, sendo observada por Souza (2010) nodulação abundante para esta espécie na
Região Amazônica.
Por haver poucos estudos sobre a demanda nutricional da espécie, alguns produtores
adotam doses recomendadas para outras espécies florestais, o que reforça a necessidade de
pesquisas na área.
411
Plantios de vinhático sem manejo costumam apresentar alto percentual de plantas bifurcadas,
com crescimento dos fustes reto e vertical (Figura 19). Embora não existam dados de pesquisa sobre o
manejo de podas na espécie, o comportamento observado tem levado alguns produtores a realizarem
podas mediante as primeiras ramificações observadas2. Entretanto, em povoamentos adensados no
município de Linhares, observa-se forte desrama natural. Essas informações indicam a importância de
estudos que determinem o protocolo deste manejo para a espécie, como o momento das primeiras
intervenções e o percentual de redução da copa, que não afetem o crescimento das plantas e,
consequentemente, a produção de madeira.
O conhecimento sobre o efeito do espaçamento e desbastes sobre o crescimento e produção
da espécie, poderá indicar o melhor manejo para obtenção de diferentes produtos madeireiros.
da bifurcação de
fustes de Plathymenia
reticulata Benth., aos
17 anos após o plantio
na Floresta Estadual
José Zago, em Trajano
de Moraes, RJ (A), e
aos 4,5 anos após o
plantio, no município
de Linhares, ES (B).
Foto A: Marília G. O. S.
a B Souza; Foto B: Deborah
G. Barroso
7. POTENCIAL PRODUTIVO
Não há histórico de plantios comerciais extensos descritos para a espécie, sua exploração
ainda se dá em áreas naturais, sob manejo de cortes seletivos e em pequenos talhões puros ou
mistos. Entretanto, alguns plantios pequenos têm demonstrado que a espécie é promissora para a
sivicultura econômica em diferentes condições edafoclimáticas. Segundo Durigan et al. (1999), a
exploração da espécie em plantios puros pode ter início a partir de 10 anos, colhendo-se indivíduos
com diâmetro superior a 13 cm.
Povoamento de vinhático aos 21 anos em Trajano de Moraes, plantado em talhão puro (3 x 3
m), em área com pastagem degradada e sem manejo silvicultural, apresentou DAP variando de 14,8
a 39,5 cm (Barroso et al., 2018) e dois fustes em grande parte dos indivíduos. Avaliando o mesmo
412
plantio aos 27 anos, Siqueira et al. np observaram DAP médio de 25.36 cm, o que evidencia que a
espécie continua apresentando incremento diamétrico mesmo com espaçamento reduzido.
Já em consórcio com café (adubado até o quarto ano), com espaçamento 6 x 4 m, em Martins
Soares – MG, aos sete anos as árvores apresentaram diâmetro médio de 30,8 cm (Martiello, 2009).
Em plantio misto, em Poço das Antas, Silva Jardim-RJ, aos 3 anos após o plantio (2 x 2 m), as árvores
apresentavam em média 6,78 m de altura e 11,2 cm de diâmetro à altura do solo.
Em Itaocara, plantas com dois anos encontram-se, em média, com 2,75 m de altura e 7,2 cm
de diâmetro ao nível do solo (Erthal, R.M. et al. np). Este povoamento foi plantado no espaçamento
6x6m, pelo interesse do produtor em conduzir a área sob sistema silvipastoril.
Para a produção de toras de madeira com 80cm de diâmetro, o ciclo pode variar de 60 a
80 anos (Carvalho 2008). Entretanto, dimensões menores, em plantios homogêneos podem ser
economicamente vantajosas e reduzir a pressão antrópica sobre a população nativa.
9. REFErÊNCIAS
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419
Psychotria nuda (Cham. & Schtldl.) Wawra.
BÁRBARA GUERREIRA ALPANDE FERREIRA;
Engenheira Florestal. Possui graduação em Engenharia Florestal, mestrado em Agronomia
(Produção Vegetal), e doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR) - Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA: Mata Atlântica
Silvicultura Tropical
1.5 PORTE: P. nuda é uma espécie distílica representada por arbustos ou arvoretas, com
altura variando de 4 a 6m e diâmetro a 1,30 m (DAP) de 5 a 13 cm (dados aproximados retirados de IZA,
2002; FERREIRA, 2013; VIBRANS et al., 2013), caracterizada por apresentar: 1) ramos cilíndricos ou às
vezes aplainados, glabros com gema apical com tricomas; 2) folhas opostas, com forma lanceolada,
base cuneada e ápice agudo, de consistência sub coriácea e coloração verde escura; lâmina foliar de
4,5 a 12 cm de comprimento por 2,5 a 4,8 cm de largura com face abaxial e adaxial glabras, exceto na
nervura central; pecíolo de 2 a 25 mm e estípulas persistentes, glabras, bilobadas, unidas ao redor do
caule pela bainha (DELPRETE et al., 2005; KLEIN, 2007; TAYLOR, 2007; PAIVA; LOPES, 2013) (Figura 1).
420
Apesar de não possuir potencial madeireiro, a espécie é importante para manter a sustentabilidade
do ecossistema, devido principalmente ao seu número elevado de indivíduos e floração maciça,
que por sua vez produz abundante quantidade de néctar e frutos para a fauna, constituindo assim,
importante recurso na cadeia alimentar do ecossistema, atraindo diversos visitantes florais e dispersores
de sementes (ALMEIDA; ALVES, 2000; CASTRO; ARAÚJO, 2004; BARBOSA, 2012). Desta forma, é
uma espécie de importante status ecológico nas regiões em que ocorre (CASTRO; ARAÚJO, 2004),
apresentando potencial para recuperação de áreas degradadas. Seu uso como espécie potencial para
421
Adicionado ao potencial farmacêutico, os alcaloides isolados da espécie possuem
importância biogenética e taxonômica por serem úteis como marcadores quimiotaxonômicos,
uma vez que o gênero Psychotria possui complexa taxonomia (BOTH, 2005; FARIA, 2006;
KERBER, 2008). Em trabalho publicado por pesquisadores do National Cancer Institute (CRAGG
et al., 2006), o gênero Psychotria foi apontado como gênero “hot”, referindo-se ao potencial
citotóxico de seus extratos e frações.
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 FENOLOGIA
O ciclo fenológico é anual, exceto para a frutificação, cujo ciclo é contínuo. A floração
é classificada, segundo sua duração, como intermediária, ou seja, categorizada pela presença
de flores de 1 a 5 meses (NEWSTRON et al., 1994). A espécie exibe síndrome de polinização
mista, apresentando ornitofilia, psicofilia e melitofilia. Durante o período de floração, a espécie
Silvicultura Tropical
422
ovário ínfero com estilete claro e estigma bífido; estames epipétalos e antera com deiscência
longitudinal e nectário na forma de disco (DELPRETE et al., 2005; TAYLOR, 2007; PAIVA; LOPES,
2013) (Figura 1).
C D
E F
Figura 1: Psychotria nuda: A. Planta matriz adulta. B. Ramo. C. Inflorescência com flor em
antese. D. Infrutescência com fruto maduro e imaturo. E. Detalhes do gineceu e androceu de
flor brevistila a direita e longistila a esquerda. F. Detalhes do fruto maduro e sementes. Fonte:
FERREIRA (2013)
423
3.2 ÉPOCA DE FLORAÇÃO
O período de floração é relatado na literatura em períodos semelhantes, ou seja, no final
da estação chuvosa, porém com pequenas diferenças. Entre março e junho, com pico de floração
em abril e maio (ALMEIDA; ALVES, 2000, ALMEIDA, 2005), entre fevereiro e junho, com pico em
abril (IZA, 2002; CASTRO; ARAÚJO, 2004; DELPRETE et al., 2005) e entre março e julho (TAVARES,
2011). Também sendo relatada pelo menos uma matriz em floração durante todos os meses,
ocorrendo diminuição na porcentagem de matrizes com flor durante os meses mais frios e de
menor pluviosidade (MARTIN-GAJARDO; MORELLATO, 2003).
3.3 FRUTIFICAÇÃO E COLHEITA
O período de frutificação é o evento fenológico com maior duração, ocorrendo ao longo
de todo o ano, havendo maior quantidade de indivíduos nesta fenofase em setembro, e maior
quantidade de frutos maduros entre dezembro e fevereiro, coincidindo com os meses de maior
pluviosidade, temperatura e fotoperíodo (ALMEIDA; ALVES, 2000; CASTRO; ARAÚJO, 2004; ALMEIDA,
Silvicultura Tropical
2005; DELPRETE et al., 2005). Os frutos podem permanecer imaturos por aproximadamente oito
meses (CASTRO; ARAÚJO, 2004; ALMEIDA, 2005).
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
Atualmente, somente informações sobre a produção de mudas por meio de propagação
vegetativa da espécie estão disponíveis na literatura. Estudos sobre a reprodução sexuada existem
somente para outras espécies do gênero Psychotria.
424
espécie Psychotria ipecacuanha (ROSA; FERREIRA, 2001), e o início da germinação, para Psychotria
hoffmannseggiana, ocorre 88 dias após a semeadura (PIETROBOM et al., 2010).
425
5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
A seleção de materiais genéticos superiores para a espécie é possível, considerando o
processo de enraizamento adventício no processo de propagação vegetativa, uma vez que a
formação e desenvolvimento de raízes adventícias é influenciado pelas características genéticas de
cada planta matriz, fornecedora do material vegetal (FERREIRA, 2013).
6. OUTRAS INFORMAÇÕES
6.1 ANATOMIA
Apresenta folhas hipoestomáticas com estômatos paracíticos. Epiderme abaxial e adaxial
unisseriadas com deposição delgada de cutícula em ambas as faces. O mesofilo é classificado
como dorsiventral com parênquima paliçádico bisseriado ou trisseriado na região adaxial, e
parênquima lacunoso na região abaxial com grandes espaços intercelulares, ambos com células
de parede delgada. Cristais prismáticos estão presentes no córtex da nervura central e na lâmina
Silvicultura Tropical
foliar, além de idioblastos com um cristal estiloide grande e solitário no mesofilo da lâmina
foliar (VIEIRA; GOMES, 1995; FERMINO JUNIOR et al., 2004; MIGUEL et al., 2009; MATTOS,
2011; FERREIRA, 2013; MELO JUNIOR et al., 2017). A região da nervura central apresenta
epiderme adaxial e abaxial unisseriadas, tecido parenquimático envolvendo o feixe vascular,
duas regiões laterais ao feixe de aerênquima com células braciformes e esclereides isolados. O
sistema vascular é classificado como colateral e em forma de “U”, sendo acompanhado por dois
feixes laterais menores, os quais nas regiões mais apicais da folha não estão presentes (VIEIRA
et al., 1992; FERREIRA, 2013) (Figura 2).
O caule (ramos provenientes de árvores adultas) possui epiderme unisseriada com cutícula
espessa; córtex composto de uma primeira região de parênquima, seguido de colênquima angular
e, mais internamente, presença de mais uma região de tecido parenquimático, finalizando na
endoderme, camada mais interna do córtex, a qual, é unisseriada e com presença de estrias de
Caspary. O cilindro central é delimitado externamente por periciclo fibroso descontínuo, apresenta
floema primário, câmbio vascular, floema e xilema secundários contínuos e visíveis (caule em
crescimento secundário inicial). Floema secundário com elementos de tubo crivado e células
companheiras visíveis. Xilema secundário com elementos de vaso isolados ou em grupos
radiais, grande quantidade de fibras e raios discretos, seguido por xilema primário e medula
parenquimática com células isodiamétricas e esclereides isolados ou formando pequenos
grupos (FERREIRA, 2013) (Figura 3).
426
a
D E
427
a
Silvicultura Tropical
B C
D E
428
As flores são quase totalmente glabras, com presença de tricomas tectores, somente na
base da corola, e cutícula contínua em todos os órgãos florais. Corola com superfície adaxial
exibindo papilas de formato arredondado e estriado, enquanto a superfície abaxial apresenta
forma de polígono sem estrias. Cálice com superfícies abaxial e adaxial sem grandes saliências,
sendo que a epiderme adaxial, ao contrário da abaxial, não possui estômatos. Nectário liso na
forma de disco tipo peristílico sobre o ovário e em torno do estilete, com células possuindo
grandes vacúolos, epiderme unisseriada com estômatos (sem tricomas, papilas e ceras),
diversas camadas de parênquima com pequenos espaços intercelulares e idioblastos contendo
ráfides. Osmóforos localizados na superfície abaxial dos lóbulos da colora de flores em antese,
indicados através da coloração com vermelho neutro, não havendo diferenças anatômicas que
diferenciem essa estrutura. As anteras e os estiletes apresentam uma diversidade de variações
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Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela Faculdade
de Agronomia e Engenharia Florestal (FAEF), mestrado e doutorado em
fitopatologia pela Universidade de Brasília (UnB).
436
2. Tecnologia da madeira e dos produtos
não madeireiros
2.1 Densidade da madeira
A teca possui madeira porosa a semiporosa com anéis de crescimentos nitidamente
distintos demarcados por linhas de parênquima marginal, contendo alburno claro, com coloração
extremamente distinta do cerne, cuja cor é marrom (Weaver, 1993). A durabilidade natural,
estabilidade e resistência à umidade, aos insetos e aos fungos, são associadas a compostos
orgânicos e inorgânicos da madeira: Sílica, Naftotectona e a Antratectona (May, 1997).
A densidade básica média da madeira de teca é de 0,65 g/cm³, porém variações ocorrem
de acordo com o local e a idade. A madeira da teca apresenta uma boa trabalhabilidade,
sendo muito utilizada para confecção de lâminas, pelo setor moveleiro de alto padrão e
construção naval, além da fabricação de compensados (Premrasmi et al., 1967; Miranda
et al., 2011). A qualidade da madeira é determinada pelas suas propriedades físicas e
Tectona grandis
mecânicas, abrangendo aspectos como densidade, dureza, textura e grã, características que
tem sido bastante utilizada na classificação e na avaliação da qualidade (Mori et al., 2005).
Entretanto, características estéticas como cor e desenho são atributos importantes para
classificação do uso da madeira e suas diferentes finalidades e, assim, estabelecer o seu valor
comercial (Janin et al., 2001). A cor natural da madeira pode ser influenciada por fatores
genéticos e ambientais; composição química (principalmente teor e natureza dos extrativos);
estrutura anatômica (anéis de crescimento, vasos, raios e tipo de parênquima axial); posição
de amostragem na árvore (nos sentidos radial e axial); condições edáficas e climáticas; altura,
diâmetro e idade da árvore; tratos silviculturais (McGinnes and Phelps, 1983; Desch et al.,
1993; Gonçalez, 1993; Mady, 2000).
A teca também possui produtos para fins não madeireiros, como a produção de
energia, por meio de aproveitamento de resíduos (Catie, 1986; Vriend, 1998; Maldonado et
al., 1999). Ademais as folhas são aproveitadas como embalagens de açougue, os extrativos
como corantes, sendo aplicados para tingir seda e, ainda, no ramo fármaco são utilizados no
combate à malária e à anemia (Catie, 1986; Maldonado et al., 1999; Gomes et al., 2011).
Recentemente, pesquisa com extratos de suas flores apontou o potencial antidiabético,
antioxidante, anti-inflamatório, analgésico e cicatrizante (Majumdar et al., 2007; Bhatia et
al., 2011; Ramachandran et al., 2011a; Ramachandran et al., 2011b).
437
3. Produção de sementes
3.1 Fenologia
A fenologia da teca é rigorosamente marcada pelos meses secos e chuvosos. A partir do
início da estação chuvosa, a árvore retoma o seu desenvolvimento meristemático apical, entre os
meses de dezembro a março ocorre o seu florescimento (Palupi et al., 1998). Com o início do
regime de seca, há a redução de seu desenvolvimento meristemático, ocorrendo à queda de folhas
e frutos, voltando a emitir novas brotações na estação chuvosa (Palupi et al., 1998).
et al., 1997). Inicialmente apenas 1% das flores formadas em cada inflorescência se tornarão frutos,
enquanto que a queda de frutos imaturos varia entre 34 e 58% (Mohanadas et a., 2002). As flores
iniciam sua abertura a partir das 7h, com dispersão de pólen a partir das 8h e receptividade de estigma
das 11h até às 13h, a partir das 15h o estigma colapsa e perde sua função, seguindo-se do rompimento
das anteras até às 17h, quando ocorre a queda da corola (Hedegart, 1973).
438
3.3 Frutificação e colheita
Os frutos são leves, esféricos, de coloração marrom, do tipo drupa e medem de 1 cm a 2
cm de diâmetro (Cáceres Florestal S.A., 2006). Cada fruto é composto por uma camada fina
quebradiça superficial, semelhante a um balão (exocarpo), que envolve uma estrutura esponjosa
ou coriácea, esférica, de textura semelhante a feltro (mesocarpo). Abaixo do mesocarpo, encontra-
se um endocarpo de estrutura bem densa e lenhosa, de formato quadrangular, constituído por
quatro lóculos, podendo conter de 0 a 4 sementes, sendo o mais comum que contenha apenas
uma semente ( Sivakumar et al., 2002., Slator et al., 2013). A primeira frutificação ocorre entre
os 5 e 6 anos de idade da planta ( Palupi et al., 1998).
Tectona grandis
Contudo, esse método possui a desvantagem de obter sementes imaturas, que geralmente
têm baixo potencial de germinação e longevidade, especialmente quando é necessário
armazenamento em longo prazo. Técnicas utilizadas para o julgamento da maturidade das
sementes e / ou amadurecimento dos frutos das espécies são, portanto, necessárias. De acordo
com Kaosa-ard, 1994 o fruto leva cerca de 45 dias após a polinização para que as sementes de
teca se desenvolvam em tamanho real, e cerca de 70 a 150 dias para que um fruto em tamanho
normal atinja a maturidade. O período para a coleta de sementes de teca é entre janeiro e maio.
Entretanto, recomenda-se que as sementes de teca não sejam coletadas antes de janeiro. Após a
coleta, as frutas são secas ao sol por 2-3 dias e posteriormente colocadas em sacos de polietileno
ou algodão. Em seguida, o pericarpo da fruta é removido apertando e,ou batendo no saco. A
casca é então separada da fruta pelo sopro e triagem.
439
dormência em relação aos diásporos não tratados. Recomenda-se, também, mergulhar os
frutos em água corrente por 24 horas antes da semeadura da semeadura, demonstrando que
o endocarpo lenhoso é plenamente permeável e que há necessidade de um estresse mecânico
nos frutos, capaz de trincar o endocarpo e expor as sementes ao ambiente para iniciar a
germinação (Slator et al., 2013).
3.6 Armazenamento
A conservação das sementes de teca é muito simples, devido a característica de
dormência das sementes que auxilia no processo de armazenamento. Com isso, para armazenar
as sementes, o mesmo autor relata que basta colocá-las em um saco de náilon e guardá-lo num
lugar fresco, seco e protegido da luz. Kaosa-art, 1994 relata que o armazenamento de sementes
de teca, em larga escala, geralmente é de curto prazo (1 a 2 anos). Nesse tipo de armazenamento,
as sementes são mantidas nos sacos (cerca de 45 kg/ saco) e colocadas em uma sala protegida
de cupins e ratos.
Silvicultura Tropical
O mesmo autor discute que para armazenamento em longo prazo (2-5 anos), as sementes
devem estar secas e limpas e devem ser mantidas em sacos de plástico (cerca de 25 kg/ saco)
e colocado em uma sala de estocagem isolada. Para armazenamento a longo prazo (mais de
5 anos), é necessário um armazenamento a frio. O armazenamento em câmaras frias é usado
apenas para fins especiais, como testes de progênie e proveniência, banco de genes, conservação
etc. As sementes de teca não podem ser armazenadas com segurança, mesmo durante 1 ano, em
condições úmidas e sem nenhuma proteção especial, devem ser armazenadas com segurança
por 2-5 anos em sacos plásticos e jarros de vidro selados e colocadas em salas comuns, devem
ser armazenadas com segurança por 2-5 anos em sacos plásticos selados ou sacos de algodão e
colocadas em câmaras frigoríficas a uma temperatura entre -4°C a +4°C (Koasa-art, 1994). São
aplicados testes de sementes de teca para constatar qualidades como: pureza, determinação da
massa e,ou volume das sementes e viabilidade pelo teste de germinação.
440
4.1 Produção de mudas a partir de sementes
A produção de mudas a partir de sementes ainda é a mais utilizada, no entanto pouco
eficiente, pois a quantidade produzida por árvore é reduzida, as taxas de germinação são
relativamente baixas e, para garantir o poder de viabilidade de germinação dessas sementes,
são necessários locais com temperaturas e umidades controladas (Hedegart, 1974; Monteuuis
et al., 2007). As sementes originam-se a partir de um processo de fertilização (reprodução
sexual e fusão de gametas). Essa técnica não permite que as plantas originadas apresentem
características semelhantes à planta matriz, podendo haver, portanto, a formação de plantios
heterogêneos (Abdelnour et al.,2005).
Para produzir as mudas por meio do método seminal, recomenda-se semear os frutos em
bancos de areia esterilizada e cobrir o local com plástico preto até a fase de germinação, devendo
ser irrigado duas vezes ao dia, no início da manhã e no final da tarde. Aproximadamente 30 dias
após a germinação, as plântulas devem ser transplantadas para tubetes, os quais irão promover
melhor desenvolvimento das raízes. A repicagem deve ser realizada assim que as mudas
apresentarem dois pares de folhas verdadeiras. As mudas irão permanecer por um período de
Tectona grandis
12 dias na casa de sombra e, posteriormente serão mantidas em pleno sol para rustificação por
um período de 60 dias, logo depois são expedidas para plantio.
441
Silvicultura Tropical
442
Figura 3: Minijardim clonal de teca (A ), Plantio das estacas com adição hormonal (AIB) (B e C) e
Mudas em pleno sol em fase de expedição para campo.
Tectona grandis
5.1 Sistema de reprodução
A reprodução da Teca é, predominantemente, por alogamia, ou seja, por fecundação cruzada.
Em trabalhos realizados em populações dessa árvore na Tailândia, observou-se que as taxas de
cruzamentos variam entre (82% a 97%), sendo suas flores bissexuais e com idade de florescimento
muito variável, dependente de condições edafoclimaticas, tratos silviculturais e da genética (Keiding,
1985). No Brasil, em plantios clonais, o florescimento começa aos 2 anos de idade. O Florescimento
é anual, aproximadamente, um mês após o período chuvoso. Os agentes polinizadores são insetos
e o florescimento geralmente permanece de duas a quatro semanas. A única espécie do gênero
Tectona que é comercialmente plantada no mundo é espécie T. grandis, sendo uma espécie diploide
com 2n=36 cromossomos, e o genoma é aproximadamente 300 Mbp.
443
comerciais de origem clonal foram iniciados em 2003 pela empresa Floresteca. Atualmente, todas
as florestas de teca no Brasil, pertencentes às maiores empresas produtoras, são de origem clonal.
Seu melhoramento no Brasil é praticado principalmente por duas grandes empresas,
cujo objetivo final é madeireiro. A base genética atual da teca existente no Brasil é muito
curta, o banco de germoplasma possui baixa diversidade genética. As características morfo-
genéticas da maioria dos materiais pertencentes a esses bancos são semelhantes aos materiais
da Tailândia e da Indonésia.
Recentemente, com a necessidade de ampliar a base genética, o pré-melhoramento
adotado para a cultura tem sido a Seleção Recorrente Intrapopulacional (SRI).
Além do melhoramento convencional, tem-se realizado a seleção assistida, realizada
durante o processo de piramidação de alelos. Essa é uma estratégia que vem sendo considerada
como uma forma de desenvolver cultivares com resistência duradoura e de amplo espectro.
Ultimamente houve um aumento no uso de ferramentas de nova geração, visando a acelerar o
processo do melhoramento para a cultura. Com o objetivo de identificar e caracterizar genes, a
Silvicultura Tropical
utilização de estudos de transcriptoma tem sido empregada, seus resultados permitem identificar
quais genes são diferencialmente expressos e com isso, possibilita a busca de genes em materiais
elites, como aqueles que têm aumento de lignina, genes responsáveis por resposta de defesa,
estresse hídrico e salinização. Assim é possível o desenvolvimento de clones superiores.
444
adubação de base. A adubação de plantio recomendada é 100 kg/ha de MAP + 1kg/ B. O MAP
fornece nitrogênio amoniacal e fósforo, essenciais para o crescimento radicular e desenvolvimento
inicial das plantas, além de ser livre de cloro, sódio e metais pesados. Apresenta baixo pH (pH em
solução a 1%: 4,5) com elevado poder tamponante.
Após 30 dias do plantio a área deve ser vistoriada para se avaliar a necessidade de replantio.
Para plantios seminais, recomenda-se a adoção de espaçamento em plantios comerciais
de 3m x 2m, correspondendo a uma densidade populacional de 1.667 árvores/ha (PELISSARI
et al., 2014). Os plantios comerciais clonais têm sido conduzidos em espaçamento de 6m x 5m,
correspondendo a uma densidade populacional de 334 árvores/ha.
O amplo espaçamento requerido para o rápido crescimento das árvores estimula a emissão
de ramos laterais, conferindo maior vigor e persistência a eles. Tendo em vista que o propósito do
reflorestamento é a produção de madeira de qualidade, sem nós, a desrama artificial é indispensável.
A desrama é essencial para a obtenção de madeira de alta qualidade para o mercado internacional,
porque melhora a qualidade das hastes aumentando a proporção de madeira livre de nó. Recomenda-
se a retirada de 50% dos galhos da altura total da planta. O período ideal para se realizar a desrama é a
Tectona grandis
época seca, favorecendo melhor cicatrização do local podado, evitando entrada de fungos. A primeira
poda deve ser efetuada um ano após o plantio, com auxílio de motopoda. O ramo deve ser cortado
rente à sua inserção no tronco, evitando a retirada do colo (Figura 4B).
Em princípio, seis podas, espaçadas a cada dois anos, são suficientes para o ciclo de corte
de 19 anos para plantios clonais.
Figura 4: Desrama
da teca com auxílio
da motopoda (A),
Desrama do galho sem
a retirada do colo.
445
Manejo para a produção
A colheita florestal é constituída por todas as atividades do desbaste e corte final, é realizada
de forma mecanizada ou semimecanizada. Na forma mecanizada são utilizados o Harvester (HV)
para o corte e tratores auto-carregáveis (TAC) para o baldeio; já na semi-mecanizada, o corte é feito
com motosserras e o baldeio com o TAC.
Para produção sólida de madeira de teca, a melhor idade da colheita depende principalmente
do método de plantio (seminal ou clonal), o que definirá o ciclo de corte da floresta. Geralmente,
no Brasil, o ciclo final de produção para o plantio de origem seminal é de aproximadamente 22
anos, mas a maioria dos plantios realizados têm sido de origem clonal, que tem por finalidade
reduzir o ciclo de corte final para 16 anos.
Previamente aos desbastes, realiza-se a seleção e marcação das árvores a serem
desbastadas. Nesse momento, são priorizadas as árvores doentes, tortas, bifurcadas, com menores
diâmetros, permitindo distribuição espacial uniforme entre as árvores remanescentes, assim os
remanescentes serão os melhores indivíduos para o corte final.
Silvicultura Tropical
Pragas e Doenças
A introdução da teca no Brasil, em escala comercial, ocorreu no início dos anos 70. Desde
então, muitas doenças economicamente importantes de etiologia fúngica, associadas às extensas
perdas de rendimento e qualidade têm sido relatadas.
Entre as doenças foliares que ocorrem nesta espécie florestal, destaca-se a ferrugem cujo
agente causal é patógeno obrigatório e muito especializado. O fungo responsável pela ferrugem
na Teca (Olivea neotectonae) (Pieri et al., 2011), causa desfolha intensa nas plantas, ocasionando
446
redução da taxa fotossintética e consequentemente, reduzindo o índice volumétrico final.
Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas de coloração marrom com pústulas pulverulentas de
coloração amarelada constituídas pela massa de urediniósporos do patógeno. Em plantas jovens,
com aproximadamente um ano, os danos são observados nas folhas mais baixas (Arguedas et al.
2004). Em plantas adultas, as folhas infectadas são as mais velhas.
Em áreas nos quais os plantios são seminais, a incidência da doença pode chegar a 100%,
diferindo apenas o nível de severidade da doença em indivíduos distintos. No Brasil, alguns clones
comerciais apresentam resistência à ferrugem.
A murcha de Ceratocystis (Ceratocystis fimbriata) foi relatada no Brasil em 2012 (Firmino et
al., 2012). A murcha de Ceratocystis é atualmente uma das principais doenças em plantios comerciais
de teca no Brasil. Os principais sintomas causados pela doença são: murcha, escurecimento radial
do lenho e morte da planta. O uso de materiais resistentes é o melhor método de controle, porém
a base genética da espécie ainda é pouca explorada. A doença pode ser disseminada de várias
maneiras, como o contato de raízes, ação de coleobrocas, plantios de mudas infectadas e uso de
ferramentas de poda. Em plantios seminais a incidência pode chegar até 42% em floresta com
Tectona grandis
idade de variando de 10 anos a 15 anos, em plantios clonais a incidência pode variar de 10% a 20%,
diferenças encontradas nos padrões de incidência em relação aos materiais genéticos plantados,
observando que alguns materiais apresentam mais tolerância que outros. Em 2014, percebendo as
perdas que estavam ocorrendo em função desta doença, foi realizado um estudo do transcriptoma
na interação compatível entre um clone susceptível a Ceratocystis fimbriata com a finalidade de
identificar genes inibidos ou induzidos após inoculação. Aproximadamente, 1.400 genes foram
diferencialmente expressos na interação Tectona- Ceratocystis fimbriata. Esses resultados serão
úteis para a introdução ou deleção de genes em um clone elite.
O cancro da teca causado por Lasiodiplodia theobromae foi relatado no Brasil em 2015
Figura 5 (Borges et al., 2015). O patógeno é disseminado na floresta, principalmente por
ferramentas de poda. A incidência dessa doença na cultura, pode variar de 5% a 10, sendo uma
doença que está tipicamente relacionada ao manejo da floresta, principalmente em atividades
ligadas à desrama. O atraso da desrama favorecerá o aumento do diâmetro dos galhos, isso
implica à dificuldade de cicatrização e, facilitando a entrada do patógeno. Um bom planejamento
de manejo deverá ser realizado a fim de reduzir as perdas ao final do ciclo de produção, essa
doença afeta especificamente o cerne. O cancro é um dos sintomas típicos dessa doença para
a cultura (em função de desrama), podendo ser acompanhado da exsudação dos vasos e
descoloração do tecido vascular.
447
Silvicultura Tropical
Figura 5: Povoamentos de Tectona grandis (A), tronco com sintomas, desprendimento da casca e rachaduras (B),
disco com cancro e escurecimento dos vasos (C). Coloração da colônia e picnídios (D), células conidiogênicas (E,F,
G, K e L). Conídios imaturos com parede dupla e sem septos (H). Conídios em transição e maduros ( I). Lóculos
mostrando a disposição das células conidiogênicas e conídios imaturos ( K e L). Lóculos mostrando a textura (M).
448
Em levantamentos de campo realizados em 2014, uma doença vascular da teca com um
conjunto peculiar de sintomas foi encontrada em áreas comerciais em Mirassol do Oeste, Estado
do Mato Grosso, Brasil. Os principais sintomas causados pela doença são murcha, desprendimento
da base da árvore, morte da planta e como consequência da doença o valor agregado do produto
madeireiro é afetado, em função da modificação da coloração radial do lenho.
Os isolados de Fusarium oxysporum foram consistentemente isolados dessas árvores
afetadas. No presente relato, realizamos análises morfométricas, bem como ensaios de
patogenicidade desses isolados, com o objetivo de caracterizar os agentes causadores associados a
essa nova doença vascular em condições brasileiras (Borges et al., 2018).
O complexo de espécies de Fusarium oxysporum (FOSC) é um grupo cosmopolita de
patógenos transmitidos pelo solo que tem sido relatado principalmente em associação com
doenças de murcha vascular em uma ampla gama de espécies de plantas (O’Donnell et al. 2010).
Cerca de 80 especialidades específicas do formato do hospedeiro são descritas dentro do complexo
de espécies de F. oxysporum. Os três clones de teca usados nos ensaios de patogenicidade
exibiram sintomas de murcha após a inoculação com um isolado morfológica e molecularmente
Tectona grandis
idêntico aos isolados de Fusarium re-isolados em BDA, cumprindo assim os postulados de Koch.
Algo surpreendente é a ausência de relatos formais de membros do FOSC infectando teca em
outros continentes, incluindo a Ásia. De fato, para nosso conhecimento, este é o primeiro relato
deste fungo em teca no Neotrópico e, provavelmente, o primeiro relato mundial de doença por
murcha causada por F. oxysporum nesta espécie hospedeira. As áreas geográficas dos isolados de F.
oxysporum, nas quais encontramos maiores identidades de sequência durante a busca do BLASTn
foram principalmente de países da Ásia (dados não mostrados), o que sugere que os isolados de
F. oxysporum são mais prováveis do que endêmicos do Brasil. A teca é uma espécie de floresta
tropical encontrada dispersa pela Índia, Mianmar, Laos e Tailândia e vários membros do FOSC
são conhecidos por serem transmitidos através de sementes contaminadas ou mudas (Reis et al.
2008; Cabral et al., 2014). ) ou como endófitos. Portanto, esta espécie F. oxysporum de teca foi mais
provavelmente introduzida no Brasil por meio de material vegetal contaminado.
As áreas comerciais de produção de teca no Brasil estão se expandindo, mas algumas
doenças transmitidas pelo solo já causaram graves perdas de rendimento e qualidade. Nesse
contexto, o manejo dessa doença deve ser realizado desde a fase de viveiro, evitando assim a
disseminação da doença para o campo.
Em agosto de 2016, plantas de teca infectadas com Paramyrothecium roridum foram
encontradas em uma área de produção no Estado de Mato Grosso. Os sintomas iniciais foram
449
circulares a subcirculares, 1mm a 4 mm, com coloração castanho escuro ao longo da folha (Figura 6A).
Exposta a alta umidade, as lesões expandiram-se para 6 a 20 mm com manchas concêntricas distintas
com a formação de esporodóquio de coloração preta (Figura 6B). Ao longo do ciclo de produção, as
lesões foram expandindo ao longo das folhas, promovendo amarelecimento e queda. Como resultado
da doença, ocorre a redução da taxa fotossintética e consequente redução do desenvolvimento da
muda (Borges et al., 2018). Esse patógeno foi relatado anteriormente infectando teca em Taiwan
(Doilom et al., 2016). No Brasil, o primeiro relato da doença sobre teca ocorreu em 2018 (Borges et
al.,2018). A incidência dessa doença na fase de viveiro é de aproximadamente 10% ao longo da fase
de produção (Mini-jardim clonal, casa de sombra e pleno sol). O controle preventivo da doença na
fase de viveiro necessário, a fim de evitar potenciais perdas nas condições de campo.
Silvicultura Tropical
Figura 6: Sintomas de mancha foliar em Tectona grandis causado por Paramyrothecium roridum e características
morfológicas de Paramyrothecium roridum. A, B, sintomas de infecção natural; (C) Conídio; D, E, Conidióforos com
fiálides produzindo conídios.
A mancha causada por Corynespora cassiicola foi observada em viveiro de teca na fase de
minijardim clonal e pleno sol. Os sintomas têm início com a ocorrência de manchas pequenas na
superfície da folha, as quais eventualmente tornam-se marrom. Com o progresso da doença, as lesões
aumentam de tamanho tornando-se bastante distintas das outras doenças. Essas lesões são circulares
e de coloração marrom-claras medindo de aproximadamente 1 cm de diâmetro, podendo apresentar
450
anéis concêntricos e um halo clorótico circundante (Figura 7). Com a expansão das lesões ocorre
desfolha generalizada. Nos ramos e pecíolos, ocorrem manchas amarronzadas e alongadas. A queda
das folhas irá resultar em uma redução do desenvolvimento no viveiro, e uma vez que o controle da
doença não tenha sido realizado de forma efetiva, essa doença poderá progredir na fase de campo.
Tectona grandis
Figura 7: Sintomas de mancha em teca (Tectona grandis) causada por Corynespora cassiicola (A),
Esporo do patógeno (B, C e D).
451
O manejo dessa doença deve ser realizado desde a fase de viveiro, evitando assim a
disseminação da doença para o campo.
A mancha angular, causada por Xanthomonas fuscans está sendo relatada no Brasil, causando
danos na produção na fase de viveiro, principalmente na fase de expedição das mudas para campo
(Figura 8). Em maio de 2016, lesões foliares necróticas (≈ 15% incidência) foram encontradas em
plantas de teca na fase de expedição. As lesões evoluem para grandes pontos angulares, muitas vezes
cercados por halos cloróticos. Outros estudos estão sendo realizados para definição desse patógeno
como potencial patovar ou subespécie. Os sintomas podem afetar diretamente o desenvolvimento das
mudas na fase de viveiro, e no campo posteriormente também inibir o desenvolvimento em função da
redução da taxa fotossintética (Borges et al., 2018). Neste contexto, estratégias de gestão integrada de
controle são necessárias desde a fase de viveiro.
Silvicultura Tropical
Figura 8: Sintomas da
mancha-angular em teca
(Tectona grandis) causada
por Xanthomonas fuscans.
(A) sintomas iniciais nas
plantas (infecção natural)
e (B) planta exibindo
manchas foliares necróticas
que evoluíram para pontos
angulares, frequentemente,
cercados por halos cloróticos
(infecção natural).
452
Figura 9: Sintomas de galhas da coroa em cepas em mini-jardim clonal de teca (Tectona grandis)
causada por Agrobacterium tumefaciens. (A e B) Sintomas de galhas da coroa em mini cepas em
mini-jardim clonal de teca. Sintomas de galhas na coroa em raízes em mudas em fase de expedição
para campo (C). Fonte: Borges et al., 2018.
Em agosto de 2019, foi publicado o primeiro relato de T. grandis como hospedeiro do ToCV, bem
Tectona grandis
como o primeiro relatório de infecção por vírus nessa planta lenhosa no Brasil (Borges et al., 2019).
Foram observados sintomas de amarelecimento Internervais em folhas mais velhas
semelhantes aquelas induzidas por espécies do gênero Crinivirus (família Closteroviridae). A
incidência no viveiro foi de 90% em mudas com 100 dias de idade. Além disso, uma infestação grave
de mosca branca foi observada em associação com essas plantas sintomáticas. Quinze amostras de
folhas coletadas aleatoriamente de plantas sintomáticas distintas foram testadas quanto à presença
do vírus da clorose do tomate (ToCV) e do vírus da clorose infecciosa do tomate (TICV), dois crinivírus
relatados infectando uma ampla variedade de culturas no Brasil (Fonseca et al. 2016).
Amostras de folhas de plantas de teca assintomáticas (n = 10) também foram coletadas
e empregadas como controle negativo. A extração total de RNA foi realizada usando reagente TRIzol
(Thermo Fisher Scientific, Waltham, MA) de todas as amostras de plantas sintomáticas e assintomáticas.
Os ensaios de RT-PCR foram conduzidos usando o par universal de primers HS-11 / HS-12 (que amplifica
um segmento de RNA-2 de 587-bp que engloba o gene da proteína HSP70h), seguido de uma PCR
realizada com o par de primers ToCV- ( ToC-5 / ToC-6) e iniciadores específicos para TICV (TIC-3 / TIC-
4) (Dovas et al. 2002). Todas as 15 amostras de teca sintomáticas foram positivas apenas para ToCV
(≈463-bp amplicons). O produto de PCR de uma amostra selecionada aleatoriamente foi sequenciado
diretamente. A sequência obtida (GenBank MH688047) exibiu 99,7% de identidade com a sequência
equivalente de um isolado de ToCV de tomate relatado no Brasil (EU868927). Cinco amostras sintomáticas
453
também foram positivas em ensaios de hibridação por transferência de pontos usando uma sonda de
RNA derivada de proteína de revestimento (fragmento 436-nt do RNA-2; iniciadores MA-380 / MA-381)
(Fortes et al. 2012). A extração total de DNA e os ensaios de PCR também foram conduzidos usando
amostras de mosca branca (três conjuntos de n = 10 cada) coletadas em plantas sintéticas de teca. Um
segmento do gene da citocromo oxidase I mitocondrial (mtCOI) foi amplificado usando os iniciadores
específicos C1-J-2195-FW e L2-N-3014-RV (Simon et al. 1994), produzindo -860 pb de amplicons. O
sequenciamento direto de três amplicons obtidos das amostras de mosca branca (MH688048) indicou
alta identidade (99%) das espécies de B. tabaci Mediterranean (MED) (= biótipo Q). Os ensaios de
transmissão de ToCV foram realizados usando adultos de B. tabaci MED. Trinta moscas brancas virulíferas
derivadas de moscas brancas saudáveis alimentadas com plantas de teca infectadas com ToCV foram
confinadas em gaiolas separadas com teca saudável (n = 6) e cv de tomate. Mudas de Santa Clara (n = 6).
As moscas-brancas avirulíferas também foram confinadas a teca saudável (n = 6) e tomate (n = 6) plantas
(controles negativos). Após 72 h, as moscas brancas foram eliminadas por pulverização com inseticida.
Trinta dias após o período de acesso à alimentação, apenas as plantas de teca e tomate expostas a B. tabaci
Silvicultura Tropical
MED virulíferas exibiram sintomas do tipo crinivírus e foram positivas para ToCV em ensaios de RT-PCR. A
introdução de B. tabaci MED no sul do Brasil foi relatada recentemente (de Moraes et al. 2017). Nossos
resultados também confirmam a presença de B. tabaci MED na região central do Brasil e sua associação
com a infecção pelo ToCV de mudas de T. grandis. Embora expressem sintomas leves em geral, os potenciais
efeitos negativos do ToCV em plantas de teca precisam ser investigados com mais detalhes.
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458
459
Tectona grandis
Tibouchina spp.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia Agronômica,
mestrado e doutorado em produção vegetal pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR), e Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia
da Universidade Federal do Paraná (GEPE).
(GEPE).
460
Os usos de várias espécies de Tibouchina partem desde ornamentação urbana, como
plantio em “boulevards” proporcionando cores vivas aos espaços urbanos devido a bela
coloração das flores (Figura 1), atraindo animais silvestres até o uso em reflorestamento e
recuperação de áreas degradadas.
Algumas espécies pertencentes ao gênero Tibouchina, como T. affinis fothergillae,
T. granulosa, T. heteromalla, T. moricandiana variedade vinaceae e T. sellowiana, apresentam
grande número de sementes, porém com baixa germinabilidade. Ainda contam com
tamanho reduzido das sementes, fato que dificulta grandemente a propagação sexuada
(RODRIGUES et al., 2011).
Tibouchina spp.
461
I. Tibouchina affinis
fothergillae Cogn.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia
Agronômica, mestrado e doutorado em Agronomia -
Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. Botânica
1.1 BIOMA
Apresenta maior concentração de indivíduos nos
biomas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e, com menor
frequência nos biomas do Pantanal e Pampa (GOLDENBERG
et al., 2012).
462
2. PRODUÇÃO DE MUDAS
2.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Os indivíduos pertencentes à família Melastomataceae como Tibouchina affinis
fothergillae, apresentam baixa eficiência no processo de propagação sexuada, dando assim
espaço à propagação vegetativa (CESAR et al., 2009).
3 OUTRAS INFORMAÇÕES
3.1 EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA
Durante os anos de 2015 e 2016, o Engenheiro Agrônomo Leandro Porto Latoh, sob a
orientação e supervisão da Profa. Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, realizou uma pesquisa
cujo objetivo principal era a avaliação do enraizamento de Tibouchina affinis fothergillae,
463
por meio da propagação vegetativa via estaquia caulinar nas quatro estações do ano, com a
aplicação de diferentes concentrações de ácido indol butírico (IBA).
O experimento foi conduzido em casa de vegetação climatizada, com temperatura média
de 25ºC ± 2°C e umidade relativa do ar UR= 85%, localizada no Setor de Ciências Biológicas, da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba- PR.
Estacas caulinares de Tibouchina affinis fothergillae foram coletadas a partir de plantas
matrizes localizadas nos jardins do Campus III da UFPR, nas quatro estações do ano. As coletas
foram realizadas no segundo mês de cada estação, ou seja, em julho de 2015 (inverno), outubro
de 2015 (primavera), janeiro de 2016 (verão) e abril de 2016 (outono).
As estacas foram confeccionadas com aproximadamente 10 cm de comprimento, corte em
bisel na base e reto no ápice, sendo mantidos um par de folhas reduzidas à metade na porção
apical, com posterior desinfestação utilizando hipoclorito de sódio a 0,5 % por 10 minutos,
seguida de lavagem em água corrente por 5 minutos.
As bases das estacas foram submetidas a tratamentos (T), com diferentes concentrações de
Silvicultura Tropical
ácido indol butírico (IBA), em solução hidroalcoólica 50% por 10 segundos de imersão, conforme
segue: T1: 0 mg L-¹ IBA; T2: 1500 mg L-¹ IBA; T3: 3000 mg L-¹ IBA.
O plantio foi realizado em tubetes de polipropileno (53 cm³) com vermiculita de
granulometria fina e Tropstrato® (substrato comercial) na proporção de 1:1 (v/v), em casa
de vegetação, sendo avaliadas após 60 dias. Foram consideradas as seguintes variáveis:
porcentagem de enraizamento (estacas que estavam vivas e emitiram raízes de, no mínimo 2
mm de comprimento), número médio de raízes/estaca, comprimento médio das 3 maiores raízes/
estaca, porcentagem de estacas com calos (estacas vivas, sem raízes, que emitiram massa de
células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas vivas (estacas que não emitiram raízes
e nem massa de células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas mortas, porcentagem
de estacas que mantiveram as folhas iniciais e porcentagem de estacas brotadas.
Foram utilizados 3 tratamentos com 4 repetições de 20 estacas por unidade experimental,
totalizando 240 estacas por espécie. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado,
num esquema fatorial 3 x 4 (3 concentrações de IBA x 4 épocas do ano), sendo os resultados
submetidos ao teste de homogeneidade pelo Teste de Bartllet e ao teste de médias pelo Teste
de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Após 60 dias da instalação dos experimentos, verificou-se que T. aff. fothergillae não
apresentou diferença estatística para enraizamento nas diferentes estações do ano e concentrações
de IBA utilizadas, demonstrando que a espécie é de fácil enraizamento (mais de 90% de indução
464
radicial) e que não existe interferência das diferentes estações do ano sobre a rizogênese.
Resultados semelhantes foram encontrados por RIBEIRO et al. (2007), os quais aplicaram
diferentes concentrações de IBA em estacas apicais e medianas de T. aff. fothergillae, não
encontrando diferença estatística entre a aplicação do regulador vegetal e a rizogênese, devido
um elevado índice de enraizamento (94%).
Em estudo realizado por CÉZAR et al. (2009), ao analisarem as técnicas de estaquia e
alporquia com a espécie T. aff. fothergillae, submetida à aplicação de diferentes concentrações
de ácido naftaleno acético (NAA), os autores constataram 100% de rizogênese nos tratamentos
utilizados, sem a necessidade de utilização da auxina sintética.
No presente experimento, ocorreu diferença estatística entre as diferentes estações
estudadas para a variável comprimento radicial, onde a estação da primavera (15,25 cm)
apresentou melhor média e o inverno (5,46 cm) com os menores resultados, sendo possível
EE CM EMF
Estações
% N° %
Outono 91,00 a 7,08 c 92,91 a
465
Houve interação dupla entre as variáveis número médio de raízes/estaca (NR) e estaca
com brotação (EB), com as diferentes estações do ano.
O NR presente no sistema radicial foi estatisticamente superior nas estações da primavera
e verão (17,92 e 16,57) com uso de 3000 mg L-1 de IBA.
Segundo HARTMANN et al. (2011), além do uso de reguladores vegetais para a indução
rizogênico, o mesmo apresenta grande importância no aumento da velocidade, porcentagem,
qualidade e uniformidade do sistema radicial.
A presença de estacas com a existência de brotações foi acima de 85% para todas as
estações e concentrações, podendo os propágulos serem caracterizados como mudas (Tabela 2).
CV (%) 16,11
CV (%) 9,18
Médias seguidas da mesma letra minúscula na vertical e médias seguidas da mesma letra maiúscula na
horizontal, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
CV: Coeficiente de variação.
466
I. Tibouchina affinis fothergillae Cogn.
Figura 2: Tibouchina aff. fothergillae: A. Planta matriz. B. Ramo oriundo da planta matriz.
C. Propágulo confeccionado. D. Propágulo enraizado. E/F. Flores, Curitiba- PR.
467
II. Tibouchina granulosa
Cogn.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia
Agronômica, mestrado e doutorado em Agronomia -
Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA:
1.1 BIOMA
Apresenta maior concentração de indivíduos nos
biomas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e, com menor
frequência nos biomas do Pantanal e Pampa (GOLDENBERG
et al., 2012).
468
2. PRODUÇÃO DE MUDAS
2.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Os indivíduos pertencentes à família Melastomataceae como Tibouchina granulosa,
apresentam baixa eficiência no processo de propagação sexuada, dando assim espaço à
propagação vegetativa (CESAR et al., 2009).
3. OUTRAS INFORMAÇÕES
3.1 EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA
Nos anos de 2015 e 2016, o Engenheiro Agrônomo Leandro Porto Latoh, sob a orientação
e supervisão da Profa. Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, realizou pesquisa cujo objetivo
principal era a avaliação do enraizamento de Tibouchina granulosa, por meio da propagação
vegetativa via estaquia caulinar nas quatro estações do ano, com a aplicação de diferentes
concentrações de ácido indol butírico (IBA).
O experimento foi conduzido em casa de vegetação climatizada, com temperatura
média de 25ºC ± 2°C e umidade relativa do ar UR= 85%, localizada no Setor de Ciências
Biológicas, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba- PR.
469
Estacas caulinares de Tibouchina granulosa foram coletadas a partir de plantas matrizes
localizadas nos jardins do Campus III da UFPR, nas quatro estações do ano. As coletas foram
realizadas no segundo mês de cada estação, ou seja, em julho de 2015 (inverno), outubro de 2015
(primavera), janeiro de 2016 (verão) e abril de 2016 (outono).
As estacas foram confeccionadas com aproximadamente 10 cm de comprimento, corte em
bisel na base e reto no ápice, sendo mantidos um par de folhas reduzidas à metade na porção
apical, com posterior desinfestação utilizando hipoclorito de sódio a 0,5 % por 10 minutos,
seguida de lavagem em água corrente por 5 minutos.
As bases das estacas foram submetidas a tratamentos (T), com diferentes concentrações
de ácido indol butírico (IBA), em solução hidroalcoólica 50% por 10 segundos de imersão,
conforme segue: T1: 0 mg L-¹ IBA; T2: 1500 mg L-¹ IBA; T3: 3000 mg L-¹ IBA.
O plantio foi realizado em tubetes de polipropileno (53 cm³) com vermiculita de granulometria
fina e Tropstrato® (substrato comercial) na proporção de 1:1 (v/v), em casa de vegetação, sendo
avaliadas após 45 dias. Foram consideradas as seguintes variáveis: porcentagem de enraizamento
Silvicultura Tropical
(estacas que estavam vivas e emitiram raízes de, no mínimo 2 mm de comprimento), número
médio de raízes/estaca, comprimento médios das 3 maiores raízes/estaca, porcentagem de
estacas com calos (estacas vivas, sem raízes, que emitiram massa de células indiferenciadas na
base), porcentagem de estacas vivas (estacas que não emitiram raízes e nem massa de células
indiferenciadas na base), porcentagem de estacas mortas, porcentagem de estacas que mantiveram
as folhas iniciais e porcentagem de estacas brotadas.
Foram utilizados 3 tratamentos com 4 repetições de 20 estacas por unidade
experimental, totalizando 240 estacas por espécie. O delineamento experimental foi o
inteiramente casualizado, num esquema fatorial 3 x 4 (3 concentrações de IBA x 4 épocas do
ano). Os resultados foram submetidos à análise de homogeneidade pelo Teste de Bartllet e
posteriormente, submetidos à análise de variância pelo teste F, sendo as médias comparadas
pelo Teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
Após 60 dias de instalação T. granulosa apresentou diferença estatística para as variáveis
estacas enraizadas, mortas e que mantiveram as folhas originais nas diferentes estações do ano.
Visando o maior índice de enraizamento, é indicado que a coleta do material vegetal de T.
granulosa seja realizada na estação do verão, pois a mesma foi estatisticamente superior às demais estações,
demonstrando que o efeito do ambiente interfere diretamente no processo rizogênico da espécie.
O uso de IBA influencia positivamente o enraizamento adventício para essa espécie,
podendo ser indicada a concentração de 3000 mg L-1.
470
A mortalidade da espécie foi estatisticamente superior na estação da primavera
(79,16%), quando comparada às demais estações.
A manutenção das folhas originais não diferiu estatisticamente entre as diferentes
estações, porém foram encontrados valores numericamente superiores na estação do verão e
outono (Tabela 3).
A técnica de propagação vegetativa via estaquia para T. granulosa se justifica, uma vez que,
segundo LOPES et al. (2005), suas sementes apresentam dormência após maturação fisiológica, com
baixa porcentagem de formação de mudas seminais.
BORTOLINI et al. (2009), em estudo realizado com enraizamento de estacas caulinares de
quatro espécies do gênero Tibouchina Aubl., obtiveram resultados semelhantes com uso de diferentes
concentrações de IBA para o enraizamento de Tibouchina granulosa, sendo a concentração de 3000
mg L-1 a que apresentou os melhores resultados.
Verificou-se a interação entre as variáveis número médio de raízes/estaca (NR), comprimento
médio de raízes/estaca (CM) e estacas vivas (EV).
Para NR, não houve diferença estatística entre as estações do outono e inverno com uso das
diferentes concentrações de IBA. Porém, na primavera o uso de 1500 mg L-1 apresentou redução
estatisticamente significativa em relação às demais concentrações. Já no verão, existiu um aumento
estatisticamente significativo conforme houve a elevação das concentrações. Entre as diferentes
471
concentrações utilizadas, o uso de 3000 mg L-1 na estação da primavera pode ser recomendado.
Para CM, as estações da primavera e verão apresentaram valores superiores em relação às
demais estações. A aplicação de maiores concentrações de IBA foram estatisticamente significativas
para o aumento no comprimento radicial nas estações da primavera e verão.
Para EV as estações do outono e inverno demonstraram diferença estatística em relação ao
verão e primavera, sendo que o uso de IBA resultou na diminuição da sobrevivência das estacas no
verão, uma vez que estacas vivas são a diferença entre estacas enraizadas, com a formação de calos
e mortas. Para as demais estações, o uso de IBA não apresentou diferença estatística (Tabela 4).
CV (%) 46,90
CV (%) 17,54
CV (%) 24,98
Médias seguidas da mesma letra minúscula na vertical e médias seguidas da mesma letra
maiúscula na horizontal, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. CV: Coeficiente de variação.
472
II. Tibouchina granulosa Cogn.
473
III.Tibouchina
heteromalla Cogn.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia
Agronômica, mestrado e doutorado em Agronomia -
Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA
Apresenta maior concentração de indivíduos nos
biomas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e, com menor
frequência nos biomas do Pantanal e Pampa (GOLDENBERG
et al., 2012).
474
2. PRODUÇÃO DE MUDAS
2.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Tibouchina heteromalla é um dos 4570 indivíduos da família Melastomataceae que apresenta
dificuldade na propagação sexuada, por conta do grande número de sementes abortadas e a baixa
taxa de germinação (CLAUSING; RENNER, 2001; PERALTA, 2002; CESÁR et., 2009).
3. OUTRAS INFORMAÇÕES
3.1 EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA
Em pesquisa realizada pelo GEPE - Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia, sob a
coordenação da Profa. Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, o Engenheiro Agrônomo Leandro
475
Porto Latoh realizou vários experimentos com o gênero Tibouchina e, dentre eles, com a espécie
Tibouchina heteromalla.
O experimento foi conduzido em casa de vegetação climatizada, com temperatura média
de 25ºC ± 2°C e umidade relativa do ar UR= 85%, localizada no Setor de Ciências Biológicas,
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba- PR.
Estacas caulinares de Tibouchina heteromalla foram coletadas a partir de plantas matrizes
localizadas nos jardins do Campus III da UFPR, nas quatro estações do ano. As coletas foram
realizadas no segundo mês de cada estação, ou seja, em julho de 2015 (inverno), outubro de
2015 (primavera), janeiro de 2016 (verão) e abril de 2016 (outono).
As estacas foram confeccionadas com aproximadamente 10 cm de comprimento, corte em
bisel na base e reto no ápice, sendo mantidos um par de folhas reduzidas à metade na porção
apical, com posterior desinfestação utilizando hipoclorito de sódio a 0,5 % por 10 minutos,
seguida de lavagem em água corrente por 5 minutos.
As bases das estacas foram submetidas a tratamentos (T), com diferentes concentrações
Silvicultura Tropical
de ácido indol butírico (IBA), em solução hidroalcoólica 50% por 10 segundos de imersão,
conforme segue: T1: 0 mg L-¹ IBA; T2: 1500 mg L-¹ IBA; T3: 3000 mg L-¹ IBA.
O plantio foi realizado em tubetes de polipropileno (53 cm³) com vermiculita de
granulometria fina e Tropstrato® (substrato comercial) na proporção de 1:1 (v/v), em casa
de vegetação, sendo avaliado após 45 dias. Foram consideradas as seguintes variáveis:
porcentagem de enraizamento (estacas que estavam vivas e emitiram raízes de, no mínimo 2 mm
de comprimento), número médio de raízes/estaca, comprimento médios das 3 maiores raízes/
estaca, porcentagem de estacas com calos (estacas vivas, sem raízes, que emitiram massa de
células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas vivas (estacas que não emitiram raízes
e nem massa de células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas mortas, porcentagem
de estacas que mantiveram as folhas iniciais e porcentagem de estacas brotadas.
Foram utilizados 3 tratamentos com 4 repetições de 20 estacas por unidade
experimental, totalizando 240 estacas por espécie. O delineamento experimental foi o
inteiramente casualizado, num esquema fatorial 3 x 4 (3 concentrações de IBA x 4 épocas do
ano). Os resultados foram submetidos ao teste de homogeneidade pelo Teste de Bartllet e, à
análise de variância pelo teste F, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de
5% de probabilidade
Após 45 dias de instalação T. heteromalla apresentou diferença estatística para o
476
enraizamento, sendo as estações da primavera, verão e inverno (99,16%, 100% e 99,16%,
respectivamente) superiores ao outono (87,50%).
O uso de ácido indol butírico (IBA), não foi responsivo para o enraizamento da espécie,
demonstrando que a mesma pode ser considerada uma espécie de fácil enraizamento.
Em pesquisa realizada por LATOH et al. (2016), Tibouchina heteromalla apresentou
valores acima de 85% de enraizamento, apresentando-se como uma espécie com alto vigor,
sendo desnecessário o uso de regulador vegetal para indução da rizogênese.
O comprimento médio radicial foi estatisticamente superior na estação da primavera,
evidenciando o fato de que em estações com temperatura média elevada existe maior atividade
metabólica do vegetal. Esse fato foi comprovado nas estações do outono e inverno, pois estas
apresentam valores estatisticamente inferiores às demais estações.
A manutenção foliar é estatisticamente superior nas estações do outono, inverno e
primavera; no entanto na estação do verão não houve diferença estatística em relação ao
EE CM EMF
Estações
% N° %
Outono 87,50 b 7,15 c 88,33 a
Médias seguida da mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente pelo teste de
Tukey ao nível de 5% de probabilidade. CV: Coeficiente de variação.
477
Houve interação entre as estações do ano e as diferentes concentrações de IBA para as
variáveis número médio de raízes/estaca (NR) e estacas com brotação (EB).
O número de raízes é influenciado diretamente nas estações da primavera e verão com uso de
1500 mg L-1 e 3000 mg L-1 de IBA. Nas demais estações não existe diferença estatística entre a estação
do ano e as concentrações de IBA utilizadas. Com o uso de 1500 mg L-1 de IBA o número de raízes foi
estaticamente superior em todas as estações do ano, salvo na estação do outono. Já com o uso de 3000
mg L-1 as estações da primavera e verão apresentaram médias estatisticamente superiores às demais.
A presença de brotações apresenta redução estatisticamente significativa com uso de
3000 mg L-1 de IBA nas estações do outono e primavera. Nas demais estações do ano não existe
acréscimo e/ou decréscimo com uso do regulador vegetal. O uso de 1500 mg L-1 IBA apresenta
redução estatisticamente significativa na estação do outono. Esta redução é ampliada com uso de
3000 mg L-1IBA na estação do outono e afeta a estação da primavera (Tabela 6).
Tabela 6: Comparação de médias da interação da variável número médio de raízes/estaca (nr)
e estacas com brotações (eb) em t. heteromalla, nas quatro estações do ano sob 3 concentrações
Silvicultura Tropical
CV (%) 20,04
CV (%) 5,23
Médias seguidas da mesma letra minúscula na vertical e médias seguidas da mesma letra
maiúscula na horizontal, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. CV: Coeficiente de variação.
478
III.Tibouchina heteromalla Cogn.
479
IV. Tibouchina moricandiana
var. vinaceae Baill.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia Agronômica, mestrado e
doutorado em Agronomia - Produção Vegetal pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA
Silvicultura Tropical
1.1 BIOMA
Apresenta maior concentração de indivíduos nos biomas da Amazônia,
Cerrado, Mata Atlântica e, com menor frequência nos biomas do Pantanal e Pampa
(GOLDENBERG et al., 2012).
1.5 PORTE: A espécie é classificada como uma arvoreta, com porte variando
de 1,5 a 3 m de altura (LORENZI, 2008).
2. PRODUÇÃO DE MUDAS
2.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
Tibouchina moricandiana var. vinaceae é um dos 4570 indivíduos da família
Melastomataceae, que apresenta dificuldade na propagação sexuada, por conta do
grande número de sementes abortadas e a baixa taxa de germinação (CLAUSING;
RENNER, 2001; PERALTA, 2002; CESÁR et., 2009).
480
2.2 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA
Para produção de mudas de T. moricandiana var. vinaceae recomenda-se a técnica
de propagação vegetativa via estaquia caulinar, com uso do regulador vegetal ácido indol
butírico (IBA), na concentração de 3000 mg L-1, devendo a coleta do material vegetal ser
realizada na estação da primavera, visando assim elevados índices de enraizamento e maior
número de raízes por muda.
3. OUTRAS INFORMAÇÕES
3.1 EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA
Uma das linhas de pesquisa do GEPE - Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia, coordenado pela
Profa. Dra. Katia Christina Zuffellato-Ribas, é o estudo da propagação vegetativa via estaquia do gênero
Tibouchina. Dentre as espécies estudadas, pelo Engenheiro Agrônomo Leandro Porto Latoh, executou
experimentos entre 2015 e 2016 com a espécie Tibouchina moricandiana variedade vinaceae.
O experimento foi conduzido em casa de vegetação climatizada, com temperatura média
de 25ºC ± 2°C e umidade relativa do ar UR= 85%, localizada no Setor de Ciências Biológicas,
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba- PR.
Estacas caulinares de Tibouchina moricandiana variedade vinaceae foram coletadas a
partir de plantas matrizes localizadas nos jardins do Campus III da UFPR, nas quatro estações
481
do ano. As coletas foram realizadas no segundo mês de cada estação, ou seja, em julho de 2015
(inverno), outubro de 2015 (primavera), janeiro de 2016 (verão) e abril de 2016 (outono).
As estacas foram confeccionadas com aproximadamente 10 cm de comprimento, corte em
bisel na base e reto no ápice, sendo mantidos um par de folhas reduzidas à metade na porção
apical, com posterior desinfestação utilizando hipoclorito de sódio a 0,5 % por 10 minutos, seguida
de lavagem em água corrente por 5 minutos.
As bases das estacas foram submetidas a tratamentos (T), com diferentes concentrações de
ácido indol butírico (IBA), em solução hidroalcoólica 50% por 10 segundos de imersão, conforme
segue: T1: 0 mg L-¹ IBA; T2: 1500 mg L-¹ IBA; T3: 3000 mg L-¹ IBA.
O plantio foi realizado em tubetes de polipropileno (53 cm³) com vermiculita de
granulometria fina e Tropstrato® (substrato comercial) na proporção de 1:1 (v/v), em casa de
vegetação, sendo realizada avaliação após 45 dias.
Foram consideradas as seguintes variáveis: porcentagem de enraizamento (estacas que estavam
vivas e emitiram raízes de, no mínimo 2 mm de comprimento), número médio de raízes/estaca,
Silvicultura Tropical
comprimento médio das 3 maiores raízes/estaca, porcentagem de estacas com calos (estacas vivas, sem
raízes, que emitiram massa de células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas vivas (estacas
que não emitiram raízes e nem massa de células indiferenciadas na base), porcentagem de estacas
mortas, porcentagem de estacas que mantiveram as folhas iniciais e porcentagem de estacas brotadas.
O delineamento estatístico foi composto por 3 tratamentos com 4 repetições de 20 estacas
por unidade experimental, totalizando 240 estacas por espécie. O delineamento experimental
foi o inteiramente casualizado, num esquema fatorial 3 x 4 (3 concentrações de IBA x 4 épocas
do ano). Os resultados foram submetidos à análise de variância pelo teste F, sendo as médias
comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
Após 60 dias da instalação dos experimentos, a análise estatística demonstrou que o
enraizamento de T. moricandiana var. vinaceae não apresentou diferença estatística entre
as estações do outono e primavera (91,25% e 98,33%, respectivamente), sendo as mesmas
superiores às demais estações.
PEREIRA et al. (2015), corroboram com os resultados encontrados no presente trabalho,
uma vez que em seu trabalho com T. moricandiana var. vinaceae, os autores verificaram que
o uso de IBA nas concentrações de 0, 1000 e 2000 mg Kg-¹/mg L-¹ não apresentou diferença
estatística com relação ao enraizamento.
Para número médio de raízes/estaca, pode-se perceber que estações com temperatura média
elevada, proporcionam um maior incremento à variável, fato este comprovado pelos resultados
482
obtidos nas estações da primavera e verão, as quais além de serem estatisticamente diferentes, são
superiores às demais estações. Porém, além das estações de coleta, o uso do regulador vegetal
IBA (1500 mg L-1 e 3000 mg L-1) proporcionou incremento à variável (Tabela 7).
EE NR EB EM NR
Estações IBA
% N° % % N°
Outono 91,25 a 5,98 c 80,41 bc 1,15 c 0 mg L-1 6,11 b
Médias seguida da mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente pelo teste de
Tukey ao nível de 5% de probabilidade. CV: Coeficiente de variação.
483
L-1 e 3000 mg L-1 de IBA, proporcionou elevação estatisticamente significativa na sobrevivência
dos propágulos na estação do inverno.
A mortalidade não apresenta diferença estatisticamente nas estações do outono e primavera
com uso de diferentes concentrações de IBA. Já no inverno o uso de 1500 mg L-1 sugere uma redução
na mortalidade em relação às demais concentrações. No verão, o uso de 3000 mg L-1 IBA proporcionou
uma elevação estatisticamente significativa na mortalidade. A realização da coleta nas estações do outono e
primavera sem a utilização de IBA reduza porcentagem de mortalidade. Já uso de 1500 mg L-1 e 3000 mg
L-1 IBA aumentam a mortalidade na estação do verão; porém reduzem nas demais estações (Tabela 8).
Tabela 8: Comparação de médias das variáveis comprimento médio de raízes/estaca (CM),
estacas vivas (EV) e mortas (EM) em T. moricandiana var. vinaceae, nas quatro estações do ano
sob 3 concentrações de IBA, após 60 dias de permanência em casa de vegetação, Curitiba-PR.
CV (%) 15,93
CV (%) 51,40
CV (%) 39,80
Médias seguidas da mesma letra minúscula na vertical e médias seguidas da
mesma letra maiúscula na horizontal, não diferem significativamente entre si
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CV: Coeficiente de variação.
484
IV. Tibouchina moricandiana var. vinaceae Baill.
Figura 5:
Tibouchina
moricandiana
var. vinaceae. A.
Planta matriz. B.
Ramo coletado.
C. Propágulo
confeccionado.
D. Propágulo
enraizado. E-F.
Flores, Curitiba-PR.
485
Silvicultura Tropical
486
V. Tibouchina sellowiana (Cham.) Cogn.
LEANDRO PORTO LATOH
Engenheiro Agrônomo, graduação em Engenharia Agronômica, mestrado e doutorado
em Agronomia - Produção Vegetal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Grupo de Estudo
e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
V. Tibouchina sellowiana
Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e pós-doutorado em Fisio-
logia Vegetal pela Università di Pisa, Italia. Atualmente é Professora Titular do Departamento de Botânica da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde coordena o Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA:
1.1 BIOMA: Mata Atlântica
1.2 NOME COMUM: Manacá, Manacá da Serra, Quaresmeira ou Tibuchina
1.3 NOME CIENTÍFICO: Tibouchina sellowiana (Cham.) Cogn.
1.4 FAMÍLIA: Melastomataceae
1.5 PORTE: Arbóreo
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 ÉPOCA DE FLORAÇÃO: Dezembro a maio, ou durante o outono (SOUZA, 1986;
BIONDI; ALTHAUS, 2005).
487
3.3 MANEJO DE SEMENTES
As sementes são consideradas fotoblásticas positivas, recomendando-se o teste de germinação em
papel filtro ou areia, em 30º C e fotoperíodo de 12 horas (BARBOSA et al., 1988).
3.5 ARMAZENAMENTO
Sementes de T. sellowiana permaneceram viáveis por 15 dias quando armazenadas em sacos
de papel em câmara seca com 42% de UR (BARBOSA et al., 1988).
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO:
A produção de mudas pode ser realizada com semeadura em canteiro, seguida de
repicagem e transplantio. Como as sementes desta espécie são de difícil coleta e manuseio
Silvicultura Tropical
devido ao tamanho reduzido das mesmas (BARBOSA et al., 1988), a propagação vegetativa pode
ser alternativa na produção de mudas.
5.PATOLOGIA FLORESTAL
5.1 DOENÇAS E PRAGAS
Podem ocorrer manchas foliares causadas por Bagnisiopsis sp. (AUER, 1996).
488
V. Tibouchina sellowiana
Figura 6:
Tibouchina
sellowiana:
A. Estacas
semi lenhosas
confeccionadas.
B. Estacas semi
lenhosas enraizadas
após 65 dias em
casa de vegetação.
C. Planta matriz em
fase reprodutiva.
489
REFERÊNCIAS
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luminosidade na germinação de sementes de quaresmeira. Revista Brasileira de Sementes.
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491
Toona ciliata M. Roem
Giovanna Campos Mamede Weiss de Carvalho
Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), Mestre em Produção Vegetal pela UENF, e atualmente é doutoranda em
Produção Vegetal pela UENF, área de Silvicultura.
madeira (Jussieu, 2009; Gouvêa, 2005). No Brasil, essa família engloba cerca de 88
espécies arbóreas, distribuídas entre os gêneros Azadiracha, Cabralea, Carapa, Cedrela,
Guarea, Melia, Swietenia, Toona e Trichilia (Flora do Brasil, 2018).
O gênero Toona foi originalmente descrito, em 1846, por Roemer. As folhas,
raízes, casca e a madeira de espécies do gênero Toona são utilizadas para fins medicinais
como fitoterápicos, por apresentar atividades: antifadiga, antifúngica, antibacteriana,
citotoxicidade, hipoglicemiante, antidiabético, antioxidante, antiúlcera, gastro-protetora,
anti-inflamatória, analgésica, anti-cancerígena e antiproliferativa, devido, principalmente,
à presença de cumarinas, flavonóides, fitoesterol, fenóis, taninos, alcaloides, triterpenos,
esteróides e antraquinonas (Negi et al., 2011).
A espécie foi descoberta por volta de 1790, na Austrália, e após o reconhecimento
do seu potencial madeireiro para construção naval e, posteriormente, para carpintaria,
passou a ser explorada intensivamente. Desta forma, em 1795, foi necessária a emissão
de regulamentos para controlar seu corte em áreas de ocorrência natural, passando a ser
conhecida como “ouro vermelho” (Bygrave & Bygrave, 2005).
Sua principal vantagem, em relação aos cedros brasileiros e a algumas espécies
da mesma família, é a ausência de ataques pela broca Hypsipyla grandella, praga cujos
danos compreendem, principalmente, a redução do valor da madeira em função de
bifurcações no tronco ocasionadas após dano na gema apical.
492
1. BOTÂNICA
O cedro australiano apresenta rápido crescimento, podendo atingir cerca de 20 a 35
m de altura (Figura 1 e 2). Seu tronco é ereto e cilíndrico, às vezes bifurcado, revestido por
casca de cor amarronzada e por casca interna marrom a avermelhada, fibrosa; madeira de
seiva branca, rosa ou vermelha, que exala cheiro forte quando cortada (Lorenzi et al., 2003;
Bygrave e Bygrave, 2005; Hua e Edmonds, 2008).
Segundo Pinheiro et al. (2003), citado por Casara (2016), o tronco de cedro
australiano apresenta sapopemas baixas, assimétricas e pouco desenvolvidas. A casca é
grossa, dura, com deiscência em placas retangulares e escamiformes, de coloração cinza a
marrom, com manchas de líquens.
493
Figura 3: Presença de lenticelas
em brotação de minicepas de cedro
australiano (Toona ciliata) oriundas
do minijardim clonal estabelecido
na Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro - UENF Foto:
Giovanna C.M.W. de Carvalho.
As folhas são alternas, mais comumente paripinadas, mas em algumas plantas da espácie
notam-se folhas imparipenadas (Figura 4 A e B). As folhas são compostas, em geral, por 4-9 pares
Silvicultura Tropical
de foliolos, alternos, de comprimento variado, mas crescente a partir da base da folha até o topo
onde apresenta menor crescimento (Figura 4 A e B).
A coloração das folhas é variável, mas em sua maioria são verdes bem escuras e as juvenis
apresentam coloração avermelhada (Figura 4 C).
A C
Figura 4: Folhas de cedro australiano (Toona ciliata) oriundas de minijardim clonal estabelecido
na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF. Foto: Giovanna C.M.W. de
Carvalho.
494
De acordo com Hua e Edmonds (2008), a espécie apresenta raquis frequentemente
avermelhadas, caracteristica esta observada no clone TC3 (Figura 5) estudado por Lamônica (2013),
Barros (2015) e Oliveira (2016).
A B
Figura 5: Detalhe da raquis avermelhada de folhas de brotações do clone TC3 oriundas do minijradim
O cedro australiano é uma espécie alógama (Pinheiro et al., 2003). Quanto à polinização, a
presença de nectários e de odor atrativo em suas flores, assim como o tamanho reduzido de seu pólen
(Vieira, 2013), sugerem que a espécie é polinizada por pequenos insetos, como abelhas e mariposas,
que, segundo Carvalho (2007), são polinizadores comuns em espécies da família Meliaceae.
As inflorescências, além de muito floridas e perfumadas, apresentam coloração branca a
branco cremoso; são terminais, pendular e as panículas atigem de 25 a 40 cm (Bygrave e Bygrave,
2005; Gouvêa et al., 2008; Hua e Edmonds, 2008).
Na antese, as flores maduras são morfologicamente bissexuais, mas funcionalmente
unissexuais, com os staminodes ou pistilloides sendo bem desenvolvidos nas flores funcionalmente
masculinas ou femininas, respectivamente. As pétalas e os estames não são adnados, mas os estames
são unidos ao ovário em sua base, em flores masculinas e femininas.
Nota-se ainda nas flores um nectário vermelho brilhante na base do gineceu. Nas flores
masculinas, a largura média do ovário é cerca de metade da observada nas flores femininas. O estigma
é capitato, com a diferenciação das papilas estigmáticas (Gouvêa et al., 2008). Os grãos de pólen da
espécie são considerados pequenos e apresentam alta viabilidade em todos os estádios durante a
abertura dos botões florais. Além disso, esta viabilidade é mantida mesmo após o armazenamento
por um período de um ano após a coleta dos mesmos, a qual pode ser realizada no estádio de flor
495
fechada. Essa característica é importante quando o objetivo é realizar polinizações controladas em
programas de melhoramento (Vieira, 2013).
O cedro australiano, apresenta frutos tipo cápsulas oblongas de 2 x 1 cm as quais começam
a apracer quando a planta atinge em torno de 6 a 8 anos. Suas sementes apresentam 1,5 x 0,5 cm
e coloração marrom claro; são aladas em ambas as extremidades, com asas desiguais (Bygrave e
Bygrave, 2005; Hua e Edmonds, 2008).
A B
Figura 6: Madeira de cedro australiano (Toona ciliata) no deposito da empresa Bela Vista Florestal.
Fotos: Foto: Ricardo Vilela, Bela Vista Florestal.
Também pode ser empregada em projetos de arborização (Lorenzi et al., 2003); produção
de painéis OSB ou Oriented Strand Board utilizados como paredes e tetos, base de pisos para
aplicação de carpetes, pisos de madeira, ladrilhos, tapumes e barracões de obras, carrocerias,
embalagens, estrutura de móveis, decoração e design (Iwakiri et al., 2014); confecção de painéis
cimento-madeira (Sá et al., 2010); produção de painéis aglomerados (Trianoski et al., 2014);
produção de painéis compensados (Albino et al., 2011); acabamentos internos, sem exposição a
umidade (Almeida et al., 2012); fabricação de moveis (Muller et al., 2004), dentre outras utilidades.
O cedro australiano produz madeira com densidade básica relativamente baixa, segundo
Trianoski et al. (2014), sendo os resultados apresentados pela literatura de: 0,337 g cm-3
496
(Pereyra et al., 2006), 0,306 g cm-3 (Ziech, 2008), 0,306 g cm-3 (Souza, 2008), 0,314 g cm-3
(Nassur, 2010), 0,304 g cm-3 (Ribeiro et al., 2011), 0,320 g cm-3 (Bufalino et al., 2012), 0,318 g
cm-3 (Braz et al., 2013), 0,33 g cm-3 (Trianoski et al., 2014).
Nisgoski et al. (2011), estudando a caracterização anatômica da madeira de cedro
australiano aos 18 anos, plantados na região de Corupá (SC), observaram que a madeira
apresenta cerne e alburno distintos, com coloração variando do castanho avermelhado ao
castanho rosado, anéis de crescimento distintos a olho nu, textura média a fina, com brilho e
grã regular, não sendo indicada para a produção de papel do tipo embalagem. Almeida et al.
(2012) caracterizaram a mesma como sendo de textura média, apresentando linhas vasculares
retilíneas, grã direita ou ligeiramente irregular (inclinada), com cheiro agradável ao corte, sem
gosto, com superfície radial pouco lustrosa, macia ao corte e cerne de coloração bege-rosado,
distinto do alburno que é marrom-claro.
Braz et al. (2013) classificaram a madeira de cedro australiano como leve, com
estabilidade dimensional intermediária e utilização limitada em situações que exijam maiores
497
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 Produção de sementes
A cada quilograma de sementes de cedro australiano são contabilizados cerca de 170.000 a
220.000 sementes (RAS Florestal, 2013), com percentual de germinação em torno de 70 a 90% (Souza
et al., 2010). O preço do quilo (Kg) das sementes varia conforme fornecedor e região (Tabela 1).
Tabela 1: Preço do quilograma de sementes de cedro australiano (Toona ciliata).
Preço/Kg em real Preço/Kg em dólar* Fornecedor
R$ 1.200,00 US$ 228,28 Fornecedor 1 - BA
R$ 1.300,00 US$ 247,31 Fornecedor 2 - SP
R$ 3.120,00 US$ 593,54 Fornecedor 3 - RS
R$ 990,00 US$188,33 Fornecedor 4 - SP
Levantamento realizado em maio de 2020. *Taxa: 5,2566 Real - Brasil= 1 dólar-EUA, data da cotação:
15/05/2020, Banco do Brasil - www.bb.com.br).
3.2 Fenologia
Na Austrália, mais precisamente no Lamington National Park (a 30 km do interior da costa, perto
de Brisbane no sudeste de Queensland), o período sem folhas da espécie é de junho a agosto, com
floração em outubro (Heinrich et al., 2009).
O pico de crescimento foliar em cedro australiano na costa sul de Nova Gales do Sul – Austrália, de
acordo com Bygrave e Bygrave (2005), compreende os meses de outubro a março. Os autores destacam
que a coloração das folhas em processo de expansão é inicalmente, vermelha, passando para castanho
avermelhado e por fim verde. A produção de brotações ocorre de setembro a janeiro, sendo esta mais
elevada entre novembro e dezembro. Quanto à floração, esta é acentuada em dezembro com frutificação
em março acompanhada da dispersão de sementes.
Os mesmos autores salientam que, nesse mesmo local, o cedro australiano geralmente perde
suas folhas no final do mês de maio e a nova folhagem começa no final de julho. Desta forma, o ciclo
sazonal de eventos citados ocorre durante um período de cerca de 9 meses.
Ainda sobre a fenologia foliar da espécie, classificada como decídua, a partir da análise de árvores
localizadas em uma floresta de Loharbond, (no distrito de Cachar, no sul de Assam e nordeste Índia), a
iniciação foliar inicia-se em março, com expansão total da folha (32,6 cm2 por folha) no mesmo mês, com
pico de massa seca das folhas (3,067 mg cm-2) em julho e com pico de nitrogênio na massa da folha madura
(0,043 mg cm-2) entre junho e julho. A vida útil de suas folhas é de 168 dias (Athokpam e Garkoti, 2015).
498
3.3 Época de floração
No Brasil, o cedro australiano floresce entre os meses de agosto e novembro, entretanto, devido a
fatores ambientais, já foi observada antecipação de mais de um mês (Gouvêa, 2005; Souza et al., 2010).
499
3.6 Armazenamento
As sementes de cedro australiano, apresentam comportamento ortodoxo (Pereira et al., 2015),
entretanto, perdem rapidamente o potencial de germinação após colhidas. Segundo Scocchi et al. (2006),
as sementes quando em temperatura ambiente, aos 4 meses, apresentam 50% do poder germinativo
e aos 9 meses 0%. Já em ambiente com temperatura reduzida (refrigerador a 4±1ºC), as sementes
apresentaram 50% de poder germinativo aos 8 meses e 10% aos 12 meses de armazenamento.
A redução no percentual de germinação também ocorre em outras condições. Em embalagem
multifoliada, em condições de temperatura ambiente (25±2°C), sementes de cedro australiano
apresentaram 78% de germinação após um mês de armazenamento, sendo o percentual reduzido para
54% aos seis meses (Blesa et al., 2017).
A variação no fotoperíodo de 12h e 24h de luz não influencia a germinação das sementes desta
espécie, cujos testes laboratoriais devem ser conduzidos em substrato sobre papel, de acordo com
Medeiros et al. (2015). Segundo o autor, a salinidade pode prejudicar o desenvolvimento das plântulas
da espécie, a partir da concentração de 20 mM.
Silvicultura Tropical
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 Propagação sexuada
A qualidade da muda produzida é de grande importância, pois garantirá o sucesso do plantio. A
produção de mudas do cedro australiano pode ser realizada via sementes. Para isso, devido ao tamanho das
mesmas, estas devem ser semeadas primeiramente em bandejas, sendo distribuídas de forma uniforme e
recobertas por uma fina camada do mesmo substrato utilizado (Kalil Filho e Wendling, 2012).
Quanto ao substrato ideal para emergência de plântulas, Migliorini et al. (2015) recomendam
a utilização dos substratos compostos de casca de arroz carbonizada e vermiculita, visto maior
desenvolvimento inicial da espécie.
A germinação das sementes ocorre dentro de 7 a 21 dias e as plântulas devem ser repicadas com
cerca de 5 cm de altura (Kalil Filho e Wendling, 2012).
500
O recipiente mais utilizado para a espécie é o tubete, entretanto o volume do mesmo pode
influenciar o crescimento e desenvolvimento das mudas, principalmente do sistema radicular.
Desta forma, o tubete recomendado para produção de mudas da espécie é o de 280 cm3 por
proporcionar maior crescimento em altura e diâmetro à altura do colo (Lisboa et al., 2012).
Além do recipiente, o substrato é um dos insumos mais importantes para a produção de
mudas florestais. Em geral para produção de mudas da espécie utiliza-se substrato florestal comercial.
Portanto, a escolha do mesmo deve ser feita em função de suas características físicas e químicas, bem
como das condições ambientais no viveiro. A utilização de biossólido ou lodo de esgoto tratado como
um dos componentes do substrato de mudas de cedro australiano é recomendado nas proporções
de 70 a 100% com diferentes proporções de outros componentes como terra de subsolo (até 30%),
esterco bovino e substrato comercial (Caldeira et al., 2012).
Para a produção de mudas de cedro australiano, em geral, utiliza-se adubos de liberação lenta em
mistura com o substrato. Esses são responsáveis pela distribuição gradual dos nutrientes, favorecendo a
sincronização entre a liberação e demanda de nutrientes requeridos pela planta (Shaviv, 2001).
501
A B
Figura 7: Mudas formadas por estaquia após coleta de brotações da cepa, oriundas do resgate
vegetativo de cedro australiano (Toona ciliata) por corte raso. Fotos: Kelly Ribeiro Lamônica.
Lamônica (2012) também avaliou outros métodos de resgate de materiais adultos no campo
como anelamento e semianelamento, além da coleta de galhos, porém sem sucesso na fase de
Silvicultura Tropical
A b
Figura 8: Resgate vegetativo de cedro australiano (Toona ciliata) por Brotações de ramos adultos
em leitos de areia. Fotos: Kelly Ribeiro Lamônica.
Além da estaquia, o cedro australiano pode ser propagado com sucesso por miniestaquia
(Figura 9 e 10) (Ferreira, 2009; Silva et al., 2012; Lamônica, 2013; Souza et al., 2014; Maluleque,
2014; Oliveira, 2016; Barros, 2015), sendo viáveis as miniestacas obtidas de todas as posições ao
longo das brotações (Ferreira et al., 2012), com miniestacas apresentando elevado percentual de
enraizamento (100%) sem necessidade de aplicação de reguladores de crescimento (Souza et al.,
2009; Lamônica, 2013).
A produtividade de miniestacas é variável conforme condução e manejo do minijardim
(Tabela 2), o que determinará a capacidade produtiva do viveiro.
502
A B
A B
C D
Figura 10: A. Minijardim clonal de cedro australiano (Toona ciliata) estabelecido na empresa Bela
Vista Florestal; B. Coleta de miniestacas de cedro australiano; C. Mudas clonais de cedro australiano
e D. Sistema radicular de muda clonal de cedro australiano. Fotos: Ricardo Vilela, Bela Vista Florestal.
503
A utilização de miniestacas foliares não é recomendado para espécie, pois apesar do
alto percentual de enraizamento (96%) as mesmas não apresentaram emissão de brotação
após enraizamento, não havendo, portanto, crescimento e desenvolvimento da parte aérea
(Moraes et al., 2014).
Tabela 2: Produtividade de miniestacas/minicepa de cedro australiano (Toona ciliata)
estabelecidos em diferentes sistemas.
Referência Sistema Tipo de miniestaca Produtividade Nº Coleta/Intervalo
Ferreira 2009 Canaletão Caulinar 3,6 7 / 15 dias
Canaletão Caulinar 3,5 6 / 32 dias
Silva et al. 2012
Tubete Caulinar 1,24 4 / 32 dias
Lamônica 2013 Canaletão Caulinar 2,59 a 4,54 10 / 30 dias
Canaletão Caulinar 2,6 5 / 32 dias
Souza et al. 2014
Tubete Caulinar 1,0 3 /31 dias
Clones propagados por miniestaquia apresentam maior controle da perda de água através
das folhas, em comparação com mudas oriundas de sementes (Oliveira et al., 2019). Entre os três
Silvicultura Tropical
clones estudados, não foi observada diferença na condutividade hidráulica das raízes, nem no
crescimento radicular. Todavia, houve variação no controle estomático entre os mesmos.
Além dos métodos de propagação citados anteriormente, a enxertia também foi estudada.
Todavia, com o objetivo de conferir resistência à broca Hypsipyla grandella em espécies da mesma
família suscetíveis ao ataque. Os estudos mostraram que podem ocorrer problemas como a
incompatibilidade entre os materiais, verificadas no enxerto de Toona ciliata em Swietenia macrophylla
(Perez et al., 2010), inviabilizando a utilização da técnica. Alem disso, não foi relatado problemas de
incompatibilidade no autoenxerto de cedro australiano.
Na enxertia de Cedrela fissilis (enxerto) em cedro australiano (porta-exerto) o pegamento
observado foi de 95%, resultado superior para mesma combinação de espécies utilizando o cedro
australiano como enxerto que apresentou pegamento de 60% (Kalil Filho e Hoffmann, 2008).
4.4 Nutrição
As mudas da espécie devem ser adubadas para manter seu vigor de crescimento e
desenvolvimento, visto a elevada exigência nutricional (Souza et al., 2010; Moretti et al., 2011).
Os nutrientes N, P, K, S e Mg, além do calcário, limitam o crescimento inicial das plantas. E entre os
micronutrientes o Cu foi o que mais limitou o crescimento inicial em altura. Desta forma, a ordem de
exigência nutricional apresentada pelas plantas de cedro, verificado por Moretti et al. (2011), é P, N, S,
Ca, K, Mg e Cu.
504
Fontes et al. (2013) estudou o efeito de cinco doses de fósforo (20, 100, 200, 300 e 400
mg dm–3) e dois níveis de calagem (0,0 e 0,5 vezes a necessidade de calagem) em mudas de
cedro australiano conduzidas em casa de vegetação. Os autores observaram comportamento
linear da espécie em resposta à adição de doses de P e a calagem. Para o primeiro caso os
autores inferem que a fração do P (5 - 173 mg dm-3) disponível para absorção da planta estava
abaixo do ideal à expressão da máxima produção de biomassa, assim esta apresentou menor
resposta à adição de P. Além disso, os autores sugerem que o cedro apresente algum mecanismo
de regulação de acúmulo de P na parte aérea em virtude do comportamento quadrático à adição
de P, em relação à eficiência de translocação deste nutriente.
Em estudo com clones de cedro australiano Lamônica (2013) verificou que o potássio foi o
nutriente mais exportado pelas minicepas dos três clones, seguidos do N, Ca, P, Mg, S, Mn, Fe, Zn, B e
Cu. Resultados semelhantes foram obtidos por Souza et al. (2014), que verificaram que os nutrientes
mais extraídos pelas minicepas, no decorrer das coletas de miniestacas, em minijardins conduzidos
em canaletão e tubete, foram o nitrogênio e o potássio. Oliveira et al. (2019), trabalhando com a
505
Tabela 3: Descrição dos sintomas visuais de deficiência nutricional em Toona ciliata.
Nutriente Sintomas
Redução do tamanho; menor número de folhas; folhas velhas com coloração
Nitrogênio (N) verde-pálida progredindo para amarelo intenso uniforme no limbo, pecíolo
e nervuras.
Menor crescimento das plantas; menor número de folhas; raiz principal
Fósforo (P) mais longa e com poucas raízes laterais; folhas com tonalidade amarelada,
com pouco brilho e, posteriormente, arroxeadas.
Redução do tamanho da planta; clorose marginal a partir do ápice das folhas
Potássio (K) mais velhas avançando em direção à parte central, por entre as nervuras;
necrose das folhas.
Folhas mais novas recurvadas para baixo e com surgimento de clorose
Cálcio (Ca) seguida por necrose nas pontas; redução do número de folhas; raízes menos
desenvolvidas e espessas, com poucas raízes laterais e de coloração escura.
Magnésio (Mg) Clorose internerval das folhas mais velhas; redução da altura das plantas.
Coloração verde nas folhas novas, em um tom mais claro; crescimento em
Enxofre (S)
altura reduzido; prejuízos desenvolvimento da raiz.
Fonte: Moretti et al. (2011).
Silvicultura Tropical
A identificação dos sintomas visuais de deficiência ou toxidez de nutrientes em plantas
constitui uma ferramenta que deve ser utilizada em conjunto com a análise química da planta e do
solo, com o objetivo de realizar correções no programa de adubação. Esses trabalhos evidenciam
a necessidade de programa de adubação diferenciado entre os materiais genéticos da espécie, a
fim de se obter resultados positivos quanto ao vigor e sobrevivência das mudas produzidas após
plantio no campo.
506
A B
C
Figura 11: A e B.
Hibridação em cedro
australiano realizado
pelo Professor
Sebastião Carlos da
Silva Rosado (UFLA); C.
Plantio de sementes ao
lado de plantio clonal
de cedro australiano
507
No Brasil a espécie desenvolve-se em áreas com precipitação anual de 1.100 mm (Souza
et al., 2010). Apesar de ser considerada moderadamente tolerante à falta de água, a mesma é
altamente responsiva à quantidade de água disponibilizada durante seu cultivo, porém não tolera
longos períodos de encharcamento.
508
para disponibilização de nutrientes, atendendo assim as exigências nutricionais nos estágios iniciais
de crescimento da cultura, mesmo com teor médio no solo de 4,5 mg dm-3. Os mesmos autores
avaliaram também o crescimento do cedro sob quatro doses nitrogênio (0, 25, 50 e 75 kg ha-1 de N),
recomendando 44 kg ha-1 de N.
6.3 Epaçamento
A empresa Bela Vista Florestal recomenda os espaçamentos 3x4 m e o 3,5 x 3,5 m, não sendo
indicados os espaçamentos menores do que 9 m2 por planta e maiores que 13 m2/planta, devido à
intensidade de desbastes e ausência de testes em espaçamentos maiores.
A cultura tem sido utilizada na Zona da Mata, Minas Gerais, em sistemas agroflorestais (SAF)
com café, com o intuito de diversificar a produção, bem como a conservação, por meio do aumento
da matéria orgânica do solo. Muller et al. (2004) verificaram que o espaçamento 2,5 x 3 m não é
recomendado para o sistema, pois o adensamento da espécie florestal reduziu a produtividade do
café. Em contrapartida, no sistema com café no espaçamento 2 x 1,2m e cedro em fila indiana, a
6.4 Plantio
O plantio deve ser realizado de preferência no período chuvoso, sendo recomendação a
utilização de irrigação durante veranicos e plantios tardios. As mudas devem ser plantadas de forma
que parte de cima do torrão fique nivelado ao solo (Figura 12), evitando o excesso de terra sobre o
caule da muda, que pode ocasionar a queima do mesmo e, consequentemente, a morte da planta
levando a falhas no plantio.
Dentre as recomendações, logo após o plantio está a reposição de plantas que morreram, a
fim de evitar a irregularidade do povoamento, bem como roçadas na linha de plantio e coroamento
das mudas para impedir e/ou reduzir a mato competição.
509
A B
C D E
Silvicultura Tropical
Figura 12: Plantio correto de mudas de cedro australiano realizado no Primeiro dia de Campo
sobre cedro australiano da Bela Vista Florestal em 2016. A. Modelador de cova para plantio
das mudas; B. Muda de cedro australiano na cova; C. Fechamento da cova; D. Muda plantada; e
E. Cone de papel (patenteado pela empresa Bela Vista Florestal) que tem por objetivo proteger
a muda contra queima das raízes, escaldadura do caule pelo aquecimento do solo no verão.
Fotos: Giovanna C.M.W de Carvalho
510
aos dois anos após o plantio. As demais deverão ser feitas paralelamente ao desbaste e de acordo com
o crescimento da planta.
A B c
d e
É importante que a desrama não exceda 50% da altura da planta, a fim de não comprometer o
crescimento das mesmas e a formação do fuste (Souza et al., 2010) ou 30% do volume de folhas (Bela
Vista Florestal, 2018) devendo ser realizadas rentes ao tronco.
A empresa Bela Vista Florestal (2018) recomenda três períodos de desramas leves na
implantação. A primeira, desrama de condução, aproximadamente aos 7 meses; a segunda desrama
de galhos baixos, aos 19 meses e a desrama de galhos altos aos 31 meses; podendo haver a
necessidade de podas de galhos em plantas que apresentem bifurcação.
Povoamentos com mudas produzidas por sementes, no espaçamento 3 x 2 m, podem ter o
primeiro desbaste realizado entre 2 e 5 anos com remoção seletiva de 60% dos indivíduos, e o segundo
aos 10 anos, com a remoção de 50%, conforme a heterogeneidade do material. Desta forma ao final do
ciclo 80% das plantas serão desbastadas, com população final de 333 plantas/ha. Para povoamentos
clonais, com máximo 12 m2 e mínimo de 9 m2 por planta, também são recomendados dois desbastes,
sendo o primeiro entre 2 e 3 anos, com a remoção seletiva dos 25% indivíduos inferiores, o segundo, aos
8 anos, pode ser realizado de forma sistemática eliminando 50% do estande (Bela Vista Florestal, 2018).
511
Figura 14: Desrama
de cedro australiano
(Toona ciliata) em
plantio consorciado
com café realizado na
empresa Bela Vista
Florestal em 2016.
Foto: Ricardo Vilela,
Bela vista Florestal.
7. POTENCIAL PRODUTIVO
O corte do cedro australiano (Figura 15, 16 e 17) de acordo com Souza et al. (2010) pode
ocorrer, aproximadamente, aos 12 anos. Contudo, experiências com a espécie obtidas em plantios na
Silvicultura Tropical
empresa Bela Vista Florestal mostram que o corte deve ser realizado a quando a planta apresentar no
mínimo 50 cm de DAP, por volta dos 15 anos após o plantio. Diante disso, a colheita pode ser antecipada
ou adiada levando-se em consideração as condições do povoamento e a finalidade da madeira.
De acordo com Souza et al. (2010), a produtividade média do cedro australiano aos 10
anos, é de 150 m3 ha-1. Segundo a Bela Vista floresta inventários feitos mostram que produtividade
anual de cedro australiano clonal está entre 17 e 37 m3 ha-1, até o terceiro ano. A empresa destaca
que para plantios de cedro oriundos de sementes a produtividade esperada é de 15 m3.ha-1.ano e
para clones, de 30 m3.ha-1.ano.
O crescimento da espécie em Adrianópolis – PR foi avaliado por meio dos anéis de crescimento.
Para isso foram coletados discos a 1,30 m de altura (DAP) e estabelecidas classes diamétricas ao longo
do tempo, sendo observadas diferenças de crescimento entre as mesmas. As árvores enquadradas
na classe de menor diâmetro apresentaram menor incremento (1,0 cm/ano) logo após o plantio,
enquanto as demais classes apresentaram crescimento inicial satisfatório. No entanto, segundo o
autor este incremento foi inferior ao encontrado pelo mesmo na literatura para espécie. As árvores
com diâmetro na classe intermediaria (21,5 a 25,6 cm) apresentaram crescimento lento a partir do
quarto ano e as de maior diâmetro (máx. 43,1 cm) tiveram o crescimento estabilizado a partir do nono
ano de cultivo (Ricken et al., 2011). Estas avaliações ajudam a definir o manejo da cultura.
De acordo com a Bela Vista Florestal para o cedro oriundo de mudas de sementes no 5º ano
realiza-se desbaste seletivo de 1.000 plantas (30 m3 de lenha); no 10º ano, desbaste seletivo de 333
512
plantas (48 m3 rendimento na serraria de 33%, ou 16 m3 serrados); no 15º ano, corte raso de 333
plantas (122 m3, rendimento na serraria de 50% ou 61 m3 serrados). Para clones, realiza-se desbaste
seletivo no 2º ano de 200 plantas (15 m3 de lenha); no 8º ano desbaste seletivo de 300 plantas (120
m3, rendimento na serraria de 33% ou 40 m3 serrados) e no 15º ano, corte 300 plantas (220 m3,
rendimento na serraria de 50% ou 110 m3 serrados).
Os custos de implantação da espécie variam com a localização da propriedade e condições da área.
O retorno estimado para plantios de cedro por clones desenvolvidos pela Bela Vista Florestal, segundo a
empresa, pode ser o dobro de povoamentos implantados a partir de sementes hoje disponíveis no mercado.
Com o objetivo determinar o fator de forma para o cedro australiano, uma cubagem foi
realizada a partir de 117 árvores pertencentes a um plantio comercial, em espaçamento 3 x 2 m,
estabelecido em 1999 na Fazenda Berneck, localizada em Adrianópolis – PR. O volume real médio
por árvore da madeira de cedro australiano com casca foi de 0,52 m3 e sem casca foi de 0,49 m3. Os
fatores de forma (volume real / volume cilíndrico) médios calculados para árvores individuais com e
sem casca foram de 0,54 e 0,51, respectivamente (Kalil Filho et al., 2019).
c d e
Figura 15. Colheita de cedro australiano com 8 anos (Toona ciliata) realizada na empresa Bela Vista
Florestal. Foto: Ricardo Vilela, Bela vista Florestal.
513
A b
Figura 16. Colheita de toras de cedro australiano (Toona ciliata) com 50 a 70 cm de diâmetro, aos
12 anos após o plantio, obtidas a partir de plantio consorciado com café, realizado pela empresa
Bela Vista Florestal. Foto: Ricardo Vilela, Bela vista Florestal.
Silvicultura Tropical
8. PATOLOGIA FLORESTAL
O ataque de pragas e o desenvolvimento de patógenos, dependendo do nível dos danos, podem
inviabilizar um plantio. Segundo Abrahão (2012), trabalhando em plantios e remanescentes florestais de Mata
Atlântica em propriedades particulares vinculadas ao Programa de Conservação da Biodiversidade em Terras
Privadas, promovido pelo Instituto BioAtlântica –IBio, em uma dessas propriedades, localizada Jaguaré – ES, o
cedro australiano foi a espécie que apresentou maior número de indivíduos recrutas. Entretanto, a espécie se
destacou pela maior frequência de indivíduos mortos, devido ao desenvolvimento comprometido pela ação
de insetos, sendo este detectado pela presença de perfurações nos fustes causados possivelmente por cupins.
8.1 Doenças
O fungo fitopatogênico Phyllachora balansae Speg. tem sido comumente encontrado em
folhas e hastes de cedro australiano e em outras espécies da mesma família (Viana et al., 2012;
Zacaroni et al., 2013; Silva, 2014).
514
Para cedro-rosa (Cedrela fissilis), pertencente à mesma família do cedro australiano, os sintomas
da doença podem ser descritos inicialmente pelo aglomerado de pontuações pretas sobre o limbo
com posterior amarelecimento desta região, formando uma mancha irregularmente arredondada, de
coloração marrom, podendo ou não ser circundada por uma borda amarela (Viana et al., 2012). Segundo
os autores, pode haver a formação de grandes áreas cloróticas, dando à folha um aspecto de mosaico.
A remoção das folhas afetadas pela doença e aplicação de caldas com ação fungicida podem ser
utilizadas para o controle, não havendo ainda na literatura produtos químicos específicos para cultura.
Em regiões da Índia foram relatadas presença de fungos cercosporioides em cedro australiano, como
Pseudocercospora toonae em mudas, apresentando rápida disseminação no viveiro; Pseudocercosporella
miliusae em plantas jovens no campo, com cerca de 2 m de altura, e Pseudocercospora duabangae, presente
nas folhas maduras, em florestas naturais e plantios (Mehrota e Verma, 1991).
No Brasil ainda não há relatos da ocorrência de fungos cercosporioides em cedro australiano.
Contudo, Silva (2014) observou em mudas de cedro australiano, do viveiro florestal do Departamento
de Ciências Florestais da UFLA, manchas de cor marrom no limbo foliar, com formato circular irregular a
9. OUTRAS INFORMAÇõES
O cedro australiano foi identificado como uma das espécies arbóreas promissoras para
a pesquisa dendroclimatológica na região da Australasia (região que inclui a Austrália, Nova
Zelândia, Nova Guiné e pequenas ilhas da parte oriental da Indonésia), uma vez que foi observada
produção anual de aneis distintos, característica essa considerada um pré-requisito para a
dendroclimatologia tropical de alta qualidade (Heinrich et al., 2009). Este estudo mostrou que as
diferenças nas larguras dos anéis dependem principalmente da precipitação anual.
O cedro australiano está entre as espécies arbóreas de preferência dos morcegos Pteropus
515
giganteus para formação de colônias de poleiros ativas, observadas em florestas fragmentadas de
Tripura, nordeste da Índia. Durante o dia ensolarado esta espécie prefere folhas maiores devido ao maior
sombreamento das mesmas e, às vezes, mudam para folhas compostas paripinadamente (lotadas no
final do galho) como as de cedro australiano, as quais ajudam a manter a escuridão e a temperatura
necessárias durante o periodo da tarde (Majumdar et al., 2016).
10. REFERêNCIAS
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523
Trithrinax acanthocoma Drude
(ARECACEAE)
Pablo Melo Hoffmann
Engenheiro Florestal, graduação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Doutorando em Ciências Florestais (UFPR). Atualmente Diretor Executivo da
Sociedade Chauá e Coordenador do Viveiro Chauá de espécies nativas da Floresta
com Araucária.
Jeniffer Grabias
Bióloga, graduação Bacharel em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário
Autônomo do Brasil (Unibrasil). Mestre em Engenharia Florestal pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Atua como consultora em conservação da natureza na
Sociedade Chauá.
Marilia Borgo
Bióloga, graduação em Ciências Biológicas, Mestrado em Botânica e Doutorado
em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente
é especialista em Serviços Ambientais da The Nature Conservancy, trabalhando
com desenvolvimento e implementação de projetos florestais de carbono e
suporte a estratégias de pagamento por serviços ambientais.
524
1.Botânica
1.1 Distribuição
Nativa no bioma Mata Atlântica (Flora do Brasil 2020). No Brasil, a espécie ocorre nos Estados
do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, associada principalmente à Floresta com Araucária,
sendo encontrada em áreas montanhosas e abertas (Reitz 1974). É citada como elemento estranho
na zona litorânea dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Cano et al. 2013). Nos dias de
525
Em um levantamento de indivíduos em uma população em Laranjeiras do Sul, PR, encontrou-
se 145 indivíduos adultos. Contudo, em levantamento expedito, verificou-se que a regeneração é
próxima de zero. Constatou-se também a existência de populações naturais em meio áreas de floresta
ciliar na região de Irati-PR, existindo poucos indivíduos regenerando no sub-bosque.
A B
c d
Silvicultura Tropical
Figura 1: Folhas (a), inflorescências (b), frutos (c) e semente (d) de Trithrinax acanthocoma.
526
• Senescência foliar: perenifólia.
• Flor: planta monóica; 2-7 inflorescências interfoliares (Figura 1b); racemos com
pedúnculos, 6-7 ramificações principais; flores espiraladas, 7-8 mm de largura, coloração
pálido amarelada(Cano et al. 2013, Soares et al. 2014).
• Fruto: drupa globosa, pálido amarelada, com 2-4 cm de diâmetro (Figura 1c); uma
semente por fruto(Figura 1d) (Cano et al. 2013, Soares et al. 2014).
• Características organolépticas: não possui.
• Outras características: raízes adventícias a até 3 m do solo (Cano et al. 2013,
Soares et al. 2014); a espécie é tolerante a climasfrios, suportando de-5 até -10 °C,em
condições de ambiente seco.
3.Tecnologia de sementes
3.1 Fenologia
3.1.1 Floração
A floração acontece de dezembro a março (Pingitori 1978), sendo também observada em
julho e agosto em indivíduos cultivados na região de Campo Largo, PR (Hoffmann et al. 2015).
527
cientificamente. É provável que isso esteja relacionado à falta de polinizadores, variações de
temperatura e eventos climáticos fora do padrão.
Para melhor aproveitamento e menor risco de perda de viabilidade das sementes,
recomenda-se fazer a coleta diretamente da planta. Na maioria dos casos, faz-se necessário o
uso de uma tesoura de poda alta com haste telescópica. A coloração amarelada, textura carnosa
e queda espontânea são bons indicativos de maturidade dos frutos.
Em indivíduos no ambiente natural foi observada, com frequência, a predação de frutos
imaturos ainda na planta mãe, assim como, a predação das sementes no solo. Isso demonstra
indícios da importância da espécie para a manutenção da fauna silvestre.
528
A B
Figura 2: Emergência de plântulas em composto orgânico com vermiculita (a) e detalhe das
raízes de plântulas de Trithrinax acanthocoma(b).
3.4.Quebra de dormência
A espécie não necessita de quebra de dormência.
3.5.Armazenamento
Recomenda-se não armazenar por longo período devido ao comportamento recalcitrante.
De forma geral, as espécies do gênero Trithrinax podem ser armazenadas por mais tempo (alguns
meses) que outros gêneros da mesma família, principalmente pela espessura do tegumento
(Costa & Marchi 2008, Meerow & Broschat 2015).
4.Produção de mudas
4.1 Método de semeadura e produção
A germinação é geralmente baixa e não uniforme, podendo durar de quatro até dez
meses (Tabela 2). Em experimento em viveiro, sementes oriundas de 12 matrizes localizadas na
ARIE Buriti, em Pato Branco-PR, foram depositadas em sementeiras de poliuretano e mantidas
em casa de vegetação. Foram feitas quatro repetições de 100 sementes, em substrato com
composto orgânico comercial.
529
Tabela 2: Emergência de Trithrinax acanthocoma em sementeiras com composto
orgânico comercial.
E% TMG IVG
Média 43,50 295,92 0,15
DP 15,37 12,02 0,05
CV 35,34 4,06 35,49
DP: desvio padrão; CV: coeficiente de variação (%); E%: porcentagem de emergência; TMG: tempo médio
de germinação; IVG: índice de velocidade de germinação.
4.2.Manejo
• Repicagem para vasos: Recomenda-se fazer a repicagem para embalagem
plástica individual quando as plântulas estiverem com pelo menos 10 cm de altura e
com sistema radicular desenvolvido. É necessário fazer a repicagem para embalagens
grandes (aproximadamente 1,7 L) (Figura 3).
• Substrato para mudas em viveiro: em viveiro, o crescimento é satisfatório
quando utilizado substrato preparado comercial, composto orgânico e areia na
proporção de 4:2:1;
• Condições de luz: apesar de tolerar luminosidade, recomenda-se ter cuidado
em deixar mudas de pequeno porte expostas ao sol; após período de adaptação
de cerca de 30 dias, as mudas maiores passam a tolerar muito bem a incidência
luminosa direta;
1 Anderman, L. Informações sobre produção de mudas de Trithrinax acanthocoma. Viveiro Porto Amazonas, Porto Amazonas, 10
de maio 2018. Comunicação verbal.
530
• Cuidados com as mudas: não foram observadas pragas ou doenças, mesmo
em cultivos comerciais de média e grande escala. As maiores limitações da planta
referem-se ao espaço disponível no recipiente do plantio e a deficiências nutricionais.
5.2 Espaçamento
O espaçamento mínimo de 1,5 m se mostrou adequado para plantas de 1,5 m de altura (“ponta
de folha”). Plantios com espaçamento de 1 m também foram testados, mas são mais adequados para
a produção de plantas de menor porte.
531
O diâmetro de copa raramente ultrapassa 2,5 m, e comumente, na natureza, os indivíduos
crescem muito próximos uns dos outros. Desta forma, não há restrições para o uso de um espaça-
mento menor no local de plantio definitivo. No paisagismo pode agregar valor estético e aspecto
natural ao uso da espécie em agrupamentos.
5.3 Adubação
Para a produção em média escala foi constatada eficiência do uso de macronutrientes NPK
(Nitrogênio-Fosforo-Potássio) e micronutrientes adicionalmente ao sulfato de ferro (Anderman,
L., op. cit.,p. 6).
a espécie também se desenvolveu bem em solos mais argilosos e pouco drenados, denotando
sua a versatilidade (Sociedade Chauá, dados não publicados).
532
Foi constatado que a espécie sofre estresse logo após o envase. Para minimizar essa situ-
ação, recomenda-se que o envase seja realizado nos meses de inverno e as plantas sejam então
alocadas em estufa sombreada até o verão, quando devem retomar o crescimento com maior vigor.
Outra prática utilizada, inclusive em outros países, é a mudança progressiva de vasos
menores para maiores. Esse sistema tem maior custo de implantação, mas a planta apresentará
melhor qualidade e crescimento contínuo (Anderman, L., op. cit.,p. 6).
No caso de uso para reintrodução e restauração de áreas degradadas, plantas menores
têm excelente sobrevivência em campo quando há o controle de mato-competição.
Em relação ao uso de folhas para confecção de chapéus, segundo Pereira et al. (2011), a
coleta deve ser feita de forma manual, retirando-se somente as folhas intermediárias, aptas ao
uso neste tipo de artesanato. Recomenda-se retirar de 2 a 3 folhas de cada palmeira. A coleta de
Para uso como ornamental, tendo como produto final plantas de 1,50 m de altura, o ciclo
é de cerca de seis anos a partir da semeadura. Segundo Soares et al. (2014), a espécie apresenta
o crescimento vegetativo mais rápido do gênero. Em indivíduos cultivados em Campo Largo, PR,
a primeira floração ocorreu após dez anos, e a primeira frutificação aos 13 anos após o plantio.
Para a produção de mudas para reintrodução da espécie, são necessários cerca de 3 anos desde
a semeadura.
7.Potencial produtivo
7.1 Rendimento econômico
Para a produção de plantas de 1,5 m, recomenda-se plantio com espaçamento de 1,5
m, o que resulta em aproximadamente 4.400 indivíduos em um hectare. Na região de Curitiba,
uma planta deste porte é vendida ao preço de R$ 90,00 a R$ 120,00, diretamente do produtor.
Mudas com altura de 35 cm, têm o custo de produção de aproximadamente R$ 25,00.
Na Europa e nos Estados Unidos a espécie é amplamente comercializada, e o preço para
plantas de maior porte pode variar de $ 38,00 até $ 213,00. Mudas menores (de até 25 cm) cus-
tam de $ 3,15 até $ 35,40, e as sementes podem variar de aproximadamente $ 2,00 a $ 19,45
(Tabela 3).
533
Tabela 3: Preços de plantas e sementes de Trithrinax achantocoma na Europa e nos Estados Unidos
(USD 1,00 = BRL 3,70).
8. Patologia florestal
8.1 Doenças e pragas
Até o momento não foram relatadas pragas.
534
9. Outras informações
A espécie é extremamente rara na natureza e ocorre em pequenas populações relictuais
nos estados do sul do Brasil. Esforços para a manutenção das populações naturais devem ser
desenvolvidos concomitantemente a ações relacionadas à produção comercial.
Justamente por seu uso ornamental, a espécie foi bastante explorada e indivíduos
adultos eram comumente retirados da natureza. A coleta predatória de frutos também foi
causadora do declínio das populações naturais.
Outro fator importante que já foi e continua sendo uma ameaça à espécie é a conversão
de áreas naturais em pastagens e áreas para agricultura. O carandaí normalmente ocorre em
áreas abertas e em campos naturais que são as fisionomias mais degradadas e ameaçadas de
10. Referências
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537
Virola surinamensis - Ucuúba
Aparecida Juliana Martins Corrêa
Engenheira Florestal, graduação em Engenharia Florestal e Mestrado pela Universidade Federal
de São Carlos (UFSCAR) e Doutoranda do Programa de Planejamento e Uso dos Recursos
Renováveis - PPGPUR da Universidade Federal De São Carlos (UFSCAR) - Campus Sorocaba
Ivonir Piotrowski
Engenheiro Ambiental, graduação em Engenharia Ambiental pela Universidade de Sorocaba
(UNISO), Técnico Agropecuário, Mestre e Doutorando do Programa de Planejamento e Uso dos
Recursos Renováveis- PPGPUR - UFSCAR- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - CAMPUS
SOROCABA
1. BOTÂNICA:
1.1 BIOMA
538
1.2 NOME COMUM
Ucuúba, ucuúba da várzea, ucuúba branca, ucuúba verdadeira, ucuúba amarela, ucuúba
branca, ucuúba cheirosa, andiroba (CE), árvore do sebo, bicuíba, noz moscada (PA) (Lorenzi 2014),
urucuba, mucuíra, ucuúba de baixio, ucuúba de igapó (Flora do Brasil 2020 2018).
1.4 FAMÍLIA: Myristicaceae
1.5 PORTE
De hábito arbóreo, atinge entre 25 a 35 m de altura e 60 a 90 cm de diâmetro a altura do
peito (DAP). Possui casca grossa, dura e fissurada, de coloração vermelho-amarronzada (Lorenzi 2014,
Virola surinamensis
Riba-Hernández et al. 2014), com raízes tabulares de sustentação (Piña-Rodrigues 1999) que chegam
a atingir até 3,0 m de altura em indivíduos de maior diâmetro (Figura 1).
Figura 1: Árvore de ucuúba - Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. em área natural de várzea
alta em Cotijuba, Belém, Pará (Autor: F.C.M. Piña-Rodrigues).
539
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
2.1 DENSIDADE E USO DA MADEIRA
2.2 EXTRATIVOS:
Espécie com potencial multiprodutos, da qual das sementes, ricas em gordura, ex-
trai-se a manteiga para a manufatura de sabão, velas, cremes e cosméticos, produtos far-
macêuticos e combustível (Rodrigues 1972, Galuppo & Carvalho 2001, Neves et al. 2002,
Silvicultura Tropical
Morais & Gutjahr 2009 e Lorenzi 2014), torta, para adubo e ração animal, devido ao alto teor
de nitrogênio nutricional (Rodrigues 1972), a casca e as folhas, junto com as sementes, tam-
bém são utilizadas para a fabricação de cosméticos (Figura 2) e produtos medicinais em geral
(Morais & Gutjahr 2009).
Figura 2: Linha de produtos cosméticos empregando extrativos das sementes e frutos de Virola surinamensis
(Rol. ex Rottb.) Warb. (acima) no Projeto “Conservação e Manejo de Ucuúba” envolvendo quatro comunidades
do estuário amazônico como parte de convênio entre a Universidade Federal de São Carlos e Natura (Autor:
Natura Inovação, Programa de Pesquisa em Bioagricultura) e resina extraída do caule, empregada fins medicinais
utilizada amplamente por indígenas como cicatrizante (abaixo) (Foto: os autores).
540
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.2 FENOLOGIA
Planta dioica, polinizada principalmente por dípteros, visitada também por himenópteros,
coleópteros e homópteros (Piña-Rodrigues, 1999; Jardim & Mota 2007). As flores femininas são
menos numerosas e menores do que as masculinas, situando-se na parte superior da copa, muitas
vezes dificultando a sua visualização do solo a olhos nus (Piña-Rodrigues 1999). As masculinas são
abundantes, pequenas e localizadas na parte mais externa da copa, sendo facilmente identificadas
as plantas em floração (Figura 3). Estudos realizados (Piña-Rodrigues, 1999; Jardim & Mota 2007)
sobre a polinização e fenologia da espécie em diferentes regiões do estuário amazônico indicaram a
ocorrência de períodos diferenciados de floração entre plantas femininas e masculinas.
3.3 ÉPOCA DE FLORAÇÃO
Entre junho e março, com picos entre novembro e fevereiro (Rodrigues 1976, Rodrigues
Virola surinamensis
1980, Riba-Hernández et al. 2014). Ao longo de 37 meses, 34 plantas de uma população equiânea
foram avaliadas (Piña-Rodrigues 1999). Constatou-se a floração contínua da população, com maior
sincronia e percentual de plantas em floração entre as femininas que apresentavam floração com
duração mais curta ( menor ou igual a 30 dias) do que as plantas masculinas (maior do que 45 dias
por planta), mas com picos de floração no período seco (julho-agosto) e chuvoso (outubro a fevereiro).
As plantas masculinas apresentaram mais dois eventos de floração anual, com intervalos entre 4 a 6
meses, variável conforme o indivíduo e, apenas 22% das plantas masculinas apresentaram floração
contínua ao longo do ano, se caracterizando como indivíduos-chave na promoção do fluxo gênico.
A maioria das plantas da população apresentou apenas um evento de floração por ano. De maneira
geral, as plantas masculinas apresentaram frequência subanual (floração mais de uma vez ao ano)
enquanto entre as femininas se constatou dois padrões distintos, um grupo anual, com florescimento
anual único (42,9%) e supra anual com duas florações por ano a cada seis meses (14,2%).
O padrão de floração contínuo da população pode ser ocasionado pelas diferenças de fre-
quência e duração da floração entre plantas de diferentes sexos. Para as plantas masculinas, a sobre-
posição dos padrões de floração de plantas com duração prolongada e de plantas subanuais podem
caracterizar esta continuidade (Piña-Rodrigues 1999). Entre as femininas, a floração de diferentes
plantas em épocas distintas e por períodos de curta duração e que se sobrepõem ou se alternam com
masculinas, ocasionam o padrão observado de floração contínua na população. Foi constatado que
algumas plantas masculinas apresentaram maior valor reprodutivo (sincronia de floração com plan-
541
tas femininas), contudo o estudo conduzido evidenciou que poucas plantas foram responsáveis pela
maior proporção de fluxo de pólen, sendo que apenas 3,1% das plantas apresentaram sincronia no
processo reprodutivo (floração sincronizada).
Silvicultura Tropical
Figura 3: Planta dioica com flores masculinas, pequenas e abundantes (acima, à esquerda) e
sua distribuição na copa de uma planta masculina (à direita). Flores femininas no alto da copa
em uma árvore feminina (embaixo, à esquerda). Foto: os autores.
542
Dispersas pela água e pela fauna, são transportadas a curtas e longas distâncias (Howe
& Richter 1982, Piña-Rodrigues 1999, Galuppo & Carvalho 2001). Suas sementes são de baixa
densidade o que permite a sua flutuação nas águas da várzea, sendo a hidrocoria um dos
principais agentes dispersores à maiores distâncias (Piña-Rodrigues 1999). Dados da autora
mostraram que cada fruto de ucuúba permanece na árvore por 7 a 10 dias, após o que, caso
não seja removido pelos dispersores, cai ao solo de onde pode ser removido por formigas ou
carregado pela água das marés ou cheias nas várzeas onde ocorre ou mesmo inicia o processo
de germinação ou deterioração.
Frutificação irregular, com dois períodos de dispersão de sementes, sendo maior no período
das chuvas (dezembro a janeiro) resultante das plantas que floresceram de julho a agosto, com
um pico de menor intensidade entre a estação seca e chuvosa (agosto-novembro) (Piña-Rodrigues
1996). A colheita pode ser feita na árvore, com equipamentos de escalada, no chão, no entorno das
matrizes ou diretamente nas águas dos rios e igarapés (Figura 4), uma vez que a dispersão é tanto
zoocórica quanto hidrocórica.
Virola surinamensis
Figura 4: Dispersão e colheita de sementes de Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. na planta
(acima), no solo (no centro) e na água dos rios e igarapés (abaixo). Fotos acima: os autores; Foto
abaixo: Natura Inovação, Programa de Pesquisa em Bioagricultura (divulgação).
543
São considerados maduros os frutos que se apresentam abertos expondo as sementes
marrons com o arilo avermelhado (Piña-Rodrigues 1999). Para a coleta, Lima et al. (1999)
recomendam 20 matrizes na coleta de sementes, escolhidas ao acaso, com distância mínima de
duas vezes a altura da árvore, a fim de evitar retirada de sementes de matrizes com algum grau de
parentesco (Lima et al. 1999).
3.5 PRODUÇÃO DE SEMENTES
Cerca de 3000 frutos anuais, atrativos a espécies frugívoras (Howe & Richter 1982). Estu-
dos desenvolvidos em quatro regiões do estuário amazônico1 indicou o potencial de produção de
4,4±3,91 kg por árvore, variando de 0,4 a 16 kg por planta. Dados obtidos mostram que a quanti-
dade de frutos é mais homogênea entre áreas, do que a massa de sementes obtidas uma vez que há
ampla variação no tamanho das sementes entre matrizes e locais.
Silvicultura Tropical
544
3.6 MANEJO DE SEMENTES
Suas sementes são dependentes de bastante umidade, a fim de manter a viabilidade, além
do fato do embrião ter (e ser) de vida curta, por isso, são mantidas na beira da várzea (Rodrigues
1980). Na dispersão as sementes apresentam o embrião ainda imaturo, mal desenvolvido (Piña-Ro-
drigues 1999). Isto requer que, para as sementes recém-colhidas permaneçam de 1 a 2 dias imersas
em água corrente (estratificação) o que aumenta sua germinação. Nas sementes colhidas na água dos
rios ou igarapés, esta prática de estratificação já foi realizada naturalmente e as sementes podem ser
usadas logo após a colheita. Recomenda-se não efetuar quaisquer tipos de secagem das sementes e
realizar apenas a remoção do arilo em água corrente e manter a sombra, por poucas horas e realizar a
semeadura o mais rápido possível.
Virola surinamensis
545
3.7 GERMINAÇÃO E QUEBRA DE DORMÊNCIA
3.8 ARMAZENAMENTO
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
4.1 MÉTODO DE SEMEADURA E PRODUÇÃO
546
que precisam de 60 a 80% de sombra (Silva et al. 1996, Piña-Rodrigues 1998) e, mesmo
assim, podem formar bancos persistentes de mudas. Suas plântulas são tolerantes à sombra,
com desenvolvimento lento (Piña-Rodrigues et al. 1996, Piña-Rodrigues 1999), mas de fácil
regeneração. As mudas devem ser instaladas a 50% de sombreamento inicial (Lima et al. 2006).
As mudas podem ser produzidas em sementeiras e repicadas em sacos pretos de polietileno,
usando substrato contendo solo orgânico e areia (Lima et al. 1999).
Virola surinamensis
Figura 7: Mudas de Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. em condições de viveiro (acima) e em área natural
(abaixo), em Cotijuba (PA). Foto: os autores.
Medidas como a coleta parcial de sementes, ou dias intervalados de coleta, ajudam não
só na produção, mas também na regeneração e na dispersão de material genético da espécie
em áreas naturais. recomenda-se que sementes em estádios iniciais de germinação, podem
ser aproveitadas na produção de mudas (Correa 2016). No viveiro é recomendado que, após
a muda atingir 20 cm sejam mantidas em condição de meia-sombra (50 a 70% de sombra),
com irrigação pelo menos duas vezes por dia mantendo o substrato úmido. As mudas a serem
plantadas devem passar por um período de endurecimento no sol, por cerca de 15-30 dias antes
do plantio.
547
5. POTENCIAL DE MELHORAMENTO GENÉTICO
Aos 60 meses de idade, Maeda et al. (2001) aplicou diferentes critérios de seleção, com
fins de melhoramento genético, em apenas uma geração, mostrando que, a partir da utilização do
índice de seleção combinado, os ganhos podem variar entre 36 e 152%, dependendo do objetivo
(variável) analisada. Isso demonstra o alto potencial da espécie para o melhoramento genético.
A formação de bancos de germoplasma experimentais, conforme Piña-Rodrigues et al. (1996),
além de conhecer a diversidade, a estrutura genética e manter as populações remanescentes são
estratégias tanto para a conservação quanto para o melhoramento genético (Hou et al. 2012).
Entende-se que é importante fazer a manutenção da diversidade genética, a fim de se estabelecer
populações base, independente do objetivo final, de conservação ou melhoramento. Ações como
a coleta de sementes para a produção de mudas pelos produtores, a implantação de mudas no
campo, sejam plantios puros, consórcios, recuperação de áreas degradadas, fornecimento de
insumos industriais (Maeda et al. 2001, Souza et al. 2008), sistemas agroflorestais, como forma de
subsistência e renda alternativa aos produtores (Vieira et al. 2007, Castro et al. 2009), intercâmbio
Silvicultura Tropical
de material genético para a seleção em ambientes distintos (Maeda et al. 2001, Shimizu 2007),
criação de políticas públicas, como concessões de áreas naturais dentro de Unidades de Conservação
de Uso Sustentável (UCUS), com foco no manejo de produtos não madeireiros uma vez que a
Portaria nº 71 de 11 de julho de 1994 proibiu o corte de V. surinamensis (Homma 2012), mas, foi
liberado a partir da revogação desta legislação e publicação da portaria nº 73/2004, deixando a
espécie, mais uma vez sob risco de processo de extinção (Correa 2016).
Estudos realizados em Breves (PA) mostraram a possibilidade de altos ganhos genéticos (até
20%) com base na seleção de indivíduos baseado em sua altura e diâmetro, características associadas
à forma da espécie (Leite et al. 2006). Matrizes com maior desenvolvimento em altura tendem a
produzir progênies também de rápido desenvolvimento e por isto, a seleção materna se mostra
eficiente para o melhoramento genético. Outra questão observada foi que, testes de procedência
conduzidos em Capitão Poço e Igarapé-Açu (PA) evidenciou a possibilidade de plantio da espécie em
região de terra-firme em função da procedência.
548
tanto na várzea baixa quanto na alta (Piña-Rodrigues 1999, Correa 2016). Na várzea, é comum
o rio encher e vazar vários metros duas vezes ao dia, alterando o nível do rio em até 12 metros,
com resultados dinâmicos nos processos erosivos e sedimentares que alteram o curso dos rios e
os modelos da paisagem ao longo do tempo. Essa dinâmica acaba diversificando os elementos
da paisagem, formando áreas inundadas, campos, florestas iniciais, florestas primárias, sistemas
agrícolas, agrossilvipastoris e florestas secundárias, junto às populações ribeirinhas.
Existem registros de bancos experimentais de germoplasma, plantados no estado do Pará,
na década de 1990, por Piña-Rodrigues (1999) e plantios em sistemas agroflorestais experimentais
em Cotijuba (Belém-PA). O plantio deve considerar a localização geográfica da recomposição, pois a
localização espacial influencia a composição e a estrutura dos ambientes (Vale et al. 2014).
A atividade extrativa madeireira afetou a abundância e a distribuição espacial da regeneração
natural e dos adultos em áreas do estuário amazônico, mas essas diferenças também podem estar
relacionadas às condições de sítio (Piña-Rodrigues 1994, Piña-Rodrigues 1999).
O plantio puro e consorciado de ucuúba em áreas de terra-firme foi realizado em sistema de
Virola surinamensis
ensaio de progênie e procedência em Breves, Portel, Icoaraci, Igarapé-açu e em sistemas consorciados
e puros em Igarapé-açu e Capitão Poço, todos no estado do Pará (Piña-Rodrigues et al. 2000). Em to-
das as áreas a espécie apresentou comportamento de crescimento similar ao de Paricá – Schizolobium
amazonicum (Leles et al. 2003) com altura superior a 14 m aos 7 anos de idade.
6.3 ADUBAÇÃO: Em cova, com 60 g de superfosfato triplo em solos com níveis de fósforo
abaixo de 7 p.p.m. (Lima et al. 1999).
549
7. MANEJO PARA A PRODUÇÃO
7.1 TÉCNICAS DE CULTIVO E COLHEITA DA PRODUÇÃO
Ferreira et al. (2014) observaram que diferentes intensidades de exploração resultaram em
diferenças na estrutura populacional das matrizes (DAP > 30 cm) e de árvores jovens (DAP < 10 cm),
uma vez que ambas se constituem nos maiores alvos da exploração seletiva.
7.2 CICLOS DE CORTE
É considerada de crescimento intermediário (DAP > 10 cm e Incremento Médio Anual para o
DAP, aos 6 anos de idade, de 1,8 cm.ano-1) (Souza et al. 2010) a lento (Pinedo-Vasquez et al. 2001).
550
9. PATOLOGIA FLORESTAL
9.1 DOENÇAS E PRAGAS
É suscetível ao ataque de cupins do gênero Nasutitermes (Chaves et al. 2012). Os ataques à
madeira são comuns e ocorrem em todas as partes componentes do tronco e, segundo Abreu et al.
(2002), as principais espécies xilófagas são Xyleborus affinis, Platypus parallelus, Nasutitermes corni-
ger, X. ferrugineus, X. volvulus, Platypus sp., Cresinus sp., Dinoderus bifoveolatus. Também identific-
aram outros insetos das famílias Cerambycidae, Silvanidae, Staphylinidae, Diptera (estágio larval),
Colydiidae, Cucujudae e Nitidulidae (Abreu et al. 2002).
Virola surinamensis
10. OUTRAS INFORMAÇÕES
A espécie continua “em perigo”, conforme a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da
União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN, ou IUCN na sigla, em inglês) (IUCN
2014), embora ausente da Lista Oficial de Espécies Ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente,
conforme Instrução Normativa n° 6, de 23 de setembro de 2008 (Brasil 2008). Somente no final
de 2014 é que o reconhecimento de sua condição como ameaçada foi dado, por meio da Portaria
nº 443, de 17 de dezembro de 2014, atualizando a lista oficial de espécies ameaçadas da flora,
enquadrando-a como “vulnerável” (Brasil 2014, IUCN 2014).
Sua atual condição é dada pelo extrativismo intenso, iniciado na década de 1960, com
a coleta de sementes para a indústria farmacêutica, posteriormente substituída pela exploração
seletiva madeireira, graças a sua boa qualidade na produção de compensados (Piña-Rodrigues
& Mota 2000). A exploração desenfreada tornou a espécie restrita ao corte a partir de 1996,
a partir do Decreto n° 1963, de 25 de julho de 1996 (Brasil 1996), insuficiente para deter a
extração ilegal (Piña-Rodrigues 1999, Piña-Rodrigues & Mota 2000). Fragoso (2016) mostrou
que a extração de ucuúba não parou, a retirada dos indivíduos jovens (DAP < 10 cm), usados na
produção de cabos de vassoura e escoras para a construção civil, ainda ocorre. Apesar de todo o
esforço para a preservação das populações remanescentes (Correa 2016), não houve proteção
efetiva da espécie (Smeraldi et al. 1996), cujo cenário evidencia a vulnerabilidade da espécie aos
551
processos exploratórios continuados e a necessidade de sua conservação. O plantio em escala
comercial, seja em plantios puros ou consorciados se apresenta como estratégia adequadas não só
para a produção de madeira como também de não madeireiros.
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Vochysia bifalcata Warm.
HELENA CRISTINA RICKLI-HORST
Bióloga. Mestrado e Doutorado (Produção Vegetal), pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (GEPE).
1. BOTÂNICA
1.1 BIOMA
Encontra-se distribuída de forma natural no Bioma Mata Atlântica. Está presente
Silvicultura Tropical
1.5 PORTE
Espécie arbórea, com copa densa perenifólia. Na idade adulta, suas árvores
podem atingem dimensões próximas a 25 m de altura e 100 cm de DAP (diâmetro à
altura do peito). Seu tronco é reto e cilíndrico, podendo apresentar um fuste longo, de
até 18 m de comprimento (CARVALHO, 2008; LORENZI, 2009).
558
2. TECNOLOGIA DA MADEIRA E DOS PRODUTOS
NÃO MADEIREIROS
2.1 DENSIDADE DA MADEIRA
A madeira de Vochysia bifalcata é moderadamente densa (0,50 a 0,55 g.cm-3), a 15 % de
umidade, macia ao corte, de textura grossa, suscetível ao rachamento e empenamento durante
o processo de secagem. Possui baixa resistência mecânica e é suscetível ao apodrecimento
(CARVALHO, 2008; LORENZI, 2009). Não há diferenciação entre alburno e cerne, apresentando
coloração rósea-pálida, com manchas esbranquiçadas (CARVALHO, 2008).
3. TECNOLOGIA DE SEMENTES
3.1 PRODUÇÃO DE SEMENTES
Seus frutos são do tipo capsula lenhosa, trígona, rimosa, medindo de 2,5 a 4 cm de
comprimento quando maduros; pedúnculo com 2 a 3 cm de comprimento e 0,2 a 0,3 cm de
largura.
Em cada lóculo do fruto há a presença de uma semente, totalizando 3 sementes por
fruto. Sua semente é alada, de coloração marrom-escura, com núcleo seminal basal, medindo
de 3,5 a 4 cm de comprimento e 1 cm de largura (NEGRELLE et al., 2007; CARVALHO, 2008).
O número de sementes de Vochysia bifalcata por quilo é de 10.551 a 23.500 (CARVALHO,
2008; LORENZI, 2009; RICKLI et al., 2014). O peso de 1000 sementes é de aproximadamente
94,8 g, com grau de umidade das sementes de 11,8% (RICKLI et al., 2015).
559
3.2 FENOLOGIA
As flores de Vochysia bifalcata são reunidas em inflorescências, formando cachos terminais,
medindo de 9 cm a 40 cm de comprimento, 4 a 4,5 cm de largura, com coloração amarela
(NEGRELLE et al., 2007; CARVALHO, 2008). A polinização ocorre principalmente por abelhas,
destacando-se a abelha-mandaçaia (Melipona quadrifasciata) e a abelha-mamangava (Bombus
morio), além de borboletas e outros insetos (CARVALHO, 2008).
Sua floração destaca-se do resto da vegetação por ser amarelada e vistosa (CARVALHO, 2008).
3.7 ARMAZENAMENTO
As sementes de Vochysia bifalcata podem ser classificadas como intermediárias, ou seja,
as sementes sobrevivem moderadamente à dessecação até atingirem em torno de 12% de
560
umidade (base úmida) apresentando comportamento que se situa fisiologicamente entre
recalcitrantes e ortodoxas (MEDEIROS; EIRA, 2006). As sementes perdem a viabilidade após 6
meses da coleta, em condições de ambiente não controlado (CARVALHO, 2008).
4. PRODUÇÃO DE MUDAS
Em regeneração natural, Vochysia bifalcata
apresenta crescimento rápido em altura e
diâmetro (CARVALHO, 2008). Já a produção de
mudas em viveiros é difícil (LORENZI, 1998),
existindo poucos relatos sobre a espécie. É
uma planta que apresenta grande dificuldade
de produção de mudas, o que ocasiona
561
produção de mudas da espécie, porém em inúmeras tentativas realizadas foram encontradas
dificuldades, como alta mortalidade das mudas produzidas em viveiro, apesar de haver
germinação das sementes.
De acordo com informações pessoais das autoras desse capítulo, como parte do projeto de
mestrado de Helena Cristina Rickli-Horst em parceria com a SPVS, no ano de 2010 foram coletadas
mudas provenientes de regeneração natural na região do Moro da Mina, em Antonina (PR), área
pertencente a SPVS, as quais foram levadas à condição de viveiro pertencente a Embrapa Florestas
(Colombo -PR) para aclimatação das mudas. Porém, ao longo de aproximadamente 30 dias após a
coleta, iniciou-se um processo de oxidação das plântulas e posterior morte das mudas que vinham
sendo mantidas em vasos. Ao analisar essas mudas, observaram que seu sistema radicular era
pouco desenvolvido, o que dificulta o estabelecimento das plantas (Figura 1).
apresentam uma raiz pivotante muito desenvolvida em comprimento e espessura, porém com
poucas raízes laterais, de aspecto curto e fino (CARVALHO, 2008).
Em testes laboratoriais, Rickli et al. (2014) encontraram porcentagens de germinação de
sementes maiores do que as relatadas por Carvalho (2008). A utilização da temperatura de 25ºC
propiciou porcentagens de germinação de 73% utilizando-se como substrato a vermiculita,
70% sobre papel mata-borrão e 62% com rolo de papel.
Segundo as Instruções para Análise de Sementes de Espécies Florestais (BRASIL, 2013) e
Rickli et al. (2014), o teste de germinação em laboratório para sementes de Vochysia bifalcata
deve ser realizado nos substratos: sobre vermiculita, sobre papel e entre papel, na temperatura
de 25º C, com primeira contagem ao 7º dia e última contagem ao 21º dia após a instalação.
562
de que a espécie apresenta grande oxidação de seus ramos quando cortados. Contudo, o uso de IBA
e de PVP 40 não influenciaram no enraizamento das estacas, havendo uma alta porcentagem de
mortalidade, com apenas 19% de sobrevivência das estacas, sem registro de enraizamento.
Em experimento semelhante realizado por Rickli (2012), estacas semilenhosas foram
coletadas de plantas juvenis localizadas na Reserva do Cachoeira, pertencente a SPVS, em quatro
estações do ano, utilizando metodologia semelhante à de Danner et al. (2010). Como resultados,
o inverno foi a estação do ano que mais favoreceu a sobrevivência das estacas (56%) (Figura 2A).
Houve registro de estacas enraizadas e com calos, porém com percentuais reduzidos, abaixo de 1,5
%. Diante desses resultados a autora afirmou que Vochysia bifalcata é uma espécie considerada
de difícil enraizamento, ou seja, aquelas que carecem da presença de um ou mais cofatores do
enraizamento, não respondendo à aplicação de auxinas exógenas, segundo classificação de
Hartmann et al. (2011).
563
enraizamento. Estacas de brotações epicórmicas provenientes de decepa apresentaram maior
porcentagem de enraizamento (81%), assim como maior número de raízes por estaca (8,0 raízes/
estaca) e maior comprimento médio das três maiores raízes por estaca (2,0 cm) quando comparadas
àquelas provenientes de envergadura de caule (31% de enraizamento; 3,3 raízes/estaca com 0,7
cm) (Figura 2 B, C). Ou seja, para a produção de mudas via clonal a metodologia promissora é o
uso de decepa de plantas matrizes da espécie para a utilização de suas brotações epicórmicas na
técnica de estaquia, com maiores porcentagens de enraizamento.
Silvicultura Tropical
A b
C D
564
5. CULTIVO E ATIVIDADES SILVICULTURAIS
Grande parte da população de Vochysia bifalcata presente atualmente é originária de
regeneração natural, principalmente pelo fato de que há uma grande dificuldade de produção
de mudas e plantio da espécie (NEGRELLE et al., 2007; CARVALHO, 2008). Atualmente, não
existem protocolos específicos para cultivo e atividades silviculturais da espécie, o que torna
necessário o fomento ao desenvolvimento de mais pesquisas.
565
7. REFERÊNCIAS
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566
2006. Disponível em: <https://www.
infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/
doc/294209/1/circtec127.pdf>.
Acesso em: 01/11/2017.
567
SILVICULTURA DE ESPÉCIES
LATINO-AMERICANAS
Myrsine guianensis (Aubl.)
Kuntze.
Juan Carlos Villalba-Malaver
Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidad Distrital Francisco José De Caldas de Bogotá, professor
associado da Facultad de Ciencias Agrarias de la Universidad del Cauca
na Colombia, mestrado pela Universidad del Cauca.
Román Ospina-Montealegre
Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidad del Tolima, ProfessorTitular da Facultad de Ciências Agrarias
de la Universidad del Cauca en Colombia, mestrado em Manejo de
Silvicultura Tropical
1. Botânica
Árbol de mediana altura que alcanza los 14 m de altura y hasta
20 cm de diámetro (Toro 2011). Su tronco es liso, de color grisáceo y con
precencia de lentícelas; presenta ramificación plagiotrópica, formando
una copa de forma cónica y algunas vecez globosa, densa con follaje
color oscuro que lo hace llamativo para ser usado como ornamental
(Morales & Varon 1997); sus ramas delgadas son teretes, que se tornan
de color castaño al madurar. Las hojas son oblongo-elipticas de base
aguda y apice obtuso, de color verde oscuro brillante por el haz y de
568
color verde claro opaco por el enves, presentan puntos grandulares diminutos en ambas caras,
miden entre los 5 y 20 cm de largo y entre los 3 y los 5 cm de ancho; son simples, alternas,
dispuestas en forma helicoidal; se presentan agrupadas en los extremos de las ramas, donde
evidencian yemas parecidas a espadas, sin evidenciar la presencia de estípulas. Sus flores son
de color amarillo-versodoso, pequeñas y dispuestas en grupos a manerade fasciculos a largo
de sus ramas. Los frutos son esfericos que miden hasta 5 mm de diámetro, en forma de drupas
coriaceas que se torna de color negro brillante al madurar; en su inerior presentan una semilla
de hasta 2 mm de diámetro, de consistencia dura, opacas, con presencia de manchas oscuras y
pequeñas (CAR 2004).
569
de postes, proveedora importante de leña para los hogares y la agroindustria rural (Ordoñez et al
2017, Coronado & Prato 2019).
Sus frutos son consumidos por las aves, las cuales son sus principales dispersores de semillas
(Bartholomäus et al 1998, Bauer et al 2012, Castillo & Calderón 2017). Tiene potencial para uso
ornamental, gracias a la belleza de su follaje y arquitectura (Morales & Varón 1997). Es clave para
involucrar en procesos de restauración de áreas degradadas y para sistemas agroforestales en los que
se puede incluir como cerca viva, contribuyendo a mejorar las condiciones de los suelos (Calle 2000,
Romero 2005, Benavideset al 2015). Además, la especie es recomendada como árbol melífero, en
especial por la producción de polen durante 6 meses del año (Silva & Restrepo 2012). También ha
sido reportada como hospedera de lepidópteros (Diniz et al 2001).
2.1 Densidade da madeira
Tiene una madera ligeramente pesada de acuerdo con las normas ASTM, con una densidad
básica que puede oscilar entre 0,58 gr-cm³-1 y 0,70 gr-cm³-1, valor que está asociado a las condiciones
Silvicultura Tropical
2.2 Extrativos
De la corteza se han aislado varias moléculas con actividad microbiana como la embelina
y rapanona, como las más importantes por su estabilidad química y por la formación de derivados
(Reguero et al 1989). La rapanona obtenida de M. guianensis ha sido probada para el control de
microorganismos Gram (+), Gram (-) y como agente antipalúdico e insecticida (Chaves 1992). El
extracto de las hojas ha sido evaluado para inhibir la acción del veneno de serpientes del género
Bothrops (Oliveira et al 2019).
3. Tecnologia de sementes
3.1 Produção de sementes
A pesar de la importancia ecológica y económica de M. guianensis, sus semillas no tienen
un mercado establecido y su propagación en Colombia se realiza a partir de semillas colectadas de
fuentes no evaluadas. Trabajos realizados en diferentes zonas de Colombia (Salazar 2010, Flores et al
2011, Meneses 2018) reportan amplias diferencias (26.6% - 100%), en los porcentajes de viabilidades
para semillas colectadas de árboles fuente localizados incluso en la misma área, lo que plantea la
necesidad de seleccionar fuentes semilleras para la especie.
570
3.2 Fenologia
En un periodo de dos años de seguimiento a la fenología de la especie en el sur de Brasil, se encontró
que ningún evento reproductivo demostró relación con los factores climáticos y la presencia de individuos
con frutos maduros fue prácticamente continua a lo largo de los dos años de estudio (Bauer et al 2012).
3.3 Epoca de floração
Las épocas de floración se presentan en épocas secas, las cuales para el suroccidente de
Colombia se presentan principalmente entre los meses enero-marzo y julio-agosto (Jaramillo &
Chaves 2000).
3.4 Frutificação e colheita
La recolección de los frutos se recomienda cuando el fruto se torna de un color negro, evidencia
3.5 Manejo de sementes
Los frutos carnosos requieren para la extracción de sus semillas de un proceso de despulpado.
Si no se retira la parte carnosa del fruto se descompone y fermenta causando daños a la semilla
especialmente por la producción de ácido acético; el proceso se lleva a cabo usualmente colocando los
frutos en tanques con agua por un tiempo aproximado de 24 a 48 horas, posteriormente se despulpan
lavándose en agua corriente o en forma manual y luego se secan en condiciones convencionales y
dependiendo de cada fruto (Trujillo 2001).
3.6 Quebra de dormência
La semilla de no requiere tratamiento pregerminativo para alcanzar su germinación,
los ensayos realizados por Flórez et al (2011), reportaron tasas hasta del 80% de germinación sin
tratamiento, sin embargo las mismas autoras reportan que el tratamiento con agua hirviendo puede
reducir significativamente el tiempo de emergencia, manteniendo los mismos porcentajes de
germinación. Otro factor influyente reportado por los autores citados fue el sustrato, siendo los más
recomendables la tierra o la mezcla de tierra y aserrín en proporción 70 - 30.
571
3.7 Armazenamento
Una especie del mismo genero, Myrsine parvifolia A. DC ha sido reportada como ortodoxa
(Ribeiro & Costa 2015), lo que significa que podría realizarse almacenamiento en periodos
prolongados de tiempo a bajos contenidos de humedad y refrigerada.
4. Produção de mudas
4.1 Método de semeadura e produção
En germinador el método de siembra se recomienda al voleo y la profundidad de 1.5
cm. El tiempo en el germinador es de 4 meses después de la siembra y se puede realizar el
trasplante con una altura de 2 a 3 cm (Gutiérrez et al 2013). Por el tamaño pequeño de
la semilla es posible sembrar directamente en tubetes, bandejas o pellets, plantando 2 o 3
semillas (dependiendo del porcentaje de germinación) y haciendo raleo posterior. La otra
opción es trasplantar a los mismos contenedores las plántulas provenientes del germinador.
Silvicultura Tropical
4.2 Manejo
Es una especie que crece colonizando áreas abiertas, incluso en suelos sobreexplotados, sobre
coberturas de tipo arbustal abierto. En trabajos de restauración ecológica en zonas de bosque seco
tropical se ha empleado M guianensis como facilitadora de la restauración, plantada alrededor de
árboles más grandes a distancias de 2x2 metros (Torres et al 2019). En un ensayo realizado en la sede
de la Universidad del Cauca, se ha observado una buena respuesta de la especie a la compactación
con distancias de 3x3 m, después de cinco años, igual respuesta se ha observado cuando se planta en
línea con la misma distancia.
572
6. Cultivo e atividades silviculturais
6.1 Sistema de plantio
Hasta la fecha no se reporta el manejo de la especie en plantaciones puras, se han realizado
ensayos de incorporación en proyectos de restauración y sistemas agroforestales, donde se
incorpora principalmente como cerco vivo, pero no han sido objeto de evaluación. Observaciones
realizadas en el arboretum establecido en la sede las Guacas de la Universidad del Cauca, muestran
que la especie responde bien a distanciamientos de 3x3 m, alcanzando alturas máximas de
aproximadamente 6 m a los 7 años.
6.2 Espaçamento
Es una especie que responde bien a distanciamiento de 3x3 m tanto en plantación compacta
como en cerco vivo. Su desempeño en cercas vivas ha sido reportado, indicando su buen desempeño
6.3 Adubação
No se han evaluado los requerimientos nutricionales de la especie, a nivel de vivero se evidenció
una buena respuesta con la adición de Fosfato de amonio dibasico (dap) en dosis de 2 g (Flórez et al 2011).
6.4 Preparo do solo
A pesar de que M. guianensis es una especie que se establece en suelos degradados, parece
que su capacidad de adaptación en buena parte está definida por la asociación simbiótica que
presenta con hongos endófitos (da Silva et al 2008, Cuellar 2018), lo que sugiere que enmiendas
con sustratos micorrízicos puede favorecer su desempeño, principalmente durante la preparación del
suelo para la siembra.
573
7. Manejo para a produção
Para la producción de madera M. guianensis se pueden plantear diferentes arreglos espaciales,
en plantaciones compactas 3x3 m, en sistemas agroforestales en fajas o líneas, asociado con praderas
o cultivos. También se puede asociar con otras especies arbóreas y arbustivas para la constitución de
cercos vivos con varios estratos.
7.2 Ciclos de corte
Silvicultura Tropical
El ciclo de corta de esta especie varía de acuerdo con el piso altitudinal donde esta crece,
por ejemploBecerra (2015), reporta incrementos de aproximadamente de 0.02 m-año-1 en
diámetro para las condiciones de bosque natural en la sabana de Bogotá a 2600 m.s.n.m. De
acuerdo con este reporte y las observaciones en el arboretum de la Universidad del Cauca el
ciclo de la especies puede estar entre los 10 y 15 años. Sin embargo, de acuerdo con el producto
que se desee aprovechar (por ejemplo vigas para techos), este tiempo puede llegar a ser menor
a los 10 años.
8. Potencial produtivo
M. guianensis no es una especie incluida entre las potenciales para la producción maderera
en Colombia (MADR 2018). Sin embargo, se evidencian la producción de vigas, columnas para
construcción, postes para cerca y leña, provenientes principalmente del bosque natural y de sistemas
574
agroforestales. En la actualidad existe un potencial para la producción de semillas por la demanda
para proyectos de restauración, conservación y sistemas agroforestales (Calle 2000, Meneses 2018).
9. Patologia florestal
M. guianensis es un árbol que se encuentra generalmente sano en su estado natural, incluso
sus hojas son utilizadas como insecticida y como antimicrobiano.
9.1 Doenças e pragas
No se reportan estudios sobre problemas de plagas o enfermedades asociadas a la especie.
575
10. Outras informações
Dada la demanda actual de especies para la restauración ecológica, es importante avanzar
en el trabajo de selección de fuentes de semilla evaluadas de M. guianensis y explorar el mercado
potencial que tiene esta especie, considerando sus potencialidades para este fin.
11. Referências
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579
SILVICULTURA DE ESPÉCIES
LATINO-AMERICANAS
Quercus humboldtii Bonpl.
Juan Carlos Villalba-Malaver
Engenheiro Florestal, graduação em Engenharia Florestal pela
Universidad Distrital Francisco José De Caldas de Bogotá, professor
associado da Facultad de Ciencias Agrarias de la Universidad del Cauca
na Colombia, mestrado pela Universidad del Cauca.
Andrés Avella-Muñoz
Ingeniería Forestal y Maestría en Manejo, Uso y Conservación del
Bosque. Facultad del Medio Ambiente y Recursos Naturales, Universidad
Distrital Francisco José de Caldas. Av. Circunvalar Venado de Oro. Bogotá,
Colombia. aavellam@correo.udistrital.edu.co
Román Ospina-Montealegre
Silvicultura Tropical
1. Botânica
Árbol que alcanza los 30 m de altura y los 2 m de diámetro
en su tronco, que cuando esta en buenos suelos es vertical, grueso y
cilíndrico, tiene corteza rugosa y fisurada de color negruzco; su copa
parece un globo (globosa); su follaje es denso y grueso, su color es
verde oscuro; su ramificación es muy prolífica, las ramas jóvenes tienen
forma verticilada y están cubiertas por una vellosidad de color blanco
(pubescencia lanuginosa); sus raíces tienen forma tabloide y están
dispuestas de forma extendida. Las hojas miden 14 cm de largo por
3.5 de ancho, son simples, alternas, alargadas, están agrupadas en
manojos, terminan en punta (acuminadas), tienen una textura parecida
a la del pergamino (apergaminadas), son lisas (glabras), tienen forma
580
elíptica, su borde es ondulado y poseen pecíolos cortos; presentan estípulas libres que son
largas, angostas y efímeras (caen pronto). Las flores provienen de una especie monoica, es decir
están agrupadas en inflorescencias terminales masculinas y femeninas en el mismo individuo;
las inflorescencias masculinas son de color marrón miden 10 cm de largo y están dispuestas
en aumentos colgantes (pendulares), las flores femeninas miden 3mm de diámetro, están
muy comprimidas y su color es verde oliva. Los frutos miden 3 cm de diámetro, son aquenios
redondos, terminan en punta (apículo), poseen una tapa escamosa que los cubre (cúpula),
desprende con facilidad, tiene forma hemisférica, es redonda y su color es marrón, cada fruto
contiene una semilla. Las semillas son del mismo tamaño del fruto, están muy adheridas a él y
son de color amarillo brillante (CAR 2004).
1.5 Porte: arbóreo
581
2. Tecnologia da madeira e dos produtos
não madeireiros
Por su alta rigidez y elasticidad, la madera de Q. humboldtii, presenta un alto potencial
en la industria de la madera estructural, dirigida a trabajos pesados (Guerrero & Burbano 2015).
Sin embargo, los últimos años, esta madera ha mostrado bondades para el envejecimiento de
bebidas como el ron, brandy y vinos, por lo que ha cobrado una alta relevancia, en comparación
con otros robles (González et al 2008, González & Baleta 2010, Ávila et al 2017, Martínez et al
2018). Tradicionalmente, en Colombia la madera de Q. humboldtii ha sido utilizada principalmente
como fuente dendroenergética para la cocción de alimentos y para el funcionamiento de hornos
para la industria alimenticia, alfarera y de ladrillos (Díaz 2010, Ordoñez et al 2017). Lo anterior ha
conducido también a la investigación sobre la producción de carbón activado a partir de madera
de Q. humboldtii (Herrera et al 2004).
Silvicultura Tropical
2.2 Extrativo
Varios trabajos se han reportado en el tema de extractos en la madera de Q. humboldtii
(González et al 2008, Argoti et al 2011, Martínez et al 2017, Martínez et al 2018) reportando la existencia
principalmente de fenoles. El trabajo de Martínez et al (2018) reporta la presencia de fenoles de bajo
peso molecular principalmente ácidos elágico y gálico y en menor proporción los ácidos siríngico
y vanílico; así mismo la presencia de elagitaninos hidrolizables como castalagina y vescalagina y
compuestos volátiles como la vainillina; todos importantes en las propiedades asociadas a la calidad
de los vinos y otras bebidas. Por su parte, Díaz et al (2019), encontraron 19 compuestos asociados a
una bebida a base de frutos tostados de Q. humboldtii, siendo los más de mayor existencia el furfural
y alcohol furfurílico, con algunas notas de aroma y sabor similar al de la bebida de café tradicional.
582
2.3 Produtos não madeireiros
2.3.1. Café de roble
Infusión elaborada a partir de la almendra de la semilla, cuyo proceso inicia con el secado bajo
el sol de frutos maduros para facilitar la extracción de semillas, que son llevadas a un grado de tostión
uniforme a temperatura media, para posteriormente pulverizar. El polvo resultado, es utilizado para
preparar la infusión de manera convencional como se prepara el café tradicional (Potosí et al 2017).
Según el análisis proximal de las bellotas estas tienen tienen el 78% de su contenido en carbohidratos,
lo que indica un alto aporte energético, y bajo aporte nutricional a base de proteínas, fibra y minerales
con porcentajes de 0,15%, 1,93% y 2,17%, respectivamente (Pérez & Villalba 2011).
583
3. Tecnologia de sementes
El roble posee una sola semilla que se desarrolla en una bellota de pericarpo coriáceo
(Vargas 2002). Los frutos tienen un diámetro mayor de 27 ± 2 mm, un diámetro menor de 22 ±
2 mm y un peso húmedo de 9 ± 3.3 g (n = 50). La semilla tiene un embrión grande que la ocupa
toda, de color blanquecino y posición axial (Becerra 1992, citado por: Pardo & Chiquillo 2002). Los
frutos del roble son dispersados y consumidos por especies como las ardillas (Sciurus granatensis),
tinajos (Cuniculus taczanowskii, C. paca), picures (Dasyprocta punctata) y cafuches (Pecari tajacu)
(Solano 2006, Vargas 2006).
(Vargas, 2002), su embrión es de color blanquecino, ocupa toda la semilla y está dispuesto de
manera axial (Pardo & Chiquillo, 2002).
Es notable que pocos frutos llegan al estado de madurez (Pérez et al 2013), el número total
de frutos total promedio producidos se determinó en 337,7 ± 23,8 y 101,1 ± 10,5 y el total de frutos
maduros en promedio 96,9 ± 9,8 y 24,6 ± 4,6 en dos localidades del Departamento de Santander
(Gonzalez & Parrado 2010).
3.2 Fenologia
En Colombia, el comportamiento fenológico es variable según la localidad, presentando
fenómenos de mast seeding en donde los eventos reproductivos se dan en intervalos entre uno, dos
o tres años (Gómez & Toro 2007, González & Parrado 2010). Los estudios fenológicos han mostrado
que la producción y caída de hojas ocurre durante todo el año y que la producción de flores y frutos
presentan un comportamiento bimodal (González & Parrado 2010, Pérez et al 2013, Fernández
2014, Burgos 2015). Pocos trabajos se han adelantado en diferentes regiones de Colombia para
estudiar la fenología de Q. humboldtii (Pacheco & Pinzón 1997, Pardo & Chiquillo 2002, Pérez
& Villalba 2011), encontrando diferencias entre los periodos de fructificación de la especie para
las zonas estudiadas, encontrando que la producción de frutos del roble ocurre al parecer en dos
épocas del año, coincidiendo con la finalización de las épocas de lluvia.
584
Por su parte, González y Parrado (2010) reportan una alta correlación entre la producción de
frutos, los periodos de lluvias y los contenidos de fósforo P, potasio K y aluminio Al en el suelo, siendo
el último elemento señalado, un limitante de la tasa de producción.
585
3.6 Quebra de dormência
Lixiviación con agua temperatura ambiente. Se colocan en un recipiente limpio, después se
les adiciona agua a temperatura ambiente, hasta que queden completamente cubiertas las semillas,
se dejan hasta que aparezca el embrión, es decir que haya emergencia de la raíz, cambiando el
agua cada tres días, al día 12 aparece el embriòn y se puede iniciar la siembra (Gutiérrez et al
2013). Cuando las semillas están frescas su capacidad germinativa inicial es elevada. Para otros
autores, ésta no requiere tratamientos pre germinativos (Gómez & Toro 2007), sin embargo hay
procesos que favorecen su germinación.
3.7 Armazenamento
La semilla es recalcitrante y pierde muy rápidamente la capacidad germinativa, por lo
que es necesario almacenarla muy bien, se puede almacenar estratificándola en arena húmeda,
musgo o aserrín por 1 mes, con supervisión permanente de las semillas para detectar hongos o
almacenarla en agua con cambios periódicos (Trujillo 2009).
Silvicultura Tropical
4. Produção de mudas
4.1 Método de semeadura e produção
En vivero se recomienda la siembra directa en bolsa (Trujillo 2009, Paz et al 2012,
Gutiérrez et al 2013) con un sustrato compuesto por mezcla de tierra-arena en proporción de
3:1 (Gutiérrez et al 2013). Si por el contrario se va a hacer producción en eras de germinación se
recomienda utilizar la semilla lo antes posible apenas suceda la recolección y luego de 24 horas
de inmersión en agua; no se recomienda exposición al calor y a la humedad por períodos más
extensos. El sustrato de germinación es recomendable una mezcla de tierra negra por tres de
arena, aunque si la cantidad de individuos a reproducir no es mucha también se recomienda el
uso de turba; el sustrato debe ser desinfectado y su profundidad final no debe ser mayor a 15
cm. Para la germinación no se recomienda el uso de fertilizantes químicos ni abonos orgánicos
(Trujillo 2009).
La germinación es hipogea, inicia de 22 a 30 días después de la siembra de las semillas
emergidas por el método de lixiviación y se completa 18 días más tarde (Gutiérrez et al 2013). La
potencia germinativa de semillas frescas sembradas en un sustrato de tierra y arena (proporción
2:1), a plena exposición, varía entre 60 y 90% (Gómez & Toro 2007).
De acuerdo con Trujillo (2009), la siembra debe ser superficial, sin que la semilla
586
quede expuesta al aire o la destape el riego. Para el riego se debe mantener húmedo el sustrato
durante la germinación, sin exceso o deficiencia de agua, en lo posible utilizando elementos de
goteo fino o en lo posible con sistemas de nebulización para que no se destape la semilla con el
riego permanente. Es necesario proteger las semillas durante el proceso de germinación de las
condiciones del medio como lluvias fuertes, exceso de sol o altas temperaturas, herbivoría por
roedores o pájaros. El Uso opcional de sombra moderada, mejora las condiciones de germinación;
la germinación sucede entre 5 - 15 días. Una vez las plantas tienen entre 2 a 8 cm, se procede a
trasplantarlas a bolsas en las cuales el sustrato debe estar desinfectado; se recomienda un sustrato
con tierra fértil y cascarilla de arroz en una proporción del 20%. Es necesario que se utilice una
malla sombra del 65% para hacer el transplante. En el transplante se recomienda la adición de
micorrizas, las cuales se deben poner en contacto directo con las raíces de las plántulas aplicando
de 10 - 15 g por bolsa; la innoculación se debe realizar con hongos ectomicorrízicos pertenecientes
a los géneros Boletus, Amanita y Pisolithus mezclados con sustrato.
587
5. Potencial de melhoramento genético
No existe información relacionada con investigación en mejoramiento genético de esta
especie. Sin embargo un aspecto de relevancia en este campo es lo relacionado con la diversidad
genética de Q. humboldtii. Fernández (2002) encontró que esta especie presenta altos niveles de
diversidad genética similares a los encontrados en otras especies de roble de zonas templadas.
Sin embargo, estos mismos autores en un paisaje fragmentado observaron una pérdida
moderada de esta diversidad en los individuos adultos, una tendencia a la autopolinización por
pocos árboles en fragmentos pequeños, y una alta estructura genética que necesita grandes
áreas para ser mantenida.
Según Palacios (2006), Q. humboldtii parecen tener bastante variabilidad genética a pesar
de sus reducidas poblaciones actuales, pero se deben procurar las condiciones para que estos altos
valores de diversidad genética se conserven; por ejemplo, cuando se adelanten programas de
reforestación, debe hacerse de manera independiente para cada población, sin mezclar o trasladar
Silvicultura Tropical
individuos de una población a otra, ya que es posible que esta especie sea susceptible de perder
posibles adaptaciones locales por un manejo indiscriminado de semillas. Lo anterior parece
corroborarse también desde el punto de vista ecológico dado que en la reciente investigación de
los bosques de robles de Colombia, parece haberse identificado tres tipos de bosques naturales
que podrían estar generando ecotipos especializados a condiciones ambientales particulares
(Avella et al 2017a).
588
7. Manejo para a produção
7.1 Manejo da produção e do cultivo
Avella (2016), recomienda para el manejo de rodales naturales de Q. humboldtii
aplicar el Método de Selección en grupos ya sea por distribución del diámetro o del área
basal, pasando de una mezcla individual de individuos a una mezcla de pequeños grupos de
árboles, de esta manera el manejo de robledales uniformes en en pequeños grupos, reduciría
los costos del manejo y los impactos ambientales asociados a éste. A continuación se generan
algunas recomendaciones generales para el manejo de robledales, a manera de orientaciones
y lineamientos generales que deben ser adaptados a las condiciones locales, los objetivos
de manejo y las capacidades técnicas con que se cuenta, y evitar tratamientos homogéneos y
descontextualizados de sus realidades socioecológicos.
• Retención estructural a nivel rodal
• Manejo de árboles semilleros
8. Potencial produtivo
8.1 Capacidade produtiva
Son escasos los estudios que abordan el tema del crecimiento de los bosques de roble
colombianos. León & Giraldo (2000) modelaron el crecimiento diamétrico de dos bosques de
roble en Antioquia (Colombia) a través del modelo matemático de Von Bertalanffy, encontrando
que el incremento diamétrico anual estaba entre 0.21 – 0.12 cm. Becerra (1989) a través de una
589
investigación silvicultural realizada en los bosques de roble del sector denominado como La
Sierra, en el municipio de Duitama (Boyacá) durante cuatro años, encontró que el incremento
diamétrico anual para un bosque secundario de 16,5 años es de 0,58 cm año-1. Avella et al
(2017b), establecieron a partir de parcelas permanentes de crecimiento en bosques de roble con
poca intervención un incremento diamétrico anual en adultos de 0.32 cm año-1; igualmente este
autor identificó crecimientos en la regeneración natural menores a 0.16 cm año-1, mientras que
en procesos de restauración ecológica y manejo silvicultural de bosques secundarios tasas de
crecimiento entre 0.41 cm año-1 a 0.59 cm año-1.
9. Patologia florestal
9.1 Doenças e pragas
De acuerdo con Trujillo (2009) los problemas por ataque de insectos a la semilla son
especialmente importantes debido a la acción de un coleóptero de la familia Curculionidae, cuya
Silvicultura Tropical
especie está aún sin determinar, el cual causa graves pérdidas cuando la larva penetra en la semilla y
se desarrolla dentro de esta desde estados tempranos de la formación del fruto; cuando se acerca la
época de maduración de frutos, emerge el coleóptero adulto, haciendo evidente el daño a la semilla
y la perforación. En vivero las plántulas son a veces atacadas por el hongo Pestaloia sp., que causa
manchas amarillo oscuro en las hojas, originando la necrosis y la muerte de la hoja. En plantaciones
forestales se ha detectado la muerte por la denominada “muerte descendente”, originada por el
hongo Ceratocystis fagacearum, que se evidencia con la pérdida de vigor, disminución volumétrica
del follaje acompañada de una caída abundante de las hojas e iniciando una muerte descendente
que avanza en en forma rápida hasta producir la muerte completa del árbol.
590
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594
595
Quercus humboldtii Bonpl.
• ANA CLÁUDIA LIRA GUEDES • ANDRÉ CESAR FURLANETO
SAMPAIO • APARECIDA JULIANA MARTINS CORRÊA • BÁRBARA
GUERREIRA ALPANDE FERREIRA • BRENO HENRIQUE PEDROSO
DE ARAÚJO • BRUNO COSTA DO ROSÁRIO • CALEB DE LIMA
RIBEIRO • CARLOS ANDRÉ STUEPP • CHRISTOPHER THOMAS
BLUM • DANIELLE MIRANDA DE SOUZA RODRIGUES • DAVID
PESSANHA SIQUEIRA • DEBORAH GUERRA BARROSO • DEBORAH
CRISTINA PORTES • EDGAR ANDRÉS AVELLA-MUÑOZ • EDUARDO
MALTA CAMPOS FILHO • ELIVELTON MARCOS GURSKI • FABIANO
GUMIER COSTA • FÁTIMA C.M PIÑA-RODRIGUES • FRANCIELLEN
PAOLA DE SÁ • FRANCIELLI TELEGINSKI • FREDERICO DRUMOND
MARTINS • GIOVANNA CAMPOS MAMEDE WEISS DE CARVALHO
• HELENA CRISTINA RICKLI-HORST • Ivonir Piotrowski •
JENIFFER GRABIAS • JOÃO PAULO FIDALGO CARVALHO • JUAN
CARLOS VILLALBA-MALAVER • KATIA CHRISTINA ZUFFELLATO-
RIBAS • LAUSANNE SORAYA ALMEIDA • LEANDRO PORTO LATOH
• LUCAS AMARAL DE MELO • LUCIANA APARECIDA RODRIGUES
• LUCIELE MILANI ZEM • MARCELINO GUEDES • MARIA ALVES
FERREIRA • MARIA OLINDA CHEREM CORTE BEZERRA DA SILVA
• MARIANA BENSBERG ALVES GUEDES • MARÍLIA BORGO •
MICHELE FERNANDA BORTOLINI • MIGUEL LUIZ MENEZES
FREITAS • PABLO MELO HOFFMAN • RACHEL MARTINS DA
ROCHA SILVA • RAFAEL DE SOUZA SILVA • RAFAELA CRISTINA
FERREIRA BORGES • RENATA CRISTINA MARTINS PEREIRA
• RENATA MAGGIONI • RENATA DE DEUS SILVA • ROMÁN
OSPINA-MONTEALEGRE • ROSELY MENEZES DA SILVA RIBEIRO
• ROSIMERI OLIVEIRA FRAGOSO • SAMIR ROLIM • SANTIAGO
JOSÉ ELÍAS VELAZCO • VALMIR CAMPOLINO LORENZI •