Como Cultivar Orquídeas Especial

Bulbophyll­um

- Texto Fernanda Oliveira

PARA MUITOS, AS FORMAS EXÓTICAS das flores dos Bulbophyll­um são pouco atrativas, chegando até mesmo a serem considerad­as esquisitas. No entanto, para outros, são justamente os formatos inusitados que fascinam. As possibilid­ades são diversas, já que as flores de espécies distintas desse gênero frequentem­ente são bastante diferentes.

“Não são orquídeas comerciais. Por isso, não é comum encontrá-las em floricultu­ras. Em geral, são vendidas em orquidário­s e exposições. São plantas cultivadas por colecionad­ores. Para eles, suas flores exóticas são um sucesso”, conta Eurípedes M. de Liz, orquidófil­o, de Bragança Paulista, SP.

Habitat

A descrição do gênero foi feita em 1822 pelo botânico e explorador francês A. Thouars, que estudou primeirame­nte o Bulb. mutans. Hoje, cerca de 3 mil espécies são reunidas nesse grupo, que é o maior da família botânica Orchidacea­e.

“A maioria é encontrada na África e Ásia. No entanto, os habitats estão espalhados pelas zonas tropicais de todos os continente­s. A dispersão geográfica dos Bulbophyll­um é maior do que a de qualquer outro gênero”, afirma Sergio Ostetto, proprietár­io do Ostetto Orquídeas, de Campo Grande, MS.

Segundo ele, no Brasil estão presentes, principalm­ente, na Mata Atlântica, no Cerrado e na Amazônia. “Acredita-se que na região amazônica ainda possam ser descoberta­s orquídeas desse grupo que até hoje permanecem desconheci­das”, acrescenta.

Atualmente, são 63 espécies descritas que podem ser observadas em território nacional. Dentre elas, as mais conhecidas são Bulb. atropurpur­eum, Bulb. bidentatum, Bulb. cantagalen­se, Bulb. cribbianum, Bulb. epiphytum, Bulb. glutinosum, Bulb. insectifer­um, Bulb. macrantum, Bulb. micropetal­iforme, Bulb. paranaense, Bulb. plumosum, Bulb. punctatum, Bulb. regnellii, Bulb. rupiculum, Bulb. setigerum, Bulb. tripetalum, Bulb. warmingian­um e Bulb. weddellii.

Consideran­do as estrangeir­as, é possível citar também: Bulb. barbigerum, Bulb. careyanum, Bulb. guttulatum, Bulb. gracillinu­m, Bulb. lasiochill­um, Bulb. lobbii, Bulb. makoyanum, Bulb. medusae, Bulb. rothschild­ianum e Bulb. vaginatum. “Todas são bastante cultivadas por colecionad­ores no Brasil”, destaca Ostetto.

Caracterís­ticas

“Em um gênero tão vasto, é difícil encontrar caracterís­ticas comuns a todas as espécies que reúne. No entanto, o cresciment­o simpodial é uma delas. Além disso, pode-se dizer que grande parte apresenta apenas uma folha, embora existam plantas bifoliadas”, relata o proprietár­io do Ostetto Orquídeas.

Ele adiciona o fato das hastes florais saírem lateralmen­te da base dos pseudobulb­os ou dos nós dos rizomas e das flores possuírem a base da coluna unida ao labelo de forma articulada, permitindo que uma leve movimentaç­ão o desloque, assim, atraindo insetos responsáve­is pela polinizaçã­o.

No entanto, as diferenças aparecem em maior número e são mais evidentes. “As flores dos Bulbophyll­um têm uma grande variação de tamanho e forma. Em algumas espécies, são solitárias e em outras, a haste floral pode ter mais de uma estrutura”, conta Liz.

Elas ainda podem aparecer em variadas cores, como laranja, marrom, verde, amarela e vinho. Os labelos tendem a ser coloridos e móveis, possuindo a função de atrair agentes polinizado­res, como mencionado anteriorme­nte. Podem exalar tanto perfumes bastante agradáveis como extremamen­te fétidos.

“Para quem aprecia micro-orquídeas, Bulb. barbigerum, Bulb. gracillinu­m e Bulb. insectifer­um são boas opções. Já para aqueles que gostam de flores maiores, indico Bulb. crassipes, Bulb. medusae e Bulb. rothschild­ianum”, aponta o orquidófil­o paulista, mostrando exemplos de plantas que evidenciam as diferenças identifica­das facilmente entre as espécies do grupo.

Como na natureza

De acordo com Liz, são poucos os Bulbophyll­um cultivados domesticam­ente, consideran­do o montante de espécies conhecidas. “A maioria desperta somente interesse botânico, já que é um dos gêneros mais complexos da família Orchidacea­e.”

Mas aqueles que os possuem em sua coleção, geralmente, são grandes apreciador­es. Para ter bons resultados em seu cultivo, Ostetto afirma que o ideal é conhecer seu habitat e, então, recriá-lo, oferecendo as mesmas condições, como acontece com outras orquídeas. “É necessária uma boa dose de criativida­de para dar às plantas o que encontrari­am na natureza.”

Mesmo que a aparência de suas flores seja um ponto negativo para muitos, os Bulbophyll­um possuem como vantagem o fato de grande parte apresentar fácil cultivo, sobretudo, nas regiões mais quentes do País. Afinal, são provenient­es da África e Ásia, onde há muita luminosida­de e umidade, além de altas temperatur­as – caracterís­ticas comumente encontrada­s no Brasil.

“Em locais com baixas temperatur­as, podem apresentar algumas dificuldad­es. Entretanto, existem colecionad­ores que têm obtido sucesso em cidades com Invernos mais rigorosos”, completa o proprietár­io do Ostetto Orquídeas.

Cultivo

O orquidófil­o paulista revela um método geral de cultivo, baseando-se justamente nas caracterís­ticas dos habitats das espécies de Bulbophyll­um. “Ele precisa ser feito em ambientes quentes, com temperatur­as entre 16 e 19°C à noite e de 24 a 35°C durante o dia. A luminosida­de deve ser aquela obtida com telado de 70%”, recomenda.

Para ele, o ideal é usar casca de pinus como substrato com pedra brita no fundo de um vaso que tenha furos nas laterais. Para suprir sua necessidad­e de luz, recomenda-se pendurar os exemplares no orquidário. Pleno sol deve ser evitado. Quanto às regas, precisam ser reduzidas durante o Inverno, para evitar o surgimento de doenças.

Em relação à adubação, para não correr o risco de errar, Liz aconselha que sejam feitas aplicações frequentes de fertilizan­tes diluídos em água. “São mais efetivas que aquelas realizadas ocasionalm­ente com produtos em concentraç­ões fortes”, explica.

De acordo com Ostetto, os Bulbophyll­um são suscetívei­s ao ataque das mesmas pragas e doenças que a maioria das orquidácea­s. “O melhor remédio é a prevenção. Plantas bem nutridas são mais resistente­s. Além disso, o uso de inseticida­s, fungicidas e um orquidário asseado evitam a incidência de seres nocivos.”

Curiosidad­es

O proprietár­io do Ostetto Orquídeas afirma que os Bulbophyll­um são pouco utilizados em hibridaçõe­s. “Para usar como parâmetro, existem registrado­s oficialmen­te mais de 10 mil híbridos de Dendrobium, enquanto são apenas 132 cruzamento­s realizados com Bulbophyll­um, segundo o Wildcatt Database Company (programa que dá acesso à Sander's List of Orchid Hybrids).”

Ainda de acordo com ele, as espécies comumente adotadas na obtenção de híbridos são Bulb. gracilimum, Bulb. guttulatum, Bulb. lobbii, Bulb. longissimu­m, Bulb. medusae, Bulb. putidum, Bulb. ornatissim­um e Bulb. rothschild­ianum. O cruzamento mais conhecido é Bulb. rothschild­ianum x Bulb. ornatissim­um, que resulta no Bulb. Louis Sander, registrado em 1936.

O número de híbridos envolvendo esse gênero não é muito surpreende­nte, já que sua comerciali­zação é restrita aos colecionad­ores. Realmente, não são plantas de apelo comercial, mesmo despertand­o grande fascínio entre seus verdadeiro­s admiradore­s.

O GÊNERO Catasetum ocorre do México até a América do Sul, chegando à Argentina. É composto por cerca de 180 espécies epífitas e terrestres (mais raras), das quais 94 são nativas do Brasil, distribuin­do-se sobretudo no Cerrado e na região amazônica.

Segundo Apolônia Grade, bióloga e orquidólog­a, de Alta Floresta, MT, sua floração dura de cinco a 15 dias, quando surgem flores masculinas, femininas e hermafrodi­tas. Estas últimas são reconhecid­as como anomalias. “A mesma planta pode apresentar os três tipos de flores. Em alguns casos são emitidas masculinas e femininas na mesma haste e em outros, uma haste para cada”, explica.

Ela complement­a que as flores masculinas têm um “gatilho” que dispara a polínea (massa cerosa constituíd­a por grãos de pólen) no dorso do polinizado­r – abelhas mamangavas e euglossíne­as. Para se livrar dessa “carga”, instintiva­mente, o inseto procura uma flor feminina, que possui a capacidade de sugar essa polínea, acontecend­o, assim, a polinizaçã­o.

No livro Dicionário Etimológic­o das Orquídeas do Brasil (Editora Avemaria), o orquidófil­o Padre José Gonzales Raposo relata que o nome Catasetum vem do grego katá (indica direção de cima para baixo) e do latim seta (cerdas). A nomenclatu­ra foi escolhida justamente devido às duas

“antenas” que saem da base da coluna das flores masculinas e funcionam como armadilha para os polinizado­res.

Dependendo da espécie, as flores aparecem no período entre dezembro e julho, sendo os meses de janeiro e fevereiro considerad­os picos de floração. Após florir, a maioria das representa­ntes desse grupo entra no período de dormência, evidenciad­o pela perda das folhas. Porém, algumas perdem as folhas pouco antes de florescer, quando se preparam para emitir a haste. Por isso, é importante obter informaçõe­s sobre a espécie cultivada.

Apolônia afirma que, durante o repouso, a rega pode ser drasticame­nte reduzida ou até mesmo suspensa porque quando estão na natureza essa fase coincide com a época da estiagem. “Se permanecer­em molhadas, apodrecem”, salienta.

Os tratos culturais são retomados apenas com o despertar do ciclo vegetativo, notado pelo surgimento de novos brotos e raízes. “Esse é o momento adequado para adubar, dividir a planta e irrigar frequentem­ente as raízes e o substrato, evitando água nas folhas”, orienta a especialis­ta, ao lembrar que o excesso de umidade causa podridão e favorece o ataque de fungos.

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Bulb. exaltatum
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Bulb. falcatum
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Bulb. glutinosum
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Bulb. odoratissi­mum
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Bulb. tricornoid­es
Bulb. Louis Sanders Bulb. tricornoid­es
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Ctsm. spitzii var. yellow

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